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A etnografia das ciências- A Vida de Laboratório: a produção dos fatos científicos.

LATOUR, Bruno; WOOLGAR, Steve. “A etnografia das ciências” A Vida de


Laboratório: a produção dos fatos científicos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997, p. 9-34.
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5086078/mod_resource/content/1/
Latour%20e%20Woolgar%20-%20A%20vida%20de%20laborat%C3%B3rio.pdf Acesso em:
18 de jul. de 2022.

THAINÁ MIRANDA SANTOS1*


Bruno Latour é um antropólogo, sociólogo e filósofo francês, possui destacada
atuação nas áreas da filosofia da ciência e da natureza, e no campo de conhecimento que
denomina ecologias políticas, juntamente com Steve Woolgar, um sociólogo britânico
trabalharam em estreita colaboração no livro “A vida de laboratório: a produção dos fatos
científicos”. Mais especificamente no capítulo 1 (pág. 9 a 34) trata sobre “A etnografia das
ciências” e relata o cotidiano de um laboratório utilizando do mesmo como seu objeto de
pesquisa. Comenta também sobre as pesquisas, rivalidades, financiamentos, técnicas
utilizadas e compara os pesquisadores a jovens executivos dinâmicos.

A descrição de etnometodologia colocada por Latour e Woolgar é “A etnometodologia


é o nome desse movimento de reação contra o abuso, em sociologia, da metalinguagem que
recobre o que os atores sociais dizem e fazem na prática [...] em lugar de imputar aos atores
sociais, a cada vez, interesses, cálculos, classes, hábitos, estruturas, supondo-os marionetes da
sociedade, a etnometodologia quer tomar o ator e sua pratica como o único sociólogo
competente [...]”. Para Latour e Woolgar, a pesquisa, dentro do laboratório observando os
cientistas, tem por finalidade abrir um caminho diferente do convencional: aproximar- se da
ciência com toda a sua metalinguagem, contornar o discurso dos cientistas, se familiarizar
com a produção dos fatos e depois voltar para sociedade, explicando o que os pesquisadores
fazem, através de uma linguagem de fácil entendimento.

A ciência fala que como método ela não diz que a sua reflexão é definitiva, mas ela
quer a partir do método se distanciar das expectativas da sociedade que elas não dominam,
tirando todas as conclusões a partir desse método, desses instrumentos e dessas teorias e se
tudo isto estiver correto, as conclusões “finais” portanto também estarão corretas. A ciência
também informa que essa conclusão não é definitiva e/ou vitalícia.

1
Graduanda do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BIS), com terminalidade em
Psicologia na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Esta naturalização da ciência é justificada com chamada “A doutrina de Bloor” que
segundo o próprio David Bloor “é límpida mesmo quando exige praticamente o abandono de
toda filosofia da ciência: ou as explicações sociais, psicológicas, econômicas são usadas
apenas para explicar por que um cientista enganou-se, e então elas não têm valor, ou devem
ser empregadas simetricamente, de modo a explicar por que esse cientista errou e por que
aquele outro acertou”, trazendo essa naturalidade para a noção de ciência feita por seres
humanos que são suscetíveis aos erros, equívocos e também levando em conta que na ciência
não existe pesquisa concluída, sempre haverá alguma nova descoberta e assim a continuação
dessas sínteses.

Latour e Woolgar fala que, por mais que essa pesquisa consiga produzir coisas novas
sobre a ciência a partir do detalhamento do laboratório, esse é um resultado que acaba sendo
acidental de certa forma da pesquisa etnográfica reflexiva e não é o principal objetivo, que é o
de proporcionar a compreensão dos aspectos de nossa própria natureza e cultura que tomamos
como finalizados. Fala- se que esse estudo etnográfico do laboratório seria assim um
momento para averiguar a atividade científica como uma prática social pertinente ao
propósito de gerar que depara com uma cultura a ele diferente e distante.

Nesse primeiro momento é possível observar a forma como a sociedade enxerga os


cientistas e pesquisadores com seus jalecos em seus laboratórios, com uma visão de
distanciamento e não pertencimento. A forma da ciência como representação única do saber
trazendo o distanciamento das práticas de conhecimentos naturais, de certa forma, inviabiliza
povos e culturas há muito tempo existentes que dedicaram toda uma vida de aprendizados
reais inseridos no próprio ambiente que é analisado e que não precisam estar em oposição
perante a ciência, podendo assim caminharem juntas.

É importante se pensar quem são os financiadores desses projetos de pesquisas, quais


suas intenções e por qual importância da pesquisa e assim compreender que o conhecimento
cientifico é completamente dependente do método, da ferramenta existente, da sociedade
existente e do tempo, então, se todos esses instrumentos fossem diferentes no geral ou entre
si, o resultado também seria diferente.

As denúncias e problematizações que são feitas à ciência e à sua forma de agir dentro
do campo laboratorial são diversas, entretanto, não deveriam ser ríspidas uma vez que
vivemos em um contexto de extrema desvalorização da ciência, principalmente feitas pelo
atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Estas críticas devem sim serem feitas, mas que
sejam feitas de forma construtiva, mantendo a impessoalidade, apontando os erros e
desencontros com a realidade mas também valorizando todos os acertos e os trabalhos que
foram feitos até hoje, possibilitando milhões de avanços no mundo em todas as áreas
imagináveis.

O trabalho de pesquisa etnográfica feita por Latour e Woolgar é uma dentre tantas
outras formas de diminuir relativamente a distância entre a natureza, cultura e o meio
laboratorial de forma que se complementem entre si, como forma de auxílio e melhora geral
da sociedade e nas pesquisas feitas.

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