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Ciencias Da Comunicacao - Marcelo Bulhoe
Ciencias Da Comunicacao - Marcelo Bulhoe
Presidência
Jerônimo Carlos Santos Braga
Osvando J. de Morais – UNESP
Conselho Editorial
Afrânio Mendes Catani – USP
Ana Sílvia Davi Lopes Médola – UNESP
António Fidalgo – UBI-PT
Antonio Hohlfeldt – PUC-RS
Jane Marques - EACH – USP
Jerônimo Carlos Santos Braga
José Esteves Rei – UTAD-PT e UNICV-CV
José Marques de Melo – Cátedra UNESCO
Marcelo Bulhões – UNESP
Maria Ataíde Malcher – UFPA
Maria Cristina Gobbi – UNESP
Maria Érica de Oliveira Lima – UFC
Mauro de Souza Ventura – UNESP
Norval Baitello – PUC-SP
Osvando J. de Morais – UNESP
Paulo B. C. Shettino
Paulo Serra – UBI-PT
Ricardo Iannace – FATECSP
Simone Antoniaci Tuzzo – UFG
Sylvia Furegatti – UNICAMP
© 2015 OJM CASA EDITORIAL
FichaCatalográfica
Ficha Catalográfica
E-book.
ISBN: 978-85-68371-03-9
1. Comunicação-Teoria. 2. Comunicação-Pesquisa. 3.
Comunicação-Processo. 4. Comunicação de massa. 5. Meios de
comunicação. I. Bulhões, Marcelo. II. Morais, Osvando J. de. III.
Título.
CDD-302.2
Marcelo Bulhões
Osvando J. de Morais
organizadores
Sarapuí - SP
OJM Casa Editorial
2015
Sumário
Apresentação.........................................................................15
Marcelo Bulhões
Osvando J. de Morais
Capítulo 1
APRECIADOR OU CONSUMIDOR: reflexões acerca da
massificação da Arte na contemporaneidade ........................... 28
Ana Beatriz Buoso Marcelino
Capítulo 2
Conflitos Construtivos: Desafios introdutórios da
pesquisa em comunicação.......................................................... 61
Ana Heloiza Vita Pessotto
Capítulo 3
Lei de Acesso à Informação: fortalecimento da
comunicação p ública na visão da esfera pública
habermasiana...........................................................................101
Bruna Silvestre Innocenti Giorgi
Capítulo 4
A indústria cultural no contexto da sociedade
do conhecimento.......................................................................137
Camila Silva Ferreira
Capítulo 5
O Agendamento no Jornalismo Popularesco:
Considerações teórico-empíricas sobre os televisivos
Documento Especial e Aqui Agora............................................153
Carlos Alberto Garcia Biernath
Capítulo 6
Espiral do silêncio, opinião pública e representação
da mulher na mídia...................................................................179
Daniele Ferreira Seridório
Laís Modelli Rodrigues
Capítulo 7
Comunicação: Inquietações da Área........................................211
Emanuelly Silva Falqueto
Capítulo 8
Jornalismo e história: o jornal como fonte e objeto
dos estudos históricos...............................................................237
Aline Ferreira Pádua
Capítulo 9
Henry Jenkins e Andrew Keen: A Cibercultura
sob diferentes olhares..............................................................273
Felipe de Oliveira Mateus
Capítulo 10
Hiperlocal como um elemento de convergência
entre a digitalização e o reforço de identidades.....................300
Giovani Vieira Miranda
Capítulo 11
Jornalismo de dados: influência da construção narrativa
no agendamento midiático......................................................328
Kelly De Conti Rodrigues
Capítulo 12
A construção da notícia: correlacionando conceitos
de Rodrigo Alsina e Wolf...........................................................352
Renan Milanez Vieira
Capítulo 13
Memória: de reminiscências p articulares a instrumento
de c omunicação organizacional...............................................375
Wanessa Valeze Ferrari Bighetti
Capítulo 14
As Jornadas de Junho e as abordagens de Gohn e
Traquina: uma revisão bibliográfica........................................405
Ana Cristina Consalter Amôr
Capítulo 15
Aves que não cantam: paralelos entre a ornitologia
e a comunicação........................................................................461
Guilherme Sementili Cardoso
Capítulo 16
O cenário globalizado no jornalismo internacional:
expectativas, desafios e influências.........................................491
Maria Carolina Vieira
Capítulo 17
Estudos culturais e comunicacionais como forma de
auxiliar na inclusão do homossexual masculino no
ambiente organizacional..........................................................520
Matheus José Prestes
Capítulo 18
Intertexto da literatura para o cinema: um estudo
sobre Bakhtin e a adaptação cinematográfica
do gênero noir ..........................................................................546
Natália de Oliveira Conte Delboni
Capítulo 19
Seriados fora do fluxo: possibilidades e recursos
narrativos na criação de ficções seriadas televisivas
distribuídas por serviços sob demanda....................................571
Octavio Nascimento Neto
Capítulo 20
O futebol como cultura no Brasil: da paixão
à profissionalização..................................................................598
Bárbara Bressan Belan
Capítulo 21
A cultura de fãs e fandom como perspectiva das
práticas participativas de consumo de mídia..........................630
Camila Fernandes de Oliveira
Capítulo 22
Distorções da modernidade: o não lugar da imagem
pictórica de fausto em Murnau e Sokúrov...............................656
Fabrício Mesquita de Aro
Capítulo 23
Representações Sociais da Profissão de Relações
Públicas no Cinema: Análise sobre o Filme
Thank you for smoking .............................................................674
Lucas Sant’Ana Nunes
Capítulo 24
O desafio da publicidade na pós-modernidade.......................704
Natália Azevedo Coquemala
Capítulo 25
Futebol “arte” x futebol acadêmico: uma análise
foucaultiana a respeito da ordem dos discursos.....................723
Nathaly Barbieri Marcondes
Capítulo 26
Fotografia, comunicação e linguagem: O desafio
da pesquisa imagética..............................................................749
Neide Maria Carlos
Apresentação
Apresentação
Ciências da Comunicação
15
Organizamos neste livro, os textos produzidos pelos
alunos que cursaram a disciplina Teorias da Comunicação
da UNESP-Bauru no primeiro semestre escolar de 2015,
a partir dos debates provocados pelas leituras destas mes-
mas teorias já consideradas como clássicas, com o intuito
não somente de construir uma base teórica para os seus
projetos de pesquisa, mas para pensar criticamente as po-
tencialidades de uma nova teoria. Para tanto, percorremos
juntos os sequenciados esforços empreendidos para con-
solidar o espaço da prática de pesquisa e reflexões acadê-
micas teóricas do campo da Comunicação. Pretendendo
ainda, demarcar o espaço de seu estudo dentro da gran-
de área do Conhecimento que constituem as Ciências em
nossa área. Por exemplo, no Brasil, para que as Ciências
da Comunicação obtivessem o reconhecimento de sua
unidade e de sua organicidade sistêmica da complexidade
científica, norteadora de um segmento importante como o
da comunicação, não basta o desejo inato de buscar o co-
nhecimento que se encontra enraizado em todo exemplar
de ser humano. Seria mais que tudo necessário retornar
às ideias, obras e autores, no contexto de nosso passado
histórico, voltado agora para o século XXI, avaliando as
contribuições ao pensamento comunicacional que vem
em movimento contínuo e em amplificação desde os me-
ados do século passado, caracterizado por usos servis de
teorias importadas de outros continentes, que não falam
obviamente de nossa experiência, de nós mesmos e de
nossa identidade.
O objetivo geral deste livro é também abordar as Te-
orias da Comunicação, situando as comunicações no
17 Apresentação
modos de ser, diante de pouca teoria e ainda na ten-
são entre sociedade e instituições com paradigmas e
problemas estranhos, ardilosamente servis para discus-
sões sobre o estágio que se encontram as ciências sociais
e humanas no país.
Os teóricos que fundamentam as ideias que são dis-
cutidas na área das Ciências de Comunicação formam
um corpo substancial com pouco pensamento novo,
embora muita produção, traduzindo as variadas dimen-
sões da diversidade de pensamentos reciclados e que
são aplicados à comunicação, em um processo continuo
sem mudanças, que não ajudam a perceber como essas
mesmas mudanças influenciaram as novas gerações a
repetir comportamentos que definem politicamente,
de maneira marcante, no desenvolvimento de uma área
complexa como a da Comunicação.
E eis que surge uma nova realidade no contexto da
comunicação no novo século: desenvolvimento vertigi-
noso dos mass media, reféns da aceleração das pesquisas
científicas de base que alimentam as Ciências Sociais
Aplicadas – Tecnologias, voltadas para o incremento
e produção de instrumentos e artefatos utilizados nos
processos comunicacionais com rapidez de obsolescên-
cia, em razão de curto período de uso e já suplantado
por um mais ‘novo’ e atual modelo.
E, neste contexto, as instituições de mídia ganham
força e assumem papéis importantes (normativo e na
formação do ‘juízo’ público), a confirmar sua condição
de poder junto aos poderes do estado já antevisto pelo
historiador inglês, Thomas Carlyle, desde os meados do
19 Apresentação
dispensando reconceituações que deveriam levar em
conta elementos e valores das “realidades” locais.
Os trabalhos aqui apresentados refletem a cisão ob-
servada no meio acadêmico entre os puramente teóricos
de um lado e do outro, os tecnólogos, enfatizando a prá-
tica; percebe-se ainda a mesma cisão entre Universidade
e Mercado frente às diferentes habilitações profissionais
ofertadas àqueles que buscam o aprendizado na área.
Tais discussões, em latência nos projetos acadêmicos de
jovens-pesquisadores, afloram por meio de temas pre-
sentes neste livro, especificamente, documentados aqui
nos artigos, como resultantes dos trabalhos reflexivos
desta nova geração de estudantes da UNESP.
Em nosso projeto para a disciplina Teorias da Comu-
nicação, o propósito constante é buscar referências, prin-
cipalmente em textos clássicos de pensadores nacionais
e também àqueles universais que influenciaram a comu-
nicação no Brasil. Este foi o caminho encontrado para
fazer a passagem inaugurada no século passado para o
atual, mas indo mais além, voltar no tempo e situar os
nossos autores ante às influências fundamentais para se
entender, pelo viés epistemológico, a Comunicação nos
Séculos XX e XXI.
Neste sentido, somos conduzidos a voltar nossa aten-
ção para a Comunicação em seu estágio atual de existên-
cia, embora ainda no começo do novo século, deman-
dando primeiramente associá-la ao poder das novas
plataformas, ou ainda aos que se apropriaram da Comu-
nicação, exercendo o poder econômico de forma tanto
concreta quanto simbólica, para depois empreender a
21 Apresentação
anadá, de visíveis consequências. O Cinema, a Televi-
C
são, o Jornalismo são o resultado da interação entre te-
orias e práticas importadas em processos contínuos sem
aclimatação, amadurecimentos e adequação à nossa re-
alidade. A antropofagia tão decantada cedeu seu lugar a
uma subserviência sem crítica, predatória e dominadora.
Por isso mesmo, Ciro Marcondes Filho alerta ironi-
camente, sem perder o rigor científico, que a Academia
não gosta de comunicar e de comunicação, preferindo os
discursos técnicos e vazios sobre as parafernálias. É nes-
te sentido que as ideias marcondesianas da Nova Teoria
da Comunicação ocupam importante espaço em nossas
reflexões. Diversas teorias que constam do catálogo, as-
sumidas como matrizes seminais não conseguem justi-
ficar um pensamento que tenha sido desenvolvido no
Brasil e na América Latina.
As consequências e os resultados dos usos políticos
das teorias da comunicação em quase todas as institui-
ções de ensino público e privado geram sentidos per-
versos no ensino e na pesquisa em comunicação. Não se
trata aqui de retomar a velha divisão proposta por Um-
berto Eco, entre apocalípticos e integrados, mas de uma
sequência de projetos políticos implantados no Brasil
cujos resultados são perceptíveis na formação de pes-
quisadores e docentes cujas identidades e consciência de
suas raízes, oscilam.
Faz parte da luta reconhecer o trabalho daqueles que
palmearam cada espaço, demarcando territórios, como
os bandeirantes. Por outro lado, reabilitar os pensado-
res brasileiros, é um dever em função não somente da
23 Apresentação
As distorções curriculares, neste sentido, sempre exis-
tirão, pois as universidades ainda não aprenderam uma
maneira de conviver com a tradição do país confrontada
com a universal, com um acurado cotejamento frente às
novidades. Por isso mesmo, dá-se o clichê da aparição
de forças de ação e reação que traduzem as tentativas de
ingerências do mercado na academia. Busca-se preser-
var, porém, em concomitância ao convívio com o novo,
com o sempre novo, sem cair nas armadilhas ideológicas
oriundas da crença de que a tecnologia resolve todos os
problemas e traz soluções infalíveis, inclusive da quali-
dade de ensino e pesquisa.
No contexto geográfico continental que habitamos, a
consciência do gigantismo nacional traz discussões que
exigem que não se deixe de ressaltar que os diálogos são
necessários entre as regiões do país, com enfrentamen-
to das suas diferenças e semelhanças nas abordagens da
comunicação, seja do ponto de vista dos conglomerados
comunicacionais, ou da academia, representando o en-
sino e a pesquisa. Pensa-se, sobretudo, em uma resistên-
cia crítica, necessária à inserção do pensamento univer-
sitário e também à convivência pacífica e utopicamente
construtiva com o mercado. E justo nessa problemática
é que se localiza um distanciamento entre Graduação e
Pós-Graduação.
As quase sempre sutis diferenças entre as teorias das
matrizes comunicacionais estadunidenses, europeias e
canadenses produzem seus efeitos e influências de modo
também diferenciado e de acordo com cada realidade da
25 Apresentação
c omunicação podem se constituir em um grande labo-
ratório, fornecendo elementos históricos, funcionando
como guia aos pesquisadores iniciantes, justo no intuito
de lhes instigar a prosseguirem em sua árdua e ao mes-
mo tempo prazerosa viagem.
Os organizadores
Introdução
A Comunicação resume-se em trocas simbólicas
de relações entre os seres humanos, nos mais diversos
níveis. Entender estes processos torna-se, contudo, de
suma importância à sobrevivência, e inteirar-se com os
diversos meios de comunicação significa participar da
vida ativa e crescer junto à sociedade.
No atual mundo contemporâneo, convivemos com
os mais diversos Meios de Comunicação (MC) eliciados
28
pelo Homem, ao longo de sua evolução histórica, sejam
eles impressos, interativos, imagéticos, sonoros, etc. Per-
meando o processo comunicativo, podemos perceber as
influências a serem digeridas por seu público alvo, em
várias dimensões.
Moran (1990) argumenta sobre este apontamento, re-
latando a importância da compreensão dos MC para se
passar de uma consciência ingênua para a crítica, supe-
rando-se preconceitos de modo a captar a complexidade
das dimensões envolvidas.
Dessa forma, educar para a Comunicação tornou-se
evidente ao longo das décadas, a partir de uma necessi-
dade advinda do contexto sistematizado, da qual se in-
sere o indivíduo na sociedade atual.
Neste aspecto, entretanto, destaca-se o suntuoso re-
curso paradigmático de ação dos MC na formação cul-
tural dos sujeitos. Daí a pertinência do termo Cultura
de Massa, oriundo das pautas dos críticos modernos do
século XX, que aparece entrelaçado à ideia de Indústria
Cultural – ainda que alguns teóricos se esquivem de
separá-los. Ambos, contudo, permeiam significações
voltadas aos diversos fenômenos decorridos dos am-
plos avanços tecnológicos da sociedade moderna, em
particular dos diversos modos de produção em sinto-
nia com a sociedade industrial e o Sistema Capitalista,
que realçados pelos Meios de Comunicação de Massa
(MCM), inferem diretamente no ser social, a questão da
individualidade, a ética, a política, os próprios sistemas
de comunicação, a cultura, a arte e a estética (ADORNO
e HORKHEIMER, 1985).
Considerações Finais
Perpassando pela perspectiva crítica aos estudos
culturais podemos traçar um itinerário que elucida
parte do complexo processo de recepção da arte nos
Introdução
A Comunicação vive uma incessante busca pela sua le-
gitimação como campo científico. Elementos essenciais,
dentro desse processo, são: o conceito de comunicação,
que permite a integração do campo; o reconhecimento
das suas teorias e metodologias, sendo elas originais do
61
campo ou incorporadas; e a delimitação dos objetos e da
centralidade dos processos comunicacionais. Permeiam
essa discussão o desenvolvimento do pensamento cien-
tífico, a crise dos paradigmas das ciências em geral (in-
cluindo as exatas e as naturais), e o papel do pesquisador
como ator da evolução da Comunicação.
Nos Estados Unidos, o Journal of Communication de
tempos em tempos retoma a questão da legitimação da
comunicação como centro de suas discussões. Nos anos
1980 os debates circulavam em torno do que ficou co-
nhecido como “crise do paradigma”, com base na ideia
de uma fragmentação do campo que seria impossível de
ser revertida, o que incentivou estudos que buscavam
a história da evolução do próprio campo, como forma
de compreender a fragmentação. Depois de 10 anos, em
1990 o tema discutido foi o futuro do campo, influencia-
do pela investigação do passado, no futuro estariam as
possibilidades de vencer o que tornara o campo frágil. A
publicação defendia a retomada da busca por um campo
legitimado da comunicação, pois o pluralismo teórico
e as concepções vindas de outros campos estavam im-
pedindo esse procedimento, mantendo a comunicação
fragmentada e sem disciplina (NAVARRO, 2003, p. 22-
23). O que a publicação demostra, além do foco de cada
edição, é a complexidade desse campo que tem uma di-
nâmica conflituosa e que seus conflitos são contínuos e
cíclicos, o que permitiu vastos diálogos sobre a episte-
mologia da comunicação e sua legitimação como ciên-
cia, instigando muitos pesquisadores a se debruçarem
sobre o tema.
Comunicação: O conceito
O conceito de comunicação é amplo, dando um vasto
leque de interpretações ao seu significado. Reconhecer
3. “Talvez valha a pena lembrar que uma vez que foi deslocado do
centro do projeto do empirismo lógico o centro da discussão filo-
sófica sobre o conhecimento científico, com as certezas os dogmas
que fornecidos aos seus membros, a epistemologia da ciência, co-
meçando com as ciências naturais, teve fragilizada a convicção de
que o conhecimento para ser validado deve se referir a qualquer
realidade, como Popper argumentou, e é uma construída histórica
e socialmente, como o conhecimento, propôs Kuhn. O “critério de
demarcação”, a distinção entre o científico e o conhecimento não
científico e, agora, em vez de unificação padrão, um novo objeto
de discussão, tanto nas condições de racionalidade quanto ao po-
der. Portanto, na ciência conflitos epistemológicos estão sempre
inseparavelmente conflitos políticos.” (Tradução livre).
A caça do objeto
O objeto é outro tópico importante dentro das dis-
cussões na área. Marcondes Filho e Duarte acabam dia-
logando quanto à busca de trazer a ideia de comunica-
ção de dentro do universo do ideal, conceitual, para uma
reflexão de objetos reais em um campo possível e cien-
tífico. Pensar em comunicação requer um investimento
vasto de tempo buscando distinguir o objeto da comuni-
cação, do objeto da psicologia, do objeto da sociologia,
o objeto da história, do objeto da linguística. Como en-
globar de alguma forma elementos desses campos e na
verdade não ser nenhum desses?
Na caça ao objeto da comunicação houve uma com-
paração de como as ciências naturais e exatas se relacio-
navam como seus objetos e como o selecionavam. Mas
é preciso compreender a comunicação dentro de seus
próprios limites. “Pensava-se que a comunicação era
coisa, um objeto. Quem trouxe essa confusão foram as
ciências físicas e da natureza, pois para elas, a comuni-
cação é isso. Mas nós não somos pedras, fios elétricos
Referências
BERGER, Charles R. Por que existem tão poucas t eorias
da Comunicação? In. MARTINO, Luiz C. (org.). Teo-
rias da Comunicação: Muitas ou poucas? Cotia: Ateliê
Editorial, 2007.
Introdução
No Brasil, comunicação pública é um termo relativa-
mente jovem e, por isso, possibilita várias interpretações
e conceitos. Diante da diversidade, Brandão (2009) ali-
nha todas as concepções resumindo que a comunicação
pública é um processo que ocorre entre Estado, gover-
no e a sociedade com a intenção de estabelecer infor-
mações que auxiliem na construção de uma cidadania.
Conforme a autora, esses setores mencionados formam
uma esfera pública, sendo um espaço privilegiado de
negociação entre os interesses públicos diversos. Assim,
1. E-mail: bruna_sig@hotmail.com
101
percebe-se que a comunicação pública compõe o con-
texto político da sociedade, porém “não é um poder em
si, mas o resultado do poder do cidadão quando organi-
zado e constituído como sociedade civil” (BRANDÃO,
2009, p. 9).
Fica claro, portanto, que o diálogo entre Estado, go-
verno e sociedade deve proporcionar informações rele-
vantes de serviços e de divulgação de políticas públicas e
de órgãos do governo. Entretanto, a comunicação abar-
ca mais que disponibilizar informações, pois a intenção
é gerar um debate sobre assuntos de interesse público
(ZÉMOR, 2009). Kunsh (2012) compartilha da ideia
de Zémor (2009) e destaca que o interesse público é a
orientação da comunicação pública, já que ela faz parte
de um serviço público, e a discussão ocasionada por ela
é um substrato para o desenvolvimento da cidadania.
Essa discussão é associada à participação ativa dos ci-
dadãos. Conforme Duarte (2009) esse é o resultado da co-
municação pública que deve focar nos interesses coletivos
e na transparência. O cidadão deve ter “a possibilidade de
expressar suas posições com a certeza de que será ouvi-
do com interesse e a perspectiva de participar ativamente
como protagonista naquilo que lhe diz respeito”, (DUAR-
TE, 2009, p. 64). Por isso é um processo que demanda
tempo, pois a informação é apenas uma intenção, é pre-
ciso também “qualificar o cidadão para exercer seu poder
de voz, de voto e de veto nas questões que dizem respeito
à coletividade” (MONTEIRO, 2009, p. 40).
Faz-se, então, necessário especificar que a comunica-
ção pública discutida no presente artigo tem o viés de
Considerações Finais
Após a breve explanação sobre alguns conceitos,
observamos que a comunicação pública deve ser vista
como um processo que também dispõe de mecanismos
Referências
ANGÉLICO, F.; TEIXEIRA, M. A. C. Acesso à informa-
ção e ação comunicativa: novo trunfo para a gestão
social. In: Desenvolvimento em Questão, editora Unijuí,
ano 10, no. 21, setembro e dezembro de 2012. Disponível
em: <https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/de-
senvolvimentoemquestao/article/view/342>. Acesso em
5 de novembro de 2014.
BARROS, A. P. F. L. A importância do conceito de es-
fera pública de Habermas para a análise da imprensa
- uma revisão do tema. Universitas: Arquitetura e Co-
municação Social, Brasília, v. 5n. 1/2, p. 23-34, jan./dez.
2008.
BATISTA, C. L.. Informação pública: entre o acesso e
a apropriação social. 2010. 202 f. Dissertação (Mestra-
do) - Curso de Comunicação, Escola de Comunicações
Introdução
De acordo com Temer e Nery (2009), o paradigma
crítico tem relação direta com as reflexões culturais
promovidas pela filosofia clássica alemã, além disso,
aproxima as pesquisas sociológicas às reflexões sobre te-
mas como a cultura, a ética, a psicologia e a psicanálise
de Freud. São estudados neste paradigma: a Escola de
Frankfurt, a Espiral do Silêncio e a Teoria da Ação Co-
municativa de Habermas.
As autoras destacam alguns conceitos como sendo os
principais neste paradigma, são eles: marxismo, psica-
nálise, mercadoria, ideologia, público passivo, indústria
137
cultural, manipulação, espiral do silêncio, capitalismo,
opinião, crítica, contexto histórico, comunicação e esfe-
ra pública. Ainda segundo as autoras, os mais importan-
tes são os que refletem a questão da ideologia de quem
detém os meios de comunicação, ou se utilizam deles
para o seu próprio benefício. Além disso, aponta-se o
uso intencional da manipulação, a questão dos concei-
tos marxistas (alienação, capital, força de trabalho), a
comunicação e a esfera pública.
O conceito de “Indústria Cultural” foi exposto pela
primeira vez em 1947, por Theodor W. Adorno e Max
Horkheimer, nos fragmentos filosóficos reunidos sob o
título de “Dialética do Esclarecimento”, termo que viria
contrapor o conceito “cultura de massa”, por tratar de
um fenômeno distinto quanto a sua natureza. Essa opo-
sição conceitual remete ao fato da cultura de massa se
ater a uma cultura espontaneamente advinda da própria
massa, da forma contemporânea chamada de arte popu-
lar. Assim, é importante destacar que enquanto a cultu-
ra popular teria um caráter mais espontâneo e nasceria
internamente, numa dada comunidade, a indústria cul-
tural constitui uma manifestação maquinal produzida
exteriormente – de acordo com as vias do capital.
As críticas feitas pelos filósofos de Frankfurt sobre a
indústria cultural têm a intenção de mostrar, na atual so-
ciedade, como a cultura transformou-se em uma grande
força capaz de transmutar a arte em qualquer mercadoria.
De acordo com Adorno, a Indústria Cultural se assemelha
a uma indústria quando destaca a estandardização de de-
terminado objeto e quando diz respeito à racionalização
Mídia e comunicação
Em 1940, década de publicação da obra “Dialética do
Esclarecimento”, Adorno e Horkheimer refletiam sobre
a tendência da publicidade tornar-se o principal veículo
ideológico da sociedade capitalista. Atualmente, isso é
um fato: com a total transformação da cultura e dos pro-
cessos comunicacionais em mercadorias, a cultura e a
comunicação passaram a ser dominadas pela linguagem
criada para a venda das mercadorias, a publicidade.
Além disso, de acordo com o que já foi abordado sobre
indústria cultural, a ideia era que os meios de comunica-
ção de massa submeteriam os indivíduos aos interesses de
consumo da indústria capitalista, transformando-os em
seres passivos. A mídia não os conduziria a uma reflexão
crítica acerca de suas condições de existência e trabalho.
Considerações finais
A atualidade do conceito de indústria cultural não
pode ser reconhecida se não levar em consideração que
este conceito foi elaborado visando a compreensão de
um fenômeno social, que não para de se desenvolver
acompanhando o desenvolvimento do capitalismo.
É no contexto da sociedade atual, também conhecida
como sociedade do conhecimento - devido às transfor-
mações nos espaços sociais, econômicos e produtivos,
tornando-se o conhecimento o principal fator de produ-
ção - que as tecnologias digitais propiciaram inovações
nos modos de produção e difusão da cultura.
É preciso reconhecer que, mesmo diante da impos-
sibilidade de generalização, o indivíduo da sociedade
do conhecimento é um ser dotado de vontade que não
possui uma relação passiva com os meios de comunica-
ção. Isto não quer dizer que a mídia seja democrática ou
siga a trajetória do século das luzes, como pensa Lipo-
vetsky. Nem todos têm o mesmo acesso aos bens cultu-
rais difundidos pela mídia. Há uma diferença drástica
entre as programações e as informações veiculadas pelas
emissoras de TV pagas e os canais abertos, assim como
o acesso à internet. Entretanto, é preciso reconhecer que
Referências
ADORNO, Theodor. Indústria cultural e sociedade.
São Paulo: Paz e Terra, 2002.
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética
do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Ja-
neiro: Jorge Zahar, 1985.
COELHO, Cláudio Novaes Pinto. Teoria crítica e ideo-
logia na comunicação contemporânea: atualidade da
Escola de Frankfurt e de Gramsci. Líbero - Ano XI - nº
21 - Jun 2008
DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências so-
ciais. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1995.
FUKS, Saul. A Sociedade do Conhecimento. Tempo
Brasileiro, Rio de Janeiro, n.152, p.75- 101, jan./mar.
2003.
LEMOS, Cristina. Inovação na era do conhecimento.
In: LASTRES, Helena M. M;. ALBAGLI, Sarita . (Org.).
Informação e globalização na era do conhecimento. Rio
de Janeiro : Campus, 1999. p. 122-144. Disponível em: <
Introdução
Ciro Marcondes Filho (1994), citando Marshall
McLuhan, ressalta que a televisão tem a capacidade de unir
todos os sentidos do homem, algo único a todos os meios
de comunicação que existiam na época de seu nascedouro.
Bem antes da televisão, no século XIX, as pesso-
as buscavam entretenimento através de romances
populares, que eram amplamente negociados às famílias
de baixa renda. Com esses livretos em mão, as pessoas
153
ermitiam-se sonhar, fantasiar e exprimir verdadeiras
p
sensações de ansiedade e prazer, algo que antes só era
possível dessa forma. Isso mostra o quanto o homem
sempre valorizou e buscou a fantasia. De tal modo, sua
influência junto à audiência é inegável, pois a televisão,
quando de seu surgimento, passou a ser “um algo a mais”
em relação à voz que vinha das ondas sonoras transmi-
tidas pelo rádio: a imagem apresentada ali parecia ser
uma companhia ao telespectador, que muitas vezes es-
tava sozinho no ambiente, mas sentia-se acompanhado
enquanto assistia a seus programas pela TV.
Documentários e telejornais são programas que fazem
parte do gênero jornalístico. Todavia, não é essa a única
função dos programas de cunho jornalístico. Há que se
considerar que, por vezes – ou talvez muitas vezes – esses
programas abusam de elementos que inferem diretamen-
te no imaginário das pessoas, influenciando a percepção
de desigualdades discursivas, como o imagético.
Para Marcondes Filho (1988, p. 54), no jornalis-
mo televisivo é possível observar dois ingredientes que
constam na produção dos programas: a fragmentação
e a personalização ou personificação, pontos estes que
também atuam diretamente nessa relação entre o teles-
pectador e o veículo televisivo.
Os jornalísticos televisivos
Documentários e telejornais são programas que fa-
zem parte do gênero jornalístico. Dessa forma, enten-
demos que sua função diz respeito unicamente ao ato
O Aqui Agora
Aliando o formato “sensacionalista” do rádio ao te-
lejornalismo, o Aqui Agora foi exibido inicialmente no
ano de 1991 e trazia o impactante slogan: “um jornal
vibrante, uma arma do povo, que mostra na TV a vida
como ela é”.
Contou com diversos apresentadores em sua 1ª fase,
quando absorvera o formato dos famigerados “O Ho-
mem do Sapato Branco” e “O Povo na TV”, como Ivo
Morganti, Christina Rocha (que já participara de “O
Povo na TV”), Sérgio Ewerton, Liliane Ventura. Poste-
riormente, assumiu de vez o formato jornalístico, em
1996, centrado em pautas mais noticiosas e sem tanto
requinte sensacionalista, quando passou a ser apresen-
tado por Eliakim Araújo e Leila Cordeiro.
Em sua equipe de repórteres, destacam-se César
Tralli, Celso Russomano, Gil Gomes, Wagner Montes
(que também já passou pelo “O Povo na TV”), Carlos
Cavalcanti, dentre outros.
À guisa de considerações
Por serem veiculados em um meio de comunicação
que une os sentidos da visão e audição por excelência,
os jornalísticos popularescos parecem obter ainda boa
identificação junto à audiência. Programas que se uti-
lizam de um formato que explora a tragédia alheia para
chamar a atenção da audiência existem há décadas, e se
mantiveram com a mesma intensidade.
Não obstante, Documento Especial e Aqui Ago-
ra – atrações estudadas por este trabalho –, mesmo
se apoderando de elementos do popularesco, quando
Introdução
No percurso do Mestrado, o professor da disciplina
de Teorias da Comunicação convidou-nos para escrever
um artigo e-book como resultado dos ricos debates em
sala de aula. Na obra, cada aluno deveria apoiar-se em
alguma teoria discutida em classe, nós, contudo, esco-
lhemos duas hipóteses, a Espiral do silêncio e o Agen-
damento. Claro que não negamos o apego científico das
teorias, mas hipóteses nos parecem mais provocativas e
discutíveis. Quando trabalhamos com hipóteses cons-
truímos o conhecimento inacabado e, como mestrandas,
damos a nossa – pequena - contribuição à academia.
179
conjugações, pela qual “traduzimos” uma de-
terminada realidade segundo um certo “mode-
lo”. Uma “hipótese”, ao contrário, é um sistema
aberto, sempre inacabado, infenso ao conceito
de “erro” característico de uma teoria. Assim,
a uma hipótese não se pode jamais agregar um
adjetivo que caracterize uma falha: uma hipóte-
se é sempre uma experiência, um caminho a ser
comprovado e que, se eventualmente não “der
certo” naquela situação específica, não invalida
necessariamente a perspectiva teórica (HOHL-
FELDT, 1999, p. 43).
Opinião Pública
Noelle-Neumann ilustra a opinião pública em sua
obra pela história de um balé que assistiu quando era
professora na Universidade de Chicago. No espetáculo,
os habitantes de uma pequena cidade sempre se escan-
dalizam com as atitudes de um poeta que vivia um pou-
co afastado do centro urbano. Porém, quando o conde
e a condessa da cidade também tomavam as mesmas
atitudes, logo o ato se tornava comum e os habitantes
habituavam-se a isso. Para a autora, o nome do balé
também poderia ser “A opinião pública”, pois o conde
e a condessa são os líderes e formadores de opinião. Ela
ainda coloca que se apoiássemos as ideias e atitudes do
poeta enquanto essas eram escandalizadas, estaríamos
negando a nossa natureza social. Ademais, a autora (p.5)
se coloca em defesa do conde e da condessa, pois os ca-
racteriza como os moderadores, como “los lideres de
opinión que la sociedad necesita”.
A hipótese do agendamento
O Agendamento é na comunicação a força dos meios
para moldar a opinião pública. Esse processo ocorre,
Mulheres Homens
Não acreditam que as
propagandas na TV mostram 59% 52%
a mulher da vida real.
Propagandas na TV não
mostram a mulher que, além
62% 61%
de ser esposa e mãe, trabalha
e estuda
Defendem punição
aos responsáveis por
72% 68%
propagandas que mostram a
mulher de modo ofensivo
2001 2010
NÃO SABE 1% 2%
MULHERES HOMENS
2011 2010 2010
A LEI DEVE FICAR
59% 61% 69%
COMO ESTÁ
O ABORTO DEVERIA
SER PERMITIDO EM
16% 20% 16%
TODOS/MAIS CASOS
ALÉM DESSES
Anencefalia 6% 4%
Miséria/pobreza/falta
5% 4%
de condições materiais
Outras respostas 5% 3%
O ABORTO DEVERIA
SER PROIBIDO POR
22% 17% 12%
LEI EM TODOS OS
CASOS
OUTRAS RESPOSTAS 2% 2% 1%
NÃO SABE 2% 1% 1%
Fonte: VENTURINI; GODINHO, 2013, p. 465.
Considerações
Ao abrir as considerações, é preciso retomar que,
como foi dito no início deste artigo, é espantoso que a
hipótese da Espiral do Silêncio, que surgiu em um con-
texto social conturbado e em guerra do século XX, possa
explicar as relações comunicacionais da sociedade brasi-
leira atuais sobre a condição da mulher na mídia.
Foi apontado que o julgamento do público, segundo
Noelle-Neumann, tem o peso de um tribunal, e que por
isso, seguir a opinião adotada pela maioria é uma estra-
tégia individual para não cair no isolamento. Se as pes-
quisas abordadas neste trabalho, a “Mulheres brasileiras
e gênero nos espaços público e privado: uma década de
mudança na opinião pública” e a “Representações das
Introdução
Realizar pesquisa sobre e em comunicação requer que
tenhamos, mesmo que não esquematizada sistematica-
mente, alguma noção sobre o que seja a área. Teoricamente,
211
o conhecimento científico produzido acerca de uma área
deveria abordar e discutir conceitos e questões imanentes
da própria área. Mas, tal ponto é nebuloso, contraditório
e repleto de melindres ao tratar-se da Comunicação como
área do saber. Pois, a Comunicação carece de uma base
identitária compartilhada pelas várias frentes de pesquisa
empreendidas em seu nome. Mas, diante do nosso cená-
rio – as transformações nos processos comunicativos pela
presença maciça dos meios e dispositivos tecnológicos
que fazem a obsolescência ser certeza sobre o destino das
questões que nos cercam – será que uma base compar-
tilhada pelos pesquisadores não se tornaria uma camisa
de força, que sufocaria a observação e análise apenas em
procedimentos a serem seguidos?
Diante do exposto, das dúvidas que nos rondam faz-
-se necessário discutirmos algumas questões que ainda
assombram a área. Mesmo que tomemos como defini-
ção a indefinição. Mesmo que discordemos e desqualifi-
quemos essa reflexão como um labirinto sem saída que
atrasa o desenvolvimento das pesquisas. Ou até que já
partamos do pressuposto que é uma questão resolvida. É
importante compreendermos que essa problematização
ainda suscita debates e pesquisas e faz parte da compo-
sição histórica identitária da Comunicação como área
do saber. Afinal, esta discussão nos permite conhecer as
fragilidades, fronteiras e problemas que não podemos
ignorar, para que não desemboquemos em uma cons-
trução científica anacrônica e tautológica.
Então, apresentamos neste trabalho a discussão so-
bre tais questões. Antes, porém, explicitamos que não se
Problemas na e da Comunicação
Propomos debater sobre os questionamentos em tor-
no da autonomia da Comunicação como área do saber
através da observação dos seguintes pontos nevrálgicos: a
interdisciplinaridade, o objeto de pesquisa comunicativo
e a constituição metodológico-teórica da área. A Comuni-
cação vivencia esta crise de identidade por não conseguir
estabelecer um consenso entre aqueles que a pesquisam
sobre as definições desses elementos. Pois, como não pode-
mos apreender a Comunicação, devido a sua confluência e
relação com outras áreas e também por sua imaterialidade
acaba-se gerando múltiplas interpretações e definições.
Interdisciplinaridade
O debate da interdisciplinaridade na Comunicação
trata-se de questionar em que medida as questões tra-
balhadas com a interdisciplinaridade são comunicativas
ou pertencem a outras áreas do saber. É fácil compreen-
der a interseção da Comunicação com a antropologia,
sociologia, psicologia, mas desvencilhar, encontrar o ob-
jeto comunicativo é um processo que caminha na linha
tênue, do isolamento dos contextos acrítico e o risco de
se perder da Comunicação. Além de tentar compor te-
orias e metodologias que sejam próprias e deem conta
dos problemas de pesquisa, pois, a maioria das teorias
Problema teórico-metodológico
Ainda dentro dos desdobramentos ocasionados pela
interdisciplinaridade nos deparamos com a constituição
de modelos teóricos-metodológicos próprios da área.
Pois, por recorrermos a outras disciplinas acabamos uti-
lizando teorias e métodos que não foram desenvolvidos
tendo como foco as questões pertinentes à Comunicação.
França (2010) explica que da relação entre teoria e
prática é que emerge o objeto a ser estudado. A r ealidade
Enfim, comunicação
Diante das questões e inquietações apresentadas,
buscamos apresentar algumas formulações no sentido
de instigar a reflexão crítica sobre a Comunicação como
área do conhecimento. Para então, podermos lidar com
nossos objetos e procurar estabelecer um caminho teó-
rico-metodológico cientes de todos os obstáculos e bre-
chas no percurso. A princípio, aderimos ideia da comu-
nicação como impalpável, não é um objeto constituído
de matéria física. França (2010) assim como Ciro Mar-
condes (2008) lançam a argumentação sobre a imateria-
lidade da comunicação e seus processos.
(In) Conclusão
O pensamento comunicacional ainda é questionado en-
quanto área autônoma do conhecimento científico. É uma
área que carece de unidade, mas será? Um estatuto da área
Referências
BAITELLO JUNIOR, Norval. As Ciências da Comuni-
cação e sua pesquisa no Estado de São Paulo. In: SIL-
VA, Carlos Eduardo Lins da. et. al. (orgs) Ciências da
Comunicação no Brasil 50 anos: Histórias para contar.
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BRAGA, José Luiz. Constituição do Campo da Comu-
nicação. In: NETO, Antônio Fausto; PRADO, José Luiz
Aidar; PORTO, Sérgio Dayrrel. Campo da Comunica-
ção: Caracterização, problematizações e perspectivas.
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FRANÇA, Vera Veiga. O Objeto Da Comunicação/A
Comunicação Como Objeto In: HOHLFELDT, Anto-
nio. MARTINO, Luiz C. FRANÇA, Vera Veiga. (orgs)
Teorias da Comunicação: conceitos, escolas e tendên-
cias. Vozes. Petrópolis: 2010.
HOHLFELDT, Antonio. MARTINO, Luiz C. FRANÇA,
Vera Veiga. (orgs) Teorias da Comunicação: conceitos,
escolas e tendências. Vozes. Petrópolis: 2010
MARCONDES FILHO, Ciro. Comunicação, uma ci-
ência anexata e contudo rigorosa. In:GÓMEZ DE LA
Introdução
O verbete fonte pode ser descrito como “Documento
ou pessoa que fornece uma informação; Texto de autor
considerado como uma referência; Texto ou documento
original, usado como referência”, conforme as definições
7, 8 e 9 do Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa.
Já o termo objeto, entre outras características, aparece
237
como o “assunto, matéria, causa, motivo”, na definição
3. Em sentido mais específico encontramos, no Dicio-
nário de Conceitos Históricos (SILVA e SILVA, 2009), o
termo fonte, atrelado a palavra histórico, com a seguinte
definição: fonte histórica, documento, registro, vestígio
são todos termos correlatos para definir tudo aquilo
produzido pela humanidade no tempo e no espaço; a
herança material e imaterial deixada pelos antepassados
que serve de base para a construção do conhecimento
histórico. Também objeto, quando pensado como objeto
de estudo, está definido, na Enciclopédia Intercom de
Comunicação (2010), como aquilo que é utilizado, no
campo comunicacional, como material de estudo de ori-
gens variadas “começando pelo telegrafo e os jornais, até
a internet e a telefonia celular, para não falar do cinema,
rádio e televisão”. O estudo desses objetos, segundo a
Enciclopédia, deve manter “o foco no caráter mediador
de todos esses meios em relação ao processo histórico
mais amplo, sobretudo nos aspectos sociais, políticos,
econômicos e culturais”.
Esses termos, fonte e objeto, mais especificamente,
os papéis por eles desempenhados na relação entre os
campos da história e da comunicação, no que concerne
à construção da narrativa histórica, constituem a base
da discussão que se pretende levantar no presente artigo.
Partindo dessa relação, das definições de fonte e objeto
e entendendo, como Ribeiro (2000), que o jornalismo
exerce importante função na formação da ideia de his-
tória, de um lado, indicando os fatos cotidianos que de-
vem ser recordados no futuro e, de outro, por constituir
Temáticas Ocorrências
Ditadura 5
Feminino (mulheres na Imprensa) 3
Cobertura (guerra, tragédias, eleições, etc.) 7
Trajetória de personagem/ empresa 7
Jornalismo, cidade e sociedade 2
Pesquisa Histórica 3
Temática Ocorrência
Cidade e sociedade 2
Proposta didática 2
Jornalismo e literatura 2
Memória e Jornalismo 3
Período Ocorrências
Século XV - XX 1
Século XVII 1
Século XVIII 2
Século XIX 1
Século XIX para Século XX 11
Século XX 36
Século XXI 9
Tabela 4. Período. (GT História do Jornalismo Rede Alcar)
Período Ocorrências
Século XVI - XXI 2
Século XVII 1
Século XIX 1
Século XIX para Século XX 4
Século XX 18
Século XXI 2
Tabela 5. Período. (História do Jornalismo Intercom)
Conclusão
Ao problematizar as relações entre jornalismo e his-
tória na narrativa da história dos meios de comunicação
buscamos compreender, a princípio, o papel da mídia,
sobretudo, do jornal impresso, como fonte e objeto dos
estudos em História da Imprensa e da Comunicação. A
revisão bibliográfica nos levou a compreender a relação
entre o campo da história e o campo da comunicação,
suas ligações com o passado, as diversas abordagens de
narrativa histórica, o lugar da mídia nessas narrativas,
além dos desafios a serem enfrentados pelo pesquisador.
A partir disso, foi possível visualizar a imprensa em uma
abordagem que a faz fonte e objeto de pesquisa, como
exprime Luca, ao trabalhar com a exploração complexa
de textos e uma avalição minuciosa do seu lugar de in-
serção e contexto.
Referências
ALVES, Fábio Lopes; GUARNIERE, Ivanor Luiz. A utiliza-
ção da imprensa escrita para a escrita da História: diálo-
gos contemporâneos. Revista Brasileira de Ensino de Jor-
nalismo, Brasília, v.1 n.2 p.30-53, ago./nov.2007. Disponível
em http://www.fnpj.org.br/rebej/ojs/viewissue.php?id=7
Anais do XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação, de 1 a 5 de setembro de 2014, [recurso
eletrônico]: Comunicação, guerra e paz / organizado por
Marialva Barbosa, Maria do Carmo Silva Barbosa, Ariane
Carla Pereira Fernandes e Marcio Ronaldo Santos Fernan-
des. [realização Intercom, Unicentro, UDC, Unila e PTI]
– São Paulo: Intercom, 2014. Disponível em: http://www.
intercom.org.br/papers/nacionais/2014/trabalhos.htm
Anais do 9º Encontro Nacional de História da Mídia,
de 30 de maio a 1º de junho de 2013, [recurso eletrônico]:
Sites
https://historiadojornalismo.wordpress.com/
http://www.portalintercom.org.br/index.php
http://www.ufrgs.br/alcar
http://www.dicionariodoaurelio.com/
Definições de Cibercultura
O constante desenvolvimento tecnológico da internet
e dos dispositivos digitais de comunicação que se utili-
zam dela, aliado à cultura envolvida em seus usos evi-
denciam a emergência da cibercultura enquanto temá-
tica de estudos dentro do campo da comunicação. Tais
estudos sustentam-se na definição de Lévy (1999) a res-
peito da cibercultura. Segundo o autor, ela se apresenta
273
como “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais),
de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de
valores que se desenvolvem com o crescimento do cibe-
respaço” (1999, p. 17).
A partir dessa definição norteadora, é possível desta-
car o viés duplo que os estudos tomam, sendo dedicados
tanto à análise do desenvolvimento tecnológico em si,
quanto dos usos culturais que dão sentido às tecnolo-
gias. Incorporadas às práticas sociais contemporâneas,
as tecnologias dão origem a novas formas de interação
social. Conforme sustenta Lemos (2013), a cibercultu-
ra configura-se como uma forma de convergência entre
o social e o tecnológico, já que as novas mídias advin-
das do desenvolvimento tecnológico promovem novas
formas de sociabilidade. Lemos (2013) assim coloca a
cibercultura como a “sociedade estruturada pela conec-
tividade”.
Dessa forma, analisa-se que a cibercultura não deve
ser encarada como uma forma de cultura que surge sem
antecedentes, ou que começa a se manifestar apenas
com o desenvolvimento da internet. Ela é um sistema de
práticas e valores que se desenvolve com a incorporação
e mediação dos dispositivos digitais, mas que se ancora
nas práticas e valores já existentes em um determinado
sistema cultural e que se desenvolveu por meio de um
longo processo midiático caracterizado pela progressiva
personalização das tecnologias e conteúdos midiáticos
aos quais temos acesso (SANTAELLA, 2003).
Segundo Santaella (2003), essa personalização,
responsável por dar origem ao cenário cultural que
A Herança de Mcluhan
Marshall McLuhan foi um dos mais influentes teóri-
cos alinhados à chamada Escola de Toronto, grupo de
pesquisadores ligados à Universidade de Toronto que
se destacou por difundir a Teoria do Meio dentro dos
estudos comunicacionais. Conforme analisa Martino
(2014), a Teoria do Meio põe como foco de atenção as
características dos meios de comunicação e como eles
interferem na configuração das mensagens.
O autor sustenta que, para seus intérpretes da Escola
de Toronto - além de McLuhan, destacam-se Harold In-
nins, Joshua Meyrowitz e Derick de Kerckhove - os mo-
dos de compreender o mundo são determinados con-
forme as gerações interagem com suas mídias. Assim, a
perspectiva apregoada pelos membros do grupo coloca
os meios em uma posição de protagonismo nas análises
comunicacionais, ponto de vista inovador até então, já
que a maior parte das correntes teóricas da comunica-
ção voltavam sua atenção às intenções dos produtores
das mensagens ou aos efeitos destas nos públicos recep-
tores (WOLF, 2009).
Referências
CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões
sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janei-
ro: Zahar, 2003.
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. 2 ed. São
Paulo: Aleph, 2009.
JENKINS, Henry; GREEN; Joshua; FORD, Sam. Cultu-
ra da conexão: criando valor e significado por meio da
mídia propagável. São Paulo: Aleph, 2014.
300
logias permitem a fruição de conteúdo em tempo real,
em qualidade e quantidade antes jamais imaginadas, ao
mesmo tempo em que possibilitam a interação, o com-
partilhamento e a criação de novos conteúdos a partir
daquilo que está sendo consumido. Diante da emergên-
cia desses dispositivos, algumas tendências caminham a
se sobressair e merecem ser analisadas para que a com-
preensão sobre o que está acontecendo seja mais ampla.
No Jornalismo, a criação de conteúdo colaborativo e de
caráter hiperlocal aparece como prática oriunda desses
novos tempos.
Na prática, as tecnologias atuais derivam dos ajustes
estruturais do liberalismo global e alimentam trans-
formações que incidem diretamente sobre os meios de
produção e sobre os modos de trabalho material e sim-
bólico. Elas afetam também as relações econômicas, a
cultura e as sociabilidades cotidianas, sejam individuais
ou coletivas. Também se acredita que a possibilidade de
alteração de determinados padrões de produção e con-
sumo seja derivada, principalmente, do fato dos consu-
midores passarem a dispor dos recursos tecnológicos
para interferir nos produtos de comunicação midiática.
O desenvolvimento de diversas ferramentas de intera-
tividade permitiu a criação de um movimento crescente
de usuários ativos, que passaram a rejeitar a condição
de consumidores passivos de conteúdos midiáticos, al-
terado dessa forma, um ecossistema já traçado até então.
Assim, surgiu um contexto no qual parcelas crescentes
do público realizam intervenções criativas e alteram os
produtos que recebem em seus dispositivos, um fator
Cultura da convergência
Embora a ideia de convergência midiática não seja
nova, Henry Jenkins (2008) oferece a ideia de que o an-
tigo paradigma comunicacional baseado no broadcast
O jornalismo pós-industrial
Nessa sociedade informacional e convergente, pro-
cessos disruptivos vêm atingindo setores da impren-
sa que sempre basearam suas receitas na produção em
escala industrial de informação e na venda de espaço
publicitário. Com a falência desse modelo, já se fala no
surgimento de um jornalismo “pós-industrial”. O termo
ganhou fôlego em relatório da Universidade de Colum-
bia, nos Estados Unidos, e aponta que mudanças no
ecossistema do jornalismo estão provocando alterações
no processo de produção das notícias. Se no século XX
as empresas jornalísticas seguiam uma lógica industrial,
essa lógica deixou de fazer sentido no começo deste sé-
culo, dando origem ao que os autores denominam como
jornalismo pós-industrial. Na atual conjuntura, é cres-
cente a fuga de publicidade dos meios tradicionais, o
que financiou o jornalismo durante o século passado. E
o cenário não é muito animador quanto à retomada da
publicidade perdida através da internet, onde as marcas
Algumas considerações
As mudanças tecnológicas estabelecidas no final do
século XX mudaram radicalmente o ecossistema dos
meios de comunicação e tocam nesse início do sécu-
lo XXI todos os domínios da vida humana. Com o jor-
nalismo em específico não foi diferente. A alteração do
papel do jornalista, o uso massivo de redes sociais e o
crescimento de coberturas colaborativas questionam o
modelo industrial de jornalismo que se consolidou no
século passado. Além da mudança no processo, as em-
presas jornalísticas passaram a sofrer para se manterem
sustentáveis financeiramente.
A valorização da cobertura de âmbito local pode ofe-
recer alguma esperança nesse momento de incerteza do
Referências
ANDERSON, C. W.; BELL, E.; SHIRKY, C. Jornalismo
Pós Industrial. Revista de Jornalismo da ESPM, São Pau-
lo, n. 5, p.30-89, abril-junho.2013. Disponível em: <http://
www.espm.br/download/2012_revista_jornalismo/Re-
vista_de_Jornalismo_ESPM_5> Acesso em 25. Abr.2015.
CANCLINI, N.G. Consumidores e Cidadãos. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2005
Introdução
Quando se aborda a representação objetiva da realida-
de, é comum a utilização de números e estatísticas com a
intenção de mostrar precisão a respeito do tema tratado. A
328
matematização das ideias, portanto, age como legitimado-
ra das informações. Esse fenômeno ocorre tanto na ciência
quanto em práticas profissionais, sobretudo aquelas que se
fazem assumir como referenciais, como no jornalismo.
Neste, aliás, os números conferem credibilidade à in-
formação, fazendo com que o público passe a acreditar
com mais segurança no conteúdo descrito. Nesse con-
texto, os infográficos passaram a preencher papel im-
portante ao detalhar os dados e torná-los visualmente
mais atrativos.
A proposta desta pesquisa é abordar como a cons-
trução discursiva influencia o efeito de sentido e, con-
sequentemente, o entendimento das matérias jornalís-
ticas. Focamos nos casos do Estadão Dados e do jornal
Folha de S. Paulo em matérias que utilizam o jornalismo
de dados e infografia.
O jornalismo de dados
A utilização de bases de dados numéricas no jorna-
lismo ganhou mais recorrência sobretudo no final da
década de 1960. Nesse momento, houve o desenvolvi-
mento do chamado Jornalismo de Precisão – a partir do
qual derivaram as técnicas do Jornalismo Guiado por
Dados, conforme ficou mais conhecido atualmente –
com Philip Meyer, então repórter do Detroit Free Press.
4. Numbers are like fire. They can be used for good or ill. When
measured, they can create illusions of certitude and importance
that render us irrational
Referências
ALSINA, Miguel. A construção da notícia. Tradução de
Jacob A. Pierce. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
BARTHES, Roland. O rumor da língua. Trad. Mário
Laranjeira. São Paulo: Cultrix, 1984.
CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano. Petrópo-
lis: Vozes, 1994.
______. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense-
-Universitária, 1982.
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São
Paulo: Contexto, 2010.
FIORIN, José Luiz. O pathos do enunciatário. Alfa, 2
(48), p. 69-78, 2004.
______. O sujeito na semiótica narrativa e discursiva.
Semiótica e Comunicação, 4(8), 2004.
FLUSSER, V. O Mundo Codificado: por uma filosofia
do design e da comunicação. São Paulo: Cosac Naify,
2007.
Introdução
O presente artigo visa correlacionar duas visões de
teóricos acerca do Jornalismo. O primeiro deles é Mi-
quel Rodrigo Alsina, com a obra A construção da no-
tícia e o segundo é Mauro Wolf e as suas ideias sobre o
Newsmaking por meio do livro Teorias das Comunica-
ções de Massa. A fim de cumprir essa meta serão apre-
sentadas as concepções de ambos os autores para que,
seguidamente, possam ser comparadas, indicando no
que se assemelham e em que divergem. Com os resulta-
352
dos dessa análise, inclui-se também apresentar proble-
máticas contemporâneas relacionadas às perspectivas da
mídia impressa na sociedade atual, marcada pela massi-
ficação da internet e das tecnologias digitais.
A estrutura desse trabalho está definida da seguin-
te maneira. No tópico O fazer jornalístico para Rodrigo
Alsina são detalhadas as concepções do pesquisador. De
todo o seu estudo, foi definido um recorte, o qual com-
preende quatro capítulos que englobam noções sobre o
acontecimento, sua determinação pela mídia, as fontes e
o trabalho jornalístico.
Em O Newsmaking e a produção da notícia para Wolf
compreende-se a exposição dessa abordagem teórica
para esse estudioso, que contempla os conceitos de No-
ticiabilidade e Valores-notícia, demonstrando sua ori-
gem, suas lógicas e como enquadram e interpretam as
etapas da produção da informação.
Já no tópico Análise: correlacionando a visão dos au-
tores será feito o cruzamento das ideias. Sua esquemati-
zação parte inicialmente de um esboço que detalha as
principais fases da construção noticiosa, elaborado pelo
autor desse texto e que tem por finalidade ser um parâ-
metro de comparação. A partir dele será possível consta-
tar as temáticas abordadas, as semelhanças e as diferen-
ças, ou seja, detalhar os resultados conquistados.
Finalmente, em Considerações: possibilidades e desa-
fios do jornalismo impresso na era da sociedade digital é
contemplado o desdobramento alcançado, que se pro-
põe a refletir sobre o cenário social atual, marcado pela
expansão das tecnologias e pelo seu uso na obtenção de
Referências
BACHELARD, Gaston. Ensaio sobre o conhecimento
aproximado. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2004.
375
manutenção da imagem da empresa e para a gestão de
crises, entre outras atribuições. Preservar a memória,
para as sociedades modernas, tornou-se o antídoto con-
tra o tempo e o implacável esquecimento.
Para entender como se deu esta transição, antes, é
preciso recorrer aos conceitos básicos que envolvem o
tema. As diferenciações entre história e memória, suas
limitações e confusões, bem como a evolução dos con-
ceitos no decorrer dos anos serão trabalhados no tópico
a seguir.
Memória organizacional
A transição da memória do campo da coletividade
para o campo organizacional se deu de maneira natu-
ral, visando suprir uma necessidade da contempora-
neidade. No mundo atual dos negócios, marcado pela
globalização e pela forte competitividade, as empresas
precisam provar dia a dia seu valor, oferecendo aos seus
Referências
ALMEIDA, Juniele Rabêlo de. Historicidade, sujeito e
oralidade. In: MARCHIORI, Marlene. História e Me-
mória. São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2013;
Rio de Janeiro: Editora Senac Rio de Janeiro, 2013. p.
43-52.
BARBOSA, Marialva Carlos. História e memória como
processo de reflexão e aprendizado. In MARCHIORI,
Marlene. História e Memória. São Caetano do Sul, SP:
Difusão Editora, 2013; Rio de Janeiro: Editora Senac Rio
de Janeiro, 2013. p.62-73.
Introdução
No ano de 2013, o país inteiro foi surpreendido por
uma série de manifestações que ocorreram em junho e
nasceram da reivindicação contra o aumento da tarifa
para trens, ônibus e metrô. Posteriormente essas mani-
festações expandiram suas pautas e levantaram bandei-
ras mais difusas e menos pontuais em sua fase final.
Tais manifestações podem ser consideradas as
maiores desde as “Diretas Já” e os “Caras pintadas”,
e, de uma maneira geral, de acordo com Silva et al
(2014, p. 7), podem ser pensadas “como parte de no-
vos processos de ação coletiva que vêm se desenhan-
do nas últimas décadas”.
405
É preciso destacar que um dos elementos de grande
importância neste processo é a comunicação social por-
que tanto os meios mais tradicionais quanto os meios
mais recentes desempenharam papéis importantes por-
que serviram de eco para vozes de diversos atores que
participaram do evento.
Torna-se interessante então verificar como os meios
se comportaram diante do evento que sacudiu as princi-
pais capitais do país e como as pesquisas em comunica-
ção analisaram o processo, percebendo como atendem
às teorias do jornalismo e às teorias dos movimentos
sociais, baseadas nas ideias de Gohn e Taquina. Foi pos-
sível verificar ainda com que qualidade e comprometi-
mento cidadão e social os meios desempenharam o pa-
pel/dever de informar.
Para constituição do corpus de análise, fizemos o res-
gate dos artigos científicos, sintetizando as afirmações
e conclusões do estado do conhecimento que direcio-
nou seu olhar/pesquisa para as manifestações de junho
de 2013, considerando todo o conhecimento produzido.
Buscamos durante o mês de abril de 2015, bancos de
dados de artigos de revistas acadêmicas da comunica-
ção2, nos anais dos Grupos de Trabalho da Intercom3 e
2. http://www.revistas.univerciencia.org/
3. http://www.portalintercom.org.br/index.php?option=com_
content&view=article&id=1081&Itemid=134
4. http://www.compos.org.br/biblioteca.php
5. http://www.periodicos.capes.gov.br/
Metodologia do trabalho
Para contribuir com a problematização em torno de
como as manifestações foram abordadas nas pesquisas
em comunicação, concatenamos os trabalhos científicos
que retrataram a questão. Primeiro, fizemos a busca, se-
leção e identificação desses trabalhos. Constituímos um
corpus com 44 artigos científicos que analisaram de al-
guma maneira manifestações de junho de 2013. Poste-
riormente, realizamos a leitura e sistematização das in-
formações dos textos em uma tabela onde destacamos: o
título, autores, objetivos, metodologia, contextualização
e pressupostos e principais conclusões.
Em princípio o estudo tentou abarcar apenas traba-
lhos sobre a cobertura de diversos veículos em relação
às manifestações. Porém, devido à escassez de trabalhos
com essa delimitação nas bases de dados, decidimos en-
globar então todos os trabalhos que estabeleceram certa
relação entre a comunicação e as jornadas de junho.
Dos artigos selecionados, oito são do Intercom 2013,
nove são do Intercom 2014, três são, excepcionalmente,
do Intercom Junior 2014, por sua relevância e objeto, 15
são do portal Univeciência, quatro são da Compós, qua-
tro do banco de dados da Capes e um estudo, organizado
Reflexões finais
Através deste estudo, com a descrição das pesquisas
coletadas, foi possível verificar o estado do conhecimento
Referências
ALDÉ, Alessandra e SANTOS, João Guilherme Bastos
dos. AS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO: Estratégia
em rede para resistência civil. XXIII Encontro da As-
sociação Nacional dos Programas de Pós-Graduação
em Comunicação (Compós), na Universidade Federal
do Pará, Belém, de 27 a 30 de maio de 2014. Disponível
em: http://compos.org.br/encontro2014/anais/. Acesso
em abril de 2015.
AMÂNCIO, Marina e DE PAULA, Leandro. A Utiliza-
ção das Mídias Digitais nas Manifestações Ocorridas
no Brasil em 2013. In: Congresso Brasileiro de Ciências
da Comunicação, XXXVII, 2014, Foz do Iguaçu (Anais).
Paraná: Unicentro, UDC, Unila e PTI. Disponível em:
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2014/re-
sumos/R9-1045-1.pdf. Acesso em: abril de 2015.
Introdução
O interesse do homem pela interação entre orga-
nismos é marcante. Desde a origem dos agrupamentos
humanos, a sobrevivência do homem é vinculada à ne-
cessidade de interpretar corretamente os pistas deixadas
fornecidos pelo ambiente. O avanço da tecnologia e da
ciência pode mascarar esta dependência, mas grande
parte das atividades humanas ainda está atrelada aos
ciclos biogeoquímicos mais basais do planeta, como o
regime de chuvas, as estações do ano e a obtenção de
alimento. As primeiras representações pré-históricas da
461
relação entre os animais e homem é relatado nas pintu-
ras e gravuras rupestres. Elas são as representações da
percepção do homem pré-histórico sobre o meio. Mui-
tas delas ilustram as atividades de caça e coleta, essen-
ciais para que tais comunidades prosperassem no con-
texto pré-histórico. Contudo, as constantes mudanças
no contexto das sociedades humanas também exercem
modificações na percepção que os indivíduos inseri-
dos nestes contextos têm acerca das relações entre or-
ganismos. Mais do que isto, os níveis de compreensão
desta relação se modificam junto com as mudanças no
contexto. Da caça realizada pelo homem pré-histórico
às pesquisas em epigenética molecular contemporâne-
as, as premissas básicas de compreensão se mantêm as
mesmas: as relações dos organismos entre e si e com o
ambiente. Por serem pautadas pela visão de mundo hu-
mana, esta relação é estudada e compreendida por um
viés antropocêntrico.
Por estarmos contidos numa esfera de “conhecimen-
to humano”, os “fenômenos não humanos”, que relacio-
nam um conjunto de elementos não humanos entre si
e com o ambiente, são compreendidos por uma visão
antropocêntrica do fenômeno. Como estamos excluídos
do processo, nossa parca compreensão do todo é base-
ada nos fragmentos de contexto sociocultural humano,
o que pode levar a uma apreensão de sentido equivoca-
da. Um processo de comunicação animal, por exemplo,
deve levar em consideração fenômenos físicos, evoluti-
vos, ecológicos, contextuais e econômicos que são en-
tendidos de modo distinto entre os organismos. Muitas
O problema da definição
O substantivo “canto” pode ser definido da seguin-
te maneira:
Música animal?
Para continuarmos a discussão, é preciso abordar a
comunicação vocal dos animais com maior profundida-
de. Peter Marler, etólogo norte-americano, em seu tex-
to “Origins of Music and Speech: Insights from Animals”
(2000) revisa os principais tópicos atuais dentro do es-
tudo da comunicação simbólica e afetiva nos animais.
Conclusão
Afirmar que “aves não cantam” é difícil, já que a tra-
dição histórica aproxima a música humana e a comuni-
cação animal. Durante séculos, o apelo estético das aves,
com suas plumagens exuberantes e suas vocalizações
melodiosas, foi justamente o fator que impulsionou as
pesquisas científicas e permitiu que os conhecimentos
básicos acerca da biologia destes animais fossem desven-
dados. Todavia, não há mais necessidade de se pautar o
conhecimento científico em bases estéticas e subjetivas.
Ao dizer que uma ave “canta”, um pesquisador deve estar
ciente de todo o simbolismo por trás do termo. Como foi
discutido aqui, ainda não há provas conclusivas de que
aves são capazes de produzir sentenças que apresentem
uma sintaxe lexical típica das composições humanas.
Ainda que algumas delas vocalizem em padrões seme-
lhantes ao modos tonais e rítmicos da música humana, a
Referências
CATCHPOLE, C. K.; SLATER, P. J. B. Bird Song: Bio-
logical Themes and Variations. 2ª Ed. Cambridge: Cam-
bridge University Press, 2008, p. 8.
CHENEY, D. L.; SEYFARTH, R. M. How monkeys see
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Chicago: Chicago University Press, 1990.
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n. 1, p. 55-85, 2012.
FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário da língua por-
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GILL, F. Vocalizations. In:______. Ornithology. 3ª
ed. Nova Iorque: W. H. Freeman and Company, 2007.
p 217-218.
1. E-mail: mcarol.srvieira@gmail.com
491
por vezes tão desconexas? O que faz um acontecimento
longínquo parecer ter tamanha importância para quem
está distante? Enfim, como se coloca “ordem” em um
mundo tão conectado quanto complexo? Ainda que
nesta modernidade tardia o individualismo predomine
e tudo o que faz referência ao tradicional e institucional
perca o valor, não é difícil enxergar que o jornalismo
ainda tem a capacidade de responder a tais questiona-
mentos, principalmente por meio de suas funções, por
vezes clássicas, por vezes repaginadas, mas sempre de
caráter mediador e democrático. O jornalismo interna-
cional, por sua vez, vê esta capacidade aumentada ao
ser o elo não só entre fatos e localidades, mas, sobre-
tudo, entre ideias e pessoas. Diante de tais considera-
ções, este capítulo busca trazer um panorama geral da
situação do jornalismo (e, em especial, do jornalismo
internacional) hoje, sob a luz de como ele adapta suas
funções e potencialidades diante das mudanças trazidas
por um contexto cada vez mais globalizado e regido por
interesses alheios aos ideais jornalísticos.
Referências
BIANCHI, Paula & HATJE, Marli. Mídia e esporte: os valo-
res-notícia e suas repercussões na sociedade contemporâ-
nea. In: Motrivivência, Ano XVIII, Nº 27, 2006, p. 165-178
CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos:
conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2005
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-moderni-
dade. Rio de Janeiro: DP&A, 2002
HOHENBERG, John. O jornalista profissional: guia às
práticas e aos princípios dos meios de comunicação de
massa. Rio de Janeiro: Interamericana, 1981
KOVACH, Bill & ROSENSTIEL, Tom. Os elementos do
jornalismo. O que os jornalistas devem saber e o públi-
co exigir. Geração Editorial, 2003
LINS DA SILVA, Carlos Eduardo. Correspondente in-
ternacional. Editora Contexto, 2011
MATELLART, Armand. A globalização da comunica-
ção. Bauru: EDUSC, 2000
Apresentação do tema
Introdução
520
O enfoque deste artigo se dá principalmente sob a re-
lação organizacional, onde as relações gênero/sexualidade
nunca foram tidas como elementos a serem discutidos. As
empresas sempre foram um ambiente heteronormativo,
onde as minorias são silenciadas e não levadas em consi-
deração a inter-relação de seus membros, assim como suas
características relativas à interculturalidade. Sem dúvida,
tais elementos podem influenciar a produtividade e a sa-
tisfação no ambiente de trabalho junto aos colaboradores.
Ao se pautar esta decisão, espera-se gerar um maior espa-
ço de discussão e aceitação desta temática, derrubando-se os
tabus envolvendo tais temas. Nota-se que estas mudanças se
dão em função da pressão dos movimentos sociais no sentido
da inclusão desta junto às políticas públicas, cobrando assim
direitos. Este trabalho tem a intenção de fazer uma análise
bibliográfica que possa abranger desde informações teóricas,
onde possa buscar definições muitas vezes desconhecidas e
pouco divulgadas sobre o assunto, dando uma ênfase, neste
ponto à educação sobre o tema, suas relações culturais, tendo
em vista mais especificamente o ambiente das organizações,
envolvendo assim conceitos baseados em teorias da comu-
nicação, a necessidade de se realizar a interculturalidade e a
quebra de paradigmas decorrentes deste padrão cultural he-
teronormativo dentro do ambiente laboral.
Conclusão
Partindo-se de um contexto histórico do movimento
LGBT, desde suas primeiras lutas por direitos, até sua
atual representatividade, como a comunicação através
de suas mediações pode agir de forma colaborativa/
transformadora na implantação/desenvolvimento de
uma cultura organizacional inclusiva, envolvendo con-
ceitos de responsabilidade social empresarial, a criação
de um ambiente organizacional favorável para que a
pessoa LGBT possa viver harmoniosamente e ter seus
direitos respeitados em nível de igualdade, minimizan-
do-se assim os efeitos da homolesbotransfobia.
Referências
BRITO, Jaqueline. Estratégias Proativas da Diversi-
dade Sexual nas Organizações. 2014. 99 f. Disserta-
ção (Mestrado Profissional) – Escola de Administração,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014. Dis-
ponível em: <https://www.repositorio.ufba.br/ri/bits-
tream/ri/17219/1/DISSERTA%C3%87%C3%83O%20
JAQUELINE%20FINAL%20REVISADA%2019-11%20
PDF%202.pdf>. Acesso: 21 Maio 2015.
CANDAU, Vera Maria. Direitos humanos, educa-
ção e interculturalidade: as tensões entre igualda-
de e diferença. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro , v.
Introdução
Infidelidade, traição, violação... Esses e outros termos
são usualmente utilizados para se referir a uma adap-
tação literária. Comumente tida como cópia de um ro-
mance, o filme adaptado de uma literatura tende a ser
cobrado pela sua fidelidade à obra original e cria expec-
tativas ao telespectador leitor.
546
Porém, é necessário partirmos do pensamento do
teórico russo Mikhail Bakhtin para teorizar que, além
da liberdade de cada artista ao dirigir a sua adaptação,
devemos considerar a prática intertextual e o dualismo
já citado há muitos anos pelo linguista.
Os estudos sobre os diálogos entre signos surgiram no
meio do século XIX, quando Bakhtin começa a tratar em
suas obras sobre semiótica e estética da linguagem as re-
lações existentes em diversos textos, como se esses se en-
trelaçassem formando uma trama com seus significados.
Stam justifica a relação de Bakhtin com diversas áreas
dos estudos culturais. Segundo ele, embora os estudos
do filósofo russo tenham destaque no campo da linguís-
tica, suas disciplinas vão de encontro à critica literária
e à antropologia, revelando-se ainda, um campo fértil
para os estudos de cinema. “Até o momento, na historia
da reflexão sobre o cinema, Bakhtin tem sido conside-
rado o teórico do carnaval e das inversões rituais, tais
como refletidos nas diegeses dos filmes e, quando fil-
trado através de Kristeva e Genette, como um dos pen-
sadores seminais das discussões contemporâneas sobre
“intertextualidade””. (STAM, pg. 59, 1992).
Segundo o estudioso da comunicação e cinema
Robert Stam, em seu ensaio “Teoria e Prática da
Adaptação: da fidelidade à intertextualidade”, a se-
miótica estruturalista das décadas de 1960 e 1970,
tratava somente das significações compartilhadas
pelos sistemas textuais. No entanto, com os estudos
de Julia Kristeva e Gerad Genette, no final da déca-
da de 70, a teoria da intertextualidade ganha força
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. Ed.
Martins Fontes. São Paulo, 2000.
_______. Questões de Literatura e de Estética. Ed.
Unesp. São Paulo, 1993.
BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinema-
tográfico. Campinas: Editora Unicamp, 2013.
1. E-mail: octavio.n.neto@gmail.com
571
de policial, terror, aventura, fantasia e diversos outros,
assim como visto no cinema. Os personagens de uma
série são sempre muito bem definidos desde o primeiro
capítulo. Grande parte do sucesso do seriado depende
de o espectador criar empatia por esses personagens e
querer acompanhar as suas trajetórias, afinal, estender-
-se-ão vários episódios em torno deles.
O desenvolvimento de uma planejada disposição do
enredo de acordo com o caráter episódico é essencial
para garantir que a produção seja bem-sucedida. Re-
lacionado a essa questão está a frequência de acompa-
nhamento destes fragmentos por parte do público. De
acordo com Médola:
As características da TV em fluxo
Para entender esse novo modo de veiculação dos se-
riados é necessário compreender como eles são trans-
mitidos em fluxo na TV. A televisão segue uma pro-
gramação. O espectador tem opção de ligar/desligar e
O Binge Whatching
Binge whatching é uma expressão comum para os nor-
te-americanos. Também usada como binge viewing, em
Referências
CANNITO, N.G. A TV 1.5 – A televisão na era digital.
2009. 293 f. Tese de Doutorado. Universidade Estadual
Paulista - ECA, São Paulo, SP.
FECHINE, Y. This is the End: Elogio à programação: Re-
pensando a televisão que não desapareceu. In: M. CAR-
LÓN; Y. FECHINE; (Org.), O fim da televisão. Rio de
Janeiro: Confraria do Vento, 2014. p. 114-131.
JENKINS, H. Cultura da convergência. Tradução de
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KULESKA, J.; BIBBO, U. de S. A televisão a seu tempo: Ne-
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vez. In Revista de Radiodifusão. – SET, 2013, 7(8): p. 44-51.
MACHADO, A. A televisão levada a sério. São Paulo:
Senac, 2000. 245 p.
_______. Fim da televisão? Revista Famecos, Porto
Alegre, v.18, n.1, p. 86-97, janeiro/abril 2011.
598
o objetivo era conduzir a bola para dentro do terri-
tório do outro e era praticado em dias festivos.
Porém, o futebol propriamente dito só surgiu na In-
glaterra por volta de 1800. Foi lá que ele ganhou regras e
foi sistematizado. No ano de 1848, numa conferência em
Cambridge, estabeleceu-se um código de regras para o
jogo. Mas somente em 1871 foi criada a figura do goleiro
que seria o único que poderia colocar as mãos na bola e
deveria defender o gol. Aos poucos o esporte foi criando
forma e mais regras, como a do pênalti, penalidade má-
xima do futebol, e a do impedimento, que só chegaram
mais tarde em 1891 e 1907 respectivamente.
No Brasil, considera-se que o pai do futebol foi
Charles Miller. Nascido no Brasil ele foi à Inglaterra
para estudar. Quando voltou, em 1894, teria trazido
duas bolas na bagagem e somente no ano seguinte
reuniu amigos para disputar o que seria a primeira
partida de futebol no país.
Porém antes de se popularizar e estar em todos os
lugares, o futebol, no Brasil e no mundo era praticado
apenas por uma elite branca, principalmente nas cida-
des de São Paulo e do Rio de Janeiro. E se já era difícil
ter pessoas das classes populares envolvidas com esse
esporte quem dirá negros que tinham acabado de se-
rem libertos da escravidão. Um dos exemplos mais uti-
lizados para ilustrar as dificuldades enfrentadas pelos
clubes que “teimavam” em inserir negros na equipe é o
do Bangu Atlético Clube. O clube foi o primeiro no es-
tado do Rio de Janeiro a escalar um atleta negro, Fran-
cisco Carregal, em 1905 para disputar o Campeonato
Conclusão
Ao contrário do que muita gente pensa o futebol não
nasceu no Brasil. Ele veio da Inglaterra trazido por estudan-
tes, membros da elite do país, e era jogado apenas por mem-
bros da alta sociedade. Pessoas da classe mais baixa, prin-
cipalmente negros, não tinham acesso ao novo jogo. Mas
Referências
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede e os Movi-
mentos Sociais. Porto Alegre: Editorial, 2014.
CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança
– Movimentos sociais na era da internet. 1 ed.- Rio de
Janeiro: Zahar, 2013.
CHAMADOIRA, João, B, N. Linha de Passe: a gran-
de metáfora. (in) MARQUES, José Carlos; TURTELLI,
Sandra Regina. Futebol, Cinema & Cia: ensaios. São
Paulo: Cultura acadêmica, 2011.
DaMATTA, Roberto et al. Universo do Futebol: Esporte
e Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.
630
Neste texto, não tenho intenção de realizar um re-
sumo completo do que vem sendo discutido nos estu-
dos de fãs, nem esgotar as perspectivas de olhares sobre
o tema, mas sim iniciar uma discussão sobre como os
aparatos teóricos a que temos acesso hoje servem para
explicar o contexto favorável às atividades de fãs atual-
mente, para delinear o ponto de vista sobre as práticas
das comunidades de fãs, além de pensar sobre os estu-
dos específicos do tema.
Cabe aqui destacar a relevância dos estudos de fãs
como uma maneira de compreender a interação do indi-
víduo com a sociedade em um mundo mediado, porque
permite “explorar alguns mecanismos chaves por meio
dos quais nós interagimos com o mundo mediado no co-
ração das nossas realidades e identidades sociais, políticas
e culturais” 2 (GRAY ET AL., 2007). No mesmo texto é
defendido que o futuro dos estudos de recepção e público
demandam estudos profundos e inovadores sobre fãs em
todas as suas formas, identidades, meios e espaços.
A construção de um fandom
Nesse ponto, cabe observar a maneira que se cons-
troem e se identificam as comunidades de fãs. Podemos
encontrar tanto exemplos mais tradicionais, como os
whovians, fãs do seriado Doctor Who, ou os Trekkers,
fãs de Star Trek, até a nerdfighteria, fãs dos irmãos John
e Hank Green, e as Directioners, fãs de One Direction,
passando pelos Potterheads, fãs de Harry Potter. Essa
participação em uma comunidade e a identificação
como um deles reflete a ideia de Thompson (1998) sobre
a importância da comunidade para os fãs: “a possibili-
dade de se tornar parte de um grupo ou comunidade,
de desenvolver uma rede de relações sociais com outros
que compartilham a mesma orientação.” (p. 194) A co-
munidade de fãs se distingue de outros tipos de comuni-
dades por não se definir a partir de um lugar particular,
mas inicialmente de interesses em comuns.
14. Tradução da autora para: “it’s about having control and mastery
over art by pulling it close and integrating it into your sense of self.”
O fã produtor
Um dos reflexos dessa mudança é o envolvimento
de um indivíduo em um fandom não só pelo interes-
se em comum com os outros fãs, mas pela possibilida-
de de utilizar os seus talentos e divulgar seus trabalhos
para o público formado por aqueles fãs, como lembra
Duffett (2013): “Muitos desses jovens são levados às co-
munidades de fãs – não por sua relação apaixonada e
afetuosa com o conteúdo de mídia, mas por que essas
comunidades oferecem a eles a melhor rede para levar
o que eles produziram para um público maior.”15 Esse
16. Tradução da autora para: “It’s great that we are seeing so many
fan writers on the New York Times best-sellers list, and that
some fan vidders are making money doing film editing or cre-
ating book trailers, and that fannish sysadmins and coders are
stepping forward to take information technology jobs”
Referências
CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos: confli-
tos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Ed.
UFRJ, 2008a.
COPPA, F. Fuck yeah, Fandom is Beautiful, Journal of
Fandom Studies v. 2, n. 1, 2014, p. 73–82.
656
das zonas industrializadas e dos supermerca-
dos que são plantados os painéis que nos convi-
dam a visitar os monumentos antigos: ao longo
das rodovias, que se multiplicam as referências
às curiosidades locais que deveriam reter-nos
enquanto só passamos, como se alusão ao tem-
po e aos lugares antigos, hoje, fosse apenas uma
maneira de dizer o espaço presente.” (AUGÉ,
2012, p.69)
Referências
AUGÉ, Marc. Não lugares: introdução a uma antropolo-
gia da supermodernidade. Tradução de Maria Lúcia Pe-
reira. Campinas, SP: Papirus, 2012.
AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP: Papirus, 1993.
BAUDRILLARD, Jean. A Transparência do Mal: ensaio so-
bre os fenômenos extremos. Campinas, SP: Papirus, 1990.
___________________ Tela Total – mito-ironias da era
do virtual e da imagem. Porto Alegre: Sulina, 2002.
BAZIN, André. O Cinema. São Paulo: Brasiliense, 1991.
BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido se dissolve no ar.
Rio de Janeiro: Edições 70, 1982.
BLAKE, William. O casamento do céu e do inferno e ou-
tros escritos. Porto Alegre: L&PM, 2007.
Referência filmográfica
ARCA Russa. Direção: Aleksander Sokúrov. Produção:
Rússia [S.I.]: Versátil Home Vídeo, 2002. 1 DVD (97
min), NTSC, color. Título original: Russkiy Kovcheg.
FAUSTO. Direção: Aleksander Sokúrov. Produção: Rús-
sia [S.I.]: Imovision, 2002. 1 DVD (139 min), NTSC, co-
lor. Título original: Faust.
MÃE E FILHO. Direção: Aleksander Sokúrov. Produ-
674
Diversas teorias foram elaboradas com a proposta de
desvendar como se operam os processos de produção de
sentido no cinema, bem como as representações cinema-
tográficas afetam a forma como o espectador vê o mundo.
A significação ocupa um papel de destaque nas discus-
sões acadêmicas sobre cinema, do mesmo modo como o
público extrai e utiliza os quadros simbólicos de referên-
cia que são fornecidos através da imagem em movimento.
Destarte, os limites entre o encenado e o vivido na con-
cretude cotidiana tendem a se tornar mais fluidos, já que
os procedimentos cinematográficos resultam em uma ‘im-
pressão de realidade’ que deve ser assumida pelo público
(METZ, 2012). O cinema, visto como construção simbóli-
ca, passa a efetuar uma operação de caráter ideológico que
permite guiar o sistema cultural através de representações
sociais, que por sua vez fornecem as bases para estruturar
cognitivamente os comportamentos individuais e coletivos.
O cinema não representa somente o espetáculo que fas-
cina mundialmente cada vez mais apreciadores, mas uma
realização de ordem ético-moral que permite trazer às te-
las elementos dinamizadores da cultura, quanto reflexos da
própria cultura, de modo a construir o imaginário social que
permeia as relações entre os indivíduos. (MORIN, 1977)
Em vista disso, o cinema pode construir, desconstruir,
afirmar, legitimar ou até mesmo deslegitimar identida-
des através de seus processos de produção de sentido,
empreendimento que traz desdobramentos para a toda
a vida em sociedade, como será visto adiante.
Neste artigo, são discutidas a representação social e a
construção de identidades no cinema, além de seus impactos
Frequência de ocorrências
Enganador, Manipulador 5
Lobista 4
Porta-voz 3
Leal 1
Mediador 1
“Advogado da marca” 1
Considerações Finais
O Cinema pode ser visto não só como meio de co-
municação ou campo estético e artístico, mas deve ser
analisado também sob o viés sociológico e interpreta-
tivo, uma vez que se propõe a fornecer os quadros de
referência que servem como base de construção para
o universo simbólico dos indivíduos e grupos sociais.
As narrativas cinematográficas se constituem de pro-
cessos de produção de sentido que reproduzem e pri-
vilegiam certas representações sociais de acordo com
seus interesses e posicionamentos ideológicos, o que
se desenvolve na visão de mundo mostrada nas telas.
Estes desdobramentos permitem que a realidade seja
apresentada e explicada aos indivíduos, de forma que
suas construções simbólicas sejam pautadas através
Filmografia
Introdução
O momento atual do mercado publicitário en-
contra-se em constante transformação. Satisfazer o
consumidor apenas com sacadas criativas na publi-
cidade tem se tornado um papel cada vez mais árduo
para os profissionais da área. Desde que o consumi-
dor conquistou o poder de questionar as mensagens
das marcas e interagir com elas, o ambiente e o mo-
delo de comunicação têm mudado. O que antes era
704
um monopólio, hoje se torna cada vez mais um diá-
logo direto entre consumidor e marca.
De acordo com Lemos (2015, p. 16), o propósito da
marca impacta o consumo, e hoje os aspectos funcionais
e aspiracionais já não bastam para nutrir a comunicação.
Ainda segundo o autor, “a era do engajamento impõe
uma nova dinâmica. E o nome do jogo agora é diálogo”.
A alteração de formatos e movimentos faz com que
os profissionais de comunicação necessitem adaptar-se
às mudanças culturais na sociedade. Tais modificações
têm acontecido com maior intensidade após o boom da
pós-modernidade, que fabrica uma transformação da
realidade em signos e intensifica o real, criando assim
necessidades de consumo antes não existentes.
Segundo Ribeiro (2015, p. 34), “as intensas transfor-
mações nos hábitos de consumo de conteúdo provocam
revisões constantes nos diversos sistemas de verificação
de audiência e deixam clientes e agências ansiosos sobre
qual o melhor método”.
As empresas e agências tendem a ter que adaptar-se rapi-
damente em suas estratégias para progredir e entrar no rit-
mo dos novos tempos. Considerando a dinâmica do ecos-
sistema da comunicação, tem-se a visão de que há tempos
não é mais possível depender de um único tipo de mídia. O
atual consumidor é multiplataforma e é importante trans-
mitir a mensagem em todos os canais que ele se encontra.
Referências
BARROS, D. L. P. de. Teoria do discurso: fundamentos
semióticos. São Paulo: Atual, 2011.
_________________. Teoria semiótica do texto. São
Paulo: Ática, 2011.
BRITO, C. M.; LENCASTRE, P. Novos horizontes do
marketing. Portugal: Dom Quixote, 2014.
CARRASCOZA, J. A. A evolução do texto publicitário:
a associação de palavras como elemento de sedução na
publicidade. São Paulo: Futura, 1999.
__________________. Razão e sensibilidade no texto
publicitário. São Paulo: Futura, 2004.
COVALESKI, R. Cinema, publicidade, interfaces. 1.
ed. Curitiba, PR: Maxi Editora, 2009.
CRUZ, S. S. O Círculo Dourado na comunicação. Meio
e Mensagem. Edição nº 1658. São Paulo, 2015.
FABRIS, G. Il nuovo consumatore: verso il postmoder-
no. Milano, Franco Angeli, 2003.
Introdução
Esta pesquisa pretende analisar as relações estabelecidas
entre a cultura brasileira e a prática do futebol no Brasil, a
partir do lugar-comum de que seria praticado entre nós o
chamado “futebol arte” (onde se valorizam a individualidade
723
do craque, por meio dos dribles, da ginga e da habilidade),
e através das ideias de Foucault (1999), entender como este
discurso tornou-se, aparentemente, predominante, mesmo
que a academia esteja desmistificando esta ideia através de
estudos. Para tanto, serão estudadas as vinhetas de divulga-
ção da Copa do Mundo de 2014 produzidas pelas emissoras
de TV aberta (Band e TV Globo), responsáveis pela trans-
missão do evento no Brasil, já que ao que parece, a mídia é
uma das principais difusoras desta visão na sociedade.
A cultura de uma nação, como não poderia deixar
de ser, influencia diversas atividades praticadas por seus
habitantes. Uma dessas atividades, a prática dos espor-
tes, normalmente está carregada de simbolismos rela-
tivos à cultura, desde a definição da modalidade mais
popular no país até a forma como ela é praticada.
De acordo com o historiador holandês Johan Huizin-
ga (2000), o jogo é anterior à cultura e o responsável por
influenciá-la. Segundo ele, embora a cultura esteja dire-
tamente relacionada aos seres humanos, já que é institu-
ída por eles, o jogo nasce de forma primitiva, através dos
animais, sendo este o principal argumento que compro-
varia a ordem em que ambos surgiram. Huizinga (2000)
afirma ainda que as grandes atividades da sociedade hu-
mana, como, por exemplo, a linguagem e os mitos, são
definitivamente marcadas pelo jogo. E, para ele, o jogo
seria um elemento independente, que não desempenha
função moral alguma, o que impossibilitaria que fossem
aplicadas a ele noções de vício e virtude. No entanto, ele
estaria incluso no domínio da estética, mesmo que não
se possa afirmar que a beleza seja inerente ao jogo.
O desafio da pesquisa
O campo de estudo da comunicação se apresenta como
um espaço interdisciplinar onde são necessários aportes
de outros campos para um estudo que seja de caráter sig-
nificativo para a construção do conhecimento científico.
Da mesma forma, o campo de estudo da linguagem visu-
al se amplia para outras áreas de conhecimento em busca
de um entendimento sobre o seu papel como objeto da
comunicação e transformação da cultura.
O desafio epistemológico da fotografia em construir
um conhecimento acerca do papel da mensagem visual
para a comunicação, portanto, para a sociedade. A fo-
tografia é importante fonte de informação que pode e
deve ser interpretada à medida que retrata fatos sociais
e auxilia na construção de um conhecimento acerca do
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mundo visível. Diante das imagens tem-se a percepção
de que há um uso consciente da linguagem visual como
meio de comunicação.
O processo de elaboração da pesquisa em fotografia deve
definir-se sobre as abordagens pertinentes ao problema de
pesquisa a ser verificado e discutido. O pesquisador se vê
diante de diferentes questões a que remete a imagem: a sua
relação com o real que lhe deu origem, o problema do senti-
do, o desafio da interpretação. Assim, o estudioso da imagem
se vê diante das qualidades que se atribui à fotografia, seu
poder de evocação, seu realismo e seus aspetos linguísticos.
Portanto, torna-se pertinente a discussão acerca da foto-
grafia como objeto da comunicação jornalística, a linguagem
do fotojornalismo e seu papel na composição da mensagem
comunicacional. Sob diferentes aspectos, tais mensagens
podem ser elaboradas com menor ou maior grau de cons-
ciência de seus efeitos. “Sempre gostei da máquina que fo-
tografa, desse pequeno olho de ciclope, único e redondo,
que nos ensina a ver quando perdemos de vista o bom uso
de nossos dois olhos. Magnífica máquina que nos permite
questionar, pensar, sonhar com o real.” Samain (2012, p. 155)
Romper a barreira entre o fazer fotográfico e passar
ao campo da teoria e da pesquisa torna-se um desafio a
quem produz imagem. Entender o seu papel na prática
comunicacional e chegar ao desafio de submeter a práti-
ca ao espírito crítico da ciência se torna um desafio com
muitas barreiras que deverão ser rompidas.
Ao mesmo tempo, Philipe Dubois (1993, p. 15) afir-
ma que “com a fotografia, não nos é mais possível pensar
a imagem fora do ato que a faz ser.” Ou seja, há um duplo
Fotografia e cultura
O ser humano cria e faz uso das imagens em seu pro-
cesso de conhecimento da cultura. Tais mensagens esta-
rão carregadas de sentido que serão evocados por uma
memória cultural. É o saber constituído através da cul-
tura que remete o espectador da imagem a determinados
significados. Ao mesmo tempo, pode também a mensa-
gem visual contribuir para esse saber cultural através da
visão de mundo que a linguagem fotográfica apresenta.
Conclusões
O fotojornalismo está presente em nossa cultura
como uma janela que se abre ao enquadramento téc-
nico da realidade. Entre a prática de imprensa, o fazer
fotográfico e a preocupação com a formulação de um
conhecimento científico sobre a linguagem visual, o
Referências
AUMONT, Jacques. A imagem. São Paulo: Papirus Edi-
tora, 1993.