Você está na página 1de 24

OS EFEITOS DA PRIVAÇÃO DO SONO NA QUALIDADE DE VIDA DE

ENFERMEIROS PLANTONISTAS NOTURNOS

BRUNNA SIGNORI DE SOUZA1


KETLIN VANESSA KASPEROVICIUS DE SOUZA2
MARIA CLARA MANJABOSCO ENGLER3
ELYABE RODRIGUES4

RESUMO
O trabalho realizado em turnos foi analisado como uma possível causa de privação
do sono, em enfermeiros plantonistas noturnos. Esta condição pode influenciar
negativamente a qualidade de vida do profissional, visto que está relacionado a
problemas ligados ao sono, como a privação deste e sua má qualidade, impactando
na regulação fisiológica de sistemas corporais, como prejuízo à capacidade de
memorização, cognição e desempenho motor, além de irritabilidade, cansaço, dores
de cabeça, visão turva e alterações no metabolismo. Este trabalho abordou as
consequências da privação do sono em plantonistas enfermeiros da área da saúde e
qualidade de vida. Procurou discutir as causas da privação do sono, identificar os
fatores que interferem na qualidade de vida dos plantonistas, como a consequência
do trabalho em turnos poderia desencadear problemas relacionados ao sono, analisar
as causas geradas pela privação do sono e como ela prejudica aos enfermeiros que
trabalham em período noturno. O problema central investigado foi: A privação do sono
interfere na qualidade de vida dos enfermeiros plantonistas da área da saúde? A
metodologia de estudo foi a Revisão de Literatura do tipo integrativa através de
artigos científicos, a presente pesquisa tem um processo metodológico de caráter
bibliográfico, a busca foi feita nas bases de dados: Scielo, PubMed, Lilacs, MedLine
e Google Acadêmico, publicados no período entre 2018 e 2022. Os estudos
analisados apontaram a privação e a qualidade inadequada do sono como um dos
efeitos causados pelo trabalho em turnos, causando distúrbios do sono, que podem
desencadear diversos outros distúrbios psicológicos, como principalmente, a
ansiedade e depressão, disfunções mais discutidas neste estudo.

Palavras-chave: Sono. Privação do sono. Qualidade de vida. Enfermeiros. Plantão.

ABSTRACT
Shift work was analyzed as a possible cause of sleep deprivation in night shift nurses.
This condition can negatively influence the quality of life of the professional, since it is

1 Acadêmica de Psicologia no Centro Universitário União Dinâmica das Cataratas.


2 Acadêmica de Psicologia no Centro Universitário União Dinâmica das Cataratas.
3 Acadêmica de Psicologia no Centro Universitário União Dinâmica das Cataratas.
4 Orientador Prof. Elyabe Rodrigues
2

related to problems related to sleep, such as sleep deprivation and its poor quality,
impacting the physiological regulation of body systems, such as impairment of memory
capacity, cognition and motor performance, in addition to irritability, tiredness,
headaches, blurred vision and changes in metabolism. This work addressed the
consequences of sleep deprivation in nurses on duty in the area of health and quality
of life. It sought to discuss the causes of sleep deprivation, to identify the factors that
interfere in the quality of life of the on-call physicians, how the consequence of shift
work could trigger sleep-related problems, analyze the causes generated by sleep
deprivation and how it harms nurses who work at night. The central problem
investigated was: Does sleep deprivation interfere with the quality of life of nurses on
duty in the health area? The study methodology was the Literature Review of the
integrative type through scientific articles, the present research has a methodological
process of bibliographic character, the search was made in the databases: Scielo,
PubMed, Lilacs, MedLine and Google Scholar, published in period between 2018 and
2022. The analyzed studies point to deprivation and inadequate quality of sleep as one
of the effects caused by shift work, causing sleep disorders, that can trigger several
other psychological disorders, such as mainly anxiety and depression, dysfunctions
most discussed in this study.

Keywords: Sleep. Sleep Deprivation. Quality of Life. Nurses. Duty.

1 INTRODUÇÃO

Cada vez mais profissionais da saúde apresentam sintomas de privação do sono


decorrentes do trabalho em período noturno, o que pode levar à redução da
capacidade cognitiva do sujeito e, consequentemente, influenciar negativamente na
qualidade de assistência e no comprometimento no seu desempenho laboral.
Sendo assim, é importante analisar as consequências da privação do sono, pois
afeta diretamente na saúde do profissional e no cuidado ao paciente (COSTA et al,
2018).
O tema da privação do sono em profissionais da área da saúde no geral, vem
sendo mais observado nas últimas duas décadas, e vem ganhando importância
gradativamente ao longo dos anos recentes (CHATTU et al., 2018). A importância
do sono está relacionada à qualidade de vida, tendo um papel fundamental na
reposição de energia, rotina, bem-estar físico e mental, principalmente, no que se
refere a plantonistas da área da saúde. Esses profissionais e todos os
trabalhadores que exercem o seu trabalho no período noturno necessitam de uma
boa qualidade do sono para que as suas atividades e obrigações sejam realizadas
com efetividade e principalmente de forma segura.
3

Para Silva et al. (2022) os efeitos da privação de sono na vida dos enfermeiros são
de extrema importância para a sociedade porque a atuação deste profissional está
relacionada ao cuidado e tratamento de pessoas, geralmente com estado de saúde
debilitado. O desempenho do profissional deve ser o melhor possível para poder
exercer bem o seu papel e aplicar seus conhecimentos para um bom resultado,
sendo assim, tais menções embasam a justificativa deste estudo.
Diante do exposto, vem à tona o seguinte questionamento: qual o impacto na saúde
mental e qualidade de vida da privação de sono em enfermeiros plantonistas?
A relevância deste estudo foi embasada na prestação de qualidade da assistência
dos profissionais de enfermagem que pode ser comprometida pela privação de
sono, interferindo também na saúde mental, colocando em risco a segurança dos
enfermeiros e pacientes. Isso, pois, a privação de sono pode sujeitar os
profissionais à alterações na memória, no tempo de reação (reflexo) e picos de
sonolência diurna.
A pesquisa se aplicou ao estado de saúde pessoal e social, em que a OMS (1946)
define saúde como um “bem-estar geral e não somente a ausência da
enfermidade”. O estudo teve como intuito mostrar que os ciclos de trabalho devem
ser regularizados de acordo às necessidades e demandas, não somente do centro
de saúde em si, mas também de acordo às limitações do profissional para que se
chegue a um consenso de carga de trabalho e dias de trabalho adequados para
cada profissional.
Portanto, este estudo objetivou-se analisar a influência da privação de sono na
qualidade de vida de enfermeiros plantonistas noturnos.

2 O SONO

Segundo Nascimento (2018) o sono é uma função imprescindível porque possibilita


um estado de repouso importante para lidar com o dia a dia, bem como estabelece
uma estrutura essencial para a manutenção da homeostase (equilíbrio dinâmico) do
organismo humano. É fundamental na consolidação da memória e aprendizado, na
visão binocular, na termorregulação, na conservação e restauração da energia, e
restauração do metabolismo energético cerebral.
Logo, o sono representa uma condição vital à vida humana é um fenômeno essencial
para a sobrevivência, já que sua função primordial é a restauração corporal e mental,
4

atuando nos diversos efeitos fisiológicos. Pode ser também afetado por diferentes
fatores que interferem no ciclo sono-vigília, dentre eles a privação do sono, a presença
de distúrbios mentais, os efeitos de drogas no Sistema Nervoso Central (SNC), hábitos
irregulares, patologias físicas e cognitivas, mudança de fuso horário e ritmo circadiano
(CASTILHO, 2015).
De acordo com a Academia Americana de Medicina de Sono (AASN) e a Sociedade
de Pesquisa do Sono, é recomendado que os adultos durmam no mínimo sete horas
por noite regularmente para uma restauração adequada. Para um estado de vigília de
qualidade, o adulto requer uma média de 7- 8 horas de descanso em um período de
24 horas (CIRELLI, 2021).
Diante do exposto, vale a pena trazer a conceituação do termo “ritmo circadiano”, que
também é conhecido como ciclo circadiano, segundo Nascimento (2018) é o nome
dado ao ritmo em que o organismo realiza suas funções ao longo de um dia. O maior
exemplo de um ritmo circadiano seria a rotina de sono de maior parte da população,
que envolve ficar ativo e desperto ao longo do dia e sentir cansaço e dormir no período
noturno.
Nos ciclos do sono, tem-se distintas fases alternadas dentro do sono lento (NREM:
non-rapid eye movement) e sono paradoxal (REM: rapid eye movement) (AFONSO,
2014).
O sono NREM, ou, sincronizado como é chamado, está subdividido em três fases
(fase N1, N2 e N3) que se caracterizam pela presença de um aumento progressivo de
ondas de baixa frequência e de grande amplitude, no EEG (eletroencefalograma)
(NASCIMENTO, 2018).
Na fase N1 há uma transição da vigília para o sono, que dura cerca de 7 minutos. Na
fase N2 há uma prevalência de ondas theta ao EEG, e imobilização dos olhos. E, na
fase N3 ocorre o sono lento profundo, com ondas de grande amplitude. Nesta fase se
observa a diminuição da frequência cardíaca média, da pressão arterial, débito
cardíaco, temperatura corporal e do consumo de oxigênio cerebral. Isso ocorre pois
na fase N3 existe um domínio da atividade parassimpática (AFONSO, 2014;
NASCIMENTO, 2018).
De acordo com Medelson (2017) e Nascimento (2018) o sono REM que também é
conhecido por sono “rápido”, caracteriza-se por ondas de baixa amplitude, sem
frequências dominantes. As fases de sono NREM e REM vão alternando
5

sucessivamente durante a noite, formando ciclos com duração de cerca de 90 a 100


minutos (MEDELSON, 2017; AFONSO, 2014; NASCIMENTO 2018).
Compreende-se, portanto, que o sono interfere em diversos aspectos do corpo
humano, como: molecular, equilíbrio energético, função intelectual, estado de alerta e
humor. Na última década, houve uma gama de pesquisas sobre o papel do sono na
saúde, com evidências convincentes de que a privação do sono influencia
negativamente o risco de diversos distúrbios psicológicos. Sintomas de insônia,
incluindo dificuldades para iniciar e manter o sono, comumente ocorre
concomitantemente com a depressão (AFONSO, 2014; NASCIMENTO, 2018).

2.1 PRIVAÇÃO DO SONO E SEUS EFEITOS

A privação do sono ocorre quando um indivíduo dorme menos do que o seu corpo
precisa, ou seja, há uma carência da quantidade total necessária para a recuperação
de níveis adequados das funções físicas e psicológicas. Este fato produz efeitos que
afetam a qualidade de vida, sendo eles: efeitos neurológicos, neurofisiológicos, sobre
o desempenho laboral, que exige atenção e concentração, efeitos psicológicos,
irritabilidade e condutas antissociais (CASTILHO, 2015).
Segundo Carrillo (2013) a importância de dormir está relacionada à sua função, ao
contrário do que se pensava antes, que as horas de sono fossem improdutivas e/ou
perdidas. Atualmente, se leva em conta as funções cumpridas de acordo com a idade
e necessidades individuais dos sujeitos. Em adultos, o sono contribui para o trabalho
do sistema imunológico, a consolidação da memória, a regulação da temperatura
corporal e do metabolismo, e é reparada durante as horas de repouso.
A privação do sono pode prejudicar várias funções cognitivas, incluindo humor,
motivação, tempo de resposta e iniciativa. Na área da saúde, pode prejudicar a
capacidade dos trabalhadores de lidar com tarefas complexas e estressantes.
Enfermeiros fatigados podem ser um risco para cometer erros críticos na
administração de medicamentos ou na tomada de decisões clínicas (NUNES, 2020).
Além disso, a privação do sono pode afetar claramente o desempenho das pessoas,
incluindo sua capacidade de pensar com clareza, reagir rapidamente e criar
memórias. Também contribui para a irritabilidade, problemas de relacionamento e
depressão (NASCIMENTO, 2018). E, ainda, segundo Coles (2015) a privação do sono
6

aumenta a ansiedade em períodos de estresse, em comparação a indivíduos


saudáveis, que possuem um sono adequado.

2.2 O ESTRESSE NO TRABALHO

Segundo Giordani (2012) em seu estudo de natureza qualitativa, feito com 13


enfermeiros em um Hospital Filantrópico, o estresse causado pelas condições de
trabalho acomete grande parte da população ativa, e dentro da área da saúde os
enfermeiros são parte do grupo que mais sofrem com situações estressoras. Bem
como, em um estudo de corte transversal, exploratório e correlacional desenvolvido
por Pessoa et al. (2021) que teve a participação de 164 enfermeiros, analisou-se que
quase a metade dos profissionais (47%) estava com os níveis de cortisol (hormônio
do estresse) acima do estabelecido, sendo indicativo da presença de estresse.
Também, Viana et al. (2018) relata que trabalhadores de enfermagem mostram ter
alto nível de responsabilidade e baixa autonomia, elementos esses que refletem em
pontos de tensão e estresse. Neste quesito, vale destacar que, em situações de
estresse, a produção de cortisol tende a ser maior no organismo, e o excesso desse
hormônio pode dar origem aos distúrbios de sono, que em parte, se associam a outras
patologias como a depressão, ansiedade, psicose, dentre outros distúrbios
psicológicos.
No estudo de Viana et al. (2018) de natureza quantitativa, de corte transversal,
descritivo e analítico, 27% dos enfermeiros relatam usar medicamentos para ajudá-
los a dormir e 13% relataram usar medicamentos para ficar acordados. Sintomas
indicativos de transtorno do trabalho por turnos estavam presentes em 31% dos
enfermeiros. Cerca de 18,5% dos enfermeiros também apresentaram risco moderado
a grave de apneia obstrutiva do sono.
Evidencia-se que as condições únicas de trabalho dos profissionais de saúde,
como horários fora do padrão, proximidade de doenças com risco de vida e autonomia
reduzida, podem torná-los mais vulneráveis à problemas de sono. Outros fatores,
como interrupções frequentes durante os períodos de sono de plantão ou interrupções
no trabalho por turnos nos padrões normais de sono, podem agravar ainda mais os
problemas ao fragmentar o sono (MARTIN et al, 2020).
7

Essas condições estressantes também podem ser agravadas por encargos de


cuidado de situações pessoais. Muitos enfermeiros encontram-se cumprindo o dever
de cuidado duplo e triplo, não apenas cuidam de seus pacientes no trabalho, mas
também continuam a servir como cuidadores de seus próprios filhos e pais idosos
(GARCIA et al, 2019). Adicionalmente, Lessa et al. (2020) pontua que horários de
trabalho atípicos causam redução do sono, levando à sonolência, fadiga, declínio do
desempenho cognitivo e problemas de saúde entre os membros da equipe de
enfermagem.
Assim, a privação de sono resulta em déficits cumulativos na função executiva e no
humor, bem como irritabilidade aumentada, prejudicando a comunicação e a
coordenação nas equipes de saúde. A privação crônica de sono também pode
contribuir para a Síndrome de Burnout (GUSMÃO et al, 2021). O termo Burnout é
frequentemente usado quando se trata de descrever o estresse de longo prazo no
local de trabalho e é caracterizado por exaustão emocional e física, sentimentos de
estar preso, desmotivado e desmoralizado em seu papel de trabalho (COSTA et al,
2018).

2.3 IMPACTOS NA SAÚDE MENTAL

A enfermagem, especialmente nos hospitais, é dominada pelo trabalho em turnos,


com enfermeiros trabalhando fora do tradicional (PESSOA et al, 2021). Os
enfermeiros cumprem uma jornada de 20 a 40 horas semanais ou trabalham em
regime de plantão 12/36, caracterizado por 12 horas ininterruptas no período diurno
ou noturno e 36 horas de descanso (GARCIA et al, 2019).
Além disso, turnos de 12 horas são comuns e geralmente resultam em horas extras
inesperadas para concluir tarefas de atendimento ao paciente. Portanto, tomados em
conjunto com os tempos de deslocamento e responsabilidades domésticas, os
enfermeiros geralmente têm tempo limitado para dormir antes ou entre os turnos
(SANCHÉZ, 2018).
É possível destacar que a alta prevalência de distúrbios relacionados ao sono pode
ser parcialmente devido ao aumento das demandas do trabalho. Portanto, segundo
Pessoa et al. (2021) os enfermeiros estão no grupo dos profissionais mais propensos
a desenvolver problemas de saúde mental, pois lidam frequentemente com o
sofrimento humano, além de enfrentarem sobrecarga de trabalho.
8

Devido à importância do sono e seu conhecido efeito sobre o desempenho cognitivo,


a ligação entre o sono e a saúde mental dos enfermeiros tem recebido atenção
considerável. Como observa a American Nurses Association (ANA), o corpo
geralmente precisa de pelo menos sete horas de descanso restaurador e confortável
diariamente. Os enfermeiros estão dormindo, em média, menos do que o
recomendado antes do trabalho, o que pode ter um impacto em sua saúde e
desempenho no trabalho (GARCIA et al, 2019).
Segundo Nascimento (2018), pesquisadores relataram que os efeitos negativos da
privação do sono no processamento cognitivo podem mostrar déficits nas funções
executivas, atenção e tarefas de memória e ter maior nível de estados depressivos.
Também, de acordo com Viana et al. (2019) a falta de sono está relacionada à
diminuição da expectativa de vida e da qualidade de vida. Ansiedade, depressão e até
Alzheimer podem ser alguns dos prejuízos decorrentes da falta de sono.
Além disso, Costa et al. (2018) afirma que a privação de sono também está associada
à potencialização dos riscos de comportamento impulsivo, pensamentos suicidas e
paranoia. Assim também, Madeira (2019) destaca que a qualidade do sono é
conhecida como um elemento crucial da saúde psicológica e um sono perturbado têm
sido relacionado à psicopatologia.
Também, Martin et al. (2020) e Garcia et al. (2019), sublinham como a privação do
sono reduz significativamente a conectividade funcional em regiões frontais do
cérebro, incluindo as regiões ventromediais envolvidas em estratégias de tomada de
decisão baseadas em recompensa e punição. Essas alterações têm sido relacionadas
com a perda do controle emocional e uma tendência geral a tomar decisões impulsivas
e arriscadas que podem contribuir para a manutenção do transtorno de humor.
Outrossim, Nascimento et al. (2021) cita que a falta de sono pode potencializar alguns
sentimentos, por exemplo, se alguém está estressado, após a privação ou
inadequação do sono pode intensificar o estresse, além disso entorpecer a
consciência e obscurecer a mente para impedir o pensamento racional e lógico.
Também esgota o corpo e o cérebro, o que afeta o funcionamento e a produtividade.
Isso é especialmente perigoso na área da saúde, pois a segurança do paciente e os
cuidados podem ser afetados diretamente. Um enfermeiro (a), pode ficar menos alerta
devido à exaustão, impedindo-a de reagir imediatamente às necessidades de um
paciente.
9

Diante do exposto, é importante reconhecer as comorbidades psiquiátricas mais


comuns, como transtornos de ansiedade e depressão em pessoas com distúrbios e
privação de sono. Segundo Gusmão et al. (2021) entre os pacientes com insônia, a
prevalência de transtorno de ansiedade, incluindo transtorno de ansiedade
generalizada, transtorno de pânico, transtorno de estresse pós-traumático e fobia, é
de 24 a 36%, enquanto a de depressão maior é de 14 a 31%. Por outro lado, cerca de
90% dos pacientes com depressão queixam-se de distúrbios do sono. Da mesma
forma, problemas de sono são muito mais comuns entre indivíduos com transtornos
de ansiedade.

2.4 ANSIEDADE E DEPRESSÃO

Os efeitos da privação e qualidade de sono têm relações “bidirecionais” com


ansiedade e depressão, respectivamente. Isso significa que o sono de má qualidade
pode contribuir para o desenvolvimento da depressão e ansiedade, e que ter
depressão e ansiedade torna a pessoa mais propensa a desenvolver problemas de
sono (NASCIMENTO et al, 2021). Portanto, indivíduos com distúrbios de sono estão
associados a uma maior incidência de ansiedade e depressão em relação àqueles
que não possuem dificuldades para dormir (GARCIA et al, 2019).
De acordo com a Iniciativa Interdisciplinar de Pesquisa em Qualidade de Enfermagem
(INQRI) da Fundação Robert Wood Johnson, os enfermeiros experimentam
depressão clínica duas vezes mais do que o público em geral. A depressão afeta 9%
dos cidadãos comuns, e 18% dos enfermeiros apresentam sintomas depressivos
(MADEIRO, 2019).
Estudos de Oliveira e Pereira (2012) mencionam que a depressão é um “estado
patológico de sofrimento psíquico consciente e de culpa, acompanhado por uma
marcada redução dos valores pessoais e uma diminuição da atividade psicomotora e
orgânica”. Conforme Costa (2020) os sintomas mais conhecidos popularmente
aparecem como tristeza, sentimento de ineficiência, alteração do apetite e do sono.
Estes sintomas quando não tratados tendem a agravar-se (COSTA, 2020).
Segundo Madeiro (2019) na medicina, a depressão é representada pelo código CID
10 – F33, como sendo uma doença de transtorno mental, com a capacidade de reduzir
o interesse em atividades comuns, que prejudicam a rotina do indivíduo. Neste
contexto, menciona-se conforme Sánchez (2018) que a depressão é constituída por
10

sentimentos negativos prolongados e incapacidade de concentração ou do


funcionamento normal. Os fatores causadores da doença incluem uma combinação
de origens biológicas, psicológicas e sociais de angústia.
Por outro lado, a ansiedade é um sentimento desagradável que remete ao medo do
desconhecido, ou medo do futuro, com antecipação do perigo, e o sentimento crônico
de ansiedade generalizada (TAG) é uma condição que gera níveis elevados de
estresse psicológico, e há dificuldade de tratamento em longo prazo (SAVAGE et al,
2015).
Sendo assim, cerca de 5 a 15% da população tem ansiedade, e geralmente está
interligada à insônia, pois é difícil desvincular uma situação da outra; o que interfere
na qualidade de vida porque há uma tendência à cronicidade destes distúrbios
(LESSA et al, 2020).
Também, o transtorno de ansiedade se difere da ansiedade e do medo adaptativos
de que são inerentes à vida de qualquer indivíduo. Quando esse estado de ansiedade
se torna crônico, excessivo e/ou persiste por longos períodos impossibilitando o
indivíduo de realizar atividades diárias comuns, é caracterizado o transtorno de
ansiedade (PESSOA et al, 2021).
Contudo, ao analisar os fatores desencadeantes, as condições de trabalho com
constante sobrecarga devido à falta de recursos humanos e materiais, estrutura física
inadequada, desvalorização profissional e relacionamentos interpessoais prejudiciais,
tendem a influenciar negativamente a prestação da assistência, sendo a principal
fonte de sofrimento psíquico nos profissionais da saúde, especificamente os
enfermeiros.
Dentro do processo de trabalho dos profissionais de enfermagem, fatores como as
cargas laborais, as condições de trabalho e os riscos ocupacionais somam-se
a oportunidades insuficientes de lazer, reduzindo o tempo dedicado ao autocuidado e
às relações sociais. Esse cenário é associado às características ocupacionais, como
o regime de plantões, aos múltiplos vínculos, ao intenso ritmo laboral, acompanhadas
por cargas horárias extensas. Diante disso, cria-se um contexto favorável para o
estresse, desgaste físico e mental, que pode levar a má qualidade de vida (VIEIRA
et al, 2018).

3 METODOLOGIA
11

O presente estudo se caracteriza por uma revisão integrativa, descritiva, com análise
qualitativa dos dados, que reuniu material já elaborado, de diferentes metodologias
que permite ao pesquisador revisar e sintetizar resultados sem ferir a filiação
epistemológica dos estudos incluídos.
Conforme Castilho e Borges (2011) a pesquisa bibliográfica teve como objetivo
assegurar e propiciar maior familiaridade com o problema, a fim de transformar de
modo visível ou de elaborar hipóteses. Esse tipo de pesquisa tem o intuito e finalidade
do aprimoramento de conceitos ou descoberta de percepções. Seu planejamento é,
portanto, bastante flexível, de modo que possibilite as considerações dos mais
variados aspectos relativos ao fato estudado.
As análises descritivas buscaram trazer consigo mais detalhes a respeito do tema
abordado a fim de expandir a compreensão do leitor. Através deste estudo foi possível
definir de forma objetiva o comportamento do grupo estudado na pesquisa em questão
(DE PADUÁ, 2019).
Para nortear este estudo, foi formulado uma questão norteadora: “quais são os efeitos
da privação do sono na qualidade de vida na equipe de enfermagem plantonista
noturna?”. A partir da análise dos resultados, buscou-se responder a esta questão.
A pesquisa foi realizada com busca nas bases de dados da PubMed Central® (PMC),
Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (Medline), Literatura Latino-
americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library
Online (SciELO) e Google Acadêmico. Foram selecionados os seguintes descritores
no DeCS: sono; qualidade de vida; privação de sono; enfermeiros; plantão. A partir
desses descritores, foram elaboradas as seguintes expressões de busca: “privação
de sono AND enfermeiros AND qualidade de vida”, “sono AND qualidade de vida” e
“enfermeiros AND sono AND plantão”.
Nesta pesquisa foram incluídos artigos de periódicos completos, publicados em
português (Brasil), na base de dados selecionados, publicados no período de 2018 a
2022, que descrevam e incluam informações sobre os efeitos da privação do sono na
qualidade de vida na equipe de enfermagem plantonista noturna. Foram excluídos
artigos de revisão, dissertação e tese, em outros idiomas, fora do período de
publicação, artigos sem qualquer relação com o objetivo da pesquisa, por meio da
leitura de título e resumo e textos em duplicidade.
12

Os artigos foram avaliados por meio da leitura na íntegra e a análise e apresentação


dos dados estão explanadas por meio de um quadro descritivo constando: autor e ano
de publicação, título, objetivo, tipo de estudo e principais resultados.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foi realizado o cruzamento dos descritores nas bases citadas e encontrados 297
artigos durante a pesquisa. Depois de filtrados e analisados conforme critério de
inclusão e exclusão e retirados os repetidos nas bases, foram considerados 9 artigos.
As etapas que foram utilizadas para identificação, seleção, contendo suas principais
legitimidades dos artigos escolhidos, de acordo com os estudos abordados nesta
pesquisa de revisão, estão descritos no Fluxograma 1.

Fluxograma 1 - Seleção dos artigos revisados

Artigos encontrado nas bases de


dados PUBMED, MEDLINE, LILACS,
SCIELO, GOOGLE ACADÊMICO
297

Nº de estudos selecionados para leitura de títulos e resumos


78

Nº de artigos duplicados e repetidos


13

Nº de estudos em análise
conforme critérios de
inclusão
65
13

Nº de artigos em texto
completo excluídos, com
justificativa.

Fuga do tema: 18

Artigos de revisão: 21

Texto incompleto: 9

Outras literaturas: 8

Nº de estudos selecionados
e incluídos no estudo
9

A partir da descrição, análise e seleção dos artigos, foi utilizado um quadro como uma
ferramenta adaptada da literatura pelas autoras, que aborda as características de
identificação de cada artigo (autor e ano de publicação, título, objetivo), a metodologia
utilizada (tipo de estudo) e os principais resultados encontrados. Os resultados foram
apresentados através de um quadro para uma análise descritiva, com a síntese das
evidências de cada publicação.
14
Quadro 1 – Descrição dos artigos selecionados

AUTOR TÍTULO OBJETIVO TIPO DE PRINCIPAIS RESULTADOS ENCONTRADOS


E ANO ESTUDO
Daltro, Qualidade do Analisar a Entrevista Observou-se que, 64% sentiam dor de cabeça após
2018 sono de qualidade de sono semiestrutura as noites de plantão, 60% ardência nos olhos, 40%
profissionais e sinais de da diminuição na atenção, 20% dor no estômago, 8%
noturnos de um prejuízos na disseram ter outros sintomas além desses e 20%
hospital em um saúde de não sentiam nada após as noites de trabalho, é
município do profissionais importante salientar que, os participantes puderam
sertão paraibano atuantes em um marcar mais de um sintoma, além disso, 40%
Sleep quality of hospital público de sentiam que sua vida social era afetada pelo
night work um município trabalho noturno. O Índice de Qualidade de Sono de
professionals at a paraibano Pittsburgh mostrou que 16% apresentaram uma boa
hospital of Paraiba qualidade de sono, 48% má qualidade no sono e
36% demonstram presença de distúrbios do sono.
Costa et Trabalho noturno: Conhecer os Entrevista Os resultados apontaram aspectos significativos do
al. 2018 seus efeitos na efeitos do trabalho semiestrutura cotidiano laboral desses profissionais, tais como
saúde dos noturno na saúde da alteração no sono, no lazer e nas relações sociais
trabalhadores da dos trabalhadores comprometidas pela falta de tempo em decorrência
área de saúde na que atuam no dos vínculos empregatícios.
cidade de ramo da saúde na
Parnaíba-PI. cidade de
Parnaíba-PI.
Sena et Qualidade de Avaliar a Pesquisa do Predominaram trabalhadores do sexo feminino, com
al, 2018 Vida: O Desafio qualidade de vida tipo analítico, idade de até 35 anos, com companheiro(a) e filhos.
do Trabalho e sua associação com Os domínios meio ambiente e físico apresentaram
Noturno Para a com as abordagem piores escores. Na comparação dos escores médios
Equipe de características quantitativa nos quatro domínios, as covariáveis mais
Enfermagem sociodemográfica significativas foram: sexo, atividade física, outro
s dos vínculo, estado civil e tempo de trabalho.
trabalhadores da
enfermagem do
período noturno.
Silva e Relações entre Descrever e Revisão Os resultados apresentados no presente estudo
Sardinha privação de sono, discutir as integrativa evidenciam que a privação do sono causada em
, 2019 ritmo cardíaco e relações das trabalhadores por turnos, resulta em diversos
funções funções problemas no organismo em função de uma
cognitivas em cognitivas, alteração no ritmo circadiano responsável pela
trabalhadores por privação do sono homeostase, no âmbito fisiológico e cognitivo. Isso
turnos e ritmo circadiano pode contribuir com o desencadeamento de
no trabalhador por problemas nas funções cognitivas e, em outros
turno. aspectos e funções importantes do cotidiano.
Miranda Sono: fator de Mostrar como o Revisão A partir da avaliação da qualidade do sono e da
e risco para a sono não integrativa percepção da qualidade de vida, o profissional de
Passos, qualidade de vida reparador pode saúde que trabalha no período noturno apresenta
2020 do profissional de desencadear maior comprometimento na qualidade do sono e
saúde. patologias que assim apresenta-se insatisfeito com sua qualidade
colocam em risco de vida em relação ao profissional que trabalha no
a qualidade de período diurno, o qual possui melhor qualidade de
vida do sono, estando mais satisfeito com sua qualidade
profissional de de vida.
saúde.
15

Nunes, Qualidade do Analisar a Estudo O trabalho noturno causa prejuízos na qualidade do


2020 sono de qualidade do sono analítico e sono e alterações no peso dos profissionais
enfermeiros que e investigar se transversal enfermeiros. É imprescindível a implementação de
atuam em turnos. este exerce com mudanças para uma cultura prevencionista, seja por
influência no IMC abordagem programas institucionais ou pesquisas
dos profissionais quantitativa intervencionistas, capazes de desenvolver medidas
enfermeiros nos que conduzam ao autorreconhecimento das
turnos diurno e alterações corporais.
noturno
Lopes, Privação do sono Esclarecer sobre Revisão Verifica-se que a privação do sono associado ao
2020 em profissionais os distúrbios narrativa da trabalho noturno é um fator de grande atenção,
enfermeiros. relacionados à literatura considerando os riscos que uma má qualidade de
privação do sono sono pode afetar na saúde física e mental do
e os riscos à profissional de enfermagem.
saúde e
segurança de
enfermeiros que
atuam no período
noturno
Nascime Impacto do Analisar os Pesquisa Como resultados tem-se que os componentes do
nto et al. distúrbio do sono impactos descritiva, questionário do sono mais afetados foram:
2021 na qualidade de causados pelo quantitativa, qualidade subjetiva, latência, duração e disfunção
vida dos distúrbio do sono durante o dia. A má qualidade do sono foi observada
profissionais de na qualidade de em 95% dos participantes, sendo a insônia
enfermagem vida dos apresentada em 13%. Quanto ao questionário de
profissionais de qualidade de vida, 50% avaliaram-na como boa e
enfermagem. 40% estão insatisfeitos em relação à saúde.
Silva et Qualidade do Identificar as Estudo Participaram 42 profissionais, 31 (73,8%) mulheres,
al. 2022 sono, variáveis possíveis transversal, entre 26-66 anos (média de 40,2); 61,9% realizavam
pessoais e associações entre exploratório, horas extras; 26,2% possuíam duplo vínculo
laborais e hábitos a qualidade do correlacional, empregatício e 40,5% tiveram ausências no
de vida de sono, as variáveis quantitativo. trabalho. A qualidade do sono foi considerada boa
enfermeiros pessoais e por 9,5% dos participantes, má por 64,3% e com
hospitalares. laborais e os distúrbios do sono por 26,2%. Na população que
hábitos de vida de realizava turnos rotativos, essa qualidade foi
enfermeiros identificada como má por 26,2%. Os piores
hospitalares. resultados foram encontrados na faixa etária de 30-
39 anos e houve significância estatística na variável
“viver com companheiro(a)”
16
Conforme Sena et al. (2018) o sono desempenha uma importante função
biológica e tem um grande papel em vários processos fisiológicos dos
organismos. Para Silva et al. (2022) o sono reparador fornece a base para o
bem-estar físico, mental e psicológico em humanos, por isso, a privação do sono
está associada a um comportamento menos produtivo.
Portanto, profissões que envolvem trabalho por turnos sem horas adequadas de
descanso podem atrapalhar o ritmo circadiano do ciclo sono-vigília e
comprometer a qualidade do sono (SENA et al, 2018). No sistema de saúde e
assistência, a proporção de pessoas que trabalham à noite é maior do que
aquelas que trabalham em outras áreas de prestação de serviços públicos, de
modo que 36,9% dos funcionários do hospital são trabalhadores noturnos e
muitas vezes são enfermeiros (SILVA et al, 2022).
Assim, a enfermagem é uma ocupação inerentemente estressante que exige
uma atividade física e mental relativamente alta dos trabalhadores. Diante de tais
menções, este estudo analisa 9 artigos com destaque para o contexto sobre os
efeitos da privação do sono na qualidade de vida de enfermeiros plantonistas.
O estudo de Silva e Sardinha (2019) ressalta que a saúde no local de trabalho é
o principal determinante da qualidade de vida dos trabalhadores. Assim,
segundo Daltro (2018) enfermeiros de hospitais com regime de trabalho em
turnos podem apresentar distúrbios do sono relacionados às características de
sua atividade laboral. A enfermagem requer atenção e muitas vezes envolve
atividades com alto grau de dificuldade e responsabilidade. Por isso, fatores
como ritmo acelerado, jornada excessiva de trabalho e trabalho por turnos
podem levar ao estresse ocupacional (SENA et al, 2018).
O estudo de Costa et al. (2018) ao avaliar 25 profissionais da cidade de
Parnaíba-PI sobre os efeitos do trabalho noturno na saúde, apontou que, a perda
de sono afeta o desempenho de habilidades cognitivas, por exemplo, memória,
aprendizado, raciocínio lógico, cálculos matemáticos, padrões de
reconhecimento, processamento verbal complexo e tomada de
decisão. Corroborando com tais resultados, Sena et al (2018) ao avaliar a
qualidade de vida dos trabalhadores da enfermagem do período noturno, em 145
profissionais de Minas Gerais, constatou que os distúrbios do sono relacionados
ao trabalho em turnos causaram mudanças significativas no funcionamento
físico, ocupacional, cognitivo e social dos indivíduos, o que também diminuiu sua
qualidade de vida.
17
Os aspectos mencionados nos estudos supracitados corroboram com o estudo
de Silva et al. (2022), visto que os autores alegam que trabalhar em turnos
noturnos ou finais de semana acarreta mudanças na distribuição temporal das
atividades individuais e altera os padrões de sono noturno. Por isso, os
trabalhadores que trabalham de turnos têm uma vida social diferente do restante
da comunidade em termos de distribuição temporal das suas
atividades. Nascimento et al.(2021) complementa que o trabalho realizado à
noite ou nos finais de semana afeta a vida social que, de outra forma,
normalmente consiste em sono noturno, trabalho diurno e lazer após o trabalho
e nos finais de semana. Aspectos distintos da vida social e familiar podem
facilitar ou dificultar a vida cotidiana dos profissionais de saúde, sendo
considerados fatores importantes na QV.
Os resultados de Silva e Sardinha (2019) demonstram que a privação do sono
causada em enfermeiros plantonistas, geram uma série de problemas no
organismo em função de uma alteração no ritmo circadiano responsável pela
homeostase, no âmbito fisiológico e cognitivo. Isso pode contribuir com o
desencadeamento de problemas nas funções cognitivas e, em outros aspectos
e funções importantes do cotidiano. O estudo de Miranda e Passos (2020)
demonstra resultados similares ao evidenciar que o sono não reparador dos
enfermeiros pode desencadear patologias que colocam em risco a qualidade de
vida destes indivíduos. Segundo os autores, por meio da avaliação da qualidade
do sono, o enfermeiro plantonista apresenta maior comprometimento na
qualidade do sono e assim apresenta-se insatisfeito com sua qualidade de vida
em relação ao profissional que trabalha no período diurno, o qual possui melhor
qualidade de sono, estando mais satisfeito com sua qualidade de vida.
A partir de uma pesquisa com 120 enfermeiros, para analisar a qualidade do
sono nos profissionais enfermeiros nos turnos diurno e noturno, Nunes (2020)
mostrou que o plantão em hospitais é um dos maiores fatores estressores para
os profissionais de saúde. Uma porcentagem significativa dos enfermeiros
participantes do estudo relata distúrbios no sono, principalmente, insônia. O
autor relatou que estes resultados causam desconforto, restringem o convívio
social e familiar e potencializam doenças nos profissionais de enfermagem. Além
disso, esses fatores estabelecem uma complexa relação entre trabalho,
qualidade de vida e capacidade para o trabalho.
18
Considerando o papel do sono na vida dos indivíduos e os malefícios da privação
do sono, o estudo de Lopes (2020) traz como resultado que um nível inadequado
de sono repercute diretamente na qualidade de vida, causando isolamento
social, ansiedade e baixa autoestima, além de diversos sintomas físicos. O autor
afirma que a qualidade do sono e a qualidade de vida estão intimamente
relacionados. Os resultados de seu estudo mostraram que as alterações do sono
foram consistentemente associadas ao comprometimento da qualidade de
vida. A qualidade do sono, que também tem base multifatorial, apresentou
correlação fraca, mas significativa, com a qualidade de vida.
Assim sendo, o estudo de Nascimento et al. (2021) com 40 profissionais de
enfermagem que atuam nas unidades de terapia intensiva em um hospital
público, mostrou que a má qualidade do sono foi observada em 95% dos
participantes, sendo a insônia apresentada em 13%. O estudo ressalta que a
qualidade de sono é um fator que afeta diretamente na qualidade de vida dos
profissionais de saúde.
Estes resultados corroboram com o estudo de Silva et al. (2022), que ao analisar
42 profissionais de enfermagem, a qualidade do sono foi considerada boa por
apenas 9,5% dos participantes, má por 64,3% e com distúrbios do sono por
26,2%. Na população que realizava turnos rotativos, essa qualidade foi
identificada como má por 26,2%. Diante de tais percentagens, é possível
analisar que o trabalho noturno pode ter efeitos prejudiciais persistentes na
qualidade do sono dos enfermeiros, quando a experiência é longa e os plantões
noturnos são muito frequentes. Segundo Sena et al. (2018) a exposição ao
trabalho noturno está associada ao aumento do risco de desenvolver problemas
crônicos de sono e outros relacionados à saúde, como distúrbios psíquicos.
Os dados apresentados neste estudo destacam a necessidade de relacionar a
privação de sono com a saúde mental dos profissionais de saúde, visto que a
insatisfação, qualidade de vida reduzida, distúrbios do sono, dentre outras
manifestações apresentadas, contribuem diretamente para o adoecimento
psicológico do indivíduo. Neste sentido, Nunes (2020) menciona que a privação
do sono pode torná-lo crônico, e assim, o indivíduo pode ter predisposição a
sofrer de ansiedade e depressão. Outras doenças mentais que podem ser
favorecidas pelo distúrbio do sono são distúrbios alimentares, síndrome do
pânico ou alcoolismo, por exemplo.
19
O estudo de Daltro (2018) aos 25 profissionais que executavam suas funções
laborais em turno noturno mostrou que 40% sentiam que sua vida social era
afetada pelo trabalho noturno. O estudo evidenciou também que 16% dos
participantes apresentaram uma boa qualidade de sono, entretanto, 48% má
qualidade no sono e 36% demonstram presença de distúrbios do sono,
concluindo, portanto, que os participantes do estudo apresentaram sinais de
danos na qualidade de vida. O estudo ainda ressalta que os distúrbios de sono
acarretam diversas disfunções psicológicas que interferem negativamente para
o enfermeiro, como irritabilidade, fadiga, prejuízo nas funções cognitivas, como
a memória, atenção e concentração, desencadeando crises de ansiedade e
sintomas depressivos.
Em relação aos profissionais de enfermagem, conforme Sena et al (2018) os
distúrbios do sono foram relatados em associação não apenas à sua saúde
mental, mas também ao baixo desempenho no trabalho, baixa satisfação no
trabalho, baixa qualidade de vida (QV), erros médicos e até mesmo à redução
da segurança do paciente. Conforme Mariana e Passos (2020) a associação
entre trabalho em turnos e os distúrbios do sono consta em diversas pesquisas,
e os horários de turno interferem na ocorrência de distúrbios de sono entre os
enfermeiros. Em outras palavras, os enfermeiros do turno diurno têm melhor
qualidade de sono do que os enfermeiros do turno noturno. Portanto o autor
evidencia que a ausência de um sono de qualidade pode potencializar outros
problemas pré-existentes, como bipolaridade, psicose, mania, depressão,
síndrome do pânico e ansiedade.
Os distúrbios do sono e a má qualidade do sono, conforme Nascimento et al.
(2021) são indicadores de diversas doenças físicas e psicológicas, como:
ansiedade, distúrbios de pânico, depressão, transtorno do déficit de atenção com
hiperatividade (TDAH), esquizofrenia e transtorno bipolar. Além disso, Nunes
(2020) destaca que o sono de má qualidade pode desencadear sintomas de
cansaço, perda da concentração, fadiga, aumento da sensibilidade à dor,
ansiedade, nervosismo, ideias irracionais, alucinações, perda de apetite,
constipação e maior propensão à acidentes.
Além disso, Silva e Sardinha (2019) relatam que os distúrbios de sono, quando
em grau elevado, podem desencadear ideias suicidas, com sentimentos de
solidão e falta de motivação para realizar atividades cotidianas e relações
20
sociais. Os distúrbios do sono também podem ocasionar episódios psicóticos, e
intensificar sintomas já existentes como mania, psicose ou paranoia.
O estudo de Miranda e Passos (2020) apresenta informações relevantes no que
diz respeito à relação da depressão, ansiedade e a privação do sono. Segundo
os autores, as pessoas que têm problemas de depressão são mais propensas a
ter insônia ou dificuldade para dormir. Ao mesmo tempo, pessoas com insônia
também têm um risco maior de sofrer de depressão e ansiedade. Nascimento et
al.(2021) complementa, ao destacar que, indivíduos deprimidos podem sofrer de
uma variedade de sintomas de insônia, incluindo dificuldade em adormecer,
dificuldade na manutenção do sono, sono não reparador e aumento da
sonolência diurna.
Com isso, não dormir o suficiente ou dormir de má qualidade pode aumentar o
risco de distúrbios de saúde mental (MIRANDA; PASSOS, 2020). Embora a
insônia possa ser um sintoma de distúrbio psiquiátrico, como ansiedade e
depressão, agora se reconhece que os problemas do sono também podem
contribuir para o surgimento e agravamento de diferentes problemas de saúde
mental, incluindo depressão, ansiedade e até ideação suicida (DALTRO, 2018).
Embora sejam necessárias mais pesquisas para entender os mecanismos
subjacentes à conexão entre sono e saúde mental, Lopes (2020) afirma que o
sono é importante para várias funções cerebrais e corporais envolvidas no
processamento de eventos diários e na regulação de emoções e
comportamentos. O sono ajuda a manter as habilidades cognitivas, como
atenção, aprendizado e memória, de modo que dormir mal pode tornar muito
mais difícil lidar com estressores relativamente menores e pode até afetar a
capacidade de perceber o mundo com precisão.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo analisou os efeitos da privação de sono na qualidade de vida


de plantonistas noturnos da área da saúde, e teve como objetivo verificar a
influência da privação de sono na qualidade de vida desses profissionais, pois
estes efeitos afetam diretamente na saúde do profissional e no cuidado ao
paciente.
A partir de uma revisão da literatura, demonstrou que a privação de sono e a
qualidade inadequada do sono são um dos efeitos causados pelo trabalho em
21
turnos, que podem gerar distúrbios do sono e desencadear diversos outros
distúrbios psicológicos, como principalmente, a ansiedade e depressão. Além de
manifestações dessas comorbidades podem surgir outros sintomas como:
alterações do humor, irritabilidade, fadiga, crises de pânico, falta de
concentração, prejuízos à memória e aprendizado, estresse crônico, insônia
crônica, sonolência na realização das atividades diárias e dificuldades para
manter o sono, causando uma série de disfunções psicológicas que afetam sua
saúde mental a curto e longo prazo.
Sendo assim, a privação do sono confirma o objetivo pois, põe em risco a
segurança do profissional de enfermagem e também sua saúde, pois
gradativamente ela pode comprometer seu desempenho, interferir na qualidade
da assistência e integridade da saúde do paciente. A função do enfermeiro
demanda muita atenção e erros devem ser evitados, o que gera maior tensão e
carga emocional para o enfermeiro que precisa executar suas atividades
criteriosamente.

Destaca-se a importância desses profissionais buscarem alternativas para


prevenir agravos e patologias, bem como para promover a saúde, melhorando a
qualidade de vida no ambiente de trabalho e na vida pessoal. Assim, entende-
se ser necessário que os enfermeiros e a instituição busquem alternativas
coletivas para o enfrentamento eficaz das cargas que estão presentes no local
de trabalho, pois se sabe que alternativas individuais não estimulam a
cooperação, a ajuda mútua e a solidariedade. É imprescindível que não se
banalize o sofrimento no trabalho, pois o mesmo pode se tornar habitual e
entendido como sem solução para os trabalhadores

Entretanto, na atual pesquisa, sobre a qualidade de vida de enfermeiros


que trabalham no período noturno, percebemos a carência de mais estudos
referente a literatura que aborda a privação do sono em profissionais de
enfermagem, e os impactos que podem ser gerados a partir de um sono
inadequado, além de métodos para o enfrentamento dos efeitos causados no
que se refere às condições laborais excessivas que muitas vezes ocorrem.
Então, é importante que haja mais estudos sobre o tema para que novas
estratégias para dar continuidade em possíveis reflexões e críticas para
minimizar esse problema possam ser propostas para que assim, as cargas
advindas do trabalho sejam discutidas coletivamente.
22
REFERÊNCIAS

AFONSO, Paulo. As Alterações do Sono nas Doenças Psiquiátricas. Lisboa:


Lidel, 2014.

CARRILLO, Paul. Neurobiología del sueño y su universitár: universit para el


estudiante universitário. México, 2013.

CASTILHO, Carla. A privação de sono nos alunos da área de saúde em


atendimento nas Unidades Básicas de Saúde e suas consequências. São
Paulo, 2015.
BORGES, Nara Rubia. Martins; CASTILHO, Auriluce Pereira.; PEREIRA, Vania
Tanus. Manual de metodologia científica do ILES Itumbiara/GO. 2017.

CHATTU, Vijay et al. The Global Problem of Insufficient Sleep and Its Serious
Public. Health Implications. 2018. Disponível em: <https://www.mdpi.com/2227-
9032/7/1/1/htm> Acesso em: 08 mai. 2022.

COLES, Meredith et al. Sleep Circadian Rhythms and Anxious Traits. Current
psychiatry reports. 2015. Disponível em:
<https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26216591/> Acesso em: 08 mai. 2022.

COSTA, Wesley Rodrigues et al. Trabalho noturno: seus efeitos na saúde dos
trabalhadores da área de saúde na cidade de universidade-PI. Humanas
Sociais & Aplicadas, v. 8, n. 21, 2018

DALTRO, Lima. Qualidade do sono de profissionais noturnos de um hospital em


um município do sertão paraibano Sleep quality of night work universitário at a
hospital of Paraiba. Fisioterapia Brasil, v. 19, n. 5Supl, p. S252-S258, 2018.

DE PÁDUA, Elisabete Matallo M. Metodologia da pesquisa: abordagem


teórica-prática . Papirus Editora, 2019.

GARCIA, Andrea dos Santos et al. Avaliação da qualidade do sono de pós-


graduandos de enfermagem. Rev. enferm. UFPE on line, p. 1444-1453, 2019.

GIORDANI, Juliana et al. Percepção dos enfermeiros frente às atividades


gerenciais na assistência ao usuário. São Paulo, 2012. Disponível em: <
https://www.scielo.br/j/ape/a/ZNGr8ZwmFDh48yDpVdjS9gS/abstract/?lang=pt>
Acesso em: 07 mai. 2022.

GUSMÃO, Ricardo Otávio Maia et al. Depressão em pacientes atendidos em


serviço de saúde mental: fatores associados e diagnósticos de
enfermagem. SMAD Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas
(Edição em Português), v. 17, n. 2, p. 44-53, 2021.

LESSA, Ruan Teixeira et al. A privação do sono e suas implicações na saúde


humana: uma revisão sistemática da literatura. Revista Eletrônica Acervo
Saúde, n. 56, p. e3846-e3846, 2020.
23
LOPES, Israel Cardoso. Privação do sono em profissionais enfermeiros. 13f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Enfermagem) - Centro
Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, 2020.

MADEIRA, Gabriela Alves. Plantas Medicinais no Tratamento da Ansiedade.


Universidade Norte do Paraná – UNOPAR – Londrina 2019. Disponível em:
<http://repositorio.pgsskroton.com/bitstream/123456789/28932/1/GABRIELA_A
LVES _MADEIRA.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2022.

MARTIN, Larissa Ranielle Barreto et al. Existem prejuízos no sono e no humor


entre profissionais de enfermagem? Brazilian Journal of Development, v. 6, n.
12, p. 103953-103967, 2020.

MARTINS, Julia et al. Estratégias de enfrentamento às cargas de trabalho de


enfermeiros de unidade de emergência. Revista Eletrônica Saúde Mental
Álcool Drog. (Ed. port.) vol.8 no.3 Ribeirão Preto dez. 2012

MIRANDA, Ingridy Priscila Veloso; PASSOS, Marco Aurélio Ninomia. Sono: fator
de risco para a qualidade de vida do niversitári de saúde. Revista JRG de
Estudos Acadêmicos, v. 3, n. 7, p. 336-346, 2020.

NASCIMENTO, Tatiana de Sousa et al. Impacto do distúrbio do sono na


qualidade de vida dos profissionais de enfermagem. Research, Society and
Development, v. 10, n. 17, p. e65101724052-e65101724052, 2021.

NUNES, Jacqueline Targino. Qualidade do sono de enfermeiros que atuam


em turnos. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, 2020.

PESSOA, Bárbara do Nascimento Lopes et al. Qualidade de vida, depressão e


ansiedade em enfermeiros e técnicos de enfermagem de um hospital. Revista
Desafios–v, v. 8, n. 02, 2021.

SÁNCHEZ, Fernandes. “Relación de estrés-ansiedad y depresión laboral en


profesionales de enfermería”. Rev Enferm Neurol. vol. 18, núm. 1, 2018,
pp. 29-40

SAVAGE, Karen M. et al. Kava para o tratamento do transtorno de ansiedade


generalizada (K-GAD): protocolo de estudo para um estudo controlado
randomizado. Provações, v. 16, n. 1, pág. 1-13, 2015.

SENA, Alexia Gonçalves et al. Life Quality: The Night Shift Work Challenge To
Nursing Team/Qualidade de Vida: O Desafio do Trabalho Noturno Para a Equipe
de Enfermagem. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, v. 10,
n. 3, p. 832-839, 2018.

SILVA, Alessandra Carolina; SARDINHA, Luís Sérgio; DE AQUINO LEMOS,


Valdir. Relações entre privação do sono, ritmo circadiano e funções cognitivas
em trabalhadores por turnos. Diálogos Interdisciplinares, v. 8, n. 10, p. 145-
153, 2019.
24

SILVA, Andressa Fernanda et al. Qualidade do sono, variáveis pessoais e


laborais e hábitos de vida de enfermeiros hospitalares. Revista Latino-
Americana de Enfermagem, v. 30, 2022.

VIANA, Maria Cleia et al. Qualidade de vida e sono de enfermeiros nos turnos
hospitalares. Revista Cubana de Enfermería, v. 35, n. 2, 2019.

VIEIRA, Giovana et al. Satisfação laboral e a repercussão na qualidade de


vida do profissional de enfermagem. Abcs Health Sciences, v. 43, n. 3, p.
186-192, 2018.

Você também pode gostar