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2022 RobsonLopesdeAlmeida
2022 RobsonLopesdeAlmeida
BRASÍLIA
2022
ROBSON LOPES DE ALMEIDA
BRASÍLIA
2022
13/12/22, 07:58 SEI/UnB - 8883108 - Despacho
FOLHA DE APROVAÇÃO
Documento assinado eletronicamente por Marta Lígia Pomim Valentim, Usuário Externo, em
12/12/2022, às 13:37, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento na Instrução da Reitoria
0003/2016 da Universidade de Brasília.
Documento assinado eletronicamente por ASA FUJINO, Usuário Externo, em 12/12/2022, às 14:23,
conforme horário oficial de Brasília, com fundamento na Instrução da Reitoria 0003/2016 da
Universidade de Brasília.
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(William E. Deming)
RESUMO
Evidencia-se a evolução do papel da universidade pública brasileira como protagonista, cada vez
mais relevante, do Sistema Nacional de Inovação. O conhecimento produzido por essas
instituições tem sido responsável pela formulação de estratégias das nações para o
desenvolvimento econômico e social, impulsionando o avanço tecnológico que conduz à
inovação. Diante disso, torna-se relevante o entendimento de como a o fenômeno da “inovação”
se manifesta no ambiente universitário e como esse pode ser dimensionado, medido e avaliado,
em especial no contexto das instituições públicas que precisam prestar contas dos recursos
investidos à sociedade. Parte-se do princípio de que a inovação é um fenômeno complexo e sua
mensuração possui limitações significativas em organizações universitárias, as quais não podem
ser realizadas unicamente com indicadores tradicionais, frequentemente utilizados para a
medição de inovação realizadas pelo setor produtivo. Nesse contexto, o objetivo geral dessa tese
é “analisar a percepção dos dirigentes vinculados à inovação no âmbito das universidades
públicas brasileiras, de modo a subsidiar a proposição de um modelo e indicadores de
mensuração”. O percurso metodológico, de cunho exploratório e natureza qualitativa, inicia-se
com a elaboração de um referencial teórico- conceitual profundo sobre o tema, no qual foi
evidenciado a evolução da conceituação sobre inovação e a sua relação com a universidade
brasileira, especialmente após a regulamentação do Marco Legal de CT&I. Para a realização do
objetivo proposto, optou-se pela aplicação de técnicas mistas (abordagem qualiquantitativa),
envolvendo uma ampla Revisão Sistemática da Literatura, acrescida de estudos bibliométricos,
combinadas com o propósito de buscar um entendimento sobre a percepção dos dirigentes [Pró-
reitores e diretores-executivos de Agências de Inovação] a respeito da manifestação desse
fenômeno no contexto da academia. Foram selecionados 11 dirigentes que lidam com o
ecossistema de inovação de universidades federais e estaduais. Os dados textuais (entrevistas)
foram analisados por meio de técnicas de Análise de Conteúdo, apoiadas pelos softwares
IRAMUTEQ e ATLAS.ti, que auxiliaram o processo de automatização de algumas análises
lexicais, tornando possível integrar níveis qualitativos e quantitativos (estatísticas) na
investigação, qualificando ainda mais os resultados da pesquisa. Com a sistematização das
percepções dos dirigentes públicos, juntamente com a análise dos indicadores de inovação
identificados na literatura, chegou-se a uma proposta de modelo que reúne 9 (nove) dimensões
da inovação para universidades públicas, a saber: i) potencial humano; ii) recursos financeiros;
iii) práticas gerenciais; iv) ensino, pesquisa e extensão; v) parcerias; vi) transferência de
conhecimento e propriedade intelectual; vii) capacidade empreendedora; viii) impacto social; e
ix) impacto ambiental. Como proposta para pesquisas futuras, sugere-se o estudo da aplicação
das dimensões sugeridas, buscando-se complementação e aperfeiçoamento das métricas a
partir de modelos de maturidade de inovação, a exemplo do IRL (Innovation Readiness Level)
para mensuração de certos tipos de inovação que ocorrem no contexto amplo das universidades.
It is evident the evolution of the role of the Brazilian public university as an increasingly relevant
protagonist of the National Innovation System. The knowledge produced by these institutions has
been responsible for formulating national strategies for economic and social development, driving
technological advances that lead to innovation. Therefore, it becomes relevant the understanding
of how the phenomenon of "innovation" manifests itself in the university environment and how it
can be dimensioned, measured and evaluated, especially in the context of public institutions that
need to account for the resources invested in society. It is assumed that innovation is a complex
phenomenon and its measurement has significant limitations in university organizations, which
can not be performed solely with traditional indicators, often used to measure innovation carried
out by the productive sector. In this context, the general objective of this thesis is to analyze the
perception of leaders linked to innovation within the scope of Brazilian public universities, in order
to support the proposition of a model and measurement indicators. The methodological course,
of exploratory study and qualitative nature, begins with the elaboration of a deep theoretical-
conceptual framework on the subject, in which the evolution of the conceptualization of innovation
and its relationship with the Brazilian university was evidenced, especially after the regulation of
the ST&I Legal Framework. To achieve the proposed objective, it was chosen to apply mixed
techniques (qualiquantitative approach), involving a broad Systematic Review of Literature, plus
bibliometric studies, combined with the purpose of seeking an understanding of the managers’
perception [Pro-rectors and executive directors of Innovation Agencies] regarding the
manifestation of this phenomenon in the context of academia. There were selected 11 managers
who deal with the innovation ecosystem of federal and state universities.The textual data
(interviews) were analyzed using Content Analysis techniques, supported by IRAMUTEQ and
ATLAS.ti software, which helped in the process of automating some lexical analyses, enabling
the integration of qualitative and quantitative levels (statistics) in the investigation, further
qualifying the research results. With the systematization of public managers' perceptions together
with the analysis of the innovation indicators identified in the literature, a model proposal that
brings together 9 (nine) dimensions of innovation for public universities was reached, namely: : i)
human potential; ii) financial resources; iii) management practices; iv) teaching, research and
extension; v) partnerships; vi) transfer of knowledge and intellectual property; vii) entrepreneurial
capacity; viii) social impact; and ix) environmental impact. As a proposal for future research, it is
suggested to study the application of the suggested dimensions, seeking to complement and
improve the metrics from innovation maturity models, such as the IRL (Innovation Readiness
Level) to measure certain types of innovation. that occur in the broad context of universities.
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 18
2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO ......................................................... 26
2.1 Uma Breve História da Inovação ............................................................. 26
2.2 Inovação e Desenvolvimento Econômico e Social ............................... 28
2.2.1 Inovação Social............................................................................. 35
2.2.2 Inovação Responsável.................................................................. 40
2.3 Dimensões, Classificações e Tipologias................................................ 44
2.3.1 Modelos de Inovação .................................................................... 48
3 SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO ................................................................ 54
3.1 Sistema Nacional de Inovação no Brasil ................................................ 57
3.1.1 Políticas de Inovação Brasileiras .................................................. 61
3.2. As múltiplas “hélices” da inovação ....................................................... 62
4 INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO ......................................................................... 67
4.1 Inovação e a Universidade Pública Brasileira ....................................... 70
5 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO ................................. 81
5.1 Indicadores Tradicionais de Inovação.................................................... 83
5.2 Evolução dos Indicadores de Inovação ................................................. 86
5.3 Mensuração da Inovação ......................................................................... 90
5.3.1 Modelos de Gestão e Mensuração da Inovação ........................... 94
5.3.1.1 Balanced Scorecard (BSC) ........................................................ 94
5.3.1.2 Funil da Inovação....................................................................... 97
5.3.1.3 Radar da Inovação..................................................................... 99
5.3.1.4 Cadeia de Valor da Inovação (IVC) ......................................... 101
5.3.1.5 Modelo Diamante ..................................................................... 103
5.3.1.6 Innovation Readiness Level (IRL) ............................................ 105
5.3.2 Mensuração da Inovação no Brasil ............................................. 110
5.3.3 Novos Indicadores Aplicados à Inovação ................................... 113
6 INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES ............... 121
6.1 Mensuração da Inovação nos Rankings Universitários...................... 131
6.2 Propostas Nacionais de Métricas Aplicadas à Inovação Universitária
....................................................................................................................... 141
6.3 Innovation Readiness Level aplicado às universidades ..................... 146
7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................. 149
7.1 Classificação da Pesquisa..................................................................... 152
7.2 População e Amostra ............................................................................. 153
7.3 Coleta dos Dados ................................................................................... 157
7.4 Método de Pesquisa: Análise de Conteúdo ......................................... 159
7.5 Ferramentas de Análise de Dados ........................................................ 163
8 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................... 167
8.1 Análise Textual Discursiva das entrevistas ......................................... 167
8.2 Análise das Percepções dos Dirigentes sobre a Inovação na
Universidade Pública ................................................................................... 177
8.2.1 Conceito de inovação no âmbito da universidade pública .......... 179
8.2.2 O papel da inovação no âmbito da universidade pública ............ 182
8.2.3 Construção de indicadores de inovação nas universidades públicas
............................................................................................................. 185
9 PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA
INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS ............................ 194
9.1 Dimensões da inovação em universidades públicas: Insumos ......... 201
9.1.1 Indicadores da dimensão “Potencial Humano” ........................... 201
9.1.2 Indicadores da dimensão “Práticas Gerenciais” ......................... 202
9.1.3 Indicadores da dimensão “Recursos Financeiros” ...................... 203
9.1.4 Indicadores da dimensão “Parcerias” ......................................... 204
9.1.5 Indicadores da dimensão “Ensino, Pesquisa e Extensão” .......... 204
9.2 Dimensões da inovação em universidades públicas: Resultados .... 205
9.2.1 Indicadores da dimensão “Transferência de Conhecimento e
Propriedade Intelectual” ....................................................................... 206
9.2.2 Indicadores da dimensão “Capacidade Empreendedora” ........... 206
9.2.3 Indicadores da dimensão “Impacto “Social” ................................ 207
9.2.4 Indicadores da dimensão “Impacto Ambiental” ........................... 210
10 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................... 215
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 222
APÊNDICE A............................................................................................................ 248
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 18
1 INTRODUÇÃO
Em um mundo em transição após as mudanças abruptas provocadas pela
pandemia do novo coronavírus, iniciada em 2020, tornou-se cada vez mais
frequente o uso do termo “inovação”, nos mais diferentes contextos, para resumir
as práticas criativas e os movimentos de transformação necessários de
adaptação das organizações e da sociedade como um todo à chamada “nova
economia”, caracterizada principalmente pela aplicação das tecnologias digitais
nos negócios.
Entretanto, a busca frenética pela inovação já se apresentava bem antes,
como um fenômeno singular, devido ao crescimento de sua importância para o
desenvolvimento econômico e a competitividade das nações. Durante o Século
XX, diversas contribuições teóricas ajudaram a compreender essa entidade
complexa e de múltiplas dimensões, que envolve o relacionamento de um
conjunto de atores, entre eles, as universidades.
O saber gerado por essas instituições há séculos tem sido responsável
pela formulação de estratégias que contribuem para o progresso econômico e
social. Atualmente, a interação constante do meio acadêmico com o seu entorno
tem impulsionado mais fortemente o avanço tecnológico que conduz à inovação,
chave para o sucesso da nova economia baseada no conhecimento. No entanto,
as temáticas que orbitam a inovação ainda têm sido majoritariamente verificadas
sob uma perspectiva empresarial, em um estágio inicial de discussão na
academia.
Uma série de fatores contribuem para isso, tal como a motivação natural
de pesquisadores e cientistas pela visibilidade acadêmica e a compreensão do
papel tradicional da universidade em solucionar problemas que impactam a
sociedade, sendo contestada a validade de se proteger (ou patentear) o
conhecimento gerado pela academia. Há também questões éticas envolvidas,
como a polêmica possibilidade de ganho privado advindo de pesquisas
financiadas pelo governo ou desenvolvidas em universidades públicas. Por outro
lado, é inegável a relevância da pesquisa acadêmica como fonte de
conhecimento para o avanço tecnológico, que conduz à inovação.
Governos de países industrializados e em desenvolvimento tem
pressionado as universidades para que exerçam uma presença mais ativa no
sistema de inovação de modo a oferecer retorno à sociedade sobre os recursos
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 19
públicos investidos. Isso se dá em função da necessidade da demanda pela
formulação de políticas públicas e a demonstração de eficiência da gestão, entre
outras circunstâncias.
No entanto, pesquisa publicada por Zanotto (2002), que analisa o
desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil, mostra a contradição
existente entre a crescente produção científica brasileira e o atraso na área de
inovações. Para minimizar a questão, já naquela época, o autor sugeria uma
maior interação das universidades e centros de pesquisa uma vez que, segundo
sua projeção, a taxa de inovação no Brasil e sua produção científica seguem
tendências diferentes. Duas décadas depois, o cenário desenhado por Zanotto
permanece: o Brasil ocupa atualmente a 13ª posição na produção global de
artigos científicos indexados, de acordo com o último levantamento realizado
pela Web of Science (WoS), em 2019. No entanto, é apenas o 54º colocado no
Índice Global de Inovação, segundo o ranking de 2022.
Nesse sentido, torna-se cada vez mais necessário o desenvolvimento de
ferramentas e métodos para se medir e monitorar a inovação que circula nesses
ambientes, a fim de municiar os gestores e formadores de políticas públicas com
informações confiáveis sobre o potencial impacto que tais inovações poderão
produzir, de modo que esses possam estabelecer novas diretrizes que auxiliem
a avaliação de desempenho das abordagens atuais.
Observa-se na literatura científica o aumento do interesse pelo tema
“inovação universitária” nos últimos anos e, em vista disso, percebe-se uma
oportunidade de pesquisa em um nicho pouco explorado: a construção de
indicadores e métricas capazes de aferir a performance das atividades inovativas
no ambiente acadêmico, tão difícil de mensurar quanto importante para
elaboração de estratégias para gestão e definição de políticas públicas em
diferentes áreas do conhecimento.
Entende-se que a manifestação da inovação no ensino superior pode ser
verificada de muitas maneiras, não somente pela quantidade de eventuais
patentes geradas a partir dos desdobramentos de uma pesquisa científica.
Também pode ser considerada a inovação que se configura com a introdução
de novos métodos ou práticas de ensino em salas de aula, os projetos de
extensão que impactam uma comunidade ou, ainda, pela adoção de novas
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 20
práticas administrativas e melhorias de processos visando aprimoramento da
qualidade e eficiência da gestão da instituição.
Evidenciou-se isso com a rápida adaptação pela qual as instituições de
ensino tiveram que passar em função das limitações impostas pela pandemia da
Covid-19. Apesar da eficiência e viabilidade garantida pelas tecnologias de
informação já existentes, a migração para o ensino remoto ou híbrido impactou
toda a comunidade acadêmica e os aspectos socioculturais envolvidos. No caso
das universidades, discentes, docentes, corpo técnico, direção... todos, sem
exceção, tiveram que produzir (e consumir) inovações no seu dia a dia para dar
continuidade e permanência do saber universitário. Novas ferramentas foram
incorporadas ao processo de aprendizagem e muitas práticas e saberes
passaram a ser disseminadas.
Como consequência, uma quantidade imensa de conteúdos e materiais
foram produzidos e organizados para apoiar o uso dessas ferramentas
tecnológicas e plataformas institucionais de aprendizado. Da mesma forma,
novos processos internos tiveram que ser introduzidos, do trâmite de
documentos com assinatura digital à institucionalização de regulamentação de
bancas de avaliação remotas, para citar alguns exemplos. As atividades de
pesquisa foram extremamente necessárias nos primeiros momentos da crise
sanitária sob diversos aspectos, até mesmo para responder demandas urgentes
da sociedade e dos governos locais, como a superlotação das Unidades de
Terapia Intensiva (UTI).
No decorrer desse trabalho foram identificados estudos recentes –
nacionais e internacionais – voltados para a proposição de métodos genéricos
para gestão da inovação em um ambiente acadêmico de ensino superior a partir
de indicadores de desempenho. Contudo, cada modelo optou por adotar um viés
diferente, de acordo com a sua abordagem metodológica, em atendimento às
questões particulares de determinada organização de acordo com sua
percepção (dimensões) e, para tanto, são sugeridos indicadores específicos. Ao
longo dos capítulos seguintes, será percebida uma relação de dependência,
praticamente hierárquica, entre os termos “modelo”, “dimensão” e “indicadores”
Em outro aspecto, argumenta-se que a literatura sobre inovação é
fortemente focada na perspectiva da indústria e traz consigo uma variedade de
significados, teorias e propostas de métricas para medição desse objeto
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 21
multifacetado. Mais recentemente, porém, observa-se o surgimento de novas
abordagens para percepção da inovação, como o conceito de “pesquisa e
inovação responsável” (VON SCHOMBERG, 2011), pauta crescente de
discussão nas organizações e nos meios acadêmicos. A chamada “inovação
responsável” figura como um elo entre a ciência e a sociedade, aumentando o
valor público da ciência e, consequentemente, a qualidade da inovação
produzida.
O verdadeiro significado do que representa a inovação no âmbito das
universidades e, por consequência, como verificar a sua manifestação através
das métricas mais adequadas, é, portanto, um tema controverso e ainda
influenciado pela literatura mais tradicional sobre o tema, o que limita o
planejamento de atividades inovativas nesses ambientes com características tão
peculiares.
Assim, a premissa desta tese é a de que o entendimento sobre o conceito
de inovação no âmbito das universidades e os indicadores capazes de mensurá-
la podem ser mais adequadamente conhecidos e aperfeiçoados por meio da
análise da percepção dos dirigentes que lidam com inovação nas universidades
públicas brasileiras, seja no nível das Pró-reitorias (e denominações correlatas)
e/ou de órgãos executores das políticas de inovação das universidades, como
os Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT).
A presente pesquisa se desenvolve, portanto, a partir de uma lacuna
identificada quanto às possibilidades de se compreender e mensurar a inovação
percebida nas universidades a partir de algumas questões norteadoras, que
nesse momento são:
a) O que significa inovação sob a ótica das atividades desempenhadas
pelas instituições de ensino superior, segundo a percepção dos
dirigentes que lidam com inovação nas universidades públicas?
b) Como medir as atividades inovativas desempenhadas pelas
instituições de ensino superior, a partir das percepções dos dirigentes
vinculados à inovação?
c) As percepções dos dirigentes vinculados à inovação das
universidades públicas brasileiras podem trazer contribuições
complementares aquelas presentes na literatura sobre o tema?
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 22
Buscando-se responder a essas indagações é que foram definidos os
objetivos desta pesquisa. Desse modo, no que se refere ao objetivo geral desta
tese, pretende-se:
Analisar a percepção dos dirigentes vinculados à inovação no
âmbito das universidades públicas brasileiras, de modo a subsidiar
a proposição de um modelo e indicadores de mensuração.
Para tanto, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
a) Identificar o conceito de inovação, no âmbito do ensino superior, a
partir das percepções dos dirigentes vinculados à inovação das
universidades públicas selecionadas;
b) Caracterizar o papel da inovação, segundo a percepção dos dirigentes
vinculados à inovação das universidades públicas selecionadas;
c) Verificar as concepções existentes para a construção de indicadores
de inovação nas universidades públicas selecionadas;
d) Interrelacionar as concepções e indicadores mencionados pelos
dirigentes vinculados à inovação aos existentes na literatura sobre o
tema;
e) Propor um modelo capaz de agregar dimensões e indicadores para a
mensuração da inovação aplicada às universidades públicas.
Esforços governamentais foram iniciados, sem sucesso expressivo, no
sentido de identificar métricas para compreender a dimensão da inovação na
universidade. A heterogeneidade das instituições, aliada ao fator de dispersão
geográfica, foram os principais motivos para a falta de consenso entre os
dirigentes das áreas, na avaliação de um grupo de trabalho que tratou do tema
por iniciativa do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Planejamento e
Administração das Instituições Federais de Ensino Superior (FORPLAD/IFES)1.
A presente investigação justifica-se pela importância de se compreender
o amplo processo de construção de um conjunto de indicadores que sejam
minimamente capazes de mensurar o impacto da inovação no âmbito da missão
inovação ocorrida no Século XVI, quando Eduardo VI, rei da Inglaterra, emitiu
uma proclamação, em 1548, contra “aqueles que inovam”, estabelecendo
advertência para os que a praticassem e impondo punições aos infratores. A
partir de meados dos anos 1620, o escritor puritano inglês Henry Burton usou as
declarações do rei para atacar a hierarquia da igreja, acusando os bispos de
inovarem em assuntos relacionados à sua doutrina, disciplina e culto. Em 1636,
Burton provocou polêmica com alguns de seus textos (sermões), nos quais
denunciava as inovações nos meios de conhecimento da igreja, tal como o corte
nas pregações, que limitou o tempo dos sermões a uma hora.
Para os opositores de Burton, ao discutir a inovação religiosa, o ministro
se intrometeu também na categoria política. Para eles, como mero súdito do rei,
Burton decidiu aplicar ordem para “todos os homens dados a mudar”, incluindo
as autoridades (bispos), dando origem à primeira discussão exaustiva a respeito
da inovação: o que significa? quem é e o que faz um inovador? quais os objetivos
da inovação? Desde então, a inovação passou a entrar cada vez mais no
vocabulário cotidiano (GODIN, 2010, p. 21).
Os oponentes de Burton negaram todas as alegações e passaram a
acusá-lo de ser, ele próprio, o verdadeiro “inovador”. Assim, conseguiram
reverter a situação com respostas para cada um dos argumentos apresentados.
Burton acabou sendo levado a julgamento por ter incitado uma revolução ao
colocar em questão tanto a autoridade do rei quanto a dos bispos. Em 1637, o
acusado teve suas orelhas cortadas e foi condenado a prisão perpétua.
Entretanto, após três anos, Burton foi libertado pelo Parlamento e retornou ao
seu cargo (GODIN, 2010).
Em outro texto intitulado “Innovation: a conceptual history of an
anonymous concept”, Godin (2015) aprofunda a história que levou à mudança
do pensamento sobre a inovação na sociedade ao longo dos séculos, baseado
em uma ampla pesquisa de documentos históricos até os textos digitais mais
recentes, disponíveis nas bases de dados.
De acordo com o pesquisador, mesmo antes da utilização na esfera
religiosa, no contexto da Reforma, a palavra “inovação” teve seu significado
ampliado para o contexto político. Monarquistas dos séculos XVII e XVIII
acusavam os republicanos de serem "inovadores". Esta prática linguística
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 28
objeto que seja percebido como novo por um indivíduo ou outra unidade de
adoção.” (ROGERS, 2003, p. 12, grifo nosso).
Na opinião do sociólogo, pouco importa se uma ideia é objetivamente
nova ou não: o que conta é a reação do indivíduo em relação a sua percepção
do grau de novidade. Se para ele é novo, então há inovação. Quanto à sua
difusão, Rogers (2003) afirma não se tratar de um movimento tecnológico, mas
social. A partir desse marco, os estudos sobre inovação passaram a ser
acompanhados cada vez mais por antropólogos e sociólogos.
Nesse aspecto, destaca-se o trabalho de Robertson (1967), que analisa o
processo pelo qual a inovação ocorre através de mecanismos sociais em
diferentes contextos. Robertson confirma a teoria da difusão de Rogers e traz a
seguinte definição como conclusão de seu estudo: “inovação é processo pelo
qual um novo pensamento, comportamento ou coisa é concebido e trazido à
realidade” (ROBERTSON, 1967, p. 19). Esse princípio também é aderente ao
que Latour (2011) convencionou chamar de Sociologia da Inovação. Segundo
esse autor, o inovador precisa ao mesmo tempo controlar o contexto social em
que se desenrola a partir da prática inovadora e se adaptar a ela.
Importante destacar que, passada mais de uma década desde a
publicação da 3ª edição do Manual de Oslo, com a verificação de práticas
inovativas em diversos setores da sociedade somada à profusão das inovações
sociais (desenvolvimento de produtos mais simples para mercados emergentes),
a OCDE atualizou alguns de seus conceitos em sua 4ª e mais atual edição,
publicada somente em outubro de 2018 (ainda sem tradução para o Português).
A nova definição geral de inovação amplia a grande quantidade de entidades
institucionais, mantendo consistência com a definição anterior. Assim, o
entendimento do que é inovação passa a ser:
[...] um produto ou processo novo ou aprimorado (ou uma combinação
dos mesmos) que difere significativamente dos produtos ou processos
anteriores da unidade e que foi disponibilizado para usuários em
potencial (produto) ou levado a uso pela unidade (processo) (OECD,
2018, p. 20, tradução nossa)
A escolha do termo “unidade” (unit, no original) confere um caráter
genérico ao agente responsável pela inovação. "Unidade" pode ser qualquer
instituição em qualquer setor, até mesmo indivíduos dentro de seu núcleo
familiar. Essa mudança estende o conceito de inovação para as práticas
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 35
2TEPSIE é um acrônimo para “The Theoretical, Empirical and Policy Foundations for Building
Social Innovation in Europe”. Mais informações em: <http://www.tepsie.eu>.
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 37
4
Spin-off é um termo em inglês utilizado para descrever uma nova empresa que nasceu a partir
de um grupo de pesquisa de uma empresa, universidade ou centro de pesquisa público ou
privado, normalmente com o objetivo de explorar um novo produto ou serviço de alta tecnologia.
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 44
Quadro 2.1 – Tipos de inovação segundo as diferentes edições do Manual de Oslo (MO)
MO MO
Subcomponentes Diferenças
(3ª edição, 2005) (4ª edição, 2018)
- Bens
- Bens - Serviços
Inclusão de características de design de
Produtos produto, que foram incluídas em
- Bens e serviços,
- Serviços “inovação de marketing” no MO3.
incluindo produtos de
captura de conhecimento
e suas combinações
- Produção
- Produção
- Entrega e logística
- Distribuição e logística Serviços auxiliares no MO3 foram
Processo
- Serviços auxiliares, movidos para administração e gestão.
incluindo compras, - Sistemas de informação
contabilidade e serviços e comunicação
de TIC
- Produto
- Serviço
- Processo O que surgirá/será
Refere-se ao objeto de
Objeto - Método organizacional significativamente
aplicação da inovação.
- Marketing melhorado
- Posição
- Paradigma
- Setor produtivo
Indica a destinação da Público beneficiado
Enfoque - Social
inovação pela mudança
- Científico/Tecnológico
Fases da Gestão
Definição
/ Tipos de indicadores
São indicadores ex-ante facto que têm relação direta com os recursos a
Insumo serem alocados, ou seja, com a disponibilidade dos recursos humanos,
(input indicators) materiais, financeiros e outros a serem utilizados pelas ações de governo.
Ex. médicos/mil habitantes e gasto per capita com educação
Medem o alcance das metas físicas. São medidas ex-post facto que
expressam as entregas de produtos ou serviços ao público-alvo do Programa.
Produto
Ex. percentual de quilômetros de estrada entregues, de armazéns
(output indicators)
construídos e de crianças vacinadas em relação às metas físicas
estabelecidas.
1ª Geração
2ª Geração Indicadores 3ª Geração Indicadores 4ª Geração Indicadores
Indicadores de
de Saída (output) de Inovação de Processo
Entrada (input)
(1970-80) (1990) (2000 em diante)
(1950-60)
Ano da
Anos de Publicação
Indicadores Manual Primeira
das Revisões
Edição
Performance evaluation of
Artigo que demonstra a aplicação da ferramenta
academic services in the
SARI; LUDDIN; BSC para avaliar o desempenho dos serviços
university using the Balanced
RAHMAT, 2020 acadêmicos da Universidade Aberta da Universitas
Scorecard: A study at an
Terbuka (Indonesia).
Indonesian open university
Dimensão Conceito
5. Experiência do cliente Abrange todo e qualquer ponto de interação (contato) com o cliente.
6. Captura de Valor Inclui a redefinição de como a companhia obtém receitas ou cria valor.
Sistema real operado em toda a Capacidade na utilização rotineira para suportar uma
9
gama de condições esperadas. grande escala de produção.
8 Atualmente são sete os pilares de inovação segundo o Índice Global de Inovação (GII): Inputs:
Instituições; Capital humano e pesquisa; Infraestrutura; Sofisticação de marketing; e Sofisticação
dos negócios. Outputs (evidências de resultados de inovação): Conhecimento e tecnologia;
Criatividade.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 115
Intelectual (OMPI), além de parceiros estratégicos, como a Confederação
Nacional da Indústria (CNI), do Brasil.
Em sua 14ª edição (2021), o GII reúniu dados de 132 economias do
mundo correspondentes a 94,3% da população mundial e 99% do Produto
Interno Bruto mundial. O modelo atual de medição do índice é baseado em 81
indicadores divididos em três categorias: 63 indicadores quantitativos, 15
compostos e 3 qualitativos baseados em survey. De acordo com os dados
globais de 2021, o Brasil subiu cinco posições, saltando de 62º em 2020 para a
57ª posição no ano seguinte (DUTTA et al, 2021, p. 176).
Em relação ao futuro dos novos indicadores de ciência, tecnologia e
inovação, destaque para uma iniciativa promissora da OCDE chamada fórum
Blue Sky, que traz como um de seus objetivos a exploração, a longo prazo, do
papel das infraestruturas digitais para criação de novas oportunidades de
métricas e análises, que sejam adequadas para refletir os requisitos impostos
pela sociedade do conhecimento, bem como atender os desafios inerentes aos
padrões de coleta existente e à qualidade desses indicadores.
A primeira conferência “Blue Sky” ocorreu em Paris, em 1996, promovida
pelo Comitê de Política Científica e Tecnológica da OCDE e reuniu cerca de 200
pesquisadores, entre acadêmicos, estatísticos e gestores de políticas públicas.
A reunião deu-se em um período de transição do entendimento de que a
inovação deveria ser reconhecida como um processo sistêmico, levando ao
abandono do modelo linear. Desde então, a cada 10 anos a comunidade de
peritos tem revisitado e debatido o desenvolvimento de novos indicadores de
CT&I, tendo como base 8 (oito) temas:
1. Globalização das atividades de pesquisa e redes;
2. Compreender a natureza em modificação da ciência e inovação e seu
impacto;
3. Capturando o valor da pesquisa e inovação;
4. Recursos humanos em C&T e fluxos globais de conhecimento;
5. Construindo capital do conhecimento científico;
6. Áreas emergentes multidisciplinares de CT&I: TICs, biotecnologia,
nanotecnologia, energia e tecnologia para extração de recursos;
7. Panorama da ciência e inovação: regiões, atores e temas;
8. Novos indicadores para políticas de inovação.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 116
Nessa mesma linha, localiza-se o projeto DISKO, iniciado em meados da
Década de 1990, pelo grupo DRUID (Danish Research Unit for Industrial
Dynamics), da Universidade de Aalborg (Dinamarca). A iniciativa, com duração
de três anos, teve como objetivo o desenvolvimento de uma metodologia de
pesquisa relacionada à coleta de dados e posterior implementação de
indicadores para a análise dos processos de inovação em produtos realizados
em cooperação pelas empresas dinamarquesas, buscando abranger variadas
atividades econômicas, da manufatura até as atividades relacionadas aos
serviços financeiros.
O projeto DISKO foi dividido em 5 (cinco) módulos, todos eles traduzindo
uma forte preocupação em captar as dimensões sistêmicas dos processos
inovativos, indo além das características relacionadas às atividades de P&D.
Dessa forma, aspectos como os esforços relacionados à qualificação de
recursos humanos e ao desenvolvimento de novas capacitações derivadas das
atividades cooperativas passam a ser centrais na análise.
Outras duas iniciativas mais recentes merecem destaque na busca pelas
métricas do futuro: a primeira, Advancing Measures of Innovation — Knowledge
Flows, Business Metrics, and Measurement Strategies9, é fruto de um workshop
promovido em junho de 2006 pela divisão de recursos estatísticos da NSF que
tratou de abordar duas questões-chave: quais seriam as métricas mais urgentes
ou imediatamente viáveis? E quais atividades estatísticas e de pesquisa
provavelmente irão promover essas métricas prioritárias?
Não houve concenso entre os particpantes a respeito dos indicadores
sugeridos como os mais urgentes. Do mesmo modo, a discussão do workshop
não produziu uma avaliação explícita sobre quais indicadores são os mais
imediatamente viáveis. No entanto, havia uma sensação de que a análise
adicional dos indicadores existentes e a vinculação destes eram mais
imediatamente viáveis do que construir novos indicadores que dependem do
desenvolvimento de pesquisas novas ou revisadas (PERROLLE; MORRIS,
2007, p. 8).
Criatividade
(nº de ideias geradas pelos colaboradores e convertidas em projetos de
inovação)
Controle de erros
(grau de formalização das práticas de controle de erros: existência ou não
de relatórios de conformidade)
Externalização
(distribuição externa de atividades de inovação para desenvolvimento de
novos produtos)
Aplicações tecnológicas
(nº de novos produtos gerados por uma organização a partir da aplicação
de uma nova tecnologia)
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 120
Estratégia de inovação
(Existência de estratégias de inovação em uma organização e seu grau de
alinhamento com a estratégia de negócios da mesma)
Parcerias estratégicas
(% de parceiros estratégicos para a atividade de inovação em relação ao
nº total de parceiros de uma organização)
Quadro 6.1 – Protocolo da Revisão Sistemática de Literatura (RLS) utilizado para mapear a
produção cientifica sobre métricas de inovação nas Universidades
Estratégia Descrição
Títulos
Campos pesquisados Resumos
Palavras-chave
“university innovation” AND (“indicator” OR “metric” OR “index” OR
Descritores utilizados
“ranking”)
Inclusão:
- Artigos sobre indicadores e métricas de inovação para universidades;
- Artigos publicados em periódicos das 5 áreas de maior
ocorrência/afinidade com os estudos sobre indicadores de inovação em
universidades: Social Sciences; Business, Management and Accounting;
Computer Science; Economics, Econometrics and Finance e Engineering.
Critérios de inclusão e de
exclusão Exclusão:
- Artigos sobre indicadores de inovação que não contemplem o contexto
universitário;
- Artigos sobre inovação universitária que não contemplem aspectos
relacionados às métricas;
- Artigos sem propostas objetivas de indicadores para mensurar a
inovação em universidades.
Botelho, Almeida Cunha e Macedo (2011), por sua vez, afirmam que essa
categoria de revisão sistemática se difere das bibliográficas narrativas, por “possuir
uma sequência de etapas pré-definidas, em que a metodologia é especificada com
técnicas padronizadas e passíveis de reprodução”. Trata-se, portanto, de uma
modalidade de pesquisa que segue protocolos específicos e que “(...) busca entender
e dar alguma logicidade a um grande corpus documental, especialmente verificando
o que funciona e o que não funciona num dado contexto” (GALVÃO; RICARTE, 2020,
p. 58).
O Quadro 6.1 sintetiza o protocolo de pesquisa da RSL aplicado nesse estudo,
o qual foi verificado pela ferramenta CASP Systematic Review Checklist (CRITICAL,
2018) que propõe uma lista de 10 questões para averiguação da qualidade no
processo de elaboração de uma revisão sistemática, de modo a refletir aspectos
sobre os resultados apresentados, a validade desses resultados e sua aplicabilidade.
A coleta de dados sistemática na base Scopus foi realizada entre os dias 15
e 16 de dezembro de 2021 por meio de uma busca avançada nos campos: título,
resumo e palavras-chave. A escolha pela Scopus deu-se pela representatividade
internacional que a base possui, sendo uma das fontes bibliográficas mais utilizadas
e a que mais indexa periódicos no mundo. Outras justificativas foram a simplicidade
de sua interface de busca, aliada às múltiplas possibilidades análise e de
importação/exportação de dados. Destaca-se, porém, que as bases de dados
internacionais não indexam uma parte importante da ciência, especialmente
publicada em língua não inglesa, sendo essa uma limitação assumida.
Em uma fase preliminar, teve-se o cuidado de verificar os termos mais comuns
utilizados pela literatura com o propósito de adequar os melhores descritores para
recuperação dos artigos mais aderentes ao objeto de pesquisa. Desse modo,
procedeu-se uma busca inicial na base Scopus com os termos “university
innovation”, “university indicator” e “university metric” a fim de identificar os vocábulos
secundários de maior ocorrência para que fosse elaborada uma estratégia de
recuperação mais assertiva. Em seguida, foram identificados e adicionados na busca
os termos “university index” e “university ranking”, todos com as suas respectivas
variações.
Adicionalmente, foram limitados os artigos publicados apenas nos periódicos
das 5 (cinco) áreas de maior ocorrência e/ou afinidade com os estudos sobre
indicadores de inovação em universidades: Social Sciences (368 artigos); Business,
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 124
Quadro 6.2 – Expressão de busca utilizada para a recuperação de artigos sobre métricas de
inovação em Universidades na base Scopus
Quadro 6.3 – Amostra de 14 artigos com expressivas contribuições sobre métricas de inovação em universidades
Ano Artigo/Autores Temáticas Indicadores propostos Abordagem metodológica
- Relação
Os autores propõem 2 indicadores para medir o impacto das fontes de Pesquisa na base de dados IIP de patentes japonesa para
Academic contribution universidade-
financiamento de pesquisa acadêmica no âmbito da competitividade e identificar “invenções progenitoras” registradas pelas
to industrial innovation indústria
2020 da indústria japonesa: universidades do país. O propósito foi averiguar a
by funding type
- criação de invenções progenitoras; contribuição acadêmica para a inovação industrial por meio
(KANG; MOTOHASHI) - Fontes de
- grau de difusão. do tipo de financiamento (indústria ou competitividade).
financiamento
Compilação de indicadores para avaliação dos atores envolvidos no
- Relação modelo da “hélice tríplice”. Os indicadores propostos para as
“Triple helix” model for universidade- universidades são:
Pesquisa bibliográfica. Autores fazem uma compilação da
recourse-based regions indústria - n.º de organizações realizando P&D;
2019 literatura para propor indicadores de avaliação da interação
(POPODKO; NAGAEVA) - custos internos de pesquisa e desenvolvimento por fontes de
entre os atores do modelo da “hélice tríplice”.
- Indicadores da financiamento;
Hélice Tríplice - n.º de patentes recebidas para invenções e modelos de utilidade;
- n.º de tecnologias de produção avançada desenvolvida.
Influence of the balanced
scorecard on the science
- Indicadores de Principais indicadores comuns nas universidades observadas:
and innovation Pesquisa bibliográfica e documental. O artigo faz uma
desempenho - n.º de projetos de pesquisa;
2019 performance of Latin revisão dos indicadores de pesquisa e inovação mais
em atividades - n.º de publicações científicas;
American universities utilizados por 6 universidades latino-americanas.
de pesquisa - receita financeira obtida com a comercialização da produção científica
(PERIS-ORTIZ; GARCIA-
HURTADO; DEVECE)
78 indicadores que medem a “personalidade” dos alunos e fatores
grupais relacionados a instituição, agrupados em 10 dimensões:
a) sentido de pertencimento e reconhecimento institucional;
Propõe a construção de um modelo de indicadores para
University coaching: b) autoeficácia e resolução de problemas;
medir a eficiência de um processo de ensino (coaching)
Proposal of a measuring - Métricas para c) conduta pro-social e coesão grupal;
promovido pela Universidade de Granada (Espanha). Para
indicator system avaliação do d) consciência de contribuição a universidade;
2019 isso, os autores utilizaram o método ex-post-facto para
(PANIZA PRADOS; processo de e) abertura a experiência e capacidade de antecipação;
investigar possíveis relações de causa e efeito após a
PUERTAS CANÃVERAL; ensino f) interação social;
introdução de estímulos em um grupo experimental de
MOLINA MORALES) g) motivação intrínseca;
coaching.
h) competência e assertividade;
i) inteligência emocional (empatia);
j) tomada de decisões.
- Produto Interno Bruto per capita
- despesa bruta em P&D;
Capturing ‘R&D - despesas em negócios em P&D;
excellence’: indicators, - gastos em educação superior em P&D; Pesquisa quantitativa empírica realizada a partir da
- Indicadores de
international statistics, - gastos com P&D no ensino superior financiados pelo setor empresarial; contagem de frequência de referências da literatura
2018 P&D nas
and innovative - publicações em coautoria de universidades-indústria / total da (citações) de patentes para publicações de pesquisa
universidades
universities produção científica; durante 15 anos.
(TIJSSEN; WINNINK) - publicações em coautoria de universidades-indústria / total da
produção científica envolvendo uma empresa comercial como parceiro
de pesquisa.
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 127
Ano Artigo/Autores Temáticas Indicadores propostos Abordagem metodológica
Utiliza a abordagem de análise de decisão de múltiplos
Composite innovation critérios (MCDA) combinada com os métodos AHP (Analytic
metrics: MCDA and the Hierarchy Process) e TOPSIS (Technique for Order
Quadruple Innovation - Métricas de São propostos 25 indicadores, apresentados com seus respectivos pesos, Preference by Similarity to Ideal Solution) para estimar os
2018 Helix framework inovação de acordo com o grau de relevância para os atores do modelo da diferentes pesos de indicadores de inovação e construção
(CARAYANNIS; compostas Quadrupla Hélice: universidade, governo, indústria e sociedade civil. de classificações nacionais e regionais, tendo como base
GOLETSIS; dois “placares de inovação” amplamente utilizados: EIS
GRIGOROUDIS) (European Innovation Scoreboard) e o RIS (Regional
Innovation Scoreboard)
Indicator system for
managing science, São propostos 68 indicadores agrupados em seis dimensões (variáveis):
technology and a) caracterização dos pesquisadores;
Pesquisa empírica quantitativa baseada em survey. Propõe
innovation in - Indicadores b) produção científica e tecnológica;
o desenho de um sistema de indicadores para medir o
2018 universities de CT&I nas c) trajetória acadêmica e de pesquisa;
desempenho dos processos de ciência, tecnologia e
(RIVERO AMADOR; DÍAZ universidades d) dinâmica e colaboração científica;
inovação no âmbito das universidades.
PÉREZ; LÓPEZ- e) visibilidade territorial;
HUERTAS; JAVIER f) visibilidade internacional.
RODRÍGUEZ)
What drives university
research performance? Análise quantitativa dos fatores relacionados ao
- n.º de publicações altamente citadas
An analysis using the desempenho da pesquisa acadêmica, influenciado por
- Rankings (excelência da pesquisa);
2017 CWTS Leiden Ranking variáveis estruturais como tamanho, orientação disciplinar e
universitários - n.º de publicações em coautoria internacional (internacionalização);
data localização no país. Utiliza como base empírica o Leiden
- publicações em coautoria de universidades-indústria (inovação)
(FRENKEN; HEIMERIKS; Ranking.
HOEKMAN)
Atividades científicas:
- n.º total de citações;
- Métricas de - n.º total de publicações e colaborações nacionais e internacionais;
inovação - n.º de teses defendidas;
A metodologia adotada foi a análise fatorial exploratória
Constructing a synthetic compostas - n.º de bolsas conquistadas para formação em pesquisa;
(EFA) que reuniu indicadores absolutos e relativos,
indicator of research - n.º de contratos de pesquisa de pós-doutorado no âmbito nacional;
agrupadas em duas dimensões: indicadores de produção
2016 activity - Indicadores - n.º de projetos vencidos em competições.
científica e inovação. A Base empírica foi o IUNE
(LUQUE-MARTÍNEZ; DEL de Inovação:
Observatory, que reúne dados oficiais das universidades
BARIO-GARCÍA) desempenho - n.º de contratos de P&D;
espanholas.
em atividades - receita gerada pelo licenciamento;
de pesquisa - n.º de spin-offs criadas;
- n.º de projetos entregues com financiamento europeu;
- n.º de patentes nacionais e internacionais alcançadas.
Perception versus
- Diagnóstico Indicadores de “performance” de inovação: Pesquisa qualitativa utilizando-se como método principal a
performance indicators:
de inovação - eficiência e eficácia do processo de inovação; revisão sistemática de literatura. A partir dessa análise, os
a study of innovation
percebida - n.º de novos projetos, serviços ou produtos concluídos; autores propõem 5 medidas de desempenho de inovação
2016 performance in a
- fundo de pesquisa concedido; para organizações baseadas em pesquisa. Os indicadores
research university
- Inovação - n.º de parceiros (colaboradores) e cooperação; propostos visam a mensuração da “performance” de
(KOWANG, T.O.; LONG,
universitária - tempo de finalização de um projeto. inovação.
C.S.; RASLI, A.; FEI, G.C.)
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 128
Para quê medir? Bases para uma avaliação final comparada do sistema
12 https://ruf.folha.uol.com.br
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 139
apontado por Andrade (2016) é o fato deste ranking não considerar a
transferência de tecnologia como indicador; portanto, ele trata da capacidade de
invenção da instituição e não da inovação, que se dá através da introdução de
novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social.
Outra iniciativa nacional relevante é o Ranking das Universidades
Empreendedoras (RUE), promovido desde 2016 pela Confederação Brasileira
de Empresas Juniores (Brasil Júnior) a partir da percepção dos discentes,
informações autodeclaradas das universidades e outras fontes de dados
complementares. A quarta edição do estudo (2021) analisou as respostas de 24
mil estudantes universitários de 126 instituições de ensino (públicas e privadas)
de todas as unidades da federação. O RUE enumera as universidades mais
empreendedoras do país a partir de seis critérios de avaliação (dimensões):
Cultura Empreendedora, Inovação, Extensão, Infraestrutura, Internacionalização
e Capital Financeiro. O levantamento se propõe a compreender quais práticas
incentivam a inovação nessas instituições.
A importância desse ranking pode ser notada após a divulgação dos
resultados da edição de 2019, quando a Secretaria de Educação Superior do
Ministério da Educação resolveu destinar R$ 7 milhões para as universidades
federais mais bem ranqueadas. O objetivo do investimento, segundo a pasta, foi
apoiar as “Políticas de Empreendedorismo e Inovação” das instituições, de
acordo com suas ações estratégicas.
Segundo a sua metodologia13, o componente de inovação de uma
universidade é compreendido a partir do grau de desenvolvimento de tecnologia,
aferida por meio das patentes solicitadas, e de conhecimento (pesquisa) nas
instituições. Entretanto, diferentemente do Ranking Universitário Folha, a fonte
de coleta dos dados sobre patentes é a base internacional da World Intellectual
Property Organization (WIPO). Já o grau de parceria com as empresas
(Proximidade IES-Empresa) é medido por meio da média de três subindicadores,
13 https://universidadesempreendedoras.org/metodologia/
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 140
sendo que o primeiro (“empresas incubadas”) possui peso 6 e os demais
(“resultado das ICT” e “situação do NIT”) com peso 2, cada.
Interessante notar que a relação universidade-empresa é compreendida
pelos dois rankings de forma bem distinta e até curiosa: enquanto a iniciativa
privada (Folha) mede pelo viés acadêmico (quantidade de publicações
produzidas pelas IES juntamente com o setor produtivo), o ranking das empresas
juniores (sociedade) quantifica os termos de cooperação (acordos) firmados
junto ao setor produtivo.
Web of
Citações Nº de citações por artigo
Science/InCites
Pesquisa
Volume de produção científica para cada –
Produção
1.000 alunos na IES
Indicador Nível
Número de empresas de base tecnológica graduadas nos últimos dois anos Operacional
• Índice de produção
intelectual; Mestrado profissional
Proposta de indicadores
• Índice de em Propriedade
de inovação no plano de
SANTOS Instituto Federal transferência de Intelectual e
desenvolvimento
(2019) Goiano tecnologia; Transferência de
institucional do IF
Goiano • Índice de Tecnologia para
produtividade dos Inovação
grupos de pesquisa
Mestrado profissional
Proposta de modelo de
em Rede Nacional de
indicadores e métricas Universidade 112 indicadores divididos
SILVA Propriedade
de inovação para Federal de em 5 dimensões e
(2019) Intelectual e
Universidade Federal de Alagoas (UFAL) subdimensões.
Transferência de
Alagoas
Tecnologia
55 indicadores KPI
Sistema de mensuração
Universidade divididos em dois
ANDRADE em inovação para Mestrado em
Federal da conjuntos:
(2016) universidades públicas Engenharia Industrial
Bahia (UFBA) Índice Insumos e
no Brasil
Índice Resultados
• Indicadores Tradicionais de
inovação Análise da Literatura
• Evolução dos Indicadores de
Análise de Conteúdo
inovação
Interrelacionar as concepções e • Mensuração da Inovação Confrontação com o referencial teórico
indicadores mencionados pelos • Modelos de Gestão e
dirigentes vinculados à inovação Abordagem: qualitativa
Mensuração da Inovação
aos existentes na literatura. • Novos Indicadores Aplicados à Fonte: literatura estudada e entrevistas com
Inovação dirigentes de instâncias ligadas à inovação na
• Propostas Nacionais de Métricas universidade (Pró-reitores e diretores de
Aplicadas à Inovação Agências de Inovação)
Universitária
16Em 06/05/2022, após a realização das entrevistas, a Reitoria da USP publicou a Resolução nº
8228, alterando dispositivos do Regimento Geral da Universidade de São Paulo, para prever o
Conselho de Pesquisa e Inovação e a criação da Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 155
Quadro 7.2 – Conjunto de IES participantes da pesquisa e características dos dirigentes entrevistados
Posição Posição
Área de Formação do
Brasil Global IES Órgão de Inovação Nome do Entrevistado / Cargo
Entrevistado
(THE) (THE)
Universidade de São Paulo Agência USP de Inovação Prof. Dr. Luiz Henrique Catalani
1º 2º Química
(USP) (AUSPIN) Diretor Executivo
Universidade Estadual de
Agência de Inovação Unicamp Prof. Dra. Ana Maria Frattini Fileti
2º 3º Campinas Física
(Inova Unicamp) Diretora Executiva
(Unicamp)
Universidade Federal de São Agência de Inovação Tecnológica Prof. Dr. Guilherme Brandão
6º 9º Paulo e Social Analista de C&T (indicação do Sociologia da Ciência
(UNIFESP) (AGITS) Diretor Executivo)
Universidade Estadual Paulista Agência Unesp de Inovação Prof. Dr. Marcelo Ornaghi Orlandi
8º 11º Física
(Unesp) (AUIN) Gerente de Empreendedorismo
Universidade de Brasília Decanato de Pesquisa e Inovação Profa. Dra. Maria Emilia Walter
11º 16º Ciência da Computação
(UnB) (DPI) Decana
Universidade Federal
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós- Profa. Dra. Andrea Brito Latge
18º 31 º Fluminense Engenheira Química
Graduação e Inovação Pró-reitora
(UFF)
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 156
Fonte: Dados da pesquisa (2022). Com informações sobre posições no Ranking THE: Latin American University Rankings 2021.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 157
O Quadro 7.2 apresenta o conjunto das universidades pesquisadas, com
as características dos dirigentes17 das instâncias de inovação entrevistados
dessas instituições, compondo a base empírica da presente tese.
Em que pese o fato de que foi considerada, para efeito de análise dos
dados, a diversidade da cultura organizacional das instituições, bem como a
variedade do perfil dos entrevistados, em relação ao cargo ocupado e tempo na
função.
A amostra caracteriza-se pela concentração de universidades localizadas
principalmente na região Sudeste, com 8 (ou 72,7%). Bem atrás, aparecem as
instituições da região Centro-Oeste com 2 (18,2%) e Sul com 1 (9,1%). Embora
tenha sido tentado contatos com universidades das regiões Norte e Nordeste,
não houve retorno por parte das Pró-reitorias e das assessorias das Agências.
A maioria dos entrevistados (8 ou 72,7%) possui formação na grande área
das Ciências Exatas e da Terra. Os outros três executivos são oriundos das
áreas de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências Sociais Aplicadas.
18 https://colab.research.google.com/drive/1Y3DXa_i7xa_o1U6Igper5ZvG8hNKgNDM
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 159
semiestruturado (Apêndice A). Acrescenta-se que as respostas obtidas nas
entrevistas foram complementadas com dados secundários extraídos das
páginas Web e relatórios dos órgãos participantes.
Sobre a técnica de “entrevista em profundidade”, Mattar (2013) explica
que as perguntas devem ser feitas de modo livre aos respondentes, de tal modo
que esses sejam motivados a manifestar suas crenças, atitudes e sensações
subjacentes sobre um determinado tópico. Para Duarte (2006), trata-se de uma
“técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações,
percepções e experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de
forma estruturada” (DUARTE, 2006, p. 62).
Ainda de acordo com Duarte (2006), na entrevista semiaberta as questões
têm origem no problema de pesquisa e buscam tratar da amplitude do tema, por
meio do uso de perguntas abertas tanto quanto possível. O autor sugere
trabalhar com um número baixo de questões esgotando ao máximo cada
pergunta. “Cada questão é aprofundada, gerando outras em consequência; para
tal, as questões devem ser amplas, pois não se pode correr o risco de esgotá-
las com facilidade.” (DUARTE, 2006, p. 63).
Além disso, conforme YIN (2016), a lista de questões-chave pode ser
alterada no decorrer das entrevistas em profundidade. Não há um roteiro rígido
a ser seguido e, desse modo, o pesquisador tem liberdade para escolher as
perguntas mais apropriadas e a sua sequência para um determinado momento,
porém deve-se ater aos temas previamente definidos. Quanto às questões
propostas aos participantes, estas irão diferir de acordo com o contexto e o
ambiente da entrevista. Por este processo indutivo ou inferencial, procura-se
compreender o sentido da fala dos entrevistados para, depois, proceder a sua
análise (YIN, 2016, p. 156).
Quadro 7.3 – Códigos e categorias criados para Análise de Conteúdo das entrevistas
com dirigentes das IES
Códigos Categorias
papel da universidade
conceitos de inovação
percepção da inovação
universidade inovadora
potencial de inovação
Definição e significado
relação universidade-empresa
inovação no ensino
inovação na pesquisa
inovação na extensão
universidade inovadora
inovação e sociedade
cultura empreendedora
inovação social
Natureza da inovação
universidade inovadora
relação universidade-empresa
percepção da inovação
Fonte: elaboração própria. Baseado na estrutura proposta por Junior e Leão (2018).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 166
Para facilitar o caminho metodológico adotado e com o propósito de
sintetizar todo o procedimento desenvolvido com o IRAMUTEQ e o ATLAS.ti na
Análise de Conteúdo, foi criado o Quadro 7.4 que relaciona os objetivos, métodos
de análise nos softwares e a correlação com os pressupostos da metodologia,
de acordo com Bardin.
Adicionalmente, cabe recordar que a utilização das ferramentas
informatizadas contribui significativamente para a organização dos dados e a
otimização do processo analítico, porém todos os passos previstos pela
metodologia e a interpretação subsequente dos resultados dependem do
arcabouço teórico reunido pelo pesquisador.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 167
Figura 8.1 – Diagrama de Zipf com o comportamento das palavras no corpus textual das
entrevistas
Figura 8.2 – Dendrograma (CHD) das relações entre as classes das entrevistas
Figura 8.3 – Análise Fatorial por Correspondência (AFC) das entrevistas com os
dirigentes
Figura 8.5 – Rede Semântica da categoria “Definição e Significado” das entrevistas com
dirigentes de IES sobre Inovação em Universidades
Figura 8.6 – Rede Semântica da categoria “Natureza da Inovação” das entrevistas com
dirigentes de IES sobre Inovação em Universidades
Figura 8.8 – Patente que adverte para a fragilidade no uso de indicadores de patentes
como métrica
Fonte: INPI
Indicadores
Indicadores propostos na literatura / Autores
Tradicionais
total de patentes
patentes requiridas
GONÇALVES, 2017
patentes concedidas
total de patentes
WU; CHEN; CHEN, 2010
receita obtida por meio de patentes
nº de projetos de pré-incubação
nº empresas graduadas
GONÇALVES, 2017
mortalidade das empresas graduadas
LUQUE-MARTÍNEZ; DEL
total de spin-offs criadas
BARIO-GARCÍA, 2016
RAMOS-VIELBA;
FERNÁNDEZ-
comercialização relacionada à direitos de
ESQUINAS; ESPINOSA-
propriedade intelectual
dividendos de royalties DE-LOS-MONTEROS,
recebidos 2010
LUQUE-MARTÍNEZ; DEL
receita gerada pelo licenciamento
BARIO-GARCÍA, 2016
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 197
total de spin-offs universitários GONÇALVES, 2017
total de empresas-filhas
LUQUE-MARTÍNEZ; DEL
nº de spin-offs criadas
BARIO-GARCÍA, 2016
PERIS-ORTIZ; GARCIA-
total de projetos de
nº de projetos de pesquisa HURTADO; DEVECE,
pesquisa
2019
Indicadores Não-
Indicadores propostos na literatura / Autores
Tradicionais
acordos de cooperação
mapeamento de
GONÇALVES, 2017
empresas e parceiros
IES parceiras
projetos de extensão
quantidade de projetos de extensão SILVA, 2019
tecnológica
potencial de propriedade
Sugerido pelos dirigentes e não localizado equivalentes na literatura
intelectual
comprometimento
ecológico e/ou Sugerido pelos dirigentes e não localizado equivalentes na literatura
biodiversidade
Recursos
Potencial Humano Recursos Humanos Pessoas
(subárea: Recursos Humanos)
Recursos
Práticas Gerenciais Modernização Organizacional –
(subárea: Infraestrutura)
Transferência de Conhecimento
Ensino, Pesquisa e Extensão Atividade de Pesquisa Artigos publicados
(subárea: Prod. Conhecimento
Transf. de Conhecimento
Contratos de Transferência de
– (subárea: Cooperação e
Transferência de Tecnologia
Transferência de Tecnologia
Conhecimento e Propriedade
Intelectual
Registro de Propriedade
– Propriedade Intelectual
Intelectual
Área de Resultados
Novas empresas que surgem das
Capacidade Empreendedora Empreendedorismo Capacitação e Empreendedorismo
incubadoras
Impacto Social – – –
Impacto Ambiental – – –
<https://stars.aashe.org/>
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
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80 países, que responderam a uma survey sobre a situação atual e os
compromissos relacionados aos impactos ambientais.
A iniciativa pretende chamar a atenção de gestores públicos e demais
partes interessadas para o enfrentamento das mudanças climáticas globais,
conservação de energia e água, reciclagem de resíduos e transporte verde. De
acordo com os responsáveis pelo GreenMetric, tais atividades exigirão mudança
de comportamento e atenção ao meio ambiente, bem como aos problemas
econômicos e sociais relacionados à sustentabilidade.
Quanto aos exemplos de universidades brasileiras que já aderiram ao
GreenMetric, a USP se sobressai com a 10ª posição geral nesse ranking, melhor
colocação entre as instituições de ensino e pesquisa da América Latina na atual
edição. Outras instituições nacionais participantes são a Universidade Federal
de Lavras (UFLA), a Unicamp e o Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Sul de Minas Gerais, listados pela ordem de melhor
classificação23.
É válido lembrar que, desde 2012, a USP instituiu uma Superintendência
de Gestão Ambiental (SGA), responsável pelo desenvolvimento de ações de
conservação dos recursos naturais da universidade. Em 2020, a universidade foi
além, com a criação do GT de Indicadores para Sustentabilidade Ambiental24,
que tem sistematizado a coleta de dados referente ao consumo de água e
energia nos campi da universidade. Esses indicadores passaram a integrar o
Anuário Estatístico da USP, conforme ação de gestão conduzida pelo seu
Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico (Egida),
implementado em 2018.
De forma suplementar, o sistema de classificação STARS busca, por sua
vez, auxiliar as universidades na medição do progresso das ações inovadoras
sustentáveis (ecológicas, sociais, econômicas e de saúde) provocadas nos mais
diferentes setores, permitindo comparações significativas de seus esforços em
<http://egida.usp.br/gt-indicadores-sustentabilidade-ambiental-usp/>.
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
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parâmetros específicos (por exemplo, reciclagem, energia e consumo de água)
com outras instituições.
Diferentemente dos rankings tradicionais, que apresentam uma listagem
hierárquica (top to bottom), o modelo fornece quatro níveis de reconhecimento
(selos), de acordo com a pontuação obtida pela instituição: Bronze, Silver, Gold
ou Platinum. Além desses, há também a classificação “Reporter” para
instituições que estão dando os primeiros passos nessa direção.
APÊNDICE A
PROTOCOLO DE ENTREVISTA
Roteiro de entrevista semiestruturada realizada com gestores vinculados a
inovação das universidades públicas brasileiras selecionadas.
1. Identificação do entrevistado
Nome:
Cargo:
Tempo no cargo:
Área de titulação:
IES:
2. Sobre o conceito de inovação:
a) Como o Sr.(a) definiria o que significa inovação para a universidade?
b) Na sua visão, existe mais pesquisa, invenção ou inovação na universidade?
Qual a sua percepção a respeito desses conceitos?
c) Na sua opinião, o torna uma universidade “inovadora”?
d) Quais as características da inovação no contexto universitário?
(princípios, gestão, relação com os usuários, relações com as fontes de
conhecimento, métricas)
e) Na sua percepção, qual o conceito de inovação mais se aplica a
universidade: paradigma tecnológico ou social?
f) Na sua percepção, quais as dimensões da inovação são mais verificadas nas
universidades?
(ensino, pesquisa, extensão, empreendedorismo, patentes e proteção do
conhecimento, transferência tecnológica, modernização organizacional,
Recursos Humanos)
g) E sobre os impactos da inovação produzida na universidade?
Quanto ao grau de novidade (radical ou incremental)
Quanto ao objeto (produto, processo, serviço, organizacional, marketing)
Quanto às fontes para seu desenvolvimento (fechada/aberta)
3. Sobre a participação das universidades no processo de inovação:
h) Qual o papel da universidade no Sistema Nacional de Inovação?
i) Qual a importância das políticas institucionais de inovação nas
universidades?
(verificar se há uma percepção de que tais políticas foram criadas apenas em
função da obrigatoriedade da legislação)
j) Na sua opinião, a política de inovação deveria contemplar elementos da Hélice
Quádrupla (sociedade) ou Hélice Quíntupla (meio ambiente)?
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