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2021
CAMPINAS - SP
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SUMÁRIO
Nota: Há duas numerações de páginas nesta Apostila. O número no alto da página, à direita,
corresponde aos capítulos, relacionados no Sumário. Como foram sendo acrescentados anexos aos
capítulos, foi feita uma numeração corrida, de todas as páginas. Esta numeração está na parte inferior
da página, ao centro, manuscrita e rodeada de um círculo. Desconsiderar outras numerações
manuscritas porventura existentes.
(1) Culto, não adoração. Freqüentemente se usa, como sinônimo, a palavra adoração. Este
uso surge da influência da literatura em língua inglesa, que emprega uma única palavra,
worship, que engloba tanto o significado de adoração quanto o de culto. Exemplo disso são os
livros que se intitulam Teologia da adoração e tratam de todo o evento cúltico.
A palavra adoração tem um sentido restrito, específico, ao designar a atitude do crente
que se prostra diante de Deus e contempla a sua Pessoa e os seus atributos. Distingue-se do
louvor e da ação de graças, quando Deus é contemplado como o autor de feitos poderosos e é
aplaudido por tais realizações (Sl 150.2). Daí se segue que em todo culto deve haver atos de
adoração, mas nem todas as atitudes do crente serão de adoração. Para estas outras atitudes há
um vocabulário próprio, claro e bom. O cristão não apenas adora, mas se aproxima de Deus
em confissão, em lamento, em ação de graças, no aguardo de consolo, conforto ou orientação,
em oferecimento de si mesmo.
Neste rumo William R. McNutt se expressa, ao dizer que:
(2) Reunião do povo de Deus. O termo reunião possui uma abrangência maior e, em certo
sentido, mais neutra, do que uma outra palavra que também é encontrada nas descrições do
culto: celebração. Esta traz consigo a conotação de júbilo, de contentamento, de exultação;
nem sempre isto é verdade para o adorador que adentra o templo.
Os sentimentos que o participante traz ao culto são variados, e cobrem toda a gama das
emoções humanas. Ocorre, muitas vezes, uma seleção das porções bíblicas, em especial dos
Salmos, que salientam a alegria daquele que se apresenta diante de Deus com alegria e júbilo
(v.g., Sl 100). Mas isto desconsidera os outros trechos que falam da tristeza pelo pecado, da
perplexidade diante do silêncio de Deus ou da prosperidade dos maus.
(3) Culto cristão. Estamos no contexto da fé cristã e dentro dos seus limites. Nossas
convicções são trinitárias: cremos e cultuamos o Deus que se revela em Cristo Jesus, seu
Filho e nos sustenta pela presença do Espírito.
As pessoas que se reúnem são os integrantes do corpo de Cristo, o povo que Deus
mesmo resgatou, transportando-as “para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13). Os não-
crentes são bem-vindos porque esta é uma oportunidade para que a boa notícia da salvação
oferecida em Cristo Jesus seja claramente anunciada. Como destaca William D. Maxwell: “O
culto cristão é distinto de todos os outros cultos porque ele é direcionado para o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo”.2
O culto cristão é um evento comunitário; não apenas a reunião de individualidades em
um mesmo local. Não pode haver, portanto, uma relação apenas vertical, do adorador com
Deus; há também uma relação horizontal, dos irmãos entre si. Daí se segue que não somente é
momento abençoado o período do culto, mas ainda os momentos nos quais, terminado o culto,
os crentes confraternizam-se entre si, trocam notícias e se conhecem melhor.
(5) A homenagem a Deus que age em Jesus Cristo. A palavra homenagem, aqui usada, deve
ser entendida como abrangendo a adoração e o louvor que o crente presta a Deus. O culto se
1
MCNUTT, William Roy. Worship in the churches. Philadelphia: Judson Press, 1941, p. 28. Minha tradução.
2
MAXWELL, W.D. An Outline of Christian Worship. its developments and forms. London: Oxford University
Press, 1965, p. 5. Minha tradução.
3
BAILLIE, Donald M. The theology of the sacraments and other papers. London: Faber and Faber, 1961, p. 51.
Minha tradução.
3
dirige para Deus, que é o foco da atenção de todos que se acham presentes na ocasião. Deus é
a fonte de todo bem; nós, como seres carentes e necessitados, comparecemos diante dele em
busca de socorro, de forças, de refrigério, de perdão, de esperança. Ou seja, as necessidades
humanas não são ignoradas, mas são postas sob nova luz, na presença do Eterno.
O ser humano é incuravelmente religioso, e direciona sua atenção ou para o Deus
verdadeiro ou para falsos deuses. Isaac Singer, recordando-se de um sermão proferido pelo
avô, rabino polonês, em que o pregador perguntava porque Deus precisa de tantos louvores,
observa:
Meu avô deu respostas curtas a estas perguntas. Deus não necessita de ser glorificado
pelos homens, mas sabe que, quando estes deixam de louvá-lo, começam a louvar-se
demasiadamente uns aos outros. Também sabe que, quando os homens não lhe
dirigem orações, pedem mais e mais favores aos ricos e poderosos.4
Deve se ter presente que o culto que realizamos tem como centro a pessoa de Jesus
Cristo. Ele precisa ser anunciado em todo encontro, pois dele provém a esperança dos homens
em um futuro melhor. Calvino insiste: “Para que as cerimônias sejam exercícios de piedade, é
necessário que nos conduzam retilineamente a Cristo”.5
(6) A dimensão dialogal. O culto é um encontro entre Deus e o homem, no qual ambos
dialogam entre si. Como ilustra o poeta Gioia Júnior:
É impossível traçar uma linha divisória rígida que permita avaliar quem está falando
com quem. Muitas vezes, ao dirigir-se a Deus em oração, o crente percebe que,
simultaneamente, o mesmo Deus que escuta também está a falar-lhe. O diálogo, em sua
melhor apresentação, é uma conversa entre duas pessoas que se amam; a linguagem pode ser
simples, o tom de voz é natural, o compartilhamento torna-se íntimo.
Nos hinos e cânticos, bem como nas orações, o adorador fala com Deus, e pode fazer
das palavras alheias as suas próprias palavras. O “amém” sincero tem o significado de “eu
estou de acordo!”. Quando o pregador abre as Escrituras e expõe o texto bíblico Deus está se
expressando, dialogando com o Seu povo. Isto aponta para a grande responsabilidade que
pesa sobre os ombros do pregador: ser instrumento divino para a edificação, ensino e
consolação dos crentes.
4
SINGER, Isaac B. A face da oração. In: Seleções do Reader’s Digest. Rio: Reader’s Digest, 1986, junho/1986,
p. 93. Isaac Singer, escritor judeu-americano, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1978.
5
CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã: edição clássica. [5ª. edição, 1559] 2 ed. Trad. Waldyr
Carvalho Luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, p.203. (IV.X.29).
6
GIOIA JÚNIOR, Rafael. Canto maior: poesias. Rio: JUERP, 1969, p. 247. O título do poema é: Para quando
estiveres na casa de oração.
4
embora existam alguns princípios que mereçam ser considerados. Estes serão objeto de
análise nos próximos capítulos.
(8) Em todo culto deve o adorador, novamente, oferecer-se a Deus. Quando Deus se serve do
pregador para apresentar aos participantes do culto um desafio ou um convite, é recomendável
a existência de um momento que permita ou facilite a decisão. Assim, o término do culto logo
após o sermão é procedimento abrupto que desconsidera a psicologia humana. Um tempo,
mesmo que breve, precisa ser planejado, o que pode ocorrer por meio de um cântico ou hino
cujo texto esteja em harmonia com o desafio do sermão, ou por meio de instantes silenciosos
para a prece individual.
Todo culto deveria ser uma ocasião de crescimento espiritual. Há uma tradição, de
forte influência reavivalista, que pretende que as transformações da vida resultem de decisões
tomadas após momentos de agonia espiritual, mas isto nem sempre acontece. Na verdade, o
desenvolvimento do caráter cristão se dá, na maior parte das vezes, por mudanças gradativas,
por discernimentos que pouco a pouco vão moldando a vida do crente e permitindo ser mais
semelhante ao seu Modelo e Senhor, Jesus Cristo.
O oferecimento de si mesmo a Deus, ademais, não é um gesto “para dentro de si”,
egocêntrico e individualista, mas envolve o compromisso de servir a Deus no mundo, de
cuidar do irmão necessitado e de interessar-se pela sorte dos outros. Vale lembra aqui que o
“Eis-me aqui, envia-me a mim” de Isaías significou seu engajamento na pregação profética a
um povo hostil e rebelde (Is 6.8-13).
Falando de maneira bem simples: o culto tem como alvo deixar Deus satisfeito. Mas o
adorador é uma pessoa com características e necessidades próprias, e estas devem ser levadas
em conta. Se, de um lado, o culto não pode ser um evento que tenha como alvo a satisfação
individual, de maneira a reforçar o egocentrismo e o antropocentrismo, por outro lado, as
partes do culto devem ser adequadas, compatíveis com o estilo de vida e nível de
compreensão dos adoradores, para que eles possam se expressar devidamente diante de Deus.
O culto deve tratar o adorador como uma pessoa integral. Uma celebração defectiva é
aquela em que se enfatiza apenas uma dimensão: ou é excessivamente cerebral,
somente intelecto e raciocínio, ou é um derramamento de emoções, atropelando-se umas às
outras, sem qualquer rumo. Em qualquer dos casos houve uma opção limitadora.
No que diz respeito ao intelecto; a estrutura e a condução do culto devem ser
compreensíveis para a média dos membros da comunidade. Eles precisam ser capazes de
discernir um significado nas partes do culto, captando e envolvendo-se no desenvolvimento
daquela celebração. No culto também há que ocorrer espaço para a purificação das emoções, a
apresentação dos sentimentos individuais (mesmo que de forma silenciosa). Deste modo,
serão canalizadas as aspirações de cada um permitindo o surgimento de sentimentos novos e
positivos.
Nunca é demais salientar que a necessidade fundamental daquele que se apresenta
diante de Deus é a necessidade de encontrar a Deus. O salmista, sedento de Deus em sua
jornada pelo deserto, exclama: "quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Sl 42.2). É a
comunhão com Deus que deve ser buscada, e esta experiência não pode ser substituída pela
beleza do templo nem pela arte da música. Mas a experiência do encontro com Deus pode ser
banalizada. Isto acontece, entre outras razões, quando a grandeza e a transcendência de Deus
não são corretamente enfatizadas. Ele é o Outro, o Deus Inacessível, o Santo, diante de quem
o pecador se prostra em confissão e reverência. Ele não é um mercador que aceita presentes
para conceder bênçãos.
5
ALLEN, Ronald; BORROR, Gordon. Teologia da adoração. Cap 1, p. 15-19; Cap 4, p. 37-
52.
2 A ESTRUTURA DO CULTO
O Novo Testamento não registra nenhum culto por completo, de modo que não
sabemos qual era a sequência em que os diferentes elementos do culto eram colocados. Há
elementos cuja origem facilmente se identifica como sendo derivados do encontro na
sinagoga; outros mostram o seu vínculo com a celebração da Última Ceia.7
É recomendável que qualquer evento ou reunião tenha uma estrutura ou uma agenda
que mostre uma certa lógica de encadeamento ou sucessão de partes. Assim também com o
culto. A tradição reformada apresenta um corpo de recomendações e orientações a respeito;
existem diversos padrões que são sugeridos para a organização do ato cúltico.
A IPB possui seus Princípios de Liturgia. Como o nome já indica, são "princípios",
apontando normas gerais. O Capítulo III intitula-se CULTO PÚBLICO. São dois artigos.
Apesar da enumeração ser concisa e breve, podemos notar a existência de dois focos: a
relação com Deus, que se manifesta na adoração, na busca da comunhão e na confissão. O
outro foco é o efeito ou a transformação na vida do povo de Deus, mostrado na experiência do
perdão, na busca de santificação e crescimento.
7
Ver na apostila de TEOLOGIA DO CULTO 1 o capítulo 2, seção 2 A Igreja primitiva, para maiores
informações.
8
NEEDHAN, Nick, Westminster and worship: psalms, hymns? and musical instruments? In: DUNCAN, J.
Ligon (Ed.). The Westminster Confession onto the 21st Century. Soctland: Mentor, 2004, p. 227.
7
Ao se aproximar de Deus o adorador não traz apenas uma atitude de alma, mas ele
entra no templo imerso nas contradições e esperanças que marcam sua própria existência
individual. Assim acontece com cada participante do culto, de sorte que uma grande gama de
sentimentos está presente no coração dos crentes.
Sem a necessidade de estabelecer, no momento, qualquer hierarquia ou encadeamento,
podem ser apontados:
- convicção de pecados e a conseqüente tristeza por tê-los cometido: o cristão sincero e
sensível aos movimentos do Espírito em seu próprio coração sabe que o pecado ainda o
atinge, e comparece à presença divina para confessar suas faltas e buscar o perdão do Pai
celeste;
- maravilhamento diante de Deus: quando o cristão contempla a Deus vê a grandeza do
Eterno, a abundância de seu amor. Há uma visão do Todo Poderoso, ao se abrirem os olhos
espirituais. Daí a adoração e o louvor;
- gratidão: a ação de graças que é apresentada pelo adorador envolve as bênçãos supremas da
salvação em Cristo Jesus, mas também incluem o favor do Alto presente nos simples fatos da
vida, na orientação recebida para o cotidiano, na vida em família, no trabalho, e assim por
diante;
- necessidade de orientação, conforto e desafio: são variadas as necessidades do coração
humano; para uma pessoa acabrunhada e entristecida, a voz divina vem em seu auxílio para
conforto; para aquele que se sente sem rumo, há a necessidade de orientação; o cristão que se
acha acomodado precisa ser desafiado;
- impulso para apresentar a Deus as necessidades próprias e dos outros: a súplica e a
intercessão, quer pessoais, quer comunitárias, quer locais, quer nacionais, movem muitos até o
templo para o culto a Deus.
9
Manual Litúrgico, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2a. edição, 1992. A publicação é caracterizada
como “edição reestruturada e acrescida por Valter Graciano Martins e Gecy Soares de Macêdo”. A Apresen-
tação justifica as modificações efetuadas, descrevendo também as reestruturações ocorridas. De acordo com Carl
J. Hahn (in HISTÓRIA DO CULTO PROTESTANTE NO BRASIL, págs. 195-209), este Manual foi compilado
pelo Rev. Modesto Carvalhosa o qual, no final de seu ministério, pastoreou a IP Unida de São Paulo.
10
Manual do Culto, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, s/data.
8
reformado de que não cabe ao homem inventar ou acrescentar aquilo que a Palavra de Deus
não prescreve:
o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão
limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações
e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação
visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.11
Invocação: O nosso socorro está no nome do Senhor, criador do céu e da terra. Amém.
Confissão de pecado: Irmãos, que cada um se apresente diante da face do Senhor, e
confesse suas faltas e pecados, seguindo minhas palavras em seu coração.
Ó Senhor, Eterno e Todo-Poderoso Pai, confessamos e reconhecemos diante de Tua
santa majestade que somos pobres pecadores, concebidos e nascidos em iniqüidade e
corrupção, inclinados a fazer o mal, inúteis para qualquer bem, e que em nossa
depravação constante e incessantemente quebramos Teus santos mandamentos. [A
oração ainda prossegue.]
Ora, uma vez que em toda reunião religiosa nos prostramos diante de Deus e dos
anjos, que outro nos será o ponto de partida do proceder senão o reconhecimento de
nossa indignidade? [...] E, com efeito, vemos ser esse costume observado com
proveito nas igrejas bem reguladas, de sorte que em cada dia do Senhor o ministro
repita, em seu próprio nome e no do povo, uma forma de confissão, mediante a qual a
todos acusa de culpados de iniquidade, e do Senhor suplique o perdão. Enfim, com
esta chave se abre uma porta para orar, tanto aos indivíduos, em particular, quanto a
todos, publicamente.12
Após esta oração havia o cântico de um salmo e logo a seguir já acontecia a pregação,
antecedida de uma oração por iluminação. Após o sermão era proferida uma longa oração e,
após a Benção, o culto se encerrava.13
11
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, cap. XXI.I.
12
CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã. [5ª. ed. 1559]. 3.4.11.
13
A primeira liturgia proposta por Calvino para Genebra (1541) previa o cântico de apenas um salmo;
posteriormente o número foi ampliado para três. A celebração da Ceia se dava quatro vezes por ano.
9
A inclusão da Ceia do Senhor se faz, nestas estruturas, em um ponto após a oração que
se segue ao sermão. Não há uma divisão precisa entre os diversos sentimentos que são
expressados no culto.
2.3.3 O modelo baseado em Isaías 6. A visão do profeta, que marca o seu chamamento, tem
sido usada como norma para a elaboração de muitas celebrações. Transcrevemos a exposição
clara e concisa feita por João Wilson Faustini:
Esta estrutura é muito encontrada nas ordens de culto impressas nos boletins das
igrejas nacionais. Nela estão dois elementos importantes: há uma sequência compreensiva de
partes e sentimentos; há múltiplas possibilidades de organizar os itens disponíveis (hinos,
orações, leituras). Normalmente as duas primeiras partes (Adoração e Confissão) são intro-
duzidas com um "convite", no qual sentenças das Escrituras são usadas.
O Ritual inserido pela Igreja Metodista ao final do conhecido Hinário Evangélico
segue esta estrutura. Ali se encontra uma outra inserção também costumeira: após o Perdão é
colocado um momento de Louvor, com ocasião para a Ação de Graças.
Deve se ter em mente que este padrão, muito embora bastante difundido e empregado
entre as igrejas evangélicas, não é o único e nem pode ser descrito como o “padrão reformado
de culto”.15
14
FAUSTINI, João W. Música e Culto. Campinas: CAOS/SPS, 1965, p. 4. (Edição apostilada, para uso interno
dos alunos do SPS). Sublinhados no original.
15
Esta estrutura foi difundida por dois pastores norte-americanos: Willard L. Sperry, Deão em Harvard nos anos
20, de origem episcopal, e Von Ogden Vogt, contemporâneo do anterior, e que foi, inicialmente, ministro
congregacional, mas depois tornou-se pastor da Igreja Unitária de Chicago.
16
IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL. Manual do Culto. São Paulo: Pendão Real,
[1996], p. 14. Negrito no original.
11
Declaração de perdão
Saudação de paz
Hino, salmo, cânticos ou responso de gratidão
Este modelo incorpora uma variada gama de textos e ações presentes na tradição
litúrgica ocidental; a utilização de todos eles em uma mesma cerimônia, contudo, traz o risco
de torná-la excessivamente longa. Talvez esta liturgia seja de ajuda ao apontar alguns
elementos que podem ser incluídos em uma ou outra ordem de culto.
2.3.5 A partir de um tema ou texto bíblico. Uma maneira relativamente simples de estruturar o
culto consiste em estabelecer seções a partir de um texto bíblico ou de uma tema,
normalmente o tema do sermão. Deve se notar que cada salmo possui sua estrutura própria, de
sorte que a ordem das seções pode não seguir a mesma ordem dos versículos.
2.4 CONCLUSÃO
Uma ordem de culto mais simples ou despojada não é mais fraca ou de menor valor
em relação a uma liturgia com muitas seções e partes. A estrutura do culto deve mostrar uma
certa ordem, e o valor de cada parte para a elevação espiritual dos participantes deve ser
apontado com clareza, na fala do dirigente, durante o encontro da comunidade.
O encontro com Deus pode ocorrer apesar dos defeitos da liturgia ou dos seus
dirigentes; o encontro com o Eterno ocorre quando há pessoas tementes a Deus que se reúnem
com o propósito de buscar ao Altíssimo e estabelecer um saudável diálogo com Ele.
17
Op. cit., p. 41, 42.
12
De forma geral, o princípio regulador do culto tem sido entendido pelos seus
defensores sob o pressuposto de que tudo aquilo que diz respeito ao culto foi objetivamente
revelado. É nessa perspectiva que A. A. Hodge comenta a Confissão de Fé:
[Estas seções ensinam:] Que Deus, em sua Palavra, nos prescreveu o modo de
cultuá-lo aceitavelmente; e que se nos constitui uma ofensa dirigida a ele, e
mesmo grave pecado, negligenciar cultuá-lo e serví-lo da forma prescrita, ou
tentar serví-lo de alguma outra forma não prescrita. 1
As três seções seguintes desse Capítulo XXI apontam os elementos que devem integrar
o culto cristão:
III. A oração com ações de graças, sendo uma parte especial do culto religioso,
é por Deus exigida de todos os homens; e, para que seja aceita, deve ser feita
em o nome do Filho, pelo auxílio do seu Espírito, segundo a sua vontade, e isto
com inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança. Se
for vocal, deve ser proferida em uma língua conhecida dos circunstantes.
IV. A oração deve ser feita por coisas lícitas e por todas as classes de homens
que existem atualmente ou que existirão no futuro; mas não pelos mortos,
nem por aqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte.
1
HODGE, A. A.. A Confissão de fé comentada. Trad. Valter Graciano Martins. 2ª. ed. São Paulo: Os
Puritanos, 1999, pág. 368.
A Confissão de Fé é explícita ao nomear aqueles elementos que fazem parte do culto
legítimo; anteriormente, na feitura do Diretório do Culto, tais elementos já haviam sido
incluídos. Estes, e nenhum outro:
É evidente que os juramentos, votos, jejuns e ações de graças são eventos de caráter
esporádico; os cinco elementos anteriores são freqüentes e, com exceção dos sacramentos,
devem estar presentes em todas as celebrações.
______________________________________
Esta distinção foi prevista na própria Confissão de fé: a parte final da seção VI do
Capítulo I diz:
Mas, porque na disciplina exterior e nas cerimônias não quis ele [Deus]
prescrever minuciosamente o que devamos seguir (porque isto previne
depender da condição dos tempos, nem julgaria convir a todos os séculos uma
forma única), impõe-se aqui acolher as regras gerais que deu, de modo que,
em conformidade com essas regras, sejam aferidas todas as coisas que, para a
ordem e o decoro, a necessidade da Igreja muito requer que sejam
preceituadas. 2
2
CALVINO, op. cit., IRC 4.10.30.
3
ANGLADA, op. cit, pág. 37.
4
KELLY, op. cit., pág. 81. Tradução do autor.
Ralph Gore Jr, em sua tese de doutorado, aponta que o Diretório de Culto teve de ser
um documento conciliador, dada a diversidade dos partidos existentes na Assembléia. Há
silêncio sobre algumas matérias para as quais não houve acordo; por exemplo, quanto a
freqüência com a qual a Ceia devia ser celebrada e quanto ao modo de sua distribuição. A
decisão ficou a cargo do Conselho de cada igreja. 5 E logo a seguir Gore aponta situação que, a
seu ver, foi um problema:
Trechos extraídos de
5
DIRETÓRIO DO CULTO DE WESTMINSTER, pág. 47.
6
GORE JR, R.J. The pursuit of plainness: Rethinking the Puritan Regulative Principle of Worship. Tese
de Doutorado em Filosofia, Westminster Theological Seminary, 1988. Acesso em 20.junho.2008, por
meio da base de dados ProQuest Dissertations and Thesis, site mackenzie.br.; pág. 133. Tradução do
autor.
13
3 A PREPARAÇÃO DO CULTO
3.1.1 A classificação de Paul Basden. Este pastor batista norte-americano apresenta cinco
estilos distintos. São eles:
- Culto litúrgico. “O propósito do culto litúrgico é levar a igreja a se curvar diante da glória
transcendente de Deus, ou seja, louvar o poder e a grandeza divina”.18 Neste culto há destaque
para a leitura da Palavra de Deus, são usados hinos, órgão e coral.
- Culto tradicional. Embora seja menos formal que o culto litúrgico, este estilo também
apresenta uma ordem planejada. Seu propósito: “levar a congregação a agradecer a Deus por
sua bondade e a ouvir Deus falar pela sua Palavra”.19 Há hinos, mas os cânticos têm o seu
lugar. Este estilo representa a evolução da tradição cúltica calvinista.
- Culto avivado. “Caracterizado pela informalidade, exuberância, entusiasmo e pregação
agressiva, esse estilo de culto busca levar o pecador perdido ao Deus de misericórdia”. 20 Sua
grande ênfase é evangelística. A música usada reflete a influência dos gospel songs do Século
19, desenvolvidos nos EUA.
- Culto louvor&adoração. É um “culto vivo, informal e com muito som, no qual a
congregação busca ativamente a presença imediata de Deus”.21 O seu objetivo é levar o
participante a uma experiência com o Espírito; daí a menor atenção dada à Bíblia e à
exposição de seu ensino.
- Culto facilitador. Pode ser descrito como “um, culto evangelístico, breve e alegre, criado
especialmente para os “interessados”, ou seja, não-cristãos que estão procurando Deus, mas
ainda não tomaram uma decisão pessoal de se entregar a Cristo. Não se trata de um culto de
adoração feito para cristãos”.22
3.1.2 A tipologia de Robinson Cavalcanti. Este pastor e teólogo anglicano, por muitos anos
bispo em Recife, propõe a seguinte classificação:23
18
BASDEN, Paul. Estilos de Louvor: Descubra a melhor forma de culto para a sua igreja. São Paulo: Mundo
Cristão, 200, p. 46.
19
Op. cit., p. 59.
20
Op. cit., p. 71.
21
Op. cit., p. 81.
22
Op. cit., p. 94. Itálico no original.
23
CAVALCANTI, Robinson. O Culto Evangélico no Brasil – uma Tipologia. In: BOLETIM TEOLÓGICO.
Fraternidade Teológica Latino-americana. Ano 9, n. 28, out/nov/dez 1995, p. 7-12.
14
- Os Cultos no Livro. São aqueles que seguem um manual litúrgico, como os luteranos e
anglicanos, com sua ênfase própria nas datas do Ano Eclesiástico.
- Os Cultos do Livro. Constitui uma reunião despojada com uma ênfase maior no ensino e
menor na dimensão da adoração. Há um grande destaque para a Bíblia.
- Os Cultos das Emoções. Neste padrão há uma explosão das emoções, de maneira que “a fé,
mais do que entendida, é sentida”.24
- O Culto Espetáculo. É um culto-show, com pouca ênfase na Bíblia e pouca profundidade na
mensagem.
- O Culto Espetacular. “O culto que atrai é uma versão religiosa do “aqui e agora” concreto,
simplificado, com os triunfo dos mocinhos contra os bandidos. [...] bênçãos existenciais
instantâneas”25
24
Op. cit., p. 10.
25
Op. cit., p. 12.
26
WHITE, James F. Introdução ao Culto Cristão. São Leopoldo: Sinodal, 1997, p. 127.
15
Quando do preparo do culto já se pode fazer provisão para a participação dos fiéis.
Não faz sentido um encontro no qual o oficiante faça todas as orações e todas as leituras; o
culto é um encontro da comunidade, do povo que adora a Deus coletivamente. Por isso, a
"distribuição de tarefas" entre os membros da igreja não pode ser algo que ocorra apenas nos
poucos minutos que antecedem o culto. Preparar uma "boa" ordem de culto demanda tempo
por parte do pastor; exige dele disciplina e ação antecipada.
Se há colaboradores que irão auxiliar no culto, a participação deles - ou pelo menos o
acompanhamento - no preparo da liturgia, é importante. Esta é uma oportunidade para o
pastor orientar a respeito das atitudes corretas e da melhor maneira de planejar as falas que
podem adequadamente ser proferidas em cada momento.
O pregador não precisa subir sozinho ao púlpito, assumindo ele toda a direção dos
trabalhos. Presbíteros, diáconos, presidentes das sociedades internas ... há muitas pessoas que
podem ser envolvidas na condução da liturgia.27
São citados, de forma esquemática, alguns itens que permitem a participação dos
crentes:
- Leituras bíblicas: feitas individualmente ou sob forma antifônica; em alguns casos, o
texto pode ser trabalhado sob a forma de um jogral.
- Oração comunitária: especialmente no momento de ação de graças, dando oportuni-
dade para que sejam feitas orações breves, de uma frase apenas, sem "fecho". Ao final, o
dirigente fará uma oração também breve com a terminação adequada.
- Breves testemunhos: este tipo de participação não é muito incentivado em nossas
igrejas. Alguns dos motivos são evidentes: há lamentável tendência para o seu
desvirtuamento, com ênfases na experiência individual, ou para projeção pessoal, ou com
descontrole na duração ou nas observações feitas. Mas isto não significa que devam ser
evitados por completo. De fato, a dificuldade maior reside na habilidade do pastor de
coordenar tal prática.
- Litanias impressas: não há necessidade de distribuir os leitores em apenas dois grupos,
oficiante versus congregação; outras distribuições podem ser experimentadas.
27
Por outro lado, deve se ter em mente que o Diretório do Culto de Westminster, de forma restritiva,
determinava que “A Leitura da Palavra na Igreja [...] será realizada pelos Pastores e Professores”. (O
DIRETÓRIO DO CULTO DE WESTMINSTER. São Paulo: Puritanos, 2000, p. 28). Consultar também o
Catecismo Maior, perguntas e respostas 156 e 158.
16
Anexo ao Capítulo 3
Observações preparadas com o auxílio de Vera Lucia Guimarães Monteiro, a partir de curso
dado por César Collet (Curso de Dicção, novembro de 1966, em Rio Verde GO).
1. Velocidade
2. Tessitura
Por tessitura significamos a amplitude da voz, aguda ou grave, peculiar a cada pessoa.
O tom naturalmente usado por cada um é o seu diapasão. O tom inicial de um discurso deve
ser o mediano, ou o diapasão normal do orador.
Tons graves: indicam e expressam situações solenes, fúnebres, nefastas.
Tons agudos: usados para expressar pressa, complicação, aceleração da narrativa,
exarcebação das emoções, ênfase.
Elevação/descida em palavras da frase: as palavras de uma frase não recebem a
mesma inflexão. Normalmente, para fins de realce, algumas palavras recebem uma súbita
alteração de tessitura: são adjetivos, advérbios, palavras enfáticas, vocativos, interjeições.
3. Timbre
A tudo isto se acrescente um "colorido" especial que pode ser dado à voz, que
contribui para sua expressividade.
Voz de bronze: tom dramático.
Voz de prata: para indicar ternura, carinho.
Descritiva: tom seco, enumerativo.
Martelada: com articulações exageradas e rítmicas.
Voz irônica ou de zombaria: em tom afetado ou sarcástico.
Voz de admiração: com brilho e entusiasmo.
18
28
CATECISMO DE HEIDELBERG. Trad. Paulo Sérgio Gomes. Cosmópolis SP: edição do tradutor, 1996,
pergunta/resposta 103.
29
VON-ALLMEN, Jean-Jacques. O Culto Cristão. São Paulo:ASTE, 1964, p. 156.
30
HUSTAD, Donald P. Jubilate! A música na Igreja, P. 169.
19
A Igreja Presbiteriana do Brasil não possui uma tradução "oficial". O que se percebe
entre as denominações evangélicas do país é uma preferência declarada por esta ou aquela
tradução. A tradução mais utilizada é a de João Ferreira de Almeida, tanto na versão corrigida
quanto na atualizada. Quem as escuta desde a infância aprendeu a apreciar suas cadências, a
decifrar a linguagem arcaica e as ordens inversas.
Entretanto, nem sempre o que se lê é compreendido. O povo brasileiro, via de regra,
possui um vocabulário inferior àquele presente na maior parte das traduções disponíveis no
mercado. Duas consequências, ambas lastimáveis: ou o ouvinte "desliga" enquanto a leitura
está sendo feita, ou entende erradamente, retirando conclusões estranhas ao texto.
A Confissão de Fé de Westminster insiste, fazendo referência aos livros das Escrituras,
que "esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde
chegarem".31 Daí a importância da adequada compreensão, por parte dos adoradores, da
porção da Escritura que está sendo lida. De fato, a "decifração" deve ser facilitada, de maneira
que o texto bíblico seja entendido, e isto não apenas por ocasião da pregação.
A tradução utilizada deve caracterizar-se por ritmo, beleza e dignidade. A leitura feita
com solene reverência, sem afetação, com atenção aos signíficados contidos no texto, torna-se
uma experiência benéfica não só do ponto de vista espiritual, mas também estético.
Assim, a tradução escolhida não precisa ser sempre a mesma. O pastor necessita ter,
em sua biblioteca, diversas traduções das Escrituras, para que, ao fazer as escolhas, seja
guiado pela necessidade de selecionar uma versão que seja, ao mesmo tempo, fiel ao texto
original e inteligível ao seu público. Uma das implicações de tal princípio é que, mudando o
público, também se pode mudar a tradução.
O que ler? Podem ser notadas pelo menos três opções: há hinários que possuem leituras já
prontas, impressas no final ou entremeadas com os hinos. São exemplo o Hinário Evangélico
(hinário oficial da Igreja Metodista do Brasil) e o Hinário para o Culto Cristão (hinário
opcional das Igrejas Batistas). A segunda possibilidade são as leituras impressas
dominicalmente no boletim da igreja ou no corpo de um folheto contendo a liturgia do dia. A
terceira, são leituras previamente escolhidas, mas somente indicadas por ocasião do culto, e
lidas diretamente das Escrituras.
Muitas das leituras são feitas de forma alternada, em que o oficiante se alterna com a
congregação na leitura dos versículos, em sequência. Esta forma costuma ser chamada
também de "antífona".
Quantas leituras? Uma breve excursão histórica permite descobrir que, por muitos séculos, foi
regra a utilização de três leituras, conectadas entre si e extraídas do Antigo Testamento, das
Epístolas e dos Evangelhos. Este padrão praticamente desapareceu nas Igrejas Reformadas; o
Diretório de Culto de Westminster recomenda a leitura de um capítulo do Antigo Testamento
31
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. 7 ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1980, Cap I.VIII.
20
Como escolher o que ler? Encontramos dois sistemas padronizados que governam a escolha
dos textos a serem lidos: a lectio continua, exemplificada no Diretório do Culto, em que um
livro da Bíblia vai sendo lido, domingo após domingo; a lectio selecta, em que diferentes
textos são escolhidos de acordo com a conexão de mensagem existente entre eles,
exemplificada no Lecionário.
Quando nenhum destes sistemas é utilizado, a identificação das porções cabe tão-
somente ao preparador da liturgia. O princípio básico a ser seguido, e que permite evitar o
excessivo subjetivismo, é vincular a escolha do(s) texto(s) a um tema central, ou ao próprio
tema do sermão.
"O lecionário consiste em um sistema organizado de leituras bíblicas para o culto, que
acompanha o desdobramento do ano litúrgico."32 Não há, portanto, um sistema único;
entretanto, em virtude do esforço conjunto de muitas igrejas cristãs de todo o mundo, chegou-
se a um Lecionário Comum, que o MANUAL DE CULTO da IPI apresenta em suas páginas
finais. Uma dessas leituras, muitas vezes, serve de base para o sermão a ser pregado naquele
culto.
São citadas três porções a serem lidas no culto: textos do Antigo Testamento, das
Epístolas e dos Evangelhos. Tem sido acrescentado, recentemente, trecho do livro de Salmos,
que pode ser usado na forma de cântico. O ciclo possui abrangência trienal, e procura cobrir
toda a "história da salvação", dando também destaque para as grandes datas do calendário
cristão(lectio selecta).
Entre os benefícios resultantes do uso do Lecionário podem ser apontados:
- permite a audição pelos adoradores de textos bíblicos que ficam "esquecidos", ao lado da
recordação das porções "clássicas" e bem conhecidas;
- permite o uso dos textos como base do sermão, incentivando a exposição coordenada das
Escrituras Sagradas, e criando no pregador maior disciplina;
- evita o excessivo subjetivismo em que a escolha dos textos lidos e pregados dependa
exclusivamente dos interesses do pregador;
- facilita o planejamento do culto, integrando pastor e demais colaboradores num projeto
litúrgico mais harmônico.
Calvino costumava iniciar o culto citando o Salmo 124.8: "O nosso socorro está em o
nome do Senhor, Criador do céu e da terra". Normalmente, uma sentença breve da Escritura é
usada para dar início à parte falada da celebração.
Há textos que servem como uma saudação ou uma recordação de que estamos na
presença de Deus. Ligam-se, naturalmente, àqueles que desafiam os fiéis a prestarem a Deus o
culto que Lhe é devido. Temos, aqui, o convite à adoração.
32
MANUAL DO CULTO IPI, p. 320.
21
Via de regra, ao proferir estas sentenças iniciais, o pregador não cita o local onde estão
os versículos. Fala, solenemente, desafiando ao povo a comparecer nos átrios de Deus com
reverência e louvor. Não há sentido numa prática que vai se disseminando de dizer, ao se abrir
o culto, apenas um "boa-noite".
Os momentos de confissão devem ser igualmente precedidos/preparados por um texto
da Palavra de Deus. Deve haver balanceamento entre o reconhecimento de nossa pecaminosi -
dade e a disposição divina de ouvir e perdoar. Sentenças da Escritura que anunciam o perdão
divino têm o seu lugar ao término da confissão. Falam da absolvição.
Ao encerrar o culto, é privilégio do pastor abençoar o povo, despedindo-o em paz para
suas casas. Os Reformadores (Lutero, Calvino, Zuínglio) mostraram predileção pela Benção
Aaraônica (Nm 6.24-26). O motivo é interessante: imaginavam eles que ela fora utilizada pelo
Senhor Jesus na Ascenção. Se utilizada, é preferível alterar a pessoa verbal para o plural ("O
Senhor vos abençoe"). A Benção Trinitária (2 Co 13.13) pode ser antecedida de uma
Doxologia, sendo um dos exemplos mais usados Jd 24.
O fraseado da Benção, embora deva reter elevado padrão teológico, não precisa seguir
ipsis litteris os textos bíblicos. A criatividade de cada um há de permitir a redação de textos
expressivos e pessoais.
Na oração o crente se dirige a Deus. Não a qualquer divindade, mas ao seu próprio
Deus, Aquele que o criou e em quem crê. É da essência da fé cristã que Deus seja buscado
pelos fiéis, que expressam seus louvores e seus sentimentos diante do Altíssimo.
A tradição cristã divide a prática da oração em individual ou privada e comunitária ou
coletiva. Seria adequado, talvez, expandir esta classificação da seguinte forma:
- Oração individual ou privada - são as preces feitas no "quarto secreto", quando o
crente, sozinho, se vê diante de Deus e Lhe abre inteiramente o coração. São palavras
pessoais, carregadas de sentimentos, momentos nos quais o fiel expõe os fatos mais íntimos
de sua vida. Expectativas mais nobres ou pecados mais vergonhosos - tudo é apresentado
diante do trono da graça de Deus. Esta oração é essencial para a vida cristã.
- Oração em pequenos grupos - de fato, este é um dos aspectos da oração comunitária;
entretanto, merece um destaque especial. Em um grupo pequeno e acolhedor as orações
tendem a ser pessoais e calorosas, permitindo que os participantes se apoiem mutuamente e se
estimulem à prática do bem e às boas obras.
- Oração comunitária, coletiva ou cúltica - esta oração é aquela que ocorre nas
celebrações em que o povo de Deus se reúne para prestar culto ao seu Senhor. As variadas
preces resumem e expressam o sentimento da comunidade; são veículo das necessidades
daquele grupo que integra o Corpo de Cristo.
Fica claro que todos os cristãos precisam experimentar estas três dimensões da vida de
oração. O modo de orar, porém, passa por algumas mudanças em razão do contexto em que
acontece. Por não perceberem isto, muitos crentes agem na falsa expectativa de que o culto
público deva suprir a totalidade de suas necessidades, no que diz respeito à vida de oração.
O interesse maior, neste estudo, são as orações proferidas nos cultos. Na oração
pública quem ora é porta-voz da comunidade. O porta-voz representa um grupo e fala em
nome de sues integrantes, e não em nome pessoal.
As orações podem ser classificadas de acordo com o assunto que contém. Especial-
mente no culto, a questão da temática das orações ganha vulto e tem importância. Seguimos
de perto a classificação oferecida por Raymond Abba:33
33
ABBA, Raymond. Principles of Christian Worship. New York: Oxford University Press, 1966, p. 87-96.
23
Em certos ritos prevalece o uso de orações prontas, perenizadas nas liturgias e próprias
para cada ocasião. Como foi visto anteriormente, a Reforma do Século XVI não rompeu de
todo com a tradição católica que privilegia as orações escritas. O Diretório de Culto de
Westminster tem espaço para as orações escritas ou litúrgicas e para as orações livres.
As orações extemporâneas são aqueles proferidas sem preparo antecipado, de
maneira espontânea. Esquematicamente, eis algumas das qualidades e defeitos de cada tipo:
Dentre as formas consagradas pela tradição, duas há que podem ser utilizadas em
nossas liturgias: as coletas e as litanias.
Coletas. É uma forma de oração breve e concisa, governada por rigorosas leis de construção.
Eis um exemplo:
Ó Deus,
que unes as almas dos fieis em uma só vontade,
concede ao teu povo que amem o que ordenas e desejem o que prometes,
a fim de que, por entre as inconstâncias deste mundo, se fixem nossos corações
onde estão as verdadeiras alegrias.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, teu Filho, que sendo Deus, conosco vive
e reina em união com o Espírito Santo por todos os séculos dos
séculos. Amém.34
1. Invocação a Deus
2. Cláusula relativa referindo-se a alguma característica de Deus
3. Petição
4. Declaração de propósito da petição
5. Conclusão ou Doxologia.
34
AMIOT, François. A Missa e sua História. São Paulo: Flamboyant, 1958, p. 42-45.
25
Em que circunstâncias esse tipo de oração pode ser usado em nossos cultos?
Basicamente, duas situações:
- pelo próprio oficiante, em ocasiões que ele próprio vá orar, apresentando diante de Deus, de
forma compacta, os anseios da comunidade (p. ex., como fecho aos momentos de confissão
silenciosa, como oração por iluminação);
- impressa no boletim ou na ordem de culto, para ser proferida por toda a igreja
Litanias. Do ponto de vista estritamente litúrgico, a litania é uma oração em que petições são
proferidas pelo celebrante, e a congregação responde com uma frase padrão (p. ex. "Senhor,
tem misericórdia de nós", o antiquíssimo Kyrie eleison). Podemos usar o termo, de forma
mais ampla, para designar orações escritas que são lidas de maneira alternada, não apenas
para uso nos momentos de confissão, mas em outras ocasiões, no decorrer do culto.
Os textos a serem escolhidos ou preparados devem, portanto, concentrar-se em um
tema básico; a linguagem e o fraseado empregados devem reunir, simultaneamente, dignidade
e compreensibilidade. Em muitos casos, uma litania já pronta necessitará ser adaptada pelo
oficiante, caso os termos nela empregados não integrem o vocabulário dos adoradores.
Quando pensamos em orações escritas não precisamos nos limitar a estas duas formas.
São encontradas excelentes orações, de estruturas mais livres, e que servem de veículo para os
sentimentos da comunidade. Lamentavelmente, em nossa cultura brasileira, não surgem com
frequência obras contendo orações. Algumas fontes são citadas no final do capítulo.
A comemoração de datas especiais é circunstância propícia para o emprego de orações
escritas. São exemplos: Dia das Mães, Dia dos Pais, Dedicação do Templo, Dia de Ação de
Graças, entre outras.
Breve palavra sobre o uso dos Credos no culto. Eles são um resumo da fé cristã,
condensando os pontos básicos daquilo que a Igreja ensina. São, ao mesmo tempo, uma
proclamação aos homens e uma oração a Deus. Raramente o Credo Niceno ou Credos
modernos são utilizados, tanto em virtude da falta dos textos em nossos hinários como pela
aversão a textos impressos.
A utilização de qualquer texto como meio da comunidade confessar sua fé deve ser
precedida de clara explicação e convincente desafio. Uma congregação amadurecida irá
encontrar proveito em declarar, de forma firme e audível, suas convicções.
Textos gerais
FOSDICK, Harry Emerson. O Significado da Oração. São Paulo: Imprensa Metodista, 1941.
26
QUOIST, Michel. Poemas para rezar São Paulo: Duas Cidades, 1958.
ORAÇÕES COMENTADAS
As orações abaixo estão sendo objeto de comentário, para ajudar a entender a estrutura de
uma oração no formato de coleta.
Deve-se notar, sempre, que a coleta é uma oração breve, concisa, contendo um só pedido
e sua justificativa.
Exemplo 1
A - Recomenda-se o uso do plural, para uma oração que será feita por TODA a comunidade,
e não apenas por uma pessoa.
A' - Toda coleta, após a invocação a Deus, deve conter uma referência a algum atributo ou a
alguma ação de Deus.
B - Cuidado para não misturar os pronomes: na mesma linha há teu e depois seu. Nossa
prática é dirigir-nos a Deus como tu. Assim, todos os pronomes e verbos devem pertencer à
segunda pessoa do singular.
C - Novamente uma questão gramatical. Conjuge: qual é o imperativo afirmativo do verbo
permitir? Ele corresponde ao presente do indicativo, tu permites, com a retirada da letra "s"
final: permite (tu).
C' - Aqui há um pedido e uma justificativa, que fazem lembrar elementos necessários para
uma coleta.
Exemplo 2
Ó supremo Rei, A
que governas o teu povo com mão poderosa, B
manifesta a tua glória no meio desta nação que é o Brasil, C
a fim de que, por meio das dificuldades enfrentadas por nós, D
voltemos nosso olhar a Ti, Rei Soberano. E
Em nome de seu Filho Unigênito, príncipe justo e bondoso, F
a quem damos toda honra e louvor pelos séculos dos séculos. Amém.
Exemplo 3
Ó Senhor Deus, A
que conduziste teu povo antigo através do deserto e o levaste à terra prometida, B
guia o povo da Tua igreja C
para que, seguindo nosso Salvador, possamos andar através do deserto deste mundo em
direção à glória do mundo que está por vir; D
através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo,
um só Deus, agora e sempre. Amém. (Lecionário. Ano A 2019-2020, p. 30) E
A - Há a invocação a Deus.
B - Vejam que se destaca não um atributo divino, mas uma ação divina e concreta na
história.
C - Um só pedido.
D - Uma justificativa que leva em conta o que se diz na cláusula relativa. Verno no plural.
E - O fecho ou conclusão.
27
Em 1899 foi publicada a terceira edição do Psalmos e Hymnos com Musicas Sacras.
Com 500 hinos, possuía o dobro do material disponível na edição anterior, de dez anos antes.
Quem quisesse saber como soavam os novos hinos precisava da ajuda de alguém que
soubesse ler música, para tocar ou solfejar o novo cântico.
Hoje, a situação é bem diversa. Na segunda metade do Século 20 o acesso à música
gravada causou uma grande revolução. Os discos permitiram a rápida divulgação de novas
músicas. Com o avanço da tecnologia, ficou para trás o disco de vinil, e surgiu o compact-
disc. Nós, que estamos imersos nesta revolução, nem sempre nos apercebemos das mudanças
trazidas. No passado, uma bela apresentação coral ficava apenas na memória, para ser descrita
às gerações vindouras; hoje, ela é perenizada em uma fita de vídeo ou similar. E é espantosa a
velocidade de sua divulgação, caso caia no gosto do público.
Qual é o significado da música? Livros e livros têm sido escritos sobre o assunto. São
muitas as questões relacionadas com a estética musical e, consequentemente, com a discussão
do que é “belo” em música e na arte em geral. Donald P. Hustad discute e condensa algumas
idéias sobre o tema. 35
- a música afeta o comportamento humano, para o bem ou para o mal (a música como
ethos);
- a música tem uma relação sobejamente importante com as emoções humanas (a
música como a linguagem das emoções);
- a música traz prazer aos ouvintes e/ou participantes;
- a música apoia o sistema de valores de uma sociedade (música como reforço
cultural).
O uso da música no culto a Deus, portanto, reveste-se de grande valor. São abundantes
as referências bíblicas ao assunto, mostrando o seu lugar como meio de expressão e,
certamente, de reforço dos valores espirituais envolvidos. Deve ser dada atenção especial
tanto à música como também ao texto vinculado; daí a análise, separadamente, destes pontos.
6.1 O TEXTO
Os hinos e cânticos utilizados pela Igreja Cristã possuem diversos temas e destinações.
A classificação feita no capítulo anterior sobre os tipos de oração também cabe aqui. Todos
estes tipos estão representados em nossos cânticos. Afinal, Calvino já ensinava que os hinos
são “oração cantada”.
Podem ainda, serem feitos os seguintes acréscimos:
- hinos de testemunho: narra-se a experiência pela qual o poeta passou:
- hinos de apelo: há uma forte insistência na decisão por Cristo;
- hinos didáticos: servem para o ensino, quer de doutrina, quer de história bíblica.
Alguns ângulos que devem ser levados em conta no exame e escolha dos hinos e
cânticos são:
- Análise gramatical: é necessária clareza da linguagem e das idéias. As palavras empregadas
devem ser, em sua maioria, conhecidas do povo. A ordem gramatical inversa, presente em
muitos hinos, obscurece o sentido do texto. As figuras e os símbolos empregados precisam ser
adequados e inteligíveis. Atualmente, encontram-se muitos cânticos que fazem uso de
linguagem figurada em grau tão intenso que a compreensão do ensino deles é prejudicada.
35
HUSTAD, D. P., - Jubilate! A Música na Igreja, pag. 24-27.
28
Erros gramaticais não devem ser tolerados; problemas da espécie, lamentavelmente, têm sido
abundantes.
- Análise teológica: as declarações do texto necessitam adequar-se a uma teologia sadia, com
a devida fundamentação bíblica. Textos para uso congregacional requerem uma linguagem
própria para expressar os sentimentos ou anseios da comunidade (nem todos os textos de
caráter religioso são próprios para o uso no culto). O uso de figuras ou expressões
provenientes do Antigo Testamento devem ser balanceadas pelo ensino do Novo Testamento.
A ação proposta pelo texto precisa coadunar-se com a presença cristã no mundo, sem
escapismos, relação de troca com Deus ou excessivo individualismo.
- Análise musical: a melodia deve ser acessível ao crente, com intervalos e figuras rítmicas
adequados. Há cânticos e até hinos que, preferivelmente, devem ser entoados apenas por um
grupo treinado. A métrica do texto precisa coincidir com a acentuação musical. Se a música
chama em demasia a atenção para ela própria, há um desvirtuamento de sua utilização.
6.2 A MÚSICA
Há muitos estilos musicais. Com frequência, a opção por um ou outro estilo depende
da música que a pessoa ouviu desde sua infância. Isto enfatiza o aspecto sociocultural das
linguagens musicais. A questão do gosto musical, portanto, é crucial. Isto não significa que
uma comunidade deva optar por um estilo só; na verdade, ela é composta de pessoas oriundas
de diferentes contextos musico-culturais. Além disso, sempre é tempo de aprender e apreciar
novas formas musicais.
Por outro lado, não se pode, simplesmente, importar um estilo que é popular fora da
igreja, e trazê-lo para dentro das igrejas. Há que se preservar as linguagens musicais presentes
na tradição histórica de cada denominação. Este é um assunto que tem causado infindas
discussões, e não permite a adoção de soluções simplistas ou autoritárias.
A música e o texto precisam “casar bem”. Isto significa que o tipo de emoção que a
música, sozinha, desencadeia, deve ser compatível com o sentimento do texto. Um exemplo
negativo, até pouco tempo muito costumeiro, era o uso da música ADESTE FIDELIS
(normalmente associada com o hino natalino “Ó, vinde, fiéis”) com o hino da Paixão “Ó, vós
que passais pela Cruz do Calvário”.
A melodia precisa ser cantável. Há frases musicais que apresentam dificuldades para o
crente mediano de nossas igrejas. Ora são sequências rítmicas muito complexas, ora são
intervalos ou sequências melódicas de difícil entoação. Tais peças devem ser entregues, via de
regra, a cantores com maior treino ou a grupos mais preparados (corais ou conjuntos).
O equilíbrio entre a emoção e a dignidade deve ser buscado. Há músicas que
apresentam evidentes exageros sentimentais, desencadeando uma piedade piegas e
excessivamente subjetiva. Este perigo afeta muitos solistas, que interpretam os hinos ou
cânticos de maneira demasiadamente emotiva. Tais exageros chamam a atenção para o cantor
e afastam o ouvinte de um encontro com Deus.
Os prelúdios são o grande exemplo da música sem palavras usada em nossas igrejas.
Para que servem? Eles devem contribuir para o recolhimento individual do adorador,
preparando-o melhor para prestar culto a Deus. Assim, ele é parte do culto, e não uma mera
“marcha de entrada” que indica que o pastor vai subir ao púlpito.
Alguns requisitos: o volume do(s) instrumento(s) deve ser discreto, pois a música aqui
é “música de fundo”. Para que a atenção do adorador não se prenda ao que está sendo tocado,
30
recomenda-se não utilizar hinos conhecidos; neste caso, o texto, inadvertidamente, começa a
ser “cantado” interiormente, afetando as orações feitas no coração.
Os músicos devem apresentar o melhor para Deus (Sl 33.3b). Entretanto, o prelúdio
não é ocasião para exibição de virtuosismo, mas sim, momento para edificação espiritual. A
utilização de peças do repertório organístico provenientes do período barroco e clássico pode
ser feita, pois há excelentes obras de diversos compositores. Se a congregação, normalmente,
não está acostumada com tais obras, seria prudente haver alternâncias de estilos musicais.
Os poslúdios encerram o culto. Devem contribuir para a decisão final do adorador,
diante do Deus Todo Poderoso que acabou de cultuar. Há muitas igrejas que têm
implementado, com êxito, a prática de silêncio enquanto o poslúdio é tocado. Isto significa
que o pastor só se dirige para a porta do templo quando o execução musical termina. Nestes
casos, o organista é orientado para usar peça não muito longa; quando ele a termina, o pastor
se levanta e o organista toca novamente a mesma peça, desta vez já tendo como fundo o
burburinho daqueles que estão se retirando do templo.
E quanto à música de fundo? Encontramos seu uso em duas ocasiões específicas do
culto: na oração silenciosa e durante a distribuição dos elementos da Ceia. Variam as posições
sobre o assunto. Durante a oração silenciosa de confissão é preferível não haver qualquer tipo
de execução musical, para que a atenção do confessante se dirija tão somente para sua prece.
Na celebração da Ceia, havendo possibilidade, a execução de música em surdina pode ser
indicada. Prevalece, contudo, a recomendação de que não sejam utilizadas melodias
conhecidas.
O primeiro hinário preparado em língua portuguesa para uso das igrejas evangélicas
do Brasil foi o Salmos e Hinos. Sua primeira edição surgiu em 1861, sob a responsabilidade
do Dr. Robert R. Kalley e sua esposa, D. Sarah P. Kalley, missionários congregacionais e
pioneiros do trabalho evangélico no país. Diversas edições foram sendo feitas, e de grande
valor foi a colaboração do Dr. João Gomes da Rocha, filho adotivo do casal. A edição revista
e aumentada de 1919 (4a. edição) tornou-se o hinário largamente usado pelo Brasil afora, com
608 hinos. Em 1975, após um trabalho de muitos anos, foi publicada uma nova edição, a
quinta, com 652 títulos. Muitos cânticos mais recentes foram incorporados, além da realização
de grande esforço para eliminar erros, vícios e defeitos existentes na edição anterior.
Os irmãos batistas tiveram no pastor Salomão L. Ginsburg o dedicado editor do
hinário denominado Cantor Cristão. Sua primeira edição foi em 1891, na cidade de Recife, e
continha a letra de apenas 16 hinos. Sucessivas edições acrescentaram novos hinos, muitos
deles comuns ao outro hinário já existente (o Salmos e Hinos). Finalmente, a 18a. edição, em
1924, com as partituras dos hinos, fixou a coletânea, mantida praticamente intacta até 1971,
quando a 36a. edição foi lançada. O número atual de títulos é de 581 hinos.
A Confederação Evangélica do Brasil procurou criar um novo hinário, que
representasse uma necessária revisão do Salmos e Hinos e fosse utilizado pelas diversas
denominações a ela filiadas. O resultado foi o Hinário Evangélico. O volume contendo as
partituras completas surgiu em 1952, embora tenha havido, anteriormente, uma edição em
formato pequeno contendo as melodias apenas. Esta 1a. edição, com 230 hinos, foi substituida
no início da década de 60 por volume com 500 hinos. Os exemplares publicados somente com
as letras também contêm leituras bíblicas adequadas para o culto, denominadas Antífonas.
Atualmente, é o hinário oficial da Igreja Metodista. Há exemplares que trazem o Ritual usado
pela referida denominação.
Os esforços presbiterianos para a criação de um hinário para uso da denominação
levaram muitos anos para sua concretização. Já na década de 40 circulava um Novo Hinário,
31
cuja circulação e utilização foi muito restrita. A partir de 1974 a Profa. Atenilde Cunha
coordenou os trabalhos que resultaram no Novo Cântico, inicialmente divulgado como
Hinário Presbiteriano. As primeiras edições, contendo apenas o texto, necessitaram de novas
reformas; a edição com música veio a público em 1991, com 405 hinos.
Todas estas coletâneas apresentam um grande número de músicas estrangeiras. São
poucas as composições de autores nacionais, e os textos são, em sua maioria, traduções de
poemas de outras línguas, especialmente do inglês. Assim, a maior parte dos hinos cantados
pelas igrejas que fazem uso de algum destes hinários provém de outra cultura, influenciando e
moldando a maneira de cantar das igrejas brasileiras.
Um projeto desenvolvido pela Convenção Batista Brasileira permitiu que fosse
publicado o Hinário para o Culto Cristão. Surgida em 1990, esta nova coletânea possui 441
hinos e 172 leituras, agrupados em uma única sequência. Há 166 hinos provenientes do
Cantor Cristão, ao lado de muitos outros escritos ou compostos por músicos brasileiros, ainda
vivos e atuantes. Convivem, portanto, hinos antigos e novos, ritmos tradicionais e frases
sincopadas e vívidas.
Estas coletâneas mencionadas integram o grupo dos hinários ditos “oficiais”.
Atualmente, diante da facilidade de publicação e divulgação, têm surgido muitas outras
coletâneas, tanto para uso coral como para uso de grupos e conjuntos. Na verdade, este último
segmento tem crescido muitissimo, e a forma de disseminação dos novos cânticos dispensa o
texto musical impresso. As novas canções se reproduzem por meio de folhas manuscritas
cifradas, de CDs, e através da memória dos seus cantores.
Tal situação mostra um acentuado paralelismo com aquilo que também acontece na
música secular: o caráter efêmero de muitas peças, que alcançam um pico e depois
mergulham no esquecimento. Saem da “parada de sucessos da música evangélica”.
O hinário oficial de nossa denominação necessita ser conhecido por aqueles que fazem
uso dele. Mesmo quem não saiba distinguir uma simples nota musical encontra proveito no
exame dos índices existentes no exemplar com músicas. Em primeiro lugar, sua Introdução
condensa informações a respeito da estrutura seguida na distribuição dos hinos. A consulta ao
índice de Conteúdo permite identificar os temas centrais sob os quais foram agrupados os
textos, e facilita a escolha, pelo elaborador da liturgia, dos hinos apropriados ao momento do
culto. Espalhadas por toda a coletânea há notas, com dados a respeito de hinos ou de seus
autores. Alguns destes pontos podem ser compartilhados com a igreja.
No final do hinário há outros índices. Ali podem ser encontradas informações sobre os
autores das letras e seus tradutores, sobre os compositores e arranjadores. Muitos hinos
mostram claramente terem sido escritos com base em textos das Escrituras, e há índice que
apresenta tais vinculações.
Um recurso que tem sido utilizado com proveito em muitas igrejas é o “hino do mês”.
A escolha é feita pelo pastor, sozinho ou em conjunto com os responsáveis pela música na
comunidade (regente, organista, departamento de música), preferivelmente no começo do ano.
Durante o mês, sob várias formas, o hino é apresentado à igreja e assim ensinado para todos.
Cuidado especial precisa ser tomado nos meses subsequentes para que volte a ser cantado, de
sorte que sua melodia seja bem fixada pela congregação.
Por último, uma observação de caráter mais geral: há uma idéia muito difundida de
que os hinos devam ser cantados de forma lenta e arrastada, ao passo que os cânticos e
corinhos merecem interpretação vibrante e animada. Nada mais longe da verdade! Há hinos
de todos os matizes e, embora alguns exijam um cantar mais “sossegado”, em virtude de
32
características introspectivas do próprio texto, outros há que devem ser entoados com vigor e
determinação, expressando a convicção e a fé da comunidade que louva ao seu Deus!
__________________________________________________________
ICHTER, Bill H. Se os hinos falassem. Rio: JUERP (coletânea de 4 volumes contendo a história de
hinos).
LOUVOR. Revista de Música Sacra publicada trimestralmente pela Convenção Batista Brasileira.
LOUVOR PERENE, jornal trimestral de música sacra, publicado até 1980. (Há coleção incompleta à
disposição dos alunos do SPS na Biblioteca.)
Anexo ao Capítulo 6
Estudo de hino
NO GRUPO
a. Anote as afirmações feitas neste hino, que estão nas estrofes;
(é útil sublinhar estas afirmações levemente com lápis, no seu hinário)
INDIVIDUALMENTE
b. Faça estas afirmações, nas suas próprias palavras, linguagem sua, simples,
mas você mesmo falando. Utilize o verso desta folha, se quiser escrever.
c. Reflexão particular por alguns minutos sobre:
- como é que eu faço uma pessoa conhecer o perdão de Jesus?
- como é que uma outra pessoa efetivamente me faz conhecer o
perdão do Senhor quando eu peco contra ela?
NO GRUPO
d. Por alguns minutos compartilhem uns com os outros suas afirmações,
sua maneira de personalizar o hino;
em seguida, uma conversa em torno do item “c”: fazer alguém conhecer
- efetivamente - o perdão de Cristo
Deus tem que trabalhar primeiro em minha vida para poder tocar outras pessoas através de
mim.
Orgulho, timidez, indiferença, falta de sensitividade ao outro, egoísmo, espírito julgador, falta
de perdão... são alguns dos empecilhos que impedem o uso de vasos humanos.
a. O que há em mim que possa impedir a resposta deste pedido?
(o pedido no coro do hino)
b. Nós cantamos “Quero ser um vaso de benção”, e pedimos a Deus que se
sirva de nós. Eu quero realmente me colocar nas mãos do Senhor para o
trabalho do Espírito Santo de refinamento, de quebrantamento dos
empecilhos dentro de mim? Isto pode doer, e muito. Realmente quero isto?
c. Com honestidade, sinceridade, com meu pensamento engajado no momen-
to de cantar, eu estou fazendo uma oração serissima usando o coro deste
hino. Reconheçamos que normalmente se cantam estas palavras sem dar-
lhes seu sentido real.
Á luz do estudo de hoje, o que será minha atitude pessoal ao cantar este hino?
O culto, como um todo, é a resposta humana à revelação de Deus feita por intermédio
do Mediador, Cristo Jesus. Diante do Deus que o procura, o fiel se prostra em adoração. A
pregação é parte essencial do culto, porquanto nela a Palavra de Deus vem até o homem em
sua situação existencial. O texto bíblico, que é a "memória" da ação de Deus no passado, é
exposto de tal maneira que ele "desencadeia" a ação divina no presente, em nosso aqui e
agora.
Na pregação encontramos o testemunho da verdade e da realidade que foram pro-
clamados na leitura. Lutero argumentava que o pregador deveria poder dizer, sempre, ao
término de seu sermão: "Fui um apóstolo e profeta de Jesus Cristo ao pronunciar este
sermão”.37
A pregação não pode ser substituída ou compensada por uma liturgia sofisticada ou
por uma música vibrante; nem uma liturgia fraca e desconexa pode ser justificada porque o
sermão foi excelente. A mensagem, portanto, deve ser vista como um elemento de grande
importância dentro do conjunto geral dos atos litúrgicos; ela é essencial, visto trazer o
corretivo divino, o balizamento de nossos caminhos. Isto só é possível quando as Escrituras
são abertas e expostas na inteireza de seus princípios e na sábia aplicação aos problemas da
vida.
36
BONHOEFFER, Dietrich. The Cost of Discipleship. New York: Macmillan, 1963, p. 45.
37
Cit em VON ALLMEN, O Culto Cristão, p. 171.
35
Eficaz, cita um outro livro no qual são encontradas 100 sugestões de séries para sermões!38
Dentre as vantagens de tal planejamento, podem ser apontadas:
- a comunidade é conduzida a uma compreensão mais ampla do livro ou do
tema exposto, interligando e integrando conceitos e práticas;
- o anúncio do tema e o seu desenvolvimento, se feitos com sabedoria,
despertam o interesse dos ouvintes, o que contribui para um melhor aproveitamento;
- especialmente para o próprio pregador, resulta num estudo profundo e
sistemático da matéria a ser exposta, exigindo disciplina e dedicação.
Estas séries de sermões podem ser utilizadas em qualquer ocasião do ano. Entretanto,
o período que vai do Domingo de Pentecostes até o final do ano litúrgico(último ou penúltimo
domingo de novembro), por não possuir datas litúrgicas específicas, é o período mais
indicado.
Já falamos anteriormente sobre o uso do Lecionário. O pregador, ao escolher pregar
sobre um dos textos incluídos nas leituras do dia, não está ignorando a poderosa orientação do
Espírito Santo. Pelo contrário, ao se colocar sob a direção do Espírito, na preparação da
mensagem, ele busca tornar conhecidas pelos seus ouvintes as verdades eternas das Escrituras
Sagradas. Se o pregador, de antemão, escolheu determinado texto do Lecionário, isto pode ser
informado ao regente do coral ou dirigente da equipe de louvor, de sorte que os próprios
cânticos previamente escolhidos e ensaiados contribuam para reforçar a mensagem.
O uso dos textos do Lecionário contribui para o resgate de porções preciosas das
Escrituras que estavam esquecidas. Inconscientemente, o pregador costuma escolher textos e
temas que ficam dentro dos limites de seus interesses; a subordinação a uma lista externa
aumenta a possibilidade de que outros passos bíblicos sejam comentados do púlpito.
JOWETT, John Henry. O Pregador, sua vida e obra. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, p.
96-115.
38
CRANE, James D. O Sermão Eficaz. 4 ed. Rio: JUERP, 1995, p. 173. Todo o Capítulo VIII traz sugestões
práticas sobre o assunto.
PLANEJANDO O PÚLPITO eles! Isto significa não tratar dos mesmos assuntos da ED; mas
também é preciso continuidade, no que diz respeito a cada horário.
(p.19,20)
Resumo de
PLANNING A YEAR´S PULPIT WORK 6. No planejamento sugere-se começar com as datas especiais. O
Escrito por ANDREW W. BLACKWOOD, professor de nome técnico é “sermão ocasional” (ou “de ocasião”). A preparação
Homilética no Seminário de Princeton, New Jersey dos sermões para estas ocasiões pode começar logo após a data, com
Abingdon Press, 1942 12 meses de antecedência! (p. 32,33) (Ver, adiante, Seção B)
A. Anotações gerais; Panorama do planejamento e sua 9. De modo ideal, cada sermão deveria ser bíblico na substância,
implementação doutrinário na forma e prático nos efeitos. A mensagem deveria
inspirar o ouvinte a fazer a vontade de Deus, começando
imediatamente. (p. 69)
1. O livro surgiu da experiência pastoral do Autor. Todo pastor deve
possuir um plano para o púlpito, considerando: o estado dos tempos,
10. O Autor propõe séries de sermões pressupondo uma comunidade
as necessidades da congregação e as inclinações de sua própria
com o Culto Matinal sendo o mais importante, e depois o Culto da
mente. Ao mesmo tempo, não deve ficar escravo do seu próprio
Noite. Como fala numa perspectiva norte-americana, propõe que o
planejamento. Seja flexível para revisar. (p. 7,8)
pregador, nas férias de verão (que lá são no meio do ano) planeje
seus sermões e dê início a seu plano a partir de setembro. Como o
2. Para dar a cada mensagem tempo para se desenvolver, o pastor
agrupamento dos temas é trimestral, o esquema fica assim:
precisa ter sermões em diversos estágios de desenvolvimento. (p. 16)
(1) Ênfase: Fortalecimento *
3. A maneira mais simples é seguir o calendário. Durante as férias de
Período: Setembro até o meio de Dezembro (perto do Natal)
verão o pastor revê o ano anterior e planeja o próximo. (p. 17)
Cultos Matinais: Encontrando Deus na História Bíblica (séries
descritas sob números C.1 a C.4)
4. A unidade de planejamento sugerida é o trimestre. (p. 18).
Cultos da Noite: Pregando a Doutrina Cristã (C.5 a C.8)
* A palavra em inglês é undergirding, que tem o sentido de
5. O Autor trabalha com a hipótese de Cultos no Domingo pela
fortalecer pela parte de baixo.
manhã e à noite e no meio da semana. Deve haver variedade entre
(2) Ênfase: Recrutamento
Período: Do Natal (meados de Dezembro) até a Páscoa 12. Adotando o plano: vantagens para o pastor O plano encoraja o
Cultos Matinais: Proclamando o Evangelho (C.9 a C.12) pastor a estudar regularmente, de tal modo que em 8 a 12 anos ele
Semana Santa e Ressureição: Salientando a Cruz; A Glória da poderá cobrir quase toda a Escritura. No desenvolvimento desse
Páscoa (C.13 e C.14) programa o pastor necessitará de livros fora do Cânon, tais como
(3) Ênfase: Instruindo comentários, livros teológicos, tratados éticos, etc.
Período: Da Páscoa até Pentecostes Como um moto, podem ser considerados: Ed 7.10, 2 Tm
Cultos Matinais: Apresentando o Senhor Ressureto (C.15 a 2.15.
C.18), com grande variedade de sugestões, superiores aos A existência de um plano:
domingos disponíveis, utilizando os trechos finais de João, - dá ao pregador um sentido de propósito e direção. A convivência
Mateus e o início de Atos. por meses com um determinado livro dará ao pastor muitas idéias
Cultos da Noite: Pregando a Ética Bíblica (C.19 a C.21). (Ver seminais para sermões;
também, logo abaixo, item 11 O Sermão ético.) - elimina a busca frenética por um tema para o sermão do próximo
Cultos da Noite ou do meio da semana: Fazendo uso da História domingo; este é um tempo desperdiçado;
da Igreja (C.22). - permite entendimentos com os responsáveis pela música na igreja,
(4) Ênfase: Encorajamento de tal modo que os cânticos especiais (solos, coral, conjunto) e os
Período: De Pentecostes a Setembro cânticos congregacionais possam ser escolhidos com antecedência e
Sermões com ênfase pastoral, destacando a cura da alma (C.23) preparados com qualidade.
e enfatizando a esperança e o contentamento (C.24) Diz Alfred E. Garvie: “Eu não desperdiço metade – ou mais
Nota: o Autor insiste que o pregador deve estudar com bastante – da semana esperando que o Espírito Santo me dê um texto, mas,
antecedência o livro da Escritura que será exposto na forma de uma pelo constante estudo da Escritura, sob a direção do mesmo Espírito,
série, de tal maneira que, quando os sermões começarem a ser eu encontro mais textos, com o contexto sugerindo o tratamento a ser
pregados, todo o estudo já tenha sido concluído. dado, do que eu posso usar.” (p. 211).
11. O sermão ético Doutrina e ética são importantes. A doutrina deve 13. Adotando o plano: vantagens para a igreja Um plano sábio para
vir primeiro, pois ela é a base do dever. O sermão ético é a o púlpito capacita os crentes a crescerem na apreciação e amor da
interpretação de um dever cristão para um propósito prático. O Bíblia. Quando eles vêm à Igreja, precisam receber luzes do Livro,
propósito é guiar o ouvinte para que viva de acordo com a vontade encorajamento para lê-lo e direcionamento para vivê-lo no dia-a-dia.
de Deus conforme está revelado em determinada passagem. Um ministério ensinador edifica espiritualmente os crentes,
A ênfase maior deve ser no indivíduo, tratando das além de contribuir para que os crentes fiquem satisfeitos com o seu
dificuldades da alma cristã. No final, o ouvinte deverá poder dizer: pastor.
“Senhor, o que queres que eu faça?”
Caso o pregador queira pregar sobre a consciência (“O que 14. Um apelo final “Sê um fiel pastor do rebanho, um diligente
a Bíblia diz sobre a consciência?”), aqui vão algumas idéias: estudante do Livro, e um útil pregador do Evangelho.” Para realizar
- A Bíblia como um livro da consciência 1 Tm 3.16 tudo isso o ministro necessita empregar constantemente sua
- O padrão cristão da consciência Mt 5.48 imaginação. Com o discernimento dado por Deus o ministro pode
- O Senhor da consciência cristã Mt 7.28,29 discernir as necessidade do coração do seu povo e descobrir no Livro
- O segredo de uma consciência sadia At 24.16 a provisão divina para essas necessidades. O homem que prega
- A obra diária da consciência 1 Co 10.31 emprega o Livro de Deus para alimentar os filhos de Deus. O poder
- A limpeza da consciência do homem Hb 9.14. permanece com Deus, que aguarda para abençoar todo aquele que
Ele chamou para o ministério nesses dias difíceis. (p. 220)
B. Notas e comentários sobre datas especiais 5. Dia das Mães Uma das maneiras de evitar o sentimentalismo é
preparar um sermão que se insira no campo que está sendo explorado
1. Dia do Trabalho Há uma grande falta de trabalhadores cheios do pelo pregador (a série ou seqüência dos domingos anteriores). Pode
Espírito. Pode ser sábio usar os textos sobre o Tabernáculo (Ex se reunir idéias, p. ex., “A igreja num lar maternal”, com referência
35.30,31; ver também Ex 20.9, Mt 25.20,21, Jo 5.17). Aqueles que ao Cenáculo, possível residência de uma piedosa mulher, a mãe de
trabalham com as mãos, p. ex., os pedreiros, merecem ser lembrados João Marcos (At 1.14).
ao término da construção de um templo, etc. A Igreja deve proclamar
a dignidade do trabalho. (p. 35,36) 6. Dia das Crianças É difícil manter a atenção delas. Uma linha de
pensamento sugerida:
2. Início do Ano Letivo A escola é uma instituição que afeta e - Sl 119.11 Escondi no coração a tua palavra
influencia grandemente as pessoas. Um sermão a partir da educação (1) O melhor livro
de Moisés, p., ex., (At 7.22) seria adequado. A ênfase deve ser (2) No melhor lugar
religiosa. (p. 37) (3) Para o melhor propósito.
O que mais salta à vista, hoje, não é a experiência da graça de Deus na celebração da
Ceia, mas o desenrolar seco, ritualístico e até apressado. Os próprios oficiantes parecem
desinformados e despreparados, e não põem em destaque coisas novas, nem fazem uso de
recursos litúrgicos novos e instigantes. Os batismos são realizados com o uso do rito
registrado no Manual do Culto, lido de maneira desatenta e mecânica.
Um dos motivos desta situação é a compreensão errônea do que é um “culto
espiritual”. Descartamos o uso de movimentos, gestos, símbolos, sob o argumento de que a
adoração prestada a Deus é radicalmente espiritual, dispensando qualquer procedimento que
apele aos sentidos, especialmente visão e movimento. De fato, não usamos velas, nem
imagens, nem quadros representativos das estações da Via Sacra; não temos Lavapés nem
Ósculo da Paz. Não procede esta dicotomia, pois a comunhão de nosso espírito com o Espírito
de Deus não dispensa o uso de símbolos e elementos materiais: por exemplo, quando o
Espírito se manifestou no Pentecostes sua presença foi destacada por elementos visíveis, as
línguas de fogo.
Outro motivo que deve ser apontado é a ênfase exagerada no racional. Raciocínios e
argumentos são privilegiados, em prejuízo do que é simbólico e gestual. Daí a pregação lógica
e cerebral, a abundância de conceitos expendidos em cada sermão. Nesse contexto, há pouco
lugar para os sacramentos, e eles (Batismo e Ceia) tornam-se apenas o cumprimento formal de
mandamentos do Senhor Jesus. Meras ordenanças.
A tudo isto se acresce a ausência de material litúrgico criativo. Falta, em língua
portuguesa, material que seja ao mesmo tempo sólido, do ponto de vista teológico, e
dinâmico, do ponto de vista litúrgico. A divulgação de textos litúrgicos apropriados é muito
pequena, e o que surge em língua inglesa raramente é descoberto pelos pastores brasileiros.
A Ceia pode ser considerada como uma recapitulação da história da salvação. Diversos
aspectos da fé cristã podem ser expressos em um culto de comunhão:
39
MAXWELL, W.D., An Outline of Christian Worship, p.117.
40
Consultar CI/IPB, art. 113; PL/IPB, art. 32.
37
A Ceia, desenvolvendo a sua mensagem por meios simbólicos, apresenta quatro ações:
“E, enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, abençoando-o, o partiu e lhes deu, dizendo:
Tomai, isto é o meu corpo.” (Mc 14.22). Aqui temos, portanto:
41
Ver mais informações na apostila de Teologia do Culto 1, cap. 4.
38
O rito não precisa ser celebrado sempre da mesma maneira. Há variações que podem
ser introduzidas em cada encontro. Os presbíteros precisam saber de antemão quais serão as
características do ritual, para não se atrapalharem no desempenho de suas funções. Algumas
modificações precisam ser cuidadosamente esclarecidas à congregação, visto que, lamentavel-
mente, há muitos que se apegam às “santas tradições protestantes” e se escandalizam com
qualquer mudança.42
Na forma de distribuição:
- O povo em seus lugares, assentados: esta forma é a mais usada em nossas igrejas. Não é a
forma usada por Calvino em Genebra nem por nossos pais espirituais na Escócia! Qualquer
que seja o tamanho do templo, é prudente determinar, antecipadamente, quais bancos ou
fileiras serão servidos por cada presbítero. Uma pequena variação é entregar o prato ou a
bandeja ao primeiro comungante do banco, e este serve ao irmão que está ao seu lado (ao
explicar este procedimento, o pastor deve destacar que tal gesto evidencia a dimensão
comunitária do povo de Deus).
- O povo em seus lugares, de pé: seguem-se os mesmo procedimentos que no modo anterior.
À medida que os crentes comungam, eles se assentam.
- O povo vindo à frente, por grupos: o pastor delimita um grupo (fileira de bancos, faixa
etária, famílias) que se coloca de pé diante da Mesa. Todos recebem ambas as espécies, com
os presbíteros servindo em duplas. Antes de voltarem aos seus lugares é proferida breve
oração pelo oficiante ou por um dos presbíteros.
- O povo vindo à frente, em fila: também recebem as duas espécies. Era assim que a
distribuição dos elementos se fazia em Genebra. Para muitos evangélicos este proceder causa
estranheza, visto ser semelhante àquele adotado pelas Igrejas Católicas.
- O povo vindo à frente, ajoelhados: tal forma só é adequada em igrejas que possuem amplo
genuflexório.
Outros recursos:
- Cálice comum: até o início do Século 20 o uso padrão era de um só cálice, do qual serviam-
se todos. Foi abolido por razões higiênicas, em época que pestes variadas grassavam no país.
- Um único pão, que é partido solenemente pelo oficiante. Depois, os presbíteros, segurando o
pão partido com a proteção de guardanapos de tecido branco, oferecem a cada comungante,
que retira um pedaço para comer; em seguida, recebe o cálice de outro presbítero. Esta forma
pode ser complementada pelo seguinte: ficam à frente presbíteros com o pão e um cálice
grande, com o vinho; os crentes vão à frente, retiram o pedaço do pão, molham no vinho e ali
mesmo comungam, voltando em seguida para os seus lugares. Esta forma é denominada
comunhão por intinção.
42
Um exemplo de material litúrgico consistente e compreensível é o “enredo” encontrado em JUBILATE!, p.
173.
39
- Solos: os textos devem ser adequados ao momento, e a duração compatível com o tempo da
distribuição. Hinos do hinário utilizado pela comunidade, mas que ainda não foram
aprendidos, podem ser apresentados pela primeira vez na forma de solos.
- Hinos pela Igreja: especialmente quando os crentes vêm à frente, enfileirados. A título de
sugestão: o hino 220 do Novo Cântico, Plena Dedicação, é muito apropriado (no Hinário
Evangélico é no. 278).
- Leitura de textos bíblicos pelo celebrante: esta prática era usada por Calvino, e John Knox a
levou para a Escócia.
- Silêncio total: como uma opção em algumas das celebrações.
Além das variações apontadas na seção anterior, variações estas que podem ser
consideradas mais como rituais e formais, ênfases diferentes podem ser dadas em cada
celebração. Isto pode ser feito no sermão, caso seja ele conectado com o sacramento, ou nas
instruções, por meio de poucas e claras palavras.
Os aspectos da fé cristã expressos na Ceia já foram citados no item 8.2 retro. Estas
diferentes dimensões merecem destaque através de sermões apropriados.
Os termos que designam a celebração são sugestivos:
- Páscoa (1 Co 5.7): Cristo é o Cordeiro Pascal; a festa deve ser celebrada com sinceridade e
verdade.
- Sacramento: originalmente, apontava para o “mistério”; e este rito é uma revelação cujo
sentido só é captado pelo cristão.
- Ceia do Senhor/Mesa do Senhor (1 Co 10.21; 11.20): o próprio Cristo nos convida para que
assentemos à Sua mesa. Ele é o Anfitrião. Ele próprio é o Pão que alimenta nossas almas.
- Comunhão (1 Co 10.16,17): a Santa Comunhão é ocasião em que se põe em destaque o
companheirismo profundo que deve existir entre aqueles que confessam o mesmo Senhor.
- Eucaristia (1 Co 11.24): a palavra significa “ação de graças”. Paradoxalmente, na noite em
que estava sendo traído Jesus institui um rito marcado pela esperança e pela gratidão.
Quanto aos hinos: há muitos cânticos apropriados para serem usados em conexão com
o sacramento. Um planejamento adequado com o responsável pela música na igreja permitirá
a utilização/aprendizado de diversos deles. Há cânticos avulsos, peças corais; destacamos
aquilo que se encontra nos hinários mais conhecidos:
- Novo Cântico: 7 hinos - Números 340-346
- Hinário Evangélico: 13 hinos - Números 188-200
- Salmos e Hinos: 9 hinos - Números 540-548
- Hinário para o Culto Cristão: 6 hinos - Números 514-520.
E, por último, uma oração inspirada que vem do passado, da chamada Liturgia de São
Tiago:
Ó Deus, que pela vida e morte e ressurreição de Teu querido Filho consagraste
para nós um novo e vivo caminho para o Santo dos Santos; purifica nossas
mentes, nós Te suplicamos, pela inspiração de Teu Santo Espírito, para que,
aproximando-nos de Ti com um coração puro e uma consciência sem mancha,
possamos receber estas Tuas dádivas sem pecado, e dignamente magnificar
Teu santo nome; por meio de Cristo, nosso Senhor. Amém.43
Quando uma criança é recebida à membresia da igreja, por meio do batismo infantil,
seus pais assumem solenes compromissos. Tais votos não podem ser tomados levianamente,
de sorte que é recomendável que os pais sejam aconselhados e ouvidos antes da própria
cerimônia. Ao mesmo tempo, a celebração deste rito pode ser utilizada para recordar aos pais
que já apresentaram, em ocasiões anteriores, seus filhos ao batismo, das solenes promessas
então feitas.
A sequência que consta do Manual de Culto (ou do Manual Litúrgico) deve ser
seguida, não obrigatoriamente com as mesmas palavras, mas atendendo ao teor do que ali se
prescreve.
A recepção de membros comungantes merece uma cuidadosa abordagem; são pessoas
conscientes da resposta afirmativa que deram ao chamado de Jesus para seguí-lo. Agora,
declaram isto diante de toda a comunidade. Ora, há ao mesmo tempo a celebração de uma
aliança e a celebração de júbilo. Por que não fazer desta ocasião um momento de regojizo no
qual toda a igreja esteja envolvida?
Freqüentemente adolescentes se apresentam para a profissão de fé; muitos deles
cresceram na igreja e sentem-se, então, prontos para mais um passo na caminhada da fé. Do
ponto de vista psicológico, este é um rito de passagem, pois estão deixando de ser crianças e
estão pensando e decidindo por conta própria.
___________________________________________________________________________
________
A frenética busca por recursos materiais popularizada por alguns grupos religiosos
atuais tem contribuído para um crescente constrangimento no anúncio do momento das
ofertas. Muitos oficiantes sentem-se tolhidos quando chega a ocasião do recolhimento dos
dízimos. Reconhecem que é essencial, mas temem a comparação com os grupos que “trocam”
bênçãos divinas por polpudas ofertas.
Um tema igualmente recorrente e que exige condução sábia é o compromisso do
crente com Deus e sua vida no mundo. A consagração a Deus não consiste em uma postura
escapista, recheada de expectativas escatológicas. Oferecemo-nos a Deus para que, por Ele
sustentados, sejamos Seus representantes no mundo.
Em ambos os casos, há um Ofertório. Ofertamos a Deus recursos materiais, resultado
de nosso trabalho, ou Lhe oferecemos nosso ser, em consagração de vida. Uma outra palavra
encontrada em textos litúrgicos, com significado semelhante, é oblação.
O culto todo é resposta do crente à ação divina, mas, ao mesmo tempo, uma resposta
específica se pede do adorador: que ele novamente deposite sua vida no altar de Deus,
dedicando-se ao seu Senhor. Evidentemente, cada pessoa que está no Templo traz consigo
42
Deus pede meu corpo, minha mente, e minha vontade. Na maioria das vezes,
minha mente controla meu corpo, e minha vontade controla minha mente.
Normalmente penso naquilo que eu quero pensar. O Cristianismo é, basica-
mente, uma religião centralizada na vontade do homem, não nos sentimentos
do homem. O amor cristão não é um sentimento; é um ato da vontade. De
outra maneira, Jesus não poderia ordenar que nos amássemos uns aos outros.
Não estou negando que há uma maravilhosa dimensão emocional no amor
cristão; estou somente enfatizando que o amor cristão é primariamente o que
fazemos, não o que sentimos. Isto faz a vontade muito importante na vida cristã.44
Assim, embora a dimensão emocional não deva estar ausente, é importante destacar o
papel da decisão do crente no momento da consagração. Excessos emocionais podem trazer
um estado alterado no qual fique a impressão de um grande acontecimento, mas depois, a
“decisão” é esquecida.
O término abrupto do culto, tão logo o pregador conclua seu sermão, não dá ao
adorador a oportunidade de absorver os desafios propostos e a eles responder, ainda durante o
culto.
Consciente da importância destes momentos, o dirigente precisa avaliar o tempo e
esforço despendidos nas outras partes do culto, para que o povo não chegue a este ponto
fatigado, impaciente para que tudo acabe rapidamente. Quando acontece, é difícil haver um
momento autêntico de consagração.
Um cântico simples mas intenso, desconhecido de nossas igrejas, expressa o duplo
compromisso da consagração: para o serviço, e para louvar a Deus:
___________________________________________________________________________
______________
1. DINHEIRO, SEXO & PODER, por Richard J. Foster, Editora Mundo Cristão, caps. 2 a 5.
44
WIERSBE, Warren W., - Real Worship: It Will Transform your Life. Nashville:, Oliver-Nelson Books, 1990,
p. 33 (itálicos no original).
45
ESPÍRITO DIVINO, letra e música por Norah Buyers; publicado em VAMOS CANTAR, São Paulo: Casa
Editora Presbiteriana, 1960, p. 25.
43
2. CRESCIMENTO NA GRAÇA DE DAR, por Oscar D. Martin Jr e João Falcão Sobrinho, JUERP.
3. A GRAÇA DA LIBERALIDADE: O DÍZIMO CRISTÃO, por Júlio Andrade Ferreira, LPC
Publicações.
4. UMA GRAÇA QUE POUCOS DESEJAM, Caio Fábio D’Araújo Filho, Editora Vinde.
5. CELEBRAÇÃO DA DISCIPLINA, por Richard J. Foster, cap 6.
6. COMO CULTUAR A DEUS, por Nilson Dimarzio, JUERP, pags. 62-67.
44
10 AS DATAS DA IGREJA
Na vida da Igreja os dias não são iguais. (Nisso é semelhante à nossa vida pessoal,
pois destacamos sempre, ano após ano, aniversários e datas cuja lembrança é preciosa.) Há
ocasiões que recebem um destaque maior, marcando a vida da comunidade.
A primeira data a ser comemorada pelos cristãos foi a Páscoa, ou seja, a Paixão, Morte
e Ressurreição de Jesus. De início não havia consenso quanto à data correta, por ser uma festa
móvel. Finalmente acordou-se, pelo menos entre as Igrejas do Ocidente, que a Páscoa seria
comemorada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorresse em 21 de março ou
logo a seguir. Assim, a data da Páscoa pode cair entre 22 de março e 25 de abril. Por volta do
Século IX o Domingo de Ramos era observado em toda a Cristandade, a partir de prática
iniciada em Jerusalém, alguns séculos antes.
Logo após o início da comemoração da Páscoa surgiu a recordação da vinda do
Espírito, o Pentecostes. Posteriormente, cresceu a convicção de que era necessário um tempo
de preparação e contrição que antecedesse a Páscoa, o que levou ao surgimento da Quaresma.
A quantidade de dias separados para tal finalidade variou, mas finalmente foram estabelecidos
40 dias.
No Ocidente, a comemoração do nascimento de Jesus teve início por volta do Século
IV; a escolha do dia 25 de dezembro não possui uma única explicação conclusiva: pode estar
relacionada com o esforço de cristianizar a festa romana chamada de Saturnalia, ou substituir
uma festa mitraítica que celebrava o nascimento do Sol, Natalis invicti. Há historiadores que
apontam uma outra origem: a crença corrente nos tempos primitivos de que uma vida perfeita
devia ter anos perfeitos e completos. Em Roma sustentava-se que a morte de Jesus ocorrera
em 25 de março. Assim, considerando a vida como tendo início na concepção, 25 de
dezembro teria de ser o dia de seu nascimento.
Advento. Este período dá início ao Ano Cristão; não coincide, portanto, com o ano
civil. Consta sempre de quatro domingos, com início no domingo mais próximo do dia 30 de
novembro (Dia de Santo André). As atividades litúrgicas que podem ser desenvolvidas são:
- apresentação de cantatas ou peças avulsas alusivas ao Natal, por diferente grupos,
distribuídos pelos diversos domingos;
- concertos natalinos, em substituição aos cultos regulares ou após estes;
- planejamento dos sermões, enfocando os aspectos mais permanentes do Natal e da
Encarnação;
- selecionamento de textos bíblicos para leitura nos cultos, ou uso dos textos já
indicados no Lecionário.
Paixão e Ressureição. O fato central da fé cristã, tal como o testemunho dos primeiros
cristãos ensina, é que “Cristo morreu por nós” (Rm 5.8). Assim, não é o Natal, mas sim a
Paixão, que deve merecer a maior ênfase na vida da Igreja. Em nossas igrejas evangélicas
brasileiras não se dá importância a um período específico reservado para a preparação
espiritual e adequada contrição diante do mistério da morte de Cristo. O período da Quaresma
é posto de lado - nem merece consideração - sob o rótulo de “coisa do catolicismo”.
Entretanto, mesmo que não se faça referência a uma estação específica, os sermões pregados
nos domingos anteriores à Semana Santa podem explorar estas profundas e permanentes
verdades, para edificação e reflexão dos crentes.
Algumas atividades que podem ser desenvolvidas neste período:
- Culto da Paixão: realizado na Sexta-Feira Santa, comumente pela manhã (9-12h); há
comunidades que recordam, na seqüência, as Sete Palavras da Cruz, através de pequenos
blocos, contendo cânticos, orações, pregação baseada em uma das “palavras”. Entre cada
bloco é inserido um momento de silêncio, com interlúdio, se disponível. Outras igrejas têm
apresentado nesta ocasião cantata sobre a paixão.
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Domingo Cristo Rei. O Ano Cristão se encerra destacando que o Cristo adorado pela
Igreja é o Rei do Universo. Este é o Domingo de novembro anterior ao Primeiro Domingo do
Advento. É apropriado, pois, escolher hinos e cânticos, textos e orações, além da própria
mensagem, que apontem em uníssono para o reconhecimento da soberania divina.
As igrejas comemoram muitas outras datas, sendo que a maior parte delas é
compartilhada com outras denominações. Além disso, há ocasiões em que toda a sociedade se
reúne para festividades das quais a igreja também participa. É prudente lembrar que, mesmo
quando pessoas ou grupos de pessoas são lembrados, a atenção dos adoradores deve ser
focada no Deus Todo-Poderoso que nos abençoou com estas pessoas (por exemplo, as mães,
os pais, os pastores).
Alguns desses dias são móveis. As agendas disponíveis, inclusive aquela publicada
pela IPB, são de grande utilidade para a descoberta destas datas e para o planejamento geral
das atividades da comunidade. Festividades preparadas às pressas causam pouco impacto
sobre a vida dos crentes; na verdade, chegam a causar impacto negativo!
Datas “privativas”(da IPB ou dos evangélicos). Relacionamos, embora não exaustiva-
mente:
- Dia do Homem Presbiteriano (1o. Dom de fevereiro)
- Dia da Mulher Presbiteriana (2o. Dom de fevereiro)
- Dia do Jovem Presbiteriano (4º. Dom de maio)
- Dia do Adolescente Presbiteriano (4o. Dom de julho)
- Dia da IPB (12 de agosto)
- Dia da Escola Dominical (3o. Dom de setembro)
- Dia da Reforma Protestante (31 de outubro)
- Dia de Ação de Graças (Quarta 5a.-feira de novembro)
- Dia do Pastor Presbiteriano (17 de dezembro)
Datas em comum com a sociedade secular. Algumas dessas são lembradas em poucas
igrejas; outras são muito comemoradas:
- Dia das Mães
- Dia dos Pais
- Dia da Avó
- Dia da Pátria
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- Dia da Criança
- Dia do Professor
- Dia do Índio
- Dia da Árvore (ou da entrada da Primavera).
* * *
Como se vê, estas considerações fogem ao âmbito restrito do culto e de sua liturgia, e
se inserem no quadro maior da coordenação de uma comunidade inteira. Aquilo que foi
aprendido em Homilética, em Administração Pastoral, em Técnicas de Evangelismo, em
Educação Cristã... tudo isto precisa ser levado em conta.
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11 OS GRUPOS MUSICAIS
A. Grupos corais.
- O sistema de corais múltiplos ou corais graduados significa a existência de
diversos corais, geralmente organizados de forma homogênea por faixa etária, permitindo a
passagem dos cantores de um grupo para outro. Este sistema, evidentemente, depende de:
- tamanho da igreja (uma igreja pequena não possui integrantes para
tantos grupos);
- existência de regentes disponíveis e qualificados.
CORAL DE CRIANÇAS
Repertório: - Textos compatíveis com a compreensão das crianças, pois o coral infantil
não é mera duplicação das músicas dos adultos;
- Melodias adequadas às vozes infantis, tanto na extensão das notas quan-
to na simplicidade dos intervalos e ritmos utilizados.
(Tem surgido bons materiais, alguns que fazem uso de playback.)
Complexidade: pequena. É difícil cantar a duas vozes.
Características: há igrejas em que o Coral de Crianças só é ativado em ocasiões
especiais(Natal, Dia das Mães, Páscoa). Noutras, ele é permanente.
Cuidados: - como as crianças são muito irrequietas, o regente precisa de ajudantes;
- necessidade de apoio irrestrito dos pais (p. ex. transporte das crianças);
- se forem usados instrumentos de “bandinha rítmica”, é preciso balancear
bem o volume destes instrumentos com as vozes infantis, leves e agudas:
- é péssimo recurso exigir das crianças que cantem “forte”, o que resulta
num canto “gritado”, com possíveis danos físicos às vozes infantis.
CORAL DE ADOLESCENTES
Características: um dos mais difíceis, por que os meninos estão na fase de mudança de
voz (“cambiata”).
Complexidade: depende da habilidade do regente e do acesso dele a material
adequado.
Repertório: textos que tratam de temas da vida da igreja, em forma compreensível aos
adolescentes. Não há muito material específico disponível. Cânticos e corinhos podem ser
inseridos, após adequado exame.
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CORAL DE JOVENS
Características: nem sempre é possível formá-lo, pois os jovens tendem à participação
em conjuntos, que imitam a música popular secular.
CORAL ADULTO
Funções: expressar, de forma um pouco mais elaborada, o louvor da Igreja (nunca,
entretanto, na perspectiva de que o coral vem para “abrilhantar o culto”!);
- colaborar e vitalizar o canto congregacional.
Repertório: - há material para todos os gostos;
- é importante variar estilos e textos; afinal, se o coral participa do culto,
ele precisa dispor de peças para todos os momentos do culto (não há nenhuma razão para que
o momento de participação do coral sempre seja entre a leitura e a pregação, como é hábito
em tantas igrejas pelo país afora).
Complexidade: - inicialmente, depende dos cantores disponíveis:
- posteriormente, depende da habilidade/preparação do regente;
- também depende da existência de instrumentista (pianista ou orga-
nista) que possa acompanhar o grupo; o uso de playback tem prós e contras.
Problemas: - o coral pode ser fonte de conflitos, especialmente pela freqüência com
que os cantores se envaidecem com suas próprias realizações;
- irregularidade da participação nos cultos, diante da falta de assiduidade
de seus membros (isto ocorre mais quando o coral não possui repertório alternativo, com
peças mais simples, com menos vozes, para situações de “emergência”);
- espírito de “autonomia”, quando o grupo não consegue ver o seu papel
como “servos” no louvor da igreja, e querem governar a si mesmos sem perceber o seu lugar
no conjunto da adoração da comunidade.
B. Conjuntos/equipes.
- De forma genérica, podem ser descritos como grupos que seguem ou imitam
os padrões da música popular “fora da igreja”.
- Em muitas comunidades, só há estes grupos.
Formação: varia, mas basicamente é composto de guitarra(s), baixo, bateria, cantores.
Repertório: peças colhidas de discos/fitas/CDs/festivais/congressos;
- na maior parte, os textos seguem a “moda” da época, no que diz respeito
a temas e ênfases.
Problemas: - limitações e erros teológicos nos textos, com pouca variação temática:
- a realização de um “cultinho” dentro do culto, quando a participação do
grupo se dá em um bloco único;
- níveis de volume descontrolados (tanto da bateria, que suplanta o canto,
quando das próprias caixas de som, com ameaça à integridade auditiva dos presentes).
Evidentemente, não é possível solucionar uma situação caótica apenas pelo anúncio de
umas poucas regras. Algumas idéias, contudo, certamente são úteis:
A. Veja-os como aliados, e não como pessoas que incomodam com opiniões extravagantes.
Eles são colaboradores, dirigidos todos para um mesmo alvo. Muitas vezes imaturos, e ao
mesmo tempo cheios de entusiasmo.
B. Esteja sempre cônscio de que são crentes necessitando pastoreio. A orientação pastoral
tem que ser permanente. Se o pastor precisa buscar informações ou novas luzes, que o faça,
para poder ajudar os cantores. Não serão raras as ocasiões em que o Conselho terá de votar
verba para ajudar no aperfeiçoamento de instrumentistas. Pode ser prudente agendar reuniões
para estudos bíblicos que mostrem quais são os padrões bíblicos para a adoração a Deus e
quais são os padrões denominacionais.
c. Estabeleça canais permanentes de comunicação. Isto pode ser feito através de reuniões ou
contatos periódicos de planejamento. O uso de séries de sermões, a comemoração de datas do
Calendário Cristão, o uso de algum tipo de Lecionário... tudo isto colabora para uma
organização mais sábia da participação dos grupos musicais na vida da igreja.
É, com frequência, um motivo de alegria para o pastor quando dois jovens o procuram
informando que querem se casar. E desejam, acima de tudo, a benção divina sobre a sua
união. O propósito deste capítulo é expor, do ponto de vista litúrgico, os passos e cuidados a
serem tomados; ou seja, a reflexão sobre o significado do casamento cristão não será o
objetivo primário desta seção de nosso estudo.
12.1 OS PREPARATIVOS
Nosso objetivo, nestas orientações, é apontar aspectos práticos que precisam ser
tratados com os noivos. Especialmente os pastores novos devem, desde o início, estar atentos
aos pontos apontados a seguir.
Nosso Divino Mestre, de acordo com o testemunho joanino, iniciou o seu ministério
com um milagre em uma festa de casamento. Isto demonstra que a vida em comum de um
homem e de uma mulher faz parte dos propósitos divinos para toda a humanidade. Para a
comunidade, é motivo de regozijo e louvor a Deus. A sabedoria de um ministro na celebração
da Benção Matrimonial também contribuirá para a edificação de seu rebanho.
13 OFÍCIOS FÚNEBRES / SEPULTAMENTOS
Ao lado da sepultura poderão ser proferidas algumas poucas palavras, ou feita uma
oração. O pastor, nesse momento, pode também ajudar a família a decidir se quer - ou não -
abrir novamente o caixão.