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Tendências e inovações

no segmento de logística
Como percebemos ao longo do curso, a logística vem evoluindo. Ela passou a
ser vista como um departamento estratégico das empresas, algo muito mais
importante do que meramente distribuir insumos e produtos acabados.
A logística deve proporcionar uma boa experiência e, assim, fidelizar clientes, o
que é fundamental em mercados cada vez mais acirrados. Em busca da
sobrevivência, as organizações estão buscando cada vez mais diferenciar os
seus produtos e serviços dos da concorrência.
Ofertar diferenciação ao mercado não é um processo simples. Isso requer, por
exemplo, estudar o perfil do público que se deseja atender; saber e
compreender as suas preferências; e conhecer os seus concorrentes, assim
como o seu portfólio de produtos/serviços.
Resumindo: a empresa deve conhecer o mercado no qual está inserida. Isso
não significa simplesmente conhecer clientes e concorrentes, mas estar atento
a novas tendências no respectivo segmento.
A diferenciação é uma tendência geral em todos os segmentos. Trata-se de
uma tendência universal, que hoje conhecemos como inovação.
Provavelmente, você já ouviu ou leu essa palavra em algum lugar (na televisão,
em revistas, na internet).
É importante esclarecer que o termo “inovação” é utilizado em diversos e
diferentes segmentos e que não envolve a criação de algo novo (do zero). A
criação parte de uma base (produtos, serviços ou processos internos já
existentes), para a qual são desenvolvidas novas funções ou novos recursos. É
possível também que se crie uma nova etapa de um processo, visando a
proporcionar uma melhor experiência para o cliente, a otimizar processos e,
consequentemente, a aumentar o faturamento.

Quando se fala em experiência, isso envolve, de modo geral, características


como comodidade, assertividade, qualidade, rápido tempo de resposta e
confiança. Como exemplo de empresa inovadora, podemos citar o Airbnb. Pelo
seu site ou aplicativo, ela conecta proprietários de imóveis (praia, serra, capital)
com pessoas à procura de um lugar para passar as férias ou para se hospedar
durante uma viagem a trabalho, por exemplo.
O conceito se baseia no compartilhamento, de modo semelhante ao Uber.
Entretanto, no caso do Airbnb, o proprietário compartilha o seu imóvel. A
grande sacada da empresa foi justamente esta: possibilitar que qualquer
pessoa que possua um imóvel e que deseje alugá-lo por um determinado
período possa anunciá-lo no site ou aplicativo. Isso gera segurança tanto para
o cliente quanto para o anunciante, já que todo o processo é realizado dentro
da plataforma, desde a interação até o pagamento. Além disso, a empresa
presta auxílio aos proprietários cadastrados, orientando sobre como atender
aos hóspedes e sobre qual valor cobrar.
O aluguel de imóveis para uma temporada de férias já existe, como sabemos,
há muito tempo. Entretanto, antes os anúncios eram feitos em classificados nos
jornais ou em sites, e o acordo entre as partes era realizado diretamente, sem
um intermediário. Foi justamente essa lacuna que a empresa vislumbrou como
uma oportunidade de negócio. Essa é, basicamente, a inovação.
A inovação, além de ser criada a partir de algo que já existe, deve-se também à
existência de uma necessidade ou de uma oportunidade de mercado, conforme
o exemplo. Ela também pode surgir de uma necessidade de redução de custos
por parte da empresa. Assim, são analisados os seus processos internos, e é
proposto um novo fluxo de trabalho.

Para responder a esses questionamentos, vamos conhecer algumas


tendências e cases de inovação em logística.

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A terceirização continua a ser uma tendência no mercado logístico, e os
prestadores de serviços estão procurando inovar cada vez mais, de modo a
entregar serviços diferenciados e que agreguem valor.
Como já vimos, o principal diferencial da terceirização é permitir que as
empresas se foquem em sua atividade-fim. Elas deixam, então, atividades
como o transporte de produtos, por exemplo, a prestadores de serviços
especializados. Além disso, esses prestadores estão buscando se diferenciar
de concorrentes.
Como a inovação surge a partir de uma necessidade do mercado, as empresas
prestadoras de serviços devem estar atentas aos anseios de seus clientes e do
mercado de modo geral. O segmento é muito concorrido, com empresas muito
fortes atuando no Brasil, como a TNT (multinacional holandesa).
Nesse cenário, em que as empresas têm muitas opções, e considerando ainda
como o transporte é importante em nosso país, a diferenciação é considerada
uma questão de sobrevivência. Por isso, em 2015, surgiu no Brasil a Cargo X,
empresa a ser apresentada como um dos nossos cases em inovação.
O fato de, no nosso país, grande parte do transporte de cargas ser realizada
via terrestre foi um dos fatores que viabilizou o surgimento da Cargo X. A
empresa brasileira tem o mesmo conceito do Uber, entretanto está focada no
transporte de cargas.
Além da peculiaridade Brasil com relação ao transporte terrestre, também
podemos citar como fatores a serem considerados o alto custo que envolve
contratar esse tipo de serviço e os primeiros sinais de oscilação na economia
brasileira (entre os anos de 2014 e 2015). Segundo Oscar Salazar, um dos
idealizadores da empresa, esse momento de variação econômica fez com que
o mercado brasileiro de frete operasse com 40% de ociosidade.
O conceito-base da Cargo X é unir empresas a motoristas por meio de um
aplicativo. O seu diferencial são a qualidade e o baixo custo (30% de
economia inicial no frete).
Tendo sido estruturada em 2015 e com mais de 100 mil caminhoneiros
autônomos cadastrados, a empresa utiliza a ociosidade da frota autônoma do
país para realizar o cruzamento de rotas.
Imagine este caso: um caminhoneiro autônomo realizou determinada entrega e
está retornando à sua cidade de origem sem carga. O aplicativo pode cruzar a
rota desejada pelo cliente à rota de caminhões disponível. Se houver uma
demanda para a rota em questão, o caminhoneiro poderá retornar à sua cidade
com o veículo carregado, evitando a ociosidade.
Esse processo de busca por caminhões disponíveis de acordo com a rota
desejada é realizado pelo aplicativo em tempo real. A não ociosidade possibilita
prestar um serviço econômico ao embarcador. Além disso, e como ocorre no
Uber, a Cargo X se propõe a entregar ao seu cliente qualidade, agilidade e
flexibilidade.
Podemos ver que há, portanto, fatores determinantes para o desenvolvimento
de um negócio inovador. Vamos desmembrar um a um para permitir uma
melhor compreensão.
Oportunidade
 O Brasil utiliza basicamente o meio terrestre para transportar cargas.
 Esse tipo de serviço tem um alto custo com esse tipo de serviço.
 A oscilação econômica do país gera um processo de queda nas
demandas das empresas, o que afeta diretamente as transportadoras
(ociosidade).
Inovação e diferencial
 Um aplicativo conecta caminhoneiros autônomos (frota ociosa) a
empresas.
 Por propiciar o uso da frota ociosa do país, ganham-se qualidade e
redução no custo no transporte.

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Ainda quanto ao tema da terceirização, vamos falar sobre uma empresa que
está se reinventando devido às novas tendências e às necessidades do
mercado de modo geral.

Com o advento inicial do e-mail e, mais tarde, com o surgimento e o


desenvolvimento das redes sociais, as pessoas foram deixando de enviar
cartas e telegramas pelos Correios. Hoje em dia, se desejamos felicitar
alguém pelo seu aniversário, enviamos um uma mensagem no WhatsApp
ou deixamos uma publicação no Facebook. O serviço de envio de cartas é
utilizado atualmente quase somente para documentos. Ainda há a opção de
Sedex, que realiza a entrega em tempo reduzido (até mesmo no dia do
envio).

Os Correios precisaram se adaptar a essas grandes mudanças. Nos últimos


anos, houve um crescimento das empresas de e-commerce (lojas on-line).
Grande parte delas é de pequenos empreendedores, que buscam uma
renda extra enquanto tocam o próprio negócio em paralelo com outra
atividade, ou de outros que simplesmente buscam sobreviver e crescer.

Para o microempreendedor, principalmente aquele que está iniciando o seu


próprio negócio, os recursos financeiros são escassos. Sendo assim, um
pequeno estabelecimento de e-commerce não tem condições de contratar
uma transportadora para realizar as suas entregas. Essas novas lojas on-
line perceberam os Correios como o parceiro ideal, já que, com o seu
serviço de Sedex, obtêm um serviço de baixo custo e qualidade (rápido e
assertivo).

De 1 milhão de encomendas entregues diariamente pelo Correios, 70%


são demandas do comércio eletrônico. Comparando ainda o mês de
setembro de 2016 com o de 2017, percebeu-se um crescimento de 10%
na entrega de encomendas.

O atendimento por parte dos Correios junto a esse tipo de cliente aumentou
tanto que a empresa teve de revê-lo. Inicialmente, foi desenvolvido o e-
Sedex, serviço de entrega com custo ainda mais acessível, exclusivo ao
comércio eletrônico, porém com abrangência limitada a 200 cidades.
Com o aumento contínuo da demanda por esse serviço e pelo alto custo
aos Correios, tornou-se um imperativo atender cidades antes não
abrangidas. Sendo assim, os Correios decidiram implementar uma nova
política comercial em 2017, iniciando pelo cancelamento desse serviço.

As demandas do e-Sedex foram redirecionadas ao Sedex e ao PAC,


serviços com atendimento em todos os municípios do Brasil. O atendimento
unificado, segundo os Correios, permitiu reduzir os preços das entregas
realizadas anteriormente pelo e-Sedex em 32%. O objetivo da nova política
comercial era, basicamente, organizar as entregas conforme as demandas
de mercado. De acordo com os Correios, nos cinco primeiros meses de
implantação, as encomendas da empresa tiveram um crescimento de
16,4%.

Outro movimento realizado pela empresa, que podemos considerar como


inovador e que busca um atendimento personalizado às lojas de e-
commerce, foi a criação, em 2017, da Log+, um serviço de fulfillment. Os
Correios ficam responsáveis pelo estoque, pela separação, pela embalagem
e pelo envio dos produtos comercializados pelas empresas de e-commerce
clientes. Ou seja, todo esse processo é terceirizado via Correios,
possibilitando ao e-commerce focar nas suas vendas.

A Log+ está disponível estrategicamente em seis estados: Paraná, Minas


Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, São Paulo e Distrito Federal. Esses
estados estão localizados em diferentes regiões do país, permitindo, por
exemplo, que o centro de distribuição (CD) do Paraná atenda a toda a
região Sul e que o CD de Pernambuco atenda às regiões Norte e Nordeste.

Isso permite que as lojas de e-commerce atendam a todas regiões do


Brasil, o que acaba sendo um diferencial. Outro ponto importante, ainda de
acordo com os Correios (2017), é que essa solução proporciona até 47% de
redução nos custos logísticos totais (armazenagem, preparação e
distribuição), além da possibilidade de gerenciar a loja on-line de qualquer
lugar no mundo.
Mais uma vez, vamos desmembrar o case e buscar compreender os fatores
determinantes para o desenvolvimento desse serviço dos Correios.

Oportunidade

O mercado de e-commerce cresce no Brasil, impulsionado especialmente


pelos pequenos empreendedores.

Inovação e diferencial

Os Correios não somente entregam produtos. A empresa oferta também um


serviço especializado em logística, realizando desde a gestão de estoque
até a entrega do produto ao cliente final.

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Conhecida também como “4.ª revolução industrial”, a indústria 4.0 é uma
nova lógica de produção, tendo sido iniciada em 2011 pela Alemanha. Ela
deu início ao processo de digitalização do processo industrial.

Tal processo parte da junção da internet à automatização industrial,


tornando a manufatura inteligente e possibilitando um vasto universo a
diferentes fabricantes. Nesse novo conceito, as máquinas se tornam cada
vez mais participativas no processo de produção.

Quando se usa o termo “participativas”, não se está falando da questão


operacional, mas da participação das máquinas em decisões, ou melhor, da
autonomia delas na tomada de decisões.

A Alemanha e os Estados Unidos são exemplos de países onde todas as


ações decisórias do “chão de fábrica” partem das máquinas. A partir de
informações fornecidas em tempo real, máquinas conectadas entre si
conversam e trocam comandos, armazenando ao mesmo tempo dados em
nuvem. Elas identificam defeitos e realizam correções sem a intervenção
humana.
No Brasil, muitas indústrias já automatizaram seus processos. Entretanto,
ainda não alcançaram a manufatura digital.

A indústria 4.0 tem duas linhas:

 Uma voltada a processos integrados, que permitem a produção


customizada
 Outra focada no desenvolvimento de produtos inovadores

Algumas empresas, atentas ao conceito da Indústria 4.0, trouxeram essa


nova tendência do mercado global ao Brasil. Vamos ver algumas delas.

Ambev

Em 2015, a empresa adotou um sistema autônomo no controle do processo


de resfriamento da cerveja, o que reduz as variações de temperatura e, por
consequência, evita o desperdício de energia. Tal tecnologia encontra-se
atualmente em oito unidades, sendo que a previsão é expandir, a curto
prazo, a sua utilização para outras cervejarias da empresa.

Volkswagen

Em nosso país, todos os projetos são, sem exceção, criados a partir de um


modelo digital. Para acelerar tal processo, garantindo flexibilidade e
otimização do tempo de produção, os produtos são simulados inicialmente
em um ambiente 3D. Esse processo de simulação ainda permite a abertura
de postos de trabalho em alto nível de qualificação.

Com o desenvolvimento tecnológico proporcionado pela indústria 4.0, a


Volkswagen tem investido não só em desenvolvimento de software e
hardware, mas também em treinamento, a fim de qualificar seus
funcionários para lidar com essa nova realidade.

A utilização desse novo conceito em cinco unidades brasileiras já viabilizou,


em dois anos, a economia de R$ 93 milhões à empresa. A indústria 4.0
viabiliza a criação de uma rede mais assertiva (e, consequentemente, de
baixo custo) e permite com velocidade a customização em massa. Até
então, isso era impossível, considerando o histórico conceito de produção
em massa da Ford, viável somente em decorrência da produção de um
único modelo.

Ao contrário do conceito de fordismo, as máquinas atualmente podem


produzir diferentes modelos em sequência, sem a necessidade de se parar
a produção para reconfiguração. Assim, o cliente recebe um produto
customizado, escolhendo a cor e os acessórios desejados, por exemplo, os
quais são alterados na linha de produção. É como se o automóvel já tivesse
um dono durante o próprio processo de produção, já que as máquinas
podem receber a demanda e realizar as devidas alterações para tornar o
produto único.

Bem, esses são alguns cases que ilustram as tendências e as


inovações do mercado logístico. A terceirização está crescendo
cada vez mais, e um forte aliado disso é a tecnologia.

A tecnologia será cada vez mais utilizada pelas empresas de


modo geral. Elas devem compreendê-la não como um gasto, mas
como um investimento. Todo ativo investido na tecnologia
correta, considerando as diferentes necessidades da empresa,
gerará retorno financeiro (em curto ou longo prazo).

Todo profissional de logística pode inovar. Fique atento às tendências por


meio de livros, internet, revistas. Preste atenção a tudo o que ocorre no
setor onde trabalha ou trabalhará; verifique o que pode ser melhorado. Será
que é necessário que determinado processo seja tão longo? Não é possível
realizá-lo de maneira mais simples, de modo a não onerar a empresa?

Esses são alguns questionamentos que você pode fazer para si mesmo.
Além disso, esteja atento às diretrizes da empresa e ao momento. Se o
momento é de redução de custos, de que maneira você pode auxiliar? Ou,
se o momento é de investimento no atendimento ao cliente, de que maneira
a sua atividade e o seu setor podem contribuir?
Cada etapa de um processo é fundamental para o êxito de uma
empresa. Pratique esse raciocínio crítico. O seu papel como
futuro técnico em logística será fundamental para satisfazer o seu
cliente. Por isso, esteja atento, leia, questione, pense, arrisque e
inove.

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