Disciplina: Conversão eletromecânica de energia II

Aula 7: Gerador de corrente contínua

Apresentação
Nesta aula, estudaremos o princípio de funcionamento e os aspectos construtivos do
gerador CC.

Além disso, conheceremos os tipos de excitação do campo e o circuito equivalente da

máquina CC, bem como abordaremos suas equações de tensão e de regulação de
tensão. Por fim, aprenderemos a calcular as perdas e a eficiência dessa máquina.

Objetivos
Identificar as definições, principais tipos e aspectos construtivos dos geradores
de corrente contínua.
Compreender como é o funcionamento destas máquinas.
Características do gerador de
corrente contínua
O gerador de corrente contínua – também chamado de gerador CC – é uma
máquina que converte a energia mecânica de rotação em energia elétrica.

A geração de corrente contínua é obtida ao conectar uma máquina primária ao

eixo de uma máquina de corrente contínua, com a aplicação ao eixo de um
conjugado mecânico, imprimindo uma determinada velocidade à máquina.
Essa máquina primária é usualmente chamada de máquina motriz do gerador.

 Gerador de corrente contínua

Há diversas fontes que podem fornecer a energia mecânica necessária para o

funcionamento da máquina primária, tais como:

Vapor

Óleo diesel

Queda-d´água

Motor elétrico
A aplicação da corrente contínua ocorre em vários setores industriais.

Podemos citar como exemplo:

Cargas de baterias e acumuladores;

Eletroímãs de aplicações industriais;
Tração elétrica;
Instalações de eletroquímicas.

Tipos de geradores CC
Há cinco tipos principais de geradores CC, que são classificados de acordo
com o modo de produção do fluxo de campo. São eles:
 1

Gerador de excitação independente

No gerador de excitação independente, o fluxo de campo é obtido de uma

fonte de potência separada do próprio gerador.

Gerador em derivação

No gerador em derivação, o fluxo de campo é obtido pela ligação do circuito

de campo diretamente aos terminais do gerador.

Gerador série

No gerador série, o fluxo de campo é obtido ao conectar o circuito de campo

em série à armadura do gerador.

Gerador composto cumulativo

No gerador composto cumulativo, estão presentes ambos os campos em

derivação e em série, e seus efeitos são aditivos.

Gerador composto diferencial

No gerador composto diferencial, estão presentes ambos os campos (em

derivação e em série), mas seus efeitos são subtrativos.

Os diversos tipos de geradores CC diferem entre si nas características de

terminal (tensão versus corrente) e, portanto, nas aplicações às quais são
adequados. Os geradores CC podem ser comparados entre si por suas
tensões, potências nominais, eficiências e regulações de tensão.

Princípio de funcionamento
O processo de geração de energia está ligado aos fenômenos
eletromagnéticos que estudamos na aula 3, especificamente à lei do
eletromagnetismo, que trata da diferença de potencial resultante nas
extremidades de um condutor pela sua ação dentro de um campo magnético.
O gerador CC mais simples é composto por um enrolamento de armadura com
uma única espira interceptada pelo campo magnético gerado. Com o
movimento de rotação da espira, ocorre a variação do fluxo magnético e, em
decorrência dessa variação, surge uma força eletromotriz (fem) conforme a
Lei da Indução Magnética.

ΔΦ
f em  =  
Δt

Podemos observar na figura a seguir o posicionamento da espira em três

momentos diferentes e o gráfico da força eletromotriz em formato senoidal.

 Princípio de funcionamento do gerador CC

Uma forma de retificar o formato senoidal da força eletromotriz apresentada é

com a utilização de um comutador formado por segmentos de cobre. Na figura
a seguir, podemos observar o comportamento da força eletromotriz em função
da posição da espira para cinco posições diferentes, formando um ciclo
completo de rotação.
  Forma de onda da F.E.M. versus posição da
espira

Na posição IV da figura a seguir, a bobina apresenta a máxima força

eletromotriz, com o condutor escuro na frente do polo N e o branco na frente
do polo S. Podemos entender que a posição B será sempre positiva e A será
sempre negativa enquanto for mantida a rotação indicada pela seta circular e
o sentido de campo.

 Bobina gerando máxima força eletromotriz

O gerador CC possui três componentes principais: enrolamento de estator,

armadura e comutador. O enrolamento do estator do gerador CC é alimentado
com tensão CC para produzir um campo magnético fixo. Pelo fato de essa
tensão dar origem ao campo magnético do estator, recebe o nome de tensão
de excitação. O campo magnético gerado corta as espiras do enrolamento da
armadura (ou vice-versa) quando ele, por ação mecânica, gira dentro do
campo.
A soma de campo magnético mais espira em movimento resultam em indução
eletromagnética, que gera uma diferença de potencial (ddp) levada ao meio
externo pelo conjunto de escovas mais comutador.

ASPECTOS CONSTRUTIVOS

As principais partes que compõem os geradores de corrente contínua são as

mesmas dos motores de corrente contínua. Agora, você conhecerá em
detalhes cada uma das partes que compõem os geradores de corrente
contínua.

ARMADURA

Para o gerador CC, a armadura realiza movimento de rotação em decorrência

de uma força mecânica externa. A tensão gerada na armadura é ligada a um
circuito externo. Para o motor de corrente contínua, a armadura recebe a
corrente proveniente de uma fonte elétrica externa, que faz com que ela gire
em decorrência do movimento de rotação. A armadura também é chamada de
rotor.

COMUTADOR

Comutador é o dispositivo responsável pela conversão da corrente alternada

que circula pela armadura em corrente contínua. O comutador é composto de
um par de segmentos de cobre para cada enrolamento da armadura, sendo
estes isolados entre si e isolados do eixo, uma vez que são fixados no mesmo.
No chassi da máquina, são montadas duas escovas fixas que possibilitam o
contato com segmentos opostos do comutador. (GUSSOW, 1985)

ESCOVAS

São conectores de grafita fixos montados sobre molas que possibilitam o

deslizamento sobre o comutador no eixo da armadura, servindo de contato
entre os enrolamentos e a carga externa.
 ENROLAMENTO DE CAMPO

O enrolamento de campo tem um eletroímã responsável pela produção do

fluxo interceptado pela armadura. No gerador CC, a fonte de corrente de
campo pode ser separada ou proveniente da própria máquina, que é chamada
de excitador.

EXCITAÇÃO DO CAMPO

O tipo de excitação de campo utilizado define o nome dos geradores CC.

Quando a excitação é realizada por uma fonte CC separada, como, por
exemplo, uma bateria, ele é denominado de gerador de excitação separada.

Os geradores que possuem sua própria excitação são chamados de geradores

autoexcitados. Para as configurações em que o circuito de armadura estiver
em paralelo com o campo, ele é chamado de gerador em derivação. Quando o
campo está em série com a armadura, é chamado de gerador série.

Caso sejam usados os dois campos, série e paralelo, é chamado de gerador

composto, que pode apresentar as configurações de derivação curta e
derivação longa. Acompanhe, a seguir, os detalhes e circuitos de cada tipo de
gerador CC.
 GERADOR COM EXCITAÇÃO INDEPENDENTE

Nesta configuração, o enrolamento de campo deve ser alimentado por uma

fonte de corrente contínua independente. A fonte de alimentação pode ser
outro gerador de corrente contínua, uma fonte retificada ou, até mesmo, uma
bateria. A figura a seguir ilustra a configuração para o gerador de corrente
contínua.

 Circuito do Gerador CC com excitação

independente
 GERADOR COM EXCITAÇÃO DE CAMPO PARALELO

Nesta configuração, o enrolamento de campo é conectado em paralelo ao

enrolamento de armadura. O enrolamento de armadura fornece a alimentação
necessária ao enrolamento de campo. Surge então a pergunta: como é
possível o enrolamento de armadura fornecer uma tensão para alimentar o
enrolamento de campo, se o primeiro necessita do segundo como fonte de
força magneto motriz?

A resposta reside na capacidade do material ferromagnético de reter uma

determinada densidade de fluxo residual. Este magnetismo residual é o
responsável por gerar uma pequena tensão nos terminais de saída do gerador,
que irá realimentar o enrolamento de campo, aumentando o fluxo por polo
necessário para que o gerador atinja a tensão de saída nominal em seus
terminais de saída. Este processo é conhecido como escorvamento do gerador
de corrente contínua. A figura a seguir apresenta o circuito para o gerador de
corrente contínua com excitação de campo paralelo.

 Circuito docampo
gerador CC com excitação de
paralelo
 GERADOR COM EXCITAÇÃO DE CAMPO SÉRIE

O gerador com excitação de campo série possui a peculiaridade de que é

necessário haver uma carga conectada entre seus terminais de saída para que
exista uma corrente no enrolamento de campo. Como a corrente de armadura
é a responsável pela excitação do enrolamento de campo, é fundamental para
o funcionamento deste gerador que os terminais de saída estejam conectados
à carga. A excitação inicial também ocorre devido ao magnetismo residual. A
figura a seguir ilustra o circuito elétrico para o gerador série.

 Circuito do gerador CC com excitação de

campo série
 GERADOR COM EXCITAÇÃO DE CAMPO COMPOSTA

A conexão do enrolamento de campo da forma, como é apresentada na figura

a seguir, possibilita contornar os problemas devido à queda de tensão na
resistência de armadura. A bobina adicional, conectada em série, pode
fornecer força magnetomotriz adicional para aumentar ou diminuir o fluxo por
polo, de acordo com a necessidade.

 Circuito do gerador CC com excitação de

campo série

CIRCUITO EQUIVALENTE DO GERADOR CC

As relações entre tensão e corrente num circuito equivalente de um gerador

CC, de acordo com a Lei Ohm, ocorrem conforme apresentado na figura a
seguir. (GUSSOW, 1985)

 Circuito equivalente do gerador CC

Aplicando as Leis de Kirchhoff ao circuito equivalente, temos as seguintes
equações de tensão e corrente:

Vta = Vg - Iara
Vt = Vg - Ia (ra + rs)
IL = Ia – Id

Onde:

Vta = tensão no terminal da armadura (V);

Vg = tensão gerada na armadura (V);

Ia = corrente na armadura (A);

Vt = tensão no terminal do gerador (V);

ra = resistência do circuito da armadura (Ω);

rs = resistência do campo série (Ω);

rd = resistência do campo em derivação (Ω);

IL = corrente na linha (A);

Id = corrente do campo em derivação (A).

Equações da tensão no gerador e regulação de

tensão
Em um gerador, a tensão média Vg pode ser determinada pela seguinte
equação:

p . Z . Φ . n
Vg   =   8
60 . b . 10

Onde:

Vg = tensão média gerada por um gerador CC (V);

p = número de polos;
Z = número total de condutores na armadura (também chamados de
indutores);

Φ = fluxo por polo;

n = velocidade da armadura (rpm);

b = número de percursos paralelos através da armadura (dependendo do tipo

de enrolamento da armadura).

Sendo os fatores da equação de Vg fixos, com exceção de Φ e n, a equação

pode ser simplificada da seguinte forma:

Vg = k . Φ . n

A regulação de tensão é a diferença entre a tensão do terminal sem carga

(SC) e com carga (CM), expressa com uma porcentagem do valor de carga
máxima, que é dada pela seguinte relação:

ã ã
tens o SC – tens o com CM
Regula ção de T ensão  =  
ã
tens o com CM

Um baixo percentual de regulação de tensão significa que a variação de

tensão no gerador é mínima com a variação da carga no mesmo.

Perdas e eficiência de uma máquina CC

Segundo Gussow (1985), as perdas nos geradores e nos motores CC se
dividem em perdas no cobre e perdas mecânicas provenientes da
rotação da máquina. Podem ser descritas da seguinte forma.

Perdas mecânicas ou
Perdas no cobre
rotacionais
Perdas no ferro:
Perdas I², R(por efeito Joule)
• Perdas por corrente parasita;
naarmadura.
• Perdas por histerese.
Perdas de campo: Perdas por atrito:
• I²R do campo em derivação; • Atrito no mancal (rolamento);
• I2R do campo em série. • Atrito nas escovas;
• Perdas pelo atrito com o ar.

As perdas no cobre são consequência da passagem de corrente através de

uma resistência do enrolamento. As correntes parasitas são geradas pela
força eletromotriz induzida no núcleo magnético à medida que a armadura
realiza o movimento de rotação no campo magnético.

Já as perdas por histerese são geradas quando o núcleo é magnetizado

inicialmente em um sentido e, num momento posterior, no sentido oposto. As
demais perdas rotacionais são geradas pelo atrito entre as escovas e o
comutador, pelo atrito entre as partes girantes e o ar e o atrito de rolamento
no mancal.

A eficiência é a razão entre a potência útil na saída e a potência total na

entrada.

í
P sa da
ê
Ef ici ncia  =  
P entrada

ou

í
P entrada – P erdas =   P sa da + P erdas
ê
Ef ici ncia  =  
í
P entrada  P sa da

A eficiência também pode ser expressa de forma percentual, como exposto a

seguir.

í
P sa da  x 100
ê
Ef ici ncia (%)   =  
P entrada
 Atividade
1. Considere um gerador com sua rotação de 1.800 RPM e tensão de 120
V. Determine a tensão gerada para as seguintes condições:

a) Se o fluxo for reduzido em 20%, com velocidade constante;

b) Se a velocidade for reduzida a 1.620 RPM, com o fluxo inalterado.

Gabarito comentado

2. Determine o percentual de regulação de tensão de um gerador em

derivação que, à plena carga, apresenta uma tensão de terminal de 120
V e, sem carga, apresenta 144V.

3. Um gerador em derivação possui uma resistência de campo de 40 Ω e

uma resistência de armadura de 0,4 Ω. Considerando que o gerador
entrega para a carga uma corrente de 30 A com uma tensão no terminal
de 120 V, determine:

a) Corrente de campo.

b) Corrente de armadura.

c) Perdas no cobre.

d) Eficiência com a carga, considerando que as perdas rotacionais sejam

de 300 W.

Referências
CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: Amgh,
2013.

FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY JUNIOR, C.; UMAS, S. D. Máquinas elétricas – com

introdução à eletrônica de potência. 6. ed. São Paulo: Artmed, 2006.

KOSOW, I. L. Máquinas elétricas e transformadores. Porto Alegre: Globo, v. 1,

1982.

Próximos Passos

Motores em corrente contínua;

Tipos de motores CC.

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Gerador elétrico. <https://www.youtu.be/wpMicCKWbJc>