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Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

PJe - Processo Judicial Eletrônico

14/06/2023

Número: 0051554-03.2021.8.13.0518
Classe: [CRIMINAL] AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINÁRIO
Órgão julgador: 1ª Vara Criminal e de Execuções Criminais da Comarca de Poços de Caldas
Última distribuição : 03/03/2022
Processo referência: 0
Assuntos: Crimes de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos ou Valores
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
Ministério Público - MPMG (AUTOR)
OTAVIO HENRIQUE DOS SANTOS (RÉU/RÉ)
NATHAN HENRIQUE RODRIGUES NUNES (ADVOGADO)
JEAN TULIO CARDOSO NETO (ADVOGADO)
WASHINGTON PACHECO SOUZA FABRI FILHO (ADVOGADO)
LUIZ FELIPE GUIMARAES ALVES (ADVOGADO)
ANDRE LACERDA SOARES (ADVOGADO)
VANESSA FERREIRA DE ARAUJO (ADVOGADO)
LUCAS RODRIGUES LUSTOSA (ADVOGADO)
WALLISON DONIZETTI ROQUE (INVESTIGADO(A))
MARCELO CAMPOS LEITE (ADVOGADO)
MARCOS PAULO DA SILVA (RÉU/RÉ)
MARCELO CAMPOS LEITE (ADVOGADO)
PAULO SERGIO DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
IGOR APARECIDO LELIS (RÉU/RÉ)
JOSE CARLOS NOBRE (ADVOGADO)
GABRIEL ROBERTO DEZOTTI DA SILVA (RÉU/RÉ)
ISABELLA SILVESTRE FARIA (ADVOGADO)
KARLA FELISBERTO DOS REIS (ADVOGADO)
WESLEY DONIZETTI ROQUE (RÉU/RÉ)
LETICIA DE PAIVA VIEIRA LIMA (ADVOGADO)
WANDERLEY PAULO DE MELO (ADVOGADO)
WILLIAN DONIZETTI ROQUE (RÉU/RÉ)
MARCELO CAMPOS LEITE (ADVOGADO)
WANDERLEY PAULO DE MELO (ADVOGADO)
LETICIA DE PAIVA VIEIRA LIMA (ADVOGADO)
PAULO SERGIO DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
ANA LUIZA BRITO GALDINO (RÉU/RÉ)
MARCELO CAMPOS LEITE (ADVOGADO)
PAULO SERGIO DE OLIVEIRA (ADVOGADO)

Outros participantes
AYMORE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A. (TERCEIRO
INTERESSADO)
GUSTAVO RODRIGO GOES NICOLADELI (ADVOGADO)
RODRIGO FRASSETTO GOES (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Assinatura Movimento Documento Tipo
9560648449 25/07/2022 23:25 Juntada de Petição de contrarrazões Contrarrazões Contrarrazões
9564588876 29/07/2022 22:26 Juntada de Petição de contrarrazões Contrarrazões Contrarrazões
9566449171 01/08/2022 23:01 Juntada de Petição de contrarrazões Contrarrazões Contrarrazões
9566454869 01/08/2022 23:01 Sem movimento CONTRA RAZÕES- ANA Contrarrazões
9640000769 25/10/2022 21:37 Juntada de Petição de contrarrazões MPMG-CONTRARRAZÕES DE RECURSO Contrarrazões
9640000770 25/10/2022 21:37 Sem movimento MPMG-MPMG-0051554- Contrarrazões
03.2021CONTRARRAZÕESDEEMBARGOSDEDEC
LARAÇÃO_assinado
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL
DA COMARCA DE POÇOS DE CALDAS/MG

WILLIAN DONIZETTI ROQUE, já devidamente


qualificado nos autos do processo suso-epigrafado, vem, via de seu bastante
procurador e advogado que esta subscreve, à augusta presença de Vossa
Excelência, em cumprimento ao R. despacho de fls. exarado por este Douto Juízo,
tempestivamente apresentar as presentes C O N T R A R A Z Õ E S ao recurso
em sentido estrito interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, as quais propugnam
pela manutenção integral da decisão injustamente hostilizada pelo ilustre
integrante do parquet.

ANTE AO EXPOSTO, REQUER:

I.- Recebimento das inclusas contra-razões, as quais


embora dirigidas ao Tribunal ad quem, são num primeiro momento, endereçadas
ao distinto Julgador monocrático, para oferecer subsídios a manutenção da
decisão atacada, a qual deverá, salvo melhor juízo, ser sustentada, ratificada e
consolidada pelo altivo Julgador Singular, a teor do disposto no artigo 589 Código
de Processo Penal, remetendo-se, após, os autos do recurso em sentido estrito, à
Superior instância, para reapreciação da temática alvo de férreo litígio.

Termos em que Pede e Espera Deferimento.

Poços de Caldas/MG, 25 de julho de 2022.

Marcelo Campos Leite


OAB/RN 4870

Número do documento: 22072523250307700009556739968


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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

COLENDA CÂMARA JULGADORA

ÍNCLITO RELATOR

CONTRA RAZÕES
(Pelo Recorrido)

Em que pese a insistência das razões elencadas


pelo Douto Representante do Ministério Público que subscreve a peça de
irresignação estampada à fls. dos autos, tem-se, que a mesma não deverá vingar
em seu desiderato mor, qual seja, o de obter a reforma da R. Decisão no que diz
respeito a liberdade provisória do recorrido, hostilizando-a assim injustamente,
porquanto o decisum de primeiro grau de jurisdição no que diz respeito a
esse ponto é impassível de censura, haja vista, que analisou como rara
percuciência, proficiência e imparcialidade o conjunto de elementos hospedados
pela demanda, outorgando o único veredicto possível e factível.

Foi sábio e correto entendimento do Nobre


Julgador de 1ª (primeira) instância, de modo que a R. Decisão por ele prolatada
MERECE SER MANTIDA uma vez que teceu todos os tópicos de maneira
brilhante, justificando e fundamentando item por item, com precisão absoluta

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Rebela-se o honorável membro do MINISTÉRIO
PÚBLICO, no recurso pelo mesmo interposto, quanto a liberdade provisória
concedida ao recorrido.

Entrementes, ousa o Recorrido, divergir, pela


raiz, do postulado Ministerial, como questão nuclear para reclamar a custódia
cautelar do recorrido que a mesma é imperativa para "garantia da ordem pública".

Desta forma, temos como dado incontroverso


que as razões invocadas pelo digno recorrente, declinadas no escopo mor de
lançar à prisão o recorrido, encontram-se em descompasso intenso com os
princípio reitores que autorizaram e informam a custódia cautelar.

Em que pese à respeitabilidade da peça recursal


apresentada pelo recorrente, nota-se claramente Nobres Julgadores, que esta
nada traz de novidade capaz de tornar a R. Decisão “a quo” passível de reforma,
senão vejam.

DOS MOTIVOS QUE ENSEJAM O MANTIMENTO DA DECISÃO

Pois bem, Excelência(s), passamos a rebater as


alegações infundadas do Recorrente.

Deve-se ter presente que a segregação


provisória é medida excepcionalíssima, sendo execrada pelos tribunais pátrios, eis
que implica, sempre, no cumprimento antecipado da pena (na hipótese de
remanescer condenado o réu), violando-se, aqui, de forma flagrante e deletéria o
preceito Constitucional da inocência, erigido pelo artigo 5º, LVII da Carta Magna.

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O Ilustre Representante do MP, tenta, por
conseguinte, a segregação cautelar do recorrido, mesmo que a situação não
convirja para essa possibilidade legal. É dizer, que infelizmente isso acontece
mesmo que o recorrido não ostente quaisquer das hipóteses situadas no art. 312
da Legislação Adjetiva Penal.

Convém ressaltar, sob o enfoque do tema em


relevo, o magistério de Norberto Avena:

“A liberdade provisória é um direito subjetivo do


imputado nas hipóteses em que facultada por lei. Logo,
simples juízo valorativo sobre a gravidade genérica do
delito imputado, assim como presunções abstratas sobre
a ameaça à ordem pública ou a potencialidade a outras
práticas delitivas não constituem fundamentação idônea
a autorizar o indeferimento do benefício, se
desvinculadas de qualquer fator revelador da presença
dos requisitos do art. 312 do CPP. “ (AVENA, Norberto
Cláudio Pâncaro. Processo Penal: esquematizado. 4ª Ed.
São Paulo: Método, 2012, p. 964)

No mesmo sentido:

“Como é sabido, em razão do princípio constitucional da


presunção da inocência (art. 5º, LVII, da CF) a prisão
processual é medida de exceção; a regra é sempre a
liberdade do indiciado ou acusado enquanto não
condenado por decisão transitada em julgado. Daí
porque o art. 5º, LXVI, da CF dispõe que: ‘ninguém será
levado à prisão ou nela mantida, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança. “ (BIANCHINI,
Alice . . [et al.] Prisão e medidas cautelares: comentários

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à Lei 12.403, de 4 de maio de 2011. (Coord. Luiz Flávio
Gomes, Ivan Luiz Marques). 2ª Ed. São Paulo: RT, 2011,
p. 136)

É de todo oportuno também gizar as lições de


Marco Antônio Ferreira Lima e Raniere Ferraz Nogueira:

“A regra é liberdade. Por essa razão, toda e qualquer


forma de prisão tem caráter excepcional. Prisão é
sempre exceção. Isso deve ficar claro, vez que se trata
de decorrência natural do princípio da presunção de não
culpabilidade. “ (LIMA, Marco Antônio Ferreira;
NOGUEIRA, Raniere Ferraz. Prisões e medidas
liberatórias. São Paulo: Atlas, 2011, p. 139). (grifos
nossos)

A suposta gravidade do delito e a possibilidade


de repercussão social inegavelmente não são motivos bastantes para tal
gravíssima providência processual. Não há fundamento legal, certamente.

De outro passo, isso se passa quando inexiste


qualquer registro de que o recorrido cause algum óbice à conveniência da
instrução criminal; muito menos se fundamenta sobre a necessidade de assegurar
a aplicação da lei penal em dados concretos, vistos nos autos.

De toda prudência evidenciar julgado do


Supremo Tribunal Federal, maiormente enfrentando o tema do clamor social e a
prisão preventiva:

HABEAS CORPUS. DENEGAÇÃO DE MEDIDA LIMINAR.


SÚMULA Nº 691/STF. SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS QUE

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AFASTAM A RESTRIÇÃO SUMULAR. PRISÃO
CAUTELAR DECRETADA COM APOIO E M MÚLTIPLOS
FUNDAMENTOS. GRAVIDADE OBJETIVA DO DELITO.
CLAMOR PÚBLICO. GARANTIA DA CREDIBILIDADE DA
JUSTIÇA. E POSSIBILIDADE DE INTERFERÊNCIA NA
INSTRUÇÃO PROCESSUAL ILEGITIMIDADE JURÍDICA
DA PRISÃO CAUTELAR QUANDO DECRETADA,
UNICAMENTE, COM SUPORTE EM JUÍZOS MERAMENTE
CONJECTURAIS. INDISPENSABILIDADE DA
VERIFICAÇÃO CONCRETA DE RAZÕES DE
NECESSIDADE SUBJACENTES À UTILIZAÇÃO, PELO
ESTADO, DESSA MEDIDA EXTRAORDINÁRIA.
SITUAÇÃO EXCEPCIONAL NÃO VERIFICADA NA
ESPÉCIE. INJUSTO CONSTRANGIMENTO
CONFIGURADO. “ HABEAS CORPUS ” CONCEDIDO DE
OFÍCIO. DENEGAÇÃO DE MEDIDA LIMINAR. SÚMULA Nº
691/STF. SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS QUE AFASTAM A
RESTRIÇÃO SUMULAR.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, sempre


em caráter extraordinário, tem admitido o afastamento, “
hic et nunc ”, da Súmula nº 691/STF, em hipóteses nas
quais a decisão questionada divirja da jurisprudência
predominante nesta corte ou, então, veicule situações
configuradoras de abuso de poder ou de manifesta
ilegalidade. Precedentes. Hipótese ocorrente na espécie.
Prisão cautelar. Caráter excepcional. A privação cautelar
da liberdade individual. Cuja decretação resulta possível
em virtude de expressa cláusula inscrita no próprio texto
da Constituição da República (CF, art. 5º, lxi), não
conflitando, por isso mesmo, com a presunção

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constitucional de inocência (CF, art. 5º, lvii) reveste-se de
caráter excepcional, somente devendo ser ordenada, por
tal razão, em situações de absoluta e real necessidade. A
prisão processual, para legitimar-se em face de nosso
sistema jurídico, impõe. Além da satisfação dos
pressupostos a que se refere o art. 312 do CPP (prova da
existência material do crime e indício suficiente de
autoria). Que se evidenciem, com fundamento em base
empírica idônea, razões justificadoras da
imprescindibilidade dessa extraordinária medida cautelar
de privação da liberdade do indiciado ou do réu.
Doutrina. Precedentes. A prisão preventiva. Enquanto
medida de natureza cautelar não pode ser utilizada como
instrumento de punição antecipada do indiciado ou do
réu. A prisão cautelar não pode. Nem deve. Ser utilizada,
pelo poder público, como instrumento de punição
antecipada daquele a quem se imputou a prática do
delito, pois, no sistema jurídico brasileiro, fundado em
bases democráticas, prevalece o princípio da liberdade,
incompatível com punições sem processo e inconciliável
com condenações sem defesa prévia. A prisão cautelar.
Que não deve ser confundida com a prisão penal. Não
objetiva infligir punição àquele que sofre a sua
decretação, mas destina-se, considerada a função
cautelar que lhe é inerente, a atuar em benefício da
atividade estatal desenvolvida no processo penal.
Precedentes. A gravidade em abstrato do crime não
constitui fator de legitimação da privação cautelar da
liberdade. A natureza da infração penal não constitui, só
por si, fundamento justificador da decretação da prisão
cautelar daquele que sofre a persecução criminal

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instaurada pelo estado. Precedentes. O clamor público
não constitui fator de legitimação da privação cautelar da
liberdade. O estado de comoção social e de eventual
indignação popular, motivado pela repercussão da
prática da infração penal, não pode justificar, só por si, a
decretação da prisão cautelar do suposto autor do
comportamento delituoso, sob pena de completa e grave
aniquilação do postulado fundamental da liberdade. O
clamor público.Precisamente por não constituir causa
legal de justificação da prisão processual (CPP, art. 312).
Não se qualifica como fator de legitimação da privação
cautelar da liberdade do indiciado ou do réu.
Precedentes. A preservação da credibilidade das
instituições não se qualifica, só por si, como fundamento
autorizador da prisão cautelar. Não se reveste de
idoneidade jurídica, para efeito de justificação do ato
excepcional da prisão cautelar, a alegação de que essa
modalidade de prisão é necessária para resguardar a
credibilidade das instituições. Ausência de
demonstração, no caso, da necessidade concreta de
decretar-se a prisão preventiva do paciente. Sem que se
caracterize situação de real necessidade, não se legitima
a privação cautelar da liberdade individual do indiciado
ou do réu. Ausentes razões de necessidade, revela-se
incabível, ante a sua excepcionalidade, a decretação ou a
subsistência da prisão cautelar. A prisão cautelar não
pode AP oiar-se em juízos meramente conjecturais. A
mera suposição, fundada em simples conjecturas, não
pode autorizar a decretação da prisão cautelar de
qualquer pessoa. A decisão que ordena a privação
cautelar da liberdade não se legitima quando

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desacompanhada de fatos concretos que lhe justifiquem
a necessidade, não podendo apoiar-se, por isso mesmo,
na avaliação puramente subjetiva do magistrado de que
a pessoa investigada ou processada, se em liberdade,
poderá delinqüir, ou interferir na instrução probatória, ou
evadir-se do distrito da culpa, ou, então, prevalecer-se de
sua particular condição social, funcional ou econômico-
financeira para obstruir, indevidamente, a regular
tramitação do processo penal de conhecimento.
Presunções arbitrárias, construídas a partir de juízos
meramente conjecturais, porque formuladas à margem
do sistema jurídico, não podem prevalecer sobre o
princípio da liberdade, cuja precedência constitucional
lhe confere posição eminente no domínio do processo
penal. A presunção constitucional de inocência impede
que o estado trate como se culpado fosse aquele que
ainda não sofreu condenação penal irrecorrível. A
prerrogativa jurídica da liberdade. Que possui extração
constitucional (CF, art. 5º, LXI e lxv). Não pode ser
ofendida por interpretações doutrinárias ou
jurisprudenciais que, fundadas em preocupante discurso
de conteúdo autoritário, culminam por consagrar,
paradoxalmente, em detrimento de direitos e garantias
fundamentais proclamados pela Constituição da
República, a ideologia da Lei e da ordem. Mesmo que se
trate de pessoa acusada da suposta prática de crime
hediondo, e até que sobrevenha sentença penal
condenatória irrecorrível, não se revela possível. Por
efeito de insuperável vedação constitucional (CF, art. 5º,
lvii). Presumir-lhe a culpabilidade. Ninguém,
absolutamente ninguém, pode ser tratado como culpado,

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qualquer que seja o ilícito penal cuja prática lhe tenha
sido atribuída, sem que exista, a esse respeito, decisão
judicial condenatória transitada em julgado. O princípio
constitucional do estado de inocência, tal como
delineado em nosso sistema jurídico, consagra uma
regra de tratamento que impede o poder público de agir
e de se comportar, em relação ao suspeito, ao indiciado,
ao denunciado ou ao réu, como se estes já houvessem
sido condenados, definitivamente, por sentença do
poder judiciário. Precedentes. (STF – HC 93.840; RJ;
Segunda Turma; Rel. Min. Celso de Mello; Julg.
08/04/2008; DJE 20/02/2014; Pág. 57)

Com a mesma sorte de entendimento, urge


demonstrar o seguinte aresto deste Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. WRIT SUBSTITUTIVO.


DESVIRTUAMENTO. TRÁFICO DE DROGAS E
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. PRISÃO PREVENTIVA.
ART. 312 DO CPP. PERICULUM LIBERTATIS.
FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE. ORDEM CONCEDIDA
DE OFÍCIO. A jurisprudência desta corte superior é
remansosa no sentido de que a determinação de
segregação do réu, antes de transitada em julgado a
condenação, deve efetivar-se apenas se indicada, em
dados concretos dos autos, a necessidade da cautela
(periculum libertatis), à luz do disposto no art. 312 do
Código de Processo Penal. 2. Assim, a prisão provisória
se mostra legítima e compatível com a presunção de
inocência somente se adotada, mediante decisão
suficientemente motivada, em caráter excepcional, não
bastando invocar, para tanto, aspectos genéricos, posto

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que relevantes, relativos à modalidade criminosa
atribuída ao acusado ou às expectativas sociais em
relação ao poder judiciário, decorrentes dos elevados
índices de violência urbana. 3. No caso, o magistrado de
origem apontou genericamente a presença dos vetores
contidos no art. 312 do Código de Processo Penal, uma
vez que se limitou a afirmar, em decisão padronizada,
com expressões genéricas do tipo “cuidam os autos de
crime (s) gravíssimo (s), que coloca (m) em risco a saúde
e a ordem públicas, seriamente abaladas com delito (s)
desse jaez”; “a (o) (s) acusada (o) (s), pela gravidade do
crime, demonstra (m) periculosidade, impondo-se a
restrição da liberdade para garantia da ordem pública (rt
648/347) e mesmo por conveniência da instrução
criminal (jSTJ 8/154)”; “os fatos causaram grande
indignação e clamor público na comarca”, a necessidade
da prisão preventiva do acusado. 4. As particularidades
concretas de cada caso não podem, em decisão que
suprime a liberdade humana, ser ignoradas, sob pena de
engendrar a decretação automática de prisão preventiva
contra todos os autores de crimes graves,
independentemente de singular apreciação de cada um
deles, o que atenta contra o princípio da
excepcionalidade da cautela extrema. 5. Evidenciada a
existência de corréu em situação fático-processual
idêntica, devem ser estendidos a ele os efeitos desta
decisão, nos termos do art. 580 do Código de Processo
Penal. 6. Habeas corpus não conhecido, mas concedido
de ofício, para revogar a decisão que decretou a prisão
preventiva do paciente, com extensão dos efeitos ao
corréu leandro Caio amorim franceconi, ressalvada a

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possibilidade de nova decretação da custódia cautelar,
se concretamente demonstrada sua necessidade, sem
prejuízo de imposição de medida alternativa, nos termos
do artigo 319 do Código de Processo Penal. (STJ; HC
299.666; Proc. 2014/0179625-5; SP; Sexta Turma; Rel.
Min. Rogério Schietti Cruz; DJE 23/10/2014)

QUANTO AS SIRTUAÇÕES IDÊNTICAS FÁTICO-JURÍDICAS DOS RÉUS

O Acusado WALLISON DONIZETTI ROQUE, por


flagrante ausência dos pressupostos autorizadores da prisão preventiva, que é um
critério puramente objetivo, jamais teve sua segregação cautelar requerida pelo
Ilustre representante do MP. Desta forma, em razão da situação fático-jurídicas
dos réus serem idênticas, acertou de forma irretocável o Douto Magistrado ao
revogar o decreto prisional.

Por analogia, a principal finalidade da norma


contida no artigo 580, CPP, é evitar decisões contraditórias em relação aos co-
réus que se encontrem na mesma situação fatíco-jurídica. Então, a decisão
tomada pelo recorrente por entender dá não necessidade e possibilidade de
requerer a prisão preventiva do acusado Wallison, deverá ser estendida aos
demais co- réus, uma vez que todos se encontram em situação processual
idêntica.

Sendo assim, como forma de se evitar decisões


díspares e, principalmente, injustas, e não restando dúvida de que a decisão que
beneficiou um, deverá ser aproveitada em favor dos demais.

A jurisprudência pátria sempre foi uniforme no


sentido de que quando a situação do co-réu é idêntica a do outro acusado que
obteve o direito de responder em liberdade com base em motivos outros que

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não sejam de caráter exclusivamente pessoal, deverá ser estendida aos demais
acusados. Vejamos algumas dessas decisões:

Prisão preventiva (revogação). Efeito extensivo (cabimento)


Fundamentação (falta). Identidade de situações.1. Quando a situação
processual do co- réu que pede extensão da ordem é idêntica à do
paciente que obteve a revogação da prisão preventiva contra ambos
decretada com base em motivos outros que não de caráter exclusivamente
pessoal, há de se estender a ordem já concedida.2. Tratando-se de
preventiva com os mesmos fundamentos - e insuficientes - a justificar
prisão cautelar imposta a todos os co-réus, a revogação da prisão deve
também abranger a todos.3. A decisão do recurso interposto por um dos
réus aproveitará aos outros (Cód. de Pr. Penal, art. 580).4. Pedido de
extensão deferido. PExt no RHC 17145 / BA ; PEDIDO DE EXTENSÃO NO
RECURSO EM HABEAS CORPUS.2005/0003245-1. MIN. NILSON NAVES. DJ
15.05.2006 p. 290).

PLEITO DE EXTENSÃO EM HABEAS CORPUS. ESTELIONATO E USO DE


DOCUMENTO FALSO. MANUTENÇÃO DA PRISÃO. GRAVIDADE
ABSTRATA DOS CRIMES.CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA A
CO-RÉU. SIMILITUDE FÁTICO- PROCESSUAL.INCIDÊNCIA DO ART. 580
DO CPP.1. A
só gravidade em abstrato do delito, dissociada de qualquer outro elemento
concreto e individualizado, não serve, de per si, como justificativa da não
concessão de liberdade provisória.2. Verificada a identidade fático-
processual entre o paciente e co-réu, e que o habeas corpus não se
encontra fundado em motivos de caráter pessoal aplica-se o disposto no
art. 580 do CPP.3. Pleito de extensão deferido. PROCESSO PENAL.
HABEAS CORPUS. PEDIDO DE

Destarte, a R. Decisão injustamente reprovada


pelo dono da lide, deverá ser preservada, missão, esta, confiada e reservada aos
Cultos e Doutos Desembargadores que compõem essa Augusta Câmara Criminal.

Número do documento: 22072523250307700009556739968


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ISTO POSTO, pugna o recorrido, seja negado
provimento ao recurso interposto pelo Senhor da ação penal pública
incondicionada, mantendo-se intangível a R. Decisão prolatada, em primeiro grau
de jurisdição, no que diz respeito a Revogação da Prisão Preventiva dos
acusados, pelos seus próprios e judiciosos fundamentos, com o que estar-se-á
realizando, assegurando e perfazendo-se, na gênese do verbo, o primado da mais
lídima e genuína JUSTIÇA!

Termos em que Pede e Espera Deferimento.

Poços de Caldas/MG, 25 de julho de 2022.

Marcelo Campos Leite


OAB/RN 4870

Número do documento: 22072523250307700009556739968


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Advocacia Criminal
Dr. Wanderley de Mello Dra. Letícia Lima
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE


POÇOS DE CALDAS – MG.

Recurso Em Sentido Estrito nº: 0051554-03.2021.8.13.0518

WESLEY DONIZETTI ROQUE, nos autos do recurso stricti juris em


epígrafe, em que figura como recorrido; sendo recorrente o Ministério Público do
Estado de Minas Gerais, vem, por seu por seus advogados, com o respeito devido, a
Vossa Excelência para, estando em termos e no prazo da lei, com fundamento no artigo
588 do Código de Processo Penal, oferecer as inclusas CONTRARRAZÕES, as quais
requer sejam recebidas, processadas e, ao final, providas, para o efeito de não se
conhecer da irresignação ministerial ou, não seja esse o caso, a ela se negar provimento,
em razão da decisão que deferiu a revogação da prisão preventiva do réu, pelos motivos
fáticos e jurídicos a seguir articulados.

Nesses termos, pede deferimento.

Poços de Caldas, 29 de julho de 2022.

Dr. Wanderley de Mello Dra. Letícia Lima


Advogado Advogada
OAB 29.713 OAB MG 171.581

Rua Noberto Carlos Ferreira, nº 49, Bairro Santa Augusta, Poços de Caldas - MG
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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS

CONTRARRAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Autos nº 0051554-03.2021.8.13.0518
Recorrente: Ministério Público de Minas Gerais
Recorrido: Wesley Donizetti Roque e outros.

Colenda Turma
Nobres Julgadores,

O réu está sendo processado, ao que narra a denúncia, pela prática dos delitos
tipificados no artigo 2°, caput c/c §§ 3º e 4°, I da Lei 12850/13 c/c artigo 1° caput e §4° da
Lei 9613/98.
Aditada a denúncia, fora incluído o irmão do réu Wesley, Wallisson Donizetti
Roque, e, na oportunidade, por sua prisão preventiva não ter sido decretada, as defesas
entenderam por bem requererem a revogação da prisão preventiva dos corréus.
Razão assiste às defesas e a revogação das prisões preventivas devem ser
mantidas.

Na prática, a acusação subverteu a lógica probatória e partiu da análise de que a


prisão preventiva deve ser decretada para todos. O que não deve prosperar, pelos
próprios fundamentos da decisão de ID9537507072, com motivação idônea.

O princípio da ISONOMIA é basilar, constitucional e norteador do processo


penal e todas as decisões da justiça. O anseio por punição, não pode ser a qualquer
custo, por ser a prisão preventiva a ultima ratio, não se pode desconsiderar que no caso
em análise a gravidade abstrata do delito não é fundamento hábil, tão só, para manter
preso o acusado, uma vez que ficou demonstrado que não existem razões para supor que
ele, se soltos, irá cometer delito ou embaraçar a aplicação da lei penal.

A prisão cautelar deve ser fundamentada em elementos concretos que


justifiquem, efetivamente, sua necessidade. Assim, temos que o Direito Penal é

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Dr. Wanderley de Mello Dra. Letícia Lima
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norteado pelo princípio da intervenção mínima, e por representar a mais gravosa das
respostas do Estado, deve ter atuação subsidiária aos outros ramos do direito e
fragmentária quanto aos bens jurídicos. Segundo o entendimento dos Tribunais
Superiores, Os fatos que justificam a prisão preventiva devem ser contemporâneos
à decisão que a decreta, assim, entendemos que, apreendidos todos os veículos,
computadores, celulares, ouvidas as testemunhas no inquérito e angariadas todas
as provas, as medidas cautelares, neste momento, são suficientes para a
manutenção da ordem pública. Ou seja, da mesma forma em que fora decretada com
motivos concretos À EPOCA, os motivos deixaram de existir, e, por isso, houve a
revogação. Além disso, ressalte-se que há previsão EXPRESSA da necessidade da
REVISÃO PERIÓDICA, a fim de se evitar prisões preventivas desnecessárias.

De mais a mais, a alusão genérica sobre a gravidade do delito, o clamor


público ou a comoção social não constituem fundamentação idônea a autorizar a
prisão preventiva.

Essa tese vem na esteira de inúmeras decisões nas quais prisões preventivas são
revertidas porque as decretações se baseiam em simples alusões aos fundamentos
elencados no Código de Processo Penal, à pena cominada ao crime e à repercussão de
sua prática. Atualmente, é orientação unânime dos tribunais superiores que os
fundamentos da prisão preventiva e outros elementos de caráter abstrato devem ser
cotejados com dados concretos que indiquem a necessidade de encarcerar determinado
indivíduo antes da formação definitiva da culpa.

Portanto, no presente caso, a prisão preventiva não tem razão de ser a DECISÃO
DA REVOGAÇÃO DEVE SER MANTIDA, já que todas as defesas demonstraram, de
forma patente que neste momento e para este caso, a revogação da prisão preventiva foi
justa e necessária, uma vez que não mais estão preenchidos os requisitos que a
autorizaram.

Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a


prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo,
verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como
novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

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Advocacia Criminal
Dr. Wanderley de Mello Dra. Letícia Lima
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A prisão preventiva se justifica, nos termos do art. 312 do CPP, como forma de
preservação da ordem pública e econômica, por conveniência da instrução criminal e
como garantia da futura aplicação da lei penal, na técnica processual, as providências
cautelares constituem os instrumentos através dos quais se obtém a antecipação dos
efeitos de um futuro provimento definitivo, exatamente com o objetivo de assegurar os
meios para que esse mesmo provimento definitivo possa ser conseguido e,
principalmente, possa ser eficaz.

Pelo exposto, requer sejam estas razões recebidas e processadas para que, ao
final, sejam julgadas providas, para o efeito de não se conhecer da irresignação
ministerial ou, não seja esse o caso, a ela se negar provimento, em razão da decisão
que deferiu a revogação da prisão preventiva dos réus, pelos motivos fáticos e jurídicos
expostos em todas as contrarrazões recursais e na própria decisão do magistrado de 1ª
instância.

Nesses termos, pede deferimento.

Poços de Caldas, 29 de julho de 2022.

Dr. Wanderley de Mello Dra. Letícia Lima


Advogado Advogada
OAB 29.713 OAB MG 171.581

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL
DA COMARCA DE POÇOS DE CALDAS/MG

MARCOS PAULO DA SILVA, já devidamente


qualificado nos autos do processo suso-epigrafado, vem, via de seu bastante
procurador e advogado que esta subscreve, à augusta presença de Vossa
Excelência, em cumprimento ao R. despacho de fls. exarado por este Douto Juízo,
tempestivamente apresentar as presentes C O N T R A R A Z Õ E S ao recurso
em sentido estrito interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, as quais propugnam
pela manutenção integral da decisão injustamente hostilizada pelo ilustre
integrante do parquet.

ANTE AO EXPOSTO, REQUER:

I.- Recebimento das inclusas contra-razões, as quais


embora dirigidas ao Tribunal ad quem, são num primeiro momento, endereçadas
ao distinto Julgador monocrático, para oferecer subsídios a manutenção da
decisão atacada, a qual deverá, salvo melhor juízo, ser sustentada, ratificada e
consolidada pelo altivo Julgador Singular, a teor do disposto no artigo 589 Código
de Processo Penal, remetendo-se, após, os autos do recurso em sentido estrito, à
Superior instância, para reapreciação da temática alvo de férreo litígio.

Termos em que Pede e Espera Deferimento.

Poços de Caldas/MG, 28 de julho de 2022.

Marcelo Campos Leite


OAB/RN 4870

Número do documento: 22080123012044400009562542340


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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

COLENDA CÂMARA JULGADORA

ÍNCLITO RELATOR

CONTRA RAZÕES
(Pelo Recorrido)

Em que pese a insistência das razões elencadas


pelo Douto Representante do Ministério Público que subscreve a peça de
irresignação estampada à fls. dos autos, tem-se, que a mesma não deverá vingar
em seu desiderato mor, qual seja, o de obter a reforma da R. Decisão no que diz
respeito a liberdade provisória do recorrido, hostilizando-a assim injustamente,
porquanto o decisum de primeiro grau de jurisdição no que diz respeito a
esse ponto é impassível de censura, haja vista, que analisou como rara
percuciência, proficiência e imparcialidade o conjunto de elementos hospedados
pela demanda, outorgando o único veredicto possível e factível.

Foi sábio e correto entendimento do Nobre


Julgador de 1ª (primeira) instância, de modo que a R. Decisão por ele prolatada
MERECE SER MANTIDA uma vez que teceu todos os tópicos de maneira
brilhante, justificando e fundamentando item por item, com precisão absoluta

Número do documento: 22080123012044400009562542340


https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22080123012044400009562542340
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Rebela-se o honorável membro do MINISTÉRIO
PÚBLICO, no recurso pelo mesmo interposto, quanto a liberdade provisória
concedida ao recorrido.

Entrementes, ousa o Recorrido, divergir, pela


raiz, do postulado Ministerial, como questão nuclear para reclamar a custódia
cautelar do recorrido que a mesma é imperativa para "garantia da ordem pública".

Desta forma, temos como dado incontroverso


que as razões invocadas pelo digno recorrente, declinadas no escopo mor de
lançar à prisão o recorrido, encontram-se em descompasso intenso com os
princípio reitores que autorizaram e informam a custódia cautelar.

Em que pese à respeitabilidade da peça recursal


apresentada pelo recorrente, nota-se claramente Nobres Julgadores, que esta
nada traz de novidade capaz de tornar a R. Decisão “a quo” passível de reforma,
senão vejam.

DOS MOTIVOS QUE ENSEJAM O MANTIMENTO DA DECISÃO

Pois bem, Excelência(s), passamos a rebater as


alegações infundadas do Recorrente.

Deve-se ter presente que a segregação


provisória é medida excepcionalíssima, sendo execrada pelos tribunais pátrios, eis
que implica, sempre, no cumprimento antecipado da pena (na hipótese de
remanescer condenado o réu), violando-se, aqui, de forma flagrante e deletéria o
preceito Constitucional da inocência, erigido pelo artigo 5º, LVII da Carta Magna.

Número do documento: 22080123012044400009562542340


https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22080123012044400009562542340
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O Ilustre Representante do MP, tenta, por
conseguinte, a segregação cautelar do recorrido, mesmo que a situação não
convirja para essa possibilidade legal. É dizer, que infelizmente isso acontece
mesmo que o recorrido não ostente quaisquer das hipóteses situadas no art. 312
da Legislação Adjetiva Penal.

Convém ressaltar, sob o enfoque do tema em


relevo, o magistério de Norberto Avena:

“A liberdade provisória é um direito subjetivo do


imputado nas hipóteses em que facultada por lei. Logo,
simples juízo valorativo sobre a gravidade genérica do
delito imputado, assim como presunções abstratas sobre
a ameaça à ordem pública ou a potencialidade a outras
práticas delitivas não constituem fundamentação idônea
a autorizar o indeferimento do benefício, se
desvinculadas de qualquer fator revelador da presença
dos requisitos do art. 312 do CPP. “ (AVENA, Norberto
Cláudio Pâncaro. Processo Penal: esquematizado. 4ª Ed.
São Paulo: Método, 2012, p. 964)

No mesmo sentido:

“Como é sabido, em razão do princípio constitucional da


presunção da inocência (art. 5º, LVII, da CF) a prisão
processual é medida de exceção; a regra é sempre a
liberdade do indiciado ou acusado enquanto não
condenado por decisão transitada em julgado. Daí
porque o art. 5º, LXVI, da CF dispõe que: ‘ninguém será
levado à prisão ou nela mantida, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança. “ (BIANCHINI,
Alice . . [et al.] Prisão e medidas cautelares: comentários

Número do documento: 22080123012044400009562542340


https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22080123012044400009562542340
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à Lei 12.403, de 4 de maio de 2011. (Coord. Luiz Flávio
Gomes, Ivan Luiz Marques). 2ª Ed. São Paulo: RT, 2011,
p. 136)

É de todo oportuno também gizar as lições de


Marco Antônio Ferreira Lima e Raniere Ferraz Nogueira:

“A regra é liberdade. Por essa razão, toda e qualquer


forma de prisão tem caráter excepcional. Prisão é
sempre exceção. Isso deve ficar claro, vez que se trata
de decorrência natural do princípio da presunção de não
culpabilidade. “ (LIMA, Marco Antônio Ferreira;
NOGUEIRA, Raniere Ferraz. Prisões e medidas
liberatórias. São Paulo: Atlas, 2011, p. 139). (grifos
nossos)

A suposta gravidade do delito e a possibilidade


de repercussão social inegavelmente não são motivos bastantes para tal
gravíssima providência processual. Não há fundamento legal, certamente.

De outro passo, isso se passa quando inexiste


qualquer registro de que o recorrido cause algum óbice à conveniência da
instrução criminal; muito menos se fundamenta sobre a necessidade de assegurar
a aplicação da lei penal em dados concretos, vistos nos autos.

De toda prudência evidenciar julgado do


Supremo Tribunal Federal, maiormente enfrentando o tema do clamor social e a
prisão preventiva:

HABEAS CORPUS. DENEGAÇÃO DE MEDIDA LIMINAR.


SÚMULA Nº 691/STF. SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS QUE

Número do documento: 22080123012044400009562542340


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AFASTAM A RESTRIÇÃO SUMULAR. PRISÃO
CAUTELAR DECRETADA COM APOIO E M MÚLTIPLOS
FUNDAMENTOS. GRAVIDADE OBJETIVA DO DELITO.
CLAMOR PÚBLICO. GARANTIA DA CREDIBILIDADE DA
JUSTIÇA. E POSSIBILIDADE DE INTERFERÊNCIA NA
INSTRUÇÃO PROCESSUAL ILEGITIMIDADE JURÍDICA
DA PRISÃO CAUTELAR QUANDO DECRETADA,
UNICAMENTE, COM SUPORTE EM JUÍZOS MERAMENTE
CONJECTURAIS. INDISPENSABILIDADE DA
VERIFICAÇÃO CONCRETA DE RAZÕES DE
NECESSIDADE SUBJACENTES À UTILIZAÇÃO, PELO
ESTADO, DESSA MEDIDA EXTRAORDINÁRIA.
SITUAÇÃO EXCEPCIONAL NÃO VERIFICADA NA
ESPÉCIE. INJUSTO CONSTRANGIMENTO
CONFIGURADO. “ HABEAS CORPUS ” CONCEDIDO DE
OFÍCIO. DENEGAÇÃO DE MEDIDA LIMINAR. SÚMULA Nº
691/STF. SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS QUE AFASTAM A
RESTRIÇÃO SUMULAR.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, sempre


em caráter extraordinário, tem admitido o afastamento, “
hic et nunc ”, da Súmula nº 691/STF, em hipóteses nas
quais a decisão questionada divirja da jurisprudência
predominante nesta corte ou, então, veicule situações
configuradoras de abuso de poder ou de manifesta
ilegalidade. Precedentes. Hipótese ocorrente na espécie.
Prisão cautelar. Caráter excepcional. A privação cautelar
da liberdade individual. Cuja decretação resulta possível
em virtude de expressa cláusula inscrita no próprio texto
da Constituição da República (CF, art. 5º, lxi), não
conflitando, por isso mesmo, com a presunção

Número do documento: 22080123012044400009562542340


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constitucional de inocência (CF, art. 5º, lvii) reveste-se de
caráter excepcional, somente devendo ser ordenada, por
tal razão, em situações de absoluta e real necessidade. A
prisão processual, para legitimar-se em face de nosso
sistema jurídico, impõe. Além da satisfação dos
pressupostos a que se refere o art. 312 do CPP (prova da
existência material do crime e indício suficiente de
autoria). Que se evidenciem, com fundamento em base
empírica idônea, razões justificadoras da
imprescindibilidade dessa extraordinária medida cautelar
de privação da liberdade do indiciado ou do réu.
Doutrina. Precedentes. A prisão preventiva. Enquanto
medida de natureza cautelar não pode ser utilizada como
instrumento de punição antecipada do indiciado ou do
réu. A prisão cautelar não pode. Nem deve. Ser utilizada,
pelo poder público, como instrumento de punição
antecipada daquele a quem se imputou a prática do
delito, pois, no sistema jurídico brasileiro, fundado em
bases democráticas, prevalece o princípio da liberdade,
incompatível com punições sem processo e inconciliável
com condenações sem defesa prévia. A prisão cautelar.
Que não deve ser confundida com a prisão penal. Não
objetiva infligir punição àquele que sofre a sua
decretação, mas destina-se, considerada a função
cautelar que lhe é inerente, a atuar em benefício da
atividade estatal desenvolvida no processo penal.
Precedentes. A gravidade em abstrato do crime não
constitui fator de legitimação da privação cautelar da
liberdade. A natureza da infração penal não constitui, só
por si, fundamento justificador da decretação da prisão
cautelar daquele que sofre a persecução criminal

Número do documento: 22080123012044400009562542340


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instaurada pelo estado. Precedentes. O clamor público
não constitui fator de legitimação da privação cautelar da
liberdade. O estado de comoção social e de eventual
indignação popular, motivado pela repercussão da
prática da infração penal, não pode justificar, só por si, a
decretação da prisão cautelar do suposto autor do
comportamento delituoso, sob pena de completa e grave
aniquilação do postulado fundamental da liberdade. O
clamor público.Precisamente por não constituir causa
legal de justificação da prisão processual (CPP, art. 312).
Não se qualifica como fator de legitimação da privação
cautelar da liberdade do indiciado ou do réu.
Precedentes. A preservação da credibilidade das
instituições não se qualifica, só por si, como fundamento
autorizador da prisão cautelar. Não se reveste de
idoneidade jurídica, para efeito de justificação do ato
excepcional da prisão cautelar, a alegação de que essa
modalidade de prisão é necessária para resguardar a
credibilidade das instituições. Ausência de
demonstração, no caso, da necessidade concreta de
decretar-se a prisão preventiva do paciente. Sem que se
caracterize situação de real necessidade, não se legitima
a privação cautelar da liberdade individual do indiciado
ou do réu. Ausentes razões de necessidade, revela-se
incabível, ante a sua excepcionalidade, a decretação ou a
subsistência da prisão cautelar. A prisão cautelar não
pode AP oiar-se em juízos meramente conjecturais. A
mera suposição, fundada em simples conjecturas, não
pode autorizar a decretação da prisão cautelar de
qualquer pessoa. A decisão que ordena a privação
cautelar da liberdade não se legitima quando

Número do documento: 22080123012044400009562542340


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desacompanhada de fatos concretos que lhe justifiquem
a necessidade, não podendo apoiar-se, por isso mesmo,
na avaliação puramente subjetiva do magistrado de que
a pessoa investigada ou processada, se em liberdade,
poderá delinqüir, ou interferir na instrução probatória, ou
evadir-se do distrito da culpa, ou, então, prevalecer-se de
sua particular condição social, funcional ou econômico-
financeira para obstruir, indevidamente, a regular
tramitação do processo penal de conhecimento.
Presunções arbitrárias, construídas a partir de juízos
meramente conjecturais, porque formuladas à margem
do sistema jurídico, não podem prevalecer sobre o
princípio da liberdade, cuja precedência constitucional
lhe confere posição eminente no domínio do processo
penal. A presunção constitucional de inocência impede
que o estado trate como se culpado fosse aquele que
ainda não sofreu condenação penal irrecorrível. A
prerrogativa jurídica da liberdade. Que possui extração
constitucional (CF, art. 5º, LXI e lxv). Não pode ser
ofendida por interpretações doutrinárias ou
jurisprudenciais que, fundadas em preocupante discurso
de conteúdo autoritário, culminam por consagrar,
paradoxalmente, em detrimento de direitos e garantias
fundamentais proclamados pela Constituição da
República, a ideologia da Lei e da ordem. Mesmo que se
trate de pessoa acusada da suposta prática de crime
hediondo, e até que sobrevenha sentença penal
condenatória irrecorrível, não se revela possível. Por
efeito de insuperável vedação constitucional (CF, art. 5º,
lvii). Presumir-lhe a culpabilidade. Ninguém,
absolutamente ninguém, pode ser tratado como culpado,

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qualquer que seja o ilícito penal cuja prática lhe tenha
sido atribuída, sem que exista, a esse respeito, decisão
judicial condenatória transitada em julgado. O princípio
constitucional do estado de inocência, tal como
delineado em nosso sistema jurídico, consagra uma
regra de tratamento que impede o poder público de agir
e de se comportar, em relação ao suspeito, ao indiciado,
ao denunciado ou ao réu, como se estes já houvessem
sido condenados, definitivamente, por sentença do
poder judiciário. Precedentes. (STF – HC 93.840; RJ;
Segunda Turma; Rel. Min. Celso de Mello; Julg.
08/04/2008; DJE 20/02/2014; Pág. 57)

Com a mesma sorte de entendimento, urge


demonstrar o seguinte aresto deste Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. WRIT SUBSTITUTIVO.


DESVIRTUAMENTO. TRÁFICO DE DROGAS E
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. PRISÃO PREVENTIVA.
ART. 312 DO CPP. PERICULUM LIBERTATIS.
FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE. ORDEM CONCEDIDA
DE OFÍCIO. A jurisprudência desta corte superior é
remansosa no sentido de que a determinação de
segregação do réu, antes de transitada em julgado a
condenação, deve efetivar-se apenas se indicada, em
dados concretos dos autos, a necessidade da cautela
(periculum libertatis), à luz do disposto no art. 312 do
Código de Processo Penal. 2. Assim, a prisão provisória
se mostra legítima e compatível com a presunção de
inocência somente se adotada, mediante decisão
suficientemente motivada, em caráter excepcional, não
bastando invocar, para tanto, aspectos genéricos, posto

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que relevantes, relativos à modalidade criminosa
atribuída ao acusado ou às expectativas sociais em
relação ao poder judiciário, decorrentes dos elevados
índices de violência urbana. 3. No caso, o magistrado de
origem apontou genericamente a presença dos vetores
contidos no art. 312 do Código de Processo Penal, uma
vez que se limitou a afirmar, em decisão padronizada,
com expressões genéricas do tipo “cuidam os autos de
crime (s) gravíssimo (s), que coloca (m) em risco a saúde
e a ordem públicas, seriamente abaladas com delito (s)
desse jaez”; “a (o) (s) acusada (o) (s), pela gravidade do
crime, demonstra (m) periculosidade, impondo-se a
restrição da liberdade para garantia da ordem pública (rt
648/347) e mesmo por conveniência da instrução
criminal (jSTJ 8/154)”; “os fatos causaram grande
indignação e clamor público na comarca”, a necessidade
da prisão preventiva do acusado. 4. As particularidades
concretas de cada caso não podem, em decisão que
suprime a liberdade humana, ser ignoradas, sob pena de
engendrar a decretação automática de prisão preventiva
contra todos os autores de crimes graves,
independentemente de singular apreciação de cada um
deles, o que atenta contra o princípio da
excepcionalidade da cautela extrema. 5. Evidenciada a
existência de corréu em situação fático-processual
idêntica, devem ser estendidos a ele os efeitos desta
decisão, nos termos do art. 580 do Código de Processo
Penal. 6. Habeas corpus não conhecido, mas concedido
de ofício, para revogar a decisão que decretou a prisão
preventiva do paciente, com extensão dos efeitos ao
corréu leandro Caio amorim franceconi, ressalvada a

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possibilidade de nova decretação da custódia cautelar,
se concretamente demonstrada sua necessidade, sem
prejuízo de imposição de medida alternativa, nos termos
do artigo 319 do Código de Processo Penal. (STJ; HC
299.666; Proc. 2014/0179625-5; SP; Sexta Turma; Rel.
Min. Rogério Schietti Cruz; DJE 23/10/2014)

QUANTO AS SIRTUAÇÕES IDÊNTICAS FÁTICO-JURÍDICAS DOS RÉUS

O Acusado WALLISON DONIZETTI ROQUE, por


flagrante ausência dos pressupostos autorizadores da prisão preventiva, que é um
critério puramente objetivo, jamais teve sua segregação cautelar requerida pelo
Ilustre representante do MP. Desta forma, em razão da situação fático-jurídicas
dos réus serem idênticas, acertou de forma irretocável o Douto Magistrado ao
revogar o decreto prisional.

Por analogia, a principal finalidade da norma


contida no artigo 580, CPP, é evitar decisões contraditórias em relação aos co-
réus que se encontrem na mesma situação fatíco-jurídica. Então, a decisão
tomada pelo recorrente por entender dá não necessidade e possibilidade de
requerer a prisão preventiva do acusado Wallison, deverá ser estendida aos
demais co- réus, uma vez que todos se encontram em situação processual
idêntica.

Sendo assim, como forma de se evitar decisões


díspares e, principalmente, injustas, e não restando dúvida de que a decisão que
beneficiou um, deverá ser aproveitada em favor dos demais.

A jurisprudência pátria sempre foi uniforme no


sentido de que quando a situação do co-réu é idêntica a do outro acusado que
obteve o direito de responder em liberdade com base em motivos outros que

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não sejam de caráter exclusivamente pessoal, deverá ser estendida aos demais
acusados. Vejamos algumas dessas decisões:

Prisão preventiva (revogação). Efeito extensivo (cabimento)


Fundamentação (falta). Identidade de situações.1. Quando a situação
processual do co- réu que pede extensão da ordem é idêntica à do
paciente que obteve a revogação da prisão preventiva contra ambos
decretada com base em motivos outros que não de caráter exclusivamente
pessoal, há de se estender a ordem já concedida.2. Tratando-se de
preventiva com os mesmos fundamentos - e insuficientes - a justificar
prisão cautelar imposta a todos os co-réus, a revogação da prisão deve
também abranger a todos.3. A decisão do recurso interposto por um dos
réus aproveitará aos outros (Cód. de Pr. Penal, art. 580).4. Pedido de
extensão deferido. PExt no RHC 17145 / BA ; PEDIDO DE EXTENSÃO NO
RECURSO EM HABEAS CORPUS.2005/0003245-1. MIN. NILSON NAVES. DJ
15.05.2006 p. 290).

PLEITO DE EXTENSÃO EM HABEAS CORPUS. ESTELIONATO E USO DE


DOCUMENTO FALSO. MANUTENÇÃO DA PRISÃO. GRAVIDADE
ABSTRATA DOS CRIMES.CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA A
CO-RÉU. SIMILITUDE FÁTICO- PROCESSUAL.INCIDÊNCIA DO ART. 580
DO CPP.1. A
só gravidade em abstrato do delito, dissociada de qualquer outro elemento
concreto e individualizado, não serve, de per si, como justificativa da não
concessão de liberdade provisória.2. Verificada a identidade fático-
processual entre o paciente e co-réu, e que o habeas corpus não se
encontra fundado em motivos de caráter pessoal aplica-se o disposto no
art. 580 do CPP.3. Pleito de extensão deferido. PROCESSO PENAL.
HABEAS CORPUS. PEDIDO DE

Destarte, a R. Decisão injustamente reprovada


pelo dono da lide, deverá ser preservada, missão, esta, confiada e reservada aos
Cultos e Doutos Desembargadores que compõem essa Augusta Câmara Criminal.

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ISTO POSTO, pugna o recorrido, seja negado
provimento ao recurso interposto pelo Senhor da ação penal pública
incondicionada, mantendo-se intangível a R. Decisão prolatada, em primeiro grau
de jurisdição, no que diz respeito a Revogação da Prisão Preventiva dos
acusados, pelos seus próprios e judiciosos fundamentos, com o que estar-se-á
realizando, assegurando e perfazendo-se, na gênese do verbo, o primado da mais
lídima e genuína JUSTIÇA!

Termos em que Pede e Espera Deferimento.

Poços de Caldas/MG, 25 de julho de 2022.

Marcelo Campos Leite


OAB/RN 4870

Número do documento: 22080123012044400009562542340


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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL
DA COMARCA DE POÇOS DE CALDAS/MG

ANA LUIZA GALDINO ROQUE, já devidamente


qualificado nos autos do processo suso-epigrafado, vem, via de seu bastante
procurador e advogado que esta subscreve, à augusta presença de Vossa
Excelência, em cumprimento ao R. despacho de fls. exarado por este Douto Juízo,
tempestivamente apresentar as presentes C O N T R A R A Z Õ E S ao recurso
em sentido estrito interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, as quais propugnam
pela manutenção integral da decisão injustamente hostilizada pelo ilustre
integrante do parquet.

ANTE AO EXPOSTO, REQUER:

I.- Recebimento das inclusas contra-razões, as quais


embora dirigidas ao Tribunal ad quem, são num primeiro momento, endereçadas
ao distinto Julgador monocrático, para oferecer subsídios a manutenção da
decisão atacada, a qual deverá, salvo melhor juízo, ser sustentada, ratificada e
consolidada pelo altivo Julgador Singular, a teor do disposto no artigo 589 Código
de Processo Penal, remetendo-se, após, os autos do recurso em sentido estrito, à
Superior instância, para reapreciação da temática alvo de férreo litígio.

Termos em que Pede e Espera Deferimento.

Poços de Caldas/MG, 28 de julho de 2022.

Marcelo Campos Leite


OAB/RN 4870

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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

COLENDA CÂMARA JULGADORA

ÍNCLITO RELATOR

CONTRA RAZÕES
(Pelo Recorrido)

Em que pese a insistência das razões elencadas


pelo Douto Representante do Ministério Público que subscreve a peça de
irresignação estampada à fls. dos autos, tem-se, que a mesma não deverá vingar
em seu desiderato mor, qual seja, o de obter a reforma da R. Decisão no que diz
respeito a liberdade provisória do recorrido, hostilizando-a assim injustamente,
porquanto o decisum de primeiro grau de jurisdição no que diz respeito a
esse ponto é impassível de censura, haja vista, que analisou como rara
percuciência, proficiência e imparcialidade o conjunto de elementos hospedados
pela demanda, outorgando o único veredicto possível e factível.

Foi sábio e correto entendimento do Nobre


Julgador de 1ª (primeira) instância, de modo que a R. Decisão por ele prolatada
MERECE SER MANTIDA uma vez que teceu todos os tópicos de maneira
brilhante, justificando e fundamentando item por item, com precisão absoluta

Número do documento: 22080123012135700009562548038


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Rebela-se o honorável membro do MINISTÉRIO
PÚBLICO, no recurso pelo mesmo interposto, quanto a liberdade provisória
concedida ao recorrido.

Entrementes, ousa o Recorrido, divergir, pela


raiz, do postulado Ministerial, como questão nuclear para reclamar a custódia
cautelar do recorrido que a mesma é imperativa para "garantia da ordem pública".

Desta forma, temos como dado incontroverso


que as razões invocadas pelo digno recorrente, declinadas no escopo mor de
lançar à prisão o recorrido, encontram-se em descompasso intenso com os
princípio reitores que autorizaram e informam a custódia cautelar.

Em que pese à respeitabilidade da peça recursal


apresentada pelo recorrente, nota-se claramente Nobres Julgadores, que esta
nada traz de novidade capaz de tornar a R. Decisão “a quo” passível de reforma,
senão vejam.

DOS MOTIVOS QUE ENSEJAM O MANTIMENTO DA DECISÃO

Pois bem, Excelência(s), passamos a rebater as


alegações infundadas do Recorrente.

Deve-se ter presente que a segregação


provisória é medida excepcionalíssima, sendo execrada pelos tribunais pátrios, eis
que implica, sempre, no cumprimento antecipado da pena (na hipótese de
remanescer condenado o réu), violando-se, aqui, de forma flagrante e deletéria o
preceito Constitucional da inocência, erigido pelo artigo 5º, LVII da Carta Magna.

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O Ilustre Representante do MP, tenta, por
conseguinte, a segregação cautelar do recorrido, mesmo que a situação não
convirja para essa possibilidade legal. É dizer, que infelizmente isso acontece
mesmo que o recorrido não ostente quaisquer das hipóteses situadas no art. 312
da Legislação Adjetiva Penal.

Convém ressaltar, sob o enfoque do tema em


relevo, o magistério de Norberto Avena:

“A liberdade provisória é um direito subjetivo do


imputado nas hipóteses em que facultada por lei. Logo,
simples juízo valorativo sobre a gravidade genérica do
delito imputado, assim como presunções abstratas sobre
a ameaça à ordem pública ou a potencialidade a outras
práticas delitivas não constituem fundamentação idônea
a autorizar o indeferimento do benefício, se
desvinculadas de qualquer fator revelador da presença
dos requisitos do art. 312 do CPP. “ (AVENA, Norberto
Cláudio Pâncaro. Processo Penal: esquematizado. 4ª Ed.
São Paulo: Método, 2012, p. 964)

No mesmo sentido:

“Como é sabido, em razão do princípio constitucional da


presunção da inocência (art. 5º, LVII, da CF) a prisão
processual é medida de exceção; a regra é sempre a
liberdade do indiciado ou acusado enquanto não
condenado por decisão transitada em julgado. Daí
porque o art. 5º, LXVI, da CF dispõe que: ‘ninguém será
levado à prisão ou nela mantida, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança. “ (BIANCHINI,
Alice . . [et al.] Prisão e medidas cautelares: comentários

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à Lei 12.403, de 4 de maio de 2011. (Coord. Luiz Flávio
Gomes, Ivan Luiz Marques). 2ª Ed. São Paulo: RT, 2011,
p. 136)

É de todo oportuno também gizar as lições de


Marco Antônio Ferreira Lima e Raniere Ferraz Nogueira:

“A regra é liberdade. Por essa razão, toda e qualquer


forma de prisão tem caráter excepcional. Prisão é
sempre exceção. Isso deve ficar claro, vez que se trata
de decorrência natural do princípio da presunção de não
culpabilidade. “ (LIMA, Marco Antônio Ferreira;
NOGUEIRA, Raniere Ferraz. Prisões e medidas
liberatórias. São Paulo: Atlas, 2011, p. 139). (grifos
nossos)

A suposta gravidade do delito e a possibilidade


de repercussão social inegavelmente não são motivos bastantes para tal
gravíssima providência processual. Não há fundamento legal, certamente.

De outro passo, isso se passa quando inexiste


qualquer registro de que o recorrido cause algum óbice à conveniência da
instrução criminal; muito menos se fundamenta sobre a necessidade de assegurar
a aplicação da lei penal em dados concretos, vistos nos autos.

De toda prudência evidenciar julgado do


Supremo Tribunal Federal, maiormente enfrentando o tema do clamor social e a
prisão preventiva:

HABEAS CORPUS. DENEGAÇÃO DE MEDIDA LIMINAR.


SÚMULA Nº 691/STF. SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS QUE

Número do documento: 22080123012135700009562548038


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AFASTAM A RESTRIÇÃO SUMULAR. PRISÃO
CAUTELAR DECRETADA COM APOIO E M MÚLTIPLOS
FUNDAMENTOS. GRAVIDADE OBJETIVA DO DELITO.
CLAMOR PÚBLICO. GARANTIA DA CREDIBILIDADE DA
JUSTIÇA. E POSSIBILIDADE DE INTERFERÊNCIA NA
INSTRUÇÃO PROCESSUAL ILEGITIMIDADE JURÍDICA
DA PRISÃO CAUTELAR QUANDO DECRETADA,
UNICAMENTE, COM SUPORTE EM JUÍZOS MERAMENTE
CONJECTURAIS. INDISPENSABILIDADE DA
VERIFICAÇÃO CONCRETA DE RAZÕES DE
NECESSIDADE SUBJACENTES À UTILIZAÇÃO, PELO
ESTADO, DESSA MEDIDA EXTRAORDINÁRIA.
SITUAÇÃO EXCEPCIONAL NÃO VERIFICADA NA
ESPÉCIE. INJUSTO CONSTRANGIMENTO
CONFIGURADO. “ HABEAS CORPUS ” CONCEDIDO DE
OFÍCIO. DENEGAÇÃO DE MEDIDA LIMINAR. SÚMULA Nº
691/STF. SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS QUE AFASTAM A
RESTRIÇÃO SUMULAR.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, sempre


em caráter extraordinário, tem admitido o afastamento, “
hic et nunc ”, da Súmula nº 691/STF, em hipóteses nas
quais a decisão questionada divirja da jurisprudência
predominante nesta corte ou, então, veicule situações
configuradoras de abuso de poder ou de manifesta
ilegalidade. Precedentes. Hipótese ocorrente na espécie.
Prisão cautelar. Caráter excepcional. A privação cautelar
da liberdade individual. Cuja decretação resulta possível
em virtude de expressa cláusula inscrita no próprio texto
da Constituição da República (CF, art. 5º, lxi), não
conflitando, por isso mesmo, com a presunção

Número do documento: 22080123012135700009562548038


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constitucional de inocência (CF, art. 5º, lvii) reveste-se de
caráter excepcional, somente devendo ser ordenada, por
tal razão, em situações de absoluta e real necessidade. A
prisão processual, para legitimar-se em face de nosso
sistema jurídico, impõe. Além da satisfação dos
pressupostos a que se refere o art. 312 do CPP (prova da
existência material do crime e indício suficiente de
autoria). Que se evidenciem, com fundamento em base
empírica idônea, razões justificadoras da
imprescindibilidade dessa extraordinária medida cautelar
de privação da liberdade do indiciado ou do réu.
Doutrina. Precedentes. A prisão preventiva. Enquanto
medida de natureza cautelar não pode ser utilizada como
instrumento de punição antecipada do indiciado ou do
réu. A prisão cautelar não pode. Nem deve. Ser utilizada,
pelo poder público, como instrumento de punição
antecipada daquele a quem se imputou a prática do
delito, pois, no sistema jurídico brasileiro, fundado em
bases democráticas, prevalece o princípio da liberdade,
incompatível com punições sem processo e inconciliável
com condenações sem defesa prévia. A prisão cautelar.
Que não deve ser confundida com a prisão penal. Não
objetiva infligir punição àquele que sofre a sua
decretação, mas destina-se, considerada a função
cautelar que lhe é inerente, a atuar em benefício da
atividade estatal desenvolvida no processo penal.
Precedentes. A gravidade em abstrato do crime não
constitui fator de legitimação da privação cautelar da
liberdade. A natureza da infração penal não constitui, só
por si, fundamento justificador da decretação da prisão
cautelar daquele que sofre a persecução criminal

Número do documento: 22080123012135700009562548038


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instaurada pelo estado. Precedentes. O clamor público
não constitui fator de legitimação da privação cautelar da
liberdade. O estado de comoção social e de eventual
indignação popular, motivado pela repercussão da
prática da infração penal, não pode justificar, só por si, a
decretação da prisão cautelar do suposto autor do
comportamento delituoso, sob pena de completa e grave
aniquilação do postulado fundamental da liberdade. O
clamor público.Precisamente por não constituir causa
legal de justificação da prisão processual (CPP, art. 312).
Não se qualifica como fator de legitimação da privação
cautelar da liberdade do indiciado ou do réu.
Precedentes. A preservação da credibilidade das
instituições não se qualifica, só por si, como fundamento
autorizador da prisão cautelar. Não se reveste de
idoneidade jurídica, para efeito de justificação do ato
excepcional da prisão cautelar, a alegação de que essa
modalidade de prisão é necessária para resguardar a
credibilidade das instituições. Ausência de
demonstração, no caso, da necessidade concreta de
decretar-se a prisão preventiva do paciente. Sem que se
caracterize situação de real necessidade, não se legitima
a privação cautelar da liberdade individual do indiciado
ou do réu. Ausentes razões de necessidade, revela-se
incabível, ante a sua excepcionalidade, a decretação ou a
subsistência da prisão cautelar. A prisão cautelar não
pode AP oiar-se em juízos meramente conjecturais. A
mera suposição, fundada em simples conjecturas, não
pode autorizar a decretação da prisão cautelar de
qualquer pessoa. A decisão que ordena a privação
cautelar da liberdade não se legitima quando

Número do documento: 22080123012135700009562548038


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desacompanhada de fatos concretos que lhe justifiquem
a necessidade, não podendo apoiar-se, por isso mesmo,
na avaliação puramente subjetiva do magistrado de que
a pessoa investigada ou processada, se em liberdade,
poderá delinqüir, ou interferir na instrução probatória, ou
evadir-se do distrito da culpa, ou, então, prevalecer-se de
sua particular condição social, funcional ou econômico-
financeira para obstruir, indevidamente, a regular
tramitação do processo penal de conhecimento.
Presunções arbitrárias, construídas a partir de juízos
meramente conjecturais, porque formuladas à margem
do sistema jurídico, não podem prevalecer sobre o
princípio da liberdade, cuja precedência constitucional
lhe confere posição eminente no domínio do processo
penal. A presunção constitucional de inocência impede
que o estado trate como se culpado fosse aquele que
ainda não sofreu condenação penal irrecorrível. A
prerrogativa jurídica da liberdade. Que possui extração
constitucional (CF, art. 5º, LXI e lxv). Não pode ser
ofendida por interpretações doutrinárias ou
jurisprudenciais que, fundadas em preocupante discurso
de conteúdo autoritário, culminam por consagrar,
paradoxalmente, em detrimento de direitos e garantias
fundamentais proclamados pela Constituição da
República, a ideologia da Lei e da ordem. Mesmo que se
trate de pessoa acusada da suposta prática de crime
hediondo, e até que sobrevenha sentença penal
condenatória irrecorrível, não se revela possível. Por
efeito de insuperável vedação constitucional (CF, art. 5º,
lvii). Presumir-lhe a culpabilidade. Ninguém,
absolutamente ninguém, pode ser tratado como culpado,

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qualquer que seja o ilícito penal cuja prática lhe tenha
sido atribuída, sem que exista, a esse respeito, decisão
judicial condenatória transitada em julgado. O princípio
constitucional do estado de inocência, tal como
delineado em nosso sistema jurídico, consagra uma
regra de tratamento que impede o poder público de agir
e de se comportar, em relação ao suspeito, ao indiciado,
ao denunciado ou ao réu, como se estes já houvessem
sido condenados, definitivamente, por sentença do
poder judiciário. Precedentes. (STF – HC 93.840; RJ;
Segunda Turma; Rel. Min. Celso de Mello; Julg.
08/04/2008; DJE 20/02/2014; Pág. 57)

Com a mesma sorte de entendimento, urge


demonstrar o seguinte aresto deste Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. WRIT SUBSTITUTIVO.


DESVIRTUAMENTO. TRÁFICO DE DROGAS E
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. PRISÃO PREVENTIVA.
ART. 312 DO CPP. PERICULUM LIBERTATIS.
FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE. ORDEM CONCEDIDA
DE OFÍCIO. A jurisprudência desta corte superior é
remansosa no sentido de que a determinação de
segregação do réu, antes de transitada em julgado a
condenação, deve efetivar-se apenas se indicada, em
dados concretos dos autos, a necessidade da cautela
(periculum libertatis), à luz do disposto no art. 312 do
Código de Processo Penal. 2. Assim, a prisão provisória
se mostra legítima e compatível com a presunção de
inocência somente se adotada, mediante decisão
suficientemente motivada, em caráter excepcional, não
bastando invocar, para tanto, aspectos genéricos, posto

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que relevantes, relativos à modalidade criminosa
atribuída ao acusado ou às expectativas sociais em
relação ao poder judiciário, decorrentes dos elevados
índices de violência urbana. 3. No caso, o magistrado de
origem apontou genericamente a presença dos vetores
contidos no art. 312 do Código de Processo Penal, uma
vez que se limitou a afirmar, em decisão padronizada,
com expressões genéricas do tipo “cuidam os autos de
crime (s) gravíssimo (s), que coloca (m) em risco a saúde
e a ordem públicas, seriamente abaladas com delito (s)
desse jaez”; “a (o) (s) acusada (o) (s), pela gravidade do
crime, demonstra (m) periculosidade, impondo-se a
restrição da liberdade para garantia da ordem pública (rt
648/347) e mesmo por conveniência da instrução
criminal (jSTJ 8/154)”; “os fatos causaram grande
indignação e clamor público na comarca”, a necessidade
da prisão preventiva do acusado. 4. As particularidades
concretas de cada caso não podem, em decisão que
suprime a liberdade humana, ser ignoradas, sob pena de
engendrar a decretação automática de prisão preventiva
contra todos os autores de crimes graves,
independentemente de singular apreciação de cada um
deles, o que atenta contra o princípio da
excepcionalidade da cautela extrema. 5. Evidenciada a
existência de corréu em situação fático-processual
idêntica, devem ser estendidos a ele os efeitos desta
decisão, nos termos do art. 580 do Código de Processo
Penal. 6. Habeas corpus não conhecido, mas concedido
de ofício, para revogar a decisão que decretou a prisão
preventiva do paciente, com extensão dos efeitos ao
corréu leandro Caio amorim franceconi, ressalvada a

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possibilidade de nova decretação da custódia cautelar,
se concretamente demonstrada sua necessidade, sem
prejuízo de imposição de medida alternativa, nos termos
do artigo 319 do Código de Processo Penal. (STJ; HC
299.666; Proc. 2014/0179625-5; SP; Sexta Turma; Rel.
Min. Rogério Schietti Cruz; DJE 23/10/2014)

QUANTO AS SIRTUAÇÕES IDÊNTICAS FÁTICO-JURÍDICAS DOS RÉUS

O Acusado WALLISON DONIZETTI ROQUE, por


flagrante ausência dos pressupostos autorizadores da prisão preventiva, que é um
critério puramente objetivo, jamais teve sua segregação cautelar requerida pelo
Ilustre representante do MP. Desta forma, em razão da situação fático-jurídicas
dos réus serem idênticas, acertou de forma irretocável o Douto Magistrado ao
revogar o decreto prisional.

Por analogia, a principal finalidade da norma


contida no artigo 580, CPP, é evitar decisões contraditórias em relação aos co-
réus que se encontrem na mesma situação fatíco-jurídica. Então, a decisão
tomada pelo recorrente por entender dá não necessidade e possibilidade de
requerer a prisão preventiva do acusado Wallison, deverá ser estendida aos
demais co- réus, uma vez que todos se encontram em situação processual
idêntica.

Sendo assim, como forma de se evitar decisões


díspares e, principalmente, injustas, e não restando dúvida de que a decisão que
beneficiou um, deverá ser aproveitada em favor dos demais.

A jurisprudência pátria sempre foi uniforme no


sentido de que quando a situação do co-réu é idêntica a do outro acusado que
obteve o direito de responder em liberdade com base em motivos outros que

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não sejam de caráter exclusivamente pessoal, deverá ser estendida aos demais
acusados. Vejamos algumas dessas decisões:

Prisão preventiva (revogação). Efeito extensivo (cabimento)


Fundamentação (falta). Identidade de situações.1. Quando a situação
processual do co- réu que pede extensão da ordem é idêntica à do
paciente que obteve a revogação da prisão preventiva contra ambos
decretada com base em motivos outros que não de caráter exclusivamente
pessoal, há de se estender a ordem já concedida.2. Tratando-se de
preventiva com os mesmos fundamentos - e insuficientes - a justificar
prisão cautelar imposta a todos os co-réus, a revogação da prisão deve
também abranger a todos.3. A decisão do recurso interposto por um dos
réus aproveitará aos outros (Cód. de Pr. Penal, art. 580).4. Pedido de
extensão deferido. PExt no RHC 17145 / BA ; PEDIDO DE EXTENSÃO NO
RECURSO EM HABEAS CORPUS.2005/0003245-1. MIN. NILSON NAVES. DJ
15.05.2006 p. 290).

PLEITO DE EXTENSÃO EM HABEAS CORPUS. ESTELIONATO E USO DE


DOCUMENTO FALSO. MANUTENÇÃO DA PRISÃO. GRAVIDADE
ABSTRATA DOS CRIMES.CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA A
CO-RÉU. SIMILITUDE FÁTICO- PROCESSUAL.INCIDÊNCIA DO ART. 580
DO CPP.1. A
só gravidade em abstrato do delito, dissociada de qualquer outro elemento
concreto e individualizado, não serve, de per si, como justificativa da não
concessão de liberdade provisória.2. Verificada a identidade fático-
processual entre o paciente e co-réu, e que o habeas corpus não se
encontra fundado em motivos de caráter pessoal aplica-se o disposto no
art. 580 do CPP.3. Pleito de extensão deferido. PROCESSO PENAL.
HABEAS CORPUS. PEDIDO DE

Destarte, a R. Decisão injustamente reprovada


pelo dono da lide, deverá ser preservada, missão, esta, confiada e reservada aos
Cultos e Doutos Desembargadores que compõem essa Augusta Câmara Criminal.

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ISTO POSTO, pugna o recorrido, seja negado
provimento ao recurso interposto pelo Senhor da ação penal pública
incondicionada, mantendo-se intangível a R. Decisão prolatada, em primeiro grau
de jurisdição, no que diz respeito a Revogação da Prisão Preventiva dos
acusados, pelos seus próprios e judiciosos fundamentos, com o que estar-se-á
realizando, assegurando e perfazendo-se, na gênese do verbo, o primado da mais
lídima e genuína JUSTIÇA!

Termos em que Pede e Espera Deferimento.

Poços de Caldas/MG, 25 de julho de 2022.

Marcelo Campos Leite


OAB/RN 4870

Número do documento: 22080123012135700009562548038


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06ª Promotoria de Justiça de
Pocos de Caldas

Autos: 0051554-03.2021.8.13.0518
Classe: 283 - Ação Penal - Procedimento Ordinário
Partes:
- ANA LUIZA BRITO GALDINO
- GABRIEL ROBERTO DEZOTTI DA SILVA
- IGOR APARECIDO LELIS
- MARCOS PAULO DA SILVA
- Ministério Público - MPMG
- OTAVIO HENRIQUE DOS SANTOS
- WALLISON DONIZETTI ROQUE
- WESLEY DONIZETTI ROQUE
- WILLIAN DONIZETTI ROQUE

MM. Juiz,

Contrarazões em separado.

Pocos de Caldas, 25 de outubro de 2022.

Wagner Iemini de Carvalho


Promotor de Justiça

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

MM. Juiz,

Processo nº: 0051554-03.2021.


Embargante: Otávio Henrique dos Santos.

Tratam-se de embargos de declaração opostos por OTÁVIO HENRIQUE


DOS SANTOS, argumentando, em apertada síntese, existir omissão na r. decisão que
recebeu a denúncia e não se manifestou sobre o pedido de revogação da segregação cau-
telar na resposta à acusação.

De acordo com a certidão retro ID9638194482, os embargos são tempes-


tivos. Logo, deverão ser conhecidos.

Havendo a possibilidade de efeitos infringentes, ou seja, hipótese que


muda-se o resultado da decisão, é necessária a intimação do Ministério Público para
contrarrazoá-los. O que faremos a seguir:

No caso telado, o recorrente asseverou que Vossa Excelência deixou de


analisar o pedido da resposta acusação, qual seja, a revogação da segregação cautelar.
A Douta Defesa alega que a liberdade do réu deve ser restituída pelo fato de ser primá-
rio, não ter praticado crime com violência ou grave ameaça e ter labor lícito, além disso,
entende que por ter havido revogação da segregação cautelar de outros réus, por analo-
gia, o mesmo deve ser aplicado ao requerente.

Em primeiro lugar, mister esclarecer que não procede a informação trazi-


da pela Defesa de que o réu foi denunciado com base em fotos de redes sociais com ou-
tros investigados. A análise bancária do denunciado Otávio Henrique dos Santos junta-
da às fls.1256/1537 e 1319/1466 demonstra as transferências entre o denunciado e ou-
tros integrantes da organização criminosa, chama atenção o volume de dinheiro movi-
mento, bem como a quantidade de transações realizadas.

Entende o Ministério Público que os requisitos fáticos e normativos


para a manutenção da prisão preventiva permanecem presentes, pelo que a prisão pro-
cessual do réu deve ser mantida.

Com relação aos requisitos normativos, estabelece o art. 313 do CPP:

“Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a de-
cretação da prisão preventiva:
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade má-
xima superior a 4 (quatro) anos;
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença tran-
sitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art.
A

Número do documento: 22102521371700200009636094289


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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Pe-
nal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mu-
lher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência,
para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
IV - (revogado).
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando
houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não
fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se
outra hipótese recomendar a manutenção da medida.”

Verifica-se, portanto, que a pena em abstrato máxima é muito superior


a 4 anos (artigo 2°, caput c/c § 4°, I da Lei 12850/13 c/c art 1° caput e §4° da Lei
9613/98).

Resta, pois, a análise dos requisitos fáticos que autorizam a decretação


da prisão preventiva.

No particular, estabelece o art. 312 do Código de Processo Penal, na


redação determinada pela Lei nº 12.403/11:

“Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia


da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instru-
ção criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando
houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada
em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por
força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o).”

A prova da existência do crime, face ao inquérito policial, foi


devidamente demonstrada. Quanto aos indícios de autoria, os depoimentos das
testemunhas perante a autoridade policial são suficientes para o preenchimento do
requisito em tela.

Passemos, assim, às hipóteses previstas no art. 312 do CPP.

A decretação da prisão preventiva para a garantia da ordem pública,


conforme consabido, tem como norte a necessidade de segregação cautelar do agente
para evitar que ele pratique novas infrações penais ao longo da persecução criminal, ga-
rantindo-se, assim, a tranquilidade e a paz no seio social.

Anote-se, ainda, que a presença dos pressupostos da prisão preventiva


já fora confirmada, conforme decisão acostada nos autos, sendo certo que o requerente
não trouxe qualquer argumento novo que justificasse a revogação da medida.

E, no ponto, entende o Ministério Público, na esteira da r. decisão que


decretou a prisão preventiva, que a segregação cautelar é indispensável para a garantia
A

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
da ordem pública, notadamente pela fundada possibilidade de que o requerente, se solto,
volte a cometer delitos da mesma gravidade.

Em suma, o quadro dos autos evidencia não só o fumus comissi delicti,


mas também, e principalmente, o indispensável periculum libertatis, a amparar a neces-
sidade da medida excepcional extrema, não sendo razoável que se aplique cautelar al-
ternativa, uma vez que nenhuma outra medida seria suficiente para coibir ações crimi-
nosas do tipo em questão.

Assim, a conduta do autuado, por si só, já torna insuficiente a conces-


são de medida cautelar de natureza diversa da prisão preventiva.

Ademais, é irrelevante que o agente tenha ocupação lícita, residência


fixa, ou mesmo primariedade e bons antecedentes, quando presentes, no caso concreto,

Assinado digitalmente por: WAGNER IEMINI DE CARVALHO:55218377600


outras circunstâncias autorizadoras da segregação cautelar, conforme já decidiu o Supe-
rior Tribunal de Justiça:

STJ: "Penal - Processual - Prisão preventiva - Fundamentação - Prima-


riedade - Bons antecedentes - Habeas corpus. 1. Não há constrangi-
mento ilegal se o decreto, conquanto conciso, justifica plenamente a
necessidade da prisão preventiva. 2. Primariedade, bons antecedentes,
residência fixa, por si, não servem como fundamento para a revogação
da custódia cautelar. 3. Não se exige, para a prisão preventiva, a mes-
ma certeza necessária à condenação. Suficientes indícios de autoria e
prova da existência do crime. 4. Habeas corpus conhecido; ordem in-
deferida" (RSTJ 118/349).

Sob todas as luzes, portanto, as medidas cautelares previstas no art.


319 do Código de Processo Penal são insuficientes e, uma vez presentes os requisitos
fáticos e normativos da prisão preventiva, deve ser mantida a custódia cautelar.

O tempo: 25-10-2022 21:36:07


Poços de Caldas, 24 de outubro de 2022.

WAGNER IEMINI DE CARVALHO.


Promotor de Justiça.

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