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Estado de Goiás

Poder Judiciário
Comarca de QUIRINÓPOLIS
Gabinete 1ª Vara Cível

Dissolução litigiosa

Autos nº: 5536037.14

SENTENÇA

I – RELATÓRIO.

Trata-se de ação de reconhecimento e dissolução de sociedade de fato c/c alimentos e guarda,


proposta por MAXSUEL ROSA CARVALHO em face de MICHEL MARQUES CARVALHO menor impúbere,
representado por sua genitora MEIRILÂINE MARQUES EVANGELISTA. Ambos qualificados.

Narra a inicial que o autor conviveu com a requerida em união estável, e dessa relação sobre veio o
nascimento do menor MICHEL MARQUES, que desde a separação do casal, o mesmo contribui de forma
esporádica com o sustento do filho.

No mérito, pugnou pela decretação da dissolução da sociedade de fato, bem como, a guarda
definitiva do menor seja concedida à genitora, e que o sejam arbitrados os alimentos definitivos.

Documentos de (evento nº 01) acompanham a inicial.

Decisão de (evento nº 04), deferiu a gratuidade de justiça e encaminhou os autos para realização de
audiência de conciliação.

Termo de audiência de conciliação frustrada – evento nº 11.

O requerido apresentou contestação/reconvenção em (evento nº 14), contestando apenas o valor


dos alimentos.

Impugnação à contestação apresentada em evento nº 17.

As partes não demonstraram interesse na produção de provas (evento nº 24).

O Ministério Público (evento nº 30) pugnou pela guarda unilateral do menor em favor da genitora, e
a condenação do genitor, à prestação de alimentos ao filho menor, em 50% do salário mínimo vigente.

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


Documento Assinado e Publicado Digitalmente em 26/09/2019 16:03:22
Assinado por ADRIANA MARIA DOS SANTOS QUEIROZ DE OLIVEIRA
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É o relatório que basta.

Tudo bem-visto e ponderado, fundamento e DECIDO.

II – FUNDAMENTAÇÃO.

Presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, verifico que o feito comporta


julgamento e, à míngua de preliminares, passo diretamente ao exame do mérito.

DA UNIÃO ESTÁVEL.

Quanto ao pedido pleiteado no presente feito, saliento que, para uma relação possa ser qualificada
como união estável, que é entidade familiar, imperioso que se verifiquem, de forma clara e insofismável, as
suas características peculiares postas no art. 1.723 do Código Civil, que são: a convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de uma família.

Destarte, pode-se afirmar que a união estável corresponde a um casamento de fato. Enquanto a
entidade familiar que inicia com o casamento é comprovada pela mera exibição da certidão respectiva, a união
estável reclama cuidadosa apuração, mercê dos gravíssimos efeitos jurídicos dela resultantes. E, para que uma
relação seja reconhecida como união estável, é imprescindível a cabal demonstração de todos os seus
requisitos.

A propósito, colhe-se as observações expendidas pelo eminente autor Alvaro Villaça Azevedo,
basicamente no que tange à evolução da matéria face à legislação de regência, a exemplo do companheirismo
como fato social, conforme ressai do tópico pinçado de sua obra:

"Realmente, como fato social, a união estável é tão exposta ao público como o casamento, em que os
companheiros são conhecidos, no local em que vivem, nos meios sociais, principalmente de sua
comunidade, pelos fornecedores de produtos e serviços, apresentando-se, enfim, como se casados fossem.
Diz o povo, em sua linguagem autêntica, que só falta aos companheiros 'o papel passado'.

Essa convivência, como no casamento, existe com continuidade; os companheiros não só se visitam, mas
vivem juntos, participam um da vida do outro, sem tempo marcado para se separarem." (In, Estatuto da
família de fato: de acordo com o novo código civil, Lei nº 10.406, de 10-01-2002, 2ª ed. São Paulo,
Atlas, 2002).

Em análise dos autos, percebo que o requerente afirmou ter sido companheiro da requerida
MEIRILÂINE MARQUES, e desta união foi gerado um filho. A própria requerida em sede de contestação
confirma que, de fato, viveu em união estável com a parte requerente e que desta união sobreveio o filho do
casal MICHEL MARQUES.

Nesse passo, ante a nova redação do dispositivo legal acima transcrito, entendo que inexiste
óbice à decretação da dissolução de união estável do casal.

DO PEDIDO DE GUARDA.

Em relação ao pedido de guarda, esclareço que essa não se confunde com o poder familiar, pois
serve apenas para identificar o genitor que terá o filho em sua companhia direta, permanecendo intactos com
relação ao outro genitor os direitos e deveres inerentes ao pátrio poder, dentre eles a efetiva participação na
educação, sustento e vigilância dos filhos, ainda que em menor intensidade (CC/02, art. 1.589 c/c art. 1.632,).

A guarda e a convivência familiar devem ser vistas sob a ótica conferida ao instituto pela
Constituição de 1998, como forma de efetivação dos direitos fundamentais das crianças e adolescentes,
visando sempre a garantir-lhes condições adequadas ao seu desenvolvimento pleno (CR/88, art. 227).

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


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Na definição da guarda, mesmo que provisória, o julgador deve levar em consideração os princípios
do melhor interesse do menor, da parentalidade responsável e da proteção integral, observando, diante das
peculiaridades do caso concreto, aquele que possui melhores condições de atender às necessidades do
incapaz, não apenas financeiras, mas, primordialmente, psicológicas e afetivas.

No caso em baila, que o menor já vive sob a guarda de sua genitora, portanto, visando o princípio do
melhor interesse da criança, entendo que o menor deve continuar com a genitora, até mesmo porque ela possui
condições de lhe oferecer um desenvolvimento saudável, bem como de prestar-lhe toda assistência financeira,
educacional, moral e afetiva, circunstâncias imprescindíveis para garantir-lhes um desenvolvimento emocional e
psicológico saudável.

DA CONVIVÊNCIA PATERNA.

O direito de visita, interpretado em conformidade com a Constituição Federal (art. 227), é direito de
convivência recíproco entre pais não exercentes da guarda. Por isso, é mais correto dizer direito à
convivência, à companhia ou ao contato (permanente), do que direito de visita, além de ser uma forma de
fiscalização da manutenção e educação, como prevê o art. 1.589 do Código Civil.

Fernanda de Melo Meira (in Manual de direito das famílias e das sucessões. Ed. Del Rey: Malheiros,
2008) nos orienta que “a Constituição assegura, com prioridade absoluta, a convivência familiar (art. 227).
Regulamentando esse princípio, o ECA vem destacar a importância da vida em família como ambiente natural
para o desenvolvimento daqueles que ainda não atingiram a vida adulta. Mais do que um direito da criança,
constitucionalmente garantido, a convivência familiar vai mostrar como verdadeira exteriorização da valorização
do afeto, tão invocada na atual conjuntura brasileira”.

É essencial a presença constante e vigilante de ambos os genitores, ou melhor, pais no período de


formação da criança, pois são eles os responsáveis pela manutenção dos laços de afetividade que apenas o
convívio alimenta.

No que pertine a orientação doutrinaria relativa aos critérios para reconhecimento do direito de
convivência familiar, Maria Berenice Dias esclarece, ipsis litteris:

“(…) A visitação em datas predeterminadas, fixando quando o genitor pode ficar com o filho em sua
companhia, cria um distanciamento entre ambos. A imposição de períodos de afastamento leva ao
estremecimento dos laços afetivos pela não participação do pai no cotidiano do filho, além de gerar certo
descompromisso com o seu desenvolvimento. As visitas periódicas têm efeito destrutivo sobre o
relacionamento entre pais e filhos, uma vez que propiciam o afastamento entre eles, lenta e gradualmente,
até o desaparecimento, devido às angústias perante os encontros e as separações repetidas”. (MANUAL DE
DIREITO DAS FAMÍLIAS; 9ª edição revista, atualizada e ampliada, 2013; Porto Alegre, Ed. RT; pág. 459)

Nesse raciocínio, e considerando o conjunto probatório constante nos autos, a idade da criança, e
que não há evidências de maus tratos ou riscos relativos ao convívio do genitor com o menor entendo,
por bem, regular a convivência do Sr. MAXSUEL ROSA CARVALHO com seu filho menor MICHEL
MARQUES CARVALHO, de forma livre; ademais; vale ressaltar que, no presente caderno processual não foi
vislumbrada resistência da genitora relativa oposição do contato do pai com a menor, a parte requerida não
manejou requerimento de que o convívio paterno seja restrito a visitas assistidas.

DOS ALIMENTOS.

No que atine aos alimentos em favor do menore, o Código Civil assim regula a matéria:

“Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação.

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§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da
pessoa obrigada.

§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade


resultar de culpa de quem os pleiteia.”

Ou seja, na qualidade de filho, o infante possui direito aos alimentos em apreço. Porém, a fixação
desses alimentos deve obedecer ao binômio necessidade/possibilidade entre os envolvidos.

Neste sentido, precisa a lição da Prof.ª Maria Helena Diniz:

“Imprescindível será que haja proporcionalidade na fixação dos alimentos entre as necessidades do
alimentando e os recursos econômico- financeiros do alimentante, sendo que a equação desses dois fatores
deverá ser feita, em cada caso concreto, levando-se em conta que a pensão alimentícia será concedida
sempre ad necessitatem1.”

A necessidade do menor esta comprovada pelos documentos de evento nº 01, arquivo 04 e evento
nº 14, arquivo 02, o qual demonstra sua tenra idade, fato que o impede de exercer atividade laboral, e
comprova o quadro clínico delicado, ao qual o menor esta submetido, uma vez que, o mesmo está em
acompanhamento neuropediátrico com quadro de paraplegia flácida, mielomeningocele lombo sacra e
hidrocefalia corrigida. Assim, carecendo de necessidades que fogem o comum, nessas situações.

Ademais, conforme alhures salientado, há presunção da necessidade do filho absolutamente


incapaz, mormente porque este sequer tem meios para arcar com suas despesas, dependendo, destarte, dos
cuidados tanto em termos de afeto quanto em termos financeiros, de seus genitores, para a formação de sua
personalidade e para a sua subsistência.

Quanto à possibilidade do requerido, verifico não haver, nos autos, documentos suficientes para
atestá-la – em face da ausência de comprovação sobre os rendimentos do requerido, e ante a necessidades do
infante, tenho por bem definir os alimentos definitivos no percentual de 40% (quarenta por cento), tomando por
base o salário-mínimo vigente pois, a meu ver, o valor estipulado é o que melhor atende ao binômio
necessidade/possibilidade entre as partes.

III – DISPOSITIVO.

Posto isso, acolho o parcialmente o parecer ministerial de (evento nº 30) e, em consequência, julgo
parcialmente procedente o pedido inicial, nos termos do art. 487, I do CPC, PARA:

1) Reconhecer a existência e decretar a dissolução da união estável havida entre o Sr. MAXSUEL
ROSA CARVALHO e a Sr. ª MEIRILÂINE MARQUES EVANGELISTA.

2) CONCEDER a guarda definitiva do menor MICHEL MARQUES CARVALHO em favor de sua


genitora, Sr. ª MEIRILÂINE MARQUES EVANGELISTA.

3) REGULO a convivência do Sr. MAXSUEL ROSA CARVALHO com seu filho menor MICHEL
MARQUES CARVALHO, de forma livre.

4) FIXAR os alimentos definitivos em favor do menor em 40% (quarenta por cento), tomando por
base o salário-mínimo vigente, ou seja, atuais R$ 399,20 (trezentos e trinta e nove reais e vinte centavos),
devendo ser pagos até o dia 10 de cada mês, diretamente à genitora do menor, mediante contrarrecibo, ou
mediante depósito em conta bancária a ser apresentada por ela, e contribuir ainda com 50% (cinquenta por
cento) dos valores atinentes às despesas extraordinárias do filho, tais como medicamentos, despesas
hospitalares, odontológicas, materiais escolares, roupas, calçados etc.

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Assinado por ADRIANA MARIA DOS SANTOS QUEIROZ DE OLIVEIRA
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Condeno a requerida ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, os quais fixo
em R$ 1.000,00 (mil reais), nos termos do art. 20, §§ 3º e 4º do CPC. Contudo, tardiamente defiro os
benefícios da gratuidade, logo considerando ser a requerida beneficiária da gratuidade da justiça, suspendo a
exigência do pagamento pelo prazo de 5 (cinco) anos, conforme preconiza o §3º do art. 98 do CPC.

Nos termos da Lei nº 9.785/95, bem como da Portaria 293/03 da P.G.E., arbitro os honorários
advocatícios por ter sido advogado indicado pela Ordem dos Advogados do Brasil, subseção Quirinópolis, ao
exercício da assistência judiciária, Dra. MÔNICA BATISTA PENA BARBOSA OAB/GO 26.224 em 3 (três)
UHD, os quais serão pagos pela Procuradoria-Geral do Estado após o trânsito em julgado da presente
sentença.

Transitada em julgado, expeça-se o competente mandado para averbação da dissolução e demais


documentos que se fizerem necessários e, após, arquivem-se com as cautelas de praxe.

P. R. Intimem-se, dando-se ciência ao Ministério Público.

Quirinópolis, datado e assinado digitalmente.

Adriana Maria dos Santos Queiróz de Oliveira

Juíza de Direito

04

1 (Código Civil Anotado, 4ª. ed., Saraiva, p. 361).

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