Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HISTÓRIA RESUMOS Coração
HISTÓRIA RESUMOS Coração
quatrocentos e quinhentos
Principais centros culturais de produção e difusão de sínteses e
inovações
A época de Renascimento
Nos séculos XV e XVI, a Europa viveu um período de profundas transformações em todos os
domínios da vida, caminhando para uma nova época. Este período de transição da idade Média
para a idade Moderna é designada pelos historiadores como Renascimento- movimento cultural
que surgiu em Itália, nas cidades de Siena e Florença e, a partir dela expandiu-se por toda a
Europa Ocidental, especialmente para os Países Baixos, Alemanha e Inglaterra.
A importância da imprensa
Na idade média, a produção de texto utilizados nas universidades provinha na sua maior parte
das oficinas de copistas, que se dedicavam à elaboração de manuscritos nos scriporia
monásticos e nos centros de produção secularizados nas cidades. Os livros eram manuscritos um
a um, alguns desses belissimamente decorados.
O material usado na maior parte destes manuscritos era o pergaminho, feito de pele raspado de
carneiros ou cabras, embora, para as melhores obras, estivesse reservado o velino, pele vitela
mergulhada em cal e depois alisada com pedra- pomes. Considerado um material de luxo e
extremamente durável, continuou a ser utilizado no renascimento, mesmo para as obras
impressas, embora fosse necessário um cuidado especial.
O processo de fabrico do papel veio da China e foi conhecido na Europa através dos árabes, que
contactavam com os europeus no Mediterrâneo. Este novo material consistia na transformação
de desperdícios material fibroso que eram postos a apodrecer, sendo depois triturados e coados
em moldes rígidos de fios de cobre. A sua progressiva utilização levou a que vários moinhos de
trigo abandonados fossem transformados em fábricas de papel.
A técnica foi melhorada durante o século XIII, multiplicando-se os moinhos para papel movidos a
água, em especial no norte de Itália, onde se desenvolveu a prática de coser uma figura de arame
no molde, para produzir uma marca de água que permitisse identificar o fabricante da folha
depois de pronta. No final do século XIV, as diversas inovações técnicas permitiram a sua
disponibilização a preços cada vez mais baratos e em quantidades maiores, tornando-se o
papel um fator fundamental para fazer da invenção da imprensa de tipos de móveis o
acontecimento tecnológico central do renascimento.
Em meados do século XV são conhecidas impressões de estampas feitas com blocos de madeira
combinados, que terão levado a invenção de tipos de móveis de madeira para prensas. Esta
técnica tinha várias vantagens desde permitir o uso repetitivo e a fácil substituição, e o facto de
serem fabricados por um molde, conferindo uniformidade a impressão.
A nova técnica de impressão inventada por Johannes Gutenberg e Johann Fust derivou dos
progressos de tecnológicos alcançados na época e da mestria dos ourives alemães no trabalho
do metal.
A sua originalidade consiste na criação de uma liga metálica aplicada na elaboração de tipos de
móveis para impressão de letras.
A invenção da imprensa permitiu a produção de livros em grandes quantidades, a cópia de
vários originais ao mesmo tempo e a consequente difusão da leitura e da criação de
grandes bibliotecas.
O alcance desta descoberta, associada ao desenvolvimento indústria do papel e ao apelo de uma
cidade nova que aspirava instruir-se e aumentar o seu nível intelectual, torná-la ia um dos
maiores acontecimentos da história. Ao «livro jóia» de outros tempos, ricamente iluminado mas
reservada as élites, sucedeu «livro útil» menos nobre pela matéria-prima e pela apresentação,
mas incalculavelmente mais barato e que passou a ser um meio poderoso- e verdadeiramente
revolucionário- da difusão de cultura.
O cosmopolitismo das cidades hispânicas
Os séculos XV e XVI correspondem a um período de expansão e de grandes mudanças na
Europa e no Mundo. Coube a Portugal a prioridade no processo de Expansão, durante o século
XV, dominando técnicas de navegação e de orientação marítima, promovendo a conquista de
terras, a colonização dos arquipélagos atlânticos, a exploração da costa ocidental africana,
destacando-se a viagem pioneira de Gil Eanes, e a abertura do caminho marítimo para a Índia.
Também Castela, rivalizando com Portugal na descoberta de um caminho alternativo às rotas
mediterrâneas que levasse ao comércio das especiarias orientais, procedeu a viagens de
descoberta marítima, embora as tenha iniciado mais tarde.
As expedições de um outro reino prosseguiram, consolidando-se os dois primeiros impérios
coloniais da Europa: o Império Português, com domínios em África, Ásia e Brasil; e o Império
Espanhol, com domínios maioritariamente na América do Sul.
A importância de Lisboa
A cidade de Lisboa transformou-se gradualmente no maior entreposto comercial europeu e
tornou-se a capital mundial da pimenta e das especiarias.
O rei fixou a sua residência em Lisboa, em 1498, empreendo um profundo reordenamento da
cidade e transferiu o centro do poder civil para junto do rio. No Paço da Ribeira, instalou a Casa
da Índia, centro político-administrativo que tutelava o império. Aí se situava o Paço, a Alfândega,
a Casa dos Contos e a igreja Misericórdia.
Lisboa constitui, assim, a base logística do empreendimento colonial controlado pelo rei, que
financiava todos os negócios com a garantia de grandes lucros, controlados pelo rei Damião Góis
que diz ter visto na casa da índia tanto os mercadores com sacos cheios de moedas de ouro que
as oficiais serviam impossibilitados de eu contar no próprio dia. Antes, já Fer<não Lopes, também
cronista régio, registara que vivia em Lisboa um número cada vez maior de estrangeiros, a quem
os reis concediam diversos privilégios e liberdades, por serviços prestados e pelo dinamismo que
traziam à economia. O Tejo via-se coberto de navios de todas as partes, transportando produtos
de todo o mundo.
A importância de Castela
Sevilha era, também em meados do século XVI, a cidade mais populosa de Espanha. Entre 1500
e 1550, a sua população cresceu de 45000 para 100000 habitantes. A sua importância deveu-se
fundamentalmente ao monopólio do comércio com a América, que chegava ao porto fluvial da
cidade, no rio Guadalquivir. A casa da contratação, instalada na cidade, foi criada pelos reis
católicos em 1503 e assemelhava-se, em termos de funções, à Casa da Índia, de Portugal. No
entanto, enquanto em Portugal o rei detinha o monopólio do comércio colonial. No entanto em
Portugal o rei detinha o monopólio do comércio colonial, os reis de Espanha entregaram a
exploração económica dos negócios à iniciativa de particulares.
Centro do comércio de um imenso império, Sevilha não consolidou a sua importância somente
pelas riquezas que recebia da Carreira das Índias Orientais, mas devido a um intenso tráfego
internacional, que se intensificou no século XVI. À cidade espanhola convergiam também
mercadorias vindas da Europa e do Norte de África, o açúcar e as plantas tintureiras, vindo do
México e da Colômbia; e pérolas e especiarias das Filipinas. Mas foram especialmente os metais
preciosos que impulsionaram o desenvolvimento de Sevilha e que permitiram o desenvolvimento
do capitalismo comercial europeu. Tal como Lisboa a mesma época, Sevilha fervilhou de riquezas
e fez pulsar o coração do mundo.
O alargamento do conhecimento do mundo
O contributo português para o alargamento do conhecimento
geográfico
Inovação técnica: a cartografia
Os Europeus tinham um conhecimento muito parcial dos continentes africano e asiático e apenas
contactavam com o norte de África e com o Próximo Oriente através do mar Mediterrâneo.
Desde o início da nacionalidade que os portugueses faziam viagens regulares para norte, além de
já terem realizado expedições esporádicas às Canárias, o que lhes proporcionava grande
experiência e conhecimentos técnicos na arte de navegar.
A especulação teológica medieval de características bíblicas impôs a criação e divulgação de
mapas monásticos de tipo T-O, nos quais a Terra Santa ocupava o centro do planeta. Nestes
mapas, a Terra era representada em forma de disco plano, rodeada por um oceano circular e
dividida em três continentes- Europa, Ásia e África-, distribuídos em volta de um T, formado pelos
rios Nilos (Egito), Dom (Rússia) e pelo mar Mediterrâneo. O símbolo da cruz simbolizava a cidade
de Jerusalém que, nestes mapas, surgia no centro da Terra, com o Paraíso representado no
continente asiático.
No entanto, no decorrer do século XIII, fruto dos progressos técnicos, da renovação económica e
do consequente dinamismo comercial, a Europa ganhou uma nova sede de conhecimentos
geográficos e de valorização de saberes antigos. Assim, recuperam-se conhecimentos clássicos.
O mapa-mundo de Ptolomeu passou, então, a ser a fonte principal do conhecimento
cartográfico, relançando a ideia de esfericidade da Terra, aceite na Antiguidade, e que veio a ser
confirmado nos séculos seguintes após as viagens de descoberta empreendidos pelos
Portugueses. Ptolomeu entre outras incorreções, não considerou a comunicabilidade entre os
oceanos Atlânticos e Índico.
Os Muçulmanos promoveram a tradução da obra de Ptolomeu para árabe e elaboraram o mapa
árabe mais completo que se conhece mas o conhecimento e as descrições produzidas são
também muito imprecisos. Por sua vez na China fizeram-se inúmeros mapas locais. A cartografia
chinesa desenvolveu-se e os chineses cartografaram um vasto território, desde a Pérsia ao
Japão, mas pareciam ignorar o Ocidente.
Nos séculos XV e XVI, os Descobrimentos portugueses desempenharam um papel fundamental
no alargamento do conhecimento do mundo. Surgiram novas representações cartográficas, com
registo dos territórios gradualmente descobertos e explorados- ilhas atlânticas, costa africana,
América e Oriente- e foram corrigidas deficiências da conceção ptolomaica do planeta.
O individualismo
A paixão dos humanistas pelos clássicos levou-os muito além da recuperação, tradução e
divulgação dos seus escritos. A cultura antiga foi, assim, um instrumento educativo e formativo da
personalidade humana, um meio de o indivíduo desenvolver as suas capacidades intelectuais e
morais, de se conhecer a si próprio e ao mundo que o rodeava.
Os humanistas, antes de mais, pretenderam contrapor uma nova visão do mundo, opondo-se a
valores que consideravam ultrapassados. Conscientes da modernidade emergente na
correspondência que trocavam entre si e nas suas obras, expressaram ideias concretas sobre o
mundo, realçando a importância da formação humanista e exaltando a dignidade do Homem e
das suas realizações.
Através do apoio que receberam de grandes mecenas, muitos deles também humanistas,
adquiriam conhecimentos diversificados. Baltasar Castiglione, por exemplo, escritor e diplomata
que serviu em várias cortes italianas no século XVI, idealizou, na sua obra O Cortesão (1528), a
imagem do homem perfeito do Renascimento- exemplo de civilidade. O cortesão devia ser
culto, bem preparado no domínio das letras, das artes e das ciências; devia praticar exercício,
dominar a arte de bem cavalgar, dançar, jogar, ser cortês, homem de espírito alegre.
Por isso, os humanistas exaltavam as capacidades pelo uso da razão e pela dignidade, assentes
numa educação esmerada e requintada através da qual o cidadão se devia afirmar, procurando
atingir a fama e a glória na sua vida terrena (ao contrário do homem da Idade Média, que
procurava atingir a salvação da alma). Os progressos na vida material e as novas conquistas da
Expansão contribuíram para um aumento da consciência das capacidades e da concretização de
realizações alcançadas pelo próprio Homem. Tudo isto contribuiu para a ideia de que o Homem
se constrói a si próprio que o seu destino só a ele pertence- individualismo. Por isso, os
humanistas defendiam que, num exercício de liberdade, o Homem devia tomar as suas decisões
e fazer escolhas sem esperar que a fatalidade da vida fosse decidida por Deus, como era o
pensamento dominante anterior.
Os humanistas opunham, desta forma, a sua conceção do mundo à conceção medieval assente
na ideia de que Deus estava no centro de todas as preocupações humanas e da sua vida
quotidiana (teocentrismo). Baseados no saber e no exemplo dos Antigos, que tinham tomado por
modelo, e pelas realizações conseguidas durante o século XV, defendiam que o ser humano se
definia pelo seu poder ilimitado de descoberta e de transformação. Sem rejeitarem Deus e a
religião, os homens do Renascimento ganharam confiança em si, valorizando as suas
capacidades. O homem, como senhor do seu destino, passou a ser considerado o centro do
Universo, sendo uma espécie de microcosmos, onde se fundiam harmoniosamente o material e o
celestial- antropocentrismo. A capacidade de intervenção do Homem manifestava-se, assim, nas
suas atitudes, pela prática dos valores e dos princípios idealizados e proclamados pelos
intelectuais que personificavam o Homem novo, críticos atuantes e determinados, capazes de
conhecer e mudar o mundo: os humanistas.
Assim, os humanistas, baseados na filosofia de Aristóteles e Platão, retomaram o tema da
dignidade humana. O Homem construía o tema principal da filosofia aristotélica e já os
pensadores medievais consideravam que a dignidade humana assentava na sua semelhança
com Deus- segundo a Bíblia, o Homem estava acima de todos os seres da criação, pois Deus
tinha-o criado à sua imagem e semelhança. Marsílio Ficino, influenciado por Platão, considerou,
ao refletir sobre os fundamentos da dignidade humana, que o Homem era uma espécie de
mediador entre a Natureza e Deus, realizando em si uma espécie de unidade da Natureza com o
espírito.
Pico della Mirandola, ao contrário de Ficino, considerava que a liberdade do Homem o colocava
fora de hierarquia dos seres definida por Deus. Segundo ele, a liberdade de escolha definia a
dignidade do Homem, uma vez que este não estava condicionado por uma determinada essência:
o Homem era o resultado das suas obras e das suas ações terrenas, para as quais não havia
limites.
O renascimento da arquitetura
A arquitetura renascentista nasceu em Florença, no século XV, numa época em que o
desenvolvimento económico da cidade permitia a acumulação de riqueza e a estabilidade política
potenciava um florescimento artístico. A cidade enriqueceu-se com a construção de obras
arquitetónicas de um estilo leve e simples, no que ficou conhecido como o período de
Quattrocento. A segunda fase, mais rica e grandiosa, tomou conta de Roma, já no século XVI, e
denominou-se Cinquecentto.
Para os florentinos, as construções constituíam uma espécie de orgulho cívico, pois conheciam
bem as igrejas e catedrais que mantinham preservadas na sua cidade, numa espécie de
evocação do passado. Por isso, a renovação das construções inspirada na arte clássica
aconteceu de uma forma natural.
O interesse pelo estudo dos Antigos, o conhecimento das suas obras, o desejo de investigar e
representar o mundo real, era já visível desde os finais da Idade Média.
Filippo Brunelleschi teve a seu cargo o projeto de conclusão da catedral de Florença, de estilo
gótico. A imponente cúpula, projetada já na primeira metade do século XIV, requeria
conhecimentos de engenharia nunca antes postos em prática. Brunelleschi correspondeu ao
desafio: fez com que a cúpula não necessitasse de recorrer à centragem- um complicado sistema
de andaimes usado nas catedrais góticas-, desenhando o seu ângulo mais fechado, de modo a
aliviar o seu peso.
Brunelleschi tinha estudado com cuidado os modelos romanos e passou a usar, nas construções,
elementos da Antiguidade. No entanto, as suas obras manifestaram um refinamento novo, em
que se conjugavam as formas geométricas dos Antigos e o vocabulário decorativo da arquitetura
clássica (classicismo), com um novo conceito de proporcionalidade que lhes conferia
simplicidade e leveza.
Depois da experiência da cúpula, o artista passou a receber encomendadas de vários patronos,
encarregando-se ele próprio da conceção dos edifícios. A partir de 1419, construiu o hospital dos
Inocentes, belo asilo para órfãos, empregando elementos da arquitetura clássica- colunas
coríntias, arcos semicirculares, janelas redondas e frontões triangulares-, mas em que a mestria,
conferida à aplicação destes elementos através do cálculo rigoroso das proporções, permitia
um resultado leve e gracioso, muito diferente da época romana.
Outra construção sua a capela dos Pazzi demonstra algumas das inovações baseadas nas
relações matemáticas entre os diferentes elementos arquitetónicos de um edifício.
Brunelleschi não manifestava interesse pela estrutura das construções que edificava- o
importante era o aspeto final. Por isso, executava as paredes de modo a tornar facilmente
percetível o aspeto matemático e geométrico do edifício, adotando formas simples, como cubos
de paralelepípedos. Esta abordagem matemática vem do conceito grego de origem
arquitetónica que o Renascimento recuperou.
Também a planta em cruz latina, típica do gótico foi substituída por um esquema de planta
centrada, inspirada nas formas geométricas. Brunelleschi pôs esta estratégia em prática nas
suas construções, considerando que todas as linhas paralelas convergem num ponto- o ponto de
fuga- que se encontra no horizonte.
A racionalidade no urbanismo
O Renascimento coincidiu com um período de ressurgimento da vida urbana e de florescimento
económico que permitiu a acumulação de riqueza.
A família dos Médicis, em Florença, do Este, em Ferrar, e dos Sforza, em Milão, que criaram um
estilo de vida próprio para o qual contribuíram com o seu trabalho e riqueza, mas também com o
gosto pela cultura, manifestada na formulação intelectual, literária e artística, características do
bom cortesão. Juntamente com os papas, os príncipes e os duques atraíram os melhores artistas
para as suas cortes e promoveram o embelezamento das suas cidades. Despendendo dinheiro
dos seus negócios, ou da própria cidade que governavam, mandaram realizar projetos, construir
igrejas, basílicas, conventos, hospitais, capelas e palácios. Encomendaram, igualmente, a
reabilitação do tratado de ruas e a remodelação de praças, procurando corresponder a um
modo de vida novo e a um ideal que a sociedade da época preconizava.
As cidades medievais, labirínticas e radicais, cujas construções se acantonavam à volta da
catedral, da igreja matriz ou de um convento para onde convergiam ruas estreitas e sinuosas,
encimadas por um castelo e cercadas por muralhas que protegiam as populações e as isolavam
do mundo exterior, já não correspondiam às novas exigências do mundo moderno, quer pelo
aumento da população, quer pelo aparecimento de novas conceções urbanísticas. Por isso, de
forma consciente, os responsáveis políticos, religiosos e outros, interessaram-se pela renovação
e planificação das cidades onde habitavam, mandando proceder a intervenções urbanísticas,
alinhado igrejas, palácios e centros administrativos e políticos, contruídos ao longo das ruas e ao
redor de praças, por vezes interligados por belas escadarias e terraços.
A praça foi o ponto principal de renovação da cidade renascentista. Pensada como se tratasse do
pátio central de um palácio, funcionava como a «a sala de visitas» da cidade e das autoridades
municipais. Alberti, por exemplo, considerou o aspeto prático da cidade, ao qual se devia associar
a beleza.
Também Francesco di Giorgio, retomando a ideia de que a cidade é o lugar onde se encarna a
beleza, sentiu a necessidade de construir edifícios proporcionados, onde fosse agradável
permanecer. Segundo ele, a cidade e cada edifício deviam refletir a ordenação do corpo humano,
que, conforme a conceção da época, era «a medida de todas as coisas». O prestígio da
arquitetura estava, assim, associado à beleza da cidade e à beleza do Homem.
Arquitetos e utopias confundiram-se por vezes, projetando e idealizando traçados de cidades,
com ruas em forma de retícula, envolvidas por fortificação de traçado geométrico, que nunca
foram concretizados. A «cidade ideal» italiana, com casas proporcionadas ao espaço, igreja em
forma circular, com tudo disposto numa perspetiva linear, fez parte do imaginário de arquitetos e
mesmo pintores. A cidade assim imaginada, em forma estrelada e simétrica para facilitar a sua
defesa, correspondia a uma ideia militar, que considerava essa estrutura como a mais adequada.
Para além disso, os arquitetos evidenciavam preocupações estéticas e filosóficas, influenciados
pelo humanismo platónico. A cidade em forma de polígono radical surgia como a própria
imagem do Cosmos, uma síntese do esplendor dos céus, a encarnação da perfeição esférica
do Universo.
Com efeito, na realidade, as intervenções urbanísticas dos séculos XV e XVI foram
maioritariamente remodelações das velhas cidades medievais, em particular as praças que
constituíam o centro monumental da urbe. Abriram-se ruas novas, largas e retilíneas, ladeadas de
casas e da mesma altura, com fachadas uniformizadas e novas praças de traçado quadrangular,
replicando o conceito aplicado nas igrejas, de planta centrada, e na construção dos palácios, que
obedeceram também ao traçado de planta quadrangular, distribuindo simetricamente o edifício
em torno de um pátio central.
Os arquitetos italianos inspirados nos princípios da racionalidade transformaram assim a velha
cidade medieval numa moderna cidade ideal, de inspiração clássica.