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5 PERCURSO METODOLOGICOEM UM ESTUDO DE ATITUDES LINGUISTICAS Jany Eric Queirés Ferreira Douglas Afonso dos Santos 1. INTRODUGAO A lingua é um fato social, ndo apenas por se consideré-la fruto da convengao so- cial, como em Saussure (1916), mas pelo fato de que sua existéncia e realizacdo sao afetadas socialmente. Esse é um dos motivos que levam as linguas a se realizarem de maneira diferente, configurando 0 fendmeno da variagao linguistica que, segundo Bagno (2017), “...] trata-se de uma propriedade intrinseca, da natureza mesma da lingua, de todas as linguas, que constituem sistemas heterogéneos, miltiplos e varia- veis" (2017, p. 469). Por esse motivo, 6 comum que as linguas apresentem formas di- ferentes para se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, e com o mesmo valor de verdade, que denominamos variantes linguisticas (TARALLO, 2003). Um exemplo desse fenémeno, que é nosso foco neste capitulo, é a variagao das vogais médias Je/ @ /ol, que em posigao preténica podem se realizar como /e/, /€/,/i/ @ /o/, /O/, Jul, respectivamente: p[e]rigoso, p[€]rigoso, pliJrigoso e c[o]légio, c[D]légio, c[ullégio. O carter inerente da variagao linguistica possibilita as linguas variarem no espaco e se modificarem com o passar do tempo. Sendo esta uma condigao para que haja mudanga linguistica (BAGNO, 2017). Mas que fatores condicionam a variagao linguis- 141 142 tica? Alkmin (2008) apresenta dois parametros basicos condicionantes da variagao: © geografico e 0 social. O geogréfico ou diatépico é aquele relacionado as diferengas regionais, aos sotaques, expressées etc., tipicos de uma regido para outta. Por seu turno, condicionantes sociais ou diastraticos referem-se a “..] um conjunto de fato- res que tém a ver com a identidade dos falantes e também com a organizagao socio- cultural da comunidade de fala” (ALKMIN, 2008, p. 35), como: classe social, idade, sexo, situagao ou contexto social, dentre outros condicionantes sociais. Asociados esses fatores, condicionantes linguisticos também podem interferir na realizacdo de uma ou outra variante. No caso da variagao das vogais médias, quando ha uma vogal lil na silaba ténica, hé maior probabilidade de que a vogal média anterior preténica se realize como [i], m[e]nino ~ miJnino. O trabalho de Leda Bisol (1981) é referéncia sobre esse tratado. O estudo de fendmenos como esse cabe a Sociolinguistica, que tem como tarefa Investigar 0 grau de estabilidade ou de mutabilidade da variagao, diagnosticar as varidveis que tém efeito positive ou negativo sobre a emergéncia dos usos linguisticos alternativos e prever seu comporta- mento regular e sistematico, Assim, compreende-se que a variagao a mudanga sao contextualizadas, constituindo 0 conjunto de parame- tros um complexo estruturado de origens e niveis diversos. Vale dizer, 08 condicionantes que concorrem para o emprego de formas varian- tes so em grande ntimero, agem simultaneamente e emergem de dentro ou de fora dos sistemas lingu(sticos (MOLLICA, 2010, p. 11) Vale lembrar que a coexisténcia de variedades linguisticas ndo ocorre sem mot vagées, mas esté atrelada as relagées sociais que sao estabelecidas pela estrutura sociopolitica de cada comunidade (ALKMIN, 2008). Nesse sentido, estao sujeitas & avaliagao dos falantes, pois expressam posicionamentos destes dentro do mundo social (FREITAG; SANTOS, 2016). Labov (2008 [1972]), ao tratar desse aspecto, cos- tuma-se classificar as variaveis linguisticas em esterectipos, marcadores e indicado- res, as quais estao associadas ao nivel de consciéncia social do falante. Investigar como determinadas formas linguisticas sao avaliadas e que significados sociais re- cebem é importante para explicar o fenémeno da variagao e da mudanea linguistica Assim, este capitulo objetiva apresentar ao leitor um percurso metodolégico de estudos de crengas ¢ atitudes linguisticas possivel e que estd sendo desenvolvido na pesquisa de Tese (Ferreira, em andamento), que investiga a variacdo das vogais médias preténicas /e/ e /o/ na regio Nordeste do Par, do ponto de vista de sua produgao e percepgao. Esta regiao tem como uma de suas caracteristicas 0 contato interdialetal entre migrantes nordestinos e paraenses nativos. Tal caracteristica tem se manifestado na variedade do portugués falado na regido. Saber, portanto, como falantes das localidades investigadas, migrantes ou nativos, avaliam sua propria fala ea fala do outro, pode ajudar a explicar alguns fenémenos caracteristicos desse falar, em especifico 0 da variagéo das vogais médias pretnicas. Esperamos, com isso, motivar novos estudos na area, contribuindo desse modo para a compreensao dos fenémenos da heterogeneidade linguistica. O presente capitulo estd organizado em quatro segées. Na segao 2, apresenta-se brevemente as motivagées para o estudo de atitudes na Regiao Nordeste do Estado como um empreendimento vinculado aos objetivos gerais do Grupo Vozes da Ama- Z6nia; na segao 3, aborda-se sobre 0 arcabougo tedrico do estudo de Crengas e Ati- tudes, passando pelo histérico, conceituacdo, abordagens e técnicas de estudo; na segao 4, por sua vez, descreve-se os percursos metodolégicos que sao adotados em estudos de crengas e atitudes linguisticas, baseando-se, para isso, na pesquisa de Ferreira (2019); 0 capitulo finalizado com as consideragées finais, em que se pro- cura reafirmar a importancia das contribuigdes de estudos de atitudes para as acdes que envolvam a linguagem. 2, MOTIVAGOES PARA O ESTUDO Investigages sobre as vogais médias no Para comecam a ocorter a partir de Nina (1991), Desde entao, estudos tém sido realizados com o intuito de caracterizar, a exemplo de Nascente (1953), o portugués falado nas diferentes regides da Amazénia Paraense. Nesse sentido, o Grupo Vozes da Amazénia (doravante Vozes), da UFPA, coordenado pela Profa. Dra. Regina Cruz, desde sua inser¢ao no Grupo PROBRAVO, tem contribufdo nessa tarefa, sobretudo pela diversidade de perspectivas com que tem conduzido as investigagées, que envolvem perspectivas de andllise e descricao sociolinguistica, fonética acustica e articulatéria e, mais recentemente, de crengas ¢ atitudes linguisticas. Tomando como base a divisdo dialetal de Cassique (2006), 0 Vozes, a priori, concentrou suas investigagdes em regides consideradas de portugués paraense re- gional, classificado dentro da zona dialetal* . Em sua nova frente, considerando a interferéncia de contato interdialetal, as pesquisas do Vozes passaram a investigar re- 54 - Divisao dialetal proposta por Cassique (2006), que considera as varias fases migratérias ocorridas no estado do Paré e que foram responséveis pelas alteracdes da configuragao original da situagao sociolin- quistica da regido. Assim considera: Zona 1, considerada como de portugués regional devido influéncias acorianas ¢ da LGA; Zona 2, cujo portugués caracteristico por influéncia nordestina; Zona 8, caracteristica de interferéncias de diversas variedades, por conta da presenca de migrantes do Sul, Sudeste ¢ centro- -oeste do pais, principalmente, (CRUZ, 2012). 143 144 gides que tenham sofrido processo migratério decorrente de grandes projetos, com 0 objetivo de caracterizar 0 comportamento linguistico das vogais médias preténicas. Trés pesquisas de mestrado foram conduzidas com esta tarefa: Ferreira (2013), em Aurora do Para; Fagundes (2015), em Belém; e Borges (2016), em Tucuruf. Tais loca- lidade fazem parte das zonas 2 e 3 do mapa dialetal proposto por Cassique (2006) e adaptado por Cruz (2012). Figura 1 - Mapa Dialetal das localidades investigadas pelo Vozes da Amazéni Fonte: Adaptado de Cruz (2012) Até 0 presente momento, resultados de diversos estudos empreendidos na Ama- z6nia paraense tém evidenciado um comportamento das vogais médias pret6nicas diferente daquele previsto por Nascentes (1953), segundo o qual os dialetos do Norte e Nordeste se caracterizariam pela abertura das vogais médias. O que as pesquisas tém constatado é que a realizacao [e] e [0] em posicdo preténica prevalece nos diale- tos do Para, mesmo em regides caracteristicas do dialeto paraense (CRUZ, 2012) Em regides de influéncia nordestina, ha uma tendéncia para o fenémeno da manu- tengo, seguido do abaixamento das médias (FREITAS, 2001; RAZKY; LIMA; OLIVEI- RA, 2012; FERREIRA, 2013; FAGUNDES, 2015). Corroborando esses resultados, um estudo panordmico, nas capitais do Norte, realizado por Dias (2012) atestou que o fenémeno da manutengao de /e/ e /o/ 6 o mais frequente. Tais resultados apontam para uma necessidade de revisao da divisdo de Nascentes, ao mesmo tempo em que comprovam a dinamicidade da lingua, que varia no espaco e muda no tempo. Como 0 objetivo do Projeto Vozes da Amazénia, em sua atual vertente, é mapear regides de contato interdialetal, a equipe de pesquisadores avanca nesse sentido e, como forma de melhor explicar a variagao linguistica, amplia seu escopo de andlise para o aspecto da avaliacao linguistica da lingua e de suas manifestagées. Embo- ra esse tipo de andlise tenha sido discutido por Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]) quando tratam da questao da mudanga lingu(stica, como uma das preocupa- g6es sociolinguisticas, ha ainda poucos estudos realizados no Brasil. A maioria deles se concentra nas descrigées estruturais da lingua (SILVA E AGUILERA, 2014). Mais escassos ainda sao estudos que analisam a variagao das médias na perspectiva de atitude linguistica, a partir da qual se pode melhor compreender determinados pro- cessos linguisticos, como a variagao e mudanga linguisticas (FERNANDEZ, 1998) A seguir, antes de se apresentar ao leitor os procedimentos metodolégicos que so adotados em pesquisas de crengas e atitudes linguisticas, aborda-se alguns con- ceitos teéricos basicos desses estudos, apresentando um brevissimo histérico de suas origens. 3. ORIGEM E CONCEITUAGAO DE ATITUDES E CRENCAS Os estudos de atitudes ndo nascem no campo da linguagem. Na verdade, esse construto tedrico 6 emprestado pela Sociolinguistica da Psicologia Social. Atribui-se ao artigo de Louis Thurstone o primeiro trabalho de atitudes, datado em 1928, cujo titulo Attitudes can be measured, em que o autor apresenta uma proposta de medir atitudes em grupos sociais. Em Botassini (2013), encontramos uma excelente discus- so sobre o tema. A autora, utilizando-se de Rodrigues (1972), apresenta algumas caracteristicas dos estudos de atitudes a partir da década de 30, do século passado, que resumimos no quadro 1, a seguir. Quadro 1 - Resumo das principais abordagens dos estudos de atitudes no campo da Psicologia Social. Momento Abordagem dos estudos de atitudes Década de 30 Abordagem de temas sobre escalas de medida de atitudes e técnicas de medida de opiniao publica, Década de 40 Abordagem centrada na busca dos determinantes das atitu- des, A preocupacao era identificar os fatores que levavam as pessoas a manifestarem uma atitude especifica Década de 50 ‘Abordagem com foco na busca de fatores de personalidade capazes de influenciar e, por consequinte, de modificar as atitudes, Década de 60 Abordagem dos aspectos social, ideolégico e cultural da linguagem. Fonte: Elaborado pelos autores (2019) Até a década de 60, nao havia estudos de atitudes que tivessem a linguagem 145 146 como objeto de andlise. O primeiro trabalho dessa natureza é de Wallace Lambert sobre 0 bilinguismo, com data de 1967, A Social Psychology of Bilingualism, no Jour- nal of Social Issues, ainda no campo da Psicologia Social. E somente na década de 70 ocorrem os primeiros trabalhos sociolinguisticos de atitudes linguisticas, com e Trudgil (1975) e Labov (1976) Lambert e Lambert (1964) afirmam que “[...]uma atitude é uma maneira organi- zada e coerente de pensar, sentir e reagir em relagdo a pessoas, grupos, questdes sociais ou, mais genericamente, a qualquer acontecimento ocorrido no nosso meio circundante” (p. 77-78). Os autores entendem atitude como um construto formado por trés componentes: (i) pensamentos e crengas; (ii) os sentimentos e emogdes; e (ii) as tendéncias para reagir, ou seja, 0 comportamento. Lopez Morales (1993), a0 comentar 0 modelo proposto por Wallace Lambert e Willian Lambert, apresenta um esquema dos componentes de atitude, que se pode visualizar na Figura 2. Figura 2 - Esquema dos componentes de Atitudes de Lambert e Lambert (1964). Comportamental Fonte: adaptado de Lopez Morales (1989, p. 233) Morales, entao, insere no componente cognitive as percepgdes, as crengas, os estereétipos presentes em um individu; no componente afetivo, os sentimentos ¢ ‘emogées; e no comportamental, as tend&ncias a atuar e reagir de certa maneira com relagao a um objeto (LOPEZ MORALES, 1989). Nesse sentido, o componente cogn vo engloba crengas, opinies, pensamentos sobre uma lingua, sobre uma variedade ou variante de lingua etc. O afetivo refere-se as preferéncias em relacao a uma lingua, a.uma variedade de lingua etc. E o comportamental, por sua vez, esta relacionado ao uso linguistico etc. Explicando esse conceito, Aguilera (2008) afirma que as atitudes linguisticas de um individuo seriam entao “[...] 0 resultado da soma de suas crencas, conhecimentos, afetos e tendéncias a comportar-se de uma forma determinada dian- te de uma lingua ou de uma situacao sociolinguistica” (p. 106). Outra maneira de compreender essa relagao dos componentes da atitude 6 ob- 147 servada por Rokeach (1968). O autor entende, conforme aponta Morales (1989), que a atitude tem uma base composta de um sistema de crengas, em que cada uma de- las possui os componentes cognitivo, afetivo e comportamental, conforme figura 3 Figura 3 ~ Esquema dos componentes de Atitudes de Rokeach (1968). — sir ees hw som es mes one ATITUDE ccRENESS 1 RENGA? GREG —GRENCAN Fonte: Lpez Morales (1989, p. 233). Tanto Lambert e Lambert (1964) como Rokeach (1968) compreendem a atitude como um composto de trés elementos, ou seja, como um conceito tridimensional Cardoso (2015) esclarece que essa composigao da atitude “[...Jnao se configura uni- camente como uma forma de agir primria ante um objeto da percepgdo, mas como uma tendéncia elaborada e fortemente dirigida pelas crengas e valores que subja- zem na manifestagdo ativa do sujeito com relacdo ao objeto” (p. 17). Assim, hd uma relacéo preponderante do componente cognitivo sobre os demais. A acdo de um individuo a determinado objeto, componente comportamental, 6 mediada pelo com- ponente afetivo, sentimentos e emogées, que por sua vez tem nas crengas e saberes, componente cognitivo, sua fonte. Um terceiro ponto de vista compreende atitude e crenga como conceitos separa- dos. Lopez Morales (1989), que é defensor desta vertente, pensa a atitude composta apenas do elemento conativo, ou seja, aquele que representa a conduta a determina- do objeto sociolinguistico, Esta conduta pode ser positiva ou negativa e é alimentada diretamente pelas crencas. A figura 4 mostra o esquema de Morales (1989) 148 Figura 4 - Esquema dos componentes de Atitudes de Lépez Morales (1989). Fonte: Lopez Morales (1989, p. 235) De acordo com esse esquema, as atitudes sdo formadas por comportamentos, condutas, positivas ou negativas em relagao a um objeto. Nessa légica, nao ha atitude neutra. As crengas dao origem as atitudes e estas contribuem para moldar aquelas, que podem ou nao estar baseadas em fatos reais (MORENO FERNANDEZ, 1998). De acordo com Moreno Fernandez (1998), as atitudes podem afetar nosso com- portamento e personalidades, Ao tratar da influéncia das atitudes no campo da lin- guagem, o autor afirma que, por exemplo, uma atitude favoravel ou positiva pode favorecer: * que uma mudanea linguistica ocorra mais rapidamente; ‘* que em determinados contextos uma forma de lingua prevalega em relacdo a outra; * que o ensino-aprendizagem de uma lingua seja mais eficaz; * que algumas variantes linguisticas se restrinjam a estilos mais formais, en- quanto outras prevalecam a contextos menos formais. Segue 0 autor afirmando que, por outro lado, “[..] uma atitude desfavordvel ou nega- tiva pode levar ao abandono e ao esquecimento de uma lingua ou impedir a propagagao de uma variante ou uma mudanga linguistica” (MORENO FERNANDEZ, 1998, p. 179) °° Devido sua importancia, os estudos de crengas e atitudes linguisticas podem se estender a varios campos de interesse, geralmente diferenciados segundo as in- tengdes da pesquisa que se pretende empreender. Hora (2012) apresenta uma lista de alguns interesses especificos que podem motivar e orientar o leitor que deseja 56 -"[..JUna actitud desfavorable o negativa puede llevar al abandono y el olvido de una lengua o impedir la difusién de una variante o un cambio linguistico" (MORENO FERNANDEZ, 1998, p. 179). enveredar por este campo do saber. O autor reporta-se a Baker (1992), que elenca estudos de: ‘+ atitude em relagao variagao linguistica, ao dialeto e ao estilo de fala; * _atitude em relagdo a aprendizagem de uma nova lingua; * atitude em relacao a uma lingua minoritaria especifica; * atitude em relagao a grupos de linguas, comunidades e minorias; + atitude em relagao as ligdes de lingua; * atitude dos pais em relagao a aprendizagem da lingua; * _atitude em relagao aos usos de uma lingua especffica; + atitude em relacdo a preferéncia linguistica. Como se pode compreender, estudar atitude linguistica é um campo bastante interdisciplinar e de multiplas possibilidades. Neste capitulo, apresenta-se uma das possibilidades de estudos, tomando-se como objeto de analise as vogais médias preténicas, como ja anunciado na introducao. 4, ABORDAGENS DOS ESTUDOS DE CRENGAS E ATITUDES Os trés modelos de compreensao de atitudes e crengas estao relacionados 4 duas vertentes dos estudos de atitudes, a mentalista e a comportamentalista (LOPES MORALEZ, 1989; MORENO FERNANDEZ, 1998). Os modelos de Lambert e Lambert (1964) e Rokeach (1968) estao associados a abordagem mentalista e o modelo de Lopez Morales (1989) 4 comportamentalista. A diferenga entre essas abordagens esta na forma de interpretar as altitudes. Para a concepgao comportamental,a atitude 6 um comportamento, ou seja, uma reagdo ou uma resposta a um estimulo, que pode ser uma lingua, uma variedade de lingua, um fenémeno linguistico etc. JA a mentalista compreende atitude como um estado mental do individuo, uma categoria intermediaria entre determinado estimulo e um comportamento ou uma agao individual (MORENO FERNANDEZ, 1998) As diferentes abordagens acima expostas levam os pesquisadores a adotarem dois tipos de medigao de atitudes. Os que defendem a abordagem comportamen- tal utilizam técnicas de medigao direta das condutas e comportamentos. Por outro lado, os mentalistas, para elicitarem as atitudes, compreendidas como um conjunto de componentes inter-relacionades, utilizam técnicas de medicao indireta. Devido & complexidade que é o fenémeno da atitude (LAMBERT; LAMBERT, 1964), em ambas as técnicas ha inconvenientes (KAUFMANN, 2011) 149 150 Nas técnicas diretas, de cunho comportamental, os informantes sao solicitados a responderem acerca de suas atitudes. Hora (2012) destaca que uma preocupagao central é “[...] se as afirmagées verbais dos informantes acerca de suas atitudes e de suas reages comportamentais em situages concretas podem ser interpretadas como manifestagdes das mesmas disposigdes subjacentes” (HORA, 2012, p. 308) Isso ocorre porque, como bem assevera Kaufmann (2011), problemas metodolégi- cos de se medir diretamente as atitudes estao justamente no fato de que as pessoas podem mentir para nao parecerem preconceituosas, por exemplo, néo expressando suas verdadeiras atitudes. Pode-se medir as atitudes diretamente por meio de entre- vistas e/ou questionérios voltados para aspectos especificos da lingua De outro modo, nas técnicas indiretas, adotadas pelos mentalistas, sao medidas as atitudes subjetivamente como forma de se ter acesso a julgamentos de valores em relagao a diferentes usos de uma lingua, por exemplo. Para os defensores dessa abor- dagem, como Lambert e Lambert, justifica-se 0 uso de técnicas indiretas pelo fato de que nem sempre as atitudes sao reveladas (porque, as vezes, as escondemos), e por isso é que tendemos a deduzir a natureza dos pensamentos, sentimentos e tendéncias reativas dos outros por meio de indicios sutis do comportamento (LAMBERT; LAM- BERT, 2008 [1964]). Os psicdlogos criaram uma técnica bastante conhecida e utilizada, Matche Guise Test, que consiste, de acordo com Hora (2012), “[...] no uso da lingua e das variagées dialetais para elicitar as impressdes estereotipadas que os membros de um grupo social tém em relacao a outro grupo.” (p.381). Pede-se a informantes juizes que avaliem linguas a partir da gravacdo de falantes bilingues. Solicita-se que ougam gravagées e avaliem as caracteristicas da personalidade de cada falante, usando como pista apenas a voz. O informante acredita estar avaliando falantes distintos, quando, na verdade, estaria avaliando a prépria lingua utilizada pelo mesmo falante. Uma varia- ao desta técnica € a Verbal Guise Test, em que se avalia segundo as caracteristicas dos falantes de variedades distintas da lingua, servindo, portanto, para aferir atitudes inconscientes dos sujeitos em relagao a lingua ou variedade de lingua (FREITAG; SAN- TOS, 2016). A medigao de atitudes implicita ¢ muito utilizada quando que quer avaliar © vinculo entre atitudes e comportamento linguistico (KAUFMANN, 2011) 4.1, COMO MEDIR ATITUDES LINGUISTICAS: BREVE EXEMPLIFICACAO No Ambito da dialetologia e sociolinguistica, como bem ja se afirmou, estudos de atitudes linguisticas ainda nao sao tao frequentes, embora recentemente, tenha havido um impulso de trabalhos feitos aqui e ali nas mais diversas universidades do Brasil Para exemplificar um estudo em atitudes linguistica, apresenta-se a seguir os pressu- postos metodolégicos desenvolvidos na pesquisa de tese de Ferreira (2019) realizada em cinco localidades no Norte do pais, com vogais médias preténicas. A pesquisa é parte integrante de um Projeto maior, o Vozes da Amazénia, conforme apresentado no inicio do capitulo. Os pressupostos tedrico-metodolégicosda pesquisa tém suas bases na Dialetologia Pludimensional (RADTIK E THUN, 1996), na Sociolinguistica Variacio- nista, sobretudo da area que trata dos Estudos de Crengas e Atitudes (LAMBERT e LAMBERT, 1972; LABOV, 2008; BOTASSINI, 2013; CARDOSO, 2014). 4.1.1 O contexto da pesquisa O contexto da pesquisa de Ferreira é a Regido Nordeste do Para, mais especifi- camente 0 conjunto de cinco localidades situadas &s margens da Rodovia BR 010 - Belém Brasilia. Em dialetologia, chama-se rede de pontos de inquéritos um conjunto de pontos, onde se dé as investigagdes (CARDOSO, 2010). Os pontos de inquéritos esto especificados no quadro a seguir. ‘Quadro 2 - Distribuicao da Rede de Pontos de Inquéritos. PONTOS MICROREGIAO 1 SANTAMARIA DO PARA Bragantina 2 SAO MIGUEL DO GUAMA Guama 3 MAE DO RIO. Guama 4 AURORA DO PARA Guama 5 IPIXUNA DO PARA. Guama Fonte: Elaborado pelos autores (2018) Todas as localidades listadas no Quadro 2 tém histérico de migragao nordestina, principal motivo para a escolha. Desenvolvidas a partir da década de 50, no segundo Ciclo de ocupagao, que se deu com a abertura das grandes rodovias federais, as cin- co localidades, exceto S40 Miguel do Guamé, foram surgindo a medida que o flux migratério, principalmente de nordestinos, proporcionou o surgimento de pequenas vilas, a partir das quais se originaram (CORDEIRO; ARBAGE; SCHWARTZ; 2017). Devido a infludncia nordestina, a historia, a cultura e a lingua utilizada pela popula- ao carregam particularidades que destoam da cultura e lingua tida como paraense. Como muitas localidades da regido possuem caracteristicas semelhantes, adotou-se os seguintes critérios para a escolha dos cinco pontos de inquéritos na seguinte or- dem: (i) ter tido histérico de migragao nordestina; (ii) pertencer a rede de influéncia urbana de Castanhal (RIBEIRO, 2015); (ii) ter sua criagdo e desenvolvimento relacio- nados a construgao da rodovia Belém-Brasilia. 151 152 4.1.2 Amostra © grupo de amostra da pesquisa foi composto de 40 informantes distribuidos em topostaticos, informantes nativos das localidades, sem histérico de mobilidade, e topodi- namicos, informantes com histérico de mobilidade, ou seja, informantes migrantes (RAD- TKE; THUN, 1996). Para estes Ultimos, optou-se por migrantes cearenses, em maior quan- tidade na regido (IBGE, 2018). Os informantes foram distribuldes segundo os parametros diatépico, diassexual e diageracional, numa quantidade de oito por ponto de inquérito. Quadro 3 — Distribuigéo dos informantes. Parémetros Diassexual Diageracional__| Diatépica ‘Quantidade Homem, 18 a 35 anos Nativo (topostatico) 2 Homem 50 a 65 anos Nativo (topostatico) 1 Homem 50 a 65 anos Migrante (topodindmico) 1 Mather 18 a 35 anos Native (topostatico) 2 Mulher 50 a 65 anos Nativo (topostatico) 1 Mather: 50 a 65 anos Migrante (topodinamico) i Total 8 Fonte: elaborado pelos autores (2019) Além dos parametros apresentados, alguns critérios foram importantes para uni- ficar a composigao da amostra. Assim, os informantes deveriam: (j) saber ler; (i) ter como nivel de escolaridade no maximo o ensino médio; (ii) ser filhos de pais nativos, no caso de informantes paraenses; (iv) residir ha mais de 10 anos na localidade, no caso de migrantes; (v) ter migrado adultos para a localidade, no caso serem migrantes. 4.1.3 A coleta de dados e métodos utilizados Para a coleta de dados, Ferreira (2019) se baseou no estudo de Botassini (2013) e Cardoso (2015). A fim de dar conta de desvelar os componentes das atitudes varios instrumentos e técnicas foram combinadas, abrangendo abordagens direta e indireta. A realizacao do experimento pode ser dividida em: ()) preparacao dos estimulos; (ii) realizagao de entrevista com vista a coletar dados de fala dos informantes; (ii) apli- cacao do teste de percepgao, utilizando-se a técnica Verbal Guise; (iv) aplicagao de questiondrio qualitative de atitude. Na preparacao dos estimulos, sete falantes do portugués (um belenense, um cea- rense e um falante de cada uma das cinco localidades) foram gravados lendo um texto e respondendo as perguntas O que vocé faria se acertasse, sozinho na megasena? e O que vocé acha da educagéo brasileira?. Esses falantes eram do sexo masculino, entre 25 e 30 anos, nativos de suas localidades, filhos de pais também nativos e cursando nivel superior, Eles nao fizeram parte da amostra. Apés as gravagées, retirou-se ex- certos de, no maximo, dois minutos, representativo de cada variedade do portugués, organizados do seguinte modo: fala |- representativa do Ceara; fala Il - representativa de Belém (dialeto da capital); fala Ill - representativa de cada localidade. Em relagao a coleta de dados de fala dos informantes, utiizou-se 0 protocolo da entrevista sociolinguistica (TARALLO, 2003), cujo objetivo foi identificar e quantificar 0s padrées de usos dos informantes em relacao as vogais médias preténicas, com foco no abaixamento vocélico. Essa etapa da coleta foi organizada de modo a dis- tinguir trés estilos de fala, parametro diafésico, de acordo com as orientagdes de Cardoso (2010), considerando-se: (i) leitura de texto (contexto formal); (ii) resposta ao questionario (contexto semiformal); (iii) narrativa de experiéncia pessoal (contexto informal ou vernacular). O texto utilizado para leitura, que foi extraido da internet, con- tém 69 itens lexicais com vogais médias preténicas e versa sobre o tema da “Mega Sena’, cujo titulo é “8 dicas para ganhar na megasena sem precisar da sorte”. Utli- zou-se essa tematica para despertar interesse para a leitura. Veja um trecho: “O sonho de se tornar miliondrio leva uma boa parte das pessoas a apelarem para a sorte e jogarem na loteria, Para a Ultima Mega-Sena da Virada, foram registradas trezentos quarenta ¢ cito milhdes de apostas em todo o Pais para conseguir colocar as maos no prémio de mais de duzentos e sessenta e trés milhées [...]° (Trecho do texto do Protocolo de coleta de FERREIRA, 2019) Ja em relagdo ao contexto semiformal, foi utilizado um questionario fonético-fo- nolégico com 32 perguntas, extraido do Atlas Linguistico do Brasil, cujas respostas so itens lexicais que contém a presenca de /e/ ou /o/ preténicos (COMITE ATLAS LINGUISTICO DO BRASIL, 2001); “(1) Onde se constréi uma casa? [o que precisa pra construir uma casa?] TERRENO; (9) Como se chama a fémea do careiro? _OVELHA.” Quanto ao roteiro de narrativas de experiéncias pessoais, foi utilizado diversos as- suntos que levassem 0 informante a uma preocupacao maior com a histéria narrada, tais como: (i) Vocé jé esteve alguma vez em uma situagdo em que estivesse correndo sério risco de vida (em que vocé tenha dito a vocé mesmo: chegou minha hora!)? O que aconteceu? Numa situacao dessas, algumas pessoas dizem: seja o que Deus quiser. O que vocé acha? (TARALLO, 2003); (ji) Me conte um acontecimento de sua 153 154 vida que tenha marcado vocé...pode ser uma grande alegria pela qual tenha passado ou até mesmo uma situagéo dificil, triste. Para aplicago do teste de percepgao, foi utilizado um questionario quantitativo, com uma escala tipo Likert, adaptado de Botassini (2013) e Cardoso (2015), com qua- tro alternativas: concordo, concordo parcialmente, discordo, discordo parcialmente. O objetivo do questionario foi identificar a avaliagdo e o julgamentos dos falantes em relagdo as variedades linguisticas, por meio da medigao indireta, utilizando-se uma variante da Matched Guise de Lambert (1960), a Verbal Guise Test, em que se repro- duz uma variedade em situacao real por falantes reais, representativos dessa varie- dade(FREITAG; SANTOS, 2016). Assim, ao ouvirem os estimulos representativos de cada variedade do portugués (Belém, Ceara e Local), os informantes respondiam ao questionario assinalando uma das quatro alternativas especificadas anteriormente. Os primeiros 24 itens versam sobre caracteristicas pessoais dos falantes como confiabili- dade, aparéncia, integridade etc. O Quadro 4 traz as questées utilizadas na pesquisa. Quadro 4 - Quest6es de 1 a 24 do questionério quantitativo de atitudes. QUESTOES concord Concorde parcialmente Discordo Discordo par- cialmente 1. Voo8 acha que essa pessoa ¢ inteligente? 2. Voc’ acha que essa pessoa é fia? 8. Vooé acha que essa pessoa estudada? 4. Vooé acha que essa pessoa é cuidadosa? 5, Vooé acha que essa pessoa 6 grossa? 6, Voo8 acha que essa pessoa é trabalhadora? 7. Vooé acha que essa pessoa é confidvel? 8. Voc acha que essa pessoa é preguicosa? 9. Vo’ acha que essa pessoa é responsével? 10. Vocé acha que essa pessoa é insegura? 11. Vooe acha que essa pessoa ¢ antipatica? 12, Voce acha que essa pessoa ¢ competente? 18. Vocé acha que essa pessoa ¢ timida? 14. Vocé acha que essa pessoa é respeitosa? 15. Vocé acha que essa pessoa 6 exibida? 16, Voce acha que essa pessoa é autoritaria? 17. Vocé acha que essa pessoa 6 engracada? 18. Vocé acha que essa pessoa é criativa? 19, Voce acha que essa pessoa ajuda os outros quando precisam? 20. Voce acha que essa pessoa sofre preconceito social? 21. Vocé acha que essa pessoa tem boa cultura? 22. Vocé acha que essa pessoa possui boa condicao financeira? 23, Vocé acha que essa pessoa exerce cargo de chefia? 24, Voc acha que essa pessoa sente orgulho de falar assim? Fonte: Adaptado de Botassini (2013). Por meio dos itens acima, os informantes foram levados a avaliar os dialetos por meio de caracteristicas pessoais. Pelo fato de os informantes nao saberem a origem © a procedéncia dos falantes, seus julgamentos eram, de fato, avaliagées indiretas das variedades ouvidas. Essa forma de julgamentos revela suas impressées e valo- res, ou Sejam, o componente afetivo de suas atitudes em relagao as variedades, de quem as usa e o seu proprio uso (FREITAG; SANTOS, 2016). Outra parte do questiondrio quantitativo utilizado por Ferreira (2019) diz respeito a questées afetivas, ou seja, Aqueles referentes ao componente afetivo de atitudes. Utilizou-se questées do questionario de Cardoso (2015) relativas a caracteristicas estéticas, dialetais e estilisticas da fala, apresentadas no quadro 5. Quadro 5 ~ Quest6es de 25 a 30 do questionério quantitativo de atitudes 25. Afala (0 modo de falat) que vocé acabou de ouvir 6 agradével? 26. A fala (0 modo de falar) que vocé acabou de ouvir é bonita? 27. Afala (0 modo de falar) que vocé acabou de ouvir é cantada? 28, A fala (0 modo de falar) que vooé acabou de ouvir é lenta? 28, A fala (0 modo de falar) que vocé acabou de ouvir 6 expressiva? 80. A fala (0 modo de falar) que vocé acabou de ouvir é simples? Fonte: Adaptado de Cardoso (2015). Os quatro tltimos itens do questionaram objetivaram medir se os informantes eram capazes de identificar a origem dos dialetos e como eles avaliavam sua propria 155 156 fala em relagao a fala do dialeto estimulo. Esse procedimento de identificar dialetos diferentes 6 conhecido como family background test. ‘Quadro 6 - Questdes de 25 a 30 do questionério quantitativo de atitudes 31. Pela fala essa pessoa deve ser de: ‘Aurora do Para Belém Coard Outro lugar 32, Vocé tem a fala igual ao dessa pessoa? 33. Vocé tem a fala mais bonita que a dessa pessoa? 34. Vocé conseguiria imitar a fala dessa pessoa? Fonte: Ferreira (2019) A breve apresentacao do instrumento utilizado por Ferreira (2019) objetivou mos- trar como se pode medir atitudes indiretamente. A seguir apresenta-se um modelo de abordagem direta. Quanto a medigao direta de atitudes,um questionario qualitative com 30 pergun- tas foi aplicado aos informantes das localidades, com objetivos de aferir os compo- nentes das atitudes, Utilizou-se este questionario com intuito de comparar as respos- tas as do questionério quantitativo e relacioné-las, de modo a validar as informagdes sobre crengas, afetos e usos dos informantes. No quadro 7 apresenta-se exemplos de algumas questées. ‘Quadro 7 — Exemplos de questées do questionétio qualitatvo de atitudes 1. Voc consegue identificar de onde velo uma pessoa s6 pela sua maneira de falar? 2. Aqui na sua cidade hé pessoas que falam diferente? Voc8 poderia citar exempios. 3. Voc poderia dar um exemplo do modo como falam essas pessoas que falam diferente? 4, Vooé acha que existe uma maneira de falar mais bonita que a outra? 5. Dos diferentes falares que existem em sua cidade, qual voc8 acha que é mais bonito? 6. Como voc acha que falam os aurorenses (Sao Miguelenses, Ipixunenses, Santama- rienses, Maerionses)? 7. Camo se chama a lingua que vocé fala? Fonte:adaptado de Botassini (2013) A partir dos exemplos do quadro 7, pode-se medir os componentes das atitudes, sobretudo as crengas e afetos dos informantes em relacdo a determinada variedade e a seus falantes. Ferreira (2019) ainda aprimora a analise dos dados por meio da técnica self report test. Ao final do questionério qualitativo de atitudes, os informantes julzes, apés a audigao de duas sequéncias de oito palavras idénticas, que se dife- renciam apenas quanto a abertura e fechamento das vogais médias pret6nicas, infor- mam: (i) se ha diferengas entre as sequéncias de palavras e qual é essa diferenca; (i) qual das duas sequéncias acham mais bonitas e por qué?; (ji) qual das sequéncias acreditam ser a que realizam na fala. Com esse procedimento, procura-se comparar dados de produgao e percepgdo dos informantes. Os procedimentos adotados foram agrupados em duas grandes partes que com- pée a abordagem dos informantes, com média de 1 hora de tempo, de acordo com a figura 5, a seguir. Figura 5 - Etapas da Entrevista 18 parte 28 parte Fonte:Forreira (2019). Os procedimentos até aqui apresentados objetivaram dar ao leitor um pano- rama geral de um modelo de pesquisa em atitudes linguisticas, a partir de Ferreira (2019), com o intuito foi de apresentar um percurso metodolégico possivel. 158 5. CONSIDERAGOES FINAIS Com este texto pretendeu-se apresentar um percurso metodolégico possivel de estudos de atitudes linguisticas, Para isso, partimos da abordagem sobre as nogées de variagao e mudanga linguistica, relacionando tais fenémenos aos estudos de cren- ¢as e atitudes. Inserindo a pesquisa de Ferreira (2019) como exemplo, procurou-se dar ao leitor um breve esbogo do que motivou, no ambito do Projeto Vozes da Ama- Z6nia, grupo de pesquisa vinculado a UFPA, empreendimentos sociolinguisticos a avangar para o estudo da avaliagao linguistica. Além disso, pretendeu-se apresentar ao leitor conceitos basilares nos estudos de atitudes, bem como suas abordagens e importancia para o conhecimento dos fenémenos linguisticos. Como forma de apre- sentar as técnicas e métodos mais comuns nos estudos de atitudes no Brasil tmou- -se como exemplificagao a pesquisa de tese de Ferreira (2019) que desenvolvida na Regiao Nordeste do Pard, com residentes nativos e migrantes de cinco localidades as margens da Belém-Brasilia Acredita-se que a ampliagdo de investigagées para além da descricdo linguts- tica contribui para o processo de constituigéo da identidade pela lingua e pelo dis- curso, favorecendo a realizagao de agées que visem contribuir para a manutencao das linguas, sobretudo de linguas indigenas, para o planejamento linguistico, tanto no Ambito do ensino como de projegdes voltadas a conscientizagao e respeito as diferengas lingulsticas, para o conhecimentos das motivagdes que influenciam as escolhas de uma variedade ou linguas em contato, dentro tantos outras contribuigdes. Espera-se que este capitulo tenha, portanto, ao apresentar um viés possivel de estudos linguistics, despertado no leitor o interesse por esse campo de estudos que muito se tem a explorar. REFERENCIAS AGUILERA, Vanderci de Andrade. Crengas e atitudes lingiisticas: o que dizem os falantes das capitais brasileiras. Sao Paulo: Revista Estudos Lingtisticos, v. 37, n. 2: 105-112, maio-ago, 2008. ALKMIN, T. A. Sociolingiifstica: parte |. In: MUSSALIM, F; BENTES, A. C. (Orgs.). Introdugao a lingiiistica: dominios e fronteiras. Sao Paulo: Cortez, 2001. v.1. BAGNO, Marcos. Dicionario Critico de Sociolinguistica, Sao Paulo: Parabo- la, 2017 BISOL, Leda. 1981. Harmonizagao vocdlica: uma regra variavel. Rio de Ja- neiro, UFRJ. Tese de doutorado. BORGES, Benedita do Socorro Pinto. O comportamento do alteamento das vogais médias pre-ténicas no portugués falado pelos migrantes mara- nhenses e seus descendentes no municipio de Tucurui: uma andlise varia- cionista. 2016. 212. 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