Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Livro Daniel No Mundo Do Silêncio
Livro Daniel No Mundo Do Silêncio
do Silêncio
Walcyr Carrasco
ilustrações de Cris Eich
Leitura Fácil
1
Sobre a leitura fácil
Os livros com texto em Leitura Fácil foram criados para ampliar o acesso à leitura para pessoas com diferentes
características: deficiência intelectual, baixo letramento, as que estão aprendendo português como segunda língua,
surdos, idosos – entre outros.
Leitura Fácil é um formato acessível previsto na legislação brasileira. Em outros países, as publicações neste modelo
já se encontram disponíveis em bibliotecas, livrarias e escolas, são produzidas por diferentes editoras e divulgados
por associações.
O livro em formato Leitura Fácil respeita diretrizes internacionais no que diz respeito à linguagem, ao conteúdo e à
forma. Nele você observa que o texto conta com complementos que auxiliam na compreensão e na autonomia dos
diferentes leitores.
Inicialmente, é apresentada a história, isto é, contamos de maneira breve o que o leitor vai encontrar durante a leitura
do livro. As ilustrações são descritas em uma caixa vermelha do lado direito da página.
Exemplo:
2
Fizemos estas descrições para o leitor vidente ter subsídios para descrever a imagem para um leitor cego. Além
disso, acreditamos que a descrição da imagem pode contribuir com o melhor entendimento da relação da imagem
com o texto. Cada leitor pode escolher se quer ler ou não esta descrição.
Algumas palavras do livro estão destacadas em uma caixa azul, do lado direito da página. Fizemos isso para indicar
os significados dessas palavras no contexto do livro.
Exemplo:
(...) ”No primeiro dia de aula na escola inclusiva, a coordenadora Coordenadora: Pessoa que
organiza a escola e o ensino.
levou Daniel até sua nova sala de aula.” (...)
Reafirmamos que a nossa intenção ao desenvolver este livro em formato de Leitura Fácil é contribuir com a
democratização do acesso à leitura e à literatura. Os recursos utilizados não pretendem ser uma simplificação
empobrecida do texto original, mas desejam possibilitar que uma parcela significativa da população possa
experimentar a alegria de ler.
Acreditamos que esta é uma estratégia de formação de leitores e que muitos poderão, a posteriori, ler o livro original.
Queremos contribuir para a inserção de pessoas no universo da literatura por meio da participação em diferentes
ambientes e situações do cotidiano. É importante lembrar que o processo de formação de leitores não se dá por
passe de mágica. A mediação, a oferta e o estímulo em um ambiente leitor são fundamentais para que o direito à
leitura seja, de fato, para todos.
3
Quando era bem pequeno, Daniel ficou doente e parou de escutar. Ele não ouvia mais o que seu pai, sua mãe ou
seu irmão diziam.
A família de Daniel foi aprender a língua dos sinais para poder se comunicar com ele. No Brasil, a língua dos sinais
é chamada de LIBRAS.
Além de estudar em uma escola para surdos, Daniel também passou a frequentar a escola de seu irmão, Nicolau.
Lá Daniel vive as maiores aventuras de sua vida, mas também passa por momentos complicados. Esta história mos
tra as dificuldades e também as alegrias de ser um garoto surdo em um mundo cheio de sons.
4
Daniel não entendia o que pais dele diziam. Ele não ouvia as
vozes do seu pai e da sua mãe.
Daniel tinha um irmão que era quatro anos mais novo que ele.
O menino se chamava Nicolau.
Nicolau não entendia por que Daniel não respondia quando alguém
chamava. Nicolau ainda não sabia que Daniel não escutava.
5
A página está cheia de
símbolos de música. Parece
um lugar barulhento.
Tem uma panela de pressão
com fumaça saindo e um
jogo de futebol na TV.
E também tem um
liquidificador ligado.
Nicolau está segurando um
telefone.
A mãe de Daniel está
falando no celular. O pai de
Daniel limpa a sala com um
aspirador de pó.
Pela janela, dá para ver
os carros no trânsito. Eles
também fazem barulho.
No desenho também tem
um gato e um cachorro.
Eles parecem estar muito
assustados.
6
João e Manuela perceberam que Daniel conseguia entender
algumas coisas que eles falavam. Ele olhava os movimentos
da boca deles e respondia com gestos.
João fez tudo para ajudar seu filho Daniel. E resolveu procurar
uma escola pra surdos. LIBRAS: Língua usada
pelas pessoas surdas para
Na escola, Daniel aprendia todas as matérias e aprendia também se comunicarem. Essa
língua é feita com sinais das
a Língua Brasileira de Sinais, a LIBRAS.
mãos, expressão do rosto e
movimentos do corpo.
A família de Daniel também aprendeu LIBRAS.
7
Várias crianças conversam
em LIBRAS.
Elas fazem os sinais das
palavras “oi”, “cachorro-
quente”, “comunicação”,
“certo” e “aprender”.
Cada criança tem um cabelo
e um jeito diferente.
Daniel aparece entre elas,
dizendo “brincar” com as
mãos.
8
Quando Daniel fez 10 anos, João e Manuela decidiram que ele iria
Escola inclusiva: Escola
estudar na mesma escola que Nicolau estudava. A escola era uma onde crianças com e sem
escola inclusiva. deficiência estudam juntas.
9
Daniel foi à nova escola inclusiva de manhã. À tarde, continuou
estudando LIBRAS e língua portuguesa na escola para surdos.
Gerente: Pessoa que cuida
de tudo o que é necessário
Depois da aula, Daniel e Nicolau iam juntos para o shopping.
para manter uma loja
A mãe deles era gerente em uma loja do shopping. funcionando.
10
Na hora do almoço, Daniel ia à escola de surdos.
No final da tarde, a mãe ia buscá-lo na escola.
11
Viviane reclamou para a professora, mas Daniel não conseguiu
entender o que ela disse. Para Daniel, era complicado entender
as outras pessoas quando elas não usavam a língua de sinais.
12
Então, logo no primeiro dia de aula já tinha uma pessoa que não
gostava de Daniel.
Viviane disse aos outros alunos que Daniel deveria estar na escola
de surdos e não com eles. Os outros alunos concordaram com Viviane.
Daniel não gostava da nova escola. Ele não conseguia falar com
nenhuma das crianças e nem com a professora.
Quando tentou usar a língua de sinais para falar com um dos garotos,
o garoto riu de Daniel.
13
Três meninas e cinco
meninos andam juntos.
Eles estão indo embora da
escola.
Eles estão carregando
mochilas e cadernos. Cada
um deles veste uma roupa
diferente.
O segundo menino da turma
usa boné e calças largas.
Ele chama atenção pelas
roupas e porque está
fazendo um bola de chiclete.
Ele percebia que as outras crianças faziam perguntas, mas ele não
entendia nada. Daniel também não entendia o que a professora respondia.
Depois de uns dias, Daniel tentou falar por mímica, que são gestos
diferentes da LIBRAS. Ele fez isso para que as crianças entendessem.
Fazer gestos diferentes não funcionou, e os alunos não gostaram.
14
Ele estava triste porque ninguém entendia os sinais dele.
E também porque não entendia o que a professora dizia.
15
Mas Daniel estava bem cansado de tentar ler os lábios da professora.
E ela achava que estava acontecendo isso com ela por causa
do Daniel. E porque não gostava de Daniel, começou a falar mal dele.
Uma das coisas que Viviane fazia era chamar Daniel de nomes
feios pelas costas dele. E todas as outras crianças davam risada.
16
Viviane está usando um
vestido amarelo com
estampas.
Ela está de braços cruzados
e brava, com os olhos
fechados.
Seus cabelos longos e
cacheados estão presos
na altura do ombro por um
elástico.
O cabelo de Viviane cobre
um pouco Daniel, que
parece assustado ao fundo.
Ele tem os olhos arregalados
e segura papéis.
Igor, um dos meninos, era o único que não gostava dessa brincadeira. Covardia: Fazer mal a uma
Ele defendia Daniel. Ele achava que era covardia o que Viviane fazia. pessoa que não pode se
defender.
Viviane também chamava Igor de nomes feios por isso.
17
Ele ficava muito triste.
Ele achava Viviane muito bonita. Ele queria muito ser amigo dela.
Daniel não entendia por que a menina não gostava dele.
18
Oito crianças estão no
intervalo da escola. Elas
estão tomando lanche.
Elas estão sorrindo,
conversando e comendo.
Viviane está de mau humor.
Ela está olhando para o lado
onde está Daniel.
Daniel está caminhando,
desanimado.
19
O mundo de Daniel ficou triste. Ele só gostava de ir nas aulas
da escola de surdos, na parte da tarde.
20
Tinha até um carrinho de cachorro-quente.
E uma mesa, cheia de refrigerantes.
De repente, Daniel teve uma surpresa. Viviane foi até onde ele estava,
com uma cara muito brava.
21
Desenho da festa de
aniversário de Igor.
A festa está animada. Tem
bexigas, luzes e enfeites por
todo lado.
Tem uma mesa de presentes
e uma barraca de cachorro-
quente.
Os convidados estão alegres
e dançando bastante.
Daniel está sentado em uma
cadeira.Viviane está com a
mão no ombro de Daniel.
Ela está de vestido e
sandálias azuis e está com o
cabelo preso.
22
A mãe de Igor tinha mandado Viviane dançar com o Daniel. Viviane não
entendia como Daniel, que era surdo, sabia dançar no ritmo.
23
Viviane descobriu que ele dançava muito bem. Eles dançaram várias músicas.
24
Daniel ficou longe na hora dos parabéns. Nem comeu um
pedaço de bolo de aniversário.
25
As crianças estão descendo
uma escada. Elas estão
saindo da escola.
Daniel está desanimado.
Viviane ainda está na parte
de dentro da escola.
Ela também está
desanimada.
26
E a vida continuou do mesmo jeito por muitos meses.
27
E foi bem na hora, para salvar Daniel do carro em alta velocidade.
Daniel ficou muito assustado, olhando o carro que ia embora.
28
Viviane entendeu como é difícil ser surdo.
Manuela disse para Viviane que ela tinha salvado a vida de Daniel.
Sem jeito: Sem saber o que
Viviane aceitou o presente, mas estava meio sem jeito. fazer. Com vergonha.
E ficou ainda mais sem jeito com Daniel sorrindo para ela.
29
Daniel agradeceu a Viviane em língua de sinais.
E, pela primeira vez, Viviane sorriu para Daniel.
30
Até então, Viviane só tinha pensado nos próprios sentimentos.
Agora, ela pensava nos sentimentos de Daniel.
31
Todos na sala ficaram surpresos. Daniel aceitou o
chocolate e ficou contente.
32
Os colegas da sala perceberam que aprender a falar com as
mãos podia ser divertido. Pediram para Daniel ensinar outras palavras.
33
Daniel não entendeu o que Viviane disse.
Viviane achou boa a ideia de Nicolau e foi falar com seus pais.
Além de querer aprender Libras, ela pensou que seria bom Intérprete: Pessoa que
se tivesse alguém na sala para ser intérprete para o Daniel. traduz de uma língua para
outra.
34
Daniel está de costas e
estende a mão direita para
cumprimentar o intérprete de
LIBRAS. O intérprete faz o
mesmo sinal de “oi”.
O intérprete é negro e tem o
cabelo curto e arrepiado e as
sobrancelhas grossas.
Ele veste uma camisa laranja
com a manga dobrada.
Daniel usa uma touca e uma
camiseta nas cores azul e
rosa.
35
Aos poucos, Daniel começou a acompanhar a classe.
Mas ele ficava mesmo feliz pela atenção que recebia de Viviane.
E porque eles arrumaram um jeito próprio de se comunicar.
Eles usavam Libras e mímica.
36
Daniel e Viviane estão
sorridentes. Eles estão
dançando de mãos dadas.
No desenho estão também
papéis de caderno com
exercícios de matemática e
português e o desenho de
fada.
37
O tempo passou depressa e logo chegou a festa de formatura do quinto ano.
Queria escrever alguma coisa bonita para Viviane, mas não conseguia.
Por isso, rasgou o papel muitas vezes.
Daniel contou para Nicolau que queria escrever uma mensagem para Viviane.
Daniel foi arrumado para a festa. Todos os pais e alunos estavam lá.
38
Surpresa, a menina abriu o bilhete. Daniel fez um sinal, que significava “leia depois”.
A festa de formatura
acontece em um salão
grande cheio de pessoas.
Elas estão em pequenas
rodas de conversa.
Elas sorriem e mostram o
diploma. Brincam com a
roupa e a bebida.
No canto, Daniel entrega um
papel dobrado para Viviane.
Ele faz o sinal de “depois”
em LIBRAS. Ele está vestido
com roupa social.
Vivi recebe o papel feliz.
Ela está de vestido com
estampas de caracóis e
cabelos soltos.
39
Você me ajudou a me abrir para as pessoas.
Agora eu posso fazer o que quiser.”
Na festa de formatura,
os alunos estão todos
dançando, rindo e
conversando.
Vários se comunicam em
LIBRAS.
Vivi segura a mão de Daniel
e coloca a outra no peito,
dizendo “amiga” na língua
de sinais.
Ela olha Daniel com afeto.
40
Todos têm direito de aprender.
41
Uma vez, reencontrei o menino com a mãe. Ela o acompanhava em
busca de trabalhos. Depois de um tempo, ele conseguiu uma oportunidade.
Tem uma lei que foi aprovada em 2005. Essa lei exige que tenha um
intérprete de LIBRAS em todas as escolas que tenham surdos.
Mas essa lei não é seguida sempre e muitos alunos têm as mesmas
dificuldades que Daniel tinha no começo da história.
Não só para a pessoa com deficiência, mas também para quem se aproxima.
É uma amizade que desperta novos sentimentos e faz bem ao coração.
Walcyr Carrasco
42
Nicolau está dormindo de
bruços.
Ele apoia a cabeça no braço
enquanto o outro está para
fora da cama, em cima dos
cadernos da escola.
Ele dorme e parece estar
sonhando com algo muito
bom.
Daniel chega devagar e
segura uma corneta bem
no ouvido do irmão menor,
preparado para assoprar e
acordar Nicolau.
43
Walcyr Carrasco é o autor da história de Daniel.
Ele nasceu na cidade de Bernardino de Campos,
estado de São Paulo, no dia 1º de dezembro de 1951.
Decidiu ser escritor quando tinha 12 anos e se apaixonou
pela obra de Monteiro Lobato. Ele já traduziu e adaptou clássicos da literatura. Livros infanto-juvenis:
Livros escritos para jovens
Walcyr é autor de diversos livros infantojuvenis.
de 13 a 15 anos de idade.
Ele também escreveu livros, peças de teatro e crônicas para adultos.
Walcyr também é roteirista de televisão.
Crônicas: Textos que
Ele criou várias novelas de sucesso, como “O Cravo e a Rosa”, analisam a forma de viver
“Caras & Bocas” e “Morde & Assopra”. das pessoas.
Walcyr é conhecido por discutir temas sociais importantes como a história do Daniel.
44
FICHA TÉCNICA
Projeto Acessibilidade em Bibliotecas Públicas
Convênio Nº 800812 Executado pela Mais Diferenças
Ministério da Cultura - Secretaria Executiva; Diretoria do Livro, Leitura,
Literatura e Biblioteca - DLLLB e Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas
- SNBP
Coordenação Técnica do Projeto - Wagner Santana
Supervisão - Carla Mauch
Execução das versões acessíveis - BRDN
Direção, coordenação técnica e produção de roteiros - Ana Rosa Bordin Rabello
Produção do texto em Leitura Fácil - Vanessa Grigoletto
Design gráfico - Tiago Marchesano
Versão acessível executada nos termos da Lei 9.610/98, artigo 46, inciso I,
letra d e nos termos da Lei 13.146/15, Lei Brasileira de Inclusão, artigo 42,
parágrafo 1.
45
46