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Política de Internação Compulsória
Política de Internação Compulsória
POLÍTICA DE
INTERNAÇÃO
COMPULSÓRIA
dependentes químicos.
No Brasil:
Cts:
De acordo com o Glossário de álcool e drogas (Brasília, 2010), as comunidades terapêuticas são
caracterizadas por um ambiente estruturado onde os indivíduos com transtornos por uso de substâncias
psicoativas residem para alcançar a reabilitação e são, em geral, isolados geograficamente. Elas possuem um
modelo residencial: uma vez internado, o "residente" deverá comprometer-se com o programa de
tratamento da instituição. Os tratamentos podem durar seis, nove ou doze meses, a critério da própria
comunidade terapêutica. Os residentes são mantidos em atividades durante o transcorrer do dia, que podem
variar entre atividades laborais, terapêuticas e religiosas. As famílias podem realizar visitas à comunidade
terapêutica, geralmente, uma vez por mês, em data definida pelo local. Muitas delas exigem que a pessoa
que deseja visitar o familiar internado esteja participando de algum grupo como o Amor Exigente 1, pedindo
comprovação da participação no grupo para que a visita seja autorizada (Conselho Federal de Psicologia,
2011).
O relatório reúne os resultados da Inspeção Nacional em
Comunidades Terapêuticas realizada em outubro de 2017, nas
cinco regiões do Brasil.
As vistorias mostraram ser usual o controle de ligações telefônicas, bem como a violação de
correspondências.
Privação de liberdade
A Lei da Reforma Psiquiátrica define três modalidades de internação: involuntárias (sem o
consentimento do usuário, a pedido de terceiro e realizada por um médico), compulsórias (determinadas pela
Justiça) e voluntárias (com o consentimento do usuário).
No caso das internações involuntárias – que além de laudo médico devem ser informadas ao Ministério Público
em até 72 horas –, as vistorias identificaram em apenas duas das 28 comunidades terapêuticas
visitadas o documento médico com a autorização para tais internações.
As inspeções mostraram ainda que algumas comunidades terapêuticas adotam a prática do “resgate” ou
“remoção”: internamento forçado por meio de uma equipe que vai à residência da pessoa e a imobiliza,
fazendo uso tanto de violência física quanto de contenção por meio da aplicação de medicamentos.
Em algumas das unidades, foi informada a participação de outros internos na realização desse
serviço, que está disponível em pelo menos nove das 28 instituições visitadas. A prática viola a
determinação legal sobre a necessidade de laudo médico fruto de avaliação prévia e pode, inclusive, configurar
crime de sequestro e cárcere privado qualificado, conforme o artigo 148 do Código Penal.
Privação de liberdade
No que se refere às internações compulsórias, a inspeção nacional identificou que o Judiciário tem
adotado essa prática em desconformidade com o que estabelece a legislação. Isso porque a única
previsão no ordenamento jurídico brasileiro para que esse tipo de internação ocorra (e que, ainda assim,
é alvo de questionamentos por se contrapor aos direitos das pessoas com transtornos mentais) está no Código
Penal, ao designar que a internação possa ser utilizada como substituição de pena em casos em que o
autor de um crime, após seu julgamento, seja considerado pela Justiça como inimputável. Trata-se,
portanto, da chamada medida de segurança, representada na internação.
Há decisões, inclusive, para que o poder público arque com os custos dessas internações, que, em
muitos casos, não conta com prazo de término estabelecido – representando não apenas um subsídio
público permanente a essas instituições, como, ainda mais grave, a perene privação de liberdade de
determinada categoria de sujeitos.
Castigos, punições e indícios de tortura
Em 16 dos locais inspecionados foram identificadas práticas de castigo e punição a internos. Essas sanções
variam entre a obrigatoriedade de execução de tarefas repetitivas, o aumento da laborterapia, a perda de
refeições e a violência física. Também foram identificadas práticas como isolamento por longos períodos,
privação de sono, supressão de alimentação e uso irregular de contenção mecânica (amarras) ou
química (medicamentos) – todas elas podem ser caracterizadas como práticas de tortura e tratamento
cruel ou degradante, de acordo com a legislação brasileira.
Quatro dos estabelecimentos visitados informaram possuir quartos específicos para o isolamento. A violência
física também foi apontada como prática, sobretudo em casos de tentativas de fugas, sendo relatados o uso
de socos nos olhos e aquilo que os internos denominam “mata-leão”.
Violação à liberdade religiosa e à diversidade sexual
Em apenas quatro das 28 das comunidades terapêuticas visitadas, é possível
afirmar que não foram presenciadas ou registradas restrições à liberdade
religiosa. Em muitas há imposição de uma rígida rotina de orações e foram
colhidos inúmeros relatos de obrigatoriedade de participação nas atividades
religiosas, bem como a punição em casos de negativa – inclusive por meio do
aumento da carga de “laborterapia”.
- "Pecado"
“Laborterapia”: trabalhos forçados e sem remuneração
A mão de obra de internos costuma ser usada para serviços de limpeza,
preparação de alimentos, manutenção, vigilância e, em alguns casos, até
mesmo no controle e aplicação de medicamentos em outras pessoas
internadas. Entre os relatos, está o colhido em uma comunidade terapêutica no
Rio Grande do Norte, onde internos estariam sendo utilizados como mão de
obra não remunerada para a construção de uma casa de praia da
proprietária do estabelecimento.
Acerca da composição das equipes, é importante destacar não apenas os arranjos improvisados,
mas a própria escassez de profissionais com capacidade de prover, de fato, atenção à saúde. A Lei
da Reforma Psiquiátrica aponta que a internação de pessoas com transtornos mentais deve se dar
em serviços que ofereçam assistência integral, incluindo “serviços médicos, de assistência social,
psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.” Entretanto, o quadro encontrado nas comunidades
terapêuticas inspecionadas foi de escassez de profissionais para a oferta dessa assistência: há
poucos trabalhadores com formação na área de saúde e muitos “monitores” (internos que ganham a
confiança da direção e passam a desempenhar, informalmente, atividades na instituição).
Internação de adolescentes
As inspeções identificaram internação de adolescentes em 11 das comunidades terapêuticas visitadas.
Em outras duas instituições, havia crianças e adolescentes acompanhando mães que estavam
internadas. Houve, por fim, a identificação de uma criança de 11 anos internada em uma
comunidade terapêutica, por decisão judicial.
Internação de adolescentes
Nas vistorias, constatou-se também que adolescentes e adultos dividem alojamentos e quartos. Em
apenas duas instituições relatou-se que adolescentes ficam em casas ou quartos separados. Essa
situação demonstra a ausência de cuidado às peculiaridades que devem marcar a atenção a esse
grupo populacional.
Ainda que haja, em alguns casos, previsões legais para tanto, o conjunto de informações
coletadas permite questionar a capacidade desses estabelecimentos de prestar serviços que respeitem
as linhas gerais das políticas voltadas à saúde e possam ser referendados pelo Estado a título de política
pública.
É preciso lembrar, ainda, que qualquer destinação de recursos públicos deve contar com a
fiscalização e acompanhamento das práticas desenvolvidas pelo destinatário dos recursos, o que
não foi identificado nas vistorias. Os dados coletados pela inspeção nacional em comunidades
terapêuticas apontam, portanto, que o financiamento indiscriminado de instituições dessa
natureza acaba por resultar na destinação de recursos públicos a locais onde há violações de direitos.
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