O conceito de populismo surgiu nos anos 1950 embasado em estudos de intelectuais que queriam compreender as transformações políticas ocorridas em países da América Latina depois dos anos de 1930. Diversos historiadores afirmavam que o Brasil e muitos países hispano-americanos viviam, então, um período de transição entre uma sociedade agrária, com base em valores tradicionais em que trabalhadores não tinham voz, e uma sociedade acelerada, em processo de industrialização. Desde o início do século XX, novas classes sociais, sobretudo o operariado urbano, haviam crescido. As novas classes sociais dispunham de formas de organização cada vez mais sólidas, mas ainda não contavam com uma representação política regular num cenário dominado pelas oligarquias. No contexto da crise de 1929 e da perda de poder das oligarquias, o populismo representaria a abertura de espaço político para esses novos atores sociais: líderes e partidos apresentavam-se como representantes dos trabalhadores em suas reivindicações por aumento de salário e melhores condições de trabalho e de vida. Com um discurso fortemente nacionalista, os governos populistas caracterizaram-se pela criação ou ampliação de leis trabalhistas com mais garantias e direitos. No entanto, a nova legislação atrelava as organizações de trabalhadores ao Estado, forçando-as a retribuir com apoio político os benefícios que recebiam. A ideia central do populismo é a existência de um líder que encarna os anseios, os interesses e a alma do povo que ele governa. A principal fonte de poder do líder populista diante das massas é o seu imenso carisma, construído com base em programas de inclusão social e em estratégias de propaganda política. Os regimes políticos tidos como populistas são caracterizados pela manipulação das camadas populares ou da base social em que se apoia o poder do governante, do campo ou das cidades. Nessa visão, teríamos, de um lado, uma massa de governados passiva e dependente; de outro, um líder carismático que se apoia no atraso das massas para controlá-las, manipulá-las e governar em seu nome, impedindo que assumam um papel ativo na sociedade. Historiadores e cientistas sociais elaboraram uma interpretação diferente da relação entre o Estado e as massas nas décadas de 1930 e 1940 no Brasil. Para esses pesquisadores, é preciso compreender a política trabalhista de Vargas como expressão de um pacto político entre o Estado e os trabalhadores, marcado por negociações, conflitos e pela adoção de estratégias diferentes por parte do governo, visando garantir adesão e legitimidade popular. A construção desse pacto político envolveu dois sujeitos: de um lado, um Estado autoritário e intervencionista; de outro, trabalhadores urbanos organizados e reconhecidos em seu direito à cidadania por meio de uma legislação trabalhista e previdenciária. Os pesquisadores também se afastaram da abrangência do conceito de populismo. O pacto político anunciado pelo discurso trabalhista de Vargas não foi o mesmo durante todo o Estado Novo, da mesma forma como apresentou novas feições no governo de João Goulart (1961-1964) ou no governo peronista na Argentina. Populismo no México e na Argentina São muito os exemplos de governos populistas hispano-americanos. Os dois mais conhecidos são os do mexicano Lázaro Cárdenas e do argentino Juan Domingo Perón. Quando jovem, Lázaro Cárdenas participou da Revolução Mexicana de 1910. Ao assumir a presidência do México, em 1934, implantou uma política de distribuição de terras para camponeses e indígenas que, segundo ele, representava a continuidade da revolução dentro da legalidade. Cárdenas também criou programas de alfabetização e nacionalizou a exploração de petróleo mexicano. Graças à sua popularidade, o Partido da Revolução Mexicana, do qual era integrante, chegou a filiar cerca de um quarto da população e a manter o controle completo sobre a organizações de trabalhadores do país. O populismo na Argentina está associado ao governo de Juan Domingo Perón, que foi presidente do país por três mandatos: 1946-1951, 1952-1955 e 1973-1974. O governo de Perón apresentou algumas características similares ao de Vargas no Brasil, que poderiam ser chamadas de populistas: controle dos sindicatos, proteção aos direitos dos trabalhadores, política econômica nacionalista, grande carisma e relação direta com as massas. A força popular de Perón na Argentina, no entanto, não pode ser dissociada da figura de Evita Perón, sua esposa e grande articuladora do movimento peronista. Juan Domingo Perón foi eleito presidente da Argentina em 1946, apoiado pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a mais poderosa central sindical argentina. Sua política econômica seguiu a linha nacionalista de Vargas no Brasil, promovendo a industrialização por meio da substituição das importações e a geração de empregos. O segundo mandato de Perón, porém, foi marcado pelo aumento da dívida pública, pela crise financeira e pelas críticas de seus adversários políticos, que o acusavam de fazer demagogia social para obter popularidade. Perón acabou deposto por um golpe civil- militar em 1955. Depois de um longo exílio na Espanha, o líder argentino retornou ao país em 1973 e foi eleito novamente presidente da república. Um infarto, entretanto, abreviou o seu mandato. Com sua morte, o cargo foi assumido por Isabel Perón, vice-presidente e terceira esposa de Perón. Seu governo chegou ao fim com um golpe militar, em 1976, que instalou no país uma das ditaduras mais violentas da América Latina. O mito Evita Perón Evita, como Eva Duarte gostava de ser chamada, foi a grande legitimadora e divulgadora do movimento peronista. Ex-atriz, Evita e Perón se casaram em 1945. Com seu marido na presidência do país, Evita destacou-se pela realização de obras sociais, o que lhe rendeu o apelido de “mãe dos descamisados”, imagem que o peronismo ajudou a construir. A atuação mais importante de Evita, no entanto, foi no movimento pelos direitos das mulheres. A ala feminina do Partido Peronista, que Evita dirigia, foi responsável por levar para o país o debate sobre o direito ao voto feminino, institucionalizado na Constituição argentina em 1949. Quando Perón foi eleito para o segundo mandato, em 1951, recebeu a maior parte do voto das mulheres, que votaram pela primeira vez no país. Evita faleceu jovem, aos 33 anos de idade, vítima de câncer. Após a sua morte, a líder feminina se fixou no imaginário dos argentinos como o maior símbolo do peronismo e da identidade nacional. Vista por seus admiradores como “santa” e “benfeitora dos humildes”, e pelos antiperonistas como “demagoga” e “prostituta”, Evita, como figura histórica, não pode ficar prisioneira da imagem que se construiu dela, à direita e à esquerda. Acima de tudo, a líder argentina foi uma personalidade política importante e defensora dos direitos das mulheres no país. Redemocratização e governo Dutra (1946-1951): Eleições de 1945: general Eurico Gaspar Dutra (PSD), brigadeiro Eduardo Gomes (UDN) e Iedo Fiúza (PCB). Dutra venceu as eleições com 55% dos votos. Constituição de 1946: garantiu a autonomia dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Estabeleceu eleições diretas e obrigatórias para os cargos executivos e legislativos. Estado tomou medidas que favoreceu a industrialização e a produção para o mercado interno. Governo procurou controlar a classe trabalhadora, proibindo greves e intervindo em sindicatos. 1950: Vargas foi eleito com 48,7% dos votos. Segundo governo Vargas (1951-1954): Expansão industrial (priorização da empresa pública); Fundação de um banco de investimento, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE); Criação da Petrobras (O petróleo é nosso); Eletrobrás (1961); Caráter nacionalista do governo de Vargas; Nacionalistas: propunham um desenvolvimento com base na industrialização, tendo o Estado como regulador da economia, além do distanciamento em relação aos EUA. “Entreguistas”: não priorizavam a expansão da atividade industrial, defendiam a redução da presença do Estado na economia e o alinhamento com as orientações políticas dos EUA. Crise do governo Vargas: Oposição UDN e militares conservadores. Panela Vazia (manifestação contra a elevação do custo de vida). João Goulart (Ministério do Trabalho). Jornalista Carlos Lacerda (crítico do governo varguista). Atentado da Rua Tonelero (crime político). Lacerda organizou uma campanha contra Vargas, exigindo o apoio das Forças Armadas na destituição do presidente. Ao verificar a impossibilidade de contornar a situação, Vargas cometeu suicídio com um tiro no coração em agosto de 1954. A morte de Vargas causou imensa comoção nacional. Café Filho vice-presidente assumiu o poder. Trecho carta-testamento Getúlio Vargas: “E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História. ”