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ESTUDOS DO POSICIONAMENTO DAS PÁS DO SISTEMA PRÉ

E DISTRIBUIDOR DE UMA TURBINA FRANCIS1


Thiago Gabriel Romaris Peredo – Peredothi@gmail.com
Vitor Marocolo Natale – Vitor.own@live.com
Dr. Antonio Gonçalves de Mello Jr. (Orientador) – antonio.mello@mackenzie.br

RESUMO

As usinas hidrelétricas são obras de engenharia que manipulam os recursos hídricos dos rios
em ordem de aproveitar a energia hidráulica das águas em energia elétrica. Seu funcionamento
consiste em balizar o fluxo de água através dos perfis hidráulicos dos rotores das turbinas, fazendo
com que essas rotacionem. O presente trabalho trata do estudo de turbulências, vórtices e perdas de
carga que resultam do escoamento da água em componentes do sistema pré e distribuidor de uma
turbina hidráulica com rotor tipo Francis e, também, do estudo da influência da alteração de alguns
parâmetros construtivos, como a posição relativa entre palhetas diretrizes e as travessas do pré
distribuidor. O estudo tem como objetivo discutir e analisar os resultados obtidos, relatando quais
foram as posições que apresentaram menos vórtices, perdas de carga e turbulência entre os
componentes mecânicos do distribuidor. O estudo será realizado por meio de modelagem de travessas
do pré–distribuidor e palhetas diretrizes de uma turbina hidráulica com dimensões reais, através de
um Computer Aided Design (CAD) dentro do software ANSYS, dando ênfase na região por onde a
água escoa em contato com as travessas do pré-distribuidor e as palhetas diretrizes. A partir disso,
poderão ser realizados três estudos: O primeiro com o distribuidor e o pré-distribuidor mantidos em
posições originais e sem alteração, analisando as perdas de carga, o comportamento da velocidade e
da pressão da água. Já o segundo e o terceiro caso, as posições relativas entre pás serão modificadas
para analisar a influência destas novas geometrias em relação ao primeiro caso e qual seria o
posicionamento mais satisfatório.
Palavras-chave: Turbulências, turbina hidráulica, ANSYS.

STUDY OF THE POSITIONING OF STAY VANES AND GUIDE


VANES OF A FRANCIS TURBINE
ABSTRACT

Hydro power plants are engineering works that manipulate river’s water resources in order to
transform hydraulic energy into electric energy. Its operation consists of making the water flow

1
Artigo do Trabalho de Conclusão de Curso, Graduação em Engenharia Mecânica, EE, UPM, São Paulo, 2019.
1
through hydraulic profiles of the turbines rotors, causing them to rotate. The present work is about
the study of turbulence, vortices and load losses in components of the stay ring and distributor system
of a hydraulic turbine with Francis rotor and the influence of the alteration of some construction
parameters, such as the relative position between guide vanes and stay vanes. This study is to discuss
and analyze the results obtained, reporting the positions that presented the lowest vortices, load losses
and turbulence among the mechanical components of the distributor. The stay ring and distributor
system will be modeled with real dimensions by using a Computer Aided Design (CAD) within the
ANSYS software, emphasizing the region where the water flows in contact with the stay vanes and
guide vanes. From this, three studies can be made: The first with stay ring and distributor kept in
original positions and without any alteration, analyzing the losses of load, water speed and water
pressure behavior. On the second and third cases, the relative positions between the vanes will be
modified to analyze the influence of these new geometries in relation to the first case and analyze
what would be the most satisfactory positioning.
Keyword: Turbulence, hydraulic turbine, ANSYS

1 INTRODUÇÃO

Com a crescente demanda por energia nos ambientes residenciais e industriais, as empresas
operadoras de usinas hidrelétricas estão prezando cada vez mais pela eficiência e confiabilidade de
seus ativos. Investimentos em pesquisas e soluções digitais dão espaço para oportunidades de
modernização nos componentes mecânicos e elétricos das unidades geradoras, permitindo atualização
dessas instalações para o estado mais recente da tecnologia.
Um tema pertinente é o escoamento de água nos componentes hidráulicos das unidades
geradoras. Durante faixas operativas distintas da faixa de operação nominal, a turbina pode sofrer
com efeitos hidráulicos prejudiciais, como por exemplo turbulências e perdas de carga excessivas,
que geram perdas no rendimento e causam danos por meio de cavitação e de vibrações.
Este trabalho tem como objetivo analisar as posições relativas entre componentes do sistema
pré e distribuidor de uma turbina com rotor tipo Francis. A análise computacional permitirá que
conclusões sejam tiradas em ordem de reduzir perdas de cargas, vórtices e turbulências causadas pelo
escoamento da água entre palhetas diretrizes e travessas do pré distribuidor.
Pontos onde o escoamento se torna turbulento e instável, serão identificados fazendo com que
estudos mais profundos possam ser elaborados e modificações sejam propostas em novos projetos.
Tais modificações tendem a melhorar a eficiência das turbinas e, assim, reduzir custos com
manutenções não programadas.
O trabalho tem como objetivo estudar turbulências, vórtices e perdas de carga em
componentes dos sistemas pré e distribuidor de uma unidade geradora com rotor tipo Francis e a

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influência da alteração de alguns parâmetros construtivos, como a posição relativa entre esses
componentes. Faz parte desse objetivo desenvolver um modelo que possa ser ensaiado para definir
qual é a melhor posição relativa entre as palhetas diretrizes do distribuidor e as travessas do pré
distribuidor.
Os objetivos específicos são:
• Ensaiar escoamento de água nos sistemas pré e distribuidor de uma unidade geradora com
rotor tipo Francis, variando as posições relativas entre esses elementos.
• Transformar os desenhos de uma unidade geradora em um modelo dinâmico e simular a
sua operação com o uso da ferramenta CFD.
• Discutir e analisar os resultados obtidos, relatando quais foram as posições que
apresentaram menores vórtices, perdas de carga e turbulência entre os componentes
mecânicos dos sistemas pré e distribuidor.
• Propor mudanças construtivas que possam servir de premissas para projetos de novas
turbinas ou para modernização turbinas já existentes.

2 METODOLOGIA E MÉTODOS

A fim de cumprir o objetivo de analisar parâmetros construtivos que minimizem turbulências


em uma turbina com rotor tipo Francis, há a necessidade de desenvolvimento de um desenho do
arranjo do pré distribuidor e do distribuidor, dando ênfase na região por onde a água escoa em contato
com as travessas e as palhetas diretrizes.
A metodologia utilizada para a solução da perda de carga do escoamento através das travessas
e das palhetas diretrizes de uma turbina com rotor tipo Francis, é a solução de modelos matemáticos
bidimensionais. Foi escolhido o ANSYS para a simulação, uma vez que este utiliza métodos dos
volumes finitos para as soluções das equações de conservação.
Após as pesquisas bibliográficas, foram modeladas as travessas do pré–distribuidor e as
palhetas diretrizes de uma turbina hidráulica com dimensões reais, através de um Computer Aided
Design (CAD) dentro do software ANSYS.
Em seguida serão realizados três estudos. O primeiro, onde as palhetas diretrizes do
distribuidor e as travessas do pré-distribuidor serão mantidas em suas posições originais, conforme o
desenho original da unidade geradora escolhida. Para o segundo e o terceiro caso, a posição relativa
entre as travessas e as palhetas serão ajustas a fim de analisar a influência de novas geometrias no
comportamento do escoamento da água em relação ao primeiro caso.
Para os cálculos da velocidade da água, serão utilizados os dados disponíveis no site de Itaipu,
mantendo-se a vazão e o diâmetro útil dos condutos forçados atualmente utilizados. Com o intuito

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de se manter a maior precisão possível, as seguintes condições de contornos serão aplicadas na
simulação:
• Malha hibrida, estruturada ao redor das travessas e palhetas diretrizes;
• Escoamento incompressível;
• Escoamento isotérmico a 25°C;
• Escoamento de fluido newtoniano;
• Rugosidade média do aço inoxidável 0,15mm;
• Regime permanente, sem alterações das propriedades física ao longo do tempo; e
• Regime turbulento.
2.1. SOFTWARE DA SIMULAÇÃO

O CFD utilizado neste trabalho foi elaborado no Ansy Fluent, capaz de resolver situações
reais de dinâmica dos fluidos em malhas 2D. Segundo o Congresso Brasileiro de Engenharia Química
(2014), o software utiliza as equações numéricas de conservação de energia e de massa para calcular
precisamente as variáveis dos problemas, usando como ferramenta o método dos volumes finitos
baseados em elementos finitos.
O ANSYS Fluent, como todo Software CFD, possui essencialmente três elementos
característicos em sua estrutura:
Pré-processamento, que tem como base a definição da geometria do domínio computacional.
No caso do Fluent, uma plataforma de CAD é disponibilizada para desenho do modelo dinâmico. Isso
permite importar o desenho do modelo de outros programas de CAD. Os passos posteriores são:
Definição da malha, das propriedades do fluido e das condições iniciais de contorno.
Solucionador, que contém a maioria das condições de contorno e controle, métodos numéricos
para o escoamento, velocidade do fluido, pressão do fluido, direção, número de passos e número de
iterações que serão empregadas. Por fim, ainda utilizando o método numérico, iniciam-se os cálculos
das equações governantes do escoamento, onde o software converte equações integrais em um
sistema de equações algébricas e realiza a solução desse sistema através de um método iterativo
(COSTA, 2018).
Pós-processamento, que permite a visualização dos resultados do escoamento, com plotagens
dos vetores, contornos, gráficos e tabelas de velocidade, pressão e direção. Também é possível assistir
as interseções segundo por segundo em forma de vídeo do modelo dinâmico.
O ANSYS possui uma plataforma de integração de todas as ferramentas descritas acima,
chamada de Workbench. Nessa plataforma tem-se como pré-processamento o Geometry, que é um
CAD, e o Mesh, que gera malhas. O Fluent Flow é o solucionador e pré-processador, e o CFD Post é
a ferramenta de pós-processamento.

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2.2. HARDWARE UTILIZADO NAS SIMULAÇÕES

Para as simulações, foi utilizado um computador com processador “AMD Ryzen 7 2700x”,
com 8 núcleos e 16 threads. A frequência é de 3,7 GHz, a memória RAM é de 32 GB, a memória de
armazenamento é SSD de 1 TB e o sistema operacional é o Windows 10 pro.

2.3. MODELO DE ENSAIO

Em ordem de estudar turbulências, vórtices e perdas de carga causadas pelo fluxo de água
entre as travessas e palhetas diretrizes do sistema de distribuição de uma unidade geradora com rotor
tipo Francis, fora necessário selecionar um projeto já existente. O projeto escolhido para servir como
objeto de estudo foi o de Itaipu.
A Usina Hidroelétrica de Itaipu aproveita o potencial hidráulico do Rio Paraná por meio de
vinte unidades geradoras. Para transformar a energia potencial hidráulica em energia elétrica, cada
unidade geradora conta com um rotor do tipo Francis com potência nominal unitária de setecentos e
quinze megawatts cada. Para confirmar a correta seleção do tipo de rotor utilizado nessa UHE,
necessita-se saber a queda útil da instalação, ou queda nominal, e a vazão específica, ou vazão
nominal unitária. Conforme dados disponibilizados no sitio digital da Itaipu Binacional, tem-se vazão
nominal unitária de seiscentos e noventa metros cúbicos por segundo e queda nominal de
aproximadamente cento e dezoito metros.
Por ser uma usina binacional, Itaipu possui dez unidades geradoras com velocidade de projeto
em cinquenta Hz e as outras dez em sessenta Hz. Para fins de estudo, será considerado uma unidade
geradora do lado Brasileiro, portanto com velocidade de projeto de sessenta Hz, com valor de
aproximadamente noventa e duas rotações por minuto. Da Formula (1), tem-se:
𝑛𝑛 × �𝑃𝑃𝑡𝑡 92,30 × √715000
𝑛𝑛𝑠𝑠 = 5� = 5 = 199,83 (1)
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𝐻𝐻𝑢𝑢 118,404

Como visto anteriormente, faz parte do projeto de um aproveitamento hidráulico a seleção do


tipo de rotor a ser aplicado nas turbinas. Este dado não apenas determina qual será o custo do
empreendimento, mas também como este será projetado e dimensionado. Em suma, ele permite que
o estudo de viabilidade financeira e ambiental seja executado. No caso de Itaipu, o rotor foi
corretamente selecionado, uma vez que a velocidade específica da turbina e a queda nominal do
aproveitamento indicam que a faixa a ser escolhida é dos rotores tipo Francis, de acordo com o
Gráfico 1.

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Gráfico 1 – Seleção da turbina em função da velocidade específica e queda nominal.

Fonte: MELLO, A. G. 2000. Adaptado pelos autores.

Aproveitando os dados mencionados acima, é possível saber se os rotores de Itapu são


classificados como rotores Francis tipo lento ou rotor Francis tipo normal ou rotor Francis do tipo
rápido. Como a rotação específica do rotor é de aproximadamente 200, portanto entre 160 e 250, estes
são classificados como rotores do tipo Francis normal.
Para início da simulação, necessita-se saber qual a velocidade de entrada que será usada no
modelo dinâmico. A velocidade média na caixa espiral (𝑉𝑉𝑚𝑚 ) é base para o cálculo do valor da área de
cada seção interna da caixa espiral, portanto, como forma de aproximação da realidade, esta será
considerada como velocidade de entrada nas simulações CFD. Sabe-se que a velocidade de entrada
na caixa espiral (𝑉𝑉𝑠𝑠𝑝𝑝 𝑖𝑖𝑖𝑖 ) pode ser considerada igual a velocidade média na caixa espiral (MELLO, A.
G. 2000), portanto tem-se:
𝑉𝑉𝑠𝑠𝑠𝑠 𝑖𝑖𝑖𝑖 = 𝑉𝑉𝑚𝑚 = 84,4 × 𝑛𝑛𝑠𝑠 −0,44 = 84,4 × 199,83−0,44 = 8,20 𝑚𝑚⁄𝑠𝑠 (2)

Para desenvolvimento do modelo dinâmico, é necessário ter-se o desenho dos componentes a


serem estudados. Inicialmente, obteve-se um desenho de conjunto de Itaipu com algumas dimensões
e posições relativas entre as travessas do pré distribuidor e as palhetas diretrizes do distribuidor. No
desenho indicado na Imagem 1 2, pode-se observar as travessas dispostas sobre o raio do pré

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Desenho do mecanismo de operação das turbinas de Itaipu fornecido pelo Professor Dr. Antonio Mello Junior, em maio
de 2019.
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distribuidor e as palhetas diretrizes dispostas no raio da tampa da turbina Francis. Note que as palhetas
diretrizes estão indicadas nas posições fechada e aberta com abertura máxima de 𝛥𝛥𝛥𝛥𝑚𝑚á𝑥𝑥 = 36° 𝑒𝑒 12".
Imagem 1 – Mecanismo de operação superior em planta.

Travessas do pré
distribuidor (fixa)

Palheta diretriz em
posição aberta

Palheta diretriz em
posição fechada

Com o auxílio de um escalímetro e algumas dimensões disponíveis nos desenhos, pode-se


desenhar o perfil das travessas do pré distribuidor respeitando-se as proporções. O desenho final das
travessas a ser aplicado no modelo dinâmico será conforme apresentado na Imagem 2.
Imagem 2 – Travessa do pré distribuidor (fixa).

Fonte: Do autor.

Para as palhetas, foi utilizado um desenho de Itaipu que já disponibiliza todas as dimensões
necessárias para o desenho do perfil da mesma 3. No modelo dinâmico, será considerado que todas as
palhetas diretrizes estarão em sua abertura máxima de 𝛥𝛥𝛥𝛥𝑚𝑚á𝑥𝑥 = 36°12". O desenho final a ser
aplicado no modelo dinâmico será conforme Imagem 3.

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Desenho das palhetas diretrizes do distribuidor de uma turbina de Itaipu fornecido pelo Professor Dr. Antonio Mello
Junior, em maio de 2019.
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Imagem 3 – Palheta diretriz do distribuidor (móvel).

Fonte: Do autor.

Fora decidido que o modelo será feito em 2D, pois as dimensões dos elementos do pré
distribuidor e distribuidor das turbinas de Itaipu possuem dimensões demasiadamente grandes e
exigem um computador com grande poder de processamento e memória. Segundo Antonsen (2007),
mesmo que o modelo 3D tenha melhor concordância com as medidas reais de uma turbina hidráulica,
a malha se torna grande demais e faz com que esse modelo seja inviável, do ponto de vista temporal,
para comparar diferentes disposições dos componentes. O autor compara medições de velocidade a
laser feitas num modelo real com medições velocidade aquisitadas de modelo 2D e tem como
resultado que o modelo 2D fornece dados considerados confiáveis.
Segundo Antonsen (2007), um volume de controle com três travessas e três palhetas diretrizes
se aproxima da realidade satisfatoriamente. Como forma de simplificação do modelo, algumas
premissas foram adotadas para sua construção, como por exemplo a entrada da água pelo raio no
limite superior, que é aproximadamente posicionado sobre o raio médio da caixa espiral, os limites
laterais considerados como limites de simetria estanques e o raio inferior sendo o mesmo da entrada
do rotor da turbina, indicando a saída do fluxo.
Imagem 4 – Modelo de Ensaio.

Travessa do pré Palheta Diretriz

distribuidor (fixa) (móvel)

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.

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Pelo princípio da conservação de massa, a quantidade de fluido que entra no sistema deve ser
igual à quantidade que sai, ou seja, a subtração entre vazão mássica de fluido que entra no volume de
controle e a vazão mássica que sai do volume de controle deverá ser igual a zero. O Software ANSYS
Fluent permite que a condição de continuidade seja verificada. O modelo apresentado na Imagem 4,
quando colocado em regime permanente, apresentou um valor de massa acumulada tendendo a zero,
o que significa que o princípio de conservação de massa é atendido satisfatoriamente. A tabela 1
retrata os valores aquisitados.
Tabela 1 – Continuidade do modelo.
𝑘𝑘𝑘𝑘�
Vazão Mássica 𝑠𝑠
Entrada 66.888,030
Saída 66.888,972
Massa acumulada 0,058

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.

A malha a ser trabalhada no modelo é hibrida, estruturada ao redor das travessas, palhetas
diretrizes e nos espaços onde ocorrem as maiores perturbações e esteiras de vórtices. Nessas regiões
ela será quadricular com dimensões laterais de 1 mm por 1 mm. No resto do modelo, ela será não-
estruturada e triangular para otimizar a malha, o número de nós e o número de elementos.
Imagem 5 – Malha do modelo.

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.

2.4. NÚMERO DE NÓS

O número de nós foi verificado com a convergência de resultados, de forma que foram
medidas as velocidades por toda a extensão da saída do modelo. Em seguida, aumentou-se o número

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de nós gradualmente de uma simulação para outra até que a convergência dos resultados fosse
alcançada. Isso se ilustra no gráfico 2.
Gráfico 2 – Magnitude das Velocidades em relação ao número de nós.

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.

Tabela 2 – Número de nós e número de elementos.


Malha Número de nós Número de
elementos
1 47.665,00 64.212,00
2 74.848,00 102.596,00
3 106.648,00 129.646,00
4 145.252,00 165.854,00
5 180.076,00 199.312,00
6 205.165,00 223.640,00
7 237.118,00 276.916,00
8 286.477,00 375.198,00
9 323.182,00 463.792,00
10 435.867,00 688.618,00
11 530.383,00 897.896,00
12 9.130.570,00 1.663.151,00
Fonte: Dos autores – Software ANSYS

Observou-se que de 50 mil a 180 mil nós, as curvas de velocidade ficaram bastante próximas
umas das outras. A partir de 205 mil nós, pode-se observar um deslocamento acentuado nas curvas.
Isso prova que refinar demasiadamente a malha proporciona uma aquisição de dados inseguros. Visto
isso, fora decidido o uso de 100 mil nós para elaboração das simulações.
Para visualização da simulação, foi selecionado o uso do 2D planar, time step size de 0,01s
com 1000 steps, 50 iterações a cada step e todos os step foram salvos para verificar visualmente com
um vídeo para analisar o ponto de regime permanente da simulação dinâmica. Para estas simulações
foram utilizadas como propriedades dos fluidos os valores indicados na Tabela 3.

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Tabela 3 – Propriedades do fluido ensaiado.

Propriedades Valor Unidade


Densidade do fluido 997 kg/m3
Viscosidade dinâmica 1,0020 × 10−3 Pa.s
Velocidade da água 8,2 m/s

Fonte: Dos autores – Software ANSYS

3 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Com os dados suficientes para iniciar os ensaios no Ansys Fluent, é possível analisar o
escoamento da água em regime permanente. Como o objetivo do trabalho é estudar turbulências,
vórtices e perdas de carga, em modelos que possuem diferentes posições relativas entre as travessas
do pré distribuidor e as palhetas diretrizes do distribuidor, se faz necessário selecionar algumas
posições para ensaio.
As posições escolhidas para análise foram: Um primeiro modelo com o posicionamento
original das palhetas diretrizes e travessas, um segundo modelo variando a posição das travessas sobre
o raio do pré distribuidor, e um terceiro modelo de ensaio variando a posição das palhetas diretrizes
sobre o raio da tampa da turbina.
3.1. POSICIONAMENTO ORIGINAL
As geometrias do primeiro ensaio são aproximadas ao projeto original de Itaipu. O intuito de
se realizar esse ensaio é analisar se as posições dos elementos do pré e do distribuidor permitem que
o fluxo da água se comporte de maneira adequada durante uma operação em regime permanente e
para servir como modelo de comparação para as outras posições.
Imagem 6 – Malha de velocidades do modelo 1
Velocidade

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.


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O escoamento é de certa forma ordenada, apresentando em alguns pontos do modelo
velocidades altas, mas que podem ser consideradas normais dentro das limitações que o modelo
oferece. É possível notar que a velocidade aumenta à medida que a água escoa sobre as travessas do
pré distribuidor em encontro às palhetas diretrizes. Para uma análise mais detalhada do
comportamento de velocidades, foi traçada uma linha posicionada entre as travessas e as palhetas
diretrizes. Sobre cada ponto desta linha, será aquisitado o valor da velocidade média, conforme
indicado no gráfico 3.
Imagem 7 – Linha para aquisição de velocidades do modelo 1

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.


Sobre a reta mencionada na imagem anterior, pode-se plotar o seguinte gráfico:
Gráfico 3 – Velocidades entre elementos no modelo 1

Velocidade da água
(m/s)

Posicionamento do modelo (m/s)

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.

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Pode-se notar que há uma queda abrupta na velocidade, porém esse fenómeno é considerado
normal, pois a velocidade foi aquisitada sobre a esteira de vórtices ocasionada naturalmente pela
travessa do pré distribuidor. De maneira geral, as velocidades permanecem entre os limites de 16
metros por segundo e 13 metros por segundo. Nenhuma queda ou aumento brusco na velocidade foi
percebido, o que indica que não há uma presença perturbações prejudiciais entre as travessas e as
palhetas diretrizes.

3.2. ENSAIO VARIANDO A POSIÇÃO DAS TRAVESSAS SOBRE O RAIO DO PRÉ


DISTRIBUIDOR

O segundo modelo, teve como objetivo alinhar as travessas do pré distribuidor com as palhetas
diretrizes, verificando se o fluxo da água se comporta de alguma forma melhor quando comparado
com o modelo anterior. Todos os outros parâmetros principais, como velocidade de entrada no
modelo e perfil dos componentes, foram mantidos.
Imagem 8 – Malha de velocidades do modelo 2

Velocidade

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.


Pode-se notar pela Imagem 8 que o escoamento se apresenta de uma forma desordenada entre
as travessas e as palhetas, indicando que essa posição não é tão favorável ao escoamento quanto a
condição ensaiada no modelo anterior. Pode-se perceber também quedas notáveis na velocidade e
recirculações no fluxo da água, podendo favorecer o processo de cavitação, vibrações excessivas e
perdas de carga nessa região. A Imagem 9 apresenta os vetores de velocidade do modelo 2, com
ênfase nas regiões entre travessas e palhetas diretrizes.

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Imagem 9 – Vetores de velocidade entre elementos do modelo 2

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.

Para uma análise mais detalhada do comportamento de velocidades na região turbulenta


mencionada acima, foi traçada uma linha posicionada entre as travessas e as palhetas diretrizes,
conforme a Imagem 10.
Imagem 10 – Linha para aquisição de velocidades do modelo 2

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.

O gráfico de velocidades entre as travessas e palhetas diretrizes indica quedas abruptas na


velocidade do fluxo de água entre esses elementos. É possível notar que, em um determinado ponto,
a velocidade do fluxo de água sofre uma queda abrupta de 18 metros por segundo para quase 0 metro
por segundo e, logo em seguida, aumenta para 14 metros por segundo de maneira brusca. Um
comportamento parecido se repete na próxima região entre travessas e palhetas.

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Gráfico 4 – Velocidades entre elementos no modelo 2

Velocidade da
água (m/s)

Posicionamento no Modelo (m)


Fonte: Dos autores – Software ANSYS.

Por mais que o fluxo tenha se comportado de maneira desordenada entre as palhetas diretrizes
e as travessas do pré distrubuidor, as velocidades na saída do modelo se apresentaram de alguma
forma ordenadas, indicando que o problema não se propagou para o resto do sistema.
Gráfico 5 – Velocidades na saída do modelo 2

Velocidade da
água (m/s)

Posicionamento no Modelo (m)


Fonte: Dos autores – Software ANSYS.

3.3. ENSAIO VARIANDO A POSIÇÃO DAS PALHETAS DIRETRIZES SOBRE O RAIO DA


TAMPA DA TURBINA

Uma vez que o alinhamento das travessas e palhetas não trouxe um bom escoamento, a
posição do terceiro modelo teve como objetivo posicionar esses elementos de tal sorte que o fluxo de
água tenha o maior espaço o possível para se ordenar após escoar sobre as travessas. Em outras
palavras, posicionaram-se as palhetas aproximadamente no ponto médio entre as travessas do pré
distribuidor. Nesse modelo, todos os parâmetros principais, também foram mantidos. Pode-se
observar, em regime permanente, um comportamento mais ordenado do fluxo da água entre as
travessas e as palhetas diretrizes, se comparado com o modelo anterior.

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Imagem 11 – Malha de velocidades do modelo 3
Velocidade

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.

Da mesma forma que foi feita para o modelo 1 e 2, para uma análise mais detalhada do
comportamento de velocidades, foi traçada uma linha posicionada entre as travessas e as palhetas
diretrizes, da acordo com a Imagem 12:
Imagem 12 – Linha para aquisição de velocidades do modelo 2

Fonte: Dos autores – Software ANSYS.

Como dito, o escoamento é de certa forma ordenado, não apresentando recirculações ou


vórtices de grande magnitude. As velocidades se comportaram, de maneira geral, adequadamente,
variando entre 24 e 15 metros por segundo, sem aumentos ou decréscimos repentinos nas regiões
entre travessas e palhetas diretrizes. As quedas abruptas indicadas no gráfico 6 ocorrem devido às

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esteiras de vórtices causadas naturalmente pela travessa do pré distribuidor e pela superfície da última
travessa, que, também, gera uma região de turbulências.
Gráfico 6 – Velocidades entre elementos no modelo 3

Velocidade da
água (m/s)

Posicionamento no Modelo (m)


Fonte: Dos autores– Software ANSYS.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se dizer que os objetivos específicos e o objetivo geral desse trabalho foram alcançados.
O estudo das turbulências, vórtices e perdas de carga em componentes do sistema de distribuição de
uma unidade geradora com rotor tipo Francis foi possível por meio dos modelos criados para ensaiar
o escoamento da água por travessas do pré distribuidor e palhetas diretrizes em regime permanente e
em diferentes condições de construção.
O desenvolvimento do modelo de ensaio teve como base um desenho de planta do distribuidor
de Itaipu que foi transcrito para o CAD, respeitando ao máximo as dimensões originais, até resultar
em um modelo dinâmico simplista que conta com todas as condições de contorno necessárias para
simular a operação de um sistema de distribuição de uma turbina hidráulica em CFD. Se faz
importante também mencionar que o princípio de conservação de massa foi atendido.
O modelo em CFD desenvolvido permitiu a variação das posições relativas entre as travessas
e as palhetas diretrizes do sistema pré e distribuidor de uma unidade geradora de Itaipu, podendo-se
observar o comportamento das velocidades de escoamento da água.
Foram estudadas três posições relativas entre as travessas e as palhetas, sendo a primeira com
o posicionamento original, conforme desenho de Itaipu, a segunda com uma variação da posição das
travessas sobre o raio do pré distribuidor, objetivando alinhar as travessas do pré distribuidor com as
palhetas diretrizes e uma terceira posição variando o posicionamento das palhetas diretrizes sobre o
raio da tampa da turbina. Ao final de cada ensaio, foi possível observar como o fluxo de água se
comportou, aquisitando-se as velocidades em pontos entre as travessas e palhetas e na saída do
modelo.
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Os resultados da análise da primeira posição relativa permitem que se conclua que a posição
original escolhida por Itaipu proporciona um fluxo satisfatoriamente ordenado, sem aumentos ou
diminuições bruscas nas velocidades e sem a presença de regiões propícias à turbulência, vórtices e
recirculações de água. Isso tudo permite também concluir que essa posição garante uma operação
com baixos índices de cavitação nas pás e homogeneidade da velocidade de escoamento da água,
necessária para uma boa operação do rotor Francis da turbina.
Por outro lado, os resultados da análise da segunda posição relativa demonstraram que alinhar
as posições das travessas com as palhetas proporciona um fluxo desordenado, com aumentos e
diminuições bruscas nas velocidades, principalmente nas regiões entre as estruturas estudadas. Essas
regiões apresentaram bastante turbulência, vórtices e recirculações, o que indica que a operação do
sistema pode apresentar processos de cavitação e nucleação de trincas nos elementos antes do tempo
esperado, aumentando a necessidade de intervenções corretivas e, assim, baixando a confiabilidade
da unidade geradora.
Ao longo do desenvolvimento dos modelos, percebeu-se a que quanto mais se permite que o
fluxo de água se ordene após escoar sobre as travessas, melhor será a condição de escoamento. Desta
forma, em ordem de validar essa observação, as palhetas diretrizes foram posicionadas num ponto
médio do vão entre as travessas, conforme indicado no terceiro modelo. Os resultados dessa análise
demonstraram que o fluxo de fato se comporta de maneira mais ordenada, não apresentando nenhuma
região com a presença turbulências, vórtices ou recirculações acentuadas. Essa posição pode servir
de premissa para o projeto de novos sistemas de distribuição ou para modernização de usinas
hidrelétricas já existentes.
Uma pesquisa futura proposta seria a elaboração de um modelo 3D completo para ensaio,
considerando o escoamento da água pelo conduto forçado, caixa espiral, pré distribuidor, palhetas
diretrizes, rotor da turbina e tubo de sucção, sendo esse modelo mais adequado por se aproximar da
realidade. Os modelos desenvolvidos nesse trabalho foram elaborados em 2D, devido às grandes
dimensões dos elementos estudados e devido ao baixo poder de processamento e memória do
hardware utilizado. Mesmo com essas limitações, foi possível comparar os resultados dos modelos
criados, podendo-se assim utilizá-los satisfatoriamente para cumprir com os objetivos propostos.

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REFERÊNCIAS

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2002.
ANTONSEN, Ø. Unsteady flow in wicket gate and runner with focus on static and dynamic load
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aplicado ao escoamento sobre degrau descendente. Rio de Janeiro, 2018.
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Iorque, 2015.
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distribuidor de turbinas hidráulicas. São Paulo, 2015.
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US ARMY CORPS OF ENGINEERS. Stay Vane and Wicket Gate Relationship Study. Portland,
2005

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grupo/organizacao/divisoes-do-grupo/voith-hydro-106.html>. Acesso em: 16 nov. 2018.
WHITE, F. M. Mecânica dos fluídos. Nova Iorque, 2018.

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AGRADECIMENTOS

Ao nosso professor, orientador e coordenador do curso, Prof. Dr. Antonio Gonçalves de Mello
Junior pela dedicação em nos transmitir os conhecimentos do universo das máquinas hidráulicas.

Agradecemos a todos os nossos colegas, professores e funcionários da Escola de Engenharia


Mecânica Mackenzie, por todo o suporte durante todos esses enriquecedores anos.

Em especial, agradecemos aos colgas da Voith Hydro, por todas as conversas, sugestões e
dicas que nos fizeram elaborar este trabalho de maneira tão satisfatória.

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