Você está na página 1de 23

TENSÕES ATUANTES NUM MACIÇO DE TERRA

 Introdução - Definição de tensão


 Tensões devidas ao peso próprio do solo.
 Cálculo das tensões geostáticas verticais.
 Pressão neutra e conceito de tensões efetivas
 Cálculo das tensões geostáticas horizontais

DISCIPLINA: COMPORTAMENTO MECÂNICO DOS SOLOS


PROFESSOR: RAFAEL LUIS LOBATO LISBOA, M.Sc GEOTECNIA
TENSÕES ATUANTES NUM MACIÇO DE TERRA

 Introdução - Tensões no solo

 O solo ao sofrer solicitações se deforma, modificando o seu volume e sua forma iniciais. A
magnitude das deformações apresentadas pelo solo irá depender de suas propriedades
elásticas e plásticas e do carregamento a ele imposto.

 Nos solos ocorrem tensões devido:


- ao seu peso próprio (geostáticas) e
- a carregamentos externos em superfície (induzidas) (aumento ou diminuição)

 O conhecimento das tensões atuantes em um maciço de terra é de vital importância no


entendimento do comportamento de praticamente todas as obras de Engenharia Geotécnica.
 CONCEITO DE TENSÕES EM UM MEIO PARTICULADO

 Como a parcela sólida dos solos é constituída por partículas, as forças que são transmitidas a eles
são suportadas pelo conjunto (arranjo) destas partículas, e pela água e ar dos vazios.

 A maneira pela qual as forças são transmitidas entre partículas é muito complexa e depende do
tipo de mineral:

- partículas maiores (as 3 dimensões ortogonais são  iguais), como siltes e areias:
a transmissão de forças se faz por meio do contato direto de mineral a mineral.

- partículas de mineral argila: as forças em cada contato são muito pequenas e a


transmissão pode ocorrer através da água quimicamente adsorvida.

Em qualquer caso, a transmissão se faz nos contatos e, portanto, em áreas muito reduzidas em
relação à área total envolvida.
 Um corte plano em uma massa de solo seco interceptaria grãos e vazios e, eventualmente, uns contatos.

 Considere-se que tenha sido possível colocar uma placa plana no interior do solo, como na figura. Os diversos
grãos transmitirão forças à placa, que podem ser decompostas em forças normais e forças tangenciais à
superfície da placa.

 A somatória das componentes normais ao plano, dividida pela área total que abrange as partículas em que
esses contatos ocorrem é a tensão normal, . De modo semelhante, a somatória das componentes
tangenciais dividida pela área é a tensão cisalhante, .

placa plana
 Tensões devidas ao peso próprio do solo

 Nos solos, ocorrem tensões devido ao peso próprio e às cargas aplicadas (aumento ou alívio).

 Na análise do comportamento dos solos, as tensões provenientes do peso próprio têm valores
consideráveis, e não podem ser desconsideradas.

 A distribuição de tensões no solo devido ao seu peso próprio pode resultar em um problema
razoavelmente complexo, porém, existe uma situação freqüentemente encontrada na engenharia
geotécnica, em que o peso do solo propicia um padrão de distribuição de tensões bastante
simplificado. Isto acontece quando:

- a superfície do solo é horizontal, e


- as propriedades do solo não variam muito na direção horizontal.
 Quando a superfície do terreno é horizontal,
aceita-se intuitivamente, que a tensão atuante
num plano horizontal a uma certa
profundidade seja normal ao plano. Não há
tensão de cisalhamento neste plano, as
componentes das forças tangenciais
ocorrentes em cada contato tendem a se
contrapor, anulando a resultante.
 Num plano horizontal, A, acima do nível de
água, atua o peso de um prisma de solo com
peso específico g.
 O peso do prisma dividido pela área, indica a Peso do prisma P  g .V
tensão vertical: g .V g .zA .área
v  v   g .z A
área área
 Cálculo das tensões geostáticas verticais
 Considere dois blocos de pesos P1 e P2, superpostos. As tensões de contato desses blocos sobre uma
superfície horizontal são assim determinadas:
Peso total do prisma Volumes
A
P  P1  P2 V1  Ah1
P  V1 g 1  V2 g 2 V2  Ah 2
P  A h1 g 1  A h2 g 2
 Como não existem forças horizontais, as tensões cisalhantes são nulas.
 Tensão vertical total na base do prisma

P Ah1g 1  Ah2 g 2
 
A A

  h1 g 1  h 2 g 2
 Para o perfil de um solo constituído de n camadas horizontais, a tensão vertical em uma
determinada profundidade é dado por:

n
 v   g i .zi
i1
 A tensão vertical total em uma determinada profundidade devido ao peso próprio considera tanto
os grãos quanto a água, assim a tensão cresce a profundidade.
 Considere o exemplo:

Diagrama de tensões com a profundidade de uma seção de solo, por hipótese seco
 Pressão neutra e conceito de tensões efetivas
 Considere, agora, o perfil do solo com o nível d’água situado na profundidade zw.
 A tensão total no plano B, à profundidade zB será a soma do efeito das camadas superiores, considerando os
respectivos pesos específicos de cada camada.
 A água no interior dos vazios, abaixo do nível d’água, estará sob uma pressão que depende apenas de sua posiç
em relação ao nível freático.
 Tomemos, agora, um perfil de solo sedimentar como se segue:
 A pressão na água, poro-pressão ou pressão neutra, no plano inferior da camada de areia é:

 Se um tubo fosse inserido no solo até a face inferior da zw = (5 + 6 +7) m = 18 m


camada de areia, qual seria a altura da coluna de água Logo,
no tubo? u = 18 * 9,81 = 176,58 kPa
Conceito de tensões efetivas:

Ao notar a diferença de natureza das forças atuantes, Terzaghi identificou que a tensão normal total (σ) num
plano qualquer deve ser considerada como a soma de duas parcelas:

• A tensão suportada pelos sólidos do solo em seus pontos de contato, ou seja, a tensão transmitida pelos
contatos entre as partículas, produzindo modificações no arcabouço sólido, por ele chamada de tensão
efetiva (σ’);

• A tensão suportada pela água dos vazios do solo, ou seja, a pressão na água intersticial, correspondente à
carga piezométrica, e que não causa nenhum aumento de resistência, chamada de poro-pressão ou
pressão neutra (u)
 PRINCÍPIO DAS TENSÕES EFETIVAS

Pode ser expresso de duas formas:


1) A tensão efetiva, para os solos saturados, pode ser expressa por:

2) Todos os efeitos mensuráveis resultantes das variações de tensões nos solos, como compressão,
distorção e resistência ao cisalhamento são devidos a variações de tensões efetivas.

Portanto:

As tensões efetivas são responsáveis pelas deformações e ruptura que ocorrem nos solos
Se as tensões efetivas não variarem o solo não se deforma e nem rompe.

Nos solos, as deformações ocorrem quando as partículas se movimentam umas em relação às


outras, aumentando ou diminuindo os vazios entre elas. A deformação de uma única partícula é desprezível.
 Considere-se uma esponja cúbica (l=0,1 m) em um recipiente com água, nas situações:

a) Esponja em repouso b) Peso aplicado c) Elevação do nível d’água

a) Com água até a superfície superior, as tensões resultam de seu peso e da pressão de água; a esponja está em repouso.

b) Colocando-se sobre a esponja um peso de 10 N, que corresponde a uma pressão aplicada de 1 kN/m2, as tensões no
interior da esponja serão majoradas deste mesmo valor. Observa-se que a esponja se deforma sob a ação deste peso,
diminuindo o volume de seus vazios e, consequentemente, o volume de água neles contido. O acréscimo de tensão foi
efetivo.

c) Se ao invés de colocar o peso, o nível d’água fosse elevado de 10 cm, a tensão atuante sobre o topo da esponja seria
também de 1 kN/m2 (10 kN/m3 x 0,1 m), e as pressões no interior da esponja (poropressões) serão majoradas deste
mesmo valor. A esponja não se deforma porque o acréscimo de tensão efetiva foi nulo, ou seja, a estrutura sólida não
“sente” a alteração das pressões. O acréscimo de pressão foi neutro.
 O mesmo fenômeno ocorre nos solos. Se um carregamento é aplicado na superfície do
terreno, as tensões efetivas aumentam, o solo se comprime e alguma água é expulsa de seus
vazios, ainda que lentamente.

 Entretanto, se o nível d’água numa lagoa se eleva, o aumento da tensão total provocado pela
elevação é igual ao aumento da pressão neutra (ou poropressão) nos vazios e o solo não se
comprime.
EXEMPLO 1:

Para o perfil de solo é mostrado na figura:

a) Calcular a tensão normal total, a poropressão e a tensão normal efetiva nos pontos A, B e C.
b) A que altura deve chegar o nível da água para que a tensão efetiva em C seja 95,8 kN/m2.

Assumir que gsat é o mesmo para ambas as camadas de areia. Dado: gw= 9,81 kN/m3 .
 SOLUÇÃO

Cálculo do peso específico:

i) Camada de areia seca: peso específico seco

ii) Camada de areia saturada: peso específico saturado

OBS: Na areia seca: a tensão efetiva é igual à tensão total porque a tensão no ar é a atmosférica, que é
tomada como referência igual a zero.
 Cálculo das tensões:

i) Ponto A:

ii) Ponto B:
 Cálculo das tensões:
iii) Ponto C:

 Se o nível do lençol freático subir de um valor h, (supondo o mesmo valor de gsat para as duas camadas),
sendo que , então:

95,8 = 60 − 16,21 ℎ + 20,81 ℎ + 93,65 − 44,14 − 9,81ℎ)

95,8 − 60 − 93,65 + 44,14 = −16,21 ℎ + 20,81 ℎ − 9,81ℎ

−13,71 = −5,21 ℎ
Cálculo das tensões geostáticas horizontais

 A determinação das tensões laterais (horizontais) é altamente dependente:

 do tipo de solo
 do modo de deposição
 da história anterior.

Pouco pode ser dito acerca da natureza geral das tensões laterais (horizontais) efetivas, a não ser que elas
são iguais à tensão vertical efetiva multiplicada por um coeficiente, K.
K pode variar bastante, dependendo se a massa de solo foi deformada na direção lateral
(horizontal), tanto por forças da natureza ou por obras executadas pelo homem.

Coeficiente de tensão lateral no repouso ou coeficiente de empuxo no repouso, k0: razão


entre as tensões geostáticas efetiva horizontal e efetiva vertical, em cada ponto

de modo que:
Há evidências de que a tensão horizontal efetiva pode exceder a tensão vertical efetiva se o
depósito tiver sido muito pré-carregado (pré-adensado) no passado.

As tensões horizontais permanecem praticamente as mesmas quando o solo foi


previamente carregado por sobrecarga adicional e não desaparecem quando esse carregamento é
removido. Nesse caso, o valor de k0 pode chegar a 3 (Lambe, 1979).
EXEMPLO:

Uma escavação deverá ser realizada em um morro para a construção de uma obra. Calcular a tensão efetiva
horizontal no ponto P, antes e depois da escavação. Suponha que a tensão horizontal seja a mesma, antes e
depois da escavação.

1) Antes da escavação:

Como o solo está seco, uw=0, e Então temos que:


2) Após a escavação:

 Como se supõe que a tensão horizontal seja a mesma, antes e depois da escavação, então :

e, portanto:

o carregamento anterior (pré-carregamento) aumentou o valor de k0

Você também pode gostar