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E.E.E.F.M.

PRESIDENTE KENNEDY
PROFESSORA: CRISTIANI MONTEIRO
SÉRIE: 3º ANO - MÉDIO
DISCIPLINA : GEOGRAFIA
AULA: 1

CONTEÚDO:

FORMAÇÃO HISTÓRICA DO produção feudal, ou feudalismo, para o


TERRITÓRIO BRASILEIRO capitalismo, ou modo de produção capitalista.

Para entendermos as características


fundamentais da organização espacial do
Brasil processada ao longo de séculos de
colonização portuguesa, é importante possuir
uma visão histórica da produção do espaço
geográfico no contexto mundial à época da
conquista do território brasileiro. Isso permitirá
estabelecer comparações e esclarecer
algumas particularidades atuais das realidades
regionais do país

A apropriação do território e a
colonização implantada no Brasil no século
XVI pelos portugueses introduziu a
colonização de exploração, cujo objetivo era
explorar tudo o que a colônia pudesse
oferecer para o desenvolvimento do nascente
capitalismo comercial europeu,
particularmente o português, o holandês e o
A INSERÇÃO DO BRASIL NO CIRCUITO inglês.
CAPITALISTA E A PRODUÇÃO DE SEUS A colônia era vista como uma grande empresa
ESPAÇOS GEOGRÁFICOS comercial, cuja função era a de fornecer pro-
dutos primários (pau-brasil, drogas do sertão*,
Até o século XV o horizonte geográfico madeiras de lei, açúcar, tabaco, algodão, ouro
e comercial europeu restringiu-se ao Mar e pedras preciosas, café etc.), para a venda
Mediterrâneo. Nesse tempo, o comércio já era na Europa, tendo por base uma divisão
a principal atividade econômica na Europa e internacional do trabalho estabelecida pela
as burguesias mercantis, em aliança com seus metrópole ou pelo próprio capitalismo
reis, substituíam os senhores feudais em comercial: à metrópole cabia a produção e a
poder e riqueza. Era a passagem do modo de venda de manufaturados para
as colônias e feitorias, e a estas cabia
o
fornecimento de produtos primários
para as metrópoles.
O Brasil-Colônia, ao ser incorporado
pelo Império Português, teve sua dinâmica
econômica, política e social e, portanto,
também seus espaços geográficos estruturados
dentro dos moldes das necessidades e
interesses de exploração de Portugal.
Organizou-se, assim, uma economia colonial,
cujos principais traços podem ser assim
considerados:
• Produção apoiada nas relações servis
ou escravistas de trabalho que se caracterizam
pela intensa exploração da força de trabalho.
• Produção e exportação de produtos
primários (produtos alimentares, matérias-
primas, especiarias etc.) e importação de
manufaturados. A função da economia colonial
era a de complementar a economia
metropolitana.
• Setor produtor de alimentos
subordinado aos interesses exportadores dos
grandes proprietários rurais. A economia da
É importante destacar que essa
colônia estava organizada de forma a atender
dominação era vital para os Estados europeus
as necessidades externas, e não as da
e suas burguesias, pois lhes permitia consolidar
sociedade local em formação.
o novo modo de produção (o capitalismo),
• Monopólio do comércio exercido pela
dissipando, conseqüentemente, o poder dos
burguesia comercial metropolitana. Essa
senhores feudais. Compreende-se, dessa
situação manteve-se durante algum tempo, até
forma, que a própria formação e consolidação
aproximadamente 1642, a partir de quando,
do capitalismo como sistema dependia dessa
em virtude dos vários acordos assinados entre
exploração econômica, pois, como já
Portugal e Inglaterra, tal monopólio passou
destacamos, a economia colonial
para os comerciantes ingleses, o que
complementava a metropolitana, contribuindo
apresentou perdas tanto para Portugal como
decisivamente para a desintegração do
para o Brasil
feudalismo. As colônias constituíam grandes
• Economia da colônia estruturada com
fontes de riqueza ou de acumulação primitiva
base no latifúndio e na monocultura. Foi,
de capital para os Estados europeus e suas
portanto, a partir dos fatos transcorridos
burguesias. O lucro obtido nas colônias era
durante o projeto colonial português aqui
apropriado em sua quase totalidade pela
implantado por mais de três séculos que se
burguesia metropolitana.
processou a inserção do Brasil no nascente
No processo de colonização do Brasil,
capitalismo europeu ou capitalismo mercantil.
tais circunstâncias geraram um quadro em que
Essa inserção, por sua vez, estabeleceu uma
os territórios indígenas foram cedendo lugar
situação de dependência do Brasil em relação
para a produção de um espaço geográfico
aos centros de decisão do capitalismo mundial.
colonial (questão que será abordada mais
As práticas capitalistas, espalhando-se da
detalhadamente no próximo capítulo). Os
Europa para o mundo, estruturaram um
espaços indígenas, antes tomados como fonte
sistema global, no qual a hegemonia coube aos
de vida ou de recursos para a subsistência ou a
"países centrais" e a dependência, aos espaços
reprodução da espécie e como mantenedores
geográficos "periféricos" (colônias, feitorias
da identidade dos grupos que os habitavam,
etc.), imersos estes numa divisão internacional
auto-suficiente na produção de valores de uso,
da produção desfavorável a seu
transformaram-se em espaços geográficos
desenvolvimento.
organizados para a produção de valores de
troca e subordinados ao exterior, ou seja, aos
centros de decisão localizados na Europa
(Portugal, Holanda, Espanha e Inglaterra).
Isso, por sua vez, implicou a criação de
espaços geográficos pouco ou nada articulados
entre si, produzidos e organizados subsistência (milho, arroz, feijão, mandioca
segundo nódulos, "ilhas" ou "arquipélagos etc.), nas diversas áreas de povoamento.
econômicos". Desse modo, no Brasil colonial Os produtos citados, que podem ser
eles demonstravam a ausência de uma efetiva chamados de produtos secundários ou
integração espacial interna, muito embora acessórios, tiveram também sua importância
estivessem profundamente integrados ou na economia colonial e na fase da economia
articulados com o espaço geográfico exportadora capitalista, pois exerceram papel
metropolitano significativo no processo de povoamento luso-
brasileiro e estrangeiro do Brasil e,
OS CICLOS ECONÔMICOS E A PRODUÇÃO conseqüentemente, no processo de produção e
DO ESPAÇO organização de espaços geográficos.
Na evolução econômica do Brasil, pelos Quando um desses produtos, principais
menos até 1930, sempre existiu o domínio ou acessórios, se desenvolvia num certo lugar,
econômico de certos produtos, que receberam este se Transformava em área de atração
as maiores atenções e incentivos da parte da populacional, em "pólo" ou "ilha" econômica.
Coroa portuguesa, da burguesia comercial, da Pessoas de outras regiões do Brasil, de Portugal
aristocracia rural luso-brasileira, dos governos e de outros países para lá migravam em busca
imperiais e dos governos da República Velha de trabalho e riquezas, participando assim da
(1889-1930). produção dos espaços geográficos no território
brasileiro. Mesmo os escravizados africanos e
indígenas escravizados eram levados para
servir como mão-de-obra, dentro do chamado
processo de migrações forçadas.
Sob o comando do capital comercial,
formaram-se, ao longo de nossa história, um
conjunto de economias regionais ou de espaços
geográficos regionais. Muitos deles
articulavam-se predominantemente ao
exterior; outros se ligavam entre si e alguns
ficavam fechados em si mesmos (como
veremos no próximo tópico deste capítulo).
Produziu-se, assim, tomando-se o território
brasileiro como um todo, um espaço organizado
em "coágulos", ou seja, em "ilhas" e
"arquipélagos" econômicos.
O sistema produtivo implantado no Brasil —
principalmente no período da economia
colonial, dando origem ao processo inicial de
Os produtos principais foram os que produção dos espaços geográficos — tinha a
lideraram as exportações e constituíram a base função de promover a acumulação primitiva do
da economia colonial e da economia capital para a Metrópole, capital este
exportadora capitalista, predominando ora um, apropriado pela Coroa portuguesa e pêlos
ora outro. Foi o caso, por exemplo, da cana-de- comerciantes. Isso promoveu, desde o início da
açúcar, nos séculos XVI e XVII, em áreas ou colonização, uma relação espacial de
zonas do nordeste do Brasil; dos metais e exploração econômica, entre o espaço
pedras preciosas [ouro. prata, esmeralda, subordinante (metrópoles ou "países centrais")
diamante etc.], no período áureo da mineração, e os espaços subordinados ("colônias ou países
principalmente em Minas 3erais, no século periféricos").
XVIII: e do cate, no Rio de Janeiro, Espírito
Santo, São Paulo e Minas Gerais, nos séculos
XIX e XX, mas este último produto ia em outra
fase do capitalismo — a monopolista.
As economias colonial e exportadora
capitalista ou primário-exportadora
produziram, além dos produtos principais,
outros artigos: madeiras e drogas do sertão,
principalmente na Amazônia; taba-;o,
sobretudo no Recôncavo Baiano; gado bovino,
no Agreste e no Sertão nordestino e no sul do
Brasil; algodão, no Maranhão e em trechos do
Sertão nordestino; borracha e castanha-do-
pará, na Amazônia; cacau, no sul da Bahia e na
Amazônia, e produtos alimentares ou de
Quando, por alguma razão, ocorria o
declínio ou decadência econômica de uma área
de atração populacional ou de um certo espaço
geográfico em construção — como. por
exemplo, o do nordeste, com a queda da
produção açucareira, devida à concorrência das
Antilhas, e o das Minas Gerais, com o
esgotamento do ouro de aluvião*, nos séculos
XVII e XVIII, respectivamente —, estes se
transformavam em áreas ou espaços
geográficos de repulsão de população. Com a
regressão da atividade econômica ao grau de
produção de subsistência, a articulação com o
exterior decrescia, pois não havia mais ex-
cedentes significativos para as trocas
comerciais. Esses espaços, que no quadro da
divisão internacional da produção dependiam
substancialmente do exterior, fechavam-se
quase completamente sobre si mesmos,
ocasionando a redução do ritmo de seu
processo de produção e organização espacial.
Concluímos, portanto, que a produção dos es-
paços geográficos no Brasil, durante o período
da economia colonial e de parte da economia
exportadora capitalista (século XIX e início do
XX), teve por base a formação de sucessivas
áreas de atração e repulsão de população.
Essa dinâmica obedeceu à lógica do
capitalismo comercial e, depois, à do
capitalismo industrial ou monopolista, ambos
dependentes das vicissitudes e instabilidades
da economia dos "países centrais". Foi, desse
modo, um processo comandado pelo exterior,
e não pelas necessidades internas das
distintas regiões brasileiras, salvo em alguns
casos, como veremos em seguida.

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