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O IMAGINARIO No Estddio do Espelho, no Semindrio 1 ¢ 10 eno final do ensino de Lacan‘ “No prinefpio, era o verbo” — mas os tempos mudaram, € com eles mudaram os smartphones ¢ a nossa forma de usé-los. Hoje pouco falamos ao telefone, e aos poucos deixamos de escrever. Cada vez mais, nos comunicamos através de imagens: estima-se que, apenas durante o ano de 2017, um trilhdo de fotos foram capturadas por celularés ao redor do mundo. Um bilhao de CIF’ foram compartilhados (metade deles pelos meus grupos de WhatsApp, com certeza), cinco bilhdes de emojis, dez bilhdes de videos* A assuncao jubilatéria de sua imagem especular por esse ser ainda mergulhado na impoténcia motora € na dependéncia da amamentagio que € 0 filhote do homem nesse estgio de infans parecer-nos-4 pois manifestar, numa situagio exemplar, a matriz 1 Na claboragio deste texto, incluf trechos de du (2016) ea outa, a quinta aula do curso Os gozos na cestdo disponfveis em versio completa no site www aria e na clinica psicanal na.comabartigos (N. do A.) 2 RONAI, Cora. Nota, Dispontvel enn: < www: facebook. combrferonai >. Acesso em: 13 mat, 2018, REAL, SIMBOLICO EIMAGINARIO. Mavcusdo Rt a Digitalizado com CamScanner 6 os "hay, 4 ny em que o cul se precipita numa forma Prim a dialética da identificagio com 9." ou simbolica antes de se objetivar 1 antes que a linguagem Ihe restitua, no universal, sua fy, suc C sujeito? Ih oe 30 ae A primeira citagéo foi extrafda da pagina de Cora Rénaj h ona : “ MG ita da ‘do internaci Facebook e cita dados de uma convengio ‘ ternacional sobre ion, matica. A segunda é uma citagao do artigo de Lacan sobre o Esti, portancia crescente da imagem em nossos dias ¢ do Espelho. A imy gem ida por autores das mais diversas Areas, qu, reconhecida e discuti mais dive comentam sua onipresenga € nossa dependéncia. Julieta Jerusalinsky ressalta o quanto criangas € adolescentes sdo por Lesal fixados a imagens de si mesmos em que aparecem em situagbes constrange. doras, passando a sofrer difamagao a partir de tais imagens. Ou que, nas suas buscas, s40 captados por imagens para as quais eles nao esto preparados para inscrever em uma narrativa, imagens de sexo que estas tenham feito suas teorias sexuais. A vistas por criangas antes autora lembra que a imagem por si s6 nao pode substituir a narrativa. ‘Aafirmacao “uma imagem vale mais que mil palavras”, oriunda da filosofia chinesa de Confiicid, situa o lugar dos ideogramas como modo de representagao. No entanto, em tempos em que tal afirmacio virou uma maxima publicitéria, talvez seja preciso recordar que uma imagem nfo pode valer sozinha, substituindo por um Gnico flash a coeréncia da série discursiva com que 0 i | sujcito sustenta os alos da sua vida.4 2 AAA Jag (44 dell con fon da fang do ica In Kneritos, Ria de Janeira: Jorge Zahar, 1998. p. 96- 4. JEKUSALINSKY, Julieta ( ILKUSALANS iets, Que rede “ dep a (Ong Inout tte a Uatanco cla web? inc BAPTT, 207 1 38 W a0 veto na era das relays vr, Digitalizado com CamScanner REAL SIMBGLICOEIMAGINARIO. Marcos do Ros Tener Charles Melman, por sua vez, aponta desde os anos 80 a preva- lencia que a imagem adquitiu sobre a palavra no campo social pattir do final do século passado: Ea imagem que se impose, agora, a titulo de representante da autoridade, que faz. autoridade enquanto tal: engaja cada um sob um olhar que unifica doravante 0 planeta. Seu poder de fascinagao leva vantagem sobre toda critica, pois a discursividade € agora colocada ao seu servigo. Assim, a pa lavra saida dessa mascara sera julgada por uma nova navalha, fatiando entre conformidade/nao-conformidade, entre o que serve € 0 que no serve. O alcance do que pode ser efetivamente articulado €, assim, regulado por uma escuta que procede de tum mecanismo de absoredo ou de rejeicdo, homogéneo com a propriedade que tem a imagem de dividir o espaco num dentro enum fora. Assim, a racionalidade esté ausente de um julga- mento radical e sem recurso: a aptidao a contribuir para o gozo da imagem é determinantes Ele continua, fazendo referéncia a temas extremamente atuai como a coexisténcia de opinides contraditérias em um mesmo suj to € a variedade das identidades sexuais. Assim, destaca-se a personalidade esquizofrénica — ja identifica- da pelas pesquisas de opiniao e para a surpresa dos pesquisadores ~ propria do nosso tempo. O sucesso da totalidade egoica passa, com efeito, paradoxalmente, pela pluralidade, das imagens sucessivamente endossadas ou entao seu despedagamento, in- consistente em relagao a toda ldgica e, contudo, sondada pela 5 MELMAN, Charles. O porver Il. In: Clinica psicanalitica artigos e conferéncas, Salvador: Agalma, 2000. p. 183186. p18. Digitalizado com CamScanner 20 hy, dizer da imprevisibilidade ¢ ing ‘ COnsigt a do olhar. E . ssos contemporan . difundidas entre no: POTAMCOS, € aig Jes quie querem conduri-los: a j fei, ier ey, notadas por aquel a cocxistencla contraditéria num mesing «tl Sui " a identificagao sexual? Podese ¢ tei th, 1 nao escapa do dispositive, que nos permite per Cra Mauna ¥ servavel hoje ¢ ativa, 20 que parec, cher ¢, Se oder de sideragao que a imagem ma, é estanque em relagao ao seu i Itou desde a primeira metade organiza a constituigao dy 10 0 transitivis. E preciso Jembrar que 0 po menos socials nao na constitui¢a0 docu, que Lacan ressa goséculo XX.O registro do Imagindrio nosso cu e esté na origem de fen6menos clfnicos com jo do duplo, entre outros. Além disso, 0 Imaginétio |] na forma como as jdentidades sao organizadas, de fragilidade do Simbélico. je, alguns lacanianos preferem relegaro representante do dério, fora de moda, mindrios desse pert festa nos fen tem um sobretudo em situagdes Porém, nos dias de hoj Imagindrio a um papel secun periodo inicial do ensino de Lacan. Textos ¢ Se odo sio vistos como pegas de um museu tedrico e, mesmo quando nio sio depreciados cexplicitamente, costumam ser acompanhados por un comentario condescendente: “Ah, € um texto do primeiro malifiquei de “evolutiva” em a uma sequéncia de turas Lacan...”. Uma das versbes dessa leitura, que q outra ocasio, tenta reduzir 0 ensino de Lacan edendo-se por meio de cortes ou rup! _ I: importante ter em fases cronologicas, suc ‘an: seu ensino, que indicasiam atualizagoes do paradign mente que nao ha i vente que nfo hd urna leitura tnica da teoria de Lac: 6. MELAMAN, Charles. O porver Hop. cit, pa op ch pas Digitalizado com CamScanner REAL, SIMBOLICO EIMAGINARIO. Mateus do Rio Teixeiea suas teses podem scr ~ sio com frequéncia ~ compreendidos de diversas formas, ainda que haja win consenso a respeito de alguns : : Porém, no que diz. respcito a essa divisio do ensino de Lacan, devo dizer que, mesmo respeit pontos centra ando a opgio dos colegas que possum esse entendimento, creio ser possivel demonstrar que no faz sentido pensar 0 ensino de Lacan como etapas nas quais cada um dos registros é colocado em destaque, primeiramente o Imaginério sendo deslocado pelo Simbélico, que oeupa o lugar central e, finalmente, é retirado do seu posto pelo Real. Em primeiro lugar, porque Lacan nao segue um percurso linear na sua teorizagao, progredindo através de cortes. Essa leitura igno- ra propositalmente todas as idas e vindas, bifurcacées e retomadas de teses mais antigas, que caracterizam o estilo de transmissio de Lacan. Nao ha cortes ou rupturas que indiquem uma desvalorizagao do Imaginério pelo Simbélico na teoria lacaniana, para finalmen- te chegar ao Real. Se buscarmos uma representagdo do processo de construgao da teoria de Lacan, esta certamente nao seria a de uma escada na qual os degraus figurariam mudangas que abando- nariam as antigas concepcées, mas de uma espiral que retorna aos mesmos pontos, porém sempre uma volta acima — com actéscimos, alteragdes, mas sem abandonar as teses antigas. Ha ainda o que poderfamos chamar de énfases, momentos em que ele parece mais dedicado a um tema, sem que haja base para afirmar que ele aban- dona concepgées anteriores. Em seguida, é importante lembrar que a concepgao lacaniana do né borromeano, elaborada no perfodo final do ensino de Lacan, postula que os trés registros se enodam de forma que nao hé preponderancia de um determinado registro sobre os dois outros, Mesmo que a teoria de Lacan, obviamente, nao tenha surgido de uma s6 vez em estado acabado, a leitura das suas teses como clapas que se sucedem, superando-se, é um reducionismo que tenta adaptar a sua teoria ao leito de Procusto do Discurso Universitario. Digitalizado com CamScanner 22 tg itura muito comum ~ porque est ar, e a adotamos espontaneamente _ ‘emindrios dos primeitos anos dy watt nhecimento sobre as suas tora” lesse ensino. Isso se dé, por exe ; yando tentamo: 1s suas observagdes a respeitg zi Con partir do estudo do n6 bor, agindrio nO ape uitntes ovimento retroativo, que € préprio da lingua m retomar a frase partindo da sua conclusig conferindo-lhe sentido a posteriori, 0 que lo de point de capiton (ponto de estofy Im meano. Todos nés te acontece devido ao m gem, ¢ que consiste . ; em direcao ao seu inicio, Lacan celebrizou chamand' ou ponto de basta). a observacao de que seus alunos ensino anterior 0 que ele trazia m eles, “jd 14”, ideias em em- de, seu desenvolvimento. pectiva, que nao é de cadeia do discurso. Lacan fazia frequentemente acreditavam descobrir em seu de mais recente. Havia, pensaval brido que encontrariam assim, mais tal Lacan advertia contra uma tal ilusao retros fato sendo um exemplo da acao retroativa da que ja era suficiente constatar que o que Ele respondia, ento, dido a sequ- ele havia enunciado anteriormente nao havia impe' éncia de advir.? Este é um movimento proprio da linguagem, porém, quando 0 aplicamos ao estudo de uma teoria, resulta em um anacronismo, pois na época em que elaborou as suas primeiras teses, 0 autor nao ae ° conhecimento daquilo que ele proprio iria desenvolver a a a van Somes i. que possuimos hoje esse conhe- 6 parece “natural” ler os seus primeiros textos 7. DARMON, Mare ‘minha para estrecho citados. ur la topologie lacanienne. Pa a spologie ne. Paris: Joseph Clims, 1990. p. 353. Tradugato Digitalizado com CamScanner REAL, SIMBOLICO EIMAGINARIO. Marcus do Rio Teixeis A a partir dos tiltimos — 0 anacronismo consiste nesse movimento. Assim, ainda que, ao estudarmos 0 Real, o Simbélico ¢ 0 Imaginério, devamos ter em mente todo 0 tempo que, na fase final do seu ensino, Lacan enoda os trés registros no né borromeano ~ e é por esse nd que nos devemos orientar ~, devemos lembrar, ao mesmo tempo, que essa formulagiio tedrica ainda niio existia nos Semindrios e textos de Lacan nos anos 50/60. A leitura que cu proponho aqui segue uma abordagem hist6rica que traga 0 percurso da construgao do conceito numa sequéncia cronolégica, ainda que no possamos deixar de fazer referencias eventuais a construcées posteriores, lembrando que esta é apenas uma forma de leitura — existem outras, que sio igualmente vilidas. O mais importante é que as diferentes leituras (inclusive a que eu fago aqui) néio devem servir de obstéculo ao acesso de vocés ao texto de Lacan e a um esforgo de compreensao propria desse texto. Pretendo abordar, na parte final desta apresentagao, o modo como Lacan situa o Imagindrio no né borromeano na tiltima parte do seu ensino. Trata-se de uma concepcio diferente daquela que ele apresenta na época do texto sobre o Estédio do Espelho. Nessa nova concepcao, ele aproxima o Imaginério do corpo e da consisténcia. Nao que haja dois Imagindrios, mas, nos anos 70, a énfase dada por Lacan recai sobre aspectos diferentes. Voltando ao ponto que discutfamos anteriormente, existe, portan- to, uma leitura do ensino de Lacan que discute os trés registros, diminuindo a importancia do Imaginario. Colette Soler tece um comentirio a respeito dessa rejeigdo ao forma encontramos Imaginario por parte de alguns analistas: “D todo um discurso degradado de valorizagio do simbélico contra o especular que precisa ser reduzido. Lacan é wm pouco culpa- o especular é jd uma do por degradagao do imaginario, 1 Digitalizado com CamScanner ~~ a Moy My a erotologia para Lacan”, Ela comentava na ocasio a afirm, Lacan, para quem a psicandlise é uma erotologia: “Nag Thes de, dy volvo uma psico-logia, um discurso sobre a realidade itteal g m chamamos psique, mas sobre uma praxis que merece um Tome erotologia.”®. Por que a autora afirma que o especular j4 € uma eto, logia? Discutiremos esse ponto mais adiante: ' Arespeito desse discurso de degradacao do Imaginatio Praticg, do por alguns lacanianos, € necessério esclarecer alguns Pontos, De fato, nos primeiros anos do seu ensino, Lacan faz uma Ctiticg contundente, ndo exatamente ao Imagindrio, mas a énfase daq, ao Imagindrio na clinica dos seus colegas contempordneos da International Psychoanalytical Association. Lembrem-se de que Lacan foi analista didata da Société Psychanalytique de Paris e, partir da cisao desta, da Société Frangaise de Psychanalyse, ambas ligadas 4 IPA. Nessas sociedades, ele era criticado pela sua pritica das chamadas sess6es curtas, que confrontavam as normas técnicas da IPA. Seus colegas focavam a diregdo do tratamento exclusiva- mente numa abordagem imagindria e do imagindrio, deixando de lado a palavra, ou seja, excluindo a dimensio da linguagem. Assim, a interpretaco da transferéncia enquanto afetos dirigidos ao analis- ta, a interpretagao dos sonhos, dos lapsos e dos sintomas buscando desvendar um sentido oculto, a ideia de fortalecer 0 eu do analisan- te como estratégia contra a neurose, a prépria concepgdo do final de andlise como a identificagdo com o eu do analista, so alguns dos pontos dessa clinica centrada no Imagindrio que Lacan critica duramente nos primeiros anos do seu ensino. Sua critica incide justamente sobre a elisdo da dimensio da linguagem, portanto do Simbélico, praticada por seus colegas, os quais concebiam a anillise tnicamente no registro do Imaginério, Seus colegas, evidentement Calete,Semindro de leitura de texto, P37. ous ics «0 2006-2007: Semindrio A angistia, de Lacan, Sa 9 LACAN, Jacques. 0 S Jes. O Semindio, Lio to angitia fg 1953. Rio de Janeiro: ore Za Digitalizado com CamScanner REAL, SIMBOLICO EIMAGINARIO. Marcus slo Rin Teseira ery nao podiam sequer pereeber a que a erttica de Lac: nao faziam essa disting an se referia, pois ‘io entre Imaginério ¢ Simbélico, Isso nao significa, insisto, que haja um Imagindtio por parte de Lacan. Na ve 0 papel do Imaginario na constituigao do eu no seu texto pionciro. “O estédio do espelho como formador da fungio do eu tal como nos é revelada na experiéncia psica 1 desvalorizagio do dad, cle define teoricamente nalftica” (1949), 0 qual 6 sem diivida, juntamente com “O semindrio sobre ‘A carta roubada”, um dos textos mais conhecidos de Lacan. Este, alids, nao cessa de cité-lo em seus semindrios, lembrando também a interrupgio feita por Emest Jones quando da sua primeira apresentagao em 1936, no congresso da IPA em Marienbad. Trata-se de um texto ao mesmo tempo conciso, do ponto de vista da construcao teérica, ¢ estilisticamente bem elaborado, do ponto de vista formal, como € caracteristico dos textos de Lacan, sobre- tudo desse perfodo. Nele encontramos referéncias & biclogia como a prematuragdo especffica do nascimento — nogao que Lacan retira do anatomista holandés Louis Bolk -, a incapacidade de controlar os movimentos nos primeiros meses de vida, bem como referéncias 4 etologia, presentes nos exemplos da maturago das gonadas da pomba, da definicao da forma gregéria ou solitaria do gafanhoto e do mimetismo, estudado por Roger Callois. Esses exemplos chamam a atengao para o fato de que o registro do Imaginario nao € exclusivo da nossa espécie, mas estd presente entre os animais. A principal diferenga € que, na espécie falasser — se me permitem 0 termo -, esse registro est4 enodado ao Simbélico e ao Real. Colette Soler chama atengo para essas referencias. De fato, o que é impressionante é que as comparages € as ho- mologias com o animal, em Lacan, silo numerosas no inicio de seu ensino, desaparecem quase completamente no periodo me- diano ¢ retornam no final. Isso nos conduz do pombo ao rato no labirinto a partir de 1973. Creio que isso se deve justamente Digitalizado com CamScanner ° hoy ‘ 26 10 perfodo de seu ensino, » Cle r6j lac o vivenle fc da 1 qUe, € precisg t que, "9 ultin nsideragae sobre a vid ‘ado de lado durante anos.” hy "et no artigo, referéncias a um Autor ch, Innenvell e Unmvelt. Esses termos ‘ng, vamente, mundo interior ¢ fe Umwelt é utilizado por rar . sexualidade, no Rascunho A ml Tanto Uexkiill quanto essas nogées voltam a ser citados ey, momentos posteriores do ensino de Lacan. Mas quem € esse auto, nogaes da forma que ele as emprega? eoquesi 0s também, ogdes de respecti Fincontrai™ do Ueakiill € 25" em alemao, piente, me!0- fica™, quemitico da rior ou am ja, a referéncia a von ‘a segunda referénci te em seus textos. Em seguida, temos um Uexkiill, a0 qual Lacan retorna insistentemen' go alemao nascido e E turalista, um bidlo ¢ falecido em 1944- Ele é precur- E um nai século anterior [século XIX] sobre o sor da etologia: desenvolveu, meio animal, 0 que ele chama m meados do sobretudo, consideragoes o Umvelt, com a ideia de que, de imal é um meio que Se fabrica uigdo. Este Umyelt reflete 0 nto organismo. qualquer maneira, 0 meio do an ean fungao de sua prépria constitt Innenvelt, quer dizer, isto que ele é, enqua numerosas € € Pte ao mesmo As sefeséncias de Lacan sobre esse ponto 0, Atese de Uexkiill supde, Je harmonia ¢ de reflexo entre 0 ser do or rao cio apreendermos a tempo, uina espéci ganisino © 0m) ‘omcio no qual cle se desenvolve. Voces encontrar jigmati- Aeréncia em “Vel g cia em “Televisiio™, Uma vez mais, ele umes s 2 2D ged Kove iz MG Mla ig i sd i da ob ot » 1AM) pn eleva IH _. Outnn esr crits Ni de Janeire: forge Zahar, 2003. P- Digitalizado com CamScanner REAL SIMBCLICO EIMAGINARIO Mare do Rio Tenia a7 za Ueskiill dizend “essa alma” aristotélica “reconstrufda por _ Vocés 0 encontrario em ...ou pior,® onde, novamente cle denuncia a ideia de Uexkiill. Encontramos essa ideia profunda, segundo a qual o habitat da Tinguagem é 0 que desadapta 0 organismo humano em relagio ao seu meio € nao o que o adapta. Seria mais justo dizer: que impde desvios suple- mentares 2 sua adaptacao." (-] ‘Assim, 0 corpo que é admitido no habitaculo da linguagem ganha algo com isso, ganha um pouco da perenidade do signifi- cante. Mas hd um preco: ele perde, com isso, o trago de vivente. Nessa passagem do corpo ao significante, jd vernos que o habitat Jinguagem, o ambiente linguagem, transforma 0 habitante. E 0 contrario de Uexkiill. Em Uexkill, € 0 habitante, 0 Innenwelt, que fabrica seu Umwelt, seu ambiente. Ele [o ambiente-lingua- gem] transforma o habitante ao Ihe impor o trago proprio do significante, a saber, a mortificacao € a desvitalizacao. B, uma tese antiga em Lacan, segundo a qual, af onde passa o significan- te, alguma coisa da morte passa.” um certo Uexkii eae Recordemos sucintamente a tese de Lacan: em um perfodo que cle situa, amparado em estudos psicoldgicos, por volta dos seis meses Ge idade, anterior a aquisi¢ao da fala e ao dominio do corpo préprio (devido a imaturidade neurol6gica), 0 pequeno filhote do homem tem o seu olhar captado pela sua imagem refletida no espelho. Volta- se entao para o adulto que o carrega nos bracos, o qual confirma que s¢ trata de fato da sua imagem. O estado de jtibilo que acom- panha essa confirmagiio testemunha, para Lacan, uma antecipagao 13 LACAN, Jacques. O Semindro, Livro 1.0 pir fgeag72}. Rio de Janeiro: Jorge Zaha, 2013 B23 14 SOLER, Colette. O em-corpo do sujeito... op. cit, aa de os/2/200%, p42-43 35 Id, ibid, p. 46. Digitalizado com CamScanner OH 28 My mu, | apreendido enquanto jp; Nic «9 do corpo mninio 4 “ag ainda ni i dodo Foom 0 organismo ainda ndo permite tal domig | momen! ‘ado até entao por partes (despedagado), ey, o corpo yivenciad proprio, o da sua maturagio folie mento da sua hist6ria, = fangdes motoras, ¢ aceder a um domhige® e, € antes desse momento, embora oe orrelativa, que o sujeito toma consciéncia do seu ¢ : como totalidade. E:sobre isso que insisto na minha teoria do ¢, ta da forma total do corpo humano ¢j tédio do espelho-4 36 vis um dominio imagindrio do seu Corpo, prematuto en lominio real. do seu neita Ct ao sujeito relagao ao d real, como diz Soler-a cidade de ter acesso 20 seu pr6prio corpo como uni de. A tinica relagéo possivel com 0 seu Corpo é por partes, enquanto corpo despedacado. O Estadio do Espelho € um momento de antecipagao do dominio do corpo concomitante a constituigao do eu. ramente um problema Ihote humano e sua incapa 0, como uma totalida Temos primeii prematuragao do fil maturo, Lacan conclui entio que, do lado do organismo pre! nacaba- Heute wal rah gine e queleste ser i : suas mfos so suas mao, es : ae. ee : s, este ser despedagado em suas fungdes ei ray do espelho, a unidade que falta a seu orga que a representagdio Una da forma do corpo mo prematuro e despedagado traria " ia 0 Um que falta ao organ vido & prematuragto, 6 Lacan hate Sete Sein Lg a eritas tecnicos de Freud fig i i 524953]. aed. Rio de Janeit Digitalizado com CamScanner REAL, SIMBOLICO EIMAGINARIO. Ma Acconstrugiio de Lacan é a seguinte: um problema real - 0 njo acabamento genérico devido A prematuy ~encontraria uma solugio no imaginario, a imagem anunciando a totalizagao do organismo fragmentado, cuidando da sua deiscéncia vital; dat a jubilagao, pensa ele. Ele supée um mal-estar primeiro, real, e uma solugio imagindria ¢ pelo imaginério, [..] Neste esquema que coloca, do lado do real, o organismo despedagado e, do lado do imagindtio, o que ele chama “a ima- gem ortopédica da totalidade”, vé-se que a primeira ideia de Lacan foi a de atribuir ao imagindrio uma fungao mediadora. Ele o diz de uma maneira precisa: gracas 4 imagem, e mesmo a imago, que se pode “estabelecer uma relagio do organismo com sua realidade”.” Pode-se dizer que Lacan jamais modificou realmente esta tese.* Temos, portanto, o real do organismo, que impée uma limitagao eum mal-estar cuja superagao € antecipada por efeito da Gestalt da imagem, possibilitando a passagem ao corpo inscrito no simbé- lico e no imagindrio. O termo real aposto a organismo €, vez por outra, objeto de um questionamento que se pretende amparado na definicdo do conceito nos anos finais do ensino de Lacan. Eu me alinho com os autores que sustentam que o organismo pode ser dito real enquanto um dado que independe do Simbélico, da lingua- gem, tanto quanto do Imagindrio, no sentido das fantasias que a ele se referem, Ainda que 0 organismo seja habitado pela linguagem, que o desnatura, tornando-o corpo libidinal, ¢ pelas fantasias que 0 investern, devemos considerar que, em um primeiro momento, esse organismo surge no mundo como real. 17 LACAN, Jacques. O estidio do espelho 36 SOI } 0p. cit, p00. Colette. O em-corpo do sujito., op. cil, aula de atful200t, p30, Digitalizado com CamScanner Osujeito ainda por advir iaé, —e Lacan, um Polo de tos desde antes do seut nascimento, a ee antes da sug &tn jo, ndo apenas enquanto depositario if expectativas dog is 7 suas fantasias inconscien tes. Porém, preciso que cle Passe i condigao de sujeito falado, iniclalmente infans, a condigig de fly, para assumir propriamente uma Posigao de sujeito, Alén diss concomitantemente uma diacronia 7 pulsao, o que Significag, é preciso um tempo eronolégico, além de um tempo légicg, que esse organismo seja investido libidinalmente. A observacao de Soler frisa um ponto importante: mesmo Cong. derando todos os avangos posteriores na sua teoria, Lacan jamais modificou essa primeira tese referente ao papel do Imagination, constitui¢ao do eu e da imagem do corpo préprio. Isso tem a ver com a questo que comentavamos anteriormente, acerca da leituy que divide o ensino de Lacan em etapas, relegando o Imaginérioa uma etapa inicial e ultrapassada, : Lacan destaca, entdo, o poder que essa imagem exerce sobre o Pequeno sujeito: ela permite antecipar a coordenagao motora que ele ainda nao possui, devido a imaturidade neurolégica, como vimos. Porém, mais do que isso, ela Ihe confere uma imagem do corpo Pr6prio enquanto totalidade — que ele qualifica de “ortopédica”® -, totalidade que esse Corpo até entao nao possufa, Pois $6 era experi- mentado por ele como corpo despedacado, . oe " ra salfentado équea descrigio de Lacan th eee ‘ rae on pela sua imagem no espe- da imagem na constitu spi ‘asa os Chia ae sae no espelho. f preciso um segundo momenta, que cle pay » que ele destaca, ° 19) LACAN, Jcues. Observa Peg cal je hes sobre w teatonio dle Danie —— Faeries, op, 2 LACAN, Jacq. O estédio do espelin op. ps Digitalizado com CamScanner REAL,SIHBOLICOEIMAGINARIO. Marcwe do Rin'Tevetn m momento em que a crianga se volta para o adulto que a earrega nos bracos, num gesto cujo sentido parece evidente. No seu Semindrio 10, A Angiistia, onde Lacan retoma o Estadio do Espelho, cle destaca a importancia da validagao da imagem da crianga feita pelo adulto que se ocupa dos enidados matemos. Na simples imagenzinha exemplar da qual partiu a demonstra- cao do es lio do espelho — 0 chamado momento jubilatério em que a crianga, vindo captar-se na experiéneia inaugural do reconhecimento no espelho, assume-se como totalidade que funciona como tal em sua imagem especular — porventura ja nao relembrei desde sempre o movimento feito pela crianci- nha? Esse movimento € tao frequente, tao constante, eu diria, que qualquer um pode lembrar-se dele. Ou seja, a crianga se volta, como observei, para aquele que a segura e que esta atras dela. Se nos esforgarmos por assumir 0 contetido da experiéncia da crianga e por reconstituir 0 sentido desse movimento, dire- mos que, através desse movimento de virada de cabega, que se volta para o adulto, como que para invocar seu assentimento, € depois retorna a imagem, ela parece pedir a quem a carrega, e que representa aqui o grande Outro, que ratifique valor dessa imagem." Considero esse comentario de Lacan extremamente esclarecedor. ‘Jemos, portanto, um primeiro momento, no qual a crianga tem a sua atencio captada pela imagem. Logo em seguida, ha uma busca da ratificagao dessa imagem pelo Outro, representado pelo adulto (a mde ou o pai) que a carrega € que garante ao pequeno sujeito que se trata efetivamente dele, A essa ratificagao segue-se um estado de jdbilo da crianga, que Lacan chama de “azafama jubilatoria”™. Ora, a1 LACAN, Jacques. O Semi rio, Livro vo: « angiistia, op. ci. pet. 22 LACAN, Jacques. O estidio do espelhio.., cil, p97 Digitalizado com CamScanner Oma, ey a 2 portanto de uma precip; » P Clpitac3, d, trata-se, tar essa expresso de Lacan, hy ler vai comen ifica press ilo. Sol qedfama sie estado de jubil mente as expressoes jtibilo e mesmo q, do espelho. Azéfama jubiang ida pot “excitagao”, excite a ia de goz0, excitagao éa a imagem. E Lacan faz des le dinamismo libidinal, . ieito getado por essa lo seu corpo. Porém, imagem além desse aspecto também um aspecto problematico : eu se constitui a partir dessa imagem, qe aalienagdo a que Lacan se refere nO seu artigo. Oq ceme da minha propria jidentidade, o meu > foi construido a partir de uma imagem externa em relagio a mim. Essa constituigao éa origem da fungao de desconhecimento — termo que Lacan emprega e que caracteriza a forma como 0 sujeito se aliena nessa imagem gos atributos que ele confere a esse eu, € Ue apresenta aos outros asi mesmo. Dafa dificuldade de uma andlise, sobretudo no seu ra denegar 0 que quando 0 analisante se ancora nesse et pal conhecer 0 seu g020- ue constitui o infcio, diz respeito a0 seu descjo ¢ nao re ; Marie-Christine Laznik™ ressalta, na sua Jeitura do Estadio do Espelho, o papel fundamental desempenhado pela alienagao na do sujeito, alienagao que ela situa nos trés registros: constituig 1 op. cit, aula de 20/03/2002, LAAN ene 3 Aa Mae it Do facaso da instavago da ho a ompitasao dos textos e Prefcia por Daniel ‘Naty. Se 209.490 Digitalizado com CamScanner REAL, SIMBOLICO EIMAGINARIO Marcus do Ri Teiteita 3 alienagao imagindria (a captura por essa imagem outra no espelho ¢ aconstrugao do seu eu ao modo dessa imagem); alienagao simbélica (anccessidade de passar pelos significantes do Outro para advir condigao de falante), ¢ alienagao real, que diz, respeito ao circuito pulsional, cujo fracasso, no autismo, impede o investimento das zonas crégenas ¢ a propria capacidade de investimento nos objetos. Essa alienagao, real, simbélica ¢ imagindria, é necessaria paraa propria constituicao do sujeito ¢ quando, por algum motivo, ela nao se dé, isso acarreta graves consequéncias. Laznik lembra, em outro texto*, que 0 caso Dick, apresentado por Melanie Klein em um artigo de 1930 ¢ que Lacan comenta no Semindrio 1, € reconhecido, tanto por psicanalistas quanto por psic6- logos neurocientistas, como o primeiro relato clinico de um caso de autismo, antes mesmo da definigao de autismo feita por Kanner, em 1943. Lacan nao fala em autismo, pois 0 diagnéstico demorou a ser aceito no meio psiquistrico e, mais ainda, no meio psicanalitico, mas Laznik observa que ele jd ressalta aspectos clfnicos que hoje sao reconhecidos como caracteristicos do autismo. Entre outros pontos, Lacan nota que Dick “Olha Melanie Klein como olharia um mével”*, 0 que, segundo Laznik, é “[...] verdadei- ramente uma descricao muito bela de um autista””. Em seguida, ele observa: “Se resumirmos agora tudo o que Melanie Klein descreve da atividade desta crianga, 0 ponto significativo é simplesmente este — ela nao faz nenhum apelo” *. E Lacan faz um comentario bastante forte: 35 LAZNIK, Marie-Christine. Dossier de retour du Séminaire d'Ete, ETP, L6, 7 et 8, 2016 [x/z/2016] Dispontvel em: < hitp:llww.freud-lacan.comlgetpagedacumenthior4>. Acesso em: 17 wa, 208. ‘Tradugio minha para os trechoscitados neste aig 26, LACAN, Jacques. OS inrio, Liv x: os escrito téenicos de Freud, op. cit, p. 2. 27 LAANIK, Marie Dossier de retour du Séminaire dt, op. et 28 LACAN, Jacques. O Semindio, Liv 1 08 esritostenicos de Freud, op cit, p. 5 Digitalizado com CamScanner " e vor’s 70 nm ser desp al dirigir apelos esenvolvi nte num umd justamer E, finalmente, Isso quer dizer sim de forma valida rior. Por uma si 6 ego nao apare' Isso signific do extadio do espelho raordindria, ea em que a clinica d fineza clinica ot hist6rico, uma ¢po definida em termos como vimos, ainda Aimportancia da clinico do transitivis infancia, quando a cn tra, nos seus: alos © rea o eorpo do outro, entre 0 seu so coleguinka, chora, Ind pequeno sujeito respo ser entendido pelo observ pricanalista, a prova by ACAN, Jugs 5% ye tap yb LAZMI, Maricsatine c,em certo senli a, segundo Laznik, * Om, i My ™~ observe un) animal doméstico p; ata ve te jdo de linguagem 6 inteiramente ca . apar a, ara atrair sua alengao para aL : alguma gy a ty Ao apelo humano esti reson, SHA reso Mad, pelos pa ido, Ihe fall posterior, mais rico, porque se t¢ ja adquiriu o nfvel da linguagen» mento h n ser que ele afirma: 0 ego nao pode ser utilizad, rutura desse mundo ext. la ma posigao do olho, plesmente que no aparelho na est cor ausa di smples raziio — POF © sce, pura € simplesmente.” , que esta crianga esta “aquém "¢, Essas observagoes de Lacan sao de uma ainda mais considerando-se 0 contexto Io autismo ainda ndo estava psicanaliticos, ¢m que o proprio diagnéstico, ra pouco praticado. sagem se faz presente também no fendmeno fendmeno € obs ryavel na primeira nga de seus coclincos, demons- o seu corpo proprio & a, ao bater i mo. Lisse ianga, na pre joes, uma confusiio entre eu eo outro, Assim, a criang? Jo ace vo do seu choro, © foi o outro que Ihe bate. O que pode suitira 6, para 0 sa do moti onde que audor leigo como uma me -onstituigalo do ew niio é congen dle qu trv, Linn scion Wen la Senne a Digitalizado com CamScanner REAL, SIMBOLICO EIMAGINARIO. tac Ao Rio Teena as que € necessirio um lempo para que esse pequeno sujeito possa perceber 0 seu corpo como distinto do corpo do outro, proceso que nao € simples, porque, ao mesmo tempo, 0 seu eu se constitui a partir da imagem, a qual é confundida com esse outro, Por isso € caracteristico dessa fase o interesse d, corpo do outro, do semelhante. "Trats a ctianga pelo se cle uma tentativa de aqui- sigio do controle do corpo proprio e da definigio dos seus limites, de distinguir 0 seu corpo e 0 corpo do outro, confundem para a crianga, Arelagio dual entre 0 eu ¢ 0 outro é também mareada pela riva- lidade. Diante desse outro que se apresenta como a sua imagem, o sujeito é tomado pela sensagao de que o seu lugar ser ocupado por ele. A relagao que se instala é de exclusao: um “ou eu ou ele”, onde nao hé lugar para os dois. Melman comenta esse aspecto da relacdo dual: que, como vimos, se Um outro efeito sobre 0 qual chamo, logo de safda, sua aten- gio a propésito dessa dimensao imaginéria da identidade, para Ihe dar seu nome, é que, na relago com outrem, com quem eu divido este eu, este eu comum, essa forma comum, se pro- duzird sempre uma assimetria que se instaurard entre nés, com meu interlocutor. Uma assimetria que fara com que, ao mesmo tempo, 0 eu vai pesar como um ideal, valer4 como um ideal, € que ele estard de um ou do outro lado. Dito de outra forma, com 0 interlocutor, e isso contribui sem dtivida para o cariter, eu diria, paranoico de nossas relagdes com os outros; hi funda- mentalmente essa rivalidade, essa competigao quanto ao fato de saber de que lado esté 0 ideal. Esta manha, estd do seu lado ou do meu?* Digitalizado com CamScanner Otay my 36 de passagem, a telagag CHhte enciona, a relagao, diz Melman, Lacan também ™ n noia. A respeito dess on paranoica que podemos dize 72g uma dimer ica, Eu nao vou Thes contar que ¢ «voces sabem que ela é esta certeza de que éprio espace, ha sempre esse outro que sil bador, € que furta a si mesmo % ameacador, inquie a je furtaa propria jdentidace. Esse carater paranoiagenico = $e eu poy 0 - da jdentificaga0 egoica é interessante ala essa dimensio patolégi. Ele instala uma dimensig rem seguida, 20 Jongo de lentidade que ele instala 0 de nossa subjeti , Eu estou sempre, enquanto je verdadeira, no meu self, nisso que seria verdadeiramente ev eu sou obrigado a passat por essa alteridade que me altera a mim mesmo, € que me agita. E existe essas circunstancias particulares da paranoia, onde esse desdobrar de mim eu, ou esse outro qu sequen hecem.* cernentes 2 id cias que vocés con mesmo, com as COM: que ocorre quando lo corpo € aparece alhures, formas que @ cultu- mato. No qui a alucinacao do duplo, destaca di artigo, a estatua, 0 aut Melman se refere a a imagem do corpo proprio se no ambiente. Lacan menciona, no seu 1a encontra para representar 0 duplo: Semindrie sti ‘amindrio 10, A Angiistia, cle Jembra que 0 duplo é considerado por Fret ae at ‘eud uma das formas do Unheimlich. Fle associa esse fenémeno com aangistia que, See ‘ comas ni 1 que, segundo cle, consiste No ap recimento de algu- bisa a + deveria hi ali onde deveria haver a falta, Associa também a figura do duplo com a imagem especul Jy MELMAN, Ch MAN, Chases Les pate composants de lentil, op. cil, P40. Digitalizado com CamScanner ‘2 SIMBOLICO EIMAGINARIO Marcus do Rio Te » O homem encontra sua casa num ponto situado no Outr além da imagem de que somos feitos. Esse lugar oye auséncia em que estamos. Supondo-e, o que acontece, que ale se revele tal como € — ou seja, que revele ser a presenga em outro lugar que produz esse lugar como auséncia -, ele se torna o, apodera-se da imagem que o sustenta, e a imagem -— orei do jog ransforma-se na imagem do duplo, com o que esta especular t traz de estranheza radical > Freud da um interessante exemplo pessoal do duplo no seu céle- bre artigo: Viajava s6, no vagao de leitos de um trem, quando, numa brusca mudanca de velocidade, abriu-se a porta que dava para o toale- te vizinho ¢ apareceu um velho senor de pijamas & gorro de viagem. Imaginei que ele tivesse errado a diregdo, ao deixar 0 partimentos, ¢ entrasse por gabinete que ficava entre dois com| engano no meu compartimento, ¢ ergui-me para explicarthe isso, mas logo reconheci, perplexo, que intruso era minha propria imagem, refletida no espelho da porta de comunica- gio. Ainda lembro que a figura me desagradou profundamente. Portanto, em vez de apavorar-me com o duplo, os dois — tanto Mach como eu — nao o reconheceram. Mas tal grado fosse um vestigio da reagao arcaica que Pe! como algo inquietant vez. aquele desa- rcebe o duplo Lacan, assim como Freud, lembra que © duplo é mais frequen- te _temente encontrado na literatura. ee 4 LACAN, Jacque Jacques. O Semindro, Livro 10: a angst.» op. cits p- 58: 35 FREUD, S tras, 2010. , ‘igmund. O inquietante [191 S: oo ein: O inate [igs Obra completes. $a0 Paulo: Compa hia das Digitalizado com CamScanner~ | 38 Ot r oo * Freud insiste na dimensio esse tae, ‘Seni; 1 nossa experiencia do Unhein 5 , . = mi io demais. A fiegio o demonstr hk a em ur tlh, Jo como efeito de maneira mais ot hy an Np, 0 GA toa que po da fico thi este 6 fugid ea produzi articulada. Me Nii cam rea chega ser mais bem De fato, além dos exemplos preciosos trazidos por Fre ice, entre outros casos célebres, no conto Willan Ody, (lembrando de passagem que Poe é ibn can) e também no conto m\ distant aa a, um exemplo importante é 0 fimo. nsky, que apresenta algumas das ae Ma a do cinema. apare Edgar Allan Poe importante para La Cortézar. No cinem lino, de Roman Polai inquietantes da histéri O ESQUEMA DE BOUASSE ea ilustrar 0 que se passa nesse estddio, Lacan recone, ae : : , , a seine 1:08 escritos técnicos de Freud, a um experimento cls a Opti i ei [ Optica, o experimento do buqué invertido de Bouasse: aac t he caperiment clissico, que se fazia no temp a 2 divert no tempo da verdadeira Fisica dadeiramente a art no momento em que se tat ree mi ise. Quanto mais prdxinnos estan _ ida, mais préximos estamos da verdadeit Lacan chama ess . ld CSSC expel 0] 8 ‘ > perimento de apdlogo™, 0 que é mui ui $0 porque 0 apélogo é , Pdlogo é uma fabula que contém uma ligdo wo" ——___ 36 LACAN, I Facques. OS es. O Semindri, Livro 10: a angdstia. op. p59: 37 LACAN, J Jacques. O Semindrio, 7 Lino: os exert teics de Fe ts P Digitalizado com CamScanner

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