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Especialização

Ensino de Química

Disciplina: Agricultura

Aula 4

Título: Equilíbrio químico e a síntese da amônia

Objetivo: O aluno deverá descrever a síntese da NH3 em termos de equilíbrio químico

Caros alunos, tudo bem?

Relembrando, para as plantas crescerem é necessário hidrogênio (proveniente

da água), carbono (proveniente da fotossíntese), oxigênio (proveniente da respiração) e

nitrogênio. Os demais macronutrientes precisam estar no solo também. Pois bem, na

aula anterior, ao apresentarmos o ciclo do nitrogênio, verificamos que a sua fixação nas

plantas é fortemente dependente da presença de bactérias que vivem em simbiose

com as plantas leguminosas. Essas bactérias localizam-se nos nódulos das raízes das

leguminosas como feijões, ervilhas e alfafa. Portanto, a terra herda o nitrogênio dessas

plantas, quando elas morrem. Daí a função da rotação de cultivos em uma plantação,

pois, quando as plantações de leguminosas são alternadas com as plantações de

cereais, grãos e outros vegetais possibilita-se a assimilação do nitrogênio para todos os

tipos de vegetais que são plantados. Mas, com o aumento da produtividade agrícola,

em muitos locais, a rotação de cultivos foi abandonada e, é claro, os solos passaram a

empobrecer em nitrogênio. Já perceberam onde vamos chegar?


Daí surge a necessidade da adição de fertilizantes ao solo para garantir a

quantidade necessária de nitrogênio para o crescimento dos vegetais. O esterco de

animais é um fertilizante tradicional, porém ele vem cada vez mais sendo substituído

por fertilizantes artificiais. Os fertilizantes são à base de amônia, nitratos e ureia

[ ]. A amônia é a principal base dos fertilizantes, pois ela pode ser injetada

diretamente nos solos cultivados ou ser transformada em nitratos e ureia.

O processo de aperfeiçoamento em grande escala da síntese da amônia

provocou um grande desenvolvimento industrial, desde o começo do século XX.

Inicialmente, o químico alemão, Fritz Haber (1868 – 1934), por volta de 1908, propôs a

síntese da amônia a partir dos gases nitrogênio (N2) e hidrogênio (H2):

N2(g) + H2(g) NH3(g) DH = - 92,6 kJ mol-1

Haber propôs, em princípio, que a reação se desse a altas pressões e em baixas

temperaturas. Pois bem, vamos recordar a definição de equilíbrio

químico/termodinâmico: qualquer sistema vai atingir o equilíbrio quando as

velocidades das reações direta e inversa forem iguais, correto? Mas, em termos

termodinâmicos, isso significa que as funções de estado, entalpia (DH) e entropia (DS),

envolvidas devem ser favoráveis. Pois bem, o “árbitro” por assim dizer, entre a entalpia

é a energia livre de Gibbs (DG) — que é a capacidade de um sistema de realizar

trabalho — que relaciona a entalpia e a entropia e a espontaneidade por meio da

seguinte relação:

DG = DH - TDS

Lembrando que, para uma reação ser espontânea, é necessário que DG < 0.

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Agora o mais importante a destacar é que a espontaneidade de uma reação não

garante que a reação seja rápida. Mas, pode-se afirmar que quando um sistema atinge

o equilíbrio termodinâmico, a reação não cessa e todas as espécies coexistem ao

mesmo tempo, sem haver, portanto, alteração de suas concentrações ou pressões

(como no caso da produção da amônia).

Portanto, a grande novidade que Haber trouxe foi a utilização de altas pressões

(500 a 1000 atm) para deslocar o equilíbrio. E, no caso específico desta reação que

estamos estudando para onde é?

Acerto se você respondeu que o equilíbrio deslocou-se para a direita, não?

Lembremos que, quando um equilíbrio que envolve gases sofre aumento de pressão —

com consequente redução do volume — o sistema se desloca para o sentido onde há o

menor número de moléculas — ou, mais especificamente, a menor quantidade de

matéria (mol) formada. Então, na reação de síntese da amônia, o aumento da pressão

irá deslocar o equilíbrio para a direita.

As baixas temperaturas também favorecem esse equilíbrio, pois sendo a reação

exotérmica — pois há liberação 91,6 kJ de calor por mol de produto formado — a

diminuição da temperatura favorece a reação direta pois o calor é um produto. Outra

justificativa para a baixa temperatura é o ponto de ebulição da amônia que é de -

33,5oC, portanto, a reação ocorrendo em -53oC, a amônia pode ser retirada no estado

líquido. Em tão baixas temperaturas a reação é muito lenta, — termodinâmica é

diferente de cinética, certo? — então, Haber propôs a adição de um catalisador

metálico. Em primeiro lugar ele testou o ósmio e depois o urânio. E, por fim, ele não

permitiu que a reação atingisse o equilíbrio, pois a amônia era continuamente retirada

do sistema.
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Portanto, ao propor que a reação se desse em altas pressões, baixas

temperaturas, na presença de um catalisador e com a retirada do produto, Haber

estava perturbando o equilíbrio da reação! Ou seja, ele utilizou-se do Princípio de Le

Chatelier para aperfeiçoar esta síntese. Lembrando que este princípio prova, por

cálculos, que quando um equilíbrio é perturbado, a reação tende a ocorrer no sentido

contrário àquela perturbação, para que o sistema retorne ao equilíbrio.

Os estudos de Haber foram tão importantes que, em 1918 ele recebeu o Prêmio

Nobel de Química pela síntese da amônia a partir de seus elementos. Na verdade, ele

recebeu o Prêmio em 1919, pois em 1918 o comitê do Prêmio Nobel não havia

encontrado um ganhador para aquele ano e, só no ano seguinte, Fritz Haber foi o

escolhido e ganhou o Prêmio atrasado.

Voltando a 1908, Carl Bosch (1874 – 1940) — um engenheiro metalúrgico e

também químico, — que trabalhava na BASF, recebeu a tarefa de adaptar para escala

industrial o processo de produção da amônia recentemente criado por Fritz Haber (a

BASF acabara de adquirir os direitos sobre o processo). Bosch e sua equipe tiveram

que desenvolver uma planta industrial e testar catalisadores mais baratos. Ele

encontrou um catalisador de ferro, com alguns aditivos e passou a utilizar a

temperatura de 500oC para a reação. Há pouco eu mencionava que a reação era

favorecida por temperaturas baixas, porém, como a amônia produzida é continuamente

retirada do sistema, a alta temperatura aumenta a velocidade da reação. Portanto, o

baixo rendimento da reação — devido à alta temperatura — é compensado pela alta

velocidade de produção da amônia.

Carl Bosch ganhou o Prêmio Nobel em 1931 em reconhecimento às suas

contribuições na invenção e desenvolvimento de métodos químicos a altas pressões.


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Ao contrário de Fritz Haber, que recebeu o Prêmio sozinho, Bosch dividiu o prêmio com

o químico Friedrich Bergius, que desenvolveu métodos industriais de síntese de

hidrocarbonetos, a partir de combustíveis fósseis, também utilizando altas pressões.

O processo industrial de síntese da amônia é mais conhecido como processo

Haber-Bosch. A amônia fabricada em escala industrial inicialmente serviu para a

fabricação de explosivos e “alimentou” a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). Até

então, os explosivos eram fabricados a partir de nitratos obtidos por mineração dos

grandes depósitos de sais de nitrato existentes no deserto do Atacama, no Chile. Esses

depósitos continuam a ser uma importante fonte de mineração para aquele país.

Nestes depósitos de nitrato encontram-se, principalmente, os seguintes sais: o nitrato

de sódio, NaNO3 — o salitre do Chile — o nitrato de potássio, KNO3 e os sais mistos,

nitrato e sulfato de sódio monoidratado Na3(SO4)(NO3).H2O e o nitrato e sulfato de

potássio, sódio e magnésio hexaidratado, K3Na7Mg2(SO4)6(NO3)2.6H2O.

Após a Primeira Guerra Mundial, a destinação da amônia produzida

industrialmente passou a ser quase que totalmente destinada à fabricação de

fertilizantes sintéticos. Atualmente, o processo Haber-Bosch é utilizado para produzir a

maior parte da amônia que é consumida no mundo. Mais de 80% de sua produção é

destinada para a produção de ureia, nitrato de amônio, sulfato de amônio e

hidrogenofosfato de amônio.

Algumas décadas após a síntese industrial da amônia deu-se a Revolução

Verde, mais especificamente entre os anos 60 e 70 do século XX. Neste período, além

da injeção de fertilizantes sintéticos no solo, também houve o desenvolvimento das

máquinas agrícolas e de pesquisas — que se dão até hoje — na área da

bioengenharia, para produção de sementes mais resistentes às intempéries, as


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chamadas sementes geneticamente modificadas.

Bem, ao apresentar essas informações, não tenho a intenção de colocar minha

opinião particular sobre elas. De todo modo, eu creio ser importante ressaltar que o

aumento da produção de amônia, assim como a Revolução Verde trouxeram benefícios

para a humanidade, porém, há de se lembrar de que também trouxeram malefícios. Por

exemplo, o crescimento da indústria bélica, a diminuição do trabalho no campo e, para

citar só apenas mais um exemplo, a nossa quase total “ignorância” sobre alguns tipos

de alimentos que ingerimos, os quais são preparados por sementes geneticamente

modificadas. Esses são assuntos complexos, que não devem ser tratados de forma

superficial, para não corrermos o risco de chegarmos a conclusões incompletas ou

tendenciosas, porém, escolher um deles para se aprofundar pode ser bem

interessante, não?

BIBLIOGRAFIA:

ATKINS, P. e JONES, L., Princípios de Química – Questionando a Vida Moderna e o

Meio Ambiente, 5ª ed., Porto Alegre: Bookman, 2012.

CHANG, R. e GOLDSBY, K.A., Química, 11ª ed., Porto Alegre: AMGH, 2013.

SPIRO, T.G. e STIGLIANI, W.M., Química Ambiental, 2ª ed., São Paulo: Pearson,

2008.

Carl Bosch - Facts. Nobelprize.org. Nobel Media AB 2014.

<http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/1931/bosch-facts.html
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>(acessado em 17 de abril de 2017)

Fritz Haber – Facts. Nobelprize.org. Nobel Media AB 2014.

<http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/1918/haber-facts.html>

(acessado em 17 de abril de 2017)

Sobre os depósitos de nitratos no Chile:

https://www.cec.uchile.cl/~vmaksaev/NITRATOS%20Y%20SALARES.pdf (acessado

em 18 de abril de 2017)

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