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Rio de Janeiro
11/12/2019
Sumário
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 1
2. OBJETIVOS ............................................................................................... 3
4. METODOLOGIA..................................................................................... 14
5. RESULTADOS ........................................................................................ 19
6. CONCLUSÕES ........................................................................................ 40
7. REFERÊNCIAS ....................................................................................... 41
1. INTRODUÇÃO
A matriz energética mundial é composta principalmente por fontes não
renováveis, como o carvão, o petróleo e o gás natural. Em 2015, a parcela de
contribuição somente de Petróleo e Derivados foi de 31,9 % (EPE, 2019). Essa
atividade de exploração e produção é de suma importância para a sociedade, porém traz
consigo um grande potencial de impacto ambiental.
Desde a exploração de jazidas de petróleo até as etapas de refino e produção de
petroquímicos, há impactos associados. Especificamente na etapa de perfuração de
poços de petróleo, os Cascalhos de Perfuração (CP) são um dos principais resíduos
gerados (ALMEIDA, 2016), os quais são fragmentos de rocha que podem apresentar
fluidos de perfuração aderidos e outros contaminantes. Com isso, diversos impactos
ambientais podem ser associados, de acordo com a disposição final desses resíduos,
como por exemplo o impacto na fauna bentônica em atividades offshore, quando
descartados diretamente no mar.
O Brasil tem um grande predomínio de atividades offshore de perfuração de
poços de petróleo. O cenário geral é de rigor ambiental, visto que os órgãos ambientais
exigem certos aspectos a serem seguidos quanto ao tratamento e disposição dos CP,
através de processos de licenciamento ambiental, a fim de que sejam mitigados seus
potenciais impactos. O órgão ambiental competente definiu condições cujo não
cumprimento impede o descarte dos cascalhos no mar (ALMEIDA, 2016). Porém a
realidade Brasileira carece de infraestrutura sedimentada para que sejam seguidas
algumas diretrizes.
Nesse contexto, a tese de dissertação desenvolvida por Paola Almeida e citada
anteriormente, de título “Análise Técnico-Ambiental de Alternativas de Processamento
de Cascalho de Perfuração Offshore” trouxe resultados interessantes para a comunidade
científica. Foi realizado um trabalho de coleta de dados para construção de inventário,
além de cálculos de métricas de sustentabilidade, para comparar diferentes alternativas
de disposição desses resíduos. As quatro opções avaliadas foram o descarte no mar,
reinjeção offshore, disposição em Aterros Industriais onshore e tratamento por micro-
ondas seguido de disposição também em Aterros Industriais onshore. Apesar de a
caraterística principal do trabalho ter sido calcular a emissão de CO2, CH4 e N2O para o
meio ambiente para os diferentes cenários, já possibilitou dar uma clara orientação de
quais opções tem maior probabilidade de causar impactos ambientais.
1
Todavia, apesar desse direcionamento inicial, é necessário se questionar qual o
impacto de diversas atividades a montante ao consumo de diesel nos equipamentos, a
fim de se tentar realizar uma análise mais aprofundada. Como exemplo, qual seria o
impacto do gasto energético e de material da confecção de embarcações e caminhões
para que se transporte os Cascalhos de Perfuração para uma base portuária? É possível
formular diversos questionamentos à cerca do tema, permitindo ampliar
consideravelmente a análise.
Sabe-se que para produzir uma análise adequada em uma Avaliação de Ciclo de
Vida, é necessário dispor de dados primários de qualidade. Porém, a obtenção destes
exige um grande trabalho de coleta. Além disso, já existem diversos softwares de
Análise de Ciclo de Vida, como OpenLCA (o qual foi usado no presente trabalho), Gabi
e SimaPro®, que vem a facilitar a utilização por parte do usuário, por permitirem
carregamentos de bases de dados que trazem consigo informações a respeito de
inúmeros processos, com suas contabilizações de todo o ciclo de vida, como construção
de peças e energia gasta, resgatando desde fluxos elementares da cadeia de ciclo de
vida. Uma das bases mais conhecidas é a base Ecoinvent, cujo presente trabalho
utilizou. A base contém uma grande quantidade de processos com valores de inventário
apropriados para a realidade de diversos países da Europa, além de outros como China e
Estados Unidos. Para o Brasil, por exemplo, a base Ecoinvent contempla processos já
fundamentados como os relativos à indústria sucroalcooleira (geração de energia ou
produção de açúcar).
Há que se considerar, porém, que tais bases de dados foram desenvolvidas em
contextos regionais, principalmente para a Europa, pioneira nesses estudos. Portanto,
não é incomum encontrar processos que não correspondem, de fato, a realidade
Brasileira dentro dessas bases. Mais ainda, é possível que não sejam encontrados alguns
processos que se deseja representar, configurando um desafio de modelagem, fazendo
com que se entenda a realização de modelagens mais simples para fins de
direcionamento de estudos mais aprofundados.
Nesse contexto, a motivação do presente trabalho é avaliar o impacto da
utilização de um software de ACV na modelagem, no contexto da disposição final de
Cascalhos de Perfuração apenas em Aterros Industriais Onshore. O presente estudo
ilustra os desafios associados a representação de processos, mesmo em softwares já
sedimentados de ACV. Mostra também a gama de informações que podem ser extraídas
do Software, salientando os cuidados que devem ser tomados ao tratar esses dados.
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2. OBJETIVOS
O objetivo principal é realizar uma comparação entre a modelagem obtida pela
tese de Paola Almeida e a modelagem utilizando o software OpenLCA, com a base
Ecoinvent 3.5, apenas para a alternativa de disposição de cascalhos de perfuração em
Aterros Industriais Onshore. Ademais, os objetivos específicos são:
• Reproduzir a modelagem obtida pela dissertação em questão no software
OpenLCA.
• Realizar uma segunda modelagem do mesmo sistema, porém utilizando os
processos disponíveis na base Ecoinvent 3.5.
• Realizar a comparação entre os resultados obtidos apenas para a classe de
impacto de Potencial de Aquecimento Global, visto que essa foi a única classe
avaliada pela dissertação.
• Mostrar os desafios em se fazer modelagens cujos sistemas não têm a
representatividade adequada de processos existentes na base utilizada, além dos
possíveis impactos da análise desses resultados.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
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Existem outras formas de se pensar ciclo de vida de um produto, como por
exemplo da obtenção das matérias primas até a confecção do bem final (craddle to gate)
e se pensar desde a obtenção das matérias primas até a sua reciclagem (craddle to
craddle). O mais importante é entender que em uma Avaliação de Ciclo de Vida o
impacto de cada estágio deve ser considerado, com ou sem a quantificação desses
impactos (MATTHEWS; HENDRICKSON; MATTHEWS, 2015).
Segundo a norma internacional ISO 14040, uma LCA – Life Cicle Assessment –
ACV – é definida como a “compilação e avaliação dos insumos, produtos e possíveis
impactos ambientais de um sistema de produtos ao longo de seu ciclo de vida”. Desta
forma, a ACV se configura como uma ferramenta de análise da carga ambiental de cada
produto em todos os estágios dos seus ciclos de vida – desde a extração de recursos,
passando pela produção dos materiais, peças do produto e produção do produto por si
só, e do uso do produto até a gestão após ser descartado, seja pelo reuso, reciclagem ou
disposição final (DE BRUIJN; VAN DUIN; HUIJBREGTS, 2007).
Portanto, a ACV é uma técnica que permite avaliar aspectos e impactos
ambientais associados a um produto, mediante alguns pontos importantes a serem
seguidos. Um deles é a compilação de um inventário de dados de entradas e saídas de
um sistema de produto (os fluxos). Outro ponto é a avaliação dos impactos ambientais
potenciais associados a essas entradas e saídas. Por fim, é necessário que se faça uma
interpretação dos resultados das fases anteriores em relação aos objetivos dos estudos.
Ainda, a norma ABNT NBR ISSO 14040 diz:
“Para que a ACV obtenha sucesso em apoiar a compreensão ambiental
de produtos, é essencial que a ACV mantenha sua credibilidade técnica
ao mesmo tempo em que proporciona flexibilidade, praticidade e
efetividade de custo na sua aplicação. Isto é particularmente verdadeiro
se se pretende aplicar ACV no âmbito das pequenas e médias empresas”
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É apresentada na Figura 1 a seguir um quadro resumido da estrutura para uma
ACV, modificada a partir da norma ISSO 14040:2006:
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Já a avaliação de impacto ocorre após serem gerados os resultados do inventário.
O resultado é uma longa lista de substâncias com potencial impacto, tanto ambiental
quanto humano, como por exemplo CO2, NOx, Hg, organoclorados, entre outros. Dessa
é feita uma avaliação da contribuição desses compostos em diferentes categorias de
impacto ambiental, como por exemplo aquecimento global, acidificação e
ecotoxicidade. (HEIJUNGS; SUH, 2013).
Abaixo seguem algumas aplicações que uma ACV permite fazer (DE BRUIJN;
VAN DUIN; HUIJBREGTS, 2007):
• Comparação de diferentes tipos de gerenciamento de resíduos para um
município, ou o desenvolvimento de uma nova estratégia de gerenciamento
• Avaliação dos benefícios ambientais de diferentes tipos de biomassa para
produção de eletricidade e papel
• Comparação estratégica de diferentes tipos de serviços de fretamento (rodovia,
ferrovia, hidrovia) para direcionar os investimentos em infraestrutura
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• A exatidão dos estudos de ACV pode ser limitada pela acessibilidade ou
disponibilidade de dados pertinentes, ou pela qualidade dos dados, por exemplo,
falhas, tipos de dados, agregação, média, especificidades locais;
• A falta de dimensões espaciais e temporais dos dados do inventário usados para
avaliar o impacto introduz incerteza nos resultados dos impactos. Esta incerteza
varia de acordo com as características espaciais e temporais de cada categoria de
impacto
Dessa forma deve-se usar a informação obtida de uma ACV como parte de um
processo decisório mais abrangente, ou utilizá-la para entender um cenário de um
processo tal que se permita solucionar problemas mais gerais. Por fim, comparar
estudos de ACV requer que as suposições e os contextos dos estudos sejam as mesmas,
sendo conveniente que essas suposições sejam explicitamente declaradas, por razões de
transparência (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT,
2014).
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Existem outras ferramentas que foram desenvolvidas que, devido à dificuldade
de se coletar uma grande quantidade de dados e avaliar os impactos ambientais com
detalhamento apropriado, tem em sua construção uma estrutura computacional mais
simples. As simplificações ocorrem em diferentes níveis, como: dados de entrada,
métodos de cálculo e interface gráfica. Algumas delas são a Quantis, Sustainable Minds
e LCA to go. Essas ferramentas são mais amigáveis, com uma abordagem mais imediata
e simplificada.
Apesar da facilidade de acesso, existem algumas barreiras e pontos fracos
inerentes a essas ferramentas. Numa visão comercial, dentre as ferramentas mais
robustas (como o OpenLCA), podem ser listadas as seguintes barreiras e pontos fracos
(ROSSI; GERMANI; ZAMAGNI, 2016):
Barreiras:
• Tempo despendido
• Conhecimento específico necessário
• Necessidade de fontes de dados econômicos para uma avaliação mais detalhada
• Grande quantidade de ferramentas disponíveis
Pontos fracos:
• Necessidade de uma grande quantidade de dados ao longo de todo o ciclo de
vida do produto
• Necessidade de dados de alta qualidade
• Necessidade de treinamento e experiência na ferramenta
• Necessidade de forte relação com fornecedores para que se forneçam os dados
desejados de um produto ou serviço comprado
Apesar disso, no ambiente acadêmico um software de acesso gratuito permite o
acesso dos estudantes a uma ferramenta computacional de ACV, principalmente quando
ela é robusta e aceita diversas bases de dados. Desta forma o OpenLCA pode ser
utilizado no ambiente acadêmico, promovendo uma aproximação dos alunos no
ambiente da Avaliação de Ciclo de Vida, mostrando como diversos processos
cotidianos podem impactar por exemplo na acidificação de solos, aquecimento global e
outras categorias de impacto (NETO, 2019).
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3.3. Impacto do Uso de Inventários Não Locais
Para que se consiga realizar uma ACV é necessário utilizar métodos de
avaliação de impacto ambiental. As informações necessárias para a utilização desses
métodos podem ser obtidas de 3 formas diferentes: Diretamente medidas, calculadas
com base em balanços de massa e energia ou, em última instância, estimadas por fatores
de consumo/emissão, desenvolvidos principalmente para medir representativos.
Diversos grupos criaram bases de dados com essas informações. Algumas bases
de dados ambientais contendo esses fatores foram desenvolvidas considerando dados
específicos para um país, enquanto outras foram desenvolvidas considerando dados
mais gerais, como médias regionais ou mundiais.
Enquanto na Europa o desenvolvimento dessas bases de dados já se encontra em
estágio avançado, o Brasil ainda está no estágio inicial do desenvolvimento (HISCHIER
et al. 2007, apud OSSÉS DE EICKER et al., 2010). Uma das principais causas é a
coleta de dados por parte da Indústria. Como consequência, os usuários brasileiros são
forçados a usar bases de dados de outras localidades. Porém, é esperado que em países
mais desenvolvidos o nível tecnológico e o desempenho ambiental sejam diferentes para
uma ACV, em relação a países da América Latina por exemplo. Ademais, a utilização
dessas bases de dados corre o risco de gerar resultados imprecisos, subestimando as
emissões e o consumo de recursos para as atividades industriais (DESSUS et al.,1994
apud OSSÉS DE EICKER et al., 2010).
Foi realizado um estudo para verificar a aplicabilidade de bases não locais para a
realidade da América Latina. Segundo o estudo, as bases que utilizam os guias
EMEP/EEA (Air Pollutant Emission Inventory) e EPA AP-42 (Environmental
Proteccion Agency) são as mais adequadas para o desenvolvimento de inventários de
emissões aéreas de atividades industriais na América Latina. Já as bases estruturadas
sob o guia da IPCC de 2006 (Intergovernmental Panel on Climate Change) atingiram
uma menor pontuação no comparativo de adequação à realidade Latino Americana
(OSSÉS DE EICKER et al., 2010a).
Em trabalho desenvolvido por OSSÉS DE EICKER, et al., 2010b, verificou-se a
aplicabilidade de utilizar a base Ecoinvent, fazendo o estudo do inventário (LCI – Life
Cycle) e de ACV, em relação aos impactos da produção do fertilizante brasileiro
Superfosfato Triplo. Foi feita uma comparação entre a utilização da base Ecoinvent,
uma base Ecoinvent modificada e uma base de dados brasileira.
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Os resultados mostraram que é possível a aplicação da base Ecoinvent com
cautela. Atribui-se a diferença dos resultados devido a questões de disparidade
tecnológica e situação ambiental do Brasil. De maneira geral é esperado que processos
industriais tenham uma menor variação em relação a processos agrícolas, enquanto
fatores climáticos desempenham uma larga diferença. Devido a ausência de bases de
dados locais Latino Americanos, a aplicação de bases não locais continuará a ser um
problema crucial (OSSÉS DE EICKER et al., 2010b).
Portanto, uma estratégia para superar as limitações de bancos de dados não
locais para a indústria latino-americana é a combinação de dados validados de bancos
de dados internacionais com conjuntos de dados locais recém-desenvolvidos (OSSÉS
DE EICKER et al., 2010a).
Como pode ser observado, o fluido de perfuração passa por dentro da coluna de
perfuração. Esse fluido remove os fragmentos de rocha (cascalhos de perfuração) até a
superfície, retornando pelo anular da broca de perfuração.
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Os fluidos de perfuração são formulações químicas constituídas por uma base,
que pode ser aquosa ou não aquosa. Portanto, são denominados de Fluido Base Aquosa
(FBA) ou Fluido Base Não Aquosa (FBNA). Eles têm diversas funções na atividade de
perfuração, dentre elas: remove e transporta os cascalhos para a superfície; resfria e
lubrifica a coluna e broca de perfuração; controla a pressão das formações rochosas e
mantém a estabilidade do poço.
A geração de CP é variável, porém é mais comum que haja maior geração nas
fases iniciais de perfuração, devido ao maior diâmetro de perfuração. Para o Brasil, as
estimativas são apresentadas em estudos isolados, sendo reportada, por exemplo, a
geração de cerca de 80.000 toneladas de cascalho por ano apenas na região da Bahia
(PETROBRAS, 2009 apud FIALHO, 2012)
Quanto as suas características físico-químicas, é composto por uma variedade de
minerais, que existirão de acordo com a formação rochosa a ser perfurada. A
granulometria pode variar de acordo com a velocidade de perfuração, tipo de formação
perfurada e peso do fluido. Reporta-se que a densidade do cascalho tratado varia entre
2,2 a 2,7 g/cm3 (PAGE et al, 2012).
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3.6. Disposição em Aterro Industrial Onshore
Antes da disposição dos CP em aterros industriais é necessário que se faça o seu
pré tratamento na plataforma offshore. Utiliza-se o Sistema de Controle de Sólidos (SSC
– Solid System Control). Após isso, são armazenados em Cutting Boxes, depois
submetidos ao transbordo para o porto por meio de embarcação de apoio e, por fim,
submetidos ao transbordo rodoviário até o Aterro Industrial. A Figura 4 a seguir
representa um SSC:
Figura 4: Exemplo de um Sistema de Controle de Sólidos
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Após todas as etapas necessárias, segue-se com o processo principal a que esse
trabalho se destina fazer a comparação. Esta operação consiste na disposição dos
Cascalhos de Perfuração para Aterros de resíduos Industriais, podendo ser Classe I ou
II, de acordo com a norma ABNT 10.004:2004. No Brasil, a disposição final em aterros
é a alternativa escolhida quando o descarte no mar não é permitido.
O processo de disposição de resíduos ocorre de maneira controlada, baseados em
critérios de engenharia e normas operacionais específicas, permitindo a proteção do
meio ambiente, mitigação de impactos e diminuição de riscos à saúde pública. Procura-
se, construí-los em áreas de baixa permeabilidade, obedecendo também as normas que
garantam o confinamento de resíduos, sistema de drenagem adequado, tratamento de
efluentes e monitoramento de lençol freático (ALMEIDA, 2016).
Para o caso da disposição dos CP, são envolvidas diversas etapas, cujos custos
são elevados, além do emprego de uma quantidade considerável de equipamentos. As
principais etapas são:
• Armazenamento dos CP em Cutting Boxes (CB) após pré tratamento no SSC;
• Transferência CB, do navio-sonda para a embarcação de apoio, pelo emprego de
guindaste e empilhadeira
• Transbordo para uma base portuária pela embarcação de apoio
• Transferência as CB, da embarcação de apoio para os caminhões, utilizando
guindaste e empilhadeira
• Transbordo das CB, da base portuária para uma Central de Resíduos, por meio
de caminhões de carga seca
• Transbordo, dos CP, da Central de Resíduos para o Aterro Industrial, por meio
de caminhões caçamba
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4. METODOLOGIA
Foi feita uma comparação entre os resultados obtidos pela dissertação de Paola
Almeida e a modelagem em ferramenta computacional, para a disposição de Cascalhos
de Perfuração em Aterro de Resíduos Industriais Onshore. Os resultados produzidos
pela tese, em relação às categorias de impacto ambiental, contemplaram apenas as
contribuições para a categoria de Potencial de Aquecimento Global (GWP – Global
Warming Potential).
Para a modelagem computacional, foi utilizado o software OpenLCA, versão
1.9. Foi utilizada a base de dados Ecoinvent, versão 3.5, disponibilizada para esse
trabalho com fins acadêmicos. Foram feitas 3 modelagens:
• Modelagem 1: Reprodução dos resultados obtidos pela dissertação, utilizando
as informações disponibilizadas no documento. Esta modelagem não considera
os potenciais impactos associados aos processos a montante.
• Modelagem 2: Quase idêntica a modelagem 1. A única diferença é a quantidade
de combustível consumida pela operação de transporte da embarcação de apoio,
a qual faz o transbordo das Cutting Boxes. Essa modelagem foi feita por ser
detectado um pequeno erro na dissertação em que, num primeiro momento é
declarada uma determinada quantidade de diesel consumida quando a
embarcação está em standby (0,13249 m³/h), porém foi utilizado outro valor no
momento do cálculo (0,025357 m³/h).
• Modelagem 3: Utilizando os dados e processos disponíveis na base de dados da
Ecoinvent 3.5. os fluxos utilizados nessa modelagem levam em consideração os
processos a montante.
Método de Avaliação de Impacto utilizado (Impact Assessment Method):
Utilizou-se o método IPCC 2007. Foi necessário fazer uma mudança nos valores
dos fatores GWP (Global Warming Potential) do método disponível no software, pois a
dissertação utilizou os valores recomendados pela United Nations Framework
Convention on Climate (UNFCCC) de 2002, que são: CO2 = 1, CH4 = 21, N2O = 310
Utilização do Método de Avaliação de Impacto ReCiPe Endpoint (H):
Por fim, os resultados da modelagem 3 também foram calculados com o método
de avaliação de impactos ReCiPe, para que também fosse possível avaliar quais os
possíveis impactos do processo nas demais categorias de impacto ambiental que não a
de Potencial de Aquecimento Global.
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4.1. Premissas do Cenário
Como descrito ALMEIDA, 2016, as premissas são as seguintes:
1. A análise é apresentada para o caso de um único poço, hipotético, perfurado
na área dos reservatórios do pré-sal da Bacia Sedimentar Marítima de
Santos;
2. A base de apoio marítima utilizada para o recebimento dos resíduos está
localizada no Porto de Niterói, município de Niterói – RJ;
3. Considera-se que a unidade de perfuração é um navio-sonda e que o poço de
referência está localizado em lâmina d’água de 2000 m, a 250 km de
distância do Porto de Niterói;
4. É assumido que a sonda possui sistema de controle de sólidos e SSC
instalados e cuja eficiência permite atingir o limite de teor de base orgânica
do fluido aderido, por peso de cascalho úmido, de até 6,9 % após tratamento;
5. São considerados como pré-existentes nos cenários: i) SSC a bordo da sonda
de perfuração; ii) infraestrutura logística e portuária consolidada; iii) central
de resíduos com unidade de tratamento térmico por micro-ondas; e iv) aterro
de resíduos sólidos industriais. As instalações e as empresas de transporte
são consideradas operacionais e licenciadas junto ao órgão ambiental
competente;
6. Em todos os cenários, assume-se que a operação ocorre em condições ideais,
sem paradas para reparos ou tempo perdido devido a condições
meteoceanográficas adversas;
7. A análise considera como unidade funcional 228 m3 de CP gerado nas fases
do poço perfurado com Fluido Base Não Aquosa (FBNA)
8. O volume de CP gerado durante a perfuração é estimado com base nas
dimensões do poço e percentagem de washout (fator de alargamento).
Optou-se pela utilização dos percentuais de washout sugeridos em Pivel et
al. (2009) e USEPA (2000): 0% para fase I, 30% para fase II e 7,5% para as
fases III e IV. Não é considerado o fator de empolamento das partículas;
9. Densidade do CP é 2,6 g/cm3 (PEREIRA, 2010);
10. Custos específicos de desmobilização da infraestrutura não são considerados
na análise (ou seja, abandono do poço de injeção, encerramento do aterro
sanitário, retirada de equipamentos instalados na sonda de perfuração);
15
11. O mesmo tipo de fluido de perfuração é utilizado em todos os cenários. Nas
fases com retorno, o sistema de controle de sólidos permite a recuperação de
parte do FBNA aderido aos CPs. Portanto, a análise não considera os custos
associados ao fluido;
12. A análise não abrange o tratamento de efluentes gerados durante os
processos de tratamento de cascalhos, tais como o fluido recuperado no
secador de cascalho ou a fase líquida resultante do tratamento por micro-
ondas;
13. No caso de transporte para terra, a disposição final dos resíduos sólidos
assume 100 % para Aterro de Resíduos Industriais, mesmo após tratamento
térmico com micro-ondas;
14. No Brasil, é permitido o descarte no mar de cascalhos gerados durante a
perfuração com FBA. Esse tipo de fluido é utilizado durante a perfuração das
fases sem retorno para a plataforma, sendo assumido que o descarte de FBA
e CP a eles associados é permitido em conformidade com as diretrizes do
IBAMA. Assim, a análise de sustentabilidade não abrange o caso da gestão
de CP associados a FBA;
15. O compartimento relacionado ao meio biótico não é considerado na análise
comparativa;
16. A distância entre a base portuária e a Central de Resíduos é de 27 km;
17. A distância entre a Central de Resíduos e o Aterro Industrial é de 16 km;
18. A disposição final dos resíduos sólidos é em um Aterro de Resíduos
Industriais Classe II, localizado no estado do Rio de Janeiro. Não ocorre o
descarte de CPs associados a FBNA para o mar;
19. O transporte marítimo é realizado em embarcação com capacidade de carga
de 20 CBs, a uma velocidade de 12 nós, contratada por 12 dias para suporte à
operação de transporte dos resíduos;
20. No transporte marítimo, 01 (uma) viagem de corresponde ao transporte das
CBs vazias do porto até a sonda de perfuração, seguido pelo retorno do barco
de apoio com as CBs cheias até a base portuária;
21. É considerado um total de 60 CBs de 25bbl, com peso bruto máximo de
13,608 toneladas. Ainda que, na prática, existam limitações de espaço é
assumido que 50% das CBs permanecem a bordo da sonda de perfuração;
16
22. O transporte rodoviário é dividido em dois trechos: “Porto – Central de
Resíduos” e “Central de Resíduos – Aterro”. No trecho “Porto – Central de
Resíduos” são utilizados caminhões de carga seca e no trecho “Central de
Resíduos – Aterro”, caminhão caçamba, ambos com capacidade de até 30t;
23. 01 (uma) viagem “Porto – Central de Resíduos” representa o transporte de
CBs cheias do Porto até a Central de Resíduos, seguido pelo retorno do
caminhão com CBs vazias a serem transportadas para a sonda de perfuração.
01 (uma) viagem de transporte “Central de Resíduos – Aterro” corresponde
ao transporte de CPs a granel da Central de Resíduos até o Aterro Industrial,
seguido pelo retorno do caminhão vazio;
24. Assume-se que não há contaminação dos CPs por óleo da formação e que ele
é classificado como resíduo Classe II, conforme ABNT 10004:2004.
17
Os CPs são transferidos para caminhões com caçamba basculante, a granel, para
transporte e disposição final em Aterro de resíduos Industriais. Após limpeza e
manutenção, as CB vazias são transportadas de volta ao porto por caminhões e retornam
para a sonda de perfuração em embarcação de apoio. Assume-se que a limpeza das CB é
realizada com água de reuso da própria Central de Resíduos sendo, portanto,
desconsiderada neste estudo devido à ausência de dados disponíveis.
O número de viagens (ida e volta) para o transporte marítimo e rodoviário foi
estimado separadamente, a partir da divisão do total de cascalho a ser destinado em
relação à capacidade de transporte estabelecida para a embarcação (20 CB) e para os
caminhões (30 t). Considerando-se que uma CB tem capacidade de 25 bbl (3,975 m3) e
peso bruto máximo de 13,6t, seriam necessárias aproximadamente 58CB para transporte
do cascalho gerado (228 m3), tendo sido adotado o total de 60 CB neste cenário. Como
o cascalho não sofre tratamento, seu volume é considerado constante até o final do
processo. Dessa forma, o número de viagens é estabelecido em 03 (três) e 30 (trinta),
para o transporte marítimo e rodoviário (Porto – Central de Resíduos), respectivamente.
O transporte da Central de Resíduos até o Aterro Industrial ocorre com uso de
caminhões basculantes, a granel. Portanto, descontado o peso das CB e considerando-se
a massa de cascalhos a ser descartado (592,8 t), tem-se o total de 20 viagens para esse
percurso. As distâncias totais viajadas são iguais ao produto entre o número de viagens
e as distâncias médias assumidas neste estudo.
A Figura 5 ilustra, em forma de fluxograma, o processo de disposição dos CP
em Aterros de Resíduos Industriais:
18
5. RESULTADOS
Independentemente de as modelagens considerarem ou não os processos a
montante dos fluxos de entrada, todas elas se basearam na estrutura apresentada pela
Figura 6, em que o Processo de disposição final dos CP em Aterros é subdivido em 5
subsistemas:
i) Secagem de Cascalho
ii) Armazenamento em CB
iii) Transbordo e Manuseio
iv) Transporte Marítimo
v) Transporte Rodoviário
5.1. Modelagem 1
19
Como pode ser observado, não há nenhum processo a montante aos subsistemas,
considerando somente a entrada de diesel nos processos.
5.1.2. Inventário
Todos os resultados originais de inventário podem ser encontrados na
dissertação a que esse trabalho se baseia (ALMEIDA, 2016), que consta referenciada ao
final do trabalho. Já os resultados de inventário obtidos pela utilização do Software
podem ser visualizados na Figura 8:
20
Tabela 1: Resultados de emissão da dissertação
21
Como pode ser observado, os valores obtidos pelo software são
aproximadamente iguais aos valores totais obtidos pela dissertação. Isso mostra que é
possível reproduzir, no ambiente computacional, os dados resultados de uma
modelagem mais simples. Para o caso em específico em questão, foi necessário
desconsiderar os fornecedores do diesel, para que não fossem contabilizados os
possíveis impactos da produção desse combustível no cálculo.
Apresenta-se a seguir a Árvore de Contribuições dos subsistemas, seguida com a
contribuição de cada subsistema na categoria GWP, de maneira gráfica, para melhor
visualização dos resultados e posterior comparação com as outras modelagens.
Figura 11: Impacto de cada subsistema na categoria de Mudança Climática para Modelagem 1
22
Com resultado de acordo com o obtido na dissertação, a maior contribuição para
a categoria de mudança climática é o transporte marítimo, com quase 60% de
contribuição, diretamente relacionado ao consumo de diesel da embarcação de apoio.
Uma observação interessante é que o transporte rodoviário tem a menor das
contribuições, apesar de serem feitas 30 viagens do porto até a central de resíduos e 20
viagens da central de resíduos até o Aterro Industrial. A emissão do transporte
rodoviário é menor, inclusive, do que as atividades de transbordo e manuseio. A
operação de Secagem do Cascalho, porém, contribui com aproximadamente 28 % das
emissões.
Deve-se salientar, porém, que os resultados podem não representar a realidade,
visto que ao se olhar apenas o consumo de diesel não está se considerando toda a
contribuição da cadeia de produção de máquinas e transportes, como a energia gasta e
os metais associados por exemplo.
5.2. Modelagem 2
5.2.2. Inventário
É apresentado a seguir o inventário para a modelagem 2. Em relação aos
componentes, nada muda. Há diferença apenas nos valores obtidos:
23
Figura 12: Resultado de inventário para a Modelagem 2
24
Figura 13: Árvore de Contribuição (contribution tree) para a modelagem 2
Figura 14: Impacto de cada subsistema na categoria de Mudança Climática para Modelagem 2
5.3. Modelagem 3
25
Como pode ser observado, existe uma quantidade muito maior de processos, ao
se considerar todo o ciclo de vida dos fluxos de entrada. A figura apresentada não
consta todas as expansões dos processos a montante. São ao todo 11487 processos
(contabilizando os criados manualmente para a modelagem). Pelo número de processos
descritos, é possível ter noção da capacidade do software em considerar o ciclo de vida
de todas as entradas. Porém, muitos desses processos tem pouca contribuição. Os
processos com maior contribuição serão abordados no tópico 5.4.4, que trata do impacto
na categoria GWP, como apresentado também para as modelagens anteriores.
5.3.2.1. SSC
A Figura 16 apresenta os fluxos de entrada considerados para o subsistema de
Secador de Cascalho:
Figura 16: Modelagem do subsistema i) SSC
26
Os fluxos utilizados foram relativos aos processos chamados de “machine
operation”. O termo “machine”, para a base, não é apenas o motor e sim todo o
equipamento. Esses processos representam a operação de máquinas de
construção/industriais/logísticas. O termo “high load factor” é um fator que
considerado de acordo com o tipo de equipamento. No documento NR-005d da EPA, é
possível identificar esse fator por tipo de equipamento, em que os fatores são “high load
factor”, “low load factor” e “Avg 7-cycle” (EPA, 2010). Também há uma classificação
do “Load Factor” de acordo com a classe de potência. Foi usada essa segunda opção,
visto que tanto a rosca transportadora quanto o secador de cascalho não existem
explicitamente.
Portanto, foram inseridos dois fluxos, já que a base subdivide os processos de
acordo com o consumo de potência do tipo de máquina. O fluxo de potência menor que
18,64 kW é relativo à rosca transportadora. Já o outro é relativo à operação do Secador
de Cascalho. Ambos os valores foram retirados da dissertação, para se encaixar na
classe adequada. Deve-se salientar que o processo “machine operation” contempla
várias entradas, como da energia para construção da máquina, metais, entre outros.
Um dos fluxos de entrada desse processo é denominado de “building machine”.
Acredita-se que esse processo pode ser uma grande fonte de erro. As máquinas de
construção “bulding machines” abrangem uma ampla variedade de veículos, como
finalizadores de asfalto, rolos compressores, motoniveladoras, compressores e
guindastes (STOLZ; MESSMER; FRISCHKNECHT, 2016). Ainda, segundo a própria
base Ecoivent:
“O módulo descreve uma máquina fictícia feita 100% de aço. Presume-se que o
consumo de energia para o processo de produção seja o mesmo que o consumo de
energia para a produção de um carro”.
Dessa forma, sabendo que não era possível representar os processos de uma
rosca transportadora e de um secador de cascalho, considerou-se os fluxos apresentados,
sabendo que erros poderiam estar sendo carregados.
A quantidade de horas inseridas é a unidade para “machine operation”. Portanto
foi inserida a quantidade de horas em que esses equipamentos ficam em operação
(segundo as informações da dissertação).
27
5.3.2.2. Armazenamento em CB
Já para o subsistema de armazenamento e CB, foram consideradas as seguintes
entradas:
Figura 17: Modelagem do subsistema ii) Armazenamento em CB
28
Os fluxos de “machine operation” com o “load fator” de “steady-state” são
relativos aos 2 guindates. Já o “high load factor” é relativo às empilhadeiras (EPA,
2010). Os tempos de utilização dos equipamentos foram retirados da dissertação a que
esse trabalho se baseia.
Portanto deve ser uma embarcação com no mínimo 250 toneladas de deadweight
tonnage. Dessa forma, deve-se entender qual seria a embarcação tal que suportasse essa
quantidade de peso em unidades de “dwt”.
O peso total da embarcação também é necessário, pois a base Ecoinvent
considera o consumo de combustível em relação a quanto o barco transporta de
toneladas por quilômetro (t.km). Portanto, quando está com a carga, tem o seu próprio
peso somado ao dwt. Quando está sem a carga, tem o seu peso total menos o peso da
carga (aproximadamente 246 toneladas).
29
A referência a seguir pode dar uma estimativa, relacionando o peso da
embarcação (vessel displacement) com o peso suportado, em dwt:
Figura 20: Tabela com a relação entre o peso da embarcação (vessel displacement) e dwt
30
5.3.2.5. Transporte Rodoviário
A seguir é apresentada a Figura 21, com a modelagem do subsistema de
transporte rodoviário:
O caminhão de carga seca transporta 2 CB cheias por vez. Isso significa carregar
aproximadamente 25 toneladas. Já o caminhão caçamba carrega o equivalente a massa
de cascalho presente em 3 CB, que significa aproximadamente 30 toneladas. Caminhões
que carregam essa quantidade de carga pesam, no mínimo, 7 toneladas (GUIA DO
TRC, 2019). Portanto, o fluxo adequado para se utilizar da base Ecoinvent seria:
“Transport, freight, lorry > 32 metric ton”
Como pode ser observado, existe uma classificação adicional denominada
EURO 3. Isso significa um padrão de emissão de máquinas que tem diesel como
combustível. Quanto maior o número, mais restritas são as emissões, por exemplo de
SOx e NOx. Portanto, considerando a realidade brasileira, optou-se por utilizar o padrão
menos restrito disponível na base, que no caso é o EURO 3.
A unidade também é tonelada carregada multiplicada por quilometragem
percorrida. Portanto os caminhões fazem o trajeto de ida carregados e o trajeto de volta
descarregados. D2 e D3 são as distâncias do Porto até a Central de Resíduos e da
Central e Resíduos até o Aterro, Respectivamente.
31
5.3.3. Inventário
A seguir é apresentada uma pequena fração do inventário obtido ao seu utilizar a
base Ecoinvent:
32
5.3.4. Potencial de Aquecimento Global
A Figura 23 a seguir mostra os resultados obtidos para a modelagem 3:
Figura 23: Resultados de emissão para a modelagem 3
33
Figura 24: Processos com maior impacto na categoria de Mudança Climática para Modelagem 3
34
A árvore de contribuição também pode fornecer informações interessantes,
como pode ser observado na Figugura
35
Pela árvore de decisão se pode perceber novamente que a operação do secador
de cascalho também tem contribuição relevante, juntamente ao armazenamento das CB.
Porém para o armazenamento dos CP em CB a contribuição maior é devida a produção
das ligas metálicas em detrimento da operação das roscas transportadoras. Não seria
possível ter observado tal tipo de informação caso não fosse inserida a quantidade de
metal necessária para a construção das CB (o que acontece na modelagem original da
dissertação). Muito provavelmente, com maiores informações de ciclo de vida das
construções das CB, como a energia necessária para sua usinagem, seria observada uma
contribuição ainda maior nas emissões.
A seguir é apresentado um comparativo entre o resultado dos processos, numa
visão geral, para a emissão de CO2eq:
Figura 26: Comparativo entre as modelagens
36
5.3.5. Resultados Utilizando o Método ReCiPe Endpoint (H)
O objetivo principal da Metodologia ReCiPe é de transformar a longa lista de
resultados de inventário em um número limitado de indicadores. Esses indicadores
expressam a gravidade relativa de uma categoria de impacto (RIVM, 2011). Esse
resultado adicional foi gerado para verificar se o transporte marítimo continua sendo o
processo de maior impacto, mesmo com metodologias diferentes, inclusive em suas
filosofias (IPCC verifica impactos midpoint e ReCiPe pode verificar tanto midpoint
quanto endpoint).
Os indicadores intermediários (midpoints) focam em problemas tipicamente
abordados nesse trabalho, como as mudanças climáticas ou acidificação. Os indicadores
finais (endpoints) mostram o impacto ambiental em 3 níveis de agregação, sendo eles os
efeitos sobre a saúde humana; efeitos sobre a biodiversidade e efeitos sobre a escassez
de recursos. A conversão de pontos médios em pontos finais simplifica a interpretação
dos resultados da LCIA. No entanto, a cada etapa da agregação, a incerteza nos
resultados aumenta (RIVM, 2011). Existem 3 métodos ReCiPe, tanto para endpoint
quanto para midpoint, que são eles:
Individualist: Curto Prazo. Visão otimista que as tecnologias poderão resolver
os problemas no futuro.
Hierarchist: Consensual. Considerado o modelo padrão. Utilizado em diversas
modelagens científicas.
Egalitarian: Longo prazo, baseado na ideia de precaução.
37
Percebe-se claramente que a atividade principal impactada na depleção de
recursos é a atividade petrolífera. Não obstante, há também grande impacto na
mineração de ferro. Isso ocorre devido a grande quantidade de metal usado nas
embarcações, Cutting Boxes, guindastes, empilhadeiras e caminhões. Apresenta-se a
seguir o impacto total sobre o ecossistema:
38
Figura 30: Árvore de contribuição (contribution tree) para a saúde humana, Modelo 3, ReCiPe (H)
39
6. CONCLUSÕES
A ACV é uma ferramenta que permite tomar decisões quanto a melhoria de
processos, principalmente no aspecto de impactos ambientais. Permite entender o
quadro geral do impacto de cada processo em seu sistema de estudo.
Num primeiro momento foi possível reproduzir fielmente os resultados obtidos
pela dissertação a que esse trabalho se baseia, no software Open LCA. Ele se caracteriza
com uma ferramenta gratuita e de fácil acesso para realizar estudos de ACV. É
necessário um certo treinamento inicial na ferramenta computacional para conseguir dar
seguimento ao estudo do sistema com o qual se deseja trabalhar.
A modelagem sem a utilização de ferramenta computacional produz resultados
menos complexos. Apesar disso, é possível notar que a informação extraída, no que
tange o direcionamento de quais processos produzem mais impacto no seu sistema, é
basicamente a mesma. Em contrapartida, se tem uma grande quantidade de tempo
despendido na coleta dos dados. A utilização do software traz consigo um ambiente
virtual de fácil acesso às informações, desde que uma base de dados seja previamente
carregada no software. Outra facilidade da utilização do OpenLCA é aproximar o aluno
do ambiente da ACV.
Foi possível construir outra modelagem, mais complexa, utilizando dados da
base Ecoinvent, que também se mostrou representativa do cenário de disposição de
Cascalhos de Perfuração. A utilização de uma base de dados permite um ganho de
tempo expressivo em relação a etapa de coleta de dados primários ou busca por
referências. Além disso, as informações pré-existentes de processos já estabelecidos
permitem uma avaliação mais detalhada, mostrando as diferentes moléculas cujo
processo emite, diferentes formas de gasto energético, qual o processo a montante que
causa mais impacto no seu sistema de estudo, dentre outras informações.
Deve-se ter, porém, grande cuidado ao utilizar bases de dados cujos processos
não consideram a realidade local. A tecnologia disponível em determinado país,
juntamente com o cenário ambiental, pode ter grande impacto nos processos. Utilizar
processos que não seja adequadamente representativo da realidade (por exemplo a
realidade Europeia frente a Sul-americana) podem produzir resultados sub ou
superdimensionados. Apesar disso, ainda permitem fornecem um direcionamento geral.
Portanto, não se aconselha tirar conclusões assertivas de um processo em específico, a
não ser que este represente fielmente a realidade.
40
7. REFERÊNCIAS
EPA. Median Life , Annual Activity , and Load Factor Values for Nonroad Engine
Emissions ModelingEPA-420-R-10-016. NR-005d. U.S. Environmental Protection
Agency. Washington D.C.: [s.n.].
41
GUIA DO TRC. Tipos de veículos e suas capacidades de carga. Disponível em:
<http://www.guiadotrc.com.br/guiadotransportador/veiculos_carga.asp>. Acesso em: 2
dez. 2019.
OSSÉS DE EICKER, M. et al. The applicability of non-local LCI data for LCA.
Environmental Impact Assessment Review, v. 30, n. 3, p. 192–199, 2010b.
42
PAGE, P. W.; GREAVES, C.; LAWSON, R.; HAYES, S.; BOYLE, F. Options for the
Recycling of Drill Cuttings. Proceedings SPE/EPA/DOE Exploration and Production
Environmental Conference, San Antonio, Texas, U.S.A. 10-12 March, 2003. Society of
Petroleum Engineers International, Richardson, Texas, USA: 2003. SPE Paper 80583
RIVM, N. N. I. FOR P. H. AND THE E. LCIA: the ReCiPe model. Disponível em:
<https://www.rivm.nl/en/life-cycle-assessment-lca/recipe>. Acesso em: 10 dez. 2019.
ROSSI, M.; GERMANI, M.; ZAMAGNI, A. Review of ecodesign methods and tools.
Barriers and strategies for an effective implementation in industrial companies. Journal
of Cleaner Production, v. 129, p. 361–373, 2016.
43