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Caro cursista,
Este material foi elaborado a partir dos conteúdos programáticos cobrados nos últimos
processos seletivos para o Mestrado Profissional em Ensino de História (Profhistória). Com o
objetivo de trazer uma síntese deste conteúdo, fizemos uma pesquisa bibliográfica, utilizando-
se de livros, artigos, teses e dissertações que tinham como escopo temático o conteúdo alvo da
seleção.
Destacamos, todavia, que toda síntese incorre no perigo da extrema objetividade, o que pode
dificultar o entendimento de alguns conteúdos. Recomendamos o acompanhamento às aulas
de análises de livros que foram disponibilizados na plataforma do curso. Nestas aulas, são
frequentes os exemplos extraídos de documentários, entrevistas etc.
Bons estudos!
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Finalmente chegamos ao conteúdo programático mais aplicado da seleção. Aplicado, no sentido
de sua abordagem se aproximar mais do aspecto prático do profissional licenciado em história.
É claro que não devemos considerar a relação teoria-prática como sendo dicotômica, como se o
que vimos até aqui fosse a teoria e agora estaríamos adentrando no universo da prática. Não!
Nós, que somos professores licenciados, muitas vezes damos mais enfoque ao conteúdo
específico da nossa área, do que aos estudos referentes ao ensino. É importante lembrar que o
saber pedagógico permeia a nossa prática, sendo necessário, portanto, o auxílio da didática para
que saibamos conduzir o processo de ensino-aprendizagem da maneira mais eficaz e proveitosa,
não apenas para os alunos, mas também para nós mesmos.
Então, caro cursista, enquanto professor de história, você deve, sim, realizar em sua formação
continuada estudos relacionados à Didática. Na verdade, todo profissional que atua na docência
deveria se preocupar com a sua própria formação pedagógica. Lembro-me de alguns professores
que tive no curso de Direito: advogados, promotores, juízes. Sem dúvidas, profissionais com
muito conhecimento técnico na área. No entanto, alguns tinham sérios problemas no que diz
respeito à didática e ao relacionamento com alunos.
Por atuarmos na educação básica, este conhecimento didático é mais exigido em nossa
profissão. Então, que tenhamos o seguinte pensamento: Para ser um professor de história não
é suficiente ter o conhecimento técnico na área. Este é importante, mas não basta. Conhecer a
história, conhecer o nosso aluno, e conhecer as técnicas utilizadas no agir docente é de
fundamental importância. É justamente sobre este ponto de vista que se assenta a Questão 17
do Exame Nacional de Acesso de 2014. Vejamos.
O gabarito da questão é a letra “b”. A pedagogia, como a ciência da educação, nos fornece
subsídios para o nosso agir enquanto docente, ou seja, enquanto profissional que ensina. O
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domínio dos conteúdos diz respeito justamente ao conhecimento técnico da área mencionado
por mim anteriormente. Em outras palavras, é o conhecimento da história, enquanto conteúdo
que deve ser aprendido. A prática docente não diz respeito apenas ao ensino (que teria como
foco o próprio professor), mas, também à aprendizagem, ou seja, ao como os nossos alunos
aprendem. A aprendizagem, nessa perspectiva, tem como foco o próprio aprendiz. Então,
pessoal, as duas primeiras linhas do trecho já nos indicam a resposta: “para ensinar história a
João é preciso entender de ensinar (pedagogia), de história (domínio dos conteúdos) e de João
(processo de aprendizagem)”.
Outra questão que aborda a importância de o professor ser sensível ao conhecimento que os
seus alunos já trazem consigo é a primeira questão do Exame Nacional de Acesso de 2018.
Vejamos.
O livro escolar buscou utilizar o conhecimento que supostamente os alunos teriam do desenho
“Os Smurfs” para abordar o conteúdo referente ao sistema comunista. A analogia feita foi um
recurso de ensino-aprendizagem muito bem pensado pela autora do livro, configurando,
portanto, a opção “d” como gabarito.
Como seria um professor com grande conhecimento de história, mas com um profundo
desprezo pela pedagogia? Ou um professor com uma rica formação pedagógica, mas com sérias
dificuldades no que diz respeito ao conteúdo da sua disciplina? Em um mundo cada vez mais
conectado, as informações que passamos aos alunos podem ser checadas quase que
instantaneamente pelo celular1. Demonstrar segurança em relação ao que é dito em sala de aula
é de fundamental importância para que os próprios alunos tenham confiança naquilo que é dito
pelo professor. Como autoridade em sala de aula, ele deve, sim, se aprofundar nos conteúdos
de sua área. Sobre o conceito de autoridade, um breve comentário.
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Sim! Eu já tive problemas com celular sendo usado por alunos em sala de aula. Tanto no ensino
fundamental como também no ensino médio.
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Foi no contexto da Roma que a palavra e o conceito de autoridade apareceram originalmente.
A palavra auctoritas é derivada do verbo augere, “aumentar”, e aquilo que a autoridade ou os
de posse dela constantemente aumentam é a fundação. Aqueles que eram dotados de
autoridade eram os anciãos, o Senado ou os patres, os quais a obtinham por descendência e
transmissão (tradição) daqueles que haviam lançado as fundações de todas as coisas futuras, os
antepassados chamados pelos romanos de maiores. Autoridade era, então, a qualidade de
alguém que punha ordem nas coisas, que eram os responsáveis pela manutenção das bases de
uma sociedade. O professor, como autoridade, seria alguém encarregado de ordenar a
formação de seus aprendizes, desfazendo pensamentos equivocados e proporcionando um
aprendizado para a vida. Neste sentido, podemos citar a Questão 18 do Exame nacional de
Acesso de 2014:
Repare que o professor, em sua fala, traz uma falha comum em relação ao conteúdo história do
Brasil: a de que a República do Café com leite teve a alternância de mineiros e paulistas na
presidência do país: “Quando você aprende “café com leite”, você tem a noção de que era um
presidente mineiro e outro presidente paulista”.
Ao se falar em processo de aprendizagem, é necessário que este seja tratado como o resultado
de um processo educativo, com a educação pensada nas pessoas a quem ela se destina, como
vimos na análise da primeira questão deste material. Deste modo, a linguagem, os espaços e os
recursos utilizados no processo educativo devem ser adequados às pessoas que são o alvo desse
processo de aprendizagem.
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Os diversos recursos tecnológicos disponíveis podem servir como materiais de ensino mais
atraentes para um público que está acostumado com esses dispositivos, além de possuírem
possibilidades para tornar o ensino mais acessível, através de vídeos, imagens etc. Outro ponto,
é que o uso de recursos tecnológicos é uma alternativa para substituir e complementar os
materiais didáticos existentes, que, principalmente em escolas públicas, geralmente são
escassos e muitas vezes defasados. Você, como professor, já deve ter utilizado vídeos em suas
aulas.
Segundo Libâneo (1998, p.15) “o mundo contemporâneo [...] está marcado pelos avanços na
comunicação e na informação e por outras tantas transformações tecnológicas e científicas”.
A Questão 4 do Exame Nacional de Acesso de 2016 é bem ilustrativa sobre o uso das novas
tecnologias na educação.
O uso vídeo como ferramenta didática é relativamente novo, sendo mais visível a partir da
década de 1990, “com a difusão e popularização do formato VHS, iniciada nos anos 80.
O vídeo pode ter papel de destaque no ambiente de ensino, pois ele permite a visualização de
tudo o que é ensinado, com riqueza de detalhes e apresentação atraente. Cabe ao docente o
filtro do que será exibido, evitando que filmes sem embasamento científico acabem prestando
um desserviço para o aluno.
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É importante que seja destacado o caráter da verossimilhança do filme (opção b). a
verossimilhança captura toda a possibilidade de persuadir, de convencer de que o que está
sendo mostrado é real. O verossímil é aquilo que é aceitável pela opinião comum, o que é
endoxal e não paradoxal, o que corresponde ao código e às normas do consenso social. O filme
ficcional por não ser um retrato do mundo óbvio em que vivemos (espera-se mesmo que não
seja; mesmo os “baseados em fatos reais” devem apresentar o caractere de novidade), irá trazer
em sua narrativa um conjunto de fantasia e um desencadear de acontecimentos incríveis que
precisam de uma costura para convencer toda a plateia de que aquilo que se assiste faz todo o
sentido. O acontecer coerente dentro da ficção é a verossimilhança. É aquilo que durante uma
ficção a ser consumida nos faz pensar “poderia acontecer”, “de repente tenha acontecido” ou
“um dia poderá mesmo acontecer”. O uso das novas tecnologias em sala de aula requer o
preparo do docente no manejo dessas ferramentas.
Podemos identificar a importância dada à experiência docente (opção “a”). O saber do professor
deve ser entendido a partir da relação que mantém com o trabalho escolar e o ambiente da sala
de aula. A partir das relações mediadas pelo trabalho, o professor constrói seus princípios
norteadores para o enfrentamento das situações cotidianas da atividade docente.
O saber docente pode ser concebido como “um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou
menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional, dos saberes das disciplinas, dos
currículos e da experiência”. O saber docente também é um saber social, pois, intencionalmente,
ou não, costuma ser partilhado pelos pais que trabalham na mesma instituição escolar. Neste
sentido, citamos mais outra questão, a terceira do Exame Nacional de Acesso de 2018.
Acesso ao curso preparatório em: https://afascursos.com.br/ver/curso/profhistoria-preparatorio-2023/
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Diante de tudo o que vimos, fica óbvio que a perspectiva de Maurice Tardif, no tocante ao
trabalho docente, é contrária à ideia de uma vocação inata (opção “a”). Vocação, de vocare
(chamar), como se fosse um chamamento divino, um destino pré-determinado à docência.
Neste sentido, o professor já nasceria professor. Obviamente, não é esta a ideia defendida.
Outro aspecto que dá relevância social ao saber docente é o fato de este consistir em formar,
instruir e educar o cidadão, de forma que possa colaborar para as mudanças da sociedade em
que estes docentes vivem. Dessa forma, devem estar presentes neste saber docente os temas
transversais. No que diz respeito ao contexto educacional brasileiro, os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) definem os temas transversais.
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Neste sentido, podemos analisar a Questão 11 do Exame Nacional de Acesso de 2016.
O trecho da carta que serve de base para responder as questões aborda o tema orientação
sexual, mais especificamente as relações de gênero (opção “a”). Os temas transversais
expressam conceitos e valores básicos à democracia e à cidadania e obedecem a questões
importantes e urgentes para a sociedade contemporânea. A ética, o meio ambiente, a saúde, o
trabalho e o consumo, a orientação sexual e a pluralidade cultural não são disciplinas
autônomas, mas temas que permeiam todas as áreas do conhecimento, e estão sendo
intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e
educadores em seu cotidiano.
Outro ponto que não poderíamos deixar de abordar aqui é a Base Nacional Comum Curricular.
O processo de elaboração da Base Nacional Comum Curricular foi complexo e ocorreu em meio
a disputas políticas e epistemológicas. A Base está prevista desde a Constituição Federal de 1988
e, durante esse período, outras experiências de políticas curriculares comuns foram
desenvolvidas no país. No entanto, a BNCC concretizou-se após vinte e nove anos. Ao longo
desse período, diversas leis, diretrizes e planos foram criados e fundamentam legalmente o
documento da BNCC. O componente curricular de História foi alvo de controvérsias ao longo do
processo de construção do documento. O cenário político brasileiro teve um importante
impacto durante o processo de produção do documento.
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O ensino de História alinhado à BNCC contempla dois pontos importantes: que os alunos possam
aprender a relacionar o que aconteceu no passado com o presente, e que possam desenvolver
uma visão crítica dos fatos. De acordo com a Base, é preciso “transformar a história em
ferramenta a serviço de um discernimento maior sobre as experiências humanas e das
sociedades em que se vive”. Sendo assim, os alunos não devem apenas aprender sobre os fatos
de maneira distante ou fora de contexto a outros fenômenos e, principalmente, do próprio
presente.
Suponhamos, caro cursista, que você nunca tenha lido a BNCC. Nada. Esta questão seria de difícil
resolução por você? Com um olhar atento às informações presentes no quadro, o gabarito se
mostra claramente. Vamos por eliminação.
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O quadro traz uma divisão disciplinar em áreas, considerando um dos níveis da educação básica:
Ensino Médio. Não há nenhuma referência feita à autonomia das escolas (opção “a” está
descartada). Também não há nenhuma referência à regionalização, nem mesmo à avaliação
(opção “b” descartada). Não se discutem no quadro métodos de aprendizagem (opção “d”
descartada). O que há efetivamente é uma divisão disciplinar a partir de áreas do conhecimento.
Disciplinas passam a serem vistas considerando as suas semelhanças entre si, o que as fazem
serem enquadradas em áreas do conhecimento. As especificidades de cada disciplina são
deixadas de lado na organização da base.
E nós chegamos ao fim deste módulos de estudos. Nosso objetivo foi sintetizar os conteúdos
programáticos da seleção. Obviamente, há muitos outros assuntos que também são relevantes
para a preparação, mas trazê-los para cá iria nos desviar do próprio objetivo do módulo.
As aulas de estudos dos livros que estão na plataforma também são importantes para os
estudos. Além disso, como nós já vimos e faço questão de repetir, é muito importante que você,
caro cursista, realize uma leitura atenta e cuidadosa dos itens que compõem o exame. O
gabarito de boa parte delas pode ser encontrado na própria questão, independentemente de
você ter ou não lido tal ou qual livro.
Um grande abraço!
Referências bibliográficas
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e
profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998.
TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
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