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1.

RESUMO

O ambiente marinho é considerado um dos mais agressivos para as estruturas


de concreto armado, isso ocorre devido à presença de substâncias químicas, como
os íons de cloreto, que penetram na estrutura e provocam a despassivação do aço de
forma acelerada, gerando assim manifestações patológicas, como trincas
desplacamentos e corrosão das armaduras. A agressividade desse meio, segundo a
ABNT NBR 6118, tabela 6.1, pode ser dividida em duas classe, III e IV, onde a primeira
é para estruturas próximas ao mar e a segunda é para estruturas que possuem contato
direto com os respingos de maré. Com a utilização do processo de inspeção visual,
checklist e levantamento fotográfico, podemos comparar essas duas classes de
agressividade apresentadas, pois as estruturas de concreto armado da Ilha dos
Arvoredos se enquadram em ambas, tornando-as ideais para se realizar estudos e
levantamentos de dados sobre como essas duas classes agem sobre as estruturas.
Mostrando ao final que a classe de agressividade IV, respingos de maré, possui um
elevado grau de deterioração para as estruturas de concreto armado inseridas nela.

Palavras-chave: Manifestações patológicas; Estruturas de concreto armado;


Ambiente marinho.

2. INTRODUÇÃO

A Ilha dos Arvoredos encontra-se no litoral de São Paulo, Guarujá, a 1,6 Km da


Praia do Pernambuco. Pode ser considerada um laboratório a céu aberto, onde estão
sendo desenvolvidas pesquisas sobre sustentabilidade em energia e água potável,
geologia e construção civil. A vantagem de se aprimorar estudos sobre patologia do
concreto na Ilha dos Arvoredos é de estar em um ambiente isento de agentes
poluentes existentes em regiões industriais ou urbanas (NOx, SOx, CO e CO2). Sendo
feito também um mapeamento e descrição das principais estruturas de concreto
armado que apresentam manifestações patológicas Com base nestas afirmações
poderemos obter um banco de dados experimentais, com resultados discutidos, que
servirá como base comparativa para os mesmas inspeções realizadas em edificações
de regiões urbanas ou industriais.

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Também existe a vantagem de se obter dados em estruturas de concreto
armado existentes há mais de cinquenta anos, que podem ser classificadas em duas
classes de agressividade ambiental, onde temos informações dos mesmos em fase
inicial nos projetos das estruturas executados por Fernando Eduardo Lee contidos em
seu acervo.

3. OBJETIVOS

A proposta do artigo é realizar um mapeamento e descrição das manifestações


patológicas, por meio de inspeção visual e checklist, presentes nas regiões periféricas,
ou seja, mais críticas da Ilha dos Arvoredos mostrando assim o grau de deterioração
e as manifestações patológicas mais incidentes nas estruturas de concreto armado
que estão presentes no ambiente de classe de agressividade IV, respingos de maré.
Isso será comparado com os dados das checklists feitas nas regiões mais centrais da
Ilha dos Arvoredos.

4. METODOLOGIA

Para o mapeamento das manifestações patológicas das estruturas de concreto


armado da Ilha dos Arvoredos, foi feita uma inspeção visual com levantamento
fotográfico e descrição dos pontos que apresentam manifestações patológicas. Em
termos gerais, as seguintes etapas corresponderam a inspeção:

a. mapeamento e descrição, por meio de inspeções, das manifestações


patológicas mais críticas presentes nas estruturas de concreto armado.
b. levantamento fotográfico dos pontos mais críticos;
c. elaboração de uma checklist e gráfico de das manifestações patológicas mais
incidentes e suas localizações.

Foi elaborada uma checklist que pode mostrar quais são as principais e mais
incidentes manifestações nesse ambiente. A checklist pode ser vista na figura 1 a
seguir.

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Figura 1 - Checklist da frequência das manifestações patológicas.

ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

Manifestações
N° de incidências Local
Patológica
Eflorescência
Trincas e Fissuras
Desplacamento
Corrosão das armaduras
Manchas
Fonte: Elaborada pelo autor.

5. DESENVOLVIMENTO
5.1 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS

Muito embora as manifestações patológicas em estruturas de concreto possam


ser de diferentes origens, causas e natureza e entre as mais frequentes estão
indicadas na Figura 2 conforme observado por Helene e Terzian (1992), em pesquisa
realizada em nosso país. Analisando o gráfico da figura 1, conclui-se que as principais
causas que levam a deterioração de uma estrutura são: corrosão de armadura,
manchas superficiais, degradação química, flechas excessivas e as fissuras ativas e
passivas perfazendo estes itens um total de cerca de 80% das patologias constatadas.
As outras 20 % advêm de falhas construtivas as quais não são função da qualidade
do concreto e sim da qualidade da execução da obra.

Figura 2 - Distribuição relativa da incidência das manifestações patológicas das obras em território
nacional.

Fonte: Adaptado de LEVY (2001).

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5.2 AÇÃO DO MEIO AMBIENTE SOBRE AS ESTRUTURAS DE CONCRETO
ARMADO

Segundo SALES et al. (2018) “as ações ambientais sobre um elemento


estrutural dependem, de forma complexa, dos diversos fatores que podem se interagir,
ligados tanto ao macroclima como às condições microclimáticas locais que a própria
estrutura pode criar.”
Devido a isso, o risco de incidência das manifestações patológicas pode variar
de acordo com o ambiente. A NBR 6118 (2014a) define por meio da classe de
agressividade ambiental (CAA), o grau de risco de deterioração que a estrutura estará
submetida de acordo com ambiente. A tabela 1 a seguir mostra a classe de
agressividade ambiental (que está entre I - fraca e IV - muito forte).

Tabela 1 – Classes de agressividade ambiental (CAA).

Fonte: ABNT NBR 6118 (2014a, p.17, tab. 6.1).

Uma estrutura inserida em um ambiente marinho pode estar em duas classes


de agressividade, a III – forte, que representa as estruturas em regiões litorâneas sem
contato direto com o mar e a IV – muito forte para estruturas que estão em contato
direto com a água do mar. Com base nisso será apresentado a seguir a influência da
agressividade do ambiente marinho sobre as estruturas de concreto armado.

5.2.1 Agressividade do ambiente marinho às estruturas de concreto armado

Segundo Neville (1997) a água marinha é muito agressiva as estruturas de


concreto armado, pois esse ambiente a expõe as várias ações físicas e químicas.
Entre essas ações, podem ser destacados os ataques químicos, corrosão das
armaduras induzidas por cloretos, desgaste por ação de sais e abrasão pela areia de
suspensão. A intensidade dessas ações varia de acordo com a exposição da estrutura
de concreto armado em relação aos íons presentes na água do mar.
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6. RESULTADOS
6.1 DIAGNÓSTICO: INSPEÇÃO VISUAL E DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS
PONTOS COM MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS

Para realização da primeira etapa de diagnóstico nas estruturas de concreto


armado da Ilha dos Arvoredos, foi feito um levantamento fotográfico dos pontos
críticos que possuem manifestações patológicas. Esses pontos estão localizados na
escadaria secundária, na oficina e na plataforma, como podem ser vistos a seguir.

6.1.1 Escadaria secundária

Durante a inspeção visual realizada na escadaria secundária, foi possível


observar manifestações patológicas como desplacamento e corrosão das armaduras
(Figura 3). Grande parte da estrutura entrou em colapso, restando apenas a estrutura
de apoio dos degraus.

Figura 3 - Desplacamento e corrosão das armaduras da estrutura de apoio da escadaria secundária.

Fonte: Elaborada pelo autor.

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6.1.2 Oficina

Durante a inspeção visual realizada na escadaria principal, foi possível


observar manifestações patológicas como desplacamento, corrosão das armaduras e
trincas (Figura 4 - A à C).

Figura 4 (A à C) - Trincas, desplacamento e corrosão das armaduras na parte interna da oficina.

Fonte: Elaborada pelo autor.

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6.1.3 Plataforma

Durante a inspeção visual realizada na plataforma, foi possível observar


manifestações patológicas como trincas e manchas de corrosão das armaduras
(Figuras 5 e 6 – A e B).

Figura 5 - Manchas de corrosão das armaduras.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Figura 6 (A e B) - Trincas no pilar e na laje da plataforma.

Fonte: Elaborada pelo autor.

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6.2 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS MAIS INCIDENTES

Com os resultados obtidos com a checklist foi possível criar um gráfico que
mostra por meio de porcentagens quais são as manifestações patológicas mais
incidentes nas regiões centrais e periféricas da Ilha dos Arvoredos. Isso pode ser visto
no gráfico 1 e 2, a seguir.

Gráfico 1 - Incidência dos possíveis diagnósticos das manifestações patológicas na Ilha dos
Arvoredos – Regiões Periféricas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Gráfico 2 - Incidência dos possíveis diagnósticos das manifestações patológicas na Ilha dos
Arvoredos – Regiões Centrais.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Os gráficos obtidos a partir das checklists indicam que o maior número de
incidências de manifestações patológicas nas regiões periféricas são os
desplacamentos e as corrosões de armaduras, representando respectivamente 21%
e 36% das incidências, e que nas regiões centrais ocorreram mais manifestações
patológicas como manchas, trincas e fissuras, representando respectivamente 45% e
33% das incidências. Isso mostra que as estruturas de concreto armado próximas das
zonas de respingos de maré possuem um elevado risco de deterioração, se
comparado com as regiões mais centrais, mesmo que ambas estejam localizadas em
ambiente marinho.

6.3 MAPEAMENTO DOS PONTOS CRÍTICOS

Para melhor análise da situação foi necessária a utilização de uma imagem via
satélite para mapear os pontos críticos de uma maneira geral. A figura 7 a seguir
mostrará a localização de cada ponto crítico encontrado nos tópicos anteriores.

Figura 7 - Mapeamento dos pontos críticos.

Plataforma

Escadaria
secundária

Oficina

Fonte: Google Maps, 2021.

Como pode ser visto na figura 7, os pontos mais críticos da Ilha dos Arvoredos
estão localizados nas regiões mais extremas onde ocorre os respingos de maré, isso
faz com que as estruturas de concreto armado presentes no local se enquadrem em
duas classes de agressividade ambiental a III, para ambiente marinho e IV para
respingos de maré.
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos dados levantados concluiu-se que os pontos críticos de


manifestações patológicas na Ilha dos Arvoredos estão nas regiões periféricas em que
estrutura de concreto armado estão sujeitas aos respingos de maré, já as estruturas
das regiões centrais estão em um estado de deterioração menor. Isso confirma o que
diz ABNT NBR 6118, tabela 6.1 - classe de agressividade ambiental (CAA), que divide
o ambiente marinho em dois graus de risco de deterioração da estrutura, como grande
para estruturas presentes em regiões litorâneas sem contato direto com a água do
mar e elevado para estruturas em regiões expostas aos respingos de maré. Outro
fator de grande importância comparando os dois gráficos é a elevada porcentagem de
manifestações patológicas como corrosão das armaduras e desplacamentos nas
regiões periféricas, isso se deve aos íons de cloreto presentes na água do mar que
ingressam mais facilmente na estrutura por meio dos respingos de maré. Contudo
para se obter dados mais conclusivos serão necessários ensaios específicos para
cada ponto inspecionado.

8. FONTES CONSULTADAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de


Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

HELENE, P.R.L.; TERZIAN, P. Manual de Dosagem e Controle do Concreto. São


Paulo. PINI; Brasília, DF : SENAI, 1992.

LEVY, S. M.; Contribuição ao estudo da durabilidade de concretos, produzidos


com resíduos de concreto e alvenaria. São Paulo, 2001. p.199. tese (Doutorado)
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. PCC.USP.

NEVILLE A.M. Propriedades do Concreto, São Paulo, PINI. 1997. p. 828.

SALES, Almir...[et al]; RIBEIRO, Daniel Véras (Coord.). Corrosão e Degradação em


Estruturas de Concreto: Teoria, controle e técnicas de análise e intervenção. 2 ed.
Rio de Janeiro: Grupo Editorial Nacional S.A, 2018. 416 p.

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