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Estado de Goiás Poder Judiciário Comarca de QUIRINÓPOLIS Gabinete 1 Vara Cível
Estado de Goiás Poder Judiciário Comarca de QUIRINÓPOLIS Gabinete 1 Vara Cível
Poder Judiciário
Comarca de QUIRINÓPOLIS
Gabinete 1ª Vara Cível
Dissolução litigiosa
SENTENÇA
I – RELATÓRIO.
Narra a inicial que o autor conviveu com a requerida em união estável, e dessa relação sobre veio o
nascimento do menor MICHEL MARQUES, que desde a separação do casal, o mesmo contribui de forma
esporádica com o sustento do filho.
No mérito, pugnou pela decretação da dissolução da sociedade de fato, bem como, a guarda
definitiva do menor seja concedida à genitora, e que o sejam arbitrados os alimentos definitivos.
Decisão de (evento nº 04), deferiu a gratuidade de justiça e encaminhou os autos para realização de
audiência de conciliação.
O Ministério Público (evento nº 30) pugnou pela guarda unilateral do menor em favor da genitora, e
a condenação do genitor, à prestação de alimentos ao filho menor, em 50% do salário mínimo vigente.
II – FUNDAMENTAÇÃO.
DA UNIÃO ESTÁVEL.
Quanto ao pedido pleiteado no presente feito, saliento que, para uma relação possa ser qualificada
como união estável, que é entidade familiar, imperioso que se verifiquem, de forma clara e insofismável, as
suas características peculiares postas no art. 1.723 do Código Civil, que são: a convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de uma família.
Destarte, pode-se afirmar que a união estável corresponde a um casamento de fato. Enquanto a
entidade familiar que inicia com o casamento é comprovada pela mera exibição da certidão respectiva, a união
estável reclama cuidadosa apuração, mercê dos gravíssimos efeitos jurídicos dela resultantes. E, para que uma
relação seja reconhecida como união estável, é imprescindível a cabal demonstração de todos os seus
requisitos.
A propósito, colhe-se as observações expendidas pelo eminente autor Alvaro Villaça Azevedo,
basicamente no que tange à evolução da matéria face à legislação de regência, a exemplo do companheirismo
como fato social, conforme ressai do tópico pinçado de sua obra:
"Realmente, como fato social, a união estável é tão exposta ao público como o casamento, em que os
companheiros são conhecidos, no local em que vivem, nos meios sociais, principalmente de sua
comunidade, pelos fornecedores de produtos e serviços, apresentando-se, enfim, como se casados fossem.
Diz o povo, em sua linguagem autêntica, que só falta aos companheiros 'o papel passado'.
Essa convivência, como no casamento, existe com continuidade; os companheiros não só se visitam, mas
vivem juntos, participam um da vida do outro, sem tempo marcado para se separarem." (In, Estatuto da
família de fato: de acordo com o novo código civil, Lei nº 10.406, de 10-01-2002, 2ª ed. São Paulo,
Atlas, 2002).
Em análise dos autos, percebo que o requerente afirmou ter sido companheiro da requerida
MEIRILÂINE MARQUES, e desta união foi gerado um filho. A própria requerida em sede de contestação
confirma que, de fato, viveu em união estável com a parte requerente e que desta união sobreveio o filho do
casal MICHEL MARQUES.
Nesse passo, ante a nova redação do dispositivo legal acima transcrito, entendo que inexiste
óbice à decretação da dissolução de união estável do casal.
DO PEDIDO DE GUARDA.
Em relação ao pedido de guarda, esclareço que essa não se confunde com o poder familiar, pois
serve apenas para identificar o genitor que terá o filho em sua companhia direta, permanecendo intactos com
relação ao outro genitor os direitos e deveres inerentes ao pátrio poder, dentre eles a efetiva participação na
educação, sustento e vigilância dos filhos, ainda que em menor intensidade (CC/02, art. 1.589 c/c art. 1.632,).
A guarda e a convivência familiar devem ser vistas sob a ótica conferida ao instituto pela
Constituição de 1998, como forma de efetivação dos direitos fundamentais das crianças e adolescentes,
visando sempre a garantir-lhes condições adequadas ao seu desenvolvimento pleno (CR/88, art. 227).
No caso em baila, que o menor já vive sob a guarda de sua genitora, portanto, visando o princípio do
melhor interesse da criança, entendo que o menor deve continuar com a genitora, até mesmo porque ela possui
condições de lhe oferecer um desenvolvimento saudável, bem como de prestar-lhe toda assistência financeira,
educacional, moral e afetiva, circunstâncias imprescindíveis para garantir-lhes um desenvolvimento emocional e
psicológico saudável.
DA CONVIVÊNCIA PATERNA.
O direito de visita, interpretado em conformidade com a Constituição Federal (art. 227), é direito de
convivência recíproco entre pais não exercentes da guarda. Por isso, é mais correto dizer direito à
convivência, à companhia ou ao contato (permanente), do que direito de visita, além de ser uma forma de
fiscalização da manutenção e educação, como prevê o art. 1.589 do Código Civil.
Fernanda de Melo Meira (in Manual de direito das famílias e das sucessões. Ed. Del Rey: Malheiros,
2008) nos orienta que “a Constituição assegura, com prioridade absoluta, a convivência familiar (art. 227).
Regulamentando esse princípio, o ECA vem destacar a importância da vida em família como ambiente natural
para o desenvolvimento daqueles que ainda não atingiram a vida adulta. Mais do que um direito da criança,
constitucionalmente garantido, a convivência familiar vai mostrar como verdadeira exteriorização da valorização
do afeto, tão invocada na atual conjuntura brasileira”.
No que pertine a orientação doutrinaria relativa aos critérios para reconhecimento do direito de
convivência familiar, Maria Berenice Dias esclarece, ipsis litteris:
“(…) A visitação em datas predeterminadas, fixando quando o genitor pode ficar com o filho em sua
companhia, cria um distanciamento entre ambos. A imposição de períodos de afastamento leva ao
estremecimento dos laços afetivos pela não participação do pai no cotidiano do filho, além de gerar certo
descompromisso com o seu desenvolvimento. As visitas periódicas têm efeito destrutivo sobre o
relacionamento entre pais e filhos, uma vez que propiciam o afastamento entre eles, lenta e gradualmente,
até o desaparecimento, devido às angústias perante os encontros e as separações repetidas”. (MANUAL DE
DIREITO DAS FAMÍLIAS; 9ª edição revista, atualizada e ampliada, 2013; Porto Alegre, Ed. RT; pág. 459)
Nesse raciocínio, e considerando o conjunto probatório constante nos autos, a idade da criança, e
que não há evidências de maus tratos ou riscos relativos ao convívio do genitor com o menor entendo,
por bem, regular a convivência do Sr. MAXSUEL ROSA CARVALHO com seu filho menor MICHEL
MARQUES CARVALHO, de forma livre; ademais; vale ressaltar que, no presente caderno processual não foi
vislumbrada resistência da genitora relativa oposição do contato do pai com a menor, a parte requerida não
manejou requerimento de que o convívio paterno seja restrito a visitas assistidas.
DOS ALIMENTOS.
No que atine aos alimentos em favor do menore, o Código Civil assim regula a matéria:
“Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação.
Ou seja, na qualidade de filho, o infante possui direito aos alimentos em apreço. Porém, a fixação
desses alimentos deve obedecer ao binômio necessidade/possibilidade entre os envolvidos.
“Imprescindível será que haja proporcionalidade na fixação dos alimentos entre as necessidades do
alimentando e os recursos econômico- financeiros do alimentante, sendo que a equação desses dois fatores
deverá ser feita, em cada caso concreto, levando-se em conta que a pensão alimentícia será concedida
sempre ad necessitatem1.”
A necessidade do menor esta comprovada pelos documentos de evento nº 01, arquivo 04 e evento
nº 14, arquivo 02, o qual demonstra sua tenra idade, fato que o impede de exercer atividade laboral, e
comprova o quadro clínico delicado, ao qual o menor esta submetido, uma vez que, o mesmo está em
acompanhamento neuropediátrico com quadro de paraplegia flácida, mielomeningocele lombo sacra e
hidrocefalia corrigida. Assim, carecendo de necessidades que fogem o comum, nessas situações.
Quanto à possibilidade do requerido, verifico não haver, nos autos, documentos suficientes para
atestá-la – em face da ausência de comprovação sobre os rendimentos do requerido, e ante a necessidades do
infante, tenho por bem definir os alimentos definitivos no percentual de 40% (quarenta por cento), tomando por
base o salário-mínimo vigente pois, a meu ver, o valor estipulado é o que melhor atende ao binômio
necessidade/possibilidade entre as partes.
III – DISPOSITIVO.
Posto isso, acolho o parcialmente o parecer ministerial de (evento nº 30) e, em consequência, julgo
parcialmente procedente o pedido inicial, nos termos do art. 487, I do CPC, PARA:
1) Reconhecer a existência e decretar a dissolução da união estável havida entre o Sr. MAXSUEL
ROSA CARVALHO e a Sr. ª MEIRILÂINE MARQUES EVANGELISTA.
3) REGULO a convivência do Sr. MAXSUEL ROSA CARVALHO com seu filho menor MICHEL
MARQUES CARVALHO, de forma livre.
4) FIXAR os alimentos definitivos em favor do menor em 40% (quarenta por cento), tomando por
base o salário-mínimo vigente, ou seja, atuais R$ 399,20 (trezentos e trinta e nove reais e vinte centavos),
devendo ser pagos até o dia 10 de cada mês, diretamente à genitora do menor, mediante contrarrecibo, ou
mediante depósito em conta bancária a ser apresentada por ela, e contribuir ainda com 50% (cinquenta por
cento) dos valores atinentes às despesas extraordinárias do filho, tais como medicamentos, despesas
hospitalares, odontológicas, materiais escolares, roupas, calçados etc.
Nos termos da Lei nº 9.785/95, bem como da Portaria 293/03 da P.G.E., arbitro os honorários
advocatícios por ter sido advogado indicado pela Ordem dos Advogados do Brasil, subseção Quirinópolis, ao
exercício da assistência judiciária, Dra. MÔNICA BATISTA PENA BARBOSA OAB/GO 26.224 em 3 (três)
UHD, os quais serão pagos pela Procuradoria-Geral do Estado após o trânsito em julgado da presente
sentença.
Juíza de Direito
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