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Livro 1
Livro 1
cálculo estrutural de
estruturas de contenção
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Conceituar empuxo.
Analisar as instabilidades nos muros de gravidade: deslizamento, tom-
bamento, ruptura por tensão excessiva na fundação e ruptura global.
Dimensionar cortina de estaca prancha sem ancoragem.
Introdução
A análise dos esforços de estruturas de contenção começa pelo entendi-
mento da definição de empuxos ativo e passivo. A partir da definição deste
conceito relativamente simples, é possível realizar o cálculo estrutural
para as mais diversas estruturas de contenção.
No cálculo estrutural, devem ser consideradas todas as condições de
ruptura da estrutura de contenção. É importante que o engenheiro seja
capaz de identificar estas condições para evitar acidentes. Geralmente,
os acidentes com estruturas de contenção são seríssimos, envolvendo
vidas, estruturas e um volume grande de material.
Neste capítulo, você vai estudar o empuxo, as instabilidades nos
muros de gravidade e o dimensionameno da cortina de estaca prancha
sem ancoragem.
Empuxos
Dois dos parâmetros fundamentais para análise dos esforços e cálculo es-
trutural das estruturas de contenção são: o empuxo ativo, causado pelo solo
O empuxo ativo é definido como uma tensão feita pelo solo sobre um
anteparo. Essa tensão tenta afastar o anteparo do solo para, deste modo, aliviar
as tensões horizontais no solo. O empuxo depende do peso específico do solo,
da altura do anteparo e de um coeficiente que depende da inclinação do solo e
do ângulo de atrito interno do solo. O empuxo ativo pode ser calculado como:
onde .
Muros de arrimo
Os muros de arrimo podem ser de gravidade (de peso) ou de balanço (muro de
flexão). Os muros de arrimo têm como característica que o seu peso próprio,
ou a massa de solo sobre as suas fundações, garantem a sua estabilidade. Estes
muros são reaterrados depois da construção, sendo condição necessária que o
corte do terreno permaneça estável durante o período de construção do muro.
Este tipo de solução é normalmente aplicado quando a diferença de altura
entre o solo contido e o solo escavado é de até 6 metros, embora, eventualmente,
possa ser dimensionado para diferenças de altura maiores. Os muros de arrimo
exigem um sistema de drenagem eficaz para aliviar os esforços sobre o muro,
de forma que a água não exerça pressão sobre o muro. Quanto ao sistema de
drenagem, ele deve ser o mais simples possível e, de preferência, não necessitar
de intervenções de manutenção com frequência.
Os muros de gravidade são dimensionados de modo que apenas o seu
peso seja o suficiente para conter o solo. Não existem esforços no muro a
não ser o de compressão, de forma que não há armadura necessária para
este tipo de muro. São feitos de concreto, pedra argamassada, pneus, por
gabiões (gaiolas metálicas preenchidas por pedras) e crib walls (estrutura
de madeira, aço ou concreto que confina o solo).
Já os muros de flexão são estruturas delgadas, nas quais a estabilidade
do muro depende do peso do solo acima da sua fundação. Diferentemente
dos muros de peso, os muros de flexão funcionam também à tração, o que
obriga a presença de armadura na estrutura. Podem ser usados contrafortes
espaçados que aumentem a resistência do muro. Na Figura 2, são mostrados
cortes transversais dos muros de peso (a) e dos muros de balanço (b). Em
(b) é apresentada a nomenclatura para o muro de flexão.
Deslizamento
Antes de iniciar a análise dos esforços nos muros de arrimo, apresenta-se
uma tabela de valores típicos dos parâmetros do solo para alguns tipos de
solo (em uma análise real, esses valores devem ser obtidos de ensaios de
laboratório do solo empregado para a contenção):
Tombamento
O muro, conforme visto, pode, também, tombar. A estabilidade com relação
ao tombamento exige que o momento resistente seja maior do que o momento
solicitante.
Tomando como base a Figura 4, escreve-se:
Para evitar a ruptura do solo, a relação 𝜎max < qmax/2.5 deve ser respeitada,
onde qmax é a capacidade de suporte calculada pelo método de Terzaghi-Prandtl
pela seguinte equação:
𝜙 (º) Nc Nq Nγ
Neste vídeo é possível ver a ideia por trás da execução dos muros de arrimo, bem
como a importância da drenagem.
https://goo.gl/n8N7xN
Ruptura global
Há, ainda, uma última forma de ruptura que é a ruptura global, também
conhecida como ruptura do conjunto muro-solo. Considera-se que a ruptura
acontece através de uma linha de ruptura que engloba parte do solo contido e
a estrutura de contenção. Existem alguns métodos para avaliar essa ruptura,
sendo o de Fellenius e de Bishop os mais conhecidos.
No método de Fellenius, também conhecido como método das fatias
(Figura 6), admite-se que exista uma linha de ruptura no solo que engloba
o solo contido e a estrutura de contenção. A linha de ruptura, de maneira
simplificada, pode ser considerada como sendo circular, embora em campo
ela apresente geometria diferente. Essa linha não é conhecida a priori.
Desse modo, o procedimento correto para a avaliação da ruptura global é
variar o centro dessa circunferência e o seu raio até que se encontre a linha
crítica (que oferece a menor resistência). Como se pode imaginar, esse é um
processo complicado e que envolve soluções numéricas.
Figura 6. Método das fatias aplicado a uma estrutura de contenção (a) e detalhe das forças
atuantes na fatia n (b).
Esse método é conhecido como método das fatias por dividir a estrutura,
o solo contido e a região do solo onde há escavação em fatias, considerando
as forças de cada uma – um esquema é mostrado na Figura 6(a). As forças
da fatia n, conforme a Figura 6(b), são o peso (Pn), a sobrecarga (Q), as
reações normal (Nn) e tangencial (Tn) e as componentes normais (Hn-1 e Hn+1)
e verticais (Vn-1 e Vn+1) das reações (Rn-1 e Rn+1) das fatias vizinhas n – 1 e
n + 1. No método de Fellenius, as reações Rn-1 e Rn+1 são consideradas iguais,
com mesma direção, mas sentidos opostos. Assim:
Pn = Pn cos
Área = An γ c’ ΔLn α tan𝜙’ 𝜏n ΔLn Pn sin α
Fatia An (m²) (kN/m) (kN/m) (kN/m) (kN/m) (kN/m)
Deste modo:
Este resultado indica que a estrutura calculada sofrerá ruptura global. Algumas
medidas podem ser tomadas para evitar que isso ocorra; a principal delas é diminuir
a inclinação do talude (dada por α).
Ou seja:
Este é o valor teórico. Deve considerar, pelo menos, 20% a mais. Logo:
2. Determine os coeficientes ka
(empuxo ativo) e kp (empuxo
b) Ruptura por tensão excessiva na passivo) para uma inclinação do solo
fundação. contido de 10 graus e um ângulo
de atrito interno de 30 graus.
a) ka = 0,355 / kp = 2,818.
b) k a = 0,355 / kp = 0,355.
c) ka = 2,818 / kp = 0,355.
d) Não é possível calcular.
e) ka = 0,297 / kp = 3,362.
3. Deseja-se verificar a estabilidade da
c) Ruptura por tensão excessiva na estrutura de contenção da figura
fundação. com relação ao tombamento.
Qual é o fator de segurança para
esta instabilidade? A estrutura é
considerada estável com relação ao
tombamento em torno do ponto A?
d) Deslizamento.
Leituras recomendadas