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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Departamento de Engenharia Elétrica e Eletrônica


EEL7064 – Conversão Eletromecânica de Energia A
Professor Carlos A. C. Wengerkievicz

AULA PRÁTICA 1
Objetivo
Revisar conceitos e práticas de medidas elétricas em corrente alternada com voltímetros,
amperímetros e wattímetros em sistemas monofásicos e trifásicos.

Introdução
Voltímetro V
Os voltímetros, tanto analógicos como digitais, são utilizados para medir a tensão ou diferença
de potencial (d.d.p.) entre dois pontos de um circuito elétrico. No contexto de corrente
alternada, a indicação dos instrumentos geralmente corresponde ao valor eficaz da tensão.
Idealmente, o voltímetro deve possuir impedância infinita, para que sua conexão ao circuito
não altere a tensão que se deseja medir ao drenar corrente. Na prática, os voltímetros
possuem impedância finita, ainda que elevada o suficiente para que o erro de inserção seja
geralmente pequeno.
Amperímetro A
Os amperímetros são utilizados para medir a corrente elétrica que flui por um ramo de um
circuito elétrico. No contexto de corrente alternada, assim como os voltímetros, os
amperímetros indicam o valor eficaz da corrente.
Ao contrário dos voltímetros, os amperímetros não são ligados em paralelo com o circuito que
se deseja medir, mas sim em série. Para que a conexão do instrumento não altere o circuito, os
amperímetros devem idealmente ter impedância nula. Na prática, a impedância dos
amperímetros é pequena o suficiente para não influenciar de forma relevante o
funcionamento da maioria dos circuitos.
Um erro bastante comum é conectar o amperímetro em paralelo com o ramo cuja corrente
se deseja medir. Isto equivale a impor um curto-circuito em paralelo com o ramo em questão,
o que pode ocasionar acidentes e danos aos instrumentos e às instalações. O procedimento
correto é interromper o ramo e fechá-lo utilizando o amperímetro, para que a corrente flua
através dele (dica: lembre-se do hidrômetro da companhia de água).
Wattímetro W
Os wattímetros destinam-se à medição da potência média transferida a um circuito elétrico,
que corresponde ao valor médio do produto entre a tensão e a corrente. Consequentemente,
os wattímetros possuem dois pares de terminais, sendo um ligado como voltímetro e outro
como amperímetro.
A Figura 1 ilustra duas formas de conectar o wattímetro: com a medição de tensão a montante
ou a jusante dos terminais de corrente. A primeira é utilizada em medições com cargas de alta
impedância (ex. transformadores a vazio), para que a corrente drenada pela bobina de tensão
não influencie a medida. Já a segunda é utilizada para cargas de baixa impedância (lâmpadas e
dispositivos de potência em geral), para que a queda de tensão sobre a bobina de corrente não
influencie a medição da potência.

Figura 1 – Wattímetro com medição de tensão a montante (esquerda) e a jusante (direita).

Escalas
20 V 10 V COM
A escala de um instrumento de medição corresponde
ao máximo valor que se pode medir. Os instrumentos
analógicos e digitais podem ter uma ou mais escalas,
selecionáveis por controles (giratórios ou deslizantes) 20
ou por terminais. Por exemplo, o voltímetro ilustrado 8 9 10
7
na Figura 2 possui um terminal para medição de 6
5
tensões até 20 V e outro para tensões até 10 V, além 4
do terminal comum (referência). Cada faixa de 3
medição tem um fundo de escala (valor máximo da 2

indicação) diferente. Na ilustração, se o terminal em 1


V
uso for o de 10 V, a medida indicada pelo ponteiro é 0

de 6 V. Já se estivermos usando o terminal de 20 V,


esta posição do ponteiro corresponde a 12 V. Figura 2
A seleção da escala deve levar em conta dois aspectos: i) O fundo de escala deve ser maior do
que o valor esperado do mensurando; ii) A escala utilizada deve ser a menor aplicável para
minimizar as incertezas de medição.

Incertezas de medição
Toda medição está sujeita a erros, causadas pelas não idealidades dos instrumentos e pela
influência do ambiente, do operador e por outros fatores. A diferença entre o valor real do
mensurando (que é desconhecido) e o valor indicado pelo sistema de medição é chamado de
erro de medição. O erro de medição é sempre desconhecido, porém é possível estimar um
intervalo provável para o seu valor, expresso pela incerteza de medição (que é diferente do
erro de medição).
Para as nossas aplicações, a incerteza de medição de medidas diretas pode ser simplificada
como 𝑢 = 𝑢𝑐 + 𝑢𝑙 , em que 𝑢𝑐 é a incerteza de classe, dada como um percentual do fundo de
escala, e 𝑢𝑙 é a incerteza de leitura, dada pela metade do valor correspondente a cada divisão
da escala do instrumento. A incerteza é geralmente arredondada para um algarismo
significativo.
Medidas em sistemas trifásicos
Sistemas trifásicos podem ser entendidos como arranjos de fontes e de cargas monofásicas.
Normalmente nos interessa apenas medir as tensões e correntes de linha e a potência total
das três fases. Os sistemas trifásicos podem conter três ou quatro condutores, isto é, podem
ou não conter um condutor neutro.

Método dos dois wattímetros


O método dos dois wattímetros é utilizado para medir potência ativa em sistemas trifásicos a
três fios, isto é, sistemas em que não há um condutor neutro conectando os pontos centrais da
carga e da fonte. Uma maneira de compreendê-lo é considerar que o sistema trifásico é
substituído por dois sistemas monofásicos com tensão de linha, como ilustrado na Figura 3,
sendo uma das fases tomada como tensão de referência. A potência total corresponde à soma
das indicações dos dois wattímetros.

Figura 3 – Medição de potência pelo método dos dois wattímetros em carga trifásica ligada a três fios
(esquerda) e circuito bifásico equivalente (direita).

Assumindo por conveniência que o sistema seja balanceado, que a fonte tenha sequência
direta e que o fator de potência da carga em cada fase seja cos 𝜑, temos:

 Tensões fase neutro da fonte:  Tensões de linha:


o 𝑉𝑅𝑁 = 𝑉𝑓 cos(𝜔𝑡) o 𝑉𝑅𝑇 = √3𝑉𝑓 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 𝜋⁄6)
o 𝑉𝑆𝑁 = 𝑉𝑓 cos(𝜔𝑡 − 2𝜋⁄3) o 𝑉𝑆𝑇 = √3𝑉𝑓 𝑐𝑜𝑠(ωt − 2π⁄3 + π⁄6)
o 𝑉𝑇𝑁 = 𝑉𝑓 cos(𝜔𝑡 + 2𝜋⁄3)
 Correntes de fase da fonte:
o 𝐼𝑅 = 𝐼𝑓 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 𝜑)
o 𝐼𝑆 = 𝐼𝑓 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 2𝜋⁄3 − 𝜑)
 Potência indicada por cada wattímetro:
o 𝑃𝑊1 = 𝑉𝑅𝑇 𝐼𝑅 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑣𝑅𝑇 − 𝜃𝑖𝑅 ) = 𝑉𝑅𝑇 𝐼𝑅 𝑐𝑜𝑠(𝜑 − 𝜋⁄6)
o 𝑃𝑊2 = 𝑉𝑆𝑇 𝐼𝑆 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑣𝑆𝑇 − 𝜃𝑖𝑆 ) = 𝑉𝑆𝑇 𝐼𝑆 𝑐𝑜𝑠(𝜑 + 𝜋⁄6)
Quando o sistema for balanceado e o ângulo da carga () for zero, os dois wattímetros
indicarão o mesmo valor, pois cos(− 𝜋⁄6) = cos(𝜋⁄6) = 0,5√3. Nos outros casos, as
indicações serão diferentes.
O método dos dois wattímetros é válido também para sistemas desbalanceados. No caso de
cargas ligadas a quatro fios, isto é, com conexão do ponto central ao neutro da fonte, é
necessário utilizar 3 wattímetros, um para cada fase.
Materiais da parte experimental
Voltímetros, amperímetros, wattímetros (todos de corrente alternada), lâmpadas
incandescentes, cabos e varivolt.

ATENÇÃO: Não execute nenhuma alteração nos circuitos com a bancada energizada.

Procedimento
1) Monte o circuito abaixo, utilizando os terminais de duas fases do varivolt e um
voltímetro de corrente alternada com duas escalas superiores a 100 V. Utilize
inicialmente a menor escala.

a. Ajuste o varivolt para 100 V e anote a medida com a maior resolução fornecida
pelo instrumento. Anote também a escala utilizada, o valor correspondente a uma
divisão da escala e a classe de precisão do voltímetro.
2) Desligue a bancada e monte o circuito abaixo, utilizando como carga um banco de
lâmpadas de aproximadamente 200 W alimentadas em 220 V.

a. Para verificar se a montagem está correta, mantenha todas as lâmpadas


desligadas, aumente lentamente a tensão e verifique se o ponteiro do
amperímetro se move.
b. Aumente a tensão até 220 V, ative lâmpadas até atingir cerca de 200 W e registre
as medidas de tensão e de corrente, bem como as escalas, as divisões e a classe
de precisão dos instrumentos.
3) Desligue a bancada e adicione um wattímetro ao circuito anterior, conforme ilustrado
abaixo.

a. Para verificar se a montagem está correta, mantenha todas as lâmpadas


desligadas, aumente lentamente a tensão e verifique se o ponteiro do
amperímetro se move.
b. Aumente a tensão até o valor nominal, ative lâmpadas até atingir cerca de 200 W
e registre as medidas de tensão, de corrente e de potência, bem como as escalas,
as divisões e a classe de precisão dos instrumentos.
4) Neste item, utilizaremos as três fases do varivolt para alimentar em 380 V um banco
de lâmpadas de 600 W ligado em Y.
a. Antes de selecionar os instrumentos, estime a corrente de linha para a potência e
a tensão dadas, considerando a carga com fator de potência unitário.
b. Monte o circuito, utilizando dois wattímetros idênticos para medir a potência
total. Adicione também um voltímetro entre duas fases e um amperímetro em
uma das fases. Leve apenas 3 cabos para a carga.
c. Aumente gradualmente a tensão até atingir 380 V.
d. Aumente simultaneamente a carga nas três fases até atingir aproximadamente
600 W e registre as indicações de todos os instrumentos, incluindo as escalas e as
divisões correspondentes.
5) Neste item, alteraremos o circuito para alimentar em 220 V um banco de lâmpadas de
600 W ligado em delta.
a. Altere a conexão do banco de lâmpadas para delta.
b. Revise as conexões e escalas dos instrumentos.
c. Alimente o quadro de lâmpadas em 220 V, aumente gradualmente a carga até
atingir 600 W e registre as indicações de todos os instrumentos, incluindo as
escalas e as divisões correspondentes.

Desligue as lâmpadas e a bancada, guarde os cabos e os instrumentos.

Questões adicionais para o relatório


1) Pesquise sobre o método dos dois wattímetros.
a. Demonstre que a potência medida pelo método dos dois wattímetros
corresponde à soma das potências das três fases.
b. Explique o que ocorre com a indicação dos wattímetros quando o fator de
deslocamento da carga é unitário, indutivo ou capacitivo.
c. Explique como se pode determinar a potência reativa de um sistema balanceado
com base apenas nas medições dos wattímetros.
2) Calcule a incerteza associada a cada medida dos itens 1, 2 e 3 do procedimento
experimental.
3) Considerando os itens 4 e 5 do procedimento experimental, estime a tensão, a
corrente e a potência em cada fase da carga, e compare os resultados obtidos com a
carga em Y e em delta.

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