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Da Cláusula de Inalienabilidade
Da Cláusula de Inalienabilidade
VÍNCULO.
DA CLÁUSULA DE INALIENABILIDADE
PARECER.
Com razão adverte o mestre Francisco Morato que inútil seria, no tocante à
possibilidade de gravar-se a legítima do herdeiro, buscar precedentes e lições no
Direito peregrino (Das clausulas de inalienabilidade, incomunicabilidade e
impenhorabilidade, na revista Direito, vol. XX, 1943, pág. 429). Verdade é, porém,
que, mesmo sob outros prismas que não o apontado, o emprego de cláusulas
restritivas da propriedade, quer por disposição de última vontade, quer por atos
inter vivos, atingiu entre nós tal elastério, que não será exagero sustentar ter
surgido algo de novo e de próprio nos quadrantes do Direito brasileiro para
atender sobretudo, a exigências e precauções relativas à economia familiar.
submetido a meu exame, a plena juridicidade do ato pelo qual o doutor Juiz do
Direito da Comarca de Santos houve por bem deferir o pedido feito por D.
Leonilda Sarti Fraccaroli e outros para considerar cancelada a cláusula de
inalienabilidade imposta pelo comendador João Fraccaroli e sua mulher sobre a
metade ideal do conhecido conjunta imobiliário denominado Parque Balneário
Hotel.
Não me parece que essa fosse a intenção das partes, pois naquela data,
tanto como agora, continuava o bem em condomínio, já havendo condôminos com
o direito de exigir-lhe a venda (Código civil, art. 632). Requerida a venda de todo
o imóvel, por ser a coisa indivisível ou se tornar, pela divisão, imprópria ao seu
destino, e não sendo, de outro lado, lícito subordinar ao vínculo um consorte
capaz de dispor livremente do que lhe pertence (eis aí uma hipótese não prevista
no art. 1676 da lei civil, mas que decorre da possibilidade legal de se declarar
inalienável uma parte ideal de um bem juridicamente indivisível – v. Carvalho
Santos, Código Civil Comentado, vol. 23, pág. 358), é claro que, subordinada a
hipótese ao que dispõe o art. 1.676, o produto da venda deverá se converter em
outros bens, sub-rogados nas obrigações dos bens clausulados. Nem é demais
advertir que, em se tratando de inalienabilidade em parte ideal, a sub-rogação só
poderá ser feita por hasta pública ... (Rev. dos Trib., vol.276/348).
Mesmo sem chegar a tal extremo - pois a cláusula não justificada seria
sempre oponível a terceiros - no caso em exame, dada a circunstância especial de
se ter gravado com inalienabilidade um bem em condomínio, fazendo-se a este
significativa e expressa referência, tenho como irretorquível a intenção dos
doadores de poderem dispensá-las a qualquer tempo. É o que resulta da análise
teleológica de disposição da causa do ato, essencial na interpretação das
literalidades, para respeito real da vontade do disponente (sobre a moderna teoria
da causa nos atos de liberalidade, V.Hamel, La notion de cause dans les
libéralités, Paris, 1920).
CONSULTAS E PARECERES
Poder-se-ia dizer mais, ainda que, segundo a infinita gama dos motivos e
circunstâncias determinantes dos atos de liberalidade, pode a doação ir de um
mínimo (quase perde de seu caráter contratual, revestindo-se de características do
negócio unilateral, como ocorre na hipótese de doação a pessoa ainda não
concebida, na hipótese previstas no art. 1.173) até a um máximo (doação com
tais encargos que assume as características dos contratos onerosos).
Também nesse passo não vale argumentar com a mera acepção aparente
dos vocábulos, sendo indispensável perquirir a causa do preceito.
Nota-se, desde logo, que, por força da mesma escritura de 1955, ambos os
doadores renunciaram ao usufruto, passando, dessarte, a fruição dos bens
incontinenti aos donatários, e transformaram a inalienabilidade de vitalícia para
temporária.
Dele não discrepa o inserto à pág. 252, vol. 202, da Rev. dos Trib.
confirmatório de sentença que impediu o levantamento da cláusula de
inalienabilidade sem a anuência expressa do cônjuge sobrevivente.
remoção parcial dos vínculos. Logo, não é facultado aos donatários, motu proprio,
pretender a desvinculação parcial requerida. Se a doadora tivesse intervindo no
feito, por certo, o caso mudaria de figura. (loc.cit.).
Será, porém, nula a venda do imóvel doado pelo réu e pela falecida D.
Ismênia, uma vez que eles só se reservarem o usufruto, vincularam a liberalidade,
como já esclarecido? A inalienabilidade imposta por D. Ismênia, quando a sua
parte, desapareceu com sua morte? E foi bem cancelado o vínculo pelo doador,
quanto à sua, de acordo com os donatários que isso anuíram?
MIGUEL REALE.