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O nome e a coisa: 0 populismo na politica brasileira Jorge Ferreira ao ha pov amorfo. Nao hd massa bruta e indifeente. A ‘massa éformada de homens e a natureza de todos 0s homens amesma: dela 6a paixdo, a gratiddo, a cbler, o instinto de Inta eo instinto de defesa.” Rachel de Queiroz iro do “clientelismo” da Primeira Repiblica, o “popu- 9", aps 1930, teria dado continuidade a uma relasio desi- entre Estado e sociedade e, em particular, entre Estado € trabalhadora, Sobretudo com a ditadura de Geli Vargas, tadores, com a violéncia policial, teriam perdido suas as mais combativas e, com a eficécia da miquina do sido iludidos pela propaganda politica estaal. Destituidos ligdes de luta, organizagio e consciéncia, os trabalhado- ‘0s mais “antigos", fossem os mais “novos”, aqueles idos do mundo rural, sucumbiram aos agrados do Satisfeitos com alguns beneficios materiais, a legislagio fem particular, cles, em troca, dedicaram a Vargas submis- iéncia politica Cooprados, manipulados, iludidos e amedrontados com as perseguigGes da Policia Especial, os assalariados, apés 1945, nio teriam conseguido livrarse das amarras ideol6gicas tecidas na época anterior: cerceados em as lutas pela manmutengio da legislacio corporativista e a tutelaestatal dos sindicatos, traidos oma atuagio dos pelegos sindicais e confundidos politcamente com as liderangas populistas, as mais 1s como Vargas, as mais recicladas como Goulart, Os comunistas, igualmente ih ddidos com o nacionalismo, reforgaram 0s lagos, ji apertados, «da teia populist, A hist6ria dos trabalhadores, como é contada, nio é nova e, independentemente de suas diversas versées, retoma uma longa tradisdo intelectual. Liberaise autoritérios, de direta ou esquer- 4a, diagnosticaram que os males do pafs provém de uma rela- so desigual, desttuida de reciprocidade e interlocugio: a uma sosiedade civil incapaz de auto-organizagio, “gelatinosa” em algumas leturas, ea uma classe trabalhadora “débil",impoe-se tum Estado que, armado de eficientes mecanismos repressivos e Persuasivos, seria capaz de manipula, cooptar e corromper. A interpretagao ainda foi reforgada por um certo tipo de marxis- ‘mo que defendia um modelo de classe trabalhadora, uma deter- ‘minada consciéncia que the corresponderia e um caminho, dni £0 € portanto verdadeiro, a ser seguido, Nesse caso, se a classe ‘do surgiut como se imaginava, se a consciéncia no se desen. volveu como se previa ese os caminhos trlhados foram outros, a explicagio poderia ser encontrada no poder repressivo de Estado, nos mecanismos suts de manipulagao ideolégica e,ain- dda, nas priticas demagégicas dos politicos populistas. A teoria do “desvio", assim, reforgou a interpretagio que polarizava Es. tado ¢ sociedade. Como lembra José Murilo de Carvalho, a ostura antiestatal, maniquefsta em sua definigio, inviabiliza qualquer nogio de cidadania e, na pritica, “acaba por revelar uma atitude paternalista em relag3o a0 povo, a0 consideri-lo vftima impotente diante das maquinagées do poder do Estado fou de grupos dominantes. Acaba por bestializar 0 povo".! Calpabilizar 0 Estado e vitimizar a sociedade, eis alguns dos fundamentos da nogio de populismo. Nio so poucos, é verdade, os trabalhos que romperam com esta espécie de relagio patolégica entre um Estado que surge pleno de poderes e uma sociedade incapaz de reagir e se smo, como categoria manifestar No entanto, se 0 popul explicaiva da politica brasileira entre 1930 1964, como uma mancira de enfocar o movimento operirioe sindical, vem, desde a década de 70, endo posto em divida em um ou outro aspecto, em uma ou outa afirmagéo, oconjunto da eoria ainda continua a dar as cartas para explicar 0 passado recente do pals [Nas pginas que se seguem, procuro reconstimir a histria do populismo, No entanto, ¢ important fiat, nio compreen- do a expressio como um fendmeno que tenha regido as rela- es entre Estado e sociedad durante operiodo de 1930 a 1964 ica peculiar da politica brasileira na- quela temporalidade, pois sequer creio que o perfodo tenha sido [ “Jose sania de Carvalho, Os bestizados. O Rio de Jane ea replies que | dof Sto Paso, Companhia das Letras, 1989, pp. 10-1, "ei Angels de Caro Gomes, “Police stra ica cura et”. rads istoncs, "17 Rio de Jae, Etors da Fandagio Geto Vag, “populista”, mas, sim, como uma categoria que, ao longo do tempo, foi imaginada, e portanto const ‘mesma politica. fa, para explicar essa (© POPULISMO DE PRIMEIRA GERACAO Nos anos 50/60, a teoria da modernizagio repercutiu nos meios académicos do pais com grande impacto, sobretudo para a con- figuragio da nogio de populismo. Para Gino Germani,® o ‘mais conhecido desses tedricos,f insersio da América Latina ‘80 mundo moderno nio seguiu os padrées clissicos da demo- cracia liberal européia, A passagem de tuma sociedade tradicio- nal para uma moderna ocorre em um rapido processo de ur- banizagao e industrializagio, mobilizando, desta maneira, as “massas populares”. Impacientes, elas exigiram participagio Politica © social, atropelando, com suas presses, os canais instituctonais clissicos. A resolugio dos problemas ocorreu com. Bolpes militares ou com “revolugées nacionais-populares”, sen do que as iltimas, sobretudo seus resultados, foram nomeadas de populismo. Torcuato di Tella,’ por sua ver, foi além. A ex- plosio demogrifica e as aspiragdes participativas das “massas populares” forgaram alterages no sistema politico. Em certo Ponto, de muita tensio, as “massas”, com suas expectativas, se “Gino German. Plt sociedad em wma dpe de resi: de sched tradicional soviedade de mass, Ss Paulo Mest Jas 1973, “Toreuato di Tela. rs uma police latinovamercana, Ri de Jane, Pat ¢ Tera, 1969, © rorutiso & sua wistonia aliaram as camadas médias, setores ressentidos por nio se tor. nnarem classes dominantes. Assim, diante de um quadro em que as classes fundamentais nao deram respostas adequadas exigidas pelo “momento histérico” — as dominantes, por sua inoperancia, a operitia, por sua inexpressividade —, surgiram lideres oriundos das classes médias prontos para manipullarem Desse modo, no contexto da transi¢io de uma “economia tradicional”, de “participagao politica restrita”, para uma “economia de mercado”, de “participagio ampliada”, a teoria da modernizagio elegeu um ator coletivo central para 0 suurgimento do populismo na América Latina: os camponeses, Mesmo que eles nio sejam nomeados com todas as letras, 0 cixo fundamental dos argumentos de Germani e di Tella gira «em torno da questio do mundo rural, definido como tradicio- nal. © populismo surgiu em um momento de transigio dessa sociedade para a moderna, implicando o deslocamento de po- pulagdes do campo para a cidade — 0 mundo agrério invadin- do 0 urbano-industrial. Como a mescla de valores tradicionais modernos, 0s lideres populistas se projetaram em sociedades 4ue no consolidaram instituigées eideologias aurémomas, mas nente seriam substitufdos por outras liderancas por- tadoras de idéias classistas quando 0 capitalismo alcangasse ‘maturidade na regio. s eriticos de Germani e di Tella, de varindas maneiras, de- ‘nunciaram a suposta vinculagio entre camponeses que vieram para as cidades ¢ Iideres populistas. Octavio lanni, por exem- plo, denunciou a imagem, sugerida pelos teéricos da moderni- ragio, de docilidade das “massas as manipulagies populistas, demag6gicas e carisméticas”.‘ Por um aspecto, diz lanni, hé 0 surgimento de populagbes recém-chegadas do mundo rural que “niio dispdem ainda das condigdes psicossociais, ou horizonte cultural”, para um adequado comportamento urbano e demo- critico. Por outro, a sociedade carece de insttuigSes politicas s6lidas, a exemplo de um sistema partidirio. “Dai o sucesso da arregimentacio das massas marginais, ou classes populares, pelo Ppopulismo.” Trata-se de um descompasso, retrocesso ou desvio de curso no sentido que se queria ideal: 0 modelo europeu de sdemocracia representativa. “No mundo urbano-industrial”, con- ‘inua lanni em sua critica, “onde imperam as relagées de merca do, sobrevivem ou predominam as massas o Lider, cujos los sio a demagogia ¢ o carisma.” Com o tempo, as inconsisténcias da teoria da modernizagio foram percebidas e as criticas tornaram-se mais agudas. A dis tingio entre paises “atrasados” e “desenvolvidos”, indicando, segundo Maria Helena Capelato, uma relagio de exterioridade entre eles, © mundo capitalista “modemo” como modelo a ser seguido, a perspectiva etapista, progressista, que levaria & con- solidagio do regime democritico nos paises “atrasados” —con- ccepgio desmentida pelas ditaduras militares nos anos 60 —, ‘entre outras questées, abalaram a credibilidade do enfoque.* ‘No entanto, mesmo décadas depois, quando as crticas tor- nnaram as idéias de Germani e di Tella desacreditas “Octavio ann. O popliono ne América Latin, Ri de Jani, Chiasto Beales, 1975, pp 25.28 ‘Maria Helena Kolm Capelto. “Estado Novo: novas his”. In Marcos (Cera de reas, Hitonogaiobaseineem perspec S80 Paso, Conte igens de “atraso”, “desvio” ¢ “manipulagio” perdurariam, As representagGes imagindrias, sabemos, sio capazes de resistir a criticas, mesmo aquelas formais, eruditas e com base na inves {gacdo empirica. Assim, perdurou, ao longo do tempo, a idéia de que, com o processo de urbanizagio, os individuos recém- chegados do mundo rural teriam contaminado os antigos ope- ritios com suas idéias tradicionais e individualist, Sociedade rasada, camponeses que vieram para as cidades, igualmente m atraso, e, logo, uma politica novamente atrasada, is o am- biente em que teriam proliferado os lideres populistas. A teoria da modernizagio foi decisiva para as primeiras for- ulagbes sobre o populismo no Brasil. Segundo Angela de Cas- ‘tro Gomes,’ em meados da década de 50 um grupo de intelec- tuais, sob o patrocinio do Ministério da Agricultura, passou a se reunir periodicamente com o objetivo de debater os proble- ‘mas politicos do pais. Como uma vanguarda esclarecida, o Grupo. de Itatiaia, como ficou conhecido,* esforgou-se para formular projetos politicos e estabelecer uma nova visio de mundo, Um dos problemas identificados foi o surgimento do “populismo ‘na politica brasileira”. Embora se constate auséncia de esforgos para conceituar o fendmeno nas condigées do pais, explicava- ‘Angela de Castro Gomes. “O poplin ca cits soca wo Beas neat sobre atresia de um concel, Nestacolednes, "Segundo a aoa, grupo fandw, em 1953, o Institut Braid Feo ‘omi, Sociologia e Pita (IBESP ecomegou a publica o Caderos de ‘nwo tempo Patciparam da revista inlets com Alero Gaeta Ramos, Cinddo Mendes de Almeida, Hermes Lima, Inicio Range Joo Palo de Almeida Magatiese Hei Jaguar. O nen bisco do BES mas aan, orgniatia 0 Inio Superior de Extos Braieios SEB). Hem Se. expresso por varidveis historico-sociol6gicas, cdo, mais tarde, a fluencian- vimeras formulagdes que se seguiram. Para os intelectuais do Grupo, em primeiro lugar, 0 po: plismo era uma politica de massas.? Trata-se de um fenémeno Vinculado & modernizagao da sociedade, sobretudo no tocante 0 processo de proletarizacao de trabalhadores que no adqui- ncia de classe, Interpelados como massa, eles so- ‘mente se libertariam dos lideres populistas quando alcancassem verdadeira consciéncia de seus interesses. Nao € dificil, por- tanto, perceber as influéncias da teoria da modemnizagio, Mas, ‘em segundo lugar, 0 populismo igualmente estava associado a uma classe dirigente que perdera a sua representatividade, que carecia de exemplos ¢ valores que orientassem toda a coletivi- dade. Em crise © sem condigées de dirigir 0 Estado, as classes dominantes necessitariam conquistar 0 apoio politico das mas- ‘3s emergentes. Por fim, diante da “inconsisténcia” das classes fandamentais da sociedade, o terceiro elemento completaria o fendmeno: o lider populista, homem carregado de carisma, com capacidade incomum para mobilizar e empolgar as massas, Nessa linha de abordagem, em 1961, 0 socidlogo Alberto Guerreiro Ramos, integrante do Grupo de Itataia, publicow A crise do poder no Brasil. O livro estabeleceria, de maneira mais sistematizada, a imagem do populismo na politica brasileira e influenciaria estudos académicos que, naquela época, ainda es- ne ue xe sgue, Angela de Caro Gomes explora enstio Que 0 ‘demarsmot, publicade no princiro semestede 1984, sem ator det 1 ten ‘Também em uma perspectiva hist6rico-sociolégica, Ramos defende que o estabelecimento do populismo no Brasil ocorrew sobretudo a partir de 1945. Com o fim do Estado Novo, 0 pais cconheceu, no plano politico, um minimo de probidade nas elei- .gdes e, no plano econdmico, uma industrializagio mais consis. tente. Assim, em uma conjuntura de expansio industrial, ut nizagio e de participagao poltico-eleitoral, é que se manifesta ram as primeiras geragbes de assalariados das cidades. Para 0 autor, © populismo, como uma ideologia pequeno-burguesa, procurou mobilizar politicamente “as massas obreiras nos perio- dos iniciais da industrializagio”."° Contudo, os assalariados ni presentavam “aquela mentalidade classsta que costuma carac- terizar as geragGes de trabalhadores providos de longas tradi ses de lutas”, uma vex que as classes socais ainda nio tinham se configurado, despontando no cenirio politico do pais de “maneira rudimentar”, como um “agregado sincrético”. Em uma palavra, a classe trabalhadora se apresentava como “povo em estado embrionario”. Assim, novamente associando os campo- nneses ao populismo, os lideres de massa, diz Ramos, encontra ‘am sustentagio em “componentes recém-egressos dos campos [que] ainda nao dominam o idioma ideolGgico”. Séo trabalha- ddores com escasso “treino partidaério” e “rimida consciéncia de direitos”, o que os “torna ineapazes” de exercer influéncia so- bore 0s politicos populistas Recuperando as teorias em voga na 6poca, sobretudo as de Gino Germani, Guerreiro Ramos, a seguir, formula criticas a0 Gvereito Ramos. Acie do poder no Bri. Rio de Jane, Zahar Eto trabalhismo brasileiro, classificando, nio sem alguma ironia, as suas *doencas infantis", A primeira é 0 varguismo. Trata-se, em suas palavras, de um “residuo emocional baseado em impres- s6es € crengas populares na bondade intrinseca de Vargas”. A segunda é 0 janguismo, definido como uma forma de seguidismo que se fundamenta no “reconhecimento de amplas camadas populares de que 0 Sr. Jodo Goulart é 0 continuador da obra do Presidente Geralio Vargas”. A terceira, o peleguismo, na verda- de um subproduto do varguismo ¢ irmio siamés do janguismo. Para Ramos, 0 peleguismo impede a formagio de um “movi- ‘mento obreiro na exata expressio da forga politica que tém 6s trabalhadores brasileiros”. Por fim, o expertismo, ou seja, a pritica do partido em recorrer a um “doutor, encomendando- le uma teoria sob medida”."' Nao é dificil perceber que as “do- ‘engas infantis do trabalhismo”, formuladas por Guerreiro Ra- ‘mos, sobretudo as trés primeiras, firmaram-se como imagens fortemente introjetadas na imaginasio politica das geragées que © sucederam. Ironias que foram tomadas a sétio. Scja como for, os socislogos do Grupo de Itatiaia, sobretu- do Helio Jaguaribe e Guerreiro Ramos em particular, influens ads pela teoria da modernizacio, foram aqueles que formula ‘am as primeiras reflexdes sobre o populismo na politica brasi- leira. ‘Assim, dando continuidade a uma linha interpretativa que se constituia desde meados dos anos 50, um outro grupo de Sociélogos, agora nas universidades, desenvolveu reflexes so- bre o papel dos camponeses no processo de formacio da classe Ton pp 90.93. ‘operiria ¢ do movimento sindical. Nomeada por Luiz Werneck Vianna de a *interpretagao sociolégica”, o primeiro desses tra- balhos veio a0 conhecimento do piblico em 1964, com Juarez Brandao Lopes." A partir do auxilio de algumas categorias weberianas, Brando procurou compreender as motivagées de ‘opersrios de uma empresa de porte médio em um momento de trinsito de uma “economia tradicional” para uma “economia cde mercado”. A conclusio, segundo Werneck Vianna, foi a de- terminagio estrutural entre a origem social e a conscigncia de classe. Desse modo, os trabalhadores originarios do campo e ddas pequenas comunidades do interior, quando instalados nas cidades, no se identiicariam completamente como operitios industriais, tendendo a se comportar de acordo com seus “inte- resses pessoais”. Nao conseguiriam, dessa maneira, explicitar a ‘conscigncia de sua identidade coletiva devido falta de experi- {ncias cooperativas, proprias do mundo urbano e industrial. Os outros operirios, qualificados ¢ mais antigos nas cidades, por sua vez, demonstrariam satisfagio com suas profissdes, mas, por sua situag2o vantajosa no mercado de trabalho e pela “falta de tradigio industrial”, tornaram-se pouco sensfveis para aces coletivas através do sindicato."* Segundo Luiz Werneck Vianna, os estudos sobre o movi ‘mento operario e sindical no Brasil se iniciaram com 0s traba- hos de Juarez Brandio Lopes e Ledncio Martins Rodrigues, "jure Brando Lopes. Sociedade nasil no Bal So Paso, Die, 1964 "Laie Wereck Viana, "Estudos sobre sindicalmo e movimento oper resenha de agama rnd", Rio de Janet, Revista Dado IB, 1978, 745 ‘como também com os de Azis Simao e José Albertino Rodrigues.'* TEmbora com suas diferencas ¢ especificidades, a “interpretagio sociol6gica” compartilha perspectivas semelhantes em suas ané- Tises,Partindo dos “eloriosos anos 10°, com a atuagio dos anar- aquistas, a reflexdo procura tornar evidente a transigio, comple thda na década de 30, para um sindicalismo burocratico € aco- ‘modado, permitindo o surgimento de uma classe operiria que teria perdido sua autonomia, espontaneidade ¢ impeto revolt cionario. As matrizes te6ticas da “interpretagio sociol6gica”, ‘diz Werneck Vianna, provém da hegemonia do pensamento cepalino nas universidades brasiletas, dos eabalhos de Gino Germani e da leitura de textos de Weber ¢ Marx. Tais concep «fes foram entendidas como convergentes para explcar a reat Jade latino-americana."" Assim, 0 enfoque sobre 0 “comporta- tment operdrio”, determinado pela origem da forga de traba- tho em um contexto de transigio de uma “economia tradici nal", de “participasso politica restrit de mercado”, de “participasio polit ido em uma classe operaria que, marcada pelo individualism jor suas origens ruras,tradicionais e patrimonials, passva e dependente do Estado, O resultado, portanto, foi surgimento do populismo. "Aseriticas, na verdade, tardaram a chegar. Para Maria Hele ‘um dos elementos constitutives da nocio d para wma “economia ampliada”, teria resulea- nna Capelato, [ricbacio Marcin: Rodrigues. Confit industrial e sindicaiomo wo Bra cere Die 1366; Aas Simdo, indicat « Estado, Sto Palo, Atay wae iad Alber Rodrigues. Silicate edesenvlvimento no Br. Palo, Dil, 1956. als Wereck Vianna, Op. p71 populismo nesse periodo é a compreensio dos movimentos so- ciais como reflexos das varidveis sécio-econ6micas. Assim, “ex plica-se © comportamento politico das classes a partir de ddeterminantes estraturais (processo de industrializagao, origem rural da classe trabalhadora). A adesio ao populismo & entendi- dda entio a partir da estrutura social, sem se levar em conta qual quer elemento de ordem politica ou cultural”."* O “novo prole- tariado” da década de 30, muito distante do velho e revolucio- inirio anarquismo dos anos 10, teria surgido, no dizer de Werneck Vianna, com uma “concep individualista que traz do mundo. do tradicionalismo agrario — se tornaria na massa de manobra cdo populismo (..) assinalando o toque de recolher para o mar- xismo no movimento operario substitufdo pelo nacionalismo”.* No entrecruzamento da teria da modernizagio com uma certa interpretagio do marxismo, eis que surgem os campone- s¢s no cendrio politico, representando o ator coletivo chave para 4 formulagio e disseminagio da primeira versio do populismo. Seria na passagem da “sociedade tradicional” para a “moderna” que atuariam os camponeses, eres incapazes de agGes coletivas porque imbuidos de uma percepgio individualista da sociedade {6 exatamente por iso, refratarios as mudancas sociai particular as revolucionstias. Portanto, entre meados dos anos 50 e inicio dos anos 60, slgumas imagens sobre os “desvios” da politica brasileira e da propria classe trabalhadora, determinados pelo papel dissolvente ‘exercido pelos camponeses que vieram para as cidades, come ‘Maria Helena Rolin Caplio, Op. cit pp. 185-186 Unie Weneck Vianna, Op ct, p78 ‘saram a circular em alguns circulos intelectuais no Brasil. Ten- cdo como matriz a teoria da modernizacio, tais idéias inicial- ‘mente foram apropriadas pelos sociélogos do Grupo de Itatiaia «, dal, comecaram a ganhar espagos nas wniversidades. O golpe militar, em 1964, no entanto, veio acelerar o peocesso, perm tindo que a nogio de populismo surgisse como fator explicativo Para a fragueza do movimento operario e sindical diante da investida, verdadeiramente fulminante, da diteitacivil-militar Foi nesse contexto politico ¢ intelectual que, em meados ddos anos 60, veio a pablico uma série de artigos, reunidos, mais tarde, sob o titulo de O populismo na politica brasileira. A cole- tinea resgatou o conjunto de idéias que, desde a déeada anterior, vinha afirmando a nogio de populismo e, sintetizando-o de nal, abriu caminhos para pesquisa ¢ reflexdes posteriores.** Embora apresente reflexdes avangadas para a pri mmeira metade dos anos 60, o proprio contexto intelectual da- ‘quela época impos limitagées te6ricas aos textos. Assim, duias ‘tradigdes interpretativas percorrem as piginas do livro. A pri- imeira é a adogio da tipologia de Gino Germani, que alude & ppassagem de uma “emocracia com participagio limitada” para ‘uma “ampliada”."* Trata-se de um processo de “massificagio prematura” ou “antecipada” de massas rurais na vida urbana € no processo politico. Weffore recupera a tese que afirma 0 "Francico Wffort.O popliono napoli ruin. Rio de Jani, Pee “Tera 1980, p22. Minha ane mtr aoe es primero artis da cae toca “Polis de mass, ert riginalmente em 1963, -Estado mass to Bra, de 1965; €°O populamo na pla asic", de 1967 | Mam 85: de, 4 sucesso da politica varguista entre os trabalhadores porque 0 ‘éxodo rural trouxe para as cidades uma mio-de-obra com tra digoes patrimoniais, individualistas e sem experiéncias de lutas sindicais. Desencadearam-se, desse modo, a “revolugio indi dual” dos migrantes oriundos do campo que chegaram a0 mun- do urbano e a conseqiiente pressio para o acesso a0 consumo ¢ a0 emprego. Portanto, “trata-se, sempre, de formas individuais de pressio, as quais se apresentavam aos populistas como um problema a resolver”."' Ou seja, como ji afirmara Guerreiro Ramos, existia a classe, mas faltava a sua consciéncia, mascara- {da ou deformada no processo que transformou camponeses em assalariados urbanos, permitindo a Weffort sugerit que a refle- xio sobre 0 populismo deva basear-se a partir de “relagdes indi Viduais”.® A teoria da modernizagio, portanto, é central nas anilises de effort. A segunda tradigio intelectual presente na coletanea pro- vvém de uma €poca em que se acreditava que os atores sociais tinham “vontade propria”. Assim, diz 0 autor: “a burguesia ¢ 0 proletariado, em especial este iltimo, tendem a organizar raci- ‘onalmente sua agio politica e a colocar, de maneita clara, seus interesses de classe a luz do dia do debate politico”. Muitas vezes, nogdes oriundas da ortodoxia aparecem de maneira pe- ‘emptria: “Na impoténcia histérica da pequena burguesia esté araiz da demagogia populista(..). Deste modo, por limitar-se as formas pequeno-burguesas de aco, o populismo traz.em sia as inconsisténcia que conduz inevitavelmente & traigéo.”™ Se 0 populismo foi traigo, a grande pergunta, nunca respondida, embra com razio John French, & por que os operérios sucum- biram aos agrados dos lideres populistas, aceitando a domina- 40, ¢, no mesmo movimento, se dispuseram a confiar em tra dores?* Portanto, ler O populismo na politica brasileira € co- ‘ahecer um autor afinado com o contexto intelectual de seu tem- po, mas igualmente limitado por ele. Algumas vezes, personagens com tradigées e priticas politi- «2s distintas sio tratados de maneira indiferenciada, perdendo- se, assim, especificidades e a propria historicidade dos projetos: “entre o populismo dos demagogos ¢ o reformismo nacionalis- ta de 1964 sempre existiram afinidades profundas de contei- do”. Em um Estado como esse, alega, “nao hi lugar de desta- ue para as ideologias. Os aspectos decisivos da luta politica — 8 formas de aquisigao ¢ preservacio do poder — esto vineula- ddos a uma luta entre personalidades"” Ao mesmo tempo que ppersonaliza 0 passado hist6rico da sociedade brasileira, 0 autor dilui , conseqiientemente, perde a especificidade dos projetos politicos em que estes lideres politicos se manifestaram. Assim, Joao Goulart, Leonel Brizola, Roberto da Silveira, Alberto Pasqualini, Fernando Ferrari, Liicio Bittencout, entre outros, todos filiados a um partido politico, o PTB, bem como a uma “John French, © ABC dos oped, Contos Abang de clase em Sto le, 1900-1950, Sao Catan do Sal. Hocie/Prefetra de Sao Catan do sul, 1995, 9.9 dem, p37. de, p54 tradigéo politica, otrabalhismo, surgem no mes Janio Quadros ¢ Adhemar d ‘Weffort caracteriza como fe sua ver, sio igualados a al 0 pstamar gue le Barros, pls quo pee menos de Sio Palo hens iss gcpia da UDN, coe tls Laced, 20 gene Eco Dut useing Tos segundo ings de Wellre spe oe menso porque srg 0 poo dsere as Sbes de classe contidas nesta ‘concepgio. = = Enfim, vin so o ema a stem eplrado na cole tea. No mano, vale observa uma cea eno ere aumento ator Em alguns momemon doesn de aftmaséesrevela mainlogo ueineracg ne Ss entre Estado e classe tabalhador, vine coma so legitimo: a © populism foi, sem divida, ‘manipulacio nunca foi absol dos acetara vis liberal elit "no populismo uma espécie de ‘manipulagio de masas, mas a a. Se 0 fosse, estariamos obriga- sta, que, em ima insta, vé aberragio da hisria alimentada lade das massase pela fal © pela fata de principios dos Iieres. $e 0 populismo foi manipulagio, alega “vanben fy tum modo de expresso de suas insatistagbes"* Ourraindicasdo importante, que relativiza o poder de Eta- do resgatao papel ea atuagio dos propos traalhadones ny ‘elasdes politica daquelaépoca, igualmente é dada por Welfors dom 28, idem p 6 “Grupo burgués algum ¢ capaz, por si proprio, de inventar um Politico de massas. As condigdes de existéncia das massas tan também seu papel nesta invengio."™ fos ae ttmasbes, importantes, sugerem que 0 populismo nio oi mera manipulagio de massa, de cima para baixo, mas que houve interlocugio entre Esta ido e classe trabalhadora, No en: {anto, muitas letras ndo observaram com maior cautela uma th deel : toque sear Ther pl pop saga das idéias contidas em seus textos, — ae outro convo de anaten as atengdes voltaram-se para G Weffort critica a versio liberal 2 Populismo, cua explicagio seria a manipulagio e a demago- 8a dos ideres conjugadas 4 ignorancia e a0 atraso das massa Contudo, em outros momentos, co Conrado mtrariando suas prépriaseri- 0 liberal, o texto permite leiruras bem diferen- fs. Assim, para o autor, em 1930 aparece his pola basa, queer nips eee mete pr Geilo ga drat 5 an Oren an ‘Spopuleconstsinmarair dopo dele ng hes as esta mesma condi, no anand nase nee bra Ao dra xa om pte ee fae le, teoricamente, nio, mesmo nas ditaduras mais intolerantes, surgem afir- mages bastante questionaveis: at Populismo, a massa vé abandonase a ele, entreg: dla, a0 seu arbitrio”. 9° ‘nas formas espontineas do pessoa do lider 0 projeto do Estado; a-se A sua diresao e, em grande med Assim, as andlises das relagoes mantidas entre Estado e clas: se trabalhadora sio conduzidas sob certa tensio, sob certa am= bigitidade: ora interlocugio, ora manipulagio. No entanto, esta Silkima maneira, de cima para baixo, foi a que se firmou nos cestudos posteriores, ressaltando-se as passagens em que Weffort analisa de maneira mais caricatural as relagbes entre as “mas- sas" € 0s Iideres “populistas”: manipulagio, emocionalidade, relagbes individuais, aigho etc. Seia como for, com a teoria da modernizagio, as idgias do. Grupo de Itaiaia, a interpretagio sociol6gica do movimento operirio € 0 trabalhos de Weffort, o populismo, na segunda rmetade dos anos 60, comecou a firmar-se nas Ciéncias Huma- has no Brasil, Era necessério, no entanto, stué-lo em um con- texto hist6rico internacional para estabelecer a nogio com mai- or precisio metodolégica. Assim, nos compéndios ¢ manuais sobre © populismo na América Latina e no Brasil, invariavel- rmente a introdugdo ou o capitulo inicial tratavam dos “antece- dentes” hist6ricos: 0 leitor, desse modo, conhecia 0 popuilismo na Rissia tzarista © nos Estados Unidos no século XIX. Nova mente, portanto, hé a presenga do mundo rural. Embora os ‘contextos econémico, politico, social, agrério, cultural, ideols- ico e religioso do Brasil tenham sido diversos da Rassia tearsta, «ambos, distintos dos Estados Unidos, 0 que tne hist6rias tio diferentes é 0 campesinato. E onde ele est, é de se prever, tam ‘bem aparecem os populista. Estaria a primeira versio do populismo superada? Creio que iio. No primeiro semestre de 1998, em uma prestigiada escola catélica na cidade de Niter6i, uma aluna da segunda série do segundo grau recebeu de seu professor de histéria uma apostila resumindo a trajetéria da politica brasileira apés 1945. Logo i “O periodo que se estende de 1945 a 1964 € tradicionalmente conhecido como 0 periodo do “Populismo’.” Entre aspas ¢ em negrito, para chamar a atengio dos jovens leitores, 0 conceito teria algumas “caracteristicas bisicas": ‘Como jf se observow, « populismo na Amé a Latina reve como caracteristicabisiea uma intensa manipulago das massas, nun ‘momento de transgdo entre a economia agro-exportadora ea «economia mais moderna, que comega a se insalarapés a crise de 1929. Liderangas mais ou menos carsmiticas dsputaram 0 Poder junto a essa massa, ora fazendo concessies (as leis aba Ihisas de Vargas sio um bom exemplo}, ora utiizando © povo ‘como elemento de ataque s antgas oligarguias, Os trabalhadores, cuja consciéncia social estaria a meio-ter- ‘mo entré os padres ruraise os vigentes na indvistria, deixaram- se envolver por lideres burgueses, que, habilmente, os usaram como massa de manobra. Apés aprender as dimensbes tedricas do conceito, a aluna, um tanto confusa, também aprendeu com © professor o que se segui na politica brasileira: a democrati- 2agio de 1943, o surgimento dos partides politicos nacionais e ‘© governo Dutra. No entanto, em 1950, surpreendentemente, © populismo teria ressurgido. Nao sem alguma iron res da apostila escreveram: Nas eleigbes de 1950, Vargas voltow ao poder (..). Sua vitdria traduria claramente © poder de manipulagio da politica © rorucismo 4 sua misronia populista:afinal, Vargas era o ‘pa’ dos trabalhadores bras Mas, entre 1963 ¢ 1964, as las socias se ‘nua a apostla, A conclusio resume-se a um jargio, comum na literatura sobre o assunto: com o golpe militar de 1964, dizem ‘08 autores do texto em tom peremprério, “era o colapso da Poca populista no Brasil” Seria uma injustiga, grave a meu ver, desmerecer 0 trabalho desses professores. Nao é esse 0 meu objetivo, Sio profissionais ‘mal pagos, trabalhando muitas vezes em condigbes dificeis, sem chances de atualizagio ou recursos para comprar livros. Com hhonestidade e seriedade, fazem 0 melhor que podem, mas isso €0 melhor que fazem. Para os professores que formam os nossos filhos, a politica brasileira © as relagdes entre Estado e classe trabalhiadora du- rante o periodo de 1930 a 1964 encerram um “senso comum", no sentido gramsciano do termo, nomeado de populismo — e dos anos 50 ¢ 60. Mas seria correto ‘em sua primeira versa afirmar que esse “senso comum” circula somente entre os pro- fessores de nivel médio? Estariam eles tio desatualizados assim? Com ressalvas, ereio que nio. s resultados desta primeira versio do populismo sio co- ihecidos e aceitos até hoje, tanto nas apostilas de nivel médio «quanto na bibliografia especializada, No primeiro governo de Vargas, os trabalhadores tiveram acesso aos direitos sociais, mas rio aos politicos, ¢, a partir de cilculos sobre suas perdas ¢ ‘ganhos, rocaram os beneficios da legslagio por submissio po- litica. Assim, incapazes de pensar por si mesmos, fracos diante das investidas ideol6gicas das classes dominantes, recebendo Passivamente ¢ sem criticas a doutrinagio politica, os teabalha- dores brasileiros oriundos do mundo rural, destituidos de tra- digdes de luta, organizagto e consciéneia, passaram a idolatrar ‘Vargas ¢, desde 1945, a eleger outros ideres populistas ea vor tar no PTB, (© POPULISMO DE SEGUNDA GERACAO Na virada dos anos 70 para a década de 80, a primeira versio do populismo comegou a dar mostra de esgotamento em suas hhipoteses centrais. A teoria da modernizagio, o papel do Esta- do como elemento que organizaria as classes, 0 comportamen- to politico da classe trabalhadora determinado por estruturas s6cio-econémieas — como sua origem rural ou devido as peeu- liaridades da industrializagdo brasileira —, entre outros fatores, ‘do mais satisfaziam os estudiosos. Os grandes ensaios sobre 0 “populismo na An rica Latina” tornaram-se cada vez mais ra- 0s. Socidlogos ¢ cientistas politicos, pioneiros nos estudos, pa saram a debater com historiadores, os quais, com seus métodos de pesquisa, enfrentaram a questio. Assim, os estudos voltaram-se principalmente para as rela- ‘bes entre Estado e sociedade na época do “primeiro governo” de Vargas. De alguma maneira, 0 problema que preocupou a primeira versio do populismo foi reiterado pelos novos estu- dos: em 1930, instituiu-se no Brasil um Estado de vertente au- toritiria que se acentuou em 1935 e se imps como uma dita- dura em 1937, influenciada pela experiéncia do fascismo euro- peu, As liberdades democriticas foram suprimidas, e © movi- ‘mento operirio duramente reprimido. Anarquistas, socialistas, ‘comunistas eliberais perderam os espagos de atuagio politica, € muitos deles, a prépria vida. A repressio policial, a censura aos imeios de comunicagao, entre outros dispositivos arbitririos e discricionsrios, impediram qualquer movimento para as oposi- bes. No entanto, diante de um contexto politico tio sufocan- te, 0s trabalhadores apoiaram a ditadura de Vargas. © apoio, admitem diversas tendéncias historiogréficas, nio era apenas formal, mas sincero, ¢ 0 reconhecimento, a gratiddo e as man festagies elogiosas dos assalariados ao ditador dificilmente sio refutados pelos estudiosos. Esse, portanto, foi o problema que © populismo de segunda geragio herdou da primeira e procu- ‘ou novamente enfrentar, centrando os estudos nas elagies entre Estado e sociedade/classe trabalhadora entre 1930 e 1945, Para enfrentar a questio, houve, inicialmente, a recusa, pelo ‘menos formalmente, das hipéteses centrais da primeira versio ddo populismo. Contudo, a recusa nao foi total, tanto assim que ‘o texto-sintese daquela primeira versio, O popuelismo na polit ca brasileira, de Weffort, continuou a ser citado nos textos — algo que nio é casual. Ha uma premissa formulada por Weffort nos anos 60 que persist entre os historiadores da década de 80. Interrogando 0 extremo a coletinea O populismo na politica brasileira & pro- ‘cura das razBes que teriam levado os trabalhadores a apoiarem “lideres populistas", encontramos um argumento central: 0 ppopalismo imp6s-se pela conjugacio da repressio estatal com a ‘manipulagio politica, embora a chave de seu sucesso tenha sido a satisfagio de algumas demandas dos assalariados. Assim, mes- mo que a segunda versio tenha rejeitado as premissas anterio- res —teoria da modernizacio, determinagées sécio-estruturais nas organizagées da classe trabalhadora, a influéneia negativa dos camponeses no meio operirio, entre outras questoes —, a premissa central, sugerida por Weffort,repressio, manipulacio « satisfagdo, continuou presente, embora nio exatamente da mesma maneira. Fla continuow nas anilises, mas enfatizando o poder repressivo € manipulatério do governo e, no mesmo movimento, minimizando os espacos para a atuagdo e interven io dos trabalhadores e sua interlocugio com o Estado. A se ‘gunda versio do fendmeno apropriou-se das idéias de Weffort, ressaltando as variveis repressio manipulagdo, mas subesti- mando, e muitas vezes desconhecendo, o vigs da satisfagi0, Sur iu, assim, © populismo na sua interpretagio mais repressiva e sdemagogica Neste aspecto, & importante citar uma poderosa tradigio ‘que influenciou, direta ou indiretamente, toda uma geragio de intelectuais: 0 marxismo. O marxismo apresentou tuma questio importante ao estudioso: uma ordem social no € imutave, ea sua prépria reproducio propicia a sua transformagio. Para um historiador, marxista ou nio, a assertiva foi muito bem recebi- da. As divergéncias, porém, surgiram sobre a maneirae os cami- rnhos que permitiriam a transformagio, suscitando acalorados debates entre autores € miltantes marxistas. Assim, a versio mais disseminada defendeu que a possibilidade da mudanga pro- vvém da capacidade dos trabalhadores de alcangarem a “verda- deira” consciéncia de classe, de “desvendarem” as contradighes socias, de perceberem quais seriam os seus “reais interesses. io & casual, desse modo, que muitas pesquisas produzidas nos programas de p6s-graduacio em Histéria Social, a partir de fins dos anos 70, discutissem, na parte tebrica dos trabalhos, a ques- tio da idcologia. Marx, Lenin, Lukics, Goldman, Althusser ou. Gramsci, para citar os mais conhecidos, eram convocados em busca de uma definigio mais apropriada para o fendmeno, Afi nal, 0 conceito de ideologia, compreendido na maioria das ve- zes como “falsa consciéncia”, poderia desvendar as razées que teriam levado 0s operdrios a ndo se revoltarem contra ordens sociais opressoras. No campo do marxismo, um dos clissicos que marcaram uma geragio foi Antonio Gramsci. Como um dos mais refina- ddos pensadores marxistas, em fins dos anos 70 suas idéias entra ram nas universidades brasileiras — periodo, também, em que (0 historiadores comecaram a estudar a politica brasileira apés 1930, em particular 0 “primeiro governo” de Vargas. Foi a pro- posta te6rica de hegemonia em Gramsci que mais fascinow os cestudiosos na época, Nao quero discutir 0 conceito, sabemos que ele permitiu diversas interpretagbes. O que importa, aqui, 6 asugestio de que a dominagio de uma classe social sobre outa no se impSe apenas pela forga, pelo poder repressivo de Esta ddo, como era comum pensar, mas que sua eficécia ocorre a0 se ‘onjugar com as instancias “persuasivas™ da sociedade. ‘Com o pensador italiano, nio foi dificil para muitos historia ddores reavaliarem a teoria do primeiro populismo. Assim, entre 4 tiade repressdo, manipulacdo e satisfagdo em Weffort ¢ a dlicotomia repressdo e persuasdo em Gramsci, altima tornou- se mais atraente. Com a alteragdo no enfoque, pode-se dizer ‘mesmo que houve uma regressio na maneita de se pensarem as ‘elagies entre Estado ¢ classe trabalhadora na época de Vargas, Na primeira versio, ainda havia a varvel saisfagdo, aceitando ‘que 0$ assalariados se beneficiaram com as politcas pailicas do Estado varguista, como a legslagio social, por exemplo, Na se- gunda versio, no entanto, sequer isto foi considerado. Repres- ‘io ¢ persuasio, ou, como € comum dizer, repressio policial ¢ propaganda politica, tornaram-se os elementos centrais para se compreender os mistérios do sucesso de Vargas entre os traba Ihadores. Surgitam, assim, diversos trabalhos a partir do inicio dos anos 80 sobre o Estado Novo, contribuindo, sem divida, para a ‘compreensio daquela remporalidade, Muitos textos enfatizaram 4 repressio policial, outros acentuaram a propaganda politica stata, e alguns, de maior flego, ressaltaram os dois aspectos. Masa maioria das interpretagdes concordavam que o populismo floresceria com sucesso em um certo tipo de Estado, autorits- rio, que recorreria a duas préticas distintas, embora comple- ‘mentares: a primeira, voltada para o movimento operério esi dical, wtlizou a repressio policial mais truculenta, invadindo os sindicatos de trabalhadores, prendendo os seus lideres, espan: cando os seus militantes, cerceando as suas priticas de lura e de ‘organizagio, enquadrando os sindicatos por meio de uma legis lagio controladora e restritiva e suprimindo, is vezesfsicamente, as esquerdas. O aparato repressivo, assim, ter-seia dedicado a climinar os setores mais combativos da classe, aniquilando as veleidades autonomistas do movimento operitio e solapando as bases do sindicalismo mais avangado, A polica, a legislagio autoritéria € 0s tribunais de excegio teriam impedido que os trabalhadores mais organizados seguissem os caminhos “nat- rais” que os conduziriam a uma auténtica identidade politica, © Porutismo € sua wistonta Assim, derrotando os grupos organizados, o Estado, ‘concomitantemente, teria recorrido a uma segunda pritica, vol- tando as suas baterias para o “povo”, ou seja, os assalariados ue no conheciam as experigncias do movimento sindical, os pobres e as pessoas comuns — para utilizar a linguagem dos anos 60 © 70, 08 “novos” operarios de origem rural. Para o melhor sucesso de seus objetivos, o Estado utilizou os recursos ‘ofetecidos pelas modernas técnicas de propaganda e de doutri- nagio politicas. Com extrema habilidade, o governo de Vargas teria “inculcado” nas mentes das pessoas idéias, crengase valo- res baseados na mentira, na ilusio e na deformagio ou inversio dla realidade, Como auxilio de seus “intelectuais orginicos”, 0 Estado teria inundado a sociedade com imagens e simbolos de exaltagio a0 govern mas, livros, jornais, utilizando como veiculos ridios, cine- jografias, cartlhas escolares, misicas,fes- tas, comemoragdes civicas etc. Assim, eliminando os operiios mais combativos, com a policia, e manipulando o restante da populagio, a partic dos meios de comunicagio, o Estado po- pulista teria aleansado amplo sucesso, sendo, dessa maneira, aceito como legitino pelos trabalhadores, [Nao ha muitasdividas sobre a repressio policial que se abr 4 partir de 1930, e acentuou em 1935 e tornou, a partir de 1937, invivel quiiquer resistencia ao regime. As pesquisas de- ‘monstram, as vezes de maneira irrefuravel, o processo repressi- vo. Igualmente ficou comprovada a montagem de um comple- xo sistema de proqaganda politica estatal coordenado, sistems- tico e, dentro dos zeursos da época, sofisticado. O que se ques- tiona € abordar asrelagdes entre Estado e classe trabalhadora a partir de paradignas explicativos, ao mesmo tempo opostos e complementares, centrados na repressio ¢ na manipulagio, ambos surgindo como formas de violencia estatal sobre 0s assa- lariados, fisica em uma dimensio, ideolégica na outra. Como diz Angela de Castro Gomes, “elas sio reconhecidas como fun- ‘damentais ¢ como pano de fundo sem 0 qual uma teflexto mais refinada sobre seus impactos seria impraticivel. Trata: tanto, de considers-las teérica e empiricamente insufi cequivocadas para dar conta do fendmeno que esti sendo exa- ‘minado, considerando-se sobretudo seus desdobramentos atra- vés do tempo". Como defend em trabalho anterior, o “mito” Vargas no foi criado simplesmente na esteira da vasta propaganda politi- a, ideol6gica e doutrindria veiculada pelo Estado, Nao hi pro- paganda, por mais elaborada, sofisticada e massificante, que sustente uma personalidad piblica por tantas décadas sem re~ alizagdes que beneficiem, em termos materiais e simbélicos, 0 cotidiano da sociedade. O “mito” Vargas expressava um con= junto de experiéncias que, Longe de se basear em promessas inrealizaveis, fundamentadas tdo-somente em imagens ¢ discur- s0s vazios, aterou a vida dos trabalhadores.”" [As matrizes te6ricas do segundo populismo, nos anos 80, portanto, distanciaram-se dos pressupostos defendidos nas dé "angela de Casto Gomes “Apresenagto" In Jonge Feria, Wabalhadores «do Brasil. © imaginaio popular Rio de Joner, Fundaio Geto Vag, Jorge Frees Mom. Als, vale repetir uma agi do préprio Wefo ue, ddcadas ates 6 obervra que “grupo burgats algo & capes por ‘Proprio, de ivemar um police de mann, Ax cons de ext das ‘ass em seu papel nesta inven", Op. ct ps © roruLismo e sua misronia cadas de 60 e 70 em diversos aspectos, mas, igualmente, resga- aram muitos de seus elementos. A nogio permaneceu, contu- do recebeu um tratamento mais sofisticado, atualizando-se com as tendéncias historiogrficas do momento, ‘No entanto, ainda na década de 80, houve tentativas de se abandonar a nogdo de populismo. Diversos autores, evitando utilizar a expressio, passaram a ressaltar as politcas pablicas de controle social implementadas pelo Estado varguista, sobretu- do no tocante ao “controle operitio”. Diante do avango da ‘mobilizagio dos trabalhadores desde a década de 1910, em par- ticular do movimento anarquista, e do conseqtiente perigo de revolugdes anticapitalistas, novas formas de dominagio politica foram implementadas. © poder, interpretado em um sentido ‘mais amplo, certamente sob a influéncia das leituras de Michel Foucault, ndo se limitou a agir pelas instincias repressivas de Estado e por seus “aparethos ideol6gicos”, Imiscuindo-se em dliversos campos do social, surgiram especialistas que formula- am discursos “racionais”, no sentido sugerido pela chamada Escola de Frankfurt, Habermas em particular, sobre saide, edu ‘eagio, sexualidade, habitagio, pedagogia, educagio Fisica, me- dicina, direito, entre diversos outros. O objetivo dos especialis- tas era “conhecer” o operirio. F, conhecendo-o, “controlé-lo”. Desqualificados em seu proprio saber, destituidos de legitimi- dade para falarem por si mesmos e pela sociedade, os trabalha- dlores deivar-se-iam dominar por um saber racional, porque c= entifico, ¢ logo, apresentado como verdadeiro. A ordem soci al, assim, nio ficaria mais sob os aus ios da politica, pois um saber téenico e cientifico, portanto neutro, deveria tomar 0 seu lugar. Os discursos racionais e cientficos, revestidos de toda luma eficécia técnica, teriam elaborado variadas formas de co- ‘nhecimento especializado. Fundamentados na competéncia téc- nica, eles comegaram a tomar corpo e forma nos anos 20 para invadirem todas as dimens6es da sociedade nos anos 30. ( enfoque do “controle opersrio” surgi como alternativa 0 binmio repressio-propaganda, centrando a andlise na efi fcia do poder baseado no argumento da racionalidade © da técnica. Contudo, a abordagem, sabemos hoje, no foi tao al- ternativa como se pensava. Afinal, a repressio polical e a pro- Paganda politica tinham por objetivo a adesio dos trabalhado- Fes ¢, portanto, o préprio controle. Sobretudo com a recepgio dda Historia Cultural no Brasil, percebeu-se que no hd por que acreditar em uma relagio sem mediagées entre as idéias erudi- tas e populares, que ha um lapso entre a intengio de controlar © 0 efetivo controle, que o poder dos poderosos nao é tio po- deroso assim. Sem negar os recursos utilizados pelo Estado aps 1930, ou ainda nos anos 20, para controlar a classe trabalhado- 2 e racionalizar a sua prOpria existéncia a partir de critérios técnicos © “cientifieos”, tornou-se necessério relativizar 0 cenfoque a fim de se evitar uma abordagem totalizadora, suge- ‘indo estruturas capazes de diluir a existéncia de sujeitos politi- 08 € sociais incapazes de superé-las. Os mecanismos de “con- trole operério” foram implementados, mas sua atuagio e efi cia etam limitadas pela prépria cultura da classe trabalhadora. Seja como for, as insatisfagdes permaneceram. Os enfoques baseados no bindmio repressio- propaganda ou no controle, que necessariamente nio se opunham, pareciam insuficientes. Era preciso explicar, de maneira mais incisiva e contundente, 0 su- cesso de Gettlio Vargas entre os trabalhadores, Para alguns au- 0 Poruuismo «sua misronia totes, poucos na verdad, as explicagBes que ressltavam a pro paganda politica, a repressio policial e o controle social nio «stariam necessariamente equivocadas, apenas néo foram as timas consegincias. A repressio estatal ea propaganda pol «ca no governo Vargas, portant, sofreram uma leitura radical. Assim, ainda nos anos 80, e mesmo no inicio da década se- inte, a alternativas ao populism ndo tardaram a chegar. Afi nados com os esquemas sociolgicos dos te6ricos do totalitaris- mo, historiadores aproximaram o governo Vargas dos regimes de Hitler e Stain, Mulkplicando em muitas vetes a capacidade dda repressio policial, até elevd-la a categoria de terror geners zado, € ampliando ao maximo a eficécia da propaganda pol «a, comparando-a as priticas nazsta e stainistas, Vargas pas- sou a se definido como um lider totalitrio. A inovasio ¢ apa rente € equivocada: novamente a repressio a propaganda, como pressupostoscentais da andlise, permanecem inalteradas."* E cutioso observar, neste aspecto, como a toria sociolégica do roralitarismo seduziu muitos historiadores braileiros. Em bora os especialistas da histéria do socialismo, no Brasil © no exterior, recusem a expressio,” os debates sobre o carte tota- "Jorge Feces. Op. tp. 15, Ns colo Hit do mariamo, organiza por Eric Hobshowm, bem como na oletinea Mitre do mara no Brae io bi um nico epee: lisa que adote a tevin do ttre. Na aaligso de Matin Maka, 2 tora do rratarismo bases em clasiages exca, com fre tc toca absragies temporas La magi sovieiqe Mio d socialise er Russie. 1917-199, Pas, Eaton da Sel, 1995, p24. An dar excoivo Ponder dnias de propaganda eo terror pti, aeora dotlrn esis a atengto do estadoso pars a calahoragso da pri sociedade a0 regime, da complicda que we table ete Estado ¢sociedade litério ow nio do Estado Novo, como lembra Maria Helena Capelato, getaram algumas polémicas.* Para Mare Ferro,” é inguietante, na verdade, o processo de bbanalizagio do nazismo com a vulgarizagao da teoria do totali- tarismo, particularmente se considerarmos a contribuigio dos pr6prios estudiosos do assunto. Se antes da Segunda Guerra somente os regimes de Hitler ¢ Mussolini se definiam dessa ‘maneira, apds 1945 0 conceito se estendeu também para a Unido Soviética.*” Com Carl Friedrich, Zbigniew Brzezinski e, sobre- tudo, Ems Nolte," diz Ferro, a equiparagio dos campos de ex: terminio nazistas com os gulags soviéticos encobriu 0 racismo, tum dos pontos basicos da politica hitlerista, Em varios estudos, a conclusio, surpreendente, € a de que © nazismo, como uma Tj Maria Helen Rim Capea, Op. ct pp 197 ¢ sepsis Mare Feo. Mitra da Spada Gnera Mundi. Sto Palo, Ais, 1995. as sao naépoca de Stalin, di Etc Hoban, pes debt, ‘rocco trons, ssema svtico mio fo tole, O romance 1984, de George Orv, suger imagem de wma sociednde toa, vita de lavage cerbray onde ingutm esapava do ol vgtawe do Pre. "Tn € sem dvi ge Stalin ein quedo lease, deo ato. aera dv svitic, continua ator, nos importa com a6 dela {es sobre polities maria enna vidas do ere do pat {ho desde gue clas ao atingacm seu coiano cw vida coma, Somente troria “cence” do socal soviio. Osis “ho exerca fei ‘cmtrole da men" ito menos comegui "conver so do peosament’(.)"vemboradspuitianec serorizawe 3 wcedade. Eva dos extvemos. breve sel XX, 1914-1991. Sto Palo, Compania das Letras, 1995 9p 383-384, ‘Cat redihe Zhgnew Brci Toataron dttorsip and anton: ‘Cambridge, Harvard University Pres, 1956, Erte Nok, Nacionaliomae ¢ Uolceviames la ere ce eropes 1917-1945. Heng, Sanson Eira, © roruuismo € sua mistonia forma extremada do fascismo, surgi em reagio a0 “toralitaris: mo” sovidtico e, para se defender, foi obrigado a imiti-lo nos genocidios. Contradigto flagrante, diz Ferro. Na impossibilida- de de negar a existéncia das edmaras de gis, embora tivessem a ‘ousadia, as interpretagGes “revisionistas” e “negacionistas™ do nazismo responsabilizaram a URSS pelos grandes massacres e, por essa brecha, desculpabilizaram a politica nazi, apresentan- do exemplos variados de genocidios: nas coldinias européias, no faroeste norte-americano ou nas ditaduras dos paises pobres, entre outros exemplos, 0s exterminios de populagies intiras também aconteceram. Chega-se, portamto, a0 estgio avangado de normalizagio do nazismo — no Brasil, por exemplo, teria sido 0 caso do Estado Novo, um regime supostamente “tral trio”. Para o autor, definir 0 III Reich como “fascista" ou por generalizagdes como “totalitirio” € encobrie a caracteristica central do regime: 0 Sdio racial e © projeto de dizimagio em 'massa no somente de judeus, mas também de eslvos, ca deficientes fscos, cardiacos, entre outros. Assim, insist com razio 0 autor, “idemtificaro teror hitlersta ao terror da URSS corresponde a fazer tabula rasa da especifiidade do racismo, aque constitu um dos pontoshisicos da politica nazista de exter- _minio”. Tal equiparacio, segundo Ferro, contibui para 0 proces- s0 de banalizagio do nazismo no mundo aa.” A excessva vil nrizagio do termo, portant, minimiza 0 nazismo e, no mesmo ‘movimento, dilui os horrores perpetrados pelo Il Reich." ‘Trata-se, portant, de uma falsa questio disctie se o gover- no Vargas fol ow no, “totlitério”. © que deve ser questiona: do, como vem ocorrendo entre os especialstas da histra do socialismo, é a propria teoria sociolégica do totaliarismo, As vertentes do populismo de segunda geracig a aborda- gem que privilegia o bindmio repressio-propaganda, a reoria do controle social e 0 enfoque totalitério — t&m em comum tuma maneira de abordar as relagGes entre Estady ¢ sociedadey classe trabalhadora. Como em uma via de mio nica, de cima Para baixo, 3 luz do enfoque opressor oprimido, o Estado, todo-poderoso, pela violéncia fisica eideolégica, dominac sab, inga a sociedade, os rabalhadores em particlat, surgindo, des 5 modo, uma relagio desituida de inerasdo « interlocugio entre as partes. O Estado, com um poder desmedido, “total” em algumas verses, transforma a sociedade em elemento pas sivo, inerte ¢ vitimizado, Assim, no Brasil, em 1930, 1938 on

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