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Navalha de Ockham - Wikipédia, A Enciclopédia Livre
Navalha de Ockham - Wikipédia, A Enciclopédia Livre
A vantagem prática desse princípio para a busca de teorias reside no fato de que teorias com
poucas e simples suposições são mais facilmente verificáveis do que aquelas com muitas e
complicadas.[8] A navalha de Ockham é, porém, apenas um dos vários critérios para atestar a
qualidade de uma teoria.[9] Com ela não se pode julgar a validade de modelos explicativos, mas
pode-se descartar suposições desnecessárias.[10] Uma abordagem moderna e reducionista é o
princípio KISS. Um desdobramento do princípio da parcimônia na ciência é, na matemática, o
princípio de permanência.
Formulação e designação
A mais conhecida formulação do princípio de Ockham foi dada pelo filósofo Johannes Clauberg
(1622–1655). Ele escreveu, em 1654: Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem [ou:
sine necessitate]:[11] "Entidades não devem ser multiplicadas além do necessário." Na
formulação non sunt multiplicanda entia sine necessitate, já existe a sentença desde 1639 em
Johannes Poncius, escotista que a citou como uma máxima escolástica.
Na língua inglesa, a designação Occam's Razor para esse princípio surge apenas no século XIX
no filósofo britânico Sir William Hamilton[12] e torna-se popular na discussão conduzida por
John Stuart Mill sobre sua teoria científica.[13] Guilherme de Ockham nunca formulou
explicitamente o princípio, mas aplicou-o implicitamente em seus escritos. Assim ele exigia:
"Nada se deve aceitar sem justificativa própria, a não ser que seja evidente ou conhecido com
base na experiência ou assegurado pela autoridade das Sagradas Escrituras"[14] Já o termo
"navalha" ou "lâmina" é uma metáfora que também surgiu muito depois de Ockham.[9]
História
A preferência pela explicação mais simples remonta a Aristóteles. Ela era frequentemente
justificada pelo fato de a natureza sempre escolher o caminho mais simples. Ockham negou,
porém, essa justificativa, afirmando que ela limitaria a onipotência de Deus. Tal restrição da
vontade divina não era aceita por ele. Na concepção de Ockham, Deus poderia escolher
igualmente bem o caminho mais complexo.[15] Não a natureza em si, portanto, mas sim teorias
devem satisfazer o princípio da economia. Na construção destas, elementos supérfluos devem
ser eliminados e a mais simples de duas teorias possíveis explicando um mesmo fenômeno deve
ser escolhida. Em Ockham, uma lei, ontológica em sua origem, torna-se então uma regra prática
para a teoria do conhecimento.
Immanuel Kant (1724–1804) formulou um princípio, segundo o qual a diversidade das espécies
naturais deve ser reduzida prematuramente por uma explicação reducionista. Ao mesmo tempo
reconheceu, porém, a tentativa de tal redução através do focus imaginarius das ideias da razão
(Vernunftideen) como interesse da razão (Interesse der Vernunft).
Ao longo da história da ciência a navalha de Occam foi usada de diversas formas. Uma delas
consiste na escolha da teoria mais simples para explicar um fenômeno, como na escolha da
teoria do eletromagnetismo de James Maxwell em lugar da teoria do éter luminoso.
Como princípio matemático, a navalha de Occam foi aplicada pelo matemático soviético Andrei
Nikolaevich Kolmogorov para definir o conceito de sequência aleatória, criando a área que ficou
conhecida como complexidade de Kolmogorov.
Na ciência da computação, como em outras áreas, é possível identificar que qualquer conjunto
finito de fenômenos observáveis pode ter infinitas teorias explicativas, especialmente se as
variações entre as teorias não puderem ser imediatamente testadas empiricamente. Também é
preciso observar o contexto da afirmação, onde a afirmação não diz que a explicação mais
simples sempre é a preferível. O mais correto seria, então, nesse contexto, dizer que a explicação
mais simples dentre aquelas que efetivamente explicam os observáveis deve ser preferida em
detrimento de outras.[23]
Ver também
Complexidade
Complexidade de Kolmogorov
Método científico
Navalha de Hanlon
Pensamento sistémico
Simplicidade (filosofia)
Notas
1. Ockham, Occam, Auquam, Hotham e Olram[1] são todas grafias válidas.
2. Além desta, outras expressões equivalentes são lex parsimoniae, princípio da parcimônia e
princípio da simplicidade, esta última tendo significado mais brando na filosofia da ciência e
epistemologia.[2]
Referências
1. Merino, José A. História de la Filosofia Medieval (em espanhol). [S.l.: s.n.] p. 288
2. Baker, Alan (2016). Zalta, Edward N., ed. «Simplicity» (https://plato.stanford.edu/archives/wi
n2016/entries/simplicity/). Metaphysics Research Lab, Stanford University. Stanford
Encyclopedia of Philosophy Archive (em inglês). Cópia arquivada em 27 de janeiro de 2020
(https://web.archive.org/web/20200127033042/https://plato.stanford.edu/archives/win2016/e
ntries/simplicity/)
3. Oxford University Press (2019). «Occam's razor» (https://www.lexico.com/definition/occam%
27s_razor) (em inglês). Lexico.com. Consultado em 10 de maio de 2020. Cópia arquivada
em 10 de maio de 2020 (https://web.archive.org/web/20200510192844/https://www.lexico.co
m/definition/occam's_razor)
4. Schaffer, Jonathan (2015). «What Not to Multiply Without Necessity» (http://www.jonathansc
haffer.org/laser.pdf) (PDF). Australasian Journal of Philosophy. 93 (4): 644–664.
doi:10.1080/00048402.2014.992447 (https://dx.doi.org/10.1080%2F00048402.2014.992447)
5. Reductionism: Occam's Razor, Reductionism, Monism, Reduction, Type Physicalism,
Dialectical Monism, Separation of Concerns. [S.l.]: General Books. 2010. 96 páginas.
ISBN 1156581338
6. Gibbs, Phil; Hiroshi, Sugihara (1997). «What is Occam's Razor?» (http://math.ucr.edu/home/
baez/physics/General/occam.html). The Physics and Relativity FAQ. Riverside: University of
California
7. Sober, Elliott (1994). «Let's Razor Occam's Razor». In: Knowles, Dudley. Explanation and
Its Limits. [S.l.]: Cambridge University Press. pp. 73–93
8. Courtney, A.; Courtney, M. (2008). «Comments Regarding 'On the Nature of Science' ».
Physics in Canada. 64 (3): 7-8. Bibcode:2008arXiv0812.4932C (http://ui.adsabs.harvard.edu
/abs/2008arXiv0812.4932C). arXiv:0812.4932 (https://arxiv.org/abs/0812.4932)
9. Bruno Lazaretti (18 de julho de 2014). «O que é a Navalha de Occam ?» (https://super.abril.
com.br/mundo-estranho/o-que-e-a-navalha-de-occam/?utm_source=redesabril_jovem&utm
_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_mundoestranho%2F). Revista Super -
Editora Abril. Consultado em 15 de maio de 2017
10. Capitão Travis Patriquin, Exército dos EUA (2007). «O Princípio da Navalha de Occam para
Vincular Fatos» (https://web.archive.org/web/20130731082859/http://usacac.army.mil/CAC2/
MilitaryReview/Archives/oldsite/portuguese/MayJun07/patriquin.pdf) (PDF). Military Review.
Consultado em 2 de janeiro de 2013. Arquivado do original (http://usacac.army.mil/CAC2/Mil
itaryReview/Archives/oldsite/portuguese/MayJun07/patriquin.pdf) (PDF) em 31 de julho de
2013
11. Logica vetus et nova. (1654), S. 320.
12. William Hamilton, Discussions on Philosophy and Literature, 1852, App. I, p. 580 online
13. in An Examination of Sir William Hamilton’s Philosophy (1865), S. 465ff. Er betont, das eine
ontologische Lesart des Prinzips in seinen Augen durchaus falsch ist, und verweist auf
Newtons vereinheitlichende Grundlegung der Physik, wo er den Gebrauch korrekt findet.
14. zitiert nach Richard Heinzmann: Philosophie des Mittelalters. 2. Auflage Kohlhammer,
Stuttgart 1998, S. 249
15. John Losee: A historical introduction to philosophy of science. Oxford University Press,
1977.
16. C. Glymour: Theory and Evidence. Princeton University Press, 1980.
17. G. Harman: The Inference to the Best Explanation. Philosophical Review 74, 88–95, 1965
18. W. Salmon: The Logic of Scientific Inference. University of Pittsburgh Press, 1967.
19. Kevin Kelly: Efficient Convergence Implies Ockham’s Razor. In: Claudio Delrieux (Hrsg.):
Proceedings of the 2002 International Workshop on Computational Models of Scientific
Reasoning and Applications. Bogart, GA: CSREA.
20. Kevin Kelly: A New Solution to the Puzzle of Simplicity. In: Philosophy of Science. Band 74,
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21. H.Akaike: Information Theory and an Extension of the Maximum Likelihood Principle. In: B.
21. H.Akaike: Information Theory and an Extension of the Maximum Likelihood Principle. In: B.
N. Petrov, F. Csaki (Hrsg.): The Second International Symposium on Information Theory.
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22. M.Forster, E.Sober: How to Tell When Simpler, More Unified, or Less Ad Hoc Theories Will
Provide More Accurate Predictions. In: British Journal for the Philosophy of Science 45: 1–
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23. Ferneda, Edberto. «Recuperação de informação: análise sobre a contribuição da ciência da
computação para a ciência da informação» (https://dx.doi.org/10.11606/t.27.2003.tde-15032
004-130230)
Ligações externas
«Doutrina criada em torno da Navalha de Ockham» (http://www.projetoockham.org/div_ock
ham.html)
«Utilidade na elaboração de teses nas ciências sociais aplicadas» (http://www.hottopos.co
m/convenit2/siq2.htm)
«Utilidade como diretriz na pesquisa científica e suas implicações éticas» (http://www.scielo
.br/pdf/rbsmi/v4n3/a01v04n3.pdf) (PDF)
«Exemplo de aplicação na medicina em artigo da Unifesp» (http://www.unifesp.br/dneuro/ne
xp/riboflavina/i.htm)
«Artigo na Enciclopédia do Cético, com ênfase nas aplicações do princípio ao ceticismo» (h
ttp://skepdic.com/brazil/occam.html)
«A navalha de Occam como princípio estético» (http://blog.ghizoni.art.br/2007/10/11/a-naval
ha-de-occam-como-principio-estetico/)
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