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Análise de Situação de Saúde

para Apoiadores Institucionais


do Ministério da Saúde

Sistemas de Informação em Saúde

Ministério da Saúde
Brasil 2022
FICHA TÉCNICA E INSTITUCIONAL

Reitor da Universidade Federal de Goiás Coordenação de Tutoria


Profa. Dra. Angelita Pereira de Lima Dr. Julio Henrique de Oliveira
“Este material faz parte do Curso de
Pró-Reitora de Extensão e Cultura Tutoras Formação em Análise de Situação de
Profa. Dra. Luana Cássia Miranda Ribeiro Ms. Emily Nayana N. Melo Saúde para Apoiadores Institucionais
Ms. Érika Carvalho de Aquino do Ministério da Saúde, coordenado
Direção do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública Profa. Dra. Lívia Teixeira de Souza pela Universidade Federal de Goiás
Profa. Dra. Flávia Aparecida de Oliveira
(UFG), não devendo ser reproduzido
Design Gráfico e Diagramação
Coordenação Geral Silvestre Linhares da Silva ou disseminado para outros fins.”
Profa. Dra. Marta Rovery de Souza
Gerente Financeira de Projeto
Consultora Leila Pires Simeão
Dra. Luciana Monteiro V. Sardinha
Secretaria
Vice Coordenação Luciana Dias dos Santos
Profa. Dra. Fernanda Ramos Parreira

Coordenação Pedagógica e Designer Educacional


Ms. Cristina Luiza Dália Pereira Paragó Musmanno

SUMÁRIO

Contatos: email: apoiadoresasis@gmail.com


fone: (62) 3209-6115
Sistemas de Informação em Saúde 1 Introdução

Cristina Paragó Musmanno A utilização de dados secundários contidos nos Sistemas de Informação em
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical e Saúde Públi- Saúde (SIS) permite ao usuário a obtenção de indicadores que favorecem a cons-
ca do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de trução de análises oportunas e contínuas, e que devem ser incluídas na rotina do
Goiás (IPTSP/UFG); Mestre em Ciências Biológicas pelo Museu Nacional da Univer- serviço, inclusive, em ações de planejamento e em estratégias de monitoramento
sidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ); Especialista em Análise de Situação e avaliação (COELHO NETO, CHIORO, 2021).
em Saúde pela Universidade Federal de Goiás (UFG); Especialista em Vigilância em
Saúde Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Graduada em Neste Módulo, serão abordados os SIS, seus componentes e características, a
Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ); Tecnolo- maneira de utilizá-los, ressaltando a importância dos dados sendo transformados
gista do Ministério da Saúde; Chefe da Seção de Apoio Institucional e Articulação em informação, que podem subsidiar os técnicos para a elaboração de relatórios
Federativa da Superintendência Estadual do Ministério da Saúde em Goiás (SE- e diagnósticos e os gestores para a tomada de decisão.
3 INSF/SEMS-GO).
Alguns conceitos importantes para uma boa utilização de um SIS serão apre-
sentados, além de uma breve explanação sobre os componentes e característi-
cas de um SIS. Também são exemplificados alguns SIS, os eventos que abordam,
o respectivo instrumento de coleta e sua principal utilização. Além disso, serão
apresentados alguns painéis elaborados a partir de dados contidos em diversos
Sistemas de Informação que podem ser ferramentas úteis na rotina do serviço.
2 Dados, Informação, Indicadores e Sistemas de Informação Dados são os eventos ou fenômenos que são registrados. É a unidade primá-
ria a ser estudada. Podem ser quantitativos ou qualitativos. Os dados em saúde
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define SIS como podem ser registrados de forma contínua, periódica ou ocasional. Podem ser da-
dos primários, quando coletados especificamente para os objetivos de um estudo
...um conjunto de componentes que atuam de forma integrada por meio de ou prática no serviço. São classificados como dados secundários, aqueles que já
mecanismos de coleta, processamento, análise e transmissão da informação foram coletados, organizados e disponibilizados, por exemplo, a partir de um SIS,
necessária e oportuna para implementar processos de decisões no Sistema podendo ser de domínio público ou não (OPAS, 2018).
de Saúde. Seu propósito é selecionar dados pertinentes e transformá-los
em informações para aqueles que planejam, financiam, provêm e avaliam o É importante destacar que os dados disponibilizados são àqueles dados de-
serviços de saúde (LIPPEVELD et al., 2000). nominados estruturados. São aqueles que possuem uma estrutura definida, pen-
sados para serem organizados em um padrão constante, seguindo uma estrutura
mais rígida. Porém, em uma coleta, podem ser obtidos também dados semiestru-
4 Para uma atuação baseada em evidências, é importante entender o território turados e dados não estruturados. Dados não estruturados não possuem um pa-
de atuação, suas necessidades e situação de saúde. Ter o entendimento sobre os drão pré-estabelecido, como, por exemplo, um campo de uma ficha de coleta em
determinantes de saúde, a cobertura e utilização do sistema de saúde, e até mes- que pode ser inserida alguma observação importante. Os dados escolhidos são
mo a infraestrutura e os recursos financeiros, permite qualquer técnico ou gestor estruturados a partir do arcabouço teórico em que é construído um SIS (GERMAN
ter a capacidade de realizar um diagnóstico situacional com segurança e com me- et al., 2001).
nos vieses (BRASIL, 2015).
São a base para a construção do processo de conhecimento da realidade, a
É importante ressaltar que para se chegar no objetivo do entendimento sobre partir da construção de indicadores. Dados válidos e confiáveis são fundamentais
uma situação de saúde, é preciso utilizar-se não só de estratégias e ferramentas, para a elaboração de uma análise de situação de saúde que subsidiará uma toma-
mas, também, entender conceitos importantes. da de decisão embasada por evidências (OPAS, 2018).
O indicador é uma medida síntese que revela uma situação. Um indicador de • Relevância: é a capacidade de proporcionar informação adequada e real-
saúde contém informação relevante sobre variáveis que compõem uma situação mente útil para a tomada de decisão;
sanitária, bem como do desempenho do sistema de saúde. O exercício de buscar • Custo-efetividade: está relacionada com os resultados esperados que jus-
medidas do estado da saúde da população é uma práxis na rotina em Saúde Pú- tifiquem o investimento de tempo e de recursos;
blica (RIPSA, 2008). • Compreensibilidade: traz a necessidade do indicador ser compreendido
pelos tomadores de decisão; e
Essas medidas permitem a gestão e a avaliação das mudanças na situação de • Sustentabilidade: é a existência de condições necessárias para uma men-
saúde em todos os níveis. Por isso, os indicadores, quando construídos e utilizados suração contínua.
num sistema dinâmico, tornam-se ferramentas indispensáveis (TAMAKI et al., 2012).
Durante a construção dos indicadores, as principais medidas utilizadas são:
A qualidade de um indicador irá depender das variáveis que o compõe e da • Número absoluto: constitui o número real, puro, algumas vezes, denomi-
precisão dos SIS para a obtenção dos dados utilizados (RIPSA, 2008; BRASIL, 2011; nado como frequência absoluta. Deve ser utilizado com cautela, principal-
5 OPAS, 2018). Todo indicador deve procurar atender alguns atributos, a saber: mente em comparações de populações diferentes.
• Validade: está relacionada à capacidade de medir o fenômeno; • Proporção: constitui uma medida matemática em que todas as unidades do
• Sensibilidade: é o que determina a validade do indicador, a partir da capa- numerador estão contidas em um denominador mais amplo. Estima uma
cidade de detectar o fenômeno; probabilidade.
• Especificidade: é a capacidade de detectar somente um determinado fenômeno; • Razão: constitui a relação entre duas magnitudes de uma mesma dimensão
• Reprodutibilidade: visa a reproduzir os mesmos resultados em condições e natureza em que o numerador corresponde a uma categoria que não está
similares ou mensurações iguais quando realizadas por pessoas diferentes; contida no denominador. Mede a relação entre eventos.
• Oportunidade: é a otimização do tempo entre a coleta e a utilização de um • Coeficiente ou taxa: constitui um tipo de proporção em que a probabilida-
dado para que o indicador seja o mais atualizado possível; de do evento que está no numerador representa um risco de ocorrência em
• Mensurabilidade: é ter a disponibilidade dos dados e de maneira fácil para todos os indivíduos contidos no denominador.
se reproduzir uma medida; • Índice: constitui múltiplas dimensões, ou seja, possui caráter multidimen-
sional, ou pode ser a razão entre elementos de naturezas diferentes.
Base multiplicativa: geralmente, com notação 10n, visa a facilitar a compreen- assunto de interesse. Uma gestão baseada em evidências produz desfechos com-
são da magnitude do indicador. É um recurso utilizado na apresentação de pensadores a partir das necessidades de saúde da população envolvida (TAMAKI
um indicador para estabelecer um poder de comparação. Também denomi- et al., 2012; BRASIL, 2015).
nada constante.
Um SIS é uma ferramenta que permite obter, organizar e analisar dados neces-
sários para identificação de problemas e riscos à saúde, avaliação da eficácia e efi-
De acordo com a Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA), re- ciência dos serviços prestados e, de maneira mais ampla, permite a produção do
centemente reconstituída por meio da Portaria GM/MS nº 545, de 16 de março de conhecimento relacionado à saúde. Refere-se a qualquer mecanismo automatiza-
2022 (BRASIL, 2022), os indicadores de saúde são classificados em seis subconjun- do ou manual, que abrange recursos humanos, equipamentos e métodos organi-
tos temáticos: demográficos, socioeconômicos, mortalidade, morbidade e fatores zados para coleta, processamento, transmissão e disseminação de dados (GERMAN
de risco, recursos e cobertura (RIPSA, 2008). et al., 2001; ABOUZAHR, BOERMA, 2005; WHO, 2010; BRASIL, 2015; OPAS, 2018).

6 A partir do uso de indicadores qualificados, os técnicos e gestores constroem As informações contidas num SIS devem ser utilizadas para o planejamento ou
seus conhecimentos sobre a situação sanitária da sua população. A interpretação e implementação de uma estratégia de saúde, além de ações de monitoramento e
a compreensão de um conjunto de dados geram a informação. Isso ocorre quando avaliação. Ou seja, o objetivo principal de um SIS é produzir informação de quali-
contextualizamos o dado na realidade. Portanto, a informação se concretiza a partir dade para subsidiar as políticas de saúde (TAMAKI et al., 2012; BRASIL, 2015).
de um conjunto de dados e indicadores que serão o alicerce para construção do co-
nhecimento organizado (ABOUZAHR, BOERMA, 2005; COELHO NETO, CHIORO, 2022). Um SIS engloba os dados que são requeridos para um país, estado, município, ou
até mesmo uma unidade de saúde. A informação em saúde gerada propicia a iden-
O conhecimento gerado é a capacidade de expressar a realidade sobre deter- tificação de problemas individuais e coletivos, possibilitando uma análise, sob um
minado fenômeno ou evento a partir dos indicadores. Quando se obtém informa- olhar macro ou mais detalhado, com vistas à geração de conhecimento (ABOUZA-
ção sobre algo, reduz-se as incertezas ou aprofunda-se o conhecimento sobre um HR, BOERMA, 2005) (Figura 1).
Figura 1. Dados nos diferentes níveis de um Sistema de Informação em Saúde Portanto, não somente os SIS, mas qualquer sistema de

Estratégico
informação, é um instrumento importante para adquirir da-
Modelagens e estimativas
dos, organizá-los e analisá-los. Esses dados serão fundamen-
Global tais para a definição de problemas e riscos para a saúde. Além
Estatísticas vitais, censos,
Países
pesquisas domiciliares nacionais disso, contribuem para avaliar a eficácia, eficiência e efetivi-
dade das ações e serviços de saúde para determinada popu-
Mapeamento da disponibilidade dos
Estados
servços, dados administrativos, vigilânica
lação (GERMAN et al., 2001; BRASIL, 2015; OPAS, 2018; COELHO
Municípios NETO, CHIORO, 2022).
Registro da unidade de saúd, registro de
nascimentos, dados ambulatoriais, vigilância
Unidades de Saúde
Para um bom funcionamento de um sistema de informa-
Estudos de conhecimentos, atitudes e
Operacional Comunidades
práticas, pesquisas domiciliares, vigilância ção é preciso haver uma gestão adequada desse sistema. Isso
se dá por meio dos recursos disponíveis de suporte para a
7 Decisões de Gestão Nível do Sistema de Saúde Tipo de Ferramenta operabilidade do sistema, bem como de regras organizacio-
nais (ABOUZAHR, BOERMA, 2005).

Fonte: Modificado de AbouZahr e Boerma (2005). Segundo recomendações internacionais, os sistemas de in-
formação devem possuir procedimentos padronizados de coleta
de dados, manuais de operação contendo orientações para di-
versas situações, recursos humanos capacitados e conscientes
de suas atribuições diante do sistema e, não menos importante,
todo SIS deve haver supervisão e assessoria adequadas (LIPPE-
VELD et al., 2000; ABOUZAHR, BOERMA, 2005; BRASIL, 2015).
Por fim, é preciso ressaltar que conhecer a origem e como Ter uma transmissão de dados oportuna é fundamental para a atualização da base de dados (LI-
se dá o registro dos dados num sistema de informação, como PPEVELD et al., 2000; ABOUZAHR, BOERMA, 2005).
os documentos de coleta devem ser ordenados são etapas
importantes para a manutenção da qualidade dos dados (LI- O cuidado com a completude dos dados é importante, ou seja, deve-se ter o máximo de dados ob-
PPEVELD et al., 2000) (Figura 2). tidos, sem deixar de lado informações importantes e que, dessa forma, resulte na inclusão de todos os
dados necessários para se responder a um determinado problema (LIPPEVELD et al., 2000; GERMAN et
Figura 2. Componentes de um Sistema de Informação em Saúde al., 2001; ABOUZAHR, BOERMA, 2005; BRASIL, 2015).

Processo da informação
A consistência interna do SIS também deve ser observada, ou seja, o quanto os dados apresentam
valores coerentes e não contraditórios. Avalia o grau de confiabilidade apresentado pelo conjunto de
dados, rejeitando os dados que não se encaixam nas regras estabelecidas para essa base ou até mes-
Coleta de dados
mo a duplicidade dos dados, quando encontrada (GERMAN et al., 2001; BRASIL, 2015).
Recursos
8
Transmissão dos dados Controlar os erros e inconsistências, visando a qualificar os dados para serem disponibilizados
Gestão para o público, é de suma importância durante o processamento dos dados. Realizar análise preliminar
dos dados, comparar com outros parâmetros, identificando discrepâncias, são ações que qualificam os
Processamento dos dados
Regras processos de cada sistema de informação (GERMAN et al., 2001; BRASIL, 2015; OPAS, 2018).
organizacionais

Análise dos dados É importante avaliar a qualidade de um SIS. Sensibilidade de um SIS refere-se tanto à sua estrutura quan-
to à facilidade de operação. Deve ser o mais simples, sem deixar de cumprir os objetivos propostos. A sen-

Informação para uso do


sibilidade de um SIS é uma característica importante que aumenta a probabilidade da aceitação de um SIS
planejamento e da gestão pelos usuários. Pode estar relacionada tanto ao nível da notificação de casos, ou seja, pela capacidade de
identificar a proporção de casos de uma doença, por exemplo, quanto pela capacidade de detectar surtos, ou
Fonte: Modificado de Lippeveld et al. (2000). monitorar as mudanças no número de casos ao longo do tempo (GERMAN et al., 2001; BRASIL, 2015; OPAS, 2018).
Já a flexibilidade de um SIS está baseada na capacidade do SIS se adaptar mais precisa da incidência de doenças relacionadas à saúde em uma população
às mudanças nas necessidades de informações ou condições operacionais, des- específica (GERMAN et al., 2001; OPAS, 2018).
sa forma, tornado possível ao SIS acomodar novos eventos relacionados à saúde,
mudanças nas definições de casos ou tecnologias, por exemplo (GERMAN et al., Outra importante característica é a pontualidade, que é o intervalo de tempo
2001; BRASIL, 2015; OPAS, 2018). entre o início de um evento relacionado à saúde e a disponibilidade dos dados de
exposição. Essa capacidade permite fornecer uma base para interromper exposi-
Outra característica importante de um SIS é a qualidade dos dados, que reflete ções, trazendo subsídios para as ações de enfrentamento ao evento e implantar
a integridade e validade dos dados registrados. Essa qualidade é diretamente in- ações de prevenção (GERMAN et al., 2001; OPAS, 2018).
fluenciada pelo desempenho na obtenção dos dados, tanto por meio do objeto de
registro quanto pelo treinamento da equipe responsável. Aliada à qualidade dos Para o bom funcionamento de um SIS e sua utilização pelos usuários, um SIS
dados, está a aceitabilidade, que se refere à disposição dos usuários para utiliza- deve possuir estabilidade, que está relacionada com a confiabilidade e com a dis-
ção do SIS (GERMAN et al., 2001; OPAS, 2018). ponibilidade. Confiabilidade se refere à capacidade de coletar, gerenciar e forne-
9 cer dados de maneira correta e sem falhas. E a disponibilidade está relacionada
A proporção de casos notificados que realmente são eventos relacionados à à capacidade de estar operacional, sempre que necessário. Um SIS inoperante,
saúde sob vigilância é chamado de Valor Preditivo Positivo (VPP). Isso é impor- quando necessário, inviabiliza ações de Saúde Pública oportunas (GERMAN et al.,
tante porque está relacionado com a confirmação dos casos relatados num SIS e 2001; TAMAKI et al., 2012; OPAS, 2018; COELHO NETO, CHIORO, 2022).
influencia diretamente no uso de recursos usados para a investigações de casos e
no nível de detecção de surtos e epidemias (GERMAN et al., 2001). Os SIS são importantes para planejar, organizar, operacionalizar, monitorar e ava-
liar as ações e serviços de saúde. Para que essas ações possam ser realizadas, é im-
Já representatividade está relacionada com a cobertura dos dados, ou seja, a portante que os SIS sejam delineados e estruturados de forma a corresponderem
ocorrência de um evento relacionado à saúde ao longo do tempo e sua distribuição às necessidades de informação em todos os níveis de gestão do sistema de saúde
na população, seja por lugar ou pessoas. Um SIS representativo também permite a (LIPPEVELD et al., 2000; GERMAN et al., 2001; ABOUZAHR, BOERMA, 2005; OPAS, 2018;
identificação de subgrupos populacionais, isso permite, por exemplo, uma análise COELHO NETO, CHIORO, 2022).
A coleta dos dados deve ser realizada de maneira contínua e sua disponibili- Tabela 1. Sistemas de Informação em Saúde, seus objetos para registro e infor-
zação para o público de forma sistemática e oportuna, após qualificação das bases mações disponíveis
de dados, com a exclusão de inconsistências (LIPPEVELD et al., 2000; GERMAN et al.,
2001; ABOUZAHR, BOERMA, 2005). Sistema de
Objeto para Registro Informações disponíveis
Informação em Saúde

Apesar da falta de uma interoperabilidade entre a maioria dos SIS existentes Informações sobre capacidade
Cadastro Nacional de Ficha de cadastro dos
no Sistema Único de Saúde (SUS), os dados secundários compõem uma gama de instalada: estabelecimentos,
Estabelecimentos de estabelecimentos de
dados disponibilizados sobre diversos temas. Isso, porque agregam diversos tipos leitos, equipamentos, recursos
Saúde (CNES) saúde (FCES)
humanos (SUS e setor privado)
de bases de dados, com funções e objetivos de registro de diferentes naturezas. Os
dados são disponibilizados de maneira abrangente e transparente, que permitem Planos Municipais (PMS)
Informações sobre o
e Estaduais de Saúde
a obtenção rápida para elaboração de diversas análises e diagnósticos de situação planejamento e prestação de
(PES), Programação
de saúde. Além disso, auxiliam na indicação do perfil de situação de saúde dos DigiSUS Gestor contas dos estados e municípios
Anual de Saúde
Módulo Planejamento para cada quadriênio, incluindo
10 mais diversos territórios (BRASIL, 2015; OPAS, 2018; COELHO NETO, CHIORO, 2022). (PAS), Relatórios do
(DGMP) devolutiva do controle social
Quadrimestre Anterior
para cada instrumento de
(RDQA) e Relatório
Todos os municípios brasileiros inserem os dados em cada SIS, os quais são trans- planejamento
Anual de Gestão (RAG)
mitidos para as bases nacionais do SUS. Esse conjunto de dados é fundamental para a
Informações sobre os conselhos
organização e o funcionamento da Rede de Atenção à Saúde e das ações de Vigilância
Sistema de de saúde, apresentando a
em Saúde (GERMAN et al., 2001; OPAS, 2018; COELHO NETO, CHIORO, 2022). Cadastro realizado
Acompanhamento composição dos colegiados,
pelos Conselhos de
dos Conselhos de cumprimento da legislação
Saúde
Saúde (SIACS) vigente, além de ferramenta
Na Tabela 1, são apresentados alguns exemplos de SIS relevantes na rotina de
para comunicação e informação
um(a) apoiador(a).
Boletim de Produção Sistema de
Informações sobre mortalidade
Ambulatorial (BPA-I e Informações sobre Declaração de óbito (DO)
e cobertura populacional
BPA-C), Atendimentos Informações sobre Mortalidade (SIM)
Sistema de
de média e alta atendimentos, procedimentos
Informação
complexidade (APAC) e tratamentos realizados na Sistema de
Ambulatorial (SIA) Declaração de nascido Informações sobre atenção
e Registro de Ações atenção ambulatorial (SUS) Informações sobre
vivo (DNV) materno-infantil
Ambulatoriais de Nascidos Vivos (Sinasc)
Saúde (RAAS)
Informações referentes às
Sistema de receitas totais e às despesas
Informações sobre agravos Declarações sobre
Informação Fichas de notificação Sistema de com saúde dos orçamentos
de notificação compulsória e os gastos públicos
de Agravos de (FIN) e investigação (FII) Informações sobre públicos em saúde,
cobertura populacional em saúde da União,
Notificação (Sinan) Orçamentos Públicos demonstrando as transferências
Unidades da Federação
em Saúde (SIOPS) constitucionais de recursos para
Informações sobre produção e municípios
a oferta de ações e serviços
Dados oriundos dos das equipes da APS, cadastros,
Sistema de públicos de saúde
11 Informação em Saúde
sistemas da Atenção produção (atendimentos,
Primária a Saúde procedimentos e visitas
para a Atenção Básica Para que o(a) apoiador(a) institucional da gestão federal do SUS possa ter um
(APS) que integram a domiciliares) referente à APS, e
(SISAB) diagnóstico sobre o território de atuação, é necessário o uso dos mais diversos SIS
Estratégia e-SUS APS consulta sobre o resultado dos
indicadores de desempenho para elaboração de levantamentos de informações que subsidiarão diagnósticos
situacionais. Um(a) apoiador(a) bem informado(a) poderá atuar de maneira mais
Informações sobre
Sistema de Autorização de qualificada e oportuna.
atendimentos, procedimentos
Informação internação hospitalar
e tratamentos realizados na
Hospitalar (SIH) (AIH)
atenção hospitalar (SUS) É importante para o(a) apoiador(a) não somente ter acesso aos mais variados
sistemas de informação, seja do SUS ou não, mas saber o que se deve procurar, a
Sistema de Ações assistenciais Informações sobre cobertura
Informações do e administrativas do vacinal e eventos adversos, partir de uma pergunta adequada sobre o que se quer saber. Dessa maneira, po-
Programa Nacional de Programa Nacional de controle de estoque e derá ser capaz de estabelecer o escopo da informação que é necessária para obter
Imunizações (SI-PNI) Imunizações (PNI) distribuição de insumos
o conhecimento adequado sobre determinada situação ou cenário de saúde.
Os sistemas de informação atuam em diferentes setores, mas, no geral, pos- Outra maneira para se obter dados oriundos de alguns SIS do SUS é a extração
suem quatro níveis principais: da base de dados completa disponível por meio da área do sítio do DataSUS deno-
1. Nível estratégico; minada “Transferência de Arquivos”. Após download do arquivo, os dados serão
2. Nível gerencial; tabulados por meio da utilização do TabWin. Nessa sessão, poderão ser realizados
3. Nível do conhecimento; e uploads dos mais diversos dados disponíveis, além dos manuais dos programas
4. Nível operacional. TabNet e TabWin, bem como do arquivo de instalação do TabWin.

Os SIS podem ser acessados de duas formas. A maneira mais rápida de obter Além da obtenção de dados secundários a partir dos sistemas de infor-
dados estruturados contidos nas bases do Ministério da Saúde se faz por meio do mação existentes, o(a) apoiador(a) poderá utilizar alguns painéis elaborados
Programa TabNet, que é uma ferramenta desenvolvida pelo Departamento de pelos mais diversos setores. Esses painéis são compostos por informações de
Informática do SUS (DataSUS). É um tabulador que permite ao usuário organizar muitas setores que auxiliarão no diagnóstico sobre o território que está sendo
os dados de forma rápida, conforme a consulta que se deseja tabular. Possui uma estudado. Vale ressaltar que alguns SIS do SUS podem ser acessados via Intra-
12 interface simples de interação com o usuário com a possibilidade de realização de net, pelo(a) apoiador(a) institucional. Algumas áreas técnicas permitem o ca-
tabulações rápidas a partir das bases que constituem os SIS do SUS. dastro de perfil, sem acesso para edição, mas com a possibilidade da extração
de relatórios que permitem a observação dos dados e, dessa forma, realizar as
As planilhas geradas por meio do TabNet podem ser trabalhadas tanto no Pro- análises desejadas.
grama Microsoft Office® Excel®, ou algum programa similar, quanto no Programa
TAB para Windows®, o conhecido TabWin. Também desenvolvido pelo DataSUS, o Trata-se de painéis simples ou complexos dashboards que disponibilizam mé-
TabWin é um programa integrador que permite tabular informações de diferentes tricas e indicadores que podem ser compostos a partir do banco de dados original
tipos em um mesmo ambiente. Além disso, é possível realizar operações aritmé- do setor responsável pelo painel. O objetivo principal de um painel é transmitir a
ticas, estatísticas e ainda elaborar gráficos e mapas no TabWin a partir dos dados informação de forma oportuna.
contidos na tabela de trabalho.
Na Tabela 2, são apresentados exemplos de alguns painéis de acesso público. Estudo e Monitoramento Brasileiro do Cima Espacial (EMBRACE) - Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) →
Existe uma diversidade de painéis que podem estar disponíveis para os mais di-
versos temas. Cabe ao(à) apoiador(a) fazer uma pesquisa sobre a disponibilidade Geração de Imagens - Coordenação Geral de Observação da Terra -
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) →
de informações sobre o tema que precisa para a realização do diagnóstico do ter-
ritório, buscar as fontes confiáveis e os painéis já existentes para a elaboração do Monitoramento dos gastos da União com combate à Covid-19 Tesouro
Nacional →
trabalho. É importante fazer um levantamento dos painéis e sistemas disponíveis
com informações específicas para o território de atuação do(a) apoiar(a). Painéis de Apoio do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde
(CONASEMS) →
Tabela 2. Painéis de acesso público e respectivos links de acesso
Painéis de Compras - Ministério da Economia →

Painel Link Painéis de Indicadores da Atenção Primária à Saúde →

13
Ações do Ministério da Educação em resposta à pandemia → Painéis de Informações do Fundo Nacional de Saúde →
Análise em Saúde e Vigilância das Doenças Não Transmissíveis – Painéis de Painéis de Informações Estratégicas - Ministério do Desenvolvimento
Monitoramento → Regional →
Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras - Painéis de monitoramento e indicadores do Ministério da Educação →
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis →
(IBAMA)
Painéis do Conselho Nacional de Justiça →
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) - Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) → Painéis Laboratório de Inteligência Artificial em Saúde (LIAS) →
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) → Painéis do Sistema Nacional de Informação do Sistema Único de
Assistência Social (Rede SUAS) - Ministério da Cidadania →
Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis –
Painel de Indicadores Epidemiológicos → Painel Coronavírus Brasil – Departamento de Informática do SUS (DataSUS) →
Painel de Dados das Ouvidorias do SUS → Portal da Transparência - Controladoria Geral da União →
Painel de Indicadores de Saúde - Pesquisa Nacional de Saúde - Fiocruz → Portal Saúde Baseada em Evidências →
Painel de monitoramento da mortalidade entre grupos, segundo método
Global Burden Disease (GBD) → Programa Queimadas - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) →

Painel do Sistema Nacional de Cadastramento de Registro de Estrangeiros


Relatórios Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) →
(Sincre) e do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra) →
Sala de Apoio à Gestão Estratégica (SAGE) →
Painel do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD) do
Ministério do Desenvolvimento Regional → Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - Ministério do
Desenvolvimento Regional →
Painel do Tesouro Nacional →
Sistemas da Atenção Primária à Saúde (APS) →
Painel Estratégia de Interiorização →
14 A partir de uma pergunta norteadora adequada e do planejamento para ob-
Painel Indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) → tenção da informação desejada é possível construir uma análise de situação que
Painel interativo SireneJud para áreas ameaçadas por crimes e danos subsidiará o(a) apoiador(a) a conhecer o território que se precisa ter domínio, para
ambientais →
qualificar suas avaliações e discussões com os atores parceiros.

Painel Nacional Covid-19 - Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) →


Da mesma forma que é preciso elaborar uma boa análise de situação de saúde
Painel Portal Tribunal de Contas da União (TCU) → para realizar um planejamento em saúde adequado, é preciso que o(a) apoiador(a)
institucional da gestão do SUS, seja possuidor(a) da capacidade de buscar as mais
Painel Saneamento Brasil → variadas informações, para que, na rotina do serviço, ele(a) possa entender a dinâ-
Plataforma Integrada de Vigilância em Saúde (IVIS) → mica do território e, em articulação com os pares, definir as melhores estratégias
para o fortalecimento da gestão do SUS no seu local de atuação.
Portal Brasileiros de Dados Abertos →
Referências
ABOUZAHR, C.; BOERMA, T. Health information systems: the foundations of public health. GUIDELINES WORKING GROUP CDC. Updated guidelines for evaluating public health

Bulletin of the World Health Organization. 2005, v. 83, n. 8, p. 578-583. Disponível em: surveillance systems. Morbidity and Mortality Weekly Report. 2001, v. 50, n. RR13, p. 1-35.

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