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Sociologia da Saúde

1 O campo da Sociologia do corpo centra-se na forma como os nossos corpos são


afetados por influências sociais. As forças ambientais e sociais ajudam a confi-
gurar os padrões de saúde e de doença, tal como se pode constatar pelo fato de
determinados grupos de pessoas tenderem a gozar de uma saúde melhor do que
outros.

2 Investigações sociológicas revelaram uma estreita relação entre a doença e as


desigualdades. Nos países industrializados, os grupos mais pobres têm uma espe-
rança média de vida mais reduzida e estão mais expostos à doença do que os
estratos sociais mais privilegiados. Os países ricos apresentam igualmente espe-
ranças médias de vida mais elevadas do que os países mais pobres. Algumas
pessoas acreditam que as desigualdades de saúde em função da classe social podem
ser explicadas por factores culturais e comportamentais, como a dieta alimentar
ou os estilos de vida. Outras enfatizam a importância das influências estruturais,
como o desemprego, deficientes condições de habitação e más condições de tra*
balho.

3 Os padrões de saúde e de doença têm igualmente dimensões raciais e de género.


De uma forma geral, as mulheres vivem durante mais tempo do que os homens
em quase todos os países do mundo, embora estas sofram uma maior incidência
de doenças do que os homens. Algumas doenças são mais comuns entre deter-
minados grupos étnicos minoritários do que entre a generalidade da população
branca. Foram já avançadas explicações de ordem genética para explicar as dife-
renças raciais e de género em relação à saúde, embora estas não possam, por si
só, fornecer uma explicação para as desigualdade. Embora possa haver uma base
biológica em determinados problemas de saúde, os padrões gerais de saúde e de
doença devem tomar em consideração fatores sociais e disparidades entre os
grupos quanto às condições materiais.

4 A medicina ocidental baseia-se no modelo biomédico de saúde - a crença que


postula que a doença pode ser definida em termos objectivos e que se pode
devolver a saúde ao corpo doente através de tratamentos médicos de base científica.
O modelo biomédico de saúde surgiu a par do surgimento das sociedades
modernas, estando relacionado com o aparecimento da Demografia - o estudo da
dimensão, composição e dinâmica das populações humanas - e com o interesse
crescente na promoção da saúde pública. Os sistemas de saúde modernos foram
em grande medida influenciados pelo recurso à ciência em matéria de diagnóstico
médico e de processos de cura.

5 O modelo biomédico de saúde tem sido alvo de um número crescente de críticas.


Há quem defenda que a medicina científica não é tão eficaz quanto se pensa, que
os profissionais médicos não valorizam as opiniões dos seus pacientes, e que a
profissão médica se considera superior a todas as outras formas alternativas de
cura que não estejam de acordo com as abordagens ortodoxas.
6 Os sociólogos estão interessados na experiência da doença - no modo como a
pessoa e os que lhe estão próximos passam pela experiência de se estar doente.
possuir uma doença crónica ou incapacitante. A ideia do papel de doente, intro-
duzida por Talcott Parsons, sugere que uma pessoa doente adopta determinadas
formas de comportamento com o objetivo de minimizar os impactos desorganizadores
da doença. São atribuídos alguns privilégios concretos a um indivíduo
doente, tais como o direito a não cumprir com as responsabilidades do quotidia-
no, embora este seja, por sua vez, obrigado a procurar activamente a recuperação da
saúde, aceitando submeter-se às instruções do médico.

7 Os interaccionistas simbólicos levaram a cabo investigações em tomo da forma


como as pessoas lidam com os problemas de saúde e as doenças crônicas no quo-
tidiano das suas vidas. A experiência da doença pode provocar mudanças ao
nível da noção de identidade pessoal de um indivíduo e nas suas rotinas diárias.
Em muitas sociedades esta dimensão da Sociologia do Corpo afirma-se como um
campo cada vez mais relevante: as pessoas vivem hoje em dia durante muito
mais tempo e tendem a sofrer mais com situações crónicas debilitantes do que
com doenças agudas.

8 Uma outra área importante da Sociologia do Corpo é a Gerontologia - o estudo


do envelhecimento e da população idosa. A Gerontologia tem como objecto não
apenas os efeitos físicos do envelhecimento mas também os factores sociais e
culturais que influenciam este processo.

9 A maioria dos países industrializados estão a passar por um fenómeno de «agri-


salhamento» da população. A percentagem de cidadãos com mais de sessenta e
cinco anos está a aumentar de forma progressiva e continuará a crescer assim
durante as próximas décadas. As sociedades estão perante novos desafios, à
medida que o rácio de dependência da população idosa continue a aumentar.
Este rácio mede a relação entre o número de reformados e as pessoas em idade
activa. À medida que a população idosa aumenta, crescem também as exigências
sobre os serviços de segurança social, o regime de pensões e os sistemas de pres-
tação de cuidados de saúde, enquanto se verifica existir cada vez menos gente
nos trabalhos remunerados que financiam estes serviços.

10 O envelhecimento oferece a muitas pessoas a possibilidade de se libertazem das


obrigações do trabalho. Contudo, acarreta também problemas psicológicos,
sociais e económicos aos indivíduos (e frequentemente ao agregado familiar).
Para a maioria das pessoas a reforma é uma transição crucial que se traduz nor-
malmente numa perda de estatuto. Pode implicar solidão e desorientação, pois as
pessoas têm de reestruturar grande parte das suas atividades quotidianas.

11 Nos últimos anos, os idosos, que hoje constituem uma grande parte da população
dos países industrializados, começaram a exercer pressão para que os seus
interesses e necessidades específicas fossem objeto de maior reconhecimento. A luta
contra a discriminação etária é um aspecto importante deste desenvolvimento.
Perguntas para reflexão

1 O que poderá ser feito para reduzir as desigualdades nos cuidados de saúde?

Será que a medicalização de determinados estados de saúde, como a gravidez e a


tristeza, aumenta o poder do sistema médico, ao mesmo tempo que retira poder
aos doentes?

De que forma a experiência de envelhecimento de um indivíduo é configurada por


fatores sociais?

Como podem as diferenças na vida dos homens e das mulheres explicar as diferentes
experiências de doença entre os géneros?

Que políticas deveriam ser adoptadas para tornar o Sistema Nacional de Saúde
mais atento à proveniência cultural dos doentes?

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