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Durante o século XIX, no Romantismo, surge o conceito de espetáculo numa

sala de concerto, direcionado para um enorme público. O aparecimento desta


manifestação cultural deve-se a um simples motivo: o “músico” como intérprete
virtuoso, compositor e público. De facto, isto aconteceu devido à evolução da vida e da
criação musical, desde a Idade Média até ao século XIX.
Efetivamente, o conceito de “público” não existia antigamente: os monges
cantavam nos seus mosteiros, assim como os trovadores nos antigos salões dos
castelos. Em ocasiões de festas, atuava o povo, os mestres cantores e os sucessores
burgueses dos trovadores. Mais tarde, alguns membros da sociedade faziam música
nos palácios da época do Renascimento, Barroco e do Rococó, e todos estes tocavam
um instrumento, tornando-se “executantes”. Aqueles que admiravam tal música,
transformavam-se em “ouvintes”.
Pouco a pouco, a arte musical começou a dificultar, assim como a vida do
Homem. Consequentemente, existiu uma grande evolução na sociedade, na qual
houve um aumento do conhecimento e o surgimento de novas ideias, contribuindo, do
mesmo modo, para a desenvolvimento da música: criação de novo repertório e da
preservação do antigo (devido à imprensa); o constante aperfeiçoamento dos
instrumentos musicais leva à invenção de novos efeitos; e o crescimento do número
de músicos.
Após estes acontecimentos, finalmente existe a tal separação entre
“executantes” e “público”. Por um lado, os “executantes” são aqueles que fazem da
música uma profissão, dedicando, assim, um maior empenho e estudo para
conseguirem competir com os demais rivais, tecnicamente como mentalmente. Por
outro lado, o “público”, ou seja, o admirador, transforma-se cada vez mais num
simples ouvinte.
Deste modo, esta separação desenvolveu-se ao passar do tempo, na qual o
músico ainda é considerado “criador” e intérprete, simultaneamente. Este
desenvolvimento, no entanto, trouxe vários problemas, sendo um deles a impossível
troca de papéis entre músico e ouvinte. Atualmente, o “público” obriga a que o
virtuosismo criado pelo músico, interprete as obras com as quais o mesmo se sente
identificado.
O património musical atual mantém “vivo um tesouro de criações de mais de
três séculos”. Assim, o intérprete torna-se o “centro das atenções”, ganhando mais
importância do que o compositor. As virtudes e as interpretações do músico captam
mais a atenção do público, do que propriamente a obra em si.
A “teoria, a crítica e a polémica” são conceitos que não são capazes de alterar
esta situação do passado. Logo, focalizaremos agora no crescimento da indubitável
magnificência da vida musical moderna.
Os séculos XIV e XV são caracterizados como a “época do órgão”, nos quais
desenvolveu-se a ideia de concerto para este instrumento, uma vez que o repertório
era composto por, na maioria das vezes, improvisações. Quanto aos vários músicos
virtuosos, criadores e compositores, é possível encontrar Francesco Landino;
relativamente à igreja de São Marcos de Veneza: Gabrielli, Claudio Merulo e o
eminente Girolamo Frescobaldi; no norte dos Alpes, em Nüremberg: Conrad Paumann
e Johann Pachelbel; em Viena: Johann Jakob Frogerber; em Innsbruck: Paul Hofhaimer;
em Lübeck: Dietrich Buxtehude; e, por último, nas Flandres: Jan Pieter Sweelinck.
O fim da Idade Média é representado pelo alaúde, um instrumento do Oriente
que se espalhou pela Europa inteira. Possuía um som afetuoso que, além de ser o
acompanhamento de uma canção, representava frases polifónicas difíceis. Durante
vários séculos, o alaúde fazia parte da orquestra de concerto, sendo mais tarde
substituído pela guitarra, devido às grandes salas de concerto.
A partir do século XVII, existiu uma grande importância no que toca aos
instrumentos de cordas. Amati, Stradivari e Guarneri são considerados “linhas de
gerações, tradição familiar e transmissão de conhecimentos”. Com o trabalho árduo
destes três grandes nomes, foi possível construir instrumentos famosos que ocupam
um lugar importantíssimo na história da música. A virtuosidade do violino, assim como
o desenvolvimento da família dos instrumentos de cordas, teria sido impossível sem os
mesmos. Destacam-se outros criados do violino, sendo eles Arcângelo Corelli, António
Vivaldi e Giuseppe Tartini, que enriqueceram bastante a técnica violinística, tal como o
estilo de composição para este instrumento. Este estilo retrata-se pela presença de
sentimentos nobres, profundos e belos, afetando, assim, o aumento do virtuosismo.
Após algum tempo, nasce uma personalidade deslumbrante e o maior violinista de
todos os tempos, Niccolò Paganini, presumindo-se que o mesmo tem um pacto com o
diabo por tocar o violino com um nível altíssimo. Paganini levou à criação de uma
“regra indispensável” nos dias de hoje, ao qual executou unicamente de memória, pela
primeira vez, um concerto.
Por fim, apareceram os instrumentos de tecla, nos quais o cravo foi o primeiro
a ser utilizado para os primeiros músicos virtuosos se exporem. Alguns dos mesmos
foram: François Couperin, Jean Philippe Rameau, Domenico Scarlatti, Bach, Händel,
Mozart e Beethoven, destacando a incrível capacidade de improvisar no cravo.
Contemporaneamente, a improvisação é algo que desapareceu dos concertos. Ainda é
possível encontrá-la em algumas obras para o órgão, mas nunca nos concertos
virtuosísticos para piano ou violino. Isto deve-se a várias razões: em primeiro lugar, um
bom improvisador necessita de ser um bom compositor; de seguida, os concertos dos
dias de hoje não são trabalhos criados pelo músico, de forma que a improvisação não
estaria em sintonia com o mesmo; e, por último, o “senso de improvisação decaiu
atualmente”.
Seguidamente do cravo, surgiu o piano, no qual Liszt e Chopin foram os
primeiros músicos virtuosos deste instrumento. No mesmo contexto que a história do
violino, Liszt e Chopin também aperfeiçoaram o estilo de composição para piano,
tornando-o mais virtuoso.
O enorme crescimento de “trabalho para as necessidades de concerto”
também é uma consequência desta evolução. Para haver uma expansão da “atividade
concertista”, algumas obras que não se reservavam às salas de concerto tiveram de ser
apresentadas aí, por falta de salas do mesmo. Liszt e Clara Wieck foram as primeiras
pessoas a apresentar sonatas de Beethoven numa sala pública.
A Música de Câmara “abandona o recinto particular”. Pela primeira vez, é
anunciado um concerto público de quarteto de cordas, em Viena, no ano de 1804.
Consequentemente, a sala pública “abarca” cada vez mais a música e os salões da
burguesia tornam-se mais raros.
Por fim, o surgimento de orquestras sinfónicas é considerado o mais “claro
sinal” do avanço da vida musical, o qual passou de um pequeno grupo de no máximo
doze pessoas com pouca variedade de instrumentação, para um conjunto de cento e
vinte pessoas atualmente, representando um ambiente inexaurível, sonoro e rico em
efeitos.
Em suma, um “músico”, para se transformar em intérprete, compositor e
público, necessitou de várias mudanças que foram feitas ao longo da evolução da
sociedade, assim como a evolução da música. Com isto, o espetáculo foi, durante o
período Romântico, introduzido numa sala de concerto.

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