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Da escrita gética 4 humanistica na documentagao da Camara de Lisboa: Em torno da escrivaninha municipal quinhentista From gothic to humanistic writing in the documentation of the Lisbon City Council: Around the sixteenth-century municipal desk Jorge Ferreira Paulo* submissio/submission: 24/08/2017 aceitagio/approval: 17/11/2017 RESUMO Aescrita gética constituiu um dos tiltimos tragos de medievalidade em Portugal, permanecendo em utilizagao ainda durante grande parte do século XVI, sob diferentes tipos e modalidades graficas, até a entrada do canone humanistico. Este estudo incide sobre o periodo final dessa escrita de raiz medieval, no ambito da atividade burocratica da Camara de Lisboa, em que se destaca 0 oficio, a aco e a produgao escrita do escrivao da cdmara, Para tal, caracteriza-se 0 seu gabinete escriturdrio e analisa-se a pratica grafica a0 servico da escrivaninha municipal Investgador independente, Lisboa, Portugal. Jonge Luts Ferreira Marques Paul élicenciado em Histriae mestze em PaleagrallaeDiplomética, com a tese “A eserta humanfstica na documentagio réga portuguesa de Quinhentos. Prossegue estudes na Area da Paleografia, Como atvidades prfisionais, divide o tempo pelo ensino da striae pela Olsipograia dreaa que se dedica através de estudos de caster histrico e patrimonial, para entidades pibliase privadas, por toda a cidade de Lisboa, tendo jd publicado alguns artigos nos Cadernos do Arquivo Municipal. sua publicaro mais recente data de 2016, em coautora,Histéra do Palicio Portugal da Gama. In Paldcio Portugal da Gama /S Roque. Lisboa: Santa Casa da Misricér, Correioeletrénic:jpaulo@neteabo.pt nth Mice 854210391782 Sha 8 xem p18. 15818 PALAVRAS-CHAVE Paleografia / Escrita gética / Escrita humanistica / Escrivéo da camara / Escrivaninha municipal ABSTRACT The Gothic writing was one of the last traces of medievality in Portugal, remaining in use during much of the sixteenth century, under different types and graphic styles, until the entrance of the humanistic rule, the basis of current writing. This paper focuses on the final period of that medieval writing, within the ambit of the bureaucratic activity of the city council of Lisbon, which highlights the craftsmanship, activity and written production of the council clerk. In that sense, this article characterizes its clerk's office and analyzes the graphical practice within the service of the municipal desk KEYWORDS Paleography / Humanistic writing / Gothic writing / City council clerk / Municipal desk INTRODUGAO Tratando-se de um arquivo com um vasto acervo documental, enriquecido ao longo dos séculos, a importancia do Arquivo da Camara de Lisboa para os estudos paleogréficos e para a histéria da cultura da escrita, tantas vezes esquecidos, & incontornavel, Sendo o documento um produto da ago gréfica, resultante da necessidade de ordenar e organizar a administracdo e 0 governo concelhios, a sua conservagao é o garante da meméria da instituigdo. Assim, a valorizagdo da escrita nao é menos importante. Sem ela, que encerra em si prépria tanta histria e é em si mesma fonte de conhecimento, dificilmente se teria construido essa meméria secular. Posto isto, este trabalho prope uma abordagem ao estudo da escrita utilizada na prética gréfica concelhia, focando a atengao no perfodo final da vigéncia do cdnone gético e na transigao para o uso da escrita humanistica, Na realidade, a escrita gética constituiu um dos tiltimos vestigios de medievalidade na sociedade portuguesa, mantendo-se em uso ainda durante século XVI, embora sob uma pluralidade de estilos e modalidades, até & chegada dos padrées humanisticos, base da escrita atual Para concretizar essa andlise é necessdrio perceber a relevancia do escrivao da camara, cargo de reconhecido prestigio e poder, caracterizar a sua acdo e produgao escrita, enquadrando o seu papel na orgdnica burocratica do concelho, através da produgdo escrita do seu gabinete escriturdrio. Nesse sentido, importa caracterizar essa estrutura de apoio @ escrivaninha municipal, suporte da sua atividade, e definir os percursos dos seus protagonistas associando-os a sua escrita e ao ambiente escriturario em que se inserem, Uma vez que 0 Senado da Camara sempre se constituiu como produtor e reprodutor de documentacdo, neste caso como instituigéo reguladora de cardcter municipal, ha que perceber até quando é que a sua estrutura escriturdria conservadora manteve os tipos gréficos tradicionais e identificar os primeiros contactos com os novos modelos humanisticos, caracterizando de forma sucinta as maos que os redigem, isto é, dar a conhecer os autores paleograficos e a sua escrita. 1. O ESCRIVAO DA CAMARA Durante muito tempo, 0 escrivao da camara desempenhou um papel central na organica burocratica do concelho de Lisboa. Esta importancia dada a escrivaninha municipal foi reconhecida desde cedo, levando mesmo o rei D. Jodo I a tornar o cargo vitalicio, atendendo aos grandes dapnos aa dicta gidade porquanto nom podiam auer tam boa Recadagom de suas escripturas e outras coussas que sse trautam per 0 dicto ofigio seendo mudado em cada huum anno, como auendo o, Continuadamente hhuwn demais que nom era honrra da dicta gidade mudar sse assi em cada huum anno, nem outrosi proueyto porque he huum oficio em que conpre homem que o sabha bem fazer. E que aJa dell noticia o que nom podem auer saluo husando o per tempo'. A semelhanga dos jutzes, dos vereadores, do procurador da camara e os dos mesteres, o escrivao da camara gozava de certas liberdades e privilégios®. Igualmente, tinha assento frequente em reunides de convocatéria régia, juntamente com os principais oficiais da camara’, Estava presente nas reuniGes da vereacdo, secretariando-as, registando os despachos, sentando-se no mesmo banco do tesoureiro da cidade, do vereador das obras ¢ do contador’, Esta disposi¢ao dos lugares s6 muito mais tarde viria a ser alterada, no reinado de D. José (1773), j4 no novo edificio do Senado da Camara, tendo em vista a uniformizagao com os seus tribunais® CE LISBOA. Arquive Municipal -Lirodos Pregos Lisboa: AML, 2016. p. 314 * Por alvad de 1461/02/25, pada “andar em bestas muares” (Arquive Municipal de Lisboa (AML), Livre 2°deD, Duarte eD. Afonso V, 4). Por carta régia de 1476/12/02, fo isento da prestario de servigo militar (Ct LISBOA, Arquivo Municipal ~ Livre dos Pregos. Lisboa: AML, 2016, p. 577) 2 Vaja-s, por exemple, convocatéria de 1506, margo, 03, deD. Manuel "para vos fallarmos" (CE AML, Livro 12 de D, Manuel, f121)-Sobrea proximidade peculiar entre a coroa e2 Camara de Lisboa vojz se LALANDA, Margarida S Nogueira -Pratcasnotarais eo acervo histrico da Camara Municipal de Lisboa. In COLOQUIO UM ACERVO PARA A HISTORIA, 2, Lisboa, 2015 Atas. Lisboa: AML 2015, p. 179-180. “ conforme oalvars de 1539/03/12, que definia oassento do tesoureira da cidade sempre que fosse&cSmara ~ “no bamquo onde se hasemta oesprivam da camara, o wear das obras eo comtador" (Cf AML, Liro dos ragimentos dos vereadores«ofcai da cémara [Livro Carmesim], £29). 1540, 0 ret reforraria 0 estatuto daquele banco (Cl. AML, Livro Carmesin, £39), ® considerava o monarca que o estado dos assent “preverte, ¢deturpa a bos armenia, gravidade,eordem que deve haver no mesmo Senado sto em resultado da “variedade, ue pelas Revolusoens,e vicissitudes dos tempos cauzaram dversos interesss particulares nz ordem dos Assentos" Doravante, uma nica mesa, com o presidente acabeceira, ladeado pelos vereadores, escrivio da cdmara 2 ditita, e procurador da cidade, a esquerda, todos em bancos estofadose de espaldar (Cf AML, Livro Carmesim, f.227-227%.). No inicio do século XVI, e em resultado da dinamica urbana de Lisboa, a intervensao régia na administragao da Cidade levou a elaboracao do regimento de 30 de agosto de 1502, reconhecendo D. Manuel que era “muy negesario algumas cousas serem emendadas E corrigidas", uma vez que a “multiplicagom de seu pobuo E Rendas vaao em grande crecimento”®. Da defini¢ao deste novo regimento, a regulamentar a atividade dos vereadores e oficiais da cimara, deveria “sair todo boom emxenpro pera todallas cidades ¢ villas dos ditos nossos Regnos ¢ Senhorios” De acordo com o capitulo correspondente ao regimento do “spriuam da camara’, este deveria servir 0 oficio com boa diligéncia, obediéncia e acatamento ao mandado dos vereadores, competindo-Ihe, fundamentalmente, 0 registo rigoroso das rendas, direitos e foros da edilidade - “a primsipall cousa de que deue ter boom cujdado assy he das Remdas E direitos ffooros E Remdas E eramgas propiedades da dita cidade de tall guisa que todas venham a boa E verdadeira Regepta E asy da despesa dellas””. Para tal, o escrivao estava incumbido de fazer, anualmente, um conjunto de livros, & semelhanca do que se praticava nos almoxarifados: uns, para as rendas, outros para os langos e ainda outros para os aforamentos, além de cadernos de arrematagdes e de assentamentos, 0 acesso arca que guardava esses livros - “das vereacoens acordos e das outras couzas da Camera posturas e regimentos da gouernanga della” -, a partir de 1499, passou a estar reservado ao escrivao e ao porteiro da cAmara, cada um com a sua chave, considerando 0 monarca que assim ficariam em “muy boa guarda”®, Lembra ainda o regimento que o escrivao da cdmara deveria ter “milhor conhegimento por contino oficgial que os Vereadores e precurador E outros offigiaes que cada huum anno sam’. Este princfpio de “contino officgial” mantém o reconhecimento da importncia da permanéncia em fungdes de quem ocupava o cargo, independentemente da mudanga periédica e obrigatéria dos vereadores e dos restantes oficiais, a quem ele, escrivdo, lia anualmente 0 referido regimento. De facto, esta estabilidade proporcionada pelo cardcter vitalicio e tendencialmente hereditario do oficio de escrivao da cAmara, bem como 0 quadro juridico estavel relativo as fungdes que Ihe estavam subjacentes, estabelecido desde cedo e continuamente reforgado pelos diferentes conjuntos normativos, naturalmente, acabariam por conferir ao cargo um poder considerdvel, proporcional 4 responsabilidade de, pela escrita, garantir a preservagio da meméria necesséria a vida coletiva do concelho. Da mesma forma, a sua participagio nas assembleias concelhias e a relagao estreita com os sucessivos governos responsaveis pela administragao do concelho e pelos destinos da cidade, assim como a proximidade com o funcionalismo régio e com diferentes AMI, livre Garmasim, 28. > AML, Livro Carmesim, 22-24 * Tudo porque recebera informacio que aqueles livros “nfo andio naquella goarda que devem" (CAML, Livro 1 de D. Manuel, 42-43). Alguns anos depois em 1512, sobre a rca de concelto, um outre conjunto normative ~ as Ordenasdes Manuelinas~estipul, no Titulo Xi, sobre o “escruam da camarg ecousas que seu ofciopertengem’, que o esrivdo "no consentira que cousa alguma das sobreditas que na dita arca esteuerem se trem fora della pera nenhuma parte, saluo quando alguma eseritura for necesaria se tiara na casa da camara onde tal aca esteuer” (CI. FERNANDES, Valentin, ed ~ Ordenagées Manuellnas. Lisboa: CEHUN, 2002. Jf 130-L00 ed fac. sill, 1512-13), figuras da corte, garantiam-Ihe um estatuto de prest{gio proeminente no seio do concelho, Portanto, em termos da escrita, é a pega chave no meio burocratico municipal, com acesso privilegiado a informagio e corporizando quer o servico ao concelho, quer a confianca régia, com cujas escrivaninhas mantinha contactos permanentes”. Ou nao fosse a escrita um instrumento de centralizagao administrativo. 2. UM OFICIO DE FAMILIA Tal como outros offcios, o de escrivao da cAmara transitava muitas vezes de pais para filhos. Em Lisboa, a venalidade deste cargo torna-se notéria a partir de finais do século XV, ainda no reinado de D. Joao Il, quando a familia Moreira/Magalhaes nele inicia fungdes, tornando-se naquela que teve uma ligagdo mais prolongada a escrivaninha do concelho, através de varias geragdes no exercicio do cargo, cuja propriedade manteve até finais do século XVII, Estes dois séculos no desempenho daquelas funges terdo proporcionado a aquisicao de um conhecimento profundo dos meandros da atividade municipal e da organizacao concelhia, No caso de Lisboa, na centtiria de Quinhentos, nao ha como evitar a figura de Crist6vao de Magalhaes, com uma longevidade assinalavel no exercicio do cargo de escrivao da camara, ao longo de cerca de meio século de atividade, Tendo sucedido ao pai no oficio, destaca-se quer pela duracao da carreira burocrética, quer por ter garantido a continuidade do cargo na sua descendéncia, 0 que pressupée, desde logo, um aprendizado no que diz. respeito a escrita, numa perspetiva de tirocinio de carter familiar, sem descurar a respetiva transmissao para a geragao seguinte. Contudo, se em termos burocréticos o destaque vai para Cristévao de Magalhaes, ja em termos histéricos ha que destacar Nuno Fernandes Moreira, que ocupou a escrivaninha da cémara por nomeacao do rei, sendo escolhido pelo monarca para um lugar de grande prestigio, tornando-se 0 primeiro de uma linhagem de escrivaes da Camara de Lisboa que constituiram um bom exemplo da pratica de patrimonializacao do oficio, através do seu cardcter hereditério, embora consentido e supervisionado pelo poder régio. 0 aprego de D. Manuel ficou patente na possibilidade que Ihe foi conferida para continuar em fungdes enquanto assim o entendesse, isto apesar de ter renunciado ao cargo nas generosas maos d’el Rei. Efetivamente manteve-se no ativo, possivelmente enquanto decorria a preparacdo do filho para o desempenho do servico escriturdrio, como adiante se verd. A primeira transmissao do oficio na familia fez-se de Nuno Fernandes para o filho Cristévao de Magalhaes, que se casou com Ana de Torres, filha de Afonso de Torres ¢ Elvira Castilho, de quem teve Nuno de Magalhiies e Afonso de Torres de Magalhies. Destes, o primeiro exerceu 0 cargo por pouico tempo, pois morreu em Alcécer Quibir, sucedendo-Ihe o filho Crist6vao de Magalhies, que por ser ainda muito jovem foi substituido pelo tio, Afonso de Torres de Magalhaes, que viria a desempenhar as fungdes durante varios anos"®. Em vésperas da Restauragao, foi * Sobre o papel do escrvao da clara na administragio concelhia¢ como fo responsivel ela produso, reprodugoe conservago do pateiménio eserto daqueleconcelho, construindo meméria, ejase ROLDAO, Ana Fila Flrmina Sequetra Pinto ~ A memérta da cidade: adminstragdo urbana e préticas de eseritaem Evora (1415-1536). Lisboa [sn], 2011p. 157-173. Tese de Doutoramento em Histria Medieval, apresentada & Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa # Cristovlo de Magalhies recebeu merc® do ofeio de escrivdo da cdmara por alvardrégio de 1579, maio, 1, Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANT), CChancelaria de D Sebasit,Iv. 42, £2630, a este Cristévaio de Magalhaes que coube a responsabilidade de dar posse ao novo presidente da camara, o conde de Cantanhede"!, Apesar de nao ter deixado geragao legitima acabou por ter um filho bastardo de uma manceba, “que dizem recebera a hora da morte’, assim ficando recordado”. Igualmente, do uso que deu as maos nao se esqueceu a Histéria, embora por motivos alheios a escrita, como se depreende do epiteto com que foi alcunhado -“o Carrasco” -, por enforcar um criado com as préprias maos. De resto, o elo multissecular da familia ao oficio prolongar-se-ia ainda até 1684, quando, por fim, um descendente, Cristévao Francisco de Magalhies, renunciou a0 cargo de escrivao da camara, em Anténio Rebelo, dando infcio a um outro ciclo, numa nova parentela”. 2.1. Percursos burocraticos ao servigo da escrivaninha municipal Nuno Fernandes Moreira era filho do senhor de Gestago e alcaide-mor de Castelo Branco, Diogo Fernandes Moreira e de Violante de Magalhies. Criado do Rey D. Affonso 5 muito bom cavalleiro, que se achou com seu Pay na tomada de Arzila, ena batalha do Touro foi muito bem aceito do Rey D. Joao 2° que o mandou duas vezes por embaixador a Fez, e da ultima Ihe deo o officio de escrivao da Camera de Lisboa hum dos mais honrados e rendozos" A sua atividade esté bem documentada no Arquivo Municipal, pelo menos desde 1494!°, Meramente a titulo ilustrativo, das suas fungées e responsabilidades, registem-se as convocatérias régias ao oficialato municipal, onde se incluiao escrivao da cémara -“pera comvosco fallarmos algumas cousas""*,0 seu papel no caso de extravio de proviso ou mandado, estipulando o rei que contaria com aquilo que o escrivao depusesse, relembrando que, para tal, seria necessario tomar-lhe 0 depoimento jurado, “serrado aseelado” (1510)""; ou, ainda, as regulares e frequentes instrugdes do monarca para fazer os assentos ou treslados de cartas ou de provisdes régias'’ Sobre Nuno Fernandes, dois aspetos sao de realcar: por um lado, a referéncia ao “fiel escrivao”, que repete em varios documentos - "E eu sobredito Nuno fernandez que esta carta d’el Rej nosso Senhor a meu fiell spriuam fiz spreuer e sospreuy E assyney de meu Synall pubrico que tal [sinal de tabeliao] he", Referir-se-ia a um escrivéo " AML, Livro Carmesin, £114 (carta régia datada de 1639, abril, 13) ® Of GAIO, Manuel José da Costa Felguelras - Nobldro de familias de Portugal. Braga: Agostino de Azevedo Melrelles, 1998. XIN, p. 228 ® AML, Livro Carmesin, .159-160v. (cata régia datada de 1685, mao, 05) “ GAIO, Manuel José da Costa Felgulras~op. lt p.228-229, * AML, Livro primero do tombo dex propiedadesforeras a Camara desta mvitonobre, sempre lel cidade de Litboa, 204, * AM, Lio 1? de D. Manuel, 1 ” AML, Livro 3d D. Manuel £87 88, de 1510. * Em 1510 (maio, 07) por exemplo,recebe instrusdes pars fazer em verde és (C1AML, Livro 3 de. Manuel, 73-73¥) ® AML, Liv dos Pregas, doc. 494, 3160. nto do treslado de uma cart rina fim de possara haver quatro dias de cimara, DDAESCRITA GOTICA A HUMARISTICA NA DOCOMENTAGAO DA CAMARA DE LISBOA: EM TORNO DA ESCRIVANINHA MUNICIPAL QUAHENTISTA jm | em particular, ou simplesmente ao cargo, Aquele que por ele foi encarregado de redigir 0 acto? Por outro lado, a utilizagao do sinal piblico, que o escrivao da camara de Lisboa deveria apor sempre nas escrituras feitas por si, por determinagao régia de 1502 (julho, 13), sempre enunciada na documentagao ~ “em presemga de mjm Nuno fernamdez stpriuam da dita camara E pubrico per autoridade Reall das stprituras que a ella pertengem e se em ella ham de fazer” (V. Fig. 1). gure Test cm plies oma dua carta gi de lg, sit pr Nas Frandes. 1505, neo, 21 AM, io dos Pages do. 49913188 ‘Ao fim de pouco mais de trés décadas de carreira como responsével pela escrivaninha municipal, em 1521, Nuno Fernandes renunciow ao oficio. Contudo, manter-se-ia ao servico, em simulténeo com o filho. Assim se verifica pela sua intervengio em varias escrituras de aforamento, ja com o filho em fungdes, onde se Ié - “em presenga de mym Nuno Fernandez stpriuam da ditta camara e publico per autoridade Reall das stprituras que a ela pertenge e se em ela ham de fazer””!; ou numa carta régia de 1523, em que ainda é mencionado no cargo; bem como em dois aforamentos por si subscritos - "sobscrita em publico, assinada por Nuno Fernandez, escrivao da Camara” ~, respetivamente em 1524 e 1526", ‘Ao escrivio Nuno Fernandes Moreira sucedeu Cristévio de Magalhdes, que recebeu o oficio de escrivao da Camara de Lisboa, “em sua vida’, no dia 1 de outubro de 1521, por carta de D. Manuel, que depositou confianga na sua "bomdade saber e descrigam". Dois meses e meio antes de morrer, agradecia assim 0 Venturoso aos servigos prestados por Nuno Fernandes, seu pai, cavaleiro da Casa Real que tio fiel e diligentemente o servira a sieaD. Jodo Il naquelas fungées. Coma morte de D. Manuel, Cristévao de Magalhaes solicitou a confirmagao do cargo a D. odo III, que lhe concedeu mercé por carta de 20 de setembro de 1524. Nao foi a primeira mercé régia * AM Livro dos Pregos, doc. 494, £ 316v.~"E pera daquy em deante nos praz que o sprivam que o propio spivam da camara per ssy Webar tenia utoridade de fazer pubreo nas spituras que fezer. 2 Em viras escrituras do aforamentos, entre 1520 ¢ 1522, haroferéacias& sua atividade (AML, Livro 8" de esrituras de aforamentos) AML, Lio 24de DJodo II, 8 AML, Livro primeira do tombo 507 (dezembro, 31}; Wem, idem, £119 (agosto, 23) PANTY, Chancelariade D. Manuel, iv 18,6124 2 ANTT, Chancelaria de D Joo I, lv. 37,6. 141% que recebeu, Anteriormente, em 18 de agosto de 1514, na condicao de fidalgo da Casa Real, recebera 7.000 reis, de D, Manuel’, Igualmente recebeu um padrao de 70,000 reis de tenga ¢ uma outra de 20.000 reis™, Fira 2 Asta Citra do Mopaios. 1514. ANT, Cope Coit, Prt, 168. Em termos burocraticos, dois dos primeiros registos da sua responsabilidade datam de 1525 e 1526, ainda como pai em exercfcio de fungées”, Em 18 de junho de 1527, como “scripvao da Cémara”™, ena qualidade de subscritor, redige~"o fiz traladar". De resto, so muitos os documentos que durante cinco décadas testemunham, de alguma forma, a sua intervencio quer como autor grafico, quer, sobretudo, como subscritor, delegando tarefas em escrivaes ajudantes ou serventudrios, tornando-o responsavel por grande parte da burocracia municipal, isto 6, por os escrever, ou por os fazer escrever, ou, ainda, por os fazer tresladar. Nesse sentido, aqui ficam referenciados alguns exemplos dos niveis de intervencao mais comuns enunciados na documentagao, pela sua transcri¢ao. No que diz respeito a treslados (cartas régias e alvards, sobretudo): "Eu Chrisptovam de Magalhaes escripvao da Camaraf..] fiz traladar{..J" (1528, alvara); "Eu Chrisptovam de Magalhies o fiz traladar da propria que esta no cartoryo da dita cidade” (1533, carta régia); “Eu Cristovam de Magalhaes o fiz traladarf..] e asineyf..]” (1539, alvara); "Eu Chrisptovam de Magalhdes o fez treladar do proprio” (1540, alvara); “Eu Chrisptovam de Magalhaes o fiz treladar da propya carta, que esta no maco deste ano e por my concertey e soespreuy e asyney” (1547). Fgura 3 Subscrie dou weds da respond de Cristo de Waguie. 147. AM. Lino Comes, 4. ANT, CC Part, mg. 50, nt 168; no reiboinserto nesta provsio de D. Manuel encontra-se a assinaturaautoprafa de Crstovio de Magalhtes (V. Fig. 2) * ANTT, Chancelaria de D. Joo ID, hv 49,1145, elt 37,63. AML, Livro primeiro do tombe... f 261v, de agosto, 25, ef. 128v, de novernbro, 22. * AML, Lio Carmestin, A. ML, Livro Carmesin, 35v, de noverbro,17;£ 36y.37v5 £28, de maryo, 12: £38, de agosto, 18; £4v. 1 Em relagao a exemplos de documentos que fez escrever: “o fiz esprever” (1560); “eu Cristovéo de Magalhaes a fiz escrever” (1567)". Por tiltimo, quanto a documentos escritos por si, assinalem-se trés assentos, redigidos em cimara de vereagdo: "E eu chrisptovam de magalhaes espriudo da dita camara o espreuy por asy pasar na verdade (1543)"; "Eu chrisptovam de magalhaes espriudo da dita camara 0 espreuy” (1545), de magalhaes 0 espreuy (no dito dia mes e ano) e eles 0 asynardo” (1554)”. uu chrisptouam Entretanto, 0 ano de 1569 parece anunciar a retirada de Cristévao de Magalhes, A sua iltima intervengio identificada data de 7 de janeiro, subscrevendo em piiblico ¢ assinando uma escritura de aforamento™. Desconhecemos a data da sua morte, Porém, uma década antes, em reconhecimento dos seus servicos, obtivera, por alvaré régio de 9 de margo de 1560, a garantia de que por seu falecimento o cargo ficaria para o filho mais velho, Nuno Fernandes de Magalhies, fidalgo da Casa Real. Assim, a este foi passada carta do oficio, em virtude do alvard, em 3 de junho de 1574". E aj, 0 rei foi claro ao reconhecer a sua aptidao para o desempenho exigido pela escrivaninha municipal, afirmando que jé fora examinado "pera seruir ho dito oficio pelos meus desembarguadores do paso", Ora, uma vez considerado apto para aquele exercicio, uma das suas primeiras intervengdes nessa qualidade ocorreu em 21 de abril de 1569 — “feita em Camara per Nuno Fernandes de Magalhaes escrivao della" Contudo, o infcio de fungdes como escrivao da cémara nao foi muito regular. De facto, dois meses depois surge a “mao” de um outro escrivao como responsavel pela documentacao municipal. Trata-se de Anténio Nunes, que pelo menos em 16 de junho esté em exercfcio de fungées, ao subscrever uma escritura de aforamento”. Valeram-Ihe os servigos prestados como procurador da cidade, sendo nomeado dois meses depois para o lugar de escrivao da cAmara, por tempo de dois anos, por alvara régio de 1 de setembro de 1570 - “vos mando que o metais em pose da serventia do dito oficio e Iho leixeis servir e delle vzar pelo dito tempo”. A posse e juramento, como habitualmente, realizaram-se na ciara da vereacdo, mediante a apresentagao da proviso régia - “a quall vista por elles mandar&o que se comprise ¢ foi loguo metido de pose e dado na dita camera juramento dos avamjelhos” -, seguindo-se o assento assinado por todos no verso do alvaré, depois por ele devidamente guardado, por ineréncia do oficio™. E ainda seria da sua responsabilidade o respetivo treslado para © livro de registo, sob a algada de um dos procuradores da cidade - “foi congertado este trellado asima com ho 2 AM, Livro Carmesin, E48 ef. 49, respetivamente, » AML, Livro Garmesim,f.46, de margo, 30 AML, Livro 3°deD, Jodo I £ 45-46v. de fevereir, 02. » AML, Livro Carmesin,f.28v, de junho, 13, em que escreveo auto de assento de confrage do principe D.Sebastiso, na Confaria de Santo Antno (1554, junho, 13) > AM, Livro primelro do tomb. 258. 2 AML, Livro 3°derepsto de ofcos,regimentos ealvars.f. 62 2 AML, vr primetr do tombo.. 3289. AM, Livre primeira do tomb. £12. 2A posse ocorre lta dias depots do alvar8, a9 de setebro (CE AML, Livra 3° de regsta de ofclos,reimentas ealvards_£ 35), propio per mim alluaro de morais procurador da cidade (..)". Findos os dois anos, o rei prolongow-lhe o servigo por mais um, contanto que pagasse 60.000 reais de pensao ao detentor do cargo”. A condicao transitéria com que desempenhou as fungdes est enunciada numa nota de margem num aforamento, onde se lé ~"por Antonio Nunez que servio de escrivao da Camara aos 10 dias do mes de Fevereiro de 1572 anos”. Pode afirmar-se, que a sua atividade ao servigo da escrita concelhia esté bem documentada. Subscreve, redige, assina, testemunha, assenta e faz tresladar a documentagao municipal pela qual foi responsdvel durante o mencionado perfodo". Desconhecemos as causas que levaram Nuno Fernandes de Magalhaes a nao exercer logo o cargo, permitindo 0 servigo de Anténio Nunes, Ao certo, sabe-se que a 19 de abril de 1572, 0 filho mais velho de Cristévao de Magalhies ja exercia as fungées, tresladando uma carta régia sobre a procissio da Saiide - “o fi comeertei com a propria que fica no almario junto da mesa e asinej"®. Em 31 de dezembro de 1574, subscreve oassento da vereagio que confere a mercé de um oficio da camara para Alvaro de Morais, que, entretanto, volta a subscrever e assina, depois de 0 concertar com o préprio™. Em 3 de marco de 1575, tinha de estar em plenas fungdes, quando recebe a mercé para poder ter os escrivaes que The fossem necessérios, tal como 0 pai e 0 avo tinham recebido: pera milhor aviamento e despacho das partes que tem negocio na camara da gidade de lixboa ej por bem e me praz de dar Licenca a nuno fernandez. de magalhdes fidallgo de mjnha casa escriuam da camera da dita cidade que elle possa ter os esctyuais que Ihe forem necessaryos asy e da maneira que cristouam de magualhais seu pay e elle atee ora os tiueram pera escreuer os Comtratos cartas de saquas aluaras aRecadasois e fazerem todas as outras cousas que ao dito ofigio tocarem Comtanto que elle as sobscreua os quais escriuais apresentara na Camara ao presidente e vereadores dela e sero pessoas de boa vida e custumes e que tenhdo calljdade e suficiencia pera nisso poderem serujr e achando que sio tais Ihes sera dado juramento dos santos evangelhios pelo dito presidente e vereadores que bem e verdadeiramente escreuao e ffacio as ditas cousas do que se fara asemto no lyuro da camera e sendo as ditas cousas feytas pellos ditos escryuais e sobscrytas pelo dito nuno fernandez na maneira que dito he ey por bem que tenha tanta forsa e vigor como se por elle fosem ffeytas e porem aquellas cousas que forem de segredo e pareser a0 dito presidemte e vereadores que deuem ser escrytas pello dito nuno fernandez elle as escreuera por sua mao*. Trata-se de uma mercé idéntica 4 que o pai recebera. Porém, 0 texto é mais completo e detalhado. O fundamento 60 mesmo, justificando com a garantia de melhor “aviamento e despacho das partes que tem negocio na cimara da cidade de lixboa", Outro aspeto interessante prende-se com as condigées de recrutamento, 0 perfil ¢ as caracteristicas dos escrivaes que o escrivao, por sua vez, deveria ter em conta ao recrutar para o seu servico: ser AML, Lio 3 de regis de offs, reginentosealvards., £36, por alvaré de 1572, outubro, 15. °° AML, Livro primeiro do tomba.,£ 142-1424. “Como exemplo: uma subserigao de um documento (AML, Livro Carmesin, £50v, de 1572, abril, 10); redige eassina um recib (AN, Livro Carmesin, £51, de 1573, janeiro, 10); em mao, 20, permanecia em funcbes, testemunhande num contrato entre a Cimara ea Coroa, na qualidade de escrivio da (AML, Livro Carmesim 60¥.65); pouco depos, no dla 26, 6 responsive por um assento (AML, Livre Garmesim,f.42¥~48) “AML, Lio Carmesim, £51 “AML, Livro 3 de registo de ofcios, regimentosealvards., 37 “AMI, Livro 3°derepsto de ofcios,regimentasealvards., 100. DA BSCRITAGOTICA A HUMANISTICA NA DOCUMENTAGAO DA CAMARA DE LISBOA: EM TORNO DA ESCRIVAMINHA MUNICIPAL QUINHENTISTA jm | pessoa de boa vida e costumes; ter qualidade e suficiéncia; “que bem e verdadeiramente escrevam’;¢, finalmente, os escritos que fossem da sua responsabilidade, ele, escrivao, escrevé-los-ia “por sua mao”. Figura Subsci de Na Frans do aig, num ects hamaitie ti, com ft predonire apa modaads © as craters ts pouc presents, 1572, ab 18. AML, Lia Cares, 51. Infortunadamente, Nuno Fernandes teve poucos anos no ativo, uma vez que acompanhou o rei D, Sebastido a Alcécer Quibir, de onde nao consta que tenha regressado. Em 12 de maio, antes de embarcar para Africa, ainda subscreve uma escritura®, Na sua auséncia, para o substituir, D, Sebastido deixou nomeado Alvaro de Morais, que fora procurador da cidade, por alvaré de 25 de junho de 1578: avendo Respeyto a Nuno fernandes de magalhaes fidalguo de minha casa e escriuam da camara da dita cidade me yr hora seruir nesta jornada d'africa ei por bem e me praz. que aluaro de morais Caualeiro fidalguo de minha casa procurador da cidade sirua ho dito officio de escriudo da camara della em luguar do dito nuno fernandez de magalhaes e jsto enquanto durar sua absencia”, Ora, prolongando-se a auséncia mais do que previsto, Alvaro de Morais viria a desempenhar o cargo durante cerca de cinco meses, até nomeacdo do irmao do malogrado Nuno, Afonso de Torres de Magalhaes, que recebeu carta de escrivao da cimara de Lisboa em 12 de dezembro do fatidico ano de 1578". Desconhecia-se, entdo, a verdadeira dimensao da realidade, como se depreende do texto da dita carta - “ey por bem que elle sjrua o officio descriudo da camara da dita cidade enquanto durar a absencia de nuno fernandez de magalhaes seu jrmao que ora se diz estar catjuo e eu o ouuer por bem™*, Enquanto aguardava pelo retorno do irmao, Afonso de Torres de Magalhaes desempenhou o cargo, mantendo-se nele durante muitos anos, desta feita 3 espera que o sobrinho, Crist6vao de Magalhaes,filho de Nuno Fernandes “AML, Livro primeiro do tombo.. 156, “AM, Livro 3°derepsto de ofcos,regimentosealvards..f 126 ef. 126v. Em 1570, na qualidade de procurador do concelho, fora responsivel pelo ‘treslado do aivari que nomeia Anténio Nunes. Em 1574, dezembro, 31a cidade recampensa Alvaro de Morais pelos servos prestades, como procurador ‘como alaide, fazendo-the mercé “de hum oficia da dita cidade que nelle cba oprimeiro que vagar nfo prejudiqufoda aos prouides” (AML, Livro 3 de registo de offi, regimentosealvards, [57V) © AML, Livro 3° de repsto de ofcios,regimentosealvarés..f132¥. “ ANTT, Chancelaria de D-Sebastit, lb 43, £ 108v.A posse folste dada em 1579 (janleo, 08), culoassento e ojuramento foram fetes nas costas do alvard (CE AML, Livro 32 de registo de ofcios,regimentos ealvards., £135). de Magalhaes, atingisse a “idade conveniente™®, Como estatuto de fidalgo da Casa Real, como o pai eo avd, Afonso de Torres de Magalhies era detentor de varias mercés régias: dois padrdes de juro, um de 50,000 reis ¢ outro de 125.000 reis, e de uma tenga de 70.000 reis®. Em 1591, ainda estava & frente da escrivaninha municipal’ 2.2. Interrupges no desempenho do oficio Parece interessante referenciar uma situagdo que, com alguma frequéncia, ocorria nos meios burocrético- -profissionais, das escrivaninhas régias ao universo tabelidnico, A qual o gabinete escriturdrio municipal nao foi excecao. Referimo-nos a substituicdo temporaria de quem detinha o oficio, substitufdo em caso de auséncia por motivos de impedimento, Relativamente a Cristévio de Magalhdes, identificaram-se algumas situagdes em que foi substituido temporariamente por um outro escrivao, que subscreve o documento ¢ justifica a que titulo nele intervém, desconhecendo-se as razdes de tais substituigdes. Assim, além do ano de 1531, em que surge o nome de Vasco Serrdo a assinar “em lugar de” Cristévao de Magalhaes, outras situacdes semelhantes ocorreram®, Nomeadamente em 1548, sendo ento substituido por Afonso de Torres, como se verifica por dois registos que este subscreve na condigao de substituto: em 27 de outubro - “afonso de torres que ora syruo de stprivam da camara o suspriuy” -, e em 3 de novembro - “afonso de torres que ora syruo de stprivam da camara em ausemga de christouam de magalhaes o suspriuy”®, A situagdo repete-se alguns anos depois, em 1559, no treslado de uma provisdo régia: "Eu afonso de torres que ora siruo de stprivam da camara em ausemga de cristovam de magalhaes o ffyz stprever e comcertey com o propio aluara de sua alteza que fica no cartorio e o asyney em lixboa xxb dias do mes doutubro de 1559", Por iiltimo, em 1560 - “Registado no livro da camara [..] por mim Affonso de Torres que ora siruo de scripvao da camera em auzencia de Cristouam de Magalhaes". Nestes dois tiltimos registos repete-se o termo “ora sirvo", indicando a situagao de transitoriedade, e, noutro sentido, a expresso “na auséncia de”, aludindo a substituigao. © AML, Livro 3de registo de ofcios regimentos alvards., doc. 165,135, 137-138 "ANT, CC, Parte, mg. 112,n® 91; ANTT, Chancelaria de D. Sebastito, v.44, £339; ANTT, Chancelaria de. Flipe Iv 13,75 e iv. 11,£9tv * Hd muita documentaydo com intervenso do escrivio Afonso Torres de Magalhaes. Exempliicando, através do Livro Carmesim:f.S2v.€54 de 1575, ddezemibro, 17, assina uma carta de contirmagao;£54v-55, de 1875, dezembro 13 f 55v-57v, de 1579, ule, 12~" fe eserever"s 58-56, de 1579, ‘outubro, 9, registado por ordem do eserivtef.67v-70¥, 1585, malo, 23-7 fx escrever’teslado de vérios documentos sobre os privilégos dos ‘dadios de Lisboa ~"o fiz teladareasiney em publico™f.71, de 1585, junho, 22, assinaotreslado do alvari que concedia &Cémara o provimento de rnomeasio dos seus eficios;71v, 1586, janeiro, 02-°o fx escreuer,subscreve um doc escrito por Domingos da Cunhs; £72, 1514, subscrevee assina 1.744275, 1991, dezembro, 26, ~“o qual asento se fx e asinow em Camara [eo asinardo perante mim [.] escrivao da dita Camara que ho escriv's {77 £85, 1591, jul, 30, reistou o novo regiment, que definia que oescrvio da camara estard presente As vereagées erepstar os despachos; £760, 1891 ® AML, Livro primeiro do tombo.. 1.394, de junho, 20. © AML, Livro 12de assent do Senado, £88 89-89v; AML, Livro primeira do tombo.. £389. * AML, Livro 1 de regist de posturas eregimentos, £97, ° AM, Livra12deconsultase decretos dD, Sebastid, £7. Quanto a identidade deste Afonso de Torres, duas hipéteses se colocam, Ou se trata do segundo filho de Crist6vao de Magalhaes, entao ainda jovem, que viria a ser nomeado escrivdo da camara em 1578, ou, entéo, tratar-se-ia do seu sogro, pai de Ana de Torres, homem abastado e oriundo de terras de Espanha, que parece a hipétese menos verosimil*®. Qualquer deles, filho e sogro, da mais estrita confianga de Cristévao de Magalhdes, como se exigiria para o exercicio daquele oficio. 3. 0 GABINETE ESCRITURARIO A parte mais visivel da atividade do escrivao da cidade tinha lugar na cAmara da vereagao, isto & nas casas da camara propriamente ditas, ou Pacos do Concelho, que em Lisboa, no século XVI, estavam situadas junto a Santo Anténio da Sé, independentemente de haver referéncias pontuais a outras localizagdes, casos do Vale de Santo Anto ou Nossa Senhora do Paraiso, a caminho de Santa Apolénia, locais alternativos justificados por impedimentos em se “fazer camara” na cidade, geralmente por motivos de peste”. Contudo, se existiam determinagées régias especificas para a documentagio concelhia de maior importdncia, obrigando a que fosse produzida no edificio da Camara, de onde nao poderia sair, nem toda a atividade concernente a escrita era ali concretizada. Assim se verifica, por exemplo, pela andlise do Livro 12 de fiangas dos escravos, que agrega registos redigidos durante um perfodo de oito anos, entre 1549 e 1556, permitindo obter diversos tipos de informacao acerca da organizacao da atividade do escrivao da cmara®, nomeadamente quanto ao seu local de atividade e aos seus serventudrios, Com efeito, a andlise protocolar destes cerca de 170 registos revela a existéncia de um local de redagao alternativo aos Pagos do Concelho, mencionado de duas formas diferentes: “em casas de mim" ou “em pousadas de mim’ Apenas por duas vezes é mencionada a “camara da vereagam desta cidade”, como data t6pica®. Se habitualmente o local onde é escrito 0 documento se reveste de menor importéncia diplomatica e mesmo histérica, se comparado com a data “crénica’, neste caso é indiscutivel a sua relevancia, uma vez que demonstra que o escrivao também exercia o offcio em sua prépria casa. Assim sendo, desta ambiguidade do termo “casas de mim”, no sentido de residéncia e de local de trabalho destinado ao exercicio do officio, é de conceber que nos seus aposentos ou habitacdo funcionaria igualmente o scriptorium que dirigia, uma espécie de extensao do seu gabinete que funcionava na sede concelhia. * AML, Live da esritara da insteuigdo do morgado de Afonso de Torres f.27¥ ° Cf MACEDO, Lus Pastor de; ARAIO, Norberta de ~ Casas da Camara de Lisboa, Lisboa: CMI, 1951.p.41-5. AML, Livro 1 de flangasdeeseroves [Livro em que se toma As iangas dex escrauescavos que Andam por companheiros nas barguos Fbatels que camegam a b de novembre de Ri. * A primera forma éutilizada por SS vezes,correspondendo 2 329% dos casos, a segunda por 102 vezes, coreespondendo 3 60% das sitsaySes (AML, Livro 1® de fangas de eseraves) Em variantes esporédicas surgem igualmente as formas “em casa de mim’ (Idem, idem, f 13-13v. ef, 126v-127)¢ “asa da morada” (idem, ibdem,£ 3-4, £ 4-5, £5v-6 ef 11-11). Apenas por duas vezes& mencionada a “camara da vereagam desta cidade” (Udem,ibidem,¢ 81-82 ef 1430-148), Concretamente sobre as suas casas de residéncia, apurou-se que Cristévéo de Magalhaes viveu varios anos ao arco do Rossio, pelo menos entre 1548 e 1565, perfodo em que ali é referenciado - “ao arco do Rossio nas casas da morada do senhor Cristovao de magalhies fidalgo da casa del Rey nosso senhor e escripvam da camara da dita cidade” (1548), ou no - “Arco do Rocio Rua de Pero de Mendonca”, onde, em suas casas, tinha um “atafaneiro”, um surrador e um bragal (1565)". Para as bandas do Cabego de Alperche (Penha de Franga) era proprietario de um olival*! No que diz respeito ao corpo de ajudantes que tinha ao seu servico, eram varios os agentes de escrita que a ele estavam ligados, tal como acontecia com outros profissionais da escrita, Estes serventuarios ndo sé redigiam como frequentemente assinavam e testemunhavam. 0 reconhecimento da sua importancia ficou demonstrado na licenga régia dada a Cristévao de Magalhaes, no ano de 1532, para que pudesse ter os escrivaes que lhe fossem necessdrios - “pera milhor aviamento e despacho das partes” -, como seu pai tivera e ele, igualmente, na pratica, j4 dispunha dessa ajuda: [..] por folgar de fazer merce a chrisptouao de magalhaes esprivam da camara desta gidade de lixboa e pera milhor aviamento e despacho das partes ey por bem e me praz de Ihe dar Licenga que posa ter os esprivais que Ihe que Ihe forem negessarios como seu pay e elle athe ora teue pera escpriver os contrautos cartas de sacas aluaras aRecadagoes ¢ fazerem todalas outras cousas que ao dito seu oficio tocarem contamto que ele os Sobescpreva pera o quall apresentara 0s ditos esepriudes na dita camara aos vereadores dela onde Ihe sera dado Juramento dos santos avamgelhos que bem everdadeiramente o facam e sendo fectas pelos taes escprivaes e sobescpritas pelo dito cristovam de Magalhaes como dito he ey por bem que tenham tanto credito, forca e vigor como se per elle fosem fectas [..]®. Ao escrivao da cémara competia escrever e fazer escrever, subscrever 0 documento ¢ responsabilizar-se pela redacao dos ajudantes que, para entrarem ao servico, deveriam ser apresentados na camara da vereacao, onde seriam devidamente ajuramentados, Ou seja, tratava-se de uma estrutura reconhecida e formalizada pelos poderes concelhios, uma espécie de gabinete destinado a ajudar no expediente burocratico, através de uma equipa de serventuarios ou escrivaes ajudantes que Ihe garantiam a boa prossecucao do seu oficio, recrutando- -os de acordo com as suas necessidades, sem limitagdes. Contudo, de acordo com 0 entendimento dos vereadores, as “cousas que forem de segredo” deveriam ser feitas pelo escrivao da cAmara, salvaguardando-se assim o sigilo inerente a questdes mais melindrosas. Se, por um lado, esta mercé régia parece de alguma redundancia, ao reconhecer que o escrivao da Camara de Lisboa jé beneficiava dessa prerrogativa, por outro, parece evidenciar a necessidade de o dotar com os meios necessdrios para fazer face & crescente burocratizagao do reino originada nas escrivaninhas régias®, a que o concelho de Lisboa nao foi alheio, como se constata, por exemplo, pela evolugio © AMI, Lio da esritura da instiuigdo do morgado de Afonso de Torres f.27w; AML, Livro do langamentoe servpa.f 480. AML, Liro 1de contratas, doc, 101.26 de 1555, © ANTT, Chancelaria de D Joo Il lv. 18, £.5Bv, de julho, 10; AML, Livro dos Pregas, doc. 515, 331 (reigida palo escrivao réglo Pero Henriques, um dos primeiros a introduzir elementos de hibridaro humanisticosna sua esrita ainda na década de 1530, cujo tipo gréfico se assemelha zo de Joo do Sa) © Cf PAULO, Jorge Ferrera ~A escita humantstica na documentagdorégia portuguesa de Quinkents. Lisboa: [sn], 2006. Dissertagao de Mestrado em Paleografae Diplomdtica, apresentada & Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. p.71-79, crescente do mimero de escrituras de aforamento com intervencao do escrivao da cdmara, a partir de meados da década de 1530, 3/2) 2] 2/2 lela) 212) 2/2) 2) 2) el fist ell ele slags Tht 1 Ren de poi documenta situa e feramanta 1521-1565 de response do sine da clara stv de Maas AN, Line rina do tao. Outro aspeto que parece de realgar é o facto de, frequentemente, Cristévao de Magalhaes referir-se aos escrivaes ajudantes como “meus criados’, expresso que parece mais plausivel se interpretada com o sentido de terem sido criados por si, na sua casa. Ora, estando aqui em causa o universo da escrita, e sem pretender generalizar © termo, parece de considerar a hipétese de terem sido instrufdos na arte e nas técnicas da pena, como aprendizes, desde jovens, nas casas do escrivao da cAmara, a semelhanga do infcio de percurso em outros oficios, As Leis Extravagantes nao deixam de os referenciar, no titulo sobre os escrivaes e tabelides, embora os deixem de fora das suas disposigdes - “E isto se entender4, naquellas pessoas que nao forem criados dos ditos escrivaes, a que elles dem o necessario”®, Ou seja, reconhecem um estatuto distinto para eles, individualizando-os, numa forte dependéncia relativamente aquele que detém o cargo, mas numa légica meramente social, descurando a componente profissional. Foi possivel identificar varios dos “criados” da casa de Cristévao de Magalhdes®, Uns constam na documentagao na qualidade de testemunhas, participando no ato juridico-administrativo, contribuindo para a sua validacao. Outros testemunham e escrevem. No entanto, embora todos surjam mencionados como testemunhas, muitas vezes assinando o documento nessa qualidade, nem todos identificam a sua autoria gréfica. De facto, ha varias “méos" diferentes daquelas que estdo identificadas, pelo que s6 a andlise rigorosa e sistematizada das grafias no identificadas, ainda em curso, poder permitir apurar a respetiva autoria gréfica. Para jé, verifica-se que todos os que assinam revelam um pleno dominio da escrita, séo detentores de uma cultura de ordem pratica e administrativa, tendo em conta as assinaturas de um nivel grafico superior. Esta destreza gréfica evidenciada °C LEAO, Duarte Nunes ~ IL fae smile, 1588, © AMI, Lio 1® de flangs de eserves ~ si exemples: “dogo barbosae symio lus meus eras" (F-65v 1950); “dioge barbosae diogvo arbosa meus erlados [sie (f 83¥; 1551); “amdre machado e amtoniovarella que esta fez meus crados" (E114 1553); "bertollameu barbosa eranctsco da costa meus criadas (Fd, 1555); Francisco da Coste allvare de gouvea meus eryados” (f 148, 1555); "hs dante criado do sebredita Cristovio (1680: 1556). “Sobre importincia das assinaturas ea sua elagdo com o process da escritavejase SANTOS, Mara José Azevedo ~ Astina quem sabe e 1é quem pode Coimbra: Imprensa da Universidade, 004 Leis extravagantes e epertéria das Ordenapées. isboa: Fundagio Calouste Gulbenkian, 1987. p.54v, na Pate Let Xi, Titulo por estes criados do escrivao da camara decorreria, por certo, de uma instrugao ou formagiio que visava a pratica administrativa corrente, Seriam, assim, preparados para um certo tipo grafico, possivelmente em casas do escrivao da cdmara. Em geral, conhecem-se as qualidades exigidas aos auxiliares que servissem pelos escrivaes, ajudando-os a escrever no seu oficio, impondo como condigdes ser-se pessoa “maior de quatorze anos, e apta e pertencente pera nisso seruir™”. Desconhece-se, contudo, o grau de liberdade que poderiam ter para executarem em estilo grafico préprio. Quanto aqueles que nao se integravam dentro da categoria de “criados”, o destaque vai para Joao do Sal, um dos escrivies que acompanha grande parte da atividade de Cristévio de Magalhies ao servigo da escrivaninha do concelho, de cujo percurso burocratico se dé aqui uma nota. A sua longa atividade est documentada pelo menos desde o infcio da década de 1530. Conhecem-se duas notificagdes suas do contetido de duas cartas régias"™. Num contrato em que compra umas casas na Cordoaria Velha, em 1558, é referenciado como cavaleiro da Casa diel Rei, exercendo o oficio de escrivao do tesouro da cidade de Lisboa®, cargo que ainda mantinha em 1562 (setembro, 23), quando o rei o impede de anular o contrato de venda daquela mesma propriedade™. Poucos anos depois, em 1565, residia na freguesia de Santa Justa, na zona do Curral, perto de Sao Lazaro”, Exercia 0 officio de escrivao dos 6rfaos, quando elaborou um inventério com a avaliagdo da respetiva fazenda™, destinado ao “Lancamento do Servico desta cidade de Lixboa [..] anno de 1563 [..|"". Ainda estava ao servigo no ano de 1573, quando é chamado a redigir um assento de vereaao™. 5 Esta de Jodo do Sl. 1646, stone, 28. Mol én inspadonalevacaest ‘eps, que vio Pat pr um p> ivi co fumansico, mito sad pls a varhaD.Caaio, AML Live arms, | A2aM © CLLEAO, Duarte Nunes, op ct p. $8 (Primeira parte, Titulo XXL, Le Ill ="que qualidade teerZo os que por ells seruirem). AML, Lio 2 de D. Jodo II, 159; AML, Liro 2* de , Jo Il, doc. 678, f.96, uma em 1535, everciro, 16,e outra em 1542, julho, 28. Noano de 1548, redige um assento de compra de um sino para Lisboa (outubro, 22) “As casas que comprou eram foreiras 8 CSmara (CE AML, Livro 102de eserturase foramentos, 14-15, de dezembro, 31); Confrontavam com casas suas (CLAML, Livro do tombo.. 444-445), AML, Livro 1 de consults edecretos dD. Sebastio,19-20; AML, Livro do tomba £321 AML, Livro do lancamentoeserviza.f 520. "= "Dos ori que Jodo do Sal eservao dlles mandou aesta Cassa do Langamento per sua certid3o" (AML, Livro do langamento e servo. 685), AML, Livro do lanpamento e servigo. 1.2. AML, Livro Carmesin, £.42¥-44, de malo, 26, 1 DA BSCRITAGOTICA A HUMANISTICA NA DOCUMENTAGAO DA CAMARA DE LISBOA: EM TORNO DA ESCRIVAMINHA MUNICIPAL QUINHENTISTA jm | Dos restantes agentes da escrita ao servico de Cristévio de Magalhaes, os tais “criados", destaca-se Simao Luts, 0 escrivao com maior atividade grafica ao servico de Cristévao de Magalhaes, identificando devidamente a sua autoria’’. Exemplo da sua atividade intensa so os registos do Livro 1° de fiancas de escravos, escritos durante ito anos, entre 1549 e 1556, tendo redigido, pelo menos, 25% daqueles registos. Em setembro de 1570, & ele que redige o treslado da provisdo do cargo a Anténio Nunes e dé posse para o livro de registo da Camara” Foi ele o escrivao do Tombo da Cidade, “hum livro do tombo bem enquadernado””. De acordo com o alvaré de 7 de junho de 1576, D. Sebastiao determinara que o autor gréfico do livro seria o escrivao que acompanhou 0 juiz. encarregado por D. Joao Ill de proceder as diligéncias necessérias “pera o tombo dos beens propriedades e cousas que pertencen a dita cidade e Camara della”, O seu percurso estende-se ainda pela década de 1570, sobrevivendo a Cristévao de Magalhdes, A partir de entdo muitos dos registos da vereagao so da lavra de Alvaro de Gouveia e do escrivao Domingos da Cunha. No ano de 1577, por exemplo, so responsdveis pela redaco da maior parte da documentagao, alternando a autoria grafica entre si, embora varios registos nao se encontrem identificados diretamente, o que nao invalida a identificagao de carter gréfico, pela andlise paleogréfica da sua “mao”, Fgura 6 Esra do Sino i,m vrsto meas casi, nr ret d ined rapimerte ds oie esti. 1572 jhe, 2AM, Lie Comes, 1 4, WESCRITA DA ESCRIVANINHA MUNICIPAL Duranteaprimeirametade do século XVI, aescrita do escrivao da camaraedoseugabinete escriturério denotouum comportamento grafico de tipo conservador, refletindo, segundo tudo indica, as modalidades gréficas emanadas das escrivaninhas régias. A partir da chancelaria régia e da cdmara do rei, oficinas escriturérias superiores que * AML, Livro Carmesim, 47-47, 1557, Simao Luis fez; Idem. ibe, £51, 1573,"Simlo Luis sepreuy". AML, Livro 3° de registo de ofcos, regimentos alvards.,£ 35¥.€ 36 * Respetivamente, nos das 1©9 (AML, Livro 3°derepsto de ofcos,regimentosealvards., f.35v), CAML, Livro primelro do tombo..£5v.~"numerado e assinado em todas a folhas pelo juz do Tombo, 0 licenciado Ls Lourengo” AM, Livro primeira do tombe. £23 AML, Livro 32da veregdo (vilos registos). funcionavam como referencial para toda a sociedade, difundiam-se os modelos graficos. Pode supor-se, enta que o gabinete do escrivao da cimara poderia atuar, em certa medida, como um mediador grafico para a restante comunidade escrevente do concelho. E uma questo em aberto. De facto, os dois escrivaes da camara, paie filho, Nuno Fernandes ¢ Cristévao de Magalhaes, durante trés quartos de século (1494-1569) replicam os modelos escriturdrios vigentes, de matriz gética, de acordo com o que Ihes chegava daqueles organismos. Contudo, com algumas diferengas entre si 4.1. Rescrita para o exterior: a imagem grafica do concelho importante distinguir duas funcdes relativas & escrita produzida pelo concelho, Uma, de caracteradministrativo, juridico-normativo, destinada a prépria instituigo municipal, que corresponde a uma escrita de registo interno, para meméria futura, resultante do expediente didrio do escrivao da camara e do seu gabinete escriturario. Como tal, supostamente, nao é to exigente quanto a clareza e ao esmero grafico, o que da origem a irregularidade a uma menor legibilidade, Os documentos que a utilizam séo abundantes. Constituem 0 espélio do concelho € do seu arquivo, a sua meméria, Desta escrita tratar-se-4 adiante. Jé a segunda fungao dada a escrita pelo Senado da Camara est4 relacionada com a comunicagio para 0 exterior, assumindo um carcter institucional Neste sentido, interessa aqui verificar se os autores graficos alteram a sua escrita habitual, sobretudo quando se impde a dignidade acrescida do destinatrio, caso do monarca, por exemplo. Estando em causa uma comunicagio de cardcter institucional ser expectvel uma escrita mais formal, supostamente mais cuidada e regular no estilo eno aspeto. Para o efeito, a partir da documentagio existente no Corpo Cronoldgico, foi feita uma selegao de documentos produzidos pelo concelho e destinados ao rei. Assim, para o primeiro quartel do século XVI, cronologia correspondente a atividade da escrivaninha de Nuno Fernandes, foram localizadas trés cartas, duas dirigidas a D. Manuel e uma a D. Joao III. Analisando as trés verifica-se que tém uma autoria gréfica diferente, correspondendo a outras tantas maos, embora todas respeitem o cdnone grafico vigente, o gético (V. Figs. 7, 8 e 9). Quanto ao perfodo em que Crist6vao de Magalhaes exerceu a atividade de escrivao da cdmara, verifica-se que do seu préprio punho safram varias cartas destinadas a D. Jodo Ill, em nome da Camara de Lisboa", nunca deixando de identificar a sua autoria - “Christovam de magalhaes 0 espreuy”. Nao s6 as redige como utiliza a sua grafia usual, que 0 acompanha ao longo do exercicio do oficio (V. Figs. 10 e 12). 0 mesmo se verifica com os documentos escritos pelo seu escrivao ajudante, Jodo do Sal (V. Figs. 11 e 14). Desta forma, e atendendo aos dados obtidos, tudo leva a crer que ndo havia a obrigacao, nem tao pouco a preocupacdo, em alterar a grafia em fungao do destinatério, mesmo tratando-se do rei. Ou seja, esta funcao da escrita nao era tao valorizada como se poderia supor, a ponto de nao haver necessidade de recorrer, por sistema, ao responsavel pela escrivaninha municipal para a reda¢ao das cartas dirigidas ao mais solene dos destinatarios, * 1541: um pedido para um despacho a requerimento do procurador da cidade (ANTT, C, Parte Img. 68, n° 32); 1544: um pedido de compensagao pela quantia exigida a eldade pelos oficiasrégios (ANT, CC, Parte mg. 74,78); 1545: uma expos acerea de umas galéschegadas ao porto de Lisboa [ANTT, CC, Parte ,mg. 76, n® 63); 1545; uma exposieao sobre a prisso de um moedeiro (Cf ANT, CC, Parte I, mg. 75,8 95) DAISCRITA GOTICA A MUMANISTICA NA DOCUMENTAGAO1DA CAMARA DE LISBOA: EM TORNODA ESCRIVAMINHA MUNICIPAL QUINHENTISTA [S| Figura 7 Cara d Snao da Ciara igi 20 som atric Wena staan. ptns conta da ode versa, recto ju. 1507, ANTT, CC, Pare mg. 6a. Figura 8 Cara do Senas da Ciara iia 2 sam autor pore (tpt 2", edn 3 confined pil ses do el 1515. ANT, C0, Pat mg 18,7287. “pe igo pm piensa Bly pare Figura 9 Carta do Senado da Cimara dingida ao rei, sem autoriagrifica ('stprita a." sobre @. e abit go a ov 12 NTC a2 0° 2 Figura 10 Cate do Sena dima digits 2 reg poe Chistvdo de Magee, cm a snes sv alread com & ngdasidade es gba bon presente 1545. ANTT, C, Part |. 78,9238 quem SAS Wea Pee eRe LT jor Se Pore HARM SE madorway new —ARoy MamGre gr a oe lia bre 6 Knee YRC] reps Gm AEE Py tain | ee rens OM Xs pmese i ~i2 Gene dye 4)~ Figura 1 Carta do Senedd Cmdr 20 Sa. 1545 NUT, C0, Pat 78,0273. Figura 12 seta de stra de Maas, om cara de Sera Cimar digi oO.Joo I. 1568. ANT, CC, Pat me 78, 8 REGS career to Fgura 13 Car do Serato a Cima, sia 2 som atria ria een em sb a sia ua sahara pve 1546, ANTT, CC, Pate mg. 77- 87 An dun watarene i sedendde ds leva, até sonatas de esc humanists: oe Rmaisa 0s dpa curve, seni ofa opal, sins, 964 ae r le vy NOEAN, > gations mie aap cies Figura 14 Cats de Sena Ciara com quia rei po Jad al Eitan camara pa Yoda d Sat 1589. NTT, 06, Pare, mg 82,01, Estas cartas para o exterior dao ainda um outro contributo para a anélise do ambiente gréfico vivenciado no concelho, em termos de contactos, influéncia e relacionamentos entre todos os executores graficos, ndo apenas os agentes da escrita ditos oficiais. Repare-se nas assinaturas dos vereadores e do procurador da cidade, que acompanham estas cartas dirigidas ao rei. Veja-se como neste caso constituem um bom testemunho do ambiente grafico concelhio totalmente impregnado dos modelos géticos"', Contudo, ressalve-se um dos vereadores, o doutor Ferndo Martins, cuja assinatura revela 0 contacto com o canone humanistico, pelo emprego de alguns elementos do novo padrao grifico. Mais, a comparago da sua assinatura, redigida em dois momentos relativamente préximos no tempo, 1541 ¢ 1544, mostra-se interessante, permitindo conjeturar sobre uma posstvel transigao grdfica, ou simplesmente, tratar-se de experimentagio através da introducao de elementos de hibridagao (em particular, as letras d, ree). Na verdade, trata-se de uma das primeiras maos humanisticas no ambiente gréfico concelhio lisboeta, 0 que constitui um dado a ter em atengdo em estudos futuros, Dos vereadoresD. Garcia de Sé (1535-1542), D. Pedro de Moura (1538-1542), D-Antnio de Sousa (1544-1545), Lapo de Brito (1543-1549), Cristévio Mendes de Carvalho (1543-1549) edo procurador da cidade Brés de Pina (1544-1540). 4.2. A permanéncia dos tipos géticos: Nuno Ferandes e Crist6vao de Magalhdes Nuno Fernandes apresenta duas variantes gréficas, uma mais cursivada e veloz ¢ outra de indole mais caligrafica, apresentando-se esta tiltima como uma escrita mais pesada no contraste de finos e cheios com bastantes tragos de significaco geral (V. Figs, 1 ¢ 15), denunciando a sua formagao na gética joanina, condizente com © seu aprendizado tardo-quatrocentista, Contudo, um documento de 1511 mostra que a sua escrita também. foi contaminada pelas caracteristicas graficas da escrita manuelina. Aliés, por ineréncia de fungdes, Nuno Fernandes terd lidado de perto com a escrita dos dois escrivaes que deram corpo a esta modalidade grafica de sabor portugues, Afonso Mexia e Ant6nio Carneiro™. Mais, a sua escrita mais regular assemelha-se a deste tiltimo (no periodo de 1490 a 1509), o conhecido secretério régio, embora ainda deixe transparecer 0 substrato grafico joanino, com o tratamento da letra mais anguloso. No entanto, para todos os efeitos, pode afirmar-se que Nuno Fernandes acompanha o movimento iniciado pelos escrivaes da corte, de afastamento a letra joanina, integrando o grupo de utilizadores da “letra nova” que iniciam um proceso caracterizado pela reducao daagudeza das hastes, pelo alivio da compressao horizontal da escrita, pela acentuaco da inclinagao e 0 arredondamento do tracado das letras e sinais®, Como exemplos de algumas caracteristicas gréficas refira-se 0 uso dos fe dos 1 caudatos, 0 i sem o ponto, 0 z em forma de trés concluido, em movimento dextrégiro de recuo, as diferentes formas de s, longos, ou de dupla curva no meio da palavra ¢ o de tipo sigmatico em varias posigdes. ‘A Nuno Fernandes “sucede-Ihe" o filho, Cristévao de Magalhaes, no oficio concelhio. Com a escrita, contudo, no sucede 0 mesmo. Apesar de assumir uma gética de tradigo, que manterd inalteravel durante o seu percurso escriturario, a sua escrita é j4 0 reflexo de uma evolugéo da manuelina, que foi seguindo o seu curso, incorporando elementos da cortesa e degenerando num modelo gréfico a que a Paleografia espanhola designou por processal (processual ou processada, em portugués), declaradamente cursiva e com um menor apuro grafico. Na realidade, 0 seu esmero de execugo grafica vai variar entre 0 cursivo veloz ¢ muito veloz, de acordo com a velocidade que imprime a sua escrita de base“, Apresenta muitas vezes um espaco interlinear desigual e uma separagao irregular das palavras, no interior das quais liga a maior parte dos grafemas entre si. Mais do que 0 pai, utiliza habitualmente uma versio gréfica em que, apesar de reduzir as fraturas das curvas, denotando uma intengo de dar um aspeto menos anguloso aos seus grafemas, mantém o referencial da escrita de matriz gética © Sobrea escrita ea atividadegréfica destesescrivies vela-se COELHO, Maria Teresa Pereira ~Evisty uma escrita manuelina?Estudo paleagréfico da rodupo grfica de escrivies da corte régia portuguesa (1490-1530), Lisboa [sm], 2006, Dissertaio de mestrado em Paleografiae Diplomtica da Faculdade de Letras de Lisboa da Universidade de Lisboa, Sintetiz a autora como caractrtsties dagelaescrt, qu se firma a partir de 1500-2 Aiminuigi da extenso das hastes e prolongamentos; oarredondamento dos trags das letras com compressio horizontal da escrito apareeimento de novas formas dealgumas letras; a ibertagio de espaco entre palavraselinhas,conferindo um aspecto mals lve mancha de texte. [sobre o escrivao Afonso Mexia, em particular, veja-se LOUREIRO, Sara de Menezes - Afonso Mexia, escrivdo da marae da fazenda de D. Manuel ede D. Jodo I Reconstituizdocandlise da sua atividade como redator e escrivdo de diplomas régias, Lisboa: (s2., 2006, Dissertardo de mestrado em Paleog Diplomética,apresentada 3 Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. © CE NUNES, Eduardo Borges op cit, p. 20-26; COELHO, Maria Teresa Pereira, opt ™ cerca dos concetos-baseaterem conta na andlise das eseritas vja-se NUNES, Eduardo Borges, opt (Introdugde); SANTOS, Maria José Azevedo — ere compreender a excrta na dade Média Coimbra: Cali, 2000, (V. Figs. 3, 15, 16, 17, 18 e 19), Da sua escrita destacam-se alguns elementos gréficos: 0 a muito aberto; © -¢ anguloso com diversas feituras e figuras; 0 g de figura ¢ feitura gética; rara utilizagaio do ponto sobre 0 o predominio do s sigmatico, sistematicamente usado em final de palavra, embora também utilize os longo; 0zde forma grega (como um 3), ziguezagueante. Entre os elementos de cursividade que permitiam imprimir uma maior velocidade a sua escrita, veja-se, por exemplo, os tragos descendentes reforgados em ligagdo a letra seguinte, caso do s longo: ; a abertura do a, permitindo uma mais rdpida ligacao entre grafemas*4~"*; 0 h com lacada superior e inferior; og e 0 g, gotizantes na sua cabega, mais ou menos aberta, permitindo frequentemente a ligagao a letra seguinte pelo movimento em espiral envolvente: C7; 0 nexo de ligagdo entre o grupo st: it, 1 6+; a estilizacZo angulosa de alguns e: /727~> ++, letra que utiliza em diferentes formatos nas suas formas miniiscula e maitiscula: A-6, WE, /?, <>, Figur 15 ubscigo de unn Femaes, noma rodaade rea mascara eine. Tso em pica foma dma 1811 digi po hos Proges, oe. 50,318 Figura 16 Subse de rv de Mages "Ew evistoram de mayabans ried a camara xpray set as pasar vtdde. 143. AML Live armen, 1984-48, Figura 17 Excite de Cte de Mahe ram ante awnagdo-"Eu chsptvam do magahans epi da ta camara ep”. 1545. AML Li 3B dao. 45-48. DDAESCRITA GOTICA A HUMARISTICA NA DOCOMENTAGAO DA CAMARA DE LISBOA: EM TORNO DA FSCRIVANINHA MUNICIPAL QUNHENTISTA jm | Figura 18 Sasso asiatura de Cito e Mapas. 154, AML, Lido Prag, oe. 17,1. 38238. Figura 18 Subsciio asnctua de Cisne fe Magan. 1548 AML ira ds Paps, ds. 20,1397 4.3. Roficina escrituraria Todos os escrivées que trabalhavam com Cristovao de Magalhdes utilizavam o padrao de escrita gotico. Dos onze nomes associados a sua “casa”, de apenas cinco se conseguiu recolher testemunhos graficos identificados diretamente, ou seja, do autor paleogréfico devidamente identificado: de Simao Luts, Jodo do Sal, Antonio Varela, Bartolomeu Barbosa e Alvaro de Gouveia'®. Dos restantes, até & andlise sistematica das escritas de autoria nao identificada, existem as assinaturas, que permitem enquadrar 0 ambiente grafico sob a responsabilidade de Cristévao de Magalhaes (V. Fig, 20). Sao os ja mencionados “criados” de sua casa, seus serventudrios ou escrivaes ajudantes, que suportavam a ago escriturdria da escrivaninha municipal. f interessante reparar que todos eles utilizam modalidades gréficas com semelhangas entre si, cursivas e velozes, nao deixando diividas sobre a existéncia de uma natural contaminagao grafica reciproca (V. Figs. 21, 22, 23, 24, 25), Ou seja, parece haver uma formagao de base comum, uma preparagdo para o exercicio grafico naquele gabinete, certamente supervisionado através de diretrizes de execusao grafica, Sobre isto, porém, nao ha dados concretos. De forma sucinta, essa base pode ser descrita como um tipo de letra que denota a utilizagao das formas redondas em detrimento das angulosas. Em versio mais veloz, varios grafemas assumem um aspeto degenerado pelos enlaces de unio & letra seguinte, sobretudo através de um movimento em espiral que envolve a letra e ajuda os, remates, as ligaduras e todo 0 tipo de ligacdo entre as letras e as palavras. De facto, esse tragado envolvente & * os escrivies Bartolomeu Barbosa e Alvaro de Gouveia identificaram-se poucos testemuntosgrifics: “eu bertlameo barbosa que ho esprevy’, 1555 (AML, Livro 1? de flancas de escravos,f, 148-1484, 149-1494}; "ew alluaro de gouuea que este eseriuy" 1556 (AML, Livro 1? de tangas de escraves, 168-168), aproveitado pelas hastes ou pelas caudas de algumas letras que, ao alargarem-se de forma exagerada até atingir © ponto de ataque da letra seguinte, casos das letras g, qs, y, acabam por distorcer 0 seu aspeto, Dai resulta a dificuldade no reconhecimento dos tragos basicos das letras e na legibilidade da escrita. Contudo, ha que ter em conta que os diferentes graus de cursividade que os escrivaes imprimem a escrita nao alteram o seu ductus. Naverdade, embora os caracteres externos das letras se possam modificar, ou seja,o seuaspeto, tornandoaleitura mais dificil, a estrutura da escrita nao se altera. Logo, o nivel de cursividade nao é suficiente para categorizar um determinado tipo grafico, pelo que h4 que ter alguma cautela na andlise paleogréfica. Entre todos os escrivaes que integram a equipa escrituraria de Cristévao de Magalhaes, Simao Luts é aquele que mostra uma maior versatilidade no seu desempenho grafico, com uma letra habitualmente pouco cuidada a qual imprime uma grande cursividade através de um tragado veloz, fruto de uma grande rapidez de execugdo, com muitos encadeamentos, chegando a atingir registos de escrita pré-encadeada**. No entanto, tem registos graficos mais pausados. Alvaro Afonso (1550), £11. Simao Lufs (1550), £13 Diogo Barbosa, (1550), f 62. Francisco da Costa (1550), f. 64. A eseritapré-encadeada evoluiri em certes melos gras, sobretudo no notariad, para a encadeada, formanda uma espécle de cadea ini (Wejase NUNES, Eduardo, op. cit, doc. 114, de 1564), DDAESCRITA GOTICA AHUMANISTICA NA DOCUMENTAGAO DA CAMARA DE LISBOA: EM TORNO DA ESCRIVANINHA MUNICIPAL QUAHENTISTA jm | ‘Ant6nio Varela Salto (1550), f, 125. ‘André Machado (1551), £78. Alvaro de Gouveia (1554), [134 Bartolomeu Barbosa (1555), f 154v Lufs Dante (1556), £173v. Figura 20 Assnaturas de ove os exces gti tis de Cis de Mogae. AML, Lino 1. fangs de escraes. Figura 21 fst de ino ll subscripo se Cito de Moats. 550, UML Li 1d ans srr, 12. eh en Ro Oe rer Noe So StS Cape fo GF = Svan rN 2 Lud AM Ina Orb apni Madea 6 3 ci 8 By Som A SIL re Sieh as BK Do Sie mec HOVE rive na men ym SC V6 Lada v4™9 Bet vems Sere hyrremee Beran 2c or 4 Deyne mad Saturn Virgen oe oo? nb ma eR Ione magne Pass Sen a eye AA SSS ah Br Goh CRY Yee cra | < Figura 2 Esta de Sino as. 1551 AML Lia 1. aca desea, 80. Figura 23 Fit d Sin ue, um ate mis esac do ue ane qo iar fraqestoent 187, jhe, 08. AML Lira 2d agit doo, gine sear. 58 srt dodo Sle suber de C= eS SESS Ve “has AYP oY i as Ss ae. ng TD Fouad) Cristo de Mogae, a contrasted ee as fas anadondads do pis amar apie aunas aa spine 0 espago iter nea 6 frequent cup haven eso leas qe ina a inks srs cong, trig fietanete com ous. 1860. AML, io 1° gas deco, 1.28 Figur 2 sca carvan 6 Bartlneu Baas © subrcnde rst de Mago E55 AML, Lio 1d gas db escravs 183K 5. A TRANSICAO PARA A ESCRITA HUMANISTICA Aprogressiva utilizagao das formas humanisticas, inevitavelmente, acabaria por afetar 0 substrato grafico vigente, originando o aparecimento de uma escrita hibrida, gotica de base, mas humanistica no tratamento, através de uma maior regularidade e legibilidade e por um aspeto geral de arredondamento das formas. Este fendmeno resultou da coexisténcia de dois tipos graficos diferentes, o gotico ¢ o humanistico, num mesmo ambiente escriturario, nao sendo outorgada a nenhum deles uma posigio dominante. £ 0 tipo de situacao gréfica que foi denominado por Armando Petrucci de multigrafismo relativo desorganizado”. De uma forma geral, a difusdo dos modelos gréficos humanisticos fez-se lenta e progressivamente. Debateu- -se com resisténcias, tanto mais fortes quanto maior fosse o conservadorismo do ambiente grafico. As vias de propagagao foram diversificadas. Recorde-se 0 papel dos manuais de caligrafia, da imprensa, dos breves apost6licos, dos modelos emanados da corte e da chancelaria régia. As interagdes entre profissionais da escrita terdo tido alguma importdncia nos primeiros contactos com os novos padrées gréficos. Em Lisboa, por exemplo, so identificados mais de sete dezenas de tipos diferentes de escrivaes em 1565, de acordo com a especificidade do seu oficio®, Ora, sabendo que ao longo da sua carreira ao servigo da atividade gréfica muitos deles desempenhavam diversos cargos, naturalmente, os diferentes tipos graficos que iam importando para a sua escrita também circulavam, sendo adotados ou, pelo menos, tornando-se conhecidos enquanto novo referencial Com a escrita humanfstica nao ter sido diferente. 5.1. A introdugao de elementos de hibridacéo Como seria de esperar, ndo so muitos os documentos concelhios que acusam a recego precoce da escrita humanistica, Os que existem tém uma particularidade em comum: ndo tém a identificacdo do autor paleografico. 0 testemunho mais antigo data de 1535, em duas escrituras da responsabilidade de um escrivao ao servigo de Cristévao de Magalhaes. A semelhanga da maioria das escrituras de aforamento nao se identifica a autoria do executor grafico, Nao se trata de qualquer alteragao ao tipo de escrita, em tudo idéntico ao utilizado na pratica grafica dos escrivaes do seu gabinete escriturdrio, mas sim da introdugéo pontual de alguns elementos graficos préprios da escrita humanistica que testemunham a recegao do novo canone (V. Fig. 26). Sao algumas letras introduzidas no interior da escrita, através do fenémeno de hibridacao, das quais a mais relevante € 0 g humanistico, pelo rompimento total com os modelos goticos, quer no que diz. respeito a figura, quer a feitura”: eae, Pesmatis, Sev" de resto, maioritariamente, mantém a forma gética mais utilizada daquele grafema, com o trago descendente, em movimento envolvente ascendente dextrégiro fazendo a ligagao a letra seguinte: oo. © PETRUCCI, Armando ~ Funzione della Serta e terminologa paleogrifica. In PalaeagraphicaDiplomtiea et Archiistica. Roma: Eilon d Storia e Letteratura, 1979.10 ** AML, Livro do laneamentoe servico, AML, Lino 9 de ecrturas de aforamentos, £11.19; £11,135; 11v, 119, ¢£ 17,118, Figur 28 Exits gen cam elon a ida umanistics iad per metro de Crist Maga, som autor rie, ama tris de Meramec, 1595. ML Lio ae sonia do ferment, Relacionando este testemunho do contacto com os modelos humanisticos por parte da estrutura gréfica concelhia com o que se passava nas escrivaninhas régias em igual perfodo, verifica-se a existéncia de um total paralelismo, pois é entre 1538 e 1540 que surgem as primeiras utilizagdes do g em forma de ponto de interrogacao invertido, letra tipicamente humanistica, na escrita documental produzida pelos escrivaes do rei. Esta consonancia também ¢ valida para a manutengao da fidelidade aos tipos géticos, independentemente da utilizacao pontual de elementos gréficos inovadores. Além do g humanistico, o referido escrivao utiliza o s de dupla curva e o e de lago, elementos caracteristicos da escrita humanistica, aqui utilizados esporadicamente, no meio de uma escrita em que predominam o e anguloso; 0 flongo, de traco descendente direito, isolado ou duplo; o h com lago superior e inferior; as diferentes formas do ss, além do de dupla curva, quase sempre em final de palavra, mas também no meio: \Y**, 9 longo com o trago. descendente direito: P’AY ¢ o de tipo sigmatico. Trata-se de uma escrita marcada pela utilizacao frequente de tracos envolventes de ligacdo, a partir de certas letras, casos do s, do q, do te do A de origem cortesa; bem como denota um tratamento grafico de arredondamento, diminuindo parte do cardcter anguloso de varios grafemas. Um outro testemunho da ocorréncia do fenémeno de hibridagao, ainda relativamente cedo, data de 1550, redigido numa escrita de boa legibilidade, com a maior parte das palavras separadas entre sie recorrendo menos a abreviaturas (V. Fig, 27). Trata-se jé de uma escrita hibrida gético-humantstica, um bom exemplo de hibridago entre os dois sistemas graficos, em que ambos contribuem com elementos especificos do seu cdnone de escrita As persisténcias do gético esto ainda visiveis, a exemplo do d uncial, com diferentes graus de cursividade, de acordo com a ligadura que estipula a unido com a letra seguinte; o f duplo: *¥*'™, que alterna com o flongo de dupla curva: J ; os tragos descendentes de algumas letras (g, s, p) que interferem com a linha de escrita inferior, A convivéncia dos dois sistemas verifica-se na utilizagdo aleatéria de certas letras dos dois modelos gréficos, como or minisculo: ¥ (direito na maior parte dos casos, mas também o longo e o redondo) ¢ o maiiisculo; 0 s (de dupla curva, em final de palavra, alternando com 0 slongo e o de tipo sigmatico) ¢ oe, nas duas formas: re **+, sem qualquer critério; 0 i, com e sem ponto; j4 a utilizagdo de uma tinica forma de g: $, 0 humanistico, e do t tracado apenas & direita: ht, denunciam uma fase avangada no proceso de adeso & humanistica. A partir da década de 1560, comegam a proliferar as hibridas humanfstico-géticas, em miltiplas variantes, em que o substrato grafico ja é o humanistico (V. Fig. 28), 0s primeiros escrivies réglos a ulizar 0 g humanistico, nas provisdes de sua autora gréfica foram PéroAlvares de Landim (uma vez), Alvaro do ‘velar (duas vezes) e Pro Henriques (14 vezes, sendo a primeira em 1530), geralmente na primeica linha do texto. Acerca dos primeiros elementos de hibridagdo humanisticauilizados na esrita documental das eserivaninnas Flas vela-e PAULO, Jorge Ferreira, op. et. 97-105, DA RSCRITAGOTICA A HUMANISTICA NA DOCUMENTAGKO DA CAMARA DE LISBOA: EM TORNO DA ESCRIVANINHA MUNICIPAL QUINKENTISTA jm | gure 27 cts Ni phar, sem avr ri, stro pr Cite AML, tio 1 aga ds escros, L727 YT ae es om ge Jane pees we hone racedege frag ery aba aoa Didar re cr $ ome Sea ey me WALI © fer PRARL Ge pura 28 Esta haan ii, sm aut gia, 1563, AML ir 1d esr de aerate, 6 5.2. A difusdo dos modelos humanisticos: vias de contagio Nao ha noticia de qualquer diretriz por parte do poder central relativamente ao tipo grafico a utilizar na redagio das provisdes régias. Assim, as préprias escrivaninhas régias nao se pautavam por uma uniformidade grafica, nelas vigorando um ambiente de multigrafia”, cujos tipos gréficos circulavam aparentemente sem condicionalismos. Desse ambiente gréfico continuavam a chegar ao concelho, regular e frequentemente, provisdes redigidas por méos forjadas na tradicao mais conservadora do cénone gético, em modalidades mais ou menos cursivas, porém cada vez mais contrastantes com as novas formas, que lentamente se introduziam nos diferentes meios escriturdrios. Dos 35 escrivaes régios identificados que redigem provisdes destinadas ao concelho ("...vereadores, procurador e procuradores dos mesteres..."), entre a década de 1520 e 1570, ha seis que redigiram pelo menos 14 documentos”. Destes, hd dois que escrevem numa escrita hibrida, de tipo gético-humanfstico. Finalmente, Jodo da Costa, jé na década de 1570, usa os modelos humanisticos puros (V. Fig. 32). °C PAULO, Jorge Ferreira op. cit, p. 96-136, Manuel da Costa (1523-1558), 23; Joo de Seas (1530-1579), 14; Gaspar Pimentel (1544-1547), 19; Jorge da Costa (1549-1576), 19; Gaspar de Seixas (1567-1579), 17; Jodo da Costa (1572-1578), 14 Para ilustrar esta disparidade gréfica vigente no mesmo ambiente escriturario, visto como gerador de modelos grficos, registam-se dois exemplos, ambos escrivaes do rei, contemporaneos, responsaveis e executores graficos de varias provisdes régias destinadas & Camara de Lisboa: Sebastido da Costa e Ant6nio Ferraz 0 primeiro, Sebastiéo da Costa, um dos escrivaes régios graficamente mais conservadores do reinado de D. Joao II, manteve em uso uma escrita muito angulosa de tradi¢o, um modelo grafico com caracteristicas semelhantes de Cristévao de Magalhaes”. Repare-se no tracado veloz, com solugées de cursividade tipicas do gético, de tipo processual, através de ligaduras envolventes que unem superiormente com o grafema seguinte, casos do p e do q; do s em espiral antes do t, ou, em final de palavra; os tracos ascendentes de algumas letras que se sobrepdem aos descendentes permitindo a ligagao a letra seguinte, caso do f, ou do y; 0 d, de tipo uncial (V. Fig. 29) 0 segundo, Anténio Ferraz, revela um elevado nivel de esmero grafico, redigindo com uma boa legibilidade j& no novo canone de escrita, embora também utilize modelos hibridos, conhecendo-se-Ihe varios exemplos de um modelo gético-humanistico bastante regular e até da sua grafia de base, gotica cursiva e veloz™, Como escrivao, incorpora a transi¢o entre os dois modelos escriturdrios, formado num canone, mas aculturado em outro (V. Figs. 30 e 31). Pela sua mao foram tragadas muitas das novas formas gréficas humanisticas que, logo na década de 1540, se introduziram no ambiente gréfico municipal. Tudo indica que tera sido o primeiro a fazé-lo, a partir das escrivaninhas régias. Daf a sua relevancia, Quanto as caracteristicas da sua escrita humantstica mais pura, note-se a existéncia de uma marcada inclinagao para a direita das hastes de alguns grafemas, em especial do b, d, le h; a supressdo dos ngulos e a redugao do contraste transmitindo uma maior leveza A mancha grafica; mantém alguma cursividade, o que é observavel em algumas ligaduras entre grafemas e lexemas e, em especial, no ductus do sinal da conjungao e, de origem taquigrafica, através de um movimento em espiral que permite escrever reduzindo pausas e remates. Progressivamente, a humanistica disseminava-se. Aos poucos, varios escrivaes régios foram abandonando as formas gréficas conservadoras apesar de se manter um “nticleo gético” na corte sob a algada do escrivao Manuel da Costa. A década de 1560 consolidou a prética das novas formas gréficas, generalizando os modelos humanisticos entre os escrivaes da corte, caso de Jodo da Costa, que redige varios documentos destinados ao municipio” (V. Fig. 32). Aquando do desaparecimento do escrivao da camara Nuno Fernandes de Magalhies, em Alcdcer Quibir, 0 universo gréfico em torno do rei, ja estava convertido & humanistica, Veja-se, por exemplo, as cinco cartas missivas enviadas pelo cardeal-rei a cidade, a propésito das cortes de Almeirim, entre 13 de © Sehastifo da Costa esteve avo entre 1522 e 1545, redigindo pelo menos 13 dacumentes endereyados 4 CAmara de Lisbos, sempre com o mesmo padrio grafico (CF PAULO, Jorge Ferreira, op elt, anexos,p. 68), * Anténio Ferraz esteve ative entre 1542 e 1551, tendo redigo 11 provides destina cit p 126-128), Entre as anos de 1542 e 1578, esto identficados 17 escrivies régos a grafar em escrita humanistica pura, 10 Senado da Cimara de Lis (CE PAULO, Jorge Ferreira op. DDAESCRITA GOTICA A HUMARISTICA NA DOCOMENTAGKO DA CAMARA DE LISBOA: EM TORNO DA FSCRIVANINHA MUNICIPAL QUNHENTISTA jm | novembro de 1579 ¢ 09 de janeiro de 1580, todas no mesmo tipo de humanistica (V. Fig, 33). Para todos os efeitos, a humanistica ja imperava na documentagao régia, em modalidades diversificadas”, Figura 29 fsa gts cars desi gj Basti a Costa. Prova iia evi Ciara dois, 154, ever, 8. AML Lio Ler, 37 Figura 30 Ese gtcrhumsnisin de Ami Fea em visi goed 8 Cmara 1546, stoi, 1, ‘UL ti 2d provinate dp, de. 8,1, 117118 Figura 31 Esa humans Aci Fr, em carta dna envi CAma. 545, jai, 08. AML Lire 2 provid po, 11, 18.198 °1579, novembro, 13: excluind os ofciaisréios da lego para procuradorfialgo (AML, Livro 12de corte, doc 40); 1578, novembro, 22: ‘relembrando que aguardava informagio da eleigio dos procuradores que representarlam oconeelho nas cortes de Almelrim (AML, Livro 1°de cores, ‘doc 41); 1579, dezembro, 13: estranhandoo atraso dos procuradores da cidade, (AML, Livro 1°de corte, doc. 38); 1580, janeiro, 01: sobetao eavio de rnovas procuragdes para os procuradores (AML, Livro 1? de corts, doc. 44); 1580, janeiro, 09: pede celridade na resposta dos assuntos comunicados em ‘cortes para que as cortes possam ser dadas por terminadas (AML, Livro 1" de cores, doc. 45) Fgura 32 fsa de ede Cota subside Jorge da Costa, 1573 AML Lo 2 "ab provinat dopo, do.13,1, 208.20 Fgura 3 Cana wisi oi pl cada a3 Camara de Liss, Sem avo iss om. 1579. AML Liv corte, ee. 38. 5.3. A substtuirdo da gética pela humanistica: pela mao do escrivio da cémara Com 0 afastamento de Cristovio de Magalhdes, por morte ou por doen¢a, abre-se uma nova etapa no universo da escrita concelhia, com a nomeagao do seu filho mais velho, Nuno Fernandes de Magalhes, para o oficio de escrivao da cimara, Este, porém, ainda esteve quase trés anos sem exercer as fungdes. Nesse perfodo, em que foi substituido no cargo por Anténio Nunes, o referencial grafico concelhio manteve-se inalterado, seguindo o padrao grfico de tradigao gética (V. Fig. 34), 0 mesmo se passaria alguns anos depois, ao ser substituido por Alvaro de Morais (V. Fig. 35), Estes dois escrivaes, que substitufram temporariamente Nuno Fernandes de Magalhaes, nao sé tinham. em comum a fidelidade ao velho cénone, grafando num estilo irregular, como ambos tinham sido procuradores do concelho, informagao que contribui para a caracterizagao da evolucao do ambiente grafico municipal. 0 assumir de fungdes por parte de Nuno Fernandes de Magalhaes traz uma novidade associada ao cargo de escrivao da camara. Pela primeira vez, o responsavel pela escrivaninha municipal grafa em escrita humanfstica Numa primeira fase, ainda utiliza um modelo hibrido, evoluindo depois para um tipo gréfico j4 puro (V. Figs. 4, 36 e 37). Contudo, como atrés fica dito, o infortinio deixou-o por terras africanas, pelo que nao deixou uma heranga gréfica representativa”. ‘Conta, na década de 1970 sto muitos os testemunhos documents redgidos em escrita humanistica, como se verifca, por exemple, pelo Livro de regisas de ofeos,regimentos e alvards...em que se verificaadiferenca entre a produgao escrta até 1570 depois dessa daa, em que, sobretudo, ‘seafirmam duas modalidades de humanistica, ua mais cursiva (E29, 379-36, 38-38v, 39, 39-42), anterior, e utra mals regula, acaminho da ‘ancelleresca (147-150v, 154-156, 168V-167), mais tard. 10 DDAESCRITA GOTICA A HUMARISTICA NA DOCUMENTAGAO DA CAMARA DE LISBOA: EM TORNO DA ESCRIVANINHA MUNICIPAL QUNHENTISTA jm | Caberé ao segundo filho de Crist6vaio de Magalhaes, Afonso de Torres de Magalhies, o corte definitivo com o fila g6tico de tradi¢ao medieval, adoptando a escrita humanistica sem qualquer ambiguidade gréfica ou hibridagao, Assume, basicamente, duas modalidades, uma de tipo itélico, pautada pela regularidade e legibilidade, com forte inclinagao para a direita (V. Fig. 40). Nitidamente, trata-se de uma escrita “controlada’, enquanto a que utiliza na maior parte dos documentos em que intervém, na qualidade de subscritor responsavel, quase todos redigidosnuma humanistica cursiva de pequeno médulo pelo seu escrivio Domingos da Cunha, é marcada pela irregularidade e pela velocidade do cursivo, certamente a sua escrita de base, em que foi formado (V. Figs. 38, 39 e 40). Daf poder-se classificd-1a como espontinea, embora tal implique certas reservas quanto ao uso do termo, no que diz respeito & pritica gréfica, uma vez que dificilmente se poders associar a espontaneidade ao gesto da escrita. Estas serao as modalidades da humanfstica a marcar a escrita do escrivao da Camara nas iiltimas duas décadas do século XVI. Figura 34 sit assinatura de tne Nes, tum gta de ua proviso gia. 1573. AML Lio 2% provmat dpi, e198. 208203 |. PR b2I QEnona tam iste enamine (BBM C/U ve wii AML Li 3 gto defi, eginetos ards. | 9 fe, 18,118 Fgura 38 Sutscrino de nn Femands do Mapades, ua esite bide dat ca, com caractrsticas da huni, bastante arena despa de angus, rut semehante&pratnda pls excive ae sng do gatnte sitar desu pi. 1570, nov, 22 AML, Line 1." cansutas ders de D,Sbasti, .148, 4.73. egcreey—o a ene Fgura 37 Sessa do ar Fant Magan, on ecitaumanisia curva, 1574. a, ina 3. ait ois, inane alas, dc. 86, 1.51 7 PEL PEA fees Figura 38 Sutscric de um assert da mara de 1582 pr Aono de Tres Mahi, rei Doings dt Cana em esr mantic casa. AML Li Carman. 65x Fgura 38 subside lose de Toes de Magalies de un set d mara, gi pr Aa Goi. 1589, AML, ina Comes, 1.88. Figura 40 Ose modaidses depo hana, bor Ans Tras Mapas, ran asset da Clinara, una moc gular shi «do esto, toc, areata pl oii © pl rola. 1581, AML Lio Carmen £.740.75 {AKA DE LISBOA: EM TORNO DA PSCRIVAMINHA MUNICIPAL, QUINHENTSTA jm CONCLUSAO 0 cargo de escrivao da camara revestia-se da maior importancia no espaco burocratico do concelho de Lisboa pela sua incumbéncia de documentar os atos da cidade, suportando a sua administragao, Por direito préprio, participava na atividade e na organizagao concelhia, sempre préximo do governo municipal ¢ em relacao estreita com o funcionalismo régio, Era, por isso, um cargo de poder e prestigi Em Lisboa, desde finais do século XV e durante todo o século XVI, o oficio manteve-se na posse da mesma familia, pratica que constituiu o melhor exemplo da patrimonializacao daquele cargo, no Ambito do municipio de Lisboa Nesse sentido, se Nuno Fernandes foi importante, por ser o primeiro a ser investido naquelas fungGes, aquele que se destacou ao comando da escrivaninha municipal foi Crist6vao de Magalhdes, sobretudo pela longevidade com que deixou marcado o seu percurso burocratico ao servigo do concelho. Cristévao de Magalhaes tinha ao seu servico varios agentes da escrita que, no sett conjunto, formavam uma espécie de gabinete escriturdrio responsavel pela producao e reproducao da documentacgo do municipio, estrutura reconhecida formalmente pelos poderes concelhios. 0 seu tempo escriturdrio coincide com o periodo final de vigéncia das escritas géticas, de tradi¢ao medieval, mantendo-se sempre fiel ao velho cdnone, adverso a mudangas, {sto apesar do contacto com as novas formas graficas humanisticas que, timidamente, se iam mostrando, a partir de finais da década de 1530, muito particularmente por via da recegao da documentagio régia, ‘Também a sua oficina escriturdria refletiu e manteve esse conservadorismo grafico, assim atuando até abandonar as fungdes ao servigo da escrita municipal, apés meio século a documentar as ages do concelho. Na verdade, esse niicleo dirigido pelo escrivao da cémara integrava um ambiente grafico alicergado nos antigos modelos, que a todos formara e integrara, inviabilizando a alteragao do canone do seu aprendizado de base, independentemente da existéncia de modalidades mais personalizadas e das timidas utilizagées de pontuais formas inovadoras. Assim, ao que parece, a mudanga dificilmente constitufa uma opgdo, s6 vindo a concretizar-se com a atuagao de novos protagonistas graficos. Reforgando a ideia do contributo destes agentes da escrita para a construgdo da meméria concelhia, atente- -se a dois documentos marcados pela intervengao de Cristévao de Magalhdes, onde se cruzam os dois cinones grAficos, o gético e o humanistico, nas suas formas mais contrastantes, prenunciando o inicio de um novo capitulo no longo processo da histéria da escrita, 0 primeiro documento, um assento de vereagao redigido pelo seu punho, a pedido dos vereadores, em que elogia a escrita de certo mogo de Viana de Caminha, que com dez anos e nascido sem bragos, além de usar uma tesoura ou pentear-se, conseguia escrever com os pés uma letra “muyto boa e muyto limpa”. Custaa crer em tal qualidade, mas 0 encémio foi feito por um profissional da escrita com mao dotada e adestrada para a pena. Ac Mais dificilmente aceitaria Cristévio de Magalhdes de bom grado, ele que, tantos anos, trabalhou para a manutencao da meméria da escrita do municipio, que Ihe tivessem aposto na cabeceira do seu assento uma letra ase. Figura 4 Aesenta dextnado apenas, edd per Cro de Maguhdes, em uns not stata de 1618, ra mayen seta cancellonsa 143, aro, 30. AML Lo Cars, 48 cancelleresca, tao desprovida das virtudes dos tipos gréficos medievais, to contrastante com a cursividade da sua gética (V. Fig. 41). Serd exagerado pensar que para classificar esse tipo de letra poderia aproveitar o titulo da anotagao - “Cousa monstruosa”, narrando um outro caso, de um advogado do Porto que escrevia apesar de ter nascido sem os bracos e sem uma perna, apenas com “um pé direito”, Isto da escrita e da “mao” escrevente também apela & congeminacao. E 0 que terd feito Cristévao de Magalhaes a0 subscrever 0 assento que os vereadores e procuradores concelhios, "zelosos do beem comum”, mandaram fazer no livro do regimento da Cémara, que viriam depois a assinar, "tomando-o por justo bom’. Seguramente, © eventual desconforto sentido nao decorreria do contetido do assento, sobre a reserva da 2# feira A tarde para as reunides da vereacdo, até porque, sentado no banco, tera assistido A deliberacdo. J4 a escrita do assento nao lhe terd sido indiferente, De facto, aquela letra anunciava novos tempos para a escrita. 0 préprio ambiente grafico da cimara da vereagao ja estava contaminado pela humanistica, basta olhar para algumas das assinaturas de vereadores e procuradores, Com efeito, o contraste nao poderia ser maior para o conservador escrivao da camara, Mais do que uma modalidade gréfica humanistica, que j4 se enunciava nas escrivaninhas régias, mais ou menos hibrida, itélica ou cancelleresca, tratava-se de uma inusual redonda quatrocentista, de tipo paggiana, que viria a ser adotada pela imprensa pasando a circular, sobretudo, através dos caracteres tipograficos (V. Fig. 42). Posto isto, aquando da subscrigo, a mao do escrivao treme. Nao sabemos se de doenga ou de velhice. Vacila no digrafo th e oscila no g, um dos grafemas que mais se demarcou do modelo gotizante, Coincidentemente treme no “Magalhaes”, o nome da familia que garantiu a permanéncia do cdnone gréfico medieval na documentaco do municipio, levando a escrita gética até a segunda metade de Quinhentos. Mas o seu tempo estava a finar-se. Era chegado o tempo da escrita moderna, sob a forma da humanistica, que os seus dois filhos, Nuno Fernandes de Magalhaes e Afonso de Torres de Magalhaes, acabariam por adotar, em prol da memoria concelhia de Lisboa. 15 DDAESCRITA GOTICA A HUMARISTICA NA DOCOMENTAGAO DA CAMARA DE LISBOA: EM TORNO DA ESCRIVANINHA MUNICIPAL QUNHENTISTA jm | Figura 42 Subsciso de Crist e Magalies, num asset evra, ue ela ua cata Gera eeqaade, 1587, sexenivo, 13 "Eu histouam de mapas of expou" AML, ire Cares, 48, REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS FONTES MANUSCRITAS ‘ARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA Livro 2° de D. Duarte e D. Afonso V Livro 1° de D. Manuel Livro 3° de D. Manuel Livro 2°de D. joao Ill Livro 3®de D. Jodo Itt Livro 1° de consultas e decretos de D. Sebastido Livro 2° do provimento do pao Livro 1° de contratos Livro 1°de cortes Livro 8° de escrituras de aforamentos Livro 9° de escrituras de aforamentos Livro 10° de escrituras de aforamentos Livro 11° de eserituras de aforamentos Livro dos regimentos dos vereadores e oficiais da Cémara [Livro Carmesim] Livro 3° de registo de oficios, regimentos e alvards dos reis D. Jodo Ill, D. Sebastido, D. Filipe I Livro 3° da vereagiio Livro 1° de assentos do Senado Livro 1° de registo de posturas e regimentos Livro do langamento e servigo que a cidade de Lisboa fez a el rei nosso senhor no ano de 1565 Livro primeiro do tombo das propriedades foreiras a Camara desta mvito nobre, e sempre leal cidade de Lixboa Livro da escritura da instituigdo do morgado de Afonso de Torres Livro 1° do Hospital de S, Lazaro Livro 1° de fiangas de escravos Livro dos Pregos ARQUIVO NACIONAL TORRE DO TOMBO Chancelris régias D. Manuel, liv. 18 D. Jodo Ul, livs. 18, 37, 49 D. Sebastizo, livs. 42, 43 Filipe I livs. 11, 13 IARA DE LISBOA: EM TORNO DA BSCRIVAMINKA MUNICIPAL QUINHENTISTA jm | Corpo Cronolégico Parte I mg. 6, n® 11; mg. 19, n° 67; mg. 29, n® 32; me. 69, n° 32; me. 74, n° 78; me. 76, n° 34; me. 76, n° 63; mg. 76, n° 73 n? 95; mg, 77, n® 87; mg, 78, n® 8; me, 82, n? 14; mg, 112, n° 91 Parte Il - mg. 50, n® 168 EsTUDOS COELHO, Maria Teresa Pereira ~ Existiu uma escrita manuelina? 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