Você está na página 1de 249

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO


Programa de Pós–Graduação em Ciência da Informação

ROBSON LOPES DE ALMEIDA

MODELOS, DIMENSÕES E INDICADORES PARA


MENSURAÇÃO DA INOVAÇÃO UNIVERSITÁRIA: REFLEXÕES
A PARTIR DA LITERATURA E DAS PERCEPÇÕES DE
DIRIGENTES DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS

BRASÍLIA
2022
ROBSON LOPES DE ALMEIDA

MODELOS, DIMENSÕES E INDICADORES PARA


MENSURAÇÃO DA INOVAÇÃO UNIVERSITÁRIA: REFLEXÕES
A PARTIR DA LITERATURA E DAS PERCEPÇÕES DE
DIRIGENTES DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS

Tese apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Ciência da Informação
(PPGCINF) da Universidade de Brasília
(UnB) como parte dos requisitos para
obtenção do título de Doutor em Ciência da
Informação.

Orientador: Prof. Dr. João de Melo Maricato

BRASÍLIA
2022
13/12/22, 07:58 SEI/UnB - 8883108 - Despacho

FOLHA DE APROVAÇÃO

Título: “ MODELOS, DIMENSÕES E INDICADORES PARA MENSURAÇÃO DA INOVAÇÃO


UNIVERSITÁRIA: REFLEXÕES A PARTIR DA LITERATURA E DAS PERCEPÇÕES DE DIRIGENTES DE
UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS ”

Autor (a): ROBSON LOPES DE ALMEIDA


Área de concentração: Gestão, Organização e Comunicação da Informação e do
Conhecimento
Linha de pesquisa: Produção, Socialização e Usos da Informação e do Conhecimento

Tese submetida à Comissão Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Pós-


graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília
como requisito parcial para obtenção do titulo de DOUTOR em Ciência da Informação.

Tese aprovada em: 29 de novembro 2022.

Presidente (UnB/PPGCINF): Prof. Dr. João de Melo Maricato


Membro Interno (UnB/PPGCINF): Prof. Dr. Dalton Lopes Martins
Membro Externo ( UNESP): Profa. Dra. Marta Lígia Pomim Valentim
Membro Externo ( USP): Profa. Dra. Asa Fujino
Suplente ( UnB/PPGCINF): prof. Dr. Fernando Cesar Lima Leite
Em 26/10/2022.

Documento assinado eletronicamente por Joao de Melo Maricato, Professor(a) de Magistério


Superior da Faculdade de Ciência da Informação, em 12/12/2022, às 12:49, conforme horário oficial
de Brasília, com fundamento na Instrução da Reitoria 0003/2016 da Universidade de Brasília.

Documento assinado eletronicamente por Marta Lígia Pomim Valentim, Usuário Externo, em
12/12/2022, às 13:37, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento na Instrução da Reitoria
0003/2016 da Universidade de Brasília.

Documento assinado eletronicamente por Dalton Lopes Martins, Professor(a) de Magistério


Superior da Faculdade de Ciência da Informação, em 12/12/2022, às 14:22, conforme horário oficial
de Brasília, com fundamento na Instrução da Reitoria 0003/2016 da Universidade de Brasília.

Documento assinado eletronicamente por ASA FUJINO, Usuário Externo, em 12/12/2022, às 14:23,
conforme horário oficial de Brasília, com fundamento na Instrução da Reitoria 0003/2016 da
Universidade de Brasília.

https://sei.unb.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=9908667&infra_sistema=… 1/2
A autenticidade deste documento pode ser conferida no site
http://sei.unb.br/sei/controlador_externo.php?
acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0, informando o código verificador 8883108 e
o código CRC B43293A3.

Referência: Processo nº 23106.128388/2022-43


Para meus pais, IVAN e MARIA,
com amor e gratidão, por tudo que tiveram a chance
de fazerem por mim enquanto estavam por perto.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à Deus pelos dons recebidos e pelas muitas


oportunidades que me foram dadas em vida, as quais me permitiram realizar
sonhos, como o de concluir um doutorado no mesmo ano em que meu filho, João
Gabriel, se tornou mestre (em Física). Te agradeço por ter me escolhido para ser
seu pai, João! Tenho muito orgulho do homem que você se tornou!
À minha irmã Renata, a pessoa mais alegre e determinada que conheço.
Sou grato a você pelo imenso apoio e vibração em cada etapa da minha jornada
acadêmica!
À minha companheira Virgínia, pelo carinho, compreensão e o exercício
de paciência diário, especialmente durante a reta final do processo.
Ao meu orientador, Prof. Dr. João de Melo Maricato, pela sua dedicação
e compromisso com a docência. Além disso, pela torcida – de ambos os lados –
e a parceria acadêmica formada ao longo desses últimos anos, a qual se
transformou em amizade e admiração.
Aos membros da banca de qualificação e defesa de tese, Prof. Dr. Dalton
Lopes Martins (UnB), Profa. Dra. Asa Fujino (USP) e Profa. Dra. Marta Lígia
Pomim Valentim (Unesp), por compartilharem seu conhecimento e pelas
valiosas contribuições, essenciais para a materialização deste trabalho. Menção
especial à Profa. Marta Valentim, pelas recomendações e dicas dadas, ainda em
2019, por ocasião da apresentação do esboço da pesquisa durante o Consócio
Doutoral da Rede de Gestão da Informação e do Conhecimento, em Porto
Alegre.
Na pessoa da Profa. Dra. Maria Emília Walter, decana de Pesquisa e
Inovação da Universidade de Brasília, agradeço aos demais dirigentes de
universidades públicas, Pró-reitores e diretores-executivos de Agências de
Inovação, que gentilmente se dispuseram a colaborar com essa pesquisa,
partilhando suas percepções a respeito da inovação no contexto da
universidade.
À Universidade de Brasília, pública e gratuita, por me permitir fazer parte
de sua comunidade e, assim, poder vivenciar tantas experiências de crescimento
profissional e pessoal durante a minha vida acadêmica.
Aos meus ex-alunos, com quem eu pude conviver por mais de 12 anos
em minha trajetória como docente universitário, que me motivaram a inovar
sempre. Com vocês pude aprender muito mais do que ensinar, me tornando uma
pessoa melhor.
A todos os amigos e familiares – próximos ou nem tanto – que, mesmo
sem saber, me abasteceram com a energia de que eu precisava para aqueles
momentos em que o desânimo parecia querer bater à porta.
Não se gerencia o que não se mede,
não se mede o que não se define,
não se define o que não se entende,
e não há sucesso no que
não se gerencia

(William E. Deming)
RESUMO

Evidencia-se a evolução do papel da universidade pública brasileira como protagonista, cada vez
mais relevante, do Sistema Nacional de Inovação. O conhecimento produzido por essas
instituições tem sido responsável pela formulação de estratégias das nações para o
desenvolvimento econômico e social, impulsionando o avanço tecnológico que conduz à
inovação. Diante disso, torna-se relevante o entendimento de como a o fenômeno da “inovação”
se manifesta no ambiente universitário e como esse pode ser dimensionado, medido e avaliado,
em especial no contexto das instituições públicas que precisam prestar contas dos recursos
investidos à sociedade. Parte-se do princípio de que a inovação é um fenômeno complexo e sua
mensuração possui limitações significativas em organizações universitárias, as quais não podem
ser realizadas unicamente com indicadores tradicionais, frequentemente utilizados para a
medição de inovação realizadas pelo setor produtivo. Nesse contexto, o objetivo geral dessa tese
é “analisar a percepção dos dirigentes vinculados à inovação no âmbito das universidades
públicas brasileiras, de modo a subsidiar a proposição de um modelo e indicadores de
mensuração”. O percurso metodológico, de cunho exploratório e natureza qualitativa, inicia-se
com a elaboração de um referencial teórico- conceitual profundo sobre o tema, no qual foi
evidenciado a evolução da conceituação sobre inovação e a sua relação com a universidade
brasileira, especialmente após a regulamentação do Marco Legal de CT&I. Para a realização do
objetivo proposto, optou-se pela aplicação de técnicas mistas (abordagem qualiquantitativa),
envolvendo uma ampla Revisão Sistemática da Literatura, acrescida de estudos bibliométricos,
combinadas com o propósito de buscar um entendimento sobre a percepção dos dirigentes [Pró-
reitores e diretores-executivos de Agências de Inovação] a respeito da manifestação desse
fenômeno no contexto da academia. Foram selecionados 11 dirigentes que lidam com o
ecossistema de inovação de universidades federais e estaduais. Os dados textuais (entrevistas)
foram analisados por meio de técnicas de Análise de Conteúdo, apoiadas pelos softwares
IRAMUTEQ e ATLAS.ti, que auxiliaram o processo de automatização de algumas análises
lexicais, tornando possível integrar níveis qualitativos e quantitativos (estatísticas) na
investigação, qualificando ainda mais os resultados da pesquisa. Com a sistematização das
percepções dos dirigentes públicos, juntamente com a análise dos indicadores de inovação
identificados na literatura, chegou-se a uma proposta de modelo que reúne 9 (nove) dimensões
da inovação para universidades públicas, a saber: i) potencial humano; ii) recursos financeiros;
iii) práticas gerenciais; iv) ensino, pesquisa e extensão; v) parcerias; vi) transferência de
conhecimento e propriedade intelectual; vii) capacidade empreendedora; viii) impacto social; e
ix) impacto ambiental. Como proposta para pesquisas futuras, sugere-se o estudo da aplicação
das dimensões sugeridas, buscando-se complementação e aperfeiçoamento das métricas a
partir de modelos de maturidade de inovação, a exemplo do IRL (Innovation Readiness Level)
para mensuração de certos tipos de inovação que ocorrem no contexto amplo das universidades.

Palavras-chave: Indicadores de inovação. Métricas de inovação. Inovação universitária.


Universidades. Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES). Gestão universitária. Ciência,
Tecnologia e Inovação
ABSTRACT

It is evident the evolution of the role of the Brazilian public university as an increasingly relevant
protagonist of the National Innovation System. The knowledge produced by these institutions has
been responsible for formulating national strategies for economic and social development, driving
technological advances that lead to innovation. Therefore, it becomes relevant the understanding
of how the phenomenon of "innovation" manifests itself in the university environment and how it
can be dimensioned, measured and evaluated, especially in the context of public institutions that
need to account for the resources invested in society. It is assumed that innovation is a complex
phenomenon and its measurement has significant limitations in university organizations, which
can not be performed solely with traditional indicators, often used to measure innovation carried
out by the productive sector. In this context, the general objective of this thesis is to analyze the
perception of leaders linked to innovation within the scope of Brazilian public universities, in order
to support the proposition of a model and measurement indicators. The methodological course,
of exploratory study and qualitative nature, begins with the elaboration of a deep theoretical-
conceptual framework on the subject, in which the evolution of the conceptualization of innovation
and its relationship with the Brazilian university was evidenced, especially after the regulation of
the ST&I Legal Framework. To achieve the proposed objective, it was chosen to apply mixed
techniques (qualiquantitative approach), involving a broad Systematic Review of Literature, plus
bibliometric studies, combined with the purpose of seeking an understanding of the managers’
perception [Pro-rectors and executive directors of Innovation Agencies] regarding the
manifestation of this phenomenon in the context of academia. There were selected 11 managers
who deal with the innovation ecosystem of federal and state universities.The textual data
(interviews) were analyzed using Content Analysis techniques, supported by IRAMUTEQ and
ATLAS.ti software, which helped in the process of automating some lexical analyses, enabling
the integration of qualitative and quantitative levels (statistics) in the investigation, further
qualifying the research results. With the systematization of public managers' perceptions together
with the analysis of the innovation indicators identified in the literature, a model proposal that
brings together 9 (nine) dimensions of innovation for public universities was reached, namely: : i)
human potential; ii) financial resources; iii) management practices; iv) teaching, research and
extension; v) partnerships; vi) transfer of knowledge and intellectual property; vii) entrepreneurial
capacity; viii) social impact; and ix) environmental impact. As a proposal for future research, it is
suggested to study the application of the suggested dimensions, seeking to complement and
improve the metrics from innovation maturity models, such as the IRL (Innovation Readiness
Level) to measure certain types of innovation. that occur in the broad context of universities.

Keywords: Innovation indicators. Innovation metrics. University innovation. Universities. Public


Institutions of Higher Education. University management. Science, Technology and Innovation
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Modelos lineares de inovação ...................................................... 49


Figura 2.2 – Modelo “acoplado” do processo de inovação ............................... 51
Figura 2.3 – Modelo de interações em cadeia do processo de inovação ......... 51
Figura 2.4 – Modelo sistêmico de inovação ..................................................... 52
Figura 3.1 – Modelo da Hélice Quíntupla de inovação ..................................... 65
Figura 4.1 – Ecossistema de inovação entre universidade-empresa ............... 72
Figura 4.2 – Estrutura da universidade proposta por Atcon (1966) .................. 79
Figura 5.1 – Medidas de desempenho do modelo Balanced Scorecard .......... 95
Figura 5.2 – Funil da Inovação ......................................................................... 98
Figura 5.3 – Cadeia de Valor da Inovação ..................................................... 101
Figura 5.4 – Diagrama de gestão da inovação (modelo Diamante) ............... 104
Figura 5.5 – Exemplo de aplicação do diagrama de gestão da inovação
(modelo de Diamante) .................................................................................... 105
Figura 6.1 – KTH Innovation Readiness Level ............................................... 147
Figura 6.2 – Exemplo de aplicação da dimensão Customer Readiness Level
(CRL) do KTH-IRL .......................................................................................... 148
Figura 8.1 – Diagrama de Zipf com o comportamento das palavras no corpus
textual das entrevistas .................................................................................... 169
Figura 8.2 – Dendrograma (CHD) das relações entre as classes das entrevistas
....................................................................................................................... 171
Figura 8.3 – Análise Fatorial por Correspondência (AFC) das entrevistas com
os dirigentes ................................................................................................... 173
Figura 8.4 – análise de Similitude das entrevistas com os dirigentes ............ 175
Figura 8.5 – rede semântica da categoria “definição e significado” das
entrevistas com dirigentes de ies sobre inovação em universidades ............. 179
Figura 8.6 – Rede semântica da categoria “natureza da inovação” das
entrevistas com dirigentes de ies sobre inovação em universidades ............. 182
Figura 8.7 – Rede semântica da categoria “mensuração da inovação” das
entrevistas com dirigentes de ies sobre inovação em universidades ............. 186
Figura 8.8 – Patente que adverte para a fragilidade no uso de indicadores de
patentes como métrica ................................................................................... 190
Figura 9.1 – Dimensões da inovação em universidades públicas identificadas
na literatura e por meio das entrevistas com os dirigentes das IES ............... 200
LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Tipos de inovação segundo as diferentes edições do Manual de


Oslo (MO).................................................................................................................. 46
Quadro 2.2 – Dimensões da inovação segundo as definições mais utilizadas . 47
Quadro 2.3 – As 5 gerações de modelos de inovação de rothwell ..................... 49
Quadro 4.1 – Características da inovação nos setores público e privado ......... 68
Quadro 4.2 – Projetos de métricas de inovação no setor público ....................... 69
Quadro 5.1 – Definições dos tipos de indicadores segundo o mpog.................. 83
Quadro 5.2 – Evolução das métricas de inovação por geração .......................... 87
Quadro 5.3 – Diretrizes para mensuração das atividades científicas e
tecnológicas – Família Frascati (OCDE) ............................................................... 88
Quadro 5.4 – Trabalhos que utilizam BSC na avaliação de inovação em
universidades............................................................................................................ 96
Quadro 5.5 – Dimensões do Radar da Inovação.................................................. 99
Quadro 5.6 – Escala de maturidade tecnológica (TRL) adotada pelo
PCTec/UnB ............................................................................................................. 106
Quadro 5.7 – Modelo conceitual do Innovation Readiness Level (IRL) ........... 108
Quadro 5.8 – Níveis de prontidão de inovação (IRL) x escala TRL.................. 109
Quadro 5.9 – Medida geral de inovação x estrutura analítica de novos
indicadores.............................................................................................................. 119
Quadro 6.1 – Protocolo da RSL............................................................................ 122
Quadro 6.2 – Expressão de busca utilizada para a recuperação de artigos na
base Scopus ........................................................................................................... 124
Quadro 6.3 – Amostra de 14 artigos com expressivas contribuições sobre
“indicadores de inovação em universidades” ...................................................... 126
Quadro 6.4 – Considerações para um sistema de métricas de CT&I para
universidades.......................................................................................................... 130
Quadro 6.5 – Principais rankings acadêmicos internacionais ........................... 135
Quadro 6.6 – Indicadores da “dimensão inovação” do Ranking Universitário
Folha (RUF) e Ranking de Universidades Empreendedoras ............................ 140
Quadro 6.7 – Proposta de indicadores de inovação (FORPLAD/IFES) ........... 142
Quadro 6.8 – Produção acadêmica nacional sobre indicadores de inovação
universitária............................................................................................................. 144
Quadro 7.1 – Procedimentos metodológicos adotados a partir do referencial
teórico ...................................................................................................................... 150
Quadro 7.2 – Conjunto de IES participantes da pesquisa e características dos
dirigentes entrevistados ......................................................................................... 155
Quadro 7.3 – Códigos e categorias criados ........................................................ 162
Quadro 7.4 – Sistematização da metodologia Análise de Conteúdo com a
utilização dos softwares Iramuteq e ATLAS.ti ..................................................... 165
Quadro 8.1 – Relação dos principais códigos criados para a Análise de
Conteúdo................................................................................................................. 178
Quadro 8.2 – Indicadores de inovação utilizados/propostos pelos dirigentes . 187
Quadro 9.1 – Conjunto de indicadores mencionados pelos dirigentes
entrevistados que encontram amparo na literatura ............................................ 195
Quadro 9.2 – Dimensões da inovação percebida no contexto das universidades
................................................................................................................................. 199
Quadro 9.3 – Indicadores da dimensão “Potencial Humano” ............................ 201
Quadro 9.4 – Indicadores da dimensão “Práticas Gerenciais” .......................... 203
Quadro 9.5 – Indicadores da dimensão “Recursos Financeiros” ...................... 204
Quadro 9.6 – Indicadores da dimensão “Parcerias” ........................................... 204
Quadro 9.7 – Indicadores da dimensão “Ensino, Pesquisa e Extensão” ......... 205
Quadro 9.8 – Indicadores da dimensão “Transferência de Conhecimento e
Propriedade Intelectual” ........................................................................................ 206
Quadro 9.9 – Indicadores da dimensão “Capacidade Empreendedora” .......... 207
Quadro 9.10 – Modelos de sustentabilidade para o ensino superior propostos
pelo programa Stars e Green Metric World University Ranking........................ 213
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANPEI Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia


das Empresas Inovadoras
BSC Balanced Scorecard
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
CT&I Ciência, Tecnologia e Inovação
EMBRAPII Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial
ESG Environment, Social and Corporate Governance
FORMICT Formulário Eletrônico sobre a Política de Propriedade Intelectual
das ICT do Brasil
FORPLAD Fórum Nacional de Pró-Reitores de Planejamento e Administração
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IFES Instituições Federais de Ensino Superior
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ICT Instituições Científicas e Tecnológicas
IES Instituições de Ensino Superior
IFES Instituição Federal de Ensino Superior
IGC Índice Geral de Cursos
INPI Instituto Nacional de Propriedade Intelectual
IRL Innovation Readiness Level
MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações
MPOG Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
NIT Núcleo de Inovação Tecnológica
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas
PINTEC Pesquisa de Inovação Tecnológica
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PD&I Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
PIR Pesquisa e Inovação Responsáveis
RUE Ranking das Universidades Empreendedoras
RUF Ranking Universitário Folha
SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior
SNCTI Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação
SNI Sistema Nacional de Inovação
UFABC Universidade Federal do ABC
UFF Universidade Federal Fluminense
UFG Universidade Federal de Goiás
UFLA Universidade Federal de Lavras
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
UFSCar Universidade Federal de São Carlos
UnB Universidade de Brasília
UNESP Universidade Estadual Paulista
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
UNIFESP Universidade Federal de São Paulo
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 18
2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO ......................................................... 26
2.1 Uma Breve História da Inovação ............................................................. 26
2.2 Inovação e Desenvolvimento Econômico e Social ............................... 28
2.2.1 Inovação Social............................................................................. 35
2.2.2 Inovação Responsável.................................................................. 40
2.3 Dimensões, Classificações e Tipologias................................................ 44
2.3.1 Modelos de Inovação .................................................................... 48
3 SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO ................................................................ 54
3.1 Sistema Nacional de Inovação no Brasil ................................................ 57
3.1.1 Políticas de Inovação Brasileiras .................................................. 61
3.2. As múltiplas “hélices” da inovação ....................................................... 62
4 INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO ......................................................................... 67
4.1 Inovação e a Universidade Pública Brasileira ....................................... 70
5 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO ................................. 81
5.1 Indicadores Tradicionais de Inovação.................................................... 83
5.2 Evolução dos Indicadores de Inovação ................................................. 86
5.3 Mensuração da Inovação ......................................................................... 90
5.3.1 Modelos de Gestão e Mensuração da Inovação ........................... 94
5.3.1.1 Balanced Scorecard (BSC) ........................................................ 94
5.3.1.2 Funil da Inovação....................................................................... 97
5.3.1.3 Radar da Inovação..................................................................... 99
5.3.1.4 Cadeia de Valor da Inovação (IVC) ......................................... 101
5.3.1.5 Modelo Diamante ..................................................................... 103
5.3.1.6 Innovation Readiness Level (IRL) ............................................ 105
5.3.2 Mensuração da Inovação no Brasil ............................................. 110
5.3.3 Novos Indicadores Aplicados à Inovação ................................... 113
6 INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES ............... 121
6.1 Mensuração da Inovação nos Rankings Universitários...................... 131
6.2 Propostas Nacionais de Métricas Aplicadas à Inovação Universitária
....................................................................................................................... 141
6.3 Innovation Readiness Level aplicado às universidades ..................... 146
7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................. 149
7.1 Classificação da Pesquisa..................................................................... 152
7.2 População e Amostra ............................................................................. 153
7.3 Coleta dos Dados ................................................................................... 157
7.4 Método de Pesquisa: Análise de Conteúdo ......................................... 159
7.5 Ferramentas de Análise de Dados ........................................................ 163
8 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................... 167
8.1 Análise Textual Discursiva das entrevistas ......................................... 167
8.2 Análise das Percepções dos Dirigentes sobre a Inovação na
Universidade Pública ................................................................................... 177
8.2.1 Conceito de inovação no âmbito da universidade pública .......... 179
8.2.2 O papel da inovação no âmbito da universidade pública ............ 182
8.2.3 Construção de indicadores de inovação nas universidades públicas
............................................................................................................. 185
9 PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA
INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS ............................ 194
9.1 Dimensões da inovação em universidades públicas: Insumos ......... 201
9.1.1 Indicadores da dimensão “Potencial Humano” ........................... 201
9.1.2 Indicadores da dimensão “Práticas Gerenciais” ......................... 202
9.1.3 Indicadores da dimensão “Recursos Financeiros” ...................... 203
9.1.4 Indicadores da dimensão “Parcerias” ......................................... 204
9.1.5 Indicadores da dimensão “Ensino, Pesquisa e Extensão” .......... 204
9.2 Dimensões da inovação em universidades públicas: Resultados .... 205
9.2.1 Indicadores da dimensão “Transferência de Conhecimento e
Propriedade Intelectual” ....................................................................... 206
9.2.2 Indicadores da dimensão “Capacidade Empreendedora” ........... 206
9.2.3 Indicadores da dimensão “Impacto “Social” ................................ 207
9.2.4 Indicadores da dimensão “Impacto Ambiental” ........................... 210
10 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................... 215
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 222
APÊNDICE A............................................................................................................ 248
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 18

1 INTRODUÇÃO
Em um mundo em transição após as mudanças abruptas provocadas pela
pandemia do novo coronavírus, iniciada em 2020, tornou-se cada vez mais
frequente o uso do termo “inovação”, nos mais diferentes contextos, para resumir
as práticas criativas e os movimentos de transformação necessários de
adaptação das organizações e da sociedade como um todo à chamada “nova
economia”, caracterizada principalmente pela aplicação das tecnologias digitais
nos negócios.
Entretanto, a busca frenética pela inovação já se apresentava bem antes,
como um fenômeno singular, devido ao crescimento de sua importância para o
desenvolvimento econômico e a competitividade das nações. Durante o Século
XX, diversas contribuições teóricas ajudaram a compreender essa entidade
complexa e de múltiplas dimensões, que envolve o relacionamento de um
conjunto de atores, entre eles, as universidades.
O saber gerado por essas instituições há séculos tem sido responsável
pela formulação de estratégias que contribuem para o progresso econômico e
social. Atualmente, a interação constante do meio acadêmico com o seu entorno
tem impulsionado mais fortemente o avanço tecnológico que conduz à inovação,
chave para o sucesso da nova economia baseada no conhecimento. No entanto,
as temáticas que orbitam a inovação ainda têm sido majoritariamente verificadas
sob uma perspectiva empresarial, em um estágio inicial de discussão na
academia.
Uma série de fatores contribuem para isso, tal como a motivação natural
de pesquisadores e cientistas pela visibilidade acadêmica e a compreensão do
papel tradicional da universidade em solucionar problemas que impactam a
sociedade, sendo contestada a validade de se proteger (ou patentear) o
conhecimento gerado pela academia. Há também questões éticas envolvidas,
como a polêmica possibilidade de ganho privado advindo de pesquisas
financiadas pelo governo ou desenvolvidas em universidades públicas. Por outro
lado, é inegável a relevância da pesquisa acadêmica como fonte de
conhecimento para o avanço tecnológico, que conduz à inovação.
Governos de países industrializados e em desenvolvimento tem
pressionado as universidades para que exerçam uma presença mais ativa no
sistema de inovação de modo a oferecer retorno à sociedade sobre os recursos
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 19
públicos investidos. Isso se dá em função da necessidade da demanda pela
formulação de políticas públicas e a demonstração de eficiência da gestão, entre
outras circunstâncias.
No entanto, pesquisa publicada por Zanotto (2002), que analisa o
desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil, mostra a contradição
existente entre a crescente produção científica brasileira e o atraso na área de
inovações. Para minimizar a questão, já naquela época, o autor sugeria uma
maior interação das universidades e centros de pesquisa uma vez que, segundo
sua projeção, a taxa de inovação no Brasil e sua produção científica seguem
tendências diferentes. Duas décadas depois, o cenário desenhado por Zanotto
permanece: o Brasil ocupa atualmente a 13ª posição na produção global de
artigos científicos indexados, de acordo com o último levantamento realizado
pela Web of Science (WoS), em 2019. No entanto, é apenas o 54º colocado no
Índice Global de Inovação, segundo o ranking de 2022.
Nesse sentido, torna-se cada vez mais necessário o desenvolvimento de
ferramentas e métodos para se medir e monitorar a inovação que circula nesses
ambientes, a fim de municiar os gestores e formadores de políticas públicas com
informações confiáveis sobre o potencial impacto que tais inovações poderão
produzir, de modo que esses possam estabelecer novas diretrizes que auxiliem
a avaliação de desempenho das abordagens atuais.
Observa-se na literatura científica o aumento do interesse pelo tema
“inovação universitária” nos últimos anos e, em vista disso, percebe-se uma
oportunidade de pesquisa em um nicho pouco explorado: a construção de
indicadores e métricas capazes de aferir a performance das atividades inovativas
no ambiente acadêmico, tão difícil de mensurar quanto importante para
elaboração de estratégias para gestão e definição de políticas públicas em
diferentes áreas do conhecimento.
Entende-se que a manifestação da inovação no ensino superior pode ser
verificada de muitas maneiras, não somente pela quantidade de eventuais
patentes geradas a partir dos desdobramentos de uma pesquisa científica.
Também pode ser considerada a inovação que se configura com a introdução
de novos métodos ou práticas de ensino em salas de aula, os projetos de
extensão que impactam uma comunidade ou, ainda, pela adoção de novas
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 20
práticas administrativas e melhorias de processos visando aprimoramento da
qualidade e eficiência da gestão da instituição.
Evidenciou-se isso com a rápida adaptação pela qual as instituições de
ensino tiveram que passar em função das limitações impostas pela pandemia da
Covid-19. Apesar da eficiência e viabilidade garantida pelas tecnologias de
informação já existentes, a migração para o ensino remoto ou híbrido impactou
toda a comunidade acadêmica e os aspectos socioculturais envolvidos. No caso
das universidades, discentes, docentes, corpo técnico, direção... todos, sem
exceção, tiveram que produzir (e consumir) inovações no seu dia a dia para dar
continuidade e permanência do saber universitário. Novas ferramentas foram
incorporadas ao processo de aprendizagem e muitas práticas e saberes
passaram a ser disseminadas.
Como consequência, uma quantidade imensa de conteúdos e materiais
foram produzidos e organizados para apoiar o uso dessas ferramentas
tecnológicas e plataformas institucionais de aprendizado. Da mesma forma,
novos processos internos tiveram que ser introduzidos, do trâmite de
documentos com assinatura digital à institucionalização de regulamentação de
bancas de avaliação remotas, para citar alguns exemplos. As atividades de
pesquisa foram extremamente necessárias nos primeiros momentos da crise
sanitária sob diversos aspectos, até mesmo para responder demandas urgentes
da sociedade e dos governos locais, como a superlotação das Unidades de
Terapia Intensiva (UTI).
No decorrer desse trabalho foram identificados estudos recentes –
nacionais e internacionais – voltados para a proposição de métodos genéricos
para gestão da inovação em um ambiente acadêmico de ensino superior a partir
de indicadores de desempenho. Contudo, cada modelo optou por adotar um viés
diferente, de acordo com a sua abordagem metodológica, em atendimento às
questões particulares de determinada organização de acordo com sua
percepção (dimensões) e, para tanto, são sugeridos indicadores específicos. Ao
longo dos capítulos seguintes, será percebida uma relação de dependência,
praticamente hierárquica, entre os termos “modelo”, “dimensão” e “indicadores”
Em outro aspecto, argumenta-se que a literatura sobre inovação é
fortemente focada na perspectiva da indústria e traz consigo uma variedade de
significados, teorias e propostas de métricas para medição desse objeto
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 21
multifacetado. Mais recentemente, porém, observa-se o surgimento de novas
abordagens para percepção da inovação, como o conceito de “pesquisa e
inovação responsável” (VON SCHOMBERG, 2011), pauta crescente de
discussão nas organizações e nos meios acadêmicos. A chamada “inovação
responsável” figura como um elo entre a ciência e a sociedade, aumentando o
valor público da ciência e, consequentemente, a qualidade da inovação
produzida.
O verdadeiro significado do que representa a inovação no âmbito das
universidades e, por consequência, como verificar a sua manifestação através
das métricas mais adequadas, é, portanto, um tema controverso e ainda
influenciado pela literatura mais tradicional sobre o tema, o que limita o
planejamento de atividades inovativas nesses ambientes com características tão
peculiares.
Assim, a premissa desta tese é a de que o entendimento sobre o conceito
de inovação no âmbito das universidades e os indicadores capazes de mensurá-
la podem ser mais adequadamente conhecidos e aperfeiçoados por meio da
análise da percepção dos dirigentes que lidam com inovação nas universidades
públicas brasileiras, seja no nível das Pró-reitorias (e denominações correlatas)
e/ou de órgãos executores das políticas de inovação das universidades, como
os Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT).
A presente pesquisa se desenvolve, portanto, a partir de uma lacuna
identificada quanto às possibilidades de se compreender e mensurar a inovação
percebida nas universidades a partir de algumas questões norteadoras, que
nesse momento são:
a) O que significa inovação sob a ótica das atividades desempenhadas
pelas instituições de ensino superior, segundo a percepção dos
dirigentes que lidam com inovação nas universidades públicas?
b) Como medir as atividades inovativas desempenhadas pelas
instituições de ensino superior, a partir das percepções dos dirigentes
vinculados à inovação?
c) As percepções dos dirigentes vinculados à inovação das
universidades públicas brasileiras podem trazer contribuições
complementares aquelas presentes na literatura sobre o tema?
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 22
Buscando-se responder a essas indagações é que foram definidos os
objetivos desta pesquisa. Desse modo, no que se refere ao objetivo geral desta
tese, pretende-se:
Analisar a percepção dos dirigentes vinculados à inovação no
âmbito das universidades públicas brasileiras, de modo a subsidiar
a proposição de um modelo e indicadores de mensuração.
Para tanto, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
a) Identificar o conceito de inovação, no âmbito do ensino superior, a
partir das percepções dos dirigentes vinculados à inovação das
universidades públicas selecionadas;
b) Caracterizar o papel da inovação, segundo a percepção dos dirigentes
vinculados à inovação das universidades públicas selecionadas;
c) Verificar as concepções existentes para a construção de indicadores
de inovação nas universidades públicas selecionadas;
d) Interrelacionar as concepções e indicadores mencionados pelos
dirigentes vinculados à inovação aos existentes na literatura sobre o
tema;
e) Propor um modelo capaz de agregar dimensões e indicadores para a
mensuração da inovação aplicada às universidades públicas.
Esforços governamentais foram iniciados, sem sucesso expressivo, no
sentido de identificar métricas para compreender a dimensão da inovação na
universidade. A heterogeneidade das instituições, aliada ao fator de dispersão
geográfica, foram os principais motivos para a falta de consenso entre os
dirigentes das áreas, na avaliação de um grupo de trabalho que tratou do tema
por iniciativa do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Planejamento e
Administração das Instituições Federais de Ensino Superior (FORPLAD/IFES)1.
A presente investigação justifica-se pela importância de se compreender
o amplo processo de construção de um conjunto de indicadores que sejam
minimamente capazes de mensurar o impacto da inovação no âmbito da missão

1 As conclusões do Grupo de Trabalho do FORPLAD a respeito das dificuldades em se


implementar indicadores de inovação nas universidades públicas podem ser verificadas na
apresentação do GT de 2017, disponível em: https://abre.ai/dRFP
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 23
das universidades brasileiras, além de perceber o esforço desempenhado por
essas instituições no sentido de promover políticas de inovação adequadas aos
seus objetivos.
Apresenta-se, como contribuição científica, a análise das percepções dos
dirigentes de universidades públicas, particularmente àqueles vinculados ao
ecossistema de inovação, para a elaboração de políticas públicas e, por
consequência, a reflexão a respeito das métricas mais adequadas ao contexto
particular das universidades em sua relação ao ambiente a sua volta.
Sendo essa uma pesquisa do tipo descritiva-exploratória, em que os
dados analisados foram as entrevistas realizadas com os dirigentes, adotou-se
uma abordagem qualitativa, realizada por meio de técnicas de Análise de
Conteúdo, a partir de categorias construídas a posteriori que ajudaram a
interpretação dos dados reunidos a partir das falas dos entrevistados.
Adicionalmente, foi empregado o método da Análise Textual Discursiva
(ATD), que auxiliou a descoberta de novas compreensões dos discursos, com o
auxílio da ferramenta IRAMUTEQ como possibilidade de execução de análises
automáticas de dados textuais (ou léxicas) em diferentes níveis. No caso
específico, foram utilizadas as técnicas de Classificação Hierárquica
Descendente (CHD), Análise Fatorial de Correspondência (AFC) e Análise de
Similitude aplicadas aos textos das entrevistas.
Cabe salientar que os objetivos da pesquisa encontram-se alinhados aos
interesses da área da Ciência da Informação, haja vista a intenção em se
aprofundar a discussão sobre conceitos relevantes para os estudos sociais da
ciência bem como a busca dos pensamentos que determinam as necessidades
informacionais capazes de avaliar o desempenho das atividades inovativas, em
um ambiente dinâmico como a universidade.
Ademais, a Ciência da Informação historicamente tem se debruçado em
investigar e analisar as relações e possíveis influências da informação científica
e tecnológica com a inovação, tal como os estudos sobre patentes e as
metodologias de monitoramento e avaliação a partir de indicadores de insumos
e resultados. Esse conjunto de atividades e conhecimentos torna a área de
Ciência da Informação potencialmente relevante para contribuir com a
construção de indicadores e métricas de percepção da inovação em
universidades.
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 24
O texto encontra-se organizado em 10 (dez) capítulos ou seções, sendo
esse primeiro (Introdução) responsável pela apresentação do tema, justificativa
da pesquisa e apresentação dos objetivos da tese, com a identificação de
possíveis contribuições para a área da Ciência da Informação.
Os 5 (cinco) capítulos seguintes são responsáveis pela revisão da
literatura e localização dos marcos teóricos da pesquisa. Nestas sessões,
buscou-se agregar as principais temáticas, conceitos e respectivos autores que
fundamentam a investigação, a saber: i) Evolução do conceito de inovação,
partindo-se dos mais tradicionais (paradigma econômico) ao mais abrangente
(mais aplicável às universidades) como o de inovação social. Também são
discutidas as diferentes classificações da inovação segundo suas múltiplas
dimensões e principais modelos teóricos encontrados na literatura; ii) Sistemas
Nacionais de Inovação, englobando a discussão sobre a interação dos agentes
responsáveis pela inovação e a necessidade da construção de políticas públicas,
ancoradas em modelos sistêmicos atualmente em funcionamento, tal como os
desdobramentos da teoria da Hélice Tríplice; iii) Inovação no Setor Público,
resume o histórico e características das entidades públicas, com destaque para
o papel da universidade; iv) Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação,
versando sobre a problemática da mensuração da inovação discutindo-se as
características dos indicadores de inovação ao longo do tempo; v) Indicadores e
métricas de inovação nas universidades, unidade que trata do papel dos rankings
universitários e as propostas de métricas para inovação no contexto das
universidades.
No 7º (sétimo) capítulo são descritos os Procedimentos metodológicos
utilizados, com o detalhamento da escolha da abordagem, delimitação do corpus
estudado e o modo como foi operacionalizado a coleta e análise dos dados. No
capítulo 8 (Análise e discussão dos resultados) são relatadas as descobertas da
investigação a partir da interrelação da literatura com os dados obtidos por meio
das entrevistas com os dirigentes vinculados a inovação das universidades
públicas e a literatura. Com base nessas reflexões, na sessão seguinte é
apresentado uma sugestão de modelo de mensuração da inovação para
universidades públicas brasileiras, considerando propostas de dimensões a
serem avaliadas para essa finalidade.
INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________ 25
Finalmente, o 10º (décimo) capítulo traz as considerações finais
apresentando as conclusões do estudo, além de perspectivas para o
desenvolvimento de estudos futuros.
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 26

2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO

Esse capítulo inicia com a apresentação do conceito de inovação em um


sentido mais abrangente, a partir da perspectiva histórica encontrada no trabalho
do cientista político e sociólogo canadense Benoît Godin (GODIN, 2015; 2014;
2010; 2008), responsável pela publicação de uma série de textos a respeito das
raízes ideológicas da inovação. Em seguida, são tratados aspectos da relação
desse fenômeno com o desenvolvimento econômico e social das nações, dando
margem a distintas percepções para a compreensão de seu conceito.
A evolução da ideia sobre inovação é trazida também no tópico que
caracteriza as suas múltiplas dimensões, classificações e tipologias, acrescido
de um item dedicado aos diferentes modelos conceituais construídos para
melhor compreensão das dinâmicas e agentes envolvidos no processo de
inovação, segundo a ótica de um determinado autor ou circunstâncias
encontradas.

2.1 Uma Breve História da Inovação


A historiografia do conceito de inovação pode ser bem conhecida a partir
de um conjunto de documentos de trabalho que compõem o “Projeto sobre a
História Intelectual da Inovação” (GODIN, 2015; 2014; 2010; 2008). Em seu
levantamento, Godin (2008) sugere uma genealogia da inovação através dos
conceitos prévios de imitação e invenção. Segundo o autor, a compreensão do
significado de inovação passa por “uma história não contada, de mitos e
confusões conceituais, que fizeram com que o pensamento sobre inovação da
sociedade primitiva-moderna se modificasse, dando origem à teoria da inovação
do Século XX” (GODIN, 2015).
Derivada do termo latino innovatio – que se refere a ideia, método ou
objeto que pouco se assemelha com os padrões vigentes anteriormente – a
palavra “inovação” originalmente referia-se à criação de algo essencialmente
novo. Havia um significado político, como a intenção de introduzir mudanças na
ordem estabelecida. Por séculos, essa concepção teve uma conotação
pejorativa, algo explicitamente proibido por lei e usado como “arma” linguística
dos opositores da mudança (GODIN, 2015)
No texto “Meddle not with them that are given to change’: innovation as
evil”, Godin (2010) relata um episódio marcante da primeira controvérsia sobre
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 27

inovação ocorrida no Século XVI, quando Eduardo VI, rei da Inglaterra, emitiu
uma proclamação, em 1548, contra “aqueles que inovam”, estabelecendo
advertência para os que a praticassem e impondo punições aos infratores. A
partir de meados dos anos 1620, o escritor puritano inglês Henry Burton usou as
declarações do rei para atacar a hierarquia da igreja, acusando os bispos de
inovarem em assuntos relacionados à sua doutrina, disciplina e culto. Em 1636,
Burton provocou polêmica com alguns de seus textos (sermões), nos quais
denunciava as inovações nos meios de conhecimento da igreja, tal como o corte
nas pregações, que limitou o tempo dos sermões a uma hora.
Para os opositores de Burton, ao discutir a inovação religiosa, o ministro
se intrometeu também na categoria política. Para eles, como mero súdito do rei,
Burton decidiu aplicar ordem para “todos os homens dados a mudar”, incluindo
as autoridades (bispos), dando origem à primeira discussão exaustiva a respeito
da inovação: o que significa? quem é e o que faz um inovador? quais os objetivos
da inovação? Desde então, a inovação passou a entrar cada vez mais no
vocabulário cotidiano (GODIN, 2010, p. 21).
Os oponentes de Burton negaram todas as alegações e passaram a
acusá-lo de ser, ele próprio, o verdadeiro “inovador”. Assim, conseguiram
reverter a situação com respostas para cada um dos argumentos apresentados.
Burton acabou sendo levado a julgamento por ter incitado uma revolução ao
colocar em questão tanto a autoridade do rei quanto a dos bispos. Em 1637, o
acusado teve suas orelhas cortadas e foi condenado a prisão perpétua.
Entretanto, após três anos, Burton foi libertado pelo Parlamento e retornou ao
seu cargo (GODIN, 2010).
Em outro texto intitulado “Innovation: a conceptual history of an
anonymous concept”, Godin (2015) aprofunda a história que levou à mudança
do pensamento sobre a inovação na sociedade ao longo dos séculos, baseado
em uma ampla pesquisa de documentos históricos até os textos digitais mais
recentes, disponíveis nas bases de dados.
De acordo com o pesquisador, mesmo antes da utilização na esfera
religiosa, no contexto da Reforma, a palavra “inovação” teve seu significado
ampliado para o contexto político. Monarquistas dos séculos XVII e XVIII
acusavam os republicanos de serem "inovadores". Esta prática linguística
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 28

continuou até a Revolução Francesa, lançando um descrédito geral sobre as


iniciativas de mudanças. Posteriormente, no Século XIX, o significado da
inovação passou a abranger o campo social, quando alguns escritores trataram
de discutir a ideia positiva de reforma social. O reformador social ou socialista
dessa época era chamado de "inovador social". Seu objetivo era derrubar a
ordem social estabelecida, ou seja, a propriedade privada (GODIN, 2015).
Nessa época, ciência (filosofia natural) e inovação representavam
conceitos bem distintos, sem qualquer relação. Tanto que Francis Bacon (1561-
1626), considerado um inovador pela criação do método científico, evitava
explicitamente usar o termo “inovação”. Em vez disso, preferia discutir seu novo
projeto em termos de novidade ou originalidade (GODIN, 2014).
No decorrer de seu trabalho, Godin (2015; 2008) sugere uma genealogia
da história da inovação através dos conceitos anteriores de imitação e invenção,
sendo esse último considerado no Século XIX como termo sinônimo à inovação.
A separação de seus significados se dá somente a partir do Século XX, segundo
uma linha ideológica, passando a desenvolver conotações especificamente
tecnológicas e comerciais. Assim, em uma perspectiva sociológica, uma
invenção torna-se uma inovação quando essa é usada e adotada. Já a visão
econômica entende que a transformação da invenção em inovação ocorre
apenas quando comercializada. No imaginário coletivo, nas representações
públicas, na política e nos estudos sociais, entretanto, a inovação passou a ser
identificada espontaneamente apenas como “inovação tecnológica” (GODIN,
2008).
Segundo o autor, a inovação tornou-se um assunto relativo à área
industrial e econômica devido a alguns fatores que contribuíram para essas
mudanças ao longo do tempo: o contexto político e econômico, as mudanças
nos hábitos do consumidor, os impactos das tecnologias em indivíduos e
sociedades, a atribuição da tecnologia como fonte de crescimento econômico e
produtividade e, sobretudo, a institucionalização da invenção tecnológica via leis
de patentes e desenvolvimento por meio de laboratórios de P&D (GODIN, 2008).

2.2 Inovação e Desenvolvimento Econômico e Social


Hoje em dia, a abordagem mais tradicional da inovação encontra-se
mesmo relacionada às atividades econômicas e à diversidade dos processos de
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 29

criação de tecnologia entre setores e países, moldados por um contexto social,


que muda ao longo do tempo e variam entre as atividades produtivas
(BRULAND; MOWERY, 2005, p. 350). Tais características, segundo esses
autores, dificultam o estabelecimento de padrões do mesmo modo que enfatizam
a importância de uma compreensão mais vasta.
Para Bruland e Mowery (2005), mesmo que a inovação trate de
conjecturas sobre o futuro e seus resultados sejam incertos por longos períodos,
existem algumas “tecnologias críticas” demarcadas por analistas de inovação
que definem certos períodos de desenvolvimento, a começar pela primeira fase
da Revolução Industrial, durante a segunda metade do Século XVIII, sinalizada
por um intenso progresso tecnológico que causou profundas transformações na
economia mundial, modificando os processos produtivos e as relações de
trabalho (BRULAND; MOWERY, 2005, p. 351).
A construção de estradas de ferro, por onde se deslocavam as
locomotivas a vapor, favoreceu o crescimento industrial devido ao encurtamento
das viagens e o aumento da capacidade de transporte de mercadorias.
Posteriormente, em meados do Século XIX, novas fontes de energia (petróleo e
eletricidade) foram incluídas nas manufaturas, ampliando ainda mais a
produtividade das fábricas. Esse período, conhecido como Segunda Revolução
Industrial, duraria até meados da Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
lançando uma série de preocupações com as questões relacionadas à Ciência
e Tecnologia (C&T), como a importância da sistematização do conhecimento
que, até então, era utilizado de maneira empírica.
[...] foi um período considerado de grande impulso para a
racionalização da manufatura, muitas máquinas e equipamentos se
tornaram padronizados, mudanças nas formas e na divisão do trabalho
foram instituídas, a produção em massa exigia especialização na
concepção de maquinários; no longo prazo, essas evoluções provaram
ser uma das inovações mais radicais de todos os tempos (CORSATTO;
HOFFMANN, 2016, p.11).
Com a Revolução Industrial verificou-se uma mudança no paradigma
econômico, dando início a um novo padrão de comportamento social que
transformou as bases da educação com o surgimento de instituições acadêmicas
dedicadas a reunir cientistas com empresários e industriais, a exemplo da Royal
Society, surgida em Londres nos idos de 1660.
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 30

Corsatto e Hoffmann (2016) acreditam que houve um progresso nas


discussões no campo da tecnologia, da inovação e da utilização do
conhecimento nas organizações, particularmente entre as comunidades
acadêmicas e de pesquisa, fortalecendo a estrutura da informação tecnológica
e organizacional dos seus processos.
Considerando esse cenário, um acontecimento importante foi a
publicação do livro “Teoria do Desenvolvimento Econômico”, em 1911, pelo
economista austríaco Joseph Alois Schumpeter, no qual o sistema de produção
da época é descrito levando-se em conta a possibilidade de combinação de
materiais e força de trabalho de formas diferentes para atender a uma
determinada demanda. A partir daí, entende-se que, mesmo se por caminhos
distintos, a fonte de maior geração de riquezas é a criação de novos
conhecimentos buscando-se a novidade.
Esse pensamento é tido como ponto de partida para os primeiros estudos
sobre a inovação tecnológica como fator de desenvolvimento econômico de uma
nação e estabelece uma ruptura entre os conceitos de inovação e invenção. Para
Schumpeter, “inovação é a introdução no mercado de uma novidade técnica ou
organizacional, não apenas sua invenção” (SCHUMPETER, 1982, p. 109, grifo
nosso).
De acordo com Schumpeter (1982), o processo de mudança tecnológica
no mercado ocorre a partir de três fases distintas: 1) a invenção: que consiste na
concepção de uma nova ideia ou processo; 2) a inovação (comercialização):
etapa de organização dos requisitos econômicos para a implementação de uma
invenção; e 3) difusão/imitação: processo pelo qual as pessoas que observam a
nova descoberta passam a adotá-la ou imitá-la. Ainda segundo o economista,
uma invenção seria considerada economicamente irrelevante enquanto não
fosse levada à prática.
Salienta-se que o atributo “tecnológico” é caracterizado atualmente pela
introdução de novidades que se apresentam sob a forma de produtos e
processos, novos ou modificados (BARBIERI; TEIXEIRA, 2002). Esse tipo de
inovação inclui, ainda, as chamadas inovações organizacionais, responsáveis
pela alteração dos processos administrativos, tais como a maneira como as
decisões são tomadas, a alocação de recursos, as atribuições de
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 31

responsabilidades, os relacionamentos interpessoais, os sistemas de


recompensas e punições, dentro outros exemplos.
A inovação tecnológica, aliás, é essencial para a produtividade e
competitividade das organizações, uma vez que normalmente encontra-se
alinhada à estratégia das empresas por meio de procedimentos que vão desde
os estímulos à criatividade, aprendizado e conhecimento à formação de
parcerias e desenvolvimento organizacional (BESSANT; TIDD, 2019;
GRIZENDI, 2011).
Voltando ao pensamento de Schumpeter (1982), a inovação para o
economista é considerada diretamente responsável pelo desenvolvimento
econômico na medida em que envolve: i) a comercialização ou combinação de
novos materiais ou produtos; ii) a introdução de novos processos ou métodos de
produção; iii) abertura de novos mercados; iv) o desenvolvimento de novas
fontes provedoras de matérias-primas e outros insumos; e v) a criação de novas
formas organizacionais ou estruturas de mercado em uma indústria.
Segundo o olhar schumpeteriano, a competitividade é fruto das atividades
inovadoras mobilizadas pelo empreendedor ou pelos laboratórios de pesquisa e
desenvolvimento das empresas. Assim, o potencial de desenvolvimento do
Estado é próprio das organizações, na condição de promotora de suas ações,
de poder se transformar e produzir resultados inovadores de impacto
(SCHERER; CARLOMAGNO, 2009).
Tais princípios foram introjetados nos conceitos e diretrizes metodológicas
do Manual de Oslo, uma das principais referências mundiais sobre inovação
tecnológica, publicado inicialmente em 1992 pela Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE). De acordo com a definição trazida em
sua terceira edição (2005), a inovação era compreendida como sendo:
[...] a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou
significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de
marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de
negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas
(MANUAL, 2005, p. 55).
O conceito de inovação, de fato, ainda reside fortemente no âmbito da
Economia, uma vez que, na maior parte da literatura, encontra-se atrelado aos
produtos e processos próprios da indústria de transformação que promove parte
relevante do desenvolvimento econômico. Conforme explica Silva (2018, p. 37),
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 32

a emergência de novas tecnologias ou as inúmeras melhorias significativas das


tecnologias existentes durante o Século XX corroboraram para crescente busca
por inovação, mais especificamente a tecnológica.
De acordo com Cassiolato e Lastres (2005), a compreensão da
abrangência do significado da inovação deu-se somente no final dos anos 1960,
através de diversos estudos empíricos. Até então, o fenômeno era visto como
decorrência de estágios sucessivos e independentes da pesquisa básica,
pesquisa aplicada, desenvolvimento, produção e difusão (visão linear da
inovação).
Os modelos existentes para sua compreensão encontravam-se
polarizados entre aqueles que consideravam o desenvolvimento científico como
impulsionador do processo (science push) aos que destacavam como ponto de
partida a demanda por novas tecnologias (demand pull). Nas décadas seguintes,
a compreensão desse conceito foi ampliada e a inovação passou a ser vista, não
como um ato isolado, mas sim como um processo de aprendizado não-linear,
cumulativo, específico da localidade e conformado institucionalmente
(CASSIOLATO; LASTRES, 2005, p. 35).
Contudo, observa-se uma evolução ainda mais sensível no conceito de
inovação ao longo do tempo, dada a sua natureza difusa, possibilitando
diferentes interpretações para o seu significado. Para Michels (2022), a falta de
uma clareza conceitual a respeito da inovação é tida como um problema. Afinal,
se a inovação é vista como a “comercialização de invenções tecnológicas”,
conforme observa Block (2021), como entender as contribuições que são
tecnológicas mas não comercializáveis ou aquelas comerciais que não são
tecnológicas? (MICHELS, 2022).
Na visão do autor, independente das categorias que tentam qualificá-la
(social, tecnológica, industrial, organizacional, aberta e assim por diante) a
inovação, em última instância se trata de uma “mudança ética que oferece valor
aplicado substancial aos beneficiários de um domínio” (MICHELS, 2022, p. 88).
Já Silva (2019) entende que os elementos que formam o conceito de inovação
partem de considerações interdisciplinares caracterizadas por ambiguidades e
mudanças, que o torna uma concepção ainda em construção.
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 33

De acordo com o Manual de Oslo, as práticas inovadoras eram


formalmente compreendidas como sendo “todas as atividades de
desenvolvimento, financeiras e comerciais realizadas por uma empresa que se
destina em uma inovação para a empresa” (MANUAL, 2005), complementada
por uma ressalva observada no item 150, ao considerar que
[...] um aspecto geral de uma inovação é que ela deve ter sido
implementada. Um produto novo ou melhorado é implementado
quando introduzido no mercado. Novos processos, métodos de
marketing e métodos organizacionais são implementados quando eles
são efetivamente utilizados nas operações das empresas (MANUAL,
2005, p.56).
Em outras palavras, no entendimento da OCDE à época, para que uma
determinada ideia ou prática (produto ou serviço) fosse considerada inovação,
ela deveria ter sido implementada no mercado, necessariamente, por uma
empresa. Se essa premissa fosse verdadeira, o que dizer das inovações
produzidas e encontradas nos centros de pesquisa ou instituições de ensino, por
exemplo?
Na medida em que outras compreensões sobre o tema avançaram, novas
abordagens surgiram, contemplando também as inovações de serviços e, mais
recentemente, abarcando às necessidades da sociedade contemporânea na
resolução de seus problemas.
Na literatura acadêmica, de um modo geral, o entendimento sobre algo
considerado “inovador” se aplica à implementação e comercialização bem-
sucedida – ou de valor adicionado – de novas ideias em um determinado
contexto (DZIALLAS; BLIND, 2019; AUDY, 2017; DEWANGAM; GODSE, 2014;
ROBERTS, 2007). Porém, uma ideia pode ser completamente nova ou envolver
a aplicação de ideias já existentes, mas que são inéditas para uma aplicação
específica bem como uma combinação entre as duas manifestações. Diferentes
olhares sobre um determinado fenômeno considerado inovador devem ser
levados em consideração.
A percepção relativa ao conhecimento atual do indivíduo ou grupo vai ao
encontro das ideias de Everett Rogers, sociólogo que propôs a teoria da difusão
da inovação pelos sistemas sociais, proposta em seu livro “Difusão da Inovação”,
lançado em 1962. O autor adiciona, pela primeira vez, o elemento da
subjetividade ao conceito de inovação ao afirmar que essa representa uma
categoria bastante ampla e, por isso, “...representa qualquer ideia, prática ou
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 34

objeto que seja percebido como novo por um indivíduo ou outra unidade de
adoção.” (ROGERS, 2003, p. 12, grifo nosso).
Na opinião do sociólogo, pouco importa se uma ideia é objetivamente
nova ou não: o que conta é a reação do indivíduo em relação a sua percepção
do grau de novidade. Se para ele é novo, então há inovação. Quanto à sua
difusão, Rogers (2003) afirma não se tratar de um movimento tecnológico, mas
social. A partir desse marco, os estudos sobre inovação passaram a ser
acompanhados cada vez mais por antropólogos e sociólogos.
Nesse aspecto, destaca-se o trabalho de Robertson (1967), que analisa o
processo pelo qual a inovação ocorre através de mecanismos sociais em
diferentes contextos. Robertson confirma a teoria da difusão de Rogers e traz a
seguinte definição como conclusão de seu estudo: “inovação é processo pelo
qual um novo pensamento, comportamento ou coisa é concebido e trazido à
realidade” (ROBERTSON, 1967, p. 19). Esse princípio também é aderente ao
que Latour (2011) convencionou chamar de Sociologia da Inovação. Segundo
esse autor, o inovador precisa ao mesmo tempo controlar o contexto social em
que se desenrola a partir da prática inovadora e se adaptar a ela.
Importante destacar que, passada mais de uma década desde a
publicação da 3ª edição do Manual de Oslo, com a verificação de práticas
inovativas em diversos setores da sociedade somada à profusão das inovações
sociais (desenvolvimento de produtos mais simples para mercados emergentes),
a OCDE atualizou alguns de seus conceitos em sua 4ª e mais atual edição,
publicada somente em outubro de 2018 (ainda sem tradução para o Português).
A nova definição geral de inovação amplia a grande quantidade de entidades
institucionais, mantendo consistência com a definição anterior. Assim, o
entendimento do que é inovação passa a ser:
[...] um produto ou processo novo ou aprimorado (ou uma combinação
dos mesmos) que difere significativamente dos produtos ou processos
anteriores da unidade e que foi disponibilizado para usuários em
potencial (produto) ou levado a uso pela unidade (processo) (OECD,
2018, p. 20, tradução nossa)
A escolha do termo “unidade” (unit, no original) confere um caráter
genérico ao agente responsável pela inovação. "Unidade" pode ser qualquer
instituição em qualquer setor, até mesmo indivíduos dentro de seu núcleo
familiar. Essa mudança estende o conceito de inovação para as práticas
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 35

consideradas não-comerciais, reconhecendo ainda os chamados inovadores


domésticos, que produzem invenções em suas próprias casas e não se limitam
apenas à criação de valor econômico. Assim sendo, a nova definição passa a
contemplar um espectro maior de inovações possíveis, não somente a
tecnológica.
Nessa perspectiva, a própria legislação brasileira sobre inovação (Lei nº.
13.243/2016), também demonstra um entendimento mais amplo sobre o
fenômeno, incluindo também o aspecto social em sua definição:
[...] inovação é a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no
ambiente produtivo e social que resulte em novos produtos, serviços
ou processos ou que compreenda a agregação de novas
funcionalidades ou características a produto, serviço ou processo já
existente que possa resultar em melhorias e em efetivo ganho de
qualidade ou desempenho (BRASIL, 2016, p. 1, grifo nosso).
Nesses termos, entende-se que a perspectiva da inovação percebida de
Rogers, reforçada pelo conceito revisto pelo Manual de Oslo (OCDE),
contemplaria também uma variedade de inovações produzidas no contexto do
ambiente universitário, principalmente aquelas que impactam à sociedade de
diferentes maneiras.

2.2.1 Inovação Social


A ideia de que a inovação deva estar voltada exclusivamente para atender
a competitividade do mercado tem perdido alguma importância frente a uma
proposta socialmente reconhecida, que visa e gera mudança social (CAJAIBA-
SANTANA, 2014). Esse novo olhar, cujo benefício é enxergado na melhoria da
qualidade de vida da sociedade que a demandou, é aquilo que se convencionou
chamar de “inovação social”, compreendida como sendo as práticas
relacionadas à aplicação de novos produtos ou serviços – bem como tecnologias
sociais – que satisfazem as necessidades da coletividade e, simultaneamente,
criam novas relações ou colaborações. Em outras palavras, são inovações boas
para a sociedade e que aumentam a sua capacidade de agir (MURRAY;
CAULIER-GRICE; MULGAN, 2010).
De acordo com Unceta, Castro-Spila e Fronti (2016), trata-se de uma nova
abordagem para o exame de novos problemas sociais surgidos nas sociedades
contemporâneas e cujo conceito ainda permanece em construção devido ao seu
significado polissêmico e sem limites claros para definição de suas
características. O termo tem ocupado algum espaço nas discussões
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 36

acadêmicas, mas ainda é principalmente impulsionado pelas ações


desenvolvidas por organizações do chamado terceiro setor, fundações e
instituições privadas, como a The Young Foundation (Londres) e Centre for
Social Innovation (Toronto).
Bund et al. (2015) observam que evidências de uma construção social da
tecnologia são observadas desde meados da Década de 1980. Afinal, ainda que
a motivação seja econômica, os resultados das inovações são conquistas da
sociedade. Desta maneira, as inovações sociais implicam mudanças nas
práticas de um determinado sistema social, resultando em ações mais efetivas
do que as convencionais que já existem (MURRAY; CAULIER-GRICE;
MULGAN, 2010; MULGAN, 2007).
Uma tipologia aproximada para este conceito foi desenvolvida pela The
Young Foundation para o projeto TEPSIE2 e reúne diferentes vertentes da
literatura apontando para as características das transformações sociais,
desenvolvimento de novos produtos, serviços e programas, gestão
organizacional, empreendedorismo social e novos modelos de governança e
capacitação. Segundo esta definição:
inovações sociais são novas soluções (produtos, serviços, modelos,
mercados, processos, etc.) que atendem simultaneamente a uma
necessidade social (de forma mais eficaz do que soluções existentes)
e levam a recursos e relacionamentos novos ou aprimorados e/ou
melhor uso de ativos e recursos. Em outras palavras, inovações sociais
são boas para a sociedade e aumentam a capacidade da sociedade
de agir (THE YOUNG FOUNDATION, 2012, p. 18).
As inovações sociais também estão alinhadas com os objetivos dos
“negócios sociais” que, de acordo com Yunus, Moingeon e Lehmann (2010), são
empreendimentos que partem dos mesmos pressupostos dos negócios
tradicionais, inclusive na geração de receitas, mas que são arrecadadas e
aplicadas com finalidades sociais. Desse modo, o diferencial nesse tipo de
empreendimento é que os objetivos financeiros são incorporados aos valores
agregados à sociedade no atendimento de seus problemas.

2TEPSIE é um acrônimo para “The Theoretical, Empirical and Policy Foundations for Building
Social Innovation in Europe”. Mais informações em: <http://www.tepsie.eu>.
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 37

Devido a sua missão extensionista, as universidades têm o papel de


transferir o conhecimento e mobilização comunitária, de modo que o
conhecimento teórico adquirido na academia, somado à possibilidade da
vivência prática, é capaz de gerar transformações, em resposta a lacunas de
mercado. Contudo, Benneworth e Cunha (2015, p. 629) afirmam que há uma
“ausência de qualquer consideração sistemática real de como as universidades
contribuem para o processo de inovação social”, porém os autores entendem
que as universidades são importantes fontes de conhecimento para a sociedade
e, por isso, devem estar bem posicionadas para apoiar as iniciativas de inovação
social.
Em vista disto, Cunha e Benneworth (2020) propuseram um modelo
conceitual com o propósito de compreender o modo como as universidades
podem contribuir nas diferentes etapas do processo de inovação social através
de uma tipologia de recursos universitários envolvendo pesquisadores, alunos e
gestores. Também são incluídas as instalações (salas de aula e laboratórios),
expertises específicas (transferência de tecnologia), recursos financeiros e
políticas públicas. Segundo o modelo de Cunha e Benneworth (2020), as
dimensões de indicadores para avaliação do impacto da inovação social são: i)
inovatividade (o grau de novidade da inovação); ii) sustentabilidade; iii) social; iv)
econômica; v) política; e vi) cultural.
Outro estudo nessa direção foi conduzido por Arocena e Sutz (2021), que
buscaram entender o potencial de colaboração das universidades para a
inovação social, com atenção especial aos países do Sul capazes de inovar em
condições de escassez. Os pesquisadores defendem o papel das universidades
como agentes de social em uma perspectiva multinível e concluem que uma
universidade pode fomentar esse tipo de inovação desde que seja capaz de
combinar um grau significativo de autonomia para orientar suas atividades com
uma ampla gama de conexões com diferentes instituições e atores (AROCENA;
SUTZ, 2021, p. 9).
Ressalva-se a observação de Phills, Deiglmeier e Miller (2008), segundo
a qual é muito difícil medir o impacto da inovação social que, na maioria das
vezes, produz algo intangível, como um princípio, uma ideia, uma lei, um
movimento social ou uma intervenção cívica, em vez de um resultado tangível,
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 38

como um produto, processo ou tecnologia. Esses autores alegam que a inovação


ainda não avançou no nível de métricas usadas para a inovação tecnológica
Independentemente de suas manifestações, o resultado das inovações
sociais é ainda mais difícil de ser mensurado uma vez que os objetivos sociais
também diferem dependendo da realidade e do contexto em que se apresentam,
não sendo possível generalizações por se tratar de fenômenos distintos.
Contudo, a crescente importância da inovação social nos círculos políticos e
acadêmicos justifica a exploração de novos mecanismos para aplicação de
métricas (KLEVERBECK et al., 2019; BUND et al., 2015).
Para Cunha e Benneworth (2020), as universidades têm se debruçado em
encontrar indicadores para monitorar o impacto de suas atividades para a
sociedade. Porém, a maioria desses estão focados em dimensões econômicas
e tecnológicas, conforme menciona o trabalho de Dainiene e Dagiliene (2015),
para quem outros tipos de indicadores relacionados, como menções de
diferenças sociais, culturais ou ambientais, por exemplo, são utilizados com
muito menos frequência. Esse viés parece motivado pela noção de que o
importante é o que pode ser medido. Tal raciocínio nos leva a considerar a
dificuldade em saber se o que é mensurado é realmente importante, além do
problema de bons indicadores não tecnológico-econômicos particularmente
relevantes para inovação social (CUNHA; BENNEWORTH, 2020).
Estudos promissores sobre inovações sociais foram identificados por
Justen, Cherobim e Segatto (2018), que evidenciaram uma variedade de
possibilidades a serem exploradas devido ao ambiente dinâmico em que
ocorrem ao passo que também advertem quanto aos limites dessas abordagens.
Um dos trabalhos destacados é o Índice Regional de Inovação Social (Resindex),
proposto por Unceta, Castro-Spila e Fronti (2016) a partir de uma experiência
piloto de medição de inovação social em 4 (quatro) tipos de organizações (ONG,
universidades e centros tecnológicos), com e sem fins lucrativos, realizado no
País Basco (Espanha) em 2013.
Ainda que a inovação social seja uma alternativa para os problemas
sociais e para a crescente preocupação com as falhas do mercado que geram
desigualdades, a produção científica sobre o tema “não representa parcela
significativa das pesquisas acadêmicas, e o conjunto de abordagens,
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 39

metodologias e práticas ainda não se constitui num corpo consolidado de


conhecimentos” (BIGNETTI, 2011, p.4).
Alguns autores concordam que o tema permanece pouco explorado
apesar da constatação de inúmeros exemplos bem sucedidos, como a discussão
sobre o uso de redes e sua utilidade para construção de resultados na esfera
social (NICHOLLS; SIMON; GABRIEL, 2015; SOONA, 2015). Exemplos de
redes de inovação com esse propósito contemplam aquelas constituídas por
meio do conceito de living lab, que emergiram no Brasil a partir de 2009,
vinculados à Rede Europeia de Living Labs (ENoLL), com ênfase à promoção de
inovações sociais. Um living lab voltado ao desenvolvimento de inovações
sociais pode ser compreendido como um tipo de organização gerida por
parcerias público-privadas (PPP), através de uma rede de inovação, em que
diferentes atores, incluindo os cidadãos, constroem soluções para superação
dos desafios sociais por eles identificados (MAGDALA PINTO; PEDRUZZI
FONSECA, 2013; SILVA, 2012).
Assim sendo, enquanto processos de inovação voltados para o mercado
são exaustivamente estudados pela academia, o campo da inovação social
ainda encontra-se na fase de experimentação e carece de aprofundamento. Na
visão de Mulgan (2007), trata-se do reflexo da falta de atenção prestada à
inovação social, verificada pelo baixo investimento dedicado às soluções sociais
inovadoras por parte de governos, organizações não-governamentais e
fundações. Este mesmo autor acredita que o ritmo das inovações sociais
aumentará consideravelmente nos próximos anos devido a emergência da
economia baseada no setor de serviços.
No Brasil, desde 2018, merece destaque a iniciativa conjunta das três
universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp e Unesp) no sentido de
desenvolverem novas métricas de avaliação de desempenho e impacto social,
que normalmente não são avaliados nos rankings internacionais. A cooperação
entre as universidades visa reforçar a legitimidade social das instituições e
estabelecer um diálogo com todos os setores da sociedade, inclusive o público
governamental por meio de análises e estudos críticos de indicadores de
desempenho institucional e acadêmico nas comparações nacionais e
internacionais (UNIVERSIDADES, 2019; ZIEGLER, 2019).
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 40

A ação, denominada Projeto Métricas3, conta com o apoio financeiro da


Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) no âmbito do projeto
“Indicadores de desempenho nas universidades estaduais paulistas”, em
parceria com o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas
(Cruesp) e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e
Inovação do Estado de São Paulo.

2.2.2 Inovação Responsável


Um conceito emergente, conhecido como “inovação responsável” (ou
Responsible Research and Innovation, do original, em inglês), parece abarcar a
preocupação com o contexto social e ambiental ao longo do processo tradicional
de inovação, adicionando-se a consideração das implicações éticas e legais da
pesquisa, além de um maior engajamento com o público envolvido.
Os requisitos do que se convencionou chamar de Pesquisa e Inovação
Responsáveis (PIR), ou simplesmente “inovação responsável”, ganharam
notoriedade em meados de 2010, como resultado das discussões promovidas
pela União Europeia em torno da responsabilidade na pesquisa e inovação,
motivadas pela preocupação global com os recursos naturais do planeta, assim
como uma sociedade igualitária e inclusiva, com o propósito de promover
reflexões sobre a participação popular na formulação de decisões sobre políticas
científicas e monitoramento de seus resultados (HARTLEY; PEARCE; TAYLOR,
2017).
De acordo com Zanin, Arruda e Rothberg (2021), esse debate trouxe um
olhar mais crítico e atento à importância de se produzir uma ciência mais
responsável, colaborativa e sustentável. Nesse sentido, em 2011, a Comissão
Europeia criou uma proposta para definir e caracterizar o termo, entendendo-o
como um conjunto de atores que trabalham juntos ao longo de todo o processo
que envolva pesquisa e inovação, no sentido de alinhar todos os passos e seus
resultados, conforme valores éticos, interesses e expectativas da sociedade
europeia. Ela definiu para as instituições que, de alguma forma envolvam ciência,

3Mais informações sobre o Projeto Métricas (metricas.edu) encontram-se disponíveis em:


<https://metricas.usp.br/>
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 41

tecnologia e inovação (CT&I), que suas responsabilidades devam ir além do


cumprimento de regras e regulamentos já preestabelecidos, fazendo com que
alcancem uma abordagem integral de suas ações (EUROPEAN COMISSION,
2020).
Ou seja, ao inovar, já ao longo do processo, as organizações precisam
entender que é necessário criar e compartilhar valores não somente a um público
ou a um setor específico, mas sim com seus diversos agentes e a própria
sociedade, identificando, antes mesmo de uma nova criação, um possível
impacto desta inovação que possa prejudicar o mundo de alguma maneira
(ZANIN; ARRUDA; ROTHBERG, 2021).
Um dos precursores da discussão sobre o tema, Von Schomberg (2011),
propõe a seguinte definição para a pesquisa e inovação responsáveis:
é um processo transparente e interativo pelo qual os atores e
inovadores da sociedade se tornam mutuamente responsivos uns aos
outros com vistas à aceitabilidade (ética), sustentabilidade e
desejabilidade social do processo de inovação e seus produtos
comercializáveis. (VON SCHOMBERG, 2011, p. 9, tradução nossa).
Entende-se que a inovação responsável pode ser considerada um
importante desafio das democracias contemporâneas por levar em conta o papel
que novos produtos, processos ou modelos de negócios têm na sociedade. Essa
premissa resultou do reconhecimento generalizado no Século 20 de que
tecnologias novas e emergentes podem ter consequências imprevisíveis e
irreversíveis que podem ser altamente indesejáveis tanto para a natureza quanto
para a sociedade (PENTTILÄ, 2022). Isso significa que uma abordagem
responsável em relação à inovação envolve a criação de mudanças que tenham
impactos positivos na esfera social e no meio ambiente.
Os principais teóricos desse princípio normalmente propõem que, para
inovar de forma responsável, faz-se necessário algum compromisso ou
dimensões integradas: antecipação, reflexividade, inclusão e responsividade
(OWEN; MACNAGHTEN; STILGOE, 2012). Eles também enfatizam a
necessidade do acesso aberto à informação, igualdade de gênero, educação
científica, padrão ético na condução de experimentos e governança democrática
(EUROPEAN COMISSION, 2020).
A visão ampliada da responsabilidade da inovação, de acordo com Owen,
Macnaghten e Stilgoe (2012), é entendida como uma ciência que seja feita para
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 42

– e com – a sociedade. No que diz respeito sobre a ciência para a sociedade, a


preocupação é com os propósitos da ciência e inovação, e as motivações e
intenções subjacentes para essas. Já no que se refere a ciência com a
sociedade, há ênfase na integração e institucionalização de mecanismos
estabelecidos de reflexão, antecipação e deliberação inclusiva em torno dos
processos de pesquisa e inovação. Nesses contextos, os autores propõem a
reestruturação da responsabilidade, ou seja, que novas atribuições sejam
voltadas não somente para os cientistas, universidades, inovadores e empresas,
mas também aos decisores políticos e órgãos de fomento de pesquisa.
Segundo Zanin, Arruda e Rothberg (2021), os princípios da inovação
responsável foram enfatizados no principal programa de financiamento de
pesquisa e inovação da região, denominado Horizon 2020 (sucedido pelo
Horizon Europe), voltado para abertura sistemática de melhorias na abertura de
canais permanentes de escuta da sociedade para a formulação de prioridades
nas áreas de pesquisa e promoção da inovação que respondam aos desafios
globais, como o combate as alterações climáticas e o alcance dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.
Em decorrência do Horizon 2020 foi criado o Higher Education Institutions
and Responsible Research and Innovation (Heirri), um programa voltado
especificamente para as instituições de ensino superior pelo mundo, a fim de
incentivar a integração de pesquisa e inovação com demandas da sociedade,
também com o respaldo dos conceitos-chave da pesquisa e inovação
responsáveis. Uma das metas do Heirri é promover a internacionalização,
estendendo o projeto para além da Europa, de modo a divulgar as propostas da
PIR em reuniões científicas internacionais, com o compartilhamento de conceitos
e experiências, além da elaboração de materiais didáticos, que poderão ser
utilizados para o ensino de graduação e pós-graduação (PESQUISA FAPESP,
2017).
Conforme a interpretação de Angelaki (2016), todas essas características
fazem com que a prática da inovação responsável leve o conhecimento para
além dos muros das universidades e demais instituições de ensino e pesquisa
visto que sua função é tornar seus agentes mais conscientes dos novos desafios,
problemas e questões sociais.
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 43

O ambiente acadêmico encontra-se representado na literatura através das


“spin-offs”4 universitárias (VAN GEENHUIZEN; YE, 2014) por meio de uma
análise realizada com jovens empresas surgidas nesse ambiente como um canal
importante para trazer inovações responsáveis da universidade para o mercado.
Já Savoia et al. (2017) apresentam o conceito de lojas científicas (sience shop),
que fazem a intermediação entre a ciência e a sociedade ao trabalhar na
tradução de demandas de pesquisas de base social em termos de questões
científicas, de modo a apoiar a pesquisa participativa entre organizações da
sociedade civil, grupos de pesquisa acadêmica e estudantes.
Em 2017, um acordo de colaboração no âmbito do programa Horizon 2020
contou com apoio da Fapesp para viabilizar, no Brasil, o fomento de discussões
em torno do projeto RRI-Practice, iniciativa que visa estimular a colaboração
entre pesquisadores europeus e de outros países para encontrar medidas –
instituídas ou em fase de planejamento – que ampliem o conceito de
responsabilidade nas ciências e suas possíveis aplicações (INOVAÇÃO
RESPONSÁVEL..., 2017).
Outra iniciativa ancorada especificamente pelo Heirri no Brasil, em 2018,
se deu com a realização do Seminário “Facilitating reflection on Responsible
Research and Innovation” na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), que contou com a participação de pesquisadores, docentes e demais
membros da comunidade acadêmica interessadas no debate relacionado à PIR
no País.
Após mais de uma década de propostas em torno de uma inovação
responsável, países da União Europeia já sinalizam a continuidade de seus
princípios para o próximo programa de pesquisa que deverá vigorar no
continente até 2027. Nesse aspecto, Zanin, Arruda e Rothberg (2021)
questionam se tais práticas poderiam inspirar ações equivalentes no Brasil, dada
as distintas realidades e peculiaridades do País, que tem como característica a

4
Spin-off é um termo em inglês utilizado para descrever uma nova empresa que nasceu a partir
de um grupo de pesquisa de uma empresa, universidade ou centro de pesquisa público ou
privado, normalmente com o objetivo de explorar um novo produto ou serviço de alta tecnologia.
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 44

concentração de suas melhores universidades e centros de pesquisa em nas


regiões Sul e Sudeste, correndo o risco de fortalecimento de relações de
dependência ou concentração do conhecimento.
Outro ponto que merece consideração é que, uma vez que os processos
de pesquisa e inovação são, em grande parte, incentivados por interesses
econômicos, o propósito social da inovação responsável parece contradizer com
o imperativo de maximizar o crescimento econômico inerente ao clima de
inovação atual. Esse conflito, segundo Von Schomberg (2022), aponta para uma
crise na qual a inovação luta para servir aos interesses públicos na medida em
que os interesses privados continuam a ser priorizados.

2.3 Dimensões, Classificações e Tipologias


A busca por uma definição para a inovação provocou o aumento no
número de classificações e tipologias encontradas na literatura técnica e
acadêmica sobre o tema. Em linhas gerais, os autores discutem o fenômeno
segundo 4 (quatro) perspectivas: i) estratégica; ii) como padrão; iii) como
processo; e iv) com base em tipologias. Tais nomeclaturas não constituem uma
unanimidade na literatura, apesar de se complementarem, devido às bases
comuns das características e propósitos da inovação.
Em uma perspectiva estratégica, a inovação está cada vez menos
atrelada ao seu parque fabril ou em seus recursos imobilizados (máquinas e
equipamentos) e mais relacionada à obtenção de vantagens competitivas
sustentáveis, posicionamento do mercado, aprendizagem organicional e à
capacidade de inovação. Tais características configuram-se como recursos
intangíveis, dependentes em grande escala do conhecimento individual e
organizacional (SILVA, 2018).
A segunda dimensão está relacionada ao padrão ou grau de novidade que
impacta as organizações. Nessa linha, é muito comum a utilização da taxonomia
de Freeman e Soete (2008) que chamam de “incremental” os melhoramentos e
modificações feitos no design ou qualidade de produtos e serviços,
aperfeiçoamento de processos organizacionais, novas práticas de compra e
venda, entre outros comumente resultantes do aprendizado e da capacitação.
Já as inovações ditas “radicais” são aquelas onde há introdução de um produto
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 45

ou processo inteiramente novo, que representa uma ruptura estrutural com o


padrão tecnológico anterior (FREEMAN; SOETE, 2008).
Com relação à visão da inovação como processo, alguns autores se
debruçam nas razões pelas quais as organizações inovam. Bessant e Tidd
(2019), por exemplo, sugerem que o processo de inovação contempla a
identificação de necessidades de consumidores, formulação de estratégia de
referência para a inovação, desenvolvimento ou aquisição de soluções, criação
de protótipos, testes, produção e disponibilização de produtos e serviços novos
ou melhorados.
Ainda nessa perspectiva, incluem-se as melhorias aplicadas na estrutura
da organização (inovação organizacional), na tecnologia, nos produtos e
serviços, nos métodos de procedimentos, nas políticas, entre outros aspectos.
Tais mudanças devem afetar, de modo positivo, a flexibilidade do sistema
organizacional e possibilitar uma reação, com êxito, às pressões, oportunidades,
ameaças internas, externas e desafios (BESSANT; TIDD, 2019, p 50-51).
Quanto à dimensão que classifica a inovação a partir de sua tipologia,
percebe‐se que os estudos que definem a inovação com esse enfoque
consideram as ramificações dentro de um contexto empresarial, conforme
descrição do Manual de Oslo, ou seja, são aquelas baseadas em: matérias
primas, produtos, serviços, processos, operações, marketing, estratégia,
inovação organizacional e inovação gerencial (OCDE, 2005).
Convém lembrar que a própria OCDE atualizou suas concepções na 4ª
edição do Manual de Oslo, de 2018. O Quadro 2.1 ilustra a evolução conceitual
percebida, comparando-se os tipos de inovações de produtos e processos de
negócios em relação às definições usadas na edição anterior (2005).
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 46

Quadro 2.1 – Tipos de inovação segundo as diferentes edições do Manual de Oslo (MO)

MO MO
Subcomponentes Diferenças
(3ª edição, 2005) (4ª edição, 2018)

- Bens

- Bens - Serviços
Inclusão de características de design de
Produtos produto, que foram incluídas em
- Bens e serviços,
- Serviços “inovação de marketing” no MO3.
incluindo produtos de
captura de conhecimento
e suas combinações

- Produção
- Produção
- Entrega e logística
- Distribuição e logística Serviços auxiliares no MO3 foram
Processo
- Serviços auxiliares, movidos para administração e gestão.
incluindo compras, - Sistemas de informação
contabilidade e serviços e comunicação
de TIC

- As inovações organizacionais no MO3


- Prática de negócios
edição estão na subcategoria
“administração e gestão” a, b e f do
- Organização do local de
MO4.
trabalho (distribuição de
Organizacional Administração e gestão
responsabilidades)
- Serviços auxiliares na administração e
gestão (subcategoria c, d e e) foram
- Relacionamentos
incluídas na “inovação de processo” no
externos
MO3.

- Design de produtos As inovações de marketing no MO3


estão incluídas nas subcategorias a e b
do MO4.
- Posicionamento de
produto e embalagem Marketing, vendas e - Inovações em vendas, serviços de pós-
Marketing
suporte de pós-vendas vendas e outras funções de suporte ao
- Promoção de produto cliente não foram incluídas no MO3.
- Inovações relacionadas ao design de
- Preço produto estão incluídos em “inovação de
produto” no MO4.

Desenvolvimento de Não considerado explicitamente no


N/A N/A produto e de processos MO3, a maioria relatado provavelmente
de negócios como “inovação de processo”

Fonte: Manual de Oslo 4ª edição (OECD, 2018, p. 75, tradução nossa)

Todas as 4 (quatro) abordagens teóricas verificadas compõem a


conceituação da inovação do ponto de vista organizacional. Apesar de tratarem
diferentes perspectivas, elas acabam sendo complementares na explicação da
inovação como algo ligado às adaptações e mudanças diante de alterações dos
contextos de inserção das organizações.
Com base em uma revisão conceitual da literatura, Silva (2018) propôs
unificar os principais conceitos e tipologias em 5 (cinco) dimensões, agregando
os aspectos das atividades inovativas com base nas definições mais utilizadas
pela academia e organizações (Quadro 2.2) sem, contudo, ter a pretensão de
esgotar as muitas tentativas de definições existentes.
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 47

Quadro 2.2 – Dimensões da inovação segundo as definições mais utilizadas

Dimensão Definição Conceito Alvo de atuação

Diz respeito à natureza e


- Radical
Grau de novidade intensidade da inovação Impacto da mudança
- Incremental
produzida.

- Produto
- Serviço
- Processo O que surgirá/será
Refere-se ao objeto de
Objeto - Método organizacional significativamente
aplicação da inovação.
- Marketing melhorado
- Posição
- Paradigma
- Setor produtivo
Indica a destinação da Público beneficiado
Enfoque - Social
inovação pela mudança
- Científico/Tecnológico

Cobertura territorial ou - Local


- Regional Área de aplicação da
Abrangência setorial em que incide a
- Setorial mudança
inovação
- Global

Âmbito do - Fechada (público interno e Origem das ideias.


Desenvolvimento desenvolvimento da parceiros próximos) Agente responsável
mudança - Aberta (inclui a comunidade) pela mudança

Fonte: Elaboração própria. Adaptado de Silva (2018)

Pensar as atividades de inovação considerando as múltiplas abordagens


teóricas pode auxiliar a percepção dos desenvolvedores de políticas públicas e
agentes do sistema de inovação quanto as diferentes possibilidades de
parcerias, além de facilitar o processo de geração e gestão da inovação (SILVA,
2018, p. 43-44).
Dado que não é possível obter um conceito único e homogêneo sobre
inovação, SANDOR (2018) enumera 11 características importantes que devem
ser consideradas antes da definição de seu significado:
• Inovação orientada a processo ou a resultado/finalidade? Ambas são
importantes, porém não se deve misturá-las;
• Tamanho: a inovação provoca melhorias incrementais ou evoluções
disruptivas?;
• Novidade: a inovação resulta de ideias novas ou já existentes?;
• Adoção: a inovação é fruto de adaptação ou imitação de algo?;
• Intencionalidade: a inovação é fruto de um processo intencional ou
aconteceu por acaso?;
• Escopo: qual o enfoque da inovação? (produto, serviço, política ou
processo);
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 48

• Tipo: radical ou incremental;


• Melhoria: grau de contribuição da inovação;
• Valor;
• Sustentabilidade;
• Difusão ou disseminação.

2.3.1 Modelos de Inovação


Notadamente, a gestão da inovação tem ocupado posição de destaque
tanto no meio empresarial quanto no acadêmico. Contudo, para que essa prática
seja eficaz, faz-se necessária a adoção de modelos que orientem a construção
de processos organizacionais através dos quais a inovação deve ser conduzida.
Bessant e Tidd (2015) argumentam que o entendimento da inovação
como um processo traz à tona a necessidade de que ela seja gerida na forma de
entradas, saídas, atividades e subprocessos, meios de controle, objetivos,
parâmetros e recursos. Conforme os autores supracitados, gerir a inovação é
basicamente conceber, melhorar, reconhecer e compreender as rotinas efetivas
para geração de inovações, bem como facilitar seu surgimento dentro da
organização.
Assim sendo, modelos com esse propósito tem sido desenvolvidos nas
últimas décadas e refletem uma grande variedade de pontos de vista que
mudaram bastante ao longo do tempo, considerando alternativamente o
conhecimento científico ou a demanda de mercado como determinantes da
atividade inovativa. Após analisar historicamente os modelos mentais para
gestão da inovação a partir da Década de 1960, Rothwell (1994) constatou um
padrão de evolução que parte de modelos lineares simples para os mais
interativos, cada vez mais complexos (Quadro 2.3).
Berkhout et al. (2006), entretanto, reconhecem basicamente as três
primeiras gerações e propõem uma quarta, com características semelhantes à
quinta geração de Rothwell (1992), mas defendem, em última análise, que a
inovação seja mais bem descrita por meio de um sistema circular e não por uma
cadeia com início e fim definidos.
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 49

Quadro 2.3 – As 5 gerações de modelos de inovação de Rothwell

Geração Características principais

Primeira e segunda Os modelos lineares tecnnology-push e demand-pull

Interação entre diferentes elementos e loops de feedback, entre


Terceira
eles o “modelo de acoplamento”.

O modelo de linhas paralelas, integração dentro da empresa,


upstream com os principais fornecedores e downstream com os
Quarta
clientes mais exigentes e ativos, destaque para as ligações e
alianças.

Integração de sistemas e amplo networking, resposta flexível e


Quinta
personalizada,inovação contínua.

Fonte: adaptado de Tidd e Bessant (2015)

Inicialmente, a primeira geração dos modelos de inovação foi chamada de


technology-push (ou science-push), com a predominância da inovação sendo
“empurrada” pelo desenvolvimento das tecnologias. Essa teoria concentra-se em
descobertas científicas, onde se depreende que há investimentos em ciência que
gera um estoque de conhecimento científico no país, o qual, por sua vez, é
utilizado pelas empresas na inovação, que leva ao desenvolvimento econômico-
social, porém independente das forças de mercado (NOBELIUS, 2004; VIOTTI;
MACEDO, 2003). Esse paradigma assume, por exemplo, que as chances de
sucesso de novos produtos aumentam quanto maior for o investimento em P&D.

Figura 2.1 – Modelos lineares de inovação

Fonte: adaptado de Rothwell (1994)

Em uma outra perspectiva, seguiu-se uma segunda geração de modelo


igualmente linear, porém reverso, denominado demand-pull (ou ainda need-pull
ou market-pull), em que se percebe a predominância das necessidades do
mercado como fonte das ideias que direcionam e influenciam a P&D, que passa
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 50

a ter um papel meramente reativo no processo, configurando uma não-


obrigatoriedade do interesse na pesquisa no processo de busca dos
conhecimentos necessários para promoção da inovação. Tais modelos podem
ser melhor compreendidos pela Figura 2.1.
Nos modelos lineares, o processo de P&D é visto como a base da
inovação tecnológica e a pesquisa como “bem público”. Tais propostas,
sustentadas pelas teorias clássica e neoclássica, foram consideradas superadas
por apoiarem-se excessivamente na pesquisa científica como fonte de novas
tecnologias, além de sua visão simplista de caráter essencialmente sequencial
(descoberta científica, invenção, industrialização e mercado), desprezando as
atividades externas que vão muito além da P&D. Para Sirilli (1988), as inovações
abarcam um contexto social contínuo com atividades de gestão, aprendizado,
investigação de necessidades de usuários, aquisição de novas competências,
gestão do desenvolvimento de novos produtos, gestão financeira, entre outros.
Portanto, as primeiras duas gerações de modelos lineares – que
prevaleceram entre as Décadas de 1950 ao início da Década de 1970 –
mostraram-se limitadas devido à percepção de que os investimentos em P&D
não levariam, necessariamente, ao desenvolvimento tecnológico e sucesso
econômico do uso da tecnologia.
Após tais constatações, surgiram as abordagens não-lineares ou
interativas, que procuram enfatizar o papel central do design, os efeitos de
feedbacks entre as diversas fases do modelo linear e as múltiplas interações
entre Ciência, Tecnologia e Inovação em todas as suas fases, superando a visão
mais restrita das primeiras gerações de modelos.
De acordo com Rothwell (1994), o modelo “acoplado” (coupling) de
terceira geração, dominante entre as Décadas de 1970 e 1980, reconhece a
combinação das abordagens push e pull, aproximando-se mais da realidade e
mostra uma forte ligação das áreas de marketing e P&D (Figura 2.2).
Conforme Moraes, Campos e Lima (2019), o processo de inovação se
apresenta como sequencial, porém não necessariamente contínuo. Ele pode ser
dividido em uma série de etapas interdependentes e com retornos (feedback)
para a fase anterior. As ligações intraorganizacionais e as influências externas
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 51

criam uma complexa rede, interligando as diferentes funções da empresa, a


comunidade científica e tecnológica e o mercado.

Figura 2.2 – Modelo “acoplado” do processo de inovação

Fonte: Rothwell (1994)

A quarta geração de modelo, desenvolvido por Kline (1985), ganhou


destaque no início da Década de 1980 e em meados de 1990, sendo privilegiada
uma perspectiva de atividades paralelas, auxiliadas por alianças e parcerias. Seu
objetivo foi suprir a “falha da concepção linear dos modelos anteriores e,
portanto, insuficientes para explicar o que efetivamente ocorre no interior das
organizações” (MORAES; CAMPOS; LIMA, 2019, p. 4).

Figura 2.3 – Modelo de interações em cadeia do processo de inovação

Fonte: adaptado de Kline (1978)


EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 52

O modelo foi chamado de “Interações em cadeia”, devido a ênfase dada


às múltiplas relações que ocorrem entre as diferentes fases do processo,
especialmente na cadeia central de inovação. Conforme a Figura 2.3, as flechas
no interior da cadeia central ilustram a trajetória típica do modelo linear, todavia,
nesse modelo elas são acrescidas das flechas significando que essas etapas
não possuem limites rígidos, havendo permeabilidade entre elas (MORAES;
CAMPOS; LIMA, 2019).
Desenvolvido pela OCDE no final da Década de 1990 e presente até os
dias atuais, o modelo de integração de sistemas captura as suas características
sistêmicas traduzindo o conceito pioneiro de “inovação de quinta geração” de
Rothwell, que enxergava a inovação como um processo multi-ator, que requer
altos níveis de integração intra e interempresas, cada vez mais facilitada pelas
redes tecnológicas.

Figura 2.4 – Modelo sistêmico de inovação

Fonte: adaptado de OECD (1999) e Viotti e Macedo (2003)

O modelo da OCDE (Figura 2.4) é baseado nos princípios observados na


quarta geração, porém destaca a necessidade de mudança contínua, mostrando
que as empresas não inovam sozinhas, mas, em geral, no âmbito de um sistema
de redes de relação com outras empresas, aproveitando as infraestruturas de
pesquisa pública e privada que existirem (universidades e institutos de
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 53

pesquisa), sob influência das economias nacional e internacional e do sistema


normativo (VIOTTI; MACEDO, 2003).
Lobosco, Moraes e Maccari (2011) entendem as universidades como um
dos pilares do processo inovativo a partir da dinâmica descrita no modelo
sistêmico de inovação. Como o conhecimento é cada vez mais um insumo
relevante para o desenvolvimento socioeconômico, é natural que as
universidades, enquanto espaços institucionais de geração e de transmissão de
conhecimento, sejam entendidas como agentes sociais de destaque
(LOBOSCO; MORAES; MACCARI, 2011)
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 54

3 SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO

A partir da compreensão da evolução dos modelos teóricos consagrados,


criados para um melhor entendimento sobre a dinâmica da inovação, percebe-
se que esses resultam do produto dos esforços de diversos agentes dos setores:
governamental (responsável pelas políticas de inovação); acadêmico-científico
(produção do conhecimento oriundo da pesquisa); e indústria e comércio
(responsáveis por oportunizar a aplicação dos conhecimentos gerados para
agregar valor para a sociedade). Esse trinômio, acrescido do setor de serviços e
outros, de caráter público e privado, atuam de modo colaborativo na promoção
da inovação.
Pontua-se que, na literatura especializada sobre o tema, encontramos
conceituações sobre os “modos” de produção do conhecimento, sendo
designado “Modo 1” aquele tipo de produção motivada apenas pela investigação
teórica e científica (pesquisa básica), sem a preocupação com a aplicação
prática, orientada a um determinado contexto e centrada no problema, que
caracterizam o “Modo 2” (GIBBONS, 2013).
De acordo com o entendimento desse mesmo autor, o modo de produção
2 incrementou o número de atores envolvidos com o potencial para criação de
conhecimento, não se restringindo mais às universidades e outras IES, mas
aberta agora a centros de estudos privados e públicos, agências
governamentais, ONGs, laboratórios industriais, consultorias, empresas
multinacionais, empresas pequenas de alta tecnologia, assim como programas
de cooperação nacional e internacional de pesquisa. A infraestrutura criada para
gerar conhecimento depende, portanto, da formação de parcerias em que há a
coexistência de diversas organizações que carregam diferentes expectativas,
demandas e regras (GIBBONS et al., 1994).
Posteriormente, Carayannis e Campbell (2009) propõem a tipologia de
conhecimento “Modo 3”, enfatizando a coexistência de diferentes paradigmas de
conhecimento e inovação a partir de um sistema de redes de inovação para
criação, difusão e uso de conhecimentos.
Anteriormente, essa perspectiva integrada da inovação já havia sido
identificada pela corrente neo-schumpeteriana representada por autores como
Nelson (1993), Edquist (1997), Lundvall (2002) e Freeman e Soete (2008), que
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 55
introduziram o conceito de Sistema Nacional de Inovação (SNI), a partir da
metade do Século XX, após verificarem um conjunto de elementos e
interligações que influenciam a produção, disseminação e utilização do
conhecimento novo e útil do ponto de vista econômico, fomentando os processos
inovativos e o desenvolvimento.
Sua base norteadora é a de que a inovação resulta de dinâmicas sociais,
em geral interativas, distribuídas e somente eficaz se ocorrer de modo sistêmico.
Quanto à dimensão “nacional”, trata-se do reconhecimento da importância da
história, cultura, sistemas políticos, bem como dotação de recursos naturais e
estruturas econômicas, enfatizando, assim, as diferenças entre os países
(AROCENA; SUTZ, 2021, p. 4).
Os fundamentos do SNI, no entanto, remetem às ideias do economista
Friedrich List (1842), que já havia evidenciado a necessidade da construção de
um sistema nacional de produção e aprendizagem capaz de incluir as instituições
dedicadas à produção, educação e infraestrutura (LUNDVALL et al., 2002;
LUNDVALL, 1992).
De acordo com a OCDE (1997, p. 9, tradução nossa), “[...] o conceito de
SNI parte da premissa de que a compreensão dos vínculos entre os agentes
envolvidos em processos inovativos é fundamental para a melhoria do
desempenho tecnológico”. Por essa afirmação, há um reconhecimento da
influência de instituições externas ao contexto empresarial para a geração e
implementação de inovação (SILVA, 2018).
A abordagem inicial da teoria dos sistemas de inovação foi pensar o
processo inovador na dinâmica industrial, porém um de seus pontos-chave é o
reposicionamento do Estado e da função das organizações públicas diante do
fenômeno da inovação. Outro ponto essencial diz respeito à configuração do
fluxo da inovação e difusão do conhecimento, que deixa de ser visto como algo
unidirecional e predominantemente linear para assumir uma vertente
multidirecional. De modo sucinto, SNI pode ser compreendido como
[...] um conjunto de instituições distintas que contribuem para o
desenvolvimento da capacidade de inovação e aprendizado de um
país, região, setor ou localidade – e também o afetam. Constituem-se
de elementos e relações que interagem na produção, difusão e uso do
conhecimento (CASSIOLATO; LASTRES, 2005, p. 37).
Para os autores, ao se incorporarem e consolidarem novos modos de
compreensão de inovação, privilegia-se a produção baseada na criatividade
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 56
humana ao invés das trocas comerciais e da acumulação de equipamentos e de
outros recursos materiais. Assim, a inovação e o aprendizado passam a ser
caracterizados como processos interativos com múltiplas origens
(CASSIOLATO; LASTRES, 2005, p. 37).
Ainda de acordo com Cassiolato e Lastres (2005), o caráter sistêmico da
inovação foi há muito reconhecido nos documentos de trabalho do grupo ad hoc
de assessoramento em Ciência, Tecnologia e Competitividade da OCDE,
citando Freeman (1982):
[...] os ‘mecanismos de acoplamento’ entre o sistema educacional,
instituições científicas, instalações de P&D, produção e mercados têm
sido um aspecto importante das mudanças institucionais introduzidos
nos sistemas nacionais de inovação bem-sucedidos (FREEMAN, 1982
apud CASSIOLATO; LASTRES, 2005, p. 36, tradução nossa).
Essa abordagem integrada (ou sistêmica) passou a chamar atenção a
partir do trabalho de Nelson (1993), que realizou um estudo comparativo de
sistemas de inovação de 15 países visando identificar as particularidades e
semelhanças das estruturas e mecanismos de apoio à inovação e quais seus
efeitos em termos de desenvolvimento econômico das realidades pesquisadas.
O autor concluiu que tais sistemas diferem significativamente, dependendo da
estrutura econômica, bases de conhecimentos e instituições específicas de cada
país.
Cabe ressaltar que o termo “nacional” não é original dos trabalhos
apresentados na Década de 1980. Logo, o conceito de sistema de inovação pode
ser aplicado tanto em abordagens de âmbito nacional (quando se utiliza o termo
Sistema Nacional de Inovação) quanto naqueles localizados regional ou
setorialmente.
Como já visto, os três principais agentes de um SNI são o governo, a
academia e as empresas, os mesmos protagonistas dos modelos do Triângulo
de Sábato (SÁBATO; BOTANA, 1968) e da Hélice Tríplice (ETZKOWITZ;
LEYDESDORFF, 1995). Os componentes do sistema de inovação, porém,
também incluem as redes (articulações e relações formais e informais);
propósitos (visão e objetivos que unem as diversas instituições); políticas
(diretrizes e regras); provedores (fontes de financiamento responsáveis pelos
recursos) e a governança (coordenação de esforços e definição da estrutura de
poder na rede). Adicionalmente, Isenberg (2010) propôs um conjunto de
elementos complementares a serem considerados na estruturação de um
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 57
sistema de inovação, tais como: capital humano, mercado, serviços de suporte,
aspectos culturais, infraestrutura e tecnologia.

3.1 Sistema Nacional de Inovação no Brasil


Algumas iniciativas de apoio à P&D, surgidas no Brasil a partir da Década
de 1950, colaboraram para a formação do Sistema Nacional de Inovação no
País. São marcos importantes a fundação da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes) em 1950, a criação do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 1951; a Financiadora
de Estudos e Projetos (FINEP), criada em 1967, e o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), vinculado à FINEP, que
provia recursos para estimular estudos de graduação nas universidades e
atividades de pesquisa nas empresas públicas nas Décadas de 1970 e 1980.
Este primeiro período coincide com a expansão do sistema universitário
brasileiro (ARAÚJO, 2012, p. 8).
Em um segundo momento, que compreendeu as Décadas de 1980 e
1990, o País vivia uma crise econômica que deteriorou a infraestrutura científica
e tecnológica devido aos cortes orçamentários. Paradoxalmente, em 1985, foi
criado o Ministério de Ciência e Tecnologia5, representando o estabelecimento
da agenda de C&T como setorial de metas específicas, como o desenvolvimento
da política de informática, identificada na época como uma “janela de
oportunidades” para o Brasil.
De acordo com Rodriguez, Dahlman e Salmi (2008), ainda na Década de
1980, tiveram início as primeiras ações de apoio à P&D junto ao setor privado
por meio de incentivos fiscais e compras direcionadas feitas por empresas
estatais com os Programas de Desenvolvimento Tecnológico Industrial e
Agropecuário (PDTI/PDTA), com vistas à promoção do desenvolvimento e da
competitividade nos respectivos segmentos. Seguiram-se as realizações das
Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia e a criação do Centro de Gestão
e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social vinculada ao Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), com objetivo de promover estudos para

5 Atualmente Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)


SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 58
subsidiar planejamentos de longo prazo para a área de Ciência, Tecnologia e
Inovação (CT&I).
Araújo (2012) conta que, com os anos 1990, vieram a abertura, a
estabilização macroeconômica e as privatizações, o que levou grandes desafios
ao setor empresarial brasileiro, que precisou ser mais eficiente e produtivo e
cortar custos. A orientação política foi a absorção, adaptação e difusão de
tecnologias importadas, o que acabou fornecendo a base para o discurso pró-
inovação a partir da criação dos fundos setoriais. Contribuições específicas
sobre algumas atividades econômicas, tais como eletricidade,
telecomunicações, exploração de petróleo e outros proveriam uma fonte de
financiamento estável à pesquisa e desenvolvimento em 14 setores estratégicos,
além de dois fundos especiais destinados a promover a interação universidade-
empresa e a melhoria da infraestrutura de pesquisa nas universidades e centros
de pesquisa (ARAÚJO, 2012, p. 10).
Viotti (2008), em seu turno, relata que Brasil começou a sistematizar, de
fato, o apoio à inovação por meio de instrumentos importantes a partir de 2003.
Naquele ano houve a ação conjunta da Política Industrial, Tecnológica e de
Comércio Exterior (PITCE) – que direcionava a expansão da base industrial por
meio da melhoria da capacidade inovadora, visando aumentar a eficiência
econômica, o desenvolvimento e a difusão de tecnologias competitivas. Mais
tarde, em 2008, foi a vez do Plano de Desenvolvimento da Produção (PDP), que
ampliou o âmbito do PITCE incluindo mais setores entre as prioridades políticas
e de apoio e definindo a inovação como um dos pilares básicos para o
crescimento econômico.
Como resultado de tais políticas, o Brasil promulgou a Lei da Inovação (nº
10.973), em 2004, e, no ano seguinte, a Lei do Bem (nº 11.196). A primeira
estabeleceu mecanismos de interação entre os setores público e o privado com
vistas ao desenvolvimento tecnológico e transferência de tecnologias para as
empresas, além de determinar a criação dos Núcleos de Inovação Tecnológica
(NIT). A Lei da Inovação trouxe avanços na legislação anterior sobre a
cooperação universidade-empresa e promoveu o aparato institucional para as
alianças estratégicas entre os institutos de pesquisas e empresas, entre outras
facilidades, como a participação de pesquisadores nos benefícios econômicos
da pesquisa.
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 59
A Lei do Bem, por sua vez, consolidou os incentivos fiscais para pessoas
jurídicas de forma automática, desde que realizada atividade de P&D. Ou seja,
o intuito era aumentar a competitividade da indústria nacional a partir de
incentivos à inovação e à agregação de valor, por meio de um conjunto de
medidas de estímulos ao investimento e à inovação, apoio ao comércio exterior,
defesa da indústria nacional e do mercado interno (ARAÚJO, 2012; VIOTTI,
2008).
Outra importante iniciativa nacional foi a criação da organização social
Embrapii – Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, que, desde
2013, tem fomentado a inovação na indústria brasileira através da cooperação
com instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas e privadas, tendo
como foco as demandas empresariais e como alvo o compartilhamento de risco
na fase pré-competitiva da inovação.
Embora ainda jovem, a primeira menção à existência de uma empresa
dedicada a viabilizar soluções por meio da geração, adaptação e transferência
de conhecimentos e tecnologias em prol da sociedade, surge em 2007 através
de um estudo desenvolvido pela Capes por encomenda da Sociedade Brasileira
de Física. Graças a um modelo de negócios compartilhado, inédito no setor, a
Embrapii já assinou mais de 100 projetos de PD&I com empresas, com agilidade,
flexibilidade e redução de riscos.
Mais adiante, o tratamento das atividades de CT&I no país foi novamente
modificado com a Emenda Constitucional nº 85/2015, que alterou a Constituição
Federal, de 1988, “ao legitimar e reconhecer a importância de políticas públicas
para promoção das atividades de ciência, tecnologia e, agora, explicitamente da
inovação”, institucionalizando o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação (SNCTI) que “[...] será organizado em regime de colaboração entre
entes, tanto públicos quanto privados, com vistas a promover o desenvolvimento
científico e tecnológico e a inovação.” (BRASIL, 2015, Art. 219-B).
Desde então, o SNCTI vem se se expandindo e fortalecendo por meio de
projetos estruturantes e programas específicos, envolvendo: ministérios do
governo federal; órgãos federais, estaduais e municipais de fomento à pesquisa
(CNPq, Capes e FAPs, entre outras fundações); agências de financiamento e
desenvolvimento (Finep, BNDES, entre outras); instituições de ensino superior,
hospitais universitários e centros de pesquisa públicos e privados (também
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 60
conhecidos como ICT – Instituições Científicas e Tecnológicas); empresas
(grande, médio, pequeno porte e microempresas, em diversos setores);
associações científicas, tecnológicas e empresariais; e organizações não
governamentais (RODRIGUEZ; DAHLMAN; SALMI, 2008).
Porém, mesmo após a promulgação da Emenda nº 85, o SNCTI brasileiro
ainda não teve as suas atividades regulamentadas para discriminar a
responsabilidade de seus atores e a dinâmica do funcionamento. Ainda assim, é
considerado um Eixo Estruturante da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia
e Inovação (2016/2022), que propõe o estreitamento das relações entre
universidade e empresa e a interação entre os mais diferentes componentes do
SNCTI por meio da instauração de um paradigma de inovação colaborativa no
Brasil.
De acordo com o documento, houve uma forte expansão do SNTCI
durante os anos 2000 pelo fato do crescimento das universidades, modernização
dos laboratórios, contratação de mais pesquisadores e surgimento de novos
instrumentos de financiamento. Contudo, reconhece que na década atual esse
crescimento tem se dado em um ritmo mais lento, com a redução da capacidade
de financiamento público e privado em CT&I. Em vista disso, a Estratégia prevê
esforços contínuos de expansão do Sistema para atender às demandas
crescentes da sociedade, em um processo que deve ser acompanhado de uma
avaliação criteriosa dos investimentos considerados prioritários (BRASIL, 2018,
p. 73)
Na opinião de Schwartzman (2018), o principal resultado da retomada dos
investimentos e da criação de novas leis e instrumentos de apoio à ciência e
tecnologia foi “menos o desenvolvimento de inovação tecnológica e mais o
crescimento contínuo da pesquisa acadêmica”. De Negri (2017) vai além,
argumentando que, a despeito do aparente progresso alcançado em termos de
fomento ao sistema de inovação no país, é necessário implementar uma nova
geração de políticas de inovação, com foco em resultados concretos e com
volumes de investimentos relevantes.
Para isso, a autora elenca alguns princípios que deveriam orientar esse
novo arcabouço legal a partir do aumento da capacidade de inovação da
economia brasileira. Essas condições sistêmicas nem sempre estão ao alcance
das políticas de inovação, embora estejam ao alcance da atuação
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 61
governamental no sentido amplo. “O baixo nível de competição na economia
brasileira, [...] está relacionado ao baixo grau de abertura da economia e, por
vezes, à própria atuação governamental” (DE NEGRI, 2017, p. 37).

3.1.1 Políticas de Inovação Brasileiras


Mais recentemente, a Lei de Inovação foi alterada com a promulgação do
Novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei nº 13.243/2016,
regulamentada pelo Decreto nº 9.283/2018), atribuindo à própria ICT pública a
responsabilidade pela criação de sua política de inovação, cabendo ao NIT
apenas a função de apoiar a gestão da política de inovação (VARRICHIO;
RAUEN, 2020). O Marco Legal da CT&I, no entanto, também impõe como
obrigatoriedade que toda ICT discuta, elabore e aprove a sua política de
inovação institucional, conforme explicita o artigo 15-A:
[...] a ICT de direito público deverá instituir sua política de inovação,
dispondo sobre a organização e a gestão dos processos que orientam
a transferência de tecnologia e a geração de inovação no ambiente
produtivo, em consonância com as prioridades da política nacional de
ciência, tecnologia e inovação e com a política industrial e tecnológica
nacional. (BRASIL, 2004, incluído pela Lei 13.243/2016).
Para Varrichio e Rauen (2020), além de representar um importante
mecanismo na promoção da inovação, a elaboração de políticas específicas
constituem um estímulo à interação universidade-empresa, especialmente para
superar eventuais obstáculos e inseguranças jurídicas no ambiente das
universidades federais brasileiras.
A construção de políticas de inovação, na visão de Borrás e Edquist
(2013), é fruto de um processo complexo no qual, em sociedades democráticas,
envolve iniciativas do governo, parlamentares, órgãos públicos e a sociedade
civil. Tal dinâmica relaciona-se com o conceito de sistema de inovação,
implicando que a maioria das principais partes interessadas precisam ser
consideradas à luz de como podem contribuir para a inovação. Um aspecto
fundamental da política passa a ser revisar e redesenhar as ligações entre as
partes do sistema (LUNDVALL; BORRÁS, 2005).
Os objetivos das políticas de inovação, portanto, precisam atender a
diferentes expectativas e interesses, incluindo ideologias. Em última instância,
deverão se preocupar com as consequências importantes que as inovações têm
para questões socioeconômicas e políticas, como crescimento econômico e
meio ambiente (BORRÁS; EDQUIST, 2013, p. 1514).
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 62
Em outro trabalho, Borrás e Edquist (2014) identificam as competências e
habilidades (internas e externas) necessárias para a construção e
implementação dessas políticas por parte dos governos. Desse modo, os
autores reúnem um conjunto de critérios gerais para a seleção e concepção de
instrumentos de políticas relevantes.
No Brasil, o primeiro documento oficial sobre o tema publicado por uma
IES federal foi a Portaria nº 823/2008 da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), que dispõe sobre a importância da gestão de uma política de inovação
e instituindo o seu NIT, a Agência de Inovação da UFSCar. Antes, porém, a
Universidade Federal do Maranhão (UFMA) já havia homologado a sua política
por meio da Resolução nº 194/2014 de seu Conselho Universitário. O documento
detalha os princípios e diretrizes gerais para
[...] promover ações de incentivo à inovação científica e tecnológica no
ambiente produtivo, bem como ações que regulamentem os acordos
de cooperação e contratos institucionais para prestação de serviços,
com o objetivo de contribuir com a independência tecnológica e o
desenvolvimento econômico, social e cultural do Estado do Maranhão.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, 2014).
Desde então, outras IES avançaram na discussão para implementarem
suas políticas institucionais de inovação que explicitam os mecanismos de
propriedade intelectual e transferência de tecnologia, ainda que pela motivação
em atender a legislação brasileira.
A obrigatoriedade das ICT públicas brasileiras, especialmente as
universidades, de estabelecerem suas políticas de inovação institucionais fez
com que fosse observado um número crescente de normativas, principalmente
após 2018, quando é regulamentado o decreto do Marco Legal da CT&I.
Até abril de 2021, 32 universidades federais contavam com suas políticas
de inovação formalizadas (46,4% do total das 69 instituições do país) ao passo
que 22 caminhavam nessa direção, declarando estarem em processo de
elaboração do documento. Até o ano da publicação do Marco Legal, em 2016,
apenas 5 (cinco) IES federais tinham suas políticas implantadas, conforme
dados obtidos por meio dos websites das universidades.

3.2. As múltiplas “hélices” da inovação


O conceito da Hélice Tríplice (HT), proposto por Etzkowitz e Leydesdorff
(1995), analisa o relacionamento entre as instituições geradoras de
conhecimento (universidades e demais institutos de pesquisa), setor produtivo e
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 63
as entidades reguladoras e fomentadoras do desenvolvimento econômico
formam um ambiente propício para a geração da inovação tecnológica. Tais
interações são fundamentais para melhoria das condições de inovação em uma
sociedade baseada no conhecimento (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017, p.24).
Nesse ponto, cabe reforçar o aumento da importância das universidades
no sistema, com o surgimento de empresas intensivas em tecnologia por meio
da pesquisa acadêmica, processo conhecido como “spin-off” acadêmico. Tais
empresas também passariam a integrar o Sistema Nacional de Inovação da
mesma forma que o conceito bastante difundido de “universidade
empreendedora” (entrepreneurial university), aquela comprometida com o
desenvolvimento de sua região e capaz de assumir riscos, buscando novos
papéis junto à sociedade.
Na percepção dos pioneiros sobre essa discussão, existe uma ruptura no
modelo tradicional na medida em que, mesmo tendo seus objetivos acadêmicos
alinhados, a universidade se vale de parcerias institucionais para transformar o
conhecimento resultante de seus esforços em valor econômico e social
(ETZKOWITZ, 1983; CLARK, 1998; AUDY, 2017). Como resultado dessas
interações, podemos verificar o incremento nos números de licenciamentos de
patentes universitárias como mecanismo de transferência de tecnologias, além
da comercialização dos direitos de propriedade e o direito de acesso de uso
(HALL et al., 2014; MUELLER; PERUCHI, 2014).
O paradigma da HT, portanto, apresenta uma nova visão dos atores
envolvidos, destacando a relevância e protagonismo do setor acadêmico,
formado pelas IES e institutos de pesquisa, na geração de inovações em
sociedades cada vez mais baseadas no conhecimento. Afinal, tais instituições
são fontes de conhecimento do qual se originam o processo de transferência de
tecnologia para a iniciativa privada.
A crescente importância dada à tese da HT levou ao surgimento de um
amplo campo de investigação teórica e empírica, o que acabou por levantar
algumas fragilidades desse modelo em relação à desigualdade na cooperação
entre os atores uma vez que, em muitos casos, há divergências de seus
interesses e objetivos (CHUNG; PARK, 2014; RUUSKA; TEIGLAND, 2009;
SAAD; ZAWDIE, 2005).
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 64
As mudanças no cenário econômico mundial, por sua vez, acarretaram
uma expansão no modo de relacionamento entre esses atores. O trinômio
clássico estabelecido pelas interseções formadas entre universidade-empresa-
governo vem se incrementando com novos modelos de geração de informação
e conhecimento, passando a contemplar a sociedade civil em geral, moldada
pela sua cultura, arte, valores e estilo de vida (CARAYANNIS; CAMPBELL,
2019).
Neste sentido, Carayannis e Campbell (2009) propuseram o conceito da
Hélice Quádrupla (HQ), adicionando a sociedade civil organizada ao modelo da
HT como agente impulsionador dos processos de inovação. Desse modo,
percebe-se a necessidade de uma compreensão mais ampla sobre a produção
de conhecimento e aplicação da inovação, exigindo um público mais integrado à
dinâmica da inovação já que os usuários (cidadãos comuns, coletivos,
profissionais liberais, consumidores, empresas, organizações e associações da
sociedade civil etc.) tornam-se figuras centrais no modelo (CARAYANNIS;
CAMPBELL, 2009; 2019). Vale destacar que a proposta da Hélice Tríplice de
Etzkowitz e Leydesdorff (1995) já abordava a influência dos padrões das
estruturas sociais como elemento para inovação, o que reforça a importância da
existência de outras hélices.
Para Arnkil et al. (2010), além de se envolver no processo de
desenvolvimento, os usuários têm o poder de sugerir novos tipos de inovações
para outros agentes. Dessa forma, conforme analisa Mineiro et al. (2018, p. 82),
“a Hélice Quádrupla capacita e conecta os cocriadores de inovação, como
empreendedores, inventores, artistas e outros geradores de valor que irão
fortalecer o ecossistema”. O papel dos atores das outras três hélices é, portanto,
apoiar os cidadãos no desenvolvimento das atividades de inovação, fornecendo
informações, ferramentas adequadas e ambientes propícios. Diante disso,
acredita-se que essa dimensão encontra-se alinhada aos objetivos e escopo de
atuação da extensão universitária.
Posteriormente, Carayannis e Campbell (2019; 2010) estudaram os
relacionamentos (possíveis) entre o conhecimento, inovação e meio ambiente,
concluindo que os elementos promotores da inovação deveriam fazer parte de
uma conjuntura ambiental e sustentável. Emerge, assim, a dimensão de uma
“Hélice Quíntupla”, que contempla a crescente preocupação da sociedade com
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 65
temas como o aquecimento global, mudanças climáticas e suas implicações para
sustentabilidade do planeta.
O novo modelo proposto busca entender a produção do conhecimento e
inovação sob essa perspectiva, em uma relação sinérgica entre os sistemas
políticos e econômicos (sociedade) e a ecologia por meio de “uma análise
interdisciplinar de qualquer interação entre organismos vivos ou interações entre
organismos vivos e seus ambientes (CARAYANNIS; CAMPBELL, 2010, p. 58).

Figura 3.1 – Modelo da Hélice Quíntupla de inovação

Fonte: adaptado de Carayannis e Campbell (2010, p.58)

De acordo com os autores, o modelo da Hélice Quíntupla (Figura 3.1)


encontra-se ancorado nas relações universidade-empresa-governo (HT) que se
insere no âmbito de uma camada de interesse social, baseada em mídia e cultura
(HQ). Acrescenta-se uma perspectiva transdisciplinar que considera o meio
ambiente e o ambiente natural da sociedade (ecologia social), apontando para a
necessidade de um equilíbrio entre os caminhos do desenvolvimento
sustentável. A quinta camada, portanto, não chega a representar um novo ator
em si. Na avaliação de Grundel e Dahlstrom (2016), trata-se de “um motor de
novos conhecimentos em resposta a desafios ambientais, sendo uma proposta
mais ampla de transformações socioecológicas e ambientes naturais”.
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 66
O modelo leva em conta as transformações observadas nos recursos
naturais, como o “efeito estufa”, por exemplo. Em suma, trata-se de um modelo
não linear de inovação, que combina conhecimento e know-how articulados com
o uso inteligente da tecnologia para contribuir com o desafio da sustentabilidade
do planeta (MACHADO; LAZZAROTI; BENCKE, 2018, p. 109).
Essa visão holística tende representar o olhar da academia diante dos
inúmeros projetos de pesquisas voltados para a área ambiental. Na perspectiva
universitária, portanto, a inovação, em grande parte, pode decorrer da motivação
pela transformação social (HQ), incluindo as contribuições para melhoria do meio
ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável (Hélice Quíntupla).
Sobre esse aspecto, Costa (2012) menciona que a avaliação das práticas
sustentáveis nas instituições de ensino superior, tornam-se cada vez mais
presentes. Em seu trabalho, a autora estuda diversas ferramentas para
indicadores de resultados e métricas a serem consideradas na avaliação da
sustentabilidade dessas instituições, destacando a importância de pesquisas
empíricas divulgadas pelas IES, de modo a ampliar as suas oportunidades de
atuação.
Tal argumento é reforçado por Hasan e Morrison (2008), ao afirmarem
que é perceptível o crescimento de preocupações sobre o tema em diferentes
organizações, inclusive, nas universidades. Já Veiga (2009) argumenta que a
avaliação da sustentabilidade necessita de uma trinca de indicadores, haja vista
que não se pode pensar em desenvolvimento sustentável sem imaginar um
equilíbrio entre o meio ambiente, o bem-estar social e a economia.
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 67
4 INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO

O ato de inovar já faz parte do cotidiano das empresas, de um modo geral,


na medida em que este é um requisito essencial para a competitividade e
sobrevivência no mercado. A inovação no setor público, porém, tem estado cada
vez mais presente na agenda dos gestores dos governos, chamando a atenção
de pesquisadores de diferentes países devido ao seu caráter peculiar de criação
de valor na administração pública através da melhoria de seus serviços, bem
como o fortalecimento da confiança no Estado e nas instituições e organizações
públicas (ISIDRO, 2018, p. 17).
De acordo com Isidro (2018), a gestão pública inovadora foi impulsionada
a partir dos anos 2000, sobretudo com o Projeto de Inovação no Setor Público
(PUBLIN Project), vinculado ao Programa de Pesquisa e Desenvolvimento
Tecnológico da União Europeia. O empreendimento expandiu-se nas últimas
duas décadas por países desenvolvidos, tais como Dinamarca, Noruega, Reino
Unido, Estados Unidos, entre outros, levando-os a construírem modelos
institucionais compartilhados, integrando conceitos, processos, ferramentas e
estruturas organizacionais orientadas à inovação contínua.
Há que se considerar, porém, que nos países em desenvolvimento a
inovação no serviço público não tem sido adequadamente prevista em seus
orçamentos. Na opinião de Kon (2019), os objetivos e metas estabelecidos no
planejamento governamental limitam-se a enfatizar a necessidade de
modernizar o atendimento das demandas públicas sem avaliar as estratégias de
ação e adoção de instrumentos técnicos e regulatórios, além da própria dotação
de recursos financeiros necessários para essa finalidade (KON, 2019, p. 491).
Se nos países mais avançados as soluções para esta demanda já são
rotineiramente discutidas e implementadas, a literatura pertinente mostra que,
em grande parte das economias em desenvolvimento, ainda se observa a
fragmentação e a insuficiência do conhecimento sobre condições,
possibilidades, formas e impactos da inovação nos serviços públicos, bem como
de seus custos e resultados efetivos (UN DESA, 2012; NASER, 2011).
Para Isidro (2018), no entanto, tal movimento inspirou diversas ações no
setor público brasileiro (união, estados e municípios), cujo reconhecimento é
verificado ao longo de prêmios de inovação pública, com destaque para o
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 68
promovido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), subordinada
ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Outras ações mais
recentes promovidas pelo governo em âmbito nacional tem sido o fomento aos
laboratórios de inovação de governo e a articulação de redes de estímulo à
cultura inovadora no setor público brasileiro, como a Rede InovaGov, que
conecta organizações e pessoas ao governo, empresas, sociedade civil e
academia.
O Quadro 4.1reúne algumas características da inovação nos setores
público e privado, demonstrando semelhanças e divergências entre seus
objetivos e relacionamentos.

Quadro 4.1 – Características da inovação no setor público e privado

Características Setor Privado Setor Público

Busca do lucro, da estabilidade ou do


Princípios Organizacionais Execução de políticas públicas
crescimento de receitas

Múltiplos indicadores e objetivos de


Métricas de Desempenho Retorno sobre investimento
desempenho

Alguns gestores têm autonomia Enquanto existem esforços de emular as


considerável, outros são restringidos por práticas de gestão do setor privado, os
acionistas, governança corporativa ou gestores tipicamente estão sob altos
Questões de Gestão dificuldades financeiras. Gestores de níveis de escrutínio político. Gestores de
sucesso são passíveis de recompensas sucesso normalmente recebem menos
com benefícios materiais substanciais e benefícios materiais se comparados a
promoções gestores do setor privado

Mercados podem ser consumidores ou Os usuários finais são o público em geral,


indústrias, e as firmas variam na tradicionalmente vistos como cidadãos,
Relações com Usuários intimidade das conexões com os usuários apesar de recentemente ter havido
Finais finais de seus produtos, mas normalmente o esforços para introduzir princípios de
feedback do mercado fornece o veredito da mercado e vê-los como consumidores ou
inovação clientes

As empresas têm flexibilidade considerável Apesar de muitos recursos, partes do


para procurar informações relacionadas à setor público podem ser restringidas de
Relações com Fontes de inovação de consultores, associações de usar fontes de conhecimento privado. As
Conhecimento comércio e pesquisadores do setor público, fontes de conhecimento do setor público
mas muitas firmas menores têm recursos podem ser altamente orientadas para
limitados para isso outras partes do setor público

Fonte: adaptado de Isidro (2018)

Em comum com o setor privado, estão os objetivos de melhoria da


eficiência organizacional, proporcionar maior qualidade e serviços mais
oportunos para os cidadãos, reduzir os custos de transação de negócios, além
de fornecer novos métodos de operação. No entanto, a inovação no setor público
se concretiza quando governos implementam arquiteturas, políticas e práticas
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 69
organizacionais que impactam positivamente a vida das pessoas, ofertando
serviços de qualidade e políticas públicas inclusivas e sustentáveis.
Outras razões que justificam um setor público inovador repousam no fato
da força do poder público no desenvolvimento de inovações, contribuindo para
o crescimento econômico, devido a algumas características próprias: i)
regulação do mercado e de novas tecnologias; ii) fornecedor de infraestrutura
para as novas tecnologias, favorecendo a redução de custos de insumos; iii)
principal comprador das tecnologias inovadoras; iv) é o primeiro a utilizar as
tecnologias radicais e disruptivas.
Conforme Kattel et al. (2014), os esforços acadêmicos para delinear e
compreender a inovação no setor público apontam para uma cronologia de três
períodos distintos. O primeiro é visto com forte influência das contribuições de
Schumpeter e procura esclarecer a relação entre inovação e desenvolvimento
econômico, com ênfase no desenvolvimento de produtos e processos pelo setor
privado. O segundo momento é marcado pela influência das teorias
organizacionais, em que as inovações do setor público são vistas como
semelhantes a do setor privado, principalmente associadas aos paradigmas das
teorias das organizações. Já o terceiro período, que tem início a partir do ano
2000, refere-se à teoria Autóctone ou de demarcação (DJELLAL, GALLOUJ;
MILES, 2013), cuja tendência é a de desassociar os efeitos da inovação que
ocorrem de modos distintos nas esferas pública e privada.

Quadro 4.2 – Projetos de Métricas de Inovação para o Setor Público

Projeto Responsável Desde


EPSIS – European Public Sector Innovation
Scoreboard União Europeia 2013
https://bit.ly/3tXosat
APSII – Australian Public Sector Innovation
Indicators Project Australia 2011
https://legacy.apsc.gov.au/innovation-public-sector
MEPIN – Measuring Public Innovation in the Nordic
Conselho de Ministros
Countries 2011
dos Países Nórdicos
https://www.nordicinnovation.org/
NESTA – National Endowment for Science
Technology and the Arts Reino Unido 1998
https://www.nesta.org.uk/

Fonte: Elaboração própria (2022)


INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 70
Kattel et al. (2014) destacam o mérito dos projetos e centros de
referências em modelos de inovação no setor público, que contribuem no apoio
de processos decisórios e formulação de políticas públicas, além de auxiliar os
esforços para se mensurar a inovação neste segmento. Exemplos dessas
iniciativas encontram-se reunidas no Quadro 4.2.
Ao abordarem as lacunas na literatura sobre inovação no setor público,
Gallouj e Zanfei (2013), identificaram fragilidades teóricas, empíricas,
metodológicas e do campo político. Para esses autores, mesmo o Manual de
Oslo parece não levar em conta serviços providos pelo setor público. No caso
dos países nórdicos, o Manual de Copenhagen tornou-se uma referência
conceitual da inovação ao contrapor os tipos de inovação definidos pela OCDE.
Além disso, as administrações públicas, paradoxalmente, têm desenvolvido
vários métodos para avaliação da inovação em outros setores da economia; no
entanto, apenas recentemente começaram a expressar algum interesse na
avaliação de sua própria inovação (GALLOUJ; ZANFEI, 2013).

4.1 Inovação e a Universidade Pública Brasileira


Universidades são instituições seculares que, historicamente,
desempenham um importante papel para o desenvolvimento da humanidade.
Além do objetivo da educação formal, em diversos campos do saber, também é
característica fundamental de uma instituição de ensino superior a produção e
disseminação do conhecimento científico por meio de pesquisas básicas e
aplicadas. Somam-se a elas as atividades e projetos de extensão que aproximam
o meio acadêmico das necessidades da sociedade, em particular as comunidades
em torno da qual estão inseridas.
As atuais missões da universidade brasileira seguem o princípio da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, conforme estabelecido no
Artigo 2076 da Constituição Federal. Seu objetivo institucional, portanto, é servir
como “centro aglutinador e multidisciplinar de produção de conhecimento de

6 “Art. 207. As universidades gozam, na forma da lei, de autonomia didático-científica,


administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 71
ciência, tecnologia e cultura, como um espaço que deve ser marcado por um
ambiente de saber” (FÁVERO, 2015).
Contudo, se historicamente o papel das universidades esteve associado à
capacitação de recursos humanos e geração de conhecimento, conforme aponta
Colla e Esteves (2013), “a partir do Século XX, tais instituições ampliaram seu
escopo de atuação e passaram a operar diretamente como agentes do sistema
de inovação” (COLLA; ESTEVES, 2013, p. 119).
Nessa mesma linha, Lemos (2012) afirma que as universidades de
pesquisa são instituições que, além da busca pela excelência científica e
tecnológica, encontram-se cada vez mais associadas a um conjunto de
transformações que alteram o modo de traduzir o conhecimento acadêmico em
resultados econômicos e sociais. Tais mudanças são decorrentes da natureza e
dos resultados de P&D, dos processos educacionais e dos esforços de integração
da inovação e do empreendedorismo (LEMOS, 2012, p. 21).
Concordando com esse pensamento, Etzkowitz (1983), pontua momentos
distintos da evolução da missão das IES públicas. Segundo o autor, na Idade
Média, tais instituições eram voltadas unicamente para a preservação e
transmissão de conhecimentos por meio do ensino. Então houve uma Primeira
Revolução Acadêmica, iniciada na Alemanha com a criação da Universidade de
Berlim (1810), que passou a agregar a pesquisa como atribuição da universidade
pública.
Apesar desse movimento ainda se encontrar em processo de
desenvolvimento – devido as tensões existentes, em muitas universidades, entre
as atividades de ensino e pesquisa – uma Segunda Revolução Acadêmica teve
início na segunda metade do Século XX, a partir de experiências em instituições
de prestígio, como as universidades americanas de Stanford e Harvard, além do
Massachusetts Institute of Technology (MIT), que acrescentaram a ideia do
empreendedorismo para além do ensino e pesquisa já existentes. A nova missão
da universidade, portanto, se traduz no desenvolvimento social e econômico ao
gerar novas indústrias e empresas por meio da inovação.
Sustenta-se que as revoluções acadêmicas foram responsáveis por
ampliar o abarcamento da academia junto à sociedade, trazendo novas demandas
e responsabilidades. Desse modo, a universidade tem sido reconhecida também
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 72
como uma importante instituição de formação empresarial e apoio à inovação no
Século XXI (GIMENEZ; BONACELLI, 2018, p. 32).
Em trabalho publicado em 2007, Audy e Morosini já apontavam que as IES
precisam ser atuantes no sistema nacional de inovação tecnológica e de prover à
sociedade maior retorno sobre os investimentos governamentais em atividades de
P&D. A primeira inovação a ser perseguida por essas instituições, na concepção
dos autores, deveria ser o desenvolvimento da capacidade de estabelecer
relações sistemáticas e proveitosas com o setor produtivo (AUDY; MOROSONI,
2007, p. 38).
Roczanski (2016), por sua vez, reforça a pertinência do fortalecimento das
relações entre universidade e empresa, de modo a “possibilitar que as pesquisas
desenvolvidas nas universidades possam efetivamente chegar à sociedade,
passando a adquirir relevância em demandas sociais nas mais diferentes áreas”
(ROCZANSKI, 2016, p. 4).
No âmbito do SNI, o fluxo de produção do conhecimento científico (Modo
1) impulsiona a dinâmica tecnológica (Modo 2). “As universidades e os institutos
de pesquisa produzem conhecimento científico, que é absorvido pelas empresas,
e estas acumulam conhecimento tecnológico, fornecendo novas questões para a
elaboração científica” (SUZIGAN; ALBUQUERQUE; CARIO, 2011, p. 9).

Figura 4.1 – Ecossistema de inovação entre Universidade-Empresa

Fonte: Adaptado de Carayannis e Campbell (2009)


INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 73
A Figura 4.1 ilustra a dinâmica do relacionamento entre os universos
acadêmicos e empresariais, no qual as universidades assumem um papel
determinante na disseminação do conhecimento como suporte à inovação,
contribuindo para a geração de mais conhecimento, em um fluxo bidirecional
(LEMOS, 2013, p.30-31).
Segundo o ponto de vista de Carayannis e Campbell (2009), trata-se de um
ecossistema de produção de conhecimento de Modo 3, uma vez que representa
um modelo de acoplamento não-linear de inovação em que o conceito de
“universidade empreendedora” captura a necessidade de vincular mais
estreitamente a pesquisa universitária com as atividades de P&D das empresas.
Para os autores supracitados, no entanto, mais importante ainda é o
conceito de “empresa acadêmica”, que representa a complementação da
organização empresarial e a estratégia desenhada conjuntamente com a
universidade empreendedora. “A interação de empresas acadêmicas com as
universidades empreendedoras deve ser considerada crucial para o avanço das
economias baseadas em conhecimento e as sociedades” (CARAYANNIS;
CAMPBELL, 2009, p. 211).
Como consequência do avanço da criação de empresas acadêmicas,
vários países iniciaram mudanças em suas legislações, passando a oferecer
incentivos para que as universidades começassem a proteger os resultados de
suas pesquisas por meio de patentes e licenciamento de suas tecnologias. No
Brasil, a Lei de Inovação (nº 10.973/2004), alterada pela Lei nº 13.243/2016
(BRASIL, 2016), evidenciou a intenção do governo em estimular a atividade de
patenteamento nas universidades públicas e estreitar as relações entre a
academia e o setor produtivo, estimulando a participação das Instituições
Científicas e Tecnológicas (ICT) no processo de inovação, cujo conceito é assim
definido:
[...] órgão ou entidade da administração pública direta ou indireta ou
pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos legalmente
constituída sob as leis brasileiras, com sede e foro no País, que inclua
em sua missão institucional ou em seu objetivo social ou estatutário a
pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico ou o
desenvolvimento de novos produtos, serviços ou processos. (BRASIL,
2016, p. 1).
No cenário atual, as universidades (enquanto ICT) funcionam como atores
fundamentais para subsidiar e fomentar atividades de caráter tecnológico,
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 74
imprescindíveis neste movimento nacional pela inovação (JESUS, 2014). Para
isso, a Lei nº 13.243/2016 prevê que as ICT poderão, mediante remuneração e
por prazo determinado, nos termos de contrato ou convênio (BRASIL, 2016, p. 2):
• compartilhar seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais
e demais instalações com ICT ou empresas em ações voltadas à
inovação tecnológica para consecução das atividades de incubação,
sem prejuízo de sua atividade finalística;
• permitir a utilização de seus laboratórios, equipamentos, instrumentos,
materiais e demais instalações existentes em suas próprias
dependências por ICT, empresas ou pessoas físicas voltadas a
atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, desde que tal
permissão não interfira diretamente em sua atividade-fim nem com ela
conflite; e
• permitir o uso de seu capital intelectual em projetos de pesquisa,
desenvolvimento e inovação.
O desejo de transferir o conhecimento acumulado nas universidades para
o mercado fica evidente em diversos casos de inovações institucionais, no
âmbito das universidades, com a criação de seus Núcleos de Inovação
Tecnológica (NIT), núcleos ou órgão constituído por uma ou mais ICT com a
finalidade de gerir sua política de inovação sob a forma de subvenção econômica
para as empresas. Os NIT das universidades são responsáveis pela gestão de
suas patentes, proteção de marcas, transferência de tecnologias etc.), tendo
capacidade de gerar inúmeros benefícios para a sociedade em decorrência da
introdução no mercado de uma inovação tecnológica.
Outro destaque da Lei 13.243/2016 é a autorização da incubação de
empresas dentro das ICT, facultando a celebração de contratos de transferência
de tecnologia e de licenciamento de patentes de sua propriedade. O caso dos
cientistas e pesquisadores que criam suas empresas é outra evidência de que a
legislação anterior, mesmo tentando buscar aproximação da universidade com
o mercado, não refletia os anseios daqueles que representava.
A partir deste marco, observou-se um expressivo aumento no número de
depósitos de patentes pelas universidades brasileiras (COLLA; ESTEVES, 2013,
p. 126; PÓVOA, 2010), fato esse que vem despertando a atenção dos governos
e da sociedade, além de se tornar um novo objeto de estudos acadêmicos.
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 75
Contudo, apesar do aumento verificado no número das patentes universitárias,
em parte devido a política de inovação nacional associada ao trabalho dos NIT
(em muitos casos denominados Agência de Inovação) dentro das universidades,
ainda não é possível verificar uma correlação direta entre a produção intelectual
contida nas temáticas das teses e dissertações defendidas com as patentes
registradas.
Desse modo, entende-se que a universidade pública evoluiu de uma
instituição centrada basicamente no ensino (missão original) para uma que
combina seus recursos e potenciais na área de pesquisa (primeira revolução
acadêmica) com uma nova missão, voltada ao desenvolvimento econômico e
social (segunda revolução acadêmica), estimulando o surgimento de ambientes
de inovação e disseminando uma cultura empreendedora.
De acordo com Vefago, Trierweiller e Barcelos de Paula (2020), ao
adotarem um formato empreendedor, a academia transcende e incorpora suas
missões tradicionais de ensino e pesquisa e se torna uma instituição fundamental
para o desenvolvimento e inovação em uma sociedade baseada no
conhecimento, apesar do protagonismo da indústria e governo em seus campos.
Para os autores, a universidade tem sua vantagem competitiva atrelada ao fluxo
contínuo de seus alunos, que promovem um movimento constante de novas
ideias, o que não é tarefa simples para outras instituições produtoras de
conhecimento (VEFAGO; TRIERWEILLER; BARCELLOS DE PAULA, 2020, p. 2).
Para Trierweiller et al. (2021), as “universidades empreendedoras” são
capazes de combinar pesquisa básica e ensino com inovação tecnológica,
rompendo com a "torre de marfim". Este fenômeno, segundo os autores, faz parte
da transição de uma sociedade industrial baseada na produção de coisas para
uma sociedade baseada no conhecimento e na criação de ideias
(TRIERWEILLER et al., 2021, p. 793).
As mudanças observadas na atuação das universidades manifestaram-se
em tempos diferentes, especialmente nos países desenvolvidos. O processo
sofreu – e ainda sofre – resistências por parte da comunidade acadêmica, uma
vez que a comercialização de resultados de pesquisa costuma ser vista como
ameaça para autonomia universitária e para o desenvolvimento das atividades
tradicionais de docência e pesquisa.
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 76
Nessa linha, Castro Martínez e Vega Jurado (2009), afirmam que o
desenvolvimento da chamada “terceira missão” (TM) da universidade pode
restringir a agenda de pesquisa do acadêmico em direção a atividades com
potencial uso econômico em detrimento do desenvolvimento aberto da ciência,
“ao passo que o ensino pode ser afetado pela ênfase excessiva no
desenvolvimento de habilidades específicas a curto prazo e orientadas às
necessidades pontuais de algum agente econômico” (CASTRO MARTÍNEZ;
VEGA JURADO, 2009, p. 57, tradução nossa).
Destaca-se que a TM assume diferentes enfoques de acordo com a região
em que a universidade encontra-se inserida. Conforme Castro Martínez e Vega
Jurado (2009), enquanto em países desenvolvidos (América do Norte e Europa),
essa finalidade implica na vinculação com o setor produtivo e na participação
direta no desenvolvimento econômico da região; em países em desenvolvimento
como na América Latina, a terceira missão aproxima a universidade do
desenvolvimento social das comunidades, e é chamada de “Extensão”. No
cumprimento dessa missão, as universidades desenvolvem e implementar
inovações sociais e inovações socialmente responsáveis.
Em artigo de revisão sistemática sobre o tema, Compagnucci e Spigarellib
(2020) afirmam que as universidades envolvidas em atividades de TM estão se
tornando “motores que contribuem para o desenvolvimento social, econômico e
cultural das regiões em que atuam”, através da transferência de conhecimento e
tecnologias para a indústria e para a sociedade como um todo. Com isso,
colaboram para promoção de competências de empreendedorismo, inovação,
bem estar social e formação de capital humano (COMPAGNUCCI; SPIGARELLIB,
2020, p. 2).
Sob essa perspectiva, a terceira missão não trata apenas de um regime
regulatório, mas um processo de estabelecimento de limites, através dos quais,
as universidades se esforçam para criarem ambientes mais favoráveis para as
suas atividades. Torna-se um desafio, portanto, saber a melhor maneira de
redescobrir, compreender e capturar a contribuição da pesquisa e do ensino
superior para a vida cultural das nações (SMITH, 2013; VAKKURI, 2004)
Para Silva (2019), não há dúvidas quanto à relevância da universidade
pública, considerando suas finalidades e/ou missões, para o desenvolvimento das
nações em que se inserem. No entanto, autores como Castro Martínez e Vega
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 77
Jurado (2009) observavam certas limitações nas relações da universidade com
seu entorno, em especial em países da América Latina, que não contam com
sistemas de inovação consolidados.
É desse modo que Silva (2019) chama a atenção para a urgência na
elaboração e implementação de políticas públicas adequadas à realidade de
cada país, reforçando a importância das estratégias voltadas à inovação, as
políticas das universidades e os indicadores de inovação, uma vez que tais
instituições, em especial a pública, configura-se como principal produtor de
conhecimento no âmbito dos sistemas de inovação.
Percebe-se que a expansão das missões da universidade, motivada pelas
transformações sociais, políticas, econômicas e tecnológicas, acabaram por
acelerar a obsolescência das estruturas organizacionais e dos sistemas de
planejamento das instituições de ensino superior. Afinal, as características
básicas da estrutura universitária foram formadas nos idos dos Séculos XII e XIII
em decorrência de seu primeiro objetivo (ensino), em sua maioria desenhada
pelo Estado, de acordo com o contexto sócio-político da época.
De acordo com Fávero (2006), a implantação da universidade no Brasil
foi marcada por uma forte influência das elites que se opunham aos esforços de
criação de um ensino superior desde os tempos colonial e monárquico,
denotando uma política de controle por parte de Portugal contra qualquer
iniciativa que vislumbrasse sinais de independência cultural e política da
Metrópole (FÁVERO, 2006, p.20).
Após a Constituição de 1891, o ensino superior foi mantido como
atribuição do Poder Central, ainda que não exclusiva, passando por várias
alterações em decorrência da promulgação de diferentes dispositivos legais.
Somente em 1915, por meio do Decreto nº 11.530, a Reforma Carlos
Maximiliano dispõe a respeito da instituição de uma universidade, determinando
em seu art. 6º: “O Governo Federal, quando achar oportuno, reunirá em
universidade as Escolas Politécnica e de Medicina do Rio de Janeiro,
incorporando a elas uma Faculdades Livres de Direito, dispensando-a da taxa
de fiscalização e dando-lhe gratuitamente edifício para funcionar”. Assim, em
1920, a primeira universidade oficial foi criada por meio do Decreto nº 14.343,
que instituiu a Universidade do Rio de Janeiro (URJ) resultado da justaposição
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 78
de três escolas tradicionais, porém sem integração entre elas, mas assegurando
autonomia didática e administrativa (FÁVERO, 2006, p.22).
A tendência de descentralização política da universidade começou a ser
revertida partir da Década de 1930, quando se inicia o primeiro projeto
universitário do governo federal, articulando medidas centralizadoras que se
estendem desde a promulgação do Estatuto das Universidades Brasileiras
(Decreto-Lei nº 19.851/1931) à organização da Universidade do Rio de Janeiro
(Decreto-Lei nº 19.852/1931) e à criação do Conselho Nacional de Educação
(Decreto-lei nº 19.850/1931).
Revisando esses instrumentos legais, Fávero (2006) examina uma série
de fragilidades nesses dispositivos, que acabaram sendo inviabilizados na
prática, como, por exemplo, a integração das escolas ou faculdades na nova
estrutura universitária. “Pelo Estatuto, elas se apresentam como verdadeiras
“ilhas” dependentes da administração superior” (FÁVERO, 2006, p.24).
Com a promulgação da segunda Constituição Republicana (1934),
ampliam-se as tendências centralizadoras e autoritárias. Já durante o Estado
Novo (1935) foi instituída a Universidade do Distrito Federal (UDF), que surge
com uma vocação científica e estrutura diferente das universidades existentes
no país, inclusive da Universidade de São Paulo (USP).
Lopes e Bernardes (2005) recordam que, após a deposição do presidente
Vargas e o fim do Estado Novo, em 1945, teve início um período de
“redemocratização do país” e os debates sobre a modernização da universidade
brasileira, em busca de autonomia, passam a fazer parte da agenda. Contudo, a
primeira proposta de reforma universitária só seria aprovada bem mais tarde,
com a Lei nº 5.540/1968 (complementada pelo Decreto-Lei nº 464, de 1969),
recebendo forte influência do acordo realizado entre o MEC e a USAID (Agência
dos Estados Unidos para o Desenvolvimento), além do Plano Atcon (1966) e da
Comissão Meira Mattos (1968), configurando-se uma importação de modelos
administrativos estrangeiros (LOPES; BERNARDES, 2005, p. 4).
Interessante notar que o projeto de reforma universitária, de 1968,
incorporou várias propostas do consultor norte-americano Rudolph Atcon, que
recomendou uma nova estrutura administrativa (Figura 4.2) baseada em um
modelo empresarial, descrito da seguinte forma: o Conselho Universitário (2)
trata da política universitária; o Conselho de Curadores (3) trata de assuntos
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 79
financeiros; as comissões ad hoc (4) resolvem divergências entre 2 e 3; um
administrador profissional com cargo de confiança (5) preside o Conselho de
chefes das unidades administrativas (6), as quais, por sua vez, possuem um
número variável dependendo da universidade (7).

Figura 4.2 – Estrutura da universidade proposta por Atcon (1966)

Fonte: Atcon (1966, p. 83)


Como o modelo de Atcon impunha a desvinculação do poder público à
universidade, houve restrições governamentais à sua integral implementação.
Todavia, muitas das recomendações foram consideradas, como a defesa dos
princípios de autonomia e autoridade; ênfase nos princípios de eficiência e
produtividade; necessidade de reformulação do regime de trabalho docente;
criação de centro de estudos básicos, além da criação de um conselho de
INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO
____________________________________________________________________ 80
reitores das universidades brasileiras (LOPES; BERNARDES, 2005; FÁVERO,
2006).
Cabe destacar que a reforma universitária de 1968 foi motivada pelos
intensos debates que ocorreram nas universidades durante o momento político
vivido à época, com ampla mobilização estudantil nas ruas reivindicando
soluções para os problemas educacionais, entre outros. A resposta de maior
alcance foi a criação de um Grupo de Trabalho (Decreto nº 62.937/1968)
encarregado de estudar, em caráter de urgência, as medidas que deveriam ser
tomadas para resolver a crise da universidade. A justificativa do governo, no
entanto, foi “estudar a reforma da Universidade Brasileira, visando à sua
eficiência, modernização, flexibilidade administrativa e formação de recursos
humanos de alto nível para o desenvolvimento do País" (MINISTÉRIO..., 1983).
O GT foi formado por apenas 13 integrantes e, ainda assim, concluiu suas
atividades no prazo estipulado de 30 dias com a apresentação de um anteprojeto
de lei geral sobre organização e funcionamento do ensino superior, além de
vários anteprojetos de decretos com uma série de disposições, entre as quais o
aperfeiçoamento e atualização das estatísticas educacionais.
O relatório final também chama a atenção para o fato de a universidade
brasileira estar organizada à base de faculdades tradicionais que, apesar de
certos progressos, “ainda se revela inadequada para atender às necessidades
do processo de desenvolvimento, que se intensificou na Década de 1950, e se
conserva inadaptada às mudanças dele decorrentes” (MINISTÉRIO..., 1983, p.
19). A respeito da expansão das instituições de ensino superior, o documento
ressalta que ela ocorre “por simples multiplicação de unidades, em vez de
desdobramentos orgânicos”. E sentencia: “a universidade se expandiu mas, em
seu cerne, permanece a mesma estrutura anacrônica a entravar o processo de
desenvolvimento e os germes da inovação” (MINISTÉRIO..., 1983, p. 19, grifo
nosso).
Impressiona a lucidez no diagnóstico crítico sobre a situação do ensino
superior naquele momento, possibilitando a antevisão dos obstáculos a serem
enfrentados para inovação no âmbito da universidade, que, segundo a conclusão
do Grupo de Trabalho, “revelou-se despreparada para acompanhar o
extraordinário progresso da ciência moderna, inadequada para criar o know-how
indispensável à expansão da indústria nacional.” (MINISTÉRIO..., 1983, p. 20).
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 81
5 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Existe uma tendência de que os países mais desenvolvidos acompanhem


os avanços de suas políticas de CT&I por meio de ferramentas – como os
indicadores – com a intenção de definir políticas públicas estratégicas para
direcionar os recursos necessários para as áreas específicas, além de
possibilitar avaliar a execução dessas políticas por meio da verificação do
desempenho das atividades inovativas (BENELI, 2019; GRUPP; MOGEE, 2004).
De acordo com a Unctad (2010), a ausência de indicadores relevantes é
muitas vezes um grande obstáculo para o desenho e implementação de políticas
de CT&I em países em desenvolvimento. Logo, medir a ciência, tecnologia e
inovação de uma nação torna-se fundamental para a formulação de estratégias
nacionais de inovação.
Velho (2001) aponta que o interesse na compilação de informações
quantitativas para planejamento, monitoramento e avaliação de atividades de
C&T teve início em meados da Década de 1970, por uma série de razões, entre
as quais o desenvolvimento do aparato governamental da política de C&T e das
relações estabelecidas com outros setores da sociedade e, ainda, como
resultado do contexto sócio-político-econômico da época e com a mudança do
paradigma predominante sobre o papel da C&T no desenvolvimento dos
diferentes países (VELHO, 2001, p. 110).
A literatura especializada enumera diversas acepções acerca dos
indicadores, todas elas guardando certa similaridade conceitual: servir como
instrumento de gestão para monitorar e avaliar as organizações, assim como
seus projetos, programas e políticas.
Uma definição operacional pode ser encontrada em Ferreira, Cassiolato
e Gonzales (2009), para quem
[...] o indicador é uma medida, de ordem quantitativa ou qualitativa,
dotada de significado particular e utilizada para organizar e captar as
informações relevantes dos elementos que compõem o objeto da
observação. É um recurso metodológico que informa empiricamente
sobre a evolução do aspecto observado. (FERREIRA; CASSIOLATO;
GONZALES, 2009, p. 24)
Conforme Soly (2015), trata-se de um recurso metodológico que
proporciona o acompanhamento do alcance das metas e a identificação de
avanços, melhorias de qualidade, correção de problemas, necessidades de
mudança etc. Os indicadores são importantes para entender os sistemas
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 82
complexos e têm como principais funções: i) sintetizar grande volume de dados;
ii) mostrar a situação atual em relação a situações almejadas; iii) demonstrar o
progresso em direção a objetivos e metas e iv) comunicar a situação atual aos
usuários – cientistas e técnicos, elaboradores de políticas públicas e sociedade
– para que decisões efetivas sejam tomadas com o objetivo de cumprir uma
norma traçada (MITCHELL; MAY; McDONALD, 1995).
Do ponto de vista das políticas públicas aplicadas às universidades –
objeto desse trabalho – indicadores são compreendidos como “instrumentos que
possibilitam identificar e medir aspectos relacionados a um determinado
conceito, fenômeno, problema ou resultado de uma intervenção na realidade.”
(INDICADORES DE DESEMPENHO DA UFPA, 2014).
Uma estratégia para o estabelecimento de um sistema de científicos e
tecnológicos, segundo Velho (2001), deveria começar depois da identificação do
objeto que se pretende medir. Na prática, porém, inicia-se a construção de
indicadores sem tal clareza, sendo possível identificar duas direções: a primeira,
tenta definir as dimensões do empreendimento científico e desenvolver as
medidas apropriadas para elas; a segunda, procura medidas já disponíveis,
como subprodutos do processo administrativo, que prometem uma conexão com
o empreendimento científico (VELHO, 2001).
De acordo com a autora, no Brasil é possível identificar um terceiro
caminho para a criação destes indicadores que “resulta do questionamento das
premissas teórico-conceituais, subjacentes aos indicadores tradicionais, que tem
tomado lugar em praticamente todas as disciplinas que compõem os chamados
estudos sociais da ciência e da tecnologia” (VELHO, 2001, p. 114).
Em 2010, o uso de indicadores em CT&I foi orientado pelo Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) por meio de um guia metodológico
para construção de um sistema de métricas em programas do Governo Federal,
sugerindo que os indicadores sejam construídos considerando as diferentes
fases do ciclo de gestão: i) insumo (input indicators); ii) processo (throughput
indicators); iii) produto (output indicators) ou resultado (outcome indicators); e iv)
impacto (impact indicators), cujas definições encontram-se no Quadro 5.1.
Mesmo com estas diretrizes, verifica-se que os indicadores possuem suas
limitações, que serão examinadas mais adiante. Contudo, Velho (2001)
reconhece que operacionalizar a visão de C&T na forma de indicadores em
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 83
instituições que ainda refletem um olhar tradicional de conhecimento científico é
uma tarefa bastante difícil. Ademais, “tem-se plena consciência que a tarefa de
planejar, acompanhar e avaliar as atividades de C&T no país não pode parar até
que o sistema “ideal” de indicadores seja produzido com base em estudos
(VELHO, 2001, p. 120).

Quadro 5.1 – Definições dos tipos de indicadores segundo o MPOG

Fases da Gestão
Definição
/ Tipos de indicadores

São indicadores ex-ante facto que têm relação direta com os recursos a
Insumo serem alocados, ou seja, com a disponibilidade dos recursos humanos,
(input indicators) materiais, financeiros e outros a serem utilizados pelas ações de governo.
Ex. médicos/mil habitantes e gasto per capita com educação

São medidas in curso ou intermediárias que traduzem o esforço empreendido


na obtenção dos resultados, ou seja, medem o nível de utilização dos
Processo insumos alocados.
(throughput indicators)
Ex. percentual de atendimento de um público-alvo e o percentual de liberação
dos recursos financeiros.

Medem o alcance das metas físicas. São medidas ex-post facto que
expressam as entregas de produtos ou serviços ao público-alvo do Programa.
Produto
Ex. percentual de quilômetros de estrada entregues, de armazéns
(output indicators)
construídos e de crianças vacinadas em relação às metas físicas
estabelecidas.

Essas medidas expressam, direta ou indiretamente, os benefícios no público-


alvo decorrentes das ações empreendidas no contexto do Programa e têm
Resultado
particular importância no contexto de gestão pública orientada a resultados.
(outcome indicators)
Ex. taxas de morbidade (doenças), taxa de reprovação escolar e de
homicídios.

Possuem natureza abrangente e multidimensional, têm relação com a


Impacto sociedade como um todo e medem os efeitos das estratégias governamentais
(impact indicators) de médio e longo prazos. Na maioria dos casos estão associados aos
objetivos setoriais e de governo.

Fonte: MPOG (2010)

5.1 Indicadores Tradicionais de Inovação


De acordo com Silva, Valentim e La Mano Gonzáles (2020), os primórdios
das atividades de monitoramento e medição das atividades inovadoras
remontam dos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento das grandes
indústrias da Alemanha, em 1870. “Com a decorrente expansão desses
laboratórios, percebeu-se a possível lucratividade resultante do estabelecimento
de atividades de pesquisa e desenvolvimento de processos e produtos de
maneira sistematizada e profissional” (SILVA; VALENTIM; LA MANO
GONZÁLES, 2020, p. 84).
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 84
Tal fator fez com que, gradualmente, laboratórios de P&D se tornassem
cada vez mais comuns nas grandes indústrias e, também, impulsionou o “[...]
crescimento dos laboratórios governamentais, dos serviços de pesquisa
independentes e das pesquisas universitárias.” (FREEMAN; SOETE, 2008, p.
511).
Os primeiros esforços reconhecidos em termos de avaliação de
desempenho da inovação, no entanto, ocorreram apenas na Década de 1930,
nos Estados Unidos, a partir de investigações estatísticas (survey) sobre as
atividades industriais desenvolvidas nos laboratórios de P&D por iniciativa do
National Research Council (NRC). Fundamentado em uma visão linear de
pesquisa básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento tecnológico, foram
coletadas as informações tais como o número de pessoas engajadas em
pesquisa e os valores despendidos nessas atividades. Na época, constatou-se
que as empresas investiam cerca de 2% da sua receita bruta em pesquisa
industrial (BENELI, 2019; GODIN, 2003).
Esse fato fez com que as principais medidas de P&D (dispêndio e mão de
obra) fossem empregadas, com frequência, para subsidiar a promoção de novos
produtos e processos melhorados, sendo utilizados até os dias de hoje uma vez
que as métricas “consagradas” para inovação são derivadas dessas estatísticas
e tornaram-se referências para muitos estudos que buscam mensurar a inovação
(MARINS; ZAWISLAK, 2010, p. 2).
O acompanhamento da expansão dos gastos com P&D pelo congresso
Norte Americano, principalmente no período pós Segunda Guerra Mundial,
acabou levando o país a se engajar na construção de métricas para CT&I, mas
a efetiva consolidação dos indicadores tradicionais de inovação aconteceu na
Década de 1960, com a proposta da OCDE de um conjunto de indicadores para
avaliação das atividades de inovação em seus países-membros, dando origem
ao Manual de Frascati, em 1963 (OECD, 2015).
A chamada “primeira geração” de indicadores começou a ser aprimorada
após 1972, com a publicação do relatório Science Indicators pela National
Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos. Ações isoladas ou em conjunto
da NSF com a OCDE e um grupo de especialistas proporcionaram avanços
importantes na construção dos indicadores de CT&I, porém os esforços
quantitativos estavam mais associados ao resultado do que às atividades
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 85
inovativas (BENELI, 2019).
Nesse contexto, surgem os indicadores relacionados ao “balanço de
pagamentos tecnológicos”, cujas estatísticas também captavam as entradas
(inputs) das atividades inovativas e um conjunto referente a “patentes solicitadas
e concedidas” e “publicações científicas” que buscavam identificar as saídas
(outputs) dessas atividades por meio da relação dos resultados científicos
publicados a partir dos pedidos e concessões de patentes por invenções
(CASSIOLATO et al., 2007, p. 6).
As patentes, aliás, passaram a ser amplamente adotadas como
indicadores tradicionais de inovação na condução de gestores públicos e
privados, no desenho de políticas e estratégias. Tomado como um “termômetro”
que afere o índice de desenvolvimento de pesquisa e inovação dos países, as
patentes são indicadores considerados relevantes para se avaliar a capacidade
de uma nação em transformar o conhecimento científico em produtos ou
inovações tecnológicas.
Contudo, na avaliação de Marins e Zawislak (2010), trata-se de uma
medida defasada no tempo, em função dos prazos para o seu reconhecimento
oficial, além do custo elevado para seu registro e manutenção e dificuldades
operacionais. Ademais, a validade de patentes enquanto indicador de inovação
tem sido questionada sob diversos aspectos:
[...] em primeiro lugar, porque uma patente nem sempre representa
uma inovação; muitos são os casos de patentes que se referem apenas
a invenções. Adicionalmente, o não patenteamento também pode
representar uma estratégia das firmas, para evitar que seus
concorrentes tenham acesso detalhado aos caminhos utilizados para
se chegar a uma novidade. (MARINS; ZAWISLAK, 2010, p. 4).
Cassiolato et al. (2007) concordam ao afirmarem que vários tipos de
desenvolvimento tecnológico não são passíveis de proteção e ainda há um
número significativo de patentes que não são transformados em novos produtos
e processos, por diversos motivos.
Elas são de fato uma proxy de invenções e, como já destacado na
literatura sobre inovação, uma invenção nem sempre se torna uma
inovação. Portanto, a utilização de patentes como um indicador de
output do processo inovativo apresenta uma série considerável de
problemas. (CASSIOLATO et al., 2007, p. 15).
Os autores também vêem problemas com o uso do indicador “publicações
científicas” frequentemente lembrados como proxy de saída da inovação. A
contabilização da produção acadêmica apresenta fragilidades devido à limitação
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 86
da inclusão de novos periódicos científicos nas bases de dados utilizadas, tais
como a ISI – Institute for Scientific Information, principal fonte para estimar este
indicador. Em contrapartida, um número elevado de periódicos é excluído
anualmente segundo critérios de avaliação e qualidade das bases. Também há
críticas quanto ao predomínio de artigos na língua inglesa, o que acaba por
restringir a participação de muitas regiões, além do viés a favor de países mais
desenvolvidos (CASSIOLATO et al., 2007, p. 19).
Outros indicadores correntes comumente utilizados são “pessoal alocado
em atividades em P&D”, “desenvolvimento de produtos e processos”, “número
de cientístas (ou engenheiros) alocados”, entre outros, voltados para a
mensuração de entradas ou saídas das atividades inovadoras sem, contudo,
examinar o processo da inovação em si.
Esse aspecto é levantado por muitos pesquisadores que alegam que os
indicadores tradicionais são capazes de oferecer apenas uma compreensão
parcial do desempenho inovador por estarem centrados em insumos em vez de
produtos e por se preocuparem principalmente com a dimensão econômica da
ciência e tecnologia. Isso os torna inadequados na captação do processo de
inovação e, assim, são incapazes de proporcionar o amplo entendimento de
como a inovação ocorre de fato (MARINS; ZAWISLAK, 2010; 2008;
CASSIOLATO et al., 2007; GODIN, 2003) e insuficientes para medir o vasto
espectro de contribuições potencialmente produzidas nas universidades
(GULBRANDSEN; SLIPERSÆTER, 2007).
A mesma ideia também é reforçada por Arundel e Hollanders (2006), para
quem esse tipo de indicador traduz apenas os resultados intermediários do
processo de inovação. A mudança gradativa da economia baseada em produtos
para uma mais orientada a serviços influencia a natureza das atividades de
pesquisa e, consequentemente, das métricas capazes de medir esses novos
fenômenos. Assim, apesar dos méritos e da relevância dos indicadores
tradicionais, seu escopo de análise tem se mostrado limitado.

5.2 Evolução dos Indicadores de Inovação


A linha do tempo dos indicadores de inovação encontra-se bem
representada no estudo “Innovation metrics: measurement to insight”, preparado
por Milbergs e Vonortas (2006) para a National Innovation Initiative (NII),
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 87
organização que reúne uma agenda de recomendações para melhoria da
capacidade de inovação nos Estados Unidos. O documento destaca as categorias
de indicadores de inovação mais utilizadas de acordo com a década, refletindo o
espírito corporativo de sua época (Quadro 5.2).
Desse modo, conforme já mencionado, as métricas da primeira geração
refletem a concepção linear de inovação com foco nos seus insumos (entradas
do processo), tais como o montante de investimentos em P&D, despesas com
educação e pesquisa, número de doutores e intensidade tecnológica.

Quadro 5.2 – Evolução das métricas de inovação por geração

1ª Geração
2ª Geração Indicadores 3ª Geração Indicadores 4ª Geração Indicadores
Indicadores de
de Saída (output) de Inovação de Processo
Entrada (input)
(1970-80) (1990) (2000 em diante)
(1950-60)

• Gastos com • Patentes; • Pesquisas de • Gestão do


P&D; • Publicações inovação (surveys) Conhecimento;
• Pessoal alocado científicas; • Indices e rankings; • Intangíveis gerados;
em C&T; • Produtos e • Avaliações • Redes (networking);
• Capital; processos; comparativas • Demanda
• Intensidade • Melhorias (benchmarking) de econômica;
tecnológica. (qualidade) em capacidade de • Clusters;
produtos e inovação • Técnicas gerenciais;
processos. • Risco/retorno;
• Sistemas dinâmicos.

Fonte: adaptado de Milbergs e Vonortas (2006)

Segundo Cassiolato et al. (2007), apesar de sua popularidade, “o conceito


de P&D é um dos mais imprecisos e fluidos da literatura econômica e sociológica
em ciência e tecnologia”. Entretanto, a definição explícita para P&D é trazida pelo
Manual de Frascati, tornando-se um padrão muito mais pelo resultado da busca
pela obtenção de informações quantificáveis (e monetizáveis) sobre os esforços
realizados pelas empresas na busca de novos conhecimentos do que em
decorrência de esforços de sistematização acadêmica (CASSIOLATO et al.,
2007, p. 7).
Depois de cerca de 20 anos dedicando-se à metodologia de coleta de
dados associados aos indicadores de insumo, nos anos 80, a OCDE passou a
trabalhar na construção de uma segunda geração de indicadores, buscando
avaliar os resultados (saídas) com indicadores como: depósito de patentes,
recebimento e pagamento pelo licenciamento de tecnologia, produtos intensivos
em tecnologia e inovação e publicações de artigos científicos (GODIN, 2003).
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 88
Tais indicadores, apesar de contestados, ainda são amplamente utilizados até
os dias atuais.
Durante as duas primeiras gerações de indicadores, principalmente nas
Décadas de 1980 e 1990, vários esforços foram empreendidos no sentido de
desenvolver novos modelos capazes de aferir a inovação, sendo publicados
diversos relatórios estatísticos pela OCDE, com destaque para a primeira edição
do Manual de Oslo (1990), responsável pela codificação da inovação a partir de
um conjunto de diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação
tecnológica de produtos e processos.

Quadro 5.3 – Diretrizes para mensuração das atividades científicas e tecnológicas –


Família Frascati (OCDE)

Ano da
Anos de Publicação
Indicadores Manual Primeira
das Revisões
Edição

Manual de Frascati – The Measurement of


Scientific and Technical 1970, 1974, 1981, 1994,
P&D 1963
Activities:Proposed Standard Practice for 2002, 2015 (7ª edição)
Surveys of Research and Development

Apesar da revisão não ter


Balanço de Proposed Standard Practice for the
sido realizada, suas
Pagamentos Collection and Interpretation of Data on the 1990
recomendações ainda são
Tecnológico Technological Balance of Payments
seguidas

Manual de Oslo – Proposed Guidelines for


1997, 2005, 2018
Inovação Collecting and Interpreting Technological 1992
(4ª edição)
Innovation Data

Data on Patents and Their Utilization as


Patentes 1994 2009
Science and Technology Indicators

Não houve revisão frente


ao papel predominante do
Manual de Canberra –
Recursos Manual de Frascati, que faz
Manual on the Measurement of Human 1995
Humanos recomendações para coleta
Resources in Science and Technology
de recursos humanos em
P&D

Fonte: Beneli (2010, p. 38)

Em paralelo aos avanços desenvolvidos na publicação das séries de


indicadores de CT&I cada vez mais amplos, a OCDE promoveu conferências nos
anos 90, reunindo conhecimentos de pesquisadores e estatísticos do NESTI
(Working Group of National Experts on Science and Technology Indicators) com
a finalidade de estender a experiência do Manual de Frascati e elaborar manuais
metodológicos de referência para padronização das práticas de coleta,
tratamento e uso dos indicadores de recursos humanos em C&T, patentes,
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 89
balanço de pagamentos tecnológico e inovação. Conforme Beneli (2010), esse
conjunto de manuais foi chamado de Família Frascati, resumido no Quadro 5.3.
Apesar da ampla aceitação dos manuais mencionados, a disponibilidade
das métricas varia entre países e regiões. Enquanto várias organizações
regionais e internacionais avançaram para a criação de bancos de dados de
indicadores, ainda existem vários obstáculos a superar antes que se possa dizer
que existe um conjunto mundial de indicadores de CT&I. Além disso, embora as
recomendações metodológicas dos manuais sejam amplamente seguidas, suas
diferentes implementações práticas (por exemplo, os questionários que diferem-
se entre os países) – obedecendo objetivos nacionais de pertinência – levou a
incompatibilidades de comparabilidade entre indicadores (UNCTAD, 2010).
É válido mencionar que esse conjunto de referências inspirou uma
importante iniciativa da Red IberoAmericana de Ciência y Tecnologia (RICYTl)
conhecida como Manual de Bogotá, publicado em 2001. Trata-se do Manual
Latino de Indicadores de Inovação para medir e analisar os processos
inovadores que facilitam a comparabilidade internacional e, ao mesmo tempo,
detectar as especificidades típicas das diferentes idiossincrasias nacionais,
tendo em vista o reconhecimento sobre a importância da inovação tecnológica
como ferramenta para aumentar níveis de competitividade e possibilidades de
desenvolvimento sustentável. A intenção central foi estabelecer relações de
causa-efeito entre as ações desenvolvidas pelas empresas no campo da
inovação tecnologia e seu desempenho no mercado.
Já as métricas da terceira geração concentram-se em um conjunto mais
rico de indicadores e índices, com base em pesquisas e integração de dados de
avaliações comparativas (benchmarking) sobre capacidade de inovação
disponíveis publicamente, enquanto a quarta geração de indicadores baseia-se
nos conceitos de economia global e nas métricas mais subjetivas, como o risco
envolvido e a dinâmica dos sistemas.
Para Milbergs e Vonortas (2006), as métricas de quarta geração
observadas a partir do ano 2000 ainda encontram-se em franco
desenvolvimento, influenciadas pelas características de uma sociedade
engajada em uma economia baseada no conhecimento. Por esse motivo, devem
contemplar indicadores capazes de levar em consideração o aprendizado
decorrente da criação, desenvolvimento e difusão das inovações em um
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 90
ambiente em rede, além dos riscos inerentes. Indicadores compostos de
investimento em conhecimento e desempenho, além de métricas para avaliação
de redes e demanda econômica poderiam atender a essa premissa (MILBERGS;
VONORTAS, 2006, p. 4-5).
A necessidade de melhoria dos indicadores para formulação de políticas
públicas face às rápidas mudanças e a globalização das atividades econômicas
e tecnológicas é expressa no estudo Capturing change in Science, Technology
and Innovation (NATIONAL..., 2014), publicado pela Academia Nacional de
Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos. O documento, elaborado
sob a supervisão do National Center for Science and Engineering Statistics
(NCSES), traz recomendações estratégicas para a construção de modelos de
métricas para ciência, tecnologia e inovação.
Com o aprofundamento da discussão realizada por especialistas da
NCES, um novo relatório intitulado Advancing concepts and models for
measuring innovation (NATIONAL..., 2017), foi publicado como resultado de um
workshop sobre indicadores de inovação promovido pela Academia Nacional de
Ciências, Engenharia e Medicina. A conclusão da comunidade de estudos
métricos é a de que existe inovação muito além do que os indicadores de entrada
de P&D são capazes de medir. Para isso, faz-se necessária a ampliação das
surveys de inovação de tal modo que sejam capazes de refletir informações
sobre o processo inovativo ou, ainda, a adoção de novas metodologias capazes
de medir este fenômeno.

5.3 Mensuração da Inovação


Apesar da reconhecida importância da mensuração no processo
inovativo, não há concordância na literatura especializada a respeito de um
conjunto de indicadores que possibilitem acompanhar os impactos gerados a
partir de um processo de inovação. Na verdade, o desafio de medir a inovação
foi se tornando cada vez mais complexo com o passar do tempo e a mudança
gradativa da economia, anteriormente baseada em produtos, para uma mais
voltada à prestação de serviços. Afinal, como lembra Ramos (2008, p. 9), “o
ambiente da inovação é imprevisível, reúne aspectos variados, proporcionando
impactos intangíveis, difusos e muitas vezes perceptíveis apenas no longo
prazo”.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 91
Elementos importantes da inovação, como o conhecimento, não podem
ser medidos diretamente e nenhuma métrica isolada é capaz de caracterizar a
inovação de maneira adequada em sua totalidade, uma vez que os indicadores
têm que dar conta de muitas formas diferentes de inovação, com diferentes
motivações e processos de desenvolvimento distintos (RAMOS, 2008; STONE
et al., 2008).
Uma ampla revisão sistemática realizada por Dziallas e Blind (2019) sobre
essa problemática indica que as análises já publicadas são insuficientes para a
compreensão do panorama dos indicadores de inovação; por isso, novas
famílias de métricas têm sido propostas para atender às necessidades e
demandas emergentes, ampliando-se o entendimento sobre a dinâmica da
inovação de acordo com o seu estágio. Desse modo, alguns autores sugerem o
uso de indicadores compostos para se medir a inovação devido a inexistência
de indicadores abrangentes. Nesse caso, fatores de entrada e saída são
utilizados simultaneamente, sintetizando as informações providas por vários
indicadores em um só (DEWANGAN; GODSE, 2014; GRUPP; SCHUBERT,
2010; PATEL; PAVITT, 1995).
Ainda de acordo com Dziallas e Blind (2019), os indicadores ex-ante – que
podem ser usados nas fases iniciais do processo de inovação – têm sido
negligenciados. Em vez disso, pesquisadores têm dado ênfase aos indicadores
mais conservadores que percebem a inovação apenas de modo parcial, como
patentes (HAGEDOORN; CLOODT, 2003) e orçamento para P&D (FLOR;
OLTRA-MESTRE, 2004). Para Dziallas e Blind (2019), exemplos de indicadores
capazes de avaliar diretamente as inovações são: “número de novas idéias de
produtos” (COOPER; KLEINSCHMIDT, 1993) e o “percentual de ideias com
potencial de comercialização” (DEWANGAN; GODSE, 2014).
Outras pistas são trazidas por Chobotová e Rylková (2014), para quem os
principais aspectos que compõem a medição do desempenho da inovação, em
um sistema aberto são: a inovação realizada, o sucesso da inovação e o tempo
de inovação, ligados ao produto e a capacidade para inovar. As medidas de
insumos e resultados, de acordo com os autores citados, permitem comparações
ao longo do tempo, focando num melhor proveito para criar um histórico que
permita a identificação dos pontos fortes e fracos de uma instituição.
Sobre as limitações encontradas nas estatísticas de P&D, cabe a
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 92
ponderação levantada por Ruffoni et al. (2018), ao esclarecerem que esta é
apenas uma das vertentes do entendimento sobre o fenômeno e faz mais sentido
quando se trata de inovação tecnológica. Afinal, “quanto maiores os
investimentos em P&D, maior será a ocorrência em produto e quanto menores,
maior a ocorrência da inovação em processo” (RUFFONI et al., 2018). Porém,
outra possibilidade se apresenta quando se pensa na capacidade das
organizações em inovar. Nesse caso, os autores reforçam a necessidade de
compreender, de forma ampla, o conjunto dos esforços empregados para a
criação de novas rotinas e habilidades gerenciais e comerciais.
Segundo Marins e Zawislak (2010), estudos recentes mostram que as
economias latino-americanas, em especial o Brasil, sofrem um processo de
deterioração das capacidades de inovação. Nessa perspectiva há uma tendência
da região na produção de commodities e nas atividades rotineiras de produção.
Cimoli e Katz (2003) argumentam que tais economias desempenham um papel
passivo, caracterizado pela escassez de atividades e habilidades inovadoras.
Pontua-se que o termo “capacidade de inovação” foi utilizado pela
primeira vez por Richardson (1972), ao se referir a um conjunto de experiências,
conhecimentos e habilidades das organizações. Para o autor estes componentes
proporcionam a obtenção de vantagens competitivas em certas atividades nas
quais a organização tenderá a se especializar. Segundo Lall (1992), a inovação
seria uma consequência das capacidades tecnológicas, sendo que, quanto mais
desenvolvidas forem, maior é a probabilidade de a empresa inovar (LALL, 1992).
Um outro problema, apontado por Cassiolato et al. (2007), é que as
pesquisas sobre inovação (surveys) também tendem a subestimar as atividades
de P&D informais. Isso porque os questionários utilizados são relativamente
complexos devido a origem histórica da medição de P&D de organização das
atividades de modo sistemático. Logo, grandes empresas têm condições de
responderem sobre a natureza do seu P&D (pesquisa básica versus pesquisa
aplicada, fontes de financiamento etc.) sem maiores dificuldades. Por outro lado,
as pequenas tendem a não relatar a maior parte de suas ações por se
considerarem informais e de pequena escala ou, ainda, simplesmente por
acharem os questionários muito complicados (CASSIOLATO et al., 2007, p. 13).
Para Gann e Dogson (2019), o agravante em se medir a inovação é o fato
desta ocorrer mais frequentemente em um ambiente em rede, com a interação
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 93
de vários colaboradores. Além disso, a informalidade encontrada em muitas
organizações de economias emergentes dificulta o entendimento das atividades
de inovação nesse contexto, sendo necessário a complementação de métricas
mais abrangentes.
Cassiolato et al. (2007), por sua vez, salientam que a maioria dos estudos
sobre indicadores não trata efetivamente de questões relacionadas aos
“problemas da medição” e simplesmente adotam um conjunto de indicadores
que aparentemente são aceitos pela literatura mais tradicional para desenvolver
análises comparativas de países, regiões, setores e empresas. Tais análises,
segundo os autores, acabam abstraindo questões relevantes referentes à
dificuldade implícita de se comparar categorias muitas vezes distintas e países
com características diferentes. Assim,
a escolha das variáveis que devam ser objeto da construção de
indicadores depende de serem assumidos determinados critérios
sobre a relevância ou sobre a função de cada uma delas nos processos
de produção, difusão e uso de conhecimentos científicos, tecnológicos
e de inovações. Ou seja, a elaboração e uso de indicadores de CT&I
está diretamente ligado ao modelo de inovação assumido
(CASSIOLATO et al., 2007, p. 2).
De Paula et al. (2015), a seu tempo, também verificaram a inexistência de
um modelo conceitual para a mensuração da inovação e propuseram um
conjunto de indicadores específicos para monitorar esse processo em
incubadoreas de empesas de base tecnológica, consideradas pontos-chave para
a interação universidade-empresa.
Para Schmitt (2017), medir a inovação se torna uma tarefa ainda mais
difícil devido ao alto grau de incerteza inerente a esse processo. Diferentemente
de outros negócios, a inovação pode demorar a emplacar antes que seus
resultados possam ser efetivamente medidos. “Durante esse tempo, muitas
coisas poderão interferir que não estejam relacionadas diretamente à qualidade
da oportunidade esperada” (SCHMITT, 2017). Os resultados pretendidos,
segundo o autor, estão frequentemente no futuro e, portanto, são difíceis de
prever. Além disso, não há consenso na literatura sobre quais variáveis devam
ser incluídas para explicar o esforço inovador. A inovação, por tratar de novidade
em muitos casos, não apresenta semelhanças claras entre seus atributos
passíveis de serem comparados de forma quantitativa.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 94
Apesar de tantos desafios e incertezas, existe uma certa sistemática em
torno da manutenção dos indicadores de inovação. De acordo com Gaut (2013),
atualmente existem cinco comunidades de práticas envolvidas, cujos papéis são
bem definidos, apesar de haver certa sobreposição dos membros. São eles: os
responsáveis por elaborar as regras; os implementadores das regras; os
produtores de dados; os analistas de dados; e os analistas das políticas que
usam os indicadores e os insights das análises de outras comunidades de prática
(GAUT, 2013, p. 442).

5.3.1 Modelos de Gestão e Mensuração da Inovação


Para explicar a ocorrência (ou não) de uma inovação, alguns autores
desenvolveram modelos influenciados pelas diferentes fases da gestão do
conhecimento. Entre as vantagens de se trabalhar com esse tipo de artifício está
a possibilidade do entendimento sobre os insumos utilizados como base para
inovação, tais como a pesquisa teórica e empírica e as necessidades do
mercado (MORAES; CAMPOS; LIMA, 2019).
Para efeito dessa pesquisa, serão apresentados a seguir apenas os
modelos utilizados para avaliação de potenciais inovações, de acordo com a
ordem cronológica de sua proposta, em função da visão de seus autores quanto
às aplicações possíveis para atender o mesmo objetivo: auxiliar o processo
gerencial segundo a compreensão do fenômeno da inovação por meio de
métricas de qualidade.

5.3.1.1 Balanced Scorecard (BSC)


A ferramenta foi proposta originalmente por Kaplan e Norton, em 1992,
como alternativa ao processo de avaliação de desempenho organizacional. O
modelo parte de um variado conjunto de medidas resultante de outras áreas de
conhecimento que melhor traduzam os objetivos estratégicos de uma
determinada organização, como a satisfação do cliente, rentabilidade, melhoria
contínua e inovação.
Segundo a percepção dos autores, os indicadores financeiros utilizados
tradicionalmente pelas empresas, como retorno sobre o investimento e
crescimento das vendas, por exemplo, não são suficientes para atender à
complexidade do processo de medição de desempenho das organizações. O
Scorecard procura ir além das métricas quantitativas, configurando-se como um
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 95
sistema de gestão com senso de integração de todos os níveis da organização
para motivar o melhoramento em áreas críticas como produtos, processos,
clientes e desenvolvimento do mercado (KAPLAN; NORTON, 1993).
Na prática, o BSC permite que os gestores possam compreender o seu
negócio segundo quatro perspectivas distintas (Figura 5.1) a partir das quais
serão construídas as respectivas métricas de desempenho: financeiras,
processos internos, atividades de inovação e melhorias (aprendizagem e
capacidade organizacional) e avaliação dos clientes. A proposta cria uma
estrutura que pode ser personalizada para se adequar à missão, estratégia,
tecnologia e cultura de variados tipos de instituição.

Figura 5.1 – Medidas de desempenho do modelo Balanced Scorecard

Fonte: adaptado de Kaplan e Norton (1992)

Posteriormente, os autores recomendaram a construção de um “mapa


estratégico”, incluindo a hipótese, os indicadores dos objetivos, identificação das
causas e efeitos e os resultados presumidos, de tal forma que represente a
totalidade da instituição. A ferramenta, de acordo com Kaplan e Norton (1993),
visa detalhar o processo de transformação dos ativos intangíveis em resultados
tangíveis para os clientes, tornando-se uma referência para a descrição e gestão
da estratégia.
A ideia é que os indicadores-chave de desempenho (ou KPI – Key
Performance Indicator) sejam estabelecidos segundo às perspectivas do BSC e,
assim, encontrem-se alinhados aos objetivos da organização como um todo, e
não somente com os interesses de cada área. Afinal, o propósito do modelo é
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 96
fazer com que a estratégia delineada pela empresa seja implementada e
executada satisfatoriamente.
Desde a sua criação, a metodologia tem sido amplamente adotada por
organizações públicas e privadas, além de agências governamentais e até na
academia, ganhado projeção em virtude do potencial amplo de utilização, como
a aplicação nos estudos recentes e promissores sobre performance de inovação
em universidades.

Quadro 5.4 – Trabalhos que utilizam BSC na avaliação de inovação em universidades


Trabalhos Autores Descrição dos trabalhos

Performance evaluation of
Artigo que demonstra a aplicação da ferramenta
academic services in the
SARI; LUDDIN; BSC para avaliar o desempenho dos serviços
university using the Balanced
RAHMAT, 2020 acadêmicos da Universidade Aberta da Universitas
Scorecard: A study at an
Terbuka (Indonesia).
Indonesian open university

Artigo que estuda a contribuição dos sistemas de


Influence of the Balanced PERIS-ORTIZ; controle estratégicos para as organizações e avalia
Scorecard on the science and GARCIA- a aplicação do BSC como sistema de medição de
innovation performance of HURTADO; desempenho em pesquisa e inovação em seis
Latin American universities DEVECE, 2019 universidades públicas e privadas latino-
americanas que adotaram esse modelo.

Dissertação de Mestrado que objetiva o


Proposta de modelo de
desenvolvimento de um modelo de indicadores e
indicadores e métricas de
SILVA, 2019 métricas para inovação no âmbito da Universidade
inovação para Universidade
Federal de Alagoas (UFAL). A autora utiliza o BSC
Federal Alagoas
para validar o modelo proposto.

Fonte: elaboração própria (2022).


Como exemplo, os trabalhos identificados no Quadro 5.4 trazem
conclusões favoráveis à utilização do Balanced Scorecard para avaliação
multidimensional da inovação no âmbito das universidades uma vez que a
complexidade de tais atividades requer uma abordagem integrada como a
proposta deste modelo.
Em estudos para avaliação de desempenho de serviços acadêmicos
inovadores na universidade aberta de Terbuka (Indonésia), Sari, Luddin e
Rahmat (2020) modificaram o modelo original do BSC para ser utilizado em
organizações sem fins lucrativos e setor público. A principal alteração foram
ajustes nos objetivos estratégicos e na orientação do público-alvo, voltando-se
mais para a perspectiva do cliente do que para a dimensão financeira.
A versatilidade e eficiência do BSC também pôde ser comprovada no
trabalho de Peris-Ortiz, Garcia-Hurtado e Devece (2019), que investigaram a
utilização do modelo na avaliação de desempenho das pesquisas e inovação
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 97
produzida no âmbito de seis universidades públicas e privadas de quatro países
latino-americanos: Colômbia, Chile, Peru e Cuba. Já Silva (2019), em sua
dissertação de mestrado, utiliza as perspectivas do Scorecard para validar sua
proposta de indicadores de inovação para a Universidade Federal de Alagoas.

5.3.1.2 Funil da Inovação


A figura de um “funil” representando os fluxos de informação e etapas da
seleção de ideias inovadoras quanto à sua viabilidade e lucratividade
provavelmente foi inspirada no clássico funil de desenvolvimento de produtos
proposto por Clark e Wheelwright (1993), um modelo de referência para
atividades de P&D: conversão das ideias originadas das atividades de pesquisa
que passam por seguidos estágios de análises, estudos e testes, auxiliando na
tarefa de priorização e aprovação de orçamento para criação ou aprimoramento
de produtos ou processos.
Para os autores, o modelo de Funil da Inovação é um método visual para
decisão das novas ideias e inovações, pois fornece informações para gerenciar
e monitorar a inovação nas organizações. Desse modo, Clark e Wheelwright
(1993) propõem uma ferramenta para geração de ideias voltadas ao mercado,
na qual considera o desenvolvimento de um produto a partir de um portfólio de
projetos, disciplinado, com fases e avaliações. Chegará ao mercado somente os
produtos com maior probabilidade de sucesso.
Atualmente, há muitos tipos de funis para diferentes finalidades. No caso
da inovação, o modelo tem sido usado para ajudar agrupar e executar as
melhores (e mais viáveis) ideias para garantir valor adicionado como resultante
do processo de inovação. Dependendo da abordagem de cada autor, o
framework do funil pode apresentar diferenças quanto à classificação ou
tipologias de suas fases.
Gamal (2011, p. 13) apresenta um framework detalhado de Funil da
Inovação formado por 9 (nove) elementos ou estágios da inovação
(representado na Figura 5.2): estágio -1: planejamento estratégico; estágio 0:
definição de métricas e gestão de portfólio; estágio 1: pesquisa; estágio 2:
ideação; estágio 3: insight; estágio 4: segmentação; estágio 5: desenvolvimento
da inovação; estágio 6: desenvolvimento de mercado; estágio 7: venda.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 98
Figura 5.2 – Funil da Inovação

Fonte: Gamal (2011, p. 13).

Para o referido autor, as métricas para inovação devem ser definidas já


na primeira parte do modelo (entrada), juntamente com gerenciamento do
portfólio, precedido pelo pensamento estratégico que deverá nortear todo o
contexto da inovação em que se pretende trabalhar. A fase seguinte
(processamento) inclui todas as atividades que envolvem o gerenciamento da
inovação propriamente dita: pesquisa, ideias, insights, objetivos e
desenvolvimento (da inovação e do mercado). Finalmente, a terceira e última
parte (saída) caracteriza o valor agregado que pode ser materializado nas
vendas, por exemplo. O ciclo de feedback, representado nas setas, sugere que
já um aprendizado envolvido na melhoria dos resultados.
Ainda segundo Gamal (2011), as métricas propostas são de dois tipos
bastante diferentes: as métricas soft são qualitativas, às vezes na forma de
perguntas provocativas que têm como objetivo fazer as pessoas pensarem de
forma mais profunda e eficaz sobre o trabalho que estão fazendo. Já as métricas
hard são quantitativas e passíveis de análises estatísticas.
Importante ressaltar que a lógica apresentada pelo Funil da Inovação
atende perfeitamente ao conceito de inovação fechada. Considerando o
paradigma da inovação aberta, proposto Chesbrough (2011), as bordas do
modelo são apresentadas de maneira “porosa” uma vez que poderá fluir ideias
externas a serem absorvidas e incorporadas dentro do modelo de negócio da
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 99
organização. Assim sendo, são necessárias a elaboração de novas métricas que
contemplem essa abordagem.

5.3.1.3 Radar da Inovação


Trata-se de um modelo de métrica apresentado pela primeira vez por
Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006) com o intuito de facilitar a identificação de
oportunidades de inovação por parte das organizações. Em seu trabalho original,
os autores propõem um conjunto de 12 dimensões possíveis para a inovação
nos negócios (Quadro 5.5), alicerçadas por quatro eixos principais: oferta,
clientes, processos e pontos de presença.

Quadro 5.5 – Dimensões do Radar da Inovação

Dimensão Conceito

1. Oferta Envolve a criação de novos produtos ou serviços.

Envolve o uso de componentes ou blocos comuns para criar diferentes


2. Plataforma
produtos derivados.

3. Solução Compreende a criação de ofertas integradas e customizadas.

Inclui o descobrimento de novas necessidades dos clientes ou a


4. Cliente
identificação de segmentos não atendidos.

5. Experiência do cliente Abrange todo e qualquer ponto de interação (contato) com o cliente.

6. Captura de Valor Inclui a redefinição de como a companhia obtém receitas ou cria valor.

7. Processo Abrange principalmente aumento da performance nos processos.

Envolve mudanças na forma, função ou escopo de atividades da empresa


8. Organização
para melhoria de eficiência e eficácia.

Envolve mudanças na cadeia de suprimento, como no fluxo de


9. Cadeia de Suprimento
informações terceirização.

compreende principalmente novos canais de distribuição e novos pontos


10. Presença
de presença.

Envolve principalmente o uso de tecnologias da informação e comunicação


11. Rede
de forma integrada e inteligente com as ofertas.

12. Marca Inclui a expansão da marca para novos domínios

Fonte: Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006, p.78)

Com base em entrevistas com gerentes responsáveis pelo


desenvolvimento de inovação em grandes indústrias e na literatura científica da
área, os autores compilaram um vasto conjunto de perguntas, criando dois
grupos de medidas para cada dimensão: (i) reflexivas, para obter uma visão geral
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 100
de cada métrica para o nível real de inovação; e (ii) formativas, para reunir
informações sobre as atividades ou fatores que contribuem para o nível de
inovação observado.
Após a percepção verificada por meio de levantamentos qualitativos
(surveys), são atribuídos pesos de acordo com as respostas recebidas em cada
questão formulada conforme a dimensão analisada. Desse modo, é possível
verificar o progresso do grau de inovação em uma organização de forma
sistêmica ao longo do tempo, ou mesmo realizar comparações entre diferentes
empresas de um mesmo setor, de modo a perceber as forças e fraquezas
relacionadas a cada uma.
O Radar da Inovação tem sido amplamente utilizado no Brasil pelo
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa em seu
Programa de Agentes Locais de Inovação (ALI) com resultados satisfatórios,
conforme revisão sobre o tema apontada por Carvalho et al. (2015), em artigo
que analisa a aplicação da ferramenta como estratégia para Micro e Pequenas
Empresas (MPE) alcançarem vantagem competitiva no mercado. O uso da
metodologia, segundo os autores, “aponta em quais dimensões as empresas de
um determinado setor têm inovado, ao mesmo tempo em que sinaliza quais
ainda são pouco exploradas e que, portanto, podem diferenciar uma empresa
em relação aos seus concorrentes setoriais” (CARVALHO et al., 2015, p. 163).
O modelo do Radar utilizado pelo SEBRAE, no entanto, possui uma
dimensão adicional em relação à proposta original, de 2006. Trata-se da
“Ambiência Inovadora”, incluída por Bachmann e Destefani (2008), visando o
contexto das MPEs. A ideia é captar a cultura das organizações com disposição
para inovar por meio de evidências como a existência de colaboradores
capacitados (pós-graduados, por exemplo), existência de programas de
sugestão (que incentivem os colabores a apresentar ideias), realização de
acordos de transferência de tecnologia e utilização de recursos de órgãos de
fomento. Essa adaptação é justificada pelo entendimento de que um clima
organizacional propício à inovação é uma premissa importante para uma
empresa inovadora (BACHMANN; DESTEFANI, 2008, p.13).
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 101
5.3.1.4 Cadeia de Valor da Inovação (IVC)
A Cadeia de Valor da Inovação (ou IVC – Innovation Value Chain, no
original em inglês) é um modelo de referência sugerido por Hansen e Birkinshaw
(2007) para organizações que desejam mensurar e melhorar o seu potencial de
inovação a partir de uma visão ampla e integrada do processo de inovação
dentro de uma lógica não linear de “cadeia”, envolvendo três elos distintos e
interligados: i) a geração de ideias (podendo ser interna aos
departamentos/unidades, entre os departamentos/ unidades ou, ainda, entre
diferentes instituições); ii) a conversão ou desenvolvimento das ideias (etapas
de seleção, triagem e financiamento; desenvolvimento); e a iii) difusão dos
conceitos envolvido (HANSEN; BIRKINSHAW, 2007).
Os autores conceituam a Cadeia de Valor da Inovação como o “conjunto
de atividades que estão inseridas dentro do processo de inovar”. Para eles, uma
empresa realmente inovadora deve levar em consideração os três elos da cadeia
e, diferentemente do que prega o senso comum, o potencial inovador da
organização é determinado por seu elo mais fraco, pois quando almejam
somente as ligações mais fortes da cadeia de inovação, frequentemente
promovem o enfraquecimento das partes mais fracas da cadeia, comprometendo
sua capacidade de inovação. Todas as fases do modelo, bem como as classes
e etapas e possíveis indicadores que os representem podem ser visualizados na
Figura 5.3.

Figura 5.3 – Cadeia de Valor da Inovação

Fonte: adaptado de Hansen e Birkinshaw (2007).


INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 102
A partir dessa constatação, Hansen e Birkinshaw (2007) propõem às
empresas que estabeleçam processos gerenciais e métricas (vide exemplos de
KPIs, na Figura 5.3) que as ajudem a identificar o seu elo fraco, determinar a
estratégia de inovação mais adequada para ela e dar aos seus funcionários
novos papéis, como prospectores, conversores ou difusores de ideias, conforme
a necessidade da organização.
Essa estrutura fornece uma visão de ponta a ponta dos benefícios para a
organização, do acesso e criação do conhecimento, contrução da inovação e
sua consequente disseminação ou lançamento no mercado. Outra vantagem do
modelo é que ele provê um recurso eficaz para pesquisas e análises mais
aprofundadas. Embora tenha sido desenvolvida inicialmente como uma
ferramenta de diagnóstico da capacidade inovadora da organização como um
todo, a estrutura da IVC tem a vantagem de poder ser facilmente dimensionada
para um nível setorial. Isso traz o potencial para diferentes distribuições da
atividade de inovação dentro de setores individuais e também o potencial para
comparações intersetoriais.
No ano seguinte, Roper, Du e Love (2008) estenderam e formalizaram o
trabalho de Hansen e Birkinshaw por meio de uma modelagem econométrica,
fornecendo uma interpretação prática e uma estrutura que reflete três atividades
de inovação: i) acesso ao conhecimento, envolvendo todo o processo
colaborativo de obtenção ou criação de conhecimento para inovação; ii)
construção da inovação, que reúne a transformação do conhecimento em
inovação por meio do desenvolvimento de novos produtos, processos ou formas
organizacionais; e iii) comercialização da inovação, que traduz o processo de
exploração por meio do qual novas inovações são traduzidas em ganhos de
produtividade ou vendas
Cabe salientar que o conceito de “cadeia de valor” remete à obra
“Vantagem Competitiva”, publicada por Michael Porter, em 1985, onde o autor
relaciona o mecanismo por meio do qual uma atividade de negócio recebe
matérias-primas como entrada, adiciona valor a elas através de diversos
processos, e entrega valor aos consumidores através de produtos acabados. A
chamada “Análise da Cadeia de Valor”, proposta por Porter, é uma ferramenta
para definir os objetivos estratégicos de um negócio e tem sido modelo de
referência para muitas empresas definirem sua atuação no mercado.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 103
5.3.1.5 Modelo Diamante
Trata-se de um modelo teórico idealizado por Tidd e Bessant (2015), no
qual consideram a gestão da inovação como um conjunto formado por cinco
fatores-chaves (dimensões): estratégia, processos, organização inovadora,
relacionamentos e aprendizagem. O entendimento é que a uma gestão eficiente
decorre do bom desempenho das rotinas relacionadas à estratégia, aos efetivos
relacionamentos internos e externos e à disponibilização de mecanismos
necessários dentro de um contexto de apoio organizacional. As principais
características dessas dimensões são descritas a seguir:
1. Estratégia – Três grandes áreas são identificadas nesta dimensão: a
primeira é se a empresa possui um processo de planejamento estratégico bem
administrado. A segunda é se a inovação é apreciada por toda a organização e,
portanto, incorporada dentro da estratégia corporativa; e a terceira é se a
empresa planejou mecanismos que efetivamente implementarão a estratégia
corporativa. Na estratégia da inovação deve-ser observada se há integração
entre os processos organizacionais e a estratégia de aprendizagem;
2. Processos – Esta dimensão considera a robustez e flexibilidade do
processo de desenvolvimento de novos produtos da organização e se ele traz a
atenção de todos os envolvidos para a necessidade do cliente (ao invés de
apenas marketing com foco na necessidade do cliente). Nesta dimensão, a
capacidade da organização para gerenciar seus processos internos também é
considerada;
3. Organização inovadora – Trata-se de um conjunto integrado de
componentes que trabalham juntos para criar e fortalecer o tipo de ambiente que
permite que a inovação prospere. Para isso, estrutura organizacional deverá
incentivar a visão compartilhada de ideias, promovendo uma cultura de
inovação;
4. Relacionamentos – O foco desta dimensão reside na capacidade da
empresa em criar relações saudáveis com parceiros externos, como
fornecedores, clientes, a academia, empresas de outras indústrias, indivíduos
especializados, bem como concorrentes. É vista como uma oportunidade de
aprendizagem para a organização;
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 104
5. Aprendizagem – Diz respeito à gestão do ciclo de aprendizagem de
experimentação, prática, reflexão e consolidação. Essa dimensão avalia a
capacidade de compartilhamento das lições aprendidas com toda a organização.
O diagrama de análise da gestão da inovação proposto por Tidd e Bessant
(2015) assemelha-se a um pentágono (ou diamante), conforme ilustrado na
Figura 5.4, e representa o esforço para identificar as fases que compõem todo
esse processo. Por constituir-se em uma ferramenta de benchmarking, o
instrumento pode auxiliar a aprendizagem organizacional uma vez que a
utilização dos resultados como indicadores pode direcionar a implantação de
melhorias no processo de inovação e na forma como é gerenciada.

Figura 5.4 – Diagrama de Gestão da Inovação (Modelo Diamante)

Fonte: Bessant e Tidd (2015)

Para tanto, as métricas são construídas por meio de um conjunto de 40


perguntas abertas – com escala de concordância tipo Likert de sete pontos, entre
1 (definitivamente falso) e 7 (definitivamente verdadeiro) – para avaliar o
desempenho da organização ao longo da dimensão correspondente. Desse
modo, o framework possibilita a visualização de como a organização realiza a
gestão da inovação, contribuindo com a identificação das rotinas a serem
aperfeiçoadas, além de identificar os fatores que podem afetar uma inovação de
sucesso (TIDD; BESSANT, 2015).
A Figura 5.5 exemplifica os resultados de uma possível aplicação do
modelo Diamante da Inovação em duas empresas distintas. Observa-se que a
Empresa A precisa promover inovação em muitas dimensões ao passo que a
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 105
Empresa B se mostra altamente inovadora, com grau máximo verificado em
todas as cinco dimensões.

Figura 5.5 – Exemplo de aplicação do Diagrama de Gestão da Inovação


(Modelo de Diamante)

Fonte: elaboração própria (2022)

5.3.1.6 Innovation Readiness Level (IRL)


A escala de “níveis de prontidão de inovação”, traduzida livremente do
original em inglês Innovation Readiness Level (IRL), foi proposta inicialmente no
artigo “Towards an integrated framework for managing the process of innovation”
(TAO; PROBERT; PHAAL, 2010) como alternativa à medição dos níveis de
prontidão tecnológica TRL – Technology Readiness Level, metodologia
desenvolvida pela NASA (Agência Espacial Norte Americana), em 1974,
decorrente das práticas adotadas pela organização para o monitoramento dos
estágios da preparação de seus veículos para voo.
A ideia de avaliar a viabilidade e níveis de prontidão de tecnologias surgiu
no auge do programa espacial Apollo e, com o passar do tempo, os estratos de
maturidade tecnológica foram refinados para avaliar o estágio de
desenvolvimento de outros tipos de tecnologias em diferentes áreas do
conhecimento. Desde então, o TRL vem sendo amplamente utilizado em
políticas de inovação em vários lugares do mundo, como Estados Unidos, União
Europeia e Brasil.
Em nosso País, a escala é contemplada na norma NBR ISO 16290: 2015,
aplicada por indústrias e até mesmo em alguns ambientes de inovação das
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 106
universidades, como é o caso do Parque Científico e Tecnológico da
Universidade de Brasília (PCTeq/UnB), que se vale da ferramenta TRL como
uma de suas métricas para gestão da inovação.
O Quadro 5.6, elaborado por Veras e Pereira (2022), apresenta um
resumo dos critérios de definição dos níveis TRL e os respectivos ambientes
(lócus) nos quais podem ser observados.

Quadro 5.6 – Escala de Maturidade Tecnológica (TRL) adotada pelo PCTec/UnB

Definição e Critério de Sucesso Lócus

Fase cognitiva da ideação:

• registro das ideias (estabelecimento dos princípios básicos que


fundamentam a tecnologia ou processo/serviço);
• conhecimento científico básico é empregado para definir a rota da
pesquisa e do desenvolvimento da tecnologia.
Ideia registrada e fundamentada por princípios básicos (TRL = 1)

Fase cognitiva da investigação científica:


• o potencial da tecnologia/produto/serviço é definido e descrito;
• aplicações práticas devem ser definidas e avaliadas de forma
especulativa.
Formulado o conceito e/ou aplicação do dispositivo tecnológico
(TRL = 2)
Ambiente de
Laboratório
Fase analítica e laboratorial:
• experimentos preliminares são realizados para validar predições
analíticas;
• testes laboratoriais são realizados para medir parâmetros críticos
de interesse.
Provado o conceito analítica ou experimentalmente (TRL = 3)

Fase da investigação experimental em ambiente de laboratório:


• componentes tecnológicos básicos devem estar integrados;
• sistema pode ser de baixa fidelidade;
• testes laboratoriais dos componentes críticos devem ser
realizados.
Validado o dispositivo tecnológico no laboratório (TRL = 4)
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 107

Definição e Critério de Sucesso Lócus

Fase da investigação experimental em ambiente relevante ou simulado:


• integração dos componentes básicos na forma mais final;
• componentes integrados para teste simulando o ambiente
operacional; Ambiente
Relevante
Validado o dispositivo tecnológico no ambiente relevante (TRL = 5) (Simulado)

Fase da demonstração do protótipo em ambiente relevante (simulado): “Vale da Morte”


• protótipo ou modelo representativo integrado para demonstração
no ambiente relevante.
Demonstrado o protótipo no ambiente relevante (TRL = 6)

Fase de demonstração do protótipo no ambiente operacional:


• demonstração da funcionalidade do protótipo no ambiente
operacional;
• propriedades críticas medidas atendendo requerimentos de
desempenho.
Demonstrado desempenho satisfatório em ambiente operacional
(TRL = 7)

Fase de qualificação do produto tecnológico (sistema real) em testes e Ambiente


demonstrações: Operacional
• tecnologia final demonstrada e qualificada/certificada no ambiente
operacional.
Qualificado/certificado o produto no ambiente operacional (TRL = 8)

Fase de aplicação da tecnologia:


• Tecnologia na forma final aplicada nas condições reais de
operação.
Tecnologia operando satisfatoriamente (TRL = 9)

Fonte: Veras e Pereira (2022).

De forma análoga, a escala IRL busca retratar os estágios de


desenvolvimento de uma inovação tecnológica, da concepção à sua evolução no
mercado, com ênfase nas empresas de manufatura. Para tanto, Tao, Probert e
Phaal (2010, p.22), apresentam um modelo conceitual (Quadro 5.7), contendo 6
(seis) fases – ou “níveis de prontidão” – correspondentes à gestão dos processos
e ao ciclo de vida abrangente da inovação, levando-se em conta 5 (cinco)
dimensões, denominadas pelos autores de “aspectos-chave” (key aspects), a
saber: tecnologia; mercado; organização; parcerias; e riscos.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 108
Quadro 5.7 – Modelo conceitual do Innovation Readiness Level (IRL)

Níveis de Ciclo de vida da inovação


prontidão Desenvolvimento tecnológico Evolução de marketing
tecnológica
IRL 1 IRL 2 IRL 3 IRL 4 IRL 5 IRL 6
Concepção Componentes Acabamento Abismo Competição Mudança/
(Concept) (Components) (Completion) (Chasm) (Competition) Fechamento
(Changeover/
Closedown)

Dimensões (key aspects) a serem consideradas em cada um dos níveis de IRL:


Tecnologia, Mercado, Organização, Parcerias e Riscos

Fonte: adaptado de Tao, Probert e Phaal (2010, p. 22)

De acordo com os autores, resumidamente, os diferentes níveis de


maturidade podem ser compreendidos como:
• IRL 1 (concepção): fase em que os princípios científicos básicos da
inovação são observados e reportados, e características e/ou funções
críticas são confirmadas por meio de experimentos (equivalente aos
níveis TRL 1 a 3);
• IRL 2 (componentes): fase de prototipação, na qual são validados os
componentes, sistemas e subsistemas (equivalente aos níveis TRL 4
a 6);
• IRL 3 (acabamento): fase de conclusão do desenvolvimento
tecnológico, quando a funcionalidade do sistema é provada em campo
(equivalente aos níveis TRL 7 a 9);
• IRL 4 (abismo): refere-se aos desafios e dificuldades que a inovação
pode enfrentar quando introduzida no mercado em seu estágio inicial;
• IRL 5 (competição): fase de maturidade (equilíbrio) da inovação, onde
já não há mais crescimento significativo do mercado;
• IRL 6 (mudança): fase de declínio da inovação, onde deve ser levado
em consideração as opções de mudar (reinovando) ou descontinuar
(por obsolescência) à inovação.
Outro aspecto importante da escala IRL é a noção de “ciclo de vida do
produto” (evolução do mercado), pelo qual são considerados os diferentes tipos
de clientes e suas relações com o mercado, segundo a teoria da difusão da
inovação de Everett Rogers (2003): ávidos por tecnologia (inovadores),
visionários (primeiros a adotar), pragmáticos (maioria inicial), conservadores
(maioria tardia) e os céticos (retardatários). Além disso, o modelo permite
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 109
direcionar a gestão do processo da inovação por meio da observação de cinco
aspectos-chave: tecnologia, mercado, organização, parceria e risco. Ao serem
cruzados com os níveis de prontidão, é possível aos gestores compreenderem
melhor os fatores críticos relacionados a uma determinada atividade inovativa.

Quadro 5.8 – Níveis de Prontidão de Inovação (IRL) X escala TRL

Nível Definições TRL Definições IRL

Especificação geral das capacidades requeridas por


Princípios básicos são observados função para executar o modelo de negócio gerado.
1
e reportados (nível mais baixo de prontidão onde a intenção é
traduzir uma ideia em um negócio de risco).

Especificação detalhada dos requisitos de capacidade


gerado para cada função.
Conceito tecnológico e/ou aplicação
2 (uma vez que as ideias básicas foram formuladas, elas
formulada
são colocadas no papel para estudos e análises em
relação às oportunidades de negócios).

Inicia-se a pesquisa e o desenvolvimento ativo,


Função crítica analítica e
incluindo estudos analíticos/laboratoriais para validar
3 experimental e/ou prova
previsões sobre o mercado, a concorrência e a
característica de conceito
tecnologia.

Primeira demonstração geral da capacidade


alcançada.
Validação de componentes e/ou (componentes tecnológicos básicos e de negócios são
4
sistemas em ambiente laboratorial desenvolvidos para estabelecer as condições de
integração; está disponível um plano inicial de
negócios).

Boa demonstração da capacidade alcançada.


(os componentes tecnológicos básicos e de negócios
Validação de sistema semelhante estão integrados com elementos de suporte
5
em ambiente relevante razoavelmente realistas. O plano de negócios tem
credibilidade, mas ainda precisa ser validado
considerando as características do produto final).

Escala de engenharia, validação de


Primeira demonstração de capacidade no mercado.
um sistema similar (protótipo) num
6 Por exemplo, venda de produto beta.
ambiente relevante

Primeira transação envolvendo produto completo na


Um sistema similar de grande forma de final.
7 escala (protótipo), demonstrado
num ambiente relevante (o negócio pode ser executado em uma escala
limitada. A equipe completa está mobilizada).

Capacidade utilizada com sucesso nos negócios


(geralmente em operação com caixa positivo)
Sistema real completo e qualificado
8 (a tecnologia foi comprovada para operar e os riscos
através de teste e demonstração.
mitigados para ser capaz de suportar parcialmente o
crescimento de mercado).

Sistema real operado em toda a Capacidade na utilização rotineira para suportar uma
9
gama de condições esperadas. grande escala de produção.

Fonte: Evans e Johnson (2013, p. 54)


INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 110
Posteriormente, o conceito de IRL foi trabalhado por Evans e Johnson
(2013), também com base na escala TRL de prontidão tecnológica, passando a
servir como ferramenta de avaliação da capacidade de inovação em modelos de
negócios específicos. Para mensurar o nível IRL para cada função da
organização, são utilizadas as definições apresentadas no Quadro 5.8, que
mostra uma correspondência direta entre cada estágio de maturidade de
inovação, permitindo avaliar o grau de capacidade necessária.
A partir desse ponto, os autores sugerem que os resultados sejam
representados por meio de um diagrama do tipo radar, no qual um pequeno
círculo no centro indicaria que um esforço significativo de desenvolvimento é
necessário. Conforme a ideia amadurece, o nível de IRL aumenta e o círculo
tende a crescer até que o modelo de negócios seja totalmente implementado e
o círculo preencha todo o diagrama. Esse tipo de visualização facilita a
identificação daqueles recursos que exigem investimentos prioritários de acordo
com o seu grau de desenvolvimento.
Na concepção dos autores, os níveis de IRL servem para medir o grau de
alcance das capacidades necessárias para que uma empresa possa mudar do
modelo de negócios existente para uma nova situação desejada ou prevista
(EVANS; JOHNSON, 2013, p. 54).

5.3.2 Mensuração da Inovação no Brasil


A partir do início da Década de 1990 houve uma intensificação dos
estudos baseados em diagnósticos, descrições, análises e propostas relativas
ao desenho e implementação de sistemas de medição de desempenho da
inovação e da política tecnológica orientada para a inovação no Brasil (SILVA
2015).
Destacam-se os trabalhos como o da Associação Nacional de Pesquisa,
Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (ANPEI, 2001), a
Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (PINTEC), realizada desde 2002
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2005) e o estudo
“Inovações, padrões tecnológicos e desempenho das firmas industriais
brasileiras”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2005), um
desdobramento da própria PINTEC, a qual, por sua vez, tem como matriz
conceitual e metodológica as diretrizes do Manual de Oslo, da OCDE.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 111
Outro empreendimento que envolveu grande esforço da academia foi a
construção do Índice Brasil de Inovação (IBI), iniciada em 2005 e lançada em
2007 durante o VII Congresso Iberoamericano de Indicadores de Ciência e
Tecnologia, evento organizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (Fapesp) e pela RICYT.
A metodologia do IBI encontra-se baseada nos dados da PINTEC (2005)
e no banco de patentes do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e
contou com o desenvolvimento de professores e pesquisadores do
Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com apoio da
Fapesp em parceria com o Instituto Uniemp. A intenção do índice foi mensurar a
capacidade inovativa das empresas brasileiras considerando o esforço (como
gastos e recursos humanos aplicados em pesquisa e desenvolvimento) e os
resultados (patentes) para a construção de um ranking das companhias mais
inovadoras (FURTADO et al., 2007).
Todas essas iniciativas, como se pode observar, encontram-se atreladas
aos indicadores clássicos de inovação e, portanto, mesmo quando propõem
examinar o processo de inovação como um todo, acabam deixando de lado
alguns aspectos relevantes que contribuiriam para o seu melhor entendimento
(ZAWISLAK, 2008).
Prova disso pode ser encontrada nos resultados do estudo de Kobal et al.
(2012), que analisaram o conteúdo de artigos científicos e eventos realizados
pela Capes sobre a temática da inovação com foco nos indicadores de
crescimento. Foram identificados os seguintes indicadores (todos tradicionais,
das primeiras duas gerações) como os mais utilizados para análise da inovação:
i) número de patentes; ii) gastos com P&D; iii) número de artigos publicados; iv)
número de doutores; v) pessoal envolvido com P&D; e vi) registro de pesquisa.
A partir desse estudo, e agregando outras análises, Kobal et al. (2012)
concluíram que as pesquisas acadêmicas que utilizam indicadores criados para
países de economias industrializadas geram resultados aquém da realidade de
países emergentes e muitos estudos acabam classificando o Brasil como um
país sem capacidade de inovação. Os autores argumentam que, a despeito de
alguns indicadores terem sido adaptados para a realidade brasileira, ainda é
possível identificar a carência de indicadores que evidenciem o desempenho
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 112
inovador segundo o perfil econômico do Brasil (KOBAL et al., 2012).
Os dados oficiais sobre inovação no Brasil são obtidos, em grande parte,
a partir dos indicadores de desempenho produzidos pela PINTEC, que traça um
panorama da inovação na perspectiva das empresas, e pelo Formulário para
Informações sobre a Política de Propriedade Intelectual das Instituições
Científicas e Tecnológicas do Brasil (FORMICT), disponibilizado pelo MCTI para
a coleta de informações das ICT sobre as políticas de gestão da propriedade
intelectual dessas instituições. Ambos são instrumentos utilizados para análise
setorial, portanto os resultados demostram o desempenho do conjunto das
instituições participantes.
Existem outras abordagens utilizadas pelas empresas tendo como base o
Manual de Oslo e a PINTEC, sendo possível encontrar trabalhos na literatura
acadêmica que propõem outras metodologias7, como os KPI (indicadores-chave
de desempenho), Balanced Scorecard ou até mesmo o benchmarking. No
entanto, apesar da importância das IES para a inovação, ainda há carência de
pesquisas acadêmicas que visem propor formas de mensuração da inovação
para este tipo de instituição (ANDRADE, 2016).
Vale destacar que, embora a atualização da PINTEC seja trienal, a última
edição data de 2017 (período 2015-2017). A publicação esperada para 2020
encontra-se em atraso. Quanto ao FORMICT, apesar da periodicidade anual da
coleta de dados por determinação da Lei de Inovação (10.973/2004), o prazo
para envio dos dados referentes a 2020 foi prorrogado pelo MCTI para final de
agosto de 2021. O último relatório sobre as políticas de propriedade intelectual
das ICT no Brasil foi disponibilizado pelo ministério em 2019 (ano base 2018).
Logo, também temos uma defasagem dessas informações que representam
atualmente os avanços alcançados pelas ICT após o Marco Legal de CT&I.

7 KPI (Key Performance Indicator) ou indicadores-chave de desempenho são métricas escolhidas


como essenciais para avaliação de desempenho de gestão. Algumas categorias de KPI são:
indicadores de produtividade, de qualidade, de capacidade e estratégicos;
Balanced scorecard é um processo sistemático para implementação e obtenção de feedback
sobre a estratégia da organização a partir de indicadores;
Benchmarking é um processo de descoberta de melhores práticas a partir de comparação por
meio de indicadores.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 113
5.3.3 Novos Indicadores Aplicados à Inovação
Já nos anos 2000, autores como Rocha e Ferreira (2001) observaram que
o processo da inovação tecnológica deveria ser percebido como apenas uma
das faces de um fenômeno bem mais amplo e profundo vivido pelas sociedades
contemporâneas: a mudança no paradigma sociocultural associada a uma
transformação no padrão de acumulação capitalista.
Nos últimos 20 anos, vários estudos buscaram adequar os indicadores já
conhecidos para serem utilizados em novos contextos, em que as medidas
tradicionais já não poderiam mais ser aplicadas, devido a uma série de
problemas como os já descritos anteriormente. Merece destaque a publicação
“Measuring Innovation: a new perspective” (OCDE, 2010), que apresenta
algumas métricas amplas de inovação, tais como novos indicadores de
investimento em ativos intangíveis e marcas. O estudo é baseado em décadas
de experiência da OCDE no desenvolvimento de indicadores, se estendendo
para além dos indicadores de P&D para tentar descrever um cenário mais
abrangente em que a inovação ocorre. Assim, a proposta inclui indicadores
experimentais que fornecem informações sobre novas áreas de interesse
político, destacando-se as lacunas de medição.
Neste sentido, a abordagem dos Sistemas Nacionais de Inovação apenas
introduz a perspectiva de que a análise do processo de produção, difusão e uso
de CT&I deva considerar a influência simultânea de múltiplos fatores
organizacionais, institucionais e econômicos. Uma vez que as organizações não
inovam de maneira isolada, o modelo sistêmico tenta capturar as redes de
relacionamentos diretos ou indiretos que existem entre as empresas, com a
infraestrutura de pesquisa pública e privada, com as instituições de ensino e
pesquisa, com a economia nacional e internacional e com o sistema normativo
e um conjunto de outras instituições.
Como demonstrado, os indicadores tradicionais de CT&I possuem
fragilidades para capturar as múltiplas dimensões do processo como um todo,
focando quase que exclusivamente nas características do subsistema de C&T e
de parte do subsistema produtivo, uma vez que indicadores relacionados às
formas de aprendizagem dificilmente são incluídos nas análises. Diante disso,
Lastres e Cassiolato (2003) destacam que, no paradigma atual, sobressai o
papel central e estratégico dos recursos intangíveis para o novo padrão de
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 114
acumulação e lembra que o desafio consiste em elaborar indicadores para
realizar a avaliação destes fluxos.
Apesar de ainda não existir um conjunto de métricas amplamente aceitas,
tais indicadores foram classificados por Milbergs e Vonortas (2006) como sendo
de “terceira geração”, os quais possibilitam uma aproximação maior com a
complexidade do fenômeno social e econômico que se tenta medir como, por
exemplo, os esforços para constatar as transições para a “nova economia” bem
como os impactos das tecnologias digitais e indicadores relacionados à indústria
da informação.
Incluem-se nessas metodologias propostas distintas de rankings ou
índices que procuram comparar regiões ou países a partir de referências ou
padrões para interpretação. Um exemplo é o Índice de Adiantamento
Tecnológico (ITA) do programa das Nações Unidas (PNUD, 2001), que tem por
objetivo avaliar o nível de criação e difusão de tecnologia por um país e, por
extensão, sua capacidade de tomar parte nas inovações tecnológicas na era da
sociedade em rede. O ITA é composto por 8 (oito) variáveis agrupadas em 4
(quatro) categorias, sendo elas: i) criação de tecnologia; ii) difusão de inovações
recentes; iii) difusão de antigas inovações e; iv) conhecimentos especializados.
Após o cálculo do índice, os países podem ser classificados em quatro grupos:
líderes, líderes potenciais, seguidores dinâmicos e marginais.
Outro importante ranking, utilizado na formulação de políticas públicas de
diversos países, é o Global Innovation Index (GII). Iniciado em 2007 pela Escola
de Negócios para o Mundo (INSEAD) e a revista World Business, sua proposta
inicial encontra-se baseada em 8 (oito) pilares8 que visam oferecer um
diagnóstico dos países desenvolvidos e emergentes a partir de um ranking das
capacidades e resultados de inovação. Com o passar dos anos, a inciativa foi
ganhando importância e passou a ser capitaneada pela Universidade Cornell
(Estados Unidos), juntamente com a Organização Mundial de Propriedade

8 Atualmente são sete os pilares de inovação segundo o Índice Global de Inovação (GII): Inputs:
Instituições; Capital humano e pesquisa; Infraestrutura; Sofisticação de marketing; e Sofisticação
dos negócios. Outputs (evidências de resultados de inovação): Conhecimento e tecnologia;
Criatividade.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 115
Intelectual (OMPI), além de parceiros estratégicos, como a Confederação
Nacional da Indústria (CNI), do Brasil.
Em sua 14ª edição (2021), o GII reúniu dados de 132 economias do
mundo correspondentes a 94,3% da população mundial e 99% do Produto
Interno Bruto mundial. O modelo atual de medição do índice é baseado em 81
indicadores divididos em três categorias: 63 indicadores quantitativos, 15
compostos e 3 qualitativos baseados em survey. De acordo com os dados
globais de 2021, o Brasil subiu cinco posições, saltando de 62º em 2020 para a
57ª posição no ano seguinte (DUTTA et al, 2021, p. 176).
Em relação ao futuro dos novos indicadores de ciência, tecnologia e
inovação, destaque para uma iniciativa promissora da OCDE chamada fórum
Blue Sky, que traz como um de seus objetivos a exploração, a longo prazo, do
papel das infraestruturas digitais para criação de novas oportunidades de
métricas e análises, que sejam adequadas para refletir os requisitos impostos
pela sociedade do conhecimento, bem como atender os desafios inerentes aos
padrões de coleta existente e à qualidade desses indicadores.
A primeira conferência “Blue Sky” ocorreu em Paris, em 1996, promovida
pelo Comitê de Política Científica e Tecnológica da OCDE e reuniu cerca de 200
pesquisadores, entre acadêmicos, estatísticos e gestores de políticas públicas.
A reunião deu-se em um período de transição do entendimento de que a
inovação deveria ser reconhecida como um processo sistêmico, levando ao
abandono do modelo linear. Desde então, a cada 10 anos a comunidade de
peritos tem revisitado e debatido o desenvolvimento de novos indicadores de
CT&I, tendo como base 8 (oito) temas:
1. Globalização das atividades de pesquisa e redes;
2. Compreender a natureza em modificação da ciência e inovação e seu
impacto;
3. Capturando o valor da pesquisa e inovação;
4. Recursos humanos em C&T e fluxos globais de conhecimento;
5. Construindo capital do conhecimento científico;
6. Áreas emergentes multidisciplinares de CT&I: TICs, biotecnologia,
nanotecnologia, energia e tecnologia para extração de recursos;
7. Panorama da ciência e inovação: regiões, atores e temas;
8. Novos indicadores para políticas de inovação.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 116
Nessa mesma linha, localiza-se o projeto DISKO, iniciado em meados da
Década de 1990, pelo grupo DRUID (Danish Research Unit for Industrial
Dynamics), da Universidade de Aalborg (Dinamarca). A iniciativa, com duração
de três anos, teve como objetivo o desenvolvimento de uma metodologia de
pesquisa relacionada à coleta de dados e posterior implementação de
indicadores para a análise dos processos de inovação em produtos realizados
em cooperação pelas empresas dinamarquesas, buscando abranger variadas
atividades econômicas, da manufatura até as atividades relacionadas aos
serviços financeiros.
O projeto DISKO foi dividido em 5 (cinco) módulos, todos eles traduzindo
uma forte preocupação em captar as dimensões sistêmicas dos processos
inovativos, indo além das características relacionadas às atividades de P&D.
Dessa forma, aspectos como os esforços relacionados à qualificação de
recursos humanos e ao desenvolvimento de novas capacitações derivadas das
atividades cooperativas passam a ser centrais na análise.
Outras duas iniciativas mais recentes merecem destaque na busca pelas
métricas do futuro: a primeira, Advancing Measures of Innovation — Knowledge
Flows, Business Metrics, and Measurement Strategies9, é fruto de um workshop
promovido em junho de 2006 pela divisão de recursos estatísticos da NSF que
tratou de abordar duas questões-chave: quais seriam as métricas mais urgentes
ou imediatamente viáveis? E quais atividades estatísticas e de pesquisa
provavelmente irão promover essas métricas prioritárias?
Não houve concenso entre os particpantes a respeito dos indicadores
sugeridos como os mais urgentes. Do mesmo modo, a discussão do workshop
não produziu uma avaliação explícita sobre quais indicadores são os mais
imediatamente viáveis. No entanto, havia uma sensação de que a análise
adicional dos indicadores existentes e a vinculação destes eram mais
imediatamente viáveis do que construir novos indicadores que dependem do
desenvolvimento de pesquisas novas ou revisadas (PERROLLE; MORRIS,
2007, p. 8).

9 Mais informações em: https://www.nsf.gov/sbe/scisip/srs_innov_metrics_wkshp.pdf


INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 117
Assim, embora a discussão tratada no evento tenha se concentrado
principalmente na urgência da interpretação de dados, também foi reconhecida
a necessidade de modelos para a interpretação desses, além de teorias ou
conceitos que possam sugerir os novos tipos de dados que precisam ser
coletados.
A segunda ação – Innovation Metrics Review, de maio de 2017, teve
origem no Departamento de Indústria, Ciência e Energia e Recursos do governo
da Austrália, que lançou uma consulta pública para a sociedade com o propósito
de construir o chamado “Plano de Inovação e Ciência Australia 2030:
Prosperidade através da inovação”. Nesse contexto, encontram-se as
contribuições da Universidade de Sidney, que aponta que as universidades
possuem equipes com “considerável conhecimento e experiência em métricas
relevantes para o sistema de pesquisa, capital humano e distribuição de
conhecimento” (INNOVATION..., 2017). Assim, acreditam que poderiam fornecer
feedback útil sobre a qualidade e utilidade das métricas existentes nesses
domínios, lacunas de medição e potencial e/ou possíveis indicadores
emergentes.
A busca pela construção de novos modelos de métricas para inovação,
contudo, independe da espera pelas conclusões dos especialistas
internacionais. Um estudo desenvolvido pelo professor Paulo Antônio Zawislak
(UFRGS), apresentado em 2008 durante no encontro da Associação Nacional
de Pós Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD), traz uma proposta
condizente com o que Milbergs e Vonortas (2006) chamou de “quarta geração”
de indicadores: um conjunto de métricas com aplicação generalizada
denominada “Medida Geral de Inovação”, partindo da premissa de que as
medidas tradicionais de inovação não possuem mais um caráter universal.
Zawislak (2008) propõe um conjunto de indicadores abrangentes, capaz
de atender qualquer setor, independentemente da fonte original de
conhecimento (científico, tecnológico ou empírico), desde que os conceitos
operacionais sejam claramente identificados no âmbito dessa organização
como, por exemplo, o significado de “mudança” ou “novidade”. A proposta
apresenta 23 indicadores divididos em quatro perspectivas: Mudança, Processo,
Coordenação e Temporalidade. (ZAWISLAK, 2008, p. 10).
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 118
Em 2010, um novo trabalho apresentado no mesmo evento (MARINS;
ZWISLAK, 2010), elencou novas dimensões (sem mencionar a proposta
anterior) para a medida da inovação nas organizações: Empreendedorismo,
Estrutura, Coordenação e Valor, cada uma delas contando com 4 (quatro)
indicadores. Em relação à proposta de 2008, portanto, foi mantida apenas a
dimensão “Coordenação”, a qual visa examinar o perfil do esforço de
coordenação empreendedora de uma empresa baseado em ações reais ao
longo do tempo.
Outro diferencial encontrado no estudo mais atual foi a validação do novo
modelo a partir de uma pesquisa realizada junto a 7 (sete) empresas brasileiras,
de diferentes setores de atuação. O estudo de Marins e Zwislak (2010) examinou
o desempenho inovativo dessas empresas à luz de indicadores tradicionais e
dos novos indicadores apresentados, sugerindo a existência de atividades que
extrapolam os aspectos capturados pelos primeiros. Diante disso, concluem que
as métricas propostas complementam as tradicionais, mostrando-se mais
adequadas para a realidade das organizações que atuem em economias
emergentes.
Os autores não deixam evidências sobre a escolha dos indicadores e o
caminho para a elaboração das nomenclaturas utilizadas, bem como as
definições operacionais aplicadas no estudo de caso. Mesmo assim, acredita-se
no potencial do trabalho para reuso de alguns indicadores de inovação mais
amplos em outros contextos, como no caso das universidades.
O Quadro 5.9 traz as duas propostas de novos indicadores sendo
colocadas lado a lado, de acordo com os diferentes momentos em que foram
apresentados.
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 119

Quadro 5.9 – Medida Geral de Inovação X Estrutura Analítica de Novos Indicadores

Medida Geral de Inovação Estrutura Analítica de Novos Indicadores de Inovação


(ZAWISLAK, 2008) (MARINS; ZAWISLAK, 2010)

Fatores Indicadores Dimensão Indicador

Criatividade
(nº de ideias geradas pelos colaboradores e convertidas em projetos de
inovação)

• o que melhor traduz “mudança” e “novidade” na/da/para empresa Project champions


(qualificação) (nº de colaboradores responsáveis por impulsionar o início de um projeto
• mudanças realizadas e em andamento (quantidade) de inovação)
Mudança • tipo de mudança: científica, tecnológica, técnica, marginal Empreendedorismo
• intensidade da mudança: Capacidade de realização
• resultados com a mudança: percentual do faturamento oriundo da mudança, (nº de projetos de inovação empreendidos que foram concluídos com
market share, satisfação dos clientes sucesso)

Controle de erros
(grau de formalização das práticas de controle de erros: existência ou não
de relatórios de conformidade)

Externalização
(distribuição externa de atividades de inovação para desenvolvimento de
novos produtos)

• tecnologias: produtos e processos Interatividade


• descrição do processo de mudança (% de novos produtos originados a partir da interação de pelo menos duas
• pessoal envolvido: quantidade, formação áreas da mesma organização)
Processo • sistema de informação: informal, formal Estrutura
• estrutura disponível: física, documental Recursos físicos tangíveis
• relações inter-organizacionais para a inovação (universidades, centros (% do volume total investido por uma organização em dispositivos
tecnológicos, outras firmas, especialistas) tangíveis relacionando à atividade de inovação)

Aplicações tecnológicas
(nº de novos produtos gerados por uma organização a partir da aplicação
de uma nova tecnologia)
INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
____________________________________________________________________ 120

Estratégia de inovação
(Existência de estratégias de inovação em uma organização e seu grau de
alinhamento com a estratégia de negócios da mesma)

Portfólio de projetos de inovação


• tipo de coordenação Perfil predominante (mais de 50%) dos projetos desenvolvidos por uma
• combinação dos fatores: intensidade de uso mão-de-obra, insumos, energia, organização
Coordenação equipamentos Coordenação
• tipos e mix de projetos Cadência
• gastos com projetos de mudança (nº de projetos de inovação que uma organização é capaz de desenvolver
com base em seus próprios recursos financeiros, físicos e humanos)

Parcerias estratégicas
(% de parceiros estratégicos para a atividade de inovação em relação ao
nº total de parceiros de uma organização)

Lucro operacional inovativo


(% do lucro operacional de uma empresa oriunda de novos produtos)

• ritmo do setor Time to market


• ritmo do mercado (Tempo médio entre a concepção de uma ideia de novo produto e a
• capacidade de resposta dos fornecedores disponibilização desse novo produto no mercado)
• freqüência de alteração no perfil do consumidor
Temporalidade Valor
• tempo médio entre lançamentos Time to profit
• time to market (Tempo médio entre a concepção de uma ideia de novo produto e a
• time to profit auferição de lucros advindos desse novo produto)
• cadência dos projetos (interno)
Valor agregado
(% o valor agregado por uma empresa devido às atividades de inovação
dessa organização)

Fonte: Zawislak (2008, p. 11); Marins; Zawislak (2010, p. 7)


INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 121

6 INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES

Tendo como base as discussões tratadas até o momento, o presente capítulo


apresenta a problemática relacionada à busca por metodologias adequadas para a
medição da inovação no âmbito das instituições de ensino superior, que tem
aumentado cada vez mais o seu protagonismo dentro dos Sistemas Nacionais de
Inovação.
De fato, um dos desafios enfrentados pelos gestores públicos, é justamente a
medição da inovação universitária como um fenômeno próprio, uma vez que o
componente da pesquisa acadêmica integra o sistema de inovação devido à sua
afinidade com a pesquisa e desenvolvimento associada às atividades de cooperação
entre empresas e governo (HALÁSZ, 2008).
Peris-Ortiz e colaboradores (2019) enfatizam a relevância de se investigar a
avaliação das inovações produzidas no espectro acadêmico uma vez que o papel
fundamental da educação superior é baseado no desenvolvimento das estratégias
que habilitam o progresso econômico e social. Para esses autores, a essência de
uma universidade é a sua capacidade de relacionar-se e transformar o meio
ambiente; porquanto, os processos da universidade devem estar alinhados com esse
propósito. A sociedade é transformada pelas universidades que, por sua vez,
direcionam o crescimento econômico da mesma forma que produzem o
conhecimento, sua missão básica no passado. Hoje, a interação constante entre as
universidades e seus ambientes é essencial para a pesquisa e inovação (PERIS-
ORTIZ; GARCIA-HURTADO; DEVECE, 2019; PHILBIN, 2008).
Com essa motivação, foi realizado um mapeamento da literatura científica
recente sobre métricas de inovação nas universidades por meio de uma revisão
sistemática do tipo integrativa, com abordagem bibliométrica, abrangendo a
cobertura dos últimos 20 anos considerados os mais profícuos para a temática dos
indicadores de inovação e da própria evolução do papel das instituições de ensino
superior.
A opção pela adoção do método da Revisão Sistemática de Literatura (RSL)
deu-se em função da necessidade da elaboração de uma síntese estruturada dos
principais estudos a respeito dos tópicos relacionados à problemática da pesquisa
com o intuito de obter uma ampla compreensão sobre o objeto estudado. Para
Souza, Silva e Carvalho (2010), este tipo de técnica combina dados da literatura
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 122

teórica e empírica, possibilitando a análise de múltiplos propósitos: definição de


conceitos, revisão de teorias e análise de problemas metodológicos de um tópico em
particular (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).

Quadro 6.1 – Protocolo da Revisão Sistemática de Literatura (RLS) utilizado para mapear a
produção cientifica sobre métricas de inovação nas Universidades

Estratégia Descrição

Mapear a produção científica internacional recente sobre estudos que


Objetivo Geral
abordam as métricas de inovação no contexto das universidades.

Fontes de informação Base Scopus

Restrição temporal 2001 a 2020 (20 anos)

Tipo de documento Artigos de periódicos indexados

Títulos
Campos pesquisados Resumos
Palavras-chave
“university innovation” AND (“indicator” OR “metric” OR “index” OR
Descritores utilizados
“ranking”)

Inclusão:
- Artigos sobre indicadores e métricas de inovação para universidades;
- Artigos publicados em periódicos das 5 áreas de maior
ocorrência/afinidade com os estudos sobre indicadores de inovação em
universidades: Social Sciences; Business, Management and Accounting;
Computer Science; Economics, Econometrics and Finance e Engineering.
Critérios de inclusão e de
exclusão Exclusão:
- Artigos sobre indicadores de inovação que não contemplem o contexto
universitário;
- Artigos sobre inovação universitária que não contemplem aspectos
relacionados às métricas;
- Artigos sem propostas objetivas de indicadores para mensurar a
inovação em universidades.

Leitura dos títulos e resumos (abstract) dos textos recuperados nas


Procedimentos de seleção diferentes etapas, no intuito de verificar a pertinência do conteúdo ao
objetivo geral deste protocolo de RSL

Critério para leitura do artigo em sua íntegra: apenas os que apresentem


propostas efetivas de indicadores de inovação.

Identificação das categorias:


Procedimentos de análise 1) conceituação sobre inovação no âmbito universitário;
2) temática ou contribuição principal da pesquisa;
3) indicadores de inovação propostos para o contexto das universidades;
4) abordagem metodológica da pesquisa.

Fonte: Elaboração própria (2022)


INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 123

Botelho, Almeida Cunha e Macedo (2011), por sua vez, afirmam que essa
categoria de revisão sistemática se difere das bibliográficas narrativas, por “possuir
uma sequência de etapas pré-definidas, em que a metodologia é especificada com
técnicas padronizadas e passíveis de reprodução”. Trata-se, portanto, de uma
modalidade de pesquisa que segue protocolos específicos e que “(...) busca entender
e dar alguma logicidade a um grande corpus documental, especialmente verificando
o que funciona e o que não funciona num dado contexto” (GALVÃO; RICARTE, 2020,
p. 58).
O Quadro 6.1 sintetiza o protocolo de pesquisa da RSL aplicado nesse estudo,
o qual foi verificado pela ferramenta CASP Systematic Review Checklist (CRITICAL,
2018) que propõe uma lista de 10 questões para averiguação da qualidade no
processo de elaboração de uma revisão sistemática, de modo a refletir aspectos
sobre os resultados apresentados, a validade desses resultados e sua aplicabilidade.
A coleta de dados sistemática na base Scopus foi realizada entre os dias 15
e 16 de dezembro de 2021 por meio de uma busca avançada nos campos: título,
resumo e palavras-chave. A escolha pela Scopus deu-se pela representatividade
internacional que a base possui, sendo uma das fontes bibliográficas mais utilizadas
e a que mais indexa periódicos no mundo. Outras justificativas foram a simplicidade
de sua interface de busca, aliada às múltiplas possibilidades análise e de
importação/exportação de dados. Destaca-se, porém, que as bases de dados
internacionais não indexam uma parte importante da ciência, especialmente
publicada em língua não inglesa, sendo essa uma limitação assumida.
Em uma fase preliminar, teve-se o cuidado de verificar os termos mais comuns
utilizados pela literatura com o propósito de adequar os melhores descritores para
recuperação dos artigos mais aderentes ao objeto de pesquisa. Desse modo,
procedeu-se uma busca inicial na base Scopus com os termos “university
innovation”, “university indicator” e “university metric” a fim de identificar os vocábulos
secundários de maior ocorrência para que fosse elaborada uma estratégia de
recuperação mais assertiva. Em seguida, foram identificados e adicionados na busca
os termos “university index” e “university ranking”, todos com as suas respectivas
variações.
Adicionalmente, foram limitados os artigos publicados apenas nos periódicos
das 5 (cinco) áreas de maior ocorrência e/ou afinidade com os estudos sobre
indicadores de inovação em universidades: Social Sciences (368 artigos); Business,
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 124

Management and Accounting (212); Computer Science (104); Economics,


Econometrics and Finance (103) e Engineering (103). Sabe-se que outras áreas
podem ter publicações sobre o tema, entretanto, essa foi uma opção metodológica
do estudo, que resulta em algumas limitações e um viés da publicação intencional
nestas áreas. É importante esclarecer que os quantitativos de cada uma dessas
áreas apresentam dupla contagem, pois um mesmo artigo pode ter sido classificado
(e, por consequência, recuperado) em duas ou mais delas.
O Quadro 6.2 apresenta a sintaxe da estratégia de busca final, que teve como
recorte de pesquisa os artigos científicos com restrição temporal às últimas duas
décadas (2001 a 2020), considerando-se todos os idiomas.

Quadro 6.2 – Expressão de busca utilizada para a recuperação de artigos sobre métricas de
inovação em Universidades na base Scopus

TITLE-ABS-KEY (“university innovation” AND (indicator$ OR metric$ OR ranking$ OR index$))


AND PUBYEAR > 2000 AND PUBYEAR < 2021 AND (LIMIT-TO (PUBSTAGE,"final")) AND
(LIMIT-TO (DOCTYPE,"ar" )) AND (LIMIT-TO (SUBJAREA,"SOCI") OR LIMIT-TO
(SUBJAREA,"BUSI" ) OR LIMIT-TO (SUBJAREA,"COMP") OR LIMIT-TO ( SUBJAREA,"ECON")
OR LIMIT-TO (SUBJAREA,"ENGI"))
Fonte: Elaboração própria (2021).

Foram recuperados um total de 620 documentos, cujos dados (autor, título,


nome do periódico, resumo, palavras-chave, ano de publicação, contagem de
citações e idioma) foram exportados para o formato de arquivo .csv, compatível com
planilhas eletrônicas do tipo Excel. O intuito dessa etapa foi verificar e eliminar
possíveis duplicações e/ou ambiguidades nos registros, além de realizar uma
padronização das palavras-chave com o auxílio da ferramenta OpenRefine (v 3.5.2),
a qual facilitou a contagem e o ranqueamento desses termos por frequência (Tabela
1). Ao final desse procedimento, chegou-se a um conjunto de 587 artigos, os quais
foram utilizados para a análise bibliométrica quantitativa da literatura.
Para a análise qualitativa, no entanto, foram realizados procedimentos
adicionais para a seleção de um determinado conjunto de artigos, tendo como critério
de inclusão apenas os trabalhos que pudessem contribuir mais fortemente com a
temática e que apresentassem propostas objetivas de indicadores e métricas para
mensurar a inovação em universidades.
Após a aplicação dos filtros de exclusão, restaram apenas 14 artigos (Quadro
6.3), dos quais foram levantadas e sistematizadas as seguintes categorias de
análise: 1) conceitos sobre inovação no âmbito universitário; 2) temática ou
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 125

contribuição principal da pesquisa; 3) indicadores de inovação propostos para o


contexto das universidades; 4) abordagem metodológica da pesquisa.
A primeira evidência observada é a ausência de preocupação com a
formalização de conceitos sobre “inovação universitária” na maioria dos artigos. No
entanto, uma contribuição para a definição de inovação no contexto acadêmico pode
ser encontrada no trabalho de Zhao e Chen (2012), que argumentam se tratar do
conjunto de “habilidades abrangentes demonstradas pelas universidades em
atividades de pesquisa, com ênfase nas pessoas envolvidas na criação de
conhecimento, pesquisa e tecnologia derivadas de diferentes atividades” (ZHAO;
CHEN, 2012).
Os indicadores propostos contemplam algumas dimensões da inovação
percebida no ambiente universitário, conforme a visão dos autores, sendo as mais
recorrentes os trabalhos que tratam do relacionamento entre universidade e
indústrias/empresas (KANG; MOTOHASHI, 2020; POPODKO; NAGAEVA, 2019;
WALSHOK; SHAPIRO, 2014; RAMOS-VIELBA et al., 2010), seguido pelos artigos
que abordam os indicadores de desempenho em atividades de pesquisa e inovação
(PERIS-ORTIZ, GARCIA-HURTADO, DEVECE, 2019; LUQUE-MARTÍNEZ; DEL
BARIO-GARCÍA, 2016).
Outros temas de interesse cobertos pela amostra incluiram rankings
universitários, fontes de financiamento, além de estudos sobre a percepção e
capacidade de inovação no contexto universitário. Todavia, merece destaque o
trabalho de Paniza Prados, Puetas Canãveral e Molina Moraes (2019), que discute
a eficiência no processo de ensino e aprendizagem por meio de indicadores não
convencionais que visam medir a “personalidade” dos alunos e fatores grupais
relacionados com a instituição, tais como: “sentido de pertencimento e
reconhecimento institucional”; “competência e assertividade”; “inteligência emocional
(empatia)”, entre outros. O desafio é: como definir e medir essas variáveis?
Por outro lado, os indicadores tradicionais, como “dispêndio com P&D”, tem
sido os mais utilizados para avaliação do desempenho da universidade na
contribuição ao desenvolvimento de sua região, conforme o trabalho de Tijssen e
Winnink (2018), ou mesmo quando a finalidade da pesquisa é produzir um sistema
de medidas para avaliar a performance dos processos de ciência, tecnologia e
inovação no âmbito das universidades, como propõe o artigo de Amador et al.
(2018).
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 126

Quadro 6.3 – Amostra de 14 artigos com expressivas contribuições sobre métricas de inovação em universidades
Ano Artigo/Autores Temáticas Indicadores propostos Abordagem metodológica
- Relação
Os autores propõem 2 indicadores para medir o impacto das fontes de Pesquisa na base de dados IIP de patentes japonesa para
Academic contribution universidade-
financiamento de pesquisa acadêmica no âmbito da competitividade e identificar “invenções progenitoras” registradas pelas
to industrial innovation indústria
2020 da indústria japonesa: universidades do país. O propósito foi averiguar a
by funding type
- criação de invenções progenitoras; contribuição acadêmica para a inovação industrial por meio
(KANG; MOTOHASHI) - Fontes de
- grau de difusão. do tipo de financiamento (indústria ou competitividade).
financiamento
Compilação de indicadores para avaliação dos atores envolvidos no
- Relação modelo da “hélice tríplice”. Os indicadores propostos para as
“Triple helix” model for universidade- universidades são:
Pesquisa bibliográfica. Autores fazem uma compilação da
recourse-based regions indústria - n.º de organizações realizando P&D;
2019 literatura para propor indicadores de avaliação da interação
(POPODKO; NAGAEVA) - custos internos de pesquisa e desenvolvimento por fontes de
entre os atores do modelo da “hélice tríplice”.
- Indicadores da financiamento;
Hélice Tríplice - n.º de patentes recebidas para invenções e modelos de utilidade;
- n.º de tecnologias de produção avançada desenvolvida.
Influence of the balanced
scorecard on the science
- Indicadores de Principais indicadores comuns nas universidades observadas:
and innovation Pesquisa bibliográfica e documental. O artigo faz uma
desempenho - n.º de projetos de pesquisa;
2019 performance of Latin revisão dos indicadores de pesquisa e inovação mais
em atividades - n.º de publicações científicas;
American universities utilizados por 6 universidades latino-americanas.
de pesquisa - receita financeira obtida com a comercialização da produção científica
(PERIS-ORTIZ; GARCIA-
HURTADO; DEVECE)
78 indicadores que medem a “personalidade” dos alunos e fatores
grupais relacionados a instituição, agrupados em 10 dimensões:
a) sentido de pertencimento e reconhecimento institucional;
Propõe a construção de um modelo de indicadores para
University coaching: b) autoeficácia e resolução de problemas;
medir a eficiência de um processo de ensino (coaching)
Proposal of a measuring - Métricas para c) conduta pro-social e coesão grupal;
promovido pela Universidade de Granada (Espanha). Para
indicator system avaliação do d) consciência de contribuição a universidade;
2019 isso, os autores utilizaram o método ex-post-facto para
(PANIZA PRADOS; processo de e) abertura a experiência e capacidade de antecipação;
investigar possíveis relações de causa e efeito após a
PUERTAS CANÃVERAL; ensino f) interação social;
introdução de estímulos em um grupo experimental de
MOLINA MORALES) g) motivação intrínseca;
coaching.
h) competência e assertividade;
i) inteligência emocional (empatia);
j) tomada de decisões.
- Produto Interno Bruto per capita
- despesa bruta em P&D;
Capturing ‘R&D - despesas em negócios em P&D;
excellence’: indicators, - gastos em educação superior em P&D; Pesquisa quantitativa empírica realizada a partir da
- Indicadores de
international statistics, - gastos com P&D no ensino superior financiados pelo setor empresarial; contagem de frequência de referências da literatura
2018 P&D nas
and innovative - publicações em coautoria de universidades-indústria / total da (citações) de patentes para publicações de pesquisa
universidades
universities produção científica; durante 15 anos.
(TIJSSEN; WINNINK) - publicações em coautoria de universidades-indústria / total da
produção científica envolvendo uma empresa comercial como parceiro
de pesquisa.
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 127
Ano Artigo/Autores Temáticas Indicadores propostos Abordagem metodológica
Utiliza a abordagem de análise de decisão de múltiplos
Composite innovation critérios (MCDA) combinada com os métodos AHP (Analytic
metrics: MCDA and the Hierarchy Process) e TOPSIS (Technique for Order
Quadruple Innovation - Métricas de São propostos 25 indicadores, apresentados com seus respectivos pesos, Preference by Similarity to Ideal Solution) para estimar os
2018 Helix framework inovação de acordo com o grau de relevância para os atores do modelo da diferentes pesos de indicadores de inovação e construção
(CARAYANNIS; compostas Quadrupla Hélice: universidade, governo, indústria e sociedade civil. de classificações nacionais e regionais, tendo como base
GOLETSIS; dois “placares de inovação” amplamente utilizados: EIS
GRIGOROUDIS) (European Innovation Scoreboard) e o RIS (Regional
Innovation Scoreboard)
Indicator system for
managing science, São propostos 68 indicadores agrupados em seis dimensões (variáveis):
technology and a) caracterização dos pesquisadores;
Pesquisa empírica quantitativa baseada em survey. Propõe
innovation in - Indicadores b) produção científica e tecnológica;
o desenho de um sistema de indicadores para medir o
2018 universities de CT&I nas c) trajetória acadêmica e de pesquisa;
desempenho dos processos de ciência, tecnologia e
(RIVERO AMADOR; DÍAZ universidades d) dinâmica e colaboração científica;
inovação no âmbito das universidades.
PÉREZ; LÓPEZ- e) visibilidade territorial;
HUERTAS; JAVIER f) visibilidade internacional.
RODRÍGUEZ)
What drives university
research performance? Análise quantitativa dos fatores relacionados ao
- n.º de publicações altamente citadas
An analysis using the desempenho da pesquisa acadêmica, influenciado por
- Rankings (excelência da pesquisa);
2017 CWTS Leiden Ranking variáveis estruturais como tamanho, orientação disciplinar e
universitários - n.º de publicações em coautoria internacional (internacionalização);
data localização no país. Utiliza como base empírica o Leiden
- publicações em coautoria de universidades-indústria (inovação)
(FRENKEN; HEIMERIKS; Ranking.
HOEKMAN)
Atividades científicas:
- n.º total de citações;
- Métricas de - n.º total de publicações e colaborações nacionais e internacionais;
inovação - n.º de teses defendidas;
A metodologia adotada foi a análise fatorial exploratória
Constructing a synthetic compostas - n.º de bolsas conquistadas para formação em pesquisa;
(EFA) que reuniu indicadores absolutos e relativos,
indicator of research - n.º de contratos de pesquisa de pós-doutorado no âmbito nacional;
agrupadas em duas dimensões: indicadores de produção
2016 activity - Indicadores - n.º de projetos vencidos em competições.
científica e inovação. A Base empírica foi o IUNE
(LUQUE-MARTÍNEZ; DEL de Inovação:
Observatory, que reúne dados oficiais das universidades
BARIO-GARCÍA) desempenho - n.º de contratos de P&D;
espanholas.
em atividades - receita gerada pelo licenciamento;
de pesquisa - n.º de spin-offs criadas;
- n.º de projetos entregues com financiamento europeu;
- n.º de patentes nacionais e internacionais alcançadas.
Perception versus
- Diagnóstico Indicadores de “performance” de inovação: Pesquisa qualitativa utilizando-se como método principal a
performance indicators:
de inovação - eficiência e eficácia do processo de inovação; revisão sistemática de literatura. A partir dessa análise, os
a study of innovation
percebida - n.º de novos projetos, serviços ou produtos concluídos; autores propõem 5 medidas de desempenho de inovação
2016 performance in a
- fundo de pesquisa concedido; para organizações baseadas em pesquisa. Os indicadores
research university
- Inovação - n.º de parceiros (colaboradores) e cooperação; propostos visam a mensuração da “performance” de
(KOWANG, T.O.; LONG,
universitária - tempo de finalização de um projeto. inovação.
C.S.; RASLI, A.; FEI, G.C.)
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 128

Ano Artigo/Autores Temáticas Indicadores propostos Abordagem metodológica


Beyond tech transfer: a
São propostos 34 indicadores agrupados em 5 dimensões:
more comprehensive
a) cultura focada no empreendedorismo; Utiliza como método a pesquisa bibliográfica e documental
approach to measuring - Relação
b) suporte a comercialização; para propor um modelo abrangente que visa capturar uma
2014 the entrepreneurial universidade-
c) contribuições para o desenvolvimento de talentos; gama de atividades de inovação e empreendedorismo
university (WALSHOK, indústria
d) diversidade de relacionamentos com a indústria; dentro da universidade.
M.L.; SHAPIRO, J.D.)
e) atividades de transferência de tecnologia e saídas.
Indicadores de entrada (0,3):
- plataforma de inovação;
- talentos de inovação;
Por meio de uma pesquisa qualiquantitativa, propõe a
Innovation capability - programa de inovação.
- Capacidade construção de um sistema de indicadores (e os seus pesos)
evaluation and analysis Indicadores de saída (0,4):
de inovação para medir a “capacidade de inovação” de universidades por
2012 for Chinese universities - artigos de periódicos;
meio de um processo conhecido como “hierarquia analítica”.
in 2012 - patentes;
- Inovação O artigo utiliza o método de soma de pesos linear para
(ZHAO, R.; CHEN, B.) - estudantes de doutorado.
universitária calcular a pontuação através de um modelo matemático.
Indicadores de benefício da inovação (0,3):
- prêmios;
- citações de artigos de periódicos.
Os autores apresentam um resumo dos indicadores de “capital de
inovação” para medição de desempenho do capital intelectual nas
universidades taiwanesas com base na literatura. São eles:
- patentes;
- Capital A abordagem proposta baseia-se em um modelo modificado
Innovation capital - gastos com P&D;
intelectual de do método de apoio a decisão Analytic Hierarchy Process
indicator assessment of - n.º de novas ideias;
inovação nas (AHP), usado para determinar os pesos dos indicadores de
Taiwanese Universities: - n.º de novos produtos;
universidades “capital de inovação” por especialistas em educação. Em
2010 a hybrid fuzzy model - tempo de desenvolvimento de produto;
seguida, é aplicado o método VlseKriterijumska Optimizacija
application (WU, Hung- - desenvolvimento de novos mercados e clientes;
- Métricas de I Kompromisno Resenje (VIKOR) para classificação dos
Yi; CHEN, Jui-Kuei; - cultura inovativa;
inovação tipos de universidades com base no resultado dos pesos
CHEN, I-Shuo) - n.º de trabalhadores envolvidos com P&D;
compostas dos indicadores.
- taxa de pensamento inovativo;
- direitos autorais e marcas;
- receita obtida por patentes;
- conexão externa de tecnologia.
Measuring university-
industry collaboration in
- Relação Conjunto de 12 indicadores, agrupados em quatro grupos: Pesquisa empírica quantitativa baseada em survey. Os
a regional innovation
universidade- - atividades de P&D e trabalhos de consultoria; indicadores foram compilados a partir da revisão de
system (RAMOS-VIELBA,
indústria - treinamento e transferência de pessoal; literatura e testados por meio de survey realizado com 737
2010 I.; FERNÁNDEZ-
- comercialização relacionada a direitos de propriedade intelectual. firmas e 765 líderes de times de pesquisa da Andaluzia
ESQUINAS, M.;
- Transferência - outros tipos de contatos (relações informais ou outros tipos de (Espanha), em 2008.
ESPINOSA-DE-LOS-
de tecnologia colaboração).
MONTEROS, E.)

Fonte: Elaboração própria com dados da base Scopus (2001-2020).


INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 129
Assim, não surpreende o fato dos indicadores de P&D surgirem como os
mais recorrentes dentre as métricas observadas para avaliação da inovação nas
universidades. Foram mencionados 9 (nove) vezes em 5 (cinco) artigos distintos
da amostra (Quadro 6.3). Além dos gastos com atividades de pesquisa e
desenvolvimento, tais indicadores procuram apresentar um panorama sobre a
participação do setor produtivo no financiamento de atividades de pesquisa.
Indicadores bibliométricos sobre a “produção científica” ocuparam o
segundo lugar entre os mais mencionados pelos pesquisadores, com 8 (oito)
menções sobre os “números de publicações nacionais (ou em colaboração com
outras instituições internacionais)” e, ainda, “artigos publicados em coautoria
com o setor produtivo”. Tais métricas (de segunda geração) buscam medir o
resultado das parcerias na produção de inovações por meio da verificação de
citações, de preferência em periódicos com alto fator de impacto, conforme
sugere Mohamad-Ishak, Suhaida e Yuzainee (2019).
Já os “indicadores de patentes” ficaram em segundo plano, sendo
lembrados em apenas 5 (cinco) ocasiões em 4 (quatro) artigos distintos. Essa
constatação confirma a ressalva de alguns autores quanto a adoção desse tipo
de métrica para compreensão do processo de inovação como um todo,
sobretudo em um cenário complexo e dinâmico como o das universidades.
Outros estudos apontam que os indicadores de desempenho em pesquisa
e inovação mais relevantes são “projetos de pesquisa”, “porcentagem de
participação em pesquisa” e “produção de pesquisa”, conforme registra o
trabalho de Mohamad-Ishak, Suhaida e Yuzainee (2019), que investigou os
indicadores de instituições de ensino superior privadas na Malásia.
A análise desta amostragem da literatura sobre indicadores da inovação
universitária possibilitou observar a diversidade das abordagens metodológicas
adotadas para a construção dos indicadores propostos. A maioria dos trabalhos
esteve ancorado em pesquisas bibliográficas ou em técnicas quantitativas
usuais, como survey, análise de frequência e contagem de rankings; porém,
outras ferramentas também foram verificadas, como a adaptação do Balance
Scorecard – tradicionalmente utilizado no planejamento estratégico das
organizações – como instrumento de avaliação de performance para a gestão
universitária (PERIS-ORTIZ; GARCIA-HURTADO; DEVECE, 2019).
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 130
Chama a atenção a aplicação de métodos estatísticos normalmente
utilizadas nas pesquisas em Psicologia para estimar os diferentes pesos dados
aos indicadores, tais como: MCDA (Análise de Decisão com Múltiplos Critérios),
EFA (Análise Fatorial Exploratória) e AHP (Analytic Hierarchy Process). Foram
3 (três) os trabalhos que apresentaram tais possibilidades metodológicas para a
construção de indicadores compostos de inovação por meio dessas técnicas,
que consideram uma visão sistêmica do processo de inovação e, assim sendo,
possibilitam auxiliar os gestores na tomada de decisões complexas
(CARAYANNIS; GOLETSIS; GRIGOROUDIS, 2018; LUQUE-MARTÍNEZ; DEL
BARRIO-GARCÍA, 2016; WU; CHEN; CHEN, 2010).
Independentemente do método empregado, faz-se necessárias algumas
considerações anteriores à construção do sistema de medição. Nesse aspecto,
é válida a contribuição de Molina-Molina et al. (2020) ao trazerem questões
orientadoras inerentes a esse processo de levantamento de requisitos para o
estabelecimento de um sistema de avaliação das atividades de CT&I em
instituições de pesquisa, em particular as universidades (Quadro 6.4).

Quadro 6.4 – Questões orientadoras para estabelecimento de um sistema de métricas de


CT&I para universidades

Questão norteadora Definição

Por que medir? Controlar o desempenho do sistema

Quem deve medir? Processo de avaliação da pesquisa

Para quem medir? Partes interessadas chave do sistema

Para quê medir? Bases para uma avaliação final comparada do sistema

Indicadores quali-quantitativos, de acordo com critérios


Com o que medir?
estabelecidos

Como medir? Aplicações informatizadas e protocolos de medição institucionais

Quando medir? Periodicidade definida pelas partes interessadas

O quê medir? Capitais de conhecimento versos etapas de gestão de pesquisa

Áreas institucionais, áreas de conhecimento, unidades acadêmicas,


Onde medir?
grupos de pesquisa, etc.

Fonte: Molina-Molina et al. (2020, p. 7)


De acordo com os autores, a resposta a essas perguntas propicia precisar
a necessidade, o alcance e o enfoque do sistema, tornando-o sólido. Além do
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 131
aprendizado obtido através dos artigos identificados anteriormente, merece
consideração a proposta de Gonçalves (2017) apresentada à Universidade do
Porto (Portugal) por meio de sua dissertação de mestrado, que propõee um
modelo de indicadores de inovação para próprio para essa instituição.
Tal modelo baseou-se na literatura sobre o tema, na análise da estrutura
de vários modelos de referência (como o GII) e no mapeamento de indicadores
já existentes utilizados pela universidade com a validação por parte dos
principais stakeholders, como a Pró-Reitoria para Inovação e
Empreendedorismo.
Seguindo a premissa da construção de um sistema dinâmico facilmente
adaptável, Gonçalves (2017) informa que o modelo deverá fornecer informações
que retrate, de alguma forma, o estado de todas as principais áreas e processos
de CT&I e empreendedorismo da Universidade do Porto. A estrutura final do
modelo apresenta 5 (cinco) pilares principais (Recursos; Transferência do
Conhecimento; Capacitação e Empreendedorismo; Resultados e Impactos;
Propriedade Intelectual), os quais encontram-se divididos em 13 áreas,
perfazendo um total de 42 indicadores (GONÇALVES, 2017, p. 72-73).
A importância das métricas de inovação para as universidades também
foi evidenciada em um estudo conduzido pela Comissão de Cultura e Educação
do Parlamento Europeu, em 2015, em que é abordado o papel dos indicadores
de controle de qualidade das universidades que apoiam à inovação (WÄCHTER;
KELO, 2015). De acordo com os responsáveis pelo estudo, “a garantia de
qualidade deve responder à mudança do cenário do ensino superior para não se
tornar um obstáculo à inovação e à modernização”.

6.1 Mensuração da Inovação nos Rankings Universitários


Outra maneira de se enxergar o potencial inovativo de uma universidade
é por meio dos rankings acadêmicos, que vem ganhando força em todo mundo
nas últimas duas décadas. Estes índices têm sido utilizados como elemento de
reputação para as instituições de ensino, principalmente para atender às
demandas de internacionalização da educação (PAGELL, 2009, p.34).
Acredita-se que a análise contínua das metodologias de cada ranking
facilite o reconhecimento externo da instituição avaliada. Em vista disso, muitas
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 132
universidades de países desenvolvidos têm investido em infraestruturas
específicas para essa finalidade.
De acordo com Marcovitch (2018),
[...] sabe-se que 60% das universidades europeias de ensino superior
e pesquisa científica mantêm equipes dedicadas, em termo integral, a
essa questão vital na governança acadêmica. Cerca de 80% dos
integrantes desses núcleos respondem diretamente às reitorias.
(MARCOVITCH, 2018, p. 15)
Na mesma linha, verifica-se que algumas publicações internacionais
voltaram seu olhar para a análise desse fenômeno, sendo que diferentes autores
tratam dos efeitos dos rankings universitários principalmente em três campos: i)
na tomada de decisão dos alunos sobre a escolha da universidade, ii) nas
políticas públicas de distribuição dos recursos para o ensino superior e,
consequentemente, iii) na gestão das próprias universidades.
Em 2013, por exemplo, a Unesco editou o documento “Rankings and
accountability in higher education: uses e misuses” (MAROPE; WELLS;
HAZELKORN, 2013), reunindo vários estudos acerca do tema desde análises
sobre as diferentes metodologias utilizadas pelos rankings a relatos de
aplicações e perspectivas de utilização desse instrumento nos diversos países.
De acordo com Erkkilä e Piironen (2018), as instituições que
tradicionalmente são responsáveis pela produção e gestão do conhecimento
agora são avaliadas globalmente por vários outros indicadores que medem o
desempenho das IES: o ambiente de inovação de um país e o papel do
conhecimento na sua economia. Desse modo, constata-se que as políticas de
ensino superior e de inovação se tornaram aspectos centrais da competitividade
e, consequentemente, os rankings acadêmicos tem sido utilizados como uma
ligação entre as medidas globais e regionais de competitividade e inovação
(ERKKILÄ; PIIRONEN, 2018, p.3).
Pagell (2009) afirma que as classificações e indicadores são elementos
importantes de governança do conhecimento uma vez que as políticas de ensino
superior, bem como as de inovação, tem se tornado aspectos centrais da
competitividade econômica mundial e, progressivamente, vem sendo
mensuradas através de ranking globais, como o Global Innovation Index (GII),
que, a partir da edição de 2007, passou a avaliar as capacidades de inovação
das nações, cobrindo também pesquisa, educação e conhecimento. O
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 133
entendimento é de que a indústria precisa de informações para alocar os
investimentos em pesquisa e inovação universitária.
Em levantamento realizado para seu livro sobre governança de rankings,
Erkkilä e Piironen (2018), contabilizaram 12 iniciativas internacionais produzidos
e atualizadas por órgãos governamentais, instituições acadêmicas, consultorias,
revistas e jornais eminentes. Entretanto, nenhuma delas parece fornecer uma
visão abrangente dos pontos fortes das instituições porque todas elas
selecionam uma variedade de características facilmente quantificáveis para
basear seus resultados, tornando-se um campo de pesquisa de interesse para a
cientometria (ERKKILÄ; PIIRONEN, 2018).
Conforme Almeida e Maricato (2021), alguns projetos, porém, adicionam
variáveis qualitativas à sua matriz de avaliação, tais como “prestígio” e
“reputação”. Esses indicadores são obtidos por meio de pesquisas de opinião
aplicadas a grupos distintos, de acadêmicos e empregadores, visando obter
pontos de vistas complementares. Tal metodologia é utilizada, por exemplo, pelo
Times Higher Education World University Rankings, ou simplesmente Ranking
THE das universidades, considerado de grande reputação no cenário
internacional (ALMEIDA; MARICATO, 2021).
Entre as diversas métricas do THE World University Rankings, são
contabilizadas 5 (cinco) áreas e 13 (treze) indicadores10, que são utilizados na
composição final de sua média. Desses, apenas 1 (um) é destinado ao aspecto
da inovação: “industry incoming (knowledge transfer)”, com peso 2,5%. Segundo
a metodologia do ranking, a capacidade de uma universidade em auxiliar a
indústria com inovações, consultoria ou colaboração é considerada uma missão
importante da academia em todo mundo. Essa categoria de indicador único

10 Os 13 indicadores do ranking THE – Times Higher Education World University Rankings –


estão agrupados em 5 áreas, balanceados nas proporções indicadas: 1) Ensino (ambiente de
aprendizagem) – reputação da instituição, proporção de funcionários/alunos, proporção de
doutorado/bacharelado, proporção de doutorado/funcionários e renda institucional (30%); 2)
Pesquisa (volume, receita recebida da indústria e reputação) – pesquisa de reputação, renda de
pesquisa e produtividade de pesquisa (30%); 3) Citações (influência da pesquisa) (30%); 4)
Internacionalização (funcionários, alunos e pesquisa) – proporção de estudantes internacionais,
proporção de funcionários internacionais e colaboração internacional (7,5%); 5) Entrada da
Indústria (transferência de conhecimento) (2,5%).
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 134
busca demonstrar a capacidade de uma universidade de transferir conhecimento
e atrair financiamentos.
É válido mencionar que, a partir de 2020, a Times Higher Education criou
um ranking com uma nova metodologia que passou a considerar, como
indicadores, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das
Nações Unidas, formando o chamado THE Impact Ranking11, cujo intuito é aferir
as IES em relação ao seu comprometimento e ações relativas aos princípios
estabelecidos pelos ODS. As ações e políticas institucionais são comprovadas
por meio de evidências através de indicadores calibrados para fornecerem
comparações abrangentes em três grandes áreas: pesquisa, extensão e
administração (gestão).
Em sua quarta edição (2022), 1.406 universidades de 106 países
encaminharam seus dados para a avaliação. O Brasil aparece com 48
universidades, com destaque para a USP, Unicamp, UnB e Unesp ocupando,
respectivamente, as primeiras posições na classificação nacional no THE Impact
Ranking.
De acordo com a metodologia empregada, a pontuação final de uma
universidade na tabela geral é calculada a partir da combinação de sua
pontuação no ODS 17 (Parcerias e meios de implementação, que visa reforçar
os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o
desenvolvimento sustentável) com outras três pontuações de ODS escolhidos
(entre os 16 restantes) pela própria instituição. O ODS 17 representa 22% da
pontuação geral, enquanto os outros ODS tem peso 26%. Isso significa que, a
depender de sua vocação, universidades diferentes são classificadas com base
em um conjunto distinto de ODS. Dado o seu caráter de transversal a inovação
perpassa todos os ODS.
Sem pretensão de exaustividade, o Quadro 6.5 atualiza o levantamento
realizado por Vernon, Balas e Momani (2018) de alguns rankings universitários,
a partir de 2003, quando teve início a primeira iniciativa nessa direção: o

11 THE Impact Ranking 2022:


https://www.timeshighereducation.com/rankings/impact/2022/overall
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 135
Academic Ranking of World Universities (ARWU), também conhecido como
Ranking de Shangai.

Quadro 6.5 – Principais rankings acadêmicos internacionais

Nome Responsável Desde Indicadores

Hanseatic League of Universities


World's Universities with Real Impact
(HLU) 2020 6 categorias
(WURI)
(Consórcio internacional)

European Union and Advisory


U-Multirank 2014 12
Board

U.S. News & World Report


QS World University Rankings 2013 6
(EUA)

Center for World University


Center for World University Ranking
Rankings 2012 8
(CWUR)
(Emirados Árabes)

The UI GreenMetric World University Universitas Indonesia


2010 6 categorias
Ranking (Indonésia)

The Sustainability Tracking, Assessment Advancing Sustainability in Higher


17 áreas de
& Rating System Education (AASHE) 2010
impacto
(STARS) (Consórcio internacional)

University Ranking by Academic


Middle East Technical University
Performance 2010 6
(Turquia)
(URAP)

RUR Ranking Agency


Round University Ranking (RUR) 2010 20
(Rússia)

SCImago Institutions Rankings World SCImago Lab.


2009 12
Report (SCImago) (Espanha)

CWTS / Leiden University


Leiden Ranking 2008 9 categorias
(Holanda)

The Times Higher Education World TES Global Ltd.


2004 13
University Rankings (THE) (Inglaterra)

Academic Ranking of World Universities Shanghai Ranking Consultancy


2003 6
(Ranking de Shangai) (China)

Fonte: Elaboração própria. Adaptado de Vernon, Balas e Momani (2018)

Posteriormente, os autores realizaram uma revisão sistemática da


literatura sobre os rankings para investigar suas medidas de desempenho e
qualidade acadêmica. Uma das conclusões do estudo foi a de que tais sistemas
raramente incorporam a promoção da cultura de inovação através de patentes
ou divulgações de propriedade intelectual. Uma vez aumentando o produto de
pesquisa (publicação/patente), pode-se facilmente incrementar os índices sem,
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 136
contudo, perceber um acréscimo de contribuição à ciência (VERNON; BALAS;
MOMANI, 2018).
Em universidades de elite dos Estados Unidos e da Europa, é comum que
escritórios ligados às reitorias acompanhem diferentes listagens, bem como a
evolução das universidades “concorrentes”. No Brasil, há algo nesse sentido: a
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por exemplo,
institucionalizou recentemente o processo de acompanhamento de indicadores
como parte da sua gestão. A universidade tem um grupo de trabalho vinculado
à reitoria voltado a diferentes rankings universitários e sua evolução para ajudar
no processo de tomada de decisões sobre a administração da universidade
(BEUREN, 2014).
É fato que o debate em torno da elaboração dos rankings universitários
vem despertando interesse dos gestores, mas também enfrenta a oposição
daqueles que contestam a pertinência e a acurácia desses sistemas. Questiona-
se, por exemplo, o caráter homogeinizador dos rankings e sua busca por um
modelo único de universidade, pelo predomínio do idioma Inglês, além do
reducionismo associado à avaliação da qualidade da instituição como um todo,
com base no desempenho em uma das funções acadêmicas, geralmente a
pesquisa (FEDERKEIL, 2008; FLORIAN, 2007).
Especialistas também acreditam que, apesar de serem frequentemente
úteis para fins de marketing, essas ferramentas não são plenamente confiáveis
quanto à qualidade de seus dados e os resultados apresentados. Além disso,
praticamente não se avaliam os processos de aprendizagem e seus resultados,
deixando de fora um conjunto diversificado de públicos que poderiam utilizar
essas informações, como os próprios estudantes (GOGLIO, 2016, p. 218).
Mais recentemente, o desempenho das universidades passou a ser
acompanhado por meio de uma perspectiva multidimensional das atividades
acadêmicas, possibilitando maior transparência nos dados e facilitando a
utilização dos rankings por parte de estudantes de graduação, além dos
formuladores de políticas e pesquisadores, público habitual dos rankings
tradicionais.
Diferentemente dos demais rankings de universidades, o comportamento
das instituições não é apresentado em formato de tabelas. São exemplos dessa
abordagem o Ranking de Leiden, desenvolvido pelo CWTS – Centre for Science
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 137
and Technology Studies, da Universidade de Leiden (Holanda) e o European
Multidimensional University Ranking System, apelidado de U-Multirank (UMR).
De acordo com a abordagem multidimensional, o UMR visa apresentar os
desempenhos institucionais mostrando pontes fortes e fracos de cada uma,
identificando perfis específicos, sem definir as melhores e piores. A metodologia
permite fazer comparações de universidades com perfis distintos, em que os
próprios usuários especificam o tipo de instituições que desejam confrontar, em
termos das atividades por elas desenvolvidas. Isso possibilita que as
comparações institucionais sejam “de igual para igual", sendo possível decidir
quais áreas de atuação desejam incluir na comparação do grupo selecionado de
universidades.
As informações utilizadas para a elaboração do U-Multirank são
provenientes de várias fontes: dados coletados por meio de questionários
preenchidos pelas universidades; análises bibliométricas da produção científica
internacional a partir da base Web of Science (WoS); bases de dados de
patentes: Europeean Patent Office (EPO), Worldwide Patent Statistical Database
(PATSTAT) e United States Patent and Trademark Office (USPTO); além de
pesquisas com mais de 100 mil estudantes (500 por área) das universidades
participantes.
A ferramenta foi produzida e implementada, em 2014, por inciativa da
Comissão Europeia por um consórcio formado pelo Centre for Higher Education
(CHE, Alemanha) e a Fundação para o Conhecimento e Desenvolvimento
(Fundación CYD, Espanha), além de duas instituições holandesas: Center for
Higher Education Policy Studies (CHEPS), da Universidade de Twente, e o
CWTS, da Universidade de Leiden.
A partir de 2019, a Capes iniciou uma discussão sobre o aprimoramento
do sistema de avaliação dos programas de Pós-Graduação, considerando a
utilização do UMR como a alternativa frente às mudanças propostas para a
sistemática pretendida, haja vista que, diferentemente de outros rankings
internacionais apontados como ferramentas centradas nas grandes
universidades e nas “hard sciences”, o U-Multirank teria a capacidade de revelar
as potencialidades de cada instituição de ensino superior, abrangendo diferentes
áreas do conhecimento, inclusive as “soft sciences” (CAPES, 2019).
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 138
Apesar desse movimento recente, a primeira iniciativa de classificar as
instituições de ensino no Brasil data de 1982, com a publicação do chamado
ranking “Melhores Universidades” pela revista Playboy, alcançando destaque na
época devido à ausência de estudos privados e estatais nessa linha. Em
seguida, a publicação Guia do Estudante, que teve sua primeira edição publicada
em 1984, passou a premiar as “melhores universidades” a partir de 1988
(CALDERÓN; LOURENÇO, 2017, p.95). Somente em 1996 surge o primeiro
projeto de ranqueamento dos cursos oferecidos por instituições de educação
superior a partir do chamado “Provão”, instrumento de avaliação do Ministério da
Educação no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em 14 de abril de 2004, a Lei nº 10.861 institui o Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Superior (SINAES), com o objetivo inicial de avaliar as
instituições para conhecer o perfil e a atuação de cada uma, sem estabelecer
uma classificação (BRASIL, 2004). Esta finalidade é alterada em 2008 com a
inclusão do Índice Geral de Cursos (IGC) e do Conceito Preliminar de Curso
(CPC), que possibilita uma classificação típica dos rankings privados conhecidos
até então. Da mesma forma, em 2012, o Ranking Universitário Folha (RUF)12
começou a avaliar as instituições brasileiras, agregando dados de todas as 197
universidades do país (públicas e privadas), sendo utilizado ainda hoje como
referência para classificação de uma universidade como sendo “inovadora”.
Entretanto, existem fragilidades metodológicas nesse ranking quanto à
medição da inovação na universidade. Primeiro, o peso baixo (4%) atribuído à
dimensão “inovação” é calculado com base em apenas dois componentes:
“patentes”: número de patentes pedidas pela universidade em 10 anos, segundo
o INPI; e “parceria com empresas”: quantidade de estudos publicados pela
universidade em parceria com o setor produtivo, segundo a Web of Science.
Em relação ao uso do indicador “patente”, o RUF não leva em conta as
depositadas em outros países, através de organismos internacionais, bom como
outros tipos de propriedade industrial a exemplo de marcas, softwares, desenhos
industriais, localizações geográficas e proteção de cultivares. Outro problema

12 https://ruf.folha.uol.com.br
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 139
apontado por Andrade (2016) é o fato deste ranking não considerar a
transferência de tecnologia como indicador; portanto, ele trata da capacidade de
invenção da instituição e não da inovação, que se dá através da introdução de
novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social.
Outra iniciativa nacional relevante é o Ranking das Universidades
Empreendedoras (RUE), promovido desde 2016 pela Confederação Brasileira
de Empresas Juniores (Brasil Júnior) a partir da percepção dos discentes,
informações autodeclaradas das universidades e outras fontes de dados
complementares. A quarta edição do estudo (2021) analisou as respostas de 24
mil estudantes universitários de 126 instituições de ensino (públicas e privadas)
de todas as unidades da federação. O RUE enumera as universidades mais
empreendedoras do país a partir de seis critérios de avaliação (dimensões):
Cultura Empreendedora, Inovação, Extensão, Infraestrutura, Internacionalização
e Capital Financeiro. O levantamento se propõe a compreender quais práticas
incentivam a inovação nessas instituições.
A importância desse ranking pode ser notada após a divulgação dos
resultados da edição de 2019, quando a Secretaria de Educação Superior do
Ministério da Educação resolveu destinar R$ 7 milhões para as universidades
federais mais bem ranqueadas. O objetivo do investimento, segundo a pasta, foi
apoiar as “Políticas de Empreendedorismo e Inovação” das instituições, de
acordo com suas ações estratégicas.
Segundo a sua metodologia13, o componente de inovação de uma
universidade é compreendido a partir do grau de desenvolvimento de tecnologia,
aferida por meio das patentes solicitadas, e de conhecimento (pesquisa) nas
instituições. Entretanto, diferentemente do Ranking Universitário Folha, a fonte
de coleta dos dados sobre patentes é a base internacional da World Intellectual
Property Organization (WIPO). Já o grau de parceria com as empresas
(Proximidade IES-Empresa) é medido por meio da média de três subindicadores,

13 https://universidadesempreendedoras.org/metodologia/
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 140
sendo que o primeiro (“empresas incubadas”) possui peso 6 e os demais
(“resultado das ICT” e “situação do NIT”) com peso 2, cada.
Interessante notar que a relação universidade-empresa é compreendida
pelos dois rankings de forma bem distinta e até curiosa: enquanto a iniciativa
privada (Folha) mede pelo viés acadêmico (quantidade de publicações
produzidas pelas IES juntamente com o setor produtivo), o ranking das empresas
juniores (sociedade) quantifica os termos de cooperação (acordos) firmados
junto ao setor produtivo.

Quadro 6.6 – Indicadores da “dimensão inovação” do Ranking Universitário Folha (RUF)


e Ranking de Universidades Empreendedoras

Ranking Indicador Subindicador Definição Fonte

– Nº de patentes requeridas pela


INPI
Patentes
universidade nos últimos 10 anos.
RUF
(Folha de S.
Paulo) Nº de estudos publicados pela
Parceria com – Web of
universidade em parceria com o setor
empresas Science
produtivo nos últimos 5 anos

Web of
Citações Nº de citações por artigo
Science/InCites
Pesquisa
Volume de produção científica para cada –
Produção
1.000 alunos na IES

– Nº patentes depositadas pela


Patentes WIPO
universidade em um período de 10 anos

Empresas Nº de empresas incubadas para cada


Própria IES
incubadas 1.000 alunos na IES.
Ranking
Universidades
Empreendedoras Nº de acordos de parcerias realizadas
Resultado das entre as instituições e ICT para cada
1.000 alunos, recebendo um fator Própria IES
ICT
Proximidade multiplicador que seja proporcional ao
IES-Empresa valor total dos acordos (em R$).

Analisa a situação de implementação


(ou não) do Núcleo de Informação
Tecnológica (NIT) na IES, atribuindo 10 Própria IES
Situação do NIT
para as ICT que declararam a existência
do NIT e 5 para os que estão em
processo de implementação.

Fontes: Ranking Universitário Folha (RUF). Disponível em: https://ruf.folha.uol.com.br e


Ranking de Universidades Empreendedoras (Brasil Júnior) Edição 2021. Disponível em:
https://universidadesempreendedoras.org/ranking
O Quadro 6.6 reúne os indicadores da dimensão “inovação” das duas
inciativas. Comparando-se os indicadores e fonte de dados, é possível notar que
o Ranking das Universidades Empreendedoras possui uma metodologia mais
robusta para estimativa do grau de inovação de uma universidade. Ainda assim,
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 141
são utilizados majoritariamente os indicadores tradicionais de saída (segunda
geração) do processo de inovação: patentes e produção científica.

6.2 Propostas Nacionais de Métricas Aplicadas à Inovação Universitária


Além da revisão sistemática da literatura internacional, realizada através
da base Scopus e detalhada no início desse capítulo, procedeu-se uma pesquisa
bibliográfica, utilizando-se como fontes de informação o Google Acadêmico e a
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), no intuito de identificar
possíveis trabalhos sobre a temática estudada, em âmbito nacional. Utilizou-se
como parâmetros para recuperação as mesmas palavras-chave da busca na
base Scopus, porém no idioma português, ou seja, “inovação universitária”,
combinado com os termos “indicador” e “métrica”.
Um dos primeiros resultados que chamou a atenção nesse processo foi a
localização de um projeto de sistematização das métricas para a inovação
produzida nas universidades a partir de um trabalho, iniciado em 2015, pelo
Fórum Nacional de Pró-Reitores de Planejamento e Administração das
Instituições Federais de Ensino Superior (FORPLAD/IFES), organização
formada por representantes administrativos de 11 universidades federais. O
resultado do estudo do FORPLAD sobre métricas foi publicado em um
documento durante a 4ª reunião da entidade, realizada na cidade de Ouro Preto
(MG).
Registra-se que tal iniciativa é decorrente da Instrução Normativa nº
22/1996, do Tribunal de Contas da União (TCU), que determina a inclusão de
indicadores de gestão no relatório geral das IFES com vistas a aferição de
eficiência, eficácia e a economicidade da ação administrativa. Outro documento
determinante para a criação dos indicadores foi a Decisão nº 408/2002 (TCU)
que afirma o propósito de aprimorar a gestão e informa sobre auditorias
operacionais realizadas nos exercícios de 1999 e 2000 nas seguintes
instituições: UnB, UFAM, UFG, UFPE, UFRGS e UFRJ (FÓRUM..., 2015).
Na ocasião, o Grupo de Trabalho de Indicadores propôs 10 métricas
específicas para mensuração de inovação nas universidades (Quadro 6.7), as
quais fazem parte de um conjunto maior de indicadores, apresentados pelo GT,
a saber: Indicadores de Extensão, Indicadores de Gestão de Pessoas,
Indicadores de Graduação, Indicadores de Infraestrutura, Indicadores
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 142
Orçamentários, Indicadores de Pesquisa ou Pós-Graduação e Indicadores
Transversais.

Quadro 6.7 – Proposta de indicadores de inovação do FORPLAD/IFES14

Indicador Nível

Número de empresas de base tecnológica incubadas Operacional

Número de empresas de base tecnológica graduadas nos últimos dois anos Operacional

Número de proteções de conhecimento requeridas Tático

Número de pedidos de patentes depositados (INPI ou Instituições Internacionais) Tático

Número de patentes vigentes Tático

Número de Instituições de Ensino e de Pesquisa envolvidas em Parque Tecnológico Tático

Número de empresas participantes em Parque Tecnológico Operacional

Número de proteções transferidas para Empresas-Sociedade Operacional

Número de eventos e oficinas de P&D realizadas ou patrocinadas pela Instituição Operacional

Número de parcerias-convênios-termos de cooperação vigentes com foco em P&D Operacional

Fonte: GT Indicadores FORPLAD/IFES (2015)

No documento de 2015, o GT ressalva que os indicadores elencados não


tinham pretensão de cobrir todas as necessidades das IFES, mas que serviriam
de estímulo para que fossem ampliados, “incluindo todos os gestores
interessados em experimentar criticamente os indicadores e contribuir para
aperfeiçoá-los qualitativa e quantitativamente” (FÓRUM..., 2015).
Entretanto, Almeida e Maricato (2021) identificaram que, apenas dois
anos após a apresentação do trabalho, o mesmo GT publicou um novo
documento com o intuito de subsidiar o aperfeiçoamento dos indicadores
adotados no relatório de gestão das IFES, trazendo o resultado de uma análise
crítica sobre os indicadores elaborados em 2015.

14 De acordo com o relatório do FORPLAD, as métricas destacadas em negrito foram


consideradas pelo Grupo de Trabalho de Indicadores como sendo “os de maior interesse para
gestores para a sociedade em geral”. O documento, porém, não apresenta justificativa ou
critérios utilizados para tal afirmação.
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 143
Nessa ocasião, o grupo levou aos dirigentes uma proposta de criação de
novos indicadores de gestão, deixando de fora da recomendação os indicadores
de inovação (ALMEIDA; MARICATO, 2021). Segundo avaliação do próprio GT,
os motivos da exclusão das métricas de inovação, naquele momento, foram a
“heterogeneidade das IFES e o fato das instituições estarem localizadas em
diferentes regiões e desafiadas por diferentes realidades” (GT INDICADORES...,
2017). Conforme a conclusão do relatório,
[...] ao cabo, e a despeito do FORPLAD ter elaborado alguns
indicadores para esses temas, o diálogo com alguns gestores dessas
áreas indicou que há grandes controvérsias sobre qual ou quais
indicadores melhor as representam. Desta forma, e a despeito da
relevância dos temas, o GT optou por não propor a inclusão de
indicadores com a expectativa de que os debates avançarão,
redundando na definição de indicadores academicamente
reconhecidos. (GT INDICADORES..., 2017).
Mesmo não tendo sido implementados, os indicadores levantados pelo
FORPLAD nos dão uma ideia do que, ao menos em parte, representaria a
inovação sob a perspectiva dos gestores administrativos das universidades
públicas brasileiras. De modo geral, é destacado novamente o número de
patentes como a sua principal métrica, seguido por informações do ecossistema
de inovação da universidade (empresas incubadas, parques tecnológicos etc.),
que podem ser facilmente obtidas através das agências de inovação (ou NIT)
das instituições de ensino. Mais uma vez, o conceito de inovação é entendido
sob a perspectiva tecnológica, recorrendo-se aos indicadores tradicionais da
primeira geração.
Em relação à produção acadêmica sobre o assunto, foram identificadas 3
(três) propostas de criação de indicadores para a implementação de métricas
para inovação. Conforme ilustrado no Quadro 6.8, a maioria delas com viés
direcionado a uma instituição específica no sentido de promover o
desenvolvimento institucional ou cultura inovadora. A outra propõe um estudo
sobre a implementação de indicadores mais abrangentes para as universidades
brasileiras.
A primeira pesquisa identificada é fruto de uma dissertação de mestrado
(Engenharia Industrial) defendida na Universidade Federal da Bahia (UFBA) com
o objetivo de apresentar um método genérico de gestão da inovação baseado
em indicadores-chave de desempenho (KPI) para instituições brasileiras
públicas de ensino superior. Para isso, o autor elaborou e selecionou 55
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 144
indicadores de desempenho divididos em dois conjuntos: Índice Insumos
(entrada) e o de Índice Resultados (saída) em relação a processo de inovação
(ANDRADE, 2016).

Quadro 6.8 – Produção acadêmica brasileira sobre indicadores de inovação universitária


Autor/Ano Título do trabalho Instituição Indicadores Tipo de trabalho

• Índice de produção
intelectual; Mestrado profissional
Proposta de indicadores
• Índice de em Propriedade
de inovação no plano de
SANTOS Instituto Federal transferência de Intelectual e
desenvolvimento
(2019) Goiano tecnologia; Transferência de
institucional do IF
Goiano • Índice de Tecnologia para
produtividade dos Inovação
grupos de pesquisa

Mestrado profissional
Proposta de modelo de
em Rede Nacional de
indicadores e métricas Universidade 112 indicadores divididos
SILVA Propriedade
de inovação para Federal de em 5 dimensões e
(2019) Intelectual e
Universidade Federal de Alagoas (UFAL) subdimensões.
Transferência de
Alagoas
Tecnologia

55 indicadores KPI
Sistema de mensuração
Universidade divididos em dois
ANDRADE em inovação para Mestrado em
Federal da conjuntos:
(2016) universidades públicas Engenharia Industrial
Bahia (UFBA) Índice Insumos e
no Brasil
Índice Resultados

Fonte: elaboração própria

Os indicadores de entrada referem-se aos números de pessoal envolvidos


(docentes, docentes doutores e discentes), que já são amplamente utilizados
pelas IES em seus relatórios de gestão, e também pelo INEP, no Instrumento de
Avaliação de Cursos de Graduação Presencial e à Distância (INEP, 2012) e pela
Capes, no Plano Nacional de Pós-Graduação (CAPES, 2010). Também inclui
indicadores relacionados aos grupos de pesquisa, capacidade da IES na
formação de redes de cooperação, número de projetos de inovação, número de
ações de estímulo à produção de invenções e financiamentos.
Os indicadores de saída, por sua vez, envolvem o número de artigos
publicados de acordo com o tipo de pessoal envolvido (docentes, docentes
doutores e discentes), valor médio de financiamento recebido pela instituição
para a produção de uma unidade de artigo, número de contratos de tecnologia e
licenciamentos, número de registros de propriedade intelectual (protocoladas e
concedidas) no Brasil e exterior e, ainda, o faturamento das empresas
incubadas.
Outros dois estudos, publicado em 2019, originam-se de mestrados
profissionais. O primeiro propôs o levantamento de métricas adequadas à gestão
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 145
da inovação na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). A ideia da
pesquisadora foi auxiliar o planejamento estratégico da universidade a partir de
112 indicadores, distribuídos em 5 dimensões e subdimensões, com métricas
concentradas nos valores numéricos associados ao desempenho (SILVA, 2019).
A proposta sugere, ainda, a utilização estratégica da ferramenta Balanced
Scorecard para a gestão do sistema integrado (SIG) da UFAL, sistematizada
pela autora, de acordo com Grizendi (2011, p. 55) nas seguintes dimensões: i)
Gestão do processo da inovação; ii) Gestão da propriedade intelectual; iii)
Gestão das oportunidades tecnológicas; iv) Gestão dos recursos para inovação;
v) Gestão da transferência de tecnologia; e vi) Gestão das empresas nascentes.
A gestão universitária também foi a motivação para a criação de
indicadores de inovação no âmbito do Plano de Desenvolvimento Institucional
(PDI) do Instituto Federal Goiano. O trabalho de Santos (2019) propôs a
utilização de 3 (três) indicadores de desempenho com o propósito de estruturar
e implementar uma cultura de inovação no Instituto atendendo ao disposto no
novo mapa estratégico do PDI: “fortalecer e ampliar atividades de pesquisa
aplicada e inovação tecnológica”.
São esses os indicadores propostos por Santos (2019):
• Índice de produção intelectual: objetivo de mensurar a produtividade dos
projetos de pesquisa, relacionando os seguintes indicadores: número de
artigos publicados com Qualis, livros, capítulo de livros, depósito de
pedidos de patentes, patentes concedidas, registro de marca, marcas
registradas, registro de programa de computador, registro de topografia
de circuito integrado, desenho industrial e cultivares da instituição do ano
corrente com o total de projetos de pesquisa (exceto investigações feitas
para monografias, dissertações e teses);
• Índice de transferência de tecnologia: objetiva mensurar a capacidade de
transformar ativos intangíveis em inovação, fazendo com que o IF Goiano
contribua com o desenvolvimento econômico regional. O índice relaciona
o número de licença para uso de marca, cessão de marca, licença para
exploração de patente, cessão de patente, licença compulsória de
patente, licença para exploração de desenho industrial, cessão de
desenho industrial, licença de topografia de circuito integrado, cessão de
topografia de circuito integrado, licença compulsória de topografia de
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 146
circuito integrado, franquia, fornecimento de tecnologia e serviço de
assistência técnica e científica com o total de artigos publicados com
Qualis, livros, capítulos de livros, depósitos de pedidos de patentes,
patentes concedidas, registros de marca, marcas registradas, registros de
programa de computador, registro de topografia de circuito integrado,
desenho industrial e cultivares da Instituição no ano corrente; e
• Índice de produtividade dos grupos de pesquisa: mensura o
aproveitamento da capacidade de produção intelectual dos grupos de
pesquisa. Esse índice utiliza como parâmetro o número de artigos
publicados com Qualis, número de livros publicados, capítulos de livros,
pedidos de patentes, patentes concedidas, pedidos de registro de marca,
marcas registradas, registro de programa de computador, registro de
topografia de circuito integrado, desenho industrial e cultivares com
relação ao número de grupos de pesquisa certificados pelo CNPq que
atuam no IF Goiano.
Entende-se que a experiência de utilização dos indicadores propostos
para auxiliar a gestão do IF Goiano poderia ser estendida a outras unidades, por
compartilharem da mesma missão, prevista no inciso VIII do artigo 6º da Lei nº
11.892/2008, que dispõe sobre a criação dos Institutos Federais: “[...] realizar e
estimular a pesquisa aplicada, a produção cultural, o empreendedorismo, o
cooperativismo e o desenvolvimento científico e tecnológico”.
Como se pode observar, as propostas de métricas verificadas na literatura
nacional, embora tragam alguns avanços, limitam-se à dimensão da gestão
institucional a partir da utilização de indicadores tradicionais. Conforme já
discutido, tais indicadores são insuficientes para identificação do potencial de
inovação da universidade, fato que reforça a lacuna de pesquisa e demonstra
coerência com os objetivos definidos no capítulo introdutório, especialmente
quanto às possibilidades de construção de indicadores capazes de mensurar, de
modo mais amplo, as variáveis da inovação no âmbito universitário.

6.3 Innovation Readiness Level aplicado às universidades


Cabe o fechamento dessa sessão com uma importante contribuição
empírica trazida pelo o KTH Royal Institute of Technology, universidade sueca
fundada em 1827, que desenvolveu um modelo adaptado da escala de
INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 147
maturidade Innovation Readiness Level (IRL) – apresentado no capítulo 5 – no
esforço de estimar a maturidade da inovação nas instituições, em geral, sendo
facilmente aplicável às universidades.
O objetivo do modelo do KTH-IRL é estabelecer uma linguagem
compartilhada e de visão comum para todo tipo de inovação, partindo de seu
estágio mais incipiente (ideias) e percorrendo todo o progresso de seu
desenvolvimento. Desse modo, almeja-se o aperfeiçoamento das iniciativas
inovadoras, por meio do auto-conhecimento dos processos e da avaliação
constante, em uma escala de 1 a 9, nas principais áreas-chave (dimensões) da
inovação, segundo a instituição, a saber: i) cliente; ii) tecnologia; iii) negócios; iv)
propriedade intelectual; v) equipe; e vi) financiamento.
De modo resumido, trata-se de uma ferramenta visual, acompanhada de
uma biblioteca de recursos online, capaz de orientar o usuário na identificação
da situação (status) de uma determinada inovação, desde a ideia inicial até o
seu lançamento no mercado. Assim, para cada uma das 6 (seis) dimensões
específicas, são fornecidas definições claras sobre os diferentes níveis, bem
como os marcos e atividades necessárias para se alcançar cada nível.

Figura 6.1 – KTH Innovation Readiness Level

Fonte: KTH Innovation. Disponível em: https://kthinnovationreadinesslevel.com/


INDICADORES E MÉTRICAS DE INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
____________________________________________________________________ 148
A Figura 6.1 mostra um exemplo de visualização, no formato de radar,
aplicado a uma determinada inovação, conforme o modelo do KTH-IRL. Cada
dimensão é avaliada de acordo com uma escala de 9 (nove) níveis de prontidão,
estabelecidos por meio de um questionário detalhado – contendo cerca de 4
questões relacionadas para cada nível – que devem ser respondido pelos
proprietários das ideias, bem como os gestores públicos.
A Figura 6.2, por sua vez, ilustra os marcos de identificação a serem
alcançados na dimensão “clientes”: Customer Readiness Level (CRL). Outros
marcos e ações são associados a cada um dos demais níveis.

Figura 6.2 – Exemplo de aplicação da dimensão


Customer Readiness Level (CRL) do KTH-IRL

Fonte: adaptado de KTH Innovation

Por se tratar de uma ferramenta com licença Creative Commons, o


modelo KTH-IRL é pode ser livremente adaptado e aplicado a diferentes
instâncias. Atualmente, o mesmo já é utilizado pelo Parque Científico e
Tecnológico da universidade (PCTec/UnB), que traduziu todo o questionário de
avaliação para o Português e, em breve, disponibilizará em sua página uma
ferramenta online que deverá ser preenchida como um dos critérios de seleção
nos editais de startups que deverão se instalar no local. A identificação prévia do
estágio de inovação dos produtos e serviços que serão ofertados pelo Parque é
tida como um valioso insumo informacional para a gestão da inovação.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
____________________________________________________________________ 149
7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O percurso traçado nos capítulos anteriores, que abordaram o quadro


teórico da temática estudada, ajudou compreender melhor a vasta complexidade
envolvida nas atividades relacionadas às inovações que emergem do meio
acadêmico, ao mesmo tempo que trouxe um pouco de luz para o caminho
obscuro rumo às propostas para a sua avaliação por meio de indicadores e
métricas. Não se trata de uma tarefa trivial, haja vista a heterogeneidade de
fatores culturais, geográficos, políticos e organizacionais em que as
universidades públicas – objeto de pesquisa da presente tese – estão inseridas.
Não restam dúvidas de que uma das razões para se medir a inovação em
uma instituição pública de ensino superior é (a tentativa de) antecipar a
identificação dos problemas de modo a alocar os recursos necessários visando
mas eficiência aos resultados pretendidos, além da prestação de contas sobre
os esforços investidos. Porém, mesmo com todo aprendizado alcançado sobre
o fenômeno até aqui, muitas questões ainda permanecem, como a mais básica
delas: o que, afinal de contas, significa “inovação” na perspectiva da
universidade pública brasileira que vê a sua missão evoluir constantemente?
Sabe-se de antemão que as manifestações da inovação nas instituições
de ensino superior são muitas, do mesmo modo que existem variadas
interpretações para elas. Por isso, a escolha metodológica adotada foi a de
investigar a percepção dos dirigentes das universidades que lidam diretamente
com essa temática para buscar compreender os seus significados e as
possibilidades de construção de indicadores capazes de identificar e mensurar
suas variáveis, alinhando-se com os objetivos da tese.
Em vista disso, e considerando-se o referencial teórico construído nos
capítulos anteriores, derivam-se algumas questões-chaves formuladas a esses
dirigentes de inovação (Apêndice A) as quais, por sua vez, orientaram os
procedimentos adotados, sistematizado no Quadro 7.1.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
____________________________________________________________________ 150

Quadro 7.1 – Procedimentos metodológicos adotados a partir do referencial teórico

Coleta de dados - Questões


Objetivo específico Referencial teórico Métodos e técnicas analíticas
orientadoras

O que torna uma universidade inovadora?

• Inovação e Desenvolvimento O que há mais na universidade: pesquisa,


Econômico e Social invenção ou inovação? Análise de Conteúdo
Identificar o conceito de
inovação no âmbito do ensino • Inovação Social Quais as características da inovação no
superior, a partir das visões dos • Inovação Responsável contexto universitário? Abordagem: qualitativa
dirigentes vinculados à inovação • Dimensões, Classificações e
nas universidades públicas Tipologias Qual o conceito de inovação mais se Fonte: entrevistas com dirigentes de instâncias
selecionadas. • Modelos de Inovação aplica à universidade: paradigma ligadas à inovação na universidade (Pró-reitores
tecnológico ou social? e diretores de Agências de Inovação)
Quais as dimensões da inovação são mais
verificadas nas universidades?

Qual o papel da universidade no SNI?


Qual o papel da universidade no
desenvolvimento social das comunidades,
Análise de Conteúdo
• Políticas de Inovação por meio das atividades de extensão?
Caracterizar o papel da
• As Múltiplas “hélices” da
inovação na visão dos dirigentes Qual a importância das políticas de Abordagem: qualitativa
Inovação
vinculados à inovação nas inovação nas universidades?
• Inovação Responsável
universidades públicas Fonte: entrevistas com dirigentes de instâncias
selecionadas. • Universidade Brasileira e A política de inovação deveria contemplar ligadas à inovação na universidade (Pró-reitores
Inovação elementos da quarta hélice (sociedade) e diretores de Agências de Inovação)
e/ou quinta hélice (meio ambiente)?
O que tem mais peso na universidade:
pesquisa ou inovação?
(cont.)
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
____________________________________________________________________ 151

Coleta de dados - Questões


Objetivo específico Referencial teórico Métodos e técnicas analíticas
orientadoras

Qual a importância das métricas para se


avaliar a inovação universitária?
Quais indicadores poderiam ser usados
• Indicadores Tradicionais de nas fases iniciais do processo de
inovação inovação?
• Evolução dos Indicadores de Análise de Conteúdo
inovação Quais os indicadores mais relevantes
Verificar as concepções para se medir as atividades inovadoras Análise da Literatura
• Mensuração da Inovação
existentes para a construção de que acontecem no âmbito da
• Modelos de Gestão e Abordagem: qualitativa
indicadores de inovação nas universidade?
Mensuração da Inovação
universidades públicas
selecionadas. • Novos Indicadores Aplicados à Como capturar o valor do ensino, Fonte: entrevistas com dirigentes de instâncias
Inovação pesquisa e extensão? ligadas à inovação na universidade (Pró-reitores
• Propostas Nacionais de Métricas e diretores de Agências de Inovação)
Aplicadas à Inovação Como medir as atividades informais de
Universitária P&D, que não dão origem a patentes?
Que outros indicadores ajudariam a
perceber melhor a inovação no âmbito da
universidade?

• Indicadores Tradicionais de
inovação Análise da Literatura
• Evolução dos Indicadores de
Análise de Conteúdo
inovação
Interrelacionar as concepções e • Mensuração da Inovação Confrontação com o referencial teórico
indicadores mencionados pelos • Modelos de Gestão e
dirigentes vinculados à inovação Abordagem: qualitativa
Mensuração da Inovação
aos existentes na literatura. • Novos Indicadores Aplicados à Fonte: literatura estudada e entrevistas com
Inovação dirigentes de instâncias ligadas à inovação na
• Propostas Nacionais de Métricas universidade (Pró-reitores e diretores de
Aplicadas à Inovação Agências de Inovação)
Universitária

Fonte: Elaboração própria (2022)


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 152

7.1 Classificação da Pesquisa


Dada a natureza da complexidade do objeto estudado, optou-se pela
combinação de técnicas qualitativas e quantitativas de modo a enriquecer as
discussões sobre a inovação aplicada a um contexto particular: o meio
universitário. Trata-se, portanto, de uma pesquisa cuja abordagem é
qualiquantitativa, vez que almeja observar as múltiplas características do
fenômeno em sua totalidade (CRESWELL, 2010).
De acordo com Hernández Sampieri, Fernandéz Collado e Baptista Lucio
(2013), o enfoque qualitativo deve ser adotado quando há intenção de
compreender a perspectiva dos participantes (indivíduos ou grupos que serão
pesquisados) sobre os fenômenos que os rodeiam, aprofundar em suas
experiências, pontos de vistas, opiniões e significados, isto é, “a forma como os
participantes percebem subjetivamente a realidade” (HERNÁNDEZ SAMPIERI;
FERNANDÉZ COLLADO; BAPTISTA LUCIO, 2013). Nessa abordagem, as
experiências dos indivíduos e suas percepções são aspectos úteis e importantes
para a pesquisa, o que leva a compreensão de fenômenos complexos no
processo analítico.
Na pesquisa qualitativa, as questões e os procedimentos emergem do
próprio contexto em que ela se insere e a análise dos dados é construída por
inferências a partir das particularidades para os temas mais gerais, cabendo ao
pesquisador elucidar a essência desses dados. Deste modo, a pesquisa
qualitativa tem como base a interpretação e atribuição de significados a
fenômenos em que os dados são principalmente descritivos, o que implica em
uma análise indutiva dos mesmos (CRESWELL, 2010; PRODANOV; FREITAS,
2009). Seu foco, segundo Flick (2009), é direcionado para a complexidade de
uma situação, considerando as visões distintas dos participantes. “A pesquisa
qualitativa leva em consideração que os pontos de vista e as práticas de campo
são diferentes devido às diversas perspectivas e contextos sociais a eles
relacionados.” (FLICK, 2009, p. 24-25).
Já o enfoque quantitativo, baseado principalmente em totalizações
numéricas, é percebido com os resultados da aplicação do software IRAMUTEQ
(detalhado na sessão 7.5) para fortalecer os argumentos utilizados nas análises
dos dados.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 153
Quanto à sua tipologia, a pesquisa pode ser classificada como sendo
descritiva e de caráter exploratório, devido ao propósito de identificar conceitos
promissores relacionados à inovação universitária e levantar hipóteses para
novas investigações. Os estudos exploratórios são comumente aplicados nos
casos em que se faz necessário definir o problema com maior precisão. Seu
objetivo é prover critérios e mais compreensão sobre um determinado fenômeno
(HERNÁNDEZ SAMPIERI; FERNANDÉZ COLLADO; BAPTISTA LUCIO, 2013;
MALHOTRA, 2011; GIL, 2010).

7.2 População e Amostra


O universo das IES públicas brasileiras é formado por, aproximadamente,
300 instituições de ensino, segundo dados do Censo da Educação Superior do
Ministério da Educação (BRASIL, 2019). Na impossibilidade de levantar
informações de todas essas universidades, foram adotados como critérios de
seleção para a realização das entrevistas:
a) as IES públicas brasileiras que já dispusessem de políticas de
inovação implementadas até o período de seleção da amostra
(dezembro de 2021);
b) as IES com as melhores posições no ranking internacional THE (Times
Higher Education World University Rankings), em sua edição Latino-
Americana de 2021.
Vale considerar que, nos métodos qualitativos, os dados possuem
dificuldades particulares de análise, quando comparados aos quantitativos.
Neves (1996) salienta que a amostra de uma pesquisa qualitativa geralmente
configura-se como sendo intencional e pequena, sendo direcionada ao longo de
seu desenvolvimento. Além disso, não costuma empregar instrumental
estatístico para análise de dados, uma vez que não tem a intenção de medir os
eventos como nos métodos quantitativos.
A opção pela seleção das universidades através do ranking THE: Latin
American University Rankings 2021 deu-se em função da inexistência de uma
classificação nacional metodologicamente adequada, conforme discussão
realizada no item sobre rankings universitários (ver Capítulo 6.1).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 154
A avaliação dos índices do Latin American University Rankings 202115
baseia-se em 13 indicadores de desempenho com pesos calibrados para
refletirem as características das universidades da América Latina e Caribe,
considerando-se as missões de ensino, pesquisa, transferência de
conhecimento e perspectiva internacional.
Seguindo a classificação indicada pelo ranking THE, em um primeiro
momento foram selecionadas as IES públicas que contavam, em sua estrutura
organizacional, com Pró-reitorias (ou Decanato, no caso da UnB) denominados
individualmente ou associadas a outras denominações com o termo “inovação”.
Na ausência de estruturas explicitamente dedicadas à inovação, foram incluídas
aquelas universidades que tiveram o termo “inovação” mencionado como uma
de suas finalidades ou atribuições, o que foi verificado através de uma consulta
nas páginas Web institucionais de todos os órgãos executivos relacionados às
missões de ensino, pesquisa e/ou extensão. Não foram consideradas aquelas
responsáveis por atividades não-finalísticas, tal como gestão, infraestrutura e
orçamento.
À época das entrevistas, realizadas em fevereiro de 2022, apenas 4
(quatro) universidades possuíam estruturas formalizadas com a nomenclatura
de Pró-reitorias de Inovação (ou termos correlatos), enquanto as demais
instituições pareciam tratar do tema por meio de outras instâncias,
majoritariamente as Pró-reitorias de pesquisa. Contudo, após a realização das
entrevistas, obteve-se a informação de que outras 2 (duas) instituições possuem
projetos de curto prazo para criação de novas Pró-reitorias dedicadas à
inovação. São elas a Universidade de São Paulo (USP)16 e Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM).

15Disponível em: https://www.timeshighereducation.com/world-university-


rankings/2021/lat%C3%ADn-america-university-rankings

16Em 06/05/2022, após a realização das entrevistas, a Reitoria da USP publicou a Resolução nº
8228, alterando dispositivos do Regimento Geral da Universidade de São Paulo, para prever o
Conselho de Pesquisa e Inovação e a criação da Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 155

Quadro 7.2 – Conjunto de IES participantes da pesquisa e características dos dirigentes entrevistados

Posição Posição
Área de Formação do
Brasil Global IES Órgão de Inovação Nome do Entrevistado / Cargo
Entrevistado
(THE) (THE)
Universidade de São Paulo Agência USP de Inovação Prof. Dr. Luiz Henrique Catalani
1º 2º Química
(USP) (AUSPIN) Diretor Executivo

Universidade Estadual de
Agência de Inovação Unicamp Prof. Dra. Ana Maria Frattini Fileti
2º 3º Campinas Física
(Inova Unicamp) Diretora Executiva
(Unicamp)

Universidade Federal de São Agência de Inovação Tecnológica Prof. Dr. Guilherme Brandão
6º 9º Paulo e Social Analista de C&T (indicação do Sociologia da Ciência
(UNIFESP) (AGITS) Diretor Executivo)

Universidade Estadual Paulista Agência Unesp de Inovação Prof. Dr. Marcelo Ornaghi Orlandi
8º 11º Física
(Unesp) (AUIN) Gerente de Empreendedorismo

Universidade Federal de São


Prof. Dr. Rafael Vidal Arouca
10º 15º Carlos Agência de Inovação da UFSCar Engenharia Elétrica
Diretor Executivo
(UFSCar)

Universidade de Brasília Decanato de Pesquisa e Inovação Profa. Dra. Maria Emilia Walter
11º 16º Ciência da Computação
(UnB) (DPI) Decana

Prof. Dr. Márcio André Stefanelli


Universidade Federal de Lavras Núcleo de Inovação Tecnológica
13º 21º Lara Engenharia Agronômica
(UFLA) (NINTEC)
Diretor Executivo

Universidade Federal de Santa Agência de Inovação e


Prof. Dr. Daniel Pinheiro Bernardon
17º 29º Maria Transferência de Tecnologia Engenharia Elétrica
Diretor Executivo
(UFSM) (AGITTEC)

Universidade Federal
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós- Profa. Dra. Andrea Brito Latge
18º 31 º Fluminense Engenheira Química
Graduação e Inovação Pró-reitora
(UFF)
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 156

Prof. Dr. Arnaldo Rodrigues Santos


Universidade Federal do ABC Agência de Inovação UFABC
19º 32 º Júnior Ciências Biológicas
(UFABC) (Inova UFABC)
Diretor Executivo

Prof. Dr. Marinaldo Divino Ribeiro


Universidade Federal de Goiás Pró-Reitoria de Pesquisa e
24º 44º Diretor de Transferência e Inovação Zootecnia
(UFG) Inovação
Tecnológica (DTIT)

Fonte: Dados da pesquisa (2022). Com informações sobre posições no Ranking THE: Latin American University Rankings 2021.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 157
O Quadro 7.2 apresenta o conjunto das universidades pesquisadas, com
as características dos dirigentes17 das instâncias de inovação entrevistados
dessas instituições, compondo a base empírica da presente tese.
Em que pese o fato de que foi considerada, para efeito de análise dos
dados, a diversidade da cultura organizacional das instituições, bem como a
variedade do perfil dos entrevistados, em relação ao cargo ocupado e tempo na
função.
A amostra caracteriza-se pela concentração de universidades localizadas
principalmente na região Sudeste, com 8 (ou 72,7%). Bem atrás, aparecem as
instituições da região Centro-Oeste com 2 (18,2%) e Sul com 1 (9,1%). Embora
tenha sido tentado contatos com universidades das regiões Norte e Nordeste,
não houve retorno por parte das Pró-reitorias e das assessorias das Agências.
A maioria dos entrevistados (8 ou 72,7%) possui formação na grande área
das Ciências Exatas e da Terra. Os outros três executivos são oriundos das
áreas de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências Sociais Aplicadas.

7.3 Coleta dos Dados


A ideia original da pesquisa foi, em princípio, ouvir os Pró-reitores
acreditando que esses fossem mais alinhados ao objeto “inovação”, levando-se
em consideração a sua posição estratégica e hierarquia funcional. Julgava-se
que a inovação percebida pela universidade estaria ali representada de maneira
proeminente. Porém, a medida em que os primeiros contatos para a negociação
das entrevistas tiveram início, muitas Pró-reitorias acabaram por indicar as
Agências de Inovação (NIT) de suas instituições como os órgãos que melhor
representam, em muitos casos, o “pensamento” da universidade sobre inovação.
Tal fato provocou uma mudança na estratégia de pesquisa, tornando a
amostra menos homogênea, todavia acabou por conferir maior abrangência das
visões dos entrevistados. Por outro lado, algumas universidades não retornaram
os contatos realizados reiteradas vezes, o que acabou provocando a
necessidade de adaptação na amostragem. Ainda assim, mantiveram-se os

17Todos os dirigentes entrevistados concordaram em ter seus nomes e entrevistas divulgadas


após aprovação de seus conteúdos degravados pelo pesquisador.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 158
critérios estabelecidos anteriormente, ou seja, as instituições deveriam
necessariamente ter políticas de inovação implementadas, além de seguir a
classificação do ranking THE.
Dado que a pesquisa qualitativa não depende de uma amostragem
estatística, o conjunto de dados foi limitado segundo a percepção de que já havia
uma quantidade de respostas significativas a serem analisadas. Além disso,
após a realização da 11ª entrevista, observou-se certa saturação dos dados
(critério de exaustividade), identificada mediante alguma redundância
informacional das falas dos participantes.
O procedimento de coleta de dados baseou-se, principalmente, em
entrevistas semiestruturadas realizadas com os dirigentes das universidades
públicas selecionadas durante os meses de janeiro a março de 2022, de modo
remoto, utilizando-se a plataforma Zoom. As entrevistas tiveram duração média
de 1h e foram gravadas, com autorização dos respondentes, evitando a perda
de informações. Essa técnica qualitativa ajudou a obter e a explorar dados em
profundidade, levando-se em consideração as experiências e opiniões dos
entrevistados, que concordaram com a divulgação de seus nomes e
declarações.
Em seguida, foi realizada a transcrição em texto de todas as gravações
com o auxílio de um script 18 (programa) de reconhecimento de voz com
inteligência artificial, disponibilizado gratuitamente pelo IBPAD – Instituto
Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados. Os textos passaram por uma revisão,
excluindo-se todas as intervenções deste pesquisador, permanecendo as falas
dos participantes que respondessem às perguntas em foco. Foram corrigidos
erros de digitação e pontuação, além da remoção de palavras soltas e vícios de
linguagem. Após o preparo do corpus textual, uma releitura atenta foi realizada
de modo a alcançar o maior aproveitamento possível no processamento dos
dados do universo lexical.
As perguntas foram conduzidas pelo pesquisador com base em tópicos
que mais chamaram atenção na literatura e foram organizadas em um roteiro

18 https://colab.research.google.com/drive/1Y3DXa_i7xa_o1U6Igper5ZvG8hNKgNDM
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 159
semiestruturado (Apêndice A). Acrescenta-se que as respostas obtidas nas
entrevistas foram complementadas com dados secundários extraídos das
páginas Web e relatórios dos órgãos participantes.
Sobre a técnica de “entrevista em profundidade”, Mattar (2013) explica
que as perguntas devem ser feitas de modo livre aos respondentes, de tal modo
que esses sejam motivados a manifestar suas crenças, atitudes e sensações
subjacentes sobre um determinado tópico. Para Duarte (2006), trata-se de uma
“técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações,
percepções e experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de
forma estruturada” (DUARTE, 2006, p. 62).
Ainda de acordo com Duarte (2006), na entrevista semiaberta as questões
têm origem no problema de pesquisa e buscam tratar da amplitude do tema, por
meio do uso de perguntas abertas tanto quanto possível. O autor sugere
trabalhar com um número baixo de questões esgotando ao máximo cada
pergunta. “Cada questão é aprofundada, gerando outras em consequência; para
tal, as questões devem ser amplas, pois não se pode correr o risco de esgotá-
las com facilidade.” (DUARTE, 2006, p. 63).
Além disso, conforme YIN (2016), a lista de questões-chave pode ser
alterada no decorrer das entrevistas em profundidade. Não há um roteiro rígido
a ser seguido e, desse modo, o pesquisador tem liberdade para escolher as
perguntas mais apropriadas e a sua sequência para um determinado momento,
porém deve-se ater aos temas previamente definidos. Quanto às questões
propostas aos participantes, estas irão diferir de acordo com o contexto e o
ambiente da entrevista. Por este processo indutivo ou inferencial, procura-se
compreender o sentido da fala dos entrevistados para, depois, proceder a sua
análise (YIN, 2016, p. 156).

7.4 Método de Pesquisa: Análise de Conteúdo


O método escolhido para o tratamento e análise dos dados obtidos por
meio de entrevistas semiestruturadas foi o de Análise de Conteúdo, cujas
técnicas foram consideradas as mais adequadas para o cumprimento dos
objetivos pretendidos. A utilização desse método justifica-se tendo em vista a
subjetividade da temática da inovação, ainda não consolidada. Esse tema vem
sendo objeto de inúmeros estudos exploratórios (KANG; MOTOHASHI, 2020;
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 160
DZIALLAS; BLIND, 2019; PERIS-ORTIZ; GARCIA-HURTADO; DEVECE, 2019;
TIJSSEN; WINNINK, 2018; DEWANGAN; GODSE, 2014), em sua maioria
carecendo de aprofundamento por meio de uma abordagem qualitativa a partir
do entendimento de seu significado para um grupo de participantes devidamente
selecionados.
Apesar de terem origem nos estudos quantitativos, com o passar dos anos
as técnicas de Análise de Conteúdo passaram por reformulações desde as
primeiras propostas de análise clássica (KRIPPENDORFF, 2012). Atualmente,
o método têm sido amplamente empregado nas pesquisas qualitativas com o
advento de softwares computacionais com o intuito de facilitar a análise de dados
qualitativos, antes realizada manualmente (NUNES et al., 2017).
Para Amado (2000), a Análise de Conteúdo permite uma rigorosa e
objetiva representação dos conteúdos das mensagens através de um leque
variado de comunicações que busca traduzir as visões subjetivas do mundo,
portanto o processo interpretativo é considerado crítico. Minayo (2010), por sua
vez, considera que o uso do método visa verificar hipóteses e/ou descobrir o que
está embutido em cada conteúdo manifesto, seja ele explícito e/ou latente.
Conforme a autora, trata-se de transpor o nível do senso comum e subjetivismo
na interpretação dos dados.
Ressalta-se que os valores e a linguagem natural do entrevistado e do
pesquisador, bem como a linguagem cultural e os seus significados, não são
isentos de influência sobre os dados. De certo modo, a Análise de Conteúdo é
uma interpretação pessoal por parte do pesquisador com relação ao seu
entendimento e percepção. Logo, torna-se árdua a etapa de análise, diante da
subjetividade dos dados e do volume textual pouco estruturado que abarcam
pensamentos, crenças e/ou opiniões.
Utilizando-se Bardin (2011) como referência principal, a Análise de
Conteúdo, de acordo com a autora, é compreendida como sendo um conjunto
de técnicas de análise das comunicações (verbais ou não), que auxiliam a
interpretação das informações transmitidas através de textos, fazendo uso de
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens. A condução da análise de dados qualitativos por meio desse
método, segundo Bardin (2011), deve abranger algumas fases bem definidas, a
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 161
saber: i) pré-análise; ii) exploração do material (codificação, enumeração e
categorização) e iii) tratamento dos resultados, inferência e interpretação.
Para o desenvolvimento desta tese, a primeira fase (pré-análise), teve
início com a sistematização das ideias iniciais colocadas pelo quadro
estabelecido no referencial teórico e determinação dos pontos passíveis de
interpretação por meio das informações coletadas. Nesta etapa foram reunidos
todos os materiais utilizados para a análise: transcrições das entrevistas
realizadas, documentos da universidade disponibilizados e/ou indicados pelos
entrevistados e, ainda, os principais capítulos do referencial teórico.
A exploração do material, que caracteriza a segunda etapa da Análise de
Conteúdo de acordo com Bardin (2011), começa com a construção de códigos
que, na investigação qualitativa, se traduz em uma palavra ou frase curta capaz
de resumir ou capturar a essência e/ou evocar os atributos de uma porção de
dados escritos ou visuais (SALDANÃ, 2015, p. 3-4). A codificação foi realizada a
partir das citações previamente marcadas pelo pesquisador em trechos oriundos
das transcrições das entrevistas e contou com o auxílio da ferramenta ATLAS.ti,
cujo detalhamento será fornecido mais adiante.
O processo de categorização, por sua vez, buscou sistematizar
agrupamentos hierárquicos e padronizados dos códigos, correlacionando-os de
acordo com a temática correspondente aos objetivos da tese. Para isso, adotou-
se a técnica de “análise categorial” realizada a posteriori de modo indutivo, isto
é, o procedimento de criação dos códigos e categorias (Quadro 7.3) que os
agrupam foi desenvolvido após o exame de todo os textos em análise, passando
por um crivo de classificação baseado nos conceitos verificados na literatura
estudada, além da experiência do pesquisador sobre a temática. Também nessa
etapa foi de grande utilidade a funcionalidade de “redes semânticas” do software
ATLAS.ti.
Segundo Oliveira et al. (2003), a etapa de exploração dos documentos
consiste na identificação dos principais conceitos ou temas abordados a partir
de uma “leitura flutuante” (termo utilizado por Bardin), em que o pesquisador,
através de um trabalho gradual de apropriação do texto, estabelece várias idas
e vindas entre o documento analisado e as suas próprias anotações até que
comecem a emergir os contornos de suas primeiras unidades de registro. Para
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 162
os autores, o “objetivo é assinalar e classificar de maneira exaustiva e objetiva
todas as unidades de sentido existentes no texto” (OLIVEIRA et al., 2003).

Quadro 7.3 – Códigos e categorias criados para Análise de Conteúdo das entrevistas
com dirigentes das IES

Códigos Categorias

papel da universidade
conceitos de inovação
percepção da inovação
universidade inovadora
potencial de inovação
Definição e significado
relação universidade-empresa
inovação no ensino
inovação na pesquisa
inovação na extensão
universidade inovadora

inovação e sociedade
cultura empreendedora
inovação social
Natureza da inovação
universidade inovadora
relação universidade-empresa
percepção da inovação

métricas para inovação


indicadores tradicionais
Mensuração da inovação
indicadores não tradicionais
problemas com indicadores

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Por fim, a terceira e última fase compreendeu o tratamento dos resultados,


inferências e interpretações, que foram basicamente a captação dos conteúdos
manifestos e latentes contidos em todo o material coletado e que será melhor
explorada no capítulo seguinte. Nesta etapa ocorre a condensação e o destaque
das informações para análise, culminando nas interpretações inferenciais; é o
momento da intuição, da análise reflexiva e crítica (BARDIN, 2011).
É importante destacar que outros autores propõem fases semelhantes às
propostas por Bardin, com algumas particularidades de nomenclatura que não
alteram o processo em si. A título de ilustração, recorre-se à proposta de Flick
(2009), que considera os seguintes passos para a análise de conteúdo: síntese
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 163
da análise de conteúdo; análise explicativa de conteúdo e por fim, a análise
estruturadora de conteúdo.

7.5 Ferramentas de Análise de Dados


As principais etapas da Análise de Conteúdo foram apoiadas pelo uso de
ferramentas de análise de dados qualitativos, conhecidas pela denominação
Computer Assisted Qualitative Data Analysis Software (CAQDAS). O debate
quanto ao seu uso tem crescido, sendo amplamente recomendado na literatura
pela sua eficiência no gerenciamento e recuperação de dados qualitativos, além
de facilitar a codificação dos materiais, sobretudo os resultantes de grande
volume textual (NUNES et al., 2017).
Os CAQDAS são reconhecidos, ainda, pela produção de elementos
gráficos e pela possibilidade de auxiliar análises multivariadas de tal modo que,
quando utilizados adequadamente, contribuem para a elaboração de análises
mais bem embasadas, objetivas e com menor interferência da subjetividade ou
viés do pesquisador devido à possibilidade de realização de cálculos estatísticos
sobre os textos, que são variáveis essencialmente qualitativas (CAMARGO;
JUSTO, 2013).
A primeira ferramenta utilizada nesse trabalho foi o IRAMUTEQ (Interface
de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Text et de Questionnaires), que
tem sido bastante empregada na análise de dados textuais (ou léxica),
principalmente pela área da Saúde. Trata-se de um programa gratuito e de
código aberto, criado pelo pesquisador francês Pierre Ratinauld, em seu idioma,
mas que abarca dicionários de várias línguas, incluindo Português, o que acabou
impulsionando seu uso no Brasil a partir de 2013.
O IRAMUTEQ, desenvolvido na linguagem Python, utiliza funcionalidades
providas pelo software estatístico R. Desse modo, caracteriza-se como um
método informatizado para análise de textos, que busca apreender a estrutura e
organização do discurso, expondo as relações mais frequentemente enunciadas
pelos sujeitos ou grupos. O programa assume que as palavras usadas em
contexto similares estão associadas a um mesmo mundo lexical. Por isso,
possibilita realizar análises quantitativas de dados textuais (entrevistas,
documentos, entre outros), pautadas em contextos e classes de conteúdo com
base na similaridade de vocabulários (GÓES et al., 2021; SOUZA et al., 2018).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 164
Utilizou-se o IRAMUTEQ na primeira etapa da análise dos dados com o
intuito de verificar semelhanças no discurso dos entrevistados por meio de
levantamentos estatísticos e de correlações entre as palavras utilizadas pelos
dirigentes das universidades para identificação de suas percepções em torno do
objeto “inovação” e suas possíveis métricas. Por meio da ferramenta de
Classificação Hierárquica Descendente (CHD) foi possível identificar classes de
segmentos de texto que, ao mesmo tempo, apresentam vocabulário semelhante
entre si, possibilitando inferências sobre ideias e temas contidos no corpus
textual. A formação das classes acabou por auxiliar o processo de criação das
categorias, que fundamenta a metodologia de Análise de Conteúdo.
Outra importante ferramenta utilizada na tarefa de automação da análise
das entrevistas foi o ATLAS.ti, em sua versão 22. Seu protótipo inicial foi
desenvolvido na Universidade Técnica de Berlin, Alemanha, como parte de um
projeto multidisciplinar (1989-1992). O acrônimo “ATLAS” significa, em alemão,
Archivfuer Technik, Lebenswelt und Alltagssprache e pode ser traduzido como
“arquivo para tecnologia, o mundo e a linguagem cotidiana”. Já a sigla “ti” advém
de text interpretation, ou seja, interpretação de texto (BANDEIRA-DE-MELLO,
2006).
O projeto original da ferramenta foi influenciado pela grounded theory
(teoria fundamentada), mas o software pode ser empregado em diferentes
estratégias de pesquisa com o propósito de facilitar a organização, codificação
e classificação de dados qualitativos. Atualmente, tem sido adotada por
pesquisadores qualitativos em todo o mundo por conta de sua facilidade e da
gama de recursos disponíveis, como a estruturação de todas as etapas da
Análise de Conteúdo (NUNES et al., 2017).
Particularmente, o ATLAS.ti foi bastante útil no processo de codificação
realizada nos trechos das entrevistas e sua interpretação, possibilitando
comparações e inferências acerca dos pontos de convergência e divergência
das falas dos entrevistados segundo seus perfis. Graças à ferramenta de
comentários do software (memo) também foi possível registrar os insights e
interpretações do pesquisador no decorrer do processo de criação dos códigos.
Esse recurso é importante para o estabelecimento de um histórico da pesquisa,
com o registro das decisões tomadas durante a análise.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 165
Quadro 7.4 – Sistematização da metodologia de Análise de Conteúdo com a utilização
dos softwares IRAMUTEQ e ATLAS.ti
Leitura flutuante
Entrevista em profundidade das transcrições Pré-análise
das entrevistas
Codificação das unidades de
registro (ATLAS.ti) Codificação
1. Identificar o conceito de
inovação, no âmbito do ensino
superior, a partir das percepções • Construção de redes Exploração
dos dirigentes vinculados à (ATLAS.ti) do material
inovação nas universidades Categorização
públicas selecionadas • Análise dos
agrupamentos entre os
códigos.
Análise de Tratamento,
Discussão e análise das
Similitude do inferências e
tendências encontradas
IRAMUTEQ interpretação
Leitura flutuante
Entrevista em profundidade das transcrições Pré-análise
das entrevistas
Codificação das unidades de
registro (ATLAS.ti) Codificação
2. Caracterizar o papel da
inovação segundo a percepção • Construção de redes Exploração
dos dirigentes vinculados à (ATLAS.ti) do material
inovação nas universidades
públicas selecionadas. Categorização
• Análise dos
agrupamentos entre os
códigos.
Análise de Tratamento,
Discussão e análise das
Similitude do inferências e
tendências encontradas
IRAMUTEQ interpretação
Leitura flutuante
Entrevista em profundidade das transcrições Pré-análise
das entrevistas
Codificação das unidades de
registro (ATLAS.ti) Codificação
3. Verificar as concepções
existentes para a construção de • Construção de redes Exploração
indicadores de inovação nas (ATLAS.ti) do material
universidades públicas
selecionadas. Categorização
• Análise dos
agrupamentos entre os
códigos.
Análise de Tratamento,
Discussão e análise das
Similitude do inferências e
tendências encontradas
IRAMUTEQ interpretação
4. Interrelacionar as concepções e Associação dos
indicadores mencionados pelos códigos com os Tratamento,
Leitura dos capítulos
dirigentes vinculados à inovação clusters inferências e
teóricos
aos existentes na literatura sobre identificados no interpretação
o tema. IRAMUTEQ.

5. Propor um modelo capaz de • Leitura dos capítulos


agregar dimensões e indicadores teóricos; Tratamento,
para a mensuração da inovação inferências e
aplicada às universidades • Discussão e análise das interpretação
públicas. tendências encontradas

Fonte: elaboração própria. Baseado na estrutura proposta por Junior e Leão (2018).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
___________________________________________________________________ 166
Para facilitar o caminho metodológico adotado e com o propósito de
sintetizar todo o procedimento desenvolvido com o IRAMUTEQ e o ATLAS.ti na
Análise de Conteúdo, foi criado o Quadro 7.4 que relaciona os objetivos, métodos
de análise nos softwares e a correlação com os pressupostos da metodologia,
de acordo com Bardin.
Adicionalmente, cabe recordar que a utilização das ferramentas
informatizadas contribui significativamente para a organização dos dados e a
otimização do processo analítico, porém todos os passos previstos pela
metodologia e a interpretação subsequente dos resultados dependem do
arcabouço teórico reunido pelo pesquisador.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 167

8 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Neste capítulo serão detalhadas as análises realizadas a partir do
conjunto das entrevistas concedidas pelos dirigentes das universidades
selecionadas. Conforme mencionado anteriormente, o método escolhido –
Análise de Conteúdo – foi aplicado tomando-se como suporte tecnológico a
utilização dos softwares de análise de dados qualitativos IRAMUTEQ e ATLAS.ti,
utilizados em diferentes etapas do processo, com apoio de técnicas da
metodologia de Análise Textual Discursiva (ATD).

8.1 Análise Textual Discursiva das entrevistas


Trata-se de uma metodologia própria que abrange e transita entre as duas
formas consagradas de análise na pesquisa qualitativa: Análise de Conteúdo e
Análise de Discurso. Seu diferencial está na produção de meta-textos que
compõem os textos interpretativos que valorizam o potencial criativo e original
do pesquisador (MORAES; GALIAZZI, 2016).
De acordo com os autores do método, a aplicação da Análise Textual
Discursiva (ATD) visa produzir novas compreensões sobre fenômenos e
discursos, configurando-se como um movimento interpretativo de caráter
hermenêutico, pois considera o contexto de quem se fala.
Trata-se de um processo integrado de análise e síntese que se propõe
a fazer uma leitura rigorosa e aprofundada de conjuntos de materiais
textuais com o objetivo de descrevê-los e interpretá-los no sentindo de
atingir uma compreensão mais complexa dos fenômenos e dos
discursos a partir dos quais foram produzidos (MORAES; GALIAZZI,
2016, p.136)
A organização da ATD é baseada em um ciclo de quatro focos essenciais,
sendo eles: i) a desconstrução e fragmentação dos textos (unitarização), onde
são interpretadas as ideias de sentido sobre a temática investigada; ii) o
estabelecimento de relações similares (categorizações); iii) a descrição e a
interpretação das ideias emergentes (produção de metatextos); e iv) a
comunicação (SILVA; MARCELINO, 2022).
Entende-se que tais procedimentos atendem aos propósitos definidos nos
objetivos da tese, relacionados à análise da visão dos dirigentes vinculados à
inovação das universidades públicas brasileiras sobre o objeto “inovação”, por
meio do levantamento de suas percepções. Para tanto, fez-se uso das
funcionalidades do software IRAMUTEQ, como a possibilidade de execução de
análises de dados textuais em diferentes níveis (SOUZA et al., 2018).
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 168
O IRAMUTEQ oferece a possibilidades de trazer informações
lexicográficas, que incluem estatísticas básicas como frequência e quantidade
de palavras, inclusive as que ocorrem uma única vez (coeficiente de hápax),
além de outras funções multivariadas mais avançadas, tais como: (a)
Classificação Hierárquica Descendente (CHD), também conhecido por método
de Reinert, que apresenta um teste de hipótese, a partir de uma certa
probabilidade e de uma estatística qui-quadrado, quanto ao nível de correlação
dos termos em determinados clusters (classes de palavras); (b) Análise Fatorial
de Correspondência (AFC), conseguida em decorrência da CHD, permite a
elaboração de clusters de palavras mais fortemente correlacionadas; (c) a
Análise de Similitude, que permite uma maior compreensão de como as palavras
recorrentes estão sendo relacionadas com outras palavras, dentro do texto; e (e)
a Nuvem de Palavras, que mostra, de forma gráfica, as palavras que mais se
destacaram ao longo do corpus textual.
Para a análise das falas foram utilizadas as ferramentas de Classificação
Hierárquica Descendente, Análise Fatorial de Correspondência e Análise de
Similitude. Tais técnicas permitem facilmente sua identificação por meio de um
arquivo único denominado corpus, devidamente configurado em formato texto
(.txt), que corresponde ao conjunto das 11 entrevistas originais realizadas com
os dirigentes das universidades.
Antes de procedermos a análise mais aprofundada, a aplicação da
ferramenta “Estatística Textual Clássica”, possibilitou um reconhecimento inicial
de todo o corpus, apresentando a relação entre a frequência e a quantidade de
unidades léxicas nos textos. Sem lematização, isto é, sem reduzir as palavras
com base em suas raízes, o corpus textual gerado é composto de 11 textos
(entrevistas), com uma totalidade de 30.297 ocorrências, sendo 2.298 vocábulos
distintos, dos quais 40,7% de ocorrência única (hápax), com média de ocorrência
por texto de 2.754,2 vocábulos.
Nesse tipo de análise é gerado o Diagrama de Zipf (Figura 8.1), uma forma
visual de demonstrar o comportamento das palavras no corpus, ao ilustrar, no
eixo vertical, a frequência de ocorrência das palavras ao longo do texto e, no
eixo horizontal, o número de ordem/ranqueamento das palavras com o valor 1
para a mais recorrente, 2 para a seguinte e, assim, sucessivamente. Ou seja, no
Eixo Y apresenta-se o logaritmo das frequências, ou quantas vezes uma palavra
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 169
está presente no corpus textual, e no Eixo X é exibida a quantidade de palavras.
Assim, foi possível observar uma curva decrescente no diagrama, no qual os
pontos localizados no limite superior do gráfico, mais próximos ao Eixo Y,
representam as palavras com uma alta frequência de repetição, porém menos
recorrentes no material analisado, conforme indica o Eixo X.

Figura 8.1 – Diagrama de Zipf com o comportamento das palavras no corpus textual das
entrevistas

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Para o lado esquerdo da curva verifica-se que há poucas palavras que se


repetem muitas vezes e do lado direito há muitas que se repetem poucas vezes.
Por conseguinte, reforça-se que palavras com frequência 1 (hápax) foram
recorrentes no texto (f=935), como é visível ao final do Eixo X. Por outro lado,
apenas 7 (sete) formas ativas, após a lematização, apareceram mais de 200
vezes nas dinâmicas transcritas, compondo o grupo das mais recorrentes, no
topo do Eixo Y (linha vertical). Por ordem de ranqueamento, as palavras mais
ativas foram: gente (f=540), inovação (f=460), não (f=373), universidade (f=275),
então (f=266), muito (f=230) e mais (f=202).
Chama a atenção a liderança, em termos de ocorrência, da palavra
“gente” na interpretação dos achados. O emprego desse termo, porém, não tem
relação com o conceito de “pessoas”, de uma maneira geral, mas à expressão
“a gente” (nós), remetendo a um sentimento de coletividade que diz respeito à
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 170
instituição do entrevistado, como exemplificado nos segmentos de textos a
seguir:
(...) a gente tem clara a compreensão de que a universidade tem que
se movimentar na direção da inovação (...) (UnB)
(...) a gente tem o cuidado de colocar essa questão da inovação como
uma das metas da universidade. Não tem como fugir, a inovação veio
para ficar (...) (UFF)
(...) eu preferia que a gente tivesse a perspectiva de medir o impacto
social a partir do conhecimento produzido pela universidade.
(UNIFESP)
O método da Classificação Hierárquica Descendente (CHD) foi utilizado
para perceber os agrupamentos dos segmentos de texto em função de seus
respectivos vocabulários. Seu conjunto é repartido em diferentes classes das
entrevistas, em função da presença (ou não) das formas lematizadas
constituindo, desse modo, mundos lexicais distintos. O IRAMUTEQ organiza os
dados em layouts conhecidos por dendrogramas na CHD (Figura 8.2), que
ilustram a relação entre as diferentes classes, pois estão associadas entre si.
Cada classe é identificada por uma cor que a diferencia.
Para a criação do dicionário de palavras, o programa utiliza o teste qui-
quadrado (χ2), uma das distribuições mais utilizadas em estatística inferencial,
capaz de revelar a força associativa entre as palavras e a sua respectiva classe.
Essa força associativa é analisada quando o teste for maior que 3,84,
representando p<0,0001. O menor valor do qui-quadrado representa uma menor
relação entre as variáveis.
As classes são formadas segundo a relação das várias unidades de
contexto (entrevistas) que, uma vez processadas, apresentaram palavras
homogêneas. Para a classificação e a relação das classes, as unidades de
contexto são agrupadas quanto às ocorrências das palavras por meio de suas
raízes, o que resulta na criação de um dicionário com formas reduzidas,
utilizando-se, para tanto, do teste qui-quadrado (χ2).
Para essa análise foram encontrados 828 segmentos de textos, com
aproveitamento de 765 deles (92,4%). Considera-se um bom aproveitamento um
índice superior a 75% (CAMARGO; JUSTO, 2013). A lematização resultou em
2.298 lemas e, entre as formas ativas, 2.121 eram analisáveis e 837
apresentarem frequência ≥ (maior ou igual) a 3. Na CHD foram geradas 5 (cinco)
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 171
classes de segmentos de textos distintas (clusters), demonstrando os conteúdos
semânticos de cada classe.

Figura 8.2 – Dendrograma (CHD) das relações entre as classes das entrevistas

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

No dendrograma (Figura 8.2), é possível verificar que o corpus textual


encontra-se particionado em dois blocos (subcorpus) independentes. O primeiro
é composto pela classe 5 (23,9%), enquanto o segundo é formado por uma
subdivisão incluindo a classe 1 (25,5%) e por outra subdivisão com as classes 4
(16,6%) e uma nova subdivisão entre as classes 2 (22,8%) e 3 (11,2%). Assim,
as representações dos sujeitos dessas classes apresentam aproximações entre
si e distanciamento frente aos clusters 4, 1 e 5, respectivamente, visto que
quanto mais afastado no chaveamento da CHD, menores as relações entre os
termos no contexto das classes. Por outro lado, quanto mais próximas às
classes, maior a afinidade contextual e a probabilidade de agrupamentos futuros
na construção das categorias finais.
Na interpretação dos dados, procedeu-se a leitura exaustiva das palavras
mais significativas alocadas nas classes resultantes das entrevistas e suas
inserções com os segmentos de textos para uma melhor compreensão do
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 172
propósito, verificado nos conteúdos semânticos de cada classe, que foi
denominada da seguinte forma:
• Classe 1: Projetos de inovação relacionados à universidade;
• Classe 2: Regulamentação e condições para criação de um ambiente
de inovação na universidade;
• Classe 3: Expectativas e resistências enfrentadas para
operacionalização da inovação;
• Classe 4: Relacionamento da universidade com o meio ambiente e
sociedade;
• Classe 5: Produção de impactos econômicos e atendimento às
demandas externas.
A subdivisão entre as classes 2 e 3 evidencia a necessidade, na visão dos
dirigentes entrevistados, de haver um marco legal adequado por meio de
políticas de inovação, implantadas pelas instituições para o êxito de sua
operacionalização de modo a diminuir as resistências encontradas. Esse
entendimento também se estende à importância do vínculo existente entre a
universidade e o seu entorno (relação com a classe 4).
A apreciação do conjunto dessas repartições (classes) permitiu alcançar
um melhor entendimento sobre como os dirigentes entrevistados percebem o
fenômeno da inovação universitária sob a ótica de suas experiências. Também
serviu para evidenciar as categorias pretendidas, segundo o método de Análise
de Conteúdo.
Após a avaliação sobre a formação de classes emergidas com a utilização
do IRAMUTEQ, avançou-se para a Análise Fatorial de Correspondência (AFC)
que representa, em um plano cartesiano, os vocábulos e o posicionamento das
classes a partir das frequências e valores de correlação (χ2) de cada palavra,
favorecendo a visualização do vocabulário típico das classes em distintos
mundos lexicais ou conteúdos semânticos (Figura 8.3).
No plano cartesiano as aproximações/distanciamentos entre as classes
podem ser identificadas, com mais precisão, de acordo com a disposição nos
quadrantes. Assim, verifica-se que as palavras mais importantes (com χ2
maiores), apresentam-se mais destacadas na imagem, em um segmento cada
vez mais centralizado, enquanto as outras expandem-se para a periferia.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 173
Ademais, poucas palavras de cada classe dispersam-se em direção aos outros
quadrantes.

Figura 8.3 – Análise Fatorial por Correspondência (AFC) das entrevistas com os
dirigentes

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Chama a atenção que a classe 5 (localizada à esquerda, entre os


quadrantes inferior e superior), de cor roxa, aparece como a mais isolada e,
portanto, menos relacionada às outras classes e com um mundo lexical
particular. Na CHD, esta classe (roxa) abrange uma série de termos que
evidenciam formas de visualização dos dirigentes das IES sobre o impacto
econômico da inovação universitária, tais como:
• disposição para mudança;
• transferência de conhecimento; e
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 174

• importância de mecanismos de avaliação.


O mesmo fenômeno acontece com a classe 1 (quadrante inferior direito),
na cor vermelha, que traz um conjunto de termos interligados que descrevem
algumas manifestações da inovação na perspectiva interna da universidade,
como, por exemplo:
• as atividades de empreendedorismo;
• atuação dos NIT;
• uso de laboratórios de pesquisa; e,
• incentivo a projetos de incubação de empresas.
Também foi possível confirmar que as classes 2, 3 e 4 (quadrante superior
direito), apresentadas nas cores cinza, verde e azul, aparecem correlacionadas
no plano fatorial. Logo, as palavras das três classes mesclam-se nesse
quadrante. Nessas classes os dirigentes parecem indicar, por exemplo:
• expectativa por melhores resultados de uma universidade inovadora;
• redução da burocracia por meio de mecanismos mais ágeis na
legislação;
• questões que dizem respeito ao meio ambiente; e
• importância de atividades que envolvam a sociedade através de
projetos de extensão.
Outra possibilidade interessante é a interpretação a partir da Análise de
Similitude (Figura 8.4), apoiada na teoria matemática dos grafos, através da qual
foi possível obter uma visão para além das ocorrências das palavras. Neste tipo
de análise, o tamanho das palavras e a espessura dos traços que as unem
fornecem um significado, trazendo indicações de conexão entre as palavras e
auxiliando na identificação do corpus textual (CAMARGO; JUSTO, 2016).
Tal análise de semelhanças contribuiu para a visualização sobre como os
entrevistados relacionaram as palavras para descreverem as suas percepções
a respeito da manifestação da inovação na universidade, incluindo definições,
dificuldades, expectativas e algumas sugestões para avaliação deste fenômeno.
Por motivos visuais e para uma análise dos atributos mais relevantes, foram
excluídos os termos que se repetem menos de 20 vezes; assim, a apresentação
dos dados torna-se mais inteligível.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 175
O grafo (Figura 8.4) exibe um cluster principal – mais central e com o
maior número de conexões – representado pelo termo “inovação”, o qual, por
sua vez, possui atração semântica com os seguintes termos: “projeto”,
“social/sociedade”, “política”, “produto”, “criar”, “gerar”, ensino” e
“tecnologia/tecnológico. Este cluster central é formado por outros dois
subclusters, sendo o mais próximo identificado pelo termo “universidade”, como
era de se esperar, reunindo preferencialmente os termos: “conhecimento”,
“inovador”, “produzir”, “diferente” e “acontecer”. O outro subcluster relacionado à
inovação é representado pelos termos “atividade” e “extensão”, sinalizando
claramente uma das formas de exteriorização da inovação universitária.

Figura 8.4 – Análise de Similitude das entrevistas com os dirigentes

Fonte: Dados da pesquisa (2022).


ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 176
A partir das redes indicadas nesse tipo de análise, pode-se inferir o modo
como os dirigentes ouvidos externalizaram suas ideias a respeito do processo
da inovação no contexto da universidade, trazendo alguma elucidação para a
compreensão desse fenômeno. É possível deduzir que a inovação universitária
é vista pelos entrevistados como uma expressão de transformação social, que
vai além do aspecto tecnológico a qual normalmente está associada. Trata-se
da aplicação do conhecimento produzido pela academia, de forma criativa, para
atendimento às demandas da sociedade e resolução de problemas, porém sob
o arcabouço de uma política de gestão previamente definida.
Ao verificar as palavras mais fortemente representadas no grafo (Figura
8.4), percebe-se que há uma baixa frequência de menções aos termos
relacionados a “indicadores” e/ou “métricas”, o que pode ser compreendido
devido à dificuldade de alguns entrevistados em tratar esse tópico com
objetividade. Uma possível explicação para isso reside no fato da maioria dos
indicadores tradicionais de inovação ser considerada mais operacional, ao passo
que os dirigentes normalmente atuam nos níveis gerencial ou estratégico da
organização. Nesse caso, eles teriam desenvoltura para propor diretrizes mais
amplas para a mensuração da inovação em universidades.
Todavia, constatou-se o reconhecimento unânime sobre a necessidade e
relevância de se mensurar a inovação. Tal constatação pode ser comprovada
pelo fato dos termos associados a “indicadores” estarem mais próximos do
cluster representado pelo termo “gente” que, conforme mencionado
anteriormente, tem um sentido institucional (nós). Alguns dos termos mais
atraídos para esse vocábulo são: “empresa”, “trabalho”, “aluno” e “patente”. E é
justamente neste cluster em que também aparecem os termos relacionados às
métricas, tais como: “indicador”, “métrico”, “medir” e “número”, conforme
evidências destacadas nos trechos a seguir:

(...) a gente só tem clareza do ambiente, se a gente consegue medir, de alguma


forma, mesmo que essas métricas não sejam perfeitas. (...) (UnB).
(...) a gente utiliza as métricas dos rankings para a gente balizar as estratégias
internas de ação (...) (UFLA).
(...) na pauta agora está a criação de um escritório de métricas para que
possamos sistematizar todos os nossos índices de pesquisa, graduação,
extensão e inovação, enfim, todos aqueles que possamos tornar visíveis para a
sociedade aquilo que a gente tem para mostrar (...) (UFABC).
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 177
(...) eu avalio que nós precisamos, além dos indicadores com métricas baseadas
em número, a necessidade da gente pensar em estabelecer indicadores de
medida de impacto social dessas tecnologias e dessas inovações desenvolvidas
nas instituições de ensino, no caso específico das universidades (...) (UFG).
(...) tem alguns indicadores que são difíceis de mensurar e outros que a gente
gostaria de ver como impactam no próprio ensino, na pesquisa (...) (UFSM).

8.2 Análise das Percepções dos Dirigentes sobre a Inovação na


Universidade Pública
A investigação dos dados textuais realizada com o auxílio do software
IRAMUTEQ foi adequada para uma primeira abordagem sobre o corpus das
entrevistas realizadas com os gestores públicos (dirigentes de Agências de
Inovação e alguns pró-reitores) que lidam com a temática da inovação nas
universidades. Porém, para um exame mais detalhado a respeito das visões dos
entrevistados sobre o “objeto” inovação no meio acadêmico, fez-se uso adicional
do software ATLAS.ti. Essa ferramenta apoiou a metodologia de Análise de
Conteúdo e ofereceu facilidades na localização dos trechos (citações) em que
os dirigentes expressaram suas opiniões e sentimentos a respeito do tema.
Como já mencionado, a leitura flutuante das transcrições das entrevistas,
realizada durante a fase de pré-análise dos dados, permitiu a identificação da
proximidade da fala dos entrevistados com alguns aspectos levantados no
referencial teórico do trabalho, promovendo as primeiras hipóteses. Uma
segunda leitura minuciosa dos textos possibilitou a referenciação, processo
descrito na Análise de Conteúdo como a elaboração de índices e indicadores,
que correspondem aos termos e expressões que se destacam e a respectiva
frequência. A partir daí foram criados 24 códigos (unidades de registro) de todas
as citações consideradas pertinentes aos objetivos das pesquisas, sendo os
mais frequentes representados no Quadro 8.1.
As categorias, por sua vez, foram construídas com o auxílio da
funcionalidade “rede” do software ATLAS.ti, por meio da qual os códigos e seus
grupos podem ser organizados em uma rede semântica, semelhante a um mapa
mental, permitindo melhor visualização do material produzido (JUNIOR; LEÃO,
2018, p. 720). Convêm lembrar que a ferramenta não permite a criação de
categorias, mas apenas os grupos (ou famílias) de códigos, uma vez que a
categoria nada mais é do que uma abstração conceitual dos códigos que, por
sua vez, representam os dados.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 178
Quadro 8.1 – Relação dos principais códigos criados para a Análise de Conteúdo

Códigos Ocorrências Descrição

68 Menções ao desafio de mensuração da inovação,


métricas para inovação
com algumas sugestões de possíveis indicadores

55 Referências ao papel social da inovação


inovação e sociedade produzida pela universidade e também menções
ao conceito de “inovação social”

52 Aspectos relacionados à visão e percepção da


percepção da inovação manifestação da inovação sob a ótica dos
dirigentes

indicadores: não- 30 Sugestões de possíveis indicadores de inovação,


tradicionais considerados “não- tradicionais”

27 Percepção dos dirigentes a respeito do papel da


papel da universidade
universidade no Sistema de Nacional de Inovação

25 Percepção dos dirigentes a respeito do uso de


patentes
patentes como indicador de inovação

20 Relatos sobre a construção da política de


políticas de inovação
inovação institucional e sua importância

18 Menções às atividades de empreendedorismo


cultura empreendedora promovidas pelas universidades como forma de
induzir à inovação

18 Relatos sobre as dificuldades e resistências


inovação: resistências internas encontradas para a promoção da
inovação

15 Interpretações a respeito do conceito de inovação


conceito
no âmbito da universidade

14 Relatos sobre a atuação das Agências de


atuação do NIT
Inovação das universidades

12 Sugestões de possíveis indicadores de inovação,


indicadores: tradicionais
considerados “tradicionais”

licenciamento 10 Menções a contratos de licenciamentos


tecnológico tecnológicos das universidades

inovação: Ensino 10 Referências a inovação no ensino de Graduação

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Desse modo, foram estabelecidas 3 (três) categorias de análise, todas


aderentes aos três primeiros objetivos específicos da tese, a saber: Definição e
Significado (com o agrupamento de 9 códigos); Natureza da Inovação (6
códigos); e Mensuração da Inovação (4 códigos). Essas dimensões serão mais
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 179
bem exploradas nos próximos tópicos trazendo, sempre que necessário, as
evidências das falas dos dirigentes entrevistados.

8.2.1 Conceito de inovação no âmbito da universidade pública


As percepções a respeito da conceituação de inovação sob a ótica da
universidade foram analisadas a partir da categoria “Definição e Significado”,
representada pela rede semântica ilustrada na Figura 8.5.

Figura 8.5 – Rede Semântica da categoria “Definição e Significado” das entrevistas com
dirigentes de IES sobre Inovação em Universidades

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

A análise da categoria “Definição e Significado” foi interpretada a partir da


relação semântica verificada entre os trechos dos discursos (citações) que
representaram 6 (seis) códigos no total: “papel da universidade”, “conceitos de
inovação”, “percepção da inovação”, “universidade inovadora”, “potencial de
inovação” e “relação universidade-empresa”. Porém, o código “percepção da
inovação” foi considerado associado às unidades dos códigos “inovação no
ensino”, “inovação na pesquisa”, “inovação na extensão” e “universidade
inovadora”, além de uma relação de causalidade com o código “conceitos de
inovação”, já que as definições verificadas são consequências da percepção da
inovação e do papel da universidade por parte dos dirigentes entrevistados.
A abordagem sobre a conceituação do objeto “inovação” para a
universidade foi bem recebida pelos entrevistados. Percebeu-se que o momento
da investigação foi oportuno, uma vez que muitas universidades encontram-se
debruçadas atualmente sobre esse tema, seja discutindo o destino dos recursos
angariados por meio dos contratos de licenciamento de tecnologias ou patentes,
ou ainda, nas avaliações de mudanças estratégicas consideradas necessárias,
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 180
como as propostas de institucionalização de Pró-reitorias dedicadas à inovação,
conforme revelada por algumas universidades ouvidas.
Esse entendimento pode ser comprovado, por exemplo, na fala do Prof.
Dr. Luiz Catalani, diretor da Agência USP de Inovação: “(...) essa é uma
discussão bastante atual aqui. Nós tivemos uma longa discussão durante o
processo eleitoral [para a Reitoria] porque a inovação estava na plataforma de
todos os candidatos e, na nova gestão, tem-se tentado criar essas definições
muito bem pensadas”.
De acordo com o diretor de Transferência e Inovação Tecnológica da Pró-
Reitoria de Pesquisa e Inovação da UFG, Prof. Dr. Marinaldo Ribeiro, é
importante que haja clareza sobre o conceito de inovação até para o próprio
corpo docente e técnicos administrativos. “talvez o professor faça inovação e não
compreenda como uma inovação. Ele entende como sendo uma pesquisa que,
para ele, vai gerar um artigo mas não efetivamente a possibilidade de
transformar aquele paper em um produto, em um serviço ou alguma propriedade
intelectual propriamente dita”, afirmou o Prof. Ribeiro.
Menções sobre o entendimento do conceito de inovação na perspectiva
da universidade foram verificadas em 14 citações de 9 dirigentes diferentes,
sendo que 3 definições chamam a atenção por trazerem como componente uma
perspectiva mais voltada para o aspecto social, direcionando os objetivos das
inovações desenvolvidas, conforme os trechos destacados a seguir:
Inovação é aquela ideia que transforma, que termina com
algum impacto na sociedade. Isso transcende à questão de
tecnologia puramente simples ou da adoção de algum ganho
final econômico (USP).
Inovação é produzir o melhor conhecimento, ou seja, o mais
referendado, de uma forma que atenda às demandas da
sociedade, em geral, e que possa vir a ser transferido
(UNIFESP).
Entendemos a inovação como alguma coisa que precisa ser
validada pela sociedade, mas não apenas a tecnológica ou
pelo menos não apenas um produto. Trabalhamos com o
conceito de inovação social na nossa universidade (UFABC).
No caso da UFABC, o Prof. Dr. Arnaldo Rodrigues, diretor da Agência
Inova (NIT da universidade), informou que, anteriormente, a universidade
trabalhava com a definição “clássica” de inovação para o desenvolvimento de
produtos e de tecnologias, porém a abordagem social foi sendo incorporada, nos
últimos anos, no âmbito das atividades da Agência Inova.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 181
Esse parece ser um movimento esperado, em um futuro breve, dado o
cenário observado através da literatura, principalmente quanto aos movimentos
voltados para a chamada “inovação responsável”. No entanto, a visão de muitos
executivos encontra-se ainda apoiada nos marcos legais, que não observa,
necessariamente, os aspectos de transformação social. Alguns discursos
verificados denotam um certo pragmatismo na materialização dos produtos
decorrentes da inovação:
Inovação para a universidade é modificar e fazer o novo do ponto de
vista de produtos, de processos e de procedimentos, inclusive. (UFG).
A definição de inovação são as básicas, que a gente acaba usando dos
decretos, como a Lei da inovação e do próprio Marco Legal de Ciência,
Tecnologia e Inovação (UFAL).
Inovação é dar passos na direção de transformar o conhecimento
gerado na universidade em produtos (UnB).

De acordo com os dados analisados, ainda prevalece no âmbito das


universidades uma conceituação para inovação fortemente vinculada ao
pensamento neo-shumpteriano, conforme definição encontrada na Lei 10.973,
segundo a qual inovação é a:
[...] introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo
e social que resulte em novos produtos, serviços ou processos ou que
compreenda a agregação de novas funcionalidades ou características
a produto, serviço ou processo já existente que possa resultar em
melhorias e em efetivo ganho de qualidade ou desempenho (BRASIL,
2016).
O aspecto da novidade ou aperfeiçoamento no ambiente social até
encontra-se presente nesta definição “oficial”, porém acredita-se que o agente
“universidade” carece de uma conceituação própria, o que pode resultar de uma
combinação entre as interpretações distintas, porém não contraditórias.
Destarte, apresenta-se como contribuição desse trabalho uma proposta
para o conceito de inovação universitária. De acordo com o nosso entendimento,
considerando a literatura e percepções abstraídas nas falas dos dirigentes das
universidades entrevistados, a inovação na universidade trata do “resultado da
transformação do conhecimento produzido na universidade em produtos,
serviços, processos, práticas ou procedimentos capazes de gerar algum
impacto positivo na sociedade”. Entende-se que tal definição seja adequada
ao contexto universitário, contribuindo para direcionamentos de políticas
públicas, operacionalização e medição da inovação nesse tipo peculiar de
organização.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 182
8.2.2 O papel da inovação no âmbito da universidade pública
As percepções a respeito do papel da inovação no âmbito da universidade
foram analisadas a partir da categoria “Natureza da Inovação”, representada
pela rede ilustrada na Figura 8.6, que compõe a relação semântica verificada
entre 6 (seis) códigos relacionados: “inovação e sociedade”, “cultura
empreendedora”, “inovação social”, “universidade inovadora”, “relação
universidade-empresa” e “percepção da inovação”.
A unidade de registro “percepção da inovação” foi considerada uma chave
importante para a compreensão sobre o que representa a inovação verificada na
universidade, já que neste código estão contidas as impressões e sentimentos
dos entrevistados a respeito de como a inovação se manifesta. Desse modo,
observa-se também associações com os códigos “cultura empreendedora” e
“universidade inovadora”.

Figura 8.6 – Rede Semântica da categoria “Natureza da Inovação” das entrevistas com
dirigentes de IES sobre Inovação em Universidades

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

A ideia de responsabilidade social da universidade na produção de


inovações apareceu praticamente como uma unanimidade entre os
entrevistados. Afinal, até pela própria conceituação verificada anteriormente, o
que efetiva a inovação é quando a sociedade é atingida, de fato, modificando a
comunidade ao seu redor de alguma maneira. Um dos casos citados pelos
entrevistados diz respeito aos contratos de licenciamento, quando se observa
que há transferência do conhecimento – e consequentemente da tecnologia –
nascida na universidade para a sociedade.
De acordo com o diretor da Agência de Inovação da UFSCAr, Prof. Dr.
Rafael Arouca, “a patente é um instrumento importante, mas o que importa é se
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 183
aquilo foi transferido, nem que seja de graça, e esteja agregando valor para a
sociedade e até para uma empresa”. Um exemplo prático é trazido pela Profa.
Dra. Ana Frattini, diretora executiva da Agência de Inovação da Unicamp, ao
lembrar que no ano crítico da pandemia, em 2020, a universidade firmou 35
contratos de licenciamento de tecnologias de gestão hospitalar com a rede do
SUS de forma totalmente gratuita.
Outro aspecto levantado foi o fomento à cultura empreendedora, voltada
tanto para os alunos e docentes quanto ao corpo de funcionários, mencionado
pela maioria (72,7%) dos entrevistados, o que confirma a relação de proximidade
entre empreendedorismo e inovação. No entanto, cabe a ressalva feita pelo Prof.
Dr. Marinaldo Ribeiro (UFG):
[...] não há nada de inovador se a gente pensar no empreendedorismo
apenas como o desenvolvimento de um negócio próprio. Se eu pensar
que o empreendedorismo me oportuniza colocar as minhas boas ideias
no papel e transformá-las em um produto ou um serviço, o
empreendedorismo resulta em uma inovação.
Diversas iniciativas foram lembradas nessa linha, todas elas voltadas para
a sensibilização e estímulo da inovação por meio da realização de eventos,
cursos de capacitação, construção de espaços próprios voltados ao
compartilhamento de ideias, gestão de incubadoras, enfim, uma série de ações
que envolvem o ecossistema de inovação da universidade, em particular a
atuação dos NIT e dos Parques Tecnológicos junto aos demais atores do
Sistema Nacional de Inovação, como governos e empresas.
Nesse contexto, é reforçada a importância do papel das empresas
incubadas pela universidade do mesmo modo que aquelas criadas por alunos
ou ex-alunos egressos (empresas-filhas). Para o gerente de empreendedorismo
e assessor da Agência Unesp de Inovação, Prof. Dr. Marcelo Orlandi, é
extremamente importante acompanhar os dados das empresas-filhas. “Fizemos
um levantamento e vimos que nossas empresas-filhas atuam com 2 a 3 bilhões
de reais na economia anualmente. É um valor relevante”, comemora o Prof.
Orlandi. Na avaliação da Prof. Frattini (Unicamp), “quanto mais empresas
nascem do pessoal que passa pela universidade, significa que estamos criando
uma boa cultura empreendedora dentro da universidade”. Essa lógica é
complementada pelo Prof. Arouca (UFSCar): “temos que formar “aprendedores”
que vão acabar sendo inovadores, cada um na sua área”.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 184
A aproximação das universidades com as indústrias e empresas, de modo
geral, foi reforçada pelos entrevistados como um pilar importante da inovação
produzida pela universidade. Evidência disso é a vanguarda da pesquisa
produzida por essas instituições, além do fato de serem responsáveis pelo maior
número de depósito de patentes no País, tornando as universidades essenciais
para o fortalecimento da indústria brasileira, que não é capaz de inovar sozinha.
Interessante notar que a ideia de uma “universidade inovadora”,
amplamente presente na literatura, não representa, necessariamente, o grau de
inovação traduzido em forma de produtos gerados. É possível que uma
universidade seja considerada inovadora pelas iniciativas de aplicação de novos
métodos de ensino, por exemplo, bem como à sua capacidade de desenvolver
novas parceiras e adaptar-se, com agilidade, sempre que entender que está
trabalhando com convicções ultrapassadas. Nas palavras do Prof. Dr. Guilherme
Brandão (UNIFESP),
[...] a universidade tem que se preocupar em escutar e ser
porosa às diferentes demandas, produzir o melhor
conhecimento científico, ter os melhores relacionamentos com
os grupos internacionais que mais lhe interessam e, sim,
ensinar empreendedorismo, falar de empreendedorismo, dar
opção de empregabilidade para aluno, fazer com que o aluno
consiga saber qual a vocação dele e trabalhar nela.
De modo espontâneo, alguns dirigentes comentaram sobre os princípios
de governança ambiental e social (ESG, de Environmental, Social and Corporate
Governance), como importante atributo a ser considerado no papel da inovação
universitária nos dias de hoje. Para o Prof. Dr. Marinaldo Ribeiro (UFG), “não é
possível mais pensar em tecnologia desenvolvida por humanos que não levem
em consideração os aspectos mais recentes, sobretudo, de sustentabilidade”.
Concordando com essa ideia, a Pró-Reitora de Inovação da UFF, Profa. Dra.
Andrea Latge, afirma que “qualquer política de inovação deve estar pautada nas
questões de sustentabilidade, pois vivemos em um mundo em que o cuidado
com o meio ambiente é essencial”.
Esse princípio já vem sendo seguido pela USP, que possui uma diretriz
clara indicando que as inovações devem obedecer às metas de crescimento
sustentável, segundo o diretor executivo da Agência Prof. Dr. Luiz Catalani. A
Unicamp é outra universidade que também inseriu esse princípio em suas
políticas. De acordo com a diretora a Profa. Dra. Ana Frattini, o ESG chegou com
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 185
tanta força que foi necessário fazer adaptações nos modos de se fazer
incubação de empresas, por exemplo. “Estamos nos preparando para que o ano
de 2022 seja todo voltado a dar suporte à governança social e sustentabilidade
para as empresas em que a gente faz a tutoria e mentoria”, afirmou a Profa.
Frattini.
Conclui-se que, segundo a visão dos dirigentes entrevistados, o papel da
inovação no âmbito da universidade é o de favorecer a redução de
desigualdades por meio da promoção de impactos na sociedade, através da
geração de conhecimento e do fomento de uma cultura empreendedora,
levando-se em consideração aspectos de sustentabilidade. Essa percepção está
alinhada com as tendências observadas nos estudos sobre inovação social e
também com os modelos de inovação conhecidos por quádrupla e quíntupla
hélice (CARAYANNIS; CAMPBELL, 2019, 2010).
Conforme a discussão tratada a respeito das missões antigas e novas da
universidade, verifica-se que a importância da inovação universitária extrapola
as fronteiras da própria instituição. Em qualquer perspectiva observada – do
ensino e pesquisa à gestão de processos – a inserção das universidades nas
políticas de inovação do País tem um papel extremamente relevante.

8.2.3 Construção de indicadores de inovação nas universidades públicas


No decorrer das entrevistas, buscou-se realizar um levantamento das
percepções dos dirigentes sobre quais indicadores poderiam ser os mais
adequados ou relevantes para a tarefa de mensurar a inovação no âmbito das
universidades.
A categoria que representou essa interpretação foi denominada
“Mensuração da Inovação”, sendo composta pelos seguintes códigos: “métricas
para inovação”, “indicadores tradicionais”, “indicadores não tradicionais” e
“problemas com indicadores”, conforme ilustrada pela rede semântica da Figura
8.7.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 186
Figura 8.7 – Rede Semântica da categoria “Mensuração da Inovação” das entrevistas
com dirigentes de IES sobre Inovação em Universidades

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Uma vez que o ponto central desse trabalho é justamente a discussão a


respeito dos mecanismos de mensuração da inovação em universidades – o que
é evidenciado pelo fato do código “métricas para inovação” ter contabilizado o
maior número de menções (68) entre todos as demais – é natural que fossem
investigadas as práticas de utilização de indicadores por parte dos dirigentes que
lidam com inovação nessas instituições. De fato, a maioria dos entrevistados
declarou estar consciente da importância de se aferir a inovação produzida,
porém, poucos demonstraram clareza a respeito das métricas mais adequadas.
Houve também quem admitisse que sequer havia pensado na possibilidade de
medir a inovação.
Em um primeiro momento, chama a atenção o fato de os indicadores
considerados não-tradicionais terem sido os mais comentados durante as
entrevistas: foram 30 menções de 10 dirigentes diferentes, enquanto as
referências aos indicadores tradicionais totalizaram 12 citações de 7 executivos.
Contudo, esses últimos foram os tipos mais lembrados como sendo capazes de
medir a inovação universitária, com destaque para o indicador “total de empresas
incubadas”, que aparece como o mais recorrente, com 4 menções, seguido por
“número de contratos de licenciamento tecnológico”, com 3.
O Quadro 8.2 apresenta o levantamento de todos os 17 indicadores
mencionados (já utilizados pelas universidades ou propostos pelos dirigentes
ouvidos), acompanhado pela frequência com que foram citados. Observa-se que
a maioria das medidas são objetivas, direcionadas às atividades de gestão, e
encontram-se relacionadas com o estabelecimento de metas relativamente mais
fáceis de serem alcançadas. É o caso dos indicadores (clássicos) de P&D, da
mesma forma que a contabilização dos dividendos dos royalties oriundos das
patentes e licenciamentos, portfólio dos projetos de pesquisa e total de empresas
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 187
graduadas (aquelas que lançaram-se no mercado após concluírem o período de
incubação na universidade), para citar alguns dos indicadores.

Quadro 8.2 – Indicadores de inovação universitária utilizados e/ou propostos pelos


dirigentes das IES

Indicadores Tradicionais Indicadores Não-Tradicionais

ideias com potencial para inovação


total de empresas incubadas (4)
(prospectadas) (2)

número de contratos de licenciamento


% de projetos colocados em prática (2)
tecnológico (3)

total de empresas-filhas (3) total de empresas/parceiros (2)

indicadores de P&D (3) potencial de propriedade intelectual (2)

comprometimento ecológico / biodiversidade


indicadores de patentes (3)
(1)

total de empresas (startups) graduadas (1) impacto social (1)

dividendos de royalties recebidos (1) projetos de extensão tecnológica (1)

total de projetos de pesquisa (1) capacitações realizadas (1)

total de alunos e professores envolvidos com


projetos de pesquisa (1)

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Por outro lado, faz-se notar as sugestões de indicadores mais


abrangentes, devido ao alto grau de subjetividade de sua interpretação, tais
como: “ideias com potencial de inovação”; “potencial de propriedade intelectual”,
ou ainda, “comprometimento ecológico e/ou biodiversidade”. A complexidade de
aferir tais métricas parece residir na inexistência de parâmetros consensuados,
além da diversidade das realidades encontradas nas universidades, seja pelo
contexto da região onde atuam, as características das parcerias envolvidas no
ecossistema de empreendedorismo ou até mesmo ao montante do orçamento
destinado às universidades pelos governos estaduais ou federal.
Para minimizar esses problemas, no entanto, sugere-se pensar em
adequar as aproximações já existentes, como as classificações de impacto do
ranking universitário THE, baseadas nos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) das Nações Unidas, que valoriza as universidades com
ações dedicados à sustentabilidade e com atividades de extensão educacional
dedicadas à comunidade em geral, por exemplo. Uma vez ajustada, tal
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 188
metodologia poderia contribuir significativamente para a construção de
indicadores não-tradicionais capazes de estimar algumas métricas para o
impacto social produzido pela inovação no âmbito das universidades,
minimizando a subjetividade de alguns conceitos por parte dos gestores
públicos.
Do mesmo modo, modelos de avaliação de maturidade tecnológica, como
o TRL (Technology Readiness Level) e suas derivações, poderiam ser utilizados
como parâmetros quantitativos dos diferentes estágios de desenvolvimento da
inovação e, assim, apoiar os dirigentes na tomada de decisões relativas aos
investimentos e esforços necessários por etapa, visando à transição desses
níveis no decorrer do processo. Convencionou-se que a escala TRL varia de 1 a
9, de acordo com o grau de maturidade de uma tecnologia. Assim, quando um
elemento analisado se encontra nos níveis mais baixos, poder-se-ia dizer que
ele estaria na etapa de pesquisa básica, ao passo que, ao atingir os níveis mais
altos (8 ou 9), entende-se que este pertence a um estágio máximo de
industrialização e comercialização.
No decorrer das entrevistas, foi relatado que algumas agências de
inovação das universidades já utilizam o TRL (ou adaptações dessa escala) para
examinar as tecnologias desenvolvidas em parcerias com as empresas que a
procuram. O Prof. Dr. Marcelo Orlandi (Unesp), em sua fala, ilustra a prática de
utilizar a métrica do TRL para a avaliação das comunicações das invenções
recebidas pela Agência Unesp: “temos que ter uma ideia se [a inovação] é
basicamente um conceito, se já foi desenvolvido algum protótipo, se já encontra-
se em uma escala de piloto ou se já está sendo comercializada”.
A decana de Pesquisa e Inovação da UnB, Profa. Dra. Marília Walter, por
sua vez, informa que a ferramenta TRL é amplamente utilizada pelo Parque
Científico e Tecnológico da universidade (PCTec/UnB) como uma de suas
métricas de gestão de inovação uma vez que a escala permite determinar o nível
de desenvolvimento de determinada tecnologia (produto ou processo) através
de critérios de sucesso previamente estabelecidos.
Outro aspecto que merece atenção especial nessa análise diz respeito
aos “indicadores de patentes”, objeto de alguma polêmica segundo vários
autores, porém mencionados por alguns dos entrevistados. Na avaliação geral
dos dirigentes, a patente apresenta relativa importância pelo fato desse título de
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 189
propriedade assegurar o direito de exclusividade sobre a invenção e, com isso,
garantir a seu titular a possibilidade de retorno sobre o investimento aplicado no
desenvolvimento de novos produtos e processos industriais. Porém, perde a
razão de existir se não tiver como consequência o licenciamento da tecnologia
que está por trás da invenção protegida.
Desse modo, percebe-se na fala dos entrevistados que o número de
depósitos de patentes, ainda que apareça como um indicador bastante utilizado
no processo de inovação empresarial, tem sido cada vez mais preterido pelas
universidades, principalmente aquelas que encontram-se no topo dos rankings,
por não verificarem potencial de mercado (geração de produtos ou negócios) nas
invenções produzidas em seus laboratórios.
Segundo a avaliação do Prof. Dr. Luiz Catalani (USP), os parâmetros de
avaliação tem sido um grande desafio devido à mudança no paradigma da
inovação:
[...] estamos descartando alguns indicadores tradicionais, pois é
altamente crítico falar em avaliação de inovação através, por exemplo,
do número de patentes. É o número mais obvio que se pode imaginar
e existe uma crítica muito grande na avaliação através desse tipo de
indicador (USP).
Nas palavras da Profa. Dra. Ana Frattini (Unicamp): “esse indicador
(patente) não significa nada para a Unicamp. A gente não está preocupado em
depositar patente, até porque está custando caro (...) Outro indicador
problemático é “patentes concedidas”, que depende do trabalho do INPI e não
da universidade”.
O Prof. Dr. Arnaldo Rodrigues (UFABC) também é categórico ao afirmar:
“O Brasil valoriza muito a patente, mas para mim é uma bola na trave. O gol seria
o licenciamento. Uma patente sem licenciamento não serve para nada”,
sentencia o Prof. Rodrigues, que aponta como um problema adicional o fato de
a Capes ter incluído a patente na plataforma Lattes como produção científica:
“as pessoas começaram a patentear coisas que, em outros países, não seria
uma patente. A gente tem muita patente semiacabada, carente ainda de
desenvolvimento”, avalia.
Segundo o Prof. Dr. Rafael Arouca (UFSCar), é sabido que existem muitas
patentes ruins porque “é possível protocolar o depósito de praticamente qualquer
coisa”, já que, para serem publicadas, precisam apenas cumprir com os
requisitos formais que nada dizem respeito ao valor inovador da invenção.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 190
Exemplo disso é a patente “BR 102018004918-6 A2”, publicada em maio de
2019 na base do INPI sob o título: “Método educativo para demonstrar que
quantidade de pedidos de patentes não é uma boa métrica de inovação” (Figura
8.8).

Figura 8.8 – Patente que adverte para a fragilidade no uso de indicadores de patentes
como métrica

Fonte: INPI

O documento, na verdade, é fruto de uma provocação feita pelo inventor


Henry Jun Suzuki com a finalidade de deixar claro o efeito deletério da adoção
da quantidade de pedidos de patentes como indicativo de produtividade. Em tom
de ironia, o inventor apresenta o seu objetivo no campo “invenção” (0001): “a
presente invenção pertence ao campo da formalidade e das métricas
descabidas, mas, apesar disso, muito valorizadas”. O autor afirma que não se
trata de uma crítica ao INPI ou qualquer outro órgão, mas sim à admissão da
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 191
quantidade de simples pedidos de patentes em sistemas de pontuação de
produtividade em ICT, órgãos de fomento, ou ainda em rankings de instituições
(SUZUKI, 2019).
Ainda assim, o Prof. Arouca considera as patentes como um excelente
mecanismo por meio do qual é possível viabilizar um novo produto com alguma
segurança. “Acho que pouca gente faz essa reflexão porque algumas pessoas
veem a patente até com uma certa cautela por ser um monopólio. Mas é um
monopólio temporário, pensando que alguém que investiu naquilo precisa
recuperar aquele investimento e esse monopólio um dia termina e estará aberto
para todos”, pondera o diretor da Agência de Inovação da UFSCar, que também
deixa clara a sua preferência pelos indicadores de transferência de tecnologia.
“Se não der para patentear, fazemos uma transferência por know how”, sugere
o Prof. Arouca.
Na avaliação do Prof. Dr. Marinaldo Ribeiro (UFG), a inovação deveria ser
percebida muito além da sua associação com patentes: “Não se pode pensar
somente no retorno financeiro que as patentes geram e devolvem para a
universidade (...) quando falamos de inovação, pensamos quase que
exclusivamente na propriedade industrial, onde estão os produtos e as patentes,
mas não temos só isso do ponto de vista da propriedade intelectual. Temos que
ir além”.
E por olhar adiante, o diretor de Transferência e Inovação Tecnológica da
UFG propõe o desenvolvimento de medidas que sejam capazes de avaliar o
impacto social das inovações produzidas pelas universidades, equivalente a
“equação produzida pela Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária] para estimar o impacto na sociedade das tecnologias
desenvolvidas por ela”.
O Prof. Dr. Marinaldo Ribeiro refere-se ao Sistema de Avaliação de
Impacto Social da Inovação Tecnológica Agropecuária (Ambitec-Social),
desenvolvido pela Embrapa, em 2005, que consiste em um conjunto de planilhas
eletrônicas que integram 14 indicadores da contribuição de uma dada inovação
tecnológica agropecuária para o bem estar social, no âmbito de um
estabelecimento rural. Tais indicadores são construídos em matrizes de
ponderação nas quais os dados obtidos em campo, de acordo com o
conhecimento do produtor/administrador do estabelecimento, são
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 192
automaticamente transformados em índices de impacto expressos graficamente.
(RODRIGUES et al., 2005).
De acordo com a opinião do Prof. Ribeiro, o método proposto pela
Embrapa poderia ser um caminho para a construção de novos indicadores de
inovação para as universidades. “Precisamos pensar em alguma coisa similar a
essa para as instituições de ensino e pesquisa, especialmente as universidades,
que têm o ensino, a pesquisa e a extensão como elementos que, ao final, resulta
em impacto social significativo”, analisa.
A fim de orientar a composição de métricas próprias para a inovação no
âmbito das universidades, procurou-se investigar as principais dificuldades
apontadas pelos dirigentes para o desenvolvimento e a consolidação dessas
medidas. E o que se observou foi um verdadeiro conflito entre a declarada
importância dada ao tema e a incerteza sobre como concretizá-la
adequadamente, fato esse que pode ser resumido no pensamento do Prof. Dr.
Luiz Catalani a respeito da problemática enfrentada pela USP: “a gente sabe o
que não quer mais como indicador, mas a gente não consegue desenhar um que
seja justo”.
O mesmo problema é relatado por outras instituições, como a
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFSM). Nas palavras do diretor
da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (AGITTEC), Prof. Dr.
Daniel Bernardon: “ainda estamos na fase de construir os indicadores para que
sejam mais assertivos em cada frente. Há muita dificuldade em mensurar
algumas manifestações da inovação”, reconhece Prof. Bernardon.
O Prof. Dr. Rafael Arouca (UFSCar), por sua vez, demonstra certa cautela
quanto ao uso de indicadores, de uma forma geral: “me incomoda muito o fato
de que, quando você define um indicador, todo mundo parece correr atrás para
cumpri-lo, de qualquer maneira, e talvez isso não gere um efeito muito positivo”,
afirma, citando o exemplo do indicador “empresas-filhas”, que poderia,
eventualmente, ser mascarado com a informação a respeito do “total de ex-
alunos constituintes de empresas”, caso a mesma tenha como fonte apenas os
CPFs registrados na Receita Federal.
Nesse caso, mesmo que a empresa aberta não possua qualquer relação
com o conhecimento adquirido na academia ou como resultado de pesquisa, ela
seria contabilizada como um empreendimento “gerado” pela universidade. Na
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
____________________________________________________________________ 193
avaliação do Prof. Arouca, tal medida não teria como verificar o impacto da
universidade na sociedade e na vida das pessoas uma vez que esse dado
representaria apenas a preocupação com os rankings ou o cumprimento de
indicadores, sem mais compromissos. “O indicador passaria a moldar as
instituições a trabalharem para cumprir os objetivos daquele indicador”, adverte.
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 194
9 PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES
DA INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS

Tendo como base as análises realizadas até o momento, o presente


capítulo visa sistematizar e apresentar algumas diretrizes rumo a um conjunto
inicial de métricas voltadas para a inovação decorrente das atividades
desenvolvidas pelas instituições públicas de ensino superior. Para tanto, levou-
se em consideração os indicadores tradicionais e não-tradicionais encontrados
na literatura, juntamente com os citados pelos dirigentes entrevistados.
Adicionalmente, foram incluídas outras medidas consideradas relevantes, de
acordo com uma estrutura orientada a “dimensões de inovação”, suportada por
trabalhos científicos voltados para a proposição de indicadores de inovação
acadêmicos.
O primeiro passo para o arranjo deste modelo foi o estudo atento dos 17
indicadores macros, trazidos espontaneamente pelos dirigentes das
universidades públicas durante as entrevistas, procurando relacioná-los com a
contribuição dos principais autores revisados no decorrer da pesquisa. Esse
mapeamento buscou contemplar, ao máximo, as necessidades expressas pelos
representantes das universidades, de modo a capturar a percepção mais
adequada na seleção dos indicadores inseridos no contexto do estudo. Como
resultado, verificou-se que a maioria das métricas apontadas nas entrevistas
(82,3%) encontram amparo na literatura científica, de alguma maneira, conforme
demonstrado no Quadro 9.1.
Explica-se que a coluna da esquerda, no Quadro 9.1, refere-se ao tipo de
indicadores sugeridos pelos dirigentes (sendo eles tradicionais ou não). Já a
coluna da direita apresenta a relação de equivalência com os indicadores
propostos por alguns autores, do modo com que foram localizados na literatura
especializada, sendo específicos em alguns casos.
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 195
Quadro 9.1 – Conjunto de indicadores mencionados pelos dirigentes entrevistados que
encontram amparo na literatura

Indicadores
Indicadores propostos na literatura / Autores
Tradicionais

nº de registros de propriedade industrial


protocoladas no Brasil

nº de concessões de propriedade industrial


protocoladas no Brasil

nº de registros de propriedade industrial ANDRADE, 2016


protocoladas em outros países

nº de concessões de propriedade industrial


protocoladas em outros países

total de patentes

quantidade de depósito de patente de invenção

quantidade de depósito de patente de invenção


em outro país
SILVA, 2019
quantidade de concessão de patentes de
indicadores de patentes invenção

quantidade de concessão de patentes de


invenção em outro país

patentes requiridas
GONÇALVES, 2017
patentes concedidas

total de patentes
WU; CHEN; CHEN, 2010
receita obtida por meio de patentes

total de patentes recebidas para invenções e POPODKO; NAGAEVA,


modelos de utilidade 2019

total de patentes alcançadas (nacionais e LUQUE-MARTÍNEZ; DEL


internacionais) BARIO-GARCÍA, 2016

total de patentes ZHAO; CHEN, 2010

despesa bruta com P&D

despesas em negócios com P&D


TIJSSEN; WINNINK,
gastos em educação superior em P&D 2018
indicadores de P&D
gastos com P&D no ensino superior (financiados
pelo setor empresarial)

total de trabalhadores envolvidos com P&D


WU; CHEN; CHEN, 2010
gastos com P&D
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 196
POPODKO; NAGAEVA,
nº de organizações realizando P&D
2019
indicadores de P&D
LUQUE-MARTÍNEZ; DEL
total de contratos de P&D
BARIO-GARCÍA, 2016

despesas com TIC para P&D GONÇALVES, 2017

quantidade de projetos que geraram contratos

quantidade de contratos de licenciamento de


tecnologia junto ao INPI
SILVA, 2019
quantidade de contratos de empresas incubadas

nº de contratos de quantidade de contratos de tecnologia social


licenciamento
tecnológico
nº de contratos de licenciamento negociados
ANDRADE, 2016
nº de contratos de licenciamento assinados

nº de contratos de licenciamento ativos GONÇALVES, 2017

total de contratos de licenciamento de tecnologia SANTOS, 2019

nº de projetos de pré-incubação

prazo médio de incubação


GONÇALVES, 2017
mortalidade de empresas incubadas
total de empresas
incubadas
quantidade de startups

nº de empresas incubadas ANDRADE, 2016

quantidade de empresas incubadas SILVA, 2019

nº empresas graduadas
GONÇALVES, 2017
mortalidade das empresas graduadas

total de empresas nº empresas graduadas ANDRADE, 2016


(startups) graduadas
quantidade de empresas graduadas SILVA, 2019

LUQUE-MARTÍNEZ; DEL
total de spin-offs criadas
BARIO-GARCÍA, 2016

faturamento por royalties SILVA, 2019

RAMOS-VIELBA;
FERNÁNDEZ-
comercialização relacionada à direitos de
ESQUINAS; ESPINOSA-
propriedade intelectual
dividendos de royalties DE-LOS-MONTEROS,
recebidos 2010

receita obtida através de patentes WU; CHEN; CHEN, 2010

LUQUE-MARTÍNEZ; DEL
receita gerada pelo licenciamento
BARIO-GARCÍA, 2016
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 197
total de spin-offs universitários GONÇALVES, 2017
total de empresas-filhas
LUQUE-MARTÍNEZ; DEL
nº de spin-offs criadas
BARIO-GARCÍA, 2016

total de alunos e nº de doutores envolvidos em grupos de pesquisa


professores envolvidos ANDRADE, 2016
com projetos de pesquisa nº de doutores envolvidos em grupos de pesquisa

PERIS-ORTIZ; GARCIA-
total de projetos de
nº de projetos de pesquisa HURTADO; DEVECE,
pesquisa
2019

Indicadores Não-
Indicadores propostos na literatura / Autores
Tradicionais

taxa de pensamento inovativo


WU; CHEN; CHEN, 2010
ideias com potencial para nº de novas ideias
inovação
MARINS; ZAWISLAK,
Criatividade
2010

nº de novos projetos, serviços ou produtos KOWANG; LONG;


concluídos RASLI; FEI, 2016
projetos colocados em
prática
MARINS; ZAWISLAK,
capacidade de realização
2010

acordos de cooperação
mapeamento de
GONÇALVES, 2017
empresas e parceiros
IES parceiras

quantidade de cursos na área de inovação,


pesquisa e empreendedorismo ofertados para
técnicos
capacitações realizadas SILVA, 2019
quantidade de cursos na área de inovação,
pesquisa e empreendedorismo ofertados para
docentes

projetos de extensão
quantidade de projetos de extensão SILVA, 2019
tecnológica

potencial de propriedade
Sugerido pelos dirigentes e não localizado equivalentes na literatura
intelectual

comprometimento
ecológico e/ou Sugerido pelos dirigentes e não localizado equivalentes na literatura
biodiversidade

impacto social Sugerido pelos dirigentes e não localizado equivalentes na literatura

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Confrontando-se todas as proposições – identificadas tanto na pesquisa


empírica como as observadas nos artigos revisados – percebe-se, mais uma
vez, a predileção pelos indicadores tradicionais, destacando-se os “indicadores
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
198
____________________________________________________________________
de patentes”, com 16 menções (de 7 autores distintos), seguido pelos
“indicadores de P&D”, com 9 ocorrências (verificadas em 5 autores).
Na sequência, observa-se a predominância de três indicadores
relacionados à vocação empreendedora da universidade. São eles: “número de
contratos de licenciamento tecnológico”, com 8 menções (4 autores); “total de
empresas incubadas”, com 6 menções (3 autores); e “total de empresas
graduadas”, com 5 menções feitas por 4 autores.
Quanto aos indicadores tidos como “não-tradicionais” – considerados
mais subjetivos e, consequentemente, mais difíceis de serem mensurados –
foram verificadas correspondências em 5 dos 8 mencionados pelos
entrevistados. Não foram identificadas equivalências na literatura para os
seguintes indicadores: “potencial de propriedade intelectual”, “comprometimento
ecológico e/ou biodiversidade” e “impacto social”.
Adiante, em uma segunda fase, procedeu-se um estudo comparativo
(benchmarking) de algumas dimensões propostas em trabalhos acadêmicos
anteriores para a compreensão da inovação no contexto da universidade. Para
essa etapa – materializada no Quadro 9.2 – foram escolhidas as áreas trazidas
por Silva (2019), Gonçalves (2017) e Andrade (2016), cujas contribuições foram
apresentadas no Capítulo 6.
A sugestão para o modelo de dimensões da inovação universitária, aqui
apresentado, inclui as propostas para mensuração mais consensuadas, além da
adição de outras consideradas relevantes para os objetivos declarados na tese:
impacto social e impacto ambiental. Reforça-se que a necessidade de adotar
medidas e critérios padronizados requer o desenvolvimento de adaptações que
contribuam para a elaboração de uma proposta com características específicas.
Ademais, a intenção em se fazer paralelos com referências prévias foi a
de buscar convergências com um grupo de categorias já validadas sobre o tema,
mas que também pudesse abarcar novos pilares de inovação, eventualmente
necessários, como nos casos de impactos na sociedade e no meio-ambiente
como resultado de uma inovação universitária. Tal inclusão fez-se necessária
devido ao fato de nenhuma das estruturas avaliadas ter levado em consideração
os aspectos sociais e ambientais na produção de seus indicadores, conforme
preconizado nos princípios da “inovação responsável” e na estrutura conhecida
como Hélice Quíntupla (CARAYANNIS; CAMPBELL, 2010).
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 199

Quadro 9.2 – Dimensões da inovação percebidas no contexto das universidades

Modelos de inovação identificados na literatura selecionada


Dimensões propostas
SILVA (2019) GONÇALVES (2017) ANDRADE (2016)

Recursos
Potencial Humano Recursos Humanos Pessoas
(subárea: Recursos Humanos)

Recursos
Práticas Gerenciais Modernização Organizacional –
(subárea: Infraestrutura)

Área de Insumos Recursos


Recursos Financeiros Capital Financeiro Financiamento
(subárea: Financiamentos)

Parcerias – Alianças Estratégicas

Transferência de Conhecimento
Ensino, Pesquisa e Extensão Atividade de Pesquisa Artigos publicados
(subárea: Prod. Conhecimento

Transf. de Conhecimento
Contratos de Transferência de
– (subárea: Cooperação e
Transferência de Tecnologia
Transferência de Tecnologia
Conhecimento e Propriedade
Intelectual
Registro de Propriedade
– Propriedade Intelectual
Intelectual
Área de Resultados
Novas empresas que surgem das
Capacidade Empreendedora Empreendedorismo Capacitação e Empreendedorismo
incubadoras

Impacto Social – – –

Impacto Ambiental – – –

Fonte: Elaboração própria.


PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 200
A Figura 9.1 ilustra 9 (nove) diferentes perspectivas (ou dimensões) nas
quais a inovação universitária pôde ser mais comumente percebida, a partir dos
modelos de Silva (2019), Gonçalves (2017) e Andrade (2016) e complementados
pelas contribuições trazidas pelas falas dos dirigentes entrevistados. Trata-se de
uma proposta inicial mínima, porém flexível, de tal modo que as universidades
possam acrescentar outras dimensões que correspondam ao seu entendimento
sobre como e em que áreas são percebidas o impacto da inovação adotada.
Com base nesse arcabouço teórico-empírico, formaram-se as diretrizes que
serviram de alicerce para o conjunto de 76 indicadores sugeridos, os quais serão
detalhados mais adiante.

Figura 9.1 – Dimensões da inovação em universidades públicas identificadas na


literatura e por meio das entrevistas com os dirigentes das IES

Fonte: elaboração própria.

É oportuno ressaltar que, apesar de consideramos a inovação como fruto


de um processo não-linear, foi adotada a abordagem de insumo-produto
(entradas e saídas) apenas para facilitar a compreensão do modelo. Assim,
verifica-se uma separação nítida em duas áreas, denominadas “Insumos”
(identificada pela cor azul) e “Resultados”, de cor verde. Tal divisão tem o
propósito de apoiar a operacionalização do método e a interpretação dos
resultados alcançados, representados pelos indicadores básicos apresentados
adiante para tal finalidade.
As setas circulares estilizadas, localizadas em torno do centro da Figura
9.1, representam a noção da dinâmica do movimento de integração, presente e
necessário, que perpassa todas as dimensões propostas, as quais serão
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
201
____________________________________________________________________
detalhadas nos próximos tópicos, bem como alguns exemplos de possíveis
indicadores.
9.1 Dimensões da inovação em universidades públicas: Insumos
Segundo a proposta aqui apresentada, são 5 (cinco) as perspectivas
voltadas para os insumos (ou entradas), consideradas estratégicas para o
desenvolvimento de inovações no contexto das universidades: “Potencial
Humano”, “Práticas Gerenciais”, “Recursos Financeiros”, “Parcerias” e, ainda,
“Ensino, Pesquisa e Extensão”.
As subseções seguintes trazem exemplos de indicadores preliminares,
acompanhados das principais fontes de coletas de informação, bem como
sugestão de periodicidade para a recolha dos dados.

9.1.1 Indicadores da dimensão “Potencial Humano”


Quadro 9.3 – Exemplos de indicadores de inovação de universidades da dimensão
“Potencial Humano”
Indicadores Fonte
1 docentes doutores atuando em atividades de pesquisa própria IES
2 docentes / grupo de pesquisa própria IES
3 pesquisadores atuando em empresas própria IES
discentes em projetos de extensão relacionados à inovação
4 própria IES
tecnológica e/ou social
5 discentes em projetos de IC própria IES
6 discentes em atividades de pesquisa própria IES
7 discentes matriculados em PPG com bolsa própria IES
8 técnicos atuando em atividades de pesquisa própria IES
9 técnicos / grupo de pesquisa própria IES
10 bolsistas trabalhando em atividades de PD&I própria IES
11 técnicos trabalhando em atividades de PD&I própria IES
12 capacitações relacionadas à inovação recebidas por docentes própria IES
13 capacitações relacionadas à inovação recebidas por técnicos própria IES
14 participação de docentes em eventos relacionados à inovação própria IES
15 participação de técnicos em eventos relacionados à inovação própria IES
16 registro de novas ideias (docentes/discentes/técnicos) própria IES
Fonte: elaboração própria.

O papel da Gestão de Pessoas é essencial para o desenvolvimento e


difusão do conhecimento, constituindo o elo humano entre o crescimento
econômico e o desenvolvimento social e do meio ambiente. Tal dimensão foi
percebida como o “Potencial Humano” capaz de promover a inovação no âmbito
da universidade por meio do envolvimento do corpo docente, discente e técnicos
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
202
____________________________________________________________________
em atividades relacionadas à geração, avanço, difusão e aplicação de
conhecimento científico e tecnológico rumo à inovação.
Adicionalmente, considera-se que um conjunto de indicadores para
mensuração da inovação no âmbito universitário pondere a inclusão de
elementos como a totalização das capacitações recebidas pelo corpo da
universidade, bem como sua participação em eventos relacionados à temática
da inovação. O indicador mais desafiador, porém, é coleta de novas ideias com
potencial para prospecção inovação, mencionada por dois gestores
entrevistados, podendo ser implementada através da criação de uma base de
conhecimento, por exemplo, a qual seria gerenciada por algum setor estratégico
da universidade, possivelmente vinculado diretamente à reitoria.

9.1.2 Indicadores da dimensão “Práticas Gerenciais”


Referem-se aos esforços conduzidos para as inovações e melhorias
internas da própria instituição. A análise dessa dimensão reside, principalmente,
na perspectiva das inovações organizacionais e de processos, que contribuem
para o aprimoramento constante rumo às melhores práticas de gestão da
universidade.
Na instância de atuação das reitorias e dos colegiados superiores,
observa-se a presença de inovação organizacional quando há mudanças nos
arranjos estruturais, a exemplo das universidades que incluíram (ou pretendem
incluir) Pró-reitorias dedicadas à temática da inovação à sua estrutura
organizacional. Todavia, acredita-se que muitas experiências inovadoras
também possam ser encontradas em um nível tácito de conhecimento, a partir
da criatividade aplicada à solução de problemas, no dia a dia do atendimento
das secretarias dos cursos, coordenações dos programas de Pós-Graduação,
entre outras unidades administrativas. Nesse caso, entende-se que exista uma
grande dificuldade em capturar e avaliar o impacto desse tipo de inovação.
Exemplos de indicadores percebidos como relevantes para essa
dimensão (Quadro 9.4) baseia-se na percepção da eficiência dos processos
(indicadores 1 e 2), considerando-se favorável uma taxa menor de
encaminhamentos, correspondendo a um consequente aumento na otimização
dos processos; diminuição do tempo de resposta às demandas (indicadores 3 a
6); número de ferramentas tecnológicas utilizadas para acompanhamento de
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 203
processos e tomadas de decisão (indicador 7), além da quantidade de unidades
envolvidas com a política de inovação da IES (indicador 9).

Quadro 9.4 – Exemplos de indicadores da dimensão “Práticas Gerenciais”


Indicadores Fonte
1 taxa de encaminhamento de processos própria IES
2 taxa de otimização de processos própria IES
3 tempo médio de resposta às solicitações de discentes própria IES
4 tempo médio de resposta às solicitações de docentes própria IES
5 tempo de aprovação de resoluções internas própria IES
6 tempo médio de finalização de um projeto própria IES
ferramentas tecnológicas usadas para acompanhamento de
7 própria IES
processos e tomadas de decisão
8 mudanças estratégicas e organizacionais importantes própria IES
9 unidades envolvidas com a política de inovação da IES própria IES
Fonte: elaboração própria.

9.1.3 Indicadores da dimensão “Recursos Financeiros”


O financiamento dos processos de inovação é considerado por Edquist
(1997) como uma das funções mais importantes desempenhadas pela maioria
dos sistemas de inovação. Afinal, tal dimensão reúne todos os custos (diretos ou
indiretos) envolvidos no decorrer de uma atividade (projeto, produto ou serviço)
que, fortuitamente, poderá vir a se tornar uma inovação.
Dependendo do tipo de atividade de inovação, nos dispêndios com PD&I
poderão ser incluídos os gastos com a aquisição de tecnologia e know-how não
incorporado; despesas com aquisição de tecnologia incorporada; despesas com
equipamentos e fontes de produção; despesas de treinamento vinculadas às
atividades de inovação tecnológica em produtos e processos e à
comercialização de produtos tecnologicamente novos ou aprimorados.
De modo geral, o potencial de arrecadação das universidades federais
pode ser quantificado pela quantidade de termos de cooperação, definido na
Portaria Interministerial MP/MF/CGU nº 507 (2011), como “instrumento por meio
do qual é ajustada a transferência de crédito de órgão ou entidade da
Administração Pública Federal para outro órgão federal da mesma natureza ou
autarquia, fundação pública ou empresa estatal dependente” e pela dotação
orçamentária anual.
Os indicadores sugeridos para essa dimensão encontram-se relacionados
no Quadro 9.5.
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 204
Quadro 9.5 – Exemplos de indicadores da dimensão “Recursos Financeiros”
Indicadores Fonte
1 projetos com financiamento (nacional/internacional) própria IES
2 recursos próprios destinados às atividades de inovação própria IES
montante de recursos captados por meio de Termo de Execução
3 própria IES
Descentralizada (TED)
4 captação de recursos oriundos de projetos de pesquisa própria IES
5 dispêndios com PD&I própria IES
6 investimento alocado em pesquisa básica própria IES
7 dispêndios com PD&I financiados por empresas própria IES
8 contratos de PD&I própria IES

Fonte: elaboração própria.

9.1.4 Indicadores da dimensão “Parcerias”


O Quadro 9.6 agrega os indicadores propostos para essa dimensão, que
procura valorizar o papel das alianças estratégicas firmadas pela universidade
em empreendimentos com outros atores do Sistema Nacional de Inovação, em
todas as suas instâncias, envolvendo a interação com Governos (Federal,
Estadual e Municipal), setor privado e entidades da sociedade civil em geral.

Quadro 9.6 – Exemplos de indicadores da dimensão “Parcerias”


Indicadores Fonte
1 acordos de cooperação assinados (nacional/internacional) própria IES
acordos de cooperação assinados/atores (Governos, empresa,
2 própria IES
sociedade)
3 projetos de cooperação ativos em parceria com outras IES própria IES
parceiros estratégicos para as atividades de inovação e
4 própria IES
empreendedorismo
parceiros estratégicos para as atividades de inovação/atores
5 própria IES
(Governos, empresa, sociedade)
6 publicações em coautoria com outras IES própria IES
7 publicações em coautoria com empresas própria IES
Fonte: elaboração própria.

9.1.5 Indicadores da dimensão “Ensino, Pesquisa e Extensão”


Reúne as métricas mais recorrentes entre as observadas na literatura
especializada, já que essas estão relacionados diretamente às três missões
basilares das universidades.
Dos indicadores apresentados (Quadro 9.7), merece atenção aqueles que
procuram mensurar as atividades de pesquisa devido à sua relação direta com
o entendimento comum do significado de inovação. Tal vínculo se reflete,
inclusive, nas missões explicitadas nas páginas Web da maioria das
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
205
____________________________________________________________________
universidades estudadas, que costumam atribuir o papel de inovação da
universidade às suas Pró-Reitorias de Pesquisa. Por conseguinte, destacam-se
as métricas de publicação acadêmica por meio de artigos científicos (indicadores
3 a 6) e produção de teses e dissertações decorrentes de projetos de Iniciação
Científica e/ou que podem dar origem a comunicação de invenções ou registro
de patentes (indicadores 8 e 9).

Quadro 9.7 – Exemplos de indicadores da dimensão “Ensino, Pesquisa e Extensão”


Indicadores Fonte
cursos de Graduação com escopo na área de inovação e
1 própria IES
empreendedorismo

2 conjunto de práticas/metodologias ativas utilizadas no ensino própria IES

3 artigos publicados em periódicos (nacionais/internacionais) própria IES

artigos publicados em periódicos (nacionais/internacionais)


4 própria IES
indexados em bases de dados

artigos publicados em periódicos (nacionais/internacionais) em


5 própria IES
parceria com empresas

artigos publicados em periódicos (nacionais/internacionais) em


6 própria IES
parceria com outras IES

7 teses e dissertações oriundas de projetos de IC própria IES

teses e dissertações que deram origem a pedido de


8 própria IES
patentes/licenciamento de tecnologias

9 projetos de pesquisa em parceria com empresas própria IES

10 projetos de extensão envolvendo tecnologias sociais própria IES

11 alunos envolvidos com projetos de extensão própria IES

12 artigos publicados resultantes de projetos de extensão própria IES

Fonte: elaboração própria.

9.2 Dimensões da inovação em universidades públicas: Resultados


Dentro dessa área encontram-se as dimensões compreendidas como
resultados ou produtos decorrentes da implementação de inovações nas
universidades. Segundo o modelo apresentado, são elas: “Transferência de
Conhecimento e Propriedade Intelectual”; “Capacidade Empreendedora”,
“Impacto Ambiental” e “Impacto Social”.
Tal como apresentado na seção anterior, a seguir são trazidas propostas
de indicadores básicos, acompanhados de suas respectivas fontes de
informação.
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 206
9.2.1 Indicadores da dimensão “Transferência de Conhecimento e
Propriedade Intelectual”
Refere-se à capacidade da universidade em converter o conhecimento
acadêmico produzido internamente (geralmente através das atividades de
pesquisa) em benefícios que sejam úteis à sociedade e demais atores do
sistema de inovação.

Quadro 9.8 – Exemplos de indicadores da dimensão


“Transferência de Conhecimento e Propriedade Intelectual”
Indicadores Fonte
concessões de propriedade industrial (patentes/programas
1 de computador/design/marcas/cultivares) protocoladas no INPI
Brasil
Bases de patentes
concessões de propriedade industrial (patentes/programas
(ex. Espacenet,
2 de computador/design/marcas/cultivares) protocoladas em
Patentscope, Derwent
outros países
Innovations Index)
taxa de concessão de pedidos de propriedade industrial INPI
3
(pedidos/concessões) Bases de patentes
projetos convertidos em contratos de licenciamentos
4 própria IES
tecnológicos (know-how e direitos autorais)
5 contratos de tecnologias sociais própria IES
6 dividendos de royalties recebidos com licenciamentos própria IES
7 receita líquida obtida com patentes e licenciamentos própria IES
8 consultorias realizadas pelos NIT para comunidade externa própria IES
9 capacitações promovidas pelos NIT própria IES
promoção/participação em eventos relacionados à
10 própria IES
inovação e empreendedorismo

Fonte: elaboração própria.

O Quadro 9.8 reúne os indicadores básicos propostos, os quais procuram


retratar o processo de transferência de conhecimento (ou de tecnologias) de
ativos intangíveis, podendo ser dado por meio do licenciamento da propriedade
industrial (patentes, programas de computador, designs, marcas e cultivares), tal
como outras formas igualmente relevantes, como gestão de projetos,
consultorias técnicas, e transferência de know-how e de direito autoral.

9.2.2 Indicadores da dimensão “Capacidade Empreendedora”


Os indicadores compreendidos para essa dimensão (Quadro 9.9) buscam
agregar alguns aspectos do conceito da “universidade empreendedora”,
entendida como sendo aquela capaz de fomentar ações de empreendedorismo
no âmbito de suas missões e, desse modo, obter lucros e dividendos a partir dos
seus resultados, em especial em decorrência das pesquisas realizadas.
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 207
Quadro 9.9 – Exemplos de indicadores da dimensão “Capacidade Empreendedora”
Indicadores Fonte
1 projetos de pré-incubação própria IES

2 prazo médio de incubação de empresas própria IES

3 empresas incubadas própria IES

4 taxa de mortalidade de empresas incubadas própria IES

5 empresas graduadas própria IES

6 taxa de mortalidade de empresas graduadas própria IES

7 spin-offs criadas própria IES

8 projetos implementados em relação aos demandados própria IES

9 dividendos de royalties recebidos com licenciamentos própria IES

10 receita líquida obtida com patentes própria IES

11 número de parques tecnológicos própria IES

12 comunicações de invenções recebidas pelo NIT própria IES

13 eventos realizados no âmbito da inovação e empreendedorismo própria IES

Fonte: elaboração própria.

Foram incluídos nesse conjunto (indicadores de 1 a 7), os dados das


empresas incubadas pelas universidades bem como aquelas que surgem
decorrente das atividades acadêmicas (spin-offs ou empresas-filhas). Além
disso, entende-se que a orientação a projetos seja uma competência crítica para
a relação universidade-empresa (indicador 8), do mesmo modo que os
indicadores de receitas obtidas com licenciamentos e patentes (indicadores 9 e
10).
O grau de fomento ao empreendedorismo no meio acadêmico, por sua
vez, poderia ser verificado através do engajamento da comunidade docente e
discente a partir das comunicações de invenções decorrentes das pesquisas e,
ainda, nas ações de capacitação (cursos, palestras e workshops) promovidas
pelos NIT e Agências de Inovação.

9.2.3 Indicadores da dimensão “Impacto “Social”


Com os argumentos apresentados até o momento, é possível inferir que
talvez essa seja a visão mais importante na esfera da inovação universitária. Isso
porque, além de traduzir um dos objetivos da universidade, no que diz respeito
ao incentivo de seus egressos atuarem como líderes e cidadãos conscientes na
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
208
____________________________________________________________________
sociedade, o impacto social de uma inovação representa mudança no modo
como um programa ou projeto afeta a vida de uma determinada comunidade,
beneficiando inúmeras famílias a desfrutarem de melhor qualidade de vida.
Esse tipo de “dimensão social” não cabe apenas nos números, sendo
necessário um olhar profundo e investigativo acerca das mudanças que,
efetivamente, ocorrem a partir de determinada ação. Nesse sentido, cabe aqui
retomar o conceito da Hélice Quádrupla (CARAYANNIS; CAMPBELL, 2009), que
atribui à sociedade civil organizada o papel de agente impulsionador dos
processos de inovação, adicionando a dimensão “social” ao modelo consagrado
pela Hélice Tríplice para se compreender as dinâmicas existentes entre governo-
empresa-universidade.
Segundo Fabiani et al. (2018), “impacto” pode ser compreendido como
sendo “o efeito diretamente atribuível a uma ação, ou a consequência de
determinado esforço para atingir um fim estabelecido”. No contexto de
programas, projetos ou investimentos sociais, representam o conjunto de
mudanças produzidas pela intervenção, podendo ser intencionais ou não,
positivas e negativas, diretas e indiretas. Por essa razão, é importante
compreender que o impacto pode ser mais amplo do que os objetivos declarados
de uma intervenção (ou inovação), capaz de afetar seu processo de medição e
valoração.

E é justamente essa uma das motivações do Projeto Métricas, mantido


pela Fapesp e coordenado pela USP, que trabalha pela construção de
indicadores próprios que permitam avaliar a contribuição das IES públicas para
o desenvolvimento regional e nacional.
De acordo com a visão do Projeto, as chamadas “métricas centradas na
sociedade” devem tentar interpretar de que maneira os centavos investidos nas
universidades podem ser revertidos, em muitos Reais, em benefícios para a
sociedade (DIAS, 2020). Para isso, é de suma importância a definição de
indicadores que busquem dimensionar o impacto social obtido, que se concretiza
pelos resultados das soluções aplicadas sobre as causas centrais de um
problema social (CRUTCHFIELD; GRANT, 2008).
Diante dessa perspectiva, aponta-se como um caminho possível para as
universidades a adoção de metodologias já existentes, como a SROI – Social
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 209
Return of Investment19 (Retorno Social sobre Investimento), desenvolvida pela
fundação americana The Roberts Enterprise Development Fund (REDF), em
1996, com o propósito de quantificar o valor econômico criado com o
investimento em instituições sem fins lucrativos.
Basicamente, o SROI reúne um protocolo de avaliação que propõe uma
análise comparativa entre o valor dos recursos aplicados em determinado projeto
(de inovação, por exemplo) e o valor social gerado com essa inciativa. Para
tanto, são empregadas diversas técnicas que integram dados quantitativos e
qualitativos a fim de estimar o valor intangível de problemas sociais complexos,
tais como desigualdade e exclusão. O levantamento das necessidades que
envolvem toda uma cadeia de acontecimentos é frequentemente chamado de
“Teoria da Mudança”, cuja prática vem ganhando cada vez mais adeptos no
ecossistema do empreendedorismo social, incluindo a academia.
Um aspecto chave desse protocolo é seu foco na percepção do
beneficiário – o envolvimento dos stakeholders (partes interessadas) é um dos
princípios da SROI, o que significa que o impacto social deve ser observado a
partir do ponto de vista das necessidades daqueles que estão diretamente
envolvidos no contexto social. A partir dessa premissa, a lógica para mensuração
do impacto se adapta conforme cada necessidade, seguindo uma estrutura
metodológica coerente.
Outra sugestão de indicadores, passíveis de serem aproveitados nessa
dimensão social, é a adaptação das novas métricas utilizadas pelos rankings
universitários especializados, dentro os quais destaca-se o THE Impact Ranking,
mencionado no Capítulo 6, por ser esse um instrumento especialmente utilizado
para a análise do comprometimento e impacto social (e também ambiental) das
ações desenvolvidas pelas universidades para a comunidade interna e externa,
em questões socioeconômicas abrangentes, como combate à fome, saúde e
bem estar, desigualdade de gênero, entre outras. Ressalta-se que o fundamento
metodológico desse ranking reside nos 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Cada

19 Para mais informações sobre a metodologia SROI: ver: <https://redf.org>


PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 210
ODS possui uma série de métricas utilizadas para avaliar a performance da
universidade naquele determinado objetivo.
Além dessa abordagem, recomenda-se, ainda, a possibilidade da
universidade aderir ao World´s Universities with Real Impact (WURI)20, serviço
que se propõe avaliar as “reais contribuições da universidade para a sociedade”,
realçando abordagens criativas e inovadoras de pesquisa e programas
educacionais das IES com base em 6 (seis) categorias: i) aplicação industrial; ii)
criação de valor; iii) responsabilidade social, ética e integridade; iv) mobilidade e
abertura estudantil; v) gerenciamento de crise; e vi) progresso durante a 4ª
Revolução Industrial.
De acordo com a metodologia empregada pelo WURI, cada uma dessas
categorias é examinada segundo critérios de impacto, possibilidade de
implementação e, principalmente, sua capacidade de inovação (inovatividade).
Esse último princípio pode ser avaliado de acordo com o conteúdo do programa
em si ou com o processo que a instituição demonstrou para tornar sua ação mais
eficaz.
9.2.4 Indicadores da dimensão “Impacto Ambiental”
Essa dimensão de indicadores foi sugerida com base na percepção,
inclusive declarada por alguns gestores entrevistados, de que as atividades
inovativas no âmbito das universidades públicas devem considerar os impactos
que eventualmente produzam ao meio ambiente, tal qual a preocupação com a
sustentabilidade dos recursos utilizados.
Trata-se de um tema cada vez mais recorrente na academia,
especialmente após a emergência e profusão do conceito da Hélice Quíntupla
(CARAYANNIS; CAMPBELL, 2010), apresentado nessa tese, porém de difícil
captura em termos de indicadores próprios por parte das universidades e demais
instituições.
Desse modo, da mesma forma que na dimensão social, propõe-se aqui o
aproveitamento dos esforços previamente realizados por terceiros quanto à

20 Informações sobre o ranking WURI e sua metodologia encontram-se disponíveis em:


https://www.wuri.world
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 211
adaptação de metodologias de avaliação voltadas para essa temática. Verifica-
se que os indicadores de sustentabilidade para as IES foram amplamente
tratados por Silva e Almeida (2019) em uma ampla revisão de literatura que
reuniu artigos nacionais e estrangeiros sobre a mensuração da sustentabilidade
em instituições de ensino ou outras organizações, acrescido de uma validação
por um grupo de especialistas. Os autores mencionados afirmam ter preenchido
uma lacuna da literatura com a proposta de uma ferramenta metodológica que
compreende a mensuração de três dimensões integradas: social, ambiental e
econômica. Anteriormente, identificamos iniciativas semelhantes no trabalho de
Costa (2012) e Veiga (2009).
No caso da questão do impacto ambiental promovido pelas universidades,
merece atenção o estudo – e o eventual emprego – dos indicadores definidos
por dois métodos complementares, bastante utilizados nos relatórios de
sustentabilidade de universidades estrangeiras: o UI GreenMetric World
University Ranking21 e o Sustainability Tracking, Assessment and Rating System
(STARS)22.
O GreenMetric é considerado um ranking pioneiro na avaliação do
compromisso das universidades participantes em seguir as melhores práticas e
programas sustentáveis em seus campi, a partir de 51 indicadores agrupados
em 6 (seis) áreas: i) energia e mudança climática (peso 21%); ii) resíduos (18%);
iii) transporte (18%); iv) educação e pesquisa (18%); v) instalações e
infraestrutura (15%); e vi) água (10%).
A ferramenta foi desenvolvida pela Universidade da Indonésia, em 2010,
após especialistas sobre rankings universitários mundiais concluírem que os
critérios utilizados para classificação das universidades não davam o devido
crédito aquelas que se esforçavam para reduzir sua “pegada ambiental”, com
medidas de melhorias para o crescimento sustentável. Em sua edição mais
recente (2021), a pesquisa contou com a participação de 956 universidades de

21 Informações sobre o UI GreenMetric e sua metodologia encontram-se disponíveis em:


<https://greenmetric.ui.ac.id/>
22 Informações sobre o ranking STARS e sua metodologia encontram-se disponíveis em:

<https://stars.aashe.org/>
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
212
____________________________________________________________________
80 países, que responderam a uma survey sobre a situação atual e os
compromissos relacionados aos impactos ambientais.
A iniciativa pretende chamar a atenção de gestores públicos e demais
partes interessadas para o enfrentamento das mudanças climáticas globais,
conservação de energia e água, reciclagem de resíduos e transporte verde. De
acordo com os responsáveis pelo GreenMetric, tais atividades exigirão mudança
de comportamento e atenção ao meio ambiente, bem como aos problemas
econômicos e sociais relacionados à sustentabilidade.
Quanto aos exemplos de universidades brasileiras que já aderiram ao
GreenMetric, a USP se sobressai com a 10ª posição geral nesse ranking, melhor
colocação entre as instituições de ensino e pesquisa da América Latina na atual
edição. Outras instituições nacionais participantes são a Universidade Federal
de Lavras (UFLA), a Unicamp e o Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Sul de Minas Gerais, listados pela ordem de melhor
classificação23.
É válido lembrar que, desde 2012, a USP instituiu uma Superintendência
de Gestão Ambiental (SGA), responsável pelo desenvolvimento de ações de
conservação dos recursos naturais da universidade. Em 2020, a universidade foi
além, com a criação do GT de Indicadores para Sustentabilidade Ambiental24,
que tem sistematizado a coleta de dados referente ao consumo de água e
energia nos campi da universidade. Esses indicadores passaram a integrar o
Anuário Estatístico da USP, conforme ação de gestão conduzida pelo seu
Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico (Egida),
implementado em 2018.
De forma suplementar, o sistema de classificação STARS busca, por sua
vez, auxiliar as universidades na medição do progresso das ações inovadoras
sustentáveis (ecológicas, sociais, econômicas e de saúde) provocadas nos mais
diferentes setores, permitindo comparações significativas de seus esforços em

23 Classificação geral do UI GreenMetric 2021:


<https://greenmetric.ui.ac.id/rankings/overall-rankings-2021>.
24 Página do GT de Indicadores para Sustentabilidade Ambiental da USP, disponível em:

<http://egida.usp.br/gt-indicadores-sustentabilidade-ambiental-usp/>.
PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
____________________________________________________________________ 213
parâmetros específicos (por exemplo, reciclagem, energia e consumo de água)
com outras instituições.
Diferentemente dos rankings tradicionais, que apresentam uma listagem
hierárquica (top to bottom), o modelo fornece quatro níveis de reconhecimento
(selos), de acordo com a pontuação obtida pela instituição: Bronze, Silver, Gold
ou Platinum. Além desses, há também a classificação “Reporter” para
instituições que estão dando os primeiros passos nessa direção.

Quadro 9.10 – Modelos de sustentabilidade para o ensino superior propostos pelo


programa Stars e Green Metric World University Ranking

Conjunto de métricas que auxiliam Sistema desenvolvido a partir de


as universidades na medição e autodeclaração das instituições de
Visão geral melhoria da implementação de ensino para medição de seu
políticas e programas de desempenho em gestão de
sustentabilidade de modo amplo. sustentabilidade

Tipo de reconhecimento Classificação (4 níveis) Ranking (de cima para baixo)

Focado em torno de um conceito Focado em torno da


amplo e inclusivo de sustentabilidade ambiental, social e
sustentabilidade e estruturado em econômica e estruturado em 6
17 áreas de impacto: categorias:
1. Curriculum 1. Instalações e infraestrutura
2. Pesquisa 2. Energia e mudança climática
3. Envolvimento do campus 3. Resíduos
4. Engajamento público 4. Água
5. Ar e clima 5. Transporte
6. Edifícios 6. Educação e pesquisa
Escopo e Estrutura 7. Energia
8. Alimentos e refeições
9. Fundamentos
10. Compras
11. Transporte
12. Resíduos
13. Água
14. Coordenação e planejamento
15. Diversidade e acessibilidade de
preços
16. Investimentos e finanças
17. Bem-estar e trabalho

Os participantes completam créditos O desempenho em cada categoria é


e indicadores. A partir disso, uma avaliado com base em uma série de
classificação geral é determinada indicadores e métricas. Os
com base na porcentagem de participantes apresentam evidências
pontos disponíveis. para apoiar suas reivindicações. Os
Metodologia
revisores avaliam os dados e
Os créditos que não são relevantes evidências fornecidos e atribuem
para uma determinada instituição notas. As pontuações são contadas
não são contabilizados na sua e ponderadas para atingir o
pontuação. resultado final.

Fonte: Adaptado do programa Stars e Green Metric World University Ranking


PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSÕES DA INOVAÇÃO
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS
214
____________________________________________________________________
O projeto é fruto de um amplo engajamento de diversas partes
interessadas, capitaneadas pela Association for the Advancement of
Sustainability in Higher Education (AASHE) que, desde 2006, vem trabalhando
no aprimoramento de um roteiro de um conjunto padronizado de referências e
metas consistentes na avaliação do progresso em direção à sustentabilidade,
fomentando esses princípios nas instituições de ensino superior.
O Quadro 9.10 resume as principais características dos modelos de
avaliação propostos. A adesão de ambas as iniciativas é voluntária e gratuita,
inclusive para acesso aos dados de outros participantes, permitindo às IES
compararem seu estágio de desenvolvimento com as demais instituições e,
assim, induzir o gerenciamento de mudanças comportamentais na comunidade
acadêmica.
Portanto, acredita-se que as estratégias de inovação das universidades
possam se beneficiar desses instrumentos, que muito contribuirão na
implementação de produtos, serviços e programas sustentáveis e
ecologicamente corretos. O empenho depreendido pelas instâncias
responsáveis pela gestão dos indicadores nas universidades, na busca pela
avaliação dos impactos ambientais, poderá agregar substancialmente às
necessidades de medição da inovação nesse campo, não sendo necessária a
adoção de novos indicadores para no atual momento.
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
____________________________________________________________________ 215
10 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente tese teve como objetivo “analisar a percepção dos dirigentes


vinculados à inovação das universidades públicas brasileiras sobre o objeto
“inovação” de modo a subsidiar a proposição de um modelo capaz de agregar
dimensões e indicadores para a sua mensuração”. Considera-se que tal
propósito foi alcançado graças às múltiplas e aprofundadas análises qualitativas
do conteúdo das entrevistas realizadas com uma amostra desse público: Pró-
reitores(as) e executivos(as) das agências de inovação.
Conforme os objetivos específicos traçados, foram identificados os
conceitos e o papel da inovação, no âmbito do ensino superior, segundo a
percepção desses dirigentes. Além disso, também foi possível interrelacionar as
concepções e os indicadores mencionados aos localizados na literatura
especializada e, desse modo, propor um modelo com dimensões a serem
consideradas na mensuração do impacto da inovação (Figura 9.1), no contexto
das missões da universidade pública, acompanhado de um conjunto de medidas
minimamente capazes de verificar tais manifestações.
Entre os tópicos trazidos pelo referencial teórico, alguns merecem
consideração especial, como a discussão sobre o papel da inovação no
desenvolvimento econômico e social (conceitos de inovação social e
responsável) e a relação da universidade brasileira com a inovação,
especialmente após a regulamentação do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e
Inovação (Lei 13.243/2016), que obriga as ICT públicas brasileiras,
especialmente as universidades, de estabelecerem suas políticas de inovação
institucionais. Espera-se que o presente trabalho possa contribuir para a
discussão nas futuras implementações de políticas de inovação no âmbito da
universidade brasileira.
A Revisão Sistemática da Literatura, por sua vez, confirmou a variedade
de indicadores e fatores que promovem as inovações. Com base nas distintas
propostas de indicadores verificados, nota-se que as métricas mais comuns
continuam apontando para aquelas consideradas mais tradicionais, como
“avaliação de P&D”, seguido pelos indicadores bibliográficos, tais como “número
de publicações em coautoria (universidades-indústria)”, temática comumente
associada à inovação no ambiente universitário. De modo até surpreendente, os
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
____________________________________________________________________ 216
dados sobre patentes não figuram com tanta frequência nas propostas dos
sistemas de indicadores, segundo os artigos analisados.
Acredita-se que uma das principais contribuições desta tese talvez tenha
sido a de estimular a discussão em torno do protagonismo da inovação na
universidade pública e a importância do estabelecimento de parâmetros
adequados para a avaliação do seu efeito na sociedade, por meio da promoção
de estratégias de governança acadêmica, tais como o fomento a criação de
escritórios de indicadores e dados institucionais, instâncias responsáveis pelo
acompanhamento e apoio à gestão e desempenho universitário no
aprimoramento de sua excelência.
Por conseguinte, optou-se pela aplicação de uma metodologia
predominantemente qualitativa (Análise de Conteúdo), com o propósito de um
entendimento mais subjetivo sobre a compreensão dos dirigentes [que lidam
com o ecossistema de inovação de suas universidades] a respeito da expressão
desse fenômeno no contexto da academia.
A utilização dos softwares IRAMUTEQ e ATLAS.ti, por sua vez, apoiaram
as interpretações dos dados textuais (entrevistas) por meio de análises lexicais,
tornando possível integrar níveis qualitativos e quantitativos (estatísticas) na
análise, acrescentando certa objetividade ao processo, qualificando-o ainda
mais e, por conseguinte, os resultados da pesquisa.
Com a ferramenta de Classificação Hierárquica Descendente (CHD) foi
possível verificar os agrupamentos dos segmentos dos textos (entrevistas) em
função de seus respectivos vocabulários que constituem mundos lexicais
distintos, ou unidades de contexto (classes), que podem ser visualizadas por
meio de um dendrograma (Figura 8.2).
A apreciação do conjunto das classes identificadas permitiu alcançar um
melhor entendimento sobre como os entrevistados percebem a inovação
universitária sob a ótica de suas instituições. Desse modo, o resultado da análise
das percepções dos gestores pode fornecer um conjunto de elementos que
formam um mosaico, capaz de apontar ideias do que representa a inovação para
a academia, de modo mais amplo.
O exame das palavras mais significativas alocadas nas classes e suas
inserções com os segmentos de texto pode evidenciar que as falas dos gestores
de inovação entrevistados recaem sobre aspectos importantes, a saber: i)
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
____________________________________________________________________ 217
regulamentação e condições para criação de um ambiente de inovação na
universidade; ii) expectativas e resistências enfrentadas para operacionalização
da inovação; iii) relacionamento da universidade com o meio ambiente e
sociedade; e iv) produção de impactos econômicos e atendimento às demandas
externas.
Outra ferramenta empregada, a Análise Fatorial de Correspondência
(AFC), trouxe à tona outros tópicos correlatos à inovação universitária (Figura
8.3), destacando-se a importância da transferência do conhecimento para a
sociedade, a relevância na criação de mecanismos de avaliação e a disposição
para mudança, desde que haja redução na burocracia, com a adoção de
mecanismos mais ágeis na legislação. Também foi percebido, no discurso dos
gestores, a expectativa por bons resultados produzidos por uma universidade
inovadora, que envolva cada vez mais a sociedade e se preocupe com questões
relacionadas ao meio ambiente e sustentabilidade.
Como resultado da etapa de categorização – base para a metodologia da
Análise de Conteúdo – foram produzidos 24 códigos (unidades de registro), a
partir dos quais procedeu-se uma investigação mais detalhada acerca das visões
dos gestores quanto ao conceito e significado de “inovar” para a universidade,
além da averiguação dos indicadores de mensuração utilizados e sugeridos.
Chamou a atenção a preocupação demonstrada pelos representantes das
universidades sobre o posicionamento atual que as instituições acadêmicas
devem ter, cada vez mais determinado pelas necessidades e expectativas
mutáveis da sociedade. A partir da combinação das definições relatadas,
concluiu-se que a “inovação universitária” é vista como uma expressão de
transformação decorrente da aplicação do conhecimento produzido pela
academia para atendimento às demandas da sociedade.
Sendo assim, levando-se em conta as percepções dos dirigentes, como
contribuição teórica o presente estudo enfatiza a proposta da seguinte definição
para inovação no contexto da universidade: “inovação universitária é o
resultado da transformação do conhecimento produzido na universidade
em produtos, serviços, processos, práticas ou procedimentos capazes de
gerar algum impacto positivo na sociedade”.
Destaca-se que tal definição buscou representar o amplo espectro através
do qual a inovação é percebida pelos dirigentes de universidades públicas, que
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
____________________________________________________________________ 218
consideram relevante o caráter utilitário e transformador do conhecimento
acadêmico em prol da melhoria da sociedade. O alinhamento desse conceito é
tomado como sendo oportuno no sentido de contribuir com o direcionamento
para políticas públicas comuns.
Outro ponto de destaque da tese reside na proposição de um modelo que
compreende a manifestação da inovação na universidade pública em 9 (nove)
dimensões diferentes (Figura 9.1). Tal contribuição pretende preencher uma
lacuna teórica, além de contemplar a pesquisa empírica realizada. Desse modo,
o referido modelo busca traduzir o caráter dinâmico da inovação na universidade,
integrando, em princípio, as seguintes dimensões: i) potencial humano; ii)
recursos financeiros; iii) práticas gerenciais; iv) ensino, pesquisa e extensão; v)
parcerias; vi) transferência de conhecimento e propriedade intelectual; vii)
capacidade empreendedora; viii) impacto social; e ix) impacto ambiental.
Cabe ressaltar que, no decorrer de seu desenvolvimento, foi pensado que
outras dimensões, tais como o impacto científico e tecnológico, poderiam ser
também incorporadas ao modelo, dado que a adoção de uma inovação pela
universidade certamente provoca reflexos nos indicadores dessa natureza. No
entanto, as dimensões científica e tecnológica já encontram-se incorporadas às
demais perspectivas, devida a relação direta entre ciência e sociedade.
Adicionalmente, foram listados, como exemplo, 76 indicadores,
quantitativos e qualitativos, vislumbrados para compor/inspirar metodologias de
mensuração da inovação nas dimensões supramencionadas, com exceção das
áreas de impacto social e ambiental. Para essas, sugere-se à adesão das
universidades aos rankings especializados (THE Impact Ranking e UI
GreenMetric) ou mesmo o estudo de indicadores utilizados por eles.
Acredita-se que muitos elementos encontrados na tese, tanto o conteúdo
teórico quanto as análises realizadas, poderão trazer benefícios práticos diretos
paras as universidades públicas que estejam cogitando sobre a necessidade de
medir a inovação produzida e fomentada por elas, sob várias perspectivas, indo
além dos indicadores tradicionais mais conhecidos (e mais fáceis de serem
obtidos), mas que normalmente preocupam-se apenas com viés tecnológico dos
resultados de pesquisa. Do mesmo modo, espera-se contemplar eventuais
demandas de informação de outros atores do sistema de inovação, tais como a
própria sociedade civil, beneficiada com as inovações universitárias; o setor
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
____________________________________________________________________ 219
empresarial, interessado nas parcerias com as universidades; agentes de
governos; e/ou responsáveis por políticas públicas.
Dada a importância das universidades para o Sistema Nacional de
Inovação, é notável o desenvolvimento desse campo da avaliação científica em
medir a sua capacidade de inovação. Desse modo, considera-se que este trabalho
teve seus objetivos atingidos, não somente pelo cenário apresentado, mas
também por ter procurado analisar as contribuições das propostas trazidas e,
assim, poder contribuir com futuros estudos da área, uma vez que a clareza da
definição de um indicador pode ajudar as instituições a gerenciar suas ideias e
recursos em todo processo de inovação. Sua compreensão aprofundada favorece
os profissionais a se concentrem no máximo de inovações promissoras a fim de
fomentá-las.
Entende-se que, como em toda pesquisa acadêmica, esse estudo também
possui limitações. Uma vez que a escolha metodológica recaiu sobre técnicas
qualitativas para os propósitos dessa tese, é sabido que os resultados
demonstrados foram construídos com base em certa subjetividade, tanto da parte
da interpretação do pesquisador quanto dos respondentes, devido à diversidade
do perfil acadêmico e profissional dos entrevistados. Nesse sentido, para mitigar
esses vieses, fez-se uso de procedimentos quantitativos por meio de ferramentas
informatizadas.
Como proposta para pesquisas futuras, sugere-se o aprofundamento do
estudo dos indicadores e medidas recomendadas, incluindo a utilização de
formalismo matemático, visando a criação de um índice numérico capaz de
aproximar a informação capturada pelos indicadores do impacto da inovação
produzida pela universidade. Tal índice poderia ser calculado de forma
composta, com pesos determinados segundo a perspectiva das 9 (nove)
dimensões da inovação aqui entendidas como relevantes.
No desenvolvimento do trabalho foi percebida a importância de se
relacionar os indicadores de inovação com alguma métrica de desenvolvimento
social, com a intenção de tentar reduzir o subjetivismo das análises e aferições.
Nesse sentido, pode-se, em trabalhos futuros, utilizar como referência para
comparação o conhecido Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
amplamente utilizado por instituições internacionais.
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
____________________________________________________________________ 220
Para esse momento, acredita-se que os resultados alcançados já sejam
de grande valia para o debate em torno das dinâmicas da inovação no ambiente
universitário. O resgate histórico apresentado sobre as políticas de inovação e
de propriedade intelectual no País, juntamente com o debate sobre o papel da
universidade atuando cada vez mais próxima da sociedade, incluindo o setor
econômico/industrial afeta profundamente a compreensão do conceito de
inovação, tanto do ponto de vista tecnológico, quanto social e consequentemente
a noção de sustentabilidade, para além dos aspectos econômicos.
Apesar de alguns dirigentes de universidades públicas ouvidos terem
apontado como sendo este um “momento oportuno” para a reflexão sobre a
inovação no meio acadêmico, muitas universidades já vem discutindo o tema
desde o surgimento da Lei de Inovação (2004), mesmo aquelas que não tinham
políticas claras de proteção à propriedade intelectual/patenteamento. Mas é a
partir do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (2016) que ficou
explícito que o direito à inovação envolve a cooperação de múltiplos elementos,
cada um com seus recursos, suas habilidades e conhecimentos específicos.
Nesse sentido, o debate sobre a necessidade de criação desse tipo de métrica
torna-se essencial na atual conjuntura, em que as universidades são cada vez
mais cobradas pela sua contribuição social.
Com esse trabalho, aspira-se oferecer alguns subsídios para que os
formuladores de políticas públicas e gestores universitários possam aprimorar
seus processos de tomada de decisão, na busca de melhores indicadores para
se medir a inovação, bem como auxiliá-los na atribuição de fundos e alocação
de recursos; sobretudo, se considerarem as oportunidades emergentes a partir
da integração e cruzamento dos dados produzidos pelas universidades, iniciada
com o recente movimento de criação das unidades de gestão de dados
acadêmicos, os chamados “escritórios de indicadores” (Institutional Research
Office ou Office of Institutional Analysis, no exterior).
O crescente volume desses dados e das múltiplas fontes disponíveis,
aliados aos avanços das técnicas de big data e aprendizagem de máquina
(machine learning), certamente irão auxilliar, em um futuro próximo, a obtenção
de novos indicadores qualitativos, mais adequados para capturar o vasto
espectro de inovações produzidas pela universidade brasileira, porém,
infelizmente, ainda pouco compreendido pela sociedade como um todo.
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
____________________________________________________________________ 221
Finalmente, identifica-se como uma oportunidade para trabalhos futuros a
investigação mais aprofundada sobre a utilização dos modelos de maturidade de
inovação, a exemplo do KTH-IRL verificado no capítulo 6, para mensuração de
alguns tipos de inovação que ocorrem no contexto amplo das universidades.
Ainda que tenha sido verificada a aplicação dessas ferramentas na avaliação de
projetos tecnológicos, particularmente no âmbito dos NIT e de parques
tecnológicos, acredita-se que seja plenamente viável o aproveitamento de seu
potencial para estimar outras tipologias, como as inovações organizacionais e
de processo, em novas dimensões, como a humana (social) e de negócios.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 222
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Robson L.; MARICATO, João de M. Explorando conceitos e


métricas de inovação no contexto das universidades. Informação &
Informação, v. 26, n. 2, p. 646-679, 2021.
AMADO, João S. A técnica de Análise de Conteúdo. Revista Referência,
Coimbra, n. 5, nov. 2000. Disponível em:
https://web.esenfc.pt/v02/pa/conteudos/downloadArtigo.php?id_ficheiro=139&c
odigo=. Acesso em: 08 mar. 2022.
ANDRADE, Eron P. Sistema de mensuração de desempenho em inovação
para universidades públicas no Brasil. 2016. 180 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Industrial) – Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 2016.
ANDRADE, Rodrigo O. Corrida para medir impacto: universidades investem na
criação de escritórios para gestão e análise de indicadores de desempenho.
Pesquisa FAPESP, São Paulo, ed. 286, p. 32-35, dez. 2019.
ANGELAKI, Marina. An introduction to responsible research and innovation.
Pasteur 40A. [S. l.], 2016. Disponível em:
http://pasteur4oa.eu/sites/pasteur4oa/files/resource/RRI_POLICY%20BRIEF.pd
f. Acesso em: 15 jun. 2022.
ARAÚJO, Bruno C. Políticas de apoio à inovação no Brasil: uma análise de
sua evolução recente. Texto para discussão 1559. Brasília, Rio de Janeiro: IPEA,
2012. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1
5200. Acesso em: 13 out. 2021.
ARNKIL, Robert; JARVENSIVU, Anu; KOSKI, PASI; PIIRAINEN, Tatu.
Exploring Quadruple Helix - Outlining user-oriented innovation models - Final
Report on Quadruple Helix Research for the CLIQ project - University of
Tampere. Work Research Centre. Working Papers, 2010.
AROCENA, Rodrigo; SUTZ, Judith. Universities and social innovation for global
sustainable development as seen from the south. Technological Forecasting
& Social Change, n. 162, p. 1-10, 2021.
ARUNDEL, Anthony; HOLLANDERS, Hugo. Searching the forest for the trees:
“missing” indicators of innovation. Trend chart methodology report, 2006.
Disponível em:
http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.941.3911&rep=rep1&t
ype=pdf. Acesso em: 23 set. 2021.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E
ENGENHARIA DAS EMPRESAS INOVADORAS (ANPEI). Indicadores
empresariais de capacitação tecnológica: resultados da base de dados
ANPEI 2000. São Paulo: ANPEI, 2001.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 223
ATCON, Rudolph. P. Rumo à reformulação estrutural da universidade
brasileira. Rio de Janeiro: MEC/DES, 1966. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001610.pdf. Acesso em:
14 out. 2021.
AUDY, Jorge. A inovação, o desenvolvimento e o papel da Universidade.
Estudos avançados, v. 31, n. 90, 2017.
AUDY, Jorge; MOROSINI, Marília C. (Org.). Inovação e Interdisciplinaridade
na Universidade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.
BACHMANN, Dórian L.; DESTEFANI, Jully H. Metodologia para Estimar o Grau
de Inovação nas MPE. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE PARQUES
TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS, 18., 2008,
Aracaju. Anais [...]. Curitiba: Anprotec, 2008.
BANDEIRA-DE-MELLO, Rodrigo. Softwares em pesquisa qualitativa. In:
GODOI, Cristiane K.; BANDEIRA-DE-MELLO, Rodrigo; SILVA, Anielson B.
(Org). Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas,
estratégias e métodos. São Paulo: Saraiva, 2006. 480 p.
BARBIERI, José Carlos; TEIXEIRA, Antônio Carlos. Meio inovador empresarial:
conceitos, modelos e casos. Revista IMES Administração, vol. 56, set./dez,
2002.
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. 280
p.
BENELI, Daniele Scarpa. O indicador composto de inovação: proposta
metodológica para os estados brasileiros. 2019. 272 f. Tese (Doutorado em
Administração) – Programa de Pós-Graduação em Administração,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2019.
BENNEWORTH, Paul; CUNHA, Jorge. Universities’ contributions to social
innovation: reflections in theory & practice. European Journal of Innovation
Management, v. 18, n. 4, p. 508-527, 2015.
BEUREN, Gilberto. M. Avaliação da qualidade institucional através de rankings
nacionais e Internacionais. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
Produção) – Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Porto Alegre, 2014.
BERKHOUT, A. J.; HARMANN, Dap; VAN DER DUIN, Patrick; ORTT, Roland.
Innovating the innovation process. International Journal of Technology
Management, v. 34, n. 4, p. 390-404, 2006.
BESSANT, John; TIDD, Joe. Inovação e empreendedorismo. 3ª ed. Porto
Alegre: Bookman, 2019. 512 p.
BIGNETTI, Luis P. As inovações sociais: uma incursão por ideias, tendências e
focos de pesquisa. Revista Ciências Sociais Unisinos, v. 47, n. 1, 2011.
Disponível em:
http://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/article/view/1040. Acesso
em: 11 out. 2021.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 224
BLOK, Vincent. What is innovation? Laying the ground for a philosophy of
innovation. Techné: Research in Philosophy and Technology, v. 25, n. 1, p. 72-
96. 2021. Disponível em:
https://www.pdcnet.org/techne/content/techne_2021_0025_0001_0072_0096.
Acesso em: 17 mar. 2022.
BORRÁS, Susana; EDQUIST, Charles. The choice of innovation policy
instruments. Technological Forecasting & Social Change, n. 80, p. 1513-
1522, 2013.
BORRÁS, Susana; EDQUIST, Charles. Education, training and skills in
Innovation policy. Science & Public Policy, v. 42, n. 2, p. 215-227, 2014.
BOTELHO, Louise L.; ALMEIDA CUNHA, Cristiano C.; MACEDO, Marcelo. O
método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e
Sociedade, v. 5, n. 11, p.121-136, 2011.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira. Censo da educação superior 2019: Estatísticas gerais da educação
superior, por categoria administrativa – Brasília: Inep, 2019. Disponível em:
https://view.officeapps.live.com/op/view.aspx?src=https%3A%2F%2Fdownload.
inep.gov.br%2Feducacao_superior%2Fcenso_superior%2Fdocumentos%2F20
20%2FTabelas_de_divulgacao_Censo_da_Educacao_Superior_2019.xls&wdO
rigin=BROWSELINK. Acesso em: 14 out. 2021.
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2016/2022: Sumário
Executivo. Brasília, DF: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2018.
BRASIL. Lei nº 13.243, de 11 de janeiro de 2016. Dispõe sobre estímulos ao
desenvolvimento científico, à pesquisa, à capacitação científica e
tecnológica e à inovação e altera a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de
2004, a Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, a Lei nº 8.666, de 21 de
junho de 1993, a Lei nº 12.462, de 4 de agosto de 2011, a Lei nº 8.745, de 9
de dezembro de 1993, a Lei nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994, a Lei nº
8.010, de 29 de março de 1990, a Lei nº 8.032, de 12 de abril de 1990, e a
Lei nº 12.772, de 28 de dezembro de 2012, nos termos da Emenda
Constitucional nº 85, de 26 de fevereiro de 2015. Brasília: 2016. Disponível
em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13243.htm.
Acesso em 18 set. 2021.
BRASIL. Emenda Constitucional nº 85, de 26 de fevereiro de 2015. Altera e
adiciona dispositivos na Constituição Federal para atualizar o tratamento
das atividades de ciência, tecnologia e inovação. Brasília: 2015. Disponível
em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc85.htm.
Acesso em 18 set. 2021.
BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG).
Indicadores de programas: Guia Metodológico. Brasília: MPOG, 2010.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 225
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004.
Institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES
e dá outras providências. Brasília: 2004. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2004/lei/l10.861.htm>.
Acesso em: 2 set. 2021.
BRULAND, Kristine; MOWERY, David C. Innovation through time. In:
FAGERBERG, Jan; MOWERY, David C.; NELSON, Richard R. (Org.). The
Oxford Handbook of Innovation. New York: Oxford University Press, 2005.
Cap. 13, p. 349-379.
BUND, Eva; GERHARD, Ulrike; HOELSCHER, Michael; MILDENBERGER,
Georg. A methodological framework for measuring social innovation. Historical
Social Research, v. 40, n. 3, Special Issue: Methods of Innovation research:
qualitative, quantitatie and mixed methods approaches, 2015, p. 48-78.
CAJAIBA-SANTANA, Giovany. Social innovation: moving the field forward. A
conceptual framework. Technological Forecasting & Social Change, n. 82,
fev. 2014. p. 42-51. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1016/j.techfore.2013.05.008. Acesso em: 11 out. 2021.
CALDERÓN, Adolfo Ignacio; LOURENÇO, Henrique da Silva. Rankings na
educação superior brasileira: uma aproximação aos rankings públicos e
privados. Revista de Estudos Aplicados em Educação, São Caetano do Sul,
v. 2, n. 3, p. 89-103, 2017.
CAMARGO, Brigido V.; JUSTO, Ana Maria. IRAMUTEQ: Um software gratuito
para análise de dados textuais. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, v. 21, n.
2, p. 513-518. 2013. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X2013000200016. Acesso em: 12 fev. 2022.
CAMARGO, Brigido V.; JUSTO, Ana Maria. Tutorial para uso do software de
análise textual IRAMUTEQ. Laboratório de Psicologia Social da Comunicação
e Cognição (LACCOS), UFSC, 2013. Disponível em:
http://www.iramuteq.org/documentation/fichiers/tutoriel-en-portugais. Acesso
em: 08 abr. 2022.
CAMPBELL, David F.J. (Ed.) Smart Quintuple Helix Innovation Systems:
how social ecology and environmental protection are driving innovation,
sustainable development and economic growth, Switzerland: Springer, p. 31-37,
2019.
CÂNDIDO, Gesinaldo A.; MACIEL, Dayanna dos S.C. Identificação do nível de
contribuição das universidades para o desenvolvimento através da inovação:
uma proposta de métrica. Desenvolvimento Em Questão, v. 17, n. 48, p.103-
120, 2019.
CARAYANNIS, Elias G.; CAMPBELL, David F.J. ‘Mode 3’ and ‘Quadruple
Helix’: toward a 21st century fractal innovation ecosystem. International
Journal of Technology Management. v. 46, n. 3-4, p. 201-234, 2009.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 226
CARAYANNIS, Elias; CAMPBELL, David F. J. Sustainable Development, Social
Ecology, and the Quintuple Helix. In: CARAYANNIS, Elias; CAMPBELL, David
F. J. Smart Quintuple Helix Innovation Systems: how social ecology and
environmental protection are driving innovation, sustainable development and
economic growth. Switzerland: Springer, 2019. Cap. 4.
CARAYANNIS, Elias G.; CAMPBELL, David F. J. Triple Helix, Quadruple Helix
and Quintuple Helix and how do knowledge, innovation and the environment
relate to each other? A proposed framework for a transdisciplinary analysis of
sustainable development and social ecology. International Journal of Social
Ecology and Sustainable Development, v.1, n.1, p. 41–69. jan./mar. 2010.
CARAYANNIS, Elias G.; GOLETSIS, Yorgos; GRIGOROUDIS, Evangelos.
Composite innovation metrics: MCDA and the quadruple innovation helix
framework Technological Forecasting and Social Change, n. 131, p. 4-17,
2018.
CARVALHO, Gustavo Dambiski G. de; VIEIRA DA SILVA, Weslei; SANTOS
PÓVOA, Angela Cristina.; GOMES DE CARVALHO, Hélio. Radar da Inovação
como ferramenta para o alcance de vantagem competitiva para micro e
pequenas empresas. INMR - Innovation & Management Review, [S. l.], v. 12,
n. 4, p. 162-186, 2015. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/rai/article/view/101898. Acesso em: 14 jul. 2021.
CARVALHO, Lucia Fernanda; RODRIGUES, Leonel Cezar; JESUS, Marco
Antônio S. Cultura para inovação na Universidade Federal Brasileira. In:
ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E
PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 42, 2018, Curitiba. Anais [...]. Rio de
Janeiro: Anpad, 2018.
CASSIOLATO, José Eduardo; LASTRES, Helena Maria. Sistemas de inovação
e desenvolvimento: as implicações de política. São Paulo em Perspectiva. v.
19, n. 1, p. 34-45, 2005. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-
88392005000100003. Acesso em: 04 out. 2021.
CASSIOLATO, José Eduardo; STALLIVIERI, Fábio; RAPINI, Márcia;
PODCAMERI, Maria Gabriela V.B. Indicadores de inovação: uma análise
para os BRICS. Texto para discussão – RedeSist Desenvolvimento, Inovação e
Território. Rio de Janeiro, 2007.
CASTRO MARTÍNEZ, Elena; VEGA JURADO, Jaider Manuel. Las relaciones
universidad-entorno socioeconómico en el espacio iberamericano del
conocimiento. Revista CTS, v.4, n.12, p.71-81, abr. 2009.
CHESBROUGH, Henry. Inovação Aberta: como criar e lucrar com a
tecnologia, Porto Alegre: Bookman, 2011.
CHOBOTOVÁ, Z.; RYLKOVÁ, M. Measurement of Innovation Performance.
World Academy of Science. Engineering and Technology International
Journal of Economics and Management Engineering, v. 8, n. 7, 2014. p.
2085-2090. Disponível em: https://publications.waset.org/9998690/pdf. Acesso
em: 18 fev. 2022.
CHUNG, Chung Joo; PARK, Han Whoo. Mapping Triple Helix innovation in
developing and transitional economies: webometrics, scientometrics, and
informetrics. Scientometrics. v. 99, p. 1-4, 2014.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 227
CIMOLI, Mario; KATZ, Jorge. Structural reforms, technological gaps and
economic development: a Latin American perspective. Industrial and
Corporate Change, v. 12, n. 2, p. 387- 407, 2003.
CLARK, Burton R. Creating entrepreneurial universities: organizational
pathways of transformation. Issues in Higher Education. Emerald Group
Publising Limited, 1998.
CLARK, Kim B.; WHEELWRIGHT,Steven C. Managing new product and
process development: text and cases. New York. Harvard Business School:
1993.
COLLA, Sabrina; ESTEVES, Luiz Alberto. Lei da Inovação e Patentes
Universitárias no Brasil: uma análise quantitativa (2005-2010). Revista
Tecnologia e Sociedade, Curitiba, n. 17, 2013. Disponível em:
https://periodicos.utfpr.edu.br/rts/article/view/2616. Acesso em: 22 jan. 2022.
COMPAGNUCCI, Lorenzo; SPIGARELLIB, Francesca. The Third Mission of the
university: a systematic literature review on potentials and constraints.
Technological Forecasting & Social Change, n. 161, p. 1-30, 2020.
COOPER, Robert G., KLEINSCHMIDT, Elko J. New-product success in the
chemical industry. Industrial Marketing Management, v. 22, p. 85–99, 1993.
COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL
SUPERIOR (CAPES). Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) 2011-
2020. Brasília: CAPES, 608 p., 2010.
COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL
SUPERIOR (CAPES). Avaliação Multidimensional de Programas de Pós-
Graduação. 2019. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-
conteudo/23072020-dav-multi-pdf. Acesso em: 20 out. 2021.
CORSATTO, Cassia A.; HOFFMANN, Wanda Aparecida M. A evolução das
mudanças técnicas, tecnológicas e da inovação e seus impactos na produção
do conhecimento organizacional. Perspectivas em Gestão & Conhecimento,
João Pessoa, v. 6, n.2, p.204-217, 2016. Disponível em:
https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/pgc/article/view/27222. Acesso em: 02
set. 2021.
COSTA, Andrea V.O. Indicadores de sustentabilidade para Instituições de
Ensino Superior: contribuições para a Agenda Ambiental PUC-Rio. 2012.
Dissertação (Mestrado em Metrologia) – Programa de Pós-Graduação em
Metrologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2012.
CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e
misto. 3ª ed., Porto Alegre: Bookman/Artmed, 2010.
CRITICAL Appraisal Skills Programme. CASP Systematic Review Checklist.
2018. Disponível em: https://casp-uk.net/casp-tools-checklists/. Acesso em: 28
dez. 2021.
CRUTCHFIELD, Leslie R.; GRANT, Heather M. Forces for good: the six
practices of high-impact nonprofits. San Francisco: Jossey-Bass, 2008. 449 p.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 228
CUNHA, Jorge; BENNEWORTH, Paul. How to measure the impact of social
innovation initiatives?. International Review on Public Nonprofit
Marketing, n. 17, p. 59-75, 2020.
DAINIENE, Rasa; DAGILIENE, Lina. A TBL Approach Based Theoretical
Framework for Measuring Social Innovations. Procedia - Social and Behavioral
Sciences, n. 213, p. 275-280, 2015.
DE NEGRI, Fernanda. Por uma nova geração de políticas de inovação no
Brasil. In: TURCHI, Lenita M.; MORAIS, José Mauro (org.). Políticas de apoio
à inovação tecnológica no Brasil: avanços recentes, limitações e propostas
de ações. Brasília: IPEA, 2017.Cap. 1, p. 25-46.
DE PAULA, Helton C.; STARLING, Debora B.; NASCIMENTO, Juliana F.;
BARBOSA, Francisco V. Mensuração da inovação em empresas de base
tecnológica. Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v. 12, n. 4, p.
232-253, out./dez., 2015.
DEWANGAN, Vikas; GODSE, Manish. Towards a holistic enterprise innovation
performance measurement system. Technovation, v. 34, n. 9, p. 536-545,
2014.
DIAS, Hérika. Como avaliar o impacto de uma universidade pública na vida dos
brasileiros? Jornal da USP. São Paulo, mar. 2020. Disponível em:
<https://jornal.usp.br/universidade/como-avaliar-o-impacto-de-uma-
universidade-publica-na-vida-dos-brasileiros/>. Acesso em: 13 mar. 2022.
DJELLAL, Faridah; GALLOUJ, Faiz; MILES, Ian Two decades of research on
Innovation in services: which place for public services? Structural Change and
Economic Dynamics, v. 27, p. 98-117, 2013.
DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. In: DUARTE, Jorge; BARROS,
Antonio (orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em Comunicação. 2ª ed.
São Paulo: Atlas, 2006. p. 62-83.
DUTTA, Soumitra; LANVIN, Bruno; RIVERA LEÓN, Lorena; WUSH-VINCENT,
Sacha. (org.). The Global Innovation Index (GII) 2021: Tracking Innovation
throught the Covid-19 crisis. sep. 2021. Disponível em:
https://www.wipo.int/edocs/pubdocs/en/wipo_pub_gii_2021.pdf. Acesso em 12
out. 2021.
DZIALLAS, Marisa; BLIND, Knut. Innovation indicators throughout innovation
process: an extensive literature analysis. Technovation, v.80-81, p. 3-29,
fev./mar. 2019.
EDQUIST, Charles. Systems of innovation approaches: Their emergence and
characteristics. In: EDQUIST, Charles. (ed.). Systems of innovation:
Technologies, institutions and organizations. London; Washington: Pinter, 1997.
ERKKILÄ, Tero; PIIRONEN, Ossi. Rankings and Global Knowledge
Governance: Higher Education, Innovation and Competitiveness. Switzerland:
Palgrave MacMillan, 2018.
ESCOBAR, Herton. Inovação: o ingrediente que desafia as universidades.
Jornal da USP. São Paulo, mar. 2019. Disponível em:
<jornal.usp.br/?p=228259>. Acesso em: 23 fev. 2021.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 229
ETZKOWITZ, Henry. Entrepreneurial Scientists and Entrepreneurial
Universities in American Academic Science. Minerva, v.21, n.2-3, p.198-233,
1983.
ETZKOWITZ, Henry; LEYDESDORFF, Loet. The Triple Helix – University-
Industry-Government relations: a laboratory for knowledge based economic
development. EASST Review, v.14, n.1, 1995 p. 14–19, 1995. Disponível em:
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2480085. Acesso em: 15
set. 2021.
ETZKOWITZ, Henry; ZHOU, Chunyan. Hélice Tríplice: inovação e
empreendedorismo universidade-indústria-governo. Estudos Avançados, São
Paulo, v. 31, n. 90, p. 23-48, maio/ago. 2017.
EUROPEAN COMISSION. Horizon 2020 Framework Programme: Science
with and for society. European Comission: 2020. Disponível em:
https://ec.europa.eu/programmes/horizon2020/en/h2020-section/science-and-
society. Acesso em: 10 jun. 2020.
EVANS, John D.; JOHNSON, Ray O.Tools for managing early-stage
business model innovation. Research-Technology Management, v. 56, n.
5, p. 52-56, 2013.
FABIANI, Paula; REBEHY, Sofia; CAMELO, Rafael; VICENTE, Francisco J.;
MOSANER, Marcelo. Avaliação de Impacto Social: metodologias e reflexões.
IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, 2018.
Disponível em: https://www.idis.org.br/wp-
content/uploads/2018/05/Artigo_Avaliacao_Impacto_Social_06.pdf. Acesso em:
28 set. 2022.
FÁVERO, Maria de Lourdes de A. A universidade, espaço de pesquisa e criação
do saber. Educação e Filosofia, v. 13, n. 25, p. 249-259, 2015.
FÁVERO, Maria de Lourdes de A. A Universidade no Brasil: das origens à
Reforma Universitária de 1968. Educar em Revista, n. 28, p. 17-36, 2006.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-40602006000200003. Acesso em:
20 set. 2021.
FEDERKEIL, Gero. Rankings and quality assurance in higher education.
Higher Education in Europe, v. 33, n. 2/3, p. 219-231, 2008.
FERREIRA, Helder; CASSIOLATO, Martha; GONZALEZ, Roberto. Uma
experiência de desenvolvimento metodológico para avaliação de
programas: o modelo lógico do programa segundo tempo. Texto para
discussão 1369. Brasília, Rio de Janeiro: IPEA, 2009.
FIGUEIREDO, Paulo N. Gestão da inovação: conceitos, métricas e
experiências de empresas no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. 320 p.
FLICK, Uwe. Introdução à Pesquisa Qualitativa. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed,
2009. 405 p.
FLOR, Maria Luisa, OLTRA-MESTRE, Maria J. Identification of innovating firms
through technological innovation indicators: an application to the Spanish
ceramic tile industry. Research Policy, v. 33, p. 323–336, 2004.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 230
FLORIAN, Răzvan V. Irreproducibility of the results of the Shanghai Academic
Ranking of World Universities. Scientometrics, v. 72, n. 1, p. 25-32, 2007.
FREEMAN, Christopher; SOETE, Luc. A economia da inovação industrial. 3ª
ed. Campinas: UNICAMP, 2008. 813 p.
FRENKEN, Koen; HEIMERIKS, Gaston J.; HOEKMAN, Jarno. What drives
university research performance? An analysis using the CWTS Leiden ranking
data. Journal of Infometrics, v. 11, p. 859-872, 2017.
FURTADO, André; QUADROS, Ruy; RIGHETI, Sabine; INÁCIO JÚNIOR,
Edmundo; DOMINGUES, Silvia A.; CAMILLO, Edilaine. Índice Brasil de
Inovação (IBI): manual informativo sobre o procedimento de adesão das
empresas. Campinas: Unicamp, 2007. 27 p.
GALLOUJ, Faïz; ZANFEI, Antonello. Innovation in public services: Filling a gap
in the literature. Structural Change and Economic Dynamics, v. 27, p. 89-97,
2013.
GALVÃO, Maria Cristiane B.; RICARTE, Ivan Luiz M. Revisão sistemática da
literatura: conceituação, produção e publicação. Logeion: Filosofia da
Informação, [S. l.], v. 6, n. 1, p. 57-73, 2019. Disponível em:
http://revista.ibict.br/fiinf/article/view/4835. Acesso em: 6 jan. 2022.
GAMAL, Dalia. How to measure organization Innovativeness? An
overview of Innovation measurement frameworks and Innovation
Audit/Management tools, 2011, 35 p. Disponível em:
https://tiec.gov.eg/English/Reports/Lists/Reports/Attachments/22/MeasuringOrg
anizationInnovativeness.pdf. Acesso em: 15 jul. 2021.
GANN, David; DOGSON, Mark. We need to measure innovation better.
Here's how. Disponível em: https://www.weforum.org/agenda/2019/05/we-
need-to-measure-innovation-better-heres-how-to-do-it/. Acesso em: 21 set.
2021.
GAUT, Fred. Innovation indicators and measurement: challenges. In: GAUT,
Fred. Handbook of Innovation Indicators and Measurement. Edward Elgar
Publishing, 2013. Cap. 19, p. 441-464. Disponível em:
https://econpapers.repec.org/bookchap/elgeechap/14427_5f19.htm. Acesso
em: 02 nov. 2021.
GIBBONS, Michael. Mode 1, Mode 2, and Innovation. In: CARAYANNIS, Elias.
(org.) Encyclopedia of Creativity, Invention, Innovation and
Entrepreneurship. New York: Springer, 2013.
GIBBONS, Michael; LIMOGES, Camille; NOWOTNY, Helga; SCHWARTZMAN,
Simon; SCOTT, Peter; TROW, Martin. The New Production of Knowledge:
the Dynamics of Science and Research in Contemporary Societies. London:
Sage, 1994.
GIL, Antônio C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª Ed., São Paulo: Atlas,
2010.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 231
GIMENEZ, Ana Maria N.; BONACELLI, Maria Beatriz M. A universidade e os
processos de geração, transmissão e disseminação do conhecimento: um
estudo sobre os determinantes das interações com atores externos. Revista
Tecnolologia e Sociedade, Curitiba, v. 14, n. 33, p. 31-51, jul./set. 2018.
GODIN, Benoı̂ t. The emergence of S&T indicators: why did governments
supplement statistics with indicators? Research Policy, v. 32, n. 4, p.679-691,
2003.
GODIN, Benoı̂ t. Innovation: the history of a category. Project on the Intellectual
History of Innovation, Working Paper n. 1, 2008. Disponível em:
http://www.csiic.ca/PDF/IntellectualNo1.pdf. Acesso em: 20 fev. 2022.
GODIN, Benoı̂ t. ‘Meddle not with them that are given to change’: innovation
as evil. Project on the Intellectual History of Innovation. Working Paper n. 6,
2010. Disponível em: http://www.csiic.ca/PDF/IntellectualNo6.pdf. Acesso em:
25 mar. 2022.
GODIN, Benoı̂ t. ‘Innovation and Science: when science had nothing to do with
innovation, and vice-versa. Project on the Intellectual History of Innovation,
Working Paper n. 16, 2014. Disponível em:
http://www.csiic.ca/PDF/WorkingPaper16.pdf. Acesso em: 25 mar. 2022.
GODIN, Benoı̂ t. Innovation: a conceptual history of an anonymous concept.
Project on the Intellectual History of Innovation, Working Paper n. 21, 2015.
Disponível em: http://www.csiic.ca/PDF/WorkingPaper21.pdf. Acesso em: 30
mar. 2022.
GOES, Fernanda G. B.; SANTOS, Andressa S. T.; CAMPOS, Brenda L.;
SILVA, Aline C.S.S.; SILVA, Liliane F.; FRANCA, Luiz Carlos M. Utilização do
software IRAMUTEQ em pesquisa de abordagem qualitativa: relato de
experiencia. Revista de Enfermagem da UFSM, Santa Maria, v.11, e.63, p.1-
22, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reufsm/article/view/64425.
Acesso em: 12 fev. 2022.
GOGLIO, Valentina. One Size Fits All? A diferente perspective on university
rankings. Journal of Higher Education Policy and Management, v. 38 n. 2,
p. 212-226, 2016.
GONÇALVES, Fábio Bruno L. Um modelo de indicadores de inovação em
contexto académico. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) –
Faculdade de Engenharia e Faculdade de Letras, Universidade do Porto, Porto,
2017.
GRIZENDI, Eduardo. Manual de orientações gerais sobre inovação.
Ministério das Relações Exteriores. Departamento de Promoção Comercial e
Investimentos. Brasília, 2011. 186 p. Disponível em:
<http://download.finep.gov.br/dcom/manualinovacao.pdf>. Acesso em: 22 ago.
2021.
GRUNDEL, Ida; DAHLSTROM, Margareta. A Quadruple and Quintuple Helix
Approach to Regional Innovation Systems in the Transformation to a Forestry-
Based Bioeconomy. Journal of the Knowledge Economy. v. 7, p. 963–983,
2016.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 232
GRUPP, Hariolf; MOGEE, Mary Hellen. Indicators for national science and
technology policy: how robust are composite indicators? Research Policy, v.
33, p. 1373-1384, 2004.
GRUPP, Hariolf; SCHUBERT, Torbem. Review and new evidence on
composite innovation indicators for evaluating national performance, Research
Policy, v. 39, p. 67-78, 2010.
GT INDICADORES PARA O RELATÓRIO DE GESTÃO. FÓRUM DE PRÓ-
REITORES DE PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO, 4. FORPLAD.
Apresentação em Power Point. Ouro Preto: IFES – Instituições Federais de
Ensino Superior, 2017. 26 p.
GULBRANDSEN, Magnus; SLIPERSÆTER, Stig. The Third Mission and the
Entrepreneurial University Model. In: BONACCORSI, Andrea; DARAIO, Cinzia
(ed.). Universities and Strategic Knowledge Creation, chapter 4, p. Edward
Elgar Publishing. 2007.
HAGEDOORN, John; CLOODT, Mirian. Measuring innovative performance: is
there an advantage in using multiple indicators? Research Policy,v. 32, p.
1365-1379, 2003.
HALÁSZ, Gábor. Measuring innovation in education: the outcomes of a national
education sector innovation survey. European Journal Education, v. 53, p.
557-573, 2018.
HALL, Jeremy; MATOS, Stelvia; BACHOR, Vernon; DOWNEY, Robin.
Commercializing university research in diverse settings: moving beyond
standardized intellectual property management. Research Technology
Management, v. 57, n. 5, p. 26-34, 2014.
HANSEN, Morten T.; BIRKINSHAW, Julian. The Innovation Value Chain,
Harvard Business Review, v. 85, n. 6, p. 121-130, June, 2007.

HARTLEY, Sarah; PEARCE, Warren; TAYLOR, Alasdair. Against the tide of


depoliticisation: the politics of research governance. Policy & Politics, v. 45, n.
3, p. 361-377, 2017. Disponível em:
https://bristoluniversitypressdigital.com/view/journals/pp/45/3/article-p361.xml.
Acesso em: 15 jun. 2022.
HASAN, Maruf; MORRISON, Andrew. Current university environmental
management practices. Journal of Modern Accounting & Auditing, v. 7, n.
11, p. 1292-1300, 2011. Disponível em:
https://www.davidpublisher.com/Public/uploads/Contribute/55135b30c3863.pdf.
Acesso em: 05 mai. 2022.
HERNÁNDEZ-SAMPIERI, Roberto; FERNÁNDEZ COLLADO, Carlos;
BAPTISTA LUCIO, María del Pilar. Metodologia de Pesquisa. 5ª ed. Porto
Alegre: Penso, 2013. 612 p.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 233
INNOVATION AND SCIENCE AUSTRALIA. Australia 2030: prosperity
through Innovation: a plan for Australian to thrive in the global Innovation
race. Australian Government: Canberra, 2017. 125 p. Disponível em:
https://www.industry.gov.au/sites/default/files/May%202018/document/pdf/austr
alia-2030-prosperity-through-innovation-full-report.pdf?acsf_files_redirect.
Acesso em: 12 nov. 2021.
INOVAÇÃO RESPONSÁVEL na União Europeia. Pesquisa FAPESP. São
Paulo, n. 252, p. 8-10, 2017.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa
industrial de inovação tecnológica (PINTEC). Rio de Janeiro: IBGE, 2005.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Inovações,
padrões tecnológicos e desempenho das firmas industriais brasileiras.
Brasília: IPEA, 2005.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS
ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Instrumento de avaliação de cursos de
graduação presencial e a distância. Brasília: INEP, 34 p., 2012.
ISENBERG, Daniel. The Big Idea: How to start an entrepreneurial revolution.
Harvard Business Review, 2010. Disponível em: https://hbr.org/2010/06/the-big-
idea-how-to-start-an-entrepreneurial-revolution. Acesso em: 03 out. 2021.
ISIDRO, Antonio. Gestão pública inovadora: um guia para a inovação no
setor público. Curitiba: CRV, 2018. 138 p.
JESUS, Patrícia C. de. Apropriação do conhecimento gerado na UFBA
visando transferência de tecnologia (TT) para a sociedade. Dissertação
(Mestrado em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade) – Programa de
Pós-graduação em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.
JUNIOR, Luiz Alberto S.; LEÃO, Marcelo B.C. O software ATLAS.ti como
recurso para a análise de conteúdo: analisando a robótica no ensino de
ciências em teses brasileiras. Ciência & Educação, Bauru, v. 24, n. 3, p. 715-
728, 2018. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ciedu/a/yBwC9L74v4vD3s4PwVXggsk/abstract/?lang=p.
Acesso em: 18 mar. 2022.
JUNIOR, Olival G.F.; BARROS, Petrucio A.M.; BARBIRATO, João Carlos C.;
BRAGA, Marcus M.; CARVALHO, Victor D.H. Reestruturando o modelo de
universidade pública brasileira para atender aos novos desafios gerenciais. In:
COLÓQUIO INTERNACIONAL DE GESTÃO UNIVERSITÁRIA – Desafios da
Gestão Universitária no Século XXI, 15., Mar del Plata. Anais [...] Mar del
Plata, 2015. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/136255. Acesso em: 29 out. 2021.
JUSTEN, Gelciomar S.; CHEROBIM, Ana Paula M.S.; SEGATTO. Andréa P.
Métricas para inovação social: estudo acerca de possibilidades e limites para
mensuração. In: ENCONTRO INTERNACIONAL SOBRE GESTÃO AMBIENTAL E
MEIO AMBIENTE, 20., 2018, São Paulo, Anais [...]. São Paulo: Engema, 2018.
KANG, Byeongwoo; MOTOHASHI, Kazuyuki, Academic contribution to
industrial innovation by funding type. Scientometrics, v. 124, p. 169-193, 2020.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 234
KAPLAN, Robert S; NORTON, David P. Putting the Balanced Scorecard to
work. Harvard Business Review, sept./oct. 1993. p. 134-147. 1993. Disponível
em: https://hbr.org/1993/09/putting-the-balanced-scorecard-to-work. Acesso
em: 12 jul. 2021.
KATTEL, Rainer; CEPILOVS, Aleksandrs; DRECHSLER, Wolfgang; KALVET,
Tarmo. Can we measure public sector Innovation? A literature review. LIPSE
Project, Rotterdam, Erasmus University Rotterdam, n. 2, sep. 2014.
KLEVERBECK, Maria et al. Indicators for measuring social innovation. In:
HOWALDT, Jürgen; KALETKA, Christoph; SCHRÖDER, Antonius; ZIRNGIEBL,
Marthe (Org.). Atlas of Social Innovation – 2nd Volume: a world of new
practices, p. 98-101, 2019.
KLINE, Stephan J. Innovation is not a linear process. Research Management,
v.18, n.4, p. 36-45, 1985.
KOBAL, Ariella B. C.; LÁZARO, José C.; SANTOS, Sandra M. dos. O perfil do
crescimento da inovação brasileira, baseado em indicadores segundo as
pesquisas acadêmicas. Revista Estudos do CEPE, n. 36, p. 195-227, jul./dez.,
2012.
KON, Anita. Inovação nos serviços públicos: condições da implementação do
governo eletrônico. Planejamento e Políticas Públicas, n. 52, p. 489-528,
jan./jun. 2019. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/ppp/index.php/PPP/article/view/985. Acesso em: 04 mar.
2022.
KOWANG, Tan Owee; LONG, Choi Sang; RASLI, Amran; FEI, Goh Chin.
Perception versus performance indicators: a study of innovation performance in
a research university. Asian Social Science, v. 12, n. 1, p. 24-29, 2016.
KRIPPENDORF, Klaus. Content Analysis: an introduction to its methodology.
3ª ed. California: Sage Publications Inc., 2012. 456 p.
LALL, Sanjaya. Technological capabilities and industrialization. World
Development, v. 20, n. 2, p. 165-186, 1992.
LASTRES, Helena Maria; CASSIOLATO, José Eduardo (Coord). Glossário de
arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais. Rio de Janeiro: IEL,
2003.
LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros
sociedade afora. 2ª ed. São Paulo: Editora UNESP, 2011. 422 p.
LEMOS, Dannyela da Cunha. A interação universidade-empresa para o
desenvolvimento inovativo sob a perspectiva institucionalista-
evolucionária: uma análise a partir do sistema de ensino superior em Santa
Catarina. 2013. 416 f. Tese (Doutorado em Administração) – Programa de Pós-
Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2013.
LEMOS, Paulo. Universidades e Ecossistemas de Empreendedorismo.
Campinas: Editora da Unicamp, 2012. 278 p.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 235
LENDEL, Iryna; QIAN, Haifeng. Inside the Great Recession: University products
and regional economic development. Growth and Change, v. 48, n. 1, p. 153-
173, 2017.
LOBOSCO, Antonio, MORAES, Marcela B.; MACCARI, Emerson A. Inovação:
uma análise do papel da Agência USP de Inovação na geração de propriedade
intelectual e nos depósitos de patentes da Universidade de São Paulo. Revista
de Administração da UFSM, v. 3, n. 4, p. 406-424, 2011. Disponível em:
https://periodicos.ufsm.br/reaufsm/article/view/3164/2603. Acesso em: 10 mar.
2022.
LOPES, Luiz Antônio C.; BERNARDES, Francisca R. Estruturas administrativas
das universidades brasileiras. In: SEMINÁRIOS DE ADMINISTRAÇÃO FEA-
USP, 8., 2005, São Paulo. Anais [...] São Paulo: SemeAd, 2005.
LOURES, Camila S.; FIGUEIREDO, Paulo N. Mensuração de capacidades
tecnológicas inovadoras em empresas de economias emergentes: méritos
limitações e complementaridades de abordagens existentes. Revista
Produção On Line, Florianópolis, v. 9, n. 1, p. 95-120, 2009. Disponível em:
https://producaoonline.org.br/rpo/article/view/213. Acesso em: 16 set. 2021.
LUQUE-MARTÍNEZ, Teodoro, DEL BARRIO-GARCÍA, Salvador. Constructing
a synthetic indicator of research activity. Scientometrics, v. 108, p. 1049-1064,
2016.
LUNDVALL, Bengt-Åke. National innovation systems: towards a theory of
innovation and interactive learning. London: Pinter, 1992. 317 p.
LUNDVALL, Bengt-Åke et al. National systems of production, innovation and
competence building. Research Policy, v.31, n.2, p.213-231, feb. 2002.
LUNDVALL, Bengt-Åke; BORRÁS, Susana. Science, Technology and
Innovation Policy. In: FAGERBERG, Jan; MOWERY, David C.; NELSON,
Richard R. (org.). The Oxford Handbook of Innovation. New York: Oxford
University Press, 2005. Cap. 22, p. 599-631.
MACHADO, Hilka Vier; LAZZAROTI, Fábio; BENCKE, Fernando Fantoni.
Innovation models and technological parks: interaction between parks and
innovation agents. Journal of Technology Management & Innovation,
Santiago, v.13, n. 2, p. 104-114, ago. 2018. Disponível em:
https://www.jotmi.org/index.php/GT/article/view/2740. Acesso em: 20 jul. 2021.
MAGDALA PINTO, Miriam; PEDRUZZI FONSECA, Letícia. Habitat Living Lab,
red de innovación social y tecnológica. Revista Iberoamericana de Ciencia,
Tecnología y Sociedad. v.8, n.23, p. 135-150, 2013. Disponível em:
http://www.scielo.org.ar/scielo.php?pid=S185000132013000200009&script=sci_
arttext&tlng=pt. Acesso em: 18 out. 2021.
MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 6ª
ed. Porto Alegre: Bookman, 2011.
MANUAL de Oslo: diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre
inovação. 3ª ed. [S.L.]: OECD; FINEP, 2005. 184 p.
MARCOVITCH, Jacques (org.). Repensar a Universidade: desempenho
acadêmico e comparações internacionais. São Paulo: Com-Arte; Fapesp, 2018.
256 p.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 236
MARINS, Luciana M.; ZAWISLAK, Paulo Antônio. O desempenho inovativo de
sete firmas brasileiras à luz de um conjunto de novos indicadores de inovação.
In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E
PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 34., 2010, Rio de Janeiro. Anais [...] Rio
de Janeiro: Anpad, 2010.
MAROPE, Mmantsetsa; WELLS, Peter; HAZELKORN, Ellen. Rankings and
accountability in higher education: uses and misuses. Unesco Publishing:
Paris, 2013. 306 p.
MATTAR, Fauze N. Pesquisa de Marketing. 7ª ed., São Paulo: Atlas, 2013.
MICHELS, Kevin H. A normative understanding of innovation. NOvation -
Critical Studies of Innovation, n.2, p. 87-106. 2022. Disponível em:
http://www.novation.inrs.ca/index.php/novation/article/view/19. Acesso em: 15
jun. 2022.
MILBERGS, Egils; VONORTAS, Nicholas. Innovation Metrics: Measurement
to Insight. White Paper prepared for National Innovation Initiative. 21st Century
Innovation Working Group. 2006. Disponível em:
https://innovationmanagement.se/wp-content/uploads/pdf/Innovation-Metrics-
NII.pdf. Acesso em: 19 set. 2021.
MINAYO, Maria Cecília S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade.
29ª ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
MINEIRO, Andréa A.C.; SOUZA, Donizete Leandro; VIEIRA, Kelly C.;
CASTRO, Cleber C.; BRITO, Mozar José de. Da hélice tríplice a quíntupla: uma
revisão sistemática. Economia e Gestão, Belo Horizonte, v. 18, n. 51, p. 77-
93, dez. 2018. Disponível em:
http://periodicos.pucminas.br/index.php/economiaegestao/article/view/17645.
Acesso em: 13 set. 2021.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Reforma universitária: relatório
do grupo de trabalho criado pelo decreto nº 62.937/68. 3ª ed. Rio de Janeiro,
mar. 1983. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002285.pdf. Acesso em:
11 out. 2021.
MITCHELL, Gordon; MAY, A. D; McDONALD, Adrian. PICABUE: a
methodological framework for the development of indicators of sustainable
development. International Journal of Sustainable Development and World
Ecology, v. 2, p. 104-123, 1995. Disponível em:
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/13504509509469893. Acesso em:
08 set. 2021.
MOHAMAD-ISHAK, M.I.; SUHAIDA, M. S.; YUZAINEE, M.Y. Performance
measurement indicators for academic staff in Malaysia private heigher
education institutions: a case study in UNITEN. Performance Measurement
Association Conference PMA 2009. New Zealand: University of Otago, 2009.
MOLINA-MOLINA, Silvia; ÁLVAREZ-ARGAEZ, Sol; ESTRADA-HERNANDEZ,
Jovanny; ESTRADA-HERNANDEZ, Margarita. Indicadores de ciência,
tecnologia e innovación: hacia la configuración de um sistema de medición.
Revista Interamericana de Bibliotecología, v. 43, n.3, 2020.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 237
MORAES, Marcela Barbosa de; CAMPOS, Teodoro M.; LIMA, Edmilson.
Modelos de desenvolvimento da inovação em pequenas e médias empresas do
setor aeronáutico no Brasil e no Canadá. Gestão & Produção, v. 26, n. 1, p. 1-
15, 2019. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/gp/a/VhnKMQLtss3yNZk6NcKN4mJ/?lang=pt#. Acesso
em: 13 fev. 2022.
MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise Textual Discursiva. 3ª
ed. rev. e ampl. Ijuí: Ed. Unijuí, 2016. 264 p.
MUELLER, Suzana P. M.; PERUCCHI, Valmira. Universidades e a produção de
patentes: tópicos de interesse para o estudioso da informação tecnológica.
Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 19, n. 2, p. 15-36,
abr./jun., 2014.
MULGAN, Geoff. Social innovation – what it is, why it matters and how it can
be accelerated. Skoll Centre for Social Entrepreneurship (Working paper).
2007. Disponível em: https://youngfoundation.org/wp-
content/uploads/2012/10/Social-Innovation-what-it-is-why-it-matters-how-it-can-
be-accelerated-March-2007.pdf. Acesso em: 03 out. 2021.
MURRAY, Robin; CAULIER-GRICE, Julie; MULGAN, Geoff. The open book of
social innovation. Social innovators series. The Young Foundation, 2010.
Disponível em: https://youngfoundation.org/wp-content/uploads/2012/10/The-
Open-Book-of-Social-Innovationg.pdf. Acesso em: 03 out. 2021.
NASER, Alejandra. Indicadores sobre gobierno electrónico. Santiago:
ILPES/Cepal, 2011.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Capturing change in Science,
Technology and Innovation: Improving indicators to inform policy.
Washington, DC: The National Academies Press, 2014. 274 p. Disponível em:
https://doi.org/10.17226/18606. Acesso em:30 out. 2021.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Concepts and Models for Measuring
Innovation: Proceedings of a Workshop. Washington, DC: The National
Academies Press, 2017. 138 p. Disponível em: http://nap.edu/23640. Acesso
em: 28 out. 2021.
NELSON, Richard R. National innovation systems: a comparative study. New
York: Oxford University Press, 1993. 560 p.
NEVES, José Luis. Pesquisa qualitativa: características, usos e possibilidades.
Cadernos de Pesquisas em Administração, São Paulo, v.1, n.3, 2º sem.
1996.
NUNES, Juliane V.; WOLOSZYN, Maíra; GONÇALVES, Berenice S.; SOUZA
PINTO, Marli D. A pesquisa qualitativa apoiada por softwares de análise de
dados: uma investigação a partir de exemplos. Revista Fronteiras – estudos
midiáticos, São Leopoldo, v.19, n.2, p. 233-244 mai./ago. 2017.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 238
NICHOLLS, Alex; SIMON, Julie; GABRIEL, Madeleine. Introduction:
Dimensions of Social Innovation. In: NICHOLLS, Alex; SIMON, Julie; GABRIEL,
Madeleine (eds.) New Frontiers in Social Innovation Research. Palgrave
Macmillan, 2015. p. 1-26. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1057/9781137506801_1.pdf. Acesso
em: 20 mar. 2022.
NOBELIUS, Dennis. Towards the sixth generation of R&D
management. International Journal of Project Management, v. 22, n. 5, p.
369-375, 2004.
NUNES, Juliane V.; WOLOSZYN, Maíra; GONÇALVES, Berenice S.; SOUZA
PINTO, Marli D. A pesquisa qualitativa apoiada por softwares de análise de
dados: uma investigação a partir de exemplos. Revista Fronteiras – estudos
midiáticos, São Leopoldo, v.19, n.2., p. 233-244 mai./ago. 2017.
OLIVEIRA, Eliana; ENS, Romilda T.; FREIRE ANDRADE, Daniela B.S.; MUSS,
Carlo R. Análise de conteúdo e pesquisa na área da educação. Revista
Diálogo Educacional, Curitiba, v. 4, n. 9, p. 11-27, mai./ago., 2003.
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT –
OECD. National Innovation Systems. Paris: OECD, 1997.
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT –
OECD. Managing National Innovation Systems. Paris: OECD, 1999.
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT –
OECD. Guidelines for collecting, reporting and using data on innovation. The
Measurement of Scientific, Technological and Innovation Activities. Oslo
Manual 2018. 4th. Edition, Paris: OECD and Eurostat. 2018. Disponível em:
https://www.oecd.org/science/oslo-manual-2018-9789264304604-en.htm.
Acesso em: 08 set. 2021.
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT –
OECD. Guidelines for collecting and reporting data on research and
experimental development. Frascati Manual 2015. 6th Edition, Paris: OECD.
2015. Disponível em: https://www.oecd.org/sti/inno/frascati-manual.htm. Acesso
em: 20 set. 2021.
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT –
OECD. Measuring innovation: a new perspective. OECD Publishing: Paris,
2010. Disponível em:
https://www.oecd.org/sti/measuringinnovationanewperspective.htm. Acesso em:
28 out. 2021.
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT –
OECD. Measuring innovation in education: a new perspective. OECD
Publishing: Paris, 2014. Disponível em: https://www.oecd-
ilibrary.org/education/measuring-innovation-in-education_9789264215696-en.
Acesso em: 18 set. 2021.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 239
OWEN, Richard; MACNAGHTEN, Phil; STILGOE, Jack. Responsible research
and innovation: from science in society to science for society, with society.
Science and Public Policy, v. 39, n. 6, p. 751-760. 2012. Disponível em:
https://academic.oup.com/spp/article-
abstract/39/6/751/1620724?redirectedFrom=fulltext. Acesso em: 10 jun. 2022.
PAGELL, Ruth A. University Research Rankings: from page counting to
academic accountability. Evaluation in Higher Education, v. 3, n. 1, p. 71-101,
2009. Disponível em: https://ink.library.smu.edu.sg/library_research/1/ Acesso
em: 16 set. 2021.
PANIZA PRADOS, Jose Luis; PUERTAS CANÃVERAL, Imaculada; MOLINA
MORALES, Jose María. University coaching: Proposal of a measuring indicator
system. International Journal of Sociology of Education, v.8, n.1, p. 75-102,
2019.
PATEL, Parimal; PAVITT, Keith. Patterns of technological activity: their
measurement and interpretation. In: STONEMAN, Paul (org.), Handbook of the
Economics of Innovation and Technological Change. Blackwell Publishers:
Oxford, p.14-51. 1995.
PAVITT, Keith. Patent statistics as indicators of innovative activities:
possibilities and problems. Scientometrics, v. 7, n. 1-2, p. 77-99, 1985.
PENTTILÄ, Lisann. Is responsible innovation possible? The problem of
depoliticization for a normative framework of RI. NOvation - Critical Studies of
Innovation, n.2, p. 107-126. 2022. Disponível em:
http://www.novation.inrs.ca/index.php/novation/article/view/41/11. Acesso em:
15 jun. 2022.
PERIS-ORTIZ, Marta; GARCIA-HURTADO, Dayanis; DEVECE, Carlos. Influence
of the balanced scorecard on the science and innovation performance of Latin
American universities. Knowledge Management Research and Practice, v.17,
n.4, p. 373-383, 2019.
PERROLLE, Pierre; MORIS, Francisco. Advancing measures of innovation.
Workshop report. National Science Foundation, jan. 2007. Disponível em:
https://www.nsf.gov/sbe/scisip/srs_innov_metrics_wkshp.pdf. Acesso em: 08 out.
2021.
PHILBIN, Simon. Process model for university-Industry research collaboration.
European Journal of Innovation Management, v. 11, n. 4, p. 488–521, 2008.
Disponível em:
https://www.emerald.com/insight/content/doi/10.1108/14601060810911138/full/
html. Acesso em: 06 mar. 2022.
PHILLS, James A.; DEIGLMEIER, Kriss; MILLER, Dale T. Rediscovering Social
Innovation. Stanford Social Innovation Review. p. 34-43, Jan. 2008.
Disponível em: https://ssir.org/articles/entry/rediscovering_social_innovation.
Acesso em: 18 out. 2021.
POPODKO, Galina I.; NAGAEVA, Olga S. “Triple Helix” model for recourse-
based region. Journal of Siberian Federal University – Humanities and
Social Sciences, v. 12, p. 2309–2325, 2019.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 240
PÓVOA, Luciano M. C. Patentes de universidades e institutos públicos de
pesquisa e a transferência de tecnologia para empresas no Brasil. 2008.
153f. Tese (Doutorado em Economia) - Centro de Desenvolvimento e
Planejamento Regional, Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. Disponível em:
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843. Acesso em: 10 jul.
2017.
PRODANOV, Cleber C.; FREITAS, Ernani C. Metodologia do Trabalho
Científico. Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. Novo
Hamburgo: Feevale Editora, 2009. 276 p.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD).
Relatório do Desenvolvimento Humano 2001. Lisboa: Trinova, 2001.
RAMOS, Milena Y. Evolução e novas perspectivas para a construção e produção
de indicadores de ciência, tecnologia e inovação. Encontros Bibli: Revista
Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, p.1-23,
abr. 2008.
RAMOS-VIELBA, Irene; FERNÁNDEZ-ESQUINAS, Manual; ESPINOSA-DE-
LOS MONTEROS, Elena. Measuring university-industry collaboration in a
regional innovation system. Scientometrics, n. 84, p. 649-667, 2010.
RICHARDSON, George B. The organization of industry. The Economic Journal,
v. 82, n. 327, p. 883- 896, 1972.
RIVERO AMADOR, Soleidy; DÍAZ PÉREZ, Maidelyn; LÓPEZ-HUERTAS, María
José; JAVIER RODRÍGUEZ, Reinaldo. Indicator system for managing science,
technology and innovation in universities. Scientometrics, v. 115, p. 1575-1587,
2018.
ROBERTS, Edward B. Managing invention and innovation. Research-
Technology Management, v.50, n. 1, p. 35-54, 2007.
ROBERTSON, Thomas S. The process of innovation and the diffusion of
Innovation. Journal of Marketing, v. 31, n. 1, 1967, p. 14-19. Disponível em:
https://www.jstor.org/stable/1249295. Acesso em: 12 fev. 2022.
ROCHA, Elisa Maria P.; FERREIRA, Marta A.T. Análise dos indicadores de
inovação tecnológica no Brasil: comparação entre um grupo de empresas
privatizadas e o grupo geral de empresas. Ciência da Informação, Brasília, v.
20, n. 2, p.64-69, mai./ago. 2001.
ROCZANSKI, Carla Regina M. O papel das universidades para o
desenvolvimento da inovação no Brasil. In: XVI Coloquio Internacional de
Gestión Universitaria, 16., 2016, Arequipa. Anais Eletrônico... Arequipa, 2016.
Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/171283/OK%20-
%20101_00528.pdf?sequence=1. Acesso em: 14 set. 2021.
RODRIGUEZ, Alberto; DAHLMAN, Carl; SALMI, Jamil. Conhecimento e
inovação para a competitividade. Brasília: CNI, 2008.
ROGERS, Everett M. Diffusion of innovations. 5ª ed. Nova York: Free Press,
2003.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 241
ROGERS, Patricia. Theory of Change, Methodological Briefs: Impact
Evaluation 2, Methodological Briefs no. 2, UNICEF Office of Research,
Florence, 2014. Disponível em: <https://www.unicef-
irc.org/publications/pdf/brief_2_theoryofchange_eng.pdf>. Acesso em: 10 nov.
2021.
ROPER, Stephen; DU, Jun; LOVE, James H. Modelling the innovation value
chain. Research Policy, v. 37, n. 6-7, p. 961-977, Jul., 2008.
RUFFONI, Estêvão P.; CHRISTOPH D`ANDREA, Fernando A.M.; CHAVES,
Júlia K.; ZAWISLAK, Paulo Antônio. Investimentos em P&D e Capacidades de
Inovação. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-
GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 42., 2018, Curitiba. Anais
[...]. Rio de Janeiro: Anpad, 2018.
RODRIGUES, Geraldo S.; CAMPANHOLA, Clayton; KITAMURA, Paulo C.;
IRIAS, Luiz José M.; RODRIGUES, Isis. Sistema de Avaliação de Impacto
Social da Inovação Tecnológica Agropecuária (Ambietc-Social).
Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento
/ Embrapa Meio Ambiente), 2005. 31 p.
ROTHWELL, Roy. Towards the fifth-generation innovation process.
International Marketing Review, v. 11, n. 1, p. 7-31, 1994.
RUUSKA, Inkeri; TEIGLAND, Robin. Ensuring project success through
collective competence and creative conflict in public private partnerships - A
case study of Bygga Villa, a Swedish triple helix e-government initiative.
International Journal of Project Management, v.27, n.4, p. 323-334, 2009.
SAAD, Mohammed; ZAWDIE, Girma. From technology transfer to the
emergence of a triple helix culture: The experience of Algeria in innovation and
technological capability development. Technology Analysis & Strategic
Management. v. 17, n. 1, p. 89-103, 2005.
SÁBATO, Jorge; BOTANA, Natalio. La ciencia y la tecnología en el
desarrollo futuro de América Latina. 1968. Disponível em:
http://docs.politicascti.net/documents/Teoricos/Sabato_Botana.pdf. Acesso em:
20 jan. 2021.
SALDANÃ, Johnny. The Coding Manual for Qualitative Researchers. 3ª ed.
California: Sage Publications Inc., 2015. 368 p.
SANDOR, Dan. Measuring Public Sector Innovation. Transylvanian Review of
Administrative Sciences, v. 14, p. 125-137, jun. 2019. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/326184707_Measuring_Public_Sector
_Innovation/fulltext/5b3cc8adaca27207850ba503/Measuring-Public-Sector-
Innovation.pdf. Acesso em: 20 ago. 2021.
SANTOS, Bruna de O. Proposta de indicadores de inovação no Plano de
Desenvolvimento Institucional do IF Goiano. 2019. 44 f. Dissertação
(Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de
Tecnologia para a Inovação) – Universidade de Brasília, Brasília, 2019.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 242
SARI, Rhini F.; LUDDIN, Muchlis R.; RAHMAT, Abdul. Performance Evaluation
of Academic Services in the University Using the Balanced Scorecard: A Study
at an Indonésias Open University. International. Journal of Innovation,
Creativity and Change, v. 12, n. 12, p. 627-660, 2020.
SAVOIA, Annunziata; LEFEBVRE, Bénédicte; MILLOT, Glen; BOCQUET,
Bertrand. The sience shop concept and its implementation in a french
university. Journal of Innovation Economics & Management, n.1, p. 97-117.
2017. Disponível em: https://www.cairn.info/revue-journal-of-innovation-
economics-2017-1-page-97.htm. Acesso em: 13 jun. 2022.
SAWHNEY, Mohanbir; WOLCOTT, Robert C.; ARRONIZ, Inigo. The 12
different ways for companies to innovate. MIT Sloan Management Review, v.
47, n. 3, p. 75-81, 2006.
SCHERER, Felipe O.; CARLOMAGNO, Maximiliano S. Gestão da inovação
na prática: como aplicar conceitos e ferramentas para alavancar a inovação.
São Paulo: Atlas, 2009. 168 p.
SCHMITT, Larry. Five Things you should measure about your innovation
system. Inovo. [S.I.]. 9 nov. 2017. Disponível em:
https://www.theinovogroup.com/five-things-to-measure. Acesso em: 17 set. 2021.
SCHMITZ, Ademar; JULIANI, Douglas P.; DANDOLINI, Gertrudes A.; SOUZA,
João Artur de; HEERDT, Mauri Luiz. Inovação e o empreendedorismo e a sua
relação com o ensino, a pesquisa e a extensão nas universidades brasileiras.
In: COLÓQUIO INTERNACIONAL DE GESTÃO UNIVERSITÁRIA – Desafios
da Gestão Universitária no Século XXI, 15., Mar del Plata. Anais [...] Mar del
Plata, 2015. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/135889. Acesso em: 20 fev. 2022.
SCHUMPETER, Joseph. A. Teoria do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Abril Cultural, 1982.
SCHWARTZMAN, Simon. Pesquisa universitária e inovação no Brasil:
Avaliação de políticas de ciência, tecnologia e inovação: diálogo entre
experiências internacionais e brasileiras. Brasília: Centro de Gestão e Estudos
Estratégicos, 2008.
SILVA, Diego R. de M. O processo de construção conceitual-metodológica
da PINTEC. 120 p. Dissertação (Mestrado em Política Científica e Tecnológica)
– Programa de Pós-graduação em Política Científica e Tecnológica,
Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2015.
SILVA, Elaine da. O Conhecimento científico no contexto de sistemas
nacionais de inovação: análise de políticas públicas e indicadores de
inovação. 2018. 281 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Faculdade
de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2018.
SILVA, Elaine da; VALENTIM, Marta Lígia P.; LA MANO GONZÁLES, Marta de.
Avaliação de indicadores de ciência, tecnologia e inovação do Brasil e da
Espanha: estudo comparativo. Em Questão, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p.83-105,
mai./ago. 2020.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 243
SILVA, Roosseliny P. Proposta de modelo de indicadores e métricas de
inovação para Universidade Federal de Alagoas. 2019. 138 f. Dissertação
(Mestrado Profissional em Rede Nacional de Propriedade Intelectual e
Transferência de Tecnologia Para Inovação) – Instituto de Química e
Biotecnologia, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2019.
SILVA, Silvio B. A emergência dos Living Labs no Brasil como um meio para a
promoção da Inovação Social. In: SEMINÁRIO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
APLICADAS, 3, 2012, Criciúma. Anais [...]. Criciúma: Unesc, 2012. Disponível
em: http://periodicos.unesc.net/seminariocsa/article/download/653/644. Acesso
em: 29 mar. 2022.
SILVA, Gilberto S.; ALMEIDA, Lia de A. Indicadores de sustentabilidade para
Instituições de Ensino Superior: uma proposta baseada na revisão de
literatura. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade, v. 8, n. 1, p. 123-
144, 2019. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/geas/article/view/13767.
Acesso em: 01 mai. 2022.
SILVA, Arthur R.; MARCELINO, Valéria de S. A análise textual discursiva
enquanto um cenário viável para as pesquisas qualitativas na área de
educação. Revista Intersaberes, v. 17, n. 40, p.114-130, jan./abr. 2022.
Disponível em:
https://www.revistasuninter.com/intersaberes/index.php/revista/article/view/227
7. Acesso em: 20 jun. 2022.
SIRILLI, Giorgio, Conceptualizing and measuring technological innovation.
Idea Paper. 1998. Disponível em: https://nifu.brage.unit.no/nifu-
xmlui/bitstream/handle/11250/226464/Idea1.pdf?sequence=1. Acesso em: 17
mar. 2022.
SMITH, David N. Academics, the “cultural third mission” and the BBC: forgotten
histories of knowledge creation, transformation and impact. Studies in Higher
Education, v. 38, n. 5, p. 663–677, jun. 2013.
SMITH, Keith. Measuring Innovation. In: FAGERBERG, Jan; MOWERY, David.
C; NELSON, Richard R. The Oxford Handbook of Innovation. United States:
Oxford University Press, 2006. cap. 6. p. 148-154.
SOLY, Bruna. Indicadores de Inovação: a importância de mensurar a inovação
na organização. Inventa+Bgi, abr. 2015. Disponível em:
https://materiais.brasil.abgi-group.com/artigo-indicadores-inovacao. Acesso em:
15 set. 2021.
SONNA, Lina. The Usefulness of Networks: A Study of Social Innovation in
India. In: NICHOLLS, Alex; SIMON, Julie; GABRIEL, Madeleine (eds.) New
Frontiers in Social Innovation Research. Palgrave Macmillan, 2015. p. 212-
232. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1057%2F9781137506801_11.pdf.
Acesso em: 20 mar. 2022.
SOUZA, Marcela T.; SILVA, Michelly D.; CARVALHO, Rachel. Revisão
integrativa: o que é e como fazer. Einstein, v. 8, n. 1, p. 102-106, 2010.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1679-45082010RW1134. Acesso em:
20 dez. 2021.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 244
SOUZA, Marli Aparecida R.; WALL, Marilene L.; THULER, Andrea C.M.C.;
LOWEN, Ingrid M.V.; PERES, Ainda M. O uso do software IRAMUTEQ na
análise de dados em pesquisas qualitativas. Revista da Escola de
Enfermagem da USP, São Paulo, v. 52, n. 1, p. 1-7, 4 out. 2018.
STONE, Alexandra; ROSE, Susan; LAL, Bhavya; SHIIP, Stephanie. Measuring
innovation and intangibles: a business perspective. Washington: Institute for
Defense Analyses (Science and Technology Policy Institute), 2008.
SUZIGAN, Wilson; ALBUQUERQUE, Eduardo da M.; CARIO, Silvio Antônio F.
Em busca da inovação: interação universidade-empresa no Brasil. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2011.
SUZUKI, Henry. Método educativo para demonstrar que quantidade de
pedidos de patentes não é uma boa métrica de inovação. NEITEC, 2019.
Disponível em: http://www.neitec.eq.ufrj.br/noticias/metodo-educativo-para-
demonstrar-que-quantidade-de-pedidos-de-patentes-nao-e-uma-boa-metrica-
de-inovacao. Acesso em: 08 abr. 2022.
TAO, Lan; PROBERT, David; PHAAL, Rob. Towards an integrated framework
for managing the process of Innovation. R&D Management, v. 40, n. 1, p. 19-
30, 2010.
THE YOUNG FOUNDATION. Social Innovation Overview – Part I: Defining
social innovation. A deliverable of the project TEPSIE. Bruxelas: European
Commission, 2012. Disponível em:
http://www.tepsie.eu/images/documents/TEPSIE.D1.1.Report.DefiningSocialInn
ovation.Part%201%20-%20defining%20social%20innovation.pdf. Acesso em:
02 out. 2021.
TIDD, Joe. A Review of Innovation Models. Discussion paper. Tanaka
Business School. Imperial College London: London, 2006. Disponível em:
http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.460.8227&rep=rep1&t
ype=pdf. Acesso em: 16 mar. 2022.
TIDD, Joe; BESSANT, John. Gestão da Inovação. 5ª ed. Porto Alegre:
Bookman, 2015. 633 p.
TIJSSEN, Robert J.W.; WINNINK, Jos J. Capturing ‘R&D excellence’:
indicators, international statistics, and innovative universities. Scientometrics,
v. 114, p. 687-699, 2018.
TRIERWEILLER, Andréa Cristina; VEFAGO, Yuri B.; HUISINGH, Donald;
BARCELLOS DE PAULA, Luciano. University’s Third Mission: an exploratory
vision. In: GIANNETTI, B.F.; ALMEIDA, C.M.V.B.; AGOSTINHO, F. (ed.).
Advances in Cleaner Production, 10. Workshop, 2021, Ferrara. Proceedings
[...]. Ferrara, nov. 2021.
UNCETA, Alfonso; CASTRO-SPILA, Javier; FRONTI, Javier G. Social
innovation indicators. Innovation: The European Journal of Social Science
Research, v. 29, n. 2, 2016. p. 192-204.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 245
UNCTAD. Secretariat. Science, technology and innovation indicators for
policymaking in developing countries: an overview of experiences and
lessons learned: note/prepared by the UNCTAD Secretariat, [UN]. Geneva:
[UN], 11 jan. 2010. Disponível em:
https://policycommons.net/artifacts/136538/science-technology-and-innovation-
indicators-for-policymaking-in-developing-countries/. Acesso em: 23 mai. 2022.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Resolução Nº 194-CONSUN, de
26 de fevereiro de 2014. Dispõe sobre as Políticas de Inovação,
Transferência de Tecnologia e Serviços Tecnológicos no âmbito da
UFMA, em cumprimento ao disposto na Lei 10,973/04 (Lei de Inovação),
regulamentada pelo Decreto nº 5.563/05, e dá outras providências. São
Luis, 2014. Disponível em:
http://www.ufma.br/portalUFMA/arquivo/Zn07WztFGDOiKER.PDF. Acesso em
21 mai. 2021.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ. Indicadores de desempenho da UFPA.
Belém: UFPA, 2014. 67 p. Relatório. Disponível em:
http://antigoproplan.ufpa.br/doc/Indicadores_de_Desempenho_versao1.0.pdf.
Acesso em: 3 out. 2021.
UNIVERSIDADES de SP avaliam indicadores de desempenho. Portal do
Governo, São Paulo, 22 mar. 2019. Disponível em:
https://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/universidades-de-sp-avaliam-
indicadores-de-desempenho-das-instituicoes/. Acesso em: 18 out. 2021.
UN DESA – THE UNITED NATIONS DEPARTMENT OF ECONOMIC ND
SOCIAL AFFAIRS. The United Nations E-Government Survey 2012: e-
government for the people. New York: UN DESA, 2012.
VAKKURI, Jarmo. Institutional change of universities as a problem of evolving
boundaries. Higher Education Policy, v.17, n. 3, p. 287–309, Sep. 2004.
VAN GEENHUIZEN, Marina; YE, Quing. Responsible innovators: open
networks on the way to sustainability transitions. Technological Forecasting
and Social Change, v. 87, p. 28-40. 2014. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0040162514001875.
Acesso em: 12 jun. 2022.
VARRICHIO, Pollyana C.; RAUEN, Cristiane V. Promoção à inovação por meio
das políticas institucionais nas Universidades brasileiras: uma reflexão sobre as
iniciativas aprovadas entre 2016 e 2020. Textos de Economia, Florianópolis,
v. 23, n. 2, p. 1-28, mar. 2020. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/economia/article/view/67407. Acesso em:
13 out. 2021.
VEFAGO, Yuri B.; TRIERWEILLER, Andréa Cristina; BARCELLOS DE PAULA,
Luciano. The third mission of universities: the entrepreneurial university.
Brazilian Journal of Operations & Production Management, v. 17, n.4, p.1-
9, 2020. Disponível em: https://bjopm.emnuvens.com.br/bjopm/article/view/971.
Acesso em: 20 jan. 2022.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 246
VEIGA, José E. Indicadores socioambientais: evolução e perspectivas.
Brazilian Journal of Political Economy, v. 29, n. 4, p. 421-435, 2009.
Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rep/a/LWD3fxmdZS7SdGTjQvBTxgd/?format=pdf&lang=
pt. Acesso em: 13 mai. 2022.
VELHO, Lea Maria S. Estratégias para um sistema de indicadores de C&T no
Brasil. Parcerias Estratégicas, n. 13, dez. 2001. Disponível em:
http://seer.cgee.org.br/index.php/parcerias_estrategicas/article/viewFile/207/2.
Acesso em: 08 set. 2022.
VERAS, Carlos Alberto G.; PEREIRA, Flávio D.E.S. Escala de Maturidade
Tecnológica (TRL). Parque Científico e Tecnológico da Universidade de
Brasília (PCTec/UnB), 2022. Disponível em:
<https://pctec.unb.br/documentos/179-documentos/142-trl>. Acesso em: 22
ago. 2022.
VERNON Marlo M.; BALAS E. Andrew; MOMANI Shaher. Are university
rankings useful to improve research? A systematic review. PLoS ONE, v.13,
n.3, mar. 2018.
VIOTTI, Eduardo B. Brasil: de política de C&T para política de inovação?
Evolução e desafios das políticas brasileiras de ciência, tecnologia e inovação:
Avaliação de políticas de ciência, tecnologia e inovação: diálogo entre
experiências internacionais e brasileiras. Brasília: Centro de Gestão e Estudos
Estratégicos, 2008.
VIOTTI, Eduardo B.; MACEDO, Mariano de M. (org.). Indicadores de Ciência,
Tecnologia e Inovação no Brasil. Campinas: Editora Unicamp, 2003. 613 p.
VON SCHOMBERG, Rene (ed.) Towards responsible research and
innovation in the information and communication technologies and
security technologies fields. Luxembourg: Publications Office of the
European Union, 2011. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=2436399.
Acesso em: 15 jun. 2022.
VON SCHOMBERG, Lucien. Raising the sail of innovation: philosophical
explorations on responsible innovation. Wageningen University. 2022.
Disponível em: https://research.wur.nl/en/publications/raising-the-sail-of-
innovation-philosophical-explorations-on-resp Acesso em: 17 jun. 2022.
WÄCHTER, Bernd; KELO, Maria. University Quality Indicators: a critical
assessment. European Parliament's Committee on Culture and Education,
2015. 245 p. Disponível em:
https://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/STUD/2015/563377/IPOL_ST
U(2015)563377_EN.pdf. Acesso em: 19 abr. 2022.
WALSHOK, Mary L.; SHAPIRO, Josh D. Beyond tech transfer: a more
comprehensive approach to measuring the entrepreneurial university.
Advances in Entrepreneurship, Firm Emergence and Growth, v. 16, p. 1-36,
2014.
WU, Hung-Yi; CHEN, Jui-Kuei; CHEN, I-Shuo. Innovation capital indicator
assessment of taiwanese universities: a hybrid fuzzy model application. Expert
Systems with Applications, v. 37, p. 1635-1642, 2010.
REFERÊNCIAS
____________________________________________________________________ 247
YIN, Robert K. Pesquisa qualitativa do início ao fim [recurso eletrônico].
Porto Alegre: Penso, 2016.
YUNUS, Muhammad; MOINGEON, Bertrand; LEHMANN, Ortega. Building
social business models: lessons from the Grameen experience. Long Range
Planning, v. 43, n.2-3, 2010. p. 308-325. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.lrp.2009.12.005. Acesso em: 03 out. 2021.
ZANIN, Maria; ARRUDA, Adriana G.; ROTHBERG, Danilo. Pesquisa e
inovação responsáveis: conceituação, surgimento e desafios para sua
implementação. Em Questão, Porto Alegre, v.27, n. 4, p.14-38. 2021.
ZANOTTO, Edgar D. Scientific and technological development in Brazil. The
widening gap. Scientrometrics, V. 55, n. 3. 2002. p. 383-391. Disponível em:
http://www.lamav.ufscar.br/artpdf/scient55.pdf. Acesso em: 16 fev. 2022.
ZAWISLAK, Paulo Antônio. Contribuições para uma Medida Geral de Inovação.
In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E
PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 32., 2008, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio
de Janeiro: Anpad, 2008.
ZHAO, Rongying; CHEN Bikun. Innovation capability evaluation and analysis for
chinese universities in 2012. Geomantic and Information Science of Wuhan
University, v. 37, p. 7-11, 2012.
ZIEGLER, Maria Fernanda. USP, Unicamp e Unesp fixam novas métricas de
desempenho acadêmico e comparações internacionais. Agência Fapesp, São
Paulo, 24 out. 2019. Disponível em: https://agencia.fapesp.br/usp-unicamp-e-
unesp-fixam-novas-metricas-de-desempenho-academico-e-comparacoes-
internacionais/31756/. Acesso em: 14 out. 2021.
248

APÊNDICE A

PROTOCOLO DE ENTREVISTA
Roteiro de entrevista semiestruturada realizada com gestores vinculados a
inovação das universidades públicas brasileiras selecionadas.
1. Identificação do entrevistado
Nome:
Cargo:
Tempo no cargo:
Área de titulação:
IES:
2. Sobre o conceito de inovação:
a) Como o Sr.(a) definiria o que significa inovação para a universidade?
b) Na sua visão, existe mais pesquisa, invenção ou inovação na universidade?
Qual a sua percepção a respeito desses conceitos?
c) Na sua opinião, o torna uma universidade “inovadora”?
d) Quais as características da inovação no contexto universitário?
(princípios, gestão, relação com os usuários, relações com as fontes de
conhecimento, métricas)
e) Na sua percepção, qual o conceito de inovação mais se aplica a
universidade: paradigma tecnológico ou social?
f) Na sua percepção, quais as dimensões da inovação são mais verificadas nas
universidades?
(ensino, pesquisa, extensão, empreendedorismo, patentes e proteção do
conhecimento, transferência tecnológica, modernização organizacional,
Recursos Humanos)
g) E sobre os impactos da inovação produzida na universidade?
Quanto ao grau de novidade (radical ou incremental)
Quanto ao objeto (produto, processo, serviço, organizacional, marketing)
Quanto às fontes para seu desenvolvimento (fechada/aberta)
3. Sobre a participação das universidades no processo de inovação:
h) Qual o papel da universidade no Sistema Nacional de Inovação?
i) Qual a importância das políticas institucionais de inovação nas
universidades?
(verificar se há uma percepção de que tais políticas foram criadas apenas em
função da obrigatoriedade da legislação)
j) Na sua opinião, a política de inovação deveria contemplar elementos da Hélice
Quádrupla (sociedade) ou Hélice Quíntupla (meio ambiente)?
249

4. Sobre os indicadores de inovação:


k) Qual a importância das métricas para avaliação da inovação universitária?
l) Na sua opinião, o que deveria ser medido/avaliado para se perceber a
inovação na universidade?
(processo, propriedade intelectual, oportunidades tecnológicas, recursos para
inovação, transferência de tecnologia, empresas nascentes, capacitação e
empreendedorismo, produção intelectual, produtividade de grupos de pesquisa)
m) Quais indicadores poderiam ser usados nas fases iniciais do processo de
inovação?
n) Como capturar o valor do ensino, pesquisa e inovação?
o) Como medir as atividades informais de P&D, que não dão origem a
patentes?
p) Que outros indicadores ajudariam a entender melhor a inovação no âmbito da
universidade? (Ex. indicadores de aprendizagem?)
q) Tem conhecimento da proposta de indicadores de inovação feita pelo
FORPLAD em 2005?
r) Caso haja política de inovação na universidade: Existem indicadores de
inovação definidos pela política? Quais?

Você também pode gostar