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Empreendedorismo e o Uso de Novas

Tecnologias como Abordagens


Metodológicas da Educação
Empreendedora no Ensino Superior.
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Diretor-Presidente
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Unidade de Desenvolvimento de Produtos e


Cultura Empreendedora
Gerente
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Gerente Adjunta
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Equipe técnica
Lidia Henrique do Nascimento

Autores
Alexandre de Sá Oliveira
Tamiris Ribeiro Narciso
Jorge Alberto Scarpin
Hong Yuh Ching
Marcelo Dionísio Ferreira
Hermes Aguiar Magalhães Unidade de Gestão de Marketing
Karla Rocha Liboreiro Gerente
Renata Guimarães Borges Guilherme Kessel
João Gabriel Rosa
Matheus Silva Borba Araquan Gerente Adjunta
Fabiana Camargo Sant’Ana Denise Rochael
Juarez Camargo
Vivianne Rodrigues de Freitas Editoração
Camila Zampirão Isabela Anatolio Barreto do Amaral
Keitilanger Grisa Hahn
Luiz Alves Feitosa Filho Revisão Ortográfica
Bárbara Santos Gomes

O48p
Empreendedorismo e o uso de novas tecnologias como abordagens metodológicas
da Educação Empreendedora no Ensino Superior: 2º Prêmio de Artigos Científicos do
projeto Desafio Universitário Empreendedor/Alexandre de Sá Oliveira...[et.al]_Brasília:
Sebrae,2017.

140 p. il.

1 Educação empreendedora I Oliveira, Alexandre Sá II Ribeiro Narciso, Tamiris III


Scarpin, Jorge Alberto IV Ching, Hong Yuh V Ferreira, Marcelo Dionísio VI Magalhães,
Hermes Aguiar VII Liboreiro, Karla Rocha VIII Borges, Renata Guimarães IX Rosa, João
Gabriel X Araquan, Matheus Silva Borba XI Sant´ana, Fabiana Camargo XII Camargo,
Juarez XIII Freitas, Vivianne Rodrigues de XIV Zampirão, Camila XV Hahn, Keitilanger
Grisa XVI Feitosa Filho, Luiz Alves XVII Gomes, Bárbara Santos II Título.

CDU – 37: 658


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2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

A EDUCAÇÃO PARA O EMPREENDEDORISMO COMO INDUTORA


DA INOVAÇÃO E DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL
NOS PAÍSES DO MERCOSUL.

RESUMO

Este estudo teve como objetivo refletir sobre a Educação para o


Empreendedorismo Empresarial como indutora para a inovação e o desenvolvimento
econômico e social nos países que compõem o Mercado Comum do Sul (Mercosul).
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e descritiva utilizando-se como fonte de
dados o estudo realizado em 62 países pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM),
em sua edição de 2015, sendo apresentados e analisados aspectos contidos em seu
Entrepreneurial Framework Conditions, por meio de um recorte intencional considerando
os países que compõem o Mercosul e que tenham participado do estudo. Concluiu-se
que, nos países considerados, há ainda a necessidade de se encarar a questão do
ecossistema para a inovação e o empreendedorismo de maneira mais estratégica e
efetiva, caso a intenção seja despertar e encaminhar o comportamento empreendedor
e o surgimento de negócios inovadores no âmbito do bloco, principalmente no caso do
Brasil, o qual apresentou os piores resultados entre seus pares.

Palavras-chave: Ecossistema de inovação. Educação Empreendedora.


Empreendedorismo.

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Alexandre de Sá Oliveira

1 INTRODUÇÃO

Empreender, de acordo com o Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1988), significa


também “deliberar-se a praticar, propor-se, tentar (empresa laboriosa e difícil); pôr em
execução”. Já um empreendimento refere-se ao “ato de empreender; empresa; efeito
de empreender; aquilo que se empreendeu e levou a cabo; realização; cometimento”.

Pode-se inferir, portanto, que o empreendedorismo, em uma concepção genérica


do fenômeno, refira-se, ao mesmo tempo, ao processo e ao produto do empreender.
Trata-se de uma ação, uma atitude, uma deliberação, no sentido de se realizar algo
desafiador, independentemente do gênero da realização.

Faz-se necessário, porém, uma delimitação do fenômeno e de uma definição


do nível de estudo adequado, quando o objetivo é refletir sobre formas efetivas de se
formar agentes capazes de, funcionalmente, produzir resultados que promovam uma
expansão da atividade econômica para além dos limites de um sistema em equilíbrio,
deliberadamente (SCHUMPETER, 1949).

O empreendedorismo vem se consolidando nos últimos 40 anos como campo


de estudo independente de outras disciplinas às quais esteve associado, a saber:
história, sociologia, economia e psicologia. Pode-se afirmar, entretanto, que, entre
os aspectos sobre os quais já há um consenso entre os membros da comunidade
acadêmico-científica, está a certeza de se tratar de um fenômeno multidimensional,
demandando um estudo multidisciplinar.

O’Connor (2013) chama a atenção para o fato de que governos têm buscado
incentivar a Educação para o Empreendedorismo pelo seu aparente benefício
econômico, como um meio para estimular o aumento dos níveis de atividade econômica.
Afirma, no entanto, que o desejado benefício econômico proveniente da Educação
para o Empreendedorismo tem sido difícil de se materializar, percebendo- se que
o problema reside, em parte, pela multidefinição do que seja o empreendedorismo,
resultado da falta de uma base conceitual e teórica consistente e aceita.

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2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Estudiosos do campo insistem em admitir a associação entre o


empreendedorismo, a inovação e a mudança, de maneira recíproca (VAN PRAAG,
1999; TRIPATHI, 2011; PARKER, 2011; LANDSTRÖM; HARIRCHI; ÅSTRÖM, 2012;
CARLSSON, 2013). Cita-se, como exemplo, o contexto econômico, para demonstrar
que a sua dinâmica cria oportunidades para que surjam inovações, gerando, em
consequência, mudanças de processos e, por meio das ações empreendedoras,
criam-se inovações e mudanças como resultado.

A partir dessa inquietude, este estudo buscou refletir quanto à situação da


Educação para o Empreendedorismo como indutora da inovação e do desenvolvimento
econômico e social nos países do Mercado Comum do Sul (Mercosul), por meio de
uma pesquisa bibliográfica e descritiva, tendo como principal fonte de dados o relatório
do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em sua última edição global de 2015.

Este estudo justificou-se pela importância do tema para os mais diversos grupos
sociais, para a realização pessoal dos potenciais empreendedores, esperando-se que
as reflexões aqui contidas despertem o interesse de pesquisadores da área, ou não,
para que busquem resultados empíricos que demonstrem uma relação causal entre
a Educação para o Empreendedorismo e um correspondente aumento no surgimento
de negócios inovadores, notadamente nos países que compõem o Mercosul, visando
ao aperfeiçoamento do sistema.

2 O ECOSSISTEMA PARA O EMPREENDEDORISMO NO MERCOSUL

O GEM autodefine-se como um estudo que visa avançar na compreensão


sobre empreendedorismo empresarial, facilitando as decisões e as iniciativas que
potencializem esses empreendimentos. Fornece anualmente um amplo conjunto
de dados sobre as atitudes sociais e os níveis de participação dos indivíduos de
determinado país ou região, em diferentes fases do processo de empreendedorismo
empresarial, além das suas características e de seus negócios. Essas informações
permitem comparações entre as economias individuais, regionais e os diferentes
níveis de desenvolvimento econômico (GEM, 2015).

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Alexandre de Sá Oliveira

Tem como principais apoiadores: o Babson College (Estados Unidos), como


uma das instituições fundadoras e patrocinadoras; a Universidad del Desarollo (Chile)
e a Universiti Tun Abdul Razak (Malásia), como patrocinadoras; e a London Business
School (Londres), apresentada apenas como uma das instituições fundadoras. No
Brasil, a pesquisa é conduzida pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade
(IBQP), com a parceria técnico-financeira do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae), recebendo, desde 2011, o apoio técnico do Centro de
Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV).

O estudo cobriu cerca de 75% da população e 90% do Produto Interno Bruto


(PIB) mundial e vê o empreendedorismo empresarial como um processo que incluiu
diferentes fases: desde a intenção de começar um negócio, evoluindo para o início da
administração de uma empresa, nova ou já estabelecida, até a descontinuidade de
um negócio. Diferentemente de estudos convencionais sobre o empreendedorismo
empresarial, os quais têm como objeto de estudo as organizações empresariais, o
GEM estuda os indivíduos e suas percepções.

O estudo caracteriza o empreendedorismo empresarial como um processo


multifase, iniciando-se com o envolvimento de potenciais empresários, indivíduos que
acreditam possuir as competências necessárias para iniciar um negócio e acreditam ter
percebido oportunidades para o empreendedorismo empresarial, assim como aqueles
que, apesar de as perceberem, não gostariam de fazê-lo pelo medo de fracassar.

Quanto ao Mercosul, em 26 de março de 1991 foi assinado o Tratado de


Assunção, com vistas à criação do bloco. O objetivo primordial do Tratado de Assunção
era a integração dos Estados-partes, por meio da livre circulação de bens, serviços e
fatores produtivos, do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC), da adoção
de uma política comercial comum, da coordenação de políticas macroeconômicas e
setoriais e da harmonização de legislações nas áreas pertinentes. Assinaram o aludido
tratado a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai (MERCOSUL, 2016).

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2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

A configuração atual do Mercosul encontra seu marco institucional no Protocolo


de Ouro Preto, assinado em dezembro de 1994, o qual reconhece a personalidade
jurídica de direito internacional do bloco, atribuindo-lhe, assim, competência para
negociar, em nome próprio, acordos com terceiros países, grupos de países e
organismos internacionais.

O Mercosul caracteriza-se pelo regionalismo aberto, ou seja, tem por objetivo


não só o aumento do comércio intrazona, mas também o estímulo ao intercâmbio
com outros parceiros comerciais. São Estados associados do Mercosul: a Bolívia (em
processo de adesão ao bloco); o Chile (desde 1996); o Peru (desde 2003); a Colômbia
e o Equador (ambos desde 2004); e a Guiana e o Suriname (que se tornaram Estados
associados em 2013). Com isso, todos os países da América do Sul fazem parte do
Mercosul, seja como Estado-parte, seja como Estado associado.

Em 2012 o bloco passou pela primeira ampliação desde a sua criação, com
o ingresso definitivo da Venezuela como Estado-parte. No mesmo ano foi assinado
o Protocolo de Adesão da Bolívia ao Mercosul, o qual, uma vez ratificado pelos
congressos dos Estados-partes, fará do país andino o sexto membro pleno do bloco.
São considerados Estados-partes: Argentina; Brasil; Paraguai; Uruguai (desde 26 de
março de 1991); e Venezuela (desde 12 de agosto de 2012). A Bolívia encontra-se em
processo de adesão para se tornar Estado-parte desde 7 de dezembro de 2012.

Para fins de análise dos dados do GEM 2015 será adotado como recorte os
países que compõem o Mercosul como bloco, sem a distinção de Estados-partes ou
Estados-membros, entendendo-se que essa decisão apenas enriquecerá o estudo.
Porém, ressalta-se que dos Estados que compõem o bloco, participaram do estudo
apenas Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Uruguai, países que
aparecerão na descrição e análise dos dados.

A seguir serão apresentados os principais resultados do estudo realizado pelo


GEM em 2015, além de uma análise desses dados considerando apenas as questões
ligadas à inovação e à Educação para o Empreendedorismo Empresarial.

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Alexandre de Sá Oliveira

Os dados serão apresentados da seguinte forma: para cada um dos itens


avaliados como pertinentes para este estudo, será mostrada como benchmark a maior
nota obtida no estudo global, considerando os 62 países participantes. Em seguida, os
resultados de cada um dos países do Mercosul, aqueles que participaram do estudo,
serão apresentados em ordem decrescente, ou seja, da maior para a menor nota.

Inicialmente o GEM perguntou aos entrevistados acerca das suas percepções


quanto à novidade de seus produtos (um bem ou um serviço) em relação aos dos seus
concorrentes, assim como as suas percepções quanto ao número de concorrentes
atuantes no mesmo setor/segmento de seus negócios.

Gráfico 1 – Percepção quanto à inovação de bens e serviços

Fonte: GEM (2015).

Como pode ser verificado no gráfico 1, o Chile foi o país em que a percepção
de se oferecer inovações em bens e serviços obteve maior pontuação entre todos
os 62 países participantes do estudo, e não apenas entre os membros do bloco.
Entretanto, ao considerarmos o Mercosul como um todo, observa-se uma pontuação
relativamente baixa se supormos que a nota máxima seria 10 e, possivelmente, esta
percepção está relacionada aos fatores avaliados pelos especialistas convidados pelo
estudo a opinarem, os quais serão apresentados a seguir.

O GEM solicitou a grupos de especialistas em cada um dos países participantes


do estudo para que avaliassem um conjunto de atributos denominado pelo estudo

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2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

como Entrepreneurial Framework Conditions, ou Quadro de Condições para o


Empreendedorismo. Compõem estes grupos estudiosos do campo, empresários,
profissionais ligados à atividade de pequenos negócios, entre outros. Estes avaliaram
cada um dos itens propostos utilizando-se uma escala Likert, sendo 1 altamente
insuficiente e 9 altamente suficiente.

No gráfico 2, além da média obtida pelos países do Mercosul participantes do


estudo, considerou-se todos os quesitos avaliados. Apresenta-se ainda o país que
obteve a maior avaliação entre os 62 pesquisados, classificando-o como benchmark,
além da média obtida a partir dos resultados dos 62 países participantes, em todos os
quesitos, indicada por uma linha vermelha.

Gráfico 2 – Entrepreneurial Framework Conditions

Fonte: GEM (2015).

Como pode ser observado no gráfico 2, considerando-se todos os itens que


compõem o Entrepreneurial Framework Conditions, Equador e Chile estão acima da
média mundial, aproximando-se do benchmark que, nesse caso, é o Canadá. Há
que se verificar as razões para tais resultados, principalmente aqueles abaixo da
média, chamando a atenção o resultado preocupante obtido pelo Brasil, tendo este o

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Alexandre de Sá Oliveira

último lugar entre os países do Mercosul. É oportuno lembrar que se mediu, com esse
levantamento, a percepção de especialistas quanto às condições para se desenvolver
o empreendedorismo empresarial, utilizando-se critérios propostos pelo GEM, os
quais compõem o Entrepreneurial Framework Conditions.

Gráfico 3 – Educação Empreendedora no Ensino Regular

Fonte: GEM (2015)

Quanto à situação da Educação para o Empreendedorismo no Ensino Regular, os


resultados obtidos pelos países do bloco requerem uma atenção especial. Esse critério
relaciona-se diretamente com o tema deste estudo e representa de que forma o Ensino,
do Fundamental ao Superior, contribui para a formação de novos empreendedores
empresariais. É oportuno lembrar que se propõe que se anteceda ao ensino o
encaminhamento do jovem, considerando sua vocação e seu autoconhecimento como
formas de se potencializar suas possibilidades. Schumpeter (1949) e Kirzner (1973)
destacam a importância dos aspectos cognitivos para a inovação e o comportamento
empreendedor e, conforme pode ser observado no gráfico 3, apenas o Equador ficou
acima da média obtida pelos participantes do estudo.

Berkun (2010) também chama a atenção para a importância do conhecimento,


da pesquisa e do trabalho duro para se produzir bens e serviços verdadeiramente

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2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

inovadores. Mais uma vez o Brasil chama a atenção negativamente e o benchmark no


quesito foi Portugal. A média entre os participantes do estudo foi 3,1.

Gráfico 4 – Educação Empreendedora pós-Ensino Regular

Fonte: GEM (2015).

O gráfico 4 mostra a situação da Educação para o Empreendedorismo,


considerando os cursos de pós-graduação. São surpreendentes tanto o resultado
obtido pelo Equador quanto ser Filipinas o benchmark do quesito. Mais uma vez o Brasil
demonstra que existe uma ampla oportunidade de melhoria também neste quesito. A
média entre os 62 países foi 4,5, sendo o Brasil o único país do bloco participante do
estudo a ficar abaixo da média obtida pelos países participantes do estudo.

Gráfico 5 – Programas governamentais para o empreendedorismo

Fonte: GEM (2015).

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Alexandre de Sá Oliveira

Quanto ao gráfico 5, foi solicitado aos especialistas que avaliassem a


existência e a contribuição de possíveis programas governamentais para apoiar o
empreendedorismo. Nesse quesito, o benchmark foi a Bélgica, com nota 6,5; a média
do estudo foi 4,3; e ficaram acima da média o Chile, o Uruguai e o Equador. O Brasil
aparece mais uma vez em último lugar, também abaixo da média.

Gráfico 6 – Transferência de resultados em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)

Fonte: GEM (2015).

O gráfico 6 refere-se à transferência de tecnologia em P&D por parte de centros


de pesquisa e da indústria para os novos negócios. Essa importante iniciativa é
responsável pela inovação em negócios, seja no setor de transformação, seja no de
serviços. Observa-se que nesse quesito a Suíça é o benchmark e apenas o Uruguai,
o Equador e a Argentina estão acima da média entre os países pesquisados. Mais
uma vez o Brasil apresentou o pior resultado entre os países do bloco participantes
da pesquisa.

3 CONCLUSÕES

Este artigo teve como objetivo apresentar a avaliação da situação da Educação


para o Empreendedorismo como indutora da inovação e do desenvolvimento
econômico e social nos países do Mercosul, com base nos dados do relatório do GEM

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2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

em sua última edição global de 2015.

Ressalta-se que o fenômeno do empreendedorismo é multidimensional e


demanda uma abordagem multidisciplinar para que se possa contribuir efetivamente
para que ele contribua de maneira sustentável para a inovação e, consequentemente,
permitir um desenvolvimento social e econômico de grupos sociais.

Em seu aspecto mais genérico, demanda um melhor encaminhamento dos


jovens no processo de escolha de suas profissões ou ocupação profissional, de
maneira a permitir o despertar e a potencialização do comportamento empreendedor.

Quanto ao ambiente favorável ao desenvolvimento de aspectos cognitivos,


o que permitirá a identificação de oportunidades apresentadas pelo mercado,
gerando negócios inovadores, utilizou-se como referência de ecossistema para o
empreendedorismo o Entrepreneurial Framework Conditions, proposto pelo GEM em
sua edição de 2015.

De uma forma geral, dos países que pertencem ao Mercosul e que participaram
do referido estudo, as maiores surpresas foram Chile e Equador, ao aparecerem
acima da média obtida pelos 62 países participantes do estudo em dois quesitos, e
o Brasil, pelo seu fraco desempenho em todos os quesitos, demandando uma maior
atenção por parte de suas autoridades. O Chile aparece ainda como o país em que
a percepção de se produzir bens e serviços inovadores em relação aos concorrentes
obteve a maior pontuação.

Este estudo teve como propósito adicional provocar reflexões acerca da


Educação para o Empreendedorismo e seu papel no desenvolvimento econômico
do bloco, o que é fundamental para sua competitividade em relação a outros países
e blocos econômicos. Neste sentido, ao se buscar um melhor entendimento quanto
ao fenômeno, o objetivo é estimular um maior intercâmbio entre os países do bloco
e outros centros mais maduros em relação à Educação para o Empreendedorismo,
visando potencializar o comportamento empreendedor, a criatividade e a inovação na
região, obtendo-se, como consequência, uma melhor distribuição de renda e qualidade
de vida para seus membros.

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Alexandre de Sá Oliveira

REFERÊNCIAS

BERKUN, S. The myths of innovation. Cambridge: O’Reilly, 2010.

CARLSSON, B. et al. The evolving domain of entrepreneurship. Small Business


Economy, v. 41, p. 913-930, 2013.

FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de


Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988.

GEM – GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR. 2015 Global Report. London:


London Business School, 2015.

KIRZNER, I. Competition and entrepreneurship. Chicago: The University Chicago


Press, 1973.

LANDSTRÖM, H.; HARIRCHI, G.; ÅSTRÖM, F. Entrepreneurship: exploring the


knowledge base. Research Policy, v. 41, p. 1154-1181, 2012

O’CONNOR, A. A conceptual framework for entrepreneurship education policy: meeting


government and economic purposes. Journal of Business Venturing, v. 28, p. 546-
563, 2013.

PARKER, S. Intrapreneurship or entrepreneurship. Journal of Business Venturing,


v. 26, p. 19-34, 2011.

SCHUMPETER, J. The theory of economic development. Cambridge: Harvard


University Press, 1949.

TRIPATHI, D. A history of entrepreneurship by Herbert, R. & Link, A. Journal of


Entrepreneurship, v. 20, p. 143-147, 2011.

VAN PRAAG, M. Some classic views on entrepreneurship. De Economist, v. 147, p.


311-335, 1999.

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Tamiris Ribeiro Narciso

INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO NA ENGENHARIA: A


IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO E USO DE NOVAS
TECNOLOGIAS NAS CONSTRUÇÕES

RESUMO

O processo de capacitação tecnológica no Brasil é um grande entrave para


o desenvolvimento econômico do país. O Brasil encontra-se em processo bem
mais lento no que diz respeito à inovação se comparado a outros países. Para
mudança desse cenário, a formação de engenheiros capacitados a empreender e
inovar é essencial. Para isso, deve haver uma maior interação entre as empresas
e instituições acadêmicas, tornando as universidades mais próximas das reais
necessidades do mercado. Inovações, como o uso de geossintéticos nas construções
de grande porte, modificam totalmente o cenário de exploração dos recursos naturais,
diminuem os custos e racionalizam as construções, e, por isso, são essenciais para o
desenvolvimento do país.

Palavras-chave: Tecnologia. Empreendedorismo. Inovação. Ensino Superior.

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2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

1 INTRODUÇÃO

Para se destacar no mercado cada vez mais competitivo, a busca pela


inovação aliada ao perfil empreendedor tornou-se imprescindível. O empreendedor
deve apresentar um diferencial que promova mudança e desenvolvimento econômico,
trazendo ideias e inovações que são a base para o sucesso e para a ordem. Percebe-
se que existe grande deficiência na formação deste perfil empreendedor, causada
principalmente pela falha na formação superior do profissional. O tradicionalismo e
o medo da mudança estão muito presentes no Ensino Superior, aliados à falta de
acesso a novas tecnologias por parte de todos. O profissional recém-formado sai
da universidade preparado tecnicamente para a execução dos serviços, mas é
despreparado no que diz respeito ao gerenciamento e à gestão do empreendimento.
Com isso, ele permanece na zona de conforto, sem se preocupar com a busca por
técnicas inovadoras que promovam a racionalização dos processos de produção,
ganho de tempo e dinheiro.

Principalmente nas escolas de Engenharia, a deficiência na capacitação


empreendedora dos profissionais que se formam vem sendo muito perceptível. Pode-
se perceber que o Brasil encontra-se em um processo bem mais lento de inovação na
construção civil do que outros países, e muitas das técnicas que ainda são utilizadas
aqui já foram substituídas em outros lugares há muito tempo. Isso acontece pelo medo
de inovar que ainda está muito presente na cultura brasileira, provocando a geração
de muito mais resíduos, perdendo-se muito mais tempo, e, muitas vezes, perdendo-se
mais dinheiro do que se já fossem aplicadas as novas técnicas e inovações utilizadas
em outros lugares do mundo.

Propõe-se, neste estudo, apresentar a importância da readequação da formação


do estudante de Engenharia, visando desenvolver nele a visão empreendedora a
partir da apresentação de novas tecnologias e inovações na construção civil dentro da
universidade. Será apresentado como exemplo aqui o uso de geossintéticos em obras
de grande porte, mostrando como eles otimizam a construção e a resistência do Brasil

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Tamiris Ribeiro Narciso

em aderi-los. Serão apresentadas as vantagens desta técnica, visando à redução de


custos, de impactos ambientais e de tempo, dentro dessa visão empreendedora que
deve ser lecionada e cobrada dos estudantes de Engenharia para o alcance de maior
racionalização dos processos de construção e, consequentemente, o desenvolvimento
econômico do país.

2 INOVAÇÃO E TECNOLOGIA

O século XX foi decisivo para o desencadeamento do processo de inovação,


mirando o desenvolvimento econômico, tecnológico e social dos países. Por esse
motivo, no século XXI a gestão da inovação tornou-se tema relevante nas universidades,
nas empresas e na política.

Inovar é um processo complexo que exige muita interação social, estoque


de conhecimento acumulado, gestão específica e injeção de capital. As novas
tecnologias aparecem pela combinação de tecnologias já existentes, ou seja, as
novas tecnologias, depois de um tempo, tornam-se possíveis componentes para a
construção de tecnologias ainda mais novas (SILVA FILHO, 2012).

Silva Filho (2012) afirma que a evolução da tecnologia depende do conhecimento


a respeito dos fenômenos naturais. É o conhecimento científico ligado às ciências
naturais que embasa parte do desenvolvimento tecnológico, sendo o principal
responsável pelas novas inovações. Além disso, as demandas sociais também ditam
o desenvolvimento tecnológico e a inovação, já que a tecnologia desenvolve-se para
atender a uma necessidade de mercado.

Para entender e padronizar o que se chama de “inovação tecnológica”, Arthur


(2009) afirma que:

Tecnologia é uma coleção de componentes e práticas disponíveis a uma cultura que

têm o objetivo de atender a uma demanda humana. As tecnologias consistem de

partes que compõem um sistema organizado de componentes, ou módulos. Neste

sentido, tecnologia é uma forma de organizar e utilizar fenômenos para uso humano

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2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

(ARTHUR, 2009).

Mecanismos que facilitem a comunicação tanto entre os conhecimentos da


natureza e os desenvolvedores de tecnologias quanto entre estes e as demandas
sociais são mecanismos fundamentais para a produção de novas tecnologias
(ARTHUR, 2009).

2.1 Inovação e tecnologia no Brasil

Segundo Silva Filho (2012), o volume e a qualidade da inovação no Brasil têm


sido motivo de preocupação. Por causa disso foram desenvolvidos vários programas
para a inserção do país em posição mais competitiva em relação ao mercado
internacional. A questão da inovação deve ser tratada como prioridade da política
industrial, tecnológica e de comércio exterior, porque as empresas que inovam são as
que dão considerável contribuição para o desenvolvimento do país.

Existem duas possíveis estratégias de inovação: inovar em produto e inovar


em processo. Sabe-se que no Brasil a grande maioria das inovações é nova para a
firma, mas não para o mercado, ou seja, compra-se a tecnologia inovadora já pronta
e repassa-se ao mercado.

Embora nos últimos anos o incentivo pela inovação por meio de algumas
políticas tenha ocorrido no Brasil, as estruturas educacional, tributária, econômica,
jurídica e empresarial não têm favorecido a comercialização competitiva, nacional e
internacionalmente dos produtos brasileiros, que quase não são inovadores.

Diante dessa situação de fraco desempenho do Brasil no que diz respeito à


inovação, é necessário reconhecer que os futuros engenheiros são fundamentais
para a mudança desse cenário no país (SILVA FILHO, 2012).

2.2 Inovação e tecnologia na Engenharia

Nas instituições acadêmicas, o momento é de readequação das estruturas

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Tamiris Ribeiro Narciso

internas de ensino, visando ao aperfeiçoamento do padrão de gestão de inovações e


novas tecnologias para otimização da transferência de informação e conhecimentos.
Nesse contexto, a interação entre universidades, institutos de pesquisa e empresas,
além de fomentar a inovação, torna a universidade mais próxima das reais necessidades
das empresas e da sociedade em geral. Assim sendo, é essencial que se crie esta
interação empresa-universidade como já é visto nos países mais desenvolvidos, para
que ocorra um desenvolvimento similar no Brasil (SENHORAS, 2012).

Segundo Palmeira (2011), há a necessidade de se inovar em todos os setores


da Engenharia, desde o projeto à construção. Diante da necessidade de preservação
ambiental e redução da exploração dos recursos naturais, aliada à busca pela
racionalização dos processos de construção, a demanda pela utilização de novas
tecnologias e materiais cresceu muito. A execução de uma obra que no passado
seria facilmente viabilizada pela utilização de materiais convencionais, hoje tornou-
se bem mais complexa. Isso devido às cobranças legais e sociais relacionadas à
utilização de recursos naturais e aos impactos que seriam gerados pela construção do
empreendimento. A partir disso observa-se a crescente necessidade de inovar.

Silveira (2005) afirma que as mudanças sociais e de mercado exigem a revisão


da formação do engenheiro e da função que será desenvolvida por ele. As mudanças
que devem ser feitas no ambiente acadêmico devem envolver, além das universidades,
o setor produtivo, os representantes da sociedade civil e os representantes do governo.
Nessa perspectiva, as universidades, junto às instituições públicas e privadas, devem
reconhecer a importância do empreendedorismo e da liderança, que, aliados à
capacitação técnica, formarão um engenheiro inovador.

Garcia (2013) afirma que a sociedade atual é tecnológica e por isso não é mais
possível se pensar em educação sem a utilização de tecnologias para o acompanha-
mento e a geração de inovações. As formas de ensinar e aprender são diferentes do
passado, porque o professor não é mais um simples transmissor de conhecimento, e
os alunos não são mais simples receptores. O professor é um mediador e facilitador
da transferência de conhecimento. Diante da nova situação, ele se viu pressionado a
utilizar recursos que dinamizem suas aulas, instigando mais a busca pelo conhecimento

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2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

por parte dos alunos, devendo utilizar as tecnologias disponíveis e entender que elas
auxiliam no processo de ensino-aprendizagem, funcionando como um recurso a mais
para a motivação dos alunos.

O principal objetivo do uso de novas tecnologias no meio acadêmico de


Engenharia é formar profissionais mais críticos. Por meio da utilização das tecnologias,
o estudante é estimulado a investigar soluções para os problemas e as situações
em estudo, por meio da prática. A partir disso, ele vê a necessidade de inovar, e
cria-se nele a vontade de racionalizar os métodos construtivos até então utilizados.
O estudante que tem mais acesso a tecnologias na sua formação amplia a visão
sobre as reais necessidades do mercado hoje, possibilitando maior modernização dos
processos de produção.

3 USO DE GEOSSINTÉTICOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL PARA A


RACIONALIZAÇÃO DOS MÉTODOS CONSTRUTIVOS

A Geotecnia é a área da Engenharia Civil que estuda a utilização de solos e


rochas como materiais de construção e avalia o comportamento destes materiais sob
a ação de carregamentos e solicitações. As barragens, os pavimentos rodoviários,
as estruturas de contenção de encostas e as fundações de edifícios são exemplos
de obras geotécnicas. Sabe-se que estas são obras de grande porte, e por isso têm
elevado potencial de alteração das condições ambientais preexistentes.

A busca pela inovação visando minimizar os impactos ambientais de forma


econômica é essencial para as obras geotécnicas, para que alterem o mínimo
possível do meio ambiente. Uma das formas de se construir com menores impactos
é a utilização de materiais avançados e alternativos, como, por exemplo, o uso dos
próprios resíduos de construção reciclados e pneus usados, reduzindo a exploração
de materiais naturais, que estão cada vez mais escassos (PALMEIRA, 2011).

Dentro desse contexto, o uso de materiais sintéticos empregados em Geotecnia,


os geossintéticos, pode substituir o uso de materiais naturais, como areia, brita e
pedras, originando soluções mais econômicas, mais rápidas e mais fáceis de serem
executadas, favorecendo o meio ambiente.

25
Tamiris Ribeiro Narciso

3.1 Vantagens do uso de geossintéticos

A natureza sintética dos geossintéticos torna-os próprios para uso em obras nas
quais um alto nível de durabilidade é exigido. Eles são constituídos por uma grande
variedade de materiais, que são adequados a um determinado uso ou necessidade.
Seus principais constituintes são os polímeros, que são macromoléculas compostas
de carbono e hidrogênio organizados em grupos complexos.

Os principais tipos de geossintéticos utilizados são os geotêxteis, as geogrelhas,


as georredes, as geomembranas, os geocompostos, os geotubos e o geoexpandido,
diferenciando-se nas formas e composições. Eles se apresentam em formas de manta,
tira ou estrutura tridimensional, sendo utilizados em contato direto com o solo ou com
outros materiais.

A utilização desses materiais é justificada pela facilidade de aplicação, pelo


baixo custo e pela versatilidade deles se comparados com materiais tradicionais. Seu
uso pode ainda diminuir volumes totais de aterros em taludes, em estradas e em
rodovias, pode resolver problemas hidráulicos e pode substituir o uso de materiais
convencionais mais caros ou com deficiências de logística, favorecendo o construtor,
já que reduz os prazos e os custos quando comparados às soluções tradicionais.

A versatilidade dos geossintéticos permite aos fabricantes disponibilizar


continuamente novos produtos, com propriedades específicas para determinado fim,
atendendo melhor às peculiaridades de cada projeto. É uma das tecnologias mais
avançadas mundialmente, uma vez que há um processo contínuo de melhoria do
desempenho desses materiais, baseando-se em pesquisas e na observação do
comportamento dos geossintéticos nas obras.

3.2 O uso de geossintéticos no Brasil

Segundo Benjamim (2014), a ideia de se associarem materiais naturais como


elemento de reforço, drenagem, proteção e contenção na Engenharia Civil teve início
há alguns anos. Pode-se verificar que o desenvolvimento dos geossintéticos como

26

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

substituição dos materiais naturais foi imprescindível para a racionalização das obras
de grande porte, que são as mais impactantes do meio ambiente, e as estruturas de
contenção costumam ser o maior custo de uma obra convencional.

Porém, a Engenharia Geotécnica brasileira não deu importância logo de início


para o uso dessas técnicas devido à dificuldade de execução e principalmente pela
ausência e dificuldade de avaliação dos parâmetros de comportamento e controle
de qualidade desses produtos. A falta de conhecimento sobre eles, sua correta
especialização e manejo são o grande entrave para a substituição total do uso de
materiais naturais na Geotecnia brasileira.

Enquanto em outros países é difícil existir uma obra de grande porte em que
não se utilize os geossintéticos, o Brasil inseriu-os no mercado a pouco tempo. Fala-
se pouco do uso desses materiais nos cursos de Engenharia Civil, fazendo com que
os profissionais recém-graduados ainda priorizem a tradicional utilização de materiais
naturais na Geotecnia brasileira. Não se apresenta essa nova tecnologia ao estudante
e não o estimula a aderir os geossintéticos na Geotecnia, sendo que já poderiam
ter substituído completamente os materiais naturais em obras de grande porte
(BENJAMIN, 2014).

A introdução desse tipo de tecnologia é muito importante para o desenvolvimento


do país. Como pode-se observar, o uso de geossintéticos traz diversos benefícios para
as construções, já que possibilita uma melhor utilização dos recursos naturais. Eles
são uma solução ambientalmente sustentável que diminuem consideravelmente a
degradação ambiental causada pelas obras geotécnicas, que são as mais impactantes
na Engenharia. Mesmo apresentando tantas vantagens, o uso desses materiais
enfrentou grande resistência no Brasil, por serem priorizadas as técnicas tradicionais
de construção (PALMEIRA, 2011).

27
Tamiris Ribeiro Narciso

4 VISÃO EMPREENDEDORA PARA A ADESÃO DE NOVAS


TECNOLOGIAS NO PAÍS

É preciso que as escolas de Engenharia do país atentem-se para a necessidade


de não se formar apenas engenheiros, mas profissionais capazes de empreender. Ainda
são poucas disciplinas voltadas ao empreendedorismo nas grades curriculares destas
escolas. O ensino do empreendedorismo nas universidades exercita a capacidade do
engenheiro de identificação de novos negócios a partir da criatividade e da inovação.
Além disso, a implantação de disciplinas empreendedoras nas grades curriculares
dos cursos de Engenharia estimula a criação de Centros de Empreendedorismo,
que contribuem diretamente para o estreitamento de relações das instituições com a
comunidade (GUIMARÃES, 2002).

Pereira (2014) afirma que na área da Engenharia, o desafio é bem maior, já


que muitas escolas não incluem na grade curricular disciplinas que ensinem os futuros
profissionais a montarem seus próprios negócios. O profissional, quando sai das
universidades, ou se joga no mercado ou segue a carreira acadêmica, deixando de
lado a abertura do negócio, comprometendo, consequentemente, o desenvolvimento
do país. No mundo globalizado, a educação é o caminho. A alta competitividade
entre as empresas exige novas formas de organização, em que só há espaço para
indivíduos empreendedores.

A apresentação de novas tecnologias nos cursos de Engenharia é essencial para


estimular o futuro engenheiro a empreender. Mostrar as vantagens de um novo produto,
como redução de tempo e ganho financeiro, são grandes incentivadores e formadores
da visão empreendedora no estudante. Se inovações como os geossintéticos fossem
apresentadas para o estudante no curso de Engenharia, instigaria seu estudo e maior
aprofundamento na inovação, gerando o desenvolvimento de outras tecnologias e
maior competitividade, que melhorariam ainda mais os novos produtos.

A competitividade de um país depende diretamente da inovação de produtos


e de processos de produção, já que a concorrência leva ao aumento da eficiência
econômica. Isso pode ser verificado pelo fato de que as economias mais desenvolvidas

28

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

do mundo têm um número maior de grandes empresas que abastecem o mercado,


o que gera também maior oportunidade de trabalho. Com isso, o empreendedorismo
nesses países concentra-se em setores mais inovadores.

Os empreendedores de um país são responsáveis pelo crescimento


econômico e social, e é a partir da inovação que se dinamiza a economia. O conceito
do empreendedorismo sustentável envolve, portanto, a identificação, a criação e a
exploração de novos negócios que possibilitem ao empreendedor obter lucros a partir
da solução de um problema ambiental e social.

Atentar-se para as demandas sociais e introduzi-las nas universidades, para


que o estudante saiba quais são as reais necessidades do mercado, instigará o futuro
engenheiro a buscar inovações que otimizem seu Plano de Negócio, para então
empreender com segurança. É essencial essa intercomunicação entre a Engenharia e o
empreendedorismo dentro das escolas de Engenharia para o desenvolvimento do país.

5 CONCLUSÕES

Com este estudo, percebe-se a necessidade de mudança no Ensino Superior e


na formação de uma política que possibilite o acesso à tecnologia nas universidades,
intrigando o estudante e estimulando a visão empreendedora nos novos profissionais.

O engenheiro que sai da universidade tem acesso, na maioria das vezes, apenas
às técnicas tradicionais de construção, ficando aquém das inovações já desenvolvidas.
Com isso, o engenheiro recém-formado não é preparado para empreender investindo
em novas tecnologias e menos ainda para desenvolver novos produtos.

O uso de geossintéticos na Geotecnia é um grande exemplo da falta de


preparação dos engenheiros empreendedores no país. A técnica, que já é utilizada há
muitos anos em outros países de forma unânime em obras geotécnicas, começou a ser
utilizado no Brasil recentemente devido à falta de informações e pelo tradicionalismo
brasileiro, que insiste em manter o uso dos materiais tradicionais devido ao medo de
arriscar em novas tecnologias.

29
Tamiris Ribeiro Narciso

O engenheiro civil recém-formado está preparado para executar serviços


relacionados à técnica de Engenharia, possuindo apenas algumas noções de ciências
humanas, como administração e economia. Porém, as principais exigências do mercado
de trabalho são com relação ao gerenciamento, à gestão e ao relacionamento, para a
possível inserção de novas tecnologias que promovam o desenvolvimento econômico
do país.

No mundo globalizado, a educação é o caminho, e a alta competitividade


entre as empresas exige novas formas de organização, em que só há espaço para
indivíduos empreendedores. Na Engenharia Civil não existe outro caminho além da
integração entre a universidade, as construtoras e os fornecedores para atender
o mercado e desenvolvê-lo cada vez mais com tecnologias que, assim como os
geossintéticos, tragam a racionalização da construção, diminuindo prazos, custos e
impactos ambientais.

REFERÊNCIAS

ARTHUR, W. Brian. The nature of technology. New York: Free Press, 2009.

BENJAMIN, Carlos Vinicius dos Santos. Aplicação dos geossintéticos na


Engenharia Civil. São Paulo: Editora Rudder, 2014.

GARCIA, Fernanda Wolf. A importância do uso das tecnologias no processo de ensino-


aprendizagem. Educação a Distância, Batatais, v. 3, n. 1, p. 25-48, dez. 2013.

GUIMARÃES, Liliane de Oliveira. A experiência universitária norte-americana na


formação de empreendedores. 2002. Tese (Doutorado) – Fundação Getulio Vargas,
São Paulo, 2002.

PALMEIRA, Ennio Marques. A importância da inovação tecnológica na Geotecnia.


Brasília: UnB, 2011.

30

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

PEREIRA, Fabio Sérgio da Costa. Empreendedorismo na Engenharia Civil. Natal:


CREA-RN, 2014.

SENHORAS, Elói Martins. Estruturas de gestão estratégica da inovação em


universidades brasileiras. 1. ed. Boa Vista: Editora da UFRR, 2012.

SILVA FILHO, Roberto Leal Lobo. Para que devem ser formados os novos engenheiros?
Estadão Educação, São Paulo, 19 fev. 2012.

SILVEIRA, Marcos Azevedo. A formação do engenheiro inovador: uma visão


internacional. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2005.

31

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA.

RESUMO

O atual momento econômico apresenta uma perspectiva de grandes dificuldades


para todos. Assim, o espírito empreendedor deve ser incentivado e utilizado como
uma importante ferramenta para enfrentarmos essa fase, por meio da criação de
oportunidades que ajudem muitos a superarem o difícil momento. Precisa-se adequar
o ensino para dele extrair a possibilidade de crescimento, desenvolvimento profissional
e incentivar a busca pelo aperfeiçoamento em áreas que exigem grande qualificação
para o aproveitamento das possibilidades que surgirem. O empreendedorismo deve
ser a mola propulsora da economia, uma alavanca de recursos, colaborar no impulso
do surgimento de novos talentos, sendo uma verdadeira dinâmica de novas ideias.
O aprendizado da sala de aula deve ser aproximado da realidade, proporcionando
condições para que o aluno sinta-se motivado a buscar um aperfeiçoamento técnico
em áreas carentes de bons profissionais. A identificação de uma oportunidade é o
primeiro passo, é o agente que impulsiona para o desenvolvimento de um produto ou
serviço (CHIAVENATO, 2008).

Palavras-chave: Empreendedor. Talentos. Aperfeiçoamento. Oportunidade.

33
Jorge Alberto Scarpin

1 INTRODUÇÃO

Fazer uma transformação no nosso complexo sistema educacional é uma tarefa


que exige uma capacidade extraordinária da nossa parte, pois múltiplas ações devem
ser realizadas se realmente queremos uma mudança que traga resultados significativos.
Ações como no sentido daquela que envolve nosso sistema atual de avaliação, que
não possibilita uma real análise sobre a apropriação dos conhecimentos por parte
do aluno. A avaliação deve ser revista, pois decorar textos ou complexas fórmulas
parece não fazer sentido em um mundo em que o acesso por meio das mídias, como
o celular ou até mesmo o computador, abrem infinitas possibilidades de acessarmos
qualquer tipo de informação desejada. Ações como a que respeita o interesse em
aproximar os conteúdos ministrados em sala de aula da realidade de cada um, ou seja,
o aprendizado deve ser real a tal ponto que ele possa fazer uma análise metódica,
criteriosa, trazendo o maior benefício para a sua formação acadêmica. Assim, neste
sentido, propomos a realização de um método por meio do qual possamos realmente
ligar os conhecimentos teóricos debatidos em sala de aula, comparando-os com as
suas atividades no seu local de trabalho, aproximando-se da sua realidade. Tópicos
de aprendizagem são apresentados e discutidos, para depois serem analisados,
comparados e contextualizados. A apresentação para o grupo sobre os resultados
obtidos, discutindo sobre eles, consagra o esforço realizado. Com o amadurecimento
das ideias discutidas, analisando as perspectivas futuras, nascem as condições de
se avaliar as possibilidades, os modelos existentes de oportunidades de se fazer um
aprofundamento dos conhecimentos para tirar um melhor proveito. Cursos de pós-
graduação ou de especialização são reais oportunidades de crescimento profissional,
de desenvolver o empreendedorismo, de retribuir à sociedade, por meio do trabalho,
aquilo que foi conquistado ao longo dos anos de estudo.

34

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

2 DISCUSSÃO

A disciplina de gestão da manutenção apresenta uma enorme quantidade de


conteúdos. Para fins de avaliação bimestral, podemos ter a realização de uma prova com
muitas questões dissertativas, ou ainda outra forma seria com questionários com muitas
perguntas a serem respondidas. Em ambos os casos, o aspecto ensino-aprendizagem
não considera esses métodos como eficazes para um bom aproveitamento em
termos de resultados na aprendizagem. Assim, para deixar o sistema avaliativo com
uma característica mais representativa em termos de aprendizagem e significativos
resultados, os alunos são estimulados a fazer uma pesquisa de campo, envolvendo
os conteúdos apresentados em sala de aula com sua atividade profissional. Por meio
da realização de uma pesquisa, o aluno deve fazer um comparativo entre os dados
obtidos em campo e os conceitos teóricos. Nesse processo, ele consegue comparar
as informações obtidas por meio de um equipamento a ser analisado e os conceitos
apresentados em sala de aula. O objetivo essencial é aproximar o que está sendo
ensinado com o seu cotidiano, evitando, assim, simplesmente decorar longos textos
sem podermos fazer uma análise crítica dos elementos apresentados.

A avaliação bimestral contempla 60% do total da nota do semestre. Como


estímulo à pesquisa e considerando o trabalho despendido, considera-se como
sendo 90% da nota bimestral, após a pesquisa ter sido realizada e apresentada. O
envolvimento por parte do aluno é notório e gratificante, uma vez que ele se sente
estimulado a realizar uma pesquisa de análise e observação sobre um equipamento
instalado próximo a ele.

3 METODOLOGIA

Apresenta-se uma lista com diversos itens a serem observados em relação a


um equipamento escolhido pelo aluno, o qual está instalado em seu local de trabalho.
As informações obtidas sobre os seguintes itens devem ser observadas:

35
Jorge Alberto Scarpin

1) Partes elétrica e eletrônica do equipamento;

2) Tipos de materiais produzidos, bem como a sua quantidade e qual a sua


aplicação;

3) A existência do mapa de riscos;

4) Atenção em relação à sinalização;

5) Observação quanto a atos ou mesmo condições inseguras;

6) Tipo de iluminação existente no local;

7) Qual tipo de manutenção é aplicado;

8) Qual tipo de serviço é prestado ao equipamento;

9) Qual sistema de treinamento é aplicado aos operadores;

10) Qual é o planejamento aplicado em relação ao estoque de peças de


reposição;

11) Aplica-se algum tipo de informatização com relação aos registros de


manutenção.

Os dados deverão ser apresentados de forma oral para todo o grupo, por meio
de uma apresentação em PowerPoint. Junto, deverá ser entregue a parte escrita,
dentro das normas técnicas, contendo todas as informações coletadas.

Um seminário é realizado dentro das datas previstas no plano de ensino para


que todos possam apresentar seu trabalho de pesquisa. Para realizar a pesquisa de
campo, o aluno deverá buscar as informações por meio de dados oferecidos pelo
próprio equipamento, entrevista com o operador da máquina, buscar outros dados por
intermédio de catálogos ou manuais do equipamento.

A pesquisa permite um conhecimento sobre o equipamento, possibilitando


uma verificação detalhada sobre vários procedimentos relativos à produção realizada
pela máquina e sobre a manutenção necessária para manter este equipamento em
condições de uso.

36

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Outra pesquisa realizada junto a empresas de médio e grande portes dos


mais diversos segmentos, todas situadas na região metropolitana de Curitiba (PR),
constatou a situação atual sobre a existência ou não das áreas das Engenharias de
Qualidade, de Manutenção, de Confiabilidade e de Segurança do Trabalho, conforme
mostrado na tabela 1.

Tabela 1 – Quantidade de áreas técnicas na empresa

Setor Sim Não

Engenharia de Qualidade 2 35

Engenharia de Manutenção 32 5

Engenharia de Confiabilidade 1 36

Engenharia de Segurança do Trabalho 18 19

Quantidade 5 32

Fonte: Jorge Alberto Scarpin

4 RESULTADOS

Observou-se, ao longo destes últimos semestres, uma intensa participação por


parte dos alunos, estimulando a continuidade desta proposta. Após cada apresentação
realizada, perguntas são realizadas para dirimir dúvidas e, assim, o processo acaba
envolvendo todos e estimulando o conhecimento sobre máquinas e processos
produtivos até então desconhecidos pelos alunos.

Vários trabalhos apresentam uma gama formidável de informações técnicas e


também de imagens que são registradas, fazendo com que ocorra uma troca muito
intensa de informações. A participação e o envolvimento são totais, sendo que vários
trabalhos têm ainda a possibilidade de se tornarem artigos como estudo de casos.
Aos alunos são apresentados os cursos de especialização nas áreas constantes na

37
Jorge Alberto Scarpin

tabela 1, com o forte objetivo de criarem a expectativa de se desenvolver e aproveitar


as oportunidades. O empreendedor apresenta um perfil típico de personalidade
em que se destacam características como senso de oportunidade, dinamismo,
persistência, criatividade, habilidade de equilibrar “sonho” e realização e habilidade
de relacionamento (BERNARDI, 2008).

5 CONCLUSÃO

O empreendedorismo estimula e possibilita um projeto de desenvolvimento


pessoal e a conquistar espaço em um mercado de trabalho que se apresenta
extremamente competitivo, exigindo um aperfeiçoamento na área pretendida de
atuação.

Estimular a pesquisa dentro da sala de aula, por meio dos conteúdos da


disciplina, como forma de desenvolver características próprias no educando, que
o torne capaz de buscar o aprimoramento técnico, aliando, dentro da observação
no campo prático, auxiliando a refletir sobre situações reais, para tirar as devidas
conclusões a respeito de uma proposta de avaliação que envolve seu local de trabalho,
buscando compreender por meio de um equipamento, analisando seu funcionamento,
sua utilização e demais componentes para contextualizar sobre ele.

A partir daí, incentivar a procura por um aperfeiçoamento técnico, por meio de


cursos de especialização que possibilite a sua inclusão em novas oportunidades de
trabalho.

A tabela 1 mostra que ainda é relativo o envolvimento das empresas no sentido


de ofertar oportunidades nessas áreas, porém o próprio mercado exige uma mudança
de postura. Em consequência, teremos inúmeras possibilidades em um futuro próximo.

Buscar, por meio do empreendedorismo, uma vez que se encontra apto,


uma condição de estabelecer novas possibilidades, novos rumos à sua carreira
profissional, aceitando novos desafios, pois está preparado para assumir essa nova
etapa em sua vida.

38

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

REFERÊNCIAS

BERNARDI, Luiz Antonio. Manual de Empreendedorismo e Gestão: fundamentos,


estratégias e dinâmicas. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

CHIAVENATO, Idalberto. Empreendedorismo dando asas ao espírito


empreendedor. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

39

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

IDENTIFICAÇÃO DE ATRIBUTOS EMPREENDEDORES EM


ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS.

RESUMO

São dois os objetivos desta pesquisa: identificar os atributos empreendedores


relacionados a projetos de empreendedorismo em estudantes universitários e fazer
uma análise comparativa entre as Características Comportamentais Empreendedoras
(CCE) e estes atributos. O trabalho avança no estudo de Ching e Kitahara (2015)
e procura estender a literatura existente, examinando a relação entre as CCE e os
atributos empreendedores. Esta pesquisa é aplicada quanto à sua natureza e tem
objetivo descritivo, apresentando caráter quantitativo. Como instrumento de pesquisa,
foi utilizado o instrumento Quociente Empreendedor (QEMP) para a identificação dos
atributos e sua amostra foi constituída por estudantes do 6º ao 8º ciclos do curso de
Administração de uma Instituição de Ensino Superior (IES) da Grande São Paulo.
Para as CCE, a base de dados do estudo de Ching e Kitahara (2015) foi tomada como
partida e expandida com mais alunos da mesma IES. Embora sejam ferramentas
ou modelos distintos de avaliação do empreendedor, ambas mostram dois grupos
bem distintos. Os estudantes do grupo maior (com 70% dos respondentes) têm
maior orientação e propensão a empreender, em contraste com os alunos do grupo
menor, que têm menor orientação e propensão. O que aparece de comum nos dois
grupos maiores são jovens altamente inclinados para o empreendedorismo e com
necessidade de realização. Uma Educação Empreendedora na faculdade pode ser
uma das razões pela qual os alunos mostram essas características e orientação
empreendedora, conforme apresentado neste estudo.

Palavras-chave: Atributos empreendedores; Características comportamentais


empreendedoras; QEMP; Educação empreendedora.

41
Hong Yuh Ching – Coautoria de José Renato Kitahara.

1 INTRODUÇÃO

O empreendedorismo é considerado um dos mais importantes fatores que


contribuem para o desenvolvimento econômico e tem numerosos benefícios para a
sociedade. Ele impulsiona inovação, cria empregos, desenvolve potencial humano e
satisfaz demandas de novos clientes (EUROPEAN COMMISSION, 2003). O trabalho
da Comissão Europeia levantou uma questão: como melhorar a inclinação das
pessoas para o desenvolvimento de novas iniciativas empreendedoras? A concessão
de subvenções e a remoção de burocracia não surtiram o impacto esperado, o que
levou à adoção de uma nova abordagem cujo objetivo principal é assegurar que mais
pessoas decidam tornar-se empreendedoras e trabalhar para esse fim.

Para Pradhan e Nath (2012), o conceito de empreendedorismo tem sido estudado


de vários ângulos, tais como empreendedores, estilo empreendedor, personalidade
empreendedora, motivação empreendedora, Educação Empreendedora e orientação
empreendedora. Ainda segundo eles, a literatura sobre empreendedorismo consiste
de critérios que variam de inovação e criatividade a características pessoais, como
aparência e estilo.

É papel das Instituições de Ensino Superior (IES) promover o desenvolvimento


da cultura empreendedora interna e externamente, desenvolvendo as pessoas e a
comunidade em geral, oferecendo cursos e treinamentos, desenvolvendo projetos
de pesquisa em inovação e empreendedorismo (GUERRA; GRAZZIOTIN, 2010).
Experiências narradas com estudantes de graduação e de pós-graduação por Keat,
Selvarajah e Meyer (2011), Yusof, Sandhu e Jain (2007), ambos na Malásia, Zaman
(2013), no Paquistão, e Farouk e Ikram (2014), na Tunísia, são alguns exemplos
nos quais a universidade desempenha papel importante, ao estimular o potencial
empreendedor nos seus alunos.

Pode-se concluir que desenvolver os atributos empreendedores nos alunos


é capacitá-los a criar, conduzir e executar o processo de elaborar novos planos
profissionais e de vida. É importante desenvolver uma consciência para formação de
pessoas disseminadoras da inovação e das características básicas para formação de
empreendedores. Nesse contexto, são dois os objetivos desta pesquisa: identificar

42

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

os atributos empreendedores relacionados a projetos de empreendedorismo em


estudantes universitários e fazer uma análise comparativa entre as Características
Comportamentais Empreendedoras (CCE) e estes atributos. Para identificar tais
atributos, foi utilizado o instrumento Quociente Empreendedor (QEMP). Ele já foi
utilizado por diversas organizações e grupos de empreendedores no Brasil, mas
ainda não foi aplicado em ambiente acadêmico para fins de pesquisa. Para as CCE,
a base de dados do estudo de Ching e Kitahara (2015) foi tomada como partida e
expandida com mais alunos respondentes. Esta pesquisa avança no estudo destes
alunos e procura estender a literatura existente, examinando a relação entre as CCE
e os atributos empreendedores.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Orientação empreendedora

A orientação empreendedora pode ser definida como uma tendência natural


da pessoa ou atitude em relação ao empreendedorismo. Pode ser descrita como a
mentalidade de uma pessoa, o grau de proatividade que uma pessoa tem para estar à
frente de outras na inovação, na realização e na tomada de risco (PRADHAN; NATH,
2012). Para Pradhan e Nath (op. cit.), a necessidade de realização e lócus de controle
tem recebido mais atenção na literatura sobre empreendedorismo:

• Necessidade de realização: esta é a dimensão mais frequentemente


atribuída sobre orientação empreendedora e pode ser definida como
comportamento em relação à concorrência com um padrão de excelência;

• Lócus de controle: pode ser definido como a percepção de controle sobre


os acontecimentos da vida. Indivíduos com lócus de controle interno
acreditam que são capazes de controlar os eventos da sua vida, enquanto
as pessoas com lócus externo de controle atribuem fatores externos como
sorte e destino no controle das suas vidas.

43
Hong Yuh Ching – Coautoria de José Renato Kitahara.

Algumas formas de orientação empreendedora são discutidas a seguir.

2.1.1 Inteligência empreendedora

Envick (2013) elaborou um modelo de inteligência empreendedora que


inclui três qualidades cognitivas, oito estados psicológicos e cinco passos que um
empreendedor pode escolher para aprimorar uma sistemática empreendedora. As
qualidades cognitivas são paixão, visão e coragem. Os oito estados psicológicos
são ambição, ética de trabalho, aprendizagem continua, inovação, usar as pessoas
como um ativo, pegar informações sobre risco, integridade e resistência. As cinco
ações incluem: gerar uma ideia de negócio, criar proposta de valor e uma vantagem
competitiva, conduzir uma pesquisa sobre o mérito da ideia, completar um estudo de
viabilidade e desenvolver um Plano de Negócio.

2.1.2 CCE

McClelland (1961) organizou dez CCE em três grandes grupos que se


relacionam entre si. Estes grupos são os seguintes:

• Necessidade de realização:

o Neste grupo, o autor coloca a importância dada para o comprometimento


na realização de um bom trabalho pelo indivíduo, reiterando que se
deve procurar realizar o trabalho utilizando a criatividade e a intuição
para alcançar suas metas e objetivos da melhor maneira possível.
Mostrando a sua persistência, mesmo em momentos de dificuldade,
em que este avalia os riscos e se posiciona com equilíbrio.

• Necessidade de planejamento:

o No segundo grupo estão as características que dão suporte ao


primeiro. Isto porque é possível realizar uma melhor avaliação dos
riscos quando se é executado um trabalho de busca por informações,
planejamento e monitoramento. Desta forma, este grupo é responsável
por fazer o indivíduo pensar antes de tomar alguma atitude.

44

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

• Necessidade de poder:

o O último grupo está atrelado à necessidade pessoal do indivíduo no


quesito poder, ou seja, de conseguir realizar ações da maneira como
desejar, e ainda, se necessário, conseguir colaboradores para uma
cooperação e ser o responsável por este grupo de parceiros. É neste
conjunto que se apresentam as características de liderança, que
estão vinculadas ao empreendedor.

2.1.3 QEMP

O QEMP (disponível em: <www.qemp.com.br>) é um instrumento de avaliação


autoadministrada que mensura atributos empreendedores relacionados a projetos de
empreendedorismo e intraempreendedorismo, utilizando como base para análise seis
pilares e quatro dimensões. Essa ferramenta foi desenvolvida pela Clinton Education,
empresa voltada para a criação e a implementação de programas de ensino nas áreas
de negócios para empreendedores, empresários, executivos e jovens profissionais.

Os seis pilares da ferramenta – detalhados a seguir – são compostos por:


aderência, dinâmica do mercado, experiência, recursos, controle e planejamento e
perfil empreendedor:

• Aderência: desenvolve e testa soluções para atender às necessidades do


mercado-alvo;

• Dinâmica do mercado: conhece informações, práticas, relações e


influências predominantes no mercado-alvo;

• Experiência: possui experiência profissional reconhecida. Tem consciência


sobre o que precisa fazer para se aperfeiçoar;

• Recursos: identifica e otimiza os recursos necessários para viabilizar seu


negócio;

• Controle e planejamento: analisa cenários para definir objetivos e


estratégias. Monitora a execução para fazer ajustes quando necessário;

45
Hong Yuh Ching – Coautoria de José Renato Kitahara.

• Perfil empreendedor: inspira e mobiliza pessoas para realizar ações e


concretizar ideias.

As quatro dimensões do instrumento são: relacional, inovador, processual e


analítico:

• Relacional: tem facilidade em estabelecer e manter conexões entre


pessoas. Prioriza os relacionamentos interpessoais na busca por
aprendizado e soluções;

• Inovador: faz conexões entre ideias aparentemente distintas para produzir


soluções originais. Encontra inspirações para criar, ao observar pessoas e
situações;

• Processual: organiza e coordena as atividades necessárias para alcançar


metas. Combina ideias e ações com facilidade;

• Analítico: ao analisar dados, identifica padrões e busca detalhes para


interpretar informações e orientar decisões. Não se satisfaz com reflexões
superficiais.

2.2 Alguns estudos correlatos

Yusof, Sandhu e Jain (2007) verificaram que os jovens estavam altamente


inclinados para o empreendedorismo com base nas características psicológicas dos
alunos de uma universidade da Malásia. Esse grupo teve elevada necessidade de
realização, uma alta propensão para assumir riscos, estava disposto a inovar e teve um
alto lócus de controle, além de ter uma moderada tolerância para a ambiguidade. Em
estudo semelhante, Zaman (2013) observou que, exceto para as variáveis tolerância
para ambiguidade e autoconfiança, as demais características empreendedoras
(inovação, propensão para assumir riscos, necessidade de realização e lócus de
controle) foram mais presentes nos estudantes paquistaneses com propensão a
empreender. Ang e Hong (2000) retrataram que o espírito empreendedor nos jovens
chineses do Leste Asiático é previsto pelas características pessoais, como propensão
a tomada de riscos, persistência e lócus de controle, bem como por fatores, como

46

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

amor ao dinheiro e desejo de segurança. O espírito empreendedor foi associado a


crenças em ética e autoindulgência. Outras características pessoais encontradas
em estudantes universitários espanhóis, como abertura à mudança e valores de
autoaperfeiçoamento, exibem maior intenção de se tornarem empreendedores
(MORIANO; LIÑÁN, 2010).

Sobre a relação entre Educação Empreendedora e propensão para


empreendedorismo, Keat, Selvarajah e Meyer (2011) mostram que o papel da
universidade para promover o empreendedorismo e o currículo voltado para esse tema,
juntamente a sexo, experiência de trabalho e ocupação da mãe, são estatisticamente
significativos nos estudantes do Norte da Malásia. Izedonmi e Okafor (2010) e Kume,
Kume e Shahini (2013) mostram nos seus estudos que a Educação Empreendedora
no currículo das universidades tem um efeito positivo nas intenções empreendedoras
nos estudantes universitários da Nigéria e da Albânia, respectivamente.

2.3 Aspectos metodológicos

Esta pesquisa é aplicada quanto à sua natureza e tem objetivo descritivo,


apresentando caráter quantitativo. Como instrumento de pesquisa, foi utilizado o
QEMP, em que os próprios alunos preencheram o questionário on-line. O enfoque
quantitativo é empregado para análises estatísticas dos dados coletados. A amostra
da pesquisa para o QEMP foi constituída por estudantes do 6º ao 8º ciclos do curso de
Administração de uma IES da Grande São Paulo, e a análise dos dados quantitativos
foi realizada com o auxílio de software SPSS. A razão da escolha desse grupo de
estudantes reside no fato de que eles já fizeram projetos de empreendedorismo
(casos do 7º e do 8º ciclos) ou estão terminando (caso do 6º ciclo). Para o questionário
QEMP, 60 alunos responderam no 1º semestre de 2016.

Para as CCE, a base de dados do estudo de Ching e Kitahara (2015) foi


tomada como partida e expandida com mais alunos do 5º ciclo que estavam cursando
a disciplina de empreendedorismo entre o 2º semestre de 2014 e o 2º semestre de
2015, em um total de 193 respondentes. Os alunos de ambas as amostras pertencem

47
Hong Yuh Ching – Coautoria de José Renato Kitahara.

ao mesmo curso dessa IES e têm perfis socioeconômico e educacional muito similares.
Embora os alunos não sejam os mesmos nas duas amostras, pelo fato de eles terem o
mesmo “modelo mental”, os autores entendem que seus resultados são comparáveis
entre si.

Após os resultados serem tabulados, foi feito inicialmente o teste Anova para
verificar a existência de alguma variável discriminante tanto no questionário QEMP
(como sexo, ciclo em que o aluno está, projeto existente ou novo projeto) quanto no
questionário das CCE (sexo, grau de interesse em abrir negócio próprio e se família
tem negócio próprio) que poderia contribuir para a formação dos agrupamentos.

Nenhuma variável discriminante influenciou a formação dos agrupamentos.


Somente as variáveis pilar e dimensão foram consideradas na análise do QEMP, bem
como os dez fatores da CCE. A análise de cluster K-Means, para verificar em quantos
grupos similares os respondentes podem ser separados para efeito de análise,
identificou dois grupos distintos, tanto nos resultados do questionário QEMP quanto
nos da CCE.

2.4 Análise dos resultados

Iniciando pela análise dos resultados do QEMP, a segmentação em dois grupos


distintos indica a existência de um grupo com menor orientação empreendedora, que
é o grupo 1 (menores valores em todos os dez fatores QEMP – seis pilares e quatro
dimensões), e um grupo com maior orientação empreendedora, que é o grupo 2
(valores significativamente maiores nos mesmos dez fatores), a um nível de confiança
de 95%. São apresentados valores absolutos e valores percentuais em relação ao valor
máximo da escala de cada fator. As respostas do grupo 2 ao instrumento QEMP foram
preponderantemente com a opção “com frequência” e, assim, obtiveram pontuação
mais alta, além de serem mais homogêneas que as do grupo 1, cujas respostas foram
preponderantemente a opção “às vezes”. As quatro opções de resposta para cada
uma das 99 afirmações do instrumento QEMP foram estruturadas no formato de
Likert. Opções como “nunca” e “às vezes” levam à pontuação menor (1 e 2), e opções

48

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

“com frequência” e “sempre” levam à pontuação maior (3 e 4). O grupo 2 teve o maior
número de respondentes (42) versus 18 do grupo 1 (tabela 1).

Tabela 1 – Valores dos dois grupos QEMP

Valor absoluto Escala do fator (%)


Fatores QEMP
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 1 Grupo 2
Pilar – aderência 15,72 25,93 37,4 61,7
Pilar – dinâmica do mercado 11,50 23,64 27,4 56,3
Pilar – experiência 19,17 31,88 37,6 62,5
Pilar – perfil empreendedor 19,61 32,24 40,9 67,2
Pilar – recursos 12,72 26,52 26,5 55,3
Pilar – controle e planejamento 17,89 30,52 35,1 59,9
Dimensão – analítico 25,78 44,43 34,4 59,2
Dimensão – inovador 23,94 38,83 38,0 61,6
Dimensão – relacional 20,78 41,40 28,9 57,5
Dimensão – processual 26,11 46,07 36,3 64,0

Quantidade de indivíduos por grupo 18 42 18 42

Distância euclidiana entre os grupos Grupo 1 Grupo 2 Grupo 1 Grupo 2

Grupo 1 - 48,13 - 48,13


Grupo 2 48,13 - 48,13 -

Fonte: Hong Yuh Ching

A tabela 1 apresenta também o valor da distância euclidiana entre os grupos de


48,13, indicando ser uma boa separação em função do valor da escala (da ordem de
0 a 50 para pilar e 0 a 70 para dimensão).

No que tange aos pilares, ambos os grupos tiveram perfil empreendedor,


experiência e aderência como os dominantes, seguidos de controle e planejamento,
dinâmica de mercado e recursos. Embora a ordem dos pilares seja a mesma nos dois
grupos, o percentual obtido em cada pilar mostra a diferença entre esses grupos. A
diferença de percentual, de 11,9%, entre o pilar perfil empreendedor (de maior valor

49
Hong Yuh Ching – Coautoria de José Renato Kitahara.

percentual) e o pilar recursos (de menor valor percentual) no grupo 2 não é significativa,
de 67,2% e 55,3%, respectivamente. O mesmo não pode ser dito do grupo 1, em que a
diferença foi de 14,4% entre esses mesmos pilares. Os pilares podem ser entendidos
como sendo a orientação empreendedora, conforme conceituada por Pradhan e Nath
(2012).

No que tange a dimensões, o grupo 2 teve a ordem hierárquica, da mais


dominante – processual seguida de inovador – para a menos dominante – relacional.
No grupo 1, esta ordem está invertida. Novamente aqui existe uma diferença acentuada
nos percentuais de resposta dos dois grupos. As dimensões podem ser entendidas
como sendo as características pessoais dos respondentes.

Quais são as características comuns no grupo 2? São jovens altamente


inclinados para o empreendedorismo, com necessidade de realização, dispostos
a inovar, lócus de controle interno, analíticos e com bom senso de organização e
coordenação. Estas características são parecidas com as encontradas nos estudos
de Yusof, Sandhu e Jain (2007) e Zaman (2013), e em parte com as de Ang e Hong
(2000). Propensão a assumir riscos e persistência não aparecem nos pilares e nas
dimensões do QEMP, mas são alvo de estudo nas CCE.

A análise fatorial resultou em um único fator, englobando os dez fatores QEMP


com variância total explicada de 77,66%. A tabela 2 apresenta o valor do alfa de
Cronbach da escala igual a 0,968, com média igual a 297,00, variância de 7404,68 e
desempenho da escala que indica que todos os fatores contribuem para o conjunto
dos dez fatores.

50

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Tabela 2 – Análise de confiabilidade da escala QEMP de dez fatores

Média da Variância da Quantidade de


Alfa de Cronbach da escala
escala escala itens
,968 297,00 7404,68 10

Alfa de
Valores da escala se o item for Média da Variância da
Cronbach da
removido escala escala
escala
Pilar – aderência 274,13 6429,64 ,966
Pilar – dinâmica do mercado 277,00 6305,56 ,963
Pilar – experiência 268,93 6141,62 ,962
Pilar – perfil empreendedor 268,55 6200,93 ,964
Pilar – recursos 274,62 6193,94 ,963
Pilar – controle e planejamento 270,27 6185,05 ,962
Dimensão – analítico 258,17 5660,72 ,959
Dimensão – inovador 262,63 5865,08 ,959
Dimensão – relacional 261,78 5727,19 ,961
Dimensão – processual 256,92 5496,82 ,960

Fonte: Hong Yuh Ching

Movendo agora para a análise dos resultados da CCE, a segmentação em dois


grupos distintos indica a existência de um grupo (o 1) com os menores valores dos
fatores CCE, menos propensão a empreender que o grupo 2 e com maior valor nas
escalas (entre 64,54% e 84,53%). Isso confirma uma maior frequência de indivíduos
propensos a empreender já identificada na análise QEMP. É interessante observar
que os indivíduos do grupo 1 posicionam-se praticamente no meio da escala (entre
48,43% e 62,36%), próximos a 60%, que é considerado por McClelland (UNCTAD,
2010) o valor a partir do qual o indivíduo é propenso a empreender.

51
Hong Yuh Ching – Coautoria de José Renato Kitahara.

Tabela 3 – Valores dos dois grupos CCE

Valor absoluto Escala do fator (%)


Fatores CCE
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 1 Grupo 2
BOI – Busca de oportunidades e iniciativa 27,79 37,19 55,57 74,38
PER – Persistência 26,36 34,78 52,71 69,56
COM – Comprometimento 30,63 39,77 61,25 79,55
EQE – Exigência de qualidade e eficiência 28,05 38,53 56,11 77,05
CRC – Correr riscos calculados 24,21 32,27 48,43 64,54
EM – Estabelecimento de metas 31,18 42,26 62,36 84,53
BI – Busca de informações 30,13 39,27 60,25 78,54
PMS – Planejamento e monitoramento
26,86 36,47 53,71 72,93
sistemáticos
PRC – Persuasão e rede de contatos 26,43 34,60 52,86 69,20
IAC – Independência e autoconfiança 28,43 38,18 56,86 76,35

Quantidade de indivíduos por grupo 56 137 56 137

Distância euclidiana entre os grupos Grupo 1 Grupo 2 Grupo 1 Grupo 2


Grupo 1 - 29,635 - 29,635
Grupo 2 29,635 - 29,635 -

Fonte: Hong Yuh Ching

As cinco características mais predominantes no grupo 2 são: estabelecimento


de metas, comprometimento, busca de informações, exigência de qualidade e
eficiência e independência e autoconfiança. Igual ordem no grupo 1, exceto pela troca
da exigência de qualidade e eficiência com independência e autoconfiança da 4ª
para a 5ª posição em relação ao grupo 1. Propensão a assumir riscos e persistência,
a exemplo do que aconteceu no QEMP, também não aparecem em evidência nos
resultados da CCE.

É interessante notar que se destaca um grupo bem distinto, tanto na análise


QEMP quanto da CCE, aqueles que têm orientação empreendedora e com propensão a
empreender. A proporção de alunos nesse grupo 2 em relação ao total de respondentes
é igual, de 70% (42/60 no QEMP e 137/193 na CEE).

52

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Quais são as características comuns no grupo 2? São jovens que procuram


estabelecer metas nas suas atividades, comprometidos com o que fazem, buscam
informações para tomar decisão, têm autoconfiança e alta noção de qualidade nos
seus resultados.

Por fim, a análise fatorial considerando os dez fatores CCE identificou somente
uma dimensão com capacidade explicativa de 60,15%. A tabela 4 apresenta o valor
do alfa de Cronbach da escala igual a 0,925, com média igual a 346,25, variância de
2758,10 e desempenho da escala que indica que todas os fatores contribuem para o
conjunto dos dez fatores.

Tabela 4 – Análise de confiabilidade da escala CCE de dez fatores

Média da Variância Quantidade


Alfa de Cronbach da escala
escala da escala de itens
,925 346,25 2758,10 10

Valores da escala se o item for removido

Alfa de
Média da Variância
Item Cronbach da
escala da escala
escala
BOI – Busca de oportunidades e iniciativa 311,79 2228,50 ,915
PER – Persistência 313,92 2280,42 ,916
COM – Comprometimento 309,13 2272,03 ,917
EQE – Exigência de qualidade e eficiência 310,77 2227,72 ,920
CRC – Correr riscos calculados 316,32 2319,98 ,920
EM – Estabelecimento de metas 307,21 2145,43 ,913
BI – Busca de informações 309,64 2256,98 ,920
PMS – Planejamento e monitoramento
312,58 2245,61 ,917
sistemáticos
PRC – Persuasão e rede de contatos 314,03 2309,37 ,919
IAC – Independência e autoconfiança 310,91 2240,26 ,918

Fonte: Hong Yuh Ching

53
Hong Yuh Ching – Coautoria de José Renato Kitahara.

3 CONCLUSÕES

As análises permitiram atingir os dois objetivos deste artigo, que foram identificar
os atributos empreendedores relacionados a projetos de empreendedorismo e fazer
uma análise comparativa entre as CCE e estes atributos. Embora sejam ferramentas
ou modelos distintos de avaliação do empreendedor, ambas mostram dois grupos
bem distintos. Os estudantes do grupo maior (com 70% dos respondentes) têm maior
orientação e propensão a empreender, em contraste com os alunos do grupo menor,
com menor orientação e propensão. O que aparece de comum nos dois grupos
maiores é um grupo de jovens altamente inclinados para o empreendedorismo e com
necessidade de realização.

Pode-se especular que o grau médio e alto de interesse em empreender


manifestado pelos respondentes no questionário da CCE, totalizando 80,3%,
seja resultante da Educação Empreendedora na faculdade em que a pesquisa foi
realizada, a exemplo de estudos de Keat, Selvarajah e Meyer (2011), Izedonmi e
Okafor (2010) e Kume, Kume e Shahini (2013). Esta Educação Empreendedora pode
ser uma das razões pela qual os alunos mostram essas características e orientação
empreendedoras, conforme apresentado neste estudo.

A ferramenta QEMP agrega à IES objeto desta pesquisa, na medida em


que possibilita enxergar os seus alunos (futuros potenciais empreendedores) sob a
perspectiva dos seus atributos empreendedores. Os resultados também agregam
valor aos próprios alunos, que passam a ter uma ideia mais clara sobre seus pilares
e dimensões mais ou menos desenvolvidas, promovendo o seu autoconhecimento.

Uma limitação deste estudo foi não ter podido usar a mesma amostra de alunos
em ambos os instrumentos, o QEMP e as CCE, no mesmo período. Uma sugestão de
trabalho futuro é comparar os resultados do QEMP com os outros modelos descritos
em Ching e Kitahara (2015).

54

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

REFERÊNCIAS

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Entrepreneurship Journal, v. 20, n. 1, p. 55-70, 2013.

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Empretec Programme – The Entrepreneur’s Guide. Geneva: UNCTAD, 2010.

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entrepreneurship education and training in Pakistan. African Journal of Business
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56
Marcelo Dionisio Ferreira

OFICINA DE PROJETOS, EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO


(OPEI).

RESUMO

Este artigo apresenta a experiência da disciplina Oficina de Projetos,


Empreendedorismo e Inovação (Opei), desenvolvida com o objetivo de fomentar a
criação de um ambiente de inovação transdisciplinar junto aos alunos de diferentes
cursos de graduação. A ação empreendedora dos alunos e o trabalho em equipe
possibilitam que estes sejam protagonistas do processo de aprendizagem, enquanto
o contato com professores de diferentes áreas de conhecimento enriquece o
processo. Os alunos constituem equipes e recebem conteúdos teóricos e práticos
nas aulas, sendo estimulados a apresentar um protótipo da ideia concebida por eles
para a resolução de problemas reais da sociedade. As equipes realizaram pesquisas
de mercado, planejamento estratégico, análise de viabilidade econômico-financeira,
prototipagem e validação do produto. Como resultados da oficina, 80 alunos de 17
cursos diferentes apresentaram, na forma de pitch, 13 protótipos das ideias e Planos
de Negócio, cuja avaliação incluiu também motivação e engajamento.

Palavras-chave: Ambiente de inovação. Equipes. Empreendedorismo.


Inovação. Protagonismo.

58

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

1 INTRODUÇÃO

A universidade é vista como elemento fundamental para a transformação


social e melhoria das condições de vida da população de forma geral. Para isso,
é importante a formação de profissionais que tenham postura proativa, contribuindo
para as mudanças e atuando de forma consistente para a solução de problemas reais
do país.

É importante que os alunos sejam preparados para atuar também como agentes
transformadores do processo de aprendizagem, deixando de atuar de maneira passiva
como simples receptores de informações. Ao participarem ativamente de projetos
envolvendo equipes multi e transdisciplinares, eles podem desenvolver competências
e habilidades que podem não ser contempladas nos enfoques tradicionais de
aprendizagem. As práticas educacionais nem sempre motivam os alunos a se tornar
protagonistas do aprendizado, o que tem incentivado diversas iniciativas voltadas à
mudança desse cenário. Em 2013 surgiu, na Escola de Engenharia da instituição, a
iniciativa de se oferecer uma disciplina optativa aos alunos da graduação voltada para
temas transdisciplinares relacionados ao empreendedorismo. Estes temas podem não
ser contemplados nas disciplinas obrigatórias e curriculares. Esta iniciativa começou
como a Oficina de Gestão de Projetos, em que eram trabalhados temas como a
estruturação de um negócio e a gestão corporativa dele. Uma outra iniciativa voltada
para o mapeamento de nichos e oportunidades e o desenvolvimento de protótipos
funcionais no Ciclo Básico do Instituto de Ciências Exatas – o Projeto Inovação –
demonstrou o enorme potencial dos estudantes quando expostos a desafios do
mundo real. Em 2016, foi oferecida uma versão mais robusta da Oficina de Projetos,
agregando também conteúdos relacionados à inovação, com o envolvimento de
docentes e discentes de diversas áreas do conhecimento, formando, assim, a Oficina
de Projetos, Empreendedorismo e Inovação (Opei). Este artigo relata a experiência
vivenciada nesta primeira edição da nova disciplina do ponto de vista do seu corpo
gestor, envolvendo quatro professores das áreas Engenharia Elétrica, Engenharia
da Produção, Administração e Física; três alunos de pós-graduação dos cursos
de mestrado em Administração, Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual e

59
Marcelo Dionisio Ferreira

Engenharia Elétrica; e um aluno de graduação do curso de Engenharia de Controle e


Automação.

Além do protagonismo do aluno no processo de aprendizagem intrínseco


à didática do curso, essa experiência proporcionou aos alunos a oportunidade de
trabalhar em equipes multidisciplinares e de aprender com empreendedores do
ecossistema de inovação local. Em cada aula foram propostos desafios, disponibilizados
conteúdos teóricos e ferramentas práticas para facilitar o desenvolvimento da ideia
pelas equipes. Participaram da oficina 80 alunos de 17 cursos diferentes. As equipes
foram estimuladas a realizar diversas atividades, tanto em sala de aula quanto fora
dela. Essa vivência possibilitou aos alunos interagir com os problemas práticos da
sociedade, além de avaliar o potencial impacto de suas ideias. A oficina consistiu de
16 aulas de 100 minutos cada, tendo delas participado também atores do ecossistema
local de empreendedorismo e inovação. Nesse ambiente instigante, alunos, docentes
e facilitadores tiveram contato com a visão de quem já empreendeu, e os desafios que
vivenciam em um cenário de incertezas. Em suma, o ambiente de empreendedorismo e
inovação da oficina possibilita às equipes de alunos participar ativamente do processo
de criação, validação e prototipação das ideias geradas por elas.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Ambiente de inovação

Um ambiente de inovação deve proporcionar acesso aos recursos e ao suporte


técnico e profissional para o desenvolvimento de novas ideias. O processo de transformar
ideias promissoras em produtos e/ou serviços úteis depende de pessoas e tecnologia:
pessoas engajadas e preparadas e tecnologia acessível. As organizações não inovam
isoladamente e dependem de extensa interação com o ambiente (FAGERBERG,
2005). Ambientes de inovação podem ser abordados com o conceito de campo de
forças criativas – qualquer sistema de relações sociais que molda ou influencia o
pensamento humano, a criatividade e é local de inovações concomitantes (SCOTT,
2006). A localização e o campo criativo afetam os relacionamentos sociais que moldam

60

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

os comportamentos inovadores e empreendedores (SCOTT, op. cit.). Existe, portanto,


uma correlação direta entre a criatividade, a inovação e o desenvolvimento de novos
produtos em ambientes multidisciplinares e multissetoriais, pois favorecem o processo
de geração de ideias e a colaboração (ALVES et al., 2007). Durante a realização da
Opei, o trabalho realizado pelos alunos sempre envolveu equipes multidisciplinares,
o que possibilitou uma visão ampliada dos problemas considerando-se diferentes
áreas do conhecimento. O papel do ambiente na geração da inovação é devido às
contribuições das seguintes características dele: localização geográfica, escala,
realidade virtual, flexibilidade, valores do projeto e imagens, recursos de Tecnologia
da Inovação (TI), dados e informações, recursos de modelagem e visualização e apoio
ao desenvolvimento (MOULTRIE et al., 2007).

Tidd (2001) salienta que a incerteza ambiental influencia o tamanho e a natureza


da inovação, pois a tecnologia acessível e a qualidade das interações disponíveis no
ambiente resultam em ações inovadoras. Chang et al. (2012) identificaram o impacto
positivo das seguintes capacidades do ambiente organizacional sobre o desempenho
em inovação: abertura, autonomia, integração e experimentação. No caso da Opei, a
proposta do curso contempla a autonomia dos alunos que trabalham de forma integrada
a ideia por meio da experimentação, do teste e da revisão. Desta forma, um ambiente
de inovação deve ser tolerante ao erro e ao fracasso, o que é considerado um passo
fundamental para melhorar os processos. Dentro da universidade, a disponibilização
dos laboratórios impacta diretamente a inovação (TOKER; GRAY, 2008), bem como
o acesso livre a eles e a informação de como utilizá-los. Na oficina é contemplado o
acesso dos alunos aos laboratórios de prototipagem disponíveis na instituição, o que
trouxe para a realidade do aluno e aproximou a teoria da prática.

Pesquisas realizadas em universidades dos Estados Unidos investigaram


algumas características relevantes do ambiente de inovação, como: configuração
espacial, visibilidade, curtas distâncias e troca de informações entre cientistas,
consultores e acesso a consultas técnicas (TOKER; GRAY, 2008). McAdam et al.
(2005) propõem que a gestão da tecnologia em centros de inovação das universidades
deve perpassar por infraestrutura física como, por exemplo, ter recursos, possibilidade

61
Marcelo Dionisio Ferreira

de intervenções, mentorias e compartilhamento de melhores práticas. Um ambiente


de inovação apresenta relação positiva entre espaço para o trabalho, planejamento,
acessibilidade e desenvolvimento de ideias. O ambiente de inovação na universidade
deve estimular os alunos a transformar boas ideias em valor, fornecer suporte à
validação de ideias promissoras, prototipagem e geração de novos negócios.

A inovação nas organizações deve perpassar todos os espaços físicos para


que a localização espacial facilite a interação (MOULTRIE et al., 2007). Desta forma, o
ambiente de inovação, na universidade, deve ir além dos departamentos, das diretorias,
dos cursos de graduação, de pós-graduação, das atividades de extensão e envolver
todos os agentes: professores, alunos, funcionários e administrativos. A universidade
é um dos locais que possuem inovação escondida que pode ser potencializada nas
instituições e nas salas de aula com equipes multidisciplinares (TIDD; BESSANT,
2015). A análise do ambiente e da estrutura da universidade permite a promoção da
inovação. Pesquisa realizada em 12 universidades nos Estados Unidos apresenta as
universidades cada vez mais estratégicas para promover tecnologia e inovação para
desenvolvimento econômico (TORNATZKY; RIDEOUT, 2014).

2.2 A inovação e o protagonismo do aluno

A inovação está associada a algo que seja novo e que, embora possua um
resultado incerto, possibilita a criação de inúmeras ideias promissoras (GOVINDARAJAN;
TRIMBLE, 2010). Desta forma, um ambiente de inovação educacional deve possibilitar
ao aluno, diante de riscos e incertezas, ser um agente autônomo, capaz de lidar com
a tomada de decisões. A inovação é movida pela habilidade de estabelecer relações,
detectar oportunidades e tirar proveito delas (TIDD; BESSANT, 2015). Neste sentido,
a inovação possibilita aos alunos, em uma universidade, o exercício de sua autonomia
e protagonismo, ou seja, sua atuação voltada para o seu próprio desenvolvimento e
definição de formas de aprender. Segundo Prado (2001), a compreensão da realidade
é fundamental para que os alunos possam participar como protagonistas, de modo a
exercer sua cidadania. Ao desenvolverem uma ideia visando resolver um problema da
sociedade, os alunos contribuem com a geração de valor agregado.

62

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

A Opei estimulou o desenvolvimento de novas alternativas para a solução


de problemas. A melhor forma de aprendizado é aquela que propicia aos alunos o
desenvolvimento de competências para lidar com as demandas da sociedade atual,
que enfatiza a autonomia do aluno para a busca de novas compreensões, por meio da
geração de ideias e de ações criativas e colaborativas (PRADO, 2001). Ao contrário
das aulas comuns, a oficina disponibilizou metade da aula para a exposição teórica e a
outra metade para o desenvolvimento de alguma atividade prática. Esse modelo muda
o papel do aluno: em vez de apenas receptor, ele se torna empoderador do conteúdo
exposto e faz uso dele no desenvolvimento da sua ideia. Esse método demonstra-se
mais eficiente no processo de aprendizagem, em que o professor também assume um
outro papel essencial, tornando-se facilitador do processo. Em vez da exposição sem
nenhuma interação com os estudantes, o professor transita em sala de aula, tirando
dúvidas pontuais e se aproximando do aluno, criando uma relação mais próxima e
personalizada, o que também facilita a aprendizagem.

Outra abordagem que muda o papel dos alunos em sala de aula é o trabalho
baseado nas próprias ideias e focado na resolução de problemas reais da sociedade.
Quando o aluno trabalha em um projeto pessoal, ele se conecta emocionalmente
com tal projeto, o que aumenta a sua motivação. Segundo Lourenço e De Paiva
(2010), para aumentar o engajamento e a motivação dos alunos, alguns fatores são
importantes: a oferta de apoio e a orientação aos alunos, o ambiente de cooperação,
as atividades desafiantes, entre outras. Na Opei, além disso, o fato de lidar com a
resolução de problemas reais proporciona ao aluno a experiência de geração de
impacto, uma vez que durante o percurso da graduação ele tem dificuldade em
enxergar a aplicabilidade dos seus conhecimentos no mundo real. Esta abordagem
empodera o aluno, tornando-o empreendedor e executor da própria ideia.

Essa iniciativa pioneira configura-se não só como uma disciplina, mas como um
primeiro passo no processo de autonomia dos alunos. As aulas tornam-se espaços de
criação, os conteúdos tornam-se ferramentas para o desenvolvimento de ideias, e a
disciplina torna-se um meio de conexão entre alunos de diversas áreas e conhecimentos
complementares. Neste sentido, quanto maior a motivação e o envolvimento dos

63
Marcelo Dionisio Ferreira

alunos, maior é a autonomia deles. Em suma, o talento coletivo é maior que a soma
dos talentos individuais e a oficina passa a ter um papel essencial: promover um
espaço de interação e experimentação, permitindo ao aluno criar e, principalmente,
utilizar seus conhecimentos, suas habilidades e suas ideias para resolver problemas
da sociedade.

3 METODOLOGIA

A oficina foi realizada com a duração de um semestre, de forma participativa


e por meio do envolvimento de quatro professores de diferentes áreas e unidades
acadêmicas: Engenharia, Ciências Econômicas e Ciências Exatas, e contou com a
colaboração no planejamento e na execução de quatro alunos de diferentes cursos
de pós-graduação e graduação da instituição. Alunos ligados a empresas juniores
e empreendedores de startups participaram como facilitadores em algumas aulas,
o que contribuiu para o empoderamento dos alunos, ao assimilar os conteúdos
teóricos por meio de vivências. Os empreendedores de startups do ecossistema local
compartilharam metodologias de gestão e vivências que encorajaram as equipes a
ousar e empreender.

Para a realização dessa oficina foram necessários os seguintes recursos ou


estrutura física: uma sala grande ou um auditório (para 80 alunos) e quatro salas
regulares para dinâmicas de grupo realizadas. A experiência recomenda que a parte
prática ou as dinâmicas sejam realizadas, sempre que possível, em salas menores,
para evitar que o barulho atrapalhe os alunos e haja mais espaço para eles discutirem
entre si. É utilizado também um laboratório aberto de inovação para o desenvolvimento
dos projetos e a construção de protótipos e realização de testes. Sugeriu-se que
as apresentações dos protótipos finais de cada grupo pudessem ser assistidas por
toda a comunidade acadêmica e ecossistema empreendedor: demais professores,
empreendedores locais, palestrantes, convidados e direção da universidade. Ao final
da disciplina, sugeriu-se que os protótipos construídos pelos alunos durante as aulas
e monitorias em laboratório fossem apresentados tanto para a comunidade acadêmica
quanto registrados em plataforma eletrônica para contribuições futuras e o possível
desenvolvimento deles, visando à geração de produtos e serviços.

64

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

4 ANÁLISE E RESULTADOS

Cabe analisar o impacto da formação universitária para o desenvolvimento


do conhecimento e para a geração de soluções para problemas reais da sociedade.
Esta oficina, com a proposta da transversalidade e simplicidade tanto da transmissão
do conteúdo quanto pela forma com que as aulas foram conduzidas, privilegia a
autonomia do aluno e seu protagonismo. O envolvimento de professores de quatro
áreas diferentes facilitou a realização da disciplina, atraindo alunos das mais variadas
unidades. Neste sentido, esta oficina, ao promover um ambiente de inovação
transdisciplinar, possibilita caminhos para a interação dos atores do ecossistema
de inovação (discentes, docentes, técnicos, empreendedores, startups, parque
tecnológico, empresas e governo) em prol das vantagens estratégicas da inovação
(TIDD; BESSANT, 2015).

Como resultado, a formação transdisciplinar de 80 alunos da graduação, de


17 cursos diferentes, abrangendo cursos de Engenharia, Física, Administração de
Empresas, Psicologia, Design de Moda, Computação, Educação Física, entre outros,
do segundo ao penúltimo período. Estes alunos elaboraram, no início do curso,
currículos virtuais, constituíram equipes multidisciplinares de trabalho e estabeleceram
uma rede de colaboração entre si e empreendedores locais. Os alunos aprendem na
oficina a trabalhar em equipes multidisciplinares e a se comunicar com efetividade
diante da diversidade de áreas de atuação dos colegas.

Essa iniciativa parte de um princípio de valorizar o ambiente de inovação


universitário, dando valor à multidisciplinaridade. As equipes multidisciplinares
permitem maior troca de pontos de vista, visando à busca de uma solução, além do
compartilhamento de experiências e conhecimentos. A diversidade é fundamental para
uma visão inovadora e para a percepção de oportunidades. Outro resultado relevante
foi a geração de 13 protótipos diversificados, desde dispositivos para pessoas surdas
no trânsito a sistema de monitoramento de sinais vitais, entre outros. A proposta da
oficina contempla a concepção de ideias com foco no desenvolvimento da autonomia
e protagonismo do aluno.

65
Marcelo Dionisio Ferreira

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação de ambientes de inovação transdisciplinares na universidade é uma


iniciativa que estimula o protagonismo dos alunos, à medida que permite a troca e
incentiva a autonomia dos alunos para que eles trabalhem as suas ideias. Esta é
considerada uma experiência fundamental que pode se tornar mais ampla, ou seja,
um novo conceito de modelo de aprendizado ativo. Alunos de diferentes cursos e
fases do percurso acadêmico podem aprender juntos a técnica e a prática envolvendo
gestão de projetos, empreendedorismo e inovação. Esses temas podem contribuir
para tornar os alunos mais conscientes do seu papel perante a sociedade. As ideias
desenvolvidas e apresentadas ao final da disciplina como protótipos poderão ter
continuidade neste ambiente de inovação e futuramente possibilitar a transferência
de tecnologia para a sociedade. Desta forma, o ambiente de inovação transdisciplinar
atua como elo dos atores dentro e fora da universidade, e permite a liberdade para
transformação de ideias em futuros produtos ou serviços para a sociedade.

Espera-se ampliar essa experiência de ambiente transdisciplinar de inovação


para outros departamentos e áreas da universidade, além dos quatro departamentos
atualmente envolvidos. O modelo poderá também ser replicado e aprimorado para
outras instituições de ensino públicas e privadas, por meio de parcerias e convênios.

Para tanto, é necessário estimular os professores da instituição a abraçar


a causa, envolver os alunos, empresas juniores e empreendedores locais nesta
iniciativa pioneira, para que possa ser potencializada a iniciativa e mais alunos possam
participar ativamente da história de transformação do ensino por meio da inovação e
do desenvolvimento de projetos.

Essa iniciativa poderá, ainda, incentivar outros pesquisadores e educadores


a buscar novas formas de atuar dentro das universidades, de forma transdisciplinar
e integrando práticas e dinâmicas que possibilitem ao aluno ser protagonista na
construção do conhecimento e empoderá-los para solucionar os desafios da vida real.

66

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

REFERÊNCIAS

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cooperation. Creativity and Innovation Management, v. 16, n. 1, p. 27-34, 2007.

CHANG, Y. C. et al. How do established firms improve radical innovation performance?


The organizational capabilities view. Technovation, v. 32, n. 7, p. 441-451, 2012.

FAGERBERG, J. Innovation: a guide to the literature. Oxford: Oxford University Press,


2005.

GOVINDARAJAN, V.; TRIMBLE, C. O outro lado da inovação. São Paulo: Campus,


2010.

LOURENÇO, A. A.; DE PAIVA, M. O. A. A motivação escolar e o processo de


aprendizagem. Ciências & Cognição, v. 15, n. 2, p. 132-141, 2010.

MCADAM, R. et al. Defining and improving technology transfer business and


management processes in university innovation centres. Technovation, v. 25, n. 12,
p. 1418-1429, 2005.

MOULTRIE, J. et al. Innovation spaces: towards a framework for understanding the role
of the physical environment in innovation. Creativity and Innovation Management, v.
16, n. 1, p. 53-65, 2007.

PRADO, M. E. B. B. Articulando saberes e transformando a prática. Boletim do Salto para


o Futuro. Brasília: MEC, 2001. (Série Tecnologia e Currículo, TV Escola SEED/MEC).

SCOTT, A. J. Entrepreneurship, innovation and industrial development: geography


and the creative field revisited. Small Business Economics, v. 26, n. 1, p. 1-24, 2006.

TIDD, J. Innovation management in context: environment, organization and


performance. International Journal of Management Reviews, v. 3, n. 3, p. 169-183,
2001.

TIDD, J.; BESSANT, J. Gestão da inovação. Porto Alegre: Bookman Editora, 2015.

TOKER, U.; GRAY, D. O. Innovation spaces: workspace planning and innovation in US


University Research Centers. Research Policy, v. 37, n. 2, p. 309-329, 2008.

TORNATZKY, L.; RIDEOUT, E. Innovation U 2.0: reinventing university roles in a


knowledge economy. [S.l.]: [s.n.], 2014.

67

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

EMPREENDEDORISMO SOCIAL E SUSTENTÁVEL: UM ESTUDO


BIBLIOMÉTRICO SOBRE A PRODUÇÃO NACIONAL.

RESUMO

Este trabalho realizou um mapeamento da produção científica nacional do


período compreendido entre 2008 e 2015 sobre os termos “empreendedorismo social”
e “empreendedorismo sustentável”. Para tanto, no que se refere à metodologia, o
estudo emprega métodos bibliométricos para analisar bases de dados científicas,
e apresentar acerca: a) da quantidade de artigos publicados; b) dos autores que
mais publicaram; c) dos periódicos que mais receberam material para publicações
referentes ao tema; e d) dos artigos mais acessados e citados. Os resultados obtidos
mostram que o conceito de empreendedorismo sustentável ainda é pouco debatido
na literatura. Poucos autores buscaram formular uma definição para o conceito e a
maioria adota a definição mais aceita. Há ainda trabalhos que, apesar de utilizarem
o termo empreendedorismo sustentável, não oferecem nenhum tipo de definição
empregada. Foram encontradas divergências relativas a tipologias, aspectos e
objetos do empreendedorismo social. Ambos os conceitos são comumente adaptados
ao contexto e ao objetivo para o qual é utilizado e muitas vezes são confundidos com
o termo empreendedorismo. Portanto, este estudo contribui com o desenvolvimento
do conceito empreendedorismo social e do empreendedorismo sustentável e suas
respectivas diferenças.

Palavras-chave: Estudo bibliométrico. Empreendedorismo social.


Empreendedorismo sustentável.

69
Matheus Silva Borba Araquan

1 INTRODUÇÃO

O conceito de empreendedorismo tem sido muito difundido no Brasil nos últimos


anos, intensificando-se no final da década de 1990. Um fator que tem colocado a
questão do empreendedorismo como prioritário nas discussões acadêmicas e
econômicas são os estudos realizados em vários países, comprovando a influência
da cultura empreendedora no processo de desenvolvimento econômico de uma
sociedade. Tais estudos demonstram que quanto maior a parcela de uma população
com características empreendedoras, maiores são as chances de aquela nação ou
sociedade se desenvolver e gerar riquezas.

Desde a origem do empreendedorismo social enquanto atividade econômica


e tema de pesquisas, conotações e sentidos distintos têm sido atribuídos ao campo.
Temas como economia solidária, autogestão, sustentabilidade e inclusão social foram
agregados às discussões que contribuíram para a consolidação do empreendedorismo
social, reforçando sua importância em meio às demandas sociais que vivenciamos
atualmente (GAIOTTO, 2016).

O empreendedorismo social encontra-se em fase inicial, e necessita de maiores


esforços para avançar em determinados aspectos, buscando consolidar cada vez mais
seu embasamento teórico (NICHOLLS, 2010). Tais aspectos descritos pelos autores
citados referem-se às diferentes interpretações acerca do empreendedorismo social,
suas definições, além de sua relação com as diferentes áreas que compartilham do
mesmo campo, como o desenvolvimento econômico e social, a educação profissional
e a sustentabilidade, por exemplo.

Os seguintes temas são explorados neste trabalho, o qual tem como objetivo
iluminar as orientações teóricas e práticas que estão sendo seguidas e desenvolvidas
por autores da área: quais são os autores que mais publicaram; os periódicos que
mais publicaram; os artigos mais visualizados; e relacionar os temas que mais foram
discutidos, para que seja possível visualizar as características da produção científica
do período investigado, que corresponde ao intervalo de 2008 a 2015.

70

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Porém, existe pouco ou nenhum conhecimento sistematizado a respeito das


nuances que envolvem a gestão empreendedora social, especialmente no que tange
ao aspecto considerado por muitos crucial, que é o da prática do empreendedorismo
sustentável (ORSIOLLI; NOBRE, 2016). Daí justifica-se o objetivo deste trabalho:
contribuir com a definição do conceito de empreendedorismo social e empreendedorismo
sustentável, mapeando as principais publicações no Brasil.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Empreendedorismo

A utilização do termo empreendedorismo é atribuída a Cantillon (1755) e a Say


(1803). Ambos os autores definiam os empreendedores como pessoas que correm
riscos porque investem o seu próprio dinheiro em empreendimentos.

Dolabela (1999) realça que Cantillon, em 1755, definiu o empreendedor como


alguém que comprava matéria-prima com o objetivo de fazer o processamento dela
e depois revender por um preço maior, atribuindo ao empreendedor a imagem de
alguém que assumia riscos, aproveitando oportunidades com o objetivo de obter
lucros, representando esse aspecto um desafio.

Já Gonçalves (2003) diz que empreender é quebrar uma lógica de mercado,


modificar uma dinâmica até então válida e oferecer ao mercado um negócio realmente
novo. Não é por outro motivo que inovação e criatividade têm uma ligação forte com
o empreendedorismo.

Um conceito mais atual define que empreendedorismo envolve reconhecer


a oportunidade para criar algo novo, como também o reconhecimento de uma
oportunidade para desenvolver um novo mercado, usar uma nova matéria-prima ou
desenvolver um novo meio de produção (BARON; SHANE, 2007).

71
Matheus Silva Borba Araquan

2.2 Empreendedorismo social

O empreendedorismo social pode ser definido como uma atividade empresarial


com propósitos sociais incorporados às suas atividades (FELÍCIO et al., 2013). De
acordo com os dados fornecidos pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2013),
houve um crescimento da literatura relacionada ao empreendedorismo social nos
últimos anos, o que demonstra a importância desse fenômeno e a necessidade de
estudar seus desdobramentos. O crescimento de empresas sociais é um fenômeno
cada vez mais visível em países em desenvolvimento, devido a questões ligadas à
pobreza, à mortalidade infantil e à distribuição de renda. Desta forma, as empresas
sociais direcionam esforços para minimizar as imperfeições que atingem as camadas
sociais menos favorecidas, no intuito de melhorar sua qualidade de vida, por meio de
programas assistenciais, doações, tratamentos de saúde e outras medidas (SANTOS,
2012).

De acordo com Trivedi e Stokols (2011), um dos principais fatores que


propiciam o desenvolvimento do empreendedorismo social pode ser descrito como
o sentimento constante de insatisfação com o Estado e o mercado pelas camadas
sociais marginalizadas e negligenciadas por eles. Neste sentido, o Estado contribui
para a construção de um cenário desfavorável para a igualdade social, por meio de
medidas burocráticas excessivas e a absorção de renda por meio de impostos, cujo
retorno nem sempre é evidente.

No momento atual, considerações sobre empreendedorismo social têm


se sustentado a partir do princípio de que o empreendedor social busca pela sua
própria sustentabilidade, gerando valor social e soluções para demandas sociais, sem
estabelecer necessariamente relações de lucratividade, como é o caso dos sujeitos
envolvidos com o cooperativismo (BAHMANI; GALINDO; MÉNDEZ, 2012). O valor
social difere do valor econômico, porque o empreendedorismo social procura formular
soluções sustentáveis para questões sociais diversas e, por conta disso, não adquire
vantagens competitivas em detrimento de outras organizações (GAIOTTO, 2016).

72

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Ao passo em que o empreendedorismo social desenvolve inovações e soluções


práticas a partir de poucos recursos disponíveis frente à magnitude dos problemas
que procura resolver (MONTGOMERY; DACIN; DACIN, 2012), o empreendedorismo
comercial demonstra o mesmo modelo de ação, isto é, também desenvolve soluções
para determinados problemas.

Segundo Rouere e Pádua (2001), o empreendedorismo social constitui a


contribuição efetiva de empreendedores sociais inovadores, cujo protagonismo na
área social produz desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e mudança de
paradigma de atuação em benefício de comunidades menos privilegiadas.

2.3 Empreendedorismo sustentável

Segundo Boszczowski e Teixeira (2012), o empreendedorismo sustentável


surge a partir de estudos relacionados ao empreendedorismo social; todavia, envolve
simultaneamente os princípios econômico, social e ambiental (SHEPHERD; PATZELT,
2011). Por ser um conceito recente (BOSZCZOWSKI; TEIXEIRA, 2012), esse tipo
de empreendedorismo apresenta diferentes interpretações sobre sua definição, tais
como muitas vezes ser confundido com o termo empreendedorismo social.

Choi e Gray (2008) compreendem o empreendedorismo sustentável como


uma forma de negócio que almeja o lucro e conduz seus objetivos em direção à
sustentabilidade, ao integrar as dimensões econômica, social e ambiental (triple
bottom line).

Por sua vez, autores como Cohen e Winn (2007) e Dean e McMullen
(2007) expressam que o empreendedorismo sustentável é proveniente de falhas
e oportunidades de mercado que possibilitam o surgimento de novos negócios e
estabelecem as bases para um tipo de empreendedorismo que busca obter renda
e contribuir com melhores condições sociais e ambientais para a sociedade. Neste
sentido, Shepherd e Patzelt (2011) explicam que as oportunidades para realizar novos
processos, bens e serviços precisam ser aproveitadas considerando os benefícios
à natureza e à comunidade. Para os autores, os ganhos do empreendedorismo

73
Matheus Silva Borba Araquan

sustentável centram-se em ganhos econômicos para a empresa, e não econômicos


(benefícios) para indivíduos, economia e sociedade.

3 METODOLOGIA

Para realizar este estudo e levantar os dados necessários para responder aos
objetivos desta pesquisa, foi realizada a análise bibliométrica da produção científica
sobre os termos “empreendedorismo social” e “empreendedorismo sustentável”. A
opção pela bibliometria decorre da crescente necessidade de avaliar os avanços e
o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, nas diversas áreas do conhecimento
(VANTI, 2002). Segundo Araújo (2006), a bibliometria pode ser entendida como
técnica quantitativa e estatística de medição dos índices de produção e disseminação
do conhecimento. Ela se apresenta como uma importante técnica, pois permite, por
meio da medição do número de publicações e citações de pesquisadores, analisar a
produtividade e a qualidade das pesquisas em determinada área do conhecimento
(VANTI, 2002). Este estudo também pode ser classificado como descritivo, uma vez
que busca descobrir respostas para as perguntas “quem?”, “o quê?”, “quando?”,
“onde?” e, algumas vezes, “como?” (COOPER; SCHINDLER, 2003).

Para realizar a pesquisa, procedeu-se inicialmente à coleta de dados, optando-


se pelo levantamento da produção em uma base de dados de ampla cobertura na
área de administração, em especial na área do empreendedorismo.

Este trabalho se propôs a realizar um levantamento da produção científica


relacionada ao empreendedorismo social entre 2008 e 2015. A terminologia utilizada
para encontrar publicações voltadas ao referido tema foi “empreendedorismo social”
e “empreendedorismo sustentável”. Portanto, artigos publicados no período descrito
e que apresentaram o termo citado consistem na amostra pesquisada neste estudo.

A pesquisa foi realizada a partir dos periódicos listados pela plataforma Scientific
Periodicals Electronic Library (SPELL), que é um repositório de artigos científicos
e proporciona acesso gratuito à informação técnico-científica. Desta forma, foram
selecionados apenas os periódicos que apresentaram publicações relacionadas ao

74

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

tema proposto. Os periódicos e as publicações foram catalogados de acordo com o


critério estabelecido pelo sistema SPELL, por acessos e citações de visitantes, por
quantidade e ano de publicação, pelo número de publicações realizadas por cada
autor e pelo número de publicações realizadas nos principais periódicos. Foram
encontrados 153 artigos técnico-científicos que abordam o tema empreendedorismo
social e 20 do tema empreendedorismo sustentável. Ambos foram distribuídos em 53
periódicos. Vale ressaltar que a plataforma SPELL disponibiliza 555 artigos no grande
tema empreendedorismo.

4 RESULTADOS

4.1 Total de publicações por ano

O levantamento de todas as publicações por um dado período de tempo é crucial


para a visualização de como anda os avanços científicos e a discussão que permeia os
temas desse estudo. Portanto, foi realizado um mapeamento de todas as publicações,
na plataforma SPELL, dos termos “empreendedorismo social”, “empreendedorismo
sustentável” e “empreendedorismo”. O mapeamento permite visualizar o crescimento
ou a redução das publicações ao longo dos anos e os temas.

Tabela 1 – Empreendedorismo social: total de publicações por ano

Empreendedorismo social
Ano Quantidade de publicações
2008 12
2009 17
2010 20
2011 10
2012 16
2013 28
2014 23
2015 27
Total 153

75
Matheus Silva Borba Araquan

Empreendedorismo sustentável
Ano Quantidade de publicações
2008 0
2009 0
2010 0
2011 3
2012 5
2013 4
2014 5
2015 3
Total 20

Empreendedorismo
Ano Quantidade de publicações
2008 52
2009 44
2010 63
2011 54
2012 57
2013 95
2014 94
2015 96
Total 555
Fonte: Elaboração própria

De acordo com a análise da tabela 1, é possível verificar que foram produzidos


153 artigos que contêm o termo “empreendedorismo social”, 20 de “empreendedorismo
sustentável” e 555 que contêm o termo “empreendedorismo”, no período compreendido
de 2008 a 2015.

76

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Gráfico 1 – Quantidade de artigos por tema

95 94 96

63
54 57
52
44

0 0 0 3 3 28 23
27
17 20
16
12 10
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
3 5 4 5 3
0 0 0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Empreendedorismo social Empreendedorismo sustentável Empreendedorismo

Fonte: Elaboração própria

De acordo com o gráfico 1, nota-se a variação das publicações totais nacionais


envolvendo empreendedorismo social no período investigado. Em relação às
publicações, houve um pico de produtividade no ano de 2013, atingindo o total de
28 publicações. Esses aumentos no número de publicações foram precedidos por
declínios no ano de 2011 em relação a 2010. O aumento de publicações em 2012 e
2013 foi seguido por queda no ano de 2014, seguido por um crescimento em 2015.

Além disso, é importante salientar que as publicações envolvendo o


empreendedorismo sustentável apresentaram valores baixos ao longo dos anos,
totalizando 20 publicações em oito anos de levantamento, sendo que nos anos de
2008, 2009 e 2010 não foram encontradas publicações na plataforma SPELL a
respeito desse tema.

A produção de empreendedorismo apresentou variações significativas, já


que no ano de 2012 apresentava um valor de 57 publicações, e no ano de 2013
apresentou um acréscimo de 38 publicações, totalizando 95 artigos científicos. Houve
maior equilíbrio entre os anos de 2012 e 2015, alternando entre 95 e 96 publicações
anuais.

77
Matheus Silva Borba Araquan

4.2 Empreendedorismo social e sustentável: autores que mais


publicaram e periódicos que mais receberam publicações

O conhecimento dos autores que mais publicaram artigos em um dado período


(tabela 2) é de suma importância, pois com base nessas informações é possível
identificar os maiores pesquisadores e produtores científicos sobre os temas em
questão.

Já o conhecimento dos periódicos que mais publicaram a respeito dos temas


em estudo é essencial para a visualização dos meios em que o conhecimento de
empreendedorismo social, empreendedorismo sustentável e empreendedorismo são
disponibilizados no Brasil. Os periódicos citados a seguir (tabela 3) são de acesso
aberto; portanto, são importantes para o avanço da ciência e tecnologia no país, pois
eles agilizam o processo de disseminação da informação, aumentar a visibilidade da
produção científica nacional e de retorno dos investimentos públicos para a sociedade.

Tabela 2 – Os 12 autores que mais publicaram

Autores Publicações
Rivanda Meira Teixeira 14
Candido Borges 5
Fernando Gomes de Paiva Júnior 4
Gláucia Maria Vasconcellos Vale 4
Lúcia Rejane da Rosa Gama Madruga 4
Vânia Maria Jorge Nassif 4
Alvaro Guillermo Rojas Lezana 3
Hilka Vier Machado 3
Lucas Veiga Ávila 3
Mozar José de Brito 3
Norma Pimenta Cirilo Ducci 3
Reed Elliot Nelson 3

Fonte: Elaboração própria

78

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

A tabela 2 apresenta os 12 principais autores que publicaram mais de uma


vez a respeito do tema empreendedorismo social e/ou sustentável. Rivanda Meira
Teixeira publicou 14 artigos com temas relacionados a empreendedorismo social e/ou
empreendedorismo sustentável.

Tabela 3 – Os 12 periódicos que receberam mais publicações

Periódicos Publicações
Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas 19
Cadernos EBAPE.BR 8
Fernando Gomes de Paiva Júnior 7
Gláucia Maria Vasconcellos Vale 7
Lúcia Rejane da Rosa Gama Madruga 7
Vânia Maria Jorge Nassif 5
Alvaro Guillermo Rojas Lezana 4
Hilka Vier Machado 4
Lucas Veiga Ávila 4
Mozar José de Brito 4
Norma Pimenta Cirilo Ducci 4
Gestão e Sociedade 3

Fonte: Elaboração própria

A tabela 3 representa os 12 principais periódicos que publicaram sobre o


assunto empreendedorismo social e/ou sustentável.

4.3 Empreendedorismo social e sustentável: artigos mais acessados


e artigos mais citados

A análise dos artigos mais acessados pelo público (tabela 4) e dos artigos mais
citados pelos autores (tabela 5) permite-nos inferir com relação aos assuntos mais
requisitados dentro do universo do empreendedorismo social e do empreendedorismo
sustentável.

79
Matheus Silva Borba Araquan

Tabela 4 – Artigos mais acessados

Nome do artigo Acessos Ano

As representações e as práticas sociais das 4.983 2011


“sacoleiras” na feira hippie de Belo Horizonte:
a representação social de empreendedoras de
pequenos negócios

Empreendedorismo e crescimento econômico: 4.423 2008


uma análise empírica

O empreendedorismo como marco solidário na 3.835 2010


esfera do desenvolvimento

Empreendedorismo social: reflexões acerca do 3.567 2013


papel das organizações e do Estado

Fonte: Elaboração própria

Conforme citado na tabela 4, os artigos de método estudo de caso foram os


mais solicitados pelo público em geral.

Tabela 5 – Artigos mais citados

Nome do artigo Citações Ano

Empreendedorismo e crescimento econômico: 16 2008


uma análise empírica

O empreendedor humanizado como uma 6 2008


alternativa ao empresário bem-sucedido: um novo
conceito em empreendedorismo, inspirado no
filme Beleza Americana

A pesquisa-ação do participante como estratégia 6 2009


metodológica para o estudo do empreendedorismo
social em administração de empresas

Empreendedorismo e o desenvolvimento do 5 2011


turismo na cidade de Tiradentes

Fonte: Elaboração própria

80

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Conforme citado na tabela 5, os artigos de método científico estudo de caso


foram os mais citados por outros autores em seus artigos.

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

De acordo com os dados apresentados, foi encontrada uma quantidade


considerável de informações a respeito do empreendedorismo social, mas já com
relação ao termo empreendedorismo sustentável, a quantidade de material encontrado
ainda é bem baixa no Brasil. Essas informações foram demonstradas por meio das
quantidades de publicações e periódicos entre 2008 e 2015, e também por meio de
uma análise voltada às temáticas mais recorrentes nos artigos científicos que abordam
os temas, publicações nacionais, além da listagem dos autores mais citados, os quais
desenvolveram as bases teóricas que atualmente são utilizadas por quem publica ou
já publicou trabalhos no referido campo.

Assim, a partir das contribuições deste trabalho, foi possível verificar que
ainda há avanços a serem feitos na produção nacional em empreendedorismo social
e empreendedorismo sustentável, que, por meio do trabalho dos pesquisadores, é
possível potencializar o alinhamento entre as mazelas sociais e as pesquisas voltadas
à inovação social e à criação de valores sociais, na busca por soluções sustentáveis
para resolver as demandas sociais em âmbito nacional.

81
Matheus Silva Borba Araquan

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83
Fabiana Camargo Sant’Ana

84

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA COMO INCENTIVO AO


EMPREENDEDORISMO NO BRASIL.

RESUMO

Este artigo busca apresentar uma breve pesquisa bibliográfica acerca do tema
Educação Empreendedora. O trabalho desenvolvido apresenta a contextualização
histórica da Educação Empreendedora, o empreendedorismo, o ecossistema
empreendedor e suas variantes, como também a Educação Empreendedora e seus
objetivos. Foi utilizada pesquisa documental em banco de dados digitais, arquivos e
livros de biblioteca e entidades públicas, contribuindo para resultados informativos
à Educação Empreendedora no Brasil. Este estudo permitiu conhecer alguns
dos programas de Educação Empreendedora desenvolvidos em parceria com o
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e que foram
apresentados no decorrer deste trabalho. Ao final, pode-se considerar que a Educação
Empreendedora pode auxiliar a economia atual e a sociedade com resultados positivos,
preparando os empreendedores antes de iniciar um novo negócio.

Palavras-chave: Educação Empreendedora. Empreendedorismo. Ecossistema.

85
Fabiana Camargo Sant’Ana

1 INTRODUÇÃO

A educação é discutida como a forma pela qual o homem se faz homem, sendo,
portanto, processo fundamental de transmissão cultural e estrutura do seu ser. A
universalização do ensino gera a ênfase na capacidade da educação de produzir uma
sociedade crítica, com visão ampla na diversidade cultural e incentivo globalizado do
pensamento de suas ações, abarcando aspectos culturais amplos, como a transmissão
da língua, dos valores, entre outros preceitos.

A Educação Empreendedora acarreta um novo cenário de inovação, baseando-


se em metodologias novas e inovadoras para crescimento e desenvolvimento do aluno
empreendedor. De acordo com Sebrae (2016a), a Educação Empreendedora propõe
a ruptura de um modelo de prática educacional que privilegia a transmissão estática e
a crítica de dados e informações sem estimular reflexões ou aplicação dos saberes na
forma de ações transformadoras. Sendo assim, a Educação Empreendedora prioriza
o equilíbrio entre o “querer fazer” e o “reunir as condições para poder realizá-lo”.

O principal objetivo deste estudo é identificar, na pesquisa bibliográfica


documental, como acontece a Educação Empreendedora no Brasil e pesquisar quais
os modelos e as metodologias utilizados para o enriquecimento intelectual do leitor
sobre a Educação Empreendedora no país.

Apresenta-se, primeiramente, o contexto da Educação Empreendedora, o


empreendedorismo e o ecossistema que envolve o empreendedorismo. Por fim,
constam as considerações finais sobre o estudo.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 O contexto histórico da Educação Empreendedora

O ensino do empreendedorismo nasceu primeiramente nos Estados Unidos,


nas faculdades de administração, e se espalhou pelos diversos países. Em 1947,
Myles Mace ofereceu o primeiro curso de empreendedorismo em Harvard para 188

86

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

alunos com influências de fatos como a ida de Schumpeter para lecionar em Harvard
no ano de 1932 (KATZ, 2003).

Em 1953, Peter Drucker, na Universidade de Nova Iorque, inicia um curso de


empreendedorismo que, além da gestão de pequenas empresas, também se preocupa
com a temática da inovação. Em 1974, Karl Vesper reporta a existência de 104 cursos
em universidades nos Estados Unidos. Próximo ao ano 2000, já eram 1.400 cursos
(KATZ, 2003).

No Brasil, o ensino da administração acompanha a evolução econômica


brasileira e desenvolveu-se como Ensino Regular após 1930, com a intensificação
do capitalismo da industrialização e das primeiras empresas nacionais. Em 1981, o
professor Ronald Degen foi o primeiro a introduzir um curso de empreendedorismo
como foco na criação de negócios.

Na atualidade, o foco dos cursos nas universidades não está apenas na


administração de pequenas empresas; há diversas metodologias, propostas e
ambientes, alguns inusitados, em que o ensino do empreendedorismo está se
desenvolvendo.

2.2 O empreendedorismo

Conforme Dornelas (2015, p. 28), “o termo empreendedorismo pode ser


definido como o envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam à
transformação de ideias em oportunidades”.

O “ser empreendedor” está cada vez mais presente na atualidade e no desejo


de jovens estudantes que buscam o reconhecimento no mercado de trabalho,
automotivam-se pela ideia de evolução, que estimula o indivíduo a empreender e
sentir prazer na mudança. São jovens que almejam a aprendizagem contínua, “ser
seu próprio chefe”, criar novas formas, novas tecnologias e diferentes padrões do que
vivenciaram ao passar do tempo.

O principal autor que analisou os aspectos psicológicos que levam as pessoas

87
Fabiana Camargo Sant’Ana

a se tornarem empreendedores foi McClelland (1961), que enfatiza os fatores


motivacionais. Nessa área de estudo, entre as características citadas com maior
frequência, estão: iniciativa e busca de oportunidades; assumir risco calculado; busca
por qualidade e eficiência; persistência; comprometimento; busca sistemática por
informações; estabelecimento de metas; monitoramento e planejamento sistemático;
rede de contatos e persuasão; e autoconfiança e independência.

2.3 O ecossistema empreendedor e suas variantes

Os ecossistemas são uma forma de evidenciar os vínculos de interdependências


dos agentes para a criação e captura do valor. De acordo com Sebrae (2016b), um
ecossistema empreendedor tem como diferencial a união de fatores que criam um
meio favorável ao empreendedorismo.

Conforme Sebrae (2016b), o ecossistema do empreendedorismo é composto


das seguintes variáveis:

• Mercado: abrange contato com os clientes nos mercados doméstico e


internacional e nas redes de empreendedores;

• Capital financeiro: acesso a financiamentos e contatos com investidores e


fundos;

• Políticas: pela atuação governamental por políticas públicas e incentivos;

• Capital humano: pela capacitação dos empreendedores e colaboradores


e promoção de Educação Empreendedora por centros de ensino;

• Suporte: que engloba desde serviços de suporte (contabilidade, jurídico)


até incubadoras, aceleradoras e redes de mentores;

• Cultura: comportamentos e valores que surgem entre os atores do


ecossistema para inspirar e apoiar o empreendedorismo.

A partir dessas variáveis é possível compreender que o ecossistema


empreendedor engloba e se adapta às suas variáveis com influência direta e indireta
sobre o negócio e a Educação Empreendedora no país. O ensino empreendedor deve

88

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

estar voltado à realidade de todas as variáveis com o contexto atual que o país vivencia,
como a instabilidade do mercado, sendo necessária a realização de pesquisas para
melhor conhecimento dele, como o modismo presente na sociedade, a necessidade
atual dos clientes etc.

É essencial para a Educação Empreendedora transmitir o conhecimento sobre


as leis governamentais que são instáveis a cada ano, como também o capital financeiro
e o capital humano, o suporte e a cultura, que variam de região a região, de situação
a situação de maneira teórica e prática, preparando o futuro empreendedor para o seu
negócio e para o que irá enfrentar no mercado que será inserido.

Portanto, o ecossistema da Educação Empreendedora engloba um conjunto de


ações, que podem funcionar separadamente ou em conjunto, entre elas destacam-se
os mercados nacional e internacional, os incentivos ao capital financeiro, por meio de
financiamentos, as políticas públicas de incentivos ao empreendedor, a capacitação
do capital humano nas empresas e principalmente a promoção de Educação
Empreendedora por instituições de ensino e formação profissional, o suporte legal e
o apoio de incubadoras e, por fim, o fomento à cultura empreendedora, incentivando
a inovação.

2.4 Educação Empreendedora

No Brasil, a Educação Empreendedora ainda não é uma realidade, mas é


preciso repensar os programas e as políticas públicas acerca do tema, pois é preciso
adaptar a sociedade às transformações do mundo na era da informação, em que o
conhecimento empodera o indivíduo.

A sociedade contemporânea vem cada vez mais exigindo pessoas empreendedoras,

autônomas, com competências múltiplas, que saibam trabalhar em equipe, que tenham

capacidade de aprender e adaptar-se a situações novas e complexas, de enfrentar

novos desafios e promover transformações (SEBRAE, 2016b).

89
Fabiana Camargo Sant’Ana

Com o grande número de pequenas e médias empresas, o empreendedorismo


passou “a ocupar uma posição estratégica no campo econômico e social no cenário
brasileiro”. (SEBRAE, 2016b). Portanto, aprender sobre o empreendedorismo tornou-
se essencial para a sobrevivência destas empresas.

Com o crescimento do número de pequenas e médias empresas, houve


também o aumento no número de facilitadores de conteúdo sobre empreendedorismo.
Alguns dos facilitadores que desenvolvem programas de Educação Empreendedora
em parceria com o Sebrae pesquisados neste estudo são: Junior Achievement, Canal
Futura, Endeavor e ViraVida. Apresenta-se brevemente a seguir um resumo dos
programas pesquisados.

Quadro 1 – Junior Achievement

Atualmente está presente em 120 Trata-se de uma associação educativa


países e, no Brasil, já foram 4 milhões sem fins lucrativos, mantida pela
de alunos beneficiados e 150 mil iniciativa privada, cujo objetivo é
voluntários envolvidos. As atividades despertar o espírito empreendedor nos
da Junior Achievement desenvolvem- jovens, ainda na escola, estimulando
se por meio de programas educativos o seu desenvolvimento pessoal,
criteriosamente formulados, aplicados proporcionando uma visão clara do
junto aos jovens por meio de parcerias mundo dos negócios e facilitando o
com escolas e voluntários dispostos acesso ao mercado de trabalho.
a compartilhar suas experiências e O sucesso da Junior Achievement é
conhecimentos com estudantes de resultado da sinergia e da dedicação de
diferentes faixas etárias. todas as partes envolvidas: empresas,
escolas e alunos, tendo como principal
vínculo entre eles os voluntários.
Globalmente, 10 milhões de jovens
ao ano participam dos programas da
Junior Achievement, consolidando
a formação de uma cultura
empreendedora ao redor do mundo,
dentro de uma perspectiva ética e
responsável.

Fonte: JA Brasil ([s.d.]).

90

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

A associação educativa Junior Achievement é de grande importância para a


Educação Empreendedora por desenvolver o espírito empreendedor e atividades que
promovam o empreendedorismo na sociedade de maneira voluntária, consolidando a
cultura empreendedora em jovens brasileiros e indivíduos ao redor do mundo.

Quadro 2 – Canal Futura

O Canal Futura ganhou diversos Criado em 1997 por Roberto Marinho,


prêmios nacionais e internacionais em o Canal Futura é um modelo novo de
relação à comunicação, ao jornalismo, educação em televisão, no qual seus
à ciência, à cultura, à cidadania e à parceiros mantenedores (Sistema
sustentabilidade. Fiesp, Votorantim, Itaú Social, CNI,
Fecomércio-RJ, Fundação Bradesco,
Em 2002 ganhou o Prêmio Nacional
Sistema Firjan) participam do
de Cidadania/Pensamento Nacional
desenvolvimento dos programas e das
das Bases Empresariais (PNBE).
ações sociais.
Em 2005 ganhou o prêmio da
Sua visão é baseada no espírito
Associação de TVs Educativas Ibero-
comunitário, no pluralismo. Ética e
americanas (Atei) na Espanha em
espírito empreendedor, valorizando
reconhecimento aos esforços em prol
a iniciativa individual, o risco e a
da educação.
tomada de decisão, incentivando a
responsabilidade de cada um no seu
próprio crescimento e desenvolvimento
do país. O Canal Futura está presente
em todo o país e pode ser assistido
via antenas parabólicas, TV por
assinatura, TVs universitárias e UHF.

Fonte: Futura ([s.d.]).

De acordo com a proposta do programa de incentivo à Educação Empreendedora


oferecido pelo Canal Futura, é possível notar o envolvimento da organização para
promoção da cultura e do conhecimento na sociedade. O canal apresenta ações que
estimulam o perfil empreendedor e também mostra à comunidade e aos telespectadores
a relevância desse tema para o crescimento da economia do país e o acesso ao
conhecimento como principal ferramenta para o desenvolvimento humano.

91
Fabiana Camargo Sant’Ana

Quadro 3 – Instituição Endeavor

Endeavor é uma organização de A Endeavor atua no Brasil desde 2000.


estímulo ao empreendedorismo A organização existe para multiplicar
presente em 18 países, com foco em o número de empreendedores de
nações emergentes. alto crescimento e criar um ambiente
de negócios melhor para o país. A
O instituto é uma das principais
missão da organização está dividida
fontes geradoras e multiplicadoras de
em três etapas: a primeira é localizar
empreendedores de alto impacto.
empreendedores de alto impacto
que possam ser considerados novos
exemplos para a sociedade em suas
áreas de atuação. A segunda é dedicada
à área da educação, tendo como uma
de suas metas inserir na cultura local
a filosofia de inovar e buscar novas
formas de fazer negócios. Por fim, a
observação das políticas públicas,
uma vez que o ambiente econômico
é um fator que impõe muitas barreiras
aos empresários.

Fonte: Endeavor Brasil ([s.d.]).

A organização Endeavor tem a proposta de fomentar o empreendedorismo no


país, por meio de buscas por novos empreendedores e ideias inovadoras que auxiliam
o desenvolvimento das soluções administrativas e sociais na sociedade. A proposta
do instituto é de grande valia para promover a cultura empreendedora nos países,
resultando em melhorias administrativas não só de um país, mas do mundo.

92

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Quadro 4 – Instituição ViraVida

Atualmente, o programa atende mais O ViraVida é um dos exemplos bem-


de 5 mil jovens no Brasil, em 26 cidades. sucedidos de como a educação e
Os cursos já implantados abrangem a qualificação profissional podem
as áreas de moda, imagem pessoal, transformar a vida de adolescentes e
turismo e hospitalidade, gastronomia, jovens. O programa, criado em 2008
comunicação digital, administração, pelo Conselho Nacional do Sesi, apoia
entre outros. meninos e meninas com idade entre
16 e 21 anos que sofreram violência
sexual.
Utilizando uma tecnologia de
intervenção social, o programa oferece
aos participantes a oportunidade de
adquirir conhecimentos e desenvolver
suas habilidades para alcançarem a
transformação em suas vidas, por meio
da inserção no mercado de trabalho.
O objetivo do ViraVida é garantir
os direitos e elevar a autoestima
desses adolescentes e jovens,
criando as condições necessárias
para que alcancem a autonomia e o
desenvolvimento pleno de suas vidas.
O processo socioeducativo é
desenvolvido em parceria com a
Rede Nacional de Proteção das
Crianças e Adolescentes e com as
instituições que compõem o Sistema
S (Sesi, Senai, Senac, Sesc, Sest,
Senat, Sebrae e Sescoop). Os cursos
realizados combinam formação
profissional e Educação Básica, além
de atendimento psicossocial, médico e
odontológico.

Fonte: ViraVida ([s.d.]).

A instituição ViraVida é de grande importância para o ensino empreendedor e


profissionalizante. O programa social, além de promover uma melhor qualidade de
vida com ideais éticos, oportuniza jovens a buscar novos horizontes no mercado de

93
Fabiana Camargo Sant’Ana

trabalho. A instituição fomenta o crescimento do empreendedorismo no país, bem


como a Educação Empreendedora para comunidades carentes.

Os programas apresentados anteriormente representam a importância singular


da Educação Empreendedora no país, nas mais diversas formas, pois estimulam
a prática no contexto do empreendedorismo, manifestando maiores resultados
ao empreendedorismo no país, melhorando, consequentemente, a economia, e
qualificando mais o mercado em que será inserido.

Os projetos das organizações são veículos motivadores aos universitários ou


a qualquer indivíduo que deseja iniciar um novo negócio. São formas inovadoras que
incentivam a busca por melhorias e oportunidades para melhorar a qualidade de vida
dos interessados com promoções de concursos, reconhecimentos e atividades que se
relacionam com novas ideias e novas visões do mercado de trabalho. São ações que
estimulam jovem, homens e mulheres a se preparar e conhecer o mercado atual de
maneira empreendedora.

De acordo com especialistas do projeto Entlearn, composto por pessoas de


diferentes países (Heinonen e Akola, 2007), a aprendizagem empreendedora seria:

Um processo dinâmico de conscientização, reflexão, associação, e aplicação que

envolve transformar a experiência e o conhecimento em resultados aprendidos e

funcionais. Compreende conhecimento, comportamento e aprendizagem efetivo-

emocional (COPE, 2005 apud HEINONEN; AKOLA, 2007).

De acordo com Lopes (2010), o processo de aprendizagem está estreitamente


conectado com o processo de criatividade, inovação, identificação e aproveitamento
de oportunidades. Os objetivos da Educação Empreendedora são:

• Conscientizar a respeito do empreendedorismo e da carreira


empreendedora, lançando sementes para o futuro;

• Influenciar e desenvolver atitudes, habilidades e


comportamentos empreendedores;

94

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

• Desenvolver qualidades pessoais relacionadas às competências


necessárias para o mundo moderno: criatividade, assumir risco e assumir
responsabilidade;

• Incentivar e desenvolver empreendedores;

• Estimular a criação de negócios e a geração de empregos;

• Desenvolver conhecimentos, técnicas e habilidades focados no mundo


dos negócios e necessários para a criação de uma empresa;

• Auxiliar empreendedores e empresas, por meio de conhecimento e


ferramentas, a melhorar sua competitividade.

Assim, a educação enfatiza o uso intensivo de metodologias de ensino que


permitam aprender, pois o indivíduo defronta-se com eventos críticos que o forçam
a pensar de maneira diferente, buscando saídas e alternativas, ou seja, aprendendo
com a experiência e com o processo.

A Educação Empreendedora relaciona-se com a aprendizagem experiencial,


correlaciona-se ainda com o processo de construir o significado com base na interação
social e na experiência, aprendizagem centrada em problemas e aprendizagem
cooperativa, trabalhando com grupos heterogêneos, exercitando a comunicação, a
liderança e a coesão de equipes (LOPES, 2010).

O modelo de aprendizagem contínua apresentado por Lopes (2010) é realizado


em cinco estágios sucessivos para que o indivíduo abra um negócio e prospere. Tais
estágios vão integrando desde o nível de conhecimento e habilidades básicas até
o nível de crescimento, mesclando-se em diferentes proporções: aprendizagens
favorecidas pela educação, pelo treinamento ocupacional e pela própria experiência
de trabalho.

Morin (2001, p. 24) ressalta que “o desenvolvimento da aptidão para


contextualizar e globalizar os saberes torna-se um imperativo da educação”. Sendo
assim, é importante ter em vista a complexidade dos objetos da pós-modernidade,
cuja compreensão só é possível se forem ultrapassados dos limites das disciplinas
isoladas, transformando os princípios organizadores do conhecimento.

95
Fabiana Camargo Sant’Ana

Com relação à Educação Empreendedora, embora tão abordada em inúmeros


debates a nível mundial, em que se fala “de inovação e criatividade, [...] as instituições
de ensino não apresentam o empreendedorismo como um modelo de negócio a ser
trabalhado” (SEBRAE, 2016a). Portanto, é preciso que as instituições de educação e
formação profissional busquem adaptar seus currículos de maneira que permitam aos
estudantes um maior conhecimento sobre o empreendedorismo em todas suas formas,
inclusive sobre o intraempreendedor. Assim, o mercado de trabalho terá melhores
profissionais disponíveis para aplicar seus conhecimentos nas organizações.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mentalidade empreendedora exige criatividade e inovação, o que depende,


antes de tudo, de uma educação que liberte. A Educação Empreendedora prepara o
jovem para o mercado de trabalho, apresentando-lhe os desafios, a prática e a teoria
para seu investimento ou empreendimento.

De acordo com o principal objetivo deste estudo, que era o de apresentar a


Educação Empreendedora e suas abordagens metodológicas, contextualizando
a prática e teoricamente o seu ecossistema e variantes no Brasil, com este estudo
foi possível concluir que o Brasil está crescendo e se desenvolvendo nessa área.
Como apresentamos, há diversos programas com incentivo ao reconhecimento do
empreendedor. O campo universitário está direcionando-se com palestras e outras
promoções sobre o tema, estimulando a experiência e a teoria antes de iniciar um
novo negócio para fins de melhorar a economia do país, como também a expectativa
de vida de um novo negócio.

De acordo com as pesquisas, foi possível identificar algumas das soluções em


Educação Empreendedora em diversas instituições, como Junior Achievement, Canal
Futura, Instituto Endeavor e Programa ViraVida, que, em parceria com o Sebrae,
desenvolvem programas de formação empreendedora em todo Brasil.

É por intermédio do diálogo entre a ordem científica e a liberdade criativa que


se buscam novas perspectivas adequadas a uma Educação Empreendedora, que
resulta em uma melhoria de resultados para futuros empreendedores no país.

96

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

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97

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA: O PORQUÊ DE REPENSAR OS


VALORES DO ENSINO PARA VISAR À DISSEMINAÇÃO DA CULTURA
EMPREENDEDORA NAS ESCOLAS E UNIVERSIDADES.

RESUMO

O século XXI tem sido para alguns empreendedores um ambiente de mudanças


e instabilidade, isso devido à prática do empreendedorismo estar convivendo com a
falência. Mesmo assim, o Brasil está entre os sete países que mais empreendem. Este
artigo chama a atenção para a importância da educação na formação empreendedora,
fornecendo-nos informações sobre os valores de ensino necessários p a r a
transformar a realidade que vivenciamos hoje. Muitas movimentações já
estão direcionando o olhar para a exploração da Educação Empreendedora, que pode
ser considerada como um meio de criar oportunidades e fortalecer os projetos de vida
dos indivíduos. Entre as razões para disseminar a cultura empreendedora nas escolas
e nas universidades estão a autorrealização, o favorecimento à formação de líderes
e a oportunidade da abertura de novos negócios como resposta ao desemprego.
Assim, essa disseminação poderá ser um fator gerador de oportunidades e promotor
do desenvolvimento.

Palavras-chave: Educação Empreendedora. Ensino. Empreendedorismo.

99
Vivianne Rodrigues de Freitas

1 INTRODUÇÃO

Segundo Pereira, Araújo e Wolf (2006), a prática do empreendedorismo mostra-


se cada vez mais frequente no Brasil como opção de carreira. Em uma pesquisa
do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), coordenada pela London Business
School da Inglaterra e pelo Babson College dos Estados Unidos, pode-se constatar o
anteriormente citado. Os resultados mostram que, em uma lista de 34 países, o Brasil
está entre os sete que mais empreendem. De fato, o número de brasileiros que abrem
o próprio negócio é alto; para se ter uma ideia, são fundadas em torno de 470 mil novas
empresas anualmente, dados esses verificados por pesquisa do Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2004), e esses números não
param de crescer, mesmo com as dificuldades socioeconômicas assolando o país
e reduzindo as oportunidades para aqueles que querem ingressar no mercado de
trabalho.

Entretanto, o que se pode perceber também é que a prática do empreendedorismo


convive com a falência. Constatou-se que, entre as causas do fechamento das
empresas, destacam-se, em quase 70% dos casos, aquelas classificadas como de
origem gerencial. Ou seja, causas relacionadas à falta de planejamento na abertura
do negócio, que acabam levando o empresário a não avaliar, de forma correta, fatores
importantes para o sucesso ou o fracasso do empreendimento, tais como o fluxo
de caixa, a concorrência nas proximidades do ponto escolhido e o potencial dos
consumidores, entre outros (SEBRAE, 2004).

É diante do potencial para o empreendedorismo no Brasil e, ainda, da


realidade citada anteriormente no que se refere à falência de muitas organizações,
em decorrência dos baixos níveis de educação e da desmotivação dos empresários
para utilizar ferramentas gerenciais capazes de profissionalizar suas atividades, que
se constata a necessidade de uma reforma no ensino para atender às demandas de
um cenário que valorize a cultura empreendedora nas escolas e universidades.

Assim, este artigo tem por objetivo chamar a atenção para a importância dessa
disseminação da aprendizagem empreendedora, que, segundo Zampier e Takahashi

100

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

(2011), é um processo contínuo que facilita o desenvolvimento do conhecimento


necessário para começar novos empreendimentos e administrá-los. Ainda segundo
esses autores, a aprendizagem é vista como competência e o conhecimento como
um recurso, e ambos são fatores-chave para a competitividade econômica e para a
participação em várias dimensões da vida social, cultural e política. Tal pensamento vai
de acordo com o proposto por Oliveira, Stettiner e Roque Filho (2015), que ressaltam
que, por meio de uma cultura empreendedora disseminada, podemos fazer com que
a Educação Empreendedora para jovens torne-se um instrumento de inclusão social,
pois quando transmitida em uma linguagem elaborada especificamente para seu
público-alvo, esta ação em longo prazo poderá originar negócios de maior impacto e
desenvolvimento econômico, o que consequentemente gerará impacto na economia.

2 EMPREENDEDORISMO

Segundo Britto e Wever (2003), a raiz da palavra “empreendedor” vem de 800


anos atrás, com o verbo francês “entreprendre”, que significa fazer algo. Uma das
primeiras definições da palavra “empreendedor” foi elaborada no início do século XIX
pelo economista francês J. B. Say, como aquele que “transfere recursos econômicos
de um setor de produtividade mais baixa para um setor de produtividade mais elevada
e de maior rendimento”.

Já o conceito de empreendedorismo é muito variado; cada um, com um


determinado conhecimento ou área de atuação, pode definir essa palavra de uma
maneira diferente. O importante a ser enfatizado é que o empreendedorismo sofre
um processo de ascensão no Brasil e no mundo, daí vem a grande importância de
a prática do empreendedorismo difundir-se cada vez mais, pois consequentemente
irá ajudar o país no seu crescimento, gerando, com isso, possibilidades de trabalho,
renda e maiores investimentos (DOLABELA, 2008).

Contudo, assim como em Boeira e Noro (2011), aqui vamos considerar o que diz
Druker (1985) sobre empreender. Segundo esse autor, empreender é algo ensinável
às pessoas. Não é algo inato, habilidade ou dom. É um instrumento específico dos

101
Vivianne Rodrigues de Freitas

empreendedores e o processo pelo qual a mudança torna-se uma oportunidade de


negócio.

3 O QUE É A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

A Educação Empreendedora pode ser considerada como meio de criar


oportunidades aos indivíduos, promover o fortalecimento de seus projetos de vida
e uma forma de proporcionar o desenvolvimento humano e tecnológico a partir de
suas ações. Esse tipo de educação, alicerçada pela abordagem Ciência, Tecnologia
e Sociedade (CTS), em que se busca incorporar a prática de estudo – a investigação
científica, o planejamento, a solução de problemas e a construção de conhecimento para
promover a tomada de decisão –, gera um ambiente profícuo para o desenvolvimento
da inovação (SILVA et al., 2014).

Para Perim (2012), a Educação Empreendedora tornou-se alvo de instituições


de ensino em todo o mundo, cada uma focando as peculiaridades regionais em que está
inserida. Ou seja, as escolas e as universidades como formadoras de profissionais para
o mercado de trabalho têm um papel fundamental na tarefa de propiciar a qualificação
adequada da força de trabalho da sociedade, e isso tornou-se um grande desafio, pois
tal formação precisa considerar que cada sociedade tem suas próprias necessidades.
Desta forma, as instituições de ensino devem ficar atentas para adequar o ensino à
realidade existente.

Seelig (2005) ressalta que em quase todo o mundo a Educação Empreendedora


tem estado entre os principais objetivos de instituições de ensino, cada uma levando
em conta o contexto em que estão inseridas, que é o recomendado. Em muitos locais
é vista como instrumento para a geração de emprego e renda, o que ocasiona o
desenvolvimento econômico da região.

102

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

4 LIMITAÇÕES À PRÁTICA EMPREENDEDORA

No que tange à atividade empreendedora no Brasil, faz-se necessário


relacionar algumas limitações à prática empreendedora. Destas limitações, 60% delas
concentram-se em três condições básicas: educação e treinamento insuficientes, falta
de apoio financeiro e políticas governamentais inadequadas (GEM, 2005).

No âmbito da condição referente à educação e ao treinamento, além do sistema


educacional brasileiro não incentivar e preparar para o empreendedorismo, destaca-
se a precariedade da Educação Básica no país.

Em pesquisa feita por Freire (2010), observou-se que mais de 90% dos
empreendedores brasileiros o fazem sem nenhum apoio educacional, e aqueles
que buscam a educação, o fazem não enquanto estão estudando, mas quando já
estão formados ou quando buscam a inserção no mercado (para aqueles que não
estudaram).

Outro fato relevante demonstrado na pesquisa é que aqueles que buscaram


apoio acadêmico, o fizeram por opção, isto é, não foram incentivados pelas suas
instituições.

Pereira, Araújo e Wolf (2006) afirmam que o potencial empreendedor do


brasileiro é desperdiçado, pois as pessoas não conseguem enxergar a educação
formal como fator essencial para a abertura e a administração do negócio. Além desse
fato, os empreendedores que buscam educação formal, não conseguem a capacitação
necessária por falhas no próprio ensino, que, na maioria das vezes, apenas apresenta
as ferramentas gerenciais, mas não ensina de que forma estas ferramentas podem
ser aplicadas na prática e ter conhecimento dos benefícios que essa aplicação pode
trazer para o seu negócio.

Dessa forma, a Educação Empreendedora deve iniciar ainda no Ensino


Fundamental, preparando os jovens não apenas para o mercado de trabalho, mas
também para atuar como empreendedores, sabendo vislumbrar novas oportunidades
e minimizar os seus riscos, elevando o nosso país a uma nova realidade social e
econômica (FREIRE, 2010).

103
Vivianne Rodrigues de Freitas

5 IMPORTÂNCIA DA CULTURA EMPREENDEDORA NAS ESCOLAS E


UNIVERSIDADES

Pensar em Educação Empreendedora exige um olhar que vai além do ensino


focado simplesmente no conhecimento de saberes. Passa pela instrumentalização do
educando para a realização das suas escolhas, e, consequentemente, a geração de
novas possibilidades de trabalho, que gerem maior satisfação pessoal (SILVA et al.,
2014).

Pereira, Araújo e Wolf (2011) afirmam que a educação formal pode contribuir para
o sucesso dos negócios, não só por ampliar novas propostas, inventar novos produtos
ou processos, mas também por ampliar a capacidade de aproveitar oportunidades
e gerar conhecimentos para, então, transformá-los em bens sociais. Empreender
significa modificar a realidade para dela obter a autorrealização e oferecer valores
positivos para a coletividade. Quanto maior o grau de escolaridade de um povo, maior
o nível de emprego e renda e maior a possibilidade de empreender por oportunidade.

Nesse sentido, educar implica despertar a rebeldia, a criatividade, a força da


inovação para construir um mundo melhor. É substituir a lógica do utilitarismo e do
individualismo pela construção do humano, do social, da qualidade de vida para todos
(DOLABELA, 2003).

Dolabela (1999) aponta algumas razões para se disseminar a cultura


empreendedora nas escolas e universidades:

1) Autorrealização: pesquisas indicam que o empreendedorismo oferece


elevados graus de realização pessoal, aliando trabalho e prazer;

2) Favorece a formação de líderes: mesmo que as condições ambientais sejam


favoráveis à abertura de novos negócios, será por meio de sua liderança,
capacidade e perfil que irá se disparar o processo de desenvolvimento;

3) Apoia a formação de Micro e Pequenas Empresas: por meio da reorientação


dos estudos também para essas em detrimento das grandes empresas.
Sabe-se que, ao focar tais estudos, a escola aproxima-se da realidade de
muitos dos alunos, influenciando-os;

104

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

4) Amplia a base tecnológica: as empresas de base tecnológica surgiram


no final da década de 1920 como uma das principais forças econômicas.
Pesquisadores, professores e alunos de universidades possuem potencial
para criação de empreendimentos baseado no conhecimento;

5) Resposta ao desemprego: demonstrando aos alunos que além dos


grandes empregos (a maioria em declínio nas grandes corporações),
existe a oportunidade da abertura de novos negócios.

Dessa forma, segundo Dolabela (1999), é preciso repensar os valores do ensino


no Brasil, visando à disseminação da cultura empreendedora como um fator gerador
de oportunidades e como promotor do desenvolvimento.

Além disso, para Oliveira, Stettiner e Roque Filho (2015), a Educação


Empreendedora serve como instrumento para ajudar jovens de comunidades carentes
a descobrir seu potencial, fomentar o empreendedorismo e a educação, ao promover
o desenvolvimento local, o autodesenvolvimento e o aumento de sua inserção no
mercado de trabalho, por meio de negócios próprios. Em longo prazo, esse tipo de
iniciativa promove impactos positivos na economia, ao criar emprego e renda (op. cit.).

Ou seja, a Educação Empreendedora, apesar de estar muito relacionada à


criação de novos negócios, não visa apenas formar pessoas que criem seus próprios
negócios, e sim fortalecer e/ou desenvolver novas crenças, atitudes, habilidades e
gerar novos conhecimentos, fazendo com que o indivíduo desenvolva um potencial
para agir de forma empreendedora diante das oportunidades. Essas atitudes serão
úteis por toda sua vida em qualquer tipo de trabalho ou negócio.

Perim (2012) e Souza e Guimarães (2005) ressaltam que as instituições de


ensino, procurando a inclusão da cultura empreendedora, devem responder às
demandas com novas estratégias e mecanismos curriculares, além de escolher
procedimentos metodológicos inovadores, objetivando o redirecionamento do

processo ensino-aprendizagem. Para Henrique e Cunha (2006), a literatura


sugere que existem determinadas habilidades a serem desenvolvidas com o
ensino de empreendedorismo. São elas: habilidades de comunicação, sobretudo a

105
Vivianne Rodrigues de Freitas

persuasão; habilidades de criatividade; habilidades para reconhecer oportunidades


empreendedoras; habilidades de liderança; habilidades e competências gerenciais;
habilidades de negociação; e habilidades para tomar decisões (PERIM, 2012).

Nas universidades existe um movimento de introdução da cultura


empreendedora, importante e crescente, que já foi traduzido como uma verdadeira
revolução silenciosa. O Sebrae vem desempenhando papel importante com relação a
este movimento (FILION, 2000).

Os valores da nossa sociedade na formação de uma cultura empreendedora


são fundamentais para o entendimento da nossa formação cultural, mas não devem
ser tomados como obstáculos ao desenvolvimento do espírito empreendedor entre nós.

O papel de algumas instituições é decisivo no apoio a programas de


empreendedorismo. As ações da Confederação Nacional da Indústria (CNI), do Instituto
Euvaldo Lodi (IEL), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) e de seus órgãos regionais têm sido muito relevantes na disseminação da
matéria no ensino universitário e de segundo grau no Brasil (DOLABELA, 1999).

O aprendizado do empreendedorismo no nível universitário é apenas um passo


no caminho de criação de uma cultura empreendedora que dará suporte ao processo
de desenvolvimento econômico. Dolabela (1999) apresenta algumas sugestões de
forma sintética para gerar essa cultura. O primeiro passo mostrado pelo autor é a
propagação do ensino de empreendedorismo para todos os níveis

educacionais, pois as universidades são formadoras de opiniões e multiplicadoras


do saber, estimulando pesquisas na área de empreendedorismo.

Para Berlim et al. (2006), da Educação Infantil até o Ensino Médio devem
ser integrados ao currículo conteúdos e práticas para desenvolver competências
empreendedoras, com propostas que comporão a base do futuro empreendedor. Silva
et al. (2014) vai de acordo com os pontos já citados aqui e completa que para alcançar
uma Educação Empreendedora que realmente promova um diferencial na formação
do indivíduo, criando uma nova visão de mundo, gerando novas possibilidades, na
perspectiva de desenvolver ações que permitam inovação, faz-se necessário envolver

106

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

todos os entes que são partícipes deste processo – cidadãos, governo, instituições de
ensino e empresas –, criando realmente um movimento de toda a sociedade, com a
missão de executar o projeto de um país de sucesso.

6 PERFIL DO ALUNO IMINENTE A ENTRAR NO MERCADO DE


TRABALHO

As características pessoais e as habilidades para empreender podem ser


desenvolvidas ou fortalecidas com a educação. Se as universidades promoverem a
Educação Empreendedora e empenharem-se em desenvolver o potencial empreendedor
em combinação com diferentes competências dos estudantes, podem promover o
desenvolvimento de consciência e interesse propícios ao empreendedorismo e à
exploração de formas alternativas de trabalho (LIMA et al., 2015).

O perfil do aluno que está prestes a deixar a universidade e a ingressar no mercado


de trabalho configura uma classe de jovens que apresentam potencial empreendedor,
apesar de, em sua maioria, não demonstrarem interesse em desenvolver atividades
de criação de empresas.

É de suma importância para as instituições de ensino conhecer a percepção


dos alunos com relação aos fatores que são determinantes para o ingresso na vida
profissional, conhecer as características empreendedoras deles, identificar as suas
pretensões profissionais e conhecer o interesse por atividades acadêmicas que
privilegiem a aprendizagem do empreendedorismo. Uma preocupação constante é
como instrumentalizar os alunos para que se tornem aptos, na atualidade, a ingressar
no mercado de trabalho, quer como criadores de suas próprias ocupações, quer não
(BASTOS; PEÑALOZA, 2006).

No mais, Osorio e Roldán (2015) entendem que, com uma compreensão da


intenção empreendedora de estudantes de nível médio de educação, podemos prever
melhor se eles vão tomar medidas reais para realizar uma ação empreendedora, para,
desta maneira, poder promover intenções empreendedoras nesses alunos do Ensino
Médio, aumentando as chances de eles se envolverem no empreendedorismo. Os

107
Vivianne Rodrigues de Freitas

autores ressaltam, ainda, que existe uma necessidade de compreender melhor a intenção
empresarial dos estudantes de Ensino Médio e como esta intenção é afetada (op. cit).

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para Ribeiro, Oliveira e Araujo (2014), as diversas movimentações acerca do


empreendedorismo, bem como o volume de recursos investidos neste sentido, já estão
direcionando o olhar acadêmico para a exploração da Educação Empreendedora.

Todavia, é preciso que ainda existam novas abordagens acerca do fenômeno


empreendedor, como aconselham Novaes e Gil (2009, p. 151), para que, assim,
possibilite-se o entendimento do processo empreendedor com base na experiência
de vida e nas representações das pessoas. Dados relevantes confirmados em Silva
et al. (2014) mostram que há empreendedores nas instituições de ensino, desde que
sejam estruturadas formas de ensino que contribuam para o desenvolvimento das
competências empreendedoras.

Assim, seria de suma importância para as instituições de ensino despertar


vocações e qualificar os seus graduandos para o mercado de trabalho.

É interessante também para as instituições implantar o ensino do


empreendedorismo em suas grades curriculares, assim como as ações práticas e
didático-pedagógicas mais eficazes para o aprendizado, a fim de se manterem
em sintonia com as mudanças do mercado, para que seus alunos venham a ser o
diferencial ao adentrar no mercado de trabalho (ARAÚJO et al., 2012).

Por fim, reafirma-se que é muito importante que a cultura empreendedora


continue disseminando-se em todos os níveis de ensino, para que futuramente
tenhamos mais empreendedores com capacidade de transformar as comunidades
em que vivem por meio do desenvolvimento do conhecimento em começar
empreendimentos e administrá-los. O propósito principal deste trabalho foi mostrar
que a Educação Empreendedora precisa ter seus valores de ensino repensados, a
fim de melhorar a prática do empreendedorismo, para que seja possível superar a
dificuldade de absorção de profissionais no mercado de trabalho formal.

108

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

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111

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

ESTUDO DE CASO SOBRE A IMPORTÂNCIA DE EMPREENDER E


OS BENEFÍCIOS DESSA PRÁTICA NA VISÃO DOS ACADÊMICOS DE
ADMINISTRAÇÃO DA FAMPER.

RESUMO

Este artigo visa descrever a importância do empreendedorismo no que tange à


atuação das empresas e seus respectivos negócios. É preciso destacar que, para tal
delineamento, foi aplicado um estudo de caso, por meio de entrevistas com um grupo
de acadêmicos da Faculdade de Ampére (Famper), que procurou descrever o perfil
empreendedor destes indivíduos, bem como a visão que estes possuem a respeito
da temática de empreender e ainda o valor que a disciplina de empreendedorismo
propicia para a formação profissional/acadêmica dentro das organizações de ensino,
preparando os indivíduos para o mercado de trabalho.

Palavras-chave: Empreendedorismo. Organização. Inovação.

113
Camila Zampirão

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, as empresas vivem um momento de grandes incertezas, o que


faz com que elas procurem inovar continuamente e cada vez mais. Malheiros, Ferla e
Cunha (2005) apontam que o processo de globalização dos mercados vem mudando
as direções de cargos e salários, a estrutura e o funcionamento dos negócios, bem
como a própria natureza do trabalho e suas relações, quebrando com o paradigma
de que as melhores oportunidades de sucesso profissional estão centralizadas em
grandes empresas.

No entanto, conforme afirmam os autores anteriormente mencionados, são as


empresas de pequeno porte que, quando bem estruturadas e focadas na ideia de
empreender, promovem negócios bem-sucedidos, que geram renda e desenvolvimento.
Assim sendo, para que as empresas continuem atuando de forma produtiva, é preciso
que elas se adaptem a um passo acelerado às constantes mudanças que o mundo
atual dos negócios desencadeia, procurando antecipar-se às ameaças de mercado,
tomando decisões assertivas e rápidas, de maneira descentralizada.

Para Chiavenato (2007, p. 14), o avanço da economia depende dos pequenos


negócios, que respondem por grande parte da geração de empregos, das inovações,
do pagamento de impostos e da riqueza das nações.

Outro fator relevante está relacionado com o papel do colaborador, que, junto
à empresa, precisa estar em constante aperfeiçoamento. Seguindo essa mesma
linha de pensamento, Chiavenato (2003) afirma que a administração vai muito além
de uma mera função de supervisão de pessoas, recursos e atividades. É preciso
que os administradores fiquem atentos às constantes mudanças, apresentando
continuamente um espírito inovador e renovador, aspecto esse essencial para a
manutenção e a permanência das organizações atuais.

Nas palavras de Drucker (1981), as pessoas que trabalham dentro das


organizações são caracterizadas como intermediadoras de todas as atividades
desenvolvidas por elas, e precisam se tornar cada vez mais administradoras/
empreendedoras, pois:

114

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

O administrador é o elemento dinâmico e vital de toda e qualquer empresa. Sem

sua liderança, “os recursos de produção” permanecem recursos e nunca se tornam

produção. Sobretudo numa economia competitiva, são o calibre e a qualidade da

atuação dos administradores que determinam o sucesso, ou mesmo a sobrevivência,

de uma empresa (DRUCKER, 1981, p. 3).

O objetivo geral deste artigo é diagnosticar a importância do empreendedorismo


para o bom desempenho das empresas atuais, tendo como objetivos específicos
descrever a visão dos acadêmicos da Faculdade de Ampére (Famper) a respeito
do conceito de empreendedorismo, caracterizar as habilidades empreendedoras
observadas no grupo estudado e ainda compreender como a disciplina de
empreendedorismo pode agregar valor para a formação acadêmica e posterior
atuação no mercado.

Para esta pesquisa foi aplicado um modelo de entrevista com perguntas abertas
e fechadas, com uma pequena amostra da população de acadêmicos da Famper,
objetivando compreender a importância do empreendedorismo para a atuação das
organizações e suas atividades dentro do mercado.

A pesquisa configura-se aplicada, descritiva e bibliográfica, e ainda um estudo


de caso. No ponto de vista de Ruiz (2006), a pesquisa aplicada é caracterizada
pelo uso de certas leis ou teorias com grandes dimensões, que têm por finalidade
investigar, comprovar ou rejeitar hipóteses sugeridas por modelos teóricos. Para Gil
(2002), as pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior intimidade
com o problema, objetivando torná-lo mais explícito ou ainda estabelecer proposições
a este, visando ao aprimoramento de ideias ou à descoberta de intuições.

Pondera-se que as pesquisas descritivas, segundo Gil (2002), visam apresentar


a descrição das características de determinada população/fenômeno, ou então o
estabelecimento de relações entre variáveis. Para Chizzotti (2001), o estudo de caso
é uma caracterização abrangente para designar uma diversidade de pesquisas que
coletam e registram dados de um caso particular ou de vários casos, com a finalidade
de organizar um relatório ordenado e crítico de uma experiência, ou avaliá-la por meio

115
Camila Zampirão

de análises, objetivando tomar decisões ou ainda propor uma ação transformadora a


seu respeito.

2 O EMPREENDEDORISMO E SUAS ORIGENS

O conceito de empreendedorismo, segundo Dornelas (2008), tem origem


francesa e seu significado baseia-se na ideia daquele que assume riscos e começa
algo novo. Na Idade Média, o termo empreendedor foi utilizado para definir aquele
que gerenciava grandes projetos de produção. Os primeiros indícios de relação entre
assumir riscos e empreendedorismo ocorreram nessa época, em que o empreendedor
estabelecia um acordo contratual com o governo para realizar algum serviço ou
fornecer produtos. Richard Cantillon, importante escritor e economista do século XVII,
é considerado por muitos como um dos criadores do termo empreendedorismo, tendo
sido um dos primeiros a diferenciar o empreendedor, aquele que assumia riscos, do
capitalista, aquele que fornecia o capital, fruto do início da industrialização que ocorria
no mundo.

No final do século XIX e início do século XX, segundo o mesmo autor,


os empreendedores foram frequentemente confundidos com os gerentes ou
administradores, sendo analisados meramente de um ponto de vista econômico,
como aqueles que organizam a empresa, pagam os empregados, planejam, dirigem
e controlam as ações desenvolvidas na organização, mas sempre a serviço do
capitalista.

2.1 O ser empreendedor

Filion (1991) considera empreendedor o indivíduo que idealiza, promove e


atinge resultados, que trabalhando sozinho aprende a ser diferente, adaptando-se às
mudanças de mercado, especializando-se naquela área de conhecimento em que atua.
Ressalta-se, ainda, que a forma de atuação do empreendedor é fundamentalmente
proativa, já que ele idealiza coisas novas que deverá aprender, tendo em vista as
coisas novas que deseja alcançar.

116

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Dornelas (2008) caracteriza que o mundo dos negócios passa por constantes
mudanças, e diante dessa abordagem é preciso que tanto as empresas quanto
aqueles que nela desempenham suas atividades estejam preparados para lidar com as
adversidades do mercado, criando um espírito empreendedor. Contudo, é importante
ponderar que:

O mundo tem passado por várias transformações em curtos períodos de tempo,

principalmente no século XX, quando foi criada a maioria das invenções que

revolucionaram o estilo de vida das pessoas. Geralmente, essas invenções são

frutos de inovação, de algo inédito ou de uma nova visão de como utilizar coisas já

existentes, mas que ninguém antes ousou olhar de outra maneira. Por trás dessas

invenções, existem pessoas ou equipes de pessoas com características especiais

que são visionárias, questionam, arriscam, querem algo diferente, fazem acontecer

e empreendem. Os empreendedores são pessoas diferenciadas, que possuem

motivação singular, apaixonadas pelo que fazem, não se contentam em ser mais um

na multidão, querem ser reconhecidas e admiradas, referenciadas e imitadas, querem

deixar um legado (DORNELAS, 2008, p. 7).

Diante desse contexto, Malheiros, Ferla e Cunha (2005) apontam que uma
pequena empresa depende, fundamentalmente, do papel do empreendedor, que é
considerado o ponto-chave, capaz de determinar o sucesso ou mesmo o fracasso da
organização. Ele precisa muitas vezes fazer o papel de dono da ideia e o de gerente
das ações que serão colocadas em prática. Contudo, o empreendedor deve buscar
continuamente desenvolver as virtudes e as qualidades necessárias, com o intuito de
ser bem-sucedido.

Schmidt e Bohnenberg (2009) consideram como características empreendedoras


a autoeficácia, a capacidade de assumir riscos calculados, aquele que é planejador,
detectando oportunidades, agindo com persistência, sendo sociável, promovendo a
inovação e a liderança.

No que tange à Educação Empreendedora, Dornelas (2008) considera que os


casos de sucesso têm sido cada vez mais frequentes, uma vez que o empreendedorismo

117
Camila Zampirão

tem se disseminado rapidamente como disciplina, como forma de agir, ou ainda como
uma opção profissional e instrumento de desenvolvimento econômico e social.

O mesmo autor destaca ainda que a disciplina de empreendedorismo no meio


acadêmico tem a finalidade de desenvolver habilidades de liderança e conhecimento
do mundo e do ambiente em que vivem para que consigam superar os desafios
das próximas décadas, enfatizando a Educação Empreendedora como chave da
educação formal em todos os níveis, descrevendo o empreendedorismo como um
tema transversal, e não apenas uma disciplina, utilizando a interatividade como mote
da pedagogia educacional, com foco na experimentação e na ação, bem como na
análise e na solução de problemas e ainda ampliando o uso da tecnologia no ensino,
tanto para ganhar escala e aumentar a abrangência do tema quanto para possibilitar
a criação de material didático inovador e interativo.

Chiavenato (2007) aponta que o ser empreendedor transforma uma simples


ideia em algo concreto e desafiador. Para ele:

O empreendedor é a pessoa que consegue fazer as coisas acontecerem, pois é

dotado de sensibilidade para os negócios, tino financeiro e capacidade de identificar

oportunidades. Com esse arsenal, transforma ideias em realidade, para benefício

próprio e para benefício da comunidade. Por ter criatividade e um alto nível de energia,

o empreendedor demonstra imaginação e perseverança, aspectos que, combinados

adequadamente, o habilitam a transformar uma idéia simples e mal estruturada em

algo concreto e bem-sucedido no mercado (CHIAVENATO, 2007, p. 7).

O mesmo autor ressalta que são três as características básicas que um


empreendedor deve possuir para se tornar bem-sucedido. Elas serão detalhadas no
quadro 1.

118

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Quadro 1 – Características empreendedoras

Necessidade de Disposição para


Autoconfiança
realização assumir riscos

Os empreendedores O empreendedor assume Aquele que possui


apresentam elevada variados riscos ao iniciar autoconfiança sente que
necessidade de realização seu próprio negócio: riscos pode enfrentar os desafios
em relação às pessoas financeiros decorrentes do que existem ao seu redor
da população em geral. A investimento do próprio e tem domínio sobre os
mesma característica foi dinheiro e do abandono problemas que enfrenta.
encontrada em executivos de empregos seguros e de As pesquisas mostram
que alcançam sucesso carreiras definidas; riscos que os empreendedores
nas organizações e familiares ao envolver de sucesso são pessoas
corporações. a família no negócio; independentes que
riscos psicológicos pela enxergam os problemas
possibilidade de fracassar inerentes a um novo
em negócios arriscados. negócio, mas acreditam
em suas habilidades
pessoais para superar tais
problemas.

Fonte: Chiavenato (2007, p. 8-9).

O quadro aponta que os empreendedores estão aptos a correr riscos


financeiros, familiares e psicológicos em razão de sua elevada necessidade de
realização profissional. É importante destacar que o verdadeiro empreendedor possui
ampla visão, sendo capaz de visualizar os problemas, e é autoconfiante, acreditando
em suas habilidades pessoais para a resolução dessas problemáticas.

Parafraseando Chiavenato (2007), em meio a um ambiente extremamente


mutável, as organizações precisam manter-se sempre atentas a tudo o que acontece
ao seu redor, conhecendo seu micro e seu macroambiente, sabendo quem são seus
possíveis clientes, fornecedores, colaboradores e concorrentes para poder antecipar-
se às ameaças e às mudanças de mercado, pois atualmente lidar com a incerteza é o
maior desafio na administração das organizações.

119
Camila Zampirão

2.2 Visão do grupo de acadêmicos da Famper sobre o


empreendedorismo (resultado das entrevistas)

Para a elaboração deste estudo foram entrevistados um grupo de dez


acadêmicos do curso de Administração de Empresas da Famper, sendo que esta
pesquisa não possuiu a finalidade de elaborar uma amostragem estatística, e sim
auxiliar a compreensão da importância do empreendedorismo e sua aplicabilidade na
atual conjuntura econômica, descrevendo ainda a visão de cada acadêmico no que
tange à prática de empreender.

Ao se fazer a análise das entrevistas, o critério utilizado foi o de separá-las


por categorias de idade para melhor relacionar os acadêmicos e a instituição. Para
realizar a interpretação das informações, as entrevistas foram enumeradas, para que
posteriormente as respostas dos sujeitos sejam expressas no texto, entre aspas e
com o número correspondente entre parênteses. Todas as respostas foram expressas
na íntegra, utilizando a linguagem dos entrevistados.

No que diz respeito à formação acadêmica dos entrevistados, 100% da amostra


está cursando Administração. Outro destaque está relacionado à faixa etária dos
entrevistados, em que se contatou que 50% dos entrevistados têm entre 16 e 20
anos, enquanto o restante possui entre 21 e 30 anos. É importante destacar que foram
entrevistadas cinco pessoas do sexo feminino e cinco pessoas do sexo masculino.

Quando questionados a respeito do empreendedorismo e seus benefícios


para as organizações e como as empresas precisam se portar para que sempre e
continuamente haja o empreendedorismo em seu ramo de atuação, destacaram-se
as seguintes respostas: “buscar sempre ‘ouvir’ o mercado, buscar as tendências,
ou seja, tentar sempre atender às necessidades dos consumidores de uma forma
diferente, tentando sempre surpreendê-los” (7); “os gestores precisam estar mais
abertos a novas ideias, a tecnologias, precisam fazer que os colaboradores sintam-
se mais dispostos a fazer a diferença e a reconhecer cada um pelo empenho dado à
organização” (2).

120

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Ao serem questionados a respeito do conceito de empreendedorismo, as


melhores respostas foram: “empreender é ser diferencial, ter visão futurista, criar
coisas novas, saber ser líder, ser um bom influenciador de sua equipe, saber ministrar
de maneira correta os seus recursos e as pessoas” (6); “na minha concepção,
empreendedorismo é ver as coisas que nos rodeiam de uma forma diferente, conseguir
visualizar uma solução em que para os outros só existem problemas, assim como para
ser empreendedor não precisa necessariamente criar algo novo, podendo apenas
recriar o que já existe” (5).

No que tange à importância de trazer a disciplina de empreendedorismo no


meio acadêmico, destacaram-se as seguintes respostas: “como iremos nos formar
como administradores, temos que ter a ideia básica desse conceito, pois para que um
negócio vingue de verdade, não basta ser somente um administrador qualquer, deve-
se ser empreendedor, ser diferente” (4); “se bem trabalhado, pode ser muito produtivo
e de grande aproveitamento. Percebo por mim mesma que muitas vezes o estresse
diário acaba desmotivando e, como consequência, deixo um pouco de lado o espírito
de solucionar, a vontade de se destacar por ter feito o que outros não fizeram, e logo
torno-me apenas mais uma” (10).

Ao serem questionados a respeito da possibilidade de abrir um negócio, apenas


duas pessoas pensam nessa possibilidade. Ambos ressaltam que desejam fazer isso
ainda antes do término da graduação. Ressalta-se ainda que ao fazer uma análise
sobre espírito e características empreendedoras, a maioria dos acadêmicos mostra-
se regular, boa e excelente, seguindo essa mesma ordem crescente.

Diante da análise das entrevistas, pode-se concluir que o grupo de acadêmicos


possui uma boa visão empreendedora e avalia positivamente a abordagem da
disciplina de empreendedorismo no currículo acadêmico, pois esta favorece a troca
de ideias e a implantação de projetos e inovações que podem ser desenvolvidos e que
possam se tornar um negócio próprio e rentável.

121
Camila Zampirão

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo assim, conclui-se que a temática do empreendedorismo é extremamente


importante para o sucesso das organizações. É preciso que junto do ser administrador
esteja a figura do ser empreendedor, que esteja atento às novas oportunidades de
mercado, que conheça seus potencias clientes e concorrentes e esteja sempre apto
a mudanças e a inovações.

Ressalta-se ainda que a disciplina de empreendedorismo no meio acadêmico


torna-se uma ferramenta de suma importância para uma melhor atuação desses
futuros profissionais, que logo estarão no mercado de trabalho.

Ao realizar as entrevistas com os acadêmicos da Famper, pode-se diagnosticar


que eles respondem positivamente à questão da importância de se conhecer e
promover de modo efetivo o ato de empreender, inovando sempre e continuamente.

REFERÊNCIAS

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: uma visão


abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2003.

______. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor –


empreendedorismo e viabilidade de novas empresas: um guia eficiente para iniciar e
tocar seu próprio negócio. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. 5. ed. São Paulo:


Cortez, 2001.

DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando idéias em


negócios. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. Disponível em:
<http://www.josedornelas.com.br/wp-content/uploads/2011/11/Empreendedorismo-
capitulo-2.pdf>. Acesso em: 13 set. 2016.

DRUCKER, Peter Ferdinand. A prática de administração de empresas. São Paulo:


Pioneira, 1981.

122

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

FILION, Louis Jacques. O planejamento do seu sistema de aprendizagem empresarial:


identifique uma visão e avalie o seu sistema de relações. Tradução de Gledson Luiz
Coutinho. Revista de Administração de Empresas, v. 31, n. 3, p. 63-71, jul./set.
1991.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2002.

MALHEIROS, Rita de Cássia da Costa; FERLA, Luiz Alberto; CUNHA, Cristiano J.

C. de Almeida. Viagem ao mundo do empreendedorismo. 2. ed. Florianópolis: IEA,


2005.

RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para a eficiência nos estudos. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2006.

SCHMIDT, Serje; BOHNENBERG, Maria Cristina. Perfil empreendedor e desempenho


organizacional. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 13, n. 3, p.
450-467, jul./ago. 2009. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/rac>. Acesso em: 7
set. 2016.

123
10º

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR: FATORES QUE INFLUENCIAM


A DECISÃO DE COMPRA E VARIÁVEIS.

RESUMO

O propósito desta pesquisa foi demonstrar, de forma teórica, o comportamento


do consumidor, destacando os principais fatores que influenciam o processo de
compra de produtos e serviços. Buscou-se evidenciar como os consumidores possuem
diferentes fatores na maneira de decisão de compra, tais como o fator cultural (cultura,
subcultura e classes sociais), os fatores sociais (grupos de referência, família, papéis e
status), os fatores pessoais (idade, estágio no ciclo de vida, ocupação, circunstâncias
econômicas, estilo de vida, valores, personalidade e autoimagem) e o determinante
psicológico (motivação, percepção, aprendizagem, crenças e atitudes), resultando
que todos os fatores têm poder de fornecer informações para o empreendedor, para
que este possa atingir e servir seus consumidores de forma eficiente.

Palavras-chave: Comportamento do consumidor. Fatores. Compra.

125
Bárbara Santos Gomes

1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste projeto é fazer com que os empreendedores entendam como


os consumidores relacionam-se com produtos, serviços e marcas, pois conhecer os
seus clientes não é tarefa fácil para nenhuma empresa. Assim, estudar o cliente ajuda
a melhorar ou lançar produtos e serviços, determinar preços, projetar canais, entre
outras atividades.

Para almejar o sucesso da empreitada é importante ir mais fundo e


compreender o modo como os clientes escolhem, quais são as suas preferências,
suas necessidades e seus desejos. Parece algo abstrato, mas o comportamento do
consumidor é caracterizado pelas atividades mentais e emocionais que ocorrem no
momento da seleção, da compra e do uso dos produtos e serviços. O comportamento
do consumidor sempre foi estudado tanto na teoria quanto na prática.

De acordo com Pinheiro et al. (2006), o comportamento do consumidor é


compreendido como “o estudo dos processos envolvidos quando indivíduos ou
grupos selecionam, compram, usam ou dispõem de produtos, serviços, ideias ou
experiência para satisfazer às necessidades e aos desejos”. São algumas variáveis
que influenciam esse comportamento e o empreendedor, tendo pleno conhecimento
disso, torna não só os desejos e as necessidades do consumidor possíveis, como
também orienta adequadamente a empresa quanto às ofertas para o mercado.

Essas variáveis podem se manifestar por meio de quatro fatores, quais sejam:
culturais, sociais, pessoais e psicológicos, os quais influenciam de maneira significativa
o processo de compra dos consumidores. Além desses elementos, percebe-se que o
processo de compra sofre interferência de algumas variáveis, como classes sociais,
idade, personalidade, condições financeiras, motivações, aprendizagem e atitudes.

Este trabalho está constituído em quatro seções, incluindo esta introdução. A


segunda seção discute o comportamento do consumidor e os fatores que influenciam
a decisão de compra e suas respectivas variáveis. A terceira seção caracteriza a
metodologia de pesquisa abordada neste estudo. Por fim, a quarta seção traz as
considerações finais.

126
10º

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Fatores que influenciam a decisão de compra

Entender o cliente a fundo ajuda a assegurar que os produtos certos estão sendo
comercializados para os clientes certos e de maneira correta, orientando a empresa
a ter uma visão completa sobre as mudanças que ocorrem na compra de produtos e
serviços. Segundo Kotler (2009), o campo do comportamento do consumidor estuda
como pessoas, grupos e organizações selecionam, compram, usam e descartam
produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer às suas necessidades e
aos seus desejos. Estudando o comportamento do consumidor, Kotler e Keller (2006)
concluíram que existem vários fatores que influenciam o comportamento de compra,
tais como: fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos.

2.1.1 Fatores culturais

Os fatores culturais exercem a maior e mais profunda influência no


comportamento de compra do consumidor. A cultura, a subcultura e a classe social
são elementos particularmente importantes dessa decisão. Segundo Kotler e Keller
(2006):

A cultura é o principal determinante do comportamento e dos desejos da pessoa.


À medida que cresce, a criança adquire certos valores, percepções, preferências e
comportamentos de sua família e de outras instituições. Cada cultura é constituída
por subculturas, que fornecem identificação e socialização mais especifica para seus
membros. Pode-se classificar subculturas a partir da nacionalidade, religião, grupos

raciais e regiões geográficas (KOTLER; KELLER, 2006, p. 173).

Cada região possui uma cultura, com seus próprios costumes, e isso não é
diferente para cada consumidor. As pessoas acabam sendo influenciadas e terminam
adquirindo um conjunto de valores, preferências, percepções e comportamentos,
por meio de seus grupos sociais, e que acabam interferindo nos seus hábitos de
consumo. É por isso que é importante o empreendedor conhecer o seu público-alvo
e as características sobre ele – por exemplo, saber sobre seus costumes, as crenças

127
Bárbara Santos Gomes

e os hábitos, pois fazendo a identificação cultural ocorrerá a conversão em vendas –


para, consequentemente, alcançar seu público.

Toda cultura tem subculturas, pois fazem referência a um grupo minoritário


de pessoas, com um conjunto de particularidade própria, diferindo do padrão da
sociedade dominante, sem que haja, no entanto, a desvinculação da cultura vigente.
São exemplos de subcultura os valores que diferenciam religiões, grupos raciais,
regiões geográficas etc.

A classe social é composta por grupo de pessoas que estão enquadradas


em um estrato social comum. No Brasil as classes sociais são divididas em A, B, C,
D e F ou classes alta, média e baixa. São divisões hierarquicamente ordenadas e
relativamente homogêneas e duradouras de uma sociedade, e seus componentes
têm valores, interesses e comportamentos similares. Kotler e Keller (2006) afirmam
que as classes sociais têm várias características:

Em primeiro lugar, duas pessoas pertencentes à mesma classe social tendem a se


comportar de maneira mais semelhante do que duas pessoas de classes sociais
diferentes. As classes sociais diferem quanto ao vestuário, padrões de linguagem,
preferências de atividades e lazer [...]. Em segundo lugar, as pessoas são vistas como
ocupantes de posições inferiores ou superiores, de acordo com sua classe social. Em
terceiro lugar, a classe social é indicada por grupos de variáveis – ocupação, renda,
propriedades, grau de instrução, orientação para valores –, e não por uma única. Em
quarto lugar, as pessoas podem passar de uma classe social para outra durante a vida

(KOTLER; KELLER, 2006).

Portanto, é evidenciado que a classe social influencia a decisão de consumir


produtos e marcas de diversas áreas. Exemplificando, a classe baixa possui um baixo
poder aquisitivo e uma péssima qualidade de vida, sendo muitas das vezes impossibilitada
de ter lazer e entretenimento ou prefere ver televisão e assistir a novelas. Entretanto,
a classe média possui um poder aquisitivo e uma qualidade de vida razoável e tem
acesso ao lazer e à cultura. Já a classe alta tem um alto poder aquisitivo e qualidade de
vida, com todos os lazeres e entretenimento, principalmente viagens.

128
10º

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

2.1.2 Fatores sociais

As decisões do comprador são influenciadas por fatores sociais, como grupos


de referência, família, papéis sociais e status.

Os grupos de referência influenciam diretamente a forma do comportamento do


indivíduo. De acordo com os autores Kotler e Keller (2006):

Os grupos de referência são aqueles que exercem alguma influência direta (face a

face) ou indireta sobre as atitudes ou o comportamento de uma pessoa. Os grupos

que exercem influência direta são chamados grupos de afinidade. Alguns grupos de

afinidade são primários, como família, amigos, vizinhos e colegas de trabalho, com

os quais interage contínua e informalmente. As pessoas também pertencem a grupos

secundários, como grupos religiosos e profissionais ou associações de classe, que

normalmente são formais e exigem menor interação contínua (KOTLER; KELLER,

2006, p. 177).

Em síntese, são grupos de pessoas que influenciam os sentimentos, os


pensamentos e até mesmo os comportamentos do consumidor. Por esse motivo, são
também conhecidos como grupos formadores de opinião. As pessoas também são
influenciadas por grupos aos quais não pertencem, grupos de aspiração (ao qual a
pessoa espera pertencer) e grupos de dissociação (valores ou comportamento que a
pessoa rejeita).

A influência familiar é, portanto, predominante na decisão de compra,


considerando que as famílias constituem o grupo de referência primário, como
residências e não indivíduos em uma unidade simples, em que os membros são
oferecidos à responsabilidade de decisão de compra para o determinado conjunto de
pessoas de um domicílio. São percebíveis dois tipos de família na vida do comprador:
a família de orientação, que é determinada pelos pais e irmãos, os quais adquirem
determinadas orientações que têm a ver com política, economia e religião, além de
interesses pessoais, autoestima e amor; e a família de procriação, que é formada pelo
cônjuge e pelos filhos. De modo geral, a esposa é a principal reagente de compras
da família, no que se refere à alimentação, ao vestuário, entre outros. No entanto, em

129
Bárbara Santos Gomes

casos de produtos caros, como imóveis, veículos e viagens, as decisões são tomadas
em conjunto.

Todas as pessoas pertencem a grupos. São incluídos família, amigo, colega


de trabalho, entre outras pessoas de convívio, e a posição que exercem depende
de papéis e status, ou seja, das atividades que uma pessoa deve desempenhar, e
este papel carrega um status, o que faz com que as pessoas escolham produtos que
representem seu papel e status na sociedade.

2.1.3 Fatores pessoais

Os fatores pessoais também são capazes de influenciar a decisão do comprador,


ou seja, por momentos ou fases pelos quais uma pessoa passou ou está passando. “As
decisões do comprador também são influenciadas por características pessoais, como
idade e estágio no ciclo de vida, ocupação, circunstâncias econômicas, personalidade,
autoimagem, estilo de vida e valores” (KOTLER; KELLER, 2006, p. 179).

Essas características interferem no comportamento e nas suas decisões de


consumo e cabe ao empreendedor a necessidade de entender como cada característica
atua.

Os hábitos de consumo, os gostos e as preferências transformam-se com


o passar da idade, e esta divide os indivíduos em grupos – jovens em grupos de
adolescentes; adultos; e terceira idade –, e em cada agrupamento o comportamento
de consumo é distinto, seja na forma de se vestir, seja no tipo de lazer ou até mesmo
nos hábitos alimentares. O ciclo de vida familiar com certeza é a maior influência de
consumo, uma vez que tem a capacidade de satisfação de uma pessoa.

Em concordância com Cobra (2009a, p. 86), “são hábitos transmitidos de


geração para geração, de pai para filho e de mãe para filha. Alimentos, roupas, bebidas
e outros produtos e serviços têm seu consumo largamente influenciado por membros
da família”.

130
10º

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

A ocupação de cada consumidor também influencia o seu padrão de consumo.


Um indivíduo vai comprar produtos e serviços conforme as suas necessidades, de
acordo com sua renda disponível e as condições de crédito. Rememorando que cada
ocupação adquire produtos de forma diferente, as mais elevadas consomem produtos
e serviços com padrão de qualidade e de luxo, já as menos elevadas consomem de
forma simples, para não comprometer a sua renda.

O empreendedor, identificando os grupos ocupacionais e quais são seus


interesses, poderá especializar seu produto para cada tipo de ocupação. Além desse
produto, é fortemente influenciado pelas circunstâncias econômicas, tecnológicas e
governamentais. Quer dizer que o consumo acompanha as alterações da economia,
como a inflação e, consequentemente, os altos índices de preços. No entanto, as
pessoas consomem menos devido às ações do governo, como aumento dos impostos
e de juros. Já as mudanças tecnológicas estimulam o consumo; por exemplo, um
novo modelo de celular, de computador, de televisão, de automóvel faz com que
o consumidor tenha desejo de adquirir esse lançamento, tendo a sensação de um
produto inédito e inovador.

Logo, indivíduos podem ter estilos de vida diferentes, e este estilo representa a
pessoa por inteiro, interagindo com seu âmbito. Um estilo de vida é o padrão expresso
em atividades, interesses e opiniões. As empresas podem associar seus produtos e
serviços específicos, levando o consumidor a comprar de acordo com o posicionamento
da marca no mercado. O que está incluído no estilo de vida e que determina a decisão
de compra são os valores centrais que cada consumidor possui, como suas crenças
que fundamentam as atitudes no seu comportamento de consumir, e são estes valores
que determinam as escolhas e os desejos.

Cada pessoa possui característica de personalidade distinta, que influenciará


seu comportamento de compra. É um elemento importante que pode estabelecer
conexões fortes entre certos tipos de personalidade e escolhas de consumo, como
afirmam Kotler e Keller (2006, p. 181): “a personalidade pode ser uma variável útil
para analisar as escolhas de marca do consumidor”. E fica claro que as pessoas

131
Bárbara Santos Gomes

escolhem e usam marcas com a personalidade ligada com sua autoimagem, como
elas gostariam de se ver ou até mesmo como elas pensam que os outros a veem.

2.1.4 Fatores psicológicos

Para compreender o comportamento do comprador, é necessário ter


conhecimento sobre os fatores psicológicos que influenciam as escolhas de compra.
São eles: motivação, percepção, aprendizagem, crenças e atitudes. Kotler e Keller
(2006, p. 182) falam sobre este fator: “um conjunto de fatores psicológicos combinado a
determinadas características do consumidor leva a processos de decisão de compra”.

Na motivação é necessário que o consumidor seja incentivado, goste e conheça


o produto no momento de adquiri-lo e tenha real motivo para desejá-lo, mesmo que
tal produto não seja de alta necessidade, mas sim de alta realização. Porém, para um
comportamento de total satisfação do consumidor, investe-se no desenvolvimento de
um produto superior, estabelecido pela imagem da marca, em embalagem correta,
disponível nos locais adequados e de fácil acesso.

A motivação sobre um determinado produto pode causar reações emocionais,


invocando diferentes tipos de sentimentos e sentidos, fazendo com que o consumo
do produto, serviço ou marca dê orgulho, extrema satisfação, admiração e confiança.
Para entender a motivação humana, é preciso conhecer as principais teorias, como as
de Sigmund Freud, Abraham Maslow e Frederick Herzberg, visto que estas diferentes
teorias trazem uma análise do consumidor e uma estratégia de marketing que o
empreendedor utilizará em seu negócio.

A teoria de Freud baseia-se na percepção de que o psicológico do ser humano é


inconsciente e que ninguém consegue ter uma plena e integral concepção das próprias
concepções. Quando um indivíduo avalia uma marca, ele responde e comporta-se não
só com relação à marca referente, mas também a outros sinais menos perceptíveis,
como tamanho, peso, cor, material, entre outros. Existe uma técnica chamada laddering
que permite tracejar as motivações, desde as emoções mais reveladas até as mais

132
10º

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

profundas. Os pesquisadores motivacionais utilizam-se de várias técnicas, realizando


entrevistas para descobrir os mais vastos motivos atiçados por um produto.

A teoria de Abraham Maslow insistia em explicar que os indivíduos são motivados


por necessidades e momentos. Ele percebeu que a primordialidade de um indivíduo
é disposta em uma hierarquia das mais inadiáveis, das mais imprescindíveis, como
necessidades fisiológicas, de estima e de autorrealização, bem como de segurança e
sociais. As pessoas tentam satisfazer às necessidades mais importantes, depois vão
à busca da satisfação.

Frederick Herzberg desenvolveu as teorias de dois fatores que apresentam os


insatisfatores (causam insatisfação) e os satisfatores (causam satisfação). Não ter
insatisfação não basta para motivar uma compra. A satisfação deve estar realmente
presente. Esta teoria possui duas implicações: a primeira é que o empreendedor deve
fazer o possível para evitar a insatisfação; e a segunda deve identificar a principal
satisfação ou os motivadores de compra no mercado e fornecê-los. A satisfação faz
total diferença nos produtos e serviços que o consumido deseja obter.

Os fatores seguintes representam como o consumidor age. Quando ele age,


aprende, e com essa aprendizagem as pessoas adquirem crenças e atitudes. Portanto,
a percepção é uma atividade na qual as pessoas selecionam, organizam e interpretam
os estímulos que são recebidos, criando uma imagem que seja convincente. Logo,
aprendizagem é todo o conhecimento que é adquirido pelo consumidor por meio de
suas experiências vivenciadas, que poderá ocorrer alguma alteração se o indivíduo
passou por qualquer experiência que não foi do seu agrado e mudar a sua forma de
comportamento. Por isso, as pessoas adquirem crenças e atitudes que correspondem
à maneira de pensar de um indivíduo, que poderá ser estabelecida como fazer uso
de determinadas marcas ou produtos. Estas atitudes sofrem alterações entre cada
pessoa, sendo que também podem vir a ocorrer de maneira favorável ou não.

133
Bárbara Santos Gomes

3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

3.1 Caracterizações da pesquisa

A metodologia utilizada na pesquisa foi a teórico-descritiva com abordagem


qualitativa, a fim de descrever para os empreendedores o comportamento do
consumidor e os fatores que influenciam a decisão de compra e suas variáveis para
aplicar em sua empresa.

Conforme Gil (2009), o objetivo de uma pesquisa teórica é fazer uma análise
a partir de um material já publicado (aqui foram utilizados livros). Ao final de uma
pesquisa, você conhecerá mais sobre o embasamento teórico para explicar o que foi
levantado.

As pesquisas descritivas possuem o objetivo de descrever as características


de terminada população ou fenômenos ou, ainda, as relações entre variáveis. Este
trabalho buscou observar, registrar, analisar e interpretar como o comportamento do
consumidor pode influenciar o sucesso das vendas em uma determinada organização
empresarial.

Para compreender esse comportamento foi utilizada uma abordagem qualitativa


para investigar como o empreendedor poderá adquirir esse conhecimento sobre seu
público.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em virtude dos fatos mencionados, é perceptível que as pessoas sejam


influenciadas por fatores que se tornaram eficazes na sua decisão de compra. Entre
os fatores, podem ser citados os quatro principais, que são: culturais, sociais, pessoais
e psicológicos. E estes se tornam mais comuns quando são presenciados durante o
convívio das pessoas com os hábitos praticados por cada indivíduo em determinados
grupos aos quais pertençam, podendo ser alterados constantemente, como a forma
de se vestir, a maneira de falar e de pensar, sendo que a prática contínua no seu
cotidiano torna-se algo a ser repetido constantemente.

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10º

2º Prêmio de Artigos Científicos 2016

Este trabalho utilizou conceitos que facilitem um melhor entendimento por parte
do empreendedor de como poder organizar sua empresa a partir dos fatores estudados
para que possa tomar decisões que garantam melhorias para o desenvolvimento
organizacional, utilizando ideias inovadoras e perceptíveis, como também melhorando
a qualidade dos seus produtos e serviços, entendendo que o mundo está mudando e,
consequentemente, o gosto e as preferências individuais e coletivas também sofrem
alterações. Porém, é notável que ainda exista certa resistência quando se trata de
mudanças em busca de estratégias e planos que deverão ocorrer dentro da empresa,
em busca de excelência por uma marca renomada que preza pela conexão com o seu
destinatário final.

Esse comportamento de interação e comunicação com o consumidor tem


a tendência de influenciar a concretização da negociação do produto ou serviço
desejado pelo cliente, tendo, assim, o feedback desejado. A satisfação do comprador
é, ao mesmo tempo, uma característica usada como ferramenta e que depende do
desempenho demonstrado pela empresa e pelo produto, atingindo suas expectativas.

REFERÊNCIAS

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Bárbara Santos Gomes

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