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48 - Negar A Si Mesmo
48 - Negar A Si Mesmo
John Wesley
'E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia
a sua cruz, e siga-me'. (Lucas 9:23)
III. Conclusão.
3. É por esta razão, que tantos Ministros de Cristo, em quase todas as épocas e
nações; particularmente, desde a Reforma da Igreja, das inovações e corrupções que
gradualmente moveram-se dentro dela, escreveram e falaram tão largamente sobre
este dever importante, ambos em seus discursos públicos e exortações privadas. Isto
os induziu a difundir amplamente muitos tratados sobre o assunto; e alguns em nossa
própria nação. Eles conheciam, ambos dos oráculos de Deus, e do testemunho de suas
próprias experiências, quão impossível seria não negar nosso Mestre, a menos que
negássemos a nós mesmos; e quão futilmente, tentaríamos seguir Aquele que estava
crucificado, a menos que tomássemos nossa cruz diariamente.
4. Mas esta mesma consideração não torna razoável inquirir, se muito já tem
sido dito ou escrito sobre o assunto, que necessidade existe de não se falar ou escrever
mais? Eu respondo que não existem números insignificantes, mesmo das pessoas
tementes a Deus, que não tenham tido oportunidade, tanto de ouvir o que tem sido
falado, quanto lido o que tem sido escrito sobre ela. E, talvez, se eles tivessem lido
muito do que tem sido escrito, eles não poderiam ter sido tão proveitosos. Muitos que
têm escrito (alguns deles, largos volumes) pareceram, de modo algum, terem
entendido o assunto. Tanto eles tinham visões imperfeitas da própria natureza dela (e,
então, eles nunca puderam explicá-la a outros), quanto eles estavam alheios à
extensão devida dela; eles não viram o quanto esta ordem é excessivamente ampla; ou
eles não estavam conscientes da sua absoluta e indispensável necessidade. Outros
falam dela, de uma maneira tão obscura, tão perplexa, tão intrincada, tão mística,
como se eles designassem preferivelmente dissimulá-la no vulgar, do que explicá-la
aos leitores comuns. Outros falam admiravelmente bem, com grande clareza e força,
da necessidade da autonegação; mas, então, eles tratam dos gerais apenas, sem virem
para as instâncias particulares, de modo que elas são de pouco uso para a grande
massa da humanidade; para os homens de capacidade e educação comum. E se alguns
desses desceram aos pormenores, foi para esses apenas que não afetam a generalidade
dos homens, uma vez que eles raramente, se alguma vez, ocorreram na vida comum, -
- tal como prisão perpétua, ou torturas; desistir, em um sentido literal, de suas casas
ou terras, seus maridos ou esposas, filhos, ou da própria vida; para nenhum desses nós
somos chamados, nem igualmente deveremos ser, a menos que Deus permitisse que
os tempos de perseguição pública retornassem. Neste meio tempo, eu não conheço um
escritor na língua inglesa que tenha descrito a natureza da autonegação em termos
claros e inteligíveis, tal como para nivelá-la aos entendimentos comuns, e aplicá-la a
esses pequenos particulares que diariamente ocorrem na vida cotidiana. Um discurso
deste tipo é esperado ainda; e é esperado mais, porque em todo estágio da vida
espiritual, embora exista uma variedade de obstáculos particulares, para que
obtenhamos a graça ou cresçamos nela, ainda assim, todos são resolúveis nesses dois
gerais. -- tanto em negarmos a nós mesmos, quanto em tomarmos nossa cruz.
3. Esta razão para o negar a si próprio se emprega, até mesmo, aos anjos de
Deus no céu; e ao homem, inocente e santo, uma vez que ele saiu das mãos do
Criador. Uma razão a mais para ela surge da condição em que todos os homens se
encontram desde o pecado original. Nós somos todos agora 'moldados na maldade; e,
no pecado, nossa mãe nos concebeu'. Nossa natureza é completamente corrupta, em
todo poder e faculdade. Toda nossa vontade, pervertida igualmente com o restante, é
totalmente inclinada a ter indulgência, com respeito a nossa corrupção natural. Por
outro lado, não é da vontade de Deus que nós resistamos e contrariemos aquela
corrupção, algumas vezes, ou em algumas coisas apenas, mas todo o tempo, e em
todas as coisas. Aqui, portanto, está um fundamento a mais para o constante e
universal negar a si mesmo.
6. Do todo, então, negar a nós mesmos é negar nossa própria vontade, onde ela
não se harmoniza com a vontade de Deus; e isto, por mais agradável que ela possa ser.
Ou seja, negar a nós mesmos, qualquer prazer que não surja, ou que não conduza a
Deus; o que significa, em efeito, recusar-se a sair de nosso caminho, ainda que para
um caminho agradável e florido; recusar o que sabemos ser um veneno mortal,
mesmo que agradável ao paladar.
7. E todo aquele que pretende seguir a Cristo, que pretende ser seu discípulo
verdadeiro, deve não apenas negar a si mesmo, mas tomar sua cruz também. Uma
cruz não é alguma coisa contrária a nossa vontade; alguma coisa desagradável à nossa
natureza. Assim sendo, tomar nossa cruz vai um pouco mais além do que negar a nós
mesmos; ela se ergue um pouco mais elevado, e é uma tarefa mais difícil para a carne
e o sangue; -- uma vez que é mais fácil privar-se do prazer do que suportar a dor.
8. Agora, para retornar 'à corrida que se apresenta diante de nós', concordante
com a vontade de Deus, existe freqüentemente uma cruz colocada no caminho; ou
seja, não se trata apenas de uma coisa não prazerosa, mas dolorosa; alguma coisa que
é contrária a nossa vontade; que é desagradável à nossa natureza. O que, então, deverá
ser feito? A escolha é clara: Ou tomamos a nossa cruz, ou nos desviamos do caminho
de Deus; 'do mandamento santo entregue a nós'; isto, se não pararmos
completamente, ou voltarmos para a perdição eterna!
Primeiro, o arrancar tal desejo, ou afeição, quando ele está tão profundamente
enraizado na alma, é freqüentemente como o ser perfurado por uma espada; sim, é
como 'separar a alma e o espírito; as juntas e o tutano'. O Senhor, então, coloca, na
alma, como que um fogo refinador, para queimar toda a matéria inútil dela. E esta é
uma cruz, realmente; é essencialmente doloroso; e deve ser assim, na mesma natureza
das coisas. A alma não pode, desta forma, ser colocada de lado; ela não pode deixar
de passar pelo fogo, sem sentir dor.
12. Assim sendo, convém a todo discípulo de Cristo tomar sua cruz, tanto
quanto, suportá-la. Na verdade, em um sentido, ela não é dele somente; é comum a
ele, e muitos outros; uma vez que não existe tentação que sobrevenha a qualquer
homem, -- 'a não ser tal que seja comum aos homens'; tal que seja incidente e
adaptada à natureza e situação comum deles, no mundo atual. Mas, em outro sentido,
como ela é considerada com todas as suas circunstâncias, ela é dele; peculiar a si
mesmo: É preparada por Deus, para ele; é dada por Deus a ele, como um sinal de Seu
amor. E se ele a recebe como tal, e, depois usa tais meios para remover a opressão,
como a sabedoria cristã direciona, coloca-se como o barro nas mãos do oleiro; é
disposto e ordenado por Deus para seu bem; ambos com respeito á qualidade dela, e
com respeito à sua quantidade e grau, sua duração e todas as outras circunstâncias.
13. Com tudo isto, nós podemos facilmente conceber que nosso abençoado
Senhor age como um Médico de nossas almas; não meramente, 'para seu próprio
prazer, mas para nosso proveito; para que possamos ser parceiros de Sua santidade'.
Se, em examinar nossas machucaduras, Ele nos faz sentir dor, é apenas com o
objetivo de curá-las. Ele arranca o que está podre ou enfermo, com o propósito de
preservar a parte boa. E se nós livremente escolhemos a perda do membro,
preferivelmente, a todo o corpo perecer; quanto mais escolheríamos, figurativamente,
cortar fora a mão direita, preferivelmente, a toda a alma ser lançada no inferno!
II
1. Em Segundo Lugar, eu vou mostrar que é sempre devido à falta, tanto do
negar a si mesmo, quanto do tomar sua cruz, que algum homem não segue totalmente,
nem é completamente um discípulo de Cristo. É verdade, que isto pode ser devido,
parcialmente, em alguns casos, à falta dos meios da graça; do ouvir a palavra
verdadeira de Deus, falada com poder; dos sacramentos, ou da camaradagem cristã.
Mas, onde nada disto falta, o grande obstáculo de recebermos ou crescermos na graça
de Deus, será sempre a falta de negarmos a nós mesmos, ou tomarmos nossa cruz.
2. Alguns poucos exemplos irão tornar isto claro. Um homem ouve a palavra
que é capaz de salvar sua alma: Ele está feliz com o que ouve, reconhece a verdade, e
está um tanto afetado por ela; ainda assim, permanece 'morto nas transgressões e
pecados', inconsciente e adormecido. Por que isto? Porque ele não se separa do seu
pecado, embora saiba agora que ele é uma abominação ao Senhor. Ele vem ouvir,
cheio de desejos luxuriosos e profanos; e ele não irá se separar deles. Portanto,
nenhuma impressão profunda é feita nele, mas seu coração tolo ainda está endurecido:
Ou seja, ele ainda está inconsciente e adormecido, porque ele não nega a si mesmo.
4. Mas este não é o caso com todos. Nós temos muitos exemplos desses que,
quando uma vez acordados, não dormem mais. As impressões, uma vez recebidas,
não se corroem: Elas não são apenas profundas, mas duradouras. E ainda assim,
muitos desses não têm encontrado o que eles buscam: Eles murmuram, e mesmo
assim, não são confortados. Agora, por que isto? É por que eles não 'produzem os
frutos do arrependimento'; porque eles, de acordo com a graça recebida, não 'cessam
de fazer o mal, e fazem o bem'. Eles não cessam facilmente de se envolverem com o
pecado, o pecado de sua constituição, de sua educação, de sua profissão; ou se omitem
de fazer o bem que eles podem, e sabem que devem fazer, por causa de algumas
circunstâncias desagradáveis que o atendem: Ou seja, eles não atingem a fé, porque
eles não 'negam a si mesmos', ou 'tomam a sua cruz'.
5. Mas este homem recebeu 'o dom celestial'; ele 'testou dos poderes do
mundo que haverá de vir'; ele viu 'a luz da glória de Deus, na face de Jesus Cristo'; a
'paz que ultrapassa todo entendimento'; seguiu o 'preceito de seu coração e mente'; e
'o amor de Deus irradiou-se', por todo ele, 'pelo Espírito Santo que foi dado junto a
si'; -- ainda assim, ele está fraco, como qualquer outro homem; ele novamente aprecia
as coisas da terra, e tem mais prazer pelas coisas que são vistas, do que por aquelas
que não são visíveis; o olho de seu entendimento está fechado novamente, de maneira
que ele não pode 'ver a Ele que é invisível'; seu amor se tornou frio, e a paz de Deus
não mais decide em seu coração. E não é de se admirar: porque ele novamente deu
lugar ao diabo, e afligiu o Espírito de Deus. Ele se voltou novamente para a
insensatez, se não, na ação exterior, ainda assim, no coração. Ele deu lugar ao
orgulho, ira, desejo, vontade própria, obstinação. Ou ele não estimulou os dons de
Deus que estavam nele; ele deu abriu caminho para a indolência espiritual, e não
estaria preocupado em 'orar sempre, e vigiar isto com toda perseverança': Ou seja,
ele um naufrágio da fé, por falta de negar a si mesmo, e tomar sua cruz diariamente.
6. Mas, talvez, ele não tenha naufragado sua fé: Ele tenha ainda uma medida
do Espírito de adoção que continua a testemunhar com seu espírito que ele é um filho
de Deus. Não obstante, ele não vai mais em 'busca da perfeição'; ele não está, como
outrora, faminto e sedento a cerca da retidão, buscando a imagem total e alegria
completa de Deus, como o veado adulto busca o riacho. Antes, ele está fatigado e
enfraquecido em sua mente, e, por assim dizer, flutuando entre a vida e a morte. E por
que ele é assim, a não ser porque ele se esqueceu da Palavra de Deus, -- 'Pelas obras,
a fé se torna perfeita?'. Ele não usa de toda a diligência na executar as obras de Deus.
Ele não 'continua em oração', individual, assim como pública; na comunhão, audição,
meditação, jejum, e conferência religiosa. Se ele não negligencia totalmente alguns
desses meios, pelo menos, ele não os usa com todo seu poder. Ou ele não é zeloso das
obras de caridade, tanto quanto, das obras de devoção. Ele não é misericordioso,
segundo seu poder, com toda a habilidade que Deus lhe deu. Ele não serve
ardorosamente ao Senhor, ao fazer o bem aos homens, de todo tipo e em todo grau
que ele puder, quer para suas almas, ou para seus corpos. E por que ele não continua
em oração? Porque na época da seca é dor e aflição junto a ele. Ele não continua a
ouvir todas as oportunidades, porque dormir é agradável; ou está frio, ou escuro, ou
chuvoso. Mas por que ele não continua nas obras de misericórdia? Porque ele não
pode alimentar o faminto, ou vestir o nu, a menos que ele reduza as despesas de seu
próprio vestuário, ou usar de alimento prazeroso, mais barato e em menor quantidade.
Além do que, o visitar o doente, ou aqueles que estão na prisão, é atendido, com
muitas circunstâncias desagradáveis. E, assim, todas as obras de misericórdia
espiritual; reprovação, em particular. Ele reprovaria seu próximo; mas algumas vezes,
se envergonharia; algumas vezes, temeria se envolver: Porque ele se exporia, não
apenas ao ridículo, mas às conseqüências mais pesadas também. Por estas e por
considerações semelhantes, ele omite uma ou mais, se não todas as obras de
misericórdia e devoção. Por esta razão, sua fé não é perfeita, nem ele pode crescer na
graça; isto é, porque ele não nega a si mesmo e toma sua cruz diariamente.
III
1. Em Primeiro Lugar, quão facilmente, nós podemos aprender disto, que
aqueles que, direta ou indiretamente; em público ou em privativo, opõem-se a negar a
si mesmos, e a carregarem diariamente sua cruz, não conhecem as Escrituras, nem o
poder de Deus! Quão totalmente ignorantes esses homens são de centenas de textos
específicos, assim como, do grande teor de todos os oráculos de Deus! E quão
inteiramente alheios eles devem ser com respeito à experiência cristã verdadeira e
genuína, -- da maneira como o Espírito Santo sempre operou, e opera até hoje, nas
almas dos homens! Eles podem falar, de fato, muito eloqüentemente e confiantemente
(um fruto natural da ignorância), como se eles fossem os únicos homens a
entenderem, tanto a Palavra de Deus, quanto a experiência de seus filhos. Mas suas
palavras são, em todo sentido, obras vãs; elas são pesadas na balança, e ainda ficam
deficientes.
2. Em Segundo Lugar, nós podemos aprender disto, a causa real porque não
apenas muitas pessoas particulares, mas, até mesmo, grupos de homens, que foram
outrora luzes ardentes e brilhantes, perderam agora sua luz e calor. Se eles não a
odiaram e se opuseram a ela, eles, no mínimo, estimaram ligeiramente esta preciosa
doutrina evangélica. Se eles, evidentemente, não disseram: 'Nós pisoteamos todo o
negar a si mesmo, nós o consagramos à destruição'; ainda assim, eles nunca a
valorizaram, de acordo com a sua mais alta importância, nem se preocuparam em
praticá-la. Disse um grande homem perverso: 'Os escritores místicos ensinam o negar
a si mesmo'. – Não; os escritores inspirados! E Deus a ensina a toda alma que está
desejosa de ouvir sua voz!
4. Por último: Vejam que vocês apliquem isto; cada um de vocês, às suas
próprias almas! Meditem sobre isto, quando estiverem em secreto. Ponderem em seus
corações! Cuidem de não apenas entenderem isto totalmente, mas de lembrarem disto,
até o fim de suas vidas! Clamem junto ao Forte, por força, para que vocês possam não
apenas entender prontamente, mas praticar prontamente. Não percam tempo, mas
pratiquem isto imediatamente, a partir de agora! Pratiquem universalmente, em todas
as milhares de situações que ocorrerão, em todas as circunstâncias da vida! Pratiquem
diariamente, sem intermissão, do momento em que puserem mãos à obra, e continuem
nisto até o fim, até que seu espírito retorne para Deus!
[Editado por Waylon Brown, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID),
com correções de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]