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INTERNET Vida - Pastoral 306
INTERNET Vida - Pastoral 306
Temas pastorais
03 Convite papal à Vida
Consagrada:
passar da
autorreferencialidade
para a “cultura do encontro”
Nicolau João Bakker, svd
13 Famílias em segunda
união: um desafio
evangelizador
Wladimir Porreca
21 A humanização e a
desumanização do
trabalho
Ivonil Parraz
27 Comunicação e
paróquia: alguns pontos
básicos e concretos
Helena Ribeiro Crépin,
Natividade Pereira, fsp
37 Roteiros homiléticos
Maria de Lourdes Corrêa Lima
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seu Natal
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Convite papal à Vida
Consagrada:
passar da autorreferencialidade
para a “cultura do encontro”
Nicolau João Bakker, svd*
3
O papa Francisco fez do ano de 2015 o Igreja”. Por isso, em si mesma, essa ação não é
“Ano da Vida Consagrada”. Não me surpreen- boa nem má, ela simplesmente é o que é. His-
de que, em sua Carta apostólica às pessoas con- toricamente, a ação da Igreja passou por fases
sagradas (2014), ele diga esperar que seja sem- muito distintas. Na sua feição externa, uma é a
pre verdade o que já afirmou em outra ocasião Igreja da era patrística, outra, a da cristandade,
(a seminaristas e noviças): “Onde há religio- e mais outra, a da modernidade. Há uma “cos-
sos, há alegria” (2.1). Alegria é também a nota movisão” de fundo que, com o passar do tem-
característica de sua primeira exortação apos- po, faz ver tudo em nova perspectiva, também
tólica, Evangelii Gaudium (2013), que se inicia e especialmente nosso modo de pensar sobre
dizendo: “A alegria do evangelho enche o co- Deus e o Sagrado. Escrevi mais detalhada-
ração e a vida inteira daqueles que se encon- mente sobre isso em Vida Pastoral, n. 278,
tram com Jesus”. Pelo mesmo 279, 281 (2011) e 282 (2012).
“Há uma
motivo, a Congregação para os O tempo e o lugar dão à Igreja –
Institutos de Vida Consagrada e ‘cosmovisão’ de e à pastoral – um rosto próprio.
as Sociedades de Vida Apostóli- fundo que, com o Poderíamos dizer também: uma
ca dá à sua Carta Circular aos “riqueza” própria. Entendemos
Consagrados e Consagradas passar do tempo, faz isso melhor quando percebemos
(2014) o título de Alegrai-vos. ver tudo em nova que o berço da pastoral é a pró-
Toda a carta da congregação pria espiritualidade.
perspectiva, também Em perspectiva antropológi-
aprofunda, biblicamente, o con-
vite papal à alegria. Especial- e especialmente ca, podemos dizer: a espirituali-
mente em Isaías e nos Salmos, a dade nasce com o próprio ser
nosso modo de
palavra “alegria” evoca a presen- humano. O cérebro humano
ça de Deus na história de Israel. pensar sobre Deus e evoluiu lentamente, e as fases de
Da mesma forma, no Novo Tes- o Sagrado.” sua evolução ainda podem ser
tamento, o sentimento de alegria detectadas com facilidade na “fi-
antecede o nascimento do Salvador e acompa- sionomia” cerebral. Tão logo criou consciên-
nha a boa notícia da difusão do Reino. Para cia de si mesma, a humanidade voltou-se
Paulo, a alegria é fruto do Espírito (Gl 5,22). para Deus, ou para o mundo do Sagrado,
Tristeza é só para os que não têm esperança numa diversidade cultural impressionante.
(1Ts 4,13). A alegria é também o dom messiâ- Em sua existência individual e coletiva, em
nico por excelência. Como ter tristeza quando busca de uma vivência, convivência e sobre-
estão para se realizar “as núpcias do Cordeiro. vivência feliz, o ser humano se percebe radi-
Felizes os convidados!” (Ap 19,9)? calmente dependente, insuficiente e falho.
No presente artigo, gostaria de ressaltar a Percebe também que pode “superar-se a si
íntima relação entre a espiritualidade da Vida mesmo” e encontrar uma felicidade maior
Consagrada e a ação pastoral. É por meio do por meio de esforços mais intensos e uma in-
fortalecimento dessa relação que o papa serção social mais colaborativa. As grandes
Francisco quer dar novo rosto à Igreja. religiões humanitárias – como também as
nº- 306
A pastoral, na sua forma mais simples, das as pessoas. A longa e riquíssima tradição
Vida Pastoral
pode ser definida como “a ação concreta da cristã nos deu a impressão de sermos os úni-
4
cos e os melhores, mas a moderna “consciên-
cia inter-religiosa” nos pede grande cuidado. Livro do terço dos homens
Temos muito a aprender uns com os outros. Manual completo e explicativo
Vale a pena prestar atenção aqui numa Dom Gregório Paixão, OSB
discussão acadêmica atualmente em desta-
que. Recentemente a imprensa repercutiu em
reportagens o trabalho do neurocientista
americano Sam Harris, autor do livro A morte
da fé (Companhia das Letras, 2009). Ele faz
parte do grupo de cientistas do assim chama-
do “novo ateísmo”. Após ler centenas de li-
vros sobre religião, Harris diz ter chegado à
conclusão de que as religiões institucionali-
zadas, ao invés de estimular a espiritualida-
de, acabam com ela. Assim como Marx, 150
120 págs.
anos atrás, viu na religião um “ópio”, esses
cientistas veem nas religiões uma “ilusão da
mente”. Estimam a espiritualidade, mas não a O Terço dos Homens deseja
pretensão das Igrejas de monopolizá-la ou resgatar, para o seio da Igreja
de Cristo, os homens de todas as
mesmo orientá-la. As instituições religiosas,
idades, classes e culturas, pois é
para eles, não representam o trigo, mas o notória a sua presença em todas
próprio joio a ser arrancado. A ciência, de as atividades humanas, mas com
fato, embora ainda de forma rudimentar, des- visível ausência nas fileiras da
cobriu que a “experiência mística” não é pri- Igreja. Entretanto, o Terço dos
vilégio ou exclusividade da Vida Consagra- Homens não se prende apenas à
presença masculina. Ele quer atingir
da ou dos mosteiros. Ela é universal e traz
toda a família dos participantes,
uma carga elevada de positividade em ter- colaborando com a formação de
mos de compreensão do contexto individu- lares verdadeiramente cristãos, de
al e coletivo – uma mente “iluminada” – e convivência harmônica e verdadeiras
também em termos de disponibilidade para expressões da fé católica. Dessa
o bem comum. A muito afamada física forma, busca-se no exemplo da
Sagrada Família o referencial para
Imagens meramente ilustrativas.
5
basta perceber que a Modernidade olha para a consagração batismal, um “sinal” que indica
Vida Consagrada de forma bastante cética e que o povo de Deus não tem na terra a sua
desconfiada. Se não der testemunho de algo cidade permanente (LG 44). O estado reli-
que realmente traz alegria, felicidade e provei- gioso torna seus seguidores mais livres das
to ao ser humano, ela provavelmente não terá preocupações terrenas e os consagra mais in-
êxito no século XXI. O papa Francisco não é timamente ao serviço divino.
apenas o papa de rosto sorridente, é também É especialmente na Exortação Apostólica
um papa de grande inteligência e convicções pós-sinodal Vita Consecrata (1996) que o
espirituais profundas. Inicia sua carta dizen- algo especial da Vida Consagrada é aprofun-
do: “Escrevo-vos como sucessor de Pedro..., e dado. O sínodo fora convocado exatamente
escrevo-vos como vosso irmão, “para aprofundar seu significado
consagrado a Deus como vós”. “O papa Francisco e as suas perspectivas em ordem
Ele tem plena consciência da não é apenas o papa ao novo milênio”. Ela vê a Vida
íntima relação entre ação pasto-
ral e espiritualidade. A pastoral,
de rosto sorridente, é Consagrada como um “dom do
Espírito Santo” que vai além da
em todas as suas ricas e varia- também um papa de consagração batismal. Os conse-
das manifestações, ou se ali-
grande inteligência e lhos evangélicos representam
menta de espiritualidade ou um seguimento radical de Jesus
não passa de uma etiqueta convicções espirituais Cristo pobre, casto e obediente,
mentirosa que nada diz sobre o profundas.” “sendo o vínculo sagrado da cas-
conteúdo da garrafa. tidade pelo Reino o primeiro e
mais essencial deles” (n. 14 e 32). O docu-
mento alerta para um possível equívoco: “O
2. Vida Consagrada: convite
desejo louvável de solidarizar-se com os ho-
a algo mais
mens e mulheres do nosso tempo... pode le-
O cardeal João Braz de Aviz, atual prefei- var a um estilo de vida secularizado, ou a
to da mencionada congregação, observa na uma promoção de valores humanos em sen-
sua Carta Circular que não vê a Vida Consa- tido puramente horizontal” (n. 38). Os reli-
grada como um “modelo de perfeição”, se- giosos, porém, devem ser “peritos em comu-
gundo concepções do passado. Todos os cris- nhão” e “espiritualidade de comunhão”, sen-
tãos (e cristãs) são chamados à vivência “radi- do que, dessa forma, “a comunhão abre-se
cal” do evangelho. No entanto, deve existir para a missão e converte-se ela mesma em
“algo especial”, na linha do profetismo. Algo missão” (n. 46). “A missão é essencial para
que vai além das “argumentações institucio- cada Instituto, não só nos de Vida Apostólica,
nais e justificações pessoais”.1 Na realidade, mas também nos de Vida Contemplativa” (n.
não é fácil definir em que consiste exatamen- 72). Diz o documento ainda que “a Vida
te esse “algo mais” da Vida Consagrada. O Consagrada não se limitará a ler os sinais dos
Decreto Conciliar (Vaticano II) Perfectae Ca- tempos, mas há de contribuir também para
ritatis praticamente se limitou à exigência de elaborar e atuar novos projetos de evangeli-
nº- 306
“renovação”. O cap. VI da Lumen Gentium, zação para as situações atuais” (n. 73). E ain-
dedicado aos religiosos, vê os conselhos da lembra: “O caráter profético da Vida Con-
•
ano 56
evangélicos como um aprofundamento da sagrada foi posto em grande relevo pelos Pa-
dres Sinodais” (n. 84).
•
6
Caritatis (n. 2e): “As melhores adaptações às
necessidades do nosso tempo não surtirão Introdução à cristologia
efeito se não forem animadas da renovação latino-americana
espiritual que sempre... deve ter a parte Cristologia no encontro com
a realidade pobre e plural
principal”. A Vita Consecrata vê na espiritu- da América Latina
alidade dos conselhos evangélicos um “sig-
nificado antropológico profundo” (n. 87). Alexandre Andrade Martins
3. Da autorreferencialidade à “cultura
do encontro” Vendas: (11) 3789-4000
0800-164011
Dizem que há certo desânimo no ar. Se SAC: (11) 5087-3625
nº- 306
7
a que se abate sobre nós quando perdemos benevolente de Deus em todas as religiões?
de 7 a 1 em alguma competição. De fato, há Isso sem falar da enorme onda de seculariza-
muitos motivos para preocupação, e não so- ção, nos países desenvolvidos, que pôs fim às
mente na Vida Consagrada. A Igreja toda está vocações. Aliás, uma secularização em fase
como que na berlinda. Basta lembrar alguns de mundialização, à medida que o mundo
exemplos. O impressionante avanço do pen- todo se escolarizar e se sujeitar à cultura ur-
tecostalismo é um deles. O abandono de um bana ocidental. Preocupações não faltam. Há
milhão de católicos por ano é mais do que muito mais perguntas do que respostas. É
preocupante. Ainda não temos uma estraté- neste clima eclesial um tanto quanto desani-
gia pastoral adequada para “segurar” o nosso mado ou estressado que o papa Francisco foi
rebanho. Existe um sentimento generalizado eleito. Mas o papa não parece estar desani-
entre os teólogos e as teólogas mado ou então percebe o “desâ-
de que é preciso mexer na dou- “O Concílio Vaticano II nimo pastoral” (EG 82) e está em
trina do ministério ordenado, abriu portas e janelas, busca de uma reversão. Sua pri-
mas qual o caminho? Predomi- meira exortação, Evangelii Gau-
na a falta de coragem. Um dos mas elas foram dium, é um grito forte de alegria
problemas de fundo é a falta de cuidadosamente e esperança (n. 1 a 13). Quem
sintonia entre a Cúria Romana e realmente crê que a Igreja é guia-
o senso comum dos cristãos nas fechadas mais da pelo Espírito só tem motivo
questões de fé, o sensus fidelium uma vez.” para “estremecer de alegria” (Lc
dos fiéis declarado “infalível” 10,21). Nunca cabe “cara de fu-
em LG 12. O papa Francisco encarregou-se neral” (EG 10).
de implementar a reforma da Cúria, mas Qual é o ponto central ao qual o atual
tudo leva a crer que, mais uma vez, nada sucessor de Pedro dedica toda a sua aten-
substancioso irá ocorrer. O Concílio Vaticano ção? Para quem analisa com cuidado o que
II abriu portas e janelas, mas elas foram cui- tem escrito e falado nestes primeiros anos
dadosamente fechadas mais uma vez. Temos de seu pontificado, não pode haver dúvida:
dificuldade de lidar com o vento impetuoso a Igreja deve superar a sua autorreferencia-
do Espírito que deu origem à Igreja. lidade e, com confiança no Espírito, adotar,
A Vida Consagrada enfrenta dificuldades decididamente, a “cultura do encontro”. O
parecidas. Foram-se os bons tempos, quando papa quer uma Igreja decididamente mis-
milhares de mosteiros europeus puderam dar sionária, uma Igreja em atitude de “saída”,
sustentação a uma cristandade em geral ávida isto é, na rua, na sociedade, nas “periferias
para acolhê-los. As inúmeras obras de carida- existenciais” (Carta apostólica, n. 2.4) do
de – asilos, escolas, hospitais, orfanatos etc. povo, em especial do povo pobre. Na exor-
– que deram visibilidade às novas fraternida- tação EG, ele faz dessa ideia-chave o fio
des e irmandades religiosas surgidas na Mo- condutor do documento, até certo ponto
dernidade foram, em geral, assumidas por dando sequência ao Documento de Apareci-
governos laicos. Como ser “sinal” sem obras? da, em parte obra de suas mãos. Fazendo
nº- 306
E as numerosas novas congregações missio- suas as palavras de João Paulo II, observa
nárias que encontraram espaços de atuação que a atividade missionária ainda hoje re-
•
ano 56
8
no primeiro capítulo fala da Igreja em saída
(n. 20). A comunidade missionária deve “ir Buscadores cristãos
ao encontro, procurar os afastados e... con- no diálogo com o islã
vidar os excluídos” (n. 24). Ela deve consti-
Faustino Teixeira
tuir-se “em estado permanente de missão”
(n. 25; cf. DAp 201). O papa diz “sonhar”
com uma Igreja dedicada “mais à evangeli-
zação do mundo atual do que à autopreser-
vação”, uma Igreja livre de qualquer “intro-
versão eclesial” (n. 27). “Um coração mis-
sionário... nunca se refugia nas próprias
seguranças... ainda que corra o risco de su-
jar-se com a lama da estrada” (n. 45). “Mas
a quem a Igreja deveria privilegiar? Sobre-
tudo aos pobres e aos doentes... àqueles
que não têm com que te retribuir” (n. 48;
cf. Lc 14,14). Encerra o primeiro capítulo
160 págs.
da seguinte forma: “Mais do que o temor de
falhar, espero que nos mova o medo de nos
encerrarmos nas estruturas que nos dão Esta obra faz parte de um amplo
uma falsa proteção, nas normas que nos projeto de pesquisa do CNPq
transformam em juízes implacáveis, nos há- voltado para o tema do diálogo
bitos em que nos sentimos tranquilos, en- inter-religioso. O foco deste volume é
a candente questão dos buscadores
quanto lá fora há uma multidão faminta e
cristãos no diálogo com o islã.
Jesus nos repete sem cessar: ‘Dai-lhes vós Todos sabemos da importância
mesmos de comer’” (n. 49; cf. Mc 6,37). que esse colóquio ganha nas
Especialmente no segundo capítulo, o últimas décadas, assinalando
papa pede uma Igreja que – em oposição à a urgência de um dos desafios
“globalização da indiferença” e à “espiritualida- mais essenciais neste século XXI: a
paz entre as religiões. Os autores
de sem Deus” – vá “ao encontro”. São muitas as
aqui abordados são ainda em
passagens: n. 54; 63; 70; 74; 78; 87-92. Parti- parte desconhecidos dos leitores
Imagens meramente ilustrativas.
9
de qualquer “autocomplacência egocêntrica” nárias estão presas às linguagens e compre-
(n. 95). “Deus nos livre de uma Igreja munda- ensões das épocas, a felicidade humana não.
na sob vestes espirituais ou pastorais!” (n. 97). Esta tem sua “permanência antropológica”.
Ora, cabe à Vida Consagrada – nas suas três
dimensões – demonstrar que a completa feli-
4. Vida Consagrada: não deixar
cidade humana não se encontra nesta terra. A
morrer a profecia!
pregação de santo Agostinho continua válida:
Gostaria de voltar, antes de tudo, à pers- somente em Deus o coração humano encon-
pectiva antropológica. Ela está recuperando tra repouso. Não basta o humanismo secular.
espaço na teologia, mas ainda de forma muito Bem que Bento XVI dizia: “O humanismo
tímida. Se nos limitarmos às grandes tradições que exclui Deus é um humanismo desuma-
religiosas, vejo que todas ressal- no” (CV 78).
tam três dimensões fundamen- “É preciso sair do Há algo que a nossa pastoral
tais: 1) vivenciar e testemunhar ninho e perguntar- latino-americana costuma esque-
o que é mais essencial na tradi- cer: a lição fundamental da “secu-
ção religiosa; 2) estar a serviço nos: como está a larização”. Num país seculariza-
das necessidades religiosas da minha fecundidade do, especialmente no seu viés
população; 3) levar a riqueza da ocidental, as vocações à Vida
tradição religiosa a quem dela espiritual e a Consagrada quase que desapare-
sinta falta. Em cada tradição reli- minha fecundidade cem por completo. O Brasil já
giosa, as três dimensões estão deu forte arrancada nesse proces-
presentes numa variedade imen-
pastoral?” so de secularização. No mundo
sa e sempre sujeitas às transfor- ocidental, hoje fortemente laici-
mações culturais do tempo. Não é difícil per- zado, em grande medida, apenas os bens ma-
ceber que a primeira dimensão corresponde teriais são valorizados, disponibilizados e pro-
ao que, no cristianismo, conhecemos como pagados. Neste mundo, os mosteiros dedica-
“Vida Contemplativa”, a segunda como “Vida dos a Mamon, os sacerdotes do Mercado e os
Ministerial” e a terceira como “Vida Religiosa missionários da espiritualidade secular estão
Apostólica ou Missionária”. onipresentes. E quais são os(as) agentes pasto-
Não sou especialista na área, mas creio rais capacitados(as) para “reverter” a situação?
que as três dimensões mencionadas estejam Creio firmemente que não serão os poucos re-
presentes também nas “pequenas” tradições ligiosos ou religiosas que “sobram”. Será, em
religiosas em qualquer lugar do mundo, hoje primeiro lugar, a própria “insatisfação antro-
e sempre. Por quê? Porque as três são indis- pológica” que possibilitará a reversão. A vida
pensáveis à felicidade humana, tanto a indi- exclusivamente materialista não satisfaz. Ao
vidual quanto a coletiva. Na tradição judai- contrário, apesar de sua atratividade passagei-
co-cristã (e islâmica), tem-se dado priorida- ra, repugna. Na nossa modernidade avançada,
de, por séculos e mais séculos, à doutrina, à os primeiros sinais da reversão já estão pre-
“ortodoxia”. Esta nunca foi desligada, porém, sentes. Hoje, até os ateístas mais militantes já
nº- 306
do objetivo maior da “vida plena” (Jo 10,10), reconhecem que alguma forma de espirituali-
almejada por Jesus. Hoje, especialmente nas dade se faz necessária.
•
ano 56
de à felicidade humana. Formulações doutri- nas uma história gloriosa para recordar e nar-
10
rar, mas uma grande história a construir!”
(introd.; cf. Vita Consecrata, n. 110). E o pre- CDs - Celebrando o dia do
feito atual da Congregação para os Institutos Senhor I e II
da Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Cantos para Celebração
da Palavra de Deus
Apostólica acrescenta, na Carta Circular: No
Ano da Vida Consagrada, são esperadas “ou- Adenor Leonardo Terra
sadas decisões evangélicas” (n. 1). É preciso e Coral Nossa Senhora Aparecida
Vol. 2: 19 faixas
pontificado e da carta do papa Francisco: o
que mata a Igreja em geral, e a Vida Consa-
grada em especial, é a “doença da autorrefe-
rencialidade” (n. 2.3). A Igreja não foi feita
Vol. 1: 21 faixas
para si mesma, muito menos a Vida Consa-
grada, seja qual for a sua dimensão. A luz que
deve brilhar diante dos homens não pode ser
colocada “debaixo do alqueire” (Mt 5,15).
Não adianta “fazer arqueologia”, diz o papa, Com imensa alegria, a PAULUS
ou “cultivar inúteis nostalgias” (n. 1.1). É tem o prazer de oferecer às
preciso retornar sempre de novo à “centelha nossas comunidades este material
inspiradora” dos(as) fundadores(as) (n. 1.1) preparado especialmente para
e, mais ainda, à do próprio Jesus Cristo. a celebração da Palavra de
Deus por ministros leigos.
O papa não se limita a criticar a autorre-
A obra é composta por dois CDs.
ferencialidade, mas também aprofunda o seu O primeiro oferece cantos de
oposto: viver a “mística do encontro” (n. abertura, aspersão e partilha, e
1.2). “Tal como Jesus... comunicou a sua pa- também refrãos à Palavra e canto
lavra, curou os doentes, deu o pão para co- pós-homilético. O segundo traz
mer, ofereceu a sua própria vida, assim tam- louvações adequadas a cada
tempo litúrgico.
bém os fundadores se puseram ao serviço da
“Deus da vida, celebramos
Imagens meramente ilustrativas.
humanidade, à qual eram enviados pelo Es- Tua glória, por teu Filho.
pírito, servindo-a dos mais diversos mo- Na Palavra encontramos
dos... A inventiva da caridade não conheceu Força e vida no caminho.”
limites” (n. 1.2). Uma Igreja “em saída” exi-
ge “viver com paixão (alegria!) o presente”.
Há necessidade de “procurar juntos o cami- Vendas: (11) 3789-4000
nho, o método” (n. 1.2). Para “fazer da Igre- 0800-164011
ja a casa e a escola da comunhão” (n. 2.3; cf. SAC: (11) 5087-3625
nº- 306
11
Ocasionalmente parece que o papa Fran- em práticas religiosas, reuniões infecundas
cisco interpreta a opção preferencial pelos ou discursos vazios” (n. 207).
pobres numa linha puramente assistencial. Tudo isso é válido para leigos(as), mi-
Sem dúvida não concebe a Igreja cristã sem nistros ordenados ou qualquer outro(a)
“sinais” claros de presença junto àqueles e agente pastoral, mas, em especial, para a
àquelas que se encontram “à Vida Consagrada. Lembro, mais
margem”. Não deixa de ver, po- “Qualquer uma vez, a posição do prefeito
rém, a limitação inerente a essa da já citada congregação: o
comunidade da
opção. O quarto capítulo de “algo especial” da Vida Consa-
Evangelii Gaudium é inteiramen- Igreja... sem se ocupar grada está intimamente ligado à
te dedicado à questão. Diz o criativamente nem “linha profética”. E o papa diz:
papa com todas as letras: “a nota característica da vida
cooperar de forma consagrada é a profecia”, e “um
Os planos de assistência,
que acorrem a determinadas eficaz para que os religioso jamais deve renunciar
à profecia” (n. 2.2). Dom Hel-
emergências, deveriam con- pobres vivam com der Câmara, em suas últimas
siderar-se apenas como res-
dignidade... facilmente palavras, confidenciou a um
postas provisórias. Enquan-
to não forem radicalmente acabará submersa amigo: “Não deixem morrer a
profecia”. Parece-me este o
solucionados os problemas pelo mundanismo grande desafio que o papa apre-
dos pobres, renunciando à
espiritual.” senta à vida contemplativa, mi-
autonomia absoluta dos
nisterial e apostólica: superar a
mercados e da especulação financeira e
autorreferencialidade e ir, com alegria e es-
atacando as causas estruturais da desigual-
perança, ao encontro da sociedade, do
dade social, não se resolverão os proble-
mundo. Essa pastoral, tão essencial, não é
mas do mundo e, em definitivo, problema
possível sem profunda “espiritualidade sa-
algum. A desigualdade é a raiz dos males
maritana”. Que o Ano da Vida Consagrada
sociais (n. 202).
nos inspire a beber mais copiosamente des-
E segue: “Qualquer comunidade da Igre- sa fonte da nossa própria tradição religiosa
ja... sem se ocupar criativamente nem coope- e enriquecer-nos também com outras tradi-
rar de forma eficaz para que os pobres vivam ções religiosas para ir, em conjunto e mais
com dignidade... facilmente acabará submer- decididamente, ao encontro das pessoas
sa pelo mundanismo espiritual, dissimulado deitadas à beira da estrada.
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Vida Pastoral
12
Famílias em segunda união:
um desafio evangelizador
Wladimir Porreca*
13
lhedoras, aumentando o sofrimento desses mília a exigir muito mais da conjugalidade e
casais (PORRECA, 2004). parentalidade. A sexualidade compensadora
se torna indispensável, o companheirismo e a
amizade já não são considerados suficientes
2. Proposta evangelizadora
para manter o casamento. A busca da igual-
Como proposta para acolher e orientar dade de direitos e deveres vai se instalando
evangelicamente os membros das famílias em de forma complexa. Essas inúmeras mudan-
segunda união, seria possível trilhar cami- ças passam a exigir uma reorganização do re-
nhos que levassem a considerar as mudanças lacionamento conjugal e familiar. Os mem-
societárias e culturais que influenciam a es- bros da família “moderna” aprendem a divi-
trutura e dinâmica familiar; a assumir uma dir as tarefas e responsabilidades da casa e da
postura de compaixão pelo pro- vida familiar de nova maneira; a
cesso de separação/divórcio dos “Isso não significa dimensão de complementarida-
cônjuges dessas famílias; a en- que a família está de perpassa a organização fami-
tender de fato quem são as famí- liar (PORRECA, 2004).
lias em segunda união e direcio-
desaparecendo, mas Cria-se um mundo novo
nar as ações evangelizadoras sim que estamos para a família, no qual tudo é
com e nas famílias em segunda possível, em que a novidade
diante de um
união pelos princípios da mise- tende a sempre ser considerada
ricórdia e da verdade; e ainda, a processo sociocultural o melhor e se convive com o pa-
utilizar o espaço privilegiado de nova diferenciação radoxo da cultura do diferente e
dos movimentos, pastorais e o desejo igualitário. Essas mu-
serviços eclesiais que atuam da família.” danças afetam a família interna-
junto à família como lugar ade- mente, modificando os vínculos
quado para a acolhida e vivência comunitária e relacionamentos entre os membros, os pa-
das famílias em segunda união. péis domésticos, a sexualidade, a fecundida-
de e a geração e educação de filhos. A gera-
ção de filhos, por exemplo, fica condiciona-
3. Breve histórico das mudanças
da à condição financeira (filho tornou-se
na família
“custo”, “gasto”). Além disso, tais mudanças
A partir de 1960, com a modernização afetam-na também externamente, no que se
societária e cultural, a sociedade brasileira vi- refere às formas de sociabilidade que vigo-
venciou o crescente declínio da família pa- ram fora das relações familiares. Com estru-
triarcal e dos princípios e controles religiosos turas relacionais bastante diversificadas e
e comunitários mais tradicionais. A estrutura com limites variáveis, de cultura a cultura, a
e a dinâmica da família modificam-se, princi- família assume ampla gama de formas. No
palmente, pelo ingresso da mulher no merca- Brasil, a maioria das formas familiares são
do de trabalho, pelos movimentos de contra- monoparentais, chefiadas por mulheres
cultura, pela sexualidade desvinculada da (IBGE, 2010). Isso não significa que a famí-
nº- 306
geração de filhos e, ainda, pela influência da lia está desaparecendo, mas sim que esta-
psicologia e/ou psicologismos direcionados à mos diante de um processo sociocultural de
•
ano 56
resses individuais predominam sobre os inte- que afetam o modelo nuclear da família e a
Vida Pastoral
14
De um lado, um conjunto de transforma-
ções sociais contribui para alterações nas con- O Domingo
dições de mulheres e de homens na família e - Celebração Orante
na sociedade, para nova concepção de amor e
de casamento, o qual deixa de ser considera-
do duradouro e é amparado pela legalização
da separação conjugal. Apesar de o modelo
de união eterna continuar a ser o ideal para
algumas pessoas, muitas outras já não acredi-
tam na indissolubilidade da união entre os
cônjuges, tampouco na obrigatoriedade da
manutenção de um casamento insatisfatório
ou sem amor.
4. A separação é um fracasso
Mesmo considerando o contexto de mu-
danças na família brasileira, é importante re-
cordar que ninguém, em sã e saudável cons- Este periódico bimestral traz as
ciência, se casa para separar/divorciar-se. É celebrações – em base às leituras
bíblicas do Diretório da Liturgia
por isso que, quando se rompe a relação con-
da CNBB – para os domingos
jugal pela separação/divórcio, os membros da e dias festivos; tendo sido
família, em especial os cônjuges, experimen- pensado especialmente para as
tam um sofrimento doloroso, cultivando o celebrações dos leigos. Segue-
sentimento de fracasso. Os filhos também se através dele, a proposta
sofrem, normalmente se recusam a aceitar a de leitura orante, a partir do
evangelho do dia. Essa leitura
separação num primeiro momento, mas,
orante, por ter caráter mais
com o tempo e o empenho amigável e hones- pessoal, poderá ser feita no
to dos pais, conseguem adaptar-se, não sem lugar e no tempo mais propícios
tensão e sofrimentos, à nova realidade fami- a cada fiel. Para completar
liar (PORRECA, 2012). De fato, os membros as celebrações e as leituras
orantes, oferecemos cantos
Imagens meramente ilustrativas.
15
mos muitos casais em segunda união que construção de nova relação familiar, com ca-
aconselham as pessoas a se casar, mas com racterísticas próprias, tendo por base vivên-
amor responsável e maturidade de vida. cias e modelos anteriormente experienciados
Sensíveis à realidade de sofrimentos na da relação familiar precedente. Uma constru-
qual vivem os membros das famílias com a ção nova, formada por dois núcleos familia-
separação/divórcio conjugal, os padres sino- res, diferente da precedente relação conjugal
dais, na III Assembleia Geral Extraordinária e familiar, que formava um só núcleo. Isto é,
em preparação para o Sínodo da Família as famílias em segunda união trazem em sua
(8/10/2014), na Relatio Synodi, n. 45, apon- realidade a convivência, não sem tensão, de
tam claramente a necessidade de opções pas- dois núcleos: o da família anterior, de cada
torais corajosas, no que se refere às famílias cônjuge, com suas experiências próprias, e o
que vivenciam a separação e o da atual. Existe uma ruptura nas
divórcio conjugal. Reconhecem “Os membros da relações, sobretudo da conjugal,
que essa realidade constitui fe- família em segunda mas não uma anulação do que
ridas que provocam sofrimen- foi construído e vivenciado na
tos profundos nos cônjuges união são invadidos família precedente. Daí a dificul-
que as experimentam e nos fi- pelos sentimentos dade em estabelecer limites e
lhos. Apontam ainda a urgência vínculos, a qual muitas vezes
de novos caminhos pastorais, e realidades de gera certa confusão, ambiguida-
que levem em conta a realidade perda e fracasso que de e incerteza nas identidades e
efetiva das fragilidades familia- nos papéis dos membros da fa-
res, conscientes de que, com
perpassam a situação mília em segunda união, até
frequência, estas são mais “pa- de separação.” mesmo pela falta de nomencla-
decidas” com sofrimento do tura dos papéis (padrastos ou
que escolhidas com plena liberdade. Trata-se madrastas, tios/as, namorado/a da mãe ou do
de situações diferentes, tanto por fatores pai, filho/a ou enteada/o, e outros). Essa difi-
pessoais como culturais e socioeconômicos. culdade se agrava quando os membros da
Por isso, os padres sinodais declararam ser família em segunda união buscam, numa ár-
necessário um olhar diferenciado, como su- dua tarefa, estabelecer a forma de organiza-
geria são João Paulo II (cf. Familiaris Consor- ção doméstica como se a anterior não tivesse
tio, n. 84). existido, ou tentam tratar a segunda união
Entre os que se separam/divorciam, en- como se fosse a primeira. Ou tratam a nova
contram-se muitos casais que procuram re- relação familiar como continuidade fragmen-
começar a vida conjugal e familiar e cons- tada da primeira. Querer vivenciar as rela-
troem nova relação conjugal e, quando pos- ções familiares na segunda união como se ali
sível, familiar. existisse uma família em primeira união é
condená-la ao fracasso. O empenho em viver
numa realidade composta de dois núcleos
5. As famílias em segunda união
como se ali existisse apenas um núcleo é des-
nº- 306
social, profissional e sexual. Uma reorganiza- fruir da nova relação com suas características
ção que considera diversos desafios de viven- próprias. Nesse sentido, observa-se uma difi-
•
ciar a nova relação com seus elementos e di- culdade dos casais em segunda união de har-
Vida Pastoral
namismos próprios. Entre os desafios, está a monizar suas visões educacionais dos filhos
16
já existentes e, ainda, a interferência dos ex-
-cônjuges sobre os respectivos filhos. Para os O cérebro e o robô
casais em segunda união, é um desafio árduo Inteligência artificial,
biotecnologia e a nova ética
acolher e integrar as histórias familiares pre-
cedentes e se adaptar à nova realidade fami- João de Fernandes Teixeira
liar. Isso não significa categorizar ou julgar a
moralidade de cada família, mas assumir e
experienciar a realidade em que está inserida
a vida familiar (PORRECA, 2012).
Outro desafio para as famílias em segun-
da união está no ideário de família fundado
no modelo nuclear, isto é, composto de mãe,
pai e filhos. É interessante observar o cons-
tante desafio desses casais de ressignificar e
superar o individualismo e o relativismo que
geram o pluralismo e a fragmentação, pró-
prios do nosso tempo. A família em segunda
160 págs.
união se empenha para estabelecer, à medida
do que lhe é possível, pela própria condição
em que se encontra, uma aproximação do Nos últimos dois séculos, o
ideal de família formada por pai, mãe e seus crescimento econômico, aliado
filhos. Essa atitude dos casais em segunda ao progresso tecnológico,
união demonstra o desejo, o amor, a estima e foi considerado um caminho
indiscutível para o bem-estar,
o reconhecimento deles pela família nuclear.
a saúde e a conquista de mais
Um modelo que continua a perpassar os pa- tempo para o lazer. Muitas
péis das diversas formas de família “moder- pessoas acreditaram que a ciência
na” (PORRECA, 2013). e a tecnologia nos tornariam livres
e felizes, e que isso se reverteria
no aperfeiçoamento social e
6. Igreja Mãe e Mestra ético dos povos. No começo
do século XXI, essa perspectiva
Em relação às famílias católicas em segun- mudou. A inteligência artificial, a
Imagens meramente ilustrativas.
17
do o acolhimento e a evangelização dos casais estavam preparados para assumir um com-
em segunda união e a reintegração deles na promisso sacramental que fosse para sem-
comunidade paroquial, por meio dos princí- pre. Casaram-se porque era bonito ter a
pios da misericórdia e da verdade. Nesse perí- bênção na Igreja e também porque “todo o
odo começaram a surgir, nas diversas localida- mundo” se casa na Igreja. Parece que muitos
des brasileiras, ações que evangelizavam famí- casais se casam com insuficiência de fé cris-
lias, por meio da CVF (Comissão de Vida e tã/católica e quase sem noção e consciência
Família). A temática das famílias em segunda do que estão celebrando, o que demonstra
união começou a fazer parte dos encontros, um questionamento sobre a validade do sa-
congressos, assembleias e outras atividades cramento matrimonial. Essa realidade im-
eclesiais, com a preocupação de estudar e apli- põe à ação evangelizadora da Igreja o desa-
car os princípios da misericórdia fio de preparar os noivos para
e da verdade. Da misericórdia:
“Os casais celebrar, de forma consciente e
do acolhimento que, seguindo normalmente responsável na fé católica, o sa-
os passos da Familiaris Consortio apontaram, com cramento do matrimônio.
(1981, n. 84), viesse a colaborar Sobre os posicionamentos
para que os casais em segunda expressiva tristeza, da Igreja sobre a segunda união,
união pudessem ouvir, ler e pro- as proibições os casais normalmente aponta-
pagar com solicitude evangélica ram, com expressiva tristeza, as
a Palavra de Deus; participar da de participar na proibições de participar na co-
celebração da eucaristia, fazen- comunhão eucarística munhão eucarística na missa,
do o exercício da comunhão es- de confessar e receber absolvi-
na missa, de
piritual; perseverar na oração, ção e, ainda, de não poder casar
de modo particular na adoração confessar e receber novamente na Igreja. A impossi-
eucarística, estreitando os vín- absolvição...” bilidade dessas práticas religio-
culos com Jesus Cristo eucarís- sas gerava uma experiência de
tico, e ainda, pela oração do terço em família, grande sofrimento, por se sentirem aparta-
manifestar a devoção à Virgem Maria; batizar dos, condenados, “no inferno”. A situação
e, com ternura e propriedade, transmitir e da indissolubilidade é considerada um valor
educar os filhos na fé cristã. Atrelado ao exer- por vários casais em segunda união (POR-
cício do princípio da misericórdia, como RECA, 2004), mas, quando a situam no pla-
uma Igreja Mãe, está o da verdade, como no de sua realidade pessoal, a postura e a
uma Igreja Mestra que procura ensinar e pro- fala modificam-se, e costumam mencionar
pagar os ensinamentos do evangelho e do algumas questões particulares que legitima-
Magistério sobre o matrimônio e a família. riam o segundo casamento na Igreja. Essa
postura indica a oscilação entre os preceitos
católicos, de caráter genérico e coletivo, e as
7. As famílias em segunda união e a
aspirações e experiências individuais dos
Igreja Católica
sujeitos envolvidos, trazendo à tona um sen-
nº- 306
dade e o significado do sacramento do ma- los casais em segunda união com relação à
trimônio quando se casam. Muitos dos ca- Igreja é não poderem participar da comu-
•
sais em segunda união (PORRECA, 2004; nhão eucarística na missa. Essa privação gera
Vida Pastoral
2013) admitiram que eram imaturos e não socialmente, no ambiente religioso, a exposi-
18
ção da situação irregular em que se encon- Seguindo os passos do então papa João
tram; psicologicamente, o enfrentamento da Paulo II, pode-se encontrar na Relatio Synodi,
realidade da segunda união como proibição, no n. 51 da III Assembleia em preparação ao
uma sensação de indignidade e condenação. Sínodo da Família (8/10/2014), o relato dos
Poucos mencionam o valor da comunhão eu- padres sinodais apontando para um discerni-
carística em si (PORRECA, 2013). O modelo mento atento e um acompanhamento de
de Igreja sacramental e a redução da celebra- grande respeito com os casais em segunda
ção da missa à comunhão eucarística contri- união. Eles declaram que se deve evitar qual-
buem para que o sentimento de exclusão seja quer linguagem e atitude que os faça se sen-
reforçado nesses casais. tirem discriminados, além de buscar promo-
No entanto, para muitos casais, o sofri- ver a participação desses casais na vida da
mento causado pela impossibilidade da co- comunidade. E concluem: “Cuidar deles não
munhão eucarística tornou-se recurso revita- é, para a comunidade cristã, uma debilitação
lizador de superação da dor e do sofrimento, da sua fé e do seu testemunho a propósito da
pois os encaminhou a buscar possíveis solu- indissolubilidade matrimonial, mas, ao con-
ções por meio da CVF na Igreja. Segundo seu trário, é precisamente nesse cuidado que ela
relato, o sofrimento aumentava quando eram exprime a sua caridade”.
recebidos e acolhidos na vida comunitária
eclesial com a apresentação do que eles “não
8. Espaço privilegiado
podiam fazer”. O primeiro discurso que rece-
na Igreja
biam era o do “não pode”, seja por parte do
clero, seja por parte de alguns agentes de pas- Muitos casais em segunda união admitem
torais. Talvez se o “não pode” ocupasse um que o discurso católico em relação à segunda
segundo momento no contato com os casais união está sendo articulado para promover a
em segunda união, isso colaboraria e muito integração entre a situação atual em que vi-
para o acolhimento e participação desses ca- vem suas famílias e os valores que a Igreja in-
sais nas comunidades eclesiais. É bonito e terpreta como imprescindíveis para a vida fa-
esperançoso ler, no número 84 da Familiaris miliar. Consideram a atuação da CVF da Igre-
Consortio, talvez até como síntese da ação ja junto a suas famílias um exemplo dessa ar-
evangelizadora com as famílias em segunda ticulação, pois esse espaço familiar na ação
união, as orientações do então papa João evangelizadora da Igreja favoreceu o redesco-
Paulo II sobre o acolhimento, a evangelização brimento da posição e postura desses casais e
e a ação pastoral para com os casais em se- seus filhos na vida comunitária eclesial e
gunda união. Ele recomenda que seja exami- maior conscientização do clero e agentes de
nada e aprofundada a pastoral dos casais em pastorais sobre o significado do acolhimento
segunda união, aceitando que a condição hu- e dos direitos desses casais. Os casais concor-
mana é sujeita à fragilidade e ao fracasso, e dam que, depois de iniciar sua participação
também afirma que os casais em segunda na CVF, adquiriram maior entendimento e se
união não são separados da Igreja, mas con- sentiram mais acolhidos e menos discrimina-
nº- 306
19
na fé cristã. Nos encontros promovidos pela mentos da Igreja Mãe e Mestra, com sensatez
CVF, conheceram mais e melhor a doutrina e conhecimento adequado. Aos membros das
da unidade e indissolubilidade matrimoniais famílias em segunda união cabe recordar os
e, na obediência a esses princípios, a certeza princípios fundamentais e iluminadores da fé
da infinita misericórdia de Deus. E ainda pro- cristã católica: o salvífico – Deus não nega a
curam cultivar o espírito e as salvação a ninguém, em qual-
obras de misericórdia, implo- “Deve-se evitar quer situação; o batismal – quem
rando assim, dia a dia, a graça qualquer linguagem vive a segunda união não renun-
de Deus para viver o espírito da ciou ao batismo e à fé; e o eclesial
Trindade santa como modelo de
e atitude que os – os casais em segunda união são
família, tal como vivido pela Sa- faça se sentirem membros da Igreja e fazem parte
grada Família. Enfim, os casais discriminados, além da sua vida e missão.
em segunda união, com seus so- Esperemos que, com base nas
frimentos e esperanças, poderão de buscar promover reflexões do sínodo sobre a voca-
encontrar alento na Igreja, que é a participação desses ção e a missão da família na Igre-
Mãe misericordiosa, para serem ja, a família em segunda união,
sustentados na fé e na esperança casais na vida da um dos desafios pastorais no con-
e ainda, pela graça batismal, po- comunidade.” texto da evangelização, possa
derão buscar, dia e noite, viver o perceber e sentir a Igreja como
ideal da família, no que lhes é possível, a ser- “chamada sem demora a cuidar das feridas
viço da comunidade na condição em que se que sangram e a reacender a esperança para
encontram. Aos bispos, padres e agentes de tantas pessoas sem esperança” (papa Francis-
pastorais cabe rezar por essas famílias, enco- co, encerramento da III Assembleia Extraordi-
rajá-las, promover esclarecimentos e ensina- nária do Sínodo dos Bispos, 2014).
Bibliografia
nº- 306
PORRECA, W. Famílias recompostas: casais católicos em segunda união. 2004. Dissertação de mes-
•
ano 56
trado – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Disponível em: <file:///Users/wladmirporreca/Downloads/dissertacao%20>, 2004.
______. Famílias em segunda união: questões pastorais. 3. ed. São Paulo: Paulinas: 2013.
•
Vida Pastoral
______. Filhos: desafios e adaptações na família em segunda união. São Paulo: Paulinas, 2012.
20
A humanização e a
desumanização do trabalho
Ivonil Parraz*
21
quina. Na atual revolução pós-fordista ou fazemos, compramos ou acessamos via inter-
pós-industrial, com a introdução das tecno- net, para o mercado usar esses dados pensan-
logias da informação, crê-se na valorização do no lucro. Diminui a crença de que a inter-
do trabalho, assentado sobre o conhecimen- net e as novas tecnologias da comunicação nos
to, a comunicação e a cooperação. São esses tornam livres, uma vez que por elas somos
os recursos imateriais que o atual processo vigiados e o uso que delas fazemos é cada vez
produtivo requer. Ele constitui o centro da mais direcionado por grandes corporações
organização do trabalho. Exige-se a interação (KATZ; GREINER, 2015, p. 339-355).
do trabalhador com a máquina, superando, Pretende-se que o sujeito do trabalho, na
assim, a subordinação daquele a esta, prática chamada era do conhecimento, enriqueça o
comum na revolução anterior. trabalho. Para Sanson, o trabalho, no atual
No processo tecnológico de processo de produção, configu-
produção, “o conhecimento
“O trabalho em ra-se como imaterial, uma vez
torna-se um recurso e um pro- equipe, tão exaltado que seus recursos são imateriais,
duto” (SANSON, 2010, p. 32).
em nossos tempos embora grande parte dos traba-
O trabalhador deve incorporar lhadores continue no trabalho
todo o seu conhecimento no como veículo de material e braçal. O regime da
processo produtivo. Há uma re- sociabilidade, com revolução tecnológica caracteri-
lação de flexibilidade entre o za-se pela invenção, pois a lógica
trabalhador e a máquina. O seu fingimento de que o norteia é a da inovação.
software da máquina está aber- comunidade, na Ora, para que isso se concretize,
to às alterações do operador. torna-se imprescindível apode-
Exige-se do trabalhador a ca-
realidade se torna rar-se do saber e do conheci-
pacidade de interpretá-lo e, instrumento de mento e criar condições para
conforme o desempenho pro- que todos e não apenas alguns
exploração.”
dutivo, reprogramar a máquina. tenham acesso a eles.
A interação entre trabalhador e máquina per- O trabalho imaterial, na expressão de San-
mite àquele acumular mais conhecimento, o son, não se alimenta somente do conhecimen-
qual, por sua vez, será disponibilizado na to adquirido e acumulado no trabalho, mas
produção. O conhecimento do trabalhador, também se nutre do conhecimento externo: o
acumulado graças ao trabalho, deve ser apli- conhecimento obtido pelo trabalhador em sua
cado na produção. Atualmente se questiona
1
vida cotidiana, na ordem do vivido, é incorpo-
se de fato o ser humano comanda os softwares rado ao processo de produção (SANSON,
ou se já é comandado por eles, uma vez que 2010, p. 36). Há, portanto, um elemento novo
tem de se submeter ao que os sistemas infor- em relação à sociedade industrial.
máticos programados exigem. Questiona-se
também se a sociedade em rede de fato nos
2. A subjetividade do trabalhador
liberta ou nos aprisiona, ao possibilitar o
controle e a criação de índices sobre o que O grande valor que se atribui ao trabalho
nº- 306
22
sujeito do trabalho. Esta se torna necessária, para que se torne escravo voluntariamente,
uma vez que a produção passa a depender é imprescindível desenvolver todo um apa-
mais da dimensão intelectual. rato de controle. Torna-se indispensável vi-
Enquanto na sociedade industrial predo- giar o trabalhador.
minava o emprego do corpo no trabalho,
agora é a vez da alma, pois tanto o conheci-
3. O trabalho vigiado
mento extra (fora do trabalho) quanto o intra
(no trabalho) são empregados no processo de Na revolução tecnológica, a vigilância se
produção imaterial. Mas para que a empresa dá na própria formulação do espaço de pro-
assegure o senhorio sobre a alma do operá- dução: a celularização (PINTO, 2007, p.
rio, não basta que ele entregue, pelo salário, 79).2 As “células”, segundo Geraldo Pinto,
o seu saber. Juntamente com seu conheci- contam com uma liderança entre seus traba-
mento, o operário deve assumir, voluntaria- lhadores. Os líderes podem ser eleitos pelos
mente, os preceitos da empresa. É estimula- próprios companheiros. Sua função consiste
do a “vestir a camisa” da empresa como se em “assegurar o funcionamento perfeito dos
fosse sua. Tudo o que diz respeito a ela lhe postos de trabalho, bem como a comunica-
diz também respeito. O pobre assalariado se ção entre as células e a administração da em-
responsabiliza pela empresa. Com efeito, o presa” (PINTO, 2007, p. 80). Com a celulari-
trabalho o acompanha sempre, quer na fábri- zação, tornou-se possível um controle maior
ca, quer fora dela. Ele se adere de tal modo ao sobre os trabalhadores. Cada célula é respon-
sujeito, que este não encontra meios de sepa- sável por uma etapa definida do processo
rar-se. Sua vida torna-se o seu trabalho. produtivo.3 Isso permite aos proprietários
A empresa passa a se incorporar na vida do dos meios de produção averiguar os níveis de
operário. O que tem de melhor, energia e capa- produtividade atingidos por cada célula, bem
cidade intelectual, é dedicado a ela. O traba- como as dificuldades ou a falta de conheci-
lhador transforma-se em colaborador: sente-se mento e criatividade que os operários têm
sócio (SANSON, 2010, p. 53). Essa estratégia apresentado em cada uma delas. A formação
de domínio da empresa sobre o operário tem do espaço de produção em escala menor per-
um objetivo específico: fazê-lo acreditar que mite uma visibilidade maior dos operários.
possui autonomia. Ao trabalhador dá-se certa A administração da empresa estabelece
liberdade de inventar, de aplicar seu conheci- cumprimento de metas para cada célula. Os
mento, sua imaginação. Ele sente-se responsá- membros destas distribuem, entre si, as ativi-
vel por aquilo que produz e, ao mesmo tempo, dades de trabalho. A intenção disso é fazer
também pela empresa, uma vez que é sócio. que cada trabalhador “conheça e compreen-
Ilusória autonomia, pois a empresa visa da” o funcionamento dos postos de trabalha-
não à liberdade do trabalhador, mas ao au- do de toda célula (PINTO, 2007, p. 89). A
mento da produtividade. Este é o seu fim úl-
timo. Para isso se equipa com todos os ins-
2 Cf. PINTO, G. A. A organização do trabalho no século
trumentos de domínio: concede autonomia
nº- 306
23
constante mudança de postos de trabalho olhar vigilante da empresa, “olhar invisível”
provoca no operário crises sucessivas de que tudo manipula, é multiplicado pelo nú-
adaptação, uma vez que dele se exigem inú- mero de membros de cada equipe. O traba-
meras habilidades, sempre em mutação. Tais lho em equipe, tão exaltado em nossos tem-
crises fazem-no manter sempre a concentra- pos como veículo de sociabilidade, com seu
ção na tentativa de superá-las. Disso resulta a fingimento de comunidade, na realidade se
ausência de reflexão do trabalhador sobre sua torna instrumento de exploração. Está a ser-
condição social no ambiente do trabalho. viço do capital, e não do trabalhador. O tra-
Mas não só. O “espaço celularizado” impossi- balho em equipe é um engodo!
bilita a comunicação entre os operários sem Cada membro da equipe torna-se um vi-
que a administração saiba. Com efeito, impe- gilante, pois, se um fracassa, todos fracassam.
de-se qualquer tentativa de arti- Cada um tem o poder, embora
culação entre eles. Emprega-se, “O sentimento não tenha autoridade. Esse jogo
assim, no local de trabalho uma de estar de poder gera angústia e sofri-
relação ininterrupta de vigilan- mento. Caso o operário não rea-
te/vigiado. O panoptismo4 inva- constantemente
lize o que dele é exigido para o
de a fábrica.5 vigiado não é bom desempenho produtivo do
O sentimento de estar
provocado somente grupo, pode ser avaliado negati-
constantemente vigiado não é vamente pelos colegas e chegar a
provocado somente pela rela- pela relação vertical perder o emprego. Além disso,
ção vertical patrão-operário. patrão-operário.” impõe-se ao operário a disponi-
Também entre os próprios bilidade para novas empreitadas,
membros da equipe de traba- iniciativas ou certas atividades contrárias ao
lho (as células) predomina esse sentimento. seu modo de proceder. Para não perder o em-
A avaliação patronal não se faz sobre cada prego, ele acaba aceitando-as. O sofrimento
operário, mas sobre a equipe de trabalho. sempre acompanha o trabalhador. Sua vida
Qualquer falha – desinteresse, baixa criati- faz-se de “incertezas e angústias” (SANSON,
vidade ou rendimento de um dos membros 2010, p. 18). Perante essa situação, como
– transforma-se em ameaça para o restante pensar uma teologia do trabalho?
da equipe. Esta passa a exigir mais do colega
de grupo até levá-lo ao constrangimento, no
lugar da empresa (PINTO, 2007, p. 92). O 4. A dimensão social do trabalho
As reflexões antropológicas sobre o tra-
4 Cf. FOUCAULT, M. Vigiar e punir, p. 173-199. Na balho e o ser humano da Carta Encíclica La-
concepção de Foucault, o panóptico “é o dispositivo do
poder disciplinar exemplar. Sistema arquitetônico de uma
borem Exercens de João Paulo II se fundamen-
torre central e de um anel periférico, pelo qual a visibilidade tam em Gn 1,27-29. Para o pontífice, o ser
e a separação dos submetidos permitem o funcionamento
humano domina e submete a terra porque,
automático do poder, ou seja, a consciência da vigilância
gera a não necessidade objetiva da vigilância. O panóptico
como imagem de Deus, é uma pessoa;
nº- 306
24
aliza diversas funções [...] as quais devem por ele as coisas materiais e a sociedade são
servir para a realização da sua humanida- transformadas e o ser humano se realiza.
de e para o cumprimento da vocação a Exatamente por isso o trabalho humano pode
ser pessoa, que lhe é própria em razão de ser considerado continuação do trabalho di-
sua mesma humanidade (LE 6). vino. Deve ser criador como foi o do Criador.
Nele o ser humano se reconhece à imagem de
Deus criou o ser humano como ser livre:
Deus. Todo trabalho que reflete o ser huma-
capaz de escolher e decidir. Como ser livre,
no como imagem e semelhança de Deus hu-
ele possui a capacidade de dominar e subme-
maniza; o contrário desumaniza.
ter o mundo visível. A liberdade humana se
À luz da dimensão social do trabalho,
dá, em primeiro lugar, na sua relação com os
proposta pela Laborem Exercens, a nova con-
outros igualmente livres, uma vez que Deus o
figuração do trabalho, que atualmente se de-
criou pessoa em relação às outras, à seme-
senha no sistema de produção capitalista,
lhança das Pessoas divinas, e não fechada em
não se apresenta como humanizadora. Nela
si mesma. Na relação da pessoa com as de- não se reflete o humano como imagem e se-
mais se encontra a sua dignidade. Com efei- melhança de Deus. No espaço celularizado,
to, a pessoa humana é um ser essencialmente onde cada trabalhador tem de se comportar
social. Sua liberdade está em sua dimensão como vigilante do outro, não há lugar para o
social. Liberdade e sociabilidade são insepa- trabalho como espaço de reconhecimento do
ráveis. É nessa conjunção que se reconhece a outro: não se valoriza o trabalhador, busca-se
dignidade humana. vigiá-lo. A relação vigilante-vigiado é o aves-
Ora, “o trabalho é uma relação social” so das relações entre pessoas. No trabalho em
(GASDA, 2010, p. 585). No mundo do traba- equipe, em que cada operário tem de atingir
lho, o ser humano é chamado a exercer sua sua parte no patamar de produtividade exigi-
liberdade e expressar sua dignidade. Nesse do de cada célula, está ausente a relação entre
sentido, pode-se entender a afirmação da La- pessoas. Falar de liberdade no trabalho pelo
borem Exercens: “Quando trabalha, o homem simples fato de o trabalhador poder criar,
não transforma apenas as coisas materiais e a usar de seus conhecimentos e inventar em
sociedade, mas realiza-se a si mesmo” (LE 26). vista tão somente do aumento da produtivi-
Todavia, só há a realização do humano se e dade – portanto, não sendo considerado em
somente se o fim do trabalho for a pessoa hu- sua dignidade de pessoa – é a mais absurda
mana, e não um fim em si mesmo, como se das ideologias. Equivale ao absurdo de sus-
verifica no sistema capitalista de produção. tentar que a servidão é voluntária. A nova
Assim como a obra da criação divina tem por configuração do trabalho, com todo o apara-
fim o ser humano, também o trabalho deve ter to que o sustenta, é o desmentido de um tra-
esse mesmo fim. Somente desse modo toda balho humanizador. O sofrimento que o tra-
pessoa humana domina e submete o mundo.6 balhador enfrenta no dia a dia nega a sua
Como relação social, o trabalho constitui dignidade. O trabalho atual não realiza o ser
parte essencial no processo de socialização humano, ao contrário, o oprime. O operário
nº- 306
humana. Pode-se sustentar que sua caracte- vive para o trabalho. O conhecimento que ele
rística principal é ser espaço de reconheci- adquire fora da fábrica, emprega-o nela. Em
•
25
tra consigo mesmo, o descanso do operário transformação da sociedade? O que se pode
visa ao trabalho; ou seja, é o trabalho per se, e dizer ao ser humano no desumano da explora-
não o trabalho para o trabalhador. O trabalho ção capitalista senão que o trabalho, nesse sis-
humano do Gênesis se opõe ao trabalho de- tema, corrói até mesmo o caráter de muitos?
sumano da revolução tecnológica. Do contrário, quem, em sã consciência, se tor-
Diante dessa nova configuração do traba- naria vigilante do colega se não se sentisse vi-
lho, como propor uma espiritualidade do tra- giado por ele? Somente num espaço em que as
balho? De que modo o trabalhador, oprimido pessoas têm condições de se relacionar à se-
em seu trabalho, pode encontrar nele a fonte melhança das Pessoas divinas pode-se falar de
de libertação, o rosto de um Deus Amor? Que uma espiritualidade do trabalho, pois somente
caminho propor para o operário sentir-se ima- assim os trabalhadores podem viver em comu-
gem de Deus num trabalho que não lhe possi- nhão, na construção de um mundo em que
bilita a realização de si mesmo, tampouco a impera a solidariedade.
Bibliografia
Liturgia diária
O periódico LITURGIA DIÁRIA facilita o contato com a Palavra de Deus
na liturgia e na leitura pessoal; favorece uma melhor assimilação
e compreensão da liturgia da missa.
As edições são mensais e trazem as leituras e orações da missa de cada dia,
comentários, preces, pequenas biografias dos santos das memórias a serem
celebradas, partes fixas da missa, orações eucarísticas e roteiros
nº- 306
de outras celebrações.
de assinaturas da Paulus:
Tel.: (11) 3789-4000 0800-164011
•
E-mail: assinaturas@paulus.com.br
Vida Pastoral
26
Comunicação e paróquia:
alguns pontos básicos e
concretos
Helena Ribeiro Crépin*
Natividade Pereira, fsp*
27
surgiram a necessidade de renovação e vários com oferece formação, assessoria técnica e
documentos sobre a vida paroquial, sempre pastoral, com laboratórios e cursos. O obje-
buscando responder às exigências dos tem- tivo é contribuir para a comunicação na pa-
pos. Antes catolicismo e cultura, espaço geo- róquia. É importante lembrar que toda a
gráfico e espaço de fé estavam unidos e sem paróquia e todas as suas atividades são co-
maiores problemas para a vida eclesial, mas municação, e não apenas o que é específico
hoje estamos em crise comunitária. Nosso da Pascom. Sabemos o caminho para a re-
modelo paroquial é bimilenar, respondeu por novação da paróquia; ele já está apontado
séculos às necessidades dos fiéis no seu con- nos documentos. Difícil é pôr em prática.
texto rural, mas a situação mudou e o sistema Ainda nos falta aquele ardor missionário
paroquial permaneceu. Por isso precisamos que exige conversão, mudança de postura e
urgentemente sair do modelo estático de mentalidade, saída da zona de conforto.
evangelização. Ao longo dos anos e sobretu-
Para a renovação da paró-
“Para a renovação do depois do Concílio Vaticano
quia e o bom desenvolvimento da paróquia e o bom II, a Igreja e grande parte dos
de sua comunicação, é funda-
desenvolvimento de seus membros têm feito muitas
mental, primeiro, ter presente reflexões, estabelecido princí-
que o pároco não é a paróquia sua comunicação, pios e prioridades, chamado à
– ambos têm identidades dife- é fundamental, ação no campo da comunicação
rentes –, mas um depende do eclesial; diversos documentos
outro. A paróquia não pode se primeiro, ter presente importantes a respeito têm sido
transformar na projeção do que o pároco não é a publicados. São necessárias
ego do padre. Comunicação é atenção, disposição e iniciativas
criar comunhão e participação
paróquia.” concretas para usufruir desses
entre todos. documentos e princípios, para pô-los em
Com o avanço das novas tecnologias e da prática concretamente no dia a dia das paró-
informática, a paróquia precisa usar formas quias e comunidades. Corremos o risco de
mais modernas para chegar aos jovens e às ficar nos ideais elevados e esquecer coisas
famílias. Precisa organizar a Pastoral da Co- fundamentais, básicas e concretas da comu-
municação, para promover melhor comuni- nicação com os fiéis e com o público em ge-
cação interna da Igreja, também por meio ral. Neste artigo nos concentramos em ele-
das redes sociais, fazendo suas atividades ge- mentos assim, básicos, fundamentais para a
rar notícias para as demais pastorais e para as comunicação na Igreja, os quais, não obs-
pessoas que não frequentam o ambiente da tante sua importância, às vezes ficam relega-
igreja-templo. dos a segundo plano: a sonorização das igre-
Na Igreja, sobretudo a partir do papa jas; a iluminação e a introspecção; a comu-
Pio XII, em 1957, procurou-se organizar a nicação na secretaria paroquial; os leitores, a
comunicação interna e com a sociedade. música e a liturgia.
Mas somente a partir do Concílio Vaticano
nº- 306
28
exemplo às margens do lago de Genesaré,
suas palavras alcançavam melhor os ouvintes Diário da alma
(cf. Lc 5,1-11). As palavras que proferia em João XXIII
montanhas ou lugares elevados também se
serviam do ambiente para serem ouvidas.
Faça a experiência: sente-se numa cadeira na
praia e comece a ouvir as conversas descon-
traídas de quem está na água. Ou, estando
próximo a uma montanha, escute a nitidez
da fala de quem está em posição mais alta.
Pelos cenários do evangelho, percebe-se que,
certamente, Jesus tinha boas noções da acús-
tica do planeta Terra.
Estudando a evolução da engenharia, sa-
be-se que, nas construções do império greco-
136 págs.
-romano, se usava muito o semicírculo, evi-
dência da descoberta de que o som reflete
melhor de baixo para cima, atuando com a O Diário da alma, escrito por
acústica própria da natureza. Durante a Ida- Angelo Roncalli, que em 1958
se tornou papa João XXIII, e
de Média, a preocupação maior era na hora
publicado após a sua morte, é
de construir o púlpito: uma pequena varanda
um diário espiritual íntimo que
ou balcão que dava para a nave da igreja, está nas origens das meditações
bem à vista dos fiéis, de onde falava o ora- feitas em seus retiros. É um
dor. Este, dotado de uma pequena ou média solilóquio, como ele próprio
voz, mas sempre preparada e projetada com o chama, utilizando um termo
força na direção da assembleia, conseguia caro a Santo Agostinho. De
fazer-se ouvir, beneficiando-se também da extrema simplicidade, frustrante
localização física do púlpito, situado num para alguns, é o itinerário de
uma vida cristã serenamente
lugar elevado. Se, obedecendo às leis da físi-
radicada na Bíblia e numa
ca, o som vai para cima, como se fazia nesse espiritualidade sacerdotal em
caso, em que a assembleia ficava embaixo? que a preocupação principal
Imagens meramente ilustrativas.
29
do tudo isso, às vezes a celebração se torna com muito granito, vidros, azulejos, paredes
um sacrifício (distinto do de Jesus!) tanto lisas, sem pintura, sem madeira, são o am-
para o presidente como para a assembleia, biente perfeito para a reverberação, inimigo
que não consegue celebrar tranquilamente e número um da inteligibilidade sonora. Quan-
tem de suportar os ruídos na comunicação. to mais liso e grande for um templo, maior a
Hoje em dia está em voga a palavra comuni- probabilidade de o som reverberar, o que
cação em todos os setores da Igreja, no en- provoca atraso na chegada da voz aos nossos
tanto a aplicação prática do conceito não é ouvidos, ficando, assim, um som misturado,
tão frequente, pois muitas vezes nem sequer incompreensível. Geralmente isso acontece
se ouvem as leituras e a homilia do padre. porque o som sai de um alto-falante comum
A inteligibilidade da fala sempre foi um grande, em geral mal posicionado – fórmula
dos maiores desafios para desig- perfeita para que o som passeie
ners de sistema de som que li- “O mau no ambiente antes de chegar aos
dam com espaços reverberan- ouvidos dos fiéis. O som rever-
tes. O mau conhecimento das
conhecimento das bera porque ricocheteia no espa-
tecnologias usadas nas caixas tecnologias usadas ço, muitas vezes em razão de su-
acústicas é a maior fonte de in- nas caixas acústicas perfícies duras e reflexivas, e
satisfação na sonorização, pois também de caixas acústicas de
uma onda sonora sem direcio- é a maior fonte má qualidade. Percebe-se um
namento adequado vai entrar de insatisfação na desconhecimento sobre isso da
em conflito com a arquitetura, parte de engenheiros ou arquite-
provocando aquele efeito de sonorização.” tos, pois o processo de constru-
eco ou de reverberação, cuja ção evoluiu sem pensar na sono-
ação deixa a voz ininteligível, embora ofere- rização, tratada como um dos últimos ele-
ça volume à musica. Consequentemente, a mentos do planejamento. E corrigir custa
primeira exigência dos párocos deve ser a mais caro do que pensar junto, no momento
prioridade da voz para poder transmitir as da construção ou reforma, qual o arranjo ide-
leituras, as orações, a homilia, evitando o vo- al para a sonorização do ambiente sagrado.
lume musical ensurdecedor típico das casas O ricochetear do som provém de sua re-
de shows. fletividade sobre as superfícies. Se combina-
Para resolver o problema da deficiência das, essas refletividades geram um ambiente
na escuta do que é pronunciado e cantado na extremamente barulhento, no qual fica difícil
liturgia ou do incômodo com o excesso de compreender as palavras faladas. Todos já ti-
barulho, sons, reverberação, volume além do vemos essa experiência em igrejas, salões de
necessário, têm surgido novas tecnologias festas ou outros ambientes em que o resulta-
que, se usadas adequadamente, conseguem do é semelhante. Um exemplo também bas-
dar boa resposta ao desafio, possibilitando a tante corriqueiro são os aeroportos, um dos
transmissão de um som claro e inteligível em tipos de ambientes mais reverberantes que
ambientes que pareciam totalmente avessos a existem. Neles as caixas acústicas, normal-
nº- 306
atingir melhor qualidade sonora em ambien- jogados novamente para o alto pelo granito.
tes muito reverberantes, fazer tratamento O som desliza e ricocheteia, dificultando a
acústico nos espaços, quando necessário.
•
Igrejas grandes, com arquitetura de teto alto, roportos que estão modernizando o sistema
30
de som a fim de torná-lo adequado para a
audição; é o caso dos de Abu Dhabi, Nova CD - Acordes Natalinos
York, Boston, Paris, Londres e o maior aero- O som latino-americano
porto da América Latina, o de Guarulhos, em
Augusto Betancourt, David Parales,
seu mais novo terminal internacional. Fabio Jiménez e Rubén Darío
A chave de êxito das novas tecnologias é
a capacidade de fazer o som sair direto de
caixas adequadas e bem posicionadas. O
som sai como um tiro a laser até alcançar
seu alvo, os ouvidos das pessoas presentes
na assembleia. Ele é formatado como feixes
de luz direcionados e focados, sendo envia-
do diretamente para os ouvintes quase livre
de reverberações, independentemente da
medida da altura da nave ou de seu poder
de reverberação. 14 faixas
31
que a onda sonora saída do alto-falante é dire- ve o problema da inteligibilidade, é muitas
cionada em linha reta, ao contrário dos alto- vezes mesclada, de forma inadequada, com
-falantes convencionais, cuja onda sai em cír- sistemas em coluna cujos alto-falantes não
culo ou em forma esférica, batendo em todas respondem aos critérios de transmissão ver-
as direções e criando eco e reverberação nas tical e horizontal exigidos pela tecnologia.
paredes, no teto e no chão. Não é porque uma comunidade é pobre
A diferença entre uma linha analógica e que não pode ter um som de qualidade. Hoje
uma linha digital verdadeira é existem soluções para cada uma;
que uma coluna de linha digi-
“o processo de de toda forma, muitas vezes é
tal é composta de alto-falantes construção evoluiu melhor não fazer nada do que
guiados cada um por um pro- instalar o sistema de som reco-
sem pensar na
cessador. Isso permite direcio- mendado por uma pessoa sem
nar em três direções a onda sonorização, tratada experiência ou sem o respaldo
sonora, focalizando até as zo- como um dos de profissionais em instalações
nas restritas de uma nave e nas igrejas. Muitas vezes se cons-
proporcionando assim inteligi- últimos elementos tata que as igrejas direcionam
bilidade de alta qualidade, do planejamento.” recursos para um piso de granito
além da redução da quantida- ou para outras coisas de menor
de de caixas. Essa solução permite, no inte- prioridade e deixam a sonorização como um
rior da maioria das igrejas, a boa transmis- investimento secundário.
são da voz, deixando apenas a reverberação
arquitetural influir em parte sobre a inteligi-
3. Iluminação e introspecção
bilidade. A linha analógica permite uma
qualidade satisfatória na inteligibilidade da Outro grande desafio nas igrejas é a ilu-
voz, mas com certa fraqueza na transmissão minação, que implica a renovação da parte
da música, priorizando as frequências de elétrica, sem a qual não se pode ir adiante
voz com um alcance inferior. Dessa forma, nesse aspecto. Uma iluminação ambiente
será necessário maior número de pontos re- para um espaço sagrado precisa proporcio-
partidos na igreja, o que exige mais frequen- nar claridade na medida certa. Uma igreja
te manutenção. escura pede iluminação correta para valori-
Já faz um ano que, no Brasil, é possível zar a arquitetura, os objetos sagrados. Uma
encontrar soluções intermediárias usando igreja extremamente clara pode tirar do am-
as caixas semidigitais, cujas possibilidades biente a sutileza da introspecção, tão impor-
garantem a transmissão equilibrada entre tante para a concentração na oração. Um
voz e música. Essas novas caixas são, na momento orante pede uma luz que provo-
maioria, importadas. São consideradas se- que leve adormecer dos sentidos, para que
midigitais pelo fato de terem condição de se experimente olhar para dentro, se inspire
modificar de forma eletrônica a faixa sono- e expire profundamente no ritmo da sereni-
ra, interferindo tanto na largura quanto no dade. Num país tropical como o Brasil, as
nº- 306
na sonorização das igrejas é o desconheci- “estar dentro de si mesmas”; com isso, o am-
mento das técnicas adequadas por parte dos biente, a luminosidade nos orienta no cami-
numerosos responsáveis: a tecnologia line
•
32
4. Comunicação na secretaria
paroquial Celebrando o dia do Senhor
Subsídio para celebrações
A boa comunicação e o atendimento são dominicais da palavra de Deus
a base da fidelidade de uma comunidade par- nas comunidades
ticipativa. O maestro é quem dá a batuta a Vv.Aa.
sua orquestra. Neste caso, o pároco e o vigá-
rio são os regentes da orquestra, na qual a
batuta sempre direcionará e harmonizará a
equipe por meio da secretaria paroquial.
O atendimento na secretaria reflete o rosto
da paróquia. Poderíamos afirmar que é consi-
derado o cartão de visita, e a(o) secretária(o)
atua de modo importante nisso. Em sua atua-
ção, destacam-se todos os elementos vitais de
comunicação, como expressão corporal e tom
de voz, e o que for transmitido terá implica-
152 págs.
ções para a imagem da paróquia, do pároco,
da igreja local e universal. Num mundo em
que tudo tem importância e ao mesmo tempo Este livro se refere às celebrações
a subjetividade interpela os valores, cada deta- do tempo do Advento, do tempo
do Natal, solenidades e festas
lhe da secretaria vai refletir na visão pessoal
do Senhor, da Virgem Maria e
formada pelo paroquiano ou visitante e contri- dos santos e santas cujas datas
buirá ou não para sua identificação, seja com são festejadas nesse período.
o atendente, seja com o ambiente, que deve Fundamentado no Documento
ser bem cuidado, sem ostentar luxo, mas ter 52 da CNBB, oferece ritos bem
dignidade, conforto e sobriedade. desenvolvidos para as orações
Caso a secretaria exerça seu papel buro- iniciais e finais, liturgia da Palavra,
crático sem uma proximidade, sem uma co- rito de louvor ou ação de graças,
comunhão eucarística e bênção. Esta
munhão que proporcione a cultura do en-
proposta ritual quer ser um apoio
contro, o trabalho fica vazio e difícil de ser às equipes, vindo para animar as
entendido e aceito. Comunicar as normas, as comunidades a celebrar a memória
Imagens meramente ilustrativas.
33
de cristã, para respeitar seus limites e valori- ornamentação, nem sequer uma flor seja co-
zar seus dons, sem blindá-lo, deixando-o locada sobre a mesa da recepção. O zelo, a
exercer seu ministério de atendimento às atenção aos detalhes fazem um bom
pessoas, mesmo que existam perigos, gol- secretário(a); tem de ser adequado não so-
pes. O padre é o pastor que conduz uma co- mente na parte burocrática, mas também na
munidade e, assim como um pai, precisa parte estética, com senso ecológico, pessoal e
atender seus filhos. do ambiente em que trabalha. Deve propiciar
O atendimento telefônico e pessoal per- que a comunicação com os visitantes seja a
passa o profissional, mas sem se deixar per- mais harmoniosa possível. Secretários e se-
der nas muitas necessidades de pessoas ca- cretárias precisariam saber que a comunica-
rentes, difíceis, controladoras. A rotina de ção, conforme certo estudo, é 70% corporal,
abrir e fechar a secretaria com 35% auditiva e 7% verbal: 70%
um atendimento humanizado “Um momento da comunicação está relacionada
e, sobretudo, a discrição sobre ao modo como a pessoa se mos-
a vida pessoal do sacerdote e
orante pede uma tra, à sua postura, suas vestes,
dos demais paroquianos de- luz que provoque cuidados pessoais, entre eles ca-
vem estar acima das dificulda- leve adormecer belos, unhas etc.; 35%, ao que
des pessoais. O cuidado com a ouvimos – o tom de voz, o tim-
discrição é fundamental, sim, dos sentidos, para bre (o uso do telefone, muitas
pois é comum que, antes de fa- que se experimente vezes, provoca mais problemas
lar com o padre, as pessoas do que os existentes de fato, pois
contem a sua vida na secreta- olhar para dentro.” nele a única referência é a voz,
ria, uma vez que esse espaço, que transmite emoção, atenção
para elas, é também extensão do sagrado. ou indiferença); e 7%, à nossa memória do
Na secretaria têm lugar situações que nos que foi falado. Pelo fato de não memorizar-
fazem refletir sobre a liderança e os seus lide- mos com facilidade, um aviso, após a comu-
rados, afinal nela é possível observar a multi- nhão, deveria sempre ser repetido. Como nos
plicidade de posturas e ações que precisam lembrar posteriormente de um aviso a nós
estar em sintonia com as orientações da Igre- dirigido por meio da fala quando estamos
ja local e universal. recém-saídos de um estado de concentração
Um espaço simples não quer dizer sim- pós-comunhão? Temos dificuldade para me-
plório; uma veste simples não precisa parecer morizar a fala. Por isso é tão importante ler e
descuidada; um espaço antigo ou novo exige ouvir a leitura.
cuidado como patrimônio da comunidade, a
exemplo do que dizia o bem-aventurado pa-
5. Leitores
dre Tiago Alberione, fundador da Família
Paulina: “Ser pobre é cuidar bem do que se A formação de leitores é vital. Convidar
tem, para manter e durar”. Em algumas igre- novas pessoas da comunidade é importante,
jas, a secretaria parece verdadeiro depósito mas não sem antes pedir que a pessoa leia
nº- 306
de objetos e de tudo aquilo que não se sabe um trecho da leitura. É bom levá-la ao am-
onde armazenar. É preferível dar-lhes outra bão, antes da celebração, para saber o melhor
•
ano 56
onde se fazem tantos casamentos com muita confidência com um amigo. Uma boa leitura
34
pede preparação e impostação da voz e co-
nhecimento de microfone: não falar nem per-
to nem longe e ter o bom senso de se aproxi- Meditando a Palavra 1
mar ou se afastar conforme a necessidade. Advento e Natal
6. Música e liturgia
A música na igreja vive um momento de
dificuldade. A busca pelo equilíbrio musical,
136 págs.
entre volume e harmonia, é um desafio para a
comunidade. O pároco, no papel de adminis-
trador de relacionamentos, inúmeras vezes se
O Advento e o Natal podem
sentirá entre a cruz e a espada. Onde não exis- ser considerados uma só festa.
tem grupos, a questão é mais séria e motiva a Ambos estão voltados para o
busca de músicos voluntários ou profissionais acontecimento nunca imaginado:
– estes, em teoria, mais facilmente administra- a encarnação de Deus, que
dos pelo pároco, que, por outro lado, deverá assume todas as condições
humanas para a nossa salvação.
despender recursos para mantê-los.
Além disso, relacionam-se com as
A música na liturgia é um ponto muito manifestações de Jesus Cristo: em
importante da comunicação nas paróquias e seu nascimento humano e em sua
precisa ser muito bem cuidada, atentando segunda vinda. Este livro oferece
para a escolha das letras e músicas adequadas reflexões sobre o Advento e o
ao tempo e ao dia litúrgico, para a qualidade Natal, cujo mistério nos garante
que a promessa da segunda vinda
Imagens meramente ilustrativas.
35
qual se ensina ao grupo que tocar bem não é adequado aos músicos e forneça equilíbrio
tocar alto; cantar bem não é cantar gritado e entre palavra e música, como já mencionado
acima do limite permitido. Nossos ouvidos anteriormente. Uma solução é situar o siste-
possuem um limite para a captação do som. O ma para a música separadamente, mas fazen-
volume é medido em decibéis, e, de acordo do parte do sistema central. É necessário
com a legislação brasileira, o volume máximo preparar algumas pessoas, no máximo três,
ao qual uma pessoa pode ser exposta em nível para cuidar do som na ausência de um pro-
aceitável é de aproximadamente 80 decibéis. fissional; que saibam, por exemplo, que uma
É notório que cerca de 20% da população irritante microfonia pode ser dissipada com
brasileira ouve um pequeno zumbido em um a diminuição de volume. Pessoas não prepa-
ou nos dois ouvidos. A ciência prova que o radas para gerir o som podem causar muitos
zumbido é um dos principais sintomas do iní- problemas, entre os quais a escolha de equi-
cio do processo de perda de audição, e cerca pamentos inadequados ou que virão a ter
de 30% das perdas de audição são creditadas custos maiores do que algo bem planejado.
à exposição a sons intensos, acima dos limites Enfim, comunicar Jesus hoje envolve
estabelecidos pela medicina. toda forma de comunicação antropológica e
Outro desafio é a qualidade do sistema tecnológica, sofisticada ou simples, nos areó-
de sonorização na igreja, que seja também pagos do mundo e das paróquias.
Bibliografia
APARICI, Roberto. Educomunicação para além do 2.0. São Paulo: Paulinas, 2014.
CARPANEDO, Penha; BORGES, Laudimiro. A paróquia e a liturgia. São Paulo: Apostolado
Litúrgico, 2014.
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______. O Brasil na missão continental. (Documentos, 88).
______. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil (2011-2012).
(Documentos, 94).
PAYA, Miguel. A paróquia, comunidade evangelizadora. São Paulo: Ave Maria, 2005.
PEREIRA, José Carlos. Captação de recursos na estrutura da paróquia: sugestões, possibilidades e
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nº- 306
Paulinas, 2014.
REINERT, João Fernandes. Pode hoje a paróquia ser uma comunidade eclesial? Petrópolis:
•
Vozes, 2010.
ano 56
ROSA, Luiz Gonzaga. Discípulos e missionários na paróquia. São Paulo: Paulus, 2010.
STROCCHI, Maria Cristina. Psicologia da comunicação. São Paulo: Paulus, 2004.
•
Vida Pastoral
36
homiléticos
Roteiros
A Igreja santa,
na terra e no céu
I. Introdução geral
As três leituras da solenidade de Todos os Santos nos apre-
sentam um fato: Deus, o Santo, quer fazer de nós imagens suas.
A santidade não é uma realidade só para alguns, mas para to-
dos. Não é um tema simplesmente da vida privada, mas, envol-
vendo nosso ser mais pessoal, faz parte de nosso testemunho
diante do mundo. Ela também não é algo a ser vivido só na
*Professora do Departamento de
outra vida, mas começa agora o que depois se plenificará.
306
-- 306
Teologia da PUC-Rio e do
Instituto Superior de Teologia da
nº
56 •• nº
37
Roteiros homiléticos
do seguimento de Jesus. Indicam a subversão que, aflitos, resistem ao mal sem fazer o mal
dos critérios do mundo: os que são considera- e agem, com esperança em Deus, em favor do
dos como nada são ditos felizes. Trata-se de restabelecimento da ordem querida por ele.
uma felicidade de outra dimensão, onde o Não se desesperam porque esperam a conso-
cristão se alegra não obstante os sofrimentos lação que não vem da justiça humana, mas
(v. 12: “alegrai-vos!”). As bem-aventuranças de Deus. A eles estão ligados os que têm fome
são, assim, imagem da nova ordem, do mundo e sede de justiça, aqueles que sofrem sem ve-
novo, do Reino que Jesus inaugura e que já se rem seus direitos respeitados, mas têm já a
inicia agora; são também retrato do próprio certeza daquela justiça que nunca falhará.
Jesus: ele é o primeiro a ser pobre em espírito, Os misericordiosos são bem-aventurados
manso, misericordioso... E, com isso, elas são porque deixam transbordar da riqueza de seu
orientação para os discípulos. coração algo que os faz, talvez sem se dar con-
Os santos viveram essa assimilação à pes- ta, imagem da infinita misericórdia de Deus, a
soa de Jesus. São hoje bem-aventurados no eles reservada. Os puros são aqueles que po-
céu, mas já começaram, pela vivência cotidiana dem estar diante de Deus sem máscaras, pois
dos valores das bem-aventuranças, a sê-lo nes- nada têm a esconder. Mesmo se encantando
ta terra. A vida segundo o evangelho não é uma com os valores deste mundo, sabem que só
vida tristonha, revoltada, mas já nos faz, aqui e vale aquilo que traz o reflexo de Deus; e, as-
agora, saborear a bem-aventurança celeste. sim, elevam tudo para Deus. Os que promo-
Quem está com Jesus já participa, na sua vida vem a paz são os que vivem a reconciliação,
concreta, da bem-aventurança prometida. que começa com Deus e, daí, deve se expandir
Não se trata, porém, de simples divisão: aos relacionamentos e estruturas humanas.
um é santo, e o outro, pecador. Embora não Por fim, bem-aventurados são os perse-
se possa negar fundamentalmente essa dife- guidos por causa da justiça, que mantêm as
rença, a santidade da Igreja é realidade que se medidas justas e não se dobram perante me-
verifica no interior de cada um. Cada um didas injustas. São, assim, sinal de contradi-
pode ter em si algo da santidade e algo do ção e se tornam um desafio e mesmo uma
pecado. A Igreja é santa naquilo que, no co- acusação. Por isso lhes advém a mesma sorte
ração de cada fiel, é orientado pelo amor que de Jesus: o desprezo e até o ódio.
provém de Deus, leva a Deus e à dedicação Na versão do Evangelho de Lucas, Jesus
sem limites aos irmãos. pronuncia as bem-aventuranças “erguendo
Bem-aventurados são, primeiramente, os os olhos para seus discípulos” e dizendo:
“pobres em espírito”. Não se trata nem de po- “Bem-aventurados vós, os pobres... Vós, que
breza unicamente material nem de pobreza pu- agora tendes fome... Vós que agora chorais...
ramente espiritual. Trata-se de saber renunciar Bem-aventurados sereis quando os homens
às riquezas materiais, usando-as para o bem vos odiarem...” (Lc 6,20-23). É como se Je-
comum, com a liberdade interior que provém sus já visse neles realizado algo da beleza
dos imperativos do evangelho. Isso é impulso das bem-aventuranças. As bem-aventuran-
para que a justiça social aconteça na sociedade. ças não são uma teoria, mas se realizam já
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A Igreja, os cristãos, vivendo essa pobreza evan- neste mundo. Assim, não se deve ler as
gélica, tornam-se sinais do mundo novo. bem-aventuranças sem olhar para tantos
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ano 56
Essa atitude se expressa também na man- que já agora são puros, santos, honestos... A
sidão, que, não se impondo com prepotência, Igreja é santa nos céus, mas o é também na-
•
mas sendo vivida em espírito de serviço, terá queles que, já aqui, se deixam guiar pela vi-
Vida Pastoral
sua recompensa na outra terra. E naqueles vência radical do evangelho. Todos esses
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que procuram viver o evangelho celebram,
com os santos canonizados, a festa de Todos
os Santos. E podem alegrar-se e exultar por- Animação bíblica na escola
que, pela graça, terão grande recompensa Um “pensar bíblico” para
uma releitura da educação e
em Deus (cf. Mt 5,12). da vida
Valéria Andrade Leal
2. I leitura (Ap 7,2-4.9-14)
Na primeira cena da leitura de hoje, do
livro do Apocalipse, vemos os fiéis em meio a
grandes provações. Sem livrá-los das dificul-
dades, Deus intervém em seu favor. Eles são
marcados com “o selo do Deus vivo”, identi-
ficados como “servos de Deus” (v. 3). A mar-
ca que recebem é o batismo, que, na comuni-
dade cristã primitiva, muitas vezes aparece
na imagem do “selo” (cf. 2Cor 1,21-22). Ele
80 págs.
faz do cristão propriedade de Deus e, por
isso, é sinal que protege do juízo escatológi-
co. Dessa forma, já agora pertencem a Deus e Esta obra é uma importante
depois chegarão à glória de Deus, estarão de contribuição para o serviço de
pé diante de seu trono (v. 9). animação bíblica. Unindo a
Em seguida, o texto apresenta a visão dos experiência no uso da Sagrada
eleitos no céu, aqueles marcados com o selo Escritura com estudantes e o desejo
de atuar na Pastoral Escolar, Ir.
(v. 9-14). Eles são incontáveis (cf. Gn 15,5: a Valéria propõe uma “Animação
promessa a Abraão), num número de grande- Bíblica da Escola” que, muito além
za incomparável (12 x 12 x 1.000, v. 4), e do uso da Bíblia na escola, seja
provêm de todas as partes do mundo. São um “pensar bíblico” que permita a
admitidos onde antes estavam só os anciãos e releitura da educação e da vida,
constituindo uma espiritualidade que
os quatro seres vivos: à presença de Deus (cf.
envolva tanto a escola como o/a
Ap 5,6-8). Portam vestes brancas, a vida nova educador/a cristão/ã. O texto
na qual entraram pelo batismo e que se ple- inclui a indicação metodológica de
Imagens meramente ilustrativas.
nifica na glória celeste. E têm nas mãos pal- cinco preciosas chaves de leitura,
mas, símbolo da vitória (v. 9). Foram purifi- bastante inspiradas na obra de Frei
cados pelo batismo, no qual se torna realida- Carlos Mesters, um dos maiores
biblistas católicos da atualidade.
de a força salvadora da cruz, e, passando pela
provação, a venceram (v. 13-14).
Por isso participam da liturgia celeste. O Vendas: (11) 3789-4000
hino que cantam proclama Deus e o Cordei- 0800-164011
ro como autores da sua salvação (v. 10). O SAC: (11) 5087-3625
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Roteiros homiléticos
(v. 2-4) e outra celeste (v. 9-14), o Apocalipse III PISTAS PARA REFLEXÃO
abre a realidade da ação salvadora de Deus, que
- O Concílio Vaticano II, no documento
já nesta história santifica os seres humanos e os
Lumen Gentium, fala da vocação de todos à
guia para a meta última, a glória, na qual parti-
santidade. Estamos convictos de que temos o
ciparão da liturgia que não terá fim.
chamado para ser santos? De que nosso teste-
3. II leitura (1Jo 3,1-3) munho perante a própria Igreja e perante a
sociedade passa pela resposta a essa vocação?
A vida do cristão transcorre entre dois
- Em que consiste a santidade da Igreja,
momentos: o agora e o que virá. O primeiro dos cristãos? Como ser cristão coerente num
momento (v. 2) já é marcado pela realidade mundo em que há tantas estruturas e valores
transcendente: somos realmente filhos de que contrariam o evangelho?
Deus. No Antigo Testamento, o povo de Is- - Nossa santidade é mais obra nossa ou
rael aparece, embora raramente, como filho de Deus?
de Deus, mas num sentido simbólico, para
indicar a estreita relação de pertença a Deus
(cf. Os 11,1) e a realidade de ser obra das 32º DOMINGO DO TEMPO COMUM
mãos de Deus, que é o Criador e aquele que 8 de novembro
formou o povo eleito (cf. Is 64,7; 63,16). No
Novo Testamento, não se trata de um símbo- Dar não só o
supérfluo, mas
lo, mas de uma realidade. O único Filho de
Deus, Deus como Deus, fez-se humano. E
mesmo do
por sua obra redentora (cruz-ressurreição)
deu-nos real participação na sua vida de Fi-
necessário
lho. Isso começa em nós pelo batismo. Essa
realidade encontra-se, contudo, marcada
pelos limites da história (geral e pessoal).
O segundo momento é a vinda futura do
Filho de Deus. Então aquilo que já somos (fi- I. Introdução geral
lhos) será levado à plenitude. Quando en- O tema predominante na liturgia deste
contramos alguém que amamos e que nos domingo é dado pela correspondência entre o
ama, nosso semblante se ilumina. Sorrimos, episódio da viúva pobre no templo (evange-
falamos... com confiança diante de um ami- lho) e o da viúva de Sarepta (1ª leitura). A par-
go. Quando encontrarmos a Deus, sua divina tir daí, pode-se compreender a crítica que Je-
face iluminará a nossa face. Nosso “semblan- sus faz aos escribas e a dimensão do sacrifício
te” será iluminado. Resplandecerá em nós de Cristo tematizado na carta aos Hebreus.
seu amor, sua divina Pessoa... Nossa seme-
lhança com ele chegará ao ápice.
II. Comentário dos textos
Essa esperança deve guiar nossa vida,
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que vem de Deus. Assim, o cristão não só se cio das narrativas acerca do profeta Elias (cf.
Vida Pastoral
santifica, mas santifica a história. 1Rs 17-19; 21; 2Rs 1-2). O contexto da cena é
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a grande seca enviada pelo Senhor (v. 1). O rei
Acab promovia o culto ao deus cananeu Baal,
ao qual era atribuída a chuva e a fertilidade A Bíblia, a arqueologia e a
dos campos. Com a seca, o Senhor mostrava a história de Israel e Judá
inoperância do deus cananeu e a potência de José Ademar Kaefer
sua palavra, que fechava os céus. Elias recebe
a ordem de habitar em território fenício, na
região de Sarepta (v. 9), cerca de 15 km ao sul
da cidade de Sidônia. Tratava-se de um territó-
rio pertencente ao sogro do rei. As realizações
de Elias naquela região fora do domínio de Is-
rael demonstravam o grande poder do Senhor,
que ultrapassava as fronteiras israelitas.
Elias é um profeta chamado individual-
mente por Deus, não ligado à corte nem a um
grupo de profetas; por isso, quando não se en-
112 págs.
contra em sua própria morada, depende da
hospitalidade e da caridade de outrem. Deus o
adverte de que uma viúva lhe virá em auxílio
Nas duas últimas décadas, a
(v. 9). Uma pessoa naturalmente desprotegida arqueologia e as pesquisas literárias
na sociedade israelita e em situação de parti- da Bíblia têm mudado a compreensão
cular necessidade (por causa da seca) é o ins- da história de Israel. Tanto que, em
trumento de Deus para vir em socorro de seu nossos dias, não é mais apropriado
profeta. Deus se serve dos frágeis, mas genero- pensar Israel e sua história como
única grande entidade nacional
sos, para melhor manifestar a sua força. É a
sob um único governo, mas como
viúva quem dará sustento ao grande Elias. Ela duas entidades distintas: Israel Norte
possui, em sua indigência, muito pouco. Mas e Judá. O marco é 722 a.C.,
esse pouco será o princípio com base no qual quando a Assíria invade a capital
ela tirará sustento para si, para seu filho e para Samaria. Só então Judá se torna
o profeta, e por longo tempo (v. 15). independente do domínio do norte,
se desenvolve e começa a escrever
Julgando segundo razões bem plausí-
a história, incorporando e assumindo
Imagens meramente ilustrativas.
veis, a mulher expõe sua quase impossibili- as tradições do norte como suas.
dade de atender ao pedido do profeta por Portanto, “desenterrar” a memória de
um pouco de pão. Elias, porém, mantém-se Israel Norte é ainda uma tarefa longa,
firme em sua solicitação e dela exige o pou- mas que este livro se propõe a iniciar:
co que ainda lhe resta. Mas apoia essa exi- a história vista a partir de Israel Norte.
gência na confiança de que o Senhor cuida- Vendas: (11) 3789-4000
rá da situação (“Não temas, não te preocu- 0800-164011
pes!”, v. 13) e garantirá a sobrevivência dos SAC: (11) 5087-3625
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Roteiros homiléticos
prestes a acabar (v. 15). Deus garante o ali- agravada por ser levada a efeito por pessoas
mento; ele é quem dá o sustento necessário que “ostentam longas orações”.
à vida. E o dá para ser partilhado. Jesus critica, assim, os escribas por sua
pretensão de ter, na comunidade, uma posi-
2. Evangelho (Mc 12,38-44) ção de destaque em virtude do conhecimento
O texto do evangelho são as últimas pa- da Lei. O que deveria ser um serviço à comu-
lavras de Jesus antes do discurso escatológi- nidade torna-se motivo de autopromoção e
co, último de sua vida pública (cf. Mc 13), e de dominação. Sua crítica termina com uma
antes da paixão. É como uma última indica- condenação, que equivale a um juízo divino
ção das disposições que deve ter seu discípu- escatológico (assim o expressa o termo grego
lo. O texto da liturgia possui duas partes: nos kríma, sentença, julgamento). Os escribas re-
v. 38-40, Jesus admoesta os discípulos quan- ceberão um julgamento mais severo, porque
to ao comportamento dos escribas; os v. 41- eram conhecedores da vontade de Deus e
44 trazem a cena da viúva pobre que deposi- porque se serviam de pessoas frágeis para
ta seu donativo no templo. Aproximando os seus propósitos escusos.
dois temas, o evangelista quis estabelecer A segunda parte do evangelho de hoje (v.
contraste entre os escribas e a pobre viúva, 41-44) se passa na sala do tesouro do templo,
propondo esta última como modelo. no átrio das mulheres, onde havia três cofres
Na primeira parte (v. 38-40), Jesus come- destinados a receber as ofertas dos fiéis. Os
ça com uma advertência: “Guardai-vos dos doadores diziam em voz alta o valor que depo-
escribas... cuidado com os escribas” – cha- sitavam e o entregavam a um sacerdote. Desse
mando a atenção para a necessidade de estar modo, Jesus podia conhecer o que era ofereci-
atento e não se deixar influenciar pelo com- do. O evangelista apresenta duas contraposi-
portamento deles. Em seguida, aponta duas ções: muitos ricos / uma só viúva; ofereciam
atitudes dignas de crítica. Primeiramente, a muito / ofereceu duas moedinhas. Essa con-
procura de reconhecimento e elogios, por meio traposição faz ressaltar a pobreza da viúva e a
do uso de túnicas usadas para sair, vistosas e sua posição desfavorável. Ela oferece duas
eventualmente ricas (o termo grego stolé indi- “lepta” ou um “quadrante”, respectivamente as
ca por vezes a veste do rei ou do sacerdote: cf. menores entre as moedas gregas e romanas.
2Cr 18,9; Est 6,8; Ex 28,2); do gosto de serem O ensinamento de Jesus aos seus discípu-
saudados em primeiro lugar, o que demons- los é solene: “Em verdade vos digo” – ele dará
trava sua importância; da satisfação em ocu- uma sentença verídica sobre o fato. A oferta
par tanto os primeiros postos na sinagoga, re- da pobre viúva supera a dos ricos, porque é
servado a personalidades importantes (ou ao seu tudo. Os ricos nada têm de prejuízo com
menos seus próprios lugares, já que os escri- o que dão, pois dão do seu supérfluo. A viúva
bas não se sentavam junto com o povo, nas dá tudo o que tem. Ela poderia ter dado só
sinagogas, mas em lugares especialmente re- uma moeda, mas deu as duas que tinha e,
servados), quanto os lugares ao lado de quem por isso, seu sacrifício é maior e mais autên-
oferecia um banquete (cf. Lc 14,18ss). Em tico, mais generoso.
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segundo lugar, o desejo de possuir bens, mesmo Quem dá o que lhe sobra não vê tocada
daqueles que eram objeto da proteção especial sua própria existência, que continua segura.
•
ano 56
de Deus (viúvas e órfãos: cf. Ex 22,21-22). Doando tudo o que tinha para viver, a viúva
“Devorar as casas” significa apropriar-se ilici- professou concretamente seu amor e total
•
tamente, talvez por meio dos altos preços exi- adoração a Deus, a entrega de sua vida a ele
Vida Pastoral
gidos por consultas jurídicas. Tal atitude é e, simultaneamente, a confiança na sua pro-
42
vidência. Não basta dar a Deus o supérfluo;
Deus não quer de nós alguma coisa, mas,
sim, ele nos quer. Jesus não fez à pobre viúva
do templo uma promessa de sustento, como
o fez o profeta Elias em Sarepta. A viúva do
templo tem sua recompensa a partir de seu
próprio ato. Se ela assim se dá a Deus... que
não dará Deus a ela?
De outro lado, se ela assim se doa a Deus,
este deve ser também o modelo de sua doa-
ção aos outros. Nossa solidariedade com to-
dos não se pode expressar só em dar o nosso
supérfluo, mas também o que nos é necessá-
rio, não só materialmente, mas também nos-
so tempo, nossa atenção, nossa compreen-
são, nossa paciência... Enfim, nós mesmos.
A viúva é, assim, apresentada como
exemplo, embora na sociedade de então não
ocupasse nenhum destaque (por ser mulher
e sem marido, sem proteção; e por ser po-
bre). Ela é exemplo que resume em si, de cer-
ta forma, a atitude que cabe ao ser humano
diante de Deus.
43
Roteiros homiléticos
no com Deus. Jesus realizou a salvação de Senhor que virá cheio de glória é aquele que,
modo pleno, cabal (v. 28). na cruz, se ofereceu como vítima e sacrifício
Aqui se abre a dimensão cristológica do uma vez para sempre.
discipulado exposto no evangelho. Se a viúva
é modelo de discípulo por dar-se totalmente
a Deus (e, daí derivando, também seu amor II. Comentário dos textos
ao próximo), a carta aos Hebreus, lida nesse bíblicos
contexto, mostra que Jesus é o modelo do
discípulo, também porque ofereceu a Deus 1. I leitura (Dn 12,1-3)
todo o seu ser, sem nada reter, incluindo sua O texto de Dn 12,1-3 dá continuidade ao
vida e sua morte. Ele deu realmente tudo o capítulo 11 e particularmente aos v. 40-45,
que tinha (cf. Mc 12,44).
que descrevem o “tempo do fim” (11,40) e
nos quais se entrevê a morte do rei Antíoco
III. Pistas para reflexão IV, que procurou impor a cultura e a religião
pagãs ao povo judeu. É a esse tempo que se
- Estou atento ao fato de que Deus pode
refere o início do nosso texto de hoje: “Na-
manifestar-se não só no que é mais vistoso,
quele tempo...” (12,1).
mas também nos mais frágeis, nos indigen-
Será um tempo de angústia máxima, no
tes, nos sem nome?
qual só se pode esperar saída por uma inter-
- Como é meu serviço na comunidade
eclesial? É realmente um serviço a Deus e a venção decisiva de Deus. Miguel aparece
meus irmãos, ou a mim mesmo? com a função de protetor, ou de advogado
- Sei estar diante de Deus em atitude de do povo de Deus, ou ainda de juiz que,
adoração, para oferecer-lhe toda a minha como instrumento de Deus, impõe a justiça.
vida, todo o meu ser? Sei que essa oferta tem A intervenção de Deus que livra o povo da
como modelo último o próprio Senhor, que angústia é, em primeiro lugar, a aniquilação
deu a sua vida por nós? do rei estrangeiro, mas se alarga numa di-
mensão mais ampla, pois diz respeito tam-
bém àqueles que já morreram. O agir de
33º DOMINGO DO TEMPO COMUM Deus alcança mesmo os que já não são parte
15 de novembro ativa desta história.
A cada momento
Os que serão libertados da angústia são
aqueles que estão inscritos no “livro”. A ideia
tocamos o final
de um livro onde estão escritos os atos dos
seres humanos ocorre em outros lugares na
dos tempos
Bíblia (cf. Ex 32,32-33; Ml 3,16; Sl 68/69,29).
Os que estão inscritos serão liberados da an-
gústia: são os membros da comunidade da
aliança, que permaneceram fiéis a Deus ape-
nº- 306
consumação da história, com a parúsia do justos que ressuscitarão (v. 2) – também rece-
Senhor. Essa consumação é preanunciada no berão a vida eterna.
•
livro de Daniel, ao descrever o fim dos tem- A esse tempo final pertence também a
Vida Pastoral
pos e a ressurreição que então terá lugar. O ressurreição. Não se trata aqui da ressurrei-
44
ção universal (o texto diz literalmente “mui-
tos dentre os que”), mas da ressurreição dos
sábios e dos ímpios. Eles receberão destinos A mistagogia em Cirilo de
diferentes: a vida eterna, a ignomínia eterna. Jerusalém
Os “sábios” (maśkîlîm) são os prudentes,
Rosemary Fernandes da Costa
os que julgam retamente. Esse termo adquiriu
também a conotação de “aquele que tem êxito,
que prospera”. Eles são aqueles que condu-
zem muitos para a justiça (literalmente: tor-
nam [outros] justos), que caem pela espada e
pelo fogo e são purificados (cf. 11,33-35).
Esse fato e ainda a presença de três termos –
“sábio” ou “o que tem êxito”; “muitos”; “tornar
justo” – fazem uma ponte de nosso texto com
o quarto cântico do Servo sofredor (Is 52,13-
53,12), que morre, mas terá êxito (Is 52,13) e
tornará justos muitos (53,11). Assim sendo, os
152 págs.
sábios de Dn 12 têm uma função em relação
ao povo que é, de certa forma, paralela à do
Servo sofredor de Isaías. Mas, em Isaías, o ser- Para a Igreja dos primeiros séculos,
vo torna justos muitos em virtude de seu sacri- essa foi a teologia que não
fício expiatório (cf. Is 53,5-6.10-11); em Da- apenas embasou os processos
de iniciação, mas que orientou a
niel, os sábios tornam justos muitos em virtude
seleção de conteúdos, a liturgia, as
de seu ensinamento. práticas, as revisões e avaliações.
Muitas vezes, os sábios são identificados Neste trabalho, nos dedicamos a
com os “piedosos” (hassidîm). Estes, porém, uma das fontes patrísticas que muito
chegaram a formar, na época do livro de Da- tem a nos dizer com relação a esse
niel, um grupo militante armado (cf. 1Mc tema, a coletânea das Catequeses
Mistagógicas, de Cirilo de
2,14), liderado por Judas Macabeu (cf. 2Mc
Jerusalém. Convidamos você, leitor
14,6). Os sábios de nosso texto, ao contrário, e leitora, a procurar “ouvir” Cirilo
são aqueles que renunciaram a meios violen- falar, buscando entrar em sintonia
Imagens meramente ilustrativas.
tos para fazer prevalecer o direito de Deus. com seu tempo e, depois, pouco a
Sua exaltação vem do fato de instruírem a pouco, deixar-se “conduzir” pelas
muitos nos caminhos da justiça. mãos de Cirilo, pelos mesmos
caminhos com os quais orientava
O julgamento de Deus sobre a história seus catecúmenos.
pode tardar, mas não falhará. Por fim preva-
lecerá sua justiça, que recompensará os fiéis e Vendas: (11) 3789-4000
dará glória e beleza divinas àqueles que de 0800-164011
modo particular foram seu instrumento. SAC: (11) 5087-3625
nº- 306
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Roteiros homiléticos
catologia, isto é, a conclusão e a meta da his- tudo; haverá grande mudança, determinada
tória, que se manifestará com a parúsia, a se- pelo retorno do Filho do homem.
gunda vinda do Senhor. Esse discurso usa A vinda do Filho do homem é descrita
numerosas imagens tiradas de textos proféti- com imagens cósmicas. Trata-se de um modo
cos do Antigo Testamento e da apocalíptica de falar com o objetivo de enfatizar que se
judaica. A apocalíptica é um conjunto de trata de uma teofania, uma manifestação de
ideias que responde a uma situação de grave Deus cheia de glória e poder.
crise com base em uma revelação de Deus. A expressão “Filho do homem” evoca o
Essa revelação mostra o sentido das tribula- texto de Dn 7,13-14. As nuvens indicam sua
ções presentes e, baseando-se no fato de que origem celeste. O tempo da consumação já
é Deus, em última instância, quem dirige a não será marcado pelo levantar-se de Miguel,
história, inculca a ideia de seu triunfo final mas pelo retorno do próprio Jesus. Sua vinda
sobre todo o mal. Fornece à comunidade, as- será não mais na fraqueza de sua humanida-
sim, meios para enfrentar a realidade negati- de terrestre, mas na glória de sua ressurreição
va que experimenta. e no seu poder para julgar o mundo e a his-
Dessa forma, o discurso de Jesus em Mc tória (cf. Mt 25,31). Ele vem para todos. Não
13 não procura primeiramente descrever os se diz para que ele vem; apenas se acena à
acontecimentos do fim da história. Não se reunião de todos os justos de todas as partes.
preocupa em anunciar uma catástrofe ou fa- A imagem dos anjos que reúnem os eleitos
zer uma ameaça, mas indicar que o mundo ocorre já no Antigo Testamento (cf. Zc 2,10;
tem uma meta, para a qual inexoravelmente Dt 30,4): o povo eleito se encontra disperso
caminha: a vinda do Filho do homem em por toda a terra, e Deus o reunirá no fim dos
poder e glória. Acontecerá então a consu- tempos. Em Marcos, trata-se da comunidade
mação do plano de Deus. Com isso, visa in- cristã, que participará da salvação. A reunião
culcar uma atitude nos cristãos: eles devem dos discípulos em torno de Jesus constitui,
estar sempre vigilantes, pois o Senhor, em- em Marcos, a comunidade da Igreja. Com
bora possa tardar, com toda a certeza virá. efeito, em Marcos, a primeira ação de Jesus é
Seus discípulos vivem já na certeza dessa chamar e reunir a si os discípulos; eles esta-
vinda, atentos a ela, fixando o olhar naquele rão com ele todo o tempo de sua vida pública
que retornará. (cf. Mc 1,16-20). Na parúsia, a Igreja será le-
Após a introdução (v. 1-4), o discurso de vada à sua plenitude, quando os justos (cf.
Jesus descreve os sinais precursores do fim e Dn 12,2) estarão definitivamente com o Se-
ensina a atitude do discípulo em tal situação nhor (cf. 1Ts 4,17).
(v. 5-23). O texto do evangelho de hoje toca A parábola que segue (v. 28-29) mostra a
o ponto central do discurso (v. 24-27) e é necessidade de saber discernir os sinais pre-
complementado pela primeira das duas pará- cursores do fim (v. 5-23). O discípulo deve
bolas que se seguem (v. 28-29) e por exorta- ser sábio: deve ser capaz de observar e inter-
ções à vigilância (v. 30-32). Com a indicação pretar. Como os sinais estão presentes em vá-
da segunda vinda de Jesus, de fato, o discur- rios momentos da história, o cristão é chama-
nº- 306
so chega ao seu ponto alto. Essa vinda (parú- do, a cada instante, à consciência de que
sia, cf. 1Ts 4,17: retorno glorioso de um rei “está próximo, às portas” (cf. 1Ts 5,1-3). A
•
ano 56
ou general após uma guerra ou visita do im- parúsia do Senhor é um acontecimento futu-
perador a uma cidade) terá lugar “depois da- ro que lança luz ao presente de cada cristão,
•
quela tribulação”. Os sofrimentos que marca- à medida que influencia seu pensar, seu jul-
Vida Pastoral
46
O v. 30 refere-se, ao contrário, a todos os glorioso, o Filho do homem que julgará o mun-
acontecimentos indicados no discurso (“até do por sua Palavra e tudo levará à plenitude.
que tudo isso aconteça”). “Esta geração não
passará”: a geração à qual são dirigidas as pa-
lavras do evangelho. Mais do que uma ideia
III. Pistas para reflexão
precisa acerca do tempo, o que se quer trans- - Sou alguém que procura contribuir
mitir é a certeza de que tal Palavra se cumpri- para que muitos cheguem mais facilmente a
rá: tal certeza deve ser um chamado constante Deus (Dn 12,3)? Ou, por meu agir, contri-
à conversão e à necessidade de estar vigilante. buo para que reine no mundo a injustiça, a
A chave de interpretação dos sinais é a maldade, o erro?
Palavra de Jesus (v. 31). A parúsia mostrará - Como a parúsia do Senhor influencia mi-
que tudo é transitório, com exceção da sua nha vida e a de minha comunidade já agora?
Palavra. A consumação da história já começa - Sei/sabemos ler os sinais da minha/nos-
em nossas decisões e na Palavra de Jesus que sa história à luz da Palavra de Deus, à luz de
já hoje opera. sua morte, caminho para a glória?
O texto conclui enfatizando que determi-
nar o momento da parúsia é algo reservado ao
Pai (v. 32). Há uma linha ascendente: anjos – 34º DOMINGO TC. / CRISTO REI
Filho – Pai. Isso sublinha a absoluta liberdade 22 de novembro
de Deus, a gratuidade de seu agir, e em nada
diminui o poder de Jesus. Mostra, porém, que
Jesus quis, como homem, submeter-se total-
O Crucificado é rei
mente ao Pai, dele recebendo tudo. Para a co-
munidade de Marcos, isto é o decisivo: saber
eterno e universal
que o dia virá com certeza e que o momento
de sua vinda está nas mãos de Deus. I. Introdução geral
3. II leitura (Hb 10,11-14.18) Jesus Cristo é Rei universal. Seu reinado
se manifesta em seu amor por todos e chegou
O texto da segunda leitura pertence à
ao ápice no seu sacrifício da cruz, caminho
mesma seção do trecho do domingo passado,
para sua glorificação. Ele é o Messias trans-
no qual se apresenta a diferença entre como
cendente, que veio e retornará em poder.
os sacerdotes do Antigo Testamento garan-
tiam o acesso a Deus e como Jesus o fez. O
ponto central aqui é que Jesus realizou um II. Comentário dos textos
sacrifício único pelos pecados, pois por ele bíblicos
alcançou plenamente a salvação do gênero
humano. O perdão já foi concedido (v. 18), 1. I leitura (Dn 7,13-14)
Deus já se tornou propício aos seres huma-
nos e não voltará atrás. Após a visão de quatro animais (Dn 7,2-
nº- 306
Por esse sacrifício irrepetível, Jesus alcan- 8), Daniel reporta a visão do trono de Deus e
çou a glória (v. 12). A ressurreição de Jesus o de seu juízo sobre o mundo (v. 9-12). Os v.
•
ano 56
constitui Senhor da história. O tempo atual 13-14 mencionam a visão do filho de homem
aguarda o momento em que seus inimigos se- que se apresenta diante do trono de Deus. A
•
rão colocados como apoio para seus pés (v. 13): partir do v. 15, o texto traz a interpretação
Vida Pastoral
quando o Senhor consumará sua obra. Ele é o das visões (v. 15-28).
47
Roteiros homiléticos
O “filho de homem” é figura que ganhou tória, Deus, é que, afinal, fará triunfar seu Rei-
grande importância na tradição judaica e cris- no. E o fará por meio de alguém que vem de
tã. Literalmente, significa “ser humano” (cf. Sl seu mundo divino. A comunidade pode então
144,3; Jó 16,21; Jr 49,18.33 etc.). Mas não é confiar que a última palavra pertence a Deus. E
simplesmente tal, pois é apresentada em for- adquirir, assim, a chave para interpretar a histó-
ma de comparação: “como um filho de ho- ria, para enfrentar perseguições, sem se deixar
mem”. O “como” indica que ele é percebido subjugar pelo aparente poder mundano, mas
numa visão, não distintamente, mas de modo mantendo-se firme na fé no poder de Deus.
pouco claro. Pode ou não ser um ser humano.
Como, no livro, “homem” muitas vezes se re- 2. II leitura (Ap 1,5-8)
fere a anjos ou seres celestes (cf. Dn 8,15; O texto, que praticamente abre o livro do
9,21; 10,5; 12,5-7), o “filho de homem” pode- Apocalipse, apresenta a glória e o poder de
ria representar um ser celestial. Isso é confir- Jesus Cristo e as consequências de sua obra
mado pelo fato de vir “nas/com as nuvens do para nós.
céu”, ou seja, ter origem celeste; ele é trans- A pessoa de Jesus ocupa o centro da
cendente. No Novo Testamento, particular- mensagem. Diversos predicados seus são aí
mente nos evangelhos, a expressão “Filho de descritos.
homem” referir-se-á quase exclusivamente a a) Ele, o Ressuscitado, é rei, com poder e
Jesus Cristo, o que bem expressará, além de glória plenos (v. 5a.6b).
outras características, sua origem divina. b) Ele vem. Ele vem “em meio a nuvens”
Os quatro animais são representações es- (v. 7), como o “filho de homem” de Daniel,
quemáticas de reis e reinos que se sucederam numa clara indicação de seu caráter trans-
na história (não exatamente em número de cendente e de seu domínio universal.
quatro), até o reinado helenista da época de No v. 8, Deus se autoapresenta como
Daniel. Isso faz pensar que também o filho “aquele que é e que era e que vem”. Trata-se
de homem seja uma figura régia. Como ele é de uma releitura de Ex 3,14, onde Deus se
associado aos santos do Altíssimo, que rece- revela como o “Eu sou”. A tradição judaica já
berão o Reino (v. 18.27), pode ser considera- havia explicado esse nome com a expressão:
do um ser individual que representa todo o “aquele que é, que era e que será”. O Apoca-
povo que participará do Reino eterno. lipse, porém, muda essa fórmula, substituin-
O “filho de homem” se apresenta diante do “o que será” por “o que vem”. Com isso, a
do Ancião, figura de Deus que vive para sem- expressão diz respeito a Deus Pai, que garan-
pre. Dele recebe o império, um domínio uni- te o que foi dito anteriormente (ele é o alfa e
versal, permanente e indestrutível. Tomará, o ômega em Ap 21,6), mas, ao mesmo tem-
portanto, o lugar dos reinos que dominaram po, abre-se para indicar Jesus (ele é o alfa e o
a história, que não são nem universais, nem ômega em Ap 22,13). No Apocalipse, marca-
permanentes, nem indestrutíveis. -se de modo muito forte a unidade (na diver-
Há evidente contraste entre as feras que so- sidade das Pessoas) entre o Pai e o Filho.
bem do mar (v. 3) e o filho de homem, que vem Aquele que vem é o Filho de homem po-
nº- 306
nas nuvens do céu. Seu reinado não será fruto deroso, mas que sofreu na cruz, que foi tras-
das vicissitudes de uma história que tantas ve- passado (v. 7, cf. Zc 12,10.14), que derramou
•
ano 56
zes se apresenta dominada pelos poderes do seu sangue (v. 5). A união da figura do Filho
caos (o mar), daquilo que é o oposto de Deus. de homem poderoso com a do traspassado de
•
Não são os poderes deste mundo que determi- Zc 12, dois aspectos tão contraditórios, mos-
Vida Pastoral
nam a história, mas o verdadeiro senhor da his- tra a novidade do Novo Testamento quanto ao
48
Salvador. Seu poder se manifesta não afastan-
do a morte, mas assumindo-a e transforman-
do-a. Por isso, seu poder alcança a todos (v. 7), O sacramento do matrimônio e
as causas da nulidade
mesmo os responsáveis por sua morte. Seu
triunfo será universalmente reconhecido. Anselmo Chagas de Paiva
c) Ele é aquele que nos ama e nos libertou de
nossos pecados (v. 5). Sua obra de redenção,
realizada na cruz (ele nos libertou, no passa-
do), é fruto de seu amor, que não é um ato
(só) passado, mas presente (ele nos ama).
Daí surgem as consequências para nós:
pelo poder de seu amor, somos libertados do
pecado (v. 5) e, com isso, adquirimos dignida-
de régia e sacerdotal. O que era promessa para
o povo judeu, após a libertação do Egito, se
guardasse a aliança (cf. Ex 19,6), agora se tor-
216 págs.
nou realidade, por sua cruz e ressurreição.
Aquilo que Jesus é, ele o participa a seus fiéis.
Se é assim, a comunidade eclesial tem só Na Carta aos Efésios, São Paulo
uma coisa a dizer: “a ele seja a glória e o po- frisa que, nos esposos cristãos, se
der pelos séculos dos séculos. Amém” (v. 6). reflete um mistério grandioso: a
relação instaurada por Cristo com
3. Evangelho (Jo 18,33b-37) a Igreja, uma relação nupcial (cf. Ef
5,21-33). A Igreja é a esposa de
A cena é a do processo contra Jesus. Pila- Cristo. Isso significa que o matrimônio
tos pergunta-lhe se ele é o “rei dos judeus” corresponde a uma vocação
(Jo 18,33). Tal pergunta remete à acusação específica e deve ser considerado
que o levou ao tribunal (cf. Jo 19,31), da qual uma consagração (cf. GS 48; FC
Pilatos se distancia (“Acaso sou eu judeu?”, v. 56). O homem e a mulher são
consagrados no seu amor. Com
35), negando implicitamente que tivesse nela efeito, em virtude do sacramento,
qualquer responsabilidade. Na boca do juiz os esposos são revestidos de uma
romano, porém, tal pergunta poderia denotar autêntica missão, para que possam
Imagens meramente ilustrativas.
certo desprezo pelos judeus, pois ele apre- tornar visível, a partir das realidades
senta aos acusadores Jesus, já flagelado e es- simples e ordinárias, o amor com
que Cristo ama a sua Igreja,
carnecido, como “o vosso rei” (cf. 19,14-15)
continuando a dar a vida por ela na
e o caracteriza, no letreiro colocado na cruz, fidelidade e no serviço.
como o “rei dos judeus” (19,19).
Jesus, porém, eleva o nível da pergunta de Vendas: (11) 3789-4000
Pilatos. Responde com uma interrogação que 0800-164011
lembra aquela que, nos sinóticos, fizera aos dis- SAC: (11) 5087-3625
nº- 306
49
Roteiros homiléticos
judeus: “Eu sou rei... Meu reino não é daqui” (v. homem; mas tal realidade ainda não penetrou
36-37). Jesus define sua realeza. Ele não é “rei todas as realidades desta história, o que ocor-
dos judeus”; é simplesmente “Rei”. Os judeus rerá somente quando “aquele que vem” (Ap
que a ele se opuseram não o aceitam como seu 1,8) completar sua obra redentora.
rei (cf. 19,15.21): o rei deles é César. Sua reale-
za, embora abarque Israel (cf. 12,15), ultrapas-
III. Pistas para reflexão
sa as fronteiras israelitas. Seu poder é universal.
Jesus possui dignidade régia, pois rece- - Permito que Jesus exerça sua realeza na
beu de seu Pai todo o poder (cf. 3,35; 10,29; minha vida, na vida de minha comunidade,
13,3). Em sua cruz-ressurreição, em sua glo- por meio da abertura à sua Palavra, à sua
rificação, ele inaugura sua realeza, ao desban- vontade, ao seu perdão, ao seu amor, e pela
car o “príncipe deste mundo” (cf. 12,31-32). solidariedade com tantos que sofrem e pro-
A partir daqui, entende-se melhor o que curam um sentido para a vida?
significa que seu reino não seja deste mundo. - Creio/cremos realmente na cruz como
João normalmente indica, por meio da menção caminho para a glorificação? Ou procuro/
da origem (de onde é algo), o que determinada procuramos a glória sem a cruz? Como isso
coisa é. A realeza de Jesus não vem deste mun- se demonstra no dia a dia?
do (cf. 6,15, sua recusa a ser feito rei), embora - Sei/sabemos discernir o que contribui
se manifeste no mundo e para o mundo. Mas para o reinado de Cristo daquilo que a ele se
tem origem e natureza transcendente. Assim, opõe e, ao contrário, contribui para o reino
Jesus explica a Pilatos que não é um agitador do maligno?
político que quer impor seu poder pela violên-
cia. Seu reino não se reduz a pretensões mun- 1º DOMINGO DO ADVENTO
danas, mas, mesmo começando a instaurar-se
29 de novembro
aqui, visa a algo que ultrapassa esta história.
O v. 37 expressa positivamente a realeza de
Jesus: ele tem origem divina, “veio” (do Pai) ao A alegre
mundo. Ele é o revelador único da verdade sal-
vífica e convida a aceitá-la. Aquele que “ouve a expectativa da
sua voz” e a acolhe começa a ser “da verdade”,
entra no âmbito de seu poder vitorioso: vinda do Senhor
Minhas ovelhas ouvem a minha voz. Eu as
conheço e elas me seguem.
I. Introdução geral
Eu lhes dou a vida eterna. O primeiro domingo do Advento abre a
Elas jamais perecerão e ninguém as arre- perspectiva da segunda vinda do Senhor. Ela
batará de minha mão (Jo 10,27-28). virá com toda a certeza e marcará a libertação
total daqueles que aceitaram a Palavra de Jesus
Ele é Rei, mas exerce sua realeza exata- e viveram na vigilância, na oração (evange-
nº- 306
mente aceitando a cruz. Assim, ele instaura lho), dando frutos do amor plantado em seus
um reinado que contradiz os poderes mun- corações pelo próprio Deus (segunda leitura).
•
ano 56
danos, pautados tantas vezes pela violência. Assim se cumpre, de modo inusitado, a pala-
Seu reinado já se iniciou. Por sua glorifica- vra de Jeremias (primeira leitura), a qual
•
ção, os reinos deste mundo já foram relativi- anuncia a vinda de um rei justo, que conduzi-
Vida Pastoral
zados, e já tem lugar o reinado do Filho do rá o povo eleito à sua plena realização.
50
II. Comentário dos textos só para Jerusalém, mas para todo o orbe (v.
bíblicos 26.35). A consumação final é determinada
pela vinda do Filho do homem (v. 27.36) e é
1. I leitura (Jr 33,14-16) precedida por sinais cósmicos (no céu e na ter-
ra: v. 25), que revertem a ordem da criação,
O texto de Jeremias apresenta um orácu- levam-na ao caos, criando uma situação de
lo de salvação que será a realização plena da grande temor e angústia. Trata-se de um modo
promessa de Deus. Este oráculo tem dois de falar que tematiza o futuro desconhecido
componentes: com base no imaginário conhecido. São ima-
a) Deus suscitará um rei da dinastia daví- gens utilizadas na apocalíptica e no discurso
dica. Numa época em que já não há monar- profético que têm por finalidade mostrar que
quia em Jerusalém, espera-se, com base na este mundo, esta história, não tem consistência
promessa feita a Davi (cf. 2Sm 7,12-16), a em si e por si. É a vinda do Filho do homem
restauração da realeza em Jerusalém. Mas, di- que põe em xeque toda segurança humana e
ferentemente de tantos monarcas que haviam decide o futuro da humanidade. Retoma-se
reinado na cidade santa, particularmente nos aqui a visão de Daniel (7,13-14), aplicando-a
últimos tempos antes da invasão babilônica, ao Cristo morto e ressuscitado que virá consu-
esse novo rei realizará a vontade de Deus, es- mar sua obra e receberá do Pai o domínio uni-
tabelecendo o direito e a justiça, ou seja, a versal e o poder de julgar as nações (v. 36).
vida conforme os mandamentos. Opõem-se, no texto, o medo e a angústia
b) O país entrará numa nova situação. das populações em geral e a confiante expec-
Judá e sua capital, Jerusalém, estarão livres de tativa dos discípulos (“vós”: v. 28). A vinda
qualquer ameaça estrangeira, não mais sujei- do Senhor não será, para estes, motivo de in-
tas à destruição. Assim todo o povo reconhe- quietação, mas de alegria. A obra redentora
cerá que Deus age em seu favor. Ele é sua jus- de Jesus já os atinge no hoje histórico, mas
tiça, ele é quem realiza a reta ordem na histó- sua volta marcará o momento em que já não
ria universal e no interior do povo eleito, ga- estarão sujeitos aos percalços da vida, perme-
rantindo a observância de sua vontade, ex- ada de perseguições (v. 12-16). Os discípulos
pressa na Lei. já não precisarão fugir para escapar de tribu-
No Novo Testamento, o rei suscitado por lações (v. 21). O desejo, presente em todo ser
Deus que restabelece a justiça é Jesus. Não humano, de ter sua vida histórica totalmente
mais numa monarquia terrestre, em Jerusa- integrada na salvação (cf. Rm 8,23) se reali-
lém, mas num domínio que a ultrapassa e se zará. A redenção será então levada à sua ple-
estende a todos os povos. Ele o faz já inicial- na manifestação. Subentende-se que começa-
mente em sua vida terrena; realiza-o na sua rá então uma época absolutamente nova.
cruz e ressurreição; e o consuma na sua segun- A vinda do Senhor ocorrerá no “dia” (v.
da vinda, quando virá com “poder e grande 34). Esse “dia” foi anunciado pelos profetas
glória” (Lc 21,27). O novo povo de Deus rece- com variada gama de significados: desde o de
be, por meio dele, a garantia de participar da juízo para o povo eleito até o de sua restaura-
nº- 306
nova época salvífica (cf. Lc 21,28). ção definitiva e do aniquilamento dos pa-
gãos. Agora, o “dia” é marcado pela ação do
•
21,8-24), o discurso escatológico de Jesus pectativa não pode ser determinada com base
Vida Pastoral
abre-se para a consumação final, que virá não num calendário do qual se espera o cumpri-
51
Roteiros homiléticos
mento. Ela deve ser caracterizada pela atitu- cristã. Trata-se de uma atitude que os cris-
de de prontidão em relação àquela vinda. tãos devem desenvolver; sua fonte, porém, é
Em Lc 17,22-31, compara-se a atitude errô- o próprio Deus: é ele quem o faz crescer. O
nea diante do dia do Filho do homem com a dos amor deve ser realizado concretamente no
contemporâneos de Noé e Lot, os quais, apesar trato cotidiano, mas isso só ocorrerá se cada
das admoestações, continuaram sua vida sem um estiver aberto a recebê-lo de Deus. En-
atentar para a ameaça que estava por se realizar tão, sim, poderá transbordá-lo para os ou-
(o dilúvio e a destruição de Sodoma e Gomorra): tros. É o que diz em outras passagens são
“Comiam, bebiam...” (v. 27-28). Contra isso, Lc Paulo: “O amor de Deus foi derramado em
21,34.36 exorta os fiéis a não se deixarem tomar nossos corações...” (Rm 5,5); e “Aprendes-
pelas inquietações do dia a dia, esquecendo-se tes pessoalmente de Deus a amar-vos mutu-
do anúncio de Jesus. “Não dormir, não embria- amente” (1Ts 4,9).
gar-se...” (cf. 1Ts 5,6-7). É preciso manter-se O segundo elemento, a santidade, não é
atento, vigilante, plenamente consciente. um algo a mais ao lado do amor, mas designa
Na perspectiva de Lucas, porém, isso não a mesma realidade, embora de modo mais
basta. A vigilância deve ser cumprida na ora- abrangente. A santidade não consiste simples-
ção constante. Vigiando e orando (cf. Lc mente em comportamentos segundo a moral,
22,46, no Getsêmani), o discípulo terá a for- mas segundo a vivência do amor. Tendo o
ça para superar as tribulações (v. 25-26), cristão crescido no amor, Jesus confirma seu
alegrar-se-á pela proximidade da vinda (v. coração (a sede de sua vida, de sua intelectua-
28) e terá confiança de ser acolhido pelo Fi- lidade, moralidade e espiritualidade) na parti-
lho do homem (v. 36). cipação da santidade do Deus que é amor.
O texto mostra, assim, o dia da vinda do Tal confirmação ocorrerá por ocasião da
Senhor como o dia da grande libertação. Nes- parúsia do Senhor. Será confirmada uma vida
sa perspectiva, o cristão pode viver com imen- já vivida na santidade. O cristão não espera a
sa esperança. O futuro trará a plenitude dos parúsia de modo descompromissado, mas na
dons de Deus e a consumação de toda a sua tensão de uma vida que vive plenamente o
obra. Essa esperança se expressa então na ati- presente com a luz que lhe confere o futuro.
tude de permanente atenção e na oração cons- Em sua vinda, Jesus não estará sozinho.
tante. Longe de alienar o discípulo de suas Ele virá acompanhado de seus santos, que
responsabilidades, tal esperança lhe dará a podem ser aqui os anjos e/ou os fiéis já fale-
motivação mais profunda e o dinamismo mais cidos. Ele inaugurará nova época da qual
produtivo para que ele colabore na construção participarão todos os que viveram no amor.
do Reino, já presente em semente. O texto litúrgico continua com a exorta-
ção do Apóstolo, em tom afetuoso, para que
3. II leitura (1Ts 3,12-4,2)
os cristãos não se acomodem, mas vivam sob
O texto litúrgico se inicia com uma ora- o olhar de Deus, realizando sua vontade e
ção do Apóstolo (3,12-13). Ela expressa suas progredindo nesse caminho. A fonte do amor
expectativas, que simultaneamente são orien- é Deus (cf. 3,12), mas isso não dispensa o
nº- 306
mente entre os irmãos, mas também para - A santidade é vocação universal (Lumen
Vida Pastoral
com os que não pertencem à comunidade Gentium, cap. 5). Levo a sério essa vocação?
52
Como vivo o amor (aos irmãos e aos que não envia sua Palavra (v. 2b). João Batista é apre-
pertencem à comunidade) em meio às ten- sentado como um profeta, a quem foi dirigi-
sões do cotidiano? da a Palavra de Deus (cf. Os 1,1). É essa, e só
- As preocupações do dia a dia, a busca essa Palavra que ele transmitirá.
de bem-estar, de “qualidade de vida”, de su- O conteúdo dessa Palavra é o “batismo
cesso... ocupam minha atenção, de modo a de conversão para a remissão dos pecados”
obscurecer a orientação de minha vida para o (v. 3). Trata-se de uma imersão ritual para
Senhor? significar a prontidão para a conversão (cf.
- Como viver o compromisso cristão nes- v. 8.10-14), para a reestruturação da vida
te mundo em atitude de vigilância e oração? conforme as exigências de Deus. Converter-
-se não é somente mudar de rumo, mas an-
dar em sentido contrário ao escolhido até
2º DOMINGO DO ADVENTO então, retornando ao Senhor do qual se es-
6 de dezembro tava afastado. Como fruto da conversão,
está a remissão dos pecados. A “conversão
Preparar-se para a para a remissão dos pecados” é uma frase
muito utilizada por Lucas para falar da obra
vinda do Senhor salvífica de Jesus; é um modo sintético de
apresentá-la (cf. Lc 24,47; At 2,38; 10,43;
I. Introdução geral 26,17-18). O ministério de João Batista pre-
para a obra de Jesus, predispondo seus ou-
Preparar o caminho do Senhor é o centro
vintes a acolhê-la.
do anúncio de João Batista. A conversão exi-
A missão de preparar o caminho do Se-
ge empenho pessoal, mas ela é impulsionada
nhor (v. 4; cf. 1,16-17.76-77) é apresentada
por Deus, que é capaz de realizar em nós a
pela citação de Isaías. Em Is 40,3-5, o Se-
mais profunda transformação. Essa transfor-
nhor virá para fazer retornar os judeus de
mação tem como ponto central a vivência Babilônia à sua terra. Ele mesmo os condu-
sempre crescente do amor. zirá e sua vinda coincide com a salvação es-
perada. Para isso, é necessário abrir os aces-
II. Comentário dos textos sos, retirar os obstáculos (v. 4b-5). O cami-
bíblicos nho a ser preparado é o próprio coração, a
própria consciência, a própria vida. Isso
anuncia João Batista, à luz do que Deus lhe
1. Evangelho (Lc 3,1-6)
falou. Onde alguém ouve a Palavra de Deus
O texto do evangelho tematiza a missão e se deixa interpelar por ela, ali começa uma
do Batista. A referência à história profana, missão salvífica para este mundo. Por meio
com a qual a narrativa se inicia (v. 1-2a), não dessa pessoa, Deus opera.
é sem significado. A história não é estranha A Palavra de Deus é proclamada no deser-
ao agir de Deus. Deus age nela e através dela. to (v. 4a). O deserto é lugar de solidão, de ins-
nº- 306
evidente, a providência e o domínio absoluto lio de Deus. Ao mesmo tempo (e por esse
de Deus. A história humana, porém, por si fato), é lugar do encontro “face a face” com
•
mesma é ambígua e só pode ser avaliada em Deus, sem subterfúgios. É o lugar onde Deus
Vida Pastoral
profundidade à luz de Deus. Por isso, Deus fala e, no silêncio, pode-se fazer ouvir. A partir
53
Roteiros homiléticos
desse encontro pessoal, é lugar do início de meio dela, será contemplado algo da santida-
nova relação de comunhão (cf. Os 2,16). de de Deus. Deus faz Jerusalém participar de
A mensagem de João Batista é, na perspec- sua própria santidade. Essa realidade é reto-
tiva de Lucas, endereçada não somente aos mada na imagem do “manto de justiça”. Jus-
judeus, mas também aos pagãos (v. 6). “Ver a tiça, no Antigo Testamento, é, em última ins-
salvação” é experimentá-la realmente; isso tância, a correspondência entre uma realida-
ocorre se o caminho foi preparado. A conver- de e sua medida. Vestir o manto de justiça
são e a consequente salvação são, assim, res- indica então que Israel corresponderá total-
pectivamente, chamado e oferta de Deus a mente à medida que Deus tem para ele em
todo ser humano. Já não há nenhum privilé- seu desígnio, seu plano de salvação. Isso se
gio religioso: judeus e pagãos estão na mesma concretizará na vivência dos mandamentos.
condição de destinatários da salvação. Glória e justiça não serão fruto do empenho
Advento é ir ao encontro do Senhor que dos fiéis, mas exclusivamente dons de Deus
vem como Salvador, que pede e deseja nosso (v. 1.2.4: “vem de Deus”).
retorno a ele, para o encontrarmos no deser- Completa essa descrição a mudança de
to da vida e, face a face, sempre de novo, en- nome. O novo nome mostra em que se torna-
trarmos em comunhão com ele. É tempo de rá a Jerusalém renovada: paz da justiça (re-
preparação do caminho de nossas consciên- lembrando o nome Jerusalém, que, em he-
cias para o Senhor que veio, vem a cada mo- braico, contém em si a palavra shalôm, “paz”:
mento e virá. yerushalaim) e glória da piedade (demons-
trando a profunda veneração diante da ma-
2. I leitura (Br 5,1-9)
jestade de Deus).
O texto de Br 5,1-9 pertence à quarta A segunda parte do texto descreve o re-
parte do livro de Baruc (4,5-5,9), que con- torno dos exilados (v. 5-7). Jerusalém é cha-
tém súplicas de Jerusalém a Deus pelo per- mada a olhar para o Oriente e ver sua popu-
dão e pela libertação dos exilados na Babilô- lação retornando. O retorno é marcado pela
nia (4,5-29), às quais se seguem duas pala- alegria (v. 5) e pela glória (v. 6). É Deus mes-
vras proféticas que prometem a restauração mo que prepara o caminho para que Israel
da cidade santa (4,30-37; 5,1-9). O texto da possa voltar “com segurança e na glória de
liturgia de hoje corresponde à segunda pala- Deus” (v. 7). Deus é guia dos que retornam,
vra profética. São palavras de consolo, que como a nuvem luminosa o foi para o povo do
descrevem a glória da Jerusalém restaurada e êxodo (cf. Is 40,3-4; Ex 13,21-22).
a volta jubilosa dos exilados. A terceira parte (v. 8-9) indica que o ca-
A primeira parte do texto (v. 1-4) apresen- minho do retorno contará com a proteção de
ta a mudança da sorte de Jerusalém (do exílio Deus, que aparece na imagem da sombra (cf.
babilônico para a volta à terra). A transforma- Sl 90/91,1) de árvores que, obedecendo ao
ção aparece primeiramente em duas imagens: Senhor, evitarão que os exilados sejam mo-
tirar os sinais de luto e vestir os sinais da gló- lestados pelo sol (v. 8). Isso se explica (v. 9)
ria. Glória é uma realidade própria de Deus porque Deus conduzirá Israel. Quatro quali-
nº- 306
que transparece no mundo criado e na histó- ficativos marcam seu agir: de um lado, a ale-
ria: é a santidade de Deus tornada visível (cf. gria e a luz da glória (que retomam o início
•
ano 56
Sl 18/19,2: “os céus narram a glória de Deus”). do texto) e, de outro, a misericórdia e a justi-
Que Jerusalém se revestirá de glória significa, ça que ele outorga.
•
rá tão plenamente na cidade eleita, que, por do povo eleito, mostra que o grande protago-
54
nista é Deus. É ele quem realiza a salvação, e que o amor que move a comunidade cresça
o faz de modo glorioso. Todo passado foi su- sempre mais. Conhecimento e sensibilidade
perado (v. 1.6); haverá somente júbilo. Os (v. 9) são duas características do amor que o
próprios atributos divinos (glória e justiça) impedem de ser simples afeição passageira e
serão dados a Jerusalém. Deus prepara o ca- superficial. O amor deve ser iluminado pelo
minho, cria as condições e restaura Israel. conhecimento e por delicado sentimento,
Tudo se concentra na ação divina. que o façam a um só tempo reflexivo e cheio
Sempre a obra de Deus em nossa vida é de ternura espiritual. Esse amor conduz ao
absoluta iniciativa e gratuidade sua. No discernimento, torna mais sutil a capacida-
evangelho de hoje, contudo, é posto em de de avaliar e distinguir entre o bem e o
maior evidência que essa obra gratuita de mal (v. 10). Crescendo nesse amor cristão,
Deus usa e exige a generosa cooperação da os filipenses chegarão ao dia do Senhor “pu-
criatura agraciada. Embora tudo tenha ini- ros e irrepreensíveis”, ricos de frutos de san-
ciativa na ação de Deus, que, enviando sua tidade, de boas obras. Desse modo, chega à
Palavra a João, cria as condições para que a perfeição a obra que Deus iniciou (v. 6) e
conversão se realize, o Batista deve, por sua que é realizada por Cristo Jesus (v. 11).
pregação e pelo batismo, preparar os cora- A oração do Apóstolo desemboca, en-
ções. Exige-se o empenho humano. O povo tão, numa doxologia: tudo isso é para a
deve se converter e o pode fazer porque glória e o louvor de Deus. A salvação final
e a glorificação de Deus, realizadas por
Deus está aberto a recebê-lo de novo.
meio de Jesus Cristo, são a meta para a
3. II leitura (Fl 1,4-6.8-11) qual tendem os fiéis.
Colocado no segundo domingo do Ad-
No início da carta aos Filipenses, são
vento, esse trecho da carta aos Filipenses in-
Paulo reza pela comunidade. O motivo de
dica como, vivendo em atitude de constante
sua oração é a alegre constatação de que os
conversão, podemos preparar o caminho
filipenses têm colaborado fielmente na difu- para o Senhor que vem (cf. evangelho).
são do evangelho, desde que o acolheram (v.
5), seja por sua atividade missionária, seja
pela ajuda material que deram a Paulo (cf. III. Pistas para reflexão
4,15-16). Tal fato leva o Apóstolo à convic- - Como minha comunidade e cada um
ção de que o Senhor, que é fiel, não deixará em particular estão contribuindo para a
cair no vazio o empenho até agora feito. Ele evangelização? Sei/sabemos considerar os de-
dará ainda a graça de perseverar até o fim, safios da história e iluminá-la com a Palavra
quando o Cristo consumar sua obra (o “dia do Senhor?
de Cristo Jesus”), num crescendo que a leva- - Como crescer no amor, preparando as-
rá à perfeição (v. 6). sim nossa consciência para o Senhor, que de-
Paulo invoca então o testemunho de seja vir sempre mais plenamente em nossa
Deus para afirmar sua estima pelos filipen- vida? Estou consciente de que tudo é obra de
nº- 306
ses. Para com aqueles que se dedicam ao Deus e, ao mesmo tempo, empenho sério de
mesmo ideal da evangelização, Paulo nutre conversão?
•
ano 56
uma religiosa e profunda estima, que tem - Procuro estar “face a face” com Deus,
sua origem, seu modelo e seu motor no pró- esvaziando-me de mim mesmo para acolher
prio coração de Jesus Cristo (v. 8). Sua prece a ele, que deseja renovar sua glória e sua jus-
•
Vida Pastoral
55
Roteiros homiléticos
que manifesta a conversão: “Que devemos fa- fogo, enquanto o batismo de João é com água.
zer?” (v. 10.12.14; cf. At 2,37; 16,30; 22,10). Definindo Jesus, João apresenta-se como
•
O primeiro refere-se à pergunta das mul- o profeta que anuncia imediatamente a vinda
Vida Pastoral
56
A água no batismo de João é sinal da con- nhor será o rei de Jerusalém. Eliminando as
versão em vista da purificação (a remissão dos classes dirigentes corruptas e tendo anulado
pecados). O batismo de Jesus é caracterizado o juízo contra Sião, chegou para ela o tempo
pelo fogo, que também purifica, mas o faz de salvação. Ela não deverá mais temer o mal,
porque comunica o Espírito Santo. Fogo e Es- isto é, tudo o que anteriormente ocorreu em
pírito estão associados na cena do dia de Pen- virtude dos desmandos de seus chefes.
tecostes (cf. At 2,3-4). O fogo destrói aquilo Descreve-se então o novo estado de Jerusa-
que, diante de Deus, não tem valor (a palha: v. lém em virtude da intervenção de Deus. Agora
17). A imagem do v. 17 expressa o julgamento não há mais lugar para o temor, só para a ale-
escatológico, discernindo bons e maus: Jesus gria. Aqueles que se encontram desencoraja-
limpará a sua eira e recolherá o trigo: imagem dos, sem força, por efeito do medo, são chama-
da purificação dos fiéis e sua salvação; e quei- dos a recobrar o ânimo. A garantia é dada por
mará a palha no fogo sem fim. No batismo tra- Deus, que, forte, está no meio do povo como
zido por Jesus, antecipa-se o julgamento final um guerreiro que o liberta. Mas não só: não é
de Deus, com a eliminação do que não se coa- somente Sião que se alegra (v. 14); o próprio
duna com o evangelho e com a salvação para Deus se alegra por causa da cidade santa. Mos-
aqueles que o acolhem. tra, assim, a grandeza de seu amor por Jerusa-
O v. 18 conclui o texto, retomando a lém, causa última de sua renovação.
missão de João Batista como anunciador da O evangelho de hoje apresenta Jesus
Palavra. como o mais forte que vem. Ele é o Senhor
2. I leitura (Sf 3,14-18a) que purifica e renova seu povo e que “está no
meio de nós”.
O texto de Sofonias é um oráculo de sal-
vação que se inicia com um convite à alegria 3. II leitura (Fl 4,4-7)
(v. 14), ao qual se segue sua motivação: Deus
O Apóstolo convida a alegrar-se sempre,
agiu em favor de Jerusalém (v. 15), de modo
em todos os momentos e situações. O motivo
que nova realidade terá lugar (v. 16-18a).
da alegria não são os acontecimentos exterio-
O convite à alegria é enfático, ao ser apre-
res que motivam (ou não), em última instân-
sentado quatro vezes (rejubila-te, grita de
cia, a alegria cristã, mas o Senhor e o que, em
alegria, alegra-te, exulta). Trata-se de uma
nosso favor, ele realizou e realiza (v. 4).
alegria que brota do interior, mas se manifes-
Tal alegria manifesta-se exteriormente
ta também exteriormente, pela voz e outros
em gestos de bondade. A perspectiva da
sinais (cf. Is 55,12; Jr 50,11).
O motivo para tanto é primeiramente próxima vinda do Senhor corrobora o con-
que Deus revogou a sentença que pesava vite à alegria e lhe dá nova motivação (v. 5).
contra Jerusalém, aquela com que ele a ame- Se essa é a alegria cristã, então todas as ad-
açara (cf. 3,1-2). E o fez retirando de seu versidades se tornam relativas. Em vez de se
meio os responsáveis pelos desvios da cidade deixar dominar pela inquietação, o cristão
santa (cf. 3,3-4.11: príncipes, juízes, profetas as expõe a Deus na oração (v. 6).
nº- 306
e sacerdotes iníquos, ou seja, os orgulhosos Essa entrega confiante nas mãos do Pai é
aproveitadores, os dirigentes que se transfor- então portadora da paz que vem de Deus. A
•
ano 56
haverá um rei davídico, mas o próprio Se- amor providente de Deus, o fiel se sabe guar-
57
Roteiros homiléticos
Príncipe da Paz
nhor, realizará seu desígnio. O novo chefe
governará em nome de Deus, com seu poder;
será seu representante. Seu poder será uni-
versal, de acordo com as expectativas para o
I. Introdução geral reinado do filho de Davi (cf. Sl 2,8; 71/72,8).
Maria é a Mãe bendita do Senhor. Por sua Por intermédio dele, o povo se estabelecerá
fé, vivida em profundidade, ela é realmente estavelmente no país, vivendo em segurança
modelo dos cristãos. Pela missão que recebeu e bem-estar. Ele é o instrumento de Deus
nº- 306
de ser Mãe da humanidade, ela intercede para trazer a paz, a plena realização, ao povo
para que o plano de Deus se realize em nossa eleito (cf. Is 9,6; Zc 9,10) (v. 3).
•
ano 56
vida. Esse é um plano de amor que – por A restauração pertence a um futuro in-
meio do Filho encarnado, que assumiu a his- determinado, advirá após um tempo de pro-
•
tória com todas as suas contradições – traz a vação, quando o povo eleito ficará entregue
Vida Pastoral
todos o perdão, a comunhão com Deus. às suas próprias forças e decisões (v. 2). A
58
mudança de situação ocorrerá quando uma
parturiente der à luz (v. 2). Mq 4,10-11 cha-
ma Jerusalém de “parturiente”, que sofre Dia a dia com o Evangelho 2016
dores de parto ao ir cativa para Babilônia; Texto e comentário - Ano C -
São Lucas
depois ela retornará. Se a parturiente de 5,2
é a cidade de Jerusalém, então primeiro os
Padre Luiz Miguel Duarte
judeus serão de lá libertados, para depois
terem lugar a promessa do novo chefe daví-
dico e a reunião dos exilados com os judeus
que ficaram na terra (ou a reunião do antigo
reino do Norte com o reino de Judá). Outra
interpretação entende que a parturiente é a
mãe do chefe prometido, descendente de
Davi. O texto estaria relendo a profecia do
Emanuel (cf. Is 7,14) e aplicando-a a um
tempo posterior. A tradição cristã viu nas
características desse chefe prometido e na
missão que lhe é outorgada a figura de Jesus
440 págs.
(cf. Mt 2,6; Jo 7,42). Identificou, assim, a
parturiente com sua Mãe. É nesse sentido
cristológico que o texto tem lugar na liturgia Dia a dia com o Evangelho traz
de hoje. Ele fala do “Senhor”, do qual Maria o trecho do Evangelho de cada
é mãe (cf. Lc 1,43). dia lido na liturgia, acompanhado
de uma reflexão, centrada no
2. Evangelho (Lc 1,39-45) texto bíblico ou no tema da
liturgia do dia. Este livro quer
Os protagonistas da cena são as duas mu- ser um instrumento de oração e
lheres. Seus filhos, porém, estão presentes e contemplação, em vista de uma
exercem também papel importante. João sal- união mais estreita com Jesus.
ta (de alegria, v. 44), e isso tem um efeito em Dia a dia com o Evangelho é
sua mãe, que fica repleta do Espírito (v. 41). um auxílio precioso para que, no
Jesus é aquele que indica quem é Maria: ela é cotidiano cada vez mais marcado
pela pressa, nossas irmãs e nossos
Imagens meramente ilustrativas.
a mãe do Senhor (v. 43); ela é “bendita” por- irmãos possam sentir a presença de
que seu filho é “bendito” (v. 42). Cristo e assim animar-se na missão
Das duas mulheres, Maria é posta em evi- de amar a Deus e ao próximo
dência, e isso sob vários títulos: como a si mesmo. As palavras aqui
Maria é “bendita entre todas as mulheres” escritas possam se tornar vida!
(v. 42), uma expressão semita que expressa Vendas: (11) 3789-4000
que ela é abençoadíssima. 0800-164011
Sendo “mãe do Senhor”, ela é implicita- SAC: (11) 5087-3625
nº- 306
59
Roteiros homiléticos
consumação final do Reino. bra que aquele Senhor que celebramos em seu
Maria, porém, não é somente modelo exte- nascimento é o Filho que se fez homem para,
•
ano 56
rior para o cristão. Como nossa mãe na fé (cf. Jo tornando-se um de nós, oferecer ao Pai o culto
19,27), ela colabora para que sejamos molda- de verdadeira adoração, de louvor e expiação.
•
dos à imagem de seu Filho (cf. Rm 8,29), sendo Sua vinda na carne é obediência ao plano de
Vida Pastoral
ela mesma a primeira imagem dele. amor do Pai (cf. Jo 3,16). E, entrando num
60
mundo marcado substancialmente pelo pecado,
ele se oferece como sacrifício de perdão. Resta-
belece, assim, a comunhão quebrada e a paz. Como fazer um planejamento
pastoral, paroquial e diocesano
José Carlos Pereira
III. Pistas para reflexão
- Como posso/podemos colaborar para
que a obra do Messias, de estabelecer um rei-
nado de paz na terra, chegue até os confins
deste mundo, ao âmago de nossa sociedade e
das consciências de nossos irmãos?
- Que importância tem Maria na minha
vida pessoal e de minha comunidade? Que
relação tenho com a Mãe do Senhor? Como
ela pode ser para mim espelho?
- Sei interpretar a vinda do Filho de Deus
104 págs.
a esta história dentro do plano do Pai que
tanto amou o mundo?
A grande demanda da Igreja
Os roteiros homiléticos para hoje é para a renovação
o Natal do Senhor (missa das estruturas de nossas
da noite e missa do dia) podem paróquias, de modo a passar
ser acessados no site de uma pastoral de mera
vidapastoral.com.br. conservação para uma pastoral
decididamente missionária, mais
acolhedora e fraterna, formando
verdadeiras comunidades,
SAGRADA FAMÍLIA resultado de conversão e de
bom planejamento pastoral. A
27 de dezembro proposta deste livro é ajudar
dioceses e paróquias, com
comunidade que
Imagens meramente ilustrativas.
vive amor e
compromisso Vendas: (11) 3789-4000
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nº- 306
I. Introdução geral
V I S I TE N OS S A L OJ A V I RTU AL
Os textos de hoje acentuam as relações paulus.com.br
•
ano 56
61
Roteiros homiléticos
a própria sociedade, a família assim alicerça- Ele reconhece José como seu pai (jurídico),
da contribui de modo essencial para a har- presta-lhe obediência, mas seu Pai real é
monia e a construção da vida humana. aquele que é o senhor do templo, onde ele
permanece. Poder-se-ia dizer que as duas for-
mas de obediência não estão desligadas entre
II. Comentário dos textos si. Jesus se submete a seu pai adotivo porque
bíblicos reconhece acima de si a vontade do Pai. A
autoridade dos pais sobre os filhos e a obedi-
1. Evangelho (Lc 2,41-52) ência destes são reflexo da paternidade de
Os pais de Jesus são judeus piedosos, ob- Deus e da nossa filiação divina.
servantes da Lei, que peregrinam a Jerusalém Abrigado por seus pais, Jesus desenvolve-se
(cf. Ex 23,14-17) e conduzem seu filho. En- humana e espiritualmente, até chegar o mo-
tre 12 e 13 anos, o menino deveria começar a mento do início de sua missão pública (v. 52).
observar os mandamentos mais sérios. Maria A família é comunidade de amor, de esti-
e José são solícitos com o menino. Mas a pe- ma mútua, onde Deus é o referencial para to-
regrinação era feita em grupos, normalmente dos, Deus e seu amor. É escola de amor, de
de parentes, que poderiam ser numerosos. autossuperação, de fidelidade aos compromis-
Daí a possibilidade de os pais suporem que sos assumidos, de desenvolvimento humano e
Jesus estivesse com as outras crianças e ado- espiritual. Hoje, infelizmente, é tão comum o
lescentes da família. drama de famílias que sofrem pela separação
Por que Jesus ficou em Jerusalém? Não foi dos pais ou pela conduta dos genitores, preju-
mero ato de independência de um adolescen- dicial à comunidade do lar. Diante disso, cabe
te. No entanto, trouxe preocupação a seus a nós, primeiramente, oferecer o auxílio de
pais. É Maria quem o interroga (não José). Ela nossa oração, seja pelos que se preparam para
procura entender; ao mesmo tempo, sua per- constituir família, seja pelas famílias que so-
gunta tem um tom de dor, de angústia e exi- frem, pelos filhos e pelos cônjuges. Todos po-
gência materna. Ela não esperava tal ato de dem contar com o apoio da família de Nazaré.
Jesus: “Meu filho...” (v. 48). E não fala só de Além disso, cabe à comunidade eclesial apoiar
sua parte: há grande compreensão entre Maria as famílias para que se desenvolvam sempre
e José, e os dois sofrem juntos: “por que fizeste mais no amor, possam superar dificuldades,
assim conosco?” Ela reverencia José, mencio- restaurar os elementos fraturados, renovar o
nando-o primeiro: “teu pai e eu” (v. 48). compromisso e o dom recíproco.
A resposta de Jesus mostra uma surpresa 2. I leitura (Eclo 3,3-7.14-17a)
e, ao mesmo tempo, uma distância. Não de
rebeldia; adolescente, ele era obediente a O texto é dirigido a pessoas adultas, que
seus pais (v. 51). Mas deixa claro que sua vida devem observar a Lei. Trata do cuidado para
já na adolescência está marcada pelo absolu- com os pais, especialmente os idosos. O
to da vontade do Pai: “devo... meu Pai” (v. amor e o dever de cuidar não cessam quando
49). A essa vontade Jesus nada pode antepor. o filho se torna emancipado da família de ori-
nº- 306
O que mais tarde dirá aos discípulos, pro- gem, mas permanece o dever de gratidão. A
pondo-se como referencial para eles, é o que principal atitude inculcada no texto é a de
•
ano 56
já vive antes em sua relação com seus pais, “honrar” os pais. Um dos dez mandamentos
subordinando-a ao Pai: “Quem amar pai e (cf. Ex 20,12; Dt 5,16) é aqui concretizado e
•
mãe mais do que a mim...” (Mt 10,37). Sua explicitado, evocando a ternura que deve rei-
Vida Pastoral
62
No plano humano, quem honra os pais
terá alegria com os próprios filhos (v. 5). No
plano religioso, o amor aos pais perdoa os Novena de Natal 2015
próprios pecados (v. 3.14-15); quem os hon- Danilo Alves Lima / Francisco Galvão /
ra será atendido quando rezar (v. 5.15). A re- Padre Luiz Miguel Duarte
lação com os pais toca em Deus: quem os
honra, os venera, honra a Deus (v. 7). Por
quê? Os filhos são dados por Deus e por isso
devem agradecer a vida a Deus, honrando,
respeitando, amando seus pais.
Atualmente, a idade avançada, mais fre-
quente que no passado, traz consigo também
o desafio do amor gratuito, quando os pais
não podem mais, humanamente, oferecer
uma recompensa. É então o momento de os
32 págs.
filhos, não sem sacrifícios, oferecerem o con-
forto de sua presença, o consolo de seu since-
ro amor filial e a disposição de propiciar-lhes O Natal se aproxima. Enquanto
um envelhecimento digno e minorar seus so- renovamos a esperança de
frimentos. Tal tarefa é exigente, e só se conse- crescermos na fé em Deus e na
gue levá-la adiante com êxito se vivida com o solidariedade com os irmãos e
irmãs, nosso coração se alegra pelo
amor que vem de Deus. bem realizado ao longo deste ano.
O Natal nos predispõe a vivermos
3. II leitura (Cl 3,12-21)
de modo intenso os valores que
O texto traz exortações à comunidade agradam a Deus e dão sentido à
cristã e uma orientação para os relaciona- nossa existência do dia a dia: o
perdão, a vida fraterna, o sofrimento,
mentos familiares. A primeira parte, exortati-
o bom uso dos novos meios de
va, põe a ênfase no amor fraterno. O acento comunicação, o nosso compromisso
está na reciprocidade do amor e em suas ma- com a Igreja. Tudo isso iluminado
nifestações concretas: bondade, compaixão, pela Palavra de Deus, neste ano que
humildade, mansidão, longanimidade, um o papa Francisco dedica à Vida
Consagrada. Nesta Novena de
Imagens meramente ilustrativas.
63
Roteiros homiléticos
Por isso, faz parte do amor suportar-se mutu- sa maneira, se a mulher devia estar subordina-
amente e perdoar. Também aqui o motivo é da ao marido, isso se deveria dar “como con-
transcendente: perdoar como o Senhor per- vém no Senhor” e não segundo um modelo
doou (v. 13). E como ele o fez? Perdoou total- social qualquer. Não se explica o que “convém
mente, sem exigir nada, a não ser a abertura no Senhor”, como se fosse coisa já conhecida
e o acolhimento. Um perdão gratuito, sem pela comunidade. Mas as exortações ao amor
limites, no qual não se contam quantas vezes mútuo feitas imediatamente antes oferecem
se perdoou (setenta vezes sete!). O perdão indicações nesse sentido. De forma paralela,
expressa de modo particular o amor: é o também os maridos devem “amar suas espo-
amor que persiste dando, doando, per-doan- sas”, um modo de falar que não era tão co-
do. E, assim, o amor supera qualquer expec- mum na época – e, mais, com o amor cristão
tativa e constitui a união máxima entre seres delineado nos v. 12-15.
por vezes tão diferentes. É ele que mantém a A mesma relação de amor recíproco deve
comunidade unida e a leva à perfeição (v. permear o relacionamento entre pais e filhos
14). A paz, que é dom de Cristo, surge então (v. 20-21).
como consequência dessa vivência recíproca
do amor. Sendo Deus a fonte de todo amor,
cabe ao cristão, que vive nesse amor, agrade-
III. Pistas para reflexão
cer a Deus (v. 15). - Como nossa comunidade está sendo ou
A segunda parte da exortação frisa a im- pode ser apoio para crianças, adolescentes e
portância de ter uma vida modelada pelo jovens que sofrem em suas famílias? Casais
evangelho. A Palavra de Cristo, seu evange- em dificuldade de relacionamento – e tam-
lho, deve habitar no cristão como num san- bém em dificuldades de saúde, dificuldades
tuário (v. 16). Se é assim, na comunidade os financeiras...? Pais/mães em sua missão de
membros se edificam mutuamente: pela ins- educar e de formar de modo humano e cris-
trução mútua; pela celebração em conjunto tão seus filhos? Os anciãos que não contam
(salmos, hinos, cânticos), em ação de graças. com o apoio de suas famílias? Pais ou mães
Tudo isso transborda no falar e no agir, que que assumem sozinhos, sem o cônjuge, a ta-
têm sempre sua origem no Senhor e são fei- refa de conduzir seus filhos?
tos por causa dele (v. 16-17). - Em que pontos minha família deve ser
Os v. 18-21 concentram-se nas relações renovada pelo amor de Deus, a fim de que
familiares. A família, parte da comunidade cresça como comunidade de amor que irra-
cristã, já deve viver aqueles valores expressos dia a paz proveniente de Deus para a socieda-
nas exortações dos v. 12-17. A carta não deixa de? Que passos dar no caminho dessa reno-
completamente as categorias e modelos sociais vação?
de sua época, a marcada subordinação da es- - Como realizar a pastoral de adolescen-
posa ao esposo e dos servos aos senhores (cf. tes e jovens, a fim de que possam, com ma-
3,22-4,1). No entanto, já dá início a um movi- turidade, assumir a futura vida matrimonial,
mento de superação desses condicionamentos os compromissos familiares e a educação
nº- 306
64
LITURGIA DA PALAVRA I LITURGIA DA PALAVRA II
Reflexões para os dias de semana Reflexões para os domingos,
Padre José Carlos Pereira solenidades, festas e memórias
16 x 23 cm | 584 págs Padre José Carlos Pereira
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Nova
Bíblia Pastoral
Agora também com letra grande!
MatEus 1-2
Mt
anjo do Senhor lhe havia ordenado
e acolheu sua esposa.
relações com ela, até que ela deu à
luz um filho. E ele o chamou com o
nome de Jesus.
crituras: Deus intervém na história humana a partir dos giu um rival. Já outros, estrangeiros, sensíveis às indi-
indi
marginalizados e dos que têm a vida ameaçada. Abre os cações e à novidade, buscam o salvador.
alvador. Como se vê,
olhos para sensibilizá-los às necessidades dos outros. A um cenário tenso, que vai marcar toda a atividade de
conversão de José a uma justiça que supera o que está Jesus, até chegar à cruz.
escrito na Lei torna possível o nascimento do Messias. 13-23: Enquanto no passado Moisés fugiu “do” Egito,
2,1-12: O nascimento de Jesus produz as mais di- Jesus agora foge “para o” Egito: a terra prometida se
versas reações. Quem diz conhecer as Escrituras e con- tornou o lugar da violência e da opressão. Jesus realiza
fia apenas no próprio saber fica incomodado e sem no início de sua história um trajeto semelhante ao de
ação: é incapaz de se alegrar com o cumprimento Moisés, e assim evidencia o sentido de sua ação: trata-
trata
das promessas proféticas. O rei de plantão, apegado -se do Messias de Deus. Deslocando-se para Nazaré da
a seu próprio poder, e aliado das forças políticas mais Galileia, a periferia de Israel, começará daí sua atuação
importantes do momento, se alarma, achando que sur- libertadora.
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