Você está na página 1de 29

Análise de Situação de Saúde

para Apoiadores Institucionais


do Ministério da Saúde

Demografia e Saúde

Ministério da Saúde
Brasil 2022
FICHA TÉCNICA E INSTITUCIONAL

Reitor da Universidade Federal de Goiás Coordenação de Tutoria


Profa. Dra. Angelita Pereira de Lima Dr. Julio Henrique de Oliveira
“Este material faz parte do Curso de
Pró-Reitora de Extensão e Cultura Tutoras Formação em Análise de Situação de
Profa. Dra. Luana Cássia Miranda Ribeiro Ms. Emily Nayana N. Melo Saúde para Apoiadores Institucionais
Ms. Érika Carvalho de Aquino do Ministério da Saúde, coordenado
Direção do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública Profa. Dra. Lívia Teixeira de Souza pela Universidade Federal de Goiás
Profa. Dra. Flávia Aparecida de Oliveira
(UFG), não devendo ser reproduzido
Design Gráfico e Diagramação
Coordenação Geral Silvestre Linhares da Silva ou disseminado para outros fins.”
Profa. Dra. Marta Rovery de Souza
Gerente Financeira de Projeto
Consultora Leila Pires Simeão
Dra. Luciana Monteiro V. Sardinha
Secretaria
Vice Coordenação Luciana Dias dos Santos
Profa. Dra. Fernanda Ramos Parreira

Coordenação Pedagógica e Designer Educacional


Ms. Cristina Luiza Dália Pereira Paragó Musmanno

SUMÁRIO

Contatos: email: apoiadoresasis@gmail.com


fone: (62) 3209-6115
SUMÁRIO
4. DEMOGRAFIA E SAÚDE
MARTA ROVERY DE SOUZA
Profa. Titular do Departamento de Saúde Coletiva - UFG

Cenário: Dinâmica demográfica e conhecimento no mundo pós-pandemia

A pandemia de covid-19 mudou vários aspectos da realidade social e da expressiva do número de casamentos. Nos processos migratórios foram ob-
dinâmica demográfica. A necessidade do distanciamento físico, as dificulda- servados redirecionamentos dos fluxos nos espaços intra e intermunicipais,
3 des para controlar a pandemia e as consequências econômicas e políticas bem como acirramentos dos conflitos em função das migrações nas frontei-
ainda continuam afetando a sociedade. Passados dois anos desde o início ras e entre o Norte e Sul Global.
da crise sanitária, o debate volta-se para o encerramento da pandemia, para
as implicações desse processo e para a identificação das mudanças em di- Todos estes processos precisam ser mais bem compreendidos à luz da dis-
versos campos que permanecerão.Em termos da dinâmica demográfica, as ponibilidade de fontes de dados fidedignas e nas escalas adequadas de tempo
mudanças mais evidentes ocorreram na morbimortalidade, com a covid-19 e espaço. O Censo de 2022 vai ser fundamental nesse processo. Mas a pande-
configurando a principal causa de óbitos e adoecimentos no período. Os mia mostrou empiricamente a importância decisiva de informação demográfica
efeitos sobre a fecundidade também foram significativos, identificando-se e de fontes de informações populacionais não tradicionais. Sem informações
uma tendência de postergação dos nascimentos, e a nupcialidade sofreu é impossível construir políticas públicas de saúde, ou de qualquer outra ação
relevante impacto com a pandemia e o afastamento social, como a redução que beneficie a sociedade, e que sejam coerentes e eficazes.
SUMÁRIO
4.1 Introdução Definindo Demografia

A população brasileira vem passando por processos de transformação carac- Demografia (dêmos = população, graphein = estudo) refere-se ao estudo das
terizados por alterações significativas em seu regime demográfico. populações humanas e sua evolução temporal. Em um estudo demográfico
as principais variáveis que devem ser consideradas são: o tamanho da popu-
Os níveis e padrões dos eventos vitais – fecundidade e mortalidade – experi- lação; sua distribuição por sexo, idade, estado conjugal; natalidade, fecun-
mentados em todas as regiões do País vêm alterando-se de forma acelerada nas didade, mortalidade e migrações (distribuição da população segundo região
últimas décadas, implicando desafios e oportunidades para nossa sociedade. As geográfica de residência atual, anterior e de nascimento).
migrações interna e internacional constituem um desafio à parte, pois carecem de
registros administrativos que possam dar conta das transformações ocorridas no
tempo e no espaço, sendo o Censo Demográfico e a Contagem da População suas As fontes de informações demográficas, consequentemente, tornam-se fatores
principais fontes de dados. críticos de sucesso para a adequada compreensão dessas variáveis e, portanto, re-
4 vestem-se de importância estratégica para qualquer nação à medida que fornecem
Nesse sentido, as projeções da população são imprescindíveis para a avalia- aos institutos de pesquisa, pesquisadores e gestores públicos em geral a possibi-
ção desses desafios e oportunidades e consequentes tomadas de decisão, confi- lidade de um melhor dimensionamento e monitoramento das demandas da socie-
gurando-se em uma das principais e mais complexas atividades relacionadas aos dade, contribuindo enormemente na elaboração e aplicação de políticas públicas.
estudos demográficos.
A compreensão das tendências de distribuição da população por idade e sexo, por
Conhecer esse novo padrão populacional, as estatísticas populacionais, as exemplo, é de fundamental importância no processo de delineamento e elaboração
respectivas projeções e cenários populacionais constituem-se em uma ferra- de políticas voltadas para o atendimento das demandas sociais. Tal importância de-
menta fundamental na elaboração e adequação de políticas públicas eficazes corre do fato de que cada política social tem um público-alvo, diferenciado em termos
e resolutivas. de volume, ritmo de crescimento, composição e distribuição espacial pelo território.
SUMÁRIO
QUE PAÍS É ESSE???
Essa configuração demográfica dos Conhecer o número total de pes-
públicos-alvo está estreitamente rela- Nº de municípios 5.570 [2016] soas residentes e a sua es trutura rela-
cionada ao comportamento das neces- Área Territorial 8.510.345,540 km² [2021] tiva pode nos ajudar a dimensionar a
sidades e requerimento de serviços dos população alvo de ações e serviços; a
População estimada 213.317.639 pessoas [2021]
indivíduos ao longo do ciclo de vida de contribuir para o planejamento, a ges-
Densidade demográfica 22,43 hab/km² [2010]
indivíduos e famílias. tão e a avaliação de políticas públicas
Escolarização 6 a 14 anos 99,7 % [2019] relacionadas à saúde, à educação, ao
Diante deste contexto, as informa- Analfabetismo + 15 anos 6,6 % [2019] trabalho, à previdência e à assistên-
ções e as análises demográficas são cia social para os diversos segmentos
Fecundidade 1,76 filhos por mulher [2021]
imprescindíveis no processo de toma- de idade e a subsidiar as discussões
5 da de decisão. Por outro lado, observa- Mortalidade infantil 11,20 óbitos por mil nascidos vivos [2021] sobre alocação de recursos.
-se que é ainda muito incipiente o co-
nhecimento/uso de tal potencialidade
por parte do setor privado e até mes- A distribuição por sexo e idade de uma população é, tar a população por idade e sexo é por meio da pirâmide
mo do setor público, o Instituto Brasi- na realidade, reflexo da história da sua dinâmica popu- etária (ela pode ser confeccionada segundo região, mu-
leiro de Geografia e Estatística (IBGE), lacional, desde um passado relativamente longínquo. O nicípio, áreas rural e urbana). O eixo horizontal de uma
responsável pelas estatísticas oficiais número de pessoas de uma população, em uma deter- pirâmide etária representa o número absoluto ou a pro-
de população tem enfrentado grandes minada idade, é o resultante do número de nascimentos porção da população, enquanto o eixo vertical represen-
desafios para atender as mais diversas que ocorreram anos atrás e dos níveis de mortalidade ta os grupos de idade. O lado direito do eixo horizontal é
demandas por informações populacio- aos quais estes indivíduos estiveram sujeitos desde que destinado à representação do contingente ou a propor-
nais detalhadas e prospectivas. nasceram. Uma forma bastante ilustrativa de represen- ção de mulheres e o esquerdo, a dos homens.
SUMÁRIO
Quando a pirâmide populacional tem base lar- As análises de pirâmides populacionais também são fundamentais para enten-
ga e ápice estreito, a pirâmide retrata uma popula- der em que estágio de transição demográfica se encontra determinado país (Figura
ção bastante jovem. À medida que a fecundidade 1). Alguns fatores interferem significativamente na pirâmide etária: uma guerra, por
declina – menos crianças nascem – a base da pi- exemplo, provoca distúrbios visíveis sendo o mais comum a queda no número de
râmide vai se estreitando, com tendência a forma jovens e adultos do sexo masculino. Normalmente, após uma crise como essa, é
retangular, passando a caracterizar uma população notável uma reposição populacional estimulada pelo governo, chamada de baby
envelhecida. boom. Outros fatores podem afetar o formato da pirâmide: um controle populacio-
nal explícito, um êxodo, um movimento populacional importante, uma epidemia,
Nota: As pirâmides etárias são usadas, não só uma catástrofe ambiental, entre outros.
para monitorar a estrutura de sexo e idade,
mas como um complemento aos estudos da Figura 1. Estágios da transição demográfica
qualidade de vida, já que podemos visualizar
Estágio de Transição 1 Estágio de Transição 2 Estágio de Transição 3 Estágio de Transição 4
6 a média do tempo de vida, a taxa de morta-
lidade e a regularidade, ou não, da popula- Idade
ção ao longo do tempo. Quanto mais alta a 65
pirâmide, maior a expectativa de vida e, con-
sequentemente, melhor as condições de vida
15
daquela população. É possível perceber que
Masculino (%) Feminino (%) Masculino (%) Feminino (%) Masculino (%) Feminino (%) Masculino (%) Feminino (%)
quanto mais desenvolvimento econômica e
Altas taxas de natalidade, Altas taxas de Declínio nas taxas de Baixa taxa de
socialmente é o país, mais sua pirâmide terá com queda brusca em natalidade, quedas nas natalidade, baixas taxas natalidade, baixas taxas
cada grupo etário, devido taxas de mortalidade de mortalidade e mais de mortalidade,
uma forma retangular. a altas taxas de concentrada nos grupos pessoas chegando a aumento da razão de
mortalidade; baixa etários intermediários e terceira idade dependência e
expectativa de vida ligeiro aumento da expectativa de vida
expectativa de vida mais longa

Fonte: Wikipédia − Pirâmides populacionais.


SUMÁRIO
Para entender melhor o que estamos dizendo com relação aos estágios de No caso do Brasil, a mudança no formato da pirâmide está
transição demográfica seguem dois exemplos: o primeiro da África que pode ser relacionada diretamente com a queda da fecundidade e da
identificado como primeiro estágio da transição demográfica e a pirâmide da Eu- mortalidade (Gráfico 1).
ropa no quarto estágio da transição (Figura 2).
Gráfico 1. Composição da população residente total, por sexo e
Figura 2. Pirâmide populacional África x Europa, 2022 grupos de idade, Brasil - 1991, 2000 e 2010

Idade Homens Mulheres


80 ou mais
75 a 79 1991
70 a 74
2000
65 a 69
60 a 64 2010
55 a 59
7 50 a 54
45 a 49
40 a 44
35 a 39
30 a 34
25 a 29
20 a 24
15 a 19
10 a 14
5a9
0a4
8 7 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8

Fonte: PopulationPyramid.net, 2022. Fonte: Censo Demográfico, IBGE, 2012.


SUMÁRIO
O que nos revela as projeções?

As projeções indicam que em 2040, a taxa de crescimento cairá para − 0,291%,


o que representa uma população de 215,3 milhões de habitantes. O País apresen-
tará um potencial de crescimento populacional até 2030, quando se espera que
a população atinja o chamado “crescimento zero”. A partir desse ano serão regis-
tradas taxas de crescimento negativas, que correspondem à queda no número da
população (Figura 3 e Gráfico 2).

Figura 3. Projeção da pirâmide populacional do Brasil, 2030 Gráfico 2. Taxa de crescimento da população brasileira, 1940 a 2040

3,5

8 3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0

-0,5

1940/1950

1950/1960

1960/1970

1970/1980

1980/1991

1991/2000

2000/2010

2010/2020

2020/2030

2030/2035

2035/2040
Fonte: PopulationPyramid.net, 2022. Fonte: IBGE / Censo Demográficos. Adaptado pela autora.
SUMÁRIO
Expectativa de vida ao nascer de 1940 até 2016 Tabela 1. Variação da expectativa de vida no Brasil de 1940-2016.

O envelhecimento populacional significa uma alteração na propor- Expectativa de vida ao nascer Diferencial entre
Ano os dois sexos
ção da população dos diversos grupos etários no total da população. Total Homem Mulher (anos)
Por exemplo, em 1940 a população idosa representava 4,1% da popula- 1940 45,5 42,9 48,3 5,4
ção total brasileira, e passou a representar 12,1% em 2011. O contingen- 1950 48,0 45,3 50,8 5,5
1960 52,5 49,7 55,5 5,8
te, em valores absolutos, aumentou de 1,7 milhão para 23,5 milhões no
1970 57,6 54,6 60,8 6,2
mesmo período.
1980 62,5 59,6 65,7 6,1
1990 66,9 63,2 70,9 7,7
Do ponto de vista demográfico, o envelhecimento populacional é 2000 69,8 66,0 73,9 7,9
o resultado da manutenção, por um período de tempo razoavelmente 2010 73,9 70,2 77,6 7,4

longo, de taxas de crescimento da população idosa superiores às da 2016 75,8 72,2 79,4 7,1
Δ (1940 - 2016) 30,3 29,3 31,1
9 população mais jovem. Isto implica uma mudança nos pesos dos di-
versos grupos etários no total da população. Além do envelhecimento Fonte: IBGE, Censos demográficos e Contagem de População.
da população total, a população idosa também envelheceu. A propor-
ção da população “mais idosa”, de 80 anos ou mais, está aumentando Novas dimensões de análise
também, alterando a composição etária no próprio grupo. Sua partici-
pação na po pulação brasileira passou de 0,9% para 1,7%, entre 1992 e Uma nova e fundamental dimensão que vem sendo incorporada à
2011. Embora o percentual seja baixo, fala-se de 3,2 milhões de pessoas análise sobre a esperança de vida é a análise acerca da incapacidade.
com 80 anos ou mais. Isso leva a uma heterogeneidade do segmento O aumento da esperança de vida faz com que uma por centagem maior
idoso, pois este passa a incluir pessoas de 60 anos a pessoas com mais de pessoas viva parte de sua vida em estado de incapacidade física ou
de 100 anos de idade. A tabela 1 mostra a variação da expectativa de mental. Interessa saber quantos anos de vida ativa uma pessoa terá,
vida no Brasil de 1940-2016. quer dizer, sem incapacidade.
SUMÁRIO
Assim importa analisar não somen-
te o aumento da esperança de vida, mas Figura 4. Expectativa de vida ao nascer (em anos) Brasil e UFs, 2019
também, como está se dando o processo
de envelhecimento.

Concluindo, o processo do envelhe-


cimento é muito mais amplo do que uma
modificação de pesos de uma determinada
população, dado que altera a vida dos indi-
víduos, as estruturas familiares, a sociedade
etc. Altera, também, a demanda por políti- Gráfico 3. Expectativa de vida ao nascer (em anos) por sexo
cas públicas e a pressão pela distribuição de
10 recursos na sociedade. Por isso, suas con-
sequências têm sido, em geral, vistas com
preocupações por acarretarem pressões
para transferência de recursos na sociedade,
colocando desafios para o Estado, o merca-
do e as famílias. Assim o enfrentamento das
questões trazidas por este tema se constitui
em um dos desafios do século XXI. Fonte: Projeção da população 2010-2060, IBGE.

As figuras abaixo mostram os diferen-


cias regionais e por sexo da expectativa de
vida no Brasil 2019 (Fguras 4 e Gráfico 3). Fonte: Tábuas abreviadas e tábuas completas de mortalidade, IBGE.
SUMÁRIO
Com a Covid a esperanca de vida no Brasil sofre um impacto, veja divulgacao Folha
de Sao Paulo.

Covid-19 faz expectativa de vida dos brasileiros cair pela primeira vez desde 1940

A pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2),


fez a expectativa de vida ao nascer dos brasileiros diminuir pela primeira vez
desde 1940, apontam dados do instituto Brasileiro de geografia e estatística
(IBGE). Segundo o levantamento do órgão, a longevidade no país também teve
queda de dois anos. Com a mudança, as estimativas para os próximos anos
mostram que a pandemia vai reverter a tendência observada nas últimas déca-
das, que passou, pouco a pouco, a registrar maior tempo de vida dos brasileiros.
11
O cenário depende, no entanto, da capacidade que o governo vai ter de va- De acordo com os últimos números divulgados pelo IBGE, em novembro,
cinar a população durante o ano de 2021, sendo essa a única forma definitiva a expectativa de vida do Brasileiro ao nascer era de 76,6. E poderia ser ainda
de reduzir drasticamente o número de mortes. Caso isso não ocorra, as quedas mais alta se não fosse a violência urbana, que costuma vitimar principalmente
nesses dois índices pode se estender por mais um ano. homens jovens. Tanto que a expectativa de vida das mulheres era de 80,1 anos,
contra 73,1 anos dos homens.
Em 1940, a expectativa de vida do Brasileiro ao nascer era de 45,5 anos.
Desde então, com a redução da mortalidade infantil e os avanços na medicina, Do ponto de vista demográfico, o impacto é muito grande porque, em geral, as
o número vem crescendo consideravelmente. Em 1980 chegou a 62,5 e, no ano mortes de crianças e jovens têm um impacto muito maior na expectativa de vida
2000, a 69,8. Nos últimos 20 anos, os ganhos foram um pouco mais lentos, mas, média da população do que entre os mais velhos. Embora, os idosos sejam os mais
mesmo assim, nunca se registrou um decréscimo. vulneráveis, os mais jovens também estão morrendo, o que piora esse quadro.
SUMÁRIO
Apresentando os Componentes da Figura 5. Panorama de divórcios - 2020
Dinâmica Demográfica

Nupcialidade e Natalidade

Os casamentos têm durado menos. Em alguns lugares duram mais,


como no Sul. Mas na maioria das regiões, observando-se pela série histó-
rica, é perceptível o aumento do percentual dos casamentos que acabam
antes dos dez anos. É uma mudança cultural, de costumes e de valores.
Não se entende mais o casamento como algo que dura para sempre e ter
filhos não é mais um impeditivo para o divórcio. Há também a facilitação
jurídica, que deve ter seguido as mudanças culturais, como o divórcio
12 feito em cartório e as modificações legais para um novo casamento.

O número de registros de casamentos no Brasil teve uma redução de


26,1% entre 2019 e 2020 (de 1.024.676 para 757.179), a maior queda da série
histórica. O movimento de queda vem sendo observado, anualmente, desde
2016, mas em 2020 essa variável foi afetada pelo isolamento social em de-
corrência da pandemia (Figura 5).

Do total de casamentos registrados, 6.433 ocorreram entre pessoas do mes-


mo sexo, uma queda de 29,0% ante 2019. Os casamentos entre cônjuges femini-
nos representam 60,1% dos casamentos civis nessa composição conjugal.
Fonte: Estatísticas do Registro Civil - Divórcios 2020.
SUMÁRIO
No Brasil, para cada mil habitantes em idade de casar, 4,5 pessoas se uniram das mulheres ao exercício da maternidade já se tornou um desafio importante para
por meio do casamento legal em 2020, ante 6,2 em 2019. Foi a menor taxa de nup- diversas nações, tais como Japão, Itália e países escandinavos, preocupadas com as
cialidade da série (por mil pessoas com 15 anos ou mais). A diferença das idades repercussões econômicas, previdenciárias e sociais do encolhimento populacional.
médias dos cônjuges, nos casamentos de pessoas solteiras de sexos diferentes é As evidências aqui discutidas, relacionadas com a rápida e acentuada queda na taxa
de aproximadamente 2 anos: os homens se uniram, em média, aos 30 anos, e as de fecundidade no Brasil, mostram a urgência de se inserir esse tema na pauta da
mulheres, aos 28 anos. Esse comportamento é homogêneo entre as Grandes Re- sociedade e do governo brasileiro.
giões, com as idades médias variando de 30,0 a 32,1 anos entre os homens e de 27,6
a 29,1 anos entre as mulheres. Gráfico 4. Idade das mulheres ao ter filhos - Brasil

Quanto aos casamentos civis entre pessoas solteiras do mesmo sexo, a idade
média ao contrair a união foi de aproximadamente 34 anos entre os homens e 32
anos entre as mulheres.
13
Nas últimas duas décadas, houve uma mudança estrutural na idade em que as
mulheres têm filhos. Em 2000, os registros de nascimentos cujas mães tinham me-
nos de 30 anos eram 76,1% do total, caindo para 62,1% em 2020. Já os registros de
nascimentos cujas mães têm de 30 a 39 anos chegam a 34,2% e os daquelas acima
de 40 anos, a 3,7%. Veja Gráfico 4.

O adiamento da maternidade se, por um lado, possibilita às mulheres condi-


ções mais favoráveis para tal engajamento e, por conseguinte, reconhecimento no
mercado de trabalho, ajudando, inclusive, a reduzir as desigualdades salariais em
relação aos homens, por outro, afeta o padrão e a taxa de natalidade de toda a so- Fonte: Estatisticas do Registro Civil - Nascimentos.
ciedade. Construir formas para compatibilizar as crescentes aspirações profissionais
SUMÁRIO
A responsabilidade pela guarda dos filhos também tem apresentado mudan- Mudanças na composição Familiar
ças.  Entre 2014 e 2020, houve aumento de 7,5% para 31,3% na proporção de divór-
cios com a guarda compartilhada. Em 2014, a lei 13.058 determinou que essa moda-
lidade de guarda deve ser padrão, a menos que um dos pais abra mão ou que não
tenha condições de exercê-la. “Apesar de as mulheres ainda serem as principais
responsáveis, existe uma tendência de aumento da guarda compartilhada. Então é
possível observar que a lei está sendo cumprida” (Gráfico 5).

Gráfico 5. Divórcios judiciais por responsável pela guarda dos filhos menores (%),
2014/2020

85,1
14 79,2
74,4
69,4
65,4 62,4
57,3
Nos últimos 20 anos, a principal alteração na composição familiar da popula-
ção brasileira consistiu em uma redução significativa da proporção de casais com
31,3 filhos e em um correspondente aumento dos casais sem filhos. Uma maior parti-
26,8
24,4
20,9
12,9
16,9 cipação da mulher no mercado de trabalho, a redução das taxas de fecundidade e
7,5
5,2 4,9 4,8 4,3 4,1 4,1 o envelhecimento da população refletiram-se no aumento do percentual de casais
5,5
sem filhos no período de 1995 a 2015, que passou de 12,9% para 19,9% do total de
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
famílias. E, embora os casais com filhos permaneçam como a forma predominante
dentre os tipos de composição familiar, sua participação caiu de 57,7% para 42,3%
Homem Mulher Ambos os cônjuges
nas últimas duas décadas - IBGE, 2016 (Gráfico 6).
Fonte: Estatísticas do Registro Civil - Divórcios 2020.
SUMÁRIO
Gráfico 6. Distribuição percentual dos tipos de composições familiares, Brasil -
1995/2015 A composição familiar
predominante, composta A proporção de casais
por casal com filhos, sem filhos cresceu quase
reduziu-se de 57% a 42% duas vezes entre 1995 e
nas últimas duas décadas 2005

Mulheres sem
cônjuge e com filhos, Mulheres chefes de
que representam famílias compostas por
16,3% dos arranjos casais triplicaram sua
familiares, auferem o representação na
menor rendimento população
familiar per capita

Fonte: Elaborado a partir de dados do IPEA. Indicadores. Chefe de família. Distri-


15 buição percentual das famílias.

Fonte: Elaborado a partir de dados do IPEA. Indicadores. Chefe de família. Distri- Fecundidade
buição percentual das famílias, por tipo de arranjo familiar, segundo sexo do/a
chefe de família, 1995 a 2015. É importante não confundir fecundidade com fertilidade. A fertilidade diz respeito
ao potencial reprodutivo das mulheres, enquanto fecundidade é o resultado concreto
No tocante a diferenças de arranjos familiares relacionadas à raça, o número da capacidade reprodutiva delas (filhos tidos). Vale destacar que quanto maior o con-
de mulheres negras chefes de famílias monoparentais é proporcionalmente muito trole exercido pelas mulheres sobre o tamanho de sua prole (utilização de métodos
superior ao número de mulheres brancas na mesma condição. A comparação entre contraceptivos) maior será a distância entre a fertilidade e a fecundidade. O estado
as diferenças mostra que as mulheres negras se encontram quase 4 vezes mais ex- conjugal (duração das uniões), a idade do início da vida sexual, a frequência das rela-
postas à desafiante condição de chefes de família monoparentais, e portanto mais ções sexuais e perdas fetais, bem como o uso de métodos contraceptivos são alguns
sujeitas à pobreza e a dificuldades de equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar. elementos que são levados em consideração nas análises e cálculos da fecundidade.
SUMÁRIO
No projeto de construção de toda família, são fundamentais as decisões sobre Gráfico 7. Taxa de fecundidade, Brasil - 1940/2050
o número de filhos e o momento de sua chegada. Essas escolhas de vida são mui-
to significativas para a sociedade em geral, pois a estrutura etária da população
6,16 6,21 6,28
é definida, principalmente, pelo comportamento da fecundidade. De fato, a alta 5,76

velocidade da queda da fecundidade acarreta mudanças rápidas no ritmo de cres- 4,35


cimento da população e na distribuição etária, com consequências econômicas e
2,85
sociais de longo prazo. 2,38
1,87
1,53 1,5 1,5 1,5
A taxa de fecundidade é a medida de quantos filhos, em média, as mulheres
têm ao longo de sua vida reprodutiva. O número médio de filhos por mulher vem
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050
se reduzindo no Brasil desde a década de 1960. Os dados reais até 2010, com proje-
ções para as décadas seguintes, demonstram que a taxa de fecundidade no Brasil
16 reduziu-se de 6,16 em 1940 para 1,87 em 2010. Por volta de 2030, deve ser alcançado Fonte: Elaborado a partir de dados do IBGE. Séries Históricas e Estatísticas.Popula-
o patamar de 1,5, que permanecerá estável até 2050 (Gráfico 7). ção e Demografia.

A redução histórica da taxa de fecundidade e a tendência, com o aumento da A caminho de um padrão de fecundidade mais tardio, o Gráfico 8 a seguir mostra
média dos anos de estudo das mulheres, a uma aproximação entre a fecundidade que a fecundidade das mulheres menores de 30 anos representava 72,4% da fecundida-
desejada e a observada trazem desafios importantes para a sociedade brasileira, de total em 2000. Os grupos etários em que os aumentos mais significativos ocorreram
que passa a envelhecer cada vez mais rápido. Os desafios são de ordem econômi- foram de 30-34 anos primeiramente e 35-39 anos em seguida. Em 2010, esta participação
ca, na medida em que aumenta a população economicamente inativa em relação foi de 68,6%. Considerando o período analisado, a queda mencionada da fecundidade
à ativa, e sociais, tendo em vista as necessidades de cuidado de familiares idosos ocorreu em todos os grupos de idade, inclusive entre as mulheres de 15 a 19 anos. Esse
e o stress sobre os vínculos familiares potencialmente advindos de uma redução decréscimo não foi linear no período, pois se observou um aumento nesse indicador na
das gerações mais novas com o passar do tempo. segunda metade dos anos 1990 e uma reversão nessa tendência a partir de 2001.
SUMÁRIO
Gráfico 8. Distribuição relativa das taxas específicas de fecundidade (padrão de Mortalidade
fecundidade), Brasil - 2000/2010

35,0
Ao estudar a mortalidade não se pode perder de vista que, se por um lado a morte
é encarada como fenômeno individual dependente de fatores biológicos, quando vis-
% 29,3
30,0
ta sob o ângulo de um fenômeno coletivo está afetada pelo contexto social em que os
2010
25,0 27,0
24,3
indivíduos realizam suas trajetórias de vida. Assim a interação do social com o biológi-
2000
20,0 18,8 24,0 co determina modificações que acabam por alterar os riscos de morrer dos indivíduos.
18,0
17,7
15,0
15,8 O Brasil, por algum tempo, experimentou declínios nas taxas de mortalidade em
9,9
10,0 todas as idades, mas a partir de meados dos anos 1980, as mortes associadas às cau-
5,0
8,5
3,0
sas externas (acidentes de qualquer natureza e violência) passaram a desempenhar
0,5
2,8
0,4
papel de destaque, e infelizmente de forma desfavorável, sobre a estrutura por idade
0
17 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 das taxas de mortalidade, particularmente dos adultos jovens do sexo masculino.
anos anos anos anos anos anos anos

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000/2010. As causas externas de morbidade e mortalidade compreendem as lesões de-
correntes de acidentes (relacionados ao trânsito, ao afogamento, ao envenena-
Por outro lado, não se deve desconsiderar que a permanência de níveis mar- mento, a quedas ou a queimaduras) e de violências (agressões/homicídios, sui-
cadamente diferenciados de fecundidade, no Brasil, envolve questões associadas, cídios, tentativas de suicídio, abusos físicos, sexuais e psicológicos), as quais se
não somente aos típicos condicionantes desta variável, mas também às maiores impõem como importante desafio às autoridades de saúde pública. Anualmente,
ou menores oportunidades de acesso que as mulheres, em idade fértil, possuem essas causas são responsáveis por mais de 5 milhões de mortes em todo o mundo,
para fazerem uso dos mecanismos disponíveis para a regulação do número de fi- representando 9% da mortalidade mundial. No mundo, as causas externas apre-
lhos. Isso porque dificilmente deixará de existir por completo aquela parcela de sentam comportamento de constante crescimento, ocupando usualmente as pri-
mulheres cujas necessidades que proporcionem as tomadas de decisão sobre o meiras posições entre as mais frequentes causas de morte. Porém, esses agravos
número desejado de filhos não serão satisfeitas. não afetam a população de maneira uniforme.
SUMÁRIO
Há vários recortes possíveis para discutir o número de mortes e suas causas. 95,0 mil, e Doenças do aparelho circulatório (infarto e AVC, principalmente), 109,0
Neste tópico, esses temas são abordados com base nas principais causas de mor- mil. A partir dos 70 anos, foram mais frequentes mortes por Doenças no aparelho
tes por grupos de idade, sexo, cor ou raça. Os indicadores de mortalidade tradicio- respiratório (101,6 mil). A evolução das Doenças infecciosas e parasitárias foi signifi-
nalmente são usados como indicadores de condição de saúde tendo em vista que cativa comparando 2019 e 2020, pois inclui a Infecção por coronavírus de localização
a variação do número de óbitos está relacionada ao estilo de vida individual e às não especificada – código B34.2 da CID-10 (Gráfico 9).
condições de vida de grupos sociais.
Gráfico 9. Mortalidade percentual p or causa, segundo grupos de idade, Brasil - 2020
Espera-se, em primeiro lugar, que haja relação direta entre idade e percentual
%
de óbitos – tanto em relação à população quanto no total de óbitos. O perfil espera- 70,0

do em uma análise da distribuição de óbitos por grupos de idade é que a taxa seja 60,0
muito baixa entre as crianças, jovens e adultos e aumente entre os idosos como con- 50,0
sequência do envelhecimento. Além disso, busca-se por meio de políticas públicas,
40,0
18 ao menos, reduzir as diferenças na distribuição da ocorrência de óbitos no território
30,0
e entre grupo sociais, de tal forma que grupos considerados mais vulneráveis obte-
nham padrões de saúde já alcançados por outros grupos. 20,0

10,0

Assim, as causas mais frequentes de óbitos permitem apontar problemas de 0


0a9 10 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 anos
saúde mais frequentes na população e a efetividade das ações preventivas das anos anos anos anos anos anos anos e mais
complicações de doenças.
(A00-B99) Algumas doenças infecciosas e parasitárias (C00-D48) Neoplasias (tumores)

(I00-I99) Doenças do aparelho circulatório (J00-J99) Doenças do aparelho respiratório


A análise das causas de óbitos por grupos de idade indica que as causas exter-
(V01-Y98) Causas externas de morbidade e de mortalidade
nas de morbidade e de mortalidade (agressões e violências) foram o principal mo-
tivo até os 49 anos de idade, equivalendo, em 2020, a 94,6 mil mortes. Entre 50 e 69
anos, as causas principais foram Neoplasias [tumores] (tumores benignos e câncer), Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM.
SUMÁRIO
Outro recorte muito frequente nas análises de mortalidade é a de- Gráfico 10. Pirâmide etária do percentual de óbitos, por sexo e cor ou raça, Brasil - 2020
sagregação por idade e sexo. Os dados disponíveis permitem também a
desagregação por cor ou raça. Assim, em 2020, os homens morreram mais 70 anos ou mais

cedo que as mulheres – até 69 anos, os óbitos masculinos representa- 60 a 69 anos

ram 31,1% e os femininos, 17,5% –, sendo que os homens de cor ou raça 50 a 59 anos
preta ou parda possuíram os maiores percentuais de mortalidade entre
40 a 49 anos
Homens Mulheres
10 e 59 anos, 11,9%. As mulheres pretas ou pardas também apresentaram
30 a 39 anos
participações maiores nos grupos etários abaixo de 69 anos em relação
20 a 29 anos
as mulheres brancas – 9,5% e 8,1%, respectivamente. Ressalta-se, adicio-
nalmente, o percentual de 0,8% de óbitos de meninos pretos ou pardos 10 a 19 anos

de até 9 anos de idade (Gráfico 10). Até 9 anos


%

20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0


19 A discussão sobre causa de morte no ano de 2020 mostrou uma mu-
dança de padrão, tendo em vista a pandemia de COVID-19 que vitimou
Brancos Pretos ou pardos
209 720 brasileiros naquele ano. O Gráfico 11 apresenta a distribuição
de óbitos por sexo, cor ou raça e grupos de idade, considerando-se a Fonte: Ministério da Saúde, Secretaria de VIgilância em Saúde, Painel de Monitoramento da
Infecção por coronavírus de localização não especificada (código B34.2 Mortalidade CID-10.
da CID-10). A população branca, apresentou percentual mais elevado no
grupo com 70 anos ou mais – 30,1%. Os pretos ou pardos nessa faixa etá-
ria registraram 24,3%. Em contrapartida, nos demais grupos de idade,
pretos ou pardos registraram percentuais mais elevados que brancos
(24,9% contra 20,7%, respectivamente).
SUMÁRIO
Gráfico 11. Pirâmide etária do percentual de óbitos por COVID-19, por sexo e cor ou Na demografia, a noção de risco tradicionalmente é vista como a probabilida-
raça, Brasil - 2020 de de ocorrer um evento da dinâmica demográfica (fecundidade,migração e mor-
talidade). No campo específico da Saúde, muitos estudos se voltam para os riscos
de morte ou de contrair uma doença. Estudos recentes sobre a Aids têm procura-
70 anos ou mais
do ampliar as discussões para ultrapassar a dimensão comportamental do risco,
60 a 69 anos
incorporando o contexto social – vulnerabilidades. Nesses estudos, são conside-
50 a 59 anos
radas as diferentes chances que cada indivíduo ou grupo populacional particular
40 a 49 anos
Homens Mulheres
tem de se contaminar, dado o conjunto formado por certas características indivi-
30 a 39 anos
duais e sociais de cotidiano, “julgadas relevantes para a maior exposição ou a me-
20 a 29 anos
nor chance de proteção diante do problema”.
10 a 19 anos

Até 9 anos
% Ressalta-se, ainda, a importância de verificar a capacidade do indivíduo de se
20 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 proteger diante da materialização do risco (empowerment). Assim, no campo da
epidemiologia aliada à demografia, um avanço na noção de risco, enquanto medi-
Brancos Pretos ou pardos
da objetiva, quantitativa e comportamental se dá pela incorporação da biface vul-
Fonte: Ministério da Saúde, Secretaria de VIgilância em Saúde, Painel de Monitora- nerabilidade – empowerment como duas faces do mesmo processo, que interagem
mento da Mortalidade CID-10. na equação do risco e da saúde. No entanto, a conceituação de vulnerabilidade
ainda continua em construção e deve ser uma dimensão importante de ser incor-
Para as mortes por causas externas ou não naturais (homicídios, suicídios, aciden- porada nas discussões de mortalidade.
tes de trânsito, afogamentos, quedas etc.), a sobremortalidade masculina nos adultos
jovens se acentua. Em 2018, no grupo de 20 a 24 anos, essa sobremortalidade foi de 10,7 Outro ponto fundamental a ser considerado nos estudos de mortalidade é a
vezes a feminina. Em 2019, este valor caiu para 9,6, e, em 2020, manteve-se estável (9,5). ênfase nos processos coletivos, sociais e demográficos, e na face política da doen-
Com isso, um jovem do sexo masculino de 20 anos tinha, aproximadamente, 9 vezes e ça e do risco, influenciando a capacidade das pessoas e grupos de se protegerem
meia mais chance de não completar os 25 anos do que uma jovem do sexo feminino. e/ou se tratarem.
SUMÁRIO
Migrações

Migrações são os deslocamentos de população de um determinado espaço rural (transferência de população rural para o espaço urbano), o urbano-urbano,
a outro. Caso considerarmos o espaço de deslocamento temos as migrações in- a migração sazonal (ligada às estações do ano), a migração de retorno (retorno
ternas ou nacionais (são aqueles deslocamentos que se realizam dentro do mes- para a região de origem ou cidade) e atualmente uma das mais importantes que
mo país) e a externa ou internacional (que se realiza de um país para o outro). é a migração diária ou pendular (ocorre fundamentalmente nos grandes centros
Entre as migrações internas estão a inter-regional (de uma região para outra) e urbanos, onde milhares de trabalhadores saem todas as manhãs em direção ao
a intrarregional (dentro da mesma região). Ainda devemos considerar o êxodo trabalho e retornam no final do dia ou final da semana).

Tipos de migrações
21

Quanto ao espaço Quanto à duração Quanto à tomada de decisão Quanto à relação com a lei

Externas Internas Definitivas Temporárias Voluntárias Forçadas Legais Ilegais

Causas das migrações

Naturais Econômicas Socioculturais Bélicas Religiosas


SUMÁRIO
Migrações Internas Figura 6. Fluxos migratórios no Brasil, 2000

O Censo de 2000 confirmou algumas tendências nos fluxos migrató-


rios apontados e mostrou novos espaços de redistribuição populacional.
Apresentou que os deslocamentos entre as regiões brasileiras envolvem
3,3 milhões de pessoas, as quais entre en tradas e saídas, destacou-se a
Região Nordeste que apresentou a maior perda absoluta (760 mil pessoas),
tendo as trocas com o Sudeste contribuído com cerca de dois terços dessa
perda. Nos últimos anos da década passada, o Nordeste continuou sendo
uma região de expulsão populacional, visto que as trocas com as ou tras
regiões brasileiras foram negativas, sendo a Região Sul a que apresentou
o menor saldo nas trocas com o Nordeste brasileiro (Figura 6).
22
Já os dados do Censo 2010 mostram que as cidades com menos de 500
mil habitantes são as que mais crescem no País, o que demonstra a influên-
cia da migração, muito embora as grandes cidades continuem concentrando
parcela expressiva da população (aproximadamente 30%). Esse fenômeno
vem ocorrendo nas últimas três décadas, o que reforça o caráter de “descon-
centração concentrada” dois na distribuição populacional no Brasil. Os muni-
cípios com 500 mil habitantes ou mais aumentaram em quantidade quando
comparados com o ano de 2000, passando de 31 para 38. Outro aspecto a ser
destacado é que o ritmo de fragmentação do território, nos anos 2000, foi
menos intenso que nas décadas passadas, tendo sido instalados 58 municí-
pios, contra 501 nos anos de 1980 e 1.016 nos anos de 1990. Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2000.
SUMÁRIO
As evidências empíricas sinalizam que os movimentos de população Figura 7. Principais fluxos, por Unidades da Federação de destino dos emigrantes de data fixa
no País seguem se processando como nos últimos dois decênios. Dessa e percentual total - 2010
forma, quando levamos em consideração distâncias maiores, como na es-
cala inter-regional, observamos que os fluxos migratórios apresentaram
uma tendência de redução nos seus volumes, muito embora a direção
dos principais fluxos seja mantida, com as maiores correntes ocorrendo
no eixo Nordeste-Sudeste.

Na mesma linha de observação, notamos, de modo geral, que os


principais movimentos ocorrem dentro das próprias regiões, sugerindo
deslocamentos a menores distâncias.

23 Outro aspecto da migração que permanece é o retorno, que ganha


emergência no auge das transformações que impactaram os movimen-
tos internos no País que ao ter a saturação dos espaços do início da in-
dustrialização no Centro-Sul do País, reduzindo a capacidade de criação
de emprego e de novas oportunidades ocupacionais, o que coloca o mo-
vimento de retorno na pauta das estratégias de reprodução e circulação
dos migrantes (Figura 7).

Fonte: Censo Demográfico, 2010, IBGE.


SUMÁRIO
Migrações Internacionais

As migrações internacionais são entendidas por Sayad como um “fato social Entretanto, observa-se a intensificação da imigração no país durante os anos de
total”, e como um tema presente nas agendas de primeiro escalão dos governos 2011 a 2020, acompanhada pela pluralidade de nacionalidades em relação às origens
nacionais, fóruns internacionais e nos discursos políticos, midiáticos e acadêmicos dos imigrantes. A chegada e permanência dos imigrantes no país, acompanhada de
ganhou um protagonismo significativo no Brasil ao longo da década de 2010. Trata- um espalhamento geográfico de origem e a intensificação dos fluxos migratórios no
-se de um período dinâmico acompanhado por significativas mudanças no cenário Brasil a partir de 2011, também foram influenciados pela conjuntura global e regional
migratório do país. ocorrida na primeira década do século XXI.

Na história recente do ocidente, as mobilidades humanas internacionais, como Com a crise dos modelos de recepção de imigrantes, começaram a emergir
já se sabe, se dava basicamente do Norte para o Sul Global, quer seja como movi- discursos políticos e midiáticos reivindicando a diminuição da imigração. Os par-
mentos coloniais, êxodo rural ou resultados de crises de pós-guerras. No entanto, tidos de extrema direita aumentaram expressivamente o número de votantes a
24 nas últimas décadas do século XX este fluxo se inverteu, com a emigração do Sul partir de um discurso anti-imigração. No mesmo sentido, os Estados começaram
Global para os espaços urbanos do Norte. Este é o caso, por exemplo, dos mexica- a alterar suas legislações migratórias a fim de endurecer as leis de imigração e
nos e centro-americanos para os Estados Unidos; dos equatorianos e bolivianos refúgio, além da construção de muros e valas, reais ou simbólicos, com o intuito
na Espanha; dos negros caribenhos na Holanda; dos indianos, paquistaneses e de dificultar a imigração. Especialmente, dificultar a imigração das pessoas que
bengalis na Inglaterra; dos argelinos, senegaleses e marroquinos na França; dos tem a “estrangeria pintada na cara”, por fazer eco de uma expressão de Stolcke
filipinos no Japão, e tantos outros grupos de imigrantes que estão associados a (1995), para designar as pessoas que, seja pelo seu aspecto físico, pelo seu modo
determinados países receptores de fluxos migratórios. No Brasil, nas últimas dé- de falar, pelos seus costumes específicos ou por qualquer outro aspecto consi-
cadas do século XX, o fenômeno migratório brasileiro também foi marcado predo- derado como um sinal de pertencimento a um país considerado menos desen-
minantemente pela emigração, acompanhando o movimento Sul-Norte. volvido economicamente.
SUMÁRIO
Em paralelo à crise das políticas de recepção dos imigrantes, que incremen- dos haitianos. No segundo quinquênio da década observa-se a forte presença dos
taram a dificuldade da emigração para os países do Norte Global, um elemento venezuelanos no país. O Brasil, portanto, havia se convertido em país de destino
decisivo para a ampliação da migração sul-sul foram os aspectos de caráter eco- e/ou trânsito no contexto das migrações sul-sul.
nômico. Alguns fatores conjunturais da economia mundial e da geopolítica foram
determinantes para o aumento e consolidação dos fluxos migratórios para o Bra- Todas essas questões conjunturais fizeram com que o Brasil entrasse na déca-
sil, especialmente, a imigração sul-sul que começou a ganhar força no início da da de 2010 conjugando diferentes cenários migratórios: continuava havendo emi-
década de 2010. gração, ao mesmo tempo em que o país passava a receber novos e diversificados
fluxos de imigrantes do Sul Global, além de projetos migratórios de retorno por
A somatória dos elementos acima mencionados, potencializados com a valo- parte dos emigrados.
rização da moeda, mercado de trabalho aquecido, ou seja, apresentando baixas
taxas de desemprego, fez com que as redes migratórias do sul global começassem No SisMigra são observados 171,6 homens para cada 100 mulheres. Como pode
a se fortalecer em direção ao Brasil. Assim, imigrantes de diferentes origens do Sul ser constatado na Tabela 2 abaixo, o limite inferior do indicador foi registrado en-
25 Global (por exemplo: haitianos, senegaleses, congoleses, guineenses, bengalis, ga- tre as cubanas, com apenas 77,8 homens para o grupo de 100 mulheres. No extremo
neses, paquistaneses, entre outros), começaram a chegar às fronteiras brasileiras oposto surgem os filipinos, cuja relação é de 1.505,8 homens. Esse resultado pode
e a se inserirem de forma crescente no mercado de trabalho nacional. Os imigran- ser explicado em função da motivação que impulsiona a emigração temporária de
tes senegaleses, por exemplo, chegaram a ser a segunda nacionalidade com maior filipinos para o Brasil, determinada pela forte presença dessa nacionalidade no
movimentação no mercado de trabalho formal no ano de 2014, só ficando atrás setor econômico ligado às atividades marítimas.
SUMÁRIO
Tabela 2. Número de imigrantes por sexo e razão de sexo, segundo principais países
de nascimento , Brasil - 2011-2020

TOTAL
Principais países
Homens Mulheres Razão de sexo* *O indicador razão de sexos é o quociente entre o
TOTAL 623598 363321 171,6 número de homens e de mulheres, num determinado
VENEZUELA 89538 82926 108,0
espaço geográfico e num determinado momento do
HAITI 94566 54499 173,5
BOLÍVIA 30149 25989 116,0 tempo, e indica o número de homens para cada 100
COLÔMBIA 34580 19223 179,9 mulheres.
ESTADOS UNIDOS 25384 12332 205,8
CHINA 22179 13412 165,4
URUGUAI 17018 12491 136,2 Após a análise das solicitações, observa-se, como
ARGENTINA 15922 11834 134,5 não podia deixar de ser, que os principais países de
CUBA 11199 14391 77,8
26 nascimento estão localizados no Hemisfério Sul. En-
FRANÇA 14884 9898 150,4
PERU 13998 9548 146,6 tretanto, a hierarquia entre nacionalidades se altera
PARAGUAI 12401 10842 114,4 quando comparada a dos solicitantes do reconheci-
PORTUGAL 15575 7318 212,8
mento da condição de refugiado. Venezuelanos são
ITÁLIA 16512 4987 331,1
ESPANHA 13640 5991 227,7 os maiores beneficiados, mas haitianos e chineses
FILIPINAS 17919 1190 1.505,8 sequer figuram entre os principais. Após os vizinhos
ALEMANHA 12609 6411 196,7
da fronteira norte, sírios e congoleses foram as na-
ÍNDIA 14867 1751 849,1
JAPÃO 10854 3480 331,9 cionalidades que mais receberam o reconhecimento
MÉXICO 7359 5544 132,7 da condição de refugiado (Veja figura 8 a seguir).
Outros países 132445 49264 268,8

Fonte: Elaborado pelo OBMigra, a partir dos dados da Polícia Federal. SisMigra, 2020.
SUMÁRIO
Figura 8. Número de refugiados reconhecidos, segundo principais países de nacionalidade ou de residência habitual, Brasil - 2011/2020

27

Fonte: Elaborado pelo OBMigra, a partir dos dados do Comitê Nacional para Refugiados - CONARE, 2020.
SUMÁRIO
Entre solicitantes de refúgio e refugiados, não obstante a concentra- Fontes de Dados Demográficos
ção nas idades laborais, nota-se a importante participação de crianças
e adolescentes, bem como da população com 50 anos ou mais, o que Não é por coincidência que os textos introdutórios de demografia sempre começam
reforça a hipótese de uma mobilidade realizada, em parte, pelo grupo com um capítulo sobre fontes de dados. Historicamente, a demografia tem se caracterizado
familiar (Gráfico 12). mais pelo desenvolvimento de técnicas de análise para descrever quanti tativamente como
as populações se transformam, do que pelo esforço teórico de explicar tais transforma-
Gráfico 12. Pirâmide etária relativa solicitantes de refúgio e refugiados, ções. Grande parte da chamada demografia formal dedica-se exclusivamente à crítica e à
Brasil - 2011/2020 correção de dados empíricos. Por outro lado, o dado demográfico tem aplicações práticas
importantes para fins de planejamento (projeção de números de crianças em idade esco-
lar ou trabalhadores em idade de aposentar-se), de diagnóstico (níveis da mortalidade in-
fantil, materna, por causa etc.), de avaliação de programas e estudos socioeconômicos em
geral (desemprego, pobreza, moradia etc.).
28
Seria inútil, neste momento, tentar descrever todos os aspec tos relevantes de todos os
tipos de informação demográfica le vantada nas diversas fontes de dados.

Sistemas de registro de eventos vitais eficazes são representativos do grau de desenvolvi-


mento dos países que os mantêm, ilustrando a importância dada a questões relacionadas à ci-
dadania e ao atendimento e planejamento das demandas sociais no curto, médio e longo prazos.

A existência de sistemas de boa qualidade possibilita a realização de estudos e análi-


ses, em tempo real, das componentes demográficas, assim como a identificação de modifi-
cações nas estruturas familiares e o monitoramento dos movimentos migratórios em países
Fonte: Elaborado pelo OBMIGRA, a partir dos dados do STI-MAR e CO- com sistemas de registro único. Contudo, apesar da considerável melhoria das principais
NARE, 2011/2020.
SUMÁRIO
fontes de dados Brasileiras (Estatísticas do Registro Civil, do IBGE, e Referencias
SIM/SINASC, do Ministério da Saúde) e do fato de estarem cumprindo Cunha, M.S. et al. Evidências e fatores associados ao fenômeno de adiamento da maternidade no
boa parte dos objetivos a que se propõem, ainda se observam proble- Brasil, R. bras. Est. Pop., v.39, 1-24, e0187, 2022.
mas de cobertura e qualidade.
Mudança Demográfica no Brasil no Início do Século XXI Subsídios para as projeções da população,

Abaixo as principais fontes de informações demográficas nacionais. IBGE, 2015.

Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2021 / IBGE,
• Censos Demográficos;
Coordenação de População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro: IBGE, 2021. 206 p.: il. - (Estudos e
• Contagens de População;
Pesquisas. Informação Demográfica e Socioeconômica, ISSN 1516-3296; n. 44).
• PNADs;
• Pesquisas Nacionais de Saúde - objetivo desta pesquisa é produ-
CAVALCANTI, L; OLIVEIRA, T; SILVA, B. G. Relatório Anual 2021 – 2011-2020: Uma década de desafios
zir, para o país, dados sobre a situação de saúde e os estilos de
para a imigração e o refúgio no Brasil. Série Migrações. Observatório das Migrações Internacionais;
29 vida da população brasileira – 2013, 2019;
Ministério da Justiça e Segurança Pública/Conselho Nacional de Imigração e Coordenação Geral de
• PeNSE - Investiga informações que permitem conhecer e dimen-
Imigração Laboral. Brasília, DF: OBMigra, 2021.
sionar os fatores de risco e proteção à saúde dos adolescentes
(2009, 2012, 2015); Análise de Situação de Saúde / Ministério da Saúde, Universidade Federal de Goiás. – Brasília:
• Pesquisa de Orçamento Familiar (POF); Ministério da Saúde, 2015. Brasília, DF. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
• Estimativas populacionais por municípios; asis_analise_situacao_saude_volume_1.pdf>. Acessado em 15 mar. 2022.
• Projeções demográficas;
• Outras Fontes de Informações: Registros de estatísticas Vitais/
Registro Civil: Nascidos vivos, nascidos mortos, óbitos, óbitos fe-
tais, casamentos, divórcios, adoções e legitimações;
• SIM, SINASC;
• Inquéritos Populacionais.

Você também pode gostar