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Boletim Academia Paulista de Psicologia

ISSN: 1415-711X
academia@appsico.org.br
Academia Paulista de Psicologia
Brasil

Pérez-Ramos, Aidyl M.Q.; Sanchez, Cássia G.O.; Silva, Maria Angela B. e; Moreira, Sibele N.;
Fornazari, Silvia
A competência social: estratégia para inclusão sócio - ocupacional de jovens com deficiência
intelectual
Boletim Academia Paulista de Psicologia, vol. XXIV, núm. 2, mayo-agosto, 2004, pp. 42-49
Academia Paulista de Psicologia
São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=94612361009

Como citar este artigo


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Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXIV, nº 2/04: 42-49

• A competência social: estratégia para inclusão sócio -


ocupacional de jovens com deficiência intelectual1
Aidyl M.Q. Pérez-Ramos (C. 30) 2
Cássia G.O.Sanchez; Maria Angela B. e Silva, Sibele N. Moreira e Silvia Fornazari
APAE de Bauru3

Resumo: Pode-se afirmar que existe a tendência de transferir o foco de atenção no


processo de avaliação – intervenção dos jovens com deficiência intelectual, à competência
social em vez de considerar prioritariamente suas carências cognitivas. Uma das
explicações da provável mudança desses paradigmas se baseia no movimento de inclusão
desses jovens no mercado de trabalho, necessitando, basicamente, de habilidades de
convivência, independência pessoal, comunicação, entre outras, integradas no construto
de competência social. A presente pesquisa segue nesta direção analisando conceitos
básicos que a fundamenta e selecionando 30 aprendizes com deficiência intelectual, de
14 a 21 anos, que freqüentam cursos de preparação vocacional em um centro de educação
especial. Utiliza-se do Inventário de Competência Social de Gunsburg, conhecido por
PAC (Progress Assessment Chart), para examinar as habilidades compreendidas na
competência social, no grupo selecionado, e dessa avaliação decorrem sugestões para o
desenvolvimento de um programa educacional nessa linha. Para análise dos dados obtidos,
os participantes são divididos em 3 subgrupos em conformidade com as três escalas que
compreende o PAC. São utilizadas as variáveis sócio-demográficas mais significativas
que identificam os jovens em estudo e suas relações com o desempenho nas áreas do
PAC: cuidados pessoais, comunicação, socialização e ocupação. Os resultados mostram
que as habilidades medidas e o seu direcionamento a programas ocupacionais abrem
caminhos promissores à inclusão sócio-ocupacional dos aprendizes com deficiência ao
mercado de trabalho.

Palavras–Chave: competência-social, deficiência intelectual, PAC, inclusão sócio-


ocupacional.

1 - Introdução
A utilização da competência social como estratégia nos procedimentos de
avaliação – intervenção de aprendizes com deficiência intelectual (designação
adotada pela antiga Liga das Federações das APAES, hoje Inclusão Internacional),
abre uma perspectiva de valorização às pessoas sujeitas a estigmas negativos,
sobretudo as que são aqui referidas, além de facilitar-lhes, sobremaneira, a
integração social, inclusive no mercado de trabalho, objeto do presente estudo.
Para fins de fundamentação teórica tem-se a Psicologia Positiva, em
destaque na atualidade, pela sua mensagem dirigida a uma concepção integral
do ser humano, não somente por suas patologias e deficiências, mas pela

1
Agradecimento à Darlene C. Alves e Áurea A. Zeferino pela colaboração na coleta de dados.
2
Co-autora e supervisora da pesquisa.
3
Psicólogos da instituição citada. Endereço para correspondência: Rua Pelágio Lobo, 107 –
Perdizes – 05009-020 – São Paulo, SP. - Tel. (11) 3862-1087 – tel/fax: 3675-8889 - E-mail:
42 juanaidyl@terra.com.br
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conjugação com valores, habilidades e competências. Sob esta perspectiva são


revistos os paradigmas de inclusão sócio-ocupacional, a concepção e
terminologia vigente de deficiência intelectual e também a de competência social.
Dentro desta abrangência teórica, configura-se o objetivo da presente pesquisa
que prioriza a competência social como estratégia para avaliação das habilidades
nela contida, em um grupo de aprendizes com deficiência intelectual, como passo
para a proposição de programas educacionais decorrentes. Utiliza-se do PAC,
de Gunsburg, inventário que tem longa trajetória, mas ainda pouco divulgado em
nosso meio, o qual emprega a observação participante do comportamento de
jovenz com deficiência intelectual e também entrevistas com as pessoas que
os atendem, para se obter um perfil da competência social do grupo de
participantes da pesquisa, com subseqüente proposição de intervenções
educacionais. Espera-se que este trabalho, seja um convite para mudanças na
concepção do ser humano, sobretudo quando portador de deficiência, por uma
visão integral do mesmo, sendo enfatizada, também, suas habilidades e
competências , em especial em sua avaliação-intervenção e, também, nos
estudos e pesquisas a ele dirigidos.

2 - Contribuições bibliográficas
Ao inspirar o presente trabalho nos princípios da Psicologia Positiva, é
mister indicar aqueles mais significativos que serviram como fio condutor no
desenvolvimento desta pesquisa. Os mesmos são derivados das contribuições
contidas no compêndio organizado por Lopez e Snyder (2003), onde 60
especialistas, titulares de importantes universidades, unidos em grupo de estudos
e de pesquisas, publicam 29 artigos centralizados na área referida.
Tais princípios assim se caracterizam:
- O ser humano é concebido por uma integralidade “balanceada” de
comportamentos considerados negativos (carências, patologias,
deficiências) e especialmente positivos (potencialidades, competências,
criatividade, otimismo, felicidade).
- A valorização do ser humano, qual seja sua condição de vida, é posta em
destaque na consideração de que seus comportamentos positivos são
atenuantes dos negativos, propiciando-lhe melhor perspectiva de vida.
Essa concepção, norteadora na condução da pesquisa se harmoniza com
a visão atual dos construtos que também a fundamentam, ou sejam: inclusão
sócio–ocupacional, competência social e deficiência intelectual. O primeiro deles,
a inclusão sócio–ocupacional, conhecida por Educação Inclusiva se baseia na
consideração tácita às diferenças individuais, sejam elas as mais extremas.
Configura-se por um processo amplo de interações entre as pessoas, as mais
diversas, que se diferenciam por valores, habilidades, facilidades de comunicação

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e outros aspectos, muitas vezes acobertados pelas deficiências que possuem


e pelos estigmas delas resultantes.
Constitui a etapa mais atualizada do movimento de incorporação das
pessoas com necessidades especiais aos recursos comunitários, sejam eles
sociais, educacionais, recreativos, de trabalho, comuns aos seres humanos
chamados normais. Proveem das seguintes etapas: Teoria de Normalização,
do Mainstreaming e do Método SIVUS. A primeira , a mais geral, é concebida
como estratégia de “portas abertas”, dando oportunidade aos recluidos nas
instituições, doentes mentais e/ou pessoas com deficiências intelectuais, para
terem acesso à vida comunitária (Pérez-Ramos, 1997; Valle, 2000). É evidente
que para implementa-la há necessidade de romper barreiras, como as atitudinais
e, por outro lado, preparar as pessoas com patologias mentais e/ou deficiência
para conviverem em um mundo caracterizado, segundo o enfoque, por vida
normal.
Em um campo mais limitado, porém de forma mais incisiva e
sistematizada, destinado à educação formal, se apresenta o movimento do
mainstreaming (corrente principal). O seu sentido é análogo a um grande rio
que, em seu fluxo incorpora todo tipo de pessoa, com maior ou menor capacidade
ou habilidade para aprender. O educando com deficiência intelectual, como
qualquer outro, participará também desse fluxo, concebido como “ensino regular”
(Mantoan, 1998). Dois processos se configuram com a finalidade de alcançar
essa incorporação. Ao mesmo tempo em que se prevê mudança nessa “corrente
principal”, para facilitar o ingresso nesse âmbito integrador, de qualquer tipo de
aluno, também se antecipa a preparação deste, o integrante, para incorporar-
se nesse processo. Por um lado, a implementação de currículos escolares
extensíveis, diferenciados e individualizados; recursos didáticos diversificados;
professores preparados e ambiente físico e humano sem barreiras, constituem
estratégias básicas para a preparação do integrador. Prevêem-se sobretudo
mudanças na consideração do aluno, valorizando-o nos seus aspectos positivos,
sem naturalmente, menosprezar os negativos. Tudo conjugado com o
desenvolvimento do potencial adaptativo e das competências do próprio educando,
seja ele qual for. (Pérez-Ramos, 1997 e 2000).
O Método SIVUS (siglas de palavras suecas, que significam “indivíduo
social desenvolvido da cooperação mútua”) destina-se, particularmente, ao
aprimoramento de padrões de convivência dos educandos portadores de
deficiência com as pessoas comuns, através de estratégias graduais de inter-
relação: física, identificada pela presença daquelas nos espaços de uso geral;
funcional, a interação de ambas; e, social, a participação mútua e integrativa,
baseada em interesses comuns (Walujo, 1993).
Todos esses pressupostos e movimentos sociais foram se aperfeiçoando
de forma a garantir sustentabilidade e operacionalidade, configurando assim a

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Educação Inclusiva. Termos que têm origem na designação inglesa full inclusion,
significando real incorporação de todas as pessoas, sejam elas quais forem, na
vida social, educacional e de trabalho (Mantoan, 1998). Caracteriza-se pelo
princípio de “educar para diversidade”, percebido como fator de enriquecimento
de todos no processo educativo: alunos com menores e maiores diferenças
individuais, gestores, coordenadores, professores, pais e outros mais, que fazem
parte do contexto educacional (Xavier, 2002).
As considerações apresentadas sobre a inclusão sócio-educacional
caracterizam o presente trabalho como meta essencial no processo de
incorporação dos aprendizes com deficiência intelectual no mercado de trabalho,
ao colocar em destaque na avaliação, o potencial da competência social.
Há de se considerar, no entanto, que o conceito de competência social
não tem recebido um consenso geral entre os estudiosos. Alguns destacam o
desempenho nas inter-relações, como é a posição de Del Prette e Del Prette
(1999), enquanto que outros priorizam nesse comportamento, a independência
pessoal e as habilidades de convivência. O conceito que se utiliza, nesta
contribuição, envolve, portanto, ambos pontos de vista, mas em termos do
cotidiano, abrangendo: cuidados pessoais, comunicação, ocupação e
socialização, áreas avaliadas pelo PAC (Gunsburg, 1981), instrumento utilizado
na coleta de dados neste trabalho.
Acresce-se a referência à conceituação em vigor, sobre deficiência
intelectual, elaborada pela Associação Americana de Deficiência Mental – AADM
(1995), que a define como um estado (portanto de permanência não definitiva,
dependendo especialmente das exigências sociais), com respeito ao
funcionamento intelectual significativamente inferior à média e associado a
limitações significativas do comportamento adaptativo, em pelo menos duas
seguintes áreas do cotidiano: comunicação, cuidados pessoais, competência
doméstica, habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia,
saúde e segurança, habilidades escolares, lazer e trabalho. É sobre o
comportamento adaptativo que o presente trabalho encontra apoio na
conceituação de deficiência intelectual em vigência.
Em síntese, pode-se afirmar que a condução desta pesquisa encontra
fundamentação teórica que a apoia e construtos integradores que a sustentam.

3 - Objetivos
O objetivo geral deste trabalho consiste na verificação da importância da
competência social, como estratégia no processo avaliativo de um grupo de
aprendizes com deficiência intelectual. Quanto aos objetivos específicos, dirigidos
ao alcance da finalidade básica da investigação, atendem às metas destinadas
à determinação do perfil sócio-demográfico dos participantes e ao patamar do
desenvolvimento de suas competências sociais, em três níveis de complexidade,
conforme os apresentados nas escalas do PAC.

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Tais objetivos se apoiam na necessidade prática de se apresentar


propostas ao ensino profissionalizante referente à inclusão do aprendiz com
deficiência intelectual no mercado de trabalho, e na teórica, advinda da Psicologia
Positiva.

4 - Metodologia
Esta inclui a seleção e composição do total de participantes, objetos de
estudo, e uma especificação do PAC, instrumento de coleta de dados. Os
participantes foram 30 alunos, com deficiência intelectual moderada e severa,
nas idades de 14 a 21 anos e que freqüentavam o ensino fundamental e o
profissionalizante de um centro de educação especial, por mais de um ano.
Apresenta-se, em linhas gerais, o PAC. Seu autor, Gunsburg (1981) elaborou
o inventário baseando-se em estudos e em sua aplicação em amostras de
portadores de deficiência intelectual para os quais o instrumento é destinado.
Devido a esta característica, entre outras da natureza do instrumento, o mesmo
foi traduzido em vários idiomas e utilizados em alguns países, como a Alemanha
e a Espanha. A Sociedade Pestalozzi do Brasil o adaptou para o nosso meio e
vem utilizando, há vários anos, em seus programas. Tem sido empregado também
por algumas APAES, para fins de avaliação e de proposta pedagógica. Estudos
e pesquisas realizaram sua tradução, adaptação e validade no Brasil (Pereira,
1989 e Lima, 1985); e outros trabalhos o utilizaram para seguimento do processo
evolutivo de crianças com síndrome de Down (Carpentieri, 1994 e Pérez-Ramos,
2000).
O PAC consta de três escalas (P-PAC, PAC I e PAC II) organizadas em
dificuldade crescente e mais uma delas denominada PEI integrada por uma
série de mapas normativos. O inventário contempla áreas e sub-áreas: cuidados
pessoais: (hábitos de mesa, locomoção, hábitos higiênicos, cuidados com
vestuário e saúde); comunicação (linguagem, dinheiro, tempo e medidas, escrita
e leitura); socialização (contatos sociais, atividades com dinheiro, assistência
do lar e boas maneiras); e ocupação (pontualidade e cuidados com materiais,
ritmo, produção e confiança na execução, qualidade e exatidão, atividade de
lazer, e habilidades manuais). Esta estruturação corresponde ao PAC II, o mais
alto em complexidade, sendo que a das outras escalas é semelhante à
apresentada, mantendo as mesmas áreas, mas com certas variações nas sub-
áreas.

5 - Resultados
Em termos das variáveis sócio-demográficas, observa-se que 2/3 (20
aprendizes) do grupo estudado pertence ao sexo masculino . Possivelmente tal
superioridade numérica do gênero masculino se deva a influências culturais,
porque não se tem notícia da prevalência de deficiência intelectual do sexo

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masculino. Quanto à idade cronológica (I.C.) e idade mental (I.M.), estas seguiram
em aumento conforme prosseguiam a complexidade das escalas do PAC.
Diferenças acentuadas se observaram na I.M. e I.C. no grupo do P-PAC, com
grande desvantagem para a primeira variável, enquanto que esta foi relativamente
inferior a 50% nos do PAC I e PAC II.
Para garantir a autenticidade nos resultados na I.M., foram aplicados testes
de instruções simples e de comprovada experiência em nosso meio, ao grupo
de jovens em estudo :o PPVT, o Columbia e Cubo de Kohs. Para maior precisão
na classificação em função dos níveis de deficiência pela I.M., os resultados
médios obtidos com esses instrumentos foram comparados com um conjunto
de condutas típicas indicadas para cada nível de deficiência (Pérez-Ramos,
1983).
Os resultados do PAC, em suas três escalas, P-PAC, PAC-I e PAC-II, foram
comparados com os seus índices normativos (PEI) evidenciando maiores
diferenças nas áreas avaliadas no primeiro grupo (P-PAC) do que no segundo
(PAC-I) e no terceiro(PAC-II). No primeiro, as áreas deficitárias foram as de
cuidados pessoais e ocupação e enquanto que nas outras mostraram adequado
desempenho em função das normas. Observa-se que neste grupo a I.M. se
apresenta bem menor que a dos demais grupos, evidenciando a necessidade
de insistir no desenvolvimento das áreas prejudicadas através, principalmente,
do desempenho das avaliadas positivamente.
Quanto aos outros dois grupos, a produção do PAC-I se eqüivaleu a dos
índices normativos e, ainda foi superior na área de cuidados pessoais. Situação
diferente se encontrou no grupo do PAC-II: o desempenho dos participantes foi
inferior nas três áreas estudadas, excetuando a da ocupação, na que se observou
leve superioridade. Várias razões poderiam explicar essas variações, motivando
estudos futuros. No entanto, os resultados presentes apenas indicaram áreas
que necessitam maior aprimoramento, como a de cuidados pessoais (inferior
no grupo P-PAC e PAC-II), incluindo as condições de aparência, com possibilidade
de desenvolvimento de auto-estima positiva, que, em conjunto com as áreas
mais desenvolvidas, constituirão competências sociais para facilitar a esses
educandos integração no primeiro emprego, pois nenhum deles ainda não tinha
experiência formal de trabalho.

6 - Discussão
Apesar da variabilidade existente nos dados obtidos, especialmente nas
diferentes áreas do PAC que refletem o patamar das competências sociais, foi
possível encontrar certas tendências, tanto na comparação intra-grupos, quanto
na inter-grupos, sempre tendo em vista a atenção individualizada do desempenho
de cada aprendiz participante. Assim, parece haver uma tendência progressiva
na competência social, sobretudo nos grupos do PAC-I e PAC-II, caracterizados

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na sua maioria de 14 a 16 anos, no primeiro caso, e de jovens 18 a 21 anos, no


segundo. A aprendizagem pré-vocacional, incluída no programa do ensino
fundamental, onde se encontra o grupo PAC-I, e o ensino profissionalizante no
PAC II, justificam o desenvolvimento de tal competência.
Com o aprimoramento nas áreas citadas, sobretudo nas que se apresentam
inferior aos índices normativos, ter-se-á a preparação do integrante ao
integrador no mercado de trabalho, na concepção do mainstreaming, de forma
a facilitar a concretização do paradigma da inclusão sócio-ocupacional.
O referido aprimoramento, sobretudo nas competências mais limitadas,
encontra seu apoio, como já citado, em determinadas variáveis sócio-
demográficas que caracterizaram o grupo de aprendizes e seus sub-grupos em
estudo. Reiteram essa possibilidade de melhor desenvolvimento, os trabalhos
congêneres, como os de Carpentieri (1994) e de Pérez-Ramos (2000). Ambas
contribuições baseadas em pesquisa longitudinal efetuada com portadores de
síndrome de Down, comprovaram melhoria nas áreas consideradas menos
produtivas na presente pesquisa, sobretudo no P- PAC e PAC-I e com o efeito da
intervenção, um aumento progressivo com o evoluir da idade.

7 - Conclusões e recomendações
Esta unidade contempla não só a apresentação das inferências resultantes
do desenvolvimento da pesquisa, mas também sugestões de caráter científico
e prático, delas derivadas. As primeiras dizem respeito à consecução dos
objetivos da pesquisa e à aplicabilidade do PAC como instrumento de coleta e
que possibilita a interpretação dos dados, tendo como figura de fundo a Psicologia
Positiva. E as segundas, referem-se às recomendações para incentivar a
continuidade de estudos como este e às propostas psico-pedagógicas às
instituições especializadas.
Evidencia-se que o direcionamento dado à avaliação dos aprendizes com
deficiência intelectual, em função de sua competência social, abre caminhos
promissores à sua valorização pessoal e à diminuição da discriminação social,
promovendo a inclusão à “corrente principal”, de âmbito educacional e profissional.
Esta inferência é suficiente para comprovar a importância e necessidade da
avaliação da competência social do grupo dos educandos, alvo deste estudo, e
outros mais com necessidade educacionais especiais. Comprova-se, também,
a efetividade do PAC em suas áreas, na obtenção do patamar das habilidades
integradas na competência social dos alunos portadores de deficiência intelectual,
considerando suas diferenças individuais, devidas principalmente à I.C. e à I.M..
Muitas questões podem ser levantadas a partir deste trabalho, indicando
diretrizes para novas pesquisas, utilizando-se até mesmo dos dados já coletados.
É válido, por exemplo, um estudo mais aprofundado das informações individuais,

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obtidas nesta contribuição, para fins de atendimento pessoal a cada educando,


além do enriquecimento dos programas educacionais da instituição em referência
e outras assemelhadas. É oportuna a extensão de propostas psico-pedagógicas
de enriquecimento sobre cuidados pessoais, comunicação e socialização,
sobretudo aos aprendizes mais jovens, cujas carências mais intensas se
confirmaram no presente estudo.
Espera-se que, com a presente investigação, possam surgir novos
caminhos para a promoção do bem-estar e qualidade de vida dos educandos
com deficiência intelectual, finalidade básica de trabalhos que, como este, possam
realizar no campo da inclusão educacional.

Referências bibliográficas

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de Transtornos mentais. Porto Alegre: Artes Médicas.
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