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Artigo Liliane VERSÃO SEPED 15-02-2023
Artigo Liliane VERSÃO SEPED 15-02-2023
DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
RESUMO
A Educação Prisional é um direito assegurado na Legislação Brasileira que visa reincluir o sujeito
apenado na sociedade através de práticas educativas direcionadas. O objetivo central da pesquisa foi
abordar e analisar a Educação prisional como importante instrumento de reinserção no meio social
após o cumprimento da pena. Pretendeu-se compreender as perspectivas em que é efetuada a
ressocialização através da Educação dentro da prisão e se este processo educativo encontra lacunas de
acesso e dificuldades em ser efetivado atualmente. Para isso, propõe-se realizar reflexões acerca do
contexto histórico da Educação prisional e suas influências na sociedade contemporânea, bem como
analisar e compreender as prerrogativas legais em contexto nacional. Através de pesquisa de campo
por meio de questionário online, propoe-se o posicionamento da sociedade civil em relação à temática
e como concebem a educação intramuros nos espaços prisionais. O questionário foi aplicado para
diversos sujeitos de diferentes cotextos sociais. Com isso, pode-se perceber que a educação no espaço
prisional embora ainda enraizada pelo preconceito, passa a ser compreendida atualmente de forma
positiva por grande parcela da sociedade e como parte importante do processo de ressocialização.
Contudo, foi possivel concluir que, embora a maioria dos participantes já detenha posicionamentos
críticos e favoráveis ao incentivo das práticas pedagógicas dentro do cárcere, notou-se também a falta
de conhecimento e compreensão por parte de alguns que ainda concebem a prisão em seu caráter
punitivo, historicamente conhecido como um castigo ao infrator e não em seu caráter ressocializador e
humanitário. Por fim, conclui-se que a ausência de um posicionamento crítico sobre o assunto ocorre
pelos mais diversos fatores, como idade, contexto social, escolaridade ou profissão, quais contribuem
para a dificuldade na compreensão de o que é de fato a Educação prisional e a sua função para com o
indivíduo que necessita ser ressocializado.
Introdução
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Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO, Campus
Universitário de Irati. E-mail: lilianetomczak@gmail.com
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Professora do Departamento de Pedagogia da Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO. E-mail:
sheilafquadros@gmail.com
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posicionar-se no mercado de trabalho. Deste modo, com o presente texto objetivamos um
estudo peculiar, acerca de uma temática pouco discutida e um ambiente ainda pouco
explorado, qual seja a educação no sistema prisional brasileiro.
Quando pensamos em pessoas que estão retidas dentro do sistema prisional,
temos a percepção de que são delinquentes perigosos e que não são dignos de dividir o
mesmo espaço dentro do grupo social, logo, devem ser privados de qualquer contato
conosco. Para muitos é impossível imaginar qualquer tipo de ressocialização dessas
pessoas, porém, há sim essa tentativa por meio de projetos educacionais e intervenções
pedagógicas realizadas no âmbito das penitenciárias brasileiras.
Tais ações encontram-se asseguradas junto a Legislação Brasileira que reserva o
direito ao ensino nas prisões, este de modo facultativo e com ressalva para redução da
pena. A modalidade de ensino seguida é a Educação de Jovens e Adultos – EJA.
A obrigatoriedade do Estado e o direito à oportunidade de estudo para os detentos
encontra-se disposto e assegurado pelos artigos 10 e 11 da Lei de Execuções Penais
(LEP), seguidos pelo artigo 17 da mesma lei qual determina que “a assistência
educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do
internado.” (BRASIL, 1984). Os indivíduos enquadrados no sistema prisional podem
optar por trabalhar ou estudar para reduzir sua pena.
No entanto, conforme retro especificado, caso queira apresentar bom
comportamento e reduzir sua pena, há o direito de escolha do detento, devendo optar por
desenvolver somente uma das atividades, trabalhar ou estudar. Conforme a Lei nº.
12.433/11, “o condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá
remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.” (BRASIL, 2011).
Um dos motivos determinantes para alguns presos ingressarem na sala de aula
muitas vezes é o fato de que a única forma de comunicação com o mundo externo às
grades da prisão é através de cartas que são escritas por eles e enviadas aos familiares ou
vice-versa. Logo, não sendo alfabetizado, resta incomunicável com aqueles que estão do
lado de fora.
Percebe-se então a importância de efetivar políticas de incentivo ao ensino dentro
das prisões brasileiras, não somente como forma de oferecer uma ocupação para o detento
enquanto cumpre sua pena, mas sim, como forma de ressocializá-lo em vários espaços e
recolocá-lo no mercado de trabalho após sua saída, com a mínima discriminação possível.
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Em contrapartida, sabemos sobre a real situação dos presídios brasileiros, onde a
maioria não dispõe de infraestrutura adequada e nem sempre contam com a presença de
profissionais para auxiliar no processo de ensino e na elaboração de propostas e projetos
para efetivação do mesmo. Por este motivo, muitos detentos não encontram motivação
para ingressar nas aulas, optando, como anteriormente mencionado, pelo desenvolvimento
de uma atividade laboral.
Nesse sentido, visamos discutir no presente trabalho de pesquisa como é
efetivado o ensino intramuros prisional, o contexto histórico e as prerrogativas legais que
amparam esta modalidade de ensino. Surge a necessidade de entendermos quais os
desafios encontrados na contemporaneidade para a efetivação da educação no espaço
prisional bem como as perspectivas da sociedade civil em relação ao tema.
A pesquisa seguirá natureza exploratória, no sentido de coletar dados e
informações acerca da temática abordada, tendo como fonte de informação a pesquisa
bibliográfica e documental, em consonância com a Legislação Brasileira e através de
autores como: Freire (1967); Foucault (1987); Portugues (2001); Ramos (2006); Onofre
(2009); Julião e Onofre (2013); Silva, Moreira e Oliveira (2016); Silva (2015); Julião
(2016); Rodrigues (2018); Santos, Alchieri e Flores Filho (2009) e, Godinho, Julião e
Onofre (2020).
O desenvolvimento da pesquisa compreende a subdivisão em três etapas. O
primeiro momento cujo título “prisão e educação: contextos históricos e sociais de
divergentes demandas” busca a compreensão das demandas historicamente registradas
acerca do surgimento da prisão. Em um segundo momento, intitulado “Prerrogativas e
dispositivos legais da educação prisional em contexto nacional” evidenciamos a legislação
existente em âmbito nacional para regulamentação da Educação prisional no Brasil.
E por fim, elencamos os “desafios e perspectivas da educação prisional e
sociedade civil: dilemas e contextos”, onde, por meio de Pesquisa de campo, com
instrumento de coleta de dados composto por um questionário online via Google forms,
buscamos compreender o posicionamento da sociedade em perspectiva crítica, tendo como
sujeitos os membros da sociedade civil em geral, ressaltando a natureza qualitativa,
direcionada à área de Políticas Educacionais.
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Desde a Antiguidade, os sujeitos buscaram formalizar os atos punitivos àqueles
que apresentam condutas consideradas reprováveis pelo grupo. No decorrer da história, as
sociedades encarregaram-se de formular suas próprias regras e documentos que serviram
de base para tais punições de acordo com a necessidade de repelir a criminalidade.
O mais antigo documento de leis escrito que se têm conhecimento é datado de
aproximadamente 1.750 a.C, trata-se do Código de Hamurábi elaborado na Babilônia.
Segundo Santos, Alchieri e Flores Filho, (2009, p. 171), tais regulamentações são
consideradas um avanço para a época, uma vez que previa a pena individual daquele que
cometera o delito e não responsabilizava os familiares, prática que era comumente
realizada antes daquele período. A forma de justiça utilizada era a de que o infrator
deveria sofrer o proporcional ao mal que causou, estas através de agressões físicas, forca,
chamas, afogamento, dentre outras formas punitivas.
Até então a ideia de encarceramento dos sujeitos não havia sido desenvolvida,
sendo apenas abordada na Grécia Antiga que previa a reclusão dos inadimplentes até a
devida quitação. Posteriormente, Platão trouxe formas de reclusão de indivíduos até a
realização dos julgamentos, vindo a ser utilizada também pelos Romanos. Dentre as
práticas punitivas pós julgamento, estavam os castigos proporcionais ao dano, a exclusão
do indivíduo do grupo mediante taxação de criminoso e a pena de morte.
Na Idade Média, havia a reclusão dos sacerdotes com condutas reprováveis.
Santos, Alchieri e Flores Filho, (2009, p. 172) destacam que os religiosos “eram
recolhidos numa ala do próprio mosteiro para que, por meio de penitência e de muita
oração, se arrependessem do mal praticado.”
Somente a partir da Idade Moderna há o surgimento da prisão para todos os
indivíduos, esta com finalidade de cumprimento da pena e de controle dos corpos dos
detentos objetivando uma mudança comportamental, moral e psíquica. Segundo Foucault,
(1987, p. 260):
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lacuna, formar em torno deles um aparelho completo de observação,
registro e notações, constituir sobre eles um saber que se acumula e se
centraliza. A forma geral de uma aparelhagem para tornar os indivíduos
dóceis e úteis, através de um trabalho preciso sobre seu corpo, criou a
instituição-prisão, antes que a lei a definisse como a pena por excelência.
O Direito Penal, a partir de então, passa a ser ajustado na medida em que começa
a rever as formas desumanas de cumprimento das penas buscando a mudança de
comportamento do detento através do sentimento de arrependimento e remorso, sob
extrema vigilância e obediência às regras. Assim, surgem as primeiras tentativas para a
ressocialização dos indivíduos a partir da prisão.
No Brasil, anteriormente as punições também eram realizadas a partir de castigos
físicos realizados em praças públicas vindo a modificar-se com a instituição da prisão
como cumprimento da pena. No entanto, o início das prisões no país foi marcado pelas
péssimas condições de infraestrutura e permanência dos presos.
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[...] trabalhar para que os sujeitos das classes populares reconheçam a
própria humanidade e desnaturalizem os processos de desumanização
que negam cotidianamente seus direitos a educação, saúde, moradia,
trabalho, cultura, esporte e lazer, embora todos eles sejam direitos
constitucionais, subjetivos e intransferíveis. Esta é uma condição
indispensável para que o ser humano busque a liberdade por meio da
educação.
Nesse sentido, Rodrigues (2018, p. 95) também descreve sobre a educação para
pessoas presas
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classificação e ordenação de cumprimento da pena de acordo com as peculiaridades do
respectivo crime e os antecedentes do indivíduo. Ainda, assegura direitos e deveres dos
apenados.
Adiante, em seu artigo 10, descreve que “a assistência ao preso e ao internado é
dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em
sociedade.” (BRASIL, 1984). Portanto, a reclusão objetiva, acima de tudo, uma forma de
ressocialização, ou seja, que o indivíduo retorne ao convívio social sem que retome a
prática de delitos.
Para tanto, é instituído pela LEP que a assistência prestada aos detentos
compreende necessidades básicas, bem como, ressalta em seu artigo 11 a via educacional
como forma de ressocialização, conforme retro especificado. Já em seu artigo 17 e
seguintes especifica a instrução escolar como objetivo para a formação profissional do
apenado e institui como modalidade de ensino a Educação de Jovens e Adultos – EJA.
(BRASIL, 1984).
A própria Educação prisional não se constitui uma modalidade de ensino, mas
atende suas demandas pela Educação de Jovens e Adultos. Por sua vez, a EJA encontra-se
disposta no artigo 37 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº
9394/96, sendo esta destinada a jovens e adultos que não concluíram o Ensino
Fundamental e Médio em idade própria e a considera “instrumento para a educação e a
aprendizagem ao longo da vida.” (BRASIL, 1996).
As condições para cumprimento da pena e permanência no ambiente coercitivo
estão constitucionalmente resguardadas através do artigo 5º, incisos XLVII e XLIX da
Carta Magna de 1988, a nossa lei maior, quais descrevem sobre o princípio básico do
cumprimento da pena, bem como asseguram a integridade física e moral do apenado.
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A Lei nº. 12.433/11 alterou a Lei de Execuções Penais, dispondo que a remissão
de parte da pena pode ser realizada através de estudo ou trabalho e computada de acordo
com as exigências legais:
O Estatuto Penitenciário do Estado do Paraná em seu artigo 33, inciso IV, alínea
a, assegura aos detentos o acompanhamento psicopedagógico, visando a formação escolar
e profissional:
No entanto, temos que atualmente a prisão é uma instituição que exerce modo
coercitivo sobre os indivíduos que praticaram delitos, permeando suas ações em torno
principalmente da perspectiva punitiva, e não socializadora ou ressocializadora.
De acordo com Foucault (1987, p. 279):
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O direcionamento de Foucault citado por Portugues (2001, p. 359) analisa
criticamente a transformação buscada pelas instituições prisionais em seus internados,
tendo em vista que se torna uma “empresa” modificadora de comportamento dos
“delinquentes” que alí encontram-se. Destaca também que o comportamento anterior
deverá ser transformado através dos meios coercitivos disponíveis:
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transformar o mundo. Sobre o encontro das consciências.” Nesse contexto então, encaixa-
se a Pedagogia Social que segundo Ramos (2006, p. 130) tem por objetivo a “ênfase nos
problemas humano- sociais” e “configura um conjunto de outras alternativas para pensar e
viver.”
Corroborando ao assunto, Onofre (2009, p. 15) ressalta que “o homem
aprisionado, muitas vezes, busca a sua identidade e o diálogo, reconstrói a sua história e
valoriza os momentos de aprendizagem” e para isso, é direito deste que a escola que lhe é
oferecida seja “competente, solidária, produtiva e libertadora”, ao passo que:
Cumpre refletir, todavia, que Julião e Onofre (2013), Julião (2016) e Silva,
Moreira e Oliveira (2016) colaboram em um mesmo sentido, qual seja uma crítica à forma
de ensino intramuros, os desafios dos pedagogos e dos profissionais de ensino quanto às
normas rígidas e opressoras dos cárceres. Em outras palavras, ainda permanece junto ao
sistema educacional prisional a ideia de punição como imperativo para a mudança
individual dos sujeitos, sendo que na verdade se acreditava em fazê-lo compreender sua
própria história junto ao meio social em que faz parte.
Desta forma, Julião e Onofre (2013, p. 56), trazem para o pilar da discussão, a
ausência de infraestrutura adequada e falta de materiais para efetivar trabalhos
pedagógicos pois as salas de aula do sistema prisional:
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espaços que se ocupam as prisões em termos sociais, havendo inclusive dificuldades em
haver pessoas com perfil em atuar nesses espaços.
No que tange ao desenvolvimento das atividades pedagógicas, os mesmos autores
destacam a imposição de normas rígidas, quais submetem os profissionais a disponibilizar
os materiais que serão trabalhados em sala para que seja feita a vistoria. Muitas das vezes
os materiais são retidos e impossibilitados de serem utilizados.
Portanto, “[...] reproduz-se no cárcere uma escola padronizada que pouco dialoga
com as especificidades dos seus sujeitos” bem como “[...] são geralmente experiências
com propostas pedagógicas descontextualizadas da realidade do sistema prisional”
(JULIÃO, 2016, p. 36).
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Em contrapartida, analisando o Plano Estadual de Educação no Sistema Prisional
do Paraná (2015, p. 21) percebe-se que os trabalhos educacionais a serem desenvolvidos
no âmbito prisional deveriam propiciar junto aos internados a reflexão crítica acerca da
realidade, bem como deve ser “[...] um trabalho pedagógico, pautado na construção dos
saberes escolares [...]” sendo que este “[...] auxilia o educando a refletir de forma crítica e
autônoma sobre o mundo que o cerca.”
Ainda, segundo o documento, o espaço pedagógico dentro do sistema prisional deve
ser composto por vários membros que colaboram mutuamente para a eficácia dessa ação que:
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Finalizamos com o entendimento de Silva (2015, p. 47), que esclarece o real
papel da educação prisional, qual “[...] deve ser única e exclusivamente o de ajudar o ser
humano privado da liberdade a desenvolver habilidades e capacidades [...]”, tais objetivos
visam acima de tudo que após o cumprimento da pena o indivíduo consiga “[...] estar em
melhores condições de disputar as oportunidades socialmente criadas”.
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Fonte: Organizada pela autora a partir do Google Forms, 2022.
Estagiária
Motorista
Pedagoga
Vendedora
Professor(a)
Empresário
Estoquista
Advogado
Aux. de T.I.
Psicóloga
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acreditavam que estava relacionado a aulas para detentos nos centros penitenciários. Outras
duas respostas nos despertaram a atenção, pois tratou-se de um profissional atuante e outro
que já atuou diretamente com a ressocialização de pessoas encarceradas durante 16 anos. Do
primeiro profissional mencionado, extraiu-se:
Ainda sobre o mesmo questionamento, convém destacar outras duas respostas que
enfatizaram o que conheciam ou entendiam sobre a educação no sistema prisional,
conforme se reproduz abaixo.
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cidadão. um outro ponto é que quando um preso vai para a sala de aula,
ele precisa socializar com os colegas, professores, obedecer regras,
enfim, uma preparação total para ele conseguir viver em sociedade
novamente.”
“Com certeza, o processo do estudo pode transformar vidas. Uma vez que
trabalho efetivamente dentro dos sistemas prisionais. A falta de
conhecimento pode causar diversos tipos de violências, tanta físicas como
psicológicas.”
“Concerteza! nem todos vão sair da prisão para cometer outros crimes,
muitos vão querer uma nova vida e com a ajuda da educação isso se torna
mais um motivo para uma mudança positiva na vida do mesmo.”
“Sim, com acesso ao conhecimento o indivíduo pode ter despertado o
interesse por alguma área que futuramente possa ser de suma
importância para que o mesmo não volte a praticar atos infracionais.”
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Fonte: Organizada pela autora a partir do Google Forms, 2022.
Para finalizar a pesquisa de forma democrática, abrimos espaço para ouvir a opinião
pessoal e genuína de cada sujeito acerca do tema, com o seguinte questionamento: “Se você
pudesse sugerir um novo sistema prisional para o Brasil, qual seria a sua sugestão?
justifique.”
Analisando as respostas, obteve-se diversos posicionamentos acerca da finalidade da
prisão, alguns com ressalva para penas mais severas e pena de morte, outros com um olhar
mais humanitário ao sujeito condenado, outro com a sugestão de um sistema normativo sem
prisões e dois participantes que não souberam responder.
Um dos primeiros posicionamentos versa sobre a empatia da sociedade em relação às
pessoas que estão em processo de ressocialização e em busca de uma “segunda chance”, bem
como, formula uma autocrítica sobre a falta de estudos e conhecimento acerca do tema, mas
defende que se deve observar o lado humano de cada ser antes de julgá-lo. Assim se reproduz:
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Considerando os participantes que possuem propostas mais rígidas e coercitivas para
os sujeitos apenados, temos que a solução, segundo os mesmos, seria a aplicação da pena de
morte para que o sistema fosse mais respeitado. Outros defenderam que o preso deve trabalhar
e não ser remunerado, seguido por aqueles que entendem que o apenado deve estudar e
trabalhar para pagar a sua estadia na prisão.
Um dos participantes defende a aplicação de penas seguindo o critério de gravidade
do crime cometido, bem como a diminuição da maioridade penal e um sistema de ensino
adequado. Por suas palavras:
“Com penas mais severas para crimes com maior gravidade e diminuição
da maioridade penal, para que jovens infratores paguem pelos seus
crimes, combinado com um ensino adequado dentro da prisão para que
quando volte a viver em sociedade possa ter maior facilidade no mercado
de trabalho e possa dar um novo rumo a sua vida!”
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na comunidade é muito mais efetivo. desta forma, com menos pessoas no
cárcere, propiciaria educação, qualificação p trabalho, psicoterapia e
tratamento digno p todas as pessoas encarceradas.”
“A minha sugestão seria um sistema onde não seja pra castigar quem
infringe a lei (que é o sistema que temos no Brasil) para um sistema que
buscar realmente a ressocialização dos mesmos, todos merecem uma
segunda chance se realmente forem mudados.”
Por fim, temos uma crítica e proposta de como deveria ser efetivado o ensino
dentro do sistema prisional. Segundo o participante, de modo “que fosse trabalhado
efetivamente como a rede estadual. Acredito que o EJA, fica mais superficial. Deve ter
estudo efetivos e tirá-los que salas multisseriada.” Assim, observamos que existe
conhecimento por parte de alguns integrantes da referida pesquisa, no entanto, ainda se
conserva posicionamentos focados no enfoque punitivo e não ressocializador, reiterando a
ideia de que punir se efetiva, segundo a concepção da maioria, como a única e/ou melhor
forma de resolver as questões de delitos cometidos.
Considerações
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surgimento da prisão, do desenvolvimento de prerrogativas legais no decorrer dos anos e do
posicionamento da sociedade civil em relação à temática. Este minucioso estudo foi realizado
através de pesquisa de fonte teórica, documental e sujeitos sociais pertencentes à sociedade
civil, participantes da pesquisa de campo via questionário Google forms.
Para se atingir uma compreensão em relação aos desafios da Educação prisional,
diante das atuais demandas da sociedade contemporânea, definiu-se três objetivos específicos.
O primeiro, para entender o contexto histórico da educação prisional e suas nuances na
sociedade contemporânea. Verificou-se que as sociedades se encarregaram, ao longo da
história, de formular suas próprias regras e documentos que serviram de base para as punições
de acordo com a necessidade de repelir a criminalidade, até chegar à criação da instituição da
prisão, evoluindo até a existente na atualidade.
Depois, buscamos discutir e compreender as prerrogativas legais da Educação
prisional em contexto nacional. A acurada análise permitiu concluir a evolução dos
dispositivos legais e a análise de autores renomados trouxe dados importantes acerca da
dificuldade de implantar aquilo que está legislado.
Ainda, procuramos compreender como a sociedade concebe a Educação prisional,
via pesquisa de campo em redes sociais. Da análise dos dados extraiu-se que a sociedade,
embora ainda enraizada pelo preconceito, já detém uma visão mais crítica acerca da temática,
trazendo importantes contribuições para o processo de ressocialização dos indivíduos em
privação de liberdade.
Sendo assim, a presente pesquisa conclui que existe a necessidade de se compreender
o sistema prisional não apenas pelo caráter punitivo, mas sim, pelo caráter ressocializador, no
sentido de buscar a reintegração dos sujeitos em diferentes espaços sociais.
Referências
BRASIL. Lei de Execuções Penais nº. 7.210, de 11 de julho de 1984. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210.htm. Acesso em: 30 de janeiro de 2021.
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BRASIL. Lei nº. 12.433, de 29 de junho de 2011. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12433.htm. Acesso em:
30de janeiro de 2021.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
GODOY. A. S; Pesquisa qualitativa tipos fundamentais. ERA Artigos, São Paulo, v. 35.
N 3. P. 20-29. Mai/jun. 1995.
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RODRIGUES, Vanessa Elisabete Raue. A Educação nas penitenciárias: as relações entre a
estrutura física e a prática pedagógica nas unidades penais do Paraná. 226 f. Tese
(Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, 2018.
SANTOS, Márcia Maria; ALCHIERI, João Carlos; FLORES FILHO, Adão José.
Encarceramento humano: uma revisão histórica. Gerais, Revista Interinstitucional de
Psicologia, Juiz de fora v. 2, n. 2, p. 170-181, dez. 2009.
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