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36 [AS ORIGENS SOCIAIS DAS DENOMINAGOES CRISTAS. parcial, isto é, da alianga moderna entre capitalismo e protestantismo. Ainda, a afirmagio de Weber chama a atengio para o fato de que alguns periodos da histéria crit foram fortemente influenciados por inteesses da ‘classe média e que muitas das modemas denominages tiveram suas ori- ‘gens, como organizagses separadas, a partir desses interesses ¢ néio das necessidades comuns da humanidade. E necessério, agora, como no caso das igrejas dos pobres, avaliar € teoria relativa & classe no denominacionalismo com referéncia ao papel da lideranga profética. Os herdis das igrejas burguesas, criadores de mui- tas de suas doutrinas ¢ piedade, freqiientemente transcendem classes ¢ condigdes econémicas e combinam 0 ideal puramente religioso com 0 desprezo divino pelos interesses mundanos de casta ou de seguranga financeira, Ainda, a aceitagdo de seus ideais por grupos particulares e a ‘modificagdo de doutrinas religiosas por meio de énfases seletivas, vem freqlentemente de motivos nada religiosos. Ainda é vélida a opiniao de Sombart: “Pense 0 que quiser do caréter do fundador de qualquer reli- giio, mas devem existir certas condigdes para que qualquer religiao apro- funde suas rafzes. Entre elas situam-se as econémicas. Ha também fatores biol6gicos e éticos.. A disposigdo para a religido é influenciada cada vez mais pelas condigdes econdmicas quando mais préxima estiver de nosso tempo; a vida econdmica na Europa Ocidental moderna tem sido, sob ‘vérias formas, dominadora’’* A interacio desses fatores — religiio do Iider profético ¢ condicses econémicas, bioldgicas, etnol6gicas e politicas — evidencia-se nas igrejas burguesas e nas denominagies nacionais e proletérias. Embora tal interagdo obscurega o caréter predominantemente de classe média de muitas das modernas igrejas protestantes, no conse- gue oculté-lo. Uma das mais inteligentes contribuigdes da sociologia e dda economia & histéria da Igreja € a revelagdo da conexdo entre capita- lismo ¢ calvinismo feita por Cuningham, Weber, Tawney e seus diseipu- 18s, A despeito do exagero que marca o desenvolvimento da teoria ligada fa estes nomes, nio se pode discordar da afirmacéo fundamental de que existe nos tempos modernos estreita relacio entre estes dois grandes movimentos sociais, e que cada um influenciou profundamente 0 outro. Podemos cautelosamente concluir, a partir das evidéncias encontradas, que as denominagdes calvinistas representam igrejas de classe média, ccujo surgimento © desenvolvimento so condicionados pelos interesses econdmicos da burguesia, assim como a ascencio econémica dos seus membros & classe média © ao capitalismo comercial foi fortemente in- fluenciada pela f€ de Genebra. [AS IOREIAS DA CLASSE MEDIA 3 io se define tdo bem as necessidades religiosas da classe média ‘quanto as dos pobres porque a burguesia apresenta padres mais com- plexos do ponto de vista de estrutura sociolégica e de interesses sociais ‘em relagdo aos proletérios. Interesses politicos ¢ culturais combinam-se de varias maneitas com aspirages econdmicas, enquanto que 0 relacio- namento das classes governantes — burocracia — e profissional com 0 grupo engajado no comércio & freqientemente muito esteita e sujeita 0s lltimos muitas influéncias modificadoras. Ademais, o desenvolvimento de certo constrangimento individual, com 0 conseqiiente apego aos direi- tos e liberdades pessoais, & responsével por considerdveis variagBes na religido assim como na politica da burguesia. Ainda, a psicologia da classe média contém tragos que se refletem em organizagées religiosas € doutrinas. Entre eles os mais importantes so 0 elevado senso do papel dos individuos e o predominio da atitude ativista diante da vida. A estes fatores primérios podem se juntar outros de importincia secundéria, como 6 nivel geral da educagZo e cultura, a seguranga financeira e © conforto fisico que 0 grupo desfruta, o senso de classe que promove, ¢ 0 efeito direto do mundo dos negécios e do comércio sobre seu c6digo de ética, Os individuos da classe profissional, mostram-se to inseguros como os membros da burguesia. Varios elementos sio responsdveis por esse fato. O caréter da atividade que coloca a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso sobre seus préprios ombros € fundamental. Em contraste com o trabalhador que, na antigiidade como nos tempos mo- demos, esté acostumado com seu labor cooperativo, a compartlhar ou resignar sua responsabilidade e a cultivar 0 senso de dependéncia do sucesso a fatores impessoais, o homem de negécios esté empenhado em atividade relativamente independente em que ele deve contar com as proprias energias e sagacidade. Seus negécios, embora de caréter no tio puramente pessoal como dos profissionais, leva-o ainda a tratar com pessoas, compradoras e vendedoras, mais do que coisas a serem com- pradas ¢ vendidas, Além disso, o nivel educacional € relativamente alto na classe média, contribuindo para 0 desenvolvimento pessoal. Final- ‘mente, o surgimento da burguesia diante do poder feudal condicionou- se pelas doutrinas do direito natural e liberdade individual. Os ideais surgidos do conflito foram conservados na literatura € na tradi¢ao dos ‘grupos comerciais. Em conseqléncia, os membros da classe média pen- sam mais em termos de pessoa do que de forgas, mais de mérito e demérito do que de sorte e destino.

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