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Daniel no Mundo

do Silêncio
Walcyr Carrasco
ilustrações de Cris Eich

Leitura Fácil

Daniel está olhando para cima.


Um passarinho gordo está em cima do galho de uma
árvore. Daniel está olhando para o passarinho.
Daniel tem a pele clarinha. O cabelo dele é castanho e
bem cheio.
Os olhos e o nariz são pequenos. O pescoço dele é fino.
Daniel está segurando o queixo com as duas mãos. Ele
está sorrindo.

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Sobre a leitura fácil
Os livros com texto em Leitura Fácil foram criados para ampliar o acesso à leitura para pessoas com diferentes
características: deficiência intelectual, baixo letramento, as que estão aprendendo português como segunda língua,
surdos, idosos – entre outros.

Leitura Fácil é um formato acessível previsto na legislação brasileira. Em outros países, as publicações neste modelo
já se encontram disponíveis em bibliotecas, livrarias e escolas, são produzidas por diferentes editoras e divulgados
por associações.

O livro em formato Leitura Fácil respeita diretrizes internacionais no que diz respeito à linguagem, ao conteúdo e à
forma. Nele você observa que o texto conta com complementos que auxiliam na compreensão e na autonomia dos
diferentes leitores.

Inicialmente, é apresentada a história, isto é, contamos de maneira breve o que o leitor vai encontrar durante a leitura
do livro. As ilustrações são descritas em uma caixa vermelha do lado direito da página.

Exemplo:

Daniel e Nicolau conversam


em LIBRAS.
Daniel está sinalizando
“leitura labial”.

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Fizemos estas descrições para o leitor vidente ter subsídios para descrever a imagem para um leitor cego. Além
disso, acreditamos que a descrição da imagem pode contribuir com o melhor entendimento da relação da imagem
com o texto. Cada leitor pode escolher se quer ler ou não esta descrição.

Algumas palavras do livro estão destacadas em uma caixa azul, do lado direito da página. Fizemos isso para indicar
os significados dessas palavras no contexto do livro.

Exemplo:

(...) ”No primeiro dia de aula na escola inclusiva, a coordenadora Coordenadora: Pessoa que
organiza a escola e o ensino.
levou Daniel até sua nova sala de aula.” (...)

Reafirmamos que a nossa intenção ao desenvolver este livro em formato de Leitura Fácil é contribuir com a
democratização do acesso à leitura e à literatura. Os recursos utilizados não pretendem ser uma simplificação
empobrecida do texto original, mas desejam possibilitar que uma parcela significativa da população possa
experimentar a alegria de ler.

Acreditamos que esta é uma estratégia de formação de leitores e que muitos poderão, a posteriori, ler o livro original.
Queremos contribuir para a inserção de pessoas no universo da literatura por meio da participação em diferentes
ambientes e situações do cotidiano. É importante lembrar que o processo de formação de leitores não se dá por
passe de mágica. A mediação, a oferta e o estímulo em um ambiente leitor são fundamentais para que o direito à
leitura seja, de fato, para todos.

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Quando era bem pequeno, Daniel ficou doente e parou de escutar. Ele não ouvia mais o que seu pai, sua mãe ou
seu irmão diziam.
A família de Daniel foi aprender a língua dos sinais para poder se comunicar com ele. No Brasil, a língua dos sinais
é chamada de LIBRAS.
Além de estudar em uma escola para surdos, Daniel também passou a frequentar a escola de seu irmão, Nicolau.
Lá Daniel vive as maiores aventuras de sua vida, mas também passa por momentos complicados. Esta história mos
tra as dificuldades e também as alegrias de ser um garoto surdo em um mundo cheio de sons.

Daniel está sentado em cima


de um travesseiro azul.
Ele segura a cabeça com
uma mão. Com a outra, ele
vira a página de um livro.
Ele usa uma touca azul com
listras vermelhas. A camisa
dele é azul com bolinhas e a
calça é verde xadrez.

Daniel tinha sete anos. O mundo dele começou a ficar silencioso.


Silencioso: Que não tem
Isso aconteceu porque ele ficou doente. Daniel teve uma infecção barulho.
e, depois disso, não conseguia mais ouvir nada.

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Daniel não entendia o que pais dele diziam. Ele não ouvia as
vozes do seu pai e da sua mãe.

A mãe de Daniel se chamava Manuela e o pai se chamava João.

Os pais de Daniel perceberam que ele não escutava mais.

Eles levaram Daniel ao médico.


O médico disse que Daniel estava surdo.  

E então Daniel começou a prestar atenção aos gestos de sua


mãe e de seu pai.

Daniel tinha um irmão que era quatro anos mais novo que ele.
O menino se chamava Nicolau.

Nicolau não entendia por que Daniel não respondia quando alguém
chamava. Nicolau ainda não sabia que Daniel não escutava.

Manuela, a mãe dos meninos, resolveu contar para Nicolau que


Daniel não escutava mais. Nicolau percebeu que
precisava usar gestos para falar com o irmão.

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A página está cheia de
símbolos de música. Parece
um lugar barulhento.
Tem uma panela de pressão
com fumaça saindo e um
jogo de futebol na TV.
E também tem um
liquidificador ligado.
Nicolau está segurando um
telefone.
A mãe de Daniel está
falando no celular. O pai de
Daniel limpa a sala com um
aspirador de pó.
Pela janela, dá para ver
os carros no trânsito. Eles
também fazem barulho.
No desenho também tem
um gato e um cachorro.
Eles parecem estar muito
assustados.

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João e Manuela perceberam que Daniel conseguia entender
algumas coisas que eles falavam. Ele olhava os movimentos
da boca deles e respondia com gestos.

Ele conseguia entender as palavras olhando para os lábios das


pessoas porque lembrava da língua portuguesa que ele tinha
aprendido antes de parar de ouvir.

João fez tudo para ajudar seu filho Daniel. E resolveu procurar
uma escola pra surdos. LIBRAS: Língua usada
pelas pessoas surdas para
Na escola, Daniel aprendia todas as matérias e aprendia também se comunicarem. Essa
língua é feita com sinais das
a Língua Brasileira de Sinais, a LIBRAS.
mãos, expressão do rosto e
movimentos do corpo.
A família de Daniel também aprendeu LIBRAS.

Na escola, Daniel fez amizade com muitos meninos e meninas que


também eram surdos.

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Várias crianças conversam
em LIBRAS.
Elas fazem os sinais das
palavras “oi”, “cachorro-
quente”, “comunicação”,
“certo” e “aprender”.
Cada criança tem um cabelo
e um jeito diferente.
Daniel aparece entre elas,
dizendo “brincar” com as
mãos.

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Quando Daniel fez 10 anos, João e Manuela decidiram que ele iria
Escola inclusiva: Escola
estudar na mesma escola que Nicolau estudava. A escola era uma onde crianças com e sem
escola inclusiva. deficiência estudam juntas.

João, o pai de Daniel, faz o


sinal de “estudar”. Ele está
olhando para Daniel.
João tem o rosto longo,
orelhas abertas, nariz grande
e cabelos bagunçados.
Nicolau está atrás do pai.
O menino tem cabelos
cacheados.

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Daniel foi à nova escola inclusiva de manhã. À tarde, continuou
estudando LIBRAS e língua portuguesa na escola para surdos.
Gerente: Pessoa que cuida
de tudo o que é necessário
Depois da aula, Daniel e Nicolau iam juntos para o shopping.
para manter uma loja
A mãe deles era gerente em uma loja do shopping. funcionando.

Manuela, a mãe de Daniel,


sinaliza a palavra shopping
na língua de sinais.
Ela tem cabelos curtos e
vermelhos, pele clara, nariz
pontudo e pescoço bem fino,
como o de Daniel.
Ela usa um vestido amarelo
com bolinhas.

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Na hora do almoço, Daniel ia à escola de surdos.
No final da tarde, a mãe ia buscá-lo na escola.

Coordenadora: Pessoa que


No primeiro dia de aula na escola inclusiva, a coordenadora
organiza a escola e o ensino.
levou Daniel até sua nova sala de aula.

A professora, que se chamava Estela, apresentou Daniel


para a turma.

A professora disse que Daniel tinha que sentar na frente.


Ela pediu para uma das meninas dar o lugar dela para Daniel sentar.

A menina se chamava Viviane.

Viviane não gostou de dar a sua cadeira para Daniel.


Ela sentava nessa cadeira desde que entrou na escola.

A professora explicou que Daniel era surdo e que ele precisava


sentar na frente. Ele precisava ler os lábios da professora para
entender o que ela falava.

A professora disse para Viviane sentar em uma mesa no fundo da sala.

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Viviane reclamou para a professora, mas Daniel não conseguiu
entender o que ela disse. Para Daniel, era complicado entender
as outras pessoas quando elas não usavam a língua de sinais.

Desenho da sala de aula da


escola nova de Daniel.
As crianças estão sentadas
e dois lugares não estão
ocupados.
Um lugar é na frente da
lousa e o outro é no fundo da
sala.
Viviane está andando, indo
para a última fileira. Ela está
com a cara bem fechada.
Está brava por ter que dar o
lugar para o Daniel.
A professora Estela está
na frente da sala. Ela está
mostrando para Daniel a
cadeira que era de Viviane.

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Então, logo no primeiro dia de aula já tinha uma pessoa que não
gostava de Daniel.

Viviane disse aos outros alunos que Daniel deveria estar na escola
de surdos e não com eles. Os outros alunos concordaram com Viviane.

Daniel não gostou de sentar na frente da sala porque todos olhavam


pra ele. Ele era diferente dos outros. Ele não ouvia e, por isso, não
conseguia falar.

Daniel não gostava da nova escola. Ele não conseguia falar com
nenhuma das crianças e nem com a professora.

Quando tentou usar a língua de sinais para falar com um dos garotos,
o garoto riu de Daniel.

Daniel também não conseguia entender as aulas. Ele não conseguia


ler os lábios da professora.

Nas aulas, Daniel escrevia algumas coisas no caderno.

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Três meninas e cinco
meninos andam juntos.
Eles estão indo embora da
escola.
Eles estão carregando
mochilas e cadernos. Cada
um deles veste uma roupa
diferente.
O segundo menino da turma
usa boné e calças largas.
Ele chama atenção pelas
roupas e porque está
fazendo um bola de chiclete.

Ele percebia que as outras crianças faziam perguntas, mas ele não
entendia nada. Daniel também não entendia o que a professora respondia.

Depois de uns dias, Daniel tentou falar por mímica, que são gestos
diferentes da LIBRAS. Ele fez isso para que as crianças entendessem.
Fazer gestos diferentes não funcionou, e os alunos não gostaram.

Daniel encontrava com seu irmão Nicolau na saída da escola.


Eles iam juntos encontrar com a mãe no trabalho.

Nicolau disse ao irmão que todas as pessoas deviam entender LIBRAS.

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Ele estava triste porque ninguém entendia os sinais dele.
E também porque não entendia o que a professora dizia.

Nicolau ficou assustado quando viu que o irmão estava triste.


Ele percebeu que Daniel estava com vontade de chorar.

Nicolau sempre achou Daniel muito esperto e inteligente.


Ele teve medo do irmão ficar triste pra sempre.

Nicolau ficou feliz porque ele entendia o que o irmão falava.


E ficou orgulhoso porque sabia LIBRAS.

Daniel e Nicolau conversam


em LIBRAS.
Daniel está sinalizando
“leitura labial”.

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Mas Daniel estava bem cansado de tentar ler os lábios da professora.

Daniel também estava cansado porque não tinha amigos.


Mimado: Aquele que pode
Mas ninguém queria ser amigo de Daniel. Principalmente fazer tudo, mesmo quando
Viviane, que era uma garota muito mimada. não está certo. É protegido e
não gosta de ser contrariado.

Viviane tinha os melhores videogames, bonecas e vestidos.


Viviane tinha até uma caixinha de maquiagem.

Viviane não estava acostumada a não conseguir o que queria.


Como o seu lugar na sala, que ficou para o Daniel.

Às vezes, Viviane não enxergava a lousa do fundo da sala.


Ela precisava esticar o pescoço para enxergar.

Viviane achava que, de tanto esticar o pescoço, ia ficar com


o pescoço de girafa.

E ela achava que estava acontecendo isso com ela por causa
do Daniel. E porque não gostava de Daniel, começou a falar mal dele.

Uma das coisas que Viviane fazia era chamar Daniel de nomes
feios pelas costas dele. E todas as outras crianças davam risada.
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Viviane está usando um
vestido amarelo com
estampas.
Ela está de braços cruzados
e brava, com os olhos
fechados.
Seus cabelos longos e
cacheados estão presos
na altura do ombro por um
elástico.
O cabelo de Viviane cobre
um pouco Daniel, que
parece assustado ao fundo.
Ele tem os olhos arregalados
e segura papéis.

Igor, um dos meninos, era o único que não gostava dessa brincadeira. Covardia: Fazer mal a uma
Ele defendia Daniel. Ele achava que era covardia o que Viviane fazia. pessoa que não pode se
defender.
Viviane também chamava Igor de nomes feios por isso.

Daniel não ouvia, mas podia ver as crianças rindo dele.

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Ele ficava muito triste.

Na sala, quando a professora não estava olhando, alguns alunos


Lágrima: Água salgada que
jogavam bolinhas de papel em Daniel. Daniel ficava tão triste que seus
sai dos olhos quando nos
olhos enchiam de lágrimas. emocionamos ou quando
choramos.
Daniel foi mal nas provas. Por isso, a coordenadora chamou os pais
dele para conversar na escola. Adaptação: Quando você
muda de lugar e precisa se
acostumar com esse novo
A coordenadora disse para Manuela e para João que Daniel lugar.
estava com problemas de adaptação. E que ele não conseguia
fazer amigos.

Manuela ficou preocupada e achou estranho porque Daniel


sempre teve muitos amigos.

Daniel antes era um menino alegre. Agora, estava triste e quieto.

Daniel ainda tinha um segredo.

Ele achava Viviane muito bonita. Ele queria muito ser amigo dela.
Daniel não entendia por que a menina não gostava dele.

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Oito crianças estão no
intervalo da escola. Elas
estão tomando lanche.
Elas estão sorrindo,
conversando e comendo.
Viviane está de mau humor.
Ela está olhando para o lado
onde está Daniel.
Daniel está caminhando,
desanimado.

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O mundo de Daniel ficou triste. Ele só gostava de ir nas aulas
da escola de surdos, na parte da tarde.

Na escola de surdos, tinha curso de dança.

Vibrações: Movimentos que


Mesmo sem ouvir, Daniel sentia as vibrações da música. a música faz no ar e o corpo
Ele conseguia dançar muito bem. humano sente.

Mas, todas as manhãs, ficava triste ao acordar para ir para a


escola inclusiva. Ele estava atrasado nas matérias porque não
conseguia estudar.

E ele não entendia por que ninguém gostava dele.

Um dia, Igor convidou Daniel para a festa de aniversário dele.


Daniel nem acreditava.

Igor morava em uma casa bem grande.


A mãe de Igor chamou a turma toda.

Daniel chegou cedo na casa do Igor.


Ele nunca tinha visto uma festa tão bonita.

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Tinha até um carrinho de cachorro-quente.
E uma mesa, cheia de refrigerantes.

Daniel podia sentir que a música era muito boa!

Mas Daniel achava que ninguém queria fazer amizade.


Foi para um canto e ficou sozinho.

Alguns garotos e garotas dançavam.


Daniel começou a bater os pés no ritmo da música.

Viviane chegou. Ela estava com um vestido azul e com os cabelos


bem arrumados. Parecia uma fada de tão bonita que estava.

De repente, Daniel teve uma surpresa. Viviane foi até onde ele estava,
com uma cara muito brava.

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Desenho da festa de
aniversário de Igor.
A festa está animada. Tem
bexigas, luzes e enfeites por
todo lado.
Tem uma mesa de presentes
e uma barraca de cachorro-
quente.
Os convidados estão alegres
e dançando bastante.
Daniel está sentado em uma
cadeira.Viviane está com a
mão no ombro de Daniel.
Ela está de vestido e
sandálias azuis e está com o
cabelo preso.

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A mãe de Igor tinha mandado Viviane dançar com o Daniel. Viviane não
entendia como Daniel, que era surdo, sabia dançar no ritmo.

Viviane chegou perto de Daniel e perguntou se ele queria dançar.


Tímido: Com vergonha de
Daniel ficou bem tímido, mas aceitou o pedido. algo.

E os dois começaram a dançar.

Daniel está dançando. Ele


está com os braços abertos
e a cabeça inclinada.
Viviane aparece três vezes
ao redor dele.
A menina está feliz,
balançando os cabelos
soltos.

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Viviane descobriu que ele dançava muito bem. Eles dançaram várias músicas.

Viviane até esqueceu que não gostava de Daniel.

As amigas de Viviane riram porque ela estava dançando com um surdo.

Depois disso, Viviane se afastou de Daniel. Ela não olhou para


Daniel o resto da festa. E Daniel teve que dançar sozinho.

Viviane está entre três


meninas.
As meninas estão dando
risada e apontando para
Viviane. Por ela estar
dançando com Daniel.
Viviane se afasta da pista de
dança, triste e sozinha.

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Daniel ficou longe na hora dos parabéns. Nem comeu um
pedaço de bolo de aniversário.

Nos dias seguintes, Daniel foi assunto dos colegas.


Eles estavam surpresos porque Daniel conseguia dançar bem.

Estela, a professora, explicou sobre as vibrações da música


que os surdos sentem.

Viviane estava admirada. Ela falava que os outros


garotos que escutam dançam mal.

Mas Viviane não mudava com Daniel.


Ela não queria saber de ser amiga dele.

Daniel continuava triste. Ele não sabia se um dia ia ter


amigos na escola. Ele não entendia por que ele era diferente.

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As crianças estão descendo
uma escada. Elas estão
saindo da escola.
Daniel está desanimado.
Viviane ainda está na parte
de dentro da escola.
Ela também está
desanimada.

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E a vida continuou do mesmo jeito por muitos meses.

Até que um dia, Nicolau ficou bem doente.


Ficou de cama e não foi à escola.

Daniel ia sozinho da escola até a loja da mãe.


Durante dois dias, tudo funcionou bem. Mas, no terceiro dia,
alguma coisa deu errado.

Viviane viu Daniel de longe, perto da faixa de pedestres.


Ele ia atravessar a rua.

Quando o sinal abriu, um carro virou a esquina correndo.

O motorista buzinou bem alto e Viviane tentou avisar


Daniel, mas ele não ouviu.

Daniel continuou atravessando a rua. De repente, ele


enxergou o carro. Daniel ficou tão assustado que não conseguiu se mexer.

Viviane correu até Daniel e puxou ele pelo braço, para


tirar do caminho do carro. Daniel e Viviane caíram juntos no chão.

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E foi bem na hora, para salvar Daniel do carro em alta velocidade.
Daniel ficou muito assustado, olhando o carro que ia embora.

Um carro vermelho está bem


perto da faixa de pedestre.
No desenho só aparece a
parte da frente do carro.
Os pneus virados mostram
que o carro desviou.
Viviane e Daniel estão caídos
no chão.

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Viviane entendeu como é difícil ser surdo.

Viviane foi com Daniel encontrar Manuela.


Eles olharam para os dois lados da rua e atravessaram juntos.

Quando eles chegaram no shopping, Daniel ainda estava muito assustado.


Contou o que aconteceu para a sua mãe.

Ela abraçou forte o filho depois de saber o perigo


que ele passou. E ficou agradecida por Viviane ter aparecido.

Em casa, Viviane também recebeu um abraço da mãe,


que disse que ela foi muito esperta.

Mais tarde, Manuela apareceu com Daniel.


Eles levaram bombons para Viviane.

Manuela disse para Viviane que ela tinha salvado a vida de Daniel.
Sem jeito: Sem saber o que
Viviane aceitou o presente, mas estava meio sem jeito. fazer. Com vergonha.
E ficou ainda mais sem jeito com Daniel sorrindo para ela.

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Daniel agradeceu a Viviane em língua de sinais.
E, pela primeira vez, Viviane sorriu para Daniel.

Daniel faz o sinal de


“obrigado”.
Primeiro Daniel está com a
palma da mão para dentro.
A mão está levantada e os
dedos perto da testa.
Depois ele coloca a mão um
pouco mais longe do rosto.
Uma seta mostra o
movimento.

E, depois que Daniel foi embora, ela ficou pensando


em como seria não ouvir.

Foi para o quarto e tapou os ouvidos. Mesmo assim, ouvia o


som dos carros na rua e uma porta batendo.

Escondeu a cabeça debaixo do travesseiro e o mundo ficou silencioso.


Pensou em como seria ficar sem ouvir o tempo todo.

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Até então, Viviane só tinha pensado nos próprios sentimentos.
Agora, ela pensava nos sentimentos de Daniel.

Viviane está deitada com a


barriga para baixo e apoia a
cabeça na mão.
Com a outra mão, ela treina a
língua sinais.
Seus cabelos cobrem boa
parte do seu corpo.
Seus pés, sem meias, estão
cruzados para trás.

Ela pensava muito em como era ser surdo como Daniel.


E em como seria conversar por sinais.

No dia seguinte, Viviane levou um chocolate na mochila


e ofereceu para Daniel.

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Todos na sala ficaram surpresos. Daniel aceitou o
chocolate e ficou contente.

Viviane pediu, falando bem devagar, para que


Daniel a ensinasse a falar a língua de sinais.

Daniel ficou muito feliz e fez, em LIBRAS, o sinal da palavra: chocolate.

Viviane imitou o sinal e errou. Daniel corrigiu. Daniel ensina Viviane a


palavra “chocolate” na língua
E, de repente, ela estava rindo. de sinais.
Ele está com os dedos
indicadores e médio
estendidos.
Viviane repete o sinal com
alguma dificuldade.
Daniel olha para Vivi com
carinho e ela olha para as
mãos dele.

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Os colegas da sala perceberam que aprender a falar com as
mãos podia ser divertido. Pediram para Daniel ensinar outras palavras.

Ele ensinou os sinais de “futebol”, “professor” e “fantasma”.


E, pela primeira vez, Daniel começou a se sentir parte da turma.

Mas, mesmo que os colegas e a professora falassem devagar,


Daniel explica como se diz
Daniel ainda não conseguia entender o que eles diziam. três palavras na língua de
sinais.
Para dizer “futebol”, ele
Viviane percebeu isso e disse para Daniel que ele poderia
levanta o polegar das duas
entender melhor se todos usassem a língua de sinais. mãos, em sinal de positivo,
e mexe as mãos para cima e
para baixo.
Para dizer “professor”,
precisa estender o dedo
indicador e levar da esqueda
para a direita.
Para dizer “fantasma”, Daniel
segura a mão direita em
cima da esquerda sem que
elas se toquem. Depois ele
une as pontas dos dedos de
cada mão e afasta uma mão
da outra.

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Daniel não entendeu o que Viviane disse.

Nicolau, vendo que o irmão estava chateado, deu uma ideia.


Ele disse para Viviane aprender a língua dos sinais.
E depois ensinar para os outros colegas.

Viviane achou boa a ideia de Nicolau e foi falar com seus pais.
Além de querer aprender Libras, ela pensou que seria bom Intérprete: Pessoa que
se tivesse alguém na sala para ser intérprete para o Daniel. traduz de uma língua para
outra.

A mãe da Vivi, que era advogada, disse que é lei ter um


intérprete para o surdo na escola.

A diretoria da escola concordou com a ideia.


A professora Estela também apoiou.

Depois de um tempo, o intérprete de Libras chegou na escola.

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Daniel está de costas e
estende a mão direita para
cumprimentar o intérprete de
LIBRAS. O intérprete faz o
mesmo sinal de “oi”.
O intérprete é negro e tem o
cabelo curto e arrepiado e as
sobrancelhas grossas.
Ele veste uma camisa laranja
com a manga dobrada.
Daniel usa uma touca e uma
camiseta nas cores azul e
rosa.

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Aos poucos, Daniel começou a acompanhar a classe.

Mas ele ficava mesmo feliz pela atenção que recebia de Viviane.
E porque eles arrumaram um jeito próprio de se comunicar.
Eles usavam Libras e mímica.

Às vezes, não se entendiam e caíam na gargalhada.


Quando o assunto era complicado, Daniel escrevia no caderno.

Nas festinhas, Viviane sempre dançava com Daniel.


Todos curtiam a dança dos dois.

Viviane descobriu que Daniel também desenhava muito bem.


Isso porque alguns surdos, por não ouvirem, concentram
a atenção na visão. E também porque a LIBRAS é uma língua
visual e ajuda a desenhar bem.

Um dia, Viviane ganhou de Daniel um lindo desenho de uma fada,


que usou para enfeitar seu quarto.

Daniel era bom em Matemática. Passava um bom tempo explicando


Matemática para Viviane. Ela ajudava Daniel com o Português.

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Daniel e Viviane estão
sorridentes. Eles estão
dançando de mãos dadas.
No desenho estão também
papéis de caderno com
exercícios de matemática e
português e o desenho de
fada.

37
O tempo passou depressa e logo chegou a festa de formatura do quinto ano.

Antes de sair de casa para ir na festa, Daniel se trancou no quarto.

Queria escrever alguma coisa bonita para Viviane, mas não conseguia.
Por isso, rasgou o papel muitas vezes.

Daniel contou para Nicolau que queria escrever uma mensagem para Viviane.

Nicolau disse para Daniel escrever o que sentia.

Daniel respirou fundo, apertou os olhos e escreveu logo.


Depois dobrou o papel e guardou no bolso.

Daniel foi arrumado para a festa. Todos os pais e alunos estavam lá.

Quando Daniel chegou na festa, viu como Viviane estava bonita.

A menina perguntou, com sinais, se ele iria dançar com ela.


Ele fez que sim, contente.

Ele pegou a mão de Viviane e colocou o bilhete nela.

38
Surpresa, a menina abriu o bilhete. Daniel fez um sinal, que significava “leia depois”.
A festa de formatura
acontece em um salão
grande cheio de pessoas.
Elas estão em pequenas
rodas de conversa.
Elas sorriem e mostram o
diploma. Brincam com a
roupa e a bebida.
No canto, Daniel entrega um
papel dobrado para Viviane.
Ele faz o sinal de “depois”
em LIBRAS. Ele está vestido
com roupa social.
Vivi recebe o papel feliz.
Ela está de vestido com
estampas de caracóis e
cabelos soltos.

Viviane fez que não com a cabeça. Estava curiosa,


e então leu o bilhete que dizia:

“Vivi, você é muito legal comigo. Você me salvou do carro.

Eu não me sinto mais fora do mundo. Isso é muito importante.

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Você me ajudou a me abrir para as pessoas.
Agora eu posso fazer o que quiser.”

Viviane ficou muito emocionada. Ela respondeu para Daniel


que ela é que tinha aprendido com ele.

Egoísta: Pessoa que só


Disse que deixou de ser egoísta e que aprendeu a ser uma grande amiga.
pensa em si mesma.

Na festa de formatura,
os alunos estão todos
dançando, rindo e
conversando.
Vários se comunicam em
LIBRAS.
Vivi segura a mão de Daniel
e coloca a outra no peito,
dizendo “amiga” na língua
de sinais.
Ela olha Daniel com afeto.

40
Todos têm direito de aprender.

Autor: Pessoa que imagina a


Aqui o autor fala como teve a ideia da história de Daniel. história e escreve o livro.

Eu tinha um vizinho surdo quando era criança.

O garoto era mais novo que eu.

Nós morávamos no interior de São Paulo.


E lá não tinha escolas para surdos.

A dificuldade de comunicação era grande.

As crianças brincavam na rua. Mas o menino surdo quase


nunca participava das brincadeiras.

Às vezes, as crianças brincavam de falar com ele em mímica e


Batalhadora: Pessoa
sempre se divertiam muito.
corajosa, que não desiste.

A mãe do menino era uma batalhadora.


Artista gráfico: Pessoa
que cria artes visuais e faz
Quando cresceu, o menino virou artista gráfico. desenhos.

41
Uma vez, reencontrei o menino com a mãe. Ela o acompanhava em
busca de trabalhos. Depois de um tempo, ele conseguiu uma oportunidade.

Ele fez muitas capas de livros e histórias em quadrinhos.

Eu quis escrever a história por causa desse menino.


Mas também conversei com Rafael, um professor da escola pública.

E fiquei feliz por descobrir como alguns professores recebem


bem pessoas com deficiência na escola.

Tem uma lei que foi aprovada em 2005. Essa lei exige que tenha um
intérprete de LIBRAS em todas as escolas que tenham surdos.

Mas essa lei não é seguida sempre e muitos alunos têm as mesmas
dificuldades que Daniel tinha no começo da história.

Muitos meninos e meninas já descobriram que ser amigo de uma


pessoa com deficiência é muito bom.

Não só para a pessoa com deficiência, mas também para quem se aproxima.
É uma amizade que desperta novos sentimentos e faz bem ao coração.

Walcyr Carrasco
42
Nicolau está dormindo de
bruços.
Ele apoia a cabeça no braço
enquanto o outro está para
fora da cama, em cima dos
cadernos da escola.
Ele dorme e parece estar
sonhando com algo muito
bom.
Daniel chega devagar e
segura uma corneta bem
no ouvido do irmão menor,
preparado para assoprar e
acordar Nicolau.

43
Walcyr Carrasco é o autor da história de Daniel.
Ele nasceu na cidade de Bernardino de Campos,
estado de São Paulo, no dia 1º de dezembro de 1951.
Decidiu ser escritor quando tinha 12 anos e se apaixonou
pela obra de Monteiro Lobato. Ele já traduziu e adaptou clássicos da literatura. Livros infanto-juvenis:
Livros escritos para jovens
Walcyr é autor de diversos livros infantojuvenis.
de 13 a 15 anos de idade.
Ele também escreveu livros, peças de teatro e crônicas para adultos.
Walcyr também é roteirista de televisão.
Crônicas: Textos que
Ele criou várias novelas de sucesso, como “O Cravo e a Rosa”, analisam a forma de viver
“Caras & Bocas” e “Morde & Assopra”. das pessoas.
Walcyr é conhecido por discutir temas sociais importantes como a história do Daniel.

Cris Eich é a ilustradora do livro.


Ela fez todos os desenhos da história usando uma técnica
que se chama aquarela.
Ela nasceu em Mogi das Cruzes, que é bem pertinho de São Paulo.
Quando era criança, ela olhava os livros infantis e se apaixonou
pelas imagens. Depois ela se mudou para São Paulo
e estudou desenho, pintura, gravura e cerâmica.
Ela já fez os desenhos de mais de 60 livros.

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FICHA TÉCNICA
Projeto Acessibilidade em Bibliotecas Públicas
Convênio Nº 800812 Executado pela Mais Diferenças
Ministério da Cultura - Secretaria Executiva; Diretoria do Livro, Leitura,
Literatura e Biblioteca - DLLLB e Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas
- SNBP
Coordenação Técnica do Projeto - Wagner Santana
Supervisão - Carla Mauch
Execução das versões acessíveis - BRDN
Direção, coordenação técnica e produção de roteiros - Ana Rosa Bordin Rabello
Produção do texto em Leitura Fácil - Vanessa Grigoletto
Design gráfico - Tiago Marchesano
Versão acessível executada nos termos da Lei 9.610/98, artigo 46, inciso I,
letra d e nos termos da Lei 13.146/15, Lei Brasileira de Inclusão, artigo 42,
parágrafo 1.

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