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0 INSTITUTO JORNAL SGIENTIFICO E LITTERARIO VOLUME PRIMEIRO COIMBRA df IMPRENSA DA UNIVERSIDADE 1835 INDICE, ALPHABETICO DO PRIMEIRO VOLUME DO INSTITUTO Agricultura da Toscana .- Amor paternal (0) --- Anneis de Sttarno :. ‘Associacoes de beneticenc Coimbra... ... Assumptos para as discusses € mem ring do Instituto. Astronomia... Bolmes .... Bancos agricolas Banhos de Luso 5, 16,29, 43, Boletim do Instituto 173, 188, 19, 21 seecees 188] Introducedo .. 2 es oe a cis i201 85 | Lamartine—a soledade, trad. - a Elvira os a9 a noite. # Gimmortalidade .. >. ....-+ 128 0 valle. 138 206, 215, 225 @ meditaeao 182 + 181, 198, 221 0 christao moribundo »- ate Bonaparte 8 240 Leitura repentina +... - ‘164, 174 Lusiphneida (2) Sey Bibliographio.. 6B, 76, 97, 164, 184, 214, | Lua (a), versio de Zorilla ....---+.. - 07 234, 244, 258 Mapp dos hospitaes da universidade .. 134 , 215, | Marquez de Pombal, diario da sua v 8, 295, 245 | a aniversidade ghee. 10,27 7 Catiio de Utica Catholico (ao). . Chim Chris Classe de Litferatura. - ie iencias Cursos de leitura . -. Divorcio (0) -. . Bere de Sant Tago de imbra.. eB Economia politica E Eseriptores de Direito hiepanhoes - Escripiura repentina .. Fstadista aeademica | (rosumo de preleccdes de). Estrella (a). Estudos Geologicos do Bagsco 91, 119, 142 Faculdade de Direito em 1851— de Mathematica cm 1881—52.. 153|Proudhon e a Economia politica .. 78, 83. 183 131, Relloxdes sdbre a Kneyelopedie moderne . inhios de ferro... physico-methematica Credito territorial... terramentos em Coimbra... programmas de Cursos . Fernando Il (ost. D.) como foi recebido 121 | Memor 226, 247 | Origem dali §2.. 96 | Programas de cursos - em 1836 pela-universidade ..:... 108) Regulamento dos Cursos d Bygiene publica Uymno a0 irabalbo. « versidade « Iniluencia das cruzadas na ci Inglaterra (a). poesi Inedictos portugiezss Instrweeao. primaria ——piblica Instrumentos do Observatorio 117 | Relatorio annual. do In =. ++++ 21, 37 | Socios honorarios. 185,,| Sombra de Portugal (a) 215, 228, 936 : tt, 217, 930 | de Koenigsherg s+.” 145] Veterinaria....... + 7,19, 161 | Vida dos Arabes 87, 102 | Mosteiro de S. Jorge .. .. +... 142,| Natureza ¢ origem da linguagem, ¢ es descoberta dum metal 191] eriptura no (0), a egreia. eo progresso 207, | Notictario gua portugueza | Paginas da vida intima. 4, 11, 505157, 1 stoma de montaahas de Beaumont "49 | Universidade de Coimbra... 45 | Villa nova de Gaia (poesia) 58, 189, Leitura 14 | Sebastiao (D,), seu recebimento na uni- Joao TIT (D.), seu recebimento na uni- Versidade -.. sdauniversidade 192, 202, 249, 28% 99, 115 212 287 ~ 111, 186,466 | Palmeirim (L. A.) 198 Parallaxe das estrellas, . rts Pedro II (D.), seu recebimento pela uni- 235, 247) versidade - nee aT <+.. 04, 107, 130 | Pena de morte em Inglatdira .... 74 | Philosophia do direito em Portugal .. 8. 31 168 | 62, 177 239 | —— moral (elementos) .... 8%, 108, 128, 223 150,172 eee 250 | Physica .. 81, 197% 219 36, 183 | Poesia dramatica ee 26, 39 33, 35 do soffrimento...... +. 3, 93, 147 41. | Ponte de Coinibra - 233, 285 Populagdo do districto de Coimbra 110 162 | Primeiro de Outubro (0) - 438 218 176 19% 196 + 179, 209, 219 138 © Instituto, JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. INTRODUCGAO So 0 credito ¢ a duragao de’ um jor- nal dependessem de pomposas promes- sas, a nenhum faltariam os leitores; ne- nhum acabaria extemporancamente. Se houvera de julgar-se de seu merito pelas primeiras piginas, poucos deixa- riam de merecer adinissio, nao diremos Ja nos camarins ¢ saldes, mas nos gabi- netes @ nas bibliothecas dos sabios. Obra em principio quasi sempre de poucos, e estes animados do zélo, dedi- Gagao © esperanga, mas, carecendo de trabalho de muitos na continuagao, raro 6 aquelle que nao falte a0 promettido; e que, passado cerlo tempo, giao desap- parega. O Instituto, attentando no logar de seu nascimento, nas habilitagdes 0 boa vontade de seus collaboradores, e nos grandes talentos e luzes de tantos profes- sores, lilleratos, e estudiosissimos man- eebos, que se dispoem a coadjuval-os, poderia egaalmente prometter muilo. E mellor porém que, em vez de pa- lavras, as obras 0 acreditem, Em principio bastard dizer sua ori- gem, e 0 fim a que se propoe. Os'membros e socios do Instituto da Academia Dramatica, desejosos de alar- gar 0s limites d'esta sociedade, subordi- nada 4 mesma Academia, resolveram no prinefpio deste anno constituil-a inde- pendente, tendo por fim geral a cullura das sciencias ¢ letras, — composta de You. 1. Anni 1.°—1882. tres classes, de sciencias moraes e po- liticas, — physico-mathematicas, e de litteratura, bellas lettras:e artes, © com 0 nome de Instituto de: Coimbra. Coadjuvar a Academia Dramatica na consura das pecas nas represontagbes theatraes, alé entao o principal objecto, ficou sendo secundaria, posto que muito em vista para desempenhar-se prompta © conscioncicsamente, quando a mesma. Academia. deseje. Os novos estatutos, reproduzindo o disposto nos anteriores, ao qual a Re- vista Academica, com maita honra para seus redactores, por algum tempo dew cumprimento, ordenam a publicagdo de um jornal scientifico e litterario. A direcgao, apenas eleita, encarregou a uma commissio as providencias neces- sarias para 0 desempenho desta tarefa. 0—Instituto— ¢ 0 resultado de seus trabalhos ; e os redactores, sem outro intuilo, nem mais'interesses que os da sociedade, a que muito so honram de pertencer, nao se consideram senao co- mo seus mandatarios, Os trabalhos das tres classes; quaes- quer outros escriptos, respectivos a al- gama dellas, e de reconhecido merito, tanto dos socios, como de extranhos ; junctamenteas mais importantes noticias | scientificas, lilterarias, ¢ artisticas, que | possam obler-se, occuparao as colamnas do Instituto. | Publicado no seio da primeita eorpo- | Tacao scienlifica de Portugal, rate un. 1. 2 por pessoas que s¢ prezam ¢ gloriarn do nome de scus filhos, nio somente pu- gnard, sempre quo for mister, por seus logitimos interesses; mas publicard com. preferenci quanto respeitar de mais in- tetessante 20 passado, presente, ¢ futuro da Universidade. i Que o Instituto 6 absolutamente ex- wanho 4 politica, manifesta-o seu titalo. Esta exclusao sera rigorosamente man- tida, A defenstio tanto da religiao do esta- do e da boa moral, luz e fundamento da sciencia, como da Egroja, mestra da ver- dade, o Instituto prestaré de bom grado suas columnas Jamais a impiedade, a caldmnia, ¢ qualquer personalidade, por mais enco- berla que se-apresente, qualquer que seja a forma que tome, sera admittidi ‘As: felices tendencias do secalo nao) toleram, que’a sciencia se cnbracom os veus do mysterio. Se Deus permite ao sabio descobrir as leis da natureza, phy= sieas, moraes ¢ sociaes, nio 6 para fo- mentar ‘seu orgulho, mas por interesse da bamanidade. A aristrocracia da scien- cia nao 6 toleravel, senfio quando se ex- © INSTITUTO erce no bem piblico ena geral illustra- ho. Hoje o homem que nao péde seguir os cursos publicos, aquelle que se ve forgado a yotar toda a existencia ds fa- digas corporaes, o humilde artifice, o la- borioso operario, tambem querer saber. Ea razao, a oxperiencia, o estado social, a natureza das instituigdes @ dos gover- nos, @ as urgentes necessidades geraes da esphera politica, justificam este de- sejo: mais ainda, ordenam imperiosa- mente que se satisfaga. Ao jornal seientilico e litterario cabe uma parte, ¢ nio pequena, d’esta hobre missio. Por elle se communicam ern lin- guagem facil, despidas do apparato das escholas, as nogdes fundamentaes de to- dasas sciencias, aos que nao podem pro- fundamente cultival-as. Os redactores do JInstituio, intima- mente conyencidos d'esias verdades, e animados de sincero 2élo pela sancta causa da educagdo e instrucgao do povo, reconhecem e acceilam ésta nobre mis- sao do jornal litterario. Coimbra, 15 de Margo de 1852. A. FORIAZ. o INSTITUTO ‘A SOLEDADE (Fraduegio da 1,* Meditagio Roctica de Lamartine) No eareomido tronco de um earvalho, Quando 0 sol ja declina, Mergulhado em tristeza, eu vou sentar-me No cimo da collinas Dialli derramo as vistas desvairadas Dos campos pelas scenas variadas. Aqui fremo, espamoso, um rio em vogas; E em giros de serpente "Num horisonte obseuro vae sumir-se; 0 seu crystal dormente Alem um logo espraia, relectindo De Venus o falgor, que vem sargindo, Na etista da monianha, coronde De denso bosque umbroso, Do sol ainda um raio se divisa; E 0 carro vaporoio Da rainba das sombras vem rodando, AAs raias do horisonte branqueando, Do campanario gothico vibrado, Um som quasi divino « A oracio convida, e ao repouso, Cangado peregrina. Com 0 tinir do bronze harmonioso 0 dia se despede, suspiroso. Desgostosa, insensivel, a minh’alma, Sem fixar-se, vagueia ; Com o prazer Woutr'ora, ‘nestes quadros, Triste ja nao se enleia!! Olho a terra, qual sombra espavorida! Os mortos nfo aquece o sol da vida. De collina em ccllina vagueando, Do sul a0 aquilao, Meus ollos, desde « aurora ao occidente ©» Tudo éorrendo veo: E cu digo:—minha vista em vio procura, Em sitio algum dopara c'o ventura, Estes valles, as rochas, os palacios, B as chogas do pastor, Para mim vaos objectos som encanto, Nao tem nenham valoi em um ser que vos falta, amenos prados, Rios, bosques, ... sois ermos escalvados. Quer 0 giro do sol va ter principio, Quer esteja a findar, Ea, insensivel sempre, pelos ceus O vejo caminhar. Quer sumido entre nuvens, quer radioso, Qu'importa o sol e 0 dia ao desditoso? Ainda que em seu gyro en o seguisse Das cous pela extensdo, Meus olhos sequiosos so veriam © vacuo, a solidao: De quanto cobre o sol nada appoteco, ‘Ao, mundo inteiro couse alguma peco. Para, além d’estes mundos, ‘noutra esphera, Onde-um Sol mais brilhante Outros ceus, outros astros allumia Com luz mais fulgarante, Se 4 terra, o que é da terra abandonasse, Talvez que os mous desejos contentasse, La daria co'a fonte, que so pide Saciar meu ardor: So la realisira a minha esp’ranca Os meus scuhos de amor; Esse prazer ideal, que a alma anceia, E que a lingua dos homens nao nomeia. E eu porque nfo posso, remontado Sobre os carros da aurora, Ir unir-me comtigo, 6 caro objecto, Por quem minh’alma chora? Eu que feco no exilio; que me encerra, Som um so lago, que me prenda d terra? Quando no outomno as folhas resequidas Cahem murchas no chao, Bem longo, pelos campos, gs dispersa Da tarde 0 furaedo; Eu sou tambem, qual folhe resequida : Arrojae-me, aquilées, além da vida. A POESIA DO SOFFRIMENTO ‘Morte ti chiama ; al comiaciar del giormo ultimo instante, Al ldo onde ti parte, Non torneral.... ‘otseomo tm0raRDr. Muito tempo tinha passado, depois que 0 sol mergulhira a fronte d'ouro nas aguas do Oceano. ! Os horisontes comegavam de trocar suas bres do purpura pelas sombras do fim do erepaseilo, 0 vulto grandioso da noite descia rapido das nuvens do Oriente; ¢ a lua, involta em mysteriosas nuvens, despontova nos ceus! Grazeilia adormectra, sentada sdbre.o lei- to. Seu gesto cadaverico, reclinado sObre 0 collo, ostentava uma fronte larga, pallida e melancholica, onde as tempestades do espirito, em seu trlusito rapido e violento, tinham gtavado hem profundes vestigias. Longos © negros cabellos fluctuavam sobre os hombros da virgem, que, & luz duvidosa do fim do dia, pareciam desenhos phantasticos num fundo de alabastro. O peito, sébre que descansavam seus bra- os, exhalava uma respirectolenta, convulsa, febrivitante.... Q INSTITUTO A phthisica consumia as tltimas forcas de Grozeilda, ¢ a morte batia-the as portas do corapto. Aos pes do leito esta sentado um mancebo.... Qs circulos lividos que Ihe cingem 03 olhos, as sombras que Ilia passam no sefiblante, hem ‘mostram, que esgoltira até ds fenes a taga das amarguras humanas. Cravando os olhos no gesto immovel de Grazeilda adormecida, ia tirando de uma har a accentos tristes e melodiosos, como 0 mur= murio da aragem da soidio, como os suspiros intimos de uma alma inferma; Nao longe avultava um homem de presenga altiva e composta, riso frio e mephistophelico, —reflexo de uma alma agitada @ forle. Contemplava, absorto, atraves das janellas do aposento, as vastas planicies do mar, que a0 longe desinrolaya suas cternas aguas. —Pedro!—0 mancebo estremeceu violen- tamente. — Grazeilda! —Porque nio cantaes? —Cantarei!.... 0 mancebo entoou, um canto, que compo- zera nos dias fugitivos de sua ventura. Sua voz robusta ¢ melodiosa encheu os ares de vibraedes, e agordou 0s echios do. valle. Grazeilda estava immovel, como a esttua de um: sateophago: apenas do quando em quando 0 pensamiento’Ihe passava ¢ repassava no semblante. A fronte de Sesto, que ha pouco descreve- mos mais s¢ annuviava a cada aceento do canto do mancebo. E cantou assim: «Lua, rainha das noites! derrama teu cla 180 limpido e suave pelas campinas e pelos valles; banba de luz 0 aleanlil ¢ a serra: heija as vagas do Oceano, falla-Ihes de amor! is bella! quando, involta em nebulosos ¢ diaphanos veus, inclinas a fronte para escutar os estremecidos juramentos,.... as vozes do coragao, que 0s espinhos da saudade magoam ¢ dilaceram, Hs sublime! quando ergnes tua fronte real no meio de milhdes de mundos, que o Eterno suspendeu no espago, para fazerem 0 costejo da tua gloria! Amo-te, 6 Inal porque me ensinaste a sen- tir as intimas emogdes do amor; porque ww és a imagem da afleigao pudibunda ¢ myste- riosa, que enche de gozos inellaveis 0 espirito virgem e immaculado. Amo-te porque despes o mundo da reali- dade grosseira © material para povoalo de sombras phantasticas, harmionies, © myste- rios ‘Amo-le mais que ao sol: porque, se elle ostenta uma coroa de fogo rutilante, tu, pura emelancholica, derranias teu brilho suavissimo nas horas silenciosas ¢ perfumadas da noite! ‘Tu és 0 astro dos que sofftem, como o sol 6 0 astro dos felizes da terra. Quando brithas no ceu, vae 0 desventura- do, para quem morreu a esperanga, humede- cer a campa da malher, que amou : © 0s pren- tos, que dores intimas repassaram do agonias, mola essa pedra fria; ao passo que tu, cscondendo tua face brilhante no. seio das havens, pareces chorar com 0 infeliz as illu- ses do amor! Tu conheces todos os annaes reconditos do espirito, que os sentimentos embriagam, que as paixdes dilacoram Acolhes as confidencias do amor; e nfo vaes offerecel-as 4 irvisao das turbas, trahindo a amizade, que te oré sancta. Escutas’ 0 respirar das. selvas nas horas, em que. o Eterno poz 4 natureza 0 preceito do descanso. Prestas o ouvido as notes acreas e fugitivas da harpa dos ventos Beijas o ealix das flores, que aguardam, pale pitantes de amor, 0$ teus brilhos, para abrir seu, seio ¢ perfumar as brisas da noite, Hs 0 mytho, o symbolo do ideal, do subi me, e do mysterioso: quando illuminas o un verso, a alma do poeta, desprendida da-terra, vae nas azas da phantasia. sondar és rogides desconhecidas do espago, Continia GUILERMIND AUGUSTO PAGINAS DE VIDA INTIMA I A partiaa Adiou, edion 1 my native shore Fades o'¢r the walers blue, ‘The uishtewinds sigh, the breakers roar, ‘Anil shrieks the wild sea-mew. ‘Yon sun that sets upon the sea We follow in his Aight Farewell awhile to him and thee, My native Laal—Good Night! Lord Byron, Navega no Oceano, meu lindo brigue 8. Bernardo, com as tues velas de fino linho, com as {uas cordas tio delgadas, com os teus mastros de rico cedro, apparelhados nos esta- leiros da Figueira, onde nasceste a claridade suave d’um dia de verdo. Espriguica teu lizo costado na superficie ozulada das vagos, que te cercam para te acalentarem no seu ninho de brancos folhos d’escuma: a tormenta, que le ha de rasgar 03 pannos e quebrar os mastros ainda esti longe.' Dornie socegado, meu bello navio, 4 luz das estrellas, que alumiam o fir- mamento, As pallidas tintas que vestem aquella ‘parte do horisoute, escondida entre as nuvens, apagaram-se com 0s ultimos raios do sol. Ea * se navio perden-se nas alluras da Tih do Pico. 0 INSTITUTO 5 hora do remanso. Ouvem-se vozes confusas, que augmentam, diminuem, recrescem ¢ finalmente morrem no silencio. O horisonte esta bordado de navemsinhas diaphanas, cbr da espuma dos mares. Deisimos assim atrds de nés as montanbas do archipelago, que se erguem, como sombras gigantescas, no meio do Atlantico. ‘Apenas se divisava a0 Jonge um vulte negro, que se debrugava nos rochedos, devassando 0 seio das nuvens com seu capacete de bronze, com seus bragos de ferro estendidos para 0 mar, com a corlina azal de mil outeiros, que fecham seu largo horisonie. Era o cadaver dum velbo castello dos Agores As oscillagies, que faz o navio ‘naquelle chio limpido ¢ sereno, dio a ésta scena um earacter languido:e triste. Poucos minutos de- pois o leme era amarralo a um cabo; € 0s balangos cessaram. Tudo dormia, menos 0 homem do quarto, que murmurava uma can- 40 maritima do cabo da Boa Esperanea. Ouvia- se porém de vez.em quando um pequeno rumor, qué um observador mais attento tomaria por um gemido mal contido. Agouro oa presenti- mento, aquelle gemido parecia vir banbado em lagrimas. Ao pe d’uma lampada, a arder no fundoda camara, esi4 um joven, pallido, mado, triste- mente. immorel. Sio negros seus cabellos. Seu olhar brilha ‘num d’esses pensamentos, que lancom faiseas. Sua voz era doce; mas 0 franzido da sobrancelha indicava alguma cousa de singular ¢ inexplicavel. Um simples mo- vimento dos labios é muitas vezes signal de paixdes ardentes. Puz-me a observar este jo- Sen, que um acaso me fazia enconirar, @ cu jas faces pareciam ja deshotadas. Absorto em profando pensar, a cabega pen dia-lhe sobre 0 peito, agitado dum tremor convulsivo. Erguet-se poucos momentos de- pois, e subia & amarada do navio, Notei que as veias da testa Ihe batiam com violen- cia perguntei-Ihe causa de scu soffrimento. Estremecen, quando vin que alguem o obser- vara. Depois, approsimando-se de mim com gesto admirado: Ah! pois nao sabeis, me disse elle, fo que so as aguas, que relleciem o raio que se levanta nos rochedos da patria; 0 voo da ave, que nos passe por cima da cabeca ate se aninhar na roupagem da montanha ; 0 latido do eGo, repetido pelos echos do valle; deixar 6 bergé nalalicio, ea sancta mulher, que nos ‘embalow nos bracos, como filho de suas entra- nhas e de sua alma? «Védes alem, continuou elle, aquelle ponto sombrio no espaco? fi 0 paiz dos mous amo- res de menino, dos falguedos da minba-infan- cia. Aquellas cintas escuras, que de yer em quando surgem no ceu, si0 as minhas mon- tanhas, cercadas de musgo 6 verdura, As nu- Yens negras, que passam ao longe, sacudidas polo vento da tempestade, 05 frondosos pinhei- Tos, qué coroam a easa em que nasei. B ainda me’ perguntaes o que eu lao aqui, a éstas horas, quando a vaga, a que suecede a vaga, nio tarda a arrojar-nos para longe d’equella terra da patria?» B, dizendo éstas palavras, virou-me as cos- tos, com 0s olhos sempre cravados no horisonte. Debalde quiz ter com elle uma explicagdo, foi insensivel a tudo, No dia seguinte, quando me levantei, perguntei-Ihe, se estava ja res labelecido de seu pesadelo, lespondcu-me com um leve sorriso, Eneostado a um cabo do navip, divertia-se a ver a onda a despedacar-se ‘naquelle fragil lenho, fabricado por mos dos homens eontra a furia dos elementos, Mas para onde csminhava assim este joven imerce dos ventos?. . Cantinia. ALEXANDRE MELRELLES. OS BANHOS DE LUSO Os Bannos de Luso, no Concelho da Mea- thada, Districio de Coimbra, estdo situados na encosta occidental extremidade N. da serra do Bucaco, entre as duas aldeias, © Luso da Bgreja eo Luso d’Além. Na parle mais elevada d'esta incosta, fica a mata do Bugaco; cujo arvoredo ¢ Jimitado pelos muros da eérca,, fora dos quaes apenas se ¥e escasso malo, ¢ rochas denegtidas, So para-este lado occidental apparecem pinheiros, ‘e poucas oliveiras, Mais abaixo nos dois Lusos. e mesmo em rola dos proprics hanhos, comeca o bom terreno, destinado 4 cultura do’millo, abundantemente regado da fonte de S. Joao. Este local nio é desagradavel; e 0 passeio da mata recreia muito os banbistas, ¢ tem seus encantos para o doente hypochondriaco, Noticia topographica e geological da serra de Bagaco, A sorra do. Bugaco é dos macigos mais ele- sados de toda a cordilheira, que limita pelo oriente a bacia litoral d'entre o Youga eo Mon- dogo. No seu prolongamento por$.8 B. atra- vessa este illimo rio em Penacova; com diver- sas denominagdes, de serra da Mucella, serra de Sancla Quiteria, etc., vae confundir-se com asmontanhas de Goes, dependentes das serras da Lousen ¢ Arganil. Para NNO. temo seu limite em Luso, tres leguas acima de Pena- cova; extremidade, 00", 0 acima do nivel medio do Ocoano, ponto mais eleyado de toda a serra, 82 projecta em dois largos. contrafor- tes, que se divide em collinas diversas, d'um outro lado da serra. Assuas yertentes, do.cumealé meia encosta, offerecem bastante regularidade; sic em geral 6 O INSTITUTO incultas, d’uma vegetagto agreste e defintiada, c escalvadas em parte: o contrério do que suecede daquella linha para baixo, ‘onde se veer muito boas ribeiras e bastantes povoa- gies, especialmente na vertenle occidental. Banhor de Luso. a—areias subcretaceas. )—calearzos juras- sicos. c—gres variegado? (bigarré) d d— schistos crystallinos. ¢¢¢— formagdo carbo- nifera? As areias suberetaceas, ¢ 0s ealeareos juras- sicos, pertencem d grande Lacia litoral d'entre 0 Tejp co Vouga. 0 gres variogado faz parte da extensa facha de gres vermelbo, que desde o Vouga se es- tende por Coimbra, Cinco-Villas, até as. vizi- nhagas de Thomar. © schisto erystallino vé-se descoberto desde Luso, até mais de méia encosia d’esta extremi- dade da serra. Tem aqui oseu limite para este lado; ¢ para NO. estende-se ja fora da serra eousa de meia legua até perto de Villa-Nova de Monsarres. A formagio carbonifera, vindo proximamen- te por SSO. das vizinhaneas d'Agrelo, atra- vessa a serra na exiremidade septemtrional. Entre a fonte do Salgueiro, e 0 mura da eérea divide-se em tres ramos. O 1,” passa pela Cruz Alta, e Almas do Encarnadoiro, seguindo, ja fira da serra,a direceio N. para Val-da-md, 0 2. corre para Laso d’Alem, onde acaba ; assim como 0 3.° que passa mais a 0, Com- poe-se de poudingues, gees, argillas, e psami- tes, alternadas de differente modo; mas os poudingues sto a rocha predominante, Os sei 203 d'estes poudingues siio de quartzo braaco e escuto; @ 0 seu cimento ¢ 'nalgumas partes gres silicioso, e ‘noutras partes argilla e gres ferruginoso, como se ve na rocha, donde nas- ¢em as aguas ferreas do Encarnadoiro, Para o S. da serra, ja féra do nosso eérte, € na altura da Cruz Alta comega a formagao os fossiliferos primarios, éomposta de quar- wite e schisto siluriano, Esta formiacdo esten- dese por Penacora, serra da Mucella, até & Venda-Nova de Poiares, ¢ talven mais alem, constituindo quasi a totalidade da serra do Bucaco. O quartzite {6rma toda a sua crista, e parte d‘ambas as vertentes, D'abi para baixo, do lado occidental, ¢ tndo schisto siluriano, As formagbes, que entram na structura € composigao desta serra, veem-se quasi todas neste c6rte ideal, que passa no local dos banhos, na direcedo EO., oceupando o espaco da meia legua approximadamente. Tameita de S,!* Eutemta, algum ealeareo, ¢ bastante diorite de data contemporanea; e do outro lado é limitado -esteschisto na base da vertente por um schisto argiloso, que tambem fica alem do-cérte, que se encontra a descoberto em differentes pon- tos da estrada de Carvalho, Sancto Antonfo do Cantaro, ele., © que parece ter a sua posigio chronologiea entre oschisto siluriano ¢ oschisto caystallino de Luso. ‘A agua dos banhos hrota do schisto crys~ tallino atraves de pequena camada do terreno detritico. 0 tal ow qual conhecimento geologico que temos da serra do Bugaco, devemol-o @ uma exeursdo que fizemos em Janeiro de 1861, por ambas as vertentes da sora até Penacova, com o Sr. Carlos Ribeiro; e 4 leitura da sua memoria dirigida ao Vice-Presidente da Socie~ dade Geologica de Londres, Sir Daniel Sharp. Com ésta memoria, © com as mais que 0 Sr. Carlos Ribeiro vae continuando a mandar para Londres, pode-se adquirir com facilidade um conbecimento profundo da geologia do Bucaco, Analyse das aguas dos Banhos de Luso, ANALYSE QUALITATIVA Fizemos este ensaio analytico juneto da nase cente, As qualidades physicas desta agua, fo- Yam apreciadas no dia 27 de janho do 1881 pelasi1 horas da manhan, A Orca da nascente € de 0,4 do palmo cubieo d'agua por 1! Qualidades physicas:— Cor—limpida. Sabor — Nullo. Cheiro —Nallo na oceasido da sua.colheita, mesmo depois de yaseolejada em vaso tapado; mas passados 13 dias, entre muitas garrafas que se abrirem no laboratorio, appareceram tres, em que era censivel, em poquenissimo gtau, o cheito caracteristico do acido sulphy- drico, O.INSTITUTO, 7 Péso especifico — 1,00059. Temperatura —21°,25 R. estando a tem- eratura atmospheriea a 16°,78 ¢ dando o yarometro 76™", 35, Caracteres chimicos:— A tintura do tournesol, dando agua mine- ral uma cér avinhiada ; 0 papel do Louracsol, perdendo a cér azul ¢ tornando-se leremente avermelhado; ea agua de cal, turvando a agua mineral e dando logar a um previpitado Dranco, indicaram a existencia d’acidos livres. A diminuigdo na intensidade de todos aquel- Tes phenomenos, quando se empregaram os Teagentes om agua, que tinha solfrido ligeira io, fzeram suppor uma pequena quan- lidade de acido sulphydrico, desapparecimento d’aquella turvae%o com aaddicao de mais agud mineral, ea efferres- cencia que den aquelle precipitado branco om 0 scido chlorhydrico, mostraram a exis- tencia do acide carbonico, O desappareeimento, so em parte, do mesmo precipitado com a addigao de mais agua, fez lembrar os carbonatos alkalinos @ os carbo- alos terreos, acetato de chumbo, produzindo nas pa- redes do vaso uma crystailisacdo levemente s- cura, indicou a existencia de sulfuretos. Os mesmos sulfuretos tainbem foram indi- cados pela cdr denegrida, e pelo precipitado escuro quea agua deu com o azolato de prata ; mas como, antes de chegar a esta cor, 0 li- quido se tinha tornado leitoso no momento da ‘experiencia, ¢ tinha successivamente pasado por uma cérazulada, ¢ cada vez mais escura, suspeitou-se que tambem houvesse chloru- Telos. Ainda pareceu confirmar-se a existencia ‘simultanea dos suifuretos e chlorurctos, lan- cando, na agua mineral o sulfato de cobre, que fez. precipitar o enxofre dos sulfuretos no estado de sulfureto cuprico: © decantando de- pois 0 liquido, e sujeitando-o a aceao do az0- tato de prata, que dou um precipitado branco, soluyel no ammoniaco— chlorureto de prata. precipitado, branco, que dd a agua de cal na agua mineral, tomando a forma de pequenos graos pagados a0 fundo do vaso, quando a experiencia se faz em Trasco tapado, den suspeitas da magnesia, que predamina no schisto crystallino dgnde o nascente broia. © sublimado cotrosivo dando logar a um: nubecula d’um braneo sujo, ¢0 alcohol dando um pequeno precipitado bralico, deram sus- peités d’uma pequenissima porcao de soda. Q suceinato de soda, dando. um_precipita- do floconoso d'um branco sujo dea suspeitas alguma alumina, Rosumindo os resultados desta analyse qua- litativa, temos na agua dos Banhos de Luso acido carbonico livre, acido sulphydrieo li- vre, carbonatos, sulfuretos e ehloruretos com bases de magnesia, soda, ¢ alumina Fizemos 0 primeiro ensaio d’esta analyse como sr, Bandeira em 1850. Temol-a repetido por vezes; € na que fizemos juncto da nas- cente, trabalhimos de commum om o sr. Carlos Ribeiro. Apesar de tudo isto, ainda a ni podémos dar por incontestayel, porque ‘ainda nio tem a confirmaedo de todos 0s pro- cessos da anilyse quantitativa. Ja tentimos por duas veces sta iiltima parte da nossa andlyse; ¢ sempre outros trabalhes nos tema forcado a deixar em meio alguns pro- cessos. Esperimos que brevemerite a podere- mos concluir; mas, para nao interrompermos a publicagio desta memoria, iremos fallande dos elfeitos dos banbos, em rolagao aos prin cipios mineralisadores, que a analyse quali- tativa ja tem indicado. Cantina AL A, DA Costa siMOES. INSTRUCCAO PUBLICA A instrucedo e educacto publica importa a primeira das questies sociaes em todo. o paiz, que reconhega a instruccio e a moral pela. primeira c mais solida base da organi- socio social, E assim 0 tem reconhecido to- dos os pavos, que procuram engrandocer-se ¢ illustear-se por meio da perfectibilidade que a natureza thes eoncedeu, ¢ do desinvol- vimento intellectual a que o proprio instincto os convida. “Assim 0 julgaram mecessario po- vos conquisladores, quando o tempo e as sa- bias Jigdes da experiencia thes dictaram a necessidade de governar 03 conquistados pela forca da razdo. Dos tres meios que se co- nhecem para subjugar enies dotados de razao. a cultura intellectual e os bons costumes sio a garantin exclusiva da estabilidade do go- vérno, ¢ da prosperidade dos governados. Na fOrma de govérno representativo, mais do que em nentuma outra, se torna indis- pensavel a instruccdo: porque sobre a neces sidade de acudir ds primeiras necessidades da vida, acresce a das indispensaveis habilitacoes para. os cargos publicos electives, ou de no- meagdo superior. ‘Nesta férma de govérno de- vem marchar de accérdo as instituigdes ¢ a instruceao ; porque a ignorancia poe em isco a liberdade. Base fundamental de toda a instruccao, a primeira 6 aquella de que precisam todas as lasses da sociedade, ¢ assim a que merece o nome de nacional; sendo um dever da so- ciedade a que mais s¢ deve facilitar e diffun- dir, lévar-se, quando ‘6 possivel, & porta de todas as familias. B principio assente; ninguem entre nds contesta aquclla yerdade: mas, forga é di- zel-0, a instruecgo primétia nao tem sido a mais favorecida "nesta nossa terra, Sao iane- gaveis os esforgos qua desde 1834 se tem em- 8 o INsTITUTO pregado com a melhor intengio de aperfi goar e propagar a instruceio verdadeiramente popular; mas, cu por falta de plano, que comprehendesse e rogulasso cada um dos ta~ mos d'aquella administracdo; ow porque um pensamenta, de’ sua nalureza fecando, nio fésse bem comprehendido, nem cabsimente dosinvolvido ; on ainda porque a forga de-an- tigos habitos nos prendesse, e fzesse, conver~ gir todas as allencdes para 0 melhoramento dos estudos euperiores; 0 que nao padece dti- vida, 6 que antes do 1834 havia, no eonti- nente ¢ ilhas adjacentes uovecentas vinle ¢ septe escholas de insirucgao primaria, € hoje tem-se elevado 0 mimero apenas a mil conto ¢ sessenta ¢ cito, sendo mui diminuto’o das escholas de meninas. Hoje a falla de meias, o estado menos fa- voravel do nosso thesouro pblico € um véto insuperavel, que se oppde a qualquer ent tiva que se emprelienla, pelo systema seguido da sustentayio das escholas @ expensos do thesouro, Mes um clamor geral,e unisono se solla de todos os angulos do paiz; € opiniao goral a necessidade de multiplicar e melhorar 2s es- cholas:primarias ; a imprensa, @ tribuna po- litica, as reclamagdes diarias dos povos, @ ccremos que as representagies ao govérno do Gonselho Superior nos scus relatorios anauaes, so documentos vivos, energicos e incontes- staveis da existencia de uma opiniio funda~ da, que toma o caracter de um sentimento pilico, a que é forga acudir com algum re- medio adequado, Collacado 4 frente da direcc4o dos estudos, © Gonselho Superior nao. podia ficar surdo, nem silencioso, diante de uma vor t80 fmpe- ipsa, Na sesso do Conselho geral de outubro, ultimo um de seus vogaes ordinarios propoz, se indicasse o mci do maltiplicar as escholas de ensino primario sem encargos no- vos para o thesouro : e 0 Conselho, adoptando a proposta, e convidando ao estado della todos 0s vogaes ordinarios ¢ extraordinarios, quaesquer membros da Universidade que quizerent honral-o com as suas luzes, dispoz a discusso da proposta para janeiro proximo. ‘A importancia ¢ diversidade de ideias lan- cades na discussion moveu o Conselho @ 0- ear uma commissio composta dos vogars,da 42 Seccio, ¢ dos extraordinarios que tomna- ram parle nos debates, para preperar um projacto de proposta de lel, colligindo, coor denando, e dando forma as ideias que mais vogeram nas discussies. ‘A commissio encarregada trouxe a0 Conse- Tho o projeeto, em que se achava consignado: 4.* Que nas parochias raraes do continenté ¢ ilhas adjacenies, em que faliasse oschola priméria se criasse uma elementar por paro- chia, oa qual se ensinasse a ler, escrever e contar, ptincipios de’ rel dale, com wma ligho diaria. 2,° Que fdssem providas éstas cadeiras por conewfs0, ¢ provimento triennel gratuito, ex pedido pelo Conselbo Superior, podendo toda- Via serem ’nellas providos, independente de exame @ provas ptblicas, 03 parochos respe- ctivos, ou seus coadjatores legaes. 3." Que os professores rencessem uma grae lificagfo annual de 503000 rs., livres de qualquer dedueeio ou imposto; ¢ serdo ca sados com muthores habititadas para 0 ensino das prendas e lavores do sexo feminino, se les atonassem mais 203000 rs. pelo ensino das meninas, formando d'ellas uma classe distineta na eschola 4* Que dos 803000 rs. vinte ficavam, na conformidade da Ici, a cargo das Camaras; ¢ trinta seriam deduzidos: 1. Do tereo dos sobejos dos rendimentos das Misericordias, Irmandades, Confrarias, Junctas de parochia, depois de satisteitos os encargos pios Tl. Da décima do juro de capitaes empres- tados por corporacées religiosas e institutos pios: is IL. De uma subvengio mensal paga pelos alumnos pertencentes familias que paguem hnais de 500 rs, de décima; sendo ésta de 40 1s, ale 300 fogos; de 80 rs, de 800 ate 600 ede 120 rs, além de 600 fogos, com appli- cago para, despisas da casa @ servico da eschola, e material do ensino necessario aos meninos indigentes TV. Que as despesas e fisealisagto dos ren- dimentos’ d'aquellas corporagies fssem_im- preterirelmente reguladas pelas disposigdes do Deereto. (Gonyertido em lei) de 29 de outu- hro dé 1836. 3." Que se dividissem em cathegorias todas as escholas primérias, segundo os objectos do ensing © réncimentos dos professores, pas- sando a elementares parochiaes algimas das ruraes, actualmente existentes, assim como fdssem vagando. : 6.* Que aquelles rendimentos das"ascholas parochiaes fOssem atrecadados pelos Thesou- reiros das camaras, podendo © Conselho Su- perior fazer transferencias na razio das ne- essidailes da instruepto elementar. Continue A PHILOSOPHIA DO DIREITO EM PORTUGAL A philosophia do dizeito tem feito depois do immortal Kant espantosos progressos. As escholas philosophicas d’alem do Rheno deve a sciencia um estado tho prospero e esperan- so para a humanidade, Portugal nao ficou extranho & este movimento, Da Universidade dé Coimbra, da Athenas portugueza, partiv 0 impalso; deu-lh'o 0 genio poderoso de am 0 INSTITUTO 9 seu professor.—Expor o estado da sciencia ‘no nosso paiz, na sua relagio com as eseho- las ‘anteriores © com a philosophia alleman, eis 0: que nos propomos ‘neste trabalho, A ideia de um direito, fundado na matus reza humana, concebido ‘pela razio, e inde pendente'e anterior as leis positivas, estabes Abcidas pelos homens, n€o podia ‘deixar'de se manifestar na conseiencia’ do eu, deste que © espirito humano, obedecondo « ume forca intima de sua constituiga0, comprebendeu a necessidade dese vlevar scima da esphera do particular c do sensivel, a que primeiro se havia applicado; © de eonceber para as’ di- versas ordens de ousas principios e leis con slates, capazes de estabelecer pela sua ge- neralidade harmonia ea unidade na: inde- linida variedade dos phenomenos particulares. A verdade foi entao reconhecida, como um principio universal; as. ideias do bom e do Jusio, que se vio resolver na coneepedo sus lime de Deus, considerou-as a razio na sua impersonalidade, como leis geraes para a acti- vidade human Devia pois ficar estabelecida: a distinegaio necessaria entre as leis positivas © variaveis da sociedade, © cs principios constantes ¢ eteros da natureza humana, apenas. 0. espi- Fito do homem so olevow dos factos da expe- Fiencia ‘aos principios yeraes, e se conven- eeu, de que assim como ha para o mundo physico principios primarios e leis gcrnes, existem tambem na créem moral principios e leis identicas; as qunes, longe de serem ereagio arbitraria da vontade, resullam de sa natureza; e s40 0 padrao pelo qual 0 ho- mem deve afferir suas acedes, e a sociedade sta organisagfo. 6 esse momento, quasi com do physico, 0 homem pe endo dirigir seu estudo sdbre 0 mundo mo- ral. Comegou de exeminar philosophicamente as relagdes sociaes; e tontow para logo des- cobrir a orgenisae@o social mais conforme a sa natareza ¢ fim racional. Toi ‘nessa epo- che que a conseieneia comecou a penetrar egualmente as espheras material ¢ moral cm sua essencia intima, até vir a ‘constituir os tenipos modernos nas mios do idealismo © ponto do contacto entre essas Juas’esphe= TAS} as quaes, parecendo alternativamente compenetrarem-se em suas leis, nem por isso se podem confandir, por mais alto que re- monte a philosophia, sem que esse ponto de contacto desappareca em uma identidade ab- solata, Essa necessidade de descobrir um: princi- pio constante @ eterno de wnidade, ¢ capiz de servir de criterio na apreciagio dos facios da ordem social, devia. tornar-se sensivel no ‘meio das instituigdes. positivas, mui Aiseordantes, quando no contrérias 4 natu reza humana. Deste modo, a ideia’ do jusio, concebida como prinetpto social, e engrandecida suc~ cessivamente’ pelas discusses theoricas, se foi desinvolvendo, 20 passo que se fortalec com a mesma opposicad que encontrava ‘nes- sas luctas sociaes, # qute por vezes serviu de causa ou de pretesto. Nio segairemos 0 desinyolvimento dos prin= ios: philosophicos do direito- em todas as suas epochas, nfo so porque teriemos a con- siderar a antiguidade, a philosophia ehristan dos Padres da Bgreja, @ a philosophia escho- lastica, ¢ em fim a philosophia moderna dos tres ultimos seculos, (ends mio escrevemos whistoria do direito tatural); mas tambem porque, procurando dar principalmente uma dein do estado. d'esta seiencia em Portugal, bastard apresentar, para mais immediata lig 0, um rapido bosquejo de sua historia’ na epocha moderna: até mesmo porque alfou- tamente se péde affirmar, que 6 direito na- tural, coordenads em systema scientifico, ¢ constitainda assim tractados especiaes, sé= ‘mente appareceu depois da restaaragao das letiras com a obra immortal de Hugo de Groot. IL Gom 0 seculo XV: comegou a epochs moder na para’a philosophia, ¢ por tanto tambem para o direito natural; porque existe um pa- tallelismo perfeito entre a philosophia € a seigacia philosophica ¢ a sciencia sovial. Am- bas passain pelos mesmos.periodos de organi sagao edo crise; sua origem v destinos sio identicos ; sua base éa natureza humana em sua manifestagao mais elevada; abrangem-na por todos Iados, ¢ tendem a satisfazel-ae desin- volvel-a em sua unidade completa e total, Circumstaneias éspeciaes da Europa produ- ziram 0 novo motimento philosophico. 0 cir culo dos humanos conhecimentos, que se ia estendendo, as novas relagdes estabelecidas entre os homens; ¢ as discusses. religiosas, quo oxcitaram 0 trabalho do espirito, os pro- gressos da industria, que reclamavam com- manicagdes mais frequentes € activas, tudo concorreu entio para alargar o horisonte da ramao,@ langar a philosophia ‘num caminho novo. Isto deu nascimento @ grande mimero de eseriptos, nos quaes, com espirito mais ou menos independente, foram examinadas as questoes de direito natural e de politica, procu- rando-se ja um ponto de apoio seguro na natu- reza € na olservaedo,e pondo de parte muitas dasabstracdesmethaphysieas dos escholastieos. Importantes foram para a philosophia do direito 05 resultados do novo movimento phi- losophico. A moral foi mais claramente dis~ tineta da religito edo dogma, debaixo de cuja bonefica influencia se tinba aié entdo achado, 10 Dado-este passo; comecou-sé a estabelecer. a distineedo entre a moral ¢ 0 direito: mas esta trabalho de andlyse mem por isso se, ope- rou sem orzos. Era mister. que viesse 0. philo~ sopho de Koenisherg tornar esta distinegaio uma reelidade, ‘As theorias philosophicas do direito produ- villas pela nova diregg30, que 0 movinenio philosophico oporira nos espicitos, divideme, depois de alguns) ensaios.indecisos, em duas grandes, cathegorias, segundo a diversidade de systemas, em que Bacon e Descartes divi- diram a philosophia. Mas as theorias, proce- dentes estas ditas bases, t8m-se dividido em nil sysiemas diversos. Mostrard ésta suceessao de theorias philosophieas sua impotencia, ow sua vitalidade?— A continuagdo dos mesinos esforgos, diz Reybaud, nao prova sengo una coust, 9 utilidade d’elles, e a grandeza de seu objecto: & 0 problema da vida, 0 polo para onde tonde o pensamento, mesmoquando deses- pera de Ia chegar. Unam-se todas as theorias sociaes e philosophicas por um principio supe- rior; © a verdade sabira d'essa. unitio : pois quem nos diz, que a seiencia humana com sua dosuniio nao tem trabelhado para preparar providencialmente a communhao do futuro; ¢ que uma geracto proxima nao descobrird a luz ¢ @ harmonia ‘nese chaos, que campde hhojea tradiego philosophiea dogencro humane © sonsuslismo nescido do methodo experi= mental de Bacon, fei apresentado por. Hobbes a sua forma materialista. Locke vciotransfor~ mal-o depois ‘nui systema de reflexio ; mas Condillac fel- de novo revestin sua forma sen sualista, e mais tarde a materialista, que achow um strenuo propagader no auctor do: livto do Bepirito. Este systema devia conduzir a nogio de direito a'uma eoneopeno analoga ; e por isco a theotia juridica d’esses philosophos se resente de suas doutrinas philosophitas.— Para o phi- losopho de Malmesbury 0 homem mio! passa de um ser sensitiva; seus desejos, ea Trea, constituem a medida do direitos dabi nacco uma guerra de todos contra todos, que é 0 estado natural ; d’onde os homens somente ai- ram para gozar do seu, cstabolecendo. wm podér energico, absoluto, © despotica. Locke porém,, admittindo jiacima da simples son= sagio a reflexio, vae buscar a origem da socies dade a um contracto. social, -acio rellectido, que deve garantir 0s dircilos da liberdade humana; € a movarchia absoluta oppoe. 0 governo constitucional. A3 doutrinas de Locke tiveram depois na Franga um desinvolvimento mais: practico ¢ liberal nas obras de Joao Jacques Rousseau. As theorias posteriores eoatinuaram “nessa paia @ resentir-se do. sonsnalismo e matorialismo; eso deixaram de subsisir desde 0 comdgo-de secwlo XIX, em que a philocophia franceza, se- guindo o movimento espiritualista, principiow Q, INSTITUTO avelevar-se a) uma doutrina mais racional sébre a malureza humana; pois ¢ cerlo, como diz Stahl, que as theorias philosophicas appa recem sempre impregnadas da atmesphera in- telleciual, a qual Ihes di uma_physionomia especial; @ s20 0 resumo e a férmula geral da cultara de sua epocha. © espiritualismo, formado. por, Deseartes, involyido. nas, altas metaphysieas,. deixow as questdes moraes. 2 sociaes, e por isso nao achow muito echo em Franga, Alem d'isso a physica de Deseartes-tinkia cahido por terra com as doscobertas de. Newton: arrasiow na. sua quéda)a metaphysica. EntZo nada mais na- ural ao. espirito da epociia, que. substituil-o pola. nova. philosophia de um compatriola. de Newton, a philosophia de Locke, cujas. dou- trinas, mais, prictieas se conformavam. mais como o espirito lao politico e social da Franga. Porém sea inluencia do, espiritaalismo de Descartes nao pide ser grande para logo, ca- he-lhe ao menos a gloria de ser ogermen de uma philosophia, que so a Allemanha foi ca- pax de apreviar; que mio lardaré. a dominar em toda a Europa, mais ou menos modificada. E na verdade o cogito, ergo sum, de Descartes foi.o-— fiat queda philosophia) moderna. De- pois d’elle quasi todas as escholas. tem ido buscar direclamente ao eu pensante as bases do conhecimento, 0s elementos de yerdade.t Bento Spinosa, cujo systema nada mais era queuma consequencia extrema da tendencia ontologica de Descartes, vein depois estabele- cet uma theoria de direiio, que, alem de ex- posta numa, {Sema ponoo precisa, nprosentaya grande similhanga coma de Hobbes. Negando aliberdade humana, absorvendo a individua- Jidade’ na sua doutrina pantheista, ¢ determi- nando.o direito pela fdrea material, a dous trina de Spinosa vinha a cabin na justificago de todos 9s abusos e violencias. B verdade que. elle imaginava uma, tal. transformagao racional: das leis da natureza no estado, que todas: deviamopor ella’ ser livres e eguaes, consideraya.a demogracia como a forma mais perfeita para realisar. ésta.ideia.. Mas estes principios eaiam i vista da base goral do direito, que era: tio reprovada, como ja fora ade Hobbes.* Foi na Allemanha que o ¢spiritualismo teve, como veremos, um desinyolvimeato completo, Tevestindo, formas diversas, Levado a0 extre- mo. pelo idealismo, subjective de. Fichte, ele- vou-se atraves do naturalismo idealista de Schelling, © do idealismo-absoluio de Hegel, a um racionalisma harmonico no, systema de Krause, como qual nio podem competir as doutrinas posteriores de Merbast, Stahl, etc. Continice LEVY Manta sonpio, + Boniliior, Hie. et e 1849, le. = Amand de Seintes, Hitt. de Ia vip et dev over @Spinrsa —Riener, Grech. d. Philosoph, ote. ig. de la revol, cartés, Paris © Instituto, ‘ JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. A estes Gonfiou-nos uma espirituosa e gentil dama soa elbum particular de poesias Entre um jar- dim de tdo belles flores ndo podémos resistir 4 tenlagio de collier uma das mais vigosas; ¢ como no somos egoisla, quizemos que mais alguem saboreass> 0 seu poetico perfumes © a tansplantimos para onde de conbecidos e estrauhos podesse ser admirada. A amavel Senhora teve a.condescendencia de perdoar- _ nos sla respeitosa traiedo, quando inda nao era um acto consummado no consentindo po- rém que Ihe publicassemos do nome mais que as iniciaes. Ha mystorios todavia, que se re- velam por si mesmos, por mais espessos que se- jam 0s inyoltorios de modestia, que as escon- dem. Zh Pellida esteella, com brilho, Imagem da wink vidas ‘Como vives entre as oaltas Solitaria e (io sentida, Assim eu, 6a ‘neste mando, Latre as furbas involvida. cite, no ee d'aail Eros tu, entro as mais belas, A raiska, « mais formosa, Porque veusagora iste, ensativa e pevarosa?..- Quom ofascon o ten brilto, 6 Tinda estrella, no ceu? Quem onscu langar sdbre elle De crepe tio negro ve? ‘Dipe-mo, pallida estrella ‘Teu fulgor porque momrea ? 1La ‘nessa abobada azul ‘Tambom se falla damon, No peito senting géto Nos labios fngindo ardor: ‘Tambem se osteata mentido Na lyra do trovader ? ‘oslo ! 1a no cou, ontle habits, ‘No ha homens, que possam diterle : «Linda estrolla, tu é minha amante.. .» E Aimanhan ir por outra exquecer-te, ‘Mas ba navene vaidosss, que podem 0 ten bello falgor enluctar Como ka dores bem fondas, que fozem ‘Vivas erengas do peito riser. Vou. I. Apart 15-1852. Eoluctada tu vives no eeu. Que nme nuyem cobriu teu alvor. Sem esp'ranga eu ea vivo na ferra, Que a desgraga gelou meu ardor. ‘Vern, eatrolla formona, relleetir-e, Cou pellido lario aus frouxas aguas ‘To sem brilho, ena terra sem esprancay Confundamos asim as ross magoas. Coimbra, 1852. BoM, €. DEE C. BY PAGINAS DE VIDA INTIMA I A partida Gonlianado de pas. 3. Cinco dias eram passados, desde que tinha- mos pordido de vista as costas do archipelago. 0 norto comegava a enorespar a superficie das aguas; ¢ as ondas, espreguigando-se na proa do navio, refleetiam, a espages, nas toa- thas qescuma a luz indecisa dos eetis. Nunca me hao d’esqueeer aquellas noites do Atlan- tio. Uma tarde fai encontrar o joven agoriano adormecido 4 proa do navio. Atravez do vou de muda tristeza, que Ihe escurceia avfronte, divagava-lhe nos labios um riso. de coutentamento; em sonbos, on desenhada no vapor do crepusculo, sorria-Ihe talvez a patria, Desde a seana da partida nao nos; tinhamos ainda encontrado, ou fdsse por elle andar desriado de:mim, ow por desleixo men em o procurar. Soumaturalmeute brusco ¢ sombrio. Com tudo amo a juventude, que me recorda | os dias mais felizes da minha vida Desa vez, port, quendo ojoven acordou, fai sentar-me a seu lado. «Yejo, que ainda nao perdestes 0 costume , de dormir 20 murmurio das vagas, Ihe disse eu, dando 4 minha voz uma inilexao doce ¢ suave, ¢ procurando afagar 0 affeeto sublime ¢ardente do joven palo seu hello paiz. | Assim é, me responden ele 5 que, quando deixo cahir a cabeca a ouvir perpassar as | ondas, recorda-me a fortaleza, que esté de fronte da Condelaia; e que, similhante: a um | eda raivoso, que mostra os dentes ao inimigo, Nit, 2. 12 que o vem alacar, deita para o'mar dez enor- mes bocas defogo. Se a visseis de longo, toda horrifeda d'escuma, com sua artilheria de po- lido bronze, dissereis, que ou zombava dos elementos, ou se mirava wana no espélho das aguas para admirar seus enfeites ‘naquella costa bravia. Por isso a-nobre fortaleza ¢ semi- pre saudada pelos habitantés da costa, pelos Vivas dos pescadores, quando a avistam do allo mar, pequeno ponto negro no meio de seus dois penedos. isto isso, Ihe respondi, a yossa infaneia passou assim desapercebida ¢ ignorada ao pe essa fortaleza? B a vossa familia nao vivia abi tambem? Meu pac 'nesse tempo achava-se ausente, Vietima da guerra civil, que enti acsolava nossa infeliz patria, Lemlira-me ouvir dizer] aniuha mae, que elle andira muitos: djas erranie € fugitive; que fra depois uma noite arrastado para o castello dessses e quarenta dias depois deportado para’ Inglaterra. Eu inha poueo mais de dofs annos. 4 revolugao deixava-me orphdo de pae ; eeu fui ereseendo no collo de minba mae, mal sebendo os dores que curtia aquelle nobre e generoso corac: So depois me lembrou, que nunca The virnos labios um sorriso; sempre terna, sempre alla vel ¢ meiga, mas nunca alegre. cCerlamente pertenceis a alguma das pri meiras familias do archipelago? A minha familia, me respondeu, é um tronco partido d'esses Tavoras, que foram a morrer’ no patibulo por crime de rebelliao; ou por causa dos amores da marqueze de ‘Tavora, como quer um velho, que temos cm nossa tasa, @ que sabe muitas d’essas histo- riag interessantes. de cavalleiros.. Mina, me pertencia a ésta infeliz familia; mas como houve um decreto, que proscreveu para sem- pre esse nome, foi elle desapparecendo pouco @ pouco, © converten-se ‘noulro m0 menos nobre, segundo diz 0 hom do meu criado velho. Com tudo nos primeiros annos de. seu casamento meu pae probiibiu, que se. falasso em Tavoras; porque pertencia a outra fami- fia, Depdis, quando elle emigreu; minha mae, que sempre conscrvow a amor aos de’ sua lie nhagem, contava-nos as scenas que precede- rama morte dos Tayoras: B nao acliaes que tinha razao? «Sem diivida, Ihe respbndi; porque elles morreram innocentes do crime, que thes iin- pularam. Hoje acredita-se, que os tiros foram mui de propesito encommendadas yelo proprio marquez de Pombol; que fiel ao sew proposito @aniquilar a oobreza, nao queria deixar om pe uma'so coroa de conde —Mas, <¢ 08 Tovores, no eram criming- 508, por que motivo os mandaram matar? «Foi porque o marquez era um texriveh inimigo de nobres ¢ cavalleiros. Um dia sax bereis que vastos ¢ immensos projectos con- | virtude e da hionta, e so 0 INSTITUTO cebéia a alma deste grande ministro; que se tivessein havido mais dois homens como elle, Portugal, essa pequena lingua de terra, collocada na extremidade da Europa, seria ainda uma das primeiras nagées do Occi dente, Com tudo este facto da morte dos Ta- Yoras (oi uma nodea; de que, dizem, o ma quez se envergonbava nos uilimos anos da sua vida! . —E com radio, accrescentou 0 joven; pois quo nial tinbam feito aquellas pobres senho- tas; cujos membres foram esquartejados pela mio do algoz no meio dos gritos Terozes da populaga?! Ba scena da pristo, em que, abusando-se dos mystegios da roligifi, propi- naram veneno aos Tavdras ajoelhados? Nunca vos contaram isso? E depois quando o mar- quez de Pombal soube que a filha da mar quoza’de Tevora, quo elle queria selver, fora realmente envenenada, comio nio ficou enfa- recido? Isto na6 fbi com tudo abstaculo para se erguer no dia seguinge na. ptaga de Belem um eadafalso, a que assistiv a cdrte com todo o esplender, e-0 marquez com semblante im- passivel @ severo, «Os homens. so sempre assim, (respondi eu, encantado da viveza ¢ inteligencia do joven): wma vez no podér esquecem-se da 0 ouvidos ds suas paindes: Mas deixemos ésta negta historia, e dizei-me o destino que pretendeis seguir, ter- | minfada & nossa viegom: vindes’so, ou vem corivoseo mais alguem? —Em mint companbia 8m mais dois ir- mos & um eriado volho, que ha de acompa- nhat-nos at8 a0 Havre de Grdce. Devemos aproveitar a sabida do brigue Rosa do Tejo, a elle fazer-se de vela por todo o mez que ver, Meu pae, que durante a emigracao per- corre quasi toda a Europa, escolheu na Bel- gicn um collegio de jesuitas, onde pretende edueat-nos, «De jesuitasl, .. pois vosso pae nio teve medo de covliar a vossa educaeao a uns ho- mens gue dizem ser tig maus & hypocritas? —Hi verdade, que tambem tenho ouvido algum mal, d'esses padres; mas bem sabeis que elles forem perseguidos e expulsos, por- que eram os amigos e confidentes? dos Tavo- 1 Na historia das rorolugdes do Portugal pelo Abbade Verict, © que foi depois continuada por Luis de Boi lin, se acha circumstangiadamente-deseripta x historia do suyplicio dos Tavoras. O dnque WAveiro softean o sup- plfeio norrivel da roda pela primeira vea neado om Por- lugal, e transplantado de Kraaga; 9 marquez de Tavora, seus dois filhos, sv mulher, €econde é'Atonguia foram ‘egolados, Conservaram geralmente alé a0 ulin sugpito ‘uma frmere heroics e win sang (cio inalterayel, * Enire osfasios de quo abunda « nossa historia, con- demnades talver 2 nunca ser devidamente-aprectados, nein julgados, 6 sem ddvida este, que den eauss & morte dos Tavoras. A imasinagio ¢ a politica, 0 espirilo de fa milia ea religito, combinaram-se para fazer deste triste episodio, on uma d'escas vingangasterriveis, que deslas- tam um reinado, por mais brilbante quo elle acja; ou vm O INSTLTOTO. ras. maus, como dizem? «Maus e bypocritis, Ihes respondiy’ sto os que atiram uma pedra ao rosto de seus ir- mios, que se elpvaram a altura da sua mis- so; que creram na grandeza do genero bu- mano, e na providencia de Deus quie lange ram os olhos.para-um horisonte tao. yasto como o sew coracdo, ond@ foram plantar a cruz, sublimes de coragem, de f9 © dedica- go. Com tudo sempre direi, que, entre op membros d'esta sociedade-poderosa, homers | houye, que ultrapassaram.a medida; por isso 9 cedro gigante, batide polos golpes repeii- | ddos das geragdes, que agitava a vaga da re-) volugao, estalou com horrivel fragor. Deixae Vestes.actos rigorosos, mas energieos ¢ necessatios, que salvam muitas vores un throno ow wma dynastia. No fallow tambem, quem inyolvoise os jeauilas neste fatal 43 « Mas que vos parece? Sio- elles tdo | porém passar ésla geracao inquieta’e ardente ; 4 soeiodade de Josus ha de continuar a sua obra de regeneraedo. ; Ja mesmo os encoatrarels, nao so na Bel- ica, mas na Franga, na Allemanha, na In- glaterra, na America, na, Asia, pot quasi todo © mundo; e ‘nese mesmo Portugal, aonde Vamos aportar, nfo ha*muilos tempos, que uma colonia de jesuitas, esttanhos a hictas de partidos, onvergonhava por sua ardente caridade © 28lo apostolico a tibleza 0 corru pedo do clero nacional. Opénsamento de Vosso poe pareve-me acertada des porém entrar ‘num mundo novo, em que 0 vosso eoraeao tem de ser assallado por Violentas paixdes. Ao vosso ado-ndo-estara jaa earinhosa mie, que vos acompa mlion nos as felizes da infancia: encontrareis mance- hos, que vos dirdo, com o riso nos labios, | pelavras doces e alléctitosas: mas atientac | bem, quo "nessas palavras lisongeiras esté | muitas vezes encoberio um negro veneno | Escolhei d’entre elles um, ou quando muito | dois, a quem confiareis os segredos de vosso | coracdo. Amestrado nas longas horas d'inti- | ma agonia, acostumado a devorar a suberha ‘megocio) €, sem remoalar a oatras eases, vile tas provap_atraijadas pelo marques le Pombal, que sahenos era emprahado em derrubar nios0 anobtemn, mas.aquella Sociedade, eujo power na America, na Asia, ¢ na Enropo, fomaya eno dimensies gigantestas, um documento i reftagavel! da cumylicidade dos jestilas ax eonftragio contra a vida Uo rei, Quizeramos poréat nds, que prezimos primeira que tu- oa verdaie, ereeitiace com indigaagie esse principio, ‘de que tanta’ vezes ce fem feito dlarde, mean ‘neste se2 culo do progress e ilustrsio, que tos os pias sto beng, Qom toute que ve crasigan of fat, que antes do se langac o olicso Uum-erime ou sdbre um homem., on thre uma corporagio, se invesligssom primers os ar. | tigos do processo ese ouvissem os accusalos; que se fon henseem ab péginas da historia aguelle tempo, @ mee ditando depois 10 remauso do dobinete, so profeices en lo a seutenca. NHo 0 fzeram porém asin os nowos sae Dios eprofunios yensadores que, cerrando os ouvides aoa Griloedorou que wrocasavseulieito delegitima defen, sentenceatam-no em provas; deram, quanto m nos, ua siguaevidente da sua iguorticia ¢ ma fe, No s Julgue porén, que peetendemos yotareno frabalho, para a execusa0 do qual, comfensdmor, # Dromaneira excastas as nosas {0r¢a3; Lim tAinoenos ag ‘Alo somente a protestar contés @ aauteea, que iarolyen as jesnitas no mesmo processo dos favoras. Mas os josuis tad eram 0s coufessores dos Tavoras? Quesignifen pordia {nto para o ens0 em queslio?:Nio o eram elles lambetn dle muites outras familias bres, que nto se acharam, involvides na eonjuragio? PParece-nos, que, procurando mais longs a causa deseo aio da nobreta, que no reinsdo de D, Jose T subiu ao sou maior suge, se poderiam apanar os Gusdl'este mala. Venlurado proceso, Porque nfo seria a sentenga, que no relvado Ue D. Joko Y expulsou muitos nobres para. interior do reino, a principal causa @esse odio? Pare ‘ier Ve 0s fatos raves do prima das preoceu pastes para quem nfo sabe o que & este longo e penosisin lew Valho d'ecerover a historia, ito ato passard uma mers, supposigio, que desapparece dante do faelo a, papi tanle, incantesiavel, & comprovado talvez por docdmens tos authenticas ‘Mas, o6 te, e2m0 win grand escriplor do nosso pain; sacricam © loagas:© aridesinvestigages tolas as fact: ddades do espiite, quasi Las as Horas da vida, pars da reat 4 sta palria uma historia sincera e vordsilcira, ex ‘8 minea: reputarZo infeaetuoso qualquer trabalho, por ‘ais pequend, que ejay neohama suppesighoy pir mais ‘siranlia.que porege, NBo nos temos em eorta historia. dor; apoatimos simplesmente um facto, que nos parece valtr explicar a eitastrophe que tevou ce Tavoras ao Datibuno ¢ a nenluna parte, que ‘aella tomeram smiles, dos homens, conheco os arcanos d'esso mun- do, em que ides entrar, hello de candura ¢ esparanca. Quando chegardes a Franga, de- veis fazer um pequeno jornal dos suecessos da vossa vida; ¢ podels escrever-ine de vor em quondo. Yéde em mim um homem, que nunca atraigoou a confianca d'im émigo. Rspero poréi encontear-vos em Lisboa mais vezes.» O joven, enternecido, apertou-me a mao, ¢ separimo-nos, Dois dias depois, da verga é'um masiro, 0 gageiro descobriu terra. Uma massa informe e eseura ergueu-se entio do meio das vagas; la nos extremos’ do horisomte. simos depois 05 corso escalvados do cabo da Roce Estrcito, compride e irregular, .o cabo of- ferece a cebeca ua, e os Dancos desccbertos ‘os assaltos de uma furiosa corrente, Coberio de uma herva curla © espessa, o promontorio vem, poitca a pouco, minguando ‘ie converter-se “numa pequena lingua de terra. Divisavam-se 95 voos, ¢ra rapides, ora ve g1rosos, das aves aquaticas, que, poisando a0 pe umas das outras, nos pareciam ao longe Soldados em ordem de batalha ‘Naquella aspera penodia.o mar balovucava- se, € precipitava-se com um estrondo simi- Ihante ac rebombar do trovao; e as vagas, elevando-se.em golfadas d’escumd, formavam. am eontraste sublime e grandiaso. A alvorada comecava a ropintar a terra. vento soprava rijo das bandas do norte. Poucas horas depois 08 macinheiros griitavam batendo. as painias:— Lisboa! Lishoa! Bo navio entrava 0 porto, suberbo, como 4 aguia nos campos do cev. Cantinia. AVEXANDRE MEIRELLES. 14 0 INSTITUTO MTUNO AO TRABALLO Offerecido ao ill.n® sr. José Doria, auctor ‘da musica do mesmo hymno > Quialido a morte, a0 inferap nascida, Pelo ¢rime!no mundo reinou, ‘Como fonte mals pura da vida, Deus é terra o trabalho mandov. tno |, Travelliar, que o trabalho feeundo Bae Deus avontede, é a lei; Se por elle é que « homem, u) muado, Dieste iundo aevéras ¢ rei. Quem no mando & mais nabre que o forte, Que « consorte, que o8 filhor mantem ; ‘Que Ihes Tega, nas horas da morte, ‘A viclude por nico bem? Trebathar, alc, Buisquem outros a gloria. na guerra ‘Ao medoniho:trone to eanhio ; 0 traballio de gloria encie o terra ‘Sem verler nobre tangue no odo. Teabatiar, oe. Euaes todos os homens no mundo, sites fotos 40s aos de Deus, por ti, 6 trabalho fecando,, Se dliferongam ne terra, nos cous, ‘Trabathar, ete. ‘Neste mvedo 9 trabalho dé vida, Dé riqueza, dé gloria, valor; 0 gor elle missto ¢ exmprida, ‘Avontade tin Dens eresdor ‘Teobalbar, ee, ( viver np trabalho seucerra, Quer na terra, no mar, ow nos cous, ‘Desde o yerme, que vive na terra, ‘Té aos homens, imageas de Deas. Tradather, etc. ‘Trabalter é siver —trabalhando 0 as fertas, os astros, 0 mists Quer ao¢ dias, que o sol yao dourando, Quer tas trevas, ow Jue do Ivar. Trabathar, et. Re sol, que de tox nos invinda, Gera as nuvens nos plainos do mary E sdopois nossos campos foeunda, ‘Vindo a terra com lias regar. | ‘Trebalhar, ete: Essa terra de plantas se adorna, De mil fructos, gue juncam 0 cho: Em riquest o trabalbo se toraa, © rabalio converte-se em pio. Tretathar, ele, "TS 0 incsetoy que!sumbo nas telras, Ao traballio'ngs.rem convidar; Pelos montes, os prados, as seas, ‘Vae 0 mel, vee a cera juntar, Tradatbar, etc, ‘a enteantas do mar tonebrosas ‘La tambem 0 trabalho chegou ; Gria-a pera entre couches liosas, (© coral entre arcias gerou, Trabalbar, oe. Manifxt> © trabalho so ostenta, 04 Sesspae ‘aim mystien veu, Desde a tera, que a todos sutenta, ‘TE ads astros,perdidos no eeu, Trababiar, oe, 1, olsun. ASSOCIAQDES DE BENEFICENCIA E INSTRUCGAO EN: COIMBRA I 0 espirito d’associacdv, dirigido para todos ‘os fins honestos e ‘realmente interessantes a0 hem piblico e partitular, esta muito longe de animar completamente aquelles, que mais carecen de seu desinyolsimento. So a unido faz a férea, 6 incontestavel que mais fracos pelos teres, pela educacto ¢ instiuceto, eno menos. pela situaggo social, sio os mais ne- cessitados de se associarem entre si. E ésta vordade (perdoem-nos os admiradores do pre- sente) & conbecida, ha tanto tempo, que fal- vez nenhum outro grande principio social se possa dizer mais antigo. Afamilia, atribu, acidade o testimunhai, Em tempos ainda bem proximos os officios encorporados ow embandeirados, nos quaes 0 mesire, 0 official e apprendiz de cada officio ou mister constiluiam como uma so familia, formavam uma larga rede d associacdes indus- triaes, Nossas anligos irmandades © confra- rias ainda existentes, embora amortecidas pela fraqueza das crengas-e desgragada decadencia da edncacdo christan, abi estio para dar fe da tendeneia popular para as assoeiappes re- | ligiosas. “Novas necessidades exigem novas especies d'associagdes. Aos vinculos antigos, que se quebraram, ¢ mister substiuir outros. Novas elas suscitam e recommendam novos modos de unir coordenar 03 humanos:estorgos. Altentac bem; estes novos vinculos vao for- mar-ce, esas DOvas associacdes. constituir~se = natural e espontaneamente, Nao é nosso intuito dissertar sobre este abjecto tao vasto e curiéso, ¢ hoje to inte- ressante por um Indo, € {20 temeroso pelo outro,—a associagao, Voltaremos por ven tura mais de espago; que, em devagae pelo maximo desinvolvimento do bem entendido espirito d’assoclacto entre todas as classes, e mormente nas laboriosas ou operitias, a nin- guem cedemos a palma. De assoviagses falli- mos, livres © esponiameas, producto de con- vicedes proprias, fillas da civilisacto e da liberdade, nao impostas pelo govérno, do esta- do, qualquer que elle seja, nio improvisadas por faisos Messias d’uma regeneracdo ideal ; O INSTITUTO pois tanto cremos e esperimos das primeiras, como tememos as segundes. Nas primeiras entendemos que esta o reme- dio aos encontros o desvios da absoluta liber- dade, que pode derrubar, mas nao sabe con- struit, Nas seguadas ligura-se-nos ver um espr= ciro, encobrindo na bumilde tuaiea enganose 3 grilboes do despotismo ¢ a lei da escrasi- dio; a qual tanto importa que. se erga do ovo, como que desca dos reis, e quer seja imposta em nome das maiorias, quer em nome de um so, © sempro—everaridao, Por em quanto nfo nos:dirigimos sentio 4 saudar 0 primeito clarao, que aponta no ho- risonte, de uma nova eporha de novas ¢ espe- rangosas associagoes ; @ 4 dar os parabens 10s honrados artifices,conimbrivences, que gene- rosa ¢ illustradamente entraram por si mesmos no caminho, que a ciilisagio abrira onte seus passos. Junctaremos alguiis consethos d'a- migo; que nenhum hao de elles encontrar mais sincero e cordeal, mais verdadeiramente dedicado a promover todo seu bem. Existom aotualmente em Coimbra tres asso- lates de soccorros muluos, A primeira é com- posta dos compositores ¢ impressores da typo- Sraphia da Universidade; a segunda de todo 0—artista, ou pessoa que exerea—qualquer occupardo mecanica, por meio da qaal tena vivida’ decenlemente, admittida. na conforn dade do. sous, estatutos; © a terccira a do monte pio geral, que nao faz seleccao de classes. Denomina-se a primeita—de beneficencia, da typographia da Universidade: ¢ a segunda —philantropica. conimbricense. Uma ¢ outta propde-se a acudir 4 seus consovios nas occa sides, om que 0 operario, cuja ordinariamente sto cs brages, nto pode por meio d'elles ganhar 0 pao quotidiano: abran- gem na caritativa sollicifude os orphios ¢ as Viuvas; e seus principaes recursos consistem na modiea prestagio semanal de 40 rs., po- gos por eada associado. A sociedade. de beneficencia, cujos socios so em mimero dimiauto, porque: nao recehe sendo os operarios da typographia, entrow no segundo ango de sua existencia, ‘Nas urgencias, a que nao escapam muitas vezes 0s robustos ¢ trebalhadores, soccosre-os 4 caixa, come monte de piedade ou banco de eniprestimo; ¢ os, interesses figuram ma re- ceila, auguentando o depésito commum, com © nome de gralifcagdes ow donativas, mui aeerlade disposigio, que a philantropica tam- bem consignou em seus estatutos. Esta, mais moderna em data, pois aquella feye principio a8 de setembro de’ 1849, ¢ a philantropica a 8 de dezembro de de 1850, € nde so act nica riqueza | 13 Entre os grandes beneficios,d’esta assovia- eo contam com razao. os socios, como. um dos primeiros, terem um bom medico de par- tido, custando-Ihes apenas a cada um 600 rs, annuaes! Entre os muitos e honrados artifi- ces, fandadores d'estas duas sociedades, ¢ todos dignos de eterna memoria pela excel- Jente obra aque deram prinetpio, parece-nos justo especialisar dois, 05 st. Jose da Silva Bandeira ¢ Jose Pereira Junior; 03 quaes per- tencem a ambas de-duas; © por seu zélo, de- dicagao ¢ intelligencia, tém concorrido muito nfo so para a confecrio dos estatutos, mas ‘ambem para a boa escripluragao e regulari- dade de suas'contas. Gloria e honra a elles, ea todos! gloria ¢ honra a patria que Ihes deu o ser! Na vossa intelligenoia, actividade, pacien- cia, amor do trabalho, economia, uniao ¢ ca~ ridade christan, honrados operarios, podeis fundar solida esperanea do melhoramento, in- tellectual e moral da yossa classe. A unido ¢ 4 fOrca para o bem, ¢ para mal. Conserrae- yos unidos para o bem: alcangal-o-heis. O escrave nao espera 0 alimento, 0 vestido, © auxilio na infermidade, ¢ uma qualquer ins- trucgio, sento do senhor, por interesse d’elle, cuja proptiedade ¢, como 0 animal. © homem livre pede e exige ao govérno da nagio. nao © trabalho, nao 0 pao, nao 0 vestido, aio a educagio, propriamente dicta, que pertence a religido e 4 familia; mas sim a ordem, a se- gutrana, e a justiga, O trabalho, @ pao, 0 vestido, a habitagao, pede-os asi mesmo, & sna intelligencia, actividade @ perseveranca, 4 sua economia, e nao menos 4 unio ed associaeHo com seus eguaes; a qual nfo so consegite ajunctar ¢accumular de pequenas lenuissimas parecllas eapitaes consideraveis, mas subministra-Ihe os meies de minorar os males da vida. Nao troea a seguranga do re- pasto ea incuria do futuro do escravo pela independencia, posto. que acompanhada de itas incertezas, cuidados e amiudadas pri- vagdes, do homem livre E quem tal julgéra! Nao faltam hoje eseri- plores visionatios, que so dizem amigos do povo, @ vem inculcar-Ihe que troque 0s foros da liberdade pela sujeiggo a um grande se- hor, ao gorérno do estado; 0 qual se encar- regard de Ihe distribuir 0 trabalho e 0 pio por meio des altas capacidades governantes, jase entende, por elles mesmps! A primeira associacio teye principio, como fica dicto, a 8 de cetembro; ea sogunda a. de dezembro. Louvores os sejam dados! Sois portngue- zes, sois christdos! Maria, a Mae de Deus, a Rainha dos ho- almente, mais-numerosa, mas |.mens, a Estrella do mat da vida, a Console promette reunir em si, seman todos, pelo me-| dora dos allictos, 0 Aaxilio’ dos Christos, nos grande nimeto dos honrados anifices o- | presidiu & vossa obra; sera padiocia das |duas associacdes, nimbricenses. 16 Avreligiao 6 0 unico vinculo forte e seguro; porque liga e prende os) coragées ; porque fora della avegualdade © a fraternidade sio palavras mentirosas. Sea religido nos dirigir 5 pensamentos ¢ sentimentos, olharemos para noss0s irmfos, para os outros homens, como filhos da-mesmo pae, como herdeiros do mesmo reina, No piblico ¢ no particular, na praga & vista dos minisiros da auctoridade, que pune; 1p miais ocealto esconderijo, aonde ninguem 19s ¥eja, Sendo Deus, seremos amigos. un: dos ouiros; © em ven de traigdes ¢ ingrali- dbes, meditaremos barmonia, soffrimento, @ caridade, A primeira vee que livemos noticia da so- eiedade da typographia, foi juncto de um altar, adornado coin esmero, e sdbre elle um throno, ¢ ‘neste a imagem da divina padroeira; ¢ tudo improvisado em ama da sales da mesma typograplia, para abi os socios, aos pes da imagem de Maria, solemnisarem o primeiro anniversario de sua installagao, ¢ escolherem a direceao do segundo enno. Sahemos-que entre 0s assoviados domina estreita unido e amizade, qual antes no costu- mava haver ‘naquelles que os precederam na officina, frequeates vezes separados por intri- gis e intestinas dissenedes. Que admira! A religiio e mie de Deus consagraram a unido de sous interesses! fize- ram-se todos uma so familia, O dia 8 de-dezembro, escolhido pela socie- dade philantropica fora dar-principio a sua obra, € um dos maiores dins de Portugal, ow antes de toda christandada, Somos catholicos, prezimo-nos de sel-o; © nio menos de o confessar no particular e no pitblico, peramte Dous ¢ perante os homens. Nao fazemos porém consistir os actos do culto religioso em esirepito de morteiros -e fogue- aria; ¢, se-por uma parle reconhecemos a grande conveniencia da magoslosa pompa do culto catholico, pela cutca sentimo-nos poxeo dispostos. a apptovar demasias de despesas, ainda na egreja, que hajam de custar 0 pio ou 0 vostido a0 neoassitado, Nao aconselharemos pois a uns excellentes artilices associados, que € outros, 4 maneira das antigas corporacdes d'artes ¢ oficos, sumam grossas somniss em festividades. com= Mas nao passe um so anno, sem que o re- ligioso pensamento, que Ihes fez escalher tao formos0s dins, seja renovado e vivificado juncto dos aliares. 0 monte. pio geral rexommenda-se egual- mente pelo seu fim, anatogo ao das outras duas soeiedades; e nfo menos pelos virtuosos € patrioticos seutimentos de setts fundadores. Permitta-seenos distinguir um. O Instituto dove-lhe tanto, que éjustiga ¢ gratidio apro- voitar o-primeito ensejo de nomear o st. Joa- quim Martins de Carvalho. Mas quem ha ahi, que nfo reconheca o | INSTITUTO desinteresse, a dedicaedo ¢ infatigavel activie dade, a muita intelligencia, e 0 indispensavel prestimo deste nosso excellente:compatriota? Enoontramol-o em todas quantas generosas emprezas t8m sido tentadas ‘nestes ultimos tempos, quer para civilisaglo & melhoramen- to de sua classe, quer mesmo para o derra- mamento das letiras, Se nfo fdssem aquellas suas tio singulares quatidades, o nosso mesmo Instituto, enleado nas difficuldades materiaes, sempre ombaragnsas e fastidiosissimas, tarde ou nunea sahiria é luz, © monte pio Geral revela um pensamento allamente pattiotico e-progressivo. As duas associagées, da typoyraphia e dos artistas, tendem a reunir o: interesses de classes muito similhantes, de misteres Analogos, ¢ de recur- 08 poco desegues, Pelo conirdtio no monte pio qualquer pessoa, com differentes entradas e prestagdes, voluntiriamente escolhilas entre 160 480 rs, mensaes, pode abrigarse na associagao, Mas teremos nbs por fortuna chegado ja a este gran t20 desejavel de civilisacdo e real fraternidade? Queremos acoreditar que sim. No entanto nao cessem 03 primeiros aseo- ciados, na typographia e na philuntropiea, de sustenlar e desinvolver a sila formosa obra, embora menos vistosa; porque dos esforgos de todos, cada um na vereda que preferiu, ha de resullar inquestionavelmente o bem geral Continia A. FORIAZ. OS BANHOS DE LUSO Continuado do peg. 7. Eifeito dos bankos de Luso. 0s banhes de Luso podem dividir-se em hanhos naturaes, temperados ¢ quontes. Banhos naturaes, quando se tomam na ten- peratura da nascente. Banlios temporados, quando a temperatira da agua se eleva a ponto de nao produzir impressio de frio nem de calor. Banhos quentes, quando se eleva a tempe- ratura a um graa superior aos dos banhos temperados. Os efleiis destes banbos devem dividir-se em eifeitas hygienicos e efeitos therapeuticos Os effeitos hygienieos devem ser conside- rados em relagio 4 agua, @ em relagao aos seus principios mineralisadores. Emi tela¢io & agua, dividem-se em com- mins 4 todos 05 banhos, © particulares cos anhos naturaes, temperados e quentes. Na tabella seguinte vé-se com mais clareze este modo de considerar os efleiis dos mossos anhos. © INSTITUTO Efieitos hygienicos 'Em relagio gos pricipias mineralisadores, Bm relagdo a se) Communs ds tres especies de banhos. Naturaes. Particulares aos banhos 9Temperados. ‘Quentes, ‘Nas molestias cutaneas. ‘Nas molestias inlernas, Efeitos tongs Ni ophtalmias chronicas. Effeitos hygienicos em relagio & ag: EXfeitos communs és tres especies de benhos Locaes, Bm-odas as tres especies de banhos de Luso a epiderme emhebe-se d'agua e tor- na-se mais macia e flexivel. Amollecem dese tacam-se da superficie da pelle os producios salinos ¢ animaes da transpiragdo cutanca, alli coneretados com os fragmentos epidermi- os, poeira, ett. Os pords ou ductos excreio- res da pelle, assim detergidos, desobstruem-se, dio melhor sahida @ transpiracae insensivel @-20 suor. Os vas0s © nervos porifericos rece- ‘bem modificagdes salutares, livrando-se da con- tinuada irritagao, mechanica e chimica, d'estes corpos estranhos. ‘ Geraes. 0 desoquilibrio entre a pressio da agua na superficie culanea, e a pressio do ar na superficie pulmonar, diffculta mais ou menos a respiraedo, © produz seguidemente uma impressio de incommodo no epigastrio, ‘ou no esterno, em pontos quasi sempre corres- Pondentes aos apéges diaphragmaticos, A ab- Sorpea da agua pola superficie da pelle au- gmenta 0 volume da parte liqaida do orga- nismo; lorna o sangue menos crasso, miais aquoso, proporcionalmente menos tibrinaso, 6 por isso menos estimulante. A fibra de to- dos os tecidos torna-se menos. rija e mais fle- xivel, 08 movimentos executam-se com mais facilidade, ¢ quasi todo o systema secretor trabalha com maior energia. Effeitos particulares aos banhos naturaes, temperados e quentes Adifferenga da acco da agua, em cada uma das tres especies: de banhos, é so rela tiva & sua temperatura, como o indica a base da classificacao.. "Nesta base, guidmo-nos pela graduagio ther mometrica, para os lanhos natures ; e pel sensagdes que se experimentam, ao entrar na agua, para os banhos temperados e quontes— é-uma base mixta Os banhos naturaes tem a sua temperatura determinada— 21°, 35 R t ‘Se para os banhos tepidos e quentes quizes- semos tambem adoplar a gradnaco thermo metrica, tomariamos como ponto de partida os 29°33 R., que marcam, segundo a maior parte dos physiologistas, limite normal do calor humano a Difierentes individuos, apesar de elevarem a0 mesmo grav a columna shermomettica, sen- 3 tem d’um modo differente a egua em que se mergulham, achando uns frio © banho, que oulros acham quente, etc., segundo a sua sen- ibilidade tactile os seus recursos calarificos, poderosamente infinenciados pela edade, tom peramento, estado de fércas, ¢ outras con: ees individuaes. Esta sensagao de maior ou menor fio, de neuiralidade ou de calor, é que regula a reac ao, com que responde o organismo a impressaio daquelle agente; 0, como a ésla reacpin é que se referem os prineipaes effeitos consocu- tivos daquellas differentes especies de banhos, pareceu-nos conveniente melter este elemento na base da nossa clessificagdo. para melhor fazer sentir que a mesma especie de banhos pode produzir efeitos consecutivos muito dit- ferontes, segando a sensagio que experimen- tarem os diflerentes banhistas ao entrar na agua. Os banhos naturaes por ex., dando logar na maioria dos. banhistas aos elfeitos que Thes designamos, ho de produzir os effei- tos consecativos d'estes bankos, ou dos. banhos temperados, segundo a impresstio que produ- zitem a0 entear-se na agua. Com estes preliminares, ja podémos, sem inconyeniente, indicar, como regra geral para a maioria dos banhistas, uma classificagio pu- ramente thermometrica, quespoderi guiar as pessoas que odo tiverem uso d’esies banhos, que ndo levarem instrucedes particulares dos medicos. Banhos nataraes 219,26 R. Banhos temperados 27.° Banhos quontos— 23.° Bifeitos hygionicos dos banhos nataraos Locaes. Na entrada do Banho sente-s> por toda « pelle crripiamento de frio, e muitas vezes um encrespamento, vulgermente cha- mado carne de gallinha, Os tecidos perifericos diminuem de volume; 0s scus yasos eapilla- res controhem-se; 0s veins subowtaneas quasi que desapparecem. A pelle orna-se desearada, @ pouco sensivel aos chaques mechanicos. Passados 5a 10 minutos, sobrevem a cha- mada reaceao. A agua jé parece mais morna ; 6 frio incdmmodo é substituide por sensagies Aeliciosas ; e, em logar-daquella aspereza de carne de gallinba, acha-se toda a pele flexi- vel e macia. : Passados 3 de hora, pouco mais on menos, tornam a apparecer os incommodos dos pri- ieiros efleites, que em pouicos minutos sobem ‘a maior gran,

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