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Disponibilização: Juuh Alves

Tradução: DK

Revisão Inicial: Oli

Revisão Final: Oli

Leitura Final: DK

Formatação: DK
Informações da série

Sings of love, by Mia Sheridan

Leão Escorpião Sagitário

Aquário Touro

Áries

Câncer

Gêmeos

Virgem

Capricórnio

Peixes

Libra
Sinopse
Kira Dellaire está desesperada.

Alguns desafios da vida parecem muito difíceis de superar. Com pouco dinheiro
e ainda menos opções, a moça de vinte e dois anos de idade vibrante e de
raciocínio rápido precisa reinventar-se. Conhecida por seu generoso coração e
personalidade impulsiva, ela inventa um plano de sobrevivência e,
possivelmente, sua ideia mais ultrajante.

Grayson Hawthorn está perdendo a esperança.

Alguns obstáculos da vida parecem muito difíceis de superar. Traição


definitivamente é um deles. Com capital limitado e escassez de recursos, ele está
tentando ressuscitar o vinhedo falido de sua família, um voto auto-imposto,
aparentemente destinado ao fracasso. Isso é, até que uma jovem mulher entra em
seu escritório com uma estranha e inesperada proposta, impossível de recusar.

O que começou como um acordo de negócios temporário logo torna-se algo


mais, quando a alegre e espirituosa Kira desafia o arrogante Grayson a querer
algo mais da vida. Querer algo mais para si mesmo. Mas, quando suas
vontades entram em conflito e a paixão ardente inflama, eles vão perceber que,
às vezes, o passado cria muros muito difíceis de escalar, e que mentiras e
enganos raramente precedem um felizes para sempre.

Enquanto Kira e Grayson correm em direção a seu destino, vão descobrir


que algumas promessas são feitas para serem quebradas, e que por outras
vale a pena arriscar tudo... até mesmo seu próprio coração.
Dedicatória
Este livro é dedicado à minha avó, que sempre tinha uma palavra de conselho sábio,
um ouvido atento e um coração cheio de amor.

Eu sinto sua falta.

Todos os dias.

Libra
"Mesmo uma vida feliz não pode existir sem um pouco de escuridão, e a felicidade
perderia a razão de ser, se não existisse tristeza" .

Carl Jung
Capítulo Um
"Não se preocupe, meu amor, o universo sempre equilibra a balança. Seus caminhos
podem ser misteriosos, mas serão sempre justos."

Isabelle Dallaire, "Vovó"

Kira

Em uma longa história de maus dias, este estava no topo da lista. E


eram só nove horas. Saindo do meu carro eu respirei fundo o ar ameno do fim
do verão e comecei a caminhar em direção ao Napa Valley Banco de
poupança. A manhã sensual brilhou ao meu redor, o doce aroma de jasmim
provocando meu nariz.

Eu suspirei enquanto abri a porta de vidro do banco. A beleza pacífica


parecia errada de alguma forma, a frieza de meu humor em contraste direto
com o quente dia de sol. Uma idéia arrogante, eu suponho. Como se o tempo
devesse expressar-se de acordo com meu humor.

"Posso te ajudar?" uma morena alegre perguntou assim que me


aproximei de seu caixa.

"Sim", eu disse, retirando meu ID e uma caderneta de poupança velha


da minha bolsa. "Eu quero fechar esta conta." Eu deslizei os dois em direção
ao caixa. Um canto da caderneta de poupança foi dobrada para trás, revelando
números que minha avó tinha colocado quando me mostrava como
manter o controle de nossos depósitos. A memória rasgou meu
coração, mas eu forcei o que eu esperava que fosse um
sorriso alegre, olhando para a menina quando pegou o livro, o abriu e começou
a digitar o número da conta.

Lembrei-me do dia em que tinha aberto essa conta. Eu tinha dez anos,
minha avó tinha me deixado aqui e eu orgulhosamente depositei os cinquenta
dólares que ela tinha me dado por ajudar com o trabalho de jardinagem durante
todo o verão. Nós tínhamos feito viagens a este banco ao longo dos anos,
quando eu tinha ficado em sua casa em Napa. Ela tinha me ensinado o
verdadeiro valor do dinheiro, que ele deveria ser compartilhado, usado para
ajudar os outros, mas que também representava um tipo de liberdade. O fato
de que atualmente eu tinha pouco dinheiro, poucas opções, e que cada posse
material que possuía estava recheando o porta-malas do meu carro era a prova
de quão certa que ela tinha sido. Eu era tudo, menos livre.

"Dois mil e quarenta e sete dólares e dezesseis centavos", a caixa


declarou, olhando para mim. Eu assenti. Era até um pouco mais do que eu
esperava. Bom. Isso era bom. Eu precisava de cada centavo. Respirei fundo,
lentamente, juntando minhas mãos no balcão e esperando ela contar a
dinheiro.

Uma vez que o dinheiro estava enfiado em minha bolsa e a conta


fechada, eu desejei ao caixa um bom dia e me virei para sair do banco,
parando no bebedouro.

Quando a água fria bateu os meus lábios eu ouvi vagamente do


escritório ao virar a esquina, "Grayson Hawthorn, prazer em conhecê-lo." Eu
congelei. Levantei-me lentamente depois usei o polegar para limpar a água
distraidamente de meu lábio inferior. Hawthorn Grayson... Grayson
Hawthorn? Eu conhecia esse nome. Lembrava-me do forte som dele, do
jeito que o tinha repetido a mim mesma num sussurro para ouvi-lo
em meus lábios naquele dia no escritório do meu pai. Eu olhei
rápido para o arquivo que meu pai tinha fechado
quando eu coloquei a bandeja de café em sua mesa. Poderia ser o mesmo
Grayson Hawthorn?

Espreitei em torno do canto e não vi nada mais do que uma porta de


escritório fechada, a sombra na janela fechada. Eu andei em torno do canto
para o banheiro do outro lado do corredor a partir do escritório que Grayson
Hawthorn ocupava.

Uma vez dentro do banheiro, eu tranquei a porta e encostei-me à


parede. Eu ainda não tinha conhecido Grayson Hawthorn que vivia em Napa.
Seu julgamento teve lugar em San Francisco, de modo que deve ter sido onde
o crime foi cometido. Não que eu soubesse que crime poderia ter sido, apenas
que meu pai tinha tomado um breve interesse nele. Mordi o lábio, movendo-me
para a pia e olhando para mim mesma no espelho acima enquanto lavava e
secava minhas mãos.

Eu abri a porta silenciosamente e tentei em vão ouvir a conversa na sala


do outro lado do hall, já que eu só podia ouvir vozes abafadas. De repente, ouvi
a porta abrir e espiei para ver outro homem em um terno – provávelmente um
executivo do banco - entrar no escritório. Ele fechou a porta atrás de si, mas
ela não se encaixou no lugar e ficou muito, muito ligeiramente entreaberta,
permitindo-me ouvir algumas palavras de introduções. Mais uma vez, eu estava
na porta do banheiro tentando ouvir.

Realmente, Kira? Você é vergonhosamente uma intrometida. Isso é


invasão de privacidade. E pior, um pouco inútil. Sério, o que está errado com
você?

Ignorando minha própria reprimenda, inclinei-me mais perto da


abertura da porta.
Eu deixaria este momento menos-que-estelar fora das minhas
memórias. Ninguém precisava saber sobre isso, somente eu.

Algumas palavras derivaram o meu caminho. "Desculpe... Criminoso...


não posso dar... esse banco... infelizmente..."

Criminoso? Tinha que ser o Grayson Hawthorn que eu pensei que era.
Que estranha e aleatória coincidência. Eu mal sabia sobre ele. Tudo que eu
realmente sabia era o seu nome, o fato que ele tinha sido acusado de um crime
e que meu pai tinha participado em usá-lo como um peão. Grayson Hawthorn e
eu o tínhamos em comum. Provavelmente meu pai não se lembraria do nome
do homem quando ele arruinou tantas vidas regularmente e com tão pouca e
tardia reflexão. Em todo caso, por que eu estava escutando de dentro de um
banheiro, tentando ouvir sua conversa particular? Eu não tinha certeza. No
entanto, abundância de curiosidade era um dos meus defeitos confirmados. Eu
respirei fundo e abrí a porta do banheiro.

Eu estava saindo quando ouvi o arrastar de pés da cadeira e fiz uma


pausa. As palavras do outro lado do corredor eram mais claras agora que eles
provavelmente tinham aberto mais a porta. "Me desculpe, eu não posso
aprovar um empréstimo para você, Sr. Hawthorn." A voz masculina que falou
parecia arrependida. "Se você valesse mais..."

Outra voz masculina, Grayson, eu assumi, cortou o outro homem fora.


"Eu entendo. Obrigado por seu tempo, Sr. Gellar."

Eu peguei o breve vislumbre de uma figura masculina alta com cabelo


escuro em um terno cinza, e me inclinei para trás dentro do banheiro,
clicando a porta fechada novamente. Eu lavei minhas mãos mais uma vez e,
em seguida, deixei a pequena sala. Olhei para o escritório onde
Grayson Hawthorn tinha estado quando eu passei, e vi um
homem sentado atrás da mesa em um terno e gravata, sua
atenção focada em algo que ele estava escrevendo.
Deve ter sido Grayson Hawthorn de terno cinza, e, aparentemente, ele já tinha
deixado o banco.

Voltei para fora, para o dia de verão brilhante, e entrei em meu carro
estacionado a rua. Eu sentei lá por um minuto, olhando pela janela da frente,
no centro da cidade pitoresca: batata frita, toldos limpos que adornavam as
frentes das empresas e grandes recipientes de flores coloridas decoravam a
calçada. Eu amava Napa, do centro da cidade à beira do rio, as vinhas
periféricas e maduras com frutas no verão, e coloridas com as flores amarelas
como mostardas selvagens no inverno. Isto era para onde minha avó tinha se
retirado depois que meu avô se foi, onde eu passava os verões, em sua
pequena casa com grande varanda na rua do Seminário. Em todos os lugares
que eu olhava eu a via, ouvia sua voz, sentia seu espírito quente e vibrante.
Minha vó gostava de dizer, ‘Hoje pode ser um dia muito ruim, mas amanhã
pode ser o melhor dia da sua vida. Você apenas tem que aguentar até chegar
lá’.

Eu dei uma profunda inspiração de ar, fazendo o meu melhor para


sacudir a solidão. Oh, vovó, se você estivesse aqui. Você iria me levar em seus
braços e dizer que tudo ia ficar bem. E porque era você que estaria dizendo
isso, eu acreditaria que era verdade.

Deslizando os olhos fechados e inclinando-me para trás contra o


encosto de cabeça, eu sussurrei: "Ajuda-me, vovó. Estou perdida. Eu preciso
de você. Me dê um sinal. Diga-me o que fazer. Por favor." As lágrimas que eu
estava segurando na baia por um tempo longo queimaram atrás de minhas
pálpebras, ameaçando cair.

Abri os olhos, e o movimento no espelho do lado do passageiro


imediatamente capturou minha atenção. Eu virei minha cabeça e
vi um homem alto e bem construído num terno cinza... Grayson
Hawthorn. Eu sacudi ligeiramente, minha respiração
vacilante. Ele estava de pé contra o prédio ao lado do meu carro, à direita de
meu para-choque, o local perfeito para eu vê-lo claramente no meu espelho
sem me mover. Eu furtivamente me abaixei no meu lugar só um pouco, inclinei-
me para trás e virei minha cabeça para vê-lo.

Ele tinha sua cabeça encostada no edifício atrás dele, e seus olhos
estavam fechados, sua expressão de dor. E, meu Deus, ele era...
deslumbrante. Ele tinha as características lindamente esculpidas de um
cavaleiro de armadura brilhante, com o cabelo preto quase um pouco longo
demais, enrolando-se sobre o colarinho. Os lábios eram verdadeiramente
devastadores, cheios e sensuais de uma forma que fez meus olhos quererem
passear por eles novamente. Eu olhava, tentando tirar cada detalhe de seu
rosto, antes do meu olhar viajar para baixo em sua forma e altura. Seu corpo
combinava com sua lindamente escura masculinidade - muscular e graciosa,
ombros largos e cintura estreita.

Oh, Kira. Você quase não tem tempo para estar admirando belos
criminosos na calçada. Suas preocupações são ligeiramente mais prementes.
Você é sem-teto e bem, francamente, desesperada. Se você quer se
concentrar em alguma coisa, foque nisso. Eu mordi meu lábio, incapaz de
arrastar meus olhos. De qualquer maneira, qual teria sido seu crime? Eu tentei
desviar o olhar, mas algo sobre ele puxou para mim. E não era apenas a sua
impressionante beleza masculina que fez meus olhos permanecerem nele.
Algo sobre a expressão em seu rosto era familiar, falando para o que eu estava
sentindo naquele exato momento.

Se você valesse mais...

"Você está desesperado também, Grayson Hawthorn?" Murmurei.


Por quê?
Enquanto eu o observava, ele trouxe a cabeça reta, massageando-a,
olhando ao redor. Uma mulher passou e se virou quando passou por ele, sua
cabeça se movendo para cima e para baixo olhando seu corpo. Ele parecia não
notá-la, e, felizmente para ela, ela se virou, olhando para frente bem a tempo
de quase colidir com um poste de luz. Eu ri baixinho. Grayson ficou olhando
para longe novamente.

Enquanto eu o observava, um homem sem-teto, obviamente, mudou-se


de onde estava, segurando seu chapéu para as pessoas passando. Todos eles
moviam-se rapidamente por ele, desviando o olhar desconfortavelmente.
Quando o homem começou a se aproximar Grayson, eu pressionei meus lábios
juntos. Desculpe, meu velho. Parece-me que a pessoa de quem você está
prestes a se aproximar está numa situação muito próxima a sua. Mas para
minha surpresa, quando o homem se aproximou de Grayson timidamente,
Grayson enfiou a mão no bolso, hesitou apenas brevemente e, em seguida,
agarrou sua carteira. Eu não podia ter certeza de onde eu estava sentada, mas
quando o interior escuro de sua carteira brilhou, de onde eu estava parecia que
ele tinha esvaziado-a para o velho. Ele acenou com a cabeça uma vez para o
homem em trapos, que estava agradecendo profusamente, e depois ficou
olhando por um momento o mendigo ir embora.

Em seguida, ele caminhou na direção oposta, virando a esquina e


ficando fora da vista.

‘Veja o que as pessoas fazem quando pensam que não há ninguém


olhando, amor. É assim que você vai saber quem elas realmente são’.

As palavras de vovó flutuaram pela minha mente, como se ela tivesse


falado de algum lugar apenas fora do meu carro. O toque estridente do
meu telefone me assustou, e eu deixei escapar um pequeno
suspiro, agarrando minha bolsa do assento do passageiro para
pegar o meu telefone.
Kimberly.

"Hey," eu sussurrei.

Um momento de silêncio. "Kira? Por que você está sussurrando?" Ela


estava sussurrando também.

Limpei a garganta e recostei-me no meu lugar. "Desculpe, o telefone só


me assustou. Estou sentada em meu carro, em Napa."

"Você foi capaz de fechar a conta?"

"Sim. Ela tinha uns dois mil dólares nela."

"Hey, bem, isso é ótimo. Isso é algo, pelo menos, certo?"

Eu suspirei. "Sim. Ele vai me ajudar a passar um pouco."

Eu ouvi os garotos da Kimberly rindo no fundo, e ela calou-os,


segurando a mão sobre o telefone e falando com eles em espanhol antes de
voltar para mim, dizendo: "Meu sofá é sempre seu, se você quiser."

"Eu sei. Obrigada, Kimmy." Eu não poderia fazer isso com a minha
melhor amiga, no entanto. Ela e seu marido, Andy, estavam espremidos em um
pequeno apartamento em San Francisco com seus filhos gêmeos de quatro
anos de idade. Kimberly havia ficado grávida quando tinha dezoito anos e, em
seguida, teve a chocante notícia de que estava esperando gêmeos. Ela e Andy
tinham batido as propabilidades até agora, mas não tinham uma vida fácil.

A última coisa que ela precisava era sua amiga sem-teto dormindo em
seu sofá e colocando pressão extra sobre sua família. Sem-teto. Eu era sem-
teto.

Eu tomei uma respiração profunda. "Eu vou bolar um plano, no


entanto," eu disse, mordendo meu lábio, um sentimento de
determinação substituindo a desesperança que senti toda a
manhã. O rosto de Grayson Hawthorn brilhou
rapidamente em minha mente. "Kimmy, você já se sentiu como... como se um
caminho estivesse traçado em sua frente? Como, claro como o dia?"

Kimberly parou por uma batida. "Oh, não. Não. Eu sei pelo tom em sua
voz. Significa que você está tramando algo que eu vou tentar, provavelmente
sem sucesso, dissuadi-la a não fazer. Você não está considerando o plano de
fazer propaganda de um marido on-line não é?"

"Não", eu a cortei, "não exatamente, de qualquer maneira."

Kimberly gemeu. "Você esta em outro momento de Muito Más Ideias,


não é? Algo completamente ridículo e provavelmente perigoso."

Eu sorri. "Oh pare. Essas ideias que você sempre chama 'Muito Más’,
raramente são ridículas e raramente perigosas."

"E a vez que você ia comercializar a sua própria máscara de rosto toda-
natural de ervas do seu jardim?"

Eu sorri, conhecendo seu jogo. "Oh isso? Minha fórmula estava quase
lá. Bem ao seu alcance, na realidade. Se não tivesse sido minha cobaia-"

"Você deixou meu rosto verde. Fui afastada por uma semana. Foto do
dia pela semana."

Eu ri baixinho. "Tudo bem, tá bem que não funcionou muito bem, mas
tínhamos dez anos."

"Escapamos para a festa de Carter Scott quando tínhamos dezesseis-"

"Teria totalmente funcionado se-" comecei a defender.

"O corpo de bombeiros teve que vir me tirar de seu telhado."

"Você sempre foi tão covarde", eu disse, sorrindo.

"E a vez que você esteve em casa em férias de verão da


faculdade e organizou aquele jantar com temática asiática,
onde todos nós tivemos que usar quimonos, e então
você quase matou todos lá".

"Um erro de ingrediente. Como eu ia saber que precisava ser licenciado


para cozinhar o peixe em especial? De qualquer forma, isso foi há muito
tempo."

"Isso foi há dois anos." Ela tentou ficar inexpressiva, mas eu podia ouvir
o sorriso em sua voz.

Eu estava rindo agora. "Ok, você fez seu ponto, espertinha. E apesar de
tudo isso, você me ama de qualquer maneira."

"Sim." Ela suspirou. "Não posso evitar. Você é completamente


adorável."

"Bem, isso é discutível, acho."

"Não", ela disse com firmeza, "não é. Seu pai é um idiota, mas você já
sabe como me sinto sobre esse assunto. E, querida, você precisa falar sobre o
que aconteceu. Faz um ano. Eu sei que você acabou de voltar, mas você
precisa -"

Mordi o lábio e balancei a cabeça, embora ela não pudesse ver o


movimento do outro lado do telefone. "Ainda não", eu disse suavemente. "E
obrigada por me fazer rir por um minuto. Mas sério, Kim, eu estou em uma
situação muito ruim agora. Talvez uma Muito Má Ideia seja o que eu preciso."
Eu não poderia ajudar o pequeno percalço na minha voz no final da minha
frase. Kimberly nunca deixou de levantar o meu espírito, mas, na verdade, eu
estava com medo.

"Eu sei, Kira," Kimberly disse suavemente, compreensão em sua voz.


"E, infelizmente, se você está determinada a não usar qualquer um dos
contatos de negócios de seu pai, você pode obter um emprego de
garçonete até descobrir o que vai fazer."
Eu suspirei. "Talvez, mas você realmente me quer em qualquer lugar
perto de preparação de alimentos?"

"Você fez um ponto válido." Ouvi outro sorriso em sua voz. "Qualquer
coisa que você decidir, vai sempre ser o Kira e Kimmy Kats, ok? Para sempre.
Somos uma equipe", disse ela, referindo-se ao nome da banda que eu tinha
criado quando tínhamos doze anos, quando eu tinha inventado o plano de
cantar na esquina da rua para arrecadar dinheiro. Eu tinha visto um comercial
na TV sobre as crianças que não tinham o suficiente para comer na África, e
meu pai não me daria o dinheiro para patrocinar um deles. No final, fomos
pegas escapando de casa em muito inadequadas "fantasias" que eu tinha feito
com papel e fita. Meu pai me deixou de castigo por um mês. A mãe de
Kimberly, que trabalhava como residente chefe de nosso serviço de limpeza
pessoal, deu-me os vinte e dois dólares que eu necessitava para ajudar a
alimentar e educar Khotso naquele mês, e, em seguida, todo mês que eu não
poderia ter o meu próprio dinheiro depois disso.

"Sempre", eu disse. "Eu te amo, Kimmy Kat."

"Eu te amo Kira Kat. E eu tenho que ir, estes meninos estão ficando fora
de controle." Eu ouvi Levi e Micah aos gritos e risos ao fundo, e o som de
pequenos pés correndo. "Parem de correr, rapazes! E parem de gritar!"
Kimberly gritou, segurando o telefone longe de sua boca por um segundo.
"Você estará bem esta noite?"

"Sim, eu estou bem. Eu acho que poderia até mesmo fazer alarde e
alugar um quarto de hotel barato aqui em Napa e, em seguida, caminhar ao
longo do rio. Faz-me sentir perto da vovó." Eu não mencionei que naquela
manhã eu apressadamente embalei minhas coisas e desci pela escada de
incêndio do apartamento que meu pai tinha pago, quando ele
gritou e bateu na porta da frente. E que agora, essas ditas coisas estavam
comprimidas no porta-malas do meu carro.

Kimberly iria apenas se preocupar e, por agora, eu tinha algum dinheiro


e uma parcial e sem dúvida Muito Má Ideia perambulando em minha cabeça.

E na minha história ilustre de Muito Más Ideias, esta poderia


simplesmente pegar o bolo.

Claro, eu completaria minha pesquisa antes de tomar uma decisão final.


E eu faria uma lista dos prós e contras, o que sempre me ajudou a ver as
coisas sob uma luz mais clara. Esta exigia alguma devida diligência.

Kimberly suspirou. "Deus a tenha. Sua avó era uma mulher incrível."

"Sim, ela era", eu concordei. "Beije os meninos por mim. Eu te ligo


amanhã."

"Está bem. Falo com você depois. E Kira, eu estou tão feliz que você
está de volta. Eu senti tanto a sua falta."

"Eu também senti sua falta. Tchau, Kimberly."

Eu desliguei e sentei no meu carro mais alguns minutos. Então eu


peguei meu telefone de volta para fazer um pouco de investigação na internet e
para encontrar um quarto de hotel que eu pudesse pagar.
Capítulo Dois
Grayson

"A bomba não pode ser reparada, senhor, vai ter que ser substituída."

Eu jurei sob a minha respiração e coloquei minha chave de volta na


caixa de ferramentas, levantando-me. José estava certo. Eu usei o meu braço
para enxugar o suor na testa e balancei a cabeça, inclinando-me contra a inútil
peça de equipamento, apenas mais uma coisa que precisava ser consertada
ou substituída.

José me deu um olhar simpático. "Eu tenho o desengaçador


trabalhando, no entanto. Bom como novo, eu acho."

"Bem, isso é uma boa notícia", eu respondi, pegando a caixa de


ferramentas que eu trouxe comigo. Um boa notícia para adicionar à longa lista
de ruins. Ainda assim, eu levaria o que conseguiria obter agora. "Obrigado,
José. Vou tomar um banho."

José acenou com a cabeça. "Alguma notícia do banco, senhor?" Eu


parei, mas não me virei.

"Eles disseram não para um empréstimo." Quando José não respondeu,


eu continuei andando. Eu praticamente podia sentir o seu olhar decepcionado
queimando nas minhas costas. Eu tinha prometido manter a adega de minha
família funcionando, e nada na terra era mais importante para mim do que
isso. Mas José tinha uma família para alimentar, o mais novo membro
com apenas algumas semanas de idade.

Se eu falhasse, não seria o único sem trabalho.


‘Se você valesse mais...’

Eu apertei minha mandíbula contra o modo como essas palavras tinham


apunhalado, o que implicava mais para mim do que apenas meu valor
financeiro. Lembrando-me que eu nunca tinha valido muito.

‘Se você valesse mais...’

Se, de fato.

Com esse poderoso ‘se’ e quatro trimestres, eu poderia comprar-me


algo do menu de dólar no McDonald.

Eu tinha ido ao longo dos "ses" da minha vida mais vezes do que
poderia contar. Era uma dolorosa e inútil perda de tempo.

E eu não precisava de mais um motivo para me desprezar.

Desliguei esses pensamentos, no entanto. Eu estava deslizando


perigosamente perto da auto-piedade, e sabia por experiência própria que esse
era um buraco profundo para subir uma vez que você se deixa descer.

Em vez disso, eu fiz um esforço concentrando em me enrolar na frieza


que mantinha o desespero na baía. E me permiti continuar a fazer o trabalho
que precisava ser feito.

No final, eu lembrei-me, meu pai tinha me achado digno. E eu tinha feito


um voto de não decepcioná-lo - não desta vez.

O sol da tarde estava alto no céu quando eu pisei lá fora, o cheiro das
rosas que minha madrasta havia plantado há muito tempo enchendo o ar, o
preguiçoso zangão de abelha zumbindo em algum lugar nas proximidades.

Eu parei para examinar as fileiras e fileiras de uvas que amadureciam


em suas videiras, meu peito inchado de orgulho. Ia ser uma boa
colheita. Eu sentia em meus ossos. Tinha que ser uma boa
colheita. E isso iria manter-me hoje, apesar do fato de
que eu não teria nenhuma maneira de usar a fruta se meu equipamento não
estivesse pronto. Eu tinha vendido quase tudo de qualquer valor em casa para
levantar o dinheiro para plantar estas uvas...

Poucos minutos depois, eu estava pisando dentro da casa, uma


propriedade de pedra grande construída por meu pai, projetada com muita
personalidade vintage do velho mundo. Tinha sido uma vitrine em seu dia, mas
necessitava de muitas correções agora, assim como o equipamento de
vinificação. Correções que eu não tinha nenhuma maneira de financiar.

"A bomba não tem conserto."

Eu cerrei os dentes quando Walter, o mordomo da família e o faz-tudo


do lugar, cumprimentou-me. "Assim parece."

"Eu fiz uma planilha de todos os equipamentos que precisam ser


reparados e dos que requerem substituição, e codifiquei por cores, de acordo
com a prioridade de cada um." Grande. Apenas o que eu precisava: uma ajuda
visual do desespero de minha situação.

Hesitei em minhas estrias através do correio no console do vestíbulo.


"Você é minha secretária, agora, também, Walter?"

"Alguém precisa ser. Executar este lugar é um trabalho muito grande


para uma pessoa, senhor."

"Deixe-me perguntar-lhe algo, Walter."

"Sim senhor."

"Será que você tem uma lista das maneiras que eu poderia pagar por
esses itens codificados por cores que precisam ser consertados ou
substituídos?"
Walter balançou a cabeça. "Não, senhor, eu não tenho todas as ideias,
nem algo que você ainda não tenha pensado. Mas eu espero que a lista por si
só seja útil".

"Nem um pouco, Walter," eu disse enquanto me dirigia para a escadaria


principal. "E eu já lhe disse um milhão vezes para dispensar o 'senhor’. Você
me conhece desde que eu era um bebê." Sem mencionar que eu mal merecia
o título respeitoso. Walter valia três de mim, e ele certamente sabia disso. No
entanto, eu também sabia que ele nunca deixaria de agir com profissionalismo.
Walter Popplewell era da Inglaterra. e estava com nossa família por mais de
trinta anos.

Walter pigarreou. "E há alguém esperando para vê-lo, senhor."

Eu mudei. "Quem é?"

"Alguém", Walter pigarreou de novo, "à procura de um emprego,


senhor."

Revirei os olhos para o teto. Jesus. "Tudo bem, deixa eu me livrar dele.
Que tipo de idiota está tentando conseguir um emprego aqui mesmo?"

Walter passou a mão em direção à cozinha, onde eu ouvi sua esposa e


minha governanta, Charlotte, rindo com alguém.

Quando entrei na cozinha, vi um homem sentado na mesa de madeira


grande, um prato de biscoitos à sua frente. Quando ele me viu, ele se levantou
rapidamente, levando o prato ao chão, onde caiu no azulejo e se estilhaçou em
mil pedaços.

"Oh, querido!" Charlotte exclamou e correu de onde ela estava


derramando um copo de leite no balcão. "Não se preocupe com isso,
Virgil. Fale com o Sr. Hawthorn e eu vou limpar isso. Não se
preocupe nem um pouco."
O homem diante de mim era grande, vestindo calça cáqui, uma camisa
listrada vermelha e azul e boné de beisebol do ‘Giants’ em sua cabeça. Seu
rosto redondo estava cheio de medo quando ele olhou entre o prato
despedaçado e eu.

Eu andei em direção a ele e estendi minha mão. "Grayson Hawthorn."

Seus olhos corriam ao meu lado. Ele estendeu a mão hesitante e


tremula, e quando seu olhar finalmente me conectou, eu podia ver em seus
olhos cândidos ele era mentalmente lento.

Bom Deus.

"Meu nome é Virgil Potter, senhor, Hawthorn, Grayson, senhor." Ele


soltou a minha mão e olhou para baixo timidamente. Olhou para Charlotte
varrendo o prato e os cookies, recuou um pouco, e depois olhou de volta para
mim. "Como o bruxo, senhor, só não tenho uma cicatriz na testa. Eu tenho uma
cicatriz na minha parte traseira, porém, de quando eu cheguei muito perto de
nosso aquecedor elétrico uma vez quando eu era- "

"O que posso fazer por você, Sr. Potter?"

"Oh, você não tem que me chamar de senhor, senhor. Basta Virgil."

"Ok, Virgil".

Charlotte me deu um olhar afiado de onde ela estava ajoelhada no chão.


Eu olhei para trás, para Virgil, ignorando-a.

Virgil hesitou, mudando de um pé para o outro, olhando de novo para


Charlotte, que olhou para cima para ele, sorriu e acenou com a cabeça. Ele
pegou o boné de beisebol de sua cabeça rapidamente, como se tivesse de
repente lembrado que o estava usando e segurou-o em suas mãos
grandes. "Eu estava esperando, senhor... isso é... Eu preciso de
um emprego, senhor... e eu pensei que eu poderia fazer algo
por você. Ouvi algumas pessoas falando na cidade e
dizendo que teria um monte de problemas para manter esta adega correndo, e
eu pensei que poderia ajudar. E seria barato, visto que eu não sou tão
inteligente como algumas outras pessoas. Mas eu sou um verdadeiro
trabalhador. Minha mãe me disse. E eu poderia trabalhar para você."

Eu suspirei. Isto era exatamente o que eu precisava. Eu mal estava


aguentando com o pessoal que eu tinha agora - muito menos do que o
necessário, mas todos que eu podia pagar – e os únicos que tinham ficado. Eu
dificilmente poderia assumir mais um. Muito menos um que eu teria que
supervisionar todo o dia, sem dúvida. "Virgil", eu comecei a dispensá-lo, mas
ele me interrompeu.

"Veja, senhor, a minha mãe, ela não pode limpar casas, não mais, por
conta de suas costas, que estão ruins. E se eu não trabalhar, não teremos
dinheiro suficiente para sobreviver. E eu sei que posso fazer um bom trabalho.
Se alguém só me desse uma chance."

Bom Senhor. Quando Charlotte chamou minha atenção enquanto ela


estava esvaziando a pá de lixo, dei-lhe o meu mais gelado olhar. Ela estava por
trás disso. O que ela estava pensando? Quando este lugar falhasse, ela e
Walter ficariam sem emprego. Fechei os olhos por um segundo e, em seguida,
abri-os. "Virgil, me desculpe, mas eu-"

"Eu sei que você provavelmente acha que eu não valho muito, só de
olhar para mim, mas eu valho. Eu sei que eu valho, senhor. Eu poderia
trabalhar para você." Seus olhos grandes como os de crianças estavam cheios
de esperança.

Se você valesse mais...


Os pedaços do prato bateram na lata de lixo bem alto, e eu olhei de
novo para Charlotte, que ainda tinha os olhos fixos em mim, apesar de suas
mãos ocupadas. Eu pressionei meus lábios juntos.

Se você valesse mais...

"Bem, Virgil. Você está contratado", eu disse, mantendo meu olhar


treinado em Charlotte. cujos lábios se curvaram um pouco em um pequeno
sorriso. Quando eu finalmente olhei para trás para Virgil, seus olhos estavam
arregalados com alegria. Levantei minha mão como se eu pudesse segurar a
intensidade de sua felicidade com o meu gesto. "Mas eu não posso pagar-lhe
muito, e nós vamos fazer isso em uma base experimental, ok? Às vezes nós
trabalhamos até que escureça, e eu não notei um carro lá fora. Eu tenho um
conjunto de beliches nas instalações de vinificação. Você pode ficar lá, se
precisar. Um mês, e depois vamos ver como fazer." Supondo que esta vinha
ainda estija funcionando daqui a um mês.

Virgil assentiu exuberantemente, torcendo o pobre boné em suas mãos


que, muito provavelmente, estaria inutilizado agora. "Você não vai se
arrepender, senhor. Não, não vou te desapontar. Eu sou um bom trabalhador."

"Ok, bom, Virgil. Volte amanhã de manhã para preencher a papelada e


traga a sua ID. Nove horas da manhã, ok?"

Virgil ainda não tinha parado de balançar a cabeça. "Eu vou estar aqui,
senhor, ainda mais cedo. Eu vou estar aqui às sete."

"Nove está bom, Virgil, e você pode me chamar de Grayson."

"Sim, senhor, Grayson, senhor. Nove horas, ok."

Virgil virou seu corpo grande e desajeitado, sorriu e acenou para


Charlotte, em seguida, correu para fora da cozinha,
presumivelmente antes que eu pudesse mudar de ideia. Eu
estava de pé, em silêncio, observando pela janela
Virgil deixar a casa e começar uma lenta e pesada corrida pelo caminho até os
portões de aço decorativos no início da propriedade. Eu jurei sob a minha
respiração pela centésima vez naquele dia, e dei a Charlotte outro olhar
gelado. "Se eu não soubesse melhor, eu diria que você estava tentando me
sabotar."

"Ah, mas você sabe melhor, meu rapaz. Eu torço pelo seu sucesso."

Claro que eu sabia disso. Eu suspirei de qualquer maneira, para o efeito.

Charlotte sorriu para mim e começou a cantarolar na pia.

Virei-me sem dizer uma palavra, indo para o chuveiro. Eu não fazia isso
muitas vezes, mas esta noite eu estava indo beber até cair.

A luz do sol da manhã entrava pelas janelas, banhando o vestíbulo com


uma luz dourada enquanto eu descia as escadas muito cedo, vendo como eu
só voltei para casa algumas horas antes. Eu vacilei, protegendo meus olhos
contra o brilho muito brilhante. Minha cabeça latejava. Não menos do que eu
merecia. Mas o álcool tinha afogado meus problemas por uma noite, e por isso
tinha valido a pena. Eu tinha trabalhando do nascer até o por do sol na maioria
dos dias, e ainda não foi o suficiente. E depois de ontem no banco... Bem, eu
merecia um noite de esquecimento bêbado. Um homem só pode suportar um
tanto.

"Gray, querido, há alguém aqui para ver você. Bom dia." Charlotte sorriu
para mim quando eu cheguei ao fundo das escadas. "Oh", ela franziu
a testa, "você parece como algo que o gato trouxe."
Eu ignorei a última observação. "Quem é agora?" A primeira coisa de
manhã? O que exatamente não podia esperar até uma hora decente? O nascer
do sol mal tinha passado. E eu me sentia como o inferno. "Acha que é outra
pessoa querendo um emprego? Alguém com nenhum membro, talvez?"

Charlotte apenas sorriu. "Eu não acho que ela quer um emprego, mas
não perguntei qual era o seu negócio. E ela tem todos os membros
apropriados. Ela está esperando em seu escritório".

"Ela?"

"Sim, uma jovem mulher. Ela disse que seu nome é Kira. Muito bonita."
Charlotte piscou. Está bem, talvez isso não seja a pior maneira de começar o
dia. A menos que fosse alguém com quem eu tivesse dormido... e
provavelmente não me lembraria.

Engoli um par de Tylenol, peguei uma xícara de café na cozinha e


caminhei até o grande escritório na frente da casa que uma vez pertenceu a
meu pai.

Uma jovem mulher em um vestido solto de cor creme, de algum tipo de


material de sedoso e cinto na cintura estava de costas para mim, folheando a
grande estante na parede em frente à porta de entrada.

Limpei a garganta e ela se virou, o livro em suas mãos caindo no chão


quando ela trouxe as mãos ao peito. Seus olhos se arregalaram e então ela se
inclinou para pegar o livro, rindo firmemente.

"Desculpe, você me assustou." Ela se levantou, movendo-se de


repente em minha direção. "Desculpe, hum, desculpe. Grayson Hawthorn,
certo?" Ela colocou o livro na borda da minha mesa e estendeu a mão. Ela
mal tinha uma estatura média, magra, com o cabelo de um
profundo e rico ruivo, e puxado para trás em algum tipo de nó na
nuca. Não era o meu tipo, mas Charlotte estava certa: ela
era bonita. Eu tendia para loiras altas e elegantes. Uma loira alta e elegante em
particular, na verdade. Mas eu fechei esse pensamento doloroso
imediatamente. Não adianta ir lá. Foi só quando a garota chamada Kira chegou
perto que eu realmente notei seus olhos grandes e emoldurados com cílios
grossos, sobrancelhas do mesmo tom rico de seu cabelo, arqueadas
delicadamente acima deles. Mas foi a cor de seus olhos que me atordoou. O
mais rico tom de verde que eu já vi.

Eles eram luminosos, como esmeraldas gêmeas. Tive a sensação súbita


de que aqueles olhos viram coisas que outros olhos não fizeram.
Encantamento. Magnetismo. Eu senti como se não pudesse tomar uma
respiração profunda.

Eu recuei um pouco e estreitei o meu olhar, mas peguei a mão dela na


minha. Era quente e pequena na minha própria. O calor parecia viajar no meu
braço e na minha espinha. Eu fiz uma careta e tirei minha mão da dela. "E você
é?" Eu não tinha a intenção da hostilidade em meu tom.

"Kira", ela disse simplesmente, como se isso explicasse alguma coisa.


OK. Kira fechou aqueles olhos deslumbrantes dela, e eu senti uma pontada
momentânea de decepção. Ela balançou a cabeça um pouco, antes de olhar
para mim. "Eu sinto muito, você se importa se eu sentar?"

Inclinei a cabeça na direção da cadeira em frente da grande mesa de


mogno. Eu defini o meu copo de café na mesa e mudei-me para sentar-me na
cadeira de couro atrás da mesa. "Gostaria de uma xícara de café?" Perguntei.
"Eu poderia chamar Charlotte." O que essa garota quer? Ela não parecia
familiar.
"Não, obrigada", ela balançou a cabeça, "ela já ofereceu." Uma mecha
escorregou para fora de seu cabelo puxado para trás, e ela fez um pequeno
olhar severo e irritado quando tentou alisá-lo de volta.

Esperei. Minha cabeça latejava, e eu massageava minha têmpora


distraidamente. Seu olhar seguiu o meu lado e eu queria olhar de soslaio para
ela.

Ela respirou fundo e endireitou sua coluna, cruzando as pernas. Como


sua cadeira estava posicionada longe da minha mesa, meus olhos puderam
facilmente passear por suas panturrilhas bem torneadas, até os tornozelos
finos que terminavam num par de sandálias de salto alto azul. A bolsa, que
estava em seu ombro e agora descansava em seu colo, tinha contas no
mesmo tom que seus sapatos. Eu não sabia nada de moda, mas sabia o que
era caro quando via. Minha madrasta de coração frio tinha sido o epítome da
decadência penteada.

"Eu não quero apressá-la, mas tenho muito a fazer hoje."

Seus olhos se arregalaram. "Certo. Claro. Eu sinto muito hesitar. Bem,


acho que eu vou direto ao assunto. Eu tenho um acordo de negócios para lhe
oferecer."

Eu levantei uma sobrancelha. "Um acordo de negócios?"

Ela assentiu com a cabeça e torceu o longo colar de ouro que usava.
"Sim, bem, na realidade, Sr. Hawthorn, eu estou aqui para propor casamento."

Eu ri, quase vomitando o gole de café que tinha acabado de tomar em


toda minha mesa. "Com licença?"

Aqueles olhos magníficos iluminaram com algo que eu não


conseguia definir. "Se você só me ouvir... eu acho que talvez isso
é algo que poderia beneficiar a nós dois."
"E como exatamente você sabe alguma coisa sobre o que poderia me
beneficiar, Sra... Qual é mesmo seu sobrenome? Você não disse."

Ela ergueu o queixo um pouco. "Dallaire. Meu sobrenome é Dallaire."


Ela me olhou com algum tipo de expectativa.

"Dallaire?" Fiz uma pausa, franzindo a testa. Eu conhecia o nome.


"Como o ex-prefeito de San Francisco, Dallaire?"

"Sim." Ela ergueu mais o queixo. Ah, altivo... isso é o que esse gesto foi.
Ela era da realeza da política. Uma herdeira. Eu não sabia muito sobre Frank
Dallaire, exceto que ele tinha sido o prefeito por dois mandatos e era
extraordinariamente rico - resultado não só de sua carreira política, mas, eu
pensei, negócios imobiliários? Algo nesse sentido. Ele estava consistentemente
na lista dos homens mais ricos do país. Então por que diabos sua filha estava
aqui?

"Então eu acho que a melhor pergunta, Srta. Dallaire, é como é que na


terra verde de Deus um casamento poderia me beneficiar?" Isso deve ser bom.
Eu reclinei na minha cadeira.

Ela suspirou, parecendo apenas um pouco menos arrogante. "Eu estou


em uma situação delicada, Sr. Hawthorn. Meu pai e eu estamos", ela mordeu o
lábio por um segundo, parecendo estar procurando a palavra certa, "afastados.
Para ser franca, eu preciso de dinheiro para viver, para sobreviver."

Estudei-a por um segundo e depois dei uma risadinha. "Posso


assegurar-vos, Srta. Dallaire, que um casamento comigo não beneficiaria sua
carteira financeira. Muito pelo contrário, na verdade. Alguém a informou mal."

Ela balançou a cabeça, inclinando-se para frente. "O que me leva à


parte que beneficiaria a nós dois."
"Por todos os meios, por favor, me esclareça", eu disse, não tentando
esconder o tédio na minha voz. Eu massageava minha têmpora novamente. Eu
quase não tinha tempo para isso.

Ela assentiu com a cabeça. "Bem, veio ao meu conhecimento que a sua
vinha é, uh, bem, está falhando, para ser honesta. Você precisa de dinheiro."

A raiva passou por mim pela forma como esta menina rica resumiu
minha situação. Eu puxei minha mão da minha têmpora e dei-lhe o meu olhar
mais frio. "E você sabe disso... como?"

Ela ergueu o queixo novamente. "Eu pesquisei você."

"Ah."

"E, bem, eu estava no banco ontem. Eu acidentalmente ouvi parte da


sua reunião. Você estava procurando um empréstimo." Eu congelei com a
mancha lenta de cor rosa em suas bochechas. Bem, pelo menos ela teve a
graça de estar envergonhada. ‘Acidentalmente ouviu’, minha bunda. Mas,
então, o queixo dela subiu um pouco novamente.

Raiva e uma pequena medida de vergonha sobre o que ela tinha ouvido
espetou minha espinha, fazendo-me sentar em linha reta. "Você rudemente
escutou minha reunião no banco, me googlou, e agora acha que entende a
minha situação?" Que porra é essa?

Sua expressão suavizou e sua língua rosa disparou para fora, para
umedecer o lábio inferior. Meu corpo reagiu vigorosamente a esse pequeno
movimento, e eu soquei-o com violência. Eu não seria atraído para a
princesinha arrogante sentada na minha frente. Além disso, eu tinha tido uma
mulher na noite passada, como uma questão de fato - uma loira chamada
Jade que cheirava a melancia... ou seria abacaxi? Ela tinha sido
altamente energética. E, no entanto, mesmo assim toda a
aventura tinha me deixado vagamente insatisfeito... e
cheirando a salada de frutas. Concentrei minha atenção de volta na ruiva
sentada na minha frente. Ou ela era morena?

Quase a mistura perfeita de ambos... Como se o cabelo dela estivesse


respondendo aos meus pensamentos. Outra mecha escorregou para fora. Kira
enfiou-a atrás da orelha.

"Tenho certeza que não conheço todos os detalhes de sua situação.


Mas eu sei que você precisa de dinheiro, e você tem poucas opções,
especialmente considerando o seu... passado." Um rubor subiu-lhe em suas
bochechas marfim novamente antes dela continuar, "Eu preciso de dinheiro
também. Estou desesperada, na verdade."

Soltei um suspiro. "Tenho certeza que se você for para papai tudo isso
poderia ser resolvido. As coisas raramente são tão desesperadas como
parecem." Só que, na minha situação, elas realmente eram.

Seus olhos cuspiram fogo para mim, mas sua expressão permaneceu
neutra. "Não", ela disse. "As coisas não serão resolvidas com meu pai.
Tivemos uma briga há mais de um ano."

"Uh huh. E como você foi ficando desde então?"

Ela fez uma pausa, como se estivesse considerando sua resposta. "Eu
estive no exterior."

Compras, provavelmente. Ou tomando sol. Corri meus olhos para baixo


por suas pernas de novo – pernas levemente bronzeadas. E agora seus fundos
pessoais tinham acabado, e papai não estava indo para supri-la com mais.
Tão trágico.

"Você tem algo contra conseguir um emprego? Você tem uma


educação?"
"Minha carreira universitária foi... encurtada. E não, é claro que eu não
sou contra conseguir um emprego, se necessário. Mas", ela sentou-se ainda
mais reta, "basta dizer que eu vim aqui hoje acreditando que esse era o melhor
curso de ação para todos os envolvidos."

Minha cabeça latejava novamente. O que me importa sua situação


exata, de qualquer maneira? "Ok, nós podemos cortar a perseguição aqui?
Como você tão sucintamente indicou, minha vinha está falindo. Eu tenho um
monte de trabalho a fazer hoje."

"Certo. Bem, sim. Sr. Hawthorn, você vê, a minha avó, mãe do meu pai,
vivia modestamente, mas graças a alguns investimentos fortuitos que meu avô
fez, ela morreu com um pouco de dinheiro. Ela deixou para seus dois netos, eu
sendo uma, o outro um primo que não conheço bem. No entanto, ela estipulou
no testamento que nós só teremos o dinheiro quando copletarmos trinta ou
quando nos casarmos, o que vier em primeiro lugar."

Sentei-me de volta, juntando os dedos.

"E então," ela continuou rapidamente, "o que eu proponho é o seguinte:


nós casamos, dividimos o dinheiro, e em um ano pedimos o divórcio."

Eu levantei uma sobrancelha. "Dividimos o dinheiro? De quanto dinheiro


estamos falando, exatamente?"

"Setecentos mil dólares."

Meu coração começou a bater mais rápido. Trezentos e cinquenta mil


dólares. Era ainda mais do que o empréstimo que eu esperava que o banco
fosse aprovar. Seria mais do que suficiente para comprar todos os
equipamentos e fazer reparos na casa. O suficiente para engarrafar o vinho
que estava agora nos barris. O suficiente para adicionar pelo
menos um par funcionários também. E se a mais nova colheita
fosse tão boa como eu previa... esta adega seria bem
sucedida novamente em menos de um ano. Eu poderia cumprir a promessa
que havia feito em nome de meu pai.

Eu fiquei em silêncio, não só para pensar sobre o que ela tinha acabado
de dizer, mas também para fazê-la se contorcer. Ela não o fez. Finalmente eu
disse, "Interessante. Não há nenhuma cláusula sobre como teríamos que
parecer casados?"

Ela soltou um suspiro e balançou a cabeça, sem dúvida assumindo que


a minha pergunta significava que eu estava, na verdade, considerando esta
ideia insana. Eu estava? Isto era mesmo legítimo? Certamente havia algumas
capturas. Era também absurdo demais para ser verdade. Minha cabeça estava
girando um pouco, e não apenas pela ressaca. "Não, mas meu pai ficaria...
descontente se soubesse que eu me casei para conseguir o dinheiro que
minha avó deixou, só para dividi-lo com você... ou seja, com qualquer um."
Algo correu em toda sua expressão, mas eu não pude lê-lo. "Se ele tivesse
qualquer indicação que este seria um casamento falso, no entanto, ele poderia
muito bem tentar contestar o pagamento do testamento. Seria melhor, para
ambos os nossos melhores interesses, que o casamento parecesse tão
legítimo quanto possível. No entanto, como eu disse, meu pai e eu somos
distantes. Imagino que o nosso esforço só terá de ser mínimo, embora
convincente."

Eu levantei minhas sobrancelhas, permitindo-me outro momento para


repassar o que ela tinha dito. Era ultrajante, inacreditável. "Espere, você não
é," eu me inclinei para frente, "uma dessas mulheres loucas que escreveram
para mim na prisão oferecendo casamento, não é?"

Os olhos dela se arregalaram. "O quê?"


Eu reclinei para trás novamente. "Sim, havia muitas delas.
Aparentemente algumas mulheres encontram uma emoção doente nesse tipo
de coisa."

"Para o que... Por quê?" Ela balançou a cabeça ligeiramente, como se


não tivesse certeza de como a conversa tinha se desviado da pista. Sua
confusão parecia genuína.

Eu sorri. "Pelo que eu sei, as mulheres gostam de um menino mau".

Ela me olhou fixamente por um momento. "Eu garanto que não sou uma
dessas mulheres."

Eu balancei a cabeça lentamente em relação a ela. "Bem, bom, porque


eu garanto que você não é meu tipo, de qualquer maneira."

Ela se irritou, sentando-se ereta. "Melhor ainda, então. O que estou


propondo é estritamente profissional, nada mais." Ela desviou o olhar de forma
que eu não podia ver aqueles olhos de bruxa, mas quando olhou de volta para
mim suas bochechas estavam rosadas novamente. "No entanto, pareceria
suspeito se eu não morasse aqui e, francamente, Sr. Hawthorn, eu preciso de
um lugar para morar. Então eu estava pensando que, em troca da habitação,
que eu poderia fazer o trabalho de contabilidade para você. Eu suponho que
você não tem uma equipe de funcionários muito grande."

Eu me inclinei para trás novamente. "Estou impressionado com a sua


investigação, Srta. Dallaire. Não, eu tive que deixar meu contador ir. E a minha
secretária. E a maior parte do restante da equipe também." Não que algum
deles tenha vivido no jardim.

Ela assentiu com a cabeça. "Eu sou boa com números. Eu trabalhei
como estagiária para a equipe de contabilidade do meu pai. Eu
sou bem familiarizada com programas de contabilidade. Eu
poderia trabalhar para você em troca de casa e comida,
e, obviamente, para manter as aparências. Não proponho que eu teria que
viver aqui por um ano; talvez apenas por alguns meses, mais ou menos, ou até
saber que meu pai aceitou o casamento e voltou a me ignorar. Eu
discretamente poderia ir embora e nós nunca mais teríamos que ver um ao
outro novamente, exceto, é claro, na corte de divórcio. Seria realmente muito
simples. E muito temporário. E, claro, colocaríamos tudo por escrito. E, por
favor, me chame apenas de Kira."

Eu a estudei por vários momentos, observando o jeito que ela tinha


acabado de divagar. Ela parecia ser polida e clara, mas estava realmente
nervosa sentada aqui, na minha frente? Eu segurei o contato visual em uma
batida por muito tempo, mas ela não desviou o olhar e não vacilou. "E o que
você vai fazer com a sua metade do dinheiro, Kira? Se eu posso ser tão
ousado a ponto de perguntar."

Ela limpou a garganta. "Bem, além de viver, estou envolvida em várias


instituições de caridade em San Francisco. Um dos centros está em apuros e
terá que fechar se alguém não aparecer com o financiamento."

Sorri um sorriso tenso. Ah. Igual a minha madrasta. Uma herdeira com
uma vida vazia. Eu podia ver ela chegando em seu Bentley para salvar os
humildes camponeses da fome, para que ela pudesse se referir a si mesma
como filantropo antes de correr à loja mais próxima para adicionar itens à sua
coleção de bagagem Louis Vuitton. "Eu vejo." O que me importa o que ela faz
com seu dinheiro e qual será o seu propósito? Eu só precisava me preocupar
com a minha própria situação. "É uma proposta altamente incomum. Eu vou
pensar sobre isso e te dou uma resposta.” Eu comecei a ficar de pé.

"Bem, veja, preciso de sua resposta rapidamente." Sua voz saiu


rápida e ofegante. Meu corpo, ou pelo menos a parte entre
minhas pernas se contraiu novamente. Droga. Algo sobre a
reação do meu corpo para ela me deixou com raiva.
Embora as partes que reagiram nunca tinham sido muito exigentes.

Me sentei de volta.

"Quem me dera que eu pudesse dar-lhe mais tempo para considerar, Sr.
Hawthorn, mas, infelizmente, as circunstâncias ditam que eu -"

Eu abanei minha mão para detê-la. "Eu vou voltar a falar com você até o
final do dia. Como posso entrar em contato com você?"

Ela fez uma pausa. "Eu vou ficar no Motel 6 hoje. Posso dar-lhe o
número do meu celular, e você pode me ligar."

Motel 6? Nossa, o quão longe a princesa tinha caído! Sim, sua situação
era bastante desesperada. Eu assisti quando ela pegou um bloco e uma caneta
na borda da minha mesa e cuidadosamente escreveu seu número de telefone.
Eu peguei e joguei casualmente sobre a pilha de papéis bagunçados. Ela olhou
para onde eu tinha jogado e, em seguida, de volta para mim, os lábios
apertados. "Eu garanto que minha proposta é legítima."

"Ela pode muito bem ser. Claro, eu gostaria de me reunir com o executor
de confiança, de qualquer maneira. Mas ainda tenho algo que preciso
considerar. Eu tenho que pensar de que outras maneiras isso pode afetar
minha vida. Um criminoso é uma coisa, mas criminoso e divorciado? Como vou
afastar as senhoras?" Ela estreitou os olhos, sobressaltada.

"Sim, bem, se houvessem outras opções eu não estaria considerando


isso também. Confie em mim." Este, princesa, não seria um problema real se
desse um tapa no rosto. Mas, quando nós olhamos fixamente um ao outro,
algo brilhou em seus olhos. Sob seu comportamento de negócio legal ela
estava apenas mal segurando um temperamento. Ela era uma princesa, mas,
oh, sim, apenas como eu pensava, ela tinha uma pequena bruxa
nela, também. Nós estávamos ambos em silêncio enquanto ela
se inclinou para frente um pouco, como se esperasse...
algo. Será que ela esperava que eu lhe agradecesse?

"Tenha um bom dia." Eu não fiquei. Ela poderia sair. Ela levantou-se
devagar, segurando a mão dela para que eu pudesse agitá-la. Eu cheguei à
frente e tomei sua mão na minha, pela segunda vez. Esse mesmo calor passou
através de mim, e eu me afastei rapidamente. Kira Dallaire girou nos
calcanhares, sua altivez de queixo no ar, e saiu de meu escritório sem olhar
para trás.

Levantei-me e fui até a janela, à sombra. Eu assisti enquanto ela


caminhava em direção a um Jetta branco. Surpreendeu-me que ela estava
dirigindo um carro tão não-ofuscante. Quando ela chegou à porta e começou a
subir, ela fez uma pausa e olhou para a vinha. Havia algo em sua expressão
que me fez inconscientemente dar um passo em direção a ela, com meu rosto
quase acertando o vidro na minha frente. O que tinha sido? Apreciação, pensei.
Para este lugar degradado? Mas com outra coisa, também... compreensão?
Antes que eu pudesse considerá-lo por mais tempo, ela se escondeu dentro de
seu carro, batendo a porta atrás dela e, um minuto depois, estava dirigindo
através do portão e fora de vista.

Talvez eu estivesse julgando injustamente. Se alguém sabia o que era


isso, esse era eu. Talvez eu estivesse apenas de ressaca, e ela me lembrou o
tipo de mulher que era minha madrasta. E, claro, há o fato de que ela caminhou
até aqui e me ofereceu descaradamente um casamento por dinheiro... Mas
talvez Kira Dallaire não fosse exatamente o que parecia ser.

Sentei-me na minha mesa e liguei o computador para o googlá-la.


Uma boa volta merecia outra. Assim que eu digitei o nome dela uma enorme
quantidade de imagens apareceram: Kira Dallaire em um vestido de noite,
saindo de uma limusine, Kira Dallaire na estréia de um filme em
algum teatro ou outro, Kira Dallaire em pé ao lado do homem
que reconheci como Frank Dallaire em um evento
beneficiente black-tie. Sempre com o mesmo sorriso pequeno, apertado e
arrogante. Em várias fotos ela estava de pé ao lado de um homem loiro de boa
aparência que parecia ser, pelo menos, cinco a dez anos mais velho que ela.
Eu cliquei em uma das fotos e li a legenda que identificava o casal como
Cooper Stratton e sua noiva Kira Dallaire. Noiva? Olhei para a data - um pouco
mais de um ano atrás. Tinha sido isso o que tinha "interrompido" sua carreira
universitária? Teria ela saído para se tornar uma esposa da sociedade?

Eu cliquei através de vários artigos, meu desprezo crescendo conforme


eu juntei a Kira Dallaire da real situação. Nenhuma das histórias de notícia veio
e disse isso, mas foi fácil ler entre as linhas. Kira tinha estado comprometida
com Cooper Stratton, um jovem assistente do procurador geral a candidatar-se
para juiz da corte superior em San Francisco, quando ela esteve envolvida em
algum tipo de escândalo vergonhoso - drogas foram fortemente insinuadas -
que teve lugar em uma cobertura no Hotel St. Regis. O pai dela, em um esforço
para protegê-la e obter a ajuda que ela precisava, mandou-a para algum centro
de reabilitação, mais provavelmente um glorificado spa em Londres ou Paris. E
seu noivo tinha rompido o noivado. Quem poderia culpá-lo? Mas agora ela
estava de volta e seu pai... ele o quê? Não financiou o estilo de vida que ela
estava acostumada a festejar? Recusou-se a dar-lhe algum dinheiro até que
pudesse provar que estava disposta a melhorar sua vida? Claro, isso eu só
estava adivinhando. De qualquer maneira, Kira Dallaire havia decidido tomar o
assunto em suas próprias mãos.

Eu estava certo em meu julgamento dela: ela era como minha madrasta.
Uma mulher a quem tinha sido dado tudo na vida, e que pensava que isso
era seu direito. Uma mulher egoísta que esperava que a vida se dobrasse à
sua vontade. E quando isso não aconteceu, ela iria a extremos para
dobrá-la de volta, independentemente a quem doer.
Eu me inclinei para trás por um minuto, pensando nas coisas. Nunca em
um milhão de anos eu esperava acordar para isso.

Nós estávamos desesperados em nossos próprios caminhos. A


pergunta era: eu estava desesperado o suficiente para entregar meu nome -
mesmo que temporariamente – em troca do dinheiro que precisava para salvar
esta vinha e cumprir meu voto?

Algo na tela do computador chamou minha atenção, uma pequena


imagem no fundo do artigo que eu estive lendo, e eu cliquei nela, tornando-a
tão grande quanto possível. Era uma outra imagem de Kira Dallaire e Cooper
Stratton. Ele tinha a mão descansando possessivamente em suas costas e
estava sorrindo com orgulho de como ela sorriu para ele. Meus olhos se
detiveram sobre sua bochecha direita. Ela tinha uma covinha.

A bruxinha tinha uma covinha. E o que sobre essa pequena


característica que fez meu pulso acelerar eu não poderia explicar nem se
minha vida dependesse disso.
Capítulo Três
Kira

Ele parecia um príncipe, mas se eu estivesse que colocá-lo em um


conto de fadas agora, eu o descreveria como O Dragão! Um dragão bestial,
crítico e cuspidor de fogo.

É claro, isso não foi surpreendente, realmente. Minha habilidade em


julgar o caráter era, infelizmente... não hábil.

O que já tinha sido provado uma vez. Muito dolorosamente.

Ainda assim, eu não estava preparada para o seu desprezo zombeteiro.


E sim, tudo bem, então minha oferta, provavelmente parecia ultrajante para ele.
Mas eu era a única a fazer-lhe um favor aqui. Eu estava lhe oferecendo
dinheiro livre. Ou praticamente de graça. Havia um preço - eu admitia isso. Eu
pedi-lhe para se casar por dinheiro.

Eu não podia evitar a verdade nua e crua. Mas eu tinha feito uma lista, e
havia muito mais "prós" do que "contras" para nós dois, eu pensei. Embora,
sem dúvida, os "contras" eram muito pesados e poderiam derrubar em
qualquer escala, independentemente do que você é intitulado. Apesar de ter
tentado apresentar a oferta como um negócio, a forma como ele olhou para
mim, com tanto desdém, como se eu fosse lixo, só me deixou muito pior.

A condescendência que ele tinha mostrado, esse escárnio fraco que


nunca deixou sua expressão me deixou mais nervosa, confusa e
insegura do que eu já estava. Eu odiava esse sentimento. Eu
covivi com ele durante toda a minha vida. Ser desprezada
fazia meu coração sentir coisas dolorosamente familiares.

E então ele me disse que eu não era o tipo dele. Como se isso
importasse. Não importava. De modo nenhum. Nem um pouco. Eu só
precisava do dinheiro, e não de ser o tipo dele.

Então, por que doía?

Soltei um suspiro. Ele disse que me ligaria, mas baseada em sua


grosseria demissão eu não iria segurar minha respiração enquanto esperva.
Bem... Eu tentei. Mais uma das minhas Muito Más Ideias, e Grayson Hawthorn
tinha deixado bem claro que isso era exatamente o que ele tinha pensado.
Com aquela voz um pouco entediada e agradavelmente masculina. Eu senti
meu lábios se curvarem. Portanto, a questão era, o que eu vou fazer agora?
Voltar ao meu pai estava fora de questão. Eu preferia dormir em uma esquina.
Ou no centro de drop-in. Meu coração afundou quando pensei no centro. O que
eles iam fazer agora? Tanta coisa estava andando para obter minhas mãos no
dinheiro da vovó. Eu poderia... eu deveria parar meu carro e escolher qualquer
pessoa da rua para fazer a mesma oferta que tinha feito para Grayson
Hawthorn. Ou colocar um anúncio na internet, como eu tinha brincado com
Kimberly. Eu poderia vender o meu carro. Estava em meu nome, uma das
poucas coisas que eu tinha comprado com meu próprio dinheiro. Mas, então,
eu não teria sequer um lugar para dormir, se e quando meu dinheiro acabar.

Eu apenas pensei... bem, que encontrar Grayson Hawthorn no banco


parecia o destino. Pensei sobre isso ontem, em meu pequeno e solitário quarto
de hotel, quando meu coração sentiu como se houvesse algo muito certo
sobre partilhar o dinheiro da minha avó com aquele homem em particular,
considerando a conexão que eu sabia que existia entre ele e meu pai. Não
que eu pudesse compartilhar essa informação com ele, nem que
lhe faria bem, de qualquer maneira. Mas eu poderia
compartilhar o dinheiro com ele, dinheiro que ele
precisava desesperadamente, e talvez definir algo certo, equilibrar o placar em
alguma pequena medida.

E eu tinha que admitir: sua aparência havia me balançado também.


Parecia que o herói de cada conto de fadas que eu tinha sonhado tinha vindo à
vida. E, Deus, eu queria voltar a acreditar em heróis novamente.

Mas, às vezes, eu supunha, uma menina só tinha que ser seu próprio
herói.

Especialmente quando o herói em questão acabou por ser um dragão.

Eu sabia o que Grayson Hawthorn tinha feito de errado em sua vida,


mas depois de examinar os dados de seu caso, mais parecia um terrível
acidente. E de qualquer maneira, foi um erro pelo qual ele tinha pago. Mais do
que pagou. E ainda estava pagando. Ninguém lhe daria uma chance, ou pelo
menos o empréstimo que ele tanto desesperadamente precisava.

Então, eu tinha ido com o meu intestino, decidida a reservar seu


julgamento até que o conhecesse pessoalmente, pelo menos, e corri para sua
casa na manhã seguinte antes que perdesse completamente meu nervo.

Bem. O Dragão teria que descobrir sua vida por si mesmo. Assim como
eu faria. Estou sozinha e controlo meu destino. Eu mal tenho tempo para entrar
em desespero. Estacionei meu carro no estacionamento do hotel e fiz o meu
caminho para o meu quarto.

Eu tirei o vestido e as sandálias que usei para me encontrar com


Grayson Hawthorn - roupa de uma antiga vida que eu nem tinha percebido
que tinha embalado quando lancei apressadamente os itens em minha mala.

Considerando como eu tinha me vestido esta manhã, eu tinha sido


feliz pelo erro, no entanto. Eu queria parecer profissional, e as
calças jeans ou short desgastados que eu normalmente usava
não diziam exatamente "me leve a sério." Fiz uma
pausa. Mas talvez eles dissessem: "Eu estou desesperada! Case comigo!"
Talvez eu devesse ter usado aqueles, afinal.

Depois de mudar, eu deixei o hotel e passei o dia andando pelo centro


de Napa, fazendo algumas compras, navegando pelas diversas lojas, incluindo
uma livraria, e parei para um agradável almoço em um pequeno café que vovó
tinha gostado. Apesar de estar sem esperança e sem um plano, eu fiz um
esforço consciente para limpar minha mente e aproveitar o dia, tanto quanto
possível. Se eu tivesse que trabalhar de garçonete como Kimberly tinha
sugerido, então isso é o que eu faria. Eu não tinha medo de trabalho duro. Eu
esperava um plano que oferecesse mais opções, mas isso não era para ser. Eu
endireitei minha espinha e canalizei o meu interior Scarlett O'Hara. Eu tomaria
hoje, e então viria com um novo plano uma vez que o desastre que foi esta
manhã tivesse rolado dos meus ombros.

Era fim de tarde quando voltei ao meu hotel, o céu de um azul claro,
calmo. Entrei em meu quarto e deitei em minha cama por um minuto, o
cansaço me oprimindo. Eu tinha jogado e virei a noite anterior, em antecipação
à minha chamada de manhã em Grayson Hawthorn. Eu estava exausta e
adormeci quase que imediatamente.

Acordei com os olhos turvos, confusa por um minuto sobre meu entorno,
ainda nesse hiato entre o sono e a vigília. Mas sabia que algo estava errado,
embora ainda não lembrasse o que. A realidade fluiu lentamente, da mesma
forma que a dor, as peças se juntando para sentarem-se fortemente em meu
peito.

Estremecendo um pouco, eu rolei e olhei para o relógio de cabeceira.


Era depois das quatro, então eu só tinha dormido por pouco mais de uma
hora. Suspirei e me sentei.
O chuveiro quente acalmou meus músculos se não o meu coração, e
quando eu saí me senti um pouco mais viva. Sequei parcialmente meu cabelo,
e, em seguida, enfiei-o em um nó no topo da minha cabeça, mesmo que fosse
certo que se soltasse. Minha avó sempre disse que meu cabelo era tão ardente
e incontrolável quanto eu. Mas ela disse isso com tanto amor em sua voz que
eu não pude deixar de levar como um elogio. Deus, como eu sentia falta dela,
mesmo depois de tantos anos que ela tinha ido embora. A ausência de seu
amor incondicional ainda era uma dolorosa ferida.

Quando eu estava tirando roupas limpas da minha mala, meu celular


tocou. Kimberly, eu tinha certeza.

Mas quando eu olhei para a tela, era um número local que eu não
reconheci. Meu batimento cardíaco parou e, em seguida, acelerou no meu
peito enquanto eu corria o dedo pela tela.

"Olá", eu respondi sem fôlego.

A voz profunda retornou a minha saudação, nenhum calor nele em tudo.


"É Grayson."

"Oh." Eu fingi indiferença e desmoronei na cama em minha toalha.


"Como posso ajudá-lo?"

"Em que quarto você está?"

"Quarto?"

"Quarto de hotel. Motel 6, certo? Solano Avenue?"

"Uh, sim. Mas-"

"O quarto?" Ele repetiu.

"Dois onze. Sabe que horas são... Olá?" Ele desligou? O


que o -
Três golpes rápidos soaram na minha porta,, e eu soltei um grito
assustada, deixando cair meu telefone na cama e pulando em meus pés.
"Espere!" Eu exigi, correndo para a minha mala e apressadamente puxando um
sutiã e calcinha. O bater retomou.

"ESPERE!" Eu gritei novamente. De todos o rude... dragão!

Eu puxei o vestido que tinha usado esta manhã sobre minha cabeça e
afivelei o cinto antes de abrir a porta. Grayson Hawthorn encheu a porta,
vestindo a mesma roupa que estava usando mais cedo – um par de jeans e
uma camiseta azul que se estendia muito bem sobre seu magro, mas,
obviamente, bem musculoso peito. Sua masculinidade bateu-me no intestino.
Ele também cheirava como fez naquela manhã - algum tipo de fresco sabão de
cheiro másculo. Mas agora havia a ligeira adição de um toque salgado de suor.
Eu me inclinei para frente, atraída pelo perfume masculino dele, mas, de
repente, percebi o que estava fazendo. Cruzando os braços, saltei para trás.
"Isto é altamente impróprio. Você deveria ter me dado algum aviso que estava
vindo."

Grayson entrou no quarto, tomando seu tempo olhando ao redor. Seus


olhos pararam por um segundo na minha bagagem Louis Vuitton antes que ele
finalmente fizesse contato visual. "Eu não tinha certeza se estava vindo até
cerca de quinze minutos atrás."

"Eu vejo. Bem, você gostaria de ir lá embaixo? Nós poderíamos tomar


café -"

"Isso é bom. Eu não vou ficar muito tempo. Eu tenho que voltar ao
trabalho."

Olhei em volta do meu quarto na cama desfeita, as roupas


espalhadas. Eu arrastei a cadeira da mesa para a frente e, em
seguida, sentei-me no banco estofado na extremidade da
cama. Grayson sentou-se na cadeira. "Eu estive pensando em sua oferta.
Antes de irmos adiante, eu gostaria de me reunir com o executor para me
certificar de que o dinheiro será pago como você disse, após o casamento ou
pouco tempo depois."

Eu balancei a cabeça, o meu ritmo cardíaco acelerado. "É claro. Eu


entendo."

Grayson deu um aceno sucinto. "E se tudo parecer bem lá, vamos
precisar ter um acordo pré-nupcial elaborado, indicando os termos financeiros
do nosso casamento."

"Obviamente."

"Não importa o que acontecer financeiramente no próximo ano enquanto


estivermos casados, as finanças ou a propriedade não serão divididas de
qualquer maneira, forma ou formulário."

"Claro que não."

Sua expressão permaneceu enigmática. "Uma vez que me encontrar


com o seu executor, eu vou ter que confiar que após o pagamento você
realmente vai me dar metade."

Eu fiz uma careta. "Isso seria o nosso negócio." Um pedaço de cabelo


caiu fora do meu nó e eu tentei colocá-lo de volta. Os olhos de Grayson
seguiram minha mão e, em seguida, permaneceram lá quando o cabelo caiu
novamente.

"Sim, mas Kira", disse ele quase distraidamente antes de olhar de


volta para os meus olhos. Ele se inclinou para frente com seu olhar firme e
alerta agora. "Eu não a conheço. Pelo que eu sei, nós nos casamos, então
você recebe o cheque e decola para o Brasil. Confiar em você em
qualquer aspecto seria um ato de fé da minha parte."
Eu me irritei. "Eu nunca faria isso."

"É o que você diz. Eu descobri que as pessoas dizem o que lhes
convém no momento. Nem sempre significa que se pode confiar."

Sim, eu sabia o que ele queria dizer. Eu respirei fundo e balancei a


cabeça. "Eu... sei disso. Mas eu pretendo manter a minha palavra.”

Ele me olhou por um instante... dois, antes que ele desviasse o olhar.
"Eu concordarei com você vivendo em Hawthorn Vineyard por dois meses. Isso
deve ser tempo suficiente para notificar o seu pai de nosso casamento, e para
que você possa encontrar um lugar pra você com a sua parte do dinheiro. Se
houver algum problema com seu pai, poderemos renegociar o prazo. Há um
chalé de um velho jardineiro em minha propriedade que você pode viver. É
pequeno e não oferece muitos luxos, mas tem uma cama e água corrente." Ele
olhou-me de alguma forma que eu não conseguia ler.

"Parece pitoresco."

"Pitoresco seria uma descrição generosa." Foi desafio que eu li nos


olhos pretos do dragão... talvez um pequeno capricho do seu lábio?

"Bem." Eu levantei meu queixo. Eu nunca recuei de meu pai, e eu não


recuaria deste homem.

"Você está desesperada."

"Então você também."

"É verdade." Ele fez uma pausa. "Se você não se importa de eu
perguntar, por que você me escolheria? Quero dizer, além do meu
desespero?" Seu lábio fez beicinho, mas não havia diversão em seus olhos.
"Você poderia ter escolhido um mendigo na rua e compartilhado
metade de sua herança com ele. Tem muitas pessoas
desesperadas neste mundo, Kira, se você está procurando
doar o dinheiro."

"Meu pai nunca iria acreditar que eu tinha caído de amor se me casasse
com um homem sem-teto, Grayson. Seria muito fácil para ele contestar o
pagamento da herança. Meu pai está bem servido, como você pode
provavelmente imaginar, e eu tenho que ser cuidadosa. Tinha que escolher a
pessoa certa. Uma pessoa convincente."

Ele inclinou a cabeça. "Seu pai contestando o pagamento da herança...


Isso é algo que eu preciso me preocupar?"

Eu balancei minha cabeça. Seria mais provável que despendesse um


esforço para encobri-lo do que dar uma rodada de trabalho em seu favor, se
um casamento com Grayson Hawthorn realmente ocorresse. Ainda... "Eu não
acho que sim, mas eu aprendi que, quando se tratar do meu pai, é
aconselhável estar atento." Apesar das minhas palavras otimistas um calafrio
percorreu minha espinha.

"Entendo. Então você pretende convencer o seu pai que me viu na rua,
se apaixonou loucamente, e nos casamos em uma semana?"

Eu suspirei. "Ele não vai achar tão difícil. Ele me vê como... impulsiva...
inconstante... irracional".

Seus olhos escuros me olharam especulativamente. "E você é? Você é


essas coisas?"

Mordi o lábio. "Impulsiva, sim, eu admito que posso ser. Inconstante,


não, eu acho que não. Irracional... não somos todos às vezes?"

Ele pareceu considerar a minha resposta por um segundo. "Assim,


qual vai ser a nossa história? Esbarramos um no outro aqui em Napa, nos
apaixonamos e nos casamos impulsivamente porque estávamos
irracionais - mas não inconstantes – com o novo amor?"
Eu dei-lhe um pequeno sorriso. "Basicamente. Acho que podemos
discutir os detalhes, então estaremos em sintonia." Meu coração tinha
começado a correr novamente. "Então você concorda? Nós temos um acordo?"

"Se todas as panelas forem para fora uma vez que eu encontrar com o
executor, sim, nós temos um acordo."

Eu balancei a cabeça e soltei um suspiro. "Você não vai se arrepender,


Grayson."

"Oh, eu tenho certeza que vou, de uma forma ou de outra, Kira. Mas...
tempos desesperados-"

"Exigem medidas desesperadas. E isso é tão desesperado como obter


medidas."

Ele sorriu, piscando-me um conjunto de dentes retos e brancos. Mas o


mesmo desprezo que ele tinha me mostrado mais cedo estava de volta em sua
expressão. Ele não me vê como alguém dando-lhe um presente, mas como
alguém obrigando-o a fazer algo que ele não queria fazer. Como se eu não
tivesse lhe dado uma escolha. Bem, isso era bom. Eu não preciso de sua
gratidão. Eu preciso de seu nome. Mas não podia negar a decepção que senti,
no entanto. Quando tinha visto ele na rua no dia anterior, ele parecia... perdido,
quebrado, mas ainda compassivo. No entanto, o homem sentado na minha
frente agora era completamente diferente - duro e frio. Eu realmente tinha
julgado-o tão mal?

Como se tivesse lido meus pensamentos, o sorriso desapareceu de seu


rosto tão rapidamente quanto tinha aparecido.

"Há apenas mais algumas coisas que eu acho que devemos discutir
brevemente."
"Está bem." Eu cruzei as pernas. Seus olhos seguiram meu movimento,
e então ele apertou a mandíbula e desviou o olhar antes de falar.

"Desde que você está indo viver em minha propriedade e fazendo


alguns trabalhos de contabilidade, acho que deve estar a par sobre a natureza
de nossa relação."

"Relação? Eu pensei que estava claro. Estamos casando por dinheiro.


Não temos nenhuma relação."

A natureza deste encontro estranho e afetado destacou esse fato


perfeitamente.

"Nós vamos ser sócios. Nada mais."

"Concordo. Enquanto você for discreto, conduza sua vida pessoal como
quiser."

"Eu pretendo."

"Bem."

"Bom. Eu não quero que você obtenha quaisquer... ideias fantasiosas


sobre este acordo."

Eu levantei uma sobrancelha. "Fantasiosa?"

"Romântica. Imprecisa."

Eu cerrei os dentes. "Sim, você já deixou claro que não sou seu tipo. E
eu vou tentar o meu melhor para não cair em seu charme irresistível e tornar as
coisas," estretei os olhos, "insuportavelmente estranhas."

"Bom."

Eu queria chutá-lo. Independentemente do que mais ele era, ele


era obviamente um homem acostumado a ser perseguido pelo
sexo oposto. E, aparentemente, ele achava que eu era algum
tipo de freira, ou ele tinha zero preocupação com a
forma como eu conduzia a minha própria vida pessoal. Mais provável que fosse
o último. "O que mais?" Perguntei friamente.

Grayson – daqui em diante referido como O Dragão – estudou-me. Eu


não tentei descobrir o que ele estava pensando. Provavelmente estava
tentando determinar se eu seria realmente capaz de impedir-me de cair de
amor por ele. Ele estava ficando mais feio a cada segundo. Réptil arrogante.
"Você mencionou a minha pena. Estou supondo que você conhece a natureza
do meu crime?"

E imediatamente arrefeceu a raiva que eu estava sentindo. Senti calor


vasculhar as minhas bochechas. "Espero que você não me ache demasiada
intrusiva, mas achei melhor pesquisar você antes de fazer a minha oferta."

Ele deu de ombros. "Uma boa decisão de negócios. Você tem dúvidas
sobre o que leu antes, ou podemos avançar? Vou responder às suas perguntas
agora, mas eu não pretendo discutir isso mais tarde."

Eu não conseguia esconder a minha surpresa. "Eu... Bem, pelo que


entendi, você teve que lutar com um homem fora de um bar em San Francisco,
e você acertou-o... ah, repetidamente. Ele caiu e bateu a cabeça e morreu. Foi
um acidente. Você não tinha a intenção de matá-lo. Isso é verdade?" Eu me
sentia envergonhada de resumir o que certamente foi uma situação
extremamente preocupante, mesmo agora. Ele tinha ido para a prisão por cinco
anos por seu crime.

Ele ficou em silêncio por tanto tempo que eu me perguntei se ele iria
responder. Finalmente, ele disse simplesmente: "É preciso o suficiente." Eu
olhei para ele por um momento, mas seu rosto estava ilegível.

"Prisão deve ter sido... muito difícil para você." Algo passou
sobre sua expressão, mas ele educou-a com passividade antes
que eu pudesse tentar nomeá-la.
"Você não tem ideia." Houve um silêncio constrangedor. Mordi o lábio.

"E agora, você é um criminoso."

Ele se inclinou para frente, seu olhar firme, escuro e fixo em mim, seu
cheiro masculino nublando meus sentidos.

"Sim, Kira. Eu sou um criminoso. Eu não posso obter um empréstimo -


como você bem sabe. Minhas opções de emprego são limitadas, para dizer o
mínimo. Muitas portas estão fechadas para mim. Você vai se casar com um
criminoso. A filha de Frank Dallaire vai se casar com um criminoso."

Mais uma razão para ele estender nosso estranhamento, talvez torná-lo
permanente. O que se adaptava a mim muito bem. Mas eu não disse isso. Em
vez disso, eu respondi, "Seria difícil para mim decepcionar meu pai mais do
que eu já tenho."

Estudou-me novamente com os olhos de dragão, os que pareciam ver


através de mim. "Eu vou levar sua palavra por isso." Ele de repente se
levantou, me assustando um pouco. Eu pulei, e quase colidimos quando fomos
dar um passo adiante. Ele me acalmou, colocando as mãos nos meus braços.
Levantei meus olhos para ele, e quando ele olhou para mim parecia assustado
também. "Eu tenho que ir", disse ele, virando e começando a caminhar em
direção à porta.

"Oh, bem," eu disse, seguindo-o. "Só mais uma pergunta, hum, em


relação ao tempo deste arranjo." Eu olhei ao redor do quarto de hotel,
calculando rapidamente quantos dias eu poderia ficar aqui.

Claro que eu também tinha necessidade de contratar um advogado


para elaborar um acordo pré-nupcial com O Dragão, alguém que não tinha
conexões com o meu pai. "Eu sei que você provavelmente quer...
bem, a coisa é..."

"Você não tem dinheiro para ficar aqui."


Soltei um suspiro. "Eu tenho, mas não por muito tempo. Especialmente
se vou precisar pagar os honorários do advogado."

Ele ficou na frente da porta, esfregando a parte de trás de seu pescoço.


Finalmente, ele disse: "Arrume sua mala. Você pode vir comigo agora. Vamos
arranjar um advogado amanhã. Mas, Kira", ele virou-se, olhando-me nos olhos,
"se isto não funcionar de uma maneira que nós dois estaremos satisfeitos, vou
pedir para sair imediatamente."

Eu balancei a cabeça. "Você não teria que perguntar."

Ele sacudiu a cabeça em um aceno rápido. "Eu vou dar-lhe cinco


minutos para fazer as malas."

‘Sim, senhor, Dragão, senhor’, eu estava tentada a responder


sarcasticamente. Mas fechei meus lábios e apressadamente comecei a fazer
as malas.

Trinta minutos mais tarde, eu tinha saído do hotel, e seguia o caminhão


preto de Grayson através das portas de Hawthorn Vineyard.

Eu tinha sido pega de surpresa pela beleza da vinha a primeira vez que
vim aqui, e eu estava tão tomada agora. Enormes carvalhos margeavam a
longa entrada de automóveis, a copa de folhas sombreando nossos veículos
quando nós dirigimos abaixo deles. A casa de Hawthorn, ficava logo atrás de
um pátio com uma grande, fonte redonda no centro. Era uma visão de graça
e elegância, e ainda conseguia parecer quente e convidativo ao
mesmo tempo. Hera subia do lado da grande estrutura
elegantemente curvada, e forjadas varandas de ferro
ladeavam cada janela no andar superior. Os hectares
e hectares de vinhedos criavam um fundo deslumbrante para a casa e os
jardins, e eu pude ver um pequeno bosque de árvores frutíferas à esquerda da
casa - pêssegos, talvez, ou damascos. À primeira vista parecia um exuberante
paraíso à espera de ser explorado. Era só quando você se aproximava que se
observava que a fonte não funcionava, que a hera precisava de cuidado, que o
gramado e os jardins circundantes foram abandonados. O jardineiro havia sido
demitido, sem dúvida. Era bonito mesmo assim. Em sua glória este lugar deve
ter sido magnífico. Meus olhos pousaram sobre as colinas de videiras à
distância, enquanto eu me perguntava que variedade de uvas produziam.
Imaginei vê-lo restaurado, não apenas por causa de Grayson, mas pela
questão da beleza em si. Um lugar como este não deve ser autorizado a
desfazer-se à ruína. Pensei que vovó concordaria. Mas então empurrei o
pensamento da minha avó de lado, por enquanto. Não, ela não gostaria de ver
este belo vinhedo no lugar que ela tanto amava desfazer-se à ruína, mas ela
também rolaria em seu túmulo se soubesse que eu estava casando por
dinheiro. Eu era uma mulher que se casaria com um completo estranho por
dinheiro. Era eu. Desespero encheu meu peito momentaneamente. Eu teria
que acrescentar esse detalhe sobre mim mesma agora, e isso trouxe outra
pequena medida de auto-aversão.

Grayson encostou o caminhão antes de irmos ao redor da fonte, e eu


encostei atrás dele. Apenas notei uma pequena casa à direita, parcialmente
escondida atrás de um grande carvalho e da abandonada folhagem. Ele tinha
chamado de casa do jardineiro, mas muito provavelmente qualquer jardineiro
que tinha trabalhado aqui recentemente não tinha vivido na propriedade, e
tinha usado esta "casa" estritamente para armazenamento de equipamentos.
Ainda assim havia algo estranho nela, meio escondida como era, e
coberta de glicínias. Saí do meu carro e Grayson fez o mesmo,
andando na minha direção. Havia um brilho de diabólico
desafio em sua expressão. Ele espera que eu
recusasse as acomodações? Provavelmente. Certamente ele me viu como
todos os outros fazem, uma princesa mimada, uma filhinha de papai que viveu
uma existência fútil e inútil. E agora ele estava indo se divertir um pouco
comigo. Mas o que me importa o que ele pensava? Dentro de alguns meses eu
nunca o veria novamente. Nossos advogados poderiam lidar com um processo
de divórcio extremamente simples, e eu não pensaria nele novamente. E vice-
versa, eu tinha certeza.

Segui Grayson para a porta da casa onde se mudaram as grandes e


viostosas flores de glicínias roxas de lado, e ele abriu-a sem a chave. Inalei um
grande fôlego das flores do vinhedo e entrei. Bom. Velho. Obviamente
equipamentos de jardinagem não utilizados enchiam a sala da frente. Era
empoeirada, suja, e cheirava a mofo e óleo de motor. Eu lutei meu caminho
através de teias de aranha e entrei no segundo quarto, ou o que tinha sido um
quarto e agora só tinha uma pequena cama de metal com molas enferrujadas.

"Eu vou ter Charlotte para lhe trazer alguns cobertores e um travesseiro,
é claro", disse Grayson atrás de mim. Eu me virei e olhei para ele. Era diversão
em seus olhos? Sim, era. Seu lábio tremeu como se ele estivesse tentando
controlar um sorriso que queria estourar. Pensou que fosse engraçado, não é?
Bem, o que ele não sabia era que as acomodações que eu estava mantendo o
ano passado eram muito piores do que esta. Para as pessoas com quem eu
estava vivendo, este seria um castelo.

"Eu vou tomar banho na fonte, suponho?" Eu perguntei, sorrindo


docemente para ele.

"A fonte não funciona. Aqui a água é corrente. Só fria, no entanto, e


não quente. Isso não será um problema, não é?"
"Nããão," eu disse lentamente. "Um bom banho frio revigora uma
pessoa, eu acho. Eu prefiro duchas frias, na verdade."

O dragão escamoso pareceu considerar isso. "Eu aposto que você faz",
ele finalmente disse, inclinando o estreito quadril no batente da porta enquanto
me observava. Que bom para ele que estava se divertindo tanto. Eu nunca iria
recuar agora. Eu dormiria no chão empoeirado neste barraco se isso
significava tirar o melhor de Grayson Hawthorn.

"Existe uma cozinha? Um lugar que eu poderia comer as cascas de pão


que você vai me jogar?" Perguntei. "Depois que eu der a você sua porção da
minha herança, é claro.”

"Não, você vai ter que comer na casa principal. Vou dizer a Charlotte
para espera-la para jantar", disse ele, ignorando a segunda parte da minha
pergunta. Lembrei-me de Charlotte naquela manhã - uma gorda mulher de
aparência doce e cabelos grisalhos.

"Você estará lá?"

"Não. Eu estarei fora." Silêncio. Okaaaaay.

"Quem você dirá a Charlotte que sou, exatamente?"

"Eu vou dizer Charlotte e seu marido, Walter, a verdade. Eles me


conhecem toda a minha vida. Eles são o epítome da discrição." A ansiedade
me agrediu, e meu coração acelerou com o pensamento de que sua
governanta saberia que nosso casamento era falso. Mas decidi confiar em sua
epítome da descrição. Além disso, não haveria nenhuma maneira de fingir
que tinha caído no amor quando ainda ontem eu não existia na vida de
Grayson. E eles sabiam muito bem disso.

Eu desejei que isso fosse algo que eu pudesse fazer por


minha conta, mas não era. Eu precisava dele.
"Eu vejo. Está bem." Olhei ao redor da casa de campo de novo, me
distraindo com uma avaliação do espaço. "Bem, existem alguns contras
definidos, mas há prós, também."

Ele franziu o cenho, mas assentiu com a cabeça uma vez e, em


seguida, virou-se para sair. "O jantar é às sete e meia." Que seria em menos
de uma hora. Acho que começaria a limpar este lugar, tanto quanto possível.

Grayson voltou para dentro alguns minutos depois, trazendo minha mala
e, em seguida, virou-se para sair.

De repente ele parou, e eu pensei que ele me diria que tinha brincado
sobre este lugar.

Em vez disso, ele disse friamente, "A propósito, eu absolutamente


proíbo o uso de drogas em minha propriedade. Se eu achar que você as trouxe
aqui, nosso negócio está cancelado."

Eu gaguejei, tentando achar uma resposta, mas antes que eu pudesse


chegar a qualquer coisa ele se virou e saiu, fechando a porta atrás de si. Um
segundo depois, ouvi seu caminhão rugir para a vida e distanciar-se.

Claramente ele me pesquisou e leu sobre a "situação" em que eu estive


um ano atrás.

Tarde demais, peguei uma lata de refrigerante vazia do chão e atirei-a à


porta fechada. Vil serpente! Eu deveria acabar com esta farsa imediatamente.
Como ele ousa tratar-me assim depois que eu tinha feito-lhe a oferta mais
generosa de sua vida escamosa? Sua arrogância não conhecia limites. E ele
tinha julgado que eu era uma criança mimada. Uma pirralha mimada e
drogada. Mas sob minha raiva havia uma sensação inegável de vergonha e
tristeza. Isto vale a pena? Deus, eu tinha que acreditar que
valeria. Algum dia.
Capítulo Quatro
Grayson

Ela manteve-se como se realmente estivesse indo viver naquela cabana


pequena e suja. Eu sorri para mim mesmo, perguntando-me quanto tempo
levaria para ela vir correndo à casa principal me dizendo que não havia
maneira no inferno que ela ficaria lá. Quinze minutos? No jantar, no máximo.
Eu tive que dar-lhe uma grande medida de respeito, no entanto. Ela tinha
jogado junto com a piada. Eu esperava ultraje, pé pisoteando, respiração
suspensa, possivelmente. Mas a bruxinha tinha um pouco mais de coragem do
que eu pensava originalmente. E eu não tive tanta diversão... em um tempo
muito longo. Eu nem queria rir por um minuto lá. Eu não tinha percebido o quão
estranho esse sentimento tornou-se até a diversão subir pela minha garganta.

Eu tomei um banho rápido, troquei de roupa e desci para avisar


Charlotte que haveria um convidado para o jantar. Quando eu entrei, a cozinha
estava perfumada com o aroma de estrogonofe de carne. Talvez eu fosse ficar
para comer o jantar, depois de tudo.

"Bela noite, não é?" Charlotte perguntou, sorrindo radiante para mim.

Peguei uma cerveja da geladeira, abri e tomei metade da garrafa antes


de grunhir uma resposta afirmativa. "Eu tenho algo para falar com você."

Ela parou de mexer e me olhou. "Isso soa ameaçador."

Eu balancei a cabeça, tomando outro gole da cerveja gelada.


"Para mim, sim, mas não para você."
"Você sabe que qualquer coisa que afete negativamente você me afeta
também, Gray," ela disse suavemente. Um pequeno canto do meu coração, a
parte que ainda vivia, pulsou com pesar.

"Eu sei, Charlotte."

"Então o que é? Basta dizê-lo."

"Vou me casar. Provavelmente."

A colher caiu no fogão, e Charlotte levou as mãos à boca. "Você


engravidou alguém. Oh, Gray!"

Engasguei com o gole de cerveja que eu tinha acabado de tomar. "Não,


Deus não".

"E então? Por quê? Quem?" Charlotte estalou.

Eu dei a Charlotte os fatos nus que Kira tinha me apresentado em meu


escritório naquela manhã. Mesmo depois de um dia inteiro para pensar sobre o
assunto, ainda parecia loucura. Insano. "Os fatos não foram confirmados,
ainda. Mas ela estará aqui para o jantar, então eu queria que você soubesse.
Na verdade, ela ficará aqui por enquanto."

O rosto de Charlotte era um estudo de desaprovação. Ela claramente


odiava essa idéia. "Casar por dinheiro, Gray? Não, eu não quero isso para
você. E será que esta menina não tem ética? Você merece mais. Você merece-"

"É temporário, ok? Se acabar sendo como disse Kira, vai ser uma coisa
boa para esta vinha. E, francamente, é minha última esperança." Eu defini meu
queixo, sem vontade de discutir sobre isso com Charlotte. "Você conhece
minha situação."

"Sim, mas... temporário? O casamento não é temporário. O


casamento não é um negócio – uma questão de contratos e
negociações. O casamento é sagrado, um voto sagrado de
amar para sempre."

Eu bufei. Charlotte sabia que tinha pouco ou nenhum respeito pela


santidade do matrimônio depois de testemunhar a natureza frígida de meu
próprio pai e madrasta sobre a ‘felicidade conjugal’. "A maioria das pessoas
não são como você e Walter, Charlotte. Basta olhar para Jessica e Ford
Hawthorn."

Ternura preencheu a expressão de Charlotte quando ela se aproximou


de mim. Ela levou um momento, parecendo escolher suas palavras. "Gray, eu
sei que desde que você chegou em casa as coisas mudaram tanto, e tudo tem
sido tão difícil para você. Eu sei que você se culpa... por tudo isso. E você
mudou, Gray. Você não sorri - apenas trabalha. Você desligou. Mas esta não é
a resposta para seus problemas. Não pode ser. Eu não posso deixar você fazer
isso -"

Eu coloquei a garrafa de cerveja vazia sobre a bancada de mármore, o


vidro tilintando ruidosamente, a raiva e desamparo enchendo meu peito. Eu
não precisava do somatório do que eu havia me tornado para Charlotte. Quem
eu tinha sido forçado a me tornar. Eu vivia comigo mesmo a cada segundo de
cada dia. "Você é a minha governanta, Charlotte, não é minha mãe. Eu não vou
discutir mais isso. Coloque outro prato."

Mágoa brilhou nos olhos de Charlotte, mas ela apertou os lábios,


voltando-se para o fogão e resmungando algo que eu não podia ouvir, e que
não me importava. Charlotte era tão suave quanto seu marido era rígido.

"Você vai ficar para o jantar, é claro", disse Charlotte sem se virar,
quando eu comecei a deixar o cozinha, "para nos apresentar à sua futura
esposa."
Parei, a palavra "esposa" fazendo-me sacudir ligeiramente. Eu preferia
muito mais "parceira de negócios" quando se tratava de Kira. Claro, Charlotte
estava, propositalmente, tentando me assustar, tentando deixar claro o que eu
estava considerando. Eu não tinha planejado jantar em casa, mas disse:
"Claro." Eu daria a Charlotte pelo menos isso.

Eu me fechei no meu escritório e abri o site do cartório de Napa Valley.


Lá não havia período de espera para se casar. Precisavamos somente marcar
hora e aparecer com uma testemunha, ou usar uma fornecida por eles.
Esperemos que Kira não tenha problema para fazer rapidamente uma consulta
com o executor de sua confiança. Quanto mais cedo tivermos esse falso
casamento começado, mais cedo acabaríamos com este falso casamento e
poderíamos continuar com nossas vidas.

Eu vasculhei meu e-mail, colocando as contas de lado. Pela primeira


vez em meses, não tremi na pilha muito grande. Se isso funcionar... Se isso
funcionar, eu poderia pagar todas elas. Eu não me permiti pensar sobre os
detalhes, no entanto, até que tudo tenha sido confirmado. Parei quando vi uma
carta pessoal para mim, reconhecendo a letra feminina imediatamente. Meu
peito apertou momentaneamente antes de eu ter minha oportunidade de aço.
Curiosidade picou em minha mente, mas eu joguei a carta de lado. Não havia
mais nada que ela pudesse dizer que mudaria alguma coisa. Eu não tinha
necessidade de ouvir suas palavras lamentáveis de explicação ou pedido de
desculpas.

"Deus amaldiçoe você, Vanessa", eu sussurrei, inclinando os


cotovelos sobre a mesa e segurando minha cabeça em minhas mãos por
alguns instantes.

Agora eu realmente queria sair daqui e queimar algumas


calorias. Em vez disso, eu tinha que jantar com uma estranha
que poderia muito bem ser minha esposa em um curto
espaço de tempo. Charlotte estava certa. Esta foi uma idéia terrível.

Ridícula. Não importava em que capacidade deixei-as entrar, de alguma


forma as mulheres sempre arranjavam um jeito de estragar minha vida. E o xis
da questão era que Kira Dallaire iria acabar por ser a pior de todas. Ela seria
um constante lembrete vergonhoso de quão longe eu tinha caído. Uma
lembrança constante do que eu tinha sido reduzido: casar-me com uma
estranha por dinheiro. Se eu pudesse encontrar qualquer humor nele em tudo,
eu riria da minha própria situação lamentável. Eu riria do fato de que estava
mesmo considerando essa insanidade.

Poucos minutos depois ouvi a campainha. Eu terminei o que estava


fazendo, sabendo sem dúvida que Walter responderia a porta em seu
comportamento formalmente frio e sem brincadeiras. Claro que, se alguém
estava acostumada a lidar com empregados essa era, sem dúvida, Kira
Dallaire. Ela provavelmente usou um enxame deles para fazer suas vontade e
todos os seus caprichos.

Quando eu finalmente fiz o meu caminho para a cozinha, Kira estava


sentada à grande e bem-arrumada mesa de jantar, um copo de vinho na sua
frente. Ela estava usando jeans e uma camisa verde-profundo. Seu cabelo
estava puxado para trás tão severamente como naquela manhã. Tinha sido
apenas algumas horas atrás?

Parecia mais uma década.

Charlotte estava se movendo em torno da cozinha, ignorando-a. Ela se


dirigiu a mim, sem me olhar, "Eu não limpei a sala de jantar hoje porque não
sabia que haveria um convidado." Ela lançou um desdenhoso olhar para Kira.
"Espero que comer na cozinha encontre sua aprovação, senhor." Ela
colocou ênfase no ‘senhor’, obviamente tentando me fazer sentir culpado por
me referir a ela como nada mais do que uma governanta, mais cedo.

"Você sabe que eu não gosto de comer na sala de jantar de qualquer


maneira, Charlotte. Isso está bom." Sentei-me a mesa, balançando a cabeça
uma vez para Kira e tomando um gole da minha água.

"Você não bebe vinho?" ela perguntou.

"Só às vezes."

"Não é incomum para alguém que dirige uma adega?"

"Eu suponho." Ela ficou olhando para mim, mas quando eu não
continuei, ela desviou o olhar, apreciando a cozinha.

"Esta cozinha é realmente bonita", disse ela baixinho.

Antes que eu pudesse responder, Charlotte colocou um prato na frente


de Kira, um pouco mais duro do que o necessário, eu observei, fazendo uma
pequena dose de molho espirrar em cima da mesa. Ela entregou meu prato do
mesmo modo, virando o nariz enquanto se afastava. Sem reconhecê-la,
comecei a comer. Charlotte começou a fazer barulho em torno da cozinha,
ignorando nós dois. Barulho de outros pratos sendo manipulados, seguido de
um silêncio constrangedor... que continuou... e depois continuou mais um
pouco.

O relógio na parede da cozinha badalava em alto e bom som, e os


únicos outros sons eram Charlotte lavando pratos com raiva e nossos garfos
batendo nos pratos de vez em quando. Notei Kira deslocando-se em seu
assento, e a olhei até ver um rubor em suas bochechas. Ela chamou minha
atenção.

"Você já foi à África?" ela perguntou de repente.


África? Eu abri minha boca para responder, mas ela falou primeiro.
Aparentemente a questão tinha sido retórica. "Quênia, especificamente. Eles
tem um maravilhoso costume de boas-vindas lá. Os guerreiros da tribo,
vestindo seus trajes mais vibrantes, fazem o que é chamado de dança de salto.
Todos eles formavam um círculo e competem para saltar mais alto, o que
demonstra a seus hóspedes a força e a bravura de sua tribo. É magnifico! As
alturas que alguns deles podem saltar, é irreal." Uma mecha caiu solta de seu
cabelo puxado pra trás, mas ela ignorou-a, levando uma mordida grande de
estrogonofe e não se preocupando em engolir antes de continuar. "Eu só
estava pensando num funcionamento para seu dinheiro, que você poderia dar-
lhes o acolhedor costume Hawthorn, no entanto. É reconfortante. Eu não posso
te dizer o quão confortável você me fez sentir. Claro, no Quênia você também
podia esperar um coquetel misto de leite e sangue de vaca, que faz parte de
sua saudação, de modo que isso derruba alguns pontos para eles. Ainda -"

Eu coloquei meu garfo para baixo. "Você terminou?"

Faíscas pareciam brilhar em seus olhos quando ela encontrou meu


olhar. "Não realmente. Por quê?" Uma sacudida lanceou minha coluna
naquelas faíscas, fazendo seus grandes olhos verdes brilharem de indignação.
Mas então ela tomou um casual gole de vinho e voltou para sua refeição. Olhei
para Charlotte e jurei que vi um lado do lábio dela contrair antes dela se
afastar.

Eu apertei minha mandíbula na resposta sarcástica de Kira, mas tinha


que admitir que ela estava certa. Fomos rudes com ela. Eu estava de mau
humor. Mas ela realmente não tinha feito nada de errado. Eu não gostava
dela... ou em vez disso, eu não gostava de seu tipo, e sua existência em
minha casa era um lembrete gritante das muitas maneiras que eu
tinha falhado. Mas isso não significava que eu não poderia ser
civilizado. Ela também estava apresentando uma saída.
Eu não agiria como se ela estivesse me fazendo um favor enorme, apesar do
dinheiro, no entanto. E eu não fingiria que gostava desta situação - ou que não
éramos parceiros neste negócio desagradável. Nós dois estávamos fazendo
um sacrifício aqui. Ela estava entregando o equivalente a um monte de dinheiro
para mim, mas ela iria interromper minha vida para os próximos meses, no
próximo ano ou talvez mais, quando se tratasse de impostos. Eu veria seu
nome nos formulários para o resto da minha vida... Mas, nós seríamos sócios
civis. Ela tinha ido muito bem até agora. Eu tive até um pouco de diversão
antes, com a coisa toda da casa de campo do jardineiro. Que, vamos lembrar,
ela não tinha falado ainda.

"Devemos discutir-"

"O fato de que você é da prole dos lagarto cuspidores de fogo? Eu já


percebi isso."

Charlotte bufou da cozinha, mas cobriu o som com o estrondo de um


pote.

"Ouça, Kira-"

"Não, você escuta, Grayson." Mais cabelo caiu para emoldurar seu rosto
quando ela bateu seu pequeno punho na mesa e olhou para mim, os olhos de
bruxa piscando novamente, aquecendo meu sangue, demais até, para meu
próprio desespero.

"Eu estou fazendo-lhe uma oferta muito generosa aqui. Se isso vai
funcionar, eu me recuso a deixar você me tratar como tem feito até agora.
Garanto que, com as suas credenciais, você não vai receber uma oferta
melhor que a minha. Continue a tratar-me como você tem feito e eu vou sair e
levar a minha herança comigo."
Raiva percorria o meu sangue, e eu bati o meu próprio punho na mesa.
Tive a satisfação de ver Kira saltar um pouco. "Se isso vai funcionar, eu não
vou ser tratado como se você estivesse com pena de mim, e como se eu não
esticesse fazendo tanto sacrifício quanto você está," Eu cerrei fora. "Você acha
que eu tenho algum desejo de casar com você ou qualquer outra pessoa?"

"Não, eu imagino que você seja tão capaz de monogamia como um cão
vadio. Não que isso tenha algo a ver comigo."

Como se de uma grande distância, ouvi Charlotte tossir novamente.

Apertei os olhos em fendas. "Exatamente. Você acha que eu estaria


fazendo isso se eu não estivesse completamente desesperado, e se você não
fosse minha. Última. Opção? Então jogue o dinheiro na minha cara, se quiser,
mas não aja como se você não precisasse de mim também. Não aja como se
você não estivesse tão desesperada quanto eu estou. E não finja que eu sou
sua melhor e única perspectiva. Você mesmo disse. Para alguém que veio aqui
implorando, você seria sábia de me tratar com algum respeito."

Seu rosto inflamou-se com ainda mais cor. "Implorando?" ela assobiou.
"Implorando?" Pesadas cascatas de fogo escuro caíram em torno de seu rosto
quando seu cabelo soltou-se completamente de tudo que ela estava usando
para prendê-lo. Eu quase perdi o fôlego. Eu não tinha percebido que ela tinha
tanto dele. Ele cercou seu rosto e girou em torno dos ombros, parecendo como
se fosse até a metade das costas.

Ela levantou-se devagar, e eu o fiz também, até que nós dois estávamos
encarando um ao outro em toda a extensão da mesa da cozinha. O ar entre
nós crepitava com... alguma coisa, o calor no ar praticamente cintilando. E,
estranhamente, esse calor formigando agora estava dançando através
do meu sangue em um desabrochado desempenho muito parecido com a
dança de boas-vindas africana que Kira tinha descrito, fazendo-me sentir...
vivo.

"Eu estava louca por vir aqui. Isso", ela acenou entre nós, "é uma
loucura. Nunca vai funcionar. Nós deveríamos cancelar tudo. Eu poderia
encontrar alguém para casar. Não consigo imaginar por que escolhi você. Acho
que você... é extremamente difícil de gostar."

"Eu concordo. É ridículo. E vice-versa."

"Bom. Isso está fora", ela sussurrou.

"Bom", eu rosnei. Nós encaramos um ao outro, seus olhos dançando


com fogo furioso. E por que o diabos eu gostei tanto disso? Depois de vários
momentos tensos e aquecidos eu fiz um esforço consciente para controlar
minha respiração, levantando uma sobrancelha para ela. "E por falar nisso, da
próxima vez que você se oferecer para casar com alguém, deveria tentar ser
um pouco mais mansa. Um homem gosta de alguma obediência em sua
mulher."

Mais fogo brilhou em seus olhos, e outra emoção inegável chutou abaixo
na minha espinha. "Charlotte", ela disse de repente, muito docemente. "Você
tem uma caneta e papel para me emprestar?"

"Oh sim," Charlotte disse, pegando uma caneta e um bloco de papel da


gaveta e praticamente correndo a Kira, como se ela estivesse de repente ao
seu dispor.

Eu assisti Kira de perto, esperando para ver o que ela faria a seguir.

Kira sorriu educadamente para Charlotte e, em seguida, destampou


a caneta com cuidado, colocando-a no final com deliberada
lentidão, e, em seguida, segurou o bloco de papel, a caneta
suspensa perto dele. "O que foi isso agora? Eu quero
ter certeza de obter cada palavra do sábio conselho", disse ela, estendendo-se
a palavra cada. "Mansa, sim? Isso tem duplo ‘e’ ou é ‘ea’?1 Eu nunca consigo
me lembrar."

Eu a olhava através de cílios abaixados, resistindo à vontade de rir de


sua exibição ridícula de sarcasmo. "Eu não me preocuparia tanto com a
ortografia da palavra quanto em abraçar o conceito."

"Hmm," ela cantarolou. "E obediente, você disse?"

"Sim."

"Obediente - sim." Ela fez uma grande marca de verificação no papel.


"E?"

"Sua língua afiada - que será uma desilusão para futuros maridos."

Ela fingiu escrever isso. "Língua afiada - nenhuma." Ela marcou um


grande X no papel. "Qual outra coisa?"

Nos entreolhamos por alguns segundos tensos, sua expressão uma


falsa aparência de intenso interesse, e a minha com um leve sorriso. A verdade
era que eu nem sabia se os aspectos jurídicos do falso casamento que ela
tinha proposto eram legítimos. Mas falar em cancelá-lo antes de sequer saber
causava uma lança de decepção através do meu corpo. Eu odiava a idéia,
odiava a língua ferina da pequena bruxa em pé na minha frente, odiava que, na
realidade, ela tinha mais poder nesta situação do que eu... mas, ao mesmo
tempo, essa era a primeira coisa em muito tempo que tinha me dado alguma
esperança. E eu não tinha percebido até aquele momento quão doce
esperança eu provei. Desviei o olhar primeiro, quebrando a intensidade
fluindo entre nós, mas ela foi a primeira que falou quando colocou a caneta e
papel na mesa. "Ouça, esta situação é... incomum, para dizer o
mínimo." Ela parou de novo, e eu olhei de volta para ela. A faísca

1
NT: manso = meek, ela fala ‘e’ ou ‘ea’ por não se lembrar se é meek ou meak
tinha abandonado seus olhos, como se a ideia de chamá-la não era
exatamente o que ela queria também. "Eu liguei para o executor da minha
herança antes de entrar aqui. Ele pode nos ver no final do dia de amanhã.
Talvez nós poderíamos encontrar uma forma de conviver pelo menos até que
tenhamos apurado que tudo é como eu já disse. E então poderemos tomar
uma decisão final a partir daí."

"Eu posso concordar com isso."

Ela respirou fundo. "Ok, está bom." Ela estendeu a mão. "Trégua?" Ela
arqueou uma sobrancelha. Eu olhei para a mão dela e estendi a minha própria
do outro lado da mesa.

"Trégua. Venha aqui, e nós podemos agitar."

"Você vem aqui", ela desafiou.

Eu sorri lentamente. "Nos encontramos no meio."

Ela estreitou os olhos, mas acenou com a cabeça, afastando-se de sua


cadeira. Afastei-me da minha, e nos encontramos ao lado do centro da mesa
grande. Eu peguei sua mão quente na minha e apertei-a, enquanto
considerávamos um ao outro cautelosamente. Finalmente ela sorriu, e eu sorri
em troca. Ela retornou o seu lugar, e assim eu fiz também. Quando Charlotte
veio para encher de vinho o copo de Kira, ela não olhou para ela com desdém,
mas com uma curiosidade cautelosa. Interessante que, de alguma forma, a
nossa luta congraçou Kira para Charlotte. As mulheres eram um mistério para
mim. Kira deu a Charlotte um pequeno sorriso e agradeceu-lhe pela refeição
deliciosa.

"Gostaria de ver o resto da casa?" Eu perguntei, tentando fazer uma


pequena oferta de paz.

Kira olhou surpresa, mas balançou a cabeça


afirmativamente. Nós nos levantamos da mesa, e Kira
agradeceu Charlotte pelo jantar. Charlotte deu um sorriso que parecia genuíno,
mas não me ofereceu um.

Eu trouxe Kira de volta para o saguão principal e começamos a partir


daí. "Meu pai teve esse lugar projetado para imitar um castelo francês."

Kira acenou com a cabeça quando entramos na sala de estar formal.


"Ele realmente faz. Isso me lembra, em uma escala menor, de castelo de conto
de fadas. Há alguma coisa... encantadora sobre ele." Ela engasgou quando
avistou a grande janela com vista para a parte de trás da casa. A piscina
estava diretamente abaixo de um conjunto de etapas, e fora de um pátio de
pedra natural. No entanto, sua cabeça se levantou, e eu sabia que ela estava
olhando para a sebe do labirinto pouco além disso. Ela girou em minha direção.
"É um labirinto!" ela engasgou. "E é enorme."

Cerrei minha mandíbula como faço a cada vez que olho para aquela
coisa odiosa. "Está completamente abandonado. Se eu tivesse dinheiro extra o
teria cortado quando voltei."

"Oh, por quê?" ela engasgou. "É incrível! Eu posso ir lá dentro em algum
momento-?"

"Não. Absolutamente não." Eu suavizei meu tom, embora quando eu


disse: "não é seguro." ela não soubesse por que eu odiava o lugar, e ela nunca
saberia. Mas eu tinha falado a verdade - tinha muito mato para ser seguro.

Ela estava me estudando com aqueles olhos brilhantes, penetrantes. Eu


podia senti-los no lado do meu rosto. Quando fiz o contato de olho, ela levantou
uma sobrancelha delicada. "O coração do seu covil, suponho?" Ela sorriu
lindamente. "Onde você era... chocado?" Apertei os olhos, e tentei dar-lhe um
olhar mordaz, mas sabia que ela estava brincando, e eu não pude
resistir o sorriso que fez seu caminho para os meus lábios. Eu ri
suavemente.
"Possivelmente." Levantei minha própria testa. "Mas, falando sério, fique
longe dele."

Após uma breve pausa, Kira desviou o olhar e deu de ombros. "Bem,
tudo bem, é a sua casa."

Levei-a através das salas, uma por uma, e observei a reação dela. Esta
casa tinha sido uma peça de mostruário uma vez, mas sinais de negligência
estavam por toda parte agora. Apesar da mobília agora esparsa, Charlotte era
apenas uma pessoa, e dificilmente podia manter a coisa toda impecável como
tinha sido uma vez.

Quando eu disse isso, Kira olhou para mim e disse: "Você cresceu em
uma vida de privilégio." Eu sabia o que ela não estava dizendo: eu tinha agido
como se ela fosse a única pessoa que tinha conhecido luxo.

"Privilégio não é definido apenas pela riqueza material, Kira. Eu cresci


em uma bela casa com muitos contratados para ajudar, mas posso assegurar-
lhe que nunca vivi uma vida de privilégio. Para todos os efeitos, eu nunca tive
quaisquer pais em tudo."

Ela inclinou a cabeça, confusão enchendo sua expressão. "O que isso
significa, Grayson?"

Eu balancei minha cabeça. "Os detalhes da minha dinâmica familiar não


importam. Basta dizer que eu estou acostumado a trabalho duro, e que não vou
deixar um dólar do dinheiro que você está tão generosamente me oferecendo ir
para o lixo. De fato, estou considerando o dinheiro que você está me dando um
empréstimo. Uma vez que a vinha estiver trazendo algum lucro, eu vou pagar
você de volta."

Ela ficou em silêncio por um momento. Finalmente, ela


simplesmente assentiu. "Nós não precisamos colocar isso na
papelada, mas você deve escolher..." Ela acenou com a
mão no ar como se eu pudesse fazer o que quisesse nessa frente.
Interessante. Eu não tinha certeza do que pensar de sua resposta.

Quando nós caminhamos através do corredor no andar de cima, Kira


parou na imagem de meu pai e madrasta. "Eles já faleceram?" Ela perguntou
baixinho, olhando de volta para mim.

Eu balancei minha cabeça. "Só o meu pai. Minha madrasta vive em San
Francisco."

Ela virou-se lentamente em minha direção. "Será que ela não tem
nenhum interesse em ajudar com o vinhedo de seu marido? Ou ela não tem os
meios financeiros-?"

"Ela tem muito dinheiro. Mas meu pai deixou esta vinha para mim. Eu
não vou pedir à minha madrasta um centavo do dinheiro que meu pai deixou
para ela. Não temos nenhuma relação, e nunca teremos." Eu deveria tolerar
quando sua própria mãe não poderia ser até mesmo chateada? Ela me
perguntou quando eu tinha doze anos. Eu ainda podia ouvir suas palavras frias
ecoando na minha cabeça. "Eu prefiro... Bem, eu prefiro me casar com uma
estranha para ter o dinheiro antes de ir para ela por um empréstimo." Eu dei-lhe
um sorriso irônico, mas ela não sorriu de volta. "De qualquer forma, é o voto
que fiz ao meu pai. É para eu cumprir."

Ela olhou para mim, inclinando a cabeça. "Eu entendo de votos,


Grayson. Eu os fiz, também. Eu jurei nunca mais depender de meu pai." Ela
voltou para a foto e olhou para ela por um longo minuto.

"Você deve parecer com a sua mãe", disse ela, obviamente notando a
coloração muito leve do meu pai.

"Sim, para desespero de todos," eu disse. Ela olhou para


mim, mas não questionou essa observação enigmática. Eu não
sabia por que tinha feito isso. Eu não queria que ela
questionasse sobre a minha vida.

Ela olhou de volta para a parede de fotos, inclinando-se mais perto de


uma. Estudei seu perfil, o declive reto de seu nariz pequeno, a curva suave de
sua mandíbula, a ondulação suave de seus cílios, e por muito tempo, seu
sedoso cabelo caindo em volta do rosto e nas costas. "Você tem um irmão",
disse ela, olhando para o foto de Shane e eu.

"Sim."

"Ele mora perto?"

"Não, ele vive em San Diego."

"Vocês são próximos?"

"Eu não falei com meu irmão em mais de cinco anos."

Ela se virou para mim novamente. "Oh, eu sinto muito."

"Não sinta," eu disse, minha voz cortante quando a levei embora antes
que ela pudesse fazer mais perguntas intrusivas. Eu já estava me sentindo
muito desconfortável com esta turnê. E eu não poderia culpá-la - tinha sido
minha própria idéia.

"Bem, eu vou deixar você com Charlotte. Ela vai estabelecê-la em um


quarto. Eu vou sair", eu disse com desdém, uma vez que tinha descido as
escadas.

Ela pareceu confusa por um segundo. "Sim, bem, bem, obrigada. Tenha
uma boa noite."

Eu balancei a cabeça bruscamente e comecei a me afastar,


estreitando meus olhos quando a ouvi sussurrar. Eu virei-me de costas e
caminhei em direção a ela. "Você está cantarolando 'Puff The
Magic Dragon'?"
Seus olhos piscaram, parecendo grandes e inocentes. Um ato claro.
"Esse é o nome dessa música? Eu nunca soube, ou quem exatamente viveu
em Honali, apenas a melodia na maior parte." Ela deu de ombros.

Eu olhei para ela por um longo momento. Ela segurou o contato visual
comigo, e o pequeno queixo inclinou-se. O ar zumbia, alfinetadas de
consciência batiam em minha pele. Finalmente - acabando com seu pequeno
jogo – virei-me novamente, deixando-a sozinha no vestíbulo.
Capítulo Cinco
Kira

Deus, aquele dragão correu quente e frio. Como répteis tendem a fazer,
eu acho. Eu quase preferia o fogo que ele atirou-me ao ato gelado que ele
vestiu quando terminou com um certo tópico da conversa, ou quando ele olhou
para mim com desdém frígido. Não compreendia exatamente como sabia que a
frieza era um ato, mas eu fiz. No fundo, ele era todo dragão. Mal contendo o
calor... e, provavelmente, a paixão também. Eu tremi. Eu não pensaria em
Grayson Hawthorn nesses termos. Eu só iria me queimar. Eu não era o seu
"tipo", ou o que quer que seja.

Eu respirei fundo, meus olhos remanescentes nas palavras ricamente


esculpidas na pedra acima da entrada: In Vino Veritas. Eu teria que procurar.
Voltei para a cozinha, onde encontrei Charlotte ainda limpando o balcão. Ela
olhou para cima e me ofereceu um sorriso - um cumprimento muito mais
quente do que ela tinha me dado mais cedo esta noite.

"Você gostaria de um pouco de café?"

"Oh, com certeza", sorri, "mas só se você se juntar a mim?"

Charlotte hesitou, mas acenou com a cabeça. Sentei-me num banco no


balcão enquanto ela servia dois copos e, em seguida, colocava um em frente
a mim com creme e açúcar. Ela também colocou uma travessa com torta e dois
pratos com utensílios ao lado dela, e sentou-se com sua própria
caneca.

"Grayson saiu", eu disse, tomando um gole de café.


Seus lábios se uniram em uma linha reta. "Sim, eu ouvi. Torta salgada
de caramelo?" ela perguntou, cortando um enorme pedaço e estatelando-o em
um prato.

"Oh, hm, tudo bem." Eu hesitei quando ela deslizou o prato em frente a
mim, os deliciosos aromas de caramelo e creme doce flutuando ao meu nariz.
"Eu sei que esta situação provavelmente parece..." Eu balancei a cabeça,
procurando uma palavra que não fosse ridícula, desaconselhável, desastrosa.

Imoral.

"Incomum", foi a palavra que eu finalmente soltei a Charlotte.

"Sim, é verdade", disse ela, cortando sua própria fatia de torta. Apesar
de seu acordo, ela sorriu. "Eu esperava mais para Gray. Sem ofensa a você.
Você parece ser uma menina espirituosa. Eu apenas... eu esperava que ele
casaria por amor, é claro."

"Claro." Não pude deixar de corar. Eu esperava casar-me por amor


algum dia, também. "Você se importa muito com ele." Eu dei uma mordida de
torta, os sabores doces e salgados estourando em minha língua. Eu tentei não
deixar meus olhos rolarem para a parte de trás da minha cabeça.

Ela assentiu com a cabeça. "Eu tenho trabalhado aqui desde que Gray
caiu fora..." ela parecia ter capturado a si mesma, "isto é, desde que Gray veio
morar aqui."

Eu queria me intrometer e perguntar o que ela quis dizer com "caiu fora",
mas não o fiz. Esta era a primeira vez que eu estava tendo uma conversa
com a mulher. Não queria parecer uma intrometida.

"Mas, é claro", continuou ela, "Eu entendo porque a sua oferta


parece atraente para Grayson. Ele," ela balançou a cabeça de
novo, parecendo muito triste, "não vai parar por nada até trazer
esta vinha de volta ao que foi uma vez."
"É o seu legado de família", eu disse. "Eu não posso culpá-lo."

Ela assentiu com a cabeça, seus olhos encontrando os meus


novamente, seus pensamentos parecendo retornar de algum lugar distante. "E
quanto a você? Será que não existem outras opções melhores do que esta?"

"Esta parece ser a minha melhor opção no momento," eu disse


calmamente, por alguma razão sentindo vergonha em frente a esta mulher de
rosto doce, mais velha e com sotaque inglês cadenciado e olhos bondosos.

"Será que Gray não lhe contou sobre a minha situação?"

"Ele deu-me um resumo." Ela me olhou por um momento, seu olhar


avaliador. "Tudo o que posso dizer é que esta situação pode ter ramificações
maiores do que você está pensando. Eu imploro que você pense bem antes de
fazer algo que não poderá desfazer."

"Eu entendo o que está dizendo, Charlotte, e eu aprecio o conselho,


mas -"

"Você já tomou a sua decisão."

"Sim, é isso. Eu espero que você possa tentar entender."

"Bem", ela disse, "então é isso." Olhei para o pedaço de torta no meu
prato, a sua maior parte comido, não sabendo por que importava para mim que
eu estivesse decepcionando esta mulher. Ela continuou antes que eu pudesse
dizer qualquer coisa. "E talvez você va ser boa para ele. Eu admito que não vi
nenhum fogo em seus olhos por... bem, por muito tempo."

"Hmm..." Eu cantarolava, tomando outro gole de café, sem saber se


isso era uma coisa boa ou ruim.

Isso provavelmente indicava que já trouxemos o pior um no


outro, e só nos conhecíamos por algumas horas. Eu terminei as
duas últimas mordidas de minha torta.
"Oh hey, Charlotte, posso incomodá-la por alguma roupa de cama? Eu
preciso de alguns cobertores e um travesseiro para levar ao barracão do
jardineiro, onde vou ficar." Charlotte olhou-me fixamente.

"Barracão do jardineiro? Isso só foi usado para armazenamento, durante


décadas. Você não pode ficar lá. Certamente Gray só estava brincando quando
colocou-a lá".

"Talvez", eu tomei o último gole de meu café, "mas, eu gosto. E é um


espaço só meu. Não vou incomodar alguém dessa maneira."

"Eu não posso tolerar isso", disse Charlotte, balançando a cabeça. "Eu
não gosto da ideia de você e Gray se casarem, mas não verei você morando
em um sujo barraco, moradia de aranhas."

Eu ri. "Lembra quando eu mencionei a África? Eu vivi lá por um ano. Eu


acabei de voltar, há menos de uma semana, na verdade. As aranhas aqui
seriam envergonhadas pelos insetos de lá. Eu posso lidar com um par de
pernas longas, ou dois. E uma cama e alguns lençóis limpos é um passo acima
do tapete no chão de terra que eu me acostumei a dormir lá."

"E por que você estava na África?"

Escondendo. Escapando. Sendo banida. "Para ajudar um amigo a


construir um hospital de qualidade." Eu sorri, o primeiro sorriso que senti
realmente verdadeiro desde que voltei para San Francisco. "Isso vai ajudar
tantas mulheres e crianças. Vou lhe contar tudo sobre ele em algum momento."

Charlotte acariciou minha mão, aquele olhar desconfiado dela


parecendo ter recusado vários encaixes. "Eu gostaria disso."
Uma hora mais tarde eu tinha varrido o quarto da casa com a vassoura
que Charlotte tinha me dado, e cuidadosamente limpei o estrado de metal da
cama e coloquei o colchão que Walter trouxe.

Quando Charlotte trouxe os cobertores, ela olhou em volta, horrorizada,


pedindo-me novamente para voltar com ela e, em seguida, foi embora tão
rapidamente quanto possível.

Eu enfrentaria o banheiro de manhã. Eu usei a água gelada da torneira


para lavar meu rosto e escovar meus dentes. Olhei por trás da cortina de mofo
sobre o chuveiro e me arrepiei quando vi as luminárias enferrujadas, o piso
coberto de sujeira e as teias de aranha grossas cobrindo o teto. Blech2.

Sendo final do verão, as noites estavam ficando apenas um pouco mais


frias, mas eu abri as janelas escancaradas de qualquer maneira. A brisa fresca
que soprava para dentro trazia o aroma muito fraco das rosas e das glicínias
que cobriam a casa de campo, dissipando o cheiro de pó e óleo.

Embora não houvesse muito a olhar, a cama era confortável, e eu subi


debaixo das cobertas com meu telefone, enviando um texto rápido para
Kimberly. Eu não a tinha preenchido completamente sobre o que estava
acontecendo, mas eu queria esperar até depois que tívessemos nos reunido
com o Sr. Hartmann, o executor da herança que vovó tinha me deixado.

Eu contaria isso uma vez que tudo fosse oficial, e não antes. Ela iria
tentar me convencer do contrário, e Kimberly era persuasiva. Provavelmente,
ela me faria duvidar de tudo com o que eu já havia chegado a um acordo.

E eu não podia permitir isso. Literalmente.

Eu tinha quatro mensagens. Respirei fundo, e me lancei sobre a


primeira de meu pai.

2
uma expressão como repugnante, nojento,horrível, buto...
Kira. Eu sei que você estava lá dentro quando eu estava batendo em
sua porta, e eu sei que você me ouviu. Eu enviei James para o seu
apartamento com uma chave, e ele disse que parecia que você tinha saído.
Ligue-me imediatamente e me diga o que você acha que você está fazendo.
Precisamos sentar com Cooper e certificar-nos que estamos todos na mesma
página. Droga, Kira, você sabia o suficiente para não desaparecer. Eu preciso
de você ao meu dispor. Nada mudou desde que você deixou o país? Eu
esperava... apenas me ligue.

Clique.

Lágrimas quentes encheram meus olhos. Eu preciso de você ao meu


dispor. Claro que sim, papai. Porque é isso que o que sou para você -
descartável. As próximas duas mensagens eram do número do meu pai
também. Eu apaguei-as sem ouvir. Felizmente eu pensei em desativar o
rastreamento do meu telefone, para que meu pai não pudesse me encontrar -
que foi como ele soube que eu estava no meu apartamento embalando minhas
coisas - a menos que tivesse espiões no prédio relatando para ele, o que era
bastante provável, também.

A mensagem final foi de Cooper. Eu apertei o play provisoriamente,


mordendo meu lábio até que provei sangue. Eu forcei meu corpo a relaxar.

Hey, Kira <pausa> Droga, eu esperava que tivesse algo a dizer uma vez
que ouvi o bip. <suspiro> Seu pai me disse que você estava de volta. Kira,
nós precisamos conversar. Nós precisamos... ouça, eu espero que você
responda a minha chamada. Você nunca respondeu a nenhuma das
minhas cartas, mas por favor, me ligue. Eu senti muito a sua falta.
Clique.

Saudades de mim? Você é um bastardo. Lágrimas derramaram em


minha face, e eu virei meu rosto em meu travesseiro, lembrando daquele dia
terrível, a traição de roubo de alma, o choque, a humilhação, e, finalmente,
apenas dor.

Eventualmente caí em um sono agitado, a acordei só uma vez quando


ouvi um veículo sobre o cascalho da calçada do lado de fora da janela aberta
do meu chalé. Virei grogue e abri meus olhos, mas havia muita folhagem fora
da janela para ver mais além do caminho. Ouvi passos como de uma pessoa,
que eu supus ser Grayson, saindo de seu caminhão e caminhando diretamente
para sua casa. Minhas pálpebras pesadas se fecharam, e voltei a dormir em
segundos.

O sol da manhã brilhava através da janela aberta, espalhando luz limão


e fazendo meus sonhos se desvanecerem como névoa. Sentei-me e estiquei-
me. Depois de lavar-me rapidamente em água gelada da pia do banheiro e atar
meu cabelo em cima da minha cabeça, vesti um short jeans e um top azul-
marinho. Eu teria que enfrentar o chuveiro hoje, e me limpar antes de nosso
encontro esta tarde.

O cascalho rangia sob meus pés quando eu caminhei para a casa


principal e bati à porta. Walter respondeu com o mesmo olhar distante no
rosto, que ele parecia favorecer.

"Sr. Hawthorn está na cozinha tomando o café da manhã",


disse ele formalmente.
"Obrigada, Walter." Eu sorri e me dirigi à cozinha.

Grayson estava sentado no mesmo local que estava sentado no jantar,


uma revista de vinhos de algum tipo em sua frente. Eu tomei o assento que
tinha ocupado na noite anterior também - no extremo oposto.

"Bom Dia!" Charlotte cantarolou.

"Dia", eu disse, acenando para Grayson.

Havia pratos de ovos, bacon, torradas e batata, então eu carreguei o


prato em minha frente.

Depois de várias mordidas, eu olhei para cima para ver Grayson me


observando comer. Quando eu peguei seu olhar, ele parecia
momentaneamente surpreendido e desviou o olhar. "Eu tenho um monte de
trabalho para fazer hoje. Quais são seus planos?" ele perguntou.

Eu terminei de mastigar a torrada que tinha acabado de morder antes de


responder. "Eu vou fazer um pouco mais de limpeza na casa de campo
primeiro, e depois pensei que poderia dar um passeio em torno de sua
propriedade, se você não tiver nenhuma objeção."

Ele congelou. "O chalé? Você não pode realmente ficar lá. Isso foi uma
piada, Kira."

Eu dei de ombros. "Eu não me importo. Seria um lugar meu próprio -


longe de você... fora de seu cabelo, eu deveria dizer. Vai ser como se eu não
estivesse mesmo aqui." Eu ofereci-lhe um grande sorriso, que ele não
devolveu.

Grayson me olhou por um segundo, mas depois casualmente pegou a


revista. "Faça como quiser."
Poucos minutos depois, Grayson se desculpou - parecendo apenas um
pouco menos frio - e saiu para trabalhar, afirmando que iria me encontrar em
frente da casa às três horas. Eu terminei o meu café da manhã e ofereci ajuda
a Charlotte para limpar, mas quando ela se recusou, eu pedi emprestado algum
mateial de limpeza e voltei à minha casa totalmente armada.

Passei as próximas quatro horas limpando décadas de poeira e sujeira


do banheiro pequeno – a maioria provavelmente uma relíquia dos anos
setenta. Esfreguei janelas, pisos e até mesmo as paredes do quarto.

Não havia muito o que fazer sobre a sala da frente, dado que estava
repleta de equipamento de jardinagem, então eu simplesmente criei um
caminho através da confusão e limpei o pior das teias de aranha. Eu poderia
fechar a porta deste espaço e simplesmente viver nos dois quartos limpos.

Eu só fiz uma pausa para caminhar até a casa e comer um almoço


rápido, que Charlotte tinha dito que estaria esperando por mim.

Quando eu tinha acabado com a casa de campo, cada músculo do meu


corpo doía, mas eu me sentia realizada quando olhei em torno das novas salas
nos trinques. Minha casa para os próximos dois meses. Estava longe de ser
elegante, embora luxo nunca me trouxe a verdadeira felicidade, de qualquer
maneira. Não, eu gostei este lugar, pois isso era o meu próprio espaço. E foi
onde eu tinha aterrado... onde o caminho que eu escolhi tomar tinha me
levado.

Tinha sido um dia quente, mas a casa era completamente sombreada


por árvores, e a temperatura tinha caído agora que era fim da tarde. Eu gritei
quando pisei sob a água gelada do chuveiro, e dancei no lugar com
desconforto enquanto rapidamente lavei meu cabelo e corpo com os
produtos de higiene pessoal que eu trouxe comigo. Eu tinha
esquecido de pedir toalhas a Charlotte - talvez eu comprasse
uma para ter a minha própria - então me sequei com
uma camiseta e vesti roupas limpas. Felizmente o secador de cabelos me
aqueceu quando eu usei-o para secar meu cabelo. Sem me incomodar em
prender meu cabelo longo, eu o deixei pendurado pelas minhas costas.

Lá fora o céu era de um azul bebê pacífico com uma dispersão de


nuvens brancas, transparentes. Eu fiquei de pé, admirando as colinas de
vinhas novamente. Eu não sabia muito sobre o processo de vinificação, mas eu
esperava aprender. Não que eu estaria por aqui muito tempo, mas seria
interessante para mim, em geral, - uma antiquíssima prática de manter a
tradição. Eu passeei atrás da casa, ou seja, apenas para obter um olhar de
perto do labirinto. Quando eu estava em pé na frente da enorme estrutura
natural, vi que a entrada não era fechada de qualquer maneira, então
aventurei-me para dentro, caminhando cautelosamente, apenas com a
intenção de virar uma esquina ou duas. Estava terrivelmente coberto, as vias
muito mais estreitas do que deveriam ser, o chão desigual com ervas daninhas
e grama, mas era magnífico. E era pelo menos quinze graus mais frio aqui.

Se eu pudesse ter certeza de que poderia encontrar meu caminho, eu


iria passear por ele sem parar. Eu me perguntava se havia qualquer coisa no
centro. Por que Grayson queria arrancar algo tão especial? Era uma farsa. Eu
esperava que ele mudasse de idéia uma vez que tivesse fundos para mantê-lo.

Virando-me antes de tornar-me irremediavelmente perdida, comecei a


descer a colina em direção a uma grande estrutura de pedra que eu assumi ser
onde o vinho era feito e armazenado. Havia vários tratores e caminhões
estacionados em frente, e eu podia ouvir os equipamentos operando dentro.

Quando cheguei mais perto, percebi um homem jovem ao lado de um


trator perto do edifício, um par de coxas musculosas no chão sob ele. Um
dos homens saudou-me e eu acenei de volta. O homem debaixo
do trator deslizou para fora e se levantou. Grayson. Meu
coração parou. Ele estava sem camisa. Ele veio em
sua altura e esperou por mim na curta distância a pé com eles. Eu já tinha
percebido que ele era poderosamente construído em perfeitas proporções
masculinas, mas a visão de seus ombros largos, seu peito ondulando músculos
e seu estômago plano fizeram meu fôlego pulsar, e minhas bochechas
ruborizaram. Deus, ele era lindo em todos os lugares, amplo, mas magro, sua
pele macia, bronzeada, brilhando sob o sol. Ele era um estudo em
masculinidade, e eu não poderia ajudar-me da forma como meu corpo
instintivamente respondeu, os músculos do meu estômago invertendo e
apertando. Dragão maldito.

Grayson tirou o boné de beisebol que ele estava usando, alisou o cabelo
para trás, e, em seguida, substituiu-o, dessa forma como os homens fazem. Eu
fiz um esforço para livrar-me de seu efeito e sorri brilhantemente. Ele
apresentou os dois homens com ele: um era latino-americano com um pequeno
bigode e não muito mais alto do que eu, chamado José, e um gigante de um
homem com um sorriso tímido chamado Virgil. Cumprimentei-os e acenei para
Grayson, que acenou de volta.

"Trator quebrado?" Perguntei.

"Não", respondeu Grayson. "Mas é uma das únicas coisas que não está.
Eu estava apenas verificando, garantindo que esteja pronto para a colheita."

"Bem, você faz de tudo, não é?" Eu sorri. "Não é de admirar que você
trabalha do nascer ao por do sol."

"Precisa-se. Como você pode ver, minha equipe é bastante limitada."


Ele balançou a cabeça para José e Virgil.

O homem chamado Virgil, que eu suspeitava ser mentalmente atrasado,


avançou. "Estou muito feliz em conhecê-la, minha senhora. Sr.
Grayson diz que ele pode se casar com você, e eu acho que está
muito bem. Ele diz não consegue descobrir se você é uma
princesa mimada ou uma pequena bruxa, mas acho que se você é uma bruxa,
é do bom tipo, porque você é bonita." Ele corou e olhou para baixo. Em suas
palavras, eu arrepiei, e sorri firmemente para Grayson, que teve a graça de
parecer um pouco envergonhado. José tossiu ligeiramente, obviamente
tentando segurar uma risada.

"É assim? O que mais o Sr. Grayson disse, Virgil?"

Grayson riu com força. "Bem, eu acho que isso é conversa fiada
suficiente", disse ele. "Devemos estar -"

"Ele diz que a razão pela qual ele gosta de você é porque você tem um
monte de dinheiro", Virgil continuou abestalhado. "Eu vou ter um monte de
dinheiro um dia, para que as pessoas gostem de mim, também." Sua testa
enrugou em pensamento. "Claro, minha mãe diz que não é o que uma pessoa
tem, mas como ele trata os outros, então eu não sei..." Ele coçou a nuca,
parecendo confuso.

José balançou sobre seus calcanhares, com um sorriso tranquilo de


diversão em seu rosto. Ele estava gostando disso.

"Bem, Virgil, se eu fosse você, ouviria mais sua mãe do que o Sr.
Grayson." Eu dei a Grayson olhar sujo. O que ele estava pensando, batendo o
queixo na frente deste homem inocente? Além disso, ele deixaria mais pessoas
em nosso negócio. Ele não tinha ouvido uma palavra que eu disse sobre o meu
pai?

Minha consternação não tinha nada a ver com o que ele disse sobre
mim. Nenhuma mesmo. Eram informações que eu já sabia, de qualquer
maneira. Ele não tem que gostar de mim. E ele poderia pensar que eu era uma
bruxa, se ele gostava. O que me importa a consideração de um
dragão?
Grayson tomou a camiseta que tinha estado pendurada do bolso de trás,
tirou o boné e puxou a camisa sobre a cabeça. Soltei um silencioso suspiro de
alívio. Répteis nus me perturbavam.

"Senhores", disse Grayson, acenando para José e Virgil. "Vejo vocês


pela manhã."

Ele me levou pelo meu cotovelo para longe, e eu sorri e acenei para os
dois homens nos observando.

Então eu olhei desinteressadamente em Grayson. Eu não deixaria que


me importasse a sua avaliação do meu caráter. Eu precisava dele para uma
coisa, e apenas uma coisa. Grayson riu. "Vamos, eu vou levá-la de volta para
casa. Então vamos descobrir se vamos nos casar ou não."
Capítulo Seis
Grayson

Eu olhei para a mulher sentada ao meu lado. A mulher que seria minha
esposa em questão de dias. Minha esposa. Eu balancei a cabeça sutilmente,
dificilmente capaz de acreditar no curso dos acontecimentos que
transpareceram nas últimas vinte e quatro horas. O casamento era nada mais
do que um negócio, mas mesmo assim mantinha-se o fato, falso ou não, de
que eu ia ter uma esposa. Quando eu era jovem sempre presumi que gostaria
de casar algum dia - inferno, eu até pensei que sabia exatamente quem seria
essa mulher. Eu tinha um profundo desejo de criar minha própria família - o tipo
de vida que eu sempre desejava, mas nunca tive.

E, em seguida, Vanessa... e bem... basta dizer que a vida é cheia de


surpresas. E nem todas são boas.

Ela mudou em seu assento, mordendo o lábio. "Você acha que é sábio
contar a seus trabalhadores que o nosso casamento é algo diferente de
legítimo?", ela soprou fora. "Eu disse a você sobre o meu pai, e quanto menos
pessoas souberem-"

"Eu confio em José como um irmão," eu interrompi, puxando para um


espaço de estacionamento e desligando a ignição. Eu não poderia ajudar o
riso não-bem-humorado que subiu na minha garganta em minhas próprias
palavras. Nem todos irmãos são confiáveis; quem sabia disso melhor do que
eu?
"José pode ser confiável," eu emendei. "Quanto a Virgil, eu duvido que
alguém escute muito cuidadosamente a sua conversa, de qualquer maneira."

Kira me lançou um olhar que era um cruzamento entre desdém e


nervosismo quando abriu a porta. Eu abri a porta e pulei para fora. "Ele parece
ser um juiz sábio de caráter", disse ela quando nós encontramos na calçada.

"Claro, da mesma forma como são os cães e as crianças. Em todo caso,


eu não iria me preocupar com o que qualquer um deles sabe." Alguém estava
se aproximando na calçada. Entrei em seu espaço, e ela andou para trás até
que foi pressionada contra minha caminhonete, um olhar de pânico em seu
rosto. Eu sorri quando pressionei meu corpo no dela.

"O que você está fazendo?" ela sussurrou.

"Convencendo o público em geral que nossa relação é muito legítima",


eu disse, perto de seu ouvido. Deus, ela cheirava bem. Não apenas bom -
incrível. O cheiro dela era fraco, como flores distantes numa brisa. Eu não
sabia como ela cheirava até que meu nariz foi até ela. Eu esfreguei minha cara
no lado de seu pescoço, inalando profundamente e sentindo o calor de sua
pele contra a minha própria. Ela sentia-se rígida como um ramo de árvore. Eu
me afastei. Jesus, apesar do fato de que só se passaram um par de dias desde
que eu tinha ido com sabor de fruta Jade, eu precisava de uma mulher. "Você
vai ter que fazer um trabalho melhor se espera convencer alguém que eu vou
casar com você, e não molesta-la." Eu me virei e comecei a andar.

Depois de um segundo, ela me alcançou. Quando olhei em sua direção,


eu ri com o conjunto rígido de seu ombros e da forma que seu queixo foi
empurrado no ar. Por que eu gosto tanto de implicar com ela?

Durante a reunião com o Sr. Hartmann, o executor de


confiança da avó de Kira, ele passou por cima dos termos com
nós dois. Era simples, disse ele. O pagamento poderia
ocorrer imediatamente, uma vez nós que trouxermos uma cópia da nossa
certidão de casamento oficialmente arquivada. Kira e eu sentamos ao lado um
do outro, de mãos dadas como um par de pombinhos, o calor de sua pele
queimando na minha. Sr. Hartmann parecia encantado quando olhou entre nós
dois.

"Sua avó era uma bela mulher, Kira. Ela ficaria tão contente de ver você
apaixonada."

O estremecimento foi ligeiro e Kira cobriu-o imediatamente com um


sorriso. "Obrigada. Ela teria amado Grayson. Eu sei disso."

"Eu não duvido. E, claro, ela ficaria tão contente que você estava
planejando fazer a sua vida aqui. Ela amava esta cidade."

"Sim, ela amava", disse Kira, sorrindo um sorriso gentil. Claramente ela
amava muito sua avó. Culpa enrolou no meu intestino, mas eu ignorei o melhor
que pude. Esta foi a escolha de Kira. Eu não tinha mesmo conhecido sua avó.
Eu não tinha nenhuma lealdade a ela ou a seu dinheiro.

"Você sabe," Sr. Hartmann continuou, "sua avó acreditava que a idade e
a maturidade não tornam uma pessoa mais consciente das necessidades dos
outros, ou pelo menos um outro, como o casamento certamente faria. É por
isso que ela colocou as condições sobre o dinheiro de herança. Ela queria que
ele fosse usado bem, e idealmente em parceria com alguém com quem você
escolhesse compartilhar sua vida.” Ele piscou para Kira. "Eu estou tão feliz que
é o seu caso."

Kira parecia vagamente doente quando sorriu e acenou para ele.

"Eu não vi o seu pai em algum tempo. Como ele está?" ele perguntou.

Kira visivelmente engoliu. "Ele está bem, Sr. Hartmann."


Ela fez uma pausa. "Eu não contei a ele sobre Grayson ainda."
Ela me deu um sorriso apertado. "Se você não se
importar de não mencionar isso até que eu tivesse a chance de dizer-lhe eu..."

Sr. Hartmann franziu a testa, mas respondeu: "Claro."

Concluída a consulta, nós nos sentamos em meu caminhão e eu liguei


para o advogado da cidade que manipulou os assuntos de meu pai durante
anos. Eu pensei que ele poderia me ver rapidamente, e eu estava certo. Fomos
capazes de marcar uma consulta para o dia seguinte. Minha cabeça começou
a girar. Isso estava acontecendo muito rápido. Mas isso é o que eu queria.
Novamente, quanto mais rápido este casamento começasse, mais rápido Kira
iria embora.

"Se o Sr. Kohler puder elaborar o acordo dentro de uma semana,


poderíamos nos casar na próxima sexta-feira," eu disse, olhando para Kira
enquanto dirigia de volta para a vinha.

Ela assentiu com a cabeça. "Eu concordo com isso", disse ela
calmamente.

"Eu vou fazer a consulta em seguida. Vamos precisar de uma para a


licença e, então, outra para a cerimônia real. Eu olhei no site."

"Oh. Está bem." Ela puxou a saia para baixo modestamente, e meus
olhos deslizaram para suas pernas nuas. Ela tinha pernas grandes. Elegantes
e finas. O tipo de pernas que um homem queria envolvidas em torno dele –

Eu apertei minha mandíbula, desligando esses pensamentos


imediatamente. Quando notei o silêncio dela, eu disse, "Não está com medo,
não é?"

"Não! Não. Isso é tudo de bom. Rápido, mas bom."

"Quanto mais cedo fizermos isso, mais rapidamente poderemos


acabar com isso, também," eu disse, expressando o pensamento
que tive mais uma vez.
"Sim. Verdade." Ela me deu um pequeno sorriso, não mostrando todos
os dentes. Eu ainda não tinha visto aquela sua covinha em pessoa. Talvez eu
tenha imaginado isso na tela do meu computador.

Olhei para ela quando ela tomou seu longo cabelo em suas mãos e
usou um elástico de sua bolsa para colocá-lo em um nó. Fios escorregaram ao
redor do rosto, onde sempre pareciam estar quando seu cabelo estava para
cima; era aparentemente muito sedoso para ficar parado por muito tempo. Eu
me perguntava como me sentiria com seu cabelo enrolado no meu punho.

Caramba! Desligue esses pensamentos.

Ela era um enigma. Uma princesa bonita com o temperamento de uma


pequena bruxa ardente. Eu gostava de fazer aqueles olhos de cristal verde
piscarem com calor. Fiquei imaginando como ela seria na cama. Um pouco
sedutora, quente e... Que droga. Eu cerrei os dentes, frustrado com meus
pensamentos, e desacelerei em frente ao chalé do jardineiro. Ela me
surpreendeu fazendo a opção de ficar naquela pequena cabana suja. Com
apenas água fria. Certamente ela não usou o chuveiro, mas de alguma forma
parecia fresca e limpa. Eu me encolhi. Isto realmente não era nada habitável.
Por que ela queria passar cinco minutos lá, muito menos habitar, estava além
de mim. Eu tinha vivido em uma pequena cela de concreto por cinco anos, e
mesmo eu não tinha qualquer desejo de viver lá. Claro, talvez fosse
precisamente por isso. Eu não podia suportar pequenos espaços por muito
tempo. Muitas noites eu tinha acordado em um suor frio dos pesadelos do meu
tempo lá dentro. Eu nunca tinha falado com ninguém sobre a minha
experiência, e eu duvidava que eu jamais faria. Por um momento muito
breve, os sentimentos de solidão e tristeza, meus companheiros constantes
durante esses cinco anos, me agrediram, e eu me sentia pesado
com o peso das minhas próprias falhas. Eu fechei os olhos e
empurrei as memórias fora, desviando meus
pensamentos de volta para Kira Dallaire e o fato de que ela estava vivendo no
galpão de meu jardineiro. Aparentemente eu a tinha julgado mal, pelo menos
em alguma pequena medida. Eu me perguntava quais outros segredos eu
descobriria sobre ela se eu procurasse bastante duro.

O que eu não fiz. Não, no mínimo.

Quando cheguei a uma parada completa, ela pulou para fora da minha
caminhonete e estava na porta aberta num momento. "Eu estarei pronta para o
nosso compromisso de amanhã, e depois vou de carro para San Francisco
para cuidar de algumas coisas. Eu ficarei fora o fim de semana."

Eu balancei a cabeça. Isso me serviu muito bem. E eu percebi que ela


precisava tomar banho em algum momento. Quanto menos eu tinha que vê-la
antes do nosso casamento, melhor. Pelo menos assim eu não teria que pensar
sobre a realidade dele.

"Ok, me encontre em frente às onze."

Ela assentiu com a cabeça e fechou a porta, voltando-se e caminhando


através da folhagem. Eu sentei lá por um minuto, guerreando comigo mesmo.
Realmente não era certo deixá-la ficar lá. Cristo, que se dane. Ela tinha feito a
sua escolha.

Talvez uma dose de vida difícil seria bom para a princesa. Ou eram as
bruxas que preferiam pequenas casas na floresta? Não pude deixar de rir para
mim mesmo quando me afastei.
O encontro com o Sr. Kohler correu bem e rapidamente. Nós não
estávamos concordando com um acordo que "deveria" ter um divórcio, e que
afirmava que deixaríamos o casamento apenas com o que nós tínhamos
chegado. O contrato foi extremamente simples, e marcamos compromisso para
quinta-feira para entrar e assinar a papelada. E com isso, estávamos com a fita
vermelha envolvida em nossa união. Marquei uma reunião no escritório do
funcionário para a manhã seguinte: sexta-feira, dez da manhã. A única coisa a
fazer era aparecer. Meu estômago estava um pouco enjoado. E se a aparência
verde de Kira era alguma indicação, o dela estava também.

Eu deixei Kira em sua cabana e disse que a veria na segunda-feira. Ela


não olhou para trás quando foi embora. Tão tranquila como ela tinha sido
depois de nosso encontro, eu meio que me pergunava se ela voltaria em tudo.

Talvez seria melhor se ela não o fizesse. Mas eu não acreditava nisso.
Pela primeira vez em um ano, eu senti uma ansiosa antecipação para o futuro.
Naquela manhã eu abri a lista que Walter tinha feito de equipamentos que
necessitavam de reparação ou substituição, e senti uma vibração no meu
estômago. Logo eu seria capaz de eliminar os itens, um por um. A tensão tinha
lançado em meus ombros e eu finalmente permiti que esperança fluísse com
máxima explosão através do meu sistema. O poder dela tinha deixado o meu
coração batendo descontroladamente. Quando foi a última vez que eu senti
essa sensação? Eu não conseguia lembrar. "Eu não vou te decepcionar", eu
jurei pela centésima vez, abordando meu pai. "Eu vou fazer você se sentir
orgulhoso de mim, eu juro." Eu tinha que acreditar que, de alguma forma, ele
saberia. Era o que me mantinha.

Passei o fim de semana trabalhando com vigor renovado. Não seria


um monte de trabalho feito, apesar dos fundos recebidos. E eu
ainda tinha uma equipe escassa. Eu teria que contratar mais
algumas pessoas uma vez que tivesse o cheque em
minhas mãos, mas pelo menos sabia que ajuda estaria chegando muito em
breve.

Quando cheguei em casa domingo à noite, lembrei-me da garrafa de


Vosne-Romanée que eu tinha pedido a Walter para trazer da adega principal.
Dores de culpa e desespero tinham-me aleijado quando eu tinha considerado
vender o orgulho e a alegria do meu pai – sua coleção rara de vinho - para
trazer alguma renda muito necessária para a vinha. O pensamento sozinho
pareceu como uma traição. Estou tentando. Estou tentando tão difícil salvar
tudo o que era precioso para você. O alívio por não ter que passar pela venda
foi esmagador. Sucesso - outra coisa que eu não sentia há anos, se
estabeleceu no meu coração.

Quando eu vi Walter, eu instrui-o a colocar a garrafa de volta na adega


inferior, onde ela era originalmente mantida.

"Sim, senhor. Eu vou fazer isso esta semana."

"Obrigado."

"E eu posso oferecer minhas felicitações mais sinceras pelo seu...


casamento, senhor?" A palavra "casamento" foi oferecida com o desdém mais
frio que eu já tinha ouvido falar de Walter. O que estava dizendo algo.

"Não, Walter, você não pode."

Os lábios de Walter ergueram. "Muito bem, senhor. Eu desejo-lhe o


melhor, no entanto. Minha mãe costumava dizer que o casamento é muito
parecido com o vinho. Ambos amadurecem lentamente, e crescem mais
profundo e mais complexo com o tempo."

Virei-me para Walter. "Walter, acho que você sabe tão bem quanto
eu que ao meu casamento não será permitido amadurecer. É
temporário, apenas para fins comerciais."
"Como você diz, senhor."

Parei, franzindo a testa para ele.

"Eu digo."

"Muito bem, senhor."

Fiz uma careta para ele e parti para as escadas antes que ficasse
excessivamente irritado com o homem. Ele tinha um jeito de me fazer sentir
como se eu tivesse doze anos novamente. E ele tinha um jeito de me
questionar com seu insolente, "Sim, senhor, não senhor." Eu o demitiria um dia
destes. Sem indenização.

Eu jantei sozinho, perguntando-me quando Kira voltaria. Eu não tinha


perguntado nada sobre sua viagem.

Eu não queria abrir um precedente onde perguntaríamos sobre o


paradeiro ou ações um do outro. Eu certamente não a queria pensando que
poderia fazer isso comigo, e eu não tinha vontade de fazê-lo com ela. Ainda... e
se ela mudou de idéia... Eu prefiro saber agora do que ter que esperar por ela
para me ligar em algum momento desta semana após não ter aparecido.

Relutantemente, peguei meu telefone e usei o número de celular que só


tinha usado uma vez, quando tinha visitado-a em seu quarto de hotel. Eu debati
sobre o que dizer no meu texto. Eu não queria deixá-la com a impressão que
eu estava checando-a.

Eu: Devo pedir a Charlotte para manter um prato aquecido para


você?

Poucos minutos depois, meu telefone tocou.


Kira: Isso é atencioso, mas, não, obrigada.

Eu fiz uma carranca. Ela estava cheia?

Eu: Eu vou ter Charlotte definindo um lugar no café da manhã para


você, então.

Kira: Não, isso não será necessário também. Obrigada.

Rosnei para o telefone, perfurando as pequenas letras no teclado.

Eu: Maldição Kira, você vai voltar ou não?

Vários minutos se passaram, um pânico estranho subindo na minha


garganta.

Kira: Sim, eu estarei de volta amanhã à tarde. Saudades de mim?

Eu exalei.

Eu: Não. Boa noite.

Bruxinha!
Capítulo Sete
Kira

Hawthorn Vineyard estava impregnado com um tom mesclado do sol da


tarde enquanto eu dirigia pelos portões um pouco depois das quatro horas. Eu
passei o fim de semana com Kimberly, preenchendo-lhe com tudo que tinha
ocorrido com Grayson Hawthorn desde que eu tinha falado com ela. No início
ela se recusou a falar comigo, e então discursou e se enfureceu por quinze
minutos – com frequentes acessos de espanhol - enquanto eu sentei-me diante
dela no sofá com os meus braços cruzados como uma criança que estava
sendo disciplinada. Ela tinha trazido pelo menos vinte exemplos de minhas
Muito Más Ideias que tinham terminado terrivelmente. Quando ela finalmente
se acalmou o suficiente para discutir o assunto comigo, embora, e quando ela
percebeu que eu não ia voltar atrás, ela tinha me abraçado e oferecido seu
apoio. Geralmente as coisas com Kimberly eram assim. Eu sabia o suficiente
para esperar para sair. E ela sabia o suficiente para saber que uma vez que eu
tinha cometido a uma Muito Má Ideia, era improvável que eu mudasse a minha
mente. Ainda assim, eu sabia que esse discurso me fez sentir como se ela
tivesse feito seu dever, então o levei na esportiva. Na sua essência, ela estava
cheia de amor. Eu tinha perdido tanto dela enquanto estava fora. Ela sempre
foi um bálsamo para a minha alma, aquela que me manteve sã.

Eu também fiz uma rápida visita ao centro de drop-in, onde passei


muitas horas. Eu garanti-lhes que tinha uma grande doação vindo
em sua direção, uma que lhes permitiria passar os próximos
seis meses, até que entrassem maiores subsídios.

Eu desejei poder ficar um pouco mais visitando as pessoas de lá,


pessoas que eu tinha aprendido a amar e que não tinha visto em muito tempo,
mas assegurei-lhes (e a mim) que eu estaria de volta muito em breve.

Estar longe de O Dragão por uns dias tinha me permitido colocar as


coisas em perspectiva. Eu estava dirigindo de volta com um sentido renovado
de fiador. Este plano ia funcionar. Tudo tinha caído no lugar e eu tinha a
tendência a pensar que, quando isso acontecia, você estava no caminho certo.
Em questão de dias estaríamos casados, teríamos o dinheiro da minha avó, e
eu ficaria no meu caminho de ser auto-suficiente. Eu poderia decidir o que
queria fazer com o resto da minha vida. Eu não estaria sob o controle de
ninguém. Eu iria, finalmente, ser livre.

Surpreendentemente, eu tinha sentido falta da minha casinha. Depois de


abrir as janelas e colocar minha mala na extremidade da cama, caí nela e sorri
para o vitrais e para o teto descascado, girando um pedaço do meu cabelo e
cantarolando em voz alta a canção que tinha tocado no rádio no meu carro há
poucos minutos.

Fora da janela eu ouvi o som distante de um veículo, provavelmente um


trator, e o barulho estridente das aves que enchiam as árvores. Eu gostaria de
encontrar um lugar igual a este em algum lugar de Napa Valley quando fosse
me mudar. Um lugar simples. Um lugar onde eu pudesse ser eu mesma. Um
lugar onde eu poderia encontrar a felicidade.

Suspirando, sentei-me, deslizei para fora das minhas roupas e


descompactei as toalhas novas e macias que eu tinha comprado em San
Francisco. Depois, fuçando na minha bagagem para os meus produtos
de higiene pessoal, virei-me para o chuveiro. Um homem estava
de pé na soleira da porta. Eu me assustei de forma tão
abrupta que os meus produtos de higiene pessoal
saíram voando das minhas mãos e eu gritei, um som penetrante, horrorizado.

"Hei, hei," disse Grayson, movendo-se em minha direção com as mãos


para cima em uma pose de "Eu me rendo" e destinada a me acalmar, eu
supunha. Seus olhos estavam arregalados de surpresa, e eu não pude deixar
de notar quando ele varreu meu corpo.

"Oh meu DEUS!" Eu gritei, percebendo que eu estava pelada como um


passarinho. Procurei desesperadamente por algo para esconder minha nudez,
agarrando a camisa em cima da minha mala aberta e tentando cobrir o máximo
de mim. Praticamente ao mesmo tempo Grayson girou e seguiu para fora.

Eu caí na cama, meu rosto quente e minhas pernas tremendo. "Você


não bate?" Eu gritei.

"Você não tem nada que eu não tenha visto antes", eu o ouvir dizer em
voz alta fora da minha janela aberta quando ele andou para longe da minha
casa.

Eu poderia ter rosnado.

Completamente humilhada, entrei no chuveiro, ainda resmungando com


raiva sobre rudes e desrespeitosos perseguidores. Nada que ele não tinha visto
antes. Ugh! Besta escamosa!

Depois de esfregar-me um pouco demasiado duramente - se minha pele


ardendo fosse qualquer indicação – vesti-me, coloquei meu cabelo em um
coque molhado e fui marchando até a casa principal.

Charlotte me cumprimentou gentilmente quando me encontrei com ela


na cozinha. "Grayson está próximo?" Eu perguntei, tentando manter a
fragilidade da minha voz.

"Ele -"

"Eu estou bem aqui", veio a voz atrás de mim.


Eu me virei, atirando-lhe punhais com meus olhos. "Posso falar com
você em particular?" Eu disse com falsa doçura.

Ele estreitou os olhos e não se mexeu, aparentemente ignorando o meu


pedido - ou apenas não se importando se Charlotte fosse nos ouvir. O que é
que isso importa? Ela já nos ouviu discutir antes. Cruzei os braços. "Você não
pode apenas espernear na habitação pessoal de alguém sem bater!", eu disse,
minhas palavras saindo em raiva exasperada.

"Eu bati", disse ele em tom aborrecido, me fazendo ferver ainda mais. "E
eu nunca esperneei na minha vida." Ele virou-se para Charlotte." Charlotte,
você já me viu espernear?"

"Não, é verdade", disse ela, franzindo a testa. "Você não é um homem


inclinado a espernear".

Eu gaguejava em frustração. "Espernear, empinar, intrometer!"

"Empinar?" Grayson perguntou, incrédulo. "Eu definitivamente nunca


empinei. Nunca. Charlotte?"

Charlotte balançou a cabeça. "Não, não empinou". Ela colocou um dedo


para cima, virando sua atenção para mim.

"Eu o vi pular uma vez. Mas ele ainda era apenas um rapazinho..."

Eu joguei meus braços no ar, irritada, tentando o meu melhor para


ignorar o Grayson zombeteiro e o apoio de Charlotte de sua zombaria, e
espetei o assunto em mãos. "Você não bateu! E se realmente o fez, eu não
concedi-lhe permissão para entrar. Eu não daria, visto que eu estava nua!"
Isso foi um leve rosado tingindo suas maçãs do rosto?

Charlotte tossiu. "Oh meu Deus," eu a ouvi respirar.


"Sim, bem, tudo aconteceu muito rápido. Eu mal vi nada. Eu já limpei a
visão da minha mente. Cruze meu coração3." Ele disse isso, como se tivesse
sido uma visão particularmente desagradável.

"Isso se você tiver um coração, o que é discutível." Eu cerrei os dentes.

Seus olhos se estreitaram. "Foi um acidente, Kira. Peço desculpas. Não


tenho nenhum interesse em vê-la nua, eu prometo. Isso não acontecerá de
novo." Ele esfregou um dedo debaixo de seu olho, como se alisando fora uma
contração muscular, seu tom entediado novamente.

Levantei-me, elevando meu queixo. Por que eu estava incomodada por


sua atitude por ter me visto nua?

O que eu queria? Que Grayson ficasse com sua língua pendurada de


sua boca em minha sensualidade de dar água na boca? Eu sabia que estava
longe de ser atraente e sensual. Cooper tinha me ensinado a lição. Cruzei os
braços sobre o peito, abraçando-me, sentindo o fogo queimar minha raiva. Eu
respirei fundo. "Bem, muito bem, o que você precisava, afinal?"

Grayson fez uma pausa, me estudando. "Eu vi o seu carro chegar. Eu só


estava indo dizer-lhe que nosso acordo pré-nupcial estará pronto na quarta-
feira. Eu mudei o nosso compromisso de casamento para quinta-feira." Ele fez
uma pausa. "Se estiver tudo bem com você."

"Oh, hum, sim. Tudo bem." Meu coração começou a bater mais rápido.
"Está bem." Eu me senti mal.

Ele olhou-me um pouco, mas não disse nada.

"Bem, então, é um plano", eu murmurei. "Eu estou indo até a cidade


para jantar hoje à noite. Eu te vejo amanhã ". Ele ficou olhando para mim
com desconfiança, sem dizer uma palavra. Eu me virei e sai
rapidamente da casa, praticamente correndo de volta para

3
NT: o mesmo que Juro por Deus.
minha casa quando fechei a porta atrás de mim.

Grayson e eu nos evitamos pelos próximos dois dias. Ou pelo menos eu


pensei que éramos nós dois. Eu sabia que estava dirigindo para longe dele, e
tinha certeza que ele estava fazendo o mesmo. Eu o vi algumas vezes
passando, mas fora isso, passava a maior parte do tempo sozinha. Eu dei
longas caminhadas em torno de Napa, incluindo a propriedade Hawthorn, li e
ajudei Charlotte com algumas refeições - refeições que Grayson não
compareceu.

Mas eu amei conversar com Charlotte. Ela era muito fácil de se


conviver, e tinha o mesmo tipo de espírito aberto que minha avó teve. Mesmo
que eu mal a conhecesse, era como se ela preenchesse o espaço vazio criado
quando vovó morreu – o de uma figura maternal.

O número de meu pai também tinha aparecido no meu telefone algumas


vezes, mas eu não respondi. Finalmente, porém, eu enviei-lhe um texto,
dizendo que eu estava dando um tempo para mim, e que o chamaria em breve.
Eu não quis receber a resposta.

Às onze de quarta-feira Grayson e eu nos encontramos fora da casa


principal, em seguida, dirigimos até a cidade para a consulta com o advogado
que ele tinha contratado. Nós tínhamos dispensado advogados separados
para economizar tempo e dinheiro. Nenhum de nós falou no caminho até lá.
Desde o incidente do nu tinha havido uma estranha tensão entre nós. Eu não
consegui descobrir se era raiva ou embaraço - talvez um pouco
de ambos?
Da minha parte podia definitivamente dizer que me senti zangada e
inábil. Mas porque ele deveria sentir raiva eu não tinha ideia. Mas ele sentia.
Talvez eu só não o conhecesse bem o suficiente para lê-lo. E, me lembrei, eu
nunca iria.

Estacionamos, e quando percebemos que chegamos um pouco mais


cedo eu perguntei se ele se importaria que eu fosse a uma pequena loja de
vinhos na mesma rua. Eu queria comprar uma coisinha para Charlotte, que tão
gentilmente saiu de seu caminho para me incluir na casa de Grayson - muito
além de seu papel como dona de casa apenas fazendo o seu trabalho. Eu
queria que ela soubesse que eu apreciei, especialmente sob as atuais
circunstâncias.

Uma vez dentro, Grayson começou a olhar as opções de vinho na


frente, e eu dirigi-me para a parte de trás da loja onde abridores de vinho e
outros itens de cozinha eram mantidos. Quando examinei algumas bandejas de
queijo em um dos corredores, ouvi uma mulher dizer num sussurro alto, "Você
viu Grayson Hawthorn na frente da loja? Deus, eu costumava ter a maior queda
por ele."

Eu endureci um pouco quando outra mulher riu. "Quem não? Vá falar


com ele. Quero dizer, você não pode levá-lo para acasa da mamãe agora, mas
para uma aventura de uma noite? Caramba, eu pagaria por essa experiência."

"Talvez o faça. Ele é tão quente." A outra mulher riu, e quando ouvi-as
caminhar em minha direção meu pulso disparou, e eu apressei-me na outra
direção, agarrando o braço de Grayson quando caminhei rapidamente em
direção à porta.

"Whoa", disse ele, mantendo o ritmo comigo.


"Eles não têm o que eu estava procurando", expliquei, nem mesmo
compreendendo exatamente porque me senti tão perturbada.

"O que você estava procurando?"

"Uh, uma bandeja de queijo, ou um carrinho do bolo ou algo assim, eu


não sei", eu acobertei.

"Eles tinham tudo lá atrás."

"Olha", eu disse, tomando uma respiração profunda e abrandando o


ritmo para uma caminhada normal. "Eu ouvi algumas mulheres discutindo
sobre você, e eu senti como se estivesse escutando." Fiz uma pausa. "É só...
só que foi estranho. E desconfortável."

Grayson olhou para mim, e quando eu virei minha cabeça ele levantou
uma sobrancelha. "Discutindo sobre mim?"

Acenei minha mão. "Tenho certeza de que você está ciente de que as
mulheres o acham... atraente, por alguma razão desconhecida." Dei de
ombros.

"Atraente?"

"Quente, derretedor de calcinha", eu elaborei.

Grayson parou e eu também, virando-me para encará-lo. O olhar em


seu rosto estava cheio de diversão. "Este tema me interessa. Eu gostaria de
parar e discuti-lo ainda mais."

Suspirei, virei e voltei a andar. Ele me alcançou, girando em torno, de


modo que ele estava andando para trás na minha frente, sua expressão
repugnantemente presunçosa. "Espere, você estava desconfortável porque...
você me acha... atraente, bruxinha?"

‘Você não tem nada que eu não tenha visto antes’.


"Não", eu disse, possivelmente um pouco mais acentuado do que o
pretendido. "Nem um pouco. Aqui estamos." Eu me mudei em torno dele e
entrei pela porta do escritório do advogado. A risada irritante de Grayson
seguiu-me para dentro.

Criatura alada escamosa.

A papelada era simples e fácil de entender. Eu ignorei Grayson


inteiramente enquanto nós assinamos, embora ainda me sentisse vagamente
irritada com sua provocação. Nós dois lemos a papelada com cuidado, embora,
e assinamos nossos nomes, levando uma cópia com a gente. E estava feito. A
única coisa que restava a fazer era casar. Casada. Com um dragão. Um
completamente desinteressante e chato dragão. Por dinheiro. Eu gemi
internamente. Este foi, de longe, o esquema mais louco que eu já tinha
inventado.

Contras: Maluco, ridículo, provavelmente vergonhoso... definitivamente


uma vergonha. Desrespeitoso com a santidade do casamento. Desrespeitoso
com a minha avó.

Eram um monte de contras. Mas... mas ia ter que funcionar. Eu estaria


livre de meu pai. Foco, Kira.

Concentre-se nisso. Era um pró incrivelmente significativo.

Eu tinha feito uma lista sobre O Dragão na noite anterior, depois que ele
veio para a cozinha para o jantar, tinha me visto sentada à mesa, e
prontamente informou a Charlotte que ele estaria comendo na cidade. Eu vinha
evitando-o, também, então por que isso me incomodou eu não tinha certeza.
A lista tinha sido feita de orgulho ferido, mas tinha ajudado.

"Nosso compromisso é para as duas e meia da tarde de


amanhã. São duas etapas: uma para obter a licença e outra
diretamente depois, para fazer o nó."
Eu balancei a cabeça vigorosamente, como se isso fosse tudo fino e
elegante. Casada! Amanhã. Duas e meia. Amarrando o nó! Isso parecia tão
casual. Como se nçao fosse grande coisa. Apenas um nó – que se amarrado
frouxamente o suficiente, poderia ser desatado tão facilmente. Eu tive um
desejo súbito de rir loucamente, talvez até chorar.

O humor de Grayson parecia muito diferente - mais moderado.

"Você vai dizer ao seu pai antes ou depois?" ele perguntou.

"Depois. Uma vez que tenhamos embolsado o cheque." Nervosismo me


agrediu com o simples pensamento de confrontar meu pai.

Eu vi Grayson acenar da minha visão periférica, mas não olhei para ele.
Ele parecia estar me estudando. "Se você... quiser desistir, eu -"

Eu balancei minha cabeça. Chegamos muito longe. "Não, eu não." Olhei


para ele. "Você?"

"Não."

Ele nos levou direto para casa, e eu o segui, com a intenção de obter
algo para comer. Na penumbra do hall de entrada tirei meus óculos de sol e
enfiei-os na minha sobrecarregada bolsa, empurrando-os para baixo onde eles
estariam menos propensos a cair.

"Eu vou encontrá-la aqui às duas horas amanhã, então," disse Grayson,
obviamente com a intenção de sair para trabalhar, fazendo tudo o que ele fazia
no edifício de pedra.

"Está bem", eu concordei, tentando parecer indiferente.

"Oh, aqui. Você deixou cair isso." Grayson se curvou e pegou um


pedaço de papel, e começou entregá-lo para mim. Eu vinquei minha
testa.
"Não acho que isso é -" E então eu percebi o que era, pela cor do papel.
Era a lista que eu tinha feito sobre Grayson. A que eu também tinha rabiscado
"Kira Hawthorn" várias vezes nas margens, testando minha nova assinatura.
Deve ter caído da minha bolsa. Senti o calor subindo na minha cara, e peguei o
papel dele. Grayson olhou-me com desconfiança, puxando o papel de volta.
"Não se atreva", eu respirei.

Ele olhou para o papel na mão e de volta para mim, obviamente mais
interessado agora que eu estava fazendo um negócio tão grande sobre isso.
Estúpido, Kira! Mas tinha acontecido tão rapidamente que eu não tive tempo
para mascarar minha reação.

"O que temos aqui?" Perguntou Grayson.

"É pessoal", eu disse. "Devolva."

"Pessoal? Estamos prestes a casar, querida", disse ele, suas palavras


cheias de sarcasmo. "Nós não devemos ter segredos entre nós."

"Muito engraçado. Deixe-me tê-lo."

Ele desdobrou metade quando eu me atirei. Ele levou-me


graciosamente, sorrindo quando eu soltei um grito e quase cai no chão. Virou-
se e caminhou rapidamente para a grande sala de estar à direita do vestíbulo.
"Acho que vou puxar uma cadeira de leitura e ver do que se trata tudo isso."

"Devolva!" Eu gritei, soando como uma criança petulante. Ele desdobrou


o restante enquanto eu corria atrás dele.

"O Dragão, AKA Grayson Hawthorn: Prós e contras", leu em voz alta.
Ele olhou por cima do ombro para mim, levantando uma sobrancelha escura,
e, em seguida, deu um passo atrás do grande sofá de couro e se virou
para mim. Tropecei no divã correspondente, quase caindo
novamente.
"Não", eu avisei, tentando colocar toda a minha ira merecida em que
uma palavra.

Ele inclinou a cabeça, obviamente lendo a minha assinatura rabiscada.


"Eu realmente prefiro que você mantenha o seu nome de solteira", disse ele.
Ai.

"Sim, bem, é claro." Meu rosto estava pulsando com o calor. "Dê-me
isto." Ele não o fez.

"Pró: Ele é um idiota, mas sua bunda é realmente fácil de olhar." Ele
baixou o papel e me olhou sobre ele. "Você gosta de minha bunda, bruxinha?
Você deveria ter me dito. Eu avisei para não desenvolver sentimentos por mim.
Mas eu suponho que está tudo bem admirar minha bunda se você, de fato, me
achar... atraente." Ele sorriu. "Você é apenas humana afinal de contas", disse
ele, coçando o queixo como se perdido no pensamento. "As bruxas são
humanas? Hmm..." Ele olhou de volta para o papel.

"Você..." Eu gaguejava, incapaz de pensar em como terminar essa


frase, agitando os braços em total desamparo, fervendo de raiva. Ele parecia
gostar de despertar deliberadamente minha raiva. Eu queria limpar o olhar
arrogante fora de suas feições estúpidas, bonitas.

"Contra: Ele é um dragão pomposo," Grayson leu com calma.

"Fato comprovado," Eu rosnei.

"Pró: Ele precisa de mim." Os olhos de Grayson se lançaram aos meus,


escurecendo.

"Correção - Eu preciso do seu dinheiro."

Bem, ele não iria consegui-lo agora! Ele tinha passado dos
limites. Eu nunca iria dar a este dragão uma maldita coisa. Eu
olhei ao redor freneticamente por algo para feri-lo, localizando
uma garrafa de vinho em cima do aparador ao lado
de uma porta que presumivelmente levava a uma adega. Corri até ela, agarrei-
a e fui para jogá-la nele.

"Não!" ele gritou, uma nota de pânico em sua voz que me parou no meu
trajeto.

"Kira", ele deixou cair a lista e colocou as mãos para cima em uma pose
de rendição, "essa garrafa de vinho é insubstituível." Ele inclinou-se lentamente
para oferecer minha lista e se aproximou devagar, segurando-a para mim.
"Acordo" disse ele, movendo-se cautelosamente em minha direção, como se
eu fosse um animal selvagem.

Eu olhei para a garrafa em minhas mãos. Algo francês. Quando eu olhei


de volta para Grayson seu rosto estava branco. "Esta?" Eu perguntei
inocentemente, mudando-a para a minha outra mão com um pequeno lance.
Um som sufocado saiu de sua garganta. "Esta aqui? Insubstituível?"
Certamente ele estava exagerando. Caso contrário, por que estaria num
aparador na sala de estar? Ainda que, obviamente, significava muito para ele.
Ele começou a mover-se em minha direção novamente.

"Pare onde você está", ordenei. Ele fez. Eu levantei meu queixo. "Peça
desculpas pela sua grosseria extrema..." Eu acenei a garrafa de vinho ao redor,
tentando achar palavras sobre o que ele tinha feito a mim e ao meu orgulho.
Esse mesmo som abafado saiu da sua garganta de novo, seus olhos
rastreando a garrafa.

"Sim, sim, eu peço desculpas. Eu estava apenas me divertindo um


pouco com você. Eu não queria fazer nenhum mal. Eu juro. Venha aqui e me
dê a garrafa de vinho, Kira."

Apertei os olhos para ele. "Não."

Ele piscou. "Não?"

"Eu não vou até você. Você vem a mim."


Algo brilhou em seus olhos, mas ele cuidadosamente verificou sua
expressão. Seus olhos pousaram na garrafa em minhas mãos novamente.
"Encontre-me no meio."

Eu pensei sobre isso, desafiante. Afinal, eu era a única claramente no


controle agora. Mas eu decidi que um meio termo era adequado. "Está
bem.Troca rápida".

Ele assentiu com a cabeça e eu me movi em sua direção. Hmm. Eu


gostei de ver aquele olhar de impotente pânico em seus olhos, e de ouvir
aquele som de asfixia estranha vindo de sua garganta mais uma vez. Com a
intenção de passar a garrafa da minha mão esquerda para a direita, eu
balancei meu braço esquerdo em um grande arco e adiantei meu braço direito
para agarrá-lo, mantendo contato visual com O Dragão, um pequeno sorriso
em meus lábios. Mas o som de vidro quebrando ecoou alto na sala silenciosa e
eu congelei, sugando uma respiração. O tempo pareceu desacelerar quando
eu olhei à minha esquerda, onde tinha esquecido que ficava um grande pilar de
pedra. Eu levantei meu braço direito e bati na rocha implacável. Engoli em
seco, vendo o que parecia sangue escorrer da pedra em uma crescente poça
para o chão. Um som ofegante veio da entrada e eu chicoteei minha cabeça na
direção do pequeno ruído. Walter estava ali, sua boca aberta, sua tez de um
branco medonho.

"Eu tinha acabado de conseguir a chave para a adega", disse ele, sua
voz um sussurro sufocado. "Sinto muito, senhor." Oh, Deus.

Eu olhei para baixo com o pescoço quebrado da garrafa ainda em


minha mão e, em seguida, lentamente, muito lentamente para cima, para
Grayson. Ele estava fervendo com o que parecia ser uma fúria mal
controlada. "Não foi culpa sua, Walter. Você pode ir", disse ele,
sua voz cheia de calma mortal.
Houve uma pausa. "Sim, senhor", disse Walter, e, em seguida, ele
rapidamente se afastou.

Pisquei, e minha mão largou o gargalo quebrado, que também se


espatifou no chão. Eu fiquei de pé, colada no lugar enquanto Grayson fez
lentamente seu caminho para mim. Eu praticamente podia sentir a raiva
ardente emanando dele. Quando ele chegou até mim, aproximou-se, levando
seus dedos e inclinando meu queixo acima para ele. Um músculo se contraiu
em sua mandíbula - um pequeno aviso. Fiquei mais reta, encontrando seus
olhos. "Essa garrafa de vinho," Grayson falou entre dentes, "era o orgulho e a
alegria do meu pai. Ele passou anos tentando obtê-la. Quando finalmente o fez,
ele chorou. Ele chorou, Kira. Lágrimas de alegria sobre a garrafa que você
acabou de esmagar com rancor."

Eu balancei a cabeça, tentando desesperadamente não vacilar. "Foi um


acidente. Foi só... Sentada ali..." Eu odiava o vacilo na minha voz quando
minhas palavras desapareceram.

Ele soltou meu queixo, seus olhos escuros ainda olhando para mim
atentamente. "Duas horas", disse ele, finalmente. "Encontre-me aqui amanhã
às duas horas."

Duas horas? O que tinha às duas horas? Eu não conseguia lembrar. Oh,
Deus, o casamento. Eu quase lhe disse que ele foi transferido. Abri minha boca
para dizer as palavras, mas não saíram. É evidente que ele passaria por ele
agora para me punir - ou pelo menos para amortização da "insubstituível"
garrafa de vinho.

Com essas palavras Grayson saiu a passos largos da sala de estar.


Fiquei ali por alguns minutos, e finalmente andei com as pernas
bambas para onde ele deixou cair minha lista infantil. A peguei e
caminhei para a cozinha, onde Charlotte estava limpando o
balcão, o cheiro doce de canela e maçãs flutuando
no ar. Ela olhou para mim com um olhar claramente nervoso e, em seguida,
desviou o olhar. "Ele não é um homem mau, Kira."

Engoli em seco. "Eu..." Eu balancei a cabeça, começando novamente.


"Tenho certeza que ele não é sempre, mas eu tenho uma maneira de... trazer
para fora o pior dos homens."

"Tenho certeza que isso não é verdade."

Dei de ombros. Realmente era. Realmente, era mesmo. Bile subiu na


minha garganta. Pensei que poderia estar doente, mas consegui engoli-la.

"E talvez sejam mais eles do que você, minha querida. Talvez será
necesário um homem muito especial para..."

"Lidar comigo?" Eu ri, um pequeno som que continha pouca diversão.

"Amar você", ela corrigiu. Eu não tinha certeza se deveria tomar isso
como um elogio, exceto pelo fato de que Charlotte estava sorrindo
calorosamente para mim.

Amor. Anseio feroz subiu no meu peito. Por apenas uma vez ser
valorizada. Eu suspirei. "Em qualquer caso, meu arranjo com Grayson não tem
nada a ver com amor. E, também, isso não importa. Eu não seguirei
completamente. Foi uma péssima ideia desde o início." Eu me virei para
Charlotte, para vê-la passando a esponja sobre os balcões, um olhar pensativo
no rosto. "Esse vinho, Charlotte, era realmente insubstituível? Será que seu pai
realmente procurou-o por anos..." Eu lutei contra a vontade de chorar.

Charlotte ficou em silêncio por um momento, parecendo tomar uma


decisão. Ela colocou a esponja sobre a pia e deu a volta no balcão para se
sentar ao meu lado. Ela pegou minhas mãos nas dela, um olhar de
simpatia em seus olhos. "Ele provavelmente nunca dirá ele
mesmo, e então eu vou te contar algo sobre Grayson e seu pai,
Kira. Eu não gosto de fofoca, mas talvez conhecer
alguns acontecimentos da vida de Grayson te ajudará a entender por que ele é
tão obcecado em trazer esta maldita adega de volta." Ela franziu os lábios por
um segundo, mas então sua expressão apagou. Maldita adega? Esta era sua
casa, também. Será que ela não gosta daqui? "Grayson e seu pai, Ford
Hawthorn, não tinham um bom relacionamento." Ela balançou a cabeça
tristemente. "As razões eram muitas, e talvez Grayson vá compartilha-las com
você algum dia, mas basta dizer que ele nunca foi feito para sentir que
pertencia a essa casa - tanto pelo seu pai quanto pela sua madrasta. Eles...
erradamente o culparam por coisas pelas quais uma criança nunca deve ser
responsabilizada. Trataram-no miseravelmente – excluindo-o, cada um
tentando convencer o outro que o odiava mais." Um olhar de tristeza crua
encheu sua expressão. "Grayson tentou tanto, toda a sua vida, ele... bem, não
importa. Nada do que ele fez foi considerado bom o suficiente." Ela balançou a
cabeça. "Mais tarde, depois que ele foi preso..." Ela pegou um lenço de papel
no balcão e limpou o nariz. "Seu pai nunca o visitou, nem mesmo uma vez.
Ford descobriu que tinha câncer enquanto Grayson estava longe, e ele morreu
rapidamente. Ou pelo menos pareceu assim. Quando Grayson voltou para
casa, descobriu que seu pai tinha deixado esta vinha para ele, um negócio que
havia começado a falhar assim que Ford descobriu que estava doente. Ele
deixou o dinheiro para sua esposa e para o irmão de Grayson, Shane, mas ele
deixou o vinhedo para Grayson." Alguma coisa deslizou em sua face, mas tinha
ido embora antes que eu pudesse tentar lê-la. "Grayson prometeu naquele dia
que traria a vinha de volta, não para si, mas para o pai que tinha evitado-o
durante toda sua vida mas que, no final, deixou este lugar como uma
oferenda de paz. Grayson sentiu que Ford lhe tinha confiado sua mais amada
posse porque ele finalmente acreditou que ele era digno. Digno de revivê-
la, digno de executá-la. E Grayson vai fazer praticamente
qualquer coisa para provar que seu pai não estava errado
nessa crença."
Eu caí de volta no banco. Isso era muito. "Ainda que seu pai o tratasse
tão terrivelmente antes disso?"

Charlotte assentiu. "Eu acredito que seja justamente porque seu pai o
tratar tão terrivelmente antes disso. Para Grayson, redimir esta vinha significa
resgatar seu próprio valor."

Eu balancei a cabeça lentamente, mordendo meu lábio, pensando no


quanto Grayson Hawthorn e eu tínhamos em comum. Ambos gerados por pais
que nunca pensaram que fôssemos suficientes.

"Obrigada, Charlotte. Eu o entendo um pouco melhor agora. E eu me


identifico." Eu pressionei meus lábios em pensamento. "Eu pensei que talvez
nós pudéssemos ser amigos, exceto que... que ele pensa que eu sou uma
bruxa, e eu ainda tenho certeza que ele é um dragão. Pelo menos quando se
trata de mim."

Ela riu, aparentemente achando tudo divertido.

"Por que você me disse tudo isso, Charlotte?" Eu perguntei, inclinando a


cabeça em questão.

Ela agarrou minhas mãos novamente. "Eu acho que se pode ver as
pessoas sob uma luz diferente quando se entende suas motivações. E talvez
você ache que traz o pior em Grayson, mas desde que você entrou em sua
vida, mesmo que tenha sido tão pouco tempo, ele tem estado mais vivo do que
em todo o ano que ele está em casa... mesmo que isso seja traduzido em lotes
de respiração de fogo." Ela apertou minhas mãos com força novamente. "Eu
acredito que isso é uma coisa boa. Grayson pode ser arrogante - devido à
sua aparência em grande parte. Mas, por dentro, sua dor é muito profunda."
Ela parecia triste por um momento, mas depois sorriu para mim. Eu
não pude deixar de sorrir de volta. Havia algo tão
maravilhosamente reconfortante em Charlotte. "Aqui, deixe-
me te cortar uma fatia grande de bolo de maçã e canela direto do forno", ela
disse. "E por falar nisso, minha querida", continuou Charlotte, descansando a
mão na minha, no balcão, um brilho em seu olhos, "esqueca o príncipe e a
princesa. Eu sempre imaginei que a história real era entre a bruxa e o dragão."
Sua risada musical ecoou pela cozinha.
Capítulo Oito
Kira

Eu não imaginei o dia do meu casamento como este. Eu tinha acordado


sozinha, tomado uma ducha gelada e, depois rapidamente deixei a propriedade
Hawthorn e fui ao centro de Napa para comprar algo para vestir. Mas, uma vez
que eu tinha começado a pesquisar em algumas lojas, percebi o quão ridículo
era. Por que preciso de uma roupa nova? Para que ter um gasto extra, para
trocar votos falsos de casamento para um homem, quando íamos nos casar
por dinheiro? O homem que provavelmente odiava-me depois do que tinha
acontecido no dia anterior. Eu respirei fundo. Ainda assim, eu ia passar por
isso. Eu tinha feito a minha mente enquanto eu estava deitada na cama na
noite anterior, pensando em minhas próprias razões da necessidade do
dinheiro que a vovó tinha me deixado, e pensando sobre as razões de Grayson
também. Eu não podia deixar de sentir como se tivéssemos mais em comum
do que qualquer um de nós sabia. E talvez nunca teríamos que saber a
extensão disso, mas lá no fundo eu sentia uma espécie de paz sobre a partilha
do dinheiro com ele, dragão ou não.

Eu finalmente escolhi um semi-ocasional vestido de renda branca, e um


par de sandálias de tiras azul-prateado.

Não era extravagante, mas pelo menos eu pareceria como se tivesse


colocado algum esforço para parecer uma noiva para as pessoas no
escritório do escrivão. Tratava-se de um show, afinal de contas,
pensei tristemente.
Enquanto eu dirigia de volta para Hawthorn Vineyard uma memória de
repente veio à minha mente. Quando eu tinha sete ou oito anos encontrei a
coleção de catálogos e revistas velhas da minha avó. Um deles tinha vestidos
de noiva, assim eu cortei todas as minhas escolhas para uma festa de
casamento inteira, e colei-as numa peça de papelão. Eu gastei horas passando
por cada livro, escolhendo flores, bolos e tudo mais que eu poderia achar,
adicionando itens à minha visão. Quando eu tinha mostrado orgulhosamente
para minha avó, ela jorrou sobre ele, como minha avó tendia a fazer. Mas
então ela me perguntou por que não havia nenhum pai da noiva.

"Oh", eu disse, "ele estava trabalhando. Ele não pôde vir". Minha avó
olhou-me tão tristemente, e então me abraçou bem forte. "Você vai ser a noiva
mais linda, meu amor", ela disse, "e seu noivo vai amar você aos montes."

Senti uma forma de protuberância no meu peito. "Oh, vovó, eu sinto


muito sobre isso", eu sussurrei para o silêncio do meu carro.

Assim, quando eu estava terminando de me vestir, ouvi uma batida


suave na minha porta da casa de campo e assustei-me ligeiramente,
imaginando se Grayson tinha vindo me procurar em vez de nos reunirmos na
casa como tínhamos planejado. Ou talvez ele estava vindo para cancelar o
acordo? Meu coração tomou uma batida irregular enquanto eu dizia, "Entre."

Um momento depois, ouvi a voz cantada de Charlotte dizendo Olá, e


relaxei meus ombros.

Ela sorriu quando entrou no meu quarto. "Oh meu Deus, você está linda
minha querida."

Eu dei-lhe um pequeno sorriso, mexendo-me um pouco. Eu não queria


que ela fizesse isso parecer como se fosse, de alguma forma, um
dia de casamento real. Isso só iria acrescentar à minha vergonha.
"Eu trouxe algo para dar sorte", disse ela, mantendo aberta a palma da
mão e mostrando um pino pequeno e prateado de cristal, em forma de rosa.

"Oh, não, Charlotte. Eu não posso. Esse casamento não necessita de


qualquer sorte. Já combinamos até de falhar", eu disse, minhas bochechas
aquecendo.

"Bem, então, é boa sorte para você", disse ela. "Por favor, deixe-me.
Minha mãe me deu isso no dia do meu casamento, e eu não tenho uma filha a
quem dar, nem tenho quaisquer netas. Significaria o mundo para mim você
aceitá-lo."

"Eu realmente não posso", gritei, tentando não chorar.

"Que tal só por hoje?" Ela sorriu esperançosa. "Você pode devolvê-lo, se
quiser." Ela bateu palmas. "Oh, isso é ainda melhor. Algo emprestado."

Soltei uma risada em uma respiração. "Está bem. Mas só se você me


deixar devolvê-lo."

"Aqui," ela disse, inclinando-se e fixando-o no corpete do meu vestido.


Ela se afastou e sorriu suavemente. "Adorável."

Não sendo capaz de me ajudar, joguei meus braços ao redor de


Charlotte, inalando o aroma calmante de talco em pó. Ela riu um som doce e
me abraçou de volta. "Agora, então," ela disse suavemente.

Às duas horas eu andei até a casa principal, onde Grayson estava


apoiado casualmente na frente de pedra. Ele estava usando um par de calças
cáqui e uma camisa azul de abotoar. Tentei não notar como ele era
impressionantemente bonito. Quando ele me ouviu aproximando-me, olhou-
me fixamente, e eu peguei um breve piscar de surpresa em seus olhos,
que depois desapareceu.
"Pronta?" ele disse simplesmente, sem fazer nenhum comentário sobre
minha aparência. Eu balancei a cabeça.

Nenhum de nós falou nos primeiros cinco minutos do passeio em seu


caminhão. Finalmente virei-me para ele, e seu olhar estava fixo em minhas
pernas nuas. Eu cruzei-as, e seus olhos voaram para os meus. Ele apertou a
mandíbula. Será que ele achou que minha roupa estava muito casual?

"Grayson, eu sou... eu sinto muito pela garrafa de vinho de seu pai."

Seus ombros pareceram relaxar um pouco enquanto ele olhava para


fora do pára-brisa dianteiro. "Não foi inteiramente sua culpa. Você não teria
como saber que uma garrafa de vinho tão valiosa estaria na sala de estar. E eu
te empurrei a esse ponto, eu admito. Eu não sou inocente por brincar sobre
sua... lista. Eu sinto muito, também."

Exalei conforme senti minhas bochechas ruborizarem com a menção de


minha lista. "Estamos quites, então?"

Ele me deu um leve sorriso. "Sim. Especialmente considerando que


você me pagará de volta por isso hoje." Ele virou o rosto para mim e me deu
um sorriso diabólico que fez meu coração gaguejar no meu peito. Mas então
ele suavizou, e eu vi que ele estava fazendo uma piada.

"Pronta para prometer para sempre? Ou, pelo menos, doze meses?" ele
perguntou, olhando-me de lado.

Eu ri um riso nervoso. "Tão pronta como eu nunca vou estar, eu acho.


Isso não é exatamente como eu imaginei o dia do meu casamento."

"Não? Sem fotos do grande vestido branco e todo o crème de la


crème da sociedade convidados para a recepção?" Seus olhos pousaram
em mim por um segundo.
Era verdade. Quando eu tinha sido noiva de Cooper, tinha sido o que eu
tinha imaginado para o meu casamento, principalmente porque era isso que
meu pai e Cooper tinham imaginado. Mas aquele nunca tinha sido meu sonho.
Eu só estava tentando tão difícil agradar a ambos.

Eu sorri, mas o senti triste em meus próprios lábios. "Suponho." Eu não


ia entrar nisso tudo com Grayson, especialmente não agora. Seus olhos
procuraram meu rosto por alguns momentos rápidos, mas depois ele olhou de
volta para a estrada, sem dizer nada.

O clima entre nós ainda estava um pouco tenso, e depois nenhum de


nós falou, cada um ocupado com seus próprios pensamentos. Embora Grayson
tivesse dito que eu estava perdoada sobre o vinho, ele ainda parecia um pouco
tenso, se o tique-taque em sua mandíbula cada vez que ele olhou para mim
fosse uma indicação. Ah, bem, depois de hoje estaríamos evitando um ao
outro, de qualquer forma. Eu tinha oferecido minhas desculpas e ele aceitou.
Se ele ainda nutria uma hostilidade geral não fazia qualquer diferença para
mim. Mordi lábio até doer, tentando distrair-me de pensar em tudo. Eu não
queria pensar sobre isso. Eu não queria considerar o que realmente estava
fazendo.

Chegamos ao cartório do condado de Napa poucos minutos depois, e


quando íamos sair do caminhão o céu se abriu de repente e começou uma
chuva torrencial. Nós rapidamente fechamos as portas, voltando para dentro.

Grayson riu. "O destino está contra nós."

Dei uma pequena risada também. "Aparentemente. Embora eu tenha


ouvido dizer que chuva no dia do casamento é boa sorte."

"Somente pessoas que receberam chuva no dia do


casamento afirmam sentirem-se sortudos. Nós vamos ter que dar
uma corrida."
"Está bem. Na contagem de três", eu disse, abrindo a porta. Nós dois
pulamos e corremos, e eu guinchei enquanto corríamos para o edifício. Ele
agarrou minha mão no meio do caminho entre o carro e o escritório, e seu riso
profundo subiu acima do som do aguaceiro. Por um momento no tempo
éramos apenas um menino e uma menina correndo e rindo na chuva no dia do
nosso casamento. O momento foi repentino, de sonho, e quando irrompemos
no hall de entrada e ambos piscamos um para o outro eu sabia que ele tinha
sentido isso também. Mas o encanto foi quebrado, e o momento estranho
terminou abruptamente quando olhamos para as pessoas que agora estavam
nos observando. Havia dois outros casais lá, obviamente esperando para
casar, os dois de mãos dadas e ambos parecendo serenos e felizes com o que
parecia ser o dia mais feliz de suas vidas. Isso fez-me intensamente consciente
do que estávamos prestes a fazer. E pelo olhar no rosto de Grayson ele devia
estar pensando a mesma coisa.

"Pronta?" ele perguntou.

Não não não. "Sim."

Atravessei a próxima hora como se estivesse apenas fora do meu


próprio corpo. Tentei não considerar a realidade da situação. Imaginei os rostos
das pessoas no centro, a pequena casa na qual eu ia estabelecer-me uma vez
que deixasse Hawthorn Vineyard, qualquer coisa para manter o meu foco sobre
o que este dia significava. Nós obtivemos a licença de casamento e esperamos
na fila para dizer os nossos votos. A expressão de Grayson era distante,
ligeiramente fria - O Dragão tinha ido embora e O Príncipe de Gelo estava de
volta. Eu não perguntei, no entanto, o que ele estava pensando. Minhas
próprias emoções eram bastante difíceis de gerir, então não precisava
adicionar as dele à mistura. Ele não seria nenhum apoio para mim
- ele não estava nem mesmo tentando ajudar. Embora,
realmente, o que eu esperava que ele fizesse? A leveza
do momento quando tínhamos corrido na chuva se foi, agora substituída por
silêncio e desconforto. Finalmente um funcionário do Tribunal ficou como nossa
testemunha, e eu recitei meus votos, prometendo amar, honrar e estimar
Grayson Hawthorn todos os dias da minha vida. Senti uma cobra de medo
resvalar pela minha espinha quando cometi o sacrilégio de prometer amor e
devoção a um homem a quem eu não tinha intenção de amar ou me dedicar.
Era uma mentira, uma farsa de algo sagrado. Eu nunca fui uma pessoa
particularmente religiosa, mas tinha me perguntado se seríamos punidos de
alguma forma por esta zombaria.

Ele recitou seus votos para mim, a voz firme, sua maneira removida. Eu
o vi, meu peito doendo na expressão séria no rosto bonito. Quando o
comissário de casamento perguntou se tínhamos anéis para trocar, Grayson
enfiou a mão no bolso e tirou um anel de ouro bonito com uma opala no centro,
rodeada por diamantes. Engoli em seco quando ele deslizou o anel no meu
dedo. Eu tentei pegar seu olhar, mas ele olhou por alguns segundos para
minha mão e, em seguida, levantou os olhos para o homem que executava
nossa cerimônia. Fiquei olhando para a bela peça de antiguidade – vista linda
de jóias, um caroço se formando em minha garganta por sua consideração em
lembrar de trazer um anel. Eu não tinha sequer pensado nisso.

"Você pode beijar a noiva."

Grayson inclinou-se e deu um rápido beijo na minha boca. Ao sentir


seus lábios secos roçando os meus, a histeria que eu tinha mantido na baía
desde que tinha acordado naquela manhã de repente borbulhou no meu
peito, e eu bufei uma risada mal contida. Eu fingi uma pequena tosse, meus
olhos arregalados na traição de meu corpo. Seu beijo me fez lembrar de um
que meu antigo e excêntrico tio Colburn daria. Tio Colburn
cheirava a naftalina. Hilaridade e insanidade guerrearam dentro
de mim, ambas querendo o controle. Deixei escapar um
outro pequeno bufo, e tentei encobri-lo com outra tosse.

As sobrancelhas de Grayson dispararam e, em seguida, seus olhos se


estreitaram, parecendo quase preguiçosos quando ele me olhou, algo tenso e
desafiador em sua expressão, como se ele achasse que eu tinha rido
exclusivamente para zombar dele. Engoli em seco, repentinamente séria. O
que tinha acontecido comigo? O estresse deste dia tinha claramente partido
meu cérebro ao meio. Claro que ele deveria beijar-me como um velho tio seco.
Este era um acordo de negócios.

Grayson deu um passo para o meu espaço e pegou meu rosto em suas
mãos quando eu chiei o que soou como um reles e surpreso pio. Ele
pressionou seus lábios nos meus, varrendo sua língua sobre a costura da
minha boca. Eu não tive tempo para pensar, e meu corpo respondeu-lhe
instintivamente quando eu separei meus lábios avidamente para tomar sua
língua, derretendo contra ele. O beijo não mostrou misericórdia: sua língua
saqueou minha boca e deixou meus joelhos fracos enquanto eu me agarrava a
seus ombros. E tão de repente como tinha iniciado ele se distanciou, nossas
bocas descolando com um pop molhado quando eu tropecei para frente,
equilibrando-me antes de cair nele.

O comissário de casamento sorriu. "Bem, agora!"

Bem, agora, de fato.

Tentei recuperar a compostura, usando o polegar para limpar a saliva do


meu lábio inferior quando as palavras finais foram ditas. "Pela autoridade
investida em mim, eu os declaro marido e mulher."

E então estava feito. Eramos oficialmente o Sr. e a Sra Grayson


Hawthorn. Para sempre e sempre. Amém.

Ou, pelo menos para o próximo ano ou assim. O que


provavelmente não merecia um amém.
Eu andei com Grayson de volta para seu caminhão com pernas que
senti estranhamente dormentes, ainda me recuperando ligeiramente de seu
beijo, sentindo uma medida de humilhação. Ainda assim, ele tinha feito algo
atencioso. "Obrigada por lembrar de um anel", eu disse suavemente. "Eu nem
sequer pensei em obter um para você. Onde você conseguiu isso em tão
pouco tempo?"

"Ele ainda estava na casa. Eu só não tive tempo de vendê-lo." Eu olhei


para ele, imaginando que ele tinha tal olhar firme em seu rosto porque essa
tinha sido uma das jóias de sua madrasta. Bem, serviu para tornar a nossa
união legítima sob olhar do mundo exterior, então o que me importava de onde
tinha vindo? "Eu vou devolver-lhe quando, hum -"

"Está bem", foi sua resposta lacônica.

"Está bem", eu disse, decidindo não mencionar o beijo em tudo, ou o


fato de que eu tinha rido de seu primeiro.

Agora que minha mente estava mais clara, percebi que ele
provavelmente fez isso por nenhuma outra razão além de fazer nossa
cerimônia parecer convincente. Após um momento de silêncio, perguntei:
"Então, você quer, hum, ir a um almoço tardio ou algo assim?" Eu não tinha
idéia do protocolo para este dia. Era o dia do meu casamento. Oh, Deus...

Só que não era realmente. Eu não consideraria este o dia do meu


casamento. Algum dia eu teria um verdadeiro, e seria o oposto disso. "Não
posso. Eu tenho que voltar ao trabalho", disse Grayson, sem olhar para mim.

Tudo bem então. "Talvez um jantar esta noite? Devemos pelo menos
celebrar o golpe de sorte que estamos prestes a obter." Eu dei-lhe um pequeno
sorriso e me senti mais esperançosa do que o pretendido.
"Kira..." Ele suspirou, correndo uma mão pelo cabelo como se minha
conversa o chateasse, como se ser convidado para jantar fosse um grave
incômodo. Será que ele achava que isso significava que de repente eu
esperava um relacionamento com ele, agora que eu era sua esposa, tinha
recebido um beijo obrigatório e usava uma bugiganga que ele encontrou em
torno de algum canto empoeirado de sua casa? Raiva e uma dor que eu não
queria admitir queimaram dentro de mim.

"Não se preocupe", disse. "Acabei de me lembrar que eu tenho planos,


de qualquer maneira."

Ele olhou para mim como se soubesse muito bem que eu estava
mentindo. "Talvez outra hora, ok? Eu estou tendo um problema com uma peça
de equipamento. Perder estas poucas horas de hoje já me coloca em
desvantagem."

Eu tinha acabado de jogar a santidade do casamento de um penhasco,


e ele mal conseguia ser cordial? Eu não esperava por seus agradecimentos,
mas também não esperava me sentir como um inconveniente para o seu dia.
Engoli minha decepção, porque obviamente seria desperdiçada com o dragão
arrogante. "É claro. Eu entendo", menti.

Quando nós chegamos à sua casa, eu pulei fora, chamando: "Eu devo
ter o cheque dentro de uma semana ou assim. Vou passar a sua parte." Eu
olhei para trás. Grayson estava de pé ao lado de seu caminhão com as mãos
nos bolsos, observando-me ir embora. Quando comecei atravessar o gramado
para minha casa de campo, eu levantei meu queixo e virei meu cabelo. E
então senti quando galho afiado espetou minha coxa, arrancando um grande
rasgo no meu vestido. Eu pulei um pouco e soltei um pequeno grito.
Droga. Ergui meu queixo e continuei andando. Ouvi sua risada
baixa de longe atrás de mim, e resisti ao impulso de transformar
por aí, correr de volta e arrancar seus olhos reptilianos.
Em vez disso, eu bati a porta de minha casa quando entrei, embora a velha
porta não se encaixasse exatamente certo sobre as dobradiças, e deu um
clique muito insatisfatório quando fracamente reuniu-se ao batente.

Este foi o dia de casamento mais lamentável que já existiu. ‘O que você
esperava? Você fez isso’.

Tirei o anel de opala, que era nada mais que um adereço, e deixei-o no
peitoril da janela.

Eu também removi o pino que Charlotte tinha me dado para não


esquecer de devolvê-lo. Em seguida, sentei-me na minha cama brincando
distraidamente com o pedaço rasgado do material do meu vestido e finalmente
cedendo às lágrimas que eu senti queimando atrás de meus olhos durante toda
a manhã.

Exausta e emocionalmente esgotada após os acontecimentos do dia, e


porque eu não tinha dormido bem na noite anterior enquanto me virava na
cama e reavaliava a minha decisão, eu tirei uma longa soneca. Meus sonhos
foram preenchidos primeiro com uma vasta paisagem de gelo. Eu vagava sem
rumo, gritando com o frio, tremores violentamente sacudindo meu corpo
enquanto eu tentava, em vão, me aquecer. E de repente eu estava no meio de
uma cascata de fogo, presa em um cachoeira de lava, meu corpo líquido,
minha pele furiosa com um calor que se sentia deliciosamente erótico.
Chamas me consumiam, e ainda, de alguma forma, eu não estava sendo
queimada. Acordei gemendo, com os seios formigando, molhada
e pulsando entre as pernas. Caí para trás em meus travesseiros.
Eu nunca tinha tido um sonho sexual tão intenso antes.
Achei que era para mostrar quanto tempo tinha sido. Minhas mãos foram para
meus seios doloridos quando ouvi uma porta de carro bater do lado de fora.
Sentei-me rapidamente, correndo para a janela. Não podia ser meu pai – não
havia nenhuma maneira dele ter descoberto sobre meu casamento. Certo? Ou
será que ele tinha servos em todos os tribunais no país? Eu dificilmente
duvidaria que o fizesse. Não, não, eu me tranquilizei. Apesar de sua intrusão
na minha vida, ele tinha peixes maiores para fritar do que eu. Ainda assim, a
adrenalina inundou meu sistema e meu coração pulou com pânico, refrigerando
meu sangue aquecido pelo menos alguns graus. Eu alisei minhas mãos sobre
meu rasgado e enrugado vestido, tomando uma respiração profunda, me
acalmando. Ele não podia fazer nada para mim, de qualquer maneira. Eu diria
a ele que eu era casada - e que ele precisava me deixar em paz.

Eu andei poucos passos através de uma moita e quando saí na calçada


vi uma mulher loira falando com Grayson na frente de um pequeno carro
esporte vermelho. Os dois se viraram, obviamente tendo me ouvido, e então eu
não voltei como primeiro pretendia após detectá-los. Em vez disso, andei para
onde eles estavam. Conforme ela assistia eu me aproximar, tinha um olhar em
seu rosto como se tivesse acabado de provar algo azedo, e os olhos de
Grayson se estreitaram.

Eu estendi minha mão quando cheguei a eles. "Oi, eu sou Kira", eu


disse.

A mulher olhou para a minha mão como se eu estivesse oferecendo-lhe


um peixe morto, mas finalmente agarrou as pontas dos meus dedos e
apertou-os fracamente.

"Eu sou Jade. Eu parei para ver se poderia fazer o jantar para
Grayson hoje à noite." Ela olhou docemente para ele, batendo os
cílios postiços. Um aroma pesado de pêssegos artificiais
depreendia dela, mas eu não podia negar que ela era
bonita. Se você gostar desse tipo. O que Grayson obviamente fazia. Olhei para
ele e o encontrei me olhando com uma expressão que parecia intensa e... com
raiva? Seu humor eventualmente teria me dado chicotadas.

Eu me mexi nos meus pés, percebendo o quão terrível eu devia parecer.


Eu podia sentir que meu rosto ainda estava vermelho do meu sonho, e sabia
que meu cabelo devia estar numa desordem selvagem, como sempre ficava
depois que eu tinha dormido. Meu vestido estava rasgado e enrugado e... e eu
era o oposto exato desta beleza penteada na minha frente. Corri minha língua
ao longo do meu lábio inferior nervosamente, sentindo-me insegura e odiando
isto.

Esperei por ele para contar a essa mulher que eu era sua esposa.

Grayson olhou para longe de mim, para Jade. "Claro, isso parece bom."

Senti meus olhos se arregalarem e deixei escapar um pequeno suspiro.


Ele ia aceitar a oferta de Jade para cozinhar o jantar para ele depois que ele
tinha recusado jantarcomigo no dia do nosso casamento? E se alguém os
visse?

E se Jade tivesse uma boca grande e espalhasse a notícia que ela


estava namorando Grayson? Meu coração batia forte e minha pele sentiu uma
coceira repentina.

Meu marido estava indo a um encontro no dia do nosso casamento. Meu


marido estava indo em um encontro no dia do nosso casamento. Eu tive o
repentino e intenso desejo de dobrar de tanto rir.

Somente você, Kira. Somente você estaria em uma situação como


esta.

"Basta dar-me dois minutos para me limpar", disse


Grayson a Jade.
"Claro, querido." Ela sorriu docemente para ele. Querido. Esta mulher só
tinha chamado meu faldo marido de querido. "Você pode tomar banho na
minha casa, se quiser." Os lábios dela transformaram-se na farsa de um
sorriso, mas seus olhos me atiraram punhais.

Grayson entrou na casa, e Jade e eu ficamos olhando uma para a outra.


"Então, quem é você exatamente, Kira?", perguntou Jade, desagradável.

Eu? Eu sou sua esposa, querida. Espero que você tenha uma
agradável noite em seu encontro. Levou tudo de mim para não dizer isso. Eu
tinha concordado que devíamos continuar como de costume, enquanto
fossemos discretos. Ainda assim, dependia de Grayson lidar com esta situação
com Jade. Eu não tinha realmente feito qualquer trabalho de secretariado ou de
contabilidade para Grayson ainda, e de repente me lembrei que tinha me
oferecido. "Eu sou, hum, sua nova secretária, barra contadora, barra... bem."
Eu deixaria isso assim, numa soma das outras coisas. Mal sabia ela que havia
um grande espaço em branco.

Ela estreitou os olhos para mim. "E você... vive aqui?"

Nós duas olhamos para cima para ver Grayson trotando de volta
descendo a escada. Ele mal teve tempo suficiente para lavar as mãos e
espirrar um pouco de água fria no rosto. Aparentemente ele não se importava
que Jade o pegaria anti-chuveiro, ou ele planejava pegar a oferta dela e tomar
banho em sua casa. Um flash dela na cozinha fazendo o jantar para ele, e ele
vindo por trás dela em uma pequena toalha para beijar sua nuca de repente
veio à minha mente. E por que, oh, por que essa visão me incomodava
tanto?

Idiota, Kira!

"Pronta?" Grayson perguntou, olhando para Jade.


"Hmm hmm", disse ela. "Kira aqui estava me contando que ela é sua
nova secretária, barra contadora, barra..." Nós dois olhamos para ela,
esperando que ela continuasse, e ela olhou para nós, evidentemente à espera
de um de nós para dizer algo, também.

Grayson pigarreou. Eu tossi. Jade apertou os olhos mais e aproximou-se


de Grayson, apontando claramente sua reivindicação.

"E você vive aqui agora?" Ela perguntou de novo, apertando os olhos
mais.

"Eu vou ficar na casa de campo ali." Eu acenei minha mão na direção da
minha pequena casa de campo. Como se fosse completamente normal para
secretárias viverem em encardidas casas de jardineiro no local.

Jade enrugou seu narizinho bonito. "Eca! Aquele lugarzinho enterrado


na mata que você pode apenas ver a partir da entrada de automóveis? Deve
haver ratos lá."

Cruzei os braços em relação a ela antes de arregalar meus olhos e falar


lentamente, com fingida excitação. "Oh sim! Existem. Um casal, na verdade,"
eu disse, lançando um olhar para Grayson. Ele me olhou sem expressão. Virei
meu olhar de volta para Jade e continuei. "Ogilthorpe e Ortensia. Tenho certeza
que Ortensia está grávida, também." Eu coloquei um dedo no meu queixo em
pensamento. "Eu vou ter que pensar em alguns nomes com ‘O’ antes que
cheguem os bebezinhos de rato, é claro. Se você tiver alguma sugestão boa,
deixe-me saber." Eu dei-lhe um sorriso falso, resistindo à vontade de girar
meus olhos.

Suas feições apertaram em uma expressão de nojo, e Grayson virou um


pouco e tossiu em sua mão. Mas eu podia jurar que vi seu lábio se
contorcer um pouco antes dele cobrir sua boca.
"Vamos lá", disse Jade para Grayson, me ignorando.

"Eu confio que você vai encontrar uma maneira de se divertir hoje à
noite?" Grayson perguntou, erguendo as sobrancelhas.

"Eu tenho certeza que vou", eu disse, dando-lhe um pequeno sorriso


falso.

Seus olhos pousaram no meu rosto no espaço de vários batimentos


cardíacos e, em seguida, ele se virou com Jade. Quando chegaram ao carro
dela, ela se virou para ele e disse em voz alta o suficiente para eu ouvir, "Eu
não sou como ela. Ela é estranha."

Se Grayson comentou, ele o disse suavemente o suficiente para que eu


não pudesse ouvir.

Vi o carro virar, indo pela garagem e desaparecendo de vista.

Era só uma questão de tempo antes que meu pai soubesse que este
casamento era uma farsa total. Nem mesmo um dia passou, e Grayson já ia
estragar tudo. Eu fiz um esforço combinado para controlar minha respiração
rápida.

Se alguma vez houve um dia que tinha merecido vinho, e em grandes


quantidades, este certamente era ele. E que sorte a minha: eu morava em uma
adega!
Capítulo Nove
Grayson

"Obrigado", eu disse, saindo do carro de Jade. Ela me deu um sorriso


tenso e acenou, sem dúvida decepcionada sobre onde a noite tinha ido - ou
não ido, como foi o caso. Eu geralmente não voltaria por alguns segundos, mas
tinha toda a intenção de trabalhar um pouco na cama de Jade. No entanto,
uma vez que eu tinha chegado no apartamento dela e ela me empurrou em seu
sofá e começou a me apalpar, tudo o que pude pensar era no fato de que este
era o dia do meu casamento. O que foi chato pra caralho, porque não era como
se o dia do meu casamento significasse alguma coisa. Mas no final, só parecia
de mau gosto foder uma mulher no dia que eu tinha dado meu nome -
temporariamente ou não - para outra. Eu não chamaria de honra, porque
claramente eu tinha muito pouco disso, mas me senti... desagradável, errado.
Mal o suficiente para esfriar quaisquer pensamentos lascivos que eu possa ter
tido sobre o pequeno corpo atlético de Jade.

Meus pensamentos se voltaram para Kira pela centésima vez naquela


noite. Kira e aqueles estúpidos nomes de ratos com ‘o’. Era definitivamente
estranho - então por que me deu vontade de beijá-la novamente? Beijá-la bem.
Beijá-la muito e bem, envolvendo o cabelo de fogo em torno de meu punho.
Algo tinha claramente tinha se colocado entre mim e meu bom senso.

Eu vi o carro de Jade desaparecer e fiquei na garagem por mais um


minuto, considerando minha espirituosa esposa bruxa. Eu
esperava que ela não fosse aparecer naquela manhã, que ela
acabaria com essa farsa de casamento e sairia depois do
que tinha acontecido no dia anterior com a lista e o vinho. E eu não conseguia
decidir se queria isso ou não. Claramente nós não complementávamos um ao
outro em qualquer arranjo, comercial ou qualquer outra forma. Eu ainda estava
nervoso sobre o vinho, mas se fosse realmente honesto admitiria que as coisas
tinham corrido mal para mim desde que a vi nua. Se eu pudesse apagar a
visão do meu cérebro eu iria, porque não tinha sido capaz de parar de pensar
nela desde então. Totalmente indesejável... e ainda absolutamente inegável.
Quando eu entrei em sua casa de campo e a vi ali, completamente nua, luxúria
tinha me agarrado com tanta força que eu quase peguei o batente da porta
para garantir apoio. Por um momento eu tinha sido vencido por algo forte o
suficiente para me fazer sentir fraco nos joelhos, minha mente ficando de
repente e brevemente em branco. Eu nunca tinha experimentado nada
parecido antes. Eu tinha que acreditar que foi, em parte, o choque da situação
que tinha roubado o fôlego do meu corpo, me fazendo quase selvagem com o
querer. Eu estava imaginando-a agora, minha mente evocando sua pele suave
e flexível; completa, deliciosa, seios com mamilos rosa-escuro; quadris
suavemente deslumbrantes; e pernas que eram longas e bem torneadas,
apesar de sua estatura menor. Ela era magra, mas sua roupa escondia o quão
deliciosa era. Mas eu sabia agora. E eu desejei não saber. Isto não traria nada
de bom para o relacionamento de negócios que tínhamos combinado. Isto não
fazia nada de bom para a minha paz de espírito. Eu não tinha vontade de ter
pensamentos lascivos para minha esposa. Como os que eu tive quando ela
apareceu na garagem esta tarde, parecendo que tinha passado o dia na cama
tendo relações sexuais: suas bochechas e lábios corados, os olhos
brilhantes, mamilos duros e seu cabelo descontroladamente despenteado.
Por um breve instante eu me perguntei se ela tinha tido relações sexuais
com alguém em sua casa de campo, e algo que senti
suspeitamente como ciúme tinha me agarrado. Então me
perguntei se ela tinha estado sozinha nessa pequena
cama, com as mãos sobre o seu próprio corpo... Eu conhecia o olhar de uma
mulher excitada. O que fez-me louco e frustrado o suficiente para aceitar a
oferta de Jade. Meu corpo pulsava com a lembrança, e eu jurei sob minha
respiração pela minha própria reação indesejada para Kira.

Pensar na minha esposa me fazia decididamente mal-humorado e hostil.


Hoje teria que ser o único dia fora dos limites no que diz respeito a dormir com
outra mulheres, porque não havia como eu sobreviver pensando em Kira do
jeito que eu estava. Precisava distrair-me com outros corpos dispostos. E,
admito, com mais atenção do que eu havia mostrado hoje à noite. Passar o
tempo com mulheres que sabiam meu nome e onde eu morava não estava
seguindo exatamente o acordo que Kira e eu tínhamos feito sobre a condução
de nossas vidas pessoais com discrição. E agora havia ainda mais razões para
despachar esta parte do nosso casamento - com isso ela estaria fora da minha
vista mais cedo do que mais tarde.

Kira. Que agora era a minha esposa.

Não, não de verdade. Cale a boca. Pare de repetir isto para si mesmo.

Ela tinha sido uma esquentadinha ontem. Esta manhã, ela tinha sido
mansa e subjugada, exceto quando riu do beijo casto que eu tinha dado a ela,
aquecendo meu sangue na frente de Deus e da nossa testemunha nomeada
pelo tribunal, e provocando-me - conscientemente ou não - a beijá-la
novamente de uma forma que fosse nada alem de platônica.

Ela tinha crescido no luxo, mas ainda assim passou metade de um dia
(Charlotte tinha me dito) esfregando o que deve ter sido um banheiro nojento
naquela pequena casa de campo. E estava morando lá agora. Ela era um
enigma. Eu não conseguia entendê-la, e não tinha tempo nem
inclinação para tentar.
E ainda assim, por algum motivo fútil, eu tinha dificuldade para resistir
ao fascínio de enfrentar os desafios que ela distribuía, dificuldade para resistir a
vontade de fazer esse fogo brilhar em seus olhos. Eu ansiava por isso. O jeito
que ela parecia quando se enfurecia – as bochechas coradas, os olhos
ardendo e cheios de indignação...

Ela me manteve constantemente fora do equilíbrio, e nem por minha


vida eu conseguia descobrir por que diabos gostava disso.

Foi por isso que eu brinquei com ela com essa lista estúpida, antes das
coisas irem por água abaixo.

E agora nós éramos casados. Até que o divórcio nos separe.

Virei-me para voltar para casa quando ouvi o que pareciam ser vozes
vindas de... cima de mim? Eu franzi a testa, girando e olhando para o céu
escuro. Não, elas vinham de mais longe – bem na borda da casa de campo de
Kira. Caminhei lentamente nessa direção, confuso. "Olá?" Falei. As vozes
cessaram, embora acho que ouvi uma pequena risada, abafada.

"Quem está aí?" Eu disse mais alto. Nenhuma resposta.

"Ai!" Eu disse quando algo pequeno bateu forte na minha cabe e mais
risos abafados vieram de cima. Eu olhei para cima. Alguém, ou alguns alguéns,
tinham subido nas árvores. Outra bolota fez contato com meu crânio, e eu
grunhi. Que diabos? "Quem está aí?" Repeti com raiva. "Desça agora antes
que eu chame a polícia." Houve um momento de silêncio e então ouvi o que
soou como alguém descendo. Um par de pernas musculosas e vestidas de
jeans apareceu pela primeira vez e, em seguida, a cabeça de Virgíl apareceu
à vista.

Ele pulou para baixo, com a cabeça inclinada quando olhou


para mim nervosamente.
"O que você está fazendo em minhas árvores?" Perguntei, incrédulo.

"Eu, hum, bem, senhor, queríamos ver se podíamos observar algumas


estrelas cadentes, ver... Bem, Kira e eu, nós pensamos..."

"Kira?" Eu perguntei, apenas quando apareceu outro par de pernas,


estas magras e bem torneadas. Kira pousou em seu pés na minha frente,
folhas presas a ela e aquele maldito cabelo sedoso caindo em desordem ao
redor de seu rosto. Assim como no início daquela noite, seu rosto estava
corado e ela estava ofegante. Mas desta vez ela cheirava a álcool. Minha
esposa estava subindo em árvores... bêbada. Cerrei minha mandíbula.

"Então... você é louca," eu declarei.

"Bem, olá, marido," ela arrastou ligeiramente. "Como foi seu encontro?"

"Meu encontro... Kira, você percebe que poderia ter quebrado o


pescoço? E o pescoço de Virgil também, diga-se de passagem. Suponho que
isso foi idéia sua."

Kira olhou para Virgil, que parecia que era um menino que tinha
acabado de ser enviado para o gabinete do diretor.

"Foi tudo ideia minha, na verdade", Kira admitiu, levantando-se e


cruzando os braços sob seus seios. "Você sabia que se você se sentar em uma
árvore todos os dias pode observar as pessoas e a capacidade de seu
coração? Ninguém nunca olha para cima. É a coisa mais interessante."

"Hmm. Você tem um monte de experiência em arborismo, sem dúvida."

Ela se inclinou e eu a segurei. "Um pouco."

"E, claro, há a coisa da estrela cadente."

"Bem, sim, isso. Pode tentar também, certo? Ninguém


jamais se sentou em sua casa de campo no bosque bebendo
sozinho na sua noite de núpcias." Ela franziu a testa,
como se tentasse recordar algo. Ou talvez a pessoa que ela estava
descrevendo fosse ela mesma.

"No futuro, por favor, deixe meus funcionários fora de acrobacias como
essa? Eu odiaria ter que chamar a mãe de Virgil e dizer-lhe que seu filho caiu
de uma árvore."

"Oh, não havia qualquer perigo. Quero dizer, muito pouco. Você já não
escalou estas árvores? São árvores perfeitas para escalar. Os", ela soltou um
pequeno soluço, "galhos... são tão grandes e fortes e amplos. Você poderia
dormir em um."

"Você está bêbada, Kira. Se você tivesse tentado dormir em um galho


de árvore, eu estaria ajuntando-a do chão amanhã."

Ela riu, como se isso fosse engraçado. "Sério, porém, certamente você
já escalou uma destas árvores?"

"Não."

"Não?" ela sussurrou. "Por quê?" Ela olhou para mim tão a sério, seu
olhar tão confuso, como se eu tivesse acabado de admitir que nunca tinha
respirado ar antes.

Sem responder, eu me virei para Virgil que deslocava-se para frente e


para trás em seus pés. "Você deve voltar para o seu beliche, Virgil".

"Sim, senhor", ele murmurou. Ele se virou para Kira, seu rosto se
iluminando como se ela fosse o sol e ele estava apenas olhando da escuridão.
Eu sendo a escuridão nesta circunstância particular. Ele deu-lhe o sorriso
mais abertamente apaixonado que eu já vi em um homem adulto, e disse
timidamente: "Boa noite, senhorita Kira."

Kira sorriu de volta para ele e eu me assustei um pouco.


Lá estava ela. Essa covinha que eu tinha visto na fotografia
on-line. Virgil teve a covinha. Eu nunca tinha chegado
a covinha - nenhuma vez. E eu provavelmente nunca chegaria, especialmente
depois de hoje à noite.

"Sra. Kira", corrigiu ela, piscando.

Virgil me atirou um olhar que eu jurei que estava desconfiado e, em


seguida, acenou para Kira, sorrindo de novo quando se virou e foi embora. Eu
cerrei os dentes e me voltei para a pequena bruxa.

Olhamos um para o outro por alguns momentos. "Meu pai nunca teria
permitido", eu disse. "Escalar árvores."

Ela franziu a testa, como se tentando lembrar do que estávamos


falando. Seus olhos se encontraram comos meus, e, embora ela estivesse
claramente embriagada eu podia ver gentileza em sua expressão. "Meu pai não
permitia também”.

"Acho que você não obedeceu?" Eu levantei uma sobrancelha.

Ela riu suavemente e balançou a cabeça, de repente parecendo triste de


uma forma que me fez querer alcançá-la. Mas então ela sorriu e acenou com a
cabeça para a árvore. "É evidente que não. Eu nunca fui muito boa em
obediência. Ou mansidão. Ou em controlar minha língua afiada. Eu seria uma
terrível esposa." Ela balançou novamente muito ligeiramente e deu um passo
em minha direção com uma pequena risada.

Eu não podia deixar de sorrir de sua piada quando peguei-a por seus
braços.

De repente, algo pareceu ocorrer a ela. "Falando de meu pai, eu te


disse para ser discreto sobre sua vida pessoal. Discreeeeto", ela arrastou a
palavra, inclinando-se para mim. "É muito importante".

Limpei minha garganta. "Eu pensei que você disse que não
estava preocupada demais com o seu pai."
Ela mordeu o lábio. "Eu estou sempre preocupada com meu pai", ela
sussurrou, olhando em algum lugar distante. Então seus olhos focaram em mim
novamente, e ela levantou-se mais reta. "Eu simplesmente não quero convidar
problema."

"Notável", foi tudo que eu dei-lhe, e ela balançou novamente. "Está bem,
bruxinha, vamos voltar à sua cabana na floresta." Quase ofereci um dos
quartos na casa novamente, mas ela tinha me abatido antes, e, francamente,
pensei que o melhor era que houvesse distância entre nós - por um montão de
razões que eu não queria contemplar mais do que já tinha feito.

Quando chegamos à porta da sua casa de campo ela se virou para mim
com os olhos turvos e as bochechas coradas. Ela inclinou a cabeça, e quando
as folhas das árvores sopraram no vento um eixo de raio de luar atingiu seu
rosto, iluminando apenas o suficiente para que seus olhos verdes brilhassem
como esmeraldas. O cabelo dela, talvez colocado em uma torção mais cedo
esta noite, tinha deslizado quase completamente solto e, como de costume,
sedosas gavinhas emolduravam seu rosto. Ela sorriu um pequeno sorriso para
mim, seus lábios curvando-se só um pouquinho, e eu me senti
momentaneamente atordoado. Eu tinha pensado que esta menina era apenas
bonita? Eu era o homem mais estúpido vivo.

Um tolo cego.

Um idiota completo.

Ela era linda.

Irracionalmente senti-me enganado, como se a bruxinha houvesse


colocado algum tipo de feitiço em mim. Talvez não fosse tão irracional - ela
provavelmente tinha. Pequena feiticeira encrenqueira.
Cerrei minha mandíbula, virando-me em meus calcanhares. "Boa noite,"
eu falei por cima do meu ombro, nem mesmo me preocupando em esperar até
que ela passasse pela porta de sua casa de campo. Voltei para minha casa e
tomei um banho muito frio.

Evitei Kira pelos próximos dois dias. Eu estava ocupado, mas, mais do
que isso, ela me perturbou, e eu não precisava da distração. A única
companhia feminina para a qual eu tinha tempo ou vontade agora era muito
temporária e reconhecidamente superficial. Envolver-me com a minha esposa
seria uma má idéia em quase todos os níveis.

O único contato que tivemos foi um texto dela, informando-me que tinha
solicitado uma cópia autenticada de nossa certidão de casamento, mas que
levaria várias semanas antes que fosse processada e postada. Mais espera –
embora estivéssemos um passo mais perto. Algumas semanas e teríamos o
cheque que ambos desesperadamente necessitavam. Fim.

Não sabia o que ela estava fazendo, nem me importava muito. Ou pelo
menos é o que continuei me dizendo.

Em qualquer caso, ela parecia estar feliz o suficiente em me evitar


também. Ela não apareceu em qualquer uma das refeições normais, e eu
recusei-me a perguntar a Charlotte se ela comeu na vinha ou não. Embora
eu peguei sua correria por aqui e ali, e eu pensei que ela poderia ter trazido o
almoço para os homens com quem trabalhava algumas vezes. Eu sempre
comia em casa, então eu não tinha certeza, e eu não perguntei-
lhes.
Uma semana depois que estávamos casados, eu estava andando de
volta da colina para as vinhas, onde José, Virgil e os dois caras novos, que eu
contratei a tempo parcial no dia anterior estavam trabalhando, quando parei de
repente, piscando meus olhos para certificar-me de que estava realmente
vendo o que pensei que estava vendo. Kira estava de pé sobre uma perna, a
outra estendida atrás dela na parte de trás de um dos tratores enquanto se
movia em torno do perímetro das videiras. Ela tinha uma longa fita de algum
tipo em uma mão, e estava acenando-a no ar. Enquanto a observava ela
mudou as pernas, trazendo os braços para fora na frente dela em algum tipo de
pose. Os homens gritaram e aplaudiram, erguendo seus dedos como se
marcando a sua performance.

Ela virou-se para eles, o trator ainda em movimento, José ao volante, e


fez uma profunda reverência, seu longo cabelo solto caindo para frente. Depois
ela se levantou e virou-se, trazendo a perna para cima novamente, em um tipo
de pose de bailarina. Meu coração pulou com pânico e minha respiração
gaguejou na cena perigosa, o suficiente para fazer minhas pernas se moverem
novamente. Fui meio andando/meio correndo em sua direção. Quando eu
estava perto, José olhou para onde eu estava, o sorriso em seu rosto
desaparecendo enquanto abrandava o trator, finalmente parando
completamente. Imóvel, eu olhei para eles, em uma completa perda de
palavras. Finalmente consegui cerrar fora, "Que diabos você está fazendo?"

José coçou o pescoço e sabiamente desviou o olhar, enquanto Kira


ficou mais reta, me olhando desafiadoramente. "Eu trouxe o almoço", disse ela,
apontando para os invólucros In-N-Out Burger espalhados num cobertor na
base de uma árvore à direita do caminho do trator. Ela pulou para baixo. "Eu
estava simplesmente mostrando-lhes a rotina que eu planejava usar
para me juntar ao circo. Eu ia ser a garota que dança na parte de
trás de um elefante. Eu aperfeiçoei isso há anos, enquanto
minha melhor amiga Kimberly dirigia o carrinho de golfe do meu pai. Nós todos
temos falado sobre sonhos de infância..." Ela parou, sorrindo em torno para os
homens.

Olhei para ela. "Oh, bem, claramente," eu disse, minha voz cheia de
sarcasmo.

Ela teve a graça e sabedoria de parecer momentaneamente


embaraçada. Mas, então, levantou o pequeno queixo de novo, e fogo dançou
em seus olhos. "Só estávamos nos divertindo um pouco - não no seu tempo,
qualquer um. Era sua pausa para o almoço." Ela colocou as mãos nos quadris.

"É o meu equipamento, Kira. Se você tivesse se machucado, eu seria


responsável." Antes que ela pudesse responder, eu olhei para José. "E você?
O que você tem a dizer?"

José deu de ombros, mas eu podia ver a diversão em sua expressão,


apesar de tentar esconder isto. "Quando a patroa quer dançar na parte traseira
de um trator, quem sou eu para lhe dizer que não? Ela é dona da metade desta
vinha."

Olhei para ele, rangendo os dentes. Eu não ia rever os termos exatos do


acordo pré-nupcial que Kira e eu assinamos, mas em qualquer caso, eu podia
ver que José estava completamente se divertindo, então isso não importava.
Traidor. Eu olhei em volta para os homens que estavam olhando para Kira
como se ela estivesse pendurada na lua.

"Desça daí," eu exigi, lembrando que esta era a segunda vez em uma
semana que eu tinha pedido a minha noiva para ficar fora de algo alto e
perigoso. "Você não vai subir em árvores nem dançar em tratores em minha
vinha. Está me ouvindo?"
Ela piscou os olhos para mim, desafio claro em sua expressão. Ela
cruzou os braços. "E se eu fizer? "ela desafiou.

"Se você fizer eu vou lhe mostrar o quão dragão eu realmente posso
ser", eu disse com calma fria.

Ela pulou em uma manobra suave e elegante, aterrissando


perfeitamente em seus pés. "Talvez", ela disse, íntegra e chicoteando sua fita
através do ar, "Eu deveria ter praticado ser uma domadora de dragão!" Seus
longos cabelos ruivos giravam em torno dela enquanto ela se movia, gavinhas
de seda pesada escovavam suas bochechas que estavam em um rosa
profundo. Mudei-me, mas ela virou sua fita para frente e para trás na minha
frente.

"Largue sua arma, bruxa," Rosnei, sangue quente agitando em minhas


veias.

"Ou o quê?" Ela exigiu.

"Ou vou desarmá-la eu mesmo." E então eu estava indo para levá-la


sobre meu joelho e usar o chicote improvisado para lhe ensinar uma lição. Ela
ergueu o queixo e pulou na minha direção e, em seguida, afastou-se
rapidamente novamente, provocando-me, toda agilidade e elegância.

"Oh, eu te desafio", disse ela, algo ardente e emocionante queimando


em seus olhos. "Mostre-me seu lado draconiano. Faça o seu pior."

Eu aceitei imediatamente o desafio. "Draconiano? Oh, minha esposa,


você nem mesmo vislumbrou o draconiano ainda." Eu me mudei no momento
em que ela virou sua fita para mim, e eu senti a picada quente cortar, e dor
em todo o meu queixo. Eu congelei.

Ela tinha me batido!


A bruxinha tinha literalmente me chicoteado e... derramado sangue! Eu
estava momentaneamente atordoado, minha mão se movendo lentamente para
o meu maxilar e voltando com uma mancha vermelha brilhante. Fogo quente
despertou em meu corpo quando meus olhos encontraram os de Kira. A bruxa
estava tão atordoada quanto eu, os olhos arregalados olhando para baixo para
a fita grossa em sua mão, e depois retornando para o meu rosto como se ela
não pudesse calcular o que tinha acontecido. Abriu a boca, mas depois fechou
de novo.

"Corra, Sra. Kira!" Ouvi a voz de Virgil de repente gritar. Olhei para ele, e
ele estava torcendo as mãos, um olhar de medo em seu rosto enquanto olhava
para nós.

Kira soltou um pequeno grito, soltando a fita/chicote e fazendo


exatamente o que Virgil tinha sugerido. Eu levei um momento para olhar em
cada um dos meus homens. Homens de Kira, eu provavelmente deveria dizer.

"Não foi realmente culpa dela, senhor", disse José. "Nós a desafiamos.
Parece que nenhum de vocês pode resistir a um bom desafio." Ele estava
segurando o riso e fazendo um trabalho muito pobre.

Dei-lhe o meu melhor olhar fulminante. "No futuro," eu disse, virando-me


na direção que Kira tinha corrido, "por favor, abstenha-se da ousadia de minha
esposa de fazer acrobacias perigosas em equipamentos móveis."

"Sim, senhor", o ouvi murmurando atrás de mim. Peguei meu ritmo,


correndo após a pirralha insuportável.

Eu a vi pausar à minha frente, como se decidindo-se a seguir para sua


casa de campo ou para a casa principal. Ela escolheu a casa principal,
provavelmente pensando que ia ter algum apoio de Walter e
Charlotte. Ambos sabíamos que não havia tranca em sua casa de
campo.
Eu tinha pensado que ela poderia tentar escapar por uma das muitas
portas traseiras, mas quando entrei na casa ela estava de pé no vestíbulo,
olhando para as escadas como se estivesse tentando decidir para onde ir.

A porta clicou suavemente atrás de mim e eu usei a bainha da minha


camiseta para limpar o sangue que sentia escorrendo pelo meu queixo.
Quando eu baixei, vi que seus olhos estavam na minha barriga nua. Eu senti-
me endurecer e inchar, meu sangue em movimento quente e grosso em
minhas veias. Bruxa maldita.

"Foi um acidente", disse ela, olhando no andar de cima como se


contemplando tentar escapar por ali.

"Eu percebo que você está mais propensa a acidentes do que a maioria,
esposa. E Kira," fiz um gesto de cabeça atrás dela, "se eu tenho em mente
pegar você, você não vai mesmo chegar à metade daquela escada."

Seus olhos se arregalaram e determinação encheu sua expressão. Ela


forjou uma direita em direção à cozinha, e, em seguida, fez uma investida
repentina à esquerda, indo em direção à sala de estar em vez disso. Fui atrás
dela, o primitivo instinto masculino de caçar uma excitante fêmea em fuga,
todos os meus sentidos causando excitação em ondas através do meu corpo.

Kira correu em direção ao sofá, e eu estava bem atrás dela quando


tentou subir nele. Eu a puxei para baixo quando ela gritou e lutou comigo.
"Charlotte!" Kira gritou. "Walter!"

Eu consegui segurá-la sob meu comando e fixei seus braços, olhando


triunfante para seu rosto. E então ela se encolheu e virou a cabeça, como se
esperasse um golpe. Eu congelei, imediatamente deixando-a ir.

"Você achou que eu ia bater em você?" Eu perguntei,


incrédulo.
Ela piscou para mim com aqueles olhos lindos, de repente parecendo
incerta e muito jovem.

Ternura encheu meu peito, substituindo qualquer raiva que sentia. "Eu
nunca te bateria."

Ela acenou para mim. "Eu... Eu sei", ela disse, mas o tom da voz dela
me disse que ela não estava completamente certa.

"Gray? Kira?" Eu ouvi Charlotte atrás de mim, mas não olhei para cima,
e Kira não virou sua cabeça. Não mexi nela.

"Nós estamos bem, Charlotte," eu disse enfaticamente.

"Eu ouvi -"

"Nós estamos bem, Charlotte," eu repeti. "Nos dê um minuto, por favor."

Ela hesitou por um momento, e então ouvi seus passos se afastando.

Kira ainda estava me observava com olhos grandes e cautelosos. Será


que ela achou que porque eu tinha sido preso por bater em alguém eu iria bater
nela? Não, ela sempre agiu sem medo comigo, até que ficamos nesta posição
particular.

"Alguém bateu em você antes", eu imaginei.

Seu olhar fez contato com o meu. "Sim", ela sussurrou. Fechei os olhos,
exalando um longo suspiro.

Quando abri os olhos ela ainda estava olhando para mim, seu olhar fixo
sobre o corte no meu queixo, o que eu tinha completamente esquecido. Na
verdade, era apenas uma ferida superficial. Aquela fita burra deve ter me
atingido apenas para a direita – quais eram as chances de ser cortado por
uma fita?
"Eu machuquei você", ela disse, com a voz cheia de arrependimento.
Meu corpo estava pressionado no dela, seu leve e florido perfume ao meu
redor, os lábios ligeiramente entreabertos. Seus olhos estavam cheios de
preocupação, e tão lindos que meu coração doeu.

Não consegui parar. Baixei meus lábios nos dela. Ela se assustou um
pouco, e depois de um momento tenso em que olhamos cada um nos olhos
abertos do outro ela relaxou de volta para o sofá e trouxe os braços para cima
e ao redor do meu pescoço, suas pálpebras tremulando fechadas.

Eu gemi e usei minha língua para traçar os contornos completos de seus


lábios antes de deslizar no interior quente de sua boca. Ela tinha gosto de
doçura e fogo, sua língua emaranhando-se com a minha enquanto eu trouxe
minha mão sob seu corpo e acariciei a curva de sua coluna vertebral. Ela
arqueou-se para mim.

O beijo assumiu uma intensidade febril enquanto nossas línguas


jogaram, meu mergulho em sua boca em um penetrar-e-retirar padrão tão
antigo quanto o tempo. Luxúria, tão acentuada e repentina quanto um raio
surgiu entre nós. Ela sentia-se tão bem debaixo de mim. Senti meu controle
escorregando, e o choque desse sentimento era tão surpreendente quanto
preocupante. Eu quebrei meus lábios dos dela e olhei para seu rosto -
bochechas coradas, os lábios molhados e vermelhos do meu beijo, os olhos
meio cobertos. Impressionante. Pegando uma mecha de seda de mogno e
sentindo isso em meus dedos, eu murmurei suavemente, "Este cabelo..." Ela
piscou para mim, sua expressão em uma confusão cautelosa. Ela se
contorceu e eu assobiei um suspiro de ar enquanto ela se movia contra a
minha virilha dura e dolorida. Ela saiu de debaixo de mim e eu sentei-me
abruptamente. Ela ficou de pé olhando para mim, e eu entrei em
contato com ela com a minha mão, mas ela recuou em vez disso,
olhando para mim quase acusatoriamente. Eu abri minha
boca para dizer alguma coisa - eu não tinha idéia do que - mas antes que eu
pudesse, ela virou-se e, novamente, ela fugiu.
Capítulo Dez
Kira

Eu não tinha idéia do que tinha acontecido. Eu pensei que ele ia me


matar num minuto – quando me encarou com com predatória intensidade - e no
minuto seguinte ele estava me beijando! Meus lábios ainda formigavam da
sensação de sua boca na minha, e eu levantei meus dedos para eles,
pressionando suavemente e sentindo a ternura, como se eu tivesse sonhado
com o que aconteceu.

Pior do que o fato de ele ter me beijado foi como lamentavelmente eu


respondi-lhe. Mais uma vez.

Minha mente balbuciava implacalvelmente sobre por que eu deveria me


afastar. Mas eu não tinha sido capaz de forçar-me a ouvir. Pelo contrario,
deixei-me saber exatamente o quanto eu gostei. Como era humilhante.

Especialmente depois do que ele tinha feito na nossa noite de núpcias.

Caindo na minha cama e fazendo com que as molas enferrujadas


rangessem, olhei para o teto, confusão correndo através do meu sistema. Eu
tinha evitado-o e vice-versa, desde o dia que ele tinha ido em um encontro com
outra mulher e, presumivelmente, dormido com ela como uma questão de fato.
Eu pressionei meus lábios juntos com a lembrança daquele dia, mas fiz o
meu melhor para minimizá-lo, como eu vinha fazendo desde que aconteceu.

Principalmente com sucesso. E, quando necessário, com a


ajuda dos algumas garrafas de vinho, que eu agora mantinha na
minha casa de campo. Ser casada com Grayson Hawthorn
ia me transformar em uma velha bêbada que vivia numa cabana de jardineiro.
O plano para melhorar minha situação estava indo esplendidamente até agora!

Eu gemia em voz alta, meus pensamentos voltando para Grayson. Ele


não tinha gostado do arborismo e tinha apreciado a dança de trator ainda
menos, mas quem se importava? Ele era um dragão que alternava quente e
frio. Além disso, eu estava entediada. E meu pai sempredisse que tempo em
excesso em minhas mãos sempre trouxe o pior de mim. Ele provavelmente
estava certo quanto a isso, pelo menos. A vida era cheia de tantas
possibilidades – por que você deve gastar um dia ficando entediada? O que eu
precisava fazer era dirigir-me para San Francisco e passar algumas semanas
trabalhando nas diversas instituições de caridade que apoiava. Eu desejava
estar ocupada, de forma que fizesse diferença para os outros. Eu não tinha ido
ainda porque queria levar vários cheques comigo quando fosse. Eu também
não seria capaz de pagar nenhum lugar temporário para ficar até que eu tenha
a nossa licença de casamento oficial e o consequente dinheiro da herança.

Licença de casamento... Grayson. Meu marido. Que tinha me beijado!


Eu não entendia o porque ele tinha feito isso tão perfeitamente claro, eu não
era o tipo dele, e eu não tinha ideia. E então ele fez isso? Devia estar louco de
raiva; não havia outra explicação. Certamente ele não teria realmente querido
beijar-me. Certamente era semelhante à primeira vez que ele me beijou: uma
tentativa de ganhar a mão superior. Nós poderíamos passar por isso. Só
precisávamos voltar a ignorar um ao outro. Eu tinha que controlar o meu
impulso para aventuras pela primeira vez na minha vida. Certo?

Meus pensamentos desconexos foram interrompidos por uma batida


forte na minha porta. Levantei-me rapidamente e chamei, "Quem está aí?"

"Sou eu." Grayson. Eu não estava pronta para enfrentá-lo.

"Estou ocupada," disse. "Vá embora."


"Kira." Sua voz tinha a sugestão vaga de aborrecimento. "Esta casa não
tem um bloqueio. Vou entrar se você me conceder permissão ou não. Eu
prefiro ter permissão."

Eu soquei minhas mãos. Dragão arrogante! "Tudo bem, entre", eu cerrei


fora.

Fiquei imóvel enquanto ouvia-o entrar e fazer o seu caminho através da


sala da frente. E então ele estava de pé na porta do meu quarto. Eu desviei o
olhar, porque não queria pensar sobre como ele era bonito e quão bom seus
lábios macios e cheios tinham se sentido nos meus quando ele realmente
colocou algum esforço nisso. E como eu ainda podia sentir o gosto dele na
minha língua.

"Melhor falarmos sobre o que aconteceu agora", disse ele em voz baixa.

"O quê?" Perguntei levianamente, virando meu corpo em direção à


janela.

"Você não se lembra?" ele perguntou, e eu ouvi a nota de humor em seu


tom. "Se meu beijo foi tão esquecível talvez eu deveria tentar novamente, e
fazê-lo melhor desta vez. Eu pensei que tinha melhorado meus esforços em
comparação ao primeiro tempo, mas talvez nós precisemos ainda de mais
prática."

"Não", eu disse, virando-me para ele. Eu respirei. "Não, isso não será
necessário. Estávamos ambos... aquecidos. Esse tipo de coisa acontece às
vezes. Não é grande coisa." Eu acenei minha mão ao redor. "Você pode ter
certeza que não tive nenhuma ideia sobre isso. Sem noções fantasiosas."

Ele me deu um meio sorriso de menino cheio com o charme irresistível


que eu estava certa que resultou em mulheres atirando-se para
ele a cada hora. Mulheres como Jade. A mulher que ele tinha
dormido na nossa noite de núpcias. Não que eu estava
pensando sobre isso novamente, porque eu não estava. Ele deu um passo
mais perto.

"Talvez eu seja o único que está ficando com algumas noções


fantasiosas."

"Oh," eu sussurrei. De repente, minha respiração tinha crescido tão fina


quanto o laço nupcial. Eu tomei uma golfada de ar. "Bem, isso não é uma boa
ideia. Só iria complicar as coisas. Além disso, eu não sou seu tipo, lembra-se?"

"Eu acho que posso estar errado sobre esse ponto, Kira." Mudou-se
ainda mais perto.

"Você queria me matar", eu lembrei-o.

"Sim, bem, você precisa reduzir suas palhaçadas. Subindo em árvores e


dançando em tratores... Não posso ver você se machucar. Além disso, você
zombou de mim na frente dos meus homens e então, me chicoteou."

Bem, quando ele coloca assim...

"Acidentalmente", eu defendi, em relação à parte da chicotada. Meus


olhos mudaram-se para o pequeno corte em seu maxilar, e eu não pude deixar
de sentir uma pontada de culpa.

Ele pegou uma mecha do meu cabelo, e meus olhos observaram os


dedos ao lado do meu rosto quando ele o enfiou atrás da minha orelha. Sua
proximidade estava fazendo-me sentir tudo misturado e confuso, sua
sexualidade masculina flagrante transformando meus membros em geleia. Eu
podia sentir o calor de seu corpo contra o meu próprio, imaginando os
músculos tensos sob suas roupas. Meus olhos se mudaram para a boca
muito bem esculpida, e lembrei-me de sua sensação na minha. A memória
sacudiu-me de volta à realidade.
"Eu sei", disse ele, pensativo. Minha mente se esforçava para lembrar
sobre o que falávamos. "Por alguma razão, com você eu sou especialmente..."
Ele fez uma pausa, parecendo estar procurando o palavra certa.

"Reptiliano?" Ofereci, levantando-me e tentando sacudir o seu efeito de


mim.

"Temperamental," ele corrigiu, dando-me um grande sorriso torto como


um menino tentando me desarmar, eu estava certa. Não funcionou. Na maior
parte.

Seus olhos se moveram sobre o meu rosto por alguns momentos. "Você
provavelmente precisará de algo para fazer. Você mencionou alguma
experiência em contabilidade -".

"Sim, eu trabalhava no escritório do meu pai. Secretariado,


contabilidade..."

"Bom. O escritório em casa é seu agora. Eu sinto muito em dizer que


não tive muito tempo para organizar qualquer coisa recentemente. Você terá
seu trabalho cortado para você."

Balancei a cabeça. "Eu não tenho medo de trabalho duro."

Seu rosto ficou pensativo enquanto ele olhou-me - seus olhos escuros e
insondáveis, encapuzados por aqueles cílios impossivelmente longos. Ele
olhou em volta do quarto em que estávamos de pé, seus olhos pousando no
vasos de flores que eu colhi naquela manhã e, em seguida, vagando para a
porta aberta do banheiro minúsculo.

"Eu posso ver isso."

Sussurros de orgulho encheram meu peito. Eu tive muito poucos


elogios sobre o meu caráter ou ética no trabalho de homens na
minha vida. Eu estava quase envergonhada por quanto essas
quatro palavras significaram para mim. Eu queria
entregá-los na minha cabeça e saboreá-los por alguns minutos, mas Grayson
falou novamente. "Ocorre-me que talvez nós fomos precipitados na definição
de nosso relacionamento. Somos casados, Kira. Há obviamente uma atração
entre nós. Há alguma razão que não devemos... explorar isso?"

Minha respiração ficou presa na minha garganta. Ele estava atraído por
mim? Ele... queria-me? Por quê? Porque ele estava com tesão e eu era
conveniente? Borboletas levantaram vôo em meu peito quando imaginei a
primeira vez que eu estive com um homem. Eu dei um passo para trás e olhei
para baixo, incapaz de manter contato visual com aqueles olhos escuros -
olhos que eu agora vi de perto e eram da cor rica de grãos de café. Não preto
em tudo, mas o mais profundo e mais escuro marrom.

"Por que você precisa de mim? Você tem Jade." Não amarga - não em
tudo.

"Eu não dormi com Jade, Kira. Você estava certa. Não teria sido
discreto. Mas, mais do que isso, não teria sido certo."

Eu zombou, mas o alívio foi secretamente fluindo através do meu corpo;


não só ele não tinha dormido com Jade, mas percebeu que suas ações
poderiam ter causado a nossa relação um olhar muito menos do que legítimo.
"Estou feliz você percebeu que não estava agindo de forma discreta, mas
quase não me importa o que você fez com Jade, por qualquer razão além
disso," eu insisti, levantando meu queixo.

Ele apenas sorriu. "Então o que você diria? Sobre... nós?"

"Posso garantir-vos, Grayson, que você não vai ficar impressionado


com o meu... talento nessa área." Meus olhos momentaneamente mudaram-se
para longe dos dele.
Sua sobrancelha arqueou. "Acho, bruxinha, que eu gostaria de fazer o
meu próprio julgamento sobre esse ponto." Sua voz era como mel quente.

O medo se moveu lentamente através de mim. Não. Não, eu não tinha


interesse em ir para lá com O Dragão. Ele tinha provavelmente ficado com
inúmeras mulheres que sabiam exatamente o que fazer em sua cama. Eu não
seria comparada a elas. Além disso, eu tinha visto o tipo de mulher por quem
ele era atraído e definitivamente não era o meu. Eu balancei minha cabeça.
"Não é uma boa ideia e eu não estou interessada de qualquer maneira. Eu não
gosto de você e eu acho-o... desinteressante. Horrível, na verdade."

Ele riu como se eu apenas não tivesse insultado e chutado-o. Deus, ele
sabia que nenhuma mulher em sua justa razão jamais iria achá-o pouco
atraente. Ele parecia achar que eu poderia ser um pouco doida, porém, assim
pude trabalhar a meu favor. "Além disso, você tem as maneiras de um réptil
dispéptico", eu adicionei para fortalecer meu argumento.

"Eu posso ser civilizado se colocar minha mente nisso", disse ele, com o
mesmo sorriso encantadoramente juvenil, e fazendo o meu estúpido e idiota
coração jogar de novo.

"Duvido," eu murmurei sob a minha respiração.

"Eu vou provar. Esteja pronta às seis horas - eu venho pegar você.
Nunca tivemos um jantar de casamento."

Espere, o quê? Não. "Estou ocupada", eu gritei quando ele se virou.

"Seis horas", ele gritou de volta. Eu cerrei os dentes, considerando-o


em pé. Mas a verdade era que eu estava lamentavelmente sozinha, e
entediada, por uma semana. Um jantar fora era difícil de resistir - mesmo se
tivesse que estar com meu marido. Talvez seria bom falar, obter
fora da sua mente essa noção ridícula de tornar-nos íntimos, e
começar de novo como tínhamos começado. Este jantar
pode ser uma distração para hoje à noite, e somente esta noite. Eu estaria
menos inclinada a inventar Muito Más Ideias se estiver ocupada fazendo seus
livros, e ele estaria extremamente ocupado logo, de qualquer maneira, uma vez
que o dinheiro da herança chegar. As coisas iriam suavizar, e logo eu seria
capaz de sair daqui e limpar Grayson Hawthorn da minha memória para
sempre. Mas primeiro... o que é que eu tinha que usar para o meu jantar de
casamento atrasado?

O Caminhão de Grayson parou em frente a minha casa de campo


precisamente às seis horas. Tomei uma profunda e fortificante respiração, e
caminhei lentamente através dos arbustos. Ele estava parado na porta do lado
do passageiro, segurando-a aberta. "Meu, meu", eu disse, "você tem boas
maneiras quando quer usá-las. Quem teria imaginado?"

Seu sorriso era o de um réptil muito satisfeito, decididamente não-


dislexo - doce, com um brilho diabólico.

Peguei sua mão e dei um passo para dentro da cabine. Ele estava
barbeado e seu cabelo ainda semi-úmido brilhava à luz do sol, os fios quase-
pretos brilhantes e despenteados. Ele era perversamente lindo e eu olhei fora,
fazendo um voto para endurecer meu coração contra ele. Se havia uma coisa
que eu sabia era que homens como ele eram hábeis em conseguir o que
queriam, utilizando charme, e eu não iria me apaixonar por ele.

Uma vez que ele estava sentado na cabine comigo e estávamos


passando através de sua porta da frente, eu perguntei: "Então,
onde você está me levando? "
"Um local que eu acho que você vai gostar." Ele disse casualmente, mas
uma expressão preocupada se estabeleceu em suas características por um
breve momento antes que voasse embora.

Eu torci o colar que usava enquanto observava seu perfil, imaginando o


que ele estava pensando. Ele olhou para mim e seus olhos se mudaram para
minha mão onde eu tinha um dedo envolto da corrente em meu peito, e depois
baixou para meu decote, seu olhar persistente por várias batidas antes que ele
olhasse de volta para a estrada. Eu tinha decidido por um vestido de verão
amarelo de cintura império e um par de saltos marinho. Mas no momento, com
a forma como os olhos de Grayson tinham permanecido na minha pele
exposta, e com a sensação pequena e fervente de tensão sexual na cabine do
caminhão eu estava desejando que tivesse escolhido algo menos revelador,
como um sari, por exemplo, ou talvez um muumuu.

"Então, Kira, você disse que estava na África até recentemente. O que
foi que você estava fazendo lá?"

Grayson pediu, conversando. Ah, agora, quando ele me queria para


aquecer sua cama, ele decidiu ter um interesse em mim. Como é típico. Mal
sabia ele, porém, que eu conhecia o seu jogo e não estava caindo vítima dele.

Limpei a garganta. "Um amigo meu estava construindo um hospital. Eu


decidi ajudar com o esforço."

Ele olhou para mim. "Um amigo?"

"Bem, na verdade, um garoto que eu tinha patrocinado através de um


programa de caridade. De qualquer forma, Khotso havia se tornado um
amigo ao longo dos anos - por meio de cartas. Sua mãe tinha sofrido com uma
coisa chamada fístula obstétrica após seu nascimento, quando ela
tinha apenas treze anos, e isso alimentou seu sonho de se tornar
um médico." O orgulho encheu meu peito enquanto eu
considerava meu amigo. "É praticamente inédito aqui na América, mas é um
grande problema na África, devido a idade muito precoce que muitas meninas
se casam e engravidam. Seus corpos pequenos simplesmente não estão
prontos para ter filhos e eles têm um tempo miserável - muitas vezes em
trabalho de parto por dias e dias e frequentemente perdem seu bebê, também,
e, em seguida, elas vivem em um terrível estado devido às fístulas
desenvolvidas. De qualquer forma, Khotso abriu um hospital para reparar
fístulas para estas mulheres, algumas das quais viveram com elas há anos, e
para ajudar aquelas que perderam seus bebês. É um feito incrível para alguém
tão jovem-" de repente parei de falar, percebendo que tinha sido apanhada na
paixão pelo projeto, como sempre costumava fazer quando falava sobre isso.
Senti-me corar.

"Desculpe eu..."

"Você é apaixonada por ele. É admirável. E parece um esforço muito


digno. Você ajudou uma pessoa, que por sua vez ajuda a tantas agora." Ele
olhou para mim com um olhar que eu pensei que poderia ser sincero respeito.
Meu coração aqueceu apesar do meu voto para mantê-lo frio e distante. "Então
você ajudou a ver o hospital concluído e voltou para casa?"

Estudei minhas unhas. "Bem, quase. Eu teria ficado até a cerimônia de


corte da fita, mas houve um, hum, um incidente."

Grayson levantou uma sobrancelha. "Um incidente?"

"Eu, uh, desafiei um líder tribal para uma corrida a pé."

"Claro que você fez."

Notei seu sarcasmo, mas quando olhei para ele vi diversão em seus
olhos que pareciam quase afetuosos, e então ri baixinho.
"Aparentemente, líderes tribais não gostam de ser superados
publicamente. Em qualquer caso, eu pensei que o melhor
para Khotso e seu projeto seria que eu me distanciasse, literalmente. Então
voei para casa um pouco mais cedo do que inicialmente tinha previsto." E antes
que eu tivesse a chance de bolar um plano melhor do que casar com você,
Grayson Dragão Hawthorn.

Nós puxamos para um estacionamento no centro de Napa e


caminhamos até um restaurante italiano que eu tinha visto antes, mas nunca
tinha entrado. Ele era em um antigo edifício de banco imponente, com grandes
colunas de pedra flanqueando a frente. "Eu pensei que era a propósito,"
Grayson disse, abrindo a porta da frente para mim, "que nosso primeiro
encontro fosse dentro de um banco. Afinal, um banco é onde tudo começou..."

Eu levantei minhas sobrancelhas. "Verdadeiro. Embora isso não seja um


primeiro encontro. É apenas o nosso jantar amigável de casamento.
Praticamente com finalidade de negócio, na verdade."

Antes que ele pudesse responder, uma anfitriã cumprimentou-nos.


"Grayson Hawthorn", disse ele. "Eu tenho uma reserva para seis e meia."

A menina deu-lhe um olhar de admiração, alisou o cabelo para trás em


um óbvio gesto e virou-se para nos levar à nossa mesa.

Eu não pude deixar de notar os olhares em nossa direção quando


caminhamos através do restaurante para uma mesa perto da parte de trás da
sala de jantar principal. Alguns dos olhares eram meramente femininos e
admirados por Grayson, mas muitos dos olhares pareciam quase
desaprovação, e eu não pude deixar de ouvir sussurros de seu nome - não
parece como se a conversa fosse de natureza positiva. Franzi a testa,
percebendo a maneira rígida como Grayson estava segurando-se quando
seguimos a anfitriã.

Lembrei-me de ouvir as duas meninas na loja... você não


poderia levá-lo para casa da Mama agora... e franzi a testa.
Uma vez que estávamos sentados e a cada um tinha sido servido um
copo de vinho, Grayson começou a relaxar um pouco.

Olhei em volta, os olhos correndo para longe de nós em vez de fazer


contato visual. Obviamente estávamos sendo discutidos. Lembrei-me que Napa
era uma cidade pequena. Todas essas pessoas estavam fofocando sobre
Grayson... julgando-o. Talvez por seu crime, talvez pelas razões que ele estava
de volta... talvez pelo fato que seu negócio de família estava em ruínas, talvez
pelo "fato" de que você não poderia levá-lo para casa da Mama agora. Meu
coração partiu-se por ele. Eu sabia exatamente o que se sentia ao ser
julgado... e ao ser encontrado severamente em falta.

Ele pareceu quase imune aos sussurros ao seu redor, mas algo me
disse que ele não estava. Olhei para ele, sentado rigidamente e estudando o
seu menu apenas um pouco demasiadamente intenso, e o voto que eu tinha
feito para ficar desconectada desmoronou. "Eu acho," eu disse suavemente,
movendo minha mão lentamente sobre a mesa para repousar sobre a sua,
"que às vezes a melhor coisa que você pode fazer é sorrir." Quando a minha
mão fez contato com a dele, ele sacudiu muito ligeiramente, seus olhos
encontrando os meus. seu olhar foi tão intensamente vulnerável que meu
coração gaguejou no meu peito por algumas batidas. Este era o homem que eu
tinha visto pela primeira vez fora do banco. "Experimente," eu incentivei
suavemente, inclinando a cabeça e dando-lhe um sorriso grande, brilhante.

Ele voltou uma pequena careta, com os lábios apertados.

"Esse é o seu sorriso? Realmente?" Fingi tremer. "Parece mais como


uma hiena demente." Ele parecia chocado por um segundo, mas então ele
inclinou a cabeça para trás e riu, e o sorriso resultante era grande e
brilhante e muito, muito bonito. Eu sorri de volta. E, de repente, a
tensão diminuiu. Eu retirei a minha mão, mas minha pele ainda
estava quente onde nós tínhamos tocado. Aliviados, a
conversa casual facilitou depois disso - falamos de coisas mundanas através
de nossa refeição. Eu não queria quebrar o feitiço de amizade descontraída
que encontramos de alguma forma.

Quando a nossa sobremesa foi servida, uma mulher mais velha veio até
nossa mesa, uma jovem mulher persistente atrás dela, nervosa. "Eu pensei que
era você, Gray Hawthorn," a mulher mais velha disse. "Eu não tinha certeza,
embora. Você não tem mostrado nem sombra de si mesmo numa sociedade
civilizada, desde que você... ah, retornou."

Ela virou-se para mim, estendendo a mão. "Eu sou Diane Fernsby. Você
deve ser uma das meninas de Gray", ela disse, desprezo praticamente
escorrendo de seus lábios cirurgicamente cheios.

"Na verdade, Diane," Grayson interrompeu, "esta é minha esposa, Kira


Hawthorn." Meus olhos voaram para os dele e eu engoli, choque tornando-me
em silêncio. Eu não estava preparada para ouvir aquelas palavras.

O rosto de Diane drenou de cor. "Sua esposa? Por que, Gray, como
melhor amiga de sua mãe, eu não recebi um convite para o casamento?"

"Madrasta", Grayson corrigiu. "E nós tivemos uma cerimônia íntima." Ele
pegou minha mão e sorriu para os meus olhos. "Não podíamos esperar."

"Eu... Veja", disse ela, seus olhos movendo-se sobre mim, caindo na
minha mão que estava sobre a mesa, alargando quando viu o anel na minha
mão esquerda. "Bem, este é certamente um -"

"Mãe, nós devemos ir. Oi, Gray," a mulher mais jovem falou logo atrás.

"Oi, Suzie", disse Gray, mais calor em seu tom. Suzie corou,
desviando o olhar. Ex namorada?

"Sim, tem razão, querida. Temos que ir." Ela se voltou para
nós. "Bem, meus parabéns", ela disse, soando como nada
além de congratulações. "Depois do que aconteceu
com Vanessa... Bem, você ainda deve estar tentando superar isso." Ela
balançou a cabeça." Quebrando seu noivado e, em seguida, enquanto você
estava na prisão, casando-"

"Nós não estávamos noivos", disse Grayson, voz firme e fria. Vanessa?

Diane acenou com a mão no ar. "Oh, bem, todos nós sabíamos que
seria em breve. Sua mãe me disse que você tinha até comprado um anel. E
depois -"

"Mãe", disse Suzie duramente por trás dela. Ela sorriu desculpando-se
para nós dois, puxando a mão de sua mãe.

"Ah, bem, vou ver você por aí, tenho certeza. Boa noite", disse Diane
Fernsby, permitindo a filha levá-la embora. Quando elas só tinham se afastado
uns poucos passos da nossa mesa, Diane inclinou-se para sua filha e
sussurrou muito calmamente: "Você se esquivou de uma bala com isso,
querida. Um ex-presidiário. Ouvi que a vinha está indo mal... Depois de todo
sofrimento que ele causou a seus pais-" Suas palavras desapareceram quando
ela se moveu mais longe, mas o som de sua desaprovação continuou através
do restaurante.

Eu esperei até que elas tivessem desaparecido de vista antes de falar.


"Sua esposa?" Eu perguntei, mantendo um pequeno sorriso estampado no
meu rosto por causa da aparência. "Eu achei que você poderia apenas me
apresentar como Kira."

A mandíbula de Grayson assinalou uma vez, duas vezes, antes dele


fazer um esforço visível para relaxar, recostando-se na cadeira e sobre mim.
"Você disse que nós devemos fazer o nosso casamento parecer real, por uma
questão de prevenção contra suspeita do seu pai. Eu só imaginei
que começar a circular pela cidade que sou casado não faria mal.
Diane Fernsby é uma das maiores fofoqueiras da cidade."
"Oh..." Eu balancei a cabeça. Ele pegou o recibo do cartão de crédito do
garçom e assinou-o. O Prínciper de Gelo estava de volta. Senti-me
excessivamente ferida. Eu queria ser grata que ele estava colocando algum
esforço em fazer com que o nosso casamento parecesse real em público, mas
sabia que ele não tinha mencionado que eu era sua esposa por minha causa,
ou por causa de meu pai. Ele tinha mencionado que eu era sua esposa como
uma forma de calar a boca de Diane Fernsby. Eu sabia que ele alternava entre
quente e frio, mas estávamos nos dando tão bem antes de Diane Fernsby
aparecer e mencionar sua ex. O que foi aquilo, de qualquer maneira? Uma
mulher tinha abandonado Grayson? E onde ela estava agora? Perguntava-me
se ela vivia em Napa... se ela ouviria sobre nosso casamento agora. Ah, bem,
eu não podia me preocupar com a vida pessoal do meu marido. Não importa o
quão tentador fisicamente ele poderia ser, tentar entendê-lo era exaustivo.

Grayson me levou para fora do restaurante, para seu caminhão. O clima


confortável que tínhamos conseguido durante jantar tinha desaparecido, e foi
substituído pelo constrangimento da distância fria de Grayson. Mas quando nós
dois estávamos sentados na cabine de seu caminhão, ele se virou para mim.
"Eu sinto muito por isso, Kira. Eu vivi nesta cidade minha vida inteira, e muita
coisa aconteceu com minha família nos últimos seis anos. As pessoas estão
curiosas, eu suponho. Desculpe-me, eu te expus a ela."

"A curiosidade é diferente de grosseria flagrante", murmurei, olhando


pela janela da frente.

Grayson suspirou. "Provavelmente eu mereço sua grosseria. Tanto


quanto Napa está em causa, eu sou um assassino e um ex-presidiário. E eu
matei um garoto de ouro da cidade vizinha." Lembrei-me da leitura on-line que
fiz sobre o seu crime. O rapaz que morreu tinha vivido no condado
vizinho de Sonoma.
Mordi o lábio, sem saber exatamente o que dizer. "Você não o matou,
Grayson. Foi uma acidente. Você me disse isso".

"E ainda assim ele está morto do mesmo jeito."

"Você quer falar sobre isso? Eu sou uma boa -"

"Não."

Ficamos em silêncio desconfortável por um minuto ou dois antes dele


finalmente se virar para mim, sua boca curvando-se num sorriso irônico. "Eu sei
como dar a uma garota um bom tempo, hein?"

Eu ri um pequeno som. "Tenho certeza que todas as outras garotas não


se queixam."

Grayson fez uma leve careta. "Desculpe por isso. Apesar do fato de que
a minha madrasta nunca foi excessivamente afeiçoada a mim, Diane queria
sua filha e eu juntos. Suzie só -"

"Não era o seu tipo?" Eu levantei uma sobrancelha.

Grayson riu. "Sempre foi apenas uma amiga."

Falando de mulheres que eram o tipo de Grayson... "Grayson, quem é


Vanessa?"

Grayson não respondeu de imediato, mas vi seus ombros tensos. Ele


continuou a olhar para fora da janela da frente quando disse, "Vanessa é a
esposa do meu irmão."

"Oh." A palavra foi mais fôlego do que som. Seu irmão tinha se casado
com a namorada dele - a mulher com quem ele estava planejando se casar -
enquanto ele estava na prisão? Estremeci, imaginando o que deve ter sido
para ele. Não admira que ele não falou mais com seu irmão. "Eu
sinto muito, Grayson," eu disse, sem saber o que mais dizer.
Ele acenou com a cabeça uma vez, reconhecendo as minhas palavras,
e então ligou o caminhão e puxou para fora do estacionamento. A volta para
casa foi principalmente tranquila, o rádio tocando suavemente no fundo.
Quando estacionou ao redor da fonte e parou na frente de sua casa, Grayson
se virou para mim. "Você quer uma bebida? Acontece de eu possuo uma
garrafa de vinho que um especialista disse ser bastante agradável."

Eu sorri. Provavelmente estava sendo tola me importando, mas parecia


que ele não queria ficar sozinho. O que poderia machucar uma bebida?

"Delicioso, você diz? Eu gosto de delicioso."

Ele riu suavemente. Saímos do caminhão e eu segui o meu marido para


dentro de sua casa.
Capítulo Onze
Grayson

"Você sabe o que devemos fazer?" Kira perguntou de repente,


inclinando-se abruptamente, me surpreendendo. Estávamos sentados em
cadeiras semi-oxidadas de estar no pátio, um copo de vinho em cada uma de
nossas mãos. Nós tínhamos bebericado em um silêncio confortável, com vista
para a piscina coberta - provavelmente obscura e cheia de lodo abaixo. Eu
tinha toda a intenção de tentar seduzi-la esta noite. Não achei que seria muito
difícil - ela tinha respondido ao meu beijo mais cedo, com tanta paixão
entusiasmada. Mas depois do que aconteceu no restaurante, não estava
sentindo-me exatamente tão lascivo.

"Tenho a sensação que nada de bom segue essas palavras, quando


elas estão vindo de seu boca", eu disse.

Ela me lançou um sorriso. "Não, realmente. É uma boa ideia."

"Ok, o quê?"

"Deveríamos fazer uma festa!"

Levantei uma sobrancelha, inclinando a cabeça para trás na cadeira


enquanto a observava. "Uma festa? Por que no mundo faríamos isso?"

"Bem", disse ela, sentando-se completamente, balançando as pernas


para o lado para que ela pudesse me enfrentar, "parece-me que a
comunidade de Napa esta... desconfiada de você agora. Isto
certamente poderia prejudicar a imagem da Vínicola
Hawthorn em obter uma melhor posição social em sua própria comunidade.
Estou certa?"

"Bem... Eu acho." Ela estava certa. Se eu fosse ter uma chance de


trazer meu negócio de família de volta à vida, não seria bom se eu fosse a
ovelha negra da região do vinho. Ainda... "Como uma festa poderia ajudar
nesse sentido, exatamente?"

"Seria apenas um começo", disse ela, parecendo pensativa. "Mas a


notícia se espalha, você sabe. Se convidarmos algumas das pessoas mais
influentes da comunidade e eles se sentirem acolhidos por você, estariam mais
propensos a estender a mesma cortesia. Fofoca tem uma maneira de fazer as
pessoas esquecerem que o assunto é um ser humano. Convidar as pessoas
aqui iria lembrá-los disso. Acho que, por natureza, as pessoas querem
entender e perdoar."

"Você dá muito crédito às pessoas."

Ela pareceu considerar, se as linhas de expressão que apareceram


entre seus olhos fossem alguma indicação. "Talvez. Mas eu gosto de achar que
não. Pelo menos na maioria dos casos, de qualquer maneira." De repente ela
parecia vulnerável.

Depois de tomar um gole de vinho, eu disse: "Você deve estar


familiarizada com fofoca."

"Bem, é claro. Grande parte da minha vida tem sido aos olhos do
público." Sua expressão parecia aflita, e eu tive o instinto súbito de levá-la em
meus braços. Eu desviei o olhar, tomando mais um gole do vinho branco
amanteigado, saboreando as notas de caramelo e pera.
"De qualquer forma", eu disse, mudando de assunto, "como as pessoas
vão se lembrar que eu sou um ser humano? Eu pensei que você me
considerava mais dragão que humano."

"Verdade." Ela sorriu. "Você teria que conter suas tendências reptilianas
por uma noite."

Eu ri, estudando as sombras e os destaques de suas características na


luz fraca da lua e nas poucas luzes da casa ainda atrás de nós.

"Seriamente, embora eu quase não tenho tempo para planejar uma


festa."

Ela balançou a cabeça. "Não, claro que não. Eu faria isso. Vai me
manter longe de problemas. Poderíamos fazer com tema de safari africano! Ou
um luau tropical! Vou pensar em algo perfeito." Ela sorriu, e eu tive um lampejo
daquela covinha bruxinha. Meu batimento cardíaco gaguejou, e então eu não
pude evitar a pequena risada que encontrou seu caminho até minha garganta.

"Você deveria estar me ajudando a organizar meus livros de


contabilidade para ficar longe de problemas."

"Eu posso fazer as duas coisas."

Eu suspirei. "Tudo bem. Mas espere até receber o cheque, por favor,
antes de começar a gastar um dinheiro que nenhum de nós tem ainda."

"Eu vou. Bem, com exceção dos convites. Eu vou pagar por eles. Tenho
sua permissão para escolher uma data?"

"Vá em frente. Posso assegurar que não tenho quaisquer planos


sociais no calendário."

Alguns momentos de silêncio se estabeleceram entre nós. O


ar suave da noite estava perfumado com as rosas das
proximidades, o sabor do vinho batia gelado na minha
língua, o farfalhar das árvores continuava sussurrando ao redor, o furta-cor da
névoa flutuava além das videiras. Fechei os olhos, saboreando as sensações
variadas, perguntando-me quando tinha vivido um momento como agora. Eu
tive, alguma vez?

"Há planos de restaurar a piscina quando chegar o nosso cheque?" Kira


perguntou baixinho, balançando a cabeça em direção a ela.

"Provavelmente não. Eu gostaria de arrancar isso."

"Por quê? Você não gosta de nadar?"

"Eu gosto de nadar, muito. Mas não tenho muito boas memórias dessa
piscina em particular. Meu pai pensou que seria uma boa ideia me ensinar a
nadar jogando o meu cachorrinho no fundo da piscina."

Kira respirou. "O seu cachorro? Por que ele faria isso?" ela sussurrou.

Jesus. Eu não pensava sobre isso há tanto tempo. Por que eu estava
me lembrando agora? Deveria ser porque a piscina estava diante de mim... "Eu
tinha seis anos, e estava com medo do fundo da piscina. Não importava o
quanto meu pai me ameaçou, eu não entraria. Ele ficava do lado da piscina em
seu maldito terno de negócio, cercando-me enquanto eu chorava." Deus, vinte
e dois anos mais tarde e eu ainda podia sentir a humilhação. "Eu tinha
encontrado este cachorrinho perdido vagando fora dos nossos portões, e
implorei aos meus pais para me deixar ficar com ele. Eles concordaram, desde
que fosse apenas um cão, e eu cuidasse disso exclusivamente..." Deixei meus
pensamentos vagarem, tentando imaginar esse cachorrinho que eu tinha
chamado de Sport. Tinha sido um vira-lata marrom e branco, com esses
grandes olhos confiantes... "De qualquer forma, estávamos aqui para uma aula
e eu novamente me recusei a entrar. Então meu pai pegou o
cachorrinho que estava sentado ali no pátio", eu apontei meu
dedo para o ponto exato, "e atirou-o. Disse-me que se eu
não pulasse atrás dele ele se afogaria."

"Oh Deus, Grayson," Kira respirava com a mão sobre sua boca.

Eu dei-lhe um pequeno sorriso. "Foi há muito tempo." Então por que


meu peito ainda doía com essa recordação?

"Eu estava ao lado da piscina chorando e gritando por esse cachorrinho


afogado, Kira. Meu pai eventualmente o recolheu, mas já era tarde demais." E
a culpa ainda rasgava minha alma. Eu tinha sido um covarde. "Eu só queria ter
como fazer tudo de novo... Eu iria salvá-lo desta vez. Eu me afogaria se fosse
preciso. Mas iria salvá-lo."

"Claro que sim. Você é um homem agora, com a coragem de um


homem. Você era praticamente um bebê então," disse ela, movendo-se para se
sentar na minha cadeira. "Você alguma vez aprendeu a nadar depois disso?"

Corri a mão pelo meu cabelo, segurando um punhado enquanto


recordava. "Walter. Meu pai foi embora um par de semanas mais tarde, e
Walter passou o fim de semana me ensinando a nadar. Ele usava este
estranho terno preto que ia dos joelhos até o pescoço." Eu ri baixinho,
lembrando como Walter tinha tido me treinado repetidamente em águas rasas
até que me senti confiante o suficiente para ir para o fundo, e então ele veio
comigo e me deixou em seus ombros até eu dizer-lhe que estava pronto para
tentar sozinho. "Mais tarde naquele ano eu ensinei meu irmão a nadar quando
meu pai estava fora, por isso, quando ele finalmente jogou-no fundo da piscina,
ele nadava como um peixe pequeno. Meu pai estava tão orgulhoso", eu disse,
tentando soar irônico, mas a declaração saiu com o verdadeiro orgulho que
senti. Estava orgulhoso do meu irmão, e estava secretamente orgulhoso que
o ajudei a evitar o terror e a culpa que eu tinha enfrentado. Eu suspirei,
minha mão caindo ao meu lado.
"Não foi culpa sua", disse ela suavemente, parecendo saber o que eu
estava pensando. "O que seu pai fez com você foi uma coisa má e horrível de
se fazer com um garotinho. Oh, Grayson, eu sinto muito que você
experimentou isso." Ela colocou a mão no meu rosto, sua expressão suave e
cheia de compaixão. Quão errado eu tinha estado sobre a bruxinha. Tão
completamente e totalmente errado. Quando olhei em seus olhos indulgentes
me senti como se relaxasse, e comecei a me afastar.

Por que eu tinha compartilhado essa história com ela? Ela tinha um jeito
de tirar confissões honestas de mim. Era porque, esta noite no restaurante,
entre todos aqueles olhos arregalados, ela tinha feito eu me sentir como se
alguém estava do meu lado? Foi porque ela estava planejando algo - uma festa
- num esforço para me ajudar a elevar minha posição social aos olhos das
pessoas, por nenhuma outra razão além de que ela se importava, e pensou
que poderia fazer algo para ajudar? Ou foi porque de repente eu senti essa
amizade inesperada e compreensão vindos da minha esposa imprevisível? Ou
haveria algum tipo de feitiço que flutuava na névoa esta noite?

"Doce bruxa bonita," eu murmurei, puxando-a até mim para que pudesse
beijá-la. Enrolei minhas mãos em seu cabelo espesso e sedoso quando nossos
lábios se encontraram. Ela ficou tensa, mas não se afastou, e eu segui seus
lábios com a minha língua lentamente até que ela se abriu para mim. Puxando-
a para mais perto eu aprofundei o beijo, explorando o molhado contorno de
seda de sua boca. Ccalor enrolava através do meu corpo, aquecendo meu
sangue. Quando ela finalmente começou a participar, eu queria gemer com
satisfação, mas também não queria fazer qualquer coisa para quebrar a
magia e tê-la se afastando. Eu trouxe as minhas mãos para baixo, para subir e
descer pelas suas costas, e depois de algumas momentos senti
seus músculos relaxarem. Nosso primeiro beijo tinha sido duro e
desafiante, o segundo voraz e ainda suave, mas este era
lento e sensual, como se nossas bocas estivessem fazendo amor. Eu tinha
beijado incontáveis mulheres na minha vida, mas nunca tinha experimentado
um beijo como este. Isso confundiu-me quase tanto como despertou-me. Antes
que ela pudesse reagir, eu mudei-me com ela – rapidamente, mas com fluidez -
de modo que ela estava sob mim e eu pairando acima dela, meu peso do
quadril para o lado de seu corpo na cadeira de salão. Ela piscou para mim,
como se estivesse incerta sobre o que tinha acontecido. Eu queria puxá-la
totalmente contra mim, assim ela podia sentir toda a extensão da minha
excitação, mas sabia instintivamente que esse seria o movimento errado agora.
Minha querida esposa precisava ser induzida lentamente à paixão hoje à noite,
e eu estava muito disposto a fazer o que quer que fosse que ela precisava. A
faísca rápida no início do dia tinha me assustado por algum motivo - uma razão
que eu descobriria, mas não esta noite. Esta noite não era sobre ninguém,
exceto nós.

Seu cabelo estava espalhado ao seu redor, os lábios brilhando com a


umidade dos meus beijos, e seus olhos me olhavam com paixão nebulosa e
um toque de cautela. Inclinei-me e beijei-a novamente, e meu corpo ficou tenso
com o esforço para me segurar. Eu queria despir suas roupas e mergulhar no
seu calor suave e apertado aqui mesmo. Meu corpo estava pulsando com
necessidade. Comecei a puxar as alças de seu vestido de verão para baixo,
mas ela fez um pequeno grito de protesto. Eu parei, mas me inclinei e beijei
seu pescoço, arrastando meus lábios para baixo por sua pele macia e
perfumada, correndo minha língua para fora para prová-la. Ela inclinou a
cabeça para trás e arqueou-se em mim, e eu aproveitei a oportunidade para
puxar o vestido para baixo. Seus seios bateram livres. Eu olhei para baixo,
não capaz de reprimir o gemido profundo e animaldesco que subiu de
minha garganta com a visão de seus lindos e cheios seios, bem
na minha frente. "Você tem os mamilos mais bonitos que eu já
vi", murmurei. "Eu não tenho sido capaz de parar de
pensar neles." Eu inclinei-me e beijei um, e Kira soltou um pequeno e feminino
suspiro. Aquele som fez meu pau endureceu a proporções dolorosas. "Eu
queria prová-los e chupá-los desde que caminhei até você no outro dia", admiti
com meus lábios contra sua pele enquanto beijava o outro peito. "Me perguntei
se eles tinham um sabor tão doce quanto parecem."

"Grayson," ela gemeu, enredando os dedos no meu cabelo. Eu abaixei


minha boca para um pico duro e o lambi, girando minha língua ao redor e ao
redor.

"Deus, você tem", eu gemi, "uma sabor tão doce quanto parece."

"Eu disse que não devíamos... não é..." As palavras dela pararam em
um suspiro ofegante. Poucos segundos depois, essas respirações viraram-se
para as calças. Na sua resposta, eu passei meus lábios completamente ao
redor do mamilo e suguei-o, puxando-o em minha boca e, em seguida, usando
a minha língua para acalmá-lo suavemente. Ela gritou, puxando o meu cabelo.
"Oh Deus, Gray," ela gemeu. "Você, temos que-"

"Shh, bruxinha," eu acalmava, tendo o outro mamilo em minha boca e


sugando-o suavemente antes de puxá-lo para trás. "Permita-se desfrutar isso."

Eu abri suas coxas, colocando um de meus joelhos entre elas. Ela olhou
para mim com os olhos desfocados e drogados com a excitação. Um triunfo
macho primitivo fez o meu intestino apertar, e eu pressionei minha ereção
contra sua barriga quando me inclinei para beijá-la novamente. Seu corpo de
repente ficou rígido e ela virou sua cabeça. "Não", ela disse, com voz suave e
ainda arranhada com paixão.

"Sim", eu disse, inclinando-me. Ela empurrou meus ombros.

"Não", ela disse com mais firmeza. Eu gemi, rolando para o


lado. Ela se levantou rapidamente, puxando seu vestido para
cima, parecendo como se estivesse tendo problemas
para fazer suas pernas cooperarem. Meu corpo pulsava dolorosamente com
luxúria não gasta. Deus, eu a queria. Ela fez um esforço combinado para não
parecer afetada. "Eu tenho que ir para cama."

Meu braço disparou e eu agarrei a mão dela antes que ela pudesse
correr.

"Eu quis dizer o que eu disse, Kira. Não há nenhuma razão para
dormirmos sozinhos. Nós podíamos... consumar este casamento. Você sente
que temos entre nós, tanto quanto eu." Dei-lhe o meu mais charmoso sorriso,
mas ela desviou o olhar e puxou sua mão livre da minha, as linhas de seu
corpo tensas, os olhos confusos e um pouco aflitos.

"Você me contou essa história e então achou que isto", ela moveu a
mão para trás e para frente entre nós dois, "aconteceria?"

Confusão me fez parar. "Que história?"

"Sobre o filhote de cachorro."

"O cachorrinho? O quê? Não." Será que ela achou que eu contei-lhe
sobre isso para manipulá-la para me beijar? Eu pressionei meus lábios juntos.

Ela me estudou por um momento e depois soltou uma respiração afiada.


"Eu te disse, Grayson, eu não estou interessada em... nisto." Ela fez o gesto
entre mim e ela mais uma vez. "Isso só complicaria uma situação já
complicada. Isto não fazia parte do nosso acordo."

"Negócios mudam o tempo todo." Sentei-me e trouxe minha perna sobre


a cadeira, levantando-me para encará-la. Eu levei uma mecha de seu cabelo
entre os dedos, testando sua textura sedosa, desejando que a lua trouxesse
para fora seus destaques ardentes como o sol. Mas nesta luz, o seu fogo
foi sombreado. Quando eu fizer amor com ela, eu quero sempre
estar na luz, para que eu possa ver as chamas em seu cabelo,
o brilho de seus olhos cor de esmeralda. Eu quero ver
todas as maneiras que seu corpo proclamar a própria vida, cheio de calor e
paixão.

Meu corpo pulsava novamente, ainda duro no próprio pensamento de


fazer amor com ela... por horas e horas.

Ou, inferno, mesmo apenas uma vez... "Isto pode ser temporário, Kira.
Assim como o nosso casamento."

Ela piscou para mim e levou as mãos ao rosto, como se estivesse


quente. Eu não poderia dizer nesta luz, porém, se era este o caso ou não. "isto
não iria funcionar. Apenas confie em mim." Ela se virou para a escadaria de
pedra até a casa. Eu chamei o nome dela, mas ela não se virou, não olhou
para trás. Eu sentei-me na poltrona deixando escapar um longo suspiro
sexualmente frustrado, tentando descobrir o que tinha acontecido. Eu não tinha
idéia de como lidar com minha própria esposa. As mulheres sempre tinham
chegado facilmente a mim. Mantê-las... bem, Vanessa tinha provado que
poderia ser uma questão diferente. Mas Kira e eu já tínhamos estabelecido que
a nossa relação seria temporária, então, com ela não seria um problema. Eu
nunca tinha experimentado ser rejeitado no sexo, especialmente quando ligava
meu charme. Eu não estava sendo arrogante, era apenas a verdade. Será que
eu realmente sei como seduzir uma mulher? Uma relutante? Quão irônico era
que a primeira mulher pela qual eu tinha que trabalhar fosse minha própria
esposa?

"Até segunda, Charlotte," eu disse, inclinando-me e


beijando seu rosto macio. Era sexta-feira pela manhã, e ela e
Walter fariam uma viagem de fim de semana para San
Francisco, para visitar amigos.

"Há várias caçarolas no congelador, com instruções escritas em cima",


disse ela. "Oh, e eu assei um lote dessas bolachas de manteiga de citrinos que
você gosta. Elas estão na folha de estanho em -"

"Charlotte", eu ri, "Eu sou um homem crescido. Posso cuidar de mim


mesmo durante o fim de semana."

Ela sorriu, sacudindo a cabeça e beliscando minha bochecha


carinhosamente. "Gosto de cuidar de você. Apenas deixe-me caducar. Oh! E,
por favor, diga a Kira que assei para ela os biscoitos de aveia com açúcar
mascavo que ela gosta. Onde ela está afinal? Eu pensei que ela viria até a
casa para dizer adeus."

"Saímos ontem a noite. Ela provavelmente está dormindo," eu disse,


imaginando-a se enredando em seus lençóis na sua pequena casa de campo,
com o cabelo glorioso todo espalhado-

Charlotte olhou-me como se pudesse ler meus pensamentos. "Como


vão as coisas com vocês dois agora que na verdade estão casados?" Ela
queria vir conosco para a cerimônia, mas eu disse a ela que absolutamente
não. Na época eu não queria nada que fizesse a cerimônia mais estranha do
que já era. A presença de Charlotte só teria servido nos para fazer sentir mais
desconfortáveis... e para me fazer sentir culpado. Eu não podia negar isso.

Eu suspirei. "Eu não sei. É difícil dizer com ela. Eu mal sei o que ela vai
fazer a partir de momento a momento, muito menos o que ela está pensando."
Só sabia que ela estava resistindo a mim, e era provavelmente por isso que
eu a queria tão mal.

"Hmm," ela cantarolou, parecendo pensativa. "Sim, muitos


não combinam com aquele espírito, vou dizer isso. Exceto, talvez,
você." Ela piscou para mim. "Estou feliz que vocês dois
foram jantar na noite passada. É um bom começo." Ela sorriu, e antes que eu
pudesse abordar esse comentário ou dizer-lhe para não ter quaisquer grandes
ideias, ela continuou: "Diga-lhe para ter um bom fim de semana. Oh! E diga-lhe
que eu tenho sua lista sobre a festa. Esplêndida ideia! Eu não sei qual é a
pressa, ou por que ela estava enviando-me o convite às duas da manhã, mas
Walter e eu vamos parar na cidade esta manhã e encomenda-los - eu conheço
um lugar que vai imprimi-los imediatamente. Eu ainda tenho a lista de
endereços de etiqueta da Jessica, elencando quem é quem em Napa, e posso
envia-la por e-mail para a impressora uma vez que eu tiver alguns minutos para
passar por isso." Kira ficou acordada no meio da noite? Por quê? Tinha ela,
também, sido incapaz de dormir depois do que tínhamos feito no pátio? Tinha
ela se jogado e se virado, lembrando a sensação de-

"Diga a Kira que eles estarão no correio na segunda-feira," continuou


Charlotte, interrompendo meus pensamentos. "E aqui, beba seu suco de
laranja", disse ela, entregando-me meu copo meio-cheio. "Há uma terrível gripe
acontecendo ao redor." Fiz o que ela disse, drenando o vidro apenas para
parar sua festa-conversa e incessante chateação. Ela me observava
atentamente enquanto eu bebia, com algo quase nervoso em sua expressão.
Estava ela preocupada com uma gripe? Quando eu terminei, ela pegou meu
copo e lavou na pia antes de eu enxotá-la para fora da cozinha, dizendo adeus
a Walter, que estava esperando no hall de entrada com uma pequena mala no
chão a seus pés.

"Adeus, senhor", disse ele, dando a sua esposa um pequeno sorriso


afetuoso assim que ela veio em sua direção, exagerando sobre todas as
coisas que foram deixadas por fazer, como se não pudéssemos sobreviver
sem a sua proteção durante o fim de semana.
Eu trabalhei até tarde naquele dia, e, em seguida, fiz uma viagem à
cidade para buscar suprimentos, retornando quase cinco. Depois de um banho
rápido, fui até a cozinha para colocar uma das caçarolas no forno para o jantar.
Eu mandei uma mensagem para Kira, para informa-la que o jantar estaria
pronto às seis. Uma hora mais tarde, porem, quando ela ainda não tinha me
mandado uma mensagem de volta, comecei a ficar inquieto. Será que ela
estava me ignorando? Eu não a tinha visto nenhuma vez durante todo o dia.

Ela estava escondida naquele pequeno casebre, me evitando? E agora


pensando sobre isso, ela não estava planejando começar a trabalhar no meu
escritório? Fui ver se havia algum sinal de que ela tinha estado lá, mas não
havia. Eu fiquei ao redor do meu escritório por um tempo, mas quando os meus
níveis de frustração tinham subido demais para concentrar-me em qualquer
coisa, afastei-me de minha mesa e fui pegar meu telefone. Eu mandei uma
mensagem a Kira novamente e, em seguida, esperei cinco minutos,
tamborilando os dedos no balcão da cozinha. Nada.

Eu estava caminhando após a fonte antes mesmo de perceber que eu


tinha deixado a casa. E se ela tivesse decolado para o Brasil como mencionou
naquele dia no quarto do hotel onde estava hospedada? A bruxinha!

Ela tinha me deixado? Será que o que tínhamos feito ontem à noite
assustou-a tanto assim? Ou ela havia imaginado consideração e compaixão
como sendo um ato bem executado? Meu sangue estava pulsando em minhas
veias com algo que eu não pude identificar se era pânico ou raiva - talvez uma
mistura de ambos.

Será que sua mala tinha ido embora? Ela tinha feito de mim um
completo idiota? Deixando-me com nada alem de orgulho despedaçado e
uma muito real perna algemada, mesmo sem nenhuma evidência
verdadeira de uma noiva? Eu não me incomodei em bater,
caminhando pela sala da frente desordenada e
explodindo em seu quarto, meu batimento cardíaco batendo no meu peito com
o que eu iria encontrar.

Eu expulsei um fôlego gigante quando vi a mala dela aberta no chão,


suas roupas caindo como tinham estado no dia anterior. Meu olhar girou ao
redor do quarto, descansando sobre o caroço debaixo do cobertor na cama.
Ela estava dormindo? Às seis da noite? "Kira?" Sem resposta. Mudei-me para
a cama e arranquei o cobertor. Um pequeno gemido emergiu, e Kira puxou as
pernas até o peito, rolando em uma bola menor. "Kira?" Perguntei novamente,
desta vez com preocupação atando minha voz.

Seu rosto estava coberto com o lindo cabelo dela, então me movi em
volta da cama e coloquei minha mão em sua testa. Sua pele estava quente ao
toque, e ela estava transpirando embora estivesse também arrepiada. "Oh não,
Kira, você está queimando, querida." Ela só gemeu de novo, movendo seu
rosto em minha direção, mas mantendo os olhos fechados. Ela murmurou
alguma coisa ininteligível, e depois tremeu violentamente. Foda-me. Isto foi
minha culpa. Eu deixei-a ficar neste lugar empoeirado, cheio de correntes de
ar, obrigando-a a tomar banhos gelados por dias a fio. O que havia de errado
comigo? Culpa me bateu no intestino e eu coloquei meus braços sob ela,
levantando-a delicadamente juntamente com a colcha. "Você está vindo para a
casa principal e ponto final. Eu vou ditar a lei. Eu sei que em algum lugar aí
dentro você está discutindo comigo, mas eu não estou tomando um não como
resposta. Você não tem escolha a não ser me obedecer. Como você gosta
disso, esposa?" Eu perguntei, tentando obter algum tipo de reação dela. Ela
deu outro senão apertando-se mais perto de mim, e tremendo de novo.
Levei-a cuidadosamente através da sala da frente, suja e cheia de
equipamentos, e chutei a porta fechada atrás de mim, movendo-me
rapidamente através do frio fora de época e pela a noite cheia de
névoa. Enquanto eu subia as escadas com Kira em meus
braços, minha cabeça de repente cresceu tonta e eu parei, encostando no
corrimão por um momento.

Bem, isso foi estranho. Deus, eu esperava que não estivesse ficando
doente também. Não seria bom sincronismo. Após um momento, o sentimento
passou, deixando apenas um zumbido estranho no meu sangue. Eu trouxe Kira
ao quarto que tinha pertencido à minha madrasta e coloquei-a gentilmente
sobre a cama. Puxei os cobertores do outro lado e, em seguida, movi-a sobre
os lençóis, cobrindo-a. Depois de alisar seu cabelo para trás e estabelecer uma
toalha fria na testa, eu fui pegar algum Tylenol. Quando voltei com os
comprimidos, balancei Kira suavemente. "Kira, você precisa me dizer se sjá
tomou alguma coisa. Kira?" Ela se moveu, seus olhos piscando para mim, o
verde ainda mais vivo com a febre. "Kira, tomou alguma coisa? Qualquer
medicamento?" Ela balançou a cabeça e fez uma careta.

"Não tenho nada", ela resmungou.

"Ok, bem, então eu preciso que você tome estes", eu disse, segurando
as pílulas perto de sua boca. Ela tragou e tomou vários goles da água que eu
trouxe, caindo de volta nos travesseiros e fechando os olhos mais uma vez. Eu
levei um momento para estudar seu rosto. Sua pele estava vermelha com a
febre, os cílios longos e escuros em suas bochechas, seus lábios secos e
ligeiramente separados.

"Bela pirralha", eu sussurrei, alisando os cabelos para trás. Tomei


consciência do estranho zumbido em minhas veias novamente, franzindo a
testa. O zumbido parecia fluir até a minha virilha, e eu fiz uma careta pelo
pouco que eu tinha endurecido. Este dificilmente era o momento para luxúria,
mas meu corpo parecia ter outras idéias. Eu me senti levemente
envergonhado. A mulher na minha frente estava doente, pelo
amor de Deus.
Ao longo de um dia e meio eu trabalhei para manter Kira confortável
enquanto seu corpo lutava contra a febre. Eu também lutava para manter o
meu próprio corpo sob controle. Necessidade correi enfurecida através de
minhas veias, numa espécie de redemoinho ardente de desejo incontrolável.
Eu encontrei-me repetidamente dobrado pela pulsante intensidade de uma
ereção que parecia vir do nada e durar horas. Não era normal. Algo estava
drasticamente errado.

Liguei para José e disse-lhe que estava muito doente para trabalhar,
pela primeira vez no ano desde que eu tinha voltado.

Eu não poderia trabalhar naquele dia, de qualquer forma, já que para


tanto teria que deixar Kira sozinha - mas a verdade era que eu precisava, de
alguma forma, sair de casa. Eu era como um animal fora-de-controle. Eu queria
foder como um Viking - saquear e rasgar as roupas e saciar meu desejo
latejante mais e mais e mais, até que a dor pulsante deixasse-me finalmente
satisfeito e mole. O pensamento em si parecia ridiculamente dramático, mas
ainda assim eu não podia achar qualquer outra maneira de explicá-lo, nem
mesmo para mim. Eu desviei o olhar enquanto limpava com panos frios o
pescoço e parte superior do peito de Kira, tremendo para controlar o impulso
de rolar em cima dela e levá-la, inconsciente, com febre ou não. Eu tive que me
aliviar quatro vezes sozinho no banheiro, apenas para funcionar o suficiente
para cuidar da bruxinha. Não, isso não era normal. Ela tinha colocado algum
tipo de feitiço em mim? Eu senti-me possuído por um demônio sexualmente
agressivo, vindo direto das profundezas de Hades.

Eu estava a ponto de chamar um médico - ou talvez um padre, para


realizar um exorcismo em mim - quando os sintomas finalmente começaram a
diminuir no final da tarde de domingo. Mentalmente esgotado e
fisicamente drenado – literalmente - me deitei na cama ao lado de
Kira apenas um momento. Sentia-me marcadamente
resfriado, sua respiração suave e uniforme. O início sombrio do crepúsculo
filtrava através das bordas das cortinas pesadas, e o zumbido baixo do
ventilador de teto me embalou para dormir quase que instantaneamente.
Capítulo Doze
Kira

Eu despertei devagar, sentindo-me como se estivesse emergindo de


algum lugar profundo e escuro, a luz muito, muito acima. Pisquei os olhos,
tentando entender onde estava, a sensação de algo quente e sólido à minhas
costas. Virando-me e ainda grogue, olhei para o rosto incrivelmente belo de um
dragão adormecido. Eu tentei reunir o que me trouxe aqui. mas só conseguia
me lembrar de subir na cama, praticamente incapaz de me levantar, sentindo-
me primeiro como se uma pedra tivesse caído no meu corpo e, em seguida,
como se estivesse sendo fervida viva. Mesmo agora eu me senti tonta, meus
membros pesados. Eu tinha estado doente, com uma febre, pensei. Visões de
Grayson me alimentando com caldo, colocando panos frios na minha cabeça e
alisando meu cabelo para trás vieram à minha memória dispersa. Ele cuidou de
mim quando eu estava doente. Ternura fluiu através de mim como um fresco
beber de água enquanto eu olhava para sua beleza masculina pacífica. Minha
mente não estava completamente acordada ainda, e desinibida de qualquer
medo ou lógica eu trouxe minha mão até seu rosto, mudando meu polegar para
baixo por seu queixo áspero e sombreado com restolho preto. Isto é como seria
acordar com ele. Isto é como seria se ele fosse realmente meu. Ele não tinha
se barbeado há um par de dias. Estive aqui, nesta sala, por tanto tempo?

Os olhos de Grayson se abriram e ele olhou para mim por vários


momentos, a compreensão lentamente aparecendo em sua
expressão sonolenta. "Oi," ele murmurou, trazendo a mão na
minha testa. Suspirou enquanto se afastou de novo. "A
febre foi embora", disse ele, sua expressão calma e plácida.

"Sim. Você cuidou de mim", eu sussurrei. "Obrigada." Ele foi gentil. O


pensamento veio súbito e certo.

Ficamos assim, o momento parecendo estar preso entre o sono e a


vigília, nós ainda presos na teia nebulosa dos sonhos. Seus olhos eram tão
bonitos - tão escuros, como o céu à noite, e apenas tão fáceis de se perder. Ele
levou a mão ao meu rosto e escovou o polegar sobre minha bochecha. Eu
suspirei, inclinando-me para seu toque. De repente ele piscou para mim, seus
olhos abrindo totalmente como se algo tivesse acabado de lhe ocorrer. E o
encanto foi quebrado. Ele rolou de costas, parecendo quase culpado, e levou a
mão para seu cabelo, passando os dedos através dele, agarrando-o no topo de
sua cabeça. "Foi-"

A campainha da porta interrompeu seu pensamento. Ele sentou-se.


"Walter e Charlotte saíram. Eu vou atender."

Ele se levantou, seus jeans e camiseta enrugados, seus cabelos em


desalinho, a sombra escura da barba fazendo-o ainda mais bonito de alguma
forma. Ele era um homem, e eu senti minha respiração engatar no meu peito.

Seus olhos escuros correram sobre o meu corpo, e novamente ele


desviou o olhar, quase culpado. Eu me apoiei em um cotovelo.

"Você não fez... tirou proveito do meu estado febril, não é, dragão?" Eu
levantei uma sobrancelha.

Ele apertou a mandíbula, e seus olhos ficaram incrivelmente mais


escuros enquanto ele disse laconicamente: "Não" Depois virou-se e se dirigiu
para a porta. "Tome um banho quente. Eu trouxe sua mala para cá." Olhei
para onde ele assentiu sua cabeça antes que ele saísse da sala
e, na verdade, a minha mala e nécessaire com meus produtos de
higiene pessoal estavam sob a janela.
Fiz o que Grayson disse, dando-me o luxo de um chuveiro longo e
quente, saboreando a sensação do calor caindo em meus músculos doloridos,
ensaboando e lavando minha pele com meu gel de banho novamente. Parecia
celestial. Quando eu finalmente emergi, limpa e esfregada, me senti totalmente
acordada e humana novamente. Depois de secar meu cabelo e me vestir, desci
as escadas para encontrar Grayson e conseguir alguma comida. Eu estava
faminta.

Ouvindo vozes da sala de estar eu caminhei nessa direção, chegando a


um impasse quando vi Kimberly sentada no sofá, Grayson na sua frente.
Ambos estavam rindo de alguma coisa, mas pararam quando entrei na sala.
Kimberly soltou um gritinho e se levantou, correndo para mim e precipitando-se
para um abraço gigante.

"O que você está fazendo aqui?" Eu perguntei sem fôlego, abraçando-a,
apertando meu coração de alegria.

Ela estava vestindo shorts jeans e um top florido, sua lisa pele oliva
ainda mais escurecida da luz do sol do verão, seu corpo pequeno e voluptuoso
tão perfeito como sempre. Ela tinha seu cabelo preto e encaracolado retido em
um rabo de cavalo baixo.

"Você não respondeu minhas chamadas em dois dias! Eu estava


preocupada. Eu vim para me certificar que você não estava algemada numa
adega de vinho sendo torturada sem piedade." Ela piscou, mas depois sorriu
de volta para Grayson como se essa fosse uma piada que eles já tinham
compartilhado. Eles já pareciam muito íntimos. E eu não tinha certeza de
como me sentia sobre isso. Grayson ficou de pé.

"Eu vou deixar você duas conversarem", disse ele, com o olhar
fixo em mim quando se aproximou de nós. Eu não pude deixar de
notar que, apesar de ter acordado recentemente, ele ainda
parecia cansado, como se não tivesse dormido muito.
"Eu preciso tomar um banho, de qualquer maneira. Prazer em conhecê-la,
Kimberly." Eu olhei, mordendo meu lábio para a imagem repentina de Grayson
Hawthorn nu sob um spray de água quente. Sabão em cascata-

"Kira?" Perguntou Kimberly. "Você quer sentar?" Ela estava,


obviamente, repetindo a pergunta que eu tinha acabado de perder.

"Oh, sim. Até mais", eu disse a Grayson, que já estava passando por
nós. "Hum, obrigada, de novo."

Sua cabeça virou-se ligeiramente, mas ele não disse uma palavra.

"Venha aqui", disse Kimberly, puxando minha mão. "O que está
acontecendo? Eu não tenho obtido uma atualização decente sua desde que
você dois se casaram, e então você não respondeu nenhuma das minhas
chamadas ou textos este fim de semana-"

"Eu estava doente. Como, realmente doente." Nós sentamos no sofá e


eu trouxe um travesseiro no meu colo, abraçando-o a mim. "Grayson cuidou de
mim." Eu ainda estava confusa sobre isso, e não tinha tido a chance de
perguntar-lhe nada a respeito. Por que ele fez isso? Como ele tinha me
encontrado? E Deus, tinha realmente sido apenas há alguns dias desde que
ele me beijou e me tocou com tanta paixão, fazendo com que eu
permanecesse acordada, jogando e virando com a confusão frustrante? Eu
finalmente tinha saído da cama e feito uma lista de detalhes para a festa,
enviando-a por e-mail para Charlotte. Colocar minha mente para trabalhar em
qualquer coisa além dele tinha ajudado, e eu finalmente fui capaz de dormir
quando voltei para a cama.

Kimberly levantou uma sobrancelha. "Estou feliz que você está melhor, e
nós vamos falar sobre isso em um minuto. Mas eu tenho uma
conversinha pra você. Você propositadamente deixou de fora que
ele é um deus Grego."
Eu zombei. "Deus Grego? Eu não tenho ideia do que você está falando.
Ele é um dos homens mais feios que eu já vi. Eu mal posso olhar para ele."

Kimmy sorriu. "Mentirosa." Sua expressão tornou-se pensativa. "Isso me


preocupa, no entanto. Vai ser mais fácil se apaixonar se você já está atraída
por ele. Uma vez que o plano é se afastar em um par de meses, seria
apropriado você encontrar uma maneira de não deixar isso acontecer, isso é
tudo que estou dizendo. E não deixe que ele te beije."

Eu suspirei e inclinei minha cabeça para trás no sofá. "Bem, na


verdade..."

Eu atualizei Kimberly sobre tudo o que havia ocorrido desde o dia de


nosso casamento. Ela escutou, sua expressão alternando entre a raiva, leve
horror, surpresa e, finalmente, melancolia. "Você o deixou beijar você. É tarde
demais - mas não me surpreende. A forma como os olhos dele te rastrearam
hoje, quando você entrou na sala... bem, agora, o que você vai fazer?" Seus
olhos me rastrearam? Ele provavelmente estava tentando certificar-se que eu
poderia andar, dado o quão doente eu tinha estado.

Eu balancei minha cabeça. "Nada. Ele só quer me transformar em uma


esposa conveniente e depois observar-me caminhar para longe. O que
jamais... bem... você me conhece, Kimberly. Eu não trabalho assim. Seria um
desastre total. Para mim."

Kimberly abriu a boca para responder quando ouvimos Grayson gritar da


cozinha. Eu levantei-me e Kimberly seguiu-me enquanto eu corria para o outro
lado da casa. Grayson estava apenas saindo da cozinha. Charlotte, que deve
ter retornado enquanto eu estava tomando banho no andar de cima, estava
em seus calcanhares. "Isto era para ser útil", ela gritou para ele. Ele se
virou, as linhas de seu corpo tensas, os olhos atirando fogo em
Charlotte.
"Eu quase a molestei. Quando ela estava febril e inconsciente", ele
grunhiu.

"Oh querido", disse Charlotte. Ela olhou para cima, colocando um dedo
em seu queixo. "Será que era para ser metade, e não o dobro?" Ela levou seu
dedo para baixo." Sim, esse deve ter sido o problema."

"O que está acontecendo aqui?" Perguntei. A cabeça de Kimberly


mudou-se para frente e para trás entre Grayson e Charlotte. Walter chegou
calmamente e ficou de pé ao lado.

"Ela me envenenou", Grayson rosnou, apontando o dedo para Charlotte.

Charlotte riu alegremente. "Eu não quis envenená-lo. É uma mistura de


ervas simples que minha mãe me ensinou, destinada a aumentar o ardor
masculino." Ela piscou para mim. Senti meu rosto drenar de cor. Charlotte tinha
dado a Grayson algum tipo de mistura de ervas para aumentar libido antes
deles saírem para o fim de semana?

Por quê? E... Oh, Deus. Ele disse que quase tinha me molestado
enquanto eu estava inconsciente? Engoli pesadamente.

Walter mudou-se para a frente. "Não é da minha conta, senhor, mas -"

Grayson olhou, pressionando os lábios por um momento. "Quando foi


que você já parou, Walter?"

"É verdade," Walter concordou sem remorsos antes de prosseguir. "Eu


descobri pessoalmente que água em abundância durante todo o dia ajuda, uh...
os efeitos acabarem mais cedo. No entanto, eu honestamente recomendo a
dosagem adequada. É bastante... útil."

Grayson deixou escapar um som de dor, olhando para o teto.


"Eu estou no inferno."
Charlotte deu um passo adiante. "Gostaria que eu preparasse-?"

"Não, eu nunca vou deixar você me preparar alguma coisa novamente.


Você está demitida! Eu estou cercado por gente maluca." E então ele se
afastou em direção à porta, batendo-a atrás de si tão duro que um vaso na
prateleira ao nosso lado cambaleou e quase caiu. Engoli em seco, meus olhos
voando para Charlotte. Ela sorriu para mim como se não tivesse apenas sido
demitida.

"Ele despediu você?" Eu respirei.

Charlotte acenou com a mão no ar, como se não fosse nada. "Oh, ele
me demite duas vezes por mês, mais ou menos, desde que tinha dezesseis
anos." Ela voltou para a cozinha, chamando depois de Kimberly e eu. "Venham
juntar-se a mim para tomar uma xícara de café, meninas."

Kimberly, com um largo sorriso, liderou o caminho.

Charlotte ficou no balcão, um grande bloco de açougueiro na frente dela


quando ela sovou a massa para algum tipo de cozido. Eu apresentei-a a
Kimberly, e ela serviu três xícaras de café quando Kimberly e eu sentamos.

"O que você estava pensando, Charlotte?" Perguntei-lhe, tentando o


meu melhor olhar, mas sabendo que poderia ter sido vítima de abuso sexual
enquanto estava inconsciente, devido a suas ações. Apenas... eu realmente
acreditava nisso? Será que eu acreditava que Grayson seria capaz de uma
coisa dessas, mesmo que o motivo fosse a intromissão de ervas da Charlotte?
Eu franzi a testa. Eu achava que não, mas homens tinham me pego de
surpresa antes. Pela minha experiência eles eram, em sua maioria, não
confiáveis. O Senhor sabia que a palavra de meu pai nunca tinha significado
qualquer coisa, e a do meu ex noivo menos ainda.

Quanto a Charlotte, suas intenções, embora equivocadas,


tinham sido puras. Eu tinha certeza disso.
Os olhos de Charlotte brilharam. "Pareceu-me que vocês dois estavam
evitando um ao outro. Mas, então, você foi jantar com ele. E eu estava
pensando que talvez Grayson precisasse de um pequeno empurrãozinho na
direção certa. E, em seguida, se vocês dois estivessem sozinhos durante todo
o fim de semana..." Ela franziu a testa. "Mas eu posso ter me enganado na
dosagem, e claro, eu deveria ter considerado sua virilidade..."

Eu gemi e coloquei minha testa na mão por um momento antes de olhar


para trás para ela. Eu quase não queria pensar sobre a virilidade do meu
marido. "Eu não sei exatamente como ele precisava de um empurrão nessa
direção."

Charlotte parou o que estava fazendo, colocando o rolo de lado. "E


você?" ela perguntou, claramente esperando eu responder que queria o
mesmo.

"Eu..." Inclinei a cabeça. "Eu me sinto atraída por ele, também. Eu..." Eu
circulei um dedo ao redor da borda da minha caneca de café. "Bem, há
momentos que eu gosto dele." Eu balancei minha cabeça. "Mas não posso dar-
lhe o que ele quer, por várias razões." Eu olhei para Kimberly e mordi meu
lábio. Ela me deu um simpático olhar. "Mas a razão principal é que ele
provavelmente não teria problema em compartilhar seu corpo comigo e, em
seguida, ir em frente como se nada tivesse acontecido. Algo que eu não seria
capaz de fazer." Eu olhei para baixo. Esse sempre foi o jeito comigo - onde
meu corpo vai, meu coração segue. Medo deslizou lentamente pela minha
espinha no pensamento de quão facilmente Grayson Hawthorn poderia
destruir-me, se eu lhe desse a oportunidade. Eu aprendi essa lição uma vez,
e não iria repeti-la. Desta vez eu não iria ceder ao meu estúpido e imprudente
capricho.

Especialmente quando se tratava de um dragão muito


viril.
Charlotte acariciou minha mão em cima do balcão, deixando uma
pequena mancha de farinha na minha junta.

"É assim que nós mulheres somo construídas, minha querida. Quando
damos nossos corpos, nós damos nossos corações também. Quando os
homens dão seus corpos, bem..." Ela olhou para cima como se estivesse
tentando encontar as palavras certas.

"Eles dão seus corpos," Kimberly e eu terminamos em uníssono, e em


seguida nós três nos desfizemos em gargalhadas. Meu coração disparou com
carinho para as duas. Eu tinha sentido falta de te-las ao redor.

Eu sorri para Charlotte. "Sim. Então, isso está fora da mesa."

"Bem, vamos ver", disse ela, piscando para mim.

"Sem mais empurrõezinhos", eu disse. Secretamente, porém, meu


coração estava aquecido por saber que Charlotte queria ver uma verdadeira
relação entre Grayson e eu. Talvez, para ela, fosse principalmente porque ela
não acreditou no falso casamento que tínhamos protagonizado – torna-lo real
permitiria que ela fosse feliz por Grayson, ao invés de desapontada por ele.

"Oh, não", Charlotte disse, sem convencer. "Pelo menos não dos que eu
seja pega."

Eu ri baixinho, e tomei um gole do meu café. Eu estava tentada a


perguntar a Charlotte sobre algumas das coisas que aprendi sobre Grayson na
outra noite, especialmente em relação a Vanessa. Mas, um) eu não me sentia
exatamente correta falando sobre essas coisas por suas costas, e dois)
Kimberly estava lá.

"Será que ele vai te perdoar?"

"Oh, eventualmente. Isso aqui", disse ela, acenando para a


massa de pão na mão, "é para fazer os seus bolinhos de
mirtilo favoritos. Ele gosta com geléia e creme. Ele
vai agir com raiva por uns dias, só para preservar seu orgulho, mas depois vai
passar." Ela sorriu alegremente, e depois ficou séria. "Oh, isso me lembra, Kira.
Eu terei de ir para o campo ao sul recolher os damascos que de tão maduros já
estão caindo no chão. Você quer me ajudar a fazer um par de lotes da minha
geléia de damasco?"

"Oh, com certeza. Fiz geleia de morango com minha avó uma vez", eu
disse, pensando com carinho nesse dia.

"Eu gosto deste lugar", declarou Kimberly de repente, tomando um gole


de seu café. "Eu acho que você pertence aqui, Kira." Suas palavras
alternadamente me trouxeram felicidade e pavor.

E como nós sentadas na cozinha quente e perfumada com os aromas


de mirtilos e café, comendo bolos de mel e aveia, Charlotte tagarelando sobre
sua viagem de fim de semana, de repente me bateu: Grayson tinha dito que,
para todos os efeitos, ele cresceu sem pais em tudo. Eu ainda não entendia a
dinâmica exata dessa situação. Mas ele estava errado em uma conta. Ele teve
pais o tempo todo. Seus nomes eram Walter e Charlotte Popplewell, que o
amavam como se fosse o seu próprio filho. Eu perguntava-me se Grayson
mesmo percebeu isso.

Nós conversamos por um tempo e, em seguida, Kimberly me disse que


tinha que ir. Acompanhei-a para fora e, enquanto estávamos no carro dela, ela
sorriu para mim. "Esta foi uma visita tão agradável. Eu quis dizer o que eu
disse", ela olhou para a propriedade Hawthorn, “parece que você se encaixa
aqui." Ela estudou meu rosto por um segundo. "Mas cuide de si mesma. Eu
não posso suportar vê-la machucada novamente, Kira Kat."

Eu dei-lhe um breve sorriso. "Eu vou, eu prometo."

Ela assentiu com a cabeça. "Eu quase odeio dizer isso,


depois de ver o quão bem você está indo aqui -"
Meu coração afundou. "Meu pai está ligando para você, não é?" Eu
perguntei, adivinhando imediatamente. Ela sempre tem o mesmo olhar
apertado no rosto quando meu pai vem à sua mente. Ela assentiu com a
cabeça.

"Ele tem chamado várias vezes, até mesmo insinuando uma vez que, se
não fosse você a chamá-lo, ele iria puxar algumas cordas, de alguma forma, no
no trabalho de Andy - e eu não acho que ele disse isso no sentido de conseguir
uma promoção."

"Aquele bastardo controlador", eu fervi. Andy é despachante policial, e


eu supunha que não era fora do âmbito do impossível que meu pai tivesse
alguma influência no Departamento de Polícia de San Francisco. Mas até
mesmo considerar isso? Não havia limite para as profundezas que ele iria para
me controlar?

Kimberly colocou a mão em mim. "Agora escute. Eu não lhe disse para
que você entre em contato com ele por nossa causa. Andy está um pouco
preocupado, mas, francamente, nós preferimos enfrentar desemprego do que
deixar o seu pai influenciar as nossas vidas. Eu apenas pensei que você devia
estar ciente. Quem sabe o que ele está aprontando? Pode ser melhor você ir a
ele agora, então ele não descobre onde você está antes que você estar pronta
para recebê-lo."

Eu tremi, passando os braços em volta de mim. Mas concordei, apesar de


tudo. E eu não iria deixar isso se tornar problema da minha amiga. Balançando a
cabeça, eu disse, "Eu vou. Obrigada, Kimberly." Por favor, deixe que a licença de
casamento venha em breve. Eu só preciso do dinheiro primeiro...

Despedi-me dela firmemente, prometendo visitar em breve e


atualizá-la frequentemente, e então assisti seu carro sair pelo
portão.
Novamente, eu passei meus braços ao meu redor, olhando sem ver a
fonte quebrada, pensando sobre quando seria consertada e como pareceria
funcionando, querendo saber o quão longe ela estava na lista de prioridades de
Grayson. Grayson... Ele passou toda a semana num estado de tormento
absoluto graças a Charlotte, e ainda que abnegadamente se importou comigo,
acalmando minha febre e certificando-se que eu nunca estivesse sozinha.
Aparentemente eu estava errada sobre O Dragão, de certa forma, pelo menos.
Ele não era a besta insensível que eu tinha pensado originalmente. Eu
ponderei momentaneamente como ele tinha sido traído por seu irmão, pai e
madrasta. Ele era apenas um homem - um homem que tinha profundas feridas
e estava tentando o seu melhor para consertar em uma situação que, até a
minha chegada, tinha oferecido muito pouca esperança.

Ppensei novamente sobre como eu sabia que ele tinha sido injustiçado,
não só por seu próprio pai, mas pelo meu, também. Será que ele entenderia o
por que de eu não ter mencionado, se ele viesse a descobrir? Pensei em
contar-lhe agora... apenas, nosso plano não tinha mudado. Nós ainda iríamos
nos separar em breve. Que propósito teria?

Minha mente estava cheia de preocupações enquanto eu vagava para


dentro da casa e me dirigia para o escritório - a sala onde eu havia oficialmente
conhecido Grayson Hawthorn. Sentei-me na grande mesa e comecei a
vasculhar através da pilha de novos e-mails que Charlotte deve ter recuperado
da caixa de correio quando voltou esta manhã, juntamente com a grande pilha
dos velhos e ainda sem abrir, separando tudo em três pilhas: o que pareciam
contas, lixo e correspondência pessoal. Havia várias cartas não abertas
endereçadas a Grayson no que parecia ser escrita feminina. Eu pus de lado,
mas quando cheguei a um cartão com a imagem de uma bicicleta
encostada a uma árvore eu virei-o, notando a mesma caligrafia, e
muito recentemente datada. Eu hesitei apenas brevemente
antes de deixar meus olhos derivarem longe do endereço e para a mensagem.

Grayson,

Lembra quando tínhamos treze anos e eu espirrei lama em cima de


você com a minha moto e me senti tão mal?

Você disse que era impossível ficar com raiva de mim por muito tempo.
Estou rezando para você ainda ter isso em seu coração para perdoar-me. Eu
nunca vou parar de tentar...

Todo o meu amor, Vanessa.

Vanessa. Todo meu amor? Ela ainda o ama? Ela estava tentando
persuadir Grayson a perdoá-la?

Para se casar com seu irmão? Uma estranha dor tinha se estabelecido
em meu peito, fazendo minha pele se sentir espinhosa. Eu não gostei. Eu
comecei a colocar o e-mail mais recente de lado, decidindo o que fazer com a
tarefa, quando cheguei em cima de um envelope de negócios dirigido a mim.
Eu respirei fundo, rasgando-o. Deixei escapar um gritinho quando vi que era a
nossa licença de casamento oficial, o sentimento espinhoso dissolvendo-se na
esperançosa excitação. Jogando o outro e-mail sobre a mesa, eu andei
rapidamente para a porta da frente, chamando Charlotte na cozinha: "Eu estou
indo para a cidade. Estarei de volta em breve."

Ouvi-a cantar, "Tudo bem", antes que a porta se fechasse atrás de


mim.

Eu tinha algum dinheiro para recolher. Um monte de dinheiro, na


verdade.
Capítulo Treze
Grayson

Por volta das três horas eu estava exausto demais para trabalhar por
mais um minuto. Voltei para casa onde o cheiro de bolinhos de mirtilo de
Charlotte estava docemente pendurado no ar. Fui até a cozinha. "Você não
joga justo", eu disse, fingindo hostilidade. "Eu estava indo para dar-lhe o
tratamento do silêncio por pelo menos mais um dia e meio. Dê-me um desses."

Charlotte sorriu alegremente para mim, colocando um bolinho quente


em um prato com uma colherada de creme de leite no topo, e uma colher de
geleia na lateral. "Trapaceira", eu murmurei. "Não ache que isso significa que
eu perdoei você."

Charlotte sorriu conscientemente para mim enquanto eu dava uma


grande mordida do paraíso. "Eu me desculpo. Eu causei dor, e eu nunca teria
feito uma coisa dessas de propósito." Ela me estudou por um momento. "Eu
só..."

"Você quer que Kira e eu tenhamos um casamento real." Eu balancei


minha cabeça. "Eu sinto muito, Charlotte, mas isso não vai acontecer. Eu não
tenho o tempo ou o desejo de uma esposa." Quanto ao aspecto físico... Eu
tinha experimentado. Não que Charlotte precisasse saber disso – apenas lhe
daria falsas esperanças. Em qualquer caso, Kira tinha dito não. Mas
veríamos sobre isso. Eu não ia desistir. Por enquanto, pelo menos,
éramos marido e mulher – então por que não colher os benefícios
por um tempo? Ela era como um pequeno fogo no meu sangue
- bonita, imprevisível e cheia de vida. E talvez dois
meses, possivelmente um pouco menos, deveria ser bastante tempo para
extinguir o fogo. Eu conheceria a sensação dela debaixo de mim, ao meu
redor, em cima de mim... e então estaria terminado. Eu estaria satisfeito. E ia
seguir em frente.

"Eu não te dei essa mistura de ervas para que você agisse numa
atração física por ela, você sabe -"

Charlotte disse, parecendo ler os meus pensamentos. "Eu espero mais


de você do que isso. Isso foi só para chamar o sangue que flui, se você sabe o
que quero dizer." Ela piscou para mim, e eu fiz uma carranca. Estava
desgostoso que deveríamos discutir isso. Ela tinha praticamente me criado.
Mas ela continuou, antes que eu pudesse detê-la. "Era para o corpo e o
coração. E, quanto a Kira, ela não quer um relacionamento puramente físico
com você também, você sabe."

Hesitei, não sendo capaz de camuflar o meu interesse. "Como você


sabe disso?"

"Porque ela é uma mulher. É assim que eu sei disso."

Eu considerei suas palavras. Se nós gostamos do corpo um do outro,


Kira gostaria de mais? Não, ela mal parecia gostar de mim metade do tempo.
Mas ela gostou do meu toque. Isso estava claro. Pensando bem agora, esse
zumbido constante de conscientização sexual tinha estado lá desde o início,
tinha estado presente desde a primeira vez que minha pele tocou a dela. Não
tinha consciência disso porque estava muito ocupado julgando-a, ressentindo-
me, e, em seguida, sendo impelido a me distrair com suas palhaçadas
ridículas. Mas eu não estava mais negando. Achava seriamente que não
havia qualquer razão pela qual não poderíamos manter as coisas em
um nível físico.
Da minha parte eu sabia que poderia desfrutar de seu corpo sem cair de
amor por ela. Eu gostaria. Eu iria parar de negar a mim mesmo no que dizia
respeito a - principalmente exasperante, mas altamente desejável - bruxinha.
Agora só precisava convencê-la também.

O protecionismo que senti por Kira quando a encontrei doente e febril


em sua cama tinha me preocupado nas primeiras horas que eu cuidei dela.
Mas então, antes que eu tivesse tempo de totalmente considerar isso, as ervas
de Charlotte me chutaram, e isso tinha acabado por ser tudo que eu poderia
fazer para sobreviver em meu próprio corpo, o esforço do autocontrole
fazendo-me exausto demais para pensar. Talvez, de alguma forma estranha,
tinha sido uma coisa boa.

Mas, considerando-o agora, concluí que era apenas uma reação natural
do sexo masculino querer proteger a sua própria esposa - até mesmo num
casamento de conveniência.

"Falando de Kira", eu disse, "onde está a pequena agitadora?"

"Eu não sei. Ela saiu daqui há algumas horas."

Eu levantei uma sobrancelha, perguntando-me o que tinha sido tão


importante. Antes que eu tivesse tempo de fazer a pergunta em voz alta ouvi
um veículo na garagem. Alguns momentos depois ouvi a voz de Kira, "Olá?"

"Aqui, querida", Charlotte chamou.

Olhei por cima do meu ombro enquanto Kira entrava apressadamente


na cozinha, definindo uma grande caixa com furos na parte superior no chão.
"O que é isso?" Eu perguntei, apontando para o recipiente grande.

"Uma surpresa", disse ela, sorrindo.

Eu gemi. O que na terra ela ia inventar agora?


"Mas primeiro", disse ela, sentando-se no banco ao meu lado, "estamos
oficialmente casados. Eu apresentei a certidão de casamento para o Sr.
Hartmann. Nosso cheque será processado hoje e descontado amanhã.
Podemos ir buscá-lo como a primeira coisa da manhã."

Excitação percorreu meu corpo. "O quê?" Perguntei. "Realmente?"

"Realmente." Ela sorriu. E eu não consegui evitar. Levantei-me e peguei-


a em um abraço, girando-a ao redor enquanto ria.

"Conseguimos", eu disse quase incrédulo, chegando a um impasse e


definindo-a no chão na minha frente. Ela sorriu para mim, os olhos brilhando,
seu sorriso brilhante. E eu ganhei a covinha.

"Eu sei", ela respirou. Fiquei olhando-a nos olhos, a necessidade de


beijá-la tão intensa que precisei perguntar-me se era natural ou se as ervas de
Charlotte ainda estavam correndo soltas pelo meu sistema.

Eu fui interrompido, porém, pelo som suave de algo raspando do interior


da caixa ainda no chão atrás de nós. Eu ergui minhas sobrancelhas, e o sorriso
de Kira aumentou, essa encantadora covinha pulando para fora novamente
quando ela afastou-se de mim, movendo-se rapidamente para o que quer que
estava no chão.

Girando, eu perguntei, "O que você fez?"

Ela se agachou no chão, abriu a caixa e levantou o que parecia ser um


filhote de cachorro grande ou um cachorro (adulto) pequeno. Olhos escuros
com alma me encararam com cautela, e os verdes brilhantes me olhavam
com entusiasmo. "Oh meu", Charlotte suspirou, correndo sobre Kira. "E quem
é esse?" Charlotte levantou a tag de metal no pescoço do cão e leu, "Sugie
Sug?"
"É pronunciado como o açúcar, mas com um ie no final4", disse Kira com
orgulho. "E então como o rapper Suge Knight. Sugie Sug."

"Oh, sim," Charlotte disse, mesmo que ela nem soubesse o que era um
rapper.

"Talvez eu devesse tê-lo escrito com SH5", disse Kira, seus olhos se
deslocando para cima como se pensasse nisso.

Eu balancei a cabeça, virando minha atenção de volta para a coisa nos


braços de Kira. "O que é um Sugie Sug?" Eu perguntei. "E o que há de errado
com o seu rosto?" Parecia que toda a metade inferior do rosto do cão, o nariz e
maxilar tinham sido mutilados de alguma forma.

Kira puxou a coisa, que eu poderia dizer agora que era um filhote de
cachorro mais velho, uma espécie de vira-lata, em seu peito e cobriu sua
orelha com a outra mão. "Shh", disse ela. "Ela pode te ouvir, você sabe." Ela
deu-me uma careta de desprezo. "E Sugie Sug é ela." Ela sorriu para o
cachorrinho que olhou para ela com o que parecia esperança mal contida. "Não
é, bebê? Não é, torta doce de açúcar? Sim você é, você é uma menina, boa
menina. Uma boa menina. Uma garota doce e boa." Eu fiz uma careta ao ouvir
o som da conversa estridente de bebê. Mas, aparentemente o cachorrinho não
se importou nem um pouco.

O cão, tremendo em uma tentativa óbvia de segurar seu arrebatamento


às atenções de Kira, lambeu sua cara com aquela boca estranhamente
deformada. Kira riu e depois cobriu a orelha do cachorro novamente. "Eu
resgatei-a. Seu primeiro proprietário amordaçou-a quando ela estava quase
desmamada. E então ele não tirou a bandagem do seu rosto enquanto ela
crescia. Ela foi encontrada quase morta, e teve que ter a engenhoca
removida cirurgicamente." Ela tirou a mão da orelha do cão.

4
Sugar = açúcar, logo, sugar = sugie
5
Sugar pronuncia-se com som de sh, como shugar
Charlotte, que estava clicando e babando como uma vovó a conhecer seu neto
pela primeira vez, arranhou as orelhas do filhote de cachorro.

"Oh, pobre querida. Você não se preocupe com nada, Sugie Sug. Você
vai se encaixar muito bem por aqui." Em seu entusiasmo óbvio o cachorro
soltou um pequeno guincho e, em seguida, abaixou a cabeça como se
esperasse consequências terríveis como resultado pelo pequeno ruído
escapado. Ela olhou para nós, seus olhos erguidos catastroficamente, sua
cabeça ainda abaixada.

"Whoa, whoa, por aqui?" Perguntei. "Não. A última coisa que eu preciso
é de um animal correndo por aí e ficando no meu caminho. Eu não tenho
tempo para um animal de estimação."

Kira franziu a testa e, em seguida, empurrou o cão para mim, obrigando-


me a levá-lo dela. "Eu salvei Sugie Sug para você. Ela é sua. Considere-a
como, hum, meu presente de casamento. E como um muito obrigada pela sua
bondade deste fim de semana." Ela sorriu. Eu estava momentaneamente
atordoado olhando para o peso quente em meus braços, aqueles olhos
grandes e escuros apontados para mim com uma mistura de medo e
esperança. Eu senti uma agitação estranha na região do meu coração. Oh,
Jesus. Kira tinha ido e me dado um filhote de cachorro depois da história que
eu lhe contara sobre meu pai. Bruxinha irritante. Doce e compassiva, mas
acima de tudo uma irritante bruxinha. Eu suspirei.

Tinha sido um pensamento amável, e eu estava feliz que ela não estava
chateada com a forma como paramos no pátio depois de nosso encontro.
Ainda... "Kira, não posso ter um cachorro chamado Sugie Sug. Nem sei o que
isso significa. Mas soa incrivelmente feminino."

"Oh," ela colocou um dedo para cima em seus lábios,


"bem, esse é o nome dela, e ela responde a ele. Seu nome
completo é Sugar Pie Honey Bunches, Sugie para os
íntimos." Ela estava segurando um sorriso mal reprimido. Isto divertia a
bruxinha.

Eu considerei o animal novamente. Ela era miseravelmente feia.


Lamentavelmente pouco atraente. Danificada. Mas apesar de sua deformidade
e de seu nome inaceitável não tive coragem para mandá-la embora agora que
estava em meus braços, olhando-me com uma esperança tão crua. Eu tinha
uma grande propriedade. Ela poderia correr ao redor - eu provavelmente não
teria sequer que vê-la. E ela teria, no mínimo, que ser treinada para não comer
as uvas, que poderiam ser perigosas para os cães. Eu a coloquei no chão. Ela
ficou imóvel, olhando para mim. "Ela ainda é um filhote, e você só a teve hoje.
Ela pode aprender um novo nome." Eu disse. "Vem cá, Scout."

Ela inclinou a cabeça feia, sentando-se diretamente sobre seu traseiro.

Kira voltou também. "Venha aqui, Sugie Sug," ela chamou. O cão
avançou até ela imediatamente, suas patas excessivamente grandes clicando
no chão. Kira pegou-a e começou a balbuciar para ela naquela mesma
altamente irritante voz de bebê.

"Venha aqui, Sugie Sug," chamei experimentalmente. Kira colocou-a no


chão e o cachorro correu para mim, rangendo novamente e, em seguida,
baixando a cabeça daquele jeito assustado, tímido. Eu peguei-a e olhei em
seus olhos. "Primeiro, você está autorizada a falar por aqui." Ela me olhou com
aqueles olhos expressivos, como se entendesse o que eu estava dizendo. Ela
lambeu minha bochecha timidamente. Eu olhei para Kira e Charlotte, que
estavam ambas sorrindo amplamente. "Tudo bem, ela pode ficar," eu disse,
apertando meu maxilar e virando com o meu novo cachorrinho, dirigindo-me
para a porta. Meu novo filhote de cachorro nomeado Sugie Sug. Que
diabos estava acontecendo à minha vida? "Eu estou indo mostrar-
lhe a casa e treiná-la para um novo nome", eu disse quando saí
da cozinha.
Feliz riso feminino me seguiu até as escadas, um som que percebi de
repente nunca ter ouvido tantas vezes nesta casa... antes de Kira ter vindo.

Bem cedo na manhã seguinte Kira e eu fomos ao centro para pegar o


cheque que tinha sido o catalisador e a razão para este casamento. Sr.
Hartmann entregou-o e desejou-nos felicidades e boa sorte e, nem dez minutos
depois que tínhamos entrado no edifício, estávamos de volta na rua, olhando
um para o outro como se estivéssemos em choque. Eu sorri para Kira e disse:
"Vamos abrir uma conta bancária." Ela sorriu de volta e acenou. Indo para o
outro lado da rua, passamos pelo banco onde Kira tinha me visto pela primeira
vez. Kira pode ter boas lembranças daquele banco em particular, mas eu não
podia aguentar abrir uma conta no lugar que tinha rejeitado a minha solicitação
de empréstimo - sua rejeição tendo sido justificada ou não. Ainda assim, eu
pensei sobre a última vez que estive lá, em quão desesperado e baixo me
senti. Eu agarrei a mão de Kira e dei-lhe um aperto. Ela sorriu para mim, sua
covinha estalando para fora. Uma mecha do cabelo ardente caiu na frente de
um olho, e eu não poderia me ajudar. Parei e caminhei com ela para trás, em
direção a um edifício, e pressionei-a contra a parede, dando-lhe um beijo
rápido e duro e, em seguida, sorrindo para sua expressão de surpresa.

"Arranjem um quarto", murmurou alguém passando. Kira pareceu


rapidamente chocada e eu dei-lhe o meu melhor sorriso diabólico, levantando
as sobrancelhas.

"Não", ela disse resolutamente, deslizando por debaixo de


mim. Mas então ela olhou para trás, um sorriso maroto em seu
rosto. Meu coração virou de uma forma estranha. Eu ri,
caminhando rapidamente para recuperar o atraso.

Uma hora mais tarde tínhamos contas separadas, cada uma contendo
trezentos e cinqüenta mil dólares. Quando nos dirigimos para a vinha algo
dentro de mim de repente sentiu vergonha, como se eu estivesse roubando o
dinheiro dela. Como se eu tivesse pouco direito sobre o que tinha acabado de
tomar. "Eu vou pagar de volta. Você sabe disso, certo?" Eu perguntei, olhando
para Kira.

Ela assentiu com a cabeça, estudando meu rosto. "Se você quiser",
disse ela.

"Eu quero."

Kira ficou em silêncio por um minuto e, em seguida, sua voz saiu


suavemente. "Eu preciso ir ver o meu pai hoje."

Eu olhei para ela, sua expressão uma mistura de tristeza e algo que
parecia desânimo. O que me surpreendeu - os olhos de Kira eram
normalmente tão cheios de vitalidade. Era como se a ideia de ver seu pai
sugasse o brilho de seu corpo. Eu abri minha boca para dizer algo, mas não
sabia o que. Fechei-a novamente e, após um minuto, murmurei simplesmente,
"Tudo bem."

Ela olhou para mim como se quisesse me perguntar algo, mas em vez
disso apenas balançou a cabeça, ficando fora da minha caminhonete quando
parei na frente da casa, falando que me veria em alguns dias.

Isso deveria ter me feito feliz. Eu teria um pouco de paz por aqui
durante quarenta e oito horas. Eu não precisaria me preocupar com uma
bruxa irritante brincando em toda minha propriedade, causando problemas e
caos, fazendo meu sangue em rotatividade com necessidade. Eu
provavelmente deveria ir para a cidade e encontrar uma mulher
disposta para me afundar. Deus sabia quão sexualmente
frustrado eu estava. Kira não sabia, ou simplesmente não se importava, pelo
som das coisas. Bastava ser discreto. Eu poderia ser discreto. Então, por que
minha mente estava pensando no vago sentimento de melancolia causado por
Kira deixando a cidade em vez da minha própria necessidade sexual e o que
eu poderia fazer para satisfazê-la? Eu balancei fora de meus pensamentos e
fui ao meu escritório para colocar as encomendas de suprimentos e
equipamentos que eu tinha marcado por semanas agora. Uma emoção de
satisfação percorreu meu intestino. Tudo estava indo pro lugar.

O cão acolchoou-se no meu escritório e deitou-se aos meus pés


enquanto eu trabalhava no computador. Quarenta e cinco minutos depois,
quando eu tinha colocado tudo em ordem, levantei-me e chamei a vira-lata feia
de onde ela ainda estava sob minha mesa. "Aqui, Buddy." Nada. Ela nem
sequer levantou a cabeça.

Eu considerei por um momento. Ela era uma menina, então talvez só


quisesse um nome mais adequado para uma fêmea. "Aqui, Bailey." Nem
mesmo uma pontada muscular. Eu cerrei os dentes. "Aqui, Sugie Sug", eu
disse sob minha respiração. As orelhas do cão se animaram, e ela soltou um
gritinho animado e se levantou rapidamente, percorrendo os poucos passos
para onde eu estava. Eu apertei os lábios e dei-lhe um olhar amargo. Ela
ofegava para mim, e eu jurei que a boca deformada estava sorrindo.

"Todas vocês, mulheres, estão gostando disso, não é?" Eu perguntei,


virando-me para a cozinha, o cão trotando atrás de mim.

Charlotte me encontrou no corredor. "Kira está colocando a mala dela


no carro", disse ela. "Você não está indo com ela?"

Olhei para a porta. "Por que eu iria com ela?"


Ela deu de ombros. "Eu apenas pensei que faria mais sentido vocês se
mostrarem juntos para dizer ao pai dela que estão casados. Não iria torná-lo
mais convincente?" Obviamente Kira tinha dito a Charlotte onde estava indo, e
por quê.

Eu fiz uma careta. "Se ela quisesse que eu fosse junto, ela teria pedido."
Voltei minha atenção para o cachorro. "Venha aqui, Maggie." Ela ficou olhando
para mim. Eu suspirei. "Vamos, Sugie." A insuportável vira-lata levantou-se
para andar atrás de mim enquanto caminhávamos na direção da cozinha.
Charlotte riu. "Tenho certeza que isso é muito divertido para você", eu disse,
olhando para ela.

Charlotte sorriu, começando a levar itens fora da geladeira. "Eu estou


fazendo um sanduíche para Kira levar na estrada. Quer um?"

"Claro", eu disse, sentando em um banquinho de bar.

"Quanto a esta menina doce", disse Charlotte, sorrindo para o cão que
abanou o rabo alegremente para ela, "imagino que a primeira vez que Kira a
chamou de Sugie Sug, ela disse com tanto amor adorado que este cão não
poderia facilmente deixá-lo ir agora. Eu suspeito que foi a primeira vez que ela
ouviu um tom amoroso dirigido a si mesma em sua curta vida, o que é muito
triste. Mas isso é uma coisa muito poderosa, você sabe."

Eu encontrei os olhos sábios de Charlotte, considerando suas palavras,


pensando sobre o fato de que minha esposa trouxe este cão para casa para
tentar curar-me de algo que aconteceu há muito tempo. Pelo olhar de medo e
tristeza que tinha visto em seus olhos antes, talvez Kira precisava que algo
de muito tempo atrás fosse curado também. Talvez nos fôssemos marido e
esposa apenas no papel, mas ela tinha me mostrado imerecida
bondade. Sem segundas intenções, simplesmente porque ela
podia. Talvez ela merecesse o mesmo. "Envolva os dois
sanduíches, Charlotte ", eu disse. "Eu vou com ela."

Charlotte apenas sorriu um sorriso conhecedor.


Capítulo Quatorze
Kira

Eu estava arrumando minha mala no porta-malas do meu carro quando


vi Grayson emergir da casa com o que parecia ser uma pequena valise própria
e um saco plástico.

Fechando o porta-malas, fiquei olhando para ele até que ele tinha
chegado ao carro. "O que você está fazendo?" Eu perguntei.

"Indo com você", ele respondeu, abrindo o porta-malas e removendo


minha mala.

"Vindo comigo?" Eu gaguejava. "Mas -"

Ele fechou meu porta-malas e virou-se para mim. "Kira, vai parecer mais
convincente se formos juntos. Nós fizemos este acordo de negócios juntos e
devemos estar envolvidos no que for necessário para fazê-lo funcionar.
Considere isto como um pagamento pela minha parte da barganha." Ele
caminhou até seu caminhão e colocou a minha mala e seu pequeno saco atrás
dos assentos.

"E por que você está colocando a minha mala em seu caminhão?"

"Porque eu gosto de dirigir."

Eu joguei minhas mãos para cima, sentindo-me subitamente pisada. O


que era um sentimento deveras familiar. "Parte da sua natureza de
dragão controlar, eu presumo?"
"Eu suponho." Ele colocou o pequeno saco plástico cheio do que eu
supus serem sanduíches de Charlotte no pequeno banco de trás e subiu ao
volante. Abri a porta do lado do passageiro, olhando para ele, mas não subi.

"Você gosta de me irritar, não é?"

Ele pareceu considerar isso. " Tem um certo apelo." Ele olhou para mim.
"Mas isso não é sobre aquilo."

"Você não precisa se sentir obrigado a fazer isso", eu disse.


Francamente, eu quase não queria Grayson conhecendo meu pai quando eu
estaria contando-lhe sobre nosso casamento. Eu só podia imaginar o frígido
desdém que ele mostraria não só a mim, mas a Grayson também. E eu tinha
que saber se o nome de Grayson seria familiar? Eu duvidava - meu pai só
lembra-se daqueles que podem continuar a servir sua agenda de alguma
forma. Além disso, o que tinha acontecido tinha sido há alguns anos, e havia
acontecido por uns breves momentos. Ainda assim, eu nunca tinha imaginado
Grayson estando na sala quando eu informasse a meu pai que eu tinha me
casado sem dizer-lhe antecipadamente. As coisas poderiam ficar feias, e eu
não queria que ninguém mais - especialmente Grayson Hawthorn –
testemunhasse isso. Especialmente considerando que eu tinha quase certeza
que meu pai não iria se esforçar para poupar os sentimentos de Grayson de
qualquer maneira, forma ou formulário. Deus, quando eu tinha começado a
cuidar tanto dos sentimentos d’O Dragão?

Era realmente algo a ser pensado.

"É a maneira apropriada de lidar com isso, Kira. Agora, podemos ir?
Eu não quero pegar qualquer tráfego em São Francisco."

"Quem vai cuidar de Sugie?" Eu perguntei, tentando um


argumento final.
"Charlotte. Virgil vai ajudar também. O cão parece ter tomado um gosto
por ele."

Eu xinguei uma respiração final, mas depois cedi. Tudo bem, ele poderia
vir e ver por si mesmo exatamente porque eu preferi casar com ele do que tirar
alguma coisa do meu pai nesta vida ou em qualquer outra. Ele veria. Veja
bem... ele veria exatamente quem eu era. E isso me assustou. Por quê? E
então veio a mim – eu queria que O Dragão me respeitasse. Eu não queria que
ele me visse como a herdeira mimada que ele tinha, obviamente, julgado que
eu era naquele dia em seu escritório quando tinha me mostrado tanto desdém
frio. Eu não queria que ele visse a grandeza de onde eu cresci e pensasse que
que aquilo era qualquer parte de quem eu era ou do que eu queria da vida. Eu
tinha me casado com aquele homem, e ainda assim nunca tive a intenção de
deixar Grayson Hawthorn entrar na minha vida particular, meu sofrimento
particular. Eu tinha criado este acordo como um negócio de risco. E agora, de
repente, percebi que estava se transformando em algo mais - para mim, pelo
menos. Eu me importava. E isso me assustou.

E era, provavelmente, muito, muito estúpido.

Engolindo minha própria confusão súbita, eu abri a janela quando nos


dirigimos para fora dos portões, inalando o ar ainda doce com o aroma do final
do verão.

"Onde planeja ficar?" Grayson perguntou uma vez que tinha virado para
a rodovia.

"Hotel", eu respondi.

"Não com Kimberly?"

Eu balancei minha cabeça. "Agora que tenho dinheiro para


estadia em um hotel decente, prefiro não me impor a eles. Seu
apartamento é tão pequeno."
Grayson assentiu. "Ela parece ser uma boa amiga."

"Ela é. Ela é a melhor." Eu sorri, inclinando a cabeça para trás no


assento. "Nós crescemos juntas. Sua mãe veio trabalhar para nós quando
tínhamos cinco anos. Ela é mais como uma irmã, realmente. Minha mãe tinha
acabado de morrer", mordi o lábio, "um acidente de esqui, e bem... a mãe de
Kimberly, Rosa Maria, tomou-me sob sua asa por um tempo." Eu sorri, feliz em
mudar meus pensamentos para outra coisa senão o confronto com meu pai
sobre meu casamento. "O aniversário do Kimberly foi uns dias depois que sua
mãe começou a trabalhar lá, e Rosa Maria deu uma pequena festa para ela e
convidou as crianças dos outros que trabalhavam para nós. Eu estava
desesperada para ir, e implorei a meu pai para me levar, para comprar-lhe um
presente, mas ele disse ‘você não vai precisar comprar-lhe um presente,
porque você não vai. Um Dallaire não pode fazer parte de tal companhia baixa.’
Eu tinha aprofundado a minha voz para imitar o tom masculino do meu pai, e
sorri para Grayson. Ele tinha uma pequena carranca no rosto e não sorriu de
volta. "Bem, como você pode imaginar", eu lhe lancei outro sorriso, sentando-
me ereta, "eu não ia levar isso como resposta, por isso tomei um colar que
minha mãe havia me dado com um coração pequeno nele, e tive nosso
jardineiro, George, cortando-o ao meio. Eu coloquei-o em um cordão,
esgueirei-me para a festa de Kimberly, dei-lhe o colar improvisado e declarei
que significava que seríamos melhores amigas por toda a eternidade." Meu
coração se encheu de calor na memória. "Ela ainda o tem."

Grayson ficou em silêncio enquanto chupava o lábio, não olhando para


mim. Eu olhei para a frente, sentindo-me desconfortável, e depois de alguns
momentos senti seus olhos no lado do meu rosto. "Você ainda é próxima de
Rosa Maria?"

"Não", eu disse com tristeza. "Meu pai a demitiu anos


atrás. Foi estranho e doloroso desde que ele teve um
relacionamento com ela e essencialmente a trocou por uma modelo mais nova
e mais jovem, para servir tanto como sua nova governanta quanto nova
parceira de cama. Rosa Maria não respondeu a nenhuma das minhas
tentativas de falar com ela depois disso." Eu agitei minha mão, tentando acenar
longe o assunto e a dor associada que sempre vinha ao discuti-lo.

"Ela culpou você?" Grayson perguntou, uma borda estranha em sua voz.

"Kimberly diz que não, mas deve ser doloroso demais ter qualquer
contato que a faz lembrar do que meu pai fez com ela. Ela o amava, eu
acredito. Enquanto ele... bem, ele a viu como nada mais do que um maneira
conveniente de manter sua casa limpa e sua cama quente."

"Eu vejo", disse ele, com a voz tensa. Olhei para ele, sentindo como se,
de alguma forma, ele realmente pudese me ver – ainda mais do que eu
compartilhei com ele.

Franzindo a testa eu balancei minha cabeça. "Então, o que você e


Kimberly estavam falando antes que eu descesse ontem de manhã?",
perguntei, percebendo que não tive a chance de perguntar a Kimberly antes de
sermos interrompidas por seu confronto com Charlotte.

Ele sorriu para mim, quebrando o clima sombrio que tinha existido
enquanto eu discutia o assunto de Rosa Maria e meu pai. O sol da tarde
inclinando pela janela atingiu o rosto de Grayson, trazendo o profundo e rico
marrom de seus olhos, e destacando a aspereza de seu ainda não barbeado
maxilar. Eu desviei o olhar, mordendo meu lábio. Ignore as escamas brilhantes,
repeti em minha mente. "Você", ele disse, e quando eu balancei meus olhos
de volta aos seus, seu sorriso se aprofundou. "Ela estava me contando
algumas histórias interessantes sobre os problemas dos quais teve que
tirá-la ao longo dos anos."
Eu bufei. "Ela é uma boa garota, mas ela exagera. É um dos seus piores
defeitos."

A risada de Grayson foi profunda e quente. "Eu não sei. Estou inclinado
a pensar que ela não faz." Ele olhou de volta para a estrada, ainda sorrindo.
"Ela disse que você obtém essas ideias na sua cabeça..."

"Só diversão", eu defendi. "Não problemas."

"Com você, parece ser uma linha muito fina." Eu dei-lhe um olhar
irritado, mas pisquei quando vi o sorriso em seu rosto, cheio de charme e
afeição genuína.

Eu olhei para fora da janela novamente. "Eu fiz um esforço combinado


para restringir o segmento-problema das minhas "ideias" desde que tenho
vivido com você."

"Querido Deus," ele gemeu. "Eu tremo só de imaginar o que acontece


quando você não se controla."

Eu suspirei, franzindo a testa. "Basta perguntar a meu pai", eu disse,


secretamente esperando que ele não fizesse. "Ele vai dizer-lhe o fardo que
você assumiu quando encontrá-lo. Eu não tenho nenhuma dúvida." Mordendo
meu lábio novamente, virei minha cabeça para olhar para fora, para o cenário
zunindo por nós.

"Hey," disse Grayson, e eu senti sua mão quente segurar a minha no


assento ao meu lado. Eu olhei para baixo, em nossas mãos unidas, e depois
em seus olhos antes de olhar de volta para a estrada novamente. "Isso vai
correr bem, ok?"

Eu balancei a cabeça, mas de alguma forma eu sabia que ele


estava errado. Eu poderia muito bem estar entrando em uma
situação em que estaria completamente humilhada na frente de Grayson. Não,
isso não ia dar tudo certo. Isto vai ser decididamente não-tudo certo.

O amarelo suave e o laranja do crepúsculo se aproximando banhavam


de luz a mansão no monte do morro Italian Renaissane. Situada no bairro de
Pacific Heights em São Francisco, estava entre as peças mais caras de
imóveis na cidade, provavelmente no país. A propriedade Dallaire. Lar doce
Lar. Eu me encolhi interiormente. Havia muito pouco doce anexado a este lugar
para mim.

Olhar para esta casa me fez terrivelmente ciente que eu tinha vivido a
maior parte da minha vida atrás da sombra do que meu pai desejou que eu
fosse. E tudo que eu sempre desejei foi ficar na luz do sol e ser amada por
quem eu era.

Olhei para expressão enigmática de Grayson quando saimos de seu


caminhão, estacionado na rua, em frente a estrutura volumosa. Notei quando
ele se virou em um círculo completo no topo exterior da escadaria, admirando a
vista inegavelmente deslumbrante da ponte Golden Gate, Alcatraz, Angel
Island e todo o caminho para a Marin Headlands. Eu podia ouvir alguém bater
bolas de tênis na quadra atrás da casa.

Grayson olhou para mim, permanecendo em silêncio enquanto eu


toquei a campainha. Eu me recusei a entrar nesta casa como se pertencesse
a ela. Poucos segundos depois, ouvi o clique de sapatos no piso de mármore
no interior, e a porta se abriu para revelar uma jovem mulher
latino-americana em um uniforme de empregada doméstica,
alguem que eu nunca conheci. Eu sorri. "Olá, eu sou Kira
Dallaire. Acredito que meu pai está me esperando." Eu havia mandado uma
mensagem antes de dirigir, mas ele nunca respondeu, então eu não tinha ideia
se ele estava realmente me esperando ou não. O jovem mulher sorriu e abriu a
porta, e nós entramos.

"Eu vou buscá-lo", disse a jovem mulher com um sotaque espanhol


pesado. "Você gostaria de esperar na-"

"Vamos esperar aqui." Eu não tinha intenção de ficar muito tempo. Eu já


queria sair.

A mulher assentiu com a cabeça e se virou. "Apenas me dê um


momento para falar com o meu pai", eu disse para Grayson. "E então eu vou
apresentá-lo." Seus olhos correram sobre meu rosto e, em seguida, ele ergueu
o queixo em silenciosa concordância.

Vários minutos de pé no generoso vestíbulo de mármore mais tarde e eu


pude ouvi passos se aproximando de novo. Olhei para cima, para ver a figura
alta de meu pai aparecer no topo das escadas. Olhei para Grayson, que estava
apoiado casualmente contra uma coluna de mármore a uma curta distância de
mim.

"Kira", meu pai disse, descendo as escadas rapidamente, seus olhos


treinados nos meus, seus lábios diluídos na mesma expressão de
desaprovação a qual eu estava extremamente familiarizada. "Estou feliz que
você finalmente decidiu voltar para casa." Ele parecia tudo, menos feliz. Ele
nem sequer olhou para Grayson. "Venha ao meu gabinete para que possamos
conversar", disse ele, virando-se abruptamente e caminhando nessa direção.
Eu levantei meu queixo.

"Isso está bem aqui", eu disse em voz alta, parando-o em seu


caminho. Eu não tinha intenção de seguir meu pai em seu
escritório, onde ele se sentava atrás de sua mesa como um
juiz entregando sua sentença.

Meu pai virou-se lentamente, sua mandíbula assinalando em


advertência enquanto caminhava de volta para onde eu estava. Isso foi quando
ele olhou para Grayson.

"E quem é você?" ele perguntou. Eu dei um passo para frente. Aqui
vamos nós.

"Este, papai, é meu marido, Grayson Hawthorn."

Pelo intervalo de três batimentos cardíacos meu pai não proferiu um


som. A cor vermelha profunda subiu em seu pescoço quando ele se adiantou.
"Você não pode estar falando sério."

"Estou falando sério. Nós nos casamos há várias semanas. Me desculpe


por não convidá-lo, mas eu sei como sua agenda social é ocupada."

O golpe levou-me inconsciente, o tapa afiado ecoando ruidosamente


pelo vestíbulo aberto. Eu ofeguei, a quente dor se espalhando do meu queixo
até minha cavidade ocular. Ergui a cabeça a tempo de ver a mão movendo em
direção ao meu rosto novamente e me preparei para o segundo tapa, mas ele
nunca veio. Eu puxei meus olhos abertos para ver Grayson segurando o pulso
de meu pai, a expressão em seu rosto cheia com raiva de dragão assassino.
"Que porra é essa?" ele trincou fora. Ele deve ter se movido à velocidade da
luz para chegar onde estava agora, considerando onde tinha estado antes,
para impedir meu pai de me bater de novo. Deixei escapar uma respiração
irregular.

Meu pai, seu próprio rosto cheio de raiva quente, puxou a mão do
aperto de Grayson, e seus treinados olhos caíram em mim quando eu tropecei
para trás, para longe dele. Levei um segundo para me recompor,
de pé tão alta quanto poderia e mantendo contato com os olhos
dele, mesmo que todo o lado esquerdo do meu rosto
estivesse latejante.

"Obrigada", eu disse, levantando meu queixo, recusando-me a deixá-lo


ver o quanto me machucou. "Eu vou considerar este como meu presente de
casamento."

"Somente você, Kira." Meu pai balançou a cabeça e fez um som de


desgosto em sua garganta. "Você realmente é uma idiota, não é?" Ele apontou
com o queixo para Grayson, mas não olhou para ele. "Você enganchou-se com
um caçador de fortunas maldito, eu imagino, e você é muito estúpida para vê-
lo." Ele olhou para Grayson em seguida. "Ela não terá um centavo de mim, de
modo que vocês dois estão sem sorte, Grayson Hawthorn."

Ele disse seu nome como se pudesse estar relacionado a Satanás,


porém meu coração gaguejou no meu peito quando meu pai estreitou os olhos,
como se esse nome lhe fosse familiar. Ele balançou a cabeça ligeiramente e
desviou seu olhar penetrante para mim.

"Nós não queremos um centavo de seu dinheiro," Grayson disse


friamente. "Vamos, Kira." Eu comecei a virar-me quando ouvi passos vindos da
parte traseira da casa. Virei a cabeça para ver Cooper. Deus, eles tinham
planejado me emboscar. Meu estômago caiu como se eu tivesse acabado de
saltar de um penhasco muito alto. Cooper correu em minha direção, sua boa
aparência dourada realçada pelo tênis branco que ele usava.

"Kira", disse ele, seus olhos vagando sobre mim. Eu me encolhi e virei
minha cabeça de novo, longe dele quando ele passou a mão pelo lado do meu
cabelo. Como eu já tinha pensado que poderia passar a vida inteira com este
homem? Eu mal podia tolerar estar na mesma sala com ele agora. Senti
Grayson pisando mais perto de mim, e de repente sentiu sua mão
pegar a minha. Cooper olhou para Grayson em confusão e, em
seguida, de volta para mim, seus olhos questionando. "Kira?"
Ele tocou minha bochecha.

"Você bateu nela?" Cooper perguntou incrédulo, olhando atentamente


para o meu pai. Como se ele próprio nunca tivesse me atingido. Raiva e
desprezo borbulhavam no meu peito até que senti como se fosse engasgar.

Meu pai apertou os lábios. "Ela está casada, Cooper," ele disse, sua voz
de zombaria cheia de condescendência. "Felicite-a." Os olhos de Cooper se
arregalaram, de repente balançando para Grayson. Eu poderia dizer que ele
parecia magoado se não o conhecesse. O olhar de Cooper disparou entre
Grayson e eu.

"Quem é ele? Qual é a sua história?" ele finalmente perguntou, seus


olhos parando em Grayson embora ele claramente estivesse falando comigo.

Grayson estreitou os olhos sobre Cooper com um meio sorriso


zombeteiro. "Ele dirige os negócios de sua família em Napa", eu disse." Foi
onde nos encontramos." Eu esperava que fosse informação suficiente para
eles.

A cabeça de Cooper virou na minha direção. "Onde você o conheceu? O


quê? Há duas semanas?" Houve a sugestão de um rosnado em sua voz. Eu
endireitei minha espinha.

"Não é da sua conta, Cooper," eu disse. "Não sou mais o seu negócio."

"O inferno que você não é", disse ele, dando um passo mais perto.
Grayson moveu-se ao meu lado em uma postura protetora, e antes que eu
pudesse pensar voltei-me um pouco para ele, mantendo meus olhos em
Cooper.

"Você esperava que eu nunca mais fosse querer algo com você de
novo?" Perguntou Cooper. "Nós poderíamos ter resolvido, Kira",
disse ele, sua voz soando triste. Ele realmente deveria ser
levado para o palco em vez de se tornar um juiz.
"Eu lhe garanto, não podíamos, nem vamos, jamais, por razões muito
além de meu casamento com Grayson."

Durante vários segundos ficamos todos neste tenso impasse.

"Pare com esse absurdo", meu pai latiu.

Cooper respirou fundo, olhando-me por um segundo a mais antes de


dizer, "nós precisamos resolver isso, então." Havia um tom de resignação em
sua voz. Eu olhei para Grayson, soltando um suspiro. Agora que eles iam para
o modo de "conserto" nós não importaríamos mais.

De repente as palavras de meu pai, de um ano atrás, voltaram para


mim. ‘Não se preocupe, Cooper. Vou mandá-la embora até que as coisas
acalmem. Apenas mantenha o foco no objetivo final.’

"Este é o território deles. Vamos deixá-los trabalhar." Eu sabia que


soava amarga. Minha voz engatou no final, traindo a profunda mágoa
esmurrando meu coração.

"Kira-" Cooper começou, mas eu balancei minha cabeça e puxei a mão


de Grayson. Grayson resistia, deixando-me. Ele se aproximou de meu pai.

"Você pode ser o pai", disse ele calmamente, sua voz mortal, "mas você
nunca tocará minha esposa novamente. Fui claro?" Meu pai olhou
desdenhosamente para Grayson, e então para mim.

"Tenha uma boa vida, Kira Hawthorn," ele disse sarcasticamente. Suas
palavras me atingiram como outra bofetada na cara. Era o que eu queria, não
era? Então por que doía tanto? Com isso, meu pai virou-se e caminhou para
fora da sala. Cooper manteve-se onde estava, mas eu me virei e Grayson e
eu fomos em direção a saída.
Grayson agarrou minha mão enquanto descíamos as escadas exteriores
silenciosamente. Senti como se sua mão na minha fosse a única coisa que me
mantinha de pé.
Capítulo Quinze
Grayson

Deixei a mala de Kira na cama do quarto de hotel e me virei para ela.


Ela ainda não tinha falado desde que tinha deixado a casa de seu pai. Eu não
tinha tentado qualquer conversa - eu precisava processar o que aconteceu,
também. Eu teria conduzido direto para Napa, mas sabia que Kira queria visitar
o Centro, e imaginei que já estivesse fechado a esta altura. Teremos uma
parada na parte da manhã, depois de uma boa noite de sono e de algum tempo
para esquecer o que tinha acontecido com seu pai.

Eu me virei para olhá-la, e seus olhos deslumbrantes encontraram os


meus, grandes e luminosos e cheios de dor.

Seu sofrimento me afetou como um soco no estômago, e eu deixei


escapar um suspiro súbito. Foi com isso que esta maravilhosamente vibrante
menina tinha crescido? Eu entendia a dor de ser uma decepção constante.

Mas como ela tinha mantido esse espírito livre e aberto no meio de nada
alem de frieza e desprezo?

Como ela tinha crescido acima disso? Quando ela me contou a história
sobre Rosa Maria, eu pensei que tinha entendido. Seu pai - embora não o
mais agradável dos homens para sua equipe - tinha sido duro para sua filha,
não sabendo como lidar com uma bem divertida menina, sem mãe.
Mas eu lhe tinha dado demasiado crédito. Demasiado, demasiado
muito crédito.
"Você deve me odiar por envolver você nisso," ela finalmente disse,
olhando para longe e atormentando seu lábio. "Eu sinto muito."

Odiá-la? Mudei-me para ela. "Não, eu sou o único que está


arrependido." Corri meus dedos suavemente pela sua bochecha machucada.
"Se eu tivesse alguma idéia de que ele ia te bater, eu estaria perto o suficiente
para pará-lo."

Ela balançou a cabeça. "Eu deveria ter tomado tempo para bolar um
jeito melhor de dar-lhe a notícia. Mas ele raramente me bateu. Eu não
esperava isso. E eu o provoquei. Não fui capaz de evitar." Ela soltou um
suspiro profundo.

"Não é sua culpa que ele bateu em você, Kira."

Ela assentiu com a cabeça, mas não parecia convencida. "Eu acho que
gostaria de tomar um longo banho quente e me limpar. Talvez pedir o jantar
no...."

Eu entendi, ela estava pedindo para ficar sozinha. "É claro. Vou me
instalar no outro quarto." Kira assentiu com a cabeça, e eu me mudei para a
porta que separavaxz o quarto do resto da suíte, pegando meu saco de viagem
do assoalho onde tinha deixado-o. Eu teria gostado de me fazer confortável no
quarto que ela estava dormindo, mas depois do que aconteceu com o pai de
Kira e seu ex-noivo, eu sabia que não era o momento de empurrar a minha
agenda física sobre ela. Senti um novo sentimento de culpa por tentar empurrar
alguma coisa sobre ela em tudo - parecia que ela já tinha tido o suficiente para
uma vida.

"Ah, e Grayson", disse ela, virando a meio caminho em direção a mim.


"Obrigada pelo que disse ao meu pai, sobre eu ser sua esposa..."

Fiz uma pausa. "Você é minha esposa."


Ela sorriu suavemente. "Você sabe o que quero dizer. Você fez soar
como se eu fosse sua verdadeira esposa. Foi muito convincente."

Eu franzi a testa ligeiramente, mas não soube o que dizer. Era verdade -
ela não era minha verdadeira esposa. Se fosse, eu saberia o que fazer agora
para limpar esse olhar assombrado em seus olhos. Só concordei em vez disso.
"Eu verei você pela manhã."

Fui para o meu quarto e tomei um banho, lavei a poeira da estrada do


meu corpo e tentei limpar a sensação do confronto com o pai de Kira da minha
mente. Tudo em mim queria dar um soco na cara de Frank Dallaire quando ele
deu um tapa em Kira. Mas eu tinha me segurado. Agredir alguém só iria me
enviar de volta para a prisão, e eu não arriscaria. Dessa forma, o incidente
serviu para lembrar-me de minha vergonha, e trouxe para casa as minhas
limitações como um homem. Se eu precisasse, como mesmo lutaria pela minha
mulher agora? Minha mulher. Não, talvez Kira não fosse minha mulher nesse
sentido, mas a questão ainda detinha peso.

Eu suspirei, voltando minha mente para Frank Dallaire. Eu nunca prestei


muita atenção à política de San Francisco, mas tinha percebido que ele era um
prefeito popular. Duro, mas justo, um amigo para as minorias e para a classe
média. Acho que era só para mostrar o que era um jogo político. Acho difícil de
acreditar que um homem que trata sua bela filha tão abominavelmente fosse
um verdadeiro amigo para alguém, além de si mesmo.

E agora ele era meu sogro temporário. Deus, em que eu acabei de ser
envolvido? Eu só poderia esperar que Kira tivesse razão - ele colocaria um
pouco de rotação sobre isso para o público em caso de necessidade, e nos
deixaria ir sobre nossos negócios. Por que tive um mau pressentimento de
que esse não seria o caso? Sacudi-o fora, vesti-me e fui sentar-
me na varanda por um tempo, pensando no que Kira estava
fazendo no outro quarto. Eu não pude deixar de
imaginar seu corpo nu submerso em água, sua pele lisa e úmida, o cabelo
selvagem caindo em desordem de qualquer clipe que ela tinha usado para
segurá-lo preso. Calor subiu em minhas veias, mas ao mesmo tempo eu queria
levá-la em meus braços e acalmar a dor e o constrangimento que eu tinha visto
em seu rosto quando saí do quarto. Eu não sabia como classificar esses
sentimentos novos e confusos. Mas, sentado lá, algo poderoso cresceu dentro
de mim - uma necessidade masculina de possuir minha esposa, combinado
com uma proteção que eu não estava preparado para sentir.

Pare com isso. Pare com isso agora.

Mas eu não pude evitar. Eu queria colocar a luz brilhante de volta em


seus olhos, para confortá-la e ver a pequena covinha da bruxinha. Eu inclinei
minha cabeça para trás e soltei um gemido. Isso nunca daria certo. Eu tinha
que me controlar. Nada disso era meu trabalho. Tínhamos começado este
casamento como um acordo de negócios, e o mesmo se dava em nossa
atração um pelo outro: tinha que permanecer nesses termos. Nós éramos
casados - nosso relacionamento tinha que ser tudo ou nada. Nós não
poderíamos entrar na escuridão de algo que não podia ser definido. Isso não
acabaria bem para nenhum de nós. Saber sobre Rosa Maria e seu pai tinha me
pouco mais de compreensão sobre sua hesitação em se envolver comigo. Ela
provavelmente via uma relação física entre nós como pouco mais do que o que
eles tinham tido. Era isso?

Confusão rodou dentro de mim. Talvez eu devesse abandonar a idéia de


satisfazer minha necessidade física com ela, agora que eu poderia admitir
que havia mais envolvido do que apenas desejo sexual, agora que eu
poderia admitir que gostava dela como pessoa. Mas por alguma razão eu
perdia o controle em torno dela, e todas as minhas melhores
intenções iam pelo ralo. Toda vez. E eu ainda não conseguia
entender exatamente o porque. O que era sobre ela que
tanto me desequilibrava?

O que eu sabia? Kira estava na mesma suíte de hotel, e talvez


precisasse de companhia. Talvez ela precisasse de mim. Ou talvez eu só
estava esperando que ela o fizesse.

Depois de olhar o menu do serviço de quarto e fazer um pedido para ser


entregue em nossa suíte, eu bati na porta de seu quarto. Ela respondeu
vestindo um par de jeans e um top preto, com os pés nus e o cabelo ainda
parcialmente molhado. Seu rosto estava livre de maquiagem e ela parecia
muito linda e muito jovem. Claro, ela era muito jovem, apenas vinte e dois
anos. Eu não pensei sobre sua idade muitas vezes, talvez porque às vezes ela
agia como uma criança desobediente, e às vezes parecia tão sábia.

E, claro, esses vislumbres de profundidade e discernimento só tinham


servido para fazê-la mais interessante para mim. Bruxinha intrigante. Entrei,
inalando o aroma floral que era dela.

"Oi," ela disse, olhando-me com desconfiança.

Eu entrei no seu quarto sem ser convidado. "Eu tomei a liberdade de


pedir o jantar para nós. Eu sei que você gosta do strogonoff de carne de
Charlotte. Tenho certeza que o chef aqui não é tão bom quanto Charlotte,
mas..." Eu dei de ombros. Kira parecia um pouco insegura, mas, em seguida,
soltou um suspiro, obviamente concordando.

"Isso soa bem. Obrigada. Embora eu possa não ser a melhor


companhia."

Ela virou-se e caminhou de volta para a varanda onde estava olhando


para fora sobre a cidade. Eu me juntei a ela, inclinando meus braços no
corrimão de metal e olhando para ela. Ela desviou o ohar,
inclinando o queixo para baixo como se tentando esconder o
rosto de mim.
"Hey," eu disse suavemente, levantando-me e voltando-me para ela. Eu
usei meus dedos para cutucar seu queixo em minha direção. Seus olhos
estavam brilhando com lágrimas não derramadas. Ela chupou uma respiração
afiada, um pequeno soluço chegando à sua garganta. Um raio de
protecionismo espetou através de mim e eu a puxei em meus braços, enfiando
sua cabeça debaixo do meu queixo. "Shh", eu disse, "está tudo bem." Minha
garganta estava apertada quando seu corpo ficou tenso nos meus braços,
como se ela não soubesse como era ser segurada. Deus, crescer sem mãe e
com um pai assim, ela provavelmente não sabia. Eu tinha apenas um pouco
mais para mostrar, mas o suficiente para assumir a liderança.

"Kira", eu sussurrei, "relaxe. Deixe-me segurar você, querida." Ela lutou


fracamente por um breve momento, mas quando eu apertei meus braços em
torno dela, ela caiu em mim e deu lugar às lágrimas.

Kira chorou em meus braços, seu rosto enterrado no meu peito por um
longo tempo. Meu instinto ficou tenso com a dor quando testemunhei seu
sofrimento. Finalmente seus soluços começaram a diminuir e ela levantou o
rosto para mim. A ternura que pulsava em meu peito era diferente de tudo que
eu já tinha sentido antes. Isso vagamente me preocupou, mas eu empurrei
meus sentimentos de lado e escovei meu polegar sobre a bochecha macia de
Kira, enxugando a umidade de suas lágrimas. Ela piscou, parecendo um pouco
confusa, mas aliviada também. Eu alisei o cabelo do seu rosto. "Está tudo
bem", eu disse, "eu estou aqui."

"Disse O Dragão à bruxa," ela disse suavemente, um pequeno brilho


em seus olhos ainda marejados. Eu ri.

"Esta é a minha garota." Ela sorriu suavemente e se afastou. Meus


braços de repente se sentiram muito vazios. Kira caiu em uma
das cadeiras de plástico da varanda, e eu sentei-me na outra, restando apenas
uma pequena mesa de plástico entre nós.

"Você vai me contar sobre isso?" Ela se inclinou para trás em sua
cadeira, suspirando, parecendo saber que eu estava pedindo para saber o que
a tinha enviado correndo para África.

Depois de tomar uma respiração profunda, ela disse: "Eu conheci


Cooper num evento de caridade organizado pelo meu pai. Eu estava em casa
para o verão do meu primeiro ano da faculdade. Meu pai tinha tomado Cooper
sob sua asa e estava preparando-o para ganhar seu primeiro juizado." Ela
mordeu o lábio e desviou o olhar por um momento.

"Embora meu pai não esteja mais na política, ele está muito envolvido
no sistema tribunal de San Francisco."

Seus olhos correram para mim por um segundo rápido e eu me


perguntava se ela estava pensando sobre meu envolvimento com o sistema
tribunal de San Francisco. Felizmente, porém, eu nunca entrei em contato com
Frank Dallaire. Ela ficou em silêncio por alguns momentos. "De qualquer forma,
Cooper e eu começamos a namorar, e meu pai era estava tão malditamente
feliz com isso." Ela olhou para o horizonte, parecendo perdida na memória. "Foi
a primeira vez na minha vida que eu senti como se estivesse lhe agradando.
Me senti... bem, senti-me querida. Foi uma sensação inebriante. Quase
viciante", refletiu ela, balançando a cabeça desanimada.

"Então, você nunca amou Cooper realmente?" Eu odiei a minúscula


punhalada de ciúme com a menção de Kira com outro homem - mesmo
aquele que era principalmente de seu passado. Sacudi-a.

"Oh, eu pensei que sim, suponho. Ele era todo polido e


modos de clube de campo. Meu pai pensava que nós éramos um
casal brilhante, e que equilibrávamos perfeitamente um ao
outro. Cooper finalmente iria domar-me, e eu ofereceria o nome Dallaire para
sua campanha e para sua futura carreira como juiz."

"O que aconteceu?" Eu perguntei, um sentimento de temor fixando-se


em meu estômago.

"Ficamos noivos no Natal e eu, bem, eu dei-lhe a minha virgindade." Ela


franziu a testa e desviou o olhar pelo que pareceu um longo tempo. Meus
músculos estavam tensos, e eu conscientemente foquei em relaxar. "Eu
apenas contei-lhe isso porque se relaciona com o resto da história."

"Tudo bem", eu disse.

Kira limpou a garganta. "Eu planejei voltar para casa naquele verão e
começar o planejamento do casamento. Cooper estava fortemente envolvido
com sua primeira campanha, e sua equipe estava trabalhando fora do St. Regis
Hotel." Kira pegou na sua unha por alguns segundos antes de continuar. "Eu
saí das finais mais cedo e em vez de ir direto para o apartamento que meu pai
guardou para mim aqui, eu decidi surpreender Cooper lá." Sua carranca se
aprofundou. "Cooper sempre pareceu... descontente comigo na cama. Ele
nunca disse isso exatamente, mas transmitiu a mensagem com clareza
suficiente. Eu pensei que talvez se eu o surpreendesse, usasse alguma coisa...
você entendeu a ideia." Um rubor subiu em seu rosto. "De qualquer forma, eu
fui ao seu quarto e um membro de sua campanha abriu a porta, obviamente à
espera do serviço de quarto. Ele tentou parar-me de avançar para o quarto,
mas eu não obedeci e entrei. Encontrei Cooper com... mulheres."

"Mulheres? Plural?"

Kira acenou com a cabeça, com uma expressão de dor. "Havia uma
debaixo dele e uma atrás, usando algum tipo de..." Ela balançou a
cabeça e fechou os olhos, obviamente tentando sacudir a imagem
de seu mente. "Deus..." Ela colocou o rosto entre as mãos
por um breve momento, tomando uma respiração profunda.

"Eu não preciso de uma descrição completa. Já obtive a essência," eu


disse, minha voz soando apertada.

Ela assentiu com a cabeça, parecendo aliviada. "Havia linhas do que


parecia cocaína na mesa de café, e garrafas de licor meio vazias."

"Jesus", eu disse, movendo a mão pelo meu cabelo, imaginando


Cooper, o menino de ouro em seu tênis branco esta tarde.

"Cooper... desengatou quando finalmente me reconheceu, mas ele


estava tão bêbado ou drogado, ou ambos. Eu não sabia. Ele começou a pedir
desculpas, mas isso evoluiu para ele gritando comigo sobre como não queria
uma puta como esposa. Ele tinha prostitutas reais para isso. Eu tentei sair, mas
ele me puxou e eu lutei com ele. Nós caímos no chão e ele me bateu, mas eu
consegui escapar. Só que quando me virei para sair ele segurou meu tornozelo
e eu caí sobre a mesa de café de vidro, quebrando duas das minhas costelas,
batendo meu rosto ainda mais e cortando o meu braço. Aconteceu tão rápido,
mas eu era uma bagunça. Havia sangue por toda parte. Os membros da
equipe de campanha de Cooper, que estavam no outro quarto, vieram
correndo. Eles me tiraram de lá e chamaram um médico quando chegamos na
casa do meu pai."

"Kira", eu disse, minha voz crua, meu intestino revolto. Eu agora


totalmente compreendia porque ela estava tão insegura sobre sexo. Não era só
sobre seu pai e a demissão de Rosa Maria. Era ainda mais pessoal – foi dito a
ela basicamente que seu ardor na cama era de certo modo inadequado e
repugnante. E ela acreditou nisso. E quem poderia culpá-la? Ele tinha sido
sua primeira experiência. Ela só esteve sempre com um homem.
Kira olhou para longe novamente. "Quando meu pai chegou em casa e
descobriu o que aconteceu" seu rosto apertou como se ela fosse chorar
novamente, mas ela se reagrupou com uma respiração profunda, "ele disse-me
que eu tinha estragado tudo. E então ele entrou em modo de recuperação:
entrou em contato com a equipe do hotel, colocando para fora a história que eu
tinha me metido em problemas com drogas, e enlouqueceu com a possibilidade
de que mais alguém tenha me visto deixando o quarto, ou no caso de outros
funcionários falarem sobre a limpeza. É claro, ele não quis me ouvir sobre a
anulação do noivado, mas eu estava muito definitiva sobre isso."

"Ele te jogou embaixo do ônibus."

Ela assentiu com a cabeça. "Sim. A campanha de Cooper e seu status


eram mais importantes do que sua própria filha. Ele sugeriu uma viagem à
Europa, para fazer parecer como se eu estivesse em um programa de
recuperação e, em seguida, quando eu retornasse, poderíamos transformar a
história em nosso favor – fazendo-me parecer como um sucesso. Você pode
ver as manchetes agora? ‘Herdeira se volta para as drogas, vida em ruínas,
mas graças ao amor e devoção do noivo altruísta, transforma a própria vida’.
Que história de amor perfeita. Claro, Cooper ficaria ainda mais como herói. Sua
atual campanha, e todas as campanhas futuras, seriam ainda mais bem
sucedidas com uma história como essa anexada a ele. E eu, eu seria a garota
em queda, mas tudo por uma boa causa."

"Jesus". Eu olhei em descrença.

Ela suspirou. "Bem, como você pode imaginar, eu não concordei com
o plano de meu pai de me enviar para a Europa para fazer compras, mas
ainda precisava ir embora. Mesmo retornar para a faculdade aqui na
Califórnia parecia muito perto. Eu queria um oceano entre nós -
muito literalmente. Fiquei devastada e necessitava me curar,
tanto fisicamente quanto emocionalmente. Eu
precisava de tempo para elaborar um plano de vida. Eu lembrei do convite de
Khotso para ajudar com o seu hospital - um convite que eu não tinha sido
capaz de aceitar originalmente - mas que naquele ponto me desligaria de meu
pai e Cooper. Eu levei um dia extra para ter um completo check-up de STD
(sexually transmitted disease/DST doenças sexualmente transmissíveis), e
depois voei para a África usando a última parte do dinheiro que eu tinha em
minha conta bancária." Ela corou um pouco após a observação sobre um
check-up, em seguida, sua expressão se voltou pensativa. "Quando eu cheguei
lá, eu me sentia tão vazia, tão aflita. Mas veja", os olhos de repente se
iluminaram, e eu chupei uma respiração ao vê-la brilhando à luz novamente,
"eu trabalhei com essas mulheres que tinham perdido tanto. Elas eram
rejeitadas pelas suas aldeias e suas famílias por causa do estigma de algo que
não tinham controle. Muitas delas haviam perdido seus bebês. Elas estavam
doentes e traumatizadas. Elas haviam perdido muito mais do que eu. E eu
pensei comigo mesma: se eu vou incentivá-las a serem forte, a encontrar o
poder além de suas próprias circunstâncias, então eu tenho que ser capaz de
fazer o mesmo por mim. As pessoas sofrem em todo o mundo, todos os dias.
Mas elas também triunfam em todo o mundo, todos os dias. E eu pensei: se
estas mulheres estão confiando em mim para ajudá-las a curar e triunfar, eu
tenho que ser capaz de elevar-me acima de meus problemas também. E eu
fiz."

"Você faz isso parecer fácil." Minha voz tinha uma nota áspera. Como
ela era tão forte?

Ela balançou a cabeça. "Não é fácil. É preciso trabalho, fé e um


coração cheio de esperança. É preciso deixar a dor ir, também. Porque o
problema é que você não pode desligar uma emoção sem desligar
todas as outras. Você tem que sentir a dor, se quiser sentir a
alegria. É apenas a maneira como isso funciona. Assim não,
não é fácil, mas é possível. E agora, tudo que eu quero é que meu pai me
deixe em paz, a fim de permitir-me descobrir por mim mesma o que eu vou
fazer com o resto da minha vida."

Eu entendi agora. Entendi porque ela estava disposta a adotar medidas


drásticas para ganhar alguma liberdade. Eu entendi porque ela estava disposta
a se casar com um estranho em vez de pedir a seu pai por um centavo de seu
dinheiro - dinheiro esse que certamente não tinha qualquer número de parte
moral-despojada anexado. Ela tinha escolhido dividir o dinheiro, meio a meio,
como se fosse o único instrumento de barganha que ela sentiu que valia a
pena. E ela tinha me escolhido, e de repente eu senti a gratidão que até agora
superou o ganho financeiro.

"E o que conseguiu até agora?" Perguntei. Quais são seus sonhos, doce
Kira?

"Eu poderia voltar para a faculdade. Ou poderia me tornar uma pirata e


navegar os sete mares. O ponto é que eu tenho escolhas. Por causa da minha
avó, e por causa de você, eu posso fazer qualquer coisa." Nossos olhares se
encontraram e eu tive o muito breve desejo afiado de cair de joelhos e jurar
minha eterna servidão a ela. Relaxe, Gray.

"Você daria uma pirata muito quente", eu finalmente disse.

Ela riu, bem quando uma batida forte soou na porta da frente e nós dois
nos assustamos um pouco. "Seviço de quarto", eu disse, sorrindo.

Não havia mesa na suíte, então eu configurei a comida na mesa de café


na espaçosa sala de estar do quarto, onde nos sentamos para comer. O
clima parecia ter aliviado apesar dos temas muito pesados que nós tínhamos
discutido, e apesar do fato de Kira ter acabado de compartilhar sua
história pessoal e dolorosa. Talvez fosse isso o que ela precisava,
no entanto. Imaginei que ela não tinha falado muito disso, se
é que tinha feito em tudo, dado que tinha saído imediatamente após o ocorrido
e só havia retornado recentemente.

"Você sabe," eu disse através de uma mordida no estrogonofe que não


era tão bom quanto o de Charlotte, "devo-lhe um pedido de desculpas. Eu
julguei-te mal desde que te conheci. Eu tinha-lhe completamente errado."

Kira deu de ombros. "Eu estou acostumada a isso. E eu também fiz


minha parte de menosprezar, dragão." Ela piscou e eu sorri.

"Kira", eu disse depois de um minuto, "eu sei que nós concordamos em


dois meses, mas você pode ficar mais tempo se quiser. Quero dizer, se isso for
ajudar e te dar tempo para descobrir qual é seu próximo passo."

Ela me olhou de lado. "Você pode vir a lamentar essa oferta."

Eu suprimi um sorriso em seu sarcasmo. "Provavelmente. Você


incansavelmente tenta a minha paciência. Mas, mesmo assim, quero dizer
isso."

Ela se virou para mim e sorriu, aquela pequena covinha de bruxinha


aparecendo, e a luxúria que disparou através do meu corpo era aguda e
repentina.

"Eu aprecio isso. Mas eu acho que vai ser bom para mim configurar meu
próprio lugar."

Eu não queria reconhecer o sentimento de decepção que senti em suas


palavras. "Você vai ficar em Napa?" Por favor. Por favor, fique.

Ela pareceu pensativa. "Eu não sei. Se nós estamos tentando elevar
sua posição social em Napa, não tenho certeza que mudar minha casa para
lá faça sentido. Mas eu vou ficar na Califórnia por um tempo, pelo
menos. Até nós pedirmos o divórcio."
Eu balancei a cabeça e seguiu-se um silêncio constrangedor. Ela estava
pensando em minhas circunstâncias em tudo isso? Por que ela se importava?
Eu não tinha certeza do que eu senti naquele momento, e tinha ainda menos
certeza se queria analisar isto.

Nós terminamos o jantar e eu coloquei os pratos do lado de fora para o


coletor. Quando voltei para a suíte, achei Kira de volta em seu quarto de pé na
porta de correr de vidro da varanda, olhando para fora.

Observei-a por alguns segundos, vendo sua postura relaxada, as longas


ondas de seu cabelo caindo pelas costas. Ternura encheu meu peito. Ela era
tão forte e tão bonita. Eu andei para ficar atrás dela. Mudei seu cabelo sobre
um ombro e me inclinei para beijar a parte de trás de seu pescoço. Ela
estremeceu, mas não se afastou.

"Kira", murmurei, inalando sua doce fragrância. Eu não tinha certeza se


deveria estar tocando-a, se eu deveria estar tentando mover nosso
relacionamento nesse sentido. Talvez eu precisasse protegâ-la de mim. Mas
nem por minha própria vida eu poderia me fazer parar. E quando a beijei no
pescoço novamente e ela soltou um gemido suave, acabei completamente
desfeito.

Virei-a em meus braços e trouxe minhas mãos para segurar o rosto


dela, tomando cuidado para não colocar pressão sobre a contusão em sua
bochecha, onde seu pai havia batido. Inclinei-me para beijar sua boca doce, um
gemido profundo chegando a minha garganta quando enfiei os dedos nas
ondas de seda de seu cabelo, inclinando sua cabeça para que eu pudesse
mergulhar minha língua mais profundamente. Eu queria devorá-la, tornar-me
parte de seu fogo, de sua força, de sua vida.

Eu andei para trás, puxando-a comigo suavemente até que


as costas das minhas pernas bateram na cama. Então eu
virei-me para que ela caísse para trás, e a segui para
baixo. Eu me senti quase frenético com luxúria e forcei-me a abrandar,
respirando longo e estremecendo.

Kira olhou para mim com os olhos semicerrados. Deus, ela era linda.
"Eu quero você", eu disse, minha voz soando crua até para os meus próprios
ouvidos.

Ela piscou, sua expressão se enchendo de incerteza. Ela me queria


também, mas não estava pronta. Eu jurei a mim mesmo, um súbito clarão de
como ela parecia mais cedo em meus braços, os olhos avermelhados pelas
lágrimas, com seus lábios tremendo. Eu poderia convencê-la a dormir comigo
esta noite, eu tinha certeza, mas não me parecia mais certo. Não agora que eu
conhecia a sua história. Quando ela viesse para a minha cama, ela tinha que
vir de boa vontade. Mas eu ainda podia fazer algo por ela. Inclinei-me e beijei-a
novamente. "Deixe-me dar-lhe prazer, Kira. Deixe-me mostrar-lhe como você é
linda enquanto faço você gozar." Ela ainda parecia incerta, mas não me disse
para parar, e por isso eu tomei isso como um sim e me inclinei para beijar seu
pescoço. Ela inclinou a cabeça para trás e deixou escapar um pequeno suspiro
enquanto eu lambia e mordiscava a pele macia e suave de sua garganta. O
gosto dela era novo e familiar ao mesmo tempo, e eu senti meu coração
batendo rápido no meu peito. "Você é encantadora. Perfeita"

Eu sussurrei em seu ouvido, elevando-me acima dela para remover sua


camisa. Ela levantou os braços sobre a cabeça, o olhar em seus olhos menos
cautelosos do que antes, o calor queimando sua reserva anterior.

Eu desabotoei o sutiã e levei um momento para olhar para seus seios


nus. Meu pau pulsava contra o zíper restritivo da minha calça jeans, e mudei
minha mão para seu mamilo cor de rosa. Eu raspei suavemente com a
unha do meu polegar e ela empurrou seus quadris para fora da
cama, gemendo. "Gray", ela respondeu asperamente.
Ao som de meu nome em seus lábios luxúria frenética cravou pelo meu
corpo novamente, e eu cerrei os dentes.

Eu lambi meu polegar e molhei seu mamilo, estimulando o pico duro até
que ela estava deixando escapar pequenos suspiros doces. Então eu me
inclinei e suguei o outro em minha boca, girando minha língua em torno,
mordendo e, em seguida, levando suavemente novamente. Seus quadris
pressionaram para cima em minha ereção inchada, e nós dois gememos.

Os dedos de Kira agarraram meu cabelo enquanto eu beijava abaixo de


seu estômago. Eu removi seu jeans e nossos olhos se encontraram, os dela
brilhantes e luminescentes com paixão, tremulando fechados depois de um
momento.

"Linda", murmurei. "Tão bonita." Minha bruxinha ardente estava se


contorcendo e gemendo, maravilhosamente vibrante com paixão. Como é que
qualquer homem vivo não achou isso incrivelmente erótico? Como é que
qualquer homem vivo não gostaria de experimentar esta resposta da mulher
com a qual ele estava fazendo amor?

Da mulher que lhe pertencia? Olhando para ela dessa maneira me senti
como se inalando um raio brilhante de luz solar.

Jogando sua calça jeans e calcinhas de lado, eu fiquei de joelhos no


chão na frente dela e suavemente arrastei-a para perto de mim, assim meu
rosto estaria diretamente entre suas pernas. Ela estava nua, tão brilhante e lisa
com a excitação que eu quase rosnei ao sentir o cheiro dela, uma sensação de
ardor, de necessidade primordial rugindo pelas minhas veias. Eu estava
praticamente tremendo de desejo pela bela bruxinha. "Gray", sua voz
quebrou o meu nome.

Ela virou a cabeça para o lado, abafando um gemido no


travesseiro espesso ao lado de sua cabeça.
"Não, Kira, deixe-me ouvir você", eu implorei.

Ela olhou para mim, a confusão nebulosa em seus olhos, mas empurrou
o travesseiro à distância.

Inclinando-me eu a lambi, girando minha língua em torno de seu clitóris


inchado. O gosto dela estourou em toda a minha língua, impossivelmente
fazendo-me ainda mais duro. Eu teria um orgasmo só por dar prazer a ela. Eu
nunca me senti tão desesperado. Ela gemeu baixinho, apertando-se em meu
rosto. Eu chupei e lambi e provei sua carne escorregadia por longos momentos
enquanto ela gemia e ofegava, seus sons de prazer fazendo-me sentir
selvagem. Finalmente eu pressionei dois dedos em sua entrada molhada e ela
soltou um pequeno grito, suas coxas tremendo quando seu corpo tremeu e
contraiu em torno de meus dedos. Depois que ela se acalmou eu levantei meu
rosto e beijei de volta até seu estômago. Kira soltou um suspiro de satisfação,
tendo o meu rosto em suas mãos enquanto eu pressionei meus lábios nos
dela, para que ela pudesse provar sua própria paixão na minha boca e língua.

Nós nos beijamos lentamente por longos momentos, minha ereção


ainda pulsando dolorosamente com a luxúria não utilizada para a mulher bonita
em meus braços. Dando-lhe um último beijo eu rolei para o lado e puxei seu
corpo nu em meus braços, trazendo os cobertores sobre ela e alisando minha
mão para baixo em seu cabelo. "Você é linda", eu repeti, sentindo algo
surpreendentemente parecido com medo no meu peito. Porque é que os meus
sentimentos por ela me assustavam?

Ela suspirou contente de novo e se aconchegou no meu peito. Conforme eu


desenhava círculos preguiçosos em seu quadril, tentando conter a minha excitação ainda
em fúria e a confusão das minhas emoções, eu me lembrei como eu havia dito que ela
não era o meu tipo. Eu quase ri. Ela não era apenas o meu tipo... era como
se ela fosse feita para mim. Eu empurrei esse pensamento perturbador de
lado, embora. Eu não podia deixar-me pensar coisas assim.
Deve tê-la machucado, entretanto, ouvir essas palavras da boca de um homem - mesmo
um que ela não gostava na época - depois do que ela passou com o noivo. Pensamentos
sobre Cooper Stratton trabalharam para arrefecer o sangue em minhas veias, mas apenas
moderadamente. Ouvi a respiração de Kira acalmando até que ela soltou um pequeno e
delicado ronco. Ela estava dormindo. Deus, se eu soubesse que ser casado seria tão
sexualmente frustrante eu poderia ter pedido mais compensação. Ela tinha me deixado
louco, me irritado mais do que ninguém que eu conhecia, e me excitado demais, tudo ao
mesmo tempo. No entanto, ela me fez rir, me fez sorrir. Ela até me comprou um maldito
cachorro. E agora ela tinha me dado ainda mais. Ela me deu a confiança com seu corpo
delicioso.

Tesão? Foda sim. Satisfeito? Absolutamente. Eu sorri para mim mesmo, beijando
o topo da cabeça de Kira.
Capítulo Dezesseis
Kira

Batendo suavemente na porta do quarto de Grayson, mordi o lábio e


esperei que ele respondesse. Eu tinha acordado sozinha na minha própria
cama esta manhã, ainda nua e enrolada nos lençóis do hotel. Quando recordei
o que aconteceu entre Grayson e eu me senti envergonhada, mas por baixo
havia um profundo sentimento de ternura. Obviamente ele tinha entendido a
dor que Cooper tinha causado e tinha procurado remediar algumas. E
curiosamente, funcionou. Ele me fez sentir bonita e desejável, a um custo dele
mesmo. Na verdade, eu tinha certeza que ele tinha sido deixado severamente
frustrado. Eu me senti mal sobre isso, mas quando ele finalmente respondeu à
sua porta e sorriu para mim eu deixei escapar um suspiro de alívio. Ele
obviamente não estava com raiva sobre isso. Ainda assim, ele tinha deixado
meu quarto. Eu me perguntava por que ele não ficou, por que ele não tentou
satisfazer sua própria excitação. Gostaria de tê-lo deixado. Eu poderia ter
implorado se não tivesse caído no sono diretamente depois, bêbada de prazer
e esgotada de um dia longo e emocional.

"’Dia", disse ele.

"Você deixou o meu quarto ontem à noite," eu soltei, sentindo o calor


no meu rosto.

Ele encostou-se no batente da porta, os olhos movendo-se sobre


meu rosto por um momento, como se tentasse ler meus
pensamentos. Baixei os cílios para esconder meus olhos. "Eu
pensei que você precisava de uma boa noite de sono,
e eu não sabia se estaria bem se eu ficasse. Eu não queria acordá-la para
perguntar. Você teve um dia difícil."

Sua reflexão fluiu sobre mim como um abraço caloroso, e eu olhei em


seus olhos escuros novamente. "Obrigada", eu disse. "Por, hum, tudo."

Um estranho sorriso surgiu sobre sua boca. "Você é muito bem-vinda",


disse ele. "Pronta para ir?"

Eu balancei a cabeça, ainda olhando para sua boca –boca linda e


sensual que agora eu sabia que poderia trazer muito prazer. Quando eu
percebi que aqueles lábios estavam curvando-se em um sorriso ainda maior,
conhecedor, rasguei meus olhos e olhei para baixo, para minha mala na mão.
Grayson riu suavemente quando agarrou seu saco e saímos para o corredor.

"Tem certeza que não se importa em fazer uma parada no centro?" Eu


perguntei, mudando o assunto que eu sabia que nós dois estávamos
pensando, olhando-o de lado enquanto caminhávamos em direção ao elevador.
Eu amei seu aspecto fresco do chuveiro – cabelo escuro parcialmente molhado
e desgrenhado, seu cheiro masculino limpo me envolvendo. Eu não tinha
certeza de como o que fizemos na noite anterior ia mudar qualquer coisa na
nossa relação, então esperei por um sinal dele. Talvez isso não mudaria nada
em tudo. Isso é o que ele me indicou quando falou pela primeira vez sobre
alterar nosso acordo. Temporário, lembrei-me. Ele quer que nosso
relacionamento seja temporário. Não tenha ideias na sua cabeça estúpida,
Kira.

"Nem um pouco", disse ele. "Enquanto nós não ficarmos muito tempo.
Eu gostaria de voltar para a vinha cedo o suficiente para ter algum trabalho
hoje."
"Nós não vamos ficar muito tempo", eu garanti a ele. "Só o tempo
suficiente para dizer oi e escrever-lhes um cheque. Tenho algumas outras
instituições de caridade para as quais gostaria de escrever cheques também,
mas posso colocar esses no correio."

Meia hora depois paramos no estaciomanento do centro no bairro de


Tenderloin, sem dúvida o bairro mais perigoso de San Francisco. Mas o aluguel
aqui era acessível, ao contrário da maioria dos outros locais na cidade, e havia
uma grande população sem-teto.

Quando eu e Grayson entramos no prédio um homem velho e


obviamente sem-teto passou por nós, e o ruído de fala, riso, e uma criança
chorando em algum lugar no fundo enchendo o ar. O cheiro que reconheci
como café aguado atingiu meu nariz.

Uma mulher com cabelo preto encaracolado e curto veio correndo em


nossa direção, o rosto familiar que eu conhecia bem. "É você, Kira Dallaire?"
Ela soltou um pequeno grito quando me puxou para seus braços, me
abraçando com seu corpo macio e grande. Eu ri.

"Oi, Sharon."

"Garota, fiquei tão triste que eu não estava aqui quando você parou
noutro dia. Carlos disse-me que tinha sido. Faz muito tempo." Ela olhou para
mim com preocupação maternal, me avaliando. "Bem, você parece bem. Mas
como você está? E o que aconteceu com seu rosto?", ela perguntou,
pressionando os dedos suavemente sobre meu rosto e virando minha cabeça
para que pudesse ver a grande marca que ainda não tinha inteiramente
desaparecido.

Eu sorri, deixando o calor de Sharon mover através de mim.


"Eu estou bem. E isso é cortesia do meu pai, mas eu estou bem."
Sharon fez uma careta, apertando os lábios. "Estou feliz que você nunca
vote para esse homem. Algo que eu possa fazer?"

Eu balancei minha cabeça. "Cuide-se." Olhei para Grayson ao meu lado.


"Sharon Murphy, este é Grayson Hawthorn." Eu propositadamente não ofereci
uma explicação sobre o nosso relacionamento. Sharon me olhou desconfiada,
mas estendeu a mão para Grayson e sorriu calorosamente para ele. "Nós não
podemos ficar muito tempo, Sharon, mas eu queria escrever um cheque. Eu
conversei com Carlos sobre a situação com o financiamento".

Sharon suspirou. "Eu tenho que ser honesta, Kira, nós vamos ter que
fechar as portas até a concessão vir."

"Bem, agora não." Eu sorri.

Sharon me abraçou novamente. "Você tem um coração tão grande,


doce menina. Deus te abençoe." Com lágrimas brilhando em seus olhos,
Sharon virou-se para Grayson. "Gostaria de um passeio de nossas
instalãçoes? Kira, algumas crianças que você conhece estão lá fora. Eles
adorariam se você fosse e desse um oi", disse ela, piscando para mim.

Olhei para Grayson que estava olhando ao redor da instalação que eu


tinha passado tanto tempo. Era tão estranho vê-lo aqui. "Você se mporta?"

Ele olhou de volta para mim. "Não, vá em frente."

Quinze minutos mais tarde eu tinha escrito o cheque e fui jogar um jogo
de marca com as crianças. Eu olhei para cima, rindo sem fôlego e tentando em
vão controlar o cabelo voando descontroladamente ao redor no meu rosto, e
chamei a atenção de Grayson. Um pequeno garoto chamado Matthew me
marcou e gritou com prazer, e eu ri de novo, cumprimentando-o com um high-
five por seus movimentos furtivos. Grayson estava de pé do lado
de fora da porta, seu olhar escuro, um pequeno sorriso em seu
rosto enquanto observava o nosso jogo. Senti-me
momentaneamente envergonhada que eu estava tão envolvida em uma
brincadeira de criança e movimentei-me para ele, dizendo adeus para as
crianças.

"Hey," eu disse, tentando recuperar o fôlego.

"Ei, você mesmo. Parecia que você estava se divertindo."

Eu dei de ombros. "Oh, sim. Eles são grandes crianças. Pronto para ir?"

Ele assentiu. "Eu posso ver porque você é tão favorável a este lugar.
Parece que eles fazem um excelente trabalho."

Eu sorri alegremente para ele e seus olhos se mudaram para minha


bochecha, uma carranca aparecendo antes dele olhar longe. Ainda o
incomodava que eu tinha sido ferida. A realização me aqueceu. "Eles fazem",
eu disse, simplesmente.

Depois de dizer adeus a Sharon nós voltamos à estrada, a caminho de


Napa, indo para casa.

Para minha casa temporária, eu me lembrei. mas ainda encontrei-me


animada com a perspectiva de retornar à minha pequena casa de campo e ver
Charlotte, Walter, Virgil e José, e a doce Sugie Sug.

O sentimento me preocupou, no entanto. Eu estava agindo como se


Hawthorn Vineyard fosse a minha casa, o que não era.

Na verdade, eu sairia de lá em questão de semanas. Embora Grayson


tenha me oferecido a opção de ficar mais eu sabia que isso só iria dificultar as
coisas. Eu cedi e fiquei física com ele, e enquanto eu não me arrependia
também sabia que isso só faria nossa despedida mais difícil para mim -
mesmo que em algumas pequenas medidas. Eu nunca deixaria que
ele percebesse, é claro, mas sabia que era a verdade. No
entanto, agora que a estrago estava feito, havia realmente
alguma razão para não desfrutar dele enquanto eu
podia? Talvez eu deixaria Grayson com o meu coração um pouco machucado.
Mas não era um coração ligeiramente ferido digno da eletricidade que criamos
juntos? Eu tremia só de lembrar do jeito que ele me tocou na noite anterior, a
maneira que ele parecia conhecer o meu corpo melhor do que eu.

"Frio?" ele perguntou, colocando a mão na frente do respiradouro para


testar a temperatura do ar.

"Não", eu disse, mas não expliquei por que eu tremi.

O passeio passou rapidamente enquanto conversávamos principalmente


sobre tópicos casuais. Eu sabia que para mim tinha pesado o suficiente o que
tinha acontecido na casa do meu pai e, em seguida, no hotel.

"Oh," eu disse quando estávamos cerca de meia hora na unidade, "eu


esqueci de mencionar que sua festa tem um tema."

Grayson levantou uma sobrancelha. "Oh? Qual?"

"Bem, eu pensei sobre a primeira coisa que eu disse sobre sua casa
quando você me levou em uma turnê."

Ele ficou em silêncio, obviamente, não se lembrando. Finalmente, ele


disse: "Que era o covil de um dragão?"

Eu soprei uma respiração impaciente. "Não, isso foi sobre o labirinto."

"Ah, certo. Você terá que lembrar-me o que disse sobre a casa, então."

"Eu disse que parecia um castelo de conto de fadas."

"OK..."

Eu ri e revirei os olhos, fingindo estar ainda mais exasperada com ele.


"O tema será um baile de máscaras de conto de fadas. É perfeito. E a data
é daqui a duas semanas. Marquei no calendário da cozinha e em
seu escritório."
"Duas semanas? Será que alguém ainda se mostra com tão pouco
tempo?"

"Eles estarão ainda mais propensos a aparecer. Planejá-lo com tão


pouco tempo envia a mensagem que não importa se eles estarão lá ou não.
Eles vão ficar intrigados. A cidade inteira virá." Com sorte.

Grayson riu. "Ok. Eu vou guardar a festa Psicologia 101 para você."

Eu sorri. "Além disso, eu tenho tempo limitado para deixar a minha


marca na sua vida."

"Oh, você fez a sua marca."

Eu ri baixinho. "Eu quero dizer uma marca positiva. Algo duradouro", eu


meditava, pensando em todas as maneiras que eu esperava que meus planos
para a festa iriam beneficiá-lo a longo prazo.

Ele olhou para mim por várias batidas, e então olhou de volta para a
estrada. Um pequeno sorriso brincou em seu lábios, mas ele não disse nada.

Era após o meio-dia quando chegamos de volta em Napa. Grayson


levou nossas malas do seu caminhão e começou a andar para a casa. "Eu vou
colocar estes no vestíbulo. Por que você não vem comigo até as instalações da
vinificação para ver no que investiu?" Ele atirou um sorriso encantador sobre o
ombro, apertando os olhos para a luz do sol, e meu estômago virou.

"OK." Eu morava aqui há semanas agora, e nunca tinha sido convidada


para o interior desse misterioso edifício onde Grayson parecia estar
constantemente. Eu estava ansiosa para descobrir o que tinha lá dentro.

Ele estava fora trinta segundos depois, dizendo que Charlotte e Walter
estavam fora e que deviam ter levado Sugie com eles. Eu andei com
ele descendo a colina, passando o cheiro de rosas exuberantes e
das flores brancas pequenas que cheiravam doce e
amadeirada. Inalei profundamente, suspirando.
"Cheira tão bem aqui."

"Rosas e flores de espinheiro," ele disse, sua expressão sombria.


"Minha madrasta plantou anos atrás, quando estava grávida de Shane.
Charlotte disse-lhe que a rosa simboliza equilíbrio - a flor é a beleza, e os
espinhos contrastantes são um lembrete de que o amor pode ser doloroso. As
flores de espinheiro são, obviamente, para o nosso nome. Elas foram as
últimas coisas que ela plantou aqui."

"Oh por quê?" Eu perguntei, pensando sobre o pino em formato de rosa


que Charlotte tinha me emprestado no dia do meu casamento.

"Porque ela estava plantando no dia em que a minha mãe – a mulher


com quem meu pai a traiu - apareceu para me deixar em sua porta. Ela nunca
deixou de me dizer que a fragrância destas flores lembravam-na do pior dia de
sua vida: o dia que ela tinha descoberto que tinha sido traída, e que cada vez
que ela olhava para mim ela se lembrava desse fato."

Meu coração gelou e depois tamborilou dolorosamente no meu peito.


"Oh," eu respirei, pegando sua mão e apertando-a enquanto caminhávamos.
"É... Eu sinto muito. Como é cruel."

‘Você deve parecer com a sua mãe’, eu tinha dito. ‘Sim, para desespero
de todos’, ele respondeu. Oh, Grayson. Agora entendi sua amargura, e também
a sua... profunda solidão.

Ele sorriu sombriamente para mim. "Ela realmente tentou arrancá-las


várias vezes, mas elas apenas não iam embora. Tipo como eu, ela disse." Ele
sorriu de novo, como se não tivesse sido afetado. Isso deve tê-lo ferido
profundamente dentro de seu coração, apesar de tudo. Impossível que não
fosse por isso. Eu apertei sua mão novamente e me aproximei
enquando andamos, oferecendo o conforto de minha presença,
se ele quisesse. O pensamento do belo homem andando ao
meu lado ser indesejado e malquisto por alguém fez meu coração doer. Mas,
ao mesmo tempo, eu não podia deixar de me sentir honrada. Ele era uma
pessoa privada, e geralmente tão reservado.

E ainda assim ele tinha compartilhado algo profundamente pessoal


comigo.

"Minha madrasta estava envolvida em muitas instituições de caridade


em Napa, mal podia acompanhar todas. Eu acho que ela ia principalmente para
os almoços das senhoras." Ele riu, mas aguentou um pouco de diversão.

Eu olhei para cima, estudando seu perfil, compreendendo de repente


que, inicialmente, ele tinha julgado que eu fosse como ela. "Eu acho que
existem diferentes tipos de generosidade. Eu sinto muito que sua madrasta não
conseguiu encontrar a generosidade de coração para mostrar mais bondade
para com um menino que não era dela."

Ele olhou para mim, a expressão em seu rosto quase chocada. "Está
tudo no passado, eu acho." Não, eu não acho que está.

Hesitante, e sem saber o quão longe ele iria se abrir para mim,
perguntei, "você me contará sobre a sua mãe?"

"Minha mãe?" Suas sobrancelhas se uniram. "Sinceramente, eu não sei


muito sobre ela além dela ser uma dançarina de balé. Ela era um membro do
New York City Ballet quando conheceu meu pai. Eles tiveram um caso de uma
noite. Ela ficou grávida. Por causa de sua gravidez, ela foi convidada a deixar a
companhia. Ela teve problemas para me apoiar, me culpando pela ruína de sua
carreira e de seu corpo, e então decidiu que não conseguia mais olhar para
mim. Ela deixou-me aqui com meu pai e foi embora. Eu nunca ouvi falar dela
novamente desde então."
"Quão terrível e egoísta." E ser abandonado aqui, só para ser objeto de
ainda mais culpa, amargura, crueldade e exclusão. Não admira que ele estava
tão bem guardado.

"Estamos bastante a par, não estamos?" ele perguntou, um pequeno


sorriso de diversão irônico nos lábios.

Eu soltei um suspiro. "Sim, acho que somos." Mordi o lábio,


considerando nossas histórias. "Engraçado o muito que temos em comum."

"Nós não equilibramos um ao outro em tudo, não é?"

Eu ri baixinho. "De jeito nenhum. Estamos todos errados juntos."

Ele se moveu na minha frente e virou-se, então eu fui forçada a parar.


Ele pegou meu rosto nas mãos e sorriu para mim. "Nem tudo errado", ele
murmurou, trazendo seus lábios aos meus.

Sua boca era suave, seu beijo lento, mas espalhou sensação por todo o
meu corpo, assim como seus beijos sempre faziam. Ele afastou-se muito
rapidamente, deixando-me olhando vertiginosamente para ele, minhas mãos
em seu peito duro. Seu sorriso era lento e cheio de orgulho masculino, e eu
não pude deixar de sorrir de volta para ele. Sacudi a cabeça, exasperada
enquanto fiz isso.

"Vamos, dragão," eu disse, puxando sua mão. "Eu vou descobrir o que
você faz nas profundezas da caverna escura que você habita tantas vezes."
Ele riu, me seguindo o resto do caminho.

Quando abrimos a porta do edifício de pedra na parte inferior do


morro, Grayson gritou:

"Jose?"

"Aqui, no fundo," ouvi José chamar.


A sala que entramos era grande, com clarabóias gerais que iluminavam
toda a área com eixos de luz solar. Havia várias máquinas grandes que
estavam dos lados da porta e o que pareciam enormes tambores de aço
inoxidável por trás daqueles.

Grayson foi até a máquina mais próxima. "Este é um cinto de


classificação, onde as uvas vão quando chegam pela primeira vez depois de
terem sido escolhidas. São separadas à mão, para remover qualquer fruta
indesejável para o futuro, bem como todas as folhas." Ele caminhou ao longo
da enorme peça de equipamento, passando rolantes, e finalmente apontando
para o que parecia ser uma pequena escada rolante. "Esse é o desengaçador.
As hastes saem lá", ele apontou para um recipiente de metal, "e voltam para o
solo da vinha." Ele se moveu ao longo e eu segui-o. "Esta é a segunda tabela
de classificação", explicou ele, apontando para outra mesa da sala, com
capacidade para, pelo menos, oito pessoas. "Move-se o fruto passando os
trabalhadores, e eles escolhem qualquer final de pedaços de caule e frutos
indesejáveis à mão." Ele me deu um olhar cheio de charme e uma nota de pura
zombaria. "Aqui no Hawthorn Vineyard nós acreditamos que a qualidade do
vinho vem da qualidade da fruta. Gastamos um monte de tempo garantindo
que o fruto seja classificado com cuidado e diligência."

Eu dei-lhe um sorriso, levantando uma sobrancelha. "Eu não tenho


nenhuma dúvida disso. Quantas pessoas Hawthorn Vineyard empregava
quando estava em ordem de marcha completa?"

"Cento e setenta e cinco."

E Grayson tinha seis funcionários: apenas um em tempo integral, três


em tempo parcial - um dos quais era mentalmente lento - e dois que
estavam velhos e eram mais familiar do que funcionário. Se eu
não tivesse percebido antes exatamente o quanto ele estava
lutando, tenho certeza que o faria agora.
Ele me mostrou os fermentadores de aço inoxidável e, em seguida, me
acompanhou em uma segunda sala grande onde havia equipamentos de
aparência semelhante. José parecia estar instalando algo, e estava
intensamente focado no que estava fazendo. Ele nos deu um aceno rápido e,
em seguida, voltou a trabalhar. Em vez de barris de aço inoxidável esta sala
mantinha o que pareciam ser muito grandes fermentadores de madeira na
parte de trás da parede. Quando ele me levou através da sala pude ouvir
quando Grayson descrevia as funções variadas do equipamento, prestando
atenção a suas descrições, mas também observando o entusiasmo que
emanava de seu corpo inteiro.

Ele adorava isso. Eu quis ficar para trás e simplesmente vê-lo enquanto
ele se movia, seus olhos brilhantes com orgulho e seus ombros largos
erguidos. Ele parecia estar vivo com energia.

"José está instalando um novo baga de agitador na nova máquina de


classificação", disse ele. "Uma das primeiras coisas que eu encomendei com o
generoso investimento Dallaire."

Eu ri baixinho. "Um bom investimento, parece." Estudei-o por um


momento. "Seu pai teria orgulho de você, Grayson."

Muito de repente veio-lhe uma expressão no rosto que o fez parecer um


garotinho - tímido e vulnerável. Ele enfiou as mãos nos bolsos das calças de
brim e se balançou sobre seus calcanhares. "Eu acho que ele teria", ele disse
suavemente, finalmente sorrindo de volta com orgulho. "Você quer ver onde os
barris são armazenado para o envelhecimento?"

Eu sorri e acenei, percebendo o quanto ele ainda era afetado pelo


julgamento de seu pai. Eu entendia mais do que a maioria, mas por
alguma razão isso me fez incrivelmente triste. Grayson tomou
minha mão e me levou até uma porta na parte de trás da sala.
O ar estava mais frio e de repente não havia quase
nenhuma luz. Grayson pegou minha mão e eu segui-o por um corredor longo e
de uma espécie de cimento.

O corredor se abriu e havia filas em filas empilhadas de barris. O ar


cheirava a pungente madeira. Eu inalei, puxando o ar úmido de terra em meus
pulmões.

"Estes são barris de borgonha, feitos com madeira borgonha da França",


explicou.

"Hmm," eu cantarolava. "Quanto tempo você envelhece o vinho?"

"Este vinho vem envelhecendo há cinco anos. Está quase pronto para
ser engarrafado. O que, novamente graças ao investimento Dallaire, agora
pode acontecer." Então foi colocado em barris logo depois que seu pai ficou
doente. Uma das últimas coisas que realizou aqui no Hawthorn Vineyard. Até
agora.

"Você vai engarrafá-lo aqui?"

"Vamos", disse ele, "uma vez que a minha nova máquina de


engarrafamento chegar."

"Eu nunca conheci tanto sobre o processo", ponderei, olhando em volta


para os barris.

"Eu só te mostrei como o fruto é processado. Há mais ainda sobre a


vinificação em si. Vou mostrar-lhe isso um dia também." Algum dia... e ainda
assim, os meus dias aqui estavam contados. Antes que eu pudesse alongar-
me sobre isso, percebi que Grayson tinha se aproximado de mim. Eu respirei
fundo, observando o olhar de intensidade em seu rosto. Mesmo sob a luz
fraca eu podia ver o fogo em seus olhos. Eu dei um passo para trás e
pressionei meu corpo na parede de cimento atrás de mim. Suas
mãos subiram nos lados do meu rosto e ele se inclinou na
minha direção. O ar nesta sala era tão legal, e os seus
lábios contra os meus se sentiam especialmente quentes e ainda assim muito
macios.

"Você é tão quente", ele murmurou, obviamente tendo o mesmo


pensamento. Inclinando-se para trás, ele passou a língua ao longo da costura
dos meus lábios, e com um gemido eu abri para ele. Ele trouxe suas mãos até
meu rosto, e eu passei meus braços ao redor de seus ombros, segurando-o
para não deslizar para baixo da parede. Por que seu beijo me inflama da forma
que faz, e ainda relaxa cada músculo do meu corpo ao mesmo tempo? O beijo
dele estava cheio de confiança, seu corpo muito quente e sólido uma vez que
pressionou no meu. Ele passou a língua em todos os lugares: ao longo do
cume sensível no céu da boca, no interior das minhas bochechas, ao longo dos
meus dentes, e então de volta, entrelaçando com a minha língua como se
procurasse conhecer cada parte da minha boca. Tentei segurar o gemido que
veio à minha garganta, mas foi um esforço desperdiçado. Pressionando nele eu
gemi mais uma vez, meu coração batendo insistentemente entre as minhas
pernas, meus mamilos sensíveis esfregando deliciosamente contra seu peito
duro.

Eu tinha beijado homens antes - alguns deles mais meninos que


homens - mas de repente eu percebi que não, não, eu nunca tinha sido
beijada. Não se essa era a forma como um beijo devia parecer. Eu nunca tinha
sido beijada assim.

"Você," disse Grayson quando deixou os meus lábios, "é tão deliciosa.
Eu não me canso de você." E em seguida, graças a Deus, ele se inclinou
para trás e me beijou novamente, sua língua entrando em minha boca
enquanto eu corria minhas mãos em suas costas magra, musculosa. Ele era
tão maravilhosamente construído, tão largo e alto, tão sólido. Uma
emoção passou por mim com a sensação intrigante do contorno
desconhecido de seu corpo masculino. Eu queria
conhecer cada parte dele, cada mergulho e plano duro. Eu podia sentir a forte
pressão de sua ereção em minha barriga, e isso enviou uma sacudida de
excitação através do meu sangue.

Descendo minha mão entre nós eu esfreguei a dura protuberância na


parte da frente da calça jeans. Ele estremeceu, pressionando-se em minha
mão.

"Kira", ele murmurou, "eu tenho que parar. Deus me ajude, mas se eu
não fizer agora não vou mais ser capaz de fazer." Eu tremi. Me senti da mesma
forma, quase querendo implorar-lhe para não parar, para levar-me aqui contra
esta parede fria. Mas não, José estava do lado de fora da porta. Ele podia
caminhar de volta aqui a qualquer minuto. Quando eu me entregar a Grayson
quero ter muito tempo, e quero que seja em uma cama.

Grayson se afastou de mim, e meus olhos vagaram até a evidência de


sua excitação. A frente de seu jeans parecia tensa e cheia. Engoli em seco,
querendo muito sentir isso na minha mão novamente.

Sim, eu queria ele, eu admiti. Eu o queria com um desespero dolorido


que me assustou e deixou-me boba e excitada e animada sem sentido.

Eu tinha pensado que poderia resistir a ele, mas tinha subestimado o


poder que ele possuía quando estava não só empenhado em sedução, mas
quando me permitiu vislumbrar o lado terno da sua personalidade. E agora eu
não tinha vontade de resistir.

"Devemos voltar", eu disse, alisando meu cabelo da melhor forma


possível.

Ele me estudou por várias batidas antes de usar um dedo para mover
uma onda rebelde de cabelo da minha bochecha. "Fique comigo
esta noite", ele sussurrou. "Venha até minha cama, Kira."
Medo e carência enrolaram simultaneamente em minha barriga. Estava
brincando com fogo. Eu sabia que estava. E ainda... Eu queria. Eu queria
conhecê-lo intimamente. Eu queria que ele me fizesse sentir bonita e desejável
como tinha feito na noite anterior. Eu queria conhecer a sensação de seu
corpo, bem como o que ele gostava, o que o fazia selvagem com paixão. Eu
poderia desenvolver sentimentos por ele; na verdade, eu provavelmente o faria.

Talvez eu já tinha. Mas eu iria gerenciá-los. Afinal, o que era a vida sem
algumas aventuras emocionantes?

Não valia a pena um pouco de mágoa para saber como era o toque de
Grayson Hawthorn? Um que me iluminou a partir de dentro para fora. E se eu
nunca tivesse um como ele de novo? Eu não deveria arrebatar esta experiência
enquanto tinha a chance? Mesmo se difícil, eu iria gerir as minhas emoções. E
eu nunca, nunca iria permitir-me a tola esperança de que tornar-me física com
o meu marido levaria a sentimentos de sua parte.

"Sim", eu disse, encontrando seus olhos.

Triunfo encheu sua expressão e ele pegou minha mão, puxando-a.


Demos adeus a José e, em seguida, saímos para a luz do sol brilhante.
Fizemos um passeio até o morro e quando entramos na casa alguns minutos
depois, peguei minha mala, que Grayson tinha colocado dentro mais cedo e
virei-me para devolvê-la para minha casa.

"Ei, ei, onde você está indo?" ele perguntou.

Eu virei. "Para minha casa."

"Você não vai mais ficar lá. Eu mudei-a para a casa."

"Você me mudou?" Eu perguntei, estreitando os olhos. Eu gostava


da minha casinha. Eu gostava de ter o meu próprio espaço. E se
as coisas estavam indo para avançar entre Grayson e eu em...
outras maneiras, ia ser imperativo que eu tivesse um
lugar que fosse só meu.

"Sim. Parte da razão que você estava doente é que você estava
respirando o ar empoeirado, tomando chuveiros frios -"

"Isso é ridículo. Eu tinha um vírus. Você não pode pegar um vírus de ar


empoeirado ou duchas frias."

"Talvez sim. Talvez não. Você ainda vai para casa."

"Eu não vou."

"Você vai."

Ficamos em um impasse no vestíbulo por vários momentos, até


Grayson cruzar os braços, inclinando-se casualmente contra a parede. "Você já
concordou em ficar no meu quarto esta noite."

"Sim, hoje à noite, mas isso não significa que eu estou indo morar com
você."

"Você vai."

"Eu não vou," eu moí fora. A grande escadaria chamou minha atenção e
eu olhei para Grayson, levantando uma sobrancelha. "Eu vou correr. O
vencedor ganha o seu caminho."

Ele riu. "Uma corrida? Oh, bruxinha, você não tem chance em uma
corrida contra mim. Você pode simplesmente se render agora."

"Eu nunca vou me render. E eu não quero dizer uma corrida a pé. Eu
vou correr até o corrimão. Você pega um lado e eu tomo o outro." Eu estava
morrendo de vontade de deslizar por esse corrimão desde que o tinha visto.
Esta era a oportunidade perfeita. Eu era uma especialista em deslizamento de
corrimão. Se alguém conhecia grandes escadarias, esta era eu. A
casa de meu pai tinha três.
Grayson riu de novo. "Você deve estar brincando."

Levantei ambas as sobrancelhas em resposta.

"Não, claro que você não está brincando. Isso é ridículo. Você sabe
disso, certo?" Mas ele começou a andar em direção à escada. Eu o segui, e
quando nós chegamos ao topo,ele mudou-se para a direita e eu desloquei-me
para a esquerda. Eu posicionei minha bunda em cima da madeira escura
polida.

"Eu não posso acreditar que estou fazendo isso", murmurou Grayson,
posicionando-se no outro trilho.

"Se você está nervoso, eu posso dar-lhe uma vantagem", eu disse,


sorrindo lindamente para ele.

Ele sorriu de volta diabolicamente. "Não há necessidade, bruxa. Vamos


fazer isso."

Eu mexi minha bunda no trilho, estabelecendo-me no lugar. "Em suas


marcas, preparar, vá!" Eu gritei quando nós decolamos, deslizando
rapidamente pela madeira lisa. Precariamente equilibrada, eu gritei quando
quase derrubei fora o lado, mas me corrigi antes de cair. Ouvi a profunda
risada de Grayson ao meu lado, mas não me atrevi a olhar para ele. Ganhando
velocidade mais rápido do que pensei que iria, o final veio rapidamente e eu saí
voando para frente no ar vazio, incapaz de aterrar em meus pés e, em vez
disso, apoiando-me em minhas mãos quando bati no chão de mármore duro.
Eu me senti momentaneamente sem fôlego e pensei ter ouvido a porta abrir e
fechar na minha frente, mas não podia descascar do riso quando ouvi o riso
profundo de Grayson perto de mim, e olhei para vê-lo deitado no chão também.
Eu tinha certeza que ia bater primeiro no chão. Nós dois ficamos ali
por um momento, recuperando o fôlego, nossa risada
desaparecendo. Olhei para cima e percebi que havia quatro
pares de sapatos em nossa frente, e quando levantei minha cabeça vi Walter,
com uma sobrancelha levantada. Próximo a ele, a expressão de Charlotte era
chocada quando ela olhou boquiaberta primeiro para mim e depois para
Grayson.

Eu comecei lentamente a ficar de pé, o riso sumindo totalmente quando


notei os olhares igualmente chocados na face do homem louro alto e bonito, e
na mulher loira deslumbrante na minha frente.

O homem loiro de repente abriu um grande sorriso e me surpreendeu


rindo.

"Oi," eu respirei, chegando à minha altura completa e dando um passo à


frente. Eu estendi minha mão. "Eu sou -"

"Shane", disse Grayson, sua voz estranhamente cortada. "Vanessa".

Balancei meu olhar para ele e vi que sua expressão ficou muito de
repente sem humor e, em vez disso, friamente distante. "O que diabos vocês
dois estão fazendo aqui?"
Capítulo Dezessete
Kira

Oh, meu Deus. Shane: irmão de Grayson. Vanessa: a mulher que ele
tinha estado a ponto de propor casamento antes que fosse mandado para a
prisão. Agora a mulher de seu irmão. Aqui. Em carne e osso. Eu alisei minhas
mãos para baixo no meu jeans e tentei o meu melhor para parecer legal, calma
e recolhida. Ou pelo menos tão legal, calma e recolhida quanto uma pessoa
poderia ser depois de ter se levantado de uma posição esparramada no chão,
onde caiu após voar pelo corrimão.

"É ela?" Shane perguntou, aparentemente ignorando Grayson, em vez


disso olhando para mim. Eu não tinha certeza exatamente do que fazer com a
sua pergunta, mas a expressão de seu rosto era amigável e seu tom era
quente, então eu sorri e estendi minha mão novamente.

"Eu sou Kira Dallaire", eu disse.

"Hawthorn agora, não é?" Shane deu-me um sorriso aberto, de menino,


e pegou a minha mão na sua.

Olhei para Grayson, cuja expressão estava fechada. "Ah, bem. Bem,
sim." Limpei a garganta. "Sempre esqueço", murmurei.

"Bem, é novo ainda, certo?" Shane disse, dando-me um meio sorriso


compreensivo.

"Certo..." Eu sussurrei.
A loira alta e marcante sorriu calorosamente para mim e moveu-se para
frente, segurando minha mão entre as dela uma vez que eu soltei a de Shane.
Deus, ela era realmente linda – a irmã ainda mais bonita da Grace Kelly.

Shane olhou para Grayson. "Quando Charlotte contou-nos a notícia,


você pode imaginar nosso choque. Mas nós esperávamos que isso
significasse-"

"Que você seria bem-vindo em minha casa?" Grayson perguntou


friamente. "Você estava errado. Você pode dar meia volta e sair de novo."

"Gray", Charlotte disse, movendo-se em direção a ele. "Eles vieram até


aqui para vê-lo e para conhecer Kira."

"Você manipulou isso, Charlotte," disse Grayson, seu olhar lívido


descansando sobre ela.

"Grayson," eu sussurrei, sentindo-me estranha no meio desta reunião de


família gelada. "Talvez eu deva..."

Ele girou os olhos para mim, pausando momentaneamente. "Eu ganhei",


disse ele, e por um minuto eu não tinha ideia a que ele estava se referindo.
Então eu percebi que ele estava falando sobre nossa corrida de corrimão. Eu
teria argumentado com ele - pois ele certamente não ganhou - mas pensei que
o que ele realmente queria dizer é que eu não tinha escolha a não ser ficar em
casa agora, se não íamos levantar suspeitas com seu irmão e cunhada - sua
ex-namorada - quase noiva. Senhor Deus. Isso se ele permitir que eles fiquem.
E se ele estaria fazendo parecer como se tivéssemos um casamento de
verdade. Meu coração sentia-se como se estivesse batendo a mil por hora.
Eu apenas concordei.

Walter pigarreou. "Eu acredito que vou pedir licença." Eu


pensei que deveria fazer o mesmo.
"Vou apenas," eu balancei a cabeça em direção à minha mala e ao saco
de noite de Grayson ainda na porta, "levar estas para cima e deixá-los
conversar." Senti-me severamente auto-consciente e em exposição quando me
mudei para pegar as malas. O hall de entrada ficou completamente em silêncio,
exceto pelo som dos meus sapatos estalando. Com meu rosto ardente eu virei-
me ao pé da escada. "Então eu só vou, então..." eu limpei minha garganta, "vê-
lo no jantar." Eu olhei ao redor, mas Grayson não estava olhando para mim. Ele
estava encarando Vanessa com um expressão em seu rosto que eu nunca
tinha visto antes. Ele não respondeu, nem sequer tirou os olhos de Vanessa
tempo suficiente para reconhecer-me. Parecia como um punho no meu
intestino.

Eu ouvi as unhas do Sugie estalando no chão de pedra e ela apareceu


na esquina, olhando para todos nós. Ela deu um pequeno camponês e baixou
a cabeça. "Aqui, Sugie", eu disse calmamente. Ela trotou em minha direção.

"Prazer em conhecê-la, Kira," Shane disse, dando-me um olhar de


simpatia. Ele sabe que seu irmão ainda a ama. Charlotte acenou para mim,
torcendo as mãos em seu estômago. Por que ela me empurrou em direção a
Grayson se ela sabia disso? Será que ela quer que eu vá embora? Vanessa
me deu um pequeno meio sorriso, seus olhos arremessando para Grayson e
rapidamente de volta para mim, suas bochechas rosadas. Ela o ama, também?
Oh, Deus. Era tudo demais. Virei-me e corri até a escada, para o quarto em
que fiquei quando estive doente, Sugie em meus calcanhares. Jogando as
malas para baixo eu me inclinei contra a porta fechada por tempo suficiente
para recuperar o fôlego.

Estúpida, Kira, eu me adverti. Alguns beijos, algumas revelações


pessoais e você pensou que Grayson era o quê? Seu amigo? Seu
marido de verdade? Você é uma idiota! Idiota, idiota, idiota! A
maneira como ele tinha olhado para essa mulher no
andar térreo foi... como ele jamais olhou para mim. Mas ela era casada com
seu irmão... não era como se ele pudesse tê-la novamente. Deus, mas só o
fato de que ele ainda a queria machucou o suficiente por si só. E eu odiava
isso. Odiava.

Levantei-me ereta. Bem, graças a Deus que eu não tinha me dado a ele
completamente. As coisas estavam bem. Eu estava bem. Então nós tínhamos
compartilhado alguns momentos. Agora só tinhamos que voltar ao plano
original, o que era um muito melhor ideia, de qualquer maneira. Como eu deixei
afastar-me até agora fora do caminho, eu não tinha idéia.

Houve uma batida repentina na porta e eu me assustei, afastando-me


dela e me virando. Eu abri-a para encontrar Vanessa de pé diante de mim. Ela
sorriu um pouco timidamente. "Posso entrar?" ela perguntou.

Engoli em seco, mas devolvi-lhe o sorriso e fiz um gesto para que ela
entrasse. "Estou apenas tomando banho aqui," eu menti. "O chuveiro no
banheiro principal está quebrado."

Vanessa suspirou. "Deus, e o que não esta? Parece tão diferente por
aqui..." Ela parou de falar, o olhar em seu rosto dizendo tudo - ela não quis
dizer "diferente" de uma forma positiva.

Sugie se aproximou e farejou timidamente os pés de Vanessa. Vanessa


se afastou, começando a se dobrar para oferecer a Sugie sua mão, mas, em
seguida, retirou-a rapidamente quando deu uma boa olhada na cara de Sugie.
"Oh, ela é... é -?"

"O nome dela é Sugie", eu disse, pegando-a e depositando-a na


cadeira à direita da cama e dando-lhe alguns animais de estimação antes de
caminhar de volta para Vanessa.
Ela sentou-se no banco de vaidade e cruzou as pernas bem torneadas.
Sentei-me no baú de armazenamento ao pé da cama. Vanessa estava usando
uma curta saia rosa Glamour e uma camiseta cinza pálido acetinada e cavada
com top, exibindo seu bronzeado de verão. Havia vários fios de miçangas
atadas entre seus seios.

Ela deslizou os dedos para baixa-los em um gesto nervoso enquanto me


estudava. Eu agitei-me sob o seu exame minucioso.

"Eu amo a sua roupa", eu disse. E eu fazia. Era elegante, mas divertida
também.

Ela abriu um largo sorriso. "Obrigada. É uma da minha própria coleção.


Eu tenho uma pequena boutique em San Diego. Estou pensando em abrir uma
aqui, também, na verdade. Isso é parte do objetivo desta viagem - para
encontrar um espaço. Eu não cresci com muito, e vestir-me elegantemente
com um orçamento pequeno tem sempre sido uma espécie de paixão minha.
Esse é a meta com a minha loja de moda - chique em um orçamento." Ela
corou lindamente e baixou os olhos. "Eu sinto muito, estou falando besteira."

Ela limpou a garganta antes de levantar os olhos para mim e continuar.


"Nós estávamos tão cheios de felicidade quando ouvimos que Gray havia se
casado", disse ela, mudando de assunto. E ela parecia sincera. Torci minhas
mãos no meu colo.

"Obrigada", eu finalmente disse. "Quero dizer, eu... Não sei exatamente


o que aconteceu entre Grayson e Shane, mas espero que eles possam
encontrar uma maneira de resolver as coisas..." Deus, isso era estranho. Eu
deveria contar que Grayson e meu casamento não eram reais? Eu desejei
que Grayson tivesse tomado um momento para falar-me sobre isso
antes que eu tivesse esse mano a mano com Vanessa Hawthorn.
Vanessa parecia estar lutando, também, e eu tinha que saber
o quanto ela sentia por Grayson. Por que ela tinha
feito o que tinha feito? Eu queria desesperadamente perguntar-lhe, mas não
parecia certo, e eu não tinha certeza se deveria agir como se soubesse
qualquer coisa em tudo.

"Eu também", disse ela, mordendo o lábio. "Eles estão falando sobre o
assunto. De qualquer forma, eu realmente só queria ter mais alguns minutos
para dizer oi para você, e que você soubesse o quanto estou feliz de ter uma
irmã."

"Obrigada, eu agradeço isso. E eu também." Eu sorri. "Estou feliz por ter


uma irmã também." Embora eu vá ser uma temporária. Eu torci o anel no meu
dedo no nervosismo de Vanessa, de pé. Sua roupa estava perfeita e sem
rugas. Como ela conseguiu isso se eles tinham viajado? Eu realmente queria
odiá-la por muitas razões, mas ela estava tornando difícil com sua bondade e
sinceridade. Não me surpreendia que Grayson a amasse. Ela era tudo o que
eu não era.

Seus olhos se moveram para o meu dedo anelar. "Posso?" ela


perguntou, vincando a testa ligeiramente. Eu olhei para a minha mão e, em
seguida, levantei-a quando ela agarrou-me na dela e estudou o anel que
Grayson tinha me dado. Ela respirou fundo.

"Uma opala. Olhe!" E ela ergueu o anel de noivado para mostrar-me sua
pedra de centro, que era uma opala também. "É a minha pedra favorita",
explicou ela. "Ela significa amor e paixão." Ela sorriu amplamente, seus dentes
retos e perfeitamente brancos. "Bem, isso prova que nós amamos opalas.
Temos que ser irmãs." Ela se mudou para frente e me abraçou rapidamente,
o perfume de alguma fragrância cara que era tão adorável quando bateu em
meu nariz, e, então, ela apenas se afastou rapidamente. "Falaremos mais,
mais tarde?"

"Certo." Eu sorri fracamente.


Quando ela saiu eu me sentei na cama, meus olhos se estreitando
sobre o anel no meu dedo. Lembrei-me de Diane Fernsby dizendo que ela
sabia que Grayson havia comprado um anel para Vanessa, embora ele nunca
teve a oportunidade para propor. Eu não imaginei que este anel fosse um anel
de noivado, por causa da única pedra no centro, mas eu estava errada. "Ele me
deu o anel que tinha a intenção de usar para pedir-lhe para se casar com ele,"
eu sussurrei, incrédula. Raiva e mágoa picaram pela minha espinha, e eu torci
o anel até que o tirei.

"Escamosa besta", murmurei meio timidamente sob a minha respiração.


Mas, de alguma forma, chamar-lhe de um nome não diminui a dor. Chama-lo
de um nome não reparava a pequena fissura no meu coração, que suas
ofuscantemente belas escamas haviam criado.

Depois de tomar um banho e deixar a conversa com Vanessa rolar dos


meus ombros tanto quanto possível, desci as escadas em busca de Grayson.
Precisavamos sentar e conversar exatamente sobre o que eu deveria estar
fazendo nesta situação estranha, desconfortável.

Eu disse Oi, mas quando não recebi resposta andei para fora,
encontrando Shane mexendo na fonte. Ele tinha uma pequena caixa de
ferramentas no chão ao lado dele e estava encostado todo o caminho através
do aparelho, no meio do poço vazio. "Hey," eu disse.

Ele sentou-se, sorrindo para mim. "Olá."

"Eu estava esperando que alguém se interessaria em


arrumar essa coisa em algum ponto", eu disse, sorrindo.
Ele sorriu de forma mais ampla. "Parece que só precisa de uma nova
peça. Eu vou correr para a cidade amanhã e pegá-la."

Eu balancei a cabeça, e houve um silêncio constrangedor antes de nós


dois começarmos a rir baixinho. Ele sorriu e eu vi muito de Grayson em seu
sorriso. Ele realmente era um muito bonito – com uma expressão mais juvenil -
considerando que Grayson era impressionante, mas tão alto e masculino.
"Você sabe onde Grayson está?", perguntei.

Seu sorriso desapareceu. "Ele foi à cidade para jantar."

Meu coração despencou. Grayson saiu sem uma palavra – deixando-me


para me virar e sobreviver sozinha nesta situação embaraçosa - confirmando
que eu importava muito pouco para ele. "Oh, hum, com a Vanessa?" Eu
sussurrei-resmungando e depois limpei minha garganta.

Shane balançou a cabeça lentamente, seus olhos focados no meu rosto.


"Não. Vanessa foi ver seus pais."

Deixei escapar um suspiro. "Oh, certo." Eu ainda não tinha pensado


sobre Vanessa crescer aqui, também. Minha barriga apertou quando pensei
sobre toda a história que estes três tiveram juntos. E eu perguntei-me onde me
encaixo entre eles, decidindo que provavelmente não me encaixava em tudo.
Temporária, Kira. Você é temporária.

Shane sentou-se na borda da fonte e acenou com a cabeça ao seu lado,


em silêncio perguntando-me se gostaria de me sentar, também. Ele me
ofereceu um sorriso hesitante. Caminhei alguns passos e sentei-me, girando de
frente para ele. Ele me estudou por um momento, e eu corei sob seu olhar.

"Posso perguntar o quanto você sabe sobre a situação com Vanessa,


Gray e eu?"
Então íamos direto ao assunto. "Não muito", eu respondi honestamente.
"Só que Grayson e Vanessa estavam... juntos, e você e Vanessa se casaram
enquanto ele estava na prisão." Eu mordi o meu lábio inferior.

Shane apertou os lábios. "E que, naturalmente, ele se sente traído por
nós."

Eu balancei a cabeça, meus olhos treinados em seu rosto, tentando ler


sua expressão. Se eu tivesse que atribuir qualquer nome para a emoção que
parecia atravessar suas feições, eu escolheria dor. Estranho. "Naturalmente",
murmurei.

"Há mais do que isso", disse ele. "Eu amo meu irmão, Kira."

Eu balancei a cabeça e estranhamente acreditei nele. Sua expressão


era tão sombria e cheia de tristeza.

"Então por quê?" Perguntei.

Shane soltou uma respiração profunda. "Eu realmente devo explicar isso
a Grayson, em primeiro lugar. Eu percebo que nós colocamos você em uma
situação embaraçosa e sem nenhum aviso. Eu só queria que você soubesse
que já tentei de tudo." Ele balançou a cabeça. "Ele não responde às cartas, não
atende aos telefonemas. A única coisa que não temos feito foi amarrá-lo a uma
cadeira com fita adesiva e forçá-lo a nos ouvir."

Eu ri sem muito humor. "Você pode querer considerá-lo. Os homens, em


geral, podem ser teimosos e espinhosos - eu encontrei O Dragão
especialmente disposto nessa categoria."

Shane olhou para mim, sorrindo com diversão. "O Dragão? É disso
que você o chama?"

"Só quando ele respira fogo e agita-se em torno da casa."


"Agita-se ao redor da casa." O sorriso de Shane alargou. "Charlotte
disse isso, mas eu mal podia acreditar sobre o meu sério irmão desanexado.
Então eu o vi descendo o corrimão como uma criança que ele nunca foi..."

"Oh, isso? Nós estávamos apenas resolvendo uma aposta."

Shane inclinou a cabeça. "Eu acho que você é boa para ele. E eu
esperava que ele estaria mais dispostos a ouvir-nos agora que encontrou a
felicidade com você." Constrangimento agarrou-me. Como é que este homem
vai se sentir quando descobrir a verdade? Talvez não havia razão contra ele. E
se Grayson não tivesse simplesmente se levantado e saído sem sequer dizer
adeus para mim, eu poderia ter-lhe perguntado. E por que Charlotte jogou isto
acima? Eu tinha pensado que ela queria ver Gray e eu juntos. Eu não
conseguia entender isso, e eu não poderia evitar de me sentir traída, embora
não conseguisse descobrir exatamente o porquê.

"Bem, ele não expulsou-o de qualquer maneira, certo? Isso é um


começo."

Shane sorriu. "Sim, isso é um começo." Ele se levantou, oferecendo-me


sua mão. "Charlotte e Walter estão jantando com amigos. Ela colocou algo no
forno e é quase hora de tirá-lo. Junta-se a mim para o jantar?"

Peguei a mão dele e me levantei. "Certo."

Nós fomos para dentro e ele tomou o frango recheado de Charlotte para
fora do forno enquanto eu misturava uma pequena salada. Sentamos e
comemos juntos enquanto Shane me contava sobre o negócio de software que
tinha começado em San Diego.

Parecia que ele adorava e lhe permitia trabalhar em casa também.

"Então você não tinha interesse em fazer vinho?" Eu


perguntei, levando uma mordida de salada.
Ele balançou a cabeça. "Nenhum interesse e nenhuma habilidade.
Tecnologia de computador sempre foi a minha coisa. Quando meu pai me
deixou uma pequena parte de dinheiro eu usei-o para começar a minha própria
empresa."

Eu balancei a cabeça. "Bem, felizmente seu irmão queria fazer vinho."

Ele balançou a cabeça, mas sua expressão era sombria. "Sim,


felizmente."

Eu disse-lhe um pouco sobre mim mesma, contornando que eu estava


afastada de meu pai – isso convidaria apenas perguntas. Uma vez que
tínhamos comido e limpado a cozinha eu lhe disse que estava indo de cabeça
para o meu quarto ler, uma vez que tinha sido um longo dia e eu estava
cansada. Mas de verdade, porém, eu estava nervosa que ele começaria a fazer
perguntas sobre Grayson e eu, coisas que eu não estava preparada para
responder.

Depois de me preparar para dormir decidi enviar a Grayson um texto


rápido. Eu sentia como se estivéssemos construído algo entre nós, embora eu
me recusasse a tentar definí-lo neste momento. Certamente ele estava
chateado e vulnerável agora, com a chegada inesperada de seu irmão e ex-
namorada. Talvez ele pudesse usar um amigo. Peguei meu telefone e digitei:

Você está bem? -K

Esperei alguns minutos, mas quando não houve resposta, peguei meu
livro e tentei me concentrar sobre a história que eu estava lendo. Quando
Grayson ainda não tinha me enviado uma mensagem uma hora
mais tarde eu desliguei a luz e abracei meu travesseiro,
fechando os olhos e tentando desesperadamente
adormecer, apesar da hora mais cedo.

Eu acordei com o arranque, a sensação de braços fortes me levantando


da cama. Lutei, chutando para fora com minhas pernas e batendo meus braços
até que a pessoa segurando-me soltou um sonoro "Oomph", me deixando cair
na cama macia e descendo ao meu lado. Meus olhos encontraram os de
Grayson na semi-escuridão, sua expressão de dor como se eu tivesse feito
contato com algo vulnerável.

"O que você está fazendo?" Eu assobiei, chegando em meus joelhos.


Eu podia sentir meu cabelo uma bagunça selvagem todo em volta do meu rosto
e das minhas costas. Ele rolou para o lado e ficou olhando para mim com a
cabeça no meu travesseiro, seus olhos sonhadores.

"Você deveria estar em minha cama hoje à noite", ele arrastou.

"Sua cama?" Perguntei. "Você esperava que eu..." Inclinei-me, inalando.


"Você está cheirando a bebida e perfume barato." Eu tentei manter a mágoa da
minha voz. Ele estava provavelmente bêbado demais para perceber, de
qualquer maneira.

Grayson se apoiou em um cotovelo. "Alguma loira estava em cima de


mim no bar."

"Oh." O que eu deveria responder a isso? Eu soquei minhas mãos


sobre os topos das minhas coxas, desesperada. Sua ex aparece e então ele
vai para um bar e deixa uma estranha apalpá-lo? Por que não poderia
ter vindo a mim, Grayson?
"Mas, aparentemente," ele disse, passando o dedo ao longo da minha
coxa nua, "Eu não gosto mais de loiras. Eu gosto das ruivas. Ou morenas. Ou a
mistura perfeita de ambas. Eu gosto de você." Ele olhou para mim, sua
expressão de repente confusa. "Por que não está na minha cama?"

Eu zombei, virando a cabeça para longe dele e cruzando os braços


sobre os meus seios. "Você deve estar brincando. Você decola sem uma
palavra para mim, deixando-me para lidar com seu irmão e sua ex. E então
você fica bêbado e deixa mulheres te apalparem num bar, e ainda espera que
eu esteja convenientemente esperando em casa, na sua cama? Quem você
acha que eu sou, exatamente?" Eu fervi, raiva misturando com a dor.

Grayson se inclinou mais para cima. "Eu acho que você é minha
esposa." Seu sorriso estava cheio de calor íntimo, apesar de seu estado
embriagado.

Eu levantei meu queixo, recusando-me a deixá-lo me encantar. Ele tinha


me machucado. "Apenas no nome."

"Vamos mudar isso. Hoje à noite. Mais cedo... você estava disposta."
Ele parecia momentaneamente muito vulnerável, e meu coração estúpido
gaguejou. "Por favor, Kira, diga que me quer. Eu só... Eu quero você, eu
preciso de você." Sua voz soava crua. Ele precisava de mim? Então eu não era
nada mais do que uma conveniência.

Nada mais do que uma forma de saciar temporariamente seus desejos


físicos. Mas eu queria mais do que sua luxúria. Eu queria... Oh, Deus, eu
queria o seu coração. Meu peito encheu-se com pânico repentino.

"Você ainda está apaixonado por ela?" Eu disparei.

A expressão de Grayson endureceu imediatamente, e ele


puxou-se a seus pés. Mesmo em seu estado embriagado ele
obviamente não tinha nenhuma dúvida sobre a quem eu
me referia. Ele olhou para mim, o olhar em seu rosto de repente frio e
removido.

"Você não vai me responder?" Eu levantei meu queixo, recusando-me a


olhar para longe, odiando que ele tinha tal presença esmagadoramente física,
especialmente em cima de mim como ele estava. Seu olhar era penetrante,
seus olhos de ébano parecendo me enxergar direito.

"Eu não quero feri-la, Kira. Mas a situação com Vanessa, meu irmão e
eu não é da sua conta. Não tem nada a ver com você", afirmou.

Se ele não queria me machucar, ele tinha um jeito engraçado de prová-


lo. Dor atravessou meu peito, mas eu segurei seu olhar. Eu não iria deixá-lo
saber que suas palavras tinham causado um poço aberto em meu coração. Eu
quase não queria reconhecer isso para mim mesma. "Por favor, apenas vá," eu
disse, minha voz firme. "Eu não quero você. Eu não quero você em tudo."

Ele passou a mão pelos cabelos, parecendo deliberar sobre algo,


parecendo como se fosse eu a machucá-lo. Mas então ele oscilou ligeiramente
em seus pés, deixando escapar uma respiração afiada.

Ele jurou baixinho, virou e saiu do meu quarto, fechando a porta


suavemente atrás dele.

Se eles não estivessem hospedados aqui eu gostaria de deixar esse


quarto e ir para o santuário de minha casa. Eu tinha planejado dormir com
Grayson esta noite. E agora dormir em um quarto na mesma casa que ele
sentia insuportável.

Eu desabei no meu travesseiro, abraçando-me e recusando-me a


chorar.
Se eu tivesse pensado que o alvorecer de um novo dia teria O Dragão
batendo no meu quarto e implorando perdão, eu teria ficado muito
desapontada. Na verdade eu mal o vi ao longo dos próximos dias.
Evidentemente ele tinha fugido para a instalação de vinificação, instalando
novos equipamentos e assegurando-se que tudo estivesse em ordem. Ou, pelo
menos, isso é o que eu me informei com Shane, que parecia quase tão
frustrado quanto eu que Grayson estava ignorando todos nós. Claramente
Grayson não se importava se o nosso casamento parecia ser uma farsa.

"Eu só vou ficar por aqui e me colocar em seu rosto sempre que
possível", disse Shane. "Eventualmente eu vou cansá-lo." Ele piscou para mim,
embora não parecesse particularmente convencido por sua própria afirmação.

Quanto a mim, eu não estava disposta a fazer o mesmo. Na verdade,


meu modus operandi geralmente tinha sido fugir de situações dolorosas, o que
era o meu instinto agora. Mas eu tinha uma festa para planejar, e o tempo
estava passando sobre isso.

O que eu estava pensando em me dar tão pouco tempo para fazê-lo?


Eu mal podia me lembrar agora. Mesmo assim, convites tinham sido entregues,
e as pessoas estavam esperando pelo evento, um evento que O Dragão
certamente não iria expor-se. Cabia a mim, embora, mesmo que neste
momento em particular fosse difícil lembrar por que era mesmo importante em
tudo.

Passei a primeira parte da semana limpando o escritório de Grayson e


tentando dar algum sentido aos arquivos financeiros. Walter me ajudava
onde podia, desde que tinha sido ele quem mantinha as coisas atualizadas,
tanto quanto possível, embora ele não conhecesse os programas tão bem
quanto eu.
"Walter", eu perguntei enquanto percorria as contas a pagar, "você acha
que eu poderia ver alguns dos dados financeiros de alguns anos atrás? Eu não
quero ultrapassar meus limites, mas quero ter uma melhor idéia de onde as
coisas começaram a falir para a adega." Eu pensei que se eu entendesse o
porque das coisas terem quebrado tão rapidamente (literalmente e
figurativamente) uma vez que Ford Hawthorn adoeceu, eu seria mais capaz de
ajudar a gerenciar as contas da vinha, talvez até oferecer alguns conselhos
para Grayson - não que ele merecia. Eu provavelmente deveria assistir com
alegria quando ele não cumprisse sua promessa. Mas eu não podia fazer isso.
Meu coração não permitiria, e eu queria ver o dinheiro de vovó ter bom uso
também.

Walter limpou a garganta, e eu pensei que ele parecia um pouco


desconfortável. "Os registros não eram bem guardados naquela época. Tudo
foi negligenciado uma vez que o Sr. Hawthorn ficou doente."

"Mas certamente há algo? Se eu pudesse dar uma rápida olhada em


tudo o que existe, eu acho que poderia ajudar. Realmente, eu não sei se posso
ajudar agora se não entendo o que aconteceu no passado."

Walter ficou em silêncio por tanto tempo que eu não sabia se ele tinha
me ouvido. Mas quando olhei para cima ele estava olhando-me atentamente.
Quase me assustei. Eu nunca tinha visto um olhar que fosse diferente de
impassível no rosto de Walter. "Eu vou ver o que posso encontrar", ele
finalmente disse.

"Obrigada, Walter."

Mais tarde naquele dia, quando Walter me trouxe uma pilha de CD-
ROMs, ele me olhou diretamente nos olhos e disse: "Estes são os
registros contábeis voltando cinco anos."
"Oh," eu disse, dando um passo mais perto dele para pegar os discos,
"muito obrigada."

Eu coloquei minhas mãos sobre eles, mas mantive-as quando ele disse,
"como você disse, é mais fácil ajudar no presente se você entender o passado.
Espero que estes sejam úteis."

Eu fiz uma careta. "Sim..."

Walter soltou a pilha, acenando com a cabeça para mim e indo embora
rigidamente. O que foi isto?

Eu não teria tempo para começar a analisar os discos até que tivesse os
arquivos atuais atualizados, então coloquei meu esforço nisso. Eu também
procurei Vanessa na cozinha e perguntei se ela tinha tempo para me ajudar
com os preparativos da festa. Já tínhamos recebido um punhado de RSVPs, o
suficiente para me fazer um pouco nervosa – as pessoas iam aparecer, é
melhor estarmos prontos. E eu poderia usar alguma ajuda. Expliquei o tema a
Vanessa e mostrei as listas que eu tinha feito até agora.

"Oh meu Deus, é claro. Eu adoraria", disse ela. "Esta é uma ideia
incrível."

"O que é uma idéia incrível?" Ouvi o timbre profundo do dragão por trás
de mim. Nós duas giramos para assistir Grayson enquanto ele caminhava até a
geladeira e tirava várias garrafas de água, Sugie Sug atrás dele. Meus olhos
correram sobre Grayson. Eu não o tinha visto em dias, e senti como se meus
olhos estivessem famintos. Ele estava suado e maravilhosamente corado. Eu
desviei o olhar, sentindo dor por minha reação a ele. Claramente, ele era
completamente não afetado por mim agora que Vanessa estava por perto.

"Ideia da festa de Kira", disse Vanessa. "Será que ela te


disse? É um baile de máscaras de conto de fadas -"
"Ela me disse," Grayson disse, abrindo uma garrafa de água e tomando
um longo gole. Eu assisti como seus músculos da garganta trabalharam
engolindo a água, e quando olhei para seu rosto seus olhos estavam zerados
em mim. Eu desviei o olhar novamente, fingindo me concentrar na minha lista.
Senti minhas bochechas corarem e queria me chutar.

Vanessa olhou para mim com entusiasmo. "Minha personagem de conto


de fadas favorita é Tinkerbell." Ela riu. "Isso é idiota?"

Eu sorri para ela. "Nem um pouco. Você pode convencer Shane a se


vestir como Peter Pan."

Ela riu novamente, o tom como um som musical que eu nunca tinha
ouvido falar. Ela seria a perfeita Sininho. Ela seria sempre perfeita. Olhei para
ela, de pé lá em seu longo vestido colete coral-e-branco, o cabelo dourado
lustroso e direto até os ombros. Ela era perfeita. Eu a odiava.

Não, não. Eu gostava dela – o que eu odiava era que gostava dela. Por
que ela não podia ser uma grande ‘cadela’? "Eu farei, e vou me certificar que
ele tenha um olhar masculino de Peter. Com apenas o suficiente de
infantilidade. Assim como ele."

"O quê?" Eu perguntei distraidamente. Eu balancei a cabeça, forçando-


me de volta para a conversa. "Oh... Shane... Peter Pan, certo."

Olhei para Grayson, que estava aparafusando lentamente a tampa de


volta na garrafa de água, sua expressão dura, um pequeno tique trabalhando
em sua mandíbula.

Sugie tentativamente cheirou os pés de Vanessa, e Vanessa inclinou-


se para baixo, a mão acariciando a cabeça de Sugie rapidamente e, em
seguida, puxando de volta. "Eu sinto que vou machucá-la toda
vez que vou tocá-la", disse ela, sua voz cheia de simpatia.
"Você não vai," eu disse. "Ela precisa de amor, mais do que qualquer
coisa. A única coisa que vai machucá-la é você se afastar."

Grayson olhou para mim por um momento e, em seguida, sem dizer


uma palavra, virou-se e saiu da cozinha. Sugie seguiu-o, olhando para a porta
e deixando escapar um pequeno gemido, em seguida, baixando a cabeça e
correndo para alcançar Grayson.

Meu coração se apertou de dor. Olhei para minha lista, para esconder
meu rosto da sondagem de Vanessa.

Ele não conseguia nem mesmo fingir gostar de mim, para manter as
aparências? O que devem achar Shane e Vanessa?

"Eu sinto muito, Kira", disse Vanessa. "Nossa presença está colocando
pressão sobre o seu casamento. Devemos ir-"

"Não por minha causa, não. Shane e Grayson tem algo a resolver. Eu
não vou ficar no caminho disso." Eu iria embora logo, mas Shane sempre seria
o irmão de Grayson. Recusei-me a ser a razão pela qual Grayson não lhe daria
uma chance de, pelo menos, se explicar. Qualquer interesse físico que
Grayson tinha tido por mim já estava muito longe. E eu podia entender por quê.
Quem poderia competir com Vanessa? Ela era linda, por dentro e por fora, e eu
me sentia como a bruxa que Grayson imaginava - feia, maltrapilha e excluída.
Ninguém queria estar com a bruxa. Não no final da historia.

Charlotte veio movimentando-se para a cozinha poucos minutos depois,


atirando olhares nervosos entre Vanessa e eu. Desde que Shane e Vanessa
tinham chegado, eu não tinha tido qualquer tempo a sós com Charlotte, mas
sempre que eu a via ela parecia estar torcendo as mãos e dizendo orações em
voz baixa. Por si só isso não me deu muita confiança de que esta
situação acabaria bem.
Vanessa, Charlotte e eu estudamos as listas em detalhe e dividimos as
tarefas. "Agora, quem vai me ajudar a fazer um bolo de manteiga de
amendoim? Pedido de Shane - é o seu favorito", disse ela, encantada.

"Oh, eu vou ajudar", disse Vanessa. "Eu preciso aprender a receita para
que possa cozê-lo para ele, às vezes."

Charlotte pegou dois aventais da gaveta, entregando um para Vanessa


e oferecendo o outro para mim.

"Oh, da próxima vez, Charlotte," eu disse. "Eu preciso ir lá fora e fazer


uma lista dos itens que já foram concluídos." Mas a verdade era que eu percebi
que Charlotte e Vanessa mereciam um tempo juntas. Eu só ia ficar aqui por um
curto período de tempo, enquanto Vanessa era uma verdadeira parte dessa
família. Com esse pensamento, a dor aguda no meu coração pareceu quase
excessiva, mas estava lá, no entanto. Charlotte olhou para mim com simpatia,
mas acenou com a cabeça, quase com tristeza. Eu não poderia estar zangada
com ela. Ela sabia que eu era temporária.

Vanessa estaria aqui para sempre, enquanto eu estaria saindo em


breve. Era mais importante Charlotte ajudar a construir uma ponte entre Shane,
Vanessa e Grayson do que tentar empurrar Grayson e eu juntos de forma mais
permanente. Seria um esforço inútil, de qualquer maneira. Talvez ela
finalmente tenha percebido isso.

Sentindo-me sozinha e melancólica eu vaguei lá fora para olhar a


fachada da casa. Eu tinha uma tripulação de jardineiros escalados para
trabalhar o resto da semana. Fazer o terreno ter uma aparência decente ia
dar um pouco de trabalho. Mas a casa pareceria muito melhor uma vez que a
hera fosse cortada. Anotei as poucas coisas que eu pensei que
poderiam ser realizadas no exterior da casa, e em seguida virei-
me para andar atrás dela e fazer algumas notas sobre essa
área também. Eu gostaria de poder abrir a parte de
trás do pátio e limpar a piscina, se possível. Imaginei luzes brilhantes
penduradas nas árvores, lançando um brilho mágico de conto de fadas...

Então por um momento eu estava ali, imaginando a cena, meu olhar


subindo para as fileiras de videiras. Por que eu sentia esta saudade
desesperada por dentro? Eu pensei no que Grayson estaria fazendo agora, no
quanto eu estava começando a amar esta vinha e as pessoas que viviam e
trabalhavam aqui. Pensei sobre como tinha imaginado que Grayson e eu
estávamos indo na direção de... do que, Kira? Amor?

É isso o que eu tinha secretamente começado a esperar? Uma emoção


não muito diferente de medo apertou meu intestino, e eu dei alguns passos
para que pudesse me inclinar contra uma árvore de olmo próxima, fechando
meus olhos, sentindo-me miserável. Eu tinha a sensação terrível de que, em
algum lugar ao longo do caminho, eu tinha caído no amor com meu marido.
Não havia outra explicação para a agonia que eu estava sentindo por sua
súbita indiferença fria e a possibilidade de que ele ainda estava apaixonado por
outra mulher.

Olhando para o sol da tarde brilhando sobre as videiras eu admiti só


para mim - apenas para mim - que talvez eu tivesse mesmo me apaixonado por
Grayson Hawthorn, no primeiro momento em que coloquei meus olhos nele.
Meu cavaleiro de armadura brilhante em frente àquele banco, a promessa de
que ele iria me salvar, e eu a ele, fluindo através do meu coração como um
sussurro secreto.

Oh Deus, isto era um desastre.

Um desastre épico.

Eu queria correr, fugir desses sentimentos e destas


realizações. E eu sabia exatamente o que faria assim que a festa
tivesse acabado. Eu não poderia ficar aqui, sabendo que
poderia cair ainda mais apaixonada pelo meu marido a qualquer momento. Ele
nunca iria me amar de volta. Pelo contrario: a dor de seu amor não
correspondido aos poucos me levaria à desolação, até que eu já não pudesse
encontrar nenhuma alegria na vida.

Meus pensamentos desesperados foram cortadas quando eu vi uma


figura solitária caminhando em torno do perímetro do labirinto abaixo de mim.
Eu olhei, reconhecendo Shane. Hesitando apenas brevemente eu coloquei a
lista e a caneta no bolso de trás do meu shorts jeans e desci a colina para me
juntar a ele.

"Hey," eu disse suavemente. Ele virou-se, obviamente assustado,


deixando escapar uma respiração rápida.

"Hey, Kira." Ele sorriu.

"Desculpe, não quis assustar você."

"Não, não, apenas profundo no pensamento, eu acho." Ele sentou-se


num banco de pedra ao lado e fez um gesto para eu me sentar também. Eu fiz,
apoiando minhas mãos atrás de mim.

Olhando para o labirinto ao nosso lado eu disse: "É realmente incrível.


Você deve ter se divertido nele quando criança."

Shane soltou um suspiro, passando a mão pelo cabelo, assim como


Grayson fazia algumas vezes. Sua expressão ficou um pouco desapontada.
"Deus, não. Meu pai nos obrigou a caminhar ao meio uma vez que tinha ficado
escuro, e então mandou-nos encontrar a saída. Ele nos torturou com essa
maldita coisa."

Senti o sangue escorrer do meu rosto, e me voltei para Shane. "Por


quê?" Eu resmunguei.
Ele deu de ombros e balançou a cabeça, de repente parecendo um
garotinho. "Quem sabe por que meu pai fez o que fez? Ele tinha ideias
estranhas sobre como nos tornar homens. Essa foi uma delas. Claro que
Grayson teve o pior de tudo, sendo o mais velho." Ele fez uma pausa, olhando
para as mãos em seu colo. "Eu podia ouvir Grayson aqui chorando para o
nosso pai, tentando encontrar seu caminho para fora, noite após noite." Miséria
varreu sua expressão, como se ele tivesse voltado lá novamente, ouvindo seu
irmão gritar por socorro e sendo incapaz de fazer qualquer coisa sobre isso.
Sentei-me, passando os braços em volta de mim.

"Depois de pesquisar nos de arquivos do meu pai Walter encontrou um


mapa do labirinto – é claro, eu só soube disso anos depois - e o deu a
Grayson. Grayson devia ter sete ou oito anos então. Ele lhe disse: ‘Você
estuda isso. Vá durante o dia e aprenda cada turno, cada canto e recanto, e
então, quando o seu pai te mandar andar lá dentro você vai ser o único no
controle. Certifique-se que o seu pai não descubra, mas conheça esse labirinto
como a palma da sua mão. Então não haverá medo.' Bem, isso foi exatamente
o que Gray fez." Ele sorriu, e de repente as sombras fugiram do seu rosto
bonito. E eu não pude deixar de sorrir também.

Walter. Deus te abençoe, Walter. "Mais tarde, quando meu pai me levou
para dentro, Grayson escapou da parte de trás, me encontrou e me levou para
fora sem o nosso pai saber. Ele ficaria escondido no labirinto até que
estivéssemos lá dentro, em seguida, ele iria me encontrar. Eu nunca soube o
que era o medo que ele sentiu, porque ele me salvou. Eu apenas temi aqueles
breves momentos antes dele aparecer. E, Deus," sua voz falhou um pouco,
mas ele limpou a garganta e continuou: "não há nada na terra como a
sensação de alguém que ama você agarrar sua mão no escuro
quando você está perdido e com medo."
Sombrio desgosto me dominou. Esse pobre menino. Eu não sabia o que
dizer, estava totalmente sem palavras, um caroço do tamanho de uma laranja
bloqueando minha garganta. Não é de admirar Grayson odiasse o labirinto - ele
tinha servido como uma câmara de tortura para ele.

"Meu irmão fez isso por mim em centenas maneiras diferentes ao longo
dos anos - descobriu-me no escuro e agarrou minha mão."

"Então por quê?" Eu sussurrei, piscando para conter as lágrimas.

Shane virou a cabeça para olhar para mim. "Por que Vanessa?" ele
perguntou.

Eu balancei a cabeça, mordendo meu lábio. "Por favor, diga-me, Shane.


Eu estou tentando entender. Eu só estou tentando entender, e talvez se eu
fizer isso, de alguma forma, eu possa ajudar."

Ele suspirou. "Porque eu a amei durante toda a minha vida." Ele fez uma
pausa, sorrindo um pequeno sorriso triste. "Nós crescemos juntos, você sabe,
nós três. Grayson nunca pareceu notá-la do jeito que eu fazia." Ele apertou os
olhos para o espaço por um momento, provavelmente lembrando eventos
específicos. "Mas então ele perguntou-lhe em primeiro lugar, e eu pensei que
talvez ele só estava escondendo seus sentimentos, e assim eu... dei um passo
atrás, quando tive que jogar o meu chapéu no ringue, por assim dizer. Eu teria
mostrado o meu coração também, se tivesse sido qualquer outro. Mas eu não
consegui. Ele sempre tinha chegado ao final curto da vara, e tinha se
sacrificado por mim mais de uma vez. Como eu não poderia fazer o mesmo por
ele? E assim... Eu a amava, mas deixei-a ir sem nunca dizer uma palavra."

Eu apertei os lábios, a tristeza se movendo por de mim enquanto eu


olhava para o céu azul. "Mas então ele foi embora..."

"Sim", ele disse suavemente. "Você deve pensar que eu


sou uma pessoa tão horrível."
"Não, eu não sou seu juiz," eu disse suavemente.

Shane suspirou, passando a mão pelo cabelo.

Eu não perguntei mais nada. Eu sabia que ele queria explicar o resto ao
seu irmão, em primeiro lugar. Mas eu acho que tive uma melhor compreensão
da situação, a partir das duas perspectivas. Eu só queria saber como Vanessa
se sentia sobre Grayson agora. Que bagunça. Uma bagunça da qual eu
precisava dar um passo atrás, e deixar que eles encontrassem uma saída
sozinhos, especialmente à luz das minhas próprias realizações sobre onde
meu coração estava. Eu estava certa. Não havia lugar para mim no presente. E
talvez Grayson estivesse certo, também. Talvez nada disso fosse realmente o
meu negócio. Sentada lá, senti-me de repente mais solitária do que jamais me
senti antes.

"Ele me contou sobre sua mãe - sua madrasta - que ela nunca aceitou-
o", eu disse suavemente.

Shane soltou um suspiro. "Não, ela o odiava. Ela odiava o que ele
representava. Ela considerava sua vida perfeita antes da mãe de Grayson
aparecer em sua porta. Eu ainda não tinha nascido na época, mas ouvi-a
lembrá-lo disso o suficiente ao longo dos anos. E o nosso pai... ele não era o
mais carinhoso dos pais, de qualquer maneira, mesmo para mim, mas ele
tratou Grayson de forma especialmente fria, como uma forma de enviar a
mensagem para minha mãe que ele reconhecia seu erro. Não havia nenhuma
reconciliação para isso aos olhos dela, no entanto. E essa não era a maneira
correta de pedir desculpas, de qualquer maneira." Shane de repente virou a
cabeça para mim. "Estou surpreso que ele lhe contou qualquer coisa sobre
isso, na verdade. Eu nunca soube dele falando sobre isso, nem mesmo
para mim."
Eu dei de ombros. "Ele falou tudo com naturalidade, como se estivesse
explicando o curso do tempo."

O sorriso de Shane foi irônico. "Confie em mim, Grayson não se


expressa muito, mas ele sente algo. Se importa, de fato, sobre seu pai e sua
madrasta. Eu estava lá."

Eu balancei a cabeça novamente, sem saber exatamente o que dizer,


sabendo que não deveria investigar mais profundamente o tormento oculto de
Grayson. Isso só me faria amá-lo mais. Não era assim com todas as mulheres?
Eu não era exceção. O que era mais sexy que um homem de grande abs e um
coração cheio de tormento oculto? Deveriam engarrafá-lo e vendê-lo aos
montes. Ou talvez escrever um livro: "Abs e Tormento Oculto: Um Guia de Um
Homem". Eu teria rido se não sentisse tanta vontade de chorar.

E então ficou ainda mais claro para mim que ele nunca me amaria,
mesmo se pudesse superar seu amor por Vanessa. Blocos de gelo cercavam
seu coração, e eu seria uma tola se imaginasse que seria suficiente para
derrete-los.

"Ei, não fique tão triste. Nós temos algumas boas lembranças também.
Nossas infâncias não foram todas horrores e traumas. Nós também
costumávamos roubar cookies de Charlotte, e frequentemente irritávamos
Walter tentando levá-lo a dar um sorriso de vez em quando."

Eu ri apesar de mim, vincando minha testa ao mesmo tempo. "Obrigada


por compartilhar isso comigo, Shane. Significa muito que você confiou em mim
o suficiente para abrir-se comigo."

Ele me estudou por apenas um segundo, o rosto abrindo um sorriso.


Sem pensar, eu me inclinei para a frente e abracei-o, imaginando o
pequeno garoto que ele foi uma vez, sozinho e no escuro quando
seu bravo irmão mais velho pegou sua mão. Ele riu, me
abraçando de volta. Quando eu me afastei ele começou a dizer: "Eu sou em
sua maioria -", mas foi interrompido.

"Você já roubou uma mulher de mim. Imagina que pode roubar outra?"

Nós dois nos levantamos rapidamente, como se tivéssemos sido pegos


fazendo algo errado. Afastei-me de Shane. "Grayson, nós só estávamos-"

"Fique fora disso, Kira", disse ele, com o olhar furioso focado em Shane.

"Jesus, Gray," Shane disse, incrédulo. "Nós estávamos apenas


conversando."

Grayson deu um passo adiante para Shane, seu maxilar duro e


apertado. Eu chupei uma respiração afiada, não sabendo se queria chorar ou
começar a atirar coisas. "Estou bem ciente de como falar funciona", Grayson
disse com a voz elevada, mas seu tom era frio e mortal, "e não envolve braços
e corpos. Diga-me, Shane? Uma não foi suficiente? Esta tentando seduzir Kira,
também?"

"Seduzir Kira? Deus, você realmente é um idiota quando está com


ciúmes. Você acha que eu iria seduzir sua esposa, seu estúpido idiota?", ele
gritou.

Fora da minha visão periférica eu vi Vanessa e Charlotte correndo em


nossa direção.

A mandíbula de Grayson trincou com a palavra inveja, seus olhos se


tornando fendas quando ele olhou para seu irmão.

"Ciumes? Você acha que eu te acho indigno de confiança porque eu


estou com ciúmes? Não porque você é um mentiroso traidor bastardo? Não
estou com ciúmes." Ele deu um passo mais perto. "Jesus. Ela nem é
minha esposa de verdade. Nós nos casamos por dinheiro", ele
rosnou.
Eu chupei uma lufada de ar, mas senti como se estivesse inalando
lâminas de barbear, meu rosto corando com o calor.

O silêncio caiu de repente quando três pares de olhos focaram em mim.


Eu olhei em volta: as expressões chocadas de Shane e Vanessa; a expressão
aflita de Charlotte. Grayson ainda estava olhando para Shane, mas quando viu
que todos estavam olhando para mim, voltou seu olhar em minha direção
também, sua expressão parecendo limpar momentaneamente quando ele se
tornou ciente do que tinha acabado de dizer. "Kira-" ele começou a dizer, mas
eu me virei e corri. Corri para longe dos olhares, para longe do julgamento,
longe da vergonha e da dor lancinante. Embora.
Capítulo Dezoito
Grayson

Eu era um idiota. Um idiota ciumento. Shane estava certo. Quando vi ele


e de Kira se abraçando eu perdi a cabeça. Eu me desliguei completamente
desde que Shane e Vanessa tinham chegado, ignorando Kira depois de ter ido
para o quarto dela e tentado reclamá-la como um tolo bêbado. Eu só poderia
culpar a mim mesmose ela foi à procura de Shane para conforto e
companheirismo. Shane, que sempre tinha sido o descontraído encantador.
Shane, que nunca tinha decepcionado ninguém.

Eu não quero você. Eu não quero você em tudo.

Ninguém quer você. Ninguém nunca quis.

É claro que ela se sentiu confortável e segura com Shane - quem não o
fez? Outra lança de ciúmes passou abatendo minha espinha, e eu cerrei os
dentes. Eu nunca na minha vida tinha caído em um ataque de ciúmes por uma
mulher, mas a possessividade que senti quando tinha visto Kira e Shane
abraçados tinha me jogado sobre a beira. Eu assisti-os durante a semana
passada, vi a forma como eles caminhavam ao redor da propriedade,
conversando, mesmo rindo. Desespero cresceu em meu peito. Jesus, eu
precisava me controlar. Do que eu estava com ciúmes, afinal? Ela tinha estado
disposta a vir para a minha cama - mesmo que isso estivesse fora de
cogitação agora - o que mais eu queria? Eu estava chateado
porque tinha me sabotado, assim como parecia sabotar tudo
de bom na minha vida? Ou era só porque Shane
tinha roubado Vanessa de mim? Não me deixei pensar muito sobre isso desde
que eles chegaram aqui – não queria explorar nada disso, de qualquer
maneira. E então eu simplesmente desliguei.

E então fiz algo pior ainda: em um esforço idiota para provar que eu não
estava com ciúmes - e talvez ferir Kira, eu reconheci - eu tinha exposto a
verdade do nosso casamento de uma forma cruel e sem coração. A profunda
dor e humilhação que eu tinha visto em seus olhos tinha enviado a culpa me
esmagando. Outro homem em sua vida usando-a como bode expiatório. Porra.
E então ela correu. Agora eu estava procurando por ela, para tentar fazer a
coisa certa depois que eu tinha deixado Shane, Vanessa e Charlotte pasmados
atrás de mim. Que porra de bagunça era essa. Que bagunça do caralho eu era.
Senti como se tudo o que eu estive segurando durante toda a semana
estivesse rodando dentro de mim, subindo à minha cabeça como fervura.

Que diabos realmente tinha acontecido comigo?

Eu conheci Kira Dallaire, isso é o que tinha acontecido comigo.

Avistei-a no campo sul, parecendo como se estivesse... coletando


damascos do chão?

Ela estava segurando-os na parte inferior de sua blusa? Por um


segundo eu apenas fiquei e assisti-a enquanto ela se aproximava da fruta,
curvava-se e a coletava, trazendo um pedaço de fruta para seu nariz de vez em
quando.

Qual era a da bruxinha? Algo puxou apertado em mim – por que minha
esposa exasperante me fascinava tanto que até mesmo minhas entranhas se
agitavam dentro do meu corpo? Aproximei-me dela lentamente e cheguei até a
borda de onde centenas de damascos excessivamente maduros
cobriam o chão. Ela tinha dez ou quinze peças de fruta pesando
em sua camisa.
"Kira", eu disse com toda calma que podia, "o que você está fazendo?"

"Coletando frutas para Charlotte fazer geléia - geléia que você ama
tanto, geléia que te faz feliz. Eu tenho feito isso durante toda a semana, mas
entre a organização de seu escritório e o planejamento de uma festa para que
você possa mais facilmente se reintegrar à sociedade de Napa, entreter sua
família e tentar descobrir como escapar de certas questões de Shane e
Vanessa - que, por falar nisso, eu gostaria de agradecer a você por apenas
deixar escapar a verdade, porque isso era outro problema no meu prato. Eu
não posso te dizer quão aliviada estou por não ter mais que mentir-"

"Kira", eu disse, aproximando-me. "Eu sinto muito. Isso foi mal feito da
minha parte."

"Além disso," ela continuou como se não tivesse me ouvido, "é um


desperdício de comida. Há pessoas que não têm o suficiente para comer –
bem aqui em Napa mesmo. E aqui está toda essa fruta, apenas sujando o
chão. É inconcebível, realmente."

"Kira", repeti, aproximando-me mais.

Ela girou em minha direção, seu cabelo longo e ondulado pendurado em


suas costas, mechas e cachos enquadrando seu rosto. Seus olhos eram
verdes brilhantes e tempestuosos, colocando minha mente em uma
tempestade tropical prestes a atingir o chão. Suas bochechas estavam
vermelhas, e eu podia ver que ela estava tão cheia de raiva, e mais alguma
emoção que eu não tinha ideia como nomear. Ela estava tendo dificuldades
para recuperar o fôlego. O mínimo vislumbre de seu estômago plano era
visível onde sua camisa tinha sido elaborada como uma cesta improvisada,
agora pesada com as frutas. Minha respiração pegou quando eu a
segurei. Ela era a coisa mais selvagem eu já tinha visto, e a minha parte
primitiva de repente tinha o desejo de domá-la imediatamente, neste exato
momento.

Eu sabia que deveria me rastejar e - Deus, eu sabia que ela merecia


isso - mas depois de uma semana mantendo Kira no comprimento do braço, e
vendo-a agora em pé na minha frente, toda fogo e vida, eu perdi o controle, de
uma maneira que só ela poderia me obrigar a fazer.

Caminhei em direção a ela quando seus olhos se arregalaram, e ela


deixou cair os frutos colhidos de sua camisa, macios damascos fazendo sons
molhados quando espalharam-se no chão a seus pés. Ela me pertencia.

O ciúme que senti quando a tinha visto nos braços de Shane inflamou-
se novamente quando a puxei para o meu corpo.

Olhando para ela agora e percebendo o quão desesperadamente eu a


queria - estes últimos dias tinham sido como viver sem luz – me senti ciumento
e vulnerável tudo de novo. Eu desesperadamente queria que ela acalmasse a
agonia selvagem e furiosa no meu interior, para tranquilizar a parte ferida do
meu coração que pensou que havia algo digno em mim, que ela me queira
também. Mas eu não tinha idéia de como colocar esses sentimentos em
palavras. Não sabia como pedir, especialmente quando tinha tanta coisa para
me desculpar. E então eu disse da única maneira que eu conhecia. Eu
aproximei-me e agarrei-a, pressionando meus lábios nos dela.

Eu só tinha planejado beijá-la uma vez e então deixá-la ir, mas o gosto
dela enviou uma chama para baixo em minha barriga. Agarrei-a, incapaz de
tirar minha boca da dela. Ela lutou por uns poucos e breves momentos, tanto
que nossos braços arranharam uns nos outros quando eu procurei
puxá-la para perto e ela lutou para se afastar. Mas então ela
soltou um pequeno soluço e colocou os braços ao redor do
meu pescoço, beijando-me de volta com apaixonado
fervor. Eu lambia sua língua, o gosto dela acalmando a dor dentro de mim,
causando-me simultaneamente uma perda de controle e o primeiro gostinho de
paz que eu tive em muito tempo. Talvez por toda a vida.

Antes que eu tivesse tempo para mergulhar no beijo, Kira empurrou meu
peito, tropeçando para trás vários passos, os lábios machucados, os olhos
cheios de dor renovada. "Kira", eu disse, notando o tom de súplica na minha
própria voz, "venha aqui".

Seu queixo subiu, e ela tomou mais alguns passos para trás. "Não."

Eu hesitei. O que ela queria? "Encontre-me no meio." Eu balancei a


cabeça em direção a um lugar na grama entre onde estávamos enfrentando um
ao outro.

"Não", ela cuspiu rebelde.

Uma onda de raiva tomou conta de mim. Eu não iria manter minhas
mãos longe dela. Meu instinto estava agitado com desejo, e meu sangue
zumbia com a necessidade de possuí-la. Eu nunca quis tanto uma mulher.

Dane-se a bruxinha, para o inferno com isso. O que ela quer de mim?
Eu fui para agarrá-la novamente, mas ela de repente pegou algo do chão e
atirou em mim, o som alto de um muito maduro damasco explodindo na minha
testa e escorrendo em meu rosto. Eu estava momentaneamente atordoado.
Alcancei minha mão e levei um dedo cheio de damasco da minha testa,
trazendo-o para baixo para olhá-lo, incrédulo. "Você, desafiante pequena
diaba", eu disse, meus olhos encontrando os dela. Com um movimento rápido
eu peguei um macio damasco e atirei-o nela. Ela rangeu quando ele fez
contato com o pequeno pedaço de pele que aparecia no decote em V de sua
blusa, desfazendo-se em um salpico de suco e polpa e deslizando
para baixo de sua blusa. Sua boca caiu aberta, e ela olhou para
mim como se em choque pelo que eu tinha feito, pelo que
ela tinha feito.

"Você sirva-se, monstro viscoso," ela sibilou.

Nós dois começamos a recolher os frutos e jogá-los contra o outro,


numa explosão de uma centena de emoções que eu não conseguia identificar
em mim mesmo, muito menos nela. Meu sangue estava quente em minhas
veias, e era como se a fria indiferença em que eu havia me envolvido
recentemente estivesse derretendo a minha pele. Fruto mole voou para mim de
novo e de novo, a maioria fazendo contato, a umidade pegajosa cobrindo meu
cabelo e escorrendo para cada parte do meu corpo. Nossas vontades se
enfrentaram como o doce cheiro pungente de damascos que perfumava o ar.
Kira parecia como eu imaginava que também estava – como quem tinha rolado
em um tonel de fruta. Quando ela parou por um fôlego, olhando para mim, eu
lancei-me para ela, nós dois rolando sobre a grama macia, seu corpo vindo
descansar sob o meu. Luxúria subiu através de mim, afiada e quase dolorosa.
Eu não tinha ideia de quem iniciou o beijo, mas pensei que poderia ter sido ela.
Nós lambemos a boca um do outro descontroladamente, avidamente, gemendo
e agarrando. Enfiei minha mão sob sua blusa, sentindo a pele macia e suave,
mas ela ainda resistia embaixo de mim. Eu senti o forte ritmo de seu pulso
quando trouxe minha outra mão à sua garganta, esfregando o polegar em
círculos sobre ela, exultando-me na sensação de sua força vital sob meus
dedos. Meu desejo por ela queimou, escaldando meu coração. Linda,
voluntariosa, suave, teimosa, compassiva e irritante bruxinha.

"Oh, por favor, Gray," ela ofegou, puxando minha camisa.

"Sim", eu consegui dizer, rolando meus quadris contra os dela. "Diga-


me que você me quer, Kira, por favor, diga isso", implorei
descaradamente.

"Eu faço, eu quero você. Eu te quero tanto."


Alívio explodiu no meu intestino, súbito e feroz. Oh Deus, eu estava
ridiculamente e irremediavelmente encantado por ela. Eu não podia esperar
mais um segundo. Meu pau latejava ansiosamente entre as minhas coxas. Ela
seria minha. Eu não me importava que estávamos rolando na grama-.

"Oh meu Deus," veio uma voz de mulher acima de nós.

"O que o-?" veio outra voz.

"Pelo amor de-"

"Bem, eu nunca vi nada-"

Nós dois congelamos, piscando um para o outro, confusão evidente na


expressão de Kira quando nós dois olhamos para cima.

Eu pisquei na luz do sol, mas só conseguia ver os contornos escuros de


seis figuras que pairavam sobre nós. Eu senti-me atordoado, e levou vários
minutos para eu me orientar e para meu sangue esfriar. Kira se afastou de mim
como se eu fosse o fogo onde ela tivesse se queimado. Quando percebi que
ela estava de pé também me levantei. Gosma gelatinosa de damasco deslizou
pelo meu rosto e braços nus.

Quando finalmente fui capaz de distinguir os rostos diante de mim, meus


olhos percorreram a partir de Charlotte e Walter para Shane, Vanessa, uma
mulher com cabelo rosa que não conhecia e um novo rosto, que eu reconheci
imediatamente. "Harley", eu disse com admiração surpresa.

Harley, tão grande e de aparência rude como eu me lembrava dele, um


grande urso de um homem coberto de tatuagens, adiantou-se com os olhos
esquadrinhando sobre Kira e eu. "Bem, eu serei almodiçoado."

"O que? Como?" Eu gaguejava, avançando para pegar sua


mão, minha mente tentando tirar qualquer sentido desta situação.
Forcei-me a afastar meu foco de Kira por tempo suficiente
para ordenar alguns fundamentos mentais. "Como
você está aqui?" Eu limpei minha mão pegajosa na minha calça, mas ela
apenas voltou com mais polpa de fruta pegajosa.

Harley olhou para mim por um momento e então começou a rir, sua
risada profunda e quente. "Cara, sai há um mês." Ele olhou-me de cima abaixo,
a expressão em seu rosto entre nojo e hilaridade. "Mas acho que estou mais
interessado em ouvir sobre o que está acontecendo com você, no entanto.
Parece que tem sido... pegajoso."

Kira de repente deu um passo adiante, o rosto principalmente


irreconhecível sob os montes de polpa de damasco.

"Espere, Harley? Harley?" ela perguntou, sua voz ofegante.

Harley virou-se para ela, apertando os olhos. "Kira?" ele perguntou.

Minha cabeça moveu-se para frente e para trás entre eles. "Vocês dois
se conhecem?" Eu perguntei, minha voz preenchida com o choque que senti.
Eu podia ver todo mundo na minha visão periférica, suas cabeças balançando
de pessoa para pessoa também. A única coisa que faltava era pipoca.

"Oh meu Deus!" Kira disse, emocionada, correndo em direção a Harley,


indiferente ao fato de estar prestes a cobri-lo com a mesma lama pegajosa que
ela estava coberta. Ele não a impediu, no entanto, quando ela jogou-se para
ele, abraçando-o firmemente. Eu poderia ter tido outro momento de ciúme, mas
o abraço foi breve e Harley estava sorrindo para Kira com afeição amigável.
"Eu não posso acreditar que você está aqui."

"Como vocês se conhecem?" Perguntei novamente.

"Do centro de drop-in", disse ela, nem mesmo olhando para mim.
Minha cabeça estava nadando, não só a partir desta estranha explosão do
meu passado, mas a partir da transição entre o que tinha
acontecendo com Kira e eu para o que estava acontecendo
agora. Se o silêncio de todos os outros que estavam
vendo essa troca fosse qualquer indicação, eles ficaram chocados também.
"Como vocês dois se conhecem?"

"Da prisão," eu disse.

"Oh," ela respirou, finalmente olhando para mim. Ela olhou de volta para
Harley. "Harley, você cumpriu pena?"

"Sim, Kira, eu fiz, sinto dizer. Acabou por ser uma das melhores coisas
que poderiam ter acontecido comigo, na verdade. A vida é boa. Embora", ele
se virou para mim, "eu estou esperando que pudesse haver uma oportunidade
de emprego aqui."

"Você precisa de um emprego?" Perguntei. "Sim, é claro que você pode


ter um emprego. Cara, o que você precisar."

A cara musculosa de Harley abriu um sorriso. "Estava esperando que


dissesse isso." Ele se virou para a mulher com cabelo rosa vestindo uma saia
de couro muito pequena e um top decotado, muito pequeno também, ao lado
dele. "A propósito, esta é Priscilla."

Mostrei-lhe a minha mão pegajosa como explicação sobre por que eu


não estava oferecendo-a. Ela riu suavemente e disse: "Prazer em conhecê-lo,
Grayson. Harley me falou muito sobre você. Vejo que ele pode ter deixado um
pouco de fora, entretanto." Ela olhou entre Kira e eu, mas seu olhar era
divertido, sem zombaria. Ela sorriu para Harley.

Charlotte deu um passo adiante. " Gray? Talvez você e Kira possam se
limpar de... Bem, de... bem, se limpar, e então todos nós poderemos
familiarizar em casa?" Ela parecia esperançosa. Eu assumi que todos
correram para cá pensando que Kira e eu estávamos em algum tipo de
confronto físico depois do que tinha acontecido perto do labirinto.
Eu acho que essa descrição era realmente bastante precisa,
embora não tivesse sido violento. Principalmente.
"Essa é uma boa ideia. Kira?" Ela olhou para mim, parecendo como se
não pudesse decidir o que queria fazer.

"Sim, tudo bem", disse ela finalmente.

Eu puxei a manga de sua blusa e ela parou, olhando onde minha mão a
estava tocando. "Kira-"

"Vamos só nos limparmos, Grayson", disse ela em voz baixa, não


encontrando meus olhos, não me permitindo tentar ler sua expressão. Eu
balancei a cabeça, liberando-a.

Nós todos começamos a ir para a casa, Kira andando na frente, Harley


me contando como tinha me encontrado aqui em Napa e sobre o lugar
pequeno que Priscilla tinha em Vallejo, uma cidade próxima. "Lembrei-me de
que você estava em Napa Valley, do que você descreveu, e sabia que esse
tinha que ser o lugar. Cara, eu não posso acreditar que faz tanto tempo."

Olhei para Harley com pesar. "Eu sei que não fui grande sobre manter
contato. Peço desculpas por isso. Quando cheguei aqui e percebi o quanto de
trabalho tinha que enfrentar eu meio que desenvolvi uma visão de túnel."

"É compreensível. Nenhum pedido de desculpas. Este lugar, embora,


uau. Eu sabia que você disse que era lindo aqui, mas não imaginava isso",
disse ele, varrendo sua mão na direção das colinas verdes e brilhante de
vinhas à distância e na outra direção, onde a vista de montanhas majestosas
criavam uma silhueta de tirar o fôlego.

"Esta a caminho de ser o que era antes," eu disse, distraidamente


olhando em frente para Kira quando nos aproximamos da casa. Ela virou-se
rapidamente, parecendo considerar algo antes de ir para dentro.

Ela beijou Harley no rosto e apertou sua mão. "Estou tão


feliz em vê-lo tão bem" ela disse, soando como se fosse chorar.
Franzi a testa, mas ela não olhou em meu caminho e
não esperou Harley responder. Ela virou-se e desapareceu dentro da casa,
deixando-me a olhar para o lugar vazio onde ela tinha estado.

"Grayson," Shane disse, aproximando-se de mim, "depois de tomar um


banho e ter a chance de conversar com Harley e Priscila, nós temos que
conversar." Vanessa estava atrás dele, nervosamente mordendo o lábio. Deus,
ele estava certo. Eu deixei escapar que Kira e eu tínhamos um casamento de
conveniência por dinheiro. E agora precisava explicar. Só que, como eu
poderia começar a fazer isso quando mal compreendia a minha situação? Não
mais, pelo menos.

Parecia bem definida uma vez... Agora, era quase tão pegajosa e
lamacenta quanto eu estava atualmente.

"Claro", eu murmurei, indo para dentro. "Charlotte, você pode servir para
Harley e Priscilla algo para comer e beber? Eu estarei de volta em breve."

"É claro", disse Charlotte, levando-os para a cozinha.

Tentei a porta do quarto onde Kira estava hospedada, mas ela havia
trancado-o, e quando eu bati ela não respondeu. Ela provavelmente estava no
chuveiro. Eu tomaria banho também e, em seguida, voltaria. Eu precisava falar
com ela primeiro e acima de tudo. Tínhamos negócios inacabados. E eu queria
ter certeza que ela estava bem. Eu queria certificar-me que estávamos bem.

Tomei banho, embaralhando as minhas roupas pegajosas em uma pilha


e envolvendo-as em uma toalha para levar para a lavanderia. Deus, o que
diabos tinha vindo sobre nós? O que foi aquilo? Depois de me vestir com jeans
limpos e uma camiseta eu andei descalço para o quarto de Kira, e bati na
porta novamente. Quando ainda não houve nenhuma resposta eu tentei a
maçaneta da porta e encontrei-a desbloqueada. Ela já tinha
descido? Olhei dentro do quarto e percebi imediatamente que a
mala tinha desaparecido. Pânico rodou no meu intestino e
eu entrei no quarto, chamando seu nome. O armário estava aberto, mas não
havia nada dentro, exceto por alguns sacos de vestuário que eram algumas
roupas velhas da minha madrasta. Avistei a nota sobre a cômoda quando me
virei para sair. O anel que eu tinha dado a Kira em nossa cerimônia - o que ela
tinha usado desde o nosso jantar de primeiro encontro – estava no topo. A luz
pegou os diamantes enquanto eu o levantei. O que eu estava pensando dando-
lhe este anel? Eu não tinha certeza se queria ler a nota.

Grayson,

Eu acho que é óbvio depois de hoje que precisamos de algum espaço


um do outro - e que você precisa de tempo para resolver as coisas com Shane
e Vanessa sem me ter pelo caminho. Eu estarei na festa na próxima semana
para realizar o meu último ato como sua esposa, e então eu vou embora para
sempre.

Kira

P.S. Eu acho que este anel pertence a Vanessa, e não a mim. Não que
alguma vez tenha realmente me pertencido.

Deixei cair o pedaço de papel, um caroço se formando na minha


garganta, frieza subindo pela minha espinha. Ela disse que me queria e, em
seguida, ela foi embora. Virei-me e desci as escadas, o gelo se movendo
rapidamente por minha coluna, enchendo meu peito e cercando meu
coração. Tirei conforto do sentimento frígido. Era o que eu conhecia, o que
eu merecia, e como eu iria sobreviver à dor.

Seguindo as vozes para a cozinha eu entrei para encontrar


Harley, Priscilla e Charlotte na mesa. Charlotte começou a me
cortar um pedaço de seu bolo de café de creme de
leite, mas eu levantei minha mão, recusando em silêncio a oferta. Ela franziu a
testa.

"Harley estava me dizendo como você salvou sua vida." Charlotte me


estudou, um olhar de ternura e tristeza em sua expressão.

Passei a mão pelo meu cabelo. Eu nunca tinha falado com ninguém
sobre o meu tempo na prisão. Eu não estava necessariamente disposto a isso
agora, mas também não poderia exatamente expulsar Harley. Eu lhe devia
muito. Ele tinha estado lá comigo - ele viveu isso. "Mais como ele salvou a
minha", eu disse.

"Não, esse não é o jeito que eu lembro", disse ele, inclinando-se de volta
e entrelaçando os dedos atrás de sua cabeça careca.

"Eu fiz uma coisa só por sorte - você teve minhas costas pelos próximos
cinco anos", eu disse, algo pegando na minha garganta. "Se não fosse por
você eu não teria sobrevivido àquele lugar." E era verdade. Quando tinha
chegado lá eu estava em estado de choque, entorpecido com a descrença por
tinha sido condenado a uma pena de cinco anos depois que meu advogado
garantiu-me que eu iria obter serviço comunitário na melhor das hipóteses, seis
meses na pior. Eu tinha estado na pátio com Harley - que eu nem conhecia na
época – quando algo brilhante me chamou a atenção. Instintivamente eu o
empurrei, o que tinha dado-lhe tempo para virar e desarmar o homem que de
outra forma teria lhe estripado com a faca improvisada. Daquele dia em diante,
Harley - que tinha várias passagens na prisão e entendia como o sistema
funcionava com conexões de dentro – tinha me protegido de qualquer
número de horrores que eu poderia ter experimentado se não fosse por ele.

"Bem, você é família então," Charlotte disse antes desviar o


olhar para longe, os olhos brilhantes com o que pareciam
lágrimas não derramadas.
Harley acenou para Charlotte, dando-lhe um sorriso caloroso antes de
olhar de volta para mim. "E agora," ele disse, inclinando-se, "venho aqui e te
encontro casado com Kira Dallaire. A vida é cheia de surpresas."

Fiz um pequeno som de acordo em minha garganta, decidindo não


mencionar as circunstâncias do nosso casamento ou o fato de que ele acabaria
em breve de qualquer maneira.

Harley estava me olhando daquele jeito dele. Ele pode parecer grande e
malvado, mas era o melhor juiz de pessoas que eu já conheci. Ele me disse
que o necessário para crescer nas ruas de San Francisco era antecipar o
próximo movimento de uma pessoa, ou tornar-se sua vítima. "Posso contar-lhe
uma história sobre Kira?", perguntou.

"Claro", eu disse cautelosamente.

Harley assentiu. "Cerca de seis anos atrás eu estava num lugar muito
ruim." Ele fez uma pausa, olhando para Priscilla, que estava olhando para ele
com simpatia e, em seguida, tomou-lhe a mão. "Eu não conseguia descobrir
como ficar sóbrio, tinha perdido tudo, alienado todos que se importavam
comigo. Eu planejei acabar com a minha vida. Tinha uma arma e tudo. Estava
carregada, pronto para ir."

"Jesus, Harley," eu murmurei. "Eu não sabia."

Ele assentiu. "É difícil admitir o quão baixo eu estava, o quão pouco eu
valorizava minha vida naquela época. Mas é a verdade da minha história. Eu
fui para o centro de drop-in, para o que eu pretendia que fosse a minha última
refeição, e foi aí que eu conheci Kira. Ela era apenas uma adolescente na
época."

Uma adolescente. Os adolescentes não eram normalmente


conhecidos por sua abnegação. Mas Kira tinha sido gentil,
mesmo então...
Concentrei-me no que estava dizendo Harley. "Ela me serviu um pouco
de comida, sentou-se comigo, e nós conversamos por um tempo. Ela tinha
trazido este kit de mágica para entreter as crianças, mas fez alguns truques
para mim - completamente amador. Ela estava toda animada sobre isso,
porém, cheia de vida, sabe?" Sim, eu sei. "E foi a primeira vez que me lembrei
de sorrir em um longo tempo. Ela me disse que se eu voltasse no dia seguinte
ela me mostraria como havia feito a mágica. Bem, eu provavelmente teria sido
capaz de entender o truque por conta própria, eles não eram muito
complicados. Mas só o fato de alguém me pedir para voltar, alguém que
parecia querer o suficiente para tentar subornar-me com as respostas de
alguns truques bobos...", ele riu suavemente, "bem, eu voltei no dia seguinte. E
então ela fez algo mais para despertar o meu interesse. E foi a primeira vez
que eu percebi que tinha qualquer interesse. Uma coisa simples deu-me a
esperança que eu precisava. Então eu continuei voltando, e acho que poderia
dizer que me distraí de acabar com a minha vida. Essa é a verdade."

Deus, isso soou como Kira - soava exatamente como ela. Senti meu
coração batendo no meu peito, e o gelo que tinha começado a reconstruir em
torno de meu coração começou a derreter. Eu não conseguia decidir se estava
furioso com isso ou não. Droga, bruxinha. Onde ela estava?

Harley continuou, "eu não estava pronto ainda para mudar minha vida, e
cometi alguns erros, e acabei cumprindo pena com você. Mas vou te dizer isso,
com Deus de testemunha: se não fosse por Kira salvar a minha vida, eu não
teria sido salvo novamente por você e, em seguida, feito o que podia para
tornar o seu tempo lá dentro um pouco mais fácil. Engraçado como isso
funcionou, não é? Engraçado como uma vida pode afetar outra e, então,
aquela vida afeta a outra, e assim por diante."

"Engraçado", eu respirei. "Aleatório."


Harley piscou. "Se você é um crente em aleatório." Ele fez uma pausa,
um sorriso aparecendo, "bem, ouça, meu homem, teremos muito tempo para
relembrar. Mas se eu vou estar no meu melhor para trabalhar amanhã de
manhã, é melhor eu ir para casa, para que eu possa descansar. Além disso,
Priscilla tem que trabalhar esta noite."

"Oh", disse Charlotte. "O que você faz, querida?"

"Eu sou uma dançarina exótica", disse ela, sorrindo.

"Oh, uma dançarina! Que formosa," Charlotte respondeu, trazendo as


mãos juntas como se Priscilla tivesse apenas dito que era a liderança na
Broadway.

Limpei a garganta e sorri para Harley e Priscilla quando me levantei. "Eu


não posso te dizer o quão feliz estou que você me procurou. É bom te ver."

"Você também, irmão." Nós apertamos as mãos, batendo os punhos


como se estivéssemos na prisão. Charlotte deu a Harley e Priscilla um abraço
e foi com eles até a porta. Depois que eles saíram, mas antes que alguém
tivesse uma chance de me procurar, eu peguei minhas chaves e sai pela porta
dos fundos, fazendo a volta pela frente e entrando no meu caminhão. Eu dirigi
em direção à cidade: eu tinha uma esposa para procurar, e algumas coisa para
fazer.

"Oh, você está de volta", disse Charlotte, segurando o cesto de roupa


do meu banheiro e duas camisas que ela obviamente apenas passou a
ferro. Eu estava olhando para fora da janela e mal poupei-lhe um
olhar. Eu tinha ignorado-a, também na semana passada,
principalmente para a façanha que ela tinha puxado
em atrair Shane e Vanessa aqui sob falsas intenções e obrigando-me a lidar
com sua presença.

Eu tinha acabado de chegar em casa a partir da condução em torno de


Napa procurando o carro de Kira. A história de Harley me convenceu a ir à
procura dela; mas talvez eu não deveria ter procurado-a em tudo.

Ela disse que me queria. Calor do momento? Ou ela disse isso em um


sentido puramente físico? Ou ela mentiu? Ou... que importava o quê? Ela não
estava aqui, e isso era a linha de fundo.

Ela me deixou.

Eu não quero você. Eu não quero você em tudo.

Se você valesse mais...

Talvez ela tivesse dirigido a San Francisco para ficar com Kimberly.

Ela disse em sua nota que estaria de volta para a festa, no entanto.

"Bem, quando você acabar de sentir pena de si mesmo, o jantar estará-"


as palavras de Charlotte terminaram abruptamente, e eu olhei para cima. Ela
estava em pé na porta do armário, tendo apenas guardado as camisas
passadas. Ela se virou para mim bruscamente. "Então é assim que você se vê?
O vilão? Ou, espera, talvez a vítima? Capitão Gancho para o Peter Pan do seu
irmão? Isto é o que você escolheu?", Ela perguntou enquanto segurava a
fantasia que eu tinha parado e alugado depois de ser incapaz de encontrar
Kira. Só havia uma descrição para o olhar em seu rosto – total decepção.

"Como você teria me vestido, Charlotte?" Perguntei. "Um príncipe? É


só uma festa estúpida, de qualquer maneira. Não significa nada. E eu não
sou nenhum príncipe."

"É uma festa que a sua esposa está oferecendo para você
a partir da bondade em seu coração."
Eu olhei para ela. "Minha esposa se foi. Ela me deixou. Ela só está
voltando para a festa e, em seguida, estará me deixando de novo -
permanentemente. Assim como tínhamos planejado." Assim como nós
havíamos planejado.

Charlotte pareceu chocada por um breve momento, mas depois


conhecidos olhos percorreram meu rosto quando o silêncio se estabeleceu
entre nós. "Só que não é como você planejou, não é? Nada é como você
planejou. O que te assusta muito, muito mesmo." Charlotte se aproximou de
mim e estendeu a mão. Eu peguei, e ela apertou a minha entre as suas, o
cheiro reconfortante dela - seus assados, produtos e talco – fazendo minha
respiração acalmar. "Ah, meu rapaz, você caiu muito difícil, não é?"

"Caído?" Eu levei minha mão de Charlotte. "Caído onde?"

Charlotte sorriu gentilmente para mim. "No amor, é claro. Com Kira.
Com sua esposa."

Engoli pesadamente e me virei para a janela. "Eu não estou apaixonado


por Kira," insisti. Mas as palavras pareciam frágeis, como se ela não tivessem
qualquer peso e pudessem simplesmente flutuar.

Charlotte suspirou. "Pelo amor de todas as coisas sagradas, vocês dois


são tão teimosos. Vocês dois provavelmente merecem nada menos do que
serem algemados um ao outro para a vida. É uma maravilha ver que vocês
juntos não me forçaram a beber."

Eu bufei. Eu não estava apaixonado pela bruxinha. Estava? Não, eu não


poderia estar - as minhas emoções por ela também eram muito turbulentas,
muito fora de controle... aterrorizantes. Talvez eu estivesse obcecado por ela,
encantado, seduzido. Mas amor? Não, não amor. "Ela me deixa
louco", eu disse, voltando-me para Charlotte. "Quando estamos
juntos, agimos como crianças fora de controle metade do
tempo." E as outras vezes como desesperados amantes, incapazes de manter
nossas mãos um do outro...

Charlotte fez um som de clique na parte de trás da boca e assentiu com


a cabeça. "Devemos todos ser crianças quando se trata de amor - abertos e
vulneráveis." Ela fez uma pausa. "Eu não sei tudo o que há para saber sobre o
passado de Kira, mas eu sei que você tem um bom motivo para proteger seu
coração. E uma boa razão para querer escolher alguém que não inspire tanta
paixão, tal intensidade e tal medo. Mas, Gray, esses sentimentos significam
que você a ama. E para aqueles que foram feridos como você foi, e como eu
suspeito que Kira foi também, o verdadeiro amor é uma perspectiva
assustadora. O verdadeiro amor é o maior salto de fé que existe."

Passei a mão pelo meu cabelo. Isso tudo era demais, e eu não sabia
nem por onde começar, em que me concentrar. Eu estava irritado com Kira,
todo torcido dentro de um minuto, querendo ela desesperadamente no
próximo...

"Eu acho que um bom lugar para começar", disse Charlotte, como se
estivesse lendo minha mente, "é falar com seu irmão e Vanessa. E ouvi-los,
não com a sua dor, mas com o coração." Ela segurou minha mão novamente.
"E ter isso em mente: o amor nem sempre é suave e fácil O amor pode ser
doloroso. Amar também é se expor - tudo de si mesmo, cada parte macia -
para ser magoado. Porque o amor verdadeiro não é apenas a flor, o amor
verdadeiro também são os espinhos."

"Certo", eu disse. "Afiado e doloroso."

A risada de Charlotte foi um tilintar quente, como sinos em uma


catedral. Ela apertou minha mão firmemente. "Afiado, sim, perfurante,
sim. Mas não é sempre doloroso. Seja corajoso o suficiente para
não lutar contra isso. Rendição, meu rapaz. Deixe ir. Por
apenas uma vez, tenha a coragem de deixar ir."

Ela inclinou-se na ponta dos pés e beijou meu rosto, e eu me inclinei um


pouco para deixá-la. Então ela sorriu calorosamente, se virou e saiu do meu
quarto.

O amor nem sempre é suave e fácil. Foi por isso que eu tinha escolhido
Vanessa uma vez?

Porque meus sentimentos por ela eram mornos? Assim que eu levantei
a questão para mim mesmo, eu sabia no meu coração que a resposta era sim.
Shane e eu tínhamos crescido com Vanessa. Ela sempre foi uma amiga – linda
e doce - e eu tinha notado a forma como Shane tinha olhado para ela, e o
modo que ela olhou para ele, esperando que ele fizesse um movimento.
Nenhum dos dois percebeu que o outro tinha sentimentos. Mas eu sabia, e eu
pedi Vanessa em namoro mesmo assim, sabendo que Shane daria um passo
para trás por mim. Vergonha encheu meu coração, e eu olhei para baixo.

Eu a queria porque eu me sentia perfeitamente no controle de meus


sentimentos onde ela estava em causa, e esse tipo de calma, a falta de risco, a
ausência de espinhos, era algo que eu ansiava após a profunda mágoa que
tinha experimentado ao crescer. Depois que a humilhante ganância para o
amor nunca mais voltou, restou o isolamento da esperança em prol da alegria.
Eu não queria entender mais nada. Eu não me importava de esperar por mais
tempo. Doeu demais. E então eu escolhi alguém que não inspirava nada em
mim. Vanessa tinha sido doce demais para dizer não. E, em algum lugar lá
dentro, eu senti uma certa satisfação de tomar algo que eu sabia que
pertencia a Shane por direito. Eu já tinha perdido toda a minha vida
certificando-me que ele nunca sofresse da maneira que eu tinha. Eu
merecia passo à frente dele onde Vanessa estivesse em causa.
Jesus. Ele era meu irmão e eu o traí - mesmo que ele não
soubesse disso. E eu não tinha pensado nela também.
Será que meus sentimentos mornos seriam suficientes para ela a longo prazo?
Claro que não. Eu tinha estado vagando em um estado permanente de
distanciamento frio, e só Kira tinha sido capaz de acenar-me com seu calor e
exuberância. Vanessa e eu nunca faríamos um ao outro feliz. Tinha dito a mim
mesmo que nunca houve necessidade de confiar meus segredos para ela,
porque ela conhecia minha dinâmica familiar, mas a verdade era que eu não
queria. Eu nunca quis compartilhar tudo de mim com ela. E se eu tivesse
amado-a tinha sido apenas como uma... amiga.

Ela me disse que queria guardar-se para o casamento, e depois de


todas as mulheres que eu já tinha tido pelo tempo que nós começamos a
namorar, pareceu-me certo. Que eu deveria esperar por minha esposa.
Provavelmente ela estaria se guardando para Shane mais do que para o
casamento – tenha ela percebido isso naquele momento ou não.

Mas agora... graças a Deus eu nunca tinha feito amor com a mulher do
meu irmão. As coisas que tínhamos feito, de repente, sentiram-se incestuosas
e cem por cento pouco atraentes.

Eu tinha ido para a prisão, e eles de alguma forma encontraram seu


caminho um para o outro. E tudo que eu senti foi um oco sentido de traição.
Principalmente estive de luto pela perda de uma das poucas pessoas que
sempre esteve do meu lado: meu irmão mais novo. Desde então, eu não tinha
me permitido sentir qualquer coisa. E então veio Kira, que agitou cada emoção
dentro de mim e obrigou-me a reconhecer as necessidades guardadas lá
dentro. Ela me manteve em um constante estado de antecipação, e eu
esqueci-me principalmente de como preservar minha indiferença. E então,
logo que comecei a construir as paredes frias dentro de mim de novo, ela as
derreteu com o seu calor e vitalidade. Cada. Maldita. Vez.

Kira, que nunca fez nada em meias medidas.


Kira, que tinha sofrido tanto ou até mais do que eu tinha.

E, de repente, senti-me ainda menor, porque vi tão claramente que,


apesar das semelhanças das nossas histórias, e apesar do fato de que ela
tinha sido severamente prejudicada, Kira tinha escolhido enfrentar o mundo
com esperança e otimismo, e uma bondade perto de deslumbrante. E eu? Eu
tinha me retirado e cercado-me com frieza, focado apenas em meus desejos
egoístas. Ao contrário da minha esposa, eu tinha sido um covarde.

Mas eu desejava ser melhor. Eu desejava ser digno dela. E eu a queria.


Mas não apenas seu corpo.

Deus me ajude, eu queria seu corpo, sim, mas eu queria muito mais do
que isso também. Eu queria sua aprovação, para ouvir sua opinião, conhecer
seus segredos. E eu queria continuar a contar-lhe os meus.

Sentei-me fortemente na minha cama. Eu a amava. Linda, encantandora


Kira, com seus cabelos de fogo e olhos verdes. Kira, que me trouxe de volta à
vida. Kira, com sua combinação de rebeldia feroz e vulnerabilidade profunda.
Kira. Minha esposa.

Um pequeno arranhão veio à minha porta, que abriu-se quando Sugie


empurrou-a com seu nariz, trotando para mim. Ela ficou encantada com um
som muito suave e, em vez de abaixar a cabeça desconfigurada, ela colocou-a
no meu joelho, olhando para mim com seus olhos profundos. Eu cocei sua
orelha. "Você é uma boa menina, Sug", eu disse, agradecendo-lhe por
encontrar sua voz e ter coragem suficiente para usá-la. "Quando caí no amor
por ela?" Eu perguntei ao cão que minha esposa tinha me presenteado,
coçando a outra orelha. Sugie não ofereceu nenhuma resposta além de uma
pequena lamentação satisfeita. Quando isso aconteceu? A primeira
vez que ela me chamou de dragão? Foram aqueles ratos
estúpidos com nomes que começavam com ‘o’? A primeira
vez que eu a tinha beijado? Quando assisti ela
brincando com as crianças no centro de drop-in, seu cabelo voando
descontroladamente em torno de seu rosto, seu aberto e amoroso espírito
inconfundível, mesmo que ela tinha todo o direito de ser infeliz após a
crueldade de seu pai na noite anterior? Quando eu tinha caído de amor por ela,
sem nem mesmo perceber?

Oh Deus, eu fiz – eu a amava. E queria o seu amor. Ansiava por isso.


Era uma dor profunda no meu coração. E aterrorizava-me querer assim. Eu
não sabia como sentir as emoções que eu estava sentindo. E de repente
reconheci que sabia menos ainda como expô-los à sua rejeição.

Rendição, meu rapaz. Deixe ir.

Por apenas uma vez, tenha a coragem de deixar ir.

Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos, sem saber se seria capaz,


sem saber se poderia ser tão corajoso.
Capítulo Dezenove
Kira

O Beazley House era uma mansão de 1902 que havia se transformado


em um charmoso bed and breakfast há apenas uma curta caminhada do centro
da cidade ribeirinha. É onde eu estava hospedada por quase uma semana
agora, enquanto simultaneamente lambia minhas feridas e completava a minha
parte da lista para a festa em Hawthorn Vineyard. Eu tinha estado em contato
com Charlotte através de texto, que era como eu sabia que tudo ia bem com os
projetos dentro e fora da casa. Charlotte tinha se oferecido repetidamente para
vir me visitar, mas eu declinei. Apreciei isso, mas não havia nada que alguém
pudesse fazer por mim. E isso só iria me prejudicar mais no final, se eu
continuasse a me aproximar das pessoas que eram a família de Grayson... e
não a minha. Eu tive que começar a afastar-me, para não estar ainda mais
devastada no final do que eu já sabia que era finito.

Grayson não tinha sequer me mandado uma mensagem, muito menos


tentou me ligar.

Que confusão tornou-se o meu projeto mais recente. Mas eu tive que
me consolar com o conhecimento que o objetivo final, na verdade, havia sido
cumprido. Eu era independente financeiramente, na posse da liberdade que
eu tinha procurado, e quanto ao Grayson, sua vinha estava no caminho
de volta a ser operacional e, com sorte, muito bem sucedida.
E agora aqui estava eu, dando os últimos retoques no meu traje para a
festa de hoje à noite. Eu compareceria como tinha prometido, me certificaria
que tudo corresse bem e garantiria que Grayson e eu parecêssemos um casal
exemplar. E então eu imediatamente sairia da cidade. Não poderia voltar ao
Beazley House sem parecer estranho. Eu tinha feito amizade com os
proprietários, e eles pensaram que eu estava hospedada aqui por causa de
todo o trabalho que estava sendo feito na vinha. Eu queixei-me que o pó de
construção agitava minha asma. Eu não seria capaz de ficar em ou perto de
Napa, afinal. Se alguém na cidade descobrisse que não éramos de fato um
casal feliz, eles se sentiriam enganados, e a ideia da festa – para melhorar a
percepção das pessoas de Grayson - seria em vão. Eu pediria a Grayson se eu
poderia passar uma última noite na minha pequena casa de campo, e em
seguida pediria a Walter para me dar uma carona para recolher meu carro, e
sairia de manhã.

Meu coração afundou e eu limpei uma lágrima antes dela cair do meu
rosto. Eu tinha chorado o suficiente esta semana. E eu não tinha tempo para
lágrimas agora, para não mencionar que tinha gastado quase uma hora na
minha maquiagem.

E então, eu endireitei meus ombros e escorreguei em meus sapatos.


Meu celular tocou, e a carona de hoje à noite tinha chegado.

Eu dei um último olhar no espelho, peguei minha mala e saí do meu


quarto. Ouvi a equipe na cozinha à esquerda da entrada preparando o jantar,
mas não havia ninguém por perto. Eu já tinha pago minha conta e veria os
proprietários na festa - eles haviam sido convidados.

O carro estava esperando em frente da casa, e o motorista me


olhou com os olhos arregalados quando eu desci as escadas.
"Uau", disse ele, "essa é simplesmente A fantasia." Ele pegou
minha mala e abriu a porta, oferecendo-me sua mão,
mas seus olhos se moviam sobre mim com apreciação.

Eu sorri. "Obrigada", eu disse, entrando no carro e recolhendo o meu


vestido longo e extravagante para organizá-lo da melhor forma que podia para
ele não me engolir. Este vestido era o principal motivo pelo qual eu não estava
dirigindo. Eu nunca iria caber atrás de um volante. O vestido era uma
confecção de preto e um fundo de cetim verde e tule, a saia aumentada por
três aros. Era sem alças e tinha um espartilho construído que fazia minha
cintura parecer minúscula. Eu tinha adicionado como acessório luvas longas,
pretas e puras, jóias negras enroladas em volta do meu pescoço, e um chapéu
de bruxa de abas largas, que completou o personagem. Deixei meu cabelo
longo solto, e o fiz ainda mais selvagem do que normalmente era com a ajuda
de um ferro de frisar. Eu estava usando um brilhante batom vermelho, e meus
olhos foram margeados de preto. Minha máscara também era preta, e cobria
apenas meus olhos, deixando meu olhar ainda mais parecido com o de um
gato.

Eu tinha considerado uma série de figurinos mas, no final, este foi o


único no qual me senti bem. Eu teria Grayson sabendo como cheguei a ele:
sua bruxinha. Não, eu pensei cabisbaixa, não dele. Nunca dele. Desespero
rodou na minha barriga com o conhecimento de que esta seria a última noite
que eu gastaria tempo em Hawthorn Vineyard. Talvez este traje fosse apenas a
minha maneira patética de reconhecer em particular o meu amor por ele. Eu
queria que ele me aceitasse como eu era. Tudo de mim. Em vez disso,
Grayson queria meu corpo e nada mais. Que idiota você é, Kira. Uma tola
desesperada e estúpida. Eu nunca seria o suficiente aos seus olhos, assim
como eu nunca tinha sido suficiente aos olhos do meu pai, ou mesmo de
Cooper. Eu precisava ser suficiente aos meus próprios olhos, e, por
enquanto, isso teria que servir.
O carro parecia levar apenas alguns momentos, e eu me forcei a
respirar profundamente. Graças a Deus eu estava usando luvas. Eu tinha
certeza que minhas mãos estavam frias e úmidas.

Meu carro puxou para uma parada, e quando o motorista abriu a porta e
eu tomei sua mão e saí, prendi minha respiração, meu coração mergulhando
em meu estômago e depois subindo novamente.

A fonte foi preenchida com água, que espirrava suavemente em cascata


a partir da camada superior até a piscina cintilante abaixo. Os rosas e roxos
com a aproximação do crepúsculo enchiam o céu e compensavam as luzes
douradas da casa totalmente iluminada. A hera foi aparada, as caixas de janela
em cada varanda preenchidas com vegetação exuberante e brancas cascatas
de petúnias. O perfume de rosas, que agora eu reconhecia como flores de
espinheiro-alvar, flutuou na brisa, agora farfalhando paisagísticas folhagens.
Virei-me lentamente em um círculo completo, vendo tudo, e notei o brilho das
luzes brilhantes que enchiam as árvores que antecediam a entrada de
automóveis, adicionando magia ao ambiente. Era gloriosamente bonito,
cativante - o cenário perfeito para um conto de fadas.

Como eu queria que fosse o meu.

Sustentando uma respiração profunda eu endireitei meus ombros e


acenei com a cabeça uma vez para o motorista, que me entregou minha mala e
acenou de volta.

Os únicos veículos na garagem eram uma van auto-suficiente e outros


dois carros que provavelmente pertenciam aos músicos que eu contratei; o
que significava que eu tinha chegado no tempo perfeito para cumprimentar
os primeiros convidados. Eu iria cumprimentá-los com Grayson ao meu
lado. Por apenas um momento o pânico ameaçou quebrar minha
compostura, mas eu respirei fundo e trouxe meu queixo para
cima, sussurrando uma oração silenciosa à minha
avó, pedindo-lhe para me enviar força. Então eu relaxei meus ombros,
tranquilizando-me.

Você pode fazer isso, uma última coisa.

Eu balancei a cabeça em saudação aos dois manobristas vestidos com


calças pretas, camisas brancas e coletes vermelhos que ficaram ao lado,
esperando os primeiros carros chegarem. Eles acenaram de volta. Toquei a
campainha, embora eu tivesse me acostumado a entrar direto desde que
Grayson e eu tínhamos nos casado. Walter abriu-a, arregalando os olhos antes
que eles dobrassem muito ligeiramente nos cantos. Eu pisquei. Eu apenas
recebi meu primeiro semi-sorriso de Walter? Eu sorri para ele quando ele
pegou minha mão na sua e inclinou a cabeça. "Sra Hawthorn."

"Walter..." Eu parei, prestes a dizer-lhe para me chamar de Kira pela


centésima vez, quando minha voz prendeu na minha garganta ao perceber o
vestíbulo e a sala de estar esvaziados até o outro lado. Pus minha mala para
baixo, assim Walter poderia armazená-la em algum lugar, meus olhos
arregalados. O molde de madeira brilhou a um elevado requinte, os lustres
brilhavam intensamente e os últimos vestígios de luz do dia entravam pelas
janelas, criando fragmentos de prismas nas paredes. Vasos altos de rosas,
lírios e folhagens estavam expostos em cada superfície, perfumando as salas
com sua doçura inebriante. Enquanto eu vagava pela sala, vi o pequeno
quarteto de cordas que havia se instalado em um canto, e um bar totalmente
abastecido que estava no canto oposto. O mobiliário tinha sido organizado para
fornecer assento amplo, mas também muito espaço para se misturar e até
mesmo dançar lentamente ao som da orquestra, caso os hóspedes
desejassem.

Caminhando para a janela, olhei para a água clara e limpa


da piscina abaixo, onde uma pequena banda iria começar a
tocar após a hora do coquetel. Pequenas e íntimas
mesas foram espalhadas no pátio, e velas maravilhosamente posicionadas
incendiavam toda a cena com uma aura romântica.

Voltando-me para enfrentar a sala, eu fiquei em silêncio por um


momento, um sentimento de alegria misturado com tristeza se espalhando
através de meu corpo. Eu amava este lugar profundamente. E eu estava
saindo. Olhei para baixo, desespero fazendo-me sentir fraca.

Eu senti o peso do olhar de alguém, e levantei meus olhos. Grayson


estava do outro lado da sala. E quando aquela boca bem sensual se curvou em
um sorriso eu respirei fundo, reparando em seu traje.

O prazer que senti foi súbito e feroz, e eu trouxe minhas mãos


enluvadas à minha boca, dobrando-me para frente quando ri alegremente.
Alegria, esperança, felicidade, surpresa e tristeza e uma centena de outras
emoções bateram em mim. Dei um passo em direção a ele no mesmo
momento em que ele começou a andar para onde eu estava. Ele fez isso por
mim?

Ele estava vestindo um smoking preto. A máscara que ele usava cobria
apenas o topo de metade de seu rosto, feita para parecer escamas de dragão
em furta-cor azul, verde e preto, curvando-se em torno de seus olhos e pelos
lados de sua cabeça. Havia pequenos chifres na parte superior, e fios de
brilhante vermelho e laranja atravessando-a para funcionar como fogo.

Ele estava vestido como um dragão.

Ele fez uma pausa e virou um pouco para mostrar-me as asas anexadas
à sua volta – pretas, com as mesmas escalas de azul esverdeado e fios de
fogo. Seu sorriso cresceu quando ele se virou para mim novamente e nos
encontramos no meio da sala, apressando-nos juntos e parando de
repente quando estávamos a algumas polegadas de distancia.
Nós ficamos olhando um para o outro por vários segundos antes dele
dizer, "Oi, bruxinha." A voz dele soou crua, e eu olhei em seus olhos através
dos furos na máscara, jurando que vi saudade. "Você está deslumbrante."

"Oi, dragão," eu respirei, perguntas rodando pela minha cabeça. Ele


estava diabolicamente lindo quando sorriu novamente para mim, e meu
coração capotou uma vez e depois duas vezes dentro do meu peito. "Assim
como você. Eu não acredito que você fez isso." Eu balancei a cabeça para sua
máscara, sorrindo novamente.

"Oh, eu fiz", ele me assegurou. Seu sorriso desapareceu quando ele deu
um passo para frente. "Senti sua falta."

"Você fez?" Eu sussurrei, dando um passo para frente também.

Ele deu um passo mais perto. "Sim, Deus sim. Kira, esta semana... Eu
tenho tanto para te dizer. Temos, então, muito o que falar. Espero-"

"Vamos conversar?" Eu perguntei, minhas palavras colidindo com as


suas, a esperança florescendo dentro de mim novamente.

"Sim."

Eu olhei para baixo. "Você nem me ligou", eu disse, tentando manter a


dor longe da minha voz. "Eu pensei-"

"Charlotte tentou descobrir onde você estava."

Eu pisquei. "Eu não sabia que ela estava pedindo para você. Por que
não me perguntou você mesmo?"

"Eu pensei que depois... bem, eu queria te mostrar, ao invés de dizer,


e então eu achei melhor esperar por esta noite", disse ele, uma borda gutural
em sua voz. "Eu precisava olhar nos seus olhos. Kira -"

"Eu -"
"Kira!" Ouvi o cantar alto da porta. Charlotte veio correndo em nossa
direção, vestida como uma fada madrinha. Eu ri alegremente, virando-me para
ela, e a deixei fazer sua varredura em seu quente abraço. "Oh, eu não quero
esmagar você. Deixe-me olhar para você." Ela me virou para um lado e depois
para o outro. "Perfeito, simplesmente perfeito."

"Você, também, Charlotte," eu disse. "Você devia usar isso o tempo


todo."

Sua expressão suavizou quando ela disse: "Minha querida menina, você
sabe o quanto eu me afeiçoei a você, certo?"

"Sim", eu disse, abraçando-a novamente. E eu sabia. Apesar das razões


pelas quais ela trouxe Shane e Vanessa aqui - e de repente eu estava
começando a acreditar que suas razões eram mais profundas do que eu sabia
- eu não duvidei da pureza de seus motivos, ou que ela gostava de mim. Eu
sentia isso no meu coração.

Segundos depois Vanessa e Shane entraram na sala. Vanessa estava


vestida como a mais perfeita Tinkerbell que eu já vi, e Shane estava usando
um smoking com uma máscara verde e o chapéu de Peter Pan, uma espada
amarrada à seu lado. Senti um aumento de calor em minhas bochechas com o
pensamento da última vez que os tinha visto, mas quando eles sorriram para
mim, e porque Vanessa me abraçou calorosamente, eu relaxei, e senti uma
medida de alívio. Eu olhei para Grayson, cuja expressão parecia calma.

Quando Vanessa e Shane foram obter uma bebida no bar, eu me virei


para Grayson, vendo calor e uma paz em seus olhos que eu nunca
vislumbrara antes. "Você fez as pazes com eles", eu disse, incrédula.

Ele assentiu. "Sim. Havia um monte de desculpas para todos.


E eu expliquei... tudo sobre nós. Eu disse que tinha muito a te
contar."
Eu abri minha boca para falar, querendo muito ouvir exatamente o que
ele disse a Vanessa e Shane, mas a campainha tocou. O quarteto de cordas
iniciou, cantando a melodia de "I See The Light" conforme a equipe da comida
vinha da cozinha segurando deliciosos e cheiroros canapés em bandejas de
prata.

As próximas duas horas foram um turbilhão de cumprimentos e


conversas com os clientes, certificando-me que todos estavam confortáveis e
se divertindo, e garantindo que a festa tivesse um início perfeito.

Os figurinos eram maravilhosos, alguns não mais do que belas


máscaras combinando com o tema da noite, e outros criações inteiras, da
cabeça aos pés. Eu ainda não podia acreditar em Grayson vestido como um
dragão.

Uma vez que tive um momento para fazer uma pausa, tomei uma taça
de champanhe de uma bandeja que passava e fiquei para trás para admirar
todo o trabalho duro que eu tinha tido. Toda a gente parecia que estava tendo
um grande tempo, e se o olhar admirado no rosto de todos eles fosse qualquer
indicação, Hawthorn Vineyard tinha impressionado-os. Esperemos que eles
espalhem a palavra na cidade: que Grayson foi acolhedor e hospitaleiro, e que
sua casa era maravilhosamente convidativa. Este lugar não estava em ruínas
como a fofoca indicava. Pelo contrário, sua casa enviava a mensagem que lá
estavam todas as razões para acreditar no próprio vinhedo que estava em
ascensão sob a gestão de Grayson. Quem não gosta de um bom retorno da
história? Quem não gostaria de ser parte de uma? Esta era a minha
esperança, e o motivo da festa.

Procurei em volta por Grayson e vi-o entre um grupo de


convidados, um dos quais eu reconheci como Diane Fernsby.
Eles estavam rindo, obviamente entretidos por algo que ele
estava dizendo-lhes. Ele olhou para cima e chamou
minha atenção, sorrindo para mim. Foi a expressão em seus olhos que fez
minha respiração falhar, no entanto. Aquele sorriso. Seria a minha ruína.

Minha atenção foi roubada por Harley, vestido como A Fera, e Priscila,
vestida como uma versão punk da Bela. Abracei os dois, o prazer de vê-los.
Harley tinha começado a trabalhar no vinhedo, o que era maravilhoso. Apesar
de suas cicatrizes internas e externas, ele era um homem tão bom e amável.

Eu estava tão feliz que Grayson tinha alguém como ele. Passei alguns
minutos conversando com eles para conhecer Priscilla melhor e, em seguida,
afastei-me para me misturar com os outros convidados.

Cumprimentei Virgil, vestido como um grande Aladdin, e conversei com


José e sua esposa - vestidos como Lobo e Chapeuzinho Vermelho - por um
curto período antes de dispensar-me para verificar se tudo estava indo bem lá
fora.

O pátio externo foi inundado com o brilho da luz de velas, os hóspedes


de moagem em torno da piscina, os sons de risadas confundindo-se com o
som da banda apenas começando uma nova canção. Fiquei ali por um
momento, apenas observando. Não tinha havido outro momento para falar
mais com Grayson, e eu estava cheia do desejo para fazê-lo sozinhos. A noite
tinha sido um turbilhão até o momento, no entanto, e apesar da minha
impaciência, eu estava muito satisfeita com a forma como a festa estava indo.

"Posso ter esta dança?"

Eu me virei com a sensação de um corpo quente atrás de mim, o


sussurro de uma respiração no meu ombro nu. Um belo dragão estava
sorrindo para mim, sua mão se aproximando para tomar a minha. "Eu apenas
percebi que não tinha dançado com a minha esposa ainda... ou
nunca, para ser exato." Deixei escapar uma pequena risada, e
peguei a mão dele quando ele me levou para o meio da
pista de dança. Eu reconheci a música do filme "Encantada", embora eu não
pudesse lembrar do nome.

"Eu não sabia que dragões podiam dançar."

Ele puxou-me em seus braços e começou a liderar. Inclinando-se perto


da minha orelha, ele sussurrou: "Oh sim. As pessoas assumem que somos
complicados, mas não é verdade. É um fato pouco conhecido, mas dançar com
um dragão é como dançar com um relâmpago." E então ele me virou. Meu
coração pulou e eu ri alto, meu cabelo voando atrás de mim. Ele me girou para
o outro lado enquanto sorria para mim, e tão bobo como poderia ter soado, eu
me senti como se estivesse brilhando.

Nós desaceleramos em seguida; eu estava perdida na música e na


influência de seu corpo contra o meu. Eu queria perguntar-lhe tantas coisas,
necessitava ouvi-lo dizer as palavras que eu pensei ver refletidas em seus
olhos, mas para isso eu precisava ficar sozinha com ele. Eu precisava de um
momento apenas para nós. Eu ainda estava nervosa e lutando com a rapidez
com que as coisas tinham mudado - eu estava preparada para dizer adeus a
ele esta noite, e agora... agora havia um sussurro de esperança, mesmo que
eu quase tivesse medo de sonhar.

A música terminou e eu me afastei lentamente, incapaz de tirar os olhos


de meu marido enquanto ele olhava para mim também, algo em sua expressão
que eu nunca tinha visto antes. Ele estendeu a mão como se fosse tocar minha
bochecha quando de repente ouvimos aplausos. Olhei em volta e vi que
éramos os únicos na pista de dança, e que os convidados estavam batendo
palmas como se tivéssemos acabado de nos apresentar para eles. Eu ri,
calor subindo no meu rosto enquanto eu fazia uma pequena reverência.
Grayson se curvou, parecendo um pouco envergonhado também.
Uma mulher se aproximou de nós, andando com um leve mancar, um
sorriso amável em seu rosto. "Isso foi adorável", disse ela, estendendo sua
mão. Peguei na minha própria. "Eu sou a mãe de Virgil, Trudy Potter."

"Oh!" Eu disse, "tão bom conhecer você. Virgil se tornou parte da família
aqui."

Ela soltou um suspiro, parecendo chorosa quando apertou a mão de


Grayson. "Eu não vou demorar, mas eu," ela respirou bruscamente, como se
tentando não chorar, "só queria agradecer a você, Sr. Hawthorn." Suas
palavras terminaram num sussurro.

"Não tem porque agradecer", Grayson disse suavemente. Ela assentiu


com a cabeça e se virou, desaparecendo na multidão.

"Eu só lhe dei um emprego", ele murmurou.

"Suponho", eu disse, "mas acho que para ela isso é um somente muito
grande."

Eu olhei para ele. Seu olhar apreciativo pegou o meu, e ele soltou um
suspiro suave. De repente, fora à minha direita, ouvi o aplauso suave de uma
pessoa singular se aproximando de nós, e virei-me, sorrindo, para ver meu pai.
Meu sorriso desapareceu e meu coração gaguejou em meu peito enquanto
Grayson agarrava minha mão.

"Olá, Kira," meu pai disse.

Eu olhei para ele com cautela, olhando em volta rapidamente para


garantir que ninguém nas proximidades poderia nos ouvir. Ele estava em pé
na sombra, e aparentemente ninguém o havia reconhecido até o momento.
Isso era peculiar para o meu pai, eu supunha: estar em uma festa que eu
estava oferecendo, mas que certamente não queria que ele
ficasse. "O que diabos você está fazendo aqui?" Eu assobiei.
"Eu pretendia visitá-la em sua nova casa. Desculpe a intromissão. Eu
não tinha ideia de que estaria interrompendo uma festa, mas eu não gosto da
maneira como nós terminamos as coisas em San Francisco. Eu queria
aprender um pouco mais sobre o homem com quem se casou." De repente ele
olhou para Grayson. "Parece que você é mais do que Kira levou-me a
acreditar", disse ele. "É claro que qualquer pai ficaria preocupado com sua
filha, sob estas circunstâncias."

"Podemos discutir isso em algum lugar mais privado?" Grayson


perguntou, dando um passo à frente, a mandíbula dura, as palavras recortadas.
"Este não é o lugar." Ele acenou para as pessoas ao redor bebendo
champanhe, rindo e começando a encher a pista de dança atrás de nós.

Meu pai estreitou os olhos, mas assentiu com a cabeça uma vez, e
Grayson não largou a minha mão enquanto guiou o caminho para seu
escritório. Quando ele fechou a porta atrás de nós, seu tom era ártico quando
ele disse, "Deixe-me dar-lhe um conselho - não apenas apareça em nossa
casa."

Meu pai se virou para ele, seus olhos igualmente frios. "Você vai
entender, é claro, se eu optar por não tomar qualquer conselho de um
assassino." Ele falou por entre os dentes, os lábios mal se movendo.

Grayson olhou para ele sem emoção alguma em suas feições.

"O que você quer?" Perguntei desanimada. Esta noite tinha sido tão
cheia de magia antes que ele tivesse se mostrado. O desespero fez meu
coração afundar.

Ele olhou para trás e para frente entre nós dois, olhando para nossas
fantasias, e obviamente escolhendo não fazer comentários. "Você e
eu não temos nos visto sempre olho no olho, Kira. Mas
claramente eu não quero minha filha casada com um
assassino e um ex-condenado", disse ele.

"Não", eu respondi. "Você não sabe nada sobre quem ele é." Náuseas
pressionaram contra o meu estômago, e eu trouxe a minha mão ali, como se
para segurá-la de volta.

"Kira", disse Grayson, um tom de advertência em sua voz, sua


expressão imutável. "Você não precisa lutar minhas batalhas. Deixe-me falar
com seu pai em paz, por favor."

Eu agarrei o braço dele. "Grayson, você não sabe o que ele é -"

"Eu acho que é uma boa idéia", disse meu pai. O sorriso que ele atirou
em minha direção parecia tão frágil quanto sua campanha.

Grayson fez contato visual comigo. "Eu posso cuidar disso, bruxinha."
Sua voz tornou-se macia. "Volte para a festa, por favor."

Soltei um suspiro frustrado, olhando para o meu pai por um momento e


depois encontrando os olhos de Grayson novamente. Meu coração caiu, uma
sensação de medo fixando-se no meu estômago. O que ia acontecer agora?

"Bem." Eu concordei, não sabendo mais o que fazer. Saí da sala,


segurando minhas mãos em punhos para manter a agitação ao mínimo.

A lua lançava um brilho dourado de cima, e os dedos de penas da


névoa cercava meus pés abaixo.

Sentei-me no banco ao lado do labirinto, aquele que eu tinha


sentado com Shane. Parecia que tinha sido há muito tempo, mas
na realidade tinha sido apenas há uma semana. Tirei minhas
luvas e, em seguida, os pinos que prendiam meu
chapéu, e deixei-os no banco ao meu lado, usando os dedos para levantar meu
cabelo do meu couro cabeludo.

O medo que eu senti no escritório de Grayson havia se estabelecido em


um nódulo solitário e frio. Eu mal podia tentar nomear as muitas preocupações
que rodavam em meu intestino com o pensamento de meu pai e Grayson
conversando sozinhos. Por que meu pai estava aqui, e o que ele poderia
querer? O que ele sabia? Isto não soava como se ele tivesse se lembrado de
Grayson... O que ele tentaria controlar agora? Eu nunca ficaria livre dele?

Quando ouvi passos se aproximando eu fiquei de pé, virando a tempo


de ver Grayson aparecer em torno da curva no caminho. Ele tirou a máscara.
Deixei escapar um suspiro, sentindo um surto de pânico.

"O que aconteceu?" Perguntei. Ele me deu um pequeno sorriso.

"Seu pai me ofereceu todo um inferno de um monte de dinheiro para me


afastar de você permanentemente, ainda mais do que sua avó deixou de
herança."

O caroço anteriormente na minha garganta caiu para o meu estômago.


Eu exalei uma respiração afiada e virei-me à distância, passando os braços em
volta de mim. Bem, a boa notícia era que ele evidentemente acreditava que
nosso casamento era real. "Será que ele já foi?"

"Sim."

"Você deve aceitar," eu disse. "Estamos nos divorciando, de qualquer


maneira. Ele não tem que saber que já era planejado." Eu tentei parecer
sincera. Só esperava que a negligência em minha voz não me traísse
inteiramente.

"Você está tremendo", disse ele.


"Estou?" Eu esfreguei minhas mãos pelos meus braços. "Está um pouco
frio, eu acho..."

Suas mãos substituíram as minhas, esfregando meus braços nus. Elas


eram quentes e sólidas sobre a minha pele.

"Kira", sussurrou Grayson. "Você não tem que se preocupar mais com
ele. Eu sou o seu marido - é meu trabalho cuidar de você agora. Eu não quero
seu dinheiro. Falei isso para ele. E eu também não quero ir embora. Eu estava
esperando que você entendesse isso esta noite."

"Você... Você não?" Eu encontrei a minha voz e me virei para ele.

Ele alisou uma mecha de cabelo para trás do meu ombro. "Não, doce e
bela bruxa. Eu não quero. Eu percebi que poderia ser difícil de levar a sério um
homem que está vestido em um traje de dragão, mas..."

Eu ri baixinho. "Essa é a razão pela qual eu vou te levar a sério."

Ele sorriu. "Bom, porque eu estava esperando... Bem, eu estava


esperando que pudéssemos dar a esse casamento uma tentativa real. Eu
estava esperando que você concordasse em ser minha... de verdade. Minha
esposa, minha amante, minha amiga."

Vulnerabilidade estava gravada no conjunto esperançoso de suas


características, naqueles profundos olhos escuros, e meu coração pulou com
alegria.

"Fazer o nosso casamento verdadeiro?" Eu respirei.

"Sim."

Eu queria, também, tanto que quase não me atrevi a ter esperança. Mas
ainda havia muito para resolver entre nós...

"E quanto a Vanessa?" Eu perguntei, olhando para baixo.


Ele exalou um suspiro. "Eu nunca amei Vanessa, Kira. Ou se o fiz, não
era o tipo certo de amor. Eu sei agora. Vanessa sempre foi de Shane. Eu sei,
porque agora eu entendo o que se sente quando uma mulher é para um
homem, a forma como você está destinada à mim."

"Gray", murmurei, inclinando-me em sua mão quando ele escovou-a ao


longo da minha bochecha.

"Nós todos conversamos esta semana. Vanessa e eu nunca estivemos


destinados a nos casar. Éramos amigos. E, Kira? Nós nunca... bem, nós nunca
dormimos juntos também. Eu... sabia. Eu sabia que não a amava, e que ela
não me amava." Deixei escapar uma respiração profunda. Ouvir aquelas
palavras só me trouxe paz. Ele sorriu então. Lindo dragão. "Eu disse a eles
sobre nós. Contei-lhes que eu iria tentar convencê-la a me dar um chance. É
como se um peso tivesse sido tirado de todos os nossos ombros. E eu tenho o
meu irmão de volta."

Eu estudei seu rosto, compreendendo a paz em seus olhos.

"Eu sinto muito por esse anel estúpido. Eu..." Ele franziu os lábios, como
se escolhendo as palavras. "Eu não quis te machucar. Eu simplesmente não
pensei nisso, e quando encontrei esse anel achei que serviria bem o suficiente
como um suporte. Sinto muito, isso é o que era na época. Se eu estivesse
escolhendo jóias para você, eu escolheria algo inteiramente diferente...
esmeraldas para seus olhos, talvez", ele terminou em um sussurro. "Nada
incolor como diamantes ou opalas. Não para você."

Eu senti como se estivesse em um sonho. Mas eu havia passado uma


semana afastando-me disso, tão cheia de medo da rejeição e de instinto de
fuga. "Isto funcionará? Já fizemos tudo isso para trás. Eu sou sua
esposa."
Ele deu uma risadinha. "Sim, você é. Minha esposa encantadora." Seus
olhos percorriam meu rosto quando sua expressão tornou-se séria, cheia de
necessidade. "Apenas me diga que você me quer também, Kira."

Meu coração acelerou. Ele me perguntou duas vezes antes se eu o


queria. A primeira vez, em minha mágoa e confusão, eu disse que não. Na
segunda vez eu disse que sim, mas depois o tinha deixado. Mas agora eu via o
que ele estava realmente perguntando. Além de Charlotte e Walter, que haviam
preenchido tantos buracos quanto possíveis em sua vida, ele nunca se sentiu
realmente querido por qualquer pessoa. Ele tinha sido necessário para seu
irmão, mas rejeitado por todos as outras pessoas que contavam. Sim, eu o
queria. Eu queria que ele soubesse que era digno de ser amado. Eu estava
pronta para dar-lhe a minha confiança novamente, embora? E ele estava
disposto a me dar a sua?

"Eu quero, Grayson. Eu quero você. Nós apenas... Em alguns aspectos


sabemos tão pouco sobre o outro."

"Eu sei o que preciso saber, e o resto vamos aprender."

Eu sorri. Ele pegou minha mão e começamos a caminhar ao longo do


caminho em direção à frente do labirinto, os sons da festa à deriva na fraca
brisa noturna. "Qual é o seu nome do meio?" ele perguntou.

Eu ri baixinho. "Isabelle, como minha avó. Qual é o seu?"

"Eu não tenho um."

Virei-me para ele. "Sem nome do meio? Não parece certo que alguém
não tenha um nome do meio ".

Ele deu de ombros e sorriu, seus lábios curvando-se em um sorriso


suave e vulnerável. "Não, acho que não."

Eu deixei meus olhos bebe-lo. Ali mesmo, sob as


estrelas, eu o vi tão claramente. Não apenas a sua
impressionante beleza masculina, mas tudo dele: sua inteligência, sua lealdade
e natureza protetora, sua sagacidade e sua profunda sensibilidade – coisas
que ele deixou poucas pessoas verem. E, de repente, eu me senti intimidada.
Eu era sua esposa. Este belo homem tinha me escolhido. Eu queria amá-lo,
curá-lo, transformar todas as suas memórias escuras em claras. Eu queria ser
digna dele, e eu ansiava por ele me amar de volta.

"O que fez você perceber como você se sentia?" Eu perguntei, olhando
para ele e abaixando meus cílios, de repente me sentindo tímida.

Ele sorriu. "Charlotte me ajudou a perceber. Ela me incentivou a dar um


salto de fé e deixar ir."

"Ah. É um bom conselho."

"E você? Você sabia antes desta noite?"

"Eu acho que que já sabia há algum tempo agora."

"Sério?" O olhar encantado em seu rosto dizia tudo.

Paramos ao lado da entrada para o labirinto e eu me virei na direção


dele, agarrando suas mãos nas minhas.

"Aqui estamos nós," eu disse suavemente, balançando a cabeça em


direção ao labirinto.

"Sim", ele disse, com os olhos piscando distantes do labirinto e de volta


para mim. "Aqui estamos."

Ele se aproximou de mim, me puxando para seus braços e sussurrando


contra os meus lábios. "Você me traz paz, bruxinha, e coloca fogo no meu
sangue." Eu sorri contra sua boca.

"Mas você confia em mim?" Eu perguntei, colocando minha


mão plana contra sua jaqueta, correndo a mão sobre o seu peito,
sentindo a forte batida de seu coração debaixo.
"Confiar em você?" Um vinco se formou entre suas sobrancelhas
escuras.

Eu entrei debaixo do braço e ele girou para me encarar. "Venha me


encontrar, Grayson," eu disse, e corri para o labirinto.

"Kira", ele chamou, uma borda baixa em sua voz, "o que você está
fazendo agora?"

"Ajudando você a abrir mão de algo", eu disse, virando uma esquina e,


em seguida, virando rapidamente em outra. Eu ouvi Grayson atrás de mim,
caminhando lentamente enquanto eu corria. "Se você puder me encontrar,
então eu sou sua."

"Kira", disse ele, e apesar da distância, ouvi o tom de aviso, "Eu


conheço este labirinto bem - não há esconderijo de mim aqui."

Ah sim, mas eu sabia disso.

Um tremor desceu pela minha espinha quando virei outra esquina.


"Realmente, dragão?" Falei. "Vamos ver. Estou esperando." Eu já estava
irremediavelmente perdida, sentindo simultaneamente um pequeno fio de medo
e simpatia para o que Grayson deve ter sentido estando sozinho aqui todos
esses anos atrás, mas também o formigamento da emoção ao saber que ele ia
me encontrar. A grama era alta e desamparada, e enquanto eu corria,
segurando os aros da minha saia tão próximos ao meu corpo quanto possível,
meu vestido longo arrastava pelo chão atrás de mim, enroscando em ramos
que pareciam me agarrar. A lua e as estrelas e o brilho da casa além forneciam
a única luz.

Ele não disse uma palavra, mas eu podia ouvi-lo andar com objetivo
através das ervas daninhas e ramos caídos diretamente para
mim, como se soubesse para onde eu correria. Virei mais uma
esquina, e lá no que parecia ser o meio do labirinto havia
uma fonte velha, em ruínas e abandonada. Vendo um banco de pedra eu me
sentei e esperei por Grayson me encontrar.

As cepas distantes de música e vozes da festa ficaram em segundo


plano na minha mente enquanto eu escutava atentamente por seus passos,
meu pulso acelerado, meu coração batendo.

"Onde está você, bruxinha?" ele perguntou, muito mais perto agora. Mas
não soava como se houvesse pergunta em sua voz. Sim, ele sabia exatamente
onde eu estava. Minha frequência cardíaca aumentou.

Ele virou a esquina na extremidade distante de onde eu estava sentada,


e minha respiração gaguejou na minha garganta. No brilho da luz das estrelas
eu podia ver claramente seu olhar treinado em mim. Levantei lentamente, e
quando ele começou a andar para mim eu levantei a minha mão, apontando
para ele parar, para que eu pudesse ir ate ele. Porque de repente eu entendi
que às vezes é certo se encontrar no meio, mas, às vezes, é o mais simples
ato de graça encontrar a outra pessoa onde ela está. Isso é amor. Ele viu
quando me aproximei, seus olhos escuros e insondáveis.

Quando me aproximei dele agora algo ficou claro para mim: eu já tinha
caído no amor quando assisti Grayson em frente ao banco naquele dia, só que
foi de alguma forma romântica, de menina. Eu tinha caído no amor com a ideia
dele. Mas aqui, no profundo escuro do labirinto – onde ele tinha estado perdido
e assustado e sozinho - eu ofereci a minha mão, e eu me apaixonei pelo
homem. Eu me apaixonei pelo meu marido.

Sua mão na minha era sólida e quente e real. E ele me segurou de


volta.
Capítulo Vinte
Grayson

A festa estava acabando quando eu fiz as despedidas o mais rápido


possível, parando para conversar rapidamente ou dizendo boa noite para
aqueles que saíam. Quando avistei Charlotte conversando animadamente com
a família de José, eu sorri e acenei para eles, em seguida, perguntei se poderia
pegar Charlotte emprestada por um momento. Quando ela pisou de lado, eu
disse: "Desculpe, Charlotte, estou me retirando para a noite. Você irá incentivar
os hóspedes a permanecer e apreciar a música e a comida? Se perguntarem,
oferecer minhas desculpas e as de Kira?" Minha esposa está esperando no
andar de cima no nosso quarto.

"Desculpas? Tem certeza? Há ainda-"

"Sim, Charlotte, estou muito certo." Eu pisquei para ela e me afastei,


antes que pudesse dizer qualquer outra coisa. Eu consegui passar por alguns
convidados que estavam profundamente envolvidos na conversa, e virei a
esquina para as escadas.

Subi dois degraus ao mesmo tempo. Podem ter sido até mesmo três.

Quando eu abri a porta do meu quarto Kira estava sentada à


escrivaninha com uma pequena escova em seu cabelo, uma toalha dobrada
em torno dela. Ao som do clique da porta ela se virou e sorriu suavemente para
mim.
A maquiagem que ela tinha usado anteriormente tinham sido lavada de
seu rosto, e seu cabelo caía suave e longo para baixo de suas costas. Ela
parecia bem inocente, e apenas um pouco tímida. Ela se levantou e deu um
passo em volta da cadeira onde ela esteve sentada, olhando para mim quando
me aproximei dela.

"Oi, bruxinha," eu murmurei, dando um passo até ela.

"Oi, dragão," ela respirou, chegando para desfazer o laço atado no meu
pescoço. Embora ela parecesse ansiosa para me despir, eu notei o tremor em
suas mãos, e quando cheguei para ajudá-la, ela riu timidamente. "Eu me sinto
como uma nova noiva." Ela entregou as palavras com uma pitada de humor,
mas seus olhos estavam arregalados e vulneráveis.

"Você é. Isso é o que você é." Minha noiva. De repente senti-me em


terreno estranho também. O ar no quarto parecia fechar-se em torno de nós, de
modo que só ela e eu existíamos dentro dele.

Minhas mãos caíram ao meu lado, e eu a deixei terminar com a minha


gravata borboleta, finalmente lançando-a de lado antes de desabotoar os dois
primeiros botões da minha camisa. Ela se inclinou e beijou a pele nua da minha
garganta, e minha respiração engatou com a sensação de seus lábios suaves e
quentes. Sua língua saiu para me provar e, em seguida, ela beijou o local
novamente, inclinando-se para trás, para desfazer o resto dos meus botões. Vi
seus olhos sobre o que ela estava fazendo com as mãos. Essa mulher é
minha. Ninguém nunca vai tê-la, eu pensei, bebendo o meu olhar na sombra
escura que seus cílios faziam em suas bochechas, na forma como seus
lábios estavam entreabertos, o fundo mais cheio que o topo, na marca de
beleza muito pequena ao lado de sua sobrancelha direita e no local exato
na bochecha onde eu sabia que sua covinha apareceria quando
ela sorria.
"Você é tão linda", eu disse com reverência.

Seus olhos encontraram os meus, grandes e cheios de admiração, tão


verdes quanto a grama das colinas relvadas em alguns enevoados, terra
mítica. Minha linda bruxinha – tem magia dentro dela, e eu queria me banhar
em sua luz.

Eu nunca mais olharia para esse labirinto sem pensar nela andando na
minha direção ao luar com um olhar de amor em seu rosto enquanto estendia a
mão.

Ela trouxe meu casaco para baixo dos meus ombros e deixou-o cair no
chão, em seguida, fez o mesmo com minha camisa desabotoada, suas mãos
agora arrastando abaixo de meu bíceps nus. "Você é tão bonito", disse ela.

Com olhos treinados nos meus, ela soltou a toalha enrolada em volta
dela e deixou-a cair no chão. Eu chupei uma respiração afiada com a visão de
sua beleza nua, tão exuberante e docemente curva. Tomando seu rosto em
minhas mãos eu me inclinei para beijá-la, um gemido profundo chegando em
minha garganta. Senti-me fraco com querer, meu pênis surgindo totalmente à
vida dentro dos limites apertados de minhas calças. Eu chutei meus sapatos
enquanto chupava seu lábio inferior, e trouxe minhas mãos para desfazer meu
cinto, jogando-o de lado. Nós continuamos beijando quando eu desabotoei
minhas calças e tirei-as, juntamente com a minha cueca, chutando-as e
dobrando-me para remover minhas meias. Quando eu também fiquei nu diante
dela, seus olhos percorreram meu corpo, parando na minha ereção inchada.
Seus olhos deram um tiro para os meus, o rubor em suas faces
aprofundando. "Posso te tocar?"

"Sim, Deus sim," eu me engasguei. "Eu sou seu. Por favor, me


toque." Eu tinha esperado décadas para sentir suas mãos sobre
mim. Séculos. Eternidade.
Ela se abaixou e pegou meus testículos delicadamente na palma da
mão, testando seu peso. Eu gemia, mas me forcei a permanecer imóvel
enquanto ela explorava. Minha respiração saiu em um suspiro irregular quando
ela agarrou meu comprimento, deslizando a mão da base à ponta, onde ela
usou o polegar para girar em torno da cabeça. Deus, me senti bem. "Kira", eu
gemi, colocando minha mão sobre a dela e puxando-a para longe. Eu queria
isto para ontem.

Seus lábios se separaram quando ela olhou para as nossas mãos


ligadas, e eu assisti o movimento de sua garganta enquanto ela engolia. Eu
trouxe o meu polegar para ela, querendo sentir cada reação que seu corpo
tinha de mim. Mudei o meu polegar para cima e para baixo de seu pescoço,
lentamente e apenas por um momento antes de segurar a parte de trás de sua
cabeça e inclinar-me novamente para provar sua boca. Estremeci com a
sensação de sua pele suave e sedosa contra a minha própria, e saboreei a
sensação de sua suavidade fundindo contra a minha dureza. Dando.
Rendendo. Eu me inclinei para trás para olhar para o rosto dela, precisando
desesperadamente ver o que estava em sua expressão - isso significa tanto
para ela quanto para mim? Isso era novo para ela? Diferente? Eu não tinha
palavras para perguntar, não sabia como formular as perguntas, então procurei
as respostas em seus olhos. Tornei-me pego no feitiço de seu olhar antes que
seus cílios baixassem. Ela pegou minha mão para me levar para a cama.

Quando ela sentou-se sobre ela e deitou-se, eu mudei-me sobre ela,


mantendo meu peso em um joelho e com o outro separando suas coxas. Eu
pressionei contra o local onde o mais quente do seu calor emanava, e ela
gemeu baixinho.

"Aqui estamos", murmurei, repetindo as palavras que ela


disse para mim no labirinto. Finalmente. Finalmente. Como a
palavra ecoou na minha cabeça, parecia maior do que
apenas a espera que eu tinha sofrido para fazer Kira minha. Era como se ela
resumiu algo que eu esperei para sentir por muito tempo. Toda minha vida.

Finalmente você está aqui.

Ela piscou, seus olhos desfocados antes de seus lábios apontarem para
cima. "Sim", disse ela. "Aqui estamos."

Revirando meus quadris contra os dela, nós dois gememos, e eu inclinei


a cabeça de volta para o colchão. Suas mãos vieram até minha cabeça e ela
passou as unhas por cima do meu couro cabeludo, fazendo-me gemer de
prazer.

No passado, eu sempre tive uma ordem definida das coisas que fiz na
cama, não que teria dito isso alguém. Eu sabia o que trazia prazer as mulheres
e o que me proporcionava prazer, o que resultava em uma experiência
mutuamente satisfatória. Mas com Kira tudo saiu pela janela. Eu tentei lembrar
o que deveria fazer primeiro, e onde deveria seguir de lá, mas tudo fugiu da
minha mente, então tudo que eu tinha que fazer era instinto. Eu só poderia
incidir sobre o peso da minha própria excitação, e o calor de sua carne macia
quando ela mudou-se debaixo de mim. Eu me senti inseguro e inexperiente,
como se Kira fosse a primeira mulher que eu já tinha tocado.

Eu fiz isso antes, me tranquilizei, mas as palavras me sentiam falsas. Eu


não tinha certeza de nada mais.

Trazendo a minha boca na dela, eu inclinei minha cabeça, para que


minha língua pudesse penetrar completamente na boca dela. Ela fez um som
profundo de aprovação, sua língua encontrando a minha. Ela torceu e
emaranhou com sua pélvis na minha, impulsionando contra meu pau latejante,
e seus seios macios pressionaram contra o meu peito. Eu grunhi no
delicioso impacto, e me afastei de sua boca, arrastando meus
lábios em sua garganta e lambendo seus mamilos
endurecidos, primeiro um e depois o outro. Eu esfreguei e mordi suavemente, e
depois acalmei com a língua até que ela enlouqueceu embaixo de mim,
ofegante e pressionando seu corpo contra o meu.

"Kira", eu gemi. Eu queria adorá-la. Cada local secreto, cada vale


sensível, cada curva. Virando-a quando ela choramingou baixinho, beijei-lhe a
espinha, inalando o perfume feminino de sua pele, respirando-a. Eu lambia as
pequenas ondulações acima de suas nádegas, meus lábios de penas sobre
sua bunda, bochechas e nas costas dos joelhos, uma e outra vez. Eu tinha
perdido todo o controle, rendendo-me completamente para os ditames do meu
corpo. Os sons que ela fazia tinham-me selvagem de desejo, desesperado com
amor para a doce e sexy bruxinha debaixo de mim.

"Kira", eu sussurrei novamente.

Virando-a mais uma vez, eu mudei minhas mãos sobre o corpo dela,
acariciando, modelando, moldando quando ela se arqueou, oferecendo-se para
mim. Eu me inclinei e beijei o interior de uma coxa enquanto suas mãos
passavam novamente pelo meu cabelo. "Por favor", ela engasgou quando eu
trouxe minha língua para seu clitóris inchado e lambi ao redor dele, meu corpo
ficando ainda mais quente e mais duro com seus sons de prazer. Eu não podia
aguentar, não mais. Eu estava indo para o orgasmo, mesmo sem estar dentro
dela, e eu desesperadamente queria cobrir o corpo dela com o meu próprio,
afundar-me dentro, bombeando e empurrando na sua quente suavidade
escorregadia. Acomodando meu peso em cima dela, eu rolei minha pélvis
sobre a dela, meu pênis dolorido com a necessidade.

Kira agarrou meus ombros, um olhar de puro desespero no rosto. "Por


favor", disse ela novamente, sua voz crua.

"Sim", foi tudo o que consegui dizer, minha boca


retornando à dela, nosso beijo selvagem enquanto suas mãos
acariciavam meus braços, costas, peito, parecendo
estar em toda parte. Sim Sim Sim. Em algum lugar nos recessos de meu
cérebro confuso, pensei: o que é isso? Se trata-se de fazer amor, então eu
nunca fiz isso antes. Se isto é desejo, então eu só tenho experimentado a
versão morna dele. Isso, isso era como se eu estivesse dançando com um raio
- fazer amor com uma mulher que eu amava. Eu me afastei apenas
momentaneamente para olhar em seus olhos quando suas mãos agarraram
meus ombros e eu entrei ela. Ela piscou para mim, sua expressão uma
deliciosa mistura de luxúria, perplexidade e impaciência.

"Kira", murmurei novamente, pressionando-me dentro dela. Parecia que


todo meu vocabulário tinha sido reduzido à uma palavra. Seu corpo era quente,
molhado e macio, mas tão apertado que eu mal podia caber dentro. Eu ofeguei
um gemido, buscando controle, tremendo quando deslizei um pouco mais para
dentro. Ela levantou ao meu encontro, como se eu estivesse indo devagar
demais para ela, e apesar da minha necessidade desesperada, um sorriso
puxou meu lábios.

Meu Deus, ela é encantadora.

Meu Deus, ela é minha.

Eu entrei uma fração a mais e Kira soltou um pequeno gemido,


envolvendo suas pernas em volta dos meus quadris. Eu pressionei mais
profundo, finalmente afundando todo o caminho dentro dela em um impulso
final. Seus olhos se fecharam, seus lábios se separando quando ela soltou um
pequeno suspiro. O olhar dela encontrou o meu novamente quando eu comecei
a mover-me e, a intimidade de olhar fixamente em seus olhos enquanto eu
estava junto com ela tornou-se quase insuportável. Sua respiração estava
vindo mais e mais rápido, seu quadril encontrando o meu impulso por
impulso enquanto eu lutava para segurar de volta o prazer que
rodou meu abdômen e apertou minhas bolas. Minha pele
estava formigando.
Deus, me sentia tão bem que quase doía.

Eu vagamente sussurrei-lhe palavras que não eram palavras; Eram


meramente emoções colocadas em som - eram desconexos, crus, e vieram de
uma parte muito profunda do meu coração.

Suas mãos patinaram nas minhas costas, explorando, até que


chegaram a minha bunda, que ela agarrou quando eu mudei-me dentro dela.

"Mais rápido," ela gemeu, e eu senti os cabelos na minha nuca formigar


na emoção do único comando. Eu peguei o ritmo, empurrando nela mais duro,
minha respiração saindo em exalos afiados. Eu não tinha idéia de onde eu
terminava e ela começava. Eu trouxe a minha boca na dela para mais um beijo,
e quando ela soltou um pequeno suspiro e senti seus músculos começarem a
se contrair, inclinei-me ligeiramente para trás para testemunhar a sua rendição.
Eu assisti com admiração quando ela se desfez, esta mulher que resistiu-me
estridentemente, desafiou-me a cada passo, essa mulher que me fascinava,
me testava, empurrava meus limites, e me mantinha nas pontas dos pés. Ela
era tudo para mim: meus sonhos, minha fraqueza, e a pessoa que me fez
querer ser forte. Ela era a única mulher que me mostrou que eu importava, que
eu era querido. Que eu era o suficiente.

"Kira", eu gemi uma última vez, antes de estourar em um clímax


perturbador, com direito a estrelas explodindo diante de meu olhos quando o
prazer atingiu o pico. Eu cedi molemente nela, minha cabeça apoiada na curva
de seu pescoço enquanto a nossa respiração voltava ao normal. Suas mãos
ainda corriam pelas minhas costas, e eu precisava de seu toque, abalado
como estava a partir do que fizemos. Depois de alguns minutos eu rolei de
cima dela e reuni-a em meus braços, olhando cegamente no ventilador de
teto acima, recuperando-me de ter experimentado algo que
transformou numa triste caricatura cada encontro sexual que eu
já tive antes.
Eu me senti estranhamente vulnerável, como se ela segurasse todo o
poder. Eu não tinha certeza do que fazer com esses novos sentimentos. Sexo
sempre me fez sentir como o único no controle. E agora...

"Como você está se sentindo?" ela sussurrou.

"Como seu marido," eu disse imediatamente, um sorriso em meus


lábios. "Como você está se sentindo?"

Ela inclinou a cabeça até olhar para mim, a expressão no rosto feliz e
satisfeita. "Como sua esposa", ela sussurrou.

Eu sorri novamente e puxei-a para mais perto.

Kira circulou a ponta do dedo ao redor do meu mamilo e eu tremi,


puxando-a para mais perto. Ela inclinou a cabeça para trás e olhou para mim.
"É sempre assim?" ela perguntou, uma nota de provocação em sua voz.

"Não", eu respondi imediatamente. Olhei para ela, deixando-a ver a


sinceridade em meus olhos. "Eu nunca tinha experimentado nada tão
maravilhoso quanto isso. Eu nunca tinha experimentado nada tão maravilhoso
como você." Alívio e felicidade brilharam em sua expressão, e ela sorriu
gentilmente.

"Será sempre assim conosco?"

Estudei sua expressão vulnerável. Sim, pensei que seria sempre assim
para nós, porque Kira era parte disso - sua alegria, sua paixão, seu belo
espírito. Mas, eu achava que sabia o que ela estava realmente pedindo. Certa
vez, ela tinha sido humilhada por algo que veio-lhe naturalmente. Um
desconfortável sentimento de ciúme me ameaçou, e eu não estava disposto
a trazer seu ex para o quarto, então pensei que melhor não responder a
sua pergunta, agora. Sorri e beijei sua testa. "Nós vamos ter que
descobrir, não vamos?" E então virei-me de repente e pairei
sobre ela, beijando-a na boca uma vez, duro, enquanto
trouxe seus braços para cima e coloquei suas mãos acima da cabeça. Ela riu, e
então se contorceu embaixo de mim, o momento transformando luz e paquera.

Eu beijei-a novamente e deixei-a ir. "Nós não usamos preservativo", eu


disse, meus olhos se movendo sobre seu rosto para avaliar sua reação. Eu só
percebi depois que, pela primeira vez, nem mesmo pensei sobre isso. De
alguma forma, porém, eu não estava muito preocupado. Eu estava preocupado
que ela poderia estar, embora ela não tivesse falado também.

Ela hesitou, obviamente apenas considerando-o agora, pela primeira


vez, também. "Uma vez é provavelmente OK. Vou começar o controle de
natalidade, assim não teremos que pensar sobre isso."

"Tudo bem", eu disse, acenando com a cabeça e pensando sobre a


minha falta de preocupação. Nós estaríamos seguros a partir de agora, mas
nós éramos casados. Tínhamos um lar. Eu não pensei que estava pronto para
crianças, nunca tinha sequer pensado nisso. Mas, também, não seria uma
tragédia se acontecesse. Eu queria a minha nova esposa para mim por um
tempo, mas, se isso acontecer, nós daríamos um jeito.

"Precisa de um pouco de água?" Eu perguntei, esfregando o nariz ao


longo dela e depois beijando o canto de sua boca.

"Sim, por favor", disse ela.

Levantei-me enquanto Kira sentava-se, movendo-se para trás contra os


travesseiros na cabeceira da cama. Eu levei um momento para observá-la: seu
cabelo de mogno espalhado ao seu redor, seus olhos verdes preguiçosos e
meio fechados, a expressão em seu rosto de pura satisfação, sua beleza nua
totalmente em exibição – seu lindo corpo que eu tinha acabado de estar dentro.
Antes que eu esquecesse a água e voltasse para a cama para
desfrutá-la de novo, eu virei-me e fui ao banheiro. Quando peguei
um vislumbre de mim mesmo no espelho, fiquei surpreso ao
ver o sorriso que eu nem tinha percebido que estava usando.

"Você vai me contar sobre isso?" ela perguntou suavemente, inclinando-


se e beijando meu pescoço. Nós tínhamos acabado de fazer amor pela
segunda vez, e estávamos deitados contra os travesseiros, a cabeça de Kira
descansando em meu peito.

Fiz uma pausa, confuso por um segundo sobre o que ela poderia estar
falando. "Você quer dizer sobre a prisão?"

Ela assentiu com a cabeça, os lábios ainda na minha pele, o perfume de


seus cabelos flutuando em mim e fazendo-me sentir pacífico e satisfeito.

Eu suspirei. Eu queria que ela soubesse tudo sobre mim. Eu queria


compartilhar com ela as coisas que eu nunca tinha compartilhado com
ninguém, mas forçar as palavras para fora era difícil, e algo em que eu não
tinha qualquer prática.

Alisei minha mão pelo seu cabelo sedoso, agarrando um punhado dele.
"Eu tinha acabado de voltar de Nova York, onde eu tinha ido ver minha mãe."

"Você foi ver sua mãe?" ela perguntou, surpresa.

Eu balancei a cabeça. "A viagem praticamente terminou antes de sequer


começar. Eu tentei colocá-la fora da minha mente. Mas naquela época, eu...
bem, eu tinha me graduado na faculdade, e pensei que se ela me visse, veria
o homem que eu tinha me tornado E ela iria, eu não sei, cair de joelhos e
implorar-me perdão. Eu imaginei muita coisa, tão estúpido quanto
isso soa." Fiz um pequeno som de escárnio. "Eu voei para Nova
York e observei ela levantar, ir até a porta com nenhum
convite." Fiquei em silêncio por um momento, lembrando-me da esperança que
eu carregava tão próxima à superfície quando estava em frente ao seu
apartamento. "Ela era casada, tinha uma família - dois filhos jovens."

"Ela deve ter ficado feliz que você foi vê-la", disse ela baixinho.

Eu fiz um som que teria sido uma risada se houvesse qualquer diversão.
"Não. Ela era tão amarga – disse-me que eu arruinei sua vida, disse-me que
tinha estado à beira de uma grande carreira quando eu coloquei um fim nisso.
Ela disse que estava feliz que não precisava olhar para mim todos os dias e se
lembrar de tudo o que podia ter tido. Em seguida, ela me pediu para sair. A pior
parte, porém, foi o jeito que ela olhou para os dois outros garotos enquanto eu
estava lá. E eu percebi que não era que ela era incapaz de amar - era apenas
que ela era incapaz de me amar." Eu entreguei as palavras tão casualmente
quanto pude, mas senti o leve rubor em minhas próprias maçãs do rosto. A
lembrança desse momento ainda ardia como uma marca em brasa.

"Gray", disse ela, todo um mundo de compaixão em seus olhos quando


ela estendeu a mão e acariciou minha bochecha. Inclinei-me para ela.

"Eu voei para San Francisco e decidi ir a um bar. Eu precisava de uma


bebida, ou dez."

"Você estava machucado", disse ela.

"Eu... Sim. Deus, se eu tivesse somente pego a estrada e voltado para


casa", eu admiti. Minha voz falhou na palavra final, enchendo-me de
arrependimento. Kira colocou os braços em volta do meu corpo e abraçou-me
com ela.

"Estava no bar por cerca de uma hora quando encontrei Brent Riley,
um garoto rico que tinha conhecido através de conhecidos, e com
quem tinha ido a algumas festas ao longo dos anos. Sua família
vive em uma cidade cerca de meia hora a partir daqui.
Ele estava em San Francisco para sua despedida de solteiro - havia todo um
grupo deles lá. Fiquei com eles durante um tempo. Brent e eu nunca tínhamos
nos dado bem, no entanto. Ele era um verdadeiro idiota - o tipo de pessoa que
parece perfeito e íntegro para o mundo exterior, mas nos bastidores é
assustador e egoísta."

Ela assentiu com a cabeça. "Eu estou um pouco familiarizada com o


tipo", disse ela ironicamente. Eu beijei sua testa suavemente, sabendo que ela
estava pensando em Cooper. Ou talvez em seu pai. Ou em ambos.

"Sim, então, estávamos andando do lado de fora do estacionamento e


ele disse que tinha drogado uma garota, e que ele e os outros caras estavam
indo de volta para o seu hotel e se divertir." Kira olhou para cima em mim, e
seus olhos se arregalaram no que parecia surpresa e repulsa. "Ele perguntou
se eu desejava participar, e apontou para um carro onde uma garota estava
caída no banco traseiro. Eu meio que fiquei um pouco louco." Fiz uma pausa.
"Eu estava procurando por uma briga, Kira. Congratulei-me com uma razão
para lutar com ele".

"Foi uma boa razão, Gray," ela sussurrou.

Deixei escapar um assobio alto de ar. "Talvez. Eu o atingi com um


direito em seu rosto, mas ele foi o único que me empurrou primeiro. E era tudo
que eu precisava. Eu não lhe mostrei nenhuma misericórdia. Ele conseguiu
alguns bons golpes, mas a maioria dos socos eram meus. Eu gostei. E então
ele caiu..." Fiz uma pausa, fechando os olhos quando imaginei o momento
terrível. "O modo como ele caiu... Eu soube imediatamente que ele estava
morto. As pessoas começaram a dispersar, carros partiram, a polícia
chegou..."

Ela olhou para mim, seus olhos com tanta compaixão e


compreensão que eu queria cair neles, acreditando que
encontraria a redenção lá. "Você não teve a intenção
de matá-lo", disse ela.

"Não. Deus, não, eu nunca quis matá-lo. Eu queria machucá-lo, ensinar-


lhe uma lição. Atuei como seu juiz, júri e, como se viu, seu carrasco naquela
noite."

Kira levou a mão para cima e correu o polegar sobre meu rosto. Como
ela podia olhar para mim com tanto amor em seus olhos depois do que eu tinha
compartilhado com ela? Mas, no entanto, ela fez.

"Será que eles nunca encontraram a menina?"

Eu pressionei meus lábios juntos. "Sim, eles encontraram, mas era tarde
demais para fazer qualquer teste de drogas. Minha defesa não poderia usá-la
no julgamento." Eu respirei fundo. "Minha defesa. Que piada. Meu pai não
pagaria por um advogado – deixou-me enforcar", eu disse, incapaz de manter
a dor e amargura da minha voz. "Eu tive que contratar um defensor público. O
cara era totalmente incompetente - e até mesmo se ele não fosse, o seu
número de casos era tão grande que ele não teria sido capaz de fazer muito
por mim, de qualquer maneira. Ainda assim, porém, ele tinha certeza que eu só
ficaria o tempo mínimo para o que aconteceu - seis meses no máximo, serviço
comunitário na melhor das hipóteses. E assim, quando o juiz voltou com cinco
anos, eu era... Eu fiquei derrubado, chocado. Parecia que minha vida tinha
acabado."

Senti o corpo de Kira ficar tenso, mas ela ainda permaneceu. Eu soltei
uma respiração profunda. "Eu esperei uma visita do meu pai – apenas uma vez
- mas ele não o fez. E então Shane veio ver-me, para me dizer que tinha
casado com Vanessa..." A dor daquele momento ainda me afetava, mesmo
que o resultado não mais o fizesse. “Eu estava devastado. E então eu
cortei Shane fora também, excluindo-o fora da minha lista de
visitantes. Ele tentou. Todos esses anos, ele nunca parou de
escrever, tentando me visitar. Assim como Vanessa.”

Kira ergueu a cabeça para olhar para mim. "Deve ter sido terrível para
você. Você deve ter se sentido abandonado, tão enganado."

Concordei, sabendo o quanto ela entendia. "Eu não teria sobrevivido se


não fosse por Harley. E você, bruxinha, tinha tudo a ver com isso." Sua
sobrancelha arqueou.

"Como?"

Eu contei-lhe o que Harley tinha compartilhado comigo. Ela apoiou o


queixo no meu peito, um pequeno sorriso sereno nos lábios. "Talvez, de
alguma forma, eu estivesse lá com você, então," ela sussurrou. "Não soa
maluco?"

Eu ri. "Não, faz sentido para mim." Eu olhei para ela, meu coração
batendo no meu peito. Seu doce corpo macio continuava pressionado contra o
meu, e surpreendentemente o desejo encheu meu corpo novamente. Mas a dor
não era apenas entre as minhas pernas. A dor era no meu coração. Eu queria
ela em todos os sentidos que um homem pode querer uma mulher.

Eu te amo. Eu sempre te amarei, eu queria professar, mas as palavras


ficaram presas na minha garganta, medo subindo para engolir qualquer som.
Em vez disso eu me inclinei e beijei-a, rendendo-me, mas não completamente.
Eu não era corajoso o suficiente. Ainda não.
Capítulo Vinte e Um
Kira

Como era estranho estar no amor com o meu marido. Estranho, mas
completamente maravilhoso. Eu encontrei-me andando por Hawthorn Vineyard
com um pequeno sorriso sonhador em meus lábios com mais frequentemente
do que não. Eu mudei minhas coisas para o quarto de Grayson, e começamos
novamente, agora como um casal real. Eu me senti como se estivesse num
estado constante de tonturas, não sendo capaz de acreditar que isso era real.

Nós dissemos adeus para Shane e Vanessa, prometendo-lhes que uma


vez que a colheita de outono tivesse acabado, iríamos passar algum tempo
com eles em sua casa de praia em San Diego. Quão diferente sua partida foi
de sua chegada. Eu sorri para mim mesma com o pensamento, rindo com a
lembrança de Grayson e eu esparramados no chão do vestíbulo, pensando que
talvez precisávamos de uma revanche já que O Dragão ainda estava sob falsa
a impressão que ganhado a corrida de corrimão.

Passei os dias organizando seu escritório, pagando a grande pilha de


contas acumuladas e fazendo o meu caminho através de seis anos de registros
contábeis. Não seria um trabalho rápido ou fácil. Ainda assim, fiquei
determinada a entender o que tinha acontecido para provocar o rápido
declínio da vinha que agora era a minha casa, e que continuaria sendo de
agora em diante. Eu não deixaria isso acontecer novamente.
Esperei com grande expectativa Grayson acabar seu trabalho no final de
cada dia, porque então poderíamos jantar juntos. E então daríamos longos
passeios ao redor do vinhedo, conversando e rindo, compartilhando segredos e
aprendendo um sobre o outro, como se estivéssemos namorando
recentemente. Para todos os propósitos e efeitos isso é o que estávamos
fazendo, só para mim, com o elemento adicional de já estar apaixonada.

E eu sonhava com o dia em que ele se apaixonaria por mim, também.

Quando a hora fose decente suficiente, ou às vezes até mesmo quando


não era, nós nos retirávamos para a nossa cama, onde passamos muitas
noites fazendo amor. Eu aprendi coisas sobre Grayson que o fez ficar
selvagem com paixão, descobri formas de usar meu corpo e minha boca para
obrigá-lo a abandonar um pouco desse controle que ele sempre parecia
carregar. E eu lhe permiti me conhecer também, mais profunda e intimamente
do que qualquer um tinha antes. Com cada gemido, cada masculino suspiro de
ar, cada carícia trêmula, Grayson assegurou-me que Cooper tinha estado
errado - eu podia proporcionar alegria e satisfação na cama.

Quando fomos para a cidade para jantar algumas vezes, várias pessoas
que estiveram na festa se aproximavam de nós para dizer Olá, e Grayson era
quente e gentil. Era quase como se eu estivesse assistindo o comportamento
frio que ele tinha adotado deslizar fora em grandes pedaços. Claro, ainda havia
aqueles que o olhavam com cautela, mas só levaria tempo para apaziguá-los
também. Eu colocaria minha mente para trabalhar, e chegaria a algumas outras
idéias, disse-lhe. Ele simplesmente riu e disse que tinha certeza que eu faria.

Certa manhã, algumas semanas depois da festa, eu decidi tomar


Sugie e passear pelo vinhedo. Todo esse tempo e eu não tinha andado
nas fileiras das plantas que eu sempre admirei à distância. O dia
estava ligeiramente frio para isso, embora o sol estivesse
brilhando – o outono estava no ar. Logo as uvas
seriam colhida e o verdadeiro trabalho em Hawthorn Vineyard começaria. Inalei
profundamente uma lufada do ar fresco com cheiro de terra e tingido com as
doces uvas em maturação. Sugie fungou para o chão, explorando as coisas
interessantes com seu nariz de cão. Grayson tinha dito que ele estava
preparado, principalmente, para a próxima colheita. Ele ainda tinha alguma
contratação para fazer mas, para além disso, todo o equipamento de trabalho
estava em ordem e pronto para funcionar.

Isso não poderia ter-me feito mais feliz - o nosso plano tinha funcionado.
A vinha estava preparada para o sucesso que não teria garantido sem o
dinheiro da minha avó. Eu olhei cegamente para os parreirais, mordendo meu
lábio. Esta manhã eu estava preocupada. Havia algo muito preocupante sobre
os arquivos de contabilidade que Walter tinha me dado. Eu não queria admitir
sequer para mim mesma o que pensei que tinha descoberto, mas quanto
maisos estudava, mais segura estava me tornando. E eu não sabia o que fazer.

"Você está imersa em pensamentos."

Eu me virei, trazendo minha mão para a boca e rindo enquanto Grayson


me mergulhou em seus braços. "Como me encontrou aqui?" Eu perguntei
quando ele pressionou os lábios na minha garganta. "Eu pensei que estava
devidamente escondida de você."

"Você nunca pode se esconder de mim. Eu sempre vou farejá-la." Então


ele colocou o nariz na minha garganta e começou a fuçar ao redor como um
cão super-ansioso. Dragão. Eu gritei, rindo da sensação de sua respiração
fazendo cócegas na minha pele. Eu o empurrei enquanto ele ria também.

"E eu que tive tanto trabalho para traçar um esquema para poder
encontrá-la sozinha em algum lugar oculto, e fazer todo tipo de coisas
draconianas sujas para o seu corpo."
Eu ri. "Você já não fez o suficiente disso?" Eu perguntei
provocativamente.

"Nunca". Ele virou-se, e foi então que avistei o cesto que ele pegou e
trouxe para onde eu estava. Ele olhou ao redor, ajustando suas vistas em uma
pequena área gramada num local quente de luz solar direta. Abrindo a cesta,
ele tirou uma grande colcha e espalhou-a no chão. Grayson virou-se para
Sugie, que estava farejando alguma coisa nas proximidades. "Dê-nos um
pouco de privacidade, Sug. Vá caçar um rato ou alguma coisa." Sugie,
encantada, passou para uma vinha mais para baixo da linha, evitando s uvas
exatamente como tinha sido treinada para fazer.

"Você tem conspirado", eu disse. "O que é isso?"

"Isto", disse ele, sentando-se e batendo um ponto ao seu lado, "é sobre
ensinar você a reconhecer os diferentes tipos de uvas. Venha aqui."

Me juntei a ele, sentando-me ao lado dele na colcha.

"Se você vai ser a boa esposa de um enólogo, então precisa conhecer a
variedade de uvas que nós cultivamos, para que, quando as pessoas
perguntarem, você possa identificá-las com confiança."

"Ah." Tentei abrir o cesto, mas ele agarrou-o fechado, me fazendo rir.

"Paciência, bruxinha. Em primeiro lugar, eu precisarei que você tire a


roupa."

Eu levantei uma sobrancelha. "Esta lição requer nudez?"

"De fato. Como todas as boas lições fazem", disse ele, olhando de
soslaio sugestivamente, o brilho de diabrura dacroniana em seus olhos
escuros. Meu coração virou e meus músculos femininos apertaram em
sua beleza masculina flagrante, tornando-o ainda mais atraente
quando ele agia como um dragão.
"Está um pouco de frio para nudez, não acha?"

"Eu vou mantê-la aquecida. Promessa".

Eu ri baixinho, mas obedeci, retirando minha camiseta de manga


comprida, chutando meus sapatos e desabotoando o botão superior do meu
jeans. Deitei-me, e Grayson suspendeu meu traseiro e puxou-os fora.

Uma onda de insegurança tomou conta de mim enquanto ele estudava-


me deitada lá apenas em meu sutiã e calcinha. Ninguém nunca tinha me
estudado tão atentamente sob a luz brilhante do sol.

"Você é tão bonita que dói", ele murmurou. Ele se inclinou, o toque
macio de seus lábios na minha garganta e, em seguida, sussurrou em meu
ouvido. "Uma vez eu pensei que quando fizesse amor com você, sempre iria
querer fazê-lo à luz, para que eu pudesse ver cada parte vibrante sua - este
bonito e ricamente-colorido cabelo", ele pegou um fio e deixou-o cair por entre
os dedos, "esses olhos tão verdes que eu quero cair neles..."

"Grayson," eu murmurei, arrastando meus dedos por seu cabelo escuro.


Meu corpoestava relaxado, aquecido sob o manto de seu calor. Ele ficou de
joelhos momentaneamente para tirar sua camiseta, e então inclinou-se para
desprender meu sutiã. Este caiu para o lado, e ele trouxe as tiras pelos meus
braços, seu olhos se demorando em meus mamilos, que se endureceram
imediatamente no ar fresco.

"Assim como pétalas de rosa", ele sussurrou. E então ele voltou por
cima de mim, sua língua deslizando em minha boca. Eu tremi, acendendo
faíscas entre as minhas pernas.

Minhas mãos patinaram por sua espinha. Sua pele parecia cetim
quente. Ele era tão amplo, tão forte em todos os lugares em
comparação com a minha suavidade – pecaminosamente e
perfeitamente masculino. Eu adorava a sensação de seu
peso em cima de mim, sentir seus músculos movendo-se sob minhas mãos,
causando um rebuliço delicioso na minha barriga. Ele era muito mais forte do
que eu, e mesmo assim me tratava tão gentilmente. O movimento lento de sua
pélvis sobre a minha fez meu sangue pegar fogo, e eu gemi em sua boca.
Tínhamos feito amor inúmeras vezes mas, de alguma forma, a cada vez eu me
senti nova, diferente.

Eu trouxe a minha mão entre nós e corri meus dedos sobre os músculos
do seu estômago, sentindo-os tensos sob o meu toque quando ele respirou. Eu
amei fazer o meu lindo marido suspirar. Ele sorriu contra a minha boca,
afastando-se para longe de mim quando eu soltei um pequeno gemido pela
perda. Ah, mas ele era o único no controle hoje. Inclinando-se, ele tirou algo do
cesto e colocou-o sobre o cobertor ao nosso lado. Um cacho de uvas. "Isso",
disse ele, sua voz rouca, "é uma uva chardonnay." Ele arrancou uma do cacho,
sugando-o entre os lábios e mordendo-a ao meio. Eu assisti fascinada quando
ele a tomou entre os dedos e trouxe-a para o meu mamilo. Eu respirei fundo,
inclinando a cabeça para trás enquanto meus olhos fechavam. A sensação da
fruta molhada e aquecida por sua boca parecia deliciosa contra a minha pele
macia. Inclinou-se para baixo ele lambeu o suco deixado pela uva, beijando
cada mamilo antes de colocar o pedaço de uva em meus lábios.

"O sabor de uma uva chardonnay é geralmente neutro; os sabores mais


acentuados são trazidos pelo carvalho", ele disse, esfregando-a em minha
boca. Lambi meus lábios enquanto ele observava minha língua, seus olhos
escurecendo e preguiçosos com desejo. Eu vi o pulso em seu pescoço batendo
rapidamente. Peguei a uva entre meus dentes, fechando meus olhos com a
explosão de doçura em toda a minha língua. Grayson se inclinou e beijou-me
novamente, rodando sua língua na minha boca.
"Hmm," ele murmurou contra a minha orelha quando se afastou da
minha boca. "Você está indo bem até agora. Uma estudante muito atenta", ele
brincou.

"Você é um pouco difícil de ignorar."

Seus lábios se inclinaram em um pequeno sorriso satisfeito, e ele se


inclinou para trás e puxou outro cacho de uvas da cesta, estas roxo azuladas.
"Cabernet Sauvignon", disse ele em voz baixa. Ele novamente tomou um grão
nos lábios e mordeu-o ao meio, arrastando-o para baixo pela minha barriga.
Inclinando-se para lamber o suco, a sensação de sua língua quente sobre a
pele sensível do meu estômago fez com que meu pulso pulasse
freneticamente. Agarrei sua cabeça em minhas mãos, ofegando um suspiro.
Ele levantou a cabeça e, por um breve segundo nossos olhos se encontraram e
seguraram, algo não dito fluindo entre nós.

Eu te amo, eu pensei. Meu coração é seu. Eu deixei minha cabeça cair


para trás, com muito medo de dizer as palavras, com medo que ele não as diria
de volta.

"Estas uvas fazem um vinho encorpado", disse ele, sua voz soando
como se ele estivesse lutando pelo controle. Eu sempre me lembraria desta
lição; eu me lembraria de cada palavra. De todas as sensações.

Antes mesmo que eu percebesse Grayson tinha se levantado e


aparentemente tirado os sapatos, já que ele estava agora tirando seu jeans.
Ele estava de volta ao meu lado em apenas alguns segundos, arrancando
outra uva de um grupo diferente de frutas roxo profundo. Ele segurou-a entre
os dentes e enfiou os polegares na minha calcinha. Quando eu levantei meus
quadris, ele puxou-a e jogou-a de lado. Ajoelhando ao meu lado ele
passou o dedo indicador entre as minhas pernas e eu gemi,
abrindo-me para ele. Ele correu a uva sobre a minha pele
mais sensível enquanto eu lutava para controlar meu
quadril, evitando empurra-lo em sua direção, querendo mais. "Merlot", ele
praticamente rosnou. "Produz vinhos com sabores ricos." Eu suspirei em
tormento e alívio quando ele lambeu o suco. Quando sua língua rodou e
enrolou em mim o prazer foi tão intenso que eu pensei que teria um orgasmo
em meros segundos. Eu me contorci, ofegando seu nome. E de repente ele
tomou conta de mim de novo, minha pele fria aquecida novamente pela
cobertura de seu calor. Ele tomou-se em sua mão e esfregou a cabeça inchada
em minha entrada enquanto eu inclinava meus quadris em sua direção num
convite aberto.

"Sim", ele respirou, empurrando para dentro.

Minha respiração ficou presa na sensação agora familiar dele me


enchendo. Nada era mais maravilhoso. Nada.

Exceto, sim, havia algo.

Ele começou a empurrar.

Deixei escapar um suspiro agudo com o súbito prazer intenso, e corri


minhas mãos por suas costas, terminando na sua bunda, saboreando a
sensação de seus músculos duros trabalhando sob minhas mãos. Nos
movemos juntos, e como a poesia sensual o prazer se construiu mais e mais
alto, até que não havia mais para onde ir, exceto sobre a borda. Eu gritei,
espasmos felizes forçando meu corpo enquanto distantemente ouvia Grayson
grunhir seu próprio clímax, seus quadris dando dois últimos impulsos
desajeitados quando ele gozou tremendo e, em seguida, respirando
asperamente na curva do meu pescoço. O mundo ainda estava calmo
quando eu flutuei de volta à Terra, a respiração de Grayson lentamente
irregular contra a minha pele. As nuvens flutuavam preguiçosamente
acima de nós. Pássaros clamavam nas árvores ao redor, e o
coração de meu marido batia contra o meu próprio. E eu me senti como se o
mundo fosse apenas cheio de beleza.

"Que outras lições posso ansiar como a esposa de um enólogo?" Eu


perguntei, sem fôlego. Grayson riu contra a minha pele.

"Oh, eu tenho um montão de instruções a dar. Isso é apenas o começo."


Ele rolou de cima de mim e beijou-me mais uma vez, sorrindo contra minha
boca. Eu tremi um pouco no ar fresco conforme me sentava e puxava nossas
roupas. Grayson tirou uma garrafa térmica de café, alguns bolinhos de laranja
cranberry de Charlotte e um recipiente plástico com morangos. Nós comemos o
nosso pequeno almoço/piquenique juntos, rindo e conversando. E se havia
felicidade maior do que isso, eu pensei, eu não poderia imaginar o que era.

Na tarde seguinte, a chuva veio para baixo. Ela tamborilou na janela,


pintando o mundo exterior em aquarelas enevoadas. Sentei-me no escritório de
Grayson, olhando para as árvores de carvalho e para os portões da frente mais
além, as impressões de registros contábeis espalhadas sobre a mesa
anteriormente limpa. Eu tinha organizado seu escritório, e agora tudo tinha um
lugar, desde uma pasta de arquivo rotulada ordenadamente em sua gaveta da
mesa até uma das bandejas com papel empilhado sobre ela. Quando me
levantei, Sugie se afastou dos meus pés e bocejou.

"Fique aqui, menina," eu acalmei. "Eu já volto."

Eu encontrei Charlotte e Walter na cozinha, sentados ao lado um


do outro na grande mesa de jantar, uma xícara de chá na frente
de cada um.
"Oh, olá, querida. Você gostaria de se juntar a nós para uma xícara de
chá? A temperatura realmente caiu hoje."

"Claro. Mas eu mesma pego a caneca. Fique aí", disse a Charlotte


quando ela começou a ficar de pé. Eu sentei-me à mesa, segurando meu copo
em direção a Charlotte quando ela derramou chá de um pote que já estava na
mesa. Agradecendo-lhe, coloquei minhas mãos em torno da caneca morna e
deixei o calor escoar na minha pele.

"Você está bem?" Charlotte perguntou, uma nota de preocupação em


seu tom. "Está tudo bem com você e Gray? Parece -"

"Sim, está tudo bem com a gente." Eu sorri. "Melhor do que bem." Eu
mordi meu lábio. "É outra coisa." Eu olhei para trás e para frente entre
Charlotte e Walter, não querendo pôr em palavras o que eu suspeitava, mas
sabendo que eu tinha que fazer.

"O que foi?" Perguntou Charlotte. Ela e Walter pareciam tornar-se muito
quietos.

"Eu fui inspecionar os registos contabilísticos antigos e parece... Bem,


parece como se Ford Hawthorn propositadamente tivesse levado esta vinha à
falência. Isso é mesmo possível?" Eu sussurrei.

Charlotte e Walter olharam para o outro, suas expressões sombrias.

"Você não deve dizer a Grayson o que descobriu", disse Charlotte. "Eu
não sou geralmente a favor de reter a verdade, mas... ele sofreu o suficiente
nas mãos de seu pai e isto... o destruiria. Talvez algum dia... Eu acho que
nós vamos saber quando for a hora certa, mas não agora. Ele está apenas
começando a curar."

Eu exalei um grande fôlego. "Então é verdade", eu botei


para fora, um arrepio correndo pelo meu corpo. "Por quê? Por
que ele faria isso?"
"Esta foi sua última mensagem para Grayson", disse Charlotte, com os
olhos lacrimejando. "Walter tentou evitar, tanto quanto ele poderia - tentou
preservar qualquer coisa possível, mas quando Ford descobriu que estava
doente, e Shane e Jessica disseram que não queriam ter nada a ver com a
vinha, ele percebeu que só poderia deixá-la para Grayson, e então começou a
destruí-la. Felizmente ele tinha menos tempo do que pensava, mas ainda
assim fez bastante dano, mesmo no curto período de tempo que teve."

Eu me senti mal, náuseas agitando meu estômago. "Ele o odiava tanto


assim?" Meu corpo de repente sentiu um calafrio apesar do chá quente em
minhas mãos. Eu percebi que estava apertando a caneca, e soltei minha
aderência.

"Ele odiava a si mesmo", Charlotte disse, e pela primeira vez desde que
eu tinha a conhecido ouvi raiva aquecida em sua voz. "E ele canalizou isso em
seu relacionamento com seu filho. Ele quis deixar um inútil pedaço de nada a
Grayson como sua última bofetada em seu rosto. Foi cruel e feio e vingativo e-"

"É mentira," a voz de Grayson veio da porta. Todos nos assustamos.


Chá quente espirrou nas minhas mãos quando meu corpo estremeceu.

"Grayson", eu respirei.

"Não", ele disse, mas sua voz quebrou quando ele caiu contra o batente
da porta. Charlotte, Walter e eu nos levantamos rapidamente e corremos para
ele.

"Gray", Charlotte disse, estendendo a mão para agarrar a dele, sua


expressão profundamente atormentada.

"Diga-me que é mentira, Charlotte," ele disse, seus olhos suplicando.

Seu rosto registrou uma profunda tristeza, mas ela baixou


os olhos. Ela não pode mentir em resposta a uma pergunta
direta, não para Grayson. O estrago já estava feito.
Grayson virou-se e caminhou rapidamente para fora da sala, indo para as
escadas.

Charlotte e Walter passaram a segui-lo, mas eu coloquei minha mão


para cima. "Deixe-me falar com ele", eu disse. "Por favor."

Ambos assentiram, Charlotte torcendo as mãos, parecendo angustiada.

"Se você precisar de nós, estaremos aqui", disse Walter. Eu balancei a


cabeça, oferecendo um pequeno sorriso triste.

Subi as escadas, descrença ainda golpeando meu coração. Como isso


foi possível? Ao analisar os registros eu fiquei profundamente desconfiada,
mas tinha dificuldade em acreditar que poderia realmente ser verdade.

Alguém poderia ser tão mau? Alguém poderia odiar tanto assim no final
de sua vida? Esse foi o legado ele optou por deixar? Eu não poderia envolver
minha mente em torno disso. Esse tipo de vingança era totalmente irreal na
minha mente. Entrei no quarto principal que Grayson e eu compartilhamos e
encontrei-o em pé diante da janela, olhando para a chuva.

"Gray", eu disse timidamente, aproximando-me. Ele se virou para mim, e


o olhar de devastação austero em sua rosto me parou no meu rastro. Eu
respirei fundo.

"Eu fiz uma promessa a ele", engasgou. "Eu pensei... E todo esse
tempo..." Ele afastou-se da janela, pressionando as costas contra a parede ao
lado dele. Suas pernas entraram em colapso sob ele, e ele deslizou para o
chão, enterrando a cabeça nos braços. Eu soltei um pequeno grito assustado
e corri para a frente, caindo sobre o tapete e passando os braços ao redor de
seu corpo tremulo. E enquanto eu o segurava ele fez o que provavelmente
tinha precisado fazer por seis longos anos, mais provavelmente
por toda a sua vida: ele chorou.
Capítulo Vinte e Dois
Kira

Hawthorn Vineyard parecia muito tranqüila. Grayson tinha ficado em


nosso quarto pelo resto do dia, não retornando ao trabalho, permanecendo
deitado na cama e olhando para a parede. Eu vim para o quarto várias vezes,
mas ele não tinha falado muito comigo. Eu imaginei que ele só precisava
processar o que descobriu. Quem não precisaria? Ele estava profundamente
ferido e angustiado. O sistema de crenças que ele tinha mantido perto de seu
coração por tanto tempo estava agora completamente destruído. Ele tinha
vivido para cumprir uma promessa – um voto singular embasado no que ele
agora sabia que eram mentiras. E a verdade que havia lá embaixo era feia e
esmagava a alma. Eu não precisava saber se ele se sentia sem direção - eu
estive lá uma vez, também. Eu só queria que ele falasse comigo.

Eu tinha acordado no meio da noite e procurado pelo meu marido, mas


seu lado da cama estava vazio e frio. E agora eu estava andando em minha
pequena camisola através de uma casa escura e silenciosa, procurando por
ele. "Grayson?" Eu chamei baixinho. Sem resposta. Fiquei parada e ouvi, e
então finalmente escutei algo muito distante que soava como vidro
quebrando.

Eu segui o barulho distante até que cheguei a porta da sala que


agora eu sabia que ia até uma adega de vinhos, embora nunca
tivesse entrado ali. Apenas uma pequena fenda estava aberta,
uma luz brilhando de baixo para cima. "Grayson?" Eu
chamei novamente. Quando ainda não obtive resposta, eu timidamente abri a
porta e desci a estreita escada em espiral. Os sons ficaram mais distintos, um
estrondo alarmante levando-me a fazer uma pausa antes de avançar.

Quando cheguei ao fundo e espiei ao virar a esquina vi Grayson sentado


no chão, inclinando-se contra uma prateleira e bebendo uma garrafa de vinho.
Ele me viu e levou a garrafa para longe de seus lábios, limpando a boca com
as costas de uma mão e segurando o vinho em minha direção. "Kira,
experimente. É um Domaine Lefl... blá blá blá quem se importa, a partir de
França", ele arrastava a fala ligeiramente, me dando um sorriso irônico. Então
ele jogou a garrafa e viu como ela se espatifou no chão de cimento no meio
várias outras garrafas quebradas, seus conteúdos juntos numa mistura agora
inútil de vinho, vidro, e rótulos de garrafas encharcadas. "Opa, desculpe,
deslizou para fora da minha mão. Eu não sou normalmente tão propenso a
acidentes. Aqui, vamos tentar outra?" Ele chegou por trás dele e apanhou uma
garrafa diferente da prateleira e pegou o abridor de vinho ao lado dele no chão.
Corri para a frente, ajoelhando-me ao seu lado.

"Grayson," eu disse, inclinando-me para a frente e colocando uma mão


em seu rosto, "o que você está fazendo?"

Ele parou em seus esforços para abrir a garrafa, olhando com os olhos
turvos para mim. "Estou experimentando a coleção de vinhos raros do meu
pai", disse ele." Walter fez um bom trabalho protegendo-a antes que ele
pudesse destruir ele mesmo, mas estou realmente apenas fazendo o que ele
teria feito se tivesse sido dada a oportunidade." Ele fez uma pausa, mágoa
deslizando sobre suas características antes que ele continuasse. "Você sabe
que de todas as coisas que eu vendi nesta casa, eu evitei estas, porque eu
acreditava que decepcionaria o meu pai? Quando você veio ao
longo do dia, e eu não tive paz de espírito para lutar contra isso",
ele acenou com o braço para trás da prateleira atrás dele
que ainda tinha várias garrafas, "eu estava tão aliviada que faria qualquer coisa
para deixar meu pai orgulhoso." Ele riu, um som oco preenchido apenas com a
dor.

Ah, então ele estava determinado a tomar na justiça o que podia com as
próprias mãos. Só que, se o olhar no seu rosto era qualquer indicação, não o
satisfazia.

"Então," eu disse, lançando-me mais perto, "sobre nós vendermos o


resto deles em vez de dar-lhe o satisfação de fazer exatamente o que ele teria
feito? Que tal fazer algum dinheiro com isso e comprar... um macaco de
estimação e nomeá-lo com o nome do seu pai? Ou... uma bicicleta dupla-
sentado? Nós vamos andar por aí por Napa falando sobre quão burro seu pai
era. Ou... um papagaio! Vamos ensiná-lo a dizer coisas desagradáveis
repetidamente sobre Ford Hawthorn." Eu coloquei minha mão em seu joelho.
"Há coisas melhores para fazer do que isto. Nós vamos chegar a algo juntos."

Grayson tocou minha coxa nua com um dedo e arrastou-o para cima,
levantando o material da minha camisola com ele. "Você é tão bonita", disse
ele.

Sorri um pequeno sorriso. "E você está tão bêbado."

"In Vino Veritas", ele sussurrou, repetindo a frase gravada acima da


porta que eu tinha a intenção de procurar o significado. Seu dedo traçou o cós
da minha calcinha. "No vinho há uma verdade." Ah. Ele fez uma pausa, sua
testa franzida. "Só que aqui existem apenas mentiras e enganos."

"Grayson, não..."

Ele balançou a cabeça, trazendo a mão. "Pense nisso, apesar de tudo.


Era realmente como um perfeitamente desonesto plano - a
maneira perfeita para me dizer o quanto ele me odiava, a
vingança perfeita. Se ele tivesse apenas um pouco mais
de tempo, eu poderia ter vindo em casa para um monte de cinzas inúteis." Ele
deu uma forte e trêmula respiração. "Eu pensei que era um presente, e foi
exatamente o oposto. Depois de tudo... Eu pensei que finalmente... Jesus. Dói
muito, Kira", disse ele, sua voz cheia de angústia. O olhar em seu rosto me fez
sentir como se meu coração fosse quebrar em pedaços minúsculos e se juntar
as garrafas quebradas espalhadas pelo chão. "Há tanta dor", disse ele num
sussurro quebrado.

"Eu sei", eu disse, movendo-me até ele para levá-lo em meus braços
conforme ele inclinava a cabeça no meu peito. Deus, eu conhecia a dor que ele
estava sentindo agora. Eu entendia, e eu sofria por ele. "Ouça-me, Grayson."
Eu me inclinei e tomei seu rosto em minhas mãos, olhando-o nos olhos. "Há
sempre dor nesta vida. Não só para mim, não apenas para você – mas para
todos. Você não pode evitár. E, às vezes, a dor é tão grande que parece como
se esculpisse a própria essência de quem você é. Mas isso não acontece, não
se você não permitir. Ela esculpe um lugar em você, sim, mas o amor é
destinado a preencher esse espaço. Se você deixá-la, a dor toma mais espaço
do que o amor dentro de você. E o amor que carregamos dentro de nós torna-
nos fortes quando nada mais pode."

Seus olhos escuros procuraram os meus. "Você acredita nisso?" ele


perguntou.

"Eu sei disso."

Grayson deixou escapar um suspiro longo e instável, enterrando a


cabeça no meu peito novamente. "Minha Kira..." ele murmurou, "se eu
pudesse acreditar nisso, também."

"Você pode. Com o tempo você vai. Deixe que seja o legado
que seu pai deixou a você. Essa é a vingança perfeita."
Sentamos dessa forma pelo que pareceu um longo tempo, e eu segurei-
o até que minhas pernas começaram a ter cãibras.

Grayson finalmente olhou para mim, passando o polegar sobre minha


bochecha, e murmurou, "será que arruinara o momento se eu lhe dizer que
quero te levar lá em cima e te foder até que eu não consiga ver direito?"

Eu ri baixinho. "Eu estou à seu serviço. Mas, primeiro vamos fazer um


café e te deixar sóbrio. Você vai se sentir como o inferno amanhã. E nós temos
um longo dia de macaco para fazer compras."

Grayson soltou uma risada, que terminou em metade gemido/metade


suspiro.

"Ok", ele finalmente disse. "OK."

"Grayson não está trabalhando hoje?" Charlotte perguntou, seu rosto um


estudo em preocupação.

"Acho que não. Ele não saiu da cama esta manhã. Mas ele precisa
dormir - ele bebeu um pouco ontem à noite." Eu tinha dito a Walter sobre a
bagunça no porão, e ele já tinha limpado, fazendo um inventário das garrafas
que Grayson não tinha esmagado. Talvez o macaco fosse um pouco
exagerado, mas eu estava falando serio sobre o papagaio.

"Talvez eu devesse ir lá em cima e falar com ele..." Charlotte disse.

Eu balancei a cabeça. "Mais tarde, Charlotte, ele precisa dormir. Mas


eu tenho certeza que ele apreciaria o que você tem a dizer. Ele
parece tão" eu mordi meu lábio por um momento, "triste-
deprimido".
"Eu tenho certeza que é exatamente como ele está", disse ela, e
balançou a cabeça tristemente. "E ele não pode está feliz comigo, nem com
Walter..."

"Ele vai superar."

Charlotte assentiu, mas seu olhar era duvidoso e sua falta de confiança
só serviu para me fazer mais nervosa. Ela parecia tão perturbada que eu dei-
lhe um abraço. "Ele vai ficar bem", eu disse. Mas meu tom estava sem
convicção, mesmo para os meus próprios ouvidos. O olhar perdido em seus
olhos quando eu tinha deixado o quarto esta manhã tinha enviado um calafrio
através do meu sangue.

E lá estava o fato de que eu estava escondendo alguma coisa dele


também. No início, não parecia que a informação precisava ser partilhada. Mas
então tudo tinha acontecido tão rapidamente... e agora, isto era um segredo
entre nós, e eu sabia que precisava dizer-lhe, mas não sabia como ele reagiria.
Ele ainda estava no chão, tão emocionalmente instável. Quantos segredos ele
poderia processar agora? Com quanta dor uma pessoa pode lidar antes de se
quebrar?

Sou eu de novo, vovó. Se você pudesse me enviar alguma sabedoria...


o que eu faço?

Charlotte me puxou do meu devaneio preocupado. "Gray recebeu um


telefonema esta manhã dizendo que seus rótulos de garrafas estão prontos",
disse ela. "Eu acho que vou pra cidade buscar para ele."

"Eu vou cuidar disso. Eu preciso sair para um pouco, de qualquer


maneira. Sinto que estou respirando no pescoço de Grayson. Ele
provavelmente precisa de um pouco de tempo para processar tudo
por conta própria. Eu não quero ficar no seu caminho. Se ele vier
para baixo, você vai me enviar um texto?"
"Sim, claro, querida. Nos vemos em breve."

Eu dirigi para a cidade, indo direto para a pequena gráfica, onde


Grayson tinha encomendado os rótulos para o vinho prestes a ser engarrafado.
A mulher na recepção trouxe a caixa para mim e, em seguida, passei meu
cartão bancário, franzindo a testa ligeiramente na máquina. "Eu sinto muito, Sra
Hawthorn, diz que seu cartão foi recusado."

"O quê? Isso não pode estar certo", eu disse. Havia muito dinheiro na
conta. "Será que pode tentar novamente?" Ela fez, e obteve o mesmo
resultado, parecendo desconfortável.

Apesar do frio que passou pela minha espinha eu balancei minha


cabeça. "Meu marido provavelmente comprou algo e não me disse. Eu vou ter
que parar no banco. Homens."

Ela riu suavemente. "Isso já aconteceu comigo antes, também. Você


quer que eu tente outro cartão?"

Eu não tinha outro cartão. Eu procurei na minha bolsa, contando o


dinheiro que eu tinha. Felizmente eu tinha um pouco. Eu tinha sacado dinheiro
para dar de gorjeta aos fornecedores na festa há algumas semanas, mas no
fim Grayson tinha dado a Walter o dinheiro para isso, então eu não tinha usado
o que estava na minha carteira. Contei o dinheiro para pagar a conta e
entreguei-o, agradecendo-lhe e saindo da loja com a caixa de rótulos.

Coloquei-a no porta-malas, entrei no meu carro e fui direto para o banco.


O sentimento de pânico que tinha varrido através de mim dentro da loja de
impressão era agora um caso de explosão-máxima de zumbido de nervos.
Meu coração batia no meu peito como se estivesse pressentindo que algo
terrível estava prestes a acontecer. Oh Deus, por favor, deixe que
este seja algum mal-entendido estranho, um erro do banco,
qualquer coisa. Por favor, por favor...
Eu estacionei, e levei um momento para tomar respirações profundas e
calmantes antes de caminhar até o banco. Felizmente ele estava praticamente
vazio, e eu me aproximei de um caixa sem ter que esperar. Quando eu disse a
ela porque estava lá, ela olhou para a minha conta e franziu a testa para a tela.
"Eu sinto muito, Sra Hawthorn. Parece que sua conta foi colocada em
custódia." Oh Deus.

"Em custódia?" Eu guinchei. "Será que há uma razão de por quê?"

Ela balançou a cabeça. "Não, eu sinto muito. Você deve receber algo
por e-mail explicando se sua conta está sendo notificada ou se há outra razão
legal para a espera."

Meu coração estava batendo tão rapidamente que eu tive problemas


para recuperar o fôlego. "Você é capaz de verificar a conta do meu marido?",
perguntei. "Só para me dizer se esse bloqueio foi posto na sua, também?"

"Bem..."

"Por favor", eu disse, "eu não quero qualquer outra informação. Eu sei
que está somente em seu nome. Apenas se você pudesse..." Eu puxei uma
respiração afiada, o pânico me oprimindo por um momento. Eu trouxe a minha
mão ao meu peito. "Sinto muito."

A mulher mais velha sorriu com simpatia. "Deixe-me apenas..." Ela


começou a digitar no computador dela.

Ela franziu a testa novamente. "Sim, parece mesmo que a conta dele foi
colocada em custódia, também."

"Obrigada", eu disse, o conteúdo do meu estômago chegando em


minha garganta. Engoli pesadamente. "Eu agradeço-lhe muito."

Eu me virei para ir embora, e ela me chamou, "eu tenho


certeza que isto será esclarecido, Sra Hawthorn."
Eu virei minha cabeça, mas continuei andando. Não, não, não faria. Oh,
Deus. "Sim, eu tenho certeza. Obrigada."

Eu andei rapidamente para o meu carro, minha pele fria e espinhosa, e


uma vez que estava sentada atrás do volante eu puxei meu telefone, discando
o número do meu pai.

Ele atendeu no terceiro toque. "O que você fez?"

Pausa. "Kira."

"O dinheiro era da minha avó", eu explodi. "O que você fez?"

Eu ouvi o seu profundo suspiro e, em seguida, ele pareceu colocar a


mão sobre o receptor enquanto falava com alguém no fundo. Eu pensei ter
ouvido uma porta fechar antes dele voltar. "Ele não é certo para você, Kira. Ele
é um criminoso."

"Seu filho da puta", eu jurei. "Você fez isso. Por quê?" Minha voz falhou,
tristeza e raiva me oprimindo. "Você realmente me odeia tanto assim?" As
palavras soaram familiar. Não fiz essa mesma pergunta sobre Grayson e seu
próprio pai?

"Claro que eu não odeio você, Kira. Eu só não quero que você faça
escolhas para a sua vida que levarão você na direção errada".

"É minha vida!" Eu gritei. "Eu sou uma mulher adulta. Você não tinha o
direito de fazer isso. E agora você colocou seu negócio em risco, também - ele
tem funcionários que contam com ele."

"Se o seu marido conta com o seu dinheiro para o sucesso, então ele
não é um homem em tudo." Sua voz era firme, implacável.

"Você não tinha esse direito – sem pernas para se sustentar.


Esse dinheiro é legalmente meu. Minha avó deixou para mim."
"Sim, talvez, mas eu posso amarrá-lo no tribunal até você ver a lógica da
minha posição e a loucura de suas escolhas. Estou fazendo isso para seu
próprio bem, Kira. Eu sou seu pai. Não posso deixá-la arruinar sua vida."

Choque e horror deslizaram pela minha espinha enquanto lágrimas


deslizavam pelo meu rosto. "Você está fazendo isso para o seu próprio bem",
eu assobiei. "Você nunca deu à minha felicidade um momento de
consideração. Voce está fazendo isso por causa de seu próprio orgulho - você
não suporta me ver fazer qualquer coisa que não funciona em alguma agenda
de sua própria criação. Você não pode suportar a idéia de que eu não estou
sob seu polegar como todos os outros em seu mundo."

Ele suspirou. "Kira -"

"Você não fez o suficiente para ele?" Eu perguntei, percebendo que não
havia nada a perder agora se discutíssemos isso. Ele já tinha feito o que eu
mais temia. "Eu me lembro, você sabe. Eu estava lá quando o juiz do seu caso
chegou ao seu escritório. Ouvi o seu conselho. Eu ouvi você dizer-lhe para
lançar o livro em Grayson, para fazer dele um exemplo. E isso foi o que ele
fez."

"Eu dou um monte de conselhos às pessoas. Não há nenhuma lei contra


isso. E se esse menino teve o livro jogado nele, é porque é o que ele merecia."

Ele se embrou. A rapidez da sua resposta deu-me certeza. Ele não tinha
recordado quando fomos vê-lo em San Francisco, no entanto, eu tinha certeza
disso. Ele pesquisou Grayson mais de perto em algum momento depois disso.

Eu sabia. Mas se foi antes ou depois que ele ofereceu o dinheiro de


suborno, eu não podia dizer.

Meu pai tinha feito sua parte em oprimir Grayson ao todo.


Mas não só foi o crime de Grayson um acidente, como também
tinha sido baseado em razões corajosas - ele estava
tentando proteger alguém.

Por um momento, o único som era a minha respiração áspera enquanto


eu tentava engolir os soluços desesperados que escapavam do meu peito.
"Esses conselhos que você dá afetam vidas, papai. Vidas de seres humanos
que têm esperanças e sonhos. Como o conselho que você deu a Cooper sobre
como lidar com a situação comigo. Você acabou comigo. Você sabia disso? E
você esmagou Grayson, também. Por favor, por favor, não faça isso. Apenas
acabe com tudo que você fez e nos deixe ser felizes. Você já fez o suficiente.
Por favor." Eu chorei em seguida, um som áspero, ofegante.

"Eu sinto muito, Kira. Isto é para o seu próprio bem, e o de Cooper
também, sim. Mas você vai ver a sabedoria em minha visão algum dia. Quanto
ao seu atual marido, eu fiz-lhe uma oferta muito generosa para ir embora. Eu
sugiro que ele aceite, se não quer seu negócio falhe."

"E que cordas estão anexadas a isso?" Eu cuspi para fora.

"Não há muitas. Ele está recebendo uma quantidade significativa de


dinheiro para muito pouco sacrifício. Eu pedi apenas que ele se afastasse de
você permanentemente, e concordasse com a história que ele se aproveitou de
você - uma garota problemática com um fundo fiduciário significativo."

Muito. Pequeno. Sacrifício. Eu. Isso é o que ele pensa de mim.

Meu sangue virou água gelada, e não pelo fato de que meu pai me
jogaria debaixo do ônibus, mas por perceber que ele não tinha escrúpulos de
arruinar a vida de Grayson também. Mais uma vez. "Ele está apenas
começando a ganhar de volta a sua reputação. E agora você está pedindo-
lhe para mentir e ter as pessoas olhando para ele como um pária novamente?
Como você espera que ele faça uma vida para si mesmo em um
lugar onde as pessoas não têm respeito por ele?"
"Isso não é problema meu. Com o dinheiro que eu estou oferecendo ele
pode fazer uma vida em qualquer lugar."

Ele se via como uma espécie de herói. Seu ego era tão colossal que ele
realmente se via como um agente de justiça. Ele era verdadeiramente
delirante.

"É por isso que se casou com ele?" ele perguntou. "Outro caso de
caridade para você?"

"Não. Eu o amo", eu disse com simplicidade e sinceridade. Não havia


nenhuma razão para tentar convencê-lo de mais nada.

De repente, senti-me entorpecida. Ele nunca me deixaria em paz. Eu


passaria o resto da minha vida sendo seu peão, de alguma forma ou de outra.
Olhando fixamente sem ver pelo pára-brisa eu terminei a chamada sem mais
uma palavra.

Eu não me lembrava de dirigir de volta para casa. Casa. Outro soluço


ameaçou me sufocar quando as lágrimas deslizaram pelo meu rosto, uma mais
rápida do que a outra. "Você está bem." Eu me assegurei. "Tudo ficará bem.
Grayson e eu vamos resolver isso juntos. Ele disse que cuidaria de mim agora."
Oh Deus, mas nenhum de nós tinha um centavo em nosso nome, de novo.

Eu atravessei os portões e imediatamente notei um carro preto


estacionado na frente da fonte. Oh Deus, e agora? Quando eu parei atrás dele
Cooper saiu do banco de trás. Meu coração gaguejou novamente e, em
seguida, assumiu uma batida staccato. A este ritmo eu provavelmente morreria
de insuficiência cardíaca antes que este dia acabasse.

Eu dei um último suspiro profundo e sai do meu carro, fechando a porta


com um clique silencioso. Cooper já estava andando em minha
direção. "Kira, o que se passa?" ele perguntou, um olhar de
preocupação em seu rosto. Eu enxuguei os olhos.
"Você realmente não sabe, Cooper? Ou você está nisto também? Você
e meu pai - algum tipo de dupla demente", sugeri categoricamente.

Ele respirou fundo, vincando sua testa. "Sim, eu sei o que ele fez. Eu
sinto muito. Mas tenho que concordar com seu desejo de te tirar daqui." Ele
acenou seu braço atrás dele, para a casa de Grayson. "Ele é um assassino,
Kira", ele disse asperamente. "Você provavelmente sequer está segura."

"Eu estou um milhão de vezes mais segura com ele do que já estive
com você." Minha voz aumentou em volume quando eu cuspi as palavras para
ele. Mas, de repente outra onda de derrota caiu sobre mim. Lutar com Cooper
não resolveria esta situação. Eu mudei minha tática. "Cooper", eu disse,
aproximando-me dele, a minha voz tremendo um pouco, "Eu sei que o que
você fez foi..." Eu balancei a cabeça, procurando as palavras que iriam
convencê-lo, ao invés de motivar sua raiva, "por causa das drogas e do álcool.
Eu sei que não foi o verdadeiro você."

Ele pareceu considerar essa explicação momentaneamente, e


encontrei-o agradável. "Não foi, Kira." Mentiroso. "Não fui eu. Eu estava fora de
controle. Mas ninguém pode saber disso. Isso me arruinaria." Mas você estava
perfeitamente bem com arruinar-me.

Eu balancei a cabeça rapidamente. "Eu não quero expô-lo, Cooper. Eu


nunca vou revelar o que aconteceu entre nós. Eu vou levar a culpa. Está tudo
bem. Eu vou fazer o que me pede. Só, por favor, convença meu pai a tirar a
custódia do dinheiro da minha avó. Convença-o a deixar-nos em paz. Será que
vai realmente feri-lo elaborar um novo plano, um que não me envolva? Por
favor, Cooper, se alguma vez você me amou, por favor, deixe-me ser feliz."

Cooper mordeu preocupado seu lábio, parecendo contemplar


minhas palavras. Esperança pulou no meu peito, e eu aproximei
os poucos passos que nos separavam. "Você não sabe tudo o
que ele faz, tudo do que ele é capaz. Eu sei que você
é melhor do que ele, Coop. Não se misture com meu pai mais do que você já
fez."

"O que ele faz?" Cooper perguntou, movendo uma mecha de cabelo do
meu rosto. Olhei para a casa, com a esperança de que Grayson não estivesse
olhando pela janela. Não, ele provavelmente ainda estava dormindo. Eu não
queria que ele entrasse no meio disso. Eu precisava convencer Cooper a me
ajudar.

Eu balancei minha cabeça. "Ele manipula as pessoas para seus próprios


esquemas. Ele usou até Grayson. Ele já machucou-o, usou-o de forma tão
terrível."

"Usou-me como?" veio a voz dura e fria ao meu lado. Chupei uma
respiração irregular, meu coração pulando. Eu não tinha visto Grayson, porque
nossos carros tinham escondido-lhe quando se aproximou, e eu estava tão
concentrada em Cooper. Eu não esperava que ele estivesse trabalhando hoje,
mas ele deve ter ido, pelo menos por um pouco de tempo. Essa era a direção
de onde ele vinha.

"Grayson", eu respirei, afastando Cooper.

Sugie veio de trás de Grayson, olhando diretamente para Cooper e


deixando escapar um rosnado singular, seguido por dois latidos. Meus olhos se
arregalaram. Era a primeira vez que Sugie - pelo meu conhecimento – tinha
latido em sua vida.

"Eu acho que você deveria sair. Meu cão não gosta de você."

Cooper sorriu. "Eu tenho certeza que ela é quase tão bom juiz de
caráter quanto você é."

"Ela não mente", respondeu Grayson, sua expressão


tensa, sua voz gelada. "Ela é um cachorro, não um político.
Saia da minha propriedade."
"Eu estava de saída." Ele voltou sua atenção para mim. "Você sabe a
minha posição, Kira. Eu estou preocupado com você, assim como seu pai.
Estamos aqui para ajudá-la. Se precisar de mim, me ligue. Eu estarei aqui num
piscar de olhos."

Grayson deu um passo adiante. "Eu garanto que minha esposa não terá
nada de você – não agora, e nem no futuro."

Cooper olhou para Grayson por um momento tenso, minha respiração


suspensa e, em seguida, ele sabiamente recuou, voltando-se e caminhando
para o seu veículo. Deixei escapar um suspiro áspero.

Nem Grayson nem eu dissemos uma palavra quando Cooper entrou em


seu carro e seu motorista se afastou em torno da fonte e para fora do portão da
frente.

"Que diabos foi isso? Você estava chorando?" Grayson perguntou,


movendo-se em minha direção, um olhar em seu rosto que era um cruzamento
entre raiva, preocupação e desconfiança.

"Eu... sim." Eu soltei outro suspiro. "Nós precisamos conversar,


Grayson." Eu balancei a cabeça, os braços pendurados frouxamente em meus
lados. "Podemos entrar?"

Ele estudou meu rosto por um momento, desconfiança de repente


tomando o centro do palco. Oh Deus, eu ia machucá-lo, e ele já estava tão
magoado. Medo fez meus ombros enrolarem para frente.

Ele me levou em direção à casa enquanto eu tentei o meu melhor para


ignorar minhas pernas tremendo para segui-lo em seu escritório. Eu
perguntava-me o porquê dessa escolha, mas talvez ele tenha me levado lá
simplesmente porque era a sala mais próxima da porta da frente.
"Você quer se sentar?" Perguntei.
"Eu prefiro ficar de pé", ele respondeu laconicamente. Ele estava agindo
tão negócios – assim como eu. Eu tremi, passando os braços em volta do meu
corpo. "O que está acontecendo, Kira?" Sua postura e o olhar atento em seu
rosto me lembraram de um homem esperando um golpe.

"O dinheiro foi congelado", eu sussurrei, meu rosto desmoronando.

Sua expressão registrou primeiro a confusão e, em seguida, choque. "O


que? Como?"

Eu tomei uma profunda golfada de ar. "Meu pai... Não sei os detalhes.
Ele fez algo, fez reclamações, amarrou isto de alguma maneira até que eles
possam ser averiguados."

"Ok, bem, quaisquer reclamações que está fazendo, elas são


infundadas. Esse é o teu dinheiro, pela via das cláusulas."

"Eu sei", eu disse, minha voz embargada. "Mas ele pode amarrá-lo por
um longo tempo, ate que seremos forçados a começar a vender coisas apenas
para sobreviver. Ele pode. Ele vai."

Grayson jurou duramente, passando a mão pelo cabelo.

"Eu sinto muito. Eu o subestimei. Eu não acho..."

Grayson olhou em algum lugar além de mim, sua expressão uma


máscara ilegível, ficando em silêncio por tanto tempo que eu queria saber se
ele falaria de novo em tudo. "Por que Cooper estava aqui, e o que você estava
falando? Você mencionou que seu pai me usou", ele finalmente perguntou,
trazendo seu olhar para mim. "O que você quis dizer por isso? Conte-me."

"Cooper... Ele estava apenas, eu não sei, fingindo estar preocupado


comigo." Eu me mudei para Grayson, colocando minhas mãos em seus
bíceps e olhando para o seu rosto, usando meus olhos para
pleitear com ele. "Por favor, tente entender o que quero dizer-
lhe em seguida. Por favor, entenda porque eu só
estou dizendo a você agora. No começo eu não achei que fosse necessário...
e, depois que passou mais tempo..."

Grayson tinha endurecido como pedra, entretanto. "Desembucha, Kira.


Agora."

Eu me virei para longe dele. "Eu disse a você como estagiei para o meu
pai. Eu estava com frequência em seu escritório. Eu ouvia coisas..." Eu deixei
cair meus braços, voltando-me para Grayson, que estava ouvindo atentamente.
Eu sacudi a cabeça, tentando encontrar as palavras certas. "Meu pai, ele
sempre teve essa ideia de que, se ele tem influência com os juízes locais, ele
tem o poder supremo". A esse respeito, ele não estava errado. Verdade não
importava, fatos não importam, desde que você tenha as pessoas que tomam
as decisões finais no seu bolso.

"Ele se vira como pode, como no caso de Cooper, em que ele arranjou
favores, faz acordos... Ele tem feito isto por anos." Poder, tudo volta ao poder.

"O que isto tem a ver comigo?"

Meus olhos se moviam sobre as linhas duras de expressão de Grayson.


"Uma noite estávamos em seu escritório depois do horário. Eu estava
terminando alguns projetos enquanto esperava por ele. Juiz Wentworth, o juiz
do seu caso", eu olhei para ele, mas sua expressão não mudou, "entrou para
consultar com meu pai sobre alguns casos, um dos quais era o seu."

"Vá em frente", disse ele, assinalando um músculo em sua mandíbula


apertada.

Eu expulsei um longo suspiro. "Eu estava entregando um arquivo, e só


ouvi o suficiente... o suficiente para compreender. Era ano eleitoral, observei,
e meu pai aconselhou-o a lançar o livro em você – dar uma
sentença final para enviar a mensagem de que ele não só era
duro com crimes cometidos pelo pobres e minorias, mas
que ele também proferia duras sentenças para criminosos brancos e ricos. É
tudo um jogo - um jogo de percepções e manipulação de "fatos". Os jogadores
não importam, o indivíduo, as vidas... não importam - tudo pode ser torcido,
basta observar de um ângulo diferente. Você era um peão. E essa é a razão
pela qual você não conseguiu serviço comunitário ou uma sentença mínima,
como seu advogado acreditava que aconteceria. Por causa do meu pai você foi
embora por cinco anos. E eu... nunca esqueci o seu nome. Naquele dia, no
banco, ao ouvi e me lembrei."

Eu finalmente enfrentei um olhar para o rosto de Grayson, à procura de


compreensão, mas apesar de sua pele ter empalidecido, sua expressão
demonstrava nada exceto uma fria indiferença. "E então você decidiu me usar
também. Foi tudo uma grande armadilha."

Franzi minha testa. "O quê? Não, não é... encontrar você naquele banco
foi como se o destino-"

"Você espera que eu acredite nisso agora? Usando a mim foi


exatamente o que você fez." Ele riu, um feio som cheio de desdém. "Que
maneira perfeita de se vingar de seu próprio pai. Fale-me sobre a perfeita
vingança. Casar com o homem que ele ajudou a colocar na prisão – não
admira que ele esteja tão lívido. Jesus, você é igual a ele, conspirações...
usando as pessoas." Eu estava sufocando, o quarto ficando escuro nas bordas
ao meu redor, como se eu tivesse desenvolvido visão de túnel.

Esquema? Usar as pessoas? Não, eu não fiz isso... fiz? Eu admiti que
muitas vezes vinha com planos e ideias, mas eles não estavam habituados a
magoar as pessoas... De repente eu estava doente e confusa. Eu coloquei
minha mão sobre a borda da mesa, firmando-me. Eu fiz? É isso que eu
fiz? Eu tinha feito isso para Grayson?
Eu balancei a cabeça em negação. "Eu não te usei, Grayson, eu queria
tentar fazer a coisa certa. Eu pensei-"

"Fazer a coisa certa?" ele gritou, me assustando. "Como você fez tudo
certo?" Ele riu novamente, correndo a mão pelo cabelo e pegando um punhado
antes de trazer a mão para baixo novamente. "Foi um plano o tempo todo?
Usar-me para conseguir o dinheiro e, em seguida, levá-lo de volta de alguma
forma? Santo, porra, Deus. Vocês são todos mentirosos. E olha onde você me
deixou - sem um tostão – casado com uma manipuladora, e agora tendo que
lidar com seu pai novamente, o homem que uma vez arruinou a porra da minha
vida!" Seu rosto foi de pálido a ruborizado, e sua voz tremia quando ele gritou.

"Grayson," eu disse, segurando a minha mão e me movendo mais perto,


"é claro que eu não planejei isso. Você está entendendo isso tudo errado.
Depois do que seu o pai fez, eu posso entender, mas você está olhando para
isso através dos olhos de alguém que foi gravemente ferido. Por favor, se nos
unirmos - você e eu – nós podemos pensar em algo que será-"

Ele recuou para longe de mim, o olhar em seu rosto cheio de desgosto.
Deixei minha mão cair. "Pensar em alguma coisa? Ainda conivente, Kira?
Basta parar, eu não aguento mais. Isso está me deixando doente. Você me
deixa doente. Eu estou farto de tudo - as manipulações, as mentiras, as meias-
verdades."

Eu balancei minha cabeça. "Você está fazendo isso ser algo que não é.
Por favor, leve algum tempo para pensar nisso. Eu não sou como meu pai. Eu
não sou como o seu pai." Minha voz terminou num sussurro, e eu podia ouvir
a dúvida em minha própria voz.

"Isto não tem nada a ver com o meu pai", ele cuspiu. "Isso tem a
ver com você, e com o fato de que eu vou nunca confiar em você
novamente."
Eu balancei a cabeça, negando o que estava acontecendo, negando a
distância fria em sua expressão. "Eu sei que deve parecer que você não pode
acreditar em mais nada. Mas você pode acreditar em mim."

"Eu pensei que pudesse."

Uma única lágrima escorreu pelo meu rosto. "Grayson, eu sou sua
esposa. O que temos juntos-"

"Eu posso arranjar bebendo no bar da esquina em qualquer dia da


semana", disse ele friamente.

Coloquei meus braços em volta de mim novamente, tentando


desesperadamente não acreditar em suas palavras vis. "Eu conheço você, sei
que não quis dizer isso. Eu não quis te magoar. Eu te amo", eu resmunguei
entrecortada.

Ele inclinou a cabeça para trás e riu, me fazendo estremecer com


profunda dor. "Amor? Amor? Você sabe o que o amor fez na minha vida?" Ele
pegou um peso de papel de sua mesa e jogou-o duro na janela. O vidro
quebrou quando foi atingido, quebrando completamente e desembarcando em
algum lugar no chão lá fora. Deixei escapar um gritinho. Ele virou para mim,
com as mãos cerradas em seus lados. "Você não me ama. Eu fui comprado e
pago, nada mais. Eu agi como um marido, não foi? E agora o nosso acordo
está acabado. Cai fora", disse ele. "Saia da minha casa."

"Sair?" Perguntei. "Eu sou sua esposa, eu moro aqui. Esta é a minha
casa-"

"Não mais. Eu estou chamando seu pai esta tarde e aceitando a sua
oferta. Pelo menos o resto das pessoas que trabalham nesta vinha não terão
que sofrer porque eu me casei com você."
Baixei a cabeça e, em seguida, levantei-a para encontrar seus olhos.
"Por favor, Gray, se você somente me permitir explicar-"

"Eu não tenho nenhum uso para as suas explicações ou suas palavras
bonitas. Todas terminam em mentiras. Saia!" ele gritou, sua expressão furiosa.
Eu me assustei novamente e, em seguida, deixei escapar um soluço singular.
Eu me virei para a porta, atirando-a aberta. Corri, passando por Sugie quando
ela se lamentou pesarosamente e seguiu atrás de mim.

Soluçando abertamente agora, eu corri para o quarto principal e


coloquei as roupas e produtos de higiene pessoal na minha mala. Eu tinha
certeza que estava deixando algumas coisas para trás, mas estava muito
perturbada e deprimida para fazer uma pesquisa minuciosa.

Eu não tinha feito isso antes? Colocar roupas em uma mala para fazer
uma fuga precipitada? Só que naquele tempo alguém estava me perseguindo.
Desta vez... desta vez eu estava sendo jogada fora.

Por meu marido.

Pelo homem que eu amava com todo meu coração.

E talvez isso seja exatamente o que eu merecia.

Abaixei-me e olhei Sugie nos olhos, esfregando as mãos sobre a cabeça


ferida, tentando controlar minha respiração áspera. "É a minha menina bonita",
eu disse. "Você cuida de todos aqui, OK? Eu sei que te amo, e que você é uma
boa menina, uma boa menina." Levantei-me antes que entrasse em colapso
em mais lágrimas, e fiz meu caminho escadas abaixo.

Quando cheguei na frente da casa eu fiz uma pausa, olhando pela


porta aberta do escritório. Grayson estava de pé atrás de sua mesa,
inclinando-se com as mãos sobre a superfície na frente dele. Eu
quase andei em sua direção, mas então ele olhou para cima,
seu rosto duro e remoto enquanto olhava para mim
sem dizer nada. Ele tinha se retirado completamente, como se nunca
tivéssemos compartilhado nada.

Eu recuei, em seguida, virei-me e corri pela porta da frente, para o meu


carro, jogando minha mala no banco de trás e ficando atrás do volante. Uma
rajada de ar estremeceu do meu peito enquanto eu lutava novamente para
recuperar o fôlego. Parecia que o mundo havia desabado ao meu redor.

Grayson estava de pé na janela agora, observando-me ir embora, assim


como fez no primeiro dia.

Eu liguei o motor e contornei a fonte borbulhante, passando pela minha


casinha e pelo carvalho, a árvore que eu tinha uma vez escalado, continuando
para fora através das portas, acelerando para longe de Hawthorn Vineyard.
Indo embora da única casa onde eu já senti que pertencia.
Capítulo Vinte e Três
Grayson

Miséria. Era a única emoção que eu parecia capaz de sentir. Tudo o que
eu achava que sabia – tudo que já me deu razão para avançar, acabou
desabanodo ao meu redor. Eram todos mentirosos.

Mentirosos, trapaceiros, manipuladores.

Minha casa agora mais parecia aquela pequena cela na prisão que eu
vivi por cinco longos e solitários anos - escura e sombria. Eu rondava pelas
salas à noite, bebendo quando eu não podia encontrar descanso e, em seguida
dormindo durante o dia. Trabalho não se mostrava mais a distração bem-vinda
que eu tive uma vez. Qual era o ponto em trazer esta vinha de volta à vida?
Então, eu poderia viver no lugar que meu pai tinha a intenção de usar como
ferramenta para me punir, me lembrando quão inútil eu era? Vê-la prosperar
não proporcionava mais nenhuma satisfação. Na verdade, era apenas um
gigante e doloroso lembrete de quanto o homem me odiava, e como eu
pateticamente nunca tinha perdido a esperança de que ele iria me amar um
dia, agarrando-me cegamente a crença de que ele havia deixado esta vinha
para mim por amor. Eu via meu pai em todos os lugares aqui, mas agora, em
vez disso me trazer orgulho, trazia apenas vergonha e amargura.

Se ele me odiava, eu poderia muito bem odiá-lo em retorno.


Essa seria minha nova promessa.
As palavras que eu tinha ouvido meu pai proferir no meio de uma briga
com a minha madrasta voltaram para mim agora. ‘Puta que pariu, Jessica, foi a
porra de um erro. Se eu pudesse voltar atrás, eu faria’. Eu era esse erro. Bem,
eu tinha cometido um, também. Confiar nele era a coisa mais estúpida, mais
desesperadamente tola que já fiz. Confiar em alguém em geral era tolo e
estúpido. Eu não cometeria o mesmo erro duas vezes. Nunca mais.

Eu tive Walter vendendo as últimas garrafas de vinho da coleção do


meu pai. Eu tinha reunido a pouca força que me restava para me reunir com
José, Harley e Virgil, para que eu pudesse deixá-los ir. Eu não poderia mais
pagá-los. Eu usei o dinheiro das vendas do vinho para pagá-los até o fim do
mês. Suas expressões chocadas e entristecidas só fizeram com que eu me
desprezasse ainda mais.

E então eu disse a Walter e Charlotte que eles estavam demitidos,


também. Eu tinha despedido Charlotte com bastante frequência ao longo dos
anos, mas agora podia ver nos olhos dela que ela sabia que desta vez era
muito sério. Eventualmente eu teria que vender a vinha para sobreviver, para
começar de novo, mas não podia evocar a força para isso ainda.

Charlotte e Walter... ambos tentaram falar comigo, mas eu não queria


ouvir qualquer um deles. Até mesmo eles mentiram para mim - as duas
pessoas que eu pensei que podia confiar com a minha alma. Eles me deixaram
acreditar meu pai tinha me amado, no final, e isso só tinha sido um cruel, uma
cruel fonte de retenção da verdade. Eles assistiram enquanto eu fazia de mim
mesmo um idiota ridículo, e isso doeu.

E Kira... meu coração gaguejou no meu peito. A pior de todas. Eu


tinha dado todo o meu coração estúpido para ela, até a última parte, e
todo o tempo, ela tinha mentido para mim, também. O que mais
teria ela mentindo? Em que outras coisas ela me fez acreditar,
esperar desesperadamente, apenas para descobrir
que eu sido feito de bobo de novo? Eu apertei meus olhos fechados quando
voltei a pensar naquele momento no meu escritório, quando ela me disse que
esteve mentindo para mim desde o início. Tinha sentido como uma faca
mergulhando em meu coração. Um único pensamento tinha ficado se repetindo
pela minha cabeça: ‘não você, qualquer outra pessoa, mas por favor, não você
também’.

Joguei meu copo de vinho contra a lareira na sala de estar, desfrutando


a quebra acentuada do som do vidro. Apoiando minhas mãos contra ele, eu
coloquei minha cabeça contra a pedra fria. Mesmo assim, semanas depois que
ela tinha saído, somente o pensamento do nome de Kira ainda trazia um
anseio-profundo e doente de amor, um desejo ardente, saudades e um
latejante vazio. Idiota!

Ela tinha me dito que tinha apenas repugnância por Cooper Stratton. E
então eu a vi conversando com ele, de pé e perto, com as mãos sobre o peito
dele, tentando convencê-lo de algo. Coop, como ela tinha o chamado. Eu tinha
reconhecido a expressão culpada quando os surpreendi. Pequena
manipuladora mentirosa.

Nunca mais. Nunca mais me importaria se alguém me amava. Deixei o


gelo enrijecer a parte de mim que ainda podia ser ferida, odiando que havia
mais alguma coisa em tudo. Eu sabia como fazer isto. Eu tinha vivido com um
coração coberto de gelo durante anos, então encontrar a indiferença não foi
difícil. Mas doeu pra caramba.

Eu precisava ir ao tribunal e pedir o divórcio, mas, francamente, eu


não tinha ideia de onde Kira estava, e não queria mais sair de casa de
qualquer maneira. Eu não ia aceitar o dinheiro do pai dela e dar-lhe a
satisfação de ter-me sob seu comando. Ninguém ia me controlar
novamente, especialmente aquele bastardo.
Finalmente exausto pelo simples ato de pensar, eu caí no sofá, não
querendo ir para minha cama hoje - não quando ela só trazia lembranças dela.
Do perfume dela. E, ainda assim, eu caí no sono com o som de seu nome em
meus lábios.

Era um dia triste e cinzento no centro de Napa, lúgubre pelo fato de que
eu tinha acabado de penhorar o anel que tinha dado a Kira no dia do nosso
casamento, em busca de algum dinheiro tão necessário. Vergonha e embaraço
tragaram-me. Isso era ao que eu tinha sido reduzido - de novo. Eu tinha
originalmente comprado o anel para Vanessa, e ainda assim, entrega-lo sobre
o balcão para o dono da loja de penhores trouxe uma forte dor no meu peito.
Não por causa de para quem eu tinha comprado, mas por causa daquela a
quem eu tinha realmente dado-o. Kira.

Eu estava dirigindo pela cidade no meu caminho de volta para a vinha


quando vi o carro de Kira. Eu puxei uma respiração afiada, choque passando
por mim. Kira estava em Napa? Esteve aqui todo esse tempo?

Onde ela teria ficado? Ela tinha muitas escolhas em San Francisco, mas
aqui? Meu coração começou a tocar bateria rapidamente. Eu puxei o meu
caminhão para o lado da estrada e pulei para fora. Havia algumas lojas neste
bloco, bem como um restaurante. Eu olhei através das janelas frontais das
duas lojas, mas não a vi. O que você está fazendo, Grayson? O que
exatamente você acha que você vai dizer a ela, de qualquer maneira? Eu não
tinha ideia, e ainda algum tipo de antecipação animada fez o meu
intestino apertar. Ela estava aqui. Eu fiquei devastado quando ela
me contou sobre seu pai, e tinha agido tão duramente, mas
talvez... talvez se eu apenas falesse com ela, talvez ela pudesse me ajudar a
entender. Eu não me dei tempo para reconsiderar. Apenas agí.

O restaurante não tinha janela, então eu fui até a porta aberta e entrei
para ver se poderia encontrá-la, esperança florescendo em meu coração. Vi-a
imediatamente, andando na minha direção.

Cooper Stratton estava ao lado dela, a mão possessivamente em seu


braço.

O feltro da sala se inclinou debaixo de mim, e tudo que eu vi foi


vermelho. Eu estava certo sobre ela. Foi quando ela me viu. Uma centelha de
surpresa, seguido de um olhar de algo que eu não pude identificar brilhou em
seu rosto. Com os olhos arregalados, ela olhou para Cooper e depois de volta
para mim, um olhar suplicante naqueles magníficos olhos. Fui tomado por uma
raiva avassaladora. Meu corpo fechou o espaço entre nós antes mesmo de eu
decidir me mover. "Você não perdeu tempo, não é?" Eu cerrei fora. "Este era o
seu plano o tempo todo? Casar comigo, pegar o dinheiro, de alguma forma
leva-lo de volta, e então... ele?" Ela não só tinha mentido para mim sobre o
envolvimento de seu pai na minha vida, ela mentiu para mim sobre Cooper
também. Se ela realmente odiava-o do jeito que me fez acreditar, ela nunca lhe
daria três minutos de seu tempo, muito menos aceitaria almoçar com ele.
Pequena mentirosa. Bela mentirosa. Agonia rasgou minha alma.

Kira deu um passo atrás, mas não antes que eu pegasse um aroma de
seu perfume delicado. Afiada saudade me dominou, me fazendo querer rugir
com angústia. Ela não é sua. Ela nunca foi sua, não realmente. Ela nunca
será novamente.

Eu não quero você.

Eu não quero você.

Eu não quero você.


Eu não quero você.

Eu não quero você em tudo.

"Grayson, por favor, você não tem ideia do que está falando", ela disse,
com voz embargada.

"Oh, eu acho que eu tenho ideia do que estou falando, sim." Mudei-me
de novo e me inclinei em direção à sua orelha, dizendo baixinho: "Diga-me,
Kira, você optou por ser uma das suas prostitutas ou uma esposa recatada que
mantém os olhos fechados? Se for o último, você percebe que terá que se
divorciar de mim em primeiro lugar, certo?"

Senti Kira se assustar com as minhas palavras, e aspirar uma


respiração repentina. Em seguida, Cooper estava ao meu lado, dizendo: "O
que diabos você esta fazendo aqui?" e antes que ele pudesse tentar entrar no
meio de Kira e eu, eu virei-me. Minha raiva e dor - tudo o que eu tinha perdido -
borbulhou à superfície, rodando em meu peito num tsunami de angústia. Eu
agarrei a sua camisa e andei com ele para trás, até a parede, e o bati nela.

Kira gritou, e eu ouvi várias pessoas suspirarem alto no restaurante ao


lado do lobby, onde estávamos tendo nosso confronto.

A expressão de Cooper estava pálida, os olhos cheios de medo quando


eu o pressionei contra a parede. Eu expulsei uma lufada de ar alto e deixei-o ir.
Ele quase caiu para frente, mas conteve-se como eu, e se afastou. Medo caiu
em mim tão rapidamente quanto a raiva tinha. Oh Deus, o que eu estava
fazendo? Eu olhei para o rosto de Cooper, sua expressão mostrando
simultaneamente raiva e algum tipo de alegria. Ele apontou o dedo para mim.
"Você vai voltar para a prisão, seu maldito perdedor." Ele ajeitou os ombros e
riu, em seguida, virou-se para quem eu pensei que fosse,
provavelmente, o gerente do restaurante – ali de pé com um olhar
de choque no rosto - e disse, "obtenha os nomes e números
de todos que testemunharam isso. Meu advogado vai ligar mais tarde. Então
ele olhou para Kira com satisfação. "Vamos."

Lágrimas escorriam pelo rosto de Kira. "Deixe-me falar com ele por um
minuto", ela disse a Cooper, a voz embargada.

Cooper fez uma careta. "Eu não posso deixá-la sozinha com ele. Ele é
obviamente perigoso."

Dei um passo em direção a ele novamente, e Kira moveu-se


rapidamente na minha frente, colocando a mão no meu peito. "Estamos em
público", disse ela. "Estamos bem. Ele é meu marido, Cooper."

"Por enquanto." Copper estreitou os olhos e olhou para trás e para a


frente entre nós por um momento e em seguida, assentiu. "Eu tenho que pegar
a estrada de qualquer maneira. Eu vou buscá-la esta noite." Ele se inclinou e
beijou-a no rosto, seus olhos em mim quando ele fez isso. Mais raiva chutou
nas minhas entranhas. Eu estava tentado a bater-lhe - o que importava agora?
Em vez disso, eu fiquei ali, apertando meu queixo, outra vez tentando
recuperar o controle das minhas emoções. Cooper apontou para mim. "Você
vai ouvir do meu advogado."

Eu simplesmente olhei para ele. Eu não lhe daria a satisfação de uma


reação.

Ele caminhou a passos largos para a porta sem olhar para trás, e meus
olhos finalmente se moveram para Kira. O rosto dela estava pálido, os olhos
arregalados. Ela, obviamente, não esperava ver-me enquanto estava com seu
novo/ex-namorado.

"Gray", ela sussurrou. Ela deu um passo em minha direção e eu girei,


espreitando para fora da porta do restaurante. Não havia nada
mais a dizer para ela. Meu coração parecia que estava
quebrando aberto no meu peito. Eu não tinha percebido
que poderia quebrar mais do que já tinha.

"Grayson!" Ouvi-a chamar atrás de mim enquanto eu caminhava para


longe dela pela rua. Parando e girando, eu andei com um propósito direto de
volta para onde ela estava de pé na calçada. Havia um pequeno beco ao lado
dela, e eu agarrei-lhe o pulso e puxei-a para ele, pressionando-a contra a
parede de tijolos. Ela deixou escapar um pequeno suspiro. "O que você está
fazendo?"

"Tentando lembrar o que eu vi em você." Eu coloquei minha boca contra


a dela, lambendo a costura de seus lábios. Ela choramingou suavemente e
abriu-se para mim, embora seu corpo ainda estivesse tenso contra o meu
próprio. Eu mergulhei minha língua em sua boca e, em seguida, retirei-me
rapidamente, forçando uma expressão vazia no meu rosto. "Não, não é tão
bom quanto eu me lembro."

Seus olhos se arregalaram e ela piscou para mim, confusa. Inclinei-me e


corri meus lábios em sua garganta.

Seu corpo enrijeceu e eu me afastei. "Não, nada." Seus lábios se


viraram para baixo, e lágrimas brilharam em seus olhos. Sacudi o
desconfortável sentimento de culpa em minhas veias. Ela é uma mentirosa, eu
me lembrei.

"Você sabe o que eu acho? Eu acho que estava desesperado, e você


estava... qual é a palavra? Conveniente. Desde que você se foi, eu cheguei à
conclusão de que gosto mais de uma variedade de mulheres do que daquilo
que os votos do casamento ditam. Eu já experimentei algumas recentemente.
Você estava ok, mas desde então eu já tive melhores."

Ela se encolheu, lágrimas fluindo livremente por suas


bochechas agora e, embora, vergonha rodasse no meu intestino,
eu não mostrei nenhuma reação. Eu não faria isso. Se ela
estava indo direto para a cama de Cooper, então eu poderia pelo menos sair
com uma pequena pitada de orgulho. Enquanto ficamos encarando um ao
outro, e então seu queixo pequeno se ergueu.

Mesmo agora ela estava sendo forte. Droga, direto para o inferno!

Eu queria quebrá-la, como ela tinha me quebrado.

Eu queria cair de joelhos, pedir e implorar para que ela fizesse as coisas
ficarem ok de alguma forma – pedir para ela embrulhar os braços em volta de
mim e me dizer que tudo isso foi um pesadelo terrível - e eu me odiava por
isso.

Eu me odiei por sentir esperança.

Esse velho sentimento familiar de querer o amor de alguém que nunca


iria me amar fez um arrepio percorrer todo meu corpo. Ela ficou ali, parecendo
pálida e abatida e dolorosamente linda, mas ela não tinha esse direito! Ela
havia tirado tudo de mim - ainda mais do que eu pensava que tinha a perder.

A visão tortuosa de Kira emaranhada em lençóis com Cooper veio


espontaneamente à minha mente, e eu engoli a bile na minha garganta.

"Eu não quero dar-lhe a impressão que não apreciei os favores, embora.
No momento, eles foram agradáveis. Acabou que você veio a um preço muito
elevado, no entanto." Eu corri um dedo para baixo em seu rosto suave, e ela
olhou para mim, imóvel. "Meu nome, minha vinha, e agora provavelmente a
minha liberdade..." Meu coração, minha alma.

Uma lágrima atingiu meu dedo, e eu puxei-o para trás como se tivesse
sido queimado por ácido, afastando-me dela e saindo do beco escuro para a
calçada brilhante. Eu ouvi o suave som de soluços, mas ela não veio
depois de mim, e eu não olhei para trás. Eu deixei meu coração
naquele beco. Não haveriam mais segmentos de meu coração
partido para alguém tomar, já que ela tinha levado
tudo. E eu não precisaria mais dele novamente.

Fui para casa cheio de dor gelada, minha pele espinhosa com mais
miséria do que eu já senti na minha vida.

Quando cheguei lá, fui direto para o armário de bebidas e trouxe uma
garrafa de uísque envelhecido. Vinho não ia ser forte o suficiente hoje.

Quando eu engoli a primeira dose, eu olhei pela janela, para além das
vinhas. Logo antes de Kira ter me deixado, eu tinha medido o açúcar, o ácido,
os taninos, e determinado quando as uvas estariam perfeitamente prontas para
colher. Elas estavam prontas agora. Mas eu não tinha fundos para contratar
alguém para me ajudar na colheita. Eu levantei meu copo para as vinhas em
um brinde trocista. "Você fez sua parte muito bem. Desculpe, eu falhei com
você, também." Em um tempo muito curto o fruto estaria apodrecendo na
videira, um completo desperdício - a perfeita metáfora para toda a minha vida.
Claro que, agora, eu provavelmente estaria na cadeia de qualquer maneira, por
agredir Cooper Stratton. Eu engoli outra dose, deixando-a queimar na minha
garganta. Tudo isso foi perdido. Não havia esperança, nenhuma esperança em
tudo.
Capítulo Vinte e Quatro
Grayson

O mundo mudou de foco enquanto eu gemia, agarrando minha cabeça


em minhas mãos para deter a incessante batida. Eu estava na sala de estar,
esparramado no sofá, e a garrafa vazia de uísque escocês encontrava-se
sobre meu estômago, juntamente com o copo de tequila que eu usei para
beber. Eu não me incomodei de movê-los antes de sentar-me, e eles rolaram
para o chão. Não quebraram; só pousaram sobre o tapete num baque suave.

Tropeçando em meus pés, eu esfreguei a parte de trás do meu pescoço,


tentando massagear a torção. Lá fora o sol ainda estava subindo, o céu
inundado em tons de ouro. Eu pisquei e congelei. Parecia que havia... dezenas
de trabalhadores na vinha, na colheita de frutas. Eu observei, coçando
distraidamente o meu estômago, tentando entender o que eu estava vendo.

"Eu acho que você vai precisar destes", ouvi alguém dizer atrás de mim.
Virei-me para encontrar Charlotte deixando dois comprimidos - que eu assumi
serem analgésicos - e um copo de água na mesa ao lado do sofá. "Não que o
que você está sentindo não seja exatamente o que merece. Eu gostaria de
bater na sua cabeça eu mesma, mas não vou. Parece que você tem feito
bastante por si mesmo."

"O que diabos está acontecendo lá fora?" Eu exigi, ignorando


suas outras observações.

"As uvas não vão se colher sozinhas", disse ela.


Eu tomei uma respiração profunda. "O que eu quero dizer é: quem
contratou essas pessoas? Você sabe muito bem que não posso pagar-lhes."

"Harley chamou alguns favores, e ele, Virgil e José reuniram o dinheiro


que você pagou-os até o fim do mês. Eles vão dividi-lo entre os homens que
concordaram em trabalhar para você esta semana."

"Colher uvas leva mais tempo do que isso, como você bem sabe."

"Sim, bem, isso vai ser um começo, e se você puder obter o vinho dos
barris em garrafas, então poderá começar a vendê-lo. Há uma segunda equipe,
que vem à noite, para ajudar com isso."

Eu virei-me bruscamente em direção a Charlotte, fazendo uma careta na


dor aguda e repentina no meu crânio. "Por que? Por que que fariam isso?"

"Acho que é porque eles acreditam em você."

"Acreditam em mim?" Deixei escapar um latido agudo de risada, que só


serviu para ferir ainda mais minha cabeça. "Que bem isso vai lhes fazer quando
chegar a hora de alimentar suas famílias? Falando nisso, por que você ainda
está aqui?"

Charlotte apenas franziu os lábios. "Talvez você gostaria de tomar um


banho, descer e se juntar a eles."

Eu bufei. "Não. Uma segunda garrafa de uísque e eu temos planos para


o dia."

Eu disse a mim mesmo que não me importava com o olhar de


desaprovação que ela atirou em mim antes de sair da sala. Ela havia mentido
para mim, também. A única razão de eu não expulsá-la da minha casa era
porque esta tinha sido sua casa por mais tempo do que tinha sido a
minha. Mas ela seria forçada a sair em breve - uma vez que eu
não pudesse mais arcar com os ingredientes da cozinha. Ou
quando eu fosse preso por agredir Cooper Stratton.
Eu gemi, passando minhas mãos pelo meu cabelo, a bagunça da minha vida
voltando ao foco.

"Charlotte", eu chamei. Ela parou na ampla arcada que separava a sala


de estar do vestíbulo, olhando de volta para mim. "A polícia esteve por aqui?
Ou ligou?"

"Não", ela disse, virando-se e caminhando em direção à cozinha. Eu me


perguntava por que ela não estava curiosa sobre por que eu tinha feito essa
pergunta. Talvez ela simplesmente não pudesse lidar com mais um problema
agora. Nem eu poderia. No entanto, aparentemente o destino tinha outros
planos para mim.

Eu traguei as duas pílulas que Charlotte tinha deixado, e, em seguida,


subi as escadas e tomei banho, deixando a água quente acalmar meus
músculos doloridos. Depois de vesti-me eu fui para o quarto de hóspedes do
outro lado do corredor, para olhar as videiras. O equipamento e os homens
ainda estavam lá. Seus idiotas! Era tudo um desperdício de tempo.

Eu fui e deixei-me cair na minha cama, olhando para o ventilador de


teto, o que eu tinha encarado maravilhado tantas noites depois que Kira e eu
tínhamos feito amor. Pare. Não pense nela, não agora. Será que ela acordou
com Cooper esta manhã? Eles tinham tomado café da manhã na cama?
Torturado por meus próprios pensamentos, levantei e fui pegar a segunda
garrafa de whisky. Eu beberia muito, para que meu cérebro azedasse e
matasse todos os neurônios que seguravam a memória dela.

Charlotte estava na sala de estar, dobrando o cobertor que eu tinha


usado para dormir metade das ultimas noites.

Olhando pela janela, eu murmurei, "Eles estão todos


perdendo seu tempo. Eu desprezo este lugar. Mesmo que eu
tivesse uma maneira de torná-lo bem sucedido, eu não me
incomodaria agora. Eu prefiro destruí-lo, como meu pai fez. Há somente
miséria para ser encontrada aqui - miséria, mentiras e más recordações."

"Se é isso que você acredita, então acho que é verdade."

Apertei os olhos. "Eu acredito nisso. Eu sei disso."

"OK."

Eu apertei os lábios, irritado que Charlotte ainda poderia irritar-me com


apenas algumas palavras.

E aparentemente ela não tinha acabado. "Walter está lá fora, também,


você sabe", disse ela quando me inclinei para o licor no armário. "Eu só espero
que ele não se esgote. E, claro, ele tem dificuldade para enxergar bem agora
também. Espero que ele esteja colhendo as uvas certas..." Parei, revirando os
olhos.

"Walter é o retrato da saúde", eu disse.

Ela encolheu os ombros. "Eu não queria perturbá-lo. Você, volte a


beber, se metendo no esquecimento. Talvez isso dê aos homens um bom
exemplo, se você pensar sobre isso. Tenho certeza de que vai aumentar seus
espíritos, enquanto eles fazem o trabalho manual duro por salário mínimo no
sol quente durante todo o dia."

"Jesus", eu murmurei, "não está nem tão quente." Eu estava plenamente


consciente de que ela estava tentando me culpar.

A verdade era que talvez um dia de trabalho duro fosse a melhor


maneira de limpar a minha mente. Melhor do que o álcool. E, pelo menos,
não me deixaria com a sensação como se houvesse uma pedra de dez
toneladas sentada na minha cabeça.

"Se isso significa não ouvir-lhe um segundo a mais, eu vou


lá fora trabalhar os meus dedos até o osso", eu resmunguei.
Charlotte deu de ombros, mas eu vi seus lábios curvarem-se em um
sorriso antes dela se virar.

Maldita.

Quando eu voltei naquela noite, sujo e encharcado de suor, cada


músculo do meu corpo doía. Aparentemente Harley havia contatado todos os
ex-presidiarios que ele conhecia no hemisfério norte, e eles estavam todos
trabalhando na minha vinha. Eu não sabia se isso era bom, mas a sensação de
mal estar que eu tinha no estômago quando pensei que o fruto que eu tinha
cultivado tão cuidadosamente iria apodrecer e cair no chão tinha diminuído.

No mínimo as uvas estariam em barris agora, e eu seria capaz de iniciar


o engarrafamento do vinho. E quando eu vender este vinhedo, poderia
conseguir um preço mais elevado se ele fosse uma adega de trabalho ao Inez
de algo que estava em ruínas. Eu me divorciaria de Kira, faria um pouco de
dinheiro com a venda de Hawthorn Vineyard, e iria para algum lugar fazer...
alguma coisa. Mas o quê? O que eu sabia fazer, além de vinificação? Muito
pouco. O grau de negócios que eu ganhei há muito tempo na faculdade era um
desperdício agora. Além disso, ninguém queria contratar um criminoso. Miséria
ameaçada. Os pensamentos que tinham ficado no banco traseiro na minha
mente quando eu tinha trabalhado o dia inteiro estavam de volta novamente
para me torturar.

Tomei um banho rápido e comecei a me dirigir para o térreo, parando


em frente ao quarto onde Kira tinha se hospedado antes que se
mudasse para o que eu ainda chamava de nosso quarto. A dor
apertou meu coração quando eu olhei ao redor do
espaço vazio. Abri o armário, mas ela não tinha deixado nada para trás.
Puxando a primeira gaveta da cômoda aberta, descobri duas camisas
esquecidas. Vergonhosamente eu as trouxe ao meu nariz e inalei, respirando
seu cheiro persistente, doce e delicado. Eu segurei o atormentado gemido que
subiu pela minha garganta e as coloquei de volta onde tinham estado. Isso foi
quando eu vi o que parecia um pequeno estojo de anel. Apanhei-o e abri-o
lentamente, inalando um profundo gole de ar quando vi um anel de casamento
masculino de platina. Tirei-o do veludo azul escuro e segurei-o contra a luz.

Meu Dragão. Meu Amor.

As palavras estavam gravadas dentro do anel, e eu as sentí como um


duro golpe para o meu coração já dolorido. Eu fiquei ali pelo que parecia um
longo tempo, a confusão agitando através de mim. Finalmente eu coloquei o
anel de volta na caixa e coloquei-o na gaveta, indo lá embaixo para
cumprimentar Harley, Virgil e José, que ficaram para jantar a pedido de
Charlotte. Eles foram chegando, todos sujos e cansados mas, de alguma
forma, felizes. Culpa empilhou no topo da minha pilha de mágoa. Apesar de
todo o seu trabalho, no final, eu não seria capaz de oferecer-lhes muito. Eles
teriam que encontrar emprego em outro lugar.

Punho-colidindo com Harley, eu agradeci-lhe novamente.

"Cara, você não achou que eu pararia de zelar por você só porque
estamos do lado de fora agora, certo?" Ele sorriu, massageando seus
bronzeados e musculosos braços. Eu tinha certeza que ele estava tão dolorido
quanto eu, talvez mais.

Ele tinha estado trabalhando desde o nascer do sol.

"Eu não mereço isso, Harley," eu disse, esfregando a parte de


trás do meu pescoço.
"Talvez sim, talvez não. Isso não cabe a mim julgar. Eu só posso
escolher aqueles que serão meus amigos, e eu ajudo meus amigos. Te devo
minha vida – devo a Kira minha vida, também. Qualquer coisa que qualquer um
de vocês pedir, eu faço."

Limpei a garganta, a emoção de repente me surpreendendo. Eu estava


tão malditamente cansado.

"Minha mulher sente o mesmo, também. Você tem-me?"

"Uh..."

Harley riu. "Um inferno de uma mulher, a Priscilla." Ele sorriu.

Virgil pesadamente nos interrompeu. "Hey Virgil", eu disse. Sugie estava


atrás dele.

"Oi, Sr. Hawthorn, senhor." Ele sorriu, feliz. "Colhendo uvas, tomando o
vinho."

Eu sorri de volta. "Obrigado, Virgil". Estendi a mão e apertei o seu


ombro. "Você é um bom homem."

"José", eu cumprimentei, quando ele também entrou pela porta. "Vamos


comer."

Fomos em direção à cozinha enquanto Walter estava descendo as


escadas. Ele não parecia bem, e o fato de que ele tinha trabalhado o dia todo
me causou uma onda de culpa, me consumindo. Cristo, ele tinha duas vezes a
minha idade. Eu fiz uma careta quando ele agarrou a grade, trazendo uma mão
ao peito. "Walter?" Perguntei.

Ele fez um som abafado e caiu para frente. Corri para ele, impedindo
sua queda com o meu corpo.

Eu ouvi Charlotte gritar atrás de mim, e me esforcei para


sentar-me ereto com peso de Walter em cima de mim.
"Vire-o," eu ouvi Harley instruir, e o peso de Walter foi rapidamente
tirado de mim.

Tudo parecia lento, vozes vindo de debaixo d'água, o som do meu


coração batendo alto em meus ouvidos. Ouvi José no telefone com o 911
quando me ajoelhei sobre Walter. Ele estava ofegando por ar, a mão ainda
sobre seu coração quando Charlotte e eu nos ajoelhamos sobre ele. "Ajuda
está vindo", eu resmunguei, meu peito cheio de medo.

Charlotte estava chorando em silêncio enquanto esfregava seu cabelo.


Ele parecia estar tentando dizer algo, primeiro para ela e depois para mim, mas
as palavras não saiam; apenas suspiros e gemidos para o ar. Finalmente ele
pegou minha mão, apertando-a firmemente na sua quando engasgou, "Como...
meu... próprio filho..."

Meu coração se apertou com tanta força no meu peito que eu engasguei
por ar para mim mesmo.

"Não fale", disse Charlotte. "E não se atreva a me deixar. Não se atreva,
seu velho teimoso, cabra."

Walter soltou um suspiro final e entrou em colapso, só para ficar parado


e em silêncio. Pânico arrepiou minha pele. Minha respiração saiu em exalos
afiados. Eu ouvi uma palavra que estava sendo repetido uma e outra vez. "Não,
não, não." Eu finalmente percebi que era minha própria voz aterrorizada,
pleiteando a palavra como uma oração desesperada.

O quarto do hospital estava escuro e silencioso, o brilho


precoce de filtragem amanhecendo através das cortinas, o
constante batimento do coração de Walter sendo
cantado pelo monitor cardíaco ao lado de onde ele estava. Sentei-me curvado
em um cadeira ao lado de sua cama, meus cotovelos sobre os joelhos, a
cabeça entre as mãos. Charlotte tinha ido para casa várias horas atrás, para
descansar e alimentar Sugie. Ela queria passar a noite, mas não havia uma
cama extra em qualquer lugar no hospital, e não era provável que Walter
acordaria durante a noite, mesmo que ele estivesse estável agora. Então eu
me ofereci para ficar, dizendo-lhe que minhas costas eram mais jovens, e que
eu ligaria se ele acordasse antes dela chegar na parte da manhã.

Trazendo uma mão para a parte de trás do meu pescoço, eu massageei


os músculos tensos.

"Eu espero que você não se importe comigo dizendo," eu bati minha
cabeça na voz de Walter, "que você parece como inferno, senhor."

Eu soltei um suspiro. "Quando o que me importa já fez diferença para


você, Walter?" Eu perguntei, tentando esconder o sorriso que queria se libertar.

"Nunca", ele admitiu.

Levantei-me e servi-lhe um copo de água do jarro sobre a mesa ao lado


de sua cama, e o ajudei a segurar o copo enquanto ele tomava vários longos
goles. Colocando sua cabeça de volta no travesseiro, ele me olhou. Sentei-me
na cadeira e puxei-a um pouco mais perto de sua cama. Retirando meu
telefone, eu disse, "é como você puxar esse drama como fez ontem à noite. Eu
vou deixar Charlotte saber-"

"Espere apenas alguns minutos", disse Walter, sua voz grave quando
ele levantou a mão. Fiz uma pausa e, em seguida, coloquei meu telefone
longe. "Eu não fui tão dramático para que você tenha que sair daqui sem ouvir-
me."

Eu dei-lhe um pequeno sorriso irônico, mas balancei a


cabeça. "Ok. Tudo bem então."
Por um momento, Walter não disse nada. Quando ele finalmente falou,
sua voz era baixa, mas constante.

"Quando eu estava deitado na parte inferior da escada, você sabe o que


eu fiquei pensando?" Eu balancei minha cabeça. "Eu continuei a pensar: ‘por
favor, não me deixe sair deste mundo sem contar a esse rapaz como me sinto
sobre ele’."

"Walter-" eu disse, passando a mão pelo meu cabelo, emoção subindo


no meu peito. Eu nunca iria discutir sentimentos com Walter.

"Nós tivemos um filho", disse ele, limpando a garganta quando sua voz
quebrou sutilmente sobre a palavra filho.

Inclinei a cabeça. "O quê? Você nunca disse-"

"Não, é difícil para nós para falarmos sobre Henry. Perdemo-lo quando
ele era apenas um bebê. Charlotte, ela... lamentava muito, assim como eu."

"Eu sinto muito, Walter," eu disse com a voz rouca. Ele assentiu. Eu
tinha visto essa tristeza em seus olhos antes de hoje. Eu tinha visto essa cara
toda vez que meu pai tinha aplicado seus castigos - a maioria deles foi frio, e
todos foram dolorosos. Todo esse tempo Walter tinha se preocupado tão
profundamente sobre como eu tinha sido tratado, e eu nunca tinha conhecido
sua perda e de Charlotte.

"Nós não pudemos mais ter filhos depois disso. E ficar lá, na casa onde
o tivemos, tornou-se insuportável. E assim", ele respirou fundo, "decidimos vir
aqui, para a América, para começar uma nova vida. Começamos trabalhando
para a sua família, e encontramos um pouco de felicidade novamente. E
então, um dia bateram na porta, e lá estava você. Apesar da maneira como
Ford e Jessica Hawthorn reagiram, para Charlotte e eu, para
nós... você foi o nosso presente, e assim tem sido todos os dias
desde então. Nem um dia se passou em que não temos
sido orgulhosos de você. Eu quero que você saiba disso."

"Walter -" minha voz se quebrou.

"Nós não poderíamos estar sempre lá, e nós nem sempre podíamos
intervir, porque temíamos que seu pai nos mandaria embora, e então não
seríamos nada de bom para você em tudo, mas nós fizemos tudo o que
podíamos para que você soubesse... que não estava sozinho. Não naquela
época, e não agora. Nem nunca. Nós só ocultamos o verdadeiro motivo do
legado do seu pai porque nós te amamos, e tentamos suportar aquele terrível
fardo para você enquanto podíamos. Nós não fizemos isso por desonestidade.
Fizemos por amor. Espero que você possa vir a entender um dia."

Sentei-me na cadeira, permitindo que suas palavras fluíssem através do


meu coração. É claro que eu sempre soube - Walter e Charlotte eram mais
meus pais que o meu pai real e madrasta já tinham sido.

Mas... o que seria se Walter e Charlotte estavam errados e ele não? "E
se ele estava certo sobre mim, Walter?" Eu me engasguei, manifestando meu
medo mais profundo.

"Seu pai?"

"Sim", eu sussurrei asperamente. "Todos eles."

"É isso que você acha? Que Charlotte e eu estavámos errados sobre
você, mas Ford Hawthorn estava certo? Sua mãe? Jessica?"

"Eu..." Imaginei Walter em seu maiô preto à moda antiga me ensinando


a nadar, vi-o levando-me através do labirinto enquanto contávamos os
passos e giros aprendidos, vi Charlotte torcendo as mãos quando sabia que
eu estava sofrendo, pensei em todos os conselhos sábios que ela tinha
me dado através do anos, todo o amor que ela prontamente dava.
"Talvez", Walter disse, "também porque você quer saber qual categoria
sua esposa pertence."

Walter sempre soube de tudo, antes que alguma vez lhe dissesse. Eu
não sei porque pensei que esta situação seria diferente. "Eu... sim. Eu apenas,
não sei se posso confiar nela."

Ele me olhou por vários momentos. "Bem", ele suspirou, "Eu acho que
você nunca vai descobrir se nunca realmente correr o risco. Eu suponho que
você poderia assombrar os corredores do Hawthorn Vineyard como um
fantasma, tinindo em torno de cadeias de sua própria criação, e assustando as
crianças pequenas nas janelas."

Deixei escapar uma pequena risada, que terminou com um suspiro.

"Você sabe por que eu te chamo de senhor? Por que eu sempre chamei
você de senhor?" ele perguntou.

Eu balancei minha cabeça.

"Porque é um lembrete de que você é digno de respeito, que sempre


foi."

"Obrigado, Walter," eu disse, engasgado com gratidão por sua presença


em minha vida.

"O que seu coração diz?"

Eu olhei para baixo, pensando sobre o anel que tinha encontrado na


gaveta. Meu Dragão. Meu Amor. Eu não sabia mais em que acreditar. Eu te
amo, ela disse, e ainda assim eu tinha jogado de volta para ela. Desespero e
dúvida rodaram em meu intestino. Eu a tinha chamado de conspiradora
conivente, fiz acusações de que nem sequer pareciam racionais agora,
não lhe dando qualquer chance de explicar mais detalhadamente
o que tinha acontecido. E, no entanto, se eu estivesse
disposto a acreditar nela, acreditar que me ver no
banco naquele dia foi realmente apenas um golpe do destino, eu poderia
perdá-la por não entrar em meu escritório no primeiro dia e me dizer que seu
pai tinha sido responsável por minha sentença excessivamente severa? Eu não
tinha começado a desconfiar dela, também? Nós dois não decidimos que
nosso relacionamento seria apenas temporário? E se eu realmente ouvisse
meu coração, como Walter estava sugerindo, será que isto me diria apenas
como Kira viria a dividir o dinheiro comigo como uma forma de compensar a
injustiça que seu pai tinha feito no meu caso? Como se tivesse sido sua culpa
em tudo.

A partir do momento que eu a conheci, ela sempre tinha lutado com


unhas e dentes. Não para me derubar, embora – para elevar-me. Para
restaurar em mim uma aparência de esperança, de alegria. A festa, seu traje,
todos me dizendo que ela acreditou em mim, que ela queria-me restaurado aos
olhos dos outros, e aos meus olhos. Ela tinha visto o meu valor, e ela me disse
isso de centenas de maneiras diferentes.

Oh, Jesus. O que eu sabia ser a verdade fluía por minhas veias como
culpa derretida e quente, corroendo meu interior. Eu tinha sido uma bagunça
naquele dia, disposto a acreditar que todos em quem eu confiava tinham ou
acabariam me traindo. Vê-la com Cooper e, em seguida, ouvir sua confissão,
tinha sido a confirmação deste medo. Em certo sentido doente, eu queria
acreditar no pior dela. Kira foi como uma luz que brilhou intensamente, e eu
estive vivendo na escuridão fria por muito, muito tempo. Senti como se a minha
alma tivesse sido arrancada, desesperada para sentir o calor do seu amor, e
ainda com tsnto medo da agonia de se retirar de volta para escuridão
novamente quando ela inevitavelmente saiu e levou a luz do sol com ela.
Assim, em vez disso, na primeiro dúvida eu tinha me afastado dela,
antes que ela pudesse me afastar. Eu tinha estado relutante em
acreditar que ela me amava, mesmo quando ela disse isso,
e mesmo que ela tinha demonstrado seu amor por mim novamente e
novamente. Sim, eu tinha sido ridiculamente irracional... frio e cruel, afundando-
me tão baixo a ponto de usar suas mais profundas inseguranças contra ela. Ela
era uma bela e suave mulher de vinte e dois anos de idade, uma menina, e eu
assisti como seu espírito tinha quebrado na minha frente – como a luz brilhante
que eu tanto amava se enfraquecera diante dos meus olhos.

Tormento cravado através de mim. Eu tinha descartado-a, sem um


centavo em seu nome. Deus, por tudo que eu sabia minha esposa estava
dormindo em seu carro maldito. Não admira que ela tinha ido procurar Cooper.
Que outra opção ela tinha? Vergonha e auto-ódio tomaram conta de mim, com
uma intensidade que quase me deixou sem fôlego.

Quando na verdade tinha chegado a hora de fazer uma escolha, para


confiar nela ou afastá-la, eu tinha a afastado.

Rendição, meu rapaz.

Só que, no final, eu não tinha sido capaz de fazer. Não totalmente. Eu


falhei com ela. Eu não tinha conseguido sozinho.

E então veio uma realização que me roubou o fôlego. Ela poderia muito
bem estar carregando minha criança. Nós tínhamos feito amor duas vezes sem
proteção alguma. "Eu a empurrei para longe", eu disse miseravelmente. "Eu
disse-lhe coisas cruéis e sem coração. Mesmo que eu... ela nunca vai me
perdoar. Eu nem sei se eu posso me perdoar. Não há esperança."

Walter, o homem que tinha agido como meu herói novamente e


novamente, me olhou em silêncio por vários momentos antes de fechar os
olhos com aparência cansada. Eu fui sair do quarto para que ele pudesse
dormir, quando sua voz veio atrás de mim. "Eu acho que você vai
perceber que, onde há amor verdadeiro, há sempre esperança."
Cheguei em casa no final da tarde, os homens que Harley tinha
contratado ainda trabalhavam arduamente no vinhedo. Eu desci e
cumprimentei a todos, com a intenção de atualizar Harley no prognóstico de
Walter. Parecia bom.

Ele precisaria colocar de um stent, mas seu médico garantiu-nos que a


cirurgia era simples, e que Walter provavelmente estaria em casa em apenas
alguns dias. Mas quando eu perguntei sobre Harley, um dos rapazes me disse
ele apareceu por pouco tempo e depois saiu, dizendo que estaria de volta no
final do dia.

Voltei para casa, para tomar banho e me juntar a eles na instalação de


vinificação onde José supervisionaria a utilização dos equipamentos. Eu estava
com os ossos cansados, mas não havia nenhuma maneira que estaria
deixando os homens lá fora trabalhando sem mim. Eu poderia dormir mais
tarde. E talvez, quando eu estivesse trabalhando, algo viria a mim; uma
maneira de reconquistar minha esposa. Porque o Senhor sabia que eu não
tinha ideia do que fazer agora, além de cair de joelhos e implorar por seu
perdão.

Após o banho, desci para a cozinha e comecei a preparar uma xícara de


café. Eu liguei a televisão enquanto esperava, e congelei quando vi o rosto de
Cooper Stratton na tela. Agarrando o controle remoto no balcão, eu
atrapalhei-me com ele enquanto tentava aumentar o volume. O apresentador
estava no meio da frase quando eu finalmente consegui apertar o
botão certo.
"...Parece que este vídeo chocante foi filmado por uma garota de
programa, que gravou o Juiz Cooper Stratton em um hotel. Um quarto no The
Palace Hotel, durante um jantar de caridade black-tie realizado duas noites
atrás. A câmera escondida pegou um supostamente embriagado Juiz Stratton
se vangloriando de aceitar suborno, manipular os resultados de casos, e outras
atividades altamente corruptas. Uma investigação está apenas começando, e
detalhes ainda são emergentes neste caso, mas o juiz Stratton também se
gabava de sua aliança com o ex-Prefeito de San Francisco, Frank Dallaire,
várias vezes no vídeo. Afirmações essas que o Sr. Dallaire está
veementemente negando desta vez. Alguns podem recordar o ex-noivado de
Cooper Stratton com a filha do prefeito Dallaire, Kira Dallaire, um compromisso
que terminou em um escândalo próprio."

Choque ricocheteou através do meu sistema, e eu agarrei minhas mãos


no balcão em minha frente para me segurar. O apresentador continuou:

"Esta história ressalta a profunda preocupação da população sobre a


corrupção na política. Porque os eleitores e os cidadãos, todos nós
gostaríamos de acreditar que aqueles em posições de poder dizem não ao
comércio de influência, mas este caso parece estar trazendo essas suspeitas
para a vanguarda do debate político de hoje. Vamos mostrar o vídeo mais uma
vez."

O vídeo começou a partir do ponto de vista de alguém sentado em cima


de Cooper Stratton enquanto ele estava deitado numa cama,
vestindo um smoking. Ele estava rindo enquanto discutia
precisamente o que o apresentador tinha dito. Meu corpo
inteiro ficou tenso, ira e incredulidade resolutas apertando meu estômago
enquanto eu o ouvia discutir a maneira como ele casualmente arruinou vidas,
primeiro como promotor, e agora como juiz. Não é de admirar que Frank
Dallaire havia estado tão disposto a protegê-lo quando Kira tinha pego-o com
prostitutas. Copper tinha feito o trabalho sujo para ele durante anos. E ela não
tinha nenhuma pista. Engoli em seco, concentrando-me novamente no vídeo.

A menina usando a câmera riu e estimulou-o, acariciando seu ego,


dizendo-lhe o quanto seu poder a excitava. Quando ela se inclinou ligeiramente
para desfazer a gravata-borboleta eu peguei um vislumbre das extremidades
de seu cabelo, quando este balançou para frente. Era rosa. Eu balancei a
cabeça para trás e para frente. Não podia ser. Eu pisquei os olhos quando a
pessoa que usava a câmera de vídeo pediu licença para usar o banheiro e, em
seguida, a imagem granulada foi cortada para ela andando rapidamente
através do que parecia ser uma festa de gala black-tie. Havia risos, conversas
e pratos barulhentos no fundo, e quando eu me aproximei ainda mais da
televisão, pude ver um convidado no fundo usando um smoking, e embora
fosse somente seu perfil, ele parecia suspeitamente com Harley. E... puta
merda, eu reconheci mais alguém nessa gala. Ela estava apenas de perfil, mas
eu sabia, sem sombra de dúvida, que era minha madrasta, Jessica Hawthorn.
Que diabos estava acontecendo?

"Charlotte!" Eu gritei, lembrando-me de repente que ela estava no


hospital. "Puta merda". José não atendia o telefone, e então eu corri até o
vinhedo onde rapidamente informei a ele que eu estaria de volta assim que
possível.

"Está tudo sob controle, chefe," ele respondeu. Eu já estava a meio


caminho da porta. Corri para casa, joguei algumas coisas num
saco e entrei no meu caminhão, dirigindo para fora do portão.
Jesus Cristo.
Como tinha acontecido? Minha mente estava correndo um milhão de
milhas por minuto. Kira. Kira estava por trás disso. Eu queria sacudi-la e, em
seguida, esmagá-la contra mim, e nunca deixa-la ir. A bruxinha tinha inventado
isso. Eu sabia que ela tinha. Doce bruxinha linda. Ela poderia ter-se colocado
em perigo. Foi por isso que ela tinha estado com Cooper aqui em Napa? Eu a
tinha tratado tão cruelmente naquele dia. Ela fez isso para me ajudar, nos
ajudar, assim como Harley e Priscilla tinham - eu sabia disso no meu intestino,
e eu confiei.

Mas eu ainda precisava de respostas. Perguntas bateram no meu


cérebro, uma após a outra. E eu sabia onde precisava ir para respondê-las.

Enquanto eu dirigia, visões de Kira passaram pela minha mente: ela


virando-se para mim em nossa cama, a luz da manhã acertando seu rosto
enquanto seus sonolentos olhos verdes abriam, os lábios transformando-se
num sorriso suave enquanto ela me olhava. Eu a vi segurando Sugie em seus
braços.

"Ela precisa de amor mais do que qualquer coisa", ela disse a Vanessa.
"A única coisa que vai machucá-la é você se afastar."

Eu apertei meus olhos fechados momentaneamente, e uma intensa dor


encheu meu peito. Eu a vi saltar para baixo daquela árvore, de pé sobre o
trator numa pose de bailarina, deslizamento para baixo no corrimão, um olhar
de alegria descarado em seu rosto. E sim, ela tinha definitivamente ganhado
naquele dia. Eu a vi andando na minha direção no labirinto enquanto estendia a
mão. Naquela noite, sob o luar, ela me salvou. E quando chegou a hora, eu
não tinha sido forte o suficiente para salvá-la também. Deixei escapar um
suspiro profundo, e as visões continuaram fluíndo através da minha
mente, no meu coração. Imaginei-a ajoelhada em minha frente no
chão da adega de vinhos, um olhar de ternura e amor em seu
rosto.
"Se você deixar, a dor toma mais espaço que o amor dentro de você. E
o amor que carregamos internamente nos torna fortes quando nada mais
pode."

Jesus. Isso é exatamente o que ela tinha feito. Ela tinha tomado todos
esses espaços vazios dentro dela e enchido-os com amor. E quando o pior
tinha acontecido, eu tinha sido muito estúpido, tinha ficado com medo e cheio
de auto-dúvidas para permitir que ela me ensinasse a fazer isso também.

Eu tinha caído perdidamente apaixonado por uma bruxinha


encantadora, uma menina radiante com olhos de esmeralda e uma juba
selvagem de cabelo tão indomável quanto ela. Kira, minha esposa ardente com
um espírito tão brilhante quanto o sol, e um coração tão suave quanto o de um
cordeiro recém-nascido. Ela possuía meu coração e minha alma - eu seria dela
até meu último suspiro. E eu estava pronto agora. Eu estava pronto para
entregar o meu tudo, até a última gota, aconteça o que acontecer. Eu só
esperava que não fosse tarde demais. Por favor, não deixe ser tarde demais.

A mulher que atendeu a porta estava vestindo um uniforme de


empregada. Ela me levou para a formal sala de estar, e me disse que veria se
Jessica estava disponível. Eu balancei a cabeça tristemente, optando por não
me sentar no sofá branco e imaculado.

Poucos minutos depois minha madrasta veio deslizando para a sala,


tão perfeitamente penteada como eu lembrava-me dela, cada pedaço de
cabelo loiro escuro no lugar. "Grayson," ela cumprimentou, em pé
desajeitadamente perto da porta. Após uma breve pausa ela
mudou-se para o bar na parede distante. "Queres um
cocktail? É cinco horas em algum lugar, certo? A corrupção na política é a
conversa na cidade, não é?" E aí estava a confirmação que ela tinha sido parte
de tudo que tinha acontecido com Cooper Stratton.

"Você estava lá", eu disse, indo direto ao ponto.

Ela serviu-se de um copo de vinho, virou-se e segurou-me em questão.


Eu balancei minha cabeça. Ela engoliu um grande gole antes de responder.
"Sim, eu estava lá. Quem você pensou que pagou pelo custo de cento e vinte e
cinco dólares por prato?"

Eu olhei para ela cautelosamente. "Você pagou para quem? Harley e


Priscila?"

Ela tomou outro gole de vinho. "E para mim mesma. Eu decidi que era
uma boa causa. Então, você realmente não sabia sobre isso?"

"Não."

Ela assentiu com a cabeça. "Sua esposa veio a mim na semana


passada. Aparentemente esse tal de Cooper estava envolvido em algo,
causando-lhe conflitos. Ela disse que conhecia sua fraqueza, e que planejava
tirar fotos para chantageá-lo, e, consequentemente, seu pai."

Deixei escapar um assobio alto de ar. Kira. Eu ia beijá-la sem sentido e,


em seguida, estrangulá-la. Ela estava planejando chantageá-lo tirando fotos
obscenas. De todas os loucos e fantasiosos esquemas!

"Pelo que posso ver, eles têm mais do que esperavam. Mesmo
Washington esta toda tremulante sobre isto. Governo corrupto é a conversa
de cada cidade na América hoje."

"Assim, o plano era apenas para tirar fotos?"


Jessica deu de ombros. "A menos que eles não mencionassem o resto
para mim. Ela só perguntou se eu iria financiá-la."

"E por que você fez isso?" Eu perguntei, pensando em todas as vezes
que ela tinha dito coisas cruéis para mim, todas as vezes que ela observou
como meu pai me punia simplesmente por existir.

Ela se virou e olhou para fora da janela, saboreando o vinho. "Eu tive
tempo para considerar as coisas desde que Ford se foi." Ela se virou para mim,
colocando o copo de vinho em uma mesa lateral." Eu... poderia ter feito melhor
quando ele veio para você. Eu estava amarga e magoada e..." Ela acenou com
a mão ao redor. "Bem, eu tenho certeza que você não está interessado em
ouvir sobre isso, e, francamente, eu não estou tão interessada em falar sobre
isso também. Mas quando me pediram para ajudar, eu percebi que lhe devia
pelo menos isso. Sua esposa, ela obviamente te ama muito, Grayson." Ela
olhou para mim, como se me vendo pela primeira vez.

Eu estava atordoado. Enquanto eu ficava de boca aberta em silêncio,


ela se mudou para uma pequena escrivaninha no canto e tirou algo da gaveta
superior. "Eu ia enviar isso para você, mas desde que você está aqui..."

Ela estendeu-o para mim e eu peguei dela, olhando para baixo, para ver
que ela tinha me dado um cheque de duzentos e cinquenta mil dólares.

"O que é isto?" Eu exigi, segurando-o de volta para ela.

"É parte do espólio de seu pai. Esperemos que cubra, pelo menos,
alguns dos danos que ele fez para o vinhedo antes de morrer." Ela sabia. Ela
sabia o que ele tinha feito.

"E se eu não quiser o dinheiro dele?"

"Então você seria um tolo equivocado, tal qual ele era.


Tome-o e faça uma vida para si mesmo, Grayson, onde quer
que seja. Tome-o e seja feliz. "
"Eu -"

"As rosas e flores de espinheiro ainda estão florescendo?" ela


perguntou.

"Eu... O quê? Sim."

Ela assentiu com a cabeça, algo se movendo através de sua expressão.


Parecia tristeza, ou talvez arrependimento. Ela se moveu em direção à porta.
"Bom, eu estou contente de ouvir isso", disse ela. "Suponho que você pode
encontrar seu caminho para fora?"

"Sim", eu disse, confusão, surpresa, esperança e uma centena de outras


emoções que eu não conseguia identificar nesse momento movendo-se em
meu peito. Dobrei o cheque e coloquei-o em minha carteira, e, em seguida, saí
da casa da minha madrasta.

Eu estava cambaleando. Apenas Kira poderia amolecer um coração


como o de Jessica. Apenas Kira. Deus, só ela.

Eu tinha uma esposa para encontrar, e algum rastejar para fazer. Eu


estava indo rastejar tanto que talvez seria necessário encontrar uma nova
palavra descrevê-lo.
Capítulo Vinte e Cinco
Kira

"Aí, é a definição de lamentável", disse Kimberly, que espreitando para


fora da janela ao meu lado.

A chuva tamborilava contra o painel de vidro do apartamento de Sharon,


onde eu havia permanecido nas últimas duas semanas. O homem sentado na
varanda abaixo - o homem que era atualmente meu marido - estava
encharcado até os ossos, o cabelo escuro grudado em seu crânio. E ele estava
usando asas de dragão.

"Você vai ter pena dele, ou o quê?" Kimberly perguntou, virando-se para
mim com os braços cruzados.

Sabendo que Sharon estava no centro de drop-in e que eu estava


sozinha, ela correu aqui depois de Grayson tinha aparecido no apartamento
dela, pedindo-lhe para dizer onde eu estava. Ela desabou, mas eu não tinha
tanta certeza de que podia. Grayson tinha passado vinte minutos batendo na
porta da frente, chamando por mim. Quando tinha começado a chover, eu tinha
certeza que ele sairia, mas em vez disso ele sentou-se e se acomodou na
escadaria.

Eu balancei minha cabeça. "Eu não posso, Kimberly. Se eu der uma


olhada nele eu vou desintegrar-me, e as coisas que ele disse para
mim... as coisas que ele pode ter feito... Eu não posso
desmoronar." Grayson conhecia o meu calcanhar de
Aquiles e o usou como alvo da forma mais dolorosa possível.

“Desde que você se foi, eu cheguei à conclusão que gosto mais de uma
variedade de mulheres do que daquilo que votos de casamento podem ditar-
me. Eu já experimentei algumas recentemente. Você era ok, mas desde então
eu já tive melhores.”

Eu senti uma forte picada dolorosa nas imediações do meu coração


quando suas palavras voltaram para mim. Afastei-me da janela, para que não
tivesse que olhar para ele lá fora. "Além disso, as coisas que eu fiz. Eu planejei
e tramei e-"

"Sim, você veio com a mãe das Muito Más Ideias, e tem apenas sorte
que não me disse sobre isso com antecedência, pois eu teria te amarrado ao
invés de deixá-la passar por isso. Mas também, Kira, você pode muito bem ter
exposto duas das figuras políticas mais corruptas da história recente - aqueles
que teriam, eventualmente, arruinado mais vidas. Estou orgulhosa de você."

Deixei escapar um longo suspiro. "Priscilla fez todo o trabalho duro. Mas
de qualquer maneira, Grayson não necessariamente o vê da maneira que você
faz."

"Bem, junto com o resto da América, ele já sabe sobre o que aconteceu,
e descobriu qual foi o seu plano. E ele ainda está sentado lá fora, como um
molhado e patético... pássaro ou algo assim."

"Dragão", corrigi friamente. "E ele pode apenas querer me estrangular.


O que ele disse para você exatamente quando chegou no seu apartamento?"

"As coisas que você precisa ouvir", disse ela suavemente. Coisas que
obviamente tinham influenciado-a o bastante para dar-lhe o endereço de onde
eu estava hospedada. Senti minha vontade ceder apenas uma
fração.
Nós duas congelamos quando ouvimos o raspar de algum tipo no lado
do duplex de Sharon. Eu chupei uma respiração, meus olhos arregalados. De
repente, o gemido rangente de uma janela antiga abringo encheu o silêncio.

"Alguém está tentando entrar" Kimberly sussurrou. "Meu telefone está lá


embaixo." Nós duas corremos para o corredor, e eu soltei pequenos gritos
quando olhei na porta aberta do quarto no final do corredor e vi alguém que
puxava-se pela janela. Ele foi pego no quadro por... asas. Parei no meio do
caminho, deixando escapar uma lufada de ar alto, aliviada.

"Grayson", eu respirei, movendo-me para ficar na porta grande.

"O que o-?" Kimberly perguntou em voz alta atrás de mim quando ele
arremessou seu corpo através da janela, caindo no chão em um alto baque
molhado. Ele gemeu, esfregando o braço quando se ajoelhou.

Ele me viu de pé, imóvel, olhando estupidamente para ele, e pôs-se em


pé. "Kira", ele murmurou, formando uma poça debaixo de seus pés. A labareda
de desejo em seus olhos escuros fez meu estômago apertar.

"O que você está fazendo?" Eu perguntei, meus olhos passando sobre
ele. Sua camiseta azul acinzentada estava grudada ao peito, mostrando cada
mergulho muscular e entalhe, seus jeans agarrados às suas coxas fortes. Eu
ingeri. Ele parecia tão incrivelmente lindo ali de pé, mesmo encharcado como
estava, asas suspensas molemente atrás dele.

Grayson passou a mão pelos cabelos, alisando-os longe de sua testa.


Ele pegou algo em seu peito e eu virei minha cabeça, percebendo que
Kimberly lhe jogou uma toalha. "Eu vou só... estar lá embaixo", disse ela. Eu
balancei a cabeça, pressionando meus lábios juntos e olhando de volta para
Grayson, apenas para encontrá-lo passando a toalha sobre a
cabeça. Ele deslizou as asas, esfregou a toalha em sua camisa, e
em seguida, correu-a sobre suas pernas, finalmente
inclinando-se para enxugar a poça embaixo dele. Meus olhos seguiram cada
movimento.

Quando ele voltou até sua altura completa, nos olhamos fixamente um
para o outro através da sala por vários momentos tensos. Finalmente ele disse
baixinho: "Quando eu estava sentado lá fora na chuva, eu pensei comigo
mesmo, o que Kira faria agora? Ela faria alguma coisa. Ela viria com um plano.
Não seria como se ela apenas sentasse aqui e esperasse as coisas
acontecerem por ela. Ela iria reunir toda a sua coragem, e tentaria, mesmo que
toda a esperança parecesse perdida. E eu pensei sobre o quanto eu quero ser
corajoso como você."

Oh. Eu me mexi nos meus pés, lutando para não me desintegrar


imediatamente. "E assim que você escalou o lado do prédio e invadiu a casa de
Sharon?"

Ele deu de ombros, dando-me um sorriso torto. "Invasão foi a melhor


coisa que eu pude pensar no momento." Ele limpou a garganta. "Na verdade, é
o plano B, no entanto. Veja, inicialmente o meu plano não era tão bom. Eu te
daria um sermão sobre os perigos do que você tinha feito e faria algumas
sugestões sobre suas... ideias impulsivas. Então", ele enfiou a mão no bolso e
puxou um molhado e dobrado pedaço de papel, "Eu fiz uma lista de prós e
contras." Deixei escapar uma pequena risada/meio bufo, e ele atirou-me um
olhar esperançoso quando cuidadosamente desdobrou o papel, tomando
cuidado para não rasgá-lo. "Eu escrevi sobre o seu espírito, sua compaixão e
sua bondade. Mas eu também escrevi sobre todas as maneiras que você me
deixa louco e traz-me à beira da insanidade." Ele virou a nota de cabeça para
baixo e da direita para cima novamente. "Mas, então, eu não conseguia
lembrar quais eram os prós e quais eram os contras, porque todos
eles se unem para molda-la, e eu não quero mudar uma única
coisa em você."
"Oh," eu respirei, pendurada por um fio na promessa de não-
desmoronar. "Bem", eu disse, cruzando os meus braços sobre o peito, "Bem,
isso... funcionou, eu suponho, o plano B. E não foi o pior dos planos no que diz
respeito a planos." Eu afastei meus olhos dele, mordendo meu lábio por um
momento. "Mas, o que exatamente você estava tentando fazer? Agora que
você está na minha frente, o que você quer, Grayson?" Eu limpei minha
garganta, sabendo que a forma como a minha voz falhou no seu nome
entregou minhas emoções instáveis, bem como a esperança subjacente que eu
estava tentando tão duramente negar.

"Eu quero te dizer o que eu deveria ter dito naquele dia no meu
escritório, se eu tivesse sido corajoso o suficiente, em seguida, se eu tivesse
sido forte o suficiente. Eu quero te dizer que eu confio em você, que eu te amo
e que eu não quero viver minha vida sem você. E estou esperando que você
me perdoe por ter te afastado, por dizer essas coisas cruéis para você, por ter
mentido, e espero que... espero que você possa me ajudar a me perdoar. Sinto
muito, estou muito arrependido." Sua voz tinha uma dor tão crua que fez meu
coração pular no meu peito.

Tentei raciocinar através de tudo o que ele acabou de dizer, e minha


mente se agarrou em três palavras em particular. "Você me ama?" Eu
perguntei, a esperança me deixando sem fôlego.

Dei um passo em direção a ele, mas ele levantou a mão, parando-me no


meu caminho. Eu pisquei para ele. E em seguida, as lágrimas saltaram aos
meus olhos, quando a compreensão despontou. Ele queria vir até mim. Ele
assim o fez, detendo-se a poucos passos de onde eu estava. Um sorriso
trêmulo inclinou para cima os cantos dos meus lábios.

"Sim", ele disse, "Eu te amo tanto que me sinto como uma
concha vazia sem você."
Mordi o lábio trêmulo. "E essas coisas que você disse, sobre estar com
outras..." Minha voz arrastou fora, a dor brutal daquele momento voltando para
mim e roubando as palavras.

"Não", respondeu asperamente. "Deus, não. Eu disse essas coisas para


te machucar, como eu pensei que você estava me machucando." Ele fechou os
olhos, um olhar de vergonha passando sobre suas belas feições. "Eu tenho
sido e sempre serei fiel a você - corpo, e também o coração e a alma. Eu fiz
uma promessa, e eu pretendo viver por ela."

Eu sorri através de uma pequena respiração ofegante, tentando segurar


um soluço, de repente fraca com alívio.

"Eu fui fiel a você, também. Naquele dia, em Napa, eu estava apenas
com Cooper porque era parte do plano, e ele pensava que eu ainda morava lá.
Eu tinha que descobrir onde ele estaria. Depois disso, eu pedi desculpas e sai.
Eu nunca fui a qualquer lugar com ele, naquela noite ou qualquer outra."

Ele fechou os olhos por um momento. "Eu sinto muito ter duvidado de
você."

Eu balancei minha cabeça. "Parecia ruim, eu sei. Eu teria explicado,


mas -"

"Eu fui terrível. Mais que horrível."

Eu coloquei meus dedos sobre os lábios, fungando enquanto olhava


para o rosto dele. "Você estava machucado."

Ele balançou a cabeça, sua expressão aflita e cheia de culpa.

"Eu tinha certeza que você ia me enviar os papéis do divórcio. Você


não aceitou a oferta do meu pai?"

Ele balançou a cabeça. "Não, eu não aceitei. Eu prefiro


morrer de fome."
Eu olhei para baixo. "Bem, isso é uma atitude conveniente, porque ainda
podemos. Eu não sei quanto tempo vai demorar para chegar a preensão que
tirou o dinheiro da minha avó, ou mesmo se meu pai ainda vai perseguir isso.
Ele pode-"

"Acontece que Jessica Hawthorn estava interessada em investir na


vinha da família."

Inclinei a cabeça, olhando para ele com confusão. "Ela fez? Eu só


encontrei-me com ela tão brevemente. Ela concordou em me dar o dinheiro
para financiar meu plano, mas foi concisa e sem consideração”.

"Sim." Ele sorriu, e havia uma nota de admiração ali.

"E," ele continuou, "eu quero que você saiba que eu cheguei à todas as
conclusões sobre meus sentimentos por você, e todas as maneiras que eu agi
como um idiota completo antes de descobrir o que você fez por mim, por nós",
ele fez uma pausa, "ultrajante como era" ele não parecia ser capaz de ajudar a
adicionar.

Eu engoli, meu sorriso desaparecendo enquanto eu olhava para baixo.


"Eu planejei e conspirei..." Eu olhei em seu olhos. "Eu tive que fazer, Grayson.
Eu não sabia se você realmente tinha aceitado a oferta do meu pai ou não,
mas, se você tivesse feito, ele teria arruinado o seu nome e todo o progresso
que você fez para melhorar sua reputação, e se você não, você estaria sem um
centavo. E era tudo minha culpa. Eu tinha que corrigí-lo. Eu tinha que tentar."
Lágrimas saltaram aos meus olhos.

Ele deu um passo em minha direção, um sorriso terno aparecendo em


seu rosto. "Eu sei, bruxinha. E temos muito o que falar sobre esse assunto.
Mas primeiro eu quero que você saiba que eu estava errado quando
disse que você era parecida com seu pai ou com o meu. Você
conspirou, é verdade", ele sorriu e passou o dedo sobre
minha maçã do rosto, "mas suas ideias são preenchidas com amor e alegria
para a vida, assim como você. Nada de ruim poderia vir de você, Kira, porque
nada de ruim está dentro de você."

Alívio e felicidade fluíam através das minhas veias. Eu balancei minha


cabeça. "Eu não vou conspirar mais", insisti. "Eu quero dizer... a menos que
seja algo muito, muito importante." Eu mexi meus olhos para o lado. "Ou, bem,
a menos que -"

Minhas palavras pararam e meus olhos dispararam para o seu rosto ao


ouvir o som de sua risada suave, seu olhar cheio com diversões suaves. "Ok",
ele disse calmamente. "Eu te amo, Kira. Eu nunca vou parar de dizer isso.
Estou pronto para enfrentar os espinhos. Eu vou mergulhar sozinho sobre eles
por você."

"Soa doloroso", eu respirei.

Ele riu. "Eu espero que seja uma metáfora. Charlotte", ele disse como
explicação. Ah. Sim, Charlotte.

Ela tinha ligado e me verificado todos os dias e, embora eu não tivesse


confiado minha mais recente Muito Má Ideia até que tudo estivesse acabado e
a fita fosse enviada para a notícia, ela me manteve com seus sábios conselhos
e palavras de conforto e, acima de tudo, oferecendo o seu amor de avó.

"A rosa", eu disse. "Eu tenho esse, também."

Seus lábios se inclinaram para cima em um sorriso de menino quando


ele escovou uma mecha de cabelo do meu rosto. Sua expressão tornou-se
tristemente contemplativa. "Eu gostaria de ter estado verdadeiramente pronto
para viver por suas palavras. Poderíamos ter evitado estas últimas semanas."

Emoção tomou conta de mim, e uma lágrima rolou pela


minha bochecha. Grayson usou seu polegar para secá-la. Eu
peguei o brilho de prata, e olhei mais de perto sua mão
quando ele se afastou. "Você encontrou o anel?" Eu respirei.

"Sim", disse ele. "E se ainda é meu para manter, eu nunca vou tirá-lo."

Eu balancei a cabeça. "Sim, ele é seu", eu sussurrei. "Me desculpe. Eu


sinto muito por manter o segredo sobre o meu pai e o seu caso de você. Eu
nunca quis te machucar. Eu também te amo. Eu nunca parei. Eu nunca o faria.
Meu dragão."

Alívio passou sobre seus traços antes dele perguntar com voz rouca,
"Posso ficar agora?"

Eu balancei a cabeça vigorosamente, pisando para seu abraço. Ele


sorriu contra a minha testa, esfregando sua mandíbula masculina e áspera na
minha pele. "Vem comigo para casa, Kira," ele sussurrou. "Venha de volta para
casa. Por favor. Deixe-me provar que posso ser o marido que você merece."

Eu balancei a cabeça contra seu peito, respirando o dolorosamente


delicioso aroma de chuva fresca e de meu marido. Meu marido que me amava
e queria que eu fosse para casa com ele. A miséria, o sofrimento e o medo das
últimas semanas, de repente, tomaram conta de mim e, ofegante, deixei
escapar um soluço, enterrando minha cabeça mais firmemente contra ele.
Seus braços vieram ao meu redor e ele esfregou seu rosto contra o topo da
minha cabeça.

"Por favor, não chore, Kira," ele sussurrou. "Eu não quero nunca mais
ser a causa de suas lágrimas novamente."

Eu balancei a cabeça, agarrando sua camisa e olhando para cima em


sua expressão crua com amor e ternura.

Ele pegou meu rosto em suas mãos, inclinando-se para beijar


minha boca. Eu o beijei de volta avidamente, glorificando-me no
gosto dele, a sensação de seus lábios nos meus. Eu tinha tanta
saudade dele. Ele se afastou, beijando as lágrimas que
corriam pelo meu rosto, sua respiração quente na minha pele. Levantando
minha boca para a dele, eu o beijei novamente e novamente, provando a
essência salgada da minha dor em seus lábios, regozijando-me na forma como
os nossos beijos se tornaram doce novamente. Nós dois estávamos sem fôlego
quando minhas lágrimas finalmente diminuíram.

Quando ele puxou sua boca da minha, seus olhos se moviam sobre meu
rosto quando ele sussurrou, "Você poderia estar grávida."

Eu pisquei e depois balancei a cabeça. "Eu não estou", eu disse,


lembrando o dia há uma semana quando meu período veio. Eu tinha estado
parcialmente aliviada, mas principalmente desapontada, e eu disse isso a
Grayson. "Eu pensei que mesmo se você não me quisesse mais, pelo menos
eu teria uma pequena parte de você para sempre."

"Kira", disse ele com a voz rouca, puxando-me com ele novamente e me
abraçando com força.

Eu olhei para cima, meus olhos encontrando os seus. "Leve-me para


casa", eu disse.

Depois de caminhar com uma Kimberly sorridente até o carro dela e


dizer adeus, Grayson e eu arrumamos minhas malas e entramos em seu
caminhão, indo para casa. Casa. Só com o pensamento da palavra meu
coração já pulou de alegria.

Eu pegaria meu carro outro dia. Por agora eu não poderia


suportar me separar do meu marido, até mesmo por uma hora.
Passamos o passeio de carro atualizando um ao outro em tudo o que
tinha acontecido desde que tínhamos nos separado.

Grayson me escutou explicar o plano que Harley, Priscilla e eu tínhamos


bolado, suas mãos segurando o volante com força. "Eu não sei se mato todos
os três, ou se construo um santuário a sua coragem", ele trincou fora.

"Eu pessoalmente gosto da ideia do santuário. Eu quero dizer, se você


está tomando votos." Dei-lhe o meu mais brilhante sorriso.

Seus olhos encontraram os meus e ele sorriu de volta, rindo


suavemente depois. "Essa maldita covinha pode só ter te salvado." Eu ri,
mostrando-a que para ele novamente.

"Eu acho que Harley merece uma promoção", disse ele. "Ele é
obviamente talentoso com tarefas de malabarismo. Não só estava te ajudando,
mas foi ele que organizou um grupo inteiro de homens para vir trabalhar na
vinha, embora eu não possa pagá-los no momento."

"Eu sei." Eu sorri. "Charlotte contou-me."

Ele olhou para mim e levantou uma sobrancelha. "Então, eu fui o único
deixado de fora? Aparentemente todo mundo sabia tudo o que acontecia,
exceto eu."

Eu coloquei minha mão em seu braço. "Nunca mais", eu disse. "A partir
de agora, todas as minhas tramas vão envolvê-lo."

"Você não deveria tramar mais", ele me lembrou.

Mordi o lábio. "Oh, certo..." Ele inclinou a cabeça para trás e riu.

Quando dirigimos através das portas do Hawthorn Vineyard, Grayson


pegou minha mão e apertou-a.

Nós paramos perto da casa e Charlotte veio pra fora,


juntando as mãos ao peito em delírio.
Nós dois saímos e ela desceu as escadas, levando-me em seus braços
e me abraçando com tanta força que eu ri, lutando para respirar.

"Como está Walter?" Perguntei.

"Ele está maravilhoso! Ele chega em casa amanhã." E então ela me


abraçou novamente. Sentimentos de gratidão e contentamento fluíram através
de mim. Eu estava em casa. Finalmente, o meu coração sussurrou. Enfim.

Harley, Virgil, José e vários homens que eu não conhecia vieram


andando em direção à casa, aparentemente acabados com o trabalho do dia.
Eles estavam rindo e brincando, e gritaram saudações quando chegaram perto.
Sugie veio correndo atrás deles, bufando animadamente, e por um momento o
tempo diminuiu quando eu sorri ao redor para eles: minha família. Um grupo de
desajustados e azarados que, juntos, tinham trazido uma falida vinha de volta à
vida, e virado a mesa em dois muito poderosos homens corruptos.

"Hey Harley," Grayson chamou. "Chame sua mulher. Ela precisa se


juntar a nós. Eu tenho cerca de mil brindes para fazer com ela."

Harley sorriu. "Vai fazer, meu homem."

Decidimos não assistir ao noticiário naquela noite. O mundo iria esperar.


Depois que tínhamos apreciado um jantar em família cheio de turbulentos risos,
conversas e muitos, muitos aplausos por toda parte, Grayson e eu nos
retiramos para o nosso quarto. Ele fez amor comigo primeiro ferozmente e
rapidamente, e, em seguida, novamente, de forma lenta e docemente. Alívio
fluiu através de mim por ter sido preenchida por ele novamente. E enquanto eu
estava deitada em seus braços depois, senti-me mole com felicidade e amor.

"Kira", ele murmurou, virando-se para mim, "eu quero que você saiba
que eu fiz uma nova promessa – uma com que pretendo viver
para o resto da minha vida."
"O quê?" Eu sussurrei, sentindo a importância das palavras que ele
estava prestes a dizer.

Ele inclinou meu rosto para ele. "Nós somos casados, e haverá
momentos em que estaremos em desacordo ou brigaremos, ou mesmo
questionaremos o outro. Haverá momentos em que amar você trará à tona todo
medo dentro de mim. Mas meu voto é este: não importa o que aconteça, eu
nunca deixarei o quarto até que tenhamos trabalhado sobre isso."

Seus olhos se moveram sobre o meu rosto, sua expressão suave e


vulnerável. "E com isso eu quero dizer que eu não irei me afastar para dentro
de mim mesmo também. Eu vou estar presente, até que tenhamos resolvido o
problema entre nós, não importa quanto tempo leva. Eu também não quero que
você se preocupe que eu vou te mandar embora de novo. Juro isso a você,
com todo o meu coração."

Senti uma dor profunda de ternura quando concordei com ele. "Eu me
comprometo com o mesmo."

Ele sorriu gentilmente. "E, às vezes, vamos nos encontrar no meio do


caminho, mas outras vezes, eu vou até você. E eu vou tentar o meu melhor
para colocar o meu orgulho de lado, então saberei quando preciso ser o único
a fazer isso."

"Eu também", eu sussurrei, lágrimas inundando meus olhos. Ele se


inclinou e beijou minhas pálpebras, fazendo mais lágrimas fluírem pelas minhas
bochechas. Ele beijou minhas lágrimas e então me puxou para mais perto
contra ele, acariciando seu rosto no meu cabelo.

E estes votos, feitos em sussurros privados na penumbra, com raios da


lua fluindo através da janela do nosso quarto, eram sagrados e reais,
pois foram baseados em verdade e amor.
Epílogo
Oito anos mais tarde

Grayson

"O que exatamente você está fazendo, pequena duende?" Eu perguntei,


olhando para a garota de sete anos rastejando através da grama. Sua cabeça
apareceu, cascatas de cabelos ruivos caindo pelas costas, olhos marrom
profundo piscando para mim.

"Eu estou fingindo ser uma lagarta", ela respondeu.

"Ah", eu disse, segurando o sorriso que puxou meus lábios. "Ontem


você era uma margarida, e hoje você é uma lagarta."

Ela ficou de joelhos, colocando as mãos nos quadris pequenos. "Vovô


Walter diz que você não pode compreender verdadeiramente outra pessoa a
não ser que você veja o mundo através de seus olhos."

"Ele disse?" Isso soou como Walter, o homem que me ensinou tudo o
que eu sabia sobre ser um bom pai. "Bem, eu não sei se ele estava se
referindo margaridas e lagartas."

"Mas são minhas favoritas!" ela insistiu. "Eu quero entendê-las acima
de tudo!"

Eu ri. "E o que você descobriu até agora?"


"Bem, margaridas olham para o céu durante todo o dia e o assistem
mudar. Elas devem pensar que o mundo é um lugar muito bonito. Lagartas só
olham para o chão." Ela franziu a testa. "Lagartas devem estar muito
desapontadas com o mundo."

Eu ri, pegando-a em meus braços e sorrindo em seu rostinho sério.


"Você sabe o que eu vejo? Uma menina bonita com um coração muito
compassivo. Agora, onde está a sua irmã mais nova? Eu tenho algo para
contar a vocês."

"Ela está jogando dress-up na casa de campo. Papai, você colocou um


outro bebê dentro de mamãe?"

Meus olhos se arregalaram e eu parei. "Como você sabia disso?"

"Você tinha o mesmo olhar em seu rosto quando me contou que ia


colocar Celia na barriga da mamãe."

"E que olhar é esse, exatamente?"

Ela arranhou o braço dela, sua expressão contemplativa. "Eu não sei.
Tipo como Sugie parece quando ela pega um pedaço de pau."

Eu ri alto, imaginando o olhar principalmente orgulhoso, mas um pouco


chocado no rosto de Sugie quando ela faz algo que considera brilhante. "Bem,
você está certa. E, adivinhe? É outra irmã."

"Outra irmã?" Seu rosto irrompeu num sorriso, mostrando seu dente
faltante e a cativante covinha que ela herdou de sua mãe. "Isso é um monte de
garotas, papai."

Eu sorri. "Aham." Felicidade fluiu através do meu coração. Não parecia


que a vida podia ficar melhor do que já estava, e ainda, de alguma
forma, todos os dias melhorava um pouco mais. Tudo por causa
de um garota que uma vez corajosamente entrou no meu
escritório e me propôs casamento. Tudo porque eu
finalmente tive a coragem para me render à minha bruxinha doce e, em troca,
ela tinha me dado uma casa cheia de garotas animadas que subiam em
árvores, fingiam ser lagartas, me enfrentam de volta de vez em quando, me
colocavam no meu lugar muito regularmente, lembrando-me muitas vezes que
eu definitivamente não era o governante em minha própria casa, e geralmente
me levando à distração.

Eu defini Isabelle para baixo, e nós entramos na pequena casa de


campo onde uma vez uma muito bonita bruxa tinha vivido, e encontramos
Celia, de quatro anos e vestida como uma princesa tomando chá na mesa em
miniatura na sala da frente. Vários anos atrás nós tínhamos tido a casa limpa e
atualizada, e a transformamos em um teatro para as nossas meninas.

"Nós vamos ter outra irmã!" Belle gritou.

O copo de plástico de Celia parou a meio caminho de sua boca e seus


olhos se arregalaram. "Uma outra irmã?", ela disse, saltando para seus pés.
Ela cambaleou em minha direção em saltos de plásticos e se jogou em meus
braços quando eu dobrei-me para apanhá-la. "Obrigada, papai. Eu desejei uma
irmã mais nova."

Eu sorri para o seu belo rosto em formato de coração, os olhos verdes


brilhantes com felicidade e ligeira, e um pouco de malícia que ela sempre teve.
"É o meu trabalho sabe, fazer todos os seus desejos se tornarem realidade."

Sua expressão ficou pensativa enquanto girava uma mecha de seu


cabelo escuro. "Posso ter um pônei então?"

Eu usei o meu dedo indicador para bater em seu nariz. "E," eu


qualifiquei, " para não mimá-la completamente."

"Hmm," ela resmungou, mas eu podia ver as rodas girando


por trás de seus olhos. Ela já estava tramando uma maneira de
conseguir o pônei.
Eu ri, e nós três fomos até a casa principal, onde Charlotte estava na
cozinha. Eu peguei uma inspiração profunda do ar perfumado com um doce
aroma de limão.

"Vovó Charlotte," Celia chamou. "Nós vamos ter uma irmãzinha!"

Charlotte riu e pegou Celia em seus braços enquanto Isabelle abraçava


sua cintura. "Eu sei, meus amores, eu ouvi a notícia maravilhosa. Devemos
comemorar com um bolo de limão, fresco do forno?"

"Ou talvez dois?" Celia inclinou a cabeça e sorriu lindamente.

Eu ri. "Olhe isso."

Charlotte sorriu quando eu a beijei na bochecha. "Você viu Kira?"


Perguntei.

"Eu acho que ela está la trás", disse ela, estabelecendo Celia para
baixo. "Você vá encontrá-la, eu cuido destas duas."

Ela sorriu, feliz, e eu saí, sabendo como muito feliz e agradecida ela se
sentia com uma casa cheia de garotas para estragar, mimar e amar. E para
assar-lhes deleites.

Eu pisquei para ela e fui em busca de minha esposa, tendo uma ideia de
onde ela poderia estar. Enquanto eu caminhava descendo a colina, eu olhei
para fora sobre as videiras, meu peito cheio de orgulho. Há oito anos nós
trouxemos esta vinha da beira da ruína com o dinheiro que Jessica tinha me
dado, muito trabalho duro e uma abundância de amigos leais. Desde então,
nós tínhamos crescido com mais sucesso a cada ano, ganhando até mesmo
vários prêmios para os vinhos produzidos. Hawthorn Vineyard estava
prosperando, e eu estava especialmente orgulhoso do fato de que agora
empregava quase duas centenas de pessoas, muitas das quais
eram ex-presidiários à procura de uma segunda oportunidade,
procurando alguém para acreditar neles. Harley, que
agora era meu diretor de operações, foi quem inspirou essa ideia. E poucas
outras empresas em Napa tinham até mesmo seguido a ideia quando a noticia
de quão leais e trabalhadores eram nossos funcionários se espalhou.

O dinheiro da avó de Kira eventualmente foi desbloqueado, muito antes


do julgamento que colocou Cooper Stratton atrás das grades por todo um rol de
crimes. Frank Dallaire nunca tinha sido provado culpado de participar em
qualquer coisa ilegal, mas como ele sabia melhor do que ninguém, na política,
a imagem é tudo. Ninguém queria estar ligado à suspeita que rodeava seu
nome. Ele desapareceu do panorama político e tanto quanto sabíamos, não
estava mais envolvido no governo em tudo. Nem foi envolvido em nossa vida.

Felizmente, porém, nós não faltamos para a família, incluindo Shane e


Vanessa. Eles tinham agora dois garotos que visitam muitas vezes, e sempre
saem parecendo um pouco atordoados depois de nossas garotas correm
espezinhando sobre eles, brincando, forçando-os a jogar dress-up e participar
de aventuras um pouco traquinas.

"Eu pensei que eu iria encontrá-la aqui", eu disse, virando o último canto
do labirinto bem cuidado. Eu sorri quando me juntei a Kira no banco em frente
à fonte, onde ela estava sentada com a mão no seu minúsculo inchaço do
bebê. As esmeraldas de seu anel de casamento brilhavam ao sol, me
lembrando do dia que eu tinha colocado-o em seu dedo, e de como tínhamos
renovado os nossos votos em uma pequena cerimônia iluminada pelo sol sob a
árvore de damascos em nossa vinha. Eu queria dar-lhe um dia de casamento
real, um cheio de amor, alegria e família - e isso é o que eu tinha feito.

Minha esposa sorriu, me mostrando a covinha e fazendo com que o


meu coração virasse. "É o meu lugar favorito, o coração de seu covil. Eu
sempre sei que você vai me encontrar aqui, dragão."
Eu ri baixinho e recolhi-a para mim, levantando-a para o meu colo. Ela
colocou os braços ao redor do meu pescoço, e colocou sua testa contra a
minha. "Outra garota", ela suspirou feliz.

Eu aninhei em seu pescoço. "Hmm," eu murmurei. "Outra mulher para


me manter sob seu polegar. É quase como se você tivesse planejado dessa
maneira."

Kira riu. "Não, não planejado, apenas sonhado. Sonhei com esta vida
que você me deu." Ela pegou meu rosto entre as mãos e beijou meus lábios.
"Obrigada", ela sussurrou contra a minha boca.

Gratidão e amor me dominaram, e eu trouxe minha mulher ainda mais


perto, abraçando-a ao meu corpo e inalando seu perfume doce. E, naquele
momento, eu soube que não voltaria a acreditar que a vida não realizava
milagres. Com seu amor, minha linda bruxinha tinha transformado um lugar
uma vez preenchido com solidão e dor num cheio de alegrias e sonhos.
Enquanto nós nos abraçamos, uma frase milenar sussurrou por entre as
árvores, as rosas e as videiras além: In Vino Veritas. No vinho há verdade.

Mas o maior conhecimento que agora vivia no silêncio calmo do meu


coração: no amor existe verdade.

E a verdade que o amor tinha me ensinado era que você só pode ser
forte uma vez que for corajoso o suficiente para quebrar, e que a dor faz com
que haja mais espaço para o amor. Eu era grato por tudo isso, porque esse era
o belo equilíbrio da vida.
Agradecimentos
Como sempre, eu tive um monte de ajuda para escrever este livro.

Amor enorme e graças ao meu editor de enredo, Angela Smith, por me


ajudar a aprimorar o enredo, e por acreditar nesta história - ainda mais do que
eu, às vezes. Obrigado por estar lá, desde a primeira palavra até a última.

Gratidão imensa para o meu editor de desenvolvimento e linha, Marion


Archer. Você é tão talentoso e sempre cheio de tal conselho brilhante. O
entusiasmo e empenho que colocou neste projeto é apreciado além da medida.

Obrigada a Karen Lawson que sempre me faz sentir como o produto


final que eu estou colocando para fora no mundo é é polido com cuidado e
carinho. Isso é um presente para mim.

Para meus leitores beta extremamente valiosos que leram Voto de


Grayson primeiro e desde que tais comentários incrivelmente úteis e
sugestões: Cat Bracht, Natasha Gentile, Michelle Finkle e Elena Eckmeyer (que
deu a meu dragão e bruxa TLC extra pela leitura através de meu manuscrito
duas vezes, e adorei o meu dragão, apesar de suas cuspidas de fogo, e amei a
minha bruxa por cutucando-o até que ele derreteu).

Obrigada a minha agente maravilhosa, Kimberly Brower, que segurou a


minha mão através deste processo em muitas, muitas maneiras. Obrigada
por sempre ter me apoiar em cada empreendimento. Você é invulgarmente
generosa com o seu tempo e cuidado e nunca deixou-me de me fazer
sentir como se eu fosse seu único cliente. (E eu tenho a sensação
de que todos que todos dizem isso). AIADW para sempre!
Para você, leitor, eu não teria o privilégio de fazer o que eu faria sem
você e eu nunca, jamais, tomaria isso como garantido. Infinito amor e
agradecimento!

Para todos os blogs que reveem e recomendam meus livros - muito


grata por todos vocês.

Para meu marido: Mal sei como expressar minha gratidão a você por
toda sua ajuda e apoio com esta história... a conversa extensa sobre a trama -
carros, restaurantes, cama, enquanto escova os dentes - minhas infinitas
perguntas, dúvidas intermináveis, e a quantidade interminável de tempo que
passei na minha própria cabeça tentando criar estes personagens. O voto que
fiz para você levou a mais alegria do que eu jamais me atrevi a sonhar.
Sobre o autor
Mia Sheridan é uma autora do New York Times, USA Today e Best-
seller do Wall Street Journal. Sua paixão é tecer verdadeiras histórias de amor
sobre pessoas destinadas a ficar juntas. Mia vive em Cincinnati, Ohio, com o
marido. Eles têm quatro filhos aqui na terra e um no céu. Além de Grayson’s
vow, Leo, Leo’s Chance, Stinger, Archer’s voice, Becoming Calder, Finding
Éden e Kyland também fazem parte da coleção Signs of love.

Mia pode ser encontrada online em:

www.MiaSheridan.com

www.facebook.com/miasheridanauthor
Grayson’s Vow

A Sign of Love Novel

Copyright © 2015 por Mia Sheridan

Todos os direitos reservados

A permissão do autor deve ser concedido antes de qualquer parte deste livro
poder ser usado para fins publicitários. Isso inclui o direito de reproduzir,
distribuir ou transmitir de qualquer forma ou por qualquer meio.

Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são
o produto da imaginação do autor ou são usados ficticiamente.

Qualquer semelhança com fatos reais, localidades ou pessoas, vivas ou


mortas, é mera coincidência.

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