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CASOS PRÁTICOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO II

CASSANDRA E O DESTINO
CASO PRÁTICO N.º 1

Matérias:
a) Delimitação do âmbito de aplicação do CPA
b) Enquadramento do regime comum: competência, legitimidade, objeto, forma,
oportunidade, iniciativa

1. Cassandra é uma espeleologista amadora que pretende deslocar-se à ilha das Flores
durante a semana da Páscoa para visitar o conhecido Algar do Destino. Como preparativo da
viagem pretende saber se existe algum tipo de procedimento para poder visitar o Algar e
procura informar-se junto da página na Internet do Governo Regional dos Açores. Nessa
medida, informa-se sobre as condições aplicáveis ficando a saber que por regulamento da
Direção Regional de Turismo para que possa visitar todo o Algar terá que pertencer a uma
associação de espeleologia, pois de outro modo existem secções que lhe serão vedadas. O
regulamento contém, contudo, uma exceção para “espeleólogos de reconhecida reputação
internacional”, cuja qualidade será apreciada pelo Governo Regional, “mediante envio do
respetivo CV”. Da página eletrónica consta ainda a informação de que o pedido de autorização
deve ser solicitado até 30 dias antes da data pretendida para a visita.
2. Cassandra solicita ao Advogado Jacó Tempura que a auxilie a determinar se poderá
requerer uma autorização de visita ao Algar do Destino, como espeleóloga de “reconhecida
reputação internacional”, uma vez que escreve regularmente no blog científico internacional
“BatCave.edu”. Neste sentido, o advogado apresenta, sob forma eletrónica, um requerimento
dirigido ao Diretor Regional de Turismo dos Açores solicitando uma autorização de visita ao
Algar. Do requerimento consta um link para o referido blog, onde todas as publicações se
encontram em inglês, bem como o pedido para que o Grémio Português de Espeleologia (GPE)
possa pronunciar-se sobre a valia do CV de Cassandra. O GPE é uma associação privada de
utilidade pública.

Responda fundamentadamente:

a) O pedido de autorização apresentado por Cassandra está sujeito ao CPA?


b) Identifique, com referência aos elementos da hipótese e normas legais que entenda
relevantes, as questões de objeto, competência, legitimidade, forma e oportunidade.
CASO PRÁTICO N.º 2

Matérias:
a) O responsável pela direção do procedimento e os princípios procedimentais;
b) Mecanismos procedimentais: acordos endoprocedimentais, auxílio administrativo,
conferência procedimental e pareceres.

1. Quatro dias depois da apresentação do requerimento de autorização, Jacó Tempura


recebe uma notificação de Aia Alexandra, por e-mail, identificando-se como responsável pela
direção do procedimento e solicitando que sejam enviados elementos complementares ao CV de
Cassandra.
2. Jacó Tempura, responde dois depois, na plataforma eletrónica onde originalmente tinha
apresentado o requerimento inicial e aproveita para propor a Aia Alexandra a celebração de um
contrato entre a sua cliente e Aia onde acordem o calendário do procedimento e outros
documentos que se mostrem necessários, de modo a garantir que Cassandra não perderá a
oportunidade de se deslocar ao Algar do Destino.
3. Aia responde três dias volvidos, não apenas informando que já havia solicitado toda a
informação entendida necessária ao GPE, ao abrigo do artigo 66.º do CPA, como havia ainda
solicitado, com carácter urgente e pelo prazo mínimo, um parecer à Faculdade de Ciências
Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores, ao abrigo de uma disposição de um Decreto
Legislativo Regional que atribui competência consultiva ao conselho científico desta instituição em
matérias de proteção ambiental, sempre que solicitado por um órgão do Governo Regional.

a) Indique os requisitos para que Aia possa ser validamente qualificada como responsável
pela direção do procedimento;
b) Pode o contrato proposto por Jacó Tempura ser celebrado?
c) Poderia o artigo 66.º ser invocado neste caso? Se sim, em que termos? E se o GPE se
recusasse a cooperar?
d) Qual o regime jurídico do parecer solicitado? Quais as consequências se o Conselho
Científico não responder em tempo útil?
e) Poderia Aia ter solicitado uma conferência procedimental para convocar de forma mais
expedita o Conselho Científico?
CASO PRÁTICO N.º 3

Matéria
a) Direito à informação procedimental
b) Causas de extinção do procedimento administrativo

1. A cinco dias da partida para a ilha Terceira, e não tendo ainda obtido resposta ao seu
pedido de autorização, Jacó Tempura pretende saber o estado do procedimento.
2. Na véspera da partida para as Flores, Cassandra é notificada de que em virtude de o
Governo Regional ter determinado o encerramento sine die de todos os monumentos naturais
subterrâneos do Arquipélago, considera extinto o seu procedimento.

a) Como poderia Jacó Tempura ter obtido informação sobre o estado do procedimento? (se
tal fosse possível, indique o regime aplicável ao caso concreto e levante eventuais problemas
que se possam colocar);
b) É admissível que o Governo Regional extinga deste modo o procedimento de Cassandra?
CASO PRÁTICO N.º 4

Matéria:
a) Procedimento regulamentar

1. O Governo Regional, procurando antecipar a retoma do turismo após o período


pandémico, publica na página da Internet da Direção Regional de Turismo um projeto de
regulamento sobre o acesso aos monumentos naturais do Arquipélago, anunciando que, dado
o “previsível interesse de todos os portugueses neste importante regulamento”, dispensa-se a
audiência dos interessados e proceder-se-á a consulta pública pelo período de 15 dias, através
de plataforma específica para o efeito.
2. O projeto de regulamento divulgado elimina as zonas de acesso restrito que existem em
alguns monumentos naturais, como é o caso do Algar do Destino.
3. A Associação Amigos dos Biscoitos dirige uma carta ao Presidente do Governo Regional
questionando a eliminação das zonas de acesso restrito, uma vez que ela não surge explicada
no projeto, invocando que não só permitirá graves lesões ao património natural açoriano
como reduz o erário público, uma vez que as licenças para acesso a tais zonas implicam o
pagamento de uma taxa de valor considerável.
4. A comunicação da Associação dos Amigos dos Biscoitos, porém, não é levada em
consideração pelo Governo Regional, tendo o Secretário Regional do Turismo chegado mesmo
a dizer ao Açoriano Oriental, que se tratam “de uns maluquinhos do ambiente”.

Aprecie a validade do procedimento regulamentar.


CASO PRÁTICO N.º 5

Matéria
a) Procedimento do Ato Administrativo: fases, tramitação e em especial a audiência dos
interessados

1. Já com tudo tratado, embora bastante frustrada, Cassandra decide, ainda assim viajar
para as Flores e tentar a sua sorte no Algar do Destino, na esperança que este possa ainda
abrir enquanto estiver na ilha.
2. No segundo dia da sua estadia, Cassandra fica a saber que o Governo Regional aprovou
uma medida excecional para vigorar de modo imediato: os monumentos naturais
subterrâneos estarão abertos apenas para os visitantes autorizados. Também
excecionalmente, serão concedidas autorizações presenciais para visitas, mediante uma
avaliação do CV do requerente nas próprias instalações dos monumentos abrangidos. O Algar
do Destino é um deles.
3. Apresentado o requerimento, destinado a uma visita no dia seguinte, Cassandra é
informada que deverá apresentar-se no Algar do Destino na data requerida para uma
entrevista de esclarecimento do CV. Cassandra assim faz, mas ao chegar ao local, a funcionária
que a atende diz não ter qualquer registo do seu pedido, lamentando o caos provocado pela
pandemia.

a) Procure ajudar Cassandra e preencha um requerimento de autorização, indicando todos


os elementos legalmente necessários.
b) Cassandra exasperada com a não identificação do seu pedido, liga para Jacó Tempura
perguntando se há alguma forma de provar que apresentou o seu pedido e forçar os serviços
do Turismo Regional a avaliarem-no.
c) Admita que Cassandra consegue ver o seu pedido apreciado, mas que a funcionária lhe
comunica que não poderá ser deferido pois de acordo com o seu cartão do cidadão, Cassandra
tinha assinado incorretamente. Poderia Cassandra fazer algo?
d) Admitindo que Cassandra consegue superar todos os obstáculos e que lhe é comunicado
que a resposta será enviada por SMS no prazo de 24 horas, pronuncie-se sobre a
admissibilidade desta forma de notificação.
e) Cassandra recebe efetivamente um SMS da Secretaria Regional do Turismo, assinado por
Aia Alexandra, que é de novo a responsável pelo seu procedimento, notando a feliz
coincidência (ao que juntou um caloroso emoji). Nesta mensagem Aia solicita a Cassandra que
possa juntar com a maior urgência possível o certificado de membro da Federação Nacional de
Espeleologia (FNE), que é mencionado no seu CV, mas não consta do seu requerimento. Pode
Aia fazer tal pedido? E se Cassandra recusar existem consequências jurídicas?
f) Finalmente, pelas 8h30 da manhã do dia seguinte ao da receção da mensagem de Aia, e
tendo Cassandra enviado o certificado solicitado, é notificada da autorização para visitar o
Algar do Destino. Não teria de haver audiência dos interessados?
g) Imagine que, não obstante Cassandra enviar o certificado de membro da FNE, nunca
recebe qualquer resposta. Quais as consequências jurídicas?

CASO PRÁTICO N.º 6

a) Regulamento administrativo

1. Impressionada com a beleza natural do Algar do Destino, Cassandra começa a planear um


projeto de investigação científica-cultural para estudar e dar a conhecer o fabuloso monumento
natural. É informada por Jacó Tempura que o Regulamento n.º 666/2016, do Diretor do Parque
Natural dos Algares das Flores, cuja competência regulamentar decorre do Regulamento Geral dos
Parques Naturais Açorianos (RGPNA), aprovado pelo Governo Regional, determina que os projetos
científicos a desenvolver em monumentos naturais da ilha das Flores devem ser submetidos a
aprovação pelo Governo Regional. Por outro lado, o advogado informa também Cassandra que ela
deverá possuir cédula de espeleóloga, nos termos legais, porém, a Lei n.º 77/2011 remete o
modelo de cédula para Portaria que ainda não foi aprovada pelo Governo, tendo também notado
que ao contrário do RGPNA, que isentava da obrigatoriedade de prestação de caução os membros
da FNE, o Regulamento n.º 666/2016 exige a sua prestação a todos os particulares autorizados.
2. Cassandra ultima o referido projeto ficando impressionada com a burocracia exigida pelo
Regulamento, que podia ter sido evitada por mecanismos de simplificação administrativa há muito
propostos pela Federação Nacional de Espeleologia. Infelizmente não houve consulta pública ou
qualquer tipo de audiência prévia ao Regulamento em apreço, por motivos de urgência na
aprovação do regime, em 2016.
3. Dois dias antes de submeter o seu projeto nos termos regulamentares, Cassandra toma
conhecimento que, no âmbito de uma revisão geral dos instrumentos regionais de regulação dos
monumentos naturais, o Regulamento n.º 666/2016 foi revogado.

a) Qualifique o Regulamento n.º 666/2016, indicando se se trata de um Regulamento de


execução ou um regulamento independente;
b) Poderá Cassandra reagir quanto ao Portaria em falta?
c) O Regulamento n.º 666/2016 é válido?
d) A revogação do Regulamento n.º 666/2016 é válida?
CASO PRÁTICO N.º 7

Matéria:
a) Atividade Administrativa: Os atos, dever de fundamentação e eficácia. Invalidade dos atos
administrativos: nulidade e anulabilidade. A irregularidade e a questão da inexistência

1. O novo Regulamento 123/2021 do Diretor do Parque Natural dos Algares da Flores, prevê
um procedimento de autorização de visitas no âmbito de projetos científicos e Cassandra pretende
obter a pretendida autorização. No dia 5 de março de 2021 é notificada do seguinte:

“Informa-se que no âmbito do P.º 432/FLO/21, foi deferido parcialmente o seu pedido de
autorização de acesso ao Algar do Destino, pelo período de 24 a 28 de maio, uma vez que no mês
de junho não é possível assegurar a abertura do Algar. A autorização concedida é sem prejuízo da
demonstração, até ao início do período referido, da renovação da cédula de espeleóloga, que
caducará no próximo dia 25 de abril. A Requerente não atestou adequadamente a condição física
atual, nos termos da legislação em vigor, mas foi entendido utilizar-se a documentação já
existente em arquivo, referente a pedido anterior da Requerente, por ser ter sido remetida a este
Parque há menos de seis meses”.

O Diretor do Parque Natural dos Algares das Flores,

Patrício de Córmaco

Santa Cruz das Flores, 3 de março de 2021”

2. Cassandra havia solicitado a possibilidade de visitar o Algar durante o período


compreendido entre 24 de maio e 4 de junho, uma vez que o horário constante do Regulamento
aplicável apenas indica como dias de encerramento os dias de Ano Novo, Páscoa e Natal.

a) Aprecie a eficácia e validade do ato à luz dos elementos constantes da notificação?


b) Imagine que por lapso na plataforma de notificação, Cassandra recebia a mesma
notificação, mas sem a assinatura de Patrício.
CASO PRÁTICO N.º 8

Matéria:
a) Anulação e da revogação administrativa

1. Um mês volvido sobre a notificação do ato administrativo de autorização, Avelina de


Grãoprado, Diretora Regional do Ambiente dos Açores e superiora hierárquica de Patrício
Córmaco recebe uma queixa anónima sobre o referido procedimento de autorização com as
seguintes informações:

i) O projeto científico apresentado por Cassandra não tem mérito técnico que justifique
uma autorização como a prevista no novo Regulamento do Parque; e
ii) Ainda que se pudesse considerar o projeto aceitável, a lei exige que o projeto seja
acompanhado de um parecer de investigador doutorado em área relacionada, o que não
aconteceu.

a) Imagine que os serviços do Parque haviam solicitado o referido parecer, mas que a
análise dos técnicos da Direção Regional do Ambiente entendia que o projeto não tinha mérito
técnico que justificasse a autorização concedida.: poderia Avelina revogar o ato de Patrício?
b) Imagine que se confirma que o parecer não foi efetivamente solicitado: pode Avelina
anular o ato administrativo?
c) Se admitir que o ato pode ser anulado, deve ser também anulado o ato administrativo,
entretanto praticado, que autorizava Heitor e Eduardo a gravar a intervenção científica de
Cassandra, no âmbito de um documentário para a National Geographic, e que, de acordo com
o regulamento do Parque Natural, só pode ser emitido se existir prévio projeto científico
autorizado?
CASO PRÁTICO N.º 9

4. Garantias administrativas: reclamação e recursos; responsabilidade civil extracontratual


do Estado

Avelina vem efetivamente a anular a autorização de Cassandra. A espeleóloga imediatamente


dá indicação a Jacó Tempura para impugnar o ato de anulação.

a) Indique a tramitação a seguir caso Jacó Tempura entenda reclamar da decisão;


b) Caso fosse apresentado recurso hierárquico por Jacó Tempura, poderia Avelina
convertê- la numa reclamação se pretendesse acolher os argumentos de Cassandra e revogar
o ato de anulação?
c) Imagine que o ato de autorização mantém-se anulado e a data de realização da visita ao
Algar do Destino passa, com graves prejuízos para Cassandra. Caso se demonstre que Avelina
não apurou que existia o parecer positivo de um doutorado, uma vez que não abriu uma das
pastas eletrónicas do processo administrativo que lhe foi enviado, teria de indemnizar
Cassandra pelos danos que esta sofreu em virtude da errónea anulação do ato de autorização?

EPÍLOGO

Cassandra conseguirá, entretanto, visitar várias vezes o Algar do Destino e desenvolverá


investigação a alertar para a necessidade de proteger a fauna e flora autóctones. Paradoxalmente,
será escutada.

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