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A Psicologia na História – Concepção Histórico-Cultural

Para se entender Psicologia é preciso estudar a história-social do homem e a


sua relação com o meio em que vive, porém na grande parte das formações de
Psicólogos, tem-se a concepção de Psicologia Tradicional, ou seja, aquela voltada
para uma visão médica, concentrada na doença psíquica individual, o que se
entende como uma ciência e profissão propriamente dita técnica, não dialogando
com a história e as outras ciências.
Muitos acadêmicos de Psicologia concentram sua atuação na Psicologia
tradicional na área clínica, porque possivelmente pensam que a Psicologia volta tão
somente para a pessoa em nível individual e não com o indivíduo sujeito da história.
Porém, para entender a Psicologia como profissão precisamos estudar a história da
Psicologia e as suas mudanças ao longo dos anos.
A Psicologia nasce como ciência na medida em que se reconhece o homem
individual atuante na sociedade, e reconhece a experiência da subjetividade
privatizada e a experiência da crise desta subjetividade.
Se pensarmos na formação educacional do Brasil, vemos os centros de
formação sendo atingidos durante o período militar, com uma reorganização
educacional feita por patrulhamento dos conteúdos ensinados nestas instituições,
criando departamentos de cursos, nomeando reitores, e retirando cursos de Filosofia
do ensino de 2º grau, e criando disciplinas de cunho vigilante.

Se a política educacional brasileira é orientada para o


desenvolvimento econômico, sob a prisma de um modelo de
desenvolvimento capitalista, os objetivos e metas educacionais são
consequentemente elaborados, segundo a determinação do plano
nacional de desenvolvimento econômico, e forçosamente são
voltados para a formação de recursos humanos, onde a produção do
saber é direcionada exclusivamente para os meios de produção,
visando unicamente ao crescimento econômico e acumulo de
riquezas de um grupo minoritário. Assim, o aluno universitário,
considerado como um SER histórico, ativo e criador, é reduzido a
sujeito passivo, a-histórico, domesticado e dependente. (PEREIRA,
1985, p.117)

Apesar, que atualmente alguns desses princípios tenham sido abolidos dos
centros acadêmicos, muitos não possuem senso crítico do momento histórico atual
do Brasil, ou das ciências que formam e modelam seus cursos de formação.
Enquanto no estudo da Psicologia, em termos Brasil, não foi ameaça para o regime
implantado durante o sistema militar, pois o estudo da mesma e a sua concepção
como ciência se formou na qualidade tradicional, o que equivale uma visão
estritamente individual do homem, reduzindo sua concentração para reflexões
coletivas, a quais poderiam levantar questionamentos para tais mudanças políticas.
Portanto, a formação acadêmica em Psicologia possui deficiências, pois não está
sendo formado profissionais capazes de construir a Psicologia, apenas a
manifestação do passado imposto autoritariamente, a qual buscam o aprimoramento
técnico com base na análise das teorias.
Porém, ao olharmos na superação do estudo da Psicologia como ciência,
podemos entender que estudar a história da Psicologia é aprende-la na sua
totalidade, ou seja, compreender como, porque e quando ela foi criada. Estudando a
sua história é também estudar a história do homem como produtores de
conhecimento, pois é na história dos homens que se faz a história do pensamento
humano, apropriando da sua humanidade e dos seus fenômenos psicológicos como
algo que lhe pertence. Portanto, a construção da subjetividade humana está
interligada a processos de transformação, tanto material como espiritual, onde a
constituição de subjetividade é um processo que se dá pelas relações sociais do
homem no mundo, ou seja, a sua própria história.
Se analisarmos as sociedades pré-capitalistas, a construção da subjetividade
não se dava se forma plena, como para a sociedade grega colocava a natureza
como referência para o homem, enquanto a sociedade medieval tinha a ordem
divina como referência sobre o homem, impossibilitando uma apropriação plena de
si. Já na sociedade capitalista, o homem passa a ser livre e natural, ou seja, o
homem é naturalmente dono de si, buscando se realizar guiado por seus próprios
interesses, contrapondo qualquer característica sobrenatural.
Enquanto nas sociedades pré-capitalistas o indivíduo não era permitido
mover-se socialmente devido as estruturas sociais hierarquizadas impostas, na
sociedade capitalista há uma movimentação na estrutura social, ou seja, o indivíduo
constrói ou descobre a verdade a partir de si mesmo, a partir de suas capacidades,
independente de ordem externa. É assim, que nasce a Psicologia, para
compreender o comportamento, os fenômenos psicológicos, a subjetividade do
homem e garantir a sua adequação à sociedade vigente.
Para compreender a história da Psicologia é preciso compreender sua
constituição como ciência, aprendendo seus conceitos psicológicos em suas teorias,
é compreendê-la como produção humana, entendendo o homem como ser histórico
que se faz na e pela história. E a concepção de história que entende esses objetivos
é a Materialista Histórica Dialética (MHD) representada na Psicologia pela Teoria
Histórico-Cultural, que, segundo Bock, (2001, p.17-18)

Fundamenta-se no marxismo e adota o materialismo histórico


dialético como filosofia, teoria e método. Nesse sentido, concebe o
homem como ativo, social e histórico. A sociedade, como produção
histórica dos homens que, através do trabalho, produzem sua vida
material. As ideias, como representações da realidade material. A
realidade material, como fundada em contradições que se expressam
nas ideias. E a história, como o movimento contraditório constante do
fazer humano, no qual, a partir da base material, deve ser
compreendida toda sua produção de ideia, incluindo a ciência e a
psicologia.

A história da Psicologia praticamente não analisa a Psicologia na história, pois


há uma ruptura nas suas concepções onde ora tratava a subjetividade como algo
natural, ora por uma independência ontogênica do indivíduo excluindo o mundo
externo. E quando se dá essa ideia de independência dos termos objetividade e
subjetividade, predomina o sentido dicotômico de que uma coisa é ou não é.
Enquanto a visão dialética baseia-se na contradição, na reciprocidade dos termos,
eliminando a possibilidade de exclusão, onde o indivíduo só é verdadeiramente
compreendido em sua singularidade, quando inserido em sua totalidade social e
histórica, dando sentido à sua singularidade.
Segundo os fundamentos do MHD a Psicologia Histórico-Cultural, propõe
uma reciprocidade entre a subjetividade e objetividade, ou seja, para compreender o
mundo interno é preciso compreender o mundo externo, pois ambas fazem parte da
composição do indivíduo em sua totalidade.
Portanto, entendemos que para compreender o homem é necessário estuda-
lo como um ser histórico e social, estabelecendo uma relação entre a objetividade e
subjetividade numa relação de unidade dos contrários.

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