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Vocabulário Político e Maçonaria Na Revolução Pernambucana de 1817
Vocabulário Político e Maçonaria Na Revolução Pernambucana de 1817
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Graduação em História pela UFMG; Mestrando na linha de História e Culturas
Políticas pela UFMG. E-mail: brenohistoria@gmail.com
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português maçom em seu meio. Isso acontecia pelo fato das lojas
maçônicas pernambucanas seguirem ritos ingleses, enquanto as instaladas
no Rio de Janeiro e Lisboa seguiam ritos franceses. As de influência
inglesa apregoavam a proclamação da independência política7 em relação
ao Reino de Portugal, enquanto as de influência francesa, com muitos
adeptos portugueses, inclusive nobres da Corte instalada no centro-sul
da América Portuguesa, ansiavam por uma monarquia constitucional
(TAVARES, 1917, p.70-85). Essas diferenças faziam com que a maçonaria
na América Portuguesa ficasse dividida: enquanto no norte, ela era a
favor da emancipação política, no centro-sul, defendia uma monarquia
constitucional. Os portugueses pedreiros-livres, em sua maioria, eram
contra a emancipação política da América Portuguesa, ou de parte dela.
Por isso, eles eram mal vistos nas lojas maçônicas pernambucanas.
Ao que parece, o projeto dos pedreiros-livres de emancipação
política é antigo, talvez anterior a 1801, quando houve a Conspiração
dos Suassuna. Bernardo Teixeira Álvares de Carvalho, em carta a Tomás
Antônio Villanova Portugal8, diz que soube pelo finado Jerônimo da
Cunha que:
Simão Pires Sardinha e um Padre José Luiz, ambos de Minas
Gerais e assistentes em Lisboa convidavam os brasileiros para
sua casa para imbuírem no sistema republicano e meios de
o plantar no Brasil; e que um Manuel Arruda da Câmara e
seu irmão Dr. Médico Francisco Arruda da Câmara vieram
para Pernambuco com o mesmo projeto; os três primeiros
morreram antes desta revolução, mas ainda é vivo o terceiro
(DH, vol. CIV, 1954, p.156).
De fato, Manuel Arruda Câmara fundou, pouco antes de 1800,
o Areópago de Itambé, sociedade secreta, política e maçônica no espírito,
que tinha como membros, além dos irmãos Arruda Câmara, os irmãos
Suassuna, que foram acusados de conspirarem contra o governo real
em 1801 (TAVARES, 1917, p.70). No Areópago de Itambé,
provavelmente, discutiam-se idéias de teor emancipacionista, sobre livros,
alguns deles proibidos, além das notícias da Europa.
Em 1817, pouco antes da Revolução Pernambucana, o
rompimento de Domingos José Martins e do Padre João Ribeiro com
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Não se especifica se seria a Independência da América Portuguesa ou de parte dela.
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Carta de 30 de abril de 1818. Ambos são representantes das autoridades reais.
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Os revolucionários também ansiavam pela participação de outras províncias no
levante, mas esperavam apoio incondicional, principalmente das províncias vizinhas,
isto é, as do norte.
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A expansão da maçonaria para a Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará parece ter
sido obra das lojas maçônicas de Pernambuco.
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O padre Roma, emissário do governo provisório instalado no Recife, foi enviado
para a Bahia, mas falhou em convocar os maçons baianos ao apoio a Revolução
Pernambucana. No entanto, Muniz Tavares deixa claro que parte significativa da
maçonaria instalada na Bahia estava em harmonia com a maçonaria pernambucana e
que, se tivesse sido avisada a tempo, poderia ter participado da Revolução.
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Negociou em favor dos rebelados a capitulação do governador e Capitão General
Caetano Pinto e usou de sua palavra, em que o governador muito confiava, para
forçar uma capitulação mais rápida. Disse que o povo estava ansioso pela liberdade,
por sacudir o jugo português. Ainda assim, Caetano Pinto julgou que a rapidez da
revolta provinha de um plano maior, combinado em toda a América Portuguesa.
Julgando que sua derrota era certa, resolveu capitular. Mendonça também exagerou na
quantidade de rebeldes que estavam contra o governo de Caetano Pinto, levando-o,
certamente, a tomar essa decisão (TAVARES, 1917, p. 100-101).
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Oliveira Lima, em nota a Muniz Tavares, compara José Luiz de Mendonça aos
Girondinos e Domingos José Martins aos Jacobinos (TAVARES, 1917, p. 140).
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bandeira real (DH, vol CIV, 1954, p.37), um dos principais símbolos da
monarquia portuguesa.
A criação do governo provisório pelos revolucionários, para os
portugueses que viviam em Pernambuco, certamente, trazia consigo
enorme temor. Pela existência de rivalidades, eles mesmos temiam perder
suas vidas. Muitos deles ou se esconderam quando o governo real caiu,
ou fugiram para os portos, ou formaram efetivos de resistência em luta
dentro de Santo Antônio do Recife.
Todavia, apesar de existirem as citadas rivalidades em Pernambuco,
foi notória a participação dos próprios portugueses na Revolução
Pernambucana. Desde a tenra gestação da revolução de 1817, quando
discutiam em conciliábulos secretos ou em jantares16 idéias desfavoráveis
à monarquia portuguesa, até seu fim, houve calorosa participação dos
lusitanos, quando já tinham aconselhado o novo governo revolucionário,
comandado e participado de suas tropas, oferecido os mais diversos
recursos entre outras importantes ações. O próprio governo instalado
pelos revolucionários, intitulado governo provisório, mesmo que quisesse,
não poderia se apartar dos portugueses, simplesmente porque eles estavam
ligados a todos os tipos de atividades, desde as burocráticas até as
comerciais, além de serem, naturalmente, parte da sociedade pernambucana.
Os revolucionários, se não tinham parentesco com algum português, ao
menos compartilhavam elos de amizade com os mesmos. Desse modo,
se se excluísse os portugueses, o governo provisório não teria o almejado
apoio da sociedade pernambucana e se enfraqueceria politicamente.
Se em um primeiro momento, antes da revolução, a aversão
aos portugueses era utilizada para justificar o início da Revolução
Pernambucana, posteriormente, os revolucionários perceberam que
excluir os portugueses seria condenar o seu próprio governo. Assim,
era necessário incluí-los na construção daquele novo tempo de ruptura
com o governo monárquico, ainda que houvesse uma aversão tácita aos
marinheiros. Os revolucionários conseguiram realizar essa façanha, por
meio do uso de uma palavra que, embora fosse antiga, começava a
trazer consigo novos significados. Essa palavra era pátria.
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Na devassa da Revolução Pernambucana, muitos revolucionários eram acusados de
frequentarem clubes, jantares ou casa de particulares, lugares esses sinônimos de trama
e discussão de idéias contra a monarquia portuguesa.
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José Carlos Mayrink da Silva Ferrão era irmão da afamada Marília de Dirceu.
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Os patriotas seriam os partidários do governo provisório.
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Em seu artigo, Márcia Regina Berbel, nos revela que a pátria, na Revolução Francesa,
se associava ao que era público e a valores como a liberdade política, em detrimento
da relação dos súditos com seu rei (BERBEL, 2001, p.4)
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No dicionário de Raphael Bluteau, Nume significa termo usado dos poetas quando fallão
em Deos ou fabulosas deidades. Já o dicionário contemporâneo Houaiss, traz o significa
além de divindade, deidade, o sentido: inspiração poética advinda do poder divino, sentimento
íntimo, afeiçoamento.
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Casou-se alguns dias após a revolução, sob as benção do Deão Bernardo Luiz
Ferreira Portugal.
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No dicionário de Bluteau, não foi encontrado o termo patriota, o que pode nos
revelar que tal termo era escassamente utilizado.
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Apesar deste artigo não ser espaço para discussão desse tema, percebe-se que, se
antes o povo delegava poder para um rei os governar e este tinha que governar
respeitando o povo, neste trecho percebemos que o povo delega a ele próprio esse
poder, cabendo ao povo somente o exercício de sua governança.
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Nem mesmo sabe-se se a carta chegou ao seu destino e se, ainda hoje, ela existe.
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Referências
Fontes
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Bibliografia
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