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(9009 - 29456) Cap3 - Tributacao - Cont - Coop - Cred
(9009 - 29456) Cap3 - Tributacao - Cont - Coop - Cred
Pela sua difusão por diversos setores e sua atuação em variadas áreas, a legislação brasileira teve
que se voltar à regulação das atividades das cooperativas, mas com o cuidado de reconhecer e
respeitar suas características peculiares, que as diferenciam das demais espécies de sociedades.
Por esse motivo, é importante aprofundar a análise do que se considera ato cooperativo,
próprio das cooperativas, e o que está fora desse conceito, pois o tratamento tributário de um
e outro difere substancialmente.
Além disso, é importante analisar o regime tributário aplicável às cooperativas, para então
diferenciar quais tributos podem ou não ser cobrados das cooperativas, e em que termos.
MEDEIROS. Marcelo Correa. Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito . Palhoça : UnisulVirtual, 2016.
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Como regra geral, para o perfeito Levantamento de Balancetes e Balanços inicialmente devem
ser conciliadas as contas com saldos, começando-se por aquelas em que esses saldos sejam
mais significativos (Saldos com maior Relevância). Devem ser utilizados os mesmos conceitos
de relevância utilizados na Auditoria, descritos na NBC T 11.6 - Relevância na Auditoria.
Considerando que a maior parte das empresas e das demais instituições com ou sem fins
lucrativos não têm a grandeza suficiente que as obrigue ter Auditores Internos e Auditores
Independentes, o contabilista deve tomar todas aquelas medidas estabelecidas na NBCT
11.6, em escala menor àquelas que seriam tomadas pelos Auditores Internos ou pela
Auditoria Independente.
Para isso é importante que se conheça as regras contidas nas NBC - Normas Brasileiras de
Contabilidade e especialmente as seguintes:
• NBC-T-12 - Auditoria Interna
• NBC-TA - Auditoria Independente
O Plano de Contas Padronizado na Nova Estrutura deve estar dividido em Grupos, subgrupos,
títulos, subtítulos, contas e subcontas:
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
Então, a estrutura desse Balancete de Verificação pode ser semelhante àquela que é utilizada
no Livro de Balancetes Diários e Balanços. É importante destacar que tanto as NBC - Normas
Brasileiras de Contabilidade como o Código Civil de 2002, que entrou em vigor em 2003,
permitem a substituição do Livro Diário pelo Livro de Balancetes Diários e Balanços quando o
Livro Razão contenha todos os lançamentos contábeis com individuação e clareza.
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Ou seja, o Livro Razão deve conter todas as informações que estariam no Livro Diário. A
diferença básica entre os dois é que o Livro Diário teria os lançamentos contábeis em ordem
cronológica de dia, mês e ano à medida que os atos e fatos contábeis forem acontecendo,
enquanto que o Livro Razão tem esses lançamentos separadamente para cada conta do
Plano Contábil Padronizado.
b. na data-base de 30 de junho:
b. na data-base de 30 de junho:
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
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A auditoria a que se refere o item anterior pode ser realizada por auditor independente ou por entidade
de auditoria cooperativa destinada à prestação de serviços de auditoria externa, constituída e integrada
por cooperativas centrais de crédito e/ou por suas confederações. (Res. n° 3.442, art. 23, § 1º).
A auditoria de que trata essa seção do Cosif deve ter por objeto: (Res. 3.442, art. 25)
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
Essa última foi revogada pela Resolução CMN n° 3.198/2004, que baixou o Regulamento a ser
obedecido pelos auditores independentes na prestação de serviços às entidades do SFN. Ver
o COSIF 1.34 e o MNI 2-1-10.
As cooperativas de crédito devem registrar diretamente no título CAPITAL, sem trânsito pelo
título AUMENTO DE CAPITAL (Circ. n° 3.314, art. 1º):
O Fundo de Reserva das cooperativas de crédito de que trata o art. 28, inciso I, da Lei 5.764,
de 16 de dezembro de 1971, destinado a compensar perdas e a atender ao desenvolvimento
de suas atividades, deve ser registrado no título RESERVA LEGAL (Circ. n° 3.314, art. 2º).
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As sobras líquidas apuradas ao final de cada semestre serão transferidas para o título
SOBRAS OU PERDAS ACUMULADAS, cujo saldo, ao final do exercício social, se credor, será
destinado, conforme deliberação da assembleia geral (Circ. n° 3.314, art. 3º).
A assembleia geral deve fixar, para cada reserva a ser constituída, o fim específico e o modo
de formação, aplicação e liquidação (Circ. n° 3.314, art. 3º, § 1º).
As perdas apuradas ao final de cada semestre serão transferidas para o título SOBRAS
OU PERDAS ACUMULADAS, cujo saldo, ao final do exercício social, se devedor, deve ser,
conforme deliberação da assembleia geral (Circ. n° 3.314, art. 4º):
As perdas verificadas não podem ser rateadas por meio de redução de participação do
cooperado no capital social da cooperativa (Circ. n° 3.314, art. 4º, Parágrafo único).
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
Outras diferenças relevantes, as quais não estão relacionadas a aspectos de nomenclatura são:
Tais riscos podem ser resumidos em seis categorias principais: risco de crédito, risco de taxa,
risco de liquidez, risco de mercado, risco operacional e risco de imagem.
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Rating (ou avaliação de risco) é uma metodologia aplicada por empresas especializadas sobre as
informações contábeis da empresa objeto da análise, para avaliar o risco a que se expõe.
Para avaliar o rating das cooperativas de crédito, a empresa de Consultoria Lopes Filho &
Associados, Consultores de Investimentos, desenvolveu, por meio da LF Rating, o Sistema
de Classificação de Risco de Cooperativas de Crédito (RISKcoop®), o qual apura a condição
das Cooperativas de Crédito em manter-se ativa, pagar seus compromissos e crescer, no
curto, médio e longo prazos.
A análise é realizada remotamente, via questionário e coleta mensal das informações contábeis, com
complemento de visitas semestrais para apurar requisitos perceptíveis à sensibilidade do analista.
A nota de rating segue padrões internacionais, sendo referendada em Conselho (formado por 05
membros do mercado cooperativo e financeiro), que analisa, entre outros aspectos, o mercado
global e segmentado por setor, o panorama internacional e nacional e os índices e indicadores
dos setores cooperativista, bancário etc. O RISKcoop® é composto de duas partes:
Como consta no site da LFRating, as escalas de risco para cooperativas de crédito são:
A2 Muito boa condição geral de risco. As bases financeira e estrutural são fortes e
resistem, no longo prazo, à maioria das mudanças conjunturais da economia.
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
Algumas contas não estão sujeitas aos limites de exposição por cliente, como:
O Banco Central do Brasil, com vistas à aplicação do limite de exposição por cliente, pode
estabelecer condições mínimas a serem observadas pelas cooperativas centrais de crédito e
respectivas filiadas, assim como determinar, no exercício de suas atribuições de fiscalização, a
suspensão dessa aplicação por parte de qualquer cooperativa central de crédito.
Nos dois anos seguintes à data de início de funcionamento, a cooperativa singular filiada a
uma central pode adotar os seguintes limites de exposição por cliente, para concessão de
créditos a um mesmo associado com recursos sujeitos à legislação específica ou envolvendo
equalização de taxas de juros pelo Tesouro Nacional, realizadas em favor do associado, com
recursos de outras fontes: 25% (vinte e cinco por cento) do Patrimônio de Referência - PR no
primeiro ano e 20% (vinte por cento) do PR no segundo ano.
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Para o diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, essa medida do Banco Central
veio em boa hora.
O Banco Central foi autorizado pelo Conselho Monetário Nacional, neste ano, a exigir dessas
cooperativas, consideradas de baixa complexidade operacional, um indicador único de
avaliação de riscos.
Para isso, vai definir um novo valor para o capital mínimo exigido dessas instituições. A
medida faz parte do processo de flexibilização das regras em favor da disseminação do
cooperativismo de crédito no Brasil.
O BIS, considerado o banco central dos bancos centrais, com sede na Suíça, estabelece em
8% o chamado índice de Basileia, que é uma relação entre o capital mínimo e o volume de
operações, definida para dar segurança ao sistema financeiro.
O Brasil adota um índice ainda mais seguro, ou seja, de 11%. Assim, para uma exposição de
risco equivalente a R$ 100 milhões, por exemplo, uma instituição precisa ter capital mínimo
de R$ 11 milhões.
Para as cooperativas, esse valor mínimo de capital substituirá o modelo vigente, que exige das
entidades o uso dos indicadores diferentes para os diversos tipos de risco: operacional, de
crédito e de mercado.
Com a nova regra, será revogada a exigência de apresentação, ao Banco Central, de diversos
documentos. No entender do Conselho Monetário, não é preciso exigir dessas cooperativas
de baixa complexidade operacional, demonstrativos referentes a riscos em que elas não
necessariamente incorrem.
Segundo o Banco Central, existem 1.307 cooperativas com capital inferior a R$ 200 milhões,
das quais 95% têm condições de adotar o modelo contábil simplificado. Das 38 centrais de
crédito, 10 têm condições de se enquadrar.
Elas não poderão manter exposição em ouro, em moeda estrangeira ou possuir operações
sujeitas a variação cambial. Também não poderão aplicar em derivativos nem manter
aplicações em securitização de crédito ou em cotas de fundos de investimento.
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
O Ato Cooperativo
Miguel Impaléa
Os atos cooperativos, como espécie do gênero ato jurídico, caracterizam-se pela ocorrência
de fatos próprios da natureza das relações às quais estão ligados.
Assim é que, para que se possa concluir pela caracterização de um ato como cooperativo
ou não cooperativo, deve-se, antes de tudo, investigar as partes envolvidas na relação que
geram direitos e obrigações.
Os atos realizados com o mundo dos negócios externos complementam a atuação prática das
cooperativas, como meio de atingir seus objetivos, ainda que configurem atos mercantis puros.
Essas atividades – atos não cooperativos – têm também grande importância para a
execução dos objetivos de interesse dos associados. Isso porque, como entidade financeira
(por equiparação), a cooperativa de crédito precisa complementar suas atividades por
meio de negócios auxiliares externos, que propiciam a concretização de seu negócio fim,
caracterizado pelo ato cooperativo.
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Pode-se concluir que os atos cooperativos englobam as operações e atividades para as quais
a cooperativa foi criada, ou seja, os atos-fim da sociedade cooperativa, e que são realizados
entre ela e seus associados.
Os atos não cooperativos, por outro lado, ainda que possam ser classificados como negócios
principais e sejam similares aos realizados com associados, são considerados estranhos às
finalidades da cooperativa, justamente pelo fato de serem realizados com não associados.
•• descontos de títulos;
•• operações de empréstimo e financiamento;
•• crédito rural;
•• repasses de recursos provenientes de órgãos oficiais e instituições financeiras;
•• abertura de crédito rotativo em conta corrente;
•• cheques especiais.
1. Atos cooperativos, então, são aqueles atos realizados entre as cooperativas e seus associados e por aquelas entre si em
cumprimento do objeto social e à consecução dos fins institucionais.
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
Também são atividades autorizadas para serem realizadas pelas cooperativas de crédito:
a prestação de serviços de cobrança, custódia correspondente no país, recebimentos e
pagamentos por conta de terceiros e sob convênio com instituições públicas e privadas, nos
termos da regulamentação aplicável às demais instituições financeiras. A prestação de serviços
a outras instituições financeiras, mediante convênio, para recebimento e pagamento de recursos
coletados em vistas à aplicação em depósito, fundos e outras operações disponibilizadas pela
instituição convenente, são outras atividades autorizadas para as cooperativas de crédito.
A própria previsão dos artigos 85, 86 e 88 da Lei Cooperativista (Lei n°. 5.764/71), que autoriza
a prática de atos pelas cooperativas com terceiros não cooperados, não chega a mencionar,
em momento algum, a expressão “ato não cooperativo”. Com isso, dá-se margem para que
parte da doutrina conclua que, além de autorizados, tais atos praticados com não associados
estariam também incluídos na definição de atos cooperativos:
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Tanto é assim que o Poder Judiciário, no julgamento de conflitos envolvendo a discussão do que
se considera ato cooperativo ou ato não cooperativo, acabou por desenvolver uma interpretação
restritiva à legislação cooperativista. Nesses casos, o Poder Judiciário acabou admitindo
que são consideradas atos cooperativos apenas as operações realizadas pelas sociedades
cooperativas que se identifiquem estritamente com os termos do artigo 79 da Lei 5764/71:
Todas as demais operações – ainda que com os mesmos contornos dos atos considerados
cooperativos, mas realizadas com não associados – não entram na definição de ato cooperativo
e, consequentemente, estão fora da previsão legal de tratamento tributário diferenciado.
Ocorre que, com essa interpretação tão restritiva, ficam descobertos outros atos que a
doutrina passou a chamar de atos cooperativos auxiliares. Esses, por sua vez, muito se
aproximam dos considerados atos cooperativos, e por esse motivo merecem o mesmo
tratamento dispensado àquela espécie de atos.
Nesse sentido, em razão de todas as dúvidas que são levantadas quando se perquire o alcance
da expressão “atos cooperativos”, foi intelectualmente construída pela doutrina uma terceira
espécie de atos, chamados de atos cooperativos auxiliares, e que, por definição, cobririam as
situações encontradas entre os conceitos de ato cooperativo e ato não cooperativo.
Chegou-se, então, à definição do que seriam os atos cooperativos auxiliares por exclusão.
Importante
Para a corrente doutrinária que defende essa terceira categoria, atos cooperativos auxiliares
seriam todos aqueles que não estivessem na definição de ato cooperativo, segundo a Lei, e que
também não caracterizassem atos não cooperativos.
Toda essa discussão a respeito do alcance dos atos cooperativos, não cooperativos e
cooperativos auxiliares surgiu, em grande parte, devido à previsão legal de destinação do
resultado dos atos cooperativos e não cooperativos.
Como característica primordial das sociedades cooperativas, a Lei n°. 5.764/71 traz, em seu
artigo 4º, inciso VII, a previsão de “retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente
às operações realizadas pelo associado”.
O mesmo artigo autoriza a criação de outros fundos pela Assembleia Geral, com recursos
destinados a fins específicos, para os quais poderá então ser destinada outra parcela das
sobras apuradas.
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
Ressalte-se mais uma vez que a distribuição das sobras deve dar-se exclusivamente com
relação àqueles valores apurados em decorrência da prática de atos cooperativos, mesmo
porque há expressa vedação legal à distribuição de resultados provenientes de atos não
cooperativos aos cooperados.
Tais resultados devem ser destinados ao FATES, pois, como a sociedade cooperativa não
tem fins lucrativos, os resultados obtidos com operações estranhas ao seu objeto social
devem ser revertidos para os fins cooperativistas, entre os quais se inclui a assistência aos
cooperados e seus dependentes.
Art. 87. Os resultados das operações das cooperativas com não associados,
mencionados nos artigos 85 e 86, serão levados à conta do “Fundo de
Assistência Técnica, Educacional e Social” e serão contabilizados em
separado, de molde a permitir cálculo para incidência de tributos.
Interpretando-se o mesmo posicionamento legal no que se refere aos custos, quando esses
se revelem superiores aos ingressos e resultem em perda, pode-se concluir que, em primeiro
lugar, devem ser utilizadas as sobras do ato cooperativo.
Se aquelas sobras não forem suficientes, devem-se utilizar os recursos que compõem o Fundo
de Reserva da sociedade. Sendo o Fundo de Reserva insuficiente para cobrir o resultado
negativo do período, as despesas remanescentes deverão ser cobertas pelos associados, por
meio de rateio na proporção direta da fruição de serviços.
Chegamos, agora, aos atos considerados pela doutrina como atos cooperativos auxiliares, no
que se refere à destinação dos resultados apurados pela sua prática.
A doutrina que defende a existência desse tipo de ato deseja que seja dispensado aos atos
cooperativos auxiliares o mesmo tratamento aplicado aos atos cooperativos, sob o argumento
de que também têm como finalidade beneficiar os cooperados, ainda que praticados com
terceiros não cooperados.
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Os resultados negativos, por sua vez, serão deduzidos das sobras do ato cooperativo, quando
houver, sendo em seguida descontados do Fundo de Reserva, e, finalmente, frustradas as
duas primeiras tentativas, serão rateados entre os associados, na proporção da fruição de
serviços por eles aproveitada.
Alguns tributos, em virtude de sua própria natureza ou do fato gerador 2 que dá origem à obrigação
de recolher o tributo, deixam de ser cobrados das cooperativas - seja porque o fato gerador não
pode ser considerado ocorrido, seja porque a atividade ou o ato realizado pela cooperativa não
pode ser considerado como hipótese de incidência prevista na lei que institui o tributo.
Por esse motivo, a Lei das Cooperativas (Lei n°. 5.764/71), em seu artigo 103, prevê a
aplicação supletiva das diretrizes fixadas pelo Conselho Monetário Nacional às atividades
desenvolvidas pelas cooperativas de crédito.
Ao possuírem a mesma fonte normativa dos bancos, alguns serviços e produtos recebem
o mesmo nome utilizado pelas instituições financeiras propriamente ditas. Isso, no entanto,
não pode ser motivo para que se confundam cooperativas de crédito com instituições
financeiras, nem serve como meio de conversão das cooperativas em instituições financeiras.
Muito menos serve de motivo para descaracterização das cooperativas como sociedades de
pessoas sem objetivo de lucro.
Tanto é assim que a Lei das Cooperativas (Lei n°. 5.764/71), no parágrafo único do artigo
5º, veda o uso da expressão “banco” pelas sociedades cooperativas, em sua denominação.
Também o Tribunal Superior do Trabalho vem decidindo que não se aplicam aos empregados
das cooperativas de crédito as disposições legais próprias dos bancários, justamente por
entender que as cooperativas são distintas das instituições bancárias.
2. Fato gerador é a ocorrência do fato previsto pela lei como causa para o surgimento da obrigação de pagar tributo.
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
Por outro lado, toda vez que as cooperativas pratiquem determinadas operações com o
público externo, as quais extrapolem os limites do que é considerado ato cooperativo, ou seja,
estranhas à sua finalidade básica, estarão sujeitas a tratamento tributário semelhante ao dos
bancos e das demais instituições financeiras, em respeito ao princípio da isonomia.
Devido às diferenças entre esses dois tipos de instituições, é importante analisar o quadro que
segue, onde fazemos um comparativo entre bancos e cooperativas de crédito.
usuário não participa da definição dos preços política operacional decidida pelos próprios
usuários/donos
não há limitação para a remuneração das o preço das operações e serviços visa apenas a
operações e serviços cobertura dos custos
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regulados pela Lei das Sociedades Anônimas reguladas pela Lei Cooperativista
Como podemos observar no quadro anterior, são muitas as diferenças entre as características
de um e outro tipo de sociedade. Além disso, essas diferenças são determinantes na
identificação de cada espécie de instituição.
A CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) incide sobre as pessoas jurídicas e entes
equiparados e se destina ao financiamento da seguridade social. O Poder Judiciário e os
Tribunais Administrativos (ligados ao próprio governo) vêm decidindo pela isenção da CSLL
sobre os resultados positivos obtidos em decorrência das atividades regulares das cooperativas.
Aqui se faz a distinção entre atos cooperativos e atos não cooperativos, sendo os primeiros
isentos da cobrança da CSLL. Somente as chamadas sobras líquidas em atos não cooperados
é que poderão ser tributadas por meio da CSLL.
A mesma observação deve ser feita em relação ao imposto de renda, diferenciando-se os atos
cooperativos dos atos não cooperativos, para fins de incidência do imposto.
Da previsão constitucional conclui-se que os atos cooperativos não tipificam certas espécies
de tributos, como aqueles incidentes sobre o lucro. A inexistência de lucro nas cooperativas
afasta, assim, a incidência do imposto de renda, que é tipicamente um imposto cujo fato
gerador é o lucro.
Por esse motivo, a responsabilidade tributária das cooperativas deve limitar-se aos tributos
referentes aos bens, patrimônio e relação de emprego (enquanto na qualidade de empregadora).
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
As relações usuário/prestador serão tributadas por meio da pessoa física do associado, o que
afasta a tributação da sociedade cooperativa, sob pena de bitributação de um único fato gerador.
De modo geral, pode-se dizer que todas as receitas geradas pelas cooperativas pela prática
de seus atos cooperativos são isentas de qualquer tributo.
Com relação aos ingressos de capital na sociedade, havidos em razão da venda de bens do
ativo imobilizado, tem-se decidido que, quando a venda for eventual (isolada), e conforme
a periodicidade e o objetivo das vendas (itens obsoletos ou desgastados pelo uso, por
exemplo), não pode haver tributação.
Em terceiro lugar, existem ainda outros negócios ou atos que são acessórios ou
auxiliares para a boa administração da cooperativa: contratar empregados, alugar
salas, vender imóveis, vender máquinas velhas, vender resíduos de beneficiamento,
ou produtos estragados, e outras alienações eventuais. Aí, a cooperativa estará
agindo, não como uma sociedade comercial, mas como qualquer pessoa em
atividade não comercial, como um associado civil que é, procurando, não o lucro,
mas simplesmente a mais valia na forma de ganho. Estes negócios também estão
fora da incidência do Imposto de Renda. (REsp 109.711/RS).
Cabe aqui fazer uma breve análise da legislação que regula os tributos, começando pelo
COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), que foi instituído pela Lei
Complementar nº. 70, de 1991, e do qual são contribuintes as pessoas jurídicas de direito
privado em geral.
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O que se argumenta na doutrina é que, antes mesmo da edição da referida Lei, já vigorava
a regra da não incidência de tributos sobre o resultado decorrente dos atos cooperativos,
regra essa determinada pela Lei nº. 5.764/71 (Lei do Cooperativismo), e, portanto, não haveria
necessidade de previsão de isenção em lei posterior.
Em 1998, a Lei n°. 9.718 definiu possíveis deduções a serem calculadas pelas instituições
financeiras em geral, entre as quais se incluem as cooperativas de crédito, no que se refere às
receitas obtidas fora do ato cooperativo.
Apesar da previsão de tributação da receita das cooperativas de crédito, naqueles casos específicos
ainda prevalecia a regra da isenção de tributação para os atos considerados cooperativos.
Por meio da Medida Provisória nº. 1.807/99, foram especificadas outras regras para as
deduções na apuração do COFINS (e também do PIS) em relação às instituições financeiras e
cooperativas de crédito.
Já a Medida Provisória (MP) nº. 1.858, do mesmo ano, revogou a regra isentatória para
as sociedades cooperativas. Ocorre que, nas reedições 7 e 8 dessa MP, foi autorizada a
exclusão da base de cálculo da COFINS, as receitas de venda de bens e mercadorias a
associados (desde que diretamente vinculados à atividade econômica desenvolvida pelo
associado e que sejam objeto da cooperativa), em relação às cooperativas de produção e
comercialização agropecuárias.
Quanto ao PIS (Programa de Integração Social), este foi instituído, em 1970, pela Lei Complementar
nº. 07, que previa a constituição de Fundo de Participação, do qual seriam contribuintes as
entidades de fins não lucrativos com empregados definidos pela Legislação Trabalhista.
A alíquota, a princípio de 0,75%, passou para 0,65% em 1999, através da MP nº. 1807, que
também promoveu alterações na sistemática de deduções e exclusões para a determinação
da base de cálculo do PIS-Faturamento.
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
Pois bem, como gestora desses recursos, a cooperativa deve preservar o valor e, até mesmo,
acrescentar valor a esses recursos, evitando assim sua estagnação e a perda de valor. O meio
mais comum de preservar esses valores é aplicar os recursos, destinando o resultado positivo
para o custeio das despesas gerais da cooperativa e agregando os resultados positivos às
sobras a serem distribuídas entre os associados.
Essa operação é considerada por parte da doutrina como ato cooperativo, pois a captação
de recursos e a preservação de valores estão incluídas no objeto social de qualquer entidade
financeira (à qual a cooperativa de crédito é equiparada).
No caso das cooperativas de crédito, porém, o objetivo dessa captação de recursos é a sua
utilização como meio de prestar assistência financeira aos seus associados. Sendo assim, tais
operações não deveriam ser tributadas.
Dois dispositivos legais que embasam a não incidência do imposto de renda sobre as
aplicações financeiras das cooperativas de crédito merecem ser analisados.
Em primeiro lugar, o Decreto nº. 3000/99, o qual dispõe, em seu artigo 182, que “as sociedades
cooperativas que obedecerem ao disposto na legislação específica não terão incidência do
imposto sobre suas atividades econômicas, de proveito comum, sem objetivo de lucro.”
Quando se trata da tributação dos atos não cooperativos, também o artigo 183 do Decreto nº.
3000/99 diferencia a natureza das operações das cooperativas de crédito consideradas atos
cooperativos das demais espécies previstas nos artigos 85, 86 e 88 da Lei Cooperativista (Lei
nº. 5.764/71), sobre as quais há incidência tributária.
Além dessas determinações, o Conselho Monetário Nacional (órgão que regulamenta a atividade
das instituições financeiras e das cooperativas de crédito) indicou, na Resolução n°. 2.771/2000,
as aplicações financeiras como uma das formas operacionais das cooperativas de crédito.
Consequentemente, o artigo 774, item I, do citado Decreto n°. 3000/99, determina que “o
regime de tributação previsto neste Título não se aplica aos rendimentos ou ganhos líquidos,
em aplicações financeiras de renda fixa de titularidade de instituição financeira.”
Por ser equiparada às instituições financeiras, a cooperativa de crédito, ao praticar ato não
cooperativo, está sujeita à incidência da norma que afasta a incidência de tributo sobre as
“operações de renda variável realizadas em bolsa, no mercado de fundos de investimentos,
autorizado pelo órgão competente, ou por meio de fundos de investimentos, para a carteira
própria das entidades citadas no inciso I.”
Em resumo, conclui-se que as cooperativas de crédito não sofrem retenção do tributo na fonte e nem
se sujeitam ao pagamento do imposto sobre ganhos líquidos.
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Alguns fortes argumentos podem ser levantados para sustentar a não incidência de tributos
sobre as operações, conforme citado no Decreto n°. 3000/99.
Em segundo lugar, pode-se dizer que as receitas havidas de aplicações financeiras decorrem
de atos-meios imprescindíveis aos propósitos societários determinados por normas oficiais e
expressos nos estatutos sociais das sociedades cooperativas.
Com base nos argumentos acima, reitera-se e confirma-se o entendimento de que não há
incidência do imposto de renda na fonte, sobre as operações de investimento e aplicação financeira
realizadas pelas cooperativas de crédito, tampouco pagamento do imposto em separado.
Também, com relação à incidência do ISS (Imposto sobre Serviços) nas operações realizadas
pelas cooperativas de crédito, cabe analisar se essas operações estão incluídas no conceito
de atos cooperativos ou se configuram atos não cooperativos, pois os primeiros estão fora do
campo de incidência desse tributo.
O fato gerador do ISS é a prestação de serviços por empresa. Não sendo empresa, e não
se podendo dizer que há circulação de serviços na intermediação feita pela cooperativa
para que os associados prestem os serviços, a sociedade cooperativa não se sujeita ao
pagamento do imposto.
As taxas cobradas pela sociedade cooperativa para a realização das operações acima
configuram meras taxas administrativas e são totalmente revertidas para a cobertura dos
custos da sociedade. Se porventura são apuradas sobras nessa arrecadação, ou seja, se
o montante das receitas for superior às despesas, o saldo remanescente é devolvido aos
associados, proporcionalmente às contribuições feitas.
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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito
Por esse motivo, não pode haver incidência de ISS sobre as operações que configurem atos
cooperativos, sendo tributadas, apenas, as receitas provenientes da prestação de serviços a
não associados.
Como podemos ver, as cooperativas de crédito, muitas vezes, estão sujeitas às mesmas
normas tributárias que os bancos, em virtude da realização de operações com o público
não associado. Nesses casos, devem pagar os mesmos tributos cobrados das demais
instituições financeiras.
Nesse particular, para se concluir pela incidência ou não de um tributo sobre uma
determinada transação efetuada pela cooperativa de crédito, devem-se analisar os
aspectos e os sujeitos envolvidos nessa transação. Só assim se poderá chegar a uma
conclusão justa e em conformidade com a legislação brasileira, que dispensa tratamento
diferenciado às sociedades cooperativas.
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