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Disciplina: Conversão eletromecânica de energia II

Aula 4: Transformadores

Apresentação
Você sabia que o transformador é um equipamento empregado praticamente em
todos os ramos de atividade dos diferentes setores da economia moderna?

Nesta aula, estudaremos os transformadores monofásicos e trifásicos – muito


utilizados no transporte de energia elétrica dentro do Sistema Interligado Nacional
(SIN), bem como nas indústrias, quando é necessário reduzir os valores de tensão e
corrente para que possam ser lidos pelos equipamentos de proteção e medição.

Objetivos
Reconhecer os transformadores;
Explicar seu funcionamento;
Calcular as perdas nos transformadores;
Listar o passo a passo dos ensaios necessários a esses equipamentos.
Princípio de funcionamento
Basicamente, o transformador é um equipamento capaz de realizar a
alteração no nível de tensão por meio da transferência de fluxo magnético
entre dois ou mais enrolamentos acoplados por um núcleo (NASCIMENTO
JÚNIOR, 2008).

Entre suas principais aplicações estão:

Transferência de energia de um circuito elétrico a outro – com ajuste do nível


de tensão.

Acoplamento entre sistemas elétricos – cujo objetivo é o casamento de


impedância.

Isolação e eliminação de Corrente Contínua (CC) entre dois ou mais circuitos.

Agora, vamos entender como o transformador funciona.

A partir da conexão de uma tensão alternada de entrada no enrolamento


primário, o fluxo gerado é conduzido pelo núcleo magnético e enlaçado pelo
enrolamento secundário. Isso induz uma tensão cuja amplitude depende do
fluxo magnético e do número de espiras do secundário.

A amplitude do fluxo produzido pelo primário relacionada ao número de


espiras e da tensão de entrada (amplitude e frequência).
A base de funcionamento de um transformador necessita de um fluxo comum,
variável no tempo, que seja enlaçado por dois ou mais enrolamentos,
conforme observamos nas figuras a seguir:

 Transformador | NASCIMENTO
p. 36.
JÚNIOR, 2008,

 Ligação deJÚNIOR,
um transformador | NASCIMENTO
2008, p. 38.

Determinando a relação adequada entre o número de espiras do primário e do


secundário, obtemos a seguinte relação entre tensões desejada:

U1 N1
  =  
U2 N2
Onde:
U1 = tensão aplicada na entrada (primária);
N1 = número de espiras do primário;
N2 = número de espiras do secundário;
U2 = tensão de saída (secundário).

A tensão gerada no secundário, decorrente do fluxo magnético variável


advindo do primário, é denominada tensão induzida. Se aplicarmos uma CC
no primário do transformador, não haverá tensão no secundário, pois o fluxo
magnético não será variável ao longo do tempo.

A relação das correntes com o número de espiras entre enrolamentos primário


e secundário é dada por:

I1 N1
  =  
I2 N2

Onde:
I1 = tensão aplicada na entrada (primária);
I2 = número de espiras do primário;
N1 = número de espiras do secundário;
N2 = tensão de saída (secundário).

Note que, no enrolamento de maior tensão, circulará a menor corrente.


Assim:

Quanto menor for o número de espiras, maior


será a corrente.

Circuito equivalente
Embora acoplado pelo núcleo de ferro, uma pequena porção de fluxo disperso
(Φ1 e Φ2) é gerada nos enrolamentos do transformador.

No primário, o fluxo disperso Φ1 gera uma reatância indutiva X1. No


secundário, o fluxo disperso Φ2 gera uma reatância indutiva X2.

Os parâmetros apresentados no circuito equivalente determinam o


funcionamento correto do transformador (NASCIMENTO JÚNIOR, 2008).
Observe a figura a seguir:

 Circuito equivalente do transformador


monofásico | FILIPPO FILHO, 2000, p. 13

Onde:
Xm = reatância indutiva de magnetização;
Rm = resistência de magnetização que retrata as perdas do ferro;
R1 = resistência do enrolamento primário;
X1 = reatância indutiva do enrolamento primário;
R2 = resistência do enrolamento secundário;
X2 = reatância indutiva do enrolamento secundário.

Os valores das impedâncias refletidas são tais, que as potências ativa e


reativa são iguais quando sujeitas à corrente I’1. Assim, temos as seguintes
relações:

2
N1
R2r   =  ( )  .  R2
N2

2
N1
X 2r   =  ( )  .  X 2
N2

2
N1
Z2r   =  ( )  .  Z2
N2

Comentário

Na prática, podemos utilizar o circuito em que X2r é agrupado a R1 e X1.


O erro cometido com essa simplificação é aceitável para efeito de análise
do transformador.

Portanto, o circuito equivalente fica da seguinte forma:

 Circuito equivalente aproximado do


transformador monofásico | FILIPPO FILHO, 2000,
p. 14

Com o conhecimento dos parâmetros do transformador, é possível utilizar os


ensaios para determinar sua grandeza.

Perdas

Perdas no cobre

As perdas no cobre podem ser divididas em:

Perdas na resistência ôhmica dos enrolamentos


• Decorrentes da passagem de uma corrente I pelo condutor que
apresenta determinada resistência R. Estas perdas são
representadas pela expressão I2R.
Perdas parasitas no condutor dos enrolamentos
• Geradas pelas correntes parasitas induzidas nos condutores do
enrolamento. Estas perdas dependem da grandeza da amplitude da
corrente e da geometria dos condutores das bobinas.

Perdas no ferro (Núcleo magnético)

As perdas no ferro podem ser divididas em:

Perdas por histerese


• Causadas pelas propriedades dos materiais ferromagnéticos, que
apresentam um atraso entre a indução magnética (b) e o campo
magnético (h).
Perdas por correntes parasitas
• Geradas pela circulação de correntes parasitas, causadas pelo
fluxo variável induzido no material ferromagnético.


Comentário

As perdas no cobre, o valor da resistência e da reatância indutiva dos


enrolamentos, e o fator de potência são determinados a partir do ensaio
de curto-circuito, que estudaremos mais adiante.

Para isso, podemos utilizar as seguintes equações:

U cc
Zcc =
Icc

−−−−− −−−− −
2 2
X cc = √Zcc   −  Rcc

Pcc
C osφ =
U cc × Icc

Pcc
Rcc = 2
Icc
O fluxo magnético variável no tempo, responsável pela tensão induzida no
secundário, produz correntes induzidas no núcleo constituído de material
ferromagnético. Essas correntes são indesejadas, pois geram perdas no
transformador.

Portanto, o circuito equivalente fica da seguinte forma:

 Circuito equivalente aproximado do


transformador monofásico| CARVALHO, 2008, p. 38

Assim, a circulação de corrente induzida diminui. Consequentemente, o


aquecimento do equipamento também é reduzido.

Cálculo do rendimento
De acordo com Nascimento Júnior (2008, p. 48):

[...] para o transformador, o rendimento é a relação

entre a potência entregue no secundário e a potência


absorvida no primário.

NASCIMENTO JÚNIOR, 2008, p. 48

A uma temperatura de 20 °C, o rendimento do transformador é dado por:

U5 I 5
Re nd =
U5 ×I 5 +PCU +PFE

Onde:
Rend = rendimento do transformador;
Us = tensão no secundário;
Is = corrente no secundário;
Pcu = perdas no cobre;
PFE = perdas no ferro

Ensaios
Os ensaios principais a que os transformadores se submetem são:
1

Verificação de isolação

Determinação da relação de transformação

Ensaio a vazio

Ensaio de curto-circuito

Os instrumentos e equipamentos necessários a tais processos são:

Amperímetro

Voltímetro

Wattímetro

Megôhmetro

Osciloscópio

Vamos conhecer a aplicabilidade de cada um desses ensaios?

Verificação de isolação
Aqui, aplica-se uma tensão contínua entre os enrolamentos e o núcleo ou
entre enrolamentos diferentes. Como consequência dessa aplicação, as
correntes geradas nos materiais dielétricos dão uma noção das condições do
sistema de isolação.
A interpretação de tais condições é dada pelo megôhmetro, que indica o valor
da resistência de isolação em megaohms. Podemos utilizar como referência a
seguinte regra prática: 1 KΩ por volt.

Para realizar o ensaio, siga este roteiro:

Use o megôhmetro e meça a resistência de isolação entre o primário e a


carcaça.

Meça a resistência de isolação entre o secundário e a carcaça.

Meça a resistência de isolação entre os enrolamentos primário e secundário do


transformador.

Calcule o valor mínimo para a resistência de isolação do transformador


avaliado e compare-o com os valores obtidos no ensaio.


Comentário

Os megôhmetros mais frequentemente utilizados são para 1.000, 2.500


e 5.000 volts.

Determinação da relação de transformação


Aqui, faz-se a leitura direta, com o auxílio do voltímetro, das tensões nos
enrolamentos primário e secundário.

Para realizar o ensaio, siga este roteiro:


1

Identifique os enrolamentos.

Imponha ao enrolamento primário uma tensão reduzida.

Meça, com o auxílio de um voltímetro, a tensão no


secundário.

Ensaio a vazio
Este ensaio permite obter os dados necessários para determinar os
parâmetros do circuito equivalente do transformador e as perdas no ferro.

Isso possibilita prever o comportamento do transformador em condições de


carga, além daquelas que caracterizam as circunstâncias normais de trabalho,
como mostra a figura a seguir:

Alimente o enrolamento primário com suas tensões e frequência nominais, e


anote o valor da tensão aplicada.

Anote, a partir da leitura do wattímetro, o valor da potência absorvida.

Anote, a partir da leitura do amperímetro, o valor da corrente no primário.


 Fonte: Shutterstock

Para determinar os parâmetros do transformador, utilizamos as seguintes


relações:

P0
C osφ =
V0 ×I0

I Rm = I0 × C os∅

I m = I0 × sen∅

V0
Zm =
I0

V0
Rm =
I Rm

V0
Xm =
Im

2
V0
Qvar =
Xm

2
V1
Xm =
Qvar

Ensaio de curto-circuito
O ensaio de curto-circuito permite determinar as perdas no cobre nos
enrolamentos primário e secundário.


Atenção

Cuidado com à tensão aplicada no primário do transformador: a fonte


deve estar desligada, de modo que o amperímetro seja conectado para
medir a corrente no secundário.
Portanto, o circuito equivalente fica da seguinte forma:

 Ensaio em curto-circuito no transformador


monofásico| NASCIMENTO JÚNIOR, 2008, p. 53

Para realizar o ensaio, siga este roteiro (NASCIMENTO JÚNIOR, 2008):

Alimente o transformador com uma tensão alternada através dos terminais 1


e 2, partindo de 0 V (fonte de tensão ajustável).

Eleve gradualmente o nível de tensão imposta ao primário até o ponto no qual


a corrente seja equivalente à nominal do transformador.

Com as informações medidas – potência (Pcc), tensão (Vccp) e corrente –,


determine os parâmetros do circuito equivalente, utilizando as seguintes
equações:

Pcc
Rcc = 2
Icc

Vcc
Zcc =
Icc

−−−−−−−−−
X cc = √Z 2 cc − R2 cc

P
C os∅ = cc
Vcc ×Icc

Rcc = r1 = r2

Np
r1 = r2 ×
Ns

4
Calcule a impedância percentual e a corrente de curto no secundário a partir
das seguintes equações:

Vcc
Z% = × 100
Vp

100
Icc = × IN
Z%

Calcule o rendimento do transformador a 20 °C:

Vs ×Is
Rend =
Vs ×Is +PCU +PFE

Atividades
1. Determine o número de espiras do primário de um transformador com
180 espiras no secundário e uma relação de tensão de 120/12 V.

2. Para uma carga de 800 W, determine as correntes nos enrolamentos


do transformador citado no exemplo anterior.
3. O transformador de tensão nominal 440/220 V, 3,0 kVA e 60 Hz
apresentou os seguintes resultados nos ensaios:

Curto-circuito = 18 W e 24 VAr;
A vazio = 36 W e 24 VAr.

Calcule os valores dos parâmetros do circuito equivalente aproximado,


referente ao primário.

Referências

FILIPPO FILHO, G. Motor de indução. São Paulo: Érica, 2000.

FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY JUNIOR, C.; UMAS, S. D. Máquinas elétricas – com


introdução à eletrônica de potência. 6. ed. São Paulo: Artmed, 2006.

JORDÃO, R. G. Transformadores. São Paulo: Edgard Blücher, 2002.

NASCIMENTO JÚNIOR, G. C. Máquinas elétricas: teoria e ensaios. 2. ed. São Paulo:


Érica, 2008.

SERVIÇO Nacional de Aprendizagem Industrial. Transformador trifásico. Rio de


Janeiro: SENAI, 1980.

______. Transformador monofásico. Rio de Janeiro: SENAI, 1980.

SILVA, S. R. Dinâmica de motores elétricos. In: ______. Princípios da conversão


eletromecânica. Belo Horizonte: UFMG, 2013.

Próximos Passos

Máquinas elétricas;
Máquinas elétricas rotativas;
Corrente Alternada.

Explore mais

Assista aos vídeos:


Transformadores <https://www.youtube.com/watch?
v=byVn1Sbk_YU> ;
Indução eletromagnética: transformador
<https://www.youtube.com/watch?v=GObV4MMO0io> ;
Ensaio em vazio e ensaio em curto-circuito de transformadores de
potência <https://www.youtube.com/watch?v=ZMuwAPSYYbM>

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