Você está na página 1de 35

Macroeconomia I

por

Ricardo Brito
FEA/USP
Curva de Phillips, Taxa Natural
de Desemprego e Inflação
Pergunta
• Qual a relação entre taxa de inflação e taxa de desemprego no curto e
médio prazos?

3
Leitura para esta aula
• Blanchard, O. (2018), capítulo 8

4
A taxa de desemprego e a curva de
Phillips
Inflação versus desemprego
nos Estados Unidos, 1900-
1960
No período 1900-1960, nos
Estados Unidos, uma taxa de
desemprego baixa estava
tipicamente associada a uma alta
taxa de inflação e, inversamente,
o alto desemprego a uma inflação
baixa ou negativa.
• A curva de Phillips, baseada nos dados
acima, mostra uma relação negativa entre
inflação e desemprego.
Inflação, inflação esperada e
desemprego
𝑃 = 𝑃! 1 + 𝜇 𝐹 𝑢, 𝑧

• A equação acima é a relação de oferta agregada deduzida no Cap. 7.


• Essa relação pode ser reescrita para estabelecer uma relação entre inflação, inflação
esperada e taxa de desemprego.
• Primeiro, a função F, assume a forma:

𝐹 𝑢, 𝑧 = 1 − 𝛼𝑢 + 𝑧

• Agora, substitua esta função na forma acima:

𝑃 = 𝑃! 1 + 𝜇 1 − 𝛼𝑢 + 𝑧
Inflação, inflação esperada e
desemprego
𝑃 = 𝑃! 1 + 𝜇 1 − 𝛼𝑢 + 𝑧

• Da equação acima, é possível deduzir a relação entre inflação, inflação esperada e


desemprego:

𝜋 = 𝜋 ! + 𝜇 + 𝑧 − 𝛼𝑢
Dedução
𝑃 = 𝑃! 1 + 𝜇 1 − 𝛼𝑢 + 𝑧

• Para referir-se a inflação, inflação esperada ou desemprego em um ano específico,


a equação acima precisa incluir um indicador de tempo, como se segue:

𝑃" = 𝑃"! 1 + 𝜇 1 − 𝛼𝑢" + 𝑧

• As variáveis 𝑃" , 𝜋" , 𝜋"! e 𝑢" referem-se a preço, inflação, inflação esperada e
desemprego no ano 𝑡 ; 𝜇 e 𝑧 são consideradas constantes e não têm indicador de
tempo.
Dedução
• Primeiro, introduza subscritos de tempo:

𝑃" = 𝑃"! 1 + 𝜇 1 − 𝛼𝑢" + 𝑧

• Divida ambos lados por 𝑃"#$ :

𝑃" 𝑃"!
= 1 + 𝜇 1 − 𝛼𝑢" + 𝑧
𝑃"#$ 𝑃"#$

e tem-se a equação da inflação:

1 + 𝜋" = 1 + 𝜋"! 1 + 𝜇 1 − 𝛼𝑢" + 𝑧


Dedução
1 + 𝜋" = 1 + 𝜋"! 1 + 𝜇 1 − 𝛼𝑢" + 𝑧

• Dividindo a eq. acima por 1 + 𝜋"! 1 + 𝜇 , chega-se a:

1 + 𝜋"
! = 1 − 𝛼𝑢" + 𝑧
1 + 𝜋" 1 + 𝜇

que para 𝜋, 𝜋 ! e 𝜇 pequenos pode ser aproximada por:

1 + 𝜋" − 𝜋"! − 𝜇 ≈ 1 − 𝛼𝑢" + 𝑧


ou
𝜋" ≈ 𝜋"! + 𝜇 + 𝑧 − 𝛼𝑢"
Inflação, inflação esperada e
desemprego
𝜋" = 𝜋"! + 𝜇 + 𝑧 − 𝛼𝑢"

• Segundo esta equação:

• Um aumento da inflação esperada, 𝜋 ! , leva ao aumento da inflação, 𝜋 .


• Dado 𝜋 ! , um aumento no markup, 𝜇, ou um aumento nos fatores que afetam a
determinação do salário, 𝑧, leva a um aumento na 𝜋 .
• Dado 𝜋 ! , um aumento na taxa de desemprego, 𝑢, leva a uma queda na 𝜋 .
A curva de Phillips
• Definimos 𝜋"! = 0 , então:

𝜋" = 𝜇 + 𝑧 − 𝛼𝑢"

• Esta é a relação inversa entre desemprego e inflação que Phillips constatou para o
Reino Unido e Solow & Samuelson para os EUA (ou a curva de Phillips original).

• A espiral salário-preço :

Pt - Pt -1
ut ¯ Þ Wt ­ Þ Pt ­ Þ p t = ­
Pt -1
A curva de Phillips

Inflação versus desemprego


nos Estados Unidos,
1948-1969

O declínio contínuo do
desemprego nos Estados Unidos
durante a década de 1960 esteve
associado a um aumento
também contínuo da inflação.
Mutações
• A relação negativa entre desemprego e inflação perdurou ao longo da década de
1960, mas desapareceu depois desse período, por duas razões:

• Um aumento no preço do petróleo.

• Uma mudança na forma como os fixadores de salários formavam suas


expectativas, devido a uma mudança no comportamento da taxa de inflação:
• a taxa de inflação tornou-se consistentemente positiva.
• a inflação tornou-se mais persistente.
Mutações

Inflação versus desemprego


nos Estados Unidos, 1970-
2014

A partir de 1970, a relação entre


a taxa de desemprego e a taxa
de inflação desapareceu nos
Estados Unidos.
Mutações

Inflação nos Estados Unidos,


1900-2000
Desde a década de 1960, a
inflação americana esteve
consistentemente positiva. A
inflação também tornou-se mais
persistente: a inflação alta de
um ano provavelmente será alta
no ano seguinte.
Formação de Expectativas
• Friedman e Phelps questionaram a existência dessa alternância entre desemprego e
inflação.

• Eles argumentaram que a taxa de desemprego não poderia ser mantida abaixo de
um determinado nível que chamaram de "nível natural de desemprego".
Formação de Expectativas
• Suponha que as expectativas sobre a inflação sejam
formadas de acordo com:
e
π t = θπ t- 1

O parâmetro q captura o efeito da taxa de inflação do ano


passado, pt-1, sobre a taxa de inflação prevista para este
ano, pet.
O valor de q aumentou continuamente na década de 1970,
de zero a um.

w Para:
p te = q × p t -1 ,
q = 0 , até os anos 60; e a partir dos anos 70, q = 1.
Formação de Expectativas
πt = θπt- 1 + ( μ + z ) - αut
• Na equação acima, quando q = 0, a relação entre inflação e taxa de
desemprego é :

πt = ( μ + z ) - αut

• Quando q é positivo, a taxa de inflação depende tanto da taxa de


desemprego como da taxa de inflação do ano anterior:

πt = θπt- 1 + ( μ + z ) - αut

• Quando q = 1, a relação de oferta agregada torna-se:

πt - π t- 1 = ( μ + z ) - αut
Formação de Expectativas
𝜋" − 𝜋"#$ = 𝜇 + 𝑧 − 𝛼𝑢"

• Quando q = 1, a taxa de desemprego não afeta a taxa de inflação, mas sim a


variação da taxa de inflação.

• A partir de 1970, surgiu uma relação negativa entre a taxa de desemprego e a


variação da taxa de inflação nos Estados Unidos.
Mutações

Inflação versus desemprego


nos Estados Unidos, 1970-
2014

A partir de 1970, a relação entre


a taxa de desemprego e a taxa
de inflação desapareceu nos
Estados Unidos.
Formação de Expectativas

Variação da inflação versus


desemprego nos Estados
Unidos, 1970-2014

Desde 1970, há uma relação


negativa entre a taxa de
desemprego e a variação da
taxa de inflação nos Estados
Unidos.

• A reta que melhor se ajusta aos pontos dispersos no período 1970-2000 é:

𝜋" − 𝜋"#$ = 3% − 0.5𝑢"


Formação de Expectativas
• A curva original de Phillips é:

𝜋" = 𝜇 + 𝑧 − 𝛼𝑢"

• A curva de Phillips modificada, ou curva de Phillips aumentada pelas


expectativas, também chamada de curva de Phillips aceleracionista, é:

𝜋" − 𝜋"#$ = 𝜇 + 𝑧 − 𝛼𝑢"


De volta à taxa natural de desemprego
• Friedman e Phelps questionaram a existência dessa alternância entre desemprego e
inflação.
• Eles argumentaram que a taxa de desemprego não poderia ser mantida abaixo de
um determinado nível que chamaram de "nível natural de desemprego".
• O nível natural de desemprego é a taxa de desemprego em que a taxa inflação
corrente é igual à taxa de inflação esperada.

µ+ z
0 = ( µ + z) - aun então, un =
a
De volta à taxa natural de desemprego
μ+ z
• De: un = tem-se: αu n = μ + z
α

e
• Dado: π = π + ( μ + z ) - α u então: πt - π et = αun - α ut

• Finalmente, supondo que pet é bem aproximado por pt-1, então:

πt - π t- 1 = - α( ut - un )

• Esta relação proporciona outra maneira de pensar sobre a curva de Phillips, em


termos de taxa de desemprego corrente, da taxa natural de desemprego e da
variação da inflação.
De volta à taxa natural de desemprego
𝜋" − 𝜋"#$ = −𝛼 𝑢" − 𝑢%

• A equação acima proporciona outra maneira de pensar sobre a taxa natural de


desemprego:

• A taxa de desemprego não-aceleradora da inflação, (ou TDNAI), é a taxa de


desemprego necessária para manter a inflação constante.
Um resumo e muitas ressalvas
Diferenças na Taxa Natural de Desemprego entre os
Países:

μ+ z
un =
α
• Os fatores que afetam a taxa natural de desemprego acima
diferem entre os países. Portanto, não há razão para esperar que
todos os países tenham a mesma taxa natural de desemprego.
Variações da taxa natural de
desemprego ao longo do tempo
𝜋" − 𝜋"#$ = 𝜇 + 𝑧 − 𝛼𝑢"
• Acima, supõem-se os termos 𝜇 e 𝑧 constantes. Mas eles podem variar no tempo,
levando a mudanças na taxa natural de desemprego.
• A taxa natural de desemprego dos EUA caiu para um nível em torno de 4% a 5%
hoje.
• Uma taxa de desemprego alta não necessariamente reflete uma taxa natural de
desemprego alta. Por exemplo:
• Se a inflação está caindo rapidamente, a taxa de desemprego atual está bem acima da
sua taxa natural.
• Se a inflação é estável, a taxa de desemprego atual está próxima da taxa natural de
desemprego.
Variações da taxa natural de
desemprego ao longo do tempo
Variação da inflação versus
desemprego na União
Européia,
1961-2000
A relação da curva de Phillips
entre a variação da inflação e a
taxa de desemprego deslocou-se
para a direita ao longo do
tempo, sugerindo um aumento
contínuo da taxa natural de
desemprego na União Europeia
desde 1960.
Inflação alta e a curva de Phillips
• A relação entre desemprego e inflação tende a mudar com o nível e a persistência
da inflação.

• Quando a taxa de inflação está alta, a inflação tende a variar mais.

• A estrutura dos acordos salariais também varia com o nível de inflação. A indexação
dos salários, regra que atrela o aumento dos salários à inflação, passa a prevalecer
quando a inflação está alta.
Inflação alta e a curva de Phillips
• Represente por l a proporção dos contratos de trabalho que é indexada, e
por (1- l) a proporção dos contratos que não é indexada.
• A proporção de contratos indexada responde a pt , enquanto que a proporção não-
indexada responde a pet = p t-1 . Então,

p te = [l × p t + (1 - l )p t -1 ]
e:

p t = [l × p t + (1 - l )p t -1 ] - a (ut - un )

• Quando l = 0, se todos os salários são definidos com base na inflação esperada


(igual à inflação do ano passado), então:

𝜋" − 𝜋"#$ = −𝛼 𝑢" − 𝑢%


Inflação alta e a curva de Phillips
• Quando l é positivo,

α
πt - πt- 1 = - ( ut - un )
( 1- λ )

• De acordo com essa equação, quanto maior a proporção de contratos de trabalho


indexados — quanto maior l – maior é o efeito da taxa de desemprego sobre a
variação da inflação.

• Quando l é próximo de 1 , pequenas variações no desemprego podem provocar


grandes variações na inflação.
A deflação e a curva de Phillips
• Dado o alto desemprego durante a Grande Depressão, deveríamos esperar uma
alta taxa de deflação, mas a deflação foi limitada.

• A razão para isso pode ser que a relação da curva de Phillips pode desaparecer ou,
no mínimo, enfraquecer quando a inflação está próxima de zero.
Conceitos e habilidades
• Entender a relação entre as curvas de oferta agregada e Phillips.
• Porque a inflação varia.

34
Obrigado!

RicardoBrito@usp.br

Você também pode gostar