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s. T. F.

PATRIMÔNIO
N.o S; ]Y7'·
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CONSUL'rAS
SOBRE

VARIAS QUESTÕES

DE

DIREITO CIVIL, COlVIMERCIA.L E PENAL :*

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B. L. GARNIER-Editor
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Obras d() Dl' Agostinho Marques Perdigão Malheiro


A Escravidão no Brazil. Ensaio hisLorico-juridico·social, 3 v. in-4o
enc. . . . . . . . . . . . . . . . . . . IS,~
Con's ultas Sobre Varias QllcsLões de Direito Civil, Commercial e Pé-
nal. Colligidas e publicadas pelo Dl'. José Antonio de Azevedo Cas-
tro, 1 v.
Obras do Dr. Augusto T eixeira de Freitas
Consolidação das Leis Civis (P~lbli cação antorisada pelo governo).
~l. ed . mais conecLa e consideravelm ente augmentada, 1 grosso v.
lU-JO enc. . . . ... . . . . . . . . . 201/
Prompiuario das Leis Civis, 1 v. in-4> enc. . . . . . . loS
Addiiamentos ao Co.d igo do Commercio, \! grossos Y. in-lo cnc 32,~
Doutrina das Ac~õ es . P or J. li . Corrêa Telle. , accommoclad,\ ao fôro
do Brnzil, 2 ,. in-lo cne. . . . . . . . . . ]0/1
Primeiras Linhas !Sobre o Processo Civil. Por J. J C. Pcreira e
Souza, accommodadas ao fóro do BrAZil, 2 v. in-.o enc . . . ~1I11
Tratado dos Testamentos e Sllccessões. Por A. J. Gouvêa Pinto, aecom-
modado ao fó1'o do B1'aziJ, 1 grosso v. in-. o enc.. . . 14$
Formulario dos Conlraios, Testamenios e de olliros Actos do Tabel-
lionado, 1 grosso v. in-4.o ene.. . . . . , . . . . 16S
Rf'gras de DIl·eilo. Selecção classica m quatro parLes, r enovlldn para
o Imperio do Brazil até hoje, 1 v. enc. . . . • . . . . 101/
A UTORSS DIVERSC S
CA:-lDIDO 1iENDES DE ALMEIDA.-DireiLo Civil Ecclesiastico B1'azilei1'o
Antigo P. Moderno, ·1 v. in-4o enc. . . . . . . . . :10$
- COdlgO Pbilippino e Auxiliar Juridico, 2 Y. in-foI. enc . . . 471/
- Constituiçõe!; do Al'cebispado da Bahia, 1 v. in· foI. flnc. . . 16S
DJ AS DE TOLEDO (Cons . Dl'. Manoel).-Lições Academicas Sobre
Artigos do Gotligo Unminal, conforme fcram explicadas nafacul-
dade de direito de S. Paulo 2d etl. Ul!lis conecta, com aHerações e
modificações pelo bacharel Manoel Janual"Ío Bezerra Montenegro,
1 grosso v. in-4° enc. . . . . . . . . . . . . . lOS
LAFHETTE RODRIGUES PERffiJRA (Cons .)-Direito elas Cousas. 2 v. in-!o
enc. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16S
PEHEmA DE (JARYALHO (José) .-Pl'im eil'as Linhas Sobre o Pl'ollesso
Ol'phanologico . Nova edicão cx.lensa e cuidadosamente annotada,
com toda a legisla 'ão, j lll'ispl'lldencia elos iribunaes superiores, e
discussão doutrinaI das quesiões mais controvertidas elo direito ci-
vil patrio com applica~ão ao juizo ol'phanologico, pelo juiz de direito
Didimo Agapito da Veiga Junior, 2 v. in-4o . . . . . . 1~1I
PB1ENT,~ DUENo (Cous. José Antonio).-Direito Internacional, 1 v.
. in-4o enc. .. . . . . . . . . . . . . . SH
- -Considerações Relativas ao Beneplaciio e Recurso á Corôa em Ma-
terias elo Culto, 1 v. in-·l o br.. . . . , . . . . . 11/
RAMALHO (Oons. J. I ). -In:>tituições Orphanologicas, 1 v, in 40
enc. . . . . . . . . . . . . . . . • . . 12S
- Praxe Brazileil'!l,1 v. gl' . in-4.o • • • • . • . " 1411
RmAs I Cons. A. J. ).-Consol idação das Leis do Processo Civil. Com-
mentada com a coJlaboração de SC ll filho Dl'. Julio Ribas, 2 fortes Y.
in·qO enc. . . . . . . .. .. . . . . . 26U
_ Curso ele Dil'eito Civil Bl'azileiro, 2. etl. cOl'recta e muito !l.ugmen-
tada, :l v. in-4o enc . . . . . . . . . . . . . . 16H
SILVEIRA DA MOTTA (L F.). - Apontamentos Jmidicos, 1 v. in-4 o
enc. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8S
TRIGO LOUREIRO (Dl'. Louronço).-Instituições elo Direito Civil B1'8Zi-
leiro, 4.- edição conecta !l allgmrntada, 2 v . in-4° enc. . . . 12/1
UFLACliER (Angusto). - Livro do Promotor Publico, 1 g1'o. SO Y. in-4o
cnc . . • . • . • . . . . . . 1011

1
CONSTJLTAS
SOBRE

VARIAS QUESTOES

DE

DIREITO CIVIL, COMMERCIAL E PENAL


RESPONDIDAS PELO

OR. AGOSTINHO MARQUES PEROIGAO MALHEIRO


CO O RD E NADAS E P U BLICADAS

por

JOSÉ ANTONIO DE AZEVEDO CASTRO

j ,IJ
RIO DE JANEIRO
B. L. GARNIER - livreiro-editor
71 Rua do Ouvid or 71

1884
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~ 11-60:5
111m. e Exm. Sra. D. Luiza de Oueiroz Coutinho Mattoso Perdigão
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Duplo direito tendes á dedicatoria deste livro.


Idéas, pensamentos, opiniões, tudo emfim quanto nelle
se encerra é fmcto da esclarecida intelligencia daquelle
que comvosco percorreu o estadio de uma curta, mas labo-
riosa existencia, atravessada nos ultimos tempos por crueis
soffrimentos, que a vossa solicitude de esposa exemplar cons-
tantemente se esforçou em suavisar.
Ainda mais: o culto á memoria do mestre e amigo, cujas
lições erão tão cheias de proveitosos ensinamentos, não po-
dia iJaspirar outro procedimento ao discipulo saudoso e
reconhecido.
E', pois, obedecendo a esses dous sentimentos que peço
licença para inscrever no alto desta pagina o vosso respei-
tavel nome.
ABRIL-1884.
PREFACIO

\
Não erão as consultas que constituem o presente livro desti-
nadas á luz da publicidade. No frontespi cio do volumoso manus-
cripto , em que forão cuidadosamente registradas, ~ncontrei uma
nota do proprio punho de seu autor , que assim o declarava.
Compl'ehend e-se perfeitamente a razão . A publicação em vida
do Dl'. Perdigão teria se us laivos de pedantesco dogmatismo;
apezar da reconh ecida modestia de se u camcter, não faltaria
quem pensasse em attribuir-l be por es te far,to certa pretenção á
opinião autorisada , que todavia justifi caria o conceito de que
gozava. Tal inconveni ente desappareceu hoj e, que ell e tambem
desappareceu do numero do s vi vos. São pareceres de um aba-
lisado jurisconsulto , versando muitos sobre queslões importan-
tissimas, e quasi todos tratando de assumptos de interesse
diario para os advogados.
Não tendo de ser impressos, e ele ordinario soli citados para
satisfazer a exigencias instantes dos consultantes, esses pareceres
L'eproduzião sem atavio de pbrase, nem omamenta ção de estylo,
a OplDLaO do seu autor. Tambem não bavia disso necessidade;
pbuco se impol'tava o cliente que o pêriodo fosse lamartini ano,
rellecti sse a pbrase scintillações á man eira do Tbeophilo Gau-
tior ou de Paul de Saint Victor: o que elle queria era o remedio
ao seu caso, o I'ecurso ao se u embaraço, a direcção ao se u ne-
gocio, e tudo isso obtinha em uma resposta de poucas linhas,
na qual, se m rodeios nem ambages, era exposta a doutrina appli-
cavol em toda sua pureza e in dicado o melhor cami nho . Assim
m'a entre os romanos a tarefa do jurisconsulto: - sCl'ibendi,
1'esp.ondendi, ca.vendi.
Varias consultas envolvem questões de natureza particularis-
sima. Pensei pOI' isso em supprimil-asi mas, havia o p,'incipio de
direi to que as resolvia , digno d l~ ser considerado. Tambem en-
teud i dever conservar aqueJlas que presentemente, em virlude
de novas disposições legaes, recebem outra solução; perdendo
a actualidade, resta-lhes todavia o valor historico, que habi-
VIII

lita para o estudo comparativo. Em breves notas previno o


espirito do leitol'; mas, quando porventura alguma me tenha
escapado, corno é natural, desde já peço indulgencia.
De muito maior, porem, careço em relação a outro ponto.
Em hora escrevesse a epigrapbe todos os pareceres, nem todos fez
o Dl', Perdigão preceder das respecti vas propostas ou consultas .
Tive, pois, de as formular, e o fiz cingindo-me strictamellte á
materia das respostas, de modo que de um só golpe podesse scr
abraçado o assumpto. Sou o primeiro a reconhecer o nenhum
merecimento desse trabalbo, c, se nisto fallo, é menos para
chamar a attenção sobre elIe, do que para evitar confusão pre-
judicial ao credito albeio ,
Confio quc os apreciadores dos talentos do illustrc jmis-
consuito não me levaráõ a mal pOl' baver tirado do esquecimento
esta obra, na qual mais uma voz cncontraráõ as qualidades que
assignalavão as suas composições: - consciencia, criterio c me-
thodo ,

/
oDr. Agostinho Marques Perdigão Malheiro
ESTUDO mOr::RA PHICO

Cogitn, quantnm nobis exernpla


bonft pl'osint: seies magnol'um vi-
l'orum non minus quam presen-
tiam, esse utilem memoriam .
(SENECA, ad Lucil. Elp. 10 ~ . )

Il y a eles pel'sonnes à qui les


défauts siécnt bien ct d'anlres qui
~ont disgl'aeiées avee leul's bonnes
qualités.
(LA RocrillFOUCAULD, ]Iaximes.)

Aquelle que com o denodo propri o elas convic.çóes profundas


devia um dia imprimir vigOl'OSO impulso á questão da emancipa-
ção dos escl'Uvos no Bra7.il, r, apostolo devotado, prégar tanto com
a palavra como com o exemplo, libertando muito anles rla lei do
elemento servil todos os que possuia, nasceu aos 5 de Junbo
de 1824 na cidade ela Campanba, dislricto sul da provincia de
Minas Gr.raes.
ASRim o tel'l'itorio do Imperio ondr. primeiro echoál'ão as vozes
de inelepenelencia, para logo abafadas do moelo como se sahe, veio
pOI' singular coincidencia a ser o herçn do inratigavel propug-
nadol' da liberdad e de uma dasse , cuja triste condição, se in spi-
rava a compaixão ele muitos e occupava a attenção de poucos,
raros erão aquelles que se affoutavão em defr.nd61-a e procurar
lllrlborar a sua situação.
O pai do DI'. Agostinho Marques Perdigão Malhriro, de quem
elle houve inteiro o nome, _era portuguez nc ' origem ; le-
vado áquella cidade pelos vai-vens ela viela de magislrano, neJla
exerceu as funcçóes de juiz de fóra, e desposou D. Urbana Felis-
bina Candida dos Reis Perdigão, senhora clisllncta pelos doles do
x

coração e piedade religiosa, e filha de uma das mais notaveis fa-


milias do lugar (*).
Todos' quanto conhecêrão o provecto magistrado, que acabou
membro do Supremo Tribunal ele Justiça, dão testemunbo do seu
amor pelas letras e de sua austeridade como chefe ele familia .
Todo o tempo que não occupava com a leitura ele autos era por
elle empregado no estudo dos classicos pOI'tuguezes, pelo qual
tinha especial predilecção ; pl'ocurava penetrar o sentido dos ar-
chõlÍsmos com os conhecimentos linguisticos que possui a, e das
notas e apontamentos, fructo de suas leituras compoz o Glossario
da Z,ingua por'lugueza, estimado manuscripto, actualmente pro-
'priedade do Instituto Historico em virtude de disposição testa-
mentaria de seu filho (**).
A educação que o couselheiro Perdigão Malheiro dava a seus
filhos era toela conforme os preceitos da escola hoje denominada
antiga, preceitos que tinhão seu lado bom, quando não exage-
rados a ponto de converter o pai em um t)'ranno domestico, a
lllodo dos pais de familia romanos, de que faHa Ir.hring, cujo
aspecto inspirava terror aos seus, e em cuja presença a franqueza
e li alegl'ia desapparecião, pois que, tudo curvando sob mão de
ferro, fazião fugir o amor e tudo quanto concorre para o encanto
ela vida de familia, isto é, a confiança e a familiaridade, a calma,
a facilidade e a doçma das relações.
Por isso o judicioso e zombeteiro moralista francez dizia sobre
este assumpto : Qttancl je lJOU/I"/'oy me t'aire cmincl1'e, j'aimerois
enC01'e miettx me faú'e aimer.. . e critica aquelles pais que privão
os filhos em idade propria de fami liaridade e procurão manter a
seu respeito ttne morgue austere et clesclaignetlse, esplimnt pa1' lti
les tenir en crainte et obliisswice ...

(*) Pelo lado materno o Dl'. Perdigão era aparentado com o finado
marquez de Valença. Entre seus par!3ntes da parte paterno conta-se
o bispo de Pernambuco,D. João Marques Perdigão tambem fallecido.
(** ) Não só esse, porém numerosos manuscriptos, forão legados
pelo Dl'. Perdigão áquella douta sociedade. Nagazetilha do J ol'nal do
Gorrvmer'cio de 10 de Julho de 1881 encontra-se uma longa relação dos
que entregllei,de ordem de sua viuva, ao digno 10 secretario o Dr. Mo-
reira de Azevedo, quasi todos com relação á Historia do Brasil, e mui-
tos copiados pelo proprio pllnhe do ;conselheire Perdigão de outros
manuscriptos raros.
XI

Não é meu intento discutir aqui systemas de educação, nem


estabelecer pl'eferencias de um sobre outro, O antigo poderia ter
algum a cousa de ruim, mas do moderno nem tudo será aceitave!.
Basta-me sómente assignalar para o caso presente o facto, que
póde ser attribuido á educação recebida, de um certo acanhamento
de maneiras, que se notava no Dl'. Perdigão Malbeiro, um que de
ceremonioso nas relações as mais familiares, e lbe dava ares, a
primeira vez que o vi em seu escriptorio , cercado dos empregados
e acolhendo cortezmente os clientes, de um bospede dentro de
sua propria casa.
Educado, pois, sob um regimen severo, não é de admirar se
resentisse dessa timidez, que a falta de exercicios gymnas ti cos
vinba aggravar em detrimento da mesma saude. Os systemas de
educação pedagogica de Locke, Rufeland e Frffibel, no sentido de
desenvolver a educação pbysica das criar.ças, erão inteiram en te
desconhecidos entre nós. Do primeiro saberião os estudantes a
celebre tbeoria sobre a origem das idéas, consubstanciada no
principio nihil est in intellecttL quod p1'ius non fuerit in sensu,nisi
ipse intellectus, e estavão bem longe de suspeitar tivesse o philo-
sopho inglez com o seu Tratado de edu.carão das crianças sido
o inspirador do J. Jacques Rousseau, ambos adeptos do systema
que é preciso expôr a criança ás vicissitudes atmospbericas, afim
de robustecer-lhe o corpo, afastando-a dessa ed ucação de estufa;
pois, no dizel' de um elegante escriptor, de todas as flôres a flôr
humana é a que mais ca rece de sol. Quantos aOE outros talvez
apenas de nome conbecessem .
O proprio Dl'. Perdigão Malb eil'o ali ás reconbece quanto em
regra convem para a saude dos meninos os exerci cios pbysicos.
Em uns apontamentos auto-biograpbicos, que deixou e aos quacs
terei por vezes de recorrer, não os trasladando por inteiro para
este li vro, porque só o seu autor estava babilitado e quiçá pre-
parado para uma completa revisão, se as enfermidades não o
tivessem impedido, elle assim se exprime: " Dizem que eu era
uma cl'iança de robusta constituição, pelo que me cbamavão o
Caboclo; mas, ou porque ,;omcçassem logo os [neus soJTl'imenLos
(brollchites principalmente), ou porque não fosse convenienLe-
mente atLendicla a educação pbysica , é certo que tIve sempre
saude precal'ia e pouco desenvolvimento material. R.econheço
XII

assim por expt'riencia pl'Opria a convrnirncia, direi mesmo a


necessidade indeclin ~l\1e l, de se cuidar do corpo, de dJI'-lhe saude
e Yigor por todos os meios Jpropriados, bygienicos (l gymnas-
tiros. "
Em H:i28 foi seu pai, já então gozando das bonl'as rle desem-
bargador,nom rado para a Rrlação da BabiJ , para onde o acompa-
nbou toda a familia , e, embora muito criança, pois apenas contava
cinco annos de idad e: iniciou os seus estudos em uma aula pri-
maria da capital. Abi pre rn ciou r tl e scenas, que pl'ofundam ente
se gravtírão na sua infantil rn emoria. PI'eludiava -se o granel e
movimento ela nbeli cação; os odios entre os bl'a~ileiros e portu-
guezcs andavão caela ve7, mais accesos; qua si todos os diJS
reb entavão motins de populal'ps ou da tropa; a popula~ão em
continuo sourpsallo não sabia a quem recol'I'pr. Em ra7.[IO de sua
qualidad e de portuguez nato o drsembargador Perdigão Malheiro
vio muit'ls vezes am eaçada a sua vida, teve de separar-se dos fi-
lbos,coofiando-os a amigos se'guros, de procurar elle pl'oprio re-
fugio em casa de outros e até em navios de guerra. Por vezes,
eSC1'eve o Dl'. Perdigão, o motim I'ompia subito, não havia tempo
de tomar ex pedi ent e algum, ficavão todos em casa prespnciando
tl'ansido$ de' ltonol' o desenfl'ea mento da soldadesca ou da po-
pulaça.
Vi erão , no entretanto, dias melhores, (~e m 183'2, governando n
regen cia, obteve o desembargador Perdigão Mal beiro a sua remo-
ção para a Helação do Rio de Janeiro. Aqui continuou seu filbo
os estudos inte1'l'0mpidos com um profes:sor pJrticular, de nome
Desiderio José de Azevedo, empregado do real Cl'ario e particular
devoto de Santo Antonio, CID cuja festa na propria casa, gastava,
observa judiciosamente o discipulo, as economias do anno inteiro.
Passou-se ao depois para uma escola de instrucção elementar,
, mantida pela Sociedade Auxiliadora, estabelecida no pavimento
tel'l'eo elo museu nacional, na face que deita para a rua dos Ci-
ganos, hoje ela Constituição. Dirigia-a Januario Matbeus Feneira,
com quem começou a aprender a lingua franceza. "Eu estudava
com gosto, escreve elle em seus apontamentos, e tambem esti-
mulado por meus pais e pelos brios da concul'rencia ; aproveitava,
mesmo porque decuriando classes reforçava o estudo, evitando
Xllf

o esquecimento. ,) Em pl'emio de sua applicação foi dispensado


de toda a contribuição pecuniaria.
Crescendo em idade, seu pai que, o destinava á vida commer-
cial, pensou em t.ira!' melhor partido de sua aptidão e amOI' ao
estudo resolvendo encaminhai-o na cal'l'eira do direito.
Já a esse tempo, 1838, depois de baver so[frielo uma cruel
enfe rmidade que quasi o fez succumbir, e mais contribuio para
debilitar a sua franzina organisação, se tioha elle aperfeiçoado
no estudo da lin gua f,'anceza com F. Maria Piquet, ex -solelado de
Napolerto I, por quem mostrúra sempre dedicação e saudade, e
começú l'a o do inglez. Sob a mesma dirccção de Januario Matheus
Ferreira, que montá['a um estabelecimento seu na rua do Conde,
encetou elIe com o professor Agostinho José Gaspar o estudo de
latim, e com tal ardol' que em dous mezes tinba devorado a
Artinha do padre Anton io Pereira, e no fim do anno, com grande
applauso do mestre, prestou exame vago ele traducção do segundo
tomo da Selecta.
Era, porém, mistet, completar o numero de prepamtorios exi-
gido para a matricula nas faculdades de dit'cito,e nenhum collegio
pa! ticulal' olfel'ecia naqueIla época a vantagem de posiluir todas
as cadeit'as das respectivas materias. De estabelecimentos pu-
blicos sómente o coJlrgio de Pedro n, e, pois, teve de entl'ar
em 1839 pam o terceiro anno do mesmo, é logo no fim deIle e no
do seguinte alcançou premias, qne bem significavllo o aproveita-
mento com que os cursára. Pela primeira vez o Imperador, já
então maior, em 1840, avistou-se com o joven estudante por
occasião da distribuição dos premios, que, como se sabe, é feita
pessoalmente por elle, e esse encontro não foi sem influencia na
vida de Perdigão Malheiro.
Mas o curso do imperial collegio compunha-se já então de sete
annos, e isso con trariava não pouco aquelles, que, impacientes
por seguir o superior de dircito,vião-se impedidos ele o fazer em-
quanto não recebião a carta de bacharel em beIlas-Ietras, termo
e recompensa dos seus trabalhos. O desembargador Perdigão
cuidou em ganhar tempo e em 184'L retirou o filho do collegio
de Pedro n, Depois de o haver feito frequentar aulas parti-
culares, enviou-o em 18-i2 a S. Paulo a preSlat' exame dos pl'e-
paralorios do que já tinha conbecimento.
-
XIV

Nesse mesmo anno, porém, fe ilos ahi alguns exames, leve de


voltar Ú cÔrte por ordem de seu pai, em cuja memoria pail':'lV:l
natmalm,ente ainda a recordação lbs tumultuosas scenas ll:l Ba-
bia. Effectivamente rebC'ntiÍra a revolução em S. Paulo e Minas ;
grande era a agitação dos esp iritos. Rapbael Tobias de Aguiar
tinba-se co llocado á frente desse singular movimonto cujos cbefes
combatendo com as armas na lIlão contra os efl'eitos de urna lei,
não cessavão de proclamar o seu affelTo ás idéas monal'cbicas,
separando o ml,narcba rios ministros do gabinete de t 9 de Se-
lombro de '1837, contra o qual dirigião os seus ataques,
H.egrpssando ao H.io de Janeiro, na carencia de pl'Ofesso r publico
.ou particular pam as disciplinas que lh e faltavão, o joven estu-
dante procurou novamente o collegio ele Pedro U, onde, diz elle,
Cf por uma benigna e equitativa resoluçfto, fui admittido como se
IlUllCa o tivesse deixado" e embora se achasse adiantado o anno
lec liv o, tal esforço empregou, que não sô conseguio acompanhar
os collcgas, mas ainda obtc'ye o segundo premio.
No anno seguinte recebia a carta ele bacharel em letms junta-
mente com se le companheil'os, e era laureado com o primeiro
premio.
Foi essa a pI'imeira lmrna clt' bacbal'eis que sah io do collegio
de Ped ro n. Cinco d'entl'c elles seguirão o CUI'SO de direito:
Agostinbo Marqups PercligrlO Malheiro, Jos6 Carlos de Alm eida
Arêas, Carlos Arthur 13usch Varella, Fmucisco de Salles Rosa e
José Alexandriuo Dias ele Moum. A' excepção ele Varella, formúrão
tocl os parte da mesma 1'epttblica na cidade de S. Paulo.
Na academia continu ou Pel'digflO Ma lb eiro os seus triumphos :
o estudante do cmso juridico não se mostrou in rerior ao de pre-
pal'atol'ios. Taes forão as provas clue manifestou de seu talento
e applicação, unidas a uma condu cta il'rep rehensivcl, que logo no
primeiro anno, em seguida a um acto bl'ilhanle, cbegou a ser pro-
posto para premio pelo couselheiro Brotero, proposta '1ue não
teve resultado por não ser costume havia lon gos annos conferil-o
a pstuelan te algum,
Bemquisto POI' seus mestres, estimado por seus collegas, cuja
prevenção, infelizmente ainda não ba muito persistente pelo
facto do seu titulo ele bacbal'el em letras, o trouxera a pl'incipio
afastado e' em certo pé ele hostilidade, atravessou ell e sem inci-
'J

xv

elente algum notavel os cinco annos da vida academica até a


época de sua formatura em 1848 .
Não teve, é certo, como outros, pingue mesadn que o ajudasse
a viver á lt1\"ga ou concorresse para exemplos de desl'egrament0s,
tão communs na juventude. Seu pai, magistrado pobre, onerado
de familia, vivendo de escasso ordenado, apenas lhe pôde fazer
uma mensalidade de 25$ ,elevada a 30$ ,depois que subio para o
Supremo Tribunal de Justiça: seu tio , o mal'quez de Valença, em-
prestou-lhe uma casinha no lugar denominado Descida elo Bexiga,
onde se acolheu nos primeiros tempos . O Imperador, porém, com
aquella generosidade, que constitue um dos mais bellos predi-
cados do seu gl'andc coração, infOJ'mado das circumstancias da
família e lembrado do distincto estudante, a quem com suas pro-
prias mãos por mais de uma vez' bavia premiado, mandou-lhe
abonar a quantia de 200$ por anno.
E Perdigão Malheiro jámais em tempo algum se mostrou es-
quecido dos bl'neficios recebidos . A' familia de seu tio nunca
faltou com os sel'vi ços e conselho de sua nobre profissão duran te
um largo periodo, pois longa foi a viuvez da marqueza de Valença,
recusando sempre todo e qualquer honorUl'io. Nomeado em 1867
advogado ela casa imperial, não quiz receber o vencimento attTi-
buido a essas funcções, alludindo em justificativa, para cortar
insistcncias, á munificencia de outr'ora. Consta que levado, como
cra natural, o facto ao conhecimento do Imperador, jissera : (( Já
não me lembrava disso. Agratidão que manifesta é mais uma beIla
qualidade que vem juntar-se ás que lhe conheço . »
Por outro lado, a vida academica, libertando-o das péas da casa
paterna, concolTeu efficazmente para fortalecer-lhe o pbysico.
Imagine-se o bem-estar, a sensação de prazer que eXIJerimen-
taria o debil adolescente, adoentado, como ell e confessa, a ponto
de' lhe ser quasi impossivel emprehender a viagem, sabindo da-
quelle tristonho casarão da rua do Conde, occupado por tão diu-
turno tempo prla familia, que a totalidade da renda paga bastaria
para remir duas vezes o valor da propriedade, e ond.e a viela se
deslisava sob aquella austeridaele quasi claustl'al , de que já me oc-
cupei, galgando a sena elo Cubatão só, livre, descuidoso de si
e elo futuro!
Como se não lhe dilatarião os pulmões ao respirar aquelles
XVI

rtres puros e unos da sel'rania, Que mu'Sica estranba e deliciosa


lbe não pal'ecel'iáo os gorgrios dos p:1ssal'os ! que gigantéscas não
hav'ião de figurar-se-Ibe aquellas arvores, que subião, subião das
profundpzrts dos vrtlles e vinhrto co lloc:1r-se á beira do caminho,
quaes ~enti ndla s perclidas , pal'a fazl'I'em as bonms ao viajrtnte
que talvez algum dia pOl' baixo de um decreto imperial as fizesse
renuer á magestosa passagem de uma locomotiva!
Que Ibe importavrto os mysterios drtquellas malas seculares,
os lhe 'omos que podessem escon(!el' em madeiras estiOladas,
veios preciosos ou fontes salutiferas ; que ncllas se abrigassem
faunos ou satyrod, dryadas ou bamadryadas, e offereoessem sce-
nrtrio mais .lpropriado para os amores de Daphnis e Cbloé do que
os bosques da ilba de Lesbos. Que lhe importava que o pouso
estivesse lon ge, a cavalgadura fosse pessima,a estrada marguasse
negros aiJysmos .. . nada , nada de tudo isso cOllseg uiria al'l'ancal-o
daquelle doce extase em que iria embevecida sua alma, só com a
id éa de que podia pÔr o animal a lrote, a ga lope, fazlil-o parar,
apeiar-sc, sem que uma voz importuna Ib e viesse tolb er os movi-
mentos ou su[oca r as manifestações de sua vontade! Ninguel11 a
se u lado, e diante a estrada franca, livl'e e, .. o futuro.
Foi naturalmente essa aura de liberclade,sol'vida a largos tragos
no decurso da vida acallemica, que insp irou ao moço b'1Charel
a idéa de occupar urna cadeira na faculdade. O lugar 11e lente era
a emancipação, a independencia, urna posição segul"l . Teria,
porém, elle encontrado a· sua verdadeira vocação? Essa nadeira,
a que pl'etentlia sub it" seria o pulpito glorioso, cercado de disci-
pulos avidos de ouvil-o, pl'estes a romper em applausos esponta-
neos e prodigos como sõem ser os da mocidade? Seja-mo licita a
duvida. Elle não possuia aquella calorosa eloquencia de um João
Cbrispiniano Soares, cuja palavra, a princil-Jio surda e abafada, en-
chia-se depois de vibrações metallicas, e como um clal'im de
guelTa echoava pOl' toda a aula, trazendo suspenso o auditoria.
Faltava·lhe aquelle communicativo enthusiasmo de um Brotem
pai, cuja oração, á maneira ele rio transbordado, correndo impe-
tuoso, formando aqui ilhas e lagos, despenhando-se acolá EUll
espumantes cascatas, assim percorria drsordenadamente os mais
vUl'iados assumptos, ora a anecdota picante e espirituosa, oru o
feito ilIustre e memol'uveJ, ora o successo tragico e lam entavel,
XVll

para acabai' muitas vezl\s em uma gargalhada homerica, estri- ·


r1rllte, sem crue todavia rorçassl' a nota comica da voz, proposital-
nH'nte nasal, bastando-lhe sómenle llal' lal'gas á natural dispo-
sição ele seu espirito.
O Dl'. Perdigão havia de ser um lente consciencioso, methodico,
claro quanto possivel na concisão do seu estrlo; cumpriria reli-
giosamente os seus rleveres , não sacl'ificando ao patronato nem
ao comparlresco os principios de justiça, distinguindo o vel'da-
deiro merito da ,1I'l'oganle petulancia, que repelliria inflexivel-
mente pam assignalar áquelle o seu vel'dadeiro lugar. Não teria,
porém, a somma precisa de requisitos que fazem do pl'oressor
quasi tanto como UllI pai, pOl'que alimenta o espirito, mais que
um amigo, pOl'que instru o e reprebende, um pouco menos que
um juiz, mais disposto á indulgencia do que á severidade.
EI'a condição indispensavt'l pam o magisterio superlOr o douto-
raml'nto. Defendeu pOI' isso tbeses em 1849 á custa de penosos
sacri6cios, obl'iga(10 a contrabil' compromissos pal'a as despezas
da viagem, impressão de tbeses e outros inherentes ao ambicio-
nado titulo. Mal succedido junto de um millional'io amigo da fa-
milia,a quem se dirigira pal'a esse fim, foi mais fel iz l'ecolTendo
a um ci l'UrgiftO portllgllez de nome J. A. de Souza, de quem falta
com o maiol' reconbecimento em seus apontamentos. Este em-
prestou-Ibe 250$, sem juros e ao prazo de dous annos. Escusado
é dizer que em bl'eve tempo foi pontualmente embolsado.
Principiál'ão então os llesgostos da vida I'eal em cujo adito
apenas penetrál'a. ApezaJ' das distinctas provas que produzio na
defesa de theses e da sua reconbecida capacidade, obteve appro-
vação simples. Por um inqualificavel costume, tradicional nas
defesas de theses, até certa época não sahia candidato incolume :
todos tinbão de ser mar'cados com um R, fosse ·qual fosse o seu
merecimento.
O DI'. Pel'digão Malheiro não podia escapar á SOI'te commum ;
mas essa injustiça encheu-o de tão fundo desgosto, que não quiE
tir'ar o diploma, nem jámais assignou o seu nome precedido do
titulo. POUCOg lalvez por causa disso soubessem do seu elevado
gráo scientifico,assim como muitos ignol'ão quem fosse esse que,
procurando lançar um estygma sobre o talentoso doutorando, não
fez mais do que revelar a mesquinh ez de seus sentimentos, Era
2-CONSOLTAS
XVIII

ass umpto erp que nunca tocava , I'eceiando talvez reabrir, apezal'
do longo tempo decorrido, mal cicatrisada fe l'ida , ou ter de pro-
nunciar-se de sfavoravelmente sobre o procedim ento do seu gl'a-
tuito offensol',
Abandonou , pois, magoado, a cidade de S, Paulo, onde poucos
mezes d(~ poi s de formado exerceu o lugar de bibliotb ecurio da
faculdad e por nomeação do marque" de Monte-Alegre, H.~ tiran ­
do-se para o H.io de Janeiro, pedio sem dr. tença a sua exo neração,
e auraf{ou a profLssüO de advogado , por ser, escreve el/ e « :t que
mais se conforma va com o seu caracter in dependente e [11l'lhor
futuro aSRegura\'a , uão lbe ass ustand o em tempo algum o tl'a-
balbo, a que es tava acostum allo, e ~ ~ lltind o pa rti culal' ,;atisfa çüo
em superar diffi culdades , "
E de facto ass im era, O seu espil'ito calm o e re(l.ectido, servido
pOl' uma lucida iutelligencia , a que viulla auxilio,r exceJlente me-
moria ; a rigidez de se u:~ principios, se m prejudicar os deveres de
civilidade; o escl'Upulo que imprimia nos menores actos, o tor-
navftO a s~ az apto para o papel de consellleil'o e guia, defensol' de
direitos eOl1culcados, maLltenedor dos sagrados principios el e
justi ça, Nunr.a at.:eitou uma causa de cujo bo m direito náo esti-
vesse pel'l\!itamente convencido , e muitas teve de regeita r pari!
nltO ir de r.ncontl'o ás suas opiniões escr;ptas ou impressas,
Nun ca deu um pal'ecer ageitado ú cons ulta : pCl'cehia o ard il e
ev itava-o caute losamente, Tambem po ucas op iniões lle advogado
el'ão tüo exte nsamente res peitadas co mo a delle, De muitoR pontos
do lmpcrio, c até üe paizes rs trangeil'Os, recelJia propos tas sobre
que,:;túes jmi dicas, ás quaes respondi a com aquella claresa e co n-
cisão em que tanto primava,
No seu escriptori o de advocacia sc exercitárão não poucos
jovc ns bacbul'eis, rccem-sabidos ela academia, ainda incertos
para onde diri gir o voa, presos ao grilhão cllamado anno de pra-
ti ca, press urosos no portico da vida real, e para os quaes as nu-
vells co meçavfw a pCI'J.er aquelles tons roseos do tempo de
estudante , Todo:> co nse rvarão do mestre respeitosa es tim a;
IJe llllum jamai s deixo u de reconhecer as boas li ções recebidas e
os exemplos de severa probidade que lhes offerecia,
Era muito para apreciar o modo como tratava de satisfaz er
as frequentes consultas, que lhe dirigião esses aprendizes do fóro ,
XIX

cheios de pcrplexidades ,esbal'l'ando a cada passo com montanhas


de obstaculos ou abeirando-se de abysmos de duvidas, que os
faziüo tontear. Elle começava por emittir singelamente a sua
opinião; ch'pois, como se não es tivesse bem seguro do que affir-
mára, passava a abril' uns após outros os autores, que se tinhão
occupado da questão; a mesa ocava coberta de livros: o in-4°
acotovelava o in-18 , o in-folio esmagava o in-32 ; eEcriptores na-
cionaes e es tra ngeiros, antigos e modernos, praxistas cat'l'anças
e soporiferos, atr@v id os P. sentenciosos, todos desfilavão diante
delte e unifol'memente conurmavào a solução dada.
Não alcançou, porém, o DI'. Perdigão Malheiro de golpe na
advocacia a posição que o tornou co nsiderD.do mesmo entre seus
collegas maLs provectos. Gramles fo rão os esforços empl'egados
para pró seguir nessa nobre profissão, cujo tirocinio semeiado de
arduidades tantas !Joras conta de desfallecimento e anciedarle.
Como muitos elle teve de lutar com innumeras difficuldades
DO principio da carreil'a, não lhe faltando contrariedades e clissa-
bores ainda no decUl'so della. Os des maios da alma venceu com
a reconhecida tenacidade do ",eu caracter: - ' queria e havia de
sei' advogado . As injustiças dos homens cahião fria s diante de sua
inquebrantavel pbilosopbia. · .
" Trabalhava dia e noite, escreve elle, porque sentia-me fraco
em co nhecimentos e pt'atica, e era luc1ispensavel dar conta de
mim. " Pouco a pouco, porém, fo i-se tomando conbecido; embol'a
timido, dedicava-se ardent<: mente ás causas que lhe conoavão ; .
intelligente, co mo era, não tardou em pÓl'-se ao facto desse meca-
nismo de molas, na apparencia complicadas, que tamanha intimi-
dação ex.erce na imaginação dos novl3is advogados , denominado-
pratica do processo-verdadeira teia cujos malhas as facu ldades
jUl'idicas não ensioão a dist;emil' e ainda menos a manejar.
Além das qua lidades ~ue o recommendavão, nllO contt'ibuiu pouco
pal'a angariar-l!Je clientela a modicidade elos seus bonorarios,
não exigindo do constituinte senão uma justa retribuição, á imi-
tação do que vira praticar o conceituado jurisperito Dl'. Caetano
Alberto Soares, em r.ujo escriptorio primeiro se exercitát'a até
sentir-se habilitado para abril' o seu, como effectivamente o fez
em mui breve tempo.
Mas os trabalhos de advocacia, dirigidos com ordem e me-
xx

[bodo, f{ualidad e& em que primava , não lb e lomavão o temllo pal'a


outros es tudos, a que era naturalm ente arrastado pelo desejo
de saôer, activado por um pronun ciado espirito de investignção.
Entre esses estudos sobl'esabia o das cousas patrias, cujo gosto
começava então a desenvolver-se, e ao qual entrego u-se co m Q
costumado ardor. NltO sendo hom em de ousadias, nem de co m-
metter emprezas t.em erarias ou anojar-se a mares desconhe-
cilloR, tão pouco deix.ava de consultai' as suas forças nntes de to-
mnr a si qualquer t<ll'e[a , e nun ca fi cava em meio do camillh o
encetad o. A sua \'ida ol'ferece num erosos exe mplos d cs~ a fO l'ça
de vontade alliada Ú pl'Udcncia_
Foi assim que depoi s de paciente elabol'ação publi cou em 1850
o lndice clwonologico dos factos mais notaveis da 1/.1:stol'ia do BTa-
zil desde seu descobrimento em 1500 ate 184') , sua prim eira pro-
ducçftO.littel'al'ia , dedi cada a seu velho pai em plmlses repassadns
de res peito e g r~tidão, e bem provavão qu e as se v e ridad e~ dn
autol'idad e paterna não tinbfw sull'ocado os se ntim entos do filho,
amigo extremoso da familia, que sempre se mostrou .
Não nos far'emos cargo rl e analys ~r esse li vro , pl'imi cia de um
bello talento : que em outl'OS de maior fol ego e va stidão .iustiO co u
as es peran ças então concebidas. O Inclice Ch1'01wlogico é o qu e
costumão ser as obl'as des te genero ; seu autor nitO se pl'opunba
;\ appli cnção dos principios da scienza nnova de Vico, exnmi-
nando o concul'so que ú algum dos tl'es cycfos , que elle tl'aça
pal'a a histori a da bumaniclade, poderia pl'es tal' a do nosso paiz ,
nem tão pouco vi sava des pojar os tempos primiti vos, co mo Nie-
huhr, de insepa l'av1!is e poeticas ficçõ ,~ s e ainda menos ú ma-
neira de Henry Bu ckle cmava de inves tigar as relações da nossa
historia com as sciencias natUl'aes, ex pondo os moveis naturaes
e necessari os , qu e exerc(lrão influencia no desenvolvim ento do
es pirito brazileil'O. O seu fim em inteiramente modesto e
limitad o ; a mes ma criti ca não podia exigir c1 ell e senão exacti-
ctHo nos factos, e ob ervancia da ord em de tempo, em que elles
occorrel'ão : a impol'tancia toda relativa dos acontecimentos fi-
cava ao cri teria do escriptor.
Não obstante as condições da obra e a consciencia com que
ror:1 tmhalhada, sol'fl'CU ella acerba censura no seio do Instituto

r
XXI

11 i:;tol'ico, a cujas portas fóra seu autor bater ,apoiado nesse do-
cumento vivo de amor ás letras patrias.
O conselbeiro Diogo Soares da Silva de Bivar que se offereceu
a examinaI-a, apresentou na sessão de 22 de Novembro de 1850
um parecer eivado de apreciações injustas, que forçárão o
DI". Joaquim Caetano da Silva a sabil' em ddesa do seu esti-
mado discipulo de outr'ora, pl'Oduzindo uma erudita refutação na
qual um a um farão desfiados os pontos da arguição do sabia
censor, como elle ironicamente o denominou (*) . Depois de uma
resenba de nomes de escriptores de nota em divel'gencia com as
opiniões do critico, aquelle illustre pbilologo terminou por esta
cxpl'essi va rOI'lDa : « Na collisão de tantos nomes com tamanbo
nome, enleia-se o discernimento. Mas, ondc quer que esteja
o CITO , fica sempre certo que a bistoria patl'ia é ainda pouco sa-
bida , até das uossas summidades littcrarias ; e que merece m scr
galal'Cloados com DenevoJo incentivo aquelles mancebos que, como
o SI'. Dl'. Agostinho Marques Pel'Cligüo ~Ialbeiro, dedicãO a tflo
importante estudo uma intelligencia viçosa. "
Nes:;e lrabalho, fru clo de vcrdes annos, primeiro ensaio em
um gellero que logo abandonou, como be l'. escola de Augustin
Tllierl'y, a que mostrúrll inclinar-se não satisfizesse pela rest ri cçfLo
cio pl'iucipio-.scI"ibitLM' ad nal'randtb1n non aLl ]Jl'obanclwm-todas
as necessidades de seu es pirito , ent:ontra-se a semelite daquellc
:;entimento phih.llltropico, que,medl'ando co m o vai reI' dos anuas,
ergueu o DI'. Perdigão ~Iallleil'o ;) altura do s bcnem eritos do
paiz. O recllo do Hvro é um cloquentc brado de patrioti smo, um
al'lkllte voto em pl'ol da pl'OsperidaLle do BI'<lzii. Não posso fur-
tar-m e ao desejo de tl'lllls';rever as suas enll.lUsiasticas expres-
sões; cllas serviráõ a um tempo pal'll dar ~c s temunbo do amor
patrio, quc in pil'ava a sua juveuil penna, e comprovar o asserto
COllCe l'l1entc á idéa , que já preoccupava o se u cel'c!:Jr'o, da
emancipação dos escravos .

(') O Dl'. Joaquim Caetano da Silva exercia o lugar da lente de


grego e reitor do cú llegio de Pedro Ir no tempo em que Perdigão Ma-
1I1eiro o frequentára. Por occasião de sua retirada deu-lho ospon ta
neamente um honrosissimo attestado, exaltando não s6 o seu mereci-
mento intellectual, mas tambem as suas qualidades moraes, As
relaçue::; nm i tosas ontre o mestre e o disc ipulo pel'flnrárão até a
morte do primeiro,que succedeu em 1873,
XXII

(( Que o Bl'Uzil seja a primeil'll I la ~ na ções, eis o nosso mais


ardente voto. Mas quão longe de nós essa época ditosa! Fr.liz
a geração que vil' o Brazil povoado de centenas de milh ões Il e
homens, p01'ém livr es tfJclos ; semeado de ri cas e populosas cid a-
des, florescente pelo commercio , ugri cul tura, inelustri :J. , scicn-
das, letras e artes; com bellas es tradas de fol'l'o , que tran spor-
.tem de uns a outros pontos com a rapidez do raio os num el'osos
tb esomos ainda pouco conhecidos e apreciados el e nossas pro-
vincias, sobretudo centraes; co m telegraphos electri c(')s que leve m
as noticias e providencias co m a velocidade do relampago des de
o Pari! até S. Pedro cio ::lul, desel e o Ri o de .Iall eil'o até os con-
fin s de Mato-GI'osso; co m uma brilh ante navegação cos teira ,
fluvial e al em mal' ; com uma marinh a cle guel'l'u aincla mais
brilhante, que faça tl'emular o 110~S O pav ilb ltrl nus cin co partes do
munclo, e nos faça respe ital' e temer de todas as naçócs! »
Rl':gia então os destinos elo pai% o gabinete de 29 de Se tembro
cle 1848, que teve como primeil'o pres id ente do conselho o ve-
nerando marquez el e Olincla, e compo%-se de vultos politicos da
ordem do marqucz cl e Monte-Alegre, vi sco nd es de ftaboraby, do
Uruguay e MUl'Ítiba, conselh eiros Manoel Feli %arclo e Euzebio de
Queiroz , Este ultimo qu e nell e occ upava, co mo é sabido , a pasta
da jusli ça, com a sua natural sagacidnc\ e desco brio no joven ad-
vogado qualidades, que, "n te nd cu, sc ri ão real çadas sob a toga cl e
magislrado , e, poi s, mandou-lbe o(1'erccer o luga r de juiz mu ni-
cipal da primeil'a "am da càl'te, alvo da ambi çflO elos prin cipian-
tes e destinado ordinariamenle ao que melhores uabilita çó('s
demonstravão no CUI'SOjuridico.
Embora a recliclão de juizo forma sse o funclo do caracte' r elo
DI'. Perclig:io Malu eiro o possui sse grand e circum specção de ma-
neiras, parccendo quc nenlmma pronssüo pod ia lI1l!lb or co nvi r
á sua inllolc do que a do se vem c ill1pan.: ial di slribl.lidol' da ju s-
li ~,l , não at.:eito u o oift:I'0t.:il ll el1 tú por nrlO ~ l'C leI1l1 e r , dizia cll e,!'n zl' l'
carl'eim na. magislralura. Para que, POI'élll , nuo [os:5e in le rpl'elada
a rccusa COlllO rcpugl1an cia pe lo se l'vi ~o puuli co, nenuull1a tlu \'irla
oppõz quanclo mai s tard e foi nOlll ead o para sup pll'nt c dt','sa mes llla
V ill'il , CUj;l::í rUll cções c1('Se mp eIlIJOl1 dcntTo do f[l1atri cllllÍo ri u 185t
a 185í. Nolavcl pl'avi1 de modes tin e dc am or pcla causa publi ca,
que não ent.:onlra muiLos imitadores, ullle s não poucos contradi t.:-
XXIII

lores depara em tantos, que considerão a magistratura como um


prepuratorio para a advocacia, e aposentados ou retirados da
classe, passão immediatamente a abrir escriptorio.
Penhorou profundamente o reconbecim ento do DI'. Perdigão
MaIb eiro a espontanea lembrança do eminente estadista e, ao
approximar-se delJc , experimentou aquell a impressão, que rece-
bião todos os que tiverão a dita de conhecêl-o e de cultivar o seu
trato particular. Em hreves termos ell e a consignou em seus
apontamentos, trinta annos depois da primeira entrevista, quando
o sepulchro já se tinua fl'chado sob re um e estava preste~ a
devorar o outro. {( Tive então, escreve, occasião de conbe-
cêl-o e de tralal-o mais de perto. Que intelligencia ! Que coração!
Que caracter! Que grande alma! "
Estas poucas palavras di~ e m muito. E de facto o conselheiro
Eu~ebio de Queiroz era desses bom en s,~ u e parece forão talbados
pela naturcza para desempeuhal' no llIeio elll ~ue vivessem, s(;ja
qual r6r, politico ou social, sagl'ado ou profan o, um proeminente
papel. As qualidades physir.as, essas que mais impõe á multidão,
clle as possuia em su bido gl'áo; de ('levado porte, a sua prc-
sC ll ça magcstosa in pirava reslwilO J)ão <!xdusivo lla symp:llliia,
qUl: un s meigos olhos ar,ucs, illurninan rlo uma physionomia fran ca
tl espcrt<lVflO logo li primeira vista; a f)'ol1te de pensador, vasla
e erguida , co roada de bastos cabellos louros, nos quaes os
raios de luz punbão rcOrxos aureos ; a boca rasgada como par:!
fa cili tal' ao orador o livre curso de suas ex pansões; a voz de um
timbre avelludado e in siuuante; o gesto sobrio mas não impe-
rioso ; O todo cheio de nobreza e di slincção .
SCJ'Via de moltlUl'a a essas vantagens natU)'il es uma inalteravel
alIabilidade; não importava a posição que occupasse, o lugar em
que se acuasse nunca desmelllia a merecida n'put:1rão de que go-
7.<l\':J, c.omo cavaI beiro de fino trato, de moelo s igualm eole luaoos
e cortc7.CS para quantos deIl e se approximassl'fIl , homens ou mu-
lh eres, grandes ou pC'quenos, humild es ou poelf')'OSOS ; ;t cada um
di spe nsav a Ull1'l ~'xprcssão adequada, cO llfll l'ln e ao SI:XO, idade
ou inleJligeocia , e assim proced ia Sl:n ) ('sforço, al]'tClaçflo ou
(~s ludo. Era dotado da verdad eira polidr7. , l'S5a qUl!, no dir-cr de
VaUYI'nal'gu('s, nascc rlo coração , r. não se confund e com a ou-
11':1, torla rI(" apparell ciil, li geira camada de verniz prestes a es talai'
XXIV

sobre a grossa epidél'me do personagem. Não raro succerlia ir


espontaneamente ao encontro da1 necessidades de amigos, pro-
porçionando o que melbol' convinba nos srus interesses, susci-
tando muitas vezes alvitres em ordem a dese mb,u'açal-os de
difficulclades, r outras c1ispersuadindo-os de embarcar-se (!m em-
prezas aventuro~as e arl'Ísc.mlas, para as qua es nào os r<' pulava
capazes ou babeis, Prestimoso sem ostentaçào, fez granrle nu-
mero de beneficios; nunca, porém , abrio a boca para alardeai-os
ou queixar-se dos menos reconhec idos, Quando acaso tinba
por dever oppÓr alguma recusa, seguindo o preceito do autor das
Noites Atticas, usava de modo tào gl'acioso, que a pl'op ria recusa
equivalia quasi ao favor solicitado. A sua con\'el'saçào, natUl'Cl I.
mente joyial, em fôrma de conceitos tflO judiciosos co mo cheios
de espil'ito, possui a um encanto il'l'es istivel ; n ouyil-o corl'i ão
rapidas as boras, cada qual recriando se mpl'e que ellL> le l'mina s~e
cedo de mais , suspenso o auditorio ú sua palavl'<l suavemente
colorida, de sympalhicas inflexões e, ainda abordand o ass umpl os
ou acontecimentos em que fóra actol' pl'incipal , fa7.ia-o di Rcrela-
mente, sem tomar-se fa stidioso nem in suppol'tavel de fatuidad e.
Tal cra o consellll'il'o EU:.lrbio de IJu!'iro7. Crl mo homem, ta es
as notaveis qualidadrs pl'ivadas que Rel'yil'ão pal'a granrreal'-Ihe
num el'osns dedicaçóes, mesmo [Ôl'<l do cil'culo da politica, em qu e
representou pnp l!l tã o conspicuo. Astro de primeira grunrl l! y.a ,
cedo desapp'\I'ecido do nosso fil'm~m e nto polilico , 11 outros mais
habilitados, porém nrlO mai s rev erentes á SOil memoria , pel'tence
descreyer-Ihe a tl'ajecloria, assignalanclo os globos de luz qu e
d(,J'ramou sobre es ta terl'a, qu e id olatrava com todas as forças
de sua robusta ol'ganisaçüo. O que elle foi como chere do pal'tirlo
consel'vador, a direcção que lh e impl'imio, as id('as qu e sustentou,
os principios que combateu, tudo isso constitue um rstlld o im-
portante c instl'uctil'o para a histol'ia patl'ia e ahi es tá a desafiai'
a penna de nossos <ldestraclos publiciRtas. (*)

(') Muito tempo depois de se ter desligado do partido cle qLte fóra
um dos ornamentos, o finado con selheiro Zacarias, em cónvel'sa CO H1
o escl'iptol' destas linhas, ex!tltava os singulaTes predicados do conse-
lheiro Euzebio de QLteiroz, r.omo director desse me mo parLido, des-
crevendo com aquella cltracteri sLi ctt vi vacidade, qne na Lribul1a
convertia em brilhanLes movim entos oraLorios, a peri cia do chefe na
xxv

Não é, portanto, á vista deste pallido esboço, fructo de saudosas


e gratas reminiscencias, para aelmil'llr a impressão que experi··
mentou o Dl'. Perdigão i\Ialheiro ao acercal'-se do eminente
estadista. A estima recipruca originada ele mais amplo conhe-
cimento veio em bl'cve cs treitar relações, pois a 19 de Julho de
1851, desposava elle a Sra. D. Luizu de Qu eÍl'oz Co utinllo Mattoso
Camara, irmã e pupilla do conselheiro Euzebio, em favor de
qucm este e juntamente seu finado irmão, o des embargadol'
Fruncisco de Queiroz, outra gl'ltnde alma rica de nobrL's senti-
mentos, haviam desistido LIas heranças patcrna e matel'Oa . Raro
exemplo de desintcresse e de amor fl'lltel'Oul, quando pal'a am-
bos não se pó de dizel' houvesse a fortuna sido prodiga de
favores!
Tratando do casamento christão, Tertuliano, depois de lamentar
a sorte de um pagão unido a uma chl'istã, accentua a diversidad e
entl'e essa alliança e o enlace pUl'umente chl'istão em phruses de
commovente singeleza . " Ah! quão dilIel'entl::, exclama elle, é a
união de dous csposos ch ri stãos! Esperanças, votos, disciplina,
submissão á vontade de Deos , tudo nelles é perfeitamente id entico .
São dous irmClOs , dous servos do mesmo SenLtor ; nrlO existe nell es
sepal'ação de came nem de esp irito ; união dos CO I'pOS, união das
almas; jejuão juntos, juntos se instl'Uem, juntos se exhortão ;
sel'vem de sustentaculo um ao outro; se mpre unidos na igl'eja,
ao pé da santa mesa, no infortunio, na pel'seguição; nüo se
occultando um do outro, nüo evitando nunca um ao outro, não se
constrangendo nunca , visitanrlo os pol1l'es e os enfermos, dando
esmolas se m acanLtamento, orando sem coacção, prcencbendo sem
oLstaculo os seus picdosos deverC's quotidianos, não fazendo
signaes da ~l'UZ fL1l'tivos, nem acções dc graça precipitarias, nf'm
beuçãos mudas c dd'arçadas , entoando os mcsmos byml10s e os
mesmos ps.dmos, pOI'fiando tel'Oamentc cm quem cantará melhor
os louvores dc Deos. Contemplando esta uniCto, Christo regosija-se
c envia-lhes a paz: "Ondc duas pcssoas es tivcrem reunidas em
(( meu nome, dissc, esturei com ellas,e onde cu estiver o mão não
« ba de entrar. »

distl'ibuição da::; for<,;as, que no mumento dado devião empenhar a


campanha parlamentar e explicava ele que modo,illstl'llct'b ucie, se f~l'ia
a batalha .
:XXVI

Saint Marc Girardin, citando no seu excellente Owrso de liUe-


rattwa dmmat'ica (donde se e'Xtrabem proveitosas li ções de moral
pratica, professadas em um es lylo , cuja familiaridade nào exclue
a eiegancia, e ao qual não falta uma grande elevação de idéas), as
eloquentes expressões daqu elle celebre padre da igreja ,extasia-se
diante desse quadro admiravel, que, no seu dir.er, co mo todas as
grandrs scenas da' vida cbristã, começa na terra e acaba no céo !
" Sublime metamorpbose, continúaelle, que de um sentimento far.
um sacmmento, pres tando este áquelle a sua realidade humana
e cheia de encantos, e o sacmm ento prestando ao sentim ento
a sua realidade divina e eterna. ~Ietamorpbose maravilhosa,
porém conforme á n;:ttureza humana, com todas as mudan ças
que o cbristianismo fez ou quiz faz el' no homem , metamorpbose
finalm ente que a poesi~ antiga entrevia e desejava "
" nb! mulber, diz Euripides, dos autigos o poeta mai s pbilo-
so pho e innovador, nem a realeza, nem o ouro, nem imm ensas
riquezas produzem o encanto e a alegria que prolluz a união de
um bomem de bem e de uma mulher honesta , que ama seu
marido. "
Esse encanto e al egria experim en tou o cilsal Perdigão Malheiro
dUl'llnte a sua cx istell(;ia. O marid o e a mulb er s'.' rvião, na pbrase
ele Tertuliano, de sustentuculo um ao outro , sem pre unidos nas
mesmas ol)L'as de beneflccncia, 110S me" lIlO" projectos que tinhão
por fim o bem-estlll' ou a feli cidade de seus semelbanles, EIl:t
pruzenteim, meiga, sorridente , aut'O"a de um fOl'moso dia, como
rOl'mOSaS erão as suas feições, revestidas ele um c.unbo de natural
di stinclião; elle sl! rio, grave, reOeclid o, frondosa arvore de pro-
tectora sombra , abrigo dos /J ecessitados de co nselbo ou de auxilio.
Havia entre ambos co mo que ullla em ulação no espirito ,lo cari-
dad e, e não se pode di ze l' se era o marido qucm inspi rilva a mu-
l!:ter, ou se era elle quom rccebia da mulh er o innl1Xo; 03 seus
(;ol'açõcs se confuudiflO na prati ca des:>a vil'ludo emin enl emente
cbri stã e rallicallll ente brasileira con ce il o do sabia Agassiz (*).
n l)

(* ) Da perfeita uni dade de vistfl s ent ro marido e mulher é e10quente


testemunho f1. segllÍnLo nota, sob n. (j:.!'3 . á pago 257 do segundo volume
da E scl'l1,-v idão no Br'cv.ü :
« O leitor desculpe r eferir aq ui o que fiz de accôrdo com minha pre-
zat! ,: ·.:\ ::lher D. Luiza de Queiroz Co utinho MaLtoso P erdigão (a quem
ago ra publicame nLe agradeço a conformidade de idéas, e a quem Deos
XXVII

A somma de vigilias, dp, noite mal dormidas, de incommorlos ele


todo o genero experimentados á cabeceit'a de parentes enfermos,
era incalculavel, e apresentava em seu favor um saldo que nunca
poclerião remir aquelles a quem tanta dedicação aproveitava;
e tudo isso fazião sem ostentação, nem arruiclo, como convem
á verdadeira caridade.
Faltou-Ibes, porém, para completa felicidade a terna conso-
lação dos filbos; não pod erião repetil' aquellas suavissimas
estropbes do grande poeta cio seculo, pois no fim cle um al1llO
perdião o prim eiro filho, e posteriormente mallogriÍrão-se p am
o casal todas as esperanças de descendencia:
« Enfant vous etes l'aube et mon âme est la plaine,
Qui des plus douces fieurs embaume son haleine
Quand vous la respirez.
Mon âme est la foret, dont les sombres ramures
S'emplissent pour vous seul de suaves murmures
Et de rayons dorés. ))

« Oar vos beaux yeux sont pleins de douceurs inflnies,


Oar vos petites main s joyeuses et bénies
N'ont point mal fait eucor ;
Jamais vous jeunes pas n'oni touché notre fange
Tete sacrée, enfant aux cheveux blonds ! bel ange
A l'aureole d'or. »

Quando soou ptll'<l D. LuiíIU Perdigão, em 1879, a hora da cles-

premiará por seus nobres. santos e caridosos sentimentos) qllanto aos


nossos escravos, prescindindo de auxilios valiosos para alforrias de
outros. Por uma feliz coincidencia, uom esmo dia 3 de Maio de 1866 ,
em que a ordem dos benedictinos tomava aquella delibera~ão (a de
declarar livres os filhos das escravas, quo nascessem daquella data
em diante), deme' a liberdade a uma e no dia 10 de Julho a todos os
outros do sexo feminino, sendo assim oito (do todas as idades, crian-
ças e ainda moçasj, capazes de ter filhos . Em razão dos bons serviços
tambem a um pardo, no dia 19 de Julho. E mais tarde baptizei livre
a ultima cria nascida.
cc Desejando a boa educa.;ão das paquenas, fizemos recolhel-as a um
estabelecimento, constituindo-lhes nós um dote. Agradeço aos Exms.
conselheiros Zacarias de Góes e Vasconcellos e F. J. Pacheco Junior
a sua valiosa e christã coadjuvação neste nosso intento.
cc Nossa alma sentio um prazer ineITavel: a consciencia mais satis -
feita e pura. »
XXVIII

ventura, e Leve de prestar a seu marido, fel'ido por um primeiro


insulto morlJido, os cuidados que lhe incumbiüo , mostrou-se qual
eya dado ~sperar de tão honrosos precedentes. A solicitude que
desenvolveu está acima dc todo o elogio ; uüo o abandonou um
só instante na mesma cnfermidade e dUl'ante a convalescença,
acompanbando-o por toda parte para onde o:; facultativos cnca-
minhavão o seu caro doente ,
Em 1854 [oi o DI'. Perdigão Malbeiro nomcado curadol' tios
africanos livres ; m ~ s pouco tempo excrce u esse cargo, do qual
pedio exoneração assim como bavia feito anlcriorm ente com o
lugar de supplente de juiz muni cipal. Nüo Cl'ão taes empregos
daqueiles em que elle podessc desenvolver as suas aptidões, nem
convinhão ao seu systellla , c menos es tavüo de harmonia com as
suas lendencias particulares. Ace itou, pOl'ém, pouco depoi com
satisfação a nom eação de ajudante de procurador do s feitos da
fazenda, que pm boa hora para o se rviço publito se lemhrou dc
conferir-lbe o mal'quez de Paraná , passando no anno seguinte,
J855, a servir como procurador dos feito s, cujas func\:úcs desem-
penhou até Mar!<o ele '1869 , data cm que ri elia::; voluntariamentc
flC relirou . NfLO cstava incompatibili saelo com a advocacia: era
tudo quanto queria.
De quc fIlodo dcsempenllou a gravc e es pinhosa missüo ele
represelltantc da far. enrla publi ca nos juizos dc primcira instau cia ,
como se bouve cm frenl e das mulLip las c CmUarôl(OSaS questões
suj eitas ao sc u fo!'!; acl o p,ltrocinio , qu e o di güo quantos, adminis-
t.radores e admilli strad os , tiverüo pOl' devl'r ria posi~üo ou natureza
do negocio de entrar em rclaçúes com ell c, alollga seric ele minis-
Iros ela faz enda qu e lIesse p 'l'i odo ele quillze annos OCCUpOll o poder,
os milbares de inJivi tluos intcI'cssarl05 em cau sas com o Estado,
dil'ecta ou indil'l'c tum l'lIte ; qu c o digrLO principulm r ntc os que ti-
verão de succl' c1 cr-lbe c rcceber cssa lIova herança ele Alcxandre,
composta do mais pUl'O zelo , ela mais extrt'mada dedicação pela
causa publica. Se m exageraçüo se pôdc dizer que elevou o cargo a
altura s illa CCpssi\"ci s, cleixanrlo, porém, iJluminacla li via que
dl' vião trilhar os :;eus SUCCC8S0re:; com aquelle colossal pllarol,
que se dcnomilla o .Ifamwl do 1JJ'OCtlracloT elos feitos , mOllu-
mr nto rle illtellig t-' nle lahor, COIl 'iencia e metbono.
:;,[ vl'rclad e) qU!:'1ll C'ornpulsnr cssc volume de i.rllz l'nlas e tallt,;lS
XXIX

paginas de tex.to, illuslraclas cle copiosa~ annol:1~õcS, aról'a um


aoundanle <Ippenclice de igual rxtrnsüo, contendo complet:1 a, le-
gislação concernentr no assumpto da abril, disposto rOl r.riteriosa
e rliscl'iminada ordem e onrle o autor condensou todas as disposições
fiscues, tr:1çando o circulo dentro do qual se morem os runccio-
nario- encarregados de applical-as, ('numerando os seus devrres
e attribuições, sem esquecei' as necessal'ias ligações com os
principias do direito ciril, o gel'adol' do mesmo direito Oscal,
tle modo a formal' uma como pequena encyclopeclia, llÜO pótle
esquival'-se a um sentimento, mesclado cle llllmiraçiio e rc s-
peito pelo bomem, qU l' , lIÜO contente em cumprir os dev'res do
seu Ci:lI'go, ainda achou tempo par:1 dotal' as leLl'as juriclicas dt'
seu paiz COIl1 um livl'O ufficiente, clle só, para dar-lhe merecido
renome e tlispen ' al-o de outras provas de capacidade.
Mas o DI' . Per'digftO Mallrciro Ilflo rr:J dilqnclles, que adorme-
cem ú sombra dos louros adquiridos , urm pertencia ao numero
dos N,lrcisos enamol'lldos da propria obra, diante da qual estacflO
embevecidos e o mundo a caminhar sem que disso se aperccbão,
persuadidos lraver dito sobre o assumpto a ultima palavra,
Não lhe entLlmecia o peito vüo orgLllllo, que se denull,:i a
a entomar ondas de ch,:sàell1 sobre o alheio trabalho; como cl'a
comedido em prununciar-se a respeito do procedimento de seu se-
melhante, mais I'eserrado ainda se mostrava em ajuizal' do mere-
cimento lillerario ou das producções de qualquer. O habito que
adquirira ele tomar notas ou apontamentos de suas leituras, todas
cllas dirigidas para um fim de' utilidade geral, só abandonou
(lepois que aR enfermidades, com o seu relTeo amplexo, lh'o ve-
dál'ão. Taes apontamentos constituião um precioso peculio, que,
logo que podia, bra transrormado em livro com o intuito constante
de apl'Oveitamcn to para maior numero e nunca de especulação ou
vaidade.
Foi assim que anteriormente ao illanttal, que veio a lume em
1859, isto é, cinco annos depois de sua nomeação, havia eJle pu-
Llicado em '1857 o Commenta1'io á Lei de 2 de Setembro de 1847,
succulenta monographia, na qual estudou as origens da lei e, de-
pois de haver analysado as suas disposições) exposto a solução
a varias questões, com aquelle bom senso inalteravel que com-
punha uma da!'1 rarcs do seu caracter, encenou o opu5culo ex-
xxx
pendendo uteis idéas de reforma c indicando os pontos vulneraveis
da lei.
'Esse trabalbo, a que servirão de preludio varios artigos im-
pressos nas columnas do Dim'io do Rio de Janei1'o em 1855,
franqueadas pelo redactor de então o conselheiro José de Alencar,
foi generosamente cedido aos irmrlOs Laemmert,que ultimam ente
ainda publicárão uma segunda edição, se m que t;:o pouco para
o seu autor proviesse o minimo lucro.
No entl'etanto aquelle mourcjal' em que vivia, já attendendo
aos multiplos deveres de seu cargo, já tratando de sa ti sfazer o
mandato dt! num erosos cli entes não o distrahião llos cuid ados
que sempre di spensou aos seus, realizando a definição de bom
filbo, dada por um moderno moralista francez : "aquell e que não
mede nem os beneficios de seus pais, uem o gráo de seu reco-
nbecimento. "
Em 1860 finou-s e o co nselbeiro Perdigão Malbeiro. O velbo
magistrado, conscio das precarias condições em que ficaria a
familia, e parecendo prever serião ainda aggravadas com a fal-
lencia do bauqueiro Souto, em cujo estabelecimento fÓra depo-
sitado tudo quanto se pudera apurar do espolio, havia recom-
mendado no seu testamento se requeresse umapensrlO ao governo.
Curvou-se o filbo obediente ú disposição paterna, juntando ao
requerimento os mais 11011rosos attestados ; mas, consigna elle
tristemente em seus apontamentos, « ti viuva e filbos daquelle
magistrado ficarião privados até do pão quotilliano, se Deos não
protegêra e abençoára o traballlO do filbo e irmão, que com elles
tem repartido o seu producto . "
A pretensão não teve deferimento, resultado mui diverso
daquelle que lhe fizerão esperar obteri<~, e que o animárão a
formulaI-a .
" Resignado, accrescenta, redobrei de esforços para reparar os
prejuizos supportados e aff'rontar as novas necessidades assim
creadas, e satisfazer o accrescimo de obrigação dest'arte im-
postas. Deos continuou a proteger-me, pelo que rendo sempre
mil e eternas graças. "
Esse espirito de resignação nãó o abandonou, emquanto teve
forças para lutar contra a adversa fortuna ou combater por suas
i<léas j supportava com animo iguol hoje pequenas contrariedades,
:XXXI

amanbã acerhoR desgoslos. Nunca se llir. ouviam queixumes, não


pOl'que lbe faltassem motivos: CI'lI bomem, vivia em sociedade;
mas, ou fosse systema ou grande imperio sobre suas paixões,
diante da olfensa calava-se. Tambem não tillha o genio vingativo,
nem consta que em tempo algum tomasse qualquer desforço
contra quem quel' que fosse. Como Plinio o Mo~o, clle pensaria
que o homem melhor e mais prefcito é aguelle, que pcrdóa aos
outros como se commCltesse faltas continuamente,e as evita como
sc nunca a ninguem perdoasse.
Nenhum cargo mais exposto que o de fiscal da far.entla pu-
blica a alfrontas e vituperios; ahi mesmo, porém, a sua sel'eni-
dade manteve-se inaltel'avel. Parecia inspirar-se na senlença do
philosopbo estoico, que o sabio não podia sofft'cI' injuria nem
(f

alfl'onta, e que se ell e Re esquecesse a ponto de tomar em COll-


sideração uma injUl'ia leve ou grave, uüo poLleria gozar daquella
lranquillidadn que lhe é propria, pois tirar vingança da injUl'ia
seria honrar o seu autor. "
Em certa occasião, um desses advogados, baldos ele Rciencia
e de educaçrLO, dignos de emparelbal' na mesma especie com as
vttlpes togatm de que [alla o pl'axista, os quaes pensão intimidal' .o
antagonista ou fazcr.-Ihe pe['der a calma, aloreloando-o com bal-
dões para o desviar da queslüo, e assim alardeando serviços
fazer jus a mais clteia escudella, occupou-se de pl'eferencia nos
autos em atirar docstos ao representante da fazenda. Este, IJas-
sando por :t1to a;; cl iatt'ibes, foi direito aos pontos fl'acos elas
hydropbol.Jicas all egações e tranquillamentc lançou á mal'gem
o adveJ'bio !Lic, tantas vezes l'epetido,quantas elles se contavüo, e
não erão poucos.
Em época posterior, ainda com o mesmo fim de utilidade
prat.ica, logo após a publicação da Lei de 24 de Setembro
de 1864 e Regulamento de 26 de Abl'il de 1865, fez imprimi!'
á sua custa nus officinas da typographia nacional o Repel't01"io
OLG lnelice alphabetico ela 1'e/"orrna hypotheca1-ia e sobr.e sociedade
de c1·eclito real . « Confeccionado a principio para meu uso e
apenas como um auxiliar mnemonico (aide mbnoireJ, entendi,
explica o autor no prologo. que prestava algum serviço aos
menos versados em materias juridicas, assim como aos seus
jovens collegas, lJl"oporcionando-lhes um meio prollllJto de ob-
XXXII

terem resposta imm ediata a consu ltas, que cada qual se queira
a si mesmo fazer sobre questões mais frequentes, e de mais
imIl}ediato inleresse relativamente á importantiRsima e profunda
reforma, por que passa uma das mais dilliceis e complicadas
materias de nossa legislação civil e commercial, qual seja a das
hypothecas ; resposta a mais satisfactori'l que ser possa, acom-
panhada logo da citação de direito , que a comprova, e cujo
desenvolvimento (ás vezes longo) se achará nos artigos da lei
e dos regulamentos referidos a cada proposição. ))
Este systema de [acílitat' a procura de di sposi ções de uma Ini
comp lexa, notando as diversas remi ssões, abria a porla a publi-
cações congeneres. Hoj e não ba lei promulgada, mais ou menos
desenvolvida, que não appareça logo o seu repertorio.
O sentimento, de mãos tladas com a razão, actuavão pt'odi-
giosamente em seu espirito encbendo-o de constantes preoccupa-
ções sobre os remedios conducentes a extirpar o CllnCI'O, que
corroia o Bruzil até a medula, e era a causa mais podet'osa do
seu atrazo moral e social. « Eu via a escravidão,commemorão os
seus apontamentos, com repugnancia e mesmo borrar, persistente
entre povos curistftos e em nossa querida patria. Este sentimento
era expontaneo e despido de qualquer vicio ou defeito; o meu
espírito e coraçfto aspiravão á liberdade e á emancipaçüo. »
Sem duvida, como Seneca, entendia que era um el'l'O pensar
que a escravidão absorvia inteiro o homem, e, pois, convinba,
a bem da mesma àignidade bumana, restituir á creatma a plena
posse das faculdades com que a dotára o Creador (*) .

(' ) Que se me releve a transcl'ipção completa da bella passagem em


que o supposto discipulo de S. Paulo, collocado por S. Jeronymo no
catalogo dos Santos, exprime idéas tão elevadas, que mal se coadunão
com as leis do tempo em quP. viveu, e só se explicão pelo caracter
religioso de sua philosophia, seguindo esta a corrente, como quer
um escriptor moderno (Gaston Boissier, La Religion Romaine), que do
tempo de Augnsto arrastava cada vez com mais força as almas á
devoção, e as fazia passar gradualmente do septicismo da época de
Cesar para a fé supersticiosa do seculo elos Antoninos.
Eis o que se lê no liv. lII, XX de Benef: « Errat si quis existimat
servitl1tcm in totum homincm descendere; pars roelior excepta est.
Corpora obnoxia sunt, et aelscripta dominis; mens quidem sui juris;
qure adeo libera et vaga est,ut ne ab hoc quidem cui inclusa est teneri
queat, quo minus inspectn suo utatur et negotia agat et infinHum
XXXIII

Por occasião de refr.rir-me ao seu primeiro trabalho litterario


ass ignalei o voto de ardente entbusiasmo, que formulára em bem
do eng/'andecimento da patria, com todos os seus filhos livres.
Essa restricção era como um compromisso com a consciencia
do patriota c do philantropo, de que ergueria um dia a sua voz
em prol dos desbcrdados. Desde então formou a sua leitura favo-
rita dos autores nacionaes e estrangeiros que se tinhão occupado
com essa magna questão, a questão incandescente, como a
cbamavão. Não temeu, porém, queimar-se nas labaredas, que
ella podia despedir: envolvia-o o amiantho das conscien-
cias puras e dos nobres impulsos . Assim logo que julgou favo-
ravel o ensejo, corajosamente desfl'aldou a bandeira da eman-
cipação no discurso que, na qualidade de p/'esidente do Instí tu to
dos Advogados, lhe coube proferi/' na sessão magna do dia 7 de
Setembro de 1863 .
" Permitti senbores, (disse ao começar), que no dia em que a
nação commemora a sua emancipação politica eu levante a
minha voz em bem da extincção da escravidão . "
Este exordio singelo captivou logo todas as attenções; a
magnitude do assumpto pOI' si mesmo se impunba; a compe-
tencia do orador era indíscuti vel. Em seguida passou a exami-
nar a legitimidade da propriedade constituída sobre o escl'avo,
a natureza de tal propriedade, a justiça e conveniencia da aboli-
ção da escravidão e em que termos.
Todo o discurso é repleto dos mais sãos e generosos princi-
pios; philosopbo ch ristão, o orador desmontou uma a uma todas
as peças da monstruosa e nefanda instituição, investigando as
fontes historieas dos povos em que ella se desenvolveu, e acom-
panhando-a em suas evoluções até chegar ao nosso estado, ter-
minou com estas memoraveis palavras:
" Em França, antes da emancipação das colonias, varios pro-
iectos de lei declaruvão que ninguem mais abi nasceria es-
cravo.
" Decretasse o nossO ll'gislador uma lei semelbante, declarasse
que ninguem mais nasceria escravo, e o Brazil, associando-se ao

omnes celestibus exeat. Corpus itaque est, quod domino fortuna tra-
dic1it. Hoc emit, hoc vendit; interior illa pars mancipio dari non
potest. »
3-CONSULTAS
:n. .HY

gl'an(l(' movimenfo intelll'ctual (' mOl'al (lo ~ecu l o XIX, teria avan-
çado oe scc"Illos lia v('rerla da (;i\'i li :;:D~flo; gan ha ria no interior
ex terminando um 111 ai , que a hi storia dcmonstl'a ter sido (>111
todos os tempos e paizes causa de oulros males, de guerra;;
mesmo, causa de degl'uda!,;ão do povo, de depravação cle cos-
tumes, de atrazo na inclustria, 110 desr uvolvill1 l' nto illt\'lIectual
e mOl'al, já não digo Só[J((:' uLc do eSd'<lI'O, mas cio pl'opl'io bomcJI1
livl'e, A mão da ProvidL'llcia pesa soure nó~, a justiça divina
pareo' que se I'crolLa conLl'a Uill lal alteoLado, e pune o cu lpa do
exactameoLc I)pla ralta que in,;i ' ti! efll JI1idlll'!', pl'rmiftillllo qil('
som'a eH!:! totla,; as suaS duras cOII;:e'iU t' II Ciil::i
" ~';elll semcllJunte disposi!,;ão potlel'iil , l'oll'l' nó~, fl'az('!' o~
múos l'(!sulLados e co nq.lli raçúc::i, quo L:IlIlo I' I'c('i~lO espirifos me-
talliros e visiOIl<lrjos, Os que se achüo constituidos em escravidão
rOIlLil lUill'ião uclla , até que pela mOl'te e pelas manurnissõrs
regulares se eSLiuguitise e::ise canc!'o da socil'datle bJ'azileiJ'a,
o que pOl' certo seria obra para 1l111itos anuos, Porém 1to menos
em uma época ce'rla, emuora nflO lHccisn, a L'scrar idüo se arharia
ele Lotio extiucLa ua Lerra da CI'UZ, syll1 lJolo cio Christo, qUI', p~ra
remi]' do peccado o gêliero llUmano, OrlO duvidou tomar a fCJ1"ma
do escmvo, c padecer e morrer da morte desLinada aos escravos,
" Se isto tivesse lugar nos nosso ~ dias, por uma feliz coinci-
dencia regi straria a bi sloria que no reinado ele um D. Pedro II
(de Portugal) abolio-se a escrayiclüo cios iudios no 13ra7.il,e que no
govemo de outro D, Prrlro II (do 13razil) a da l'aça :lftoicana obti-
vem igual victoria,
li As gerações qur nos biio rle suc('ede r lJemdil'ião tão meri-
toria resolução, E a bond:ule tio AILissimo descel'ia, como o 01'-
valbo crendor, sob rr a terra, om ahrasada pelo SUOI' e lagrimas
do escravo; só então a. nossa bella patria sl'I'ia verdadeiramente
feliz (*) , Il
Esse discuI'so produzio grande impl'C'ssão e repercutiu no paiz
inteil'o ; o Con'eio Mercantil o tl'illl SCreVeu em suas columnas, pre-
ce(lclldo-o 11e phr~s('s muito honrosas pal':1 o seu nutol', A' porua
udmiru"a-se a cora~em, o civismo, que o incitára a fallar aos
seus concidadãos a lillguagem da verdade, levando o ferro cm
brnza a uma cbaga patente, mas da qualnillguem curava, romo

(0) Vid~ A ESCI'a'L"idão no Erazil, lomo 30, appendice, pag 141.


xxxv

de um mal ch l'onico I'eputado sem remedio. Era como a voz de


Cicero dam:mdo contra um inimigo mais pernicioso do que Cati-
lin J, que já havia transposto as portas da cidade , se insinuára
nos nossos habi tos e costumes, fazia pal'te da vida mesma da
nação (! minava-lhe surdamente as fontes, ameaçando-a de in-
evitnvcl ruina. Cumpria debellal-o por todos os meios possiveis
c preparêlr o fUluro, cu idand o elo presente. O exemplo elos Esta-
dos-Ullidos, ardendo então na pavorosa guerra da seccessão, aui
estava para fazer-nos despertar elo lethargo em quejaziamos (*)
Como verdacleiro missional'io possuido de sua idéa, o Dl'. Per-
digão Mallteiro não descansou, emquanto a não aEsentou em
bases mais largas do que um simples discurso, pronuuciado no
grem io ele uma associação, que sempre arrastou viela vegetativa,

(.) Na Euro.pa Lambem teve repercussão. o. discurso., co.mo. se póele


ver da seguinte carta escripta pelo. secretario. da so.ciedade abo.licio.-
nis ta ingleza :
« Mo.nsieur.-Par l'entremise de Mr. de Galvão., j'ai reçu to.ut ré-
cemment l'imprimé Ju disco.urs qlte VO.US avez pro.no.ncé au mois ele
Septembre del'llior elev1Lnt l'llssembléo réunio à l'lnstitut des Avocats
do vo.1,ro villo,discours auss i remarquable parlsou style vif ot nerveux,
que par les nobles sentiments qu'il exprime. Ce disco.urs va être 1,ra-
duit en auglais et publié dans l'Anti-Sla'Very Repo?'ter, o.rgalle omciel
ele la British and FOl'eign anti-Sla'Vei"y Soaiety, dont je suis le
sécrétaire.
« Dorniérement j'ai écrit à Mr .de Galvão et à Mr, le baro.n de Mauá
au sujot de la questiou que vous venez de trai1,er si habilement. Notre
co.mité desirc se mettre en rappo.rt elirect avec quelques persollnes au
Brésil, qui voudl'aient bien s'o.ccuper de l'abolition de l'esclavage un
peu activement. \1o.tre admirable eliscours signale un heureux com-
mencement el'agita1,io.n,c'est pourquoi j e vais vous prier de Vo.us meUre
en rappol't avec ces messieul's, afin de determiner s'il n'y aurait pas
moyen d'une maniare ou autre que la question de l'abolition de 1'es-
clavage dans vo.tre pays fut discutée au mo.ins de temps à autre, pOUl'
appeler SUl' elI e l'attentiol1 publique.
« Je n'ai aujo.urd'hui que le temps de vo.us écrire ces quclques mots.
Je me réserve le plaisir eL l'honneur de le faire bientót plus longlle·
ment.
« Agl'ééz

Monsi-eUl'
L'hommage de mes sentiments respectueux,
L. A . Chamerozow, sécrétail'e."


XXXVI

apezar dos herculcos esforços t!r seu presidcn le. Ao brado ele
alerta que so ltúm entend eu dever accrescentar mais alguma cousa
e não limitar-se a indicar o perigo. Estudar os meios de remo-
veI-o foi então todo seu empenbo.
Ne8se intuito p07. mãos ~l obra, e começou a accumu lilr um
cabedal immenso, formado de toda a sorte de elementos, hi sto-
ricos ,politicos, sociaes e economicos, destinado a fOl'Oecel' a maior
som ma de recursos possivel, afim de babilital' para a solução do
magno problema. Tal foi o plano e assumpto do tl'aiJalho quo veio
a lume em 1866, sob o titulo A Escl'Clvidàu no IJmzit.
" Desde aquelle discurso, observa el le, começúrfio para mim
os maiores desgostos, pois de um lado deparava com a mú von-
tade dos pl'Oprietal'ios e seus sectarios,e de outro com a do proprio
governo.» A influencia desle no seu pensar era tal, que, preten-
dendQ fa7.er urna primeira leitura do dito discurso, interessante
ainda sob o ponto elo vista historil:O perante o Instituto, foi
desse proposito demovido, a pl'etl?xto de que iria _desagradai'
uma vontade augustil. Ainda assim, porúm,conseguio que aqueJla
douta corporação o admillisse a ler a segunda parte da obl'a
inedita, persuadido ser a que mais interesse orferecia aos fio s
sociaes, por se tratai' de indios. " Mas, accrescenta, suspendi por
ver qu'e :í. leitu ra não se prestava a devida attenção. »
Não foi só isso.
Publicada a parte juridica, e vendo que a impressão de toda a
obra importaria em não pequena desp('zu, demasiado onerosa pum
a sua bolsa, versando o trabalb o exclu, ivamente sobre assumpto
de interesse publico,lembrou-se um amigo,funccionario altamente
collocado , de aconselbar-lbe a que requeresse ao governo um
auxilio pecuniario. Elle, porém, reCUEou-sr, declarando que bas-
t~rja lh e. aceilassem, em pagamento da impl'essão feita na typo-
grapbia naci ona l, tantos exemplares da obra completa, quan-
los fossem precisos para in(lemnisaçfio,venclendo-os a administra-
çüo pOl' sua conta c pelo preço que se convencionasse.
Animaclo por rsse nmigo, aprrsrntou o seu I'cquel'imento. Menos
reliz, porém, que oulrOS que se limitavrtO a amanhar compilações
e obtivrrüo os favores solicitados, o autor ela Escravidão 110
Bmzil vio a f;un prrlrnf;ão mal acolhida, não chegando pOl' iss0 o
officioso interrelJ lo)' a submelWl-a a despacho.
IXXVII

Não era, comtudo, Perdigão Malheiro hom em para esmorecer


diante dessa recusa, a tenacidade de seu cal'acter venceria maiores
difficuldadf's; lan çou-a á conta de méra contrariedade, que cum-
pl'ia remover ainda com sacrificio. Ella não fez mais do que afer-
vorar-lhe o zelo pela causa santa que abraçára, assim como a per-
seguição de priscas él'as fortificava na fé os christão s. A obra
completa foi publicada a expensas suas,e caprichou em satisfazer
dentro de cmto prazo os gastos da impressão (*).
Essa contrariedade, no entretanto, deixou em seu espirito um
certo fermento, que a disposição do temperamento ajudou a de-
senyolver,fayorecido pela reserva extrema do caracter . Ajudiciosa
sentença do príncipe dos philosophos gregos, citada por Cicero:
A1'istoteles quidem, ait, omnes ingeniosos melaneholicos esse, expe-
rimentou aiL1da uma vez completa realização . Não era, porém, essa
melancolia vaga, propria ela mocidade, no fundo da qual es tá
sempre a esperança, mas a que acommette os bomens de idade
madura, e que, segundo um pbysiologista contemporaneo, é cons-
tante, acre e profunda, porque L1ão sómente sente-se a dór, mas
raciocina-se a respeito della, em que o soffrimento do dia seguinte
vem reunir-se ao da vespera e as dôres prendem-se a recordações
pessoaes.
Assim, pl'imeiro aquellc especioso pretexto que servia de
afastamento á leitura do discurso, logo após a pouca attenção
prestada á que fizera de parte do seu trabalbo, e por ultimo a re-
cusa da publicação, farão outns tantas causas accumuladas, que
vierão elll'aizar a desconfiança de que uma vontade superior lbe
era infcnsa. Essa como spina in em 'ele, na pbrase de Ri ppocra-
tes, não o devia deixar mais nunca; bastante pbilosopbo para
que ella podesse constituir-se o tOl'mento de sua vida, era-o
todavia pouco para de todo esquece-la.

(*) Eis como o amigo déra conta da maUograda missão:


« :Meu Perdigão,- Apezar dos precedentes apontados por mim,
S. Ex. declarou que não podia deferir a pretensão. Sinto communi-
car-Le esl;a solução; mas devo accrescentar que eUa se estende, se-
gundo penso, a qllaesquer outras obras flue pretendão imprimir na
Lypographia nacional. J)
E' possivel acrediLar na razão ela declinatoria, tomando-a como
medida geral. Outro fôra o ministro, q llC fizera as concessões in vo-
cadas como precedentes .


XXXVIII

Não é, portanto, pam extranlJa l' que, fortem ente dominado por
flssa i~lpressão, a ella filiasse todos os successos, désse vulto
ainda aos de somenos importan cia , e considerando co mo causa
geradora de obstaculos e embaraços tudo quanto não influissc ele
modo acti vo e immediato para a realizaçã.o da idéa, na mesma
desconfian ça envolvesse hom ens e cousas. Assim, não trepitlou
imputar á esquivança o procedimento de quem entendia ,que maior
emp enho devia cabet, na di scussão da ques tão, não mais voltando
ao assumpto , como tuclo lh e fazia e3 pel'ar, depo is de ouvir de sua
propria boca a declaração, que o mom ento propicio para tratar
delI e seria finda a guerra do Paraguay e res tauradas as forças
da nação .
Certamente não era es te o caso de Racin c, a res peito do qual
dizia Luiz XIV, vendo-o occupado co m um projecto de reforma so-
cial e eco nomica: « Porque sabe fazer versos perfeitamente julga
saber tuclo? Porque é granel e poeta qucr ser ministro?)) As com-
pro vadas habilitações do Dl' . Perdigão Mallwiro l'epellifLO o caracter
de amador, que bem podia asse lllar no famo so autor de Athalia, e
haveJ'in. Jlagl'ilnle injustiça em se lue appli cUl' a con hecida l'l!sposta
de Vàltail'e: 111aít're Anclre, (ailes eles J]elTuques (*) . 03 homens,
porém, são os mes mo s em todos os tempos; <l5 m ~s mas p~: i xões
os agitão, o qu e mortifica o espirito em um sec ulo não palie ser
causa de satisfação em outro; em todos as épocas a conslcleração
publica, o apl'eço das pessoas qualificadas for:lQ sempre ambi cio-
nadas por aquelles mesmos a quem meno s ca heria o conhecido
conceito,-todas as virtudes vêm percl el'-s8 110 amo r proprio ,colllo
os rios no mal'.
Comludo, por diminuta que fo sse a clóse que de tal sentimento
se alimentasse a alma de Perdigão :tvIalheiro , não poderia furtar- se
a um certo desvanecimento ao chegar ao cabo,depois de contral'ie-
dades reaes e imaginarias, de se u grande emprendimento. Razão
de so bra para isso lhe assistia . A Escmviclão no Hl'azU, por elle

(k) Os diversos escriplos do SI'. Dl'. Perdigão Malheil'o, aJfirmR um


juiz mlüto compeLente, depois de o classificar entre os mais notaveis
juriscons ultos brRzileiros, recommendão-se pelo esLlldo con sciencioso
e aprofundado das materias, pela justeza das idéas e pela concisão do
estylo (Conselheiro Lafayette, Di,'eitos de Familia, intl'oclucção),
XXXIX

mod es tam ente intitulada Ensaio histol'ico jlb1'idico social,constitue


um verdadeiro tratado, o mai s completo que se poderia desejar,
co mpl'ehendendo tudo quanto a litterutura antiga e mod erna,
nacional e estrangeira , oiferece de variado e copioso sobre a ma-
teria. Foi um facho enorme acceso por acryso lado patl'iotismo,
qu e vl' io illuminar todas as etapas por onde caminbára a abo-
minavel institui ção, cuja deformidade ficou assim pat.ente a todas
as vistas , habilitando os bomens de hoa vontade, e sinceramente
interessarlos no [Irogresso do pair. , a tentativas proficuas pam a
derrocarem. .
Abre o livro uma conci sa, mas express iva dedicatoria ao Bruzil,
trazendo co mo epigraph e ilS sl'guint es sentenças: Veslra 1'es
agittw . Lihertas non privata serl publica J'es est. " Ninguem mai s
rio qur.·vós, acccntuou o nutor dirigindo-se á di lecta patria , tem
o direito de ex igir de se us OIlJOs todo o conrurso que cada um
pO~ 5a (1 31' par:1 o melh oram ento, progrrsso e feliódade da nação,,,
]i; r(' \'el'cn te conclui o: " Deponho no vosso nllar 3 minha mesqui-
nha offprl'nda, "
Dividida toda a obra em tres panes cO ITespondentes ao plano
trflçarlo , de modo a cornprehend er os seus tres pontos capita es,
occupou-se o cscriplor na primrira em expôr systematicamenle a
doutrina do nosso direito sob re os ('SCI'ilVOS e libertos, começando
por ex aminar a posição respectiva ,:nte as leis positivas, politi ca,
civi l, co mmel'cial, administrativa e fi scal. Não omittio nesse
exame remontar ao dir('ito romano, fonte abundantiss ima de es-
tudo, capa" ella só de fornecer so luç:ões pal'a as variadas questões
que se prcnd cm aos direitos domiuicaes, condominio, usofruclo,
usocapi50, ete. Passou rm Reguida a tratar da terminação da es-
cravi dão, enumerando os se us modos, co ndi ções, prazos, clau-
sulas ac1jp.ctas ús manumi ssões, e depois de tocar nas acções de
libl'l'dade e escJ'avidão, emillindo quanto á milrcba do processo e
l'rCll rsos opiniões as mais acertadai'\, termin ou o 'uccul ento opus-
eulo in\'l's tiga ndo os di l'eil o politi cos, civis e publico dos li-
bertos.
A segunda parte, de illteresse purum eute IJistoríco, pois o as-
sumplo p.xclusivo della vcrsa sobre u escravidão dos indios,
rxtincção da mesma r catrchcse , foi Irubalhuda com o Jll('smo
cuid ado que a precedente , quiçá lembrado o autor do campo em


XL

que jogára as suas primeiras armas. As relações dos indigenas


com (}s naturaes, de que modo se introduzio e desenvolveu a es-
cravidão entre elles, as tentativas ob§tadas de coloni sação, ~
importante papel que na catechese representárão os jes uitas, as
suas missões,as buHas dos papas sobre a liberdade dos indios, as
leis promulgadas pela metropole no mesmo intuito, as bandeiras,
etc, etc, forão explanadas em estyl0 sobrio, não avan çando o es-
criptor uma idéa que não apoiasse em dados justifi cativos, colhi-
dos com escl'Upulo e criterio, proporcionando interessante lei-
tura mesmo áqu elles a quem não preoccupasse a grande ques-
tão social, e simplesmente buscasse no ções a respeito dos dif-
ferentes episodios por que tem passado a existencia do autochton e
brazileiro .
Na terceira e ultima parte, intitulada Africanos, aquella que
mais de perto se prende á solução do magno problema,o interesse
sobe de ponto ; o philanthropo revela-se a toda a luz : não são
sómente as idéas albeias que passa em revista, enumerando com
a maior imparcialidade todos quantos proj ectos têm sido apre-
sentados entre nós , discutindo e analysando o que outros paizes
oppl'imidos pelo mesmo mal fiz erão para delle se libertarem,
mas as proprias idéas, filha s elo estudo e meditação, que
expõe á critica, indicando qual deverá ser a lril LI a a seguir para
desass om!Jradam ~ nt e chegar se ao suspirad9 desicleraturn . Muitas
das providencias que mais tarde vierão constituir disposições da
Lei de 28 de Setembro de 1871 forão por elle lembradas. Assin:;.
é idéa exclusivamente sua a ela creação de um fundo de emanci-
pação, com esta mesma designação , destinado a auxiliar as ma-
numissões. Pertence-lhe igualmente a da indicação das fontes
donde se deveria compôr esse fundo; a da classificação dos es-
cravos , a principiar pelas familias etc . (*)

(.) E m apoio desta a:!\serção transcrevo o seglünte trecho, que se lê


á fi . 243 da alludida terceira parte :
« Outras providencias conviria to mar, sendo digna de especial
menção a Cl'eação de um fundo de emancipação , destinado a auxiliar
as manumissões, a creação e educação, o estabelecimento 'dos liber tos.
Este fund o se deveria comp6r: primeiro, dos impostos lançados sobre
os escravos, como sejão a taxa annual, que se poderia fazer extensiva
a todos, a meia-siza, a decima de heranças e legados em escravos'
XLI

Vem de molde lranscrever a passage m dos apontamentos, ['ffi


que o autor reco rda u somma de esforços despendidos 00 operoso
commettimenlo , qu e tamaub a gloria accrO:lcentou ao seu DOO)('.
Assiste-se para assim dizel' a um verdadei ro trabalho de ge~ta­
ção, bem con becid o dos que se Onll'cgão a iguaes labol'('l) .
Eis o que se encontl'U no manuscripto:
" Para escrever aqueUa obra (a mínba prodilecta) qu e dillicul-
dades a vencer! que de pesquizas e leituras! Rodeiado noile e
dia de livros ele tod as as datas e formatos; ra~endo acquisições
custosas e rams ; indo aos li neiros e br.lchiorcs coUecciooat' fo-
IIJelos; pedindo Outl'OS pOl' clIl prestimo ; frequentando as biblio-
tllecas ; manuseando Ol'i! velllos e carcomid os manuscriptos, ora
pesados e volumosos in-foli os ; colb endo aqui e alli alguma noti-
cia, algum facto; tomando de tudo nota s e apontam entos indis-
pensaveis , e assim com insano tl',ÜlillIJo pbysico e inlcllectual
colliginclo o material, que ol'a se vê coordenado e metbodi sado
naquella obm, e que só quem se propõe H tal póclo aprecia r e
a valiar devi damente.
" Eis os torm entos do escriptor, sobretudo entre nós, oude tuclo
é tão escasso, esparso e diffici!.

os d.ireitos de habilitação para h avêl-os, os de in sinuação de doações


em escravos e outros semelhan tes; segundo, doações e legados para
esse fim; as multas criminaes, co rreccionaes c disciplinares r elativas a
questões de escravos e libertos; quarto, o proelucto de loterias conce-
clidas para isso; quinto, o producto da venda de escnwos do evento,
não r ecln,mados dentro de cinco annos ; sexto , o de bscrllVOS ele heran-
ças anecaeladm;, de aasentes e vagos, igualmente não reclamados no
mesmo prazo; setimo, os premio de 10Leria ~ não r eclamados em igual
prazo; oitavo,quaesqLler outros valores ou quantias destinados áquillle
fim.
{( Entendo que, sempre que possil'el, devem ter preferencia as fam i-
lias; se a SOlllma disponivel der para um a família, ou para o r esgate
dos conj uges, sejão preferidos . »
Estas idéas qLle servirão de base ao mesmo projeclo 'apresentado
pelJ Dl' . Perdigão lIIalheiro na CaUlal"a Le11lporarht e do rjLwl traLurei
adiaute forão aproveiLaLl~s na Lei de 2ê de Selembr" ele lS71 e
Reg. de 13 de Novembro de 1~'i:2, elllprLlgando-~e até as me~H1as ex-
pre sões (Vide entre outros os ar ts. 3, 1 e ~ da Lei, e os urt. 23, 27,73,
78, 8J, 82, do RegLu amento l,


XLII

" Conres~o que pOl' \'ezes desanimei . Só a llJinba Lencll;idade, o


COlllpl'Olllis30 já Lomado anle o publico, a gl',ll lcle<la cio a::isumpto,
a :;ilntidade da ir1éa , em cuja propaganda eu me acbava crnpcnbado
cSpOnLL1llea e cO llscic nciosamente, me alentavão em tão ardua
tarera. "
A I'l!compensa ell e a obteve solemn e e estrondosa no applauso
com que fo i aco lhirla a obra. De tnrla parte chovêl'fLO felicita-
ções ao patl'iotico escriptor, tanto dentro como rora do paiz. Tava-
res Bastos, essa gloriosa esperCluça tão cedo fenecida escreve
em urna amislosa cal'ta, que o invejava (*) Da Ingli.tterra Cooper,

(* ) Essa carta, digna por todos os motivos de especial nota, era con-
cebida nos seg uintes termos:
« G de Novembro de 1867, Bordéos.
(( 111m. Sr. Dr. A. M. Perdigão Malheirc.
" Meu mui to ca ro S1'. DOLltor.- Tinha inlúnçi'ío do eserever a V . S.
logo que chegasse a este porto. Infelizm ente, no mesmo dia ele minba
chegada, cahi gravemente enfermo, e só agora posso escr ever. Entre as
minhas primeiras cartas, seja esta, depois das de fam ilia, para mani-
festar a V. S. a prufLmda impressão que deixou-me a sua obra sobre
a escravidão, cuja leitm'a completa ,sem exceptuar prefacias, notas, e
ind ices) Ih durante a minha viagem de paquete.
« A sua obra, meu doutor, é mais do que um livro: é uma acção
ch risLã. Teuho inveja da sua perseve,'ançll, e da fé qltc o animOll a
começ,u' e levar ao cabo o SOll livro. Tenho inveja Eu pensava e, -
crever aqlü uma memoria; seu livro me dispensa disso, porque é com-
pleto .
« Devo-lhe dizer qLle, á primeira vista. algumas ele Sllas opiniões
slJbre a legislação dos escravos (parLe pr imeira) me parecêrão arris-
cadas, antes opiniões de puihlnLhropo do que doutrinas de jurisco n-
snlLo; mas, reflectillLlo sobre cada uma dellas e sobr e as razões invo-
cadas pelo autor, conclui sempre de a.ccordo com a s ua opinião. Essa
primeira parte é o nusso JJL!)3,tO da escrav idão no Brazil. Podesse e11a
ser meditada por juizes e advogados! O proprio ministerio ela jLlstiça
(se o gJverno é sincero na propaganLla abolicionista) pl'll'que razão não
recommenda esse livro aos juizea e aos LribLlnaes?
« Das outras duas partes não careço faze r o elogio, Cnmprimento-o
pelo trabalho, pela dedicação, pe10 escrupulo, pela cópia de esclareci-
menLos que a sua obra copLém .
« Dou-lhe os mais vivos parabens.
« ELl trouxe dous exemplar es ddla. Um offereci ao Laboulaye, qne
me dizem conhecer o port.nguez; o outro serve de base a uns projecLos
que desejo formular.
XLIII

da França Cochin, da Hespanba Labre, dos Estados-Unidos Li-


vel'moore, enviárão-Ib e as mais sympatbicas e entbusiasticas
saudações. Embora li Fórma adoptada do livro não podesse pelo se u
formato concorrer com a do jOl'llal, mais expedita e comprehen-
dendo um circulo mais dilatado ele leitores, não se póde dizer
tivesse menos apreciadores do que o discurso em que lançára a
semente da fecunda idéa, e como disse foi transcripto no C01'reio
l1Iercantil. Além de que o Dl'. Perdigão Malheiro, com verd,.deil'ü
munificencia, coslumava espalbar as suas obl'as por todas aquellas
sociedades e co rporações que dclla podessem tirar proveito.
A imprensa, porém, não era a al'ena mais propria onde Perdigão
MaIheiro podesse batalbar por suas idéas e firmaI-as em reductos
inexpugnaveis. A sua patrioti ca imaginação acenava-Ibe outro
tbeatro mais vaslo; a tribuna parlamentar com elevadas scduc-
ções attrahia-o; sonbava nella fallar ao paiz a linguagem de pu-
ras e sinceras convicções, propôr medidas que no silencio do
gabinete havia concebido e lhe pal'ecião adequadas ás suaE ne-
cessidades. Par~ isso cumpria-Ibe arrojar-se ao campo da po-
litica, não se julgando com ella incompativel, sectario da opinião
de um publicista allemão, que a con"itlera adiantando-se no Arme
terreno do direi to, revestida da santa autoridade que este lhe
presta, e assim fortificada contra todos os ataques, attrabindo
o assentimento geral para chegai' mais facilmente a seus fins.
Não sabiria, pois, do mesmo circulo em que se movia a sua
vida; não sacI'ificaria em ~ltar estranho a seu culto.
Acabava de inaugural'-se a situação conservadora de 16 de
Julho de 1868; o visconde de lLaborahy subira ao poder com
todo o pl'estigio ele cbeFe politico respeitado por seus talentos,
longos sel'viços e immacu lada pl'Obidadc, lad eado de summ ida-

« Estou em convalescença, não posso estender-me; mas digne-se


V. S. aCE'itar o meu aperto de mão, retardado sómenLo pela minha
enfermidade.
« FaIiO-O com o vivo enthusiasmo quo sinto por sua pessoa, o com o
respeito que sinceramente lhe tributa qaem se preza de ser com a
mll.iol' consideração
De V. S.
Amigo,[eollcga ohl'igadissimo,
« ri. C. Tavares Bastos. )


XLIV

des da OI'dem dos viscondes de Murit iba e R.io Branco , barão de


Cotegipe, consl'lheiros Paulino e Alencar. O Dl'. Perdigão Ma-
.Ib éiro, embora nunca tivesse militado <letivam ente na politica.
e mes mo em época reIl1ota, ao pI'etender neUa en trar, Ltou vesse
sido lJl'udentemellte cle:;wiado por seu cunhado, o L:onselheiro
Euzebio de Queiroz, que, conh ecedor do seu caracter nimia-
mente sensiv el, e
Com um saber só de experi encias feilo,

ponderou-l he os in convenientes inberentes a uma caneira tão


cheia de espinhos e desgostos, explicando-lhe como era suj eito a
violentos embates e semeado de parceis esse pelago immenso,
para oppôr-se aos quacs carecia possui r o 7'obLwet ces triplex
ci1'Ga pectus rle que falia o poeta, com tudo acoroçoado então
por alguns amigos e enfastiado do lidar foren se, apez:ll', con-
fes sa el!e, de al guma repugllancia, resolveu apreseutar-se can-
c1iJat.o á deputação geral pela provincia lle Minas-Gernes (-I').

(') « Uma prova do onLhllsiasmo com que foi inaug urada esta si-
tuação, dizia o ministro da justiça conselheiro Alencar, na sessão
de 9 de Agosto de 1869, da eiliuberancia de força que eUa tirou da
dedicação de seus am igos, deu na ultima sessão o nobre deputado por
Minas. Este illustre repr esentante, advogado distincto nesta córte,
um talento dos mais a preciados, dnrante \' inLe a l1l10S se manteve
estranlto á politica. na qual elle poderia ter reclc.mado pelo direito
de seus n:erecim entos um a posição superior i notaveis estadistas,
alguns dos quaes nó:> pntntea mos, lhe acena vão co m a consideração
que o esperava na politica i mas clle recusára. Satisfazia-se com os
louros de sua nob re profissão, co m os lomo., de sua carreira littera-
ria, desta carreira, sen hores, ela qual eu cOllfesso que tenho sa udade,
porque a ella elevo as mais vi vas satisfaç ões e algllUs dos momentos
mais felizes ele minha viela . »
E depois de breve interrupção proseguio:
c( Mas, senhores, dizia eu que o nob re r epresenta nte de Minas
vivia tranquillo, ceifando os louros ele sua profissão e as glorias de
seus t rabalhos litterarios, quando soo u a hora da illa ugura ção desta
s ituação.
(C O partido co nservado r, Sllbindo ao poder, chamou a postos todos
os seus l!lembros, e o nobre elepltlado, que modestamente se conside-
rou <:omo soldado da r eserv a, aC lldio ao reclamo, e trou xe á situação o
apo io muito prestimoso de um bello carader, de um nome illllstraclo
o úe um ta lento robustecido por est udos soliJos (,mútos apoiados) J)
(Vide .dnna.es l'm'Z , 186:J, tomo 4, pag.5a.)
')

XLV

As suas all ianças naturaes,tanto como os principios da profissão,


o impelli ~o pr\l'a o lado consel'Vadol', Os grandes jurisconsultos,
di7. 13luntsch li , SlLO pela maior p~\I'te cooservarlol'cs e explica:
pouco amigo de innovaçúes o jurisconsulto púe em relevo o c1 il'cilO,
que lornou uma forma completa; 6 nesse direito sóm cnte que reco-
nhece uma autoridade oiJrigatoria para lodos; 6 dle que [lI'olPge a
pl'opriedade, os contratos, a familia, esses bens preciosos da vida
pI'ivitda , E na \" erdade, o profundo srntimento queoDr.Perrl igão
tin ba da idéa do devei', o conhecimento e cxperiencia que o I'orna-
vão menos faci lmcote entbusiasta ,o amol' do direito, esses princi-
paes cal'acteristicos que, segundo o mesmo autor, !?('rvem pam
distingu il' o consel'vaclol', o classific:avão perfeitamente ('ntre os
me mbros desse partirlo.
Filh o da provincia rle Minas-Geraes , a sua candidatura era na-
turalmente indicada pelo quinto districto , que cornpl'ebendia a
cidade de seu nascimento, e no qua l contava parentes e amigos.
Começárão, po rém, as contrariedades na nova ca l'l'eir:t que ence-
tára : um seu corel igionario, por motivos que elle ju lgou dever
attribuir ao egoismo e ~o desejo de oslentar inllul'ncia, resolveu
apresen tar-se simultaoeamente pOl' dous districtos , sendo um
delIes o qui nto. Foi por isso obrigado a hrtl elear-se para o se -
gundo clistric to. Não tivesse o partirlo adverso abandonado a
eleição, e não contasse ell e um amigo dedicado como o DI'. Do-
mingos de Andl'Ude Figueira, que então administrava a provincia,
fmstl'Uda teria sido a sua nobre ambição de sentar-se entre os re-
present:mtes da nação. Ainda pam o conseguir força lhe [oi
lutar contra ridicu las intri gas, adrede forjadas com o fim de dis-
trab il'-l be votos dos simples, que acreditassem ser elle um
perturbador da ol'rlem publ ica, que vi8ava atacai' e destruir a pro-
priedade escrava, proclamanelo a propagallda abolicionista.
Approvac1o o parecer que o reconhecia drputado na sessão de
10 de Maio de 1869, era dahi lia dias eleito com grande maio-
ria de volos membro da primeira com missão do orçamento, e a
5 do mez segu inte pronunciava o seu primeiro discurso sobre
o orçamento de receita, sustr ntando as em endas da commissão,
entr(~ as quaes a relativa á aholição do imposto rle 2 "/0' subs-
titu tivo da dir.ima de clwncellaria, que na sua qualidade de advo-
gado estava em condições ele provar quão gravoso era ás


(

XLVI

partes, pl'cjudicial ao regular andanwnto da justi ça e sem van-


tagem rea l para o tbE'sOUl'o (*).
Ainda calcando um terreno, uo qual dUI"ante tantos anllOS
trilhára, ao facto das dencien cias ela Irgislilção fi scnl , pelo amplo
conhecimento que della tinha adquirido no dese mpenho de fun c-
ções de ,'epl'esentante da [azcn cla publi ca, <1pl'esl> ntou na sessrlO
de 12 de .lunbo um proj ec to com o fim cl t.) ll1 elbol',II' o se l'vi~o do
juizo elos feitos. No di sc ul'so em que, (;onci sa e pl'ollcientemellte, o
fundamE'nI'Ou , exbibio idéa" as mai s sãs de reforma o outras
tend entes a nl'mar pontos vacillantes da uossa juri sp rud encia.
Assim sustentou a competencia do executivo Osca l pat'a toda
fi divida do Estado, co mtallto que cel'la e liquida, c a do juizo do"
feitos par,t as ll l's apropriações promovidas pela Fazenda 1\:1cio-
na!. Pronunciou-se al('111 disso contra o transito das Sl' ntenças
pela chan cel lariil, verdadeiro anachronismo desde ~u e os cban-
celleres pel'dêrrlO a attribuição que tinbrlO ele glozar, revelando
como, em virtude de repl'esen tação sua no exe rci cio do C<ll'go de
procuradol" dos fe itos , tomúl'a o govel'l1o a de lib e ra ~ rlo de deter-
minaI' que pal'a as exec uções no tel'ritorio da cil'cum scl'ipçflO do
juizo dos feitos se l'x.pedi s~l! 1I1 mandados e nflO precatorias
e dest'arte economi~ou ao Estado dezenas de co ntos, que serião,
ab~orvidaslc om a despeza do tran sito :·f. ). Ju stifi co u a reducção de
custas na I'azão de melade, explicilnuo quão vexalol'iati "e to['-
navão em (;,'I'tati Lrypolbe' es aos CO lIll'ibuilltes. Demon stl'ou a inu-
ti li dade da inco rporaçflO I'l 'al na grilei alida le dos C;lSOS, c co mo
compensação do ilngrnento cl e vencill1rnt03 que pelo [ll'ojecto ([ ('-
vião ter os empl'egados do juizo do " feit os opinou pela I'cI lu cçüo
da pOl' c l~ ntageU1 que a Lei de 29 de i\'ovembm (k J8\ ] lhes at-
tribue ('d-).

(' ) No sentido da rep resentação forão expeLlidos a circula r n. 524


de 11 de Novembro de 18G '~ e os Avs. ns . 37-1 e 375 ele 11 ele Setemu)'o
de 1868.
(**) Esse pl'oj ecto, de inconLestavel utilidade, pois vinha remediar
impeliosas necessidad es, que reclamava uma ordem de co usas esta-
belecida por uma lei quasi trintenaria, foi combatido em suas idéas
cardeaes na sessão de 1::> desse mesmo mez, e embalde o seu autor,
prevendo as consequencias de um adiamento, propuzesse que, se
passasse o requerimento que o remettia ás commissões de fazenda
e justiça civil, fosse sem prejuizo da primeira discussão, foi vencido
XLVII

Conce ntmndo pum então exclu' lvamente os seus (:uid<1dos nas


cousas da justiça, elas quaes era perfeito sabedo)', não curou só-
mente ele propôr medielas no interesse de melhorar a nossa legis-
lação, cujas lacun as sentira tão ele perto no exercicio da pro-
fissão ele alll'ogado, O mesmo )'aio reformista que a sua expe-
riente mão elescrel'êra ab;'angeu os saccl'dotes ela lei. Filbo de
magistrado, alliado a uma I"amil ia de magistrados, lid ando no
fÓro, ninguem melllOr do que elle pod ia avaliai' a suada moeda
por que se paga um pergaminbo, e calcular quantas angustias
opprimem o coração ele um pai de fam ilia soli cito pelo bem-
estai' dos seus, assediado de necessidade!';, sem meios de as
pl'over. Deliberou, pO l'tanto, tenta)' algum esfol'ço para melhorai'
li sorte da magist)'atura.
Foi na sessão de 2l de Junho, depoi~ de expeneler hll'gas
consid eraçúes sobre o seu estado precario, que apresentou um
projecto de augmento ele venciml'ntos desde o juiz municipal e
de orph~lOs até o mi nistl'O elo Surremo Tribunal de Justiça, com-
pl'ebendenelo tambem nelle outJ'll pat'le em que era regulad a a
aposentadoria elos magistrados. Para obviar a qua lquer excepção
dilatoria com que podesse ser embaraçado o melhoramento pro-
posto, inserio no projecto a clausula-clesae já ;-porque, affirmou
com applauso geral , " a magistmtUJ'a vive quasi na rniseria, e é

na votação c o projec~o cahio no limbo, donde nuu ca mais sahio


até hoje .
Poucos dias depois daqLl ella sessão, cohereute com a opinião que
enunciára, formulou um projec~o abolindo o transito, pela chancel-
laria das Relações, das sentenças, precatorias, a lvarás mandados e
quaesq uer outros actos fore nses, de q ualq u.er Jui zo ou tribunal, e
determ inando que os embargos a accordãos devião ser oppostos
dentro de cinco dias contados da publicação ou intimação, reque-
rendo-se para eltes vista ao juiz relator,
De tão intui~iva vantagem foi considerado esse projecto, qLle,
apresen~ado na sessão de 21 de Junho, passou sem debate pelas tres
disl:llSSÕeS uarlamentares; a li do mez seguinte approvava a Cfi-
mara a sua- redacção, e convertido em lei é hoje sem a minima alte-
ração o Decreto n. 1730 de 5 de Outub ro de -1::6') (Vide Annaes Pm'-
lamentares, lE69, tomo 20, pago 123, 1::)6; tomo ao, pago 23, 125. 149
e 165).
Bem ra ras vezes te rào os nossos legisladores empregado igual
aCLi vidade •


XLYIIl

tempo ele acudil'mos a uma classC' que nos eleve morreor toda a
consideraçftO )) Este genoroso procl'dimc nto foi, no entretanto,
contl'ariado 110 immecliato r e~ullndo que o spu autor prete ndia
daquella sorte alcanç::tr. Por inexpf'riencia elos DPgocios pa1'la-
menta l'cs apl'esent(lI'a sob a fól'(na de addili\'o o ~ue cOlls lituia
propriamellt.e matcria de emond;l. Mais 1al'[I I" quando quiz
acndir, já não ora tempo . Tratando-se oa discu são lla re-
clacçflo do orçamen to, lÜO cabia a emenda, que na sessüo dl'
3 de Agosto rllo formubra, com o fim de augmental' as I'(':;pec-
tiyas verbas (lo mesmo orçamento na proporção da elevação 003
vencimentos.
Concol'l'eu pro\'aYelmenle para essa so luçrlo a antoriol' deda-
raçflo do minisll'o da faz onda , na :,PSSrLO ele 21'· de Julho , " f[ur,
embora n:1o fo::<sc infenso ao projeclo, por consider::tçúes de 01'-
dem economica, so ria ele voto contl'al'io á sua arlopçüo no se-
nado, cspc l'ando que a magi st.ralul'a se resignasse aos sacl'iAcios
que o estado do paiz exigia ele toelos os cidaclüo )) (",).

(,) As med idas ent.ão propo. tas sobr e o nugmont.0 de vencimentos


forão consignadas sem discl'epancia na primeil':l.lei do orçmnent.o .0-
guin te, e encontrão -se nos arts. 12 () ]8 da de n. 1764 elo 23.Junho
de 1870 .
Como é sabidl), o orçamento nito poude ser yotaelo nesse a nno por
causa da opposição elo senado, tendo ('lla revelado o pl'Oposito de o
dis cutir largamente, sal vo 'e o governo, como declarou o conse-
lheiro ZaCal'i flS na tribuna, con viesse em separA.r algnns artigos addi·
tivos parR. serem em occasil'io mai .. opportuna delidamente examina-
dos, e entre esses enumerou os arl". 12 e 13, concernentes aos
vencimento. dos magistrados, cc porque , observou o omdor, tendo
o presidenie do conselho declarado á camara iemporaria que se lá
passa , sem recusaria no senado o seu voto, ou o presidente do con-
selho voia em favor dos aris . 12 e 13, e retr acta·se, OLl vota conira e
os faz regeitar, e estabelece clesacc6rdo entre a maioria do senado e
da CR.mara quadriennal, R.ccr8scendo que por seu lado deseja promover
o melhoramento da magistratura com a maior r,}flexão.)) (Vid e A n-
naes elo Senado, 1369, vo1. 5, pago 3!3.)
O gabinete, porém, coriou a quest.ão, apresentando a resolução
prorogativa di) orçamento de 1867, que posteriormente foi convertida
em lei sob n. 1730 de 20 de Outubro de 1869, e desta sorte frns-
tou-se o accôrdo, que entabolára 'colll a. opposição por intennedio elo se
nador Frederico de AlburlLlel'que .
Quanto a aposentadorias,:as idóas do Dl' . Perdigão Malheil'o, com
XLIX

Se, pois, actualmente no Bra7.il os juizes se acbão em condi-


\.ões mais favoraveis de inclependencia, se pelo lado materíal
melb ores valltagells podem encontrar um uma carreira tão cheia
rlt' arduidades, ao DI'. Perdigão Malh eiro o devem. Facto, porém,
exIT:1n ll o, nunca r('cebe u da parte dessa respeitavel classe a
mnis simpl es demon stração ele reconbecim ento , quiçá por enten-
derem os se 18 memb ros hnveria qu ebra el e dignidade em paten-
te'aI-o a um ex-advogado. Singular melindre de sentimentos,
quando o advogado sempre se manteve em relação aos juizes em
linh a de res peüo so :1fastamento ; nunca os importunou, nem
leeSIllO em ca usas submell idas ao seu patrocinio soía lançar
mfw do usua l rec urso de memoriaes! (:fi)
Tomando a palavra na sessão de 5 de .Iulbo sobre o projecto de
venda de escl'avos em leil ão, acreditou azada occasiflO para paten-
tear á camara as suas id éas a respeito da emancipação do ele-
mento servil. Depois de allud ir á intl'iga fomentada com o um ele
distrlllJÍl'-lhe votos na eleição , assim se exprimio, provando mais
uma vez a pl'Udencia caractel'is lica do seu procedimento , incom-
pa ti vel com a prccipitação que lhe emprestavão :
cc Eu não quero, senhores, e o proclamo alto e bom som, a abo-

Tição, a m::mumissão inopportuna e nflO l'ellectida, eu o di sse no


livro que publiquei. Não tratamos aqui actualmente de nenhuma
qu estão de aboli ção; nós tratamos sómente neste projer.to de me-
didas para o melbol'<1mcnto da so rte dos escl'avos c pal'a facil.i -
tm'-lb es a sua alforria. A minba opiniflo, peço licença para a ler á
cnmara) é muito clara e terminante. Eu o faço, pOI'que como isto

pequenas varianLes, forão ltdopladas no art. 29, SiSi 10 e 11 da L ei 11. 2033


de 20 el e Setembro de 1'371, perLencendo-lhe a gloria de haver concor-
rido para garantir' aos magistrados a estabilidade do seu cargo, i ulmi-
nllndo as aposentadoritts foríiadas (Vide A nnaes P arI ., 1869 , ~tomo 2,
pag o 168).
No discurso que então proferio declarou, que não tinha expressões
bastante fortes para profligar o despotismo do governo, que em 1863
apC'senLára tres desembargadores e quatro membros do Supremo
Tribunal de Justi ça.
(*) Comigo notava o fallecielo desembargador Araujo da Cunha se
fizesse a magistlUtura r epresentar em tão escasso numero ao sabi-
mento do Dl'. Perdigão Malbeiro, a quem tanto devia, desprezando
assim a opportunidade ele patenLear a sua gratidão ao illu'stre morto.
4-CONSULTAS
L

tem de ser publicado, correrá mais facilmente o paiz o que aqul


fãr dito, do que o que está escripto em um livro:
" Qualqull' providencia mal pensada ou simplesmente preci-
" pitada, extempol'an ea, póde causar, além de uma incalculavel
" desordem ecanomica, estremecimento nas familias e na ordem
ti publica, cujas perigosas consequencias nflo podem deixar de
" fazer-se temer.
" Essa refórma importa uma crise, que cumpl'c saber r. pocll' r
• preparar, dominat' e dirigir p~ra o verdadeiru bem moral e mate-
" rial de patl'ia Fazer o hem evitando o 'mal, eis a grande cl iilicu 1-
(, dade na solução desse problema. li
E, encarando a questüo debaixo do ponto de vista economico,
manifestou eslas nobres e elevadas iMas :
" Eu pronuncio-me contra a doutrina que consagl'a o prin-
ci pio de não Vêl' no escravo senão uma macbina,. um iustrnmuuto
de trabalho: esta doutrina é contm a natureza, é contra a phi-
losophia, contra a religião, e contra mesmo a jurisprndencia c
legislação, porque no escravo existe o homem; e se ex iste o
homem, como havemos de transformai-o em Ullia machina, em
um instrumento de traballlO, negando-lhe a intelligencia que lhe
é propria? Porque o escravo, se faz o tl'abalbo forçado, [ai-o, to-
davia, conforme a intelligencia que tem, e alguns o fazem muito
bem; não progridem, porque os elementos lh es não silO conhc-
cidos, pelo contrario são-lhes tolhidos . li
Depois de desenvolver estas theses no sentido de combater a
doutrina que considel'U por licção a intelligencia um capital,
não podendo reputar-se tal o escravo que entra com o seu tra-
balho, e de exemplificar o seu asserto com a disposição da lei
commercial, onde, na sociedade c0nhecida por capital e indus-
tria, o socio de industria póde não entrar com capital, mas eutra
com o trabalho, com a intelligencia, com indu::.lria propria-
'mente, justificou a sua intervenção liO dehate por esta fórma :
" Sr. presidente, V. Ex. ha de perdoar-me o ter-me demo-
rado um pouco mais do que pretendia sobl'e este assumpto, e de
uma maneira algum tanto desordenada; mas não podia deixar
ele dizer alguma cousa, visto que estas são as minbas convi c-
ções. E ju vê a call1ara, que eu não sou o que alguem pensil, um
nbolicion ista a tOlÍo o {I'unse: não o sou , pOl'que sou abolicio-
LI

nista ck cabeça e coração, e porque enLendo que nisto vai a


maior utilidad e do nosso paiz ; entendo que vai abi não só um
gTanrl l ~ prillcipi0 de Immanidade e de religião a bem da sorLe
desta classe desgraçada, mas tambem um bene6cio para nós
todos, porque cada um mais ou menos tem escravos em ~ua
fami li a, e acuo de primeira uti lidade que seja outra a organi-
sação da nossa familia , base da nossa sociedade; portanto que a
ol'gan isação da nossa sociedade futUl'a seja outra que nào a
present e.
« Sr. pl'esiclente, o futmo brilbante do nosso paiz ha de sei'
quando, não existindo mais a escravidão, todos sejam livres;
sel'á a nova amora do futuro BrilziJ.
« Desd e que possa sei' proclamada a emancipação, a socie-

dade se ba de transfOl'mar, as desordens que boje vemos no


máo serviço do escravo hão de desapparecel', porque o escravo
é um ente que trabalh a forçadamente, e é preciso que o trabalbo
seja livre. n trabalbo, economicamente fallando, é synonimo
de libel'Clade ; não se comprehende em boa economia senão t!'a-
balbo livre . O tl'abalho forçado, constrangido, é sempre um
trabalbo pouco productivo; é, como se dizia a pouco, um tl'a-
balbo de pura macbina, sem a vantagem das machinas ; é em6m
um trabalho em qu e a intelligencia quasi nfio entra, feito de
má vontade, contrariado, do que já entre nós temos a prova. li
E t.erminou com esta promessa, que: em tempo fez etfectiva :
« Em occasião oppol'tuna tomarei a liberdade de offerecel' al-
gum projecto que consigne algumas outras idéas moderadas; eu
sou abolicionista, mas moderado (apoiados); nem posso deixar
de ser considerado assim, sendo como sou conservador de ca-
beça e de cQração (*) , li
Teve ainda occasião de vaI tal' ao assumpto nesse mesmo iluno ,
ao discutir a resposta a miJa do throno , e de revelat, a mesma cir-
cumspecção. Consideralldo intencional no voto de graças a omis- .
são de um topico relativo ao elemento servil, declarou que nem
pOI' isso deveria ser o governo censurado , ,mtes em censura tiubão
incol'l'ic1o aqueJles que e,m 1867 e 186ti, sem levar em conta a

(0) As emendas que então propõz sobre o proj ecto em discussão


foram' adoptadas com pequenas Q.lLerações na Lei n. 1695 de 15 de
Setembro de 1869. Vide Annaes ParI., 1869, tomo 3, pago 51.
LU

luta com o Paraguay, então no seu auge, quando a lavoUl'a se via


a braços com gl'andes difficuldades, opprimido o commrl'Cio, as
finanças em decadencia, crescente a divida do Estado, n[1O sendo
eSS:l a occasião mais opportu[la para se levantar a propngaoda da
emancipação, fizerão paltir ab alto, o grito de alarma; que elle
como homem, como pbilosopbo, nos seus estudos de gabinete,
applaudira muito o pensamento, louvál'a a intenção; mns como
cidadão e corno bl'ilzileiro trúmêra pl'la ioopportunidllde da idéa,
da propaganda (*).
Esse di scurso é lIotavel pOl' mais elc um lilulo. O oradol' fez
nelle a sua profitisão de fé, e, ao mesmo tl'mpo qlll~ mani-
festava o seu apoio sincero e dedicado ao gabinetc, declarou que
não ficava por isso co mprorneltido a seguil' em tudo e pOl'
tudo o governo, em vista rIa di tincção que estabelecia nos prin-
cipios do partido conservadol'. Xo seu entendel' cumpl'ia discernÍl'
duas ordens de idéas no partido: uma fundamental , clogma-
tica, propria de uma cornmunhão politica, . equiparavel ú
communhão l'el igiosa calbolicil, regendo-se por seus rlogmas,
sendo um delles a manutenç[to do::> pl'incipios constitucio-
naes, da verdadeira doutrina jUl'ada, arl verso a reformas
radicaes, procurando apenas melhorar; a outra disciplinar,
que desejava ver modificada um pouco, parecendo-lbe que
entl'e os membl'os da communhão não bavia aquella tolel'ancia,
que facilitava a transmissão das idéas, o concurso das boas von-
tades, de modo que todos podessem li vremente concorrer co m o
fructo de seus estudos e trabalbo, e nrlO encontrassem má vontnde
da parte de qualquer dos membros da mesma co mmunhão.
Ainda fez outra distincção em relação á politica e á adminis-
tração, ostentando-se sectario da primcira, desde que ella não
se afastasse das idéas substanciaes elo partido consel'vador.
Quanto, porém, ás questões dc alta admini stração, comprchendia
que um membro do partirlo conservador podia ter uma opinião
diversa da do governo ou de algum ele seus mcmbros, e que devia
emiltil-a com toda a franque7.a, porque seria rnúo amigo se não
désse um bom conselho, livre o amigo de o aceitai' se julgnsRe
conveniente. Assim declarou que nas questões puramente admi-

(-) \Tide At1I l lPS Par!., 18li~1, tomo I, png. ,~l.


LIII

ni strativas, reservava plena e inteira liberdad e de pensar como


lb e dictasse a sua intelligencia, de emittil' a sua opinião com toda
a fl'anqueza e de procurar sustental-a com aquella efficacia e
força de ,·ontade , f[ue lbe erão PI'opl'ias, porque em taes questões
não via co usa al guma ue politica, nem d~ disciplina elo partido,
qu e podcsse pÔr em perigo o mesmo partido nem a situação.
Tocou ainda em outros pontos importantes , que derão relevo
ao seu amor pall'io e evielenciúrão pleno conbecimento dos negocio~
publicos, como fosse pronunciaudo-se contra a exce~siva centrali-
sação admini strativa, por isso que, quanto melbor se aelminisl ras·
sem us prov incius pOI' si mes mas, melbor iria tambem a adminis-
tra ção geraL Pu gnou pela necessidad e de {lar-se nova organisação
á magiti tra tura, constituindo-a de modo a pl'eencher condignamente
o seu fim . . Iauifes tou o seu volo contrario à suppl'essão da guurda
nal:ional, co mo institui ção politica que era, complemento das ins-
titui ções libernes, digna de premio pelos importantes serv iços
prestado' na guerra do Paraguay. Notou que li falla do thl'ono pouco
di sse;:i;3e soh re " legislaçao, quando em alguns ramos havia Ul'gen-
eia de I'evisão, como por exemplo, li pUl'te das fallencias , das socie-
dades commerciaes , taxando de retl'Ogl'<lda a Lei de 22 de Agosto
de Hl60, que em suas clistlo sições IJimiamentc restric Livas pôr,
na depe nd encia immediata da tutela do governo a creação de
lodas as sociedades, aind a as pUl'amente benefi centes e litterarias.
Apontou os inconvenientes do sys tema de introducção dr immi-
grantcs ,se m se lh es proporcionar vanlagens iguaes ou maiores do
que as qU fl encontrão no pai z,donrle se I'etil'ão. Como catholiéo la··
mentou o estado decad ente da religião, não inspirando o clero em
geral a co nfian ça que devia inspirar, e nem se mostrando bem
compenctrudo de sua missão ~\ s piritual e moral.
Em relação aos negocios exteriores, impugnou como uma inno-
Vilção, que não nos trouxe sen ão complicações , a idéa das con-
r enções consulares, constituindo-se os con sules um Estado no
Estado co m as suas pretensões de gov ernar no Imperio, fazer e
des faz er, se m prestar obediencia nem audiencia ás autoridades do
paiz. Heprovou o procedi '.11el1lo seguido pelo governo da epoca para
com a republi ca Oriental , no emprego de represalias que derão
em resultado a destmição de Paysandú, quando tanto haviamos
sol'frido com as que exce rcêra contra nós o ministro inglez


LIV

Cbristie, afastando-nos do principio cbristão - Não faças a ou-


trem o que não queres que te fação; faze a outrem o que desejas
que te fação; -principio; que, assim como regula as relações
individuaes, deve reger as dos Estados entl'e si. Condemnou em
definitiva a politica de intervenção nos negocios internos dos
Estados do Peata, devendo antes adoptar-se uma politica mais
larga e de vistas mais profundas.
Pelo que fica exposto desse discurso, o primeiro pl'onunciado
sobre politica ge:,al, verifica ·se o espil'ito de indepelldencia que
animava o novel deputado , cuja linha de procedel' traçada rigoro-
samente não deixava a minima duvida SObl'C os seus ~ais inLÍ-
mos sentimentos. Partidario, cUl'val'-se-hi a diante dos principios
do seu partido, seguiria á risca os dogmas professados, scria
fiel á sua fé, mas nltO ex.igissem mais delle. No tocante á
parte discipliuar, e nas questões puramente administmtivas ,
al'6rmou a plena liherdade de opiaião, prompto a censurar o acto
que reputasse mão, como de amigo a amigo, sem que no seu en-
teader dab i resultasse inconvenien te algum.
Esse modo de pensar estaria de accôrdo com as normas, não
direi Já da escola politica em que militava, distiacta em todos os
tempos peja perfeita cohesão de seus ad eptos, mas de qualqurr
outra em paizes regidos pelo mesmo system a (' onde os partidos
l(ntrão como factores indispensaveis ao seu regu lar funcciona-
lismo? Serião gratas aos ouvidos dos chefes taes manifestações
da parte de um soldado bisonho, a um tempo submisso e alLivo,
lendo em voz alta por um codigo estl'anho Ú~ r,onvenções parti-
darias? Que significação poderião ter essas reservas proclamadas
com tanta solemnidade, como indicio vago de divergcncia em
questões que não se agitavflO, não erão conbecidas e nuaca vierão
a lume?
Sem duvida a filiação a um partido não importa abdicação de
toda vontade individual; inteJligencia contraria significaria o
aaiquilamento da mesma liberdade : o partidario não se con-
verte no perinde ac cadavel' da celehre compánhia l'eligiosa ;
collabora para o triumpho das idéas, que tem por melbol'es, de-
baixo de certa dil'ecção confiada aos mais capazes. Mas os mem-
bros de um partido, ensina o moderno aula!' da Politica, podem,
sem por isso tomar-se faccios03, sacr'iflcU!' suas opiniões pes-
LV

soaes átl do pal'tido, obedecer a c;befes como soldados discipli-


narias i nem o partido conseguil'ia o seu fim se não formasse nma
associação compacta e barmonica: a disciplina dos partidarios
é uma condição essencial de força (*),
Todo o CITO de DI', Perdigão Malheiro, é mister confessaI-o,
proveio de sua tardia ini ciação politica, Não teve a escola que ou-
tros cnrsárão i de repente achou-se em um tbeatro novo para
elte' faltou-Ibe aqueIle til'ocinio que educa o espirito do pal'cial c o
babilita gradualmente para os elevados postos no partido; cabin-
lbe por certo no convivia politico um Iugal' saliente, e não era
favor, senão justiça pl'estacla a seu nome aureolaclo pelo saber,
estudos e rigida inteireza; mas, conservava apparencias de hos_
pede estranho a quem não são familiares os costumes na casa. O
particularismo de suas opiniões dava-Ibe um çerto ar excentrico,
assi m a modo de camponez do Danubio; alguns o supporião um
amlJicioso disfarçado, desajoso de singularisar-se i outros re-
voltar-se-bião contra essa mesma praça de independencia que
ostentára, seja por não poder ou não querer imitaI-o, Além de
tudo os companbeiros erão na maior partI' drsconhecidos; ne-
nbuma peleja tl'avára ao seu lado em defesa da causa commum :
pela primeira vez os avistava,
Dabi essa liuguagem natUl'almente notada como impropria de
um parLiclario, e quiçá mesmo inconveniente diante de uma ca-
mara unanime, o vacuo que se fez em torno de sua pessoa, consi-
derada com lollo fundamento incapaz de tr,lUsacçõe indecorosas,
firme em suas convicções, mas não olferecendo tão pouco certa
ductilidade,quc nos partidos constitue uma verdadeira força, pois
presta-se, como succede com os metaes dotados dessa proprie-
dade, a um complexo maior de utilidades, facilita proveitosas
combinações, apaga desagradaveis attritos, conr,orre pam solver
crises agudas e remover ituaçôes arriscadas,
Em um livro de mui l'ecente publicação, no qual o seu autor
se propõe a estudar o va"to domillio do erro,não só em relação áS
illusóes dos sentido", mas tambem em I'efel'encia li outro" erros ,
ramiliarmente conllecido' sob o nome de i1Ju"õe", e que se
assemelhão aos primeiros por sua lructura e origem, encon-


LVI

tra-se mais de um capitulo interessanle. Entre elles não é


menos curioso aquelle em que o psychologo trala elas illusõcs
do amor pl'oprio, cuja definição dã nos seguintes tel'mos : a
opinião intuitiva que cada bomem tem l1e seu talento, de suas
qualidades, em uma palavra, de seu valor pessoal.
Assim: diz elIe, exp1ananclo a tbese que o amor proprio desde
o começo contém um elemento palpavel de illusão activa : a
maior parte elas pessoas, como é facil suppÓr, fórmão de si
mesmas, com uma consciencia mais ou menos clara, uma opin ião
que guardão pal'U si, quando nfLO a ostentão diante de lodos;
não parecem duvidar um só momento da existencia de cel'tos
pontos de superioridade. Nos espirilos robustos, pouco babitua-
dos a recolher-se, a idéa do valol' pessoal rarameule se apre-
senta; mas ha naturezas timidas, sensiveis, nas quaes lrahern-se
sob todos os aspectos uma cerla desconfiança de si pl'Oprios e
uma depreciação injusla de seu merito pessoal. No entl'e tanto
mesmo nessas um olbar in vestigaclor sorpreoele os vestigios
ele um instincLo em [ol'mar uma id éa VillJtajosa de si pl'opl'io, e
reconbece-se que em gemI comprime simples mente esse ins-
linclo outra força superior, como, por exemplo, uma exage-
rada sensibilidade no juizo albeio, uma grande conscien-
eia, etc. (:*) .
Não haverá IOJuSÜ\ia nem temeridade em applicar-se ao
Dl'. Perdigão Malbeiro os conce itos elo pbiloso pllO inglez. Em-
bom não o cegasse o amol' pl'oprio, Lrabi,: se todavia neHe
frequentes vezes, mesmo talvez mais (10 ~ U(' rÓl'a ele esperm' em
quem tamanbo imperio sabia exerceI' sobre suas paixões e cos-
teára a grande escola do mundo nas líc1es ela profissão. COl'l'ecto
no tom c nas maneiras, a ninguem comtudo o[endia, nem as-
sumia ares ele pedagogo sempre disposto a dar lições e a ver-
berar a ignorancia alheia: accentuava, porém, as suas opiniões
com os estudos a que se entregára; diilicilmenle lolerava a
contradicção, convencido que a doutrina, as idéas que susten-
tava devião ser consideradas as melborr~s e como taes aceitas
sem contestação .
- - - - - - - -- -
(*) James Sully, L es Illttsions des sens et de l'esp?'it (Bibliothéqu\'J
scientifiq ue intirnationale. Tome XLII, 1883).
LVII

Era em verdade essE' um defeito singular, no meio de qua-


lidades, CJue lhe grangen rão justo titulo á estima e consideração
de seus concidadãos; attenua va-o, todavia, além do caracter indi-
vidual reconhecidamente inoffen si vo um espirito de ct'edulidatl,)
tão pronunciado, q!le frisava mesmo ' a uma tal ou qual in ge -
nuidade por onde se descortinava intei t'a a alma incap az de sen-
timentos mesquinhos e reprovados.
Ainda nesse mesmo anno de 1869, quasi ao terminal' a sessào,
pt'oferio um discurso, que veio coufirmat' os justos creditos de
, que gozava como abalisado jurisconsulto, conhecedo t, das leis,
dos defeitos de sua applicnção, e ricios de uossa organiilnção
judiciaria em face do poder go vernamental. Havia entrado em
terce ira discussào () projecto vindo llo scnado, Ileclarnndo que os
assen tos tomados na .;asa da supplicação el e Lisboa tem força
de lei em todo o Imperio, quando tomou elle a palavra pura
emittir simplesmente o seu voto, em termos CJue não podem
senão merecer condigna commemo ração nestas paginas.
Depois de fazer o bistorico da questão e mostrar como a dou-
tt'ina do unico assento, tomado pc'l a r:lsa de sllpplicação do Rio
de Jan eiro em 26 de Fevereiro de H;?3, nunca prevalccêra 110
f6ro, lam entou o es tado de no s'a legislação, composta de volu-
mosas coll ecções de leis, de decretos, resoluções, instrucções,
decisões do governo, etc ., ao.:ontoadas e crescendo de tal modo
em cada anno, que receiava em bruve se poc1eilse applicar a
sen tença de Tacito: Corl'uptissima 1'eSplbbtica pllbrimce leges ...
Patenteou o es tado deplorave l da nossa jurisp rude.ncia, não ltle
- tendo sido possivel como advogado acompatJbal-a, á vista da
contmdicção elas decisões judi ciaes, resolvend o-se até na mesma
sessão o mesmo ponto de dil'oito de modo diametmlmellte
opposto, u queo induzio quando consultado a só dar a sua opiuião
individual, não assegurando nem podendo assegurar ás partes se
terião vencimento dos seus direitos perante os ll'ibunaes.
Louvou a ex.perlição do Aviso de 7 de Fevet'eit'o de 1856 ,
no qual se declat'ou aos juizes não dcvião soccOt'rel'-se da con -
sulta ao govel'llo par'a decidir du vidas cl e direito nas materias de
sua competencia, pois era isso da attribui ção judiciaria, perten-
cendo a jurisprudencia dos tl'ibuoaes, isto é, aos executores da
lei: estes é que fazem ti .lurisp ruclencia, porque esta é a pro-


t.vI1!

pria lei em acç[lQ. li lei vÍva .){econheceu, no entl'etanlo, que


muitas vezes o governo acbava-se na necessidade~de dar prompta
solução a- questões de dire:to que lbe erão suhmettida s, visto
como nem o poder legislativo tem podido fazel-o, nem o póde
na occasião, vendo-se o execuÜvo forçado a invadir essa altl'i··
buição do poder legislativo.
Pondel'ou que se os avisos não Wm sido entre nós semp re
respeitados e cumpl'idos pela força obl'igatoria, é porf1ue a cons-
tituição não falla em avisos i porém quando o govel'l1o expede
decretos, regulamentos e illsLt'uc~ões, que estão na letra da
constituição, procede com indubitavel força obl'igatoria . Por
essa razão os avisos não têm tido en tre nós sen ão autol'ilate
rationis, quando fUlldados em boa razão, sendo que mesmo
quanto a oulros "ctos entendia que o juiz não estava adstricto
a cumpri r, ainda um decreto expeLlido pelo governo, se eviden-
temente a sua disposição não estiver de accordo com a lei ema-
nada do podeI' legisla ti vo, e muito mais qUillldo fosse contraria
á mesma lei, caso em que deyerá preferir a l ei .
Semelhantemente censul'ou as delegações em fÓl'lua de auto-
ri saçõ s, [lue- tem feito o poder legislativo no I oder ex.ecutivo
não so para interpratal', mas ainda para legislar. Coustantemente
tem sido o pod eI' executivo autorisado a expedir decretos ou
regulamentos com força de lei para se rem desde logo postos
em execução, definitiva ou proviso riamente dependendo de
appruvação posterior. Isso provém da impossibilidade de acudil'
o poder legislativo a totlas as nlilccssirlades do servi ço publico.
u ~las, exclama o orador, nu estimaria que daqui nunca sabisse

autorisação sequeI' ao podCl' executivo para fazer ou interpretar


a mínima lei. " Citou em apoio da necessidade de delegar no
poder judicial a faculdade ele interprptar, embora doutrinal-
mente, mas com fOI'ça obrigatoría, a div~rgente interpretação que
davão dous juizes desta cÔl'te á Lei de 20 de SeLemuro de 1830,
opinando um que ella estava em vigor, e OUtl'O que depois da
promulgação do Codigo do Pl'ol:esso. da Lei de 3 de Dezembro
ele 18í'l l' Regulamento de 31 de Janeiro de 1842, Linua cadu-
cado, conform e Lleclarúra a Circular de 15 de JaneÍl'o de 1851',
expedida em virtude da reso lução do conselho de Estado.·
Dessa Llivc-rgencia succcdia que os crimes de abuso de liber-
dade de imprensa ficavào impunes, porque um desses juizes
tIX

ànnuilava o processo, quando pOl' meio cle recursO lbe eni


alIecto, entendendo que devia seI' submettido ao jury; o oulrd
tambem anoullllva quando o processo era feito segundo a Lei
de 1830. A duvida foi trazida ao conhecimento do poder legi ,'-
Illtivo e olIerecirlo um projecto que a resolvia, mas ainda
pendia de solução, desappa['ecendo a questllO com a nomeação
de um dos juizes para a vara dos orphflOs (*") .
Desenvolveu com grande lucidez a materia da ioterpretaçllO,
mostrando que a autb entica é a uoica que resta ao poder legis-
lativo como tal, e não é propriamente interpretação; que a
doutrinaI pertence a outras autoridades, não ~endo possÍvcl
negar, quando o governo expede o seus regulamentos e de-
cl'etos em virtude da attribuiçfto conferida pela constituição,
que elle illtel'preta a lei, pois a intel'pretação não se re-
fere só ás lei obscuI'lls e duvidosas, mas comprebende Lam-
bem aquellas que pareção mais claras. PI'OVOU que l1ão se
podia negar ao poder ex.ecutivo nem ao judicial a interpretação
doutrinai, ainda por via de autol'idad e, porque ella vinha do cxe ~
cutivo em {ól'lna geral, quando expedia decretos ou I'egulamen-
tos, e do juiz em {órma pal'ticulm', quando decidia os casos
sujeitos ao seu conbcimento. Encostanrlo-se á opinião de Sa-
vigoy, di se qne chegava como elle á conclusão de que o melbor
systema seria a instituição de um tribunal, que resolves. e por
via de interpretação as questões de direito, deixando, porém,
ampla liberdade ao poder judicial quanto á intel'pretação verda~
deira, como elle quali6ca a simplesmeute declaraLoria; e que
quanto ás outl'as, que pOl' ampliaçõ es ou restricções fórmão
direito e envol vem uma attribuição lc'gislati Vrl, qual ~ por sua ua~
tureza a formaçüo de direito, essa compeliria ao dito tribullal.
Sustentou a constitucionalid ade do projecto, faz('ndo ver 'lUüo
peior era a doutrina de delegação ao poder execuLi vo, sendo
muito cautelosa a providencia do art. 2°, nüo podendo ser to-
rnado o assento senão quando bouvesse duvida sobre ponto de

(*) O juiz que entendia ainda em vigor a Lei de 1830 c no qual se


referia nesse discurso o Dl'. Perdigão Ma1heiro, era o Dl'. AgosLinho
Luiz da Gama, que falleceu desembargador da Re1u\ão de ti. Paulo.
Em anigos da imprensa diaria ('11e procUl'ou sustentar essa opinião
que, sem ofl'ensa a suas cinzas, póde-se bem classificar de cerebrina .


LX

direito, á vista de .decisões divergentes; que, se quedamos crear


a .iurisprudencia nacional, que não existia, era preciso que os
assentos, ,ao menos na primeira pllase ua reforma, fossem obri-
gatorios para todos e il'l'evogaveis pelo Sup remo Tribunal de
Justiça; que se llle fosse facultado tornar boj e um assento e
amanbã outro, embol'U o segundo não podesse mais seI' revo-
gado, continuaria a jurispmdencia no mesmo pé de incerteza.
Terminou declarando votar pelo projt!cto pelas gl'aIldes vanta-
gens que nelle via (*) .
Logo em começo dos trabalbos legislativos, no anno seguinte,
estourou a interpellação do deputado Teixeira Junior. Fo i o rai.o
que ferio a nuvem, por tmz ela qual se acllavão os descontentes
com a inacção, como clizlão, do gabinete em face da queslão
servil. O interpellante considcrou a omissfLO no discurso lhl
corôa, de qualquer to pico que lhe fosse relativo, um tl'iumpho
do ministrrio sll!J re a vontade il'responsavel, tirando, para as-
sim pel1Sl11', argumento elc um artigo do Dezeseis de Jnlho, o que
arrastou ú tribuna seu reclactor o cOllselll eiro Alencar. O ex-m i-
nistro da justiça, declarou que no artigo alludido llÜO hou-
vera asseveração, mas simples referel1cia ao que estava no
domin io publico e conGrmando a opinião do venerando presi-
dente do consellIo, que raros serião os bra:::ileiros que não dese-
jassem ver extJUcta a escravidão, acc rescentou - esses mesmos
cegos pelo interesse ou pelo erro, raros serão os bl'asileil'os que
aceitem a instiLuiçüo da escravidão corno uma iustituição legi-
tima.
Da discussão L1'a vada licou bem patente que o govemo dei-
xava a solução da queslão li iniciativa pal,ticulur, entendendo,
como o declal'ou o viscondl1 ele ILabol'llhy, não dever nem poder
enunciar pensamenlo ou iudicar medida que não fosse madu-
ramente reUeclida, apoiada em dado3 estatisticos, por uão lhe
parecer prudflnte, apeIllls acabada uma guerra, que exigira tantos
sacrificios, ir agitar o espirito publico COUl UUla questão mais
diillcil do que a propl'ia guerra. 1510, porém, não queria dizer que

(*) Vide Ann'tes Pa,'l., tomo VI, 1869, pago30. Ao projecLo vindo
do senado havia o cvnselheiro Alencar apr esentado na sessão de
2 de Outubro uma emenda substitutiva, que foi approvadlt na ses-
são de 13 do mesmo Dlez e no fundo constitue huje lei do Imperio
sob u, 268,1 de 23 de Olltubro de 1875.
dle se absteria de coadjuvar a todas as medidas iodirectas
que tendessem a facilitar e apressar a Holução desse dif'ficil pro-
blema, sendo licito fazel-o aquelIes que se julgassem habilitados
e com a fOl'ça nccessaria para o resolverem de uma mOlneirOl
mais prompta;c mais direito tinhrtO os representantes da nação do
que o poder executivo (*) .
A essa Ressão nrLO se achou presente o Dl'. Perdigão MalLu:- iro,
que teria tomado parte no debate para emittir algum as ohser-
vações, como declarou na de 23 do mesmo meE, no discurso em
que fundamentou os seus projectos sobre o elemento servil, (le-
sempenhando -s :~ do compromisso tomado no anno anterior, e ao
qual precedentcmente me refui . São de tal im~ortancia as idéa,;
que nessa occasião expendeu, conslitucm esses projeclos o
transumpto de tantos aODOS de estudos, trabalhos e medilações,
illuminão com ama tão brilhante laz o recondito da alma do
pbilosopbo e cio patriota, que, digna como rppulo as palaVI'us
então profel'idas elos bronzes da histol'ia, a rpproducção na sua
integra elo discurso do deputado mineiro não é enão um com-
plemento indispensavel deste estudo.
Depois ele alludir ao projecto sobre venda de escravos em
leilão, em cuja discussão interviera, compromeltendo-se nessa
occasião a apl'esentar trabalho de lavra pl'opria sobre a magna
questão, o ol'ador pI'oseguio nos seguintes temlOS :
(( Compromeltido assim, c VEndo cu que a camam deseja fa-
zer alguma cousa, enteneli que el'a meu eleveI' rigoroso, quer
como homem, quer como brazileil'o, quer como membl'o desta
casa, concorrer com alguns t!'abalhos modestos para tão gran-
dioso fim.
" As minbas icléas são publicas, e eu o disse positilramente
na sessfto do anno passado, são moderadas. Abolicionista de
cabeça e ele coração, não desejo todavia a emancipação preci-
pitada e irreflectida, como bem ponderou o nobrl' presidente do
conselho; mas enlre o stattL qttO e esse extremo ba um abysmo :
é preciso atravessai-o, e para isso pruci'lo é que tomemos pl'O-
videncias que gradualmente, como por urna escada, nos condu-
zão aquellc fim (apoiados).

(0) Annaes ParI., 1870, lomo 10, pago 21.


LXll

« SI'. presidente, devo declarar com toda a fl'anqúeza ~ Se


houvesse um governo- que entendesse devei' conservar inde6ni-
damente a escravidão (sinto diílel o), não poderia acompanhai-o
em semelbante modo de pensar.
(, O SR. F. BELISARlO. - Mas não é provavel que isso acou-
teça.
« O SR. PElmrGÃO ThLti.HErRO. -- Se houvesse um partido que
escrevesse na sua bandeira - escravidão e não liberdade - elle
não poderia contar-me nas suas fileiras.
« Se o BI'azil ou qualquer nação entendesse que o seu desen-
volvimento e seu pl'Ogresso industrial, material e moral, em6m
a sua civilisação, dependia e,;sencialmente do elemento sel'vil,
essa nação se'ria indigna de pugnar n'\ communbão das nações
civi lisadas (*).
« Sendo portanto essas as minba3 idéas, não posso, amigo
do BL'Uzil, como devo ser e sou por todos os motivos, deixar de
concorrer, quanto em mim caiba, para que nossa patria tome na
communbão das nações a posição que lbe compete .
« Nós estamos boje quasi i.solados no mundo civilisado e
christão, em relação a este objecto: não ba actualmente senão
Cuua, possessão bespanbola, que ainda mantem alguns mil es-
cl'avos; os 61bos desses mesmos estão livres; foi preciso uma
revolução democl'atica, republicana, para que um decreto do go-
verno isto decidisse. q mesmo aconteceu em relação ás colo-
nias fL'Uncezas e outl'as. E' sempre ou quasi sempre a revolu ção
que detcl'mina a l'eforma.
« Não desejo isto: e eis porque entendo que elevo COI1COI'1'el',
offel'ecendo, apenas como base ele estndo, syntbetisaelas nestcs
projectos, as minbas id éas .
_-
. _-----._---
...

n O orador pal'aphraseou a idéa do conselheiro Euzebio a res-


poito da exlmcção de outro cancro, tão repugnante como o da es-
cravidão, que lhe dera origem e o alimentára - o trafico de africa-
nos. Recordo-me de ter ouvido ao finado desembargador Francisco
de Queiroz, que ao manifestar áquelle eminente homem de Estado
as suas apprehensões sobre o futuro do Brazil. postas em pratica
as medidas sobre a extincçã0 do trafico em que meditava, eUe lhe
l'espondêl'a: (( Meu irmão, se a existencia do Brazil como nação
dependesse do trafico, molhor fóra então deixasse de existir. »

(
LXllI

(( Ea, portanto, Um pensatnento que domina os quatro IJl'O-


jcctos, que tenho a honra de o[erecer; mas divididos, comp se
achão, são elles independentes, Se um rÓI' adiado ou prejudicado
e se admiltir-se qualquer outro, não ba o inconveniente de ficar
tambem este prejudicado,
" O primeit'o, a que darei o n. 1, tende apenas á refol'ma da
legislação penal e do processo criminal em I'elação aos cscl'avos,
lnplhorando a sorte dos mesmos, quanto a este ramo de direito.
li O de n. 2 contém rerormas de direito civil; ha nelle seis
pmsamentos capitae :
li O pl'imeiro é o do arl. 'lo, que importa a modificação da
Lei ele 15 de Setembro de 18G9, accommodando-a ás circums-
tancias actuaes e conforme as emendas que aqui foram apresen-
tadas o anno passado.
li O arl. 20 providencia a respeito do direito c1aquelle que
resgatar em juizo ou róra delle a liberdade de algum escravo,
indemnisando-se, se quizer, pelos sel'viços do mesmo escravo,
mediante certas condições, e toma outra providencias para que
estes direitos e obl'igações sejão effectivamente cumpridos e
respeitados, O regulamento do govemo de envolverá este pen-
sarnento .
li O arl. 30 consigna alguns casos que não estão posilivà-
mente, e outros que não estão absolutamente, nas leis actuaes
da manumissão forçada legal, quer com indcmnisação, quer
sem ella.
I( O art. 4" faculta a manumissão forçada em dous casos:
em bem da família, em bem de serviços relevantes a tcrceiros.
li O art. 50 trata de garantir o peculio do escravo; confere-
lhe, portanto, o direito de propriedade em relação ao seu peculio,
perante a liVl'e disposição do mesmo, principalmente em bem
da sua manumissão, da do conjuge, descendentes e ascendentes,
Até aqui o peculio era apen,ls tolerado: aquilJo que el'a toleran-
cia o projecto transl'oL'lna em dil'eito c garante-o, Consigna
tambem a icléa de successão pcrmittida aos escravos na [inlJa
recta, descendentcs ou ascenueoles : são direitos civis de pro-
priedade que se alargão em bem dos escravos.
li O art, 6°, fLOalmentc, consigna varias disposições em hem
da libcrc1adC', c clrcl'cta certas qucstõe gl'aves, que até aqui
LXIV

erão duvidosas, e que estavao e estão essencialm ente c~epen­


dentes de interpretação autbrntica; estas questões Dcão todas
re301 vidas, e toma Outl"1S providencias a bem da liberdade.
« O de n. 3 consigna tambem em tbese a revogação do ini-
quo principio do dieeito civi l, pelo qual se mantem a titulo de
perpetuidade ou de bereditariedade a ('sceavidão.
« A fonte unica, para bem dizer, que d im cnta entre nós a
escravidão, éo nascimento. Este principio, que é ele direito civil,
desapparece, portanto; corno isto é qnestão grave, o projecto
estabelece um systema, pelo qual todos os direitos de pl'oprie ·
daele, todos os direitos e obrigações dos individuos, assim decla-
rados livres, são garantidos, são acautelados, e muito principal-
mente com attenção ao elemento agricola, á lavoura. Aqudles
que ficão obl'igados a prestar os serviços, segundo o projecto,
dado o caso do faUecimento do srnbor, continuão a servi l' ; os
dieeitos e obrigações passão para o conjuge, para os herdeil'os,
e portanto não ficão eUes degampanulos; mas, se pertencem a
estabelecimentos agricolas, acompanbão o estabelecimento .
« Se o estabelecimento couber a um dos herdeiros ou interes-
sados, esses servos, para bem dizer, acompanbão o estabeleci-
mepto, não são retirados elelle, salvo a unica bypotbese ele in-
fantes ou menores ele sete annos, que terão de acompanbar as
mais no caso em Que alias sejão transferidas POI' qualquer titulo
de transmissão, ou se I'eti!'em libertas. A razão disto é muito-
clara.
« O ele D. 4 e ultimo, emfim, consigna dous pensamentos, um
relativamente aos escravos da nação, a respeito dos quaes se au-
torisa a alforria gratuita, dando-se ao governo autorisação para
fazêl-o. Até aqui o goverllo tem libertado a titulo ooeroso, pOI'-
que est:'l nas leis a pel'missão; mas a titulo gl'Utuito a nenbum se
tem dado alfolTia, pOl'que, segundo varios avisos, e é doutrina
liquida e cod'ente, sem permissão da assembléa geral isto nitO
póde ter lugar: a assembléa geral é a unica que póde dispôe dos
bens nacionaes. .
" O segundo pensamento vem a ser a respeito dos escravos
das ordens e corporações de mão-morta, a quem se probibe de
om em diante adquirir e possuir qualquer escravo; e quanto aos
que possuem actualmente, to mão-se certas providencias para ir

(
LXV

se libertando em te,'mos moderados, mediante indemnisação ou


conforme entenderem: ficando isto ao prudente arbítrio e criterio
do governo de accordo com as mesmas cOl'poraçóes,
Parece·me quc com este conjuncto de providencias nós po-
(I

demos consegui ,' um resultado muito satisfactorio, sem termos


necessidade di! atacm' directamentc a questão da emancipação, a
escravidão, sem reti rarmos da pI'opriedade de ninguem contra sua
vontade um só escravo, e por consequencia mantida a ordem so-
cial, mantidn a organisação do trabalho como ella se acha, apenas
sujeita a essas modificações, que bão de ir nuxi liando a transfor-
mação da organisação social presente em a organisação social a
que todos nós tendemos e a que entendo que devemos aspirar.
cc Estou convencido de que no animo de todos, como bem disse

o Sr. presidente do conselbo, está a idéa; a difficuldade consiste


apenas no modo pratico. Pois bem, eu submetto, eu sugiro ao es-
tudo da camara estes pl'ojectos: são um modo pratico, e se como
ouso esperaI' da notavel benevolencia da cam<lra estes projectos
merecerem a honra de serem julgados objectos de deliberação e
forem trazidos ú discu5são, em occasião opportuna, eu me com-
prometto a desenvolvêl-os, visto como o espaço de tempo, que
actualmel1te me é facultado é mais que sufficiente para o exame
de qualquel' delles. Então tcre i occasião de p,'oduzir o pensamento
com todos os seus fundamentos, os seus desenvolvimentos, as
suas consequencias provaveis, e a camara afinal resolverá, pela
votação, se elles são dignos de sua approvação (*).

(') Pela ordem em que forão apresentados ahi vão os projectos do


distincto jurisconsulto:
ProJecto n, 1
li A assembléa geral resolve:
li:Art. 1.0 Ficão revogados o art. 10 do Cod. Crim" a Lei de 10 de
Junfio 1835, salvo o disposto no art, 2, e o art, 80 da Lei de 3 de De-
zembro de 1841.
« Reputar·se-ha comprehendida na disposição do art. 16,~ 7 do Cod.
Crím, a circumstanci .. de ser o offendido algllma das pessoas refe-
ridas no art. l' da mencionada Lei de 1835, ~ unico. A pena de açoi-
tes imposta no art. 113 do Cod. Crim. fica substituida pela de prisão
com trabalho por dez a vinte annus.
«( Por cabeça entende-se o principal tratador .

« Art. 2.0 Revogão-se as disposições em contrario.»


Õ-OONSULTAS
LYVI

A caroara ouvio este discurso no meio cio silencio que a pro-


clamação das grandes idéas costuma produzir nos corpos collec-

Proiecto n . 2
« A assembléa geral resolve:
« Art. 1.0 Nas vendas judiciaes, qu er por execuções. quer por ou-
tros motivos, bem como nos in ventarios. sejão quaes forem os herdei-
ros,o escravo. que por si ou por outrem. exhibir á vista o pr ~ ço àe sua
à valiação, tem direito :1 alforria; O juiz lh e passará o respectivo ti tulo
livre de quaesquer direitos e emobm entos
a Se fl\r do evento. de hells de Jefuntos e ausentes, ou vagos, e não
houver arrematante . o juiz dará a alforria gratuita .
• § 1.' O lapso de tempo para a abertura das propostas SArá o dos
prégões. segundo 11. lei commum r espectiva. derogado nesta parte
o art 10 da Lei n.16\):) de 1" de Setembro de l P6Q.
li No caso de privilegio de integridade. n lapso será o dos immoveis,

.endo, p' rém. as propostas cl1 mprehensivas d"s mesml1s imm veis •
• Si 2.' O disposto no art 2' da r eferida lei é extensivo a qualquer
aeto de alienação (·u transmissão de escrR vos.
« Art. 2.' Aquelle' que r esgatar algum escravo tem o direito de in-
demnisar-se, querendo, pel,' s serviços do mesmo por tempo não c xc~­
dente de cineo ann ns, eomtanto qu e o declare logo e seja clausula
expressa da alforria.
(( As questões entre o bemfeitor e o ben eftc iado,1l com terceiro. rela·
tivas 11. direitos e obrigações derivadas dl1 determinad o. neste a rtigo,
lerão resolv idas de plano e pela verdade sabida. obsp.nadas a s leis
sobre locação de serviços no que forem appli ca ve is . O gwp. rno f'xpe-
dirá regulamentos. podendo cominar prisão até tres mezes I multa
ate 20010011.
( Art. 3.' Fica livre o escravo.
(I Si 1.0 Salvo ao senhor o direito á indemnisação :

« 1.. Que sendo de condominos fór por algum deste libertado; os


outros só têm direito á sua quota de valor.
« A indemnisaçãc póde ser paga com serviços nunca exctldente de
cinco annos, sejão quantos forem os condominos.
« 2.• Que prestar relevante serviço 11.0 Estado, como seja de guerra.
no exercito e armada
«( 3.' Que professar em religião ou tomar ordens sacras, ignorando

O senhor.
« § 2.' Sem indemnisação .
a 1.' Que de consentimento ou sciencia do senhor se casar com
peBsoa livre.
li 2.- Que Cór a.bandonado pelo senhor por cnfermo ou invalido.

« 3.' Que com sciencia do senhor entrar para a róligião, para o


exercito ou a armada.
LXVII

tivos, aos quaes está coufiada a missão de os adaptar ou rejeitar.


Espalba-se então no ambiente como que um vago presentimento

« 4.0 Qlle se estabelecer como livre com sciencia e paciencia do


se11hor.
(C 5 • Que prestar algum relevante serviço ao senhor, sua mulher

OH herdeiro neccssario, como salvar a vila, a hom a, criar de leite


algum filho ou descendente.
cc Está entendido que por estas disposições não são derogadas as
do direito yigente. favoraveis á liberdade.
C( Art. 4.0 E' licito:

cc Si 1.0 Ao conjuge liVJ'e remir o conjuge escravo mediante equi-


tativa avaliacão e exhibição immediata da importancia.
{C SI 2.0 Ao terceiro resgatar o flscravo alheio que lhe houver pres-
tado algum r elevante serviço (art. 30, SI 20. n. 5,) pagando logo o seu
valor.
« Art !:i. o E' garantido ao escravo o seu peculio e a li vre disposição
do mesm". com especialidade em favor de sua manumissão, da do
conj uge, descendentos e ase' ndentes.
{( P eculio entende-se dinheiro, moveis e semoventes, adquiridos
pelo escravo, quer por sell trabalho e econnmia, quer por jbeneficio d.:>
senhor ou de terceiro, ainda a titulo de legado . Nos semoventes não
se c"mprehendem escravos.
(C SI Uoico a su~cessão é permittida na linha recta.
cc Art . n.O Em bem da liberdade:
« Si 1.0 O p ~ nhor não pôde ser constituido em escravos, salvo uni-
camente de e,.. tabplecimentos agric las com a clausula constituti.
(C Si 2.0 Os filhos das escravas hypothecadas. que nascerem depois
da hypotheca, não se reputão accessorio para serem nella compre
hendidos
(C Si 3. ' São nullas:
« 1.. A clausula que prohiba a manumissão.
« 2.0 A clausula à retro nas vendas de escravos e actos equiva-
lentes.
(C 3 .• Em geral. a dI posição, (!ondição, clausula, onus, que possão

impedil-a ou prejudicaI-a.
(( SI -1. 0 Não viráõ á collação, nem seu valor, os filhos das escravas
doadas, nascidos antes do fallecimento do doador, libertados pelo
donatario.
« SI 5.· O usofructuario pó de libertar os filhos das escravas em
usofructo. Bem obrigação d~ indemnisar_
« Esta disposição é extensi \Ta ao caso de fallecimento e outros de
propriedade limitâda ou resoluvel.
« Si 6. 0 São validas as alforrias conferidas ainda no excesso da
terça, sem direito á reclamação do. herdeiros necessarios, e prefe-
rem ás outras disposições do testador.
LXVIII

de futuras responsabilidad es; ba uma cer la ulI cirdade em acom-


.
panhar o rastilho, que o corajoso explol'nelor vai traçando; a

C,( §A manumissiío causa mortis é il'revogavel.


7 :0
« ~
8 o São livres os filhos da mulh er statu-libera.
« § 9.0 Fica revuga<la a Ord., liv. -1,. tit. (jé', na parte em que permitie
a revogação da alforria por ingratid!to.
« ~ 10. Nas questões sobre lib.erdaclí' ,
« Lo A acção é summaria,
« 2,0 Quem a reclama ou def~ndp. n"in p obrigado a cu~tas, as quaes
serão pagas afinal pelo vellcid ...
« 3.0 O juiz appellará e..c-oflicio <la sentença des fav ll ravel a ella,
« 4.0 A revista, no mes mo caso, é suspensiva.
« Art. 7.° Revogão-s e as disposições em con trario. !!

Projecto 71. 3
(( A assem bléa geral resol ve :
« Art. 1.0 No Brazi l todos nascem li vres e iu ~e l1 l1os.
a ~ 1.0 O filho de mulher escra"a lue nascer depe,is,Ja pl'e~e[lte lei
servirá gratuitaml'nte ao senhor da ru ã i até a idade de uczo it" annús,
em compensação da criação, tratamento, ed ucação e alim JlItos.
« No caso de usofructo, fid ei-comm is30 e selllel hantes. re[Juta·se
senhor para o eff<lito desta lei o llSofrc.l ctlla rin, o fidllciario e OutroS,
emquanto durar o usofructo ou o direito d"s mesmos.
« § :!.o Os direitos e ob ri gações referidas passarã" ao cnnjuge sobre·
vivente, e em falta aos herd eiros Oll sucr:essll r es do senhor, se fór
de estabelecimento agricola aquelle a quem este ctluuer, salvo sem-
pre o disposto no § 4.·
" § 3. 0 Querendo, porém, r emir·se da obrigação poderá faz él· o por
si ou por outrem.
c( A indemnisação será correspondente ou ao tempo decorrido da
criação e educação, ou ao tempo de serviço que ainrla faltar. como fól'
mais fav orav el á r emissão ; mas nunca superior á metade do valllr
de um escravo em id enticas clI lldições.
" Está e ntendido que os casos em que por direKO se confere aos
escravos a liberdade, com indern nisa,.:ào ou sem ella, são extensivos á
remissão de, serviç)s de que trata a presente l ei.
c( § .1. 0 Sendo menor deze ete annos acotnpanhal'á a mãi, se esta

passar por q uallJ.uer titulo a outro, ou liberta ddxàr a cOlllpallhia


do senhor.
« Si 5.° As questões entre os m esmos e com terceiro, r elativas aos
direitos e obrigações proveniellLes do disposto nos ~§ antecedentes.
serão decididas de plano e pela ve rdade sabida. observadas as leis
sobre locação de serviços no que forem applicaveis.
« O governo expedirá r egulamento, podendo cominar prisão até
tres mezes e multa até 200$000.
mina pócle estar perto e a exrlosão imminente ; lodos se consul-
lão com o olhar; a asscmbléa parece suspensa. Tal devia ser
a impres 50 cnusada pC'lo discurso e projectos do deputado mi-
neiro, erguendo hem alio naquelle dia a baudeil'a da emanci-
pação c solLando-a a torJos os ventos.
Póde-se consirlt'l'ill' pssa sessão da camara legislativa brazileira
como uma daR mais ' oll'lJlncs, á semelhança d'áquella em que
a 26 de Agosto de 1"780 a assC'll1b!éa nacional franceza procla-
mou os di,'eitos do homem e do cirladflo. Em como a reper-
cussão desse estrondoso bmdo, que gaslára oitenta e um annos
para chegar até nós. O grand e principio da lib erdade pelo nasci-
mento fóra firmado em termos expressos em um dos projectos
aprC'srntados. No B,'a7.il todos nascem livres e ingenuos- era
o glorioso p"égão ~ela p,'imeira vez aununciado no parlamento
de uma I1nção, ~ue, espontaneamente e contando sómentr com
o concurso de eus generosos fllhos, preparava se rãra con-
quistar honroso lugar entre os povos civilisados.

" S) G.o São considerados relevantes ao Estado os serviços a bem da


melbor surte dos filhos das escravas, livres por esta lei.
« Art, 2.0 Ficão revogad!\s as disposições em contrario. »

P"ojecto n, 4
(C A assembléa geral resolve ~
« Art. 1.0 O governo fica antorisado a conceder alf ,rria gratuita aos
escravos da nAção, rlando-Ihes o destino que entender mais conve-
niente; pC iderá mesmo estabelecêl-os em terras do Estado ou devo-
lutas.
« A's alforrias. quer gratuitas, quer a titulo oneroso, são lives de
'luaesqller dirr>iros, emolumentos ou despezas.
~ Art. 2.0 A's ,.. rdens I'egulal'es e demais corporações religiosas e de
mão-mnrta é absolutamen'e prohibido adquirir c possuir escravos.
sob pena de ficarem logo livres .
« Si Unico De accordo com o governo. os escravos que actualmente
possuem seriio libertadoR, e terão o destino que fór julgado mais util.
« A indemnisação consistirá, Olt em serviços dos mesmos, gratui-
tamente. por tcmp' não excedente de cinco annos, ou em uma somma
pecuniaria até o maximo de 4000 por cabeça, paga em apolicas da
divida publicq, ao par, que o governo fica autorisado a emitLir para
este fim. Estas apolices, como patrimonio das ordens e corporações,
serão inalienaveis.
" Art. 3. 0 Revogão- e as disposições em contrario. "
IVi,ie A nnali.~ PI"/.?'l. 1870. sessão dA. 2~ de Ma.io, tomo lo, pa.g. 58 a61)}'

LXX

Nessa mes ma sessão o deputado Teixeil'U Junior, em um


conciso discurso, dizpndo-se l'ollocado em uma posição de neces-
saria iniciativa junl"mente com aquelles que entl'ndião, que
muito havia a faz er para auxiliai' e dirigir a opillião publica na
questão do elempnto se rvil, depois de ouvir a diversos memol'os
da camaril, manifestando a maior uarmonia com o seu pensa-
mento, ponderárão a co nveni pncia de accOl'darem previamente
no desenvolvimento de id úas que em pI'in cipio admittião, lle
modo que, apresentando se um projecto commum se evitassem os
inconveni entes e delongas de uma discussão sobre simplcs de-
talh es, e assim baviüo combinado em solicitar da camara a
nom eação especial de uma commis ' ão , que, l'cuninrl0 lodos os
elementos que exi.,tião a I'espeito da questão, se incumhiss(~ cle
formulaI' em um ou mais projectos as medidas, que na actuaJi-
daele julgasse mais urgeutes.
O ol'adol' terOl inou apl'C'sentando o sC'gu in te requel'i men io :
" Requeremos que se nomt:c umacolllmis~ão especial rle nove
memb ros para dai' á cama r" o seu parecer, com ul'g"ncia, sobre
as n1t'clielas que julgai' conveniente alloptar-sc ;lccl'ca da impol'-
tante questão do elemento sl:rvi l do Impel'io, de moelo que,
I'espeitada a pI'oprieclade actual e sem abalo de nossa pl'im "ira
industria, a agricultul'a, sejão aLLenrlidos os altos intel'esses qUl'
se li gão a es te assu mpto (''') .»
Logo na sessão rio dia sl'guinle proced eu-se á cl('i~ão ela COll)-
mi ssão especial, red uzid a a cin co membros, em virtudC' ele
emenda <lprcsentada pelo propl'io deputarlo pl'OmO IOr da icléa, a,
racto que não pócle deixar de sei' notado por' sua singu lal'iel ade, o
arclente apostolo da emancip<lç50, tll]ut'lle que 150 drnorlnrlos e
constantes esforços empregúr<l em prol da causa dos escravos,
con hecid o do puiz inteiro, que sabia qu~o fundadns er50 as suas
convicçõcs demonstradas, não por llIeio de palavras YÍls (' rngili-
vus, mas ,em factos renes e positivos, nfto figurou cnll'e os clei -
"-------
(-) Este requel"imento julgado apoiado pelo numero d~ ftssignaln-
I'as de que e>:tava reyestido, co ntinha a dos deputAdos J . .1. Teixeint
Jllnior-Pel"eira da Silva-Ferreira Vianna - J. J . O Jlln'111eira-
A. T. do Amaral-Joaquim de Souza Rp.is-João Me nd es de Almeida
- C!ll1dido Torres Filho-J. J. de Lima e Silva Sobrinho-M o A.
Duarte de Azevedo-A. M. Percligito MRlheil'o-Fmncisco dn P!lulR
l'oledo.
LXXI

tos. Attendendo não sabemos a considerações de que ordem, a ca-


mara escolheu os deputados Teixeira Junior, Rodrigo Silva, An-
drade Figueira, Junqueira e Barros Barl'eto. ProvaTelmente estaria
como o camponez athenil'nse enfastiada de ouvir fallar nesse
novo Aristide~ (*) .
Não se mostrou o DI'. Perdigão resentido com este injusto
afastamento de seu nome, e proseguio nà faína de estudar as
questões submettidas ao parlamento, com o mesmo espirito
sel'eno e despreoccupado, guiado pelo fanal, que nunca o aban-
donou . a sua recta razão auxiliada por escl"Upulosa consciencia.
Inscripto pam a discussão da falia do throoo, apezar de adoen-
tado, usou da palavra na sessão de 23 de Junho discorrendo lar-
gamente sobre politica geral e entrando depois no exame de
cada um dos ramos da administl'ação publica, que entendião com
a immigração, administraçfLO da justiça, orgauisação municipal ,
guarda nacional, recenseamento da população, recrutamento,
codigo penal e do processo militar.
No exordio desse discurso que não foi dos de somenos ímpor-
taneia por elle proferidos, apreciou a índitferença, apathia e quasi
marasmo pelas cousas publicas, que attribuio á falta de educa-
ção política, sendo esta consequencia da ausencia cle íllustração
e da prepondcrancia cio interesse individual sobre os grand es
inlL:resses sociaes, concorrendo para este resultaclo a politica de
campanario, pois err;quanto as eleições se fazião por províncias
havia entre DÓS L'll ou qual espirito publico. Dahi foi levado a

C, ) A propria imprensa. e!!trangeira commentou essa exclusão em


termos bem pouco lisongeiros para a sinceridade das opiniões aboli-
cionistas dos membros eleitos . Eis o que se lê no Anti-Slave/lI Repor-
teI' do mez de Junho,trecho final do artigo intitulado Slavery in Brasil:
« The whole subject was referred to a committee of five, but
those who were appointed on this committee are alI declared by
the Anglo B/"azilia n Tím~s to bc aati-emancipationists, w hile
the /w,me of the acti ve abolitio nist, Sen% ~~ Perdigão M alhei./·o was
o'nitted This gentleman a150 introduced a bill to the effect that
8,Ll children born ' of slave. shalI be fre s after the passing of th e
bill. and three others to im pro ve the sta,tus of sla ves, by permit.ti Ilg
them to hold, acquÍL'p-, inherit, and warrant property, by promotiug
emancipation iand liberatingllthe slaves of the nation, and of tb c
conventual and mort-main institutions giving compensations to
these last (Vide Á 'Iti-Slavery Reporte·r , voi. 17., n. 12)-
LXXII

pronunciar-se contra a extrema concentração, que por toda a


parte se fazia sentir e produzia certo desequilibrio nos poderes
publicos, subindo tanto o moderador como o executivo da orbita
de suas attribuições, donde provinba para o pl'imeiro o que se
cbamava pode?' pessoal do cbefe do Estado, no que e11 e não acre-
ditava se tivesse dado, ao menos no sentido preciso das palavras,
pelo perigo resultante não só para as liherdades publicas, como
para o mesmo ebefe do Estado, se maio aconselbasse a ambição
ou a audacia, sobretudo quando a uni ca monarcbia na America
era a do Brazil.
Passando a outra ol'uem de idéas, teceu gt'andes encomios ao
gabinete de 16 de Julbo, que, tendo recebido o govel'Oo quasi
sem meios para podei' conti nuar a gue lTa, o credito abalado, o
camhio lJaixo, o tbesouro exbausto, em pouco menos de dous
annos pôde não só terminar a guerra com o Paraguay, mas ainda,
segundo consignava o relatorio do ministcrio da fa7.cnda, annu[l-
ciar para os pro:<imos exercicios um saldo de 10.000:000~. Fol-
gou tambem de encontrar no relatorio do ministerio no Imperio
idéas, que elle avenliÍl'a vinte :lOnos a:1tes, como fossem a da
creação de uma universidade na capital, faculdades ou Iyceus cm
todas ns provinl;ias e instru cção primaria o mais derramada
possivel (*).
Em materia de iLlSll'llcção superiol' opinava, concorde com o
Dl'. Andrade Figueinl, pela rcducção do curso juridico a tl'es
annos, e só de materias que podem interessnr a um maior nu-

(*) . Al1udia "a~ I ndice chronologico da historia d) Brazil, de que


já tratei em lugar opportuno neste estudo, e no qual se enco ntra o
des.ideratum do escriptor, formulado nos segLlintes t&rmos :
« Na organisação do systema desejariam os que elle fosse o se-
guinte: escolas primarias em toda as provincias, no maior numero
possivel, para qne ao menos essa educação chegasse a todos. Em
todas as provincias um collegio de beIlas-letras, aonde a par de
uma instl"llcção litteraria e scientifica, proporcionada ás necessidades
e ao tempo; a par de uma moral sã. do um verdadeiro e santo temor
de Deos, o desenvolvimento do corpo por lodos os jogos gymnas-
ticos completasse a educação . Finalmente uma uuica universidade,
onde se viesse estudar o direito, a medicina, a tbeologia, a arte da
guerra, a navegação, etc. )) (Vide obra cito pago 162, Sucainto esboço
,lo B1'",zil ",o finda1' o anno de 184!l).
Lxxm
mero, reservando as outras, que interessão o estadista e o juris_
consulto para a universidade. (*)
Descendo ás divisões que constituião o plano do seu discurs~,
aceentuou a necessidade de vias de communicação, ainda que
com grandes sacrificios, que serião compensados pelo augmento
de producção e conseguintemente de renda, facilitando a irnmi-
gração; que quanto a esta deviamos preferir os individuos de
raça melhor, que com a familia e capitaes tl'ouxessem o intente de
permanecer entl'e nós. Lembrou a este respeito, afim de melhorar
a legislação, de modo a encontrarem os immigrantes garantias e
vantagens, a necessidade mesmo de urna lei sobre o casamento
civil, embora reconhecesse ser a materia extremamente grave,
mostrando todavia que mesmo em Estados eminentemente ca-
tholicos, corno a Hespanba, Portugal, Austria e na propria ltalia,
era elle admittido.
Enunciou a sua opinião em sentido desravoravel ás incompa-
tibilidades directas dos magistrados pOl' julgaI-as inconstitucio-
naes . Não havendo no paiz abundancia de habilitações, desejava
que se decl'etasse a incompatibilidade "oJuntaria e não npces-
saria, não pela lei, mas peja vontade do proprio magistrarlo, de
sorte que elle soubesse que, i:H~ deixasse a earreira ainda que
temporariamente, pprdia vantagens presentes e futuras, como,
por exemplo, no accesso, na aposentadoria.
Tão pouco mostrou-se inclinado em favor da reforma da orga-
nisação municipal e da aboJiçfw da guarda nacional, entendendo
quanto á primeira que algumas idéas do projecto apresentado
pl':lo governo peccavão por inconstitucionaes, e outras erão inex-
equiveis; em relação á segunda, por Stl' uma instituição comple-
mentaI' do nosso systema, devefldo servir de poderosa rese r'va
da fOl'ça publica e mesmo para o serviço de policia em casos ex.-
(") Posteriormente. na sessão ele 3 ele Agosto, o conselheiro Pau-
lino, ministro do Imperio, de accôrd ) com as idéas eXl,iendidas no seu
relatoriu, apresentou o pl'oj ecto da creação de um a universidade,
justificnndo-o em um discurso admiravel pela elegancia da fórm a,
destacando um fundo de solidos raciocinios e de preciosos dados,
Não será. fóra de proposíto reco rdar, qlle esse pl'ojecto já. trazia
llma disposição relativa á liberdade de frequencia, e se não coube
áquelle eminente cidadão pól-a em pratica, não se lhe póde recu-
aar a gloria da prioridade da idéa (Vide Annatfs pad., tomo 4°,
pag,72).
tIXIV

tremos. Sobre n lei da conscl'ipção para o sPl'viço militar, que


fóra DO anno antcrior discutiéla na cama ra, e então achavà-se no'
senado, manifestou .apprel1C'nsõcs sobl'e o seu bom resultado,
duvidando qu u elJa fosse a mais apropriada ás nossas circums-
tancias (*).
Lamentou que, tratnndo-sc no relatorio resp ectivo do codigo
penal e do processo militar, não n;ais SC' falla sse no codigo civi l ,
parl~ce ndo- Ib e não haver motivo razoavel para rpnunciar-se á
irléa. uma das nos as necessidades, promessa escl'ipta na conE-
tituição desde 1824, com a c lau~ula-quanto antcs-e decorri dos
então perto d.e ciJlcol'nta annos ; ~11(1 se o DI'. Augusto Teixpira
de Frei tas, ill cumbirlo em 1859 não só de conso li dar a legis-
lação civil, ll1iB de pr! pal'al' o projer.to do codigo, mudáril de
rlnno qua llto a este, como se depl'phpnrlia de um officio diri-
gido ao ex:-ministro ela Ju stiça , porque razão não dava o go-
vel'Oo uma solução , ou aceitando as nova s idéas, ou insistindo
com elle pill'a que conclui sse o seu proj ec to de cod igo civil? A
sua opinião t'ra que se lll codigo civiln[1O pod iamos ter o rodigo
do prores:lo civil, el e que ralla va o mini stro em seu relatorio: um
era con sequ encia elo outro ; nem podia deixa r dn assim ser, por-
CJu e o [ll'ocesso Leria el e acr.o mll1odar-se ás disposições novas.
Di~colTenelo ainda sob rc t' ste ass ull1pto, 1'01 o qual pou-
cos e. lil!'irlO no caso de co m (> Ile competir, mostrou a ne-
cessidade de revi süo, taJltu do 1l0SSO cod igo criminal como
do p!'ocpsso crim illal, não se achando um e outro a par
da sci;'ncia oem (h legis laçüo penal. Teve occasião ele pro-
nun ciar-se pela mallutenç;io da pena de morte , indicando,
po!'ém, um Illléi o pa!'il qUI~ el la não rosse applicad!, que consis-
ti;'l em ex igi!' ullaoilllilhde de votação, como era nosso direito
pelo ccdi go elo processo (U).

(,) Os factos enco rregilrão-se dc just.ificar ossas apprl'\hensões.


('01110 :58 sabe, a lei. não iem sitio executada pela r epugna ncia que
clleonLra na populaç.ão; em algun. lllgares ha si elo mesmo causa
do disturbios. P ara r emedi!lr Ol; inconve uientes da inexecnção, o
/( ovel'l1o nom êa age ntes in cumbidos de angari.ar voluntarios medi-
a nte gratificaçõo;;.
(") 'riío humaniLa ri a opinião foi fi Ltendida na lei ela novissima re-
forma jlldiciaria do 20 ele Setembro de 1871, art, ~9, Si 1, que del'ogou
LXXV

Na pbilantLropia de seus sentimentos entendia tambem, que


o arL. lO da Lei de lO de Junbo ue l~35 uevia ser modificado, e
aLolida a pl'n a de açoites e de fCITOS, não bavenLlo meio de
corrigir-se ljualquer Lleci~ão injusta, aiuda mesmo no caso de
absolvi~ão,
Igualmente o cocligo do commercio,embol'l1 pub li cado em 1.50
estava exigiudo uma revisão, demaudando com mgencia a mate-
ria elas soc:eLlades e falleucias novas pI'ovidcncias,
Por ultilUo disse não censul'ill,' o gaLJinete pela omissão no
discurso da corÔa do l'lemento scrvil, parecendo·lhe que no
pensamento do govel'llo estava a aCêitação de medidas indirec-
tas, II vista das palavras profcridas pelo presideutc do couselbo
em rcsposta ú iuterpellação já referida i que lJavia apreseutado
[lOI' isso alguns projectos cOlJtl'ndo, á e:s:cepção de um uuico, me-
didas iuuil'ectas, sendo esse al:ús de eyidente justiça , Tocando
na qUL'stão de opportunidade, proferio estas palaVl'as, que bem
revclavão o seu pro[Josito e Or01e opiniiLO, de que era clie-
gado o moult'nto de lralal'-se do assumpto :
,( E' preciso que diga uma vez por tudas : tL'nho esta questão
corno ela maior gl avidadc (apoia..losJ, 2'{ão desejo preci pitar
cousa alguma, porque a precipitação póde trazer cousequeucias
de Lal ordem, llue excedão a nossa previdencia, e a que não pos-
samos pór um paradeiro, Mas, pellso tambt:m que a opiuião se
vai fo rlll allll o, se já não e~ta form .lda i acba-se na expectativa,
quasi pede que se [Jl'oflm alguma [lulaYI'a, que se faça alguma
cousa, emLol'a afto seja detiuitivu) pOl'que isto não depende de
nós i não poLlemos dominar o futuro, E' preciso deixar ao tempo
o que do tempo depende, Porúm não devemos confi..ll'-llJe tudo
exc!utiiVamentl', Cumpro dirigir cOllveuieutemcnte esta grave
questão pura a sua solu~ão ( ), "
IllCUllSilvcl no cUOlp,'illlento do dever, não se fazendo esperar
sempre que se tralava de .jueslões 4ue se prelldião ao cles-
empenlJo de suas obrigações, dous dias depois do discurso, que
acaLamos dt' analys:ll', acudia, n:l qualidade de mcmbro Lia pri-
meil'a com missão do oq;aull'nto, Cll1 defl'sa da idéa cOllceruenle

o arL, 00 da Lei de 3 de Dezembro de 1811 e restabeleceu o art 3'12


do Codigo Llo Proces~o Criminal.
(') Vide ri nroaes Pa)'l" Ib7() , tomo 2, pag, 16(;.
LXXVI

á inserção na Ipi de meios de algumas disposi!:ões sobre a con-


versão dos bens das ordens regulares em apolices da divida pu-
blica, in transferivris,
O pl'ojeeto votado no anno anterior pela caro ara não fôra aceito
pelo senado , que o repudiára provavrlm ente por afTeetnr a form a
de imposto progressivo; mas, desde qu e se attrndesse, srgull do
ponderou o orador, qu e não se trntava de um a med ida Gpeal, de
fonte de renda, sim de um meio coerciti vo, de um a sancção pe-
naI, não podia o meio indirecoto proposto pela cama ra ser tão cen-
surado. ü meio dil'ecto , substituido pelo se nad o, era mais dl'ci-
sivo , e para elle uma ver. que se consrgui sse o resul tado, que
era a conversão em apoli ces in trans feri veis, ser-I be-hi a quasi in-
differente o mrio,
Nesse sentido , declarando se tão bom catb oli ro co mo o me-
lhor, e o prim eil'o a res peitar os escru pu los de co nsciencia
albeia, não participnva todavi<1 dos de outros oradores, e provou
que a questão nada [jnba com a religiflO nr m co m a politi ca: rra
apenas de utilidade publica e prin cipalmentt' ele utili dade religiosa,
por isso que as ord ens achavão-se tão r Ol baraçn cl as com a admi-
ni stração dos bens , enrolta s em tallabyrint bo de int eresses te m-
pomes, como con stava de vari os relatori o e pareceres, entre os
quaes se contavão os de dous :l rcebi spos da Bnhi a, que era in de-
clinav el a necessidade de providencias conducentes a pÓl' cóhro a
tão grave mal.
Manifestando-se por es ta [órm a, era ]wm de IwP\'er que o or'a-
dor despertasse conteta!:ões dos que nflO prn~;1\'rlO elo mesmo
modo, e assim foi. Tod o o di curso es tá semrado elr :lpnrtrs. que
todavia não o imprdi rflo de leva r ao cabo a dl'mon~ tr;, ~50 ci os
principios pelos quaes se rege m DS rn odl' rnas soeíed ncl l's r;ivis,
affirmando' o direito prrreilo qu e assist<, ao Est ado dr impô r con-
dições, não só á acqui sição r posse cios he:-: s pe las cO I' jJorações de
mão-morta , mns lambem li consP l'vaçào dos mesmo~ bpns, dand o
(I té, se fo sse necess:ll'io ou con ven íen! c, no\'a rÓI'ma a essa acqu i-

sição, posse e cOll se rv a~ fi o.


ustentou que o suj eito dos bens ecr lpsín sti cos era o Estndos
doutrina recebida pelo nosso direi to civil e lmpli ci la nas disposi-
ções das no ssas ürd l'lI ações , apartan do-se da opi nijo daqu ell es
que entend em qu e as cousas reli giosas são l'es nullius,a ninguem
pertencem , COll'10 dedicadas a Deo;;, e tão pon co partilhanclo a dos
LXXVII

ljue pensão deva resiJil' tal dominio no 'Uillmo Pontifice ou DO~


proprios bispos das respectivas dioceses.
ifa pal'te bistol'ica não foi menos incisiva e procedente a sua
arguoll'utaçãu. Appellou para o que suct.:edêl'il com a ex tincção
da ordem dus rdigiosos das Mercês, no Para: o Papa Pio VI na
mesma uullu ue 13 ue ~ovemuro de 1787, que a extinguio, dava
deslillo aos ben,,; o poder civil , porém, não se sujeitou a essa
disposiçüo, e por Av. de ':24 de Março de 1794 mandou seques-
trai-os e ilH:orporar á corôa.
Defendeu o projecto da illcrepa~ão de tender a extinguir a in -
titução mouastica no Brazil, que louvou citando os beneficios que
algumas tiu!Jão praticado, emquanto á outras, demasiado entregues
a interesscs profanos, poder-se-bia applicul' as palavras de Santo
Antonino: Quo pllls enim pOlanlu/', eo ptLlS silmnlur aquCE, O pro-
jecto providenciava para que as ordens tivessem renda mais se-
gura c ceita em bam das mesmas, ela reli gião e elo Estado, con~
correndo para sua regelleraçüo. Em desejo do orador que ellas se
conSCI'vasscm, mas que cuiJassem scriamp.llte ele sua regenera-
ção, sendo que a degelleraçüo em que tiouão cahido rÓl'a que mo-
tivára a prohilJição da elltracla de noviços. Regeneradas as or-
dens, podcl'la ser levantada a prollilJição : tal se lhe afigurava a
coneequencia.
ifeste pooto não julgou censuravel a deliberação do govemo
que assim procedC'a, achando-a até conforml:: com a legislação
canonica, ao menos segundo a doutrina dOi> escriptores, quando
dizem que ao Estado compete I'egular tambem na admissão das
ordens o nu aero do" religiosos, o que até certo ponto vai de
accordo com o C)U(; dispõe o Concilio Tridentino, sess. 25, capo 3·,
de 'regularibus, onde se previne a iJypotiJesc e a conveniencia da
reducção do numero de religiosos .• Se forem tão numerosos
que não se possão manter, diz o Concilio, ·reduzir-se-hão ao nu-
mero razoavel. " POl' identidade ou maioria de razão, em outros
caso~, e couseguintl'mente no de sua admissão, que póde tender
a augmenlal' o numero.
Tocou pOI' ultimo na qUflstão-qual o destino das apolices
[juanclo desapparecesse o derradeiro monge ?-explicando que a
il-ypothese dil'ficilmente se realizaria, se elles se regencl'<Jssem, re-
llovado constantemente o pessoal; no caso, porém, de extincção,
LXXVIII

os bens, como vaca lltes, pll:lsarião ao Estado, que podia llal'-lbes


o destino que fossQ mais pl'Ovcitoso, mesmo a uns reli gi030s e
pios, a sem in arios, Ú instrucç.ão pub lica, elc. E voltando·se para
os impu gnadol'es da id éa, que, levados pelo ex.tremo da al'gu-
mentllção , murmuravão contl'a a desapropr'iaçfto , affil'lllou-a, fun -
dado na clisposiçfw cOLlsti lncional quu a autorisa, c, parodiando
uma conhecida expl'eSSfLO de Lamartiue, concluio: (C Dal' se-bia
ullla desapropriação paI' tltilidade religiosa ("l li
Intel'essando ::;e vil'arneute por lurIo quanlo dizia respeito li
adrnini::;tração da justiça, versado que era no estudo e pratica de
assumptos juridicos, não porlia conseryar-sp alheio ao debate tra-
vado sobre o projecLo de l'eforma jndiciaria. .\ssim vClllol-o
tomar' a piUal'l'a na sessão de 19 de .\gosto, e, apez<l!' de en-
rermo, pronunciar um dos mais compll, tos c bcm elaborados
discursos, que úccrca da l11utC'l'ia rorão ouvidos naquell!' anno,
prendendo durante muitas boras, sempre com geral applausos
a att')nçfio de se us colilogas.
Não nos faremos cal'go de acompanhai-o em todos os ponto,
a qüe abordou, rlisculindo o aS5umpto com aquel1a proflcieucill e
devotaçflO ao bem publico de que já havia dado exube l'antes pro-
vas; alongal'iamos em dcmasia esle traballlo. Pal'a que, porúm, se
fOl'me uma idéa do modo como forão por ('[ Ie enclll'Udas as rlivel'-
sas questões conccrncntes ao Jll'ojecto, bastal'lI assignalal' os mais
notaveis, llabilitando o leitor a apl'ecia l' a verdade do juizo
emittido.
Encal'ecendo a impol'tuncia da reforma, il1l'esligoll o hislorico
das duas leis de ol'gallisação.i ud icial'i a que poss uiamos, a de
1832,codigo elo pl'ocesso, e aele 3 rle Dezembro ele JR41, e mostrou
como naquella preponüel'úl'a o elemento democl'atico e nesta o
pri ncipio da autoridad e, devíLio lIS cil'cumstancias quc as provo-
cárão, cu! uma, luLa e victoria da democl'acia cooLt'a o absolu-
tismo, traduz ida na abd icaçào do SI' . D. Pedro I em 1831, cm
outra a anarchia e as revoluções supplantadas com a fOl'luaçüo do

(,) Vide Ann. Pa1"l, 1871), tomo 2. pago 1 if>. No a rt. 18 da Lei
do orçamento n . 176·1 de 23 de Jnnho de 1871) se crnsignárfif) disposi-
ções sobre a con versão dos predios rusticos e urbanns, terrenos e
escravos, que as ordens religiusas possuem em apolices da d ivida pu,
l>lica, no prazo de dpz an uos, depende ndo e modo pratico de eU'e-
ctuar-se a conv9rsão do regulamentos que o governo expedisso ,
UXIX

partido conservador, cujo primeiro "abinete data de 19 de Se-


tembro de 1837, sendo a Lei de 3 de Dezpmbro obra desse par-
tido, e que muito COUCOI'l'eu para que fosse cessando o desgraçado
estado, em que se acllava o paiz.
Dabi parti0 para provar que, tuda a re ~ol'ma que se tentasse
havia de plllticipar do elemento pohtico, o que não significava
face partidal'ia, pois seria pl'l'judicar completamente o fim da lei,
mas que se [o~sem os conser'/adores que fizes se m a refol'ma La-
via de apresentar o typo con ~rI'\'allor , se o' lihel'aes sPl'ia influen-
dada das irléas desse -partido ; sua opinião era !jue os conserya-
dores se acbavão mais no caso de a. fazer, pOl'ljue se se tinba de
modificar a Lei de 3 de Dezembro, que foi emanada 110 dominio
consel'vador c voltar um ~oueo ao syslema de 1832, Pl'a claro
que a reforma deveria ser obra do partido conservadol' .
Criticou o projecto por não coutel' seuão ligeiras modificações
do slatu quo, que não satisfazia aos propl'io:5 membros da COO1-
missão, a maior parte dos quaes assignúra com restl'icções,
notando que elle se não occupasse absolutamente com a ol'gani-
sação judiciaria, a coIumna muis possante elo edificio social, me-
IbOI'ando-a, sendo essa a verdadeil'U pedra angulal' da pl ctl'ndida
reforma. Que, pois, peccava. pela base (*) .
Examinaudo o l'stado da magislratura ,disse não cpnsur,II',como
alguns o fazião injustaml'nte, os nossos magistrados, porque não
sejão, como em outros paizes, luzeiros em suas decisõrs; ao con-
trario, só liuba Lie tecer louvorps justos á magistratura, que, ge-
ml'ndo debaixo da prcssão eln que tinha vi vicio até então, tinba-se
no entanto mostrado quanto lbe pel'miltia o seu estado, n:l altura
de sua missão; que,se não satisfazia :lOS nosso desC'jos,cra porque
não podia, porque o defeito eslava na lei,que não oITel'cce garan-
tias bastantes aos magistrados, tendo elle já tido occasiúo cl l' for-
mular emsylltbese o seu pensamento: quereis bons magistrados,
dai-lhes {J1'andes vantagens e as mais solidas gm'antias , exegi
deites lambem que cOl'1'espondão a essas vantagens e garantias_

(0) Coherente com este juizo e regeitados como forão os additivos


por elle propostos, votou "ão s6 contra o encerramento da discussão
da reforma, mas tambem contra o mesmo projecto, segundo a decla- •
ra"ão por escripto que fez na sessão de 1!:1 de S~ l c mbro (Ânnaes
P"r'., uno, tomo 5., pag_ 100),
LllI

A decadencia dos estudos, juridicos, no entender do orador,


concorria igualmente para o estado em que se achava a ma~is­
tratura, pois bem poucos erão aqueHes que se deuicavão a esses
estudos, mal esse ainda aggravado com o facto de se habilitarem
os juizes de dil'eito só no crime ou em varas especiaes do com-
mercio, vindo depois para as Relações, unicamente com as habili-
tações criminaes, a julgar ele causas civeis, commerciaes, orpba-
Gologicas e fiscaes, elas quaes nada entendião, porque estiverão no
exercicio especial de juizes elo crime vinte ou trinta annos, sem
necesidade de applicarem aqueHas leis e sem estimulo para as
estudarem.
Quanto ás varas privativas do commercio, concordou que só
poderião ser admittidas quando o Estado se achasse em certo grão
de adiantamento ,e em condiçóps para se formarem especiali-
dades, mas não em um paiz novo como o nosso , ainda muito
atrazado, e onde semelhantes especialidades não podem pOI' isso
pretender-se, sem prejuizo das habilitações gemes de elireito,
que se elevem exigir entre nós do juiz. Semelhantemen te pro-
nunciou-se contra os tribllnacs elo commercio como esta vão
organisaelos, no seu entender inconstitucionaes, porque havia
ao lauo ele desembargadores, que julgavão,commerciantes eleitos
por seus pares, que tambem julgavão. uma especie de jurados,
quando estes pela constituição só julgão de facto (*) .
Apontou como males que prejudicão a magi3tratura a demora
em il'em os juizes de direito para suas comarcas, a interrupção
do exercicio por licenças, as commissões que aceitão do go-
verno, a dependencia em flue se achão delle para o accesso ás
Relações, os favores que do mesmo recebem, a má classificação
das comarcas quanto as entrancias, a suspensão e demissão dos
magistrados peJas assembléas provinciaes, a remoção forçada e
perda do lugar a pretexto de exerci cio de chefe do-: policia, e a
aposentadoria forçada sem lei (**).

(*) O artigo substitutivo que propuzera, abolindo a jurisdicção con-


tenciosa dos Tribunaes do Commercio e restituindo·a ás Relações,
foi regeitado então. Posteriormente, porém. foi essa medida tomada

• pela Lei n 2342 de 6 de AgOiitO de 1873. art. 10 S) 4° .


(") Muitos dos inconvenientes e deficiencias notados pelo de_
putado mineiro no projecto da reforma procurou elle sanar, apresen
tando numerosas emendas e additivos nas sessõeil de 8 e 16 de
LXXXI

:lo desenvolvimento das diversas tbeses em que, segundo o


costume, costumava dividir os seus discursos, elle manifestou-se
pelas lal'gas remunerações aos nossos magistrados, como suc-
cerle com os inglC'7.cs, para pôl-os ao abrigo dos favores dos
mandões de alclêa e do mesmo governo, opinallllo pelo accesso
ás Hclações pOl' antiguidade, embora reconbecesse que a absoluta
tinba seus inconvenientes, mas a certeza da garantia que eUa
olTerecia bavia de concorrer pam que o magistrado não quizesse
ser senão magistl'ado : não perderia tempo em licenças, Dem se
distrabiria do exercicio de seu cargo para não ficar atrazado,
sendo particularmente um cOl'l'ectivo contra a dependencia em
que se achava do governo . Que em iodispensayel se cohibissem
os abusos com as licenças, só devendo ser concedidas por justo,
motivo, pal'U não favol'ecer a desiclja e prejudicar o serviço pu-
blico. Que as aposentadorias só podessem ser fundadas em lei
pal'a que o juiz tivesse garantida a sua estabilidade, corno
o seu futmo, no caso de impossibilidade pbysica ou moral, fa-
zendo-se effecti va a perpetuidade garantida pela consti tuição.
I"
Em muitas outras considerações entrou o orado todas atti-
nentes a melhol'Ul' um ramo de serviço de que elle tinba cabal
conhecimento, concorrendo com os fructos ele seu saber e expe-
l'iel1cia . para que ti vessernos uma organisação judiciada de par
com a das nações adiantadas. Nem todas as suas idéas vingárão

Agosto anteriores á em que proferio esse discurso, no qual tratou de


justificai-as. (Vide Annaes Pa?-l., tomo 4. 0 , pago 94 e 209). As com-
missões, porém, a.:ceitando deste e de outros deputados algumas das
emendas e repellindo outras, declarárão no parecer lido na sessão
de 30 de Agosto, que assim bavião procedido por entenderem que
ellas constituião materia de projeeto, que seria de incontestavel uti-
lidade apreciar separnc1f\mente, para não retardar a adopção da
reforma, pois que pelo se u grande alcance erão sujeitas a graves
duvidas e devião por isso suscitar prolongadas discussões (Annaes
Parl., 1870, tomn4 o, pago 369).
Assim achão-se ainda hoje sem organisação o ministerio publico,
a ordem dos ad vogados do Imperio, confundidas no mesmo processo
de fallencia a parte civil e a criminal, a antiqualha conhecida no
fõro sob a designação de aggravo no auto do processo, que para_
nada serve, ainda prevalece etc., etc., assumptos esses de que trata
vão as emendas e additivos offerecidos por elIe.
6-CONSULTAS
LXXXII

como fossem , por p.xemplo , a contida na emenda que mandava


restituir ao jUl'y o julgamento do cl'im e de hanca rola , a que r('s-
tringia o numero dos Juiz ea privativos, declarando-se o orador
advl'I'sat'io das jurisdicções especiaes, a que retil'aYu ao juiz de
paz a intervenção no pleito eleitoral, a que separava a parte ci-
vil da crim inal nos processos de I'allencia , a que abolia os aggra-
vos no auto do processo, etc. Ficl)u, porém, bem patentp, a sin ce-
ridade de seus esl"ol'ços em prol de uma causa de maximo inte-
resse para todos, qu:).l a qu e l'es pl'ita a admilli ~ tração da justiça
c os direitos dos cidadãos ("';.
Em uma de suas curiosas cartas o amigo dn Trajano e de
Tacito, fallando de um ol'ador judicioso e discreto, mas dema siado
timido e circumspecto, escreve : " Elle não tpm senão um rl efeito,
é não ter nenhum --:nihil 1Jeccal, nisi qtwd nihil peccal. " E
desenvolvendo o seu pensamento accrescenta : "EITectival1l ente
o orador dev e elevar-se, arrojar-se, algumas Vl'zes aquecer-se,
deixar-se arl'ebatar c muita~ outras adiantar-se á beira do prrr,i-
'picio; em regra as alturas são visinhas dos abysmos; os que se
arJ'astão não estão arri scarl os a cab ir, co mo os que cOI'l'cm ; mas
se para aquelles não ba gloria em não cabil', pstrs a alcanção
mesmo na quéda. Mel'ecem os perigos premio na:eloqu encia como
nas outras altcs. Quando os fuoambul os parecem pres tes a cabir,
é justamente quando mais vivas acclamações excitão. Aqui Ho que

(.) Annaes ParI. tomo 4°, pago 2..'18.


Tal era a consideração que os ma is disLinctos dos nossos ho-
mens de estado tributavão aos seus conhecim entos e esclarecido pa-
triotismo, que, ainda mesmo no tempo em que não tinha asse nto no
parlamento era solicHado o seu pareceI' sobre importante'3 ass umptos
de interesse publico A respeiLo dessa mesma reforma judicial"ia o
conselheiro 3ayão Lobato. hoj e visconde de Nictheroy. quando minis-
tro da just.iça em 1l:l62 , escr eve u-lhe pedindo a sua opinião, como
igualmente o tez o visconde do Ri o Branco sobre a questão relativa
ao imposto de '" % nos inventari os, e o conselheiro Nabuco sobre o
proj ecto de refúrma da legislação h ypoth ecaria.
Nunca se recusou a prestar o seu concurso satisfazendo a essas e
outras solicitações, nào em termos vagos e com amplificações rheto-
ricas, mas discutindo e analysanc10 0'3 projectos subm ettidos ao seu
exame, indi cando com franqu eza os defeitos e l!l.cunas, que nelles en-
contrava.
LXXXIII

mais admiramos é o que excede a nossa expectativa, é mais


arriscado. Eis-ahi pOl'que a hahilidade do piloto é menos estimada
na calmaria, do que na tempestade. ;'-{a calmaria, entra no porto
sem ser admirado nem louvado; não ha nisso gloria alguma.
Mas quando o vento zune nas enxarcias, quando o mastro verga e
geme o leme, é então que o proclamão illustre e quasi igual aos
deoses. »
Quem ler os discul'sos do DI'. Perdigão Malheiro percebe desde
logo que elle não pertence ao numero dos arl'ojados, que acom-
metlem as alturas e impavidos approximão-se á beira dos abys-
mos . Assim, o citado conceito de Plinio bem podia caber-
lhe: o seu defeito era não ter dE\feitos. A temeridade ainda menos
que a audacia estava no seu caracter, questão de tempera-
mento que o impedia de ser ol'ador, embora como vir bonu$
possuisse um dos principaes requisitos exigidos. pelo mestre da
oratoria antiga. Subia á tribuna depois de convenientemen te pre-
par'ado, conhecendo o caminho 'que ia trilhar, sem risco de nelle
tropeçar, medida dt1 antemão a sua extensão, cel'to o ponto de
parada. A' vereda preferia a estrada lal'ga e desimpedida, á mon-
tanha a planicie, aos mares desconhecidos os portos abrigados.
Faltava-lhe um certo calor communicativo que transforma o
orador diante do auditorio attento e subjugado, fal-o assumir gi-
gantescas proporções, electrisa os espiritos e prepal'a-lhe os mais
esplendidos triumphos, a eloquencia em summa. Em outra época
representaria o papel de Washington, que, no dizer de um esti-
mado biographo, sem possuir dotes OI'atol'Íos, despido de quali-
dades bri lhantes ou extraordinarias, nada offerccendo que [cl'Ísse
á J'lrimeira vista a imaginação, exercia todavia decisiva in-
fluencia sobre a assembléa pela fir'meza de seu caracter. Ser-
viria como o fundador da grande republica americana de centro,
e todos os olhares para elle se convergirião, quando se tratasse
de votar e de deliberar.
A sua palavra el'a Fria como o aço, mas sem lampejos; não
commovia nem arl'ebatava, dissertava autes que discutia. Feita
a partição do discurso, proseguia na explanação de cada uma das
suas theses do mesmo modo que o mathematico na demonstra-
ção de um theorema, traçando aqui rectas e curvas, jogando acolá
com letras e algarismos . Tratava mais de mostrar quaes erão as


LXXXIV

st..as convicções do que de cO ll veucer aos outros; se o apoiavão,


tanto melhor, aproveitava-se do aparte, ampli6cava-o e cooti -
nuava. Quando, porém,' a interrupção vioha contrariar o se u pen-
samento e obrigal-o a interrompe~" o 60 do raciocinio, custava-Ibe
so!Il'eal' certo movimento de im[JD,ciencia, pOI'ventUl'll mesmo
de irritação, pl'incipalmente quando os apartes erão se01 alcance
e só tlevidos ao prurido de lin;juagem carill;teristico dos nossos
parlamentos. Em vez de replica prompta e vigorosa, que fizesse,
como vuJgarmellle se dih, volta I' a palavt'll ao bucho lIo apilt'Lista
e o confuudisse, não Lllssilllulava o seu de3agratÍo, prova
ev id ente que ao jurisconsulto na areUil pal'ial11elltar não acompa-
lllJavão a mesma imperturbabillllade e sangue frio com (lue 110
gabinete costumava resolver arlluas e illtl'illcadas quesLúes de
direito. Appellava entflO para os se us e::iLuclos,fazl'ndo ver que não
ralla va de improviso, impliciLa (;eOsura aos interl'Uptol'es illlpOI'-
tUIIOS, que todavia os não dcsauimava ou fazia muelal' de l'l1mo.
No ÜiSC lll'::iO sobre a reforma judiciaria, apoquenLado [Jelo:;
apartes, cbegou II amea!;al' que se eHes conLiuuassc01,prescilllliria
do que tinba a dizer c seutava· se.
Que o Dr. Penligfto J\Ialheil'o, oatureza sensivel e imprcssio-
navel, aspirando ao belll com todas as fOI'ças de um espirito
ed ucado na escola do dever serio c iufiexivel, sem devoLação cé-
ga aniquiladol'a da pro[Jria individullllllade, era pouco apto pal'il
a vida politica, qual gel'lllmente se entende, parece-nos têl-o sul'-
ucieIllemente demonstrado nessa mes ma sestlão de Hl de AgosLO.
O ex.ordio elo seu discurso !'oi uma queixa, lameu to eSLeril, li ne
em muitos labios despertaria talveí: um sor"l'iso ele dó misturado
de ironia. fto em possi vcl denunciar mcuos expericncia da:; vi-
cissitudes a que estú sujeiLa a cond içüo poliLica, nem maiol'
desanimo diante de um;t soez conducta goveruamcntal.
Declarando cio alto üa tribuna que, desgo;:;toso por não terem
merecido os projccLos, que apl'esentúrll ua seSSlW alltérior, as
honras da discusslio, se reLrahil'il, chegando meSI110 a consu lLar
alguns co llegas se o mandato, de que l'sLava revestido era 1'0-
tlunciavel, confirOlou a~ pl cvisúes de amigos e conhecidos, que,
velldo-o ellcetar 11 carreira poli Llca,cheio ele enLbusiasmo e ele creu-
ças, ao facto de seu caracter e Il abitos, ca[culál'110 bem depressa
~IS cleceflçõe;:; c clesillusões dcsf'ari:lO a rningem, Lrazendo-Ihe
LXXXV

amargo arrepenrlimento. Tal co mo a nOl':t,inba, II bcira rio, que,


emquanto correm man sas as aguas, balouça-se bl'andamentc
sobre cUas; se, porém, prccipitc , tomba e vai sumir-se na vora-
gem, assim do profundo contrastc cntre o viver tranqui ll o do
juriticonsulto e as labutações do homem politico tiruvão argu-
mento para ul[uellas justas previsões.
I~ssa ameaça de retirada, se se realir.asse, seria mais quc
uma abdicação, equival\~l'ia a um vCl'dadeiro sui cidio, lão digno
de se "era censura na ol'dem polilica como de meritoria condem-
naç;io o (~ perantc a moral. Aquella revcla ç:w demonstrar'ia força,
se o orador desde esse dia a !'umisse oulra posição. Como foi ,
não passou de um desabafo se m alcance. rm cEpiril.o mais C11C I'-
gico retcmperado nas lide pal'lam enlarcs nflO teria hesitado:
em ye7. de su(focilr sob as conveniencias partidarias as explosõ '5
elo amor proprio oO'codido, deixaria voassem todos 03 estilbaços.
I~nll"l' ta nto a commissflo eleita para d;tr pareccr sobre o elc-
olento servil, depois dc haver solicitado em vão a remessa dos
pal'eCl:'ITS, que úcerca do assumpto tivessem sido submetti-
dos ao conselho de Estado de de 1867, apresentár;t na sess;w
de 16 de Agosto o resultado de seus trabalbos.
Era um estudo profundo, claro e metbodico da questão enca-
rada , oh suas divcrsas fac es, c ao qual prestou valioso subsidio
a Obl';1 Esc}'(lvidão no Bra::.il citada com exp :'C'ssões de louvor ao
scu autor, cujos projcctos forfLO em grandc parte adoptados, como
facilmente se verifica cotejando-o co m o formulado pela com.
mi~são. Embora, portanto, :JITcdado scm explicação razoaveJ,
teve a gloria de vrr aproveitadas a suas lucubr:Jções, reconbc-
cida de t'arte solemnemente a necessidade de um concurso por
outra fórma repellido.
A idéa d;t emancipação tinba pois, agora um corpo-o pro-
jecto da commissão. Urgia dar-Ibe vida, pó l-o em andamento.
Não era mais possivel fa7. el-a parar ou retr03l'lldar; outro tanto
valcria pretender que o rio voltasse á nascente, a OÓr ao botão,
a planta á emente.
ComcçúrflO, porém, aqui as (lifficuldades da empreza. Na se -
sftO dc 12 de etemhro o deputado Cruz Macbado requereu pre-
fercnciu pal'a o pl'ojecto apre entado na dc 19 cio mer. antecedenlc
pelo tlepuludo Costa Pinto, que autorisava, independente de in-
LXXXVI

demnisação, a alforria dos escravos da nação, cujos serviços


forão dados em usqfructo á corôa.
Seguio-se urna animada e curta discussão, estranhando o reI a .
tor da commissão especial, deputado Teixeira Junior, a I'ersatili-
d:tde do autor do requerimento, que em 20 de Julbo do mesmo
anno combatéra a opportunidade da mesma idéa consagrada pelo
projecto em discussão, e que então havia sido apresentada ele
modo mais completo e previdente por dous illustres membros da
camara os Srs. Perdigão Malbeiro e Pereira da Silva, tendo eUe
nessa occasião justificado a necessidade de adiar-se tal medida,
porque em isolada e iniufficiente, e porque o assumpto do ele-
mento servil só devia Sei' tratado em um projecto complexo (*).
No debate interveio o ministro do Imperio, que a elle rôra pro-
vocado nominalmente . Sustentou o requerimento e defend eu-se
da pecha de contradicção notada entre as suas palavras proferi-
das no senado na sessão de 29 de Agosto e a opinião, que emit-
tira o ministro dos negocios l'strangeil'os (o conselheiro Paranbos)
quando declarou em resposta a uma interpellação do conselheiro
Zacarias, que era indispensavel resolver ·se questão tão grave e
vital, entendendo com os seus collegas que eUa não podia ser
indefinidamente adiada e que o gabinete apre<>entaria a sua
opinião na proxima sessão.
Por um trecho d'esse discurso ficou em brilhnnte relevo o pro-
cedimento altamente generoso do Imperador em relação ás ma-
numissões dos escravos a seu serviço, realizarbs, como declarou
o ol'ador, com as 'lconomias da dotação, com o obolo que alli dei-
xavão ficar, que ani não ião buscar a viuvez e a orphandade,
sendo a renuncia do usofructo desses escravos pago com o res~

(*) O projecto a que alludia o orador fóra apresentado em fórma


de addit~vo á lei do orçamento pelos dous referidos deputados, na
qunlidaJe de membros da commissão do orçamento, tentando em·
balde o Dl'. Perdigão Malheil'o oppor·se ao adiamento então proposio
pelo deputado Cruz Machado, mostrando que o que elIe queria era
dar ao governo a faculdade de libertar gratuitamente e jámais por
preço. quando entendesse.e como entendesse, mesmo com clau·
sula e sem e11a., tudo isto a seu prudente arbitrio.
Esse projecto foi som a minima alteração aceito pela commissão
especial (Vide Annaes Parl. , 1870, tomo 3, pag . 161 ; tomo 4; pago 169
• 179 ; projecto da commissão art. 30 ) ,
LXXXVII

pectivo valor, que se empregava em apolices da divida pu-


blica (*).
Submetlida a preferencin á votação, tl'iumpbou o govemo,
obtendo o requerimento cincoenta e quatro votos contra vinte e
um. Entre estes encontrão-se o do Dl'. Perdigão e os da maioria
dos membros do commissão especial,
Não logrou, comtudo, expendel' suas idéas sobre o pl'Ojecto,
constraugido como foi a desistir da palavra na sessão de 12 desse
mesmo mez, por se achar adiantada a hora e a camara vasia, de-
pois da votação de emendas e additivos sobre o projecto de re-
forma judiciaria, que occupou largas horas. Por força de disposi-
ção regimental não pôde o presidente da camara attendel' ás pon-
derações do deputado Teixeira Junior solJre a conveniencia de
adiar-se a discussão, tendo entre outras feito vel' que • ia
caber a palavra ao nobre deputado pOl' Minas-Gemes o
Sr. Perdigfw MalheiI'o, que pelos seus estudos especiaes sobre a
questão do eldmento servil é talvez no Brazil o jurisconsulto,
que mais tenha estudado tão difficil matel'ia, e nesta emergencia
é evidente que a maioria desta camara tenba desejo de ouvir a
opinião de S. Ex., cuja palavra del'1'amará grande luz sobre o de-
bate. "
Pouco depois o gabinete de 16 de Julho, que tão gloriosos dias
marcára na administl'ação do paiz, retil'ou-se do poder. Muitos
quizerão enxergar nesse acto falta de homogeneidade de vistas
entre os seus membros sobre a questão do elemellto servil, em-
quanto outros pretendêrão que o additivo do consellJeiro Nabuco,
propondo aapplicação de saldos do orçamento ao resgate de escra-
vos, bem aceito pela cOI'ôa, mas repellido pelo presidente do con-
sclho, fôra a vcrdadeim causa da retirada. (u) Das declarações

tomo 5, pag, 53.


(*) A )'/,)'/,. Parl., 1870,
(* ') Tal era o teor do additivo assignado além do conselheiro
:to.Iabuco pelos senadores Souza Franco, Zac8rias, Paranaguá., Octa-
viauo, Cansansão, Chichorro, ~ilveira da Motta e Dias de Carvalho:
« Do sald' resultante da receita sllbre a despeza 110 exerciciO
desta lei é o governo autorisado a applic8r a q'lantia de 1.000:('OOR
á alforria dos escravos,
~ 1.0 Serão preferidos os escravos do sexo feminino de dúze a
'luarenLa annos e dentre estes os de menor idade, .
LXXXVIII

officiaes prestadas em ambas as casas do parlamento constou que


a enfermidade prolongada do ministro da justiça, conselb eiro Ne-
bias, as dif'ficuldades dabi res ultaútes para recomposição do ga-
binete, acompanbando o ministro da guerra, barão de Muritiba,
o pedido de exoneração apresentado por aquelle seu collrga, só-
mente a determin árão.
O organisadol' do novo gabi nete, marquez de S. Vicente, tinba
ieléas assentadas sobre a reforma servil. Sabia-se que, na quali-
dade de conselh eiro de Estado, apl'esentára ao Imperador em 23
de Janeiro ele '1866 um memorial segu ido de varios projectos
para a gradual emancipação dos escravos. NãO seria, portanto,
pam estranhaI', se dirigisse convite ao deputado mineiro, cujas
idéas sobre a questão erão igualmente de lodos conbc:cidas,
para compartilhar a tarefa do govel'l1o na mesma reforma.
Porque razão , pois, deixou o DI'. Pcrd igão Malheiro de fazer
parte do ministerio de 29 de Setembro de 1870 ?
E' este um ponto assaz melindroso, e sobre o qual nos abste-
riamos de emittir qual'Iuer juizo, se não estivessemos convellcido
rIa opinião erronea que formál'a o excluido, opin iflO que a concen-
tração ele seu caracter nunca permittio manifestar em viela.
Segredárão-lhe ao ouvido que, se o presidente do conselho não
o convidúra er'a paI' terem asseverado, ~uc cll e U:lO queria ser mi-
nistro. Não Ib e occol'reu, entretanto, qu e :1 0 i: ,11I'e marquez não
conviria por certo ter junto a si quem pocl esge pt'Ojectal' sombra a
seu iIlustre nome, e fosse co-participante cffil':lz elos trabalbos da
rpforma, como havia de seI-o assignaladamrnte de suas glorias ;
esqueceu-se mesmo que cm suas mãos L' sl i I't'l'rlO os pt'Ojectos
apresentados ao cbefe do Estado, que elle Pl'rdigã() os cl'iticára ,
para attribuir a exclusão á má von tade de quem, na elevação de
Sl 2.° O escrRVO que por meio de S" U pecul io ou por liberalidade
de outrem ou por contrato de futuros serviços, obtiver meios para
indernnisação de seu valor, tem direito perfeito á alforria e esta
sendo r ecusada pelo senhor, lhe será outurgada pela autoridade
publica. »
Fsse additivo apresentado na sessão de 19 de Setembro cahio na
do dia immedüüo, depois de um discurso do presidente do conselho
que declarou não duvidar acceitar aquellas idéas, constituindo po-
rém pl'ojecto separado_
(Vide Annaes do Senado 1870, vo1. 3 pag o 241).
LXXXIX

seu espirito, nenhuma podia nutrir contra I:lm cidadão de compl'o-


vado mcrito, tendo por igual dever o amor patl'lo e a dedicnçfLO á
monarcbia (*).
A fadiga provenienle dos trabalbos legislativos, aos quaes e
entregára com ardor, já tomando parte em muitas discussúes,
como notámos, já occupando·se com trabalbos de com missões,
a sua assiduidade ás sessõl's, nesse tempo tambem nOClUrllllfl,
com assistencia forçada até o fim, pOl' dcferencia que sempre en-
tendeu dever guarda r pal'a com seus collegas, contribu irão para
alLerar-lbe sensivelmente a saude, que nunca possuío vigorosa,
sendo frequent@s as cepbalalgias que o proslravão muitas vezes
desacordado um dia inteiro. Resolveu, pois, rerocillar o espirito
e o corpo, partindo a 6 de Jan eil'o de 1871 para S. Paulo a buscar,
para um diversão , tranquilliclade para o outro.
" Quantas recordações! archiva ell e em seus apontamentos,
quantas saudades! Depois de vinte e um annos tornava a ver e
- - - - - - - - --------_._._------.- ----
(,) Eis o final da extensa carLa ql.le o Dl'. Perdigão Malheiro diri-
gio ao marquez de S. VicenLe, devolvendo os proj ectos em que tão,
sobre os quaes pedira aquelle estadista a opinião do abalisado juris-
consulto:
« Desta succinta exposição das minhas idéas, deste esboço ligeiro
do meu plano (que pretendo desenvolver na terceira parte do meu
Ensaio), já concluirá V, Ex. que approvo muito as idéas capitaes dos
projectos. Mas, entendo que são deficientes em alguns pontos, de diffi-
ci! execução ou inefficacia em outros, e de ineonveniencias, sobretndo
pl'aLicas, em alguns . Além de que cu acho preferível que todos sejão
fundidos em um só, afim de qu' o systema e plano não seja truncado
pelo risco, que póde haver de cahil' algum dos projectos. Ha mesmo
ahi algumas disposições mais proprias de regulamentos, e que por-
tanto podem ser supprim idas no proj ecto que dev e ser lei, plincipal-
menLe desde que o governo ficar incumbido pela lei de os expedir,
pois ba implícita delegação legislativa, embora limitada. "
Prevaleceria esse parecer do Dl'. Perdigão Malheiro, por si só,
ou combinado com o de outra pessoa alüorisada? Ignoramos, O
certo é que um projecto uni co apresentárão os conselheiros de Es-
tado Nabuco de Araujo, visconde de Inhomerim e visconde de . 'apu-
cahy, sendo presente o mesmo marquez de S. Vicente originario
autor dos projectos confiados a essa com missão, sobre a extincção
da escravatura no Imperio (Discussão da reforma do Estado servil
na oomal'a dos deputados e no settado, parte 2a , appendice,rpag. 119.)
xc
a percorrer aqueIles lugares, onde havia passado parte de minha
mocidade. "
Outros experimentál'ão como elIe iguaes impressões; contem-
plárão melancolicos as placidas aguas do Tamanduateby e em vão
procmárão ao redor os companheiros dos prazeres natatol'ios de
outr'ora; alongárão a vista pela verdejante varzea do Braz, e, em
vez da tropa c:msada occultando sob densa cortina de pó o
horizonte, virão surgir de um cnnto desse borizonte um pennacho
de fumo, e nitrindo, bufando, olIegante, avançar o cavallo rlyna-
mico. Era o progresso, lIlas tambem o pl'esente por tão larga
margem separado do passado. Percorrêrão as ruas silenciosas de
outros tempos, então apenas perturbadas pelas estrondosas
vaias aos estudantes calomos, que, cheios de confusão e emba-
raço, maldizi:\o internamente as vermelhas e agudas pedras do
calçamento, contra as quaes topa vão sem tino, hoje cortadas
por varias linbas de bonds animando a viação publica. Parárão
commovidos á porta de conbecidas babitações, do fundo das quaes
não sabia mais nenbum echo amigo , nenbuma voz pl'azen-
teira a responder á jovial interpellação. Instinctivamente acu-
dirão-Ibes á memoria aquellas sentidas endecbas do grandiloquo
poeta de sua mocidnde, lamentando o tempo decol'l'ido e invo-
cando como consolação o esquecimento:
« Que vous ai-je done fait, ô mes jeunes années !
Pour m'avoir fui si vite eL vous être éloignées
Me eroyant satisfait I
Hélas I pour i'evenir m'apparaitre si belles,
Quand vous ne pouvez plus me prendre SUl' vos ailes,
Que vous ai-je done fait?
« Oh! quand ee doux passé, quand eet âge sans tàehe,
Avee sa robe blanehe oú notre amour s'attaehe,
Revient dans nos chemins,
On ~'y suspend, et puis que de larmes ameres
Sm' les lambeaux fiétris de vos jeunes chimeres,
Qui vous restent aux mains.
« Ollblions! oublions I Quand la j eunesse est morte,
Laissons nous emporter par l e vent qui l'emporte
A l'horizon obseur.
Rian ne reste de nous ; notre amvre est un problême,
L'homme, fll.utôme OlTallt, passe sans laisser máme
. Son ombr8 SUl' le mur. »
XCI

Ainda se acbava em S. Paulo o Dl'. Perdigão Malheiro, quando


succedeu a quéda do ministerio S. Vicente e a ascensão do gabi-
nete Rio Branco. O seu nome não figurou entr'e os novos secre-
tarios de Estado. Tinha idéas muit.o adiantadas; não convinha
por isso a sua prpsença no gabinete. Tal foi a explicação que Ibe
derão. Os apontamentos auto-biogr'apbicos, mencionando a razão
cla repulsa, são mudos sobre a fonte onde o escriptor' a bebeu.
E' de notar que a familia, e os amigos desconhecião o facto; só
delle forão sabedores por aquelles apontamentos, percebendo-se
pelo amargor da phrase que o registr'a quão fundo desgosto ca-
vou no peito do deputado mineiro o injusto conceito, que o afas-
tára do poder.
Assim devia ser. A ambição havia despertado naquella alma,
na appareucia indifferente a qualquer aspiração que a viesse per-
turbar efD sua normal quietitude, não como a define AlAeri no seu
livro sobre a Tymnnia, " poderoso aguilbão que incita os homens
a procurar os meios de elevar-se acima dos outros hompns e de
si proprios, ardente paixão que produz a um tempo não só os mais
gloriosos tentamens como os aLtentados os mais detestaveis, "
mas ambição contida oos limites dr sua mesma natureza, fria,
pacata, reservada, nutrindo desejos sem que o parecesse, não
buscaodo collocar-se em evidencia, e na penumbra de sua timidez
aguardando o raio de luz que vjpsse fazer desabrochar as suas
esperançõ1s.
A' semellrança, porém, do enfermo que descoohece o mal que
o corroe, patente a todas as vistas, e é o primeiro a fallar' nelle,
como se estivesse illeso, assim não perdia occasião de tocar no
capitulo das ambições, declarando que não as tinha, quP. já havia
pat'isado a idade propria, como se a paixão se subordinasse sempre
á condição do tempo e fosse méra imagem de rhetorica a rles-
cripção de picos ignivomos rodeados de neves .
Tocla a ambição se legitima pelo nobre fim a que tende. en-
tar-se nos conselhos da corôa, quando ha id6as a realizar,
projectos que a reflexão e o tempo amadurecêrão, planos accor'des
com as necessidades publicas, deve ser o aol1elo de todo o pa-
triota diplomado com o honroso titulo de representante da nação,
Nada ha nisso que censurar, embora a pretensão seja igual-
mente commum áquelles que, destituidos de merecimento
XCII

proprio. reputrtO-se pelo [acto de baver co nseguid o tmaspo!' os


bumbl'iles do parlamento, babilitad os para uma pasta, apparentão
summo interesse pelo bem publico, ve rdadeiro manto ele ,\nli s-
tben es, atl'ilvés de cujos buracos tl'ilnsparece o iatoleravel ol'gu-
lbo, a sêde de mando, o desejo de arranjar clientrla, a vaielade
de se fazer obedece r e a roB ce das uonras extraol'!l inalias.
Se, pois, o Dl'. Perdi eão Malb ei ro , gozando da estima e co nsi-
deração que a sisudez de seu camcle r c o inteJligenle desempenbo
do mandato legislativo in sp iravrtO a seus coUegas, acrerlilou que
esles, sem vislumbre de lisonja , o indicavão como faclor obrigado
de qualquer comb inaçrtO minislerial, nflo se Ib e eleve levlll' a mal
deixasse medrar urna aspiração consoante com aquelles mesmos
votos . Não os solicilúra, aceitava-os, como UllJa manifeslação
da opinião (*),
Parece-nos, porém, CJue a sua mesma habitu al circum 'pecção
devêra t61-0 premunido contra dir.eres sem consistencia, qui çá de
origem duvidosa como a falta de lodo o assignalamento in-
duz a crêr, que nem cbcgúrão a formar boato, sobre o qual se po-
desse formular jui7,o ou basear accusação. O (lleitor dos minis-
tros não nutriria maior afastamenlo por sua pessoa, do que por
qualquer outra em identidade de circumstanGias.
Faltão á declinatoria nos lermos emprestados elemenlos de
cred iIJilieladr., aJ:~ls faceis de enconlrar- se em individuo, que pejo
seu ca racter podesse pór em risc.o, na app li caç[io dessas mes-
mas suppostas iel éas aeliantad'ls, ,1S in slitui ções pulJli cas ou con-
trariaI' a marcha do gove rno. Não seria, porém, o caso; e quando
fo sse, ou havia o ultra-radica l r!e subordinar-se ao plano do gab i-
nele ou teria de reti ~a r- se. Taes se nos augurrlO as verdad eiras
nOl'mas consti lu cionacs.
Além de tuelo sabe-se que a maxima lib erdade é em re-
gra concedida ao organi sadol' elo gabinete na esco lha de com-
panbeiros. Frequentes e num e ro ~os são os exemp los i o munar-

(*) Não parece que elles muito se enganassem. Nos ar tigos


n ecr ologicos publicados por occasião da sua morte, varios jornaes
R ttribuirão á recusa de S LUL parte o não haver fei to parte de organi-
sações ministeriaes (Vide Ga,:::eta, ele Noticias e Ga,zeta, da, T arde ele 3
de Junho de 188 ), Revelação de G elo mesmo mez) .
A historia, porém, escrevia-se de outro modo, como verificamos.
XCIIl

clm Imlzi leir'o, com aquella magnanim idade que llie far. tamanba
lronra, e só a posteridade, dilatando-se através dos seculos a
fama de suas virtudes, saberá devidamente aqui latar, tem aco-
lbido nos consellros da corôa não poucos que uma desenfreada
paixão partidaria levál'a a enunciar-se com menos deferencia,
quer em re lação á sua mesma personalidade quer a de membros
dr. sua fam ilia.
Não haveria, portanto, razão sufficiente para uma excepção,
que Dão se justifica á primeir'a vista; o que tanto vale como du-
vidat, de sua exidtencia. A.s qualidades pessoaes que fazião 1'e-
commenclavel o nome do DI'. Perdigão, as suas opiniões monar-
chicas errLO assás notorias . e já dissemos, COIL.O advogado, da
casa imperial preslava com dedicaçfLO e ílelo serviços ao Impe-
rador e ~t sua família, extremes de todo o interesse.
Quando, porém, uma dessas singulares ab(!rrações da von-
tade soberana désse origem ao facto. a mesma bistoria poli-
lica das nações modem as abi estaria, par'a prova de quanto as
condições üspeciaes do momento deterll1inão uma solução, que
muitas vezes as aOllulla. Assim na França da restauraçfLO O m i-
nisterio Villete teve de aceitar o visconde deCbateaubriancl na
pasta de estrangeiros em substituição ao duque de Montmo-
rency, como o unico capaz de sel'yir de laço natul'al entre
a rracção rnonarcbicll. ela opposição e o gabinete, não obstante
a indisposição de Luiz XVIII, que jámais lhe pel'doára os seus
vehementes ataqueR contra Decazes, e de cuja memoria nunca se
V<lr'r'úrão aqueHas tremendas expressões - es cO?Tegou-lhe o pe no
sangue - cioso além disso como autor da Viagem a Coblentz rio
autor' do ltinerario de Pcwiz a Jel'usalem (-*) .
Tamuem são Lonbecidos os esforços que no paiz clas~ico do
constitucionalismo empregou o gmndc Piu em 1804 para conse-
guil' que:: Jor'ge JII !>e compenetrasse do seu plnno de reunir' pam
o serviço do Estado todos os grandes talenlos do Reino-Unido, e
vencesse a repugoancia em lldmittir o nome de Fox, for-
çando-o por isso a orgaui~ar o govel'Qo com os destroços do fraco
gabinete de Adclington. O papel de Fox. nessa conjunctura, diz
1000cl J\Iacaulay, foi admil'ilvel; conjurou nos amigos que pOílesseill

\,) Capefiguc, Ili.stoi,·e de la RestalHation, tomo a.


XCIV

de lado todas as considerações pessoaes, e declal'ou que havia de


sustentar com todas as suas forças, e de todo o seu coração, um
gabinete patriÇltico e capaz, ele que fÔl'a pessoalmente excluido.
Mais tarde lriumpbou do real capricbo a iuabalavel resolução de
lord Grenville, e Fox entrou pal'a o ministerio.
Taes lições presentes a um espirito menos impressionavel que
o do DI'. Perdigão Malbeiro, animal-o-bião a aguardar ensejo pro-
prio, em que o seu concul'so considerado imprescindivel. for-
çasse qualquer prevenção que porventura podes se existir. Se a
extrema concentração elo seu caracter não tolbesse durante a
vida confiar a algüm amigo a causa secreta de seu pezar, é bem
p08sivel fosse rastreada a verdade, e tálvez nessa mesma indole
melindrosa, pouco propria para suppol'tar as alterações da tempe-
'ratura politica se depararia explicação mais razoavel, do que a
insuflada pela intl'iga ou pela malevolencia (*).
Organisado na ausencia das camaras, o gabinete de 7 de Março
apresentou como programma de governo a faUa do tbrono, lida
na sessão de 3 de Maio, enunciando-se a respeito do elemento
servil de modo a não deixar duvida que o governo ia occupar-se
seriamente do assumpto. Os seguintes trechos erão assás expres-
sivos :
" Considerações ela maiol' imporlancia, aconselhão que a re-
forma sobre o estado servil não continue a sei' uma aspiração
nacional indefinida e Incerta.

(*) Póde-se provavelmente filial' a esta época de sua vida o senti-


mento que dictou as acerbas expressões contidas na seguinte verba
do testamento, escripto em 4 de Outubro de 1870:
« Recommendo á minha mulher que nada aceite o menos peça ao
governo deste paiz, ao Imperador e sua familia, a quem aliás tenho
prestado serviços com zelo, probidade e lealdade Injustiças e ingra-
tidões abundão nestes desgraçados tempos, quer entre pequenos,
quer entre grandes, mesmo Principe reinante. »
É de imaginar por esta diSposiçãO ' quão ulcerada se achava a alma
do testador, cuja sensibilidade media-se por igual á brandura de sua
linguagem. Quiçá tambem actuára em seu espirito a recordação do
insuccesso na pretendida pensão para a familia, obedecendo á re-
commendação paterna, como referimos a pag. 30. E' certo que nos
ultimos tempos, inhabilitado para o trabalho, muito se preoccupava
com as apertadas condições a que poderia ficar reduzido,
xcv

" E' tempo de resolvei' esta rrueiltão, a vossa esclarecida pru-


dencia sabrrá conciliar o reRpeito á propriedade existente com
esse meJhol'nrnenlo social, que re'luerem nossa civi]isação e alé
o interesse dos proprietarios.
" O govel'llo manifestar-vos-ha opportunnmente o seu pensa-
mento sobl'e as reformas pnl'a que tenho chamado a vossa
attenção. ))
A sessão legislativa annunciava-se solemne. De ha muito sc não
reunião os representantes da nação no dia marcado na consti-
tuição. Oministerio convocára particularmente os seus amigos para
que se achassem a postos na data aprazada. Dava-se como razão
a necessidade de concC'ssão de licença ao ]mperadol' para uma
viagem á Europa. Este motivo ou a natural curiosidade em co-
nhecer o programma de um gabinete formado no intervallo das
sessões, o certo é que a abertura das camaras realizou-se
no anno de 1871 justamente a 3 de Maio.
Poucos dias depois o governo, prlo orgão do ministl'o ela agri-
cultura, apresentou a sua proposta sobre o elemento servil, pOl'
não convir, segundo declarou no preamhulo, continuasse inele-
cisa a solução da questão, urgir elirigil-a com acerto por causa ela
fortuna publica e particular. Foi a uma eom:nissão de cinco
membros, todos sem duvida muito distinctos, mas entl'e os quaes
não faria dispôl' 6gura o autor da ESC1'aviclão no Brazil.
Entretanto, a princeza -ímper'ial prestára ]UI'alllento como re-
gente do imperio peI'ante a assembléa geral reunida, na sessão de
20 de Maio . Era uma coujunctura difficil. A solução da magna
questão, para a qunl o gabinete dera um largo passo, a muitos se
afigurava ele consequenci as desastro~as para o futuro. De pre-
sente trouxera a scisão do pnrtido conservador, que passou para a
historia sob a designação c~racteristica de dissidencia. A apre-
sentação de uma emenda ú resposta ' á ralla do tl1l'ono pOl' seu
chefe mais autorisado o consell1eil"O Paulioo, propondo uma
I'eclacção que nBO determinasse compromi. sos e podesse ser'
adoptada pOl' todos, extremou na votação os dous campos. O
ministerio reuni o sessenta e tres votos contra a emenda; em
favor desta pronunciárão-se trinta e cinco deputados (* i.

(*) Vide Ânnaes ParI" 1871, tomo 2°, sessão de 10 de Junho,

)
XCVI

Não cabe nos limites deste modesto traball:lO, des tinado a pel'-
pet.ual' os serviços de um ben"merito da pateia, o histOl'ico do
que foi a dissidencia e de suas lutas com o governo. Pam ta-
manha empreza fallecem-nos as forças; outros mais capazes a
tentarMo Resta-nos somente aco mpanbar os movimentos daquelle
conspicuo cidadão na campanlla empenhada contm o mini sterio,
em que foi um dos mais denodados combatentes, quando pal'ccia
talhado para ser um dos mais valiosos sustentaculo . Assim pen-
savflO muitos, e pOl' vezes da tribuna lh 'o manifestárão, dando
lugal' a que elle se defendesse , co mo não tardaremos a vêl'.
Começou o tiroteio na sessão de 10 de Junbo. Sob pl'etex'Lo de
que o governo havia de ter es tudos feitos para habilitar-se a apre-
sentaI' a proposta, elte fundamentou em bl'eve discUI'SO um reque-
rim ento pedindo copia dos trabalbos elo conselho de Estado,
pareceres e opiniões dos pl'esidentes de pl'ovincia, omcios, e infol'-
mações dos age ntes diplomaticos e co nsulares do Imperio, sobl'e
o assumpto.
Confessou que, apCílat' lIe algulls es ludos, ainda precisa\ra me-
ditaI' sobre a materia, tão co mplexa, com plicada e difficil lhe pa-
recia; mas deciarava;i ca mara es tar co m animo inteil'amente des-
prevenido e calmo, não se ndo levado pOI' sentimentalismo nem
enthusiasmo. Que a simples apresentação da proposta já tinha
abalado a sociedade em seus fu ndamentos, a propl'iedade agl'i-
cola acb.ava-se es tremecida e os lavradores ameaçados, não so na
sua propriedade, mas ainda em sua segurança .
Saltio-Ib.e ao encontro o ministro da agl'icultura, conselb.eiro
Tb.eodol'o Machado, não para Oppól'-se ~l passagem do requel'i-
mento , mas pal'a contestar 1I0u vesse falta de madureza em apre-
sentaI' o gOVCl'110 o proj ecto sobl'e o elemento sCl'vil , qu es tão que
desde que f0m no antel'iol' tl'azida ao seio da camal'a a nenhum
brazileiro podia seI' indUIerente. Que os terl'Ol'es manifestados pelo
deputado mineil'q erão chimericos e em todo o caso exagerados,
,sendo elle o menos competente para levantar a poss ibilidad e
de taes terl'ol'es , pois apl'esentár'a como solução prudente a liber-
dade do ventre e a in ge nuidade dos nascituros, além de outras
medidas mais accentuadas que as da proposta.
Sustentou o I'equerim ento o DI' . Andrade Figueira, additando-o;
e, com aquelJe vigor de logica que já naquelle tempo o fazia I'es-
XCVII

ppitaveJ como um dos mais temiveis dial ec ticos, fez vêl' que, longe
de podeI' enx.ergar-se incompetencia na exigencia dos esclart'ci-
mentos prt'lendidos pOI' seu autor, havia pelo contrario a maiol'
competencia, pois fôl'a elle quem mais do que ninguem empl'e-
hcnr1êra estudos especiaes a respeito da questão: era portanto o
mais competente para apreciar a extensão desses estudos, assim
como para accusal' a falta de dados; era exactamente aquelle
qu e mais compulsál'a o docum6ntos e pôde sondar o abysmo
das incertezas da questão e a falta completa de esclarecimentos,
o mais competente para exigil-ns, para indicar os que se fazião
precisos, assim como o mais competente para saber quaes os es-
tudos feitOs.
Não decorrérão muitos dias desse mesmo mez , e pedia licença
o relator da commissão especial, monsenhor Pinto de Campos pum
lêr o resper.tivo parecer,que,seja quem fosse o seu autol', um hos-
pede illu tre, (*) como se disse no tempo , com a collaboração dos
membros da comlllissão, ou sem ella, representa um documento
de incontcstavel valol' , não sabendo o que mais se de\"a admi-
raI' nelle, a nuidez e clegancia do estylo, ou a elevação das id éas,
prendendo-s (~ a variadas considl'rações sociaes e economicas.
Ocioso se toma di7.er que o nome do DI'. Perdigão Malbeil'o fóra
neJle honrosamente rem emorado , tanto pelo discUl'so proferido
no Instituto dos advogados, como peja sua obra A Escravidão no
Bmzil, classi (lcada de excellente (**).
Nova escul'amuça se travou antes de empenhada a batnlba
campal pretendendo o deputado Ferreim Vianna, na sessão de 10
de Julho, fosse preferido pal'a a di scussão o projecto da co mmis-
são especial, olI"I'ecido na spssão do anno anterior, o que moti-
vou um discurso do presidente do conselho visconde do Rio
Branco, oppondo-se.

(") Este hospede illn :;tre era o finado conselheiro José Feliciano de
Castilho a quem a ~ letras tanto devem como eximio cultor, que
dellas sempre fóra, e muito se distinguira na imprensa j ornalística
defend endo o visconde do Rio Branco, sob o pseudonymo EpllIminon-
das, a proposito do conveuio de 2) de Fevereiro, e mais tarde a po-
litica do gabinete de 7 de Março sob o de Gincirz,natus.
(") Vide Annaes Pa,rl ., sessão de 30 de Junho de 1871, tomo 20 ,
png. 227.
7-CONSULTAS
XCVIII

Foi o começo da iugente Juta.


De um lado, :i. frente de urna maioria ded icada, o pl'cclal'o es-
tadista devassando, com seus olbos de aguia o futUl'O, lendo
nello em ~u rcos cal'actcres nom e da patria engmndecida pelo
tt'iumpbo da idéa emancipadora, tal co mo a concebêt'a o pt'ojecto
ministerial, animado de confiança 11 0 crite rio e espi rito pbilan-
tropico de seus compatriotas, t:ujos intel'esses con~u lta va, sem
detrim ento do sagrado direito ue libel'(larle ; de Outl'O, uma op-
posi ção ri ca (le illustra ção, bebendo, pOI'ém , inspimções rnn
um patri otismo temeroso, I'eceiando pOl' esse mes mu futul'o fju e
se lh e ail Lu lhava prenh e llt , cl e .'l a ~ Ll' es ,: t:J lal1Ji (hd e~ , t:alculalldo
com as ill1paciencias da raça submi "a mill contenLe com essc
bmx.oleal' de aurora, a qu e não succederia esplenditlo dia, e dahi
as ·apprehensões el e dew rdens, de desorganisação do trabalho,
de completa ruina, em summa .
El'a de vêl-o , Anteo na tribuna, ganhando nonl s forças sempre
que a ella Locava : seren o, calmo, risonho, no meio do fogo cru-
zado de apat'les, qu e não conseguião pCI'lurbal-o ; pl'ompto lia
replica, chistoso sem sarcólsmo , il'onico sc m o[etlllcl', dom inand o
a asscmbléa pela imponencia do vulto ; em um dia congratuhlQ-
do-sc com ella pelo ardor que mos Lravão os interrupto res, symp-
toma de que o systema representativo ia recebe r um grande pro-
grcsso com as mutuas reclamações; u'outro , declill'ando aos que
procuravão j":lzer-li.Je perder o fio do discurso, que fa lI ava para a
maioria, para os espectádores, que podiflO não prestar-lhe atten-
ção, mas que não o intelTompessem ; om rendelldo bomenagem á
iniciali va parlamentar, mas susten tando o direi to tio govemo dl'
apresentar so lu ção para as questões que procurasse resolvei'; ora
tentando chamar a opposição a compa rtilhar da gloria da reforma,
aS8f' verando que , se a houvesse na. adopção das med idas no sen-
tido da proposta, eSS·l gloria não pe rtenceria ao mini~terio exclu-
sivamentc, ma s á cnrnara , a todos os flue ti nb ão tomado a inicia··
ti" 'l para esse grande melhoramento , acial, que scria glorirt dc
todos, gloria verdadeiramente uaciomtl .
Esse papel de reformadot" quP. requel'Ía forças verdadeira-
mente herculeas) o vi scondc do Rio J3ranco u desempcnhou com
uma supl' l'iol'ic1ac1 c in disputa\7cl. NllO !ta negai-o. ~la i s de um de
XCIX

cennio decol'l'ído depois da promulgação da leí, os seus fructos


abi estão pal'a confirmai' a sabedoria de suas pI'evisões e dar bon-
rosa testemunho do caracter brazileiro, avantajando -se, segundo
dados estatísticos, a liberalidade pal'ticular no movimento eman-
cipador aos l'esultad03 obtidos pelo emprego do furrdo de eman-
cipação. Prova mais significativa de quanto a população , em ye7.
de ser hostil, auxiliára e continúa a auxiliar efficazmente aquelle
movimento, não podia dai'· se.
Assim o vaticinio daquelles que auguravão toda a sorte de m a-
les, se passasse a reforma, não se realizou; os escravos con tí-
nuárão a trabalhal' pal"l os seuhOi'es, certos de que a geração que
se seguisse havia de reger-se por outros pl'incipios, mais confor-
mes com os da bumanidade e de uma adiantada civilisação;
os senhores deixãrão de os considel'Ul' méro s instrum entos, que
não terirLO mais de engendrai' Outl'OS novos instrumentos, p:1I'3
eleva-los ao nivel de forças productol'3S, cujo c1esapparecímento
em futuro mais ou menos remoto obl'igava a cogitUl' nos meios
dI' subtituição em condi ções mui diversas de acquisição e sa lal'io.
Infelizmente o DI'. Pel'cligão Malbciro pertencia ao numero
dos que, vendo a pedl'il destacar-se do alto da montanba , aCI'c-
dítárão víria l'ol3ndo a es magar na passagem povoações ador-
mecidas em uma tl'<lIlquillidnde secular, ora despertas de sobl'e-
salto. Não previa que o sulco por p.lla aberto no solo seria, á
semelhança do qur. rasga o arado, benefico, auspicioso, favore-
cendo a sementeiru,da qual nascem opulentos e formosos fructos.
Cumpria-lhe, porém, justificar a posição hostil que assumil'U
em face da proposta do governo, explicar as razõ es de divergen-
cia, de modo a eximir-se do laMa ele contrildictorio, que lh e era
assacado. Elle o fez na sessão de 12 ele Julho , pronunciando um
notavel eliSCUI'SO, no qual expõz francamente os motivos que elic-
tál'ão o seu pl'oceelimento. São todos honrosos para o seu caracter,
embora não abonassem o seu tino }Jolilico , nem demonstrassem
pleno conhecimento do.., bom ens e (las causas do seu puiz.
Agmdecendo os louvores que as comm issões es peciaes lhe pro-
digalisárão, começou por declarar que nessa questão, como
em quulquel' outro de intel'esse ou conveniencia publica jámais
seria guiado pelo capricho, mas havia de faUar segundo as suas
c

nctuaE'S convicçõE's, não appl'ovando que o governo tivesse apre-


sentado a proposta em discussão em occasião menos opportuna
por dous fundamentos capitaes : 10 , pelo estado político em qUE:'
o paiz em breve teria de achar-se e effectivamente se ach~va;
20 , economico e de segurança.
Quanto ao pl'imeiro, eril sabido que poucos dias anles se tinha
apresentado a proposta de autorisa!(ão ao Imperador para que
podcssc sabir do Imperio, contra a qual elle votára pOl' lh e pal'c-
CC I' que nfLo era em sua ausencia que semelbante assumpto se
d cvl~ I'a enterreirar, sob retudo por parle do govern o.
Quanto ao estado finan eeiro, eco nomico E' de seg uran çil , ti nha
a ponderar qu e o paiz não se aclta va ainda em cond ições de sup-
pOl'tar uma reforma como a que se continha na proposta, provada
pela fa Ua do lbl'ono e relatol'io elo mioisterio da faze nda a dimi-
nuição da renda puiJ.lic<l, diz endo-se m,ús quc o pres umido saldo
de 10 .000:000$ desapp,lI'ecêr<l , orçanuo a ües peza lí quidacla da
guel'I'U do Paraguay pOl' 386.000:000$ , elev ando-se a divida pu-
hlica a 640.000:000$, cuj o CI'viço , isto é, .iur'os c amorti-
zação, absorvia um tcrço da l'enrIa do Estado , cn lculnrla
em 90.000:000$000 .
Dcmonstrou mai s 'lue o estado da lavoul'U não era florescente ,
tendo diminuido a producção elo café e caminhando a cultura elo
algoclfLO para a decadencia, aggra vada ai nda a sOlte ela agricul-
tura pela falta de In'aços e de capi taes , c o co mmel'cio ligado á
lavoura resentindo-se, como ella, da cr'ise de 1864, agl'avada
pela guerTCt do Paraguay e franco-pl'ussiana; que tendo a pro-
prieuade agricola sol'frido uma ex traor'dinill'ia depreciação e
igualmente o credito agricola, os lavl'adores, não podendo obter
com a mesma facilidade os capitacs de que carecião dos bancos,
havião de reCOl'l'cr a palticulal'cs com muito maiol'es onus e ve-
xames.
' Quanto á segn rança individual , o relatorio do ministl'o ela jus-
tiça declarava que el'a nuUa a pl'evcnçi1o dos crimes , nad;l li son-
geiro uque Jle estado, e de todo insufficienle a força poli-
ciai.
Pergunlou que motivo poderoso leve o governo para ir
apl'C'scntar a sua proposta, quando já havia um projecto elabo-
CI

rado pela illustre commissãg especial da camara, no anno ante-


rior, sobre a mesma questão, Que não lhe via razão bastante: ao
contrario, a apresentação da proposta pelo modo por que foi
feita, nos ter'mos em que se acbava concebida, pl'oduzio logo um
grande mal: não demonstrou senão o iutnnto de retirm'·se á ca-
mara essa tal ou qual gloria da iniciativa de semelbante medida,
como succedéra no primeiro reinado em 1823, evitando-se que
a nossa primeira assemhléa legislativa confeccionasse e promul-
gasse a constituição de que esta va incumbida, entretanto que mui
diverso fÓl'a o proceder do minister'io de 29 de Setp.mbro de '1850,
com relação ao trafico de africanos, pois deixára de apresentar
projecto seu para buscaI' um projecto vindo do senado em 1837
ao qual fez as as modificações que entendeu, sendo depois con-
vertido em lei,
Tocou levemente em uma questão, que classificou de muito
melindrosa, qual a da rivalidade entre o norte e o sul, demons-
trada por occasião da eleição da commissão especial, pronunciada
de modo mais daro por occasião da votação da resposta á [alia
do tbrono; que, em relação ao assumpto do que se tratava, o
sul, comprebendendo as provincias centraes, tinba muito maior
numero de escravos, e conseguintemente maior somma de in-
teresses na questão, podendo o norte por isso ser mais facil nas
concessões; que o mal que se produzisse no sul bavia necessaria-
mente de repercutir no norte, que portanto não bavia razão para
acolher mal as representações contra a proposta, dizer.do-se que
eru revottcb de lavmd01'es; que elie pedia encarecidamente que
fossem deixados de parte esses ciumes, pois todos erão irmãos e
membros da mesma communbão política, e que se quizesse
estabr.lecer comparação havia a caroara de ver que, quanto á
producção, o norte não concorria para as despezas do Estado do
mesmo modo que o sul.
Mostrou a superioridade numerica dos escravos das tres pl'O-
vincias do sul, Rio de Janeiro, Minas e S. Paulo, que represen-
tão quasi metade dos direitos de exportação do lmperio, con-
cluindo que, se nessas províncias houvesse algum abalo que
alterasse o tl'abalbo agricola, a renda tel'ia dp. solfrer de um modo
espantoso, não havendo donde tirar recursos para as despezas do
CIl

Estado e mesmo para os pagamentos promettidos na pro-


posta.
I! Senhores, disse o orador, eu não fallo assim porque seja es-
cravagista, não; nesta questão faço grande violencia ao meu co-
ração; mas devo fazel-o, porque quero que prevall'ça a
razão (apoiados). Não se tl'ata de uma disr.ussão philosophica ;
não se trata de divagar no campo do abstracto e da metapbysica;
não se trata de discol'l'el' sobre principios religiosos, sobre prin-
cipios philosopbicos, do dil'eito natUl'al, de philosopbia do di-
reito, etc.; não se trata de alguma destas, trata-se do seguinte:
admiltida a justiça, conveniencia e necessidade da extincção da
escravidão, quaes os meios pam se conseguir 'este fim de modo
o menos inconveniente que sei' possa? Eis a unica questão, mas
questão difficilima. "
Era o começo da justificação do IaM o de incoberencia que lhe
fÔl'a atirado, e na qual entrou francamente depois de invocar as
representações do commercio e da J<lvoura, se m càr politica,
adversos ao pl'ojecto do governo, as mesmas opiniões dos mem-
bros do gabin ete, inclusive a do proprio pl'esidente do conselho,
cautelosas e prudentes até bem pouco tempo, censmando o pro-
cedimento que elle tivera no senado, parecendo não confiai' bas-
tante no apoio do partido conservador.
Assim se exprimio o precavido omdor:
" r ão só naquillo que tenho escripto e publicado estão os
meus ~ent imento s, o meu coração e os me u'j melbores desejos,
como ainda nesta camara, nas sessões pl'l'Ceüentes, c) demons-
trei; sempre que ti ve de falIal' nesta questão eu o fiz com todo o
desembaraço. Não recuei ; estou nos mesmos principios, no
mesmo proposito; mantenho as mesmas idéas, aguardando, po-
rém, a sua opportunidade.
. " Quanto a actos, é difficil, ú melindroso, serú censuravel e
cu mesmo censuro o ter de produzil-os. Pela minha parte, eu não
sou emancipado!' de escravos alheios.
I! Comecei por libertar os meus (apoiados) ; tenho-os em mi-
nba companhia. Fiz baptizUl' livres todas as crianças e as faço
educar. Libertei todos os do sexo feminino.
" Alguns que ainda tenho são elo sexo 111asculino, a quem eil-
em
lou dando a devida edueaçfLO, tanto quanto se pór1e dar a um es-
cravo neste paiz, afim de que, quando lhes conceda a liberdade
em idade conveniente (co mo é minba inten rão) eIles possão
acbar em si recul'sos para Vlverem, e sel'cm uteis a si, ~ seus se-
melbantes e á sociedade (muito bem!).
(( fi: o meu collega e amigo, deputado pelo quarto districto do
Rio de Jaoeil'o, o SI'. DI'. Andrade Figueira, que tem sido taxado
rle mais resistente á idéa da emancipação, elle ahi es tá , per-
dôe-me S. Ex. 'Tue o diga em sua presE\nça, respond e com o facto
de haver libertarIo todos os escravo>: qu e Ibe coubel'fio em he-
rança (apoiados, muito bem !)
(( Eis a quem querem taxar de escruvagistas ! tisnar co m se-
melbante stygma!
" Agora, seohores, cbego ao ponto a que se referia o nobre
ministro du marinha, á minha incoherencia.
(( Pelo que acabo de dizer já vêm os meus c.ollegas que não es-
tou incoherente (apoiados). Estou perfeitamente coberente.
Quanto á idéa - fim - que 6 a extincção ela escl'avirlão, es ta-
mos todos de accôrclo. Quantos aos meios, mais adiante desen-
volverei este ponto.
(( Mas, senhores, se a pretendida incoherencia é com relaçào
ás obras que publiquei, tenho a dizer que rUas são tra!3albos de
gabinete, são livros de estudo e de doutrina: e quem não sabe
a distancia que vai de um livro de es tudo e de doutrina, para
um trabalbo de legislador? (Apoiados. T7'ocão-se varios apm"-
tes e ent1'e elles 'wn do minist7'o (hL rna1'inha. O p7'esidente 1'eclarna
attenção).
(( Apenas começo a defend er-me de uma grave accusação de
incoherencia, sou logo interrompido! Eu não inte1'l'0mpo, gósto
'de ouvir o pensamento inteiro daqueilr. que falia. Sem om'ir o
pensamento inteiro, não posso fazer' justiça. Peço a mesma
igualdade ou reciprocidade . Estou tl'anquillo nesta questão.
(( A accusação foi muito grave. Acho-me debaixo desta accu-
sação dcsde a discussflO do voto de graças, onde não tive occa-
sião de defender-me por se haver logo encerrado a discussão.
" Peço por quem são que me deixem defender. Sou accusado
de incoberencja e eu ba pouco não accusei os ministros de in-
CIV

coherencia; disse que tinlJão sido vencidos pela idéa abolicio-


nista.
({ Estou com os nobres ministros quanto ao fim; divir'jo,
porém, quanto aos meios por motivos muito ponderosos que
hei de expÔr.
({ Senhores, não se póde argumentar daquillo que se escreveu
como Lrabalh,) de gabinete, de estudo e de doutrina, para
aquillo que se deve fazer como representante ela nação, como
legislador ou como podeL'. Vai Ullla distancia immensa. E se os
nobres deputados quizerem levar as consequencias tão longe,
havião de achar naquelle meu livro outras soluções, v. gr'., a
emancipação immediata, a emancipação diferida , etc. São .ques-
tões que estudei e ahi discuti , mostrando as suas vantagens
e desvantagens, convenientes e inconvenientes, conforme os
es tudos até então feitos.
({ Como deputado , representante da nação, que fi)\ eu no anno
passado? Desde qu e o governo nos deixou a iniciativa, apre-
sentl'i alguns projl'ctos que olfereci como elementos de estudo
somente; mas com tal cautela e éom tal prudencia, que a idéa
ca pit31 ou fundamental da proposta do gove rno eu a consignei
em um projecto separado, e declarei que f'~sn questão era gra-
vissima, e por isso eu a apl'esentava em projecto distincto (a que
dei o n. 3) afim de que, se a ca mara entendl' s:,(~ flue não o devia
admittir, nem mesmo á discussão, o fizesse; linha outros que
tambem olIercce (ns. 2 e 4), podendo até, cn:l)O pra e é seu di-
l'eito, não admittiL' um só dell es , adinl-os ou l'egL~i tal os (*).
({ E nestes projectos (us. 2 e 1) cu ainda me acuava de ac-
córdo com o que disse aqui em 1869, quando discuti o projecto
ue '1862, do muito distin cto Sr. Silveim da Motta, hoje a lei
ele J 5 de Setembro de 1869. Eu declarei então franca e positi-
vamente que preferia as medidas indirectas, accrescentando que
eles tas ainda algumas me não parecião applicaveis por em-
quanto,
({ Ora, o proj ec to n. 2 contém medidas indirectas, apenas

(,) O teor desses projectos acha-se tmnscripto a pago 65 deste tra-


balho,
c'V

modificilçi/es do direito civil j e neste mesmo projecto está im-


plicitamente a idéa contrill'ia á do nascimento livre ou ventl'e
livre.
({ Não ha, pol'tanto, incobel'encia, nem póde baver, se eu
boje me afastar até da idéa fundamefltal da proposta. Tenho
motivos ponderosos para o fil7.01'.
({ Disse-se que eu me I'etl'ilb i e I'ecuei da idéa. Foi outl'a
accusação que me foi lilnçilda.
" Senbore:il, eu não recuei da idéa j pelo contl'ario, tremo por
ella.
" Este projecto já produzi o mnito mal,. e se rÓI' constituído
em lei, eu não sei até que ponto chegaráõ 03 males que delle
podem vil' (apoiados). ·
« Eis o que me aterra j eis pOl'que desde a mesma noite em
que aqui foi lida a proposta, eu me vi forçildo a resistir.
({ Aquell a pl'oposta contém todos os systemas conllecidos de
emancipação: medidas pl'eparatol'i as (matricu la, etc.), med idas
indirectas (modificações no direito), medidas quasi directas
(alronias mediante certas garantias), Illedidas dÍl'ectas (lIasci-
mento livl'e, alforrias forçadas, resgate forçildo ), a emancipação
em massa e immcdiata (dos escravos da naçflo e tia corôa) !
({ Abi estão tocloa os systemas, fl isto acompanbado de admi-
l1iculos taes, de il1tel'venção tias autol'Ídadcs no domicilio, nas
casas e fazendas, a pretexto de protegel'l'm e garant:rem os li-
bertos c crias, que foi grande o terror espalhado logo por esta
provincia e q Uf' RP. vai propnganno pelo Imperio (apoiados e não
apoiados).
" Eis as l'U~úes que tive para desde logo me rctrabirj e pal'a,
em vez de lI1e cbeg<1l' ao lado iluxiliador ou defensor do govel'Oo ,
que se Illostl'll assim tão adiantarlo, eu procurei abrigo no unico
que restava, dos mais pl'Udentes, dos t.ímidos.
({ Eis a razão porque eu me acho com os collegils di vergentes .•
Essas expressões repassadas de uma nobre altivez e digua
franqueza revelão claramente o fundo do seu pensamento preza
de sinistras apprehcnsões sobre as medidas consignadas no pro-
jecto Não repurliára as suas iLléas j aCl'l!ditava, porém, pl'eula-
tura e arriscada a applicação pratica que de algumas dellas se
cvr

pretendesse far. ar .: prova de que o terreno que calcava só lhe


('l'a familiar pelo lado theorico. Era um sabio sahido do fundo
de seu gabinete. con lJ ecencto os hom ens pelos li vros , que não
pela experiencia , apl'zar de aflil'lnal' por mais de uma vez o
contrario , simples pl'esumpção que fazia lembrar a anecdota quo
se conta de Tbiers, pretendendo em corta occasião se i' BUlis
fino que Luiz Pbilippe: « rós vos enganais, replicou u rei ; se o
fosseis nflo o diricis. " Ligou a maior importancia ás manifes-
tações da imprensa, ao cardum e de ['eprcsentaçõl's qur. diaria-
mente subião como u:na onda ameaçadora ú baITa da camara,
á liga que val'ios faz endcil'Os bavião fOl'maclo para conjmar a
adopção das med idas do governo ; tud o isso ell e interpl'etou co mo
o voto da opinião pub li ca, e, sem atteotar nas condiçúes eSl' e-
cialissimus da terra em que vivelnos e ll<1S oscillaçúes da mesma
opiuião, lançou se convencid o entre os terl'Oristas,
Na continuação do seu discurso pro vou co m o exemp lo tinIdo
da hi storia de povos, entre os quues ex istil'a a escl'avidão , qu el'
na antiguidade, quer nos tempos model'l1os, que ella não fora
abolida ele cbofre i que entre nós em 1823 a id éa da aholi ção,
mas lenta e gradual , tinha sido aventada pela constituinte, que
a cons ignára 11 o se u proj ecto de constilui~üo e na Lei de 20
de Outubro de '1823, seo do esta lambem a idéa que elle
desejava vê[' cons ignada nu proposta , e não as medidas violentas
nclla contidas.
Reivindicou para aquella assembléa a gloria da idéa abolicio-
ni sta, pois foi quem no Brar.il leve primeiro a ini cíativa, fazendo
a e1la o seu ca minho, alé que ultimamente eotl'iÍra oa téla da
discussão pal'lamenlar, devendo caber a glori a da execução
áquelle, que tivesse a felicidade de fazer a reforma em termos
Ilabris.
Aiuda urn a ver. acceutuou a sua op inifw so1.)I'o o 1l10vimeu Lo
. emancipador, de modo a Dão deixa r duvida quanto á sinceridade
de sentimentos e dedicação pela grand e causa da emancipação,
objecto de iDcnssautes cuidados, medita~ão c estudo, expressan-
do-se por cs ta róI' fi a :
" Senhores, tem-se fallado muito contra a propaganda aboli-
cion ista, e usa-se da cxp retiSflO lJ/'opaganda , p/'opagand'ista, com
CVIl

certo despl'ezo, como nos Estados-Unidos se cbamavão 11eg1'O-


philos os emancipadores, os quaes erão em favor da liberdade,
os abolicionistas.
" Senbores, a idóa abolicionista é a mais generosa, a mais
nobre, a mais elevada de que este seculo jámais se podel'á glo-
riar na bistoria (apoiados).
" Não de modo a que esta gloria repouse sobre um pedestal
ou monumento de cmneos, mas sim sobre o verdadeiro progresso
da sociedade, sobre o verdadeiro desenvolvimento da civilisação
do (Jaiz . Esta deve ser a unica e verdadeira gloria a aspirar, a
gloria que resulta dos processos pacificos, e não a glOl'ia dos
conqu istadores, dos exte rminadol'es. Não se deve tratar de ex-
tinguir o escravo; deve-se tmtar de extinguir a escravidão.
" Serão propagandistas, no sentido ironico, aquelles que de má
fé estivel'em quanto a esta idéa, o que não posso comprebender.
Mas aquelles que estão de boa fé, como totlos nós, não podem
sei' taxados e injuriados por semelbante fórma.
" Seria preciso desconhecer que ha ahi não só a idéa pbilo-
sopbica, mas ainda o principio religio60, o da igualdade e [ra-
temidade dOR bomens, prégado por Cbristo, aquelle que pela
boca de S. Paulo disse: "Non est servus neque tiver vos omnes
tbnum est'is 'in C11'l'isto lem. " (JJfwito bem.)
" E' neste sentido que me boOl'o de SQr ab0licionista, de ser
mesmo propagandista; mas tenbo dito, e repito um sem numero
de vezes, não quero sacl'ifir.ar o grandioso, o elevado , o nobre
desta idéa , a generoso , o santo della, sacriucal' tudo isto, adop-
tando medidas inconven ientes, exageradas, que possão dar um
resultado desastroso. Tal é a minba convicção. li
Effectivamente adstricto como estava por força de sua natureza
a só adoptar medidas de prudencia, procUl'ando evitar tudo quanto
lhe parecia extremos, affirmou que não se podia resolver a
questão por nenhum principio absoluto, pois, partindo daquelle
que pel'ante a philosopbia I'('conhece a injustiça da escravidão, a
consequencia seria a emancipação immediata dos escravos, com
a obrigação aos senhores de pagar-lhes os serviços preRtados.
Parallelamente repellia o principio do nascimento 'livre, consa-
grado na proposta, por importar injustiça relativa, supportanrlo o
CVIII

escravo mais facilmente a injustiça absoluta em que vive, do que


a relativa em ~uc fosse collocado por essa ou outra solução,
injusti~a sempre adversa e odiada, Accrescentou que nem a
questão podia rpsolver-se pelo pI'incipio rigoroso de nosso direito
positivo, pois envolveria a execução rigorosa da Lei de 7 de No-
vembro de 1831, solução que viria provocaI' geral conD.agração
e quem sabe se pretensões do estrangeiro, sendo notoria a con-
fusão de datas de acquisição da propripdade servil.
Quanto aos meios, extel'11OU o seu pensameuto nestes termos:
n Ha tres soluções para esta questão:

n 1n, emancipação immediata, gel'a! e prompta, Creio que


sobre psta, tOltÜ1W qucestio, pOl'que estamos todos de accórdo
em não acpital-a na actualidade,
n 2", emancipação dc{eTida, isto é, para uma certa época I

porém simultanea,
" Crcio scr esta unia idéa a que int'elir.menle tenho visto em
algumas dessas repr6sentações de fazendeiros prestar-se adbesão ;
mas, Ll0 meu entendei', esses fazendeiros não medem o alcanr.e
de semelhante providencia (apoiados), A cmancipação deferida
ou a pl'azo equivale ti emancipação immediata (apoiados) , Assim
o tem sido em todas as colon ias onde se tentou este systemíl ,
Nunca o esr.ravo esperou o PI'ólZO que se marcou (apoiadosJ,salvo
se o prazo róI' tão curto, de "eis mezes ou um anno, qne eIle
possa resignar-se a esperar, 'abe-se quanto é sotTrrgo peja
liberdade, "
Fazendo exclusão desses dous "y"temas, entendia o ol'lldor 4uc
se devia repellil' qualqucl' outro que admittísse medidas adianta-
tadas, directafl e exngeradas, violentas, um concurso ele tantas
Jll'ovidcncias, que dessell1 ou pndessem daI' em I'esu ltado os mes-
mos, senão maiol'es males, e em isso o que l'eceiava da accu-
mulação de prov idencias ex.aradas na proposta do governo, Na
sua opinião a actuaJidade só podia admiUir o terceiro systema :
emancipaf'õ'o successiva ou gradual, 4ue se prestava a tantas solu-
ções quantas podião !:ler as di versas combmações, segundo os di·
versos elementos,
" E' preciso, t!i~i:ie, allender ás cÍl'cumslancias financeiras,
cconomicas e políticas do paiz, da lavoura, do commercio, da in-
CIX

clustl'ilJ, da "egUl'ança, como já fiz era natal' a pl'incipio; é PI'l' -


ciso attendel' á distribuição da população livre e servil, ter em
linba de conta estes e outl'OS elementos estatisticos, de modo
que, pal'ecendo innocenle uma medida para cerla localidade, não
vá produzir mal, ou , podendo pl'oduzir, se n:io vá estendel' a ou-
tras loca lidades e aggraval-o.
" Aquillo que, pai' exemp!o, se poderia razer em rela ção ao
Amazona", que tem apenas quillhentos e oitenla e um eSCl'avus,
ao Ceara que tem lrint.l mil, e cuja pl'incipal industl'ia quasi não
depend e dellL's, é evidente qu e se póde faz el' em relação ao Rio
de Janeiro, que tem quatl'ocenlos mil, á Bahia, que tem duzentos
mil, a Pernambuco, que tem duzentos mil, a Minas , que tem tre-
zentos mil, a ". Paulo , e que deJles ainda necessilão sem con-
testa ção, e assim por diante (apoiados) .
" E' preciso tambem allencler ás condições em que se acbão
os escravos, em que pl'oporçào co nCO l'l'em para a pl'Oducção, afim
de que as medidas a tomar nào vão estancar as fonte s de pl'Oduc-
çào, retirando do trabalho os illstl'UlUeutos delle de 1Il0do incon-
veniente ou em occasião inopportulla .
" E' preciso olhar para as conrl içúes de mOl'alidadc dos esta··
belecimentos, ver a proporção em que eslflO a mulh eres escra-
vas, o seu estado, etc.
" E' pl'eciso ver tambem como está distribuida 11 população
servil em celta zona do Imperio, de modo que se houver leva nte,
insurreição ou tentativa del/es em algum ponto, não seja tão ra-
cil propagar·se pul' muitas pl'Ovincias reunidas: a Bahia, por
exemplo, que tem um grande numero de escravus, nào está
livre do perigo.
" R' preciso olhar tambem aos nossos costumes' não ha paiz
no mundo em que os escl'avos sejão tào bem tratados como no
Bra;~il: a nos"a indole é ex ll'cmamente (Iocil, bemfazeja. humana
e caritativa; uno se tratão os escravos com o em outro tempo,
apenas como instrumento ele t!'abalho, instn,mentmn vocale, se-
gundo se denominava em Roma, onde assim os classiücavão,
sendo os animaes instrumentwn semi-vocale e os outros instru-
mentum mut7,un (apoiados). Entre nós não se trata assim. Nin-
ex
,
guem ignol'a as attenções, qu e se lbes prrstão e ás crianças es-
Cl'avas.
" E' preciso attender lambem ao progresso da nossa jurispl'U-
dencia, do nosso direito.
I) São questões essas que aventei e desenvolvi naquelle meu
livro, com o qual creio tel' pres tado um peiJUl'no Rerviço ao meu
pair,.
" VozEs.--Muit.o importante. "
Examinando o estado da opinião em relação ao assumpto, o
ol'ador fez allusão ao discUl'so que proferira no seio do Instituto
dos Advogados, em 1863 , e cc mquanto pl'oduzisse certo es-
tremecimento, não rÓI'a comtudo mal recebido ; recol'dou que
ainda em 1864 declarava no senado o presid ente do conselbo,
Zacal'ias, que não se tratava de emancipa ção, que só em 1866 Re
pronunciára o governo pela primeira vez quanto á id éa, maR só
em 1867 av entál'U a na falia do throno, repetindo-a em 1868 ,
suspensa toda manifestaç;lO officinl em 1369 e "1870 par;] se I'e-
prodmil' enlfío.
Pel'gunlou S(~ n c:;~e mr io tempo Lel'ia fi cado es tacionaria n id éa,
respondendo os ~ac tos negativamente; que a opinião fôl'a mar-
cbando, fazendo seu caminho natural e suavemente, creando-se
associações de libertação nas pl'Ovincias e na cÓl'te, lojas ma ço-
nicas, i1'fnandades, ordens reli giosas, VCl'úi gratia, a de S. neuto,
libertando os filhos das escravas de certa época em dian te e re-
centemente 0$ maiores de cincoeota annos, conco!'rendo outros
com o seu obulo, pOI'fiando todos nessa cl'Uzada humanitaria e
civilisadora, decl'etando as provincias em seus orça mentos ver-
bas pal'a alforrias. Os particulares, exclamou o orador, excedem
a mais exigente pl'et.ens1í.o, arrastados por easa torrente.
Fez notar que as libel'lações ião-se succedendo co mo os peq uc-
nos rios a formarem um grande rio, por actos ent.rc vi vos e ela
ultima vont!lcle, co m clausula ou sem eUa, gratuitamente ou a
titulo oneroso, de todas as idades, sexu e condição, c até a ge-
raçrlO futura das escravas, alforriando-se até em massa, aos
vinte, trinta, quarenta e ce m, principalmente pOl' disposição
teslamentaria e não satisfeitos dão-lhes educação, casão-n'os e
estabelecem-n'os, e por fim deixão-lhes legados valiosos e
instituem herdeiros.
eXI

COllsiderou ainda um outl'O elemento que prestava um pode-


roso contingente pal'a a emancipação, verificando-se pela esta_
tistica levantada no anno anterior que no decennio até 1870
tinbão fallecido na córte mais de vinte e nove mil escravos,
nascêl'ão pouco mais de quatorze mil, libertárão-se mais de
treze mil, de sOI'te que feita a compensação entre o nascimento
de um lado, os oiJitos e alfol'rias rle outro, ter-se llia em favo I' lIa
ex.tincçflo (la esc ravidão 4: '2 %, e SC' se elevasse es ta proporção
a 5 O/o, co nl'o/' 111 e um cal culo do SI'. Chl'istiano Ottoni, acha/'-se-hia
esta base em fu\'ol' da extincção natural da escl'avidão. Quando,
entretanto, este cal culo pod esse falhar e se desejp enCUl'tal' o
mais possivel o pra7.0 : então diviamos aproveitaI' esses elementos
que pOI' si mrs mos caminbão e limit.armo-nos a elevaro elemento
ou verba alforl'Ía.
Compl'Ometleu-se o oradol' i1. apl'l'sentat' em tem po Oppol'tuno
um projecto substitutivo, recusand o ace itaI' id éa t[LO avançadas
como as da propost.a que podessem pÔ I' rm perigo e retardal' o
que se linha em vi;;ta, mantendo todavia a que aV f' ntám no seu
discurso de 1863 C' a obra publicarli. elll 1869 so bre I) IIn scim ento
livre, repugnando sa nccional-a com o se u \'oto na actualidade
pelas razões que expendêl'u e aguardando a sua opportunidade'
Confess,lva que era illéa grandiosa, bella, justa, mas flue encon-
trava aiuda opposição, reluctancia, em se r aceita por força de lei;
estava em elaboração na opinião.
Declal'ou não entrar na queslúo de ingl'nuidad e, de grande
alcance politico, que havia de ser ori<:rem de sérias difficuldad es
e cOllteslações para o futul'O; que podia et'/'al', não se dava por
iufalli vel, mas fallava co m as ,> U;13 co nvicçú()s, es ta Vil de bou fé:
o que desC'java cl'a que não se fizesse a reforma pOl' modo que a
lei fosse encontl'ur má vontade nu exec ução, el'a isso o que
temia, o que o levava a votar conlra a liberdade do nascimento ,
porque cm, istu das manifl'staçúes u Iei que consagrasse esse
principio havia de encontl'al' I'cs istencia e seus nalU/'ües l'esu1-
tndos, ou pelo menos a ind ilferença dos se nbOl'es, o pouco caso,
o abandono, e dabi a mortalidad e das crianças!
Calculou que pela propus ta do governo o estado de servidão
permaneceria no Impcl'io durante !'õessenta nnnos , pelo menos,


CXTJ

além da data da lei ; que o que elle desejava era quc pa ss as~ e mo s
da escl'avidão pal'a a libel'dadc, mas pelos meios que ('m tempo
aprese ntaria, abandonando a idéa de servidão, porque descobria
nelJa muitos inconv,enielltes, preferindo o i:>ystema ou combinação
pela qual antes dé vinte annos provavelmente , senão com certeza,
ter-sc-!lia extinguido a escravidfto no Bray.il , sem que todavia
!laja servidflO, que nfto é senfto a mes ma escravidfto disfarçada,
embora temporaria, sem o ri sco da becatombe dos innoce ntes ,
sem onerar os cofres publ icos com desp ezas indefinida s, se m
gravar o nossu futuro, sem caminhnr peJo desconb ecido e para
o desconbecido , emfim sem o perigo da grave ques tfto dos di-
reitos politicos daquelles servos,
O final desse impol'tante discurso) que occupou durante largas
hOl'as a attenção da camara, e foi ouvido co m o respeito e cor, si-
deração qu,~ infundia o caracter do Ol'adOl', merece ndo ao ter-
minal' feli citações indistinctamente ele seus collegas, foi aillda um
brado em favor da classe oppl'imiJa, pela qual crão seus fervo-
rosos votos e so li citos cuidados:
" Senhores, eu linha a principio pedido a vossa benevolencia,
cu vai-a agl'ad eço. .
" i\Iostl'l,i bem que respe ito todas as co nl'icçúes, ainda mesmo
dllquelles que podcl'iüo se i' tax~dos rle incoherentes com mais
fundam en to do que eu. Reclamo , portanto, reciprocidade .
( Respeito ás convicções; tolerancia mes mo para os escl'U-
puJos. Tudo o exige e acollselba: as convenirncias, a bumani-
dad e, a caridade, a \Jropria rcligiüo.
" A r.aninra deve attenc\l'r que es ta questão nlIccta profun-
damrnte a consciencia dos legi sladores , de cada um de nós,
mais do que muitas outras, em cuja votnção sc póde sem pre-
juizo ceder ou afrouxar um pouco; e affecta mais particulal'mente
a consciencia dos executol'CS, que não serüo os juizes ncm os
officiaes de justiça, mas prill ci palmente os senhores, aquelles
com quem os l'scravos se têm de acbal', que süo os Sf'U S nutUl'aes
protectorl's e c\ efen sOl'cs
" Se a reforma assim se fiz er, entendo que ej\a poderá pro-
duzir os seus ben effcios ; se fará sem abalo e será pl'oficua ;
selW;:\o consultados devidamente todas as convcniencias c inte-
CxIlt

l'esses a hem do Estado, dos senhores e dos proprios escravos,


interesses multiplos, complexos e complicadissimos; serão lan-
çados com scgurança os fuudamentos de nossa futura sociedade.
Só assim a regencração dessa raça desgr'açada tl'rá sua época de
ventura. Só assim, finalmente, entendo que sel'á condignamente
executada a sentença que condemna a escravidão, cumprida a
lei de Deos, a verdadeira e sã doutrina do Redemptor (muito bem,
mtLito bem) . " (*)

(0) Em prova da sinceridade de seus sentimentos trasladaremos


para estas paginas a carta, que depois desse discurso escreveu aos
abolicionistas francezes Laboulaye, Chamerozow e Cochin, manifes-
tando as mesmas apprehensões sobre o resultado da proposta minis
terial. Verifica-se que não era movido, na opposição que faz ia. por
nenhum ioteresse inconfessavel: impellia-o tão sómente a convicção,
em que se achava, de que por outro modo mais se poderia obter com
muito menos abalo.
Eis a carta:
cc Rio de Janeiro, le 3 Aoút 1871-
cc Monsieur.
c( Le gouvernemeut du Brésil a présentti à la chambre des députés

le 12 Mai d~ cette annee-ci un projet de loi pour l'abolition de l'escla-


vage dans mon pays.
« Vous connaissez, mODsieur, mes travaux, mon opiuion, mes sen-
timents SUl' ce sujet. Mon plus graud désir et mon vote seraieut pour
l'abolit.ion immédiate, la sellle qui soit vraiment l'expression de la
vé rité et de la justice. Mais l'l malleureux ét.at politique, financier,
éconornique, de ma patne. le grand nombre des esclaves, I'organisa-
tion du tra\ ail surtout agricole et d'autres IJUiSSHn ts motifs, m'ont
forcé de dire quelques mots SUl' le projet du gOQvernement à la séance
du 12 Juillet. dont j'ai I'honueur d., vous envoyer un feuilleton,
« Ayez la btlnté de lire avec votre habituelle attentiou et iutérét
pour la cause de l'humanité, que nous défendons, le sus-dit projet
(qui a áté publié dans tous les journaux du Brésil); ayez la bontá
de lire aussi mon discours,et je suis convaincu que vous serez de mon
aviso
« Dans son premier article, le projet en déclarant libres t.ous ceux
qui naitront de femme esclave aprês la loi. et eu les condamnant tout
de suite aprés à servir gratis aux maitres de la mere jusqu'à l'âge de
vingt-un ans, ne fait que maintenir l'esclavage de fait pendam bien
plus de soixaute ans I C'est le rétablissement du servage I au sié-
ele XIX I
« Et plus encore, à l'article deuxiême le projet donne aux societés
8-CONSULTAS
CXIV

Da resposta dada na sessão seguinte, pelo conselheiro 'llheo·


doro ]\fachado, então ministro da agricultura, destacaremos uni·
cnmentc, por servi)' ao. nosso fim, o trecho em que clle, pres-
tando homenagem a quantos br;\%ileiros se tiubilO occupado com
o estudo da questão elo elemenlo servi l, exaltou os merecim en-
tos do deputado mineil'O. Habilmente tirou desse mesmo discurso,
que qualificou hrilhante. argumento para provar que o gabinete
ha\·ia cedido á pressão da opiniftO publica, promovendo ante o
parlamento a solu ção da questão, e propondo-se a comprovar a
asserção com documentos de in coo testavel procedencia. Che-
gado a este pan to. assim se pronunciou :

pOUl" l'óleve de ces esclaves-Ià le droit au service gratuit jusqu'à l'àge


de vingt-un ans I et le droit de les louer ! Et à l'article cinqui ême le
privilége sur ces servi ces I C'est toujours l'idée de p?"opriété! de
chose!
« Ces malheureux seront lihres in nom ine, mais en da lité ils se-
ront esclaves ! dans des conditions plus tristes et plus dures, comme
vous comprenez tres-facilement!
« En vral et siucere abolitioniste je me suis opposé, cOlOme vous
verrez de mou disvours.
« Je veus. l'abolitioll ue l'esclavage le plus tôt possible; mais je ne
veus. pas le malhour de ma patrie et uoo plus le malbeur des escla-
ves, ni le ma intien d'u o si grand crime contre les droits de l'homme
et contre les lois de Dieu SOt'S le d égt~iseme nt dtt servage.
« Voil:i. à qlloi m'ont coneluit mes étueles, quej'ai poursuivi sans
cesse jusqu'à ce jour.
« Esvusez-moi, monsieur, et daignez aecepter les preuves de ma
plL1S hauta reco nnaissance.
« Votru trcs-bumble serviteur et frere eu idées

« A . 111. Pel'digü,o Malhei'ro, "


A. esta carta re~poneleu Mr. Cochin nos seguintes termos:
« Versailles, 2;) Décembre ele 1871,
« Monsieur.
« Vous serez bien a ise d'ilPPl'endl'e qlle S. lVI. l'Empereur du Brésil
. a bien voulu ;'ecevoi I' vendredi, à Paris, le Comité li'rancais d'l?man-
cipation, réprésenté par MM. Laboulaye, le duc de Broglie, ele Pres-
sensé et moi.
« Nous avons remercié l'Empereur, all Dom de tous les amis de la
liberté humaiue, elu granel pas qu'il vient de falre faire au progrés de
l'élOancipation au Brésil par la derni êre loi, promulguéf! par Madame
la comtesse d'Eu. Nous l'avons prié de hftter l'heure ele la liberté
cxv
" Antes , porém, (1e I'azel·o devo ['enrlel' a ~evida homenagem
ao nome de tantos IJl'azileiros distinctos, que , desde os tempos
coloniaes, consideravão funesta para o Brazil a prrmanencia da
p.scravidão, e 'preoccupavão-se com o estudo dos meios para ex-
tingllil' tão grave mal que nos legou a m'ltropole. São dignos de
memol'ia o padre Rocba, bispo Azeredo Coutinbo. Muniz Barreto,
o mal'qu ez de Queluz, José Bonifacio (o patriarcba da nossa inde-
P!3nc1 encia), Eloy"Pessoa, Burlamaque, desembargador Velloso de
Oliveira , DI'. Caetano Alberto, Tavares Bastos, a Sociedade Auxi-
li adol'a da Industria NacionaL ..
" O SR. ANDnAOE FIGUEIRA.- E outros em que poder não
teve a morte (apoiados).
" O SR. MINISTRO DA AGRICULTUR.\.-. . . o DI' . Perdigão ..ra-
lb eil'o, presidente do Instituto do:> Advogados, o consell1eil'o Pe-

complete. pn lui montrant lps lacun r s et les dan gers de la loi, la diffi·
culté de l'appliquer, en parLkulier pour ce qui touche la protectinn
nes affranch is. N OllS lui avons enfin dema nd á la permission de conti-
nuer à. sollilliter, par de:;' appels réité res à l'opinion, la cessation de
l'lw rribl e ini quité de la se rvitude.
« S. M. l'Empereur nou~ a r eç U$ avec une grande bonte; il nous a
(li t 'Ine l'é mnndpa tion était I'Clluv re de son pays et non la sienne, que
l'opinion était unanime, et tout le monde dans toutes les classes et
dans tons les pa rtis acquis à I . ref ·rm e chrétienne qn'il était beureux
de favoriser. TI a trouvé nos nbservlltions fondées et nous a fort en·
couragés à persevérer dans notre tàche, nous faisant espérel' qu'avec
tous les ménagemens cOl1venables la compléte libération des esclaves
ne se ferait pas ,rop attendre.
« J'ai voulu vous co,nmuniquel' ces bonn es paroles d'ul1 souverain,
qui nous a tous charmés p>lr l'intelligence autant que par la cordia-
lite . Il a dans le Brésil. da ns les homm es politiques, dans tous les
babita ns, une c ,nfial1ce que nous aimons à partager.
« Recevez, monsieur, l'assurance de ma sincére considération.
(C Augustin Cochin, membre de l'Institut,
préfet de Versailles.
cc J'e8pêre que V,JUS avez reçu la Revue lies D eux Mo ndes du l or Dé-
cembre (chez Garuier), ou. j'a i an~lygé la loi et les renseign emens que
je ti ens de vous. Je vous prie bien instamment de m'envoyer tous
les documens de quelque importance SUl' cette grande question . Vous
pourriez les remettre à mon emi M. de Vorges, à la legation de
France j allez le voir de ma parto 11
CXVI

reira da Silva, com suas publicações feitas na Revista Contempo-


rama, e tantos outros, cujos escriptos formárão a corrente não
interrompida da opinião, e cada vez mais animados pensadores
patrioticos, que se occupárão com a questão da emancipação dos
escravos.
« O SR . ANDRADE FIGUEIRA.-Ahi ainda falta o general da
idéa.
I( O SR. MINISTRO DA AGRlCULTURA.-O general da idéa pre-
cisamente, aqueHe que com toda a sua louvavel modestia hontem
se declaro u pura e simplesmente seu soldado; o genel'Ul da idéa
está com os nobres deputados, é o nosso distincto collega o
illustl'Udo Sr. Perdigão MaJheiro, de quem eu fiz menção honrosa
(apo'iados) .
li O SR. EVANGELISTA LOBATo.-Ninguem lbe rouba essa
gloria.
« O SR. ARAUJO LmA.-E agora volta o rosto de me-
droso.
I( O SR. CRUZ MACHADo.-Se elle era o general d:l idéa de-
vêra ter feito parte do ministerio.
" O SR. FERREIRA DE AGUlAR.-Esla é que é a questão.
" O SR. MINISTRO DA AGRICULTURA.- Para provar quP. foi
S. Ex. quem despertou e desl>nvolveu a vitalidade da idéa, como
seu apostoJo mais adiantado no BI'uzil, bastaria ler integl'almente
diversos capitulos do seu notllvel livro sobre a escravidrlo, o que
dispensaria o melhOl' discurso sobre o assumpto; 'mas antes de
ler Dlguns topicos desse livro , que mais interessem pela muita
luz que trarão ao debate, peço licença para não interromper a
ordem das idéas em que proseguia para demonstrar como a opi-
lIião publica se manifesta cada vez mais vigorosa, sobre tudo nos
ultimos tempos, impellindo os poderes do Estado a encarar de
frente e resolver o problema da questão servil (*). "
. Assim , era d pl'oprio governo quem, pelo orgão do ministro
por cuja pasta se entendeu dever fazer a apresentação da pro-
posta, tecia ao Dl'. Pel'digão l\Ialbeiro os pomposos elogios que
acabamos de referir. Não levantou comtudo o Ol'UdOl' a aUusão do

(') Vide Anna~s Pari" sesl:Ião de 13 de Julho de 1871, tomo 3,


pag.l27.
cxvrr

deputado Cruz Machado á não entrada do dedicado abolicionista


para o gabinete, seja pela reserva da causa, ou por acreditar qUe
a explicação pertenceria antes ao seu organisador. Este mesmo,
entrptanto, quando lhe coube na sessão seguinte occupar-se com
os discursos da opposição, tratando in-extenso do que fóra pro-
ferido pelo deputado minpiro, não articulou palavra a respeito.
Sómcn te, élO redarguir contra o topico em que o opposicionista
mais uma VPr. se declal'a\'a extl'eme de toda a ambição política,
pensou interpretal-o no sentido de achar-se o nivel ministerial
baixo pUl'a elle, o que motivou contestações da minoria, restabe-
lecendo a verdade da asserção.
Duas vezes teve ainda rle voltar á tribuna nessa memoravel
sessão o DI'. Perdigão nlalbeiro. A pl'imeira a 9 de Agosto para
rcsponder aos ministros da fazenda e da agricultura, e igual-
mente a alguns collegas da maioria que tinbão impugnado idéas
por elle aventadas pm varias escriptos spus, renovando a cansada
accusação de ineobel',·ncia. Defendeu-se com a mesma calma e
consciencia que antel'iormente; reproduzia argumentos falsea-
dos ou invertidos nas discussões dos contrarias; abundou em
min uciosas considerações sobl'e os perniciosos elfeitos ria pro-
posta do govprno ; passou em r;lpida resenba os trabalbos de
José Bonifacio, Drs, Cantano Alberto e Camal'a Leal, visconde de
Jequitinbonba sobre a materia; foi ae, principio da autoridade
prcpond('rante no partido consl'rvador, provando como do equi-
librio entre a liberdade P. a ordem é que se póde manter a soci!!-
dade. E porque pell'eCI' que se tinha procurado .l medrontar os es-
pil'itos com a idéa de uma tl'ansformação no sJ'stema politico,
manifestou-se em termos que nada perdl'm em ser arcbi vaLias:
" FalloLl-se tambem ligeiramente em l'epublica, e por modo tal
que levantál'ão-se logo reclamações da parte de alguns honrados
colleg3s, até que se dedarou que de nenbum membro desta casa
partira sl'mplbante expl'essão, e sim de alguem albeio á camara.
" Mas, supponhamos que algum de nós o tivesse dito (e se
isto se désse comigo não recusaria confessaI-o) : porventura
não existe mesmo nesta côrte um c!ub republicano e uma folha
republicana? Não está ahi a Repubtica, proclamando por todo o
Imperio? Não vão as idéas l'epublicanas ganhando pl'oselytos ?
" Não acredito em l'epublica no 13razil, e a razão é clara: nos-
CXVIll

sas tradições, nossos costumes, nossa educação, nossa raça, em-


fim, a fárma de governo que temos desd i.: os nossos antepassados
e outras considerações, me levão a não receia)', já nflO digo
para o futuro, mas ao menos tão cedo, que no Brazil se possa le-
vantar a republica, quan.•io não vejo sobretudu essas qualidades
de republicano, essa abnegação, essas virtudes civicas, esse
espirito de iniciativa, essa energia, essa virilitlade, que consti-
tuem o verdadeiro )'epublicano,
" Este paiz, com os costumes que tem, nem é digno de seme-
lhante fárma de governo; se derivassemos de outra raça, se tives-
semos outra educação e outros costumes, como, por exemplo, os
americanos dQ norte, eu diria: tentemos a forma de governo dos
norte-americanos. Talvez as provincias fossem mais fdizes COIl1
essa descentralisação, plena autonomia, livres desta terrivel con-
centração, que tende a aspbyxial-as, que as não deixa tles('u-
volve)', e obriga o sangue a fluir todo para este centro, faltando
aos outros membros.
" Demais, um paiz onde se corre atraz ele fitas (risadas), onde
se muda o nom e Chl'istão que se recebe na pia baptismal por um
titulo profano, ás vezes barbaro ou extravagante, não páde se)'
republicano (rnlbito bem, apoiados), não o será tão cedo, e nem
é capaz de tal fórma de governo (apoiados) (*). "
Quanta bombridade ! Que vigor de exp)'essão! Que nobre fran-
queza tocando em um assumpto, que no tempo Ile poderia con-
siderar tão incandescente como o da questão sprvil! Como fus-
tigou severamente os costumes da sociedade em que vivemos, a
pueril vaidade dos bomens e a imperfei ção de nossa educação!
Quantos alli não estarião, que partilbassem as mesmas idéas,sem
possuir todavia coragrm bastante para expendêl-as com o mesmo
eles:tssombl'O e varonil espirito. POI'que convem notar, comquanto
faltasse ao Dl', Perdigão Malb ciro a audacia dos graudes ol'lldores,
além de outros requisitos, como já assignalámos, era todavia
elolitdo de grande civismo, capaz ele sustentaI· o nas em prezas
as mais rl;fficeis, Não pe)'sonalisaria um juizo, incapnz como era
de olJender a quem quer que fosse; mas em syntbese concisa

(*) Vide AmuMs Parl" 1871, tomo 3, pag, 99.


CXIX

e clüm vel'uel'al'ia o gl'UpO, seita ou pürtido, quando o julgasse


conveniente.
Percorrão-se todos os seus discUl'sos. Não ha um 'unico em que
elle se occupe de negocios individuaes ; as questiunculas de aldêa
ou de campanario, em que tanto se entretem a nossa politica,
não erão do ~wu paladar. Ningue01 nunca I) ouvio discursar coo-
tra o del rgado {tblmlO nem contra o juiz siorano. Poderia ter re-
cebido Je funccionarios taes desgosto, contrariedade, prova de
má vontade: as lutas eleitol'aes trazem dissabores, aos quaes não
são alheias as autoridades, que se esquecem de seus deveres.
Tudo supportaria Sl'm exlemal' queixa, por onde se percebesse
~ ue njJl·ovritava-sr. da posição para desforço.
Foi na s!'ssão de 26 dusse mesmo mrz que pela segunda vez
occupou a attenção da camam, e fêl-o não s6 para entrar em
uma apreciação mais dC'talhada da propo3ta do gOI'eruo, mas
ainda com '0 fim de defender as idéas cOlllidas no substitutivo que
apresentál'a oito dias antes (" ') . Estudou um por um os seus di-

(') Não tanto para habilitar a comparação com o que se venceu,


como principalmente em prova do esforço e labor desenvolvido. se-
gundo as idéas dominantes no autor,julgamos conveniente tra l 1sportar
para estas paginas o projecto substitutivo.
Eil-o,
« Art. lo e emendas. Sllpprimão-se.
« Art. 20 e emendas. Idem.
« Art. ao e emendas. Substituão-se pelo seguinte, passando a ser pri-
meiro, assim,
« Art. 1.0 Proceder-se-ha á matricula especial de todos os escravos
existentes no Imperio, com declaração do nome, sexo. idade, estado,
profissão, aptidão para o trabalho e filiação se fór conhecida.
« § 1.0 Os escravos que. por omissão dos senhores, não forem dados
á matricula no prazo designado. serão considerados livres, excepto
quanto aos de menores. interdictos, de heranças pro indiviso e seme-
lhantes; e quanto aos confiados a prepostos ou administradores. em
que serão sujeitos á multa de lOna por cada um omittido. no primeiro
caso os tutores. curadores, inventariantes ou responsaveis, e no se-
gundo caso os prepostos ou administradores solidariamente com os
donos.
« Os credores e qUResquer interessados podel'áõ promover a matri-
cula dos escravos que a aUa não forem dados pelos senhores.
C( § 2 .0 O prazo será de um anno, contado da data fixada no regula-
cxx
versos artigos e sempre á luz do mesmo espirito precavido e
apprebensivo de perigos ordem soci;;!, pronunciando-se contra
o absoluto das medidas que elles cOllsagrilvão r, Fulminando a
injustiça relativa com que separava-se a geração aclual da ge-
ração futura, esta favoJ'ecida com a liberdade desele.iã e aquella
apoiada em um fundo de resgate insignificante. Imaginou que a

mento que o governo expedir para execução do disposto neste artigo.


« Si 3. 0 Os filhos de escravas, que nascerem depoi& do prazo referido,
serão dados á mencionada matricula dentro de tres mezes do nasci-
mento, sob as penas do Si 1.0
II Si 4.° Nenhuma acção ou reclamação sobre escravidão será admil-

tida se não fól," logo instruida com a certidão de matricula. Nenhum


contrato ou acto de transmissão de escravos, usufructo, hypotheca 110
penhor, se fará Sbm que deUe conste a matricula referida: pena de
nullidade.
« Si 5.0 Transferindo se por qualquer titulo, fallecenc1,> 011 lihart.an-
do ·se algum escravo matriculado; far·se-ha dentro de tres mezes. em
vista dos documentos que deveráõ ficar archivados na respectiva
rApartiçã,' , a necessaria der,laração na correspondente matricula: pena
de ;O,~ por cada um omittido, paga por aquelles a quem incumbe a
matricula e nos termes do Si lo, além das outras em que possão in-
correr criminalmente.
« Si 6. 0 Nas listas que se deveráõ distribuir, para que se possa por
ellas proceder á matricula, irão inserta~ ;as disposições dos SiSi [o, 3°,
40 e 50. declat'll.da a data a que se refere o Si 2.0
II Estas listas serão em duplicata, rubricadas ambas pelo agente res-

pectivo e assignadas por aqueile a quem incumbe a matl'lcula, das


quaes uma ficará em poder deste.
« Art. 3.0 Substitua-se pelos seguintes, passando a ser 2' e 3.0
« Assim:
« Art. 2.0 Serão annualmente libertados na córte e em cada pro-
vincia do Imperio, mediante proposta dos senhores e as necessarias
informações, tantos escravos, constantes da matricula referida, quan tos
c<) rresponderem â quota annualmente disponível do fundo destinado
pat'll. emancipação. São exceptuados os fugidos, criminosos, viciosos
ou enferrros.
« ~ 1.0 Terão preferencia :
li ].0 Os casados, especialmente em idade de terem filhos; e seus

filhos, sobretudo os menores até a idade de quinze annos.


« 2.° Os de ambos os sexos, que souberem ler e escrever, tiverem
omcio, forem morigerados, por seus serviços ou por algum titulo se
recommendarem.
(I 3.0 As escravas de quinze a trinta e cinco annos.
CXXI

cal'idade imposta com a libertação do ventre produziria rcacção,


ficando as infelizes crianças entl'egurs a si ou ás müis, que
dellas cuidarião como quizessem ou como podessem. Fez votos
para que o paiz não fosse levado ao extremo da emancipação im-
rncriiata e simullal1ea dcntro cle tres ou cinco annos quando
muito, pelas consequencllls da proposta; mas tul era a sua COI1-

« 4. o As de mais de tri n ta e ci nco a quaren ta e cinco.


« 5.0 As de menos de qtÚnze anuas.
« 6. o Os nascidos depois da presen te lei.
i( Quanto aos outros e em igualdade de condição dos supramencio·

nados, a sorte decidirá.


« Si 2.0 A designação dos libertandos será feita na segunda dominga
do mez de Janeiro de cada anno, por uma junta composta, em cada
municipio, do juiz de orphãos, do presidente da camara municipal e
do parocho da freguezia ela séde do municipio, depois de recebidas as
propostas e colhiclas as informações precisas, cqm audiencia do col-
lector das rendas geraes, a quem o governo abonará a quota de eman-
cipação que couber ao municipio.
( O preço da manumissão. em falta de accórdo, será determinado
por arbit,ros, dos quaes um nomeado pelo cúllector e outlO pelo senhor
do escravo, cabendo o desempate á junta por maioria de votos de seus
membros.
« Art. 3. 0 O fundo de emancipação se comporá:
« 1 o Da taxa dos escravos. a qual fica extensivo. aos de fóra das
cidades, villas e povoações, na razão de 2H annuallllente por cada es-
cravo de doze annos de idade para cima.
« 2. o Do imposto geral sobre transmissão de propriedade dos es-
cravos.
« 3. o Do producto dos 2 % de direitos sobre a exportação de
generos addicionados pelo art . 32 da Lei n. 1507 de ':6 de Setembro
de 1867.
« 4.0 Do dinheiro de defuntos e ausentes que prescrever a bem do
Estado.
« 5. o Do producto de bilhetes da loteria e outros depositos que
igualmente prescreverem a favor da fazendo.
« 6. o Das quotas consignadas n:> orçamento geral e uos provin-
ciaes. sal vo o destino local ou especia 1 nestes designado
« 7 o Do producto de ses loterio.s allnuaes, e da decima parte das
qlte forem concedidas para correrem na capital do Impcrio.
« S. o Do producto de beneficencia, doações e legados para emanci-
po.ção, sem prejuizo das disposições especiaes dos bemfeitores.
« 9.0 Das multas impostas por virtude da pre~ente lei.
CXXlI

vicção, que desde já formulára outro projecto, que hav ia ser


talvez o dessa época ou de outra mais ou menos remota, se as
circumstancias o exigirem.
" Esse pl'ojrcto, disse o orador, é o seguinte:
" Art. 1. 0 Fica abolida a escravidão DO BI'uzil,passadu um anDO
da publicação dn prpsente 1E:'i.

(( Art. '(0,0 0,70 e eme ndas. Sllbstitllão-se pelos spgllintes, passando


a ser 40 ,5 0 ,6 0 ,70 e 8.0
« Assim:
« Art. 4.0 Nas ali enações judiciaes, o escravo. qne por si ou outrem,
exllibir a esta () preço de Rua avalinoão, tem dirp ito á :l.1fo1'l'i a.
« ~ 1.0 O lapso de tempo para a abprtnra rias propo~t~. !' . rle qlle
trata o art lo da Lp.i n l ii'lfi de F. rlp. SotAmbro de 18,'1 ~erá o
dos pl'égões, segundo a Ipi r.ommnm rp~pflr.Livll .
« ~ 2.0 No cas" de privilpgio rio intAgridarle dA fAh l'ica 011 eqtAbfl-
l ecim ento Bgl'icola, ou de minerll çi'io, o h,pso sprá o dns imnl<>veis,
sendo. p')J'pm, as propostaR comprehenrlidas dos mesmos immovfl is
O rliSpORtO nesies pa1·Rgraph ·s não prejudica o direito conferido
neste artigo a bem da libel'dadfl
« Art. 5. o Fica livre o Ascra,o, salvo o sflnhor o direito á inrlerr:-
nisação:
« 1.0 Que sendo de condominos. fôr por algum destes libertado : os
outros só .têm direito á sua quota do valor, que poderá ser paga em
serviçM
« 2.0 Que prestar relovantes serviços ao Estado, como seja de guerra.
no exel'cito ou armada
« Art. R.c E'licito ao conjnll'e livre remir o co njuge e~C1·avo . !lO
dese.endente li vre a mfi.i ou pai legitimo. e vice·versa, precedendo
avaliRção e exhihici'io imrn p.rli:l.tA da importancia.
« Al't 7. o POI' favor li liberdade.
(( ~ 1 o Não viJ'áõ á collaçfio, nem o seu' aloJ'. os filhos das escravas
doadas, nascidos antes do fal1ecimento do doador, libertados pelo
donataJ'io
« ~ 2.0 O usufructuario podpl'lÍ libertar os filh os das escravas em
usofrul'to nflscirlos 30 tpmpo do mesmo usofl'ucto.
« Est~ disposiçi'io é extenRiva ao caso cio fidei commisso e outros de
propriedade limitRo!!. ou l'esoluvel.
« ~ ::l.0 São livres os filhos da mulher libertada sob condição 011
para uma certa épeca (statu líbpra).
« SI 4. o FicA. derogada a Ord., li v. 40 • qt. 63, na parte que se refpre
á alforria
( SI 5.0 Em qualquer aeto de alienação ou transmissão de cscravos,
cí prohibido separar sob pena de nullidade o marido da mulher, o filho
cxxm

fi § 1. O Estado indemnisal'á aos senhores do valor dos seus


0

escravos, o qual em falta de accordo, será determinado por ar-


bitros
" § 2. 0 O govemo dará aos libertados pOI' esta lei o destino
conveniente, se não rÓI' possivel continuôlrem eJl es na companhia
ou serviço dos ex-senhores.
fi § 3. 0 Para a indemnisação decretada no § 10 é o govel'Do
auLorisado a fazel' as operações de credito neces arias.
fi Eis qual ha de ser a ultima palavl'U legislativa, e não a pl'O-

até fi idade de quinze annos de sua mãi ou de pai legilimo, ampliado


assi'm o art. 20 da Lei n. 16nõ de li) de Setembro de [P69.
« Nas partilhas ou divisã0 de escravos em taes condições Lerá lu gar
o disposto ná Ord., liv., tit 86. SI 5.0
« Si 6. São isentos de quaesquer direitos, emolumentos ou des-
pezas, as alforrias e respectivos iLulos, bem como as doações. legados.
arrematações e quaesquer outros act'ls em favor da liberdade. ou para
lib ertação de escravos .
« Si 7. o Nas acções de liberdade:
« 1 .0 O processo é summario.
« 2.0 O juiz appellará ex·officio da decisão desfavoravel a ella.
« 3.' As custas serão pagas afinal pelo vencido, não sendo quem
r ecl ama ou defende a liberdade.
« Art. 8. 0 E' o govprno autorisado a conferir aos escravos perten-
centes á nação. c\lm clausula. ou Sfm ella, alforria, que será sempre
gratuita, revogado o art. 22 da Lei n. 317 de 21 de Outubro de 18·13.
E provi~lenciará a respeito dos mesmos como entender conveniente,
podendo estabelecei-os em terras do Estado ou devolutas.
« Estas disposições são e~te nsivas no que forem applicaveis aos
escravos em usofructo á coróa.
« Si Unico. Serão livres desde logo os escravos que por qualqu r
titulo vierem á ftlz enda.
« Art. 9 . 0 Supprima-se.
« Art . 10. Emenda. Supprima-se .
cc Accrescente-se o seguinte additivo, que será:
« Art. 9 o O governo dará cOllta annualmente á assembléa geral do
progresso da emancipação, recenseamento da população servil, movi-
mento estatistico, procedimento dos libertados I:' de tudu quanto se
refere a este assumpto, quer em si, quer em suas consequencias.
« Sala das sessões, 18 de Agosto de 1871. - A. 11/. Pprdigão bla-
lheiro. ))
(Vide Ann. ParI., 1871, tomo.t, pago .rUO, sessão ue 18 de Agosto.)
CXXIV

posta do governo, a menos que não seja esta a ultima palavra


por um facto extrDordinario
" Eis o I'esultaclo a que qurl'o chrgur, mns pelo processo das
emendas ou substitutivo que apl'esontei, ))
Na justiücr,ção do substitutivo ell e procurou provar que o sou
projecto cons ultava ml 'lhor que a proposta governam ental o inte-
resse de todos, in clus ive o dos proprios escravos, substiluindo a
libertação fo rçada pela lib ertação sob pl'oposta dos se nhores ,
para não rompel' bruscaml'nle os la ços ex istentes entre un s e
outros, dotando largnmrntt' o fundo de I'mancipação, fixando
vari as caso~ de alforl ia Ipga l, concrdendo novos r amplos favores
á lib l'rdaçle, resulv l' ndo a imporlanlissima qupstão forpn sp- se
os filbos das escravas doadas, nasc idos depois da morte do doa-
dOI" devem ou não se r trazidos á coll açfLO, definindo e estabe-
lecenclo a verdade ira condição dos stattt-tihel'i , ampliando a
disposi ção do art, 2° ela Lei rle 15 Se tembro de .869 em bem
da integridad e da familia servil, co nsagrando no pl'ocesso favores
á libel'llarle.
Por ultimo referi a-se a um ca lculo feito prlo SI'. conselheiro
Cbl'istiano Ottoni, I'm vil,tude do qual no fim de trinta annos pelo
substitutivo havel'Ía 37 .il75 escravos , quando pela proposta do
govel'llo bavel'ia 22 1,715 escravos e mais 188.105 outros (de
fa cto), no total de 40 .1 .820, e exilibio o resultado do es tudo co m-
parado quanto aos enc:1l'gos do lhl'souJ'o até o triges imo annO
depois da lei, se ne ssa data se tralar da emallcipação gera l
dos que enlão existirem, vel'ifi cando-sc sobre uma base
de '1 ,5 00.000 escra \os com o quociente a favor da extincção na
razão de 7,5 % urna verba na im[ ,o rtancia ele 131.280:000$ ,
para f[,zer face á libertação de 215.000 escravos ("').
~

(.) Vide Annaes Pa?'l" 187 1, tomo '1. pag, 292.


Segundo I3sse calculo, seria mister para a m numissão desses 215.000
escl'aVuS n quantia de 17\LOOO:000S. a 8008. por cada escravo.
O que diria o illllstre emancipador se a morte não o tivesse vindo
colher. li vista dos m"gnificns resultados obtidos nas elf"rrias
pelo fundo de emancipação. re" li ·tarJas no mnnicipio da có rte onze
annos depois da promulga ção da lei. em que houve uma média de
õõüSOOO. para o valor de cada e~crav(\?
(Vide gazetilba do Jo,' nal do Commercio, de 25 de Janeiro de 1883).
ex!Y

Pela proposta do go"Verno haveria no fim do tnesmo período


que computar os juros das apolices cmittidos na rórma do art. i.
G os serviços de 1Htl.000 servos pelo menos, além do numero de
escravos a libertar, 22 .. 000 pelo menos, diante de uma verba
de 23. 280 :OUO~OOO o

Um unico ponto da longa impugnação do digno representante


parece ter-lbe dado razão o futuro: aquelle em que antevio a for-
mação de commanditas, para) a pretexto~de libel'dade, especular
com os miseros escravos, empreganuo todos os meios para os
arrancar a seus senbores, desorganisando o tl'abaIbo, pertur-
bando as (amilias, não com o fito de os (avol'ecer, mas de os
explorai' em proveito proprio . Não contou, porém, com a incx-
gotavel caridade de s(~us concidadãos, que não con,entil'ião no
aLandono dos ingenuos, incitando o mesmo interesse a poupar
os progenitores j não attendeu pill'a as condições especiaes da
raça captiva, humilde, pusillanime, embrutecida no jugo, sem
estimulos de qualquer na tureza j não calcu lou que á falta de
resistencias, incompativeis eom a nossa indole, sem apoio no
intimo da consciencia humana, que brada potentemente em
favor ua igualdade, e ás <iuaes, a admini~tl'Ução snperior Dão
poderia spr indifIerente, os senbores saberião encastL'llar-sc em
seus feudos garantindo-se contra pl'ovaveis seducções do
exterior, redobl'arião de vigilauciu e por meio de estricta dis-
ciplina conseguirião manter organisado o trabalbo e repellit, u
anarchia.
Não previo, finalmente, que a mcs ma lei havia de concorrer
podcrosamcnte para o adoçamento do costumes, destprrauos
barbaros e ignominosos castigos, que uma PI'opt'iedade tomada
mais contingente não supportaria sem ficar exposta a prolundos
golpes e acat'l'etar-lbe condideraveis prejuizos .
Não obstante o esforço empregado pela opposição passou o
projecto na cumara por grandc maioria (*). Remettido ao senado

(o) O ministerio alcançou sessenta e um votos contra trinta e cinco


da opposição, afóra nove de ausentes, que mais tarde o mallifes-
tárão.O substitutivo do Dr. Perdigão teve em seu favor esses trinta e
cinco v tos. l Vide Annnes Parto tomo .10 , sessão de :Jo de Agosto
pag.317)0
cxxVI

depois de uma discussão menos porfiada elo que a que se travÚI'a


no outro ramo do poder legislativo, mas de igual imporlancia
pelos oradores de um e Outl'O creoo pol itico que neUa tomárão
parte, foi approvaelo pera subir á sancção imperial, na sessão de
27 de Setembro, e á inclyta Regente coube a fortuna ele vincular
sru nome a um glorioso padrão, ella que na na elevação de seu
espirito eminentemente cbrislão não cessaria de fazer votos pelo
triumpbo da causa dos desventurados (*).
A historia registrará esse dia como um dos mais fausto sos para
a patria brazileira, digno de ser notado ali)o lapillo. A luminosa
legenda-N1NGUEM MAIS NASCE ESCRAVO NO BRAZIL-pl'Ojecta so-
bre a nossa legislação raios, que jámais se extinguiráõ, assigna-
lando um granclP pass0 na carreira da civilisação.
Em um l11anire ~to que, ell'pois ela pl'omulgação ela lei, preten-
deu publicill' o DI'. PerdigãO ~1alhejro, rxplicando o seu procedi-
mento, como oep utall .. , na questão sprv il, intpnto que não levou
avante pOI' motivos igllorarlos, se 16m as seguintes expressões,
por oude ainda se revela a nobreza de seus sentimentos:
" Pela millba parte, se ti v es~é ar.ompnnhaLlo o govel'no, teria
agora eSSll epbl'mel'a popularidade. PI'efl'ri, ~orém, de pai' com a
cOllsciem:ia, aEfrontar a impopularidade a bem da minha patria,
oPPOll.do-me não ú iLléa , mas á pro.posta, c no entanto offl:'recendo

o honrado e venerando visconde de Muritiba ofIerf\ceu-o tal qual no


senado, em sessão de 12 de Setembro, como eme~da á proposta alli em
discussào.
Fóra do corpo legislativo o Olub da Lavoura e do Commercio COIl-
formou-se com elle, aSbim com o a camara municipal de Nictlwl'oy. os
fazendei ros e proprietarios elo Mar ele Hespanha. Em S. Paulo 0007'- •
reio Paulistano O achou prefflri vel ao projecto.
(') No senado voLárão pelo projeCl,Q do governo os senadores <)on-
servadores duque de Caxias. F erna.ndes da Cunha, Jaguaribe. José
Bento . visconde de Nictheroy, Figueira de Mello, Candido Mendes,
Ribeiro da Luz, Viscondes ele Inhomirim, de S. Vicente. de Sapucahy,
de S Lourenço. do Rio Grande, e de Camaragibe. barões de Ca-
margos, de Maroim, de Pirapama, Barros Barreto, Fernandes Braga,
Jobim. Jacintho de Mendonça, Ucuoa Cavalcanti e Vieira da Silva.
Razão, pois, tjnha o deputado Ferreira Vianna 1uando affirmava,
na sessão de 2\3 ele Junho de 1869, perante a eamara, que a eman<:ipa-
ção do elemento servil nào era uma idila de parti,.lo, mas uma exi-
gencia do espirito christão.
CXXVll

o pl'ojecto que unico me pareceu aceitavc1 nas Cil'CUlllSlancias e


condições actuaes, danoo assim prova evidente dos meus mais
sinceros desejos em bem da emancipação, projecto que teve en-
tre outl'as a gl'Unde vantagem de não consagrar principio algum
irrevogavel, e, ao contrario, de grande elasticidade pela margem
larga que deixa a qualquer melhoramento posterior, e que se vá
successivamente introduzindo, como o estado de cousas róI' per-
mittindo e aconselhando, até a final extincção ela escravidão.
" A execução provará quem se en,:anou. Mas talvez então já
não haja remedio aos males, ou elle seja o extremo . Füço votos
ainda para que isto seja iliusão do meu tlspirito.
" E se tuelo correi' felizmente serei o primeiro a confessar
com a maior satisfação o ml'U erro, pois acima de tuclo ponho a
felicidade do meu paiz. Mais ainda folgarei que assim seja por
bem da mesma classe escrava, cuja libel'tução geral sinceramente
desejo na época a mais proxima qu J ser possa. Taes são as pre-
ces fe rvorosas que dirijo a Deos Omnipotente. "
Pouco tempo depois de encetar-se no anno seguinte a quarta
sessão legislativa levantou-se a questão ele gabinete, que póz em
imlllinente risco a sua I!xistl!ncia. O DI'. Perdigão lIIalbeiro votou
contra o governo, apezar ele fazer então parte do ministerio o
conselhrliro Joaquim Delfino RilJeiro da Luz, " euja entrada, es-
creveu elle eu apreciava, quando menos por ver ahi representada
em sua pessoa a minua deselitosa e menos prezada pl'ovincia na-
tal; mas collocou-me em situação di ffi cil , attenta a opposição em
que estava. I)

Seguio-se a disso lução da camara a 22 de Maio, aeto que mui-


los entenclêrão menos acertado, parecendo-lhes que, orgllnisan-
do-se novo gabinete, ainda quando não entrasse algum membro
da opposição, as divergencias havião infallivelmente de com-
por-se. Entre os que assim pensavão achava-se o deputado mi-
neiro, que escreveu a respeito um longo protesto, dirigido á pro-
vincia de Minas Gel'i.lE'S e aos s{'us concidadãos, o qual nor sua
importancia entendemos dever inserÍl' em eguida a este tl'aba-
lho não o tendo o escriptor dado a lume pOI' motivos que ca-
lou (*).

(*) Vide adiante depois deste estudo.


Nesse documento a línguagem é si ncel':1, pOI' vezes :1cerb:J,
nunca violenta. Resente-se excessivamente da paixão do mo-
mento, A di sso luÇão foi para elIe urna sorpresa, corno a pas-
sagem do proj cc to tinha sido uma desillus;io. Homem novo na-
política, as contrari edades que neIla C'xperímentou tomárão
proporções de grand es e profundos desgostos, diante das quaes
confl'angeu se a sua sensibilid ade para distendel'-se em resolu-
ções extremas. POI' isso recontando aos seus com provincianos o
que fiz era no desempenbo do mandato, que decepções o assal-
lárão , que desfallecimentos o prostrárão, quanto trabalhou e
luctou p~u'a bomar a conflall ça do s committentes começou de,
clurando-lhes que nflO era cilndida to, embora contl'a a opinião de
amigos rled icados, aos quaes não desejava impôr sacrificios
inopportunos.
Não obstante desta declaração, que pareceria destinuua a pro-
vocar uma manifestação sobre o seu procedimento, tendo, se-
gundo recorda, movido o govemo a mais desabl'ida guerra ao seu
nome, ainda :l3sim derão lb e os eleitores mineiros trinta e cinco
votos no quinto di stricto e qual'enta e sete no segundo , falb ando
grande num ero de promcs"as e ele co mprom issos an teriormente
tornados. Hesultaelo bem diverso, commemor[w os se us aponta-
mentos, do ob tid o na eleição senatorial ele 1870 , em que, com-
quanto não fosse candidato de cbapa, tul sympatbia o acolueu,
que po r esfo rçus proprios, ele parentes e amigos, conseguia
seiscen tos e trin ta e se te votos,
Retirou-se en tão completamente da vida politica, resolvido a
não mais tomar a ella . Proseguio no exen:icio da profissão de
advogado, que os trabalbos legislati vos qU.lsi fizcrão abandonUl',
tend o, untes de abraçaI' a can'eim padamentar, pedido exo nC' ra-
çflo do cargo de procurador dos feitos ela fazenda, que pai' tantos
annos, com esclarecida intelligencia e incompaJ'uvel zelo, clesem-
penuál'l\ nesta CÓl'te C*)·
- -----------
(' ) Os valiosos serviços por elle prestados á fazenda publica, não
só nenhum galardão merecêrão, como nem um simples aviso de lou-
vor lhe foi dirigido por occasião da reti rada. OOllcedêl'.io·lhe a dem is-
são. como se se tratasse de um empregado ordinario. destituido de
todo o merito,e do qual seria fortuna ver-se o Estado livre,
CXX1X

Recapitulando diversas phases de sua vida, eis como se ex-


prime dizem nos apontamentos auto-biograpbicos sobre o Dlod·)
de entendei' e pl'alicar os deveres da profissão, que tão grande
lustre déra a seu nome:
(( No exercicio da advocacia, durante vinte e cinco annos, te-
nua sempr~ me esforçado, quanto em mim tem cabido, por bem
preencher os meus deveres, fazendo della uma p1'ofissão bonrosa
e uobre, qual é e deve ser, e não uma industria ou mercancia.
~;uhca fiz contrato de especie alguma sobre a minba remunera-
ção; satisfiz-me sempl'c com honol'arios modicos, tendo tido aliás
occasião (pois defendi causas importantes em si e pelo seu valor
pecuniu rio) ele os exigir' elevados e de fazer avultada fortuna.
~ruilO poucos farão genel'osos para comigo; alguns se mostrárão
ingratos; outros forão não só ingratos, mas até me faltarão abso-
lutamente aos hOl1orarios e mesmo á indemnisação de df'spezas
por mim feitas, sendo digno de nota que o fizessem apezar de
vencedores! Nunca promovi demandas para fazer jú" a bOllora-
rios; ao contrario, procmei sempre evitai-as, aconselbando com-
posições, o que por vezes consegui, ainda mesmo depois de sen-
tença, com grande satisfação minha. Nem me sujeitei a mendigar
serviço e menos a atravessar o dos collegas.
(( Em todo o meu pl'ocediml'nto tive sempre em vista desem -
penbar o melbor que podesse os meus deveres, e com bonra e
probidade, servindo muitas vezes gmtuitamente a coHegas, pa-
rentes e amigos, e até a estranhos. Assim acbava o pmzer intimo
ue miuua consciencia, e tambem do apreço e estima publica,
que me desv<UlcçO de baver conseguido. Vale mais isto cio que
a maior (ol'tllna. O espi l'ito superior scmpl'e á matel'ia. " (*)
Sentindo-se, porém, como confessa, enfraquecer pela idade,

(r) O Instituto da Ordem dos Advogados brasileiros, que o teve


uurante muitos arlllos como Presidente effectivo, depois do Con-
selheiro Nabuco. e ao qual servira com a costumada dedicação, em
signal de reconhHcirnento o elegera seu Presidente hOrJorario.
Tambem de !lenhum titnlo de desvanecia mais do que do de advo-
gado. iVlrütos costumavão dar-lhe o tratamento de conselheiro, ao
que eUe replicava sorrindo: que só o era por acclamação dos povos,
Fóra recommend:tção sua que o amortalhassem na beca de
ad vogado e assim fielmente se cumpri0.
9-CONSULTaS
cxxx
delíbel'Ou em 1875 deixar a advocacia forense para limitar-se
á maneira dos advogados inglezes a consultas sobre questões,
disposições, direcções de contratos e actos semelLJantes.
EI'a um viver mais folgado do que aquelle que lhe proporcio-
nava a tormentosa lida dos juizos e tribunaes, e no qual encon-
traria sempre occupação sufficiente, acudindo, como já em outro
lugar referimos, cons ultas fie varios pontos do Impel'io e mesmo
do estrangeiro . Nessa situação se acuava quando em 18":6 foi pelo
conselheiro José Machado Coelbo de Castro, a quem o pren-
dião relações de antiga ami zade, IOl'talecida por' uma perfeita
aonidade de caracteres , convidado pam occupal' o lugat' de ad-
vogado do Banco do Bl'azil. A espontaneidade real çava tão
hom'osa lembrança. Relutou o Dl'. Perdigão em aceitar, o encargo
mas teve 00 om de algum tempo de ceder ás instancias do
amigo, que tão lisongeira prova de conuança lbe manil'estava.
Menos bem succedido fÓra em Outl'il conjuncturLl o conse-
lheiro José Carlos de Almeida Arêas, hoje barão ele Ourem,
incumbido pelo conselheil'o Zacarias quando minisll'o da fazenda,
em 186~, de o co nvidai' para substituil-o no impol'lante lugar de
directol'-geral do con kn cioso e procurador-fiscal no tbesoUl'o
nacional. Que successor mais digno se poderia ellcontra r que
o Dl'. Percligão Malb eiro para O consclb eil'O Arêas, ambos iilus-
tres pelo talento, dotados de igual fervor pela causa publica,
que zclaVrlO como se [óra propl'ia, incansaveis no traballlo, cons-
cienciosos, probos! A recusa revestio-se de uma I'azão singu-
larissima .
" Não possuo, disse elle, Ltabilitações p:ll'a o cargo. Seria mi -
ter para bem desempellual-o uncetal' I}s tudos novos. Sinto-me já
muito fatigado. "
c, E' muito difficil, escreve um distillcto paleogl'npbo francer.

estudando a vida de Cicel'o depois ela batalha ela Pharsalia, des-


Ltabituar.-se o homem de repente da politica ; o manejo dos ne-
gocias, o exercício do poder, mesmo quando não proporcionão lL
alma inteiro cOlltentamento, tirão o encanto a tuclo o mais e a
vida parece sem objectivo áqueIle, que não os possue mais para
preenche-la. "Verdadei ra tunica de Nesso, pam nos se l'virmos
üe uma antiga e apropl'Íada imagem, cJla prende o individuo em
CIXXI

suas fOl'tes malhas e é em vâo que pl'etende rornpé-las; como


Philoctecto al'l'iscar-se-Ilia a arrancar pedaços da propl'ia carne
nas tentativas que fizesse para desvencilhar-se.
Fõm assim com o Dl'. Perdigão Malheiro.
AI'l'cdado da representação nacional durante a 15" legislatura,
nem pOI' isso deix.ára de acompanhar com interesse os successos
üe que não era participante nem testemunha. Tão pouco se des-
cuidou de entreter activa correspondencia com os co-religio-
l1arios da provincia, esse novo fogo de Vesta que é mister não
deixar extinguiL' a bem da conservação da influencia politica, em-
bora exponha o candidato a uma serie interminavel de solicita-
ções mais ou menos importunas quando não de absurdas preten-
sões. Se a l'eserva do seu cal'ac tel' não permittia espl)ntanidade no
obsequio, não era com tudo tardo em presta-To, seguindo o pre-
ceito do sabio : sic demus, quomodo vellemus accipe1'e, libente?',
cito, sine tblla clubitatione. Punha mesmo pat'ticular esmero em
bem servir, como quem pl'ocurava attenuacl: falta , que á natureza
mais do que á vontade podia sel' imputada.
Organisaclo, portanto, o gabinete de 25 de Junho de 1875, presi-
dido pelo illustre duque de Caxia s, tratou de apresentar-se can-
clidato por sua provincia, e então, j ú arrefecidas as molquerençns,
que a questão do elemento servi l havia provocado,foi eleito depu-
tado, tendo obtido mais de mil e oitocentos votos, que o co 1_
locárão em pI'imeil'o lugar na lista dos representontes mineiros.
Logo em principio dos trabolhos legiRlati vos, na sessão de 23
de Maio de 1877, tomou parte na discussão relati va aos limites
entr'e as provincias de Minas-Geroes e Goyaz, defendendo a
primeira da peclJa de usurpadora de tcrritol'io, e demonstrando
que a sua divisa com o segunda pelo lado de oeste era o arroio
dos Arrependidos e o rio S. Marcos até ê1 sua embocadura no
rio Paranahyba, que vai [ormar o Pal'anú, como constava de uma
carta do capitão-mól' de Goyaz em 1761 ao capitão-general de
Minas, tendo além disso sido feita a delimitação do julgado de
Paracatú por aqudla di visa em 1798, ficando assim assentadas
pelo ilutO de 15 de Outubl'o de 1800, c subsistindo semprc até
que em 1815, por alvará de 17 de Maio, o julgado de Pamcatú
foi elevado a comarca e augmentado o teL'l'itorio.
Vê-se por aqui o immenso interesse que o Dl'. Perdigão Ma-
CXXXII

[beiro ligava a tudo quanto proxima ou remotamente dizia res-


peito á sua provincia natal. Sempl'e prompto a sahir a campo em
sua defesa quando se fazia preciso, não era com exclamações de
um exagerado bairrismo, que procedia. Entendia sensatamente
que melhor serviço prestava nessas occasiões, sustentando o que
era de seu direito, do que a proposito de questiuDculas começar
a exaltar-Ibe os recursos, grandeza e importancia, como se
nenhuma outra existisse que podcsse entrar com ella em lison-
geira compal'ação. Não estarião no seu caracte l', inimigo de toda
a declamação, inclinado ás idéas praticas e apreciando o valor
do tempo, essas manifestações em deslJarmonia com as tCll-
dencias cosmopolitas do seculo, e que só servem para demons-
rar en(alilnção ele espiritos incapazes de elevar-se !lil con-
cepção Lle mais largos principias.
No final deste pl-'queno discurso, em que elle desenvolveu as
razões de sua opinirLO, com aquelJa concisão de estylo que lbe
era peculiar, ferindo ao mesmo tempo todos os pontos ela ques-
tão, encontramos consignada a satisfação,que teve a camura em
ouvil-o, por esta rÓI'ma :
" VozEs.-Fallou brilhantem ente (*) . "
Comquanto a questão do elemento servil tivesse tido, como vi-
mos, solução diversa do seu pensar, e lbe fosse origem de in-
l1Umeras contrlll'iedades e dissahores na primeira legislatura, em
que tomára assento, continuou não obstante a estudar com
todo o afuu as diversas faces desse grande proulema social, re-
volvendo em sua meute os meios :lt1equaclos paI';) por meio (le
restrieçó l's impostas ao liv!'e exercicio do direito so!Jrr ,1 proj.ll·ie-
dade eSCt'Uva, torna-la menos appe tecivel e approximar o mais
possivel o desenlace final. Na sessao de 3 de JullIo, \'emo-lo,
pois, subir á tribulla para fundamental' um projecto relativo ao
commercio de escravos.
Depois de a!ludit, ao facto pu!Jlico e uolorio das gl'anLles levils
de escravos !.lo norte para o sul, e de !'ulminar essa eaçada, sobre
desLIumana, importando consequencias pl'l'uir'iosas pura a sociC'-
dade, disse que o seu fim não era tollJ er o uso dessa illlomala

«) Ann. Parl. 18TI, tomo 5, pag.289.


eXXXllI

propl'iedade, mas ele tendel' a melhorar semelhante estado de


cousas, impedindo a sua continuação e prohibindo com uma
punição adequada o facto apontado , Referio-se a projectos sobre
o mesmo assumpto, um apresentado na sessão de 1854 pelo
barão de Cotegipe á camara, e outro naquelle mesmo anno, no
seuado, pelo sBnador Teix.eira Junior, que dias autes fóra COI1-
demnado lJuasi unanimemente, apenas em primeira discussão.
Comparou a situação das provincias do norte com as do sul,
este llorcscen te por ter conservado os seus elemen tos de produc-
Cão, aquelle em liquidação forçada por baver-se despido desses
elementos, represent.ando o escravo economicamente a um tempo
o capital, como pl'Oprieclacle, e o agente de trabalho como homem.
E, pois, uma vez que se não creavão alli bancos para auxiliar
a lavoura, corno um meio de pôr um paradeiro á expedição de
Eeus agentes de trabalho, elle, receiando pelo futuro e não Ciese-
jando que essa desigualdade, que já ex.istia, se aprofundasse e
tomasse mais sensivel, causando maior perturbação, não bavendo
hoje com a cessação do trafico externo razões diversas para
manter o trafico, formulál'a um projecto muito simples, limitan-
do·se apenas a qualificar criminoso o acto de commercio de es-
cravos, e punil-o como um crime, segundo as leis penaes,
definindo IlU mesma lei o que se deve entender por tal acto de
commercio (;f),

(') Esse projecto, ainda hoj e no limbo das commissõos de agricultura


e de justiça civil e criminal, era assim concebido :
« A assembléa geral legislativa resolve:
cc Art, 1.0 Fica prohibido o commercio de escravos, quer de umas
para outras provincias do Impelio , quer dentro da mesma provincia
ou do municipio neutro: penas de dez a oito annos de prisão e multa
de lUOR a '100S por cada eS<lravo .
cc Si Unico . Deve-se entender por acto de commercio prohibido e
nuHo:
cC 1.0 Comprar para revender;
cc 2. Revender o escravo assim comprado;
cc 3 .0 Vender, com procuração ou sem ella, em fraude desta lei;
{( 4.0 Transportar por si ou por outrem para esse effeito; ,
(C 5,0 Receber á consignação para vander ou alugar;

« 6. 0 Ter casa de commissão para o mesmo fim. »


(Anlt. Pal·l., 1877, tomo 20 , pag. 26.)
CXXXIV

Mais tarde queixava- se perante a mesma camara que esse


projecto houvesse. sido mal intprpretado, affirmando que o seu
pensamento não era senno extinguir o infam e tl'anco de escravos.
A imprensa da côrte, em geral, prestára adbesão ás idéas
nelle contidas, já em editorines, já em publicações parti-
culares (*) . De varias pontos da provincia cio Rio de Janeiro
recebeu de pessoas importantes cartas significativas do apreço,
em que as med ioas propostas erão tidas por aquelles proprios,
a quem ellas mais de perto affectavão. Entre outros um ilIus-
tl'ado fazendeiro, felicitando-o pelo l.'erviço que veria prestar o
pro.iecto, .I'ecordava que com ell e outros fazendeiros, que fizerão
parte da assembléa provincial de 1874, tinhão votado em favor
da medida , que taxava em 400~ a entl'ada de cada escravo na
provincia.
No ultimo discurso que profel'io nessa sessão, e que devia
igualmente ser o ultimo de sua mallograda carreira parlamentar,
notão-se as mesmas qualidades do patriota intelligente e cbeio
de zelo pela causa publica, incapaz ele sacrificaI-a a interesses de
qualquel' ordem, moderado sem conelescendencias, justo nas
acções, franco na linguat:em. Começou applaudindo o accôrdo em
que se acbavão a maioria e a opposição a respeito de economias,
apresentando á camiJra, ao senado , um orçamento reduzido, e
analysando as l'educções que ainda nelle fizera o segundo
ramo do corpo legislativo, leml.)J'ou a necessidade de uma ligo-
rosa fiscalisação na cobrança dos impostos e da renda, de ma-
neira que se não dessem tantos e tão grandes extravios.
" O estado do paiz, exclamou o orador, é contristador; O
contrabando, as fraudes, as delapidações bem o provão . O paiz
parece estar como um corpo apodrecido, onde tudo se drsmantela
e cabe: desde o Pará até o Rio Grande do Sul, desde o Rio de
Janeil'Q até Mato-Grosso, a delapidação é geral. A renda escôa-se
aos centos, aos milhares de contos.

(') A' excepção do Dia?'io PopulQ)' e do Globo, que se mostrál'ão in-


fensos ao pl'ojecto. outros jornues o appl'ovál'ão e applaudil'ão (Vide
a Ga::eta de Noticias de 9. o lJiario do Rio de 10, a Refo1'ma de 6 e a
Patria de 14. todos do mez de Julho.)
CXXXy

" Como póde baver receita se ella se esvae, ('scôa-se como


agua em ce~to I'óto ?"
Fulminou o abuso da abertura dos creditos supplemeotares e
extraordioarios; pois, embora defioidos na lei os casos, na pratica
tem ella sielo sophismada, abrindo-se creditos supplementares
pUl'a casos nfLO admittidos, como, por exemplo, para pl'ovimento
de comarcas. O mesmo em relação a creditos extraol'rlinarios,que
se ab rem, vCl'bi-gl'atia, a respeito de obras. O govprno entende
que uma ohra é ulil, obra que não é todavia urgente, e sem
aulorisa!:ào legislativa, decreta não só a' ohra, mas a elespeza.
Louvou a commissão do senado por ter tratado ele remediar a
esses abusos, e ainda pela resoluçãO tomada de supprimir uma
disposigão a respeito do fundo de emancipação, como de separm'
a relativa á alteração do regulamento exped ido para execu-
ção da Lei de 28 de Setembl'o, pal'a ser' melbor estudada,
restituindo além disso áfJuelle fundo de uma verba que delIa
havia sido destacada (*).
Autol' do additivo propondo se cobrasse 20 % sobre o
subsid io dos senadores e dr.putados, incluido no orçameoto,
estranbou que o serrarlo o regl'itasse, levantando a questão de
constitucion alidade, pOI' não competil' á camara actunl tl'atar de
uma lei já feita pela camara transacta. (U ) Elle, porém, entendia
que não havia na constituição pl'Íllcipio algum que inhibisse o
deputado de taxar o proprio subsidio, sendo manifesto pelo modo
por que fóra redigido, e mesmo pela il'regularidade da medida,

(') O additivo a que se referia, assignado por liberaes e conser-


vadores, continha as seguinles disposições:
« Fica alterado o Reg, de 13 de Novembro de 1872 na parte relativa
ao emprego do fundo de emancipação, sendo preferido nas alforrias :
« 1. o Os escravos que tiverem de ser vendidos j uclHalmente.
'( 2.0 Os que forem offerecidos pelos respectivos senhores,
« 3 o Os que p~rtencerem a successão, cujos herdeiros não estejão
na linha dos ascendentes ou descendentes.
« 4. 0 Na falta destes, os que forem classificados na conformidade
da disiJosiçã,., do art. 27 e seguintes do precitado regulamento, o
qual se guardará tambem na aH. rria dos mencionados ns, 1. ~ e 3. »
(Ann Paj"l., 1877, tomo 20 , pago 227.)
(*.) Esse additivo fõra apresentado na sessão de 25 de Julho e ap-
provado sem discussão na de 28, (Ann,Parl"tomo 2.1877 pag, ~15 e 252,)
CXXXYl

que era como uma contl'ibuição voluntaria com que o parlamento


concorreria a bem das urgl'ncias do lbesomo, aLtento o estado
difficil em que se acbavão as finanças.
Rememnrou que em 1873, quan do se disculio a medida rela-
tiva ao modo de pagar o subsidio taxado pelfllegislntma compe-
tente, e que não podia ser alterado para si propl'Ía pela legislatura
passada, o poder legislativo e o governo de accórdo com elle jul-
gou··se autorisado para alterar a lei do subsidio, nflO por um modo
directo, mas fazendo declarar c passar na Lei de 30 de Janeiro
de 1873 que o pagamento seria feito segundo um padrão mone-
t:l.rio, do qual resultou que em vez dos 2:4008 que tinba o depu-
tado e 3 :6008 o senador, fosse de faclo o subsidio elevado, não
de 50 % como em geral se ba viu augmenlado para os empre-
gados, mas de 150 % ! queria dizer que na somma total da eles-
peza accresccu a verba avultaela ele 750:000$000.
E concluio :
« Isto o que representa, senbores? 750:000$ representão o
suor do contribuinte, parte ele sua fortuna, porque dahi é que ba
ele sabir o impo!;to para a receita, e portan to p::u'a esta verba de
elespeza.
« E o que fez aquelle aelelitivo? Procurou de algum modo
attender ás circumstancias excepcionaes em que nos acbamos, e
não allgmentar a aillicção ao affiicto desde que se tenba ele pe_
dir augmento de impostos, allivianelo-se tambem dest'arte um
pouco o contribuinte .
• Mas de quanto procurou-se allivial-o ? Apenas de 250:000$,
que daquella verba não representa mais ele 20 % sobre o sub-
sidio aclua!. EI'U uma verba relativameute insignificante, que
todavia representava sempre uma reducção a favor elo contri-
buinte, porque deste tem ele sabir a renda tambem para essa
elespella .
« Para elevaI-a não houve escrupulos na constituição!
(apoiados) .
« A constituição, senhores, eu qualifico um nariz ele cêra
(muito bem do Sr. Dantas);quando não se quer - a constituição
oppõo-se-quando se quer-a constituição não se oppãe (muito
bem)
CXXXVII

" o SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY.- ~ão ha embaraço nenbum .


" O SR. ANDRADE FlGUEfRA.- Foi um escandalo.
li O SR. PERDIG.4.0 JL<\LHErR o. - Naquplla occasião não foi
emb araço a doutrina constiluciona l. Entendeu-se que se podia
elevai' o su bsidi o, e pOI' um mario ilTc'gu l;r r.
;, O Su . ESCRAGNOLLE TAU:HY - Exagerado"
li O SR . PERDIGÃO llIALHEIRO. - Ma is que irrpgll lur ; não Lluu-

lifi carei.
" Quanto á fal sa opinião, dil"ei que a opinião formou-se desde
logo rlesfavoravelmente. Esta IÍ a verdade, embora desagl'Urlavel
de omir-se.
" O SR. rl.:wn.WE FrGDE!. A.- Mas n1í.o é falsa opinião: é
uma opinião muito verdadeil'u, muito bonesta e muito nacional.
" O SR. PERDIG.4.0 i\IALIIEIRO. - E nós boj p., cedendo a essa
verdadeil'U opinião e não falsa (apoiados), não fazemos mai s do
qu e pres ta i' uma bomenage m á verdadc, á justiça, e dil'ei
mcs mo a um procedimento mai s decente e regular .
" O SR. ANDRADE FIGCEIRA.-Apoiado .
" O SH. PERDIGÃO MALI-IErRO.- I'. pres idente, com eslas
poucas palavl'as tenbo procUl'ado lavl'Ur o meu prolesto, ao
mesmo tempo que fundamcntal' a declaração do meu voto a
l'espllito do orçamento cm di scussão; nada mais di rei. " (.1IlâlO
bem, 1ntbilo bem.) (*)
Foi o scu canto de cysne.
A sessão legislaüva encenou-s e dabi a quatro dias, e estaya
c5cripto no livro do destino quc elIe não mais vo ltaria a illllSll'aJ'
aquella tribuna com o verbo de seu esclal'ecido patrioti smo. Cada
um cios discursos que pro rel'io,e de quc demos resumida noticia ,
aflm de se poder bem aquilataI' o papel que reprcsentou como
membro do parlamento bl'Uzileiro, os certam ens em que se empe-
nhou, os se rviços que prestou, att 'stão de moelo notavel o seu
amor ao estudo e singulaJ' dcdicação pela causa publica. O ho-

(*) Ann. P arl., 1877, tomo 5, pag 103, sessão de 10 de Outubro


Anteriormente a este discurso elle havia pronunciado outro, naqua-
lidade de r elator da com missão ele justiça civil, ácerca do pr jacto
sobre s llspensão de bancos e sociedades anonymas. e comquanto suc-
cinto não esteve áquem de sua bem fundada reputação de provecto
jurisconsulto (A",n. PIJ/I"l. , 1877, tomo 5, pag 10).
ex XXVIII

mem pratico, inimigo de devaneios, fugindo de utopias paI'a só


applicar-se ao que era de utilidade, apparece neUes em sua mais
ampla manifestação, Se não conseguiu sempre fazer vingar to-
das as suas ic\úas, se algumas vezes r('alisou-s0 com eJle a para-
bola da Biblia sobre a semente lançada em terreno improprio, a
il bistOl'Ül parlamentar I'egistl'ou o lriumpbo de muilas, incOl'po-
radas boje na nossa legislação, já beneficiando uma classe res-
peitavel, já derogando um precl'ito anachronico ou ainda prote-
gemlo uma trii:ite e miserl'ima condiçfto,
Encel'l'adas as cam,lras, o Olinistcrio quiz dar-lh e uma prova de
sua conoança e convidou-o a ir pl'rsidil' n provincia do Ceará, Re-
cusou-se o DI'. Perdigão em razão de seu estado de saude, prompto
todavia a desemp0nhar q;wlquel' outl'll com mi ssão plll'a que o go-
verno o entl'ndesse apto, e em clima com o qual es tivesse familiari-
sado (*), Não houve lugal' p,lI'a apl'ol'eitamento dos excellentes
serviços que poderia pl'est.lr; a invalidez do benemel'ito duque
de Caxias motivou pouco depois a retirada do gabinete de 25 de
Junho, ultimo ela situação consel'vaclol'a, que de tão proveitosas
medidas dotou o paiz, bastando-Ibe para padrão de immorre-
doura gloria quando outl'as não deixas~e a lei do elemento
servil.
Seguio-se a ascensão do pal'tido liberal, tendo entendido a
corôa que, visto pertencel'-lbe a precedencia na idéa da refol'ma
eleitol'ill, cabia-lhe por isso oblêl-a das camal'as, cujos presi-
dentes previamente ouvil'a, Ol'ganisou-se o gabinpte de 5 de Ja-
neil'O de 1878, presidido pelo SI'. conselheiro Cansanção de Si-
nimbú. A nova situação reclamava nova ol'dem de co usas ; em

(') O marqllez de Olinda, quando ministro em 1866, o convidárR.


para a pl'eside'leia do Rio Grande do Norte, cOl11missão que nào
poude acep.itar « por não estar então nessas idéas,)) refe r~m os
apo ntamentos auto-biograprucos.
Durante o mesmo millisterio. em attenção,diz a carta imperial de 3
de Març(l de l8el6, cc aos distinctos serviços prestados ás letras, com-
pondo e publicando diversas obras e iratados juridicos o Dr. Agos-
tinho Marques Perdigão Malheiro)) fóra elevado ao grá01de commenda-
dor da ordem de Christo, de que já era cavalleit'o, feito pelo minis-
teria Ferraz (2l de Janeiro de 1861), Ainda no tempo deste ministerio
recebeu a nomeação de advogado do conselho de Estado,
CXXXIX

breve promulgou-se o decreto de 11 de Abril de 1878 dissol-


vendo a camara e convocando outru para 15 de Dezembro desse
anoo .
O partido decabido não podia contar com o tl'iumpho nas
urnas; cra isso nalural e de accordo com as nórmas do regi-
men constitucional. Louis VacIJel'Ot no seu excellente artigo pu-
bli co nllO ha muito na Revista dos Dous Mundos sob o titulo La
nottveUe Répttblique explica perfeitamrnte as razões da cousa.
No entrrtanto, os pal'tidarios fi ris ás suas idéas prepal'árão-se
para luta, ol'ganizárão-se cbapas, os candidatos expedít'ão cil'-
culares, comrçou o íervet opus rleitoraJ.
Não se mostrou o DI'. Perdigão remisso em cumpril' os srus
deveres politicos . Feita a consulta aos principaes do partido na
cÔI'te e obtida a sua acquiescencia, dirigio-se activamente aos
co-religionarios da provincia, solicitando os seus suffragios. Não
foi sem custo que conseguio animar o zelo dos tibios, que opi-
navflO pOI' uma abstençfto completa, augurando derrota formal.
Jú a esse tempo o partido conservador mineiro se achava quasi
acephalo, gravl'mente enfermo o barão de Camal'gos, um dos
cbefes que tantas vezes o levól'a á victoria. Muito, porém, era
convicção do infatigavel candidato, podião conseguil' a disci-
plioa partidul'ía e a lealrlade dos esfol'ços de todos os interessados
no pleito.
Imagine-se, portanto, que sorpresa o falminou ao receber, de
Minas, cartas de amigos, em que Ibe era rem ettida a chapa combi-
mda na côrte e da qual não constava o seu nome!
Corre0 incontinenti á imprensa, e em uma serie de al'tigos
vibmntes de indignação põz hem patente a aborninavcl traição.
A linguagem podia ser acoimada de excessiva, contraria aos ha-
bitos e cal'acter do"escriptor, sem pre lhano e corlez pllra todos,
antes inclinarlo ao perdão do que á vingança, facilmente despera-
dor de iojUl'i:ls (*).

(') Vide Jornal do Commercio de 23,25.26. 27,29 e 31 de .Agosto


de 1878.
Pela mesma via procurou em varros artigos um dos feliz es candi-
datos contemplado expticar o seu procedimento, cobrindo-se com a
lealdade, que julgou dever guardar para com os organisadores da
CXL

Mas, diz Plutal'cbo oa vida de Sertorio, o mellJor natural, a


alma a mais 6rm e quando acabrunbado por gl'andes desgostos,
que nfto mereceu , muda de costumes mudanrlo de fortuna. A
justi6caçüo desses transporte13 acha-se aliás no proprio facto ar-
guid o, resaltando o odioso que vinha do aproveitamcnto dos
sCl'Viços do cand id ato bu rl ado em beneucio da cnusa commUlTI.
Em artigo anoll)'lTIO deu-se a entender '-Iue a exel usão fàra
devida ao proj cc to sobre o lrauco iuterprovin cial de escravos, a
que já nos referimos, e ao discurso de 10 de Outubro, em que
verbcrára a dclapida çüo geral que ia pelo lmpcrio, no lrccbo
Lambem transcripto a pag ili as 134 deste es tudo.
Se verdadeira a razúo e não I"util protexlo a.encobrir ridiculos
ciu mes e mesquinbas ri validades, toda a booru se ria para o ex-
cluido, a vi lan ia do acto ficaria a seus autores . Como Lanlos ou-
tros cnb io el le vic ti ma de suas idêas j a nobrrza da declaração,
que não renunciava a e!las, sobrel cvava-se com a coragem em
conservar-se urme na estacada . A. discussão azedava-se e pro-
mettia continuar; quem sabe a que extremos cbpgaria. AilJda
neste ponto, pOI'ém, rcvelou-se a ohedi encia nlial ; sua respeila-
vel mãi receiosa Lias consequencias da contenda e parecendo
prevê-l as escreveu-Ibe rogando que cessasse lflo desagradavl'l
p olemica. Força lh e foi ccrler.
O golpe fà ra com tudo demas iado rijo, mesmo pal'a espírito
melbor temperado nas frágoas da política, quanto mais elle que
possuia a boa fé de uma alma candida, incapaz de illudil' a quem
quel' que fosse e aITeria os sentime ntos alb eios pelos proprios.
Hcsentiu-se profulJdameute da injustiça; o seu natural h)'po-
condl'Íaco tmnou-se ainda mais sombrio; não pa rccia o me smo
homem r.almo e comedido de outr'ora; meio grad o seu domi-
nava-o certa impaciencia desconlIecida nelle, denunciando soITI'i -
mento interno, latente, li espera só de occasiüo para explosir .
Apaixonado corno todos os espir itos meditativos pela vida do
ca mpo , menos sensi vel ao atll'activo da poesia que respirão seus

chapa, quanno elle era o proprio a quem o Dl". Perdigão confiava


Lodo o seu trabalho e diligencias sobre a campanha eleitoraL
Tal modo de entender a lealdade parece-se muiLo com a fé punica
tle que fallavão os Romanos.
eXLI

al'es, não te ndo nunca segundo confessava feito Um vel'30, llo que
ao guzo de uma doce e tl'UnquilJa liberdade, pouco autes de eu-
cerrada, as cumaras hav ia reaJisado o seu sonho dou rado adqui-
riudo uma grande ch,lcara nos arredores da cidade. Ahi entre-
tinha -se nos Jazeres, que lhe deix.ava a advocacia do banco do
Braz il , á qual se dedicára exclusivamente, com o estudo de sua
pl'edilecção, a l~:;tl'OllOmia, (4 JJaixamlo da contemplação do infi-
nito em face da grandeza e omnipotencia do Cl'eador, distribuia
diligentes cuidados pelas tenrlls e mimosas plantas do seu jardim,
em cujo amanho e ornamentação passava hOl'as inteiras.
Esse periodo, porém, foi de mui CUl"ta duração; como uma
pausa na sua existencia. Con trariedades , que em Outl'O tempo
facilmente tolel'Uria, mortiBclÍrão-no a ponto de fazer tran sp or-
tar de novo sua residencia para a cidade . Póde, entretanto, con-
siderar-se a sua estada [lO campo a principio uma época relati va-
mente relir. . Sem contl'::lDgimento elltreg itra-se a occupaçõcs, que
lbe deleita vão a alma, preencheudo as necess idade:; dc uma orga-
nisação, que não conhecia o dl'SCallSO e parecia uavcl' adoptado
u divisa de Vespasiano: LaboTemus . Mas a quietação, quc de
ordinario na natureza precede as grandes crises, encolltra o seu
simite no viver do hom ern. Os dcsgostos da politica aggl'avados
com a traição, que vimos de narI'ar, furão outras tantas uuvens,
que se accumulárão len tamellte sobre a sua cabcça até entL'echo-
Cat'-SC e desfec har o raio.
Não tardou muito.
No meiado do anno ele 1879 fo i acommettido de um ataque
cerebral que o coUocou dUl'anle muitos dias clllrc a vida e li
morte. Tl'iumpbúl'úo os cuidadus c/Of> facultativos e 03 dcsvelos
da carinhosa esposa, mas o estygma da fatal moleslia lá fi-
cára impl'esso no organismo; minando-o lentamentc devia r,on-
duzit' fatalmente pum completo alliquiJamento.
Nunca mai8 logrou inteira saude. () se u andar tornou-sc menos
firme, o::; oluos perdGrüo o pl'iSliuo brilbo, as feições erüo as
de um valetudinurio. Escrevia t:Oll1 c1ifficuldade e, qUl1si impos-
sibilitado para trahalho aturado , Consel'vava-se atTas tado de todo
o movimento , não mostrando interessc pOI' cousa alguma. (-~)
(*) Resolvêra por isso deixar o luga r de advogado ela casa imperial,
CXLII

E não foi só o physico alfectado. AqueHa impassibilidade


marmorca, aqueÍle sangue-frio imperturbavcl que não perIllittia
facilmente se int e rrol~p esse o fio de se us raciocinios, a admi-
ravel serenidade de se u espírito desapparece rão. Em seu lugat'
surgia agora uma se nsíb ili Llade doentia, se mpre pres tes a ir-
romper ao mais leve attrito.Assim a pl'(~sença de parentes e ami-
gos, que se apressavão em felicita-lo pelo se u restab elecimento
o commovião de ordinario a ponto de fazer derramar abun-
dantes lagrimas. Era co mo o viajor que ~mppondo-su perdida
torna, depois de perigosa travessia, a avistar entes caros, que não
cuidava poder nunca mais abraçar.
Tiol1a por .habito passar os verões em Petropolis; albeio ao
bulicio e viver ostentoso da pitlOl'eSCa cidade, attrabia-o unica-
mente a amenidade do clima. Para lá se dirigio em fins de
1880 . A'prillcipio a mudança de ares, o regimen bygienico que
---- --- - -- --- - - - - _._ - - -
que exercia havia onze annos sem o menor interesse . O Imperador,
porém, não lhe acceitoll a demissão como consta da seguinte honrosa
carta ue seu mordomo :
« IUm. e Exm. SI'. Dl'. Agostinho Marques Perdigão Malheiro. -
Só ante hontem no ultimo despacho da casa, ti ve occasião de expor a
S . M. o Imperador o motivo porque V. Ex. pedira dem issão do lugar
que tão dignamente tem exe rcido de advogado de sua imperial casa,
isto é, por não permlttir o se u estado de sa ude occ up ar-se por
emq ua nto de trabalhos, como os daquelle encargo; mas que. isto não
obstante deixava V. Ex. á Sua Magestade reso l ve r a semelhante res-
peito como lhe aprouvesse .
(( S. M. o Imperador, apreciando devidamente esie acto de delica-
deza, propl'io de V . .ffix. encarregou-me de dizer-lhe que, prescindindo
de seu merecimento e da confiança e estima que V . Ex. sempre lhe
merecell, deseja que conti nue V Ex. no exerci cio do refe rido encargo,
quundú o completo restabelecimento de Slla saude o permittir. espe-
rando por co nseguint'l qlle desistirá V. Ex. do seu pecliJo de ele-
rn issr"i. ...
( SOll COlIJ. ffilüta consideração e com a maior estima.

De V. Ex.

Amigo obrigadissimo e criado

"Ba,"ão Nogueira da Gama. »


« Rio de Janeiro, 1 de Setembro de 1879.
C:xLIll

soía obserV'ar, pois dií\Ía fl'equentemente que, passada certa


idade, cada qual deve sei' merlico rle si proprio, Plll'ecia haver
feito estacai' a marcba da en[prmidade ("'l . Ao lado de sua in-
separrtvel companbeira, dirigia os mal seguros passos, ora mar-
geando o mUI'muroso Piabanba pela estrada antiga da União e
Industria , ora intemando-s e íltl'avés do umbroso valle da Rb c-
nania, não se [al'tando nunca de contE'mpla r essa <osplendida
natureza do I3razil, que no mesmo anno de sua morte, pouco
antes, recebllrlt il saudação derradeira de um distincto arti sta e
poe ta, progenitor de um dos mais cultos e robu stos talentos
desta terra (U) ,

(,) Pa rodiava a oplOlao do Imperador Tiberio, o qual, segundo


Tacito, costumava diz er que. passados trin ta annos, cada um deve ser
medic0 de si mesmo. e zombava daquelles que, depois dessa idade têm
a inda necesaidaJe de conselhos es tranhos. para conhecer o q ue lhes
faz bem ou mal. « SoZi tus eludel'õ mp.dicorum arte.ç, atque eos qui post
tricesimum wtatis annurn. ad internosccnda CO'f'pO/'L suo tttilia veZ
nox ia, alieni consilói ind·ig erent. » (Tacitus, Ann" liv. VI. cap o 46).
(h) O barão de Ta l1nay, (Felix Emilio) pae do Dl'. Alfredo d'Es-
cragnolle Taunay. As ultim as palavras li ue articulou no dia do seu
fa 118cime nto .. 10 de Abril de 18')1 - forão: « Adeus, bella natu-
r eza do Brazil ».
Assim se l<l no discu rso do orad or do Instituto Histo rico, Dl'. Fran-
klin Tavo1'!l., proll unciado na sessüo magna de encenamento desse
an no e no qual, occLlpando-se da biographia dos socios fallecidos, pro-
nunciou a respeito do Dl'. Perdigão .iHalbeiro com a justiça e talento
do hisw ri ado r consciencioso estas elog uentes verdades:
« Foi um livro, senhores, foi um li vro que iniciou nma reforma hu-
rnanita ria, uma revo l uçã o em in entissima, que se reaii sou ha poucos
annos em noss a patria, sem sahirem do livro, do j ornal, da associa-
ção pacifi ca, do parlam ento, os que a promoverão .
« Quero referir-me á obra de Agostinho Marques Perd igão Malheil'o.
intitulada A Escravidcio no Bra:::il .
« Perdigão Malheiro foi um revolucionario do seu tempo. Para
combater a escra vidão dos negros não figurou em cOllciliabulos es_
Cl'aVOS, não pernoitou em anaiae.' insurgentes. não a rm ou o gatilho
de arma hom i cida, não atroou (s ares com este grito t remE: lldo-
« A'" armas » g rito que ha m ,io se cu lo electri sava as multidões
n este paiz. e que hoje não passa llé um a vã sombra do muito que
valóLl e 1'~ali50 u .
•, .. . .JL1Sto é reconhece r que I ·la larglleza d l1s considerações, pelo
med itado exame da escravid:1o so t, todos os aspectos, em que póde ser
CXLIV

Em um desses passeios teria dado uma perigosa quécla se


de pl'ompto não o houvessem ampal'lldo. Ainda assim o abalo
que todo o organísmo e~perimentou foi terrível; desenvolveu-se
então um epitbeli oma na lingua, olIendida por occasião do
primeil'O ataque. (*) D'aquelle dia em diante não mais pouele
sabir; augmentárão-se extraordinariamente os seus padecimen-
tos. Exbalava as elÔl'CS em pungeutes gritos, que elilaceravào
o coração de quantos se lbe approximavão, e que bem podiüo
apreciar a intensidade dellas, conhecendo o impedo ele sua VOIl-
tade e grnío softredol'. Dillicilm ente conciliava o somoo e por
poucas boras; a vigilia trazia-lhe novos e mais cmeis tormeutos.
Os medicos acoosellJárão a descida. EUa effectuou-se a "/5 ele
Abril de 1881 em penosas condições para o doente, que nüo
cessava de sol1'rel'. Era uma linda manbü de outono cbeia ele
frescura e ele encantos, em l] ua tuelo respirilva alegria e lem bra va
a vida; o tl'inado elos passaros mistmava-se com o SLlSSUI'O elos
arroios; o ar da ·serra impregnava-se dos acres pCI-fumes silyes-
tres; as flores da quaresma destacavão elo fundo verde-negro
elo arvoredo as suas rôxas côres; ao longe, embaixo as nuvens

encarada, foi este livro o mais eloquente manifesto, o mais com-


pleto libello fundad o em direito, inttJresses domesticos, economicos e
sociaes, contra a perniciosa in stituição que macula nossa origem.
amesquinha nossa historia, imprime um matiz sombrio na nossa litte-
ratura, prejud ica aos olhos elos estrangeiros a lenidade de nossos
COSLumes e nos impede ainda de ngLU'armos defllliti Vilmente no con-
gresso das nações civilisadas.
« Ao appare~imento desse livro. na parte sã do paiz vibrou uma
onda de puro e claro patrioLismo. Todos os coraçõl'ls brazileiros ver-
dadeiralnente dignos deste nom e, e sobre todos o Imperador estre-
mecerão como si se sentissem nas vesporas de uma red empção. O
livro não era inteiramente desconhecido de S. M. o Imperador;
varios capitulos seu autor tivera occasião de ler perante este Insti-
tuto; mas. completo e acabado COlllO surgio á luz das praças, mos·
trou-se illuminado de rllfif'xos nobilíssimos; foi a primeira pala-
vra do debate, cujos merecidos triumphos projectão na tela immensa
da posteridade o vulto glorificado do visconde do Rio Branco" (Vide
Diodo Official de 5 de Janeiro de 1882)
(0) Clu·iosa app roximaç1io do destino, os dous mais den odados
campeões da emancipação, Rio Branco e Perdigão Malheiro succnm-
bindo ambos feridos pela mesma enfermidade I
cxtv
densamente ennoveladas como ondas de um immenso mar de
algodão suspenso s~bre a planicie, dpsfazião-se pouco e pouco
nas mais capricbosas figuras, ora semelbavão gigantes a affron-
tal' as alcantiladas penp.dias, ora monstruosos animaes da stru-
ctura de um desses megatberios e plesiosauros recompostos
pelo genio assombroso de CuvieJ'.
Contrastando com estas scenas da natureza, que uma só vez
seculos antes, segundo a tradição biblica, em igual dia acompa-
nhára o soITl'imento da humanidade no ultimo acto da Paixão do
Rcdemptor, o gemebundo enfermo ladeado da solicita esposa,
cujo procedimento esteve sempre acima de todo o elogio, an-
ciando pelo termo da viagem ...
A um amigo que, logo depois da chegada á córte, foi vêl-o,
e inquirio de seu estaclo,respoodeu tristemente: ({ Estou encbendo
a altura. " Procurava fitamente lêl' no semblante dos visitantes a
impressão que lhes causava, como quem apprehensivo da gra-
vidade do mal, intenta penetrar o juizo albeio, qui!,:á dominado
por aqueHe temor, oriundo do mesmo instincto de conservação
collocado pela natureza no fundo de nossa alma a reagir sem
cessar repellindo a idéa de destruição, a que os physiologistas
chamão necrophobia. La veue de la mort â, veni1', dizia o erudito
autor dos Essais, a besoi1ig d'une {e1'melé, lente et di(ficite pm'
conséquent á {owrnir.
No meio de suas mais cruciantes dóres jámais desesperou
da Providencia; a blasphemia não manchou seus labios. Sup-
portava as dóres com resignação christã e achava expres-
sões de agradecimento para as pessoas da familia ou de amizade
que lhe servião de enfermeiros, ás quaes pedia desculpas pelo
incommodo que causava. Já adiantada a enfermidade levava a
cortezia a tal apúro, que tentava ainda erguer-se para receber os
que o vinhão visitar.
Ou fosse vigor do organismo ou da natureza do mal, por vezei5
parecia que o enfermo ia Ruccumbir e pouco depois reanin::.ava-se .
A chamma da vida bruxoleou muito tempo antes de lançar o
ultimo clarão. Tres dias depois de entrado o mez de Junho, e
dous antes de completar o seu quinquagesimo-setimo anno de
idade, pelas quatro horas da manbã, após lenta agonia, rendeu
ao Creador o espírito que jámais tivera inclinado ao mal, sem-
lO-CONSULTAS
CXT,VI

pre se alimentou das mais puras Íntençôes, e na isen~ão do seu


procedimento, tendo por ventura creado desaffeetos, não dt' ixou
um só inimigo.
Ao seu ente.rro , ~ue se effectuou na tarde de ~s e mesmo dia,
compareceu grande numero rle pessoas, informar];)s do tr;;;tr.
aconlt'cjmento ('~} . A' hei 1';) da sepultura. no cemilcl'io de S..10;10
Baptista rla LagOa, o DI'. Duque-Estrada Teixeira, com a viril elo-
quencia r]e que é dotado, proferio sentidas expressões de pey,ar,
recordando os serviços do iJlustre morto e encomiando as sua s
distinctas qualidades. Concluio por esta fôrma:
" Se neste paiz mais vastos borizontes foss em abertos ao ta-
lento e ao merecim ento, Perdigão Malbeiro teria baix.ado ao tu-
mulo cercado de toda a pompa das manifestações officiacs. Mais
sincera e eloquente bomenagem não lh e podcriflo comturlo
pI'estar do que as lagrimas de pnrentes e nmigos, que neste
momento prantêão a morte de um varão tão digno de serimi-
tudo. "
E de Facto ouvião-se em tomo daquella cova, por onde ia su-
mir-se para sempre o despojo mortal do illustre jurisconsulto e
di stincto bomem de bem, soluços c prantos abaFados.
A piedade conjugal mandou I'll vestir de marmore bran co toda
a sl:'pultUl'a. Sobre a lapide, cuja inscripção rec.orda duas da-
tas, a do nasci mento c a do obito.ergue-se em uma das extremi-
dad e::! um ouu'iro, sobre o qual está plantada singela cruz da re-
dempção. Assim, na alvUl'a do tumulo c no symbolo cbl'islão.
<lcbflO-se como concretisadas a vida pura do cidad[lO e as suas
lides em favor daqut'Jles outr'ora suppliciados na mesma cruz.
Toda a impl'ensa fluminense, sem distll1cçaO de pal'tidos, la-
mL' ntou o passam ento cio Dl'. Perdigao Malh eiro , cOl1sidorando-o
- - - - - - - - -- ----------_._-----------
(,) Recom mendál'a em testamento toda a simplicidade no seu
snhi rlltl nto e completa abstenção de convites, como se lê da seguint e
've l ba :
« O meu enterro fica á. dis posição de minha muI her, mas s imples
e m· le~ to , pro hibidos absol utamente convites, IlI esm o pelos j 'lrnaes,
como é agora desagradavel costume. Suffragios l.or minha alma
igul\ lmente deve sel' assnmpto exclusivamente ele familia, intimo,
nem se presta r a scenas e o~tentaçào. Dispenso, purtanto. qualqu er
s ervi ço da casa e capella imperial. de qualqu er natureza, I)
CXLm

uma perda sensh·c1 para c paiz. A sinceridade de taes manifesta-


ções é illdiscutivel; o finado nunca tivera outra clientela sp.não
a da arlvocacia; modesto, recolhido no seio da família, não era
homem para angat'iar popularidade; nem usou jámais da moeda
da lisonja para que esperasse retorno. O leitoL' saberá aliás
ajuizar desse sentimento da imprensa, percorrendo os artigos
necrologicos publicados na occasião (*).
Poderia ter deixado grossos cabedaes se por outro prisma en-
carasse a vicla.Fôra, porém ,na profissão sacel'dote,oão mercador.
A pequena fortuna que possuia repartio enlre sua mulher e des-
cendentes da linha feminina de seu finado cunhado o desembar-
gador Francisco de Queiroz, perpetuando justamente no coração
daquelles, que por fraqueza natural mais necessitarião de au-
xilios,a recordação de uma preciosa amizade.A seu irmão e irmã
contemplou com lem branças especiaes. O mesmo Instituto His-
torico, arena em que emprebendêra a sua primeira campanha
litteraria, não foi esqnecirlo : recebeu em legado a numerosa col-
lecção de mannscriplos que ha~ião pertencido a seu falJecido pai
o conselheÍl'o Perdigão Malhei l'o (U). A DÓS, que fomo s dis-
cipulo, a quem elle iniciãra na pratica da profissão que tanto en;
nobrecêra, que nos pl'ezavamos com a sua amizade, honrou-nos
com a apl'eciavel cleíxa de todos os seus manuscriptos.

(» Vide os do Jornal do Commercio, Cruzeü'o, Gazeta de Noticias,


Ga$Hta da Tarde e Revelação, adiante insertos .
(H) A noticia que deu o JOt'nal do CommerC'Ío na sua gazetilha dG
10 de Julho de ll:ll:ll e a relação que acompanhou vão transcriptos em
seguida aos artigos necrologicos,
II
CXLVIII

Eis-nos cllegado ao lel'mo de nossa grata e ditUcult.osa tarefa,


emprehend ida em testc@unho da amizade, sem medir forças,
calcular embaraços, um dos quaes, a carencia de tempo tomado
pelos deveres officiaes, acal'fetou largas in lerrupções e fez pl'otra-
bir muito mais do que cuidavamos o seu complemento, retar-
dando o apparecimento do livro das Consultas, que em pouco se
achou impI'esso.
Parecia-nos, porém,indesculpavel tratando -se da publicação de
obra posthuma de um distincto brazileiro, fossem deixados no
olvido actos que illustrárão spu nome e o viprão coltocar na
categoria dos benemeritos. Conhecido o escriptor,era de natural
interesse o conhecim!:'nto do homr.m. ,
Assim foi nosso intuito entrassem na memoria dos vindouros,
de par com as producções do saber e labor do Dl'. Agostinho
Marques Perdigão Malheiro o Iiistorico ele sua viela, cujas pagi-
nas offerecem a rea liza~:ãoviva da maxima do duque de1.,a Rocbe-
foucauld, que serve de epigraphe a este trabalbo : " Ha pel:lsoas
em quem assentão bem os defeito,:; e outl'llS que são desditosas
com as suas mesmas boas qualidades ".
Se possuissemos a penna de um Plutal'cbo ou a de um Suetonio,
aqueHes excellentes mestres que nos deixárão tão be1l0s mode-
los do genero, escrevendo as vidas de heroes e personagens
i ~ lustres da antiguidade,ou ainda a de um Loménie, o homem de
llonada,como se intitulava modestamente o autor da esplendida
galeria de retratos contemporaneos, que, na phrase de Taine, de-
nunciando as difficuldades superadas em maleria tão melin-
drosa, marchou so!Jre carvões ardentes como se fossem cin-
zas apagadas, . entl'egal'iamos confiadalllente ao juizo da critica
'este opusculo, cujos senões poderião amplamente resgatar os so-
lidos mpritos do biogL'aphado.
A' mingua, porém, de talentos que fallecem ao obscul'O biogra-
pho, consolando-se com o poetico aphol'ismo ele la Boetic,
One ne feul'ent à tous toutes graces donnees,

procurou elle supprir a ausencia de colorido, a falta de to·


CXLIX

ljues vigorosos lijue dando vida ao painel accentuarião os traços


de urna physiooomia conhl'cida, pOI' maneira a ser-lhe relevado
o comm l aim eoto. Inspi l'aodo-se, pois, em espirito de rigorosa
justiça, cUlbora o assumpto fosse por natureza apologetlco, ob-
servando oa exposição dos factos inteira fidelidade bistorica , es-
forçou-se em atlenuar os defeitos do estylo, persuadido que não
menor homenagem seria dest'arte tributada á memoria querida
do mestre e amigo .
Outros ergueráõ em honra de seu nome sumptuoso monu-
mento . NUo Ibe faltarão os primores da arte, enlaçadas em hur-
moni030 conjun cto a magnificencia e a elrgancia, a belleza da
[órma sobresabindo da solidez do fundo, o nome do artista
recomm endado pelo acabado da obra. Mas, assim como os ali-
cerces de soberbos edificios se constituem de bruta e informe
alvenaria, sobre a qual mais tarde alça-se esplrndido palacio,
o nosso tosco trabnlho poderá semelbantemente servil' de base
a bem lavrada e esmel'ada composição.
Será essa a nossa maior satisfação .
MANIFESTAÇÕES DA IMPRENSA

Jornal do COinallca·cio.- Faller.eu hontem, ás quatro ho-


ras da manhã, Agostinho Marques Perdigão Malheiro. doutor em sci-
endas sOl:iaes e juridicas pela faculdade de S. Paulo, commendador
da ordem de N. S J esus Christo. moço-fidalgo com exercicio 11 8 casa
imperial, e advogado da mesma casa. do conselho de Estado e dos au·
ditorios d~sta côrte. e socio effectivo do Instituto Historico e Geogra-
phico do Braz!l e do Instituto dos Advogados Brazileiros.
Nascêra na cidade da C3 mpanha, da provincia de Minas Geraes, a
5 de Junho de 1824. e era filho legitimo do conselheiro Agostinho
MarqLles Perdigão Malheiro e de D_ Urbana Candida dos Reis Per-
digão. .
Servira por muitos annos o cargo de procurador dos feitos da fa-
zenda, e exercêra di versas com missões do governo.
Representante de sua provincia natal por duas legislaturas. na ca-
mara dos deputados. fez parte de com missões impul't~ll1e~ , ... dis.: ilio
sempre, r,om intelligencia. criterio e aturado estudo, IIS assu11lp-
tos mais 1.rancedentes de que se oceupou o parlamellto nessa
época.
De sua penna adestrada sahil'ão alguns livros sobre j urisprudl111::ia,
de incontestavel merecimellto e de grand~ utilidade para o fóro. Entre
elles cità.o·se: o Commental"io á L ei dli 2 de Setembro de 18-1:7 :s()bre
Successão elos filh()s naturaes e s'l,a filinçíio, o bl'tnunl do procur 'dor
dos (eitos dn fa::elldn nacional dos juizos de primetra tnstn9'lCta, o
Repertono ouú,dice alphc.betico da re{ormf1. hyp()thecarirl e sobre as
sociedades de cl'edito j·paL , Illeytbil.idade da propl"iedade ,:onstitui d·::
sobre o escravo, A Escl'avidão no Brazil.
Era casado com a Sra D. Luiza de Queiroz Mattoso Perdigão Ma-
lheiro, irmã do fallecido estadista Euzebio de Queiroz, e não deixol:
descendencia.
Os seus restos mortaes forão sepultados, ás cinco hOl":\s da tarde,
no cemiterio de S. João Baptista.
A mesa do Instituto Historico e Geographico Brazileiro, logo que
teve noticia do fallecimento do seu illustrado consocio, nomeou uma
oeputaf:ão para assistir ao seu enterro. composta dos Srs. conselheiro
Alencar Afaripe, como orador. e Dr. Machado Portella. Ladisláo
Netto, Franklin Tavora, Alfredo Taunay e Rozendo Muniz Bar-
reto.
CLII

(;l'uzelro.- Depois de longos e penosos soffrimentos falleceu


ante-hontem, á noite, e foi sepultado no cemiterio de S João Bap-
tista. o Dl'. Agostinho Marques Perdigão Malheiro.
Nasceu na cidade da Campanha, provincia de Minas-Geraes, a 5 de
Junho de 1824: era filho do conselheiro Agostinho :Marques Perdigão
Malheiro, da provincia do Minho, em Portugal, e de D. Urbana Can-
dida dos Reis Perdigão.
Bacharelou-se no imperial collegio de Pedro n em 1842, e em scien-
cias juridicas e sociaes na faculdade de direito de S. Paulo em 1848,
recebendo no anno seguinte o grão de doutor.
Em 1851 desposou a Exma. Sra. D. Luiza de Queiroz Coutinho Mat-
toso Camara, irmã do sempre lembrad0 senador Euzebio de Queiroz .
. Exerce~ os cargos de bibliothecario da bibliotbeca da faculdade de
direito de S. 'Paulo, de ajudante do procurador dos feitos da fazenda
nacional, procurador dos mesmo s feitos, advogado do conselho de Es·
tado, da casa imperial e do Banco do Brasil.
Foi eleito deputado pela sua provincia natal em 1871, distinguiu-
do-se da tribuna parlamentar pela sua copiosa erudição e firmeza de
principios .
Era fidalgo da casa imperial e condecorado com a commendo da im-
perial ordem de N. S. Jesus Christo.
Como advogado era justamente considerado entre os mais distinctos
deste fóro.
Publicou um interessante livro de pequeno formato, intitulado In-
dice chronologico dos factos mais notaveis do BI'a.zil, o C"mmental'io
á Lei n. 463 de 2 SetembTa de 1847, que trata da successão dos filhos
naturaes o Manual do procurador dos feitos da fazenda nacional,
Indice alphabetico da reforma hypothecaria, etc.
De tudo, porém. quanto deu á publicidade o ex-deputado conserva-
der merece especial referencia o discurso pronunciado no Ins •.ituto
dos Advogados. de que foi presidente, em 7 de Setembro de 1863,
ácerca da illegi imidade da propriedade constituida sobre o escravo,
natureza da mesma. abolição d9 escravidão e em que termos. e que
flli, por assim dizer, o pr(,log, da sua importantissima obra A Escra-
vidão no Bra.sil-Ensaiu histltrico. juridico. social-assim dividido:
l' parte. direitos s obre os escravos e libllrtos; 2' parte. indios;
3' parte. plano de abolição.
O Dr. PeJ'digão Malheiro, ao publicar este importe.ntississimo tra-
balbo, deu liberdade a todos seus escravos, prestando por tal sorte
um duplo serviço á causa que advogava. e constituindo-se um dos
primeiros propagandistas da emapcipação do elemento servil.
O partido c onservador perdeu um de seus mais illustrados membros,
e o paiz um cidadão notavel p&la vasta erudição de seu talento soli-
damente culto, e pela integridade nunca desmentida <te seu ca-
racter.
Na vida publica, como na vida privada, o Dr. Perdigão Malheiro foi
CLIII

sempre um homem digno de respeito e estima de quantos o conhec~­


l'ão e com elle entrlltiverão relações Sua morte, ainda no vigor dos
annos, foi uma perda sensivel para o paiz .
A' sua deso lada familia enviamos nossas condolencias.

Gazeta de ~otielos . -Este notavel jurisconsulto. respeitado


no paiz inteiro pelos seus elendos conhecimentos da sciencia do di-
reito. falleceu hontem nesta côrte. pelas seis horas da manhã, com a
idade de cincoenta e sete annos, tendo illuslrado durante grande
parte da sua existencia o fôro da capital do Imperio com as suas
lições e a sua sabedoria na especialidade que professava.
Nasceu na cidade da Oampanha, provincia de Minas-Gemes, onde
viviào seus progenitores, Agostinho Marques Perdigão Malheiro,
conselheiro e ministro do Supremo Tribunal de Justiça. tambem já
fallecido, e D. Urbana Candida Felismina dos Reis Perdigão .
Bacharelou-se em 1842 no imperial collegio D. Pedro n, cursou
depois a academia de S. Paulo, da qual recebeu o grão de bacharel
em sciencias ôI>ciaes e juridicas em 184", conseguindo o doutoramento
em 18-19. quando fo i nomeado bibliothecario dessa mesma academia
cargo em que se manteve até o anno seguinte. Em 1851 recebeu em
matrimonio D. Luiza de Queiroz Uoutinho MI<ttoso Camara, irmã do
finado conselheiro Euzebio !ie Queiroz Coutinho Mattoso Camara,
de cujo consorcio não deixou descendente .
A vida publica que teve o illustre finado assignalou·se por varias
posições que occupou, entre as quaes as de ajudante do procurador
dos feitos da fazenda nacional, e pouco depC'is a de procurador, tendo
deselllpenhado este cargo por espaço de quinze annos. Por essa éprca
publicou o Manual do procurador dos leitos, obra de grande acei-
tação e repetidamente manuseada pelos interessados .
O Dl'. Agostinbo Marques Perdigão Malheiro foi tambem advogado
do conselho de Estado, advogado da casa imperial e presidente do
Instituio dos Advogados desta corte. Era superior a sua consideração
perante o Instituto. que sempre o ouvia com respeito e acatamento,
principalmente depois da sessão de 7 dtl Setembro de 1863. quando o
pranteado morto desenvolveu com admiravel proficiencia a these re-
lati va á abolição da escravidão no Brazil.
O amor e adhesão ás idéas abolicionistas estavão por tal fórma
presos ao seu espir!to. que o abalisado defensor da causa dos capti-
vos concedeu logo cartas de liberdade aos escravos que possuia e a
alguns outros que vierão a lhe pertencer por herança, exerceo10 ainda
grande influencia sobre pessoas de sua familia para que o imitassem
em tal acçào, no que conseguio o mais bello resultado Em pouco
tempo a familia de Perdigão Malheiro deixava de possuir escravos,
e neste exemplo foi acompanhado por crescido RUmel'O de pessoas de
sua amizade.
cuv
A provincia de Minas-Gl:lraes niio se conservou indifIerenle p anle
um filho tão dislincto. e que tanto zelava as tradições liberaes da
terra de Tiradentes . Em 1871 honrou-o com seus suffragios para de-
putado geral, e estes suffragios tiverão ainda honra maior pelo brilho
da posição do parlamentar na camara temporaria, onde o gabinete
de 7 de Março, presidido pelo estadista de saudosa memoria visconde
do R io Branco. por mais de uma voz sojfreu os golpes da sua palavra
e da sua intelligencia, postas ao serviço da dissidencia, que então le-
vantou-se energica e valente contra aq uelle ministerio_
Em uma nova eleição ainda mereceu a confiança de seus eleitores·
e VOlt0U a occupar o lugar de representante da nação, que sempre
desempenhou com admiração dos amigos e respeito dos adversarios_
O partido conse rvador, a que perLencia o finado, procurou sempre
aproveitar a intelligencia de correligionario tão dedicado e illustre,
ofIerpcendo-lhe pastas nos mi nisterios Itaborahy e Caxias. os cargos
de director do contencioso e de presidente de provincia, os quaes
Perdigão Malheiro recusou, limitando-se simplesmente a exercer no
parlamento as funcções de deputado e no fóro brazileiro os de simples
e considerado advogado.
Deixou varias obras e escriptos sobre Su·ccessão dos filhos natttraes
e como membro dn Instituto Historico e Geograpl!ico deixa uma me-
moria cheia de saudades e de respeito.
O ultimo ca rgo que exerceu foi o de advogado do Banco do Brazil.
Em 1879 foi victima de um insulto apopletic0. cuj os padecimentos. se
aggl'avando, prolongárão a sua exisLencia cheia de dóres. & tê hontem
quando a morte entregou seu co rpo á sepultura
A' sua Exma. familia apresentamos nossos sentidos pezames.

Gazeta da '('arde - Victima de prolongados sotlrim entos . fal-


leceu, hontem i noite, o Dr. Agostinho Marques Perdigão Malheiro,
com ciucoenta e sete annos de idade, natural da provincia de Minas-
Geraes, cidade da Oampanha, filho legitimo do fallecido ministro do
Supremo Tribunal de Justiça conselheiro Agostinho Marques Per-
digão Malheiro e de D. Urbana Candida Felismina cios Reis Per-
digão.
Depois de ter-se bacharelado no imperial collegio de Pedro II
em 1S'12, cursou a academia de S. Paulo. onde recebeu o gráo de ba-
charel em sciencias juridicas c sociaes em 1848, doutorando-se
em 1849.
Exerceu o ca rgo de bibliothecario dessa academia de 1849 a 1850.
Em 1851 .;asou-se com a Exma_ Sra. D. Luiza de Queiroz Coutinho
MaUoso Camara. irmã do fallecido conselheiro Euzebio, não r estando
desse casamento filho algum.
Dedicado ao estude da jurisprud en cia. entregou se aos misteres da
nobre profissão de advogado, exercendo conjunctamen te o cargo de
ajudante de procurador dos feitos da fa ze nda nacional, sendo ao de-
CLV

pois nomeado procurador dos mesmos feitos; lugar, que occupou por
espaço de quinze annos. Foi então que sobre este offieio escreveu
o Alam~al (lue corre impresso, e é tão apreciado no fôl'o brazileiro.
Depois de ter sido nomeado advogado do conselho de Estado, passou
a servir tambem como advogado da casa imperial pelo fallecimenLo
do Dl'. Caetano Alberto Soares.
Como presidente do Instituto dos Advogados da cõrte, tornou-se
memoravel o seu discurso na sessão do dia 7 de Setembro de 1863,
em que tão brilhantemente desenvolveu a these sobre a abolição da
escravidão no Brazil. Tanto o dominavão as idéas abolicionistas, que
foi forrando e libertando todos os seus escravos (doze) e crias, q Lle
lhe tocaram por herança; e concorreu poderosamente pa ·.'\ a liber-
dade e alforria de varios escravos pertencentes a paren; s seus e
estranhos.
Eleito deputado á assembléa geral legislativa pela sua provincia
natal para a sessão de 1871, manifestou-se em opposição ao minis-
terio Rio Branco, e nos Annaes do Pal'lamento achão-:ie gravados
os luminosos discursos, que proferio como membro da dissidencia.
Eleito de novo para a sessão de l R77, foi indigitado por summi·,
dades do seu partido para dirigir uma das pastas, ao y,ue formal-
mente recusou-se, contentando-se com dar o seu decidido apoio ao
gabinete Caxias. Anteriormente nos ministerios Zacharias e Itabo-
rahy recusára o cargo de director do contencioso, e de presidente de
provincia, preferindo sempre a sua vida ele advogado e de cultor
assiduo do estudo. Para comprovar o seu merecimento litterario e
scientifico ahi estão as suas variadas obras. que correm impressas,
e a nomeação de membro do Instituto Historico e Geographico do
Brazil.
O cargo que por ultimo exerceu com a sua profissão foi o de
advogado do Banco do Brazil, quando em 1879 foi acommettido de
um insulto apopletico, que to mou-se o principio dos seus solfri-
mentos physicos.
Se sua Exma. viuva nos merece por todos os titulos os nossos
mais siuceros pezames, tributamos tambem as maiores condolencias
á causa da emancipação, porque acaba de perder um dos seus mais
fervorosos campeões .
O sahimenio do corpo Leti lugar hoje, ás dnco hol'!ls da tarde, da
rua de Matacavallos (Riachutllo) n. 72 para o cemiterio de S, João
Baptista.

& Rcvclação.-O catalogo glorioso dos benemeritos brazileirús,


qLle nestes ultimos tempos a patria tem perdido, conta hoje mais
um nome,veuerado, respeitado e hisiorico.
O Dl'. Agostinho Marques Perdigão Malheiro baixou á sepultura
no dia 3 do corrente mez.
Contava apenas cincoenia e sete annos de idade. quando, em pleno
CLVl

gozo de vasta inteJligencia e de vigoroso tale nto foi victima de um fa-


tal insulto ~p"pletlCo, ao Ljual seguio-se cruel e terri ve l complicação
callcerusa, que dep"is de muito faz el-(l penal'. o anebatou á patns. á
faluilIa e a0s snligus. que em gl ande nUll:ero os tinha. AVezar de seus
tão acerbos suffrIDlenLo~ deu a hlma ao Creador com a resignação se.
rena e a consciencia tranquilla do justo, de que falla o Evan-
gelho.
O illustrc fallecido deixa uma reputação realmente invejavel por
qualqller lado que a encarem.
O Pantheon brazileiro abre ufano as suas portas de par em par, e
dá-lhe lugar distincto entre os grandes vultos que já possue.
E' de justiça.
Não produziremos a necrol'Jg ia do Dl'. Malbeiro. Outrosjá se dps·
empeuhárão pessa tarefa, e, melhor do que pOlleriamos tentar fazel·o,
esboçaram 'em largos traços as peripecias principaes da afanosa e bri-
lhan te carreira daquelle tão conspicno e illustre varão.
A isto nada accrescentaremos; apenas aqui Insistiremos em duas
phases ela sua existencia, na esperança de que us leitores da
Revelação não nos levaráõ a mal essa nossa homenagem au faUe-
cido.
Tanto na vida publica como na particular legou-nos o Dl'. Malheiro
exemplos dignos ele servir de modelo.
Do caracter bondoso e aff<wel, nutria sentimentos do mais elevado
e esclarecido liberalismo. Por uma sisgular aberração das co usas hu-
manas foi sempre membro leal do partido conservador; mas todos os
seus escriptos, seus trabalhos, em uma palavra, todo seu modo de
pensar, filhava-o, apezar seu, ao grande partido liberal, e tornava·o
merecedor de nossa maior consideração e veneração.
Dominado pelos nobres impulsos da sã e santa liberdade. e pelos
brios da independencia do homem e do cidadão, sempre pugnou pela
grandiosa idéa da emancipação do escravo.
Ouidou e lutou pela realização desse seu desideratum quando todos
pareciam entorpecidos, e resignaelus a tolerar e continuar a vegetar no
statu quo.
O seu nome portanto não poderá deixar de fulgurar, ainda mesmo
quando collocado ao lado elos nossos maiores, e mais provectos pen-
sadore3 e es tadis tas.
Reivindicamos, pois, para o partido a que temos a honra de perten-
cer, e pftra as idéas avançadas liberaes que professamos, parte da
gloria que em tão alto gráo cabe ao eminente cidadão. cuja perda de-
ploramus.
Finalmente, remataremos pedindo venia para lembrar ao leitor uma
das phases da viela pulitica do Dl'. Malheiro, que cumpre não ficar no
olvido, pois é das que mais o caructerisão o o tornão singularmente
diguo do nosso respeito.
Instado para fazer parte do ministerio de 1877, não só recusou o tão
ctVII

ambicionado posto, como teve a rara franqueza e corag~ civica de


dar sem rebu ço o moti vo de sua r epulsa .
Ah! se muitos outros ti vessem procedido CIo mesmo mndo I As co u-
sas não teriam chegado ao estado de desprestigio e desealabl'o em que
tudo hoj e se encontra.
llonra, pois, ao cidad ão que s oube desprezar ephemeras honras, e
cumprir o seu dever de const:iencia, la nça nd n em face ao COlTuptor-
móI' do Imperio, ao Mephisto pl1eles co ro ado, ao Cesar traidor e !Jypo-
crita essas memoraveis palavras:
Com o SI', D. Pedro TI neio se póde S o l' ministro!
O qlle diz a isso, SI'. ::larai va? V Ex. que a essas h oras es tá !,as·
sando por tào ag rad ave l experiencia. diga·nos: é isso ou nào ver·
dade?

l.e~ndo v •• lhi§ O .-0 falleddo Dl'. Agostinho i\Iarques Perdi-


gão Malheiro deixou em verba test:>menta ria ao Instituto Histllri co
e Geographico, do qu a l fóra um dos mais prestim osos socios, j á pelos
trabalhos que leu no grpmio daquella douta corporação, já no exer-
cicio assiduo durante longos annos cl p membro da comrnissão de ad-
missão de socios, a collecção com pleta dos manuscl'iptos que per-
tencê rão a seu finndo pai o conselheiro Agostinho Marques Perdigão
Malheiro.
Entre elles enco ntrão-se muitos de subido valor. como se verá da
r elação que e m seguida publicamos; grande parte forão copiados pelo
mesmo conselheiro Perdigão Malheir", que tambem da sua lavra
compoz um « Glosario de tel mos da língua portl1gl1eza e apontamentos
juridico!>,» para seu uso, os quaes fazem parte do legado.
E' para esperar que o Instituto, apreciando devidamente a lem-
brança do seu finado consocio. não se demore em dar á publíeidade
nas paginas da sua llevista aquell es dos manuscriptos, que pelo se u
valor litterario merecerem ser conhecidos.
Dizem-nos que a viuva do Dr. P erdigão Malheiro j á officiou ao
Instituto, communicando acharem-se á sua disposição os alludidos
manuscriptos:
Diario da dili gencia do reconhecimento do rio Paraguay desde o
lugar do marco, na boca do Jaur ll, até para baixo do presidio de Nova
Coimbra, etc .
Diarin da diligencla do reconhecimento do rio Paragahú e rio Verde
por ordem do 111m. e Exm . Sr. L ll iz de Albuquerque Mello Pereira
e Caceres, datado de 21) de Março de 1709.
Dial'io da diligencia dn ri o Venle. por ordem do Illm. e Exm.
Sr. Lui z de Albuquet'que Mello Pereira e Cace res. governador e ca-
pitão·g'lneral destas capitanias, por ordem datada de 26 de Março do
anno presente de 1709.
Dia rio da viagem que fez o Dr. P0ntes a tirar a configuração do rio
Guapol'é.
CLVIII

Novo diario da viagem dos rios Madeira, Mamol'é, Guaporé até


Vill-t. Bella da capital do governo de Mato-Grosso, do anno dt! 1790.
Dhll'io da diligencia do reconhecimento das cabeceiras dos rios ~a­
raré, G laporé. Tapajoz,eJaurú.que se achão todos debaixo do mesmo
parallelo na serra d<,s Parecis em Dezembro de 1878.
Diario da viagem que por ordem do Illm. e Exm. Sr. Luiz de Albu-
querque Mello Pereira e eaceres, governador e capitão-general das
capitanias de Mato·Grosso e Cuyabá. fez de Villa-BelLl até a cidade
de S Paulo, pela ordinaria derrota dos rios no anno de 1878.
Tr"tado sobre a intelligencia das cartas gecgraphicas que devem
servil' de governo aos commissal'ios que hão de demarcar os limites
do Bl'azil assignado em 17 oe Janeiro de 17iil, e ratificado por el·rei
nosso senhor em 12 de Fevereiro e por el·rei catholico em 18 de Abril
do mesmo anno.
Diario sobre as origens do rio Tapajoz .
Memoria geographica s"bre o rio Tapajoz, etc., pelo tenente·coronel
Ricardo Franco de Almeida Serra.
Tratado celeb rado em 31 de Julho de 1752 para se declararem alguns
artigos do actual tratado de instrucções acima referido.
Systema das uemarcações da parte do norte, approvado por Sua Ma- .
gestade
Cópia da instrucção assignada pela real mão de Sua Magestáde a
respeito das demarcações da parte do norte.
Nota sobre a linha recta mandada tirar desde a boca do rio Jauru
a té a boca do Sarare. pelo art. 10 do tratado de limites .
Nota sobre o rio Paraguay.
Cópia do tratado assignado em Aranjuez em 24 de Junho de 1752 e
rati ficado no Bom-Retiro a 23 de Julho do mesmo anno sobre as ins-
t rucções dos commissarios nom eados para demarcações dos limites
das respectivas conquistas pela parte do norte.
Cópia do tratado pelo qual se regularáõ as instrucções dos commis-
sarios que devem passar ao sul da America, assignado em Madrid
em 17 de Janeiro de 1751, etc.
Supplemento e declaração do tratado, pelo qual se regulárão as
instrucções dos commissarios que devem passar :la sul da Am e rica
assignado em Madrid em 1751, etc.
Artigos separados do tratado concluido e assignado em 17 de Ja-
n eiro ele 1751 sobre as instrucções dos res!,ectivos commissarios que.
devem passar ao sul Oà America, etc.
Tratado da prorogação do t ermo das entregas para se estenderem
a todo o anno de l ifll, assignado em 17 de Janeiro e ratificado em
fórma, por el-rei nosso senhor, em 12 de Fevereiro, e por el-rei ca-
tholico em Itl de Ahril do mesmo anno.
Breve epílogo das lIúticias que se poderão achar na provincia da
CLJX

terceira ordem da Penitencia do nosso santo padre S. FI' ancisco


neste reino de PortugRl.
iV[pmoriR sob re fi p~ tati~ticn ou Annly~e dos vrrdAdeiros prinripiOls
dest a SCI€llC'la e sua app l jc ~~ã o, riquezA ror~A e pode r 11 0 Brazil,
por Mal'tim Francisco Rib!'iro de Andrade Machado.
Memorial dirigido á assembléa IIllcional e ao povo francez. por
Lui? .Jos é de Bourbon COlldp. etc.
HU7.ÕOf; qUl' se nprcsent:íriio a el-rei D JO:lO 1 V em favor dos
christãos novos. etc .
Pai'ecer politico qu e deu o padre Antonio Vieira a d-rei D. J oão IV
no anno de 1664 sobre o augm cnto do rein o . etc.
Carta do rei de França escripta de sua propria mão, dirigida á
assembléa nacional, na sua r etirada para for a do reino (dous exeln-
pIares) .
Carta do gen !'ral Bonaparle ao cardefll i\fatlei.
Carta do cardeal de Lom mo fi o Pa p a . em 1791.
Carta circular que Mr. de Montm orin. ministro dos n egocios es-
trangeiros, escreveu por ordem do rei de França, etc .
Carta do marqu ez rie Bouillé á nssembl éa nacional.
Discurso de Boissy d'Anglas sobre a politica da republica fmn-
COZA, etc .
Proposta qu e o agente do duque de Bragança, D. Theor:losio. as-
sistente em Roma, fez ao Papa Sixto V, et.c.
Nova constituição. -.-\cto constitncidual da republica.
Conquista temporal e es piritual de Ceylão. ordenada pelo padre
Fernão Je Queiroz. da Companhia de .Jesus.
Do cerco do RIO, por Lopes de :'.ouza Coutinho.
Descrip ção geographica da Am erica Portugueza, por Gabriel Soares
de Souza, em 1587.
Deducção genea logica, por Francisco Felix Carneiro de Souto-
Maior.
Cartas je&uiticas do padre Antonio Vi eira (dous volumes).
Relação do que succedeu em Portugal e nas mais provincias elo
Occidente e Oriente, desde o 10 de Março de 1618 até todo o Feve-
reiro de ]6~~2, etc., por Man oel Severino de Faria. (tomo 30 ).
Aula política e cUl"ia militar, achadas em os estylos preeminenteS
e genealogicos dos c()nselbeiro~ de Estado e guerra, etc., por D. Fnln-
cisco Manoel e Mello.
Cópia dos ma nuscriptos do pad re Antonio Vieira, que não andão
impressos (dous volum es) .
Collecção da s melh ores poesia!'. que nLo correm a i"da impressas
elos poe tas que fl orescem present" mente em Portugal, juntas pelo
cuidado de A.. C. B. M., em Lisboa. 1iG7 .
Cinco manus criptos sem titulo.
Um manuscripto em italiano, aS ,l iguado L e Putt, de _ apoli.
CLX

Cópia di lettere dall Exm. Signo cardeal B. Innocenzo Casti a


Nicola Pagliarini, etc., 1775, 14 Febraio, Roma.
Avis d'une fiUe du monde à l'auteur de la lettre aux Piémontais .
Apontamentos para meu uso, por Perdigão Malheiro .
O codigo criminal e varios decret"s, annotados por Perdigão Ma-
lheiro.
Dit"s portuguezes rl ignos de memoria (A cópia é de um manus-
cripto que foi do Exm. Sr. José Bonifacio de Andrade e Silva e
pertence á bibliotheca publica.
Artigu extrahido do A mbigu de 10 de Julho.-Viagens.
Storia deIla abdicaziu ne deI Regno fatta deI Re Vittol'io.
Glosario de palavras antiquadas, obsoletas e desusadas, antigas e
pouco usadas. organisado alphabeticamente e com supplemento a
cada uma das letras que contém. além das sobreditas. outras de sig-
nificação não bem conhecidas por quem não é bem versado na lingua
portugueza. feita para seu uso particular pur Agostinho Marques
Perdigão Malheiro, 1815.
(Vide gazetilha do Jornal do Commercio de 10 de Julho de 1881).
A' PROVINCIA DE MINAS-GERAES E AOS ~[EUS CONCIDADÃOS

Havendo merecido, Rem titulos proprios, c só por generosidade


do co rpo eleitoral do segundo dis tricto de minha provincia natal,
« i\Iinas Geraes, )) a distin cta honra de d"putado ó. assembléa geral
l eg islativa, e devendo se proceder ás novas eleições em conse-
qucncia da dissolução da camara temporaria, foi minha intenção
declarar imm ecliatam ente que não erft cand idato.
Ainda em tempo o faç:o, posto que contra a opinião de ftmi goR
c1t1c1icadoR.
Creio prestar-lhes, bam como a parentes extremosos e cOlTC'li_
gionariofl, um servi ço, evitando sacrificios inopportunos.
A' Slla disposição, porém, continua inalteravel o meu limitado
prestimo e boa vontade.
Entendo um dever sacrificar-me cu só . O suicidio nem sempre
ó crim e.
Deixo sem sandad e e S('111 pezar a vida publica e politica.
No r elh·o da vida privada, na calma do gabinete, livre da acção
mephytica da atmosphcl'a politica . vou preparar trabalho, que op-
portunamente virá á lume da publicidade :- 0 p eriodo legislativo
de 1869 a 1872 será a base de estudo.
Todavia se a minha provincia e o paiz algum dia entender em
que lhes posso ser uti! achar-me-hão ao seu serviço, dCl'lÍnteres-
Radamente, e só pelo bom publico .
Eis quanto bastaria dizer se se tratasse de qu estão merame nte
particular .- Porém :
A especialidade de minha pos ição obriga-me a explicações, que
s into não sejão tão breves como desejiÍ.ra, a que pretendêra fazp.r
então agora o [aço , reservando para aquelle trabalho o desenvolvi-
mento e porm enores em que actualmenti7 não posso nem devo entrar.
P eço desclllpa de abllsar por momentos da benevolencia publica,
sob retudo quando o que tenho a di zer é, por sua natureza, em grande
parte r elativo 'L minha humildo pessoa.
Serei franco.-Sllj eito-m e á censura .

Co m gmnde he. itução, mas cedendo afinal ao nobre de. ejo de


concorrer quanto em mim coubesse ao sprviço deste paiz na vida
politica, aconselhado por alguns amigos. deixei-me enlevar pelos
patrioticos sentimentos quo me animavão. E· querendo dedicur-me
l I -CONSULTAS
CLXlI

inteiramente I.L e11o., demlttJ-m6 do nnico emprego que exercia nesta


cõrtfl, e abandonei qnasi completamente a advocacia e meus in-
teresses.
Eleito deputadG, servi desde 18Sn até a dissolução da camara
pelo golpe de Estado de 22 de Maio de 187:3. Mas desde logo. e
muito breve, se desvanecêrão de todo as poucas illnsões, que ainelll
cmbalavão docemente o mea espirito e coração.
Oonfirmou-se plenamente o conceito que eu já fazia ela mi sern e
mesquinha p olítioa em nossa terra
Mais me magoou o procedimento suspeitoso ou cioso de uns,
despotico de oatros e mofino de muitos.
Não menos, o symptoma cada vez mais pronanciaelo de prepon-
derancia da politica de campanario ou de aldêa, de nepotismo e
de camarilha.
Fiquei tambem conhecendo pruticamente o que são alguns deno-
minados ' (Jjmigo.~ polítioos.
A outros me confesso profundamente grato.
Dos adversal'ios, comquanto so1Iresse injustiças (era natural) , não
tenho todavia amargas queixas.
Quanto erão sinceros os meus desejos de servir ao paiz, em que
nasci, vê- se pelos esforço s qL1e despencli nas sessões da camara,
já concorrendo ás discussões com o mea contingente, embora pouco,
sobre questõps politicas, finan ceiras, juridicas. sociaes, etc., já olIe-
recendo proj ectos sobre importantes e diversos assumptos, além de
alguns trabalhos de commissão.
Contribui, pois. como me permittião a minha intelligencia, eetu-
dos e amor ao h'abalho, não obstante os tropeços levantados até
por quem o não devêra fazer.
Assim que :
Defendi a boa e sã doutrina do systema politico jurado, que nos
rege, e combati os excessos do poder, assim como as teudellcias
exorbitantes do elemento democratico. isto é, defendi a verdadeim
doutrina constitucional, cuja perver são. a continuar como vai, ha
de resolver-se em preponderancia e dominio exclL1si vo, ou do abso-
lutismo ou da democracia, sendo que tudo converge para o pre-
dominio desta, sob a fórnm de repL1blica federativa, aspiração da
propaganda, que avança e deita raizes.
Pronunciei-me euergicamente contra o arbitrio ou despotismo go-
vernamental, que se no interior é negocio domestico, e todavia de
graves' consequencias, applicado ás relações exteriores póde trazer
sérias complicações ; e contra a corrupção, arvorada em meio 011
systema de governo, reproduzindo-se desgraçadamente no Brasil
a época de Jorge lU e Walpole em Ingl aterra.
Defentli li cunveniencia e necessidade da descentralis!lçãú admi-
nistrativa, censurando a extrema concentraoão, pernicio so. ao C01'pO
CLXIll

social pelo desoq uilibrio de viela c for~as, o prejudicial á propria


administração.
Conseguintemtlnte, defendi tambem as lib tlrdades o franquezas
pro vinciaes e municipaes, qllasi totalmeute a nULllladas e sophis-
madas.
Pugnoi a favo r da liberdade o prel'ogativas parlamentares, cada
voz mais violadas e invadidas pelo executi vo, unico poder roal,
quo tudo tem absor vido, r omp8ndo assim o equilibrio e harmo-
nia elos poderos, mystificado SObef'C('luvmente o systema consti-
t ucional representativo.
Defendi as liberdades publicas, e a liberdade de industria e de
associação, pronunciando-me contra essa tutela forçada e inquisi-
torial, a que nada escapa, e a favor da iniciativa individual, digna
do cidadão e fecunda em r esultados.
Lastimei a ::msoncia da ed ucação politica ·no povo, falta profun-
damente sensivel em o r egimen representativo, e com particulari-
dade nas condições em que este se acha, desgraçadamente. entre nós,
-donde o grande mal de ausencia de espirito pnblico ou de opinião,
cousa aliás da indole e verdade do systema, servinclo de exemplo
a Inglaterra e Belgica.
FllÍ as~im levado a sustentar como indeclinavelnecessidade, e no
inter esse dos melhoramentos moraes do Brasil, a delTama da ins-
tl'llCção intellecLual, moral e religiosa, faze ndo-se ella extLlnsiva aos
propl'ios escravos, qLle tendião e tondem com justa r azão a ser liber-
tados . E desde logo enunciei idéas ou um plano já por mim lem-
brado em 1850, a saber: uni ver sidade, faculdades, lyceus e escolas
primarias no maior numero possivel. A instrucção e a ed ucação
fazem o bom cidadão, o bom chefe de família, dão ao povo a cons-
ciencia de seus direitos e deveres, e de sua dignidade, elementos de
força moral, do espirito e virilidade nacional.
QLUtnto aos melhoramentos materiaes, sLlstentei a conveniencia do
desenvolvimento da viação, sobr etudo por estradas de ferro, da na-
vegação fluvial e marítima, da telegraphia electrica, e outros.
Defendi com emponho os interesses da lavoura, que são tambem
os do Estado, primeira fonte de producção e de ri q Lleza do Brasil, e a
urgente necessidade de protegei-a por Lodos os modos.
Demonstrei a necessidade indeclinavel ele se tratar seriamente da
colonisação, e de pl'omover-se a immigl'ação, sobretudo pela falta de
braços cada vez maior, e proxima transformação e extincção dos que
hoje ainda servem á lavo ura .
Incliquei o systema que me parecia melhor, a raça a preferir, os
meios a empregar Lembrei dispensar-se pl'Udentemente todo o favor
e agasalho ao estrangeiro, sem todavia esqLteCer e menos ames-
quinhar os naciouaes
Connexamente tratei das questões de liberdade de cultos , e de
casamento civil, emittindo francamente a minha opinião, bem como
CLXIV

sobre as lei!'; elo locaçi'io de serviçofl e el o parceria R. Ainda no in-


teresse dessa nossa principal inelustrin, in sisti na conveniencia dn
C1'cação de bancos, que elesenyolvRo o credito agrícola e territorial
e forneção-Ihç capitaes.
Discorri sobro ri conveniencia da r evisão de nossos codigos, sob re
l1. promul ·~ação de um cocligo administrativo, e especialmente do co-
digo civil, lamentando que (a SOl' exacto o quo se propalon) se fos;;c
mendigar no estrangeiro um proj ecto de codigo civil! como se a
nação que, por seus jurisco nsultos, tem feito a sua co nstituição, o
seu codigo criminal, do processo criminal, do commercio, emfim
todas as suas leis, já não podesse fazêl-o I
Mostrei a necessidade de fixar- so a jurisprudencia por meio do
assentos, tomados pelo supremo tribunal d" justiça.
Tratei igualmente da conveniencia da interpretação do acto addi-
cional, da reforma eleitoral, da guarda nacional e r ecrutamento,
aven'tanelo algumas idóas, além de outras reformas de que tam-
bem me occupei.
Defendi a justiça e co nveniencia do não sobrecarregar ele impostos
o povo, sem prejudicar todavia as finan ças e o servioo do Estado.
Em favor da classe geral dos empregados pnblicos . entre outra!';
medidas, demonstrei a injustiça do imposto sobl"(~ os vencimentos:
forão delle alliviados. Bem assim forão r eduzidos os direitos exis-
tentes e vexatorios sobre os officios de justiça e outros.
Alcansei, tambem, a abolição dos 2 % substitutivos da dizima
de chancellaria, desembaraçando assim os cidadãos ·desse eutr9 Ye
11[\ demanda de s ua jL1stiça, e desse imposto vexatorio, ali:is larga ·
mente compensado pelo do sello.
P arallelamente obtive a abolição da chanccllaria dRs Rela~õcs,
verdadeiro anachronismo e inconveni ente s up erJlLlidade.
Sustentei a vantagem, não contrariada pelo direito, ela conve rsão
dos bens das ordens r eligiosas em apolices da divida publi ca. com
proveito moral dessas corporações, bem do Estado e da propria
religião. Mas pronunciei-m e decididam ente co ntra a s uppr essão,
a inda por fórma indirecta, elas mesmas c rdens.
Fiz jllstiça li. nobre e hOlll'ada classe da magistratul'R brasiltlira;
pronunciei-me energi camente co ntra as aposentn<.;ões forçp,das arbi-
trarias; mostrei a necessidade c conveniencia de constitLül-a em
melhores cond ições quanto lÍ. sua sagrada missão, e co ncedendo- se-Ihe
vantagens e garnntias . E desejando Rcndir desde logo á sua sorte
material, obti \Te (leal e ge nerosa mente coadj L1vado pelos collegas) o
f1.ugmento dos sem; vencimentos, apezar das dnvidas c embaraços
do goYerno.
Lu ll\'" i os serviços relevantes o gloriosos feitos ao Imperio pelo
exercito c marinhf1., prestando fi seu favor e melhoramento o meu
concnrso.
Fiz igualm ente justiça á gua rd a nacional do Imperio, defen-
CLXV

€lendo-a das accui;ações qlle conLru, ella se levanLt1vam, e pronuncian-


do -me conLra a S UIl, abolição; mostrei os relevantes serviços por ella
prestados ' -01 todos os tempos, e mais particularmenLe no longo e
ditlicil período da guerra do Paraguay, concluindo por lembrar ser
olla digna de recompensa._
Quanto ás relações ex.teriores, em iLli minha opinião a favor, em
geml de uma política americana, que mais nos assegLU'e a amizade
e cordialidade ell) o novo conLint;;nte a que pertencemos, bem como
sobre a nossa aLtitude para com os nossos vizinhos, lembrando a
largos traços a linha de conducta e meios a empregar, politica
elevada e isenta de suspeitas.
Em mlütos outros actos e assumptos concorri qllanto me per-
mittião as circllmstancias, nem sempre favoraveis ás minhas inten-
ções e boa fé.
De doas ainda farei menção, e mais partielllarmentc de um delles
me occuparei.
Discutindo-se, em 1870, a reforma judiciaria, expaz as minhas
idéas. um plauo . e offereci varias emendas, concordando em outms
apresentadas por algllUs collegús. Algumas achão-se hoje Ult Lei
de 20 de Setembro de 18i' l _ Votei, porém, contra esta; porque, não
obstante, Cll não podia absolutamente concordar, quer com o que
tinha passado contra o meu voto na camara, quer, ainda menos,
com o que se havia feito no senado A execução já está provando a
justeza de minha r ec usa; o fllturo melhor o fará .
Qllanto á r eforma do estado $ervil, desde a sessão de 1Bf:i9 eu
tomei a ousadia de indicar qual seria, no meu entender, o caminho
mais acertado para inicial-a. Em l870 offereci alguns projectos á
consideração da camara para que esta resolvesse em sua sabedoria.
Fiz tentativas moderadas. Nada se quiz em tempo aceitar e fuzer
prudent~mente. _. Grande erro. O r es ultado foi a explosão de 1871.

Conheci, logo desde cedo, que neste Brasil, o merecimento, as


habilitações ::.inda que especiaes, e os serviços, são recommendação
desfuvoravel, ao menos para aquelles qne não têm a felicidade de
cahir em graça.
Conheci igualmente que uão se quer no depntado UUl r eprei;en_
Lanto on mandatario da narão.
Estas minhas convicções cl'escêrão até á evidenda, principalmeute
quando o governo (ministerios de 29 de SeLembro e de 7 de Março)
entendeu promover a solução do problema da reforma servil, e por
occa'óião da discussão (1871) da r especLivl1 proposta.
CLXYL

II

Obtida, quasi silenciosamente. a licent}11 para a imperinl viagem,


ent.endeu o gabinete de 7 de Th'brço que do mesmo moc10 faria t.ran-
sitm' a propost.lt sobre :1 reforma senil, upresonLadll com a maior e
geral sorpresa em a noit.e do 12 de l\Iaio, qLlando já havia, da com-
mIssão especial d'l camara em 1,~7(l, um projecLo que, convoniente-
mente modifLCado, era preferivel ao do governo.
Aquelh apresenLação foi o part.o de uma conspil"l1~ão omcial,
sem conhecimento nem audiendia de um s6 membro das camaras.
Qlleria-se o acto, não propriamenLe legislativo. mas em fónna de'
cal'ta ou de Otlto)'ga sobe)'ana.
O lim. por mais sant.o que fosse, niIo jusLiftcaya o meio ou o
modo .
O 'parlamcnLo foi absolutamenLe desconsiderado, e havido apenas
por uma chancellnria para a simples formalidade de dar LmusiLo ás
resoluções do executivo.
Tanto mais do esLrauhar em relarão ~I propost.a e gravidade do
objecLo, quant.o o chefe do Eslado ULlsent.ava-se do Imperio, dei-
xando assim o governo pl'lvado da sua habiLual iufluencia, com qlle
prosenLe podera cont.er os excessos de zelo dos exccuLores.
Semelhante procediment.o era altamenLe olrensivo da dignidade
elo parlament.o pela sobranceria com que era esle traLado, assim
como dos direiLos e prerogativas da camara, que na queslão jll
havia exercido a iniciaLiva, aliás á mesma deixada, e até reconhecicht
(bem ou mal) pertencer-lhe sobro o assumpto, pelo galJineLe de 16
de Julho, a1tamenLe oJl'ensiva dos sãos principios const.iLllcionaes
e parlamenLares, ofl''3nsivo da d ignidade do represenLaute da l1a~ão,
o mesmo iujuriosQ. pela falta absolLlta de qualquer aLLeu~ão ainda
de simples civilidade.
Assim que, fui levado u i nscrever-me contL'U o gabinete na dis-
CLlssão de resposla á faHa elo t.11rono, não Lant.o pela ql1estão da
reforma servil embOra divergisse em pouLos importantes, COUlO prin-
cipalmente pela questão política. infelizmenle ligada á ela reforma;
<].uesLão qlle, prendeudo-se a ouLras t.ambem de ordem politica. do
igLlal, senão de maior gL'Uviclade, tomava-se complexa. inLeres-
sava profuurlamenLe t.odo o nosso direito publico, e mais parLicu-
larmente a vordacle e pllreza do sysLema consLitucional represenLa-
h"o, compleLament.e falseado, dogenerado e elesmoralisado.
Não me foi possi vel explicar-me então, por se começar desde logo
o t.yranl1ico e ÍlTital1te expedienLe dos encel'l'amenLos, isto é, a as-
phyxiu da liberdade de lribuna.
Só mais tarde pude fazêl-o, mLlHo ligeiramente, de enyolla com
u discllssão da reforma servil. Foi esta pam mim apenas oooxsião
do mell pronunciamenLo politico, e não (\ OClusa da minha opposição.
Olllros tambem se pronunciál'üo conlra o goremo . E !l reforma
CLXYII

foi por este convertida inconvenientemente em questão de confianlja


ou de gabinote.
Abusando-se, porém, da credulidade do povo, que facilmente re-
cebe a uirecção que lue queirão imprimir, sobretudo em assumptos
qne possão sublevar os sentimentos, começou-se desde logo a Cl'eur
a f~Llsa opinião de que era adverso á emancipação quem discordava
da proposta, aiuda que fosse de idéas mais adiantadas e mais hnma-
niturias! açluando -se as ~más paix.ões e até o odio I A tal ex.tremo
conduz a animosidade política!
Systema predilecto do gabinete de 7 de Março.-Quem não subol'-
cEna cégamonte a sua opinião á do governo quanto á reforma, é
hostil, é retrogrado! qllBmlhe nega voto de confiança, é faccioso I
quem o censura por infracção de tratados, é amigo do estrangeit·;)
e traidor á patria 1
Dominárão-me, portanto, sempre na opposição que fiz ao gabinete
aquellas grandes questões politicas, por serem as que me merecê-
rão (tal vez erradamente) mtliol' consideração, visto como erão e são
do nosso presente e de todo o nosso fllturo politico, e affectão essen-
cialmente as liberdades publicas e as proprias instituições, no
entanto que á reforma não liguei a mesma importancia, por isso
que, em minha opinião e intima convicção, elt via com prazer que
a emancipação marchava felizmente por si, e com tal celeridade, im-
pellida pela força irresistivel da idéa inoculada na generosa socie-
dade brasileira, que, ainda qnando nada se fizesse (a não ser a liber-
tação geral immediata), dentro em poucos annos a escravidão não
teria representantes na terra da Santa Oruz.
Que a marcha polLtica do govel'llo era digna de severa censura
provão-o dous factos notaveis e significativos: [o, A sua estronrlosa
derrota eleitoral em lu de Março dA 1872 por occasião da eleição
senatorial pelo Rio de J uneiro, derrota qual nunca entre nós se ti-
nha visto; 20 a sua derrota parh1.mentar em 21 de !llaio, para a qual
conconeu grande parte daquelles mesmos deputados que na sessão
de 1871 o havião sustentado ,
QLUtnto á reforma, eu não lhe era adverso nem podia ser. Enten-
dia, ao contrario, que alguma cousa se dovera fazer, e o desejava,
como na propria camara demonstrei desde 1869.
Divergia, porém, do systcl1la a adoptar-se para SOl' ella eucetalla
ou começada.
Confiava mais, do que o gabinete, na acção moral da idéa, e do
principio religioso della inseparavel, elementos de primeira eilica-
cia, e que convenientemente dirigidos o auxiliados por medidas pru-
dentes dariào grandes resultados.
A nação ia por si mesma extinguindo o abominavel e deshumano
facto da escravidão, E dahi lhe viria, a maior gloria. Foi-lhe esta
einbaciacla e arrebatad:l, 'iinpo n,d~ -B -lllJ a reÍ'Jrm:\ do m:)lto com:>
CI.:-: \' III

so intentoll, dirigio e docrotoll, al'l'unc:.mc1u-sc alei ~L camam poht


seellwção e violencic~ ! e ao sonado polo cansaço!
E o que é mais lamontavel, ICl'antou-:,e desi'arte, por desazo do
goven1o, contra u illéa, r C~Ístenci[\, que untes n'lo existiu . v, g., no
Rio de Jancü'o; rosistencia que ha de n:.liumlmcllte 501' ollstuClllo
ao dese1l\'oll'imento da reforma, com grave clama0 de tão generoso
Iim, eom inconl'enientp. manifesto o talvez mesmo perigo,
Além daCjuellas razõos politicas de ordem superior, LJue detel'mi-
ll:1l'llm o 1ll0ll procedimento, e da lIivcrgencül sincera l!Llanto ao moelo
Lle inicia.,- 11 reformo, alguns factos, e111bor" de ordem di versa, não
deixárão de impressionar-me, comquanto não determinassem a mi-
nha opposição. nem podessem determinaI-a senão os que bnhão
caracter publico.
Os legitimos interesses de miullU provinci~l, e sobretudo os de seuS
melhoramentos moraes o materiaes, datão forroa o outros, crão
pelo gabinete sacrificados a co 11 veniencias politicas de OCCtlsião e
a provÍncit\Cs rivalidades mal entendidas.
Demais. ou não vi" c.onsidel'ada, como tinha direito [\ sêl-o, a
minha brioso, mas desditoso provincia, sondo que no parlamonto
contava eUa trinta representantes, Com protllllda magoa cu a via
tratada, particularmente pelo gabinete de 7 do Marro. com o maior
desdem. como UUla Beocia, mtjos filhos para nada erão julgados
aptos I Ttt nto mais sensivel, quanto isto se dava no domin io cha-
mado conservador, ao in verso do que succedora llO dominio li beral
e em outras éras ,
Com aqueUe procedimento do gabinete, e pOI' estes factos, elt me
sentia aeorbamente offendido, humilhado direi, como r epresentante
da nação, e particltlarmente pela minha provincia.
Por outro lado, sen ti-m e accintern~11te ferido tambem (ponelo de
parte a moelestia), em minha legitima susceptib ilidade, üesele que
conheci que systematicamente so cuidava de aneda r o meu hnmilde
nome, sob varios pretextos, o ató pelo fltndamento ele não con vir
pessoa de opiuião ll1ltiLo pronunciada. sobl'e a emancipal)ão " ,
O moti VJ roal e yerdadeiro ora outro e transparento, Politica
florentina I e . . . politica que re5011'0ra systematicamente imp edir
que o partido liberal ft\ça as roform:ls por eUe reclamadas, e ins-
criptas no sou programma, na sua bandeira ,
Política applicftda indi vielualmente. arredando· se por varios modos
cidadãos distinctos, entre os quaos tlpentarei o muito illusirado
Sl'. conselheiro Nabuco de Araujo, que aliás. om rela~.ão, por exem-
plo, á emancipação. apre5e11tára no conselho elo Estado um projocto
notal'el, de qUE> a comlllissão especial da eamara de 1870 em grande
parte se apropriou.
Politica tacanha que se resonte do defeito, muito eomlllllm no
Bmsil, de abater o merecimento alheio por mosquinho espirÍLo de
in\'eja; defeito qlte determinou o conde Russell tl clll ittir o juizo
CI,XIX

segltinte: que o Brasil nunca, ou ao menos tão cedo, seria uma


grande nação, porque os brasileiros são os primeiros a deprimir os
seus homens mais eminentes.
Ell havia commeLtido uma grande falta; havia tido o arrojo, neste
paiz. Lie levantar francamcnte cm 186 a questão da emancipação,
indicando logo a idéa capital a rcalizar- libel'dade de 'Jascimento.
DisCllLi pela imprcnsa; publiquei no J oraal de 17 dc Abril de 1867
um plano. Desenvolvi a materia em um longo trabalho, A Escravt-
cirZo no BI'asil, (h.dó á luz em 1866 e 1867, o qual tive a infeliz
lembrança de dedicar-ao BI'asil-minha patria, seguind o o exem-
plo do padre Manoel Ribeiro Rocha, que, em 1750, dedicou-á SS.
Virgem l)!far"Ía- a sua excellente obra Ethiope Res.qatado.
Era, pois, de esperar que fosse punido com o proposital afasta-
mento, e até com a descortezia, aquelle que (sem esquecer olltros
siuceros pbilantropos; havia contribuido com os seus estudos, e3-
criptos e esforços de longa data (' ), com a propaganda pela imprensa,
para poplllarisar a idéa da emancipação, recebida ainda em lSJi:! a
medo no publico e pelo proprio governo; aquelle que, como van·
gllarda (e OlÜros). supportou o choque e arroston o odioso; aquelle
que assim eOIlCOl'l'eu poderosamente para desbravar o caminho, por
onde passassem vaidosos; aquelle que com seus escriptos, tra-
duzidos em francez e inglez, e conhecidos com lou\' or na Europa e
na America, igualmente cúncorreu para dispõr favoravelmente ao
Brasil a opinião estrangeira; aqllclle que mesmo no parlamento
havia mostrado o desejo sincero de que se inallgllrasse a reforma
em occasião e termos habeis, iniciada pn,dentementc a politica abo·
licionista.
No entanto forão todos beber idéas naqllelles trabalhos, e em
grande parte a materia elos relatorios, pareceres e dos seus dis-
cursos . Gralhas a pav.onearem-se grosseiramcnte com as plumas
alheias!

(,) Vide o que disse ha pouco o autor do artigo-Oamões e os


Lusiad'Ls-no Diario do Rio de 29 de Agosto de 1872, pag l a col. 2',
chamando até eminentc pllblicistti. Ahi se lê :
« Ao lado deste iniciador Tavares Bastos) da nova época eco no-
mica devemos conoe!!r o S1". Perdigão Malheiro. Seria injustiça
não collocar o seu nome enlre os reformadores moraes do paiz.
-' o ponto especial de vista do Brasil o illustre jurisconsulto pres-
tOll-nos o mesmo sCl'\' i,o que fez li hllmanidade o celubre autor da
Ilistal"i!/' do dil'eiLo dlS gMtes, o pl'ofe3sol' de Gand, M. Laureni.
Exhibindo a historia da escravidão. castigou a injustiça da organi-
sação social, e faciliLou a realização das aspiraoões que em épocas
generosas havião concebido J. B. de Andrada e Leopoldo Burla-
maquo. »
CLAX

o que tem de bom a propria lei de 28 de Setembro, aUi foi


indicado, sustentado e desenvolvido: o que tem de máo, foi apon-
tado e combatido: o que tem de pessimo nem lembrado foi.
Não contl3~tes . levantárão, por despeito. censuras inju tas ao
meu procedimento quanto á questão . Sustentei na discussão todas
as minhas idéas, e as mo,lificações, ali ás mais favorav eis que em
alguma!! hA.via, como constA. dos meus discursos. E' acaso inter-
dicto modificar suas idéas? Estava eu inhihido de o fazer, quando
outros o fizerão, e quando tal é a lei do mundo intellectual? Não
foi apeuas um Msa, io o que publiquei, suj eito a novos estudos
que tenho feito, como declarei francamente na camara em a sessão
passada?
E em política de opposição pretenderão taxar de r etrogrados, e até
escravagistas, outros. que tambem divergião do modo de SOhlÇão
proposto pelo gabil1flte. quando o mesmo não fizerão a respeito
daqltelles que, embora igllalmente divergissem, ou vutárão por ell u,
ou votando contm co ntinuárão governistas! Não "ião que este
apaixonado procedinlento ia prejudicar a proprÍtI idéa, l evantando
contra elIa indisposição que anteriorme nte nã, ) havia I
Era porventura retrogrado ou escravf\g ista o barão da Villa da
Darm. que. apezar de govemista. se oppôz á proposta e contra
eUa VOLOu , pxpo ndo entretanto o seu sytema d · emanci pfl<.,ão?
Erã,) retr<lgrados os disLiuctos senado res q1le quasi un,\nilllementtl
cellsurárào a propo~ta, e que senão fôra a pr~ssão ou urgenci a, e
o perigo creados pelo governo, provave lmente terião yotatlo por
moJo di verso do q lle fizorão?
E, mais particltlal'mente, erão es';ravllgistas aqllelles scnadorúS
ql le, cohér entelll';lIte com as s nas eenSLU'as, Livúrão a coragem .te
negar o seu yoto, expenJe ll do no elltánto outras i léus emáuei-
padoras?
Era escravagista o b ll'ão d tS Tres B'tLTáS que uos seus dis cursos
apresentull pruj ';cLo ap pro ximnclo ao do governo, COIl1DaLeU o deste
e votou e')lJtra e'lle?
Era esel"Uvagista o ill Llstrado scnador Silveira da Motta, aliás o
iu~u n sal'e l abollCiol1lstu, que, embora afiual votasse unicamente
pelu idé..! da hb ~ rd aJcl do lHLscimenLO, pronunciou-se contra a pro-
posta, e a principio votou contra o proprio artigo lo? oUe que
. havia pl"Op03tO, como sustitLttivu, a idéa de fix ar-se um prazo, isLo
é. a c,nancipa,:iio simLtltanea differida? idéa nmito mais abolicio-
nista?
Era escnwagista o senador Cameiro de Gampos, mes tre em scien-
cia eco nolUi~a, e que, pr'lllnuciando se e votando contra o proj ecto
elo govemo. hav ia tambem olIerecido como substitutiva a idéa do
prazo? systema ou idéa mLuto mais adiantada, e que importava
nada menos do q na a il11mediaLa libertação gtlral elo escra,os, com
CLx~r

a obrigação unicamente de servirem ate chegar o dia fixado, pois


ilcal'ião constituidos desde logo em condição de statu libe)'i?
Era retl'ogrado e escravagista o clistincto chefe liberal senader
Zacarias, ql16, fazendo a critica da proposta dQ governo, votou
contra ella, e todavia apl'eSel1toll ideas muito mais libllraes, justas,
hUluallitarias e ci Vllisadoras? elie o corajoso presidente do gabi-
nete de a de AgosLo, qlle primeiro firmou em documentos ofl'tciaes
a illscripção da emallcipação servil?
E remonLando a Lempos anteriores, seria escravagisLa o sabio
bispo D. J. J. da C. Azeredo CouUnho, que aliás aconselbava o
propl'io trafico de escravos? o philanll'opico Jose Bonifacio de An-
drada e Silva que, na Slla 1Ilemoria e projecto de l823 (art. 10) ainda
o mantinha temporul'Iamente e facilitava a illtroducção de escravas
para se favorecer os casamentos entre os escravos?
Sêl-o -hião o virtuoso padre Las Casas (bispo de Chiap.pa), e o
grande padre AnLonio Vieira, que, defendendo a liberdade dos in-
dios, aconselhavão a substiLuição por escravos da Africa? Não forão,
pelo cJnl,rario, replttados sempre os apostolos, os verdadeiros liber-
tadores, aqllelle da America Hespanhola, e eSLe da America Por-
tugueza?
Como, pois, preLender-se qllUlificar por a~uella fórma odiosa qllem
diverge quallto ao motio de resolver o problema da emullcipação e
de iniciar-se a reforma?
Em honra do Brasil protesto com toda a energia. Não ha llelle
uma só pessoa que qlleira a perpetuidade da escravidão, que seja
escravagista.
Se ell estivesse convencido de que os divergentes, aliás talentos
illust.rudos e corações philanthropicos, erão absolutamellte rcfrac-
larios a qualquer medida, não podend(l, por outro lado, acompanhar,
céga e forçadamente o governo, ier-me·hia completamellte isolado;
leria procedido, como, v. g., no senado, o distincto e nobremenLe
aHi 1'0 Sr. Zacarias.
Mas a todas essas accusações injustas, falsas. injuriosas e odio-
sas, opponho a opinião cmittida, em um momento lucido, na Circ.
do ministro de estrangeiros de 30 de Setembro de de 1871 ás lega-
ções brasileiras, onde se lê o seguinte:
« A opposição que taes medi.tas encontravão no parlnmento não
teve por origem principios radicalmente contrarios á proposta apre-
sentada pelo gonmo em 12 de Maio deste anno; llinguem preten-
dia manter a instituição da escravidão, condemnada em todas as
consciencias . Houye diyergeucia quanto ao acerto dos ·mcios pro-
postos ... »
CLX,'1l

IH

Oomo, á força, de r epeti r inexactidões em relação á emancipaçi10


e á reforma. se tenha adulterado a verdade e tOl'turadü as iutenções,
seja-m e permittido restuural-ns, r ecordando aqui apenas alguns
pontos capitaes. em suprema syntbese .
Se da minha parte pequei foi antes por excesso de zelo e inte-
r esse pela CHUSfi publica, e mais especiallllente por amor da idéa, a
qLle tenho cons~grado o melhor tempo da minha vida.
li; se dos factos todos são juizes, dos motivos que determinão
em cónsciencia o procedimento de cada um é este o juiz unico, e
tem o direito de ser acreditado. Em convicções. idéas e sentimen-
tos humanitariamente emancipadores, fi ninguern cedo a prilllazia.
Embora uma ou outra opinião mais r estrictil'a sobre o assumpto
se iÍvesse em algum tempo manifestado (circumstancia de que, por
especulação politÍl.:a. o govel'llo sagazmente se aproveitou para crear
indisposil;;ão e animosidade contra os que se Ih .. oppunhão), não
por desejar a pel'pptuiclade da >?scra\'idão. honra seja feita a todos,
mas por confiar da ficção do tempo, e principalm ente da marcha
prngressil'a d>ll1Llmanidade, che~áriio tod'Lvia a accôrdo, aceitando,
para iniciar a reform a, as idéas consignadas no substitutivo ou
emendaI:; offerecidas COlIl a minha assign>ttu ra na terc ~ ira discus -
são, e pelas l]Ll"es "'ltárão tndos os divergenteg presentes (trinta
e cinco', c teriào provavelmente votado os nusentes, ao todo qua-
rcnta e quatro, cmendas que mcrecêrão ser de novo apresentadas
110 senado e alli apoiadas.
Mas, além dessas idéas . eu me lJav;a reservadn o d il'eiLo de produzir
outras illuividlwlm ellte: e o fiz no cor rer do~ meus di,eursos, onde
o decl1l.l'ei , como no seIJado igualmente fizerão algLlns de seu::; illus-
tres membros.Eu teria por ellas votado se consignadas do modo que
me parecia mais justo e proveitoso, como opinei por algumas da pro-
posta do governo e voiei quando se procedeu á votafião por artigos
na segunda discussão. e é facil de averiguar pelo que delles co nsta e
pelas emendas oIferecidas.
Entre diversas disposições, que tambem esta vão naquella pro-
posta, aceitas pel0s div. rgeutes. figura como ca.pital a do 1'esgate
successivo, lI ão pelo mesquinho (undo de emancipação naquella con-
signado, e s im por um [JTa11cle f undo , systema que, altendendo ao
mesmo tempo á libertação e melbor futuro da geução nova, con-
sultava mais largamente a da geração actnal (o que é de intuitiva
e superior "an tagem e ponderaçãq), e as conveniencias particular
e publica ligadas á emancip>tção; Idéa preferida em IS·B pelo duque
de Broglie, aliás incontestavel chefe dos abolicionistas em França,
adoptada na lei franceza de 184 J, pela Suecia e outras nações .
Soube mais tarde que alguem era de opinião que se resgatassem
na pia baptismal, mediante modica l'etribuição, os filhos das eSCl'a'!!
CLXXTJT

va8 nascidos depois da lei . Eu não esta,a longe ua idéa, e j ,\ me


hrlYif1. occonitlo consignal-n formalmente . Ma,; e11a 8e achava, de
ce r to TIl otlo, imp li cita nas emendas referidns. Demais. eu preferia,
sobre todos os nlviLres quanto fi essa idéa, a consagração pura do
principio da l iberdade do nascimento em todn a nobre grandeza ela
flun simplicidnde, como havin lembrauo em l t,(i::!, () (\0mO formulei
no meu discul'RO de 26 de Agosto ele .IH'il. f1. exemplo do que pam
Portugal el ecr etou o AlI' . de l(j ele Janeiro de 177:1; idéa assim ex-
clus ivamente minbn, n1io aceita nestes termos pfl lo governo, qtv',
aclstricto ao que se pensoi.rn e lli5sera em 11'l(i7, consignou em. varios
p:wngraphos elo art. 10 da proposta, hoje lei, di"poRições eleshumn-
nos e barbarisadoras. quo dp snatu rão e dCRlu~triio completamente
aquella idéa funtlanl"nLal. Assi m que:

Suj eitar essa misera geração nova a servil' gratuita e for~lI.dam e nte
ao senhor de suas milis até a idade de vinte e um annos \Sl l o,
art. O) equivale li. e>cravidão ele facto, 011 antes á ser'vidiZo. assim
Cl'eada pela propria lei, como outr'ora se dispõz quanto a indios nas
cartas régias de 13 de Maio, 5 de Novembro e <! ele Deze mbro ele 1808
e de 10 ele Abril el e 1809, sendo necessario que tal servidão fosse
extincta, qua nto a preterito, pela lei de 27 de Outl1bro de 1831
art , i:l o
Se, em 1~67, lembrei esse dostino foi pOl']ue, desejando ,ór
ac~Ha a idêa ca plttl. buscava tamb em no int er'~se um movei
para esse fim; aos meus sentimentos e iMas nessa época nno ora
tão repugI1!tnte o expediente. Porém desde logo indiqu ei eX f,'res sa-
mente opinião desfavo!'ayel li. sua manutenção (Vide parto 3a
pag. 2cJ8 e ~29).
Com o progresso da idéa abolicionista e 110VOS es tudos r epug na-
va·me agora semelhante alvitrc; e fo i eRia uma elas idóas que Cl1
proflwllamelüe modifiqltei, razão por que, j{L em 1870, em 11m dos
pl'ojectos que tive a telllOraria lem brall ça de submett('r oi. dcliberaçiio
dfL camara, e CLtjf.L inscripção era: No Brns'Íl todos rta,sceln h'V1'rs
e i .'gerLUOS, eLt ha\'ia r eduz ido o prazo do sprvi,o ti. idade de dl'zoito
annos, por mais favoravel.
~(' em 1b'71 formul ei no meu citado discllrso (l principio da li ber-
tação inllnediata ela gera{:ão nova e m toda a sua Rimplicidac1e, de-
clarando que n est(,f; t ermos votaria por Illle com prazer, as razões são
claras, e (.'u as dei logo, accresc, ' nf a nd o que tlest'arte prorluziriA.
elle gra nd es resultados .
Nem á vistA. de Il"ssa legislaç'io orpbA.nologicn. havia necessidad e
daquella providencia: perquanto, s~g und o ella, CJuem cria um mOllor
até .ete annos de idatl e pótle utili "ar-se elos se us serviços aLé a
idade de quatorzo annos, e até a de c1ezeseis anuos se lllO dá a
instl'llCção primaria (Ord.,liv .10 , tH, 88, Si 12; Ali'. elo 24 do Outubro
de I '11, SI 70); disposiç,ões muito mais hL1manitarias, civi lisadoras
e co ngnum_tes com a dignidade humana, do que a consignada
no Si 0, art, 10 da l ei de 28 de Setembro de lt!7 1.
E sta determina0ão da nova l ei é uma transacção iniqua, immornl,
odiusissima, com o principio da escravidão, quo, qual vampiro, n ão
quor deixal' a victima se não depois de exh a usta !
Nem se diga que a l ei citada, § 20, art. 1°, faculta al'em issão
desses serviços.
Em primeiro lugar, contesto ao legislador o direito ele d ispôr de
servi ços de pessoa livre a favor de algLlOm contra a vontade de quem
os deve preslar, e mais ainda gratuitamente. E' nisto que consiste
de facto a Ilscravidão, ou a servidao de direito, serviço forçado e
grlltui to.
Em seg undo lugar, a remissão facultada é illusoria; porquanto, se
o senhor não chega r a accórdo, tem ella de ser arb i trada, como abi
expressamente se declara. em P)'OpO)'ÇaO do tempo qL,e falt'''·, de
sorte que quanto mais tempo restar elo ser viç0 tanto mais dillicil
será o r esgate 1 pode ndo não excede r o valor ele um escravo em
identicas condições ! quer dizer: a escravidão disfarçada sob essa
prest'lção ele serviços, ou a ntes sob a fórl11n da servidão, embora
tempo raria, não deixa essa misera gente senão em ultimo extremo 1
E' hlllnanitario e ci vili sndor para essa geração nova?
E que civilisação será a da llo~sa proxill1a e futura sociedade
brasileira com taes elementos?
Por oLlÍro lado, que elirei do registro especial de baptismo re pec-
t ivo, e ainda mais ela matricula especial dos filho" de mulher es-
cra va, que a lei diz de conelição livre, exigidos pelo art . ti", §§ 40
e 50 ela mesma l ei, e co uforme os reglllanentos expedidos? lVIatl'Í-
cuI a de escravos comp relle nde-se . Porém matricllla de livres? as-
semelha-se ou participa da natureza daquella olltra.
Taes r egistr os são os titulos cClllprobatorios da obrigação claquel-
les ser vi!.'os, da ser vidão ass im i nstituida, como ·o utr'ora displ1zerão,
q uanto a indios, os já mencionados al varás de 180.:3 e l tl09. São o
registro public:J perpetllO dessa nova classe introdl1zida e Cl'eada
pela nova lei. E serão, em futuro não muito remoto, a prova vi va
da origem africana, e sooretl1do escrava, das familias que hão ele
necessariamente provir desses troncos, q llando em vista elos precoll-
' ceitos, embora inj ustos da sociechtde, se devera evitar .
Aquella claus ul a ele prestação fl)reada e gratuita de serviços até
vin te e L1m annos ele idade por parte dessa gel'ação nova, idéa capi-
tal no § l0, a rt. 10, constituindo-os verdadeira e realml:)I1te servos,
importa até certo ponto idéa de P)'op l'iedxde : tal se manifesta cla-
ramente nos §§ 50 e 7°, art. lo, c §§ lo e <1°, art. 20; idéa que
transluz, tambem quanto a libertos, no art. ;;0, § unico . Transfe-
rem-se por contrato; transfer em-se por s Llccessão; as sociedades,
'lJXXY

u govcmo c o~ PUl'L!cultl.res, pOllem alugar os seus ::;el'I'I<,;08, llller


dizer: alugar esses denominados livres como se forão escravos, e
como se faz ia com os chamados africanos livres!
E' acaso respeitada a dignidade humana? "5 direitos do homem?
(tnde o pri ncipio civilisador? quando não l.ta alti senão uma explo -
'"açii:o sobre o trabalho e serviço de entes que se dizem (nOlltillal-
mente) livres? oxp lllra~ão tanto mais ouioso, quanl0 i' n propl'üt lei
Cf lle a instituo o protege!
Nem se pretenda quo essa clausula é aponas o systemi1 da apren -
dizagem; não. Esta era sujei\jão por tempo muito l"l'llVe, e com
certas vantagens, E ainda assim a exp~riencia feita, v, g" nas colo-
nias inglezas, põz fóra de combate o~ seus illconvenielltes A Sll-
jeição até os vinte e um annos de idade é, no systemA. da lei, ver da-
dp.il'a servidão, a qual maIs cedo ou muis tarde, o proprio h"gislador
ha de ser forçado a abolir,
Só aos vinte e um annos ell tWl'llÕ elles nu gozo de sualibordaclo I
E em que condição? Podem elles antes des~a idade cuidar de si,
de sua educação, 50 o senhor lhes permittil', ou se alglll'm lhes não
valer com sacrificio, ou se não fugirem? São realtllellte livros?
Podem exercer certos dil'eitoo;; e deveres comll os dentais cidadãos?
Chegando aos dezoito ann"s, podem servil' na guarda naci"nal? no
Ilxercito, etc.? Nã .. , Até os vintp. e um anno;; não pHl't,'ncem a si
nem ao ESt.ldo; sell serviços gratllit"s e fOl'çadllti pertencem ,tO
senhor de suas mãis; sã,) direito, pl'0IJl'Íedade deste!:Yfisera gente,
assim votada a tão irist... sorLe; quer por acto arhitral'Ío do senhor
se não quizer este os ~eus serviços, quer por facto culposo do
mesmo senhor.
Dal' ao senho r o direito de separar das mães os filhos aos oito
annos de idado para entregai-os ao governo mediante uma apolice
de 6()flS (§ l n , art. 10), e al'l'ancarem-lh'os as proprias autoridades
por facto culpos,) d" senhor (art, 2 ), é, ,,16m de immoral, authori sal'
um acto deshumallo, barbal'o, oJrensivo da constituição da fHulilia,
aliás o qUM mais se uevcra pl'oruo\'el' na classe escmva e na livro,
da mesma sah ida, e qLle a lei citada, ao contrario, Leude não só a
iUlpedir, mas a destruir com aqllellas e outras semelhantes dispo-
sições,

Quanto â geração actual, a lei não consullou convenientemente


a sua libel'tacão, quando era este o objecto mais gmve o imporlanLG,
e cl'eou novas difficuldades com o yslema adoptado.
Ao passo que introduzio principios, embora justos em ihese, de
manifesta incollveniencia na actntllidade, e nlgLlln'ts providencias
de impossibilidade ou quatii impos::;ibilidade prática, com oU'ensa de
clil'eiLo e legitimos interesses, e sobretlldo com perigo da segllrança,
CT,XXVI

e. t da di Fdplillfl, prin cipalm en te nos es(abelecimcn[os agricola !';; no


passo que libertou imm ed iatamente em massa os escrflvos do E!';tftllo,
aos outros apenas prOll1 ptteLl alibertac.;i'io pelo fundo rle emancipn-
ção, constituindo, pvrém, este fundo por modo tão mesquinh o, que
é verdadeiram ente illusori a A. promessa, crescendo dest'ade, com
a justa asp iração II liberrlA.dc nossa classe desgraçada, o perigo imi-
nente ,le exigencifls, que pod em rleterrninal' A.l gumft cri se se não se
r6r desde já sfttisfaze nd o em ce rta escala, com s inceridade () pruden-
cia, a:J.l1ella aspiração.
Antes dA. promulgação da Ipi de ~8 ele Setembro era possive l
ter- sé ina ugllrado out ro sys tema, qu e pl'O,idencias sllbsequentes
t ossem deseu vol \' ''ndo e completando, segundo as cirCllmstancia!'; do
paiz e as exigenc ias sempre cresce ntes da idéa emanr.ipadora.
Mas, preferi do o dessa l ei, forçoso é ace itaI-o qual é elle por sua
natu reza, e em tod as as snas consequencias Não ha recuar nem
impedil-as . E' impossível; nem ha vontade capaz de o consegnir.
Seria mes mo occasião ou motivo dr gnwes apprehe nsõe':l. A re'3is-
tencia enconlrnri a o direito fi lib erdnde E qual se ria o resultado do
choque destas dua':l for ças se se levantasse o conllicto? E scravidão
e liberdade são in conciliaveis.

IV
QlUteS t êm s ido j 'L, a ce rtos res peito~, as consequencias, sohretndo
pelo modo como foi a (IUes tão d irig ida e tratada, quer no parlamento,
que r na imprensa, os fac los yfio demonstrando E mais cnnco rre a
erra da crença em que estão quasi em geral os escravos el e qu e a lei
os li be rtou a LOdos. e os senhores são os que se opp6om !
A fuga de escravos torn a-se mnis fr eq uente, tanto cio se ryiço ur-
bano co mo do rural: é a debandada que se desn nyolve .
~O s quilombos multiplicão-se e rcfor ção-se, com tOl10s os seus
conhecidos inco nvenientes e perigos.
Dahi a perseg uic;ão aos fllgidos e aqu ilom bados, os ca.,tigos, etc.
A insubo rdinação nos escravos é cada vez mais pronunciada .
Dahi mais cautnla do s se nllOres contra elles .
Os assassinatos de senhores (home ns o mulh eres" feitores , adtrl i-
ni strad ores, crescem de modo assustador. Dab i os processos contra
os escravos segundo a lei especial de 1::< 35, ca tigos e outras provi-
dencias de segurança.
Os levantes, ig Llalm ente, mesmo nesta cór te.
As in surreições e tentativas dellas, sob retudo nos estabeleci-
mentos agr icolas, fa zem-se se ntir com symptomas aterradores, em
"urias proYincias do sul e do norte do Imperio. Dahi a acção da
autoridade e e!:t forç a, are. iste ncÜl. de escravos e morte de algLtJ1s,
os processos r es pectivos .
P enas para elles são mOl·te e a,ço ~(tes .
OLXXVIl

Ei~ o que dos periodicos tem constado, além dos factos que não
são dados ú. publicidade _
Se mal para os senhores, para a segurança individual, para t1.
ord em publica e interesses eco no micos, maior IDal pltra essa gente
e raça desgraçada.
::;ão pOl- a cmais facei s de comprehender as perniciosissimas co nse-
q Llencias üe taes factos, contagiosos por sua natureza e identidade
de causa, e o perigo sempre maior c mais imminente .
Era bastante a C;.Lusa natLlral de tudo isso- a, escra,vida;o. Não
h avia necessidade de aggraval-a, como imprudentemen te se fez .
Contra os proprios 'innocentes tem sido denunciado o procedimento
desluunano de alguns, sendo preciso que a autoridade intcl'\'enha
com lOllvavel empenho em seu favor, e punição do culpado.
P or outro lado:
Qne execução se tem dado á lei ?
Apenas fLlncciona a roda dos in,nocentes, e algLUllHs outras de
menor yalor,
Porém, pam se conhecer se a lei é boa, faz- se indispensavcl que
fun ccionem todas as s uas clisposições, todo o seu mecanismo _
Porque não expede o gOY~l"IlO os regLúamentos de que está a
mesnm dependente ? Diz-se que se achão em esiudo, , . E ha mais
de um anno que a lei foi promulgada !
Eu já o havia pl'ediLo na camal a : o governo o;; uão expediria . Se
a r espeito de alguns qualifiquei de prudente e accl"taüa li rcsolll ~ã o,
de OLüros não disse nem direi o mesmo.
A mais importante disposição a favor da libertação dos escravos
acluaes, isto é, o r esgate pelo fund o de emaucipação, eslá se adiando
talvez indefinidamente. com grave injustiç.•t c incon venienciá .
Apenas em algumas provincias, como já antes da lei se fazia, tem
lugar liber tações por con la dos cofr es provinciaes; mas isto mesmo
em numero pOLlCO avuHado .
Em virtude da mesma lei, porém, nenhuma se tem dado; não foi
ainda expeclido o r egLú amento: nesta parte a lei não está em ex e-
- . CLlção .
E o governo não duvidou recusar, por esle fundam enlo, a pro-
posta da companhia B,'a,silia,n L a,nd cf: Jlining para libertação dos
escravos á mesma hypothecados pela companhia 1'hc N aciona,l
B ,.a,s ilian llIilling Associatio n, communicando-o á dita companhia,
por intermec1io da legação brasileira em Lonch'es, na data de 12 de
Julho de 1::;72 (Dia,"io Otficia,l de I ::;).
Quo impressão no estrangeiro quanto á semelhante execução J Pôde
dar lugar il mesma censura que se faz á H espanha em r elação ás
suas possessões, de pl'omessas falla,:;es.
Os miseros escravos actuaes podem ler quasi perdida a esporançu.
~e os 8enhoreo os não libertarem por humanidade , como generosn
mente vão faz endo, só a morte os libertará.
12-cONSUL'l'AS
CLXXVl1I

Não é manifesta a injustiça? não é visivel o perigo de provocar o


escravo com a prom essa da liberdade, e pretender recusar-lh'a ou
adiaI-a, sabe Deos para quando?
E a quo titulo assim se procede para com ell es? Não são entes
human os, como os outros? não lla mais em sou favor os serviços
prestados e que continuão a prestar? e, na maxima parte, tambem o
serem nascidos no Brasil?
lVIas não . Quanto a elles, a intenção par ece clara : mantêl-os
no stattl quo !
Ainda mais. Quanto aos proprios libertos, dar-1hl's destino contra
sua vontade, applicandu-se inclistinctamente a providencia arbitraria
do art . !io, SI 50 da lei, que aliás só se refere aos cio Estado, e outros
libertados em virtude da mesma lei. Exemplo ahi temos fl agrante
na tentativa official de coagir os li ber tos do mosteiro de S . Bento
a trabalhar contra sua vontade onele não querião, quando procura-
vão elies melhol' empregá e o Mosteiro lhes não 11ayja pesto clausula
alguma. H onra seja feita á Relação desta côrte, que lhes valeu pelo
Accordão ele .19 de Abril de 1872, em recurso cle habeas-C07]J1/.S, contra
semelhante ataque á liberdade.
Se com a proposta (hoje lei) so teve em vista p?'odu,zir efreito,
sobretudo no estrangeiro, não consegtúrão seuão apparente resul-
tado .
Os sinceros abolicionistas, no paiz e fóra delle, não eslão satis-
feitos; nem elies se: duixão mys tificar por l entejoulas e ouropeis, nem
por felicitações de encommenda e respostas geilosamente provo-
cadas.
Ahi está, por exemplo, o Abolicionista, da Bahia, que tem feito a
censura da l ei, e avança nobremente na propaganda. E com eUe
outros.
A critica feita á proposta do governo, hoj e lei, no Anti-Slave1-Y
Repo)'ter de Julho cle 1871, da Sociedadu Abolicionista In gleza, é
j Llsta, sensata e sem r éplica .
Della se approxima, no funclo, e nem podia deixar de approxi-
mar-se, a que fez o Sr. Cochin (de saudosa memorial na Révue
des deux .illondes ele Dezembro ele 1871, comquantu aceite a lei
na ausencia e esperança ele melhor.
Em carta, que me dirigio um dos mais distinctos membros da So-
ciedade AbolicionisLa Ingleza, r esume elie lias seguintes palavras a
sua opinião, mais on menos de conformidade ás idéas expostas : « As
crianças não nascem livres, e sim para a escravidão ; dos escravos
actuaes a maioria tem de continuar no captiveiro até o fim de seus
dias . )
Um conspicuo membro da sociedrtde abolicionista hespanhola,
na muito obsequiosa carta com que me honrou, qualifica imp01'tan-
tes os discursos que proferi.
CLXXIX

Ê que alli trata-se da questão pela questão, no interesse da idéa, e


não por es peculação politica ou por vangloriosa vaidade; faz- se jus-
iiça á intenção; respaitão-se as convicções e fi consciencia.
E ssas cartas serão opporillDamente publidadas.
O meu voto róra pela proposta se modificada nos termos em que
m e pronunciei e segundo as ideaR expostas, co nstanies dos meus
di scursos , os quaes impArcialnlPnte con sider ados, e despidos de
ceria energia ou vehemencia propri a das condições esp eciae. em que
foi posia a discussão, r evelão claramenie as minhas p1'ofunda con-
vicções, o meu pensamento intimo
Mas votar pela grande idéa do nascimento li"'e, tendo por essen-
cialmente com plemeniares arLueHes principios oa disposições tão
n egras, consignada: nos diversos p aragraphos do art. lo e ouiros
da lei, r epugnava-me profundamente á r azão, ao coração e á cons-
ciencia
A não ser ella consagrada em toda a s ua pureza e simplicidade,
er a preferh-el para começar (e continüo a pensar do mesmo modo) o
sysicma de r ~sgate por um r obusto fundo de emancipaçi(o Só por um
deses meios (á parte o da emancipação imm ediaia geral) se clviiarião
aqllelles gravissimos defeitos já apontalos
Ora, sendo esse o ponto cardeal da reforma, constanie do a rt. 10
da l ei, visto como algumas disposições erflo ri!' ordem inferior. ouiras
já estavão nos benignos costumes brasileiros, e aié na j urispruden-
eia, sem pre em progresso hllmanitario, a matricula es pecial era
obj ecto de estati stica , a libertação dos escravos do E -iado podia ser
autorisada co nvenientemente na lei do orçamento 'como eu já havia
proposto em 18711), e o proprio resgate dos escravos em geral pode-
ria, igualmente na m esma lei, ser muito r eglllanne nte pro"idenciado
(da que dera exemplo no senado em 1871) a opposição liberal);
sendo tal a minha repnguancia em sa nccion ar CO lll o meu voto >1
cOllsagt"ação daquelles principios deshumanos e b~arisadores, pre-
feri corajosamente oppÔr-m e, c n egai-o afinal á proposta, >linda qne
incorresse nas iras do poeler, e mes mo na censura claquelles que,
apaixonados e transviados p el a grita oilleial e offieiosa, cégo!'i e
surdos. incapazes el e bem julgar, lhe dessem ouira interpretação .
Tudo tenho sup portado cc' m evangelica resiglIação
Mais faci!. commoda e vantajosa, me teria s ido a posição do mu-
tismo, e da votação sy mbolica, seglmdo o costume ele ollL10S, que
tanto agrada ao poder .
Eu. porém, não levava em vista as minhas co nveniencias pessoaes
nelJ!. a ephemera popularid:lde. Ao contrario, arriscava ludo. Mas
não po-lia fazer, nesta questão, o sacrif1cio de minha consciencia,
co mo declarei fra ncamente desde o principio (l2 de Julho de 1671) .
Um futuro não remoto mosirará praiicamente lt essa geração
nova, e aos escrayos actuRes, se são ou não acertadas as minhas re-
flexões, a menos que se não vão desde já tomando as proviclencias
CLXXX

imperiosam ente reclamadas para impedir ou ao menos moderar as


Lnstes e pel'lliciosas co nseqLlencias da lei, proveni enLes de s u:t in-
jU6.Liça rel:tti \'a, e das di sposições desllLtlllalUlS e a.ILame nte defeituo-
sas que n 0111t se contêm
E qua ndo taes conseq uencias se dessem, quando a lei só por si
e seus r"gulame ll tos produzisse , se m inco nvenientes, os beneficos
rllsultados que della esperão, enLão , como 1l0berL Peel em r elação ás
colonias inglezas depo is do bill S ta,nle!J, Leri:t eu o dever de prC'cla-
ma r, e com sa.tisfação, a excellencüt do systema ad"ptado .
Boa OLl não, é hoj e lei do E stado . Cumpre que todus concol'l'ão de
boamente para a s ua melhor c~ec u ção, corrigindo mesmo nesta os
se us gravis imo,; defeitos.
Aquellas providencias devem tender a dous fiu s principaes :
1.0 Abreviar prudentemente a li berlação dos escravos actuaes, de
modo a approx imar a li berta~ão geral.
2.0 Melhorar a so rte da no va gec'ação, delles na~cida .
Nesse intuito , r efo rçar ei o conselho que de i em 18'i7, e hoj e com
insla ncia, em bem dos e. cnwos e dos proprios senhores . Assim:
1.0 Facilitar na muior e 'cala as libertações , qner o sejã o graLuita -
mente e sem chtusnla, quer fi titulo oneroso, qner co m r eserva de
serviços por algL1U1 temp o razoa vel, lran form an do-os q uan to possi-
vel em criados e trabalhadores livres assalariados, sem qu e todav ia
sejão inhibidos, quando livres, de es tabe lecer e m-se por s ua conta
ond e melhor lhes parecer; ~o Li ber tar gratuitamente os velhos,
maiores, por exemplo, de cincoe nla anno s , co nthlUa ndo, porém, os
senhores a pro tegei-os; 30 , ter e m particular atte nção a libertação
elo sexo feminino n a idad e r eproducLora ; os de meno r idade. princi-
palmente, form ando famil ia , e os casados sobretudo em idade de
terem filho s .
Entrela nto, é dig no de nota q LlC a propaganda não ficou morta
como se penso,l ; ao contrari o, ell a proseg ue no Imperio e fóra delle.
E' que, abolição ~a escravidão conLinLta a ser, e será sempre, questão
do dia,. até que eUa se haja con segltido definitivamente, se tenha
proferido a ultima palav ra .
A propaganda vai ass im exercendo a su a natural e beneIica influen-
cia pelos meios mai s ellicazes (que não pela viol encial, qunes sejãQ
a disCLlssão, a persuasão, a moral, a hum anidade, a r eligião.
E bem o disse o Imperador. em Paris \como se 16 no Anti-Slave;'Y
Repo;·tej· de jia rço de 187:2, e molho r consta de uma carta com que
me obseqLlioll o Si'. Cochin, que será publi cada em t empo): « Convem
co nLinnar, e, co m as devidas caLltelas, a liber tação gera Ldos escra-
vos não se fará esperar muito. »
E' de inLeira e indeclinavel justiça que a escl'avidão seja extincLa
o mais breve men te, ainda que com sacrificio. E' tamb em de reco-
nhecida , e inconLestavel conveni encia publica e pal'ticLllar.
Semelha nte inii[llidade é tanto ma i:; revoltante hoj e, quanto os
eLXXXI

eSCravos do Estado forão todos libert.ados em massa, e os das or-


dens religiosas e corporações igualmente, além de ser declarada
de condição livre a gernção nova, embora quasi escravos ou serVQS
nté vinie e um annos de idade.
Devem continuar na escravidão os actuaes, só porque o acaso do
nascim ento os fez escravos ? ou porque são elles pal'dos e neg?'os?
./
Se fossem brancos, toleraria a lei, tolerarião mesmo OR nossos costu-
mes, por mais um instante o seu captiveiro?
Felizmente a idéa emancipadora vai fazendo rapidamente o seu
caminho. As alforrias, com prazer o digo, são frequentes, devido
muito mais á chl'istã generosidade e philantropia dos senhores do
que aos ljenosos favores da lei. Consequencia irresistivel da força
<la ic1éa.
A discussão, calorosa nn camam c l'enlúdiL no senado, não
deixou de produzir algum resultado. Commettêrão-se, é certo, de
parte a parte graves erros e até inconveniencias, devidas principal-
mente ao modo de tratar a quesião e dirigir a discussão, influenciada
por causas que actllavão fatnlmente sobre () gabinete e as camaras.
As flôr es, musicas e felicitações, de encommenela, apenas poderão
satisfazer a vaidade e eleslumbrar ft imaginação do povo.
Não ass im as pastoraes dos bispos, as prédicas dos parochos, os
conselhos dos clerigos, e outros meios semelhantes. Exercem bene-
fica e efficaz influencia mornl e religiosa, sobre os ftnimos, sobre a
consciencia.

Mas todas as grandes idéas iem os seus martyres.


Niio o serão arluelles quo, mais por especuhlção poliiicn, p vaidade,
pretendêrão a gloriola de cmancipadores •..
Aquolle que, havendo dedicado o melhor ele sua vida a estndal-a
c propagai-a, com sacrificios de todo o genero, tem por ella soITrido,
durante um longo periudo, as maiores tortmas, iragado o calix da
amargm'a, ainda tem bastante grancleza ele alma para csquercl' as
injustiças c a ingratidão,

CÔl'll', 1872.
CONSULTAS
SOBRE

VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

Abono, pagamento
Pedro abonou a Paulo até i :OOOS em uma
casa de commercio para compra de fazendas. Paulo
comprou no valor de 3:0008 e deu por conta
1.:500$, tendo passado da divida um só titulo.
Pergunta-se: Deve-se reputar exonerado o
fiador?

Resposta
o pagamento deve-se presumir feito por conLa da divida
mais onerosa (Cod., art., 433 § 2°), tanto mais quanLo não
se deve tornar mais pesada a sorte do fiador pelo facto
abusivo de haverem ' excedido a quantia do abono; do
excesso elle não é garan te, e para liberal-o já o devedor
fez pagamento mais que sufficiente. Demais, é principio de
direiLo que ninguem se locuplete á custa édhei:l> e que
se deve antes evitar o prejuizo de alguem do que causar
damno a terceiro.
Junho, 1859.

1
2 CONSULTAS SOBRE

Acção d'alma

A acção do juramento d'alma só tem lugar em


questão de pequena quantia ou tambem nas de
grande valor?
Resposta

Parece-me que tambem nas de grande valor; porque a


Ord. liv. 3,tit. 52 pro § i o refere-se nesta parte só ao jura-
mento wppletot'io, e na acção referida tudo se decide
pelo juramento chamado J'udicial, decisão irretratavel (Cit.
Ord. § 3° e til. 59 § 50).
(Vide Pereira e Souza, Proc. Civ., § 492 e seguintes, e
nota 969; Lobão, Dissert., nas Seg, Linhas pago 378 e
seguintes.)
Novembro, 1854.

Acção d' alma ; Falsidade ; Rescisão

Tirando a sentença dada em acção d' alma toda


a sua força do juramento judicial, e sendo por isso
irretratavel nos termos da Ord.liv. 3 tit. 52, § 3
0
,
0
,

com o fundamento de ser falso o juram ento;


Pergunta-se:
1, o Podem hoje as justiças ordinarias admitLir o
recurso ou procedencia do § 4: da cito Ord. sem
offensa do § 3° ?
2.° No caso affirmativo, qu e provas são admissi-
veis-quaesquer indistinctamente, ou só as de que
faBa esse mesmo S4.· ?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 3

Resposta

Ao i.' Parece que não, porque pelo nosso systema po-


litico, sendo independentes os poderes do Estado, não tem
o moderador ingerencia nas decisões por qualquer modo,
á excepção da materia criminal para perdoar, moderar e
amnistiar.
Se se entende que na questão se envolve o principio de
decidirem os juizes por si, reformando assim taes senten-
ças com o fundamento de falsidade de juramento - tam-
bem não; porque segundo mesmo esse § 4°, nem etles
nem os desembargadores o podião fazer, e unicamente
devião fazêl-o saber ao rei para resolver o que fosse a bem
da justiça das partes.
Nem se deduza tambem argumento do regimento do
desembargo do paço; porquanto, extincto 6ste, não se
acha na Lei de 22 de Setembro de i828, nem em outra
alguma, conferida tal attribuição.
Semelhante doutrina está conforme ao que dispõe o § 3°
e ao fundamento ahi claramente expressado .
O contrario iria manifestamente de encontro á deter-
minação e fundamento referidos.
Seria talvez melhor que se autorisasse a reforma da
sentença com o fundamento dito - quando se mostrasse
falso o juramento por escriptura, sem vicio nem suspeita
nos termos do § 4°_ até porque não póde hoje ter lugar
a pl'Ovidencia ou recurso ahi estabelecido. Mas para isso
entendo necessario uma lei.
Ao 2. ° Caso fosse adm is. ivel a reforma de uma tal sen-
tença por aquelle fundamento, no estado actrral da legis-
lação, só o poderia ser provando-se a falsiúade por esc1'ip-
tU1'a publica sem vicio nem suspeita, e que r.onhecidamente
demonstrasse ser falso o jUl'amento nos termos do § 4°
citado; porque só neste caso havia anteriormente o recurso
e providencia a que elle se refere.
Dezembro, i854.
4 CONSULTAS SOBRE

Acção decendial ; embargos; discussão; recursos; competencia

i. o Os embargos apreselltados na acção decen-


dial no dia do termo não devem ser juntos aos au-
tos por se achar fóra do prazo?
2. ° Procede regularmente o juiz que manda dar
vista dos embargos ás partes, ou cumpria man··
dar simplesmente contraria,' ?
3. 0 A quem pertence o julgamento desses em-
bargos nas comarcas geraes ?
4. o A competencia commercial na primeira ins-
tancia foi alterada pela lei da novissima reforma
judiciaria ?
Resposta

Ao i. ° Os embargos na acção decendi al de que se trata fo-


rão apresentados em tempo,lsto é, dentro dos dez dias assig-
nados em audiencia.
O dia do termo não se computa nelle.
Não podião deixar de ser juntos aos autos.
Se recebidos com ou SBm condemnação depende de sua
materia e prova (Ord. liv. 3°,tit. 2lJ: Reg. n. 737 de 18lJO,
art. 2lJ9 e seguintes).
Ao 2.° Se o juir. municipal deu vista ás pa?'tes commetLeu
erro em tal processo (Vide Pereira e Souza, Proc. Civ.
nota 965 ; Reg. ci t., art. 24.9, 2lJ6 a 260).
Se mandou contraria?' importa isto implicitamente o
recebimento SBm condemnação daquelles embargos; rece-
bimento que devêra, para ser regular, ter sido por despa-
cho explicito.
Ao 3. ° Excedendo o pedido a lJOO;t/J, compete ao juiz de
direito nas comarcas geraes o julgamento (Reg. de 22 de
Novembro de t87t art. 66 n. 2) e o recebimento dos em.
VAlHAS QUESTÕES DE DiREITO

bargos comcondemnação (Reg de 12 de Novembro de 1873,


i:trt. 4, n. 3), dando-se aggravo neste caso para a Relação
(Reg. ci t., art. 3°, § i o n. 2; art. 4° e 6°) sem condemnação
perteoce o despacho ao juiz municipal, com aggravo para
o juiz de direito (Reg. ci t. de .j 873,art. 3°, § 3° n. 3, e art. 6).
O art. 73 do cito Reg. de 1871 deve-se enteoder em ter-
mos habeis. Não autorisa o juiz a io troduzir termos novos
ou alterar a sua marcha legal e regular.
Ao 4.0 A competencia commercial em primeira iostancia
e o respectivo processo não forão alterados pela novissima
reforma de 20 de Setembro de 1871 (Av. de H5 de Março e
ti de Abril de 1872).
Julho, 1874.

Acção de força ; boa fé


Póde-se dar acção de força contra terceiro "pos-
suidor de boa fé ? Qual a praxe da Relação da côrte ?

Resposta

r.ontra terceiro possuidor de boa fé parece não ter lugar


a acção de força,cujo caracteristico é o esbulho, como aliás
dispõe o direito romano e o direito civil.(Corrêa Telies,
Dout. das A cç., nota 387).
Quanto á praxe da Relaçãonão posso affirmar qual seja;
não ha collecção de arestos nem uniformidade de julga-
mento que formem j urisprudencia.
Julho, 1860.

Acção de força ; objecto

A acção de força a.pplica-se igualmente contra


servidões ou cousas incorporeas?
6 CONSULTAS SOBRE

Resposta
E' opinativo se a acção de força velha l\ nova tem lugar
quanto a servidões e cousas incorporeas, ou se unicamente
quanto a moveis e immoveis(VideLobão, Inlerdictos Posses-
so?'ios; Corrêa Telles, Dout. das A cçães).
Desde que seja o objecto susceptível de posse, os reme-
dios possessorios deve .n ser, em regra, applicaveis sem
distincção ; 'e portanto a manutenção, restitui ção, etc., desa-
tendidas as subtilezas dos romanos proscriptas pelo nosso
direito.
Agosto, 1867.

Acção hypothecaria ; hypothecas anteriores á lei


Compete acção hypothecaria ás bypotbecas ante-
riores á Lei de 24 de Setembro de 1864, ainda que
inscriptas e especialisadas depois della ?
Resposta

A acção hypothecaria de que trata a Lei de 24 de Setem-


bro de 1864, art. 14,só compete ás hypothecas celebradas e
inscriptas depois della (cit. art. 14, Reg. de 26 de Abril de
186~; art. 282) , e não ás anteriores, posto que inscriptas e
especialisadas depois de sua execução. (Reg. cit. art. 33;5).
Julho, 1867.

Acção litigiosa ; venda


E' valida a venda de uma acçã.o em litígio antes
de sentença?
Resposta
Pela litis-contestação ficou litigiosa a acção (Ord. Jiv. 4..
VARIAS \lUESTÕES DE DIREITO 7

tit. 10, § 2), e conseguintemente não podia ser vendida sob


pena de nullidade, emquanto não fosse proferida sentença
QU3 tra.nsitasse em julgado (§ 3), o que se vê amplamente
desenvol vido por Silva á ci tada Ordenação, deduzida, em-
bora com algumas modificações, das leis romanas.
Ainda quando se podesse sustentar que a cessão dos di-
reitos do vendedor tinha lugar, seria sempre prohibido que
tal cessionario fosse admittido a ub tituir o cedente na.
demanda, com prej uizo do outro con tendor, como bem
demonstra Lobão, Fase. de Diss. f)', tomo 2."
Novembro, i86L

Acção de sonegados
Qual o prejuízo resultante para os credores não
admittidos ao passivo dos inventarios?
Têm direito de propôr acção de sonegados con-
tra o inventariante?
Resposta
Os credores são estranhos ao inventario i e não sendo
ahi attendidos, ou não o querendo seL', têm direito ás suas
acções em juizo competente.
Não lhes cabe acção de sonegados propriamente dita,que
é privativa dos herdeiros e inventariante entre si (Vide
Corrêa Telles, § i35; Coelho da Rocha, § 4,96; Cons. das
Leis, art. i if)5. Em contrario Pereira de Carvalho, Proc.
Orph., nota 66). t")
Maio, 1870.
(*) A doutrina deste parecer no meu entender é de rigor juri-
dico . No entretanto,o Tribunal da Relação da côrte decidio que
o credor, que figura como parte interessada em autos de in-
ventario, p6de ser admittido a appellar da sentença que julga
o mesmo incidente \Vide o Di7'eito tomo 3· de 18'14, pag o577,
aggravo de petição n. 3624 entre José Maria Alves da Silva e
o DI'. João Francisco Diogo. ) A. C.
8 CONSULTAS SOBRE

Accionistas ; commisso ; credores


Podem os credores de urna companhia,cujo fundo
social e demais bens não cuegão para a soluÇão de
seu passivo, demandar a realização completa elas
acções?
Resposta

Se os accionistas deixarem de fazer as entradas, tem-se


por incursos em commisso,e portanto excluidos da aS30cia-
Cão (Cod. do Com. ,art. 289). Conseguintemenle, parece· me
que, se o fundo realizado e os ou tros bens da companhia
não chegarem para total solução do passivo, não podem os
credores demandar a reali saç~o c!Jmp leta das acções : a
consequencia, em lal caso, é achar-se fallid a a empreza.
O facto, pois, de deliberar-se a liquidação nãu dá direito
aos credores de exigi rem elos accionistas a realisacão inte-
gral das acções j porque elles só respondem pelo valor ou
interesse a que se houverem eomprumettido(Cod., art. 298),
e nas epocas devidas (art. 289), podendo deixar de fazer as
entradas e perdenLlo sómente as que já houverem reali-
zado.
Agosto, 1859.

Accionista; commisso ; recurso

Deixando um accionista de fazer certas entra-


das, mas depositando-as ju cllcialmente, a directoria
declarou-o em commisso. Que remedio intentar?
Recurso para o conselho de Estado, ao governo ou
acção judicial?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

Resposta

Entendo que o caso não é administrati vO,e sim.i ud iciario,


porql1e trata-se de uma questão de direito meramente pri-
vado entre o accionista e a directoria.
Agosto, 1873.

Adjudicação ; abatimento; depositario ; férias ; indemnisação

L° Póde ser embargada a sentença de adjudica-


ção depois de extrabida a carta?
2.0 Sendo insolvavel o devedor deve-se fazer o
abatimento legal, ainda que os bens cheguem para
o pagamento de um dos credores?
3.° São nuHos ou simplesmente irI'egulares os
actos praticados em férias?
4. Qual a descarga do depositario, como se effec-
0

tua e donde deve constar?


5. o Quaes as obrigações do depositario, e porque
modo póde ser indemnisado ?
Resposta

Ao t. o Proferida a sentença de adjudicação, extrahida a


carta,etc., conforme a consulta, já não póde ser elta embar-
gada nos autos da execução (Ord., liv. 3, ti t. 86 e 87 ; R.eg.
n. 737 de 181>0, art. 575, § 2 e 578).
Ao 2.° O Accordão de ·12 de Novembro de 1863, fixando
a intelligencia do art. 502 do cit. R.eg. de i850, acha-se na
Hevista do Instituto dos Advogados B·rasileiros de 1865,
pago 19.
Esse arl. 502 contém a mesma doutrina do § 23 da Lei
de20 de Junho de 1774. Verificadas as hypotheses desta
10 CONSULTAS SOBRE

lei e citado artigo, não ha lugar o abatimeuto . E, pois, se o


devedor é insolvavel, ainda que os bens cheguem para a
di'vida de um dos credores, não se deve elle fazer.
Ao 3. o Os actos pr:lticados em férias, sobretudo divinas,
são por via de regra nullos, excepto aquelles que nellas se
podem praticar, v, g., posses (Pereira e Souza :P1'OC. Civ .,
§ i90 e nota 4.04).
Taes no entretanto haverá em qne seja apenas irregula-
ridade, e não importe nullidade.
Ao 4.. o O mandado de en trega contra o depositario e o
auto ahi lavrado são a resalva e a descarga do mesmo depo-
sitario.
Devem ser juntos ao processo para constar; mas,interes-
são principalmente o depositario. A posse deveria mais re-
gularmente constar do ti lulo respectivo(earta de adjudica-
ção). Se o adjudicatario tem interesse póde requerer que o
deposita rio a quem foi entregue o mandado com o auto o
traga a juizo.
Ao 5. O deposi tario é obrigado a dar conta do deposi to,
0

sob pena de prisão pelo mesmo jnizo e processo por onde


foi elle feito.
Se, porém, a questão é de indemnisação e depende por-
lanto de maior indagação, não póde ter lugar senão por
acção ordinaria, em que se liquidem e pró, em os faclos e a
responsabilidade.
Se do deposito desilppal'ecel'ão obj ectos, V.g ., por falleci-
mento (escravos, gado), que todavia forão contemplados na
adjudicação como existentes, sem o serem já então, póde o
adjudicatario, provado o facto na execução, requerer a
reducção correspondente.
Janeiro, 1874..
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO li

Adjudicação ; imposto ; nullidade


LO A falta de pagamento de siza em uma adju-
dic;tÇão a,nnulla de pleno direi to o acto ou depende
/ de sentença?
2.° Emquanto não houver decisão judicial ann1l1-
lando a adjudicação, são validas as vendas dos ob-
jectos que a mesma comprehende?
3.· Qual o pl'Ocedimento da vinva inventariante
relativamente a bens vendidos?
Resposta

Ao LO Da adjudicação a credor, ainda que herdeiro ne-


cessario, é devida a siza (imposto de transmissão), segundo
a ordem n. '190 de 28 de Maio de 1857 e outras não alte-
radas pelo Reg. n. 4359 de 1.869 ou qualquer outra dispo-
sição.
A falta pó de autorisar a annullação do acto,mas depende
de sentença (Ord.liv. 1, tit. 78, § 1.4. ; Alvará de 3 de Ju-
nho de 1.809, § 8 ; Cons. das leis civis, nota ao art. 591.).
A carta, porém, é simples titulo probatorioj a sua ausen-
cia não importa nullidade.
Pago todavia aqueLLe imposto com multa ou sem eBa
(Av. n. 298 de 2:3 de Setembro de i867, Av. n. 3t7 de 8
de Novembro de i 870, quesito 3°), entendo não seria justo
declarar-se a nullidade por tal fal ta ; cessaria inteiramente
o seu fundamento, validando assim o acto.
Ao 2.o Emquanto não forem por sen tença declaradas n uI·
las a adjudicação e as vendas posteriormente feitas (de que
se trata) é arbitrario tudo quanto se fez.
Havendo sentença as terras voltaráõ ao espolio de F., e
sua nuva poderá então fazer-se adjudicaI-as, pagando aos
credores.
Depositada a importancia, os credores poderão levanta-la
t2 CONSULTAS SOBRE

ou O fará a viuva depositante se não fôr mantida a adju-


dicação ou remissão por ella feita de taes bens.
,Ao 3.° A viuva tem de eotrar com o valor dado ás terras
no inventario,como preço da adjudicação ou remissão ,salvo
aos credores o direito de impugnarem, se não forem inte-
gralmente pagos, e de requererem a venda em praça, ou
de intentarem suas acções e execuções.
Dezembro, 18B.

Adjudicação de terras; dilferenças ; bernfeitorias


Adjudicada ao credor exequente uma das fazen-
das hypothecadas e sujeitas á execução, e da outra
nas mesmas condiçôe~ tantos alqueires de terras
quantos sejão necessaFios para seu completo paga-
mento, e verificando-se agora que houve erro em
declarar-se que a primeira tinha mil alqueire::;
avaliados, não englobadamente, porém singular-
mente (1008 cada um), quando não tem tal numero,
e sim muito menos entendo e é meu
l'arecer

i . o Que, havendo-se os interessados conformado com


aquella sentença, devem da segunda fazenda separar-se
para o credor tantog alqueires mais de lerras, quantos che-
garem para o seu total pagamento. A propria sentença
autorisa esta solução. O devedor, porém, pó de preferir pa-
gar a differença encontrada;
2." Quanto ás bemfeitorias da segunda fazenda não adju-
dicadas, e todavia penhoradas e sujeitas á execução,achão-se
e por emquanto livres, vistos os termos da execução, em
que até já se deu quitação.
Seria preciso annullar a adjudicação e a execução, pelo
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 13

menos desde o acto da avaliação, ou em acção propria re-


clamar a differença (acção quanti min01'is).
De commum accordo o credor e o devedor poderião sa·
nar qualquer falta e cortar demanda.

Advocacia; impedimento
Póde exercer a profissão de advogado um indi-
viduo no lugar onde o unico tabellião de notas e do
judicial é seu proprio pai?
Resposta
E' a regra que ninguem possa advogar ou procurar pe-
rante juiz que seja seu pai ou irmão (Ord.liv. t, tit. 48,
§ ult.; Port. de 29 de Setembro de 18M».
A razão desta disposição procede tambem, no meu en-
tender, para que não possa advogar ou pmcurar perante
escrivão que seja seu pai ou irmão, e vice-versa.
Embora, pois, seja no logar advogado, não póde como
tal funccionar em autos e processos em que seu proprio
pai seja o escrivão ou tabellião, porque a proximidade do
parentesco torna suspeito o official e ha impedimento.
Não devendo, porém,o afficiaI deixar a cada passo de exer-
eel' o seu officio por tal impedimento, por isso que em pri-
meiro lugar está o serviço publico, a consequencia é que
deve eeder o interesse p;.rticular ; e portanto é o advogado
quem deve abster-se dé ahi procural' em actos em que te-
nha de intervir o oflicial e emquanto durar o impeuimento.
Junho i8õ8. ("~'.)
n O Decreto n. 6836 de 9 de Fevereiro de 1.878 declarou que
não havia incompatibilidade entre o promotor publico e o juiz
municipal, tio por affinidade do promotor; ainda quando este
podesse ser considerado procurador, o § '29 da Ord. restringe
a incompatibilid5.de ao juiz e procurador que estiverem entro si
na razão de pai, filho, irmão ou cunhado.
CONSULTAS SOBRE

Advogado ; autos ; providencia contra eIle


Pó de-se suje)tar á prisão o advogado que recusa
entregar autos?
Resposta
Se se tratasse do juizo commercial seria fóra de duvida
que poderia o juiz proceder mesmo com prisão contl'a o
advogado, e portanto contra a parte, que, com licença, as-
sumi0 na propria causa essa posição e a responsabilid ade,
em visla da expressa disposição do art. 7H; do Reg. n.737
de 25 de Novembro de -1850.
Mas, tl'atando-se do juizo civel, póde vir em duvida
parecendo, no entretanto, que essa mesma regra é appli ca-
vel ex-vi do art. 74 do, Reg. n. 4.824. de 22 de Novembro
de i871 ; porquanto, dispondo que no civel os prazos para
as partes allegarem sejão os mesmos adaptados no processo
commercial, manda outrúsim que a esse respeito se observe
o mais estabelecido nesse processo; conseguintemente o
disposto nos arts. 7:1.3 a 718 do citado Reg. n. 737
de -1850.
Não sendo aceita esta intelligencia do citado art: 74., a
prisão não teria lugar no juizocivel,em vista da Ord., liv.3,
tit. 20, § 41) ; Lei de 6 de Dezembro de -161 2, § -17,; Carla
régia de -16 de Maio de -16 IiO; Av. de 8 de Agosto de 1836
e de -18 de Fevereiro de i837.
A busca, porém, parece-me não ser auto risada em face
da legislação cilada. Outros são os meios de coagir o advo-
gado á entrega dos autos; cobrança executiva, multa, sus-
pensão até que paglle e mesmo a prisão (nos termos refe-
ridos), .salvas as acções criminaes competentes e a indemni-
sação ás partes.
No caso vertente, e visto como já esse individuo havia
Sendo materia conn exa suppomos de utilidade esta nota.
A. C.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 15

feito desappal'ecer o primeiro processo, obrigando a refor-


mar os autos, e agora dil'ectamenLe com dólo os supprime,
podel'-se-hia pl'ocessaL-o crimil'lalmente por subtracção de
taes papeis; facto que, se em relação a empregado publico
é classificado no art. 129, § 8, do Cod. Crim., em relação
a quem o não é poderia sêl-o no art.167 do mesmo codigo.
Outubro, t875.

Advogado; honorarios ; acção


Deve-se contar honorario ao advogado que trata.
de negocios albeios sem procuração? Munido de
procurações, sem que todavia haja estipulação so-
bre o quantum, qual o recurso em face da legisla-
ção actual ?
Reposta
Sou de opinião que,se o advogatlo não é encarregado do
serviço, não tem direito de exigir honorarios ; falta c con-
trato, origem da obrigação. E a Ord., li\'. -l, til. \:l2, § 10,
além de outras, parece assim resolver.
Se é, porém, encarregado tem e se direito, posto que
estipulado 1lão seja o quant'Ltm, nem mesmo algum (Pereira
e Souza, P7'OC, Civil, § 6'1 enota -14.8; Corrêa Telles, Dout.
das Acções, nota 988).
Antes do novissimo regimento de custa de 2 de Setem-
bro de ·187lJ, era permitt,ido o arbitramento (VIde Reg,
anterior de 3 de Março de 18õ5, art. 185) ; mas boje só
pelas taxas abi determinada ou por COlJtrato (art. 202).
A acção é execnti va (Pereira e Souza cito ; Corrêa Telles
cito ; Reg. cit ; art. 202). (\'-)
Novembro, '1875.
(.) Não nos parece f6ra de proposito consignar neste lugar
que nos primeiros tempos de Roma não podião os advogados
16 CONSULTAS SOBRE

perceber honorario algum pelas cau sas que defendião, Pro-


hibia-o a l ei Cincia de donis et mune7'ibus, Se bem fo sse obrA. de
um tribuno, que a fizera, diz Tito Livio, no interes!'; e do povo,
no fundo era uma l ei aristocratica; não permittindo ao
advogado tirar legitimo proveito de seu talento, afastava do
fôro os que não tinhão fortuna, reservando o exerci cio dessa
profissão aos ricos, ou antes impedia que fosse uma verda-
deira profissão.
Na erudita monographia de Gaston Boissier, intitulada
Cicé7'on et ses amis, da qual extrahimos a materia desta nota,
encontra-se pormenores curiosos sobre o assumpto, O aulor
acredita que a lei Cincia fôra sempre imperfeitam ente obser-
vada; como eUa não podia tudo prever, era im possível obstar
a que o reconhecimento dos cli entes procurasse qualquer
f6rma engenhosa para escapar á sua severidade , No t empo de
Cicero não havia escrupulo em vi olal-a ab erta me nte ; l!ssim,
Verres dizia a seus A.mi gos t er feito tr es quinhõ es do dinh eiro
qu P. trouxera da Si cilia ; o mais con sidel'avel era destinado a
corromp er os juizes, o outro a pagar a se us advogado s, con-
tentando-se elle com o t erceiro.
O meio de q ue se servia o grande orador para eludir a dis-
posição da l ei era tomando emprestado áqueUes a quem havia
defendido, e foi por ess a f6rma que comprou a casa de Crasso,
forn er,endo-lhe só um de seus cli entes dous milhões de ses-
tercios. Atacado no senlldo , defendeu -se com um gracejo, o
que prova,diz Boissier,que a lei não era mais muito respeitada,
e que aquelles que a víolavão não tinhão muito medo de ser
perseguidos.
Outros mais pacientes, ou menos n ecessitados qu e o accusa-
dor de Catilina, agual'davão a morte do s clientes, que segundo
o uso romano, pagavão em t est amento as dividas de r econh e-
cim ento e affeição contrahidas em vida, S uccedia qu e muitas
vezes reunia- se no mes mo t estamento adversaríos ou inimi gos;
assim, um rico banqueiro, Cluvio, in stituio herdeiros, depois
da batalha da Pharsalia, Cicero e Cesar; o architect o Cyro
contemplou na mesma verba a Clodio e a Cicero.
Os romanos julgavão honrar-se instituindo herdeiros a cida-
dãos que, embora não conhecessem pessoalmente, illustravão
a patría por seus feitos e talentos. Lucullo e Attico recêberão
por esse motivo importantes legados.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 17

Advogado ; injurias
Póde-se considerar injuriosa e passiveis de pena
as expressões que o advogado empregar em defesa
dOE direitos de seu consLituiIJte ?

Resposta

o que o advogado allega, quanto aos factos em defesa


de seu cliente, presume-se ter sido por informação deste
ex vi da Ord., liv. t, tit. 48, § tD, e estylo de julgar.
E bem póde elle usar de linguagem vigorosa, quando a
bem da mesma defesa ex vi da Ord., liv. 3, til. 20, § 34.
Essa defesa exige mesmo em alguns casos certa nobre
ousadia da parte lIo advogado, e portanto o e,mprego de
expressões apropriada, guardada todavia a decencia e o
respeito devidos ás leis, ao juizo, ás partes e ao proprio ad-
vogado.
O excesso póde dar lugar a abuso, que seria passivel de
punição nos termos da Ord., liv. 3, tit. 20, § 21, e outras j
do Cod. Crim., :lrL. 229 a 246, observadas as regras de di-
reito em sua applicação (Vide Av. de 16 de Junho de 1834,
de lO de Dezembro de 1838), sendo entre ellas que sem
má fé não hacrime, e a prova dos factos imputados isenta
de pena (Cod. Crim., art. 3 e 234).
Novembro, 1867.

Posteriormente, porém, os advogados forão julgados com


direito a honorarios .
No ])ig., liv . 50, tit. 13, Silo, de ea;traordinariis cognitionibus
tratando-se no SilO de honorario advocatorum, se faz referencia. a
um rescriplo do Imperador,Rssim concebido: Si Julius Maternus,
quem pat1'onum ca1~sce t1t11? esse '/)ol1~isti, (idem .msceptam ea;hibore
paratus est; eam duntaxat pec1miam, quce modum legitirnum egressa
est, repelcre debel o A. C.
2
i8 CONSULTAS SOBRE

Advogado ; pronuncia
 pronuuci~
importa para o advogado a suspen-
são da a.dvocacia ?

Resposta
Parece-me que a pronuncia não importa para o advo-
gado a suspensão do exercicio dessa sua profissão, porque
ella não é emprego publico, e ~im uma profissão como a
do medico, embora se exijão certas condições para a exer-
cer,e não supponho portanto sujeita quer ao art. i55, § 2
do Cod, do Proc., quer ao art. 8, § 2 da Consto e art.
293 do Reg. de 3i de Janeiro de -1854.
Julho, 1854..

Advogar
Póde o supplente do juiz municipal intervir
como advogado em alguma causa em que haja
despachado como juiz?
Resposta
Que os juizes não podem advogar é cerlo, pelo disposto
na Ord., liy.3, tit. 28, § '2; Cod. Crim., art. i29, § 3 ;
Officio de 28 de Agosto de 184.3.
Mas os supplentes podem fazêl-o, com tanto que não des-
pachem ou julguem como juizes nas causas em que forem
advogados; porquanto, embora não seja incompathel com
a advocacia o exercicio interino do cargo de juiz, todavia
subsiste a regra de não poder, por um lado, aconselhar e
advogar por quem perante elle litigue (cit. Ord. e Cod.), e
por outro lado julgar na propria causa (Ord., liv. 3,
tit. 24.).
Parece-me, portanto, que o supplente póde advogar a
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 19

causa em que anteriormente houvesse despachado como


juiz, comtanto que não mais a despache ou julgue como
tal.
Como, porém, é esta materia melinurosa, a prudencia e
o escrupulo aconselhão que, se houverem no lugar outros
advogados a quem as partes possão recorrer, não se aceite
o patrocinio de taes causas.
Novembro, 1853.

Advogar ; procurar em juizo ; juiz de paz ; delegado


subdelegado
i ,0 Estão inhibidos de advogar os subdelegados
perante o juiz de paz que tem escrivão commum a
ambos?
2.° O juiz de paz póde procurar em seu JUIZO,
dando-se de suspeito na causa?
Resposta
Ao L" A' semelbança do que a respeito d0s juizes de paz
decidio o Av. n. 453 de H. de Dezembro de 1857,parece-me
que não podem ser inhibidos os subdelegados de advogar
e procurar, ainda que perante o juiz de paz de seu dis-
tricto, embora seja o mesmo o escrivão, por ser diverso o
juiz e por conseguinte não se verificar o caso da prohibição
da lei.
Ao 2. o Parece-me que o juiz de paz em exercicio não
póde pl'ocurar em seu proprio juizo, porque obsta-lhe o
principio de direito geral, sanccionado até penalmente no
Cod. Crim., art. 129; se não ha incompatibilidade absoluta
(Av. cito n. 453 de 1807), ha todavia relativa. Nem lhe
aproveita o declarar-se suspeito, porque seria um meio
faci! de eludir a prohibição. Pelo menos, a dignidade, o
20 CONSULTAS SOBRE

decoro e a independencia do juizo não o tolerarião de bom


grado.
Setembro, 186J.

Aforamento de terrenos á camara; logradouros

f.· Póde Pedro excluir a qualquer do uso e goso


de terrenos que lhe foram aforados?
2.° Não tendo sido ouvida a camal'a municipal,
e sendo necessario o terreno para logradouro pu-
blico, foi legal o aforamento?
Resposta

Ao 1. Parece-me que, se no aforamento se nao lmpõz


0

clausula em contrario, póde Pedro excluir a qualquer do


uso e gozo dos terrenos aforados, porque pelo aforamento
adquiri0 o domínio util, e conseguintemente o direito de
excluir a terceiro do uso e gozo de Slla propriedade. Pela
mesma razão pode em tal caso impôr condições á con-
cessão desse uso e gozo.
Ao 2. Se a camara não foi ouvida, e se era necessario
0

todo ou parte do terreno para logradouro publico ao tempo


da concessão, me parece illegal o aforamento por contrario
á Lei de H) de Novembro de 1831, art. 51, § 1.4.
Se não era então necessario, e todavia, o é hoje, só por
desapropriação poderá o publico gozar do logradouro que
por este meio se vier a formar, indemnisado o foreiro
actual, se no seu aforamento não se obrigou elie a ceder
gratuitamente o que fosse necessario em qualquer tempo
para o bem publico.
Janeiro, 1860.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 21

Aforamento ; pensão; nuIlidade; camara municipal da côrte ;


commlsso
1.0 E' nuHo o aforamento por falta de decla-
ração sobre o facto de pertencer o terrono á camara
municipal?
2.° A falta de pagamento da pensão importa nuUi-
dade do aforamento?
Resposta
Ao Lo Entendo que, por se não haver declarado que o
terreno era da camara, não é nullo o aforamento; cumpre á
camara fazer reconhecer o seu dominio directo, valendo o
aforamento ou como tal ou como sub-emphyteuse. (Vide
Alv. de lO de Abril de 182~ ) .
Ao 2. ° A falta de pagamento de pensão não é motivo de
nullidade. Mas sendo de tres annos successivos dá direito
ao commisso, que o senhorio póde demandar contra o fo-
reiro (Ord., liv. 4, lit . 39).
Como, porem, é elle odioso e penal varias causas podem
releval-o, como ensinão os civilistas e praxistas.
Março, 1870.

Africanos livres ; filhos; salarios


LO Em que termos serve o africano livre, que
sendo arrematados os serviços em praça, deixou de
requerer a sua emancipação? Qual a condição dos
filhos do mesmo havidos de mulher escrava?
2.° A que obrigações está sujeito o herdeiro do
concessionario dos serviços?
3.° Póde allegar ignorancia ou prescripção ~
4 .. Subsiste o Dec. de 28 de Dezembro de i853 1
22 CONSULTAS SOBRE

Resposta
Quanto a Pedro (africano livre), desde que não requereu
sua emancipação facultada pelo Dec. de 28 de Dezembro
de 18~3, parece ter continuado a servir como tal e nos
termos anteriores, conforme as Instrucções de 29 de Outu-
bro de '1834 e '19 de Novembro de 1835 e assim permane-
cido até 18n9, sujeito o arrematante ou concessionario ao
salario então determinado.
Quanto aos filhos,resta provar que, sendo de Pedro,foram
de muliler livre ou de africana livre; neste caso são livres
por nascimento. Se tambem africanos livres até doze annos
de idade, o serviço é pela criação e educação (lnstr. cito
de 1836), se já nascidos no Bl'asil ; podia quem os criou
servir-se delles gratui tamente até a idade de quatorze
annos (Ord., liv.I, tit. 88, § 12).
Se, porém, são filhos de escrava do concessionario, erão
escravos do "enhor da mãi ; e a declaração por este feita
de serem livres importa sua alforl'ia, que só vigorará
desde 18~9, data do seu fallecimento e effectividade da
verba testamentaria, que assim dispõe.
Ao 2. O herdeiro instituido pelo testador, que pessoal-
0

mento utilisou-se dos serviços de Pedro e de seus filhos


(declarados livres) desde a morte do testador, parece-me
estar sujeito pessoalmente a pagai-os, como a pessoas
livres que são, obsel'vando que aos menores só depois dos
quatorze annos de idade, na fórma já referida, salvo pro-
vando-se que elles prestarão taes serviços em compensação
da cri~ção e tratamento, isto é, servirão apenas pela ali-
mentação, vestuario, educação e tratamento, havendo assim
ajuste nu accordo entre elles e o amo (Ord., liv. 4, tit. 29).
Ao 3. A. ignorancia não poderia ser allegada em vista
0

da declaração testamentaria. Poc1erá, porém, allegar-se a


prescripção de tres annos a contar do dia em que sahirão
de casa Pedro e seus filhos (Ord., liv. 4., tit. 32).
Ao 4.0 O Dac. citado de 1853 foi revogado pelo de 24
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

da Setembro de 1864., que deu por findo o tempo de ser-


viço e emancipou a todos.
Novembro, 1.872.

Aggravo commercial
Em que tempo deve ser interposto o aggravo
commercial?
Resposta
Deve ser interposto mesmo em férias dentro do prazo
legal, embora se lhe não dê andamento senão depois de
férias, salvo os 'casos exceptuados no Reg. n. 737 de 1850,
art. 729. e Dec. de 1.8;)3, art. 3, (Vide decisão do presidente
do Tribunal do Commercio da côrte em 28 de Abril de 1.86;)
na acção decendial autor DI'. João Cardoso de Menezes, e
réo Rodolpbo Wursten, juizo do commercio da primeira
vara escrivão Leite).
Abril, 186;).

- Aggravo; competencia das Relações e dos juizes de direito


Como se determina a competencia das Relações
e JUIzes de direito para o conhecimento de
aggravos (
Resposta

03 arts. 8 e 9 de Reg. de 1;) de Março de t84.2 fixão a


regra da competencia tias Relações e dos juizes de direito
para conhecerem dos aggravos de petição e instrumento:
é a alçada territorial determinada pela distancia das quinze
legllas contadas, como nella claramente se dispõe.
24 CONSULTAS SOBRE

o art. Ui trata de objecto muito diverso, porque esta-


belece a regra da ,competencia do aggravo de petiç5:o ou
de instrumento (salvo o caso do § '12), devendo aquelle ter
lugar quando a Relação ou o juiz de direito se achar no
tel'lTIo,ou dentro de cinco leguas do lugar onele se aggrava.
ConseguintementA :
V Se se achar no termo, ainda que fóra das cinco leguas,
cabe o de petição, o que aliás se deduz tambem do dis-
posto nos arts. i 9 a 22, e mais particularmente do art. 21
do citado Reg.
2.° Se se achar fóra do termo, mas em distancia de cinco
leguas, cabe o de petição.
3." As cinco leguas devem-se contar, não conforme a
regra do art. 9 (que rege hypothese diversa e para o fim
especial ahi mesmo declarado), mas do lugar onde se ag-
grava, como é e~presso no referido art. i5 do nego citado .
Abril, 1.870.

Aggravo ; embargos

Interposta uma appellação, a parte reclamou a de-


serção. O juiz indeferio, recebeu a appelIação e
mandou pl'oseguir. O appellado aggravou no auto
do processo. A Relação deu. provimento a este
aggl'avo, e mandou que o juiz julgasse a deserçã.o.
Pergunta-se:
1.0 Cabia no caso o aggravo no auto do processo?
2.° Que recurso ha contra essa decisão da
Relação?
Resposta
Entendo que podia int.erpôr-se o aggravo no aulo do
VAlHAS QUESTÕES DE DIREITO 20

processo, conforme a Ord., liv. 3, til. 70, § 8, doutrina dos


praxistas portuguezes e brasileiros (Pereira e Souza, Prac.
Civil, nota 6G8 ; Lobão, Segundas Linhas, pago 204 e DD.
ahi citados; Souza Pinto, Prac. Civ; Bras., § Hi06, n. 8),
posto que fosse tambem licito aggravar de petição (Pereira
e Souza ciL, nota 67! ; Lobão cit.)
Nem a Disposição provisoria art. H, nem a Lei de 3 de
Dezembro de '1841, art. i2, nem mesmo o Reg. de 1.5 de
Março de ,1842 o prohibe; os casos de aggravo no auto
do processo consignados em leis anteriores continuáraõ a
subsistir todos (Reg. cit ., art. i8).
Ao 2.° O accordão é embargavel, como o são em geral
os accordãos das Relações em materia civel (Reg. de 3 de
Janeiro de 1.8il3),apezar de que o cito Reg. de 1.842,art. 33,
parece trazer duvida por prohibir embargos ás decisões
sobre aggravos. Esta prohibição me parp.ce referir-se par-
ticularmen te aos de petição e instrumento, de que expres-
samente trata o art. i22 da Lei citada de i84i.
Setembro, 1.863.

Aggravo; provimento; appelIação; conflicto ; civel


Póde o juiz superior mandar em recurso de
ag~l'avo sejam rejeitados in limine embargos do exe-
cutado recebido nos proprios autos? E' caso de
conflicto?
Resposta

Recebidos nos proprios autos os embargos do executado


e aggravando-se, entendo que o juiz su perior não póde
mandar que sejão regeitados in limine (no civel), porque
equivaleria a uma definitiva, de que a parte ficaria inhi-
bida de interpôr a appellação, visto ser a decisão assim
26 CONSULTAS SOBRE

proferida em recurso de aggravo, nos termos do Reg. de


f5 de Março de i842-apenas ordenar que o sejão em se-
parado da execução.
O conflicto de jurisdiccão que porventura se levante,
entendo que suspende, porque participa essencialmente da
materia de competencia, que tem natureza sempre sus-
pensiva.
Agosto, f870.

Aguas; aqueductos
Póde o proprietario de uma nascente desviar as
aguas que correm por terrenos de diversos?

Resposta ·

As aguas que de uma nascente corrl'lm por terrenos de


diversos reputão-se de dominio de cada um dos proprieta-
rios dos terrenos na parte respectiva, e a nascente do pro-
prietario em cujas terras existe, sem que todavia fique
inhibido este de derivaI-as, mesmo todas, abandonando as
sobras, contanto que nessa derivação total não venha a
causar prejuízo a algum dos outros, que tenha um direito
constituido ao uso dellas, nos casos em que tal direito lhe
deva ser respeitado.
Se o dono cio predio inferior para conduzir a agua de-
pende de atravessar terrenos alheios, não ·o póàe fazer,
desde que tenha de construir aqueducto, sem accordo
com este outro, porque seria uma servidão, onus real, que
só· pelos modos legaes se pó de crear (Vide Lobão, Aguas).
Outubro, 1867.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 27

Aguas; lavoura

Os donos de lavouras, manufacturas podem


oppôr-se á turbação da posse de aguas por parte
do proprietario da nascente 1
Resposta
A nascente pertence áquelle em cujo terreno tem ori-
gem. Mas dos ontros, por cujo terreno passa a agua, tam-
bem é a propriedade desta na parte respectiva. O dono da
nascente, porém, póde utilisar-se como lhe parecer, salvo
o prejuizo dos subsequentes que tenham direitos adquiridos
legitimamente, sobretudo com obras, manufacturas, la-
voura, engenho, etc. (Vide Resol. de i 7 de Agosto de
075; Alv. de 27 de Novembro de 1804; Lobão, Aguas).
A turbação da possse autorisará a acção de força, bem
como caberiam outros remedios possesso rios, conforme o
caso, além mesmo para impedir o damno 0lJ. obras offen-
sivas, salvos sempre os direitos do dono da nascente (Vide
Lobão Clt.)
Dezembro, i870.

Aguas; servidão; prescripção; acção


Questão proposta ácerca de um titulo do qual
se deriva direito de servidão de aguas.
Resposta
O titulo de venda da fazenda ... importa, no meu en-
tender, a constituição da servidão de agua para as machi-
nas e serviço da mesma. E o confirma o mo e gozo deIla,
manso e pacifico, não só por dez e vinte annos, mas por
muito mais de trinta, tempo sufficiente para constituil-a
28 CONSULTAS SOBRE

alé por prescripção. (Coelho da Rocha, Dir. Civ., § 598 e


ti99, Corrêa Telles, Doutr. das Âcções, § H 2 a H6) .
Embora a nascente pertença ao dono da terra em que
tem Illgar, os dos pl'edios inferiores podem ter direito por
titulo havido daquelle, ou por servidão legitimamente
constituida e effecti va, (ResoI. de i 7 de Agosto de i 775 ;
em Lobão,Aguas, § 76,Cons. das Leis Civ. ,art. 898 a 902).
Consequentemente não póde o dono da nascente em taes
condições privar os dos predios inferiores do seu direito
adquirido e effectivo.
Poderião estes usar da acção confessoria (Corrêa Telles
cit.) ou do emba.rgo de obra (idem § 206), ou de alguma
outra apropriada ao caso.
Outubro, i874.

Aldêas de indios ; medição; jurisdicção do juiz dos orphãos


Lo A' vista do Dec. de 24 deJulho de i845 podem
os directores de aldêa.s fazer medições com caracter
judicial entre os foreiros das terras da aldêa, ou a
sua attribuição quanto a medições limita-se a divi-
dir e demarcar as terras occupada,s por índios
sómente?
2: Com a existencia da directoria das aldêas
cessou toda a jurisdicÇão dos juizes dos orphãos so-
bre os indios ?
3: São nuHas as medições feitas pelo ex-director
de aldêa com todo o apparato judicial, até man-
dando intimar os confrontantes e confinantes por
mandado por elle assignado e por official de jus-
tiça de sua nomeação, medições feitas entre foreiros
e em terras por elles occu padas ?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 29

Resposta
Ao V O director é competente para proceder á demar-
cação dentro dos limites das aldêa~ (art. 2 do § H,e art. 3
0

e Reg. cit. l, mas sem fórma nem figura de juizo (pois o


director não é juiz), como bem o indica o § 6 citado,
pouco importando que essas t erras sejão aforaclas, uma
vez qlle estejão dentro dos limites das aldêas, porque o
Reg. não faz distincção.
Ao '2. o Parece-me que não. Cessou apenas na parl;e re-
lativa á administração dos bens e em o mais que pelo ci-
tado Dec. de 24 de Julho ficou a cargo dos directores,
como se evidencia do Av. de 30 de Agosto de i8~0.
Ao 3. o Entendo irregular e nuIlo o procedimento nestes
termos, porque o Reg. citado não dá ao director quali-
dade de juiz, tanto que nem;officiaes de justiça têm, e nem
elIe os póde nomear. Se não houve medição prévia, e
nem ao depois as partes a iazem amigavelmente extra-judi-
cial (só extra-J·udicial podem por si fazer os directores),
devem recorrer ao juiz competente, com audiencia do
director por parte dos indios.
Outubro, i8~3.

Alforria; escravos de espolios

E' prohibido o escravo pedir alforria por meio


de resgate no caso de haver viuvo meeiro ~
Resposta

A Lei de i5 de Setembro de i869 não faz distincção de


haver meeiro viuvo ou viuva, para que o escravo possa
pedil' alforria por via de resgate ahi facultado. As condi-
ções são unicamente as taxadas no art. 3. Mas é facul-
ativa a disposição (vbo. poderá).
30 CONSULTAS SOBRE

E o disposto nesse art. 3 tem lugar ainda que os inte-


ressados não convenhão: é fa vor á liberdade.
Agosto, 1870.

Alforria; filhos

Que direitos tem o conjuge a quem foi deixada


em verba testamentaria a herança com obrigação
de conceder a liberdade a escravos por sua morte?
2.° E' devido algum salario durante o tempo em
que pre~tão serviços ao conj age herdeiro?
3.° Os filhos, que nascerem dos escravos dei-
xados em usafructo são livres ou escravos?
4.° Esses filhos têm direito a sala rios e desde que
idade?
Resposta
Ao L° E' para mim fóra de duvida que os escravos re-
feridos (na proposta) são hoje plenamente livres; por-
quanto, conferida em parte directamente, em outra parte
fidei-commissa7'úlmonte a liberdade, não podia o marido
da testadora, aliás instituido herdeiro por elia, deixar de
dar-lhes a liberdade; seria pôr o herdeiro obstaculo
contra a vontade da testadora (Dig. L. i 3 de statulib ;
liv. HS, Cod. de fidei-com. libertate ; L. 44, Dig. de ma-
nmnis. testam. pro e § i e L. i", Cod. de com. servo
O

manumis.)
O marido tinha o usufructo ou os serviços durante a
sua vida, o que não prejudica a liberdade c'Jllferida (L. i ",
Cod. comm.serv. manumis.) usufl'ucto e serviços que se es-
tinguirão com a sua morte nos termos de Direito.
Nem o mariJo podia em tal caso revogar a liberdade,
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 3i

ainda por ingratidão (L. ta, Cod. de libert. et eorum lib. ;


Nov. 78, capo 2°; Ord. liv. 4-°, tit. 63, § 9),e muito menos
de seu arbitrio recusar a liberdade.
Pouco importa que apparentemente pelas palavras da
verba se entendesse reservada a sua metade nos escravos;
porque, conferida a liberdade ao escravo commum por al-
gum dos condominos, prevalece sempre a liberdade.
(L. P, Cod. de comm. servo manumis.)
Ao 2: Quanto ao tempo em que servirão ao marido,
entendo que lhes não é devido sala rio algum; porque era
sua obrigação por constituidos em usufructo ou quasi.
Mas desde o fallecimento deste parece que sim, por haver
cessado a obrigação, segundo fôr arbitrado.
3.0 Os filhos nascidos desde o fallecimento da testadora
são livres; o ventre já era livre desde então, e a obrigação
de servir não lhe tira esta qualidade (L. la, Com. de man.) ,
e o usufructuario não faz seus os filhos das escravas que
não são propriamente fructos (§ 37, Inst. de res. div.)
4-." Alguns entendem que taes ;filhos são obrigados a
servir com suas mãis, e por isso sem direi to a salarios.
Mas, se são plenamente livres, parece que, ou desde a
idade de sete annos, ou pelo menos desde a de doze annos,
lhes são elles devidos pelos serviços que prestão, ficando
os sel'Viços até esta idade em compensação da criação.
Dezembro, 1857.

Alforria forçada; competencia; processo


1.0 Qual o juiz competente para a alfol'l'ia. for-
çada?
2. o Qual o processo a seguir?
Resposta
Ao LO O juiz competente é o do civel, municipal ou
32 CONSULTAS SOBRE

de direito, conforme o valor exceder ou não a 500$ (Reg.


de 13 de Novembro de i872, art. 86).
Tal é a ,pratica nesta cÔrte.
Ao juiz de orphãos eompetem outros actos.
Ao 2. O processo está claramente indicado e traçado no
0

citado Reg .. art. 56, e 84 a 86. Apresentada ao juiz a pe-


tição, deve elle, antes de tudo, conv idar o senhor para um
accôrdo . Só em falta deste, procederá. Feito o deposito de
quantia razoavel (art. n6), nomeado curado!', depositado o
escravo, será o senhor, com a devida venia, citado para
o arbitramento.
Pago ou depositado o valor integral arbitrado será o es-
cravo declarado livre por sentença.
Está entendiclo que, tanto a favor de um como do outro,
são facultados os meios (summarlos) de defesa e os recursos
legaes.
Julho, 1873.

Alforria; peculio do escravo

João recebeu de seu escravo Manoel 400a corno


principio do preço de sua alforria, e lançou-o em
um livro como haver do dito escravo, mas sem mais
declaração. Ha, porém, pessoas que sabem. Fallece
João e o seu espolio é arrecadado como de defuntos
e ausentes.
. Pergunta-se:
i. o Póde Manoel in tentar com espemnça de ven-
cimento sua acção de liberdade?
2. o Se não póde, tem direito a reclamar os seus
400~, ou é-lhe prohibido, perdendo-os elIe ?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 33
Resposta
Ao 1.0 Desde que se possa provar que os 400~ forão por
João recebidos como parte do preço da alforria de Manoel,
entendo que tem este direito de fazer-se declarar livre,
pagando o restante ainda que com seus serviços (L. 4,' ,
§ 10, Dig. de manum., arg. da Ord., liv. 4", tit. 2° pro e
§ 3°, combinado com o Alvará de 4 de Setembro de 18tO.
Vide a Escr'avidáo no Brasil, tomo 1°, § 37-2; H2, 113,
notas 521, 600 e 602).
Toda a prova é admissivel (obra cito § 84 e jurispru-
dencia).
Ao ;:! .° Suppondo decisão contraria, entendo que poderia
Manoel reclamar os 4.00$ como seu peculio (L. 49, § 2,
Dig. de peco ; obra cit, ~ 37-1°).
E avaliado como esc. vo para ir á praça, na fárma do
Reg. cit. de 1859, poderia libertar-se entrando no preço .
da avaliação os 400$ ex-vi da Lei n. 1695 de 1869, art. 3,
ou pelo menos concorrendo com os outros licitantes (Av.
n. 388 de 1855, n. 480 de 1862; Lei cit., art. 1°), levando-
se-lhe em conta aquelle preço já dado. (Lei 4", § 10,
Dig. cit.)
Abril, 1870.

Antichrese; em que termos


.
E' valido o accôrdo pelo qual o devedor consi-
gne ao credor os rendimentos de um immovel para
o pagamento ou em compensação dos juros, ainda
que se não estipule a taxa destes?
Resposta
Ha ahi um eontrato antichretico.
Nosso direito admitte a. antichrese, de rogada a Ord.,
3
CONSULTAS SOBRE

liv. 4°, tit. 67, § 4° (Cans. das Leis Civ . Bras., nl)ta ao
art. 768; Lei de 24 ele Setembro ele 1864.., art. 6°).
Aquella fórma não é prohibida; não ha lei em contrario.
E até o Cod. Civ. Fr., art. 2089, a faculta.
A generalidade da nossa Lei de 24 de Outubro de 1832,
que deixa ás partes a mais ampla liberdade de convenção
quanto aos juros, protege semelhante accôrdo, pouco im-
portando as considerações moraes e outras alheias ao
direito e mesmo disposição diversa de outras legislações.
Setembro, i 87[J..

Antichrese; registros; terceiros

i. ° Qual a natureza da antichrese ? 2: Como se


classifica e quaes os seus effeitos? 3: Nos termos
da lei e regulamento hypothecarios quaes se con-
sederão terceiros incapazes de oppôr-se á hypo-
tbeca devidamente registrada? 4.° O credor hypo-
tbecario póde ser ao mesmo tempo antichretico?
Resposta

Ao LO Constituida a divida com hypotheca no predio,


e ao mesmo tempo consignatlos ao credor os rendimentos
em compensação dos juros, ha ahi dous contratos acces-
sorios-hypatheca e antichrese.
A antichrese é contrato pignoraticio, em que ao credor
se confere pagar-se pelos rendimentos-ou só dos juros, ou
dos juros e capital (Vide Mello Freire, Dú'. Civ., liv. 1",
tit. 8°, § 20 ; Lobão a Mello cito ; Coelho da Rocha, § 668
a 670; Canso das Leis Civ. Bras., art. 767, 768 e notas).
Portanto não ha ahi transmissão de domínio, como não
o ba na adjudicação 1e rendimentos em execução (Vide Pe-
reira e Souza, Prac. Civ., nota 867).
VARIAS QUESTÕES DE DlREITO 3ã

Ao 2° e 3.° Classificada a antichrese entre os onus reaes,


unicos reconhecidos pela nova Lei bypothecaria de 24-
de Setembro de 1864., art. 6°, é indispensavel a sua trans-
cripção ou registro para que valha contra credor hypothe-
cario (Cit. art. 6, § 2°), e parece que mesmo contra ter-
ceiro não hypothecarlo (art. 8 da Lei e art. 264. do Reg.
n. 34-ã3 de 26 de Abril de i86ã), sendo que terceiros no
senlido da lei citada considerão-se todos que não forem
partes no contrato ou herdeiros destes, como declarou o
Reg. cito no art. 67, embora o fizesse por occasião de de-
finir quaes as pessoas legitimas para requererem o regis-
tro (art. 66).
Na lei existe alguma confusão a esle respeito, por pa-
recer que a generalidade do art. 8° soffre restricção no
art. 6°, § 1° e 2.°
Todavia o art. 264. do Reg. parece têl-a removido, con-
signando unicamente a disposição geral.
Essa transcripção ou registro é, no systema da lei, ele-
mento essencial para garantia de todos, visto importar a
publicidade das transmissões e da constituição dos onus
reaes, e mais particularmente a bem do novo regimen
hypothecario.
Não é, porém, fóra de duvida a questão suscitada.
Ao 4.° A Lei cit., art. 6, nã'o excluio a possibilidade de
ser o credor bypotbecario ao mesmo tempo anticbretico.
Mas, além do registro da hypotheca (inscripção), deve
fazer o da antichrese (transcripção). Não basta só um
(Reg., art. 229 e 277).
Março, 1874.
36 CONSULTAS SOBRE

Arma prohibida; crime por uso delIa

Enco/ltrado um alfaiate com tesoura pt'opria de


seu oflicio, póde ser processado por crime de uso
de arma prohibida?
Resposta

E' de dificuldade na pralica. Pela Lei de 26 de Outubro


de 1831, art. 3, reput.a-se arma prohibida todo ·inst?'umento
pe?fumnte. Se tal se reputasse a tesoura do alfaiate, ha-
veria sem duvida o crime previsto no art. 297 do Cod. Crim.
e na cit. Lei. Mas duvido muito que se possa ou deva como
tal qualificar a leso ura, em bora haja no agen te lal vez
intenção de se servir della para arrende?' ou defender;
porque, se esta intenção ainda que criminosa fosse, não
daria lugar á punição alguma emquanto se não mostrasse
facto ou tentativa.
O facto criminoso (rerimento ou tentativa, etc.), e se na
disposição da lei não eslá aquelle instrumento comprehcn-
dido, fiem é a?'ma propriamente dita, nem inst?'umento
pe?'furante, como a sovella, estoque, etc., parece-me que
seguindo-se o principio de que as leis criminaes se devem
entender ?'esl?'iclamente e não mnpliativamenfc, em rigor
não ha (lhi o crime de uso de arma prohibida.
Janeiro, 1857.

Arrematação annulIada; consequencias; processo; nullidades;


compensação; prescripção especial; cessão de acções a pessoas
poderosas

1. Como se procede DO caso de ser annullada


0

uma arrematação pelo tribunal superior?


VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 37

2. ° Idem, não sendo possivel a restituição dos


prolJrios bens ou equivalentes?
3: Se houver dinheiro, producto de arrematação
já. recolhido ao cofre '?
4.° E' o arrematante obrigado a restituir as no-
vidades?
5.° E' valido o procf'ssado sendo fallecida uma
das partes?
6.° Haverá nullidaue por não ter sido substituido
o tu tor fallecido por ou tro ?
7 .. Como poderá oppôl'-se o arrematante se por-
yentnra fôr demandado?
8.° E' nulla a venda de acções a pesl:ioas pode-
rosas?
9: Como se procederia no caso de serem oppostos
em bargos i execução? •
10. Poderá o arrema tante no caso da annuIlação
da arrematação prevalecer-se de prescripção?
i i. Qnal o melhor e mais seguro procedimento
que deve seguir o arrematante?
Resposta
Ao LO Annnllada, como foi, a praça por sentença con-
firmada na Relaç50, tem o arrematante de restituir os
bens respectivos rehavendo o preço (Ord., liv. 3, tit. 86,
§ 4 e 5) .
Mas, não existindo os proprios bens, deve dai' equiva-
lentes ou o seu valor .(Corrêa Telles, Doutr. das Acções,
nota '122 e § 102).
Ao 2.° No ('.aso de indemnisação, por não ser possivel
a restituição dos proprios bens ou equivalentes, deve ella
ser competentemente liquidada, podendo intervir peritos
38 CONSULTAS SOBRE

que O fação (Pereira e Souza, P1'ac. Civil, § 4,4,0 a 4,4.1';) .


A descripção e avaliação dos bens, o preço cla arrematação,
além de outros elementos, concorreráõ para um justo e
equilativo arbitramento na actnalidade (Orei., liv. 3,
tit. 66, § 2, e til. 86, § 2).
Ao 3.° O dinheiro já recolhido aos cofres, preço da arre~
matação e seus juros, podem ser encontrados na liqui-
dação referida. Encontrar ou compensar tambem é pagar
(Ord., liv. 4" tit. 78).
Ao [1,.0 O arrematan te em boa fé não resli tue as novi-
dades (Ord. cit., til. 86, § 4.). Mas, caso seja obrigado por
pretender os juros do preço ou por outro semelhante mo-
tivo, poderia compensar na liquidação (Arg. do § 5 da
Ord. cito ; Pereira e Souza, Prac. Oiv., nota 888).
Ao D.O A questão versou principalmente sobre a compe-
tencia do juizo. E é valido o processado emquanto nos autos
não consta a morte de alguma das partes, a cessão, etc.
(Pereira e Souza cit., nota 2ÕO).
Ao 6.° Sendo fallecido o tutor cumpriria dar outro
desde que em jui7.o constou. Mas pendia a questão capital
e prejudicial da competencia do juizo. Demais, a nullidade
(quando existisse) só se daria nos termos da Ord., liv. 3,
tit. 63.
Ao 7.° Se o arrematante fôr demandado, e entender que
se deve oppôr, fal-o-ha por embargos á execução (isto é,
se se tratar disto), on por contrariedade (se fôr acção ordi-
naria), ou por outro modo, confol'me o meio contra o
mesmo intentado, e até em fórma administrl!tiva ante o
juiz do inventario se assim fôr tratada a questão.
Ao 8.° Está completamente em desuso e implicitamente
revogada a Ord., liv: 3, tit 39, que annullava a venda de
acções a pessoas poderosãs (Cans. das Leis Civ. Broas., nota
in fine ao art. õ8õ, § 6) .
Ao 9.° Os embargos á execução terião o seu procedi-
mento commum, podendo-se ofIerecer para segurança do
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 39

juizo o proprio dinheiro (preço da arrematação) já reco-


lhido, reputado em deposito e verificada a penhora (Vide
Pereira e Souza cit., § 445 e seguintes, nota 885, n. 6).
Ao iD.o A praça foi annullada segundo a cOllsulta.O juiz
da execução não póde deixal' de cumprir a sentença, nos
termos já expostos. Poderia tal vez o arrematante prevale-
CeL'-se da prescripção especial da Ord., liv. 4°, tit. 86, § 4,
o qlle todavia na hypothese não é sem contestação, até
mesmo porque serião implorados os favores concedidos por
lei aos orphãos e menores.
Ao li. ° O arrematante aguarde o procedimento dos in-
teressados, resolva e se defenda como fôr de direito. Parece
o mais conveniente.
Outubro, 1873.

Arrematação no juizo do commercio; abatimento

A praça antes da adjudicação deve ser com o ilba··


timento OU sem elle?

Resposta

A praça sobre a adjudicação deve ser com abatimento,


vistos os arts. 553, 560 a 562 do Reg. n. 737 de 1850,
excepto se se verificão as excepções do art. 562, o qual se
deve entender pelos arts. 23 c 26 da Lei de 20 de Junho
de 1774, sua fonte.
Maio, 1857.

Arrendamento de casas; terceiro acquirente; onus; extincção

A. comprou um predio que estava arrendado.


No contrato de arrendamento havia a clausula de
que fica~a o predio obrigado ao seu cumprimento;
40 CONSULTAS SOBRE

-esse contrato foi transcripto no registro dos onus


reaes •
. Mas nem J primeiro, na escri ptura. de venda se
obrigou o A. a respeitar esse arrenda.mento, de cuja
existencia aliás sabia; mas, não se fazendo deIla
menção na escriptura de venda; nem, segundo,
consentia A. por qualquer modo na conservação
. daquelle arrendamento depois da co~pra; nem,
terceiro, o arrendatario se propôz a satisfazer a A.
os prejuizos, perdas e damnos resultantes de sua
conservação no prediu por força daquelle arrenda-
mento.
Pergunta· se:
1.0 A' vista do que dispõe a Ord., liv. 4, tit. 9,
e a nova Lei hypothecaria, A. está obrigado a cum-
prir o arrendamento?
2.° Basta para que A. seja Obrigado a e:;se cum-
primento a sciencia que tinha eIle da existencia
do arrendamento?
3: O arrendamento em direito é contrato pessoal
ou real? E no primeiro caso, embora transcripto
como onus, real póde ter o effeito que a melJcionada
lei hypothecaria só concede aos onus rea.es?
4.° A clausula no contrato do arrendamento de
que ao mesmo fica obrigado o predio póde valer
como hypotheca, para ser opposta a A ; - quando
não ha em tal claasula nem declaração do valor
dessa obrigação, e nem o contrato de arrendamento
que a contém foi assignado pela mulher do locador?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

Resposta
Se o contrato de arrendamento, de que se lratn, é an-
terior á Lei n. i 237 de 24 de Setembro de i864 e seu Reg.
n. 3453 de 26 de Abril de i865, está o comprador do pre-
dio obrigado a mantêl-o, visto a clausula de sujeição do
mesmo ao arrendamento (Ord., liv. 4°, til. gO).
Mas, se é posterior, vigorando já o novo regimen, e
constando da exposição que o comprador não se obrigou
por qualquer fórma a mantel-o, nem se dá qualquer out.ra
das excepções consignadas na cil. Ord., liv. 4 til. 9"
0
,

(salvo a obrigação no predio, transcripta como onus real),


fica manifesto que não póde o comprador ser forçado a
isso (Ord. cito pr.).
Resta, porém, saber se essa' clausula transcripta, como
onus real, tem esta natureza e o ohriga.
O arl. 6° da Lei cil. de 18154 resol\'e, a meu ver, nega-
tivamente, porquanto:
Pelo systema abi adoptado, o arrendamento não cons-
titue onus real, e, pois, não passa para o compratlor.
Nem se confunda com o uso e a habitação.-O arrenda-
mento é locação de predio.
E tanto são co usas muito distinctas, que o Cod. Civil
Port. assim o dispôz no seu art. 949, § 2. 0

O uso e a habitação entrão na classe das servidões deno-


minadas pessoaes (V. Inst. de J. de usu et habito ; Ortolan
ás Inst.; Mello Freire,Dir. Civ., liv. 30, tit. i3, §§ i e 9°).
O

A Ord., liv. 4 tit. 9°, está portanto implicit.amenle al-


0
,

terada nesta parle pela cit. Lei de i8M, como opina (e


creio qne bem) o dislincl.o jurisconsulto aulor da Consolo
rias Leis C'iv. Bms. nota ao art. 656, § 3. o
Assim, respondo:
Ao LO e 2. o Negativamente.
Ao 3. A loca\~ão é pessoal j por si só não produz di-
0

reito real (L. 9 Cod. de locat et cond1lc.; Ord., liv. 4 0


,
CONSULTAS SOBRE

tit. 9°; Alv. de 3 de Novembro de '1757; Lei de 4· de Julho


de 1776).
-Nem o registro ou ll'anscl'ipção, erradamente feita como
se existira onus real, póde clar-lh'o.
Ao 4.° Menos póde semelhante cl ausula importar hypo-
theca, visto como por tal não a reconhece a já cit Lei
de ·186[~ art. i 3' e 4°. E quando houvesse hypotheca
O
,

devêra ser especial , com valor cerlo e demais condições


legaes, devidamente inscripta (Lei cit., ar1. 9°; Reg. cito
de i86ã).
Salvo melhor juizo.
Setembro, i873 ("').

n A questão que deu ori gem a esta consulta foi exposta


pelo interessado em m emorial aprese ntado ao Tribunal da
Relação pela fórma seguinte:
David Saxe de Queirod, autor,comprou um predio á rua dos
Ourives n. 2:1'7, que est ava arrendado, por contrato anterior
á data da compra, á Machado & Ferreira, e que- vindo estes
á. fallir , foi Rublocado, por m ei o de cessão daquelle arrenda-
mento, pela r espectiva administração, aos réos Gavinbo,
Villela &; C.
Proposta a acção no juizo da i a vara, foi eUa julgada impro-
cedente pelos seguintes fund amentos: l°, estar o predio
obrigado ao cumprimento do arrendamento em virtude da
clausula inserta no contrato; 2°, t er sido transcr ipto no
registro geral dos onus r eaes aquelle arrendamento; 3°,
finalmente, porque o autor sabia, ao t empo em que fez a com-
pra, da existencia daquelle arrendam ento .
Embargada esta se ntença, foi eBa confirmada pelo juiz pro-
prietario o Sr. Dr. Sertorio, que, então no exercicio da vara,
aceitou o ultimo fundamento da mesma sentença: - sciencia
do arrendamento por parte do autor.
Parece que ha manifesta injustiça e inobs ervancia da lei
expressa que regula a materia em tal julgado.
A Ord., liv. 40, tit. 9°, e a Lei n. 123'7 de 1864, que regem a
questão, não deixão a menor duvida sobre o direito do compra-
dor, ora appellante.
Nenbum dos fundamentos da sentença embargada prevalece,
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 43

como igualmente improcedente é o da sentença appellada,


que aliás reproduz unicamente um daquelles fundamentos.
ASRim, que:
1. o A obrigação inserta no contrato de arrendamento de
que o proprietario por si e por s eus herdeiros e successores, e
de que o mesmo predio respondem pelo cumprimento do con-
trato, não tem, depois da Lei citada n. 1237 de 1864, nenhum
valor; pois que essa lei não reconhece, fóra da hypotheca, ou-
tros onus, além dos reaes nella mencionados, que possão ser
oppostos aos adquirentes de bens immQveis; - e que em tal
clausula obrigatoria no contrato de arrendamento não ha
hypotheca, convencem os autos, onde se acha provadQ que
não ha der.laração de valor naquella obrigação, e que além
disso o contrato de arrendamento em questão não p6de con-
ter bypotheca, porque o proprietario locador era casado e sua
mulher não assignou o dito contrato de arrendamento .
Quanto aos onus reaes que a lei já citada especifica, não com-
prehendeu entre elles o arrendamento, e nem podia compre-
hender, porque o arrendamento é um contrato pessoal.
2. ° A transcrÍpção do arrendamento no registro dos onus
reaes nada vale, porque o arrendamento não é onus real, e s6
por irreflexão do official do registro se explica a sua trans-
cripção como tal.
3.° A sciencia do comprador, ora appellante, da existeJcia do
arrendamento não o póde obrigar a compriJ-o, porque pela
citada Ord., liv. 4°, tit. 9°, expressamente se exige, não a sim-
ples sciencia, mas clausula inserta na escriptura de compra,
pelll. qual o comprador se obrigue a respeitar o arrendamento.
E' 'l.bsurdo tão manifesto-a n.outrina da sentença appellada,
como seria a que anDullasse a escriptura da compra ou a de
hypotheca pelo fundamento de que o adquirente ou o credor
hypothecario tinhão sciencia, ao tempo do contrato, da exis-
tencia de uma venda ou hypotheca anterior, feitas pelo mesmo
proprietario, embora não tran8criptas no registro geral,
pois que tão terminantemente exige a lei hypoth ecaria a trans-
cripção anterior, e não a simples sciencia do adquirente ou
credor, como exige a Ord., liv. 4°, tit, 9°, não a noticia ou
conhecimento do arrendamento, nas clausula expressa na
escriptura de compra pela qual fique obrigado o comprador.
CONSULTAS SOBRE

Arrendamento de terras; extincção


. O arl'enclamen to sem tém po acaba por morte do
arrendatario? Que direitos tem o soccessor deste?
Resposta
O arrendamento de terras, a que se refere a consulla,
é se.m tempo, com probibição de traspasso e de vender sem
expresso consen timento elo sen borio as bemfei torias.
Parece-me, portaúto, que, fallecenelo o arrenelatario,
póde o senhorio dar por lindo o arrendamento, pagando
aos herdeiros ou ao legatario respectivo as bemfei torias
(Ord., li\'. 4, tit. 54).
Embora, por via de regra, o arrendamento não se ex~
tingua pela morte, e passe aos herdeiros (Onl., liv. 4, til. MS,
§ 3), isto se deve entender quando é por tempo certo, pe-
queno ou grande, como aliás dispunha o direito romano,
Da Lei 19, § 8, Dig. de locat. cond. (Vide Hein. RecU.,
§§ 924 a 926, n. 6), ·send o que a nossa lei (Ord., liv. 4,
tit. M) só garante c0ntra o despejo, quando o arrenda-
mento é por tempo certo e o arrendatario cL1mpre aquillo
a que se obrigou.
Junho, i873.

Arrendamento; extincção; obrigação do comprador ou


arrendatario
o arrendamento passa para os herdeiros dos con-
tratantes?
O comprador do predio arrendado é obrigado a
manter o arrendatario havendo arrematação ju-
dicial?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

Resposta
O arrendamento com tempo cerLo não se extingue pelo
morte dos conLratantes ; passa aos herdeiros (Cans. das le·i s
r;ivis, art. 652 e nota).
°
Mas o comprador elo predio arrendado, e porlanto arre-
matante, nio é obrigado a manter o arrendamento, ficando
salva ao arrendatario a indemnisação a haver do proprie-
tario (Ord., liv. 4., tit. 9 ; Pereira e Souza, Prac. Civ.,
nota 861.).
Se o predio, porém, foi especialmente obrigado ao ar-
rendamento, o comprador é a este sujeito por passar para
elle o predio gravado com essa hypotheca, nos termos da
cit. Ord.,. o que todavia não é extensivo i arremalação em
execução de sentença, porque esta extingue os onus vo-
luntarios (cit. Pereira e Souza, § 632 e nota) .
.\. arrematação de que se trata na proposta não é deste
genero, e apenas equivalente á venda no juizo do inventario
para cumprimento ele disposição do proprietario testador.
E, pois, entendo obrigado o comprador, visto ser o contrato
de arrendamento anterior á novissima reforma hypothe-
caria e seu regulamento, que, não podendo ter effeito
retroaclivo, não o prejudicão, e haver nelle ficado especial-
mente obrigado o predio. Se fôra posterior, outra seria a
decisão por se achar implicitamente alterada nesta parte
a cit. Ord., liv. 4., tit. 9, pelo actual systema (Vide Canso
cit., nota ao art. 656, § 3).
Abril, i872.

Arrendamento; herdeiros do IO.cador; elevação da renda


Em um arrendamento se estipulou que o preço
seria de ... 1$ por braça, annualmente, e que não
seria elevado emquanto o arrendatario se conser-
vasse; mas não se declarou tempo de duração.
46 CONSULTAS SOBRE

Pergunta-se
Fallecendo O locador, podem os herdeiros elevar
o preço, apezar da clausula? Em qualquer tempo
ou quando se tiver de renovar o arrendamento?
Resposta
Se pela não estipulação de tempo de cll1l'ação parece ser
perpetuo o arrendamento, embora em regra passe esle
para os herdeiros (Ord., liv. 4, til. MS, § 3), isto se deve
en tender, a meu ver, quando é por tempo certo e deter-
minado (arg. da L. 19, § 8, da Dig. loco cond. Rein. Recit.,
§ 924 a \)26, n. 6), termos em que, não sendo elles obri-
gados a renoval-o, podem exigir novo preço, ou mesmo
despejar o arrendatal'io, findos que sejão os seis mezes da
ultima renovação do antecessor (Ord., liv. 4, tit. D4).
Julho, 1806.

Arrendamento; incendio; reducção


i. o Se a cousa arrendada se deteriora, rescinde-se
o arrendamento?
2.° Póde o inquilino repetir os alugueis que pagou
do predio incendiado?
3. Quaes os direitos do cessionario contra o se-
0

nhorio?
Resposta

1. o Perecendo a cousa arrendada acaba o arrendamento;


se apenas se deteriora dá isto direito ou a rescindir do
contrato, ou á reducção proporcional da renda (Vide Lobão,
Diss. sobre rem. de arrendamentos; Ord., liv. 4, tit. 24
e 27 ; Cod. Civ. Franc., art. 1722, e outros).
VARIAS QUl!.STÕES DE DIREI TO 47
2.° Se, apezar de incendiado, o inquilino ou condllctor
continuou a servir-se do predio, parece-me que não póde
repetir os alugueis que pagou; mas sim, se não pôde usar
delle, e todavia pagou na errada persllasão de que os de-
via (Vide Corrêa Telles, Doutr. das Acç.,§§ 250 e 376, n. 4).
3.· O cessionario do inquilino ou conductor só poderá
fazer valer contra o senhorio os direitos de cedente que
lhe houverem sido expressamente transferidos.
Abril, i87i.

Arrendamento perpetuo; terminação


O arrendamento perpetuo passa aos herdeiros do
locador Ol) extingue-se pela morte?
Resposta

Parece que não deve passar e sim julgar-se extincto,


porquanto:
1." Arrendamento não dá os mesmos direitos que afora-
mento; e depois do Alv. de 3 de Novembro de -1757 o ar-
rendamento já não transfere em caso algum o dominio util,
e no entanto esta seria a consequencia se outra fosse a
decisão j
2.° Os successores ou herdeiros só são obrigados a con-
servar os arrendatarios quando o arrendamento é por
tempo certo e limitado (Rein. Recit., §§ 924, 926, n. 6,)
aliás a morte extingue a obrigação;
3.· Perpetuo em tal caso equivale a tempo indeterminado;
ora, a lei (Ord., liv. 4, til. 54.) só garante quando o tempo
é certo e determinado, observando o locatario as condições j
e quanto a casas até permitte residir durando o tempo
(Ord., liv. 4, til. 24).
Novembro, 18;:;7.
48 CONSULTAS SOBRE

Arrendamento; rescisão
. Al'I'endado um predio e a.rruinando-se elle, quer
o dono fazer concertos.
Póde-se por e~se motivo rescindir o arrend a-
mento 7
Resposta
Entendo que tratando-se ele simples concertos ou reparos,
não ha lugar a rescisão do arrendamento (Ord., liv. 4,
tit. 2l! ; Cod. Civ. Fr., art. '1724.).
Janeiro, 1862.

Arribada; indemnisação
Arribando um navio por força maior ao porto da
sahida, ou a ou tI'O mais distante do que o seu des-
tino, isto é, sem nada ter avançado da viagem, tem
o capitão direito a ser pago dessa viagem?

Resposta

Entendo que não; porque o art. 631 do Cod. bem cla-


ramente dá a entender que esse direito só se verifica
quando se tem avançado, e isto pela razão obvia de ser
justo que se indemnise proporcionalmente a viagem feita,
visto como se tira já alguma vantagem avançando ou an-
dando para o porto do destino.
Assim opina Rogron ao art. 296 do Cod. do Com. Fr. e
foi decidido pelo tribunal (cour) de Paris em 10 de Fevereiro
de 1830, apezar de que Alauzet censura em parte esta
decisão.
Julho, 1862.
VAI\lAS QlIESTÕ'ES DE DIREITO

Autoria em processo commercial ; admissão; ratificação


Ha nullidade por se não impôr pena alguma ao
chaniado á autoria?

Resposta
O art. H3 do Regul. n. 737 de f850 dispõe que, se o
ré!) quizer chamar á autoria aquel le de quem houve
a cousa, o requeira na audiencia . em que fôr proposta a
acção.
Mas não impõe lkna alguma nem lIlesll)o a de nullidade.
Conseguintemente se o chamado á autoria não reclama
por tal se não ter praticado, a nullidade que porventura
dahi proviesse ficaria suppl'ida (Reg. cit. arl. 65).
Ainda quando fosse ella alguma das referidas nos
arts. 672 a 673, comparecendo o chamado á autoria e
acei tando teria havido a ratificação do processo (art. 674.).
Demais, havendo menores, poderião estes prevalecer-se
do beneficio rle restituição (art. 679).
Março, '1874..

Autos; gual'da; escrivão

Póde o escrivão de orphãos ser compellido a dar


. conta de autos de seu c::tl'lol'io depois de findos
trinta anuos?
Resposta

Pela Orel., liv. f, til. 84., § 23, applicavel ao escrivão


de orphãos (Ord., liv. i, ~t. 89, § i3), não é o escrivão
obrigado a guardar os feitos cíveis por mais de trinta annos
depois de findos.
Mas isto não o inhibe de guardaI-os além desse tempo,
4

50 CONSULTAS SOBRE

como claramente o dá a-entender o art. i 07 do Dec. de 3


de Março de 1. 805.
Portanto, não póde ser compellido a entregar ou dar
corita delles senão nos termos referidos,em que é obrigado
a guardaI-os.
Novembro, 1.860.

Autos; reforma

Lo Incorre o escrivão em alguma penalidade por


extravio de autos?
2. ° Perante que j niz se deve proceder á reforma
e por conta de quem correm as necessarias des-
pezas?
Resposta
Ao V O escrivão está, a meu ver, até cerlo ponto com-
promeLtido; porque confiando os autos á pessoa que não
era advogado ou solicitador; nem autorisada pelo jlliz,
deixou de observar a lei e ordens vi!!entes que o probi-
bem (Av. n. 1.03 de 1838) ,e mesmo na disposição do Cod_
Crim., art. '129, § 8 e Ui4-, sendo que em favor do mesmo
está a Sll:l boa fé : hOllve apenas uma facilidade el e sua
parl él em entregal-os desse modo.
Ao 2.° A reforma dus autos (Av. n. 79 de 1838) me
parece que dt!ve ser perante o juiz (lo procc~ so, e não pe-
ra,nte o juiz de di reiIn , que é apenas de recurso.
E i\ Cllst:l. do cul p:lcl o na. perel:l dos mesmos (Ord., liv. -lo,
tit. 2'1.. §§ ~::!, 24. e 2:J j. Se ha traslado,dispcnsa a reforma
(arg. tias Bes. ele 11 de Outubro de i827 e 30 de Dezem-
bro ue 1830, art.. 39).
Agosto, ,1859 .


VARIAS QUE~TÕES DE DIREITO

Banco; directoria; estradas; commisso


L° Os actos praticados pelos dil'ectores de uma
companhia, que havi;j,o renunciado, são validos?
2 .. São validas as deliberações tomadas por um
director nesta. condição?
3.° Estão sujeitos á pena de commisso os accio-
nistas que deixarem de realizar as suas entradas,
apezar do defeito apresentado no quesito anterior?
Resposta
Ao Lo Os directores de uma companhia são manda-
tarios revogaveis (Cod. do Com., art. 29~ ; Lei de 22 de
Agosto de -1860). O mandato acaba tambem pela renuncia
do mandatario (Cod ., art. i~7, n. 2).
No caso havião renunciado, e a renuncia foi aceita
e logo eleitos outros.
Parece-me, pois, incurial que ainda aos primeiros fossem
commetlidos actos que só aos segundos pertencerião, ha-
vendo assim duas turmas de directores.
Ao 2. ° Não podia um director resolver só por si queslões
que dependem de outros votos da directoria. Os estatutos
fazem lei.
Ao 3. Empossados os novos directores (embora o defeito
0

apontado), satisfeita a condição de terem o numero legal


de acções - a chamada de entradas é obrigatoria, sob as
penas comminadas.
Não seria, pois, improcedente o commisso. Nem se dá
algum dos casos de deposito em pagamento (Vide Dec.
n. 737 de i8~0, art. 393.)
Setembro, {87~.
52 CONSULTAS SOBI\E

Bemfeitorias ruraes; situação; hypothecll judicial; onus real;


arrendamento
Lo Póde.o deved.or d.o predio hyp.othecado vender
as bemfeit.orias inherentes, apezal' de n.o c.ontrat.o
de arrendamento d.o mesmo se consignar a clausula
de que a venda ~Ó se fará c.om .o c.omentiment.o d.o
senhori.o?
2.° Qual é a extensã.o do vocabulo « situação? »
3.° O deved.or de um immovel arrendado póde
dar á penh.ora as bemfeit.orias?
4: O que succede na hyp.othese de ter .o deved.or
.omittid.o declarar que .o predio era arrendad.o ?
5.° E na hypothesc de haver o d.on.o da terra
feito inscrever a sentença que obteve c.ontra .o al'-
rendatari.o?
6.° Que bens podem mais se~' sujeit.os á execuçã.o
c.ontra .o arrendatari.o?
.' 7. ° A carg.o de quem sã.o .os ·alTenclament.os pos- .
teriores á sentença?
Resposta
.-
Ao 1.0 O devedor póde hypothecar as casas, bemfeitorias
e accessorios da situaçã.o, .por serem sua' propri-edade im-
m.ovel (Lei n. i237 de i864-, art. 2') ; não as terras p.or
serem arrendadas, e p.ortant.o alheias. P.ouco importa a
clausula do arrendament.o-de não vender as bemfeitorias
sem consentimento d.o don.o da terra- porque é obrigação
pessoal, quê á símile do foreiro em relaçãô a.o senhorio
não lh'o inhibia (argumento da Lei citada, art. 2°, § iO,
in fine).
A-o 2.° A palavra situação deve-se entender Gomprehen-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO rJ3

siva das terras, se outra causa se não declara; tal é a


accepcão geral e presumivel por ser a regra, sendo que a
excepcão (arrendamento, aforamento) deve ser provada
ou declarada.
Ao 3.° O devedor não podia dar á penhora as situacões
como sua propriedade; mas só O que nellas fosse de seu
dominio, a saber: as bemfeitorias, etc., como já foi res-
pondido.
A.o 4,.0 A omissão do arrendatario em declarar arren-
dadas, e não proprias as terras, póde ser culposa ou não.
Devêra ter feito a declaracão. Mas pudéra ser a falta devida
á ignorancia ou á persuasão (embora errada) de não ser
necessaria, ~onvencido, como deveria estar, de que as
terras erão alheias. Poderia tambem ser devida a má fé
ou fraude de sua parte, occultando maliciosamente essa
circumstancia. Provado isto, ha crime l (Cod. Crim.,
art. 264,).
Ao rJ.· Se o dono da terra, havendo obtido sentenca
pelos arrendamentos contra o arrendatario, a fez inscrever,
especialisando-a nas bemfeitorias existentes em poder do
devedor antes da inscripcão da hypotheca pelo mesmo
feita ao credo;, (quesito i 0), tem o direito de sequestro
contra o acquirente desses bens (Lei tit., art. 3, § i2;
Reg. n. 34,rJ3 de i865 , art. i H). A. sentenca é, em tal
caso, exequivel contra elle (Reg. cit., art. 285, n. 2).
Devo, porém, notar:
L° Que a bypotheca judicial (qual a de que se trata)
não dá pl'eferencia (Reg., art. iH).
2.° Que o arrendamento não constitue onus real (Reg.,
al't. 261).
3.° Que o titulo de arrematacão não é sujeito á trans-
cripção (Reg., al't. 260).
Ao 6.° Em falta de taes bens, outros que o devedor
possua ou venha a possuir estão sujeitos ã. execução pela
. obrigação geral do devedor.
CONSULTAS SOBRE

Ao 7." Os arrendamentos posteriores á sentença até a


arrematação são a cargo do arrendatario. Se posteriores
á tí'ansmissão, a cargo do acquirente. Resta ainda ao dono
a faculdade de despejaI-o, pagando-lhe as bemfeitorias,
conforme o direito e o contrato.
Julho, t872.

Bem,feitorias rusticas; hypothecas


Póde-se constituir hypotbeca sobre hemfeitorias
em terreno sujeito á mesma hypotheca?
Resposta
Bens immoveis são susceptiveis de hypotheca desde que
possão ser alienados (Lei de 24 de Setembro de 1864,
art. to, § 4°).
Se, pois, pertencer o solo á pessoa diversa, e não puder
'alienar as bemfeitorlas quem as possuir, não póde sobre
estas constituir-se hypotheca.
Mas é isto direito de terce iro.
Quanto aos credores, subsiste a hypotheca até que seja
annullada por acção competente (Reg. de 1865, art. 2!~O,
§ 4, n. 6).
Dezembro, 1874.

Bens da mitra; aforamento


~óde o bispo aforar bens da mitra?
Como deve ser fei to esse aforamento ?

Resposta
O bispo é por via de regra apenas procurador e admi-
nistrador dos bens da mitra, sem faculdade para alienaI-os,
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

segundo determinações antigas, quer por direito canonico,


quer por direito civil (Lobão, App .ao Dir. Emphy., § 65).
Importando o aforamento alienação do domínio util,
parece que essas determinações o comprehendem (Vide
Lobão cit .) Pelo menos, seria questionavel.
Bem como, ainda no caso de se entender permittidG, é
questionavel se o aforamento desses bens deve ser feito em
hasta publica ad instar do disposto na Ord., liv. i 0, tit. 62,
§ 45 (Lobão cit., § 75 e 76).
Taes bens repu tão-se da igreja; e, pois,de mão morta.
Mas, por não serem de ordens regulares, não lhes é
applicavel a Lei de 9 de Setembro de 1830 e Iteg , de 28
de Novembro de 1849, como em geral já foi declarado em
o Av. n. 248 de i7 de Novembro de 1853, implicitamente
confirmado pelo Reg. de 12 de Janeiro de 1870, art. 23.
Teria, porém, lugar a permuta por apolices inalienél.veis
(Lei n. 366 de 1845, art. 44 ; Reg. cit. de 1870), ou a su-
brogação devidamente autorisada (Lei de 22 de Setembro
de 1828, art. 2; Av. cit. de 1853).
Emfim, para remover-se qualquer duvida, poderia pe-
dir-se 'autorisação, geral ou particular, ao poder compe-
tente (legislativo).
Setembro, 1873.

Bens dotaes ; bernfeitorias ; indernnisação; avaliação

Henrique casou com Maria por contrato dotal


em que reservou os seus bens. O marido fez bem-
feitorias. Por morte da mulher, o contrato institue
herdeiro ao marido.
Pergunta-se: deveráõ ser avaliadas as bemfei-
torias e os renovos como parte dos bens, ou são
proprios do marido?
CONSULTAS SOBRE

Resposta
Tudo deve seI' competentemente avaliauo ao tempo do
fallecimento ; porque só então se tem de averiguar a real
importancia dos bens para os effeitos de direito (arg. da
OreI., liv. 4, tit. 96 e 97 ; liv. 1, tit 88, etc).
As bemfeitorias necessarias, isto é, para conservação dos
predios e bens, é o marido obrigado a fazêl-as. As ufeis,
isto é, que augmentão de modo permanente o valor dos
bens, póde fazêl-as querendo.
Mas, tendo o direito de pedir o pagamento, pelo que
ellas valerem, é necessario que, ao menos quanto ás ul-
timas a mulher haja consentido expressarllente, e que sejão
de importancia attendivel, o que todavia é contestado
(Vide Borges Carneiro; Dir. Civ., liv lO, tit. li), § Ú4,
n. 22 a 34).
Novembro, l860.

Bens vinculados
F., ultimo administrador de um vinculo de que
está de posse, póde fallecer; e, fallecendo elle, os
vinculos passão a seus successores como vinculados
e estão sujeitos ás dividas contrabidas pelo ultimo
administrador, IJU os ditos bens adquirem a natureza
de allodiaes e estão sujeitos a todas as divid3s do
mesmo administrador?
Resposta

Pela Lei de 6 de Outubro de l83~ forão abolidos os vin-


culos, conser'vados unicamente aquelles que a esse tempo
havia, e só emquanto vivessem os administradores que
então se achassem de posse delles ; devendo por sua morte
passar os bens, como se fossem allodiaes, aos seus succes-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 57

sores legitimos, na fórma geral da successão, sem que o


administrador possa delles dispôr por testamento, ou po'r
qualquer outro modo ou titulo.
E' visto, portanto, que, por morte do actual adminis-
trador, perdem 05 bens a lliltureza de vinculados, tornão-se
allodiaes, e passão por successão legitima, na fórma das
leis geraes a este respeito, aos seus legitimos herdeiros.
EIS quan to á pri meira parte da proposta,
Quanto á segunda, parece-me que as dividas contrahidas
pelo administrador não pesão sobre os bens vinculados, e
por isso 'não passão aos successores, porq uan to esses bens
não são de sua plena e inteira propriedade, achão-se tão
sómente confiados á sua administração, podendo e11e gastar
unicamente as novidades e rendimentos quefórem seus,tanto
a<;sim que mesmo a Lei de 6 de Outu bro· de ·183;) prohi be
expressa e terminantemente ao administrado'r do vinculo
dispô r dos bens vinculados, quer por testamento, quer por
outro qualquer titulo.
Suas dividas, por conseguinte, devem ser pagas pelos
~eus proprios bens. .
Comludo, se as dividas tiverem sido contrahidas p01'
causa do vinculo, cnmo, por exemplo, para concerto e re-
edificação dos predios, para bemfeitocias nos bens, ou de
semelhanle natureza, donde viesse proveito e lllilidaue,
augmento de \falor, elc , é visto que devem s r pagos pelos
successores do admini strador; porque é principio de di-
reito que ninguem se lucuplete á custa alheia. Mas, para
que isto tenha lugar, é preciso provar-se cabalmen!e que
as dividas forão contrahidas para esse fim, e que na reali-
dade nelle se empregárão, muito embora não se tivesse
conseguido.
Abril, 1.8;)1.
58 CONSULTAS SOBRE

Bens vinculados e fidei·commi3so

Podem os filhos naturaes, snccedendo em bens


vinculados, delles dispôr ou devem observar a verba
te8tamentaria que transmi ttia a outrem os ditos
bens?

Resposta

Se houver qualquer disposição, por onde se prove que


houve instituição de vi.nculo, devemos distinguir se elle
se verificou ou não.
Se ~e verificou pela confirmação régia ou legitima, como
eI.ige a Lei de 3 de Agosto de i770, e pelo cumprimento
das outras condições legaes, então poderáõ os filhos natu-
raes de ... sl1cceder nesses bens e Yenclêl-os, por isso que
pela Lei de 6 de Outubro de i835 forão abolidos os vin-
culos desta especie, devendo pela morte dos actuaes admi-
nistradores reputarem-se aHodiaes e serem repartidos pelos
seus herJeiros, segundo as leis que regulão a successão le-
gitima.
Mas, se não se verificou, tem-se por não escripta a dis-
posição testamentaria em questão, e os bens se hão de
devolver aos herdeiros do instituidor (Dec. de 29 de Maio
de i837).
Se, porém, tal clausula não existe, nem outra qualquer
disposição por onde se conheça haver instituição de vin-
culo, têm os bens de passar a ... como dispõe a verba tes-
tamentaria, na fórma ahi designada, por se dar neste caso
um verdadeiro fidei-commisso.
Novembro, i882.
VAlHAS QUESTÕES DE DIREITO 59

Caducidade de legado; herança; fidei.commisso; usufrncto,


alienação; substituição; inventario

Maria instituío herdeiro uSll-fructllario de seus


bens a Francisco, passando por morte deste a seus
filhos e filhas. Uma das filhas de Francisco a quem
foi igualmente deixado um legado fallece antes dá
testadora. Pergunta-se:
L ° Os filhos da legataria têm algum direito ao
legado e á h-er ança 'l
2 .° Para quem passão os direitos de algum dos
filhos de Francisco, que fallecer antes delle 'l
3 .° Póde Francisco vender e dispôr dos bens, de
que é usufructuario (
4. o Como se deve proceder quanto á descripção
de bens no inventario da testadora?
5.° De\'e·se proceder desde ji á partilha dos bens
que constitue·m o usufrllcto entre Francisco e os
herdeiros 'l

Resposta

E' ~erto em di reito que, fallecend o aI) tes do testador o


legatario ou o herdeiro instituido, caduca o legado e a ins-
tituição l regra extensiva ao fidei-commisso ou substi tui ção
fidei-commissaria, se o substituido fallece antes do testador
(Coelho Ja Rocha, § 7-12, 7{9 e 72fS).
Consegllintemente o leg;l.do de Maria á filha de Francisco,
fallecendo antes da testadora, caducou; e essa importancia
faz parte do remanescente da herança, visto não haver a
testadora determinado outra cousa.
A instituição da mesma caducou igualmente.
60 CONSULTAS SOBRE

Seus 'filhos OU herdeiros nada podem pretender, porque


ella não ~avia adquirido direito algum que lhes transmit-
tisse, nem a testadora lhe deu substituto para tal caso.
Ao ~.o A verba declarou que Francisco (fiduciario) terá
apenas o uso e fr'Ucto do remanescente; por soa morte passará
este plenamente aos seus filhos e filhas.
Quer se qualifique desmembmçãO' de propriedade, sendo
o 'US'Uf1''Uctú a Francisco e a núa P?'op?'iedade a seus filhos
e filhas, quer ' um fidei-commisso, sendo fid'Uciario Fran-
cisco e fidei-commissarios os filhos e filhas, é certo que
desde a morte da testadora ficárão adq uiridos taes direitos,
segundo a regra geral.
Se, pois, o nú-proprietario ou o fidei-commissario fallece
antes do usofructuario ou do fiduciario, -passa o direito
para seus herdeiros se o testador não tem determinado
outra cousa (Vide Coelho da Rocha cit., § 719). Portanto
se a Francisco sobreviverem seus filhos e filh~s, ou succes-
sores destes, esse remanescente lhes pertence. Francisco
tea). sómente o uso e:fructo. Se fallecer algum filho antes
delle, entendo que a parte deste accresce aos outros se não
deixar successores. E esta parece ser a vontade da testa-
dora, quando dizpôz que por m07'te de Francisco fosse o
remanescente aos seus filhos e filhas.
Ao 3. o Francisco não p6de vender ou di 'pôr, excepto
para cumprimento dos legados, despezas do inventario
e di vidas da faUecida testadora.
Ao 4,.0 No inventario deve-se descrever tudo quanto
pertence á herança: dinheiro, moveis, semoventes, im-
moveis, ui vidas aClivas, etc. ; tudo constitue o espolio da
finada.
Ao 5. o Desde que Francisco tem o uso e fmcto do rema-
nescente, o qual ha de passar por sua morte aos filhos e
filhas, não ha necessidade de fazer já a partilha dos qui-
nhQes entre os que actualmente ex.istem. Nem conviria
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 61

fazer,porque isso terá de liquidar-se definitivamente áquelle


tempo, e poderia dar-se alteração mesmo profunda.
Março, 1874.

Calumnia e injuria por escriptos particulares ou não impressos


As calumnias e injurias por escriptos não im-
pressos dependem da publicúiade (distribuição por
mais de quinze pessoas com auLorisação do autor)
para que So reputem crime e sejã.o clas~ificados nos
arts. 233 e 238, do Co digo penal brasileiro?
Resposta
E' questão grave" e sobre a. qual se achão as oplOlOes
entre nós divididas. Ojuiz de direito do Par~ (Minas)decidio
pela negativa, em virtude do arl. 93 do Cod. do Proc. Crim.
a litteral Jisposição daquelles arLigos do Cod. penal (Yide
Rev. JU1'. do Dr: Silva Costa, '1868, pago 137). E igual-
mente o juiz de direito do Ouro Preto em 1869, O Dr, Br~z
Florentino (Dos )'esponsaveis nos crimes de libe7'clade de
exprimir o TJensamento) é dessa opinião e tamb~m o con
selheiro Nabuco, Dr. A. Teixeira de Freitas e outl'08 em
pareceres de -1869. Em contrario, Dr. Cunha Azevedo (so-
bre o Cod. penal pago 77), o Dr. Thomaz Alves (ide!TI,
pago -192), DI'. A. Ferreira Vianna e outros em pareceres.
Eu sou de opinião que, em vista da disposiçãQ do arL. j,
§ 5, a publicidade (distribuição por mai~ de quinze pessoas
com autorisação do autor) é indispensavel para que ca- a
lumnia e a injuria por escriptos não impressos seja classi-
ficada crime,.e passivel das penas dos arts. 233 e 238 do
nosso Cod. criminal ("') pelas razões seguinles :
• (*)- E assim se decidia na' Rela'çao da cÔl'te por Accordão de 3
de Agosto de 1875 na ap-pellação crime n, 153 por votação quasi
unanime (menos um voto). Vide ])ia7'ío O{(icial de 4 de Agosto
de 1875.
62 CONSULTAS SOBRE

L" Assim é expresso no Cit. art. 7, § D, que manifesta-


mente applicou ao escripto não impresso a mesma exi-
gencia da publicidade , que para os impl'essos dispuzera
nos paragrapbos antecedentes: o pensamento domi nante
do legislador abi se revela á evidencia;
2.' Essa parte geral do C.odigo rege tambem a parte es-
pecial, que se deve interpretar de accôrdo e harmonia com
a mesma, sob pen a de opposição ou antinomia;
3.' Não havendo o Codigo nos arts, 233 a 238 nem em
qualquer outro feito restricção ao disposto no art. 7, '§ 5,
é visto que o interprete não a póde fazer;
4, A publicidade nos crimes por escripto não impresso
I

é ainda pensamento dominante nos arts. 90, 99 e 1.19 do


mesmo Codigo ;
ti." A mesma regra de penalidade (metade da determi-
nada para os outros modos, scilicet imprensa, litographia
ou gravura) lambem se lê nestes artigos comparados com
os citados 233 e 238 ;
6.' O argumento do art. 93 do Cod, do Proc. nada prova,
porque nada alterou do Cod. Crim" e só se refere á prova
em geral; o caso especial é regido pelas disposições espe-
ciaes, que se não entendem derogadas pelas geraes senão
quando assim o fazem as leis posteriores, ou são com estas
absolutamente inconciliaveis ;
7," Não procede o argumento da reducçJo da penalidade;
porque, e muito bem, o legislador entendeu que o escripto
não impresso, e,mbora distribuido por mais de quinze pes-
soas, não tem, em geTal, a mesma circulação do impresso;
o numero é nec,essariamente 'muito mais limitado; o crime
não tem, pois, a mesma gravidade;
8. Não procede finalmente o argumento derivado do
4

codigo penal francez, porque em França o systema de le- ,


gislação é diverso; e o facto de injuriar por carta ou es-
cripto não impresso, equiparado á injuria verbal, é ahi
apenas punivel ,como contravenção, isto mesmo por dou-


VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 63

trina e jurisprudencia, sendo que a questão não é liquida,


e até em relação aos magistrados e tribunaes, etc., o Tri-
bunal de Cassação, por Accordão de i i de Fevereiro
de i839 (já posterior á reforma do'codigo pela Lei de i 7 de
Maio de i8i9), decidio que as injurias e calumnias di-
rigidas a um magis.trado por carta não p'Ublicad'Lnão erão
passivel de pena alguma (Vide Rogron,Cod. Pen.,arts. 222,
471,n.H) ("').
Maio, 4869.

Galumnia; injuria; acção crime; fiança; «habeas-corpus»

t. o Qualo crime em que incorre o denuncia.nte,


provada a falsidade da denuncia de crime de morte?
2: E' sujeito á prisão o denunciante verificada
a falsidade?
Resposta

Ao i . o Entendo que, provada a falsidade da denuncia


criminal, o denunciante tem incorrido no crime previsto
no art. 23i.i do cod igo penal. O art. i69 rege hypotheses
diversas: o juramento prestado pelo denunciante é apenas
caur.~011a1·io e não 7J1'obatorio; por elle não se tem de ju 1-
gar. c portanto ele absolver ou condemnar ; om, é sabido
que a lei criminal dev e ser entend ida restrictamente.
Ao 2. Visto como a denuncia foi por crime de morte,
0

quer o denunciante se julgue incurso no art. 23~, quer no


art. i69, sempre seria inafiançavel (art. fOf · do Cod. do
Proc). e portanto facultada a prisão antes da culpa for-

n Entre n6s,ql11nto a empregado publico,vide a Lei de l° de


Setembro de 1860, e no lugar a resposta á consulta sobre o
titulo «Injurias contra empregado publico.»
64 CONSULTAS SOBRE

mada (art. 175). Não é essencial que o queixoso ou denun-


ciante classifique o delicto; o arl. 79 do Cod. do Proc.
não o .exige, nem podia exigir por ser applicaç,ã.o do di-
reito ao facto, da competencia do juiz. Conseguir.temente
este o fará na prununcia
Nem seria caso de habeas-eo1'pus o da prisão em tal
ca.so, a menos que se mostrasse ser esta megal, v. g., que
o pl'Ocesso era evidentemente nullo (Cod. do Proc., ·
art. 340 e 353).
Devo notar que, se a denuncia importou a pronuncia, .
embôl'a fosse afinal absolvido o accusado, a acção cululYt-
nio8a não tem procedencia, vistos os termos restricti vos do
art. 235 uo Cod. Peno
Novembro, 1869 .

Calumnia, prova do facto na formação da culpa


Póde-se na formação da culpa do crime de ca-
lumnia admittir prova do facto que isente de pena?

- Resposta

Parece-nos que mesmo na fprmaç,ão da culpa se pó de


admittir a pl'Ova: do facto criminoso imputado a alguem,
que o libere da pena, nos termos do art. 234 do codigo. cri-
minaI; porque em tal caso não existe 'crime, um dos ele-
mentos essenciaes para a pronuncia, pouco impórLando
que a lei use das expressões «isente de toda a pena,» como
que fazendo presuppõr uma condemnação, por isso que o
seu espirito é aquelle, isto é, a não existencia do deli.cto
desde que e provar que é verdadeiro o facto impu~ado.
Fevereiro, 1860.

..
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

Carta de conscieucia; supprimento

E' obrigado o testamenteiro a. exhibir a. carta de


conSClenCla, ou basta a publica-fórma ?
Resposta

Entendo que o original da carta de consciencia não pó de


ser supprido pela publica-fórma, nem po(testemunhas, so-
bretudo se na tal extracção da publica-fórma não conveio a
testamenteira herdeira, nem disto teve sciencia, porque
as disposições nella contidas fi cam em consciencia do en-
carregado pelo testador, sem que seja obrigado a exhibir
a carta, devendo-se estar pelo seu juramento (Res. de 26 de
Julho de 1813). Seria mesmo do maior perigo admittir-se
que acto de semelhante importancia fosse supprido por tal
fórma. O que dispõe a Ord. liv. 3, til. 60, § 6, não me
parece ter applicação ao caso.
Julho, 1863.

Casa; locação ; sublocação

Subsiste o arrendamento de um predio a uma so-


ciedade, extincta que esta seja?
Resposta

A sociedade constitue uma entidade, uma pessoa juri-


dica, distincta de cada um dos socios, com seus direitos e
obrigações proprios.
Conseguintemente, o dono da casa, embora arrendada
á sociedade, não está obrigado ao que outrem, mesmo
quando algum dos respectivos socios a occupe, extincta a
mesma sociedade, salvo convindo elle ou havendo facul-
dade de sublocar. Seria contra o preceito da Ord., liv. 4,
;)
66 CONSULTAS SOBJ\E

tit. 23 pr., e Ass. de 23 de Julho de 18B. Póde elle con-


fiar da sociedade por lhe offerecer mais garantia, reforçada
pela dos socios individualmente, e nüo confiar do socio
ou socios individualmente.
Julho, 1870.

Casamento de menores; penas

Quaes as consequencias do casamento de menor


efIectuado S0m licença do juiz dos orphãos?

Resposta
Se se efiectuar o casamento sem a devida licença do
juiz, elle é no entretanto valido,se estiver conforme ás leis
canonicas, porque outras são as solemnidades substanciaes
do matrimonio no ecclesiastico.
Mas quanto aos bens : se não houver induzimento de
alguem, o orphão não poderá receber os bens até que
tenha vinte annos de idade; e, se houver, o seductor e o
tutor (se este bouver tambem induzido) poderão ser obri-
gados ás penas da lei civil (Ord.,liv. 1, tit. 88 §§ 19,20 e 2 '1).
Além disto póde-se \:Jntender sujeito o tutor e qualquer
outro ás penas do art. 247 elo Cod. Crim., se ti ver con-
corrido directamente para se celebrar o casamento sem
que a pessoa se mORtre habilitada na fórma das leis (art. 5°).
As penas ci vis, porém, têm cahido em desuso pela dif-
ficuldade de se provar a seducção e de ser o casamento
inferior ao que devêra ser.
Se, não obstante a falta de licença, o juiz mandar entre-
gar os bens, o orphão pagará a multa ou imposto de
1/2 % do seu valor. (Lei de 30 de Novembro de 184..1,
Tab., § 40).
Agosto, 1860.
VAlHAS QUESTÕES DE DII\EITO 67

Casamento de orphãos ; licença; tutor; recursos; remoção


destes

v O orphão não obstante ter tutor, carece de


licença do juiz para casar-se? Qual a pena em que
incorre o tutor qlle induzir o orphão a casar sem
licença
2.° Quaes as solernnidades essenciaes para vali-
dade do casamento?
3.° Póde o tutor ser removido a arbitrio do juiz?
Qual o recurso contrn. a remoção?
4. ° Qual o procedimento a observar para obter-se
o consentimento do juiz e quaes os recursos no caso
de negação?

Resposta
O orpbão ou orphã, posto que tenha tutor ou curador,
emquanto menor, depende de licença do respectivo juiz
para que possa casar, sob pena de lhe não mandar elJe
fazer entrega dos bens até completar vinte annos de idade
(Ord., liv. 1, tit. 88 §§, 19 e 27; Aviso n. 70 de 1846, de
~ de Agosto de 1868 e 16 de Outubro de i869).
O tutor ou curador que induzir a casar sem tal licença,
fica sujeito a pagar ao orphão uma i ndemnisação (§ 21),
além da responsabilidade criminal, se dabi houver tirado
algum proveito com detrimento do orpbão. (Cod. Crim.,
a.rt. 147; Cons; das Leis Civ. Bms. art. -lO!}.)
Tambem o tel'ceiro que induzil-o a fazer casamento des-
igual fica sujeito á indemnisação (§ 20).
Se de facto o casamento se effectuar, validamante ·se-
gundo as leis da igreja, sendo entre catholicos (ou segundo
a Lei de i8M e seu Reg. de t863, sendo acatbolico5),
subsiste e11e.
68 CONSULTAS SOBRE

Mas podem ser applicadas aquellas penas, sobretudo a


da não entrega dos bens, até que se complete a idade.
Ao 2.° O casamento para ser valido deve ser feito nos
termos referidos, conforme fôr entre calholicos, ou aca-
tholicos.
Devem preceder os prégões, salvo havendo a devida
dispensa.
Deve ser feito pelo parocho respectivo on por outro de-
vidamente autorisado, ante testemunhas e com as demais
formalidades substanciaes. Aliás poderia ser nuUo, se clan-
destino ou atIectado de vicio radicaI.
Ao 3. ° O lulor ou curador não póde ser removido em
quanto bem servir, (Ord., liv. 1., tit. 88, § 50; liv. l~,
tit. i02 § 1, 3 e 9). Contra o facto , porém, tem o tntol'
remedio, defendendo-se e recorrendo da decisão para o su-
perior leg itimo (Vide Pereira de Carvall1o, Proc. Orph.,
§ 139 a H:8).
Ao 4.° Para proceder rigorosamente conforme a lei
deve-se requerer ao juiz a licença ou o seu consentimento.
Se el1e o recus3,l' ou flegar, ha recurso, que será de aggravo
de pctiç50 conforme o AI v· de '29 de Novembro de 1775, e
o Acc. do Supro Trib. de Justiça de 17 de Abril de 1.875,
n5:o obstante o art. Ui, § -12, do Reg. de 15 de Março
de '1 842; ou appelllção, canforme a regra geral, aceita a
restricção deste § 12 e Accordlo da Relação da côrte no
processo referido.
Da concessão de licença cabe aggravo de petição (Lei
cito de 1.775; Reg. cito de 1842).
EITectuar-se o casamento só a contento dos menores e
tutores, sem intervenção do juiz,é um facto cuja apreciação
depende de circllmstancias muito especiaes, que aliás po-
deriam aconselhal-o em maior bem e vantagem dos mes-
mos menores. C'' )
Abril, 187;:;.
'0) Relativamente á solução dada por este parecer, supponho
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 69

de interesse recordar a grande questão que se agitou no fôro


desta capital entre o bacharel Luiz Pedreira de Magalhães Cas-
tro e o capitão-tenente Jeronymo Pereira de Lima Campos, de
que dá noticia o Dir., tomo 2, pag . 213. Tendo o juiz dos
orphãos da 2a vara negado a licença pedida para o casamento
pelo mencionado bacharel appellou este para o Tribunal da Re-
lação, que preferio a seguinte decisão:
cc Accordão em Relação etc. Depois do relatorio e conferencia
foi proposta a preliminar para se não conhecer da appellação
não obstante já ter sido recebida, por parecer s6 caber o re-
curso de aggravo, como se deduz da Lei de 29 de Novembro
de 1775, Assento de 10 de Junho de 1777, combinado com o
art. 129 da Lei de 3 de Dezembro de 1841; e não se venceu
por julgarem que, limitado o aggravo ao restricto caso espe-
cificado no Reg. de 15 de Março de 1842, art. 15, § :12, combi-
nado com o art. 26, s6 é cabivel a appellação, como reconheceu
o juiz à quo e como ensinão os praxistas, fundados na Ord.,
liv . 3, tit. 69, e art. 15 da Disp. prov. de 1832, e assim já reco-
nheceu este tribunal no Accordão de 18 de Novembro de 18iO.
cc E reformão a sentença do juiz à quo, á fi ... para supprir o
consentimento paterno da noiva D. Elvira Camara de Lima
Campos, afim de se realizar o seu casamento com o appeUante,
pagas as custas ex ca1~sa. Rio, 16 de Setembro de 1873.-
Fig1~eira de Mello, presidente.-Azevedo.- Campos, vencido. -
F. Ma1'Íanni. II
Interposta revista sob n. 8642,foi eUa concedida,fundando·se
o Supremo Tribunal de Justiça no § 4 da Lei de 29 de Novem-
bro de 1775, COJfil'mada pela de 6 de Outubro de 1784 e man-
dada vigorar p elo art. 129 da Lei de 3 de Dezembro de 1841,
disposição essa que s6 permitte aggravo da sentença que con-
cede ou nega licença para casamento.
Ha, além disso, decisões do Tl'ibunal da Relação do Recife e
de Ouro Preto, admittindo o aggravo como recurso cabivel
da tienegação de licença para casamento. Vide Dir., tomo 5,
pago 100; idem, tomo lO, pago 316.
A jurisprudencia do Tribunal da Relação do Rio de Janeiro
tem variado; assim, encontra-se uma decisão sobre aggravo
proferida na mesma revista ,tomo 17, pago 237, confirmando
despacho do juiz de direito de Nictheroy, que negára licença
para casamento, e uma outra em sustentação de despacho do
juiz de direito da i" vara civel, que declarou em contra-minuta
de aggravo ser caso de appeUação, e não de aggravo a sen ..
70 CONSUl,TA~ SOBRE

Causa decidida em gráo de revista, soberanamente julgada; embargos


na execução; acção rescisoria
São procedentes embargos oppostos na execução
de causa julgada em gráo de revista, versando â.
tença que n egára o consentim ento para o casamento. Embora
o recurso não versasse propriamente sobre a especi e, mas si m
sobre eífeitos da ap pellação, o juiz na contra-minuta desen-
volveu as suas r azõ es, baseando-as justam ente naquella dou-
trina, adoptada pela Helação, que n egou provim ento ao r ecurso
em vista das proced entes e j uridicas r azõ es com que o juiz à quo
sust entou o despacho de aggravo (Vi de Dit· " tomo i8,p ag . 58'7).
O paro cho qu e casa or ph ãos menor es se m licença do juiz
incorre no cri me do art. 247 do Cod. Crim . (A cc, da R eI. da
côrte Dir., tomo 20, pag .55 4).
Em contrario exist e um a decisão proferida p elo Tribunal da
R elação de Ouro P I'eto , im pr essa no mes mo vo1.20 , reformando
sen te nça de um do s mais dist.inctos ornam entos da magistra-
tura brasileira, o Dl'. Antoni o Jo aquim de Maced o 3 0ares , que
em nota decl ara achar-s e de h a muito asse ntada a jurispru-
dencia dos tribunaes sup eriores no sentido de seu julgado.
Um outro magistrado não meno s conspicuo, o Dl'. Mano",l
Vieira Tosta, pronu nciou-se n o mesmo senti do na sentença
qu e proferio, e con st a do Dir. , to mo 4°, pag o 'i33 . O Supremo
Tri bunal de Justiça , porém, co nce deu revista nes la ultim a
questão pelo fun damento de « n ão se poder contest ar a natur eza
particular do cri me, classifica do po art. 247, part e 3- do Cod.
Crim. q ue se inscreve dos crim es particular es- e que seu j ulga-
mento pertence ao jury, attenta a p ena n elle comminada, não
podia ser processad o pela fôrm a n elle est abelecid a para os cri-
m es de r esponsabilid ade e julgad o pelo juiz de direito, sem
incorrer em nullid ade por in compet encia de juizo e de pro-
Cf.ss o. »
Vide o arti go do illustr ado desem bargado l' Tertuli ano H en-
riqu es Dir., torno 20, pago 593, qu e transcreve a consulta do
conselho de Estado de 23 de Abril de 1857, qu e servio de base
ao A.v. de 13 de Novembro de 1858, no qual se declara qu e em-
quanto a assembléa ge ral não der uma providencia a respeito
deste objecto, deve ser obRervada a Ord . , liv . 1, tit. 88, que
nenhuma pena commina contra o parocho e s6mente contra os
contrahentes. A. C.
'fARIAS QUESTÕES DE DIREITO 71

sua materia sobre pontos já discutidos e despre-


sada na causa principal 1
Resposta
Li com a devida attenção os folhetos sobre a execução
entre partes, exequentes herdeiros do brigadeiro Raphae!
Tobias de Aguiar e Executado J. M. B. R., em a qual veio
este com embargos.
Na acção por aquelles proposta, depois de alguma va-
cillação nos julgados, foi afinal o réo condemnado a pagar
o que se liquidasse na fórma do pedido no libello, e decla-
rada improcedente a sua reconvenção.
Esta decisão passou soberanamente em julgado, susten-
tada como foi pelo Supremo Tribunal de Justiça,que negou
a revista.
Na causa principal já havia sido longamente disputada,
não só a materia da incompetencia do juizo civel por onde
correu a demanda, mas tambem a da solidariedade da obri-
gação do réo, que o faz responsavel pela integridade da
divida.
O Accordão (ora executado) da Releção as decidio, e o
Supremo Tribunal negando a revista implicitamente o
confirmou, por não reconhecer nullidade ou injustiça.
Ora, nos embargos á execução deste julgado repete-se a
mesma materia de incompetencia, e de divisão da respon-
sabilidade contra aquellas decisões.
Em minha opinião taes embargos são improcedentes,
porquanto:
Em primeiro lugar, tendo passado SOb81'anamente em
julgado a sentença exequenda, não são contra eUa admis-
si veis embargos, nem mesmo a acção rescisoria (Vide Pi-
menta Bueno, Proc. Civ., tit. 5°, capo 2, § 3 ; Decr. ll. 737
de i 850, art. 581 § 2, 681 § 11).
Nem se argumente com o Alv. de 6 de Dezembro
de 1813, visto como.se refere,de accordo com a Ord.,liv. 3,
72 CONSULTAS SOBRE

tit. 88, aos embargos oppostos na chancellaria ou ante o


Tribunal (Vide Pereira e Souza, § 376 e nota) legislação
prejudicada pelo nosso Decr. de 17 de Fevereiro de iR38,
art. 6, que só permilte embargos de declaração ante a
Relação revisora.
Em segundo lugar, a mate ria é a mesma já allegada,
longamente discutida e desprezada na acção principal, e,
pois, in admissivel a sua reproducção na execução (Ord.,
liv. 3, til. 87, § 2, 5, 7 elO; Pereira e Souza cil., nota 880).
Julho, 1875.

Cessão de credito; responsabilidade de facto; de direito


O cedente de um credito é responsavel pela co-
brança do mesmo?
Resposta
Aquelle que faz cessão de um credito a alguem não é
responsavel (garantia de dil'eito) senão pela existencia e
legitimidade ou certeza da divida; mas não pela solvabili-
dade do devedor, excepto se elle se obri ga (ga?'antia de
facto) pela boa cobrança (Vide Coelho da Rocha, Dir. Oivil,
§ 1.55 ; Cod. Civ. Fr., ar t. 1693 a i695 ; Cod. Civ. Port.,
art. 794) .
O risco da cobrança corre assim por conta do concessio-
nario. Tal cessão parti cipa de contrato aleatorio.
Outubro, 1.874..

Cirurgião da guarda nacional; alferes-cirurgião; cobrança executiva;


exercicio ; pharmacia ; licença; homreopathia
i. o Póde o alferes-cirurgião da guarda nacional
VARIAS QUESTÕ'ES DE DIREITO 73

cobrar executivamente os seus honorarios, ainda


mesmo que o exerClClO da medicina seja o da ho-
mCBopathia?
2: E' licito ao facultativo exercer ao mesmo
tempo a profissão de pbarmaceutico, preparar re-
medios e apresentar a respectiva conta?

Resposta

Ao 1. o Se o alferes-cirurgião da reserVél- da guarda na-


cional está legalmente habilitado para exercer a profissão,
nos termos do Dec. n. 828 de 29 de Setembro de 1.851 e
Av. ele 27 de Agosto de 1.870, explicado pelo de t7 de No-
vembro do mesmo anno, é certo que pócle cobrar até
executivamente os seus honorarios, competentemente arbi-
!Jados (Alv. de 22 de Janeiro de 18-10, § 34; Lei de 30
de Agosto de 1.828, art. 5), bem como, em geral, os cirur-
giões, medicos e os pharmaceuticos, as suas receitas, mas
nas mesmas condições (Leis cit.)
O exercieio do systema homCBopatbico não é prohibido .
Está, porém, sujeito ás mesmas disposições.
A simples qualidade de alfe1'es-ci1'urgião da guarda
nacional não é habilitação legal (argumento dos avisos
citados, que não vêm na collecção de leis, mas se achão
no Dia1'io O!ficial de H de Setembro e de -19 de Novembro
de i 870) C~").

(*) Damos a integra dos avisos citados para melhor esclare-


. cimento do assumpto,visto não se acharem na colJecção de leis.
A. C.
Rio de Janeiro, 27 de Agosto de 1870.
Illm . e Exm. Sr. Em resposta ao officio de 3 de Fevereiro
ultimo com o qual V. Ex . enviou-me por c6pia o que lhe diri-
gia o Dl'. inspector da saude publica dessa provincia, cabe-me
declarar-lhe:
Lo Que o facto de ter desempenhado qualquer commissão
CONSULTAS SOBRE

Ao 2.° O facultativo não póde ao mesmo tempo ser bo-


ticario, nem preparar e vender medicamentos, excepto se
no lugar não ha botica aberta (Dec. cito de 1851 e Av. cit.
de 27 de Agosto de 1870).
No caso da excepção póde haver a sua importancia,
salvo se, quando o forneceu, o fez gratuitamente (~).

como medico, cirurgião ou pharmaceutico contratado para o


serviço do exercito ou da armada, não isenta a quem o allega
da obrigação imposta pelo art. 28 do Reg. mandado exe·
cutar pelo Dec. n. 828 de 29 de Setembro de 1851, devendo em
todo o caso os medicos, r.irurgiões e pharmaceuticos,apresentar
ás autoridades competentes os diplomas, com que provem a
habilitação legal para o exercicio da respectiva profissão, na
f6rma do Av. de 26 el e Janeiro ele H356, e não obstante o que
se declarou em Av. de 12 d e F evereiro e 19 de Novembro do
m esmo anno.
2.· Que á vista elo disposto no art. 39 do cito Reg. não
p6de o m ed ico accumular o exerci cio da profi'lsão de pharm~­
ceutico, excepto nos lugares onde não houver botica aberta.
O que communico a V. Ex. para os fins convenientes.
Pa7~lino José Soares de Souza .-Sr. presidente da provincia
de Sergype.

A viso de 17 de Novembro de 1.870


Declarou-se ao pre!'idente de Sergipe que a decisão dada por
aviso deste ministerio de 27 de Agosto ultimo relativa aos
individuos contratados como medicos, cirurgiões e pharma-
ticos, para o serviço militar, não comprehende os nomeados
pelo governo para faz erem parte dos corpos de saude do exer-
cito e armada, visto que tal nomeação importa o reconheci-
m ento de suas habilitação lp.gaes para exercerem aquellas pro-
fis sões, e por isso não estão ell es suj eitos á disposição do
art. 28 do Reg. de 29 de Setembro de 1851, sendo sufficiente
a exhibição do titulo de sua nomea\ão, como se acha declarado
no Av. de 16 de Novembro de 1856.
(') Licença para abrir botica p6de conceder a junta de hy-
giene, e quando; (Dec. n. 2055 de 19 de Dezembro de 1857,
Av. de 5 de Julho de 1873 no Diario Otficial de 8 de Julho
de 1873).
VARIAS QUESTÕES n~: DIREITO 75

Ao 3. Os honorarios de medicos e cirurgiões compre-


0

hendem todos os seus serviços.


Junho, 1873.

Clausula depositaria; transacção

Em que casos póde ser permittida a clausula de-


positaria?
Resposta
Embora seja prohibida, em regra, a clausula depositaria,
isLo é, a obrigação de consignar em deposito cerLa s~mm ,L
anLes da demanda, elIa é permittida em alguns casos,
vb. gr., no ele Lransacção, composição. etc. (Vide Lei ele 31
de Maio de 1774; Corrêa Telles, Man. do Tab., § 7 e 183).
A transacção ou composição póde ter lugar ainda quando
não penda litígio algum, desde qlle se suscitem duvidas
sérias que ponhão obstaculo aos direitos de um e outro
(Lei 1", Dig. de trans.; Lei 38, Cod. com.).
Julho, 1863.

Collação
Marido e mulher fizerão ambos doação a uma
filha, qne se casou. FalIeceu elIe; conferio-se metade
no invent.ario. Falleceu depois a filha, e posterior-
mente a neta unica. Deve-se conferir a outra me-
tade? Como ~
Resposta
A obrigação de conferir é certa (Ord., liv. 4., Lit. 97).
Quanto ao modo, parece-me que ou se deve tratar de
76 CONSULTAS SOBRE

liquidar isto no inventario referido, embora a titulo de


sobrepartilha, ou aguardar o inventario por fallecimento
da doadora para ahi se conferir a outra metade, comquanto
nelle não seja herdeiro o genro, á semelhança do que dis-
põe a citada Ord. para o caso em que o herdeiro se abstem
da herança, afim de igualar as legitimas.
Parece-me preferível o primeiro expediente.
Outubro, i866.

Co Ilação; avaliação; herdeiro instituido; doação


LO Escravas doadas para casamento devem vir
á collação e juntamente os filhos?
2. o Em que valor devem ser computadas?
3: Póde a doação ser annulIada por excedel' da
terça não sendo necessarios os herdeiros instituidos?
4.° Tendo a doação sido feita para sabir da terça,
deverá vir á collação?
Resposta
Entendo que devem ser avaliadas as escravas doadas em
casamento, visto que existem em ser e devem vir á colla-
ção, por isso que a donataria quer entrar á herança (Ord.,
liv. 4, tit. 97 pro e § 1.1)). Teria opção a donataria de entrar
com o valor actual ou com aquelle em que os recebeu se
se tratasse de mostrar que essa doação excedia a legitima
e terça (cit. Ord., § 3 e 4). Quanto aos filhos das escravas
referidas, não têm de vir á collação, e portanto de serem
avaliados; porque não são fructos conferiveis, já por serem
nascidos anteriormente á morte do doador pai (cit. Ord.,
pr.), já por pertencerem aos senhores das escravas, e por
isso á donataria (§ 37, lnst , de rev. div. e Cod. da Lui-
siana, art. 492 e 1)39).
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 77

2.° Entendo que deve ser avaliada agora visto que existe
a pardinha doada e a doação não foi para casamento (Cit.
Ord., § 4 in fine e § ifS).
3. o Me parece que não; porque os herdeiros insti tuidos
na terça não são herdeiros necessarios, que tenhão direito
á legitima, caso em que poderião exigir que fosse eUa
preenchida, mesmo annullando por inofliciosas as doações
(Coelho da Rocha, Dir. Civ., § 353) : se isso pretenderem
taes herdeiros, a doação degeneraria em um contrato one-
roso, com prejuizo injustificavel do donatario, contra a in-
ten~ão e acto do doador.
4. o Porque a doação foi feita para sahil' da terça não
tem de vir á coUação nos termos em que se acha concebida;
deve ser computada na terça, nos termos da Ord. cit., § 3,
20 e 21 combinados, não obstando a disposição testamen-
taria que equivaleria a uma revogação parcial da doação
já feita sem essa declaração ou condição, e que me parece
não se poder reputar mortis causa e revogavel a arbitrio,
o qual não é permittido fazer sem causa justa (Ord., liv. 5,
tit. 63).
Se, porém, essas doações feitas excedem á terça e le-
sam as legitimas, podem-se dizer inofficiosas,e então pode-
rião os herdeiros necessarios pedir que as suas legitimas
fossem completadas, observando-se os principios legaes
(Coelho da Rocha, Dir. Civ., § 353; Corrêa Telles, Acç.,
§ tU e nota 290 e 291) C'").
Eis o meu parecer.
Agosto, 1854.

(*) Isto mesmo respondi em outra proposta para Saquarema,


datada de li de Fevereiro de 1855, e ahi accrescentei :
1..0 Que os filhos nascidos posteriormente á morte dos pais
doadores devem vir á coUação se o herdeiro q uizer concorrer
na herança (Cit. Ord., pr.)
2. 0 Que mais me convenço da doutrina exposta á vista do
que se dispõe nos §§ 3 e 4 da mesma Ord • onde se não manda
78 CONSULTAS SOBRE

Collação de escravos; preço; criação


Como se conferem as doações quando consistem
em escravos?
Resposta
A Orrl., liv. 4, tit. 97, § H), é applicavel aos escravos
por se comprehenderem na classe geral de bens movc;is ou
semoventes (Vide Cons. das L eis Oiv ., 2' edição, nota
in fine ao art. 1.216).
Todavia é de praxe conferir-se no valor certo em que
foram dados,se o donatario o prefere; nem pOI' por via de
regra ha reclamação, principalmente se a doação foi para
casamento.
Essa Ord. não manda attender senão ás bemfeitorias ou
ás deteriorações nos immoveis. A razão é clara.
Mas, quanto aos moveis, manda-os contemplar no estado
actual (cil. §, US), e portanto sem altenção a melhoramen-
tos. E', porém, de equidade que isto seja attendido , sobre-
tudo e particulal'mente na avaliação . E quanto aos es-
cravos, seria até inexequivel essa liquidação de despeza
com criação e outras; até porque sendo necessario li qui-
qui dar tambem os serviços pal'a encontrar a sua impor-
tancia, etc, quando aliás taes serviços não vêm á f~ollação
e se entende ser em compensação.
Setembro, 1.871..

computar para o fim ahi designado senão o valor da doação


sem rendimentos e mandatos.

A solução dada ao 10 quesito da proposta encerra materia


controvertida no nosso fOro, divergindo o Sr. Dr. Teixeira de
Freitas, como se p6de ver em a nota 11 ao art. 1206 da
Oons. das Lei, da opinião do Dl'. Perdigão Malheiro.•
A. C.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 79

Collector; e3crivão; alcance; crime; fiador, subrogação

1.0 Qual o crime que commette o escrivão de


uma collectoria que organisa balancetes falsos?
2.° Póde ser envolvido na pronuncia o collector,
verificado aquelle procedimento criminoso do escri-
vão pelo facto de haver assignado os balancetes?
3: Tendo o collector pago o alcance resultante
dessa fraude,fica subrogado nos direitos da fazenda
publica contra o fiador do escrivão?

Resposta
i. o O escrivão da collecLoria que, abusando da confiança
e boa fé do collecLor ,apropriou-se de dinheiros arrecadados,
usando do arLificio de organisar balancetes falsos, cujos
saldos a entregar não são exactos, e sim inferiores aos
verdadeiros, e dest'arte prejudicou o mesmo collector na
importancia do alcance verificado e devido á sua fraudu-
lenta subtracção, commeLteu o crime de estellionato (Cod.
Crim., art. 264., § 4, e art. 21 da Lei n. 23:3 de 20 de Se-
tembro de '187 i).
2.0 Desde que, logo no summario da culpa, fique bem
demonstrado o procedimento criminoso do escrivão exclu-
sivamente, e que o collector, apezar de ter assignado os ba-
lancetes não concorreria para isso de fórma alguma, e antes
fôra victima da fraude e abuso de confiança daquelle, não
póde ser envolvido com o escrivão no processo criminal.
Sem dolo ·ou má ré não hacrime (Cod . Com., art. 3). Mesmo
pronuncia não póde haver sem prova de delicto, e ao me-
nos indicios vehementes de quem seja o delinquente
(Cod. do Proc. Crim., art. H5).
Se o extravio se tivesse dado com sciencia do collector
teria este commettido o crime de peculato (Cod. Crim.
art. i 70; Dec. de 5 de Dezembro de i849, art. 6) .
80 CONSULTAS SOBRE

Mas, em meu conceito,não se póde elIe eximir ao de falta


de exacção no cumprimento de seus deveres (Cod. crim.,
art. ;153 e 1€S4.).
3. o A fiança prestada pelo escrivão da collectoria ê ga-
rantia para com a fazenda publica, visto ser elle respon-
savel pela escripturaçãoj-o responsavel pela renda arre-
cadada é o collector (Vide Lei, 27 de Agosto de 1830, art. 2 j
Reg. de 23 de Setembro de 1833, art. 19; Decr. de 5 de
Dezembro de 184.9 j Ordens n. 475de 18 1j,7, ll. 274
de1869).
A fiaoça deve, em geral, ser atteodida restrictamente.
Parece-me, pois, não se elar o caso de subrogação a bem
elo collector (que pagou o alcance) contra o fiador do escri-
vão, visto como por semell:lante alcance a responsabilidade
do cnllector é directa e propria.
Além de que não é elIe absolutamente innocente e
isento de culpa, e não se póde prevalecer contra terceiro
de sua falta ou negligencia.
Resta-lhe apenas acção de indemnisação contra o escri-
vão, e não contra o fiador deste, excepto se a fiança esti-
ver concebida em termos de lhe aproveitar.
Maio, 1873.

Commerciante ; hoticario; fallencia

São commerciantes os boticarios ?


Devem como taes ser declarados fallidos?

Resposta
Parece-me que os boticarios não se devem reputar com-
merciantes; porque a sua profissão tem por fim principal
e immediato a sauele publica antes que exercer o commer-
cio, embora eltes o façam com esperança de algum lucro
ou interesses; são antes agentes indispensaveis, auxiliares
VARIAS QUESTÕE~ DE DIREITO 8i

necessarios do medico do que commerciantes, tanto que


se exigem para sêl-o habilitações scientificas, etc.
Demais, ha profissões na sociedade que muito se asse-
melham á do boticario, e no entantu não se reputa com-
merciante quem as exerce; assim, um collegio não é em-
prego mercantil e o clirector não é commerciante ; um re-
tratista não é commercianLe, mesmo o que apenas tem
casa de tirar retratos pelú daguerreotypo.
Este segundo exem pl o é perfeito; porque ahi o valor
é todo de arte e de trabalho do mesmo modo que na botica,
onde a materia prima não é o que constitue, em geral, o
valor principal, e sim a rnanipulação,o trabalho scientifico
e profissiona1.Todavia não é isto sem questão (Vide Rogron,
Gom. ao God. Com. F'r ., art.)
Se não é commerciante, não está sujeito ás disposições
do Cod. du comrnercio sobre fallen ciasj porque estas só
dizem respeito aos commerciantes (todo o commerciante
diz o art. 797 tlo Cod .)
Junho, i854,
Communhão de bens; embargo de obra pelo condomino ;
arrendamento; troca; acção

Da exposição conclue-se.
I. o Que foi feita a IJartilha da casa e terras;
2: Que ficou em commum e&sa propriedade ;
3.0 Que a parte pertencente a Paulo foi por este
arrendada a Pedro nos termos do respectivo con-
trato;
4. o Que Pedro comprou o rincão das Pitan-
guell'as ;
5. o Que antes de findar o prazo tratou Pedro de
promover a divisão das terras;
6. o Que no entanto Paulo mandou fazer obras
6
82 CONSULTAS SOBRE

no dito rincão, as quaes forão embargadas por


Pedro.
Resposta

Parece-me portanto :
1. o Que bem podia Pedro embargar taes obras quer se
repute de preferencia pertencer-lhe já o mencionado rincão ,
visto seu titulo e ocrupação) in pari causa possesso?' poliO?'
habere debet L. 2-';, \)ig. de reg. jur.) qller mesmo em sim-
ples qualidade de condomi no, destle que taes obras são
novas e prej udiciaes (Corrêa Tenes, Doul1'. das Acç _,
nota 449 in re com muni nemo dominoru m jure (!L cere
quicquam invicto altero potest. L. 28, Dig. Com. div.).
O direito que porventura tivesse Paulo, em virtude de
seu contrato de arrendamen\o ou de outro titulo, não o
autorisava a fazêl-as de seu proprio arbítrio e sem que
primeiro se houvesse legalmente empossado, desembara-
çado as terras da occupação de Pedro.
2. Que pelo contrato de arrendamento a casa e a man-
0

gueira que Pedro se obrigou a construi!' devião ser entee-


gues a Paulo, em substituicão das outras, findo O mesmo
arrendamento; ma3, que serião onde Paulo designasse se
antes de findo elle se tivesse feito a divisão e demarcacão.
Esta divisão não foi feita; apenas iniciou-se o processo
quasi ao expirar o arrendamento.
Resta, portanto, a outra parte, obrigado Pedro ás obras
convencionadas ex-vi do contrato.
3. o Que a troca na hypothese prevista no mesmo contrato
é valida, verificada elIa, se houve para isso outorga ex-
pressa das mulheres de um e de outro (como parece), na
fórma da Ord , liv. 4, til. 48, sem que todavia seja motivo
de nullidade não designar-se especificadamente alguma
circumstancia secundaria.
E quando nulla Íosse por falta de outorga, seria direito
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 83

da mulher ou de seus herdeiros, que o marido não poderia


allegar sem consentimento delles (Ord. cit., § 3).
Julho, i87D.

Companhias ; directores ; empreiteiros; obras; mandatario ; actos


prohibidos

Podem os directores de uma companhia servir


de empreiteiros para construcção de obras da mesma
sob a fórma de uma sociedade em conta de partici-
pação, embora não osten~ivamente?
Resposta
Organisada e inslallada a companhia, para a qual pas-
sárão os direitos e obrigações constantes da primitiva con-
cessão,os direclores (ex-concessionarios cedentes),formando
a directoria, repu tão-se apenas prepostos mandatarios da
companhia, gerentes ou administradores (Cod. Com.,
art. 299; Lei n. -1083 de i860, art. 2; Reg. n. 27H de 1860,
art. ~1).
. Nesta qualidade. embora podessem providenciar sobre
a execução das obras, conforme os estatutos, todavia não
se deve entender que estivessem habilitados para serem
elles mesmos os empreiteil'os, nem ostensivamente, nem
disfarçadamente, sob a fórma de uma sociedade em conta
de participação, como fizerão, occullando-se esses direc-
tores, e apresentando-se ostensivo oulro individuo.
Semelhante acto é (a meu vêr) inquinado ele nullidade
por serem os dil'ectOl'es inhab eis em taes condições, e por
tomar o caracter dA illicito ICod. Com., art. i29 e 287),
visto como é de direito universal que o proclll'ador, admi-
nistrador de bens alheios e outros ~emelhantes, não fação
seus taes bens ou valores, por compra ou titulo equiva-
84 CONSULTAS SOBRE

lente, quer directamente, quer por interposta pessoa, clara


ou simuladamente.
No caso é manifesto que, organisada essa sociedade em
conta de participação para exploraI' a constmcção das obras
e fazendo pat'te della os proprios directores, procedêrão
estes °no intuito de auferÍl' lucros dessa especulação, figu-
rando, além disto, ao mesmo tempo de contratantes pela
companhia e de contratados ou empreiteiros, sob o nome
de terceiro ou conjunctamente com este.
Maio, 1.874.

Compra em commum; sociedade agricola; reclamação de terceiro ;


lesão
Pat'ecer

Da exposição vê-se que TI1. e C. comprárão em commum


a D. a fazenda de que se trata, a credito e sob certas con-
dições; que os compradores fizerão uma sociedade agricola
para sua exploração, sem passarem todavia escriptura ou
escripto algum; que esta sociedade foi extincta de com-
mum accôrdo, retirando-se totalmente com seus escravos
Th., e ficando sómente C., que tem continuado aquella ex-
ploração por sua conta exclusiva; que só agora descobrio
C. que a quantidade de terras vendidas não corresponde
á realidade, por isso que ha dous indiyiduos que se apre-
sentão com titulos a uma parte dellas.
Assim, respondo:
Ao i,O Que essa falta de terras (oitenta braças) sobre as
vendidas (mil),quando real seja, não constitue lesão enorme
(Ord., liv. 4, til. 1.3).
Poderia apenas dar lugar á acção quanti minoris para
haver a restituição ou reducção proporcional do preço
(Vide Corrêa TelIes, Doutr. das Acç., §§ 353 e 354 e notas).
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 85

Na hypothese correria o risco de perder-se até mesmo pela


prescripção de um anno (Corrêa Telles, cit.).
Achando-se, porém, os cümpradores como se achão de
posse integral das terras compradas, isto é, das mil braças,
e não tendo esses terceiros senão os seus titulos, cumpre
aguardar que estes demandem a reivindicação do que en-
tendem pertencer-lhes. Os compradores demandados de-
nunciaráõ a lide ao vendedor e o chamaráõ á autoria
(Ord., liv. 3, tit. 45), e assim terão firmado em tempo
habil e modo legal o seu direito á evicção (Corrêa Telles,
cit., § 355 e 358 e notas).
Ao 2° e 3.° Se um dos condominos não quizer, póde to-
davia o outro defender a demanda e intentar a reclamação
no interesse proprio, e mesmo nf) da communhão (Vide
Lobão, Obr·ig. Rec., § 527 e ;')29). Sendo no da commu-
nhão, se fôr vencedor, póde pedir a sua quota das despezas
ao condomíne a quem prestou utilidade (Vide Lobão cito
§ 530 a 5H).
Junho, t873.

Goncessã o para trilhos; camaras municipaes; terceiros

Póde a camara mnnicipal fazer concessão de tri-


lhos para. uso particular? Em que condições?
Quae8 os direitos do concessionario se houver tur-
bação no exercicio do seu direito?
Resposta

A licença concedida pela camara municipal foi, segundo


a consulta, unicamente para poder o peticionario assentar
trilhos para seu uso particular, sob as condições constantes
da certidão, que importão resalva de lran~ito e commodi-
dade dos moradores.
86 CONSULTAS SOBRI<:

Podia a camara fazêl-o observando a Lei de to de Outu-


bro de 1828 e as suas posturas.
Essa licença deve entender-se relativa ao que está sujeito
á administração da camara, e á sua fiscalisação no inte-
resse dos municipes, e portanto igualmente ao terreno
que se diz pertencer á provincia ou á parte delle que es-
tiver entregue á viação publica no uso e gozo dos morado-
res, sujeito á administração e fiscalisacão municipal.
Mas é indispensavel que, a pretexto ou por motivo de
interesse privado, não sej ão offendidos a commodidade e o
serviço dos municipes, e direitos de terceiro.
Desde que isto se respeite e resguarde não póde haver
justa queixa.
E o peticionario póde recorrer ás autoridades e justiça
do lugar para defesa de seus direitos e ele sua segurança, e
para indemnisação contra quem ele direito seja pelo damno
e prejuizo que lhe cause.
Junho, i873.

Conciliação; competencia de escrivão e ofliciaes ; quando


suspeito o juiz

Pó de no de paz funccionar o escrivão ha-


JUIZO
vendo impedimento do juiz, mesmo no caso de não
haver processo instaurado ' e tratar-se simplesmente
de conciliação?
Resposta

E' regra geral que, sendo o impedimento do juiz e não


do escrivão ou ofliciaes, continuem estes a funccionar so-
bretudo se já ha processo instaurado.
Mas, não se achando (no caso) instaurado e11e, pendente,
e tratando-se apenas de conciliação, parece que não ha
VAlHAS UUESTÕES DE DIREITO 87

nullidade em se não observar strictamente essa regra,


visto como as leis têm procurado facilitar o cumprimento
deste preceilo,quer permittindo que o réo seja chamado fÓl'a
de seu domicilio, em qualquer parte onde seja encontrado,
quer autorisando-o por comparecimento voluntario ante
qualquer juiz de paz (Disp. prov., art. to; Decr. n. 737
de i ~ 50, arts. 24. e 38). Seria contraria ao espirito da le-
gislação nesta materia a rigorosa applicação daquella dou-
trina. E quando fosse objecto de duvida (como é) não seria
motivo para nullidade do acto : constituiria apenas irregu-
laridade.
As nullidades não se devem ampliar.
Setembro, i870.

Conciliação; procurador
Póde-se admittir conciliação por meio de procu-
dor? Em que caso ? Quando deve o autor compa-
recer por si ?
Resposta
O art. 5, § i ' da Lei de 15 de Outubro de i827 ainda se
reputa em vi gor para se não ad:nil.tir (salvo o caso do
art. 3 da Disp. pr·ov.) pt'Ocllradores senão por legitimo im-
pedimento d:.ts partes, com poderes illimitados e especiaes.
Se o réo não com parecer e deixa ir á revelia não ha
conciliação, tem-se admiltido o autor por procurador,
mesmo quando se não prove impedimento para compareci-
mento pessoal deste (tal é a praxe). Mas se elle comparece,
e recl ama o comparecimento pessoal do autor, está no seu
direito; deve o autor ir ou m:.tndar eXC\lsa legitima para
ser ad mittido por procuradoI' C') ·
Agosto, i86·L
(') O A viso de 1.9 de Julho de i865 declarou, que o art.5, § 1 da
L ei de 15 .te Outubro de 1827 cad uco u desde que a disposição
88 CONSULTAS SOBRE

Conciliação, inspecção do juiz de paz; nullidade


ratificavel ou não
E' valida a tentativa conciliatoria effectuada pe-
rante juiz de paz que baja jurado suspeição?
Nullo o acto, póde ser ratificado?
Resposta
Havendo-se entendido que o juiz de paz póde ser sus-
peito mesmo para a conciliação, regulando-se neste e
outros casos civeis pelo que se acha providenciado quanto
aos outros juizes (Vide Av. de 2 e 3 (le Setembro de i833,
n. 24,6 de i 6 de Novembro de 'i 84 9); c lendo jurado sus-
penção o de que se trata em quô.nto pendia a tentativa con-
ciliatoria, parece consequente que este acto concluido ante
elle, já assim impedido e incompetente, acha-se inquinado
de nullidade ex-vi da Ord., liv. 3, tit. 2i e 24.
NuJlo, portanto, o acto, por elle não se póde fazer obra,
e é como se não existira; termos em que affecta de nulJi-
dade o processo, segundo a interpretação pratica do art. i7
da Disp.prov. E', pois, insupprivel e não ratificavel no civel.
No processo commercial seria ratificavel pelas partes
(Decr. n. 737 de i850, art. 674).
Abril, i875.

Concordata; annullação; creditos


1. o Qualquer credor citado para a concord a.ta
póde annllllar ou é obrigado a slljeitar-se ao jul-
gado? No caso affirmativo, qual o meio e funda-
mentos?
provisoria admittio a conciliação á revelia da parte, devendo a
procuração ser especial conter poderes illimitados. A. C.
VAlHAS QUESTÕES DE DIREITO 89

2.° Se um terceiro tiver fornecido dinheiros


depois da concord ata ao fallido para este satisfazer
as obrigações da mesma concordata, e fór ella annul-
lada, terá de entrar em rateio com os primeiros na
liquidação posterior ~ De que natureza será o seu
credito?
Resposta
Ao i. o A concordata bem como a moratoria podem ser
annulladas a todo o tempo, se houver motivo justo para isto
(Cod. Com. art.,848, 90~),bem como rescindidas (849,902).
Embora a concordata seja extensivamente obrigatoria para
todos os credores sujei tos a elia (art. 852), an tende-se sal-
vos os direitos a f:lzêl-a annullar ou rescindir ou revogar
(art. !J02), ainda que fosse citado e tivesse adherido ex-
pressa ou tacitamente.
Quanto aos fundamentos para o fazer e meio, os artigos
citados respondem, sendo que o processo commercial é
summario, e Ilelle se deve decidir pela verdade sabida.
(Cod. Com., til. un., art. 22).
Ao 2.° Esta questão é melindrosa e complexa. Desde que
o fallido, que obteve concordata, é restituido á administra-
ção de seus bens, se não ha rehabilitação plena, ba quasi
rehabilitação. Parece, pois, que póde contratar valida-
mente. Não devem conseguinte mente os terceiros que com
elle contratàrão em boa fé ser prejudicados pelo facto
superveniente da annullução da concordata e nova aber-
tura de fallencia. Pede senlo o rigoroso direito, ao menos
a eqnidade que elles sejão comtemplados credores, tanto
mais quanto não é talvez possivel em taes casos a sepa-
ração dos patrimonios, isto é, a designação dos bens da
primeira fallencia e os da segunda. Seria boa cautela que
os credores, outorgando a concordata, estipulassem de
modo a providencia com o que se acha disposto para mo-
90 CONSULTAS SOBRE

ratarias no art. 904 do Cod. afim de serem resguardados


os interesses dos respecti vos credores.
O credito de que se trata é chirographario ; é apenai
mutuo ~imples.
Junho, 1867.

Concordata; novação; hypotheca


1.· A hypotheca adjecta a uma concordata amI-
gavel é valida ?
2. Como podem ser annllados os pagamentos
0

fei tos a alguns credores 00 regimen da mesma CO!1-


cordata ?
Resposta
As concordatas amigaveis (qual as de que se trata) são
prohibidas por nossa lei, e portanto nullas (Cod. Com.,
art. 848; Dec. 2681 de 28 de Setembro de 1859).
Duvida poderia haver se ella tivesse sido concedida pela
unanimidade de credores, visto como , não sendo então
rigorosamente concordata e sim n ovação de obrigações,
nenhuma lei o prohibe, o que touavia não é liq nido, apezar
da decisão da ReLlção desta cÔl'te em ~2 de Maio ele 1868.
Conseguintemente elltendo :
i. o Que a hypotheca, adj ecta a esse accôrdo, é nulla
por ser nullo o mesmo accôrdo ; o accessorio é affectado
da nullidade do principal;
2. o Que os pagamentos fei tos a alguns credores só podem
ser nullos ou annullados nos termos dos arts. 8:27 in fine
e 828 do Cod. Com. ("')
Junho, 1871.
(' ) O recente decreto lf'gislativo n . :3065 de 6 de Maio
de 1882, contendo disposi ções divel'sas sobre concordatas mo-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 91

Concordata; rehabilitação

Póde um concordatario tomar parte na adminis-


tração de uma companhia de que seja accionista?

Resposta

Parece-me que, não obstante a concordata, Pedro não


póde tomar parte na gerencia ou administração de compa-
nhias, ainda que seja dellas accionista, ex-vi do art. 3
in fine do Cod. do Com., combinado com o art. 2, § 4,
visto como fallido niío foi legalt'uente ?'e/w,bilitado, termos
em que o seu estado de fallencia continüa, apezar de mo-
dificado pela concordata, a trazer-lhe in hi bição de certos
direitos, a cujo exerci cio pleno e livre só póde ser resti-
tuido pela rehabilitação concedida na fórma estatuida pelo
Cod. Com., art. 893 e seguintes.
A esta rehabilitação legal entendo referir-se o Cod. no
art. 2, § 4.
A concordata não a suppre nem dispensa, porque esta é
para outros effeitos de intel'esse pl'opriamenle privado dos
credol'es, no entanto que a rehabilitação importa uma
apreGiação de oruem publica, e depende por isso de inter-
venção da autoridade competente (O Tribunal do Com-
mercio, art. 6, § 3 do Dec. de 1° de Maio de 1835) e de
preenchimento das condições legaes de sua concessão
(Cod., art. 896 e seguintes).
Tal é a doutrina de escriptores estrangeiros commenta-

dificaria sensivelmente, estamos persuadido, a resposta a esta


consulta, pelo menos ::Ia parte relativa á validad e da concor-
data quanto ao num el'o de credores, por s er hoje sufficiente
nos termos do art. l° , para a concessão o comparecimento da
maioria dos credores, comtanto que repr esente dou~ t erços DO
valor de todos os Cl'editos sujeitos aos eft'eitos da concordata.
A. C.
92 CONSULTAS SOBRE

dores de legislação igual á nossa (Rogron ao art. 519,


Cod. Fr., GOllrget & Merge . Vide 1'ehabilita.tion, Alauzet,
Com. n. i943 e seguintes).
Setembro, i862.

Concordata; segunda fallencia ; credores


Tendo F. Iallido e effectuado uma concordata
com seus credores, julgado por sentença, e sobre-
. vindo credores lJOVOS do mesmo F., têm aquelles
preferencia sobre estes ~
Resposta

Parece-me que não; porque, a menos que se não haja


estipulado bypotheca, o nosso direito não reconhece em
tal caso bypotbeca legal, nem dá outras providencias, como
aliás se observa em outras nações, v. g., a França. De
modo que o fali ido concordatario entra na plena adminis-
tração e disposiçiio de seus bens, sujeito unicamente ás
obrigações contrabidas pela con~ordata, e salvas portanto
as restricções e clausulas dflsta, assim como as vantagens
ahi estipuladas a favor dos credores. - Aberta por conse-
guinte uma segunda Callencia concorrem os credores da
primeira com os da segunua na fórma geral, e a classifi-
cação se deverá fazer em confurmiuade do codigo. - E~tá
entendido que 08 actos dolosos do falliclo em prejuizo dos
credores são DUUOS, e taes devem ser declarados pelos
meios competentes.
Outubro, i86L

Conta corrente credito; prescripção


Qnal o prazo da prescripção para um escripto
VAlHAS QUESTÕES DE DlI\F.I'fO

particular assignado por negoci:mte não matriculado,


substitutivo de uma conta corrente, cuja base foi
transportada para o titulo particular?
Resposta
Se fosse simples conta corrente dada e aceita, estaria
prescripta nos termos do art. 4l~5 do Cod. do Com.
Mas houve novação substituindo-se (embora sobre a
mesma base daquella conta) a obrigação pela do credito
de que se trata (Cod., art. 438, n. 1).
Este credito não pôde (a meu vêr) ser encabeçado no
art. 426 do Cod., por não ser matriculado commerciante
quem o assignou (ex-vi do art. 22, Cod., e art. 2 do Dec.
de 1° de Maio de 1855), nem ser·lhe, portanto, applicavel
a mesma prescripção das letras, e sim em o numero dos
titulos probatorios de contmtos (Cod., art. '122, e 123),
sujeito á prescripção de vinte annos (art. M2).
Se fôra ci vel a obrigação (salva a questão da legalidade
do titulo, em vista tIa Ord., liv. 3., tit. 59, e Alv. de 30
de Outubro de 1793), seria de trinta annos a prescripção
(Ord., liv. 4, tit. 79).
Dezembro, 1874.

Contas de tutela pelo avô ; tempo


Quando é o avó obrigado a prestar contas da tu-
tela do neto? Deve o juiz chamai-o em qualquar
tempo, á vista do disposto no art. 32 § 2, do Reg.
das correições?
Resposta
Como tutor legitimo, isto é, chamado por lei, o avô só
é obriiado a dar contas de quatro em quatro annos (Ord.,
94 CONSULTAS SOllBE

liv. 1', tit. 62, § 37 ; tit. 88, § 49: Consolo das Leis Ci1J.
Bras., arl. 30i), bem que se tenha pretendido introduzir
a obrigação de preslal-as em geral annualmenle (Vide Mello
Freire, Dir. Oiv., liv. 2, tit. H, § 16,combatido por Lobão,
notas a Mello cit., § 16,n. 7).
°
Póde, no entanto, juiz de orphãos exigil-as em qual-
quer tempo se houver juSl.ificado . motivo para isto; e,
finda que seja a tutela, devem ser logo prestadas (Ord.
cit ., tit. 88, § 49 e 150 ; Lobão cit., Pereira de Carvalho.
Proc. Orph., § 'I 15't· e nota 298; Cons. cit ., art. 302).
Esta doutrina me parece não alterada pelo que se dis-
põe no Reg . das correições de 2 de Outubro de 18151,
art. 32, § 2; porquanto, referindo-se e remettendo-se
ao § 29 da Ord., liv. '1, tiL 62, nesta não se diz que o
prazo seja a Q,?'bit'rio do juiz, e sim o da lei.
Novembro, i874.

Contas de tutela e curatella ; questões


A ql1it<lÇãO particular dada pelo pupillo ao seu
tutor o exonera da prestação judicial das contas
de tutela, decorridos muitos armas depois de e:;tal'
a mesma finda?
Resposta
Findo o tempo da tutela ou cun. tella, o juiz de orphãos
tomará contas ao tutor ou curador (Ord ., liv. i, til. 88,
§ 4·9 in fine ). Conseguintemente, havendo ella findado pela
maioridade, deve o tuLor prestaI-as (Pereira de Carvalho,
Proc. Orph., capo 23) .
Nem o exonera desta obrigação o recibo geral que haja
obtido do tutelado sem a dev ida approvação (Corrê:l Te1les,
Acç. Sum., nota 159~), nem o facto de haver-lhe entregue
os hens mesmo na totalidade (Cons. das Leis Civ., nota
in fine ao art. 302).
VARrAS QUESTÕES DE DIRFtITO

Tal é a regra e pureza da doutrilla, cujo fundamento é


aliás obvio e de alta convtmiencia.
Mas é certo que, entre nós, se tem admittido o menor
emancipado, sobretudo pela maioridade (que o faz entrar
no gozo pleno dos direitos civis), a dar quitação ao tutor
ou curador independente de formal e judicial prestação de
contas, talvez porque se tenha. entendido que pócle elle
então tornai-as por si mesmo ,Coelho da Rocha, Di?'. C'iv.,
§ 3i6) .
Adoptado como lflgal ~em elhante eslylo, a quitação obs-
taria a exigencia de novas contas, emquanto não rosse an-
nullada pelos meios competentes.
Em todo o caso, a quitação e o lapso de tempo decorrido
sem reclamação alguma seria um valioso adminiculo em
favor do tutor ou curador.
Outubro, 1872.

Contrato ante-nupcial ; favores á mulher; legitimação de filhos;


desherdação

1.° Os filhos legitimados por subsequente matrÍ-


monio concorrem com os legitimas á herança pa-
terna?
2.° Póde o contrato ante-nupcial ser alterado em
testamento, dispondo o marido em beneficio da mu-
lher de modo a dar-lhe meiação que não tinha?
3. ° Desherdado o filho pelo pai em testamento,
o que devem fazer os herdeiros em favor de quem
é a herança?
E se não intentárem acção de desherdação?
4: Qual o procedimento a seguil' na bypothese
do quesito antecedente havendo orpbãos?
96 CONSULTAS SOBRE

Resposta
Ao V Legitimados pelo subsequen te matrimonio os fi-
lhos. illegiti mos, são hlvidos por legitimos (Ord. liv.2°,
til. 3 '5, § i<Z;Mello Freire Dir . Civ . liv 2°, tit. 5, § -16, nola
in fine ). E, portanto, concorrem com estes na herança
paterna (Comment. á Lei de 2 de Setembro de i 867, capo 3,
questão 22; Consul. das Leis Civ . Braz. e notas aos
arts . 215 e 962).
Ao. 2.° O contrato ante-nupcial é irrevogavel depois de
con trahido o matrimonio (C. da Rocha, Dir. Oiv., § i56; C.
TelIes, ]tlan. do Tab. , § 151, Oonsol. cit., nota ao art . 88) ,
o que não impede as disposições de ultima vontade por um
dos conjuges em beeeficio de ontro, e sobretudo pelo ma-
rido em favor da mulher, quer se tenha assim estipulado
(Ord . Liv. 4, tit. 46 pr., e Lei ele 17 de Agosto ue 1761 ,§ 8),
quer pelas regras de direito sobre a liberd1de de testar.
Se o regimen dotal foi institui do principalmente em
maior vantagem e garantia da mulher; se alguns entendem
que o regimen pacticio pócle ser transformado no da com-
munhão, mesmo na constancia do m:1trimonio (vide Lobão
a Mello li v. 2, til. tO, § 4., e seguin tes); se as circumstan-
cias podem autorisar e levar o marido a melhor aquinholt'
'sua mulher; se a communhão pó de coexistir com aquelle
outro regimen mixto; e até substituil-o em varios casos
(resolução do regimen pratico no da communhão), pare-
ce-me que, comquanto melllor fosse contemplar direcla-
mente a mu lher como lega laria ou herdeira, salvo o seu
dote, quanto em direito é permittido, nJo era nem é ve-
dado ao marido contemplar por outra fórma a mulher,
dando-lhe a meiação em substitui ção do dote por acto de
ultima vontade.
Restaria, porém, a esta a opção, visto ser em seu favor,
entre o dote ou o contrato com os seus privilegios, e
a meiação ou communhão sem elles.
Ao 3.° Só por justa causa póde o pai desherdar o filho
VARIAS QUESTÕES DE DIItEITO 97

(Ord.liv. 4., tit. 88). Mas é necessario sentenç(que julgue a


desherdação ou em vida do pai, ou por morte deste a cargo
dos herdeiros (Ord., liv.4., tit. 85, § 2; Ass. de 20 de Junho
de i 780), com citação do filho desherdado (Lobão, Obrigo
recipr. § 369).
Se os herdeiros o não fizerem, o filho tem direito a ha-
ver sua legitima (Ord. cit., tit. 82, § 2).
Os herdeiros, em favor de quem fôr deixada a herança,
podem não usar daquelle direito, sujeitando-se portanto
a partilhal-a com eSEe filho.
Ao 4. . Quanto aos orphãos interessados, o seu tutor ou
0

curador, de accordo com o juiz, resolveráõ o que mais


convenha, se o alvitre referido, se propôr a acção em vista
das provas que tiverem e da eventualidade do resultado
final.
Maio, 1873.

Contrato ante-nupcial; Co digo Civil Portuguez; Lei brazileira

Quaes os effeitos no Brazil de um contrato ante-


nupcial celebrado em Portugal, segundo as disposi-
ções do Codigo Civ. desse paiz?
Resposta
O contrato ante-nupcial, de que se falia, foi passado em
Portugal, entre portuguezes, por escriptura publica, e
conforme ao Codigo civil.
A disposição do art. i 140 não annulla todo o contrato
Não cumprida a obrigação da conversão do dinheiro, o
dote ne.ste constituido tem-se por não existente, e entra na
communhão. Em tudo o mais prevalece o contrato.
Mas isto se deve entender se o contrato fôr executado
naquelle reino.
Se, porém, tiver de sêl-o neste Imperio, vale para todos
7
98 CONSULTAS SOBRE

OS seus effeitos, mesmo para manter a mulher o seu direito


á parte do dote em dinheiro, embora não converlido em
immoveis ou titulos de renda j porquanto, sendo ampla
por nosso direito a faculdade de contratar a tal respeito,
para a vida como para a morte (Ord., liv. 4, til. 46 e 47 ;
Lei de 1.7 de Agosto de 1.761., § 8), e, não havendo lei al-
guma que imponha ao marido aquell a obrigação, deve-se
cumprir o que entre elles foi ajustado, visto como, embora
effectuado esse contrato fóra do Imperio , elle só póde ser
executado no mesmo de conformidade com as leis brazi-
leiras-locus 1'eisitce (Dec. n. 737 de 18õO, art. 4. ; Cons .
. das L eis Civ ., art. 409 ; jJf an . elo P 1'OC. dos Feitos, § 703,
706, 709 e notas).
Conseguint emente é meu parecer que, sendo executado
no Imperio esse contrato:
1.0 Não tem aqui applicação alguma o cito art. 1:140 do
Cod. Civ. Port.: nossa lei o repelle. Vale o contrato no
todo.
2° e 3. ° A mulher tem direito a retirar o seu dote pre·
cipuamente, inclusive o consti tuido pelo marido em di-
nheiro, mas sem juros, a não ser os Iegaes pela móra, se
ella fór obrigada a demandaI-o.
Além de 111e pertencer o usofructo da terça do marido
por virtude do testamento.
Junho, 1.87õ.

Convenção consular; heranças


No caso de administração conjuncta, de que traia
o § iO do accôrdo interpretativo de 2l de Agosto
de i867, deve observar··se as disposições dos §§ 3,
4, 1, 8 e 9 do mesmo accôrdo ?
Qual o caracter que tem o funccionario consular
neste caso?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 99
Resposta
Em vista do accôrdo interpretativo entre o Brazil e Por-
tugal de 23 de Maio de 1867, mandado executar por Dec.
n. 3935 de 21 de Agosto do mesmo anno, o caso de que se
tI-ata é de administração conjuncta da viuva e consul, por
isso que se verifica a hypothese no § 10 desse accôrdo,
combinado com o § 2, n. 3 e 4..
O disposto nos §§ 3, 4, 7, 8 e 9, só se refere ao caso de
pertencer ao consul a administração exclusiva da herança,
como é nelles expresso.
Ainda assim, ao juiz compete a nomeação de avaliadores,
partidores, a partilha e seu julgamento (§ 5), bem como as
questões que se levantem (§ 11 ) .
No caso da administração conjuncta o consul não in-
tervem senão como um liquidador,sendo em commum todos
os actos (§ 10).
O consul não é autoridade, não exerce jurisdicção : é
simples representante dos interessados, cuja defesa lhe é
incumbida.
Assim que sou de opinião, que o inventario deve ou pelo
menos póde ser feito perante o juiz competente, figurando
nelle conjunctamente como liquidantes a viuva e o con-
sul. (I')
Julho, 1871.

_Credito de dominio; commissão


Ql1al a garantia que tem aquelle que remette ao
fallido mercadoria para vender ? A dou trina do Co-
(*) Vi gora hoj e entre o Brazil e Portu gal a con ven ção pro-
mulgada por Dec . n. 6236 de 21 de Junho de 1876 e da qual
desappareceu o caso de Il.dmini stl'ação conjunta.
A. C.
100 COl'fSULTAS SOBRE

digo Commercial foi alterada pelos Decretos de i 7


e 20 de Setembro de t864 ?
Resposta
O art. ~7 4., § 2°, Cod. Com., garante um credito de do-
minio ao que remette ao fallido mercadorias em commissão
de venda, etc. O art. 881, segunda parte, manda que se lhe
entregue na mesma especie, e em falta naquillo em que se
acharem subrogados, ou fin almente em dinheiro. Esta
ultima disposição não é praticavel, desde que o diflheiro
está já confundido na massa do fallido , por não ser possi vel
discriminai-o do de outros em identicas circumstancias ,
principalmente vendendo o cOl11missari o em seu proprio
nome. Os Dec. de ·17 e 20 de Setembro de 1864 não al-
terárão sua doutrina, senão que expressamente resalvárão
os direitos dos credores ])ri vil egiados .
A commissão deZ c1'edere me parece não alterar a solu-
ção dada, porque ella só tem o effeito de co nstituir o com-
missaeio solidariamente responsavel (por ex.cepção á regra)
ao commitLente pela solvél bilidade das pessoas com quem
contratar por conÜt (N . B.) do mesmo commillente (Cod.,
art. 179).
Janeiro, '186 ~ .

Credor
Pedro dev ia a Lu iz certa quantia. ; fallecendo Pedro e
procedendo-se ao invenLario, habilitárão-se os credores
justificando suas dividas, e na partilha forão contemplados
separando-se bens para pagamento delles. Luiz, porém,
nat.1a fez durante o processo do inventario; mas, findo
e11e, accionou a viuva e herdeiros, contra os quaes obteve
sentença, com a qual se conformárão todos os interessados,
excepto um, que interpôz recursos, dos quaes decahio defi
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 101

nitivamente; entretanto, e já depois de condemnado por


sentença, alienou todos os bens que possuia consistentes
em escravos, terras, etc., etc.

Pergunta-se

Lo Podia esse herdeiro, depois de condcmnado


por sentença, alienar os bens, como fez?
2. o No caso de negati\'a, qual o meio de pagar-se
o credor?
Resposta
Ao L' Os seus bens proprios vodia o herdeil'o alienar
pOI' llão est.arem sujeitos ao pagamento da divida em
questão :-porquanlo não são os herdeiros obrigados 11ltra
vires hereditatis, principalmente fazendo-se inventario,
como no easo de que se trata (Mello Freire, Dir. Civ.,
liv. 3', tit. 1)., § 8·; Coelho da Rocha, Dir. Civ., § 11,32).
Dos que, porém, recebeu em herança de Pedro não po-
dia eUe validamente dispôr, como fez, já porqur. pela sen-
tença estava constituida hypotheca nesses bens, já porque
se deve presumir em fraude da execução tal alienação,
e em ambos os casos nu11a (Ord., li". 3·, til. 84., § 14.,
e tit. 86, § i3).
Ao 2.· Se esse herdeiro ainda têm bens, cleve o credor
proseguir na execução contra elle; porque só depois de
executado o devedor, poderá demandar terceiros (Ord.,
liv. 4.', tit. 3' pr.; Corrêa Te11es, Acç., nota 205).
Se não possue mais bens alguns, pó de usar ou da acção
hypothecaria contra o possuidor dos bens de raiz (Corrêa
TelIes, A cç., nota 213 e § i 68), ou da revocatoria con tra
o possuidor dos bens alienados em fraude da execução (cit.
Corrêa Telles, § f06).
Eis o meu parecer.
Julho, 1853.
102 CONSULTAS SOBRE

Credor adjudicatario; prisão; procedimento

(o O credor adjudicatario está sujeito á prisão


por não ter consignado em deposito o preço da
adjudicação?
2. Pó de ser ampliada ao mesmo a dita pena
0

applicavel ao arrematante que não realiza a entrega


do preço da arrematação?
3,0 Qual o recurso a observar em falta de pena-
lidade?
4. o Existe aresto a respeito?
Resposta

Ao 1,0 Não ha disposição alguma que mande proceder


contra o credor adJowticatario com pena de prisão, para
coagi-lo a consignar em deposito o excesso do preço da
mesma adjudicação. Nem a legislação civel, nem a com-
mercial o autorisão (Lei de 20 de Junho de '1774; Lei de
22 de Fevereiro de 1779 e outras disposições; Dec. n 737
de 1850, art. 581).
Ao 2. A pena de prisão é st1'icti fU1'is, e odiosct como
0

declarou a propria Lei de 20 de Junho cit e o Acc. de 18


de Agosto de 1774. Portanto inampliavel, por maior que
seja a analogia. Abolida a prisão pOI' divida civel, essa
pena ficou reduzida aos casos exp1'essos em direito. Sem
que haja, portanto, disposição terminante e positiva que a
conceda no caso respecti vo, não tem lugar.
Não procede, pois, o argumento que se deduz de ser
isto permittido a respeito do ar1'ematante, Quanto a este,
a lei civil e a commercial são expressas.
Ao 3. Quanto ao credor adjudicata1'io, o remedio é não
0

se lhe passar a carta de adjudicação sem que faça o depo-


sito do excesso, como se lê no eximio praxista Pereira e
VARIAS QUESTÕES DE DIltEITO to3

Souza, P'toc. Oiv., nota 8M5, obs. o valor, etc., e já era


doutrina no fôro.
O Regol. commercial cit. é omisso a este respeito (Vide
art. ~6i), Mas o art. 743 remette-se em tal caso ao processo
civil que aliás neste ponto não foi alterado pelo cit, Regu-
lamento .
Ao 4. ° ~e ha algum aresto no fõro cl)mmercial não posso
com certeza dizer. Mas, ainda que haja em sentido contra-
rio á opini ão que exponho, parece-me que será apenas um
facto, e não sã doutrina de jurisprudeocia ou de direito, (-V-)
Agosto, 187!.

Crime por impressos; publicidade; responsabilidade; condições ;


gozo dos direitos politicos; prova
t A publicidade essencial no crime de injurias
,0

impressas como póde ser supprida quando defeituosa


a prova testemunhal?
2, ° Em que tempo deve o impressor dar prova
que o exima da responsabilidade?
3,0 Que condições deve preencher a responsabi-
lidade nos delictos de imprensa ?
4.° Qual a prova nos delictos de imprensa de
acuar-se no gozo dos direitos politicos o respon-
savel?
5.° O facto de estar o responsavel qualificado vo-
tante ou guarda nacional é sufficiente para esta.be-
lecer em sell favol' éI. pro va de estar no gozo dos
direitos políticos?
(') O Su premo Tribun al de Ju stiçn. P fi 30 de Ago8to de 1871
reconheceu a doutrina expo!>ta neste parecer, em petição de
habeas-corpus d e B, D, Gomes de Araujo, por unanimidade.
i04 CONSULTAS SOBRE

6.0 As qualificações de que trata o qnesito an-


tecedente são a unica prova?
Resposta
Ao V A distribuição de impressos por mais de quinze
pessoas é necessaria para que haja crime de calumnia ou
injuria por esse meio (Cod. Crim., art. 230 e 23i ).
A publicidade assim determinada é elemento essencial.
. Deve ser provada, embora o defeito do depoimento das
testemunhas seja supprido pela notoriedade desse facto.
Deve a prova resultar do conjunclo a formar convicção.
Ao 2.oPara se liberar o impressor é preciso responsa-
bilidade legal do editor ou do autor, nos termos do Cod.,
art. 7.°
Importando isto sua defesa, póde dal-a em. occasião op-
portuna, posto não seja logo no começo.
Ao 3.° Mas deve a responsabilidade preenchet' as con-
dições do ci t. art. 7.°
Quem se obrigou póde igualmente defender-se e mostrar
que não está nas condições legaes (Vide-questão de prova).
Ao 4.0 O gozo ou exerci cio dos direitos politicos prova-
se tambem presumptivamente, como aliás se deduz da
Consto do)mp., art. 8° ; Cod. Crim., art. 53 ; Lei de 3 de
Dezembro de 1841, art. 49; Dec. n. 500 de 16 de Fevereiro
de 1847, art. 5, Av. n. 5 de 184.9, n. 280 de ,1852 e ou-
tras llecisões.
Para que valha a responsabilidade basta que o respon-
savel esteja no gozo desses direitos ao tempo do delicto
(Cod. Crim. , art. 7°).
105.° Presume-se em tal gozo o estar qualificado
guarda nacional ou votante (Reg. n. 500 de '1847, art. 5° ;
Av. n. 280 de 1852, n. 206 de '1861).
Admitte, porém, prova em contrario (Av. n. 5 de i8!i9).
Ao 6: Não são unicamente essas qualificações que o
prolão ; sim tambem o exercicio de cargos publicos, em-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO toõ
pregos, etc. (Reg. cito de 1847, art. ;S0; Av. de 4 de
Agosto de 18M, n.206 de 1861).
Setembro, 1874.

Custas; appellações; alçada

Em que caso é appellave1 a decisão sobre custas?


Resposta
Entendo e sou de opinião que de questão sobre custas
só se póde appellar se a importancia exceder á alçada do
juiz à quó, segundo a regra geral. Pereira e Souza, P1'OC.
Oiv , nota 634., ensina que lem lugar sempre por não ha-
ver para ellas alçada. Mas Lobão, Sego Linh., á referida
nota, o contesta, e melhor Gouvêa Pinto, llfan. de Appel.,
nota a á regra i' do art. 10 do capo XIII da parte 2"
(pag. 110 ibi).
Novembro, 1870.

Custas ; nova demanda commercial

Póde-se oppôr a excepção de htis pendencia em


uma nova acção pelo facto de não se haver pago as
custas da primeira, da qual desistio o autor ~
Resposta
Em vista do art. n8 do Reg. n. 737 de 18;S0, parece que,
terminada a primeira acção pela desistencia julgada por
sentença (salvo todavia o direito á nova acção), a falta
de pagamento das custas não obsta á propositura desta,
visto como já não ha litis pendencia, e só resta cobrar as
custas, até por simples mandado do juiz (art. 79, 92, 476
i06 CONSULTAS SOBRE

e 477, Reg. cit.). Aquella disposição é especial, e não póde


no processo commercial ser ampliada; modificado assim
neste ponto.o disposto para o processo civel.
Julho, 1870.

Dação « in solutum » e venda a retro ; siza; nuIlidade; penas ;


remissão; penhor

i o E' admissivel perante a lei o contrato de da.


ção in solutum com pacto de retro vendendo?
2: Quid se rór de penhor com o direito de com
elIe ficar o credor para seu pagamento?
3: E' valida a venda a retro sem o pagamento
de siza ?
4: E' juridica a sentença que a annullar por
essa falta?
5: Em que occasião deve ser pago o imposto e
a que cond ições deve o fisco attender para im po-
sição da multa?
Em virtude do novo regimen creado pela Lei
n. {507 de 26 ele Setembro de i867, além da pe-
nalidade fiscal marcada no Reg. de 17 de Abril
de 1869, subsiste a de nullidade do contrato?
6.° Qual o recurso para o comprador, annullado
o contrato?
7. o Poder-qe-ha contar com a reforma da sentença
em grã.o de appell rlção . O fundamento-falta de pa-
gamento de siza - quando destruido não poderia
determinar a reforma?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO i07

Resposta

Ao 1° e 2.0 O contrato de que se trata, é de dação


in solutum e venda com a clausula a 1'et'l'O uu ?'edimendi.
E como talo qualificárão as proprias partes, dando-lhe
essa interpretacão.
A lei o conhece (Ord., liv. cit., til. 4°). Se fôra de penhor,
com a declaração de ficar o credor com .0 penhor em seu
pagamento, seria nullo nos termos da Ord., liv. 4°, til. 56.
Ao 3.0 4·. ° e 5.0 Em regra, a sentença é juridica em-
quanto annulla o dito contrato por falta de pagamento da
siza.
As vendas a ?'etro não erão nem são isentas deste im-
posto (artigo das sizas, capo 40), que deve ser pago antes
de lavrar-se a escriptura, transcrevendo-se nesta o conhe-
cimento do pagamento, sob as penas da lei (Reg. de 1. 7
de Abril de 1869).
Dabi resulta nullidade do contrat0 (Ord., liv. 1°, til. 78,
§ H. : Alv. de 3 de Junho de 1.809), embora dependente de
rescisão ou acção (C. Te11es, A.ee., nota '195-a; Man. do
P1'oe. dos Feitos, nota 11 20).
Ma , como a acção é penal, civelmente intentada, sempre
se deve moderar pela equidade aque11e rigo!'. Assim é que,
se o impo to fôr pago até a contestação da lide, não preva-
lece a nullidade (Vide Lobão, A.cç. S'Lbm., § 646, com Lima,
Moraes e outros) j Ó de então em diante ficará definitiva-
mente constituida a má fé.
Tanto assim se deve hoje entender, quanto em relação
ao proprio fisco para a imposição da multa por semelhante
falta se deve attencler á existencia de fraude ou intenção
criminosa (Av. o. 128 de 22 de Abril de 1868), e a de-
nunda voluntaria do contribuinte o isenta da pena (Av.
n. 298 de 8 de Novembro de '1870, quesito 3°).
Demais, em vista da nova reforma do systema tributario,
creada pela Lei de 26 de Setembro de 1867, em que a
siza, meia siza e outros forão todos transformados no im-
108 CONSULTAS SOBRE

posto de transmissão de propriedade, e regulada a sua


cobrança pelo Dec. cito de 17 de Abril de 1869, póde vir
em duvida se, além das penas fiscaes, subsiste a de nulli-
dade do contrato, attento o novo regimen.
Ao 6." Annullado o contrato, só resta ao comprador
credor haver o seu pagamento pelos bens do deved or,
na fórma geral. Os de que se trata ficaráõ á execução como
quaesquer outros.
Ao 7.° O exito da appellação depende da apreciação da
demanda, sendo que ha outros fundamenlos, além do que
foi adoptado pela sentença, que, se provados, podem
mantêl-a.
Quanto ao unico na mesma produzido (falta de paga-
mento da siza), a eqnidade (dado o caso) autorisaria a re-
forma.
Junho, ,1873.

Demarcação; questões; aforamen to; prescripção acquisitiva;


despejo
f ,0 Póde-se suscitar duvidas sobre limites entre
duas fazendas confinantes desde qne se procedeu á
demarcação, com a qual Pedro e Paulo, seus donos,
se conforrnárão?
2,° Podem os momdores que occupavão os ter-
renos que Pedro suppunha pertencer-lhe, e nelles
continuárã.o por consentimento de Paulo, allegar
prescripção acqui~itiva? Assistia a João que comprou
esses terrenos a Paulo. direito para exigir desses
m,)radores pagamento de uma renda?
3,° Esses moradore.; estarião sujeitos a despejo
corno taes, arrendatarios ou foreiros? Que obriga-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 109

ções dimanão para o proprietario no caso de despejo


em relação a cada uma dessas especies ?
4.° E' valido o titulo de aforamento passado por
Pedro a um desses moradores depois da demar-
cação?

Resposta

Ao 1. °Desde que, bavendo duvidas sobre os limites en-


tre as fazendas de Pedro e Paulo, se procedeu á respectiva
demarcação em 1850, com_a qual se conformárão, é claro
que ficát'ão elias extremadas, e cessárJo aquellas duvidas.
Conseguintemente as terras de que se trata forão reconhe-
cidas pertencer á fazenda de Paulo, ou á parte da mesma
que elle se havia reservado, parecendo, pois, não ler
Pedro mais direito sobre elias.
Ao 2. Os moradores, estabelecidos anteriormente em
0

parte dessas terras por consentimento de Pedro, na per-


suasão de que ellas lhe pertenci;io, e que ahi continuárão
gratuitamente por consentimento de Pedro depois daquella
demarcação, as Utjárão occupando por titulo precario, por
favor. Não podem allegar prescripção acquisitiva, para a
qual se requer existencia simultanea titulo hab'it pal'a
a1quirir, posse )ontinua pelo tempo legal e boa fé (Vide
Ord., liv. 20, tit. 53, § 5 in-fine; tit. 40, § 30; liv. 4.0,
tit. 30, q i tit. 58 §§ 30 e 40 ; tit. 79, § 3°).
O
,

Vendida em 187i por Paulo a João essa fazenda, e com


elia as terras referidas (parte integrante da mesma) oecu-
padas por flquelles moradores, bem podia João exigir de
futuro uma remia, como exigio e elies se obrigárão a pagar.
Não ha titulo em contrario, senão que reconhecimento
de seu direito.
Se se prevalecessem do pretendido aforamento de Pedro
anterior á demarcação, e podesse e11e, ainda por prescrip-
ção, ser mantido, e como perpetuo, mesmo contra Paulo,
110 CONSULTAS SOBRE

serião em tal caso foreiras hoje de João, successor de


Paulo (Vide LoMo, Di?.. Emphyt., § '116), obrigados á
respectiva pensão.
Ao 3,° Moradores a titulo precario estão sujeitos ao
despejo, pagando-se-lhes as suas bemfeitorias (Ord., liv. 4,
it 54).
Tambem o estarião se fossem arrendal,arios, verificadas
as condições legaes (Ord. cit. ). Se foreiros, poderião sêl-o
julgando-se o commisso por sentença, dada a falta de paga-
mento da pensão por tres annos consecutivos, querendo o
senhorio prevalecer-se deste direito (Ord., liv. 4°, til. 39).
Ao 4..° O titulo de aforamento passado por Pedro a um
desses moradores em 1.8M é defeituoso como proveniente
de quem não era:o dono; muito mais, por ser posterior á
demarcação que extremou as fazendas,como foi dito acima.
Todavia poderia ser mantido mesmo em relação a João,
se accedessem os requisitos legaes da prescripção em seu
favor (Lobão cit., §§ 1.1.6 e 11. 7), o que parece não se verifi-
car no caso.
Junho, 1. 873.

Demente ; mulher curadora ; alienação de bens


Que actos póde praticar a mulher curadora do
marido demente? E' necessario sempre a interven-
ção elo juiz para dar· lhes validade?
Resposta

A mulher curadora deseu marido, embora não seja obri-


gada a fazer inventario (Ord., liv. 4°, tit. 103), todavia não
deixa de ser uma administradora dos bens do casal no
impedimento daquelle. Alguns entendem que póde ella
praticar certos actos e mesmo alienações sem autorisação
do juiz, excepto quanto a ben,s de raiz (Gouvêa e outros);
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 1H
outros exigem essa autorisação ainda para a dos moveis.
(Cabedo e outros); alguns feLzem distincção (Vide Lobão a
Mello, liv. 2', tit. 5 ; § 19, n. 50 e 60).
Em minha opinião deve intervil' sempre autoridade do
juiz para os negocios e actos de maior gravidade, por isso
que a mulher não tem, mesmo em tal caso, a plena e livre
disposição dos bens do casal, s'Jb retuc1o quando se tratar
de alienação de bens ou de oneraI-os com encargos, quaes
hypotheca, penhor e semelhantes. Todavia os actos em
proveito do casal e os de nece::isidade são valillos, provando
esta necessidade ou aqnelle provei to e LI tilidade (Vide Lo-
bão ciL ; B. Carneiro, liv. 1', til. -12, :3 1~1, n. H).
Para venda parece mais regulai' a hasta publica.
Desembro,187L

Depositario geral; responsabilidade


L' Quem é o responsavel do depositario geral?
2.' Qual o procedimento a seguir para haverem os
particulares indemnisação do depositario geral?
Resposta
Ao 1." Embora de nomeação do governo o depositario
geral, é este e o seu fiador quem responde para com os
particulares. quer pelas leis civis que os criárão, regula-
mentos e ordens posteriores, quer pela legislação crimi-
nal (Coel. art, 167, combinado com o art. 21 e seguintes),
e não a fazenda. Nem se deve confundir aqnelle cargo
com o que em especie se discriminn. deposito publico, onele
é a fazenda quem se constitue depositaria.
Ao 2.° Conseguintemente devem as parLes haver do de-
positario e seu fiador a indemnisação, procedendo como de
direito, com prisão, penhora etc.
Bem entendido, que a responsabilidade do fiador está
H2 CONSULTAS SOBRE

limitada á quantia fixada na fiança. Essa reclamação


poderia consti tuir incidente nos respectivos processos.
Agosto, 1867.

Depositario ; escravos ; alugueis, etc.


Ha direito de cobrar do depositario judicial alu-
guels pelos escravos depositados ?
Resposta
Tratando-se de deposito judicial de escravos, e preten-
dendo-se do depositario salarios ou alugueis cios mesmos,
sem cobrar elle clespezas, respondi com a doutrina do Av.
de 'iG de Dezembro de 181>0 add. apoiado na consulta do
Des. do paço de 30 de Junho de 1823.
Outubro, i869.

Depositario; premio do deposito

i. o Qual o premio que tem o depositario publico


pelos bens sob sua guarda?
2. o Donde deve sabir esse premio?
3.° Qual a razão porque é devido?
Resposta

O depositario particular não tem direito a premio ou


porcentagem por ser o deposito voluntario (Lei de 20 de
Junho de 1774, § 11>; Corrêa Te11es, Dout. das Acç.,
nota 734). E só o depositario publico.
Mas este mesmo não o tem senão dos moveis e semoven-
tes, inclusive os escravos confiados á sua guarda, na razão
de 2 (Alvará de 21 de Maio de ! 71>1, de 21> de Agosto de
%
VArHA'S \JUES'I'Õ ES DE DIREITO H3

t774 ; Av. n. 372 de 26 NllvemlJro de 18;$9), bem assim


dos objectos de ouro, prata, prdras preciosas e dinheiro
liquido, na razão rle I °10 (Leis cilauas ; Alvará de ;$ de
Março de t825 ; Dec. n. 561 de t8 de Novembro de 184,8,
art. 2).
Do deposito nos cofres publicos o premio é 2 °10 (Reg. de
to de Dezembro de t8i5). Dos immoveis, apolices,acções e
titulos semelhantes não tem o depositario publico premio
algum (Av. de -ti de .Tulho de 1866).
Ao 2.° O premio referido deve sahir dos proprios bens
ou de seu producto (Alvará cit. de 175i , e de OH e 1825;
. AT. ci t. de .. 858), a cargo portán to do executado. Se,
porém, este fôr vencedor na execllç'io,parece-me claro que
tem o direito de inderunisar-se contra o exequente de todas
as despezas que, por causa da execução, lhe tenhão
vindo.
Ao 3.° O premio é devido pelo trabalho da guarda e
responsabilidade do depositario.
Do que se fn nos cofres publicos é pago logo á entmda
(Reg. cito de 1R45); dos outros,antes da entrega (Av. cit. de
i8::í9 e Resol. de 18-25 ahi referido). Pouco importa que a
execução terminasse por composição .
.Julho, 1868.

Depositos de escravos ; despezas


L° Podem os escravos penhorados ser deposita-
dos em mão particular?
2.° Tem o depositario direito á cliaria ainda
quando aluga os escravos depositados?
3°. Qual a dedução a fazer no aluguel?
Resposta
Ao L" Entendo que os escravos, como semoventes,
8
114. CONSULTAS SOBRE

podem ser dep()sitados em mão particular, segnndo leis.


(Aviso n. 60 de i) Março de 184.9, de 16 de Novembro de
18~0 e art. 526 §§ 2 e 3 do Dec. 737 de 1850.)
Ao 2." Parece que o depositario, ainda que alugue os
escravos, pó de haver os 320 réis de diaria para sustento,
arbitrados no Aviso de 26 de Novembm de 1859, se os
houver realmente sustentado: esta diaria é para esse fim
especial e não premio do deposito.
Ao 3. Do aluguel, porém, deve-se dedu7.ir ou nelle C'lm-
0

pensar-se o sustento, curativo e outras despezas (Av. de 16


de Novembro de 1850).
Novembro, '1860.

Deposito judicial e convencional; acção ; execução; processo;


recursos
i. o Quaes as acções proprias no caso de deposito
judicial no civel e no commercial ?
2: Quando deve ser assignado o prazo para de-
fesa do depositario ?
3 .. Qual o recurso do despacho que decreta a
prisão do depositario ?
4.. O aggravo interposto de tal despacho sus-
pende a sua execução?
Resposta

Ao LO O deposito é judicial ou convencional. Sendo civel,


o pl'imeiro deve ser demandado segundo a Ord., liv. 4,
tit. 49, § 1, isto é, com o prazo de nove dias, e o segundo
por acção summaria (Ord., liv. ::l, til. 30, § 2), em cuja
execução se observará a Ord., liv. 4, tit 76, § 5, e por-
tanto com o prazo pelo menos de vinte e quatro horas
(Vide Lobão, Acç. Sum., § 448, que concilia a apparente
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

antinomi a dessas ol'denacões). Mas 11raLicamente nem sem-


pre seobserva quantoao deposito judicial a cito Ord " tit. 4,9,
e applica-se a do til. 76, fundados talvez na doutrina de
Pel'eira c Souza, Primo Lin. do Proc , Civil., nota 827, obs.
nem é necessal'io, etc. (Vide Com. das Leis Civ., nota ao
art. 434.).
No comme?'cial o prazo é de quarenta e oito horas, quer
seja convenci ona.l, quer judicial o deposito (Reg. n. 737 de
1850, art. 269 e i)2i).
Ao 2.° O prazo deve ser assignado, mesmo porque póde
o depositario ter justa defesa. Em regra é accusada em
audiencia a intimacão ; ahi assignado o prazo e feito o lan-
çamento, julga-se decretando-se a prisão .
Ao 3.° Do despacho' que decretou a prisão cabe aggravo
de peticão ou instmmento (Reg. de 15 de Março de 18[J.2,
art. 15, § 6) . Não sendo já possivel este recurso, bem pode-
ria usar-se do remed io extraordinario de habeas-corpus,
nos termos do art. 34.0 e 3M do Cod, do Proc. Crim.
Ao 4,.0 O aggravo dll peticão no civel suspende ex-causa
a execucão do despacho recorrid o (Pereira e Souza, P?'im .
Lin., nota 852; Moraes Carvalho, Pmxe For., § 730); não é
suspensivo o de instrumento, excepto quando sobre compe-
tencia (Ord., liv. 3, tit. 74, § 1. ; Assento 1° de 23 ele Marco
de 1786) ou sobre despacho que possa causar damno irrepa-
ravel , v. g. prisão (Gouvêa Pinto, Man. de App . e Agg.,
parte 3.. capo 2°, § 12, nota; Lobão, Seg, Lin., tomo 2,
pag.1.67).
Dezembro, 1869.

Desherdação

A questão de desherdação póde ser resolvida em


inventario? Poderá. igu almente nelte ser o pai ex-
cluido da herança do filho sob fundamento de não
H6 CONSULTAS SOBRE

ter procedido 3. inventario por Ldlecimento da mãi,


dentro de dous mezes? Constitue justa causa de
desherdação o ter a filha se casado sem consenti-
mento da mãi, e assiste ao pai direito para desher-
dal-a da legitima materna?

Resposta

Quanto á questão de desherdação no inventario, não póde


ella ahi ser decidida desde que ha opposição ; devem as
partes ser remetlidas aos meios ordinarios, por ser· objecto
de alta ind ~ gaçio e que deve ser discutido e plenamente
convencido em juizo competAnte, para o que tem o pai
acção e recurso legitimo e rl'gular (Ass. de 20 de Julho de
li80 á Ord., liv. 4-, til. 8" § i). Pela mesma razão ahi se
não pode decidir a exclusão do pai da herança do filho, e
por ser indispensavel sentença que o declare incurso na
pena (Ass. de 20 de Julho de t780 á Ord., liv. i, til. 88,
§ 8).
Quanto ao libello parece-me procedente pelo fundamento
allegatlo e provado; e é expressa a tal respeito a Ord., tiv. t,
til. 88, § 8. Todavia póde o pai defender-se, e se provar
motivo que o j ustiflque dessa falta e que o libere da pena,
deve-lhe ser a defesa attendida, nos termos do Ass. de ~o
de Julho 1780 á Ord., cit, liv. 1°. A excepção, porém, com
que elle veio não me parece admissivel como tal, e nem é
procedente mesmo como contestaç:lo da acçio : {O, porque
não póde o pai desherdar a filha da legi ti ma materna, de
que se trata (Ord., liv. 4-, tit. 88, § i 2° e 3°, pai ou mãi),
O

e só da q ne por sua morte lhe possa pertencer, tanto mais


que neste caso não era necessario o consentimento da mãi
(para o casamento) por haverpai vivú,enão incorrerquanto
a esta na pena por sua fa \la (Corrêa Telles, Dout. das
Acç, nota iOS) ; 2" porque mesmo quanto ao pai, não só
ha em favor da filha o disposto na Ord., lil". 4., tit. 88,
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO H7

eomo outras defesas, quaes sejão a tacita approvação do


pai e posterior conciliação sem que a houvesse até alli
desherdado, o qne prova remissão da injuria ou perdão
(Ass. de 20 rle Julho de 1.780 á Ord cit., liv. 4.).
Como, porém,sejão sempre desagradaveis questões seme-
lhantes, é meu voto partículal' qlle se conciliem, desistindo
a filha da acção contra o pai e este de qualquer direito
que julgasse ter a desherdal-a,
Fevereiro, t8~4.

Desherdação ; prostituição
Póde o pai desherdal' a filha adultera e que se
entrega á prostituição?
Resllosta
Parece-me que o adnlterio da filha e sua posterior pros-
titnição oio são jusla causa de desherdação, porque inte-
ressa isso exclusivamente ao marido; nJo póde ser apresen-
tado por outros e não se acha comprehendido nus da Ord"
liv. 4, til. 88, e direito vigente.
São inampliaveis as causas de desherdação.
Setembro, i864..

Direito commercial ; prescripção


A disposição do art. 456 do codigo do commer-
cio é extensiva ás demandas pendentes ao tempo
da execução do mesmo codigo ?
Resposta
Em face do art. 74i do Reg. n. 737 de 25 de Novembro
de 18~O parece que não.
-118 CONSULTAS SOBRE

Mas, apezar ua disposição do art. 74.2 do mesmo Reg., que


diz que, qllanto á materia, reglllarão as leis anteriores, o
ar.t. MS6 é appli ca uel ás acções novamente intentadas por
ter expl'esamente effeito retroactivo.
E portanto tambem o eleve ter nas demandas penden-
tes, sendo que mais o coo ven ce que pela interrupção' da
prescrip(,ão começa ella a decorrer de novo, e deve sêl-o na
fórma do citado art. 456.
Dezembro, 1.8M..

Direitos novos e velhos ; reforma

Vigorão ainda as disposições relativas ao novos


e velhos direitos de~ois da Lei n. 1507 de 26 de
Setembro de 1867 ?
Resposta

O systema ele impostos foi profund:unente alterado pela


Lei n. 1.507 de 26 de Setembro de 1867, comprehendidos
nesta refol'ma os novos e velhos direitos, e ele chancellaria,
ele que tratava a Lei de 30 de Novembro de -1841., e outros,
substituidos uns pelo imposto de transmissão, e outros
pelo elo sello, e até alguns virtualmente abolidos; reforma
completada pela resolução legislativa n. '1750 de 20 de
Outubro ele 1.869 e Lei n. I836 ele 27 de Setembro de 1870,
por modo que a verba ele receita com tal den ull1inação
foi eliminacla nos orçamentos posteriores.
E, pois, a execução dessas disposições acha-se regulada
no Decreto ou Reg. n. 4. 3iSiS de 1. 7 de Abl'il de 1869 (i m-
posto de transmissão, vi ele art. '1"), n.4.354. ele 17 de Abri 1
de 1869 (sello, vide o art. 7:2). moLlificatlo \não nessa parte)
pelo de n. MS05 de 9 ele Abril de 1870 e n. 4.72'1 ele 29 ele
Abril de 1.871 (solto de mercês pRcllniarias), ele.
VAlHAS QUESTÕES DE DIREITO H9

Conseguintemente está sem vigor a legislação anterior


relativa a novos e velhos direitos sob esta nomenclatura.
Maio, 1873.

Divida á fazenda; subrogação; aGções; privilegio; execução

LO Aquelleque paga pOl'Olltrem diíidas á Fazenda


Nacional fica subrogado n0S direitos desta?
2. Dado o caso de snbrogação, pertencem ao su-
0

brogado os privilegiosda mesma Fazenda Nacional?


3. Como se procederá na acção e execução achan-
0

do-se o devedor ausent,e do Imperio ?


Resposta
Ao LO E' meu parecer que o simples facto, de pagar al-
guem á Fazenda Nacional o que outrem a esta deva, im-
porta sub rogação legal, quando não lhe tenha sido feita
pela mesma Fazenda, e isto quer a divida seja propria-
mente fiscal,quel' não (Vide Lobão, P1'Or.. Exec. § H6; Cor-
rêa Telles, Dig. P01't art. i097 tomo i ° ; Coelho da Rocha,
Dú·. Civ. §§ H:i2 e H>3).
A subrogação dá se independente de cedencia das acções,
e neste ponto o Cod igo da Pru sia estabelece doutrina mais
ampla e pI'eferivel ao Codigo Civil francez, e é seguido pelo
ciLado C:.lrrêa Telles, Dig. ci t.
QuanLlo mesmo não se desse a subrogação, e elIe hou-
vesse feito o pagamento pelo deredor sem o;--dem deste,
caber-lhe-hia para a restituição ou embolso, contra tal
deveLlor, a acção negotio 7'ium gesto1'um (Corrêa Teltes,
Dout. das /tcç., nula 76~; Coelho da Rocha ciL, § 1:52,
nota) .
Ao 2. Se ao subrogado compete o executivo fiscal é
0

questão difficil e compl:cada, como se póde ver em Lobão,


120 CONSULTAS SOBRE

Proc. Exec § 109 e 116 combinados, difficuldade prove-


niente da íntrepretação da lei ult. C0d. de privo fisco
Eu distingo:
A acção privilegiada fiscal só cabe (no meu entender) nos
casos restrictos em que as leis a transferem expressamente
ao subrogado, e juntamente os privilegios da Fazenda
v. g 0' o socio que paga pelo socio, o fiador, o herdeiro, o
terceiro interessado.
Não assim quanto ao terceiro que intervem expontanea-
mente; embora fique subrogado nos direitos, entendo
que lhe não compete a acçào executiva pdvilegiada do
fisco: o execntivo só tem lugar nos casos consignados em
direito, e são inampliaveis (Lobão cit., §§ 46 e 75).
Ao 3.° Achand. He o devedor em lug tr sabiJo, fóra do
Imperio, póde ahi ser demand:tdo ; mas obtida a sentença,
e tendo ella de ser executada no Imper'io, não o póde ser
senão precedendo exeqUlltur imperial (Aviso de -1 de Outu-
bro de 18P ; Av. n. 9;) de 18'~9 ; Dec. 23~0 de 5 de Feve-
reiro de 1859, art. 4, § 1°, etc.) ;'fj
Póde tambem ser demandado no Imperio, no fôro do seu
ultimo domicilio ou no do d~licto cita.do, no estrangeiro
por precatoria, se estiver em lugar sabido, ou editalmente
se esse modo de citação não fôr possivel (Ord., liv. 3,
til. 2°; liv. i, til. 76, § i ; liv. 3, til. 6 pro e § 6).
No caso, parece que se deve usar da acção ordinaria,
visto ser o meio mais seguro e sem contestação. Ante o
juizo mllnicipal, attenta a obrigação cível e sel' a demanda
exclusivamente entre particulares (Lei de 29 de Novembro
de 1841 ; Inst. de 12 de Junho de 1842 ; Dec. n. 737 de
1850, art. 20).
A execução seguirá as regras geraes, e, portanto, os bens
situados em alheia comarca serão excutidos por precatoria
el.ecu toria.
Junho, 1868.
(*) Actualmente a execução das sentenças civeis ou commer-
VARIAS QlJ-ESTÕES DE DIREITO

Dividas; vencimento por antecipação; dedncção proporcional


1.. O fallecimento do devedor obriga. ao paga-
mento da divida?
2.· Na affirmativa, que abatimento se terá de
fazer na divida não havendo juros?
Resposta
Ao I .· Póde-se reputar vencida por antecipação a divida
pelo fallec.imento do devedor (Vide Ord. 1', til. 88, § li ;
Reg. de 15 de Junho de i859 ; Reg. de 15 de Dezprnbro
de i860), como seria pela fallencia (art. 8:lt, Cod. Com.).
Tal par€ce que é o estylo afim de se liqnirlarem as he-
ranças, e em ollservancia do principio ha31'editas non intel-
legitu,r nisi derluclo I13l'e alieno.
Ao 2.° Não havendo juros, não ba abatimento a fazer
no pri!'cipal da divida; a deducção proporcional ao tempo
qne falta para o vencimento refere-se aos juros; o prin-
cipal deve o credor receber por inteiro (Yide Cons. das
Leis Civ., nota ao art. 36i).
Março, 1870.

Divorcio
1.· Ql1aes são os motivos legaes para se intentar
e conseguir o divorcio perpetuo?
2.° Qual a maneira de provar os motivos, e pe-
rante que autoridade se intenta essa acção?
_.
- _ .. - _ . _ - . _ - - - _ . - - - - - - -- -
ciaes dos Tribunaes estrangflil'os é rp.g"ulada pelo Dec. n. 6982
de 27 de Julho de 1818, referendado pel? distin cto ~onselheiro
Lafayette Rodrigues Pereira. Vide tambem o Decrflto n. 7777
de 27 de Julho de 1880.
A. C.
122 CONSULTAS SOBRE

3.° Quaes são os tribunaes que intervêm na ques-


tão até ultima instancia ?
4.° Póde um dos conjuges oppôr-se ao divorcio
requerido pelo outro, quando este prove os motivos
em vista dos quaes é o divorcio autorisado?
5,° Sendo o adulterio uma das causas legaes
para o divorcio, é mister que tenha elle sido com-
mettido proximamente e subsista o concubinato de
um conjuge na occasião, em que o ontro intente o
divorcio; ou produz os mesmos effeitos o adulterio
commettid o em épocas anterio res (dous ou tres
annos) áquella em que se propõe o divorcio?
6. Dado o divorcio, é ou não consequencia ne-
0

• cessaria e obrigatoria a divisão dos bens, ou póde


a isso oppôr-se um dos conj uges ?
7.° Póde semelhante processo ser susceptivel das
interminaveis chican as que se dão no fôl'o, ou,
provados os motivos, segue regularmente?
Resposta

Ao t As causas legaes, para se intentar e conseguit·


,0

o divorcio perpetuo, ,e achão clara e terminantemente


fixadas no liv . to, tiL. 72, da Constituição do arcebispado
da Bahia. São ellas: to, quando ambos os conjuges pro-
fessio em religi iio approvada; 2°, quando professa a mu-
lher', e o marido loma ordens sacras; 3', quando houver
allulterio de um dos conjnges, ainda que uma só vez,
°
comtanto que outro conjuge não tenha tambem com-
metlido aclullerio, que não tellha haviJo reconciliação entre
elies, nem perdão cio offelldido, nem consentimento ou
c lpa deste para o aclulterio (Van-Espen e outros).
A.o 2.0 A causa do divorcio, sendo por sua natureza
VARIAS UUESTÕES DE DIREITO

meramente espiritual, tem de ser tratada no fôro eccle-


siastico (art. 8 e 324 do Cod. do Proc . Crim.), e
0

portanto, se deve observar a ordem do juizo marcada no


regimento dos auditorios ecclesiasticos, que vem annexo á
Constituição do arcebispado, a qual é com pequenas alte-
rações a mesma ordem que se observa no juizo secular
para os feitos civeis.
A autoridade competente para della tomar conhecimento
é o vigario-geral (liv. 10, til. 74 do art. Consl.). E nos lu-
gares onde não o ha, ou vigario capitular, permitte o refe-
rido regimento que os vigarios da vara tomem conhecimento
do processo unicamente nos primeiros passos; mas uma
pratica antiga e inalterada tem estabelecido que os vigarios
da vara tomem conhecimento até ~entença final exclusive,
remeltendo o processo, quando chegar a este ponto, sem
notas nem observações ao vigario geral do lugar onde o
houver para julgar afinal.
Quanto ás provas, ellas se fazem Oll por testemuBhas
e documentos, ou por qualquer outro genero de prova
recon hecida.
Ao 3.0 Além do juiz, póde intervir nesta questão a Re-
lação ecclesiastica metropolitana da Bahia, que julga em
segunda e ultima in tancia, abolido o recurso á. Legada
(Lei de 27 de Agosto de '(330), e visto não se dar recurso de
revista (art. 90, § 2 da Lei de 3 de Dezembro de -1841).
0

Ao 4.0 Póde um dos conjuges oppôr-se ao divorcio, ainda


que tenha o outro provado o motivo legal, quando elle
tiver alguma excepção que faça elidir a acção ; por exem-
pIo: se allegar e provar que o outro tambem commetteu
adullerio, que consentio ou foi culpado nelle, que perdoou,
que reconciliou, etc.
Ao ti.o Sendo o adulterio motivo legi timo de divorcio,
não é necessario que tellha sido commeltido proximal-uente,
nem que continl1e o concubinato da delinquente na occa-
sião de se intentar a acção ; póde ter sido commettido em
·124 CONSULTAS SOBRE

qualqller tempo anterior, comtanto que o que pretende


divorriar-se lJunca ti vessa cllnsentido, nem dado cau~a a
elie, nem houvesse tambem commelliúo adulterio, per-
doado, etc.
Ao 6.· Julga.clo por sentença o divorcio perpetuo no juizo
eccle~iastico, não tem esta p01' si só errei to a re~peito da
partilha dos bens. Mas sendo consequencia nece",saria e
rigorosa obrigação depois de tal sentença proceder-se a
ella, por ter cessado a sociedaile que os conjuges haviam
formado, deve a partilha ser requerida no fóro secular
commum.
Ao 7.- O processo segue com muito menos delongas, e
está menos sujeito ás interminaveis chicanas .do fóro, prin-
.cipalmente não havendo recurso de revista. Comtudo, não
deixa de estar sujeito ás demoras e mesmo chicanas, que
acompanhão infdizmente qualquer processo, por mais
summario e de menor importancia que seja.
i85L

Dilorcio
Póde validamente determinar-se divorcio perpe-
tuo ou temporario por escriptura publica, ou mesmo
por conciliação no juizo de paz 1
Resposta
Não; a separação dos conjuges para todos os etreitos le-
gaes só póde ser delerminada por sentença em juizlI com-
petente, nem sobre tal objerto é-lhes licito transigir em
tal sentido, quer extra-judicialmente, quer mesmo no juizo
conciliatorio (Av. de 6 de Abril de 1850), ou em outro
qualquer. A isso se oppõe todos os principios da igreja e
as leis. Tal convenção seria um absurdo e uma anar-
chia.
VAIUAS Qm~STÕgS DF. DIREIT(J

D~pr,i!lda sentenca., que declare o divorcio perpetuo,


sim, póde ler lugar a cOllvl 'nçãlJ, mas UlliC:Lilll'nle para o
fim da separação e partilba dos bens, que póde :ser feita
amiga velmente.
Agosto, t853.

Diyorcio; compet~ncia do jUÍlo


(PORTUGAL)

Caso constante de certidão junta a autos de inventario


da finada D. Anna M.lria Ilodrigues, inventariante .João
de Souza Guimarães, i858, provedoria desta côrte, escri-
vão Silva Junior. E' o seguinte:
D. Anna Maria Rodrigues propôz a seu marido Manoel
Caetano Pereira uma acção de divorcio perpetuo por sevi-
cias e adlllterio, no Juizo civel de ViallJla, em Portugal.
O juiz por sentenca de 24 lie Maio de i812 julgou nnHa a
acção por incompetencia dI) juizo, visto entender que
pertencia isto exclusivamente á autoridade ecclesiastica.
Appellou a autora para a RelaC;lo do PLlrto, que por Acc.
de i.\ de Dezembro do me!lmo anno unanimemellte decidio
que o juizo civel era competente para qll~stõe:s de divorcio
perpetuo ou te,nporario, pur não se tratar ahi de materia
puramente espiritual, visto como o vinculo saeramental fi~
cavasubsistindo, e apenas de effeilos civis, qu.aes a separa-
Cão quoad thol'um et clJhabitationem e a partilha dos bens,
decisão de que não houve recurso, e passou em julgado.

Diyorcio; diyidas; alimentoi


L° Todas as divid as contrahidas na constancia
do casamento por communhão se communicão 1
~. o Achando-se a mulher e marido na posse cada
126 CON SULTAS SOBR~:

um deItes de varios bens, tirando a mulher flelles


meios de subsistencia, não ficou ella devedora para
o casal?
3: Poderia a mulher contl'abir dividas e obrigar
com por ellas o marido {
Resposta

Ao LO A regra é que as dividas contl'ahidas na constan-


cia do matrimonio, suj eito ao regimen da commnnhão
(qual a de que se lratél), se communi cão (Al'g. da Ord.,
liv . 4°, til. 95, § 4°; Mello Freire, lJ i?' . Civ. ; Lobão a
Mello; B. Carneiro; Coelho da Roch a; COrls. das leis civis
brasileiras, 2" ed ., al't. 11;> e nota) .
Uma excepção- é se as dividas são conteahielas ou pro-
vêm de :tetos criminosos ou illicitos, porql le enlão pesão
unicamente sobre él meaçã0 do conjuge el evedor, e a mea-
ção do outro é livre (A rg. da Ord. , liv. q., tit. 4.4, § 30;
Ord., liv. 5, tit. 6, § 20; Bocha cil.., § ~47; Cons. cit. ), o
que depende de prova.
Ao 2° e 3. o Segundo a expo ~ ição , marido e mulher fi cá-
rão de facto na posse, administração e usofructo de cerlos
bens, b a mulher tirou dahi seus alimentos. Não ha, pois,
divida.
ElIa poderia por si conlrahil-a, e sómente demandar ao
marido seus alimentos até elIectiva parlilha subsequente
ao divorcio, e com a sentença apresentar-se credora. Nesles
tennos teria privilegio pelos alimentos.
Março, '1874,

Doação; corporação de mão-morta; insinuação reivindicação;


revocação
Devolvidos áFazendaNacional bens sequestrados,
VAlHAS QUESTÕES DE DIREITO 127

porque juizo deve ser proposta a acção de reivin-


dicação?
Quaes as regras a observar Ilas doações feitas
por corporação de mão-morta?
As doações para fim pio são isentas de insi-
nuação?
Resposta

Se os bens sequestrados forão declarados vagos e devolu-


tos á Fazenda, enLendo bem proposta no juizo dos feitos a
acção para reivindicaI-os (Lei ele 29 de Novembro de 1841 ,
art. 2°; Reg. de i5 de Jnnho de 1859, art. 52).
A doação, embora feita á corporação de mão-morta, e
mesmo para fim pio, póde ser julgada nulla se não fôr)n-
sinuada, excedendo a taxa legal (360$ por varão e 1808
por mulller), ex vi da Ord., liv. 4°, til. oll,combinadacom
o Alv. de 16 de Setembro de ·18i4.; Alv. de 25 de Janeiro
de 117'5; Lei de 22 de Setembro de 1828, art. 2" § t.. °
As doações á corporação ele mão-morta não são expres-
samente ex.ceptuadas dessa formalidade, reputada, em re-
gra, sub~tancial. Nem tal formalidade se refere sómen Le ás
doações entre pal'liculares, em face do direito e dos Avs.
n. 5·18 de 1861, n. 337 ele 1866, que eleclarão a eila su-
jeitas as doações ás municipalidades, provincias e á propria
Fazenda Nacional.
Se as doações para fim pio o são, é grave questão, como
se lê no Rep. das Ord., v. doaçao qu.e passar, nota a, limi-
tação 4'; Lobão, Fascic. de dissB1't. i", §§ 7 a H.
Em reforço do pedido poderia. additar-se o fundamenLo
de s'e não cumprir o fim, modo, clausula ou condição da
doação, nos termos da Ol'd., liv. 4°, tit: 93, § 5.·
A sente(Jç;1., visto ser a acção real, é exeqnivel conLra
quem quer q ae seja o possuirIor ou deten Lor, se houver alie-
nação posterior á li tis-contestação (Ord., liv. 3·, tit. 86,
CONSULTAS SOBRE .

§ 1.6; liv. 4°, tit. to, § 9°; Pareira e Souza, ProG. Civ.,
nota 786).
Todavia podeuia o autor requerer a providencia daOrd.,
liv. 3°, tit. 3i, pr., isto é, o deposito da co usa demandada
até a decisão da demanda.
Novembro, 4870.

Doação «causa mortis;}) testemunhas


Qual o numero de testemunhas exigível nas doa-
ções causa mortis?
Resposta
E' verdade que o direito romano exige o numero de
cinco testemunhas nas escripturas de doações causa m01'-
tis, e o ensinão os civil istas (C. da Rocha, § 7ô3 ; Oons.
das leis civis, nota ao § 2° do art. 4H).
Mas, praticamente, não se observa como substancial tal
numero, e portanto não se tem por nullidade se apenas
forem duas na fórma geral.
Todavia é mais prudente que se preencha aquelle nu-
mero.
Novembro, 1869.

Doação; collação
A doação feita a um filho deve ser trazida por
inteiro á collação se elle quer entrar á herança, ou
só na metade?
Resposta
Sendo os bens communs deve ser deduzida por inteiro,
se a doação foi feita só pelo pai ou mãi, e apenas na me-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO l29

tade se pelo pai e mãi conjunctamente, e qualquer delles


sobrevive, segundo a mais geral interpretação da Ord.,
liv. 4°, til. 97 pr. e § 1° (Diq. Rms.; Pereira e Souza,
Proc. Civ., nota W?H in fine; Coelho da Rocha, Di1'.Civ.,
§ 480 in fine; C0rrêa Telles, Dig . Port., voI. 2°,
art . H06).
Devo. porém, notar que algcms praxistas não fazem
aquella distincção (Gou \'êa Pinto, Testam., nota 174.).

Doação materna; segundas nupcias


1. ° Póde a mãi faz er doação a seus filbos?
2: Que recurso ~est:l aos que se julgarem lesados
por taes doações?
Resposta
Ao l.0 Não ha lei que prohiba dar a mãi aos filhos al-
guma cousa pOI' adiantamento de legitima, senão que ex-
pressamente o penuilte a Ortl , liv. 4, tit. 97. Nem obsta a
prohibição de alhear imposta pela Ord , liv. 4°, tit. lOD,
porque se deve entendeI' quanto a teL'ceiros em prejuizo dos
descendentes, a quem a lei assim protege e favorece.
Ao 2.0 Os herdeiros poderião requerer que sua mãi ou
o marido peestem fian ça aos moveis e dinheiro compL'ehen-
dido~ nas duas terças partes inali enaveis, e que se faça in-
ventario para constar quaes os bens sujeitos á prohibição
da cit. Ord. (Al'g. daOrd., liv. 4.0, tit. 9i, § 3°; B. Carneiro,
Dir. Civ.,iiv. iO,tit 17,§H58,n.3e4).
Fevereiro, i86L

Doação por escripto particular; insinuação; direitos della


A falta de escl'iptura induz nullidade de urna doa-
9.
1ao CONSULTAS SOBRE

ção que não obstante ' foi insinuada e julgada por


J

sentença?
Qual o recurso legal para reparar a nullidade ?
Resposta
Apezar da insinuação, entendo nuUa a doação; porque a
escriptura é ahi da substancia do contrato, e não póde
ser supprida ainda por confissão da parte (Ord., liv. 4.,
tit. 1.9 ; Dec. n. 737 de 1.850, art. 1.59).
A propria sentença de insinuação é nulla por não dever
ter sido proferida sem que se juntasse a escriptura. O meio
legal e seguro de remediar é fazer a escriptura de doação
e ratificar a insinuação.
Ratificada esta, se fôr no mesmo processo e sem alte-
ração de bens ou de seu valor, parece-me que não ha lugar
a pagar de novo os direitos á fazenda por já o terem sido.
Se, porém, forem exigidos e pagar de novo, póde a parte
requerer a restituição dos que anteriormente pagára, por-
que a nullidade é intuitiva e de pleno direito.
Fevereiro, 1.870.

Doação ; collação de filhos das escravas; testamento

F., mulher menor de cincoenta annos, viuva, com filhos,


passou a segundas nupcias e teve filhos. Com este segundo
marido havia estipulado exclusão da communhão, e' ter
elle direito só a duas partes da terça. Divorciou-se, porém,
e deu-lhe mais do que lhe pertencia pelo contrato. F. fez
doação aos filhos, e em poder destes as escravas tiverão
filhos. Falleceu F., com testamento, em que dispôz da
terça em legados, liberdades, etc.
Pergunta-se
1.0 E' valido o testamento mesmo na terça?
vARIAS QUESTÕES DE DIREITO i3i

2.° São validas as doações { E quanto aos filhos


das escravas?
Resposta

Ao Lo E' valido o testamento, não excedendo á terça


(Ord., liv. 4°, tit. 82).
Nem obsta o divorcio e partilha; porque a Ord., liv. 4,
tit. 10;5, só é applicavel á mulher maior de cincoenta annos
que tem filhos do primeiro matrimonio; e portanto em
vida podia dispôr como lhe parecesse.
Ao 2.° São validas as doações (Ord., liv. 4, tit. 47), e
devem entrar em collação no valor que actualmente tenhão
os bens (§ i;5).
Quanto ás crias, não devem entrar em:collação ; porque,
havendo-se transferido pela doação o domínio pleno, e
tanto que o objectose póde alhear (cit., Ord. § i4 e outros),
são do donatario os fructos, renovos e crias, como prove-
nientes de sua pl'Opriedade (§ 37 Inst. de reI'. diviso e
outras leis), pela razão de que partus ventrem sequitur.
sendo que não é tal donatario mero usufructuario, nem
obsta que elle, quando queira entrar na herança com os
outros, traga á l;ollação o que recebeu, porque não traz
senão a cousa ou o seu valor, e o producto só da morte
do doador em diante (cit. Ord. pro e §§). C")
Fevereiro, i8;56.

(') O Dr. Caetano Alberto Soares, respondendo a esta


mesma proposta, nesta ultima parte seguiu opinião inteira-
mente opposta ; porque, disse elle, não sendo fructo& as crias
dos escravos (§ 37 Inst. cit. liv. Dig. de petit heraJdit) e de-
vendo seguir os filhos as condições das mãis (L. 5, § '.2 ; L. 24,
Dig. de s/al homin; Dig. de Decurion) , parece consequente que
devão com estes ser os filhos trazidos á collação
CONSULTAS SOBRE

Doação; terça; collação


Quando hou verem doações obrigadas á collação
accrescem eIlas tambem a beneficio da terça em favor
do herdeiro desta?
Resposta
Sendo a herança o patrimonio do defunto ao tempo de
sua morte, a terça é por via de regra deduzida sómente
desse patrimonio. E, pois, n.s doações sujei tas á coUação não
a augmentão (Lobão, Acç. Sumo Supp. Dis. 6": Pereira de
Carvalho, Proc. Orph., § 64, e nota 121.; Corrêa TeUes. Acç.
§, nota 283 ; Coelho da Rocha, Dit'. Civ. § 3rsO ; e outros
DO.) ; a collação tem por fim unicamente a igualdade da
partilha, a resalva das legitimas dos filhos e descendentes
(Ord., liv. 4., tit 97; cito Carvalho, § 57, nota tiO).
A propria terça está obrigada a perfazer as doaç.ões refe-
ridas (Ord., liv. 4., tit. 97, § 30), de modo que póde não
haver terça disponivel.
Mas isto se deve entender quando a doação foi insi-
nuada ; porque, se não foi, subsiste sómente como tal no
excesso da legitima até a taxa da lei (Ord., liv. 4., til. 62,
triplicada pelo Alv. de 1.6 de Setembro de 181.4.), sendo
nulla no excesso dessa taxa (cit. LL. e Alv. de 2i de
Julho de i 797), caso em qlle este excesso accresce tambem
em beneficio da terç.a (pereira de Carvalho cit., § 64. e
nota i22).
Novembro, i857.

Documentos; entrega deIles


Em que casos podem ser entregues documentos
juntos a autos?
Não podendo ser entregues qual o meio de os
obter?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 133

Resposta
E' a regra que não se entregão documentos juntos a
autos, emquanto pendentes, salvo quando os autos são de
acções meramente preparatorias, e os documentos originaes
com que se deve instruir a acção principal.
Dos autos findos, sim, e tão sómente quando são neces-
sarios para instaurar-se qualquer acção (Av. n. 6i de 6
de Março e n. 85 de 2 de Abril de i84.9).
O remedio é pedir certidão; porque,extrahida competen-
temente do original, prova, em regra, como este (Pereira e
Souza, Prac. Civ. , § 215, n. 2, e nota 4.60). E caso tenha
duvida, suppre-se pelo exame no original (cit. Souza,
nota 4.66 in fine).
Aquena prohibição me parece ainda mais procedente se
pender appellação, por não poder o juiz innovar causa
alguma no processo e serem indispensaveis no juizo su-
perior.
Junho, 1858.

Dominio util; avaliação


Qual a regra a seguir na avaliação do dominio
u til?
:Parecer
Versando a questão sobre o dominio ulil e bcmfeitorias
existentes ao terreno aforado, é a regra ensinada. pelos
praxistas (Pereira e Souza, Prac. Civ ., notas 836 e 102i ;
Pereira de Carvalho, Prac. Orph., nota i25) que o do-
minio util se computa avalianl]o-se os pl'edios como livres,
deduzindo-se villte annos de pensões e um laudemio ; O
restante é o valor do dominio util C').
n Lobão Exec. diz i'el'em tres laudemios (V. § 326 e seguin-
tes).
i3~ CONSULTAS SOBRE

Devem entrar, no meu entender, as bemfeitorias, inclu-


sive as casa~; porque tudo se comprehende no dominio
utiJ.
Outubro, i861..

Dominio util; prescripção acquisitiva


1.0 O individuo que está na posse continua de
um terreno de aforamento por mais de dez annos
póde invocar a prescripção acquisitiva ?
2 .° Póde o verdadeiro dono do terreno, quando
vencedor em acção de reivindicação, transformar o
aforamento em arrendamento?
Resposta
Ao LO A prescripção é modo legitimo (por direito civil)
de adquirir propriedade, desde que acceclão titulo habil de
transmissão ou acqu isição, passe não interrompida, pelo
tempo legal, e boa fé (Ord., liv. 30, tiL 4,0, § 3° ; liv. ~o,
tit. 3, § l° e outros: Mello Freire, Dir. Oiv ., liv., 3°,
tit. ~o; C. da Rocha, Dir-. Civ., § ~54 a ~64, ; Cons. das Leis
Oiv. Braz., nota 1319 e seguintes) applicavel, portanto,
á acquisição, quer do dominio pleno, quer do menos
pleno, qual seja o dominio direclo e o util (Vide Lobão,
Dir. Emphyt., § HO e seguintes) .
No caso figurado entendo, que aquelle que houve por
aforamento O terreno, embora de quem hoje se pl'Ova não
Esta opinião constitue hoje regra para avaliação do dominio
util (Vid e Reg. d e 2'1 de Abril de 1869, art. 7, § 3, R eg. de 31
de Março de 18'/4 art . 25, § 4). Comquanto o Dr. Perdigão não
houvess e collaborado em n enhum delles como succedeu com
varios outros, é certo haver sido o trablllho dos commissarios
encarregados de organisa-Ios submettido á sua esclarecida
apreciação . A. C.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO .f35

ser O verdadeiro dono, em boa fé, e delle tem estado na


posse continua por espaço mnior de clez, vinte e mesmo
trinta annos, pó de soccorrer-se da prescripção acqulsitin
do seu dominio util (Lobão cit., § H6).
Ao 2.° Sendo assim, é manifesto que não póde o verda-
°
deiro dono, quando vença a reivindicação contra supposto
senhor directo, transformar em arrendamento o aforamento
referido nem obliterar a pensão. A consequencia será só-
mente mudar o foreiro de senhorio directo (Lobão cit.,
§ H6).
Poderia, porém, usar da accão de commisso, se o foreiro
neste houver incorrido na fórma da lei, bem como dos
outros seus direitos dominicaes.
Está entendido que fica livre novo accôrdo voluntario
entre ambos,
Abril, 1875.

Dote; hypotheca ; preferencia; vencimento antecipado

i. o A mulher credora por dote prefere ao credor


de bens vendidos ao marido, e ainda não pagos no
caso de fallencia ou insolvabilidade?
2. ° Em que época póde o credor de hypotheca
exigir o pagamento da mesma, dado o caso do fal-
lecimento do devedor?

Resposta
Ao L° Pelo seu dote a mulher tem hypotheca legal nos
bens do marido, quer pela legislação anterior (Lei de 20 de
Junho de 1774, § 40), quer pela actual (Lei ll. 1237
de {864, art. 2°, § 10; art. 3°, S 10 e 11 : art. 9: Reg.
ll. 3í4{ de i865, arl. 118 e {23), e vale contra terceiros,
..
i36 CONSULTAS SOBRE

ainda que não seja registraàa (Lei eit. de '18M, art. 9°; Reg.
eit., art. 123), sendo de notaI' que as anteriores á execução
da lei nem ao registro offieial são sujeitas (Reg. eit.,
art. 319), e valem como valião antes della (Reg.,
art. 317). '
Assim , pois, os bens posteriormente adquiridos pelo ma-
rido estão comprehendidos e sujeitos á referida hypotheca
legal da mulher. O vendedor, embora credor do preço, é
apenas hypothecario convencian:1l se estipulou hypotheca a
seu favor, visto a Lei cito de iSn, art. :3°, que lhe não clá
hypotheca legal. ConseguintemenLe, se o marido não tem
outros bens por onde a mulher se pague senão esses com-
prados e ainda não pagos, terá ella de pagar-se por elies
como credora de hypotheca legal peln dole, dado o caso de
fallencia ou insolvabilidade, como então se daria (Reg.,
art. 250, § 5°). preferindo ao credor do preço se (como se
verifica) o seu privilegio é ante?'ior, manLido pela dita lei e
seu Reg., e ainda que fosse sujeito ao regimen actual (Lei,
art. 2°, -§ 9° elO; Reg., art. '115), prioridade primada
pela data de casamento destle a qu::tl existe a hypothe~a
(Lei, art. 2°, § 9; art. 30, § 10; art. 9", 2' parte: Reg.
cit., art. H6, § 1°).
Ao 2.° Em regra, o termo ou prazo convencionado para
cumprimento de uma obl'igação aproveita aos herdeil'Os
que sllccedem nos direitos e obrigações. Ma , assim como
em vida elo devedor se lhe pó de exigir, por excepção, o
pagamento antes do vencimento, assim t:tmbem, e por
maioria ele raz5:o, se elle vem a fallecer. Desde q:le, por-
tanto, se dê a fallenda ou insolvabiliclade, ou se falte a
algmn dos pagamentos (da divida hypothecaria) , ou os
bens hypothe[;ados soffrãn deteri oração, póde o credor de-
mandar, reputando-se por este fim e [lor taes motivos ven-
cida a obrigação (Cod. Civ. Fr., art 1188; Pothier, Obrig o
n. 234., 235; Lei cit. de '1864, art. 128, 130, ~UiO, § 50
e6 0
).
VAIUAS QUESTÕES DE DIREITO 137

No entanto, quer administrativamente nos inventarios,


quer contenciosamente fóra delles, tem-se admlttido reque-
rerem credores o seu pagamento, reputando-se remidas as
di vidas pelo supervenien te falleci men to do devedor. pelo
principio de que só constitue herança propriamente dita o
que fica, pagas as dividas.
Setembro, 1867.

Dote; privilegios da mulher; caução de acções desta


1.° E' valido o penhor de acções de um banco
que constituião dota da mulher feito pelo marido?
2.° Póde a falta de registro do contrato ante-
nupcial prejudicar a mulher?
Resposta
O regimen estipulado no contrato anLenupcial de que
se trata é dotal. Assim, que:
Ao 1.0 As acções de .bancos, dadas em penhor pelo ma-
rido, e no entanto pertencentes á mulher como parte de
seus bens dotaes, são inalienaveis.
O penhor deve, pois, ter-se por nuUo, sem embargo da
transferencia ao marido ou consentimento da mulher ad
instar da hypotheca (Ord . , liv. ~, til. ~5 ; Ord. do com.,
art. 268).
Demais, a transacção feita (haver o marido por empres-
timo dinheiro, dando em caução as acções referidas depois
de as haver trallsferido do nome de sua mulher para o seu)
importa de fa cto constituir-se a mulher fiadora do marido,
sujeitando os seus bens dotaes, o que em regra não a
obriga (Ord., liv. ~, tiL. 60 e 61).
Poderia ella, portanto, oppôr-se como terceira á excus-
são desses bens.
Ao 2. A falta de registro dessa escriptura antenupcial
0
138 CONSULTAS SOBRE

no Tribunal do Commercio parece que não prejudica a mu-


lher, porque quando o marido se fez commerciante no Im-
perio já ella era casada, termos ~em que se tem entendido
sa.lvo o dominio (Arg. do art. 674, § 6 do Cod. Crim.;
art. 620, § 6 do Reg. n. 737 de 18~0; Dr. Orlando ao Cod.,
art. nota 1368).
Outubro, i873.

Droguista; matricula ; restricções


Quaes as obrigações a que estão em geral sujeitos
os droguistas ?
Resposta
Em virtude do disposto no Dec. n. 828 de ~8 de Setem-
bro de 18~1, art. ~1, os droguistas são obrigados a parti-
cipar ás autoridades sanitar.ias (na côrte e Rio de Janeiro
á junta central de hygiene) o lugar em que vendem, quaes
as drogas, e a matricular-se, sem o que ficam sujeitos a
multas e até a fechar-se a casa. Não podem vender drogas
ou medicamentos por peso medicinal, nem medicamentos
compo~tos, chamados officinaes (art. 67). E estão sujeitos
a outras obrigações e restricções.
Abril, 1875.

Emancipação de menores; casamento; dissolução deste; inventario;


JUIZO

Lo E' competente o JUIZ de orphãos para o in-


ventario em que é interessado menor casado?
2. O facto da dissolução do casamento antes de
0

haver o menor attingido a idade de vinte annos


o faz voltar á menoridade?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 139

Resposta
O casamento importa a emancipação do filho, do orphão
e do menor, segundo a Ord., Iiv. 1", tit. 88, §§ 6, ~9, 28
e outros, ficando elle, portanto, isento do patrio poder da
tutela e da curatella (Vide Pereira de Carvalho, Proc.
Orph., § 124 e nota, § 164 a 172 e notas). E, pois, entra
logo no gozo dos seus direitos civis, salvas as restric-
çõos que as leis civeis e commerciaes tem estatuido quanto
a certos actos, para os quaes exige certa idade, ou dis-
pensa della, ou licença, para ser havido por maior e
no gozo pleno de todos os seus direitos, e salva tambem
a resLituição quando fôr leso, como tudo se vê e depre-
hende das cit. Ord. da do liv. 3, tit. 42 e outras,e do
Cod. de Com. Em termos taes, parece-me:
I.' Que já não é o juiz de orphãos o competente para
o inventario, excepto se o menor casar sem sua licença e
tem menos de vinte annos, visto o direito que tem o mesmo
juiz de lhe negar a entrega dos bens, segundo a Ord.,
liv. i', til. 88, §§ 19 e 28.
2.' Que, se o casamento se dissolve antes dos vinte annos,
não recahe elle em minoridade. A opinião em contrario
de B. Carneiro, liv. I', § 258, n. ~6,é combatida por outros
civilistas (V. Lobão, Notas a Mello, liv. 2', tit. H, § 6,
n.3).
Julho, 1867.

Embargo em derrubadas; attentado ; perpetuo ou purgavel

Pedro traz em juizo acção de reivindicação contra Paulo.


Este principia a fazer uma derrubada nesse terreno, e
Pedro intenta contra eUe uma acção de nunciação.
Não obstante o embargo na derrubada e o offerecimento
dos artigos, Paulo continúa com a derrubada, e Pedro vem
com os artigos de attentado.
HO CONSULTAS SOBRE

Pergunta-se
i. o E' verdadeira a pratica refflrida pelo autor
do Advogado do Povo, e tem a acção de nunciação
de nova obra applicação ás derrubad as ?
2: No caso negativo, qual o meio de impedir-se
o estrago do terreno por meio das derrubadas, visto
que não é sufficiente a notificação para não fazer
bem feitorias, sob pena de perdêl-as, porquanto as
derrubadas, longe de serem bemfeitorias, são ver-
dadeiros prejuizos e méra devastação quando a.ban-
donada::. e não plantadas a tempo?
3. ° No caso apresentado, como se purga o atten-
tado, não sendo possivel reviver as matas? Dever-
se-ha considerar o attentado perpetuo para o fim
de não poder mais o réo ser ouvido em sua defesa
na ca.usa principal, que póde ser continuada pelo
autor?
Resposta
Ao LO Que a nunciação se applique tambem aos predios
e servidões rusticas, e não sómente ás urbanas, é doutrina
fundada (Lobão, Interdict., § i26 e seguintes, t3/i e 435 ;
Corrêa Telles, Acç., nota 459; Coelho da Rocha, Dir. Civ.,
§ 60;)). E por isso é sustentavel a üpinião ou pratica refe-
riJa, tanto mais quanto pOl' esse meio se trata de obviar
a um damno em relação ao proprietario que reivindica o
terreno (cit. Corrêa Telles, nota 4.4.6).
Ao 2.° Quando assim se não pensasse, haveria o meio
do inlercUcto prohibitori'J, comminando-se pena (cit. C.
Telles, § 200 e seguintes), acompanhando-a logo (se quizer)
de protestQ pelos prejuizos.
EIl todo o caSú, restaria sempre a acção ordinaria para
VAfHAS QUESTÕES DE DIREITO

indemnisação dos damnos causados, principalmente de-


pois desse protesto e interdicto ou sómenle do protesto.
Ao 3." Provado o attentado, ficaria incllrso na pena
comminada, que lhe será imposta por haver transgredido
o preceito judicial (Ord., li v. i", til.. 68, § 23), sendo que
no caso vertente não seria absolutamente purgavel o atlen-
tado, visto a impossibilidade de se restituírem as cousas
ao antigo estado.
Mas parece-me que niio haveria ahi razão bastante para
excluir o réo de se defender na causa principal de reivin-
dicação, nem mesmo na de embargo ou outra semelhante,
como se deprehende meSITio da cit. Ord., liv. 'ia, tit. 68
§ 23, e liv. 3·, trt. i8, § 4.", por isso que, quando a lei
exige que tudo se restitua ao estado anterior ao attentado
para se tomar cODhecimento da causa principal, suppõe
possível essa restituiçiio. Sendo, portanto, ina.pplicavel no
caso de impossibilidade, e tendo aqui lugar sómente a
pena, além da obrigação de indemnisar á parte o prejuizo
e damno, para () que lhe fica sempre direito salvo.
Agosto, i855.

Embargo; penhora; hyputheca ; acquisições ; registros; terceiro;


L" A conversão do embargo em penhora dispensa
a mesma penhora e os termos subsequentes ?
2." Em que sentido :;e deve tomar o terceiro de
que falia o art. 8 da Lei de 24 de Setembro
de 1864?
Resposta

Ao i.· Entendo que, se o embargo se resolve pela penhora


(Reg. Com., art. 34.0), não quer isto dizer que se dispense a
penhora e a assignação dos seis dias ao executado.
t42 CONSULTAS SOBRE

A penhora só é dispensada no caso unico do art. 509.


EUa é acto substancial; a sua falta importa nullidade
(art: 6n a 674). ,
Os seis dias são o prazo legal para defesa não só do exe-
cutado, mas de terceiro (arl. 532, ü75, 596) .
Ao 2.0 E' minha opinião que o terceiro, a que se refere
o art. 8·, da Lei. da Ref. Hypot. de 1864, rlão é todo e
qualquer, e sim aquell e que tenha um direito real, ou uma
hypotheca, seja est1 legal, convencional ou judicial como
cOllsequencia do direito de sequella inherente á hypotheca
devidamente constituida e registrada,
Esse mesmo artigo da lei refere-se ao bens suscepliveis
de hypotheca, e etIuipara os effeitos da tl'ansmissão ou
registro da transmissão aos da dos onus reaes Ora, o
art. 6, § 1·, 2· e 6·, só fazem mensão dos credores hypo-
thecarios. O art. -lO, § 1·,não deixa duvida, quando define
os effeitos da hypotheca.
O proprio art. 8·, § 4.., ainda o confirma, quando deixa
salvo a quem pertencer o dominio, não obstante a trans-
cripção. O Reg. de 1865, arl. 256 e seguintes, igualmente
concorre para essa intelligencia. E com e:ffeito a lei teve
por fim especial a refor!ua do systema hypothecario, para
cuja maior segurança introduzio a transcripção no intuito
de evitar quanto possivel nella acções de terceiros, que
trouxessem embaraços aos credores hypothecarios,ou fizes-
sem mesmo desapparecer o objecto da hypotheca, trans-
cripção ou registro que ao mesmo tempo garantisse os
acquirentes nos termos da dita lei, e devesse concorrer
para ca~aslrar a propriedade immovel,e assim firmar nessa
base mais segura o systema hypothecario e o credito pre-
dial. •
Junho, 1868.
. I
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO H3

Embargos
A acção decendiaria por letra de cambio ou de
terra se podem oppõr só os embargos de que trata a
art 250 do Reg.n. 737 de 25 de Novembro de 1850?
Resposta

E' questão importante, eque a Relação da côrte decidio


affirmativamente em Acc. de IBM em uma causa, entre
partes, Joaquim Gonçalves Moreira e João José Ferreira Reis,
pelo juizo municipal da segunda vara escrivão Gurgel do
Amaral.
Mas eu sou de opinião inteiramente opposta :
t. ° Porque póde haver materia attendivel e de relevante
defesa, que não simplesmente a que se comprehende no
art. cito 21>0, e que serve de contestação á acção, não
havendo em tal causa outm meio de dedllzil-as enão por
embargos,na fôrma do art. 249 do cit. Reg. que, não fez
senão reproduzir o disposto na Ord., liv. 3°, tit. 25, e mais
leis relativas.
2.· Porque só as excepções de suspeição e incompetencia
do juiz suspendem a assignação dos dez dias (art. 21>3 do
cito Reg.), e, por isso, tudo o mais é materia de defesa
que dnve ser deduzida por embargos, embora tenha o ca-
racter de excepção propriamente dita (art. 249 e excepção
e defesa, etc.).
3.° Porque os embargos de que trata o cito art. 21>0
são os que se podem OppÔl' á let1'a , podendo haver ma-
teria de defesa que se opponha, não á letra (N. B.), mas á
acção, ás pessoas,ao juizo, etc., e que no entanto não deve
ser tolhida, e nem o é por lei alguma .
E com efIeito: póde a acção ser nulla por incompetencia
da mesma, por exemplo, quando usa della uma parte a
quem a lei de nega o remedio summario e especial da acção
decendiaria (art. 267, cito Reg.; Ord., liv. 3°, tit. 25,
14,4 CONSULTAS SOBRE

§ ultimo). E' materia legal de defesa e que tem de ser


provada dentro dos dez dias para evitar a condemnação.
Como deduzil-a senão por embargos dentro desse prazo?
Sobretudo á vista do art. 7", do Reg. cit., que não admitte
outra excepção nas causas commerciaes senão as que ahi
se especificão ; e do art. 75, que manda que todas ou mais
excepções sejão deduzidas na contestação? E mais ainda á
vista do art. 249, que manda deduzir por embargos toda
a defesa e excepções ; e do art. 253, que só ás excepções de
suspeição e incompetencia do juizo dá o elfeito de suspen-
der a assignação dos dez dias, e por isso o caracter proprio
de eJ.'Cepção ?
Póde, tambem, ser incompetente e illegitima a parte, ou
pal'a pedir, ou para pagar. Como evitar a condemnação,
se se deduzir esta materia por excepção, quando pelo
art. 253 elia não suspenderia a assignação dos dez dias,
e quando o art. 24,9 expressamente ordena que seja dedu-
zida por embargos nos dez dias toda a defesa e excepção
que tiver a parte, estabelecendo, assim, uma marcha es-
pecial , com que não se compadece a marcha geralmente
determinada para o processo das excepções ?
No entanto, na causa su pra referida, havendo-se dentro
dos dez dias deduzido pOl' embargos, e provado que o A.
era pessoa illegitima para pedir, e que além disso era
incompelente a acção por não ser elIe parte contratante na
letra, etc., deu a Relação provimento ao aggravado no
aggravo por elle interposto, e ordenou que fosse in limine
desprezados os embargos,porque sua materia devia ter sido
deduzida por excepção, visto como não era da que se
contém 'no cil. art. 250 para se deduzir por embargos I
E' evidente o absurdo de semelhante decisão. Felizmente
contra ella tambem são juizes e advogados com quem tenho
conversado a este respeito.
1.851.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO t45

Empreitada; camara municipal


1.0 Qual a acção que deve propôr um emprel-
teii,o da camara municipal a respeito de sua em-
preitada ? Por que juizo deve ella ser processada?
2.° Na execução póde seguir-se os termos ordi-
narios do processo?
Resposta
Ao i." A acção a propôr peloemprezario me parece que
deve ser a ordinaria, e no juizo civel. A empreitada (de
que se falla) não é mercantiI, porque não tem 11m fim
commercial; não póde, portanto, comprehender-se nas
disposições do tit. 10 do Cod. Com. Braz. para serem as
questões respectivas decididas no juizo arbitral necessario,
segundo o art. 245, tanto mais quanto essas questões
versarião, no fundo, sobre bens de raiz, excluidas, por via
de regl'a da competencia commercial (Reg. 737 de 1850,
art. 13).
Assim me parece dever ser entendido o cito Cod., tit. un.,
art. 19, § 3°, como aliás já se tem julgado, embora vaciL-
Iem ainda as opiniões e a jurisprudencia.
Menos ~ompetente seria o juizo dos feitos, porque este
é privativo e improrogavel (Lei de 29 de Novembro
de 1841, art. 10, § 4.), e não ha lei que tenha dado ás ca-
maras municipaes fôro privilegiado,
Ao 2.° A execução, porém, da sentença contra a camara
não póde ser tratada na fórma ordinaria por penhora, etc.,
e só em fórma administrativa (Av. de 28 de Janeiro
de i860). As camaras não têm livre disposição de seus pa-
trimonios ou bens (Consol. das Leis Civ., art. r586, § 2;
Dl'. Ribas, Di?'. Civ., e leis e disposições ahi citadas) .
Abril, i865.
14.6 CONSULTAS SOBRE

Empreitadas; obras; indemnisa~ão

Assiste direito ao empreiteiro para. pedir indemni-


sação de prejuizos que houver experimentado na
execução da empreitada?
Resposta
E' meu pal'ecer qne o empreiteiro póde pedir indemni-
sacão dos prej uizos que ch sl l ~pensão da obra em execução
ou da rescisã do cnntrat) lhe pro \'ell lJã:o , não só em
face do direito civil (CoLl . Civ. Fr., art. 17~:I4.) e commer-
(lal ;Cod Com. Braz., art. 236 e 237), mas do proprio di-
r· ito fiscal, ainda que por equidade (Lei de 22 de Dezem-
bro dú 1761, tiL. 2, §~ 34. e 3~).
A indemni sação é variavel e depende das causas que a
moti\'em (V. Coelno da Rocba, Di?'. Civ., § 853).
Julho, 1868.

Escravo; indemnisação pelo senhor; liberdade


Quem paga as custas a que tiver sido condem-
nado o escravo? E as despezas de carceragem e
alimentos?
E se o escravo fór libertado pelo senhor?
Resposta
Emquanto o escravo se conserva tal, paga por elle as
custas criminaes e a indemnisação do damno causado até
onde chegar o seu valor, o senhor ou dono (art. 28, § 1 do
Cod. Cdm.). Assim como tambem deve este pagar as eles-
pezas de carceragem e os alimentos, eXI~epto se o senhor
fór pessoa tão pobre que absolutamente não possa satisfa-
zer essas elespezas, caso em que a cadêa fornecerá, nos ter-
mos dos arts. IM e 157 do Reg. de 31 de Janeiro de 1842,
VAlUAS QUESTÕES DE DIREITO :1.47

se outl'a cousa não estiver determinada no Regul. interno


da prisão (art. 146 e 147 do cito Reg.).
Caso, porém, o escravo seja Iiberté..do pelo senhor, até a
data da concessão da liberdade responde o senhor, e dahi
por diante seguir-se-ha o que está determinado para as
pessoas livres.
Deve-se, comtudo, notar que o escravo por ter praticado
um crime, e ser entregue pelo senhor á justiça, não fica
por isso li Vl'e: é preciso LIa parte do senhor declaração so-
lemne, por onde se prove que elle desiste de todo o domi-
nio que tillha e o restitue á liberdade.
Julho, 18~4.

Escravo; serviços condicionaes de libertos ; indemnisação por


terceiro; acções; competencia; crime
i. ° O individuo, a quemJorão subrogados os ser-
viços de um escravo libertado condicionalmente, tem
direito de exigir iodemnisação d'aquclles que dos
mesmos se tem utilisado?
2.° Com mette crime quem se aproyeita de taes
serviços?
3.° Que direitos tem o legatario desses serviços 1
4.0 Podem elIes ser transferidos?
Resposta.
Ao LO Pertencendo a J. os serviços do escravo libertado
condicionalmente, entendo que lem eUe o direito de pedir
a quem do mesmo se tem servido, sabendo disso, a res-
pectiva indemnisação. E' direito seu que deve ser r~s­
peitado.
Se a reclamação é superior a 100~, é da competencia do
juiz municipal ou de direito, na fórma da Lei de 20 de Se-
148 CONSULTAS SOBRE

tembro de 187-1 e seu Reg. Se até essa quantia, do juiz


de paz (id.).
Ao 2.° Rigorosamente, não ha ahi crime, por não se
tratar ele propriedade; o liberto, embora condicionalmente,
já não é escra vo.
Ha apenas violação de seu direito na esphera civil, que
se resolve em ioc1emnisação.
Ao 3.° J. tem acção contra o liberto para coagil-o a
prestar os serviços ou cumprir a obrigação (Reg. de 13 de
Novembro ele 187'2, art. 6:.:1).
Ao 4.° São intransferiveis taes serviços, mas póde elle
ser alugado (Reg., art. 91).
Abril, 187f>.

Escravos; condomínio; liberdade; peculio; serviços; matricula


L° O condomino que deixou de matricular o es-
cravo na sua quota parte perde o direito ao mesmo?
2. ° Livre nessa parte, o que sLlccede em relação
ao todo? .
3.° Como se deve considerar a quantia que ()
escravo tem em poder do senhol'?
Resposta
Ao L° Quanto ao condomino que deixou de matricular
o escravo na sua quota parte, entendo que perdeu o di-
reiLo, ficando nessa parte livre o escravo (Arg. da Lei de 28
de Set~mbro ele 1871, art. 8°, § 2° ; e Reg . respectivo).
Ao 2.° Senuo o escravo pertencente a conelominos, e
havendo ficado livre em parte como dito é, dá-se o caso de
se eleveI' reputar livre no todo, indemnisando aos Outl'OS
condominos com dinheiro ou com serviços não excedentes
aseLeannos (Lei cit., art. 4°, § 4; Reg. de 13 de Novembro
de 1872, art. 62).
VAlHAS QUESTÕES DE DIREITO

Ao 3.° A quantia S é peculio desse escravo, e já em


mão do senhor (Lei cit., art. 4.°; Reg. cit., art. 48 e se-
guintes).
Deve ser reputada em pagamento da quota respectiva
(Reg. ci t., art. 49), pagando com servíços o que porven-
tura possa faltar, segundo o a?'bitramento ou avaliação
judicial, em falta de accÔTdo (neg. cit., art. 49, 02, 06
e 62).
Abril, 1870.

Escravos' em fidei·commisso ; filhos


Qual o destino dos filhos das escravas constantes
de um fidei-commisso? Pertencem ao fiduciario ou
ao fideí-commissario?
Resposta
O testador prohibio terminantemente a venda. ou alie-
naç.ão, por qualquer titulo, dos bens que legou aos indi-
viduos de que se trata; e determinou que, por morte de
qualquer destes, fossem repartidos entre os co-legatarios
e mais uma os que ao fallecido houvessem tocado, ou pas-
sassem livremente aos seus descendentes legitimos, se os
t.ivesse.
Eis-ahi uma propriedade limitada, com substituto no
legado, substituição fidei-commissaria (Ord., liv. 4°, tit. 87,
§ -12 ; Cons. das Leis Civ. Braz., art. 1002 e nota).
Ora, no fideí-commisso o fiduciario é equiparado a
usofructuario (Coelho da Rocha, DiT., Oiv., § 718.).
Os filhos das escravas em usofructo não perteccem ao
usofructuarío (lnt. 337 de divis., ser, L. 68 .. Dig. de usu-
fruet) seguem a sorte e condição das mãis, passando com
ellas aos substituídos.
Junho, 1873.
i50 CONSULTAS SOBRE

Escriptura ante -nupcial ; regimen mixto ; questões ; imposto


L° E' valida a escriptura antenupcial formulada
nos termos infra resumidos ?
2. ° Dá-se no caso communhão de bens em toda
a sua plenitude?
3.° Póde-se considerar compra e venda a obriga-
ção de pagar o marido divid as da mulher com os
bens recebidos ?
4.° Equivale a doação causa mortis a clausula
que estipula a communhão ?
5.° Quaes os bens qu o ficão pertencendo ao ma-
rido nos termos da escriptura ?
6. ° Basta. a autorisação nella consignada para
venda ou é mister outorga especial ?
Resposta
Na escriptura ante-nupcial, de que se trata (5 de Dezem-
bro de 1872), foi ajustado o regimen mixto, regulando-se
tanto para a vida como para a morte.
As estipnlações são as seg uintes :
Todos os bens existentes na época do casamento, ainda
que pertencentes á mulher, e os adquiridos na co nstancia
do matrimonio por industri a, doações ou heranças, por
ambos, pertencem exclusivamente ao marido, pagando este
as dividas actuaes da mulher (64: 0008 e a esta o dote de
i2: OQO$OOO).
Bem como só este mesmo dote reUrar a mulher no caso
de separação.
Fallecendo primeiL'O o marido, caberá á mulher a mea-
ção dos bens então existentes.
Poder o marido alienar os bens livremente na constan·
cia do matrimonio, para o que lhe foi dada desde logo
outorga como procurador em causa propria.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO HH
Ao 1.° Entendo valido semelhante contrato (Ord., liv. 4°,
tit. 46 e 47; Lei de 17 de Agosto de 1761, § 8°).
Ao 2.0 A commnnhão não se dá senão na hypothese ahi
figurada de fallecer primeiro o marido, caso em que todos
os bens do marido e da mulher nessa data existentes devem
fazer monte.
Ao 3.0 Embora se declarasse a obrigação de pagar o
marido as dividas da mulher, recebendo os bens desta, não
ha ahi, visto a materia especialissima dos factos ante-nup-
ciaes, verdadeira compra e venda,ou equivalente,'de que se
deva siza ou imposto de transmissão tal. Haveria, quando
muito, doação modal ou condicional da esposa ao esposo,
que, por ser o contnto de Dezembro de 1872, nada deve
de imposto de transmissão (Lei n. 1836 de 27 de Setembro
de 1870, art. -U» ; e mesmo hújo pagaria apenas 1/10 o;.
(Lei n. 23~8 de 2;> de Agosto de 1873 art. U, § H, n. 1»).
Ao 11-.° A clausula em que se estipulou a communhão na
hypothese declal'ada, não importa doação Ca'l.bSIl. mortis,
como é eviden te.
EUa importa em direi to perfeito á mulher, proveniente
do contrato.
Não pócle ser revogada em testamento pelo marido, nem
mesmo por acto inter vivos.
Ao 1)," Os bens futuros, que Rcão perter.tcendo ao marido
na fórma estipulada, s:io os que vierem na constancia do
matrimonio por algum dos ti tulos ah i declarados. Os que
vierem á mulher, fiado o matrimonio, pertenc('rão a eUa.
Só aquelles, portanto, passão aos herdeiros do marido,
salvo a hypothese de communhão, em que a mulher terá
a meação.
Ao 6.· Pelo contrato foi autorisado o esposo (actual ma-
rido) a vender os bens, sendo-lhe dada outorga prévia e até
constituido procurador em causa propria.
Parece, pois, sufficiente.
152 CONSULTAS S03!lE

Todavia maior cautela e seg uran ça haveri a na outorga


especial e presente (Ord., Ih. 4 til. 48, pr.).
0
,

Fevereiro, 1874.

Evicção; autoria; execução; embargos de terceiros; acções


E' mister sempre denuncia da acção para reso)-
ver o caso de evicção ~ Em que casos é ella dispen-
savel.?
Resposta
Se o terceiro embargante decahir da sua oppo.sição tem
direito regressivo contra aquelle de quem houve o sitio,
afim de desfazer a troca, reh:wendo o que dera ou o preço
(r.. TelIes, Acç., §§ 355 a 358 e notas), verificada a identi-
dade do obj ecto .
E comqllanto a Ord., liv. 30, tit. 45, exij a a denuncia
ela acção para resalval' a evicção, casos ha em que, sem tal
denuncia, tem esta lugar (L. 51), § '10 Dig de evict.; L 3,
Cod, ; Lobão, Di,'., já em supp. ás leis e Inst.., § 42 j Ord. ,
liv.; Fr. , art. 164, e outros codigos).
Com os termos de uma execução não se compadece o
processo da autoria. Seria este, portanto, mais um caso de
excepção áquella regl'a.
No entanto seria boa cautela o protesto contra o vende-
dor ou alheiador obrigado á ev icção, e segnir a defesa alé
a s~perior instaneia com zelo e boa fé (Ord. ciL).
Se o ora exequente embarga.do fór ve ncedor, e clecahir
a5.nal o terceiro embargante, não tem este acç,ão contra o
mesmo embargante, salvo se fôr a 1'escisO/'ia dos julgados,
não se tenelo decidido a questão em gráo de revista.
Julho, 1875.
VAR L\S QUESTÕES DE DIREITO H53

Exame de livros; exhibição; traducção ; processo crime


L° Em favor de quem póde ser decretado o exame
de livros no juizo commercial ?
2: Qual o procedimento a seguir quando os li-
vros forem escripturados em lingua estrangeira?
Resposta
Ao L o Trata-se de exame de livros de uma companhia.
Os arts. i7, 18 e i9 do Cod. do Com. lhe são applicaveis
pela generalidade ele suas elisposições, e communs a todos
os commerciantes, salvo todavia a excepção do art. 51 do
Dec. n. 27'11 de t3 ele Dezembro ele 1860, que, modifi-
cando o principio do seg?'edo dos livros, eleu ao governo e
aos presidentes de provinci3 a faculdade de mandarem pro-
ceder a exame quando o exigir o serviço publico. O accio-
nista póde exigil-o (art. 18 cito e art. ':290, Cod.)
Está entendido que aquellas determinac.:,ões não inhibem
a exhibição voluntaria por parte do commerciante ou da
companhia.
Só, portanto, em favor dos interessados legitimas póde
ser decretada a exllibição e ter lugar o exame (Vide Reg.
n. 737 de '1850, art. 211 e 35í) mesmo em juizo criminal,
como foi decidido pelo Inst. dos Adv. Braz. em sessão de 3
de Abril de 1862, e se lê no respecti vo relatorio de 28 de
Agosto de::se anno, impresso na sua Ilevista .
Ao 2. E' certo que documentos em linglla estrangeira
0

Llevem ser competen temenle traduzidos para se exhibirem e


juntarem a autos; os livros igualmente (Cod., art. i6, 125;
Reg. n. 737 de i 850, art. 14.7 a 15'J).
Não havelJ dointerprete publico, a traclucção deve ser
feita por interprete nomeado pelo jniz, a aprazimento das
partes, e juramentado (art. i6 cit.; Reg. cit., art. i48).
No crime, porém, o juiz, competente para nomear os pe-
ritos para o corpo de delicto e exames necessarios (Cod. do
CONSULTAS SOBRE

Proc. Crim., art. 13;) e 136; Heg. de 3{ de Janeiro


de {842, arl. 258 e 259) entenào que póde desde logo, no-
meando-os, escoll1er para esse fim pessoas idoneas que fa-
ção ao mesmo tempo a traducção indispensavel ; de prefe~
rencia I) interprete publico (arg. do art. 259; Reg. ci t.
de {842; Cod. Com. e Reg. pro cit.). A marcha e indole do
processo criminal a isto o autorisão.
A' parte fica sempre salvo o direito de aCCL1sar e provar
inexacta a traducção (Cod., art. '16, 62).
Ao 3.° Os factos devem ser precisamente articnlados
(Cod. elo Proc. Cri 111 , art. 7'1.), o processo devidamente
tratado (Cod. do Proc.; Lei de 3 de Deze :ll bro de 184i ;
Reg. de 3'1 de Janeiro de 184.2; Reg. de 22 de Novembro
de '187f), as diligencias e compativeis rectificações compe-
tentemente decretadas, e só em termos babeis (Reg. cito
de '1871, art. 30, § 3°, periodo penult.; arg. do Reg.
ele {842, art. 290 e 291 ).
A justiça não se faz nem se administra com sorpresas,
nem pondo fóra da lei o indiciado ou accusado. Seja-se ine-
xoravel na punição dos delictos, mas em processo regular
e com ampla defesa.
Junho, {873.

Excepções em causas summarias; competencia; nullidades

. i. o As excepções de suspeição e incompetencia do


juiz suspendem a acção summaria? No caso affir-
mativo qual o processo? O dos arts. 78 e seguintes
j

do Reg. n. 737 de 1850 7


2.° A circumstancia de ter sido feita e accusada a
penhora, em causa de menos de 500~, perante o
juiz de direito, em vez de têl-o sido perante juiz
VARTAS QUESTÕES DE DIREITO

substituto (art. 68, § 2° do Reg. n. 4824), terá a


importancia de annullar taes actos ?
3.° A deeisão de exclusiva competencia do juiz
de direito (cit. art. 68), se tiver sido proferida
pelo juiz. substituto, é nulla de pleno direito como
se não existira? Ou ó capaz de effeitos até que
seja annullada?
E neste caso, porque meio o juiz ele direito evi-
tará qne a autoridade inferior o prive de usar ou
exercer taes actos de sua competencia ?

Resposta

Ao 1.0 Nas acções summarias, perante o juiz do com-


mereio, podem ser oppostas as excepções de suspeição e
incompeteoeia do juiz, cujo processo é, em geral, o dos
art. 78 e seguintes do Reg . n. 737 de 18~0. São igualmente
admissive is no juizo de paz e no municipal, mas com pro-
cesso mais abreviado (Reg. n. 4824 de 22 de Novembro
de I87t, art. 63, §§ 9 e iO; art. 6;), § 3°).
Aquellas disposições sobre as 'acções ordinari:1.s, o cit.
Reg. de 1850 (art. 320, parte P, tit. 6°) fez extensivas
ou communs ás acções summat'ias, especiaes e executi vas.
Taes excepções são sempre suspensivas do curso da
causa, mesmo perante o juiz de paz (Reg. cito de 1850,
art. 76 e 80, 83, 2:-;3; Reg. ci 1. de i 871, arl. 63 § 8,
65 § 3°).
Para as causas summarias continúa a prevalecer o pro-
cesso especial estabelecido pela legislação anterior á novís-
sima reforma judiciaria, que não tenha sido expressa-
mente revogada (Av.de 6 de Abril de 1872).
E na expressão cíveis da Lei n. 2033 de 20 de Setembro
de 1871, e seu Reg. n. 4·824 do mesmo anno, se compre-
hendem as causas commerciaes, quando não ha juizo
US6 CONSULTA~ SOBRE

especial ou privativo (Av. de 15 de Março de 1872 e de 6


de Abril ciL).
Ao 2.° A execução de sentenças de 1004» até 5004i' é da
exclusiva competencia do juiz substituto, salvo ao effectivo
a competencia para decisão de que caiba appellação ou
aggravo (Reg. cito n. 4824· ele 1871, art. 68, § 2°; Av. tIe
12 de Fevereiro, 2 de Março e 3 de Agosto de 1.872).
Se a inobservancia destas disposições importa nullidacle,
não o decidio o Av. ci t. de 2 de Março, deixando a questão
á jl,lrisprudencia dos tribunaes.
Parece-me, porém, consequencia necessaria a nullidade
dos actos praticados com infracção da competencia, se-
gundo a doutri na geral de direi to.
Ao 3.° Nulla a decisão proferida por juiz incompetente,
como seria a do juiz snbstituto nos casos que são da COffi-
petencia do juiz effectivo, surte no entanto eUa os seuS
eJIeitos emquanto não fôr annullada (Vide Pereira e Souza,
P1'OC. Oiv., nota 578, in (in!',; Pimenta Bueno, P1'OC. Oiv.,
tit. 5).
No juizo commercial, a sentença nulla por incompe-
tencia do juiz (art. 680, § 1° do Reg. n. 737 de -1850) só
póde ser annullada por meio da appellaçJo, revista, em-
bargos na execução e acção rescisoria, não tendo sido a
causa julgada em gráo de revi sta (art. 68'1 ).
Alguma outra decisão poderia ser annullada ou refor-
mada por via de aggravo, como seria V. g., a que decretasse
a. prisão ou semelbante, em que coubesse este recurso
(Reg. ciL., art. 669), sendo que, no caso figurado, haveria
ainda remedio no habeas-corpus.
Mas o juiz eITectivo, esbulhado pelo ~eu substituto, póde:
1°, fazer-lhe vêr o seu erro, al1m de que marchem ambos
de accôrdo, legalmen te ; 2°, susci lar o confl icto de attri-
buições, dado o caso; 3°, representar ao governo sobre
o facto, visto como vai ahi questão de ordem publica;
~o, promover a responsabilidade do juiz que infringe a lei,
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO i57

arrogando-se antoridade que não tem ou excedenuo a que


tem.
Abril, i873.

Execução commercial; penhora

Ha nullidade em proceder-se á nova penhora por


insufficiencia de bens da primeira ~ Em que caso
deve elIa realizar-se?
Resposta

Se a execuçã:o se achava 1'eintegm, parece que não ha


nullidade em se haver procedido á continuação de penhora
por insufficiencia dos bens penb.orados; não se verifica
alguma pmterição da formalidade substancial ou algum
ex.cesso (Reg. n. 737 de -1850, art. 577 § 2°, 580, 672
a 674).
Deve-se, porém, guardar na arrematação e adjudicação
a ordem legal da excussão dos bens penhorados (art. 512,
54,0, 560, combinados; Pereira e Souza, P1'OC. Civ . ,
nota 862 ; Reg. cit., art. 763). Os juizes e tribunaes não
devem ser faceis em crear nullidades nem em annullar
processos.
Maio, 1869.

Execução commerci:\l; remissão pelo executado ou por terceiro;


elfeitos ; processo
1. ° No fôro commercial é necessaria a intimação
do executado para remir ou dar lançador?
2.° Em que consiste o processo para rernu ou
dar lançador?
158 CONSULTAS SOBRE

3.° Póde o exeqnellte proseguir na execução pe-


nhorando os bens remidos? Em que caso lhe é
isso defeso?
Resposta
Ao V O art. 546 do Reg. n. 737 de "850, mantendo a
doutrina geral do dil'eito civil quanlo á facilidade de remir
o devedor os bens peuhorados, ou dar lançador, todavia
dispensou a citação ao mesmo devedor, exigida aliás pela
Ord., liv. 4 tit. 13, § 7°, e Lei de 20 de Junho de 1774,
0
,

§ 18, e fez outras modificações. Póde, portanto, ser admit-


tido a fazêl-o até á assignatnra do auto de arrematação ou
á publicação da sentença de adjudicação; jámais depois
destes actos ;-0 proprio executado, sua mulher, descen-
dentes ou ascendentes.
Se fôr a remissão do total da execução, s. c., pagando a
divida nos termos da Ord. cit., pódem fazêl-o em qualquer
estado da execução até aquelles actos.
Se fôr só para remissão ou resgate de bens, ou para dar
lançador, parece-me que só depois da licitação em praça,
ou da adjudicação em falta de arrematante; mas até
aquelles mesmos actos, é o que se deprehende da Lei cito
de 074, § ci t., e ensinão os praxistas (Pereira e Souza,
Proc. Oiv., § 423 e nota) j é o que parece resultar da
combinação dos arts. 546, 550, 553 e 560 do cit. Reg.
com referencia ás leis civis, subsidiarias conforme o
art. 743).
Ao 2." O processo para remir ou dar lançador é muito
simples; reduz-se a requerer em tempo. Do despacho que
negar a remissão, entendo que o executado póde aggravar,
com o fundamento de damno irreparavel (art. 669, § 15,
do Reg .); os outros poderião appellar, art. 646, 669
§ 30, 738).
O executado poderia ainda vir com embargos de nulli.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO HS9

dade (art. 578 § <1 e 582 ),mas depois da arrematação ou


0

da adj uuicação,e antes de assignada a carta (art. 578 cit.).


Ao 3. Se a exacução não ficar extincta, o exequente tem
0

o direito de proseguil-a nos bens do executado, sejão


quaes forem, salvo os exceptuados de penhora (art. 512,
518,529, 530, 531), e portanto entendo que nos proprios
aliás remidos, se continuarem a pertencer-lhe.
Não assim, se elles deixarem de ser seus por titulo que
transfira a outrem legitimamente a propriedade; a simples
remissão pelo descendente ou ascendente, etc., não trans-
fere para estes o domínio: livra apenas da excussão os
bens conservando-os no do devedor, ficando o remissor
credor deste em concurrente quantia.
Setembro, 1869.

Execução de sentença pendente revista; fiança; outro remedio


Quaes os I'emedios de que se deverá lançar mão
para evitar prejuizo irreparavel para a parte, que
houver interposto o recurso de revista, em relação
aos bens do recorrido?
Resposta
Sobre a providencia a tomar para se evitar prejuízo im~­
paravcl, se forem entregues os bens em execução da sen-
tença que ainda pende de revista, tenho a ponderar que.
embora este recurso tenha o caracter apenas devolutivo, se
deve na execuçã) observar a regra que se segue quanto á
appellação no elIeito df\Volutivo; quer dizer: não pagar nem
entregar os bens sem fiança (Arg. da Ord., liv. 3°, tit. 86,
§ 3 ; Moraes, Prax. For. nota 477; Corrêa Telles, Proc.
Civ., § 346);tanto mais quanto pende disputa sobre odireito
por parte do intcressado, o que suspenderia a appellação
interposta da sentença que obriga;;se a fazer inventario
160 CONSULTAS SOBRE

(Lobão, notas a Pereira e Souza ; Proc. Civ. á nota 633,


pago 3M, e 3~6).
Tambem ha o remedio de req uerer o sequestro dos bens
atése decidir afinal a revista, nos termos da Ord., lLv. 30,
tit. 3i, e opinião dos DD.
Seria por certo uma iniquidade a denegação de qual-
quer pl'Ovidencia 'para acautelar a resti tuição dos bens, no
caso de ser reformada a sentença exequenda.
Junho, 1857.

Execução; fiança; embargos; deposito;; levantamento; diversas


penhoras

Pendente a appellação no effeito devolutivo, po-


dem ser entregues bens executados sem fiança?
E se já tiver se passado carta de adjudicação?
Como proceder quando a penhora foi em dinheiro
depositado por ordem de juiz di verso daquelle
pe.rante quem se fez um primeiro deposito?
Resposta
Se se tratasse de execução de sentença de revista, a fiança
seria dispensada.
Mas, á execução oppuzerão-se os executados com embar-
gos. Desprezados estes. appellál'ão. Pende a appellação no
effeito devoluti vo.
E', pois, caso de fiança (Ord., liv. 30, tit. 86, § 15 ; Pe-
reira e Souza, Proc. Civ, nota 887 infine).
Quanto á carta de adjudicação, póde-se entregar, pres-
tando fiança (como dito fica), ainda que haja outras penho-
ras (Pereira e Souza cit., nota 898).
Quanto ao levantamento do dinheiro, póde tambem ter
lugar, prestando fiança (pelo mesmo fundamento) desde que
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

é ordenado pelo respectivo juiz do primeiro deposito (Pe-


reira e Souza ciL, nota 906), e o mesmo por onde foi feito o
segundo (nota I to f) .
Se fôril. este deposito feito por oruem dejuiz diverso não
poderia ter lugar o levantamento senão por precatoria de
venia ao mesmo dirigida, ou por sentença delle (ciL
nota BOi. Vide Reg. n. 737 de i8~O, art. ~20; Av. n. 374-
de '1 865; OfI. de 5 de Fevereiro de 1.867; Av. de 1.7 de
Agos to de i 868).
Dezembro, 1.875.

Execução ; fructos ; liquidação

Na liquidação de frncto-, percebidos por serem


cobrados em virtude de execução de sentença, como
proceder?
Que fructos ahi se comprehendem ?
Como liquidaI-os?

Resposta

:Para liquidar a sentença exequenda, na parte que con-


demnou a restituir os fructos percebidos durante a inde-
vida occupação, é necessario ofIerecer artigos, afim de dar
lugar á defesa, pl'ovas e discussão (Ord., liv. 3, tit. 86,
§ 1.9; Per. e Souza, Prae. Civ., nota 876).
Toda a prova, e mesmo a conjecturaI, é admissivel (Lo-
bão, Fase. de disserto 3', n. 2'1), podendo recorl'er-se aos
arbitradores se tanto fôr preciso (Ord.).
Devem-se pedir todos os fruclos effectivamente percebi-
dos, ou que razoavelmente poderião ter sido percebidos,
attenta a difficuldade da prova da quantidade realmente
colhida. Comprehenue tuuo quanto colheu o executado e
H
162 CONSULTAS SOBRE

desfructou. Está entendido que se devem deduzir as des-


pezas: o liquido é o que deve elle restituir (Vide Lobão,
Dissel't, cit., §§ 19 a 31).
Agosto, {861.

Execução; preferencia; deposito; concurso; recursos


i. o Onde deve ser recolhido o dinheiro, producto
da arrematação ~
2. Qual a responsabilidade do depositario judi-
0

cial?
3. o Qual o processo a observar para fazêl-a
effectiva?
4. o O que succede no caso de insol vabilidade do
devedor ?
5.° Qual o recurso que cabe da decisã,J de juiz
municipal, sendo a causa superior a 500aOOO?
Resposta

Ao -1. O dinheiro deve ser depositado no deposito pu-


0

blico, e, não o havendo, no geral, ainda que provenha da


arrematação (Dec. n. 737 LIe 1850, art. 526, § 10; Av. n. 6
de 15 de Janeiro de 1846 e n. 213 de 20 de Maio de 1865).
Ao :!. o Se o depositario judicial confia os bens a alguem,
fica todavia o unico responsavel para o juiz, pena de
prisão.
Ao 3. Contra elle se deve proceder, bastando assig-
0

nar-Ihe (no commercial e nas execuções bypotbecarias) o


prazo de quarenta e oito horas (Reg. cit., art. 527 e 269,
Lei hyp. de 1864, art. 14).
Ao 4. Havendo protesto por preferencias, não póde o
0

exequente levantar o producto da arrematação, .nem se lhe


VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 163

passar a carta de adjudicação, sem que se tenbão elias


disputado (Reg. cit, art. 557 e 6U), salvo desistindo-se
dellas ou accôrdo entre Lodos.
Que é possível, e deve ter lugar o concurso mesmo com
credor hypothecario sob o regimen actual, o declara ex-
pressamente o Reg. n. 3453 de 20 de Abril de 1865,
art. 24.0, § 5° e 6.° Dada a in sol vabilidade, ou presumida
ella, tem lugar o concurso, ainda com credores que não
sejão hypothecarios ; muito maiR com outros que o sejão
e sobre os mesmos bens (como na bypotheca). Ha, pois,
lugar aquelle protesto e seus effei tos.
Cumpre remover legalmente este incidente ou embaraço
ao levantamento do dinheiro pelo exequente.
Se ha nuIlidade, em taes circumstancias, não se póde
logo prima facie resolver; depende de factos e provas.
E, pois, só pela discussão entre os preferentes; a sen-
tença o decidirá,e della cabe appellação (Reg.cit., art. 636).
Ao 5.° Se o juiz municipal, sendo a causa superior
a 5008, proferir decisão, ainda que seja interlocutoria, que
lhe ponha termo, cabe dahi aggravo para o juiz de direito
por incompetencia (Vide Dec. n. 5467 de 12 de Novembro
de 1873, art. 2°, art. 3°, § 3°, n. 3; art. 5°, 6°).
Fevereiro, 1874.

Execução ; remissão de bens; effeitos

L° Que faculdade tem o' executado quanto á


remissão dos bens penhorados?
2: ° Em que estado da execução póde effectuar a
remissão?
3.° póde·se considerar a remissão uma transmis-
são de propriedade?
4.° R' admissivrl a remissão parciaP
CONSULTAS SOBRE

5.· Sendo credora uma firma social composta de


dous herd eiros do finado devedor, qua.l a conse-
lluencía. jurídica se ella fizer cessão de seu direit.o
aos ditos herdeiros? E em relaçã.o aos ontros exe-
cutados?
Resposta
Ao 1. o O executado póde remir os bens sujei tos á execu-
ção' seja esta civel, commercial ou Qscal (Ord., liv. ~o,
til. 53, § 7 liv. 4., tit. J3, § 7°; Regim. dos contos
0
;

de 1627, capo 77 e 82; Lei de 20 de Junho de 1774, § 18;


Reg. n. 737 de 1850, art . 546).
Ao 2. Se a remissão fôr da integridade da divida na exe-
0

cução, póde fazêl-o em qualquer estado delta, desde a pe-


nhora até a arrematação ou adjudicação, o que é de sim-
ples intuição.
Mas se fÕr parcial, parece-me que só depois desses actos,
como se deprehende daquellas mesmas disposições e outras
parai leias, sendo que nas exec uções commerciaes é licito
fazêl-o até a assignatura do autu de arrematação ou da p u-
blicação da sentença de adj lldicação (art. 546 ciL), e nas
civeis e fiscaes pó de ser admiltido até a entrega da carta
de arrematação ou de adjudicação (Vide Pereira e Souza,
Prac. Civ., notas 845 e lOG3 .)
Ao 3. A remissão de que se tra ta não é ti tulo de trans-
0

missão de proprie(lade i ella tem apenas por fim evitar a


excussão dos bens e conseque nt~ transfereocia delles para
Lerceiro, arremata0 Le-ou exequente. Os bens remidos con-
tinuão, pois, 1\ 0 domillio de quem erão, e, portanto no do
espolio ou communhiio, sujeitos conseguintemente ás exe-
cuções dos outros credores.
E o remissor, quando não é o pl'oprio e exclusivo dono
dos bens, constitue -se apenas credor por subrogação, da
importancia da remissão. Depende, pois, da adjudicação
para que estes lhe sejão transferidos.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 16tl

Ao 4·.' A remissão parcial de bens é permiltida, como já


foi prevenido.
Ao ~.' A firma social (embora della fação parte os dous
herdeiros do finado executado), é credora exequente, se-
gundo a exposição. Se fizer a cessão aos ditos dous herdei-
ros, a divida, na parte respectiva, desapparece pela confu-
são, e subsiste sómenle pelo restante contra os outros exe-
cutados. A estes caberia o direito de remir. Áquelles
(embargantes) o de proseguirem na execução, arrematando
para seu pagamento, com licença do juiz, bens penhorados,
ou obtenuo-os por adjudicação em falta de arrematante.
Outubro, 1872.

Execução sobre dividas; como fazer

Penhoradas dividas, podem ser arrematadas?


Quid se não houver arrematante?
E se forem de du vidosa cobrança?
Resposta

Regem a materia a Lei de 20 de Junho de 1. 774, e Reg.


n. 737 de 2~ de Novembro de 18~O, art. 1)2/1-.
Conseguintemente. penhoradas dividas, podem estas ser
arrematadas ou adjudicadas. O leilão não teria lugar.
Mas a cito Lei de 1774" § i7 e 27, manda adj udical-as
ao credor exequente por sua liquida e verdadeira impor-
tancia, deixando-lhe, salvo o direito da arrematação das
mesmas 1'eal a real.
Se, pois, taes dividas penhoradas são de duvidosa co-
brança, bem podem ser levadas .'1 praça, com,) os outros
bens, sobre o valor que lhes seja legalmente arbitrado, e
ahi arrematadas, e, em falta de licitante, adjudicadas (V.
Lobão, Execuções, § 336, 381. a 38~).
Outubro, 1873.
166 cONSULTAS SOBRE

Exercicio de medicina; infracção

E' permittido o exercício de medicina homceo-


pathica sem que seja o indiyiduo graduado em al-
guma das faculdades do lmperio ?
O facto da nomeação para cirurgião da guarda
nacional pelo presiJente de provincia babilita para
o exercicio dessa profissão?
E se o diploma houver sido expedido pelo insti-
tuto medico bornceopathico ?

Resposta

Entendo que houve infracção do art. 2~ do decrt. n.828


de 29 de Setembro ele i8~1, por exercer a medicina sem
se mostrar habilitado legalmente com a graduação nas
faculdades do Imperio, ou a approvação das mesmas,
sendo a graduação estrangeira.
Não obstão os Avs. de i 2 de Fevereiro, i8 de Junho, 29
de Setembro e t9 de Novembro de 1856, porque o exerci-
cio do systema homreopatbico está sujeito áquellas mesmas
regras: é exercicio de medicina.
A nomeação do presidente da provincia para cirurgião
da guarda nacional igualmente não aproveita, porque o foi
no presupposto da habitaçlo legal para tal exercicio. Além
de que razões especiaes poderiao ter influiào para isto, e o
exercicio seria limitado ao pouco que incumbe aos cirur-
gioes da guarda referida em vista da lei respectiva; não au-
torisaria. para ampliar esse exercicio. Ter sido o Instituto
Medico Homreopatl1ico autorisado pela Lei de 3 de Outubro
de i832 não aproveita, porque elle não podia conferir di-
plomas para exercicios (e só scientifico ou honorarios) em
opposição á legislação posterior á mesma.
Janeiro, 1870.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 167
Fallencia
Os juizes municipaes por exercerem n::l.S quebras
dos negociantes não matricul ados as funcções de
Tribunaes do Commercio onde os não 11a, devem e
seus empregados, dos actos que praticarem em taes
quebras cobrar os emolumentos conforme a tabeUa
de 31 ele Dezembro de 1850, pelo Av . de 10 de Ja-
neiro de 1851, mandado observar e regular nos
mesmos tribunaes ?
O art. 183 do Reg. o. 738 se entende com os
processos de quebras de negociantes nã.o matri-
culados (em vista da disposição do art. 184) ? E 00
caso affirmativo, deve-se deixar traslado dos autos
no juizo em que se organisárão, como em geral se
pratica em todas as remessas que se fazem para
fóra do termo, afim de prevenir o descaminho que
póde-se dar na remessa do original?
Resposta

Ao L° Parece-me que os juizes municipaes, assim como


os de direito civel, e os escrivães respectivos, não podem
cobrar senão os emolumentos que pelas leis anteriores ao
codigo do commercio percebião, por isso que nenhuma
lei ou disposição posterior lh'os alterou. E assim, a tabella
de 3! de Dezembro de 1850 a que se refere :t proposta, e
que foi mandada observar na côrte pelo Aviso da mesma
data (e não pelo de 10 dê Janeiro de 18~H ) , não lhes póde
aproveitar: antes do que se lê no seu art. 7°, ev idente-
mente se collige ser ella especial e privativa dos Tribunaes
de Commercio, quando determi na que nas quebras levaráõ
os empregados da secretaria em dobro os emolumentos que
percebem os esc1'ivães do judicial. .
,168 CONSULTAS SOBRE

Ao 2.° A disposição do art. 183 do Reg. n. 738 pare-


ce-me não ter applicação alguma aos processos de fallencia
de eommerciantes não matriculados; porquanto, devendo
ellas ser processadas perante o juiz municipal ou o de di-
reito civel, onde o houver (art. 18lJ., cito Reg.; Av. de 25
de Agosto de 1851 e 31 de Agosto de 18~2), e por isso,
com os seus respecti vos escrivães, já por lei são estes obri-
gados em razão do seu officio a numerar as folhas dos
autos e a têl-as em boa guarda pelo tempo na mesma
designado (Ord., liv.1°, til. 84 e outros) sob sua respon-
sabilidade, sendo, portanto, escusada e inapplicavel a dis-
posição do cito art. 183, que aliás nos processos dos com-
merciantes matriculados acha sua razão explicativa no
art. 107 do mesmo Reg. n. 738.
Quanto á segunda parte da questão, acba-se prejudicada
pela resposta á primeira.
Agosto, 1853.

Fallencia ; art. 860; Cod. Crim. (meios ordinarios) ; competencia


do juizo
Qual o juizo competente para decidir sobre a
validade de um credito remettido nos termos do
art. 860 do Cod. Com. para os meios ordinarios?
Resposta
Eu distingo. Se se tratar do proprio di1'eito ou obriga-
ção, deve ser a acção no juizo competente, segundo as re-
gras geraes, civel, commercial, etc. Se se tratar sómente da
classificação, que demande mais alta indagação, deve ser
no juizo do commercio, isto é, no proprio juizo da fallen-
cia por connexão ou dependencia, visto como refere-se en-
tão á gradnação dos credores a elle commetlida, e a juris-
dicção ficou preventa pela fallenc ia.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO i69
Tal é, depois de longa fluctuação e incerteza,a resolução
que acaba de tomar o Trib. do Com. da côrte.
Setembro, 1868.

Fallencia; abertura; segunda accusação ; prescrlpção

l.0 Em que tempo se póde abrir a {alIencia ao


devedor '?
2.° Póde o réo já julgado ser de novo accusado
pelo mesmo facto '?
3.· róde o fallido OppÓI' a prescripção quanto á
parte crimioal da falleocia devidamente qualifi-
cada?
Resposta
Ao LO Entendo que póde abrir-se e declarar-se a Callen-
cia em qualquer tempo, quando o fallido se não apresenta
a fazêl-o, porque a nossa lei não taxa prazo algum dentro
do qual deve ter lugar essa abertura; bem entendido,
porém,que nunca o juiz a poderá retrotrahir além de qlla-
ren ta dias de sua data actual, nos termos expressos do Cod.
Com., art. 806.
Ao 2.° Se o réo já foi J·'I.lZgado definitivamente não póde
ser de novo accusado pelo mesmo facto (art. 327, Cod. do
Proc. Cri m.), pela regra de direito-non bis in idem-o
que todavil não é extensivo ao simples facto da pronuncia
ou não pronuncia, por não constituir o julgamento final de
condemnação ·ou absolvição, a que se refere o legislador,
como tem sido bem decidido nos tribunaes e explicado em
decisões do governo.
Ao 3.° Parece-me fóra de duvida que, quanto á parte
criminal da fallencia, depois de qualificada (antes da quali-
ficação não ha declaração legal da existencia de algum de-
1.70 CONSULTAS SOBRE

licto) , pôde O falUdo OppÔI' a prescripção respectiva, na


fórma do processo e legislação criminal, que não foi alte-
rada. pelas leis especi aes do commercio. O tempo deve con-
tar-se conforme o disposto no art. 275 do Reg. de 3! de
Janeiro de 18~2, com declaraçito de que se a pronuncia fôr
revogada, não produz o effeito de interromper a prescrip-
ção, como elecidio o Av. n. 27 ele 19 de Junho de 1860.
Dezembro, 1861.

FalIencia; acção rescisoria: recursos

LO E' admissivel a aeção rescisoria nas fallen-


eias?
2.o Qual o recurso que têm os credores, que de-
cabirão .do aggrav o interposto da sentença de aber-
tura de fallencia '?
3: Podem os credores questionar em 3cção com
a massa faIlida, atacando a validade da mesma sen-
tença por não ser commel'cialmente o fallido?

Resposta

Ao 1.0 Parece-me que não é ad missivel a acção rescisoria


contra a fallencia, já porque nem o Cod. do Com. na parte
respectiva o permitte, nem o Reg. n. 738 de 1850, nem o
de 1 de Maio cle1855 ou qualquer outra disposição, já
0

porque o disposto no art. 681, § ~ do Reg. n. 737 de 1.850


se refere as demandas sómeote, e não ás fallencias; já por-
que o pr0CeS'30 de fallencia é de natureza mixta, prevale-
cendo nelle de modo notavel o elemento criminal, termos
em que tal remedio, facultado contra as sentenças civeis,
que não tem sido proferidas em gráo de revista, não é ex-
tensivo e applicavel ás sentenças crimes como se depre-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 171

bende do Cod. do Proc. Crim.; Lei de 3 de Dezembro


de 184.1 e mais disposições vigen Les.
Ao 2.0 Visto haverem decahido os credores do aggravo
interposto da sentença. de abertura de fallencia, não tem
contra ella mais recurso ex vi artigo do Reg. de HS de
Março de 1 'i4.2, art. 670 elo Reg. n. 737 de 1850, combi-
nados com o art. 66 do Dec. de t o de Maio de 1.855 em re-
ferencia ao art. 808 do Cod. e art. H5 do Reg. 738
de 1850.
Ao 3. Firmada por' sentença a declaração da fallencia,
0

não podem os credores questionar com proveito contra tal


facto nas acções com a massa fallida, pretendendo não ser
commerciante o fallido, e portanto nuHa a sentença, por-
que aquella declaração obriga peremptoriamente a todos os
interessados.
Ainda que mal tenha sido decl:J.rada a fallenci a, se eIla
subsiste, deve-se observar como verdade elo julgado,
sendo que ha nisto menos inconveniente do que na incer-
teza dos direitos por se recusar aos julgados a fé e força
que lhes são proprias.
Outubro, 1860.

FalIencia; accôrdo; novação; exoneração de co-obrigados;


concordatas
Póde-se verificar accórdo entre o commerciante,
que não pôde pagar o seu debito, e os credores,
por letras?
Dá,·se novação, e conseguintemente exoneração
dos eo-obrigados solidariamente por taes letras?
O que existe a. respeito no nosso direito?
02 r.ONSULTAS SOBRE

Resposta
Em vista da consulta, o aceitante das letras acha-se
realrríen te [allido por ter suspendido os seus pagamentos e
não poder pagar integralmente as di"irJas, attenta a offerla
de 40 0/0 pelo mesmo feita.
Tem-se admittido que, ainda em taes circumstancias,
póde verificar-se accordo en tre o devedor e seus credores
desde que estes convenbão por unanimidade, evitando a
abertura da fallencia (Vide processo Soutinbo e Acc. de 22
de Maio de i868 ; Dr. Orlando, Cod. do Com., nota 1327).
Mas, para que se dê novação e consequente exoneração
dos co-obrigados solidariamente, quaes sejão os respoDsa-
veis nas letras, o sacador e acei tante (Cod., art. !~22), se-
tia necessario que se veriGcassem as condições legaes de
tal exoneração (Cod., art. 26] e 438).
O simples accordo entre o portador eo aceitante (fallido)
de receber aquelle do mesmo é\ceitante parte da divida,
reservando-se todavia expressamente os seus direitos con-
tra os outros responsaveis, e designadamente con tra o sa-
cado!', parece-me que não importa a exoneração destes
senão em concurrente quantia (Arg. dos arts. 391 e 892,
Cod. Com.; Cod. Ci\'o Fr., art. 1285; Gougel et Merger,
Dir. ci t. yide cancM·dat. Remise).
Em Inglaterra os credores conservão os seus direi tos con-
tra a co-obrigação, salvo se têm expressamente renunciado
a elles (Vide Colfano Drad Camme?'cial, pago 539).
Não são, porém, fóra de toda a duvida estas soluções
entre nós.
Para aquell es que entendem prohibido e nullo, em nosso
direito, esse accordo por equi valer a uma concordata ami-
gavel ou extra-judicial (ex-vi do art. 848, Cad. e Dec.
n. 2481 de H\59), só haveria o meio da abertura da ial-
lencia e seu proseguimento até a concordata.
Para aquelles que, igualmente entendem que, por ser
amigavel, póde importar novação e desoneração por não
VARIAS QUESTÕES DE DIRElTO i73

intervirem ahi os co-obrigados, seria n eces~ario a audien-


cia destes (ex-vi dos arts., cito Cod. , 262 e 248).
Em todo caso seri a. conve niente, alirn de evitar duvidas
futuras .
N. B. Está entendido que esses direitos contra os res-
ponsaveis nas letras presuppõe os de vid o: protestos.
Outubro, 1873.

FallencÍa ; actos nullos ; acção ; recurso ; acção rescÍsorÍa

Qual a acção a prop ôr para declarar nullo e


insubsistente qualquer dos actos do art. 8~8 pra-
ticado em fraude da massa falI ida ?

Resposta
Consta dos au tos:
Que, fallecendo P., forão arrecadados para a massa uns
terrenos e bemfeitorias pelo mesmo abi feitas ; que
oppôz-se B. a esta arrecadação e intentada venJa, quanto
aos terrenos sómente, com o fundamento ele lhe pertence-
rem por compra feita a J., disputando-a por embargos de
terceiro;
Que , rer.ebidos estes e discutidos, lhe for ão afin al des-
prezados por sentença, co nfirmada (embora não unanime-
mente) pela Relação em dous acco rdãos.
Assim que, penso do modo seguinte:
Que, não se tratando de algnm dos actos especiflcados
no art. 8"27, Cod. Com.,mas sim de algum dos apontados na
generalidade do art. 828, não era por meio da arrecada-
ção e summaria:nente, que elie se devêra declarar nuHo
e insubsistente por commettido em fraude da massa fallida;
devêra propôr-se co ntra esse terceiro acção ordinari a, como
i74 CONSULTAS SOBRE

expressamente dispõe o art. 166 in-fine do Reg. n. 738


de 1850, e parallelarnente o art. 495 do Reg. n. 737 do
mesmo anno, provada competentemente a fraude (Ass. 8°,
dos'feitos do Com. de 6 de Julho de 1857) perante juizo do
commercio (Cod. tiL, 1°, art. 17; Reg. cit. n. 737, art. 13
e n. 738, art. 166).
E' pois de esperar provimento ao recurso de revista por
se haver infringido taes determinações (Reg. n. 737 cit.,
art. 680, § 2° e 681).
Póde tambem o embargante usar da acção rescisoria
para o mesmo fim, deixando de interpôr aqueIle recurso
(Reg. cito n. 737, art. 68i, § 4°,) ; no juizo commercial,
visto haver sido neste proferida a decisão (Av. n. 231 de
21 de Agosto de i81'i5).
Finda, porém, a questão pela l'evista,já não tem lugar a
rescisão (arL 68'1, § 4 ciL). E parece que nem mesmo a
reivindicação por se haver já disputado sobre o dominio e
posse (Vide Lobão, Execuções, § 315 e 4ô5), sendo que no
juizo commercial os embargos de terceiro não são remedio
meramente possesso rio (Reg. n. 737, art. 597 e 604).
Quanto ao final ou materia da quesLão, os autos olIere~
cem provas indiciarias e conjecturaes, contra o fallido e
esse terceiro, e em favor da reclamação por parte dos
administradores da massa.
Abril, 1.875.
Fallencia; concordata; novação
Da proposta resulta ~
L° Que Pedl'O foi declarado fali ido , e, recorrendo
contra esta declaração, não obteve provimento;
2.° Que proseguindo a fallencia, foi .elle pronun-
ciado; mas, afinal absolvido por não ser commer-
ciante;
3.° Que, fallida tambem a firma social, a favor
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO i75

de quem havia elle garantido letras, obteve rlla con-


cordata sem ser ouvido Pedro;
4.° Que os bens de Pedro farão .na sua. fallencia '
vendidos, e o proclucto repartido entre os credores
das ditas letras.

Resposta

Assim, é minha opinião.


Quanto ao io quesito:
Que, embora por não exercer profissão habitual do com-
mercio.se não podesse Pedro considerarcommerciante (Cod.,
art. 3° e 4°), e portanto como tal declarado fallido
(art. 197), todavia a sentença respectiva foi sustelitada em
gráo de recurso de êl ggravo, e o processo seguio todos os
termos até afinal, comprehendida a venda dos bens e dis-
tribuição do seu producto pelos credores. E', pois, negocio
finclo,qnc entra na ordem dos bctos consummados, fazendo
a sentença do preto branco e do branco preto, como cousa
julgada.
Ao 2.° Consegc.intemente, entendo que não se póde usar
contra a fallencia ela acção rescisoria, nem em geral nem
no caso de que se trata: i 0, porque este remedio não é
contra ella facul Uldo nem pelo Cod. Com., nem pelo Reg.
n. 738 de 1850, nem pelo de 1° de Maio de i855 ou qual-
quer outra disposição; 2°, porque o disposto no art. 68i,
§ 4 do Reg. n. 737 de 1.850, refere-se a demandas e não
ás fallencias ; 3°, porque nem seria applicavel, attenta a
natureza administrativa e complexa da fallencia, e parti-
cularmente a sua natureza mixta de civel e cl'iminal,
sendo que contra a sentenca criminal não ha acção resci-
soria ; 4°, porque, embora absolvido o fallido no plenario,
não altera isto os effeitos civeis da fallencia nem da pro-
nuncia (Cod., art. 820 in-fine).
Ao 3.° Que,não importando a concordata por si só nova-
i76 CO~SULTAS SOBRE

ção, OS credores conservão os seus direitos contra os garan-


tes e co-obrigados, poclenrlo portant.o apresentar-se nas
diT,ersas massas. Para que assim não seja, é preciso que da
concordata ou por outro titulo conste a renuncia de taes
direitos. Assim é na Inglaterra e outros paizes ; assim tem
sido tambem en tre nós.
Novembro, i87L

Fallencia ; credito de dominio ; commissario


i. O producto da venda de generos remettidos a
O

cornmissario que fallio constitue o comrnittente cre-


dor de dominio?
2.° Quaes os requisitos para se considerar alg1lem
credor de dominio ~

Resposta

Ao L° Credor de dominio é aquelle que pó de exercer a


reivindicação. Assim que, vendidos pelo commissario os
generos remettidos á consignação, e recebido por elle o
preço, conserva o committente apenas umdireito creditorio
contra o commissario, mas simples. E assim se tem jul-
gado. Os arts. 874 e 871:> do Cod. doCom. nem algum outro
lhe dão ou reconhecem o dominio em tal hypothese.
Ao 2. o O credor de remessas ao fallido para um fim de-
terminado é de dominio (art. 8~' 4, n. 4., Cod).
Mas é indispensavel que se virifiquem estas clausulas
essenciaes e que constituirião o mandato (Vide art. 620,
§ to, do Reg. n. 737 de 18õO), isto é, que sejão as remes-
sas feitas, e desde logo, para um fim determinado. Os di-
nheiros já existentes em poder do commissario, não prove-
nientes de taes remessas, entendo que não estarião nas
condições referidas.
Fevereiro, t870.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO :1.77

Fallencia ; curador; porcentagem


Tem o curador fiscal direito á porcentagem ter-
minando a fallencia por concordata?
Qual o recurso no caso de lhe ser negada?
Resposta
Ao cUl'ador fiscal é devida porcentagem ou commlssao,
ainda que se termine a fallencia por concordata (Cod.,
art. 839).
E' obrigado a contas, e fica sujeito ás penas da lei (Cod.,
art. 81)4 ; Reg. n. 738 de :l.8(sO, art. :1.58).
Do despacho que lhe negar a porcentagem cabe aggl'avo
(Cod., art. 307).
Agosto, :1.866.

Fallencia de banqueiros em 1864


i .. As commissões nomeadas sob o regimen do
Dec. n. 3308 de i 7 de Setembro de i864: podem
encarregar os bllidos da liquidação da massa
isentas de qu alquer responsabilidade?
2 .. Em que termos poderáõ os fallidos naquellas
condições obter concordata?
3.° Quaes os credor~s a que obriga a concordata?
4:.0 Qu,) alterações soffl'eu o processo de instrucção
de fallencia em virtude do ciLado Dec. n. 3308 ?
Resposta
As fallencias dos banqueiros, oecorridas dentro dos ses-
senta dias taxados no Dec. 3308 de :I. 7 de Setembro de :1.864.,
são regidas pelas disposições especiaes do mesmo decreto
e do de n. 3309 de 20 !lo mesmo mez e anno, explicadas
12
i78 CONSULTAS SOBlll

em varios avisos posteriores, como é expresso em taes


disposições peléls razões extraordinarias e imprevistas que
o exigirão. Sou, pois, de parecer:
i. ° Que as com missões administradoras, nomeadas de
conformidade com os mesmos decretos, não podem entre-
gar definitivamen~e a liquidação aos fallidos; podem, sim,
encarregaI-os de trabalhos e operações da liquidação, mas
sob re~ponsabilidade das mesmas commissões, como foi
bem decidido no Av. de -lO de Outubro de 1864, quesito se-
gundo, em harmonia com o art. 826, Cod., e art. 3° do
Dec. de 20 de Outubro. A responsabilidade é toda de taes'
commissões, que são obrigadas a contas, á remessa de ba-
balanço mensal (Dec. cit., de 20 de Setembro, art. 7° e 14 ;
art. 8M, Cod.).
2.° Que a concordata só poderá ter sido obtida legal-
mente, se o fôra em tempo, nos termos daquellas disposi-
ções (Dec. de i 7 de Setembro, art. 2°; de 20 de Setembro,
art. 2°). Passado elle, formou-se logo o contrato de união
para se entrar na liquidação definitiva (Av. já cit. de i864,
quesito segundo).
3. ° A concordata obriga extensivamente a todos os cre-
dores, excepto os de domínio privilegiados e hypothecarios,
salvo se estes tomarem parte nella (Dec. cit. de 20 de ~e­
tembro, art. 8\ Cod., art. 852 e 8;)3). A quitação ao fal-
lido só pela fórma decretada no Cod., art. 870, e Dec.
respectivo (Dec. cit., art. 7°).
4.° O processo de instrucção da fallencia para sua qua-
lificação, e pronuncia do fallido, foi supprimida nos casos
especiaes de que se trata. A ordem foi invertida. Ficou
salva a acção crime por banca-rota, que durará emquanto
não prescrever o delicto. A concordata devia ser obtida
anteriormente á abertura da fallencia. Aberta esta, segue-se
logo a liquidação definitiva (Dec. cito de 20 de Setembro,
art. 2°).
Tudo isto constitue direito novo, derogatorio, para es~es
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 179

casos especiaes, da legislação geral, ainda vigente, que


outra cousa dispõe (Vide Cod., art. 848, 849,902).
Dezembro, 1864.

Fallencia ; herdeiros

Lo Podem os herdeiros de um fallido intervir


directamente na fallencia?
2: Que procedimento devem seguir em relação
á marcha do processo de fallencia ?
3: Qual o recurso se lhes fór negada a inter-
ferencia?
Resposta
LO A audiencia do fallido, e portanto a dos seus her-
deiros, não é necessaria (Cod., art. 862); conseguintemente,
não podem estes directamente intervir. Todavia, como é
de justiça que não sejão lesados, podem representar ao juiz
como interessados em causa propl'ia, quanto á disposição
dos bens e dividas da massa.
2. o Podem protestar contra o que se fizer em prejuizo
seu e pedir a indemnisaçlo.
3. o Por damno irreparavel podem aggravar (Cod.,
art. 907; Reg. n. 737 de 1.850, art. 669, § H>, e Dec.
n. 1947 de i5 de Julho de 1857), ou appellar como terceiro
prejudicado (cit. art. 907, e Dec. de 1857, Reg., art. 738\
conforme fôr o despacho ou decisão do juiz, interlocutoria
ou definitiva.
Outubro, 1858.
180 CONSULTAS SOnE

Fallencia; penhor; deposito; classificação


L° Tendo sido aberta a fallencia de Joaquim,
déve José pagar a Pedro a importancia de que
aquelle lhe era devedor, ficando em penhor a mesma
divida? Quaes as consequencias caso o faça?
2: Possuindo Joaquim uma conta dada por José,
em que se faça menção de deposito ou de remessa
de fundos para um fim determinado, como deve
ser classificado esse credito de Joaquim?
3: E' essencial para constituir o deposito ou
o penhor a escriptura publica?
Resposta
Ao L· E' meu parecer que José não deve pagar a Pedro
a importancia do salLlo da conta de Joaquim, embora dado
em penhor; porque a fallenela superveniente de Joaquim
traz llecessar:arnr. nte mlldincação nas relações dos seus cre-
dores, tanto a:3sim, qlle, se ha execuções pendentes, deve-se
observar o que dispõe o art 830 do Cod. Com. ; se acções,
o que determina o art. 833 : as dividas contra o fallido se
tornão tod as exigiveis, os bens e todos os haveres do fallido
inclusive as dividas activas são arrolados, inventariados
e conBados ao depositario, curador fiscal e administra-
tiores ; e especialmente sobre os creditos dados em penhor
é muito clara e terminante a disposição do art. 833, Cod . ,
quando obriga o curador fiscal a praticar todos os actos
de que tl'alão os arts. 277 e 387, e por conseguinte lam-
bem o de promover a cobrança dos mesmos e seus juros.
E isto porque o curador-fiscal e administradores são os
verdadeiros representantes do faUido, inventariantes da
massa, encarregados de zelarem os direitos dos credores e
os interesses de todos.
Accresce que a graduação dos creditos deve ser feita em
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 181

tempo opportuno pelos administradores, e o credor pigno-


raticio pó de ser preferido por algum outro que tenha me-
lhor direito (Cod., art. 859, 873 e seguintes).
Só no caso de não haver duvida, póde o y'uiz mandar
pagar-lhe (art. 881, 882), e não o credor por sua autori-
dade propria,
Demais, os credores pignoraticios podem ser obrigados
a trazer em leilão os penhores por ordem do juiz da fallencia
(art. 833); e com rêizão, porque elles não fão senão cre-
dores, embora privilegiados, e equiparados a depositarios
(art. 276).
Ao 2.' A declaração feita na conta dada por José a Joa-
quim, estando assignada por aquelle, deve-se reputar titnlo
de depOSito, ou pelo menos de remessa dt~ fundos para um
fim determinado, e portanto importa ser classificado Joa-
quim credor de dominio, segundo o art. 874, § i' Oll § 4,',
excepto se essa declaração se convencer de inexacta e simu·
lada, porque neste caso ou desapparecerá de todo a divida
como fanlastica, ou a natUleza que se lhe quiz arbitrar e
dolosamente dar com semelhante declaração em fraude
e prejuizo de outros credores.
Emquanto verdadeira, elIa não está sujeita aos effeitos
da concordata, salvo se Joaquim tomou parte nas delibe-
rações para esta (Cod., art. 852 e 853).
No caso contrario, sendo credor, o será chirographario,
e estará subordinado á concordata se ella foi validamente
conferida.
Ao 3. A falta de escriptura publica, quer para consti-
0

tuir o deposito, quer o penhor, não prejudica, porque a lei


não a exige (Cod., art. 27i, 280): apenas poderá servir de
indicio de simulação, bem como a falta do sello, etc.
Fevereiro, 1860.
182 CONSULTAS SOBRE

FalIencia ; sonegações de bens; novo processo crime


i .o Qual o crime em que incorre a viuva do fal-
lido que occulta bens da massa?
2: O despacho de não pronuncia obsta a que se
instaure novo processo pelo mesmo crime ~
Resposta
Ao 1. Sou de parecer que tendo a viuva do fallielo occul-
0

tado bens da massa, ele conluio com terceiros, para preju-


dicar os credores, ha crime (art. 264" § 4,0, Cod. Crim.). Se
fôra o proprio fallido, constituiria quebra fraudulenta
(Cod. Crim., art. 803, n. 1).
Ao 2.° Não tendo havido julgamento, e apenas não pro-
nuncia, não ha caso iulgado que obste a novo processo, em-
bora este se faça no juizo commum, isto é, perante o juiz
municipal, a ser julgado pelo juiz de direilo (art. 149,
Cod. do Proc. Crim.).
Novembro, 1869.

Fallencia ; suspeição
Em o processo de fallencia póde haver sus-
peição?
Resposta
Entendo que sim, excepto talvez na parte da instruc-
vão por ser ao mesmo tempo fO'l'mação de culpa, caso em
que o juiz não póde ser dado de suspeito (art. 66 do Cod.
do Proc. e 24,3 do Reg. de 3t de Janeiro de 184,2), e
apenas deve declarar-se tal, se ha motivo legal para isso
(art. 61, Cod. do Peoc., e 24,7 do Reg. ciL).
Dezembro, 1854,.
VARIAS Qt:ESTÕES DE DIlmI'rO i83

Fallido ; mulher; dividas


i: Póàe o fallido dar autorisação á mulher para
commerciar?
2: Deve-se considerar patrimonio distincto do
do marido o que adquirir a mulher pejo seu com-
mercio?
3: Póde o fallido exercer o mand ato mercantil 1
4: A mulher autorisada para commerciar póde
contrahir sociedade mercantil?
Resposta
Ao L o Entendo que o fallido póde, não obstante a ficção
da lei que o reputa morto civilmente, dar autorisação á
sua mulher para commerciar, porque essa incapacidade
não é absoluta (arg. do art. 3° e outros do Cod.). A auto-
risação tem por fundamento capital o poder mO/t"Íla,l, que
a fallencia não extingue (art. i O, § 4,0, Cod.) .
Ao 2.° Parece-me que o que a mulher assim adquire
pelo seu commercío constitue para os credores um patri-
monio alheio ao do marido, e portanto não sujeito aos
credores da fallencia do mesmo. Muito mais, se fõr adqui-
rido com bens e fundos dotaes da mulher, com exclusão
do marido ainda quanto aos rendimentos.
O que, porém, o marido viesse a perceber liquido por
qualquer motivo ficaria sujeito áquellas dividas, como
quaesquer outras acquisições proprias (Cad., arl. 872).
Ao 3.° O fallido não póde exercer mandato mercantil,
e a fallencia e1.tingue-o (Cad., art. i57, § 3°).
Ao 4.° A mulher casada, competentemente autorisada
pelo marido para commerciar, póde contrahir sociedade
mercantil (arg. do art. i· e 27, ult. parte, cod.).
Julho, i865.
184 CONSULTAS SOBRE

Falsidade; seus elementos; ante data por oillcial publico


Dada a bypotbese de que um escrivão ou tabellião
faça um reconhecimento de firma com antedata,
terá por este facto commettido algum crime!
No caso affirmativo, qual o artigo do codigo ou
da lei em que esteja elle comprehendido ?
Resposta
E' minha opinião que o simples facto de antedatar o re-
conhecimento, ainda que scientemente, não é um crime,
como não o é igualmente qualquer outra falta semelhante,
nem ha artigo do Codigo Criminal ou de lei alguma, que
como tal puna aquelle acto.
Póde ser falta de ve7'dade, ou vulgarmente fallando uma
mentira; mas nem toda a mentira é uma falsidade pu-
niveZ por lei.
E' indispensavel para que o seja, e se repute então um
crime, que, além dessa condição, se dêm, em regra, as
.duas seguintes: intenção c1'i1ninosa, sem a qual não ha
crime (art. 3° do Cod. Crim.), e p?'éjuizo ou possibilidade
delle contra alguem.
Esta é a doutrina que,com as devidas distincções,á vista
de sua importancia e melindre, ensinão eximios crimina-
listas, como Chauveau, Théorie d'Lb Code. PénaZ, 1.852,
tom. 2°, pago 328 e seguintes; Rogron,Cod. PénaZ. al't. U;S
e seguintes, e é sancciomda por muitas decisões dos tribu-
naes francez6s, ainda o de Cassação, como se póde ver
naquelles escriptOl'es.
Nem outra podia ser juridicamente a intelligencia do
art. i29 § 8°, e 167 do nosso Codigo Criminal; porque
aliás daria em resultado que toda e qualquer falta de V81'-
dade estaria sujeita á acção da lei penal, o que não é
exacto, e seria até um absurdo : ha muitas que ainda
scientemente praticadas ou commetlidas não offendem a
VAlHAS QUESTÕES DE DIREITO 185

ordem publica ou interesses legitimos de qualquer, e a lei


não abrange: ficão no fõro da consciencia ou da moral.
Só se poderá em tal caso reputar um crime aquelle facto,
dando-se a esses artigos a elasticidade de interpretação que
se tem infelizmente dado a outros, v. g., oart. 264., §4,0 do
Gad. Penal, O que é contrario a todas as regras de herme-
neutica, que mandão interpretar litteral e restrictivamente
a lei criminal.
Agosto, i856.

Fiador ; empregado; fiscal


Póde ser fiador do empregado superior da mesma
ou de outra repartição o subalterno?
Respo8ta
Não (Reg. da Fazenda de i 7 de Outubro de HH6,
capo 196; Cod. Crim., art. 149; Dec. de 20 de Novembro
de 1850, art. 66).
Fevereiro, 1863.

Fiança
QLlaes são as obrigações do fiador?
A fiança innovada por alguma declaração poste-
rior obriga o fiador?
Não sendo o fiador principal pagador, como se
limi ta a sua obrigação?
Pagando o fiador pelo devedor, de qLle direitos fica
investido?
Resposta
O abonador ou fiador está responsavel pela importancia
total, pois assim se deve entender o seu abono sem reslric~
186 CONSULTAS SOB!\E

ção (Ord., liv. 4°,tit. 59,§ 4°); e fica subrogado nos direitos
do credor o fiador que pagou pelo devedor (Corrêa Te11es,
-Dig. Port., § 886 e notas; em contrario, outros exigem
exp1'essa cessão do credor, como seja Mello Freire, Dir.
Civ.,liv. 4°, til. 3°, § 28).
Se, porém, ha alguma declaração escripta, por onde
conste que se alterou a obrigação p1'incipal, a menos que
não seja simples espera ao devedor, então caducou a fiança
por ler havido novação de contrato, excepto si o fiador
conveio ou consentio (Lei i" e 18, Dig. de novai. Coelho
da Rocha cit., § 887).
Mas, não se havendo elle obrigado como lJ1'incipal pa-
gador, não pó de ser demandado, condemnado e executado,
e por isso obrigado a pagar, senão depois de demandado,
condemnado e executado o devedor p1'incipal, porq uanto
só depois de excutidos os bens deste se póde obrigar o
fiador a pagar o restante ou o total, na fórma da
cito Ord., pro
Ainda neste caso é preciso demandar o fiador (Ord.,
liv. 4°, til. 59; liv. 3°, tit. 37, § 2°, in fine; arg. da Ord.,
liv. 3°, tit. 92, in fine).
Tendo o fiador pago pelo devedor, tem acção contra
este, para ser reembolsado de tudo quanto por elle pagou,
com · seus juros e custas, além da acção propria para in-
demnisação de perdas e interesses (Coelho da Rocha cit.,
§ 884).
Maio, 1852.

Fiança
Pedro passou um credito a Paulo, o qual foi abo:.
nado por dous fiadores; o segundo fiador pagou a
Paulo por não o ter feito no vencimento o devedor
Pedro. Mas, indo sobre este para ser embolsado, não
VARIAS QUESTÕES DE D[REITO f87

o pôde obter por nada possuir. Póde elle ir contra o


primeiro fiador?
Resposta

Não; porque o primeiro fiador só o foi de Pedro e não


do segundo fiador, e nem este abonou ao primeiro e pagou
na sua falta, nem se trata aqui de endossadores de letras
que tenhão acção regressiva na ordem legal. O direito de
qualquer dos fiadores neste caso ésómente contra o devedor
abonado ("'/"j.
Janeiro, f8f)4,.

(") Sobre duvida suscitada em face de propostas respondidas,


e que se lêm supra e a p:-1.g . 43 relat ivam ente á fianr:a, dei a se-
guinte resposta:
Não ha contradicção entre a primeira resposta e a segunda.
Na primeira bem claramente está dito que a acção do fiado r
que pagou é contra o devedor. Na segunda este mesmo prin-
cipio se acha repetido, e então se tirou a conclusão de que o
primeiro fiador não está r es ponsavel para com o segundo, por-
que não é endossador ou abonador de letras ou titulos seme-
lhantes em que se dê acção regressiva, e nem o segundo o havia
abonado e pago em falta delle.
E' isto o que se acha claramente consignado na Ord., liv. 4·,
tit. 59, § 4°, onde se diz que, quando ha dous ou mais abona-
dor es, e estes não declaram a parte a que cada um se obriga,
fica cada um obl'igado in solidum, e o Cl'edor poderá demandar
qual elle quizel', pelo todo.
O direito à escolha neste caso é s6 do credor, e os fiadores
ficão igualados todos na sua posição sem ditferença de primeiro
e segundo nem de parte a paê'al'.
Em :ace do credito por c6pia, e de haver o segundo fiador
abonado o c1'edito, e não ao primeiro fiador, não resta duvida de
que acção do segundo, que pagou pelo devedor, é s6mente
contra o devedor, e não contra o primeiro fiador, do mesmo
modo que seria s6 contra o devedor a acção do primeiro fiador
que houvesse pa.go.
Março, ~854.
188 COi'iSULTAS S0Bl\.E

Fiança; co·fiadores

E' applicavel á fiança civil o art. 260 do Cod.


Com. Braz. ?
Resposta
O art. 260 do do Cod. Com. Braz. é relativo ás fianças
mercantis, e por isso não se pode dizer positiva e termi-
nantemente que elle seja applicavel ás fianças civis.
Todavia poderia tentar-se a acção contra o co-fiador
pela parte respectiva,em rateio, ficando o direito salvo con-
tra o devedor pelo restante, como parece autorisar o
art. 2033 do Cod. Civ. Fr. e outros. Mas não é isto liquido
e fora de duvida pelo nosso direito, como se vê de Coelho
da Rocha, D·i r. Civ., § 886, v. por equidade.
JGlho, 18M.

Fiança; hypotheca; contrato entre pai e filhos

i. o Incorre em crimi nalidade o devedor e fiado-


res que vendem bens geralmente hypothecados ?
2: O facto de não proseguir o credor na exe-
cução contra o devedor sem citação dos fiadores
importa exoner~ção destes?
3. o A falta de outorga da mulher para a fiança
obriga a sua meiação?
4. o De que bens deve lançar mão o marido para
effectuar o pagamento? E se a cobrança fór judi-
cial?
5. o Póde-se considerar venda de pai a filho, e
conseguintemente annullavel pelos outros filhos o
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO iS9

facto de chamar um delles a si a fiança do pai, afim


de o liberar do respectivo onus?
Resposta
Lo Parece-me não haver obstaculo a que o devedor e
fiadores vendão alguns dos bens geralmente hypothecados
sem incorrerem em criminalidade, porquanto esta só se
daria se os bens houvessem sido especialmente hypothe-
cados (art. 264., § 2° do Cod. Crim.) e fossem vendidos sem
o consentimento do credor.
Devem todavia ter em vista que restem bens sufficientes
para pagamento do credor; porque aliás se poderia reputar
artificio fraudulento em prejuizo do mesmo, e sujeital-os
ao § 4. do cit. art. 264. do Cod. penal.
0

2. O simples facto de não haver o credor proseguido na


0

execução contra o devedor principal, embora por sete a


oito annos, sem ter feito citar os fiadores, parece-me não
importar a exoneração àestes por não estar prescripta a sua
obrigação, eomo não está a do devedor, não constando da
escriptura tempo de duração da fiança inferior á prescrip-
ção geral das acções pessoaes, que é de trinta annos (OJ'd.,
liv. 4.0, til. 79), sentlo por outro lado certo que a simples
pro rogação de tempo concedida pelo credor ao devedor não
extingue a fiança (Coelho da Rocha, Dú·. Civ., § 887).
3. ° O marido que ficou por fiador sem outorga de sua
mulher não obr'iga a meiação desta, nem outros bens pro-
priamente della, como é expresso na Ord., liv. 4.0, tit. 60.
E no caso vertente, como a fiança foi acompanhada de
bypotheca geral de bens dos fiadores, é controverso se
vale tal hypotbeca sem o consentimento das mulheres
(Lobão e Mello, Coelho da Rocha cit.). Mas subsistirá sem-
pre a fiança nos termos expostos.
4.0 Se o marido quizer amigavelmente pagar, póde lan-
çar mão dos bens que mais lbe convenha dispôr para esse
fi m, na certeza, porém, de que para a alienação dos de raiz
t90 CONSULTAS SOBRE

é indispensavel O consentimento expresso da mulher (Ord.,


liv. 4.0, tit. 4.8 pr.).
Se, porém, judicialmente fôr a cobrança, a execução
deve seguir os termos regulares,determinados na Lei de 20
de Junho de i 77 4· e outras em vigor, devendo ser citada
tambem a mulher, se houver penhora e pro seguir a execu-
ção embens de raiz (Ord., liv. 3°, tit. 4.7).
Em todo caso, os bens em geral, emquanto cabem na
meiação do marido (na hypothese do art. 30), estão sujeitos
ao pagamento, nos termos referidos.
Ao ~. ° Parece-me não haver nullidade na transacção de
que se trata, e nem que os outros filhos co-herdeiros pos-
são annullal-a a todo tempo, e fazer vir á collação os
bens; porque não se trala de venda de pai para filho, de
que faUa a Ord., liv. 4.°, lit. 1.2, nem de troca desigual
entre taes pessoas. Trata-se de filhos que querem liberar
a seu pai da fiança, substituindo-o nella, e chamando a si a
obrigação, reservando-se no entanto direito ao reembolso
do que tiverem de pagar pelos bens do mesmo pai, o que
por certo não é prohibido por lei alguma, anles digno de
louvor.
Todavia, para evitar toda e qualquer duvida futura, é
prudente obter o consentimenlo de todos os co-herdeiro,> na
escriptura que se houver de lavrar.
Eis o meu perecer.
Julho, i8~3.

Fiança sem sciencia do devedor; obrigações; acções

Quaes as obrigações que resultão para o de-


vedor e seus successores a respeito de divida cons-
tante de titulo?
E' valida a fiança prestada ignorando o devedor?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 19i

Resposta
Desde que o devedor, reconhecendo-se tal, passe ao
credor o titulo (credito), e é este valido em direito, subsiste
a obrigação, a qual por sua morte passa aos seus her-
deiros e viuva conforme a lei. - Os juros estipulados con-
tinuão a favor do credor; a morte do devedor não os
interrompe.
Estas soluções assentão em principios inconcussos e ge-
ralmente sabidos.
Quanto á fiança prestada por alguem em garantia da
divida, é valida, ainda que o fosse ignorando o devedor
(L . 30, Dig. de fidei.; Cod. Civ. Fr., art. 20i4; Cod. Civ.
Port., art. 82i ; Pothier., Ob?'ig. n. 366 e 40 l1-) .
E ao':fiador, mesmo em taes condições, compete direito e
acção contra o afiançado. se por elle pagar, ou pelo prin-
cipio de subrogação ou do negotio?'um gestorum (Cod.
Civ. Pr., art. 2014 combinado com i372 e 2029; Cod. Civ.
Port., art. 838 ; Pathier. cito n. 430).

Fidei-commisso; direitos; transmissão por morte; Cod. Civ. Port.

1.0 Que dirflito adquire o fidei-commissario que


fallece antes do fiduciario?
2: O qne se deve observar em relação ao
art. i874 do Cod. Civ. portuguez?
Resposta
Para decidir as questões propostas, cumpre resolver a
preliminar :-se o fidei-commissario adquire direito trans-
missivel, Callecendo elle antes do fiduciario ?
Esta questão tem sido longamente debatida entre os ci-
vilistas e jurisconsultos, e resolvida de modos diversos
192 CONSULTAS SOBRE

(Vide Lobão a Mello Freire; Dir. Civ., liv. 3°, tiL 7°, § 18
in fine).
Alguns entendem que o direito passa aos herdeiros do
fidei-commissario (C. da Rocha, Dir. Civ., § 719, fundado
na L. 4i, § 12, Dig. de legal. 3").
No legado condicional tem-se entendido, ao inverso dos
contratos, que não ha. acquisição do mesmo antes do im-
plemento da condição (Lei 4·' e DA, Dig., quando d'ies leg.),
e portanto, se o lrgatario fallece antes desse implemento
nada transmitle a seus herdeiros (Pothier, Ob1'ig.)
lia, porém, quem entenda que se transmitte por haver
alle adquirido como nos contratos (Mello, liv. 3", tlt. 5°,
§ 32, tit. 6°, § 13; Cod . da Pruss., art. i61, i62, 485).
/.'
Outros fazem distincr,ões. Se a intenção do testador era
que a acquisição depmdesse da condição,não se transmitte;
que apenas suspendesse, transmitte-se (Cod. Civ. Fr.,
art. i040, 101.. { ).
Por outro lado, quando o fidei-commisso é improprio,
isto é, quando o fiduciario, póde'dispôr, e sómente tem de
passar ao fidei-commis!'ario o que 1'estar, o direito do fidei-
commissario é todo event'Ua.l, simples expectativa (spcs.),
como se vê da Lei 54, Dig. ad. S. C. Treb., modificada
pela Nov. 108. Póde o fiduciario gastar tudo, sem reserva
alguma por nosso direi to, segundo a regra geral dessas
disposições, visto como a reserva ahi importa da 4' Treb.,
e tambem a da 4.' Fal., nunca foi aceita e praticada entre
nós. (Pegas, ás Ord., tomo 1..° ; Mello, liv. 3°, tit. 7°, § 2i
e 22).
Ora, a disposição de que se trata-instituição de eo quod
supersit -conforme a jurispl'udencia da França, onde sendo
aliás prohibidas as substituições (Cod. Civ., art. 896), inclu-
sive as fidei-commissarias, todavia não se estende isto
á disposição referida (Vide Rogl'OU ao Cod. Civ.) , importa
realmente uma instituição condicional. Conseguintemente,
tal direito não se póde dizer .adquirido e transmissível.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 1.93

o Cod. Civ. Porto (em execução desde 22 de Março


de 1.868) regulou nos arts. i 81)8a 1.874. a materia das sub-
stituições e fidei-commissos. No art.. '1868 resolveu a ques-
tão susc itada, declarando que ofidei-commissario adquire,
ainda que falleça antes do fiduciario, o direito, e o trans-
mitte aos seus herdeiros. E no art. 1.874 mantem os fidei-
comm(ssos (aliás prohibidos de futuro pelos arts. 1.867
e t8H), sendo de successões abertas ao tempo da promul-
gação do cod,go, só q n ~nto á substituição em primeiro
grão.
Tendo, portanto, em vista os termos da proposta, en-
tendo:
L o Que, pelo uirei to anterior ao codigo, não era liquido
que o fidei-commissario F., tivesse adquirido; ao contrario,
era contestavel e duvidoso. Conseguintemente a trans-
missão aos seus herdeiros. Meu voto seria pela negativa.
2.0 Que, pelo c0digo, respeitados os fidei-commissos tem-
porarios de preterito, e mantida a substituição embora só
no primeiro gráo, canforme o art. J874 (caso de que se
trata), ficou prejudicada qualquer outra. Parece, pois,
que devem ser chamados, não só os fidei-commis arios,que,
nomeados pelo testador, sobrevivêr50 ao fiduciario, mas
tambem os herdeiros daquelle, que, tendo sobrevivido ao
testador, falleceu antes do fiduciario, visto o disposto
no art. 1868, não como substitutos (serião em segundo
gráo, não mantido pelo "rt. 1.874.) , e só como represen-
tantes, chamados pela lei , sem aLlenção, poi s, ao testamento
do mesmo fidei-commissario.
Novembro, 1.870.

Filiação ilIegitima ; ausencia do m.uido ; sllccessão


1: Em que caso os filhos illegitimos espunos
succedem á mãi ?
13
19li CONSULTAS SOBRE

2.° No regimen da communhão, ausente o marido


e morta a mulher, como se regula a. successão com-
correndo filhos illegitimos com os legitimos ?

Resposta

Em vista da exposição, os filhos illegitimos, de que se


trata, são espurios s. c. adulterinos; porquanto, sendo M.
casada, forão elles havidos em tempo em que, ao menos
presnmptivamente, ainda era. vivo o marido, e tanto qoe,
~em prova certa da morte, ella não podaria contl'ahir
segundas nupcias, por subsistir o impedimento ligaminis,
e não ser attendivel a ausencia,mesmo prolongada (B. Car-
neiro, Dir. Civ., liv. i·, tit. 11, § 10li , n. 14).
Ao i." Não podem elles succedel' ab inlesta,do á sua mãi
(Nov. 89, capo ult: Ord., liv. lio, tit. 93; til. 96 pr.: Lobão
a Mello, liv. 3°, tit. 80, § i3, n. 2; Coelho da Rocha, Vir.
Oiv., § 3!iO).
Só por testamento,salvos os direitos dos herdeiros neces-
sarios (Resol, L. de H de Agosto de ·i 83i).
Ao 2.° Subsistindo o casamento, e sendo o regimen ma-
trimonial o da communhão (Ord., li v. lio, tit. li6), é visto
que a meiação é do marido ausente ou dos herdeiros deste.
Só quanto á meiação da mulher poderião taes filhos ser
contemplados, mas na fórma dita, isto é, em concurreocia
com os outros filhos (legitimos), se se provasse que era
fallecido o marido ao tempo em que elIa os houve, por se-
rem então simplesmente naturaes, e portanto succesiveis
á mãi (Comment. á Lei de 2 de Setembro de -18í7, capo 3·,
quest. 13 e 1.5); e na terça, se por testamento, sendo
adulterinos.
Da meiação pertencente ao marido são successores os
herdeiros deste, s. C. os legitimos de M ,os quaes, por ser
a ausencia superior mesmo a trinta annos, podem fa.zer
effectivo o seu direito (Vide Reg. de 1.5 de Junho de :1.859 ;
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 1.95

Man. do Proc. dos Feitos, § 381 e. nota; Consolo das leis


civis, nota ao art. 338).
Agosto, 1875.

Filiação natural; testamento ; reconhecimento

i. o Antes da Lei de 2 de Setembru de i 847 o


reconhecimento do pai por escripto, com ou sem
força de escriptura publica, habilitava ipso jure os
filhos propriamente naturaes para a successão ab
intestatu activa, nos termos da Ord., liv. 4°, tit. 92,
ou era apenas uma prova de filiação para a acção
de filiação e petição de herança por morte do pai?
.2.° Sendo apenas uma prova de . filiação, era a
UnIca q\le se eXigia, ou era necessano que concor-
ressem outras em attenção á facilidade com que os
homens se prestão muitas vezes, por affeição ás
mulheres com quem têm relações :lmorosa~, a reco-
nhecer actos que a natureza occulta, e á espuriedade
que a lei não favorece tanto como a illegitimidade
simples?
3.° Querendo o pai que o filho proprio ou impro-
priamente natural lhe succeda, e addira logo á sua
herança ab intestatu como legitimo, não sendo para
isso sufficiente o reconhecimento por escripto, qual
o meio que tinha na lei para o habilitar em sua vida?
4.0 Um testamento com todas as solemnidades
por direito exigidas, existindo no mesmo estado por
morte do testador, podia suppôr-se revogado pelo
simples e posterior reconhecimento de um filho
196 CONSULTAS soaRE
natural, ou era necessario que este querellasse delle
na acção de filiação contra o herdeiro instituido ~
5: Tornando-se esse filho incapaz da successão
activa abintestatu em vida do pai, o testamento que
este deixasse podia ser questionado ao herdeiro
instituido pelo facto do reconhecimento anterior?
Resposta

LO rela legislação anterior á Lei de 2 de Setembro


de 18~7 o filho natu?'at, sendo de pai plebeu, adquiria
ipso jure O direito á sllccessão ab intestatu, e concorria
até com os irmãos legitimos a essa successão (Ord., liv. ~o,
tit. 92 pr.) .
°
Pouco importava, portanto, para esse fim, que pai re-
conhecesse ou não; porque lhe resta vão as acções compe-
°
tentes, não só contl'a pai, como contra os herdeiros do
mesmo (C. Telles, A. cç., § 36 e nota 66), sendo-lhe admis-
sivel todo o genem de provas, até conjecturaes (ci t. C.
Telies, § 37 e nota 67; B. Carneiro, Dir. Oiv., liv.l°,
tit. i9, § ISO, n. 3 e seguintes; Mello Freire, Di?'. Civ .,
liv. 2°, tit. 6°, § 22).
O reconhecimento do pai era, por certo, uma das provas
mais valentes, por ser mui difficil a prova da paternidade,
e tanto que induzia em favor do filho a quasi posse da filia-
ção (B. Carneiro, cit. n. 8, com. VaI. e Pego ; Lobão, Acç.
Sum., § 2M nota; Corrêa Telles, Dig. Port., vol. 2°,
°
art. ü~7), sem que todavia habilitasse por esse simples
facto, porque podia ser destruida tal presumpção legal por
provas em contrario (cit. B. Carneiro, n. 3 e n. 10 ; C.
'feltes, Acç., nota 67). Bem entendido, porém, que seria
inutil e desnecessal'ia a acção desde que não se impugnasse
a qualidade de filho natural e herdeiro (C. Teltes, Acç.,
§ I33).
Ao 2. o Já está respondido ao antecedente.
VAIH1S QUESTÕES »E DIREITO 197
Ao 3.° A legitimação per subsequens, e a perfiliação, ou
legitimação 1JOr carta ou judicial, taes erão os meios legaes,
não estando em uso outros (Mello Freire, Dir. Oiv., liv.2',
tit. 5°, § 16, i9 e 20; Coelho da Rocha, Dú,. Civ. Port.,
§ 295 e seguintes).
Devo, porém, notar que, se o filho é propriamente na-
tural, isto é, ex soluto e soluta, aquelles meios dão-lhe
pleno e perfeito direito de successão como legitimos, nos
termos em que ensinão os DD.
Quanto aos espurios, isto é, adulterinos, sacrilegos e
incestuosos, tambem lhes aproveita a primeira especifl refe-
rida, uma vez que pos a ter lugar o casamento entre os
pais, segundo a mais favoravel interpretação da Ord.,
Iiv. 2·, til. 35, § 12 (cit. DD., e Coelho da Rocha, nota P
no tomo 1°), sendo duvidoso, porém, se hoje lhes póde
aproveitar para esse fim a legitimação por carta, listo que
antigamente o direito de sllccessilo, quando por esta selhes
conferia, era verdadeira dispensa na lei por não poderem
taes filhos succeder ab intestutu a seus pais \Nov. 89, capo
ult. ; Ord., liv. 4° til. 93, e todos os DD.), dispensa que o
rei podia fazer por em si reunir tambem o poder legisla-
tivo, e que foi delegada ao Tribllnal do Desembargo do
Payo (Regim. novo, art. i 18), mas que parece não poder
julgar-se concedida, entre nós, aos juizes para quem a
Lei de 22 de Setembro de 1.828, art. 2°, § -1 0, passou a attri-
buiyão de conceder as referidas cartas, em face da nova
or'ganisação dos poderes do Estado, apezar da pratica em
contrario por mais favoravel aos filhos (Commentario a
Gouvéa Pinto, testam. pago 269, edição de i85i).
Ao 4.° Pelo nascimento do filho natural successivel
entendo rôto ipso J"ure o testamento anterior, se ao tempo
da morte do pai era vi vo o filho (Ord., li v. 4", til. 82,
§ 5°,), pois que es e filho é equiparado ao legitimo, de tal
modo que o pai só póde dispôr da terça, e até succede
conjullctamente com os irmãos legitimos (Ord., liv. 4°,
J98 CONSULTAS SOBRE

tit. 92, pr.); podendo, portanto, com esse unico funda-


mento (quando outros não houverem) fazer declarar nullo
tal testamento, por acção propria, esse filho, ou outro her-
deiro legitimo que direito tenha (Corrêa Telles, Acç., § i32
e nota 273). E, portanto o reconhecimento em questão
parece-me ter feito caducar o testamento anterior.
Ao 5.° Parece-me que sim, como se deduz do que se
deixou dito ao precedente, porquanto o simples facto do
nascimento de tal filho, aliás reconhecido, já havia rôto o
testamento nos termos referidos, cumprindo ao pai fazer
outro testamento posterior a estes actos, confirmando o
primeiro, se quizesse que. este vigor.asse; e ainda assim
só da terça poderia elle dispôr, a menos que se tornasse o
filho absolutamente incapaz de succeder ou fosse des-
herdado.
Setembro, 181'>3.

Filiação natural
A lei de 2 de Setembro de f847 é applicavel
aos filhos nascidos anteriormente?
Resposta
E' minha opinião que não; porque a lei não tem effeito
retroactivo, e assim não póde, quer directa, quer indi-
1'ectamente, fazer perder direitos já adquiridos. Os filhos
naturaes snccessiveis tinham o seu direito já adquirido
nos termos, da Ord., liv. 4°, tit. 92.
E assim se tem julgado em varias causas, de que men-
ciono as seguintes:
L° O juizo de orphãos da côrte, eSCrJyao Vianna,
A. Claudio Antunes Benedicto, tutor da menor Joanna,
e R. José Antunes de Azevedo, curador á heI'ança do finado
João de Carvalho da Cunha e Silva, e o Dl'. procurador dos
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 499

feitos, 184.9, (Accordão da Relação da côrle em 18 de Ja-


neiro de I851, sustentado no Supremo Tribunal de Jus-
tiça pelo de i7 de Junho desse anno).
2.· Juizo de orphãos, escri vão Vianna, A. Thomé Joa-
quim Torres, tutor do menor José, e R. Antonio Rodrigues
da Silva, curador á herança de José Paes dos Santos e o
Dr. procurador dos feitos, i849 (Accordão da Relação da
côrte de i 5 de Novem bro de ! 85i, confirmado pelo Su-
premo Tribunal no de 27 de Abril de i852.) (f)
3.° Juiz de direito da 3" vara da côrte, escrivão Silva
(depois Coelho), causa de habilitação, AA. Antonio da Costa.
Maia e outros (t848) (sell tença connrrnada por Accordão
da Relação de "9 de Novembro de t 853, escrivão Vianna).
Novembro, i 853.

Filiação natural; renuncia; impostos


O filho que deixou de ser reconhecido junta-
mente com outros póde pretender a herança pa-
terna'
O reconhecimento dos il mãos em falta do do
pai habilita para a successão ~ Em que termos?
Resposta
Se entre os pais não havia impedimento ao casamento
os fllhos são propriamente naturaes, successiveis ab intes-
tado, reconhecidos na fórma da Lei de 2 de Setembro
de i 8[17, por ser o pai fallecido depois della.
Aq uelle que não foi reconhecido não pode, portanto,
pretender tal successão por virtude da lei, que lh'a nega.
Só póde receber por acto de co herdeil'os.

(.) Neste o pai era tallecido desde de Jan eiro de 1847 e por
isso antes da lei.
200 CONSULTAS SOBRE

Com effeito, a declaração destes, reconhecendo-o, dá-lhe


quinhão na berança, mas por facto de ?'enuncia expressa
ou tacita em favor do mesmo; acto enl1'e vivos, equipa-
rado á doação (Vide Comment. á dita Lei, capo 3°,
quest. 3" ; e 7", Oonsol. das Leis Oiv. B?'., 2& as denota o
art. 212); sujeita, portanto, ao imposto da doação, e por
maior cautela á insinuação.
Não é caso de decima ou taxa da herança, por serem
isentos os herdeiros necessarios, quaes os filhos naturaes
successiveis e seus cessionarios ou subrogados.
Outubro, 1875.

Filiação natural; validade de testamento; declaração


de escriptura; averiguações policiaes
Pedro teve um filho no estado de solteil'O, e foi este bap-
tizado como de pai incognito; porém depois, Pedro por
uma petição ao vigario gera.l pedio que o vigario respec-
tivo abrisse um assento de reconhecimento e perfilhação
daquelle seu filho, o que se fez, j mando e assignando-se
com duas testemunhas, o que teve lugar em i830. Em
1.833 um irmão ele Pedro requereu exame de sanidade em
Pedro por consideraI-o demente, e assim foi julgado, e
posta, sua pessoa e bens em guarda daquelle seu irmão na
qualidade de curador. Conservando-se Pedl'O nesse estado
de demencia e tutela, em 1854, vendo o irmão que elle
estava prestes a fallecer, como de facto falleceu, não hesi-
tou aquelle irmão chamar o proprio tabellião, que na qua-
. lidade de escrivão tinha arrecadado os bens, para fazer
esse testamento, de fórma que, de curador que era cons-
t.ituio-se univer ai herdeiro Jaquelle seu irmão demente.
Pedro sabia escrever, e no entanto apparece outro as-
signado por elle, Jeclarando apenas o tabellião que pelo
estado de suas molestias não o pôde assignar, sem que
fizesse declaração alguma a pessoa que assignou a rogo;
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 20i

Pergunta-se

A' vista da certidão de perfilhação póde preva-


lecer aquelle testamento, quando declara que por
não ter herdeiro instituia o seu referido irmão?
2: E' valida aquella maneira de perfilhar, feita
antes da Lei de 2 de Setembro de 18~7, vi.;to que
no mesmo estado de demencia não era possivel
ratificar aquelle acto?
3: E' nullo o testamento, por ~er feito pelo ta-
bellião aquella declaração que o testador não podia
assignar por seus íncommodos-quando o deveria
ser por quem o assignou a rôgo ?
~: Pócle qllalqner, a quem possa interessar, pe-
dir, independente de hab ilitação, uma averiguação
policial afim de se descobrir n meio fraudulento e
cl'iminoso de que servirão os facLor es desse tes-
tamento ?

nesposta
Ao i." Se o filho é natural, isto é, havido de pai e mãi
que não tivessem impedimento para casar, é minha opi-
nião que o reconhecimento em baptismo é prova legal,
nos termos expostos, por tel' forca de escriptura publica
(Ord., liv. 3°, tit. 25, § DO; liv. DO, tit 38, § [.(.0; Mello Freire,
Di?'. Civ., liv. 4°, tit. -18, § DO; Lei de 2 de Setembro
de i847).
E em tal caso é nulla a institui ção, embora não o
seja o testamento, por se colligir que sabia ter filho suc-
cessivel (arg. da Ord., liv. 4°, til. 8!, § iO).
Para aquelles, porém, que seguem strictamente a letra
da Lei de 2 d~ Setembro de i847, não bastando o reconhe-
202 CONSULTAS SOBRE

cimento em baptismo para a successão, inteiramente op.


posta deve ser a opinião e resposta.
Ao '2. o Está respondido, sendo que, no caso de opinar-rse
conforme a letra da Lei cit. de "847, nada obsta em bene-
ficio do fi lho o estado do pai, já por não haver excepção na
lei, já por ser essa prova l'elati va ao que se diz herdeiro,
e sua habili tação essencial.
Ao 3. o A testemunha que assignou a rogo devêra ter de-
clarado porseu punho, ao pé do signal, que assim o fazia, e
a razão por que, pana de nullidade (Ord, liv. 4 til. 80,
0
,

pr., § i o; Ass. de 17 de Agosto de .. 8 1.. ; Ass. de 10 de


Junho de "817 ), não bastando que o faça o tabellião, ape-
zar de que este ponto seja questionavel (Lobão, Dissert. 4'
sobre a Ord. e Ass. cit., § '.W e seguintes).
Ao 4" Para a acção crime não obsta a falta de habilita·
ção, se ha direito que possa autorisar a queixa, e muito
melhor a denuncia, nos lermos dos arts. 72 e seguintes do
Cod. do Proc. Crim.
Mas, averiguações policiaes não é processo que a lei re-
conheça,e dê lugar a que se requeira.
·Fevereiro, .. 806.

Filhos illegitimos; patrio poder; poder materno


Póde o pai tirar do poder materno os fil.hos ille-
gitimos ?
Qualo recurso contra qualquer procedimento re-
provado da rnãi ?
Resposta

Como os filhos de que se trata são illegitimos, e sobre


os desta especie não tenha o pai patrio poder (C. da Rocha,
Dir', Civ., § 303; C. Telles, A cc., llota 15) é consequente
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 203

que os não possa tirar do poder materno, onde se achão


(cit. C. Telles, § 31, § 44 e nota 75).
Unicamente poderá, como qualquer tio povo, denunciar
ao juiz de orphãos qualquer motivo legal e justo que se dê
para nomear-se-lhe tutor ou curador, e requerer ao dito
juiz o que a tal respeito fôr de direito.
Fevereiro, 1856.

Foreiro; commisso; bemfeitorias


o foreiro pelo commisso perde todas as bemfei-
to rias ou só as modicas ?
Resposta
Entendo que só as modicas, em vista da opinião de Mello
Freire, Dir. Civ., liv. 3·, til. ti § 19, C. da Rocha, Dú·.
Oiv., § 558, e sobretudo Lobão, Dir. Emphyt., §§ ti07
a 6i6.
E isto sustentei desenvolvidamente em allegações de
appellação perante a Relação da côrte, na causa (vinda de
Cabo Frio ou Ca.mpos) entre App. Dl'. Joaquim Manhão Bar-
reto, e Apps. José Ferreira Barbosa, escrivão Novaes·
Mas a Relação por Ace. de 28 de Julho de i857 decidio o
contrario, fundando-se na literal disposição da Ord., lil. 4."
tit. 39.
Setembro, i857.

Fôro competente estrangeiro; /tctos do processo; sentença;


direito internacional
L~ Havendo accordo entre estrangeiros, qual o
fóro que deve seguir-se?
2: Que actos podem ser processados fóra delle ~
204 CONSULTAS SOBRE

3.° E' exequivel no Imperio a sentença obtida no


estrangeiro independente de pxcquatur?
Resposta
Ao L° No caso, o fôro competente é o de N. Y. (estran-
geiro) por ser o de domicilio dos réos e já haver sido aceito
e reconhecido por tal em o acco rdo respectivo. Actor rei
forum sequitur.
Ao 2.° Alguns actos preparatod os podem ser preparados
sem citação. Outros dependem della, como sejão a prova
testemunhal, e:xames, etc. Mas podem fazer-se por preca-
toda vinda do estrangei ro (Av. civ. de 14 de Novembro
de 1860, no Diario Olficial de i7).
Ao 3.· A sentença obtida no estrangeiro seria inexequi-
vel no Imperio, a menos que lhe ntio fosse conced ida o
exequatu?' pelo governo (Av. de 1° de Outubro de 'l847, no
de n. 90 de 184U; Av . cit. de 186tS; Decr. n. 201)0 de ode
Fevereiro de i81)9, al't. 4°, § 1°); principio accp,ito de di-
reito internacion al privado (Vide Felix e outros).
Negado o exequatw', a sen tença teria apenas força de
escripLura, e deveria sel' acc ionada como tal.
Nesta eventua.lidade bem poderi a (e seria preferivel)
accionar desde logo os réos no Imperio.
Vide Pimenta Bueno, Dú,. l nt. Priv ., n. 237).
Agosto, 1873.

Fretes

o carregam ento está suj eito ao frete, pertença a


quem pertencer, enlquanto não passa a dominio
de terceiro, e não está o dono do navio obrigad o a
receber proporcionalmente de cada carregador,
ainda não havendo ajuste com os carregadores?
VAlHAS QUESTÕES DE DIREIT.O

Resposta
Em causa executiva por fretes, AA. Guilherme da Sil-
veira e Silva & C., RR. Netto & Irmão, 3" embargante
Rocha Pinto & Lopes, nesta côrte, i854, pelo juizo de di-
reito da 3' vara, escrivão França foi decidido pela affir-
mativa.
E com efIeito os arts. i {7, i 18, 527 e 626 do Cod. do
Com. bem claramente o estabelecem, pondo só mente a res-
tl'icção de haverem passado a dominio de terceiro os gene-
I'OS da carga. O contrario destruiria o privilegio dos fretes,
privilegio fundado em justiça, e no favor á navegação e
ao commercio.
Novembro, 1854.

Gerente; directoria; crime; competencia ; exoneração


1.0 Qual o fôro competente na acção a intentar
contra o gerente de uma companbia, cuja directo-
ria tem sua séde fóra elo Imperio ?
2: Podem os accionistas satisfazer faltas cio ge-
rente embol':t fazendo reserva de seus direitos?
3. ° Póde a assembléa geral dos accionistas de-
mittir o gerente?
Resposta
Ao Lo Se as reclamações e a acção crime se têm de di-
rigir contra o gerente, é no Imperio que se deve tratar,
por ser o fôro do domicilio do réo e o do contrato, além
de ser o lugar do delicto (se tal houve) contra a directoriaj
porém, estabelecida fóra do Impel'io, seria duvidosa essa
competencia, vistos os estatutos e decisões proferidas em
casos semelhantes.
206 CONSULTAS SOBRE

Ao 2.° Embora os accionistas façam as reservas de seus


direitos, o facto de pagarem póde importar algum emba-
raço cpntra os mesmos; porque é até certo ponto e modo
reconhecer boa a gerencia e boas as contas.
. Póde no entanto ser tal a razão de conveniencia, que
aconselhe esse alvitre para evitar mal maior.
Ao 3.° Sendo mandatal'i03 revogaveis e administradores
de companhias (Cod. Crim., art. 290), póde a assembléa
dos accionistas demittir o gerente desde que haja causa
justificada; fazendo-lhe irltimar judicialmente a exonera-
ção se elle pretender continuar. E em consequencia, ele-
ger prolisol'iamente outro. De tudo deverá. dar-se commu-
nicação á directoria (fóra .do Imperio), que poderá ratificar
a nomeação, visto pertencer-lhe pelos estatutos.
Apropria directoria póde ser toda exonerada por acto
da assembléa geral dos accionistas, dando-se justa causa
para lhe ser revogado 011 cassado o mandato (Vide Av.
n. I04 de 24. de Março de {808.
Março, {873.

Habeas-corpus; competencia; prisão preventiva; competencia


i: Pó de um juiz de direito conceder habeas-
corpus a fayor do preso por ordem de um juiz subs-
tituto, embor a de diverso districto criminal?
2. o Os juiz~s substi tutos podem decretar prisão
preventiva dos réos, quando cooperadores no pre-
paro do processo?
Resposta
Ao LO ALei n. 2033 de20 de Setembro de {87f, art. {8,
combinado com o art. .. o in fine, parece-me resolver a du-
vida; porquanto, não sendo o substituto superior em grão
VARIAS QUESTÕ~S DE DIREITO 207

ao juiz de direito na ordem da jurisdicção judiciaria, e ca-


bendo-lhe ao contrario a mesma condição do juiz munici-
pal, nada obsta a que o juiz de direito conheça por habeas-
corpus da prisão por elle decretada, sem attenção á cir-
cumscripção da districtos, comtanto que dentro da co-
marca ex-vi do art. 2° do Oec. n. 4.82~, e art. 3° do
Dec. 484~ de 18 de Dezembro de '1 87L
Ao~ .. Entendo que sim, visto como, sendo competentes
para formar a culpa até pronuncia exclusivamente (Reg.
cit., art. i~), são compel.entes iguClJmente para decretar
a prisão preventiva nos casos em que esta é facultada
(Reg. art. 29 pro e § {O).
Maio, i873.

Habilitação; prova
E' essencial para habilitação a prova docu-
mental?
Resposta
A falta da prova documental não prejudica o direito que
possam terF.eF.,porque e11 só é essencial hoje para a prova
'de fili ação natural paterna,segundo a Lei de 2 de Setembro
de 1847. Deve sim, essa circumstancia influir para que se
exija plena prova de testemunhas, etc., e maior cautela em
julgaI-os habilitados para herdarem.
Agosto, 1854.

Herança arrecadada; habilitações; revista; reclamações;


Gompetencia
Pretendendo dous gmpos de herdeiros, L. e B.,
succeder em uma herança arrecadada, o segundo
208 €ONSULTAS SOlll\.E

decahio,passaudo em julgado a sentença. O curador


oppôz-se á execução da sentença. do outro e da de-
cisão -contraria interpôz revista.

Pergunta-se :

L° Póde o grupo B. haver ainda a herança habi-


litando-se de novo, e porque meio?
2." Entregue a herança] em que juizo deve cor-
rer o feito?

Resposta

Arrecadada a herança pelo juiz de ausentes, como foi,


propuzeram-se diversas habilitações por diversos grupos
com pretenção á mesma.
Farão julgados habilitados L .. e outros por sentença
na Relação revisora. Decahi rão B. e outros por sentença
que passou em revista, havendo esta sido negada. Pendem
outras, mas de parentesco mais remoto. A' execução da
primeira oppôz-se o curador com embargos infringentes,
que farão despresados pela Relação, e desta decisão inter-
pôz-se revista.
Pretendem B. e outros disputar a herança a L. ,e ouLros,
apezar de já haverem intervindo como assistentes (dizem)
reciprocamente ambos os grupos nas respectivas habili-
tações.
Estas habilitações importão uma petição de herança,
porque os herdeiros não se limitão á questão de estado, e
requerem a entrega dos bens, tudo na fárma do Reg. de
1.15 de Junho de 1.8159, de accordo com os anteriores
de :1.842 e :1.8415 e leis preexistentes.
As decisões referidas passárão, pois, em julgado, salvos
os direitos reservados na sentença.
VARI AS QUESTÕES DE DIREITO 209

E entre os uous grupos mencionados accresce que forão


ja reci procamen te parte nas habilitações; a sentença pro-
ferida os obriga.
Se houve se prova de novo e f(tctos em ordem a desfazer
a sentença ex 'Vi da Ord. , liv. 3°, til. 75, ainda se poderia
usar da acção rescisol'ia no mesmo juizo, impedida a en-
trega da heranç(t. Mas é isto muito duvidoso por se haver
j á decidido em gráo de revis ta.
Demais, pendem deste recurso os embargos infringen-
tes, que se fu ndio em tal materia. Cum priria aguardar a
sua decisão.
Entregue a herança, te m cessado a competencia do juiz
ele orphãos (Vide l11anual do Froc. dos Feitos). Qualquer
pretenção deveria ser tratada por acção propri a no juizo
commum, v. gl'., a petição de herança que algoem julgasse
ter con tra os habil itados na posse da mesma (C. Telles,
Acç), pode ndo embargal-a para garanti a (Ord., li v. 3°,
tit. 3"). Nes te caso, nada mais teria com semelhante acção
o curado r e procurador dos feitos.
Agosto , 1875.

Herança de filhos para ascenden tes; usofructo


A Ord., liv . 4,0, tit. 91 , § 2°, é ~ppJicavel só aos
filhos legitimas ou lambem aos illegitimos succes-
siveis ?
Resposta

Parece que só aos legi timos por dell es exclusivamente


tratar a mesma lei.
Todavia, em con trario B. Carneiro, Dir . Civ., li v. 1°,
tit. n, § 157, n. 13.
Dezembro, "856.
14
2'10 CONSULTAS SOBRE

Herança; fidei-commisso; carta de consciencia ; arrecadação


Em seu testamento Pedro instituío herdeiro a João, e
em uma verba declarou que em carta di spunha sobre al-
forrias de escravos e outras disposições. Morre João sem
ter feito testamento, e apparece a carta mencionada, em
a qual com effeito libertava escravos, e rogava a João que
por sua morte deixasse por seus herdeiros os filhos de um
compadre.
Fez-se a arrecadação do espolio de João pelo juizo de
ausentes, e com elte os bens da herança de Pedro.

Pergunta-se:

1.0 E' liquido o direito dos filhos do referido


compadre a pedirem a herança de João, que foi ar·
recadada?
2. No caso affirmativo, como procederem?
0

Resposta

Parece-me que, independente de ha.ver João instituido


herdeiros os filhos do compadre, podem eUes pedir a he-
rança que de Pedro recebeu João; porquanto, em vista
da ResoI. de 26 de Julho de 1.813, as cartas de conscien-
cia, de que se faz menção no testamento, se reputam in-
corporadas neIle e com força de disposição de ultima von-
tade, tanto mais, quanto a instituição mixtica de herdeiros
não é prohibida (Corrêa TelIes, Dig. Port., liv. 3',
art. 1.546).
Nos termos expostos, póde-se dizer que João era apenas
usofructuario como herdeiro fiduciario de Pedro. devendo
por sua morte passar a herança ao fidei-commissario,
isto é, aos filhos do compadre,e pouco importando a fórma
do fidei-commisso, porque essas subtilezas forão abolidas
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 2H

mesmo por direito romano na L. 15 Cod. de testam nas


L L 1a e 2' Cod. de lego et (ideic ., e em outras.
Quanto ao 2" quesito, como OS herdeiros referidos são
incertfJs, e não designados nomeadamente no testamento e
conta, devem habilitar-se no juizo da arrecadação (Reg. de
15 de Junho de 1859).
Abril, 1862.

Herança; filho natural; partilha


Qual o recurso de que deve lançar mão o filho
natural legalmente reconhecido para garantia de
seus direitos no inventario do pai, no qual não é
contemplado?
Resposta
Antes de prôpor a acção, ou de requerer outras provi-
dencias, acho conveniente que o filho natural requeira,
com o seu titulo (escriptura, testamento, etc.), ao juiz do
inventario, que na partilha o testamento de seu pai não
seja cumprido senão em tanto quanto couber na terça, e
qne se lhe faça quinhão dos dous terços que são sua legi-
tima. Desta questão pôde conhecer o juiz do inventario
, (Pereira de Carvalho, Proc. 01·ph., § f 55).
Se não fôr attendido, resta-lhe propôr a sua acção ordi-
naria.
Para a sua garantia, pôde eBe requerer o sequestro e
deposito dos bens da herança., que assim se torna litigiosa
(Ord., liv. 3°, til. 3i).
E mesmo a remoção doFnventariante herdeiro e testa-
menteiro, que se torna suspeito.
Pôde, tambem, com a certidão de ter proposto a acção,
requerer ao juiz do inventario a suspensão da partilha
212 CONSULTAS SOBRE

por ser a herança litigiosa e não liquida (Lobão, Acç. Sum.,


§ 334).
SeteIJlbro, 1859.

Herança; reivindicação; sequella


L o A quem pertence a responsabilidade por bens
de menores em poder de terceiro?
2. o Qual o meio a empregar para havêl-os ?
3.° A reivindicação comprehende tambem di-
nheiro?
4. ° Que direito assiste aos filhos sobre os bens
do pai, representando esse dinheiro legitima ma-
terna?
Resposta
Sou de opinião :
L° Que o primeiro e principal responsavel para com os
filhos é o pai e seu tutor nato (na hYPolhese em ques-
tão);
2." Que terão elles um direito de reivindicação cOBtra
terceiro, provando que em poder destes se achão bens aos
mesmos pertencentes;
3.° Que est:l reivindicação não se estende a dinheiro,
porque é genero e não especie, salvo o caso de fraude ou
mancommunação ; e muito menos quando o pai é usofl'l1c-
tuario dos bens dos filhos emquanto sob seu patrio poder;
4." Que, não cabendo a reivindicação, e sendo o pai o
devedor da importancia em dinheiro pertencente aos
filhos por legitima materna, e sendo privilegiada esta di-
vida, com hypotheca sobre os bens elo pai, o direito de
preferencia em relação ao pai não lhes poderia ser contes-
tado em concurrencia com outros credores do mesmo pai,
nos termos das leis vigentes; mas o de sequella dependeria
da prova de que os bens do pai ,onerados com a hypotheca,
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 2-13

bavião sido transferidos a terceiro, direito que, sendo de


facil demonstração quanto a immoveis e outros bens em
especie,é de difficilima, senão impossível ou quasi impossi-
vel prova, quanto a dinheiro.
Maio, -1871.

Honorarios medicos; prescripção


Qual a prescripção que regula a divida de bono-
rarios medicos ?
Resposta
Entendo que a prescripção destes bonorarios é a de
trinta annos , segundo a regra geral nas acções pessoaes
, (Ord.,liv. 4°, tit. 79), porque não temos lei alguma especial
que taxe prazo menor (Lobão a Mell, liv. 3°, tit. [lo , §§ 4
eU; C. Telles, Dig. PO?'t., nota d ao art. 1323, tomo -1°;
COf'lho da Rocha, Dir. C·i v , § 4·6[í e nota).
Novembro, 18[í8.

Hypotheca; antichrese; consignação de rendimentos; juros; taxa


No contrato, em questão, f01 convencionado:
i. o Hypotbeca. p:ll'a garantia da divida.
2 .. Consignação de rendimentos em compensação
de jur'os.
Não houve, porém, estipulação da ta.xa destes.
Portanto, é minha
Resposta
"\'0 V 1lém da hypotheca existe uma antichrese em fa-
vor dú me::.mo credor.
214 CONSULTAS SOBRE

Não ha lei que o prohiba (Vide C. da Rocha, Dir. Civ.,


§ 668) ; ao contrario, a nossa Lei de 24 de Setembro
de 1864 e seus regulamentos o permittem , (bem como o
Cod. do Chile, art. 2439, e outros), exigindo todavi a a ins-
ripção ela hypotheca e a transcripção desse on us real para
que valhão contra terceiros .
Ao 2.° Sendo os rendimentos consignados ao pagamen to
de juros, ainda que para estes se não fi xe taxa no contrato,
entendo valiosa a convenção em vista da nossa Lei de 2 1 de
Outubro de 1832, que a deixou á plena e ampla liberdade
das partes, presumin do-se que a taxa annual é aquella
que corres ponde ao renrlimento liquiLlo annual com relação
á divida.
Por esta lei forão derogadas todas as que prohibião usu-
ras e reprovavão os co ntratos usural'ios, ficando taes exi-
gencias reservadas ao fôro da consciencia (Consol. das Leis
Ci1) . Bras., art. 631 e nota).
Ao 3.° Aconsignação dos rendimentos pOde ser sómenle
a conta dos juros (Lobão a Mello, Di,.. Civ ., liv. 1°, tit. 8"
§ 20; C. da Rocha, cit., §§ 668 e 670 ; Cod. Civ. Porl.,
art. 873, Cod. Civ. Franc. art. 2089).
Ao 4.° CODseguintemente, derogadas taes leis, não se
póde pretender annullar por lesão semelhante contrato.
Mesmo pelo direito anteri or, só em certas condições po-
di a ter lugar; e en contrados no juro os rendimentos, o ex.-
cesso devi a ser levado á conta do capital (V. Mello, Lobão
e Rocha cit.),doutrina esta qu e, como excepção ,é adoptada
em alguns paizes. (Cod. do Chile, art. 244.3).
Setembro, 1875.

Hypotheca; annullação; outros credores; questões

Os far.endeiros A. e sua mulher , constituirão-se


devedores ao comm erci ante J. por escriptura de hy-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 2H;

potbeca celebrada e inscripta na fórma da Lei bypo-


thecaria de 1864 e seu Reg. de 1865,.
Pergunta-se

1.0 Póde ser nulla a bypotheca por não serem


passados os trinta dias?
2.° Outros creu ores podem execu tal' os bens hy-
pothecados ?
3: Pretendendo o devedor fazer uma vIagem
(ás aguas de Min as) por molestia, póde ser embar-
gado por alguns dos credores ?
Resposta
Ao -l . ° Não ; já porque os devedores não são commer-
ciantes, e portanto não lhes é extensiva a fallencia, que
só se applica iquelles ; já porq ue, quando fossem, depen-
deria (o que niio consta) de que se verificassem as condi-
ções do art. 827 do Cod. do Com. , e ar!. 2°, § 11 da Lei
cito n. '1 237 de '186í, e art. ,132 a 134 do seu Reg.
n. 3453 de 1865.
Ao 2.° Para que os bens hypothecados, segundo o novo
l'egimen, possão ser penhorados e executados por outros
credores, é preci o que estes tenhão tambem bypotheca
nos bens, salvo os casos de fallencia e de insolvabilidade
(Reg. cit. de 1.805, art. 24.0,§§ 4.° e 5°) .
Nestes casos de excepção, embora possão taes bens ser
executados por qualquer àos credores, mesmo não hypo-
thecarios, tem o hypothecario em concurso as vantagens
que lhe dá o cito arl. 240, § 6°, c ser admittido imples-
mente eom o seu titulo independentemente de sentença;
reputar-se vencida toda a di vida. ; correrem os juros até
onde chegou o producto; não ser a hypotheca sujeita ahi á
contestação, e ao contrari o sortir todos os se ns eITeitos em-
216 CONSULTAS SOBRE

quanto não fôr annullada ou rescindida por acção ordina-


ria, e mais as dos art. 2B e 2'r.4,preferir a quaesquer ere-
ditos.
A insolvabilidade refel'e-se ao devedor civel (qual o de
que se tr,üa), cuj os bens não chegão para integl'al paga-
mento dos credores.
Ao 3.° O motivo de ausencia por molestia e para tra-
tar-se não dá direito a qualquer proceelimento c()ntra o de-
veelor, fiem commercial, nem civilmente.
As causas justificativas ele embargo ou detenção pessoal
-são expressas: elevem ser provadas, e não podem ser arbi-
trariamen te ampliadas, atten ta a odiosidade de taes re-
medios.
Maio, 1873.

Hypotheca ; arrendamento ; onus real ; uso ; habilitação;


registro ; responsabilidade ; illdemnisações

1.0 Póde ser sujeito á hypotl1 eca um pl'edio que


faz i)arte àe bens dotaes, em ::trl'{mcJarn ento cele-
brado pelo marido, a quem a li1u lher passou procu-
ração fall ando em sujeição do mesmo?
2.° Qua,es as J'(lZões por que não prevalece contra
o credor hypothecal'io o arl'endarnento em qnestão'>
3,° Qual a differença perante o direito entre o
uso, a habitação e o arl'endamellto ?
4.° Em que responsabilidade incorre ° oilicial do
re gistro que causal' prej uizo á parte ?
5.° Que recurso resta ao arrendatario contra o
proprietario, não sendo mantido o arrendam ento?
VARIAS QUESTÕES DE DIl\EITO 217

Resposta
O arrendamento da casa em questJo, por sete annos,
com a clausula hypothecaria, foi fei to em Fevereiro
de 1867, tendo o arrendat1.rio pago adianta.do o aluguel de
cinco annos; o titulo fo i lançado logo no registro, não no
livro da inscripção especial, mas no da t?'ansc7'ipção de
On'l-LS reaes. Por outro laLio, a divida com hypotheca espe-

cial l11 referiLia. casa, constante de escriptura plllJlica de


Fevereiro de 1869, fl)i Lievidarnente registrada do respec-
tivo livro. O mencionado pred io ainLia estava compre-
hendido entl'e os bens dotaes da mulher do devedor
quando se fez o arl'endamento ; mas tornou-se livre peja
subrogação (com a de ,ida licença ou au toris1ção juLlici al)
em apolices, quando se constituio a hypotheca de ,1869.
Para tudo deu a mulher o seu consentimento em oL1 torga.
Isto posto, parece-me:
1.° Que, embora o marido não poJesse onerar com
hypotheca o bem dotal por ser inalienavel emquanto
dotal (Lei 1237 ele 1. 864" art.. 2", § 4·), todavia ella sub-
sisteri a pelo facto de al lodialidade superveoiente (arg.
do mesmo artigo § 6") em garan tia do arrendamen to que
podia fazer, reforvado pela dita clausula nos termos tIa
Ord., li v. 4,0" tit. 9°, pr.
Dizer-se na procmação da mulller simplesmellte- su-
jáção (do predio) ao nr1'endam enlo - não se póde enten-
der senão por eq uivalente (V. Cons.das le'is civis, art. 6i.16,
§ 3° e nota) .
Ao 2-. ° Que não prevaiece CO lltra o credor hypolhecario o
arrendamento referido; porquanto , estipulada a clausula
hypotllecari a, não se fez I) registro ou inscripçiío desta hy-
potheca (V. Cans ocit.) termos em que, depois da novissima
refurma bypotheCéll'ia,se poderáõ manter os direitos ou antes
salv~r a indemnisação do arrenuatario, em execL1ção da já
cit. Ord., lil'. 4,,, tit. 9°, assim modificada. Ora, a hypotbeca
não obriga a tercairo senIo depois de in,crip ta, e só
2,18 COWSULTAS SOBRE

desde a data da inscripção (Lei cit., art. 9°, pr.; Reg. 31153
de 1865, art i {7 a 123), e trata-se de hypotheca conven-
cional (Lei cit )
Não aproveita ao arrendatario o erro de se registrar no
livro da tmnscripção dos onus Toaes : a nullidade póde ser
invocada pelos terceiros (R.eg., art. 237, 280).
Nem se póde pretender que um registro dispense ou
supra o outro; o contrario dispõe o Reg . cit., art. 229.
Houve erro, porque, segundo o systema da actuallegis-
lação hypothecaria, o arrendamento, ainda com obrigação
especial do predio ao mesmo, não importa onus real, visto
como não se acha elle comprehendido entre os taxativa-
mente designados no art. 6° da cito Lei de {864, e cito Reg.,
art. 261-
Entendo, pois, que, nos termos expostos, nem o arrema-
tante nem o adj udicatario estão obri gados ao di to arrenda-
menta: são terceiros, e trata-se de execução por divida
°
hypothecaria ; onus seria pessoal, e não se transmitLe ao
comprarlor ou Sllcces~or (Lei de '18611, art. 6°, §§ '1 0, 2° e 3°).
Ao 3.° Que o uso e a habitação (uso de casa) são cansas
diversas de a?'rendamento; constituem o que, com o uso-
f1'ucto, se denominava se1'vidãfJ pessoal (Mello, fli?'. Oiv.,
liv. 3°, tit. ia, §§ to e 9°.) Sobre elles dispunha o direito ro-
mano, e se vê explicado nas Inst. Just. lI, 5 de 'l.tStt et hab,
§§ 1" a 5° (V. Lobão a Mello cit. C. da Rocha, Dú,. Civ.,
§ 62:2, 623; B. Carneiro, Di?'. Civ. liv. 5°, § 1!6, 117;
Ortolan ás Inst.l1.tst. cit).
Se?'vidão, gr.ava o predio em proveito de uma pessoa
(servidão pessoal), como grava a servidão de um predio a
outro predio (servidão predial), ou simplesmente se1'vi,ião
segundo a Lei cit ode 1864., art, 6°, § 1°).
O arrendamento é méra locação, com tempo on sem
e11e.
() uso e a habitação, de que trata o art. 6° da nossa Lei
de 1834., não se devem, pois, tomar na excepção vulga'r, e
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 219

sim na accepção juridica stricta (Vide entre outros, Locre,


Esprit du Gode Giv.Franç,; Rogron Cl)d. Giv.; St. Joseph ,
Gonc01'dance des God. Giv.; Seoane. JU7'ispr. Hesp. e
Estmng.; God. Giv. P01't., 1.867; conselheiro Silva Ferrão,
Dicciona7'io remissÍ1Jo ao úod. Giv. P01't. (1.869).
Ao 4. O official do registl'O que causar prej uizo á parte
0

é-lhe responsavel pela indemnisação (Reg. cito de 1.865,


art. 101).
Ao 5. o Com o actual sysLema de 1'egistl'o (inscripção e
transcripçio) e sua publicidade não podem as partes facil-
mente pretender-se illudidas.
Não mantido, porém, o arrendamento, apezar da clau-
sula adjecta, poderia o arrendatario peuir ao proprietario
indemnisaçãci de prejuizos, e exigir a restituição propor-
cional dos alugueis adiantados.
Novembro,1.8iO.

Hypotheca; concurso; appellação; fiança


LO Póde o credor chirographario concorrer em
execução de h y pothecarios ?
2. Qual o recurso
0
que cabe da decisão final
sobre preferencia ?
3. E' independente
0
de fiança o embaraço que o
credor chirograpbario pretenda oppôr ao paga-
mento do bypotbecario ?
Resposta
I Ao I.· Não pjde credor chirographario concorrer na
ex.ecução do hypothecario, e só os hypothecarios que
tenhão hypothecas sobre os mesmos bens (Reg. cit,
art. 292, § 3") .
Ao 2.0 Qne, desde que a Lei de I8M e seu Reg. de I865,
220 CONSULTAS SOBRE

não prohibirão a appellação, nem substituirão por outro


recurso, tem ella cabimento da decisão fin al sobre a prefe-
rencia, mesmo ex vi da Lei, art. 0\4., edo Reg. cit., art. 282
e 283 (Reg. n. 737 de J8 ~ 0, art. 636).
Ao 3." Todavia, e como dispo ,~ ição excepcional (Reg.,
art. 292) , não póde o p:1gamento do credor hypothecario
ser impedido pelos cbirographari os (art. cit., § 3") , e por-
tan to, ind ependente de fiança e de recurso: de que já ha
precedente em relação ao recurso de revista.
Abril, i 868.

Hypotheca de pais para filhos; acções; processo; execução;


embargos

L° São admissíveis arti gos de opposiÇão em


acção decendial bypot,hecaría ?
2. 0 Considerados como ernbargos, como podem
ser recebidos?
3: Pód e o pai obrigar-se por divida para com
um filbo ? Que form alidade deve preencher para
a valid ade da obri gação?
4.° Póde o foreiro uypoth ecar o domínio util
sem consentim ento do se nhorio?
5.° Não tendo havido con sentimento dos ou-
tros filho s para a hypotheca, que recurso terão estes
, na execuçã<J ?
6.· Os casos do art. 2~O , § 6 do Reg. bypothe-
carla excluem quaesquer outros?
7. o Pócle o exequente proseguir sem fiança a
execução , recebidos os embargos do rr,o na acção
deccn dial?
VARIAS QUESTÕES DE DIBEITO 221

Resposta
Presumindo tratar-se de bypotheca sujeita ao regimen
da Lei de 1861, e Reg. de 1865, respondo:
Ao LOQue OR embargos de que se trata parece-me antes
artigos de opposição, termos em que serião absolutamente
inadmissiveis na acção decendial ex vi do ar!.. 320 do Reg.
n. 737 de 1850, applicavel segundo o disposto na citada
Lei, art. 14, e Reg. cit., art. 282 e 284.
Ainda reputados de assistente, não serião attcndiveis,
visto como, quando mesmo se entendesse comprel1endido o
caso na prollibição da Ord., liv. 4°, til. 12, o direito dos
descendentes, provenien te desta lei, só se verifica par ?n01'te
do ascendente, conforme a opinião da maioria, dos civilistas
(Silva á Ord. cit.; Lobão a Mello, l lv. 2°, til. 4.°, § 14,
n. 15, nota; B. Carneiro, liv. 1°, tit. 20, § 182, n. Ui;
Cans. das Leis Civ. 8mz., nota ao art. 584).
Ao 2.° Se fossem recebidos taes embargos, não poderiã o
deixar de sêl-o sem condemnação, e só para dar lugar á
mais ampla discussão, tomando a fórma ordinaria.
Ao 3.° A Ord., liv. 4", til. 12, affecta de nullidade a
venda e a troca desigual. Mr1.s não prohibe nem annulla em
absoluto qualq uer outro contrato entre pai e filho sem
consentimento dos outros filhos, excepto se em fraude
daquella disposição.
Se, pois, a divida é verdadeira, ella é valida, e póde ter
lugar, para seu pagamento, a venda judicial ou necces-
saria (B. Carneiro cito n. 11 e 12; Lobão cito n. 1.3;
Canso cit., nota au art. õ83), e conseguintemente a hy-
potheca, que não é venda propriamente dita, mas simples
separação ou antecipada nomeação de bens, embora com
efiei lO de seq uella e preferencia.
Ao 4,.0 Tambem o foreiro não póde vender os bens afo-
rados sem consentimento do senhorio (Ord., Iiv. 49 , til. 38);
e não obstante, a Lei hypothecaria de 1864, art. 20, § 10,
222 CONSULTAS SOBRE

permitte-lhe hypothecar O seu dominio util sem esse con.:.


sentimento.
Ao 5. o Quando fosse nulla tal hypotheca por falta de
consentimento dos outros filhos, e podestem estes em
vida do pai questionar os ernba1'gos á acção, se admit-
tidos, tomarião a fórma ordinaria. Na execução eltes não
serião admissiveis, porque, não podendo ser senão de ter-
ceiro prejudicado, o Reg. n. 737 de '181)0, applicavel como
já foi dito, no art. 604 os prohibe. H.estaria, portanto, a
acção ordinaria.
Ao 6. o A disposição do n. 5 do arL. 240, § 6 Reg. hypo-
0
,

thecario de "861), é rela ti va 'aos casos de fallencia e i Ilsol-


vabilidade, como é expresso no mesmo § 6", constituiodo
uma excepção ao direito commum em favor do credor
hypotbecario. Mas não exclue outros casos de nullidade ou
rescisão.
Ao 7. Condemoado o réo, e recebidos os embargos na
0

acção decendial, o exequente póde seguir na execução


e mediante fiança (Reg. n. 737 de t850, art. 259) pres-
tada antes do levantamento do preço da arrematação
(art. 556, § tO).
Junho, i872.

Hypotheca ; elfeitos; validade


Póde-se considerar em vigor em face da Lei hy-
pothecaria o art. 617 do Reg. n. 737 de '25 de
Novembro de 1850 ? -
Resposta
Eu entendo que o art. 6i7 do Reg. n. 737 de t850
acha-se modificado pela novissima lei bypothecaria e seu
regulamento em relação a credor hypothecario, que, em
concurso de credores, se apresenta com hypotheca cele-
VARIAS QUESTÕES DE DIlI.EITO 223

brada e inscripta na fórma dessa legislação; o sell titulo


surte todos os seus effeitos emquanto não fôr annullado
ou rescindido por acção ordinaria(Reg.,art. 240, § 6°,0.5).
Não póJe, pois, ser contestado no incidente do dito con-
curso.
Ad(íendo.-Descle que se não trata de hypotheca cele-
brada e inscripta depois da novissima lei hypothecarla e
seu regulamento, entendo que lhe não é applicavel o dis-
posto no cit. art. 248, § 6', n. 5, e que isto só se refere
aos posteriores. E assim podem as anteriores ser atacadas
por nullidade, simulação, fraude, etc., no incidente do
concurso ou preferencia (Lei de 20 de Junho de 1.774.;
Reg. n. 737 de 18DO, art . 617.)
A sentença condemnatoria do devedor só obriga entre
as partes respectivas, e não faz direito contra terceiros,
que a podem atacar como sejão credores (Ord., li v. 3°,
tit. 81).
Novembro, 1867.

Hypotheca em partilhas; rendimentos


Tem o berdeiro prefel'encia pelos rendimentos
dos bens que lne couberão em partilha em poder
do inventariante?
Resposta
Pela garantia do quinhão ou da torna em partilhas ha
hypotheca legal nos termos da Lei de 1864, art. 3°, § 8°,
e do Reg. de 186D, art. tiO § 1°, e 136 § 9.°
Parece-me, pois, que não se pó de pretender preferencia
quanto aos renrlimentos posteriores á partilha, porque
destes é simples det~ntor o inventariante, que apenas re-
presenta ahi de gestor. Se, porém, não prevalece quanto a
elles a hypotheca legal, subsistem todavia os outros privi-
224 C: l NSULTÁS S011RE

legios do direito anterior (Lei. art. DO, § 2°), e pois a


doutrina dos praxistas e o disposto no Cod. Com., art. 878,
n. 2; Reg. Com., art. 621.
Dezem bro, f867 .


Hypotheca; excussão; integridade

Em uma execuçào de divida por hypotheca,


tendo sido o inJmovel adjudicado a um dos credo-
res, tendo outros protestado preferencias, póde-se
pa,ssar carta de adj li dicação ?
Decil1itla a pl'eferencia em favor do adjudica-
tario, tem este o direito, haveodo excesso em di-
nheiro a repor, de retalhar a propriedade para so-
lução do mesmo excesso ~
Se não tem, de que recurso deverá lançar mão
para libertar-se dessa obrigação?
Resposta
Penhorada, como foi, a fazenda em sua integridade,
mesmo por força da hypotheca e execução; vendidos os
escravos separadamente, já por por virtude da Lei 11. '1237
de 2 11 de Setembro de '1864, já IJor força da Lei n. 1695,
de 1D de Setembro de f869, e s6guindo a mesma execu-
ção os seus termos até a arrematação que não teve lugar
por falta de lançadores, é o termo linal adjudicação, a
qual será definitiva se não houver lançador sobre o preço
desta (Reg. 11. 737 de 18DO, art. D60, applicavel ao caso
pelo disposto no art. {4. da Lei cit. de 186í).
Havendo outros credores que tenhão protestado, e sendo
o caso de concurso, não se passa a carta de ajudicação
sem se decidirem as preferencias (Reg. cit. de 18DO,
art. 063 e 6i i).
Y.lIHAS QUESTÕES DE DIREITO

Preferido o adjudicatario, deve este repôr o excesso em


dinheiro (art. 561). Comquanto abolido em favor do cre-
dor hypothecario o privilegio da Lei de 30 de Agosto
de 1833 (Lei cito de 1864, art. 14, § 2°), isto não lhe dá o
direito de retalhar a propriedade, podendo, sim, preva-
lecer-se do disposto no ar t. 14, § 1" da Lei cit. de 1864 e
seus Regs. n. 341)3 de i865, art. 292, e n. 3471 do mesmo
anno, art. 71, para vender-se a propriedade toda, posto
que exceda no dobro a divida, ou da adjudicação dos ren-
dimentos pelo tempo necessario para o seu pagamento;
mas tudo em tempo habil.
Já pela lagi lação an terior essa arrematação tinha lugar,
não obstante o § 24 da Lei de 20 de Junho de 1774, pelo
Alv. de 6 de Julho de '1807, § 3° (que o declarou e limitou),
e pelo de 2i de Janeiro de 1809, § 3.°
E é o caso, desde que ha mais credores, cujas dividas
ele vão o total, e talvez excedão ao valor da mesma pro-
priedade.
Por accôrdo entre os credores concurrentes póde outra
cousa fazer-se, intervindo tambem o executado se fÔl' isto
necessario.
Addindo.
A Lei n. i237 de 1864, art . 14, § 1° deixa ao credor
hvpothecario a escolha (vbo. ?Jode) de se pagar pela ad-
judicação dos rendimentos, na fórma da legislação an-
terior, ou pela arrematação ou adjudicação dos bens, ainda
que excedão em valor o dobro da divida, disposição des-
envolvida no art. 292 do Reg. n. 3453 de 1861), e art. 7i
do de n. 3761 do mesmo anno.
Conseguintemente com esta limitação se deve entender
o art. 564 do Reg. n. 737 ele {850, limitação que, aliás,
tem o apoio no art. 568.
Está entendido que, se preferir a adjudicação dos rendi-
11)
!26 ~ONSULTAS SOBRE

mentos OU ar.tichres(', não obsta á excussão dos proprios


bens pelos outros credores (art. 567) .
•Julho, i873,

Hypotheca; eXGussão; privilegio de integridade; escravos;


antichrese
L° Subsiste o privilegio de integridade da Lei de
30 de Agosto de i833?
2.° Qual o procedimento que deve segnir o cre-
dor hypotheca.rio, quando, como o Banco do Brazil,
é considerado sociedade de credito real?
3, ° Qua.l a consequencia. do sequestro em rela-
ção aos rendimentos do immovel ?

Ao 1,- O privilegio ele integridade da Lei de 30 de Agosto


de -1833 est[L clerogaclo em favor do credor hYPoLhecario
pela Lei n. 12::li de '1864., arL. H., § 20, independente-
mente de convenção. Póde, portanto, o credor hYPoLhec::t-
rio desmembrar elas terras os escravos.
Além disto, não é hoje possivel executar-se englobada-
mente terras e escra,os, em vista dos termos da Lei
n. iG95 de 15 de Setembro de 1869, que não se harmo-
nisão com os da execução sobre outros bens; os escravos
devem ser nece~s3rjamente separados, e levados á hasta
pelo modo especial ahi decretado (V. parecer do conselho
de Estado de ':2 J:l.neiro de 1870, no relatorio do ministro
da justiça) .
Ao 2.° Todavia nada obsta a que o ceedor hypothecario,
prefira pagar-se pelos rendimentos como aliás dispõe ex-
pressamente, quanto ás sociedades de credito real o Reg.
n. 34.7! de 3 de Junho de 1865, a.rt. 70, e ii, e em
VARIAS QUESTÕES DE DiREITO 227

geral se deduz do art. 292 do Reg. TI. 3453 do mesmo


::tnno.
O Banco do Brazil, em sua repartição hypothecaria, é
reputado sociedade de credi to real (V. Lei n. 1349 de i 2 de
Setembro de 1866 e Decr. n. 3739 de 23 de Novembro do
mesmo anno). J~oderia, portanto, prevalecer-se daqueHa
disposição.
Quanto ao modo pratico, ahi se acha elle determi-
nado, tendo-se igualmente em vista que a acção e execu-
ção da hypotheca têm o processo decretado no Reg.
n. 737 de 1.850 (Reg. cit. primeiro de 186v, art. 283, e se-
gundo do mesmo anno, art. 68). Feito o gequestro como
preparatorio, póde elle resolver-se ou pelo modo designado
no art. 7-i deste segundo Reg., ou pela penhora
(art. 5!87 do primeiro), seguindo-se a execução, em a qual
poderá ter lugar a adjuclicação dos rendimentos, na fórma
constante do cito Reg. commercial.
Áo 3. ° Com o sequestro os rendimentos ficão sujeito!;
á divida hypothecaria como accessorios, e os bens são en-
tregues a depositario. O lwoprio devedor póde er deposi-
tario, se nisto convier o credor, com as mesmas obrigações
(Reg. 1", art. 280; Reg. 2', art. 72, § 1°).
Mas, resolvido elie em anLichrese, ou adjudicados os
rendimentos ao credol', a este compete a posse, e adminis-
traI-os por si ou por pessoa de sua confiança (Reg. 1°,
art. 383, combinado com o Reg. n. 737 de 18;>0 ; Reg. 2°
de 1865, art. 7f, § 2°).
Se o depositario desmerecer da confiança, ou mesmo o
devedor quando depositario, pó de o credor requerer a sua
remoção, conforme o direito geral ou commum.
Outubro, 1870.
228 CONSULTAS SOBRE

Hypotheca; execução; arrematação ou obrigação de rendimentos;


preferencia; antichrese; processo
Da exposição resulta:
i. o Que, visto achar-se hypothecada a outro a
casa penhorada, lev~rão-se á praça. os alugueis ;
2: Que o exequeote os arrematou, com licença
do juiz para seu pagamento;
3. 0 Que, por occasião da penhora na casa, o cre-
dor hypothecario protestou;
4. 0 Que, p'Jsteriormente, veio elle oppôr-se,
quanto aos alugueis, com embargos, que lhe não
forão admittiJos ;
5. o Que fez ultimamente sequestro na casa, da
qual ainda não se achava de posse o adjudicatario
dos alugueis, embora já se tivesse extrahido a sua
carta e fosse intimado o depositario para lh'a en-
tregar.
Resposta
Em termos taes, sou de parecer:
L o Que, visto o protesto do credor, feito em tempo, não
se devêra ter exlrahido a carta sem que primeiro se hou-
vesse disputado a preferencia (Reg. n. 737 de 1850,
art. 611 ; Lei hypothecaria de 1864., art. 14. ; Reg. hypo-
thecario de 1865, art. 283).
2. Que o sequestro pelo credor hypothecario tem o
etreito de sujeitar ao pagamento da divida, como accessorio
da hypotheca, os rel1dimentos posteriores ao mesmo (Lei
cito de 1864, art. 5°, Reg. n. 3453 de 1865, art. 286,
§ 1°; Reg.n. 34.71 de 1865,art. 73).
3. Que o mesmo credor hypothecario póde preferir
0

pagar-se pelos rendimentos em fórma antichretica (Lei cit.,


VARIAS QUESTÕES DE DlREIT~ 229

art. U; Reg. i de 1865, art. 283, 292; Reg. 2° de i865,


O
,

art. 70 e 7i ; Reg. n. 737 de 1850, art. 568).


Se não fôra principalmente aquella primeira circums-
tancia, o ex.equente adjudicatario dos rendimentos devêra
ser mantido no seu direito, ficando salva a execução do
hypothecario sobre a propriedad.e mesma (Reg. n. 737
de 1850, ar t. 567).
Embargos me não parecem admissiveis, quer ao seques-
tro, qller á execução, por parte do exequente adjucatario,
sobretudo no estado actual do processo (ex vi da Lei cito
de 1864., art. H ; cito de 1865, art. 283, 289 e outros;
Reg. cil. de -1850, art. 596 e 604).
Resta sómeote, em minha opinião, promover os termos
do concurso ou preferencia, arrematada que seja a casa,
se estiver ella suj eita á, execução, ainda que por parte do
hypothecario, ou mesmo independente disto, sobre a adju-
dicação dos rendimentos, atLen to o seu direi to dJ opção
(Reg. de 1865, art. 283 e 292; Reg. de 1850, art. 613 e
seguin tes).
Abril, 187õ.

Hypotheca; execução; terceiro; arrematação; annuIlação


de execução; questões

i. Qual o melhor alvitre a seg1ür e suas conse-


O
j

quencias, tratando-se de uma execução commercial


em que forão penhorados bens hypotbecados,
quando t:les bens já havião sido arrematados em
outra execução, embora esta tivp-sse sido annullada
e conseguintemente a arremat(lção (
2.° Qual a responsabilidade do tutor que já pres-
tou contas?
230 CONSULTAS SOBRE

3." Como são deduzidas as porcentagens na


execuç'ão?
. 4: Como responde o fiador por qualquer falta
para a integridade do producto da. arrematação?
5. Qual o procedimento que se deve seguir
0

contra o fiador?
6.° Como devem ser admittid05 os embargos '{
7.° Podem os outros credores disputil,l' prefe-
rencias, tendo sido annullada a execução movida
pelos menores contra o tntor fallecido ?
8.° Não tendo terceiro titulo legitimo, póde exe-
cutar sentença?
Resposta

Ao L° Em vista da exposição, parece-me que ha dous


alvitres a tomar para se proseguir na execução de que se
trata, conforme se entender preferivel-manter a penhora
feita nos bens hypothecados e ainda não excutidos nessa
execução,-ou dal-a por prejudicada, aeéitando-se o facto
da arrematação desses bens e elos outros pela outra exe-
cução, apezar de haver esta sido annullada e conseguinte-
mente a arrematação.
No primeiro caso, feita, corno se acha, a penhora, e
desembaraçada a execução dos incidentes que a retardárão,
nada mais haveria do que promover os lermos sllbse-
quentes. O actual possuidor dos bens viria provavelmente
com embargos de terceiro. Mas á sua procedencia obstaria
a nullidade do titulo de acquisição e posse (arrematação
dita), implicitamente decretada pelas sentenças que annul-
lárão toda a execução (V. Ord., liv. 3°, til. 86, §§ 3°, 4°
e 5°), a que accresce ° onus hypothecario, com o sell
direito de sequella, principalmente se a hypotheca é das
contrahidas segundo o novo regimen da Lei de 24 de Se-
VARIAS QUESTÕES DE DH\EITO ~3i

tembro de 1.864 e seu Reg. de 26 de Abril de i865. A esse


terceiro caberia o direito regressivo contra os antecessores,
e ao arrematante contra os respectivos exequentes e seu
fiador, para o seu embolso.
Póde, porém, entender-se que aquella arrematação ex-
tinguio este onus (Ord., liv. 4°, til. 6°), e por outro lado
que o arrematante não póde ser mais obrigado a restituir
os bens, passados trinta dias da senlença, com sciencia dos
interes!lados (arg. da Ord., liv. 3°, tit. 86, § 3°), restando-
lhes então só o direito contra o deposito, exequentes que
recebêrão e fiador (V. Pereira e Souza, P1'OC. úiv., nota 888).
Neste segundo t:aso ter-se-hia de ratificar a penhora no
producto dos bens, ret:olllido ao deposito ou em poder
dos exequentes que recebêrão, e portanto no cofre dos or-
phãos a parte dos menores ahi recolhida, ou, em falta, nos
bens delles, e do fiador judicial pela sua rec;ponsabilidade
(Ord., li\'. 3°, tit. 86, § 3°; tit. 87, § i2~.
O pl'oducto dos outros bens não penhorados nesta exe-
cução tambem estaria sujeito á nova penhora, como per-
tencente aos executados devedores, e poderia ser nella
comprehendido. As circumstancias, porém, aconselharião
a conveniencia e opportunidade.
Elfectuada a nova penhora, seria prudente (quando
mesmo fosse de simples ratificação) assignar o prazo legal
aos executados. E, sendo em dinheiro, tambem aos cre-
dores incertos, conforme direito.
E assim proseguiria a execução os seus ulteriores termos.
observado o processo respectivo.
Ao 2.' O ex-tutor, que já IJrestou suas contas, nada
mais tem com o negocio, e sim I) actual tutor como repre-
sentanle dos menores.
Ao 3. ° As porcentagens e outras despezas não devem ser
em prejuizo da actual execução; foi res inter alios.
Ao 4..° Por toda e qualquer falta para a integridade do
producto da arrematação responde o fiador, com cuja ga-
232 CONSULTAS SOBRE
. .
rantia teve lugar o levantamento (Ord., liv. 3.', tit. 92),
obrigada a meiação da mulher, se accedeu outorga àesta
(Ord., Iiv. 4., tit. 60).
Ao o.' Contra o fiador judicial procede-se pela mesma
sentença (Ord. cit., liv. 3', til. 92), ou executivamente
nos casos em que assim é determinado (V. Reg. n. 737
de 1850, al't. 000).
Ao 6.' Nas execuções commerciaes (qual a de que se
trata) os embargos do executado ou de terceiro só podem
ser admittidos nos termos expressos do Reg. n. 737
de !800. O dinheiro penhorado, mesmo em mão de ter-
ceiro, deve ser recolhido ao deposito (Reg cit., art. 52!,
522026).
Ao 7.' Se foi annullada sómcnte a execução movida pelos
menores contra o tutor fallecido, e não a sentença exe-
quenda que o condemnou por alcance, poderião elles pre-
tender disputar preferencia. Mas os outros credores po-
dem impugnar, e talvez excluil-os.
Ao 8.' Não pode o terceil'O executar em seu favor sen-
tença alheia sem titulo que o legitime (V. Pereira e Souza,
Prac. Oiv., § 386; Reg. cit. n. 737, art. 4.91).
Maio, 1873.

Hypotheca; garantia; responsabilidade; limite desta; processo;


questão

L' Qual a extensão de responsabilidade do ge-


rente de uma. companhia em relação á generalidade
de seus bens, hypotbecados apenas uma parte del-
les? E para com terceiro que reforçou a garantia,
corno indemnisal-o no caso de alcance?
2." Na acção de contas podia deixar de ser ci-
VARI.\S QUESTÕES TlE DIRI':ITO 233

tado O terceiro garante? Que intervenção nella lhe


deveria caber?
3.° Com que titulos deve propor O credor bypo-
thecario a sua acção?
4. ° Em que occasião se deverá apresen tal' o ga~
rante para dizer de seu direito i

Resposta

A responsabilid.ade do gerente, de que se trata, embora


illimitada como é de sua natureza, subsiste assim quanto
aos bens em geral, por virtude da obrigação geral destes.
Importa ob1'igação pessoal.
Mas a garantia hypothecaria (ob1'igação 1'eILl) por elle
prestada, não podendo valer nem ser inscripta senão sobre
quantia certa e determinada, foi estimada, de comrnum
accôrdo, em a importancia ahi referida, na fórma da Lei
bypothecaria de 24 de Setembro de '1864, art. 4° pro e 5°,
art. 9°, § 24 ; Reg. de 26 de Abril de t805, art. H9, 'H8
§ 6° e 235 a 237.
O terceiro reforçou eSSél. garantia, hypothecando tambem
especialmente os seus bens, como permitte a cito Lei,
art. 2°, § 7°;Reg., art. -127. Em vista do trecho da respec-
tiva, parece que aquelle mesmo valor foi aceito quanto a
esta hypotheca, em observancia da legislação citada, va-
lhão mais ou menos os bens hypothecados.
Além desta ob1'igação 1'eal, esse mesmo terceiro cons-
tituio-se ahi garante ou abonador (ob1'igação pessoal).
De sorte que, não cobrindo a hypotheca senão aquella
quantia, o excesso ou differença ficaria a descoberto della.
Mas, por elle seria obrigado o fiador llté o valor dos bens
ahi expresamente declarado (Ord., art. 257).
Só assim se poderá verificar a garantia de toda e qual-
quer responsabilidade do gerente, prestada por este ou por
23.\ CONSULTAS SOBRE

esse terceiro; indemnisando-se o credor (companhia ou


committente) :
1.0 Pelos bens do devedor principal, hypolhecados e não
hypulhecados;
2.° Pelos do gerente ou abonador, por este designados.
Aliás poderião ser ill usorias taes garan tias.
Ao 2.° Na acção de contas do committente contra o ge-
rente ou commissario podia deixar de ser citado aquelle
terceiro garante, ficando-lhe salva a defesa legitima que
possa produzir.
Poderia, no entanto, int.ervir como assistente desde que
a causa se tornou ordinaria (Ord, liv. 3°, til. 20, § 3i ;
Reg. 737 de 181>0, art. 124}
A sentença é exequivel não só contra o vencido, mas
contra o garante, pela hypotheca (Reg. cil. de 186~,
art. 28~, n. I) e pela fiança merca.ntil (Reg. cito de 18flO,
arl. 492, § 3°), observado o que foi ponderado no antece-
dente quesito.
AO 3. ° Com os documentos e titulos respectivos pó de o
credor propô r sua aeção hypothecaria, precedendo como
prepdratorio o sequestro. (Lei tit. de '18M, art. i4; Reg. de
i86.'), art. 28.z e seguintes).
Ao 4.° Ou na execução, ou na acção principal que lhe
seja proposta, póde o gerente ou abonador allegar por
meio competente, e em tempo habil, a defesa que lhe as-
siste, sobre a qual será proferida decisão conforme direito.
Abril, i875.

Hypotheca judicial; garantia; concurso

L· Qual o procedimento a. segu i I' pelo credor de


hypotbeca judicial quando lia sequestro dos mesmos
bens por outro credor '1
VARIAS (JUESTÕES DE DIREITO 235

2.° Que direitos dá a hypotheca judicial?


3.° O que se deve fazer quand.o concorrem duas
bypothecas sobl'e os mesmos bens ?
Resposta

Ao 1... Entendo que o exequen te póde proseguir na sua


ex.ecução, não obstante o sequestro do credor hypothe-
cario, porque os bens penhorados tambem lbe estavão
especialmeute hypotl1ecaclos por virtude da sentença (hyp.
judicial) e devidamente registrada a sua hypotheca, e
portanto com o direito de promover nelles a execução
(Lei hypothecaria art. 3° § '12. art. 9° ; Reg. de '18ôi>,
__ § c)0
at't • 'iJ 1.A 1 , ,1 99 _ , 993
.... _. , 991.)
...... li' •

Ao 2° A hypotheca judicial não dá prelação, e apenas o


direito de sequella (Lei, ar t. 3·, § 1.2; Reg., art. i 1i). Mas,
como tem lug:lr a prel1ota~ão, o registl'o de outra hypo-
theca feitu durante o lapso de tempo para a prenotação,
não prejudica a hypotheca prenotada e inscripta em tempo
(Reg., art. 1.i>2, § 2°). Ahi tem, pois,o exequenLe garantia.
Ao :L" Concorrendo as duas bypothecas sobre os mesmos
bens,teri lagar o concur:;o sobre ambos os credores (Reg"
art. 29:!, § 3°). E ahi se decidiráõ os direitos ele um e
outro.
Julho, 1868.

Hypotheca legal; curadores; curatellados ; competencia ; venda;


validade; rendimentos

i. o Que onns pesão sobre os bens de um curador


e (;omo póJe ser solvida a sua responsabilidade {
2.° A quem pertence ao decisü.o de5niliva nas co-
marcas geraes das causas de valor superior 500:tt>?
236 CONSULTAS SOBRE

3: Onde deve ser feita a venda de bens bypothe-


cados 7
4: Podem ser vendidos desde que haja recla-
mações?
5: Annulbda a vend a, tem lu gar a reivindi-
cação?
6.° Na mesma hypoth ese pod em ser partilhados
os bens em inventario ?

Resposta

Ao 'l .' Quanto aos bens da curadora, achão-se elles hy-


pothecados legalm ente (Lei n. 1237 de 1864., art. 3", § 2°).
Não podem ser alienados sem autorisação e devidas cau-
telas em ordem a garanlir a responsa bilidade da curadora,
ou deixando esta a curatella, e prestando suas contas de
modo a ficar livre e desembaraçada.
Quanto aos do curatellado, não podem ser vendidos se-
não por cansa justificada, e em has ta publica (Ord., liv 1·,
tit. 88 , § 25 e 26).
Ao 2.. Nas comarcas geraes a decisão definitiva, em ne-
gocio excedenle a 5008, pertence ao juiz de direito, e não
ao municipal ou de orphãos (Lei n. 2033 de 1871, art. 24.,
Reg. n. 48:2/", Je J871, art. 66 e 71).
Ao 3.° A venda só póde ser feita em pra.ça (resposta ao
primeiro).
Ao 4.' Desde que sobre os bens pendesse reclamação,
acção ou recurso, não estarião livres para serem vendidos,
ou serião litigiosos (Ord., liv. 4', til. 10), ou suj eitos á de-
cisão superior.
Ao 5. 0 Não procede a pretendida reivindicação, já por-
que a venda foi nuUa (Ord., liv. 4' , til. 1.2), jã porque não
se passou a indispensavel escriptura.
Ao 6.' Nulla essa venda de pai para filhos, sem consenti-
VAR.IAS QUESTÕES DE DIR.EITO 237
mento dos il'mios deste, a causa foi bem partilhada no
respectivo inventario (Ord . cit.).
Mas, quanto aos rendimentos percebidos pelo filho ante-
riormente á mOl'te do pai, parece-me que são devidos (Ord.
ci lo e tit. 97).
Dezembro, 1873.

Hypotheca; outorga da mulher

Póde o marido hypothecar bens sem outorga


da mulher'?

Resposta

Se o marido pó de hypothecar bens de raiz sem outorga


da mulher, é questão, sobre a qual devirgem as opiniões e
os julgadores dos tempos antigos. Inclino-me a que póde,
sendo, porém, executidos os bens com cita<:,ão da mulher,
pois só então se tem de verificar a alienação de que trata
a Ord., liv. 4°, til. li8. A bypotheca não tira o dominio,
nem mesmo a posse ao casal: consigna apenas ou separa
bens para garantia de pagamento futuro (V. Lobão a Mello,
liv. 2°, tiL 8°, § 18 e 19, n. 29; C. da Roeha, § 234,nota;
r.. Telles, Dig. Port., tom. 2°, n. 405; Moraes, Exec.,
liv. 6°, capo8°, n. 60).
Junho, 1862.

Rypotheca; penhor; emolumentos

1.. Quaes os emolumentos que tem o official do


registro de hypothecas ?
238 CONSULTAS SOBRE

2." Qual o modo de escripturar o indicador pes-


soaI?
3.° Como deve proceder em relação á inscripção
da bypotheca de e~cravos como accessorios de im-
moveis?
Resposta

Os emolumentos a que tem dimito o official de \'egistl'o


de hypoLhecas achão-se claramente definidos no 1'8. pectivo
Reg. n. 345~~ de 26 ele Abril de 186~, art. 94 a 9fi ; além
desses, nenhum outro podem cobraI'.
Assim, que:
L° Pela in cripção dos orphãos 3S, (art. 94) o Reg.
não faz excepção.
2. ° Pelo lançamento do numero de ordem nada têm.
3.· Pela indicação no indicador real ou pessoal, compre-
hendidas todas as referencias que ahi fizer, 1$500,
(art. Qf)i3) , bem enlendido de cada indicação.
4.° Que a som ma total dos emolumentos pó de variar,
porque resulta da addição das diversas verbas a que o
Reg. dá direito.
E quanto aos outros quesi tos direi:
1.0 O modo ele escripturar o indicador pessoal está bem
explicado no cit. Reg., art. 34· a 37. Deve-se escrever por
ordem alphabetica (em que é dividido o livro o nome das
pessoas, que activa ou passivamente,só ou collectivamente,
figurão nos livros respectivos (art. 3{), lançando-se no
dito indicador distinctamente o nome de cada uma (art.36),
e portanto de credo\' e devedor, de tutor e tutelado.
2.° Desde que a lei hypothecaria autorisa, por excepção,
a hypotheca de escravos como accessorio do estabeleci-
mento agricola, a inscripção da hypotheca em taes condi-
ções deve comprehender tambem esses escravos, que são
em tal caso reputados immoveis por destino, adherentes a
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 239

propriedades. Deve, portanto, ser inscripto no liv. 2°,


(inscripção especial) O Iiv. 6' é para a transcripção do
penhor de escravos de estabelecimentos agrit:Olas com a
clam;uIa constituti (Reg. cit., art. 39), cousa muito diversa
da hypothecél..
Junho, 1874.

Hypotheca; penhora; embargos·; validade; rescisão

L° Que validade tem a penl.lOra feita por credor


Ilão bypothecario em bens hypotbecados?
2. A que entidade se referem as expressões-
Q

falIencia e insolvabilidade-do art. 24, § 5° do Reg.


hypotbecario?
3: Póde-se considerar insolvavel o individuo
que tem bens hypotbecados :1 outrem, sendo aquel-
les os unicos, havendo outros credores que todavia
podem ser pagos pelos mesmos?
4: Póde o credor bypothecario oppôr-se á exe-
cução com embargos de terceiro senhor e pos-
suidor?
5. o Qual o eíTt'!ito da hypotheca celebrada e ins-
cripta?
nes~osta

Ao Lt E' nul1.1. a penhora feita por credor não hypo-


thecario em bens hypothecado3 na fórma da novissima. Lei
hypothecaria ex vi do art. 240, § 5° do Reg. respectivo;
s,\l vos os casos de fallencia e insolvabilidade do devedor.
Ao 2.· A fallencia refere-se ao commerciante, e a insoI-
vabilidade ao dc\'edor civil, segundo as disposições dos
arts. 806 do Cod. Com. e 609 do Reg. 737 de 1850, a que
240 CONSULTAS SOBRE

expressamente se prende o cito art . 24.0, § 5° do Reg. hy_


pothecario. Comprehende,porLanto,aqnella pxcepção não "J
O commerciante quando fallido, mas qualquer ontro deve-
dor quando insolvavel. .
Ao 3.° Insolvabilidade é a impossibilidade de pagar inte-
gralmente aos credores, é a insufficiencia de bens pal'a este
fim, tendo-se em attenção o activo e o passivo do devedor.
Assim que póde alguem ter os seus bens hypotllecados a
certa divida, e ser ainda devedor a outros, sem que se
possa dizer insolvavel, desde que taes bens, ainda que
sejão os unicos que possua, cheguem para integral paga-
mento de todos. Em tal caso, embora não possão os não
hypqthecarios fazer penhora e executir taes bens, podem
todavia fazêl-o nas sobras (Lei hypothecaria, art. 5°; Reg.
hypothecario, art. 244, 292, § 3°) .
Art. 4. ° O credor hypothecario não póde oppôr-se com
embargos tie terceiro senhor e possuidor, porque não o é.
Mas póde apresentar-se a disputar a preferencia, se fôr
caso em que subsista a penhora nos termos do art. 240,
§ 1)0 do cit. Reg., reputando-se vencida a sua escriptura, e
independente de sentença e penhora (art. 240, § 6°). Se,
porém, não fôr caso disso, parece que póde oppôr-se como
terceiro prejudicado. A disposi ção do art. 604 do Reg.
commercial n. 737 de '1850 não é extensiva ao processo
civil. Tambem póde o hypothecario prevalecer-se do favor
do art. 88i do Cod. Com., expressamente conferido no cito
art. 2~0, § 6°, n. 4 do Reg. hypothecario. (I")
Ao 5. ° Celebrada e inscripta a hypotheca, nos termos da
Lei e Reg. novissimos, não póde ella ser objecto de contes-
tação no concurso de credores: surte todos os seus effeitos
até que seja annullada ou rescindida por acção ordinaria,
como expressamente dispõe o art. 240, § 6°, n. 5, do Reg.
(*) Esta doutrina p6de ser contflstada eru face do art. 14, da
Lei vbs, cujo processo e execução, etc., e dos arts. 282 e 283
do Reg. respectivo.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 24i
r.ypothecario; disposição excepcional, segundo a termi-
nante declaração do art. 292, que a reproduz e desenvolve
em o § 3.° Houve intenção formal de repeUir essa latitude
de opposição ás hypothecas, quer por parte de credores,
quer pela de devedores, quer de outros.
Junho,i867.

Hypotheca ; penhora; embargos

1.° A nullidade da penbora, a que se refere o'


art. 4°, § 5" do Reg. de 26 de Abril de 1865 de-
pende de rescisão '1
2: A derogação do privilegio de integridade
comprehende outros credores que não seja o hy-
potbecario ?
3 .. De que nullidades se póde prevalecer o exe-
cutado na hypotbese de se haver desmembrado
accessorios do pri nci paI?
4: A que nullidades se refere o art. 517, § 2°,
do Reg n. 737 de 25 de Novembro de 18501
Resposta
LOEntendo que a nullidade da penhora decretada no
§ 5° do Reg. n. 3453 de 1865 é de pleno direito.
2.° Julgo nuHa a penhora etfectuada em animaes do ser-
viço immediato do estabelecimento agricola hypothecados,
se por outrem que não credor hypothecario, não só pela
regra cit., mas pelo privilegio de integridade, que não foi
derogado senão em favor do credor hypothecario, se-
gundo o art. i6, § 2° da Lei hypothecaria de i864., e
art. 292, § 2° (lo Reg. cito Nem obsta, mesmo quanto a es-
cravos, a Lei de i5 de Setembro de i869, porque refe-
i6
242 CONSULTAS SOBRE

rindo-se apenas ao modo de vendel-ús, nada alterou


quanto á penhora.
3.° Nulla a penhora por taes motivos, e pr eju dicado
assim o executado, entendo que este póde prevalecer-se
tal vez dessas nuUidades, embora a do § 5°, art. 240, se
refira mais particularmente ao credor hypothecario.
4.° O disposto no art. 5::2 7, § 2° do Reg. n. 737 de 1850,
é generico : refere-se a toda e qualquer nullidade que
affecte o executado. Não póde este prevalecer-se de outras
que affectam exclusivam en te a terceiros ; destas só estes
se podem prevalecer.
Março, 1872.

Hypotheca ; preferencia

Como se regula a preferencia em hypotheca de


bens a dous credores distinctos, sendo) porém, só
uma escriptura?
Resposta
Embora na mesma escriptura fossem os mesmos bens
hypothecados a João e José, todavia, sendo estes credores
distinctos, e tendo só o pl'imeiJ'O feito registrar logo a sua
hypotheca, e posteriormente José, entendo que João tem
a preferencia pela priopridade do registro (Lei n. 1237
de i864, art. 2°, § 9, e art. 9° ; Reg. n. 2453 de 1865,
art. 115 e 116, § 30).
Abril, 1868.

Hypotheca; regimen antigo e novo

i .o Quaes as condições para validade de uma


VARIAS QUESTÕES DE DiREITO 243

escriptura de hypotheca segundo o regimen antigo


e o moderno?
2.° Qual o direito que têm os credores em rela-
ção a um e outro regimen?
Resposta

Ao 1.0 Desde que a bypotbeca foi constituída por es-


criptura publ ica e se acba devidamente inscripta, sendo
especial, me p:Jrece valida, quer seja anterior, quer pos-
terior á execução da lei novissima (Vide Lei de 24. de Se-
tembro de 1.864. e Reg. de 26 de Abril de 186[;).
Ao 2.° Se é anterior, não exclue todavia os credores
que possão ter melhor direito, segundo a natureza dos
creditos, de conformidade com a lei anterior e o que dis-
põe os arts. 31.6 a 321., 32[;,326, 329 do Reg. de 1.865.
Se posterior, tem a preferencia pela prioridade, deler-
minada (quanto á convencional) pelo registro ou inscrip-
ção (Lei cit., art. 2', § 9° ; Reg. cit., art. BD, H6, § 3°).
Os outros credores, mesmo privilegiados, só poderáõ
exercer os seus direitos sobre os bens não hypothecados,
e producLo dos hypothecados depois de pagas as respectivas
dividas (Lei, art. DO; Reg., art. 239, 240, § 4° e DO).
A hypotheca validamente constituida e inscripta segundo
o regimen da Lei de 1.864 deve surtir todos os seus e[feitos.
Só póde ser annullada ou rescindida. por acção ordinaria,
mesmo por parte de credores (Reg., art. 240, § 6°, n. D).
Maio , 1.865.

Hypotheca; registro

Onde deve ser feito o registro da hypotheca legal


geral, no lugar da situação dos bens (que toda via
CONSULTAS SOBRE

póde não constar por não existirem), ou no do


contrato, ou no do domicilio?
~~ esposta

Póde sêl-o no do domicilio dos contratantes e tambem no


do contrato. A Lei de 18611 e o Reg. de 1865 não o pro-
hibem. Ao contrario, ordenão expressamente que seja em
todas as comarcas onde forem situados os bens. E embora
ahi se falle da convencional, é procedente o argu-
mento.
Maio, 1868.

Hypotheca ; registro ; titulo para isto; pessoa competente ;


novação
1.0 O que importa em uma escriptura de hypo-
theca a falta de registro?
2. o O que succede tendo sido o registro posterior
á promulgação da Lei de 1864 ?
3: Quaes as condições para o registro, segundo
a Lei de 1846 e a de 1864 ?
4: Que effeito tem a declaração de divida em
inventario, quando se descreve em menor impor-
taocia' do que a do titulo originario ?
5: O mesmo titulo serve para a acção depois
dessa declaração?
Resposta

Ao i. o A falta de registro não importa absoluta reduccão


do titulo hypothecario a chirographario, e sómente, não
produzir elle os seus effeitos de sequella e preferencia
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

senão desde a data do mesmo registro (Dec. n. 482 de i4


de Novembro de I846, art. 14 ; Lei n. 1237 de 24 de Se-
temb ro de t 8ü4., arl. 9"). O de que se trata não foi regis-
trado emquanto vigqrava aquelle decreto; mas ultima-
mente, quando já se executava a referida lei, e bem
(Reg. n. 3453 de 26 de Abril de 1865, art. 3(6).
Ao 2.' Prejudicado com a re~posta final ao antecedente.
O het'deiro do credor podia fazer registrar, vi 'to o seu
intel esse (Reg. de 186\ art 234).
Ao 3.0 O Dac. I~it. de i81-6, art. 6°, rxigia para o regi!'tro
o titulo original 011 em traslado authP'Yltico. O Reg. cit o
de 1865, art. 77 , falia em instrumentos publicos, mas
não dechra se original ou traslado authentico. Está em
uso a exhi bição do origi nal, Mas não obsta (a meu vêr) a
do traslado mesmo em publica-fórma, não sendo possivel
a do origi nal ; porque elle talll bem faz prova, e não póde
se~ recu<;ado desde que se verificar achar-se confurme ao
original (V id e Mello Freire, Di?'. Civ., liv. 4°, til. 18, § 8°;
Corrêa Telles, Man, do Tabellião. § 28!; Dec. n 737
de 1850. art. 153), sobretudo en tre as proprias partes
(Dec. ciL. de 1850).
Ao 4.0 A declaração da divida no inventario não importa
novação, porquanto é apenas a sua descl'ipção para os
effeitos da partilha, confol'me a legislação respectiva: não
é titulo novo, que substitua o originario e o extingua,
vigorando só o ultimo (Vide C. da Rocha, Dú,. Civ., § 160
a 162 ; Cod. Com., art. 438).
Ao 5.0 Consegnintemente póde o credor demandar o
devedor pelo titulo originario, que não ficou extincto, em-
bora por equidade, lhe hou vesse reduzido a divida na
declaração para o inventario (Corrêa Telles, Acç. § 345
e 346, e notas).
Junho, 1875
2/16 CONSULTAS SOBRE

Hypotheca; remissão; excussão; arrematação

L° Qual o effeito da hypotbeca celebrada antes


da Lei de i864 e registrada depois do Reg.
de i865 ?
2.° Não havendo remissão, como se procede?
3. ° Quando se considera extincta a hypotbeca?
4.° A que actos se refere a remissão? Em que
caso é permittido ao credor licitar ?
5.° Em que C2.S0 é valid a a penhora em bens hy-
polhecados , e como póde o credor proceder em re-
lação aos mesmos ?
Resposta

Ao i. ° A bypotheca, embora celebrada antes da Lei


de 1864, mas registrada depois do Reg. de 1865, e na
fórma deste, é sujeita á remissão (Reg. cil., art. 335), con-
for me o arl. 203 do mesmo.
Ao 2.° Não se verificando a remissão, póde ter lugar a
excussão do art. 309 do ciL. Reg. (cit. art. 335).
Ao 3.° Ao credor hypolhecario, enLendo que ficão salvos
os seus direi tos de sequella, subsistilJdo a hypotheca, a
qual ni o se reputa extincta senão nos casos do art. 2/19
do Reg.
A propri a arrematação, que pelo direito anterior a ex-
tingui ra, parece que hoje não surte este e:ffeito senão nas
excepções do art. 2/10 do cU. Reg., e que, em regra, só
por credor hypothecario podem os bens hYPoLhecados ser
validamente executados. Está entendido que se o credor
hypothecario annue á arrematação, esta é valida (Vide Reg.
cit., art. 2/19, § 3°, art. 307).
Ao /1. ° A remissão parece referir-se mais particularmente
aos actos de transmissão por titulo oneroso ou gratuito
URIAS QUESTÕES DE DIREITO 247

extra-judiciaes e entre-vivos, por serem os unicos sujeitos


á transcripção (Reg., art. 256, 259); e os outros não o são
(art. 260), e porque a remissão não pó de ser requerida
senão dentro dos tr inta dias da transcripção (art.. 295
e 309). Mas, se no caso de acql1isição por arrematação, o
acqu irente a requerer e o credor annue, é claro que a
este deve ser permittido licitar (art. 300).
Ao 5.° Salvos os casos de fallencia e de in solvabilidade
do devedor, a penhora em bens hypothecados, e portanto
a arrematação, é nnlla (Reg., art. 240, §§ 4° e 5°). En-
tendo, pois, que, ind ependent.e mesmo de acçiío, póde o
credor hypothecario seguir nelles sua execução.
Outubro, 1867 .

Hypotheca; venda dos bens; concurso; custas

1. o De que melos deve usar o credor bypothe-


cnrio que não roi admittido a concurso de prefe-
rencias?
2.° Como deve ser pago de custas o credor não
hypothecario?
3: A quem pertence a prova da insolvabilidade
do devedor em conCUI'renCla com o credor bypo-
thecario?
Resposta
Ao ... o Se o credor hypothecario não foi admittido ao
concurso, deve usar dos meios competentes para fazer an-
nular a penhora em taes bens e sua arrematação (Reg.
de t865, art. 240, § 5°), protestar contra. taes actos, e, ob-
tida em tempo sentença contra o devedor, fazer penhora
nesses bens, estejão em mão de quem estiverem. O titulo
nnHo de quem quer que os possua, não obsta a execução
248 CONSULTAS SOBRE

nelles, tal é a força do dú'eito ?'eal da sequella. Se elle


conveio na alienação, perde esse direito; e só lhe resta
disput.-'l.r a preferencia, ainda que em acção ordinaria.
Ao 2.° Em face dos arts. 243 e 24!J. do Reg. bypothe-
cario, não se póde pagar ao exequenle não bypotbecario
todas as suas custas, com prejuizo manifesto do bypothe-
cario. Só se devem as que se fizerão para a excussão do .
immovel. Cumpre reclamar e requerer que se faça repôr
o que indevidamente foi recebido.
Ao 3.° O credor bypothecario exequente tem por sia pre-
sumpção e a preferencia. Cumpre, portanto, a quem pre-
tende concorrer a prova da insolvabi lidade do devedo!'
commum, visto ser excepção. Os hypothecarios, porém,
podem concorrer (Reg., art. 293, § 3°) .
Maio, iS6S.

Imposto de licença á corporação de mão-morta; misericordia;


Isenção

o imposto de 5°/01
que a tabella. aunexa ao Reg.
de 31 de Março de 1874 sujeita as co:,porações de
mão-morta pela acqlJisição de immoyeis é appli-
caveI á Santa Casa de Misericordia da corte ~
Resposta
Pal'ece-me não ser applicavel á Misericordia da CÔl'te o
disposto em o n. 6 da tabella annexa ao Decl'. n. 5581,
de 3i de Março de iS47; em vista da Lei n. 460 de
30 de Agosto de 1847, porquanto o imposto especial ahi
indicado é em substituição do que anteriormente se co-
brava da licença a corpol'ações de mão morta para adqui-
rirem e possuil'em bens de raiz, segundo o § 32 da kl.bella
annexa á Lei de 30 ue Novembro de iSlH e ahi mesmo
1

(cit. n. 6) se lê: mediante licença do porier competente.


VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 2~9

Conseguintemente esse imposto só devem pagar as ditas


corporações, que para taes acquisiçõ6S dependerem da
licença referida. .
Ora, a Lei cito de 1847, art. 2°, dispensou das leis da
amortização, para taes acqui:;ições, a Santa Casa de Mise-
rir.ordia da Côrte, illimitada e indefinidamente. EUa pó de
fazel-as camo qualquer particuiar, sem dependencia de
icença (V. Av. n.l73 de 27 de Abril de 1863, quesito 4°).
Nãa ha, portanto, em relação a e11a, a materia desse im-
posto addicional, quaL é a licença do poder competente,
de que foi absolut.amente dispensada.
Outubro, 1874.

Imposto de transmissão; doação; usofructo ; successão ;


sello; fidei-commisso
1.° Qual o imposto devido no caso de usofructo
doadu por um irmão a outro e sua mulher, passando
por morte do usofructuario metade á mulher e a
outra metade aos filhos?
2,° Que imposto pagão os filhos do usofructua-
rio por fallecimento deste?
3.° Póde applicar-se á especie a Ordem de !6
de Maio de 1864 ~
4.° Como proceder, não tendo sido pago em tempo
o imposto?
Resposta
Trata-se de transmissão por doação do usofructo de
apolices de irmão para irmão e sua mulber, passando por
morte do primeiro o mesmo usofructo, em metade, aos
filhos, sendo da muLber a outra metade, e, por falIeci-
mento desta e filhos, em plena propriedade aos netos.
2;)0 CONSULT AS SOBRE

Ha, portanto, ahi constitui do uso frn cto vitali cio por
acto entre vivos (doação) a bem de uns, e a nua pro rie-
dade a outros. Deveria, pois, ter-se pago antes da escrip-
tura, para ser nella in ~erto o respectivo conhecimento
(Reg. n. 4.2, 55 de t7 rle Abril de 1869, art. 16), o im-
posto do usofructo vitalicio e o da nua propriedade) (Reg.
cit., art. 7u ; regras 5" e 6' , art. t6).
Assim, que parece-me:
Quanto ao primeiro quesito, que a viuva do irmão uso-
fructuario nada tem que paga r: ena é meeira no usofrncto
conjunctamente com seu marido , por virtude da doação;
. e della já foi p~ go o imposto rrspectivo (2 °/0 conforme a
tabella do cit. Reg. de i 86Ç)) .
Quanto ao 2° e 3°: Que os filhos devem acrora pagar o
imposto correspondente ao seu usofructo, porque se veri-
fica terem sobrevivido ao pai, e na razão de 2 0/. por serem
sobrinhos filh os de irmão do doador (Reg. cito art. :l ,
n. e Tab. art. :17) : ma não o sello proporcional (Reg. ele
9 de Ahril de 1870, art. 10, n. 1°). AOrd. em Aviso
n. -136 de 28!le Maio de 18M, explicada pelo Av. n. 289
de 12 de Outuhro de 1870 não tem appl icilção ao caso.
Não se trata de fidei-commisso, nem de acto de ultima
vontade.
Ao 4: As respostas sopra. resolvem a questão deste. Se
não foi pago o imposto devido , é preciso pagai-o. Se algum
foi indevidament.e pago , ha direito á respectiva reclama-
ção (Reg. cit. de 1869).
Novembro 1873.

Imposto de transmissão; usofructo; penas; isenção; successão ;


nua propriedade
t .. Em que tempo deve ser pago o imposto de
trans missão da nua propriedade sem pena ~
VARI!.S QUESTÕES 1iIE mUlTO

2.0 Qual o imposto que tem de pagar a viuva de


um usofructuario por morte do marido , quan do o
usofructo é em commum ?
3. o Sendo fallecida a mãi usofructuaria l como
deve ser contempI ada a filha?
4,° Que imposto terá ella de pagar neste caso?
Resposta
Ao L° Parece-me ter sido bem cobrado o imposto do
usofructo vi talicio.
Mas faltou p:Jgar o da nua propriedade. Póde ser
ainda pago, sem incorrer em pena, denunciando-se volun-
tariamente a falta na reparti ção ~o mpetente (Av. n. 298
de 23 Setemb"o de 1867, n. 3-17 de 8 de Novembro
de 1870 ao terceiro quesito).
Ao 2.° Já forão ex pendidas em outra co nsulta. A viUTa
nada tem que pagar, nem mesmo sello. Os filhos uso-
fructuarios têm de pagar do se u usofructo, como sobri-
nhos filh os de irmiio do doador, 2 0/0' Não ba imposto
de -1 0/. de doação.
Ao 3.° Entendo que a neta deve ser co ntemplada com
as apolices que deverião cab~ r á sua mãi fallecida, mas
em plena propriedade. Tal é a mente e vontade do doador,
segundo a escriptura.
Ao 4. ° O imposto, que terá elia de pagar, é de 3 so-
%

bre o valor da nua pl'oprieJade, que lhe pertencia (e ora


se torna plena pela exti ncç:Io ou caducidade do usofructo),
visto ser sobrinha neta (Reg. de 17 de Abril de 1869).
Se já se tiver pago na escriptura, nada mais tem que
pagar.
Ao 7 e 8.° O art. Ui do ciL Reg. ue 1869 resolve as du-
0

vidas quanto á reclamação e recursos.


Dezembro, 1873.
252 CONSULTAS SOIlRE

Imposto; retroactividade
Qual o modo de proceder para pagamento do
imposto de transmissão causa mortis? Deve-se ter
em vista a morte do testador, a época do inven-
tario ou a da partilha?
Resposta
Nenhuma lei tem effeito retroactivo.
O direito ao imposto do legado ou herança é firmado
pela época do fallecimento, em que se abre a successão,
e em que portanto é elle adquirido, como se acba resolvido
no Av. n. 26 de i6 de Fevereiro de i848.
Semelhantemente, desde a drtta das resper,tivas trans-
ações (por ser desde ella adquirido), o imposLo de lnns-
missão das mesmas-,como se lê em varias ordens. Vide Ord.
n. 34, de 1849, n. i3!) de i8iH, Av. n. 7t de i8fi3; Av. de
14 de Dezembro de 186 I (Diario Otficial de i3 de
Janeiro de i870) ; (Av. de 21 de Janeiro de i861 (J01'nal
de ti de Março); Ord. de i2 de Janeiro de 187i in fine
(Diario Otficial de i8), que consagra a doutrina em
principio geral.
Assim, parece-me que o imposto devido é de 5"10, vi-
gente ao tempo do fallecimento de que se trata, e não o
de iDo/o posterior.
A época do inveutario e partilha nada tem com isto.
Outubro, i873.

Imposto; subrogação

i. ° Qual o imposto a satisfazer no caso de 811-


brogação de bens inalienaveis, e em que importancia
se satisfaz quando os bens são dotaes ?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 253

2.° Como ee pratica, obtida a autorisação para a


subrogação, afim de levaI-a a etreito ?

Resposta

Ao t. ° O imposto apagar, no caso, é o -de transmissão


(Lei de 26 de Setembro de i867 e Reg. de 17 de Abril
de i869, art. iO).
Se os bens são dotaes, a taxa é -lO % nos outros casos,
;

é de 2 % (R.eg. cit., tab. n. Xl.


O valor é o do bem que u tenha superior, ou de qualquer
delles se fôr igual (Reg. ciL., art. 6°) .
Ao 2.0 Obtida da autorJd L le competente a licença para
a sub rogação (Lei de 22 de Setembro de i828), póde elia
fazer-se por escriptura ou por acto judicial equivalente,
parecendo mais seguro que o seja por escriptura, mesmo
ex vi da Lei de 15 de Setembro de iS50, art. H.
Julho, 1873.

Imposto ; usofructo; fidei-commisso ; retroactividade

Comu se regula O pagamento da taxa de imposto,


de legados ou heranças? E em relação ao usofructo
e fidei-commisso ?
Resposta
E' principio certo que a taxa do imposto de transmissão
é a do direito vigente ao tempo em que esta se opera.
Quanto á de legados e heranças, é o vigente ao tempo
do fallecimento testador ou intestado (Av. n. 26 de 16 de
Fevereiro de 184,8; Decr. n. 41 i3 de 4, de Março de 1868,
art. 6·, etc).
No usofructo ha desmembração de propriedade, cabendo
CONSULTAS SOBRE

a um O usofructo, e a outro a nua propri edade. Assim o


imposto é regulado para ambos pelo direito vigente ao
tempo do dito fallecimento, pois desde essa data se effec-
tua a transmissão.
Mas, quanto ao fidei-commisso, o mesmo talvez pareça
que se não póde dizer, porque no fidei-commisso, embora
equiparado o fiduciario a usofructuario para certos efl'eitos,
não ha tal desmembração, e sim transmissão, para o fidu-
ciario, de propriedade ?'esoluvel (C. da Rocha, Dir. Oiv.,
§ 718), quando outra cousa não dispõe o testador.
No elltanto deve-se observar que a transmissão para o
fidei-commissario, embora venha realmente a elIectuar-se
por morte do fiduciario, ou verificada a condição de que
ficára dependente, todavia opera-se pela morte do testador
ou intestado (C. da Rocha, § 7-19), salvo disposição em
contrario.
E, pois, parece applicavel aquelle mesmo principio, se
outra cousa não é expressamente determinada; sendo
aliás certo que a lei não tem effeito retroactivo, mesmo
em materia fiscal.
Setembro, -1874.

Incompatibilidade ; escrivão; advogado


Tendo F. servido de tutor ad hoc ou curador
em bens antes do inventario, foi depois nomeado es-
crivão. Ficou F. por este facto inhibido de escrever
. nesses autos?
Resposta
E' uma hypothese especialíssima. Porém parece-me
que ha ahi impedimento, por isso que havendo represen-
tado e defendido interesses de uma parte como tutor ou
curador, já se não póde presumir a imparcialitlade que
VAlHAS QUESTÕES DE DIREITO

deve ter o escri vão, do mesmo modo que não poderia ser
juiz na causa a parte, seu advogado ou curador anterior.
Outubro, 1856.

Injuria
Um individuo intenta contra outro um processo
por crime de injllria por havêl-o este chamado de
ladrão. Provado que o sujeito tem esta qualidade,
desapparece a criminalidade ?

Reposta

Entendo que não; porque a lei não exime da pena se


não quando se attribue a alguem facto certo e determi-
nado, que, provado faça desapparecer a criminalidade,
não sendo da vida p?'úJllda., sobre os quaes não se ad-
mitte prova (art. 23í e 239 do Cod. Crim.), e não dá a
qualquer o direito de injuriar a outrem com expressões
daquella natureza, que por certo não o exime da pena, por
se comprehender nos §§ 3° e 4,0 do art. 236 do cito codigo.
Outubro, 1853.

Injuria
Dirigindo-se a um juiz injurias ou calumnias em
petição ou autos, é preciso que se realize a condi-
ção da distribuição por mais de quinze pessoas
para se dizer crime e haver punição?
2M CONSULTAS SOnE

Resposta
Entendo que não, em face dos arts 230 e ~37 do Cod.
Penal, combinado com os arts. 233 e 238. E assim se deci-
dio em causa de Pereira Duarte, condemnado ha annos no
jury da côrte por calumnias em uma petição ao presi-
dente da Relação.
Agosto, t853.

Injuria contra empregado publico


1.0 Porque lei são julgados os crimes de injuria
contra empregados publicos ?
2.° Expressões injuriosas dirigidas a juiz em peti-
ções, allegações, artigos, seja em audiencia ou em
autos, pode considerar-se criminosas?
3.° Qual o procedimento cabivel no caso do
quesito antecedente?
40. ° As injurias litographadas dão tambem lu-
gar ao procedimento judicial?
5.° Ha necessidade de prova de distribuição,
quando a injuria é dirigida a juiz em papeis não
impressos?
6. o Dá-se responsabilidade especial no caso de
injuria não impressa 7
Resp osta

Ao t." Os escriptos não impressos, contendo injuria con-


tra empregado publico e a elle entregues no exel'clcio de
suas funcções, estão c(lmpl'eilendidos no art. 2°, § 3 da
Lei de i· de Setembro de 'J860.
Ao 2.° Deve-se reputar em acto de officio a injuria diri-
VAlHAS QUESTÕES DE DIREITO 257
gida ao j Iliz em petição, allegações, artigos, etc., quer seja
em audiencia, quer fóra della, ou junta a autos, etc.
Ao 3.° E pOl'tanto teria lugar o procedimento official.
A Lei citoexceplua apenas a injuria por impresso.
Ao 4,. ° Se allendessemos á letra da lei cit. parece que
as injurias litographadas tambem darião lugar á accusa-
çã.o officia!. Mas póde haver duvida séria a tal respeito;
porque, segundo o syslema geral do Cod. Crim., elIas são
equi paradas ás impressas (V. art. 7°, 230 e 237): a li-
tographia e a gravura são tambem impressos.
A 5.° Quando as inj urias são dirigidas ao juiz por pa-
peis não impressos, parece não ser necessaria a distribui-
ção por mais de quinze pessoas-ou porque a lei não o
exige, ou porque seria impossivel, e então acoroçoar-se-
hia a impunidade, ou porque, sendo publicas, têm neces-
sariamente de circular por mais de quinze pessoas. E
creio que assim já se tem julgado.
Ao 6.° Na injuria não impressa não se dá a responsabi-
lidade pelo modo especial determinado para as impressas
(art. 7', § 5°, Cod. Crim.) O autor é o responsavel, excepto
se o escripto foi exhibiLlo contra sua vontade ou sem sua
sciencia.
Agosto, i863.

Insinuação
Em uma escriptura ante-nupcial dotou-se a.
noi va com todos os seus bens e ao noivo com a
quantia de 1.0:000~. Quae.s os bens que devem
ser insinuados?
Dentro de que prazo deve S"l' requerida a insi-
nuação?

i7
2;)8 CONSULTAS SOBRE

Resposta
Deve ser insinuado unicamente o dote feito pela noiva
ao noivo futuro marido, porque só nesses W:OOO~ de
que ahi se falla ha verdadeira doação, que deve ser insi-
nuada, nos termos da Ord. liv, 4.°, tit. 62 ; Alv. de 16 de
Setembro de t814.; Lei de 25 de Janeiro de 1775; Acç.
de 2'1 de Julho ele 1797 e Lei de 22 de Setembro de 1828,
Quanto ao mais, nada ha que deva ser insinuado por se
tratar sómente de pacto an te nupcial em que apropria
noiva se dota a si mesma com os seus proprios bens, e por
isso não os recebe por doação de pessoa alguma (C. Telles,
jltIanual do Tabellião, § 135).
As leis não sujeitão á insinuação senão :. doação pro-
priamente tal, isto é, apenas aquillo que contém rigorosa
liberalidade (C, da Rocha, Di?'. Civ, Port., § 578), o
que se não dá na presente escriptura quanto á noiva que
se dotou a si mesma com os seus bens, e só quanto ao
noi vo a quem ella dotou desde logo com a quantia de
iO:OOO~ , . e embora suj eita ás condições que ahi se es-
tipulárão : o contrario é suppôr possivel que alguem se
faça doação a si mesmo, o que é absurdo, quando neste
caso a noiva nem de seus pais, nem de es tl'anhos~ nem
do marido, recebell doação de qualquer natureza que fosse
PQra ser insinuada, e com essa escriptL1ra unicamente quiz
ex.cluir ela communhiIo matri mon ial os seus bens e consti-
tuil-os dolaes com toLlos os privilegios que as leis lhes ou-
torgão, entre os quaes é o de ser irrevog3.\'cl depois de
contrahido o matrimooio o pacto anle nupcial (C . Telles
cit., § '151 ), privilegio que desal-lpareceria se prevalecesse
a contraria opinião pOI' não serem validas as doações sem
insinuação senão até a taxa legal. t

A insinuação de 1'0 ser reqnerida dentro de dous mezes


da data da escriptura, e compete ás justiças ordinarias
(Lei de 22 de Setembro de 1828, art. 2°, § 1°).
1852.
VARIAS QUESTÕES DE DIREIT<9 259

Insinuação; doação remuneratoria


As doa.ções remuDeratorias são sujeitas a insi-
nuação ? QlIe razõ es se dã,o para exigil-a ou dispen-
sal-a? Importa nullidade a falta de insinuação
dentro do prazo de dous mezes da escriptura ?
Resposta
E' ponto duvidoso se as doações remuneratorias estão
sujeitas a insinuação.
Alguns entendem suspensa a Lei de 25 de Janeiro
ele 1775 implicitamente. com as de 25 de Junho de 066,
de 9 de Setembro de i 769, e alvo de i o de Agosto
de 177l~, pelo Dec. de 17 de Julho de 1778, razão por-
que devião ter cahido em desuso. Outros opinão que a
doação remune!'atoria não é acto de pura liberalidade, e
portanto não está sujeita a insinuação.
Outros fazem distincção j julgão isenta, quando o bene-
°
ficiado tem direito a pedir pagamento de seUf; serviços
equivalentes (Vide Lobão, Fascico ele Disser. 3"; Co da Ro-
cha, Di)'o Úiv.; Cons elas Leis Braso, nota ao art. 418)
o o

Mas, embora se não observe na pratica o rigor da cito


Lei. de 075, relativamente á prova da equipolencia dús
serviços, eu entendo em vigor a doutrina da mesma lei
quanto á necessidade da insinuação, como a respeito das
doações em geral (Vide jJfanual do P1'OC. dos Feitos,
nota 1187), e como vigente a consignou tambem a Cons.
das Leis Civ. B,oaso, art. ld8.
A falLa de insinuação dentro elo prazo legal j(dou3 mezes,
Lei de 22 de Set9mbro de 1828, art. 2°, § iO), importa
ipso facto a nullidade da doação (Lei cit. de 1775): esta
só é valiosa no que coa bel' dentro da taxa da lei (360$ por
varão e i80~ por mulher). Ord., liv. 4°, tit. 62, triplicado
pelo Alv. de 1814).
Novembro, 1868.
260 CONSULTAS SOBRE

Instituição da alma; casa pia; vinculo; legado; validade

1.0- E' nuUa a verba em que o testador manda


applicar os remanescentes de sua terça á construc-
ção de uma casa pia, pagamento de mestres e ma-
nutenção do estabelecimento? Ha ahi instituição
de vinculo?
2.° Sendo a verba nulla e sitllados os bens do
testador no Imperio, onde deverá ser tratada a de-
manda?

Resposta

Ao V Em vi'lta da disposição, parece-me não haver


nullidade; porquanto, embora o testador mande applicar
os remanescentes da sua terça á construcção de uma casa
que elte denomina pia, e ao pagamento dos mestres, e
manutenção do estabelecimento e dos alumnos e alumnas,
não ha ahi propriamente instituição da alma por herdeira,
nos termos da Lei de 9 de Setembro de -1769, § 21, e de
mais disposição vigentes.
Ao contrario, por esse modo se cuida principalmente
dos vivos, valendo-lhes sobretudo com a educação.
Parece, tambem, n5:o haver in stituição de vinculo prohi-
bida pela Lei de 6 de Outubro de 1831> desde que não é
morgado, capella ou de semelhante natureza.
Poder-se-hia mesmo dizer que não ha instituição de
herdeil'Os nesse remanescente, e sim um legado nos ter-
mos constantes da verba, legado que, ainda quando fosse
pio, não stlria nullo (Alv. de U de Janeiro de 1807, § 3°;
Lei de 6 de Novembro de 1827).
Deve-se, no entanto, observar que a applicação do pro-
dueto do remanescente, deve ser feita, não no Brazil, mas
em Portugal. O art. 1781 do Cod. Civ. seria favoravel á dis-
VARIAS QUESTÕES Dfi. DIREITO 26i

posição, no concernente áquelle reino, qUá,ndo mesmo


houvesse instituição de herdeiro.
Ao 2." Se nuUa fosse por nosso direito a disposição,
sendo aqu i situados os bens, devêra ser no Imperio tra-
tada a demanda, e julgada de conformidade com as
nossas leis (locus r ei sitce-Estatulo 1'eal).
Se o fosse alli, ainda que de conformidade com o nosso
direito, a sentença dependeria de exequatu1' do governo
imperial para ser executada no Imperio.
Junho, 1873.

Instituição de herdeiros; demonstração; causa


Pedro, em seu testamento, dispôz que o rema-
nescente da sua terça deixava aos filhos que não
retirárão a herança materna, por ter augmentado
o monte com seus bens. Na data do testamento só
dous não hav ião retirado; mas um o fez dahi ha dous
annos, e o outro ficou intel'dicto, sendo seu pai o
seu curador.
Pergunta-se: como entender e cumprIr essa
verba?

Resp osta

Parece que a intenção de Pedro foi instituir os filhos


que na data do testamento não havião retirado as suas
heranças maternas da mão de seu dito pai.
Ra na verba adjectas dernonstmção e causa. A dernons-
t1'ação refere-se ao facto que indi ca o herdeiro instituido :
ella faz certos os herdeiros, isto é; os filhos que áquella
rlata não havião retirarlo a herança materna. A causa é o
motivo dessa disposição ; ainda que seja falsa, não fica pre-
262 CONSULTAS SOBRE

judicada a disposição (Mello, liv. 3°, tit. 7°, § 12; Dir. li11 .)
Isto, posto, é conseqllente que sejão os herdeiros desse
remanescente aCJuelles Olhos referidos. Tanto mais, quanto
o pai manteve esse testamento, e por isso a instituição,
até sua morte; não mudou de vontade, e taes filhos lhe
sobrevivêrão.
Como, porém , tudo depende de inter'pTet,ação da
verba, remontando á intenção e vontade do testador (o que
é sempre difficil), póde dar-se di vergencia de opi uiões.
Outubro, 1868.

InventarÍJnte; arrendamentos

Pôde um inventar iante arrenda r terrenos e bens


do casal com prazo certo ? Esse arre nd (\,mento
obriga os herdei [' o~?
Resposta
Deverá subsistir o arrendamento se o inventariante rôr
herdeiro, e lhe poderem esses bens ser lançados em seu
quinhão hereditari u commodamente e sem prejuizo ou
desigualdade para os outros.
Aliás, é nullo; porque o inventariLtnLe, Les ta.menLeiro ,
ou cabeça de casal, é méro administrado r que não póde
gravar os bens co:n onus de sernelballLe natureza, como
ensinão os doutores.
Outubro, 18~~.

Inventariante; competencia; remoção; recurso


1.0 A quem pertence nas conJ arcas geraes d(~ cre­
tar a remoção de inventariante ~
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

2 .. Póde exercer o cargo de invenLarianLe em


falta do conjuge o filll o mais relho que mOl'ava
em companhia do pa.i , embora uão continue a reSi-
dir no termo?
Resposta
Ao i. ° Nas comarcas geraes as caUS:lS de valor exece-
dente a 50 0~, inclusive os inven tarios , s50 preparadas
pelos juizes municip3.e', julgad:ls pelos juizes de direito
(Lei ele 20 tle Setembl'o ele l S71 , ar t. 23 e 24; Reg . de 22
ele Novembro ele '1871, al'L 64. e 66).
Ao juiz de di!'eito, portanto , deve competir, nos ditos
inventarios, qualquer decisão defin il.iva em primenra ins-
tancia, de qU.3 caiba ap(lellação, e aos juizes municipaes as
de que caiba aggravo (Av. de 8 de Agosto de 1873).
A remoç5:o de inv ent~Lt'ianLe embora processada pelo juiz
municipal, parece, pois, que deve ser decre tada, nos inven-
tarios superiores a 500$, pelo juiz de direito, V1StO como
é definitiva a elecisão, e elella cabe appellação, Não se
póde dizer omissa a lei referida. A phrase bem como qual-
quer oull'a decisão definil'iva,etc. ,elo art. 24, § 1°, in fine,
constitue uma regra geral e dá a solução 'da duvida.
Ao 2.° Desde que, em falt:l ele conjuge que fosse o inven-
tariante (Ord., liv. 4.°, tiL 95 e 96), foi admitLido por tal
o filho mais velho que vi via êm companhia do finado, era
elte competente (Vitle Pereira de Carvalho, P1'OC. 01'phan.,
nota 59 ; Pereira e Souza, Proc. Civ., nota 1021 ; Mene-
zes, Juizos Divis., capo 1°, § 5°).
Nem me parece motivo sufficiente para a remoção ter
elle sua residencia fóra do termo; pó de mui bem, depois
de assignado pessoalmente o auto ou termo de inventa-
riante, dar ao inventario o devido andamento por si ou
por pr'ocul'ador sutlicienle, como se pratica. E se fôe ne-
cessaria citação pessoal para algum acLo especial, pó de
fazer-se por precatoria.
!64 C{JNSULTAS SOBRE

A remoção demanda illegitimidade manifestJ. ou sus-


peita fundada.
Novembro, 1873.

Inventariante ; prisão
Como póde ser considerado o inventari ante em
relação aos bens do espolio sob sua administração'
Resposta
Como o inventari an le é reputado um depositario judi-
cial, entendo que póde ser demandado com a pena de pri-
são nesta qualidade, lTluito pl'incipalmen te se é testa-
menteiro (Ord., liv. 4.°, tit. 62, § '19).
E assim já foi julgado na Relação desta côrte por Acc.
de 28 de Agosto de 1851).
Todavia, sendo ao herdeiro, pód e suscitar-se duvida em
face da Ord., liv. 4°, tit. 96, § 1.4 ; duvida que me parece
não proceder se ha sentença ordenando o sequestro dos
bens da herança que estiverem em se u poder (arg. da Ord.,
liv. 3°, tit. 86, §§ 13 e 18, e da Lei de ':W de Junho
de 17n).
Outubro, 1859.

Inventariante; prisão contra o mesmo


O testamenteiro inventariante póde ~er coagido
com pena de prisão á entrega dos bens, ainda pela
sentença de partilha. ?
Resposta
Sim, em vista daOrd., liv.1°, tit. 62, § 19, e decisões
dos tribunaes, v. g.,da Relação da cõrte em Accordão de 28
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 265

de Agosto de i855 sobre aggravo na execnção de formal


entre parles exequenle Do Anna Joaquina e executado
Francisco Antonio Pires, pelo juizo de I" vara civel, escri-
vão Abreu.
Abril, 1857.

Inventariante quem seja; arrendamento; herdeiros; acção


de despejo
1.0 A conjuge não meeira tem direito de ser in-
ven tarian te?
2: A quem pertence, em arrendamento sem
tempo, despejar o arrendatario, ha\'endo inventario
de quem arrendou?
Resposta
Ao L° Desde que a mulher não é meeira, nem tem
pa~te nos bens do casal, não lhe compete ser inventa-
riante e cabeça rle casal (ard o, livo 4.°, Lit. 95) 0
Sendo herdeiros os filhos, compete a qualquer delles,
preferindo o mais velho, que esteja em companhia do pai
ao tempo de sua morle (ardo, livo 4°, til. 96, § 9°;
C. Telies, A cc., nota 376, Pereira e Souza, Prac. Civo,
nota i 021; Pereira de Carval ho, p.rac. Orphan oo no ta 09) o
Em fal ta póde ser o testamenteiro que tenha aceitado
a testamentaria (Dec. n. 42~ de 1860, art. 1°, § 2° ;
Dec. n. 24·33 de 1859), ou o juiz nomeará quem lhe pare-
cer mais it.!oneu (cilso Decs.)
Ao 2.° Não havendo prazo certo no arrendamenlo, póde
o dono ou seus herdeÍTos de~pejar o arrendaLario, pagan-
do-lhe as bemfeitol'ias (ardo , liv. 4°, tit 54.). Pouco im-
porta que os herdeiros tenhão dado começo ao inventario
ou não, sendo, porém, melhor que o hajão começado.
266 CONSULTAS SOBRE

Tambem poderia fazer-se a partilha dos terrenos, e


aqllelle, a quem coubesse o arrendado, faria despejar, pa-
gando elle as bemfeitorias.
Ao 3.° Se a viuva não é meeira, nem tem parte nos bens
por algum titulo, não lu neccessidade de sua intervenção
na Jemanda, excepto se inventariante do espolio P7'O
indiviso.
Ao 4:° Devendo ser parte na acção todos os herdeiros , na
hypothese de ser proposta achando-se ai nda P1' O indi-
viso O espolio, e por isso tambem o menor, tem este
'de intervir conjunctamente com o tutor ou r-urador, se
fôr pubere (Ord., liv. 3°, til. 29, § to; tit. [1-1, § 8°; til. 63,
§ ~o), além de lhe dar o juiz um curador in litem (cil. Ord.,
tit.41,§9°).
Ao 5. ° Sendo fallecido o al'rendatario, a acção deve ser
proposta contra os seus herdeiros tu elos se o espolio está
pro indiviso, ou contra aquelle a quem fôr partilhado o
terreno e bemfeitorias respectivas. Não basta ser citado o
inventariante (Vide . Ass. de tI de Janeiro ele 16~3: Ord.,
liv.3°, til. 27 § 2°; tiL 82, pr).
Ao 6.° A acção é de despejo do terreno arrelldado, pa-
gando-se as bemfeitorias (Ord., liv. 6°, tit. ~4.). Em rórma
ordinal'ia, por ser entre herdeiros, e de terras ou preclio
rnstico.
Agosto,1873.

Inventariante; sociedade; procuração


LoA viuva com filhos menores póde por si s6-
mente dispôr, dissolver sociedades, faZflr novos con-
tratos e ingerir-se em outras transacções em que en~
vol va os bens do seu casal pro ind1:viso, ou para.
tudo isto precisa de autorida.de de inventariante e
tutora?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 267

2.° Em ambos os casos serve a procuração que


ella passou quando casada~ ou precisa remetter
outra com as referidas qualidades?
3. São validas as procurações feitas em paiz es-
0

trangeiro, que não vêm autbenticadas pela respec-


tiva legação nem reconhecidas pelo consol bra-
sileiro '?
Resposta

Ao L° Acnando-se pro indiviso os bens, é opinião que o


cabeça de ca 'a i inventa riante pDssa demanda?' e ser deman-
dada in solidurn (Corrêa Telles, A cç" nota 63fS-b ;
Pereira e Souza, P1'OC. Civ. nota 250), ma.s não fazer
contratos em que envolva os bens do t:asa l, e sómente a
parte que lne possa pertencer, em a qual tem li vre dis-
posiC,ão; porque não lhe é permiltido uispôr livremente
uaquillo que aos co-herdeiros pertence, visto que ao inven-
tariante apenas compete a administração dos bens pro
indiviso, e nada mais.
Portanto, para que a villva possa fazel' novos co ntratos
na parte dos bens que lne não pertencem, é preciso que
tenha consentimento Jos outros co-nerdeiros, sendo maio-
res ; e, sendo menores, autorisação e consentimento do
tutor e juiz dos orphãos, como é de 1ei.
No caso vertente, se ella é inventariante e tutora, basta
obter o consentimento dos co-nerdeil'Os maiores e autori-
sação do juiz dos orphãos para poder contratar sobre a to-
talidade dos ,bens que se achão p1'O indiviso.
Quanto á t.Iissolução da sociedade, é certo que pela morte
do socio (o marido) di ssolve-se ella, se outra cousa não se
achar estipulada (art. 33fS, § 4,0 do Coei . Com. Brasil) j e
a liquidação dever'Í. ter lugar pela fórma determinada nos
arts. 344 uo mesmo codigo, rep resentados os menores por
seu tutor e um curador especial nomeado pelo juiz dos or-
~68 CONSULTAS SO BRE

phãos, como determina o art. 3;:;3. E, caso tenha de con-


tinuar a sociedade, os menores não poderáõ ter parte
nell a (art. 308 do cil. cod igo) , e portanto deve-se-lhes
separar o quinhão que ahi tiverem.
Ao 2,· Em qualquer caso me parece indi pensavel nova
procuração, se como inventariante e tu tora tiver de auto-
risar a alguem como procurador, porquanto a procura-
ção anterior era sua especialmente qnando no estado de
casada, e não co nfere os poderes que sio necessarios ao
novo estado.
Ao 3.° São inatlmissiveis em juizo e não fazem fé quaes-
. quer documentos, e por isso as procurações vindas de paiz
estrangeil'O sem que estejão reconhecidas pelo consul bra-
sileiro respectivo, na fórma do Regimento consular de 1847
(ele 1'I de Junho, arl. 208),
Agosto, 1853.

Inventario; bens alheios; opposição; entrega

Deve o juiz do inventario mandar entregar a


terceiro bens que recl aml como proprios, havendo
opposiÇão Jos herJ eiro s?
Qual o recurso de que deve lançar mão esse ter-
ceiro, sendo-lhe negada a entrega?

Resposta

Desde que o inventariante ou herdeiros contestão, não


deve o juiz do inventari o mand ar entregar ao terceiro
os bens que este reclamar como proprios, se ndo a recla-
mação em rórma administm liva ou amigavel.
Resta, em tal caso, ao terceiro, a opposição em fórma
contenciosa, quer por acção ol'elinaria, quer por embargos
na execução de formal de partilhas, ou contra quem pre-
VARIAS QUESTÕES TlE DIREITO 269

tender empossar-se do que é seu, quer mesmo á apprehen-


são por defender o seu direito e posse.
Nem de outro modo se deve entender a doutrina dos
praxistas a esse respeiLo.
Se no inventario não se a.dmitte embargos de terceiro
senhor e possuidor, é em relação aos bens em posse do
fin ado inventariado ou dos herdeiros. Mas, quando os
bens são possui dos por terceiro como proprios, e a este se
appreherJdem, bem póde elle defender a sua posse e di-
reitos, oppondo-se, não ao inventa.rio, mas á apprehensão.
Ainda que decaia desta opposição, fica-lhe salva a acção
ordinaria de reivindicação. Bem como, se vencedor, fica
salvo aos herdeiros á mesma acção para haverem os bens
questionados.
O contrario seria legalisar o arbitrio, negar a defesa da
propriedade , autorisar espoliações e vexames, que a lei
e a justiça não querem nem podem querer.
Outubro, i870.

Inventario; collector; impostos geraes e provinciaes; reclamações;


competencia; recursos
t.· Póde o collector em inventario, no qual é
interessada a fazenda nacional, formular exigencias
sobre actos relativos ao mesmo embora nellfl não
passados?
2,° Tendo havido fraude na declaração do preço
em uma escriptura de venda, qual o procedimento a
seguir para sanar o prejuizo?
3 .. Por quem deve ser pago o imposto de trans-
missão nos contratos?
4.° Qual o recurso de que deve usar o collector
270 CONSULTAS SOBRE

" quando indeferidas sejão as suas exigencias pelo


juiz?
5. ° Havendo fundada suspeita de fraude, quem
responde pela differença do imposto?
6.° Tem o juiz do inventario competencia para
mandar satisfazer a clifferença do imposto , que
existe entre o valor da avaliação e o preço da venda?
Se o fizer, que recurso caberá do despacbo ?
7.° A quem competiria a decisão, tratada a ques-
tão em fórma contenciosa fiscal? E qual o recu"rso ?
8.° Dentro de que prazo deve ser apresentado o
recurso?
9.° Qual o seu effeito?
10. Havendo abstenção da parte do juiz, de que
decisão se deverá recorrer (
Resposta
Ao 1. Ouvido o collector no inventario em razão do in-
0

teresse fiscal sobre a herança e legados, póde, a bem da


fazenda, fazel' accidenlalmente outl'as exigencias pertinentes
aos actos nelle passados, ou relativas ao mesmo; nenhuma
lei o veda, tanto mais quanto é apenas em fórma admi-
nistrativa judicial. Podia, portanto, o de que se trata
fazer a reclamação, que, procedente e attendida, evita-
ria outro procedimento, em bem de todos.
Ao 2.° Quanto ao imposto provincial da venda feita
parece não haver duvida.
A reclamação versa principalmente sobre o que é devido
á renda geral da transmissão [leIa venda.
O Reg. n. 435:') de 17 de Abril de 1869 resolve as ques-
tões. Assim:
L" EUe recahe sobre o preço dos contratos ou sobre o
valor declarado pelas partes (art. 6°, n. 3, e art. 7°, pr.)
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 27i

2.° Se não é possivel liquidaI-o por faltar aquella base


ou dando-se fundada suspeita de fraude, procede-se a ar-
bitramento fiscal (art. 7°).
Na hypothese, tendo-se pago o imposto segundo o preço
ela escriptlll'a, só restaria a reclamação por fraude, o que
depende de prova.
Ao 3.° O imposto de transmissão deve ser pago por in-
teiro pelo acquirente, ficanào o imrnovel sujeito a elle
pelo onus real (Reg., art. 8°, § 1").
A solidariedade só se dá quanto ao imposto de trans-
missão causa mo?'tis (id., § 2.°)
Ao 4°, 1>0 e 6.° No caso o julgador não está adstricto a
deferir á exigencia do collector ; deve rernettêl-o aos meios
fiscaes, deixando-lhe salva a reclamação.
Se se verificar fundada suspeita de fraude, irá elle h a-
ver de quem de direito seja a clifferença do imposto.
Se, porém, mandar que se faça o pagamento exigido
dessa differença, pl'Oveniente do excesso da avaliação,
constante do inventario, sobr~ o preço da venda, constante
da escriptura, o juiz não é competente para o decidir por
tal fórma : semelhante questão não é da alçada judiciaria,
e sim do contencioso fiscal (Reg. cit., art. i1».
Havendo tal decisão (que seria definitiva), ou ainda
outro despacho do juiz com a mesma força, delle cabe-
rião os recursos j ndiciaes, a appellação. E se a questão
fosse circumscripta á incompetencia do juiz, poderia caber
o aggravo.
Ao 7.° Mas, tratada a reclamação em fórma contenciosa
fiscal, o collector a decidiria como julgador em ia inst:l.ll-
cia. E de sua decisão caberia recurso (na provincia do Rio
de Janeiro) para o tribunal do thesouro (Reg., art. i5).
Este recurso deve constar de petição dirigida ao tribunal
(com o tratamento de Magestade), á qual o collector jun-
tará os papeis respectivos.
Ao 8.° O reCLlrso deve ser interposto dentro de trinta
272 CONSULTAS SOBRE

dias, contados da in timação ou publicação da decisão


(Reg., art. '1:5, § 2°).
Ao 9.° No caso (por não ser de restituição de imposto) ,
o recurso tem apenas o effei to devoluli vo (art . H:i, § 2°
cit.) Conseguinte eleve fazer o deposito da importancia exi-
gida na mesma repartição da ar recadação.
Ao 10. Se o juiz .3e abstiver e remetter a questão á deci-
são do collector, deve-se aguardal- a para se poder recorrer.
No entanto parece-me que não estarião as partes inhi-
bidas de levar o caso ao conhecimento do governo para
resolvê l-o como de justi~,a.
Setembro, 1872.

Inventario por dependencia; competencia do juiz e do escrivão


Qual o juiz e o escrivão competentes para o in-
ventario em que ha menores quando anteriormente
haja fallecido um dos conjuges ? Em que lei se funda
a dependencia. de inventario?
Resposta

Desde que ha herdeiros menores, parece-me que o juizo


e escrivão competentes são o dos orphãos por onde se pro-
cedeu ao inventario e partilha do conj age an teriormen te
fallecido, firmada, assim por dependencia, essa compe-
tencia, segundo a Provo de 13 de Maio de 1534. e Ass. de
17 de Junho de 1651, e como ensinão os praxistas (Pereira
de Carvalho, Proc. Orphan., nota 15; Pereira e Souza,
Proc . Oiv., nota i021 ).
O assento citado, que se lê ~ob n. 109 na Ooll. de Ass.
da casa de supplicação, e é Lei tambem para o Brasil,
assim o resolveu e declarou, posto que a primeira partilha
estivesse já feita.
Taes disposições, em minha opinião, não se achão alte-
VARIAS QOESTÕES DE DlI\EITO !73
radas por dt3terminação posterior, nem pela novíssima re.-
forma de 20 de Setembro de 1871.
Outubro, 1872.

Inventario; questão de herdeiros


Póde ser resolvida no mesmo juizo do inventario
a questão de ser :lIguem contemplado ou não her-
deiro do finado?
Resposta

A questão de ser alguem contemplado herdeiro em in-


ventario póde ser nelte mesmo tratada e decidida em
fórma summarissima, desde que não seja de alta inda-
gação (Vide Lobão, Segundas Linhas, nota 605, pago 206,
n. 126; C.•Telles, Acç., § 123 e nota 238).
Aliás, deve ser remettida para os meios ordinarios.
Dezembro, 1874.

Irmandade herdeira; legados; capella; encargo piO; validade

Das verbas testamentaria.s resulta:


L o Que, não tendo o testador herdeiro necessario,
foi instituida herdeira unica D. C.;
2. o Que entre os bens, especialmente deixados
á mesma, se com prehendem predios, de que é s6-
mente usofructuaria, devendo elIes passar, sem
clausula alguma} para a irmandade;
3.· Que a "esta forão legados outros prediõs desde
logo, com a obrigação, porém, de celebrar a mesma
i8
OOlfSULTAS sonl

irmandad'c annualmente algumas missas e distri-


buir algumas esmolas.
E' minba opinião :

Resposta

Quanto ao t' quesito. Que não ba ahi instituição da ir-


mandade por herdeira. EUa é apenas legataria dos prediol
referidos. Herança é universalidade de direitos universum
jUI quod defunctus habuit. Lei 62, Dig. de reg. jir; (Lei
i28 § l", cod.)
Quanto ao 2° e 3.' Por aquellas verbas não ha clausula
alguma de inalienabilidade imposta pelo testador aos bens
deixados á irmandade.
Serião inalienaveis, em virtude da amortisação, como
pertencentes á corporação de mão-morta, obtida a neces-
saria licença para ella os conservar em seu patrimonio ,
na fórma do Dec. n. 4.4.53 de i 2 de Janeiro de 1870, expe-
dido para boa execução da Ord., liv. 20, til. i8i Leis n. 369
de i8 de Setembro de i84.5, art. 44, e n. t225 de ':tO de
Agosto de i864..
Sendo, porém, isto excepção, devem taes bens ser alie-
nados dentro dos seis mezes da acquisição e posse, e em-
pregado o seu producto em apolices (Lei cit. de i864,
Decr. cito de i870).
Os predios em usofrncto a D. C. passão, por morte
desta, para a irmandade, sendo legado, e este um titulo
habil de acquisição (Ord., liv. 2', tit. 18, § to ; Dec. cito
de i870). Nem a elIe foi adjecta clausula, condição ou
modo algum. E' puro e simples.
Os outros tambem são legado; que deve ser desde já
entregue á irmandade por havêl-os ella adquirido, sem
adiamento, a morte testatoris, época da abertura da suc-
ceesão e transmissão dos direitos. Não obsta a obrigação
imposta á irmandade de alguma obra pia; porque isto só
T ARIAS QUESTÕES DE DIREITO

por si não constitue vinculo ou capella, prohibida pela


Lei de 6 de Outubro de 1.83~. Nem tão lata interpretação
se deve dar a esta lei, que excluiria os legados pios ou en-
cargos da mesma natureza, aliás mantidos em nosso di-
reito (Lei de 6 de Novembro de 1.827; Dec. n. 3~4 de i85i,
art. 44. § 9 como já foi declarado no Av. n. 85 de 28 de
0
),

Março de i854, de accordo com a Ord., liv. i·, tit. 62,


§ 50 e 53, e demais legislação até o cito Decr. n. 384 de
2 de Outubro de f8~H (Vide Cons. das Leis Civ.Bra:.,
nota ao art. 73; Mano do Proc. dos Feitos, §§ 449 e se-
guintes e notas), sendo que o Alv. de i4 de Janeiro
de 1.807, § 30, já havia reconhecido a legalidade de dispo-
sições com encargos pios, sem que constituissem vinculo
ou capella.
Quanto ao 4. Se nuUas fossem aquellas disposições em
0

favor da irmandade, esses bens ficarião pertencendo á her-


deira constituida em virtude da instituição.
Julho, 1.875.

Juiz de direito; rôro competente; inquerito pelo juiz mnnicipal a .


seu respeito
A quem compete nas comarcas geraes verificar
os factos que f6rmão objecto de queixa contra. os
juizes de direito?
Importa essa attribuição em face da novissima
reforma judiciaria, conferida aos juizes municipaes,
a qualidade de formadores da culpa e julgadores
dos mesmos juizes de direito?
Resposta
.Aos juizes municipaes compete verificar os factos que
fizerem o objecto de queixa contra os juizes de direito dai
CONSULTAS SOBRE

comarcas em que houver Relação; inquirir sobre os mes-


mos factos testemunhas, e facilitar ás partes a extracção
de dOGumentos que ellas exigirem para bem a instruirem,
salvo o disposto no art. i61 do Cod. do Proc. Crim. (Lei de
3 de Dezembro de i84'1, art. i7, § 4°; Reg. de 3i de Ja-
neiro de i842, art. 2H, § 7°), disposição não alterada
pela novissima Lei de 20 de Setembro de i 87 i; antes,
mantida (art. i6).
Por essa attribuição não ficão elles constituidos forma-
dores de culpa, nem julgadores dos juizes de direito, quer
nos crimes de responsabilidade, quer nos crimes communs.
O juiz'de direito tem fôro privilegiado, as Relações (Cod. do
Proc. Crim., art. 155, § 2°; Lei cito de i87i. art. 29, § 2°),
a quem, portanto, compete o processo e julgamento
(art. 1.55 cit., art. i6i; Lei cit. de i84i, art. i7, § 4°,
in fine; Lei cit. de 187i).
Importa apenas facilitar em taes comarcas os meios de
prova dos delictos commettidos pelos juizes de direito,
aliás a primeira autoridade judiciaria do lugar, que por
um lado não poderia intervir em causa propria, e por
outro lado poderia abusar de sua influencia e autoridade
para embaraçar ou impedir tal prova.
E' mais uma garantia á liberdade do cidadão e á admi-
nistração da justiça.
Mas está entendido que devem, sempre que possivel, ser
feitas essas diligencias, porque a justificação de algum
facto, com citação do juiz por carta do escrivão, e obser-
vadas as formalidades devidas e legaes.
Agosto, 1873.

Juiz de orphãos ; suspeição; adjunto; recurso; validade

L° P6de o juiz de orphãos, em vista da lei,


VARIAS QUESTÕES DE DUtEITO 277

deixar de chamar adjunto, quando não reconheça


a. suspeição que lhe seja posta?
2 .. Deixando de o fazer, arroga-se alguma attri-
bllição que lhe não compita, de modo que por in-
competencia caiba o aggravo de petição ou instru-
mento?
Resposta

Ao !.O Tenho para mim que o juiz da partilha não é


adstricto a tomar logo um adjunto (nos termos da Ord.,
liv. 4°, tit. 96, § 25; Av. de 20 de Outubro de t837 e
9 de Julho de 1842; Decr. de oU, de Novembro de 18~5).
só porqae apraz á parte averbai-o de suspeito sem motIvo
legitimo ou fundamento plausivel; porque a Ord. cito exige
suspeição, que deve ser legal para que tal se repute em
dil:eito, segundo o preceito da Ord., liv. 3°, tit. 2t; til. 'U
e outros.
Ao 2.° Deixando de o fazer, nem por isso é elle incom-
petente; ao contrario, ainda que tome adjunto, com este
prosegue ll:l causa, o que prova sua competencia (cit.
Ord., liv 4,°, til. ()6, § 2;».
Nem me pal'ece que c'liba o aggravo do art. 15, § t· do
Reg. de -15 de Março de t842, por não se tratar de incom-
petencia declinatoria fori, a que se referem as Ord., !iv. to,
til. 6°, §9°,eliv. 3', til. 20, § 9°, de que faz expressa men-
Cão aquelle § todo cit. art. t5 do Reg.; sendo certo que
taes recursos são stricti juris, e por isso inampiiaveis.
Pólle todavia dar-se a nullidade da sente'nca se a sus-
peição fôr legitima e o juiz continuar sem adjunto, por
nã,) ser proferida pelo numero legal de juizes, segundo a
Ord., liv. 3°, til. 75, pr., e contra á qual cabem oulros
recursos, ainda mesmo a acção rescisoria.
Abril, t856.
278 CONSULTAS SOB!'.E

Juiz; impedimente
Quando a Relação revisora tem de julgar uma
causa, em a qual foi juiz um cunhado do desembar-
gador dessa Relação, póde este ser juiz?
Resposta

Comquanto não haja lei ou disposição especial para o


caso, parece-me que ha ahi impedimento, se dura o cunha-
dio, porque se reputão irmãos, como são por affinidade, e
procedem as razões do Dec. de 23 de Julho de 1698,
Av. n. 367 de 1857 e n. 382 de 1862.
Outubro, 1863.

Juiz; impedimento; suspeição; parentesco entre afilhado e padrinho


LO Existe algum impedimento legal que inhiba o
afilhado de ser juiz na causa do padrinho?
2.· Qual o gráo dé parentesco que existe entre
um e outro?
Resposta

Ao L o Sou de opinião que não é o afilhado inhibido de


ser juiz na causa do padrinho só por este facto; porque,
embora haja entre elles parentesco, é meramente espiri-
tual, e não por consagu inidade ou por affinidade (Vide
'ard., liv. 3·, tit. 21, § lO; tit. 24; Cod. do Proc. Crim.,
art .. 61 ). Póde, ' porém, ser dado de suspeito, se houver
algum motivo ou causa legitima de suspeição, que será
'I reforçada por aquellas relações. E elle eleverá declarar tal

sob juramento, se o entender em consciencia (Ord. cit.,


tit. 2i, § i8).
Ao 2.· Não ha entre elles grdo de parentesco, ma~ sim
VA"!as QUESTl)ES DE Dl!\.EITO

espec~, sendo da primeira ~specie a que se dá entre o pa-


drinho e o afilhado (Cone. Trid., sess. ~4, de reformo
matrim., capo 2°).
Março, 1870.

JnÍl snpplente; lereador ; suspeição; nullidad.


t: Sã.o validos os actos que pratica o jniz depois
de haver jurado suspeição?
2: Pó de exercer jurisdicção o vereador que não
esti ver -em exerci cio ?
3: A quem pertence regularisar os actos prati-
cados pelo mesmo nessa hypothese 1
Resposta
Ao I· e 2." O juiz que se declarou suspeito, firmando
com juramento a suspeição (Ord., liv. 3°, til. 21, § 15)
ficou impedido para proseguir. Os actos em contrario são
nuIlos (Vide Pimenta Bueno, Proc Giv., til. 1°, capo 3·,
secç. t').
Por outro lado, não póde exercer substituição de juiz o
Tereador que não estiver em exerci cio (Dec. n. 201! de ,
de Novembro de 1857, art. 3°; Dr. Cortines Laxe, Regi-
mento das camaras mtmicipaes, appenso to).
AI) 3· e 4.° Mas, havendo-se o rereador, apezar de não
estar em exercicio deste cargo, entendido competente para
iubstituir na causa o juiz della como seu supplente, e mais
ainda praticado ahi actos de juiz, não obstante já se haver
declarado suspeito e com juramento, ao juiz competente
pertence regularisar o processo.
Junho, 1573.
280 CONSULTAS SOBRE

Jnizo arbitral forçado; intimação do compromisso; penas; férias

t: Como se reg1lb o prazo dentro do qual devem


os arbitros proferir a sua decisão ?
2.° No caso de juizo arbitral forçado, eomo se
deve proceder, expirada a dil ação que faz cessar o
compromisso?
3: Qual o re curso contra os juizes que se negão
ao cumprimento das suas obrigações?

Resposta

L o Que o tempo marcado no compromisso ou 110 regu-


lamento (art. 430, § 1", e 434 do Dec. n. 737 de 1850)
para deutro delle darem os arbitros a sua decisão, é de
dilação successiva e perempto ria, a começar da aceitação
expressa ou tacita dos mesmos arbitros (cit. art. 434),
sendo que, por este motivo, en tendo que póde proseguir
em férias se pela superveniencia destas fosse a causa pre-
judicada (art. 729 do cito Dec.)
Se a parte embaraça dolosamente a decisão dentro
desse prazo, e ha pena convencional sobre tal facto, póde
ser etIectuada (art. 437 e 4·32 elo Reg.)
Se se provar conluio do arbitro com a parte para o
mesmo fim, póde-se reqnerer contra elie tambem a multa
e prisão (art. 440).
2. Cessando o compromisso pela expiração da dilação
0

como fica dito, e não havendo prorogação, deve a causa


voltar ao juizo ordinario (o do wmmercio) para proseguir
nos terrnos ulteriores (art. 438 do Reg). E, como na by-
pot.hese o juiz arbitral é forçado (art. '294., Cod.) deve-se
requerer a nomeação de novos arbitros, com os quaes
prosiga a mesma causa.
3. Quanto aos juizes que se negarem ao cumprimento
0

das suas obrigações, além dos recursos criminaes, pódé de


VARIAS QUESTÕES DE DIREITO ~8t

sua decisão caber aggravo ou appellação, e, em tal caso,


inlerpôr-se de preferencia o aggravo se fôr caso delte, e
em devida fórma para evitlr a grande despeza da appel-
laç[o.
Maio, ,1856.

Juizo arbitral no commercial; questões varias


L· A falta de compromisso no caso de juizo ar-
bitral forçado importa nullidade? O execesso de
poderes conferidos no compromisso induz nulli-
dade do mesmo?
2. o Sendo a nullidade do compromisso de pleno
direito, em que tempo póde S8 r allegada ?
3.° Extincto o compromisso, que força tem a sen-
tença que rór proferida?
4. ° O lapso de tempo extingue o compromisso?
5,° Como deve ser feita a prorogação?
6.° A inobservancia da,s condições do compro-
misso quando importa nullidade?
Resposta

i. ° No juizo arbitral ner;essa?'io a falta do compromisso


nIo importa nullidade, porque o Reg. o. 737 de 18:)0,
art. 413, não o exige; e com bO;Lrazão ,visto como esse juizo
é {01'Ç'J, lto, e não constiluido por vontade das partes. A
compet'3ncia e jurisclicção vem da lei, competindo as partes
sómente a nome:J,çào <los arbitros (art. cit., art . 421, 422
e 4z4), bem como a estipulação de pena e desistec.cia de re-
cursos (art. Id 3), que toda via não são da essencia do
compromisso (art. 429 a 430, combinados).
No juizo arbitral voluntario, porém, o compromisso é
282 CONSULUS SOnE

indispensavel, porque é a convenção mesma, donde os ar-


bitros em tal caso derivão toda a sua força e competencia,
convenção que pôde ser feita judicial ou extra-judicial-
mente de qualquer dos modos designados no Reg. (art. 415
a 4i 7). A não existencia de compromisso importa aqui a
não ex istencia legal de juizes por falta de mandato.
Ora, se o exces~o de poderes conferidos no compromisso
induz nullidade que autori sa o recurso, não obstante a
clausula do compromisso sem recurso (art. 469), com
muito maior razão procederá a nullidade, e consequente-
mente o recurso, não ob,tante tal clausu la, quando os ar-
bi tros houvere m decidido sem compromisso (no juizo vo.
luntario), sem mandato (no i uizo necessario).
Não ha nullidade maior do que a de falta absoluta da
jurisdicção, que em tal hypothese se daria.
2. o Pelas mesmas razões entendo que, se o compromisso
é nuUo de pleno direito, não póde sortir effeito algum jurí-
dico (Reg., arL. 686), independentemente de rescisão; por-
que a nulli dade rad ical e visceral do compromi sso affecta
essencialmente o juizo e a sentença na competencia e jllris-
dicção dos arbitros, nnllidaue que pôde ser allegada a
todo tempo e por via de re~urso (art. 680 e 681 do cito
Reg).
2.° Do mesmo modo me parece que ha tambem nullidade
da sentença proferida, quando o compromisso já se acha
extincto ; porqu e tem por este facto cessado a c o~p e tencia
e jurisrlicção dos arbitros, por seI' esta limitada a um certo
prazo, ou firmada em accordo das partes, e em nomeação
valida e subsistente, etc.
Verificadas quaesquer das hypotheses do art 437, cessou
o compromisso, cessou a competencia e jurisdicção dos ar-
bitros. A sentença proferida nestas condições é radical-
mente nuUa por manifesto excesso de poder, ou melhor
por falta de poder.
<l. o O lapso de quatro mezes, não havendo .outro tempo
URJAS QUESTÕES DE DIREITO ~83

no compromisso, extingue o compromisso (art. 434, 437,


§3°do Reg. cit.)
5.° A prorogação deve ser por expresso consentimento
das partes (art. 43tS, 437, § 3°); e isto pela razão de que,
limitada ao tempo convencionado ou legal, a jurisdicção
se não póde entender prorogada senão de um modo expli-
cito e claro, que firme incontestavelmente a continuação
da jurisdicção e competencia dos arbitros.
Pouco importa o meio pelo qual se demonstre esse con-
sentimento, porque o art. 4.3tS, na expressão generic~­
o documento respectivo-não o taxou, e apenas exige que
seja por documento.
6.° A inobservancia das condições que deve essencial-
mente conter o compromisso, segundo o art. 4-29, pare-
ce-me importar nullidade de pleno direito, quando a pre-
terição fôr de solemnidade que influa na existencia mesmo
do contrato e fim da lei (art. 684, § 2°).
Assim que, no juizo arbitral necessa1'io, não é indispen-
savel o compromisso, excepto para desistir de recursos e
ajuntar penas (art. 4. 3), e portanto não é essencial que em
tal caso nelle se contenbão todos os quesitos do art. 429,
porquanto sobre isto acha-se providenciado de outro modo
nos arts. 42t e outros do Reg. cit., e em varios artigos do
Cod. do Com.
No jllizo voluntario, sim, o compromisso é caput atqu.
{andamentum do poder dos arbitros, da organisação do
juizo, para a decisão de uma questão, cujo olljecto deve ser
conhecido e determinado, assim como conhecidos e deter-
minados os juizes e as partes tudo no mesmo acto.
Mas aquella expressão essencialm ente do art. 4.29 não
se deve entender, no meu parecer, de modo a transformar
em solemnidade substancial do contrato algumas declara-
ções accidentaes, e que não pl'ejudicão a \'alidade do
mesmo, nem obstão ao fim da lei, quaes serião v. g., não
se declarar o domicilio, quando independente disto não
284 CONSULTAS SOBRE

restasse duvida sobre a identidade das partes e dos arbi-


tros, a falta de nomeação de terceiro arbitro, quando não
tivesse havido discordancia na sentença proferida pelos
nomeados.
N. B. Tudo quanto venho de dizer creio que se deduz
mui logicamente do Reg. n. 737 de 1850, comparado com
o Cod. do Proc. Civ. Fr. (fonte nesta materia) em os
arts. iO06, i028 e outros, e segundo a doutrina exposta
por varios j urisconsullos.
Outubro, i857.

Juizo de ausentes; emolumentos


João, juiz de orphãos, procedeu á arrecadação
de uma berança jacente, e para evitar extravios
rubricou os livros e mais papeis encontrados.
Tem João direito CI. emolumentos dessas rubricas
pelo prod ucLo dos bens arrecadados, segundo o
Reg. de 10 de Outubro de i 754, mandado ob:;er-
var pelo Dec. de 13 de Outubro de 1832?
Resposta
Parece-me que o juiz de orphãos não tem direito a esses
emolumentos; porquanto, sendo esse acto uma cautela
da boa arrecadação, por esse trabalho e todos os mais
que ella possa importar ao juiz tem este de gratificação a
porcentagem determinada no art. :z6 do Reg. de 9 de
Maio de 1842.
Todavia a phase-além dos emolumentos que lhes per-
tencerem pelos actos r.los processos na fónna do regimento
-nãu deixa sem duvida esta questão.
Abril, i854.
TAlUAS QUESTÕES DE DIltEITO !85

Juizo de orphãos ; adjuntos em caso de suspeiçãG


Como se regula a suspeição posta aos juizes de
orphãos 1
Resposta
Regula o objecto a Ord., liv. 4', tit. 96, § 2n; Av. de
~q.de Outubro de 1837; Av. de 24 de Setembro de i 838;
Dec. i676 de {4 de Novembro de i81Sn; Av. 382 de 4. de
Setembro de i86L
Março, i863.

Juizo de paz; aggravG


Do juizo de pa.z é admissivel o aggravo em ques-
tões, por exemplo, de competencia, de prisão civil
(que nada tem com a alçada) ?
Resposta
Em Nictheroy tratava-se de uma execução, perante o
I
juiz de paz, por custas contra o autor decahido, e por
não haver elIe pago nas vinte e quatro horas foi pelo juiz
decretada a prisão, nos termos do art. 10 da Dispos. Prov.
Deste despacho :tggravou a parte para a Relação da côrte.
Esta, porém, em Accordão de Novembro de IBM decidio
que não cabia aggravo daquella autoridade.
Parece-me que, em rigor, assim deve ser entendido em
face da litteral disposição do art. 8°, § 2° e 3° do Reg.
de in de Março de 1.842. Mas opp5e-se-lhe :
Lo Que naquelles casos e outros, que nada têm com a
alçada, não deve obstar ao recurso a disposição da Lei de
In de Outubro de J827 e Dec. de 26 de Agosto de i830,
que não dão recurso algum quando a causa cabe na sua
alçada.
!8' COr(~ULTAS SOU.E

2.· Que o art. 12{ da Lei de 3 de Dezembro de i841


não o exclue claramente.
3.· Que, se em taes casos dá-se recurso do juiz munici-
pal e do juir. de direito, magistrados mais graduados e de
mais illustracão, com muito maior razão deve elle dar-se
do juiz de paz.
Novembro, 1854.

Juros; prova
Porque modo se prova a estipulação de juros'
E' essencial que o escripto seja assignado pelo de-
vedor? Não havendo taxa designada, qual a que
deve regular?

Resposta
A prova da. estipulação de juros deve ser feita por es-
criptura publica ou particular, sem que em caso algum
seja admissivel a simples prova testemunhal (Lei de 24 de
Outubro de i532, art. 2°).
Pouco importa que o escripto seja assignado pelo
devedor ou sómente escripto por elle (Cons. das Leis
Civ., nota ao art. 362). O escripto particular reco-
nhecido pelos meios legaes é prova legitima (Pereira e
Souza, Proc Civ ., nota 470). Quando não possa por si só
e desde logo fazer prova, póde todavia servir de começo
della, completando-se por todo genero de outras; a
lei só exclue a prova que constar s6mente de testemunhas
(Vide Cons. cit., Pereira e Souza cit.).
Se ha simples estipulação de juros sem quantitativo ou
tempo, entende~se que são os da lei (6°/0), e só pela móra
(Cod. Com., art. 26/), 2' parte, extensiva ao civel; Com.
cit.).
Setembro, iS70.
T AlUAS QUESTÕES DI lmlEITO 287

Lançlllento ; depIsitario ; libertos


1.. Podem ser considerados fataes e irrevogaveis
os termos que nos juizos do inventario forem as-
signados ás partes?
~ .• Ha incompatibilidade entre o cargo de de-
positario publico e as funcções de vereador?
3.· Quaes os cargos para que são aptos os li-
bertoi ?
Resposta
A.o 1.. A Ord. , tiv. , 3°, tit. 20, § 4.4., está em vigor, com
as disposições co-relativas. Mas só é applicavel e applicada
nos juizos divisorios, tanto quanto seja compa.tivel com a.
indole destes juizos, mais administrativa do que conten-
ciosa. O rigor das fórmas não deve, não póde, nem é ahi
strictamente observado. A equidade mesmo em alguns
casos reclamaria e justificaria a inobservancia de tal rigor.
Ao 2: Entendo que o depositario publico póde ser ve-
reador se tiver as qualidades, que a lei exige para ser
eleito. Não, póde, porém, ser juiz; porque naquella qua-
lidade elle se reputa oflicial dos juizos; perante as leis é
responsavel pelos depositas, e poderia dar-se o caso de vir
a julgar em causa propria.
Ao 3.° Os libertos cidadãos brasileiros são aptos para
todos os empregos c cargos, de que não sejão expressa-
mente excluidos, ou tacitamente por não terem quali dade
para eleitor . . Podem, pois, ser oflicial de justiça (vulgo
meirinho )("').
Maio, 1868.

n Hoj e n os t ermos da reforma eleitoral de 9 de J an eiro de


1881, o liberto t em direito de voto como cidadão b rasil eiro
(art. 2.· da lei) e p6de ser votado para os cargos de sen ador,
deputa~o geral e provi ncial, vereador e juiz d e paz (art. 10).
!88 CONSULTAS SOBa!

Legado ; escriptor de testamento


E' valido o legado deixado pelo testador ao
mesmo escriptor do testamento?
Resposta
E' minha opinião que o legado ou instituição a bem do
escriptor de um testamento, não sendo resalvado pelo tes-
tador de seu proprio punho, é nuIlo. Assim o dispõe as
Leis f> e 5', Dig. de his quis pro. non script. , hab.;
Leis 2' e 6', Cod. de his qui sibi adscript. in testam.;
leis de boa razão, e que são direito subsidiario, visto ser
inteiramente omissa a nossa legislação a esse respeito.
Tal é a doutrina (Vide C, Telles,ftfan. do Tab., § 205; Dig.
Port., tomo 5°, art. 1698 e 1699; C. da Rocha, Dir. Civ.,
§ 690).
Maio, 1858.

Legado; hypotheca
Qual o direito que tem o legatario de quantia
certa sobre o espolio do testador em face da legis-
lação anterior á reforma bypothecaria de 24 de
Setembro de 1864? E perante esta e legislação pos-
terior ?
Resposta
O legatario de certa quantia em dinheiro é credor com
hypotbeca legal simples, se a successão foi aberta antes da
execução da Lei de 1864. e Reg. de 1865 (hyp.); e esse
direito lhe está salvo, mas nos termos do art. 317 do
mesmo Reg.
Se foi posterior, não ha tal hypotheca em face do art. a'
da Lei. Nem tão pouco onu! real em vista do art. 6', Bem
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 2SQ
entendido que em relação aos immoveis hypothecados.
-Quanto aos mDveis, immoveis não hypothecados, e sobre a
dos hypothecados, vide art. 5', § 2° da mesma Lei).
Se o legatario não foi parte no inventario, a partilha não
o póde prej udicar : póde demandar o herdeiro (C. Telles,
Acç., § 1.60).
Todavia, se ao inventariante ou testamenteiro forão lan-
çados bens e valores sufficientes, e o legatario não foi pago
por negligencia sua, entendo que não póde mais demandar
os herdeiros, que receberão livres os seus quinhões -dor-
mientibus non succurrit jus.
Abril, 1.868.

Legado ; substituição; transmissão

Havendo ~xaminado o testamento de ... , tenho a


dizer o seguinte: o testador dispôz de dez apoli-
ces em favor de cada urna de suas crias neUe indica-
orlas, e de urna casa repartida com igualdade entre as
mesmas; com a declaração, porém, de que não po-
derião alienar, e por morte de qualquer delles pas-
sarião aos seus descendentes ou aos co .legatarios,
se descendentes não houvesse dos fallecidos até ao
ultimo sobrevivente; e, em falta de taes legatarios ou
seus descendentes, aos herdeiros do mesmo testador.
Sobl'evivêrão ao testador os legatarios referidos,
á excepção de dous e os herdeiros. Assim que
é minha

Resposta

Em relação aos fallecidos antes do testador, caducárão


t9
290 CONSUpAS SOBRE

OS legados, .p a fórma geral (§ 7°, Inst. de hre1'editat qure


àb in festo de fer.; C. da Rocha, Dir. Civ ., § 7i 2 in fine) .
Mas, ha naquella disposição um~L substituição cornpen-
diosa (Ord., liv. 4-0, til. 87, § 12; Canso das Leis Ci'v.,
art. i052 e nota).
Conseguintemente, não podendo aquelles legatarios re-
cebar o legado por serem assim fallecidos, deve passar aos
seus substitutos, que são os seus descendentes (se tiverão
e sobreviverão) ; em falLa, aos co-lcgatarios; e, por ultimo,
aos herdeiros do testador, se todos os legatarios fallecerem
sem descendentes (Ord. cit. , Lobão a Mello; Di?'. Oiv.,
liv. 3°, tit. 5°, § 54 ; Rocha cit., § 71 9, nota).
Se o testador houvesse desmembrado a propriedade, le-
gando a uns o uso[rllcto , e a outros a núa propriedade,
teri a caducado o legado do usofructo para os que fallecê-
rão antes dell e, segundo aquella regra, e passado a pro-
priedade aos sobreviventes. O direito é adquirido à morte
lestato?'is, quando outra co usa não é determinada (L. 80,
Dig .• de lega,t.; L. 5" , § i ° e 2·, Dig., quando dies legatis).
Setembro, 1875.

Legitima; terça; partilha em vida dos pais

o paiou mãi repartindo e entregando em vida


os bens aos filhos, reservando unicamente a terça
para si, p6d e dispôl-a ou dal-a toda a um s6 filho,
ou qualquer estranho, sem que os outros herdeiros
reclamem; ou s6 p6de dispôr da tercinha para um,
entrando o resto em repartição com os outros?
Resposta

E' questão delicada e importante, já de ha tempos deba-


tida entre os doutores.
VARUS QUESTÕES DE DIIlEITO !9t

Adoptando, porém, a opinião que me parece mais bem


fundada e razoavel, entendo que, se os filhos houverem
renunciado ao augmento flue as legitimas podessem vir a
ter, não poderáõ elies reclamar contra a disposição que o
pai fizer do que reservou para si, caso tenha augmentado
(C. Telies, Acç., nota 285), por ser então pacto successorio
renunciativo, reputado valido ex vi da Ord., liv. 4', til. 70,
§ 4° (Lobão, Disert. t3 em o Supp. ás segundas linhas,
§ 31 a 31i)
Mas, se tal não se deu, e houve augmento na terça re-
servada em a partilha que se fez em vida, podem eUes pe-
dir supplemento das legitimas ao herdeiro instituido ou
donatario (cit. C. Telles, § 137; Lobão, notas a Mello, liv. 3",
til. i 2, § 3°, n. 5, com Valasco e outros ahi referidos).
Portanto, neste segundo caso, ainda que elie disponha
dessa terça em favor de qnem lhe parecer, e não possa ser
annullada esta disposição, todavia está esse herdeiro ou
donatario obrigado a completar as legitimas dos filhos, se
ella houver tido augmento e eUes o reclamarem.
Agosto, i853.

Legitimação ; adopção
1." São admittidos pela legislação patria as es-
cripturas de perfilhação ou filiação adoptiva 1
2: Podem eUas considerar-se validas e meio se-
guro de se adquirir direito á herança, quando não
haja herdeiros necessarios ?
3." Qual a legislação patria que ellas têm para
base? Não estão abolidas na pratica?
Resposta
Ao i. o A legitimação judiCial ou por carta ainda está
29~ CONSULTAS SOBRE

em vigor por noss1. legislação (Lei de 22 de Setembro


de i828, art 2 § ln; Lei de 30 de Novembro de 1861,
0
,

§ 38 da tabella em refe rencia ao a:'t. 24; Dec. de 10 de


Julho de 1850, aet. 1!6; Av. n. 2aS de 29 de Outubro
de '1851 ) .
Mas, para surtir os seu. effeitos, é inclispensavel que
ella seja conced ida pelo juiz competente, preenchidas as
formalidades que exige a cit. Lei de 1.828, art. 2 § i 0
,
O
,

como já anteriorü1ente se usava (8. Carneiro, liv. i til. 23,


O
,

§ 206 ; C. da Rocha, Dir . Oi?)., § 297 e 298).


Não ha, porém, lei ou disposição que prohiba a escrip-
tura de pel'filhaçc"io, ou mesmo que esta se faça em testa-
tamento. Mas estes actos não dão direito, sobre tudo á
heranças, senão havendo a concessão da cartl de legitima-
\,[[0, servindo elles só de prova (B. Carneiro, cit., § 206,
n. 6), bem entendido que isto se refere aos filh os que não
são nat'iwaes, porque para estes basta o resonhecimento
por qualquer dejses modos (Lei de 2 de Setembro de 1847);
e só da herança ab intestalu, porque para a testamentaria
basta a institui ção, não h;tvendo herdeiros necessarios (Lei
ele 11 de Agosto de i831).
Quanto á adopção (que não deve confundir-se com a le-
gitimaçcio) a lei a admitte (Lei de 22 de Setembro de 1828,
art. 20, § 10, p, as m ~lÍs já citadas, além das seguintes :
Lei de 23 de Outubro de 1832, art. 20, § 30, e ResoI. de 30
de Agosto de 1863). Mas não esti'l. em uso desde muito
(Mello Freire, Di?'. Civ" liv. ~o, tit. 6 § 9 B. Carneiro,
0
,
0
;

liv. 10, til. 23, § 21O, n. 2; (C. da Rocha, § 297 nota in


fine; GOLlvêa Pinto, rd. de 1851, commentario á nota i49).
Ao 2. Se a perfllhaçl0 ou legitimação é de filho natural,
0

dá-lhe direito á successão ab intestatu, nos termos da


Lei já cil. de 2 de Setembro de 1867, Ord., liv. 4 tit. 92. 0
,

Mas não se usa, porque resta o meio mais simples do


reconhecimento que o habilita.
Se é de filho esp'i~rio, isto é, adulterino, sacrílego e in-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 293

cestuoso, é questionavel se hoje póde a carla selO concedida


com esse eEfeito (Gollvêa Pinto, tesla:nento cit., ed.
de 18~'l, comment. á noLa tO~.; C. da Rocha, § 299 e 300
noLa), por se reputar uma graça ou dispensa na Lei (No-
vella H8, e Ord, liv. 4°, LiL 93', que não compete pela
consli luiç50 aos juizes.
No entanto, é certo estar em uso enLre nós concede-
rem-se as cartas com esses effei tos, qualldo assim o qllei-
rão os pais, não prf\judicando Lodavia o direito dos herdei-
ros necessarios, e fundão-se para isso no texto do § 1. o do
art. 2" da r,it. Lei de 1828, em referencia ao § H8 do Re-
gimento novo do de:;embargo do paço. Mas, para este
effeiLo, não basta a simples escrjpLura, oomo já ficou dito
ao primeiro: é indispensavel a carta com esse effeito expres-
samente declarado, e salvo sempre o direito dos herdeiros
necessarios.
Ao 3.° Já está satisfeito aos antecedentes.
Dezembro, '1853.

Lesão enorme; enormissima; que é

Qual o prazo para a prescri peão no caso de lesão


enorme e eno rmi ssima? Quacs os requisitos da
lesão enorm iss ima ?
Resposta
Sendo passados quinze annos, prescreve a acção por
esão enorme (Ord., liv. 4°, tit. 13, § 5°).
A da lesão enormis ima só preserve em trinta annos,
sendo que alguns a jldg<io ,ll é imprescr'iptivel (C. Telles,
Acç., noLa 8Mi; C. da Rocna, JJir. Oiv., § 737).
Mas para se dizer que ha les10 enormissima, é preciso
(quanto ao vendedor): 1.., que se tenha vendido a cousa por
preço muito inferior á metade de seu just0 valor, a pru-
CONSULTAS SOBRE

dente juizo do julgador, visto como nenhuma lei tem de-


finido precisamente em que ella comista (Ord. cit., § to,
in' fine; C. TelIes cit., nota 84,2; Rocha cit.; Oons. das
Lew Civ., nota ao art. 567), querendo alguns que elia se
dê unicamente quando o vendedor recebeu apenas o terço
do justo valor (Dig. Porto art). 253); 2 que esse justo va-
0

lor seja o da co usa ao tempo do contrato, na commum e


geral estimação (Ord. cit., pr.).
:No caso vertente, seria preciso que se provasse que
em 184.6 (época do contrato) a chacara vendida valia ra-
zoavelmente mais de 30 (seu preço foi de 1.0), ou, pelo
menos, mais de 20.
As escripturas de venda de immoveis em condições tal-
vez menos vantajosas e de menos valor, em 1.84,2 e 184,7,
podem servir para termo de comparação ou argumento
de paridade. Mas não dispensão a prova do valor da pro-
priedade em questão ao tempo do contrato respectivo,
podendo-se mesmo recorrer ao juizo ou laudo de arbitra-
dores (Ord., liv. 30, til. 17; Pereira Souza Proc' Civ .,
§ 255).
Agosto, 1875.

Letra; endosso; mandato

Póde o mandatario transferir a propriedade de


uma letra quando o mandato não é restricto 1 Qual
a responsabilidade em que incorre o mandatario
por esta transferencia ?
Resposta
Se conferindo apenas poderes de mandatario, o endos-
sante não restringe o mandato á simples cobrança da letra,
parece que póde ser transferida em propriedade por t~l
VARIAS QUC:STÕES DE DIREITO 29~

maodatario, como poderia sêl-o pelo endossante com-


miLLellLe. No primeiro caso, o endosso irregular por elle
fe ito, importa só mente substabelecimento da proclll'a-
ção, nem póde exceller os poderes conferidos. Ko segundo,
porém, transferencia da letra. Eis, em these, a doutrina dos
escr ipLol'es fr:mcezes, e a juri~prudenciados seus tribunaes
(Pardesstls, n. 354; Gou.,rget et Merger, v, endossement,
n. 89 a tOO; Alauset, Com. du Ooele de Com., n. 878 e
879), que deve ser resolvida entre nós, notada a seme-
lhança de disposição das respectivas legislações (art. t 37
e 138, Cod. Fr.; art. 361, Cod. Bras.).
Essa doutrina, no entanto, saffre as limitações naturaes
provenientes do acto especial de que se trata (mandato),
quer emquanto a letra se conserva em poder do manda ta-
rio, quer quanto á prohibição de ser transferida em certos
casos, corno explicão aquelies escri ptores, e pri ncipal-
mente em relação ao saccador, saccado, aceitante, e en-
dossantes exteriores.
No caso em que o mandatario transfira a letra (l[uando
o pó de fazer), tem-se entendido que elle fica responsavel
pessoalmente, por isso que, pondo nella a sua firma, ga-
rante-a em qualidade de abonador ou mesmo de commis-
sario (Alauset. cit., n. 880; PardessLls, n. 3M), e é o que
se deduz do disposto nos arts. 360 e 386 do Cod. Bras.,
combinados.
N. B. Deve-se ter em vista que entre nós, para que
seja valido o endosso, basta que seja datado e assignado
do proprio punho do endossante, termos em que trans-
fere a propriedade e se presume sempre valor 1'ecebido
(art. 362, Cod.).
Quando assim se não faça, ou se não declare ao menos
valor ?'ecebido ou em conta (art. 36-1, n. 3), é cautela não
admittir transa~ções taes, porque podem tl'azer graves
complicações e reclamações.
Julho,J862,
296 CONSULTAS SOBRE

Letra ; endosso ; responsabilidade


Qual o effeito do endosso em letra depois de ven ·
cida? Qual a responsabilidade do cedente "
Resposta
O endosso em letra depois de vencida, quando mesmo
transmitta a propriedade, opéra o simples effeito de cessão
civil (art. 364, Cod. Com. Beas.), poetanto sem responsa-
bilidade solidaria do cedente, pois é esta a natureza e es-
sencia da cessão civil, correndo ::t boa ou má cobrança por
conta do cessionario.
O cedente só responde pela veracidade da transacção e
realidade da letra.
O nosso codigo, deduzido do portuguez, art. 360 (fonte
proxima), estabelece expressamente a doutrina, aliás não
seguida por outros, qual o francez (V Alauset,Commentaire
du code de commerce, voI. 2°, pago 394).
Nem do art. 422, Cod. Bras., se póde inferir o con-
trario; porque evidentemente elle se refere aos actos,
pratic:l.dos antes do vencimento da letra, como melhor se
deprehende dos arts. 405 a 414, e do Reg. 737 de iS50,
art. 370 e seguintes.
Setembro, iS60.

Letra ; prescripção ; credito civil

A prescripção de letras (art. 443 do Cod. Com.)


se refere só ás acções para cobraI-as, ou ao direito
mesmo, isto é, podem elIas, apezar de passado o
tempo, ser reputadas credito civil, e demandadas no
fôro commum, sujeitas então á prescripção do di-
reito Civil '7
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 297

Resposta

Entendo que não; porque a prescnpçao é relativa a


quaesquer acções, e nenhuma lei lhes conserva o caracter
de titulo obrigatorio, perdendo assim a competencia com-
mercial, como aliás é disposição de alguns codigos.
Julho, 1856.

Liberdade
Fallecendo Pedro, sua viuva, antes de proceder
o inventario, libertou uma escrava do casal, com a
condição de a servir durante a vida. Depois de li-
berta assim, teve esta filhos. Um herdeiro quer
que entrem para o monte e sejão avaliados nãô só
essa liberta, como os filhos.

Pergunta-se
Deverá isso ter lugar?
Resposta
Entendo que só deve entrar o valor da escrava liberta;
porque os filhos nascidos posteriormente á concessão são
livres, visto que essa condição é personalíssima e não
abrange os filhos, tanto, que essa liberdade agora só póde
ser revogada por ingratidão ou falta de cumprimento da
condição, unicamente pela doadora, nos termos da Ord.,
liv. 4,0, tit. 63. E nem se póde dizer que ella ainda não era
exclusivamente de sua pl'opriedade para poder libertaI-a;
porque deve-se entender que, fazendo-o, tomou-a á sua
meiação, quando não pela regra geral de direito, ao me-
nos pelo favor á liberdade, na fórma da Ord., liv. 4,',
til. H § 4,., e outras leis.
Novembro, i85~.
298 CONSULTAS SOBRE

Liberdade
Maria, sendo casada, falleceu com lestamen to,
em qlle deixou a seu marido alguns escravos para
o servirem por tempo de dez annos, findos os quaes
ficarião elles livres. O marido, que tambem era tes-
tamenteiro, falleceu antes de se findarem os dez
annos, e deixou ;\ seu herde iro e testamenteiro os
serviços daquelles escravos pelo tempo que restava.

Pergunta-se
Póde o herd eiro do marido de Maria compellir
os escravos a prestar-lhe os serviços na fó('m~
do testamento delle, ou ficál'ão elles livres desde a
morte do mesmo, embora não se houvesse com-
pletado os dez an nos de serviços?
Resposta
Parece-me que não póde o herdeiro em questão obrigar
os escravos (ou antes libertos) a prestar-lhe os serviços,
de que se trata, porquanto o marido de Maria não tinha
senão os seviços ou usofrur.to,o qual, findou pela sua morte
(1', Dig., quemad. usuf. amitt.; Cod. da Prussia,art. 176 ;
Cod. Civ. fr., art. 6i7; Mello Freire, Dú' , Civ., liv. 3°,
tit. i3, § 6° ; Coelho da Rocha, Di?" Ci?)., § 620; C. Tel-
les, Dig. Port., liv. 3°, art. 569), pouco importanto, por-
tanto, que ainda não se houvessem completado dez annos
de serviços determinados por Maria, por isso que seme-
lhante disposição sempre se deve entender sob a condição
natural de por tanto ou mais tempo viver o usofructuario.
Quando mesmo assim não fosse, o favor á liberdade o
deveria autorisar, sendo esse um dos casos em que com
todo o fundamento teria justa applicação o principio con-
VARIAS QUESTÕES DE DlRElTO 299
sagrado na Ord., liv. 4,0, tit. H, § 4,0, (em favor da liber-
dade SclO muitas causas outorgadas cont1'a as reg1'as gemes) ,
e em outras muitas leis.
Accresce que a intenção da. testadora Maria foi favore-
cer a esses escravos, mas ao mesmo tempo a seu marido,
e sómenle a clle, deixando-lhe os serviços dos mesmos por
dez annos, e nunca que por morte delle passassem os liber-
tos a servir a mais pessoa alguma.
Entendo, por conseguinte, nuHa a dispos·ção do marido
no seu testamento, e que os escravos são libertos plena e
perfeitamente desde que falleceu, não podendo por isso
ser constrangidos a prestar serviços a pessoa alguma.
Agosto, t853.

Liberdade; alforria; doação « causa-mortis; » insinuação; imposto;


revogação; credores

L o Póde-se reputar valida. uma doação causa


mortis tratando-se de liberdade, embora faltem cer-
tos requisitos legaes ?
2.° A alforria está sujeita á insinuação ~
3. o Podem os herdeiros do doador revogar a doa-
ção por ingratidão ?
4: Uma escriptura pó de revogar a liberdade
conferida por titulo anterior?
5. ° QlJal o resultado para os credores do doador
finado se não existirem mais bens no espolio, além
dos ex-libertos, por onde elles se paguem?
Resposta
LO Rigorosamante, nos termos em que se acha conce-
bida, me parece na e~sencia doação causa mortis, havendo
300 CONSULTAS SO~RE

todavia a irregularidade de se não acharem assignadas


cinco testemunhas, como ensinão os dOlltores ser preciso.
No entanto, como se trata de liberdade. e esta se rege por
principios peculiares, gozando até de favores e mui ta
equidade por nossas leis, deve-se antes ter por alforria
condi cional, termos em que está legal e valida a escrip-
tura.
2.° A a alforri a não es tá suj eita á in sinuação por lei
alguma, não é verdadeira doação no ri gor da palavra.
3.° Por in gratidão nenhum herd eiro póde revogar a doa-
ção ou alforri a : é um direito do doador e do patrono,
como expressamente dispõe a Ord. , liv. lj.o, til. 63,
§ 9.° C').
4-. ° As liberdades me parecem legalmente revogadas pela
escriptura posterior, attenlas as causas das mesmas cons-
tantes, e o que dispõe a já cit. Ord ., liv. 4-°, til. 6a, § 9·,
que permitte essa revogação, aind a sem ser por acção
movida em jnizo.
Se os ex-libertos moverem demanda, então se lhes op-
porá a materia da ingratidão e qualquer outra legitima, e
se lhe dará prova.
5. ° Se os ex-libertos mcwerem a acção em fa.yor de sua
liberdade, e não houver mais bens do fallecido por onde se
paguem os credores, terão estes de perder, porque os her-
deiros não são obrigados, ainda que aceitem a lJerança,
além das forças da mesma.
Agosto, 1856.

Liberdade de imprensa
Relativamente ao processo por abmo dell a vi gora
(*) Hoj e é di s posição expressa de lei , que não ha ID !l.is revo-
gação de liberd ade por ingratidão, t en do sido d erog ada a orde-
nação citada pela lei de 28 de Set embro de 1881, art . 4, § 19.
A. C.
URIAS QUESTÕES DE DIREITO 301

ainda hoje a Lei de 20 de Setembro de f 830 ou ca-


ducou esta lei especial com o Cod. do Proc. Crim. e
mais legislação posterior?
Resposta

E' questão importantíssima.


O Supremo Tribunal de Justiç.a em causa de re-
vista crime entre partes, reccorrente Luiz Antonio de
Seixas, e reccorrido Antonio da Silva Castro, entendeu
que estava em vigor a cito Lei de 1830; porque, sendo lei
especial, e não podendo como tal ser derogada por lei a l~
guma posterior geral, sem que expressamente assim fosse
ordenado, não havendo lei alguma alguma posterior que o
houvesse feito, só por lei especial podia sêl-o, o que não
se dava (Acc. de 22 de Agosto de 1848).
A Relação de Pernambuco, designada para conhecer
dessa causa, tambem o entendeu assim, annuHando todo o
processo só por se haver o[fendido o art. 68 da cit. Lei
M :1.830 (Acc. de 20 de Março de 1849).
Mas, representando o presidente do Supremo Tribunal
de Justiça ao governo, em H de Fevereiro de :1.850, sobre
a necessidade de se fixar a verdadeira intelligencia da lei
a respeito de tão gt'ave questão, ouvido o procurador da
corôa e sober ania nacional, foi a questão submettida ao
exame do conselho de Estado.
O conselho de Estado foi de parecer inteiramente opposto
ás decisões supra referidas, e entendeu que essa Lei
de :1.830 caducou e está revogada pelo Cod. do Proc. Crim.
e Lei de 3 de Dclzembro de 1841, e mais legislação poste-
rior, "isto como estabelecêrão disposições que se lhes op-
pôem completamente, e com as quaes é, por conseguinte,
incompativel a el.istencia da dita lei, além de outras va-
liossimas razões expendidas no parecer da secção de justiça
de 17 de Novembro de :1.850, assignado por Ronorio Rer ~
30! CONSULTA~ SOBRE

meto Carneiro Leão, Antonio Paulino Limpo de Abreu e


Caetano Maria Lopes Gama.
O governo tambem assim o entendeu pela Circo de f5 de
Janeiro de ' iS5t, sendo ministro da justiça Euzebio de
Queiroz Coutinho Mattoso Camara (Vide Jornal do Com-
mercio de 6 de Fevereiro de iSiH .)

Liberdade; escravidão
Um escravo residente em paiz estrangeiro pó de
entrar no Imperio, e ser não só conservado em es-
cravidão, mas até mandado entregar a seu senhor
pelas justiças do Imperio ?
Resposta

Decidio o Aviso de 20 de Maio de tS56 que não; porque


pela Lei de 7 de Novembro de fS3i, art. i o, são livres no
Brazil os que de fóra vierem, excepto os matriculados em
embarc;ções de paiz onde seja licito a escravidão, e os fu_
gidos d~sses paizes, que devem ser entregues e reexpor-
tados, sendo que naquella lei se acha comprebendido o
escravo que por ordem ou em companhia de seu senhor ou
por qualquer motivo, que não a fuga, sahe do Imperio e
depois volta.

Liberdade por preço; e os filhos ?


Pedro no seu testamento ordenou que o seu tes-
tamenteiro libertasse F. e F., escravas de D. F ...
O testamenteiro foi ter com esta, e ajustou a alfor-
ria. de ambas as escravas por i :000#, ficando elIa.
obrigada a passar a carta quando recebesse essa
VARIAS QUESTÕES DE ]>IREITO 303

quantia. Uma das escravas morreu dahi a um anno,


e a outra ausentou-se de casa da senhora, di-
zendo-se liberta. A senhora manda citar o testamen-
teiro para lhe pag:u o conto de réis, segundo o
trato, e até mesmo porque na partilha já essa quan-
tia.lhe fôra lançada. para esse pagamento. O testa-
menteiro recusa dar tudo, e apenas 5006 por ter
fallecido uma das escravas.
Pergunta-se
Lo O testamenteiro é obrigado, segundo o trato,
a pagar o conto de réis, ou só metade?
2. ° Essa escrava que existe póde-se considerar
liberta, e as filh as que tem tido, sem que sua se-
nhora lhe haja passado a carta e recebido o valor
deUa 1
3.° Pó de a senhora desfazer o trato, visto como
não o tem o testamenteiro cumprido ha mais de
quatro annos e quer agora dar só metade?
4.° Quando se não possa desfazer, e tenha F ...
de passar a carta, podem-se reputar livres os filhos
ha ridos desde o aj uste para a liberdade?
Resposta
E' minha opinião que, desde que ficou ajustada a liber-
dade das duas escravas mediante o preco, ücárão elias li-
ues, embora depc, ldente do pagamento (arg. da Ord.,
liv. 4°, tit. 2°). .
Só se. poderia desfazer, se fosse impossível haver esse
preco, condicão sine qua non da concessão referida ..
Assim ao menos o autorisa a lei em favor da liberdade
(Ord., liv. 4°, tit. H, § 4° e outros).
304. CONSULTA.~ SOBRE

E no caso actual até se dá que a ex-senhora exige o


o preço, e não desfaz o trato, o que, mesmo por argu-
mento do que dispõe a Ord., Iiv. 4", tit. 5°, § 2° in fine e
§ 3°, excluirá agora a acção para desfazer o contrato; ac-
crescendo que em mão do testamenteiro já se separou a
importancia daquelle preço. Portanto:
V O testamenteiro está obrigado a entregar a quantia
total. Nem servirá de obstaculo o que dispõe a Ord.,
liv. 1...°, tit. 8°, por haver fallecido uma das escravas em po-
der da ex-senhora, porque não ha ahi verdadeira venda,
como têm reconhecido varias disposições em vigor para
a isenção da meia-siza em taes casos, e por isso lhe não é
applicavel essa Ord. para se tlizer que o perigo da cousa
correu por conta do vendedor.
E, se ella houvesse tido filhos posteriormente, sendo
elles livres, eis que se cumprisse a condição do preço, a
liberdade lhes aproveitaria, o que no caso contrario seria
impossivel por se não dar o preco.
Quando, porém, assim se não entendesse, e se o preço
total foi para ambas englobadamente, o meio seria fazer
avaliar a que sobreviveu, se não entrassem em novos
ajustes.
2.° Entendo livres tambem os filhos nascidos posterior-
mente á data do ajuste, se fôr possivel haver o preço con-
vencionado, não só pelas considerações anteriores, mas
porque a carta não é da substancia, e só prova, termos em
que não é nuIlo o contra to sem ella, e se póde supprir
(Ord., lil. 4°, tit. 19, § 2°).
3. o Já esta prevenido. Poderá desfazer se absoluta-
mente não puder haver o preço ajustado, pois foi isto con-
dição essencial da concessão.
4.. ° Tambem já está respondido ao segundQ. E' muito
de estranhar o procedimento do testamenteiro neste ne-
gocio, podendo assim prejudicar a liberdade, contra a dis-
posição testamentaria, que elle deve ser o primeiro a cum-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 305
prir, e seria uma barbaridade que, por facto alheio,
perdessem as li bertas e seus filhos a liberdade assim ad-
quirida.
Setembro, 1855.

Liberdade; por testamento e escriptura


Em face de escriptura contendo restricções a li-
berdades conferidas e de testamento, em que se con-
cede ampla liberdade, qual deve vigorar ~
Resposta
Se não fôra o testamento~ é claro que só deveria vigorar
a escriptura. Mas em face daquelle, que é mais favoravel
aos libertos por lhes não impôr clausula ou restricção al-
guma,enLendo que são elles plenamente livres, visto como a
vontade do senhor, manifestada no testamento. conservou-se
a mesma até a sua morte, prejudicando assim a escrip-
tura; e deve ser mantida dentro das forças da sua meiação.
Agosto, 1860.

Liberdade; usofructo ; emancipação; acção de lesão


Miguel, por fallecimento de sua mulher, proce-
deu a inventario e partilbas; ao herdeiro "menor
José foi lançada a. escrava Joanna. Miguel, como
tutor de seus filhos (todos menores), ficou na posse
de seus bens sem que os herdeiros tirassem nunca
fórmaes de partilha. Este inventario teve lugar ha
quarenta annos. Ha cerca de dous ou tres annos,
Miguel passou carta de liberdade a quatro filhos da
escrava Joanna, os quaes têm estado desde então
20
306 CONSULTAS SOBRE

na posse da liberdade. O herdeiro José, a quem to~


cou em partilhas a escrava Joanna, quer vender os
seus direitos hereditarios, adquiridos tanto pela
morte de sua mãi, como .pela. de seu pai, fallecido
recenternentfl.
Pergunta-se
i. o O comprador póde annollar as cartas de li-
berdade passadas aos filhos ele Joanna, com os fan-
damentos de não ser o libertante senhor desta e de
não possuir com que indemnisar ao herdeiro a
quem ella pertencia?
2.° Sendo, como é, incerto e illiquido o mon-
t"ante das ueranças de José, cuja realização além
disso depe nde de um pleito, póde José em algum
tempo arguir Dullid ade no contrato de venda, a ti-
talo de lesão en orme, se afin:!l verificar que o preço
da compra é a terça o a quarta parte do capital
realizado?
Resposta
Ao 1°. Se os filhos de Joanna são nascidos ao tempo em
que ao pai competia o usofructo dos bens do filho, isto é,
emquanto José se não emancipou ou casou (Ord., liv. to,
tit. 88, § 6 e 8; liv. 4°, tit. 97, § 19), entendo que a li-
berdade concedida por Miguel se não póde revogar ou an-
nuHar; porque, sendo elle usofructuario nos termos das
citadas Ord., e a do liv. 4°, tit. 98, lhe pertencião nessa
época todos os tructas dos bens em questão, e por isso as
c1'ias libertadas (C. da Rocha, Dir. Civ., § 612), visto
como o usofrucLo consiste em perceber todas as vantagens
da coma, salvo sómente a substancia (Mello Freire, Dir.
VARIAS QUESTÕES DE DIllEITO 307

Civ., liv. 3°, tiL i3, § 4°) , e a Ord., liv. i tit. 88, § 6",
O
,

expressamente dispõe que o pai póde gastar todos os rendi-


mentos e novidades, e só é obrigado a conservar os bens
quanto á propriedade, e entregaI-os pelo inventario.
Se, porém, forem elles nascidos depois que José 'se
emancipou ou casou, entendo nulla a concessão da liber-
dade por falta de dominio em Miguel, por isso que
desde então já não lhe pertencia o usofructo em taes bens,
como claramente se deduz da doutrina exposta.
Pouco importa que o inventario se tenha feito ha qua-
renta annos, porque a idade só por si não é meio ou modo
legitimo de emancipação do patrio poder pelo nosso di-
reito (Mello Freire, IJir. Civ., liv. 2°, tit. 5°, § 2i e segs.
Borges Caneiro, Dir. Oiv.,liv. i tit. 2i, § i94 e seguin-
O
,

tes); e, portanto, ainda quando ao tempo do nascimento


dos filhos de Joanna fosse José maior de vinte e cinco ou
vinte e um annos, esta cÍl'cumstancia só por si não mo-
dificará a resposta dada.
Ao 2.° Emquanto não prescrever (Ord., iiv. 4°, tit. i3,
§ 5°), pó de o vendedor usar da acção de lesão, se se verifi-
car e provar que a herança vendida valia ao tempo do con-
tracto mais de outro tanto do preço por que foi vendida
(cit. Ord. pro e § 6°), pouco importando para a questão
que o capital realizado depois seja tres ou quatro vezes o
preço da venda, uma vez que se não prove que ao tempo
do contrato a herança foi vendida por menos de metade
do justo preço, porque a lesão se regula sempre pelo
tempo do contrato (Corrêa Telles, Acç., nota 843).
Setembro, 1853.

Libertos ; avaliação
F., por morte de sua mulher tendo feito inven-
tario e posto de posse a seus filhos do que lhes to-
308 CONSULTAS SOBRE

cou em partilhas, libertou a muitos escravos, sob


condição de o servirem emquanto vivo fosse. Morre
"F., dispondo de toda a sua terça a favor de estra-
nhos, sem nada declarar em seu testamento acerca da
lilÍerdade anteriormente passada a seus escravos.
Perglnta-se
Devem estes libertos ser avaliados, para o seu
valor ser deduzido da terça, ou devem entrar na
avaliação geral sómente para fazer com que seja
maior a terça?
Resposta
Parece-me que esses libertos não têm de ser avaliados
no inventario, porquanto a liberdade lhes foi doada, não
por morte, mas em vida, embora com a condição declarada
que, realizada, tornou plena e perfeita essa doacão.
O contrario seria contra o principio da livre disposição
da propriedade em vida, e até um desfavor á liberdade legi-
timamente adquirida se esses valores excedessem a terça.
Maio, 18M.

Liquidação de sociedade mercantil; curador especial; commissão


O curador especial, de que trata o art. 353 do
Cod. do Com., tem direito a alguma com missão,
ou apenas aos emolumentos marcados para os cu-
radores ás litem ~
Resposta
O curador especial, de que trata-se, não é um curador
in litem, que aliás o juiz do processo deve dar, não obs-
tante aquelle.
VARIAS QUESTÕES DE Dl~EITO 309

E', sim, um adjunto aos tutores, para com estes repre-


sentar os menores interessados e zelar os seus interesses
nas liquidações.
Não ha disposição relativa a ser-1he devida commissão
pelo seu trabalho. De sorte que alguns nem a têm pedido
(do que dou testemunho em causas que tenho tratado).
Ontros, porém, a têm reclamado.
Esse curador especial não é liquidante nem co-liqui-
dante. Os liquidantes são outros (art. 34.4., Cod.). E nas
fallencias onde a mesma disposição deve ter lugar
(art. 353e9H),
O são tambem outras entidades, ás quaes o juiz da fal-
leneia arbitra a commissão, segundo a tabella de D de Se-
tembro de 1.8DD, expedida pelo Tribunal do Commercio.
Por equidade, e em vista do trabalho que o curador espe-
cial provasse haver tido, eu não duvidaria arbitrar-lhe
commissão, ad instar dos demais curadores e tutores no-
meados pelo juiz de orphãos, mas não excedendo o ma-
ximo de 4.0OWJ (Ord., liv. 1.0, tit. 88, § 53; Di'/'. n. 561. de
i8 de Novembro de 1.84.8, artigo segundo, in fine) (~).
Dezembro, t873.

Loteria ; doação ; coIlação

A declaração lançada no verso de um bilhete de


loteria, feita pelo pai, de que metade do premio que
sahisse pertenceria ao filho, que direito concede
a. este, fallecendo o pai sem haver cumprido a pro-
messa?

(*) Vide questão entre o Dr. João Francisco Diogo e José


Maria Alves, inventariante seu pai, decidida até em grão de
revista (Accordão de 15 de Setembro de 18'75) em sentido ne-
gativo.
310 ecINSULTAS SOBRZ

Resposta
Desde que o bilhete de loteria foi comprado com di-
nheiro do pai, que no mesmo declarou pertencer o bilhete
tambem ao filho, por quem o mandou comp rar, é natu-
ral entender-se que lhe quiz dar metade do seu premio,
o que no entanto não cumpri0, fazendo seu todo elle. Em
termos taes, é meu parecer que, não passando isso de
uma promessa, obrigação imperfeita, não ha direito de
exigir, tanto mais quanto aquelle acto foi de méra liberali-
dade, não levada a effeito.
Se, porém, fosse diversamente entendido, e no inventa-
rio do pai, ora fallecido, se contemplasse em favor desse
filho a importancia da metade daquelle premio, devêra
ser esta levada á coUação, verdadeira ou ficta, por have-
rem outros filhos co-herdeir03, e não existir insinuação
que a resguarde pela terça do pai no excesso da legitima
do mesmo filho (Ord., liv. 4.', tit. 97; Ass. de 21. de Ju-
lho de 097), salvo até a quanrt~ de 360;fJJ, taxa legal
dentro da qual é valida sem aquella formalidade a doação
feita por varão (Ord., liv. 4.0, tit. 62; em Alv. de 1.6 de
Setembro de HSU, ; Av. cit.).
Julho, 1873.

Mandato ; fallencia; acquisição por procurador; nullidade; sello


i. o São validos os actos praticados por proênra-
dor sendo o mandante fallido ?
2. Póde-se dizer nullo o mandato por haver-se
0

pago do instrumento do mandato se110 inferior ao


devido?
3.° E' licito a um procurador incumbido da ven-
da de certos bens com pral-os para si ?
4.° De que meio se deverá lançar mão para an-
,
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 3H

nullar as compras assim realizadas? Q'ual a defesa


qne podem apresentar os acqu Íl'entes de tacs bens?
Resposta

Au 1." Se os actos praticados em virtude da autorisação


o forão antes da fallen cia do mandante ou committente,
não podem ser atacados; porque, sobre vindo a mesma
fallencia posteriormente, já aquella havia sido legi limtl e
legalmente exercid:\ em templ). lVIas se sobreveio, pen-
dente o mandato, pela fallencia teria este caducado (Cod.
Com., art. 1.57), e os actos serião afIectaclos de nullidade
por falta de poderes do mesmo e não poder transigir.
Ao ~.o Se apenas foi pago o sello de 60 1'5. do titulo
desse mandato ou procurac.50, não é isto motivo de nulli-
dade. Somente obriga ou sujeita o mesmo titulo 'Í. I'cv·tli -
dação, o que se pode fazer quanuo se tenha de exhibil-o.
Ao 3. Em rigor, achando-se constituido o conselho fis-
Q

cal, e portanto cada um llos seus embros, procurauor


incumbido da venda dos bens, entendo que não foi reg ular
a compra feita de alguns desses bens por um delles. O
procurador não pOde comprar bens, lIe cuja venda é en-
carregado (L. 34., § 7°; Dig. de contr. emph .) . Toclavia
taes sel'ião as circumstancias especiaes do caso, que pos-
são excusar e manter o acto, sobretudo se, na. impossilJili-
dade de melhor, por eUe se evitou maior prej uizo, ainda
que provavel fos~e.
Está entendido que é inteiramente exclui da a hypothese
de fraude ou simulação em damno de alguem.
Ao ~. o Para annullar taes compras e vendas seria pre-
ciso usar da acção ordinaria. lVIas os terceiros acqui rentes
poderião oppôr, além de outra defesa que tivessem, a
prescripção, se possuissem por titulo habil e em boa fé ba
mais de dez annos.
Janeiro, 1.873.
342 CONSULTAS SOBRE

Mandato; registro

. Lo E' essencial para a validade do mandato ge-


ralo registro no Tribunal do Commercio?
2. o O que importa a falta de regicitl'o ~
3: Induz nullid;tde do titulo?
4. Quando exige o codigo commercial que o
0

mandato seja registrado ?


5: As cartas missivas constitutivas de mandato
estão sujeitas a registro?
Resposta

O art. 159 do Cod. Jo Com. entendo que só se refere a


caso da revogação do mandato geral; porquanto:
L o Elle se prende ao art. 11>8, wmo se vê da redacção
e do seu final.
2. o A falta do registro só importa a presumpção de con-
tinuar o mandato.
3. Essa falta não induz nullidade do titulo (Reg. n. 737
0

de 1850, art. 693), e apenas a sancção especial do codigo;


ora, a sancção unica é essa, que respeita sómente á revo-
gação.
4. o O cit. art. i 59 só () exige quando ba mandato g(wal
que se revoga, pela razão de que terceiros não sej ão pre-
judicados contratando com pessoa autorisada, e úppondo-
se-lhes depois revogações occu ]tas desses poderes.
5. Permitlindo o Coo., art.140, o mandato até por car-
0

tas missivas, e mesmo :l prova delle por testemunhas, não


exige que aquellas sejão registradas (e o attesta a pratica.
inalteravel do commercio), nem da outra seria possil'el
que tivesse; exigir sempre o registro seria absurdo e an-
tinomia no legislador. Tal seria a consequencia da inter-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 3t3

pretação do art. t59, uiversa da que lhe dou em meu con-


ceito.
Dezembro, t862.

Marinhas; fôro; acção

Procede a cobrançl de fóros contra o successor


de terreno de marinha.s, anteriormente devidos pela
vendedora?
Não tendo havido aforamenlo, mas posse de
facto, qual o meio de obrigar o foreiro?
Resposta

Se F... é successor e possuidor de marinhas aforadas á


vendedora, entendo que contra elle procede a cobrança
dos róros mesmo anteriores, devidos pela mesma vende-
dora, por isso qne o foro importa onus real (Lei n. 1237
de 24 de Setembro de 186q., art. 6°), ou hypotheca lega.l
privilegiada, segundo o direito anterior (Lei ele 20 de Ju-
nho de 1774., § 35), e portanto procede a cobrança contra
o possuidor, donde vem dizer-se in rem scripta, a acção
(C. Telles, Acç., §391 e nota 919).
Se, porém, nunca houve aforamento, e apenas posse de
facto, entendJ não se r devido o foro da concessão em
diante (Vide Porto de 13 de Novembro de 1839), sendo
outros os meios de obrigar o possuidor a reconhecer os
direitos da Fazenda, tirar o titulo de aforamento, ainda
com perda elas bemfeitorias, nos termos do Av. n. 376 de
12 de Novembro de 1856 e outros, e da preferencia (Vide
Dec. n. 4105 de 22 de Fevereiro de 1868).
Agosto, 1870.
eONSULTAS SOBRE

Matrimonio ; cllmmunhão de bens; petição de herança; prévia


sentença no ecclesiastico
1.0 A consummação do matrimonio é indispen-
.savel para que os bens se communiquem ?
2: Verificada essa lIypotbese e morto o marido,
a quem pertencem os beus por elIe deixados?
3. o E' necessaria sentença tio juiz ecclesiastico
para que se possa considerar nullo o casamento?
Resposta

Em face da Ord., li v. 4.°, til. 4-6, § -lo, é certo que, pro-


vada a não consummação do matrimonio pela absoluta im-
possibilidade do acto, não houve communicação de bens.
Ao 2.0 e 3 Dada a bypotb.ese referid a, é crHlsequencia
0

necessaria que, não tendo a mulher direito á. meiação, e


devendo os bens reputarem-se do marido, os qne delle erã0
antes do casamento, aos hel'deiros do mesmo marido per-
tencem todos. Conseguintemente a elles compete a petição
de herança ou a rei vindicação.
Nem dependem de prévia sentença no juizo ecclesias-
tico, por isso que a questão é da competencia temporal,
como effeito civil do casamento em relação á transmissão
de propriedade, nos termos da já cito Ord. Se se tratasse
de nullidade do casamento, mesmo para elreitos civis, se-
ria preciso que precedesse decisão no ecclesiastico, como é
necessario quando se tra ta de divorcio perpetuo ou tempo-
rario.
Maio, 4872.

Medico ; eIecutivo; arbitramento; opposição; recursos

Qual o privilegio de que gozão os medicos para.


cobrança de seus honorarios ~
VAlUAS QUESTÕES DE lllREITO 3i5

Qual o recurso de que deve usar a parte que


fór demand ada por bonorarios e em que tempo?
Em que occasião deve o réo se reclamar sobre
o quantum do arbitramento?
Resposta

Os medicos gozão do privilegio do executivo para a co-


brança dos seus honorarios (Alv. de 22 de Janeiro de 18tO,
§ 34), precedendo, porém, o arbitramento respectivo por
louvados competentes (Alv. cit., § 34).
A appellação interposta do arbitramento não suspende
a execução (cit. § 34). "
O processo da acção executiva é o que expõe Corrêa
1'elles, Acç., § 20 e notas.
E', pois, dentro dos seis dias da penhora ou de seguro o
juiz que tem lugar vir o demandado com os seus embar-
gos em defesa, como contestacão da aeção (C. 1'elles, cit.,
nota 35-a ; Di:,pos. Prov., art. 14.). \ ahi poderá uispu-
tar-se a prestação dos serviços e tudo o mais quanto fôr a
bem do demandado.
O arbitramento é apenas um preparato )"io, que portanto
exclue materia alheia á sua natureza, que é determinar o
qua-ntum afim de se poder usar daquelle executivo. Sobre
o q1.tantun póde a parte reclamar no mesmo arbilramento
perante o juiz ou por appellação para o superior (Ord.,
liv. 3°, til. 17, § 3° e 5°; Alv. já cit., § 34).
Julho, 1874.

Medição ; conciliação

Ao processo de demarcação judicial de terras


deve preceder a tentativa de conciliação?
316 CONSULTAS SOBRE

Resposta
Sim, salvo as excepções do art. 6 da Disp. Provo E as-
0

sim se tem julgado.


Abril, i857.

Medição ; venda de herança


Havendo titulo legitimo de uma grande fazenda,
que não foi medida, e tocando a um herdeiro uma
quota dessa fazenda
Pergunta-se
L° Qual deve ser o procedimento para com os
intrusos na fazenda ~ Estão eIles no caso dos heréos
para serem citados?
2. o Póde esse herdeiro medir o seu quinhão e
julgaI-o por sentença, ou depende da medição do
todo?
3: Os herdeiros da fazenda nunca pagárão a de-
cima da herança, por questão entre elles, por causa
das avaliações. Podem vender o seu direito e acção?
No caso de venda, haverá meio de os responsabili-
sal' pelo resultado da sobrepartilha, quando affecte
a extensão do terreno?
4. o Deve a medição ser feita em conformidade
com o novo regulamento da lei das terras, ou pelas
leis anteriores?
Resposta
Ao LA Devem ser citados os vizinhos ou heréos (Vang.,
Praxe Jud., capo i 9, n. lO3, e capo 20 da parte 4,") para a
demarcação. E portanto todos elles.
VARIAS QUESTÕlS DE DIREITO 317
Só depois da medição se poderá com segurança saber
quem são os intrusos para fazêl-os despejar e restituir as
terras que indevidamente tiverem occupado ou usurpado.
Contra estes tambem ha recurso independente' da medição,
qual é propor-lhes a acção competente de reivindicação, ou
outra que no caso caiba.
Ao 2.· Se no titulo designa-se lugar certo onde seja cons-
tituido o seu quinhão, ou se o·herdeiro está já de posse e
estabelecido em parte da fazenda, como a elle pertencente
por esse titulo, então basta proceder á medição do seu
quinhão, porquanto a demarcação tem por fim determi-
nar por linhas divisorias as propriedades que se achão
confundidas nas divisas, ou que não estão claramente sepa-
radas para distinguir com precisão o meu, o teu (Menezes,
Tomb., capo i·, § 2°, e capo 6°).
Se, porém, nada disso ha, deve o herdeiro proceder á
divisão e marcação conjunctamente. E neste caso, embora
não haja necessidade de prévia medição do todo, deve
comtudo ser ella feita com citação dos interessados e con-
finantes. Não ha necessidade de prévia medição do todo,
porque a mediçã.o dos quinhões parciaes dá em resultado
tambem a designação das linhas divisorias do todo. Nada
obsta, porém, a que os herdeiros a fação, se quizerem, vo-
luntariamente.
Ao 3. ° A falta de pagamento da decima da herança não
obsta a venda della; porque, ainda que os herdeiros ha~
jão recebido os seus quinhões sem o fazer, tem lugar a
cobrança por executivo (arL. H do Reg. de 28 de Abril
de 1.84.2, e art. 9° do de 4. de Junho de 1845), e não ha
disposição que imponha obstaculo semelhante.
Quanto á segunda parte da pergunta, é de tal modo am~
bigua e vaga, que não é possivel dar-lhe resposta precisa.
Todavia, se o comprador quizer garantir-se contra os her~
deiros vendedores, é· bom que assim o estipule no con-
trato, á excepção da lesão enorme ou enormissima, qUe
318 CONSULTAS SOBRE

lhe fica sempre salva (liv. 4.·, tit. 13 da Ord.; Corl'êa Tel-
les, .A cç., nota 841) .
.Ao 4." Parece-me que em conformidade das leis ante-
riores; porquanto, não se achando esta no dominio dos
primeiro~ sesmeiros, não está sujeita á revalidação, e não
compete a medição aos juizes commissarios, e sim aos
juizes municipaes, se quizerem obter os actuaes proprie-
tarios novos titulos (art. 27, 34, § i , e art. 62 do Reg. de
30 de Janeiro de 1. 854 para execução da Lei fi. 501. de
i8 de Setembro de 1850).
Maio, 1854.

Dlenor ; ordenado

Póde o menor autorisar outrem a receber por


elle o seu ordenado de empregado?
Resposta

o menor, em regra, não póde validamente contratai',


excepto depois de emancipado por casamento, supple-
mento de idade. Mas o peclllio castrense e quasi castrense
(proveniente de serviço militar, emprego, etc.) é seu pro-
prio, e portanto parece que póde elie autorisar outrem a
°
receber ordenado que lhe pertença como empregado, etc.
Outubro, 1863.

Monte-pio; eliminação; recurso

L· Pendente o prazo para o pagamento da con-


tribuição de um instituidor de monte-pio, póde-se
dizer o mesmo em móra?
VARIAS QUESTnES DE DiREITO 3t9

2.· Podia ser o instituidor eliminado tendo a fa-


culdade de remir?
3: Qual o recurso da decisão da directoria do
monte-pio prejudicial aos direitos de um insti-.
tuidor?
Resposta
L° Entendo que o contribuinte, nos lermos do decreto e
estatutos, só está em móra faltando ao pagamento no fim
do prazo determinado. Emquanto pende o prazo não ha
obrigacão vencida.
2.° A.ssim que, e visto a faculdade de remir~ nos ter-
mos dos mesmo') decreto e estatutos, tendo-o feito, não po-
dia ser eliminado.
3.° Sendo omissos egtes actos ou lei da associação quanto
a recurso da decisão da clirectoria, resta, me parece, o re-
medio de solicitar que esta reconsidere e attenda á recla-
macão. Se não o fizer, poderia promover-se a assembléa
geral dos contribuintes para fixar a intelligencia dos esta-
tutos, e implicitamente sobre o caso, submettendo ao go-
verno, se tanto fosse necessario, a deliberação em fórma
geral wmo interpretação daquellas disposições.
Recorrer aos tribunaes judiciarios seria remedio ex-
tremo, visto com~ tenho sérias duvidas sobre a sua com·
petencia em tal materia.
Agosto, i87L

Morgados ; direitos e obrigações


Lo Quaes os direitos e obrigações que tem o
administrador de morgado?
2. ° A quem pertencem as crias dos animaes? E
os filhos das escravas?
320 CONSULTAS SOBRE

Resposta
. Ao i. ° O adm inistrador do morgado não é verda-
deiro senhor dos bens; tem apenas uma propriedade li-
mitada, e é equiparado a um usofructuario embora com
alguns direitos mais latos (Mello Freire, Di1'. Oiv., liv. 3°,
tiL 9°; Lobão, Morg.; C. da Rocha, Dir. úiv., § 51.6
a 523). Conseguintemente: 1.°, faz seus os fructos natu-
raes, civis, obrigado, porém, a conservar com os rendi-
mentos e os proprios fructos, e ainda á sua propria custa,
as cousas do vinculo; 2°, os filhos das escravas pertencem
ao vinculo (arg. do § 37, I nst. de 1'm'. div.); 3' , responde
ao successor pelo damno proveniente de dolo ou culpa;
4.0, tem direito (ou os seus herdeiros) á indemnisação
das bemfeitorias feitas á sua custa, que augmentárão o
valor do vinculo.
Ao ~ . o As crias dos animaes pertencem ao administra-
dor, substituindo com as mesmas as cabeças que mor-
rerem (Iiv. 68, § 10 e 2°; Dig. de USar?',). Os filhos das
escravas pertencem \. ao vlncu
. Io, como se d'1sse.
O administrador só responde por dolo ou culpa (V. Lo-
bão, Morg.)
Novembro, 1.869.

Morgados ; partilha
Como se podem reputar vinculados bens forenses?
O morgado irregular, ainda sob a apparencia de
fidei-commisso, é valido pelas nossas leis?
No caso contrario, sendo nulla a verba em que o
testador o deixou, como se deve proceder á par~
tilba?
Res~osta

Sou de opinião que os predios de que se trata devem


VA RIAS QUESTÕES DE DIREITO 321

ser partilhados como allodiaes no i nventario de ... , por-


quanto: iO, para se reputarem vinculados ou de mor-
gado~ dependeria isto de confirmação régia, na fórma da
Lei de 3 de Agosto de i 770 e ResoI. de consulta da junta
incumbida da compilação do novo codigo de 23 de Abril
de 1779 ; seria preciso a perpetu,idade; não podia recahir
em bens foreú'os sem licença do senhorio directo (V.
Mello Freire, liv. 30, til. 9°; Lobão, Morgados; C. da Ro-
cha, § 495 e segui ntes); 2°, o que se dispõe na verba de
instituição importa a nullidade das clausulas por cons-
tituirem morgado i?'?'egv,lar, prohibido pela cit. Lei
de i770: esse ndei-commisso, que ahi parece existir, não
seria senão um disfarce para illudir a prohibição, e por-
tanto nuIlo.
Não é, porém, menos certo que o testador deixou de
sua terça esses predios ao filbo . .. , e que o podia fazer.
Assim, não havendo morgado regular, sendo nuHo o
irregular, e nuHo esse apparente fit.lei-commisso, sub-
siste apenas o legado despido dessas clausulas, e portanlo
allodial. Fazem, pois, os ditos bens parte do espolio deste
finado filho para serem repartidos na fórma commum se-
gundo direito.
Outubro, i868.

Morgado; vinculo; successão


Quaes as condições para reputar-se regular um
vinculo?
Não se verificando a disposição testamentaria
que o instituia para quem passão os beos ?
Tendo sido entre oós abolidos os morgados e
vinculos familiares, é habil o filho natural reconhe-
cido para succeder?
322 CONSULTAS SOBRE

Resposta
Examinei attentamente os pape ~ s relat.ivos ;l qnesUio de
sucr.essão em bens do espoli o do finado C. J. P. da S., de
que trata uma verba elo seu test.amento, disputada a
successores do filho nella contemplado pelos succes~ores
de outro Alho, e sobre a qual se tem proferido, quer Da
primeira, quer na segunLlil instancia. decisões oppostas e
vacillantes.
E' manifesto, que por essa verba instituio ilf[uelle testa-
dor um vinculo na pessoa de sen filllo ahi nomeado, e
como bens vinculados sempre forão Ilavidos desde 18H),
em que falleceu o mesmo testador.
Para ser regular com') morgado deverião ter-se preen-
chido as condições da Lei de 3 de Agosto ele i 770, o que
não consta.
Se irJ'egula?', seria nullo c prohibido na fórma da refe-
rida lei. Ainda assim valeri,l a institnição emquanto re-
gular, havendo-se por não escriptas as clausulas e con-
dições reprovalla,s, frivolas e exoticas (Lei cit., §§ 9°, 24, e
2;) j Lobão, M01'g., capo 90, § }10 e lO; C. da Rocha,
Vir . Civ., § 003), mantida a instituição no que fosse
substancial (Lei cit., § 2i».
Se tal instituição ClU rlisposiçii o testél,mentêl,ri a se nã:o
tivesse verificado em vinculo, se deveria haver por não es-
cripta, passando os bens corno allod iaes e ab inteslado aos
herdeiros do testador ou ao herdeim insti tuido, a quem
accrescerião, na fórma da Lei de 29 de Maio de 1837.
Nesta hypothese, dev~rião os de que se trata ser partilha-
dos entre os descendentes dos dous irmãos qlle os disputão,
na fórma geral da succe5são.
Parece, porém, não ser este o caso; pelo menos não
ha elementos para se dizer, que aquelle vinculo não se ve-
rificou, presumindo-se até o contrario em vista do facto
confessado.
Ora a lei de 6 de Outubro de t83v abolia os morgados e

'-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 323
e vinctüos familiares, quaesquer que existissem, regulares
ou não, ele direito ou de facto, isto é, absolutamente e sem
excepção, e oruenou que os bens passassem aos herdeiros
do ultimo administrador, segundo as leis da successão ab
intestado.
E' fóra de duvida que, segundo estas leis, o filho natu-
ral é herdeiro legitimo (Ord., liv. 4°, til. 92 ; Lei de 2 de
Setembro de 1847), c portant.o os successores do mesmo.
Desde que, [allece n ~ o aquelle em '1863, estava reconhe-
cido o fi lho na fór:na da ci t. Lei de 18't 7, é claro que aos
seus Sllccessores pertencem taes bens, como representantes
de seu pai e sobrevivenles ao <l Yô.
Não é razão ele decidir em contrario o § 25 da cito Lei
de .J 770 : -1 0, porque este § 2?J não el ispõe o que se pensa,
e sim, que valh5:o as instituições (s cilicet morgados e vincll-
los) no que tem ele substanciaes emquan to forem legaes
e permittidos, sendo , porém,nullas as clausnlas , condições,
e modos irregulares e contrarios ã mesma lei: refere-se,
pois, exclus ivamente ao objecto especial que ella tratoll
de regularisar em vista da extrema confusão introduziell
em tal materia e dos ::tbusos commettidos; 2°, porque
essa fórma de successão disposta na verba test::tmentari a,
quando valicla, só subsistiria no caso de manter-se o vin-
culo, e jamais se deveria transrormar em uma subslitni-
ç~o fidei-commissari::t de um ~ó ou d~ mais grãos, como se
entendesse valido por nosso direi lO nesl a especie de dispo-
sição: seria desvirtuCl.r compl\)tamelJte a disposição e a
lei a tal respeito j 3°, porque, sendo assim, a nova Lei
de 6 de Outubro de 183;') implicitamente annullon essas
successões oos vinculos, haven do-se, portanto, como não
escriplas taes vocações; apenas manteve os administrado-
res existentes ao tempo de sua promnlgação, e di ~ poz,
sem excepção alguma, que, por morte destes, passem os
bens aos seHS successo?'es conforme as leis geraes da suc-
CONSULTAS SOBRE

cessão ab intestado, livres inteÍl'amente e como allodiaes. E


assim regulou esta materia, entre nós .
. Julho, 1875.

Mulher casada; sua responsabilidade por dividas do marido


A mulher casada fica responsavel pessoalmente
pelas divi das contrabidas por seu mar ido, ainda
além das forças do casal; e até por seus bens pro-
prios e posteriorm ente adquiridos?
Resposta
Não. A tal respeito, ella é equiparada aos herdeiros
para não ser obrigada ultra vires (Yide B. Carneiro, Di?'.
Ci,v., Jiv. i tiL 12, § -128, n. 18 a 2 ,1).
O
,

E assim foi julgado a favor de D. Deolinda Rosa de Al-


meida, na execução do monte do soccorro contra seu
finado marido, pelo juizo da 2" vara da côrle, escrivão
Albuquerque, em sentença de 27 de Novembro de '1873,
confirmada pelo Acc. de 29 de Julho de i873, suslentado
pelo de 26 de Setembro (App. n. H.377, escrivão Caetano
dos Santos).

Mulher commerciante; actos de commercio; actos alheios


ao commercio; se o marido outorga seus direitos

Uma senhora casada, tendo já autorisação por


escriptura publica de seu marido para commerciar
em seu proprio nome, deseja saber;
1.0 Se do qu e possa ella adquirir pelo seu com-
mercio, pó de o marido em qualquer tempo preten-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 325

der alguma cousa, utilisandc-se de qnaesquer som-


mas, sem que se lhe possa obstar.
2.' Se, fazendo-se-lhe alguma doação ou legado,
póde ella receber por si em jl1izo, ou precisa do
consentimento de seu marido.
3,' Se, não obstante a autorisação de que acima
se fallou, não puder ella estar em juizo por si só,
o que se exige em direito para que o possa fazer?
Resposta
i.' Se ha contrato ante-nupcial, pelo qual se exclua o ma-
rido de ter parte até nos rendi mentos dos bens da mulher,
e no que ella possa por qualquer titulo vir a adquirir du-
ran te mesmo a cOllstancia do matrimonio, nada póde o
marido exigir, porquanto ,tudo é exclllsivamente della, e
assim se ba de observar (Ord., liv. 4', tit. 47).
Mas se, pelo contrario, ba com ml1nhão simples, ou ao
menos nos rendi me ntos e nos adquirid os durante o casa-
mento, é consequencia que o marido ahi tem seu direi to j
tanto mais, quanto a mulher, po r elle autorisada a com-
merciar, obri ga os sens bens em alguns casos, como se
deduz do CO!!. ele Comm., art. 27, e elle é reputado quasi
socio (Rogron, Cod. Com. Franc., arl. 1)' , nota).
Porém esse direito do m:1rido não autorisa a consumir
tudo Cjuanto a mulher adquirir, já porque seria injusto e
ele grave prejuizo mesmo para o ca aI, já porque viria a
ser em prejui7.o de cred ores, e até a impprtar talvez a fal-
lencia, Cjl1e poderia ser qu ali fica da culposa ou fraudul enta,
nos termos dos artg. 800, 802 e 803 do Cod. Com.
O prudente arbitrio deve regular a quest:Io . E á mulber
resta o direito de recusar e de recorrer a outros meios que
as leis llle facultão.
E' verdade, tambem, que o marido póde cassar-lhe a
autorisação para commerciar; mas ha de ser como dispõe
326 CONSULTAS SOBRE

o art. 28 do Codigo para que surta os seus e[feitos. Mas


então a casa ficolria em liquidação até serem pagos os cre-
dores, ou se declararia fallida, segundo fosse o seu estado.
2.° Em referencia ao poder marital, é preciso o consen-
timento do marido para que a mulher esteja em juizo,
ainda sobre bens moveis (Ord., liv. 3°, til. 47); e, na falta,
supprido pelo juiz (Sil\ a, á Ord. cit.; B. Carneiro, DiI'.
Civ., liv. 1°, til. 12, § 1~5, n. '1 ,2 e 7)'
Só não é elle necessario no (que é relativo ao seu com-
mercio, por ser consequencil da autorisação prévia
(art. G72, § l° do Reg. n. 737 de 1850), caso em que não
está o receber um legado. Tambem não o é, se ella se acha
divorciada ou separada, porque póde est.ar sem elle em
juizo (cit. B. Carneiro, n. '1 2-2°).
Sendo em juizo, e recusando o marido a autorisação, ou
não querendo elle proprio receber, ai nrla com a clausula
de só pertencer á mulher (como se póde declarar no legado
ou doaç"io, se já o sel1 contrato ;lllte-nupcial o não houver
prevenido ), ent"io lIa o meio de fazer-se-Ihe extra-judicial-
mente a doação com excl usão elo marido, se assim fôr ne-
cessario, embora depois elle tenha de dar sua outorga para
estar ella em juizo jJara a iosinuaçii:o, se exceder a taxa da
lei, ou de ser supprido pelo juizo es e consentimento, ex-
cepto se es Liver di vorciada, como se disse acima.
Todavi a ha opiniõ~s que fazem necessaria a autorisação
do mariLio para que a. mulher possa. aceitar Lioações (C. da
lloclla, Di?'. Civ. , § 7~''l!), o que não deixa de ter seu fUD-
damento (emquanto não divorciados) , em razão do [loder
marital e dos direitos que lhe [sITo inberentes, além de
ouLros motivos faceis de concebe!'.
Agosto, i 8iS5.
VARIAS QUESTÕES DE DlREIT@ 327

Multa pelo senhor do escravo

A multa imposta como pena ao escravo deve ser


paga peJo senhor, ainda só até o valor do escravo?
Resposta

Em a causa crime, A. a jostiça, e RR. Pedro Vicente e


outros, 1854., conhecida pela cau sa de Carvalho & Rocha,
o clecidio pela affirmativa o joi z de direiLo na sentença qoe
lavrára em 7 de No'\embf'O.
Mas, parece insustenta vel semelhante doutri na, por-
quanto:
LO Não ha lei que o ordene. E se para a ic.demnisação
foi isso necessario, com muito mais razão para a multa.
2. o Não é indemnis~ção a mo lLa para se lhe applicar o
art. 28, § ,LO do Cod. Crim. E' pena (art. 155, Cod.), e por
isso pessoal (art. 09, § 20 da Consl.).
3.° Do art. 312 do Cod Proc. lambem não se páde dedu -
zjr argume Il to, já porque para essa excepção foi necessa-
rio disposição expressa de lei, ja porque açha ella sua
explicação na historia da época (t832) por e-:igir o bem
publico que se estabelecesse e La. especi e de punição ao
i mpre~sor tambem, il pezetl' ele não cumplil;e pelo art. 8°
do Cod. Crim.
4..° Do pagamento ele custas, tambem não; porque esse
é verdadeira indem nisação de despezas judi t;iaes, e o se-
nhor está a elle obrigado (art.. 28, § l°, Cod. Crim.).
5.° Tanto assim é, que no art. 60 elo Cod. Crim. se
acha a regra ('clativa ao.3 escravos, quando se lhes tem de
impôl' pena que não seja a capital ou de galés.
6.° Seria mesmo de odiosa injustiça aqllel le principio; e
até de per igosíssimas consequencias, attendcndo-se a que
essas multas poderi'i:O absorver o valor toLal dô escravo, e
im[}tJl'ta['ião assim j)<'l.l'a o senhor a perda da propriedade
328 CONSULTAS SOBRE

sem culpa sua e sem ser por motivo de indemnisação do


• damno causado ("').
Novembro, 18M.

Mutuo mercantil

Quaes os cal'actel'isticos de ml1tllo mercantil? O


que o distingue do muLuo civil? E do commodato?
Póde este ser considerado acto de commercio ?
Resposta

Entendo que o art. 2.47 do Cod . Com. não exige cumu-


lativamente que a cousa emprestada possa ser conside-
rada geDem commercial e destinada a uso mercantil.
Quer seja da primeira, quer seja da segunda hypothese,
desele que pelo meno ~ o mutual'io fór commerciante.ha mll-
tuo mercanLil. O mutuo é civil ou mercantil segundo o fim
que se propõe as partes e as circnmstant:ias em que tem
lugar (Gourget et iVIerger, Dicc ., v. p7'et., n. 7). O dinheiro
mesmo póde ser mercadoria (At. n. 1.4).
O mutuo é emprestimo de COlIsa fungivel em distincção
de commodalo, que o é de não fungi vel. A cousa póde ser
fungivel por natureza, ou por lei, ou pela convenção (C.
da Rocha, Dir. Civ., § 81. ).
E o commodato tem-se entendido não constituir acto de
commercio (cit. Dice. n. 30) .
A phrase-o mutuario e o' commerciante-do art. 247,

C') E t ambem na causa A. a justi ça e R. o pardo Agostinho


escravo de J acyntho José Muniz F eij6, do m esmo modo o deci-
dia o mesmo iuiz de direito (da l a vara da cÔI'te) paI' sentença
de 17 de Fevereiro de 1855 (Vide J07'1I.a l d e 18 desse mez e
anno, e avi so de 13 de Abril de 1855 conforme a nossa
opinião.
YAlUA.S QUESTÕES DE Dll\ElTO 329
Cod., refere-se ás duas anteriores.E só assim é firmada a
competencia commercial.
Janeiro, 1864.

Obrigação de fazer; indemnisação

A obrigação de fazer pass a aos terceiros ac-


qui rentes ? Se os herdeiros do obrigado não a
quizerem cumprir, como se resolve ?

Resposta

A obrigação consti tuida pelo com prador de fazer o valia


á sua custa é pesso;J,!, é ob?·iga.çcio de fa zer. Passa por-
tanto aos seus herdeiros, que lhes succedem nos direitos
e obrigações.
Mas não para os terce iros acq uirentes, :üheios ao con-
trato, sendo que não constilue ella onus 1'ea/. Seria pre-
ciso que estes a tivessem por sua vez tambem contrahido,
obrigando-se ao mesmo nas compras que fizerão.
Se, pois, o vendedor tiver de fazer o vali o á sua cusla,
poderá lla ver dos herdeiros do comprador (que se obri-
gar a fazêl-o) a sua importancia.A ob1'igação de faze?', não
sendo cumprida, 'resolve-se em indemnisação.
Não póde obrigar o comprador actual a fazel-o, sem ha-
vcr deste valor algum.
Está entendido, que 3. aeção contra os herdeiros acha-se
sujeita á regra, de não responderem estes senão dentro das
forças da herança, de sorte que, se nada tiverem herdado,
nada terão que pagar.
Janeiro, 1874.
330 CONSULTAS SOBRE

Official do registro de hypothecas ; incompatibilidade


Existe incompatibilid ade entre o cargo de offi-
cial do regislro e o de esc rivão?
Resposta
Parece-me que o cargo de oflicial de registro é incompa-
tivel com o de escrivão ou oulros semelhc1,l1tes, por ser ou
especial (art. ']", § 1° do Reg. de i86~) , ou annexo ao de
tabellião de notas nas cidades e villas em que não ha es-
peciaes (§ '20). Demais, é elle incumbido pessoalmp.nte ela
escripturação do pro tocollo, e d,,) estar no eartorio para o
serviço (Reg. cit.), o que importa impo silJilidacle de exer-
cer outro cargo, que se nio compadeça com taes deveres .
Maio, i865.

Pacto antenunpcial; innovação; doação entre conjuges


L° -rócIe-se alterar l111n. cOl1vençã.o ante-nupcial,
na. qual se estipulo u sobre a terça do, bens, sendo
um dos con tratantes mu lher qninqllagenaria, de-
poi s do casamento?
2.° Está por esse motivo impedido o marido de
ceder a adm inistração e o uso [rlJclo dos bens á mu -
lher '7
3. 0 Poder-se-bia nrl.S cond ições expostas proceder
á separação e part.ilh a de bens em vi da?
4 .° Tendo hav id o es tipulação de dote, póde a mu-
lher desde já entregai-o ao marido '?
Resposta
Visto ser a convenção ante-nupcial sobre a terça dispo-
nivel da mulher quinquagenaria (Ord., li v. 4°, ti t. fOõ)
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 331
sujeita ás regras da Ord., liv. 4.0, tit. 4.6 e 4.7 (Coelho da
Rocha, B. Carneiro), entendo:
1.0 Que não póue ella ser alterada depois do matrimonio,
conforme a melhor doutrina, a pralica e o nosso direito.
2.° Que, todavia, nada obsta a que o marido, sem inno-
var tal contrato, ceda de facto na mulher a administl'acão
dos bens della e até o usofructo.
3.° Que a separação e partilhas em vida de ambos não
teria lugar, desde que se não dá algum dos casos em que
é isto permitl.ido.
4. ° Que, se a mulher quel' dar já 'ao marido o dote ahi
estipulado, seria em fórma de doação (Ord., liv. 4', lit, 65).
Julho, i868.

Pagamento indevido; restituição; acção; juizo competente


Tendo o tl1esou' eiro de um a sociedade benefi-
cente levantado parte de uma quantia depositada
em um banco. é este obrigado por toJrt. a somma?
Qual a legislação applicavel á especie?
Resposta
Trata-se de dinheiro posto em conta corrente em um
banco, embora por uma sociedade beneficente e por
conta elesla. O thesoureiro da sociedade levantou parte.
Mas o banco foi por sentença obrigado a entregar á so-
ciedade toda a impol'tancia e seus juros.
E' manifesto que, lem o b;J,nco direito á exigir daqiJelle
lhesoureiro a restitui ção da quantia assim por elle indebi-
lamente levalllaCla (C. Te11es, Acç., § [)iO e nota), dou-
trina applicavel ao commercio (Dec. n. 737 de i850,
art. 2°). Constituem mercancia as operacões de banco
(Dec. cit., art. 19 § 2) ; em o numero destas se conside-
rão os depositos e contas correntes nos bancos (Decr. n,
~7H de i9 de Dezembro de i860, art. to, § 3'.).
33~ CONSULTAS SOBRE

As obrigações, portanto, são mercantis, sujeitas á com-


petencia commercial (Oec. cit., n. 737, art. 10 a 12 e 19).
Junho, 1875.

Pai; herança; nsofructo

o pai que succed eu a seu filho, e só tinh a o uso e


(rueto por have rem ou tl'OS dessa matri monio, ha.-
vendo elle passado a segundas nupcias, perde esse
direito por mal administrar, e esbanjar mes mo?
Resposta

Se o pai é prodigo, r.umpre dar-lhe curador pelo juizo


de orphãos.
En ten do que elle não pente o seu direi 1.0 por mal gerir
os bens; póde, sim, se r removido da adm ini stração (Ord .,
liv. 3°, tit. 9°, § 4°) .
Se esta remoção import,t :t perda do usurruclo, é qlles~
tão entre os DD. (Vide B. Carneiro, Di".. Úiv., liv. 1°,
tit. 21, § I88, n. :32).
Ab ril, 187i.

Pai; tutela; prisão; impedimento


Póde o pai, preso por crime in afi ançavel 011 por
sentença condemnatoria, exe rce r as fun cções de
tutor dos filho s, ou perde essa Lntela e o usofructo ?
Resposta

o pai não é propriamente tutor, é mais do que isto:


tem o patrio poder, que entendo que não perde pelo facto
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 333

da prisão, nem o usofructo dos bens dos filhos sujeitos


ao mesmo.
Julho, 1859.

Partilha
Por morte de Pedro, seus filhos, todos maiores,
concordárão em que parte dos bens se distribuísse
e repartisse logo, mas que outra parte conti-
nuasse pro indiviso. Entre os beos partilhados logo
se comprehendêrão escravas que têm tido filhos.
Querem elles agora partir os bens todos
Pergunta-se
LO Podem fazer a partilha amigavelmente? E
deve subsistir aquella primeira partilha ?
2.° Seodo valida aquella partilha parcial, devem
comtado partir-se as crias?
Resposta
Ao 1.° Se são de maior idade todos os herdeiros, bem o
podem fazer, quer por escriptura publica, quer por escripto
particular em que todos conco rdem e assignem, e julgado
por sentença, nos termos da Ord., liv. 4°, til. 96, § 18, de-
vendo valer a primeira par tilha parci·al como provisoria que
foi (C. Telles, D'ig. P01't., vol. 2°, art . H40), porquanto a
partilha amigavel tem lugar entre maiores, e pócle ser
feita por qualquer dessas fármas (cit. C. Telles, voI. 2°,
art. 1139; Coelho da Rocha, Dir. Civ., § 487).
Áo 2. ° Não deve entrar nessa partIlha senão aquillo que
pertence á herança, isto é, os bens della e aquillo que
tiver sido comprado para ficar em commum, e nunca o
patrimonio particular de cada um, por não se dever re-
33~ CONSULTAS SOBRE

putar parte da herança p1'0 indiviso, e nem as crias das


escravas já partilhadas por serem cio dominio ex.cl usivo
, dos donos, que as recebêrão, á parte tIe wa legitima em
herança.
Abril, 185~.

Partilha; adjudicações; bens de interdictos

L° Póde realisar-se a compra de bens que :t um


interdicto deva caber em inventario, ainda que pOl'
via de adjudicação, a viuvo meeiro, com obrigação
de repôr?
2.° Seria absolutamente nulla a transacção assim
effectuada?
3.° Qual ° meio legal para reduzir a dinheiro os
bens dos interdictos ?

Ao Lo Se os hens são indivisíveis: bem póde ter lugar o


que se pretende, adjudicando-se ao viuvo meeiro, e obri-
gado este á rep Q siç~o (estylo; Cons. das Leis Oiv. Bras.,
nota ao art. 11 66 .)
Mas parece não ser esse o caso. 'Então o que se propõe
seria verdadeira comTJ1'a do que ao herdeiro interdicto po-
desse caber, transacção que, por via de regra, excede as
attribuições do curador, Lutar e do juiz.
Ao 2.° A transacção seria nulla, salvo se, em vez de pre-
judicial, se mostrasse ella evidentemente necessaria para
evitar maior prejuizo, e portanto vantajosa ao interdicto.
Seria em tal caso um acto de boa e paternal administração.
°
Ao 3. A venda em hasta publica é meio legal para
0
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 335

reduzir a dinheiro os bens tla interdicto, nos casos em que


é ell a autorisada por direiLo (Ord., liv. 1", Lit. 88, § <H).
OuLubro, t 872.

Partilha amigavel; communhão; sociedade


E' indispensavel a sentença. para validade de
uma partilha cl!ni gavel ?
Podem os herdeiros deixar em commum os bens
e estipular a clausula de nnnca os dividir?
Resposta
Nos casos em que Leml ugar a partilha amigavel sem-
pre é bôa cautela reduzir a termo o accordo e julgar por
senLença (Ord., liv. 4,0, tit. 96, § -18).
Podem os herdeiros nella deixar os bens em commum
ou fazer sociedade (civil) entre si. }'I as , conviria marcar
prazo de duração, e a sua continuação ainda no caso de
fallecer algum dos socios; porque, do contrario, ou seria
null a. a clausula de nu nca se di'1)idú', se tal se estipulasse,
ou dar-se-hia lugar a que em qualquer tempo algum dos
socios requeresse a divi são (L. 14, § 2; lei U>, Dig. de
Com. divicl.; Ore!., liv. l~o, tit. 4.4., §§ 6 a 8).
Ainda assim só vigoraria entre os sobreviventes, no
caso em que vi esse a fall ecer anLes do prazo algum dos
socios (Ord. cit. pro e § 4.°).
Fevereil'O,1868.

Partilha de bens sociaes; imposto


1. o Da di visão de bens sociaes ha obrig ação de
imposto?
2.° Por qu em deve ser pago?
336 CONSULTAS SOBRE

Resposta
Ao LO Se (como parece) os bens sociaes são partiveis, e
todavia um dos socios fica com todo o activo e passivo,
comprehendidos os immoveis, escravos, etc., da.ndo aos
outros em dinheiro o seu quinhão, ha ahi verdadeira com-
pra e venda, de que é devido o respectivo imposto de
transmissão (artigos das sizas, capo 6°, § 4°; Reg. n. 43;)5
de 17 de Abril de 186(,), art. 3° e art. 4.°, § 7°).
E deve recabir sobre os immoveis e escravos, nos ter-
mos do art. 9°, Reg . cit., dando-se-Ibes valor disti neto.
O dos escravos pertence á renda provincial, e para esta
deve ser arrecadado, se a escriptura fôr passada fóra da
côrte.
Ao 2. ° O imposto é devido e pago por inteiro pelo ac-
quirente (Reg. cit., art. 8°), mas só da parte que o socio
assim adquirir.
Do que lhe pertencer como socio nada paga a titulo de
transmissão.
Da escriptura de dissolução é devido o seIlo proporcio-
nal (Reg. de 9 de Abril de 1. 870, art. 1. e to).
0

Janeiro, 1.874.

Partilha de pai para filhos em vida; acção ; competencia de fôro ;


litis-consortes
L° Qual o fôro competente para nelle propôr-se
acção de nullidade de partilhas?
2: E' valida a partilha em vida de pais para fi-
lhos? Póde ella ser revogada a arbitrio dos mesmos
pais? Depende para va lidade de insinuação?

Resposta
Ao LO A acção foi proposta contra todos os interessados
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 337

na partilha, que se pretende annullar. São, pois, co·réos na


demanda ou litis-consortes, caso em que póde eUa ser tra-
tada ante o juiz competente do fôro de qualquer dos réos,
á escolha do autor- (L. l' e 2', Dig. quib. reb. ad eumd,
iudicatur; L. 10' Cod. de Jud.; Moraes Carvalho, Praxe
For., §§ 3i, 43 e notas; Dec. n. 737 de i850, art. 61).
Ao 2.° A partilha de pais para filhos por acto entre vivo~
é permiottída, sobretudo com a reserva da terça (Lobão,
Obrig.llecipr., §§ 312 a 320).
Não é revogavel a arbítrio dos pais se houve a transmis-
são (Lobão cit., § 325) .
Nem sujeita á insinuação emquanto se limita a ceder-
lhes por antecipação as legitimas (Ass. de 21 de Julho
de 1797; Lobão, cito § 3i8).
Ora, na partilha, de que se trata, a mãi reservou-se a
terça; e aos filhos e netos apenas se fez pagamento ante-
cipado das legitimas, partilha concluida e julgada por
sentença ha annos, e em virtude àa qual se metterão
todos na posse dos seus quinhões, inclusive, por morte de
um dos filhos, sua viuva, que até os partilhou no seu in-
ventario.
Haverem effectuado alguns conciliacão no sentido da
pretencão annullatoria não prejudica nem obriga os outros.
E' res inter alios.
O juiz de orphãos, que fez aquella partilha, era compe-
tente para ella por haverem herdeiros menores, ainda que
orphãos não fossem (Ord., liv. io, tit. 88; liv. 4°, tit. 96:
Lei de 15 de Outubro de i827, art. 5°, § 1.1; Pereira
e Souza, Proc. Civ., nota 1021,v., pertence o inventario ao
juiz de orphãos, ainda que o menor tenha pai).
Em todo caso valeria a acquisiCão feita pelos filhos e
netos, a titulo de doação, embora sujeita á coUação, nos
termos da Ord., liv. 4,0, tit.97, e Ass. já cito de t797.
Junho, 1873.
· CONSULTÃS SOBRE ~

:; -: .'· Pàrtilha de 'pais para filhos em vida; terça; acquisições


supervenientes
~~ .
, E' permittida a; partilha em vida entre pais e
'filho.s ~ Póde a 'mãi dispôr livremente da terça dos
~ens ' partilhado.s? E ' das acquisições po.sterio.res
além da mesma terça ~
o

Resposta
Que seja permittido fazerem-se entre pais e filhos parti-
.l~laS em ,vida, com as reservas e cautelas necessarias, é
,-do~trina e_ nsinada pelos civilistas e praticada. PÓ de-se ver,
por brevidade, Lobão', Obrigo Recipr., § 3i2 a 320;
, Feita, pois, a partilha, entregues os filhos dos seus
_quinhões ou legitimas, e salva a mãi (no caso) sómente a
.~uã. te,rça, ficou-lhe esta' inteiramente livre. E póde dispôr
da mesma em favor de quem quizer (arg. do Cod., Iiv. 4 0
,

,tit. 82 e tit. 70, § 3 co.mbinado.s).


0
,

" :Mas a ~erça assim li vre é u nicamen te a que lhe co.ube


po.r virtude daquella partilha: Das acquisições po.sterio.res,
além da mesma terça, só tem livremente dispo.fJivel a terça
x_esv~ctiya, visto. nellas po.derem . o.S filho.s pedir supple-
mento. de legiLima, salvo. 'se elles renunciárão. absoluta-
mente a qualquer herança futura, contentando-se com o.
,.que recebêrão. (Vide Lo.bão. cit., § 320).
MaJo., ,1875.

l ..

'Partilha em vida; pactos successorios


,. .. to Co.mo. deve p.ro.ceder o. pai que tiver feito.
partilha- ·,em -- vida - para ,assegurar a validade da
mesma ~
2. o Quando. é admissivel o. pacto. successo.rio. ~
,.' ~
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 339

3.° Aberta a successão nas condições de uma


partilha em vida, podem os filhos pedir a sua le-
gitima ~ .

Resposta
As questões aventadas são extremamente melindrosas.
E sobre ellas têm os nossos praxistas e civilistas discorrido
longamente. Em resumo, entendo:
1. ° Que essas partilhas de pais para filhos, em vida dos
mesmos pais, têm sido toleradas, comtanto que o pai faça
reserva para evltar a nullidade proveniente da. doação om-
nium bonornm.
2.' Que o pacto successorio, quando renunciativo, tem-se
entendido admissivel ex-vi da Ord., liv.4°, til. 70, § 4°,
independente mesmo do juramento por ser mera forma-
lidade.
3." Que, ainda em taes circumstancias, alguns entendem
sal vo sempre aos filhos e herdeiros necessarios o direito
a pedir a legitima, que não póde ser gravada, sobretudo não
sendo vivos ao tempo da abertura da successão aquelles
mesmos, que intervierão nas partilhas e conyenções.
Março, 1864.

Partilha; lesão enorme e enormlsslma; acção; rescisão; JUIZO


competente; partes

L o Qual o motivo legal para rescisão de parti-


lha e a acção propria para o conseguir? Perante
que juiz deve ser a mesma intentada?
2: Quaes são os que devem ser citados pa.ra a
acção?
CONSULTAS SOBRE

Resposta

Ao L° A partilha póde ser rescindida por lesão enor-


missima, provada esta (Ord., liv. 4.°, til. 13, § fO, in fine,
combinada com a do tit. 69, § 19). Mas por acção ordina-
ria, em juizo competente, visto demandar mais alta inda-
gação, se tem passado o tempo de embargar ou appellar
(Pereira de Carvalho, Proc. O?'phan., nota 197).
Em minha opinião o juizo competente para a acção
não é o de orphãos, apezar de neste se haver feito a parti-
lha, e sim o commum, por não ser então dependencia de
inventario (arg. da Ord., liv. 4.°, tit. 96, § 19, v. qualquer
outro julgador; Dispos. Provis, art. 20).
Ao 2.° Para a acção de lesão enormissima, visto ser esta
in rem scriptam,podem ser citados tambem os possuidores
dos bens (C. Telies, Acç., no ta 845).
Junho, 1874.

Partilha; lesão ; reclamação


Dentro de que prazo e perante que juiz deve o
herdeiro lesado reclamar pela rescisão da partilha ~
Resposta

E' certo que o § 19 da Ord., liv. 4°, til. 96, confere o


direito de reclamar contra a lesão da sexta parte, dentro
de um anno; mas perante o J'uiz da partilha, ou perante
outro julgador se o herdeiro se acha em outra parte.
Isto, em minha opinião, quer dizer que elie póde, por
tal lesão, usar ou da reclamação perante o juiz da partilha,
seja por embargos, seja por allegações ou petição, ou da
acção ordinaria, tudo dentro do anno da respectiva pres-
cripção: sendo que, se está fóra do lugar, podem tirar
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 3H

instrumento de reclamação perante o juiz da terra para


com elie fazer valer seu direito .
Parece~me, portanto, que não quer dizer que se possa
appellar fóra do decendio, a pretexto de· tal reclamação:
appellar não é reclamar e contradizer perante o J'uiz das
pa1·tilhas, e sim recorrer deste para o superior legitimo.
Parallelas são as disposições da Ord., li v. 3°, tit. {7,
§ DO, e tit. 78, § 2°, que semelhantemente dispõe.
E tal creio ser a doutrina de Menezes, Juiz. cliv., capo DO,
§ 2°, do proprio C. Telles, Acç., nota ao § {Di ; Lobão,
Obrigo R ecip., §§ 716 e 7{7, sendo para observar que Pe-
reira de Carvalho, Proc. Orph., § 107 e nota {97, dá a
entender que não só a appellação, mas os proprios embar-
gos, devem :ler interpostos dentro do decendio, restando a
acção ordinaria, quando tenha passado o lapso fatal.
Outubro, 187t.

Partilha; rescisão della; lesão; elfeitos; emenda


i. ° Como p6de ser annullada uma sentença de
partilhas?
2. ° Em que casos é permittida aos menores a
rescisão?
3.° Annullada a partilha, que destino seguem 05
rendimentos e fructos dos bens?
4. ° Como deve proceder o herdeiro que tiver
alienado o seu quinhão?
5.° No caso de simples emenda, até que data de-
vem ser contemplados os rendimentos dos bens?
Resposta
Ao LO A sentença que julga a partilha e esta podem
ser annulladas ou rescindidas nos termos de direito. E em-
B4-2 _ . · CONSULTAS SOBRE . _

.quanto.. onão forem produzem todos os seus eff!:)itos (Ord ..,


liv. 4°, tit. 96, § 22).
, Ao 2.°. Aos menores a rescisão é permittida por lesão
e beneficio de restituição (Ord. cit., § 21).
. Ao 3.° Desfeita a primeira partilha, não subsiste esta
para effeito algum: é como se não existira. Tudo volta ao
estado anterior. E deve-se proceder á nova.
Conseguintemente, os rendimentos dos bens devem vir
ao monte até a data do julgamento da nova partilha, em-
'bora se tenbão de liquidar em sobrepartilha (arg. da cit.
:Ord. e do til. 97).
Pela mesma razão devem fazer monte e partilhar-se as
crias das escravas.
E, reciprocamente, pelo mesmo fundamento, o prejuizo
ou perda se deve entender a cargo e por conta do monte
(Pereira de Carv., Proc. Orph., nota 194. in fine), salvo
o direito a indemnisações no caso de dolo ou culpa.
Ao 4.° Aquelle que tiver vendido ou alienado deve trazer
o valor (arg. da Ord. ciL, til. 97, § H).
Ao i'>,o No c;;,so, pórém, de simples emenda de partilhas
por lesão ao meno_s da sexta parte, como subsiste a par-
tilha, cessa a doutrina anteriormente exposta, para se
contemplarem sómente os bens e rendimentos pertencentes
·ao monte até a data do julgamento da mesma (arg. da
Ord. cit., tit. 96, §§ 19 e 20J.
Junho, 18i'>9.

Paternidade; negação; questão de estado; God. ~iv. Port.


retroactividade
Póde ser applicado o Codigo Civil Portuguez em
um caso de filiação, tendo nascido o filho em 1837
e constando da certidão de baptismo declaração de
ser legitimo?
VARIAS -QUESTÕES DE DIREITO 3431
,

Qual o"direito que deve reger a espegie 1"


Não estando provada a filiação legitima, "póde-se
dizer o mesmo da filiação" nát'ur'al? " " ..

Resposta

Trata-se de uma questão de estado, em a qual pretende


M, que A. não é seu Olho, e muito menos legitimo.
Parece-me ponto vencido a não legitimidade, porque,
embora o assento de baptismo, não se exhibio ü de casa-
mento, nem foi este provado por qualquer fórma, como
cumpria desde que contestado.
A longa polemica sustentada nos autos, poç qué se
pretende applicar ao caso o Cod. Civ. Port " em ordem a.
excluir a acção, attenta a pretendida posse de estado do
réo, é minha opinião não ter cabimento; porquanto, tra-
tando-se de estado, ser ou não filho, legitimo ou não: e
sendo o R. nascido em 1837, muito antes do Cod. Civ.
Port., rege o caso (quando se applique o principio do esta-
tuto pessoal) o direito vigente áquelle tempo por ser
aquelle estado um direito adquirido desde o nascimento
(bem como aos alimentos), e que lei posterior não póde
fazer perder sem que se lhe désse effeito retroactivo, o que
não é permittido (Merlin, Repert., v. etfect retroactif,
secç. 3' , § 2 art. 7 n. 3), quer por nova lei (Const " do
0
,
0
,

Imp., art. 179, § 30), quer pelo proprio Cod. Civ. Port.
(art. 8 quer já pelo direito romano (L. 7., cod. de .leg.),
0
),

quer pelo nosso di reito anterior e pelo direito universal.


Ora, a legislaçã0 portugueza anterior ao codigo dava a
faculdade para reclamar-se ou contestar-se a filiação "e sua
qualidade (V. B. Carneiro, Dir. Oiv., liv. 10, tit. 20, § 177
a 180; C. Telles, Acç., § 21, 36 e seguintes, notas 37, 66
e seguintes; C. da Rocba, Dú·. Civ., § 289 a 301).
Se a legitimidade não foi provada, e sim o contrario,
o mesmo se não póde dizer quanto á filiação ry.atural,' em-
3U CONSULTAS SOBRE

bora M. tambem a conteste, pretendendo que R. é apenas


seu sobrinho.
, A prova me parece favorecer ao R. neste ponto.
E o direito não a repelie, nem mesmo a nossa Lei de 2
de Setembro de 1847, desde que se trata de questão de
estado (V. Comment. a esta lei, cap. 3°, questão i" e 15'), e
se tratasse mesmo de alimentos.
Toda prova é, em tal caso, admissivel, tanto mais
quanto já era direito adquirido desde o nascimento, como
dito foi.
O disposto no Cod. Civ. Porto só é applicavel aos nas-
cidos depois que começou eUe a vigorar.
Julho, 1875,

Peculio de escravos; alforria forçada; questões

1.0 Qual o juizo onde se tem de formar o peculio


do escravo? Constituido que seja, debaixo de que
inspecção fica?
2.. Quem póde requerer a constituição do peculio?
E a quem cabe providenciar sobre a sua segurança?
3: Qual o juiz competente para decretação de
libertação forçada?
4.° A quem pertence a nomeação de curador ao
libertando?
5. o Perante que juiz deve terminar o processo?
6,0 Deve o escravo provar como houve o peculio
para conseguir a sua liberdade?
7, o Qual o meio de iniciar-se o processo de li-
berdade?
8 o Qual o processo que regula a especie ?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 3US

9. ° Qual o juiz que póde decretar as nullidades


existentes?

Resposta

Ao ".0 Não ha juizo para a formação de peculio, de que


trata o art. ~8 do Reg. n. 1> 131> de '13 Lle Noyembro de 1872.
Constituido o peculio, póde ficar em mão do sen hor,
vencendo o juro de 6 ao anno, ou ser recolhido a algum
%

estabelecimento de confiança lart. ~9), Oll publico (art. cito


e 1>1» vencenuo juros (Circ. de 9 de Outubro de 1873).
Fica sujeito á inspecção e fiscalisação do ruiz ele orphãos
(art. ~9, 53, 51>, Circo cit.)
Ao 2.° O proprio senhor, ou qualquer, pó de requerer a
constituição de peculio a favo)' elo escravo (Reg. cit.,
art. ~8 e 57, § i 0). O juiz de orphãos é competente para
providenciar sobre a sua segurança (art. e Circo já ci L)
Ao 3.' O juiz do civel é o competente para a libertação
forçada, tendo-se em aLtenção a regra do art. 86 do Reg.
(art. õ6, 1>7, 1>8, 8~). E' perante esse mesmo juizo, e antes
da citação, que se deve tentaroaccordo amigavel (art. 8~).
Qualquer póde requerer pelo escravo, mas só por ini-
ciativa deste, e feito o deposito (art. 1>7, § 1°). E se fôr ne-
cessaria, o juiz do processo lhe dará curador (art. 8~, § 1°).
Ao ~.o Ao juiz do processo cabe dar curador, se fôr ne-
cessario (art. 8~, § 1. 0). E é o elo civil (municipal ou de di-
reito, segundo o valor, art. 86).
Ao 1>." O processo termina ante o juiz do civel, obser-
vado para o julgamento o disposto no art. 86, já citado.
O § unico do art. 39 não tem applicação ao caso do
arte 8í ; refere-se á alforria pelo fundo de emancipação.
A referencia feita do § 2°, arte 8~, aos arts. 39, ~O e 1>8,
limita-se ao al'bi tramento, como ahi mesmo se lê.
Ao 6.· O escravo que exhibil' titulas de peculio, ainda
que por liberalidade de terceiro, póde requerer sua alfor-
34.6 CONSULTAS SOBRE

ria (Reg., art. 06, 07,84). Não tem obrigação de provar


como o houve; presume-se que legitimamente.
Ao 7. E' de estylo requerer o escravo deposito de sua
0

pessoa para tratar de sua liberdade. E tambem um curador


que requeira e o defenda. Ao juiz (civel) do processo.
Ao 8. O processo acha-se regulado principalmente nos
0

já ci t. art. 56, 07 e 84..


Ao 9. o Desde que haja nullidade por incompetencia do
juiz, bem póde ser ella decretada mesmo ea.:-officio.
Restaria tentar novo processo ante o juiz competente, e
em fórma regular. Todavia, talvez, pOI' equidade, se po-
desse ratiOcal-o ante este, convindo as partes.
Dezembro, 1873.

Penhor; acções; entradas; commISSO

1. o O credor a quem foi dado em penhor pelo


devedor acções de uma companhia tem obrigação
de fazer por elte as entrada,s das mesmas ~
2.° Póde a companhia fallida exigir do accionista
tambem fallido a realização das entradas? E os cre-
dores da mesma companhia?
3,0 A quem corre o prejnizo pela falta das en-
tradas? E' applicavel o commisso na hypothese do
quesito antecedente? Qual o recurso de que se de-
verá lançar mão?
Resposta
. Ao 1. Entendo que P. nenhuma obrigação tem, como
0

'credor pignoraticio, de fazer as entradas de acções perten-


cenles ao seu devedor J.; porque é simples depositario
dellas (art. 276 1 Cod .), e a obrigação que tem de praticar
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 347
certos actos para resguarç"lar os di rei tos de seu devedor,
r

quanto a titulos dados em penhor,se refere a out.ro~, quaes


protestos, obrigar a consignar no vencimento a importancia
da divida, etc., e só quanto a titulos de divida (art. 277
e 38i).
Nem seria justo que fosse o credol' obrigado a effectuar
de sua algibeira as entradas, quando não contrahio para
com a sociedade nem para com o devedor tal obrigação.
O unico exclusivamente obrigado a fazêl-o é o accionista
(art. 289, Cod.).
O contrario (a menos de convenção expressa) seria gra-
v~r por modo iníquo a sorte e posição do credor.
Ao 2.· Parece-me que disso lvida a companhia pela fal-
lencia (art. 295, Cod.), não tem ella mais direito algum de
exigir entradas, que suppõe continuação da sociedade,
assim como que, fallido o accionista, está elle inhibido de
continuar a fazer as entradas.
Nem o podem exigir lambem os credores da companhia;
porque, quando mesmo subsistisse a sociedade, e o accio-
nista não se achasse fallido, tinha este o direito de recu-
sar-se, sujeitando-se á perda por commisso, principio ap-
plicavel ainda no caso de fallencia da companhia (Troplong;
Alauset. n. i80).
Ao 3.· Conseguintemente, não tendo o credor pignora-
ticio obrigação de fazer as entradas das acções, se o dono o
não fizer, é este o unico culpado de serem declaradas em
commisso. Aquelle, portanto, não responde por tal pre-
j llizo ; a disposição do art. 277, Cod., não tem applicação
a este caso.
Mas é que me parece que, faUido o accionista, inhibido
da administração dos seus bens, em estado de insolvabili-
dade, impossivel é preencher a obrigação de fazer as en-
tradas no tempo convencionado . E como nin guem é obri-
gado ao impossivel de direito ou de facto, impossibilium
nulla obligatio, sou de opinião que, se taes entradas se
não fizerem, nem por isto deverá ter lugar o commisso,
348 CONSULTAS SOBRE

que é pena, e suppõe vontade, liberdade de aCC;10. O reme-


dio seria vender as acções por conta de seu dono, como
, permittem, em sua generalidade, os art. 8i6 e 862, Cod.,
(Vide Alauzet cit., n. 181).
Muito menos teria lugar o commisso com prejuizo do
credor pi gnorati cio, porque, permittindo a lei o penh0r
tambem em acções de companhias (art. 273, Cod. ), e dando
ao credor tal um privilegio em co ncurso com outros
(art. 877, § 3°), esse valor está onerado com a divid a a que
serve de garanti a ; o commisso, importando a perda das
entradas em beneficio ela companhia, olIenderia o direito
de terceiro, não sujeito aliás a tal pena. Quando se désse,
sempre o valor devêra ficar salvo ao credor, vendidas as
acções como dispõe o art. 883, Cod.
Outubro, 1860.

Penhor de escravos
Póde o escravo ser dado em penhor, tanto no ci-
vel como no comm erci al '?
O que deve fazer quando forem dados em pe-
nhor, pertencendo a estabelecimentos agricolas?
Como se admitte no caso de hypotheca ?

Resposta

Que o escravo, como propriedade, pócle ser dado em


penhor, era doutrina corrente (Vide Savigny, Dir. Ram.,
tomo i o, §§ 55 e 57 ; A Escravidão no Brazil, parte i a,
§ 47 e 49'.
O Cod. do Com. Bras .. art. 273, prohibio-o quanto ao
mercantil.
Ficou, portanto, subsistente o principio quanto ao civel.
Mas essa limitação do art. cito 273 foi expressamente
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

abolida pela "Lei n. 1237 de 24 de Setembro de t864,


art. 2", § B.
De sorte que generalisou-se de novo o referido principio.
E quanto aos estabelecimentos agricolas, quando consti-
tuido o penhor com a clausula conslituti, exigio o registro
(Lei cit., art. 6°, § 6° j Reg. n. 3453 de 1865, art. 265) ; e
ainda, quando dados em hypotheca., só admi tte, por excepção,
como accessorios do estabelecimento (Lei cil., arL 2°, § iO;
Reg. cit., art. t40, § 2°)'
Estas disposições não forão aiteradas pela Lei de 28
de Outubro de 1871, nem outra posterior disposição. Ao
contrario, confirmadas IlOS Reg. n. 4·830 lie i ° de Dezem-
bro de 'i87i, art. 3;; e 45, e n. 5135 de -1877, art. 88,
que exigem de novo apenas a certidJ:o da matricula es-
pecial.
Junho, i875.

Penhor; privilegio; concurso ; devedor


Qual o direito que em absoluto tem o credor
pignoratício sobre o objecto constituido em penhor?
Como deve proceder em falta de acc0rdo com o de-
vedor? Qual o que lhe cabe em concurso com outros
credores?
Resposta
Absolutamente fallando, o credor pignoraticio tem pri-
vilegio por sua hypotheca e ~ pecial no objecto constituido
em penhor, por tal fórma, que póde, de accorlio com o
devedor, vendêl-o para seu pagamento, ou, em falta de
accordo, excutil-o j udicialmen te por acção propria; e
mesmo no caso de rallencia do devedor tem garantido o seu
embolso pela remissão a bem da. massa ou pelo producto
em leilão, entrando para a massa unicamente a sobra que
3õO CONSULTAS SOBRE

haja (Cod: Com., art. 275, 278, 877 § 3", 883 e outros;
Reg. n. 737 de 1.850, art. 28t e seguintes).
Mas, em concurso com outros credores, póde ser prefe-
rido por alguns que tenhão melhor graduação, quer no
caso de fallencia do devedor commerciante, quer no de
insolvabilidade do devedor civil (Cod., art. 874. a 892 ;
Reg. cit., art. 6t8 a 638).
Junho, t860.

Penhor; titulo; acções

Por quem épassado o titulo probatorio do penhor?


Em face da legislação commercial não tem o devedor
igualmente de passar titulo? Quaes as acções pro-
prias em um e outro caso?
Resposta
Pelo Cod. Com. art. 271, in fine parece que o escriplo
prob;üorio do penhor deve ser passado pelo credor, que é
quem recebe o penhor. Todavia, dos arts. 27~ e 279 de-
prehende-se a necessidade de um escripto assignado pelo
devedor, probatorio dos direitos conferidos ao credor,
tanto que o Reg. n. 737 de 18ÕO, tratando da excussão
do penhor pelo credor, o exige no art. 283.
Conseguintemente, o que fôr passado pelo credor deve
ficar em mão do devedor, e vice-versa; porque são os
titulos respectivos de um contra o outro.
O do primeiro fundamenta a acção de remi-ssão e resti.
tuição de penhor (Cod., art. 278 ; Reg., art. 28'1) ; o do
segundo fundamenta a acção do credor contra o devedor
(Cod., art. 275; Reg., art. 282 e seguintes).
Outubro, 1860.
VAlHAS QUESTÕÉS DE DÍREITO 351

Pensão; insinuação

Ha direito de pedir a restituição de pensões


pagas quando excedem a taxa legal sobre a insi-
nuação?
Resposta
Entendo que não ha direito ' de pedir a resti tuição das
pensões pagas, em tudo quanto excede a taxa legal das doa-
ções, segundo a Ord., liv.4', til. 62; porque ellas não
forão mera liberalidade, e sim a titulo oneroso, isto é, para
auxilio da educação dos filhos elo beneficiado (do ut (acias).
Março, i 870.

Perfilhação de filhos illegitimos; elfeitos; successão; legado á


concubina; separação dos conjuges; testamento achado aberto
f.· Póde o pai reconhecer filho illegitimo de
qualquer especie 1
2: O filho illegitimo espurio succede ab intestado
ao pai ou mãi?
3.' Póde o neto legitimo succeder ao a~ô materno
sendo illegiLima a mãi filha do avô?
4.' O que succede quando fallece o herdeiro
Ínstitllido antes do testa.dor ?
5.° E' probibido deixar legado á concubina?
E' valida a doação que se lhe faça, achando-se o
marido separado da mulher? E decretado que
seja o divorcio perpetuo?
Resposta
Ao i .' Nenhuma lei prohibe que o pai reconheça e per-
CONSULTAS SOBRE

filhe por escript.ura publica algum filho illegitimo, quer


simplesmente natural, quer não. Ao contrario, a Lei
de 2 de Setembro de i84,7 ex pressamente o exige quanto
ao na,lural, para que possa este succedet' ao pai, nos ter-
mos da mesma Lei.
Esse reconhecimento, quanto aos outros, tambem surte
seus effeitos, embora com restricção : v. g., para as ques-
tões de estado e alimentos.
Ao 2.0 O filho itlegitimo (não natural) scilir:et o espurio
não suecede ao pai ou mãi ab inleslado, e só por testa-
mento (Ord., liv. 4,', tit. 93; Lei de fi de Agosto de 183i).
O adulterino (qual o de que se trata) portanto não lhes
succede ab inleslado.
Este direito só é conferido ao natural, isto é, ex solulo et
$oluta, (Ord., liv. 4,0, til. 92; Lei cito de i847).
Ao 3.° Se póde succeder o neto legitimo ao avô materno,
sendo illegitima (não simplesmente natmal) a mãi, filha
deste, é ponto contraverso em face da interpretação da
Ord., liv. 4°, tit. 93. Pretendem uns que sim (V. B. Car-
neiro, Dir. Oiv., li\'. io, tit. 22, § i99, n. 8); outros nega-
gativamente (Vide Cons. das Leis Civ. Bras., nota ao
art. 972).
Ao 4.° Fallecendo antes do testador o herdeiro por elle
instituido. caduca a instituição j mas vigora o testamento
quanto aos legados e demais disposições; e no remanescente
a herança devolve-se a quem de direito fôr.
Entre nós a instituição de herdeiro não é substancial,
nem prohibido morrer alguem parte testado e parte intes-
tado (Mello Freire, Dir. Civ., liv. 3°, tit. ~o, § 29 e 32).
Ao 5.° Quanto a deixar legado á concubina, parece que
não é isto prohibido, visto tratar a Ord., liv. 4,0, tH. 66,
sómente de doação ou algum acto ent1'e vivos (B. Carneiro,
Dir. Oiv., liv. iO, tit. i2, § fi9, n. lO).
Quanto, porém, á doação ou acto equivalente, é nuHo
(Ord. cit.), posto que separado esteja da mulher o marido
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 3;)3

(Ord. ci t.), visto como aquella prohibição applica-se mesmo


ao caso em que os bens sejão exclusivos do marido (Vide
Lobão a Mello, liv. 2°, tit. So, § 1.S e 19, n. 2i), parecendo
no entanto que, decretado o divorcio perpetuo e efIectuada
a partilha, nada mais havendo de commum entre marido
e mulher embora subsista apenas o vinculo espiritual,
ficão elles inteiramente livres, como se casados não forão,
para as acquisições posteriores e tambem para as aliena-
ções.
Ao 6' e 7." Não importa nullidade o simples facto de
apparecer aberto o testamento; seria preciso que se ma-
nirestasse a intenção ou oP"oposito de revogai-o ou rasgaI-o
(Lobão, Disser., 6·, § 31 e seguintes, em supplemento
ás Sego Linh.).
Para o seu registro na provedoria poderia proceder-se
a uma justificação do facto (M ano do P1'OC. dos Feitos,
nota S;)9 ; Cons. ciL, nota ao art lOS7).
Novembro, iS73.

Pertence em letras; doação; insinuação

J. M. H., tendo sempre vivido no estado de sol-


teiro, se finou intestado, sem parentes alguns. dei-
xando bens, os qnaes forão arrecadados pelo juizo
de orpbãos. Entre esses bens foi tambem arrecadada
uma letra aceita pelo proprio devedor; e no verso
della se acha o seguinte pertence: « Pertence a co-
brança desta letra ao meu afilhado 1. C. C. ; isto,
porém, sendo que eu falleca, antes de ter recebido,
por esmola e gratificação dos sel'viços que me pres-
tou. A rogo de 1. M. H., A. R. L. (e com efTeito o
finado não sabia ler nem escrever).
354 CONSULTAS SOBRE

Cumpre notar que esse afilhado effectivamente


prestou muitos serviços, pois que tratava dos ne-
gocios de J. M. H. ha muitos annos, sem excepção,
e até lhe servia de. caixeiro sem perceber interesses
e só com promessas de futuro.

Pergunta-se

L° A' vista do-pertence-lançado na dita letra


foi juridica e legal a arrecadação?
2: Aquelle - pertence - deve ou póde ser con-
siderado uma verdadeira doação, a respeito da qual
havia necessidade de insinuação?
3.° Em qualquer dos casos apontados, qual o
meio mais proficuo, juridico e legal a seguir para
garantir o direito adquirido pelo - pertence -
havendo a si C. a dita letra?
Resposta
Ao L° Parece-me legal a arrecadação da letra em ques-
tão, já por se achar no espolio do finado, termos em que
tudo deve ser arrecadado, embora terceiros depois recla-
mem a entrega e restituição do que provarem lhes per-
tencer, já porque aquella declaração nenhum direito de
propriedade confere, como se dirá ao seguinte.
Ao 2.° Aquelle - pertence - na letra não é endosso em
preto nem em b1'anco, faltando-lhe até a assignatura de
proprio punho do enclQssante, e havendo ahi declarações
alheias ao endosso, o que por um lado annulla o acto,
e pelo outro suas declarações (art. 36i e 362 do Cod. Com. ;
Ofi'. de 4 de Novembro de 1854).
Quando muito, se o endosso estivesse firmado pelo proprio
pun~o, ou se fosse admissivel (segundo opiniões) a assigna-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 355
tura a !'ôgo como ahi se lê, daria só mente poderes de man-
datario, os quaes com a morte do dono terião caducado.
Mas, pelo teor da declaração vê-se que a intenção era
fazer doação da importancia da letra; doação que, por
exceder de muito a taxa da Ord., liv. 4°, tit. 62, e leis rela-
tivas, só poderia ser validamente constituida por escriptura
publica e insinuada.
E, quando se entendesse que por importar uma doação
causa mortis não precisava de insinuação, segundo a
ResoI. de to de Outubro de 1801>, devia comtudo ser feita
por escriptura publica, visto exceder a taxa legal, quer da
Ord., liv. 3°, tit. a9, triplicada pelo Alv. de 16 de Setembro
de 1814, quer do Alv. de 30 de Outubro de 1793, e até
com cinco testemunhas, como ensina C. Telles (Man. do
Tab., § 17i).
Nem obsta parecer a doação remuneraloria, porque não
só não está isenta da insinuação, como até a seu respeito
(por ser o donatario pessoa estranha) deve-se proceder com
maior rigor (Alv. de 25 de Janeiro de 1775).
Ao 3." Está prejudicado _ Se esse individuo quer salvar
alguma cousa, e ser remunerado ou pago dos seus serviços,
acho preferivel que use da sua acção para este fim, pro-
vando os serviços prestados de que não foi pago, arbitran-
do-se-lhe a quantia que se lhe deve pagar.
Agosto, i855.

Pessoa miseravel ; soldada; crime civil ou militar; indemnisação


á fazenda

1.0 Qual o sentido da expressão pessoa miseravel


do art, 73 do Cod. do Proc. Crim. ?
2. o Como deve ser classificado o crime não ha-
vendo disposição -de lei militar?
~
356 CONSULTAS SOBRE

3.° Como se procede não tendo o culpado meios


de jndemnisar á fazenda nacional?

Resposta

Ao V No Aviso n. 377 de 30 de Agosto de i865 acha-se


prevenida a solução; por elle se fixou o sentido da palavra
miseravel do art. 73 do Cod. do Proc. Crim.
Ao 2.° Desde que não ha disposição especial na legis-
lação militar, o crime deve ser qualificado civil.
Ao 3.° Se o culpado não tiver com que indemnisar a
fazenda, provado o delicto e ser elle o delinquente, lerá
lugar a com mutação da indemnisação em prisão, nos termos
do art. 32, Cod. Crim. (Av. n. 183 de. 185!j., n. 60 de 3 de
Fevereiro de i863).
Abril, 1871.

Preposto; commerciar; nullidade

Póde-se dizer nuHo o contrato fcito entre pai e


filbo, gerente aquelJe e representante de uma casa
commercial na Europa e no Brasil, e este empre-
gado na mesma casa havendo approvação dos chefes
da mesma ~
Resposta
De con~entimento do prôponente pode o preposto fazer
negociação por conta propria ou alheia (Cod. do Com.,
art. 84, § 4°).
Pai e filho podem entre si contratar, salvo a restricção
da Ord., liv. 4,", til. i2 (venda ou troca desigual sem o
consentimenLo dos outros filhos), e de doação inofficÍQsa
(Ord., liv. 4,0, til. 97), como ensinão os DD. (Vid,e Mello
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 357
Freire, Dir. Civ., liv. 4°, til. iO, § 8°; B. Carneiro, Dir.
Civ., § '182).
Muito mais quando o fazem por terceiro, com appro-
vação destes.
O contrato em questão, e.ffectuado entre o pai como ge-
rente e representante da casa commercial na Europa e
neste Impedo, e o filho, empregado da mesma casa, esta-
belecida nesta praça, approvado pelos chefes dessa casa,
não se póde, portanto, na generalidade da pergunta, dizer
que seja nullo só por essa circumstaneia, nem mesmo
quando commercial. (Cod. Com. art. i21).
Essa circumstancia, porém, pó de intluir moralmente e
de modo notavel, em razão de tal proximidade de paren-
tesco, força de interesses e conveniencias, para corroborar
provas que porventura haja ue simulação, fraude ou
dolo em prejuizo de terceiro, induzindo suspeita e conjec-
tura desfa\'oravel, o que poderia dar lugar á annullação
por parte daquelles que em boa fé o tivessem approvado
ou aceitado (Ord., liv. 3°, tit. 34, § 1°; liv. 4°, tit. 7i: Cod.
do Com., "rt. 129 e i39).
Maio, i873.

Prescripção

!~m que tempo as letras de terra prescrevião


por nosso direito anterior ao Codigo do Com-
mercio?

Resposta

Não havia lei especial, e por isso só prescrevlao em


trinta annos, nos termos da Ord., li\'. 4°, tit. 79. E assim
se praticou sempre, apezar de opiniões e tentativas em
contrario.
358 CONSULTAS SOBRE

Hoje, sim, prescrevem em cinco annos (art. 4.43 do Cod.


Com.), mesmo as anteriormente passadas (art. 456, Cod.).
Novembro, .f 85 3.

Prescripção criminal; desmembração territorial

O facto de ter sido desmembrado o termo aonde


reside o delinquente fal-o perder o direito para
invocar em seu favor a prescripção criminal?

Resposta

E' minha opinião que, embora desmembrado o termo


onde residia o delinquente ao tempo da perpetração do
delicto, constituindo parte de novo termo a sua freguezia,
nem por isto tem e1le perdido o direito a prevalecer-se do
tempo mais favoravel á prescripção. O .1rt. 272, e conse-
guintemente o art. 273 do Reg. de 31 de Janeiro de 1842,
exige a presença sem ioterrupção no termo em que residia
o delinquente ao tempo (note-se bem) da perpetração do
delicto.
A desmembração e creação de novo termo, actos alheios
a sua vontade, não o podem constituir ausente do lugar do
delicto para empeioral-o em relação á prescripção. E na
duvida, é de preferir a solução mais benigna ao réo.
Fevereiro, 1870.

Privilegio; hypotheca; differenças; credito por preço de venda;


preferencias
LO Qual a differença entre privilegio e hypotheca
privilegiada? Em face da legislação actual subsiste
a bypotbeca privilegiada?
VARIAS QUESTÕES DE DiREITO 3ã9

2 .. Tem o vendedor do predio a credito hypo-


tbeca privilegiada pêua pagamento da venda do
mesmo, tanto pela lei civil corno pela commercial ?
3.° Qual a solução que póde ter 'a questão pe-
rante a legislação comme.rcial ?
4.° Os privilegios de que trata o art. 621 do Reg.
Com. de que modo subsistem em face da Lei de 24
de Setembro de 1864 ? Estão os privilegios sujeitos
á inscripção?
5. ° A sentença que foi proferida em favor do pri-
vilegio do credor não offende direito expresso?
Resposta

Ao 1. 0 Ha difIerenca entre privilegio e hypotheca, mesmo


pl'ivilegiad'l. AqueHe constitue preferencia, ou direito de
exigir com excluslo de outros, em razão da natnreza do
credito, sendo seu principal efIeito, quanto a terceiros, essa
preferencia. A hypotheca importa, por via de regra,
não só a preferencia, mas o direilo de sequella, podendo,
no entanto ex.islir sem a primeira, como se verifica na hy-
polheca j udicia!.
A hypotheca p ri vilegiada, reconhecida por nossa legis-
laçio anterior como cspecie de hypotheca legal, acha-se
abolida Alguns casos passárão a ser classio.cados de hypo-
theca legal, outros de privilegios, e outros cessárão.
Em face da Lei n. 1237, de 24 de Setembro de 18M, e
seu Reg. n. 34.53 de 26 de Abril de 1865, mais bem discri-
minadas ficarão as differenças entre privilegios e hYPolbe-
cas (legal, convencional e judicial). Por brevidade, merece
atlenta leitura o que se acha ex.posto na Cons. das Leis
Civ. Bms., do preclarissimo jurisconsulto Dl'. A. Teixeira
de :Frei tas.
Ao ,:!.o Perante a legislação civil dividem-se as opiniões,
3.60 CONSULTAS SOBRE

negando uns ao vendedor de predio a credito hypotheca


privilegiada, e concedendo-a outros (Vide Cons. cit., nota
ao art. f 270, § 3°).
Mas, perante a legislação commercial, o Dec. n. 737
de 18;>0, arL 621, qualifica-o cl'edor privilegiado, com
hypotheca tacila especial.
Em minha opinião, salvo e'ta disposiCão relativa á legis-
lação commercial, entendo que o vendr,dol" em titl caso, é
credor simples: a obrigação é meramente pessoal, em
vista do Alv. de -lO de Setembro de 18iO, que derogou a
Ord. liv. '1.°, til. ;>', § 2°, e que, p3"terior á Lei de 20 de Ju-
nho de 074, parece excluir a applic,tção da generalidade
do § M da mesma Lei.
Se se Java it hypotheca privilegiada, ficou ella suj eita
(por anterior á reforma hypothec:wia) ao disposto no
art: US, § 2° Ja Lei e art. 32;> e :123 elo seu Regulamento,
para que valesse com tal, isto é, como hypotheca dessa na-
tureza, com todos 03 seus etfeitos, podendo todavia pre va-
lecer como privilegio, nos termos elo art. fio ela mesma lei,
para as respectivas prefel'encias.
Ao 3.· O art. G'2t elo Reg , n. 737 de 1850 resolve a du-
vida, quanto á legishçIo commercial ; duvida que subsiste
quanto á legislação civil, como já ficou ponderado.
,Ao l~.· Subsistem como privilegios os de que se tratit no
art. 621 cit., ex vi do art. 5' da lei, salvo as modificações
introduzidas a respeito ele hYP 'J theca legal e outras.
Os privilegios nã0 estão sujeitos;'t inscri[lção ; só a hy-
potheca. '
Ao;>,' A sentença que (na hypothec:1. figuraela) de-
cidir pelo privilegio em favor do credor do preco da venda
em concurso com outros credores do comprador, não se
póde dizer que olfende direito expresso. O que ficou pon-
'derado fundamenta esta opinião.
Março, 1873.
VARIAS QUESTÕES DE OIREITO 361

Privilegio; navio; penhor


Qual o direito creditorio que tem aquc lle que
concorreu com dinheiro para a compra de navio?
Póde ser este dado em penhor?
Resposta
Aquelle que concorreu com dinheiro para a compra do
navio é credor privilegiado (Cod., ar t. 877, § 6°), obri-
gação real mantida pela novissima lei bYPoLhecaria (Reg.
de 26 de Abril de 186ã, art. 1-1~ ) .
Póde, não obstante, constituir-se penhor no navio, por-
que não é excluido (Cod., art. 273), mas devidamente
registrado (arg. dos arts. 472, 474). A tradição pócle ser
real ou symbolica (art. 274).
Janeiro, -1867.

Processo commercial
E' permtticla em materia commercial a acção de
juramento d'alma depois do Heg. n. 737 de 25
de No vembro de 1850?
Resposta
Entendo que não é admissi vel j porque o Reg. ci tado,
enumeranJo as acçôes commerciaes, o1'dinll/"ias, sum-
ma1'ias, especiaes e executivas, não faz della meIlção, e por
isso a excluio.
Póde a parte usar neste caso ou da summaria, ou lIe
outra que prefira, sendo competente.
Agosto, 1853.
362 CONSULTAS SOBRE

Processo commercial; detenção pessoal; embargos


Póde o réo oppór-se á detenção decretada em
acção propria por via de embargos? Qual a praxe
nesta côrte?
Resposta

Em causa de detenção, requerida no juizo commercial


da côrte, em 1855, escrivão Teixeira e Souza, enlre A.
Antonio José Ferreira do Nascimento, e R. Manoel Fran-
ci sco da Costa Cabral, decidio o presidente do Tribunal do
Commercio, por via ue aggravo para o mesmo interposto,
que nlio ha lugar a defesa por embargos, visto não ler
assento nos arts. 3113 a 350 do Reg. n. 737 de 1850.

Processo commercial; dissolução de sociedade


Querendo um socio dissolver a sociedade antes
de findo o prazo, corno permitte o art. 336 do Cod.
Com., dc\'erá usar da acção ordinaría ou de sim-
ples requerime17to (como parece indicar aquelle ar-
tigo ), ou do juizo arbitral (segundo o art. 294,
Cod.) ?

Resposta
Foi questão que se suscit'üU, e sobre que diversas forão
as opiniões.
Entendo, para mim, que deve recorrer á acção 01'di-
naria; porque é questão que só jttdicialmente deve ser
decidida, e com pleno conhecimento de causa.
A pL1rase a 1'equ(JI'imenlo de quctlque1' dos socias não dá
direito a pedil-o por simples requerimento, e apenas indica
que só os socios o podem requerer, e não estranhos.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 363

o art. 2940, Cod., tambem não obsta; porque se deve


entender só para o fim da observancia do contrato social,
e não para se eUe desfazer.
Esta questão é de sua natureza judicial, e requer
processo ordina?'io.
Dezembro, t854.

Processo commercial ; faIlencia a requerimento de credor;


recursos
Para a abertura de fallencia é sufficiente que o
credor se legitime ou cumpre justificar a insolveocia
do devedor? Esta exigencia é indispensave1 ainda
mesmo quando o devedor não é matriculado ?
Qual o recurso da falIeflcia aberta sem preceder
as solemnidades legcies ?
Resposta

Tendo examinado os papeis inclusos, é minha opinião


que foi irregular o proced imento havido; porquanto, sen do
a fallencia requerida por um credor, não basta que este se
legitime como tal para o fazer: é indispensavel que justi-
fique o estado de insolvencia do devedor, com citação deste,
como é expresso no ar·l. til do Reg . n. 738 de t8;50, o
que se não fez.
Nem obsta ser commerciante não matriculado o de-
vedor; porque essa solemnidade e disposição do Reg.
é-lhe applicavel (al't. 18!1 do Reg.), tanto que do desp acho,
que declara ou não a abertma da fallencia, ha aggravo de
petição (Dec. n. i368 de '18 de Abril de 185!1-, art. 3°).
E com razão deve ser e é appli cavel, por isso que a
fallencia não consiste em faltar ao pagamento a um credor,
mas sim em ces·~ar os pagamentos (art. 797, Cod.) .
364 CONSULTAS SOBRE

Sendo assim illegal aquella abertura decretada, podia o


devedor ter aggravado em tempo (art. 1811 do Reg. cito ;
907, Cod., e art. 3° do Dec. de 18 de Abril de 18M).
Mas, não otendo feito então, rest.a-Ihe ainda o recurso
de embargos á dita sentença de abertura (art. 808, Cod.).
De cuja deci são fin al cabe aggravo (art. 907, Cod.; 1811,
Reg. ; Del,. cit., art. 3°).
Além disso, resta ao devedor a acção por injurias, e de
perdas e damnos (t:it. ar\.. 808, Cod. ; ar\.. 116, Reg .),
no caso de ~e r revogado aquelle despacho.
Fevereiro, 1855.

Processo crime ; accumulação

Deve-se intentar processo separado quando no


correr do que foi instaurado se descobrir novos
cr imes da mesma natureza?
Resposta
Sou de opin ião que, embora mais de um os factos cri-
minosos da mesma nature7.a (estellionato), ora descobertos
no correr do processo, não ha que installl'ar processo por
cada um deltes isoladamente, e sim no mesmo que se rór
proseguir, e uma só a pronuncia . PÓ de isto dar lugar á
aggravação da penalidarJe, visto as circumstancias. Pelo
menos, em caso de duvida, assim se deveria entender, por
mais favoravel ao réo. Essa accumulação de fétctos para
um só e mesmo fim, em um ~Ó e mesmo processo, tem
lugar em casos semelhan tes .
Novembro, 1870.
VARIAS QUESTÕES fiE DIREITO 365

Processo criminal
Comparecendo o réo em JUIZO e confessando o
crime (quando é da alçada ) segue-se logo a sentença,
independente de inquirição de testemunhas e mais
fórmulas do processo?
Resposta
Não; devem ser sempre inquiridas as testemunhas, já
por ser fórmula essencial, já porque o réo póde ler teste-
munhas e defesa a prodnzir, e porque tudo isso é necessa-
rio para prova de cil'cumstancias qne aggl'avem, attel1uem,
ou justifiquem o delicto.
Março, t8M.

Processo policial
No processo policial (art. 205 e seguintes do
Cod. do Proc. Crim. ) para julgamento de infracção
de posturas, etc., apresentando-se um a só teste-
munha, é isto motivo de ll!1llidade ?
Resposta
Sendo motivo de nullidade o não se observarem as for-
malidades substanciaes do processo, é fóra de duvida que
o haver-se apresentado no processo por infracção de pos-
turas uma só e uoica testemunha para comprovar a ac-
cusação é motivo sufficiente e legi timo para ser elle
reputado e julgado nullo, pois que violou· se abertamente
o art. t40 do Cod. do Proc. Crim., modificado pelo art. 48
da Lei de 3 de Dezembro de t841, e o art. 266 do Reg.
de 3-1 de Janeiro de 1842, que fixão o minimo do numero
de testemunhas que se devem inquirir para a formação
366 CONSULTAS SOBRE

da culpa, e por isso para a accusação ; ora, esta formalidade


sempre S3 ha reputado essencial, importando a sua prete-
rição a nullidade do processo, como ensina o Sr. desem-
bargador Pimenta Bueno nos seus Apontamentos sob1'e as
f01'malidades do Proc. Crim. á pag. 20.
Nem ha lei alguma que estabeleça para o caso vertente
excepção a uma regra tão sabia e justa, como a que sanc-
cionão aquelles citados artigos, quando exigem um nume1'O
legitimo de testemunhas da accusação.
Antes, calando-se a. tal respeito os arts. 205 e seguinLes
do Cod. do PrI)C. Crim. (que estabeleceu a fórma do pro-
cesso por infracção de posturas, como ordenou se obser-
vasse o Reg. de 31 de Janeiro de -1842, art. t28), é visto "
que vigora para o caso aquella regra geral já estabelecida,
muito principalmente tendo-se em attenção que o art. 79
do Cod. do Proc. Crim. exige que na queixa ou denuncia
se indicjuem todas as lestemunhas, cujo numero não póde
ser menor que o exigido pelas disposições já citadas.
18151.

Pronuncia; exercicio de emprego


Póde o empregado continuar no emprego depois
da pronuncia, tendo sido devidamente afiançado?
Resposta
Importando a pronuncia, devidamente sustentada", a
suspensão dos direitos politicos, não póde o empregado
continuar a exercer o emprego, apezar de afiançado.
A fiança tem por fim especial o livrar-se elle solto.
Se, pois, continuar no exercicio , depois de intimado
della nos termos referidos, incorre na sancção do art. 140
do Cod. Crim., podendo-lhe, porém, valer a sua boa fé.
Agosto, 1863.
VAlHAS QUESTÕES DE DIREITO 367

Pronuncia ; isenção de criminalidade


Póde o juiz do sllmmario da c.ulpa apreciar as
razões justific~livas, que concorrem para isenção
de cl'iminalidade, ou deverá deixar essa apreciação
ao do plenario ?
Resposta
E' certo que por diversos avisos se tem resolvido que
não compete ao juiz do summario da clllpa, e sim ao do
plenario da causa, apreciar as justificativas do delicto, e
mesmo as que isentão ~bsolut:lmente de criminalidade,
como a loucura, etc., devendo aquelle limitar-se a pro-
nunciar ou não, desde que esteja provado ou não o delicto,
e baja ou não indicios vebementes de quem seja o delin-
quente.
Minba opinião particular, porém, é que, quando seja
evidente pelas provas do summario a isenção de crimina-
lidade do art. 10 do Cod. Crim., combinado com o art. 3°,
não havendo portanto crime nem delinquente, é o juiz da
formação da culpa competente para não pronunciar ex vi
dessas disposições, e dos arts . -144 e 1M; do Cod. do Proc.
Crim. Se não LlOuver tal evidencia, deve abster-se, reser-
vando a decisão dos factos, que constituem a isenção, ao
juiz do plenario (Vide - Thomaz Alves, Annat. aa Gad.
Crim. Bras.).
Maio, 1870.

Pronuncia; novo summario; correição; sentença intimação; recurso

L° Póde-se formar novo processo a um delin-


quente, em f:1vor de quem tenha havido uma sen-
tença de não pronuncia?
368 CONSULTAS SOBRE

2.° Esse novo processo póde ser determinado em


correição?
. 3. 0 Qual a applicação que deve ter o art. 3·1 do
Reg. das correições (25 de Outubro de 1851) ?
4.. 0 Qual a referenciaque têm asexpl'essões fina eg
do art. 57, § 2° do dito Regimento?
5.° A quem caue a intimação das sentenças? A
demora em qlle pena faz incorrer o escrivão?
6.° Desde quand o sa deve contar o prazo da
sciencia da sentença se a parte a ti ver d'albures
que por "ia de intimação ?

Resposta

1. ° A sentença de não pronun cia não faz ca'/,~sa y"ulgada;


póele-se, pois, formar culpa de novo emquanto não pres-
crever o delicto (Cod. do Proc. Crim., art. 149 j Av. de
9 ele Fevereiro de 1838 ; Av. de 28 de Fevereiro de 1839 ;
Reg. de 31 de Janeiro de 18{j,2, art. 270 j Dec. n. 83{j,
de i 81>1 , art. 31, § 4°). E isto qU;:l.fJdo mesmo a não pro-
nuncia lenha sido decrelada pelo juiz de direi to ou Relações
em gráo de recurso j porque a lei não faz distincção al-
guma, e seria contra a natureza do summario de culpa.
2.° Mas em tal caso me parece que em correição não
póde ter logar providencia algoma em vista do art. 1)7 do '
Reg. n. 834 de 18;)1 j seria conhece r o j oiz da correição
do processo julgado em recurso por juiz de igual cate-
goria ou superior.
O remedio nnico é proceder o promolor ou a auloridade
ex aflicia, se fôr caso disso, a novo summar io de culpa.
Aliás só resta a accusação particular, de que usará, se
quizel" quem a elta tiver direito.
3.° O art. 3i, § 2° do Reg. das correições, que faz uma
excepção ao art. 57, me parece que se deve entender,
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 369
como nelle se lê, applica vel aos lJrocessos pendentes, afim
de se providenciar sobre as n ullidades no intuito de sa-
nal-as, e para promover todos os esclarecimentos ·a bem
da ca usa e da justi ça.
Os processos preparados para serem submetlidos a jury
não podem ser demorados (art. f)8), e não vêm á correição
(art. 27, § 1°).
lÍ,.0 Parece-me que as expressões finaes do aet. f)7, § 2°,
se referem não só ao julgamento final dos processos da
alçada do juiz de direito, mas tambem ao julgamento por
via de 1'ecurso OLl de appellação ; a redacção do artigo im-
porta esta in telli gencia, que aliás é conforme ao pensa-
mento dominante de não sujeitar á correição as sentenças
dos juizes de igualou superior categoria.
f).o A intil11ação das sentenças é do proprio officio do es-
crivão (Ord., liv. ·to, til. 24., §§ 28 e 4.8; Dispos. Prov.,
art. 12, e outras disposições).
Portanto o escrivão deve intimar a sentença immedia-
tamente; e não lhe é licito demoraI' essa intimação, prin-
cipalmente achando-se presente a parte e comparecendo
até no seu carlorio. Tal procedimento é cl'iminoso, e, coo-
forme o facto provado, póde classiacar-se no art 1.29, § 2°
e 6° elo Cod. Crim., ou no art. 1.30, ou no art. 133, ou
pelo menos no art. 1. M.
6.° A sciencia da sentença pelo réo é o que exige a lei,
para se contar o prazo para a interposição dos recursos,
tanto no civel como no crime. A noticia oflicial consta da
intimação ou ela publicação em presença das partes (Lei
de 3 de Dezembro de 1.84.1., art. 72).
Mas daqui não se segue que, demonstrando-se do pro-
cesso que o réo sabia da sentença, todavia se Ibe conle o
prazo, não desele a época em que se moslra ter lido scien-
cia, mas só da intimação: seria eludir a lei, e ir contra o seu
espirito, em observancia servil e anti-jurídica das palavras.
Maio, 18f)8.
24
370 r.ONSULTAS SOBRE

Pronuncia; nullidade; recursos


. f .. P6de o réo pronunciado aventar no recur~o a
incompetencia do juiz'?
2.· Quaes os recursos que p6de interpôr, preso
que seja?
Resposta
Ao LO Entendo fÓl'a de duvida que o I'éo pronunciado
póde agitar no recurso a questão de nullidade por incol11-
petencia do juiz (Vide Pimenta Bueno, Apontam., § (2).
Ao 2.0 Preso o réo, poderia não só reco rrer ela pronun-
cia, remedio ordinario (Av. de ti de Setembro de 18~5),
mas usar de habeas-co1'PUS, I'emedio extraord inario, dada
a incompetencia do juiz da prisão e do processo, ou a l1ul-
lidade evidente desta. (Cod. do Proc., art. 3~3).
Outubro, 1862.

Protestantes; casamento; elfeitos; divorcio


Dous protestantes casárão-se no Imperio :
Pergunta-se
1.0 Quaes os effeitos civis desse casamento ?
2.° Podem clles divorciar-se perante nossas auto-
ridades?
Resposta
. 1." Os effeitos são os mesmos que se fosse conlrahido se-
gundo o rito romano; quer quanto aos bens, quer quanto
aos direitos e obrigações, quer quanto á legitimidade dos
filhos, quer quanto á successão, etc. j porque nãu deixa de
ser oasamento, e leiitimo entre nós, visto como a consti-
VARIAS QUESTÕES DE DIII.EITO 37t
tuição do Estado adoptou a tolerancia religiosa (art. DO
e i79, § 5°).
2. o Não; pot'que, sendo a religião do Estado a catholica
apostolica romana (art. 50 da Const.), não ha autoridades
nossas para conhecerem de tal questão, nem tão pouco
estrangeiras, mesmo porque seria isso opposto ao princi-
pio de nossa organisação social e politica, quanto á tole-
rancia religiosa, consagrado no referido artigo da constitui-
ção do Imperio. C'' )
Dezembro, t8M.

Prova por escriptura publica (intelligencia do Alv. de 30 de


Outubro de 1793)
i. o Onde deve ser lavrado o contrato pOI' escrip-
tura quando ella fôl' necessaria nos termos da lei ~
2. o E se os contratantes forem moradores fóra e
puderem voltar commodamente em o mesmo dia,
sendo a escriptnra excedente de 500~ em bens de
raiz e i :200a em moveis~
3.0 E caso não pussa haver a facilidade da ida e
volta no mesmo dia?
Resposta
1.0 Onde houver tabellião ou quem suas vezes fizer,
sendo ahi feito o contt'ato e assistentes as partes, a escrip-

n Os casamentos entre pessoas que professão r eligião di-


versa da do estado são hoj e regulados pela Lei n. 1144 de
24 de Setembro de 1861 e Decl' . n. 3096 de 1'7 de Abril
de 1863.
Existe uma importante consulta do conselho de estado
de 27 de Abril de 1854 que servia de preparatorio para a orga-
nisação da Lei li regulamento supra. A. C.
372 CONSULTAS SOBRE

tura publica é necessaria se exceder a taxa da Ol'cl., li v. 3",


tit. 59 pr., triplicada pelo Alv. de 16 de Selembro de J8l4.
~ . o Se os contratantes forem moradores de róra, e L-
verem de vir ao lugar onde esliver o tabellião 00 esrrivão
de paz, sendo a distancia tal que possão ir e vo l tar com-
modamente em um só dia, é necessal'ia a escl'iptura pu-
blica se exceder de 500:tP em bens de raiz p de 1:200@ em
moveis.
3. Se, sendo moradol'es fára, 11 ;[, puuerem pda di:-
0

tancia ir e volta I' commodamente em um só dia, Il ão é


necessal'ia a escriptura publica, ~eg llndo o coslume con-
verlido em lei pelo do Alv. de ~ 193.
4. Ainda que seja commorlo ir e voltar em um só dia,
0

não é necessal'ia a escl'ipl Jl'a publica se a convenção não


exceder de 800~ em benr de raiz e de ·l :200\'1J em m,o\'eis.
5. o Quer tudo isso, porém, só se refere ~\ escl iptura
quando para p?'ov a, r, não quando da subslancia do con-
°
trato, pois a esta outra não se refere AI v. ci t. ("")
~ Dezembro, 1859.

Reforma judiciaria ; sua execução


Desde quando se deve con tal' o prazo para a
execução da refol'm a ju diciaria promulgada pola Lei
de 20 de Setembro de 187 i ?
Resp cs.ia
Não havendo a Lei de 20 de Selembro de 187,1, publi-
°
cada na secretaria a 21 de Novem bro, Il em Reg. respec-
tivo, fixado algum prazo especial para a sua execução,
deve-se en tender que é applica \'el o prazo geral.
('l ,~obl'e este importante obj ecto publiquei no C01'l'eio Mer-
cantil de Agosto ele 1855 um artigo datado de 25 do mes mo, sob
as iniciaes P. M., cujas eonelusõ ~ s forãoas supra ex aradas.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 373

A Circo de lO de Dezembro resolveu a duvida, embora


não satisfactoriamente, mas não é em contrario; e, salvos
certos actos que não dependem do novo pessoal e que por-
tanto são logo exequiveis, determill!J. que tudo esteja pro-
videnciado de modo que, no fim dos dous e quatro mezes
da data daquella publicação a lei entre em plena e inteira
exec llçáo, feitas todas as nomeações do pessoal especial.
Janeiro, {872.

Regulamento hypothecario (art. 281)


Qual o meio pratico para. a execução do art. 281
do Reg . de 26 de Abril de 1865 quando se opéra
uma du pia transmissão?
Resposta
Na consulta acha-se a informação prestada por um em-
pregado do Reg. Hyp. desta côrte, sobre o modo pratico
adoptado nella para execução do art. ;:81 do Reg. Hyp.
de {8ü;), conforme ~ ão os titulos com os respectivos extractos
apresentados logo por ambos os acquirentes reciprocamente
transmiLlentes (permuta), ou só por um dell e~ .
No primeiro caso, observa-se liLleralmente o art. cit. 28L
No segundo caso, porém, ji se não procede assim; mas
na fórma geral, fazendo-se uma só tt'ansmissâo , reservada
a outra para quando o outro acquirente a requeimo
Parece, no entanto, aci1ar-se isto um pouco em r1esac-
côrdo com a disposição do art. ci t., que não faz distincção,
e atltes pareGe exigir que ambas as transmissões se fação
logo, quanüo manda que sejão seguidos os numeros de
ordens no protocollo e no livro de transcripção.
Desde que, porém, o oflicial não o pó de faz er ex oificio,
e só quando solicitado (Reg., art. 65), tem sua justificação
essa in telligenci a pratica, a melhor interprete das leis.
Novembro, 1.875.
37~ CONSULTAS SOBRE

Reivindicação ; provas; prescripção


póde ser considerado titulo habili,para a rei vin-
dicação de um terren o um escripto particular pas-
sado em 1823 em lugar em qu e não havi a tabel-
lião !
Qual a opposiÇão que podem rn,zel' os poss uid ores
que do mesmo terreno se apoderárão ?
Resposta
Ao L o Os titulos dos herdeil'Os de F. habi li tão para rei-
vindicarem o ?'incão ('1-) de que se trata, pois que elie o
houve e possuio por legitimo titulo de compra ao sesmeiro,
e só o abando nou por forca maior, a guerra,
Pouco importa que conste de esc'ripto particular'; por-
quanto, passado em -1823 e em lugar onde não havi a tabel-
lião, nem rroximo de onde houvesse por modo a pode-
rem as partes ir e voltar no mes mo di a, nem escrivão de
paz, que aliás só forão creados em 1827, e ainda muito
posteriormente autorisados a servir de Labelliães nos seus
districtos (Lei de 30 de OuLubro de 1830), aquelle escripto
é prova legal em face do Alv. de 30 de Outubro de 17 93,
especial para o Brazil. Por outl'O l:1.do, a nossa lei de tel't'as
(de 18 de SeLembro de 18 ~ 0 e Reg . de 30 de Janeiro
de 18M) respeita o que assim estiver no dominio parti-
cular.
Ao 2. o Os ac tuaes possuidores podem oppôr prescripcão,
desde que acceda cumulati vamente em favor elos mesmos
titulo habil.l, posse mansa e paci fica, boa fé e tem po pelo
menos de dez annos entre presentes, ou vinte entre au-
sentes.
Titt"zo eltes o têm, o de compm, e os herdeiros de um
------_._-----
(*) Na provincia do Rio Grande do Sul chama-se 7'inr.ão a
porção de campo rareado naturalm ente de mato . A. C.
VARIA.S QUESTÕES DE DIREITO 37~

dos compradores o de successão. São babeis para transferir


dominio.
Posse têm igualmente, desde que pelas compras (en-
tre 182~ e i828) a tomárão, e nella têm permanecido
até boje.
Boa fé, seria questionavel. Mas os herdeiros têm a seu
favor a presumpção della ; os compradores tambem, visto
a convic(.ão em que estavão de que era sua legitima pro-
priedade pela compra, visto o titulo de concessão do go-
verno da republica ("') ao vendedor, e ter-se reputado da
mesma republica esse territorio até que pela demarcação
em 181>8 ficou elle pertencendo ao Imperio. Se, porém, se
provasse m á fé, não 6 no concessioll ario, mas nos ditos
seus successores, a presumpção não poderia prevalecer
(Ord. , liv. 4. 0, tit. 30, § i O, e tit. 19 pr.).
Tempo, ba decorrido até hoje mais de quarenta annos,
comprehendido o da guerra da Cisplatina, que findou
em i 828, e o da rebellião do sul ('l835 a 184.4.) ; mas de i828
a iSa5 vão sete annos livres, e de -lR4.4 até hoj e mais de
vinle e cinco, o que eleva a mais de trinta o tempo desim-
peclirto , que constitue até prescripção longissima. Ainda
conlando s6 de i858 (em que [leIa demarcação ficou o ter-
ritorio pertencendo ao Imperio), lemos mais de dez annos,
que, presentes as partes na mesma comarca, fundamenta
a prescripção acquisitiva (Ord ., Jiv. 4. 0, tit. 30, § i
O
) .

Março, i870.

Remissão de bens em execução ; valor; imposto


1.0 Em que casos pó de o pai ser admittido a re-
mir bens executados ao filbo e sobre que lanço de-
verá fazêl-o?
2.° Qlle imposto é devido quando o proprio exe-
n Do Urugull.y .
:376 CONSULTAS SOBR E

cutado vem remir a execn ção? E qn ando a remissão


é feita pelo ascendente?
Resposta

Ao L° Qu e o pai (ascenden te) póde remir bens do exe-


cutado seu filho é expresso no art. 546 do Reg. n. 731
de 1.850.
Se tratasse elte de remir os bens penhorados, pagando
integralmente a execução, poderia entender-se que o fazia
pelo preço da avaliação ou da remissão.
Mas, desde que o exec utado é insolvavel, e os bens por-
tanto insu[ficientes, havendo legitimo interesse dos cre-
dores a altenuer, só póde ser admittido a fazêl-o sobre o
maior lanço, dando-se-lhe apenas a peeferencil em igual-
dade ele condições para aquelle fim , e se o fizer até a as-
signatura da ca rta de arrematação 0 11 publicação da
sentença Je adjudicação ,cit. art. 546 ; Pereira e Souza,
Prac. Oiv., § lJ,23 e nota 811-0).
Ao 2.° Re mi r é resga tar, evi tando que o obj ecto passe
a estranho.
Se, pois, o proprio ex.ecutado o faz, não paga imposto
por não have r trans missão.
Quando, porém, o faz o ascendente ou o descendente,
cumpre lii stinguir.
Se, remindo, não o faz [)l ra adquirir o bem re milio,
continuando este ao contrari o no executado, não ha im-
posto a pagar, nã0 ha transmissão de propri edade, e sim,
quando muito, uma subrogação decredo\'.
Se o faz para adquirir taes ben , ha imposto de trans-
missão da adjudicação, que lhe sej a assim feita (Reg.
n. 6355 de 1.7 de Abril de 1.869 e tabella).
Conseguintemente, se, tendo pOI' esta fórma adquirido,
quizer transferir a outro, tambem é devido o imposto de
transmi ssão (Reg. ci t. ) .
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 377

Haveria meio de evitar esta duplicata de imposto; se-


ria dar por lançador esse terceiro (art. fS46 ciL).
Devo notar que, sendo nas provincias renda provincial o
imposto de transmissão sobre venda de escravos, deve-se
ter em vista as respectivas leis e regulamentos provinciaes,
que podem dispôr diversamente do que fica exposto.
Outubro, 1873.

Remissão de bens ; embargos


Em que tempo pódr. o ex.ecutado, sua mulher,
ascenden tes ou descenden tes, rem ir bens pen ho-
rados? .
Como devem ser tratados os embargos oppostos a
uma apprebensão de bens?

Resposta
Ao LO E' licito ao executado (e á sua mulher, descen-
dentes e ascendente.) remir todos ou alguns dos bens pe-
nhorados, comtanto que o faça até ti. assignatura elo au to
de arrematação ou publicação da sentença de adj udicação
(Reg. n. 737 de 'l8~0, art. 546). Assim fel ta., a remissão é
valida, entregue ou depositado o preço respectivo; resga-
tados os bens e substituídos pelo dinheiro.
Os embargos oppostos a uma apprehensão de bens de-
vem ser tratados summariamente com dilação ele dez dias,
quer sejão de terceiro, quer não (Cod. Com., til. unico,
art. 22; Reg. n. 737 de i8~0, art. 329, 324, ~99, 743 e
outros) .
Julho, 1.874.
378 CO NSULTAS SOBRE

Remissão em execuções ; valor; co-réos


. i. o Sobre que valor póde o executado remir os
bens penborados?
2. ° Corno deve ser consid erado o remanescente
da divida, excutidos 01i bens hypothecados?

Resposta

Ao L ° E' certo que póc1e o executado remir os bens


penhorados, se o fizer até a assignatura da carta de arre-
matação ou a publicação da sentença de adjudicação (Reg.
n. 737 de -l 8~ O, art. 1)4.6 ; Pereira e So uza, P 1'OC. Civ.
§ 423 e nota 846). Mas sobre que valor ?
Se a remissão importar o pagamento integral da execu-
ção, póde se!-·o pelo da avali ação .
Alias entendo que pelo do maior lanço obtido, por isso
que ahi vai leg iti mo interesse do exequente ou dos credo-
res, como me parece manifesto . A remissão é apenas uma
preferencia, em igualdade de condições, afim de resga tar
os bens, evitando que passem a outros.
Não obsta a Lei hypotl1ecaria de 186 r~ , tanto mais
quanto se trata de hypotheca anteriormente celebrada e
inscripta (Vi ele art. 335 do Reg. de 26 de Abril de 1.865).
Ao 2 .° Excutid os os b ~ n s hypothecados, o remanes-
cente da divida é simples ou chirographaria.
Deve, conforme a regra geral,tser ratei acla pelos co-deve-
dores, excepto se para algum motivo particular ou clau-
sula da escriptura houver solidari edade da obrigação (Vide
C. Telles, A cç., § 335 e 336, e notas).
. Abril, t874.
VAR.IAS QUESTÕES DB DIREITO 379

Responsabilidade de directores; gerentes; administradores;


criminal ; civil
Qual a responsabilidade que pertence aos direc-
tores, gerentes e administradores para com as com-
panhias que administl'ão ~ De que depende essa
responsabilidade?
Resposta
Para que se possa attribuir ao accusado (\ crime de es-
tellionato Jo al't. ~64, § 4° do C'ld. Penal, é indispensavel
que se prove o arti ficio fraudulento, e conforme a inter-
pretação restl'icti va dada a essa disposição no art. 2i da
Lei n. 2033 de 20 de Setembro de i87L
Os administradores, directores ou gerentes de compa-
nhias, são responsaveis, como seus mandatarios (Cod. do
Com., art. 299; Lei n. 1083 de 1860, ar!.. 2°; Dec. n. 27H
de '1860, art. 4 t, § 2', e art. MS), quer por fraude ou dolo,
quer por omissão ou negligencia cul posa (Cod., art. 162),
e mesmo criminalmente (ViJe Cod., art. 78).
Depende, porém, de que os factos sejão provados con-
cludentemente, e até por arbitradores sejão determinadas
as questões sobre slla existencia (CoJ., art. 1.:19 e "62).
Assim que, sem taes fármas, não se páde juridicamente
responsabilisar o administrador, director ou gerente, nem
mesmo pela indemnisação; muito menos criminalmente.
Mesmo para a simples pronuncia é necessaria a exis-
tancia provada do deLicto, e pelo menus indicios vebementes
de quem seja o delinquente (Cod., do Proc. Crim., art -14.;».
Mais ainda, para uma condemnaç,ão (Cod. Crim., art. 36).
Em direito criminal tudo é restricto. E ninguem se deve
julgar criminoso sem provas convincentes; presume-se
innocente até que seja provado o contrario.
Quando improcedente a accusação criminal, restaria a
acção pela execução do mandato contra quem de direito
380 "ONSULTAS SOBRE

fosse, nos termos do art. 299 do Cocl. Crim., é leis vi-


gentes.
. Maio, 1873.

Rifa; siza

1.0 São pelas nossas leis probibidas as rifas?


Em que pena incorre quem as faz?
2. ° No caso de ter sahido em rifa ao pJ'opno
dono o seu predio ha siza a pagar ?

'1.0 Pelo Aviso de 14 de Outubro de 1837, e segundo o


art. 2G4, § 4,° do Cod. Pen al, é crimin oso e punivel como
estellionatario quem fizer rifa com dolo, falsidade, e lesão
enorme, negar os premios prometticlos OL1 ausentar-se com
o dinheiro elos bilhetes.
Posteriormente o Dec . de 27 de Abril de 184.4 no art. 37
equipal'ou as rifas ás loterias , e impôz a pena de lOS por
bill1ete áquelles que de qL1alquer maneira os distri-
buissem.'
E, apezar de declarar-se nfl. Ord. n. 138 de 1° de Outubro
de '18 /t7 qual a siza a cobrar-se do preelio rifado, todavia
ahi mesmo, e mell1ol' ainda na Ord. n. ,199 de 19 ele JL1lho
de 18M, se dá bem a enteneler qoe !la rifas illegaes, e que
só são legaes as que fo, sem au torisadas pelo poder legisla-
tivo, competindo toda via ás partes e ás autoridades usar
dos seus direitos competentemente naqL1i llo que a umas e
outras disser respeito .
2.0 Parece-me que não tem nesse caso (o proprio dono)
de pagar siza; porque não se dá ahi effecti va venda, tan to
que não ha quem seja vendedor e comprador; ao proprio
VARIAS QUESTÓES DE DiREITO 38i
dor,\) a SOI'te assignou o pl'emio : continúa o pl'edio a pel'-
tencer-Ihe. ("").
Agosto, 181H).

Rifa; siza; penas; perdão


1 o Di ssolvid a uma soc iedade organisada em
Minas-Geraes, ann exa á loteri a e reputada rifa
iliegal, já depois de dist ri bu idos os bilhetes, es tá
incursa no art. 37 do Oec . n. 35 7 de 27 de Abril
de 1844?
2: No caso af:firm l ti \'0, tem de sor paga. a multa
sómente de 3305 acções que poJ erão ser distri-
buídas, ou de 6UOO, total Jella5, mas das quaes
2695 Gcárão em poder do [Jl'oprietario ?
3. o Deve esta multa recabír no proprietario, ou
em todos os que promo vê rão a venda?
4." Deve ella ser imposta ainda hoje, ou ficou
prejudic a d~ po:' não o ter sielo em tempo compe-
Len te ?
5: Não se tendo jámais executadu no Imperio
aquellc art. 37 I deve agora ser applicado ao caso
aclllal?
6: Não havendo 00 município em que se fez
n Depois regeu a espec ie o Decreto n. 28í4 de 31 de D ezembro
ue 186 1 que reg:.:.lou a ex ec ução dft L" i 11 . 1099 ele l8eO em vir-
tud e da qual são pl'ohibidas :1,.C; loteri as e ri fas não autorisadas.
Actualmente são do mes mo mocl o pl'ohibiclas no Imp erio e
na r.Õl'te vendas de bi lhet e s uc qualqu er loteria que não seja
do Estado o de loterias estrangeiras e provinciaes (D ecr . de
6 Dez embro de 1882) .
Os delinquentes estão sujeitos a processo de formação da
culpa e julgamento pelo jUl'y (D ir ., tomo 29, pago 399-1882).
382 CONSULTAS SOBRE

aquella rifa. nem nas leis provinciaes de Minas,


pena para taes actos, e nem havendo nas leis do
,orçamento de 1844 para cá verba algum a em que
figurem como receita do Imperio taes multas, a
quem compete a sua cobrança ~
7.° Sendo ella uma pena, tem lu gar o recurso
ao pod er moderador para perdoar ~
Resposta
Ao LO Parece-me que sim, vi sto que esse decreto é ge-
ral para todo o Imperio, como se vê do seu preambulo.
Ao 2.° Essa multa é por cada bilhet. e que fôr distribuido
por qualquer mod o, Coomo se vê desse art. 37, e melhor do
art. 36, que lhe é co rrelativo. Portanto só dos 3305 dis-
tribuidus, e não mais.
Ao 3.° Deve ser paga, ou antes recahir em todos quan-
tos distribuirão os bilh etes, e na proporção em que cada
um os distribuío, pois é isto o que dispõe o cit oart. 37.
Ao 4. .0 Aquella mult.a, Gomo pena que é, póde ser im-
posta a todo tempo , a meu vêr, emquanto não prescrever
o delicto.
Ao 5.° Se não se tem feito effectiva aquella puni ção,
não é razão para que se não faça em qualquer occasião
emquanto não fôr revogada a disposição.
Ao 6." A não haver designação especial, como parece, e
nem o Dec. clt. de 1.84.4. lb 'a dá, deve, em miLlha opinião,
pertencer á camara municipal a sua cobrança, depois de
imposta por sentença, como verdadeira pena de multa,
segundo a regra geral do art. 56 do Cod. Penal.
Ao 7.° Sendo verdadeira pena, como se vê do mesmo
art. 37 e do antecedenle 36, parece que entra na regra
geral, para ser-Ibe extensivo, o direito de perdoar ou com-
mutar, que tem o poder moderador.
Setembro, 1855.
VAIlIAS QUESTÕES DE OIREITO 383

Seguro; indemnisação
Sã.o os praticos e pilotos em todo o caso respon-
saveis pelo sinistl'O que sobrevier á embarcação que
dirigirem?
Resposta

Os praticos, pilotos, etc., tambem se reputão prepostos,


como o capitão e mais gente da equipagem. Assim, dado
o sinistro por facto delles, entende-se desonerado o segu-
],:loor, salvo se este se obrigo u lambem por barataria.
(Vide Caumout, v. pilote, n. 18; Sebille, n. 313 e seguintes).
f,o , porém, é por direito ou pelos regulamentos obri gado
a tomar-se o pratico ou o piloto, fazem alguns escriptores
excepção a essa desoneração (Pardessus, n. 771 ) .
Julho, 1863.

Seguros terrestres; legislação; acções

Qual a presumpção que deve regular para indem-


!lisação no caso de sinistro? Attribuido a algum
preposto ou criado do segurado, fica o segurador
desobrigado de indemnisar ?
Póde o segurador, preenchidas as condições da
'apolice por parte do segurado, contestar a indemni-
sação reclamada?
A que juizo deverá recorrer o segurado para ha-
vêl-a?
Resposta
Aos seguros terrestres são applicaveis, em geral, as
mesmas disposições que regulão os seguros maritimos
384 CONSULTAS SOBRE

(Gourget et Merger, Dict. de Droit Com., v. Q,s sumnces


ter?'est1'es n. 1).
, Pórtanto são regidos pelo respecti vo contrato em tudo
quanto não fôr prohibido por lei, pelas leis commerciaes,
e pelas civis subsidiarias (Cod. Com ., art. '666; Dec, n. 737
de 1850, art. 2°) ,
A apolice do seguro em questão nada contém prohibido
em direito.
Sé) tis[azendo o segurado as exigencias a seu cargo, pó de
pretender a justa indemnisação por que a companhia se
obrigou, salvo a esta recusal-a por motivo legal fundado
na mesma apolice ou em lei (Dec. cit., art. 305 ; Gourget
et Merger, cit. n. 161 ).
Dado o sin is tro, presume-se fortuiLo (GoUl'get et Merger,
cit. n. t43), salva ao segnrador a pl'Ova em contr'ario
(cit. n. 1.43 e ·156) de que foi al ie devido a facto culposo
do proprio segurado (Cod . Com ., art. 7H; Dec. cit.,
art. 305).
Ainda quando o sinistro se possa attribuir a algum
prepos!o, criado ou domestico do segurado, não é este
responsavel para oxonerar o segurador- em differença do
segnro mar iti mo, onde o segurador não responde pela
barataria clo capitão e gente de mar, excepto se expressa-
mente se obrigou por elta na apolice (Gourget et Merger
cit., n. 90., e 9'1, com. Pardessus, Alauzet, et.c" contra
Toullier).
No caso vertente ha suspeita contra a fortuidade ou ca-'
sualidade do incendio, suspeita que affecta um preposto e
o proprio dono.
Mas depende ella de ser reforçada para destruir a pre-
sumpç.ão em favor do segundo e exonerar o segurador.
Todo o genero de provas é admissivel (Dec. cit. de 1850,
art. 138; Pardessus n. õM; Gourget efMergel' cit., n.136,
1.62).
Em termos taes respondo:
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 385

LO Tendo, em principio, o segurado o direito a pedir


a indemnisacão, preenchidas de sua parte as condições
da apoli ce,. póde no emtanto a companhia seguradora re·
cusal-a e contestai-a; provaua a sua opposição, deve esta
ser julgada procedente, e portanto allsolvida ella do pedido
e da obrigação.
2.° A discussão e provas resolvcráõ afinal.
3. ° Na apolice foi convencionado o juizo arbitral unica-
mente para o caso de contestação entre a companhia e o
segurado ácerca do qtbantitati'vo da indemnisação.
Versando, porém, sobre a ob1'igação mesma da indem·
nisação, co mpete a accão propria de seguros no juizo com-
mercial por applicavel (Dec. cito de 18DO, art. 209 e
seguintes; Gourget et Merger cit., n. 11 7, -118, H9).
Todavia nada obsta a que as partes de commum accôrdo
a submettão ao juizo arbitral voluntario, em qualquer
tempo (Dec. cit., art. 300; Lei n. 13DO de 14 de Setembro
de 1866, é!rt. 3°; Dec. n. 3900 de 26 de' Junho de 1867) ;
autorisando, mesmo no compromisso, os arbitros a deci-
direm por equidade e independente das regras e fórmas de
direito (Dec. cit., art. 46 e 47) . Seria talvez este o melhor
expediente.
Agosto, 1875.

Seguros terrestres; seguro mutuo; questões

Quaes as disposições pelas quaes se regem os


seguros terrestres? E' admissivel segurar-se em uma
companhia pela totalidade do valor objccto já se-
guro em ontra? Póde o socio de uma companhia
de seguros mutuos desligar-se da sociedade dentro
do anno do seguro? Em o caso de ter sido aceita a re-
tirada do predio, póde segul'al-o em ou tra com panbia
386 CONSULTAS SOBRE

independente de rescisão do primeiro? Que obriga-


ções correm, quer para :l primeira, quer para a se-
gunda companhia seguradora ?

Resposta

Os seguros terrestres (quaes os de que se trata) regem-se


em geral, pelas mesmas disposições dos seguros mariLimos
no que forem applicaveis, salvas as modificações que lhes
são peculiares. Maiores ainda são as que regem os seguros
mutuos (Vide Gourget et Merger, Dict. de Droit Com.,
v. assurance mutuelle, aSSU1'ance terrp-stn).
O seguro pela totalidade do valor, em uma companhia,
de objecto já seguro em outra seria nuUo (Cod. Com.,
art. 677, § 6°), e só prevaleceria o primeiro não havendo
fraude (art. 683).
Mas no seguro terres tre, e mutuo, esta regra soJIre li-
mitações. Taes são : -la, se o primeiro seguro é nuUo ;
2", se ha prohibição expressa de fazAr-se segundo, pena
de nuUidade de pleno direito do primeiro, e todavia é feito,
o segundo seg urador tendo disto sciencia quando o fez
não póde recusar-se; 3", se ha lugar a resolução do
primeiro, v. g., no caso em que, achando-se já seguro
em companhia de seguro mutuo o objecto, é elle seguro
em companhia de seguro a premio (Vide Dict., cit., v v. cit.,
n. 234, 25'Z in fine, 253).
A simples declaração de não querer continuar a fazer
parte da sociedade segundo o art. 27 dos estatutos da com-
panhia mutua, não desliga o socio das obrigações contra-
hidas dentro do anno.
Mas, proposta e aceita, como foi, a retirada do predio
em questão do seguro mutuo, desfeito assim amigavel-
mente quanto a elle o seguro, ficou livre ao dono segu-
ral-o em outra companhia.
E quando mesmo este segundo seguro se tivesse feito
VARUS QUESTÕES DE DIltElTO 387
sem preceder aquella rescis~o, poderi a a companhia mutua
promovel-a judicialmente, por se ter verificado o caso de
resolução do mesmo seguro.
Assim que, é minha opinião:
LO Que, rescindido o primeiro seguro, está desobrigada
a companhia mutua do pagamento do sinistro havido pos .
teriormen te.
2.° Que é responsavel a companhia a p1'emio pela indem-
nisação do mesmo sinistro, acontecido dentro do tempo
do risco.
Agosto, 1872.

SeIlo proporcional; duplicata

VenJido um predio a credito e hypothecado ao


preço da venda, não seudo devido sello da compra,
tem de se pagar da hypotheca, mesmo quando a
escriptura não seja senão garantia do restante do
preço da compra,representado por uma letra devida-
mente sellada e parte integrante da escriptura ?

ReSilO5ta
E' devido o seBo proporcional dos diversos contratos
que se contenhão em um outro em face do Reg. do sello
de 1870, e disposições identicas ou paralIelas anteriores.
Assim que, se, vendido o predio a credito, ficar elle hy-
pothecado, embora haja isenção de sello quanto á compra,
por pagar impo.3Lo de transmissão, é devido sello quanto á
hypotheca.
Mas não se paga duas vezes a respectiva importancia,
uma da divida e outra da hypotheca; seria duplicata.
Tal seria a solução, se fôra pago o seno na mesma es-
criptura. Fez-se, porém, por ella a hypotheca em garantia
388 CONSULTAS SOBRE

do restante do preço da venda; representando este por


u,ma letra, que foi devidamente sellada, e parte integrante
da mesma escriptura.
Por ter sido compeLentemente sellada a letra referida,
não se pagou o sello da hypotbeca por se julgar duplicata .
Eu me inclino a esta solução ex-vi do Reg. cit., art. 2°
n. ~,3° e -tO n. l; 'da Ord., n. 1,68 de 1,866 e mesmo da
Ord. n. 433 ele 26 de '1 utubro de 1860, que prohibio
aquella Juplit;o La (GO nquanto nesta se isentem as letras e
não a escripLul'il; doutrina, que inversamente me parece
consagrada no cit. art. 2°, n. ~ do Reg. actl1al).
Julho, '187f5.

Sentenças oppostas; revista; execução

A uma execução veio o executado com embargos,


que forão julgados, e concedeu-se revista para o
Maranhão. Sobreve io nova penhora; novos embar-
gos, julgados; revista para a. Bahia. A Relação do
Maranhão desprezou e mandou teguir a execução.
Mas a da Bahia, posteriormE\nte, recebeu e annullou
tudo, inclusive a sentença exequenda. Nestes ulti-
mos embargos allegou-se materia nova.
Pergunta-se
Qual uas decisões deve pl'evalecer e cumprir-se?

Resposta
Parece fóra de duvida que deve prevalecer a decisão da
Relação da Bahia, que annullou a sentença, por ser poste-
rior á do Maranhão, segundo a regra geral de direilo-
postljriora derogant priora.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 389
Nem pareça que tal decisão é contraria á do Maranhão
para se dizer nuHa e insubsistente, segundo a Ord., liv. 3°,
tit. 75; porquanto, para que assim fosse, era indispensavel
que se verificasse no caso a existencia simultanea da
identidade de causa, causa e pessoa, como é certo em di-
reito. Ora, esta identidade não se dá ; porque os embargos
oppostos á segunda penhora contêm materia nova, como
reconheceu o Supremo Tribunal de Justiça quando pela
segunda vez concedeu a revista, e implicitamente tambem
a Relação revisora da Bahia. Não se póde portanto ex-
cepcionar com a materia de caso julgado.
Agosto, 1861.

Separação de patrimonios; sociedades mercantis ; faIlencia


Fallida uma sociedade mercantil, com credores
sociaes e credores particulares dos socios, arreca-
dados os bens sociaes e particulares destes, deve-se
fazer a separação das massas ou patrimonios, ou
julgar-se tudo commum ?
No primeiro caso, concorrem os credores sociaes
nos bens particulares de cada socio, ou são ex-
cluidos pelos credores particulares. sendo estes re-
ciprocamente excluidos da massa social quanto aos
credores sociaes ?
Resposta
A communhão reputa-se existir quando não ha motivo
legal para a separação dos patrimonios, ou ella é impos-
sivel pela confussão das massas ou por outras causas. Eis
a these geral, derivada do direito romano, e ensinada pelos
escriptores (Vide Pereira e Souza, Proc. Civ., § 474 e
nota 938).
390 CONSULTAS SOBRE

Mas, a separação das massas ou patrimonios támbem já


naquelle direito era reconhecida e sanccíonada, como ex-
plica o mesmo praxista, e ainda se lê em Dollin'ger (ne la
sépar-ation des pat1'i1noines cn cll'oit ?'omain) , e em outros;
doutrina aeeita nas legislações modernas, e tambem no
nosso direito, por conforme á boa razão, doutrin a appli-
caveI e de facto applicac1 a na legislação commercial (par-
dessus, e a torrente dos commercialistas), bem como no
civel (Pothier e os civilislas).
As sociedades mercanlis constituem en tidades com sIJa
ex istencia propria, seus direi tos e obrigações, seu patri-
mon io distincto do de cada um dos socios em particular;
desde qne ell a estej a legalmente constituída e provada, e
os seus bens se possão di. criminar, a separação é el e di-
reito, perfazendo na massa social os credores sociaes (Pe-
reira e Souza ci t. ; Oorl . do Com. B1'as., art. 292, 3;>0).
Reciprocamente, parece que devem preforir nos bens
parti culares os credores particulares, como se deduz dessas
mesmas disposi~ões do Cod. do Com ., c é direilo civil,
subsirlj<1rio, nos termos do art. 2° do Dec. n. 737 de 18;>0.
O Dec. rIe 14 ele Fevereiro de 1761 reconhece a sepa-
ração, e a appli ca em um caso especial.
Essa reciprocidade e separação forão acei tas em Fran ça,
onde desd e logo se levan tou a questão, por Acc. do Trib.
de Montpellier de 24. de Março ele t ~ 19, sustentado pelo de
Cas::ação de 13 de Fevereiro de 182<1, comquanto outros
decidissem o contrario, o que prova que a questão é du-
vidosa .
Pelo systema do Alv. de 13 de Novembro ele 17;>6, §§ 12
e seguintes, nas fallencias commerciaes não havia sepa-
ração de patrimonios, nem preferencias.
O systema do nosso cod igo, porém, é diverso (art. 873
e seguintes) quanto ás preferencias.
O patrimonio social e o particular são ambos sujeitos á.
arrecadação , administração, venda, etc. (art . 8H e ou-
tros) .
VARIAS QUESTÕES DE DlREITO 391

Só resta a questão da graduação dos cl'edores, segundo


os seus ti tulos : se de tudo se ueva fazer uma massa com-
mum, ou separar, e como, eis a questão.
A separação não se pôde negar.
Resta só a ultima duvida, como, feita ella se pagará aos
diversos credores . Alguns têm entendido que, sendo os
socios solidariamente responsaveis, devem concorrer, com
os credores particulares destes os sociaes, sem que aquelles
cOllcorrão com estes nos bens sociaes.
E assim toi julgado em processo do juiz da 2' vara com-
mercial da côrte, escrivão Alves, Mauá & C. contra Bran-
dão &: Costa Rodrigues, fallidos (-1').
1868 .

Sequestro pela fazenda; remedio contra elle; defesa

Qual o effeito do sequestro?


De que recursos póde usar o dono dos bens
sequestrados?
Sendo de longuíssima data o sequestro realizado,
de que meios se deverá lanç~r mão para obter-se
a terminação do processo?

Resposta

o sequestro não tira o dominio nem a posse civil; só


a natural, administração e livre disposição. O dono dos
(*) A nota 1.272 ao art. 811 do Cod. Com. 3' edição do dezem-
bargador Orlanuo traz em extenso a discussão jurídica travada
sobre este importante assumpto e é de 'ltil consulta. Na d~.ta
em qu e deu o Dl'. Perdigão Malh eiro esta resposta não havia
sido ainda publicada Ci> sa edição e por isso não a citou.
A. C.
392 CONSULTAS SOIlRE

bens póàe, portanLo, usar dos remedios possessorios e de-


mais acc;ões em defesa do seu dominio e posse, resguar·
qados os direitos do credor, provenientes da divida e do
sequestro, etc.
Se o sequestro, como se diz, esti feito ha mais de -vinte
e cinco annos (I) e pendente ainda por se não ter liquidado
a conta do responsavel (I), cumpre representar á adminis-
tração co nUa semelllante vexame e insisLir por talliqui-
dação. Poderia mesmo, sendo inuteis estas tentatiras,
requerer a exhibição da conta do alcance perante o juiz
do sequestro e o andamento do processo, pena de levan-
tamento, ou vir com embargos na fórma da lei.
Se fosse conhecido o alcance e liquidado, poderia subs-
tiLuir por dinheiro os bens seqllesLrados.
Outubro, 1870.

Sesmaria; desapropriação
Tem o senhor de uma sesmaria obrigação de
ceder gratuitamente o terreno necessario para uma
estrada?
Resposta
Se na concessão da sesmaria foi imposta a obrigação de
ceder gratuitamente o Lerreno necessario para esLradas,
não ha direito a pedir inà.emni sação. Aliás só por desa-
propriação na fórma das leis.
Abril, 1863.

Sesmaria; medição; aviventação; enGravamento; rescisões;


questões
Qual o princIpIO de direito que regula as medi-
ções e demarcações?
VARIAS QUESTÕES IlE DIREITO 393

Como proceder quando não são liquidos os titl1·


los ou a po'sse?
Estando confusas as extremas de uma sesmaria
e encravadas reciprocamente em parte uma na ou-
tra, podendo attribuir-se o facto a erro ou usurpa-
ção, qual o meio de que se deverá lançar mão para
determinar-se o direito de cada um elos proprietarios
limitrophes?

Resposta

Dos papeis consta que as duas sesmarias, de qne se


trata, farão medidas e demarcadas ambas no mesmo dia,
mez e anno de 18'18, e que no mesmo dia tambem forão
as sesmarias empossadas. IncIo-se agora aviventar a medi-
ção feita, sobrevem duvida quanto á linha divisaria ou li-
mitrophe entre elias, reconhecenJ o-:e que, a seguir-se
aquellas medições, parte do terreno de cada uma se en-
crava reciprocamente na outra. Donde parece ter ha\'iclo
erro. Como proceder-se e resolver?
E' principio de direito, regulador das medições e demar-
cações ((inium regundorum), que devem conformar-se com
os titulos cIos heréos confinantes, porque apenas se trata de
separar as propriedades por linhas di visorias, afim de
que cesse a confusão em que aliás ficarião,ecada um tenha
bem extremado o que lhe pertence.
Mas a medição e demarcação, quando se fizer, deve res-
peitar sempre as posses: não é meio de resolver contra
esta.
Isto procede, quer se trate rIe originaria mediç~o, quer
de sua aviventação.
Desde que, portanto, levanta-se questão, e os titulos ou a
posse não são liquidos, dependendo de mais alta indaga-
ção, cumpre que os interessados legitimem primeiro o seu
394. CONSULTAS SOBRE

direito em acção competente, suspensa a medição e de-


marcação quanto á parte controvertida.
, Eis o que ensinão os nossos praxistas (V. Vanguerve,
P1'at. Jud., parte 4.", capo 19, n 109, e capo 20; Mene-
zes, Prato dOEi Tombos, capo 1° e 6°; C. Telles, Acç.,
§§ 280 a 285 ; Pereira e Souza, P1'Or:. Civ., nota 1003).
No caso da proposta, as duas sesmarias têm hoje suas
extremas em confusão; porque, segundo ahi se diz e se
explica nos pareceres de peritos, o marco x não existe, e,
corrida a linha divisoria conforme a cada uma daquellas
medições, o resultado é encravarem-se reciprocamente em
parte uma na outra.
De modo que se deve concluir-ou erro então commet-
tido-ou usu1']Jação superveniente, com destruição dos
marcos, se um dos confinantes occupa. indevidamente esse
terreno assim encravado, ou comm'Lmhão nesse mesmo
terreno se ambos o occupão e possuem, fundados nos seus
titulos.
Se fôr demonstrado o erro, a nova demarcação o corre-
girá, observados os preceitos acima expostos.
Se houve usurpação, e isto fôr demonstrado, por maioria
de razão deve ser restaUl'arla a verdadeira linha.
Se communhão, á propria demarcação se cumulará a
divisão (c ommuni dividu fldo), repartindo entre ambos o
terreno questiona,do (Vide C. da Rocha, Dir. Civ., § 672).
Dado, porém, o caso de que o marco x exista conve-
nientemente assentado no lugar em que o fôra a principio,
parece-me fóra de duvida que por elIe se deverá proceder
á aviventação da medição, seguindo os demais tramites do
respectivo processo por fórma a restaurar aquella origina-
ria demarcação.
Não ha necessidade de proceder-se a uma medição e
calculo da area das duas sesmarias para se repartirem en-
tre ambos os actuaes, excepto se elles nisto convierem.
Mas então muito mais facil e ·commodo seria comporem-se
VAlHAS QUESTÕES DE DlI\EITO 395

quanto á linha divisoria entre ambos, unica sujeita á du-


vida, segundo a exposição.
Quanto a completarem-se com terrenos adjacentes, de
que alguU1 delles está de posse. menos tem lugar, desde
que se confessa que são estranhos ás sesmarias.
Maio, 1.873.

Sesmaria; medição; logradouros


Pedro obteve do governo ha muitos annos uma
sesmaria de duas legua.s) em quadra, para si e um
filho, porém nunca demarcou essas terras. Hoje
ellas pertencem a muitos possuidores, dos quaes um
tem meia lcgua de testada, outro quatrocentas bra-
ças, etc., com os fundos concedidos aos sesmeiros.
Se as sesmarias fossem medidas e demarcadas,
a linha de testada ter-se-hia :\fastado em muitos
lugares da m;ugem do rio por ser esta muito tor-
tuosa, e necessario seria red uzir essas obras a uma
figura regular para levar em conta na demarcação
da linh a de fundos; porém nada disto houve por não
terem os sesrneil'os medido as terras .
Os novos pl'oprietarios querem hoje medir as
suas terras.
Pergunia-se
i. o Qualquer delles é obrigado ao tombamento
geral das duas Icguas em quadra para poder medir
a sua pequena porção de terreno?
2. No calculo da area de suas terras só derem
0

levar em conta o lograd nu ro de qu(estão ele posse


396 CONSULTAS SOBRE

nas suas testadas, ou devem tó\mbem levar em conta


porções de logradouros, que estão em poder de outros
o e de que nunca se gozárão, no caso de se fazer o
calculo do logradouro das duas sesmarias e repar-
til-o proporcionalmente á parte que cada um possue
nas terras dessas sesmarias?
3.° Se a circumstancia de possuir meia legua de
testada nessas sesmarias dá o privilegio de só contar
com o logradouro que tem na sua testada, ao passo
que se im põe aos proprietarios de menores porções
de. terreno a obrigação de descon tarem nas suas
terras porções maiores por meio de roteiro geral?
4.° O proprietario que ha pouco tempo comprou
uma sesmaria, que fica nos fundos daquellas duas,
e que tambem nunca foi medida nem demarcada,
a qual só deve ter meia legua de testada, deve re-
conhecer como linha de testada a que fecha as terras
da margem do rio, acima mencionadas?
5. ° Ha alguma lei que lhe dê o direito de exigir
uma linha recta, quando esta não tenha lugar por
causa das tortllosidades do rio, que obriga os pro-
prietarios da sua margem a lhe apresentarem uma
linha quebrada nos fundos para servir de testada
áquelle ?
N. B. Para explicar o primeiro quesito, cumpre
declarar que nenhuma duvida existe nas testadas,
por terem sido medidas á contar do marco, em que
acaba a sesmaria que existe, e de onde devem prin-
cipiar as duas leguas em quadra pedidas por Pedro
!3 seu filho.
VARIAS QIJESTÕES DE DIREITO 397

A duvida versa sobre a maneira de c:llcular os


logradouros.
Resposta
Ao i. ° Entendo que os actuaes possuidores não estão obri-
gados ao tombamento geral da sesmaria das duas leguas,
para depois medirem as porções que a cada um pertence,
excepto se elles a isso quizerem voluntariamen te acceder
pOl' convenção; porquanto, não sendo a medição e marca-
ção ~inão um meio de determinar os limites e linha divi-
soria elas propriedades, não se póde estender além daquillo
que realmente pertence a cada um dos proprietarios e con-
finantes respei tada sempre a posse respecti va dos vizinhos
(Corrêa Telles, A eg., § 280 e 281, nota 017, 618 e 621 ;
Menezes, Tomb. " capo 1°, § 2°, e capo ao; Vang., P7'at.
.Tud., parte 4", capo 20), e por tanto não podem ser obri-
gados a um tombamento geral, que seria desconhecer os
principios em que se basêa a medição; sendo até excllsaclo
desde que ainda se tivesse de proceder á medição parcial,
a verdadeira que tem de determinar os limites da proprie-
dade de cada um.
Se, por conseguinte, não houver accordo e consenti-
mento elos co-proprietarios em contrario, cada um póde
requerer a med ição da porção que lhe pertence, indepen-
dente do tombamento geral, com a devida citação e au-
diencia dos heréos confinantes, na fórma da lei e praxe.
Ao 2.° Dos principios antecedentemente estabelecidos
vê-se que a medição deve regular-se pelos titulos de cada
um, respeilaua a posse de terceiro, e que portanto deve
ella seguir o rumo designado nos titulos, pouco impor-
tando que o terreno pela sua configuração e situação to-
pographica não se preste a uma figura regular, como até
no caso especial se acha determinado no Alv. de 2l:í
de Janeiro de 1809, art. 5°, onde além disso se determina
que na medição das sesmarias, não se deixem terrenos inter-
198 CONSULTAS SOBRE

medias e devolutos, excepto as estradas publicas e ser-


vent.ia geraes, disposição esta que me p;trece repeli ir a idéa
• de logrado uros particnlares a que se refere a pro [losla.
E assim, devendo a medi ção seguir a tes lada designada
nos titulas, e tel' em vista aquella regra do AI11. ciL (pois
que nesses termos se deve enlender ;t concessão !la sesma-
ri a, e por isso a pl'opl'iedade dos actu;tes possuidores), lIão
póde ella seguir rumo divel'so, a menos que não seja 'Por
convenção das partes e respeitando os cl irei tos de tp,rceiros
que confinem com essa sesmaria.
Ao 3. Ji esti respondido ao segundo, sendo indifferenle
0

que alguem possúa meia legua de testada na sesmaria, ou


menos ou mais; porque . isto não altera os principias de
dil'eito, sendo até na hypothese flgul'ada um absl1l'do e
revoltante inj llstiça.
Ao 1~. 0 O propl'ietario em ques tão deve regular-se, tam-
bem, pelos seus titulos. Se essa linha fôr a designada
como de sua testada, por certo elle a deve reconhecer como
tal. Aliás, será questão que ou amigavelmente, ou em ac-
ção propria se deverá dtJtH rminar, em face dos titulas e di-
reitr:>s de uns e outros.
Ao õ.o Não ha lei alguma que dê o dil'eito a qualquel' de
exigir uma linha rec ta por sua testada, ou linha divisaria,
ou de limiles, quando os seus titulas e a configuração do
teneno a isso se não prestem, e até seria abs urdo, por dar
á medição por esse modo natureza di versa da que rigorosa
e strictamel1te lhe cabe.
Este é o meu parecer.
Agosto, 18õ3.

Sesmarias; terras devolutas ; posses; medição; aldêa


de indios-colonos
LO Tendo Coutinho concedido aos ind ias em i584
parte das terras pertencentes á cap itania do Espi-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 399

rito-Santo, e resgatando el rei D. João V a dita


capitania em 17 i 7 ou i 718 para encorporal. a nos
bens da corôa, sem excluir do resgate aquella parte,
ficou de nenhum effeito a mesma concessão ou
para sua validade carecia de confirmação posterior?
2.° Quando valida, independente de qualquer
outro titulo, não contando que desde a encorpo-
ração da dita capitania aos bens da corôa até hoje
houvesse naquelIas terras aldeamento algum de in-
dias, e pelo contrario certo que estivessem por
quasi cem annos em completo abandono, cahirão
ellas em commisso ou póde o director elos Ín-
dios, apezar do exposto, obstar que o governo as
venda como devolutas?
3. o E os actuaes indios que, como outros habi-
tantes, tiverem nellas suas roças por titulo de pri-
meira nccupação, ou translativo de dominio, estã,)
ou não sujeitos á legitimação ordenada pelas no-
vissimas leis de terras para fixar os limites de suas
propriedades ?
4.° Desde quando ficárão os possuidores dessas
terras sujeitos á disposição das leis novissimas de
terras?
5.° Considerando-se devolutas as terras em ques-
tão, e sendo por consequencia valida a venda feita
pelo governo, quaes os meios de que deve lar.çar mão
o emprezario da associação do Rio Novo para con-
tinuar nos seus trabalhos regulares?
6.° Tendo-se sujeitado o dito em prezaria , por
coutrato que fez com o governo, a introduzir nas
400 CONSULTAS SOBRE

terras compradas, dentru de certo prazo e sob certa


pena, um numero determinado de familias de co-
o lonos, incorrerá nesta pena se pela opposiÇão que
soffre por parte do director dos indios, e pela ordem
do governo provincial de sobrestar nos trabalhos
da associação, não puder introduzir esse numero
de familias no prazo fixado, e bem assim como e
por conta de quem aücommodal-os, se porventura
tendo sido engajados vierem antes de removidos
taes obstaculos, e quem deverá responder pelos
prej uizos causados por elles á associação do Rio
Novo?
7. o Os poucos indios, descendentes dos pre-
tendidos possuidores das terras cedidas por Coutinho
estando, como estão, disseminados pela população
em famílias distinctas, e no gozo de todos os seus
direitos civis e políticos, devem considerar-se su-
jeitos á directoria dos indios, segundo o fim de suas
instituições?

Resposta
Ao L o A encorporação da capitania nos pmprios da
corôa parece-me que não podia prejudicar direitos adqui- .
ridos legitimamente; importou apenas a exlincção de do-
natarios particulares. A corôa recebeu, portanto, de novo
as lerras com as modificações legitimas ahi feitas. E' o que
se deduz mesmo da Pt'Ov. de 1> de Dezembro de 161>3, pela
qual se não reputão bens da corôa as sesmarias, ainda
lançadas no livro dos proprios, e de varias leis onde se
manda resalvar sempre o d:reilo de prejuizo de terceiros.
Ao 2. As terras em questão é minha opinião que são
0

devolutas, por não se preencher o fim a que fOl'ão desti-


VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 401
nadas, e pelo abandono em que se achão ha mais de um
seculo, pelo menos, sem cultura, como já era reconhecido
antes da lei novissima (C. R. de ,16 de Março de 1682, e
outras; Alv. de 5 de Janeiro de 1. 785), mas ainda melhor
a Lei de terras n. 601 de 1.8 de Setembro de 1850.
Ao 3.° Os que se acharem de posse por titulo legitimo,
seja elie qual fôr, não estão sujeitos á legitimação, nos
termos ào art. 3°, § 'i da Lei cito de 1850, e art. 22. 23,
0
,

24. do Reg. de 30 de Janeiro de 1.854. Todavia podem ser


legitimadas as posses derivadas da originaria occupação
se quizerem obter titulos, nos termos dos arts. 59 e se·
guintes deste Reg.
Ao 4.° Desde a publicação na côrte, e na fórma da Ord.,
liv. i', tit. 2°, § 1.0, salvos todavia os varios prazos a que
se referem a lei e Regs. respectivos.
Ao 5.° Se o obstaculo posto é administrativo, é tambem
administrativo o recurso, isto é, reclamação perante a
autoridade. Se judicial, tambem judicial o meio, reque-
rendo o que convier. Na certeza, porém, de que a medição
não póde ser suspensa (art. 9° da Lei), como em regra já
era estabelecido para as medições communs.
Ao 6.° Se por facto alhe io deixar a companbia de cum·
pril' as condições, não incorre na pena, porque esta suppõe
falta voluntaria ; e o caso de força maior é sempre excep·
tuado; a impossivel ninguem é obrigado.
Quanto aos colonos, é a companhia que os deve receber
e accommodar ; lJara com elles é elIa a unica obrigada.
Mas fica salvo á companhia o direito á indemnisação de
prejuizo contra quem fôr delles causa. Porém pena que
proceda, é preciso culpa; porque, se assim não fôr, tem
lugar a regra de que-quem usa de seu direito não se pre·
sume causar prejuizo.
Ao 7.° Visto não existirem aldêas de indios, e pelo con·
trario todos elies disseminados pela povoação, já civilisados,
não lhes é extensiva a jurisdicção e administl'ação do di.
26
402 CONSULTAS SOBRE

rector, conforme mesmo o que dispõe o seu regimento


de 24 de Julho de 1845.
. Maio, 1855.

Siza; responsabilidade; nullidade


i: Quaes são no contrato de compra e venda
os responsa~eis pelo pagamento da siza ?
2. ° A que penas estão sujeitos?
3. ° Que d irei to cabe ao possuidor, que paga a
siza de bens, que lhe forão vendidos?
4.° Qual o melhor procedimento a seguir para
legalisar uma transacção,em que se deixou de pagar
siza 1
Resposta
Ao t,o Os responsaveis pela siza são o vendedor e com-
prador que no contrato intervierão, dividindo-se o im-
posto por metade, salvo convenção em contrario que o faça
recahir todo sobre um delles (Regim. ou artigos das sizas,
capo 1°; Ord. n. 233 de 23 de Setembro de 18tH).
Ao 2. ° São elIes, pois, os sujeitos ás penas pela infracção
(Reg. de 11 de Abril de 18H, 4 de Junho de 18H> e 2699
de 28 de Novembeo de i860).
Ao 3. ° Se o actual possuidol' dos bens, havidos desse
compeador, e portanto tel'ceiro, pagar o imposto por
aquelles devido, tem dil'eito regl'essivo contra elles.
Ao 4.° E' melhor diligenciaI' que aquelles paguem o im-
posto em divida, legalisando a venda assim viciada,
o que poderião fazer requerendo ser admitlidos a pagar,
embora o dobro. apresentando-se voluntariamente (Artigo
das sizas ciL, capo 4°, §§ 2° e 7°). Feito isto, seria conve-
niente que todos entre si fizessem escriptlll'a, ratificando as
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO -i03
antecedentes. Se, porém, esses responsaveis não quizessem
prestar-se áquelle pagamento, etc., bem poderia o actual
possuidor dos bens faz ~ l-o pJr S3U interesse proprio.
A nullidade pJr faltl de pagamento da sin é dependente
de rescisão ou acção (Alv. de 3 de Junho de 1809,
§§ 8° e 9°; Cort'êl Telle.3, Acç., nota 195-a). Com o paga-
mento cessaria o motivo ou fundamento da nullidade.
Maio, 1862.

Sociedade agricola; citações dos socios


E' indispensavel a citação de todos os socios em
acção, que se tenha de intentar contra uma firma
social?
Resposta
Parece-me que seria correr a eventualidade de nullidade
do processo, se não fossem citados individual e pessoal-
mente todos os soei os ex-vi do Ass. de 11 de Janeiro
de 1653, que manda que sejão citados todos aquelles a
quem o negocio interessa, excepto se algum delles, ou
mesmo estranho, fosse o gerente, com autorisação e pode-
res para demandar activa e passivamente (Vide Lobão,
Obrigo Recip?'., § 529, in fine).
Junho, 1862.

Sociedade; distrata; faIlencia


Quaes as formalidades que exige o Codigo Com-
mercial para o distrate de uma sociedade?
Que intelligencia se deve dar á segunda parte
do art. 343 do mesmo Codigo?
São admissíveis indicios para determinar o facto?
CONSULTAS SOBRE

Resposta
O Cod. do Com. Braz., art. 338, exige, para publicidade
' do distrate da sociedade, não só que elte seja registrado
no Trib. do Com., mas tambem que seja publicado nos
periodicos, e em falta destes por annuncios affixados nos
lugares publicos, sob pena de não obrigar a terceiros.
Não basta, portanto, o registro, que póde ser ignorado:
é indispensavel aquelle outro acto, que importa realmente
maior publicidade, tanto assim que o art. 3<H só libera o
socio que se retira depois de devidamente publicada a
dissolução: devidamente publicada e nos termos do
art. 338, e não simplesmente registrada.
Disposição identica existe em França e em outras na-
ções ; e em França assim se tem entendido, como ensinão
Pardessus, Bédarride, e outros. Nem aproveita ao socio
que se retira algum indicio ou conjectura de que esses ter-
ceiros não ignorão a separação, salvo se elles expressa-
mente convêm ou fazem alguma novação com os socios
continuadores, porque então approvão a desoneração desse
que se retira e, liberão, o que podem fazer por ser direito
de que se podem prevalecer ou desistir (art. 363), bem
entendido, porém, que isto só respeitaria, aquelles que as-
'sim procedessem; e portanto, em relação aos outros cre-
dores posteriores á dissolução e mesmo anteriores, a falta
de publicação importa a continuação da responsabilidade
do socio, como se ella não tivesse sido effectuada.
A 2' parte do art. 34.3, Cod., não se póde entender se-
não devidamente publicada a dissolução; porque é fundado
na presumpção legal de sciencia da parte dos eredores que
o Cod. permitie que o procedimento ulterior dos credores
importe o mesmo effeito, que se expressamente houvessem
approvado a resalva dada ao socio,que se retira.
Conseguintemente, indicios não aproveitão a este contra
os credores; tanto mais quanto, podendo um socio ser
tambem credor da sociedade (Cod. e art. 34.9), sendo elle
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

admittido como tal na fallencia, não deve dahi vir prejuizo


aos outros, que poderião ignorar a dissolução ()u distrate
da sociedade desde que não foi devidamente publicado.
Demais, a moratm'ia não é novação, nem póde ser con-
ferida a commerciante não matriculado. E portanto bem
podia, como foi, aberta a fallencia da sociedade sem atten-
ção a taes actos.
Março, 1860.

Sociedade em commandita
Pelo nosso direito podem os fundos postos em
commandita, na sociedade conhecida sob este nome,
ser divididos em acções nominativas, ou ao por-
tador, sem licença do governo?
Resposta
E' minha opinião que esses fundos não podem ser divi-
didos em acções :
1.0 Porque o Cod. do Com. Braz. nem nos arts. 3li
a 314, nem em qualquer outro, o autorisa.
2. ° Porque, segundo o art. 31 i, a sociedade é de pessoas
e não de capitaes sómente.
3. ° Porque ha ahi obrigações, como as dos arts. 3-13
e 314, que se não poderião verificar, admittida a contraria
doutrif.la.
4.° Porque, se assim ella participaria da natureza das
companhias ou sociedades anonymas, e seria facil desse
modo disfarçar em commandita uma verdadeira compa,-
nhia, onde a garantia da autorisação do governo, que no
art. 295 se exige para esta.
5.° Porque, embora codigos estranhos o autorisem, to-
davia o nosso não o fez expressamente, e nem se póde
subentender, visto que não é isso da essencia dessa socie-
406 CONSULTAS SOBRE

dade, como aliás o é na anonyma. E tanto o nosso codigo


não quiz admittir aquelle principio, que, achando-se no
projecto (I) consignada a idéa, foi supprimida ; e o codigo
dispôz até em capitulos distinctos o que dizia respeito ás
companhias (tit. 2°) e o que respeitava ás outras socie·
dades (ti t. 3°).
6. ° Porque de tudo se conclue que não é applicavel á
commandita o art. 297 do codigo.
Outras muitas razões sLlstentão a doutrina.
No c~so, porém, de se entender que é permittido, e de
se applicar á commandita o art. ~l97 do Cod., então dever·
se-hia applicar-lhe tambem o art. 295 na parte respectiva,
por ser ahi verdadeira anonyma, e exigir o bem publico
essa garantia, muito principalmente se se trata de institui-
Cão bancaria ("') .
Setembro, 1.854..

Sociedade em commandita; acquisições de numero e bens de raiz;


. ..
SlZa e meIa Slza
Qllaes os caracteristicos de uma sociedade em
commandita?
A que ficão slljeitos os bens dos socios?
Como se faz a di visão delles?
Resposta
A sociedade em commandita é uma entidade moral dis-
(') A lei que actualmente regula as sociedades anonymas é
a de n. 3150 de 4 de Novembro de 1882, permittindo-se no
art. 31 ás sociedades em commandita dividirem em accão o
capital com que entrão os socios commanditarios. •
Para execução da dila lei foi dado Reg. sob n. 8821 de 30
de Dezembro de 1882.
A. C.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO li07

tincta de cada um dos socios que a compõem. Póde, pois,


fazer acquisições de bens, os quaes, ainda que se achem
em nome do socio gerente, não são patrimonio particular
deste, e sim da sociedade. Esses bens entrão logo para a
communhão social e ficão sujeitos ao passivo desta, como
em qualquer outra especie de sociedade, e principalmente
na sociedade em nome collectivo, em que a commanditaria
facilmente se resolve, verificando algum dos casos em que
isto se dá.
A qnota ou parte de cada socio em taes bens adquiridos
entendo que deve ser proporcional, e conforme ao que fôr
estipulado sobre lucros e perdas, salvo convenção em con-
trario, até porque se deve presumir que taes acquisições
represeotão esses lucros on vantagens sociaes.
Conseguintemente, o socio que houver a si por transat;-
ção todo o activo terá de pagrtr a siza coreespondente áS
quotas dos outros sodos em taes bens.
Julho, 1868.

Sociedade em commandita ; siza ; meia siza


F. tem uma fabrica com estabelecimento de bens
de raiz, escravos, etc.; ha outro que quer abi pôr
fundos e entrar como socio commanditario.
Pergunta-se
Lo Qual á fôrma do contrato ~
2.° Deve pagar siza e meia siza?
3.° Pela entrada dos capitaes commanditarios ha
venda dos bens e se deve siza (
4.° Se o socio transferir a outro parte do seu
quinhão, ha siza?
408 CONSULTAS SOBRE

5.° Em nome de quem devem continuar os bens


para págamento do imposto da decima urbana e
da taxa ?
6.° Deye-se a siza unicamente do capital não
commanditario, ou do commanditario com que
entra o socio?
Resposta
Ao 1." A sociedade deve ser feita de conformidade com
o que dispo em os arts. 311 a 3Ht- do Cod. Com., e por es-
criptura publica ou particular, registrada no Trib. do Com.,
como determinão os arts. 300, 30'1, e 1.0 § 2° do mesmo
codigo, devendo nessa escriptura satisfazer-se aos quesitos
do art. 302, com as modificações que imporlão os já cits.
art. 3H a 3f4, visto tratar-se da especie de sociedade-
commandi tarja.
Ao 2.° Parece-me que não, visto como pela associação
não ha alienação ou propriamente venda dos bens de raiz
e escravos, nem outro contrato de que se deva siza e meia
siza, segundo o Alv. de 1809 e disposições em vigor.
O contrato é de sociedade, e paga sómente sello propor-
cional (art. 7°, § 2°, do Dec. n. 68 .. de 1.0 de Julho
de "8f:iO).
Ao 3.° Já está respondido ao antecedenle. Com a socie-
dade ha a.penas augmento dos fundos pelos capitaes que
accrescem aos que já existião.
Ao 4.° Tambem está prejudicado. Apenas terá de pagar,
se, liqutdada e partilhada a sociedade; receber á sua parte
alguma propriedade, que seja sujeita a essa siza ou meia
siza ; porque enlão é dação in solutum.
Ao 5.0 Como os bens continuão a pertencer ao primitivo
dono, embora socio, em seu nome devem continuar para
o pagamento dos impostos, podendo todavia convencio-
nar-se que elies sejão indemnisados pela sociedade ao
dono ou pagos por ella.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO ~09

Ao 6.° Quanto á siza e meia siza, a resposta aos


arts . 2°, 3 e ~o é applicavel.
0

Mas quanto a distincção do capital commanditario e


nlo commanditario ao mesmo tempo de um socio, me
parece que não é istG admissivel, em vist.a da expressa
disposição do art. ~i4 cio Cod. Com., que torna solida-
riamente responsavel o socio commanditario que exerce
acto de gestão ou praticar qualquer outro de semelhante
natureza, ainda como procurador da sociedade, e até se
fizer parte da firma social, sem distincção alguma.
Agosto, i8~~.

Sociedade mercantil
L° Achando-se estipulado, em um contrato de
sociedade, que no caso de liquidação, seria esta
feita pelos socios alternadamente, sem todavia se
determinar o modo, que ficaria dependente de ajuste
posterior, é valida semelhante convenção? - E,
caso se recuse um dos socios, qua.l o maio de o cons-
tranger?
2. o Nos casos do art. 333 <.lo Cod. Com. Bras.
deve o socio entrar tambem com a somma retirada,
ou só com os lucros?
Resposta

Ao L° Nem o codigo commercial, nem lei alguma ante-


rior prohibe semelhante clausula ; antes o art. 31~~ do
mesmo Cod. expressamente consagra a validade do que a
tal respeito fôr estipulado nos contratos, e lhe dá a prefe-
rencia á disposição generica por elle firmada nesse artigo.
Noto apenas a grave falta de se não haver designado
desde logo o modo por que se alternarião os socios na 1i-
4tO CONSULTAS SOBRE

quidação, OU consagrado outra qualquer disposição para


o caso em que não podessem por qualquer motivo ajus-
tar-se posteriormente a tal respeito. Esta falta póde dar
fugar a questões enlre os socios ; porquanto, ficando este
?nado de se alternarem os socios para procederem á liqui-
dação dependente de ajuste futuro , se um delles se recusar,
não ha meio de o força.r judicialmente a entrar em seme-
lhante ajuste, que deve ser todo de livre consentimento e
accordo das partes ; o contrario seria forçar alguem a fazer
com outro uma convenção qualquer, o que é absurdo.
Daqui se seguiria necessariamente que ficaria de nenhum
effeito a disposição relativamente a alternarem-se os sacias,
por faltar a base para o bzerem, qual é o ?nado.
Mas, nem por isso, me parece que deveria ficar prejudi-
cada essa condição quanto á outra parte, essencial, isto é,
parece-me que em todo caso ficaria sempre prevalecendo
que a liquidação seria feita pelos sacias, e não unicamente
pelo sacio ge?'ente ; porque é essa a disposiç50 essencial da
condição, e que a lei manda observar e preferir (arl. 34-4
do CoeI.); e me parece mesmo ser isto mai s consentaneo ao
espirito do contrato, porquan to deste se vê que o que se
quiz foi que ambos os socios li vessem igual direi to a pro-
ceder á liquidação, disposição e direito que ficarião nulli-
ficados a seguir-se opinião contraria. Embora da phrase
que se alte1'na1'áõ se possa deprehender que os socios não
poderião ser conjunctamente liquidantes, todavia estava
esse acto dependente do modo que fo gse ajustado, sem que
por falta deste perdesse qualquer dos socios o direito que
já estava firmado anteriormen te ; o contrario seria subs-
tituir a vontade caprichosa de um socio á convenção valida
e legal.
Tanto esta ques tão como outra qualquer, que entre os
socios se suscite por motivo da sociedade durante a exis-
tencia desta, sua liquidação e partilha, deve necessaria-
mente ser decidida em juizo arbitral (art. 294 do Cod.) pela
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 4H
fórma determinada nos arts. 41 1. e seguintes do Reg. n. 737
de 25 de Novembro de 1.8iJO, a que ficárão sujeitos pelo
art. 742 do mesmo Regulamento.
Ao 2.° Este artigo, combinado com o art. 31.6 a que se
• elle refere, não deixa a menor duvida; porquanto, deter-
minando o 3rt. 31.6 que os socios ficão solidariamente
obrigados para com terceiros e estes para com a sociedade
quando a firma social é assignada por qualquer dos ge-
rentes para isso autorisado, ainda mesmo em negocio
particular desse socio ou de terceiro (com a unica excepção
ahi consagrada), é evidente que reputa da sociedade o ca-
pital ou fundos retirados para esse fim. E em pena de
haver elle assim procedido, sem consentimento dos outros
socios, impõe-lhe a obrigação de entrar para a sociedade
com os lucros que possão ter resultado (art. 333), assim
como faz correr por sua conta particular, e não da socie-
dade, os prejuízos, para o que têm os socios acção de
perdas e damnos contra o socio que assim abusar da firma
social, além de acção criminal que possa ter lugar (cit.
art. 31.6 e 333) .
Em todo o caso, a somma retirada é capital ou fundos e
effeitos da soeiedade; a ella pertencem, a ella devem voltar
pelos meios competentes.
1.852.

Sociedade mercantil; abuso do socio


Qual a responsabilidade em que incorre o socio,
que, sem consentimento dos outros socius, serve-se
da firma social para uso pl'oprio ou por conta de
terceiro?
Resposta

Sou de parecer que o socio que abusa da firma social,


4i2 CONSULTAS SOBRE

applicando sem consentimento dos outros socios os fundos


ou effeitos da sociedade para uso e conta propria ou alheia
(v. g., compra de predio para si ou para terceiro), é respon-
savel por indemnisação á mesma sociedade, e nada mais, á
excepção da acção crime se fôr caso della (Cod. Com.,
art. 316 e 333). Mas não é obrigado a entrar senão com
os lucros que possa ter colhido, consistindo nisto e.n al-
guns casos a indemnisação, além da sua responsabilidade
pelas sommas retiradas indevidamente. E não se pórle pre-
tender que entrem para a sociedade como do dominio desta
os bens que esse socio ou terceiro tenbão assim adquirido:
ha muita differença ent.re o dominio e o direito do credor
por divida e por indemnisação.
Junho, 1859.

Sociedade mercantil ; commanditario; liquidação


Póde o socio commanditario ser liquidante?
Que consequencia resultará para a sua qualidade se
tomar a si o activo e passivo da massa? Essa
mesma qualidade póde ser affectada pela compra do
activo~

Resposta
Entendo que ° soeio commandi I al'io póde ser liqui-
dante (Cod., art. 344). Dissolvida a sociedade e posta em
liquidação, cessão as transa~ções, cessa o negocio, cessa a
gerencia propriamente dita, e só se trata de ultimar os ne-
gocios pendentes (Cod., art. 335 in fine) e de liquidar os
os ultimados (art. cit.), procedendo-se a balanço, etc.,
(art. 345 e seguintes). V. Gourget et Merger, Dict. de Droit
Com., v. societé en commandile; Bédarride, Dir. Gom.,
n. 251,
Se o commanditario toma a si o activo e passivo, des-
VARIAS QUESTÕES DE DlREITO 41.3

onerando os outros socios, perde as vantagens de comman-


ditario e quer continue o negocio, quer não: ha verdadeira
novação, substituindo-se eUe aos solidarios.
Se compra só o activo, entendo que não perde a sua
qualidade: contrata, como faria um estranho. Se houvesse
má fé ou fraude em prejuizo de credores, etc., teria lugar
a nullidade, a indemnisação e talvez a responsabilidade
solidaria (V. Gourget et Merger cit.).
Janeiro, 1868.

Sociedade mercantil; fallencia; credito dos socios


Pedro entregou a Paulo a quantia de {; como
parte do capital com que tinba de entrar para socio
de estabelecimento mercantil. Não se fez, porém,
o escri pto de sociedade. Fallece Pau lo, e os cre-
dores abrem a fallencia. Pedro é credor de dominio
por essa quantia entregue a Paulo para um fim que
se não realizou?
Resposta
Entendo que não ba abi credito algum de dominio,
porque não se verifica alguma das bypotheses previstas no
art. 874, Cod., Com. O dinheiro entregue a Paulo não foi
remessa pam um fim determinado por conta de Pedro, e
sim fundos postos em associação com Paulo; termos em
que, embora por falta de escripto de sociedade devidamente
registrado não se dê acção dos sacias entre si e contra ter-
ceiros (art. 301 e 303, Cod.), todavia a favor de terceiros
Pedro e Paulo são reputados socios e solidariamente res-
ponsaveis (art. 301 in fine, art: 304, 300, 306 e outros
do Cod.).
Dezembro, 1861.
4U CONSULTAS SOBRE

Sociedade mercantil; fallencia; socios

A fallencia de uma sociedade implica a fallencia


individual dos socios que a compôem ?
Resposta
E' em extremo melindrosa a questão-se a fallencia de
uma sociedade importa necessariamente a fallencia dos so'
cios individualmente e de outras sociedades ligadas áquella
ou aos socios.
Em França tem-se devidido sobre ella os escriptores e
tribunaes (Vide Pardessus, n. 976; Renouard, lI, 182;
Raynaud ao art. 437 do Cod. Com.; Gourget et Merger, Dict.
Com., v. faillítes, n. ~H). Se a sociedade é uma pessoa ou
entidade moral distincta de cada um dos socios individual-
mente, parece que a fallencia della não deve sempre e ab-
solutamente, por este simples facto importar a dos socios
individualmente, e só quando estes tambem se acham na
impossibilidade de pagar, ou tenhão cessado seus paga-
mentos, ainda que por causa da fallencia da sociedade. Pelo
menos é mais equitativa esta interpretação e menos vexa·
toria para o proprio commercio, e até parece de algum
modo ter sido adoptada nesta côrte.
Por maioria de razão, a íallencia de uma sociedade ou
de um socio não deve importar necessariamente a declara-
ção da de outra sociedade, que é entidade inteiramente
distincta; é indispensavel que tenha esta cessado os seus
pagamentos (Gourget et Merger cit., n. 52). Se é o socio
o fallido, póde isto trazer a dissolução da sociedade quanto
ao mesmo (Cod., art. 335, § 2°) e consequente liquidação
(art. 34.4). Mas não podem os administradores vir buscar
senão a quota liquida que a elle pertença (art. 349), em·
bora posgão requerer o deposito do que se fôr apurando
(art. cit.).
Agosto, 1864..
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 4Hi

Sociedade mercantil; liquidação; juros; porcentagem; lucros

i. o Não tendo o liquidante de uma sociedade


depositado as quantias apuradas, e para o que re-
cebeu intimação judicial, qual a obrigação em que
incorre?
2. o Tem o liquidante socio direito a uma por-
centagem pelo seu trabalho?
3. 0 Como devem ser partilhados os lucros accres-
cidos de uma sociedade?

Resposta

Ao V Parece-me que podem os herdeiros elo socio fal-


lecido, e o outro socio, exigir que o liquidante da extincta
sociedade entre com os juros legaes elas quantias apuradas
e que na fórma da intimação devêra ter depositado, pois
tal deposito é facultado pelo art. 3í9, Cod. Com., e tal foi
a comminação no caso de escusa da parte do liquidante,
bem entendido que só depois da data da intimação (art. 138,
Cod.), e depois ele liquidadas e apuradas taes sommas
(art. 24,5), obrigação corroborada pelo art. 333, Cod., por
não ser justo que alguem se locuplete á custa alheia.
Ao 2.° Entendo que o liquidante não tem direito á com-
missão ou porcentagem do seu trabalho, em vista do Cod.
Com., art. 3M>, § 10, que só o dá ao liquidante não socio,
salvo se ha convenção ou ajuste em contrario: é obrigação
do socio proceder á liquidação (art. 344 e seguiu tes). O in-
ventariante (a que o liquidante é equiparado), quando
herdeiro, não tem igualmente direito a premio.
Ao 3.° Os lucros accrescidos devem ser partilhados con-
forme o accordo social; porque este regula tambem a par-
tilha, e o quinhão dos interessados, e, ainda depois de
dissolvida, a sociedade entende-se continuar 'para ultimar
CONSULTAS SOBRE

as transacções pendentes, e proceder-se á liquidação e par-


tilhas (art. 335 in fine).
Setembro, 1861.

Sociedade mercantil; liquidação; partilha; accôrdo


V Qual o procedimento a seguir para a liquida-
ção de uma sociedade, morto um dos socios? Nessa
liquidação é necessaria a intervenção do procurador
dos feitos?
2,° Qual a fórma que deve ter a partilha dos
bens sociaes ?
Resposta
Ao 1.0 Dissolvida por morte de um dos socios a socie-
dade de que se trata (Cod., art. 365, § 6°), devendo liqui-
dar-se e partilhar-se (art. 366 e seguintes), cumpre atten-
der ao que houver sido estipulado no respectivo contrato
(art. 302).
Embora o socio sobrevivente não fosse o gerente, a elle
deve caber a liquidação (arg. do art. 302, n. 3, e art. 364).
O liquidante, seja tal socio ou alguem outro, deve proce-
der ao balanço, dando conhecimento delle a todos os in-
teressados, e proseguindo nos ulteriores termos legaes,
ante o juiz do commercio, até partilha, sendo a liquidação
formal (Cod., art. 365 e seguintes).
E comquanto não haja disposição expressa que faça in-
dispensavel a intervenção do procurador dos feitos, toda-
via, sendo a fazenda interessada em razão do imposto de
transmissão da herança, é conveniente, mesmo aos in-
teressados, que elle seja desde logo ouvido; porque de
outro modo, tendo de ser levado ao inventario o resultado
da liquidação, ahi poderião levantar-se duvidas e questões
por sua parte no interesse fiscal.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO IH7

Ao 2. A partilha, pela fórma que se indica, nao e pro-


0

hibida. Ao contrario, permittida pelo Codigo na generali-


dade do que dispõe os arts. 343 e 3n3, mesmo em rela-
ção a menores.
Se não tiver sido pago o passivo, e o sobrevivente o to-
mar a si, os outros ficaráõ desonel'ados desde que os ter-
ceiros (credores) approvarem exp1'essa ou tacitamente,
bastando para isto que continuem com aquelle suas trans-
acções (cit. art. 343).
Abril, i87n.

Sociedade mercantil; liquidante estranho ; acquisição por este de


bens da massa ; juros de dinheiros. pelo mesmo adiantados;
acções competentes.
LO E' competente o juizo arbitral para a acção
contra um liquidante não socio , afim de indemnisar
a sociedade dos bens da mesma de que fez acqui-
sição?
2. o Sendo mais de um Iiquidante, contra quem
deve ser dirigida a acção ?
3.° Tem o liquidante direito a juros por dinheiros
que houvesse adiantado?
4. Os bens adquiridos de consentimento e ac-
0

côrdo dos interessados podem ser reclamados para


a massa?
Resposta
Ao LO A acção foi proposta pelo socio sobrevivente ao
liquidante estranho (não socio) para indemnisação de pre-
juizos, e annullação de acquisições de bens da massa pelo
mesmo liquidante, no juizo commercial. Entendo que não
27
41.8 CONSULTAS SOBRE

era competente (cor:o se pretende) o juizo arbitral; por-


quanto' : f", a quest:Io n ~o era cnll'e socias (Cod., art. 294,
_e contrato social); 2 sendo con tra liquidante I'sl?'anha,
0
,

O juizo arbitr:tl necessa'r'io (Cod. , arI.. 348) já não era pos-


sivel pO' haver sido abolido pela Lei 1350 de 14 de Setem-
bro de -1866.
Só teria lugar o voltmla7'io, se as partes (do socio e do
li quidante) homessem concordado em submetter a ene
Laes questões (Lei dt.; Reg. ;)\)00 de 26 de Junho de 1867),
o que não se deu.
Além de que, desattendidas no processo de liquidação
taes reclamaçõe~, forão as parles remettidas por despacho
do juiz aos meios ordinarios em juizo competente.
Ao 2. Sendo solidariamenle responsaveis os liquidan tes
0

(Cod., art. 347 e 8 6 combinados), bem pod ia a acção ser


intentada contra qu:tlql1er Jelle.', visto ser esta uma das
vantajosas con_equencias tia sulidariedade, e não ser licito
opp6r o beneficio de divisão, embora o demandado lenha
acção regressiva contra os co-obrigados (C. da Rocha,
Dir. Civ . , § U9).
Demais, no caso, o réo é demandado como o unico cau-
sador real dos prejuizos e pela nullidade das acquisições
que fez .
Ao 3. Embora o liquidante adiantasse dinheiros seus
0

para despezas tia liquidação, entendo que não tem direito


a juros, sobretudo oppondo-se os interessados. A disposi-
ção do CoJ. Com., a que se soccorre, não é applicavel á
hypothese. E seria dar lugar a graves abusos.
Ao 4. OS' bens que elle ad quiri0, de consentimento e
0

accôrdo dos intl'l ressauos, parece-me que não lhe podem ser
reclamados para a massa Mas os mesmos que houve sem
tal accôrdo não eslão no mesmo caso, embora não se trate
da massa fallida; porque administr'ador de bens alheios,
manda tario , gerente, não podia fazer seus bens confiados
a sua administração, liquidação e venda, como se deduz
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO U9

da Lei 34, § 7; Dig. de cont?'at. emph., art. 129, § 1°;


Cod. Com., artt. 863 di to; al'Ls. 146, 147, Cod. Crim.
Nem lhe aproveita a licença do juiz, porque não se tra-
tava de alguma execução em que, como credor exequenLe,
mediante ella, podesse licitar em praça.
Novembro, 1870.

Sociedade mercantil; partilha; liquidação


Podem os herdeiros de um socio fallecido ratear
a parte que a este cabia na sociedade?
Resposta
A esLipulação (retirarem ou não os herdeiros a parte
que lhes tocar na sociedade por fall ecimenLo do socio) é
autorisada pelo Cod. do Com ., art. 302 e 344. E'-lhes fa-
cultaLivo, nos termos do conLrato social.
No caso em que reLirem, a liquidação proseguirá com
relação aos outros socios.
Todavia entendo que estas disposições devem harmoni-
sar-se com as do art. 3'!9 elo mesmo Cod. e art. 343, no
legitimo interesse dos credores da sociedade.
Maio, 1873.

Sociedade mercantil; partilha; menores; fallencia; privilegio


Quaes os tel'IDOS que se deve observar na liqui-
dàção de uma sociedade commercial? Tendo sido
feito o quinhão dos menores em letras aceitas pelo
socio liquida0 te, qual a garan tia que têm os mesmos
em relação aos bens deste pela lei civil e commer-
cial? E se a partilha tivel' sido feita antes da exe-
cução da lei de 24 de Setembro de 1864?
420 CONSULTAS SOBRE

Resposta

, Na liquidação de uma sociedade mercantil, dissolvida


por morte de algum dos socios, ou por outra causa justa
ou legal, procedendo-se em fórma regular (art. 344 e se-
guintes, C.od.) observa-se, mutatis mutandis, os termos
substanciaes de um inventario até a partilha, servindo de
inventariante o liquidante . Os herdeiros do fallecido ahi
devem intervir e receber os seus quinhões, como fôr de
direito, sendo facultado a respeito dos menores o que se
dispõe no mesmo Cod., art. 3~3.
No caso, o quinhão dos menores ficou constituido em
letras aceitas pelo socio sobrevivente e liquidante, que to-
mou a si todo o activo e passivo, letras abonadas por ter-
ceiro. Ellas representão, portanto, a herança dos mesmos
em relação á dita sociedade, a sua legitima segundo a pro-
posta. Entendo, pois, que tem a hypotbeca legal ou tacita,
quer pelo direito civil (Vide Pereira e Souza, Prac. Oiv.,
§ 468, n. 14), quer pelo commercial (Cod., art. 878, § 2 0
;

Dec. n. 737 de 18~0, art. 621); hypotheca ou privilegio


mantido pela novissima Lei de 2!J. de Setembro de 1864,
art. ~o e 1~. e Dec. de 26, de Abril de i86~, art. 317 e 319.
Unicamente poderia vir em duvida (por ser anterior á
execução da lei essa partilba) se, podendo pretender-se hy_
potbeca privilegiada, e não tendo sido especialisada e re_
gistrada dentro do anno, deixou ella de subsistir quanto
aos immoveis do devedor (Reg. cit., art. 32~ e 326) .
Dezembro, 1868.

Sociedade mercantil ; transferencia

Póc1e uma sociedade transferir a parte que tiver


em outra á pessoa estranha á mesma, sem consen-
timento de todos os socios?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO li2t
Resposta
EnLenclo que a sociedade não póc1e transferir a parLe que
tenha em outra sociedade, sem accôrdo ou assentimento
dos outros soei os desta, ã pessoa estranha a esta; e estra-
nho ou terceiro se deve reputar aquelle que não é sacio
(Cod., art. 334.). Pouco importa que este o seja dos pri-
meiros, porque a sociedade const itue entidade diversa de
cada um dos socios.
Julho, i 867.

Sociedade não mercantil


Pedro resolveu dissolver ama sociedade não mer-
cantil e em que não ha tempo determinado de du-
ração.
Pergunta-se
L° Terá meios para isso? Quaes sejão? Por algum
poderá desde já vedar que o socio administrador
continue a administrar, afim de evitar a delapida-
ção dos bens?
2.° Seus herdeiros têm alguma acção a respeito?
Resposta
Ao LO Póc1e Pedro dissolver a sociedade, já porque esta
foi por tempo indeterminado, já porque se mostra causa le-
gitima para o fazer, ainda quando o fosse por tempo certo·
(Ord., liv. 4.°, tit. lili, § 5° e 8°).
Para isso tem a acção propria de dissolução e partilha
(Corrêa TeIles, Ac,Ç., § 271) e 410).
E contra o mão administrador parece-me poder pedir
desde já a sua destituição, provando justa causa (Coelho
da Rocha, Dir. Oiv., § 863), e depositando-se a fazenda
422 CONSULTAS SOBRE

em mão de:terceiro até se deciclir afin al a prestação de con-


tas, dissolução e partilhas (arg. da Ord., liv. 3°. tit. 31) .
Ao 2.° Relativamente aos herdeiros, procede a doutrina
já exposta, como representantes universaes do socio, ac-
crescendo que, por não haver no contrato disposição em
contrario, cessou com a mor te a sociedade (Ord., liv. 4°,
tit. 4,4" § 4°).
Abril,18M.

Sociedades; eSpeCltlS ; condições; lavoura; fabrica; lacuna na


legislação
Como póde ser classificada uma sociedade que se
propõe a comprar e revende r certo genero, com um
certo capita.l dividido em acções?
Depende tal sociedadfl de autorisação do governo
para funccion ar?
Debaixo da fÓl'ma commanditaria ou em nome
collecti vo poderá ser estabelecida para evi tar-se a
autorisação?
Quaes 015 caracteristicos de um a e outra?
Resposta
A sociedade que se pretende crear ou fund ar, sob a de-
nominação Fabrica de . .. , para preparar o aSSllcar com-
prando-o tambem, e revendêl-o assim beneficiado, com o
capital de ... S, dividido em acções, é uma sociedade ano-
nyma.
Quer ella se repute commercial, segundo minba opinião
(Cod . Com ., art. i 9, § 2°; Reg. n. 737 de 18~ 0, art 19;
§ 1 e 3°, art. 20 § ~o) , quer se qualifique civil, como po-
0

derião outros pensar,depende esse ncialmente da approvação


ou autorisa0ão do governo (Cod. Com., art. 2~~; Lei de
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 4·23

:;:::: de Agos to de 1.860 e Reg . n. 2711 ele 19 de D,'zembro


de i 8UO).
P;u'a evi tlll' a neces~id ~lde de ttl ~lUtorisa~,;lO seri:t pl'l\-
c; j::;o recorrer á out ra cspcciJ de suc:ed;].(lc.
A commanc.lil(l1'iCL p<lt!eri:t servil'. :\Ias ne" ta O fun do em
cOlTImillldita não pótle ser J ivi Jid0 em acções (Dec. n. 1It57
de 13 de Dewm bro de ,18;)4· ; c éilgue:n deV0 Sul' ~o l id;lria­
mente responsavd (Cod ., ar t '311), podendo t:lmlJem vir a
sêl-o os socias commanuit:H'ios, dado O caso (arL. 3(4) .
Talvez podesse conv ir a sociedade em nome cultecl'ivo.
Mas nesta os sf)cios s;10 todos sulitlario, :C d., al't. 310).
SLl 11 ;l,i) se tra ta 'Sé senão ele ]Jrup:tr:ll' ()S prod I:clu:.i de
sua pl'Opria la.\'oura p:l ra \'end~l-us, o aclo st.!t'ia civil e nãLJ
mel'Cilll til; a wciedade s:'l'ia civ il (Av. !l. ~. 3t de 21 de
Agosto del cl55; Dr. Urbndo, Cod . Com, nuLt I4í54), re-
gida pelo u:reito civil.
.\.s acções s·jo transferiveis (Cod. CI:n., ;'.rt. 297 ; Lei ciL.
de 1860 ; n.cg. cit. dcJ -l8tiO e n. 2733 de 23 de J:.ll1eiro
<lo 1851) . Parece-me, puejm, que se ~,óle p:)t' ;t c1ausub de
não o serem a pessols es tranhas á SOCiedade (arg. do
al't. 334, Cod.), sobreLudo sendo nominativas (a l'L. ~1j7\ .
Eslá entendido que es ta restri c~,iJ nãu impediria a exe-
cuç:,io judi cial (cit. ar l. 297, in fine ). C')
Julho, 1.874.
._------- ------
(*) A I'Psposta q u e hoje se tivesse de elar á consulta supra
sel'ia sen" ivelm entcl modificada e::J. vi sta do n ovo r f'A' im en
creado p ela Lei ;.: . 3150 de 4 de :S-ovembl'o e Decl', n . 8821 de
::lO d e D r zembro do à nno pas;,ado:t que já nos referimos , A'"
soci edades comman ditRr ias é permitticlo dividir em <lcções os
quinhõ tls dos soci0s e estão sujeitos ao::; requisitos c con-
dições dos arts. 145 a 162 do l~eg. de 1882.
O principio da a utorl sação do governo pfLnl a instituição de
qualquer soci edade foi tam bem altrraelo ; a~ soci .. da'l es de 30C-
COITOS mutu os, as 1itte rari as, politicas (l benrficente.· elplla não
d e pendem, salvo se forem organisadas sob it f6rma anonyma.
tReg, art . 167). A. C.
424 CONSULTAS SOBRE

Sonegados; juizo competente

Qual o juizo competente para a propositura da


acção de sonegados ~
Resposta
Para aqueHes que entendem a questão de sonegados
uma causa emergente do inventario e dependencia delte,
é competente para a acção o juiz do inventario, ainda que
seja o de orphãos (C. Telles, Acç., § 157 e nota 333;
art. 20 da Dispos. Provis. E assim parece ter-se já deci-
dido (V. Dr. Mafra, Jurisp1'udencia dos T1'ibunaes, vbo
sonegados) .
Mas, esta opinião não é inteiramente isenta de contro-
versia, quanto a excluir absolutamente a competencia do
juizo commum, visto como, tomando a questão caracter
G.ontencioso, de alta indagação, e demandando meios ordi-
narios, póde-se entender não ligada tão intimamente ao
inventario, que seja dependencia do mesmo, e firme
aquella competencia por connexãlJ. Bem poderia a acçã(l
correr no juizo commum, e SOl' levado ao inventario o seu
resultado, como em outros casos semelhantes.
Novembro, 1873.

Substituição; diversos gráos


Em quantos grãos se pó de pelo nosso direito
substituir?
Resposta
Entendo que entre nós póde o testador instituir em um
ou mais grãos. Assim interpreto a Ord., liv, 4°, til. 87,
pr., de accôrdo com o direito romano nas Inst. pr., liv. 2°,
tit. U. Faço, porém, a restricção de se instituir por tal
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

fórma algum vinculo, claro ou disfarçadamente, por ser


isto prohibido (Lei de 6 de Junho de i835) ("'I").
Abril, 1868.

Substituição; impostG; perdão de divida; vintena


t..' A quem pertence a terça do testador quando
fallece o herdeiro antes clelle e foi designado subs-
tituto?
2 o Porque razão édevido o imposto do perdão de
di vida?
3: Donde deve sahir a vintena quando ha her-
deiros forçados?

Resposta

Ao -:I •• Por isso que falleceu o herdeiro da parte da terça


antes do testador, e lhe foi designado substituto que so-
breviveu ao mesmo testador, ao substituto pertence a dita
parte (Ord., liv. 4.., tit. 87).
E' devido o imposto de transmissão respectivo pelo ac-
quirente que sobreviveu (Reg. de i5 de Dezembro de -:1860,
e 17 de Abril de 1869).
Ao 2.· Da remissão ou perdão de divida em testamento
é devido o imposto por ser equiparado a legado, a cargo
devedor, assim beneficiado.
Quanto ao pagamento á fazenda, deve-se proceder como
nos outros casos (Reg. cito de 1860 e i869).
Ao 3.· A vintena arbitrada ao testamenteiro deve sahir
da. terça liquida sómente, quando ha herdeiro necessario
ou forçado, qual o filho natural reconhecido (Ord., liv. 4,.,

n Vid e Nov. 159 que permitte a substituição até o 4' gr'áo


s6mente resolvendo assim as duvidas .
CONSULTAS SOBRE

tit. 82; Lei de 2 de Setembro de 1847), ou da herança li-


quida, 'se tal não é o herdeiro (Dec. de 3 de Julho <le 18;:;4).
Deve ser calculada sobre o liq'uido COllstante elo inven-
tario (ciL Dec.). .
Março, -1874.

Substituição; successão ; caducidade; imposto; testamenteiro ;


vintena

LO A quem pertence ;1 lwrança ou legado lluando


o substituto morre ê1nte~ do test:tdo l' ')
2. H;;t algum impoi:ito a. cob l':\I' pelo facto de fal-
0

lecimento, tran s mittind o-~e a he.rança ao fidei-com-


missario ?
3.° Póde () tes tamenteiro reclama.r por lesão, erro
ou ilL111 icladc d,l panilb a. ?
. 4. Os rend im entos posteriores ao fallecimento do
0

te~talior são sL1j eitos a impos to) Qual a reg ra qL1e


&e deve observar em relaçã.o á vinten a?
5. Oonde deve ser dcJL1zida a vintena? Conlo
0

se ha de fazer pra.ticameLlte essa deducção '?


Resposta
Ao LO Embora A. falleces:;e cmLeli do testadur, ca.ducull
somente o seu direito, coufu rme a regra geral.
rl'Ias, havendo-lhe o tesL:.Ldor nomeado snbstitulo, quo
são em partes igllaes B. e C., os quaes sobrevi yêrão ao
mesmo testauor, a estes tra ns mittio-se o quinhão que
áq uelle devêra caber.
Se o substituto (fid uciario) morre autes do testador,
póde o substituido (fidei-commis:iario) peJ ir a lleranr;a ou o
legado respectivo; a subslituiçi o Lambem se venoca no
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 427
caso de Dão poder o herdeiro ou legatario adquirir por ser
fallecido antes do testador (OreI., liv.4°, til. 87; Lobão
a Mello, ltv. 3°, tit. ~o, § 54; C. da Rocha, Dir. Oiv., § 7-1.9
e nota).
DemaIs, tal me parece a intenção do testador em vist:l
da verba. E por ser fallecido tambem C. posteriormenLe ao
testador, a quota respectiva passa a B., nos termos da verba
referid.a.
Ao 2.° A., não chegou a adquirir por fallecer antes do
testador. Não ha, portanto, decima ou taxa a cobrar,
quanto a elIe, do quinbão que lile deveria caber. E só de
B. e C., a quem es te quiilhão ficou pertencendo, conjunc-
tamente com os oulros quinilões dos mesmos.
Da transmissão, porém, de C. para B. tambem é de-
vida a decima ou taxa hereditaria (Vide Av. n. '136 de 28 de
Maio de '1864 e n. 289 de 12 de Outubro de 1870) .
.\.03.° Se ha lesão, erro, ou nullidade na partilha, ao in-
teressado compete reclamar. E sendo menor, ao se u tutor.
Todavia, como fiscal da execuçG:o do testamento, tambem
poderia o testamenteiro fazél-o, mas só com o fund amento
de fiel cumprimento da vontade do testador.
Ao 4. · Os rendimentos posteriores ao fallecimento do
inventariado pertencem aos herdeiros; razão porque, quanto
á decima, elles não se computão para o imposto (Ord.
n. 163 de 12 de OuLubro de 18~O; Reg. n. 2708 de 1~ de
Dezembro de 1860, art. 2':!). .
Em relação ~L vintena, plrece que esta mesma regra foi
implicitamente aceita pelo Dec. n. i40~ de J de Julho
de 1854 ; porque, do contrario, sena pagar com bens ou
valores alheios ao testadol' serviços por este ordenados, e
cuja indemnisação ou remuneração só póde e deve sabir
dos seus proprios bens, quaes sejão a sua terça ou a sua
herança (fazenda liq uida), e na mesma ter~.a ou fazenda
tem de sei' imputada (Yide Alv. de 2:3 de Janeiro de 1798;
Dec. n. 8:34 de 2 de Outubro de 18M, art. 37) .
428 CONSULTAS SOBRE

Ao 5.° A vintena deve ser deduzida de toda a fazenda


liquida', ou só da terça (liquida) se ha herdeiros necessarios
o(Dec. cito de 1.854).
Não quer isto dizer que se deva deduzir primeiro a de-
cima; porque seria cumulati vamente desfalcar a mesma
vintena da importancia da decima e sujeital-a a este im-
posto, quando é delle isenta (Reg. cito de 1.860, arL 6°,
§ 2°).
A decima ou taxa (imposto de transmissão) deve-se cal-
cular sobre o liquido que ficar depois de deduzidas as
custas, dividas e encargos (Reg. n. 4355 de i 7 de Abril
de i869, art. 6', § unico).
N. B. As respostas supra podem ser alteradas em rela-
ção ás provincias, visto ser nellas renda provincial a decima
ou taxa de herança e legados. Deve-se ter presente a res-
pectiva legislação particular.
Março, t874.

Successão collateral de illegitimos


Os irmãos de coito damnado e punivel (adulte-
rinos, etc. l, succedem aos legitimos, nos termos da
Ord. do liv. 4°, tit. 93, sendo por parte materna?
Resposta
Sim, em vista da generalidade da Ord. ciL, e é a opinião
mais geralmente seguida entre os praxistas.
Outubro, 1.857.

Successão de ascendente; pai binubo


Para quem passão os bens de filho de pai binubo
no caso de haverem outros filhos do casal'?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITe 429
Resposta
FaUecendo intestado e sem descendentes sllccessiveis o
filho, devolve-se a herança aos ascendentes (Ord., liv. 4°,
tit. 91. pro e § 1. o ; tit. 96). Mas a successão destes é limitada,
se, havendo outros filhos do casal, passa o pai ou mãi a
segundas nupcias, deixando o filho fallecido bens que houve
do patrimonio, ou herança do pai ou mãi, ou dos avós delles
(Ord. cit., tiL 91., § 2° a 4°).
Esta limitação, porém, é restricta aos precisos termos
da cito Ord., liv. 4°, tit. 91. (Vide Lobão, Notas a Mello,
liv. 3°, tit. 8°, § 15 e 1.6; Oonsol. das Leis Civ. Bras.,
art. 966 e 967). E portanto só applicavel, em relação aos
bens herdados, tratando-se de successão paterna, aos que
o pai herdou do filho, provenientes da mãi deste ou avós
maternos (Ord. cit., § 4°); e, tratando-se de successão ma-
terna, aos que a mãi herdou UO filho, provenientes do pai
ou avós paternos (idem, § 2°). Na hypothese da pro posta,
os bens, de que nella se trata, passárão em plena proprie-
dade por successão aos pais, visto como vierão ao filho por
doação do avô p::tterno, e não se trata de successão ma-
terna.
Conseguintemente, devem fazer monte (se existem) com
os outros bens do mesmo fallecido pai, afim de serem par-
tilhados por todos os filhos deste, quer do primeiro, quer
do segundo matrimonio.
Abril, 1.873.

Sue cessão de collateraes; tios


F. morreu ab-intestado, sem descendentes nem
ascendentes, e sem irmãos alguns ou filhos destes,
deixando por herdeiros seus tios, que lhe sobrevi-
vêrão, paternos e maternos.
.\30 CONSULTAS SOBRE

Mas alguns destes são de pai e mãi (por serem


das primeiras nupcias), e parte só de mãi (por serem
• de segund as).
Pergunta-se
Succedem todos, ou só os paternos, ou só os
maternos do primeiro matrimonio ?
Resposta
Entendo que todos (Nov. 1-18,' capo 30; Corrêa Telles,
Dig. P01't., liv. 20, art. 876 ; Lobão a Mello, liv. 30, tit. 8,
§ 17), por estarem todos em igual grão (terceiro), e não se
atlender á duplicidade do vincul o para qualquer effeilo ju-
ridico além dos irmãos e filhos destes.
Janeiro, 1858.

Successão de pai binubo ; filhos de escrava; propriedade


Havendo um filho herdado de sua mãi uma es-
crava, que teve filhos em poder do mesmo, perten-
cem estes ao pai que lhe 5uccedeu e depois cast>u t
tendo outros filhos irmãos germanos daquelle, em
plena propriedade, ou só em usofructo?
Resposta
Embora provenientes da escrava que a esse filho coube
por heranç.a de sua mãi, parece-me que os filhos desta, ha-
vidos já em poder delle, são bens alitmde adquiridos
daquella restricção, e que nelles tem portanto o pai plena
propriedade .
A Ord. cit., derivada da Auth. ex testam. Cod. de se-
cund nupt., assim tem sido interpretada, entendendo-se
VARIAS QUESTÕES DE DIREITCi 431

que os bens a que elia se refere são só OS que provierão


immediatamente da herança materna ou paterna, ao filho,
e não ao que este adquiri0 por outros LiLulos inclusive com
os proprios 1'endimenlos ou {ruelos de Laes bens (Vide Lo -
bão a Mello, liv. ;}O, tit. 8", § H>, n 6 e 7): Demais, se ha
abi favor aos filhos do primeiro matrimonio, ba tambem
restricção aos direitos do pai e mãi na successão, e em
fórma penal, termos em que a interpretação deve ser res-
tricLi va, como a essa Ord. têm feito os commentadores.
Julho, 187-1.

Successão de pai binubo; remedios contra elle


Póde o pai hinu bo dispôr de bens que lhe COll-
berão por fall ecimento do filbo? Qual o remedio a.
oppôr ?
Resposta
Os bens de qu e se trata perte ncem por successão ao pai
do fallecido, embora, por haver passado a segundas nupci as,
exisLi ndo irmã germana do mesmo finado, só tenha o uso
e fmcto vitalicio nos que a elle viel'ão por herança de sua
mãi e avós maternos (Ord., liv. 4°, tit. 91 ).
A elle, pois, de'l'em Sei' ent regues, salvos á irmã os di-
reitos de que adiante se faz menção.
A alienação ou encargo de taes bens pelo pai é prohibida
(Ord. cit. , § 2°): é portanto nuUa. Mas não importa a perda
do u 'o e fruc to, o que, mesmo quando removido da admi-
nistração, é questão entre os D D. (Vide B. Carneiro, liv. 1°,
tit. 2,1, § 188, n. 32).
Tem, pois, a irmã acção ord inaria para annullar seme-
lhante alienação ou encargo , podendo usar do embargo
para segurança (0rd., li v. 3°, ti t. 3i).
E se o proprio pai malbarata, entendo que póde tambem
432 CONSULTAS SOBRE

contra este pedir providencias, quaes cabem nos casos ge-


raes de' incapacidade, prodigalidade e outros, e a remoção
,da administração (Ord., liv. 3°, til. 9°, § 4°).
A fiança que a cito Ord., tit. 91, concede quanto á mãi,
é negada quan to ao pai.
Dezembro, 187L

Successão de pai ou mãi binubo


A herança de filho predefunLo, de quem o pai
binubo é usofruetuario, está sujeita a imposto
quando passa aos irmãos?
Podem estes dispôr da mesma em vida do pai ou
mãi?
Resposta

A herança que, na fórma da Ord., liv. 11,°, tit. 91, tem


de passar aos irmãos, tendo os pais apenas o uso e frueto,
é para elles de collateral, e como tal sujeita a imposto
, (Av. de i3 de Janeiro de 1854 ; Reg. n. 2708 de HS de Se-
tembro de i860, art. 3°, § 3°). A propriedade que assim
passa para o pai ou mãi pelo fallecimento do filho é limi-
tada.
Mas os irmãos não podem dispôr nem instituir, vi vendo .
o pai ou mãi, porque o seu direito é apenas eventual
(simples spes), visto como, se todos falleeerem antes, o pai
ou mãi são os herdeiros em plena propriedade (Ord. cit.,
pr.). .
Só, por morte destes, sobrevivendo-lhe aquelles, têm
cessado taes eventualidades, e os direitos se prívão.
Com estes irmãos concorrem então os netos filhos dos
que tiverem fallecido, etc. (Ord. cit., § 2°).
Março, i870.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 433

Successão; herdeiros necessarios ; terça; excesso desta; remuneração


de serviços ; alforrias ; collações; escravos

L o Sendo nulla a disposição da terça, por excesso,


havendo herdeiros neeessarios, como se ha de cum-
prir a vontade do testador?
2.° E quando se tratar de alforrias de escravos
na mesma bypotbese de excesso?
3. ° As doações feitas pelos avós aos netos são
sujeitas á eollação comprehensiva dos escravos e
seus fructos ~
Resposta
Ao 1.0 Attenta a exposição, trata-se da successão na
herança de M., fallecida com testamento depois de seu
marido, e com descendentes herdeiros necessarios.
Em taes condições constitue o seu espolio não só a
meação que lhe couber e aquillo que lhe pertencer pelo
teslamento do marido, mas os outros bens adquiridos pos-
teriormente á morte deste.
Dos dom terços deste acervo são herdeiros forçados os
seus descendentes, fi lhos e netos; e só do terço póde eUa
dispôr em testamento (Ord., liv. 4,0, til. 82 pro e § 4,0 ;
til. 9{, § 1°). No excesso da terça, pois, a disposição é
nulla ; esta só se deve cumprir em tanto quanto caiba na
mesma terça.
Conseguintemente, a instituição do filho no testamento
de M. só se póde manter emquanto couber na terça desta,
pela fórma dita.
Nem autorisa a violação deste preceito absoluto o facto
de ser em remuneração de serviços do filho; quando taes
serviços haja, a remuneração é devida do monte; e, com-
petentemente provada, será paga pelos bens do monte, e
28
434 CONSULTAS SOBRE

não pela terça (Vide Lobão, Obrigo Rp,cip?'., § 623 ; C. da


Rocha, Dir. Oiv., § 481).
Ao 2. ° A mesma regra é applicavel á libertação de es-
'cravos em testamento; porque só na terça tem o testador
livre disposição, havendo herdeiros necessarios.
No entanto, por favor á liberdade, podem ser mantidas
as alfocrias no excesso da terça, indemnisando-se este ex-
cesso aos herdeiros (Vide A Esc?'avidão no Bra.sil, parte I a,
nota 484 ao § 89). .
Os escravos fallecidos antes da partilha não são contem-
plados na ter ça; porque entende-se fallecidos á conla do
monte pro indiviso, segundo a regra geral.
Ao 3.° O que os avós dão aos netos deve ser trazido á
collação no inventario respectivo (Ord., Iiv. 6° , til. 97,
§§ 20 e 21).
Portanto a escrava, fom os filhos desta (Ord. cit., pr.,
§ 37 ; I nsl. de rev. divis.; Vide A. Escr'lLvidão no B?'asil
cit., § 7i e notas 367 a 371 ). Mas quanto aos filbos, é opi-
nativa a solução, por haver em contrario (cit. nota 370;
Oonsol. das Leis Oiv., nota ao art. 1206).
Agosto, 1875.

Successão iIIegitima; coIlateraes


i. o Como podem suc.ceder a pai e mãi os filhos
sacrílegos?
2: A quem se tl'ansmitte a successão sendo in-
habeis para ella os ascendentes ou descendentes?
Resposta
Ao 1.° Sacrilegos os filbos de que se trata, não succedem
á mãi e pai, nem estes a eUes; a successão é reciproca (Ord.,
liv. 4°, til. 93; Lobão a Mello, liv. 3°, tit. 8°, § 13, n. 2 ;
C. da Rocha, Di/'. Civ., § 340 e nota; Oonsol. das Leii
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 435

Civis, art. 971 e nota). salvo se legitimados judicialmente


com essa fOl'mal e expressa habilitação, reservados sempre
os direitos de herdeiros necessarios ou forçados (Ord.,
liv . 2°, tit. 3D, § 12; Regim. do Des. do paço, § H8j Lei
de 22 de Setembro de '1828, art. 2°, § 1°; Mello, Dir. Ciu.,
liv. 2°, tit. DO, § 21): o que todavia é questionavel (Vide
em Gouvêa Pinto, Testam. e Success., a nota C") á nota
204).
Por testamento podem succeder, salvo o direito dos her-
deiros necessarios (ResoI. Leg. de H de Agosto de 1831) .
Ao 2.° Não se dando a successão descendente ou ascen-
dente, deve ella ir á linha collateral (Ord., liv. 4°, tit. 94,
96; Ass. de 16 de Fevereil'O de 1786).
Quanto aos illegitimos espurios, quaes os sacrilegos, suc-
cedem os irmãos e mais parentes conjúnctos por parte de
sua mãí (Ord., liv. 4°, tit. 93), excluídos os irmãos e pa-
rentes por parte do pai (Vide Lobão, Ob?'ig. Recipr.,§ 812,
81D).
Agosto, 1875.

Supplente do juiz municipal; exercicio sem prévio juramento' .


Póde o supplente do juiz municipal, quando re-
conduzido, ou antes conservado, ou novamente no-
meado, entrar em exercicio sem haver prestado
novo juramento?
. Resposta

Parece-me que, sem ter prestado juramento, não póde


entrar em exercicio; porqu anto, expirado o prazo da no-
meação, não subsiste o juramento prestado e que foi limi-
tado a esse prazo, sendo que na segunda dá-se verdadeira
nomeação, visto que não ha para os supplentes reconduc-
CONSULTAS SOBRE

Cão, cpmo para o juiz municipal (art. 14. e 19 da Lei de


3 de Dezembro de 184.1), e é regra de nosso direi to a ne-
"cessidade do juramento antes do exerci cio (art. 128 do
Cod. Crim, , art. 50 e 5i do Cod. do Proc . Crim).
Apenas ha isenção de juramento para supplente, verea-
dor; por bastar o deste cargo (Av. n. 67 de 20 de Setembro
de 184.3). E tambem para o juiz de direito removido
(art. 4° da Lei n. 559 de 28 de Junho de 1850), o que por
iclentidade de razão, entendo applicavel ao juiz municipal
quando removido.
Accresce que, de facto e legalmente, nos decretos ou di-
plomas de reconducção dos juizes municipaes, vem expres-
samente posta a clausula do juramento novo, e que elles
o ·prestão.
Que razão, pois, haveria para que os supplentes, em-
bora novamente nomeados, fossem delle isentos 't
Março, 18156.

Terra; bemfeitorias; acções

Lo Qual o direito que tem o proprietario do solo


em relação aos predios neUe edificados?
2. ° De que acções deve usar para fazer valer o seu
direito?
Resposta
Ao L· A compra de casas e outras bemfeitorias immo-
veis transfere o dominio dellas para o comprador, e por-
tanto, com o direito de usar, gozar e dispôr : salvo sem-
pre ao proprietario do solo os direitos que competem,
qual entre outros, o de fazêl-as suas, pagando o seu valor.
Ao 2.° O dono póde usar da acção summaria (Vide Lo-
bão, Dissert. 12' ÂC~. Summ., á. Ord., liv. 4,0, tit. 54), da
VARTAS QUESTÕES DE DIREITO 437

de força, ou da ordinaria (Vide Consolo das Leis Civ. Braz.,


notas aos arts. ~Og e 662).
Março, 1874.

Terras devolutas; medição; posses; revalidação; legitimação;


recursos ; elfeitos
1.° Qual o titulo que deve ser exhibido para a
rned ição de terras, tratando- se das que forão adqui-
ridas por concessão de sesmarias, não medidas ou
não confirmadas e nem cultivadas?
2. o Estão essas sesmarias sujeitas á revalidação?
3. o Como se deve proceder á sua medição?
4. o Pó de ella realizar-se ainda que as terras não
bajão sido registradas?
5.0 Como podem as posses encravadas ser legiti-
madas?
6.° Que effeito cabe do recurso interposto do juiz
das legitimações?
7: Para a medição basta a publicação dos edi-
taes em periodicos ?
8: De que maneira se ha de proceder á medição
pertencendo as terras a dous ou mais donos, cujo
titulo é commum ?
9.° Existindo um rio, donde dele partir a medição 1
10: Deve ·se abrir em cada dia nova audiencia
ou basta um só termo?
i i: Quaes os rumos ou ventos que devem iervir
de norte?
12: Como devem os donos dos predios legitimar
as suai posses 1
438 CONSULTAS SOBRE

Resposta
Concordo com o parecer do conselheiro Nabuco de
Araujo, addicionando apenas as seguintes reflexões :
Ao fSo quesito. Na hypothese proposta, se as posses fo-
rem posteriores á arrematação em hasta publica da sesm:1.-
ria sequestrada aos jesuitas, entendo que só se potlerão
gara nlir pelos princi pios geraes da prescri pção acqni-
sitiva ; porque essa sesmari a tem por aq uelle ti tulo one-
roso passado a domínio particular ,caso em qne as questões
devem ser resolvidas segundo o di reito civil em suas leis
geraes, e não pelas disposições especiaes ás sesmarias e
terras devolutas, posses de occupação primarIa, etc.
Ao 6° quesito. E do preside nte, suspensivamente, para
o governo (Dec. n. 1318 de 1.8fSq., ar t. fS2) .
Ao!i° que, ito. So ndo a medição feita segundo as re-
gras geraes de direito, os rumos são os que forem demons-
trados pelas posses ; porq ue estas elevem ser respeitadas,
visto como a medição tem por fim principal a separação
das propriedades que estão em commum e a uesignação
de seus limites. Está bem entendido, quando não constão
dos titulos.
Ao t2° quesito. Tendo em allenção a observação fi nal a
este quesito, esses individuos são posseiros de marinb.as, e
devem requerer aforamento ue suas respectivas marinhas,
sendo de notar que o que accresc paI' aHuvi ão é tambem
do dominio do estado (Av. n. 4.2 de ·18fS2 e n. 379 de i8 ~5.
N. B. O parecer do conselheiro Nabuco de Araujo foi
o seguinte:
Ao (.o Os herdeiros ou cessionarios do arrematante das
terras em questão devem, para a medição, apresentar o
titulo respecti vo, isto é, o seu titulo legi timo de acquisição,
o qual para os herdeiros é o formal de partilhas, e para
os cessionarios a escriptura de venda, doação ou lIutra
qualquer que transfira domínio \arl. :W e 62 do Dec. 131.8
de i8fS4).
VARIAS QUESTÕES DE DlUITO 439

Ao 2." E, comquanto ellas tenhão sido originariamente ad-


quiridas por concessão de sesmarias não medidas ou não
confirmadas nem cultivadas, os possuidores actuaes se achão
garantidos em seu dominio, ew-vi do art. 3°, § 2?, da Lei
n. 60f de f81>O.
Taes sesmarias não estão sujeitas á revalidação, porque
não se achão no dominio dos primeiros sesmeiros (Dec. cit.,
art. 27).
Os seus possuidores não precisão justificar cultura effec-
tiva, nem residencia habitual.
Ao 3.° A medição deve ser feita com citação do adminis-
trador da mesa de rendas, por serem os terrenos confron-
ta,ntes do dominio do Estado (art. 60).
Ao 4. A medição póde ter lugar ainda quando áS terras
0

não tenhão sido registradas.


Os possuidores, que em tempo não apresentão aos seus
respectivos vigarios as declarações para o registro, incorrem
apenas nas multas estabelecidas no art. 9õ do Dec. cit.
Ao 1>. o As posses encravadas, segundo as circumstancias
da consulta, podem ser legitima,das, ex-vi do art. 1>0, § 2°,
in fine da Lei n. 60f de f81>0.
Os posseiros devem requerer a legitimação, que de ma-
neira alguma fica embargada pela medição das terras em
que se achão ; mas antes a precede para verificar-se se os
sesmeiros têm ou não de entrar em rateio.
Ao 6.° Das decisões do juiz das legitimações ha recurso,
devolutivo sómente, para o presidente da provincia (art. 47
e 48 do Dec. cito f3f8).
Ao 7.° Os editaes marcando o dia da medição devem ser
affixados nos lugares do costume, na freguezia em que se
acharem as possessões ou sesmarias que têm de ser legiti-
madas ou revalidadas (art. 37).
Portanto não é bastante que sejão publicadas em perio-
dicos por freguezias diversas.
Ao 8. As terras pertencendo (segundo a proposta) a
0

dous ou mais dono's, que as possuem em commum, constão


440 CONSULTAS SOBRE

de um só ti tulo, e, pois, a medição não se. eleve fazer por


partes senão depois de decisão em virtude de partilhas .
.. Ao 9. A medição deve partir da foz do rio que servia
0

de limite á se.smaria.
Sendo a foz primitiva o ponto ele partida da sesmaria, a
mudança della não prejudica aos sesmeiros nem a se us
successeres.
Ao lO. Não é mister que em cada dia se abra nova au-
diencia, senão novo termo em continuação dos antece-
dentes, como se pratica nas demarcações.
Ao ii. Os rumos ou ventos, que devem servir de norte,
são os constantes dos titulos que forem apresentados; e,
na falta, dos que for·em ajustados, seg undo as prescripções
do Av. n. 9~ de 8 de Maio de 185/1-,
Ao i2. Os donos dos predios devem leg itimar a posse
do terreno em que edificárão, segundo ficou resolvido na
consulta quinta.
Setembro, i859.

Terras devolutas; posses; questões

i: Qual o direito que regula a posse de terras


devolutas em face do Dec. de 30 de Janeiro de 1854?
2.° A medição feita no juizo municipal dispensa
a que deve proceder o juiz commissario?
Resposta

i. o Se Pedro, primeiro occupante, falleceu antes de :~o


de Janeiro de i854, as terras passárão aos seus herdeiros
por titulo legitimo de successão, e destes para os compra-
dores. Conseguintemente não estavão obrigados á legiti-
mação segundo a Lei de terras de 1850 e seu Reg. daquell::.t.
data. Ao contrario, acha vão-se já então no dominio parti-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO

cuIar, respeitado por essa lei e regulamento, embora possão


(é apenas facultativo) os actuaes possuidores ou proprie-
tarios requerer a sua legitimação na fórma do art. 59 a 62
do Reg. cito
Se, porém, Pedro falleceu posteriormente a 30 de Janeiro
de -1854, achão-se as terras em questão obrigadas á legi-
timação. E alienação, nulla por offensiva do art. 11 da Lei
de -1850, não é garantida, nem impede o procedimento res-
pectivo, qual o dos arts . 22 a 58 do cit. Reg., cumprindo
distinguir, como ahi se faz, se essas posses são dentro de
sesmarias ou não. A medição depende sempre de requeri-
mento de parte (Reg., art. 36) .
E o commisso não se verifica senão nos termos elo art. 58
do Reg.
Devolutas as terras, podem ter o destino que lhes di
a legislação vigente.
2. o Os herdeiros dos posseiros ou os seus successores
podem requerer a legitimação, como ficou dito.
A medição feita no juiz municipal não impede a que deve
ser feita pelo juiz commissario, se se trata de hypothese dos
arts. 24, e 27 do Reg. cit., para o fim de ser legitimada a
posse ou revalidada a concessão . EUa serve, porém, e nem
se faz pelo fuiz comrnisstwio, na hypothese do art. 59
(art. üO a 63).
Entre particulares a posse deve ser respeitada. segundo
o direito geral. A. lei referida é especial e para os fins espe-
ciaes da mesma constantes C').
Novembro, i871.

n Viele Dec. n. 2105 de 13 d e F everriro de 1858, que alte-


rou os arts. 19 e tiO do R eg. oito d e 185-1-, itmpliando a compe-
t encia dojuiz commissario. (A.v. n. 42 do 10 ele F evereiro de
18'70.)
442 CONSULTAS SOBRE

Terras pu~licas ; dominio particular; posses; concessões; medições;


competencia ; legitima.ção ; revalidação; prescripção ; questões

1.0 Quaes são as condições para que as tel'ras


havidas qriginariamente por occupação possão con-
siderar-se no dominio particular?
2. 0 Como póde ser supprida a falta de pagamento
de siza na venda de terras assim adquiridas 1
3.° A falta de registro das terras importa nul-
lidade?
4.° Qual é o rnaximo das concessões no caso de
posses sujeitas á legitimações?
5. o A quem pertence decidir as questões sobre
medição e demarcação de terras sujeitas á revali-
dação?
6. ° Ao que se deve ter em vista na hypothese
de posse sujeita á legitimação?
7,° Como devem ser medidas as terras sujeitas
á legitimação?
8.° O lapso de tempo obsta á revalidação de
terras sujeitas á revalidaç.ão ?

Resposta

Ao Lo Embora havida por occupação originaria a fazenda


de que se trata, ~na se acha hoje no domínio particular,
por isso que passou por titulo legitimo de venda ou seme-
lhante para os proprietarios actuaes antes de 30 de Janeiro
de 1854.
Este dominio é garantido pela Lei n. 60t de t8 de Se-
tembro de 1850, art. 3°, § 2°; Dec. n. t3t8 de 30 de Ja-
neiro de 18M, art. 22 e 23, 25 e 26, salvo se o titulo
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 443
de venda é eSC1'ipto 1J articular , e até aquella data não fôra
paga a siza (art. 26 cit.).
Ao 2.0 A falta de pagamento deste imposto pôde ser
supprida, denunciando-se á repartição fiscal competente
para o effectuar voluntariamente.
Quando mesmo lJão sejão sujeitas á legitimação taes
posses, é permi ttido aos proprietarios actuaes requerel-a,
se quizerem (Reg. cit., art. f>9 a 62).
Ao 3° e 4.° A falta de regi~tro de terras possuidas não
annulld. os titulos ; apenas importa multas (Regul. cit.,
art. 91 e 95).
Ao f>." Quanto ao maximo das concessões no caso de
posses sujeitas á legitimação em certas condições (que pa-
rece não serem as de que se teata), o art. U: do cito Reg.
decide que não excedão em caso algum a uma sesmaria na
sua totalidade.
E as terras devem ser concedidas na fôrma da Lei e Reg.
cit ., sem altenção a matos, e sim conforme o que se veri-
ficar, segundo as condições e circumstancias das medições
e demarcações.
Ao 6.· As queslões de medição, demarcação, etc., sobre
terras sujei tas á revalidação ou legitimação da Lei e Reg.
cit., sã.o da competencia do juiz commissario (Reg. cil.
de 18M; art. 30, De~. o. 21Gf> de 13 de Fevereiro de 1858;
A·v. n. 42 do 1° de Fevereiro de 1870).
Pertencem, portanto, ás autoridades judiciarias as medi-
ções, etc., entre particulares, quanto ás do dominio parti-
cular não sujeitas áquelles actos.
Ao 7.° Na hypot.hese de posse sujei ta á legi timação, de-
ve -se re:,peiLar o culti vado e occupado (Reg. de 1854,
art. 44.), salyo prejuizo de terceiro.
Ao 8° e 9.° Se são sujeitas á medição para legitimação,
devem se1-o na Íórma da Lei e Reg. cil., comprehendendo
todo o cultivado, etc.
Se o actual possuidor (que é já o quarto) tem titulo le-
CONSULTAS SOBRE

gitimo de dominio, havido por si ou por ~eus antecessores


do origina rio occupante anteriormente a. 30 de Janeiro
de ,1804, está garantido no seu direito.
Ao tO. Se as terras são sujeitas á legitimação ou á reva-
lidação, não obstaria o lapso de tempo da posse para dis-
pensa l-as, no systema da lei citada .
Abril, 1875.

Terrenos da camara municipal da côrte; sub-emphyteuse; laudemio;


commlsso
1.0 Póde o emphyteuta aforar sem licença do
senhorio directo?
2.° Que direito dá ao sub·emphyteuta a falta de
pagamento de fóros?
3.° Póde o emphyteuta estipular com o sub-em-
pbiteuta laudemio para si?
4.° g' valido o sub-aforamento no caso de exis-
tencia do domínio util ~
Resposta
Ao L° Entendo valida él sub-emphyteuse, apezar da esti-
pulação (não sub-aforar sem licença da camara) ; porque
pelo Alv. de 10 de Abril de ·1821 póde o foreirosnb-aforar
livremente a quem quizer; essa licença seria apenas por
méra formalidade, e não essencial.
Quando não fosse valida por esse motivo, seria direito
da camara, de que o sub-emphyteuta se não póde preva-
lecer.
Ao 'Z.o Do mesmo modo, a falta de pagamento dos fóros
ao senhorio não dá direito algum ao sub-empbyteuta : é di-
reito exclusivo do senhorio.
Ao 3.° O laudemio, em regra, pertence ao senhorio, Q
VARIAS QUESTÕES DB DIREITO 445

por isso á cam:lra (Ord., liv. 4,0, tit. 38 pr.; e cito Dec.,
art. 2° e 5°) .
Mas nada obsta a que o foreiro no contrato com o sub-
foreiro estipule laudemio para si, além do que compete ao
senhorio (Coelho da Rocha, Dir. Civ., § 56:1).
Se o laudemio não foi pago á camara, tem esta o direito
de exigil-o do vendedor, ou mesmo do comprador, se este
se obrigou de qualquer modo (cit. Coelho da Rocha, § 553).
ficando salvo a este o direito de ir rehaver do emphyteuta
o laudemio por este recebido, se pelo contrato não tinha
tambem direito a elIe.
Mas é preciso não confundir laudemio, com o premio,
luvas, joia, etc., pela sub-emphyteuse simples.
Ao 4.° Apezar dessa declaração, tenho por valido o sub-
aforamento; porque se não havia o dorninio pleno, havia
o dominio util, que legitima o contrato.
O direito a haver seria da camara e não do sub-emphy-
teuta.
Março, :181>1>.

Testamenteiro; acquisições; nullidade

L° Póde o co-herdeiro, que tambem é testamen-


teiro, faz~r
compra da herança?
2. o Como se concilião as disposições dos §§ 7
e 22 da Ord., liv. 1°, tit. 62, em relação a bens de
testamentaria encontrados em poder do testamen-
teiro?
ReS~lOsta

Ao 1." Entendo valida a compra da herança feita pelo


co-herdeiro, embora testamenteiro, A meu vêr, nenhu-
ma applicação tem ao caso a Ord., liv. :10, til. 62,
446 CONSULTAS SOBRE

§§ 7° e 22. O comprador não era simplesmen te testamen-


teiro, e sim tambem herdeiro. Ora, o herdeiro póde ad-
quirir, como é expresso no final dos mesmos, §§ ci t.
A prohibição quanto ao testamenteiro funda-se no prin-
cipio geral de que o administrador de bens alheios não os
póde fazer seus, razão porque igual prohibição existe
contra os tu tores, curadores, juizes, escrivães, etc., em
relação aos bens sujeitos á sua guarda, administração e
inspecção.
O testamenteiro é equiparado a mandatario; este tam-
bem não póde, por via de regra, fazer seus os bens do
constitui nte.
O herdeiro, porém, nenhum impedimento tem; nenhuma
lei ha que lhe prohiba a acquisição por todo e qualquer
meio legitimo. O herdeiro é um successor por titulo uni-
versal, quer seja eUe unico, quer concorra com outros, seja
ab-intestado, seja por testamento; para elIe passa a posse
civil do defunto, testado ou íntestado, com todos os effeitos
de natural.
Conseguintemente, superior ao do testamenteiro, tem
qualidades que sobrepujão á deste, por fórma que, indeppn-
dente mesmo de ser nomeado testament.eiro, elle póde ser
executor do testamento, que em direito se diz testamenteiro
legitimo. Ora, jámaís se pretendeu applicar ao herdeiro em
taes condições a prohibição da lei. Pouco importa, pois,
que o herdeiro seja testamenteiro nomeado pelo testador;
os seus"direitos proprios e as obrigações respectivas dis-
pensão tal nomeação; a qualidade de testamenteiro desap-
parece ou é dominada pela de herdeiro. Seria até um
contrasenso sacrificar os direitos amplos de herdeiro aos
restnctos de testamenteiro, isto é, que o menos absorvesse
o mais.
Ao 2.° Não ha antinomia alguma entre os §§ 7° e 22
da Ord., liv. 1°, tit. 62. Em primeiro lugar, a prohíbição
se deve entender a respeito dos bens da. testamentaria, como
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 447
se acha expressamente declarado no art. 1.47 do Cod. Crim.
Braz., porque são esses os bens qne se devem entender
confiados á administração do testamenteiro, e ácerca dos
quaes se dá com todo o funua.mento a razão da prohibição,
sendo qlle neste sentido me parece haver interpretado
o autor do Dig. Port., liv. 3·, § 202, o já cit. § 7· da cit.
Ord., e já anteriormente Lobão a Mello, liv. 1°, ti~. 8·,
§23, n.7.
Em segundo lugar, a Ord. no § 32 cogitou do caso
em que, ainda depois de prestadas as contas, alguns
bens de raiz fossem achados em poder dos testamenteiros
dentro de quarenta annos, a contar do fallecimento, e em
conformidade da prohibição anteriormente decretada no
. § 7·, obriga-os a restituil-os. Faz, porém, in fine duas ex-
cepções: primeira, se o testamenteiro os houve do testador;
segunda, se os houve por algum justo titulo. Na primeira
refere-se expressamente (lO final do § 7." Na segunda estatue
disposição nova para garan ti r, em regra geral, a bem do
testamenteiro, alguma legitima acquisição que houvesse
feito de taes bens, como serião a adjudicação ao mesmo,
feita em fórma legal, em execução de sentença, a hel'ança
de outrem que não o testador, e acquisições semelhantes.
A compra ao herdeiro estaria comprehendida nesta excep-
ção. Esse § 22 amplia, portanto, e não contraria o § 7·
referido.
Outubro, 186!.

Testamenteiro conjuncto; direitos delIe em o inventario

Póde a viuva testamenteira conj uncta e tambem


herdeira continuar a exercer o encargo em falta do
conjuncto, e de preferencia aos outros nomeados
em ordem suL .sequente?
448 CONSULTAS SOBRE

As funcções do testamenteiro o autorisão por


qualquer fórma a intervir no inventario para recla-
< mar contra avaliações?
O que lhe compete fazer, não sendo inventariante
nem herdeiro, para cumprir as disposições do tes-
tador?
Resposta
Parece-me que, embora nomeada testamenteira con-
juncta com outro, a viuva do testador póde exercer aquelle
cargo em falta do conjuncto (Vide Cod. Civ. Fr. , art. 1033,
e outros codigos que o seguem; Cod. Civ. Port., art. 1904
e 1907; C. da Rocha, § 720 in fine). E, pois, de prefe-
rencia aos outros nomeados em ordem subsequente, tanto
mais quanto é ella a unica herdeira a quem incumbe a
administração do espolio, o inventario e partilha. Além de
que o conjuncto bavia fallecido ainda em vida do testador,
e toàavia não alterou este aquella sua disposição nomeando
primeira testamenteira sua dita mulher; caducou assim a
nomeação do conjuncto, mas ficou subsistente a da mulher,
porém como testamenteira singular, e já não conjuncta.
Quando, porém, assim não fosse, e devesse a testamen-
taria passar aos nomeados em terceiro lugar, entendo que,
a pretexto de sua vintena, não têm elles o direito de inter-
vir no inventario para reclaI?ar contra as avaliações, e
serem ouvidos em todos os termos delle ; isto só cabe aos
herdeiros, unicos que, com o inventariante, são partes em
tal processo. O credor, o legatario, etc., só podem requerer
por fóra, e apenas o que fôr de seu exclusivo e proprio in-
teresse.
O testamenteiro, simples executor do testamento, e não
inventariante ou herdeiro, póde obrigar a que lhe minis-
trem os meios de satisfazer os legados e disposições a seu
cargo (C. da Rocha, § 721); póde mesmo fiscalisar o inven-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 449

tario no intuito do comprimento do testamento. Mas o seu


di reito á vintena (que póue pelo juiz ser arbitl'ada até 5 °/0
conforme o trabalho da testamen tar ia, costume do lugar e
forças do espolio, nos termos do Dec. n. 1405 de 3 de Julho
de 185l~) não constitue um in teresse pl'Íncipal que lhe dê
o direito a ser parte no inventarin,
Junho, 1872.

Testamenteiro; perda do premio; fiubstituição do testamenteiro;


tutor; premio; custas; acções
Lo Póde se r abonado ao testamenteiro a quem
foi deixado o remanescente dos bens uo testador
como vintena, fez inventario e partilha, o mesm o
premio, ausentando-se ell e uo lugar por faIl encia ?
2: Esse premio não passa ao testamenteiro da-
i" ,o e tutor dativo ?
3.° Porque modo póde ser d.ecretada a perda do
premio do testamenteiro?
4.° Qual o meio a empregar para acauteiar os
bens do espolio que ai nda se achavão em poder do
testamenteiro fallido ? E em relação ao alcance em
que possa estar como tutor dos menores?
Resposta
Ao Lo Desde que o remanescente da terça foi deix.ado
Cfll110 premio ao testamenteiro nomeado pr.lo testador, que
acei tasso a testamentaria e a tutela dos filhos, e que elle
aceitou taes encargos, pl'Ocedeu ao inventario, deu parti-
lbas, cuidou dos orpbãos até que ausentou-se por fallido,
parece-mo que o qllinhão que lhe conbe na partilha, feita
e julgada, elle o adquiri0 legi t.imamenle, e não se verifica
o caso de perda desse premio assim havido, já porque
r
29
CONSULTAS SOBRE

aquella clausula demonslmtiva da instituição ou mesmo


modal não teria lal consequencia (Il1st. de legal., §§ 29, 30;
L. 80, Dig. de condito et clemons. ; Mello Freire, Dir. Civ.,
, liv. ::lo., tit. 7°, §§ 12 e ,1 3; C. da Rocha, §§ 702,70 ),
pois não é verd adeiramente uma condiçuo e não expõe a
pe1'cla total do direito (Savigny, Di?". Rom., §§ '128 e 129),
já porque não se veriUca rigorosamente o caso do § i2 da
Ord., liv. 1°, tit. 6:'2 , e as disposições pen<ies não se am-
plião. A. perua só poderia ser procedente, quando muit.o, a
respeito do que ainda tivesse elle de receber, porque veri-
ficava-se ter deixado de exercer aquelles encargos, por
força da fallencia e ausencia.
Ao 'i. Sendo assim, esse premio nunca poderia perten-
O

cer ao testameuteiro dativo e tutor dativo , porque destes


não cogitou o testador. O tes tamenteiro dativo só póde
pedir o premio do que ainda tellha a liquidar para o iuven-
tario, nos termos do Dec. n. H·05 de 3 de Julho de -1 8M.
O premio é P1"O laboTe . O tutor dativo pó de pedir a vin-
tena (5 %) dos rendimentus dos bens dos menores, não
ex~eele nLlo de 50U, na fórma da Ord., liv. 1°, tit. 88, § 53
(Oonsol. das L eis Oiv ., art. 298 e nota).
Ao 3.° A perda do premio j'l pago ao testamenteiro só
podeI"ia ser decretada por sentença no caso vertenle;
porque não é daquelles em que os juizes o possão fazer
administrativamente co"forme a Ord., liv. -} o, tit 62, § 12,
e Reg. de 2 de Outubro ele 1851, art. 35. Elle recebeu
como herdeiro iostituido e a titulo de remanescente da
terça. A quest:lo demanda, pois, mais alta indagação, e
deveria ser tratada em acção orJioaria no juizu commum:
importa a perda ela. mesma herança.
Ao 4.° Se se trata de acautelar, a bem do espolio, o que
ainda estava em poder do testamenteiro e iuventariante,
corno administrador que fallio, ahi estão os arts. 874,
§§ iO e 5°, e art. 88i, Cod. Com., que resolvem a duvida,
podendo-se recorrer, no caso de contestação, ao expediente
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 45t

primario do arl. 860 e mesmo ao do art. 888. Se se trata


de aCJ,uLelar o alcance em que elle esteja como LuLor, é
pl'eciso que se lhe tomem as contas no juizo de orphãos,
e que pelo alcance se proceda semelhante ao caso antece-
dente, visto o art. 878, § 1° do mesmo Codigo. Poderia
mesmo applicar-se o que dispõe a Lei novissima bypothecaria
d.e t8M e seu Reg. de -1865, dados os , casos nelles pre-
vistos; mas então em fórma contenciosa, pelo juizo civil,
e unicamente quanto aos immoveis do tutor.
Setembro, 1868.

Testamenteiros; premio; legado


Lo Perde o testamenteiro primeiro nomeado, e
a quem foi deixado legado como premio, o seu lugar
pelo facto de achar-se ausente na occasião do
fallecimento do testador?
2.° A simples aceitação de uma testamentaria
importa direito i vintena?
3. o Que premio póde ser arbitrado ao testamen-
teiro que não é herdeiro?

Resposta
Em vista da exposição, é manifesto:
Que o testador, nomeando testamenteiros successivos,
indicou a preferencia que dava na ordem da nomeação;
que o legado, pelo mesmo deixado ao testamenteiro que
aceitasse a Lestamentaria, é premio ou em remuneração do
seu trabalho.
Conseguintemente parece-me:
Lo Que haver o segundo aceitado o encargo por estar
ausente na occasião o primeiro, não tira a este a sua pre-
ferencia ; se comparecer, póde assumir a testamentaria.
452 CONSULTAS SOBRE

2.° Que uão basta a simples aceitação della para ter


direito áquelle premi o : é preci so que tenhl exercido, e
dado cumpri mento e exceuç,10 ao testamento ; elle é p"O
l ll bo1'C.
Tal é (a meu vêr) a intenç:lo e mente do tes tador, a que
se deve antes aLtender elo qne ás palavras.
;~. o Ao testamenteiro, que não é herdeiro ou legatal'io ,
e todavia fl1uecio nou, o juiz poderia arbitrar uma vintena
razoavel (Vide Dec. n. 1605 de 3 de Julho de '185/1.) .
Setembro, J873.

Testamento; approvação ; nullidade

L° E' essencial a assignatura da testemunha no


auto de approvação do testamento?
2.° E se houver erro de nome na assignatura, é
sanavel a nullidade '?
3.° O auto de approvação contendo todas as sOft
lemnidades marcadas pelas leis é inataca.vel ?

Resposta
Ao i. ° A falta de assignatura da testemun ha no auto de
approvação importa nulliLlade desta (Ord ., li v. 4.°, ti t. 80,
§ 1° in fine; Ass. de -l7 de Agosto de 1811, e 10 de Junho
de -1817) : é substancial.
Ao 2.° Mas , se a testemunha tiver assignado, havendo,
porém, en'o rio nome, entendo que isto não induz nulli-
dade, restando provar-se a identidade da pessoa desde
que se levante eoo testação.
Toda a prova é admissivel, sendo de maior valia o de-
poimento das outras instrumentarias, do oflicial qne fez
a approvação, por serem preseociaes.
Ao 3.0 Do auto da approvação devem constar todas as
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 453

solemnidades externas sL1 bstanLiaes: pena de nullidac1ú, na


fórma da Ord., e Ass. supra ciL. Mas não é elle inatacavel;
se fôr contestado, loda rt prova ú ad misjvol para tirar a
limpo a verd ade.
Abril, i 87L

Testamento; assígnatnra

E' moti\'o de nullidade omittir a testemunha, que


assigna a rogo do testado !', decl<u'3.r que o faz por
não saber o mesmo 0 11 não pod er ?
Resposta
Enlendo qu e a omissão do escrÍptol' do testamento ou
da testemullha, ele declarar ao pé ela assignatma que faz °
a TOgO P01' não sabe?' ou por não pode?' O tes tador assi gnar,
não é por si só motivo de nullidade ; seria supersticiosa
observancia de furmalidades, reprovadi1 pelo Ass. de to
de Junho de 1817 (Viele C. Telles, A'[ an. do Tabel., § 252.;
Oonsol. das Leis Oiv., nota ao art. 1055, § 10).
Novembro, 1869.

Testamento; caducidade; revogação; filiação natural


Pedro, no estado de solteiro, fez o seu testam ento
no anno de 1812, e nelle declara que por já serem
fallecidos seus pais, e não ter filhos nem outros
herdeiros necessal'ios institue seu uni~ e rsal herdeiro
Paulo,
Em 1846 Pedro fez baptizar quatro meninos, e
no respectivo assento declara que aquelles meninos
CONSULTAS SOBRE

são 5eus filhos, bavidos com Maria (mulher solteira,


, com quem não havia impedimento para casar, se
tivesse querido), fazendo sobresahir as seguintes
palavras - e quero que fiquem sendo considerados
como se tivessem nascido de legitimo matrimonio,
e por isso meus legitimos herdeiros, servindo lhes
este assento de seu titulo como se fosse eseriptura
publica.
Este assento, além da fé do parocho, está assig-
nado por Pedro (pui dos meninos ) e por duas tes-
temunhas presenciacs.
Em 1848 falleceu Pedro. E em virtude daquelle
testamento de 18t 2, Paulo (herdeiro institui do )
tratou de addir a herança, e effectivamente della
se apossou.
Pergunta-se
Lo Este testamento de 1812 é valido? Póde pro-
duzir seus eft'eitos, ou está róto e caduco pela su-
perveniencia dos filhos naturaes sllccessiveis que
o testador reconbeceu ?
2. o Tendo fal1ecido o testador posteriormente á
Lei de 2 de Setembro de 1847, que exige o reco-
nhecimento dos filhos ,por escriptura publica e as-
sento de baptismo, na fórmrl. da proposta é sufficiente
para dar aos filhos o direito de Sl1ccessão :
Sendo pela negati va .
3: O facto de não poderem aquelles filho~ natu-
raes succeder na herança do testador. póde apro-
veitar ao herdeiro institniclo, fazendo assim reviver,
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 455

tornanuo firrne e subsistente o !.p,slarncllto de 1812 ,


ou deve ellc ser s"m prc considel':1rlo rôto e caduco,
visto que o reconhecimento dos filhos importa ma-
nifesta mudança de "ontad c Jo testador, expressa
revogação das disposiçõe s contidas naquelle testa-
mento:
4.° A::;sim considerada a lJ erança ob intestato, não
podendo succeder os filhos do testador rOl' não
se rcm reconhecidos por nenhum dos modos desig-
I naelos na LCI de 2 de Setembro de 1847, terão os
irmã os germanos de Pedro Jireilo a succeder nos
bel~s deste na ordem d:1s successões ab inteslato ?

Respo sta
Ao LU Enteudo roto e caduco o testamento em questão;
porquanto, se os filhos natul'aes de Pedro são successiveis,
nos termos da Orei., liv. 4°, til. 92 pr., elles são chamados
;L herança de 'eu pai de tal modo, que esle não póde c1ispôr
senão da terça, sendo para isso reputados herdeiros neces-
sarios e como se forão de legitimo mal rimonio (Coelho da
Rocha, Di/'. Oi'v. P01't., § 34(7), aos ql1aes são inteiramente
igualados a pOllto de conjunctamente com este succederem
a Eeus pais (cit. Ord.), tanto mais quanto no caso vertente
se dá o reconhecimento dos mesmO:-i em acto solemne de
bapLismo, com expressa dedaraç50 feita pelo pai de que
elles seri.io seus herdeiI'OS, o que denota manifesta mu-
dança de vOlltade.
Mesmo qu:tnclo tJl reco nhecimento não houvesse, proce-
deria êl doutrina ex-vi da cito Ord., combinada com a do
liv. 4°, tit. 82, § 5°, cabenclo aos filhos provar por qual-
quer genero de provas a sua fili ação natural, visto como
são nascidos anteriormente á Lei de 2 de Setembro de i847,
que não póde ter effeito retroactivo, segunuo já tem sido
Mi6 CONSULTAS SOBRE

julgado por mais de uma vez na Relação desta côrte e no


Supremo Tribun al de Justiça.
Ao 2.0' E' questiona,el esle ponto em face da Lei ci tada ,
pri ncipalmente se se tomar a phrase - escriptura publica
na sua accepção res lri cta, isto é, como 0- acto publico la-
vnLclo em nolas pelo lab ell ic7o .
Mas, tendo os fi lhos em questão nJscido anteriormente
á Lei ele 18!~7, se são de pai plobeu, tinhão já seu direito
adquirido á berança paterna (Ord., liv.4°, tit. 92 pr.), e
não o podem perder por lei posterior di1'ecta ou indi?'ccta-
mente, por isso que esta não póde ter effcito retroa.ctivo.
E assim, a certidão de baptismo e as outras provas auxi-
liares de'lem SOl' admittidas em seu favor.
Ao 3.° No caso em que os filhos de Peoro fossem ex-
cluidos, parece-me que está sempre rôto e sem eITeilo o
testamento; porque o reconhecimento do pai cOlyJ. aquella
expressa declaração que ahi se lê me parece importar a
revogação do testamen to anteriormente feilo, pois para
isso basta não só um outro testamf!nto v<J.liuo e legal, mas
aetos que provem e induzão essa revogação (Ord ., liv. 4°,
til. 81.; Gouvêa Pinto, Testam., capo 24; Corrêa Telles,
Dig. Pm't., yol. 3°, art. 1.872 e seguintes).
Ao 4·.° As respostas anteriores decidem esta questão.
Devo, porém, observar que, se forem excluidos da herança
os filhos de Pedl'O, cabe aos pais e ascenden tes, ou aos
outros i'uccessores na oruam legal, o direito a ella, nsando
das acções que competentes forem C~') .
Set.embro i HS3.

Testamento; cumprimento
Pódc-se cumprir o testamento que apparecer
aberto?
n Sobre esta pl'or:osta vide Jornal do Comme?'cio de 14 e 23
de Setembro, e 2 de Outubro de 1853.
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 457
Qual o remedio para val id:ll-o?
Resposta

A questão de direito, se eleve cumprir-se o testamento


que :;pp~rece abe1'to ao tempo em que fallece o testador,
é difficil, porque depende de tirar a limpo se foi o testador
quem o abria, e se com intenção de revogar ou inutilisar
(Vid e Lobão, Dissert . , em supplemento ás Sego L1:nh., 6",
§ 3l e seguinte, 4,4. e seguintes, Cjue seguemC. da Rocba,
C. TelJ es, Gouvêa Pinto, etc.).
Poderia. o juiz, mediante justificaç:to dos factos, mandar
provisoriamente cumprir, salvog aos interessados os seus
direitos, á spmelhança do caso de ter sitio aberto por
pessoa particular ou por antoridadc incompetente (Vide Ma-
nual do Proc. ela Fa=., nota 859 ; Oonsol. das Leis Oiv.,
nota ao art. 1087).
Julho, 1868.

Testamento ; fidei·commisso ; instituição de herueiro a cargo


de terceiro
Pedro em testament'J instituío herdeira sua mu-
lher, e ahi declarou que em carta lhe recommendava
certas disposições a favor de algumas pessoas, e
o desti no a dar aos llens de qUE'. ella teria o gozo
durante sua vida. Em a carta, dispondo a favor de
certas pesso:1.~, no remanescente, deixou á mulher
a faculdade de contemplar quem ella entendesse,
parente ou estranho, que mais lhe merecesse por
têl a melhor acompanhado, etc. A viura de Pedro
no seu testam ento assim fez, e in stituio herdeiro dos
remanescentes seu irmão, declarando que deste
.\58 . 80NSULTAS SO~ItE

modo cumpria a vontade de seu marido~ verbal, e de


confor'midade com a dita carta.
Pergunta-se
E' valida esta in stituição?
Resposta
Não temos lei exprl ssQ. palria para o ~aso, de sorte que
a ques tão póde-se reso lver a[firmativa ou neciativamente,
conforme o direito que se adoptar como subsidi:lri o nos
termos da Lei de 18 de Ago5lo de 069,
Por direito romano era prohibid o deixar' a arbitrio de
terceiro a instit~ição ue herdeiro (L. 3':2, Dig. de hcered.
instit. e outras) regra,que todavia soffria excepções: v. g.,
se a escolha fosse d'entre o numero de certas pessoas
(L. 7a,!§ 1°, Dig. de?'eb, dub .) , se indú'eclamente (L. 68, Dig.
de hcernd. in.<lit.).
Os nossos praxistas e civilistas achão-se divididos. Mello
Freire, JJÚ'. Ci.v., liv. 3°, til. 5°, § 36, é de opinião que
não ha hoj e motivo para tal prohibi ção, quer tacita e iodi-
reetamente, quer mesmo expressamente. E o segue Gouvêa
Pinto, Testam., capo 20 in fine. Lobão, Notas a Mello cit.,
n. 6 e !), não se lhe oppõe em abso luto; faz, porém, dis-
tincções, segundo a doutrina deeluzida da Lei H, Dig. de
dot p?'celegat. C. Telles, Dig, Port., liv. 3°, arl. H:i48, esta-
belecendo a regra oegativa, faz-lhe excepção no art. 1549.
C. da Rocha, Di/'. Civ., § 693 in fine, pare ce decidir pela
negativa, sem distincção, fundado principalmente no Coei.
da. Austria, arl. 564 .
Na hypothese de que se trata, eu não vejo razão plau-
sivel para se atacar de nullidacle a insti tuição de herdeiro,
confiada pelo marido á sua vi uva, em vista da ca1'la de
consciencia a que se refere o tes tamento.
As cartas de consciencia reputão-se parte integrante do
testamento, quando neste se faz dellas menção, e pois são
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO ~59

validas. O seu cumprimento fica á boa fé e consciencia do


executor, até sem obrigação de as exbibir (Resol. de 26
de Julho de 1813, Ooll. Nab.).
Se como usofructuaria ou simples fiduciaria não poderia
a viuva dispôr em testamento elos bens respectivos, ou entre
viyos,bem podia fazêl-o desde queo testador lhe facultasse,
porque seria em tal caso reputada quasi p?'oprietaria
(L. 54, Dig. ad. S. C. Trebell. ; Nov. !O8, capo 1°). Além
de que, pelo acima referido, poderia applicar-se a doutrina
de Mello, Gouvêa Pinto e outros, fundada aliás em alguns
textos do propeio direito romano, reprovados e não aceitos
outros, na fórma da Lei cito de 1.8 de Ágosto e correlatas.
Mas, sendo opinativa a solução de direito, não se deve
ter por absolutamente inatacavel aquella instituição.
Setembro, 1868.

Testamento; herdeiro necessario ; fallecido antes do testador; lega-


dos e herança;:direito de accrescer; partilha
1.0 Falleecndo a herdeira necessaria antes do tes-
tador , como se ha de ellmprir o testamento em re-
lação aos dous terços?
2.° pódc. o herdeiro ser tambem legatario?
3.° Qual o effeito que tem a sentença que julga
o calculo dos direitos fiscaes nos inventarias?
Resposta
L° O testador, por ter mãi viva ao tempo em que fez o
testamento, sua herdeira necessaria, limitou-se a dispôr
da terça, na fórma da lei.
lfallecendo, po rém, ella antes do mesmo testado!', e
ampliando-se a sua disposição, subsistindo no entanto
o testamento (por elle não alterado), valem os legados em-
460 CONSULTAS SOBRE

quanto couberem nas for ças tla herança e a institcição na


terça, visto ser esta a m!Jn t e ou intenção do testador, ~L
qual de preferéncia ~e deve aLtender, adrnittidos tambem
á herança aquelles a quem ab inteslado ella caberia, mesmo
ea; vi da Ord., liv. Il", tit. S~ e til. 96
O direito de accroscer, quando admissivel entre nós,
não te' ia appli cação alguma ao caso vertente, vislo ~om o
elle só póde ser invocado por herdeiro ou legatario insti-
tuido conjw~ctam(ln tl1 , hypothe e de qu e se não trata (Vide
Mello Freire, D-ir. Civ., liv. 30, til. 70, § ultimo ; Lrlbão,
IJisse?'t. 8", em supplemen to ás Ji cç. Swn. ; C. Rocha,
§ 697 e nota GG'.
Devolve-se, pois, a hera nça co mo nos casos gel'aes de
testamenl o em que não ha herdeiro necessario.
2: O proprio herdeiro póde tambem ser legatario .
!-l.o À sentença que jnlga o calculo para o imposlo da
herança pode ser aILerada ou reformada se o calculo está.
errado. O erm nito p.1.ssa em .i ulgado.
E não ob:;la a fazer-se a rarlilha como seja de direito
ou mais convenha ás par tes, salvo os impostos porvenlura
devidos, conci!i:lndo-sc clest'arte os in teresses fiscaes com
os particulares.
Outubro, 1875.

Testamento; palavras essenciaes


A fa lta de declaraçfl,o da testemunha que assignou
a rogo do testad or annulla o testam ento?
As palavras que o t08ta(10r profere ao entregar
o testamento. devem reputar-se essenciaes para a
sua validade ~

A falta de declaração da testemunha, a rogo, por não


VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 46,1

saber ou n[o poder, não annulb (entendo) o lest:lmento


e approvaç,'i:o, unn vez que isto se aehe resalvado por de-
claraç:lo do t:lbelliiIo. que o porte por fé ex vi do A~s . de 10
de Junho de '1817.
Igualmente não annulla (entendo) a falLa das palavras
que ha por bom, firme e valioso, por não serem sacramen-
taes,desde que conste que o testador entregou e manifestou
a vontade de que fosse approvado e valesse (C. Telles,
Man., nota 1 ao § 2~O ; Lobão a Mello, Dissert. q.", § 017
e seguintes).
Nem á Lei 21, Cod. de testam., (fonte da Ord., liv.4",
tit. 80), exige semelhante declaração com taes palavras.
Setembro, 186~ .

Testamento; reducção
Achando-se arrecadada como jacente uma he-
rança, a reducção do testamento relativo a ella é
perante o juizo Ja provedoria?
Resposta
Em causa de reducção de testamento , AA. D. Jesuina
Guilhermina de JrS l1S e outros, RR. os herdei ('os incertos
e ausentes de D. Delfina Rosa de Jesus, o curador á
á herança jacente desta ultima e o procurador dos fei tos,
18M, juizo de direito da 3' vara civel desta côrte, escrivão
Coelho, apezar de vir o procurador dos feitos com a incom-
petencia do juizo, fundado no Av. de 24 de Fevereiro
de 18~8, o juiz julgou-se competente por não haver lei
que o determine, sendo que compete ella ás justiças ordi-
narias sem distincção.
Com effeito a cloutrina daquelle Aviso de 24 de Feve-
reiro de 1.848 é destituida de fundamento juridico e legal.
A lei dá aquella atlribuição aos juizes do civel, ou mu-
462 CONSULTAS SOBRE

llIClpaeS (Dispos. Prov., art. f3; Lei de 3 de Dezembro


do 184.~ ·, art. H4. a H6; Reg. de f5 de Março de 184.2,
~ rt. 2°, § i O, 5 e 6; Av. de fO de OuLubro de f844) , ex.-
cluído ojuízo deol'phãos (Disp. Prov., art. 20; Lei de 3 de
Dezembro de 1841, art. H7; Reg. de f5 de Março de f84.2,
art. 4,0 e 5°; Av. de f i de Abril de '1834.).
E não ha lei alguma que estabelecesse como privativo
naquelle caso O juizo da provedoria.
Dezembro, i 854..

Testamento; solemnidades substanciaes; irregularidades


Quaes são as solemoidados que se devem reputar
essenciaes para a validade dos testamentos?
As palavras-bom, firme e valioso-são conside-
radas sacramentaes ?
E' indispensavel que a testemunha que assignou
a rogo do testador o declare, ou póde fazêl-o o ta~
bellião ?
Constitue falta o haver o tabellião nessa decla-
ração deixado de appôr o signal publico?
Resposta
Applicado restrictivamente ao caso disposto na Ord.,
liv. 4.°, tit. 80, §§ 1° e 2°, explicada pelos Ass. de 17 de
Abril de 1811 e 10 de Junho de 18{ 7, alguns dos defeitos
apontados constituirião nullidade do instrumento de appro-
vação (Vide Gouvêa Pinto, Tostam., -capo 45), e portanto
do testamento.
Segundo, porém, a intelligencia dada por outros (Vide
c. Telles, Man. do Tabel., § 24.8 e seguintes), não é isso
tão liquido, sobretudo em face do cito Ass. de f817, que
proscreveu - a supersticiosa observancia da lei, que,
VAlHAS QUESTÕES Di DIREITO 463
olhando s6 para :l letra, deslrua a sua verdarleira intenção,
com muito prejuizo da validade e firmeza dos testamentos,
inquietação elas f,tmilias e fé pub~ica dos tabelliães, decla-
rando quaes as solemnidades substan ciaes, afim de se ga-
ranlir-a liberdade de tesbr.
Bem examinada a. app ro vação ele que !'e trata, ella. CIlTl-
tém tudo quanto se deve reputar substancial.
As palavras - bom, firme e valioso- não são sacramen-
taes: ba alli equivillentes desde que consta que a testadora
declarou'- que era o seu lestamento e ultima vontade, e
disse que (o tabellliio) o apP,'ovasse para que tenha o seu
devido vigor (Vitle C. Telles ciL, nota ao § 250).
A assignatura drt testadora está supprida pela da teste-
munba a seu rôgo pOl' não poder fazêl-o a testadora, se-
gundo a declaração do tabellião (Virie C" Telles cit., § 252;
Oonsol. das Leis Oiv., nota ao arl. 1055, § :1.0).
Não ha rigorosamenle falta de assignatura do tabellião,
que aliás assignou e pôz o seu signal publico. Apenas na
declal'ação addiciona.l deixou de pÔt' rt assignatura dupla,
satisfazendo-se com a. simples e com a outra que já havia
feito, repetindo, porém, o seu signal.
Não consta elo auto que porte por fé o tabellião os actos
passados perante elle, testemunhas e test.1dora. Mas en-
tendo que, se não é explicita, está implicita essa fé do
tabellião em o insirumento referitlo, attenta á sua re-
dacção.
Essas irregularidades ou defeitos apontados parece-me
que não devem ser elevados á categoria de nullidade,
sal vo prova de factos que induzão suspeita contra o acto.
Maio, :1.873.

Testamento; subtracção ou perda


E' indispensavcl :1 ex.bibição do testamento ori-
gina.l para o seu cumprirnento1
464. CONSU LTAS SOBRE

Quaes OS recu rso s a empregar no caso ele sub-


tracç5.o de um testamento '"I
Resposta
A apresentação do proprio testamento original me parece
por nossas lei s indispensavel para que se lhe dê cllmpl'i-
men to, o que se conclue já das solemnidades internas e
exlernas exigidas para a SUrl. validade, já da necessidade
de seu registro na provedoria onde até deve ficar archivado
(Ord. , li v. 1°, til. G2, § 8°; Lei de 7 de Janeiro de 1792,
§ 11; Dec. n. 834, de 2 de Outubro de 1851, art. 34, § 2°,
e art. 41 ).
Parece-me, portanto, in adm issirel a substitui ção ; e que
só resta a acção civel para a exbibição e entrega contra
quem o tiver em seu poder, e a acção crime que no caso
couber. Seria cas o de busca .
Agosto, 1860.

Thesoureiro; hypotheca legal; credito de dominio


Qual o direito que tem um a ordem terceira
sobre os bans de seu tbesoureiro?
Resposta
E' minha opinião qae a ordem terceira tem hypotheca
tacita legal nos bens dos thesoureiros (Lobão, Exec., § 605;
arg. do § 41 da Lei de ':lO de Junho de '1774), nlo só
po:'qlle, á semelhança elos menores, gozão do mesmo favor,
mas porque os dinheiros em mão do thesoureiro se reputão
em deposilo.
E conseguintemente deve a ordem preferir a outros cre-
dores, na fórma das leis em vigor, sendo que, no caso de
fallencia ou de execução commercial, seria eUa credora
do dominio e graduada em primeiro lugar (Cod. Crim.,
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 465
arts. 874 § fO, 880; Reg. n.737 de f850, art. 620 § fO,
e 624).
Março, f858.

Tutela de padrasto ; fiança


Póde o padrasto estrangeiro exercer o encargo
de tutela?
Ha disposições que o excluão de ser tutor de me-
nores brasileiros 'l
Está o tutor naquella condição sujeito á fiança?
Resposta
Sou de opinião que pó de o padrasto, ainda quando es-
°
tl'angeiro, ser tutor, devendo, porém, juiz ser muito
escrupuloso na nomeação, e exigir que seja pessoa idonea
e abonada; porquanto, não se lhe referindo a Ord., liv. ".,
tit. 102, § 4°, nem havendo outra lei que o exclua, fica
comprehendido na regra geral das pessoas que o podem
ser (Vide Pereira de Carvalho, Proc. Orph., nota 254.).
Ainda que estrangeiro, porque esta qualidade é apenas
escusa voluntaria (B. Carneiro, Dir. Civ., liv. fO, tit. 28,
§ 2"7, n. 24), todavia os Av. de 8 de Junho de t837 e 9
de Setembro de oi8U o excluem da tutela de brasileiros
(Vide Roteiro dos Orphãos, nota 272).
°
Deve prestar fiança se o juiz exigir, excepto sendo
nomeado em testamento (Ord. cit., § fO, 5° e 7°; cito Pe-
reira de Carvalho, nota 221 ).
Março, f855.

Tutela; remoção
Póde um individuo que é distribuidor, partidor
e contador do juizo, ser curador e tutor do orphão ?
30
466 CONSULTAS SOBRE

Resposta
Entendo que sim, porque é apenas excusa (Ord., liv l~o ,
tit. 104 ,' § i Pereira de Carvalho, P 1'O C. Orph., § i32
O
;

e nota 258).
Dezembro, 1853.

Usofructo de escravos; venda


Póde o nú proprietari o de escravo em usofructo
a al guem, para a.cautelar os seus ilireitos, fazer
ven deI-o, entregando ao usofructu ari o o produ cto
para gozar ?
Resposta
A venda de que se trata parece-me não ter lu gar,
porque seria offensiva dos direilos do uso fru ctuario.
Em regra, o usofructuario t@ m o direi to de lIsar e gozar
como lhe mais convenha, se não ha restricção posta ao
llsofructo ou lei que outra CO USl determin e. A proprié.
alforria conferi da ao escravo pelo nú proprietari o não pre-
judicava o mofru cto (L. ia, Cod. comm ., manum.).
. Ficão salvas, todavi a, as disposições favoraveis á liber-
dade, constantes da Lei ele 28 de Setembro ele i87i e
Reg. de 13 de Novembro de 1872.
Novembro, J 872.

Usofructo; herança; accrescer


Pedro, fallecido, deixou em verba testamental'ia
a Joanna o usofrucLo de uma casa, com a condição
de p a s ~ ar por sua morte aos filhos da mesma, José,
Antonio e Maria. O herdeiro Antonio morreu.
VAIUAS QUESTÕES DE D1REIT@ 467

Pergunta-se
1.° Quem é senhor da parte pertencente a Anto-
nio: sua mãi ou os irmãos '?
2, o José e Maria poderáõ vender ou hypothecar
a dita casa, viva ainda a mãi?
3: Fallecendo qualquer destes antes da mãi, é
valiosa a venda ou hypotheca '?
Resposta
Suppondo, attenta a dubiedade da proposta, que a usu-
fructuaria é só mente a mãi, e que os filhos são os legata-
rios definitivos da ~asa, direi: duas grandes questões de
direito se prendem ao assumpto de que se trata, a saber:
o chamado di?'eilo de acc?'esce?', e a iransmissão do legado
condicional. Os escriptores e legislações dividem-se em
ambas ellas. E, pois, a solução aos quesitos não é absoluta-
mente livre da duvida .
Ao LO Tendo Antonio sobrevivido ao testador, adquiri0
direito á sua quota do legado na casa, embora dependente
do fallecimento da mãi instituida usufructuaria por sua
vida; direito que passou aos sellS herdeiros (Mello Freire,
Di?', Civ., liv, 3°, tit . 6°, § t3; C. da Rocha, §,700 e nota).
Se sua mãi é sua herdeira, a ella foi transmittida a sua
quota na casa por herança do filho,
Para aquelles, porém, que seguirem o direito romano na
Lei lJ: a e õ·, Dig. quando dedegat., e fizerem applicação do
direito de accresce?' entre os legaLarios, terá essa quota de
caber aos irmãos sobreviventes José e Maria, se sobrevi-
verem á usufrul\tuaria, ou aquelle que lhe sobreviver.
Ao 2° e 3.° José e Maria têm apenas por ora um direito
eventual (spes debitum iri), do qual podem dispôr, sujeito
todavia á solução definitiva dependente da condição refe-
rida, que todavia importa as difticuldades acima indicadas.
Março, i864..
468 CONSULTAS SOBRE

Usofrncto lmpropflO; reserva legal; partilhas no estrangeiro;


imposto

Qual o direito que tem o usofructuario , a qu em


o testador dá a faculdade de dispôr?
Tem o herdeiro a qu em passar os bens, extincto
o usofructo, o direito de pedir uma parte da hg-
rança?
Como devem ser partilhados os bens existentes no
lmperio '1 As sentenças de partilha.s processadas no
estraflgeiro são a.qui exequ iveis ?

Resposta

Dando o testador ao herdeiro usofructuario a faculdade


de dispôr, equipara-o para este fim ao proprietario, o que
constitue o usofructo impl'Oprio (Vide Nov. 108, capo i O
)'

E, não limitando o testador essa faculdade, póc1e aconte-


cer que nada,ou quasi nada reste.
Se o herdeiro tem direito a pedir uma parte, v. g., a
quarta, foi ques tão levantada,entre outros, por LobfíO,diss.9"
em suppl. ás Acç . Sum.; mas, em cOlltrario está Mello
Freire, liv. 3°, til. 7, §§ ~H e 22, e a torrente dos civilis-
tas, sendo que prevalece u a doutrina de que nunca foi pra_
ticada entre nós a reserva da 4' Falcidica ou Trebelliana.
Os bens existentes no Imperio devem ser aqui regular-
mente inventariados e partilhados, pagando-se os impostos
devidos, e obtida a respec tiva sentença, obrigatoria e exe-
quivel nelle, com qne se fação as transferencias nas repar-
tiçõas, etc. As sentenças e partilhas vindas do estl'angeiro
não são exe[Iuiveis no Imperio (Av. de i de Outubro
O

de 1847, de 20 de Abril de i849, Circo de 20 de Março


de i860 e de H de Novembro de i865) , salvo as que o fo-
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO 469
rem de conformidade com as convenções celebradas entre
os I'e~pectivos Estados. (~)
O imposto a pagar é o de transmissão de propriedade
por titulo successivo ou testamentario, cuja taxa e modo
de cobrança constão do Reg. n. 4355 de i 7 de Abril
de 1869. (H) OS legatarios e herdeiros,que tiverem de rece-
ber já, devem pagar logo; os iusLituidos para depo is de ex-
tincto o usofructo, só quando verificada esta eventuali-
dade.
Outubro, i87 t.

(") A especie é actualmente regulada pelo Dec. n. 6982 de


27 de Julho de 1878. As sentenças estrangeiras são exequi-
veis no Brazil, concorrendo certos requisitos, carecendo do
cumpra-se afim de serem recebidas nas estações publicas para
os devidos effeitos as sentenças de partilhas (art. 4, cito Dec.).
O art . i o § 10 desse decreto tornava dependente a execução do
principi,o de reciprocidade admittido pela nação donde pro-
viesse a sentença. U Aviso n. 570 de 24 de Outubro de 1879
declarou que não havia reciprocidade entre e Brazil e Portu-
gal, e portanto não erão exequiveis nos tribunaes e juizos do
Imperio as sentenças portuguezas, subsistindo, porém, a pra-
tica antiga quanto li rogatarias para a citação. O grande passo
dado para terminar enfadonhas questões parecia ter sido
mallogrado, talvez por culpa daquelles proprios a quem mais
directamente interessava a solução dellas.Promulgado no entre-
tanto o Dec. n. 7777 de 27 de Julho de 1880 determinou-se
que, na falta Lle reciprocidade de que trata o Dec. de 1878, a
sentença estrangeira é exequivel no Imperio mediante exequatur
do gOVCl'nO, o qual equivalerá pa ra todos os effeitos ao cumpra-
se do poder j udiciario. A. C.
('*) Hoje ~ubstitu ido pelo Dec. de 31 de Março de 1874, que
todavia conservou as laxas, fazendo pequenas alterações no
anterior quanto ao modo de cobran~.a.
.A. C.
47{) CONSULTAS SOBRE

Usofructo legal; direito do pai

Quaes são os direitos que tem o pai sobre os


bens do filho?
Póde o juiz tolher o exercicio desse direito ?
Qual a garantia que tem o filho?

Resposta

o pai é usofructuario legal dos bens dos filhos menores


(Ord., !iv. i tit. 88, § 6°; liv. 4°, tit. 97 , § 19; tit. 98,
O
,

§ 7°). E como usofructuario tem o direito de conservar em


seu poder taes bens para usar e desfructar segundo en-
tenda, salva a substancia por que é responsavel (Ord. cit.;
Mello Freire, Dir. Oiv., Iiv. 3°, tit. i3, § 4°; C. da Rocha,
Dir Civ., § 607 a 6H) .
E', portanto, abuso querer o juiz tolher o pai no exer-
cicio dos seus direitos de usofructuario (Vide Oonsol.
das Leis Oiv. Braz., nota ao art. 17ft-) .
Para sua garantia têm os filhos hypotheca legal nos
bens do pai (Lei n. 1237 de 1864, art. 3", § 3° e H).
O pai intimado póde vir com embargos em sua defesa,
contestando. Da decisão final ou do despacho que tenha
força de definitivo cabe appellação.
Julho, i873.

Usofructo ; substituição

Que especie de substituição se re aliza quando


por morte da mulher do testador, a quem fóra dei-
xada a terça, passa esta para os sobrinhos por
fa.lta de filhos vivos contemplados na mesma terça?
VARIAS QUESTÕES DE DIREITO ~7t

Resposta
Dispõz o testador da sua terça (por ter filhos), deixan-
do-a em usofmcto vitalicio á sua mulber; por morte
desta, passarão livres os bens respectivos a seus filhos e
filhas (do casál), ou netos se houver; e não sobrevivendo a
mulher, filhos, filhas ou neto algum, aos sobrinhos e so-
brinhas do testador em partes iguaes.
Portanto:
Se não sobreviver a estes algum, então irá aos sobrinhos.
Nesta segunda parte ha substituição compendiosa (Ord.,
liv. 4°, tlt, 87); a qual comprehende a fidei-commissaria
(Vide Consolo das Leis Civ. Braz ., nota ao art. 1052).
Novembro, '1875.

Venda de terras; reclamação; prescripção; estipulação a bem de


terceiro; medição; reivindicação; bemfeitoriaa; rendimentos;
successor; prejuizos; indemnisação; acções; questões.
L° Tendo S. comprado a A. uma fazenda, com
obrigação de restituir a Francisco uma certa por-
ção de terras, não tendo este sido presente á es-
criptura, póde S. prevalecer-se desta falta e do
lapso de tempo maior de trinta annos de occupa-
ção por parte de A. para deixar de cumprir aquella
obrigação?
2.° A aceitação do tabellião suppre a falta de
comparecimento de um interessado na escriptura? e
sem ella como póde este fazer valer o seu direito?
3. o Qual o recurso que resta a F., não querendo
S. cumprir a estipulação a que se obrigou?
4:. o Como podem ser consideradas as nesgas de
'~72 CONSULTAS SOBRE

terras que em uma medição, por commodidade


desta, forão deixadas entre a. linha traçada e o leito
do rio?
5." Qual o direito do occupante em relação a bem-
fei torias ?
6." Porque modo poderia proceder-se á indemni-
sação dos ren.dimentos e prej uizos causad os ?
7.° Qual a acção que melhor conviria a F. propôr
a S. no estado da questão?
8. ° Que outra acção restaria a F contra A. ?
Resposta
Ao LO Entendo que S., successor de A,., está obrigado a
restituir a Francisco a porção de terras em questão, ou a
dar o equivalente, porquan lo A. , vizinho de F. e cun.hado
deste, sempre se reconheceu nesta obrigação, e a transferia
expressamente e como clausula da transmissão no contrato
de venda, que a S. fez da sua fazenda.
Não obsta a falta da presença ,de F. á dita escriptura
de venda; porque o direi to deste preex.istia reconhecido
por A., seu cnnhado, e se póde provar por todo genero de
provas (Ord., liv. 3°, tit. !'i9), e explicitamente pela mesma
escriptura, contra S. , que tambem o reconheceu.
Não obsta, igualmente, o lapso maior de trinta annos da
occupat:,ão de A.; porque, embora esse tempo, que faz pre-
sumir titulo e boa fé, o possuidor sempre reconheceu o
direito de .\.; e na referida escriptura o declara, faltando
assim realmente taes requisitos de prescripção. S., pois,
não se póde prevalecer desta excepç[o ou defesa: elle tam-
bem reconheceu o direito de F.
Ao 2.° Cornquanto por direito romano fosse inutil e
sem effeito a estipulação em favor ele terceiro, que nito
aceitava por se não achar presente, todavia, por nosso di-
reito, vale com a aceitação do tabellião (Ord., liv. 4°,
VARIAS QUESTÕES Dl DIREITO 473

til. 63, pr.), e mesmo sem eUa se ba direito firmado em


outro titulo ou provas (Ord., liv. 4°, tit. 9°, tit. 37 § 2°).
Este é o caso.
Ao 3.0 Não qu erendo S. cumprir aquillo a que se obri-
gou e~ relação a F., restaria a acção de reivindicação,
provando-se que as terras reclamadas são de F.
Ao 4.° Desde que na primitiva medição se declarou que
as sesmarias confrontavã.o com o rio, as nesgas de terras
entre a linha, traçadas por commodidade da medição, e o
leito do rio, deve-se entender que pertencem ás respectivas
sesmarias.
5.° S. tem direito á indemnisação do valor das bemfei-
torias, devidamente determinado por peritos (C. Telles,
Acç., § 72).
Ao 6.° Na mesma acção de reivindicação se poderia pe-
dir a indemnisação de rendimentos e dos prejuizos causa-
dos (C. Tenes cit., § 68 e notas).
Da lide em diante serião devidos, sem questão, os ren-
dimentos. Quanto ao tempo anterior, é digno de attenção
em tavor de A. o 11;1.ver elIe clesfrllctado com sciencia e pa-
ciencia de F. , u de S. ser apenas successo r de A. por com-
pra, não respollsa vel pOl' taes factos, quo não fez seus.
Quanto as deteriorações, é oe notar que cultura , habi-
tação, bemfeitori as não se fazem sem derrubar matos e
sem usar das terras, termos em que é dillicil a pro va elas
deteriorações e da má fé.
A indemnisação, quan(lo elpvida, seri a competentemente
Iiqnida.da ou na mesma acção, ou na execução.
Ao 7.0 O m:lis acertado , a meu ver, seria propôr F. a S.,
successor de A., acção alternati va para lhe restituir as
terras em questáo, com os rendimentos e indemnisação
que se liquidassem na execução, ou dar equivalente na
fórm:t da escri ptura.
Ao 8.0 Finalmente, ainda restari a a F. uma acção ele in-
demnisação contra A.
Outubro, i873.
lJ,74 CONSULTAS SOBRE

Venda mercantil
Qual o direito que tem o vendedor, quando i
venda é a credito e foi entregue a mercadoria?

Resposta

Se (como parece) a venda foi a credito, não tem o ven-


dedor privilegio, visto os arts. 876, 877 e 878 do Cod.
do Com.
Poderia reclamar, a titulo de credor de dominio, se não
fosse a credito e não estivesse entregue a mercadoria
(Cod., art. 874, n. 8).
Pelo art. i91 a venda reputa-se perfeita, logo que as
partes cbegão a accôçdo, salvo quando é condicional.
E pelos arts. ! 99 e 200 a tradição ficta é admittida.
O caso do art. .J. 98 é singular, e depende de que se
verifiquem todas as circumstancias nelle previstas.
Novembro, .J.869.

Venda mercantil; direito do comprador e vendedor; fallencia


Qual o direito que tem o comprador, sendo a
transacção effectuada a dinheiro ou quando o fôr
a credito?
Póde dar-se a respeito accôrdo entre credores e
interessados 1
Resposta

A especie de que se trata depende de se distinguirem


factos para se fazer a applicação do direito.
Se pela correspondencia entre as duas casas se póde
provar que a transacção não foi a credito, póde O vendedor
VARIAS QUESTÕES DE DIREITQ 475
reclamar as providencias do art. 198, Cod. Com., ou o
direito conferido pelo art. 874, n. 8, isto é, ou recusar ",
entrega até seI' pago, ou prestada fiança idonea, ou chamar
a si as mercadorias ou o seu producto como cousa propria.
9 Se, pOl=8m, fôr demonstrado que a transacção foi a Cl'e-
dito, transferindo-se desde logo o dominio para o compra-
dor em virtude do contrato, e pela entrega ou tradição,
não symbolica, conforme os arts. 1.91.,1.99 e 200, Cod.,
só tem elle acção pessoal e é credor simples (art. 879,
2" parte), salvo, ainda neste caso, se não houver entrega ao
vendedor, porque teria então lugar o disposto no art. i98
combinado com o art. 1.97, a que elIe faz excepção.
Todavia nenhuma lei prohibe que credores e interes-
sados outra cousa re olvão entre si por accôrdo, desistindo
mesmo ue direitos e privilegias.
Novembro, 1.869.

Venda mercantil; entrega; reclamação


Póde influir para a realidade de uma venda mer-
cantil a dift'el'ença de direitos da alfandega,em vir-
tude de alteração operada na pauta entre o tempo
do contrato e o da entrega do genero ?
Resposta
A reclamação de entregar o vendedor ao compradol' o
gene 1'0 vendido é inquestionavel, porque o contrato eSlá
perfeito e acabado (Cod. Com., art. i9t e 1.97). Nem se
verifica, na hypothese, algum caso de legitima recusa dessa
entrega.
Quanto, porém, á reclamação pela differença dos direitos
da alfandega em vil'lude de alteração da pauta entre o
tempo do contrato e o da entrega do genero, me parece
que em nada inGue isto sobre o contrato, porque não é
alguma condição suspensiva ou resolutiva delle.
Quem vendeu fêl-o sabendo, ou devendo saber, que
476 CONSULTAS SOBRE

tinha direitos a pagar, e direitos que podião ser alterados.


Seria dar lugar á lesiio em contratos commerciaes sem ser
nos casos expressamente exceptuadog, o que se oppõe
ao art. 220 do mesmo cocligo . Se, pelo augmento dos im-
postos, o vendedor entende que tem direi to a rescindir a
venda ou a ex.igir essa difIerença (que viria a ser para
o comprador verdadeira ele7Jação de preço da compra contra
o ajustado preço Cf:.1'tO), por se tlizer lesado (tal seria no
fundo a causa da reclamação), tambem, por seu lado, o
comprador teria o mesmo direito, e o de pedir a reducção
do preço da compra se, em vez de se ter em elevado esses
direitos, tivessem diminuido; o que todavia não é conforme
a direito.
Dezembro, 18õ9.

Vereadores e JUIzes

i. o Nas antigas carnaras municipaes, dos lugares


em que não hav ia juiz de fóra, em que differião
dos vereadores os juizes 1
~ .• Erão juizes os vereadores maIS velhos, ou
proced ião de ou tra origem ?

Resposta
'J. o A este ponto parece que S3 póde responder: que an-
tigamente existião entre vereadores e juizes as mesmas
difIerenças que ainda hoje.
O vereador era um membro de uma corporação, que
tinha a seu cargo principalmente a boa administração ma-
terial de sua municipalidade, debaixo do grande ponto de
vista do bem-estar dos cidadãos e habitantes. Para este fim
dava a lei á essa corporação (camara) muitas e preciosas
attribuiÇÕ6s que se vêm referidas especialmente na Ord.,
VAIUAS QUESTÕES DE DI1\EIT8 477

!iv. i o, tit. 66, assento princi paI desta materia segundo a


legislação e orgauisação antiga.
Além dessa parte especial das attribuições dessa cor~
poração, tinha ella outra, que tendia a fazer promover e
conservar a boa orçlem no lugar e a respeitar a lei, a pro-
11 mover a ~egurança publica e a boa administração da jus-
tiça, pois era recommendado aos vereadores que pedissem
e observassem aos juizes que não ·se descuidassem da boa
guarda da terra; e se os juizes do lugar não attendião a
estes avisos, devião os vereadores reccorrer aos correge-
dores ou ao rei (cit. Ord. pr.).
A estas attribuições, que chamarei policiaes (em distinc-
ção das primeiras que são puramente administrativas),
accrescia a de decidirem e j"ulgarem em camara conjuncta-
mente com os juizes do lugar algumas questões quer crimi-
naes, quer civeis, attribuições que chamarei contenciosas
(cit. Ord., § 5).
O juiz era cousa muito di versa; era o magistrado cons-
tituido principalmente para distribuir essa rectidão á
justiça, já decidindo as questões ci veis, já punindo os cri-
minosos, já policiando a terra, e promovendo de accôrdo
com as camaras tuuo quanto concorresse para o bem-estar
publico.
Para este fim havia a principio os juizes ordinarios e
outros; e mais tarde os juizes tIe fóra, além dos ouvi-
dores, corregedore , desembargadores, etc., os quaes todos
tinhão attribuições marcadas em leis, sobretudo na Ord.,
liv. i o, onde no tit. 65 se trata especialmente dos juizes
ordinarios e de fóra.
Por esta succinta exposição vê-se a grande distincção a
fazer entre veread Ires e juizes; a mesma, para bem dizer,
que ainda hoje existe entre estas duas entidades, apezar
de se acharem as camaras municipaes reduzidas actual-
mente a corpos meramente administrativos, sem attribui-
ções algumas contenciosas (Lei de i o de Outubro de i828,
art. 24,), porquanto mesmo antigamente não erão senão
478 CONSULTAS SOBRE

as attribuições administrativas que constitu ião .1 base ca-


racterística dessas corporações, limitando-se :lS outras a
mui pouca cousa, emquanto que a atLribui çã de y"nlgar
é' o que sempre constituio e ainda constitue o JUIz.
Pouco importa que na terra houvesse juiz de fóra ou
não, porque isto não élltera a doutrina exposta, e só tinha
lugar a providencia que se passa a expôr.
2. ° O vereador mais velho não era juiz senão quando
erão impedidos ou ausentes todos os juizes do lugar (Ord.,
liv. 1°, tit. 65, § 4°; til. 60, § 2°; til. f.i8, § 5°, e outros
lugares parallelos).
os lugares onde havia juiz de fóra era este evidente-
mente o juiz, e ao mesmo tempo presidente da camara.
Nos em que não o havia, elegia-se, na fórma da Ord.,
liv. 1°, til. 67, um ou dous (segundo o costume da terra)
juizes, chamados ordinarios, os quaes servião por tempo
determinado. Se estes morrião, ou se ausentavão, ou se
achavão impedidos por templJ prolongado, devia-5e imme-
diatamente proceder á eleição de juiz que servisse em seu
lugar (Ord. cit., tit. 65, § 4", combinada com a do til. 67,
§ 6°).
Ao juiz de fóra substituia, tanto o vereador mais
velho, por todo o tempo do impedimento, até que elle
voltasse, ou se nomeasse e viesse outro ; e ao ordinario
só no caso de ser o impedimento temporario e de pouca
duração, na fórma da Ord., Iiv. i tiL 65, § 4 e outras
0,
0
,

leis.
Ainda hoje o vereador substitue a certos juizes, não pela
qualidade da idade, mas sim pela da maior votação, nos
casos determinados em lei (Lei de 3 de Dezembro de i8H,
art. 19 e outros).
Assim estão respondidas as questões.
185L
VARIAS QUESTÕES DE DIl\EITO 479

Vintena; viuvo

Tem o conjnge sobrevivente direito á vintena


no inventario do fallecido que o nomeou testamen-
teiro?

Resposta
A' vintena só tem direito o testamenteiro que não é her-
deiro ou legatario (Dec. n. 1.4·05 de 18M). Entendo, pois,
que a mulher ou o marido, meeiros, não tem a elta direito
em razão da sua qualidade de cabeça de casal, e obrigação
de fazer inventario, dar partilhas, etc.
Junho, i868.

Viuva quinquagenaria; regimen de bens; rendimentos


accrescidos; sue cessão
QuaeR são os bens de que não póde dispôr 3.
viuya quinquagenaria, e quaes aquelles em que tem
meiação aquelle 4.ue com ella se casa. ?

Resposta
A Ord., liv. 4·, tit. 105, prohibindo a vi uva quinqua-
genaria, que casa, tendo filhos, dispôr das duas terças
partes dos bens que possue ao tempo que concertou de
se casar,e dos que posteriormente ao casamento lhe venhão
por qualquer titulo dos descendentes ou ascendentes,
deixa-lhe todavia livre: i a terça desses mesmos bens,
O
,

2°, as outras acquisições ; 3°, os rendimentos.


Nestes bens tem, pois, o marido meiação, conforme a
Ord., liv. 4°, tit. 46 e 47, se outra cousa não foi ajustada
por escriptura antenupcial, por ser essa a regra geral do
regimen matrimonial (Vide B. Carneiro, Dir. Oiv., liv. iO,


480 CONSULTAS SOBRE

tit 17, § 158; Oonsol. das L eis Oiv. Bmz., f:'" t (I, 165
e notas).
·Assim que:
As duas partes dos bens a que se refere a cit: Ord.,
liv. I!', tit. 105, valhão mais ou valhão menos, pertencem
aos descendentes que sebreviverem á mulher e, Ja falta
delles, aos outros herdeiros da mesma ab intestado.
Nessas o marido nada absolutamente póde pretender.
Quanto aos accrescidos, sujeitos ao regimen commum,
deve-se proceder como nos casos geraes.
De sorte que, na hypothese, tem o marido metade na-
quella terça e metade nos adquiridos.
E aos hel'deiros da mulher cabe, além das duas terças
(livres) mais a metade dos adquiridos existentes no espolio,
ou os dous terços se ella dispôz da terça em testamento.
Agosto, 1874.

FIM
INDIOE

PAGS.
DEDICATORIA, V
PREFACIO , , Vil
O DR. GOSTINHO MARQUES PERDIGÃO MALHEIRO, Estudo
biographico , IX
r
A
Abono , pagamento 1
AcÇão d'alma 2
Acção d'alma, falsidade, rescisão 2
Acção decendial, embargos, discussão, recursos, compe-
tencia . 4
Acção de forç , boI/. fé , 5
Acção de força : objecto , 5
Acção hypothecaria, hypothecas anteriores á lei 6
Acção litigiosa, veuda 6
AcÇão de Ronegadoi;! . '1
Accionistas, commisso, credorf's 8
Accionistas, commi so, recurso 8
Ad,;url icnção, abatim ento, depositario, férias, indem-
nisação . . 9
Adjudicação, imposto, nullidade . 11.
Adjudicação de terras, ditferenças, bemfe itorias 12
Advocacia, imp ed imento 13
Advogado, autos, pI'ovidencia contra elle 14
Advogado, honoml'ios, acção 15
Advogado, injurias 17
Advogado, pronuncia . , 18
Advogar .• 18
Advogar, procurar em juizo, juiz de paz, delegado, sub-
delegado. 19
Aforamento de terrenos á camara, logradouros. • 20
Aforamento, pensão, nullidade , camara municipal da
cÔrte, commisso 21
Africanos livres, filhos, sala rios 2t
Aggravo commerci'al . 23
Aggmvo, comp etencia das R elações e dosjuizes de direito 23
Aggravo, embargos. 24
Aggravo, provimento, appellação, conflicto, civel. 25

, 'i



JT INDICE

T ... as.
Agua!l, aqu eductos 2fi
AguRa, lavoura 2'1
A~uas, servidão, prescripçí'í.o, acção 27
Alrlêas d e indios, m ediçií.o, jurisdil:ção do juiz do s 01'-
phãos •
Alforria, escravos dos espolios . '\'
28
~iJ

Alforria, filhos. 3~
Alforria forçada, competencia, processo . 31
Alforria, peculio do escravo 32
Antichres e, em qu e t.ermos . 33
Anti chrese, I'f~g i s tro s , t e rce iros ;H
Arma prohibida, crim e por uso de ll a . 3fi
A n ematação anoullada, cons equ en cias , p ro cesso , nulJi-
da cl (~s , comp pn sação, pr p.s crip ção es pecia l, cess no de

a cções a p e ~so as po de rosas 36


A nematação no juizo do comm er cio, ab ati m ento. 39
Arr endam ento d e casas, t erceiro acquil' ente, onus, ex -
tincção 39
Arre ndamen t o de t erras, extincção . 44
Arr e nd ame nto, extincção, ohri g ação do comprador ou a r-
r endat ari o 44
Aneudam ento, he rd eiros do locador, el evação da r en da . 45
Arren dam en to , incendio, reducção . . 46
Arrelldam eo to pel'p etuo, t erminação . 47
Al'l'endam euLo , r escisão . 48
Ani bada, i ndem nisação , 48
A uto ri a I!m process o comm er cial , ad m issão , ratifi ca ção. 49
A utos, g uar da, escrivão. 49
A u to ~ , reforma. 50
B
Banco, di rFctorias, entrad as, commisso 5]
llemf" itorias !'Umes, situação, hypoth eca j u d icial, onus
real , a1'l't' n dam ento 52
B pmfr ito ri as rU Rti cas, b ypoth ecas 54
Bpnfl d a m it l'>\, aforam ento 54
Be ns clotaps. be mfr, itori as, ind eninisação, avaliação 55
B ens vi n culad os 56
B ens vi nc ulados e fidei-commisso , 58
lNDICE 111

c
PAGS.
Caducidade de legado, herança, ficleicommisso, uso-
fmcto, alienação, substituição, inventario 59
Calumnia e injuria por escriptoB particulares ou não im-
presso 61
Calumnia, injuria, acção crime, fiança, habeas-eO?·pus. 63
Calum nia, prova do facto na formação da culpa 64
Carta ele consciencia, supprimento 65
Casa, locacão, sublocacão 65
Casa::nent~ de menores·, penas. 66
Casamentos de orphãos, licença, tutor, recursos, remoção
destes. 61
Causa decidida em gráo de revista soberanamente jul-
gada, embargos na execução, acção rescisoria . 10
Cessão de credilo, responsabilidade de facto, de direito. 72
Ci rurgião da guarda nacional, alfere~-ci rurg-ião, cobrança
execut iva, pharmacia, licença, homreopathia. 72
Clausula depositaria, transacção . 75
Collação . 75
Collação, avaliaçi'ío, herdeiro instituido, doação 76
CoUação de escravos, preço, doação. 78
Collector, escrivão, alcance, crime, fiador, subrognção 7!J
Commerciante, boticario, fallencia 80
Communhão de bens, embal'!~o de obra pelo condo-
mino, >tr rendam ento, troca, acção . 81
Companhias, directores, empreiteiros, obras, manda-
tarios, actos prohibidos. 83
Comp ra em comm um , sociedade agricola, reclamação de
tercei 1'0, lesão . 84
Concessão para trilhos, camaras mllnicipaEls, terceiros. 85
Conciliação, competencia de escrivão e officiaes, quando
suspeito o juiz. 86
Conciliação, procurador 87
Conciliação, inspecção do juiz de paz, nullidade ratifi-
caveI ou não. . 88
Concordata, annullação, Cl·editos. 88
Concordata, novação, bypotheca . 90
Concordata rehabilitação . 91
Concordata, segunda fallenCla, credor 92
Conta corrente, credito, presc!'ipção. !l2


IV INDlCE
P . GS.

Contas de tutela pelo avô, tempo. 93


Contas de tutela e curatella, questões 9,1
Cbntmto ante-nupcial, favores á mulh er, legitimação
c;le filhos, desherdação. 95
Contrato ante-nupcial, Codigo civil portuguez, lei bra-
zileira. 97
Convenção consular, h eranças 1:J8
Credito de dominio, commissão 99
Credor. 100
CI'edor adjudicatario, prisão, procedimento 102
CI'ime pOl' impressos, r es ponsabilidade, condições, gozo
dos direitos politicos, pl'ova. 103
Custas, apellações, alçada. 105
Custas, nova demanda comm ercial 10~
D
Daçuo in solutw'll e venda a ret l'o, s iza, nullidad e, pe-
nas, remissão, penhor 100
Demarcação, questõ es, aforamento, prescripção acqui-
sitiva, despejo. 108
D emente, mulher curadora, alienação de bens. llO
Depositario geral, responsabilidade- 11 L
D epos itario, eSCl'avos, alugueis , 112
D epositario, premio do dl'posito, 112
Deposito de escI'avos, despezas . 113
Deposito judicial e convencional, ac~ão, execução, pro-
cesso, recurso. 114
Drsh erdação , L15
Desllf>rdação, prostituição. 117
Di l eito com mercial, prescri pção. 117
Direitos novos e velhos, reforma. 118
Divida á faz enda, subrogação, acções, privilegio, exe-
cução, 119
Dividas, vencimento por antecipação, deducção pro-
pOl'cional. 121
Divorcio 121
Divorcio. . 124
Divorcio, competencia do juizo 125
Divorcio, dividas, alimentos . 425
Doação, cOI'poração de mão-morta, illsinuação, reivi n-
dicação, revocação. 126
v

PA GS.
Doação cai mortis, testemunhas. 128
Doação, collaçao . . 128
Doação maLerna, segundas nupcias. 129
Doação por escripto particular, insinuação, direitos
delta . 129
Doação, ,-,ollação dos filhos das escravas, tElstamento. 130
Doação, terça, collação . 132
Docum entos, entrega delles . 1.32
Dominio util, avaliacão. 133
Dominio util, presc;ipçãO acquisitiva .. 134
Dote, hypotheca, preferencia, vencimento antecipado 135
Dote, prililegios da mulher, caução de acções desta. 137
Dl'og'uista, matricula, restricções . 138
E
Emancipação de menores, casamento, dissolução deste,
in ventaria, juizo . 138
Embargo em derrubadas, attenLado, perpetuo ou pur-
gavel. 139
Embargo, penhora, hypotheca, acquisições, registros,
t ercpiro 141
Embargos :1.43
Empreitada, camara municipal 145
Empreitadas, obras, indemnisação. 146
Escravo, indemnisação pelo senhor, liberdade lli6
Escravo, serviços condicionaes de libertos, indemnisação
por terceiro, acções, competencia, crime. 14'7
Escravos, condominio, liberdade, peculio, serviços: ma- •
tricula 148
Escravos em fidei-commisso, filhos . tli9
Escriptura antenupcial, regimen mixto, questõe5, im-
posto. t50
Evicção, autoria, execução, embarg-os de terceiro, acções Üi2
Exame de livros, exhibição,tradncção, processo crime. 153
Excepções em causas summarias, competencia, nulli-
dades. 15li
Execução commcrcial, penhora . 15'7
Execução commercial, remissão pelo executado ou por
t erceiro, etreitos, processo . 1.57
Execução dc sentença pendente revista , fiança, oulro
l'em edio . 159


VI IND1CE

PAGS .
Execução, fiança, embargos, deposito, levantam' :ltO, dJ-
versas p e n h o \ " l l s . 160
Execução, fructos, liquidação . 161
Execução, preferencia, deposito, concurso, recursos. 162
Execução. remissão de bens, effeitos. {63
Execução sobre dividas, como fazer ~ .
Exercicio de medicina, infracção . Liü
F
Fallenci3 167
Fallencia, art. 860, Cod. Crim. (meios ordinarios), com·
petencia do juizo. 168
Fallencia, abertura, segunda accusação, prescripção . 169
Fallencia, ac~ão rescisoria, recursos. 170
Fallencia, accol"lJo, novação, exoneração de co-ohrigados
concordatas. 171
Fallencia, actos nullos, acção, recurso, acção rescisoria 173
Fallrncia, concorrlata. novação. 174
Fallencia, credito de dominio, commissario. 176
Fallrncia, curador, porcentagem 177
Fallencia de banqueiros em 1864 . 177
Fall encia, h erdeiros. 179
Fall encia, penhor, d eposito, classificação 180
Fallencia, sonegação :le bens, novo processo crime 182
Fallencia, suspeição. 182
Fallido, mulher, dividas 183
Falsidade, seus elementos, ante-data por official publico 184
'iador, empregado fiscal . . . . . . . . . . 185
FIança . 185
~~. ~
Fiança, co-fiadores 188
Fiança, hypotheca, contl'ato entre pai e filhos. 188
F iança sem sciencia do devedor, obrigações, acções 190
Fideicommisso, direitos, transmissão por morte, Cod .
Civ. Porto i 91
Filiação illegitima, ausencia do marido, sllccessão 193
Filiação natural, testamento, reconhecimento. 195
Filiação natural . 198
Filiação natmal, renuncia, impostos. 199
Filiação natural, validade de testamento, declaração de
escriptura, averiguações policiaes. 200
lNDWE Vll

PAGS.
Filhos i1'hi: itimos, patrio poder, poder materno. 202
Foreiro, commisso, bemfeitorias . 203
Fretes . 204
G
Gerer Je, directoria, crime, competencia, exoneragão 20:1
H
Habeas-corpus, competencia, prisão preventiva, com-
petencia . 206
Habilitação, prova 207
Heranga arrecadada, habilitações, r evista, reclamações,
cO'T'petencia. 207
Herança de filhos para ascend entes, llsofructo . 209
Herança, fidei-commisso, carta de consciencia, arreca-
dação. 210
Herança, filho natural, partilha. :Óll
Herança, reivindicação, sequ ella . 212
HonorarioR medicos, pl'escripção ; 213
Hypotheca, antichrese, consig na ção de rendimentos,
i uros, taxa. 213
Hypotheca, annullação, outros credores, questões 214
Hypotheca, arrendamento, onus real, uso, habitação,
registro, responsabilidade, indemnisaçõ es. 216
Hypotheca, concurso, apellação, fiança 211:1
Hypotheca de pais para filhos, acçõ es, processo, exe-
cução, embargos. 220
Hypotheca, eífeitos validade . 222
Hypotheca em partihas, rendimentos. 223
Hypotheca, excussão, intp.gridane . 224
Hypotheca, excussão, privilegio de integridade, cscra-
vos, :mtichrese . 226
Hypotheca, execllção, arrematagão ou obl'ig-ação de ren-
dimento, preferencia, antichrese, processo. 228
Hypothecrt, ex ecução, t el'cr iro, rtrrematat;ões, annulla-
ção de execução, qu estõ es. 22\:1
Hypotheca, garantia, responsabilidade, limite desta,
processo, questão . 232
Hypotheca judicial, garantia, concurso. 234
Hypotheca legal, curadores, curatellados, competenci a,
venda, validade, rendimentos. 235
VIII lNDlCE

PA&S.

HypothpcR., outorg'R. da mulh er . 237


Hypothpca, pl' nh ol', cmo lnm ~nto~ 2R7
Hyp~th"ca, ppn hora, e mba rg-os, validad e, rescisão 2::39
Hypotheca, Pf>nhora, emba rgos. 2úI
Hypotheca, pretr rencia. 242
Hypotheca, regim en antigo e novo. 242
Hypothec'l., registl·o. 24:\
Hypotheca, registro, titulo pal'l.1. este, pessoa compe-
tente, nova~ão . 244
Hypotheca, remiSi'ião, exc ussão, anematllção . 246
HyplJ th eca, venda de bens, co ncurso, custas 24'7

Imposto de li cença á corporação de mão-morta, mise-


ricordin, isenção 248
Imposto de tl'flDsmissão, doação, u sofructo, s ucc!:'ssão,
s1'1Io, /idei-t:ommis~o 249
Imposto de tl'ansmissão, usofl'Ucto, penas, isenção,
s ucces;:ão, nua propl'iedade 250
Imposto, retl'Ollctividad e 252
Im posto, i'iubl'o;raçflO . 2;-'2
Imposto, usofl'Ucto, fi dei-commisso, l'etroactividade 2;')3
Incompatibilioade, advogado, 254
Injuria. 255
Injuria, 255
tnjuria contra empreg,tdo publico 256
Insinuação . 257
Insinuação, doaçilO r em un e!'atori a 2;')9
Institui çã'l da alma, casa pia, vinculo, leg'arlo, validade. 260
Instituição de herrl l'iros, demonst"ação, causa, 261
Invr ntal'iant p, al'l'enda rn entos 262
Inventaria nte, com l.etp.ncia, r emoção, r ~ curso. 262
Invpntariantp., pris;, o 26ú
Inventa!'iante, p rii:'ão contm o mesmo. 264
I nve ntaria nte que'L1 seja, arrendamento, herdeiros ac-
ção de d espejo. 265
rnventariante, sor iedade, procuração. 266
Inventario, bens rlheios, opposi ção , entl'ega 268
Inventario, collt'ctol', impostos geraes e provinciaes,
reclamações, competencia, recursos. 269
INlllCl<: IX

PAGS.

Invental'lo 1)0 1' dependencia, competencia do juiz e do


escrivão 272
Inv entario, 'luestão de herdeiro. . 273
Irmandade, herdeira, legados, capella, encargo pio,
validade ;~73

J
Juiz de direito, fôro competente, inquerito pelo juiz
municipal a seu respeito . 275
Juiz de orphãos, suspeição, adjunto, recurso, validade. 2,6
Juiz, impedimento . 2i8
Juiz impedimento, suspeição, parentesco entre afillJado
e padrinho. 278
Juiz supplentc, vereador, suspeição, nullidade 2·79
Juizo arbitral forçado, intimação de comprJmisso, pe-
nas, férias . 280
Juizo arbitral no commcrcial, questões varias. 281
Juizo de ausentes, emolumentos . 28·1,
Juizo de orphãos, adjuntos em caso el " suspeição 285
Juizo de paz, aggravo . 285
Juros, prova . 286
L

Lançamento, depositario, lib ertos. 287


L egado, escl'Í ptor de testamento . 288
Legado, bypotheca . 288
Legado, s ubstituição, transmissão . 289
Legitima, terça, parlilha em vida dos pais 290
Legitimação, adopção . 291
Lesão enorme, enormi ss ima , qlle é? 293
Letra, endosso, man dato 294
Letra, endosso, responsabilidade. 296
Letra, prescripção, credito civel 296
Liberdade . 297
Liberdade. 298
Liberdade, alfol'1'ia, doação ca1Ma mortis, insinuação,
imposto, revogação, credores 299
Liberdade de imprensa . 300
LiberdadQ, ec;cravldfto 302
Liberdade por preça, e os filhos 302
Liberdade por têstamento, escriptura 305
XI lNDICI!:

, liS o

Liberdade, usofructo, emancipação, acção de l~"ào . J05


Libertos, avaliação . 301
Liquidação de socieJade mercan til. curador especial,
commis!;ão . 308
Loteria, doação, collação 309
M
Mandato, rallencia, acquisição por procurador, nullidade,
sello . 310
Mandato, registro 312
Mari!lhas, f6ro, accão 313
Matl'Ímonio, romm' unhão tl e uens. petição de h erança,
prévia sente nça no pcclesias tico 314
Medico, cX t'c utivo , arbit l'ltm ento, oppos iç.ão, r ecursoS. :~14
Mp.di ção, concilHtcão. 315
Medição, venda ct~ h e rança. 316
MI' nor, onl enado . 3 1~
Monte-pio, e liminaçãtl . 318
Morgatlos, partilha. . 320
MOl'l!ado, vinculo, stlccessão . . . . . . . 321
Mulh er commerciantí' , nctos de comm e rcio, actos alheios
ao comm ercio, s e o marido outorga seus uireitos. :12""
Multa pelo senbor do es cravo 327
Mutuo mercantil. 328
o
Obrigação tle faz er, inrl emnisação. . • . • . . 329
Omcial do registro de lJypotheea, incompatibilidade 330
p

Pacto antenllp cial, innova<:ão, doação entre conjuges . 330


Pagam ento ind evido, resti t uição, acção, juizo comp et ente 331
Pai, h eran ça, usofrl1cto . . • 332
Pai, tutela, pri são, imp edim ento. 332
Partilha 333
Partilha, adjudicação, bens de iote rdictos 334
'Partilha amig'av el, communhão, soci euade. 335
'Partilha de bens sociaes, impost o . . 335
Partilha de pais para filhos em vida, acção, compet encia
de f6ro. litis-cunsortes. . , 336
Partilha de pais para mlJos em vilia, terça, acquisições su-
pervenientes . • 338
lND1CE xrrr
PAGS •
. 'oci ed I " mercantil, liquidante estranho, acql1isição
por es te '.., bens da massa, juros dc dinheiro pelo
mesmo adiantados. . . . 417
Sociedade mercantil, partilha, liquidação. . . . . 419
Soc.iedade mercantil, partilha menores, fallencia, pri-
vIie :0. . . . . . . . . . . . . 4]9
80cle,aude mercantil, transferencia 42 0
%ociedade não mercantil ú21
Sociedades, especies, condições, lavoura , fabrica, la-
cuna na legislação 622
Sonegados, juizo comptente. 424
Substituição, diversos grãos. ú25
Substituiçií.o, imposto, pcrdão ele divida, "intena ú25
Substituição, s uccessão , cad l1ci d ade, im posto , testa-
mentei\'o, vintena . 426
Successão collatcl'f\l de ill egi timos. 628
Successão ele asce ndente, pai binnbo. ú28
Successão de collateraes, tios . 429
Successão de pai binubo, flliJos de escraVIl, proprierlndc. ú30
Successão de pai binubo, rcmedios contra ellp. ú3i
Successão dc pai ou mãi bin ubo. ú32
Successão, hcrdeiros necessarios, terça, excesso dcsta,
remuneração ele serviços, alfonias, collações, escravos . If33
Successão ill eg itima, collaleraes. ú8ú
Supplente do juiz municipal, exercicio sem prévio ju-
ramento. [,35

't'cl'l'as, bemfritorias, ncçõds. l,. fi


'!'('\'I'as devolutas, medição, posse::;, revalidação, lrgi-
timação, recursos, df~ ito s . 437
Terras devolutas, posf:es, questões. M,O
Terras publicas, dominio particular, po~se~, concessões,
medições, competencia, legitimacão, revalidação,
prescripção, questões. -1·12
Terrenos tia cama ru municipal da cÔrte, sub-emphy-
t euse, laudemio, co fi m isl' o . úM
Testamenteiro, acquisições, 1: ullidad e . 4lt5
Testamcnteiro conjuncto. clir(· itos delle em o inventario ltlt'7
Testamenteiro, perda do premio, substituição cio t esta-
menteiro, tutor, premio, castas, acções. 449
XIV ' INDICE

PA S
Testamenteiros, premio, legado 4:)1
Testamento, approvação, nullidade 452
Testamento, assignatura ..... . ,451
Test~mento, cumprimento 45 '
Testamento, fidei-commisso, insti,t uição de h erdelro IJ.
cargo de t erceiro . 457
Testam ento , herdeiro necessarió. fallecido àntes do teso
tadol', legados e herança, direito de accrescer,p1..:·t 1 a 41)9
Testamento, pala.vras essenciaes . 460
Testamento, red ucção . r 461
Testamento, solemnidades substal1ciaes, irregularidades 462
Testamento, subtl'acção ou perda . M3
Thesoureiro, hypotheca legal, "credito de dominio 464
Tutela de padrasto, fiança. 465
Tutela, remoção. . 465
U I

Usofructo de escravos, venda . 466


Usofructo, herança, accrescer . 466
Usofructo, reserva legal, partilhas no estrangeiro, im-
posto., 468
Usofructo legal, di rcito do pai. 470
Usofructo, substituição. 470
V
Venda de terras, r eclamação , prescripção, estipulação
a bem de terceiro, medição , r eivindicação, ,bemfei-
torias, rendimentos, successor, prejuizos, indemni-
sação, ac~ões, ' questões. 471
Venda mercantil. 474
Venda mercautil, direito do comprador c vendedor,
fallencia. 474
Venda mercantil, entrega, reclamação. 475
Vereadores e juizes. 476
Vintena, viuvo ' . 479
Viuva quinquagenaria, regimen de bens, r endimentos
accrescidos, successão . 479

f
.
)
.1
INDlCE Xl

PAGS.'
Part~lha vida, pactos succ~ssorios_
<, __ ., • 338
Partilha, le~ --, enorme e enormissima, acção, rescisão,
juizo competente, partes . 339
Part!lha, lesão, reclamação. 340
Partillla, rescisão della. l esão, etreitos, emenda 341
Pater, . -lade, negação, questão de estado, Cod. Giv. Po rt.,
r etroacti virlade _ 342
Peculio de escravos, alforria forçada. questões 3M
Penhor, ar,ções, entradas, commisso _ 346
Penhor rie escravos. 348
Penhor, privilegio, concurso, devedor 349
Penhor, titulo, acções _ 350
Pensão, insinuação. 35l
Perfilhação de filhos illegilimos, em·ltos, successão, le-
gado á conculJina, separação dos conjuges, t estal11ento
acbado aberto. 351
Pertenr,e em letl'as, doação, insinuação, 353
Pessoa miseravel, soldada, crime civil ou militar, indemni-
sa\ião á fazenda 355
Preposto, cOllllllerciar, nullidade 356
Pl'escri pção 357
Prescripção criminal, desmembração terl'itorial 358
Privilegio, hypotheca, difl'erellça, credito por preço de
venda, preferellcias • 358
Privilegio, navio, penhol', 361
Prucesso COl1lInercial 361
Processo comwercial, detenção pessoa l, embargos 362
Processo commercial, dissolução de sociedade 362
Processo commereial, fallencia a requerimento do credor,
recursos, 3G3
Proces~o, crime, accumulação 364
Processo cri millal . 365
Processo pol i cia I , 365
Pronuncia, exercicio de emprego _ 366
Proounr,iu, is r oção de eriminali1ade 367
Pronuor,ia, novo summario, COl'recção, sentença, intima-
ção, recurso , 367
Pronuncia, nullidad e, re,'ursos . 370
Protestantes, casamento. effe ito!', divorcio 37G
Prova por escriptura publica (intelligencia do Alv. de 30
de Outubro de 1798) _ 37t
XII I 'DICE

r G&.

Retorma j udiciaria, sua execução . J 72


Regulamento hypothecario, art. 281 3í:1
Reivindicação, prova~, prescripção ~ni
Remissão de bens em execução, valor, imposto . 375
R emissão em execuções, valor, co-réos 378
Responsabilidade de directores, gerentes administ ra-
dOI'es, criminal, civil .3" ,
Rifa, siza. ::180
Rifa, siza, penas, perdão. 381
S
Seg uro, indemn isação . 383
S egurns t erres tres, legislação, acções 383
Seguros t cl rres tr es , s eguro mutuo, questões 385
Sello proporcional, duplicata. 387
Senten ças oppostas, revista, execução 383
Separação de patrimonios, socierlades mercantis, fal-
lencia . 389
Sequestro pela Fazrnda, r em ed io contra e11e, defesa. 391
Sf'smada, d esapropriação. 392
Sf's maria, m edição, aviycntação, encl'avnm ento, res-
cisões, qllf,,,tões 392
Sesmaria, m edição, 10gl'Udou ros. 395
S esmarias, terras devolutas, pO .. 'H'S, medição, aldêa
de in c!ios colonos. 398
Siza, l'esponsabilidari e, n ullidade 402
Soci edade agricola, ci taçõ es dos socios 403
Sociedade, distrato, fallencia 403
Soci edade (' 111 commandita. 405
Sociedade em commandita, acqui::;ições de escravos
e b ens de raiz, siza () r.1f'ia . iza. 406
Soci edade em commandita , siza, m oia siza. 407
Socirdade mercantil. 4.09
Sociedade m ercantil, abus o do socio 411
Soci cdad e mercantil, command itario , liquidação 1J12
Sociedade m ercantil, fallencia, credito dos soeios. 413
Sociedade mercantil, fallencia, socios . 414
Sociedade mercantil, liqui dação, juros, porcentagem,
lucros . 415
Sociedade mercanlil, liquidação, partilha, accôrdo 416

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