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José Carlos Sebe Bom Meihy (. (? > ~ ’ Manual de Historia Oral CN eee UTS ra ele corte epistemolégico na antiga histéria oral TURE eer oe eae eet Peete enced: eee alee a arte ee ee eC late Lecce te REM ere Ma riey- tite man aed Pen at nett eater strated Pe eee tare eteu ren ets ee Oe et Re ens ee toria oral: ser apenas técnicas utilizadas por Ceres er Secu eee ett) do entrevistai ST te ued ont ee ter te toe borador, documento (criaco textual COE Met Sua er eee ICO MEU elects ear oe ee CCM ec trea Leesa et COC Cem eee ent een a hist6ria oral torna-se capaz de responder ST ce ae eaten tet amet tees tedricas impessoais, ao passado imével ou Rn nam crete te em emt re TCC Mare ote tte ae teem SET ie mence nen tet ee eet CTL CUM ULcee nen hi iene te consciéncia. E entendemos com mais pro- EC ee rete ena Mc tee Garg Cou et mere Ce ee ean tne re Eun) Seeieert eet eter RET ene tee teee eM Comet ure Ca Wee ter et ST COR ie tae ea tt een eS E Mu ourttte aeehttiee Geeta Peter ee Manual de Historia Oral HISTORIA ORAL Canto de morte Kaiowa José Carlos Sebe Bom Meihy Clamor do presente — familias em busca da cidadania Yara Dulce Bandeira Ataide Decifra-me ou devoro-te, 2° ed. Yara Dulce Bandeira Ataide Joca — um menino de rua Yara Dulce Bandeira Ataide Manual de historia oral, 5* ed., revista e ampliada José Carlos Sebe Bom Meihy Oralidade, texto histéria — Para ler histéria oral Alberto Lins Caldas Ponto de vida — cidadania de mulheres faveladas Andrea Paula dos Santos Vozes da Marcha pela Terra Santos/Meihy/Salgado Ribeiro JOSE CARLOS SEBE BOM MEIHY Manual de Historia Ora 5* edigao revista e ampliada Diacramacao: Ronaldo Hideo Inoue Revisdo: Mauricio Balthazar Leal e Carlos Alberto Barbaro Edigies Loyola Rua 1822 n® 347 ~ Ipiranga 4216-000 Sao Paulo, SP Caixa Postal 42.335 — 04218-970 Sio Paulo, SP @® (i) 6914-1922 @ (11) 6163-4275 Home page e vendas: www.loyola.com.br Editorial: loyola@loyola.com.br Vendas: vendas@loyola.com.br Todos os direitos reservados. Nenhwma parte desta obra pode ser reproduzida ‘ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletronico ou mecinico, incluindo fotocépia e gravagdo) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissao escrita da Editora. ISBN: 85-15-01324-X S* edigdo: fevereiro de 2005 © EDICOES LOYOLA, Sio Paulo, Brasil, 1996 Sumdrio Prefiicio A quinta edigao Apresentagao Parte I Historia oral: reputagao e espago de conhecimento Histéria oral: conceitos e definigdes possiveis O que nao ¢ histéria oral Por que histéria oral .. Hist6ria oral e documento. Histéria oral e eletronica Hist6ria oral: de quem para quem’ A hist6ria oral e o politicamente correto .. Alcance da historia oral A poténcia da palavra . O estatuto da histéria oral .. Legitimidade cientifica da histéria oral Historia oral e nostalgia Parte II Meméria e identidade Historia oral e memoria Categorias de meméria... Memiria e comunidade de destino . Meméria e esquecimento Memoria dindmica ¢ oficializagao .. Identidade, historia oral e representatividade . Historia oral e identidad Ientidade e dindmica social Parte III A trajetéria da historia oral Um pouco da histéria da histéria oral Genealogia da moderna historia oral .. 17 20 24 28 32 35 38 42 46 53 56 61 65 70 74 7 79 82 86 91 94 A histéria oral no Brasil Passos da histéria oral brasileira .. Parte IV Caracteristicas da histéria oral Etapas da realizagao da hist6ria oral Condigoes das entrevistas .. Tempo em histéria oral . 4 Historia oral e politica 6 Histéria oral: uma outra histéri 9 Quem é quem em historia oral . . 122 O “eu” como mediador ... . 130 Histéria oral de pessoas anénimas . 136 Ntimero de pessoas entrevistadas em um projeto.. Solugies narrativas do “eu” Parte V Generos de histéria oral Hist6ria oral de vida Variagoes de hist6rias orais de vid; Histéria oral tematica ‘Tradigao oral . Parte VI Operagao pratica de historia oral Projeto de histéria oral .. Caderno de campo A guisa de exemplificacao Transcrigdo, textualizagao e transcriagao Histéria oral como transformagao social... Vinte perguntas freqiientes sobre projetos de histéria oral Lista de controle do andamento do projeto Carta de cessao. ANEXOS Projetos sintéticos — Historia de vida e sonhos de mulheres no limite da inclusao social Projeto completo — A esquerda militar brasileira a caminho da Guerra Civil espanhol: - 228 Glossério 260 A historia oral em perspectiva 263 Referéncias bibliogréficas 284 Esta edigdo é para Manuela e Gabriel, meus netos Prefacio & quinta edigéo > sta nao € apenas mais uma edigao do Manual de hist6- _~ ria oral. Pretende ser a tiltima de uma série de cinco que afinal fecha uma jornada, completa o ciclo de uma aventura ini- ciada em fins de 1996 com a publicagao do texto de estréia. Ao longo dos anos seguintes, a proposta sofreu alteragdes em edicdes que se sucederam na cadéncia bienal: 1998 (segunda edicao), 2000 (terceira edi¢do) e em 2002 (a quarta). Ao mesmo tempo foram se adensando argumentos que fortaleciam a idéia inicial, e 0 didlogo com outras alternativas exigiu mudangas e aprimora- mentos que passam a exigir novas justificagdes. De certa forma, as transformagoées deste Manual sao coe- rentes com o que se produziu no Nuicleo de Estudos em Hist6- ria Oral da USP (NEHO-USP) e que transparecem também na dinamica da histéria oral brasileira. Alguns dos preceitos defendidos por nossa linha de trabalho ganham forga de dife- renciacao de outras propostas que também se esclareceram ao longo do tempo de convivio. As divergéncias, além de estimu- lantes, tém exigido consisténcia em suas defesas, e a tal ponto isto tem chamado a atengao que fica clara a inviabilidade de sugestdes meramente formais, técnicas ou praticas. Nao é mais possivel caminhar por estradas que proponham a historia oral como mera pratica de registros, arquivamentos ou substitui- ao documental. A anulago das fronteiras entre teoria e pratica passa a exigir cuidados epistemoldgicos que comprometem a fungio de qualquer manual que se propusesse a ensinar como fazer entrevistas, forjando comportamentos mecanicos atinentes a seu uso. Desde a primeira edigao ficou claro que nao se preten- dia um texto carregado de proibigdes e defensor de uma alter- nativa tinica, como se historia oral fosse um exercicio técnico 9 MANUAL DE HISTORIA ORAL capaz de se restringir mera captacao de entrevistas. Mas nao era esperado também um encaminhamento tao tepleto de di- ferencas entre as propostas correntes, que, pode-se dizer, aca- baram por ser quase antagénicas e radicais. O fermento da dis- cussio das diferencas, a um sé tempo, promoveu a verticaliza- ¢ao do debate sobre suas fundamentacées e deu dimensio a uma das caracteristicas mais vitais da hist6ria oral: seu card- ter democratico e seu alcance coletivo, Portanto, néo hé como desmerecer o comprometimento politico da histéria oral. Alguns aspectos sao imperiosos a fim de instruir a leitura atual de nossa linha de atuacao. Um dos pontos capitais que ressaltam da iniciativa do NEHO-USP é a nocao da finalida- de do trabalho em histéria oral. Mais do que responder “his- toria oral de quem?”, cabe supor “historia oral para quem?”, “como?” e “por qué?”. Este conjunto de premissas convoca 0 percurso de propostas que trabalham com a idéia de transfor- magao. Transformacao em sentido amplo, desde a “nao-natu- reza” ou espontaneidade do conhecimento até a montagem dos resultados filtrados Por gravagdes, documentagao, andlise e divulgacgao dos produtos ptiblicos. Interferem nesse proces- So as nogées de “histéria”, “tempo presente”, conhecimento e comunicagao social. Um dos pontos capitais da operacao do oralista, entao, tor- na-se a passagem do verbal para o escrito. E isto se dé em dois momentos: um primeiro quando temos a pratica imediata da passagem do que foi dito para o estado escrito; outro quando Se pensa no processo da histéria oral como transformacao de circunstancias de nao-registro para a condigao de andlise so- cial de entrevistas tinicas ou grupais. Alberto Lins Caldas nes- te caso, mais incisivamente, tem levado a extremos 0 conceito de “transcriagao”, que seria a elevacao da condigao geral de registro ao nivel do estudo e daf a transformagao da conscién- cia social. Para ele, “transcriar” é obedecer ao ritual de pas- sagem de um registro a andlise, e isto se dé na totalidade do Pprocesso, inclusive com a devolugio publica do que se buscou estudar. E, portanto, no aperfeigoamento desta aventura que emerge a figura do “oralista”, que, afinal, é mais do que histo- riador oral — ou do que outra qualquer variacao disciplinar que trabalhe com a oralidade: socidlogos, antropdlogos, psicé- logos, jornalistas, Sedgrafos e historiadores. 10 PREFACIO A QUINTA EDICAG A consciéncia de oralista como personagem ampoe,0 (con ceito de “colaborador” como substituto de “informante : a social”, “objeto” ou “sujeito” de pesquisa. Ha nesta mudanga de consideracao, mais do que um detalhamento técnico con- ceitual, uma tomada de posigao filoséfica que mexe on a nocao de neutralidade e de distanciamento. Eo que oo oe em juizo é 0 nao-sentido de manifestages que se valem oralidade apenas como subterfigio de registro. Porque a ee advoga que a historia oral seja apenas um acess6rio ae ife- rentes dreas, propée-se a conversao da matéria em algo ae conseqiiente, menos alienador, ao nivel até de se preten 2 uma nova disciplina. Logicamente, ° incdmodo da Prope a exalta animos conservadores que insistem om mostrar eee t6ria oral como “terra de ninguém” porque campo de tor . ou com a desculpa mais convencional de ser um sane mul- tidisciplinar”, portanto sem objeto ou sujeito metodo] se Fazendo a opgao objetiva por um estatuto mais digno dal \is- t6ria oral, encerra-se este Manual com uma Broposta polémi- ca chamada “A radicalizacao da histéria oral”. / HA um sentido de negociagao, contudo, que nao deixa de ser evidente na insisténcia — ainda que derradeira — deste Manual. E é isto que ainda justifica esta edigao. Mesmo que 0 ponto de chegada desejavel seja mais discursivo e abstrato, qualificagées técnicas e conceituais foram aperfeigoadas no sentido de permitir um aparato operacional mais oe e digno de uma passagem para outras consideragoes discipli- nares. De toda forma, como ponto final, este Manual espera cumprir sua fungao. : Em termos praticos, 0 texto foi dividido em seis partes as- pectos conceituais; relacao de “memoria e identidade '; traje- toria histérica da oralidade; caracteristicas; géneros; e opera- Gao pratica da histéria oral, Um conjunto de anexos fecha a proposta desta edicéo do Manual de historia oral. Apresentagéo maior virtude de um manual é a objetividade que se con- segue sempre depois de uma pratica que alia experiéncia, conhecimento e capacidade de sintese. Assim, busca-se abrir caminhos para uma leitura produtiva e indicagoes de alterna- tivas para motivar a elaboragao de projetos. Um bom manual tem também de se valer de conceituagao precisa e possibilitar o trabalho organizado contemplando todas as fases de um pro- cesso de pesquisa. Este Manual é resultado de alguns fatores combinados, como: 1. necessidade, particularmente no Brasil, de abordagem dos debates ¢ orientacées em torno do que modernamente tem sido conhecido como histéria oral; 2. simplificagao e esclarecimento das informagoes sobre con- ceitos e operagées comumente complicados por investidas mais tedricas que préticas, quase sempre importadas, ain- da que assumidas nas universidades como se fossem pa- triménio préprio; 3. detalhamento de determinadas operacies do fazer da his- toria oral; 4. insistente numero de pedidos para sua realizagéo e sua atualizagao complementar. Isso reunido motivou a proposta deste texto, disponibilizado tanto para o ptiblico de estudantes como para o de setores da sociedade que questionam o papel do conhecimento produzi- do pelas escolas superiores. Museus, arquivos variados e pes- soas curiosas que, carentes de guias, se vem dispostos a atua- lizar acervos, promover recolhas de testemunhos, evidenciar alternativas de andlises e disponibilizar colegdes de depoi- Mentos poderao aqui encontrar ponto de partida ou referéncia para debate e aprofundamento. Mantém-se também o amparo 13 MANUAL DE HISTORIA ORAL te6rico, que, contudo, apenas reponta em seus Angulos préti- cos, sugerindo aprofundamentos aos interessados. Neste sen- tido, alids, é anexada uma bibliografia indicativa, Na redacio deste Manual, pensou-se em fazé-lo 0 menos normativo possivel e mais preocupado em fornecer elementos necessdrios a atuagao dos oralistas no trabalho de campoe depois em suas transformacées, Nao se pretendeu um modelo fechado nem uma orientacao absoluta ou unica, ainda que se buscasse coeréncia com um modelo, Sua pretensao se esgota na propos- ta de ser pratico, informativo e indicador de possibilidades. Por- que se quis fugir de modelos de manuais polarizados no debate te6rico ou da indicagao de rigida formulacgao de comportamen- tos operacionais sem justificativas sistémicas, buscou-se a com- binacao de referéncias historiograficas trangadas com concei- tos e exemplos derivados de pesquisas feitas e testadas. Sobre- tudo, manteve-se a atengao a proposta de uma visao organiza- da e sistémica de histéria oral. Oso indiscriminado de aspectos do. que se chama vulgarmente de histéria oral e a confusio de sua prdtica com entrevistas Comuns, feitas sem os enquadramentos convenientes histé- tia oral, revelam a perversidade de certas investidas que, va- lendo-se de formulas tradicionais, se apresentam como uma “nova alternativa”. Entrevista sem Projeto nao € historia oral, Parte I Historia oral: reputagdo e espago de conhecimento ALEM DE ABORDAR QUESTOES PERTINENTES AOS CONCEITOS DE HISTORIA ORAL, BUSCOU-SE NESTA PRIMEIRA PARTE SITUAR 0 DEBATE SOBRE 0 ASSUNTO, ABRINDO ESPACO PARA ALGUMAS DAS MAIS IMPORTANTES DEFINIGOES SOBRE O TEMA. A PREOCUPAGAO CENTRAL QUE DEFINIU 0 RUMO FOI ESTABELECER METAS MINIMAS DE ENTENDIMENTO DO ASSUNTO PARA DEPOIS ABORDAR QUESTOES MAIS OBJETIVAS E A OPERAGAO DO PROCESSO PRATICO DE HISTORIA ORAL. Historia ora conceitos e definigées possiveis Mas afinal 0 que é histéria oral? "Y omo toda definigéo de tema complexo, é dificil precisar ( 0 que é histéria oral, pois essa pratica, além de renovada pelo uso dos aparelhos eletrénicos e com fundamentagao moder- na, é dindmica c criativa, fato que torna discutivel qualquer concei- tuagao fechada. Pode-se, em nivel material, considerar que a his- toria oral consiste em gravagdes premeditadas de narrativas pes- soais, feitas diretamente de pessoa a pessoa, em fitas ou video, tudo prescrito por um projeto que detalhe os procedimentos. histéria oral é um recurso moderno usado para a elaboragio de documentos*!, arquivamento e estudos referentes 4 experién- cia* social de pessoas e de grupos. Ela é sempre uma histéria do “tempo presente”* e também reconhecida como “histéria viva”. Conceito mimero 1; Histéria oral é uma pratica de apreensao de narrativas feita através do uso de meios eletrénicos e desti- nada a recolher testemunhos, promover andlises de processos sociais do presente e facilitar o conhecimento do meio imediato. Conceito mimero 2: A formulagéo de documentos através de registros eletronicos é um dos objetivos da histéria oral. Tais documentos, contudo, podem também ser analisados a fim de favorecer estudos de identidade* e memoria cultural*. Conceito mimero 3: Hist6ria oral é um conjunto de procedi- mentos que se iniciam com a elaboragao de um projeto e que 1. Palavras e expressies seguidas de asterisco sio conceitos cujos significa- dos podem ser encontrados no Glosséio, as paginas 260-262. Eimpossivel apontar um lugar no globo onde as pessoas nao estejam fazendo hist6ria oral Donald A. Ritchie Lembrancas, comentérios, memérias de fatos eimpressies sobre acontecimentos, desde que ‘motivados para entrevistas, sto a hase da histéria oral. Daphone Patai MANUAL DE HISTORIA ORAL continuam com a definicao de um grupo de pessoas (ou cold- nia*) a ser entrevistadas. O projeto prev lanejamento da condugao das gravacoes; transcrigdo; conferéncia da fita com 0 texto; autorizagao para o uso; arquivamento €, sempre que possivel, publicagao dos resultados, que devem, em primeiro lugar, voltar‘ao grupo que gerou as entrevistas. Conceito ntimero 4: Historia oral é umaalternativa para estu- dar a sociedade por meio de uma documentagio feita com 0 uso de depoimentos gravados em aparelhos eletronicos ¢ trans- formados em textos escritos. Conceito mimero 5: Histéria oral é um processo sistémico de uso de depoimentos gravados, vertidos do oral para o escrito, com o fim de promover o registro e 0 uso de entrevistas. Como registro de experiéncias de pessoas vivas, expressao legitima do “tempo presente”, a histéria oral deve responder aum sentido de utilidade pratica, priblica e imediata. Isso nao quer dizer que ela se esgote no momento de sua apreensao e da eventual andlise das entrevistas, ou mesmo no do estabele- cimento de um texto, saa j OORIMBIIES ASTER A historia oral mantém um compromisso de Tegistro perma- nente que se projeta para o futuro sugerindo que outros pos- sam vir a usé-la de diferentes maneiras, e por isso é impor- tante separar as etapas de gravagées de entrevistas, de es- tabelecimento dos textos, de suas andlises e do arquivamento ou destinagao. A primeira etapa ¢ obrigatéria, por ser germi- nal; a segunda e a terceira dependem das determinagées esta- belecidas no projeto; e a tiltima deve se orientar para a insti- tucionalizagao da guarda do material, i Pode-se dizer que trés elementos constituem a relagao mi- nima da histéria oral, e um nao faz sentido sem 0 outro: 1. o entrevistador; 2. 0 entrevistado; e 3. a aparelhagem da gravagao. Todo projeto de histéria oral precisa ter no minimo um “diretor” ou “coordenador”, que pode ser também o/um exe- cutante do processo. E comum haver projetos de maior alcan- 18 HisToRIA ORAL: CONCEITOS I: DEFINICOES ce que demandam mais de um entrevistador, além de trans- critor e revisor. Boa parte dos projetos é feita por uma sé pes- soa, que assume a responsabilidade de todas as tarefas. E pri- ynordial que se pense no destino das gravagées, que devem ser mantidas e disponibilizadas para o consumo social. Os entrevistados sao as pessoas ouvidas em um projeto e devem ser reconhecidos como colaboradores*. As escolhas 6. também todos os procedimentos de contato e de condugao das entrevistas devem ser feitos de acordo com o projeto. Comumente se faz entrevistas individuais, tealizadas com gravadores ou cAmaras portiteis, de preferéncia com microfo- nes embutidos, a fim de tornar menos ostensivo 0 ato da gra- yacao. Ha pessoas que combinam entrevistas com sessdes de fotos, que contudo devem se dar em momentos acertados en- tre as partes. Como um procedimento premeditado, seria ingénuo pensar que qualquer pessoa despreparada, pelo simples fato de en- trevistar alguém usando gravadores ou filmadoras, esteja fa- zendo historia oral. Atualmente, a histéria oral j4 se constitui em parte inte- grante do debate sobre a fungao do conhecimento social eatua em uma linha que questiona a tradigdo historiografica centra- da em documentos oficiais. Por isso, a histéria oral hoje é parte inerente dos debates sobre tendéncias da historiografia con- temporanea ou da hist6ria do tempo presente. Como pres- suposto, a hist6ria oral implica uma percepcao do passado como algo que tem continuidade hoje e cujo processo hist6i co nao est acabado. E isso que marca a histéria oral como “historia viva”. A presenca do passado no presente imediato das pessoas éa razao de ser da historia oral. Nessa medida, a histéria oral nao s6 oferece uma mudanga do conceito de historia, mas, mais do que isso, garante sentido social a vida dedepoentes ie leitores, que passam a entender a seqiiéncia histérica e se sentir parte do contexto em que vivem. 19 Eumerro manter o registro deum projeto como dominio pessoal, O correto éiransformé-lo em patriménio social, mantidos ‘0s compromissos de publicidade Robert M. Levine

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