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Aah 302 ‘ROBERT GILPIN bretudo para seus préprios interesses econdmicos e politicos, Nio obstante as impressionantes metas alcangadas no pés-guerra no sen tido de forjar uma unidade politica e econdmica euro} curopeus nao se dispdem ainda a sacrificar a autonomiaecondmicy © aindependéncia politicaem nome de uma economia européia re_ almente unificada ¢ de uma entidade politica européia capaz de fy lar com uma s6 voz nas questées internacionais. Embora nig devamos minimizar trés décadas de esforcos em geral bem-suced; dos para criagdo de uma Europa unida, a “Europa” continua a ser basicamente um conceito geogréfico. Mas certamente est4 surgin- do uma Europa de alguma forma mais unida; os pafses foram lon. ge demais para recuar, e so poderosos os interesses que favorecem © avango. Entretanto, muitos anos e talvez décadas sero ainda ne- cessirios para determinar até onde iré a integracio, a direcio que tomard € os efeitos que terd tanto na Europa quanto no resto do mundo. Embora sejam fortes os motivos para encarar com reservas a5 Perspectivas de longo prazo da integracio européia, é inegivel que aimportancia econémica da Europa Ocidental na economia mun- dial foi revigorada-desde-que-chegow a seu ponto mais baixo no imediato p6s-guerra. O mercado Gnico® todo o movimento pela unidade continental geraram maior unidade econémica. Em 1945, as economias européias nio s6 estavam arrasadas como se volta- vam para as colénias. Na década de 1980, participavam como entida- de unificada do GATT e de outros empreendimentos multilaterais, tendo aumentado dos seis iniciais para quinze o ntimero de mem. bros da Comunidade Européia. Venha ou nio a ter lugar appreten- dida ampliacao da UE, a Europa Central e Oriental vem-se tornando cada vez mais integrada a UE, através de varios acordos formais ¢ das proprias forgas de mercado. Em sua nova roupagem regio- nalizada, 0 “velho mundo” certamente desempenhard um papel importante no futuro da economia mundial, GILPIN, folurt, 0 dicofic da expttebsmo glatal Sa seononnor muudiol ma nets QZ. ha de dawina! fecnal, , 2004 TE wide CAPITULO o1To A estratégia econémica americana nn aoe» 4 e440 (cop 8 p.200-322) £m meados dos anos 80, a politica americana em relagdo a eco- nomia internacional mudou em importantes aspectos, Desde » im da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos vém dan. do apoio causa de uma economia internacional aberta ¢ inte. grada. Motivados por raz6es tanto econémicas quanto politicas, os dirigentes americanos acreditavam que um mundo aberto era do interesse dos Estados Unidos; consideravam tambérn que uma fronomia internacional integrada (excluindo, naturalmente, oco sovietico) fortaleceria a unidade aliada. A partir do gover. no Reagan (1981-1989), os Estados Unidos passaraim a adotar uma politica econémica externa muito mais paroquial e nacio. nalista, trocando sua politica comercial multilateral Por uma ca de miltiplas direg6es Nos primeitos anos, seguindo sus politica mull tido incon sistema comercial aberto nio-discriminatério, a concretizar-se mediante negociagées mul, erais no Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). Com ionada, toda uma série de diferen- ilateral, regional e multilateral) tem sido utili- Zada para perseguir 0s objetivos econdmicos e politicos do Pats. Esta hist6rica mudanga sobreveio por causa da crescents preo- 304 ROBERT GILPIN cupacio com 0 destin Pasa americano, 0 déficit comer. cial com 0 Japao, que aumentou ao longo da década de 1980, eg “aprofundamento” da regionalizacio na Europa Ocidental, En. tretanto, o desgaste do apoio da opiniaio pablica a liberalizagia do comércio ¢ as conseqiiéncias negativas da contra-revolugig econédmica promovida pelo presidente Reagan também foram fatores importantes nessa radian da politica econdmi. ca americana. A ConTRra-REVOLUCAO ECONOMICA DE REAGAN Considerando-se detentor de um mandato para revigorar a econo- mia americana, Ronald Reagan assumiu a presidéncia dos Estados Unidos em janeiro de 1981. O novo presidente QED como causas dos problemas econémicos americanos o tamanho despro- porcional do governo federal, um nivel excessivamente alto de impostos ¢ um Estado previdencisrio inflado quedebilitara a inicia- tivaprivada e o mercado livre. Reagan e outros conservadores acredi- tavam que a mio pesada do governo federal estava destruindo incentivo a trabalhar, poupar e investir. A solugao para tais proble- mas, segundo eles, consistiria em diminuir o tamanho do governo federal, reduzir drasticamente os impostos e permitir que os mer- cados fancionassem. Sob a bandeira de uma nova teoria econdmi- ca—a economia “QED —, que prometia mais crescimento e menos governo, o governo Reagan, apoiado por um Congreso de maioria democrata, reduziu consideravelmente o imposto de ren- da.em 1981, Infelizmente, o presidente e o Congreso nio reduziram para- lelamente os gastos do governo, chegando inclusive a aumentar substancialmente os gastos militares. Esta combinagio de acentua- do corte de impostos e permanéncia de um nivel alto de gastos fe- (© DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL 305 derais gerou um estimulo macigo economia americana e também agrande parte da economia mundial. Do outono de 1982.0 colap- so das bolsas de valores em outubro de 1987, a economia america. na. outras economias desfrutaram do boom do “milagre econémico reaganiano”, Logo ficaria evidente, no entanto, que a acentuada Qeudangs na politica fiscal americana gerara um pesado legado de “déficits gemeos” (déficit orcamentério e comercial) que continuaria distorcendo as economias americana e mundial nas décadas de 1980 ¢ 1990. Prevendo o gigantesco déficit orcamentario federal ameri- cano € a conseqitente necessidade de finranciar a divida daf re sultante, os mercados financeiros americano e global reagiram. Os @D americanos aumentaram muito, o que resultou num grande influxo de capitais. A demanda de délares dos investido. res estrangeiros elevou o valor da moeda americana, e com sua substancial valorizacao as exportag&es americanas cafram verti- sinosamente, enquanto as importagSes aumentavam acentuada. mente. Como indica 0 grafico 8.1, a balanga comercial e de Pagamentos internacionais dos Estados Unidos deteriorou-se de mancira alarmante, ¢ em meados dos anos 80 0 déficit comercial anual alcangou a cifta entio inacreditivel de cerca de US$ 170 Sithses; 0 QTD am cricano com oJapio representa % uma Parte substancial do déficit total, exacerbando a fricgao ccondmica com aquele pais. Precisando tomar pesados emprés. fimos no exterior para financiar seu déficit orcamentirio, os Estados Unidos comegaram a fazé-lo basicamente junto ao Ja- Pio. No meado da década de 1980, esta pratica de pesados em- Préstimos tomados no exterior fez com que os Estados Unidos deixassem de ser o maior credor mundial para transformarce 20 QED Durante o mesmo Periodo, 0 Japio {omou a lideranga dos Estados Unidos como principal pais cre- dor, desalojando também a Alemanha Ocidental da posicao de Principal parceiro éconémico da América. 306 ROBERT GILPIN ‘ines do déarae Ties dtacey 20 20 ete deta 10 ‘dacsquerda) Grifico 8.1 Deficit de conta corrente e posicio do investimento internacional Iiquido. A partir do momento em que os Estados Unidos comegarain amanter grandes déficits de conta corrente no inicio da década de 1980, a posicao de investimentos liquidos declinou. Nota: Posigao de investimentos Iiquidos a valores atuais. Fonte: U.S. Council of Economic Advisors. Tis desdobramentos foram de enorme vantagem econdmica Para os consumidores americanos, a comunidade financeira dos Estados Unidos e para os pafses que exportavam para os EUA, par ticularmente a Alemanha Ocidental, 0 Japao e os mercados emer. gentes do Leste Asiético, Entretanto, a cotagio alta do d revelou-se desastrosa para amplos setores da indtistria anfericana Embora outras economias prosperassem com a mudanga para uma estratégia agressiva de crescimento movido a exportagGes, aindis- tria americana perdeu mercados nos préprios Estados Unidos também no resto do mundo. Como persistisse o déficit comercial do pais, aumentou sempre mais 0 ntimero de americanos que se (© DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL 307 preocupavam com a perda de mercados, a Qa ca economia ¢ a perda de empregos, Embora a contra-revolugio reaganiana ¢ 0 triunfo dos adeptos da promogio da oferta efetiva- mente houvesse resultado num empenho sistemitico de enfrentar arelativa decadéncia econdmica da América, muitos acreditam que as irresponsiveis politicas fiscais do governo nao s6 aceleraram esse declinio como deram origem a poderosas forcas protecionistas. ‘MUDANGA PARA UMA POLITICA CAMBIAL ATIVISTA Inicialmente, o governo Reagan mostrou-se indiferente 3s crescen- tes preocupac6es com a sobrevalorizagio e a volatilidade do dolar. ‘Aos americanos dizia-se que a valorizagio do délar era um sinal de forga econémica. As queixas de governos estrangeiros de que as flutuagGes incontroladas do délar estavam provocando o caos nos mercados eram sumariamente descartadas. Nas palavras do subse- eretirio do Tesouro Beryl Sprinkel, “o délar pode ser nosso, mas o problema € deles”. Esta politica de TI ou clou no entanto radicalmente, em meados dos anos 80, com o aumento do GHEEEEED ¢ 2 intensiticacio dos sentimentos protecio- nistas no Congreso. Em reacioa estes desdobramentos, 0 gover- no Reagan comegou a pressionar os parceiros comerciais dos Estados Unidos a valorizarem suas moedas para diminuir seus superavits comerciais com os Estados Unidos, Durante 0 segundo governo Reagan, 0 secretirio do Tesouro, James Baker, mudou a politica econédmica externa do pais, paraQBo déficit comercial. O \prin- al objetivo do novo empenho americano de lograr uma “coor denagao internacional de politicas” ra, mais uma vez, oj cujos superavits comercial e de pagamentos com os Estados Unidos e o testo do mundo eram enormes. Como 0 délar quase dobrara de cotacio frente ao iene japonés ¢ Sutras moedas entre 1980 ¢ 1985, 0 governo Reagan desejava urna erat ROBERT GILPIN substancial valorizacio dessas moedas, especialmente o iene. As pres. ses americanas sobre seus parceiros comerciais levaram & Conf. réncia de@X22 de setembro de 1985), na qual os Estados Unidos na pritica forgaram 0 Japio a promover uma substancial e dolorosa valorizacio do iene. Embora’ altura da conferéncia a cotacio do délar Jdhouvesse cafdo consideravelmente em relagdoaseu nivel maisalto, os Estados Unidos queriam diminuf-la ainda mais. Em troca do com. promisso japonés de valorizar o iene, os Estados Unidos concorda- ram em reduzir seu gigantesco QS EUMENMD federal. 4 subseqtiente valorizacao do iene (endaka) em cerca de 30% teve um profundo impacto na economia e na politica econdmica do Japao. O Ministério das Finangas passoua adotar uma politica monetétia mais frouxa e aumentou a emisso de moeda para fazer frente aos efeitos de retragao da valorizacio; o resultado foi a CTD” japo- nesa ¢ a crise financeira do inicio da década de 1990, da qual a econo- ‘mia japonesa ainda nio se havia recuperadono infcio de 1999. Aendaka também significou uma considersvel retragio da competitividade da inddstria japonesa, que por sua vez levou a uma séria reorientagioda politica econémica externa do Japio para a Asia do Pacifico, Mas a valorizagio do iene nao surtiu 0 desejado efeito no déficit comercial americano, em parte porque os Estados Unidos nfo cumpriram sua promessa de climinar 0 gigantesco déficit orcamentério federal. O Acordo de Plaza nao pés fim as disputas entre as grandes poténcias econémicas em matéria de cambio, No infcio de 1987, 0 dolar cafra consideravelmente em relagio ao pique de 1985. Certos dirigentes americanos queriam que caisse ainda mais para benefi- ciar as exportagdes americanas, a0 passo que o Japio € outros gran- des exportadores desejavam estabilizar seu valor. Para retolver as divergéncias em torno das questes monetérias e determinar uma faixa de valores cambiais aceitaveis para todos, as principais potén- cias econémicas promoveram uma conferéncia internacional no Louvre, em Paris, em fevereiro de 1987. Nesta conferéncia, os res- pectivos dirigentes decidiram QAM em faixas nao re- veladas publicamente (para nao estimular a especulacio com divisas) (© DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL 309 epromovera estabilidade monetétia. Isto exigiria substanciais com~ pras de délar pelos bancos centrais alemio e japonés, 0 que teve conseqténcias negativas para ambas as economias. Mais uma vez, entretanto, as grandes economias deixaram de promover politicas macroecon6micas de base capazes de resolver suas dificuldades econdmicas. Os Estados Unidos nio reduziram seu déficit orca mentirio suficientemente e a Alemanha Ocidental e o Japio no estimularam adequadamente suas economias, A altura de outubro do mesmo ano, 0 Acordo do Louvre co- mesara a entrar em colapso. O secretério Baker, empenhado em coordenar as iniciativas para estabilizar as taxas de cimbio, criticou publicamente o Bundesbank pela adogdo de um aumento pequeno as taxas de juros ¢ declarou que a iniciativa alema contrariava o Acordo. O Bundesbank reagiu com forte ressentimento a critica de Baker, © em surma disse ao secretério do Tesouro americano que “fosse para o inferno”. Este flagrante desastre em matéria de coo, Peragao conturbou os mercados ¢ constituiu o fator que precipitou o«tash das bolsas de valores em outubro de 1987. Depois desse fias- 60,05 responséveis pelas politicas financeiras tornaram.-se mais caur- telosos em suas declaragées sobre taxas de cimbio, No inicio de 1991, os bancos centrais das principais economias comegaram dis. cretamente a coordenar suas intervengGes no mercado, para restrin~ Sir as flutuacSes cambiais e manter as moedas dentro de uma faa Previamente definida. Assim foi que teve origem 0 Qi mone- tirio internacional de @IMMD de referencia. Do MULTILATERALISMO AO MULTIDIRECIONAMENTO No dia 23 de setembro de 1985, um dia apés Acordo de Pha, o Presidente Reagan criticou as priticas comerciais “desleais” de ou, ‘fs pafses, anunciando uma importante mudanga na po cial americana. Como no caso do Acordo de Plaza, 0 objetivo desta 310 ROBERT GILPIN mudanga era reduzir 0 desequilibrio comercial americano e com isto neutralizar crescentes exigencias de protecio comercialno Congres. so. No fim dos anos 70 e no inicio dos 80 verificara-se uma prolife rago de medidas protecionistas, a mais importante delas a imposicig em 1981 de “restrigGes voluntirias de exportagio” as vendas de auto. Prsvcis 5 japoneses para os Estados Unidos. Se essas reagSes protecio. nistas as importagSes nao afetaram significativamente o compromisso americano com a liberalizacio multilateral do comércio, a nova poli. tica comercial do governo Reagan efetivamente assinalou uma ma. danga importante no empenho dos Estados Unidos em relagio a um regime liberal de comércio. Esta nova politica comercial, que seria mais vigorosamente promovida pelo governo Bush (1989-1993) e ainda mais agressivamente pelo governo Clinton, veio a ser designada de varias maneiras: unilateralismo agressivo, GATT-plus, politica de resultados ¢ comércio controlado. A palavra “multidirecionamen- 10” (multi track) & mais apropriada por se ter verificado uma mudanga do forte compromisso dos Estados Unidos com uma politica eco- némica baseada exclusivamente nos principios do multilateralismo da no-discriminagao (€ verdade que com freqiientes recuos), ado do no pés-guerra, para uma combinacio intencional comerciais multilatcrais, unilaterais e regionais. Essas sido usadas para proteger mercados americanos ou ampliar 0 acesso de empresas americanas a mercados estrangeiros, especialmente no Japio e em outros paises do Leste Asidtico. ‘Varios motivos explicam esta decisiva e em grande medida im- prevista QED dc una GED multilateral para ou- tra multidirecionada. Apesar das afirmag6es do governo Reagan de que tudo corria bem, as pressées em favor dc Qa continuavam a ganhar forga no Congresso e em importantes cli telas republicanas, 8 medida que os gigantescos déficits comerciais anuais americanos persistiam. O governo admitia com relutancia que jé nao podia ignorar as crescentes press6es protecionistas. Alem disso, tanto o ptiblico quanto o governo preocupavam-se seriamente com: QUID csc se deuce opto pareci joe © DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL au com regras diferentes e mesmo tentar destruir uma apés outra as inddistrias americanas de alta tecnologia. Segundo os revisionistas, oJapio promovia algo que o consultor de negécios Peter Drucker definiu como politicas comerciais “adversérias”, na medida em que exportava produtos manufaturados mas nio os importava. Aumen- tava cada vez mais o mimero de criticos do governo segundo os quais adesindustrializagao da economia americana ¢ a erosio da proemi- néncia tecnol6gica americana tinham de ser contidas, @ A politica comercial mulkidirecionada apresenta varios compo- nentes importantes. Um deles tem sido um compromisso constant embora consideravelmente reduzido, com o regime come! multilateral, compromisso que se tornou manifesto no forte em- penho do governo Reagan de langar uma nova rodada de negocia- ses comerciais no contexto do GATT, apesar da oposigao da Comunidade Européia. A Rodada Uruguai que daf resultou, es- tendendo-se por oito anos de negociagdes extremamente diffceis, reduziu as barreiras comerciais ¢ levou a criagio da Organizagio Mundial do Comércio @B). Um outro vetor dessa estratégia comercial — conhecida como “@ Siam, comér- cio controlado ou “comércio de resultados” — consistia ern tentar forcar outros pafses, especialmente off a abrir seus mercados a produtos ¢ IDE americanos. Um terceiro componente vinha a ser a mudanga hist6rica em diregio ao continentalismo norte-ameri- cano, inicialmente com o Acordo de Livre Comércio Estados Uni- dos-Canadé ¢ posteriormente na forma do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). POLitica COMERCIAL CONTROLADA OU ORIENTADA PARA OS RESULTADOS Oabandono do incondicional compromisso dos Estados Unidos com © multilateralismo adotado no pés-guerra e a adogio de um novo ne ROBERT GILPIN compromisso com uma politica de comércio controlado ou de re. sultados foi o componente mais polémico da nova orientagio de mércio multidirecionado. O (HB com seu enorme superéy; comercial e seu comportamento supostamente desleal, foi o princi. pal QEEEEEED. Durante muitos anos, os Estados Unidos se haviam empenhado unilateralmente no sentido de restringir impor. tages japonesas; a nova politica vinha complementar este empenho protecionista, enquanto os Estados Unidos igualmente aumentavam as press6es para que 0 Japio abrisse seus mercados a importagSes americanas. Anteriormente, os Estados Unidos vinham forgando 9 Japio a aceitarrestrigdes “voluntiias” de exportacio (RVES); anova politica comercial de resultados podia agora ser caracterizada como expansio voluntéria de importag6es. Embora 0 comércio america. no-japonés da década de 1980 respondesse por percentagem peque- nado comércio mundial total, 0s constantes conflitos comerciais entre as duas maiores economias ameagavam perturbar toda a economia mundial e efetivamente imprimiram marca indelével nas politicas econémicas de ambos os pafses. A mudanga americana para uma politica comercial multidirecionada e a “asianizago” da politica eco- n6mica japonesa foram pelo menos em parte conseqiiéncia do con- fronto econdmico entre os dois paises. O primeiro passo importante no sentido da Qi do merca- do japonés foram as negociagGes Voltadas para o Mercado e Seletivas por Setor (MOSS — Market-Oriented, Sector Selective) iniciadas no meado dos anos 80. Os Estados Unidos ameacaram implicitamen- te elevar barreiras comerciais contra exportagées japonesas, se 0 Ja Pioniio concordasse em abrir virios etoresfechados de sua eronomia Para negécios americanos, entre eles telecomunicagées, microele- trénica, equipamentos médicos e produtos firmmacéuticos ¢ produ- tos florestais. A questio mais importante nas negociagées foram os (GRD chips de meméria de computadores). Até o meio da década de 1980, quando os fabricantes japoneses puseram fim 20 dominio americano no terreno dos chips de meméria, os Estados (© DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL 33 Unidos detinham uma lideranga consideravel na fabricaggo de semicondutores. Os produtores americanos de chips alegavam que os japoneses vendiam abaixo dos custos de produgio Gap: dispunham de um mercado interno protegido; fariosos com a perda de sua parte no mercado, os fabricantes comecaram a pressionar o governo por ‘@EEEEEE 20 mercado japonés. Muitos america. nos acreditavam que maior dependéncia de fabricantes estrangeiros de chips de meméria constituiia uma ameaca & seguranca do pafs, Esta preocupacio injustficada foi alimentada pelo livro The Japan That Can Say No [O Japao que pode dizer nio] (1991), de Shintaro Ishihara, que ameacava com a suspensio da exportagio de chips para os Estados Unidos. Finalmente os Estados Unidos dobraram a resisténcia japonesa €0Acordo de Semicondutores foi firmado no inicio do outono de 1986, por cinco anos. Ao contritio do que sucedia no GATT e na anterior politica comercial americana do pés-guerra, este acordo efetivamente cartelizava 0 mercado mundial de determinado pro- duto. A Comunidade Européia, furiosa com esta partilha bilateral do mercado ¢ a natureza discriminat6ria do acordo, opds-se viva- mente aos Estados Unidos na questio, e uma decisio contriria 208 BUA veio a ser adotada pelo GATT. Além disso, a0 elevar o prego dos chips, 0 acordo prejudicou tanto os consumidores quanto os fabricantes de computadores americanos. Entre as caracteristicas mais insOlitas desta complexa negociagio estava a exiggncia ameri cana de que © governo japonés, nao obstante sua forte oposigao, aceitasse um acordo de participagio de mercado (naturalmente ile. gal segundo as regras do GATT). Numa carta “secreta”, os japone. ses concordaram em que 20% de seu mercado constituiriam uma “meta” razoavel para a inddstria americana, O governo Reagan aressou-se entio a divulgar esta concessio, Enquanto os japone- ses consideravam © objetivo dos 20% como uma “meta razoivel”, os Estados Unidos encaravam-no como algo obrigatério. Esta dic vergéncia tornar-se-ia fonte de hostilidade miitua ainda mais in tensa entre os dois p: a4 ROBERT GILPIN Embora os japoneses alegassem posteriormente que haviam cumprido a meta quantitativa de participagio americana no merea. do japonés de chips, os Estados Unidos discordaram, e em 1987, recorrendo a Segio 301 da Lei de Comércio de 1974, impuseram a0 Japo gravames punitivos de US$ 300 milhées. Em 1991, 0 acon do foi renegociado, mantendo-se a meta de 20%. A maioria dos economistas americanos, considerando o , passaram a criticar globalmente © conceito de comércio controlado. Por outro lado, Laura Tyson, primeira presidenta do Conselho de Assessores Eco. némicos do presidente Clinton, defendeu o acordo, para desalento de muitos colegas economistas. Em seu livro Who's Bashing Whom? [Quem esté atacando quem?] (1992), Tyson afirma que o pacto foi “um sucesso relativo”, pois estabilizou a participagio dos Estados Unidos no mercado mundial e pode ter langado as bases para o soerguimento do QED Assim foi que teve infcio entre os €conomistas americanos a controvérsia sobre © movimento do pais em direio ao comércio controlado. Em 1988, os Estados Unidos deram um novo passo importante em diregio ao comércio controlado. Na Seco 301 da Lei do Co- mércio de 1974, o Congreso autorizavao representante comercial dos EUA a tornar QED (especialmente agdes antidumping ¢ imposigio de taxas alfandegirias compensat6rias) contra os paf- ses considerados parceiros desleais no comércio. Na pratica, a Se- ‘$40 301 foi usada o mais das vezes para forcar parceiros comerciai dos Estados Unidos a accitar RVEs para evitar retaliagBes america- nas. A Lei Geral de Comércio e Concorréncia (Omnibus Trade and Competition Act), de 1988, estendia a aplicagao da Secao 301 a um nimero muito maior de parceiros supostamente desleais. Esta al- teracdo, que viria a ficar conhecida como “Super 301”, instrufa 0 Tepresentante comercial americano a publicar anualmente uma re- lagio de parceiros desleais ¢ a negociar maneiras de elirninar 0 com- Portamento indesejado sem a participacio dos paises envolvidos. (© DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL 315 Se determinado pais acusado de praticas comerciais desleais nao atendesse as exigencias americanas, o representante comercial po- deria tomar medidas de retaliagio contra as importag6es do acusado nos Estados Unidos. Quando o representante comercial america no denunciava certos pafses, outros paises menores capitulavam antes mesmo da publicagao da lista; aos notérios pecados da CEE em 4reas como a politica agricola, entretanto, fazia-se convenien- temente vista grossa. Embora o Brasil e a india também viessem em dado momento a ser denunciados como parceiros desleais, era evidente que o principal alvo da Super 301 era 0 Japio. O seguinte passo importante foi a Iniciativa de Impedimentos Estruturais (IIE) de 1989. Como no caso das negociagses MOSS. (voltadas para o mercado e seletivas por setor), o objetivo da ITE era “identificar e resolver problemas estruturais existentes em ambos os paises e que criam impedimentos ao comércio e a0 ajuste da balanca depagamentos”. Pelo menosem principio, a HE constituia um avango em relacio 1 MOSS, pois as imperfeig6es de ambos os pafses po- liam ser examinadas. A TIE também ampliava o alcance das negoci- agées, ja que tratava explicitamente de questdes econémicas internas, E com efeitos taxas de poupanga tanto do Japao quanto dos Estados. Unidos foram discutidas na mesa de negociagbes. Na pritica, entre- tanto, as conversac6es da TIE revelaram-se mais uma tentativa dos Estados 'Jnidos de mudar as politicas econémicas do Japio.e até mes- mopriticas do mundo dos negécios privados japoneses. O Japio, na- turalmente, consideravaas exigéncias americanas descabidas. Para os Japoneses, a causa do desequilibrio comercial e de pagamentos entre 0s dois pafses estava na politica macroeconémica americana e nos fn- dices extraordinariamente baixos de poupanga nos EUA. O govemo Bush relutava em admitir esses pontos ¢ ainda mais em aumentar impostos ou cortar programas econémicos populares. Em outras Palavras, os Estados Unidos culpavam pel QTD com oJapio exclusivamente as politicas japonesas e as caracteristicas es~ truturais da economia japonesa; osjaponeses naturalmente nfoacei- 316 ROBERT GILPIN tavam esta visio do problema, Depois de longas e azedas negocia Ges, as conversagées conclufram com resultados minimos, Pelo fim da década de 1980, a economia americana estava em Fecessio. As politicas econémicas voltadas paraa oferta adotadas pelo governo Reagan nio s6 haviam arrasado a balanga comercial amerj. cana como nao haviam elevado os indices de poupanga nacional ¢ investimento interno. Na realidade, tanto 0s niveis de poupanca ‘quanto os investimentos internos haviam diminu‘do, e a divida ng_ ional clevara-se a niveis inéditos. Enquanto isto, a poupanga no Ja- Pio mantivera-se num patamar de cerca de 20% do PNB, chegando alguns observadores a estimar que tenha alcancado 30%. A diminui- ‘sé0 da poupanga americana foi em parte compensada por maior grat de empréstimos tomados no exterior; pelo fim da era Reagan, a divi- da americana com outros pafses aumentara de aproximadamente US$ 1 wilhdo para US$ 4 trilhdes. No momento em que escrevo, adivida externa dos Estados Unidos continua a aumentar. @ 0 relativo declinio econdmico dos Estados Unidos, da posicéo de principal credor para ade principal devedor, ¢ a preocupaciocom a desindustrializagio acabaram por tornar-se questées politicas sé- tias. Tais @SEEREGED cristalizaram-se num livro que fez muito sucesso, A ascensio e queda das grandes poténcias, publicado por Paul Kennedy em 1987. Sustentando que os Estados Unidos haviam’ entrado nama etapa eID co pant pe rial no século XVII ¢ a Gri-Bretanha no infcio do século XX), 0 livro foi publicado sem alarde no momento do crash das bolsas em outubrode 1987. Muito embora nao debatesse questes subjacentes como 0 derlinio do crescimento da QED c a consideravel queda da poupanga nacional, a obra teve enorme impacto no pen- samento americano. Aumentava sempre mais 0 némero dos ame- ricanos que se conscientizavam de que RIMM no estava dando certo. A medida que aumentavam as importagées de produtos ja- Poneses ¢os trabalhadores americanos perdiam seus empregos, f- cava patente que algo estava fundamentalmente errado na economia. © DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL 317 O sucessor do presidente Reagan, George Bush, s6 fez esfor- 0s espordicos para cuidar do problemético legado de algo a que ele proprio se referira certa vez como a economia “vodu” adotada por Reagan para dar énfase & oferta. Descumprindo sua promessa de campanha elcitoral de no aumentar impostos, fez. com o Con gresso de maioria oposicionista (democrata) um acordo para clevar impostos ¢ reduzir gastos, dando in: & gradual eliminagao do déficit orgamentério federal. Foi uma iniciativa necessdriae cora- josa, mas Viria a ser também um fator. decisivo na derrota de Bush para William Clinton em 1992. Ocupado em tirar proveito politico de sua vit6ria sobre Saddam. Hussein, o presidente Bush ignorouw ‘os problemas da economia, zombando “dessa histéria de visio”. GERD 41 fez campanha na base de Promessas de corte de im- Postos, reducao do déficit orgamentério e estimulo da economia) afirmava ter um projeto para a renovacio econdmica americana, e seu lema de campanha — QTD eu-the a vit6ria. Como Reagan, Clinton assumiu munido de uma estratégia visiondria e 0 objetivo declarado de alcangar um consenso nacional que levasse o pafs a reforma e ao rejuvenescimento. A rodada Uruguai e a Organizagao Mundial do Comércio (OMC) No infcio da década de 1980, quando o governo Reagan langou a chamada Rodada Uruguai de negociagées no GATT, o apoio a0 li- ve comércio nos Estados Unidos vinha sendo minado pelo gigan~ tesco déficit comercial do pais e pelacrescente concorréncia do Japio ¢ do Leste Asigtico em geral. O governo americano desejava usar a Rodada Uruguai para forjar uma nova coalizio nacional em favor de maior /A agenda, determinada em gran- de medida pelos Estados Unidos, destinava-se a desperiar o inte. resse do setor agricola americano, das empresas de servicos americanas, em constante expansio, especialmente na comunida. de financeira, e dos setores — de alta tecnologia e outros —- dese. 318 ROBERT GILPIN josos de proteger direitos de propriedade intelectual; globalmente, estas areas nao haviam sido cobertas anteriormente pelo GATT, Sug inclusio na proposta americana de novas negociac6es refletia g mudanga, ocorrida na economia americana (e em outros paises in dustrializados), de uma atividade baseada essencialmente em seto res manufatureiros tradicionais para uma economia de ali tecnologia ¢ apoiada eminentemente nos servigos. Os objetivos da rodada eram extraordinariamente ambiciosos; além de GREED sperava-se que as negociagdes formulassem novas regras para resolver questées como subsidios de exportacio, procedimentos de solugio de conflitos e comércio de téxteis. E com efeito, durante os oito anos de intensas € nao raro conturbadas ne- gociagées, a Rodada Uruguai veio a resolver uma série de questies comerciais, além de resultar na criagio da OMC. Os Estados Unidos deram a partida na Rodada Uruguai apesar de forte oposi¢ao dos europeus ¢ de muitos PMDs. Os europeus tentavam defender suas politicas agricolas, concentrando sua atencio na unificaco econémica € politica da Comunidade Européia. Os PMDs mostravam-se extremamente desconfiados por causa da incl sio na agenda dos servicos, dos investimentos diretos estrangeiros ¢ dos direitos de propriedade intelectual. Entretanto, tanto os euro- Peus quanto os PMDs, temendo que os Estados Unidos recuassem para uma atitude protecionista, acabaram por aceitar com relutancia (ED 5 peravam que um mecanismo muti- lateral aperfeigoado de resolugio de conflitos e outras reformas vies- sem a reduzir a crescente tendéncia americana para o unilateralismo comercial. Os Estados Unidos efetivamente contaram cof apoio moderado do Japio e do Grupo de Cairns de exportadores agricolas, ambos esperangosos de obter vantagens com as negociagoes. Depois de consideravel hesitagio, o governo Clinton decidiu apoiar a ratificagio da Ata Final da Rodada Uruguai, assinada por 109 pafses em Marrakech, no Marrocos, em 15 de abril de 1994. Este importante acordo, que entrou em vigor em 1° de janeiro de (© DESAMO DO CAPITALISMO GLOBAL 319 @B criow a Organizagio Mundial do Comércio QD, incor. porando e expandindo o regime comercial do GATT: Na opiniao de John Jackson, um dos mais destacados especialistas em legisla. gio comercial, a Rodada Uruguaide negociag6es indubitavelmente foia mais ampla jé promovida por uma organizacdo internacional, (O documento era gigantesco, com 22.000 paginas!) Embora na tenha alcangado muitos dos objetivos almejados pelos Estados Unidos, © acordo constitufa um feito impressionante. 0 Acordo de Livre Comércio da América do Norte A-ctiagio em 1994 do Acordo de Livre Comércio da América do Norte @D. envolvendoos Estados Unidos, o Canadé eo México, uutra manifestagio da mudanga de politica americana, do multilateralismo em ditecio iniciativas multidirecionadas de politica econdmica externa. Os Estados Unidos decidiram apoiar o Nafta, Pelomenos inicialmente, para aumentar seu poder de barganha frente 4 Unido Européia; mais adiante, 0 regionalismo norte-americano ‘ornar-se-ia um fim em simesmo. O Nafta também significava uma reversio da tradicional politica canadense e mexicana de distan- ciamento do vizinho gigante (¢ nem sempre affvel). Embora essas radicais mudangas tenham surgido de rafzes econdmicas, fatores Politicos também foram importantes paraas decisbes dos trés pafses. © GEERT rn cirecio 20 regionalismo norte-americe, no fora o Acordo de Livre Comércio (Free Trade Agreement, ou FTA) entre os Estados Unidos € 0 Canadé, em 1988. No perfodo Pés-guerra, poderosas forcas de mercado haviam transformado as ‘conomias americana e canadense, intensificando seus vinculos reciprocos. O comércio e os investimentos transfronteirigos inten sificados tornaram-se particularmente importantes para a econo- canadense. O FTA surgiu da resultante reorientago da éncia hist6rica da politica econémica canadense de sua posi- s#o politica em relagio ao grande vizinho do sul. A partir do fim do 320 ROBERT GILPIN século XIX, o Canadé adotara uma “Politica Nacional” cuja final; dade explicita era construir uma base industrial e uma economig nacional independentes por tras de altas barreiras tarifarias, politi- ca que nao levou aos resultados esperados. Pelo contrétio, as tarifis canadenses estimularam as empresas americanas a investip pesadamente no Canadé a criar toda uma economia de implanta. so local de fabricas para atender ao pequeno mercado canadense, com efeito, mais de 80% do IDE no Canadé tem sido american) © exemplo mais destacado € 0 setor automobilfstico, que se tor. nou estreitamente integrado nas duas economias ap6s 0 Pacto Au. tomobilistico Americano-Canadense de 1965, A partir do pacto automobilistico e da vinculagéo dos délar. americano e canadense na década de 1980, Benen nied entre os dois pafses acelerou-se com rapidez. O IDE canadense na €conomia americana aumentou consideravelmente. A altura de 1985, mais de 70% das Qa romavam para os Estados Unidos, e mais de 70% das importag6es provinham dos EUA. Além disso, quase 50% dessas exportacSes e importac&es sio efetuadas na forma de transferéncias internas de multinacionais americanas ¢ canadenses. Desse modo, 0 comércio e o IDE estrei- taram muito 0s lagos entre as duas economias. Era em parte para conter a onda de protecionismo interno provocada pelo aumento alarmante do déficit comercial americano que os Estados Unidos queriam 0 Acordo de Livre Comé: (FTA). O governo americano pretendia também fortalecer a coali Zio de livre comércio que se esbogava entre indtistrias de servigo, empresas de alta tecnologia e corporagées multinacionais, além de aumentar a pressio sobre outros paises, especialmente d Europa Ocidental, para que dessem inicio a Rodada Uruguai de negoci ‘ses comerciais. O FTA (paralelamente a acordos comerci nados pelos Estados Unidos com Israel e a subseqiiente ampliagio das atribuig6es da Apec pelo governo Clinton) constitufa uma “ameaga estratégica”, uma adverténcia aos outros patses de que os Estados Unidos dispunham de outras alternativas além da Rodada (© DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL 321 Uruguai. A ameaca aparentemente teve éxito quando a rodada co- megou, em setembro de 1986, sendo negociada com sucesso. OAcordo de Livre Comercio entre os Estados Unidos e @ Ca- nada continha certos ingredientes importantes que acelerariam as forsas da integracio econdmica entre os dois patses. Alémde dim: nuir as tarifas em geral e resolver questées relacionadas aos inves~ timentos, ele continha importantes procedimentos novos para a solugao de disputas econémicas, Estes passos na direcio de maior interdependéncia dos mercados foram significativos mas limitados, eoacordo no foi capaz de enfrentar adequadamente a questio dos REED 20, t:c1s © agricultura Por in sistencia do Canada, 0 acordo deixava de fora também as questes cultarais. Entretanto, este acordo expandii muito a integragio de servigos e da produgao industrial na regiéo da América do Norte, abrindo caminho para o Nafta, A deciséo canadense de discutir o Nafta foi parte de uma mu- dance geral na QS ESNGIMD, que também inclufa o recuo do Estado previdencisrio e a redugio de tarifas elevadas e de outras restrigGes aos investimentos diretos estrangeiros (vale dizer, ame- ricanos). Tendo-se tornado ele préprio uma importante poténcia industrial, o Canads sentia-se suficientemente seguro para aderir a um acordo regional. Passara igualmente a preocupar-se muito com © aumento do sentimento protecionista nos Estados Unidos e com a decisdo da Comunidade Européia de acelerar a eriagio de ur mercado énico. Além disso, os canadenses queriam o estabeleci. mento de um mecanismo quase-judicial de solucio de conflits, Para proteger seus produtores das decisées cada vez mais p earbitrarias dos responsaveis pelas politicas comerciais americanas, © Canadé esperava, ainda, aumentar sua competit sss0 segur0 20 gigantic QAM. 6 acc proper naria economia de escala as empresas canadenses, Embora certos criticos considerem que o Acordo de Livre Co- mércio da América do Norte (Naffa) teve origem na pretensio ery ROBERT GILPIN americana de QED cconomicamente seus vizinhos, foi o Méx co que deu inicio as negociagdes que levaram ao acordo. Por mot vos econdmicos e politicos proprios, os Estados Unidos ¢ 0 Canadg Teagiram favoravelmente 1 QED In iciadas em 1991 © concluidas com a assinatura de um tratado em 1993, as negocia. sécs tiveram importéncia hist6rica. Em alcance e em ambicio, 9 continentalismo norte-americano fica muito atrés do movimento pela unificacio econ6mica e politica da Europa, mas € considerivel © significado do Nafta para os trés paises envolvidos e para a eco- nomia mundial como um todo. Sobretudo, o Nafta assinalava o fim da forte oposigio dos Estados Unidos ao regionalismo econémico, A decisio mexicana de propor o Nafta envolvia muitos dos motivos que anteriormente levaram ao acordo americano-canaden se. As economias americana e mexicana também se haviam torna- do muito ligadas através do comércio e do investimento americana no México. A altura da assinatura do acordo, 70% do comércio mexicano dava-se com os Estados Unidos, e mais de 60% do IDE no México provinha de empresas americanas, Na realidade, CMNs americanas e de outras origens haviam instalado no lado mexicano do Rio Grande uma gigantesca zona industrial QD para Producdo ¢ montagem de componentes. jas havia muito mais em questio no México. Sob a lideranga de economistas ¢ tecnocratas de formagio americana, 0 pafs em- Preendera na década de 1980 um ambicioso programa de Qi econdmicas e politicas. Como as de caréter semelhante promovi- das em outros pafses latino-americanos, essas reformas voltadas para mercado haviam sido estimuladas pelas QED clos PMDs no inicio dos anos 80 e a conscientizagao de que a estratégia He subs- titui¢do de importacées fracassara. Os dirigentes mexicanos acre~ ditavam que a adesio ao Nafta garantiriaa manutengao das reformas (GERM - convenceria os investidores estrangeiros de que o governo mexicano nao voltaria atrés em seu compromisso de GED 2:1c\0011 20 comércio ¢ ao investi- © DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL 323 mento estrangeiro. Além disso, como acontecera com 0 Canad, 0 México tivera de enfrentar 0 protecionismo americano ¢ desejava certo grau de garantias de que este tipo de comportamento teria fim, Também como o Canad, 0 México temia as conseqiiéncias nega- da unificagio da Unio Européia e de sua ampliagio para as economias do Leste europeu. OGD por outro lado, daria aem- presas sediadas no México acesso privilegiado ao mercado ameri- cano, além de estimular empresas multinacionais japonesas ¢ de outros paises a investir no México, A.decisio americana de participar das negociagées do Nafta foi fortemente influenciada POQEETGEMD entre clas anecessi- dade de resolver a questo da imigracio ilegal de mexicanos para os Estados Unidos. Sem meias palavras, 08 Estados Unidos cram movidos pelo célculo muito simples de que nio tinham como es. tustrializagio da pobre e superpopulosa economia mexicana, Além disso, muitos acreditavam que, estével ¢ préspero,o Méxicg fomnar-se-ia um. melhor parceiro na luta contra as drogas, Essas motivagées politicas foram consideravelmente reforcadas por inte. Tesses econdmicos ¢ politicos regionais, particularmente no Texas, ¢Pelo crescente interesse de muitas empresas americanas em tnaion sesso nio apenas ao mercado mexicano, tradicionalmente fecha- do mas em expansio, como também & gigantesca Nos trés paises os grupos de interesses internos desempenharam um papel importante na formulacéo do acordo. Muitos reconheciam fe © Nafia (como todo acordo regional de comércio) teria impor, Kantes conseqiiéncias em matéria de distribuigdo de renda nos tres Patses, devendlo gerar vencedores mas também perdedores. Ui dos conflitos mais importantes centrava-se nas “regras de origem”; os 324 ROBERT GILPIN Setores industria téxtil e automobilistico envolveram-se ativamen. ‘¢ na batalla politica em torno dessas regras. Como o Nafta nao e,. tabeleceria uma tarifa externa comum semelhante & do Mercady Comum Europeu, era particularmente importante fixar regras de gestio da importagio de bens de outros paises para os do mercads norte-americano; foi intensa a polémica em tomo da natureza des. sas regras. Embora desejasse muito abrir 0 mercado mexicano seng Produtos, a indiistria automobilistica americana GED... México se tornasse uma plataforma de exportagio para os fabricar. tes japoneses ou coreanos. O México, por sua vez, queria Proteger sua inddstria de pegas automobilisticas e estimaular os investimentos de multinacionais japonesas e de outros paises. Os produtores cana. denses preocupavam-se com os prejuizos que adviriam de regras excessivamente restritivas. Os trés grandes setores da indéstria ame. ricana conseguiram concretizar muitos de seus objetivos, e os inte. esses mexicanos € canadenses obtiveram algumas salvaguardas, © CONFLITO PELA RATIFICAGAO DO NAFTA © Nafta provocou um intenso € acerbo debate tanto no México quanto nos Estados Unidos. Embora este debate se tenha focaliza- do nos termos do préprio acordo, manifestaram-se em ambos os Paises fortes reagées a liberalizagio do mercado ¢ a globalizagio) econdmica em geral. Os mexicanos contrérios a0 Nafta questiona- vam os riscos do capitalismo sem peias e a maior probabilidade de que o imperialismo americano ameagasse a independéncia mexi- cana. Os oponentes americanos, liderados por Ross Perot, temiam que 0 acordo levasse inevitavelmente a “mexicanizacio” do padrio de nivel americano. Nesse embate, Perot teve a adesfo de uma sur- Preendente alianca entre o sindicalismo organizado e organizagées ambientais, preocupadas com as conseqiiéncias da integracio entre um dos pafses mais democriticos ¢ economicamente avancados do mundo e um outro de salérios baixos ¢ subdesenvolvido, além de no-democratico, em sua opinido. Perot previ que 0 acordo cria- © DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL 325 sa um “gigantesco aspirator” de empresas americanas para terri- trio mexicano, para aproveitar a mio-de-obra barata e as regras ambientais frouxas; isto por sua vez levaria a perda de centenas de. hares de empregos americanos ¢ a uma queda abrupta dos sal4- rios. Os detratores americanos do Nafta nunca chegaram aexplicar muito bem como o México, uma economia cujo PNB era em 1993 de menos de 5% do PNB americano e cujas exportagSes para os Estados Unidos cram muito pequenas, poderia provocar uma tal reviravolta na economia americana, Inicialmente o governo Clinton hesitou em sua reagdo a essas ertticas ao tratado, mas acabou por apoid-loe sustentar que ele criaria centenas de milhares de empregos para os americanos. Nas pala- vras de um porta-voz do governo, 0 acordo criaria “empregos, empregos € mais empregos”. O governo tentou persuadir os ad. versirios da idéia forcando México a aceitar dois acordos colaterais tratando de padrdes trabalhistas e protegio ambiental, mas os ata. ques a0 Nafta continuaram. A persistente oposicio dos sindicatos, ambientalistas ¢ outros setores nos Estados Unidos deve-se nig apenas a duvidosa aplicagao dos preceitos trabalhistas e ambientais dos acordos colaterais como a preocupacdo com questdes mais amplas da globalizacio econémica e seus alegados efeitos negativos em matéria de empregos, salérios e meio ambiente. Os opositores do Nafta consideram que a globalizacéo funciona em detrimento dos trabalhadores americanos porque aumenta a importagdo de Produtos ¢ a exportacio de empregos. EFEITOS DO NAFTA © GEREN ao tratado era liberalizar o comércio pro-, ‘iar o investimento direto estrangeiro em todo o continente nor-@ americano. O acordo previa um periodo de dez anos para a nagio da maioria das barreiras comerciais sobre produtos in S} entre os setores incluidos estavam os automéveis, as autopecas € os téxteis. As barreiras sobre a maioria dos produtos ms ROBERT GILPIN ¢liminadas a0 longo de um perfodo de quinze anos, io das negociagées o México adotava barreiras comer, Gis mais elevadas que 05 Estados Unidos, estes itens do acordy wam mais os EUA que 0 México. Muito mais polémic, inagio de barreiras 20 IDE; as empresas seria asseguradg trtumento igual ao das empresas nacionais do pafs em questi, sendo eliminadas as exigéncias relativas ao desempenho. O acordg ‘também previa a liberalizacio dos IID das tcleco. tunicagBes e outros mercados de servigos. Foram estabelecidos um necanismo de resolucdo de conflitos e salvaguardas para a proprie. dade intelectual. Com o acordo, a regionalizagio dos servicos e da producto fo; aceleada em alguns setores-chave. O fluxo de pecas de fabricagéo americana para o México, a montagem do produto final no Méxieo eacomercializagao do produto composto nos Estados Unidos e em outros pafses representaram um considerivel estimulo a regio- nilzagio da producio, especialmente nos setores de automéveis, cletbnica e téxteis. O maior esforgo no sentido da integracio fisica do continente, pelo desenvolvimento de sistemas de transporte ‘tansnacional, constitui um notével exemplo dessa reestruturacio da economia continental. Historicamente, o sistema ferrovidrio cana- dense cruzava 0 pafs no sentido leste-oeste, para unificar sta econo- mie sua organizacao politica. Desde a criagio do Nafia, no entanto, 4 Canadian National Railway comprou a Illinois Central para criat tum exo de ligacio norte-sul, ¢ certas infra-estruturas estio sendo implantadas na fronteira americano-mexicana, embora em ritmo bastante lento, Qutras iniciativas acabarao por criar um auténtico sis- tema norte-americano de transporte, o que por sua vez levard a um ‘mercado continental norte-americano mais integrado. As tentativas de avaliar com preciso as conseqiiéncias econd- micas de curto prazo do acordo devem ser encaradas com ceticismo. Nio s6 08 economistas reconhecem que carecem das ferramentas necessérias como outros desdobramentos vieram privar de clareza (© DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL 327 as conseqiéncias do Nafia para o fluxo de comércio, o emprego ¢ outros fatores. Desde a aprovagio do Nafta, as economias do México ¢ dos Estados Unidos vém sendo afetadas por forgas econémicas muito mais poderosas que o proprio acordo; um exemplo foi actise do peso mexicano iniciada em dezembro de 1994, custando a0 pats cerca de um milhao de empregos e acarretando uma queda de 25% nos saldrios. Simultaneamente, os Estados Unidos desfrutavam dle tum boom econdmico que nada tinha a ver com o Nafta. Embora os adversérios do Nafta assinalem 0 aumento do > americano com o México, este vem na realidade a ser explicado pelo b20m da economia americana na década de 1990. bom senso indice que 0 impacto positivo ou negativo da economia mexicana — de tamanho menor que um vigésimo da economia americana — na economia americana seria desprezivel. Como a economia mexica. za to pequena, o impacto do Nafta tem sido para ela no s6 ina portante como positivo, Em grande medida, as diferengas em matéria de desempenho macroccondmico explicam o que para os criticos vem aser ui impacto negativo do Nafta na balanca comercial americana. Ae GED co s:ieucr 0 fator mais decisive dos nfveis de emprego e do bem-estar econdmico geral de uma socie. dade. Entretanto, um acordo comercial como o Nafia efetivamen- te exerce um impacto na distribuigio de empregos pelos setores industriais e as regides geogréficas; a titulo de exemplo, o Nafta mente acarretou a perda de centenas de empregos na indus mericana de@@a@GB mas novos empregos vieram a ser cria- dos em, outros setores da economia, Globalmente, 0 acordo teve uum impacto pequeno nos salirios e nos niveis de emprego nos Es. tados Unidos. ONafta QED. industrializacéo do México ea reestruturagio da indséstria automobilistica norte-americana como un todo. Come cerca de 20% do custo de produgio da inddstria automotora decor, eda QED c em 1998 0 salitio médio nas fibricas america- 8 ROBERT GILPIN, nas sindicalizadas era de cerca de US$ 16,75 por hora, em contras. te com 2 @QEREEEED cle USS'8,60 por dia no México, os fabri, z cantes mexicanos ¢ 0s consumidores americanos foram benefiiadyy com o Nafta. Os @EEEEEEEEEEED de automéveis também trans. feriram para o México partes de sua producio destinada a0 mera. do norte-americano. As pegas automobilisticas produzidas em cere, de 600 fabricas que empregam aproximadamente 150.000 operériog constituem cerca de 12% das exportagdes mexicanas de produto, manufaturados, Entretanto, embora o Nafta tenha criado um am. biente muito melhor no México para investimentos diretos ameri- canos e de outras origens, ainda nio se verificou nenhuma grande “aspiragio”. Nos trés primeiros anos do Nafta, 0 total do IDE ame. ricano para o México aumentou significativamente. Embora este nivel de IDE seja elevado para 0 México, representa menos de 1% do valor que o Canadé ¢ os Estados Unidos investiram anualmente em fibricas ¢ equipamentos. ‘Tais investimentos ajudaram 0 Méxi- co sem prejudicar significativamente a economia americana como um todo. 'Retrospectivamente, o Nafia constitui uma vit6ria de Pirro e uma séria derrota para maior liberalizagio do comércio. A acerbada bata- Iha por sua ratificacdo e as implaciveis e desinformadas criticas do acordo por parte de Ross Perot, Patrick Buchanan e outros envene= naram a atmosfera com referéncias aos males da globalizacio. O go- verno Clinton ndo foi capaz de informar a populagio sobre o que o comércio faz ou deixa de fazer, quando seu porta-voz alegou que o ‘Nafta criaria “empregos, empregos e mais empregos”. O governo também sustentou, sem comprovar até agora, que o Nafia igvalmente contribuiria para tornar o México um pais dindmico e democritico, fortalecido parceiro econémico e politico dos Estados Unidos. A Jem torno do Nafta voltou os sindicatos, os ambientalistas ¢ muitos outros iia EEAIEMED tornando-se um fator importante na derrota em 1997 da legislacio destinada a apro- var com rapidez executiva osacertos comerciais (fas track). E para qué? © DESAFIO DO CaPITALISMo GLOBAL 329 Parece dificil acreditar que o QS aT aaa beneficiado os consumidores americanos ou os Estados Unidos como tum todo; e tampouco parece certo que tena sido mais benéfico a0 Canadé e a0 México do que teria sido a liberalizacio comercial mul. tilateral:O que €certo ¢ que 0 (ie a a automobilistica americana e outras indstrias protegidas pelo acor- do. Entretanto, a economia americana como um todo teria lucrado GEER ©»: Estacios Unidos tivessem levado adiante sua busce da liberalizagio comercial aaa AMPLIAGAO AO SUL Pela altura da década de 1990, 1 TD tornara-se um ERD als vex mais SMW para os Estados Unidos, e em junho de 1990 o presidente George Bush anunciou seu “Empreen- dimento das Américas”, proposta de uma 4rea zz abarcando o hemisfério ocidental do Alasca & Terra do Fogo. Ape- sar das QED 2 importacio que continuavam a promo- Yen especialmente nos setores automobilistico e de alta tecnologia, ¢s governos latino-americanos inicialmente reagiram com entusiay. mo proposta. A crise da divida dos anos 80 e a aplicagio de poli ticas de ajuste estrutural haviam levado a maioria dos paises da América Latina a comegar a GRD: cstratégia de substituigao de importacdes ¢ adiminuir suas barreiras comerciais. Até mesina © GED gue apresentava o mais alto nivel de rotecdo contra as inporaedes¢ Ta cc, wc if empgeendido importantes reformas, expressou interesse pela Proposta de Bush. A possibilidade de uma abertura significativa do gigantesco mercado americano as suas exportagées capturou o in- teresse do Brasil e de outras €conomias latino-americanas, Apés um hiato de vérios anos, durante o qual os americanos Polemizaram_ acerbadamente em torno do: ‘Nafta, 0 governo Clinton Velo iden oT en Scone de 1998 330 ROBERT GILPIN © governo propés na Conferéncia de Miami a ampliagio dg arcabougo do Nafia para todo © hemisfério. Naquela reuniao dy cpu, os governos nacionais concordaram em iniciar negociagéeg Para a criacao até 2005 de uma Area de Livre Comércio das Améti cas (@®, criaram-se grupos técnicos Para estabelecer um plano, foram iniciadas negociacSes. Entretanto, a situagio na América Ly tina havia @HEEMD significativamente entre a iniciativa do ‘Empreens dimento das Américas anunciada por Bush em 1990 ¢ a Proposta de uma Area de Livre Comércio das Américas feita, ‘por Clinton em 1994, € 0 entusiasmo dos governos latino-americanos por um blo. co econémico do hemisfério ocidental jé ndo era o mesmo, Embora ainda pretendessem obter maior acesso a0 mercado americano, esses paises latino-americanos faziam. Ji gor, > GED’ idéia de uma associagio estreita com os Estados Unidos ¢ a0s cultos elevados de uma liberalizacao acelerada do mercado. No fim dos anos 90, a América Latina softia, na expresso de Sidney Weintraub, de “ Qa’. A falencia de indéstrias nao competitivas ¢ 0 eftito das tarifas mais baixas na concorréncia aumentarao risco de uma reagao politica indesejével. Em vista des- sas preocupagées, o Brasil e outros pafses desaceleraram 0 proces- so de redugio das barreiras de importagio, e em 1998 essas barreiras continuavam relativamente @gB pelos padrées globais. Além dis: 80, 05 latino-americanos tornaram-se mais céticos quanto a dispo- sigdo dos Estados Unidos de reduzir barreiras comerciais e de abrir mio do recurso punitivo da Secio 301 da Lei Americana de Co- mércio de 1974; temiam também que os vinculos econdmicos ¢ po- Iiticos mais estreitos com os EUA pudessem QOD sua independéncia, Os Estados Unidos, por sua vez, manifestaram seu interesse em ampliar a cooperagio para Areas como seguranca, meio ambiente e tréfico de drogas, Os acordos comerciais QS isseminaram-se pela Amé- rica Latina. Como cada um deles envolve um némero pequeno de Patses, tais acordos refletem a diversidade do continente latino-ame- (© DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL aa ricano € © baixo nivel de sua integracdo econémica e/ou fisica, De longe 0 @RTTEMD dos pactos comerciais sub-regionais da América Latina, o QE i firmado em marco de @pelo Brasil, a Argentina, 0 Paraguai e © Uruguai, além de alguns paises associa dos. Um acordo flexivel era mais interessante para as economnias da regio do que uma estrutura estrita como a do Nafia, € 0 fito de ter sido empreendido e accito representou uma considerével mudanca politica na regio. Embora um dos objetivos fosse QI a histsri- carivalidade entre o Brasil ea Argentina, o Mercosul também pode ser encarado como expressio do QED c estabelecer sua hhegemonia sobre seus vizinhos latino-americanos. O Brasil também tem apoiado firmemente a criagao de uma Area de Livre Comércio daAmérica do Sul Qi que viesse integrar 20 Mercosul os demais acertos sub-regionais. Nao parece perfeitamente claro se a criacio da Sart foi motivada pelo desejo de fortalecer a capacidade de barga- nha da América Latina em eventuais negociag6es com os Estados Unidos ou pelo desejo de criar uma érea de livre comércio sul-ame- ticana independente dos EUA. Sabe-se pelo menos que 0O@EDern GMB Grremente a0s esforgos americanos de incorporar a Amé- rica Latina a un A proposta do governo Clinton de criar uma Area de Livre Comércio das Américas dependia da aprovagdo no Congresso ame- ricano de mecanismos legislativos ageis (fast track) autorizando o Executivo a iniciar negociagdes com 0 GD para integrar este pats 20@MD. Entretanto, tais mecanismos vieram a ser impedidos pelo GRIM tor da politica comercial que se manifestou duranteco conflito em torno da ratificagio do Nafta. Uma podero- sacoalizdo de sindicatos, grupos ambientalistas e interesses empre- satiais protecionistas aliados com importantes elementos do Partido Democrata decidiu apoiar o fast track apenas se a Area de Livre Co- Inércio das Américas ¢ todos os futuros acordos contemplassern mecanismos seguros e imperativos a respeito de direitos trabalhis- ‘5 € protecio ambiental. Por outro lado, lideres republicanos do Pe 332 ROBERT GILPIN, © DESAFIO DO CAPITALISMO GLOBAL 333 de de agio do mercado, a estratégia de Clinton baseava-se na pres~ suposigio de que o governo federal devia desempenhar o papel central na busca de solugées para os problemas econdmicos e so- ciais da América. Seu governo considerava que os sistemas nacio- nais de assisténcia a satide (Medicare e Medicaid), onerosos e dados 20 desperdicio, deviam ser reformados, que a base industrial (que comegara a atrofiar-se, em conseqiiéncia da alta do délar e das im- portagdes do Japdo) precisava ser reconstrufda por uma politica in dustrial (ou de tecnologia) nacional e que a “estrada da informagio” capitaneada pelo vice-presidente Al Gore devia ser utilizada para dinamizar a “economia da informagio”, exatamente como o siste- ma nacional de rodovias empreendido pelo presidente Dwight Eisenhower estimulara a economia de produgdo em massa na dé- cada de 1950. Osecretatio do Trabalho, Robert Reich, assumiu com um am- bicioso plano de investimentos em massaem: educagio ¢ treinamen- todemo-de-obra, para aumentar a capacidade da forga de trabalho americana. A estratégia global do governo com vistas & renovagdo econdmica ¢ o aumento da competitividade internacional seria apli- cada por uma recém-criada equipe econémica, o Conselho Eco- némico Nacional, chefiado por Robert Rubin, um bem-sucedido banqueiro de investimentos de Wall Street que viria mais tarde a tornar-se secretirio do Tesouro. Infelizmente, as coisas nio funcio- naram como 0 recém-eleito presidente e sua equipe haviam plane- Jado. Como registrou Bob Woodward em seu livro The Agenda: Inside ‘he Clinton White House [A Agenda: Por dentro da Casa Branca de Clinton] (1994), os ambiciosos planos do novo governo para reformular a economia americana foram de encontro A realidade sconémica, ¢ em prazo de apenas um ano 0 Executivo recuou para uma agenda interna mais modesta.* Apolitica econémica externa do presidente derivou da doutri- ta da geoeconomia que muito influenciara o pensamento nacional no fim da década de 1980 e no inicio dos anos 90. Os proponentes Congresso opuseram-se veementemente ao fast track, a menos que fosse omitida qualquer referéncia a padres trabalhistas € protegsg ambiental. Diante deste impasse, presidente Clinton retirou seq pedido de aprovacio do mecanismo de agilizagio de negociagses no outono de 1997, pondo GP pelo menos no futuro imediato, 3 GEE «12 0 sul do continente. ‘Merece nossa atengio amudanga verificada no governo Clinton, de um apoio relutante ao Nafta i defesa entusifstica de sua amplia io, para abarcar todo o Hemisfério Ocidental. As posig6es iniciais dos governos Reagan ¢ Bush a respeito do Nafia, entio encarado como um elemento de barganha para estimular a participagio da Europa Ocidental na Rodada Uruguai, faziam todo sentido dopon- to de vista da economia ¢ do politico; a ameaga de regionalizagio norte-americana efetivamente capturou o interesse dos europeus, Jevando a uma bem-sucedida rodada de negociagSes comerciais. A subseqicnte @@IEEED do governo Clinton 20g nor te-americano como um fim em si mesmo e nfo como plataforma para um sistema comercial multilateral nao foi uma decisio feliz; maioria das vantagens do Nafia favorecia apenas um néimer tado de interesses produtivos muito localizados nos Estados Uni- dos, no Canadé e no México. A SSSI, para abranger toda a América Latina, representaria um QED, 2 menos que a iniciativa fosse parte de um movimento constante em desen- volvimento a um sistema comercial ee ati capt AESTRATEGIA ECONOMICA DE CLINTON © ‘Ao tomar posse na presidéncia, Bill Clinton adotou uma estratégia destinada a rejuvenescer a debilitada economia americana e tomar os Estados Unidos novamente competitivos nos mercados mundiais. Enquanto as politicas econdmicas dos governos Reagan ¢ Bush se haviam empenhado em aumentar a confianga na liberda-

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