Você está na página 1de 134

TEOLOGIA DO CULTO 2

APOSTILA DAS AULAS


CURSO DE BACHAREL EM TEOLOGIA

PROF. REV. DONALD BUENO MONTEIRO

2021
CAMPINAS - SP
É vedada a reprodução parcial ou total do conteúdo desta apostila sem autorização escrita do autor.
SUMÁRIO

1 O SIGNIFICADO DO CULTO: UM APROFUNDAMENTO 1


1.1 O SIGNIFICADO DO CULTO 1
1.2 O ADORADOR COMO PESSOA INTEGRAL 4
1.3 O LUGAR FÍSICO DO CULTO 5
A FORÇA DA IGNORÂNCIA (ANEXO 1)
2 A ESTRUTURA DO CULTO 6
2.1 A ORIENTAÇÃO DOS DOCUMENTOS DA IGREJA 6
2.2 A DIVERSIDADE DE SENTIMENTOS 7
2.3 OS PADRÕES DISPONÍVEIS 7
2.4 CONCLUSÃO 11
CAPÍTULO 2 - ANEXO 1 – ORDENS DE CULTOS...
ELEMENTOS E CIRCUNSTÂNCIAS – ANEXO 2
3 A PREPARAÇÃO DO CULTO 13
3.1 ESTILOS DE CULTO 13
3.2 O PLANEJAMENTO DA LITURGIA 14
3.3 A PARTICIPAÇÃO DOS FIEIS 15
3.4 VOZ E DICÇÃO 15
Anexo: A VOZ HUMANA: ÊNFASES E RECURSOS 17
4 OS ELEMENTOS DO CULTO: A PALAVRA 18
4.1 TRADUÇÕES DA BÍBLIA 19
4.2 LEITURAS, ANTÍFONAS 19
4.3 O USO DO LECIONÁRIO 20
4.4 SENTENÇAS ESCRITURÍSTICAS 20
ANEXO – O LECIONÁRIO – DOMINGOS E DIAS FESTIVOS
ANEXO 2 - PREACHING THE LECTIONARY
5 OS ELEMENTOS DO CULTO:AS ORAÇÕES 22
5.1 TIPOS DE ORAÇÃO 22
5.2 ORAÇÕES ESCRITAS E ESPONTÂNEAS 23
5.3 FORMAS DE ORAÇÃO 24
5.4 AS CONFISSÕES DE FÉ; OS CREDOS DA IGREJA 25
ANEXO 1 – LITANIAS E ORAÇÕES
6 OS ELEMENTOS DO CULTO: CÂNTICOS E MÚSICA 27
6.1 O TEXTO 27
6.2 A MÚSICA 28
6.3 A ESCOLHA DE HINOS E CÂNTICOS 28
6.4 BREVES OBSERVAÇÕES CRÍTICAS 29
6.5 A MÚSICA SEM TEXTO 29
6.6 HINÁRIOS E COLETÂNEAS DISPONÍVEIS 30
6.7 EXPLORANDO O NOVO CÂNTICO 31
Anexo: ESTUDO DE HINO 33
7 OS ELEMENTOS DO CULTO: O SERMÃO 34
7.1 A RELAÇÇÃO DO SERMÃO COM A LITURGIA 34
7.2 SÉRIES DE SERMÕES; O USO DO LECIONÁRIO 34
7.3 A CORRELAÇÃO COM OS HINOS E CÂNTICOS 35
8 OS ELEMENTOS DO CULTO: OS SACRAMENTOS 36
8.1 O PERIGO DO RITUALISMO 36
8.2 A CEIA: DRAMATIZAÇÃO DA FÉ 36

ANEXO – CALVINO E A CEIA PARA CRIANÇAS

9. OS ELEMENTOS DO CULTO: AS OFERTAS MATERIAIS E


ESPIRITUAIS 41

10. AS DATAS DA IGREJA 44

11. OS GRUPOS MUSICAIS 48

12. CERIMÔNIAS ESPECIAIS – CASAMENTOS 51

13. OFÍCIOS FÚNEBRES – SEPULTAMENTOS 53


8.3 AS POSSIBILIDADES DE VARIAÇÃO NO RITUAL 38
8.4 A VARIEDADE DE ÊNFASES 39
8.5 BATISMOS; PROFISSÕES DE FÉ 39
9 OS ELEMENTOS DO CULTO: AS OFERTAS 41
9.1 APRESENTAÇÃO DE DÍZIMOS E OFERTAS 41
9.2 A OFERTA DE SI MESMO: CONSAGRAÇÃO 41
10 AS DATAS DA IGREJA 44
10.1 O ANO CRISTÃO 44
10.2 AS ATIVIDADES LITÚRGICAS 45
10.3 DATAS “NÃO-CALENDARIZADAS” 46
11 OS GRUPOS MUSICAIS 48
11.1 OS TIPOS DE GRUPOS 48
11.2 RELACIONAMENTO PASTORAL 49

Nota: Há duas numerações de páginas nesta Apostila. O número no alto da página, à direita,
corresponde aos capítulos, relacionados no Sumário. Como foram sendo acrescentados anexos aos
capítulos, foi feita uma numeração corrida, de todas as páginas. Esta numeração está na parte inferior
da página, ao centro, manuscrita e rodeada de um círculo. Desconsiderar outras numerações
manuscritas porventura existentes.

1ª. edição: 1999.


2ª. edição, revista e ampliada: 2013.
1

1 O SIGNIFICADO DO CULTO: UM APROFUNDAMENTO

o princípio básico da adoração que prestamos a Deus consiste em ''tributar ao Senhor


a glória devida ao seu nome"(Sl 29.2). Sobre os ombros daquele que prepara e dirige o culto
pesa, portanto, esta responsabilidade: conduzir os presentes à presença de Deus,
transformando-os em adoradores.
Para desincumbir-se de tal tarefa o dirigente do culto necessita ter uma percepção
muito clara do significado do culto; sem esta compreensão, ele não saberá para que lado deve
direcionar a adoração dos fieis.
Uma definição do culto foi examinada na unidade anterior; agora, serão vistas algumas
conclusões ou observações que decorrem naturalmente da definição proposta. Merece ainda
uma atenção especial a pessoa daquele (ou daquela) que comparece ao local do culto para
participar do encontro.

1.1 O SIGNIFICADO DO CULTO

Quando se fala em culto e em adoração uma gama muito grande de significados e


áreas se apresenta à mente. Em nosso estudo interessa-nos um acontecimento situado no
tempo e no espaço, realizado nas igrejas evangélicas domingo após domingo. Chamamos a
este evento culto público. Como delimitá-lo? Uma definição busca traçar os limites do tema
que é seu objeto. É esta a definição que há de nortear a nossa reflexão:

O culto é uma reunião do povo de Deus


em que estão presentes
comportamentos externos, consistentes de nossas palavras, gestos e ações,
pelos quais, conscientes das disposições íntimas de nosso coração, expressamos
nossa homenagem a Deus, reconhecendo Sua suprema dignidade
e
nossa resposta à ação de Deus em Cristo (especialmente anunciada pela leitura
e exposição da Palavra) por meio de orações, confissões, louvores e, acima de
tudo, pela oferta de nós mesmos a Deus.

Uma série de observações podem ser feitas:

(1) Culto, não adoração. Freqüentemente se usa, como sinônimo, a palavra adoração. Este
uso surge da influência da literatura em língua inglesa, que emprega uma única palavra,
worship, que engloba tanto o significado de adoração quanto o de culto. Exemplo disso são os
livros que se intitulam Teologia da adoração e tratam de todo o evento cúltico.
A palavra adoração tem um sentido restrito, específico, ao designar a atitude do crente
que se prostra diante de Deus e contempla a sua Pessoa e os seus atributos. Distingue-se do
louvor e da ação de graças, quando Deus é contemplado como o autor de feitos poderosos e é
aplaudido por tais realizações (Sl 150.2). Daí se segue que em todo culto deve haver atos de
adoração, mas nem todas as atitudes do crente serão de adoração. Para estas outras atitudes há
um vocabulário próprio, claro e bom. O cristão não apenas adora, mas se aproxima de Deus
em confissão, em lamento, em ação de graças, no aguardo de consolo, conforto ou orientação,
em oferecimento de si mesmo.
Neste rumo William R. McNutt se expressa, ao dizer que:

O culto cristão é uma série de experiências que se elevam crescentemente –


emocionalmente carregadas, e sustentadas do começo ao fim pelas atitudes
2

apropriadas da alma – que se originam na consciência de Deus e culminam na visão do


divino e na dedicação da vida ao seu serviço.1

(2) Reunião do povo de Deus. O termo reunião possui uma abrangência maior e, em certo
sentido, mais neutra, do que uma outra palavra que também é encontrada nas descrições do
culto: celebração. Esta traz consigo a conotação de júbilo, de contentamento, de exultação;
nem sempre isto é verdade para o adorador que adentra o templo.
Os sentimentos que o participante traz ao culto são variados, e cobrem toda a gama das
emoções humanas. Ocorre, muitas vezes, uma seleção das porções bíblicas, em especial dos
Salmos, que salientam a alegria daquele que se apresenta diante de Deus com alegria e júbilo
(v.g., Sl 100). Mas isto desconsidera os outros trechos que falam da tristeza pelo pecado, da
perplexidade diante do silêncio de Deus ou da prosperidade dos maus.

(3) Culto cristão. Estamos no contexto da fé cristã e dentro dos seus limites. Nossas
convicções são trinitárias: cremos e cultuamos o Deus que se revela em Cristo Jesus, seu
Filho e nos sustenta pela presença do Espírito.
As pessoas que se reúnem são os integrantes do corpo de Cristo, o povo que Deus
mesmo resgatou, transportando-as “para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13). Os não-
crentes são bem-vindos porque esta é uma oportunidade para que a boa notícia da salvação
oferecida em Cristo Jesus seja claramente anunciada. Como destaca William D. Maxwell: “O
culto cristão é distinto de todos os outros cultos porque ele é direcionado para o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo”.2
O culto cristão é um evento comunitário; não apenas a reunião de individualidades em
um mesmo local. Não pode haver, portanto, uma relação apenas vertical, do adorador com
Deus; há também uma relação horizontal, dos irmãos entre si. Daí se segue que não somente é
momento abençoado o período do culto, mas ainda os momentos nos quais, terminado o culto,
os crentes confraternizam-se entre si, trocam notícias e se conhecem melhor.

(4) Disposições íntimas e comportamentos externos. As disposições íntimas, isto é, o que


acontece e existe no coração, têm a primazia. Contudo, o íntimo se revela em formas, e uma
estrutura mesmo que mínima se faz necessária. Assim, devem existir gestos, palavras, ações,
que sirvam como veículos para expressar os sentimentos, disposições e atitudes presentes no
coração.
É impossível para o ser humano, vivendo numa estrutura de espaço e tempo, prestar
culto a Deus sem as referências do mundo material em que vive. Não conseguimos abandonar
o uso de símbolos. O culto espiritual não é, portanto, um culto abstrato, etéreo. As
observações de Donald Baillie, neste ponto, são pertinentes e equilibradas; após lembrar que
este Deus a quem o homem adora transcende representações e palavras, continua:
Isto é verdade; e contudo nós não podemos adorar a Deus sem palavras, e
empobreceríamos nosso culto se tentássemos abandonar todos os outros símbolos no
campo dos sentidos: música e gestos e ação ritual, os atos de ficar em pé ou
ajoelhados, as mãos unidas, os olhos fechados.3

(5) A homenagem a Deus que age em Jesus Cristo. A palavra homenagem, aqui usada, deve
ser entendida como abrangendo a adoração e o louvor que o crente presta a Deus. O culto se

1
MCNUTT, William Roy. Worship in the churches. Philadelphia: Judson Press, 1941, p. 28. Minha tradução.
2
MAXWELL, W.D. An Outline of Christian Worship. its developments and forms. London: Oxford University
Press, 1965, p. 5. Minha tradução.
3
BAILLIE, Donald M. The theology of the sacraments and other papers. London: Faber and Faber, 1961, p. 51.
Minha tradução.
3

dirige para Deus, que é o foco da atenção de todos que se acham presentes na ocasião. Deus é
a fonte de todo bem; nós, como seres carentes e necessitados, comparecemos diante dele em
busca de socorro, de forças, de refrigério, de perdão, de esperança. Ou seja, as necessidades
humanas não são ignoradas, mas são postas sob nova luz, na presença do Eterno.
O ser humano é incuravelmente religioso, e direciona sua atenção ou para o Deus
verdadeiro ou para falsos deuses. Isaac Singer, recordando-se de um sermão proferido pelo
avô, rabino polonês, em que o pregador perguntava porque Deus precisa de tantos louvores,
observa:

Meu avô deu respostas curtas a estas perguntas. Deus não necessita de ser glorificado
pelos homens, mas sabe que, quando estes deixam de louvá-lo, começam a louvar-se
demasiadamente uns aos outros. Também sabe que, quando os homens não lhe
dirigem orações, pedem mais e mais favores aos ricos e poderosos.4

Deve se ter presente que o culto que realizamos tem como centro a pessoa de Jesus
Cristo. Ele precisa ser anunciado em todo encontro, pois dele provém a esperança dos homens
em um futuro melhor. Calvino insiste: “Para que as cerimônias sejam exercícios de piedade, é
necessário que nos conduzam retilineamente a Cristo”.5

(6) A dimensão dialogal. O culto é um encontro entre Deus e o homem, no qual ambos
dialogam entre si. Como ilustra o poeta Gioia Júnior:

Do passado esquece tudo,


vive a santa devoção...
Se Deus fala – fica mudo,
se Ele escuta – fala então!!!6

É impossível traçar uma linha divisória rígida que permita avaliar quem está falando
com quem. Muitas vezes, ao dirigir-se a Deus em oração, o crente percebe que,
simultaneamente, o mesmo Deus que escuta também está a falar-lhe. O diálogo, em sua
melhor apresentação, é uma conversa entre duas pessoas que se amam; a linguagem pode ser
simples, o tom de voz é natural, o compartilhamento torna-se íntimo.
Nos hinos e cânticos, bem como nas orações, o adorador fala com Deus, e pode fazer
das palavras alheias as suas próprias palavras. O “amém” sincero tem o significado de “eu
estou de acordo!”. Quando o pregador abre as Escrituras e expõe o texto bíblico Deus está se
expressando, dialogando com o Seu povo. Isto aponta para a grande responsabilidade que
pesa sobre os ombros do pregador: ser instrumento divino para a edificação, ensino e
consolação dos crentes.

(7) A diversidade de sentimentos e atitudes. Já se mencionou, anteriormente, que aquele que


cultua a Deus se apresenta com uma variada gama de sentimentos e atitudes diante do
Altíssimo. É, pois, recomendável que a estrutura do culto distinga e delimite momentos
próprios para adoração, ação de graças, intercessão, confissão, e assim por diante. Estas
divisões não necessitam ser inteiramente estanques nem ocorrer na mesma ordem, muito

4
SINGER, Isaac B. A face da oração. In: Seleções do Reader’s Digest. Rio: Reader’s Digest, 1986, junho/1986,
p. 93. Isaac Singer, escritor judeu-americano, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1978.
5
CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã: edição clássica. [5ª. edição, 1559] 2 ed. Trad. Waldyr
Carvalho Luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, p.203. (IV.X.29).
6
GIOIA JÚNIOR, Rafael. Canto maior: poesias. Rio: JUERP, 1969, p. 247. O título do poema é: Para quando
estiveres na casa de oração.
4

embora existam alguns princípios que mereçam ser considerados. Estes serão objeto de
análise nos próximos capítulos.

(8) Em todo culto deve o adorador, novamente, oferecer-se a Deus. Quando Deus se serve do
pregador para apresentar aos participantes do culto um desafio ou um convite, é recomendável
a existência de um momento que permita ou facilite a decisão. Assim, o término do culto logo
após o sermão é procedimento abrupto que desconsidera a psicologia humana. Um tempo,
mesmo que breve, precisa ser planejado, o que pode ocorrer por meio de um cântico ou hino
cujo texto esteja em harmonia com o desafio do sermão, ou por meio de instantes silenciosos
para a prece individual.
Todo culto deveria ser uma ocasião de crescimento espiritual. Há uma tradição, de
forte influência reavivalista, que pretende que as transformações da vida resultem de decisões
tomadas após momentos de agonia espiritual, mas isto nem sempre acontece. Na verdade, o
desenvolvimento do caráter cristão se dá, na maior parte das vezes, por mudanças gradativas,
por discernimentos que pouco a pouco vão moldando a vida do crente e permitindo ser mais
semelhante ao seu Modelo e Senhor, Jesus Cristo.
O oferecimento de si mesmo a Deus, ademais, não é um gesto “para dentro de si”,
egocêntrico e individualista, mas envolve o compromisso de servir a Deus no mundo, de
cuidar do irmão necessitado e de interessar-se pela sorte dos outros. Vale lembra aqui que o
“Eis-me aqui, envia-me a mim” de Isaías significou seu engajamento na pregação profética a
um povo hostil e rebelde (Is 6.8-13).

1.2 O ADORADOR COMO PESSOA INTEGRAL

Falando de maneira bem simples: o culto tem como alvo deixar Deus satisfeito. Mas o
adorador é uma pessoa com características e necessidades próprias, e estas devem ser levadas
em conta. Se, de um lado, o culto não pode ser um evento que tenha como alvo a satisfação
individual, de maneira a reforçar o egocentrismo e o antropocentrismo, por outro lado, as
partes do culto devem ser adequadas, compatíveis com o estilo de vida e nível de
compreensão dos adoradores, para que eles possam se expressar devidamente diante de Deus.
O culto deve tratar o adorador como uma pessoa integral. Uma celebração defectiva é
aquela em que se enfatiza apenas uma dimensão: ou é excessivamente cerebral,
somente intelecto e raciocínio, ou é um derramamento de emoções, atropelando-se umas às
outras, sem qualquer rumo. Em qualquer dos casos houve uma opção limitadora.
No que diz respeito ao intelecto; a estrutura e a condução do culto devem ser
compreensíveis para a média dos membros da comunidade. Eles precisam ser capazes de
discernir um significado nas partes do culto, captando e envolvendo-se no desenvolvimento
daquela celebração. No culto também há que ocorrer espaço para a purificação das emoções, a
apresentação dos sentimentos individuais (mesmo que de forma silenciosa). Deste modo,
serão canalizadas as aspirações de cada um permitindo o surgimento de sentimentos novos e
positivos.
Nunca é demais salientar que a necessidade fundamental daquele que se apresenta
diante de Deus é a necessidade de encontrar a Deus. O salmista, sedento de Deus em sua
jornada pelo deserto, exclama: "quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Sl 42.2). É a
comunhão com Deus que deve ser buscada, e esta experiência não pode ser substituída pela
beleza do templo nem pela arte da música. Mas a experiência do encontro com Deus pode ser
banalizada. Isto acontece, entre outras razões, quando a grandeza e a transcendência de Deus
não são corretamente enfatizadas. Ele é o Outro, o Deus Inacessível, o Santo, diante de quem
o pecador se prostra em confissão e reverência. Ele não é um mercador que aceita presentes
para conceder bênçãos.
5

O ser humano, imerso no aqui e agora, caminha para a eternidade. Entretanto, na


atualidade, a ênfase imediatista desvia os olhos das pessoas da realidade da vida futura.
Proliferam em muitos segmentos que se pretendem evangélicos a ênfase nas bênçãos terrenas,
em que o sucesso e a prosperidade imediata são apresentados como sinais da graça divina.
Com isto a expectativa de respostas materiais a serem alcançadas durante o próprio ato de
culto torna-se muito forte. É necessária sabedoria e discernimento para que, na direção do
culto, nas falas e na mensagem, seja dado o encaminhamento adequado a tais questões.

1.3 O LUGAR FÍSICO DO CULTO

Um breve comentário será feito a respeito do local no qual é o culto celebrado.


Normalmente isto acontece em um templo, ou salão de culto. O adorador é incentivado por
um ambiente facilitador. Os aspectos físicos do santuário têm uma grande influência.
Lamentavelmente, muitos de nossos templos são feios, construídos sem qualquer
preocupação estética. Há salões de culto que não se diferenciam de um auditório secular, ao
passo que outros, em virtude de linhas arquitetônicas próprias e da sábia disposição dos
bancos, janelas, da iluminação, naturalmente induzem os presentes a uma atitude de
reverência e recolhimento espiritual. Daí a importância, mesmo em comunidades cujos
santuários sejam modestos, da adequada arrumação física, da limpeza e da ordem dos
móveis.
É importante, pois, que além da limpeza que deve caracterizar nossos templos, sejam
eles bem iluminados, com bancos ou cadeiras confortáveis. Há a tendência, hoje, de
substituir os tradicionais bancos de madeira por assentos individuais. É comum existir uma
equipe de músicos que se instala à frente do santuário; nestes casos, os fios e cabos
necessários à execução da atividade deles devem estar corretamente colocados, se possível
escondidos da visão dos presentes.
O sistema de som precisa estar bem regulado; a tendência para o excesso sonoro tem
caracterizado muitas atividades dos jovens, sem nenhum ganho efetivo para a pregação do
Evangelho. O que se ganha, na verdade, é perda: o risco de perdas auditivas permanentes em
razão da exposição continuada a fontes sonoras de volume exagerado.

Leituras complementares sugeridas

ALLEN, Ronald; BORROR, Gordon. Teologia da adoração. Cap 1, p. 15-19; Cap 4, p. 37-
52.

HUSTAD, Donald P. Jubilate! A música na igreja. Cap 5, p. 72-84.

SHEDD, Russell P. Adoração bíblica. Cap 2, p. 16-21; Cap 3, p.22-29.

WHITE, James F. Introdução ao culto cristão. Cap 1, p. 11-24.


6

2 A ESTRUTURA DO CULTO

O Novo Testamento não registra nenhum culto por completo, de modo que não
sabemos qual era a sequência em que os diferentes elementos do culto eram colocados. Há
elementos cuja origem facilmente se identifica como sendo derivados do encontro na
sinagoga; outros mostram o seu vínculo com a celebração da Última Ceia.7
É recomendável que qualquer evento ou reunião tenha uma estrutura ou uma agenda
que mostre uma certa lógica de encadeamento ou sucessão de partes. Assim também com o
culto. A tradição reformada apresenta um corpo de recomendações e orientações a respeito;
existem diversos padrões que são sugeridos para a organização do ato cúltico.

2.1 A ORIENTAÇÃO DOS DOCUMENTOS DA IGREJA

A IPB possui seus Princípios de Liturgia. Como o nome já indica, são "princípios",
apontando normas gerais. O Capítulo III intitula-se CULTO PÚBLICO. São dois artigos.

Art. 7º. - O culto público é um ato religioso, através do qual o povo de


Deus adora o Senhor, entrando em comunhão com Ele, fazendo-lhe
confissão de pecados e buscando, pela mediação de Jesus Cristo, o perdão,
a santificação da vida e o crescimento espiritual. É ocasião oportuna para
proclamação da mensagem redentora do Evangelho de Cristo e para
doutrinação e congraçamento dos crentes.
Art. 8°. - O culto público consta ordinariamente de leitura da Palavra de
Deus, pregação, cânticos sagrados, orações e ofertas. A ministração dos
sacramentos, quando realizada no culto público, faz parte dele.
Parágrafo único - Não se realizarão cultos em memória de pessoas falecidas.

Apesar da enumeração ser concisa e breve, podemos notar a existência de dois focos: a
relação com Deus, que se manifesta na adoração, na busca da comunhão e na confissão. O
outro foco é o efeito ou a transformação na vida do povo de Deus, mostrado na experiência do
perdão, na busca de santificação e crescimento.

A Confissão de Fé de Westminster (CFW) aponta os ingredientes básicos que devem


estar presentes em um culto normal, em número de cinco:

(a) oração (1 Tm 2.1-4,8);


(b) a leitura pública da Escritura (Cl 4.16; 1 Ts 5.27);
(c) pregação (2 Tm 2.2; 4.2);
(d) o cânticos de salmos (Ef 5.19; Cl 3.16);
(e) a Ceia do Senhor (Mt 26.26ss; At 2.42).8

Há outros elementos ocasionais (juramentos religiosos, votos, jejuns solenes, ações de


graça) que também constam da CFW. Não se mencionam as ofertas, certamente porque, numa
época em que o Estado era o mantenedor da igreja, isto não se fazia necessário.
O Diretório de Culto de Westminster (DCW) propõe uma ordem litúrgica específica;
contudo, este documento não foi oficialmente adotado pela IPB.

7
Ver na apostila de TEOLOGIA DO CULTO 1 o capítulo 2, seção 2 A Igreja primitiva, para maiores
informações.
8
NEEDHAN, Nick, Westminster and worship: psalms, hymns? and musical instruments? In: DUNCAN, J.
Ligon (Ed.). The Westminster Confession onto the 21st Century. Soctland: Mentor, 2004, p. 227.
7

Há um Manual que contém orientações litúrgicas para os ministros da IPB,


anteriormente denominado Manual do Culto e agora, após revisão, alterado para Manual
Litúrgico.9 Há uma forma-padrão para o culto dominical, intitulada “O Culto Divino”. São
poucas instruções, e não são previstas variações decorrentes das comemorações de datas do
Ano Cristão. A estrutura do Manual Litúrgico traz algumas alterações, quando comparada
com o antigo Manual do Culto.10 Ambas as estruturas mostram certa parecença com as
normas do Diretório de Culto de Westminster.

2.2 A DIVERSIDADE DE SENTIMENTOS

Ao se aproximar de Deus o adorador não traz apenas uma atitude de alma, mas ele
entra no templo imerso nas contradições e esperanças que marcam sua própria existência
individual. Assim acontece com cada participante do culto, de sorte que uma grande gama de
sentimentos está presente no coração dos crentes.
Sem a necessidade de estabelecer, no momento, qualquer hierarquia ou encadeamento,
podem ser apontados:
- convicção de pecados e a conseqüente tristeza por tê-los cometido: o cristão sincero e
sensível aos movimentos do Espírito em seu próprio coração sabe que o pecado ainda o
atinge, e comparece à presença divina para confessar suas faltas e buscar o perdão do Pai
celeste;
- maravilhamento diante de Deus: quando o cristão contempla a Deus vê a grandeza do
Eterno, a abundância de seu amor. Há uma visão do Todo Poderoso, ao se abrirem os olhos
espirituais. Daí a adoração e o louvor;
- gratidão: a ação de graças que é apresentada pelo adorador envolve as bênçãos supremas da
salvação em Cristo Jesus, mas também incluem o favor do Alto presente nos simples fatos da
vida, na orientação recebida para o cotidiano, na vida em família, no trabalho, e assim por
diante;
- necessidade de orientação, conforto e desafio: são variadas as necessidades do coração
humano; para uma pessoa acabrunhada e entristecida, a voz divina vem em seu auxílio para
conforto; para aquele que se sente sem rumo, há a necessidade de orientação; o cristão que se
acha acomodado precisa ser desafiado;
- impulso para apresentar a Deus as necessidades próprias e dos outros: a súplica e a
intercessão, quer pessoais, quer comunitárias, quer locais, quer nacionais, movem muitos até o
templo para o culto a Deus.

Evidentemente, as situações que acabam de ser descritas não esgotam as


possibilidades dos sentimentos desencadeados pelo encontro de Deus com o homem e do
homem com Deus. Tal diálogo é rico de matizes, e cobre todas as situações da existência
humana.

2.3 OS PADRÕES DISPONÍVEIS

Existem diversos modelos ou sequências utilizados para a organização das partes do


culto. Os diferentes momentos devem ser fundamentados teologicamente, dentro do espírito

9
Manual Litúrgico, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2a. edição, 1992. A publicação é caracterizada
como “edição reestruturada e acrescida por Valter Graciano Martins e Gecy Soares de Macêdo”. A Apresen-
tação justifica as modificações efetuadas, descrevendo também as reestruturações ocorridas. De acordo com Carl
J. Hahn (in HISTÓRIA DO CULTO PROTESTANTE NO BRASIL, págs. 195-209), este Manual foi compilado
pelo Rev. Modesto Carvalhosa o qual, no final de seu ministério, pastoreou a IP Unida de São Paulo.
10
Manual do Culto, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, s/data.
8

reformado de que não cabe ao homem inventar ou acrescentar aquilo que a Palavra de Deus
não prescreve:

o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão
limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações
e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação
visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.11

2.3.1 O padrão genebrino. O modelo desenvolvido por João Calvino pressupunha a


celebração eucarística dominical, situação que o reformador não conseguiu implantar. Assim,
a liturgia completa, tal como apresentada anteriormente na primeira unidade deste curso, nem
sempre era praticada. Nos cultos em que não havia a celebração da Ceia a liturgia era
abreviada, com a exclusão das partes diretamente vinculadas ao sacramento, embora fosse
mantida a estrutura geral da liturgia.
O culto em Genebra começava assim:

Invocação: O nosso socorro está no nome do Senhor, criador do céu e da terra. Amém.
Confissão de pecado: Irmãos, que cada um se apresente diante da face do Senhor, e
confesse suas faltas e pecados, seguindo minhas palavras em seu coração.
Ó Senhor, Eterno e Todo-Poderoso Pai, confessamos e reconhecemos diante de Tua
santa majestade que somos pobres pecadores, concebidos e nascidos em iniqüidade e
corrupção, inclinados a fazer o mal, inúteis para qualquer bem, e que em nossa
depravação constante e incessantemente quebramos Teus santos mandamentos. [A
oração ainda prossegue.]

Calvino justifica o início do culto com a confissão em As Institutas:

Ora, uma vez que em toda reunião religiosa nos prostramos diante de Deus e dos
anjos, que outro nos será o ponto de partida do proceder senão o reconhecimento de
nossa indignidade? [...] E, com efeito, vemos ser esse costume observado com
proveito nas igrejas bem reguladas, de sorte que em cada dia do Senhor o ministro
repita, em seu próprio nome e no do povo, uma forma de confissão, mediante a qual a
todos acusa de culpados de iniquidade, e do Senhor suplique o perdão. Enfim, com
esta chave se abre uma porta para orar, tanto aos indivíduos, em particular, quanto a
todos, publicamente.12

Após esta oração havia o cântico de um salmo e logo a seguir já acontecia a pregação,
antecedida de uma oração por iluminação. Após o sermão era proferida uma longa oração e,
após a Benção, o culto se encerrava.13

2.3.2 Os padrões presbiterianos. Do ponto de vista formal, o modelo apresentado pelo


Diretório do Culto de Westminster representou um padrão oficial. A sequência proposta no
Manual do Culto e no Manual Litúrgico, ambos publicados e distribuídos pela editora da IPB,
mostram certa semelhança com a estrutura do Diretório. Assim, os três padrões serão
mostrados a seguir, em colunas paralelas:

11
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, cap. XXI.I.
12
CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã. [5ª. ed. 1559]. 3.4.11.
13
A primeira liturgia proposta por Calvino para Genebra (1541) previa o cântico de apenas um salmo;
posteriormente o número foi ampliado para três. A celebração da Ceia se dava quatro vezes por ano.
9

Diretório do Culto Manual do Culto Manual Litúrgico


1. Chamada à adoração 1. Convite à oração 1. Convite à oração
2. Oração de aproximação 2. Oração (invocação e confissão) 2. Oração (adoração)
(adoração, súplica por merecimen-
to e por iluminação)
3. Hino de louvor 3. Hino de louvor
3. Lição do Antigo Testamento 4. Leitura bíblica (um capítulo?) 4. Leitura bíblica
(um capítulo em sequência)
4. Lição do Novo Testamento (um
capítulo em seqüência)
5. Salmos metrificados (cantados
antes e/ou entre as leituras)
6. Oração de confissão e 5. Oração (longa oração, com 5. Oração (confissão)
intercessão (longa oração, com confissão, súplica por perdão, 6. Leitura bíblica (confissão)
confissão de pecados, intercessões intercessão)
pelo mundo, igrejas e governantes,
e outros pedidos)
6. Hino 7. Hino
7. Sermão 7. Sermão 8. Sermão
8. Oração geral (ação de graças; 8. Oração de ação de graças 9. Oração (de ação de graças?)
súplicas vinculadas ao tema do
sermão)
9. Hino 10. Hino
9. Oração Dominical 10. Oração (com Doxologia) 11. Oração (com Doxologia)
10. Salmo de louvor 12. Hino
11. Benção 11. Benção (sub-entendida, visto 13. Benção Aarônica e Apostólica
constar em outras formas)
14. Despedida

A inclusão da Ceia do Senhor se faz, nestas estruturas, em um ponto após a oração que
se segue ao sermão. Não há uma divisão precisa entre os diversos sentimentos que são
expressados no culto.

2.3.3 O modelo baseado em Isaías 6. A visão do profeta, que marca o seu chamamento, tem
sido usada como norma para a elaboração de muitas celebrações. Transcrevemos a exposição
clara e concisa feita por João Wilson Faustini:

As partes do culto, segundo um modelo baseado no capítulo 6 de Isaías, são as


seguintes: Adoração, confissão, perdão e consagração.
A Adoracão, ou visão de Deus, é o primeiro e o ato central do culto e da religião. O
ato de adoração pode incluir hinos, salmos, orações ou leituras próprias. Os grandes
atributos de Deus são reconhecidos com frequência: Santo, Onipotente, Soberano, Supremo,
Eterno, etc.
A Confissão é uma consequência do reconhecimento do poder e da grandeza de Deus.
É o reconhecimento da fraqueza humana. Salmos como o 51, o 5 e todos os outros
chamados "Penitenciais" são próprios para a confissão, bem como leituras, hinos e orações,
especialmente a oração silenciosa de confissão, que deve estar presente na liturgia de todas
as Igrejas Reformadas. Deve-se notar que a verdadeira oração silenciosa não deve ter fundo
musical algum.
Perdão é a renovação na consciência, do grande sacrifício restaurador de Cristo. É a
purificação da alma, alcançada através da confissão e arrependimento. Há ótimos textos
bíblicos, leituras especiais e hinos que se enquadram muito propriamente nesta parte do
culto.
A Mensagem ou Exortação em geral deve preceder a última parte do culto, que é a
10

Consagração. A exortação será muito mais eficiente depois da confissão e do perdão. Na


maioria das igrejas evangélicas brasileiras há uma tendência de se centralizar o culto todo ao
redor do sermão, tomando-se ele a parte principal do culto, em lugar da adoração. Cremos
que o ato de adoração jamais deveria ser secundário num culto. [ ... ]
A Consagração ou dedicação é praticamente o resultado do culto. É mais lógica a
colocação do ofertório, que é comumente colocado antes, nesta parte do culto, significando
a dedicação de nossas vidas no altar de Deus, após a exortação. A consagração é o fruto da
adoração.14

Esta estrutura é muito encontrada nas ordens de culto impressas nos boletins das
igrejas nacionais. Nela estão dois elementos importantes: há uma sequência compreensiva de
partes e sentimentos; há múltiplas possibilidades de organizar os itens disponíveis (hinos,
orações, leituras). Normalmente as duas primeiras partes (Adoração e Confissão) são intro-
duzidas com um "convite", no qual sentenças das Escrituras são usadas.
O Ritual inserido pela Igreja Metodista ao final do conhecido Hinário Evangélico
segue esta estrutura. Ali se encontra uma outra inserção também costumeira: após o Perdão é
colocado um momento de Louvor, com ocasião para a Ação de Graças.
Deve se ter em mente que este padrão, muito embora bastante difundido e empregado
entre as igrejas evangélicas, não é o único e nem pode ser descrito como o “padrão reformado
de culto”.15

2.3.4 Movimento quádruplo. O Manual de Culto atualmente em uso pela Igreja


Presbiteriana Independente do Brasil propõe uma estrutura que possui quatro dimensões
distintas:

Da experiência da Igreja desde os tempos do Novo Testamento surgiu a dinâmica do


diálogo entre Deus e seus adoradores, expressa por meio de uma fórmula básica de
movimento quádruplo, que se tomou normativa para a ordem do culto cristão:
Reunimo-nos em nome de Deus;
Acolhemos a Palavra de Deus;
Rendemos graças a Deus;
Somos enviados em nome de Deus.16

É apresentado o seguinte esboço para um Culto sem a Ceia do Senhor:

I. Reunimo-nos em Nome de Deus


O povo reúne-se
(Avisos)
Prelúdio (silêncio e oração)
Chamada à adoração
Hino, salmo, cântico, leitura responsiva ou hino de louvor
Confissão de pecado
Responso de confissão
Confissão silenciosa

14
FAUSTINI, João W. Música e Culto. Campinas: CAOS/SPS, 1965, p. 4. (Edição apostilada, para uso interno
dos alunos do SPS). Sublinhados no original.
15
Esta estrutura foi difundida por dois pastores norte-americanos: Willard L. Sperry, Deão em Harvard nos anos
20, de origem episcopal, e Von Ogden Vogt, contemporâneo do anterior, e que foi, inicialmente, ministro
congregacional, mas depois tornou-se pastor da Igreja Unitária de Chicago.
16
IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL. Manual do Culto. São Paulo: Pendão Real,
[1996], p. 14. Negrito no original.
11

Declaração de perdão
Saudação de paz
Hino, salmo, cânticos ou responso de gratidão

II. Acolhemos a Palavra de Deus


Oração por iluminação
Leitura do Antigo Testamento
Salmo ou responso cantado
Leitura (s) do Novo Testamento
Proclamação da Palavra
Hino ou cântico
Afirmação de fé
(Batismo ou outra ordenança da Igreja)
Orações do povo: intercessão e súplica
Ofertório
Doxologia, cântico ou hino de gratidão

III. Rendemos graças a Deus


Oração de ação de graças
Oração do Senhor

IV. Somos Enviados em Nome de Deus


Hino, cântico ou salmo
(Avisos)
Envio
Bênção
Poslúdio (silêncio e oração)
O povo se dispersa.17

Este modelo incorpora uma variada gama de textos e ações presentes na tradição
litúrgica ocidental; a utilização de todos eles em uma mesma cerimônia, contudo, traz o risco
de torná-la excessivamente longa. Talvez esta liturgia seja de ajuda ao apontar alguns
elementos que podem ser incluídos em uma ou outra ordem de culto.

2.3.5 A partir de um tema ou texto bíblico. Uma maneira relativamente simples de estruturar o
culto consiste em estabelecer seções a partir de um texto bíblico ou de uma tema,
normalmente o tema do sermão. Deve se notar que cada salmo possui sua estrutura própria, de
sorte que a ordem das seções pode não seguir a mesma ordem dos versículos.

2.4 CONCLUSÃO

Uma ordem de culto mais simples ou despojada não é mais fraca ou de menor valor
em relação a uma liturgia com muitas seções e partes. A estrutura do culto deve mostrar uma
certa ordem, e o valor de cada parte para a elevação espiritual dos participantes deve ser
apontado com clareza, na fala do dirigente, durante o encontro da comunidade.
O encontro com Deus pode ocorrer apesar dos defeitos da liturgia ou dos seus
dirigentes; o encontro com o Eterno ocorre quando há pessoas tementes a Deus que se reúnem
com o propósito de buscar ao Altíssimo e estabelecer um saudável diálogo com Ele.

17
Op. cit., p. 41, 42.
12

Leituras complementares sugeridas

ALLEN, Ronald; BORROR, Gordon. Teologia da Adoração. Cap.7, p. 77-89.

HUSTAD, Donald P. Jubilate! A música na Igreja. Cap. 9, p. 145-162.

MANUAL DO CULTO IPI, p. 11-29.

WHITE, James F. Introdução ao Culto Cristão. Cap. 5, p. 111-130.


ELEMENTOS E CIRCUNSTÂNCIAS

A posição dos puritanos com respeito a aspectos do culto

De forma geral, o princípio regulador do culto tem sido entendido pelos seus
defensores sob o pressuposto de que tudo aquilo que diz respeito ao culto foi objetivamente
revelado. É nessa perspectiva que A. A. Hodge comenta a Confissão de Fé:

[Estas seções ensinam:] Que Deus, em sua Palavra, nos prescreveu o modo de
cultuá-lo aceitavelmente; e que se nos constitui uma ofensa dirigida a ele, e
mesmo grave pecado, negligenciar cultuá-lo e serví-lo da forma prescrita, ou
tentar serví-lo de alguma outra forma não prescrita. 1

Na seção seguinte os teólogos de Westminster destacaram que o culto aceitável


somente é prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Numa redação nitidamente
apologética, a dimensão negativa é posta em evidência: “não deve ser prestado nem aos
anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura”. Deste modo, a posição reformada,
firmemente calcada nas Escrituras, foi expressa em oposição ao ensino católico-romano.
(Quanto a esta questão, não pairava qualquer dúvida entre os membros da Assembléia; não
era tema controverso, visto todos os teólogos serem calvinistas.)

As três seções seguintes desse Capítulo XXI apontam os elementos que devem integrar
o culto cristão:

III. A oração com ações de graças, sendo uma parte especial do culto religioso,
é por Deus exigida de todos os homens; e, para que seja aceita, deve ser feita
em o nome do Filho, pelo auxílio do seu Espírito, segundo a sua vontade, e isto
com inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança. Se
for vocal, deve ser proferida em uma língua conhecida dos circunstantes.

IV. A oração deve ser feita por coisas lícitas e por todas as classes de homens
que existem atualmente ou que existirão no futuro; mas não pelos mortos,
nem por aqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte.

V. A leitura das Escrituras com o temor divino, a sã pregação da palavra e a


consciente atenção a ela em obediência a Deus, com inteligência, fé e
reverência; o cantar salmos com graças no coração, bem como a devida
administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo - são
partes do ordinário culto de Deus, além dos juramentos religiosos; votos,
jejuns solenes e ações de graças em ocasiões especiais, tudo o que, em seus
vários tempos e ocasiões próprias, deve ser usado de um modo santo e
religioso.

1
HODGE, A. A.. A Confissão de fé comentada. Trad. Valter Graciano Martins. 2ª. ed. São Paulo: Os
Puritanos, 1999, pág. 368.
A Confissão de Fé é explícita ao nomear aqueles elementos que fazem parte do culto
legítimo; anteriormente, na feitura do Diretório do Culto, tais elementos já haviam sido
incluídos. Estes, e nenhum outro:

- Oração, com ações de graça (III, IV)

- Leitura da Escritura (V)

- Pregação (e escuta) da Palavra (V)

- Cântico de salmos (V)

- Administração e recepção dos sacramentos (V)

- Juramentos religiosos (V)

- Votos, jejuns solenes e ações de graças (V).

É evidente que os juramentos, votos, jejuns e ações de graças são eventos de caráter
esporádico; os cinco elementos anteriores são freqüentes e, com exceção dos sacramentos,
devem estar presentes em todas as celebrações.

______________________________________

Os Puritanos entenderam e ensinaram que as “partes do ordinário culto a Deus” são


estes elementos descritos no Capítulo XXI e que foram discriminados algumas páginas atrás.
Assim, os elementos do culto podem ser definidos como os itens ou partes do culto que são
prescritos ou determinados nas Escrituras e que devem estar presentes no culto. (Algumas
dessas partes, evidentemente, não estarão presentes em todas as ocasiões, como é o caso dos
sacramentos, dos juramentos religiosos e dos votos.) Por outro lado, considerando que a
forma pela qual cada elemento é apresentado no culto pode sofrer variações, os Puritanos
desenvolveram a distinção das circunstâncias.

Esta distinção foi prevista na própria Confissão de fé: a parte final da seção VI do
Capítulo I diz:

Há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja,


comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela
luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as normas gerais da palavra,
que sempre devem ser observadas.
Calvino já notara que haviam coisas que não tinham sido prescritas com detalhes; tal
distinção foi acolhida pelos Puritanos e objeto de minuciosas distinções, algumas até
exageradas. O ensino de Calvino é o seguinte:

Mas, porque na disciplina exterior e nas cerimônias não quis ele [Deus]
prescrever minuciosamente o que devamos seguir (porque isto previne
depender da condição dos tempos, nem julgaria convir a todos os séculos uma
forma única), impõe-se aqui acolher as regras gerais que deu, de modo que,
em conformidade com essas regras, sejam aferidas todas as coisas que, para a
ordem e o decoro, a necessidade da Igreja muito requer que sejam
preceituadas. 2

Há no culto, portanto, coisas fixas e coisas variáveis. Estas últimas seriam as


circunstâncias, que não dependem de mandamento explicito. Paulo Anglada dá a seguinte
explicação:

Como exemplo de circunstâncias de culto na dispensação do evangelho, pode-


se mencionar o lugar (casa, templo, ao ar livre), horário (dias da semana,
horário), duração e ordem do culto, móveis (púlpito, bancos ou cadeiras, mesa
para a Ceia do Senhor); iluminação (velas, lamparinas, candeeiros ou luz
elétrica), aquecimento ou ventilação, som, etc. Estas questões são todas
circunstanciais na dispensação do evangelho, o que significa que não se pode
atribuir a elas conotação religiosa, tornando-as obrigatórias, e devem ser
decidas com a prudência cristã e à luz dos princípios gerais das Escrituras. 3

Entretanto, o assunto suscitou muitos debates. A distinção entre elementos e


circunstâncias nem sempre foi expressa com clareza, de sorte que aquilo que era considerado
por uns como circunstância era enquadrado por outros como elemento. Os comentários a
seguir ilustram o ponto:

Douglas Kelly pergunta:

As seguintes coisas são fixas ou variáveis (um elemento ou uma circunstância):


a ordem de culto em vigor, o uso da Oração Dominical e outras orações
escritas, a recitação do Credo Apostólico, o cântico da Doxologia e do Glória? 4

2
CALVINO, op. cit., IRC 4.10.30.
3
ANGLADA, op. cit, pág. 37.
4
KELLY, op. cit., pág. 81. Tradução do autor.
Ralph Gore Jr, em sua tese de doutorado, aponta que o Diretório de Culto teve de ser
um documento conciliador, dada a diversidade dos partidos existentes na Assembléia. Há
silêncio sobre algumas matérias para as quais não houve acordo; por exemplo, quanto a
freqüência com a qual a Ceia devia ser celebrada e quanto ao modo de sua distribuição. A
decisão ficou a cargo do Conselho de cada igreja. 5 E logo a seguir Gore aponta situação que, a
seu ver, foi um problema:

a quase impossível tarefa de claramente distinguir entre as matérias do culto


essenciais e aquelas meramente circunstanciais. Para os Puritanos Ingleses, o
uso do Credo Apostólico constituía essencialmente um ato de culto e foi
consequentemente proibido. Para os Presbiterianos Escoceses, ele era
meramente uma circunstância do culto e portanto aceitável. 6

Trechos extraídos de

MONTEIRO, Donald B. O Princípio Regulador do Culto na Confissão de Fé


de Westminster. São Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Gradução Andrew
Jumper, 2009 ( Monografia como requisito parcial para o Mestrado em
Divindade), p. 15, 16, 19, 20.

5
DIRETÓRIO DO CULTO DE WESTMINSTER, pág. 47.
6
GORE JR, R.J. The pursuit of plainness: Rethinking the Puritan Regulative Principle of Worship. Tese
de Doutorado em Filosofia, Westminster Theological Seminary, 1988. Acesso em 20.junho.2008, por
meio da base de dados ProQuest Dissertations and Thesis, site mackenzie.br.; pág. 133. Tradução do
autor.
13

3 A PREPARAÇÃO DO CULTO

O culto começa muito antes do horário determinado para o início da celebração no


templo. O dirigente do culto prepara previamente a liturgia, e planeja como há de conduzir
todo aquele encontro de modo que os adoradores sejam levados à presença de Deus. Há uma
dimensão espiritual e individual; há uma outra, formal, que engloba o planejamento do que
irá acontecer.
Neste capítulo serão apresentadas sugestões de cunho prático. São observações
variadas, sob diversos enfoques, que auxiliam no preparo de uma liturgia adequada e correta.

3.1 ESTILOS DE CULTO

As pessoas e suas igrejas expressam a adoração a Deus de formas diferentes; não há


um estilo único, que possa ser identificado em todas as comunidades de cristãos. A orientação
bíblica é clara sobre os princípios, mas não detalha ou uniformiza o estilo de culto.

3.1.1 A classificação de Paul Basden. Este pastor batista norte-americano apresenta cinco
estilos distintos. São eles:

- Culto litúrgico. “O propósito do culto litúrgico é levar a igreja a se curvar diante da glória
transcendente de Deus, ou seja, louvar o poder e a grandeza divina”.18 Neste culto há destaque
para a leitura da Palavra de Deus, são usados hinos, órgão e coral.
- Culto tradicional. Embora seja menos formal que o culto litúrgico, este estilo também
apresenta uma ordem planejada. Seu propósito: “levar a congregação a agradecer a Deus por
sua bondade e a ouvir Deus falar pela sua Palavra”.19 Há hinos, mas os cânticos têm o seu
lugar. Este estilo representa a evolução da tradição cúltica calvinista.
- Culto avivado. “Caracterizado pela informalidade, exuberância, entusiasmo e pregação
agressiva, esse estilo de culto busca levar o pecador perdido ao Deus de misericórdia”. 20 Sua
grande ênfase é evangelística. A música usada reflete a influência dos gospel songs do Século
19, desenvolvidos nos EUA.
- Culto louvor&adoração. É um “culto vivo, informal e com muito som, no qual a
congregação busca ativamente a presença imediata de Deus”.21 O seu objetivo é levar o
participante a uma experiência com o Espírito; daí a menor atenção dada à Bíblia e à
exposição de seu ensino.
- Culto facilitador. Pode ser descrito como “um, culto evangelístico, breve e alegre, criado
especialmente para os “interessados”, ou seja, não-cristãos que estão procurando Deus, mas
ainda não tomaram uma decisão pessoal de se entregar a Cristo. Não se trata de um culto de
adoração feito para cristãos”.22

3.1.2 A tipologia de Robinson Cavalcanti. Este pastor e teólogo anglicano, por muitos anos
bispo em Recife, propõe a seguinte classificação:23

18
BASDEN, Paul. Estilos de Louvor: Descubra a melhor forma de culto para a sua igreja. São Paulo: Mundo
Cristão, 200, p. 46.
19
Op. cit., p. 59.
20
Op. cit., p. 71.
21
Op. cit., p. 81.
22
Op. cit., p. 94. Itálico no original.
23
CAVALCANTI, Robinson. O Culto Evangélico no Brasil – uma Tipologia. In: BOLETIM TEOLÓGICO.
Fraternidade Teológica Latino-americana. Ano 9, n. 28, out/nov/dez 1995, p. 7-12.
14

- Os Cultos no Livro. São aqueles que seguem um manual litúrgico, como os luteranos e
anglicanos, com sua ênfase própria nas datas do Ano Eclesiástico.
- Os Cultos do Livro. Constitui uma reunião despojada com uma ênfase maior no ensino e
menor na dimensão da adoração. Há um grande destaque para a Bíblia.
- Os Cultos das Emoções. Neste padrão há uma explosão das emoções, de maneira que “a fé,
mais do que entendida, é sentida”.24
- O Culto Espetáculo. É um culto-show, com pouca ênfase na Bíblia e pouca profundidade na
mensagem.
- O Culto Espetacular. “O culto que atrai é uma versão religiosa do “aqui e agora” concreto,
simplificado, com os triunfo dos mocinhos contra os bandidos. [...] bênçãos existenciais
instantâneas”25

3.2 O PLANEJAMENTO DA LITURGIA

James F. White observa que há alguns critérios a considerar no planejamento de uma


ordem de culto, listando três aspectos, que são: a centralidade da Escritura; um óbvio senso de
progressão e a necessidade de clareza de função.26
O primeiro procedimento reside em identificar as características básicas do culto cuja
liturgia vai ser preparada: é um culto dominical padrão? Há alguma celebração especial a ser
inserida? Há alguma data do calendário litúrgico a ser posta em evidência? Também deve se
considerar neste primeiro momento quais os recursos ou participações que estarão
disponíveis.
A escolha de uma estrutura para a organização das partes do culto vem em seguida
(ver as possibilidades apontadas no capítulo anterior). Quando a organização da liturgia for ao
redor de um tema, ou fazendo uso dos diferentes versículos de um mesmo salmo, muita
atenção deve ser tomada para que a sequência das partes não pareça artificial ou forçada. O
tema do sermão também pode dar a pista para a escolha de textos e cânticos, de sorte que toda
a liturgia aponte para um mesmo rumo.
É importante haver equilíbrio entre as partes, de tal modo que as diferentes seções e
partes tenham um volume de tempo razoavelmente balanceado entre si. Evidentemente, a
leitura e exposição da Palavra ocupam um lugar central na liturgia reformada; o culto não é só
o sermão, mas nele não se pode prescindir da proclamação da Palavra. Daí ser essencial tal
equilíbrio. Atualmente há muitos cultos nos quais o tempo dado para os cânticos é tão grande
que os participantes se assentam extenuados ao término do chamado "momento de louvor" e
não têm condições de ouvir a mensagem divina para suas vidas!
Em que consiste a variedade litúrgica? É possível distribuir os diversos elementos de
maneira diferente, pois não há um modelo estático e rigoroso. Por exemplo, após o povo ser
convocado à adoração, por meio de um "chamado à adoração", pode se seguir um hino ou um
cântico, ou uma leitura bíblica, ou uma oração. Não há qualquer justificativa para um hábito
ainda presente em muitos lugares de inserir-se a participação do coral tão somente entre a
leitura da Bíblia e o sermão. O uso de um mesmo modelo, culto após culto, não é errado em si
mesmo; o erro está em não recordar, cada vez, o significado daquilo que está sendo realizado.
A escolha dos hinos e cânticos não se faz aleatoriamente. O exame do índice de
assuntos dos hinários em uso nas igrejas evangélicas mostra um leque de textos, apontando
diversas atitudes e sentimentos na relação do crente com seu Deus. Os cânticos também têm
temática variada. Tudo isto necessita ser considerado no preparo do culto. É possível escolher
hinos – ou cânticos - que tenham tal relação com o momento precedente que os adoradores

24
Op. cit., p. 10.
25
Op. cit., p. 12.
26
WHITE, James F. Introdução ao Culto Cristão. São Leopoldo: Sinodal, 1997, p. 127.
15

sejam conduzidos, de maneira natural, de um momento para outro, no decorrer do culto. E


assim, teremos uma celebração com unidade.

3.3 A PARTICIPAÇÃO DOS FIEIS

Quando do preparo do culto já se pode fazer provisão para a participação dos fiéis.
Não faz sentido um encontro no qual o oficiante faça todas as orações e todas as leituras; o
culto é um encontro da comunidade, do povo que adora a Deus coletivamente. Por isso, a
"distribuição de tarefas" entre os membros da igreja não pode ser algo que ocorra apenas nos
poucos minutos que antecedem o culto. Preparar uma "boa" ordem de culto demanda tempo
por parte do pastor; exige dele disciplina e ação antecipada.
Se há colaboradores que irão auxiliar no culto, a participação deles - ou pelo menos o
acompanhamento - no preparo da liturgia, é importante. Esta é uma oportunidade para o
pastor orientar a respeito das atitudes corretas e da melhor maneira de planejar as falas que
podem adequadamente ser proferidas em cada momento.
O pregador não precisa subir sozinho ao púlpito, assumindo ele toda a direção dos
trabalhos. Presbíteros, diáconos, presidentes das sociedades internas ... há muitas pessoas que
podem ser envolvidas na condução da liturgia.27
São citados, de forma esquemática, alguns itens que permitem a participação dos
crentes:
- Leituras bíblicas: feitas individualmente ou sob forma antifônica; em alguns casos, o
texto pode ser trabalhado sob a forma de um jogral.
- Oração comunitária: especialmente no momento de ação de graças, dando oportuni-
dade para que sejam feitas orações breves, de uma frase apenas, sem "fecho". Ao final, o
dirigente fará uma oração também breve com a terminação adequada.
- Breves testemunhos: este tipo de participação não é muito incentivado em nossas
igrejas. Alguns dos motivos são evidentes: há lamentável tendência para o seu
desvirtuamento, com ênfases na experiência individual, ou para projeção pessoal, ou com
descontrole na duração ou nas observações feitas. Mas isto não significa que devam ser
evitados por completo. De fato, a dificuldade maior reside na habilidade do pastor de
coordenar tal prática.
- Litanias impressas: não há necessidade de distribuir os leitores em apenas dois grupos,
oficiante versus congregação; outras distribuições podem ser experimentadas.

3.4 VOZ E DICÇÃO

É de suma importância que o dirigente da liturgia e, por extensão, o pregador, façam


bom uso de sua voz, de maneira a serem claramente entendidos por todo o povo. Uma voz
firme, não estridente, é fundamental. Há exercícios e técnicas disponíveis para quem quiser se
aprimorar no assunto.
Dentre os erros comumente cometidos pelos oradores, destacam-se:
- Voz monocórdica: não há alteração do diapasão da fala, durante todo o discurso ou
sermão. A voz não cresce nem se eleva, para destacar emoções ou salientar informações. É
uma voz monótona, que logo cansa os ouvintes.
- Má articulação das palavras: cada sílaba necessita ser pronunciada claramente,
com o destaque adequado (se átona ou tônica). A má pronunciação, em que os sons ficam

27
Por outro lado, deve se ter em mente que o Diretório do Culto de Westminster, de forma restritiva,
determinava que “A Leitura da Palavra na Igreja [...] será realizada pelos Pastores e Professores”. (O
DIRETÓRIO DO CULTO DE WESTMINSTER. São Paulo: Puritanos, 2000, p. 28). Consultar também o
Catecismo Maior, perguntas e respostas 156 e 158.
16

indistintos, facilmente induz o auditório a distrair-se, "desligando-se" do que o orador


pretende transmitir. Os exercícios de articulação exigem do praticante a movimentação
exagerada dos maxilares, uma vez que a pronúncia obscura se deve, em muitos casos, a
uma abertura muito pequena da boca.
- Perda de volume no final da frase: oradores que deixam o som "morrer" na(s)
sílaba(s) final(is) da frase impedem que os ouvintes captem todo o significado da fala.
- Volume muito baixo: em situações de ausência de sistemas de som, o pregador
precisa estar atento ao volume empregado, de maneira a se fazer ouvir por aqueles que se
acham mais afastados. (Mesmo quando há microfones e caixas de som, a dosagem
inadequada do volume de voz causa prejuízos à devida compreensão do discurso.)
- Voz gritada: este é o equívoco cometido por quem quer "falar forte" mas não usa a
técnica própria. A voz soa agressiva e áspera; a situação fica pior se todo o sermão é proferido
desta forma.
Embora os pregadores não sejam atores dramáticos, eles trabalham com emoções e
sentimentos, e não apenas com verdades que devam ser apreendidas tão somente pelo
intelecto. A voz é o instrumento por excelência para a comunicação dessa rica gama de
vivências que cerca a existência humana e a própria fé cristã. Na condução de todo o culto,
diferentes momentos exigem diferentes entonações. Estas nuances são transmitidas através de
inflexões adequadas da voz do oficiante.

Leituras complementares sugeridas

ALLEN, Ronald; BORROR, Gordon. Teologia da Adoração. Cap.6, p. 63-76.

HUSTAD, Donald P. Jubilate! A música na Igreja. Cap. 10, p. 163-184

SOARES, Regina Maria F.; PICCOLOTTO, Leslie. Técnicas de Impostação e Comunicação


Oral. 6 ed. São Paulo: Loyola, 2000.
17

Anexo ao Capítulo 3

A VOZ HUMANA: ÊNFASES E RECURSOS

Observações preparadas com o auxílio de Vera Lucia Guimarães Monteiro, a partir de curso
dado por César Collet (Curso de Dicção, novembro de 1966, em Rio Verde GO).

Por Califasia se designa a arte de tomar a palavra distinta, correta, expressiva e


agradável. A beleza e sentido de um discurso, de um sermão ou de uma declamação
dependem das variações da tonalidade da voz, das ênfases, do colorido dado à voz de quem
fala. O rosto deve falar com a boca, confirmando com a expressão da face a mensagem das
palavras.
Os recursos para enfatizar os significados contidos no texto envolvem a velocidade
com a qual se fala, a tessitura utilizada e o timbre empregado.

1. Velocidade

Não falamos sempre com a mesma velocidade. O medo ou a alegria afetam


sensivelmente a produção das palavras.
Voz lenta: serve para realce das idéias, para expressar medo ou hesitação.
Voz pausada: pode indicar paz, tranquilidade, controle, comedimento.
Voz rápida: usada para indicar aflição, angústia, ou o passar veloz dos próprios fatos.
Voz entrecortada: aponta para flutuação nos próprios sentimentos, ambivalências.

2. Tessitura

Por tessitura significamos a amplitude da voz, aguda ou grave, peculiar a cada pessoa.
O tom naturalmente usado por cada um é o seu diapasão. O tom inicial de um discurso deve
ser o mediano, ou o diapasão normal do orador.
Tons graves: indicam e expressam situações solenes, fúnebres, nefastas.
Tons agudos: usados para expressar pressa, complicação, aceleração da narrativa,
exarcebação das emoções, ênfase.
Elevação/descida em palavras da frase: as palavras de uma frase não recebem a
mesma inflexão. Normalmente, para fins de realce, algumas palavras recebem uma súbita
alteração de tessitura: são adjetivos, advérbios, palavras enfáticas, vocativos, interjeições.

3. Timbre

A tudo isto se acrescente um "colorido" especial que pode ser dado à voz, que
contribui para sua expressividade.
Voz de bronze: tom dramático.
Voz de prata: para indicar ternura, carinho.
Descritiva: tom seco, enumerativo.
Martelada: com articulações exageradas e rítmicas.
Voz irônica ou de zombaria: em tom afetado ou sarcástico.
Voz de admiração: com brilho e entusiasmo.
18

4 OS ELEMENTOS DO CULTO: A PALAVRA

O Catecismo de Heidelberg afirma, em linha com o ensino da Igreja já consolidado


naquele tempo; que o crente deve reconhecer ser da vontade de Deus que,

especialmente no dia festivo de descanso,


eu me congregue regularmente com o povo de Deus
para aprender da Palavra de Deus,
participar dos sacramentos,
orar a Deus publicamente,
e trazer ofertas cristãs aos pobres.28

É inegável a centralidade e a precedência da Palavra. Se reconhecemos a soberania


divina, sabemos que é Ele quem vem ao nosso encontro. A iniciativa sempre será dEle. O
teólogo europeu Jean-Jacques von Allmen fala a respeito disto, com muita clareza:

Todos os cristãos convêm em que a Palavra de Deus é elemento essencial e


indispensável do culto cristão. Sem ela, o culto não seria um encontro vivo e eficaz
entre Deus e seu povo, mas sim um monólogo ou diálogo entre homens tão-somente.
Não seria um milagre, pois a ação litúrgica da Igreja não seria um responso, mas sim
um tatear confuso, um mero anseio ou expressão de angústia. A Eucaristia não seria o
coroamento do culto, mas sim, na melhor das hipóteses, um enigma indecifrável ou, na
pior das hipóteses, um ato de magia. Portanto, se colocamos a Palavra de Deus em
primeiro lugar, não é com o intuito de fazer com que o culto se reduza a ela, mas sim
com a intenção de realçar o fato de que, sem ela, o culto cristão esvaziar-se-ia de sua
substância e perderia o traço que o separa de um culto não-cristão.29

Entretanto, a situação atual não evidencia esta centralidade da Palavra divina. As


leituras da Escritura nem sempre são valorizadas; na verdade, há muitos cultos nos quais a
única leitura é aquela que fundamenta o sermão. O problema não é apenas nosso. O
norteamericano Donald P. Hustad comenta:

Uma das características mais surpreendentes da adoração em certas igrejas evangélicas


é a escassez da leitura bíblica. Isto sem dúvida é reminiscência da herança do
reavivamento, onde o evangelista/ministro toma apenas um texto (ou lê uma passagem
curta) e depois prega um prolongado sermão a respeito daquele assunto. Este padrão é
claramente contrário ao exemplo dos cristãos primitivos, que continuaram o costume
da sinagoga de ler várias passagens do Antigo Testamento e de cantar os salmos, e que
também liam as cartas de Paulo, que circulavam entre as igrejas.30

A Palavra de Deus está presente no culto, de maneira direta, em diversas formas: na


leitura regular, na leitura para exposição, nas sentenças (saudação, convites, absolvição,
benção). Indiretamente, ela contagia todo o culto, manifestando-se também nos cânticos e nas
orações, bem como no sermão. Mais adiante, no Capítulo 6, será dada atenção específica ao
sermão e à sua inserção no todo da liturgia.

28
CATECISMO DE HEIDELBERG. Trad. Paulo Sérgio Gomes. Cosmópolis SP: edição do tradutor, 1996,
pergunta/resposta 103.
29
VON-ALLMEN, Jean-Jacques. O Culto Cristão. São Paulo:ASTE, 1964, p. 156.
30
HUSTAD, Donald P. Jubilate! A música na Igreja, P. 169.
19

4.1 TRADUÇÕES DA BÍBLIA

A Igreja Presbiteriana do Brasil não possui uma tradução "oficial". O que se percebe
entre as denominações evangélicas do país é uma preferência declarada por esta ou aquela
tradução. A tradução mais utilizada é a de João Ferreira de Almeida, tanto na versão corrigida
quanto na atualizada. Quem as escuta desde a infância aprendeu a apreciar suas cadências, a
decifrar a linguagem arcaica e as ordens inversas.
Entretanto, nem sempre o que se lê é compreendido. O povo brasileiro, via de regra,
possui um vocabulário inferior àquele presente na maior parte das traduções disponíveis no
mercado. Duas consequências, ambas lastimáveis: ou o ouvinte "desliga" enquanto a leitura
está sendo feita, ou entende erradamente, retirando conclusões estranhas ao texto.
A Confissão de Fé de Westminster insiste, fazendo referência aos livros das Escrituras,
que "esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde
chegarem".31 Daí a importância da adequada compreensão, por parte dos adoradores, da
porção da Escritura que está sendo lida. De fato, a "decifração" deve ser facilitada, de maneira
que o texto bíblico seja entendido, e isto não apenas por ocasião da pregação.
A tradução utilizada deve caracterizar-se por ritmo, beleza e dignidade. A leitura feita
com solene reverência, sem afetação, com atenção aos signíficados contidos no texto, torna-se
uma experiência benéfica não só do ponto de vista espiritual, mas também estético.
Assim, a tradução escolhida não precisa ser sempre a mesma. O pastor necessita ter,
em sua biblioteca, diversas traduções das Escrituras, para que, ao fazer as escolhas, seja
guiado pela necessidade de selecionar uma versão que seja, ao mesmo tempo, fiel ao texto
original e inteligível ao seu público. Uma das implicações de tal princípio é que, mudando o
público, também se pode mudar a tradução.

4.2 LEITURAS, ANTÍFONAS

Quando a leitura bíblica, em qualquer ponto do culto, é feita de maneira descuidada,


ela corre o risco de tornar-se mecânica, enfadonha e alienante. Algumas perguntas, portanto,
são adequadas, neste ponto de nossa reflexão.

O que ler? Podem ser notadas pelo menos três opções: há hinários que possuem leituras já
prontas, impressas no final ou entremeadas com os hinos. São exemplo o Hinário Evangélico
(hinário oficial da Igreja Metodista do Brasil) e o Hinário para o Culto Cristão (hinário
opcional das Igrejas Batistas). A segunda possibilidade são as leituras impressas
dominicalmente no boletim da igreja ou no corpo de um folheto contendo a liturgia do dia. A
terceira, são leituras previamente escolhidas, mas somente indicadas por ocasião do culto, e
lidas diretamente das Escrituras.
Muitas das leituras são feitas de forma alternada, em que o oficiante se alterna com a
congregação na leitura dos versículos, em sequência. Esta forma costuma ser chamada
também de "antífona".

Quantas leituras? Uma breve excursão histórica permite descobrir que, por muitos séculos, foi
regra a utilização de três leituras, conectadas entre si e extraídas do Antigo Testamento, das
Epístolas e dos Evangelhos. Este padrão praticamente desapareceu nas Igrejas Reformadas; o
Diretório de Culto de Westminster recomenda a leitura de um capítulo do Antigo Testamento

31
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. 7 ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1980, Cap I.VIII.
20

e em seguida um capítulo do Novo, em sequência.


Fica claro que, do ponto de vista teológico, a Palavra de Deus deve ser lida durante o
culto. Contudo, a maneira de colocar isto em prática precisa ser bem pensada, para evitar a
adesão a um princípio bom de forma ritualística e mecânica. Na próxima seção serão feitas
algumas considerações mais detalhadas sobre o assunto. Aqui, basta dizer que a escolha dos
textos a serem lidos deve ser feita com critério e sabedoria.

Como escolher o que ler? Encontramos dois sistemas padronizados que governam a escolha
dos textos a serem lidos: a lectio continua, exemplificada no Diretório do Culto, em que um
livro da Bíblia vai sendo lido, domingo após domingo; a lectio selecta, em que diferentes
textos são escolhidos de acordo com a conexão de mensagem existente entre eles,
exemplificada no Lecionário.
Quando nenhum destes sistemas é utilizado, a identificação das porções cabe tão-
somente ao preparador da liturgia. O princípio básico a ser seguido, e que permite evitar o
excessivo subjetivismo, é vincular a escolha do(s) texto(s) a um tema central, ou ao próprio
tema do sermão.

4.3 O USO DO LECIONÁRIO

"O lecionário consiste em um sistema organizado de leituras bíblicas para o culto, que
acompanha o desdobramento do ano litúrgico."32 Não há, portanto, um sistema único;
entretanto, em virtude do esforço conjunto de muitas igrejas cristãs de todo o mundo, chegou-
se a um Lecionário Comum, que o MANUAL DE CULTO da IPI apresenta em suas páginas
finais. Uma dessas leituras, muitas vezes, serve de base para o sermão a ser pregado naquele
culto.
São citadas três porções a serem lidas no culto: textos do Antigo Testamento, das
Epístolas e dos Evangelhos. Tem sido acrescentado, recentemente, trecho do livro de Salmos,
que pode ser usado na forma de cântico. O ciclo possui abrangência trienal, e procura cobrir
toda a "história da salvação", dando também destaque para as grandes datas do calendário
cristão(lectio selecta).
Entre os benefícios resultantes do uso do Lecionário podem ser apontados:
- permite a audição pelos adoradores de textos bíblicos que ficam "esquecidos", ao lado da
recordação das porções "clássicas" e bem conhecidas;
- permite o uso dos textos como base do sermão, incentivando a exposição coordenada das
Escrituras Sagradas, e criando no pregador maior disciplina;
- evita o excessivo subjetivismo em que a escolha dos textos lidos e pregados dependa
exclusivamente dos interesses do pregador;
- facilita o planejamento do culto, integrando pastor e demais colaboradores num projeto
litúrgico mais harmônico.

4.4 SENTENÇAS ESCRITURÍSTICAS

Calvino costumava iniciar o culto citando o Salmo 124.8: "O nosso socorro está em o
nome do Senhor, Criador do céu e da terra". Normalmente, uma sentença breve da Escritura é
usada para dar início à parte falada da celebração.
Há textos que servem como uma saudação ou uma recordação de que estamos na
presença de Deus. Ligam-se, naturalmente, àqueles que desafiam os fiéis a prestarem a Deus o
culto que Lhe é devido. Temos, aqui, o convite à adoração.

32
MANUAL DO CULTO IPI, p. 320.
21

Via de regra, ao proferir estas sentenças iniciais, o pregador não cita o local onde estão
os versículos. Fala, solenemente, desafiando ao povo a comparecer nos átrios de Deus com
reverência e louvor. Não há sentido numa prática que vai se disseminando de dizer, ao se abrir
o culto, apenas um "boa-noite".
Os momentos de confissão devem ser igualmente precedidos/preparados por um texto
da Palavra de Deus. Deve haver balanceamento entre o reconhecimento de nossa pecaminosi -
dade e a disposição divina de ouvir e perdoar. Sentenças da Escritura que anunciam o perdão
divino têm o seu lugar ao término da confissão. Falam da absolvição.
Ao encerrar o culto, é privilégio do pastor abençoar o povo, despedindo-o em paz para
suas casas. Os Reformadores (Lutero, Calvino, Zuínglio) mostraram predileção pela Benção
Aaraônica (Nm 6.24-26). O motivo é interessante: imaginavam eles que ela fora utilizada pelo
Senhor Jesus na Ascenção. Se utilizada, é preferível alterar a pessoa verbal para o plural ("O
Senhor vos abençoe"). A Benção Trinitária (2 Co 13.13) pode ser antecedida de uma
Doxologia, sendo um dos exemplos mais usados Jd 24.
O fraseado da Benção, embora deva reter elevado padrão teológico, não precisa seguir
ipsis litteris os textos bíblicos. A criatividade de cada um há de permitir a redação de textos
expressivos e pessoais.

Leituras complementares sugeridas

MANUAL DE CULTO IPI, p. 261-273.

VON ALLMEN, Jean-Jacques. O Culto Cristão, p. 156-173.


22

5 OS ELEMENTOS DO CULTO: AS ORAÇÕES

Na oração o crente se dirige a Deus. Não a qualquer divindade, mas ao seu próprio
Deus, Aquele que o criou e em quem crê. É da essência da fé cristã que Deus seja buscado
pelos fiéis, que expressam seus louvores e seus sentimentos diante do Altíssimo.
A tradição cristã divide a prática da oração em individual ou privada e comunitária ou
coletiva. Seria adequado, talvez, expandir esta classificação da seguinte forma:
- Oração individual ou privada - são as preces feitas no "quarto secreto", quando o
crente, sozinho, se vê diante de Deus e Lhe abre inteiramente o coração. São palavras
pessoais, carregadas de sentimentos, momentos nos quais o fiel expõe os fatos mais íntimos
de sua vida. Expectativas mais nobres ou pecados mais vergonhosos - tudo é apresentado
diante do trono da graça de Deus. Esta oração é essencial para a vida cristã.
- Oração em pequenos grupos - de fato, este é um dos aspectos da oração comunitária;
entretanto, merece um destaque especial. Em um grupo pequeno e acolhedor as orações
tendem a ser pessoais e calorosas, permitindo que os participantes se apoiem mutuamente e se
estimulem à prática do bem e às boas obras.
- Oração comunitária, coletiva ou cúltica - esta oração é aquela que ocorre nas
celebrações em que o povo de Deus se reúne para prestar culto ao seu Senhor. As variadas
preces resumem e expressam o sentimento da comunidade; são veículo das necessidades
daquele grupo que integra o Corpo de Cristo.
Fica claro que todos os cristãos precisam experimentar estas três dimensões da vida de
oração. O modo de orar, porém, passa por algumas mudanças em razão do contexto em que
acontece. Por não perceberem isto, muitos crentes agem na falsa expectativa de que o culto
público deva suprir a totalidade de suas necessidades, no que diz respeito à vida de oração.
O interesse maior, neste estudo, são as orações proferidas nos cultos. Na oração
pública quem ora é porta-voz da comunidade. O porta-voz representa um grupo e fala em
nome de sues integrantes, e não em nome pessoal.

5.1 TIPOS DE ORAÇÃO

As orações podem ser classificadas de acordo com o assunto que contém. Especial-
mente no culto, a questão da temática das orações ganha vulto e tem importância. Seguimos
de perto a classificação oferecida por Raymond Abba:33

(1) Adoração. Consiste no humilde reconhecimento de Deus como Deus, expressando a


atitude própria da criatura na presença do seu Criador. Esta oração não coleciona pedidos,
mas tem o seu foco em Deus, em Sua grandeza e em Seus atributos.
(2) Invocação. Nesta oração o povo de Deus roga a Sua assistência no culto que Lhe é
prestado. Tem o seu lugar naturalmente como parte das orações de aproximação que fazem
parte do início do culto. Não é um pedido para que Deus se faça espacialmente presente onde
não estivera até o momento, pois isto seria um absurdo; é uma súplica específica, na qual se
roga que a assessoria sobrenatural esteja sobre todos.
(3) Confissão. Eis um tema essencial para que o ato de culto seja completo. Juntamente com a
oração de confissão são apresentados a Deus pedidos por perdão e suplicações por graça. É
evidente que, nesta oração, não serão mencionados detalhes dos pecados individuais, pois
pertencem aos momentos da oração pessoal e secreta de cada um. Após a confissão deve estar
presente alguma forma de Absolvição ou alguma declaração bíblica sobre a Certeza do Perdão
(as Palavras de Conforto mencionadas nos antigos documentos litúrgicos).

33
ABBA, Raymond. Principles of Christian Worship. New York: Oxford University Press, 1966, p. 87-96.
23

(4) Ação de graças. É a resposta natural da congregação adoradora à declaração de que a


graça de Deus abundou em Seu Filho Jesus Cristo. Esta é uma das marcas características do
culto cristão. A gratidão pela redenção precisa estar sempre presente, como o clímax da ação
de graças.
(5) Súplicas. Aqui se agrupam os pedidos; neste caso, temos as petições subjetivas, pois
oramos pelas nossas próprias necessidades.
(6). Intercessão. Oração de petição objetiva; são os pedidos pelas necessidades alheias. São
preces feitas pela Igreja, governantes, país, doentes, e muitas outras. Pode tomar a forma de
uma "longa oração", ou pode ser partida em uma série de orações, seguindo o padrão de
pedidos anunciados pelo oficiante e pausados por instantes de silêncio.
(7). Iluminação. Na liturgia genebrina a pregação da Palavra era antecedida por uma Oração
por Iluminação, prática que se tornou tradicional nas Igrejas Reformadas. Assume a forma de
uma breve invocação ao Espírito Santo.
(8). Oblação. O crente se oferece ao seu Senhor, não como indivíduo isolado, mas como
membro do Corpo de Cristo. A dedicação ou consagração, portanto, se torna num clímax da
oração coletiva.
Na classificação apresentada por Raymond Abba ainda surge um nono item que, à
primeira vista, soa bastante estranho, em nossa cultura protestante brasileira que herdou
violentas polêmicas com o culto católico: trata-se da comemoração dos fiéis falecidos. Um
exame atento do que o autor pretende com tal classificação, contudo, leva-nos a perceber sua
intenção: a importância de que os fiéis sejam lembrados de que a comunhão dos santos é uma
realidade espiritual. A comunidade local torna-se una com toda a Igreja, militante na terra e
triunfante nos céus. É uma agradecida lembrança daqueles que partiram para estar com
Cristo.
Nesta classificação não se põem em evidência as orações de louvor. Embora possam
ser consideradas como integrando as orações de adoração, os louvores celebram de maneira
mais específica os feitos de Deus. Neste sentido, podem até fazer parte das orações de ação de
graças, que também celebram as bênçãos divinas.

5.2 ORAÇÕES ESCRITAS E ESPONTÂNEAS

Em certos ritos prevalece o uso de orações prontas, perenizadas nas liturgias e próprias
para cada ocasião. Como foi visto anteriormente, a Reforma do Século XVI não rompeu de
todo com a tradição católica que privilegia as orações escritas. O Diretório de Culto de
Westminster tem espaço para as orações escritas ou litúrgicas e para as orações livres.
As orações extemporâneas são aqueles proferidas sem preparo antecipado, de
maneira espontânea. Esquematicamente, eis algumas das qualidades e defeitos de cada tipo:

Orações litúrgicas ou escritas


QUALIDADES
1. Protege a congregação de ficar à mercê do temperamento do seu ministro.
2. Une a comunidade com os fiéis de outras épocas.
3. Permite a utilização de linguagem com fundamentos bíblicos e de boa redação.
DEFEITOS
1. Impede a livre manifestação do Espírito; tolhe a espontaneidade.
2. 'Não consegue expressar a situação do momento enfrentado pela comunidade.
3. Favorece a repetição mecânica e hipócrita.
24

Orações livres ou extemporâneas


QUALIDADES
1. É espontânea, permitindo responder aos movimentos do Espírito.
2. Permite recolher e expressar os sentimentos daquele instante.
3. Surge da experiência pessoal e íntima com Deus por parte daquele que ora.
DEFEITOS
1. Corre o risco de ser didática, dirigida ao povo, e não a Deus ("oração carapuça")
2. Falta-lhe, muitas vezes, dignidade e ordem; permite orações confusas e desconexas.
3. Apesar da apregoada espontaneidade, também segue padrões estereotipados e clichês.

Assim, em nossa situação brasileira, vemo-nos diante da questão: há lugar em nossos


cultos para orações escritas? Haverá quem brade um sonoro NÃO! A alegação básica é de que
isto tolhe a livre manifestação do Espírito. Mas surge a pergunta: não pode o Espírito assistir
aquele que redige a oração, de sorte a compor texto que sirva de veículo para os sentimentos
dos adoradores diante de Deus?
É também prudente considerar que o pregador elabora cuidadosamente a sua
mensagem, e prepara pelo menos um esboço. Encontramos quem o escreve inteiramente. Ele
faz isto guiado pelo Espírito, que distribui sua sobrenatural assistência no silêncio de um
escritório pastoral. Semelhantemente, os músicos se esmeram na coordenação de suas partes e
entradas, de modo que não haja vacilação, e todos toquem ou cantem de maneira adequada.
Evidentemente não estamos pensando aqui em orações que, uma vez redigidas, devam
ser usadas domingo após domingo. O ponto a analisar é a oportunidade e a sábia utilização,
em dados momentos e ocasiões adequadas, de orações escritas.

5.3 FORMAS DE ORAÇÃO

Dentre as formas consagradas pela tradição, duas há que podem ser utilizadas em
nossas liturgias: as coletas e as litanias.

Coletas. É uma forma de oração breve e concisa, governada por rigorosas leis de construção.
Eis um exemplo:

Ó Deus,
que unes as almas dos fieis em uma só vontade,
concede ao teu povo que amem o que ordenas e desejem o que prometes,
a fim de que, por entre as inconstâncias deste mundo, se fixem nossos corações
onde estão as verdadeiras alegrias.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, teu Filho, que sendo Deus, conosco vive
e reina em união com o Espírito Santo por todos os séculos dos
séculos. Amém.34

A estrutura da coleta segue sempre o mesmo padrão:

1. Invocação a Deus
2. Cláusula relativa referindo-se a alguma característica de Deus
3. Petição
4. Declaração de propósito da petição
5. Conclusão ou Doxologia.

34
AMIOT, François. A Missa e sua História. São Paulo: Flamboyant, 1958, p. 42-45.
25

Em que circunstâncias esse tipo de oração pode ser usado em nossos cultos?
Basicamente, duas situações:
- pelo próprio oficiante, em ocasiões que ele próprio vá orar, apresentando diante de Deus, de
forma compacta, os anseios da comunidade (p. ex., como fecho aos momentos de confissão
silenciosa, como oração por iluminação);
- impressa no boletim ou na ordem de culto, para ser proferida por toda a igreja

Litanias. Do ponto de vista estritamente litúrgico, a litania é uma oração em que petições são
proferidas pelo celebrante, e a congregação responde com uma frase padrão (p. ex. "Senhor,
tem misericórdia de nós", o antiquíssimo Kyrie eleison). Podemos usar o termo, de forma
mais ampla, para designar orações escritas que são lidas de maneira alternada, não apenas
para uso nos momentos de confissão, mas em outras ocasiões, no decorrer do culto.
Os textos a serem escolhidos ou preparados devem, portanto, concentrar-se em um
tema básico; a linguagem e o fraseado empregados devem reunir, simultaneamente, dignidade
e compreensibilidade. Em muitos casos, uma litania já pronta necessitará ser adaptada pelo
oficiante, caso os termos nela empregados não integrem o vocabulário dos adoradores.
Quando pensamos em orações escritas não precisamos nos limitar a estas duas formas.
São encontradas excelentes orações, de estruturas mais livres, e que servem de veículo para os
sentimentos da comunidade. Lamentavelmente, em nossa cultura brasileira, não surgem com
frequência obras contendo orações. Algumas fontes são citadas no final do capítulo.
A comemoração de datas especiais é circunstância propícia para o emprego de orações
escritas. São exemplos: Dia das Mães, Dia dos Pais, Dedicação do Templo, Dia de Ação de
Graças, entre outras.

5.4 AS CONFISSÕES DE FÉ; OS CREDOS DA IGREJA

Breve palavra sobre o uso dos Credos no culto. Eles são um resumo da fé cristã,
condensando os pontos básicos daquilo que a Igreja ensina. São, ao mesmo tempo, uma
proclamação aos homens e uma oração a Deus. Raramente o Credo Niceno ou Credos
modernos são utilizados, tanto em virtude da falta dos textos em nossos hinários como pela
aversão a textos impressos.
A utilização de qualquer texto como meio da comunidade confessar sua fé deve ser
precedida de clara explicação e convincente desafio. Uma congregação amadurecida irá
encontrar proveito em declarar, de forma firme e audível, suas convicções.

Leituras complementares sugeridas

Textos gerais

HUSTAD, Donald P. Jubilate!, p. 168-172.

VON ALLMEN, Jean-Jacques. O Culto Cristão, p. 183-195.

Livros gerais sobre oração

FOSDICK, Harry Emerson. O Significado da Oração. São Paulo: Imprensa Metodista, 1941.
26

FOSTER, Richard J. Oração: o Refúgio da Alma. Campinas: Cristã Unida, 1996.


HALLESBY, O. Oração. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1963.

Livros contendo orações escritas

GESCH, Roy G. Uma Esposa Ora. Porto Alegre: Concórdia, s/d.

MANUAL DO CULTO IPI.

MATHIAS, Myrtes. Deus fala na sombra. Rio: JUERP, 1985.

______ Semente na Terra .Rio: JUERP, 1990.

MOTA, Jorge César (Ed.). Laudate Deum. Edição do autor, 1958.

QUOIST, Michel. Poemas para rezar São Paulo: Duas Cidades, 1958.
ORAÇÕES COMENTADAS

As orações abaixo estão sendo objeto de comentário, para ajudar a entender a estrutura de
uma oração no formato de coleta.
Deve-se notar, sempre, que a coleta é uma oração breve, concisa, contendo um só pedido
e sua justificativa.

Exemplo 1

Deus querido, coloco diante de Ti a minha família, A A'


consciente das nossas falhas e imperfeições,
mas confiante no teu amor e na sua misericórdia por nós. B
Obrigado por derramar sobre nós a tua maravilhosa graça e perdão.
Permita que continuemos firmes contigo CC'
e que vivamos dentro do teu propósito para nossas vidas, agora e sempre.
Oro em nome de Jesus Cristo, meu Salvador. Amém.

Esta oração, com uma excelente proposta, NÂO é uma coleta.

A - Recomenda-se o uso do plural, para uma oração que será feita por TODA a comunidade,
e não apenas por uma pessoa.
A' - Toda coleta, após a invocação a Deus, deve conter uma referência a algum atributo ou a
alguma ação de Deus.
B - Cuidado para não misturar os pronomes: na mesma linha há teu e depois seu. Nossa
prática é dirigir-nos a Deus como tu. Assim, todos os pronomes e verbos devem pertencer à
segunda pessoa do singular.
C - Novamente uma questão gramatical. Conjuge: qual é o imperativo afirmativo do verbo
permitir? Ele corresponde ao presente do indicativo, tu permites, com a retirada da letra "s"
final: permite (tu).
C' - Aqui há um pedido e uma justificativa, que fazem lembrar elementos necessários para
uma coleta.

Exemplo 2

Ó supremo Rei, A
que governas o teu povo com mão poderosa, B
manifesta a tua glória no meio desta nação que é o Brasil, C
a fim de que, por meio das dificuldades enfrentadas por nós, D
voltemos nosso olhar a Ti, Rei Soberano. E
Em nome de seu Filho Unigênito, príncipe justo e bondoso, F
a quem damos toda honra e louvor pelos séculos dos séculos. Amém.

Esta oração é, satisfatoriamente, uma coleta.

A - Deus é invocado. Na verdade, já há um atributo dele sendo mencionado, supremo.


B - Cláusula relativa, isto é, que é iniciado por um pronome relativo (que, quem, cujo, qual).
São pronomes que estabelecem a relação com um conceito anterior, fazem a conexão.
C - Segue-se um pedido. Confirme se o verbo está correto, na segunda pessoa, ou não!
D - O pedido é justificado. É dada uma razão para ele. O verbo está no plural.
E - "Voltemos nosso olhar" é quase um segundo pedido. Cuidado para não incluir uma
segunda petição. O padrão da coleta restringe a um só pedido e sua justificativa.
F - A conclusão é um tanto longa, mas aceitável.

Exemplo 3

Ó Senhor Deus, A
que conduziste teu povo antigo através do deserto e o levaste à terra prometida, B
guia o povo da Tua igreja C
para que, seguindo nosso Salvador, possamos andar através do deserto deste mundo em
direção à glória do mundo que está por vir; D
através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo,
um só Deus, agora e sempre. Amém. (Lecionário. Ano A 2019-2020, p. 30) E

Esta oração segue o padrão da coleta.

A - Há a invocação a Deus.
B - Vejam que se destaca não um atributo divino, mas uma ação divina e concreta na
história.
C - Um só pedido.
D - Uma justificativa que leva em conta o que se diz na cláusula relativa. Verno no plural.
E - O fecho ou conclusão.
27

6 OS ELEMENTOS DO CULTO: CÂNTICOS E MÚSICA

Em 1899 foi publicada a terceira edição do Psalmos e Hymnos com Musicas Sacras.
Com 500 hinos, possuía o dobro do material disponível na edição anterior, de dez anos antes.
Quem quisesse saber como soavam os novos hinos precisava da ajuda de alguém que
soubesse ler música, para tocar ou solfejar o novo cântico.
Hoje, a situação é bem diversa. Na segunda metade do Século 20 o acesso à música
gravada causou uma grande revolução. Os discos permitiram a rápida divulgação de novas
músicas. Com o avanço da tecnologia, ficou para trás o disco de vinil, e surgiu o compact-
disc. Nós, que estamos imersos nesta revolução, nem sempre nos apercebemos das mudanças
trazidas. No passado, uma bela apresentação coral ficava apenas na memória, para ser descrita
às gerações vindouras; hoje, ela é perenizada em uma fita de vídeo ou similar. E é espantosa a
velocidade de sua divulgação, caso caia no gosto do público.
Qual é o significado da música? Livros e livros têm sido escritos sobre o assunto. São
muitas as questões relacionadas com a estética musical e, consequentemente, com a discussão
do que é “belo” em música e na arte em geral. Donald P. Hustad discute e condensa algumas
idéias sobre o tema. 35
- a música afeta o comportamento humano, para o bem ou para o mal (a música como
ethos);
- a música tem uma relação sobejamente importante com as emoções humanas (a
música como a linguagem das emoções);
- a música traz prazer aos ouvintes e/ou participantes;
- a música apoia o sistema de valores de uma sociedade (música como reforço
cultural).

O uso da música no culto a Deus, portanto, reveste-se de grande valor. São abundantes
as referências bíblicas ao assunto, mostrando o seu lugar como meio de expressão e,
certamente, de reforço dos valores espirituais envolvidos. Deve ser dada atenção especial
tanto à música como também ao texto vinculado; daí a análise, separadamente, destes pontos.

6.1 O TEXTO

Os hinos e cânticos utilizados pela Igreja Cristã possuem diversos temas e destinações.
A classificação feita no capítulo anterior sobre os tipos de oração também cabe aqui. Todos
estes tipos estão representados em nossos cânticos. Afinal, Calvino já ensinava que os hinos
são “oração cantada”.
Podem ainda, serem feitos os seguintes acréscimos:
- hinos de testemunho: narra-se a experiência pela qual o poeta passou:
- hinos de apelo: há uma forte insistência na decisão por Cristo;
- hinos didáticos: servem para o ensino, quer de doutrina, quer de história bíblica.
Alguns ângulos que devem ser levados em conta no exame e escolha dos hinos e
cânticos são:
- Análise gramatical: é necessária clareza da linguagem e das idéias. As palavras empregadas
devem ser, em sua maioria, conhecidas do povo. A ordem gramatical inversa, presente em
muitos hinos, obscurece o sentido do texto. As figuras e os símbolos empregados precisam ser
adequados e inteligíveis. Atualmente, encontram-se muitos cânticos que fazem uso de
linguagem figurada em grau tão intenso que a compreensão do ensino deles é prejudicada.

35
HUSTAD, D. P., - Jubilate! A Música na Igreja, pag. 24-27.
28

Erros gramaticais não devem ser tolerados; problemas da espécie, lamentavelmente, têm sido
abundantes.
- Análise teológica: as declarações do texto necessitam adequar-se a uma teologia sadia, com
a devida fundamentação bíblica. Textos para uso congregacional requerem uma linguagem
própria para expressar os sentimentos ou anseios da comunidade (nem todos os textos de
caráter religioso são próprios para o uso no culto). O uso de figuras ou expressões
provenientes do Antigo Testamento devem ser balanceadas pelo ensino do Novo Testamento.
A ação proposta pelo texto precisa coadunar-se com a presença cristã no mundo, sem
escapismos, relação de troca com Deus ou excessivo individualismo.
- Análise musical: a melodia deve ser acessível ao crente, com intervalos e figuras rítmicas
adequados. Há cânticos e até hinos que, preferivelmente, devem ser entoados apenas por um
grupo treinado. A métrica do texto precisa coincidir com a acentuação musical. Se a música
chama em demasia a atenção para ela própria, há um desvirtuamento de sua utilização.

6.2 A MÚSICA

Há muitos estilos musicais. Com frequência, a opção por um ou outro estilo depende
da música que a pessoa ouviu desde sua infância. Isto enfatiza o aspecto sociocultural das
linguagens musicais. A questão do gosto musical, portanto, é crucial. Isto não significa que
uma comunidade deva optar por um estilo só; na verdade, ela é composta de pessoas oriundas
de diferentes contextos musico-culturais. Além disso, sempre é tempo de aprender e apreciar
novas formas musicais.
Por outro lado, não se pode, simplesmente, importar um estilo que é popular fora da
igreja, e trazê-lo para dentro das igrejas. Há que se preservar as linguagens musicais presentes
na tradição histórica de cada denominação. Este é um assunto que tem causado infindas
discussões, e não permite a adoção de soluções simplistas ou autoritárias.
A música e o texto precisam “casar bem”. Isto significa que o tipo de emoção que a
música, sozinha, desencadeia, deve ser compatível com o sentimento do texto. Um exemplo
negativo, até pouco tempo muito costumeiro, era o uso da música ADESTE FIDELIS
(normalmente associada com o hino natalino “Ó, vinde, fiéis”) com o hino da Paixão “Ó, vós
que passais pela Cruz do Calvário”.
A melodia precisa ser cantável. Há frases musicais que apresentam dificuldades para o
crente mediano de nossas igrejas. Ora são sequências rítmicas muito complexas, ora são
intervalos ou sequências melódicas de difícil entoação. Tais peças devem ser entregues, via de
regra, a cantores com maior treino ou a grupos mais preparados (corais ou conjuntos).
O equilíbrio entre a emoção e a dignidade deve ser buscado. Há músicas que
apresentam evidentes exageros sentimentais, desencadeando uma piedade piegas e
excessivamente subjetiva. Este perigo afeta muitos solistas, que interpretam os hinos ou
cânticos de maneira demasiadamente emotiva. Tais exageros chamam a atenção para o cantor
e afastam o ouvinte de um encontro com Deus.

6.3 A ESCOLHA DE HINOS E CÂNTICOS

O aspecto mais importante certamente é a adequação com o momento do culto. Neste


caso, prevalece o conteúdo do texto e não o prazer da música. O desenvolvimento da liturgia
significa a passagem por diversas atitudes diante de Deus; os hinos ou os cânticos escolhidos,
em cada seção, devem sublinhar e expressar o posicionamento do adorador. O preparador da
liturgia precisa ter consciência clara do que quer, senão seu culto se assemelhará mais a um
“programa de variedades”, com partes desconexas.
29

Uma outra dimensão a considerar é a necessária variedade de estilos e intérpretes.


Considerando a natural diversidade dos adoradores que estão presentes ao culto dominical, o
uso de um só tipo de música impede a boa participação daqueles que não se identificam muito
com ela. Daí, não ser bom usar apenas hinos, ou apenas cânticos, em uma liturgia. Se a
comunidade possui diversos intérpretes musicais (coral, conjunto de jovens, conjunto de
crianças, solistas), a participação deles deve ser planejada e incentivada, com vistas a obter a
variedade desejada.

6.4 BREVES OBSERVAÇÕES CRÍTICAS

Ao se levar em conta as observações feitas acima, alguns problemas já se colocam


claramente. Há o perigo do uso de um só tipo, criando uma espécie de “ditadura musical”. A
falta de variação temática também empobrece o culto É lamentável a proliferação de
“cânticos de guerra”, nos quais a linguagem da batalha prevalece sobre aspectos mais
importantes da vida cristã, especialmente aqueles que falam do reconhecimento dos pecados e
do envolvimento positivo com as necessidades do próximo.
Um grande risco é o confinamento da congregação aos “hinos e cânticos prediletos”.
O hinário é pouco conhecido, de sorte que uma pequena fração dos hinos ali contidos é usada.
Domingo após domingo, a variedade é ínfima. O mesmo se pode dizer da utilização
continuada de cânticos e corinhos. O ensino de peças novas, portanto, se impõe como uma
necessidade, para poder apresentar-se ao adorador novos textos e novos meios de expressar os
seus sentimentos e compromissos diante do Criador.
Nossa época mostra um acentuado culto das emoções e das sensações físicas causadas
pela música. Tal emocionalismo doentio tem invadido nossas igrejas, levando intérpretes e
ouvintes ao prazer com a coisa-em-si, embora pretendam ser isso culto a Deus. Um exemplo
conhecido: o hino “Barnabé, Homem de Deus”, de Guilherme Kerr Neto e Jorge Rehder,
possui letra muito incisiva, apontando para o compromisso que deve haver entre os irmãos.
Por que alcançou sucesso e foi tão cantado? Por causa do ritmo vibrante de sua execução;
apenas por isso.
Uma observação, ainda que breve, sobre os chamados “momentos de louvor”: muito
cuidado deve ser tomado para que eles não se torne momentos de alienação. A ênfase no
“prazer”, como apontado acima, é um dos riscos. Há comunidades nas quais os mais velhos se
sentem excluídos, porque não conseguem cantar as melodias novas e, em razão da longa
duração de tais “momentos”, não conseguem ficar em pé. Persiste o culto ao “som possante”,
de tal modo que o volume das caixas de som costuma ser ensurdecedor. Há comunidades que
se reúnem em pequenos salões, onde seria desnecessário todo este aparato. Mas, ao que
parece, dá “status” mostrar um grande volume. Quem fica submetido a volume alto de som
apresenta, facilmente, perda momentânea ou permanente do nível de audição, além de
esgotamento físico.

6.5 A MÚSICA SEM TEXTO

Os prelúdios são o grande exemplo da música sem palavras usada em nossas igrejas.
Para que servem? Eles devem contribuir para o recolhimento individual do adorador,
preparando-o melhor para prestar culto a Deus. Assim, ele é parte do culto, e não uma mera
“marcha de entrada” que indica que o pastor vai subir ao púlpito.

Alguns requisitos: o volume do(s) instrumento(s) deve ser discreto, pois a música aqui
é “música de fundo”. Para que a atenção do adorador não se prenda ao que está sendo tocado,
30

recomenda-se não utilizar hinos conhecidos; neste caso, o texto, inadvertidamente, começa a
ser “cantado” interiormente, afetando as orações feitas no coração.
Os músicos devem apresentar o melhor para Deus (Sl 33.3b). Entretanto, o prelúdio
não é ocasião para exibição de virtuosismo, mas sim, momento para edificação espiritual. A
utilização de peças do repertório organístico provenientes do período barroco e clássico pode
ser feita, pois há excelentes obras de diversos compositores. Se a congregação, normalmente,
não está acostumada com tais obras, seria prudente haver alternâncias de estilos musicais.
Os poslúdios encerram o culto. Devem contribuir para a decisão final do adorador,
diante do Deus Todo Poderoso que acabou de cultuar. Há muitas igrejas que têm
implementado, com êxito, a prática de silêncio enquanto o poslúdio é tocado. Isto significa
que o pastor só se dirige para a porta do templo quando o execução musical termina. Nestes
casos, o organista é orientado para usar peça não muito longa; quando ele a termina, o pastor
se levanta e o organista toca novamente a mesma peça, desta vez já tendo como fundo o
burburinho daqueles que estão se retirando do templo.
E quanto à música de fundo? Encontramos seu uso em duas ocasiões específicas do
culto: na oração silenciosa e durante a distribuição dos elementos da Ceia. Variam as posições
sobre o assunto. Durante a oração silenciosa de confissão é preferível não haver qualquer tipo
de execução musical, para que a atenção do confessante se dirija tão somente para sua prece.
Na celebração da Ceia, havendo possibilidade, a execução de música em surdina pode ser
indicada. Prevalece, contudo, a recomendação de que não sejam utilizadas melodias
conhecidas.

6.6 HINÁRIOS E COLETÂNEAS DISPONÍVEIS

O primeiro hinário preparado em língua portuguesa para uso das igrejas evangélicas
do Brasil foi o Salmos e Hinos. Sua primeira edição surgiu em 1861, sob a responsabilidade
do Dr. Robert R. Kalley e sua esposa, D. Sarah P. Kalley, missionários congregacionais e
pioneiros do trabalho evangélico no país. Diversas edições foram sendo feitas, e de grande
valor foi a colaboração do Dr. João Gomes da Rocha, filho adotivo do casal. A edição revista
e aumentada de 1919 (4a. edição) tornou-se o hinário largamente usado pelo Brasil afora, com
608 hinos. Em 1975, após um trabalho de muitos anos, foi publicada uma nova edição, a
quinta, com 652 títulos. Muitos cânticos mais recentes foram incorporados, além da realização
de grande esforço para eliminar erros, vícios e defeitos existentes na edição anterior.
Os irmãos batistas tiveram no pastor Salomão L. Ginsburg o dedicado editor do
hinário denominado Cantor Cristão. Sua primeira edição foi em 1891, na cidade de Recife, e
continha a letra de apenas 16 hinos. Sucessivas edições acrescentaram novos hinos, muitos
deles comuns ao outro hinário já existente (o Salmos e Hinos). Finalmente, a 18a. edição, em
1924, com as partituras dos hinos, fixou a coletânea, mantida praticamente intacta até 1971,
quando a 36a. edição foi lançada. O número atual de títulos é de 581 hinos.
A Confederação Evangélica do Brasil procurou criar um novo hinário, que
representasse uma necessária revisão do Salmos e Hinos e fosse utilizado pelas diversas
denominações a ela filiadas. O resultado foi o Hinário Evangélico. O volume contendo as
partituras completas surgiu em 1952, embora tenha havido, anteriormente, uma edição em
formato pequeno contendo as melodias apenas. Esta 1a. edição, com 230 hinos, foi substituida
no início da década de 60 por volume com 500 hinos. Os exemplares publicados somente com
as letras também contêm leituras bíblicas adequadas para o culto, denominadas Antífonas.
Atualmente, é o hinário oficial da Igreja Metodista. Há exemplares que trazem o Ritual usado
pela referida denominação.
Os esforços presbiterianos para a criação de um hinário para uso da denominação
levaram muitos anos para sua concretização. Já na década de 40 circulava um Novo Hinário,
31

cuja circulação e utilização foi muito restrita. A partir de 1974 a Profa. Atenilde Cunha
coordenou os trabalhos que resultaram no Novo Cântico, inicialmente divulgado como
Hinário Presbiteriano. As primeiras edições, contendo apenas o texto, necessitaram de novas
reformas; a edição com música veio a público em 1991, com 405 hinos.
Todas estas coletâneas apresentam um grande número de músicas estrangeiras. São
poucas as composições de autores nacionais, e os textos são, em sua maioria, traduções de
poemas de outras línguas, especialmente do inglês. Assim, a maior parte dos hinos cantados
pelas igrejas que fazem uso de algum destes hinários provém de outra cultura, influenciando e
moldando a maneira de cantar das igrejas brasileiras.
Um projeto desenvolvido pela Convenção Batista Brasileira permitiu que fosse
publicado o Hinário para o Culto Cristão. Surgida em 1990, esta nova coletânea possui 441
hinos e 172 leituras, agrupados em uma única sequência. Há 166 hinos provenientes do
Cantor Cristão, ao lado de muitos outros escritos ou compostos por músicos brasileiros, ainda
vivos e atuantes. Convivem, portanto, hinos antigos e novos, ritmos tradicionais e frases
sincopadas e vívidas.
Estas coletâneas mencionadas integram o grupo dos hinários ditos “oficiais”.
Atualmente, diante da facilidade de publicação e divulgação, têm surgido muitas outras
coletâneas, tanto para uso coral como para uso de grupos e conjuntos. Na verdade, este último
segmento tem crescido muitissimo, e a forma de disseminação dos novos cânticos dispensa o
texto musical impresso. As novas canções se reproduzem por meio de folhas manuscritas
cifradas, de CDs, e através da memória dos seus cantores.
Tal situação mostra um acentuado paralelismo com aquilo que também acontece na
música secular: o caráter efêmero de muitas peças, que alcançam um pico e depois
mergulham no esquecimento. Saem da “parada de sucessos da música evangélica”.

6.7 EXPLORANDO O NOVO CÂNTICO

O hinário oficial de nossa denominação necessita ser conhecido por aqueles que fazem
uso dele. Mesmo quem não saiba distinguir uma simples nota musical encontra proveito no
exame dos índices existentes no exemplar com músicas. Em primeiro lugar, sua Introdução
condensa informações a respeito da estrutura seguida na distribuição dos hinos. A consulta ao
índice de Conteúdo permite identificar os temas centrais sob os quais foram agrupados os
textos, e facilita a escolha, pelo elaborador da liturgia, dos hinos apropriados ao momento do
culto. Espalhadas por toda a coletânea há notas, com dados a respeito de hinos ou de seus
autores. Alguns destes pontos podem ser compartilhados com a igreja.
No final do hinário há outros índices. Ali podem ser encontradas informações sobre os
autores das letras e seus tradutores, sobre os compositores e arranjadores. Muitos hinos
mostram claramente terem sido escritos com base em textos das Escrituras, e há índice que
apresenta tais vinculações.
Um recurso que tem sido utilizado com proveito em muitas igrejas é o “hino do mês”.
A escolha é feita pelo pastor, sozinho ou em conjunto com os responsáveis pela música na
comunidade (regente, organista, departamento de música), preferivelmente no começo do ano.
Durante o mês, sob várias formas, o hino é apresentado à igreja e assim ensinado para todos.
Cuidado especial precisa ser tomado nos meses subsequentes para que volte a ser cantado, de
sorte que sua melodia seja bem fixada pela congregação.

Por último, uma observação de caráter mais geral: há uma idéia muito difundida de
que os hinos devam ser cantados de forma lenta e arrastada, ao passo que os cânticos e
corinhos merecem interpretação vibrante e animada. Nada mais longe da verdade! Há hinos
de todos os matizes e, embora alguns exijam um cantar mais “sossegado”, em virtude de
32

características introspectivas do próprio texto, outros há que devem ser entoados com vigor e
determinação, expressando a convicção e a fé da comunidade que louva ao seu Deus!
__________________________________________________________

Leituras complementares sugeridas

ICHTER, Bill H. Se os hinos falassem. Rio: JUERP (coletânea de 4 volumes contendo a história de
hinos).

LOUVOR. Revista de Música Sacra publicada trimestralmente pela Convenção Batista Brasileira.

LOUVOR PERENE, jornal trimestral de música sacra, publicado até 1980. (Há coleção incompleta à
disposição dos alunos do SPS na Biblioteca.)

McCOMMON. Paul. A Música na Bíblia, p. 95-101.


33

Anexo ao Capítulo 6

Estudo de hino

QUERO SER UM VASO DE BENÇÃO(HE 180, NC 221)

Um estudo do texto com perguntas, observações e sugestões

1. Quem está se expressando nesta letra, e dirigindo-se a quem?


2. O autor da letra descreve o Senhor como “bendito”. Que significa isto?
3. Geralmente os hinos contém afirmações que o crente faz a Deus ou ao próximo ou a si mesmo,
ou ainda afirmações que Deus faz a nós.

NO GRUPO
a. Anote as afirmações feitas neste hino, que estão nas estrofes;
(é útil sublinhar estas afirmações levemente com lápis, no seu hinário)

INDIVIDUALMENTE
b. Faça estas afirmações, nas suas próprias palavras, linguagem sua, simples,
mas você mesmo falando. Utilize o verso desta folha, se quiser escrever.
c. Reflexão particular por alguns minutos sobre:
- como é que eu faço uma pessoa conhecer o perdão de Jesus?
- como é que uma outra pessoa efetivamente me faz conhecer o
perdão do Senhor quando eu peco contra ela?

NO GRUPO
d. Por alguns minutos compartilhem uns com os outros suas afirmações,
sua maneira de personalizar o hino;
em seguida, uma conversa em torno do item “c”: fazer alguém conhecer
- efetivamente - o perdão de Cristo

VOLTANDO AO GRUPO MAIOR


4. No coro do hino o crente faz um pedido e duas afirmações. Quais são?

Deus tem que trabalhar primeiro em minha vida para poder tocar outras pessoas através de
mim.
Orgulho, timidez, indiferença, falta de sensitividade ao outro, egoísmo, espírito julgador, falta
de perdão... são alguns dos empecilhos que impedem o uso de vasos humanos.
a. O que há em mim que possa impedir a resposta deste pedido?
(o pedido no coro do hino)
b. Nós cantamos “Quero ser um vaso de benção”, e pedimos a Deus que se
sirva de nós. Eu quero realmente me colocar nas mãos do Senhor para o
trabalho do Espírito Santo de refinamento, de quebrantamento dos
empecilhos dentro de mim? Isto pode doer, e muito. Realmente quero isto?
c. Com honestidade, sinceridade, com meu pensamento engajado no momen-
to de cantar, eu estou fazendo uma oração serissima usando o coro deste
hino. Reconheçamos que normalmente se cantam estas palavras sem dar-
lhes seu sentido real.

Á luz do estudo de hoje, o que será minha atitude pessoal ao cantar este hino?

(Estudo preparado por Lida E. Knight, em 1972)


34

7 OS ELEMENTOS DO CULTO: O SERMÃO

Qual é o lugar e a importância do sermão dentro do culto cristão? Há duas posições


que, por serem extremadas, devem ser evitadas. A primeira, praticamente afirma que "o culto
é. o sermão". Tudo centraliza ao redor da mensagem e da pessoa do pregador. Esta ênfase é
uma característica protestante, que foi muito forte e quase uniforme até a década de '60. A
outra posição, por sua prática, considera o sermão como um "apêndice" do culto. A
mensagem é breve, e o pregador quase parece "pedir desculpas" à congregação por alongar-se
muito em sua exposição. O foco é dirigido para os cânticos e para os intérpretes.
Assistimos à perda da integridade da pregação, sempre que o esforço daquele que está
no púlpito se dirige para a apresentação de uma palavra popular, dizendo ao povo apenas o
que ele quer ouvir. As solenes e terríveis advertências do Evangelho são postas de lado, e
anuncia-se uma "graça barata". Esta é a "graça sem preço; graça sem custo!"36
Vemos também uma pregação pouco efetiva quando ocorre falha de comunicação
entre o púlpito e o povo. A ausência ou a precariedade de uma linguagem comum impede que
a mensagem seja adequadamente decodificada pelos ouvintes. Em outras ocasiões, excessivo
apelo a raciocínios e argumentos priva o sermão de uma sadia dimensão emocional.
Estas questões - e muitas outras - são adequadamente tratadas em uma outra matéria,
dedicada a preparar o estudante para bem pregar: a Homilética. Assim, sem pretender invadir
seara alheia, apresentamos algumas considerações sobre este importante elemento do culto.

7.1 A RELAÇÃO DO SERMÃO COM A LITURGIA

O culto, como um todo, é a resposta humana à revelação de Deus feita por intermédio
do Mediador, Cristo Jesus. Diante do Deus que o procura, o fiel se prostra em adoração. A
pregação é parte essencial do culto, porquanto nela a Palavra de Deus vem até o homem em
sua situação existencial. O texto bíblico, que é a "memória" da ação de Deus no passado, é
exposto de tal maneira que ele "desencadeia" a ação divina no presente, em nosso aqui e
agora.
Na pregação encontramos o testemunho da verdade e da realidade que foram pro-
clamados na leitura. Lutero argumentava que o pregador deveria poder dizer, sempre, ao
término de seu sermão: "Fui um apóstolo e profeta de Jesus Cristo ao pronunciar este
sermão”.37
A pregação não pode ser substituída ou compensada por uma liturgia sofisticada ou
por uma música vibrante; nem uma liturgia fraca e desconexa pode ser justificada porque o
sermão foi excelente. A mensagem, portanto, deve ser vista como um elemento de grande
importância dentro do conjunto geral dos atos litúrgicos; ela é essencial, visto trazer o
corretivo divino, o balizamento de nossos caminhos. Isto só é possível quando as Escrituras
são abertas e expostas na inteireza de seus princípios e na sábia aplicação aos problemas da
vida.

7.2 SÉRIES DE SERMÕES; O USO DO LECIONÁRIO

Uma prática rara em nossos púlpitos presbiterianos brasileiros é a pregação seriada.


Este conceito engloba o curso de sermões sobre um livro da Bíblia e também a série de
mensagens sobre um tema determinado. James D. Crane, em sua conhecida obra O Sermão

36
BONHOEFFER, Dietrich. The Cost of Discipleship. New York: Macmillan, 1963, p. 45.
37
Cit em VON ALLMEN, O Culto Cristão, p. 171.
35

Eficaz, cita um outro livro no qual são encontradas 100 sugestões de séries para sermões!38
Dentre as vantagens de tal planejamento, podem ser apontadas:
- a comunidade é conduzida a uma compreensão mais ampla do livro ou do
tema exposto, interligando e integrando conceitos e práticas;
- o anúncio do tema e o seu desenvolvimento, se feitos com sabedoria,
despertam o interesse dos ouvintes, o que contribui para um melhor aproveitamento;
- especialmente para o próprio pregador, resulta num estudo profundo e
sistemático da matéria a ser exposta, exigindo disciplina e dedicação.
Estas séries de sermões podem ser utilizadas em qualquer ocasião do ano. Entretanto,
o período que vai do Domingo de Pentecostes até o final do ano litúrgico(último ou penúltimo
domingo de novembro), por não possuir datas litúrgicas específicas, é o período mais
indicado.
Já falamos anteriormente sobre o uso do Lecionário. O pregador, ao escolher pregar
sobre um dos textos incluídos nas leituras do dia, não está ignorando a poderosa orientação do
Espírito Santo. Pelo contrário, ao se colocar sob a direção do Espírito, na preparação da
mensagem, ele busca tornar conhecidas pelos seus ouvintes as verdades eternas das Escrituras
Sagradas. Se o pregador, de antemão, escolheu determinado texto do Lecionário, isto pode ser
informado ao regente do coral ou dirigente da equipe de louvor, de sorte que os próprios
cânticos previamente escolhidos e ensaiados contribuam para reforçar a mensagem.
O uso dos textos do Lecionário contribui para o resgate de porções preciosas das
Escrituras que estavam esquecidas. Inconscientemente, o pregador costuma escolher textos e
temas que ficam dentro dos limites de seus interesses; a subordinação a uma lista externa
aumenta a possibilidade de que outros passos bíblicos sejam comentados do púlpito.

7.3 A CORRELAÇÃO COM OS HINOS E CÂNTICOS

Como foi antecipado na seção anterior, quando há um planejamento do que será


pregado, é possível escolher os hinos e cânticos com adequada antecedência, permitindo a
elaboração de uma ordem de culto coesa.
A busca por hinos e cânticos adequados pode ser feita no hinário usado pela igreja, na
relação de cânticos já ensaiados pela equipe respectiva, pelo contacto com o regente do coral.
Entretanto, textos avulsos também podem ser encontrados, bem como letras diferentes
existentes em outros hinários, os quais podem ser impressos no boletim dominical, ou
inseridos nas coletâneas que muitas igrejas têm elaborado para seu próprio uso.
A utilização de hino ou cântico que realce algum ponto da mensagem contribui para
levar o crente a uma decisão, diante das verdades bíblicas apresentadas. Muitos hinos e
cânticos expressam a resposta do adorador ao desafio que lhe foi proposto.

Leituras complementares sugeridas

JOWETT, John Henry. O Pregador, sua vida e obra. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, p.
96-115.

VON ALLMEN. J.J. O Culto Cristão, p. 169-173.

38
CRANE, James D. O Sermão Eficaz. 4 ed. Rio: JUERP, 1995, p. 173. Todo o Capítulo VIII traz sugestões
práticas sobre o assunto.
PLANEJANDO O PÚLPITO eles! Isto significa não tratar dos mesmos assuntos da ED; mas
também é preciso continuidade, no que diz respeito a cada horário.
(p.19,20)
Resumo de
PLANNING A YEAR´S PULPIT WORK 6. No planejamento sugere-se começar com as datas especiais. O
Escrito por ANDREW W. BLACKWOOD, professor de nome técnico é “sermão ocasional” (ou “de ocasião”). A preparação
Homilética no Seminário de Princeton, New Jersey dos sermões para estas ocasiões pode começar logo após a data, com
Abingdon Press, 1942 12 meses de antecedência! (p. 32,33) (Ver, adiante, Seção B)

7. O Ano Cristão refere-se a uma sucessão de dias santos cuja


Estas anotações foram feitas pelo Professor de Teologia do Culto observância é exigida. O AC dá um lugar de destaque aos eventos
do Seminário Presbiteriano do Sul para uso de seus alunos. O material
especiais relacionados com Jesus Cristo. Lamentavelmente, alguns
resumido foi agrupado em três seções, para facilitar a compreensão do
assunto. têm substituído estas comemorações por outras que são humanitárias
É evidente que algumas das sugestões apresentadas pelo Autor não e patrióticas. (p. 34)
são aplicáveis ao nosso contexto e época; entretanto, quando se nota o seu
profundo interesse pastoral na edificação do rebanho, podemos também ver 8. Grosso modo, no início do 2º semestre (agosto) os sermões
pistas que nos desafiam para um esforço semelhante. começam a preparar para o Natal. A fim de deixar claro o
fundamento da religião cristã, deve o ministro pregar a partir da
Campinas, setembro de 2004 história do AT. Os livros de Gênesis e Êxodo são abundantes em
Rev. Donald Bueno Monteiro material. (p. 53,54)

A. Anotações gerais; Panorama do planejamento e sua 9. De modo ideal, cada sermão deveria ser bíblico na substância,
implementação doutrinário na forma e prático nos efeitos. A mensagem deveria
inspirar o ouvinte a fazer a vontade de Deus, começando
imediatamente. (p. 69)
1. O livro surgiu da experiência pastoral do Autor. Todo pastor deve
possuir um plano para o púlpito, considerando: o estado dos tempos,
10. O Autor propõe séries de sermões pressupondo uma comunidade
as necessidades da congregação e as inclinações de sua própria
com o Culto Matinal sendo o mais importante, e depois o Culto da
mente. Ao mesmo tempo, não deve ficar escravo do seu próprio
Noite. Como fala numa perspectiva norte-americana, propõe que o
planejamento. Seja flexível para revisar. (p. 7,8)
pregador, nas férias de verão (que lá são no meio do ano) planeje
seus sermões e dê início a seu plano a partir de setembro. Como o
2. Para dar a cada mensagem tempo para se desenvolver, o pastor
agrupamento dos temas é trimestral, o esquema fica assim:
precisa ter sermões em diversos estágios de desenvolvimento. (p. 16)
(1) Ênfase: Fortalecimento *
3. A maneira mais simples é seguir o calendário. Durante as férias de
Período: Setembro até o meio de Dezembro (perto do Natal)
verão o pastor revê o ano anterior e planeja o próximo. (p. 17)
Cultos Matinais: Encontrando Deus na História Bíblica (séries
descritas sob números C.1 a C.4)
4. A unidade de planejamento sugerida é o trimestre. (p. 18).
Cultos da Noite: Pregando a Doutrina Cristã (C.5 a C.8)
* A palavra em inglês é undergirding, que tem o sentido de
5. O Autor trabalha com a hipótese de Cultos no Domingo pela
fortalecer pela parte de baixo.
manhã e à noite e no meio da semana. Deve haver variedade entre
(2) Ênfase: Recrutamento
Período: Do Natal (meados de Dezembro) até a Páscoa 12. Adotando o plano: vantagens para o pastor O plano encoraja o
Cultos Matinais: Proclamando o Evangelho (C.9 a C.12) pastor a estudar regularmente, de tal modo que em 8 a 12 anos ele
Semana Santa e Ressureição: Salientando a Cruz; A Glória da poderá cobrir quase toda a Escritura. No desenvolvimento desse
Páscoa (C.13 e C.14) programa o pastor necessitará de livros fora do Cânon, tais como
(3) Ênfase: Instruindo comentários, livros teológicos, tratados éticos, etc.
Período: Da Páscoa até Pentecostes Como um moto, podem ser considerados: Ed 7.10, 2 Tm
Cultos Matinais: Apresentando o Senhor Ressureto (C.15 a 2.15.
C.18), com grande variedade de sugestões, superiores aos A existência de um plano:
domingos disponíveis, utilizando os trechos finais de João, - dá ao pregador um sentido de propósito e direção. A convivência
Mateus e o início de Atos. por meses com um determinado livro dará ao pastor muitas idéias
Cultos da Noite: Pregando a Ética Bíblica (C.19 a C.21). (Ver seminais para sermões;
também, logo abaixo, item 11 O Sermão ético.) - elimina a busca frenética por um tema para o sermão do próximo
Cultos da Noite ou do meio da semana: Fazendo uso da História domingo; este é um tempo desperdiçado;
da Igreja (C.22). - permite entendimentos com os responsáveis pela música na igreja,
(4) Ênfase: Encorajamento de tal modo que os cânticos especiais (solos, coral, conjunto) e os
Período: De Pentecostes a Setembro cânticos congregacionais possam ser escolhidos com antecedência e
Sermões com ênfase pastoral, destacando a cura da alma (C.23) preparados com qualidade.
e enfatizando a esperança e o contentamento (C.24) Diz Alfred E. Garvie: “Eu não desperdiço metade – ou mais
Nota: o Autor insiste que o pregador deve estudar com bastante – da semana esperando que o Espírito Santo me dê um texto, mas,
antecedência o livro da Escritura que será exposto na forma de uma pelo constante estudo da Escritura, sob a direção do mesmo Espírito,
série, de tal maneira que, quando os sermões começarem a ser eu encontro mais textos, com o contexto sugerindo o tratamento a ser
pregados, todo o estudo já tenha sido concluído. dado, do que eu posso usar.” (p. 211).

11. O sermão ético Doutrina e ética são importantes. A doutrina deve 13. Adotando o plano: vantagens para a igreja Um plano sábio para
vir primeiro, pois ela é a base do dever. O sermão ético é a o púlpito capacita os crentes a crescerem na apreciação e amor da
interpretação de um dever cristão para um propósito prático. O Bíblia. Quando eles vêm à Igreja, precisam receber luzes do Livro,
propósito é guiar o ouvinte para que viva de acordo com a vontade encorajamento para lê-lo e direcionamento para vivê-lo no dia-a-dia.
de Deus conforme está revelado em determinada passagem. Um ministério ensinador edifica espiritualmente os crentes,
A ênfase maior deve ser no indivíduo, tratando das além de contribuir para que os crentes fiquem satisfeitos com o seu
dificuldades da alma cristã. No final, o ouvinte deverá poder dizer: pastor.
“Senhor, o que queres que eu faça?”
Caso o pregador queira pregar sobre a consciência (“O que 14. Um apelo final “Sê um fiel pastor do rebanho, um diligente
a Bíblia diz sobre a consciência?”), aqui vão algumas idéias: estudante do Livro, e um útil pregador do Evangelho.” Para realizar
- A Bíblia como um livro da consciência 1 Tm 3.16 tudo isso o ministro necessita empregar constantemente sua
- O padrão cristão da consciência Mt 5.48 imaginação. Com o discernimento dado por Deus o ministro pode
- O Senhor da consciência cristã Mt 7.28,29 discernir as necessidade do coração do seu povo e descobrir no Livro
- O segredo de uma consciência sadia At 24.16 a provisão divina para essas necessidades. O homem que prega
- A obra diária da consciência 1 Co 10.31 emprega o Livro de Deus para alimentar os filhos de Deus. O poder
- A limpeza da consciência do homem Hb 9.14. permanece com Deus, que aguarda para abençoar todo aquele que
Ele chamou para o ministério nesses dias difíceis. (p. 220)
B. Notas e comentários sobre datas especiais 5. Dia das Mães Uma das maneiras de evitar o sentimentalismo é
preparar um sermão que se insira no campo que está sendo explorado
1. Dia do Trabalho Há uma grande falta de trabalhadores cheios do pelo pregador (a série ou seqüência dos domingos anteriores). Pode
Espírito. Pode ser sábio usar os textos sobre o Tabernáculo (Ex se reunir idéias, p. ex., “A igreja num lar maternal”, com referência
35.30,31; ver também Ex 20.9, Mt 25.20,21, Jo 5.17). Aqueles que ao Cenáculo, possível residência de uma piedosa mulher, a mãe de
trabalham com as mãos, p. ex., os pedreiros, merecem ser lembrados João Marcos (At 1.14).
ao término da construção de um templo, etc. A Igreja deve proclamar
a dignidade do trabalho. (p. 35,36) 6. Dia das Crianças É difícil manter a atenção delas. Uma linha de
pensamento sugerida:
2. Início do Ano Letivo A escola é uma instituição que afeta e - Sl 119.11 Escondi no coração a tua palavra
influencia grandemente as pessoas. Um sermão a partir da educação (1) O melhor livro
de Moisés, p., ex., (At 7.22) seria adequado. A ênfase deve ser (2) No melhor lugar
religiosa. (p. 37) (3) Para o melhor propósito.

3. Dia de Ação de Graças O Cântico de Moisés (Ex 15.2) pode


fornecer um tema. “O Senhor é o Defensor em quem confiamos no
meio de dias perigosos, o Libertador por meio de quem escapamos
de cada inimigo, e o Deus para quem construímos um igreja no lar
como um memorial da graça redentora.” (p. 38)
Nesta época pode se pregar a religião em termos de
libertação, pois é o tema dominante de Êxodo . Nenhum outro evento
gerou tantas expressões de gratidão. No NT soa a mesma ênfase,
pois o Cristianismo é a religião da redenção.
É recomendável a celebração no domingo anterior ao Dia de
Ação de Graças. A mensagem de ação de graças relaciona-se com
nossas razões para gratidão como nação, como igreja local e como
indivíduos. Raramente é sábio colocar tudo isso em um só sermão.
(p. 38-40)

4. Época do Natal A mensagem da Encarnação já deve ter sido


abordada em datas anteriores. Após o Dia de Ação de Graças
recomenda-se um ou dois sermões sobre um livro profético. A
escolha depende dos planos para o trimestre seguinte. Se for baseado
em Lucas, pregue em Miquéias; se Mateus, pregue em Isaías, que
escreveu sobre o Rei Messiânico. Os cânticos da Natividade, em
Lucas, fornecem material excelente.
Após o Natal o sermão será conectado como o Novo Ano. O
negociante, nesta época, faz balanços e se prepara para os próximos
12 meses. (p. 41-43)
C. Notas sobre séries de sermões No sermão “Como Deus liberta o Seu povo” (Ex 13.14) a
ênfase será na Páscoa. Ela tornou-se o símbolo da redenção da
ÊXODO – ENCONTRANDO DEUS NA HISTÓRIA BÍBLICA escravidão. Hoje, a Igreja Cristã vê na Ceia do Senhor a
1. Deus e a nação O pregador precisa estar familiarizado com a correspondência com a Páscoa. Cada um destes festivais é símbolo
história e geografia do Egito. (O estudo preliminar, pelo pregador, dado por Deus da redenção efetuada. Há muitos cânticos que
deverá ocupá-lo uma a duas horas diárias, por dois ou três meses.) expressam a redenção em linguagem derivada da Páscoa.
O livro de Êxodo trata dos dias iniciais do povo que fundou 4. Fazendo a vontade de Deus hoje As mensagens devem ir
a “Igreja” hebréia, escreveu o VT e em grande parte o NT. A nível tornando-se mais práticas. Uma das mensagens pode falar do “Tra-
humano, a ação centraliza-se em Moisés, que deve ser destacado balho em equipe para Deus” (Ex 18.17-26, ver At 6.1-8). (p. 62-68)
como o agente do Deus Todopoderoso. (Em linhas gerais, o Autor sugere ir até o cap 20 ou, nos capítulos
O sermão introdutório – talvez o mais difícil – apresentará seguintes, apenas em alguns temas. O Decálogo será analisado na
uma visão geral do livro. O propósito é o de guiar o leigo na leitura pregação ética. Ver, adiante, C.19.)
doméstica do livro, especialmente dos 20 primeiros capítulos.
Ao pregar sobre um livro todo da Bíblia o pregador precisa PREGANDO A DOUTRINA CRISTÃ
ser um artista que saiba pintar grandes traços. A pregação é a (O sermão doutrinário é a interpretação do pregador de uma verdade
interpretação de verdades vivas, e não a apresentação de detalhes. (p. cristã vital, para um propósito altamente prático.)
54-57) 5. Fatos sobre Deus Nossos jovens precisam aprender a respeito de
2. Deus e o líder O próximo tema será “Como Deus levanta um Deus. Em vez de cobrir toda a área de uma só vez, o pregador deve
líder” (Hb 11.27b). A ênfase será na providência divina que cuida de salientar uma doutrina e apresentá-la concretamente. Um bom ponto
um único bebê. Moisés, em seu lar, partilhou dos perigos e para começar é a Divina Providência.
dificuldades de um povo oprimido; na casa do Faraó ele conheceu a P. ex., “A providência de Deus na queda de um pardal”, cf
vida íntima das classes dirigentes; no deserto ele veio a conhecer a Mt 10.29-31. A ênfase deve estar na doutrina, e não na passagem.
Deus como o Senhor da sua vida. Cada verdade deveria ser expressa de maneira tão clara que ninguém
“Como Deus cuida da criança”, Ex 2.9a. perderia seu sentido.
“Como Deus se faz conhecer”, Ex 3.2,5. Hoje, como antes, Poderá haver uma série sobre “O que Jesus diz sobre Deus”.
Deus se revela a cada pessoa de uma maneira diferente. Raramente a Os textos podem ser tomados dos escritos joaninos. Ali há 5
revelação é tão única como aquela da sarça ardente. Numa época em afirmações sobre Deus:
que há oposição à igreja, é confortador saber que Deus ainda reina. - Ele é Luz, Vida, Amor, Espírito, Pai (1 Jo 1.5, Jo 5.26, 1 Jo 4.8,
Este é o símbolo favorito dos presbiterianos: “Nec tamem Jo 4.24, Jo 14.2). (p. 70-75)
consumebatur”. 6. Fatos sobre o homem O pregador precisa ensinar ao seu rebanho
A mensagem da sarça é o poder e a perserverança de Deus. o que a Bíblia diz sobre o homem em sua relação com Deus. Um
Moisés, tendo aprendido a lição, seria um homem mudado, pronto bom ponto de partida é o Sl 8: “A glória de Deus no homem”.
para tornar-se líder do povo de Deus. (p. 57-59) Com exceção do início e do final da Bíblia, todos os outros
3. Deus e Seu povo Como quase todos os livros da Bíblia, Ex tem a capítulos mostram o pecado humano – isto tem que ser tratado pelo
ver com os dias da adversidade. Daí, um tema próprio seria “Como pregador. Pode se usar Gn 3, ou as abundantes referências em
Deus abençoa em tempos difíceis” (Ex 6.7). As técnicas etc Romanos. Mas também pode ser feito um “estudo de casos”
aprendidas no Egito foram úteis para a jornada no deserto. O mostrando a ação do pecado em caracteres vivos. Pecado deve levar
sofrimento fez surgir o desejo por liberdade; se fossem felizes no à mensagem sobre o perdão. (p. 76-78)
Egito, seriam tentados a viver ali para sempre. 7. Fatos sobre Cristo Para pregar doutrinariamente a respeito do
Filho de Deus, o Quarto Evangelho é um bom começo. Se não
tivesse havido a Encarnação não haveria nem Natal nem Páscoa.
(Neste modelo sugerido pelo Autor, estes sermões começam em - A Promessa da Segunda Vinda
dezembro e seguem em janeiro.) - A Certeza do Julgamento
É importante salientar, em mensagens distintas, a natureza - O Nascimento Virginal
humana de nosso Senhor bem como a Sua divindade. (Esta seria uma primeira série de sermões.)
Há ocasiões em que se recomenda pregar doutrina de A outra parte do Credo é curta e compacta, podendo
maneira indireta. O pregador pode escolher os textos nos quais Jesus conduzir a uma série intitulada “O Significado da Experiência
está se referindo a Si mesmo como “Eu sou”. Para os ouvintes Cristã”. Seus tópicos:
originais, no background judaico, as palavras sugeriam divindade (cf - O Santo Espírito, o poder de Deus na vida dos homens
Ex 3.14). As sete passagens indicam várias maneiras nas quais Cristo - A Santa Igreja Católica, o corpo do qual Cristo é o cabeça
faz pelos homens o que Deus somente pode fazer. O título da série - A Comunhão dos Santos, tanto na terra quanto nos céus
pode ser “Os Sete Eu Sou” ou “Cristianismo é Cristo”. A sequência - O Perdão dos pecados, o coração da religião sob o ângulo
pode ser: humano
- O alimento da alma faminta Jo 6.35 - A Ressureição do Corpo, verdade que brilha em 1 Co 15
- O segredo da radiância cristã Jo 8.12 - A Vida Eterna, como aparece em 2 Co 5.
- A Porta de entrada na vida abundante Jo 10.7 Não é recomendável comprimir em uma única mensagem
- A gentileza da liderança de Cristo Jo 10.14 tudo o que a Bíblia ensina sobre aquela doutrina. O que é necessária
- O começo da vida eterna Jo 11.25 é uma interpretação popular de uma verdade cristã elevada, a fim de
- O Cristo da experiência cristã Jo 14.6 responder às questões dos ouvintes, mesmo aquelas “não-expressas”.
- O segredo da frutificação permanente Jo 15.1. Para isto, o pregador precisa conhecer o coração de seus ouvintes. (p.
Outra sugestão, também em João(12.32,33): “O Magnético 83-88)
Poder de Cristo”. O poder que atrai os homens está nEle, não na
Cruz. PROCLAMANDO O EVANGELHO
Todas estas mensagens ajudam a preparar o caminho para a 9. A beleza do Evangelho O plano envolve sermões baseados no Ev
Páscoa com o Evangelho do Cristo Ressureto. Em todos este de Lucas, anunciados e pregados separadamente, não como uma
sermões pode haver um convite claro e gentil dirigido aos não-salvos série. O propósito é trazer o ouvinte à presença de Jesus, tal como
para aceitarem a Jesus como Salvador e Senhor. (p. 79-82) Ele próprio se dá a conhecer neste Evangelho. Se o ouvinte ainda
8. O Credo Apostólico Estas mensagens são uma oportunidade de não é cristão, algumas dessas mensagens deverão desafiá-lo a aceitar
ensinar os fatos básicos da religião cristã. O Credo possui mais de 20 o Salvador. Se o ouvinte é um crente, estes sermões visarão
afirmações; assim, é necessário definir limites; ou são suprimidas aumentar o seu amor por Jesus e o zelo por seu Reino.
algumas, ou se preparam duas séries, para ocasiões distintas. Tudo isto significa que deverá haver, antecipadamente,
Ao pregar sobre a Trindade, hinos favoritos, como “Santo, cuidadosa preparação, que necessita ser concluída antes que a
Santo, Santo”, podem ser lembrados. Eles não “provam” a doutrina, atividade no púlpito comece. Duas perguntas importantes, diante de
mas mostram como a verdade é preciosa para os cristãos. cada porção estudada: (1) O que estas palavras ensinam a respeito de
Phillips Brooks: “A doutrina da Trindade é a descrição do Cristo? (2) Que diferença esta verdade sobre Ele fará no coração e
que sabemos a respeito de Deus.” na vida de um membro comum desta comunidade?
Podem ser listados os seguintes tópicos para uma série: Como as mensagens começam em dezembro, elas
- A Trindade destacarão a beleza do Evangelho e de Jesus. Possíveis temas:
- A Paternidade de Deus - A beleza do nascimento do Salvador
- O Senhorio de Jesus - A beleza de Sua vida diária
- O Poder Salvífico da Cruz - A beleza de Suas parábolas
- A Glória da Ressureição de Cristo - A beleza de Seus últimos dias
- A beleza de Sua personalidade Redentor. A consciência é a capacidade dada por Deus ao homem de
Também podem ser usados os textos da parte inicial de Lc modo que ele pode distinguir o certo do errado, impelindo a fazer
(caps 1 e 2). (p. 91-95) aquilo que é certo.
10. A realidade da vida religiosa Seguir-se-ão sermões sobre Podem ser objeto das mensagens os encontros e as
aspectos práticos. P. ex., “Vitória sobre a tentação”, a partir do consciências de:
registro da Tentação de Jesus. Ou também, “O significado da religião - Judas, o Traidor, como o seu ser dividido entre a lealdade e a
pessoal”, através do estudo de um caso, da aplicação individual do ambição
“Segue-me” de Jesus. (p. 95-97) - Pedro, que arrependeu-se de sua traição e chorou
11. Os efeitos práticos da fé Em vez de tratar do assunto de maneira - Pilatos, mestre político, cheio de medos e covardia
teórica, recomenda-se usar situações concretas. Exemplos/sugestões: - Barrabás
- Lc 7.9 - O homem a quem Jesus admira: a confiança do - O Ladrão na Cruz, salvo nos instantes finais de sua vida.
centurião em Jesus O poder para transformar um pecador em um santo está no
- Lc 8.18 a – Como ouvir um sermão: orientações sobre a Cristo da Cruz. (p. 108-121)
aplicação à vida da mensagem 14. A glória da Páscoa O estado de espírito dos discípulos diante da
- Lc 8.39 – O melhor lugar para servir a Cristo: o homem curado Cruz era de temor e desepero; diante do Cristo Ressureto era de
é enviado de volta ao seu lar alegria e esperança. A religião cristã centraliza-se em uma Pessoa,
- Lc 8.48 – A cura de Cristo para um sentimento de inferioridade: não em um lugar. Os escritores do NT não se fixaram em qualquer
esta mulher encontrou em Jesus um novo rumo para sua vida local, mas exaltaram o Cristo Vivo. A religião cristã enfatiza a vida,
- Lc 9.23 – O custo de seguir a Cristo: esta mensagem pode ter não a morte. A religião cristã chama para o serviço, não para o
cunho evangelístico, também. (p. 97-101) deleite.
12. A resposta ao Evangelho Diversas seções de Lucas poderão ser
expostas. Há as parábolas, qie enfatizam a graça de Deus aos APRESENTANDO O SENHOR RESSURETO
necessitados e desamparados, como em Lc 15, ou o contraste do 15. O significado da nova religião Durante os 6 domingos após a
homem rico (Lc 21.20) Também podem ser tratados assuntos Páscoa os sermões podem ser sobre as aparições pós-Ressureição de
relativos ao perdão de pecados (veja a Parábola do Filho Pródigo); à nosso Senhor. Não há necessidade de que sejam em ordem
gratidão/ingratidão (a cura dos dez leprosos, Lc 17.17); à cronológica. Sugestões:
transformação de Zaqueu. ( p. 101-107) - O Espírito do Culto Cristão, Mt 28.16,17: os dias após a
13. Salientando a Cruz Durante a Semana Santa os sermões podem Ressureição foram marcados por intensa devoção. Mais importante
se basear nos capítulos finais de Lc. Sugestões de títulos são: do que o lugar onde nos reunimos é a Pessoa a quem adoramos.
O Drama da Cruz Hoje, nosso encontro na Casa de Deus tem como propósito estarmos
A Jornada para a Cruz com o Cristo Vivo, para que possamos confessar nossos pecados e
A Consciência diante da Cruz. expressar nosso amor por Ele. Em cânticos e orações nós O
No Domingo de Ramos a ênfase pode ser sobre Cristo como adoramos como Rei; na leitura das Escrituras e no sermão Ele
Rei. Como naquela data, Cristo anseia dominar sobre cada cidade. próprio se dá a conhecer como nosso Salvador e Senhor. Acima de
Ele deseja reinar em cada coração que se abre para recebê-lo como tudo, na celebração do Sacramento nosso culto centraliza-se em
Senhor. Cristo como o Filho do Deus Altíssimo.
Sempre deve haver, no Domingo de Ramos ou antes, uma - A Corte Suprema na Religião, Mt 28.18: nos assuntos relativos à
mensagem sobre a Cruz de Cristo, pois não se pode comemorar a crença e à conduta, quem tem a palavra final ? A Bíblia, a Igreja, a
Ressureição sem que se passe pela Cruz. razão e os sentimentos são canais usados por Deus para fazer-nos
Se forem feitos cultos durante toda a Semana Santa, podem conhecer Sua vontade; são meios de graça. Mas a graça, de fato, está
ser feitos sermões sobre a consciência humana na presença do em Jesus. Ele é a Divina Autoridade.
- As determinações de nosso Rei (no inglês, The Marching Orders of 18. O acesso ao poder espiritual No início de Atos está o mais difícil
Our King), Mt 28.19,20: estejamos prontos para enviar nossos filhos dos sermões, sobre a Ascenção. A Ascenção marcou o término da
e filhas para expandirem o Reino de Cristo, em atividades vida do Senhor sobre a terra e começo do Seu Reino celestial.
missionárias. A outra mensagem será sobre o Pentecostes, talvez, “O
- Vestindo o Uniforme de Cristo, Mt 28.19: a referência é ao Poder de Deus na Vida dos Homens” (At 2.2,3). (p. 138-141)
Batismo cristão que, em termos de uma guerra santa, significa vestir
o uniforme de Cristo como Rei, alistando em Seu serviço para a vida. PREGANDO A ÉTICA BÍBLICA
- Cristo, nosso Contemporâneo, Mt 28.20 b: “Estou convosco todos 19. Os Dez Mandamentos Este é um campo fértil para a pregação
os dias.” (p. 129-133) ética. Em lugar de um ou dois sermões, sugere-se uma série, tratando
16. O aprofundamento da experiência cristã A seção final do Ev de de cada mandamento. Podem ser feitas duas séries, com um pequeno
João possui ensinos profundamente espirituais, relacionados com o intervalo entre elas; a primeira tratando da Primeira Tábua da Lei; a
significado mais profundo e a glória de nossa religião. Sugestões: segunda falando dos mandamentos da Segunda Tábua.
- Jo 20.21 b – “A Fonte Cristão da Paz”: “A paz seja com vocês”. A Como fecho, deve se chamar a atenção dos ouvintes para o
paz interior, da qual tanto necessitamos, vem através da presença do resumo da Lei que o nosso Senhor formulou (Mt 22.37-40).
Cristo Vivo. (O Autor faz diversos comentários e orientações quanto ao conteúdo
- Jo 20.28 – “A Conversão de um Duvidador Sincero”: está em vista possivel de cada sermão. Ver pags. 143-155.)
Tomé que, nas três citações neste Evangelho, aparece expressando 20. O Sermão do Monte Este ensino ético se dirige mais ao
dúvidas. Daí ser possível uma série de 3 sermões, “As Dúvidas de indivíduo do que à sociedade. Como este Sermão é repleto de
um Homem Forte”. O motivo da dúvida pode ser pecaminoso ou ensinamentos, o pregador precisa definir um conjunto de mensagens,
não. Tomé pode se defrontar com Aquele que é capaz de erradicá-la talvez 6 a 8. (p. 155-163)
da alma. A dúvida é frequente em jovens estudantes, que serão 21. Temas controversos Há diversos assuntos que geram conflitos e
beneficiados por quem possa escutá-los sem ficar chocado. (p.133ss) discussão. Em 1 Coríntios são encontrados ensinos a respeito de
17. O ensino dos trabalhadores cristãos O Cap 21 de João conta-nos muitas situações difíceis, para as quais Paulo apresenta orientações
sobre o modo pelo qual o Senhor Ressureto praticamente completou sábias. (p. 163-167)
o treinamento dos Doze. O pregador precisa saber evitar dois extremos: de um lado,
Jesus esteve com Seus discípulos em um dia de trabalho fechar os olhos a questões éticas, pregando apenas sobre temas
(21.6). Até hoje Ele se preocupa com o trabalho dos homens, bem suaves e leves; de outro lado, ficar tão preocupado em reformar o
como com sua adoração. Ele se ocupa com aqueles que falharam, e mundo que pregue apenas sobre assuntos ligados à ética e
está pronto para abençoar seu trabalho. Se os nosso esforços parecem comportamento. Portanto, o pregador precisa pedir a direção do
fúteis, Ele sabe, melhor do que qualquer pessoa, para onde estes Espírito Santo para guiá-lo na seleção de mensagens que fortaleçam
esforços devem ser dirigidos. Ele diz onde a rede deve ser lançada. os pontos fracos de sua comunidade. (p. 168-170)
A cena na praía é outra parábola em ação (21.9-13). Ele
continua conosco após a fadiga do trabalho, quando estamos prontos OUTROS TEMAS
para o descanso. O Cristo vivo está conosco quando adoramos, 22. Usando a História da Igreja O Autor propõe sermões para o
quando trabalhamos e quando descansamos. Nesta passagem a Culto Vespertino ou para as reuniões do meio da semana utilizando
ênfase está no grupo. É sábio o trabalho em equipe, com uma biografias de grandes homerns e mulheres cristãos. A história pode
organização simples e flexível. ser fonte de ilustrações, p. ex., sobre a influência de uma mãe
O parágrafo final (21.15-19) serve de base para um sermão piedosa sobre o seu filho (Mônica e Agostinho) ou de um pai (David
sobre “O Significado da Religião como Amor”. (p. 135-138) Livingstone).
Sermões históricos procuram demonstrar verdades e
responsabilidades cristãs exemplificadas na vida de líderes. Ao
pregar sobre um caráter histórico, saliente a verdade que ele Uma série semelhante pode ser criada a partir dos ensinos
defendeu (Atanásio e a Trindade; Agostinho e a Graça de Deus; de Jesus. “Boa parte da Bíblia foi escrita em tempos difíceis para
Crisóstomo e as exigências éticas da fé cristã.) É preciso ter certeza situações sombrias. É constante nela a declaração de que Cristo, o
dos fatos, e fazer da apresentação deles algo interessante e não filho de Deus, pode afastar a escuridão, qualquer que seja sua
escolástico. natureza ou causa.” (p. 193-199)
Líderes denominacionais também podem ser examinados;
neste caso, se a denominação existir na cidade, seu pastor poderá ser
convidado a pregar no domingo seguinte ao sermão sobre o líder
daquela denominação irmã.
23. A cura da alma (O Autor, escrevendo no Hemisfério Norte, e
apresentando sugestões para jul-set, quando é verão, conclui que este
período quente do ano é propício para o surgimento de desordens da
alma.) Algumas vezes a causa da moléstia é o pecado, mas há outras
situações em que se faz necessária instrução sobre as coisas mais
profundas de Deus.
Estes sermões podem ser chamados de “semões pastorais”
ou “sermões para situações da vida”. São mensagens sobre o Bom
Médico, que é o único que pode trazer alento a um coração
despedaçado (Jr 8.22).
Uma voz de simpatia vinda do púlpito faz uma grande
diferença. A simpatia pastoral significa que o homem no púlpito
consegue se colocar no lugar do outro, olhando o mundo com os
olhos do outro, sentindo-se como ele sente, mas ainda assim
conseguindo encaminhá-lo às verdades divinas reveladas no Livro.
É mais fácil ficar apenas no diagnóstico; contudo, é preciso
apontar a cura. (p. 187-193)
24. Esperança e contentamento Quando pregados em série sermões
deste tipo são mais efetivos; e, ainda mais, se baseados nos Salmos.
Os tópicos sugeridos abaixo são para uma série “A Cura Cristã para
as Doenças da Alma”. (Nota: não pregar todos os sermões; o título
usado pode ser modificado para despertar maior interesse.)
- A cura para o medo Sl 27.1
- A cura para a melancolia Sl 42.5
- A cura para a preocupação Sl 55.22 a
- A cura para a insônia Sl 4.8
- A cura para a indiferença Sl 85.6
- A cura para a dúvida Sl 73.16,17
- A cura para a inquietação Sl 121.1
- A cura para os nervos Sl 91.1
- A cura para o pecado Sl 32.1
36

8 OS ELEMENTOS DO CULTO: OS SACRAMENTOS

Calvino defendeu, durante todo o seu ministério em Genebra, a celebração semanal do


sacramento da Ceia. Dominicalmente, insistia ele, a Eucaristia deveria acontecer. Entretanto,
não obteve êxito em seus esforços, pois os magistrados de Genebra mantiveram a regra de
celebrações espaçadas: quatro vezes por ano (Natal, Páscoa, Pentecostes e no primeiro
39
domingo de setembro).
Para Calvino, o pastor era Ministro da Palavra e dos Sacramentos; caracterização que
se acha ausente dos documentos oficiais da IPB.40 O novo Manual de Culto editado pela IPI
utiliza esta dupla caracterização na liturgia para ordenação de ministros.
Necessário se faz identificar o atual estado de coisas, no que diz respeito ao encontro
do povo de Deus ao redor de Sua Mesa; assim, algumas orientações básicas que dinamizem
sua realização e restaurem sua significação passarão a fazer sentido. É igualmente próprio
refletir nas ocasiões em que a Igreja reunida testemunha o batismo de crianças ou a recepção
de adultos como membros comungantes por meio do batismo e da profissão de fé.

8.1 O PERIGO DO RITUALISMO

O que mais salta à vista, hoje, não é a experiência da graça de Deus na celebração da
Ceia, mas o desenrolar seco, ritualístico e até apressado. Os próprios oficiantes parecem
desinformados e despreparados, e não põem em destaque coisas novas, nem fazem uso de
recursos litúrgicos novos e instigantes. Os batismos são realizados com o uso do rito
registrado no Manual do Culto, lido de maneira desatenta e mecânica.
Um dos motivos desta situação é a compreensão errônea do que é um “culto
espiritual”. Descartamos o uso de movimentos, gestos, símbolos, sob o argumento de que a
adoração prestada a Deus é radicalmente espiritual, dispensando qualquer procedimento que
apele aos sentidos, especialmente visão e movimento. De fato, não usamos velas, nem
imagens, nem quadros representativos das estações da Via Sacra; não temos Lavapés nem
Ósculo da Paz. Não procede esta dicotomia, pois a comunhão de nosso espírito com o Espírito
de Deus não dispensa o uso de símbolos e elementos materiais: por exemplo, quando o
Espírito se manifestou no Pentecostes sua presença foi destacada por elementos visíveis, as
línguas de fogo.
Outro motivo que deve ser apontado é a ênfase exagerada no racional. Raciocínios e
argumentos são privilegiados, em prejuízo do que é simbólico e gestual. Daí a pregação lógica
e cerebral, a abundância de conceitos expendidos em cada sermão. Nesse contexto, há pouco
lugar para os sacramentos, e eles (Batismo e Ceia) tornam-se apenas o cumprimento formal de
mandamentos do Senhor Jesus. Meras ordenanças.
A tudo isto se acresce a ausência de material litúrgico criativo. Falta, em língua
portuguesa, material que seja ao mesmo tempo sólido, do ponto de vista teológico, e
dinâmico, do ponto de vista litúrgico. A divulgação de textos litúrgicos apropriados é muito
pequena, e o que surge em língua inglesa raramente é descoberto pelos pastores brasileiros.

8.2 A CEIA: DRAMATIZAÇÃO DA FÉ

A Ceia pode ser considerada como uma recapitulação da história da salvação. Diversos
aspectos da fé cristã podem ser expressos em um culto de comunhão:

39
MAXWELL, W.D., An Outline of Christian Worship, p.117.
40
Consultar CI/IPB, art. 113; PL/IPB, art. 32.
37

- as liturgias históricas têm destacado, na Grande Oração de Consagração, a ação


divina na Criação e na preservação do mundo;
- a Encarnação do Verbo, concretização no tempo e no espaço do projeto de expiação
“desenvolvido” pelo Pai;
- Ação de Graças, não apenas pela redenção, mas também pela profusão de bênçãos
recebidas dia-a-dia;
- o caminho de acesso a Deus aberto pela morte de Cristo, com a conseqüente oferta de
perdão a todo aquele que crê;
- a recordação da vida e do ministério de Jesus Cristo, especialmente Sua Paixão,
Morte e Ressurreição;
- o alerta para a vigilância da Igreja e a proclamação do retorno de seu Senhor (“até
que Ele venha”);
- a comunhão do crente com Deus e com o seu irmão; o pão aponta para o Corpo de
Cristo, a Igreja;
- o chamado à renovação da dedicação de nossas vidas a Deus.

A Ceia, desenvolvendo a sua mensagem por meios simbólicos, apresenta quatro ações:
“E, enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, abençoando-o, o partiu e lhes deu, dizendo:
Tomai, isto é o meu corpo.” (Mc 14.22). Aqui temos, portanto:

Tomar - Abençoar(agradecer) - Partir - Dar (distribuir).

É importante que o oficiante sempre inclua na celebração deste sacramento as Palavras


da Instituição e a Oração de Consagração. A recordação da Última Ceia, feita pela leitura de
uma das quatro passagens disponíveis, é chamada de Anamnese. A súplica pela ação do
Espírito faz parte da Oração de Consagração, e é chamada de Epíclese.
Quanto à Grande Oração de Consagração: durante os séculos foi sendo desenvolvida e
padronizada uma oração, que veio a chamar-se cânon na liturgia romana. Nas obras de
escritores dos séculos III e IV já se encontra esta estrutura básica. 41 A IPB, que não é uma
igreja “ritualista”, não possui um “cânon” determinado e inflexível para a oração de ação de
graças que prefacia o encontro eucarístico. Entretanto, não é demais insistir que o exame
atento desta oração antiga e de sua estrutura há de ensinar muito aos oficiantes de hoje. O
conteúdo das diversas seções que compõem o cânon é admirável por sua ênfase na grandeza
divina.
Entendemos que é essencial a feitura de uma solene oração, antecedendo a distribuição
dos elementos, e na qual estejam sempre presentes a ação de graças a Deus por tão
maravilhosa salvação que nos foi dada, além do oferecimento dos elementos físicos a Deus,
necessários à celebração sacramental.
É prática em nossas igrejas que os elementos estejam cuidadosamente dispostos sobre
a Mesa, cobertos por toalha branca. Cabe aos presbíteros descobrirem a Mesa, e até este gesto
deve ser feito de forma respeitosa, pois faz parte de toda a dramatização. Quem comunga
primeiro é o celebrante, pois ele ali está em nome de Jesus. Contudo, quem preside a Mesa é o
Senhor Jesus, verdade que precisa ser destacada para a atenção de todos.

41
Ver mais informações na apostila de Teologia do Culto 1, cap. 4.
38

8.3 AS POSSIBILIDADES DE VARIAÇÃO NO RITUAL

O rito não precisa ser celebrado sempre da mesma maneira. Há variações que podem
ser introduzidas em cada encontro. Os presbíteros precisam saber de antemão quais serão as
características do ritual, para não se atrapalharem no desempenho de suas funções. Algumas
modificações precisam ser cuidadosamente esclarecidas à congregação, visto que, lamentavel-
mente, há muitos que se apegam às “santas tradições protestantes” e se escandalizam com
qualquer mudança.42

Na forma de distribuição:
- O povo em seus lugares, assentados: esta forma é a mais usada em nossas igrejas. Não é a
forma usada por Calvino em Genebra nem por nossos pais espirituais na Escócia! Qualquer
que seja o tamanho do templo, é prudente determinar, antecipadamente, quais bancos ou
fileiras serão servidos por cada presbítero. Uma pequena variação é entregar o prato ou a
bandeja ao primeiro comungante do banco, e este serve ao irmão que está ao seu lado (ao
explicar este procedimento, o pastor deve destacar que tal gesto evidencia a dimensão
comunitária do povo de Deus).
- O povo em seus lugares, de pé: seguem-se os mesmo procedimentos que no modo anterior.
À medida que os crentes comungam, eles se assentam.
- O povo vindo à frente, por grupos: o pastor delimita um grupo (fileira de bancos, faixa
etária, famílias) que se coloca de pé diante da Mesa. Todos recebem ambas as espécies, com
os presbíteros servindo em duplas. Antes de voltarem aos seus lugares é proferida breve
oração pelo oficiante ou por um dos presbíteros.
- O povo vindo à frente, em fila: também recebem as duas espécies. Era assim que a
distribuição dos elementos se fazia em Genebra. Para muitos evangélicos este proceder causa
estranheza, visto ser semelhante àquele adotado pelas Igrejas Católicas.
- O povo vindo à frente, ajoelhados: tal forma só é adequada em igrejas que possuem amplo
genuflexório.

Outros recursos:
- Cálice comum: até o início do Século 20 o uso padrão era de um só cálice, do qual serviam-
se todos. Foi abolido por razões higiênicas, em época que pestes variadas grassavam no país.
- Um único pão, que é partido solenemente pelo oficiante. Depois, os presbíteros, segurando o
pão partido com a proteção de guardanapos de tecido branco, oferecem a cada comungante,
que retira um pedaço para comer; em seguida, recebe o cálice de outro presbítero. Esta forma
pode ser complementada pelo seguinte: ficam à frente presbíteros com o pão e um cálice
grande, com o vinho; os crentes vão à frente, retiram o pedaço do pão, molham no vinho e ali
mesmo comungam, voltando em seguida para os seus lugares. Esta forma é denominada
comunhão por intinção.

Enquanto os elementos estão sendo distribuídos, o que pode ser inserido?


- Música suave: o musicista precisa escolher com critério as músicas que serão executadas,
calculando a duração delas e as encadeando com discrição. Novamente vale a orientação dada
anteriormente(Cap 6, seção 5). Não se recomendam peças muito ritmadas, com
acompanhamento de instrumentos de percussão.

42
Um exemplo de material litúrgico consistente e compreensível é o “enredo” encontrado em JUBILATE!, p.
173.
39

- Solos: os textos devem ser adequados ao momento, e a duração compatível com o tempo da
distribuição. Hinos do hinário utilizado pela comunidade, mas que ainda não foram
aprendidos, podem ser apresentados pela primeira vez na forma de solos.
- Hinos pela Igreja: especialmente quando os crentes vêm à frente, enfileirados. A título de
sugestão: o hino 220 do Novo Cântico, Plena Dedicação, é muito apropriado (no Hinário
Evangélico é no. 278).
- Leitura de textos bíblicos pelo celebrante: esta prática era usada por Calvino, e John Knox a
levou para a Escócia.
- Silêncio total: como uma opção em algumas das celebrações.

8.4 A VARIEDADE DE ÊNFASES

Além das variações apontadas na seção anterior, variações estas que podem ser
consideradas mais como rituais e formais, ênfases diferentes podem ser dadas em cada
celebração. Isto pode ser feito no sermão, caso seja ele conectado com o sacramento, ou nas
instruções, por meio de poucas e claras palavras.
Os aspectos da fé cristã expressos na Ceia já foram citados no item 8.2 retro. Estas
diferentes dimensões merecem destaque através de sermões apropriados.
Os termos que designam a celebração são sugestivos:
- Páscoa (1 Co 5.7): Cristo é o Cordeiro Pascal; a festa deve ser celebrada com sinceridade e
verdade.
- Sacramento: originalmente, apontava para o “mistério”; e este rito é uma revelação cujo
sentido só é captado pelo cristão.
- Ceia do Senhor/Mesa do Senhor (1 Co 10.21; 11.20): o próprio Cristo nos convida para que
assentemos à Sua mesa. Ele é o Anfitrião. Ele próprio é o Pão que alimenta nossas almas.
- Comunhão (1 Co 10.16,17): a Santa Comunhão é ocasião em que se põe em destaque o
companheirismo profundo que deve existir entre aqueles que confessam o mesmo Senhor.
- Eucaristia (1 Co 11.24): a palavra significa “ação de graças”. Paradoxalmente, na noite em
que estava sendo traído Jesus institui um rito marcado pela esperança e pela gratidão.
Quanto aos hinos: há muitos cânticos apropriados para serem usados em conexão com
o sacramento. Um planejamento adequado com o responsável pela música na igreja permitirá
a utilização/aprendizado de diversos deles. Há cânticos avulsos, peças corais; destacamos
aquilo que se encontra nos hinários mais conhecidos:
- Novo Cântico: 7 hinos - Números 340-346
- Hinário Evangélico: 13 hinos - Números 188-200
- Salmos e Hinos: 9 hinos - Números 540-548
- Hinário para o Culto Cristão: 6 hinos - Números 514-520.
E, por último, uma oração inspirada que vem do passado, da chamada Liturgia de São
Tiago:

Ó Deus, que pela vida e morte e ressurreição de Teu querido Filho consagraste
para nós um novo e vivo caminho para o Santo dos Santos; purifica nossas
mentes, nós Te suplicamos, pela inspiração de Teu Santo Espírito, para que,
aproximando-nos de Ti com um coração puro e uma consciência sem mancha,
possamos receber estas Tuas dádivas sem pecado, e dignamente magnificar
Teu santo nome; por meio de Cristo, nosso Senhor. Amém.43

8.5 BATISMOS; PROFISSÕES DE FÉ


43
Conforme KERR, HUGH T. , The Christian Sacraments. Philadelphia: Westminster Press, 1944, p. 98.
Tradução D.B.M.
40

Quando uma criança é recebida à membresia da igreja, por meio do batismo infantil,
seus pais assumem solenes compromissos. Tais votos não podem ser tomados levianamente,
de sorte que é recomendável que os pais sejam aconselhados e ouvidos antes da própria
cerimônia. Ao mesmo tempo, a celebração deste rito pode ser utilizada para recordar aos pais
que já apresentaram, em ocasiões anteriores, seus filhos ao batismo, das solenes promessas
então feitas.
A sequência que consta do Manual de Culto (ou do Manual Litúrgico) deve ser
seguida, não obrigatoriamente com as mesmas palavras, mas atendendo ao teor do que ali se
prescreve.
A recepção de membros comungantes merece uma cuidadosa abordagem; são pessoas
conscientes da resposta afirmativa que deram ao chamado de Jesus para seguí-lo. Agora,
declaram isto diante de toda a comunidade. Ora, há ao mesmo tempo a celebração de uma
aliança e a celebração de júbilo. Por que não fazer desta ocasião um momento de regojizo no
qual toda a igreja esteja envolvida?
Freqüentemente adolescentes se apresentam para a profissão de fé; muitos deles
cresceram na igreja e sentem-se, então, prontos para mais um passo na caminhada da fé. Do
ponto de vista psicológico, este é um rito de passagem, pois estão deixando de ser crianças e
estão pensando e decidindo por conta própria.

___________________________________________________________________________
________

Leituras complementares sugeridas

HUSTAD, Donald P. Jubilate! A Música na Igreja, p. 195s.

MARTIN, Ralph P. Adoração na Igreja Primitiva, caps. 10 e 11.

VON ALLMEN, J.J. O Culto Cristão, p. 173-183.


41

9 OS ELEMENTOS DO CULTO: AS OFERTAS MATERIAIS E ESPIRITUAIS

A frenética busca por recursos materiais popularizada por alguns grupos religiosos
atuais tem contribuído para um crescente constrangimento no anúncio do momento das
ofertas. Muitos oficiantes sentem-se tolhidos quando chega a ocasião do recolhimento dos
dízimos. Reconhecem que é essencial, mas temem a comparação com os grupos que “trocam”
bênçãos divinas por polpudas ofertas.
Um tema igualmente recorrente e que exige condução sábia é o compromisso do
crente com Deus e sua vida no mundo. A consagração a Deus não consiste em uma postura
escapista, recheada de expectativas escatológicas. Oferecemo-nos a Deus para que, por Ele
sustentados, sejamos Seus representantes no mundo.
Em ambos os casos, há um Ofertório. Ofertamos a Deus recursos materiais, resultado
de nosso trabalho, ou Lhe oferecemos nosso ser, em consagração de vida. Uma outra palavra
encontrada em textos litúrgicos, com significado semelhante, é oblação.

9.1 APRESENTAÇÃO DE DÍZIMOS E OFERTAS

Antes de qualquer discussão sobre a condução do Ofertório dentro da liturgia, é


importante frisar que a questão fundamental gira em torno da pergunta: “qual o significado
do dinheiro?” Isto requer que o oficiante, em primeiro lugar, e também a comunidade, tenham
definições bem claras da matéria.
Se a igreja está adequadamente doutrinada, e recebeu ensinamentos bíblicos sobre o
assunto, muitas dificuldades e constrangimentos são naturalmente eliminados. Não é demais
insistir na responsabilidade do pastor de pregar uma série de sermões nos quais exponha, com
clareza de linguagem e firmeza teológica, o ensino escriturístico. (No final deste capítulo há
indicação de obras sobre o tema.)
A consagração, tanto de bens quanto da vida, é considerada como uma resposta do
crente à proclamação da Palavra. Daí a inserção do momento de dedicação de dízimos e
ofertas, prática que está sendo obedecida por muitas comunidades. A tradição reformada
dentro da qual estamos inseridos enfatiza o recolhimento dominical de ofertas. Evidentente,
esta não é uma “cláusula pétrea”; cada Conselho determina aquilo que considera mais próprio
para a comunidade. Há igrejas que inserem este momento após a mensagem, como parte da
dedicação pessoal; noutras, isto ocorre ainda antes da mensagem, mantida a ênfase da
dimensão espiritual da entrega ao Senhor dos recursos financeiros de cada adorador.
A entrega dos envelopes contendo os dízimos tem sido feita por meio do recolhimento
deles junto aos bancos, ou pela colocação em salvas ou gazofilácio posto à frente ou sobre a
Mesa de Comunhão. Esta segunda maneira evidencia melhor para cada ofertante que ele
levou até a presença de Deus a sua contribuição; com o gesto físico reforçando a disposição
do coração.
Há hinos apropriados para acompanhar o Ofertório. Recolhidos os dízimos, uma
oração adequada, mesmo que breve, deverá ser proferida. Atualmente, medidas preventivas de
segurança precisam ser tomadas, no sentido de serem retirados do salão de cultos os
envelopes, de maneira discreta e rápida, e guardados em outro local.

9.2 A OFERTA DE SI MESMO: CONSAGRAÇÃO

O culto todo é resposta do crente à ação divina, mas, ao mesmo tempo, uma resposta
específica se pede do adorador: que ele novamente deposite sua vida no altar de Deus,
dedicando-se ao seu Senhor. Evidentemente, cada pessoa que está no Templo traz consigo
42

necessidades e compromissos distintos. Portanto, a reação de um será diferente do outro.


Entretanto, cada um precisa responder a Deus de maneira concreta, assumindo um
compromisso para a vida ou para os próximos dias, que signifique um melhor “alinhamento”
com o propósito divino para sua vida.
A conclusão do sermão costuma conter desafios a esta dedicação. Mas o assunto não
deve esgotar-se ali. Por tal motivo, após a mensagem podem ser inseridos hinos, cânticos,
orações, momentos silenciosos, que facilitem ou favoreçam a tomada de decisão do adorador.
Warren W. Wiersbe, após apontar a importância da transformação na adoração cristã,
comenta, a partir do estudo de Rm 12.1,2:

Deus pede meu corpo, minha mente, e minha vontade. Na maioria das vezes,
minha mente controla meu corpo, e minha vontade controla minha mente.
Normalmente penso naquilo que eu quero pensar. O Cristianismo é, basica-
mente, uma religião centralizada na vontade do homem, não nos sentimentos
do homem. O amor cristão não é um sentimento; é um ato da vontade. De
outra maneira, Jesus não poderia ordenar que nos amássemos uns aos outros.
Não estou negando que há uma maravilhosa dimensão emocional no amor
cristão; estou somente enfatizando que o amor cristão é primariamente o que
fazemos, não o que sentimos. Isto faz a vontade muito importante na vida cristã.44

Assim, embora a dimensão emocional não deva estar ausente, é importante destacar o
papel da decisão do crente no momento da consagração. Excessos emocionais podem trazer
um estado alterado no qual fique a impressão de um grande acontecimento, mas depois, a
“decisão” é esquecida.
O término abrupto do culto, tão logo o pregador conclua seu sermão, não dá ao
adorador a oportunidade de absorver os desafios propostos e a eles responder, ainda durante o
culto.
Consciente da importância destes momentos, o dirigente precisa avaliar o tempo e
esforço despendidos nas outras partes do culto, para que o povo não chegue a este ponto
fatigado, impaciente para que tudo acabe rapidamente. Quando acontece, é difícil haver um
momento autêntico de consagração.
Um cântico simples mas intenso, desconhecido de nossas igrejas, expressa o duplo
compromisso da consagração: para o serviço, e para louvar a Deus:

Espírito Divino, enche meu coração


Com Teu poder; eis minha oração.
Usa a minha vida, consagro a Ti, Senhor,
Para o Teu serviço, para o Teu louvor.45

___________________________________________________________________________
______________

Leituras complementares sugeridas

Sobre dízimo, dinheiro, bens materiais

1. DINHEIRO, SEXO & PODER, por Richard J. Foster, Editora Mundo Cristão, caps. 2 a 5.

44
WIERSBE, Warren W., - Real Worship: It Will Transform your Life. Nashville:, Oliver-Nelson Books, 1990,
p. 33 (itálicos no original).
45
ESPÍRITO DIVINO, letra e música por Norah Buyers; publicado em VAMOS CANTAR, São Paulo: Casa
Editora Presbiteriana, 1960, p. 25.
43

2. CRESCIMENTO NA GRAÇA DE DAR, por Oscar D. Martin Jr e João Falcão Sobrinho, JUERP.
3. A GRAÇA DA LIBERALIDADE: O DÍZIMO CRISTÃO, por Júlio Andrade Ferreira, LPC
Publicações.
4. UMA GRAÇA QUE POUCOS DESEJAM, Caio Fábio D’Araújo Filho, Editora Vinde.
5. CELEBRAÇÃO DA DISCIPLINA, por Richard J. Foster, cap 6.
6. COMO CULTUAR A DEUS, por Nilson Dimarzio, JUERP, pags. 62-67.
44

10 AS DATAS DA IGREJA

Na vida da Igreja os dias não são iguais. (Nisso é semelhante à nossa vida pessoal,
pois destacamos sempre, ano após ano, aniversários e datas cuja lembrança é preciosa.) Há
ocasiões que recebem um destaque maior, marcando a vida da comunidade.
A primeira data a ser comemorada pelos cristãos foi a Páscoa, ou seja, a Paixão, Morte
e Ressurreição de Jesus. De início não havia consenso quanto à data correta, por ser uma festa
móvel. Finalmente acordou-se, pelo menos entre as Igrejas do Ocidente, que a Páscoa seria
comemorada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorresse em 21 de março ou
logo a seguir. Assim, a data da Páscoa pode cair entre 22 de março e 25 de abril. Por volta do
Século IX o Domingo de Ramos era observado em toda a Cristandade, a partir de prática
iniciada em Jerusalém, alguns séculos antes.
Logo após o início da comemoração da Páscoa surgiu a recordação da vinda do
Espírito, o Pentecostes. Posteriormente, cresceu a convicção de que era necessário um tempo
de preparação e contrição que antecedesse a Páscoa, o que levou ao surgimento da Quaresma.
A quantidade de dias separados para tal finalidade variou, mas finalmente foram estabelecidos
40 dias.
No Ocidente, a comemoração do nascimento de Jesus teve início por volta do Século
IV; a escolha do dia 25 de dezembro não possui uma única explicação conclusiva: pode estar
relacionada com o esforço de cristianizar a festa romana chamada de Saturnalia, ou substituir
uma festa mitraítica que celebrava o nascimento do Sol, Natalis invicti. Há historiadores que
apontam uma outra origem: a crença corrente nos tempos primitivos de que uma vida perfeita
devia ter anos perfeitos e completos. Em Roma sustentava-se que a morte de Jesus ocorrera
em 25 de março. Assim, considerando a vida como tendo início na concepção, 25 de
dezembro teria de ser o dia de seu nascimento.

10.1 O ANO CRISTÃO

Com o passar dos séculos estabeleceu-se uma seqüência de comemorações, ocorrendo


de forma uniforme ano após ano, e que é descrita sob vários nomes: Ano Cristão, Calendário
Eclesiástico ou Litúrgico. O Ano Cristão pode ser descrito como um recurso ou maneira de a
Igreja Cristã celebrar os atos poderosos de Deus, especialmente aqueles relacionados com a
vida de Jesus Cristo sobre a terra (Nascimento, Paixão, Morte e Ressurreição, Ascensão).
Os núcleos temáticos existentes normalmente são chamados de “ciclos”, e podem ser
destacados os seguintes:
- Ciclo do Natal: engloba o Advento (quatro domingos) e o Natal.
- Ciclo da Páscoa: engloba a Quaresma, a Semana Santa e o Dia de Pentecostes
Com o Domingo da Trindade, logo a seguir, tem início o Tempo Comum ou Tempo da Igreja,
durante o qual a Igreja reflete sobre a direção do Espírito Santo para sua caminhada terrena.
As denominações que fazem uso do Calendário Litúrgico com maior rigor costumam
ter outras comemorações inseridas em suas celebrações, fato que pode ser aferido pelo exame
da literatura disponível (Igrejas Catolico-Romanas de forma geral, Igrejas Episcopais e
Luteranas.)
A contestação apressada de que a utilização do Calendário Litúrgico é contrária à
índole da Reforma não subsiste. O recurso visa chamar a atenção da Igreja para os grandes
fatos da salvação, e não deve ser visto como uma camisa-de-força ou uma sufocante
imposição externa. Como bem se diz, é um recurso. A pessoa que recebe a maior atenção
durante todas as celebrações é Jesus Cristo. Em contraste, o grande volume das
comemorações que ocorrem em nossas igrejas centralizam-se no homem e suas diferentes
45

situações na vida Exemplificando: são elogiados o homem presbiteriano, a mulher


presbiteriana, o adolescente e o jovem, as mães, os pais, as crianças.
Entre o povo de Israel havia uma aguda consciência de que o Deus que adoravam
havia se manifestado em fatos históricos. Daí a importância que uma geração anunciasse à
geração seguinte as obras de Deus (Sl 78.3,4; 145.4). A Páscoa antiga sempre deveria conter
uma deliberada recordação da ação libertadora de Deus (Ex 12.26,27).

10.2 AS ATIVIDADES LITÚRGICAS

Advento. Este período dá início ao Ano Cristão; não coincide, portanto, com o ano
civil. Consta sempre de quatro domingos, com início no domingo mais próximo do dia 30 de
novembro (Dia de Santo André). As atividades litúrgicas que podem ser desenvolvidas são:
- apresentação de cantatas ou peças avulsas alusivas ao Natal, por diferente grupos,
distribuídos pelos diversos domingos;
- concertos natalinos, em substituição aos cultos regulares ou após estes;
- planejamento dos sermões, enfocando os aspectos mais permanentes do Natal e da
Encarnação;
- selecionamento de textos bíblicos para leitura nos cultos, ou uso dos textos já
indicados no Lecionário.

Natal. A comemoração maior relativa ao Natal costuma ser realizada diferentemente,


de acordo com as características locais:
- no domingo imediatamente anterior (4o. Domingo do Advento);
- na véspera do Dia de Natal;
- no próprio Dia de Natal.
Houve um tempo em que as igrejas evangélicas apresentavam, nessas ocasiões, dramas ou
representações, além de pequenas intervenções feitas por corais infantis e de adultos. Poste-
riormente, com a aparição de material impresso, os corais passaram a apresentar cantatas, a
maioria delas traduzidas e adaptadas do inglês. Estes programas, quando adequadamente
estruturados, são excelente veículo para o anúncio da mensagem do Evangelho. Há cidades
nas quais os não-crentes esperam ansiosamente um convite para irem à igreja “ver o programa
de Natal”. Quando a programação é mal feita, o evento torna-se um amontoado
descoordenado de partes, que mais atendem às vaidades dos participantes do que ao louvor de
Deus.

Paixão e Ressureição. O fato central da fé cristã, tal como o testemunho dos primeiros
cristãos ensina, é que “Cristo morreu por nós” (Rm 5.8). Assim, não é o Natal, mas sim a
Paixão, que deve merecer a maior ênfase na vida da Igreja. Em nossas igrejas evangélicas
brasileiras não se dá importância a um período específico reservado para a preparação
espiritual e adequada contrição diante do mistério da morte de Cristo. O período da Quaresma
é posto de lado - nem merece consideração - sob o rótulo de “coisa do catolicismo”.
Entretanto, mesmo que não se faça referência a uma estação específica, os sermões pregados
nos domingos anteriores à Semana Santa podem explorar estas profundas e permanentes
verdades, para edificação e reflexão dos crentes.
Algumas atividades que podem ser desenvolvidas neste período:
- Culto da Paixão: realizado na Sexta-Feira Santa, comumente pela manhã (9-12h); há
comunidades que recordam, na seqüência, as Sete Palavras da Cruz, através de pequenos
blocos, contendo cânticos, orações, pregação baseada em uma das “palavras”. Entre cada
bloco é inserido um momento de silêncio, com interlúdio, se disponível. Outras igrejas têm
apresentado nesta ocasião cantata sobre a paixão.
46

- Culto da Ressurreição: celebrado nas primeiras horas da manhã do domingo. Quando


possível, é feito ao ar livre, em bosque ou jardim.

Domingo de Pentecostes. Este Domingo encerra a chamada Parte Festiva do Ano da


Igreja. Até aqui foram lembrados fatos da vida de Cristo ou decorrentes de Sua vinda, como é
o caso da descida do Espírito Santo. Nesses tempos em que a pessoa do Espírito Santo e Sua
atuação têm sofrido tantas distorções, a proclamação do ensino escriturístico, sólido e
confortador, é muito adequada. Nos hinários disponíveis são encontrados alguns hinos
relativos ao Espírito ou a Ele dirigidos.

Domingo da Trindade. É o primeiro domingo da Parte Não-Festiva (o primeiro


Domingo depois de Pentecostes). Data pouco lembrada em nossas igrejas, embora aponte para
uma doutrina fundamental do Cristianismo. Valem as mesmas observações feitas no item
anterior, mutatis mutandi.

Domingo Cristo Rei. O Ano Cristão se encerra destacando que o Cristo adorado pela
Igreja é o Rei do Universo. Este é o Domingo de novembro anterior ao Primeiro Domingo do
Advento. É apropriado, pois, escolher hinos e cânticos, textos e orações, além da própria
mensagem, que apontem em uníssono para o reconhecimento da soberania divina.

10.3 DATAS ‘NÃO-CALENDARIZADAS”

As igrejas comemoram muitas outras datas, sendo que a maior parte delas é
compartilhada com outras denominações. Além disso, há ocasiões em que toda a sociedade se
reúne para festividades das quais a igreja também participa. É prudente lembrar que, mesmo
quando pessoas ou grupos de pessoas são lembrados, a atenção dos adoradores deve ser
focada no Deus Todo-Poderoso que nos abençoou com estas pessoas (por exemplo, as mães,
os pais, os pastores).
Alguns desses dias são móveis. As agendas disponíveis, inclusive aquela publicada
pela IPB, são de grande utilidade para a descoberta destas datas e para o planejamento geral
das atividades da comunidade. Festividades preparadas às pressas causam pouco impacto
sobre a vida dos crentes; na verdade, chegam a causar impacto negativo!
Datas “privativas”(da IPB ou dos evangélicos). Relacionamos, embora não exaustiva-
mente:
- Dia do Homem Presbiteriano (1o. Dom de fevereiro)
- Dia da Mulher Presbiteriana (2o. Dom de fevereiro)
- Dia do Jovem Presbiteriano (4º. Dom de maio)
- Dia do Adolescente Presbiteriano (4o. Dom de julho)
- Dia da IPB (12 de agosto)
- Dia da Escola Dominical (3o. Dom de setembro)
- Dia da Reforma Protestante (31 de outubro)
- Dia de Ação de Graças (Quarta 5a.-feira de novembro)
- Dia do Pastor Presbiteriano (17 de dezembro)

Datas em comum com a sociedade secular. Algumas dessas são lembradas em poucas
igrejas; outras são muito comemoradas:
- Dia das Mães
- Dia dos Pais
- Dia da Avó
- Dia da Pátria
47

- Dia da Criança
- Dia do Professor
- Dia do Índio
- Dia da Árvore (ou da entrada da Primavera).

* * *

Em resumo: a dinamização das atividades de uma igreja depende, acima de tudo, da


sujeição de sua liderança ao Espírito. Contudo, depende também de um sábio planejamento,
sob a direção do Espírito, das reuniões e dos encontros a serem realizados durante o ano. A
definição prévia da temática de cultos e celebrações permite aos músicos, professores de
Escola Dominical e líderes de sociedades a identificação do tipo de colaboração que podem
prestar.

Como se vê, estas considerações fogem ao âmbito restrito do culto e de sua liturgia, e
se inserem no quadro maior da coordenação de uma comunidade inteira. Aquilo que foi
aprendido em Homilética, em Administração Pastoral, em Técnicas de Evangelismo, em
Educação Cristã... tudo isto precisa ser levado em conta.
48

11 OS GRUPOS MUSICAIS

Em todas as igrejas há quem goste de cantar; e em quase todas grupos se organizam,


com o propósito específico de participarem dos cultos e das atividades da comunidade
cantando louvores a Deus.
Quais são as possibilidades de organização destes grupos? Como deve o pastor
relacionar-se com eles?

11.1 OS TIPOS DE GRUPOS

Apresentamos, de maneira esquemática, a possível constituição destes grupos


musicais.

A. Grupos corais.
- O sistema de corais múltiplos ou corais graduados significa a existência de
diversos corais, geralmente organizados de forma homogênea por faixa etária, permitindo a
passagem dos cantores de um grupo para outro. Este sistema, evidentemente, depende de:
- tamanho da igreja (uma igreja pequena não possui integrantes para
tantos grupos);
- existência de regentes disponíveis e qualificados.

CORAL DE CRIANÇAS
Repertório: - Textos compatíveis com a compreensão das crianças, pois o coral infantil
não é mera duplicação das músicas dos adultos;
- Melodias adequadas às vozes infantis, tanto na extensão das notas quan-
to na simplicidade dos intervalos e ritmos utilizados.
(Tem surgido bons materiais, alguns que fazem uso de playback.)
Complexidade: pequena. É difícil cantar a duas vozes.
Características: há igrejas em que o Coral de Crianças só é ativado em ocasiões
especiais(Natal, Dia das Mães, Páscoa). Noutras, ele é permanente.
Cuidados: - como as crianças são muito irrequietas, o regente precisa de ajudantes;
- necessidade de apoio irrestrito dos pais (p. ex. transporte das crianças);
- se forem usados instrumentos de “bandinha rítmica”, é preciso balancear
bem o volume destes instrumentos com as vozes infantis, leves e agudas:
- é péssimo recurso exigir das crianças que cantem “forte”, o que resulta
num canto “gritado”, com possíveis danos físicos às vozes infantis.

CORAL DE ADOLESCENTES
Características: um dos mais difíceis, por que os meninos estão na fase de mudança de
voz (“cambiata”).
Complexidade: depende da habilidade do regente e do acesso dele a material
adequado.
Repertório: textos que tratam de temas da vida da igreja, em forma compreensível aos
adolescentes. Não há muito material específico disponível. Cânticos e corinhos podem ser
inseridos, após adequado exame.
49

CORAL DE JOVENS
Características: nem sempre é possível formá-lo, pois os jovens tendem à participação
em conjuntos, que imitam a música popular secular.

CORAL ADULTO
Funções: expressar, de forma um pouco mais elaborada, o louvor da Igreja (nunca,
entretanto, na perspectiva de que o coral vem para “abrilhantar o culto”!);
- colaborar e vitalizar o canto congregacional.
Repertório: - há material para todos os gostos;
- é importante variar estilos e textos; afinal, se o coral participa do culto,
ele precisa dispor de peças para todos os momentos do culto (não há nenhuma razão para que
o momento de participação do coral sempre seja entre a leitura e a pregação, como é hábito
em tantas igrejas pelo país afora).
Complexidade: - inicialmente, depende dos cantores disponíveis:
- posteriormente, depende da habilidade/preparação do regente;
- também depende da existência de instrumentista (pianista ou orga-
nista) que possa acompanhar o grupo; o uso de playback tem prós e contras.
Problemas: - o coral pode ser fonte de conflitos, especialmente pela freqüência com
que os cantores se envaidecem com suas próprias realizações;
- irregularidade da participação nos cultos, diante da falta de assiduidade
de seus membros (isto ocorre mais quando o coral não possui repertório alternativo, com
peças mais simples, com menos vozes, para situações de “emergência”);
- espírito de “autonomia”, quando o grupo não consegue ver o seu papel
como “servos” no louvor da igreja, e querem governar a si mesmos sem perceber o seu lugar
no conjunto da adoração da comunidade.

B. Conjuntos/equipes.
- De forma genérica, podem ser descritos como grupos que seguem ou imitam
os padrões da música popular “fora da igreja”.
- Em muitas comunidades, só há estes grupos.
Formação: varia, mas basicamente é composto de guitarra(s), baixo, bateria, cantores.
Repertório: peças colhidas de discos/fitas/CDs/festivais/congressos;
- na maior parte, os textos seguem a “moda” da época, no que diz respeito
a temas e ênfases.
Problemas: - limitações e erros teológicos nos textos, com pouca variação temática:
- a realização de um “cultinho” dentro do culto, quando a participação do
grupo se dá em um bloco único;
- níveis de volume descontrolados (tanto da bateria, que suplanta o canto,
quando das próprias caixas de som, com ameaça à integridade auditiva dos presentes).

11.2 RELACIONAMENTO PASTORAL

Um dos focos de insatisfações e problemas numa igreja é a comunicação deficiente


entre o pastor e os músicos. Estes, muitas vezes influenciados pelo que escutam e aprendem
em outras comunidades, querem imitá-las, transpondo ipsis litteris as novidades escutadas. Os
chamados “momentos de louvor” – bloco de cânticos dirigido pelo conjunto de jovens – se
torna um culto paralelo. O estrelismo de solistas, que se julgam acima das regras e orientações
pastorais, tem trazido constrangimentos a pastores e conselhos.
50

Evidentemente, não é possível solucionar uma situação caótica apenas pelo anúncio de
umas poucas regras. Algumas idéias, contudo, certamente são úteis:

A. Veja-os como aliados, e não como pessoas que incomodam com opiniões extravagantes.
Eles são colaboradores, dirigidos todos para um mesmo alvo. Muitas vezes imaturos, e ao
mesmo tempo cheios de entusiasmo.

B. Esteja sempre cônscio de que são crentes necessitando pastoreio. A orientação pastoral
tem que ser permanente. Se o pastor precisa buscar informações ou novas luzes, que o faça,
para poder ajudar os cantores. Não serão raras as ocasiões em que o Conselho terá de votar
verba para ajudar no aperfeiçoamento de instrumentistas. Pode ser prudente agendar reuniões
para estudos bíblicos que mostrem quais são os padrões bíblicos para a adoração a Deus e
quais são os padrões denominacionais.

c. Estabeleça canais permanentes de comunicação. Isto pode ser feito através de reuniões ou
contatos periódicos de planejamento. O uso de séries de sermões, a comemoração de datas do
Calendário Cristão, o uso de algum tipo de Lecionário... tudo isto colabora para uma
organização mais sábia da participação dos grupos musicais na vida da igreja.

Leituras complementares sugeridas

HUSTAD, Donald P. Jubilate!, p. 257-282.


12 CERIMÔNIAS ESPECIAIS: CASAMENTOS

É, com frequência, um motivo de alegria para o pastor quando dois jovens o procuram
informando que querem se casar. E desejam, acima de tudo, a benção divina sobre a sua
união. O propósito deste capítulo é expor, do ponto de vista litúrgico, os passos e cuidados a
serem tomados; ou seja, a reflexão sobre o significado do casamento cristão não será o
objetivo primário desta seção de nosso estudo.

12.1 OS DOCUMENTOS DA IGREJA

São encontradas orientações no MANUAL PRESBITERIANO e nos manuais


litúrgicos, como segue:

- PRINCÍPIOS DE LITURGIA, cap. VIII Benção Matrimonial, artigos 18, 19 e 20.


Notar que o casamento, em nosso entendimento, não é um sacramento, sendo benção
divina que se estende a todo o gênero humano, e beneficia a todas as criaturas humanas,
crentes ou descrentes.
A Bênção Matrimonial deve sempre ser invocada após a cerimônia civil; no caso de
casamento religioso com efeito civil, a leitura dos documentos determinados pela lei, e a
proclamação do casamento, devem anteceder a parte espiritual da cerimônia.
- MANUAL DE CULTO, caps. 9 e 10, com duas formas para a cerimônia, p. 31-41.
- MANUAL LITÚRGICO, modelos 17, 18 e 19, p. 131-149.
As formas não são muito diferentes entre si. É recomendável sempre seguir uma
estrutura básica, que pode ser identificada nestas formas. É interessante notar que o Manual
Litúrgico sugere inclusive o cântico, pelos presentes, de um hino congregacional. Fato muito
raro de acontecer...
Como o ato de invocar a benção divina não é considerado privativo do ministro,
podem ocorrer situações em que não haja pastor presente. Um presbítero, ou diácono, ou
seminarista, pode celebrar a cerimônia. Evidentemente, só não poderá impetrar a Benção
(CI/IPB Art. 31, alínea "b").

12.1 OS PREPARATIVOS

Os noivos chegam cheios de entusiasmo quanto ao casamento, e cheios de ideias


quanto à cerimônia que pretendem realizar. Há algumas das propostas deles que não podem
ser postas em prática.
Pontos a considerar:
a. Há igrejas/pastores que determinam a realização de um certo número de entrevistas com o
casal, para aconselhamento e, ainda, para criar um clima de comunicação que permitirá ao
casal procurar futuramente o pastor, caso surja alguma crise no relacionamento deles.
b. Quanto ao casamento misto, e à impetração da bênção sobre noivos que não são membros
ou filhos de membros da igreja, existe uma variada gama de opiniões. A CE/IPB 1987 assim
se expressou: "... Entendemos que Deus não limita a bênção ao casamento entre crentes; ele
não criou o casamento para os membros da Igreja, mas para o gênero humano, e conferiu
bênçãos especiais ao matrimônio. 'Respeitem-se os escrúpulos de consciência de pastores,
Conselhos e Congregações que consideram inaceitável a impetração da bênção a casais mistos
ou não evangélicos'".
c. É altamente recomendável que cada Conselho formule um regulamento a respeito da
cerimônia (dois exemplos estão em anexo). Claramente, tal regulamento considerará o "pode-
não pode" a respeito de muitos pontos.
d. A marcação da data precisa ser feita com antecedência. É prudente que o pastor possua uma
Agenda sempre atualizada, não só com as atividades programadas para sua igreja, mas
também aqueles em âmbito presbiterial. Desse modo, evitam-se conflitos quanto à utilização
do templo, ou o esvaziamento da comunidade em razão de outros eventos regionais.
e. A Benção Matrimonial é um encontro espiritual, acima de tudo; não uma festa em que os
aspectos sociais tenham a primazia. Ou seja, há uma reverência ou compostura que precisa ser
mantida ou valorizada.

12.3 ALGUNS CUIDADOS E/OU MEDIDAS

Nosso objetivo, nestas orientações, é apontar aspectos práticos que precisam ser
tratados com os noivos. Especialmente os pastores novos devem, desde o início, estar atentos
aos pontos apontados a seguir.

a. Taxas e despesas: há grande vantagem em ter estipulações sobre esse assunto no


regulamento ou em decisão geral do Conselho. Em algumas igrejas, há uma taxa básica
cobrada de todos os casais; noutras, os membros da igreja ou seus filhos são isentos.
b. Serviços de arrumação prévia e limpeza posterior: qual é a regra da igreja quanto à
abrangência do trabalho da zeladoria? Com frequência, este serviço não faz parte das
atribuições do zelador, que deverá ser remunerado separadamente pela tarefa. No caso de
casamentos realizados no sábado, deve se lembrar de que o templo precisa estar em ordem
para as atividades dominicais.
c. Flores: as floriculturas costumam ter os pedestais, vasos e fitas próprios para a decoração do
templo. Contudo, em muitas situações, querem "enfeitar" demais; e um perigo sempre
presente é o de pretenderem fixar flores e arranjos nos bancos usando fitas adesivas, ou
mesmo tachinhas e percevejos! A recomendação é: "avise que não pode!"
d. Fotografia e filmagens: os profissionais devem ser advertidos para serem discretos. Alguns
querem direcionar os noivos para poses e ângulos especiais durante a cerimônia. Isto prejudica
a solenidade que naturalmente se espera de um culto.
e. Música: quem são os músicos convidados para a cerimônia? Se da igreja, costumam já estar
cientes dos princípios que orientam a música que usamos. Para a música instrumental, não é
recomendável peças de cunho muito popular; para a música cantada, devem ser elas dirigidas
a Deus ou fazendo referência à ação divina no casamento de seus filhos.

Nosso Divino Mestre, de acordo com o testemunho joanino, iniciou o seu ministério
com um milagre em uma festa de casamento. Isto demonstra que a vida em comum de um
homem e de uma mulher faz parte dos propósitos divinos para toda a humanidade. Para a
comunidade, é motivo de regozijo e louvor a Deus. A sabedoria de um ministro na celebração
da Benção Matrimonial também contribuirá para a edificação de seu rebanho.
13 OFÍCIOS FÚNEBRES / SEPULTAMENTOS

A inevitabilidade da morte obrigará o pastor, vezes sem conta, a defrontar-se com o


sepultamento e a realização de cerimônias religiosas, normalmente chamadas de ofícios
fúnebres. O pastor pode ser solicitado a realizar ofícios também de pessoas que não são de sua
igreja, talvez nem crentes (por exemplo, parentes de crentes). Nesses casos, sabendo proceder
com sabedoria, o pastor poderá levar uma palavra de conforto, abrindo oportunidades,
inclusive, para o testemunho e a conquista de pessoas para o Evangelho.
A morte, quer esperada ou súbita, desencadeia nos familiares e amigos íntimos uma
gama de sentimentos contraditórios, dos quais deve o ministro ter consciência: culpa, saudade,
remorso, ressentimentos recíprocos, alívio (no caso de estar o falecido sofrendo muito,
embora também haja "culpa" por sentir alívio).

13.1 ORIENTAÇÕES ECLESIÁSTICAS; MATERIAL LITÚRGICO

A orientação dos documentos de nossa Igreja são bastantes concisas. Os Princípios de


Liturgia dedicam dois artigos (Art. 22 e 23), no Capítulo X Funerais, a esse assunto. Os
manuais usados pela IPB apresentam duas formas litúrgicas, sendo a segunda delas para o
caso específico de sepultamento de crianças:
- MANUAL DO CULTO, p. 41-52.
- MANUAL LITÚRGICO, p. 167-182.
A respeito desse tema, os puritanos eram muito restritos; o Diretório de Culto de
Westminster prescreve que o corpo "imediatamente seja enterrado, sem qualquer Cerimônia".
Algumas poucas palavras, discretas, poderiam ser proferidas. Suas alegações eram ligadas à
ausência de qualquer registro neotestamentário sobre cerimônias de sepultamento e, ainda, em
oposição aos costumes católicos de então.
O Manual de Culto da IPI denomina sua liturgia de Funeral: um testemunho à
ressurreição.
Atualmente, com a facilidade de produzir, em poucos minutos, material impresso,
muitos pastores têm produzido um pequeno boletim, com informações sobre o(a) falecido(a) e
com a sequência litúrgica do Ofício.

13.2 ORIENTAÇÕES PRÁTICAS

Quando a notícia do falecimento chega ao pastor, ou chega a solicitação de que ele


realize um Ofício Fúnebre, são medidas imediatas:
a. Informar-se dos dados sobre o sepultamento, especialmente local e horário previstos. Se a
igreja possui algum tipo de "rede de recados", qualquer que seja o tipo, acioná-la só depois de
ter todos os dados, assim evitando duas ou três correntes de recados.
b. Além das medidas pastorais de consolo e conforto, consultar familiares sobre textos e hinos
ou cânticos preferidos do falecido. Anotar nomes dos parentes mais chegados, para citação na
cerimônia (por exemplo, "O Sr. N. foi casado com D. M, aqui presente. O casal teve dois
filhos, F. casado com W, e G. Deixam também quatro netos.")
c. Caso seja possível o preparo de liturgia impressa, incluir os textos e hinos anteriormente
identificados, bem como alguma informação sobre a pessoa a ser sepultada. Caso isso não seja
possível, combinar ou pedir que os crentes levem seus hinários.
Atualmente, o corpo não costuma ser velado nas residências, mas em salões
pertencentes à empresa funerária ou capelas adjacentes aos próprios cemitérios. Em algumas
cidades pode ser obtida autorização junto às autoridades para que o corpo fique no templo.
(Conforme o lugar do país, os termos variam: velório, velamento, guardamento.)

No Ofício propriamente dito:


a. Se presentes outros pastores, sugere-se dividir tarefas. O responsável pela breve mensagem
a ser proferida na ocasião deve ter sido convidado com antecedência.
b. O ofício é culto a Deus, não louvação do morto. Cuidado com elogios para pessoa que,
sabidamente, teve comportamentos reprováveis em sua vida.
c. Evitar entrar em detalhes sobre a situação eterna do falecido, especialmente se não for
membro da igreja.
d. O ofício é cerimônia breve. Os familiares já estarão, a essa altura, fatigados pelas horas de
velório e pelo desgaste emocional.
e. Algumas famílias pedem que, após o ofício e antes do caixão ser fechado para o
encaminhamento até a sepultura, os presentes se retirem do recinto. Ficarão, ao lado do
caixão, para uma "despedida", apenas os familiares mais chegados e aqueles que eles
chamarem.

Ao lado da sepultura poderão ser proferidas algumas poucas palavras, ou feita uma
oração. O pastor, nesse momento, pode também ajudar a família a decidir se quer - ou não -
abrir novamente o caixão.

Há ocasiões, em sepultamento de pessoas não pertencentes à igreja, mas nas quais o


pastor comparece, que há oportunidade de dirigir algumas palavras. Não houve solicitação
prévia de que seja celebrado um ofício. Se o pastor percebe que há ambiente para que ele
possa, pelo menos, orar pela família, ele (o pastor), deve dirigir-se discretamente a um
familiar e oferecer-se.

13.3 OS SIGNIFICADOS DO FUNERAL

Muitos conselheiros destacam que a cerimônia do sepultamento possui significados


muito profundos:
- ela serve para dar espaço para que os sentimentos de pesar sejam desencadeados. O
choro e a dor fluem. Muitas pessoas comentam que, ao não terem podido participar dessa
cerimônia de despedida, sentem que há alguma coisa inconclusa dentro de si mesmas;
- ela serve para expressar gratidão por uma vida que se foi;
- ela dá espaço para o consolo aos enlutados; ao mesmo tempo, é bom lembrar que o
funeral é culto, e não terapia de luto.
Há uma ênfase na esperança cristã, na confiança na ressurreição, ao lado do
reconhecimento da fragilidade humana. Aqui estamos hoje, e nosso Senhor nos espera
adiante. Vivemos nessa confiança e nessa certeza.

Você também pode gostar