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Direito Constitucional

Fiscalização da constitucionalidade
1. Formas de Garantia da Constituição

Seria, de acordo com os tipos de responsabilidade dos órgãos e titulares de cargos públicos:

 Responsabilidade política = por atos contrários à constituição


 Responsabilidade disciplinar e penal = pode implicar a aplicação de sanções disciplinares ou
de penas, art 117/3
 Responsabilidade civil do Estado = danos causados aos particulares no exercício de funções
públicas, podendo implicar reparação pecuniária dos mesmos, art 22

2. Fiscalização da constitucionalidade

Definição: adoção de mecanismos destinados a averiguar a conformidade dos atos do poder público
com a Constituição, aplicando as devidas consequências no caso de se detetarem situações de
conflito constitucional -> artigos 3/3, 277/1 e 6 LTC

Objeto: são os atos normativos, art 112, excluindo outras formas de atividade inconstitucional dos
poderes públicos

Objeto dos atos normativos (art 112): para efeitos de controlo da constitucionalidade:

i. Requisito material = deve equivaler a uma regra ou padrão, orientadora e reguladora de


condutos ou comportamentos individuais e concretos;
ii. Requisito orgânico = estabelecida por um ato de um poder normativo, é uma entidade com
competência para criar regras de conduta ou padrões de valoração.

Norma é o ato de conteúdo geral (aplicável a um n.º indeterminado de pessoas) e abstrato (aplicável
a um n.º indeterminado de casos) emitido por uma entidade com poderes normativos.

 Tipologias:

Quanto ao momento:

▫ Preventiva = antes da norma entrar no ordenamento jurídico (art 278, 279)


▫ Sucessiva = após a entrada no ordenamento jurídico (abstrata: publicação; concreta: entrada
em vigor)

Quanto ao modo:

▫ Abstrata = a fiscalização é independente da aplicação da norma a casos concretos


▫ Concreta = a fiscalização surge ligada a um caso concreto em tribunal (art 280 -> 204)

Quanto ao objeto do processo:

▫ Título principal = em processo a título próprio


▫ Título incidental = surge como incidente de outro processo
Quanto à forma processual:

▫ Por ação = atividade fiscalizadora que fundamenta a ação


▫ Por exceção = atividade fiscalizadora surge acoplada a outra ação judicial

3. Fórmulas de decisão do TC:

Tipo de Fiscalização // Decisão de TC

 Fiscalização Preventiva -> Pronúncia ou não de inconstitucionalidade


 Fiscalização sucessiva abstrata -> Declaração ou não da inconstitucionalidade
 Fiscalização sucessiva concreta -> Julgamento ou não da inconstitucionalidade
 Fiscalização por omissão -> Verificação da inconstitucionalidade

Modelos
Difuso ou norte-americano, teve a sua origem no Dto Constitucional, com o nome de judicial review
Marbury v. Madison, com os contornos:

 Poder de fiscalização é concedido a todos os órgãos judiciais


 Possibilidade de recurso para o mais alto tribunal
 Desaplicação, no caso concreto

Concentrado, austríaco ou europeu:

 Proveniente do dto constitucional sob o patrocínio de Hans Kelsen


 Assenta na intervenção do poder judicial, numa só instância juridiscional, o TC
 Controlo inicia-se através dos processos judiciais em qualquer tribunal, que se suspendem
até decisão do TC, não podendo cada tribunal a quo pronunciar-se sobre a
inconstitucionalidade, antes devendo esperar pelo veredicto do TC

Caracterização do Modelo Português


Percurso cronológico:

 Monarquia Constitucional = abrange 3 textos constitucionais monárquicos (1822, 1826,


1838) e foi marcado pelo modelo de fiscalização política, de teor parlamentar - não envolvia
os trisbunais, era o PARL

 1 ª República e Estado Novo = o período republicano liberal trouxe a inovação da fiscalização


difusa da constitucionalidade, sob a influência do modelo americano, na constituição de
1911; já no período autoritário, a fiscalização política parlamentar revelava-se totalmente
ineficiente, na constituição de 1933.
 Sistema originário de 1976 = criação de 2 novos tipos de fiscalização: a fiscalização das
omissões inconstitucionais e fiscalização preventiva dos atos legislativos ou equiparados; a
criação de um novo órgão de fiscalização - a Comissão Constitucional; carácter não definitivo
das decisões dos tribunais que julgassem no sentido da inconstitucionalidade.

 Revisão Constitucional de 1982 = criação do TC como principal órgão da justiça


constitucional, no âmbito das decisões de fiscalização concreta, e a título principal, com
força obrigatória geral, no âmbito da fiscalização abstrata

Sistema Misto Complexo (características de difuso e concentrado)

 É um sistema jurisdicional e não político, porque esta tarefa está cometida a órgãos de
soberania que se inserem nos tribunais
 É um sistema difuso e concentrado (apenas TC) porque a intervenção de fiscalização é
atribuída tanto aos tribunais em geral como ao TC
 É um sistema preventivo e sucessivo
 É um sistema de fiscalização da inconstitucionalidade por ação e por omissão

Inconstitucionalidades:

▫ Por ação ou positiva = infringe a Constituição, art 277


▫ Por omissão ou negativa = resulta da inércia ou do silêncio de qualquer órgão do poder,
deviam ter tomado uma decisão, mas não tomaram
▫ Total = quando inquina todo um ato ou diploma
▫ Parcial = quando afeta só um dos sus segmentos
▫ Originária = é inconstitucional desde a sua génese, os efeitos retroativos reportam-se ao
momento da entrada da norma no ordenamento jurídico
▫ Superveniente = quando a norma preexistente se torna inconstitucional, ou seja, a norma
não era inconstitucional, mas depois de uma revisão tornou-se

Vícios de inconstitucionalidade:

 Vício orgânico - quando é ofendida a norma de competência, por isso, o órgão não tem a
mesma para a prática desse ato, ex: Governo não pode aprovar qualquer lei sem a
aprovação da AR (art 164, 161, 165, 166)
 Vício Material - é ofendida uma norma constitucional de fundo, ex: pena de morte (art 24/2)
 Vício formal ou procedimental - é ofendida uma norma constitucional de forma ou
procedimento, ex: o Gov aprova uma lei, não pode, pois quem aprova é a AR OUUU se a AR
aprovar um DL

Tribunal Constitucional
Competências: (art 223º)

 Fiscalização da constitucionalidade e da legalidade


 Competências em relação ao PR
 Competências em matéria eleitoral
 Contencioso de perda de mandato de deputados
 Competências relativas a partidos políticos
 Competências relativas a titulares de cargos políticos e equiparados

Mecanismos de Fiscalização na CRP:

1. Fiscalização Preventiva da inconstitucionalidade por ação (278, 279)


2. Fiscalização sucessiva concreta da inconstitucionalidade por ação (280)
3. Fiscalização sucessiva abstrata da inconstitucionalidade por ação (281, 282)
4. Fiscalização da inconstitucionalidade por omissão (283)

CRP: Fiscalização Preventiva


É a possibilidade de o controlo se efetuar antes de finalizar o procedimento legislativo, incidindo
sobre as normas inacabadas ou imperfeitas, contém desvantagens e vantagens:

Desvantagens:

 Perigo de maior politização da atividade de controlo


 Apreciação de atos juridicamente inexistentes

Vantagens:

 Evitar a entrada em vigor de normas inconstitucionais


 Maior importância de certas questões jurídico-constitucionais
 Decisão jurisdicional rápida

Características:

 Preventiva = feita antes da norma entrar no ordenamento jurídico


 Concentrada = só o TC tem legitimidade para decidir
 Abstrata = ato em si mesmo considerado, independentemente da sua aplicação a qualquer
situação em concreto
 Sempre facultativa = exceto no caso das consultas referendárias em que é obrigatória
 Título incidental = inserido no procedimento de um ato normativo

Objeto:

i. Convenções internacionais
ii. Atos legislativos (lei, DL e decreto legislativo regional) - 278/1, 2 e 4
iii. Referendos – 115/8

Leis e Decretos-Lei:

 Legitimidade = PR (278/1)
 Momento = Promulgação por parte do PR (136/5), sempre que exista suspeita de
inconstitucionalidade
 Prazo = oito dias (278/3)
 Requerimento = deve indicar as normas cuja apreciação se requer e as normas e princípios
constitucionais violados
 Prazos para o TC = máximo de 25 dias (278/8)
 Decisão positiva do TC = deteta a existência de normas inconstitucionais (pronúncia de
inconstitucionalidade) -> veto jurídico por inconstitucionalidade
 Decisão negativa = não encontrado qualquer vício de inconstitucionalidade (pronúncia de
não inconstitucionalidade) -> veto político

Efeitos Mediatos:

Se o órgão promanante é a AR:

 Expurgo – retirada de normas consideradas inconstitucionais (279/2)


 Confirmação do diploma por maioria qualificada de dois terços dos deputados (279/2)
 Reformulação - diplomas modificados por forma a deles desaparecer a desconformidade
constitucional detetada pelo TC (279/3)
 Omissão de qualquer conduta por parte da AR (fim procedimento legislativo)

Se o órgão promanante é o Governo:

 Tal como a AR, pode expurgar ou reformular, mas a confirmação não é possível

Quer o órgão competente seja a AR ou o Governo:

 Se enveredar pelo caminho do expurgo, o PR só pode optar pela promulgação ou pelo veto
político, visto que o diploma é o mesmo, caso seja escolhida a via da reformulação, o PR
tem, além disso, o direito de solicitar uma nova apreciação preventiva (279/3)

CRP: Fiscalização Concreta


Caracterização:

♦ Sucessiva = só pode ser feita a posteriori, após a entrada em vigor da norma jurídica
♦ Difusa = Todos os tribunais têm legitimidade para decidir e o TC só intervém a título de
recurso
♦ Concreta = a norma em causa está a ser aplicada a uma situação em concreto
♦ Título incidental = surge no âmbito de um processo judicial

CRP: Fiscalização Abstrata


Caracterização:

 Sucessiva = só pode ser efeitos a posteriori, ou seja, após a publicação da norma jurídica
 Concentrada = só o TC tem legitimidade para decidir
 Abstrata = a norma em causa é analisada independentemente da sua aplicação a um caso
concreto, é desconcentrada
 Título principal = objetivo principal é a fiscalização da constitucionalidade da norma

Art 281/1/a
Efeitos da decisão do TC

 Declaração de não inconstitucionalidade ou ilegalidade: sem qualquer relevância posterior


(as normas permanecem em vigor e nada obsta a uma nova fiscalização)
 Declaração de Inconstitucionalidade ou ilegalidade: com força obrigatória geral

Contudo, em circunstância alguma goza o TC de competência para declarar a constitucionalidade ou


a legalidade, caso contrário ficaria vedada a possibilidade de uma nova apreciação, em fiscalização
sucessiva, abstrata ou concreta.

Efeitos da decisão positiva do TC:

 Efeitos gerais ou erga omnes - eliminação do ato inconstitucional, que é expurgado da


ordem jurídica
 Efeitos retroativos (exceções) - pretende refazer a situação como se essa norma não tivesse
existido
 Efeitos repristinatórios - reentrada em vigor das disposições que a norma tenha afastado
 Inconstitucionalidade originária (art 280/1) e Inconstitucionalidade superveniente (art
280/2)

Fiscalização por Omissão


Está em causa a não promanação de actos jurídicos-públicos constitucionalmente devidos, art 283/1
-> art 67 LTC.

Tem por objeto, as normas:

 Preceptivas não exequíveis por si mesmas – estabelecem comandos obrigatórios, cuja


eficácia fica dependente de posterior regulamentação legal, a cargo do legislador ordinário,
tem fatores políticos e a intervenção do legislador ordinário nas decisões e fatores políticos.

 Programáticas - realização de objetivos cuja realização é vinculativa, mas deixam ao


legislador a escolha do momento adequado para a adoção das medidas para tal
indispensáveis. O Estado deve respeitar e efetivar, como dependem de fatores económicos e
sociais.

Omissão Legislativa / Lacuna constitucional

▫ Situam-se no plano das fontes infraconstitucionais e designam a ausência de normas ou


regimes aplicáveis, tendo por causa a inércia do poder normativo infraconstitucional, ou
seja, a CRP prevê, mas não existem medidas para as impor.
▫ Situam-se no plano do Ordenamento Constitucional e expressam a inexistência de normas
constitucionais aplicáveis, ou seja, na CRP não se encontram essas normas logo não prevê.
Direito Processual Constitucional
 Fiscalização Abstrata/Princípio do pedido: O TC atua a pedido das entidades com
legitimidade processual ativa e não mediante iniciativa dos juízes que o compõem (51 e 57
LTC). Exceção, admite-se que a iniciativa do processo de conversão da inconstitucionalidade
concreta em inconstitucionalidade abstrata possa ser desencadeada por iniciativa dos
próprios juízes (art 281/3 e 82 LTC).

 O pedido deve indicar as normas cuja inconstitucionalidade se deseja fiscalizada, bem como
as normas ou princípios constitucionais alegadamente violados (art 51 LTC), deve especificar
sempre:
o As normas cuja apreciação se requer
o As normas ou princípios da constituição que se entende serem violados

O TC só pode apreciar as normas cuja apreciação lhe tiver sido requerida, nunca podendo apreciar a
constitucionalidade de normas por sua própria iniciativa. No entanto, pode declarar a
inconstitucionalidade daquelas normas com fundamentos diferentes dos invocados no pedido.

Mas o tribunal pode solicitar oficiosamente a quaisquer órgãos ou entidades os elementos que
julgue necessários à apreciação do pedido (art 64-A LTC)

Recurso de Constitucionalidade: Fiscalização Concreta


Primeira opção

 Decisão Recorrida = desaplicação de uma norma por inconstitucionalidade, suscitada por


uma das partes na causa, ou oficiosamente pelo juiz
 Quem pode recorrer = o MP (quando se trate de norma legislativa ou afim); e as partes na
causa interessadas na aplicação da norma
 Momento de recorrer para o TC = recurso direto para o TC da decisão de não aplicação,
qualquer que seja a hierarquia do tribunal em causa
 Condições de admissibilidade = indicação do tipo legal de recurso de constitucionalidade;
indicação da norma cuja aplicação foi recusada

Segunda opção

 Decisão Recorrida = aplicação de uma norma arguida de inconstitucionalidade por uma das
partes na causa
 Quem pode recorrer = a parte que suscitou a questão de constitucionalidade
 Momentos de recorrer para o TC = só pode recorrer-se para o TC depois de esgotados todos
os recursos ordinários admissíveis na ordem judicial a quo
 Condições de admissibilidade =
o Que a Inconstitucionalidade tenha sido suscitada no tribunal que proferiu a decisão
recorrida
o Indicação do tipo legal de recurso
o Indicação da norma arguida de inconstitucionalidade e da norma ou princípio
constitucional alegadamente violados
o Indicação da peça processual onde a questão da constitucionalidade foi levantada
o Que o recurso não seja manifestamente infundado

Terceira Opção

 Decisão ocorrida = aplicação de uma norma já julgada inconstitucional pelo TC


 Quem pode recorrer = O MP obrigatoriamente; a parte interessada na desaplicação da
norma
 Momento de recorrer para o TC = o recurso direto para o TC da decisão de aplicação da
norma, qualquer que seja a hierarquia do tribunal da causa
 Condições de admissibilidade = indicação do tipo legal de recurso; indicação da norma cuja
constitucionalidade esteja em causa; indicação da decisão do TC que a tenha julgado
inconstitucionalidade.

Revisão da Constituição
Natureza e Sentido da Revisão:

Os limites CRP, são =

 Limites Orgânicos: atribuição do poder de revisão a certo órgão, em regime de exclusividade


dentro da partilha geral do poder legislativo pelos órgãos de soberania

 Limites Temporais: impedem o exercício do poder de revisão a qualquer momento,


obedecendo a certos limites de tempo

 Limites procedimentais: regras que introduzem particulares em determinadas fases do


processo de revisão constitucional

 Limites circunstanciais: regras que vedam a expressão do poder de revisão constitucional na


vigência de situações de exceção constitucional

 Limites materiais: afastam do poder de revisão um conjunto de matérias, valores, princípios


ou institutos que integram o núcleo essencial do texto constitucional, pondo em causa a
identidade constitucional
Características do sistema português:
▫ Limites orgânicos = O poder de revisão só é atribuído à AR e não é partilhado com o
Governo, e não é passível de referendo

▫ Limites temporais = a revisão constitucional ordinária só pode efetuar-se cinco anos depois
de publicada a última lei de revisão, para isso é necessária uma maioria de quatro quintos
dos deputados em efetividade de funções - art 284

▫ Limites procedimentais = a iniciativa pertence aos Deputados (art 285/1) maioria de


aprovação terá que ser uma maioria agravada de dois terços dos deputados em efetividade
(art 286/1); não há lugar ao veto político (art 286/3); publicação na íntegra de todo o texto
revisto (art 287)

▫ Limites materiais = a CRP não admite uma revisão ilimitada ou para todas as matérias - art
288

▫ Limites circunstanciais = proíbem a revisão constitucional na vigência de estado de sítio e de


estado de emergência - art 289

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